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Ano 10 — n o 24 — Faculdade de Teologia da Igreja Metodista — Janeiro/março de 2002 Editeo da M orte para a V ida

RENDERS, Helmut. Tome as providências para consigo mesmo e todo o restante: dízimo e economia eclesiástica metodista histórica e atual e os/as pobres I. In: Mosaico - Apoio pastoral,

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Ano 10 — no 24 — Faculdade de Teologia da Igre ja Metodista — Janeiro/março de 2002

Editeo

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2 Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002

Vivemos um mo-mento singular nahistória do mun-

do. Os jornais fazem usode uma terminologia queera praticamente desco-nhecida há alguns anosatrás: seqüestro, atentado,“stress”, crime do colari-nho branco, crime ecoló-gico, entre outras violên-cias contra a sociedade.Não somente o ser huma-no está angustiado com as“prisões” e o medo que sãoimpostos sobre ele. Osanimais também estão so-frendo as conseqüênciasdessa enorme violência.

A celebração da Pás-coa, conforme os registrosbíblicos, pode iluminar osacontecimentos de hoje enos ensinar a caminhar emmeio a tanta violência. ABíblia nos ensina que aangústia e a escravidão sãoassuntos dominados pela

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graça de Deus. A Páscoaquer dizer isso: celebrar avitória da vida sobre amorte; a vitória da alegriasobre a dúvida e a triste-za.

As igrejas, necessaria-mente, têm que acreditare afirmar os ensinos que aPáscoa quer ministrar. Eo ministério pastoral daIgreja precisa reafirmar osideais e sentimentos quemoveram os primeiroscrentes para celebrarem osgrande atos de Deus emfavor deles. Profeticamen-te, aquele grupo de escra-vos e escravas não pensoude modo egoísta. Aindaque a sensação de alegriafosse enorme, aqueles/asescravos/as pensaram nofuturo, isto é, na constru-ção de um novo mundobaseado, agora, na vidaplena e boa para todos etodas.

Portanto, celebrar aPáscoa é promover umacordo com Deus, segun-do o qual estaremos rea-firmando o compromissode buscar incessantemen-te a vida boa e íntegra paraos seres humanos, seja noBrasil, no Afeganistão ouna Palestina.

É preciso que a popu-lação brasileira saiba quea Igreja Cristã, particular-mente a Igreja Metodista,busca celebrar um aconte-cimento gerador de liber-dade e vida abundantepara todos os seres huma-

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Mosaico Apoio Pastoral éuma publicação da Faculdade deTeologia da Igreja Metodista —Universidade dMetodista deSãoPaulo UMESP.

Reitor da Faculdade de Teo-logia: Clovis Pinto de Castro; Rei-tor da UMESP: Davi Ferreira Barros;Diretor Administrativo: OtonielLuciano Ribeiro. Editor do Mosai-co: Tércio Machado Siqueira. Con-selho Editorial: Hélerson BastosRodrigues, José Carlos de Souza,Paulo Roberto Garcia, Luiz CarlosRamos e Tércio Machado Siqueira.Secretário Executivo da Editeo,Edição de Arte e Editoração Ele-trônica: Luiz Carlos Ramos. Tira-gem deste número: 1.500 exempla-res. Distribuição interna.

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Ano X – Número 24janeiro/março de 2002

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Caixa Postal 5151, Rudge Ramos,São Bernardo do Campo, CEP

09731-970

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Fone: (0__11) 4366-5983Fax (0__11) 455-4899

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[email protected]

Bispo Josué Adam Lazier: Bis-po da Igreja Metodista na 4a

Região, mestre em Teologia– Bíblia (Novo Testamen-to).

Dilene Fernandes de Almeida:estudante de teologiada, 3a

Região, cursando o 3o ano.Donato Pfluck: pastor da Igre-

ja Evangélica Luterana noBrasil.

Geoval Jacinto da Silva: dou-tor, professor na área de Te-ologia Prática, e pastor da aIgreja no Ipiranga.

Helmut Renders: doutor, pro-fessor de Teologia Sistemá-tica, História e TeologiaMetodista e Coordenadorda Área Pastoral do Cam-pus Avançado da FT emPorto Velho.

José Carlos de Souza: mestre,professor na área de Histó-ria Eclesiástica, pastor daIgreja no bairro de Guaia-nazes, São Paulo.

Luiz Carlos Ramos: doutoran-do, professor na área de Te-ologia Prática, colabora pas-

toralmente na Igreja noIpiranga.

Paulo Roberto Garcia: doutor,professor na área de Bíblia(Novo Testamento), pastorna Igreja em São José dosCampos.

Tércio Machado Siqueira: dou-tor, professor na área de Bí-blia (Antigo Testamento),pastor co-adjutor na Igrejaem Vila Mariana, São Pau-lo.

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nos. Com isso em mente,devemos evitar toda novi-dade atraente que possaofuscar essa memória quetrouxe uma inédita revo-lução no modo de viver dasociedade humana.

Tércio Machado Siqueira.

Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002 3

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Quero falar deuma “coisa” ...Estudante! Essa

palavra, tal como a conhe-cemos, não aparece na Bí-blia. Contudo, seu senti-do perpassa por todo otexto sagrado. SegundoGálatas 3.24, esse texto éo aio (mestre, pedagogo)que nos conduz a Cristo,estabelecendo assim umarelação pedagógica de en-sino e aprendizagem entreDeus e seu povo. Sendoassim, todas e todos somosestudantes, alunas e alunos,discípulas e discípulos.

Pretendo, nesta refle-xão, estabelecer uma rela-ção entre duas revelações“sagradas”: a primeira dizrespeito ao texto deMateus 10.16-24 – noqual Jesus esclarece os de-safios de ser um discípu-lo, porque não dizer estu-dante, e instrui como estedeve ser (sede, portanto...)– e a segunda, é a bela can-ção “Coração de Estudan-te”, do compositor, poeta,“profeta” Milton Nasci-mento. Isso porque a re-velação divina, em suainefabilidade, não se limi-ta às páginas da Bíblia,mas vai para além delas,manifesta-se na arte e emtoda a vida.

Ambas as revelaçõesdiscorrem sobre os desafi-os de ser discípula e discí-pulo – de ser estudante.

Poderíamos, então,nos perguntar: Comodeve ser o coração de estu-

dante? Vejamos o que nosdizem o texto e a canção.

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O coração de estudan-te dever ser primeiramen-te prudente e simples.

No texto bíblcio, encon-tramos a seguinte afirmação:

“Sede, portanto, simplescomo a pomba e prudentescomo a serpente” (v. 16).

Costumamos interpre-tar essas duas palavrascomo sendo antagônicas,contudo, não o são neces-sariamente. Uma pessoaprudente é comedida,moderada, sensata, cons-ciente de si mesmo e, por-tanto, simples. Deixar deser simples se constitui emuma imprudência.

Na canção do Miltonencontramos idéia seme-lhante quando diz:

“Quero falar de uma coisa.Adivinha onde ela anda?Deve estar dentro do peitoou caminha pelo ar. Podeestar aqui do lado, bemmais perto que pensamos.A folha da juventude é onome certo desse amor.”

Aqui também encontra-mos referência à prudên-cia e à simplicidade, poisse fala de amor, e este temum nome certo: folha dajuventude. É folha, não éárvore, nem fruto. Sabeque é folha, e folha da ju-ventude, logo, é conscien-te de sua fragilidade einexperiência. E tem cons-ciência de si, o que certa-mente pressupõe disposi-ção para o aprender.

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Além de prudente esimples, o coração de es-tudante também deve sercorajoso e cuidadoso.

O texto bíblico nos dizque, por amor ao amigoJesus, os discípulos en-frentariam dificuldades:

“Entregues aos tribunais,açoitados, incompre-endidos, traídos, persegui-dos” (v. 17).

Também na cançãoessa idéia está presente:

“Já podaram seus momen-tos, desviaram seu destino,seu sorriso de menino e demenina quantas vezes se es-condeu.”

A paixão e compromissocom a verdade são carac-terísticas do coração deestudante. Por amor àamizade, este se arriscaráaos mais intensos desafi-os. Isso requer cautela ecoragem:

“E há que se cuidar da vida,e há que se cuidar do mun-do, tomar conta da amizade.”

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Finalmente, o coraçãode estudante haverá de serperseverante e sonhador.

O texto bíblico diz que:“Aquele porém que perse-verar até ao fim, esse serásalvo. Quando, porém, vosperseguirem numa cidade,fugi para outra (...) até quevenha o Filho do homem”(vs. 22-23).

Ou seja, não desanimem, eperseverem até o fim, até que

se concretize o sonho da vol-ta do Filho do Homem.

Também a cançãoaponta a perseverança, aesperança:

“Mas renova-se a esperan-ça, nova aurora a cada dia(...) e há que se cuidar dobroto, pra que a vida nos deflor e fruto. (...) Alegria emuito sonho espalhados nocaminho...”

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Portanto, o coração deestudante, deve ser pru-dente e simples, corajosoe cuidadoso, perseverantee sonhador. Não sejamoshipócritas, arrogantes emedíocres. Que, diantedos governadores e reis –que muitas vezes se cons-tituem de nossas próprias“verdades” absolutas, in-contestáveis e imutáveis –,possamos nos submeter àvoz do Espírito da verda-de que fala em nós. E quea verdade nos inquiete enos faça questionar valo-res, conceitos e preconcei-tos. Que sejamos constan-temente renovadose trans-formados.

Oxalá possamos, emdemonstração de prudên-cia e simplicidade, cora-gem e cuidado, perseve-rança e sonho assumir odesafio de sermos eternose eternas aprendizes. Sóassim manteremos

“Verdes: planta e sentimen-to, folhas, coração, juven-tude e fé.

Que Deus nos abençoe.

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Dilene Fernandes de Almeida

4 Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002

Memória e espe-rança são elementos cen-

trais nas religiões judaicae cristã. Elas falam de umDeus que age na históriahumana, com todas assuas contradições e ambi-güidades, e não num céutranscendente e imaginá-rio. Por isso, anunciar a féé proclamar o que o Se-nhor fez, faz e fará juntode seu povo e no mundo.A lembrança ativa, forta-lece a esperança. A espe-rança torna viva e atualizaa memória.

Podemos notá-lo, so-bretudo, por ocasião dasgrandes festas. Nesse mo-mento, a comunidade defé, ao recordar os grandesgestos de Deus, não se vol-ta apenas para o passado,mas celebra e antecipa, nopresente, o futuro espera-do. Não se trata, portan-to, de executar velhos ri-tuais ou seguir mecanica-mente cerimoniais desgas-tados pelo tempo. Os sím-bolos, que definem a iden-tidade comunitária, sãosempre reinterpretados àluz da novidade histórica.

Assim ocorreu com aPáscoa. À rememoraçãodo êxodo – a passagem daescravidão para a liberda-de – acrescenta-se a expec-tativa da ressurreição – apassagem da morte para avida. É certo que os/ascristãos/ãs não se limita-

ram a simplesmente repe-tir os ritos judaicos. Con-quanto não os negassem,o ensino e o ministério, apaixão e a ressurreição deJesus já não poderiam sercontidos nos moldes dasantigas práticas. A impor-tância do domingo, porexemplo, é justificada, emtom polêmico, por Ináciode Antioquia, mártir doinício do segundo século,nos seguintes termos:

“Assim os que andavam navelha ordem das coisas che-garam à novidade da espe-rança, não mais observan-do o sábado, mas vivendosegundo o dia do Senhor,no qual nossa vida se levan-tou por Ele e por Sua mor-te...”1

Enquanto memorial daressurreição, o primeirodia da semana se transfor-mava no centro da vida epiedade cristãs.

Mudança semelhanteacompanhou a celebraçãoda Páscoa, a qual – segun-do a opinião predominan-te entre estudiosos do cul-to cristão, como J. J. vonAllmen, W. D. Maxwell eJ. F. White – bem cedo seconverteu no ponto departida e no núcleo do anocristão. Embora não exis-ta farta documentação,nada nos autoriza a pen-sar que os primeiros dis-cípulos e discípulas deCristo deixaram de come-morar, de maneira pró-pria, os eventos pascais.

Encontramos, aliás, evi-dências dessa celebraçãona 1a carta de Paulo aosCoríntios (5.7-8). Porém,é somente no segundo sé-culo que os testemunhosde uma comemoraçãoanual da Páscoa são abun-dantes. Debatia-se, então,sobre a data mais adequa-da para essa solenidade. Asigrejas da Ásia Menor, ob-servando o calendário ju-daico, realizavam a festi-vidade em 14 de Nisan,sem levar em conta o dia

da semana, enquanto asigrejas do Ocidente, lide-radas por Roma, concen-travam sua devoção exata-mente no domingo subse-qüente a essa data. Acentralidade da ressurrei-ção fez com que o pêndu-lo recaísse sobre a práticaromana.

