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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
LUCIANE RAMOS AMÉRICO
ESTUDO SOBRE OS CONHECIMENTOS DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA
NA CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE GENERALIZAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
SÃO PAULO
2016
LUCIANE RAMOS AMÉRICO
ESTUDO SOBRE OS CONHECIMENTOS DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA
NA CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE GENERALIZAÇÃO
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob orientação da
Professora Doutora Barbara Lutaif Bianchini.
SÃO PAULO
2016
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução
total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou
eletrônicos.
Assinatura:_________________________________ Local e Data: _______
Este trabalho é dedicado à minha família especialmente a
meus filhos Marcos Vinícius e Cristhian e à minha mãe
Olair, pelo incentivo, paciência e compreensão e por todo
empenho em estar comigo na conquista e realização deste
sonho. Amo vocês!
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, por me dar forças para conseguir superar as
adversidades, pela coragem de acreditar num sonho, determinação em muitos momentos
colocada à prova diante dos muitos desafios que se levantaram na busca por este objetivo.
Aos meus filhos, meu orgulho e razão pela qual nunca desisti e continuarei lutando,
à Sra Olair, minha mãe querida, pelo apoio nas horas mais difíceis desta jornada.
Aos anjos colocados por Deus em meu caminho, com paciência para me ensinar,
sabedoria ao mostrar meus erros e encorajar-me a seguir em frente. Por acreditarem em
meus sonhos e apoiar-me até o fim, meus mestres Dr. Flávio Dalera de Carli e Ms. Mutsu-Ko
Kobaschigawa.
À Professora Dra. Barbara Lutaif Bianchini, pelo respeito e orientações a mim
concedidas, às professoras que fizeram parte desta banca examinadora enriquecendo meu
trabalho com suas orientações, Dra. Celina Aparecida Almeida Pereira Abar e Dra. Maria
Lucia Panossian.
Ao Dr. Saddo Ag Almouloud coordenador deste curso e aos docentes desta
Instituição - PUC-SP, pelos ensinamentos e os momentos que nos oportunizaram ampliação
de nossos horizontes como alunos deste programa. Em especial aos professores: Dra. Ana
Lúcia Manrique, Dra. Célia Maria Carolino Pires, Dr. Gerson Pastre de Oliveira, Dra.
Maria José Ferreira da Silva e Dra. Sonia Barbosa Camargo Igliori.
Aos colegas de curso e amigos do GPEA pelo companheirismo e contribuições que
me permitiram encaminhar esta pesquisa.
À Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e à Diretoria de Ensino da
Região de São Vicente pela permissão, apoio e acompanhamento durante todo este processo,
aos amigos do trabalho, pela torcida em cada etapa vencida tornando possível a realização
deste sonho.
À CAPES pela concessão da bolsa de estudos, incentivo sem a qual nenhum esforço
ou dedicação seria suficiente....
... muito obrigada!
RESUMO
AMÉRICO, L.R. Estudo sobre os conhecimentos dos professores de matemática na
construção do processo de generalização. Dissertação – Pontíficia Universidade Católica de
São Paulo – PUC, São Paulo, 2016.
Ao pesquisar sobre a construção do processo de generalização de padrões e regularidades,
foram encontrados muitos autores que consideram este estudo essencial ao desenvolvimento
da aprendizagem matemática por apresentarem situações de exploração, experimentação e
investigação como forma de estimular o desenvolvimento do pensamento e da linguagem
algébrica. Tal reconhecimento denota à ação docente importante papel por meio da
investigação, da observação e experimentação oportunizada durante as aulas. Desta forma,
esta pesquisa busca investigar o conhecimento que os professores de matemática apresentam
sobre o estudo de generalizações de padrões e regularidades. Trata-se de uma pesquisa de
cunho qualitativo, baseada em entrevistas gravadas em áudio e protocolos de resolução de
Atividades, que nos permitiram analisar quais conhecimentos pedagógicos e sobre o ensino da
matemática, os professores da rede pública estadual de São Paulo, manifestam ao resolverem
atividades sobre padrões e regularidades, contidas no material curricular utilizado nestas
escolas. Para cada entrevistado realizamos um processo de investigação descrevendo trechos
das resoluções, em seguida, com base nos referenciais teóricos desta pesquisa, categorizamos
os conhecimentos apresentados em conhecimentos do conteúdo matemático e conhecimentos
pedagógicos. Os resultados obtidos após a análise dos cinco entrevistados nos permitiram
observar que os professores não apresentam dificuldades na resolução das atividades, porém
percebemos fragilidades no conhecimento sobre a importância e possibilidades que estas
atividades podem oferecer na construção do conhecimento matemático. Esta reflexão
corroborou com a análise dos conhecimentos pedagógicos que consideramos sobre o
conhecimento do conteúdo e do ensino da Álgebra. Estas análises nos permitiram refletir
sobre como os professores participantes desta investigação entendem os materiais curriculares
disponibilizados, a compreensão que possuem sobre o percurso escolhido pelos idealizadores
deste currículo para a construção do conhecimento matemático e quais as possibilidades de
conexões com conceitos matemáticos poderiam ser oportunizados em cada Situação de
Aprendizagem. Durante a realização das entrevistas pudemos perceber o interesse apresentado
pelos professores em aproveitar o momento e conversar sobre suas apreensões a respeito das
Atividades e sobre o que observam da aprendizagem de seus alunos, assim como a
preocupação com a utilização de materiais manipuláveis e da linguagem materna para melhor
aproximação entre o saber que o aluno traz como aprendizado e o objetivo que se deseja
atingir com as atividades propostas. Os resultados encontrados confirmam a fragilidade que os
docentes apresentam nestas áreas do conhecimento e o desejo de formações continuadas que
permitam a ampliação do saber docente.
PALAVRA-CHAVE: Educação Algébrica. Pensamento Algébrico. Generalização de
Padrões e Regularidades. Currículo Oficial de São Paulo. Formação de Professores.
ABSTRACT
AMÉRICO, L.R. Study on the knowledge of math teachers in building the generalization
process of generalization. Dissertation - Pontifical Catholic University of São Paulo - PUC,
São Paulo, 2016.
When researching the construction of the process of generalization of patterns and
regularities, many authors were found that consider this study essential to the development of
mathematical learning because they present situations of exploration, experimentation and
investigation as a way to stimulate the development of thought and algebraic language. Such
recognition denotes the important role of teachers through investigation, observation and
experimentation during class. In this way, this research seeks to investigate the knowledge
that mathematics teachers present about the study of generalizations of patterns and
regularities. It is a qualitative research, based on recorded interviews in audio and protocols of
resolution of Activities, that allowed us to analyze what pedagogical knowledge and on the
teaching of mathematics, the professors of the São Paulo state public network, manifest when
solving Activities on standards and regularities, contained in the curricular material used in
these schools. For each interviewee we perform an investigation process describing sections
of the resolutions, then, based on the theoretical references of this research, we categorize the
knowledge presented in knowledge of the mathematical content and pedagogical knowledge.
The results obtained after the analysis of the five interviewees allowed us to observe that
teachers do not present difficulties in solving activities, but we perceive weaknesses in the
knowledge about the importance and possibilities that these activities can offer in the
construction of mathematical knowledge. This reflection corroborated with the analysis of the
pedagogical knowledge that we consider about the knowledge of the content and the teaching
of Algebra. These analyzes allowed us to reflect on how the teachers participating in this
research understand the curricular materials available, the comprehension they have about the
path chosen by the idealizers of this curriculum for the construction of mathematical
knowledge and what possibilities of connections with mathematical concepts could be given
in each Learning Situation. During the interviews we could see the interest shown by the
teachers in seizing the moment and talking about their apprehensions about the Activities and
about what they observe of the learning of their students, as well as the preoccupation with the
use of manipulable materials and the mother language To better approximate the knowledge
that the student brings as learning and the objective that one wishes to achieve with the
proposed activities. The results confirm the fragility that the teachers present in these areas of
knowledge and the desire for continuous training that allow the expansion of teaching
knowledge.
KEYWORD: Education Algebraic. Algebraic thinking. Generalization of patterns and
regularities. Curriculum Officer São Paulo. Teacher training.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Orientação Técnica com Professores de Matemática – Padrões e
Regularidades (Depoimento de um dos professores participantes) ...................
