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BOLETIM NUGS Número 4 Dezembro/2020 QUEM SOMOS O Núcleo de Estudos sobre Gênero e Sexualidade do IFSP (NUGS) é formado por docentes, técnicos e estudantes. Nossa atuação visa ao combate à violência e à discriminação de gênero. Nossos principais objetivos são promover ações que garantam uma educação inclusiva; estimular a produção científica e a participação das mulheres e LGBTQIA+ no campo da Ciência e na carreira acadêmica; acompanhar e propor ações para o cumprimento das legislações referentes às garantias de direito à vivência de identidades de gênero e sexualidade diversa. Com propostas de práticas formativas e informativas, o NUGS tem como missão sensibilizar a comunidade do IFSP, além de contribuir na construção de uma cultura de respeito à diversidade e um espaço educacional inclusivo e plural. NÚCLEO DE ESTUDOS SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE DO IFSP Elaborado por Comunicação NUGS Editorial Tais Matheus da Silva Participam desta edição Adriele Mesquita, Agnes Souza, Ana Laura Arpi, Ana Luiza Silva, Anderson José de Paula, Catarina Michelone, Cathia Alves, Denilza Frade, Dione Cabral, Erik Ceschini. Hellena Giovanini, Ingrid Marceneiro, Kamili Santana, Lilian Silva, Maisa Fidalgo, Marco Aurélio Monteiro, Marcos Siqueira, Marília Pinheiro, Mayara Cadette, Nicole Maximo, Pedro Trovilho, Rodrigo Cordeiro, Tatiana de Oliveira Do reconhecimento e da resistência Transexualidade e esporte de alto rendimento Prática antirracista na Educação Infantil Representações da AIDS no séc. XXI Literatura de mulheres negras e indígenas Visibilidade lésbica Educação feminista Mães pela diversidade V Encontro da Diversidade NUGS in live Drag Queen: arte e resistência Política é lugar de mulher: entrevista com Denilza Frade Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos na Escola Vozes de Luta NUGS Indica Expediente Nesta edição Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo Rua Pedro Vicente, 625 - Canindé - São Paulo - SP - Brasil - Cep: 01109-010

SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE DO IFSP

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BOLETIM NUGSNúmero 4

Dezembro/2020

QUEM SOMOSO Núcleo de Estudos sobre Gênero e Sexualidade do IFSP (NUGS) é

formado por docentes, técnicos e estudantes. Nossa atuação visa aocombate à violência e à discriminação de gênero. Nossos principais

objetivos são promover ações que garantam uma educação inclusiva;estimular a produção científica e a participação das mulheres e LGBTQIA+

no campo da Ciência e na carreira acadêmica; acompanhar e propor açõespara o cumprimento das legislações referentes às garantias de direito à

vivência de identidades de gênero e sexualidade diversa.Com propostas de práticas formativas e informativas, o NUGS tem como

missão sensibilizar a comunidade do IFSP, além de contribuir naconstrução de uma cultura de respeito à diversidade e um espaço

educacional inclusivo e plural.

NÚCLEO DE ESTUDOS

SOBRE GÊNERO ESEXUALIDADEDO IFSP

Elaborado por Comunicação NUGS

Editorial Tais Matheus da Silva

Participam desta ediçãoAdriele Mesquita, Agnes Souza, Ana Laura Arpi, Ana Luiza Silva,Anderson José de Paula, Catarina Michelone, Cathia Alves,Denilza Frade, Dione Cabral, Erik Ceschini. Hellena Giovanini,Ingrid Marceneiro, Kamili Santana, Lilian Silva, Maisa Fidalgo,Marco Aurélio Monteiro, Marcos Siqueira, Marília Pinheiro,Mayara Cadette, Nicole Maximo, Pedro Trovilho, RodrigoCordeiro, Tatiana de Oliveira

Do reconhecimento e da resistência Transexualidade e esporte de alto rendimento Prática antirracista na Educação InfantilRepresentações da AIDS no séc. XXI Literatura de mulheres negras e indígenas Visibilidade lésbica Educação feminista Mães pela diversidade V Encontro da DiversidadeNUGS in live

Drag Queen: arte e resistênciaPolítica é lugar de mulher: entrevista com Denilza Frade

Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos na Escola

Vozes de Luta

NUGS Indica

ExpedienteNesta edição

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São PauloRua Pedro Vicente, 625 - Canindé - São Paulo - SP - Brasil - Cep: 01109-010

A Comissão da Diversidade do IFSP-Campus Registro se organizou para, aolongo de 2020, lembrar e celebrarmensalmente junto à comunidadetemas que abrangem a diversidade eque estão em diálogo com debatescorrentes na sociedade. No mês demarço promovemos algumas açõesreforçando a importância das mulheresem diversas áreas do conhecimento eda sociedade bem como os desafiosque se colocam nos atuais contextoslocais e globais. Essas ações tambémbuscaram contribuir para debatesinternos da comunidade, alinhadas ademandas e necessidades identificadasjunto às e aos servidores e estudantes.

Para que a comunidade interagissecotidianamente com o assunto,espalhamos pelo campus diversoscartazes como os da foto abaixo paraque “descobrissem” a responsávelpelas conquistas descritas. Dobradosem formato de cartão, na parte dafrente dos cartazes havia umadescrição das conquistas de algumamulher e, ao abrir, uma pequenabiografia acompanhada de fotografia

da cientista, política, arquiteta, entreoutras. A proposta foi quepercebessem como as mulheres nãosomente são responsáveis por muitosavanços nas ciências e na sociedadecomo são também invisibilizadas porisso diversas vezes. A comissão, quereúne docentes e técnicosadministrativos de várias áreas,relembrou mulheres que sedestacaram de alguma forma: MarieCurie, Marielle Franco, Rachel deQueiroz, Lina Bo Bardi e Nise daSilveira. Esses cartazes foram utilizadospor professoras e professores emdiversas atividades e chamaramatenção das e dos estudantes que, aolongo do mês, descobriram quemforam e são essas mulheres.

Ainda no escopo dessas atividades,para marcar a importância da data etrazer para o debate a importância

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Do reconhecimento e daresistência: atividades domês da mulher noIFSP/Campus RegistroProfa. Me. Maisa FidalgoIFSP - Câmpus Registro

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da luta das mulheres e os caminhos aserem conquistados, promovemos nodia 4 de março uma roda de conversa apartir de exibição de filmes curtos,compartilhamento de experiências epropostas coletivas de possíveissoluções sobre o tema “Violência contraa mulher”. Na ocasião, a professoraMaisa Fidalgo (sociologia –IFSP/Registro) foi dinamizadora daatividade e trouxe alguns curtasproblematizando diversas formas deviolência: psicológica, física, moral,sexual, entre outras. Após a exibição, as

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e os participantes – em sua maioriaestudantes do integrado (sessãomatutina) e do superior (sessãonoturna) – falaram sobre suasinquietações, dúvidas e experiências epropuseram ideias para o desafio delidar com essas situações no campus efora dele. Dentre os tantos assuntosdebatidos, concluíram sobre aimportância do acolhimento da mulhervítima de violência e doreconhecimento masculino a respeitodas violências cometidas.

Profa. Me. MaisaFidalgo, Bate papo sobre ocombate à violênciacontra a mulher

Os esportes não devem ser tratadoscomo alheios a outros temas sociais.São sujeitos que os realizam e questõescomo racismo, sexualidade e tantasoutras, assim como estão presentesem diversos contextos tambémaparecem na prática esportiva. Esta éuma orientação atual para EducaçãoFísica no Ensino Médio e fruto de umaprática pedagógica do Instituto Federalde Educação de São Paulo – campus dePirituba, com alunos do segundo anodo Ensino Médio Integrado, cursos deLogística e Redes de Computadores.