De qualquer modo, noséculo IV, a estação da Pás-coa compreendia, em di-versas partes do Império,especialmente em Jerusa-lém, conforme o testemu-

��(������������ �)��������� !�������������*��������*�José Carlos de Souza

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nho de Etéria2, uma sema-na inteira de comemora-ções. No domingo, cha-mado da Paixão ou deRamos, relembrava-se aentrada triunfal de Jesusna cidade santa. Nos pró-ximos três dias, cumpri-am-se os ofícios regulares,porém, as leituras doEvangelho se orientavampara os últimos dias doministério terreno de Cris-to. Em particular na quar-ta-feira, a atenção se vol-tava para a traição deJudas. Era difícil evitar aprofunda comoção quesubjugava os corações.

“Nem bem termina a leitu-ra, tão grande é o clamor eo gemido de todo o povoque, nesse instante, não háquem não seja levado às lá-grimas.”3

Na quinta-feira, a santaceia revivia a última refei-ção de Jesus com os após-tolos. Em determinadasigrejas, como a de Hipo-na, no norte de África,onde Agostinho era bispo,o costume de lavar os pésde doze pessoas pobres ouórfãs, em recordação dogesto de Jesus, logo se im-pôs.4

No cerne da celebraçãoda sexta-feira, está o sofri-mento e a morte de Cris-to. Membros da comuni-dade cristã, unindo-se àspessoas que estão prestesa receber o santo batismo,guardam estrito jejum. OSalmo 22 [“Deus meu,Deus meu, por que me de-samparaste?”] é lido, can-tado e meditado. Os rela-tos da paixão também sãopublicamente evocados.Em Jerusalém e tambémem algumas outras regi-ões, observa-se a prática deajoelhar-se e beijar o quese supõe sejam fragmentos

da cruz. A prostração e orecolhimento são tão in-tensos que mesmo a popu-lação não cristã se aperce-be que algo diferente, ex-tremamente significativo,está sucedendo. Já duran-te o sábado, nenhuma reu-nião pela manhã ou litur-gia especial é realizada. Aabstinência e o silêncioexpressam a angústia des-se tempo intermediário e,simultaneamente, predis-põem os fiéis para a gran-de vigília.5

A celebração da ressur-reição tem início com opôr do sol, na noite de sá-bado. O sentido dessa prá-tica é simbólico. Criadona luz da justiça, o ser hu-mano tornou-se prisionei-ro das trevas do pecado,mas Cristo o libertou:

“... agora – explica Agosti-nho – contamos os dias co-meçando das noites, porqueo nosso empenho é vir nãoda luz para as trevas mas dastrevas para a luz, aonde como auxílio do Senhor espera-mos chegar.”6

A vigília pascal possui,nessa época, forte apelopopular. A noite toda édedicada à leitura das Es-crituras, à oração, à pre-paração e administraçãodo batismo, culminandocom a celebração da Ceiado Senhor. A propósito,introduzidos na assem-bléia reunida, os recémbatizados, com vestesbrancas, recebiam, antesdo vinho da comunhão,um cálice com água, emsinal da purificação inte-rior, e outro com leite emel, trazendo à lembran-ça a plenitude da promes-sa divina.

A participação na vigí-lia pascal ordenava o coti-diano e reorientava todo

o viver cristão. Na repeti-ção ritual desses atos litúr-gicos, o fiel integrava aprópria história da salva-ção, fazendo a passagempara um novo estilo devida, para o qual a imita-ção de Cristo era o gran-de desafio. O mistério daressurreição integrava-seao dia a dia, o exercício damemória incorporava a es-perança, o amor e a parti-lha tomavam formas con-cretas. Não é casual que acelebração da Páscoa sus-citasse tanta paixão, comolemos no poema redigidopor Astério (? cerca de410), bispo de Amaséia,no Ponto, cujo fragmentocitamos a modo de con-clusão:

“Ó noite, mais clara que o[dia!Ó noite, mais luminosa[que o sol!Ó noite, mais branca que[a neve,mais brilhante que nossos[luzeiros,mais doce que o paraíso!Ó noite, que nãoconheces trevas,(...) ó noite pascal, portodo um ano esperada.

Noite nupcial da Igreja,Que fazes nascer os neo-[batizados...Noite em que o Herdeiro[introduzos herdeiros na herança”.8

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1 Aos Magnésios 9.1. In:Arns, Dom Paulo Evaristo(ed.). Cartas de SantoInácio de Antioquia. Comu-nidades Eclesiais em For-mação. Petrópolis, Vozes,1970, p. 53.

2 Cf. Novak, Maria da Glória(ed.). Peregrinação deEtéria. Liturgia e Catequeseem Jerusalém no século IV.Petrópolis, Vozes, 1971, p.96-106.

3 Idem, p. 98-99.4 Veja sobre o tema, Ha-

mman A.-G. Santo Agosti-nho e seu Tempo, São Pau-lo, Paulinas, 1989, p. 193-

207.5 Em sermão Sobre a Noite

Santa, Agostinho revela aexpectativa, e mesmo aansiedade, que cercavaessa celebração: “Qual é,pois, a razão porque numafesta anual estão hoje emvigília os cristãos? É quehoje é a nossa maior vigíliae ninguém pensa noutracelebração de aniversárioquando com impaciênciaperguntamos e dizemos:‘Quando é a vigília?’; ‘Da-qui a tantos dias é a vigília’.Como se, em comparaçãocom esta, as outras nãomerecessem tal nome”. In:Santo Agostinho. Sermõespara a Páscoa. Lisboa, Ver-bo, 1974, p. 154.

6 Idem, p. 157.7 Detalhes dos preparativos e

realização dessa cerimônia,conforme o uso em Roma,são registrados na TradiçãoApostólica de Hipólito deRoma. Liturgia e Catequeseem Roma no século III.Petrópolis, Vozes, 1981, p.46-55. Quanto ao costumede celebrar o batismo nes-sa oportunidade, prevale-ceu a opinião de Tertulianopara o qual “o dia mais so-lene para o batismo é porexcelência o dia da Pás-coa”, embora ele próprioreconhecesse que “todo odia é dia do Senhor. Cadahora, cada tempo pode serconveniente para o batis-mo” (O Sacramento do Ba-tismo: Teologia pastoral dobatismo segundo Tertuliano.Petrópolis, Vozes, 1981, p.71).

8 In: Hamman A.-G. (ed.).Orações dos Primeiros Cris-tãos. São Paulo, Paulinas,1985, p. 160-161.

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O campo semânti-co da teologia daPáscoa é amplo e

variado. Foram escolhidas,aqui, algumas palavras queestão estreitamente relaci-onadas à celebração daPáscoa desde o AntigoTestamento até o NovoTestamento. O objetivodeste estudo é equipar oseu estudo bíblico, bemcomo enriquecer a suaprática pastoral.

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Salvar é um verbo cen-tral na Bíblia. A línguahebraica possui muitosverbos que ajudam a mos-trar a diversidade e a ri-queza de significado quesalvar possui no contextobíblico. O verbo salvartem muitos sinônimos:yasa’ salvar (Êx 14.30),ga’al redimir (Êx 6.6; Os13.14), padah resgatar (Êx13.13, 15; Os 13.14),‘azar socorrer (Js 10.6),nasal livrar, libertar (Sl59.2), palat salvar (Sl37.40). Certamente, esterico quadro de palavrassinônimas mostra o gran-de interesse e importânciaque o tema salvar desem-penha dentro do ensinobíblico. Todavia, o verboyasa’ e seus derivados –hosya’ ele salva, yesu’ salva-ção, mosia’ salvador – cons-tituem-se os termossoteriológicos mais usadosna Bíblia. É que yasa’ é o

verbo usado quando Javéou o seu Ungido são refe-ridos. Por essa razão, o seuuso não é comum fora doâmbito religioso e teológi-co.

O conceito “salvar”, noAntigo Testamento, pos-sui uma interessante pecu-liaridade. “Salvar” nãocarrega uma reflexão poé-tica ou mitológica, mastão somente um testemu-nho histórico da ação deDeus em favor dos ho-mens e mulheres, enfim,do mundo. Assim, o atosalvífico de Javé é mostra-do, na Bíblia, de formabastante concreta. O povosofrido lamenta e clamapela ajuda de Deus (Êx3.7-22) que, em atenção aessa súplica, providenciatoda sorte de auxílio: en-via a resposta (Sl 20.6), li-berta (Sl 71.2), abençoa(Sl 28.9), salva (Sl 37.40),faz justiça (Sl 54.1), pro-tege (Sl 86.2) e redime (Sl106.1) o povo que quei-xa. Assim, a Bíblia vê Javécomo aquele que age eproduz salvação no meio

do povo (Sl 12.5). Porisso, Ele é designado comoaquele que realiza atossalvíficos em toda a terra(Sl 74.12).

Salvador é um dos tí-tulos mais usados no An-tigo Testamento para de-signar Javé. O povo bíbli-co confessará que Javé ohavia salvo (Is 17.10;43.3; 5124.5). O nome dogrande líder Josué afirmarque “Javé é Salvador”. Onome de Jesus tem essemesmo significado (Lc1.47.

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A palavra deserto pos-sui uma forte concentra-ção de significado teológi-co em toda a Bíblia. Paraentender o seu sentido épreciso partir do seu con-ceito geográfico. O deser-to é, primeiramente, des-crito como um lugar ter-rível (Dt 1.19), de estepese barrancos, seco e escuroque ninguém atravessa e

habita (Jr 2.6) e, também,ermo e solitário (Ez 6.14).Apesar dessas conotaçõesnegativas, a história salví-fica de Javé teve como pal-co principal o deserto.

A memória do ato li-bertador de Javé tem odeserto como seu cenáriocentral. A história bíblicanarra que o povo israelita,sob a liderança de Moisés,caminhou por quarentaanos no deserto até chegarà Canaã, a terra que manaleite e mel (Êx 3.8). Osprofetas disseram que essefoi o tempo mais fértil esignificativo da história dopovo bíblico (Os 2.14;13.5-6), e a celebração daPáscoa inclui, na sualiturgia, a dramatizaçãodos eventos do deserto (Êx12.1-14; Dt 16.1-8).

Foi no deserto que os/as escravos/as aprenderama viver comunitariamentee obedecer ao seu Deus.Além disso, foi no deser-to que esse grupo reconhe-ceu que não podia viver demodo egoísta e individu-alista, mas foi nesse auste-

"�#���.����/������������0�������������1����Tércio Machado Siqueira e Paulo Roberto Garcia

Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002 7

ro espaço que os hebreusaprenderam desfrutar, demodo comunitário, dagraça de Deus. Portanto,o deserto é lugar de deso-lação, mas também dacompanhia de Deus (Êx13.21); é o lugar sem fer-tilidade, mas foi o tempopleno da palavra e da gra-ça de Deus (Jr 2.2). Nodeserto, o peregrino olhapara o alto e somente vê osol escaldante; olha para oslados e somente vê areiaquente. A sua única espe-rança é confiar em Deus.Esta, certamente, foi a ex-periência daquele bandode escravos e escravas li-bertado por Deus, no Egi-to. Foi a partir dessa ex-periência que o profetaOséias falou pedagogica-mente ao povo esquecidoe, conseqüentemente, de-sobediente, durante osdias do Reino de Israel –“Eis que eu a atrairei, e alevarei para o deserto, e lhefalarei ao coração”(2.14).

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Na tradição pascalveterotestamentária, a ce-lebração da Páscoa prece-dia o deserto. Na tradiçãosinótica, o deserto prece-de a Páscoa. O desertomarcou o início do minis-tério de Jesus, além deaparecer em algumas vezesna história do ministério.Após o batismo, Jesus re-tirou-se ao deserto ondeele jejuou, orou e foi ten-

tado. No deserto, apósvencer a tentação, Ele foiservido pelos anjos. Destemodo, o deserto é lugar deprovação e de providênciadivina. Diferentemente dopovo de Deus na históriada peregrinação no deser-to, Jesus venceu a prova-ção e manteve-se fiel aDeus. Por isso, ele não ex-perimentaria a morte àsportas da terra prometida,como aconteceu comMoisés. Assim, junta-sedeserto e ressurreição nahistória de Cristo, unindobatismo e eucaristia emum mesmo movimento.Batismo e deserto marcamo início do ministério deJesus, enquanto a eucaris-tia e a ressurreição mar-cam o final.

A partir daí, a IgrejaCristã – como, por exem-plo, as comunidades doApocalipse – enxergam asua provação como o de-serto, onde as águas dodragão tentam engolir acomunidade (a provação)e o deserto engole a água(providência).

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O povo tem tentadoentender o significado dosnúmeros, porém é, prova-velmente, impossível che-gar a uma explicação ple-na e completa. Cada povoconstrói uma simbologiamuito própria. Portanto,não é possível explicar osignificado hebraico donúmero 40, tomando porbase o sentido egípcio oucananeu.

O número 40, entre osisraelitas, certamente, pos-sui um significado teoló-gico que tem sua origemna própria história dopovo. É necessário lem-brar que os ensinos, hinos,liturgias, ou outra expres-são de comunicação, con-tidos na Bíblia, deverãoser vistas à luz da experi-ência histórica do povo.Assim deve ser visto o sig-nificado do número 40.