22
Figura 2 - Quadro de Habilidades / AAP 2015 – 2º semestre ............................................ 23
Figura 3 - Questões 1da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II ......................................... 23
Figura 4 - Questões 2 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II ........................................ 24
Figura 5 - Questões 3 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II ........................................ 24
Figura 6 - Questões 5 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II ........................................ 25
Figura 7 - Questões 6 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II ........................................ 26
Figura 8 - Questões 7 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II ........................................ 26
Figura 9 - Questões 8 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II ........................................ 27
Figura 10 - Questões 21 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II .................................... 27
Figura 11 - Dados por escola dos resultados da AAP/ 8º ano de matemática ................... 29
Figura 12 - Atividade de Sequência – Você Aprendeu?..................................................... 38
Figura 13 - Cadernos do Currículo da SEESP ..................................................................... 42
Figura 14 - Organização Curricular SEESP ......................................................................... 43
Figura 15 - Blocos de Conhecimentos Matemáticos .......................................................... 46
Figura 16 - Conhecimentos matemáticos para o ensino ..................................................... 53
Figura 17 - Álgebra no Ensino Fundamental ...................................................................... 57
Figura 18 - Caderno do Currículo do Professor de Matemática.......................................... 74
Figura 19 - Caderno do Aluno 8º ano Ensino Fundamental ............................................... 75
Figura 20 - Proposta do NPE para a Resolução das Atividades 1, 2 e 3............................. 77
Figura 21 - Proposta do NPE para a Resolução da Atividade 4 ....................................... 79
Figura 22 - Proposta do NPE para a Resolução da Atividade 6 ....................................... 79
Figura 23 - Resolução apresentada pela professora Penélope - Atividade 1....................... 84
Figura 24 - Resolução apresentada pela professora Penélope - Atividade 2....................... 85
Figura 25 - Resolução apresentada pela professora Penélope - Atividades 4 e 5............... 86
Figura 26 - Resolução apresentada pela professora Penélope - Atividades 6 e 7............... 86
Figura 27 - Resolução apresentada pelo professor Pardal - Atividades 1 e 2..................... 88
Figura 28 - Resolução apresentada pelo professor Pardal - Atividade 3............................. 89
Figura 29 - Resolução apresentada pelo professor Pardal - Atividades 4 e 5..................... 89
Figura 30 - Resolução apresentada pelo professor Pardal - Atividades 6 e 7.................... 90
Figura 31 - Resolução apresentada pelo professora Rosinha - Atividade 1...................... 96
Figura 32 - Resolução apresentada pelo professora Rosinha - Atividade 3....................... 97
Figura 33 - Resolução apresentada pelo professora Rosinha - Atividade 4....................... 97
Figura 34 - Resolução apresentada pelo professora Rosinha - Atividades 6 e 7................ 98
Figura 35 - Resolução apresentada pelo professora Rosinha - Atividade 8....................... 99
Figura 36 - Resolução apresentada pelo professor Coruja - Atividade 1........................... 100
Figura 37 - Resolução apresentada pelo professor Coruja - Atividade 2........................... 100
Figura 38 - Resolução apresentada pelo professor Coruja - Atividade 1........................... 102
Figura 39 - Resolução apresentada pelo professor Coruja - Atividade 3........................... 103
Figura 40 - Resolução apresentada pelo professor Coruja - Atividade 4........................... 104
Figura 41 - Resolução apresentada pelo professor Coruja - Atividades 5 e 6..................... 105
Figura 42 - Resolução apresentada pelo professor Coruja - Atividade 7 ........................... 105
LISTA DE ABREVIATURAS
PUC – Pontifícia Universidade Católica .......................................................................... 15
GPEA - Grupo de Pesquisa em Educação Algébrica ...................................................... 15
NPE- Núcleo Pedagógico................................................................................................. 22
AAP – Avaliação da Aprendizagem em Processo ............................................................ 22
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior .................... 31
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais ....................................................................... 31
NCTM – Principles and Standards for School Mathematics …………………………... 31
PNLD – Programa Nacional do Livro Didático ............................................................... 34
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional .................................................. 42
SEESP – Secretaria de Estado da Educação de São Paulo ............................................... 42
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio .................................................................... 43
SARESP – Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo......... 43
DERSVI – Diretoria Regional de Ensino da Região de São Vicente ............................... 44
CCPM – Caderno do Currículo do Professor de Matemática ........................................... 74
CCAM – Caderno do Currículo do Aluno de Matemática ............................................... 75
PCNP – Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico .................................................. 77
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
Tabela 1 - Professores participantes – Instrumento Piloto ............................................... 71
Tabela 2 - Professores participantes do Instrumento Definitivo ..................................... 71
Quadro 1 - Apresentação da Situação de Aprendizagem 5.............................................. 76
Quadro 2 - Apresentação da Sequencia Didática - Atividades 4 a 7................................ 78
Quadro 3 - Síntese dos protocolos de resoluções ............................................................ 114
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 15
CAPÍTULO I
ORIGEM DA PESQUISA ............................................................................................................
18
1.1 TRAJETÓRIA DOCENTE ...................................................................................................... 18
1.1.1 Sobre o Núcleo Pedagógico ........................................................................................... 19
1.2 PROBLEMATIZAÇÃO .......................................................................................................... 20
1.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................. 32
1.4 CURRÍCULO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. ..................................................... 42
CAPÍTULO II
REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................
47
2.1 CONHECIMENTOS DOCENTES PEDAGÓGICOS .............................................................. 47
2.1.1 Bernard Charlot: O professor e a relação com o saber.................................................... 48
2.1.2 Lee S. Shulman: Saberes docentes.................................................................................. 50
2.2 CONHECIMENTOS DOCENTES ESPECÍFICOS DA MATEMÁTICA............................... 55
2.2.1 O ensino curricular da Álgebra ...................................................................................... 55
2.2.2 O ensino de Álgebra por meio de Generalização de Padrões e Regularidades .............. 62
2.2.3 António Borralho (2009), Isabel Vale (2011), e Luís Radford (2006) ........................... 63
2.2.4 Categorias do Conhecimento Matemático para o Estudo de Padrões e Regularidades .. 66
CAPÍTULO III
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...............................................................................
69
3.1 PESQUISA QUALITATIVA ................................................................................................... 69
3.1.1 Fontes e métodos de recolha de dados ........................................................................... 69
3.1.2 Opções e critérios de seleção dos professores ................................................................ 70
3.1.3 As Entrevistas ................................................................................................................. 72
3.2 ANÁLISE DAS ATIVIDADES DA SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5 DO 8º ANO
DO ENSINO FUNDAMENTAL II – CADERNO DO ALUNO DA SEESP .........................
73
CAPÍTULO IV
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS E DOS PROTOCOLOS ......................................................
82
4.1 OS PROFESSORES ENVOLVIDOS NA PRIMEIRA FASE DESTA PESQUISA –
INSTRUMENTO PILOTO......................................................................................................
82
4.1.1 Descrição da Entrevista – Professora Penélope ............................................................. 83
4.1.2 Descrição da Entrevista – Professor Pardal .................................................................... 87
4.2 ANÁLISES DAS ENTREVISTAS DO INSTRUMENTO PILOTO........................................ 90
4.3 OS PROFESSORES ENVOLVIDOS NO INSTRUMENTO DEFINITIVO DESTA
PESQUISA..................................................................................................................................
96
4.3.1 Descrição das entrevistas e dos protocolos de resoluções das atividades definitivas ....... 96
4.4 ANÁLISES DAS ENTREVISTAS E DOS PROTOCOLOS DEFINITIVAS ......................... 106
4.5 COMPARAÇÕES DOS PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NA RESOLUÇÃO
DOS PROTOCOLOS .................................................................................................. 112
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................
118
REFERÊNCIAS..............................................................................................................................