A experiência pedagógica a seguir foirealizada em 2019, em período anteriorà pandemia, às políticas públicas deisolamento social e no contexto deaulas predominantemente presenciais.O percurso de aprendizagem exploroua modalidade esportiva Voleibol, paraalém da aprendizagem da técnica eestrutura do jogo, teve como atividadedidática um debate de ideias cujo temafoi “a participação de atletas transexuaisno esporte de alto rendimento”.

Uma pesquisa rápida na internet nosapresenta diversos casos de atletastransexuais na história dos esportes. Oensejo para tematizá-lo no Voleibolocorreu pelo pioneirismo daparticipação de uma atleta transexualna principal competição nacional doVoleibol feminino, fato polêmico nasmídias que divide ainda hoje opiniõesentre especialistas, atletas, entreoutros.

Cada turma foi dividida em dois grupos,sendo que um seria favorável àparticipação enquanto outro contrário.Após uma aula introdutória doprofessor apresentando a polêmicaestabelecida, alguns conceitos geraisrelacionados à gênero e sexualidade,além da estrutura do debate, comrodadas de argumentação, pergunta,resposta e réplica, os alunos tiveram

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Transexualidade e oEsporte de altorendimento: um debate(escolar) necessário

Fallon Fox, primeira atleta transgênero na história doMMA. Foto: paigegleason2018

Prof. Rodrigo Cordeiro CamiloEducação Física – IFSP Pirituba

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tempo para realizar pesquisas, elaborarargumentações e defesas paraexplanação em aula.

O envolvimento e dedicação percebidafoi alto, em especial de alunos que nãogostam de praticar atividades físicas. Otema se aproxima de conflitospresenciados por muitos jovens nocotidiano.

Os argumentos contrários fixaram-seprincipalmente numa supostavantagem biológica das atletas,enquanto aqueles a favor enalteceramo direito social ao ser, ao trabalho e àdignidade.

Foi satisfatório observar que a grandemaioria dos alunos se colocaramfavoráveis à participação, entretanto,entendendo a necessidade de

melhorias nos regulamentos esportivospara que sejam considerados osdireitos e anseios de todos osenvolvidos.

O debate franco permitiu aos colegasreconhecer no outro que a posiçãocontrária à participação, no modo quese dá atualmente, nãonecessariamente implica em umapostura homofóbica ou transfóbica. Avaliou-se que vivenciar um diálogocom argumentação embasada ecriteriosa é uma prática escolar legítimanum cenário de excesso de informaçãoe generalizações superficiais nas redessociais, geradoras em muitos casos depreconceito e violência.

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Tifanny Abreu éprimeira mulhertransexual a integrara seleção femininade vôlei.Foto: LeoMartins/Veja SP

Sou uma Professora Negra da EducaçãoInfantil, com crianças de 4 a 5 anos deidade, conhecida como a antiga pré-escola. O primeiro cargo foi AuxiliarTécnica de Educação (ATE) na SecretariaMunicipal de Educação de São Paulo(SME/SP), atuando em todas asmodalidades da Educação Básica, excetoa Educação de Jovens e Adultos (EJA). Osestágios obrigatórios foramfundamentais para as didáticas,experiências e vivências da práticadocente, mas não foram suficientes,porque a teoria é uma e, o dia a dia sãooutros quinhentos, comigo não foidiferente.

No ano de 2015, sou aprovada comoProfessora de Educação Infantil e EnsinoFundamental I, ingressando pela cotapara negros e pardos nos concursospúblicos e, agora teria a minha própriasala de aula, com atividades criadas eelaboradas por mim. Escrever e planejarparece fácil, mas efetivar o planejamentonão é bem assim, principalmente comcrianças e é agora que vai começar orelato.

O que seria um dia comum na rotina emsala de aula, tornou-se uma possibilidadeeducativa e formativa, que a princípiocom grande impacto emocional.

Isso porque, ouvir uma criança de 5 anoschamando-a de “Macaca”, não é algo quehavia presenciado na Docência ou nosestágios obrigatórios. A primeira reaçãofoi dizer:

- Eu acho que ouvi errado! Ela não deveter falado isso!

Como já estava no horário do almoçolevei a turma até o refeitório, mas acomida não desceu, ficou entalada comouma pedra em minha garganta, nãoparava de reproduzir aquela cena emminha cabeça e, a voz dela latejavaem minha mente:

- Macaca! Macaca! Macaca!

A primeira impressão foi chorar, nuncatinha sentido aquilo antes, não sabiacomo agir ou como a teoria naquelemomento poderia me auxiliar, fiquei mal.Então, para a resolução da violência ediscriminação racial começo com umaroda de conversa com as crianças, ummenino responde: - Racismo é crime! E a mãe tem que levarcomida e cartinha na cadeia.

Já outra fala:- Minha avó chama meu pai de negão!

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Prática antirracista na Educação InfantilProfa. Me. Lilian Soares da Silva

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na Educação para as Relações Étnicosraciais no contexto da Educação Básicae ampliando-se para outras perspectivasna Academia.

Contudo, a prática docente é umreinventar-se cotidianamente, umaprender e ensinar todos os dias, umatransformação de si e do outro a cadaação ou prática pedagógica, não é ummanual ou uma teoria pronta e acabada,mas um processo de construção ereconstrução constante.

É fundamental compreender todas asrelações formativas estabelecidas ecriadas no ambiente escolar daEducação Infantil, ocorrida dentro e forados muros da escola, nos quais, osprocessos de ensino aprendizagem sãoconstruídos pelos modelos, exemplos ouatitudes no entorno da criança e de suaconvivência social e coletiva diariamente.

E, assim esta e outras narrativas sãocontadas pelas crianças, umas atentasouvindo e outras sem expressarnenhuma reação.

Nesse contexto, a palavra utilizada foi“Macaca”, em outros momentos aquestão racial e de gênero também sãopresenciadas na Educação Infantil, sejaquando um menino diz ao presenciarque outro está chorando: -Você é umhomem ou um saco de batata?, sejaquando um colega fala: - Churrasquinhoqueimado!, seja quando a família solicita: - Não quero que ele brinque com asmeninas! Não quero sentado com elasou qualquer aproximação combrincadeiras de meninas!

Em suma, o relato de experiência é oresultado de um processo inicialmentede impacto, de transformaçãoprofissional e pessoal, mas queconstruíram uma caminhada e trajetória

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O Comitê para Promoção dos DireitosHumanos, Igualdade Étnico-Racial e deGênero do Instituto Federal de São PauloCâmpus de Sertãozinho, realizou no fimde novembro e início de dezembro de2020 o Simpósio “As Representações daAids no Século XXI”.

O Simpósio foi ao encontro do DiaMundial de Luta contra Aids, luta essaque se atenta a possibilidade de novasinfecções e que se reitera a garantirdireitos aos soropositivos vivendo comHIV a terem acesso a saúde, commedicamentos e tratamentos. Luta quereivindica que as vivências das pessoascom HIV não sejam mais marcadas pordesigualdade e violência de gênero,muito menos permeada por estigmas ediscriminação.

O objetivo do evento foi romper com osilenciamento envolto ao tema HIV-AIDS,fugindo de discursos moralizantes,culpabilizador ou de regulamento decomportamentos dos corpos vivendocom HIV. O que se buscou foi oentendimento do soropositivo para HIVcomo uma identidade política, comouma resistência frente a construção danorma social.

Para tanto, o Simpósio focou no recorteda vivência e da convivência com o HIV,passando também pelas novasprofilaxias, como possibilidade decuidado e prazer.

No primeiro dia do Simpósio, tivemos aoportunidade de ouvir o historiador,pedagogo, atual administrador naAliança Nacional LGBT+ e membro doMovimento Paulistano de Luta contraAIDS, Marcelino Farias, onde proferiu um“bate-papo”, intitulado “Vamos aprendera conviver com o HIV?” Falandodiretamente de Ribeirão Preto-SP,Marcelino se apresentou como umsoropositivo para HIV, relatando assimsua vivência desde o contágio até opresente, passando pelos seus medos,inseguranças, apoios, tratamento,relação familiar, namoro. Chegando aoápice de sua fala que é a grandenecessidade de todos e todasaprenderem a conviver com o HIV, decomo é importante desmistificar todosos estereótipos envolto a patologia e aosoropositivo, superar os preconceitos emrelação a essa doença que diariamentecoloca o paciente como um agente deperigo e não um paciente de cuidado.