No Antigo Testamen-to, o número 40 ocorremuitas vezes relacionado amomentos significativos

da história bíblica. Entretantas ocorrências, quatrosão destaques no AntigoTestamento: o período dodilúvio foi de 40 dias (Gn7.4); os hebreus caminha-ram 40 anos pelos deser-tos até atingir Canaã (Js5.6); a duração do bomreinado de Davi foi de 40anos (2Sm 5.4); Elias ca-minhou 40 dias para en-contrar com Deus noSinai (1Rs 19.8). Estasquatro ocorrências estãoligadas a eventos fundan-tes e significativos na his-tória bíblica do AntigoTestamento. Não devería-mos entender o número40 como um múltiplo dequatro? O número 4, pro-vavelmente, tem a ver comos quatro pontos cardeaisdos quais vêm os quatroventos que abastecem aterra de oxigênio. O rela-to da Criação afirma quequatro rios irrigam toda aterra (Gn 2.10-12). Nãoestaríamos diante do sím-bolo da intervenção divi-na que renova a vida e aesperança no mundo? Portudo isso que foi falado,

8 Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002

acima, provavelmente, onúmero 40 sinaliza o iní-cio de um novo períodode atividade de Deus.

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No NT, o simbolismodo número 40 continua.Por exemplo, Jesus reco-lhe-se no deserto por 40dias e 40 noites (Mt 4.3;Mc 1.13; Lc 4.2). Umaoutra ocorrência significa-tiva, na vida e obra de Je-sus, é mencionada porAtos dos Apóstolos: Jesus,após a ressurreição, per-maneceu na terra 40 dias(At 1.3). Certamente, onúmero 40 lembra a difí-cil, mas significativa cami-nhada do povo de Israelno deserto.

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O nome na Bíblia nãoé um simples rótulo quese coloca em uma pessoaou acontecimento paratorná-lo mais atraente. Onome representa a realida-de profunda do ser que oconduz. Assim é a Páscoa.A palavra páscoa vem dohebraico pesah cujo signi-ficado é salto, movimento,caminhada, travessia. Onome pesah está estreita-mente ligado à históriados acontecimentos queantecederam a saída dos/

as escravos/as hebreus ehebréias, do Egito (Êx12.11, 21, 27, 43, 48;34.25), em direção à liber-dade e à vida plena, emCanaã. O termo pesah, sal-to, travessia é histórico,mas ganha sentido teoló-gico por várias razões:Deus passou ao largo dasportas das casas dos/as es-cravos/as hebreus ehebréias, pintadas comsangue de carneiro sacri-ficado, e assim, livrandoos filhos primogênitos damorte (Êx 12. 12-13, 23)Deus fez com que essegrupo de escravos/as atra-vessassem os desertos paraganhar a liberdade na ter-ra da promessa, Canaã.Por fim, Deus fez oshebreus e hebréias salta-rem da escravidão para aliberdade, da angústia parao prazer de viver e da mor-te para a vida. Todos essesmotivos históricos leva-ram os descendentes des-ses/as escravos/as a orga-nizarem uma celebraçãocúltica onde a ênfase serialembrar os grandes atossalvíficos de Deus, em fa-vor de seus pais que eramescravos/as no Egito. As-sim, a partir da chegada aCanaã, os/as descendentesdesses/as escravos/as pas-saram a celebrar, uma vezpor ano, esse grande salto,dos hebreus, para ganha-rem a liberdade. Natural-

mente que o nome dessacelebração veio a ser pesah,isto é, páscoa. É supostoque, a partir da chegadaem Canaã, fim do séculoXIII a.C., o povo hebreucelebrou a Páscoa, cuja fi-nalidade primordial é en-sinar as futuras geraçõesque Deus liberta e oferecevida plena a todos/as. As-sim, quem celebra a Pás-coa aprende que Deus nãoadmite escravidão.

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A festa da Páscoa, nocristianismo, é um dos ele-mentos que anuncia a ori-gem judaica da fé cristã.É importante nesse cami-nho perceber que na cele-bração da Festa da Páscoajudaica o drama fundanteda fé cristã se insere deforma decisiva.

Jesus, na condução darefeição pascal, anunciouo memorial que identifi-caria as reuniões dos futu-ros seguidores de seu mo-vimento. A partir dapáscoa judaica – provi-dência divina e libertação– o cristianismo anunciaa redenção e a ressurreição.Embora pareçam distin-tos, esses termos têm pro-fundas ligações com o sen-tido veterotestamentário.

A morte de Jesus, emmeio às celebrações pas-cais, representou a vitóriaaparente das forças da

morte. Os poderes institu-ídos venceram o Ungidode Deus. Contudo, a res-surreição é a resposta deDeus que anuncia a vitó-ria definitiva da vida.Com isso, a ressurreiçãode Cristo representa a pro-vidência divina que salvao Ungido e o liberta, des-ta vez, da força da morte.

Deste modo, a Páscoacristã relê a concepção ju-daica antiga, ampliando ocampo da libertação paraa libertação da morte.Com isso, o sentido deressurreição do indivíduo– novidade no pensamen-to judaico – junta-se aoconceito de Páscoa defi-nindo os contornos da fécristã.

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No Antigo Testamen-to, encontramos dois ver-bos importantes para acompreensão do significa-do de celebração e culto:lembrar e esquecer. Eviden-temente que lembrar émais importante que es-quecer. Na língua hebrai-ca, lembrar é zakar. A or-dem de Moisés aos escra-vos hebreus, no Egito, ex-plica bem o valor de zakarlembrar para aquele povoem formação: “Lembrai-vos deste mesmo dia, em

Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002 9

que saíste do Egito, dacasa da servidão; pois commão forte Javé vos tirou delá...” (Êx 13.3). Por outrolado, xakah esquecer pos-sui o significado de apa-gar da memória tudo oque Deus fez em favor doser humano e do mundo.Assim, a recomendação deMoisés transformou-se nasemente que deu motivoe razão a toda festa ou ce-lebração comunitária. Porisso a recomendação bíbli-ca é enfática e urgente:“Lembrai-vos e não vosesqueçais” (Dt 9.7).

No Antigo Testamen-to, os verbos lembrar e es-quecer estão muito relaci-onados à atuação de Deusno mundo. Assim, não éencontrada indicação bí-blica para que o povo lem-bre e celebre a data de ani-versário de algum líder dopovo. A recomendaçãobíblica é para que o povolembre, primeiramente,dos atos salvíficos de Deusem favor de homens e asmulheres ao longo da his-tória. Ao mesmo tempo,a necessidade de uma or-dem na comunidade fezcom que os líderes apelas-sem para que povo lem-brasse dos mandamentosdivinos. A importância doato de lembrar é, na Bí-blia, tão grande e funda-mental para a existência dacomunidade do povo bí-

blico que legisladores(Nm 15.39), historiadores(Dt 6.5-9; 26.20-24), sa-cerdotes (Sl 136), profetas(Jr 2.2; Mq 6.1-5), sábios(Ec 12.1) recomendavamao povo a guardar na me-mória, bem como cele-brar, os favores de Deus.Para a Bíblia, zakar lem-brar é criar, construir elançar as bases de umpovo, enquanto que esque-cer é o mesmo que destruire fazer morrer a esperança.

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A memória é a base dasobrevivência do povo ju-deu. Começando pelalembrança da criação e aconseqüente manutençãoda vida por Deus, passan-do pelos atos do passado,que confirmam a ação deDeus em favor de seupovo e garantem o futuroescatológico, chega, inclu-sive, até a perpetuação donome.

O verbo relembraraparece poucas vezes noNovo Testamento, sendo

que, nestas poucas vezeshá uma maior concentra-ção em textos litúrgicos,de modo especial nos tex-tos eucarísticos, isto é, li-gados à Celebração daCeia do Senhor. Paulo usaesse verbo quando ele querchamar a atenção da co-munidade de Corinto so-bre a tradição eucarísticaque ele recebeu (1Co11.24). Na maioria doscasos, o uso do verbo estáassociado ao contextoveterotestamentário dorelembrar para não mor-rer. Tanto que, mesmo nouso negativo do verbo queo livro de Hebreus faz, háum diálogo com a tradi-ção do AT. Para Hebreus(10.3), o relembrar da tra-dição mantém viva a cons-ciência do pecado. Destemodo, para a epístola, osacrifício de Jesus superaesse relembrar constante.

A tradição veterotesta-mentária fecunda os pou-cos textos do Novo Testa-mento, onde a maior par-te aponta para a importân-

cia do memorial pascal eda própria pessoa de Cris-to e se tornam em sinali-zação presente dos atossalvíficos de Deus. A pes-soa de Cristo e o EspíritoSanto se tornam em atua-lização constante da me-mória salvífica.

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Entre os elementos darefeição pascal, a carneanimal é, no Antigo Tes-tamento, a mais constan-te, em todas as prescrições.O animal que fornece acarne para o sacrifíciopascal é o kebes ou kesebcordeiro macho. A litera-tura do Antigo Testamen-to mostra que esse animalera muito querido pelopovo bíblico, por váriasrazões: (a) o kebes carneiroera considerado o animaldoméstico mais popular,por Israel e os povos vizi-

10 Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002

nhos; (b) em Israel eraproibido castrá-lo ou mes-mo adquiri-lo estéril deoutros povos (Lv 22.24-25); (c) não é por acasoque a legislação determi-nava o carneiro como ani-mal mais desejado para osacrifício (Êx 12.5); (d) eleé usado metaforicamentepara exaltar a afetividadeentre o ser humano e oanimal (2Sm 12.3) que dáforça e coragem ao pas-tor para defendê-la do pe-rigo (1Sm 17.34; Ez 34.1-31). Por essas razões, Isra-el era comparado a umaovelha desgarrada (Sl119.176). Contudo, oexemplo mais claro en-contra-se no 4o canto doServo de Javé (Is 52.13-53.12), quando, numariquíssima metáfora, opovo exilado na Babilôniaé comparado a uma ino-cente ovelha (Is 53.7).

A razão do grande ca-rinho do povo bíblico pelocarneiro ou a ovelha temum motivo histórico. Ini-cialmente, Israel foi umpovo das estepes que cir-cundavam as cobiçadasregiões agrícolas; após achegada a Canaã, o povobíblico alcançou as mon-tanhas da Palestina (Jz1.19, 27-29), e somente,mais tarde, é que eles con-quistaram as planícies,tornando-se agricultores.Assim, o carneiro e a ove-lha fizeram parte da his-tória do povo bíblico nasduas primeiras fases de suavida. Além de alimentar eproteger o povo do frio,esse animal era o símboloda mansidão.

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O Novo Testamentousa o termo cordeiro pou-cas vezes. A partir da tra-

dução da Bíblia Hebraicapara o grego, (septuagin-ta), há uma distinção en-tre a ovelha (próbaton) ecordeiro (amnós). Amnósdesiganava o cordeiro deum ano. Essa condição erarequerida para o sacrifícioexpiatório da tradiçãoveterotestamentária. Ocristianismo em seus escri-tos canônicos usa a figurado cordeiro para explicara morte de Jesus. Ele apa-rece como o cordeiro queredime todo o povo (Jo1.29-34; I Pd 1.19).

Com isso, o escândaloda cruz ganha um sentidoteológico de expiação dopecado. Jesus, com suamorte, assumiu o papel decordeiro que, mediante osangue, expia o pecado.Esse sentido vicário surgecomo uma releitura doimpacto negativo que acruz causou na comunida-de (que Paulo define como termo escândalo).

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As prescrições para arefeição pascal não sãouniformes e fáceis decompreendê-las na ordemcronológica. Todavia, to-memos uma das reporta-gens encontradas no An-tigo Testamento (Êx 12.1-14) para esboçar a quali-dade da refeição pascal.

Provavelmente, este textocontém alguns elementosprimitivos dessa celebra-ção. Primeiro, o sacrifícioda ovelha deveria ser rea-lizado no crepúsculo dodia 14 do 1o mês do ano.Segundo, o animal a sersacrificado deveria estarescolhido e separado apartir do dia 10. Terceiro,a oferta deveria ser comi-da por todos os membrosda família, bem como dosvizinhos e amigos convi-dados. Quarto, o animaldeveria ser escolhido dorebanho jovem de carnei-ro, não devendo apresen-tar qualquer defeito oumancha. Quinto, o sanguedo carneiro deveria serpassado nas portas e nastravessas das casas. Sexto,a carne do carneiro sacri-ficado deverá ser assada nofogo e comida, à noite,acompanhada de pãesázimos e ervas amargas.Sétimo, era proibido co-mer carne crua ou cozidana água, bem como algu-mas partes do animal,como a cabeça, as víscerase as pernas. Oitavo, todaa refeição prescrita deve-ria ser comida apressada-mente, numa atmosfera dedramatização, isto é, comlombos cingidos, sandáli-as nos pés e cajado na mão.Nono, as ofertas deveriamser comidas dentro dacasa, até o alvorecer. Oque restasse dessa refeiçãodeveria ser totalmente

Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002 11

queimada.De tudo o que foi es-

boçado, a partir do relatode Êxodo 12.1-14, algu-mas conclusões ficam sa-lientes: (1) essa liturgiapascal quer destacar a im-portância da família paraa sobrevivência futura dopovo bíblico; (2) o valorda mesa de refeição não ésomente para o alimentofísico, mas também servepara o fortalecimento doslaços comunitários e comDeus; (3) essa reunião des-tinava-se manter viva amemória de libertação dopovo, através da dramati-zação dos fatos ocorridosdurante o processo de fugada escravidão egípcia.