126
ANEXOS ......................................................................................................................................... 130
ANEXOS 1 – Roteiro de Entrevista ................................................................................................ 130
ANEXOS 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............................... 131
ANEXOS 3 – Autorização para realização de pesquisa ...................................... ........................... 132
INTRODUÇÃO
Como integrante do Grupo de Pesquisa em Educação Algébrica - GPEA da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC, sob a orientação da Profa. Dra. Barbara
Lutaif Bianchini, esta pesquisa integra-se ao Projeto “A Álgebra na Educação Básica”, linha
de pesquisa: “Matemática na Estrutura Curricular e Formação de Professores”, cujo objetivo é
investigar a Álgebra do ponto de vista do ensino e da aprendizagem, em nível da escola básica
e da universitária, realizamos esta pesquisa que tem como foco a investigação das concepções
e conhecimentos do professor sobre Álgebra.
Consideramos que esta pesquisa venha a contribuir com subsídios que permitam
promover a reflexão sobre o saber docente, para tanto tomamos como ponte de partida as
observações colhidas ao longo da trajetória profissional desta pesquisadora, construída pela
vivência em sala de aula, pela observação por meio de acompanhamento em formações
continuadas e em observações de aulas para acompanhamento pedagógico realizado pelo
Núcleo Pedagógico da Diretoria de Ensino - Região São Vicente, da Secretaria da Educação
do Estado de São Paulo.
Neste processo de observação, percebemos a importância da reflexão sobre a ação
docente, por meio da qual o desenvolvimento profissional emerge como subsídio para auxiliar
no processo de construção do saber matemático, permitindo observar o desenvolvimento da
aprendizagem, assim como o levantamento de dados para possíveis intervenções que auxiliem
a construção do conhecimento de seus alunos.
O foco matemático, desta pesquisa, encontra-se no estudo de padrões e
regularidades apresentado em materiais didáticos utilizados nas escolas estaduais, em
especial, nos Cadernos do Aluno1, como forma de intensificar, por meio da generalização, o
desenvolvimento do pensamento algébrico.
Direcionamos esta pesquisa para investigar os conhecimentos mobilizados pelos
professores ao desenvolverem Atividades sobre o estudo de generalização de padrões e
regularidades.
1 Material didático disponível pela rede pública estadual de São Paulo aos alunos.
16
INTRODUÇÃO Luciane Ramos Américo
Nesta perspectiva, buscamos respostas para a questão que mobiliza este trabalho:
“Quais conhecimentos os professores de Matemática evidenciam ao resolverem as Atividades
propostas no Caderno do Aluno de Matemática – 8ºano sobre Padrões e Regularidades? ”.
Para responder tal questionamento tomamos como ponto inicial desta pesquisa
uma breve retrospectiva sobre a trajetória docente desta pesquisadora, reflexões que
motivaram a realização deste trabalho, apresentadas no Capítulo I – Origem da Pesquisa.
Ainda neste Capítulo, encontra-se a delimitação da questão de pesquisa seguida da revisão
bibliográfica sobre o conhecimento docente, a Álgebra e o estudo de Padrões e Regularidades
na construção de generalizações, que justificam a relevância deste estudo.
Finalizando este Capítulo, apresentamos o material didático disponibilizado nas
escolas estaduais de São Paulo, cujas Atividades foram utilizadas na coleta de dados desta
pesquisa.
Para o Capítulo II – Referencial Teórico: tomamos como fundamentos para o
desenvolvimento desta pesquisa os aportes teóricos pedagógicos de Shulman (1986) e Ball
(2008), que tratam dos conhecimentos docentes, apresentados por meio de categorias de
análises e Charlot (2005) numa reflexão do professor sobre o próprio saber. E para os
conhecimentos específicos para o ensino da Matemática apoiamo-nos nos estudos de Isabel
Vale (2011) e Borralho (2009) com estudos sobre a generalização do pensamento algébrico, e
Luís Radford (2006) sobre o pensamento algébrico além de outros pesquisadores como Lins e
Gimenez (2005), Lee (2011), Fiorentini, Miorim e Miguel (1993) num estudo sobre as
concepções da Álgebra.
Após este estudo, propomos um modelo baseado nas categorias de análises de
Deborah Ball e seus colaboradores (2008) reunindo os estudos sobre os conhecimentos
docentes necessários ao ensino da Matemática, utilizado nas análises desta pesquisa.
No Capítulo III – Procedimentos Metodológicos: apresentamos os critérios de
seleção dos professores participantes desta pesquisa, assim como o roteiro de entrevistas
utilizado e a coleta de dados, numa abordagem qualitativa. Ainda neste Capítulo, descrevemos
as Atividades utilizadas nas entrevistas nos dois momentos deste estudo – Instrumento piloto
para alinhamento das observações e condução das entrevistas e no instrumento definitivo
deste trabalho.
17
INTRODUÇÃO Luciane Ramos Américo
No Capítulo IV – Análise das entrevistas e dos protocolos: utilizamos como apoio
para a construção destas análises as gravações em áudio das entrevistas e os protocolos de
resolução das Atividades sobre padrões e regularidades contidas nos Cadernos do Aluno do 8º
ano do ensino fundamental.
Para que pudéssemos analisar estes dados separamos este momento em duas
etapas: a primeira delas com uma descrição da resolução das Atividades proposta por cada
professor. Na segunda etapa, procuramos identificar nestas descrições os conhecimentos
docentes baseados nas categorias de análises de Ball (2008) apresentadas no modelo citado no
Capítulo II desta pesquisa, nos quais contemplam os conhecimentos pedagógicos e
específicos da Matemática.
No Capítulo V - Considerações Finais, após a realização deste estudo sobre os
conhecimentos docentes no que tange à generalização de padrões algébricos, fundamentados
nos referenciais teóricos e em pesquisas já realizadas nesta área, apresentamos um retrospecto
sobre o desenvolvimento percorrido, os procedimentos metodológicos adotados e as análises
tanto das entrevistas quanto dos protocolos dos docentes sujeitos deste trabalho, percepções
construídas no decorrer desta investigação e finalizamos com uma sugestão para futuras
pesquisas considerando os estudos apresentados neste trabalho.
CAPÍTULO I
ORIGEM DA PESQUISA
Neste capítulo, são apresentados os motivos que mobilizaram a realização desta
pesquisa, baseada inicialmente, na trajetória profissional desta pesquisadora, seguida dos
estudos e reflexões colhidos ao longo deste caminho, que culminaram neste curso de
mestrado.
Também são delimitados os objetivos desta pesquisa, e apresentamos a revisão
bibliográfica com trabalhos sobre o conhecimento docente, as diferentes concepções de
Álgebra e o estudo de Padrões e Regularidades na construção da generalização que justificam
a relevância deste estudo para a Educação Matemática.
Ainda neste capítulo, apresentamos o material didático disponibilizado nas escolas
estaduais de São Paulo, cujas atividades foram utilizadas como subsídios na coleta de dados
desta pesquisa.
1.1 TRAJETÓRIA DOCENTE
Esta trajetória tem início com uma passagem pela vida profissional desta
pesquisadora, em sala de aula, acumulada ao longo de quinze anos de efetivo exercício na
rede pública estadual de São Paulo, como professora de matemática em diferentes segmentos
da educação básica: Ensino Fundamental Anos Finais – 6º ao 9º ano; Ensino Médio; e
Educação de Jovens e Adultos.
Neste percurso, em diferentes momentos, a dificuldade encontrava-se nas
atividades que utilizavam a representação algébrica para expressar uma forma de
generalização da escrita matemática. Nessas atividades os procedimentos de cálculos
seguiam os “modelos dados nos exemplos”, e minha preocupação e dificuldade como
docente, estava em oportunizar a construção desta escrita algébrica por meio de atividades
19
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
que permitissem aos alunos expressar a ideia de generalização de padrões e regularidades por
meio da representação algébrica deste pensamento.
Após alguns anos de experiência docente, no ano de 2010 passei a fazer parte de
um dos Núcleos de Formação Pedagógica - da Secretaria da Educação do Estado de São
Paulo, local que me permitiu observar a prática docente e suas fragilidades, ao desenvolver
trabalhos voltados à formação continuada e aos estudos de referências teóricas da Educação
Matemática.
Considero importante detalhar algumas informações sobre o trabalho realizado
nesta função, por ter sido o meio que me oportunizou perceber que esta dificuldade de ensino
também atingia outros docentes.
1.1.1 Sobre o Núcleo Pedagógico
Atualmente o estado de São Paulo possui 91 Diretorias de Ensino, responsáveis
por subsidiar as ações entre a Secretaria Estadual de Educação e as escolas estaduais de São
Paulo, formadas por diversos setores, dentre os quais evidencio nesse trabalho o Núcleo
Pedagógico.