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As Representações da Aids no Século XXIProf. Dr. Marco Aurélio Monteiro – Presidente do Comitê para Promoção dos Direitos Humanos,Igualdade Étnico-Racial e de Gênero do Instituto Federal de São Paulo Câmpus de SertãozinhoProfª. Drª Marília Guimarães Pinheiro – Vice-Presidenta do Comitê para Promoção dos DireitosHumanos, Igualdade Étnico-Racial e de Gênero do Instituto Federal de São Paulo Câmpus deSertãozinho

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de Psicologia, Francisco Gravinis. DeFortaleza-CE, Gravinis proferiu a palestraintitulada “Casais sorodiscordantes paraHIV-AIDS: convivendo com a diferença”.Sua fala nos permitiu a orientação deque mais assertivamente se utiliza hoje aexpressão sorodiferentes e nãodiscordantes, uma vez que a última poderemeter a ideia de oposto, deinconciliável, de incompatível e setratando de uma relação seja ela sexuale/ou afetiva a ideia é que as diferençasestejam no plano da sorologia e não dorelacionamento. O que para tanto, ocuidado e a prevenção assim, comotodos e todas nós temos que ter aorelacionarmos com outro sugere. Por conta da pandemia da COVID-19 oSimpósio aconteceu totalmente deforma on-line, via plataforma meet,sendo também transmitido peloYouTube oficial do IFSP-SRT.

No segundo encontro do Simpósio,recebemos o infectologista e professorda faculdade de Medicina de Barretos,Guilherme Freire que, de Barretos-SPtrouxe à tona o tema sobre “Ocomportamento do jovem diante doPrep e do Pep”. Guilherme trouxe umhistórico da patologia, formas detratamento e cuidado. Chamou aatenção para a questão social, afirmandoque os estigmas sociais e o preconceitosão fatores que trazem mais risco demorte ao paciente do que a própriadoença, devendo assim ser trabalhado aquestão cultural, com a desconstruçãode preconceitos, medos ecomportamentos punitivos.

No último dia do evento, recebemos opsicólogo, com especialização em SaúdePública, prevenção IST e HIV/AIDS, ex.membro da Comissão Nacional dosDireitos Humanos do Conselho Federal

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O silenciamento sobre o temafoi quebrado para além dosespaços geográficos, com aparticipação de palestrantesde diferentes regiões do Brasil.Espera-se que as falas sereverberem em inquietaçõesminimizando cada vez mais osilêncio.

O Projeto de Ensino “Olhando atravésdo ponto cego da história: o tempoem que vivemos sob a perspectivade escritoras negras e indígenas” éuma iniciativa do Campus Avançado deJundiaí sob coordenação da professoraTatiana de Oliveira e organizado pelasestudantes Mayra de Oliveira, IsabelliAlves, Karen Yasmin Santos e MariaEduarda Raia.

Com forte inspiração no projeto “Não segosta do que não se sabe que existe:catálogo de mulheres escritorasbrasileiras afro-brasileiras eindígenas”, coordenado pelo professorSilas Luiz A. Silva do Campus Avançadode São Miguel Paulista, essa ideia surgiucom o objetivo de valorizar a literatura ea produção teórica de mulheres negras eindígenas, e ao mesmo tempo conectaros textos selecionados com o momentoatual em que vivemos.

A metodologia utilizada envolveureuniões de estudo e pesquisa para aescolha das autoras, seleção dos textos eimersão em suas histórias e conteúdosescritos. E para ampliar a visão sobre ostextos, realizamos quatro “encontrosliterários online” para a realização deuma discussão coletiva.

E assim foi. Realizamos o 1º Encontro emagosto desse ano, quandocompartilhamos conhecimentos sobre aautora Cristiane Sobral e seus textos“Pixaim” e “Só por hoje vou deixarmeu cabelo em paz”. Cristiane émulher negra, atriz, escritora,dramaturga e poeta brasileira. Possuilonga trajetória de estudo e produçãoartística e com seus textos nosenriqueceu de forma intensa eprovocativa.

Dando continuidade, nos reunimos no 2ºEncontro em outubro para discutirmosos textos da autora Eliane Potiguara“Quer ser mulher? Perguntou Deus!”e o poema “Oração pela Liberdade

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Literatura de mulheresnegras e indígenasProfa. Me. Tatiana de OliveiraIFSP - Câmpus Jundiaí

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Finalizando esse ciclo de atividades doProjeto, realizamos o 4° Encontro nessecomecinho de dezembro emergulhamos nas poesias de MárciaWayna Kambeba, através dos textos“Água” e "Covid 19 e os povosoriginários”. Márcia é mulher indígena,nascida em uma aldeia ticuna em Bélemdo Solimões. Formou-se em Geografia epesquisa temas do território e daidentidade indígena. Como poetisa,reflete e denuncia as contradições domodelo de desenvolvimento urbano-capitalista. Com sonoridade e ritmopulsantes os textos nos trouxeram fortesreflexões extremamente atuais.

Com esse projeto tivemos acesso àtextos e histórias escondidas muitasvezes no “ponto cego da história” quetenta apagar a contribuição dasmulheres indígenas e negras para odesenvolvimento da literatura e dopensamento social brasileiro. Foi umgrande mergulho na cultura literáriafeminina, fortemente marcada pelaresistência e pela capacidade críticadiante das opressões.

Para mais informações acesse

Instagram do Projeto:@atravesdopontocego Contato:[email protected].

dos Povos Indígenas”. Eliane éescritora, professora, formada em Letrase Educação. Possui vasto percurso deestudo e produção artística, éembaixadora Universal da Paz emGenebra e um dos nomes maisrespeitados na literatura indígenabrasileira na atualidade.

Caminhando através de pesquisas ediálogos intensos, realizamos o 3ºEncontro em novembro, quandoimergimos na história da autora MariaBeatriz Nascimento e discutimos ostextos “A Mulher Negra no Mercadode Trabalho” e “Nossa DemocraciaRacial”. Descobrimos, que Beatriz foiuma escritora negra, formada emHistória, participou da criação do Grupode Trabalho André Rebouças e dedicou-se ao estudo de temas relacionados aoracismo e aos quilombos, se constituindocomo uma das grandes autora dahistória do pensamento social brasileiro.

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O projeto “Diálogos: Artefatos queatravessam a intersecção raça-gênero-classe” é uma ação de extensãodo Instituto Federal de São Paulo,câmpus Salto. A ação aconteceu emplataformas virtuais, por meio deencontros pelo google meet; postagensno instagram e no youtube. O objetivo doprojeto foi associar os artefatos culturaiscom as questões de interseccionalidadede raça-gênero-classe, abordando filmes,poesias, músicas, seriados,documentários, TEDs, entre outros, que,de alguma forma, tocam nesse tema,para discutir e dialogar sobre questõesdiversas, conhecimentos e saberes, naperspectiva de ensinar sobre diferença,diversidade, racismo, preconceitos,heteronormatividade, machismo,misoginia, entre outros temas queatravessam essas questões e ameaçamos direitos sociais dos sujeitos.

O projeto Diálogos foi criado durante aquarentena ao unir as ações deextensão: da Banca da Ciência, Meninasnas Exatas, Núcleo Diversitas e Colore

Afro. Surgiu de um momento tenso quevivemos no Brasil e no mundo,considerando a quarentena provocadapelo Covid, o processo fascista queprolifera no nosso país, o aumento dasviolências e a constante ameaça aosdireitos das minorias.