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A refeição comunitáriaé um dos elementos im-portantes na fé israelita.Na fé veterotestamentária,ela define etnia e família.Por isso, era uma questãocomplicada para um ju-deu a refeição com umnão judeu. O cristianismoconservou esse elementoimportante da fé cristã,mas dando-lhe um senti-do mais amplo, onde a re-feição definia o povo deDeus, que não era retrata-do nem sanguineamentee nem geograficamente,mas sim pelo conceito daconfissão de fé (aquelesque fazem a vontade demeu Pai).

Nos eventos pascais

que marcaram a paixão deCristo, a refeição inicia econclui o drama. Antes daprisão, Jesus come a refei-ção pascal com seus discí-pulos e institui o memo-rial da Páscoa. Após a res-surreição, Jesus revive a re-feição pascal, comendocom os discípulos (Lc24.30ss; Mc 16.14).

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O conceito de ressur-reição é um conceito mui-to tardio na fé judaica.Alguns profetas anuncia-ram a ressurreição do povocomo uma expectativa deredenção do povo. A res-surreição do indivíduo sóvai aparecer no pensamen-to judaico a partir do 2o

século a.C. É uma das ex-pectativas importantesque irá fecundar o pensa-mento apocalíptico, quesurge nesse período. Des-te modo, soma-se a ressur-reição dois outros impor-tantes temas teológicos: féem um mundo vindouro,que significaria a interven-ção definitiva de Deus nahistória humana e o julga-mento escatológico, ondeos bons serão punidos e osinjustos serão condena-dos.

No conceito de ressur-reição, mais do que a vi-tória definitiva da vidasobre a morte, aparece oconceito da justiça divinaque será exercida no mo-

mento da implementaçãodefinitiva do Reino deDeus (Reino da Justiça). Écomum nos extratos maisantigos do Novo Testa-mento o uso do verbo le-vantar (egeiro) no passivo,demonstrando com isso aação divina na salvação deJesus da morte. Este sen-tido é, também, aplicadoa comunidade cristã a qualparticipa da morte e, con-seqüentemente, da ressur-reição de Jesus.

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Jejum – na línguahebraica sum – é a absten-ção de alimento por umespaço de tempo. O jejumera um elemento da práti-ca religiosa israelita. Toda-via, ele era também prati-cado por pessoas de mui-tas religiões antigas. NoAntigo Testamento, o je-jum tem alguns objetivos:(a) ele sinaliza o pesar dealguém, em vista do fale-cimento de um ente que-rido (1Sm 31.13; 2 Sm1.12; 3.35) ou de um de-sastre nacional (Ne 1.4);(b) ele mostra o sentimen-to de arrependimento dealguém, por um gestoindevido. Essa atitude dearrependimento caracteri-za-se como um gesto deauto-humilhação (Ne 9.1-3; Jr 14.12; Jl 1.14; Sl35.13-14); (c) o jejum éum exercício de fé desti-nado a chamar a atenção

de Deus, em vista de umperigo iminente (2Sm12.16-25; Jr 36.9; Jn 3.5);(d) o jejum acontece quan-do alguém tem que tomaruma decisão difícil ou ini-ciar uma missão impor-tante e espinhosa (Et4.16). A prática do jejumnão teve, na Bíblia, apro-vação unânime do povo.Alguns profetas criticarama prática do jejum, porqueele tinha se tornado umrito meramente externosem sentimento interior(Is 58.1-14; Jr 14.2; Zc7.1-7). Após a destruiçãode Jerusalém (587 a.C.) eo exílio na Babilônia, hou-ve uma enorme valoriza-ção da prática do jejum.

No Novo Testamento,o jejum é pouco citado,provavelmente em razãoda excessiva valorizaçãodada pelos fariseus. Jesusmostrou-se indiferentequanto ao jejum (Mt 6.16-18; Mc 2.18-20), mas nãoo excluiu (Mt 4.1-11).Antes, sugere que ele sejapraticado às ocultas, emcasa, para que ele não setorne um meio de promo-ção pessoal. A Igreja Pri-mitiva adotou o jejum (At13.2-3; 14.23) como pre-paração para a escolha deseus líderes, mas nas car-tas dos apóstolos, o jejumnão é mencionado.

12 Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002

eram abençoados antes deserem consumidos, ou seja,o chefe da casa agradecia aDeus, louvando o seu nomepelos dons recebidos.

OOOOOração:ração:ração:ração:ração: Bendito sejas tu...HHHHHomens:omens:omens:omens:omens: Louvamos-te, ó

Deus Eterno, porque tu ésbom e a tua misericórdiadura para sempre. Abres atua mão e satisfazes a todos.Amém.

Comentário:Comentário:Comentário:Comentário:Comentário: O vinho era ser-vido 4 vezes durante a refei-ção pascal. (Serve-se o vinho)

TTTTTodos:odos:odos:odos:odos: (Erguem o cálice e di-zem) Bendito sejas tu, Se-nhor nosso Deus, rei douniverso, que criaste o fru-to da videira (Todos tomamum gole do primeiro cálice).

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Comentário:Comentário:Comentário:Comentário:Comentário: Temos aqui trêspães ázimos (matsah). Entreos iraelitas, havia um pão

para cada refeição diária. Nodia de sábado havia dois, emlembrança à dupla porçãode maná que colhiam nosexto dia, quando peregri-navam no deserto. Na Pás-coa havia três pães ázimos,pães sem fermento, usadostambém por Jesus para ins-tituir a Santa Ceia... (o pãoé partido ao meio) ... Eis opão do tormento, que nos-sos pais comeram no Egito.Todos que têm fome, ve-nham e comam! Todos queo desejarem, venham e ce-lebrem a páscoa conosco.Este ano festejamos aqui;ano que vem, na terra deIsrael, em Jerusalém. Nesteano muitos ainda se achamem servidão; que no próxi-mo ano todos possam serlivres!

TTTTTodosodosodosodosodos::::: Seja a Páscoa uma fes-ta de libertação, de vida e depaz com Deus, para nós epara o nosso próximo, pormeio da ressurreição de Je-sus Cristo.

Comentário:Comentário:Comentário:Comentário:Comentário: Comemos estepão ázimo, sem fermento,

porque os nossos pais nãotiveram tempo suficientepara deixar a massa fermen-tar quando o Rei dos reis semanifestou e nos libertou.Como dizem as EscriturasSagradas: “Os israelitas fize-ram pão sem fermento com amassa que haviam levado doEgito, pois os egípcios os ha-viam expulsado do país tão derepente, que eles não tinhamtido tempo de preparar comi-da nem de preparar massacom fermento.” Agora, tome-mos todos um pedaço de pãoe digamos em conjunto:

TTTTTodos:odos:odos:odos:odos: Bendito és tu, Senhornosso Deus, rei do univer-so, que da terra tiras o pão..

HHHHHinoinoinoinoino

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HHHHHinoinoinoinoino

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Comentário: Comentário: Comentário: Comentário: Comentário: “Haggadah” sig-nifica narrativa. É o recontarda história da primeira Pás-coa, e sempre teve grande

������������Donato Pfluck*

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Para a ceia, sugerimos que sejam preparados ovelhaassada, pão ázimo dos judeus e vinho, já que é umjantar. Durante a ceia, os cerimoniais vão sendo

explicados e comentados livremente. Esta liturgia pode tor-nar-se um momento muito significativo para a comuni-dade, pois ajuda o povo a entender a Santa Ceia e ahistória do povo de Israel. Para reforçar o espírito comuni-tário, podem ser vendidos convites a um preço simbólico(para se saber quantos vão participar) e depois se recolheuma oferta para cobrir os gastos.

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HHHHHino de invino de invino de invino de invino de invocaçãoocaçãoocaçãoocaçãoocação

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Comentário:Comentário:Comentário:Comentário:Comentário: Nos laresisraelitas, era tarefa da mãeacender as luzes dos cande-eiros, dando vida e alegriaao ambiente da festa.

MMMMMulherulherulherulherulhereseseseses: Ó Deus de Abraão,Isaque e Jacó, que o brilhodesta festa se espalhe portoda a face da terra, levan-do o clarão de tua luz divi-na a todos os que vivem emtrevas e servidão. Que estacelebração, na qual lembra-mos a libertação de nossospais do domínio de Faraó,nos faça, com espírito agra-decido, lutar contra todaforma de opressão. Abençoaa nós e a nossas famílias coma paz do Espírito Santo. Emnome de Jesus.

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Comentário:Comentário:Comentário:Comentário:Comentário: Todos os alimen-tos servidos na Páscoa(como em todas as refeições)

Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002 13

valor educativo, especial-mente para as crianças. Porisso, uma (ou quatro)criança(s) fará(ão) as quatroperguntas tradicionais:

CCCCCriançariançariançariançariança(s)(s)(s)(s)(s)::::: 1) Por que esta noi-te é diferente das outras?2) Todas as noites comemostodo tipo de pão. Por quehoje comemos só pão semfermento? 3) Nas outrasnoites comemos qualquertipo de verdura. Por quehoje comemos ervas amar-gas? 4) Todas as noites co-memos sem cerimônias es-peciais. Por que hoje cele-bramos a Páscoa ?

Comentário:Comentário:Comentário:Comentário:Comentário: Respondendo aestas perguntas, vamos ou-vir o relato bíblico da saídado povo de Israel do Egito,conforme se encontra regis-trado em Êxodo 12. 1 a 42.(Procede-se a leitura)

SSSSSalmo 117almo 117almo 117almo 117almo 117Louvai ao Senhor vós todosos gentios, / louvai-o todosos povos. / Porque muigrande é a sua misericórdiapara conosco. / E a fidelida-de do Senhor subsiste parasempre. Aleluia.

(C(C(C(C(Cantado)antado)antado)antado)antado) Glória seja ao Pai,ao Filho e ao Santo Espíri-to, como era no princípio éhoje e para sempre, sempree sem fim. Amém. Amém.

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(Interrompe-se o “séder”, o ri-tual propriamente dito, e ojantar é servido. A refeição éum momento de alegria re-verente e comunhão fraternal,por isso toma-se do segundocálice. O ritual continua apósa refeição.)

OOOOOração ração ração ração ração (pode ser cantada):::::Vem, Jesus, ó benigno Se-nhor! Sacia-nos sempre porteu favor. Amém. Amém.Amém.

HHHHHinoinoinoinoino

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D:D:D:D:D: Bendigamos ao Senhor.TTTTTodos: odos: odos: odos: odos: Que o nome do Se-

nhor seja bendito agora epara sempre!

D:D:D:D:D: Bendito seja o Senhor, nos-so Deus, rei do universo,que alimenta o mundo in-teiro com sua bondade, gra-ça, amor e misericórdia. Eledá o pão a todas as criatu-ras, pois eterno é o seu amore santo o seu nome. Ele équem tudo sustenta, fazbem a todos e dá alimentoa todos os seus filhos e fi-lhas.

TTTTTodos:odos:odos:odos:odos: Bendito sejas, Senhornosso Deus, que dás alimen-to a todas as criaturas.(É servido o terceiro cálice, o“cálice da bênção”)

SSSSSalmoalmoalmoalmoalmo 116 116 116 116 116(Todos se põem em pé, para aleitura responsiva do Salmo116. 12 a 19, parte do Gran-de Hallel)

D:D:D:D:D: Que darei ao Senhor portodos os seus benefício paracomigo ?

TTTTT::::: Tomarei o cálice da salva-ção, e invocarei o nome doSenhor.

D: D: D: D: D: Cumprirei os meus votosao Senhor, na presença detodo o seu povo.

TTTTT::::: Preciosa é aos olhos do Se-nhor a morte dos seus san-tos.

D: D: D: D: D: Senhor, deveras sou teu ser-vo, teu servo, filho da tuaserva.

TTTTT: : : : : Quebraste as minhas cadei-as.

D: D: D: D: D: Oferecer-te-ei sacrifícios deações de graça, e invocarei onome do Senhor.

TTTTT: : : : : Cumprirei os meus votos aoSenhor, na presença de todoo seu povo,

D:D:D:D:D: nos átrios da casa do Se-nhor, no meio de ti, ó Jeru-salém.

TTTTT: : : : : Bendito sejas tu, Senhor,nosso Deus, rei do univer-so, que criaste o fruto da vi-deira.(Todos tomam, novamente,do cálice da bênção)

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OOOOOração:ração:ração:ração:ração: Ó Senhor Deus,Deus de nossos pais, ao fi-nal desta ceia, que lembra apáscoa do povo de Israel e

sua libertação do Egito, bemcomo a ceia que Jesus cele-brou com seus discípulos nanoite em que foi traído –pedimos que nos ajudes alevarmos ao nosso dia-a-diaesta mensagem de liberda-de e de vida.

HHHHHomens:omens:omens:omens:omens: Tira-nos da escravi-dão que nós mesmos bus-camos e à qual facilmentenos submetemos: a escravi-dão do poder, do dinheiro,dos prazeres, da vida semsentido. Faze-nos compre-ender que a liberdade quepedimos e queremos deveser também a liberdade paraos outros.