As ações desenvolvidas nesse Núcleo consolidam as atribuições legais previstas
no Decreto Nº 57 141/2011, que em parceria com os supervisores de ensino devem entre
outras:
➢ Implementar ações de apoio pedagógico e educacional que orientem os professores na
condução de procedimentos relativos à organização e ao funcionamento do currículo
nas modalidades de ensino;
➢ Acompanhar e orientar os professores em sala de aula, quando necessário, para
garantir a implementação do currículo;
➢ Identificar necessidades e propor ações de formação continuada de professores e de
professores coordenadores no âmbito da área de atuação que lhes é própria.
Destaco apenas três itens do artigo 73, desse decreto, que resumem o trabalho
desenvolvido. Em cumprimento à legislação vigente, cada Diretoria de Ensino constrói seu
Plano de Trabalho com o objetivo de subsidiar as unidades escolares em seus
encaminhamentos didáticos e pedagógicos.
20
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
A integração deste grupo, o núcleo pedagógico, permitiu-me refletir sobre a
importância em buscar fundamentos teóricos que norteiem a prática docente e refletir sobre a
formação continuada, os conhecimentos, a prática e as dificuldades dos professores.
Fazer parte deste Núcleo trouxe-me a responsabilidade pela continuidade de meus
estudos, que resultaram em diversos cursos nesta área e que culminaram no Mestrado
Acadêmico da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC, no qual integro o Grupo
de Pesquisa em Educação Algébrica - GPEA sob a coordenação da Professora Dra. Barbara
Lutaif Bianchini.
1.2 A PROBLEMATIZAÇÃO
O trabalho desenvolvido no Núcleo Pedagógico, por meio da formação
continuada, foi um grande desafio que permitiu-me refletir sobre os conhecimentos docentes.
Pude observar as inquietações apresentadas pelos professores, fragilidades que percebi não
serem somente minhas ou resultantes da falta de conhecimentos pedagógicos, ao trabalhar
alguns temas matemáticos propostos no currículo implementado pela Secretaria da Educação
do Estado de São Paulo.
Dentre esses temas, um deles corrobora com um descontentamento pessoal, o
desenvolvimento da escrita algébrica por meio da generalização de padrões, como forma de
representação simbólica, utilizando letras para representar valores numéricos e expressar o
pensamento matemático, aprofundamento dos conceitos algébricos, apresentado no material
curricular da rede pública estadual de São Paulo, no final do sétimo ano e início do oitavo
ano, anos finais do Ensino Fundamental.
As Atividades propostas no material didático utilizado pelos alunos em sala de
aula apresentam formas de generalizações para expressar regras observadas, baseiam-se na
comparação de diferentes escritas algébricas equivalentes, buscam estimular o pensamento
algébrico investigativo por meio da construção de fórmulas que representem a generalização
da escrita algébrica apresentada nos padrões e regularidades.
Embora encontremos diferentes atividades que estimulem o desenvolvimento do
pensamento algébrico desde os anos iniciais da Educação Básica, percebi, durante alguns
acompanhamentos em escolas e formações pedagógicas, que os professores de matemática
21
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
com os quais ministramos oficinas também encontravam dificuldades em atingir os propósitos
destas atividades, no que se refere à construção da escrita algébrica, por meio das
generalizações de padrões.
A hipótese que trazemos para esta pesquisa sobre o entendimento do professor a
respeito do conteúdo proposto nessas atividades é: “se este material está disponibilizado há
pelo menos oito anos em toda a rede pública estadual de São Paulo, logo os professores
deveriam ter familiaridade com o tema abordado na Situação de Aprendizagem proposta nesta
pesquisa”.
Quais poderiam ser as causas da dificuldade docente em obter êxito ao
desenvolverem as atividades propostas com seus alunos? Seria a forma de apresentação dos
conteúdos neste material didático oferecido às escolas da rede pública estadual? Falta de
conhecimento específico do conteúdo? Ou desconhecimento da gestão da sala de aula para o
desenvolvimento de tais atividades?
Muitos podem ser os questionamentos, pois as dificuldades encontradas pelos
professores ao ministrar suas aulas podem ultrapassar o conhecimento específico do conteúdo.
No material curricular utilizado nas escolas estaduais, a construção da escrita
algébrica ganha intensidade nos anos finais do Ensino Fundamental, por meio do estudo de
Padrões e Regularidades com atividades que visam estimular o estabelecimento de relações e
generalizações.
Em 2012, este Núcleo Pedagógico realizou uma formação continuada para
professores de matemática utilizando o tema Padrões e Regularidades, na qual foi possível
constatar por meio do resultado deste trabalho de campo as dificuldades docentes que
envolvem estas atividades propostas nos cadernos supracitados.
22
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Figura 1- Orientação Técnica com Professores de Matemática – Padrões e Regularidades
Fonte: Arquivos NPE/2012
Este foi um dos depoimentos dos professores participantes desta formação
continuada sobre o estudo de padrões e regularidades.
Ainda num processo de investigação sobre o tema, busquei mais dados sobre a
dificuldade em desenvolver atividades com padrões algébricos. Foi encontrado no site da
Secretaria Escolar Digital2 dados sobre a Avaliação de Aprendizagem em Processo
3 – AAP
realizada em sua 10ª edição realizada em 2015, que chamaram a atenção sobre o rendimento
dos alunos após o primeiro semestre letivo.
Para análise desta avaliação o professor de matemática dispõe do Guia de
Recomendações Pedagógicas que contém a matriz de referência com a descrição dos
conhecimentos verificados em cada questão, sugestões para a retomada destes conteúdos e as
questões apresentadas nas avaliações.
2 Site da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo que reúne informações sobre os alunos.
3 AAP avaliação externa realizada pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo a todas as unidades
escolares com o intuito de promover discussões docentes que busquem a melhoria na qualidade da
aprendizagem.
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23
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Figura 2 - Quadro de Habilidades/AAP 2015 – 2º semestre
Fonte: Recomendações Pedagógicas de Matemática, 2015, p.4.
Para esta pesquisa destaco as questões 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 21 referentes ao estudo de
padrões algébricos e os índices de acertos dos 3120 alunos matriculados no 8º ano do Ensino
Fundamental.
Figura 3 - Questão 1 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II
Fonte: Secretaria Escolar Digital de São Paulo
24
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Nesta atividade 43,3% dos alunos não acertaram a questão, que poderia ser
respondida construindo-se a sequência quatro e a cinco.
Figura 4 - Questão 2 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II
Fonte: Secretaria Escolar Digital de São Paulo
Na questão dois o aluno poderia observar que cada uma das sequências de
bolinhas possui o dobro de n mais duas bolinhas. E 71,1% dos alunos erraram a questão.
Figura 5 - Questão 3 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II
Fonte: Secretaria Escolar Digital de São Paulo
25
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
A sequência apresentada nesta atividade representa quadrados perfeitos, o aluno
poderia observar que a quantidade de bolinhas de cada figura é formada por valores ao
quadrado (4, 9,16, 25.) e que 4 é o resultado de 2², 9 é o resultado de 3²... Portanto, para a
primeira posição n = 1 ser 2² teríamos como generalização o número da posição n, mais uma
bolinha ao quadrado, ou seja, (n+1)². E 56,6% dos alunos erraram a questão.
Nas atividades 5, 6, 7 e 8 são dadas as expressões matemáticas que representam
cada padrão. O aluno deveria substituir os valores de n = 1, n = 2, n = 3 e n = 4 em cada
alternativa e descobrir por meio do resultado qual a sequência que representa a expressão
dada.
Figura 6 - Questão 5 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II
Fonte: Secretaria Escolar Digital de São Paulo
26
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Figura 7 - Questão 6 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II
Fonte: Secretaria Escolar Digital de São Paulo
Figura 8 - Questão 7 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II
Fonte: Secretaria Escolar Digital de São Paulo
27
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Figura 9: Questão 8 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II
Fonte: Secretaria Escolar Digital de São Paulo
Verificamos que mais de 50% de alunos erraram estas questões.