Nesse relato apresentamos a descriçãodo primeiro encontro virtual, ocorrido nomês de agosto, no qual abordamos aquestão da “visibilidade lésbica”.Tivemos a participação aproximada dequarenta pessoas, predominandomulheres brancas, adolescentes eestudantes do ensino médio.

Embasamo-nos em cinco artefatos: apoesia “Luana, Presente”; os filmes“Rafik”, “Azul é a cor mais quente” e“Amonite” e o TED “My two mums(the myths of gay adoption)”. Essesartefatos foram eleitos pelos bolsistas doprojeto a partir de indicações, pesquisasindividuais e por tocarem as questões davisibilidade lésbica e ainterseccionalidade.

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Visibilidade Lésbica: odiálogo entre artefatosculturais e classe-raça-gêneroAdriele Mesquita, Ana Laura Cavalcante Arpi,Catarina Michelone, Nicole Maximo, PedroTrovilho, Mayara Gomes Cadette e Cathia Alves.IFSP - Câmpus Salto

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A poesia “Luana, presente” foi feitapela Luz Ribeiro em homenagem aLuana Barbosa dos Reis, uma mulherbrasileira, negra, lésbica e periférica quefoi assassinada por policiais militares noano de 2016. Retrata o preconceito e alesbofobia que é muito presente emnosso país.

O filme Rafiki é inspirado em um contochamado Jambula Tree, e mostra umaÁfrica feliz e um casal lésbico igualmentefeliz, ou seja, propõe ao espectador olhara beleza da cultura africana, livre dasvisões racistas e preconceituosas que amídia normalmente prega.

Para ilustrar as críticas feitas à indústriacinematográfica foi escolhido o filmefrancês “Azul é a cor mais quente”,lançado em 2013. Apesar darepresentatividade lésbica e sua partetécnica terem recebido até mesmoprêmios, o filme é retratado sob umolhar fetichista e voltado ao imagináriomasculino.

O filme Ammonite, produzido pelodiretor Francis Lee, conta a vida dapaleontóloga Mary Anning, no ReinoUnido do século 19. Retrata aintolerância enfrentada por um casalhomoafetivo e a discriminação de classee gênero na sociedade da época.Também aborda a invisibilidade damulher na ciência.

O TEDx Talk “My two mums (themyths of gay adoption)” ou, emportuguês, “Minhas duas mães (os mitosda adoção por casais homoafetivos)”,aborda as facetas sociais e interpessoaisque Lynne Elvins e sua parceiraenfrentaram em sua jornada para adotaro seu filho Steven.

Consideramos que os artefatos eleitospara o primeiro evento do projeto secruzam com a temática dainterseccionalidade e podem serferramentas e dispositivos que ensiname alteram os territórios fixos daheteronormatização e da lógica dopatriarcado.

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Durante a quarentena, uma mensagemchegou no meu celular, era o meuprofessor Marcos da Cruz AlvesSiqueira do Instituto Federal de SãoPaulo – IFSP – câmpus de Ilha Solteira-SPperguntando se eu aceitaria começaruma pesquisa de iniciação científica combolsa sobre feminismo. Na mesma horaaceitei, me identifiquei bastante com aproposta e tudo o que ela abordaria.Uma semana depois, logo após terminara parte burocrática de oficialização da IC(Iniciação científica), combinamos umencontro - seguindo todas as normas emedidas de segurança por causa doCOVID-19 para discutir como iriafuncionar essa etapa, tive muitos livrospara ler, que me ajudaram acompreender o tema e deixar ospreconceitos de lado. A revisãobibliográfica foi muito além de apenasuma obrigação, foi uma ressignificaçãodo que eu achava que já sabia.

Todas as terças-feiras no primeiro mêsnos reunimos virtualmente para debatersobre a bibliografia do projeto,inicialmente apresentava slides sobre aobra que guiariam a conversa. Hoje,entendo a importância desses debates,

ler um livro sozinho não é a mesma coisaque discutir sobre ele com alguém,quando se debate, gera novascompreensões sobre o tema que aautora abordou, as suas e as do outro sechocam. Assim é possível aumentar aabsorção da obra.

De todos os livros, um em particularchamou a minha atenção, “SejamosTodos Feministas” (2015) deChimamanda Ngozi Adichie, ele foi osegundo que li e o primeiro dessa autorana pesquisa. O que mais me chocou foi otítulo. Como assim todos feministas?Homens também? Inicialmente, naminha mente só havia uma história queconhecia, apenas mulheres sãofeministas, o que levou a me perguntarcomo o feminismo é visto em algumassituações. No início a autora diz: “Tenho aimpressão de que a palavra “feminista”,como a própria ideia de feminismo,também é limitada por estereótipos(ADICHIE, 2015, p.05)”, e em seguidamostra um diálogo com seu amigo,“Estava no meio de uma argumentaçãoquando Okolomo olhou para mim edisse: “sabe de uma coisa? Você éfeminista!” Não era um elogio. Percebipelo tom da voz dele – era como sedissesse: Você apoia o terrorismo!(ADICHIE, 2015, p.08)”.

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Ana Luiza Almeida da SilvaMarcos da Cruz Alves SiqueiraIFSP - Câmpus Ilha Solteira

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Por uma educação feminista: uma análise da literatura de Chimamanda Ngozi Adichie

É triste saber que essas situações nãoestão presentes apenas na literatura deAdichie, mas, também no nossocotidiano, quando chama alguém defeminista como ofensa a uma mulher ouhomem por não estar seguindo o papelque a sociedade definiu que seria deles.

No decorrer dos primeiros meses, váriasindagações surgiram, dentre elas, umaquestão em especial me chamou aatenção: Por que uma pessoa do sexomasculino bate em uma mulher se foiuma que o criou? Resolvi compartilharcom a minha família. Achei a respostapara essa pergunta? Infelizmente não,mas em contrapartida tive maisquestionamentos: O que leva umhomem a bater em uma mulher? Deixarde fazer as obrigações domésticas?Querer evoluir profissionalmente? Deixarde ser submissa? Essas não foram asúnicas, quanto mais pensava sobre, maisme aprofundava no tema. Em umdeterminado período, outra vez mequestionei: Só as mulheres sofrem?Onde fica os homens nessa história?

O machismo na sociedade não tem opapel de gênero definido apenas àsmulheres, enquanto elas são mostradasem reportagens sendo agredidas, eleataca silenciosamente os homens. Éimportante dizer que o indivíduo queagride não PODE e nem DEVE ter a suasações justificadas e anuladas por seremresultados de um sistema binário,entretanto, é necessário a compreensãode que esses acontecimentos sãoresultados desse sistema, e por issodeve haver intervenção que impeça deter mais vítimas, prevenindo. Asperguntas não foram fúteis para apesquisa, ajudaram a entender umpouco melhor a sociedade em que vivo,mesmo que não tenha conseguido todasas respostas.

Conforme o projeto foi sedesenvolvendo, resolvemos delimitar otema, surgiram diversas perguntas,analisamos todas e optamos porselecionar como questão norteadora:Como pensar uma abordagem feministana educação? Com base no que já haviaestudado e discutido, surgiu o título dotrabalho: Por uma educaçãofeminista: uma análise da literaturade Chimamanda Ngozi Adichie.

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Chegou a época de escrever o resumoexpandido para o evento estadual,CONICT, o processo de escrita foirenovador. Com o auxílio do orientadorpude administrar meus pensamentos,melhorando a minha escrita, sendoassim capaz de explicar o por quê daeducação binária não ser o melhormétodo de ensino, visto que ele causa aconstrução dos papéis de gêneros nasociedade e, dialogar uma possívelalternativa, o sistema não binário quedeixa de segregar indivíduos por nãoquererem se encaixar no molde social.