MMMMMulherulherulherulherulheres:es:es:es:es: Na medida das nos-sas capacidades, em nossofalar e agir, queremos coo-perar no sentido de que nin-guém viva sob terror, medo,pobreza ou opressão. Acimade tudo, que ninguém vivasob a escravidão do pecado,que é a fonte de todas asoutras escravidões.

TTTTTodos:odos:odos:odos:odos: Que a luz da liberdadealcance as mais remotas re-giões do mundo e o cora-ção de cada ser humano!Então poderemos vivercomo teus filhos e como ir-mãos plenamente livres,com aquela liberdade quenos deste por meio de Jesus,teu Filho, nosso Senhor.Amém. Vem, Senhor Jesus!

DDDDDirigenteirigenteirigenteirigenteirigente: Que o Deus Eter-no os abençoe e os guarde;que o Deus Eterno os tratecom bondade e misericór-dia; que o Deus Eterno olhepara vocês com amor e lhesdê a paz.

TTTTTodos: odos: odos: odos: odos: Amém.HHHHHinoinoinoinoino

(Após a ceia, a comunidadese dirige para o santuário/al-tar, para a Cerimônia deDesguarnecimento da Mesa.Durante o percurso, relem-bra-se o sofrimento de Cristono Gêtsemani).

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(Após a ceia, saimos em pro-cissão, cada um carregando

uma vela que sobrou da ceia,para a Igreja. No meio do ca-minho paramos em dois mo-mentos para ler trechos da Bí-blia que contam o que acon-teceu na Quinta-feira Santaà noite. Quando chegamos naigreja, que está apenas com aluz atrás da cruz acessa, é lidomais um trecho bíblico e fei-ta uma oração, sempre comfundo musical. Após, todos ospresentes são convidados paradesguarnecerem o altar e aigreja, ou seja, são retiradostodos os ornamentos, cartazes,flores. A igreja é desnudada.As últimas coisas são: cobriro altar com um pano preto,colocar as sete velas e o círiopascal, a Bíblia e a cruz. Porúltimo, com destaque, a co-roa de espinhos na cruz e opano preto. Finaliza-se comuma oração e a bênção. Possogarantir que é um cerimoni-al marcante!)

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* Esta ceia é uma adaptaçãode um antigo Lar Cristão etambém foi publicado, senão me engano, numa VozConcordiana [Igreja Lutera-na]. Como vocês sabem, nomundo nada se cria; tudo secopia. Desculpem-me se al-guém é o autor, mas se atéestão quebrando as paten-tes dos remédios pra AIDS,porque não podemos copi-ar pra melhor divulgar a Pa-lavra de Deus? Quandodescobrirem os autores, po-dem colocar os devidos cré-ditos. É que uso essa, e ou-tras liturgias, há tempo esempre as readapto. Porisso já nem sei o que é dequem! (Nota do Autor)

** Para esta publicação, oseditores do Mosaico ApoioPastoral fizemos pequenasadaptações redacionais e,principalmente, suprimindoas indicações hinódicas ori-ginais, para dar a oportuni-dade de cada comunidadeescolher os cânticos segun-do as suas preferências e oseu repertório local. Pedi-mos a compreensão doRev. Donato Pfluck por es-sas liberdades (Nota dosEditores).

14 Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002

Na edição de no-vembro de 2001o Expositor Cris-

tão, lê-se que o ColégioEpiscopal e a COGEAM daIgreja Metodista

“estabeleceram os dízimoscomo um dever a ser cum-prido por todos mem-bros”.1

Não é a primeira vez quealgo semelhante acontecena Igreja Metodista noBrasil. Neste texto, relem-

bro brevemente o vai evem dessa discussão e, de-pois, investigo a busca doequilíbrio entre a respon-sabilidade orçamentária esocial no metodismo pri-mitivo.

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Sabe-se que um dosmaiores obstáculos da au-

tonomia da Igreja Meto-dista foi a sua indepen-dência financeira, ou seja,o seu auto-sustento. Nes-sa fase, entretanto, osCânones continuam men-cionando “contribuiçõesregulares”, sem especi-ficações mais precisas.2

Já em 1950, o VI Con-cílio Geral aprovou odízimo como obrigatório.A decisão foi revogadapela Comissão de Consti-

tuição e Justiça3,provavelment, por que oConcílio Geral não tinhamudado o respectivo pa-rágrafo nos Cânones. Em1953, M. A. Niedermeyerpublicou um livro sobremordomia cristã para cri-anças.4 O Concílio Geral,em 1954, cria a base cons-titucional do dízimo, euma tese de Borges discu-te o tema em 1956. 5 Oslivros de V. S. Azariah6

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+����1 Veja Expositor Cristão, No-

vembro, 2001, p. 4.2 O dízimo nunca aparece

como dever nos Cânonesda Methodist EpiscopalChurch; Methodist Episco-pal Church, South Meth-odist Church ou UnitedMethodist Church. Entretan-to, encontra-se o dízimocomo orientação, por exem-plo, na Alemanha: Lehre,Verfassung und Ordnungund der Evangelisch-metho-

distischen Kirche, Stuttgart1999, § 106.

3 Expositor Cristão, 1a quin-zena de 1978, p. 19.

4 NIEDERMEYER, Mabel A.Este Mundo Maravilhoso.Livro sobre Mordomia Cris-tã para Crianças, São Pau-lo: Junta Geral de EducaçãoCristã da Igreja Metodista,1953.

5 Talvez estimulou a situaçãoa monografia BORGES,Jayme Alfredo. Mordomia

um Princípio Cristão na VidaSocial. São Bernardo doCampo: Faculdade de Teo-logia da Igreja Metodista doBrasil, 1956.

6 AZARIAH, V. S. Contribui-ção Cristã. São Paulo: Im-prensa Metodista, 1957.

7 THOMAS, G. Ernest. Vidaespiritual pelo dizimo. SãoPaulo: Junta Geral de Edu-cação Crista da IgrejaMetodista do Brasil, 1961.

8 CABRAL. A Décima Parte.

São Bernardo do Campo:Imprensa Metodista, 1984.

9 Carta Pastoral do ColégioEpiscopal da Igreja Me-todista sobre o Dízimo. 2a

ed. São Paulo: Editora Ce-dro, 1999,.

10 SILVA, Aluísio Laurindo da.Dízimo. Um investimentomissionário. São Paulo:Cedro, 2000.

11 Veja aqui também duas ou-tras publicações metodis-tas: BASSLER, J. M. God

Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002 15

“Wesley ensinava que osmetodistas deveriam ganharo máximo que pudessem, edarem o máximo que pu-dessem para a obra deDeus, e para os pobres.Com tais exemplos, não nosresta outra alternativa senãoa de sermos, no mínimo,fiéis no dízimo.”13

Algo semelhante podemosencontrar nas própriaspalavras de João Wesleycomentando Gêneses14.20:

“Jesus Cristo, o nosso gran-de Melquisedeque, deveriaser reconhecido humilde-mente por todos nós comonosso rei e sacerdote, e nãosomente o dízimo, mastudo deveria ser dado paraele.”14

Esta referência é rara,porque, além de tudo,Wesley quase não fala do“dízimo”, provavelmente,porque pertencia, na épo-ca, às Paróquias Anglica-nas e não às SociedadesMetodistas.15 O dízimo,então, nunca, fez parte dasRegras Gerais, nem das so-ciedades, nem das classes,nem das bandas.

Nas suas poucas refe-rências a respeito do as-sunto, Wesley louva a sin-ceridade dos fariseusdizimistas, porém, criticao seu orgulho.16 Rara-mente relaciona a contri-buição com a bênção di-vina, ou seja, ele baseia a

questão da contribuiçãona graça de Deus e não naoferece bases para uma te-ologia de prosperidade.17

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Wesley trabalha cuida-dosamente o tema do usode dinheiro em quatropregações.18 Todos os tex-tos reclamam a disponibi-lidade humana total paraDeus, por exemplo:

“Primeiro, se você não tiveruma família, tome as pro-vidências para consigo mes-mo e distribua todo o res-tante. [...] Segundo, no casode você ter uma família,considere com sinceridadeperante Deus as necessida-des de cada um, por que de-vem receber o necessáriopara viver. [...] Em geral,não aceite nem menos nemmuito mais do que vocêpermite [estabelece] para simesmo. Terceiro, defina osseus gastos para não preten-der mais ganhos. Em nomede Deus, não aumente o seupatrimônio [substance]. [...]Cada libra doada por vocêpara os pobres é deposita-do no banco do céu.”19

Encontramos aqui,entretanto, três notáveisparticularidades. Primei-ro, João Wesley conta comum valor do “custo básicoda vida” e entende-o comointocável.20 Este valor ga-rante mais do que a merasobrevivência, ofereceuma vida digna. Temos

aqui, então, algo parecidocom a idéia original dosalário mínimo. Segundo,a avaliação da quantidadede arrecadação básica é fei-ta pelo indivíduo. Assim,os líderes de classes arre-cadavam dos seus inte-grantes, semanalmente,dinheiro no valor “que elesestão dispostos a dar para aredenção dos pobres”.21

Terceiro, o excedente épara os pobres.

O Caminho mais exce-lente olha a partir da ca-pacidade individual e res-peita a decisão individu-al. Da mesma forma, pes-soas de posse e arrecada-ção maiores devem contri-buir mais, sugere JoãoWesley, e “não aumentaro patrimônio”.22 São elasque devem realmente ser“no mínimo, fiéis nodízimo”.

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Essa proposta diferen-ciada de João Wesley sur-giu da convivência compobres23 e ricos.

No seu diário, Wesleyanota freqüentemente ascondições da vida dos po-bres:

“Encontrei-os em celas em-baixo da terra, outros no só-tão, meio-mortos de frio e

(1958) e T. G. Ernest7

(1961) fortalecem esta de-cisão, mas, em 1968, odízimo desapareceu dosCânones novamente. Ime-diatamente, o livro deAzariah é reeditado e, qua-se uma geração depois,surgem novas iniciativas afavor do dízimo, atravésdos textos de Cabral8

(1984), do ColégioEpsicopal9 (1999) e de S.A. Laurindo10 (2000).11

Assim rezam os Cânonesde 2002 quanto ao deverdo membro leigo:

“... contribuir regularmen-te com dízimos e ofertaspara a manutenção da Igre-ja Metodista e de suas ins-tituições, nos termos daCarta Pastoral do Dí-zimo.”12

No metodismo brasi-leiro, o dízimo tem sidoum tema presente, porém,na maior parte das vezescomo sugestão e nãocomo dever.

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Vejamos, a seguir,como o metodismo primi-tivo tratou o assunto.

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Na carta episcopal en-contramos uma referênciarelativamente curta aopróprio João Wesley:

& Mammon. Asking forMoney in the New Tes-tament. Nashville: AbingdonPress, 1991 e KLAIBER,Walter. “Freikirchliche Über-legungen zum Thema kirch-liche Finanzen, in: Evange-lische Theologie 61o ano, 1/2001. Gütersloh: Chr.Kaiser, p. 49-56.

12 Igreja Metodista. Cânones2002, Art. 5o 3 (p. 148).

13 Colégio Episcopal. Dízimo24.

14 Notas sobre o Antigo Tes-tamento, Gen 14, 20. É umcomentário geral do textoinicial.

15 Veja: To a Clergyman ,Tullmore, May 4, 1748.

16 Sermão 25, IV.6.17 “Each Christmas your

accounts may clear, andwind your bottom once ayear.” Sermão 89 VI 4. No-tas sobre o AT, Ml 3, 10,comentando “Provai-mecom isto” com as palavras:

“Faz a experiência”. Mesmoassim o acento é o versículo10, não o 11.

18 Sermões: 25 IV.5; 50 III.6 Ouso certo do dinheiro; 87 II.8Os perigos de riquezas; 89VI.1 Um caminho mais ex-celente; 126 II.7 O perigo deacumular riquezas.

19 Citei aqui o menos conhe-cido Sermão 89 VI.4.5. Em50. II. 3 e 87II.8, Wesley usaem vez de “restante”(remains) o termo “over-

plus” (excedente).20 Pregação 50. III. 3 inclui

aqui: “Comida, roupa e tudoque seu corpo precisa paraser saudável e forte.”

21 The Nature, Design, Rulesof the United Societies, §3.

22 Walter Klaiber menciona omesmo texto, e comenta,que contrariaria a base docapitalismo moderno, coma sua teoria da acumulaçãodo valor. Veja KLAIBER,Freikirchliche, p. 53-54.