Figura 10: Questão 21 da AAP – 8º ano Ensino Fundamental II
Fonte: Secretaria Escolar Digital de São Paulo4
4 https://sed.educacao.sp.gov.br/
28
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Para a resolução da questão 21, o aluno necessitaria observar que cada sequência
de bolinhas vermelhas representa um número par, logo o 5º número par a partir do número
dois (primeiro número par) é o número dez e que neste caso a representação geométrica é
sempre retangular. E 60,8% dos alunos erraram a questão.
Ao verificar a matriz de referência desta avaliação disponibilizada aos professores
para que possam analisar as alternativas escolhidas e realizem a intervenção proposta para
recuperação da aprendizagem, observa-se que as atividades apresentadas necessitam que os
alunos leiam e observem as sequências investigando o que acontece em cada conjunto de
bolinhas.
Estes dados evidenciam as dificuldades apresentadas pelos alunos em questões
como estas. Quais podem ser os fatores que dificultam o desenvolvimento desta
aprendizagem?
Ainda observando os dados disponíveis na Secretaria Escolar Digital sobre o
desempenho dos alunos que realizaram essa avaliação, apresentamos os percentuais de acertos
por questão de vinte e duas escolas estaduais.
Estes dados apresentam-se divididos em quatro cores, que correspondem à
porcentagem de alunos que acertaram a questão: vermelha até 25%, amarela entre 25% e
50%, azul entre 50% e 75% e verde, acima de 75%, num total de 3.120 alunos avaliados, no
8º ano do Ensino Fundamental.
Nota-se que a grande concentração de acertos encontra-se representado pelas
cores amarela e vermelha que correspondem ao máximo de 50% de alunos que assinalaram
corretamente a questão. Isso nos permite conjecturar que os alunos possivelmente, não
dominam o conteúdo analisado nestas questões.
29
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Figura 11- Dados por escola dos resultados da AAP/ 8º ano de matemática
Fonte: Secretaria Escolar Digital em 24/08/2015
Estes dados mostram a necessidade da investigação sobre o tema. Sendo assim,
quais dificuldades estão implícitas nestes resultados?
● Os alunos conheciam atividades que utilizam padrões e regularidades?
● Os professores conseguiram desenvolver adequadamente as aulas que são destinadas a
estudar este tema?
● Haveria algum obstáculo didático?
● Falta de conhecimentos específicos da matéria?
Estes e muitos outros questionamentos que envolveram o desenvolvimento destas
atividades em sala de aula podem ser colocados, além de situações sobre o ensino, como o
tempo para o desenvolvimento das aulas, os materiais disponíveis para os alunos, sobre
formação docente, falta de professores em sala de aula, greve, quantidade de alunos nas salas,
etc., além de fatores relacionados à aprendizagem que também são muitos envolvendo
XXXXXXX
XX
30
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
família, questões físicas, cognitivas, sociais, econômicas entre muitas outras situações que
podem levar à dificuldade de aprendizagem.
Sabemos que o leque de possibilidades é muito amplo e que não podem ser
desconsiderados, pois refletem diretamente no produto da aprendizagem e no trabalho
docente.
Retomando os aspectos que motivaram a realização desta pesquisa inicialmente
considerando as dificuldades pessoais desta pesquisadora em obter êxito no ensino de
conceitos algébricos que envolvem a generalização da escrita matemática, apresentamos neste
capítulo subsídios que nos permitiram contatar por meio dos acompanhamentos pedagógicos
que esta dificuldade também representava o anseio de outros professores, e os resultados
observados nas avaliações corroboram com esta insatisfação.
Para a realização desta pesquisa fizemos um recorte neste universo de
possibilidades que envolvem o ensino e a aprendizagem, e tomamos como foco o professor,
consideramos dentre seus vários saberes um estudo sobre os conhecimentos pedagógicos e
específicos sobre padrões e regularidades.
A construção desta trajetória apresentada como parte desta problematização,
evidenciou dois instrumentos que subsidiam esta pesquisa, um deles baseado na experiência
profissional como docente e outro fruto da observação dos acompanhamentos realizados nas
escolas em aulas de Matemática. Este levantamento justifica a relevância do tema desta
pesquisa e delimita a questão de pesquisar sobre os conhecimentos que o professor de
matemática apresenta: “Quais conhecimentos os professores de matemática evidenciam ao
resolverem as atividades propostas no Caderno do Aluno de Matemática – 8º ano sobre
Padrões e Regularidades? ”.
Muitos pesquisadores matemáticos têm centralizado suas investigações na pessoa
do professor e na importância do conhecimento docente sobre os conceitos matemáticos.
Alguns deles são evidenciados nesta pesquisa para subsidiar os estudos sobre o conhecimento
matemático como Isabel Vale, Borralho, Luís Radford e Fiorentini com estudos voltados à
formação de docentes e pesquisas sobre a generalização de padrões.
Além destes pesquisadores, também encontramos em nossas leituras, os trabalhos
de João Pedro da Ponte (2003), que ressalta que ensinar é algo complexo, daí a importância
dada à formação continuada dos professores de Matemática. Sobre o pensamento algébrico, o
31
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
autor defende que este desenvolve não só a capacidade de trabalhar com o cálculo algébrico e
as funções, mas a capacidade de lidar com estruturas matemáticas, relações de ordem e de
equivalência, aplicando-as a diferentes domínios da Matemática (interpretando e resolvendo
problemas).
Por este motivo, consideramos como objetivo geral desta pesquisa, investigar o
conhecimento dos professores sobre os estudos de generalizações de padrões e regularidades.
E, como objetivos específicos: analisar quais conhecimentos o professor mobiliza
ao ensinar generalização de padrões e regularidades, como ele entende a generalização
algébrica proposta nas atividades estudadas, e verificar como o professor utiliza, ou não, as
propostas apresentadas no Caderno do Professor de Matemática.
Para complementar os subsídios teóricos que fundamentam este trabalho,
buscamos na literatura, autores que versem sobre o conhecimento docente ou os saberes
necessários à prática do ensino. Para tanto, trouxemos para esta pesquisa, autores como
Shulman, Ball e Charlot.
Além destes pesquisadores, também buscamos documentos oficiais como os
Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental - PCN – ao referir-se que o estudo
da Álgebra deve permitir o desenvolvimento de competências ligadas a generalizações e
abstrações, além de ser poderosa ferramenta na resolução de problemas (BRASIL, 1998,
p.115) em Principles and Standards for School Mathematics (NCTM, 2000) que trazem
orientações para que o estudo do pensamento algébrico seja construído por meio de atividades
que permitam as diferentes concepções da Álgebra.
Esta retrospectiva objetivou justificar o tema desta pesquisa “Investigação sobre
os conhecimentos mobilizados pelos professores de matemática, na construção dos processos
de generalização”.
Complementando a justificativa para a realização deste trabalho apresentamos a
revisão bibliográfica de pesquisas sobre o conhecimento docente, a Álgebra e o estudo de
Padrões e Regularidades na construção do pensamento algébrico.
32
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
1.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para a realização da revisão bibliográfica, foram encontradas muitas pesquisas de
mestrado e doutorado, publicadas no banco de teses da CAPES5, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo – PUC e em publicações disponíveis na internet sobre o tema Padrões e
Regularidades. O filtro utilizado, por meio das palavras-chave: Ensino de Matemática,
Padrões, Raciocínio Matemático, Álgebra e Pensamento algébrico, formação de professores,
oportunizou a escolha de trabalhos que tratavam do estudo da Álgebra, sobre o pensamento
algébrico na construção da linguagem matemática por meio de generalizações de padrões e
regularidades.
Muitas foram às pesquisas encontradas sobre esse tema, após as leituras de varias
delas, estabelecemos como critério para a seleção das que iriam compor esta investigação e
optamos por estabelecer um período de sete anos, de 2009 a 2015, para a seleção dos
trabalhos encontrados.
Nesta seleção priorizamos àquelas que se interseccionam com nosso trabalho em
diferentes aspectos, como por exemplo, professores e objeto matemático, referencial teórico e
ensino, atividades de padrões e professores, material didático e saberes docentes.
Encontramos muitas são as publicações sobre o trabalho docente e sobre a aprendizagem,
porém a maioria delas direcionava seu foco sobre a aprendizagem do aluno e o
comportamento dele frente à atividade matemática.