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Por fim, o presente trabalho meimpulsionou a pensar questões queantes não teria pensado, além disso,pude adquirir conhecimento ao sabero que é um sistema binário e que há apossibilidade de utilizar a literatura deAdichie como orientador de diálogosentre discentes e docentes em salas deaula.

Grupo Women's Liberation marcha em apoio ao Partido dos Panteras Negras, em 1969 (Reprodução/David Fenton)

O Coletivo Mães pela Diversidade é umaONG paulistana fruto de um encontroespontâneo de mães e pais de lésbicas,gays, bissexuais, travestis e transexuaisde todo o Brasil e possui, dentre outrosobjetivos, promover o debate e ofortalecimento de iniciativas que visem ocombate da discriminação contraLGBTQIA+.

Nos dois encontros realizados houve ocomparecimento de estudantes de todasas modalidades de ensino e servidoressensíveis e interessados na temática,além de membros do Mães pelaDiversidade, todos (as) a beira de umamesa de café e biscoitos.

Dos encontros formou-se um grupovirtual chamado JUNTES, onde sãorealizados debates e socialização detemas gerais, experiências,oportunidades de emprego, dentreoutros conteúdos, além da formação deuma rede real de apoio segura paracompartilhamento de temas diversos.

A então representante do NUGS nocâmpus Pirituba, a discente DeniseSantana Zemantauskas, a servidoraKamili Oliveira Santana, representando aCoordenadoria de Apoio ao Ensino e aCoordenação de base do Sinasefe, emparceria com a discente da Pós-graduação em Humanidade, Lolita Sala,também representando o Coletivo Mãespela Diversidade, realizaram doisencontros durante o ano de 2019 paraorganização de rodas de conversa paramães, pais e familiares de pessoasLGBTQIA+. Nas rodas os participantes seapresentavam e contavam suas histórias,compartilhavam suas vivências e falavamsobre preconceito, segurança e respeito.O principal objetivo da ação foipromover o debate coletivo sobre ostemas e integrar a comunidade numarede de apoio.

GÊNERO, SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS NAESCOLA

Kamili Oliveira SantanaIFSP - Câmpus Pirituba

Boletim NUGS - número 4 - dezembro/2020

ColetivoMães pela Diversidade

ONG Mães pela Diversidade:https://maespeladiversidade.org.br/

Em tempos de pandemia, o evento esteano foi totalmente online, mas não porisso menos inspirador!

A abertura solene contou com aapresentação do "O maiordesespetáculo da Terra", do "Circo daMiséria", que através do humor e dacrítica trata da vida da população emsituação de rua.

Já a primeira atividade formativa foi apalestra "Cabelo, pinga, perfume,Sona e lágrimas: algumas propostasinterdisciplinares para abordar a10.639 em sala de aula”, trazida porPaula Fernanda de Jesus Cardoso eCarlos Henrique Aparecido Alves Morisno dia 16, quando foram debatidaspossibilidades de aplicação das Leis10.639/03 e 11.645/08, que tratam daobrigatoriedade do ensino da HistóriaAfro-brasileira, Africana e Indígena nasescolas.

Na sequência, no dia 17 aconteceu obate papo “Debatendo a série SexEducation: entretenimento,diversidade e aprendizagens” comAgnes Cruz Souza, cientista social,professora do campus Boituva emembra do NUGS, que propôs reflexõessobre os diversos aspectos das relaçõeshumanas e importância da educaçãosexual nas escolas, de forma leve edescontraída.

O NUGS, em parceria com o NEABI,promoveu entre os dias 16 e 19 denovembro o seu V Encontro daDiversidade do IFSP Araraquara. Oevento faz parte do calendárioacadêmico no câmpus e é realizadoanualmente na semana em que secelebra o dia da Consciência Negra, dia20 de novembro. Já é uma tradição nocampus serem trazidas diferentestemáticas que discutem a diversidadenum amplo espectro, além das temáticassobre gênero, sexualidade, raça e etnia.Os temas são ampliados no sentido davalorização da diferença, quando asdiferenças são reconhecidas comopotências.

Nesta perspectiva, as atividades sãoescolhidas de forma a proporcionaremmomentos de descontração e incentivoa produções da expressão cultural,reflexões e debates sobre preconceitose discriminação, discussão acerca deconceitos de direitos humanos eformação para a cidadania ativa. Por issoo título do evento ser “Encontro daDiversidade”, porque o que se procuraé a relação dialógica entre “diferentes”,num grande encontro onde estasdiferenças se convergem.

GÊNERO, SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS NAESCOLA

Dione CabralIFSP - Câmpus Araraquara

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V Encontro da Diversidadedo IFSP - Araraquara

Mais adiante, o bate papo foi com aaluna do campus Araraquara Luiza deAguiar Alberto, com mediação daprofessora Joelma de Souza Nogueira-Dalarmi e ainda a participação pra lá deespecial da digital influencer DamaresLiron, Miss PlusSize São Paulo ABCD, quetrataram de desmistificar acorponormatividade na atividade “Ocorpo gordo e a sua luta contra agordofobia”.

No mesmo dia, o encontro foi comalunos de convênios africanos - OsiresFernando Ribeiro Nhaga (Guiné Bissau) -Eduardo Carlos Alexandrina (Angola) -Suysia Ramos D'Almeida (São Tomé ePríncipe), numa parceria com o projeto"Ubuntu", do campus do IFSP Matão.Na apresentação temas sobre culturasafricanas e interrelações com a culturabrasileira foram destaque.

As discussões continuam e no mesmodia a convidada foi Aniely Silva, coautorada Cartilha “Por que discutir gênero naescola?” e coautora do livro “Educaçãocontra a barbárie”. O bate papo tevecomo título “O que aprendi (e nãoaprendi) na escola”, que mostrou oquanto a escola pode ser agente detransformação e como, inversamente,pode potencializar discriminaçõesquando não se adota uma posturaacolhedora.

A programação do dia 18 começou comum bate papo com a equipe do projetode extensão do campus Araraquara "OBeco" sobre “Mulheres Negras naLiteratura”, com as apresentações deClaudia Freitas Reis, Cíntia Almeida daSilva Santos e Rafhael Borgato,integrantes do projeto, que resgataramdiversas autoras negras da literaturabrasileira e mundial.

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apresentação “Ambiente Escolar:Bullying ou Assédio”, com SheylaGorayeb, professora do câmpusCaraguatatuba que atua em pesquisasem Educação, Ciências Sociais,Precarização do Trabalho e AssédioMoral com recorte de gênero e raça. Nobate papo foram trazidos conceitossobre assédio nas organizações e suasformas de enfrentamento foramdebatidos.

O evento terminou com um gostinho dequero mais tudo de novo e todo mundojunto. Esperamos que em 2021 elepossa retomar sua forma presencial, poisacreditamos que é na troca e interaçãoque a sociabilidade se efetiva. Já estamosaguardando!

Abrindo o último dia do evento, foirealizada a oficina "A miséria e opalhaço vagabundo" com o palhaçoJeff Vasques, poeta que se formoupalhaço a partir do estudo com váriosmestres do Brasil e do mundo. Jeffdesenvolveu projetos com a populaçãoem situação de rua que resultaram nodesespetáculo, "Circo da Miséria", e nolivro infanto-adultil, "Psiu!", que conta ahistória de um velhinho em situação derua, de lua e de luta. A oficina trouxe umdelicado debate sobre as origens damiséria em nossa sociedade e como elase conecta com o surgimento dopalhaço vagabundo, como o Carlitos, deCharles Chaplin, ou o Chaves do seriadomexicano.

No período da tarde, o público seencantou com a assertividade e carismade Vera Rodrigues, antropóloga e ativistaque atua em pesquisas sobrepopulações Afro-Brasileiras,principalmente nos seguintes temas:quilombos, políticas públicas, educação,racismo, relações étnico-raciais efeminismo negro. Esta foi outra atividadeem parceria com o câmpus Matão com otítulo “Formação e Educação emTempos de Mimimi”.