16 Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002

0de fome, expostos à fra-queza e à dor. Mas não en-contrei nenhum deles nãotrabalhando, quando conse-guia arrastar-se do seu quar-to. Tão pobre, tão diaboli-camente errada é a opiniãocomum de ‘que eles são po-bres por que são preguiço-sos’. Vendo tudo isso comos seus próprios olhos, vocêconseguiria ainda gastar di-nheiro com ornamentos oucoisas superficiais?”24

No fim da sua vida,Wesley conclui:

“A maioria das pessoas comriquezas na Inglaterraamam o dinheiro, até osmetodistas, ou seja, os cha-mados metodistas. Os po-bres são os cristãos.”25

Cada vez mais questionoua disponibilidade de ricosem favor do Reino deDeus. Na análise deWesley, estes últimos so-mente mudariam as suasposições através da convi-vência com os pobres.26

Numa lógica paralela, pre-gadores leigos e líderes declasses tinham que visitaros pobres como parte es-sencial da própria santifi-cação.27

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João Wesley morreucom pouquíssimo dinhei-ro no bolso.28 Ele tinhainvestido na obra de Deuso máximo possível, inclu-sive o salário garantido

pela Universidade de Ox-ford e os lucros das edi-ções das suas obras.29 Asua prática é quase equi-valente a um voto de po-breza, fato que fortaleceua sua autoridade neste as-sunto. 30 É discutido, en-tretanto, se ele praticavaou somente favorecia acomunhão de bens, comobase da economia eclesi-ástica.

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O ministério dos ecô-nomos foi originalmentecriado para servir aos po-bres.31 Conseqüentemen-te nem nas Regras de Ecô-nomos se esquece deles(as).

“Se você não consegueredimir os pobres, entãonão lhes cause amargura. Senada tiver para oferecer, falepalavras carinhosas. Cuide-se para não olhar para elescom arrogância, nem falepalavras ásperas. Quandoeles vêm, devem ficar feli-zes, mesmo se voltaremcom mãos vazias. Coloque-se no lugar dos pobres, etrate-os como Deus os tra-ria.”32

Parece, no ponto de vistode Wesley, que o pobredeveria receber da Igreja!

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“Para Wesley (...) Deusera amor soberano.”33 Ele

defendeu esta posição di-ante do conceito calvinistade Deus como poder sobe-rano. Wesley, conseqüente-mente, optou pelo amorcomo critério maior. As-sim, também não argu-menta meramente a partirde uma norma geral (odízimo como um direitodo soberano Deus; cadaum tem que cumprir seudever) mas, reconhece, porum lado, a soberania deDeus (nós devemos tudoa Deus) e, por outro lado,as necessidades humanas.Ele combina, na questãoda contribuição cristã,uma ética normativa comuma ética situativa. Assim,ele não destaca somente oamor para com Deus, mastambém para com o pró-ximo e para consigo. Osoberano amor divino oleva para os(as) “não elei-tos(as)”, perdidos(as),desfavorecidos(as). Não adupla predestinação, masa graça universal deve mar-car o seu destino.

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A liberdade dada nãosignificava que os meto-distas se calam diante doassunto. O Sermão 50 nãotratou somente um temaentre outros. Conhecidapor nós por fazer parte dos

Standard Sermons, ela ti-nha que ser lida uma vezpor ano nas sociedadesmetodistas.34 Os Sermões87 (Os perigos da riquezas)89 (Um caminho mais ex-celente) e 126 (O perigo deacumular riquezas) pro-nunciaram claramente operigo das riquezas para acaminhada cristã. Os pre-gadores metodistas atua-ram na base da graça e daliberdade, mas buscaramlevar as suas comunidadespara o compromisso.

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Parece-me que a leitu-ra atual de Wesley, pelometodismo brasileiro, so-bre a contribuição cristã,segue mais os acentos dasargumentações calvinistas.Não se destaca uma refle-xão partindo do soberanoamor de Deus, especial-mente para com os pobres,mas do soberano poder deDeus. Isso pode ser expli-cado a partir do contextoprotestante brasileiro, tal-vez porque o próprioWesley baseia-se mais emCalvino do que em outrosreformadores. Assim, nãose percebe as diferenças nadoutrina de Deus e na prá-tica eclesiástica, missio-nária e da contribuição.Quem fala pressupondo opoder de Deus,35 concen-

23 A literatura sobre este as-sunto é vasta. Veja, porexemplo: JENNINGS, Theo-dore. Good News to thePoor: John Wesley´s Evan-gelical Economics. Nash-ville: Abingdon, 1990 eMEEKS, M. Douglas. ThePortion of the Poor. GoodNews to the Poor in theWesleyan Tradition. Nash-ville: Kingswood Books,1995. Já o metodista JörgRieger, Professor de teolo-

gia sistemática no PerkinsSchool of Theology, SMU,Dallas, frisa o tema – semgrandes referências a JoãoWesley – como questãochave da teologia do sécu-lo 21. RIEGER, Joerg.Remember the Poor. TheChallenge to Theology inthe Twenty First Century.Harrisburg: Trinity PressInternational, 1998 e Godand the Excluded. Visionsand Blindspots in Contem-

porary Theology. Minnea-polis: Fortress Press, 2001.Rieger é profundamenteinflucienciado por FrederickHerzog.

24 Diário; 8 de fevereiro de1753.

25 Veja a carta de 30/09/1786para Freeborn Garretson.

26 “Temos a tendência de cri-ticar nos poderosos uma fal-ta de compaixão, mas querealmente falta, é que elessimplesmente notam os po-

bres.” Carta para Dr. Wran-gel no ano 1770.

27 A visita, hoje predominan-temente um meio daevangelização, era então notempo de Wesley um meiode formação – do visitante!

28 Seis pobres carregaram osarcófago de João Wesley,todos pagos por ele.

29 Sermão 89 VI 4.30 Carlos Wesley, entretanto,

seguiu por causa da suavida familiar outro caminho.

Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002 17

tra-se na devida obediên-cia humana, no cumpri-mento de seus deveres, ena perspectiva da bênção(prosperidade) a partirdessa obediência.36 Quemfala a partir do amor deDeus para com o mundo,reflete mais com base noser humano, de suas ne-cessidades e capacidades.

Dessa forma, eis algu-mas das contribuições sig-nificativas da perspectivametodista:

1. Com o pressupos-to na lógica do amor,Wesley nos lembra queum “salário mínimo” nãotem esse nome por acaso.Ele marca o intocável mí-nimo de arrecadação pes-soal. Hoje ninguém con-sidera o seu valor atualdigno e a igreja protestacontra a sua contínua des-valorização. Podemos en-tão pedir o “dízimo do

mínimo” como dever?2. A partir da lógica

do amor Wesley pededos(as) mais abenço-ados(as) mais. Existempropostas parecidas mo-dernas, como da contri-buição crescente, que su-gere, em casos de boas ar-recadações, até contribui-ções de 15%, 25%, oumais.

3. A conexão meto-dista foi criada para desen-volver uma administraçãosadia para uma igreja com-prometida. Conectaram-se não somente indivídu-os, mas regiões eclesiásti-cas e igrejas locais. Comovemos a distribuição de ri-quezas dentro da IgrejaMetodista hoje? Como omais forte ajuda o maisfraco para que este possaser forte? Sem uma cone-xão forte não há uma igre-ja a favor do pobre.

31 BURCKHARDT, Friede-mann. Gottes Hausverwal-ter. Das Verwalteramt imMethodismus. Coletânea:emk studien 3. Stuttgart,Medienwerk der EmK,1999, 5-13.

32 Diário 04/06/1747, regra 11.33 LOGAN, James C. “Offering

Christ: Wesleyan Evan-gelism Today”, in: MADDOX(editor), Rethinking Wes-ley´s Theology for Comtem-porary Methodism. Nash-

4. Parte da herançaoriginal metodista, por in-crível que pareça, é o di-reito de cada um(a) defi-nir o valor básico para vi-ver e o valor da sua con-tribuição. Como nós ava-liamos isso hoje?

5. Como se reflete aproposta eclesiástica a fa-vor dos pobres (Plano paraa Vida e a Missão; PlanoNacional 2002-2006) naprogramação da Igreja emtodos os seus níveis?37

Finalmente: há pobresque doam o dízimo.Eles(as) merecem o nossoagradecimento, como a vi-úva o elogio de Jesus. Emque tornaria essa atitudevalorizada um dever ? Ou-tros pobres, entretanto, sesentirão desvalorizados di-ante da sua “cautela”. Seráque sofrerão, futuramen-te, pressões que questio-

ville: Kingswood Books,1998, p. 121-122. Veja tam-bém HÄRLE, Wilfried,Dogmatik, Berlin u. NewYork: Walter de Gruyter,1995, p. 235 – 248.Luterano, e filho de um pas-tor metodista, ele interpetatodos atributos de Deus noprisma do amor. Na mesmalinha seguem KLAIBER,Walter e MARQUARDT,Manfred. Viver a Graça deDeus. SBC: EDITEO, 1999.

34 Assim nos Cânones daIgreja Metodista Unida atéhoje.

35 Cantam-se hoje muitas can-ções que louvam o sobera-no poder de Deus, porém,não sempre o seu sobera-no amor. Isso forma as teo-logias do povo metodista!

36 Veja, como exemplo quaseclássico, juntando “Desafiode Deus “, “Obediência” e“Bênção”: Colégio Episco-pal. Dízimo. 12-14.

37 Segundo a oficial estatísti-ca da IM, caiu o número deinstituições sociais entre1996 e 2001 em 13%, ape-sar do crescimento demembresia de 28%.

nem sua membresia? Comcerteza, ninguém querisso.

Por essa razão pergun-to: Será que não seria maisadequado sugerir e moti-var, em vez de ordenar?Motivar por meio doexemplo, pedindo maisdos(as) mais favoreci-dos(as)? Do meu ponto devista, o dever do dízimo,na sua forma atual, não re-presenta a melhor propos-ta de arrecadação eclesiás-tica para uma IgrejaMMMMMetodistaetodistaetodistaetodistaetodista, ComunidadeMissionária a Sa Sa Sa Sa Serererererviçoviçoviçoviçoviço – es-pecialmente da parte ex-plorada e empobrecida,mas também da partepróspera – do Pdo Pdo Pdo Pdo Pooooovvvvvooooo.

(Numa continuaçãopretendo mostrar a base bí-blica da proposta de JoãoWesley).

18 Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002

Bispo Josué Adam Lazier

Estamos celebrandonossa Ação de Gra-ças pelo reconheci-

mento do curso de Bacha-rel em Teologia. Fazemosisto em nome de muitosque passaram pela Facul-dade de Teologia e nutri-ram este sonho. Coube anós presenciar a realizaçãodesse sonho e agradecer aDeus em nome de umexército de metodistas quefreqüentaram a “casa deprofetas e profetisas”.

Ao celebrarmos, deve-mos considerar os pontospositivos da educação te-ológica e os desafios queestão diante de nós. Osdesafios são como os “Tu,porém...” (1Tm 6.11; 2Tm2.1, 3.10, 3.14, 4.5; Tt2.1) com que o apóstoloPaulo costumava admoes-tar os seus discípulos, ori-entando-os sobre a vidacristã, sobre o exercíciodos dons e ministérios e ocumprimento das respon-sabilidades ministeriais.Esses “Tu, porém...” sãocomo trilhas que nos aju-dam a refletir sobre nossaeducação teológica.

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Em 1988, foi feita umapesquisa pela SETE – Soci-edade dos Estudantes deTeologia Evangélica1, queapontou pontos positivose negativos da educaçãoteológica. Vamos olhar os

pontos positivos que seaproximam da práticametodista:

1. Oportunidade quea Igreja oferece a membrosque não teriam acesso aoutros cursos teológicos ea uma formação superiorde qualidade, a mesmaque se encontra em nossaFaculdade de Teologia.Mais do que formar pas-tores/as – este fato é dig-no de ser destacado – aooferecermos uma vaga noCurso de Bacharel em Te-ologia, estamos abrindoum mundo novo e cheiode possibilidades para jo-vens que têm sonhos eenergia para desenvolversuas potencialidades. Aformação reflexiva, críticae científica abre horizon-tes desconhecidos, maspromissores para as gera-ções que se sucedem emnossa Igreja.

2. Embora a dinâmi-ca da tutoria seja um pro-grama recente na Faculda-de de Teologia, o fato éque o relacionamento en-tre corpo docente e dis-cente é outro aspecto po-sitivo. Os docentes cléri-gos, ao exercerem ativida-des em comunidades lo-cais, possibilitam umaabertura para que os dis-centes os procurem forado ambiente meramenteacadêmico; discentes queserão seus/suas compa-nheiros/as de ministérionum futuro próximo.

Muitas lições são dadas eaprendidas fora de sala deaula, em momentos for-mais e informais, ondeprofessores/as podemtransmitir verdades e prin-cípios adquiridos no laborministerial. É inegável ofato de que há professores/as com maior sensibilida-de para o “discipulado”,ou seja, para momentos decomunhão, de reflexão ede debate sem os limitesacadêmicos de uma sala deaula.

3. A ênfase no ensino,mais propriamente no en-sino teológico, e sua im-portância para a vida e amissão da Igreja é outroponto positivo. O ensinoteológico tem oferecidoferramentas, subsídios econteúdo para os diversosdons ministeriais dados àIgreja para o

“aperfeiçoamento dos san-tos para o desempenho doseu serviço e para a edi-ficação da Igreja” (Ef 4.12).

Educação teológica é enten-der a maneira pela qualDeus se revela na experi-ência humana e examinarcomo a pessoa expressaessa experiência; a partirdaí, descobrir Deus ecomo expressá-lo no âm-bito da realidade que sevive.2 Assim, ela oferece àIgreja o equilíbrio neces-

sário para o cumprimen-to da missão.