Esse coorte6 resultou em oito pesquisas, que apresentam estudos sobre a
construção do pensamento algébrico e o trabalho docente, generalização algébrica, padrões e
regularidades. Consideramos que estes trabalhos estão muito próximos de nosso objeto de
estudo e interseccionando-se entre si e com a nossa pesquisa em diferentes pontos como
desejávamos.
Estas observações, consideramos importante evidenciar nesta pesquisa, ao final
desta seção no quadro “Em síntese”, em que procuramos evidenciar os pontos que
consideramos serem tomados para enriquecerem esta investigação.
5 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
6 coorte é um conjunto de pessoas que tem em comum um evento que se deu no mesmo período.
33
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Para compor o referencial bibliográfico foram separadas: duas pesquisas que
investigam o conhecimento docente, cinco apresentam investigação sobre o pensamento
algébrico e três sobre o conhecimento docente e álgebra. Estas pesquisas foram selecionadas
por estarem muito próximas do nosso objeto de estudo.
A primeira pesquisa que apresentamos é a de Nehring e Pozzobon (2009), sobre a
Intervenção docente no ensino de Álgebra: atividades de livro didático e Registros de
Representação. Neste trabalho as autoras fazem a análise de atividades algébricas
apresentadas em livros didáticos, à luz da teoria dos Registros de Representação Semiótica de
Raymond Duval (1993) e apresentam como questão de pesquisa – questão geradora é como os
registros em representação de Álgebra, propostos em uma coleção de Livros Didáticos do
Ensino Fundamental, possibilitam os encaminhamentos docentes na perspectiva da teoria dos
Registros de Representação Semiótica, considerando o processo de tratamento e a
possibilidade de conversão?
Nesta investigação foram considerados diferentes registros de representação
semiótica de um mesmo objeto matemático, com vistas à aquisição conceitual. As atividades
propostas foram extraídas de livros didáticos, utilizando o registro na língua materna, registro
aritmético, registro figural e registro funcional com diferentes atividades.
Para que ocorra a conversão às autoras concluem:
[...] é necessário um processo de aprendizagem do aluno, no sentido de mobilização
de registros e conversões e, principalmente, a intervenção do docente, na sua
intencionalidade didática, com planejamentos que oportunizem os diversos
tratamentos e o movimento produzido no sentido da mudança de sistema de
representação e não de objeto matemático. (p.6)
Esta pesquisa ressalta ainda a importância do docente ter clareza de que as
transformações propostas nas atividades, não garantem a apreensão conceitual e que será
necessária à intervenção docente, por meio de atividades que desenvolvam habilidades e
potencializem a conversão entre os registros algébricos.
Evidenciamos nesta pesquisa o que concluem as autoras ao analisarem os livros
didáticos de 6º e 7º anos quanto aos diferentes tratamentos apresentados nas atividades sobre
registros aritméticos, pois segundo elas não garantem aos alunos a apreensão conceitual
necessária:
34
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
[...] por exemplo, os Registros Aritméticos - expressão e generalização de padrões
numéricos ou geométricos - apresentam um custo cognitivo bastante alto para os
alunos. Estes apresentam muita dificuldade ao trabalhar com este registro, pois o
mesmo exige um processo de generalização da linguagem algébrica. O Registro
Aritmético, com a exploração de padrões, é o que menos aparece na coleção de
Livros Didáticos analisadas nesta investigação. (p.6)
Neste aspecto chamam a atenção para o trabalho docente em oportunizar mais
atividades que permitam a articulação entre aritmética e álgebra, pois estas são pouco
exploradas e representam importante papel no desenvolvimento da linguagem e do
pensamento algébrico dos alunos.
Ainda utilizando pesquisas de conteúdos algébricos em livros didáticos podemos
citar Carmo (2014) que realizou sua pesquisa sobre generalizações algébricas “Um estudo a
respeito da generalização de padrões nos livros didáticos de Matemática do Ensino
Fundamental”. O objetivo foi analisar se os livros didáticos de Matemática dos Anos Finais
do Ensino Fundamental escolhidos no PNLD7 (2011) que introduzem a linguagem algébrica
por meio de atividades de generalização de padrões e como isso ocorre. Em seu trabalho
Carmo (2014) ressalta que, das quatro coleções de livros didáticos analisadas, três utilizam
atividades de generalização de padrões para introduzir a linguagem algébrica, predominando
atividades com padrões figurais (representação geométrica, sequências com bolinhas).
Carmo desenvolve uma análise sobre diferentes atividades e conclui sua pesquisa
com um fato que muito me chama atenção, ao relatar que:
[...] este tipo de atividade está sendo pouco utilizada para introdução da linguagem algébrica, embora várias pesquisas e documentos oficiais mostrem o potencial desse
tipo de atividade para a iniciação do estudo da álgebra (CARMO, 2014, p.103).
Sobre o ensino da álgebra, Carmo (2014) observa que os alunos apresentam
dificuldades em expressar seu pensamento por meio da linguagem algébrica e que muitos
professores ainda desconhecem o benefício das atividades com padrões e regularidades para
incentivar o desenvolvimento destas ideias.
Comparando os trabalhos de Nehring e Pozzobon (2009) e Carmo (2014)
investigam livros didáticos embora com enfoques diferenciados, ao observarem as atividades
com padrões e regularidades os pesquisadores apresentam as mesmas conclusões sobre o
7 Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) tem como principal objetivo subsidiar o trabalho pedagógico
dos professores por meio da distribuição de coleções de livros didáticos aos alunos da educação básica. Após a
avaliação das obras, o Ministério da Educação (MEC) publica o Guia de Livros Didáticos com resenhas das
coleções consideradas aprovadas.
35
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
pouco espaço destinado às atividades que estimulem o desenvolvimento do pensamento
algébrico por meio de padrões e regularidades.
Corroborando com esta conclusão a pesquisa de Duarte (2011) trata de um estudo
sobre o conhecimento profissional dos professores de matemática no desenvolvimento
curricular e na prática letiva no domínio dos Números e da Álgebra. Sob o tema: “Tecnologia
e pensamento algébrico: Um estudo sobre o conhecimento profissional dos professores de
Matemática tem por objeto de estudo o conhecimento profissional de duas professoras de
Matemática”.
Este estudo objetiva descrever e compreender o conhecimento profissional que o
professor possui no desenvolvimento curricular e na prática letiva no domínio dos Números e
da Álgebra. Para seu estudo, Duarte (2011) apoia-se no recurso da tecnologia, observa como
as professoras entrevistadas preparam suas aulas e como esperam que os alunos ajam em cada
situação.
Para a realização desta pesquisa o autor utiliza-se de um trabalho colaborativo
com duas professoras na qual elas contam como ocorre o processo de generalização sobre
regularidades observado em sala de aula e como elas analisam as atividades.
Neste trabalho o pesquisador propõe o uso de atividades com o apoio de
instrumentos tecnológicos (atividades virtuais em computador) com o objetivo de elaborar e
experimentar com os alunos tarefas sobre pensamento algébrico para o desenvolvimento da
aprendizagem. Observa que as professoras reconhecem que estas atividades podem ir ao
encontro da diversidade dos alunos presente na aula e contribui para melhorar a
aprendizagem, tendo em conta a natureza da tarefa e das questões colocadas.
Os resultados apresentados nesta pesquisa mostram que o uso da tecnologia
associada às atividades docentes torna-se instrumento promissor para o desenvolvimento da
aprendizagem por aflorar o interesse, a participação e integração de professores e alunos no
processo de ensino e de aprendizagem.
Também encontramos na pesquisa realizada por Nogueira (2015) “A relação de
docente como o saber: entre o discurso e a prática”, que traz à tona uma investigação sobre a
relação epistêmica com o saber de docentes do ensino superior. Para tal, este estudo ampara-
se em Charlot (2000) ao refletir sobre como determinar ou quais fatores considerar ao “julgar
36
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
a qualidade de uma aula”. Segundo a pesquisadora o que é bom para o docente pode não ser
bom para o aluno. Por isso defende a formação continuada como importante aliada. Seus
estudos transitam entre a teoria e a prática docente.