E, finalizando a semana, um tema deimportantíssima relevância foi trazidopara a discussão através da

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A representação local do Núcleo deEstudos Sobre Gênero e Sexualidade(NUGS), no Câmpus Votuporangapromoveu, no segundo semestre de 2020,de forma virtual por meio de Plataformade Streaming, o Evento de Extensão“NUGS in Live: Diversidade(s), Gênero(s) eSexualidade(s)”. Esta Série de Lives foiorganizada pelo Pedagogo Me. AndersonJosé de Paula e pelas estudantes HellenaGiovanini dos Santos e Ingrid de AlmeidaMarceneiro, ambas do 3º Ensino MédioIntegrado em Mecatrônica.

#Live01 - “Por dentro do NUGS equestões de Saúde: humanizar-se”Primeiramente, o Núcleo institucional foiapresentado à comunidade local pela Me.Dione Cabral, Assistente Social do CâmpusAraraquara e Dra. Taís Matheus da Silva,Professora EBTT do CâmpusItaquaquecetuba, ambas membras doNUGS, que atua em todas as unidades doIFSP.No campo da saúde, o tema SetembroAmarelo foi mediado pelo PsicólogoEducacional Dr. Alexandre da Silva dePaula, que atua na CoordenadoriaSociopedagógica (CSP) do CâmpusVotuporanga, com a fala do Me. ReinaldoAntonio de Carvalho, Enfermeiro eCoordenador da Rede de Saúde Mental doMunicípio de Votuporanga.O contexto do Setembro Dourado foimediado pelo Pedagogo Me. Anderson

José de Paula, também atuante na CSP,com a fala do Sr. Cláudio José dos SantosAzevedo, idealizador do projeto “Seja umherói, salve vidas”, que incentiva a doaçãode sangue e medula óssea.

NUGS in Live: Diversidade(s), Gênero(s) eSexualidade(s)

Pedagogo Me. Anderson José de Paula Hellena Giovanini dos Santos Ingrid de Almeida Marceneiro

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#Live02 - “Saúde da Mulher e aatuação dos Coletivos de Gênero"Outubro Rosa. A servidora Enf. Esp. ThaísNatalia Leonel Ruís Miani, Técnica emEnfermagem do Câmpus, fez a mediaçãoda fala da Enf. Ma. Karen Fernanda SilvaBortoleto Garcia, responsável peloDepartamento Assistencial da Secretariade Saúde de Votuporanga-SP, no tocante àSaúde da Mulher.Direitos da Mulher. Já o Pedagogo Me.Anderson José de Paula fez a mediaçãodas falas das convidadas Profa. Dra. JamilyNicácio Nicolete (Coletivo Casa Maria, deAraçatuba - SP) e Dentista Esp. Kataline

fala sobre o projeto Constituição doOrgulho, que usa o design e as cores dabandeira LGBTQIA+ para destacar direitosque a Constituição Federal de 1988 trazpara a proteção dessas pessoas, mas quesão violados. O projeto é de autoria daComissão de Diversidade da Ordem dosAdvogados dos Brasil (OAB/SP). Acomunicóloga Lídia Bizio (Clube Lesbo/SP)fez a mediação da fala.

Melhado (Coletivo Ana Por Elas, deCosmorama - SP). O título da roda deconversa foi "Coletivos de Gênero nasquestões relativas ao feminino: história,atuação e desafios".

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#Live03 - “Novembro Azul, aConstituição do Orgulho e a atuaçãoda Comissão de Diversidade Sexual ede Gênero da OAB/SP"

Novembro Azul. A servidora Enf. Esp.Thaís Natalia Leonel Ruís Miani, Técnicaem Enfermagem do Câmpus, fez amediação da fala da Enf. Ma. KarenFernanda Silva Bortoleto Garcia,responsável pelo departamentoAssistencial da Secretaria de Saúde deVotuporanga-SP no tocante à Saúde doHomem.CF/1988: A Constituição do Orgulho. OAdvogado Fernando Zanella de Andrade(OAB/SP - 95ª Subsecção Lapa) ministrou

#Live04 - “Consciência Negra e aatuação do NEABI".

Consciência Negra. O servidor Dr.Alexandre da Silva de Paula, PsicólogoEscolar do Câmpus, fez a mediação dafala da Srª. Fau Ferreira, da ProfissionaisS/A.Atuação do Neabi no IFMS. Ahistoriadora Breenda Karolainy PenhaSiqueira (Unesp/Marília) realizou a

Serviço de Assistência Especializada deVotuporanga.Mães pela Diversidade. O sociólogo Dr.Felipe André Padilha realizou a mediaçãoda fala da Sra. Maju Giorgi, coordenadoranacional do coletivo. Liberdade de Amar.Dr. Felipe Padilha também mediou a falada Psicóloga Maíra Rodrigues BragaNascimento, coordenadora pró-temporedo coletivo.

mediação da fala dos professores Me.Gilmar Ribeiro Pereira e Guilherme CostaGarcia Tommaselli, historiador e sociólogo,respectivamente, servidores no CâmpusTrês Lagoas do IFMS e atuantes no Núcleode Estudos Afro-brasileiros e Indígenas(Neabi) daquela instituição.Atuação do Neabi no IFSP. BreendaSiqueira também fez a mediação da falade Tatiane Helena Borges Salles,Bibliotecária-documentalista, que atuou noCâmpus Votuporanga e organizou açõesde Extensão no campo no tocante àsrelações étnico-raciais. Atualmente, aprofissional trabalha no Câmpus Piritubado IFSP.

NUGS in Live: Diversidade(s), Gênero(s) eSexualidade(s)

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#Live05 - “HIV-AIDS e a atuação dosColetivos de Diversidades eSexualidades".HIV-AIDS. A servidora Enf. Esp. ThaísNatalia Leonel Ruís Miani, Técnica emEnfermagem do Câmpus, fez a mediaçãoda fala da Enf. Esp. Fabiana GimenesFerreira, representante do SAE

“A intenção com essa primeira série de Livesfoi aproximar a comunidade do CâmpusVotuporanga às temáticas inerentes aoNUGS como forma de torná-lamultiplicadora da (in)formação aquiconstruída”, ressaltou o PedagogoAnderson. Todas as Lives contaram cominterpretação em Libras, com participaçãodireta do Professor EBTT Português/LibrasDr. Lucimar Bizio e da TILSP Ma. PriscilaFracasso Caetano, servidores do CâmpusVotuporanga. As transmissões: http://vtp.ifsp.edu.br/index.php/nugs.html –na aba “gravações”.

suas joias, dê aquele trato naperuca, acomode-se em seu lugar ejunte-se a mim nessa história quepermeia a humanidade por séculos.

Conta-se que o termo Drag tem suaorigem nos textos de Shakespeare, oqual anotava a sigla DRAG (dressed as girl)no rodapé de seus textos para indicarpersonagens femininas que seriaminterpretadas por homens. Não hádocumentos que comprovem esserelato, mas ele segue como uma dasprincipais histórias contadas pelasartistas. De qualquer maneira, o teatrofoi, literalmente, o principal palco para osurgimento das personagenstransformistas[1], uma vez que pormuito tempo as mulheres eramproibidas de participarem dasencenações, cabendo aos homensassumirem as personagens femininas.

Ela veio até mim com um grito, nocomeço era um grito longínquo e abafado. Abafado por dúvidas,inseguranças, medos. E mesmo comtantos obstáculos o grito nunca foicalado, tornando-se cada vez maispresente e expressivo. Foi então queparei de lutar, entreguei-me, dei espaçoa sua voz e selamos nossa amálgama.

Apesar do seu aspecto clariciano, otrecho acima é o mais fiel relato de comoTitia (sim, esse é seu nome), uma Sra.Rica, empoderada, de fortepersonalidade, dotada de umarequintada grosseria, mas com umenorme coração, com o qual amaincondicionalmente todos os seussobrinhos tanto quanto ama sua sidra definal de ano, chegou até mim. Alías, Titia éminha persona Drag Queen.