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Alguns desafios sem-pre estiveram presentes naeducação teológica, masagora afloram-se ante o re-conhecimento e o apelo deuma secularização da for-mação teológica. É inegá-vel o lado místico da for-mação teológica, e dentrodeste contexto destacamosalguns desafios que sãocomo “tu, porém...” paranós:

1. Ajudar à Igreja Me-todista a resistir ao movi-mento neoliberal que ten-de a minimizar a forma-ção teológica entre os lí-deres religiosos, notada-mente evangélicos. Nestesentido, a educação teoló-gica deve ser o “respira-dor” da Igreja e “oxigena-dor” do pensamento teo-lógico. Neste sentido ain-da, a educação teológicatem a missão de prepararaqueles e aquelas que se-rão os “guardiões/ãs” dasdoutrinas da Igreja, paraque não sejamos assalta-dos por grupos que bus-cam a lógica do mercadoe do marketing para fazer

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Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002 19

valer seus projetos pessoais.2. Aprofundar o caris-

ma da vocação, do ter sidochamado/a por Deus. Ésomente Deus quem voca-ciona. E é sempre bomressaltar que vocação dife-re muito de profissão,principalmente levando-seem conta a crise de mer-cado da mão de obra e daluta pela sobrevivênciacada vez mais aguerrida. Aespiritualização das neces-sidades básicas pode “vo-cacionar” a muitos equi-vocadamente para exercero sagrado ministério, porsimples falta de opçãoprofissional.

3. Não podemos per-mitir que a secularizaçãodo sagrado, a profissiona-lização de nossos púlpitos,o tecnocracismo de nossasinstituições e até mesmoos maus exemplos das ins-tituições governamentaisroubem de nós o sentidodo transcendente, do sa-grado e do espiritual, deser serva. A vocação é dig-na, diz o texto bíblico (Ef4.1). Ela move homens emulheres na convicção damissão, do serviço, da bus-ca da solução das necessi-dades humanas, da com-paixão pelos que sofrem.Andar na contramão deDeus é pecado. É perver-ter o caminho do bem. Étransformar o lugar debênção em lugar de mal-dição.

4. Não permitir que aelitização e a secularizaçãodesarticulem o sentido doserviço junto às bases daIgreja. Não podemos per-der esta sensibilidade detrabalhar de maneira sim-ples com nosso povo quevive nas periferias dosgrandes centros, nas cida-

des do interior e nos cen-tros rurais que ainda te-mos. Podemos estudar,refletir, aprofundar o co-nhecimento, buscar espe-cialização, mas sem perdera perspectiva do nossofim último, a multidão.Assim fez Jesus com seusdiscípulos, enviou-os paraque atendessem às neces-sidades da multidão (Mt9.38-10.1).

5. Integrar a formaçãoacadêmica com a vida depiedade. O estudo e a re-flexão devem ser acompa-nhados de atos de pieda-de. Este ato de moldar amente e aquecer o cora-ção, marcas do equilíbriometodista, é outro aspec-to que nos desafia, ou seja,não perdermos a sensibi-lidade das coisas simplese puras. A divisão que sepercebe nos cursos teoló-gicos entre espiritualidadee estudo científico da Bí-blia é nociva para os/as es-tudantes na prática da suafé e para a educação teo-lógica no Terceiro Mun-do, diz a teóloga ElsaTamez.3 Parece que oapóstolo Paulo insistiacom seus discípulos paraque permanecessem na-quilo que aprenderam emtenra idade, pois sabiamde quem aprenderam(2Tm 3.14). Outro pontodo ensino paulino estavarelacionado à piedade cris-tã. Costumava ensinar oseguinte a seus discípulos:“conserva a piedade cris-tã...” (1Tm 6.11). ElsaTamez sugere três passospara a superação desta dis-tância entre vida de pieda-de e reflexão bíblica-teo-lógica4: (a) começar a aulacom momentos de peque-nas devocionais; (b)

enfatizar que a pesquisabíblica é a busca de novossignificados no texto bíbli-co e (c) possibilitar umtrabalho mais popularcom o texto, aproximan-do assim os/as estudantesdas comunidades onde es-tão envolvidos/as.

6. Não usar a forma-ção teológica para sim-plesmente atender a pro-jetos pessoais. A educaçãoteológica na Igreja Meto-dista não existe para isto.Há outros cursos no mer-cado que oferecem estetipo de produto. No casoda educação teológicametodista há comprome-timentos implícitos. Sig-nifica estar se preparandopara o serviço cristão, sejaqual for o ministério a serexercido. Para Croatto, háum “certo comprometi-mento da pessoa, uma vezque se prepara para o mi-nistério que tem a ver comDeus e com sua presençano mundo”.5 Portanto, aformação teológica temesta mística, preparar“profetas” e “profetisas”(obreiros/as) que atuarãocomo servos e servas deDeus em contextos de lu-tas, sofrimentos e injusti-ças; onde plantamos a se-mente da esperança, doamor, e da reconciliação.Há outros cursos que tam-bém trabalham nesta pers-pectiva da vocação, taiscomo medicina, serviçosocial, psicologia, pedago-gia e outros. Neste senti-do, não há lugar paraaqueles/as que usam a for-mação teológica para finspessoais, como um tram-polim para o ministériopastoral ou outras fun-ções. Cito como exemplopessoas que fazem um hi-

ato, ou um corte, entre asua vida ao ser vocaciona-do e o ingresso no minis-tério pastoral: o que ficano meio, ou seja, o cursoteológico propriamentedito, não serviu para nada,a pessoa desconsideratudo e começa a criar mo-delos quase sempre estere-otipados que são sugeridospelo meio evangélico, osditos “supermercados dafé”. Vamos, em nome deDeus, resistir a isto.

Estes são, portanto, al-guns desafios que deve-mos considerar. Não pre-cisamos temer o cresci-mento da educação teoló-gica, mas sim estabelecer-mos os aspectos inego-ciáveis dessa formação. Es-tes que destaco considerofundamentais para nossaIgreja. Igreja que tem avocação de ser Missionária,de estar a Serviço do povosofrido e sem esperança nomundo, a quem Deus, nasua infinita graça e miseri-córdia, ama de uma manei-ra incondicional.

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1 SANTOS, Wilson Costa dos,A Educação Teológica Pas-toral no Brasil – Eficiências,deficiências e desafios, emBoletim Teológico, abril/ju-nho 88, Recife, SETE.

2 CROATTO, J. Severino, For-mação Espiritual e EstudoCrítico, em O que é Forma-ção Espiritual, ASTE, 1990,pg. 35.

3 TAMEZ, Elsa, Formação Es-piritual e Estudo Crítico daBíblia, em O que é Forma-ção Espiritual, ASTE, 1990,pg. 27.

4 Tamez, Elsa, Formação Es-piritual e Estudo Crítico daBíblia, em O que é Forma-ção Espiritual, ASTE, 1990,pg. 30-31.

5 Croatto, J. Severino, For-mação Espiritual e EstudoCrítico, em O que é Forma-ção Espiritual, ASTE, 1990,

pg. 33.

20 Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002

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A Igreja Metodista éuma Igreja de go-verno episcopal,

porém o seu modelo ad-ministrativo é conciliar.

O concílio está presen-te em todos os níveis deadministração (geral, regi-onal, distrital e local).Cada concílio tem a suaprópria forma de organi-zação, com tempo pré-de-terminado para as suasreuniões. O Concílio Ge-ral, por determinação do17o Concílio Geral, passaa ter as suas reuniões acada cinco anos (Cânones2002, Artigo 48) – o pró-ximo será em 2006. Essadecisão acarretou algunsproblemas estruturais paraa vida da Igreja, tais como:eleição de bispos/bispas ea realização dos ConcíliosRegionais, os quais vãoprecisar de ajustes legis-lativos, por parte do Co-

légio Episcopal – o qualtambém passou a utilizarnova nomenclatura paraas mulheres eleitas paraexercer a função episcopal(Cânones 2002, Artigo65).

Neste ensaio analiso al-gumas mudanças aprova-das pelo Concílio Geral asquais estão relacionadas,diretamente, com a formade administrar.

“Administar é o processo detomar decisões para realiza-ções que possam alcançar osobjetivos” (Maximiano,(2000, p. 25)).

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A Igreja Metodista de-fine o Concílio Geralcomo sendo

“o órgão superior de uni-dade da Igreja e as suas fun-ções são legislativas, delibe-rativas e administrativas”(Cânones 2002, Artigo 45).

Desde 2 de setembrode 1930, data da Autono-

mia, a Igreja Metodista járealizou dezessete Concí-lios Gerais.

Uma das tarefas doConcílio é legislar para aIgreja; essa legislação épublicada nos Cânones.Cânon significa regra – re-gra geral de onde se infe-rem regras especiais (NovoDicionário Aurélio, 1a edi-ção). Os Cânones da Igre-ja Metodista estão dividosem três grandes partes: a)Parte Constitucional; b)Parte Geral – permanentena vida e na missão daIgreja; e c) Parte Especial– nesta os Concílios Ge-rais efetuam mudanças,visando a uma administra-ção mais participativa.Leonildo afirma que:

“A flexibilidade, a compe-titividade, a dinâmica doambiente que envolve asempresas modernas, inclu-sive os empreendimentosreligiosos, exigem novas es-tratégias de aprendizagemdentro das organizações”

(1996, página 92).

Buscando a imple-mentação da flexibilidadeem uma perspectiva pas-toral, é que o 17o Concí-lio Geral realizou algumasmudanças em sua legisla-ção, as quais estão presen-tes nos Cânones, edição2002.

O que mudou? A per-gunta é pertinente umavez que sua resposta é, aci-ma de tudo, pedagógica,isto porque nem sempreos Cânones são acessíveisàs comunidades locais,por diversas razões; sãopoucas as pessoas que ad-quirem um exemplar, porisso, de certa forma, é umdocumento restrito aos/asclérigos/as. Portanto, cabeaos pastores e às pastorasa tarefa pedagógica de ins-truir as comunidades so-bre as mudanças realiza-das.

Por questão de tempoe espaço a análise será rea-

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Geoval Jacinto da Silva

Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002 21

lizada sobre a Parte Espe-cial, dos Cânones de 2002,páginas 143 a 279, indi-cando as mudanças admi-nistrativas e gerencias, naperspectiva pastoral,apontando ao leitor e àleitora o capítulo e seu res-pectivo título, a secção, asubseção, o artigo, o iteme o parágrafo [quandoexistirem].

CAPÍTULO I – DDDDDO SO SO SO SO S

MMMMMEMBREMBREMBREMBREMBROSOSOSOSOS L L L L LEIGOSEIGOSEIGOSEIGOSEIGOS

SSSSSeção III – Deção III – Deção III – Deção III – Deção III – Do Do Do Do Do Desli-esli-esli-esli-esli-gamento.gamento.gamento.gamento.gamento.

Artigo 7o – item 3. “oque tem o seu nomecancelado por votopela Coordenação Lo-cal de AçãoMissionária (CLAM).

Parágrafo único: Ocancelamento de nomedo Rol de Membros,pela Coordenação Lo-cal de Ação Missio-nária (CLAM), so-mente pode ser decidi-do pela votação de, nomínimo, 2/3 (dois ter-ços) dos membros pre-sentes, ouvido o presi-dente do Concílio Lo-cal, e nos seguintes ca-sos:

a) quando se tornardesconhecido ou deparadeiro ignorado;

b) por assumir votosde outra Igreja, sabidoe confirmadamente,sem prévio comunica-do à igreja local de suadecisão.”

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O desligamento demembros da igreja local,passa a ser atribuição da(CLAM), respeitando a le-gislação própria. Com essamedida pastoral, o Con-cílio Local não será maislugar de discussão da ma-téria. Espera-se que sendoo assunto tratado em umsegmento menor da igre-ja, com tratamento pasto-ral para cada caso, nãohaja mais discussões queprejudiquem a vida depessoas.

SSSSSeção eção eção eção eção VIVIVIVIVI – D– D– D– D– Do/a Eo/a Eo/a Eo/a Eo/a Evvvvvan-an-an-an-an-gelistagelistagelistagelistagelista

Artigo 11 – item 5. “éconsagrado/a pelo/apastor/a da igreja local,segundo o Ritual daIgreja Metodista.”

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Fica definido que aconsagração é realizadapelo/a pastor/a da igrejalocal, na qual o/a evange-lista é membro. Com essadecisão, salvo atribuiçõescanônicas, o raio de açãodo evangelista está ligadoa igreja local, sem criar,

num primeiro momento,o vínculo, ou a expectati-va, de ser pastor/a.

CAPÍTULO IV – DDDDDAAAAA A A A A ADDDDD-----MINISTRAÇÃOMINISTRAÇÃOMINISTRAÇÃOMINISTRAÇÃOMINISTRAÇÃO B B B B BÁSICAÁSICAÁSICAÁSICAÁSICA

Seção III – Do Concí-lio Local / SSSSSubseção IIubseção IIubseção IIubseção IIubseção II– D– D– D– D– Da Competênciaa Competênciaa Competênciaa Competênciaa Competência

Artigo 136 - Competeao Concílio Local:item 6. “eleger, dentreos inscritos no Livro deRol de Membros daigreja local: ... e) dele-gado ao Concílio Re-gional”.