Assim, a teoria, além de seu poder formativo, dota os sujeitos de pontos de vista
variados sobre a ação contextualizada. Os saberes teóricos propositivos se articulam,
pois saberes da ação dos docentes e de sua prática pedagógicos sendo por eles (re)
significados. (NOGUEIRA, 2015, p.6)
Para a realização desta pesquisa, foram observados quatro docentes do ensino
superior privado e público em suas práticas educativas, com o objetivo de analisar a relação
epistêmica com o saber de docentes, considerando suas concepções e práticas em sala de aula.
Os resultados encontrados neste trabalho nos mostram que apenas dois docentes
percebem e valorizam o saber do educando, motivando-os a aprender e apropriar-se do saber
de uma forma crítica e construtiva. Enquanto, os outros dois permanecem numa abordagem
pedagógica tradicional.
Mestre (2011) apresenta em seu artigo intitulado “O pensamento algébrico e a
capacidade de generalização de alunos do 3º ano de escolaridade do ensino básico” o
pensamento algébrico e a capacidade de generalização.
Esta pesquisa baseia-se nos estudos de Kieran (2007) sobre a generalização
algébrica. Este autor defende o uso da generalização do pensamento algébrico sem o rigor da
notação algébrica por tratar de alunos que se encontram no início da educação básica, mas que
evidenciam sua forma de pensar por meio da generalização envolvendo as propriedades dos
números e operações e a exploração de padrões.
O trabalho desta pesquisadora traz como foco o estudo do desenvolvimento da
aprendizagem do aluno, para tanto observa o fazer docente na condução da construção do
conhecimento matemático. O que muito nos auxiliou os estudos sobre a generalização
algébrica.
As observações das atividades apresentadas neste trabalho ocorreram com alunos
do 3º ano do ensino fundamental, com o objetivo de perceber como os alunos mobilizam a
capacidade de generalização na resolução de tarefas que envolvem as propriedades dos
números e operações e a exploração de padrões.
37
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Neste estudo a pesquisadora constata que “os alunos, mesmo sem terem sido
sujeitos a um ensino intencional de promoção do pensamento algébrico, conseguem
expressar a capacidade de generalização, especialmente em relação às propriedades dos
números e das operações e em situações de generalização próxima. ” (MESTRE, 2011, s.p).
Para a realização das atividades de padrões algébricos os alunos mostraram que
embora alicerçado numa perspectiva de sentido do número é possível ampliar a sua
capacidade de generalização e outros aspectos do pensamento algébrico. Em suas percepções
a pesquisadora observa que:
A exploração de padrões, por sua vez, poderá ser um contexto muito rico para
desenvolver a capacidade de generalização na medida em que promove o reconhecimento das características comuns aos diferentes termos do padrão, ou seja,
das relações existentes entre as variáveis envolvidas, e possibilita a construção de
uma regra geral. (MESTRE, 2011, s.p.)
Neste aspecto percebemos no trabalho docente a importância no preparo de aulas
que contemplem o desenvolvimento de atividades que contemplem o reconhecimento de
regularidades matemáticas de forma a desenvolver a generalização, capacidade central no
pensamento algébrico.
Da mesma forma, Lautenschager (2012) investiga o conhecimento profissional
docente dos professores participantes de um curso de formação continuada. Os estudos
apresentados pela pesquisadora em seu artigo “A (RE) construção do Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo dos Professores de Matemática” objetivam compreender como o
professor consolida o conhecimento profissional para o ensino da álgebra escolar.
Lautenschager (2012) baseia-se nos estudos de Ball e seus colaboradores (BALL,
BASS, SLEEP e THAMES, 2007) sobre o conhecimento do conteúdo apresentados por
Shulman (1986). Em seus aportes teóricos a pesquisadora destaca uma subdivisão apresentada
por Ball (2008) sobre o conhecimento matemático para investigar o que os professores fazem
ao ensinar Matemática e, o que eles fazem demanda raciocínio matemático, percepções,
compreensão e habilidade?
A pesquisadora destaca nas palavras de Ball et al. (2001) a necessidade de
ampliação da visão do conhecimento matemático no contexto de ensino, o que coloca em
evidência o professor e o conhecimento e a articulação destes ao ensinar.
38
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
As conclusões apresentadas pela pesquisadora nos mostram que o conhecimento
dos professores vai sendo construído a partir de uma reflexão na e sobre a prática, para esta
observação utiliza-se de diferentes atividades sobre conteúdos algébricos envolvendo
diferentes concepções de álgebra.
Para ela, os professores utilizam diferentes estratégias para ensinar o conteúdo,
porém sabem muito pouco sobre o conteúdo matemático e vice-versa.
Outro trabalho evidenciado “Análise dos usos da variável presente no Caderno do
Aluno na introdução à Álgebra da Proposta Curricular do Estado de São Paulo do Ensino
Fundamental II de 2008 a 2009”, é o de Fernanda Roberta Ravazi Bailo (2011).
Neste trabalho, Bailo (2011) apresenta uma descrição sobre os Cadernos que
compõem o Currículo Oficial da SEESP, bem como o estudo e análise das atividades contidas
nos Cadernos do 7º ano do Ensino Fundamental, baseadas nas respostas apresentadas no
gabarito.
Este estudo traz como base o Modelo 3UV de Ursini et al. (2005), em Usiski
(1985) nas concepções da álgebra e nos PCN (BRASIL, 1998). As atividades apresentam
figuras diversas sequenciadas nas quais os alunos são levados a pensar sobre os padrões de
repetição e a responder por meio da observação a posição n de uma figura qualquer.
Figura 12 - Atividade de Sequência – Você Aprendeu?
Fonte: Bailo, 2011, p. 91.
Notamos que, nesta primeira Situação de Aprendizagem, as atividades tiveram a presença do desenvolvimento lógico-histórico, já que tivemos as classes de
desenvolvimento (retórica e simbólica) e também o conceito de variável
historicamente construído (palavra, figura, letra). (BAILO, 2011, p. 103).
39
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Os estudos de Bailo (2011) mostram uma investigação sobre as atividades
contidas nos Cadernos dos Alunos do 7º ano do Ensino Fundamental. A primeira situação de
aprendizagem observada é: Investigando Sequências por Aritmética e Álgebra. Também
foram incluídas nesta análise outras três Situações de Aprendizagens que compõem este
Caderno. Este percurso objetiva-se em investigar a presença de estudos referenciais da álgebra
sobre o conceito de variável.
Em suas considerações sobre a análise das atividades propostas no Caderno dos
Alunos da Secretaria de Educação de São Paulo, a autora conclui que:
[...] estão presentes nestas Situações de Aprendizagem, segundo o Modelo 3UV, a
variável como incógnita específica, como número genérico e como uma relação funcional. Em relação às concepções de álgebra de Usiskin (1995) temos: Álgebra
como aritmética generalizada, Álgebra como estudo de procedimentos para resolver
certos tipos de problemas e Álgebra como estudo de relações entre grandezas. Com
relação às dimensões da álgebra, segundo os PCN (BRASIL, 1998) têm: Álgebra
como aritmética generalizada, Álgebra das equações e Álgebra funcional. (BAILO,
2011, p.67)
Em suas conclusões a autora é enfática em afirmar que “estas Situações de
Aprendizagem possibilitam ao aluno a compreensão do conceito de variável. ” (BAILO
2011, p.67).
Sobre o pensamento algébrico, Barbosa (2010) em seus estudos sobre
“Pensamento algébrico: generalização de padrões” apresenta atividades que levem os alunos
a explorar padrões de sequências numéricas ou simbólicas e generalizar regularidades, como
forma de favorecer o desenvolvimento do pensamento algébrico e consequentemente a
construção da linguagem algébrica.
Para este estudo o autor observa o trabalho docente no momento das atividades
com o intuito de descobrir quais são as barreiras, obstáculos e falhas cometidas por eles
(docentes) nas aulas do 9º ano, com situações que levassem os alunos a “ler, ver e descrever”
de modo explícito ou implícito, por meio do discurso oral ou escrito, a regularidade dos
padrões apresentados.
Sobre estas atividades o autor relata que a relação existente entre o professor e
seus alunos é fundamental para tal alcançar com êxito os objetivos do trabalho docente. Para a
realização destas atividades, foram necessárias várias aulas para que seus alunos se sentissem
desinibidos a falar. E quando isso aconteceu, a aula e as atividades fluíram satisfatoriamente.