Estamos no ano de 2020 e,aparentemente, o termo Drag Queentem se mostrado cada vez mais acessívele comentado nas diversas mídias e redessociais, principalmente em decorrênciada visibilidade trazida por diversesartistas e programas de entretenimento.No entanto, o universo Drag ainda é ummistério para muitos. Portanto, separe

Drag Queen: arte e resistência

Titia, drag de Erik Ceschini

Prof. Dr. Erik CeschiniIFSP - Câmpus Itaquaquecetuba

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VOZES DE LUTA

Assim, a Drag Queen é uma arteperformática que se baseia naconstrução e expressão depersonagens que apesar do seuhistórico, hoje já se encontram despidade suas origens shakespearianas eassume uma vestimenta própria, muitasvezes regadas de comicidade, com aqual, brinca, explora, questiona etranscende o binarismomasculino/feminino (lembrando quetambém existem Drag Kings, os quaissão os personagens que costumamutilizar estereótipos daquilo que éhistoricamente associado ao masculinoem sua construção).

Na verdade, em meio às perucas,vestidos, maquiagem e salto alto, aDrag do século XXI passa a representarmais que uma identidade teatral eadquire um leque mais amplo deimportância e significados àqueles quedão voz às suas personagens etambém à sociedade. A partir derelatos de artistas que muito admiroobtive que: Drag Queen é uma arteviva, que flui e que pulsa,expressão da alma e de todas suascores, é troca, energia etransformação, um conceito evisão de mundo. A Drag é queer, é umexagero e uma potência que dá formaaos sentimentos, um meio de conhecera si mesmo e a tudo que nos rodeia.Uma arte terapêutica, umamanifestação e celebração das culturas

Esta prática teatral perdurou por muitotempo, sendo recorrente tanto noocidente quanto oriente. No entanto, noseguimento dos séculos XVII e XVIII asmulheres passam a poder assumirpapeis nos teatros e com isso as DragQueens saem dos palcos para ocuparnovos espaços urbanos. Na continuaçãodos tempos, os séculos XIX e XX setornam o palco de diversastransformações, tanto em segmentossociais quanto no mundo das artes e doentretenimento, levando as Drag queensa assumirem novas roupagens e seconsolidarem como gênero artístico,sendo encontradas desde os teatros atéem programas próprios na televisão,internet e plataformas de streamings.

Devido a seu histórico, a cultura Dragencontrou espaço de acolhimento nogrupo LGBTQIA+[2], criando laçosindissociáveis e junto ao qual se tornouvoz e presença de luta em questõessócio-política (Inclusive foram agentesem momentos históricos comoStonewall, a ditadura militar brasileira eos mais diversos eventos do movimentoLGBTQIA+). No entanto, é importantereforçar o caráter performático einterpretativo da Drag, ou seja, ela não secaracteriza como identidade de gêneronem como sexualidade. Portanto,qualquer pessoa (seja ela homem,mulher, travesti, cisgênera, transgênera,gender fluid, não binarie, homossexual,heterossexual, bissexual...) pode ter asua persona drag.

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VOZES DE LUTA

fosse um segundo outing. Mas acreditoque respeito e conhecimento sãosempre excelentes caminhos paracombater preconceitos, rumo a umasociedade mais justa e igualitária. Comisso, espero que este pequeno textopossa ser de grande contribuição paraapresentar e/ou aproximar essabrilhante arte de todos os leitores.Afinal, como diz Ru Paul Charles:“We’re all born naked and the rest isdrag”.

Materiais para montação [3] do texto eoutras sugestões:

AMANAJÁS, I. Drag Queen: um percursohistórico pela arte dos atorestransformistas. Revista Belas Artes, ano10, n. 28, p. 1-24, 2018. Disponível em <https://cutt.ly/9hRy87f> Acesso em 01 dedez. 2020.BRAGANÇA, L. Fragmentos da babadeirahistória drag brasileira. RECIIS, n. 13, v. 3,p.525-539, 2019. Disponível em <https://cutt.ly/whRy5u1> Acesso em 01de dez. 2020.JESUS, J. G. Orientações sobre identidadede gênero: conceitos e termos. Brasília:Publicação online, 2012. Disponível em:<https://cutt.ly/mhRuq8s> Acesso em 01de dez. 2020.TREVISAN, J. S. Devassos noparaíso: a homossexualidade no Brasil,da colônia à atualidade. 4 ed. Riode Janeiro: Objetiva, 2018.

e da diversidade. A Drag é existência,resistência, uma luta e um ato político.

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Titia, drag de Erik Ceschini

Mas nem tudo são plumas e belascaracterizações, pois em meio a tantasconquistas da atualidade, assumir apersona Drag é um processo, umaconstrução que muitas vezes encontraempecilhos devido a diversas formasde preconceito, mesmo dentro dacomunidade LGBTQIA+. É como se

Para mais sobre teoria queer:

LOURO, G. L. Um Corpo Estranho.Ensaios sobre sexualidade e teoriaQueer -2. Ed.; 3ª. Reimp. Belo Horizonte:Autêntica, 2016.

Alguns filmes que trabalham a temáticaDrag: Priscila, a rainha do deserto, Para Wong Foo: Obrigada por tudo! JulieNewmar, Cherry Pop, Kinky Boots.Divinas Divas.

Alguns programas com a temática: Drag me as a queen Nasce uma rainha RuPaul Drag Race

Para mais closes de diversas artistas(nacionais e internacionais):https://www.thedragseries.com/(Acesso em 01 de dez. 2020).

Um agradecimento especial a Profa.Tais Matheus pelo convite, a todas asincríveis Drags que me ajudaram aconstituir Titia e, especialmente, a LilithPrexeva, ÉguaLuka e Seelky por seus relatos.

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[1] O termo transformista faz referência ao artista que se veste de modo estereotipado (conformegêneros socialmente estabelecidos) com finalidades artísticas e/ou de entretenimento (JESUS, 2012).[2] Sobre a sigla LGBTQIA+: https://catracalivre.com.br/cidadania/glossario-lgbtqia-entenda-cada-letra-da-sigla-e-termos-comuns/ (Acesso em 01 de dez. 2020).[3] O termo “Se montar” significa o ato de se caracterizar da sua personagem Drag.

Titia, drag de Erik Ceschini

atuação mais forte junto ao movimentosindical. Hoje sou filiada no Sinasefe.Esses movimentos são partesestruturantes de tudo que me constituicomo profissional e militante da classetrabalhadora. São por eles queressignifico diariamente minhapercepção de vida e do mundo a qualpertenço. Sou trabalhadora, faço parteda parcela significativa detrabalhadoras assalariadas no Brasil edisso jamais posso esquecer! 