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Retornamos ao anti-go sistema, quando cadaigreja tinha o seu delega-do/a como representante,o que proporciona umnúmero maior de partici-pantes nos Concílios Re-gionais.

CAPÍTULO II – DDDDDOSOSOSOSOS

MMMMMEMBREMBREMBREMBREMBROSOSOSOSOS C C C C CLÉRIGOSLÉRIGOSLÉRIGOSLÉRIGOSLÉRIGOS

Seção II – Da OrdemPresbiteral / SSSSSubseçãoubseçãoubseçãoubseçãoubseçãoII – DII – DII – DII – DII – Da Aa Aa Aa Aa Admissão nadmissão nadmissão nadmissão nadmissão naOOOOOrrrrrdem Pdem Pdem Pdem Pdem Prrrrresbiteralesbiteralesbiteralesbiteralesbiteral

Artigo 25 – acréscimodo item 8. “sete anosininterruptos comomembro de efetivaparticipação na IgrejaMetodista; e cincoanos para o pastor/a”(também Artigo 36.8,

Subseção II – Da Ad-missão no MinistérioPastoral).

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Esse novo item regula-menta o tempo necessáriopara uma pessoa solicitaro seu ingresso na OrdemPresbiteral ou no Pasto-rado. A Igreja passa a exi-gir uma experiência na co-munidade e não só a for-mação acadêmica.

Artigos 25 e 36, §1 e 2– são parágrafos que comnova redação oferecemmaior clareza ao candida-to, que visa cumprir o pe-ríodo de experiência naigreja local, ou em um dosseus ministérios.

SSSSSeção II – Deção II – Deção II – Deção II – Deção II – Da Oa Oa Oa Oa OrrrrrdemdemdemdemdemPPPPPrrrrresbiteralesbiteralesbiteralesbiteralesbiteral / SubseçãoIII – Dos Deveres eDireitos dos Integran-tes da OrdemPresbiteral

Artigo 26 – item 9.“contribuir regular-mente com dízimos eofertas para a manu-tenção da IgrejaMetodista e de suasinstituições, nos ter-mos da Carta Pastoraldo Dizimo”.

Esta é uma exigênciapara presbíteros e pastores(Artigo 38, Subseção III –Dos Deveres e Direitos dos

22 Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002

Integrantes do MinistérioPastoral).

CCCCCAPÍTULAPÍTULAPÍTULAPÍTULAPÍTULOOOOO II II II II II – DA AD-MINISTRAÇÃO SUPERIOR

SSSSSeção II – Deção II – Deção II – Deção II – Deção II – Do Colégioo Colégioo Colégioo Colégioo ColégioEEEEEpiscopal piscopal piscopal piscopal piscopal / SubseçãoII – Da Competência

Artigo 66, acréscimodo item 35: “regula-mentar autorizaçãopara o/a acadêmico deTeologia realizar está-gio em igreja local.”

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Essa decisão ajusta-se ànova realidade do Cursode Teologia, no contextoda Universalidade. Entre-tanto, em termos práticos,trouxe problemas paraalunos/as que esperavampor nomeações pastorais,além da perda de uma efe-tiva prática pastoral e derecursos advindos da no-meação.

SSSSSeção III – Deção III – Deção III – Deção III – Deção III – Da Coor-a Coor-a Coor-a Coor-a Coor-denação Gdenação Gdenação Gdenação Gdenação Gera l deera l deera l deera l deera l deAção MAção MAção MAção MAção Missionária /issionária /issionária /issionária /issionária /Subseção I – Da Com-posição

Artigo 85 – “A Coor-denação Geral de AçãoMissionária (CO-GEAM) é compostade 14 (catorze) mem-bros, a saber:...”

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A COGEAM foi am-pliada através das repre-sentações da Região Mis-sionária do Nordeste(REMNE) e dos CamposMissionários da Amazô-nia (CMA). Essa delibera-ção do l7o Concílio Geralresponde ao anseio dessasregiões que não tinhamassentos nesse segmentoadministrativo e missioná-rio da Igreja. Importanteesclarecer que a represen-tatividade deve respeitarao princípio da represen-tação paritária entre lei-gos/as e clérigos/as. Tam-bém foi definido que

“qualquer pessoa que exer-cer cargo na CoordenaçãoGeral de Ação Missionária(COGEAM), Cargos Dire-tivos de Instituições e ouConselhos Diretores, nãopodem ter mais de dois pa-rentes em linha reta,colateral, consangüíneos,ou afinidade, até 2o grau oucônjuge, exercendo ativida-des remuneradas em Insti-tuições ou órgãos da IgrejaMetodista” (Cânones 2002,Artigo 85, §3o).

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A análise das decisõesadministrativas e legisla-tivas da Igreja Metodista,em seus diversos níveis, vairequerer um gerenciamen-to participativo de todos

os seguimentos para que aIgreja alcance os seus ob-jetivos, os quais estão ex-pressos em sua tradição eno Plano Nacional/Objeti-vos e Metas, 2001 – docu-mento norteador para osdesafios pastorais e missi-onários no novo qüin-qüênio. Nesse sentido, osajustes administrativos,gerenciais e pastorais po-dem contribuir para a odesenvolvimento da Igre-ja, dentro de um sistemade tranqüilidade e de qua-lidade.

Nosso objetivo foi mos-trar ao leitor e à leitora quena parte estudada, a partirdos registros canônicos, asmudanças foram realmentepequenas; entretanto, issonão nega, de forma alguma,a natureza dinâmica da Igre-ja. Queira Deus, em sua in-finita misericórdia, que estenovo período possa ser umtempo de bons gerencia-mentos, a partir do Espíritodaquele que afirma:

“O vento sopra onde quer,ouves a sua voz, mas não sa-bes donde vem, nem paraonde vai” (Jo. 3-8).

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Bíblia Sagrada. São Paulo, So-ciedade Bíblica do Brasil,1988.

Campos, L. S. “A Dimensão

educativa na pastoral – Adimensão pedagógica naadministração” In TeologiaPastoral – Estudos de Reli-gião número 12. SãoBernardo do Campo,I.E.P.G – 1996. O tema ana-lisado de “Decisões admi-nistrativas e gerências”, par-tindo das decisões do 17o

Concílio Geral, nos remetea um interessante artigo deNelson Reed Eliot, onde oautor mostra “o significadosocial das estruturasorganizacionais e a sua re-lação como o meio ambien-te social determina osparâmetros de crescimentoe conflito interno das igre-jas protestantes brasileiras”.“Modelos organizacionais,crescimento e conflito noprotestantismo brasileiro:uma perspectiva semiótica”in Estudos de Religião 17”,S.B.Campo, Pós-Gradua-ção em Ciências da Reli-gião, UMESP, 1999.

FERREIRA, A.B.H. Novo Dicioná-rio Aurélio, Rio de Janeiro,ED. Nova Fronteira,1a edi-ção.

Igreja Metodista. Cânones,São Paulo Ed. Cedro, 2002.

_____________ Plano Nacio-nal. São Paulo, Cedro,2002.

MAXIMIANO, A.C.Amaru. Introdu-ção à Administração. SãoPaulo, Atlas, 2000. A Igrejacomo instituição, humana edivina é configurada poruma estrutura mediadora.Sobre esse tema veja:Geoval Jacinto da Silva, “Ainstituição como mediadorado sagrado” in Revista Ca-minhando, Ano VI, número8. S.B. Campo, Faculdadede Teologia – UMESP,2000.

Mosaico – Apoio Pastoral � Ano 10, no 24, janeiro/março de 2002 23

Recentemente, emuma conferênciasobre educação,

ouvi que os três pilares daautonomia são: a liberda-de, a vontade e a respon-sabilidade. No mesmo diaparticipei de uma discus-são com um grupo quesonha fundar uma escolademocrática na cidade deSão Paulo, com bases bas-tante originais. Tais episó-dios me instigaram a ra-biscar este texto. Pretendoaqui comentar despreten-siosamente esse conceitode autonomia com vistasa uma escola democrática,a começar pela liberdade.Tempo havendo e interes-se não faltando, pode vira calhar de seguirmos co-mentando, em outra oca-sião, sobre os demais pés:a vontade e a responsabili-dade.

Veja que enrascada: seoptarmos por uma escolademocrática, estamos a di-zer que nela não teremosa liberdade de ser antide-mocráticos. Isto é, nelanão há liberdade paraautoritarismos, para privi-légios, para vontades indi-vidualistas que se opõemà vontade da maioria, emuito menos liberdadepara um ensino bancário,vertical, hierárquico e nãodialógico.

Em outras palavras, aopção pela democraciatolhe a liberdade individu-al daqueles que, em geral,

sabem se beneficiar emum sistema não democrá-tico. Daí que o primeirodesafio, ou obstáculo, paraa implantação da liberda-de democrática, seja justa-mente lograr-se anular aliberdade antidemocrática.

Conclusão óbvia: li-berdade, em sentido puro,ideal, é um paradoxo ine-xeqüível. Talvez possamos,limitadamente, falar emprática da liberdade demo-crática, sabendo que issoimplica vigorosos limites.Para que o indivíduo pos-sa exercer sua liberdadedemocrática, ele terá queabrir mão da sua liberda-de antidemocrática, isto é,terá que submeter suavontade individual à von-tade do grupo, da maio-ria e blá, blá, blá.

Mas que garantia há deque a decisão da maioriaserá, de fato, a mais apro-priada? Nenhuma. Goe-the dizia que entre ficarcom a maioria e ficar coma minoria, ele preferia,sem titubear, ficar comesta última, porque “a mi-noria é sempre de longe ogrupo mais inteligente”. Ecaso haja unanimidade aatenção deve ser redobra-da, pois “toda unanimida-de é burra”, como dizia oNelson Rodrigues.

Como garantir, então,que a liberdade seja de fatodemocrática. Aqui vaimeu palpite: a mais im-portante das liberdades a

serem cultivadas deve sera liberdade de expressão. Écurioso notar que a retó-rica era disciplina funda-mental no currículo dademocrática Atenas, vi-sando à formação do cida-dão; enquanto que no sis-tema educativo do Impé-rio Romano essa discipli-na fora abolida. A razãodisso é simples: em um sis-tema autoritário, não épreciso saber se expressar,pois isso não fará a menordiferença nas decisões queserão tomadas, uma vezque serão impostas, inde-pendentemente da opi-nião favorável ou não do“cidadão”.

Platão, que era anti-democrático como Sócra-tes, ridicularizava a retó-rica dizendo que esta eraa “arte de convencer aspessoas não pela verdade,mas pelo que parece ser averdade”, entretanto elemesmo estava fazendo umexercício retórico. Se al-guém apresenta uma falsaverdade fantasiando-a deverdade, a única maneira

de desmascará-la é pelomesmo método argumen-tativo, denunciando emque medida o raciocínio éfalso ou incorreto. Paralutar contra as mentiras econtra as falsas verdades,somente a prática da liber-dade de expressão.

Daí que crescer apren-dendo a se expressar, a de-fender suas idéias e pon-tos de vista, a argumentare a contra-argumentar é amelhor formação que al-guém pode ter; e a melhorferramenta que um siste-ma de ensino pode ofere-cer.

O importante não é serlivre pra chegar à hora quese quer a um compromis-so, mas ter a oportunida-de de poder convencer osinteressados de que há umpossível horário mais ade-quado para a atividade emquestão.

Você discorda? Entãoexerça seu direito à liber-dade de expressão e meconvença do contrário.

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Luiz Carlos Ramos

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Milton Schwantes

As dádivas da vida não dependem de nós.Acho que você já experimentou ummonte de vezes. Dádivas “acontecem”.

Por exemplo, como foi que alcançaste teu atualemprego? Se olhares para trás, perceberás que“aconteceu”. Há, por certo, razões para que o te-nhas. Estão aí teus interesses e estudos na área.Não há que esquecer teu esforço. E existem rela-ções. Há quem diga que as relações que empre-gam a gente.

Pois bem, há motivos, razões, explicações. Mas,no fundo, nem esperavas por este teu emprego.Aconteceu. É dádiva. É Deus quem cuidou de tipara que as coisas “acontecessem” para ti. “Enquan-to dormes, Deus concede”, faz acontecer.

No desemprego, as expectativassão muitas. A gente vai à procura.Quanto mais passa o tempo, maisalternativas se busca. Até que “acon-tece”. “Ah, consegui emprego!” Éverdade: “Consegui!”. E este “con-segui” é um “aconteceu”!

Estes exemplos indicam –logicamente: não provam – que avida é dádiva. É surpresa. E isso é omelhor de tudo. Vale abraços e ale-grias de teus amigos e amigas. “Jásabes? Ele... conseguiu! Ah, quebom! Que bom!”

Dádiva é coisa boa. Pois, aconte-ce enquanto dormes. Deus cuida deti para que as coisas “aconteçam”.

Não confie no agito. Confie nes-te sono em meio ao qual as dádivas se fazem.

Ó Deus, a ti nossa gratidão porque nos guar-das enquanto dormimos. Torna-nos despertos paravermos tua ação em nossa vida todos os dias. Teamamos e queremos ver-Te acontecer. Em Jesus.Amém.

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