Na política brasileira, tanto naesfera da macropolítica quanto namicropolítica das instituiçõespúblicas, há muitas mulherescombativas. Contudo, aocompararmos com outros países,essa participação ainda é limitada.Como você avalia a participaçãodas mulheres na política brasileira?O modelo tardio do capitalismobrasileiro e a permanência por umlongo prazo do sistema escravista fezcom que todas as expressões de lutada classe trabalhadora demorassem ase consolidar, inclusive muitas dessasexpressões foram capitaneadas pelaprópria burguesia. O protagonismo daluta pela própria classe trabalhadoraainda é uma construção, com avançose recuos. Os interesses da classedominante estão sempre sesobrepondo a da maioria da sociedadebrasileira. Precisamos construir pontese canais de participação popular para

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Conte um pouco da sua história ecomo se deu o seu encontro com apolítica. Este encontro veio desde cedo, quandoaos 15 anos participava da pastoral dajuventude católica em Belém do Pará. Mais tarde, na universidade Federal doPará atuei no Diretório Central dosEstudantes e no Centro Acadêmico doCurso de Pedagogia. Neste mesmoperíodo participava da União daJuventude Socialista – UJS/PCdo B, maslogo ingressei no Partido dosTrabalhadores - PT. Então, desde dauniversidade até hoje sou filiada e atuoorganicamente no PT/Zonal do Centroda capital de São Paulo. Após minhaformação universitária, ao ingressar nomundo trabalho, passei a ter uma

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Política é lugar demulher: entrevistacom Denilza Frade

Denilza Frade

que a sociedade civil, nas mais diversasrepresentatividades, assuma oprotagonismo da luta em defesa dosseus direitos, inclusive do direito deexistir. No mais amplo campo da luta, omovimento feminista tem avançadosuas pautas reivindicatórias, de formaorganizada e articulada com omovimento político emergente, como adas bancadas feministas noslegislativos municipais, estaduais efederal. Também há outras formas departicipação social das mulheres comonos sindicatos, conselhos, comissões eórgãos de representações que vêmdebatendo, para além da questão degênero, pautas que afetam diretamenteas suas vidas como a do mundo dotrabalho e das condições reais desobrevivência. Vejo com muitoentusiasmo o momento que estamosvivendo no país. Estamos diante de umgoverno da morte, de um Estadoopressor, machista e misógino, o que deum lado é muito ruim, mas, por outrolado, assanha o desejo de mudança e,nesse escopo, as mulheres têm sidofundamentais para corrigir rumos epropor alternativas. Vejam o queaconteceu com o movimento de rua “EleNão”, a ocupação das escolaspúblicas do Estado de São Paulo,protagonizados por estudantessecundaristas. No entanto, ainda vejoque esta participação é tímida, seconsiderarmos o grande número demulheres brasileiras ainda subjugadas aodiscurso dominante de uma sociedadeassentada no patriarcalismo.

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Reunião do CONSUP/2019, onde Denilza Frade atuacomo representante dos TAEs

O quanto a participação dasmulheres nos espaços de poder, emseus diferentes níveis, impacta asociedade?A participação social das mulheresamplia a capacidade de reação aomodelo dominante vigente. Arepresentatividade da política éimportante, mas ela precisa se conectarcom as formas de participaçãocoletiva. Portanto, participar, para alémdo direito de decidir, é a formaencontrada que garante maiorvisibilidade às pautas de luta dasmulheres. Essa visibilidade é importantecomo referência real do espaço queoutras mulheres podem alcançar,assumindo, com isso, o protagonismopolítico de suas vidas. Como atrair as mulheres para essecampo e qual é o papel dos partidos,sindicatos, coletivos, e dasinstituições de ensino nessecontexto?

deliberativas da sociedade, muitas vezes,entram em colapso, quando percebemque os movimentos internos e externospossibilitam oportunidades que podemromper com velhas práticas políticas.Estamos vivendo isto com o novoconceito de política, a partir dasbancadas feministas, mudando com issoa essência das velhas práticas dosmandatos individuais. Os partidospolíticos têm um papel provocativo,desde a sua construção e constituiçãoaté a elaboração de leis que exprimem odesejo dos coletivos de mulheres. Outroscanais de participação como sindicatos,conferências, fóruns, conselhos,comissões precisam ser ocupados enessa ocupação garantir a equidade degênero. O direito de participar é um atocontínuo que precisa ser provocado,constantemente, pela esfera pública. Adupla jornada de trabalho que asmulheres -, principalmente as de baixa-renda exercem-, e o machismo estruturalsão alguns dos motivos que as retiram

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Reunião de Coordenação - PRONATEC

Como já mencionei, a jovem democraciabrasileira ainda não se consolidou. Ademocracia não saiu do papel. Aomesmo tempo que a constituição cidadãavançou em várias questões no campodos direitos sociais, ainda é forte opensamento escravista da classedominante, a qual se utiliza de todos osinstrumentos ideológicos para manter oprocesso histórico de exclusão social.Como a histórica tem seu dinamismopróprio e o capitalismo se ajusta aosnovos paradigmas das correntes teóricasdo pensamento econômico é natural quea sociedade crie mecanismos para seadaptar ou para reagir a esta novadinâmica social. Falo disso porque nolimite desses processos as mulheresestão buscando mecanismos departicipação efetiva para dialogar epropor saídas que atendam às suasnecessidades. Essa dinâmica não élinear. É atemporal, pedagógica edialética. Ela acontece no conflito decontrários. Por isso, as instâncias

gos de direção e de gestão da altaadministração (reitoria) possam ter arepresentatividade das mulheres.Também é necessária a revisão dosprocessos na perspectiva de melhorar osprocedimentos administrativos epedagógicos, cujos atos estejam prontospara reconhecer o protagonismo dasmulheres e o combate ao machismoestrutural. Por outro lado, a gestãoprecisa entender que não bastareconhecer esse protagonismo, énecessário criar condições para que sejaexercido plenamente, através de fórunse encontros das servidoras, viabilizandoespaços de reflexão sobre as políticas eações institucionais, principalmenteaquelas que afetam diretamente aqualidade de vida no exercício das suasfunções.

da arena política de participação. Dessaforma, é necessário que os poderespúblico e privado criem condiçõesefetivas para maior participação dasmulheres, desde as condições materiaise humanas, como: fornecer rede deatendimento em Creches para mães comfilhos pequenos, sala de recreações,flexibilização da jornada de trabalho, etc. Do seu ponto de vista, que papel asmulheres poderão ter napermanente construção do IFSP?O IFSP vem passando por mudançassignificativas desde quando se constituiucomo Instituto, em 2008. No bojo dessanova identidade institucional algumasmudanças aconteceram que, de certaforma, ajudaram a reconectar o Institutocom a sociedade diante de um mundoem transformação. Voltando ao tema daparticipação é condição sine qua non agarantia, para o aprofundamento dademocracia institucional, portanto, dagestão democrática, de que os espaçosde debate, discussão e deliberaçãosejam ocupados equitativamente entrehomens, mulheres e outros. Que os car-

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Audiência Pública para abertura do Câmpus São Miguel

Denilza Frade é graduada em Pedagogia (UFPA), Mestra emGestão e Políticas Públicas pelaFaculdade Latino-Americana deCiências Sociais – Flacso. No IFSP,atua como Técnica em AssuntosEducacionais na PRX, éCoordenadora do Pronatec-IFSP,Coordenadora de ProcessosSeletivos pela PRE, membra doCONSUP e já foi membra doCONEN. Atuou na implementaçãodo Campus São Miguel Paulista.Tem vasta experiência na área degestão escolar da rede pública(Prefeitura de SP e Governo doAmapá) e políticas públicas.

Documentário: Atrásda Estante (2019), EUA, Netflix (2020) / 1h 32min Direção: Rachel MasonElenco: Larry Flynt, Rachel Mason, Jeff Stryker

O documentário narra a história de um casal dejudeus que gerenciaram durante décadas a Circle ofBooks (livraria e sex shop gay de Los Angeles). Karene Barry Mason, pais de três filhos, religiosos,esconderam por muitos anos a natureza da atividadepara amigos e familiares, mesmo sendo importantesprodutores e distribuidores de material explícitopelos Estados Unidos. A obra, narrada pela filha docasal traz o debate dos anos 1970 e 1980 nos EUAsobre a comunidade LGBT da época, bem como arelação entre pornografia e consumo. Temas como aepidemia da AIDS também são tratados nodocumentário.

NUGS INDICA

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As cientistas: 50 mulheres que mudaram o mundoAutora: Rachel Ignotofsky

Edição: Bluncher, 2017

O livro ilustrativo traz a contribuição de 50 mulheresque foram fundamentais para os campos da ciência,tecnologia, engenharia e matemática. Desde aantiguidade até os dias atuais, a obra reúneinteressantes infográficos sobre equipamentos delaboratório, taxas de mulheres que trabalham eatuam hoje nos campos da ciência, além de umglossário científico ilustrado.