40
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
O autor finaliza seu trabalho concluindo que atividades investigativas que
proporcionem aos alunos momentos em que possam expressar seu raciocínio são
significativas, num processo contínuo. As atividades propostas envolvem o trabalho com
padrões e regularidades de figuras geométricas com vistas a permitir que os alunos coloquem
em prática capacidades como: visualização e organização espacial, que os possa levar à
resolução e solução de um problema.
Esta reflexão apresentada pelo pesquisador nos permite concluir que a relação
construída entre professores e alunos no processo de ensino é fundamental e que cabe ao
professor estimular esta participação com atividades que convidem seus alunos a exporem sua
forma de pensar.
Estas contribuições corroboram com esta pesquisa ao tratar das dificuldades
docentes encontradas relacionadas aos estudos matemáticos sobre a escrita algébrica.
O campo de pesquisadores que estudam o tema Padrões e Regularidades como
forma de oportunizar o desenvolvimento do pensamento e da escrita algébrica é amplo, “Por
que ainda existem tantas dificuldades em lidar com este tema na sala de aula? ” Que saberes
docentes devem ser mobilizados para que se possa ter melhores respostas ao trabalho
docente?
Em síntese:
Nesta revisão bibliográfica, procuramos por meio das pesquisas apresentadas,
subsídios que corroborassem com a investigação e reflexão sobre o trabalho docente, embora
utilizem meios diferentes, direcionam seu foco para a aprendizagem do aluno. Elas
evidenciam o trabalho docente ao ser considerado eficaz quando oportunizam a construção do
conhecimento dos alunos.
A pesquisa realiza por Nehring e Pozzobon (2009), sobre a intervenção docente
no ensino de Álgebra e Carmo (2014) me permitiu verificar que embora o estudo de padrões e
regularidades seja de inquestionável importância para o desenvolvimento do pensamento
algébrico, ainda encontramos dificuldades em obter atividades nos livros didáticos aprovados
41
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
pelo PNLD o que torna a ação docente fundamental ao desenvolver em aulas atividades que
permitam o desenvolvimento do pensamento algébrico por meio da investigação.
Num estudo sobre os materiais didáticos disponíveis para o ensino, Bailo (2011)
apresenta em seu trabalho uma análise sobre os Cadernos do Aluno da rede pública estadual
de São Paulo e o tema Álgebra contribuindo diretamente para ampliar a investigação que
temos sobre o estudo de padrões algébricos.
Duarte (2011) e Nogueira (2015) mostram em seus trabalhos a importância da
formação continuada e a dificuldade que os docentes apresentam em lidar com o tema padrões
e regularidades em suas aulas. Sobre este assunto Mestre (2011) utilizando os aportes de
Charlot (2000) nos mostra a importância existente na relação entre o saber.
Mestre (2011) contribuiu para esta pesquisa sob o aspecto do conhecimento
específico do objeto matemático por trazer em suas bases o estudo da generalização do
pensamento algébrico, com o foco nos alunos dos anos iniciais. Na pesquisa de Lautenschager
(2012) sobre os saberes docentes relativos ao ensino de padrões e regularidades, o que trazem
de suas práticas e o que acrescentam após terem a oportunidade de participar de uma
formação continuada.
Este trabalho muito se aproxima desta pesquisa, pois também direciona seu
objetivo em compreender como o professor consolida o conhecimento profissional para o
ensino da álgebra escolar.
Pode-se perceber nestas pesquisas que o saber do professor deve ir além do que se
propõe a ensinar, deve estar enriquecido com saberes didáticos sobre como o aluno aprende,
saberes específicos, para ter a dimensão da profundidade necessária de cada assunto nesta ou
naquela fase da aprendizagem, entre outros saberes. Por este motivo, esta pesquisa coloca no
centro da investigação este docente e seus saberes.
Após a apresentação das pesquisas correlatas, consideramos ser relevante para a
construção desta investigação a apresentação de alguns aspectos do Currículo Oficial do
Estado de São Paulo, implementado no ano de 2008 em toda rede estadual por ser este
material didático disponibilizado nas escolas estaduais de São Paulo, cujas atividades foram
utilizadas na coleta de dados desta pesquisa.
42
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
1.4 O CURRÍCULO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
Este Currículo foi construído de modo a contemplar as necessidades de se
estabelecer referenciais comuns que atendam ao princípio de garantia de padrão de qualidade
previsto pelo inciso IX do artigo 3º da Lei nº 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB e de subsidiar as equipes escolares com diretrizes e orientações curriculares
comuns que garantam ao aluno acesso aos conteúdos básicos, saberes e competências
essenciais e específicas a cada etapa do segmento ou nível de ensino oferecido.
Como forma de garantir o cumprimento dos parâmetros contidos neste
documento, foi implementado no ano de 2008, no ensino da rede pública do Estado de São
Paulo, um documento inicialmente intitulado Proposta Curricular, cujo principal objetivo era
uniformizar a educação garantindo aos alunos um ensino equânime ao priorizar a competência
leitora e escritora, definindo a escola como espaço de cultura e de articulação de competências
e de conteúdos disciplinares.
Currículo é a expressão de tudo que existe na cultura científica, artística e
humanista, transposto para uma situação de aprendizagem e ensino (SÃO PAULO,
2008, p.8).
De maneira geral este Currículo apresenta um perfil conceitual de referenciais
teóricos pedagógicos que permeiam todas as disciplinas tornando-as estruturalmente
semelhantes ao organizarem seus conteúdos em Situações de Aprendizagens que reúnem
diferentes Sequências Didáticas - atividades organizadas sistematicamente por níveis de
dificuldades, permitindo o desenvolvimento de conteúdos conceituais, factuais,
procedimentais e atitudinais. Traz em seus princípios o ensino por competência leitora e
escritora.
Para melhor detalhamento destes princípios, juntamente com estas diretrizes
curriculares foram criados documentos com orientações para a gestão do currículo intitulado
“Caderno do Gestor” contendo as diretrizes, fundamentos e referenciais teóricos norteadores
deste Currículo, direcionado aos gestores das escolas.
43
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Para os professores foram criados os “Cadernos do Professor”, contendo
orientações didático-pedagógicas de cada Situação de Aprendizagem8, organizados por
disciplinas, acompanhados de orientações para a gestão da aprendizagem em sala de aula,
para a avaliação e para a recuperação da aprendizagem.
Figura 13 - Cadernos do Currículo da SEESP
Para os alunos, foram criados os “Cadernos
do Aluno” contendo as Situações de
Aprendizagem e suas respectivas atividades a
serem desenvolvidas em cada ano/série do
Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Fonte: São Paulo faz Escola - Currículo, Avaliação e Expectativas de Aprendizagem, 2008.
No ano de 2010 esta proposta ganha status de Currículo Oficial, utilizado em toda
rede Estadual de Educação do Estado de São Paulo. (SÃO PAULO, 2008, p.7-8). Em 2014
este material didático passa por revisão e nova edição.
Este Currículo apresenta como princípios centrais, a escola que aprende e as
competências como eixo da aprendizagem com prioridade nas competências leitora e escritora
e na articulação das competências para aprender (SÃO PAULO, 2010, p.10).
O conhecimento tomado como instrumento, mobilizado em competências,
reforça o sentido cultural da aprendizagem [...] o conhecimento poderá se
tornar um prazer que pode ser aprendido, ao se “aprender a aprender”. Nesta escola, o professor não se limita a suprir o aluno de saberes, mas é parceiro
de fazeres culturais, aquele que promove de muitas formas o desejo de
aprender (SÃO PAULO, 2010, p.11).
Neste ponto referenciam-se aos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN e aos
pressupostos teóricos do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio (SARESP, 2013, p.34)
8 Conceito baseado nas ideias de Philippe Perrenoud (2000): Uma situação de aprendizagem se insere num
dispositivo e numa sequência didática na qual cada tarefa é uma etapa em progressão. Referencia utilizada como
bibliografia deste material. ▪ O dispositivo depende dos conteúdos, do nível dos alunos, das opções do professor. ▪ A competência consiste na busca de um amplo repertório de dispositivos e de sequências de aprendizagem e
na identificação do que eles/as mobilizam e ensinam.
44
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
ando destaque a três (3) pares de competências, como eixos9 norteadores da ação educacional,
ao longo da Educação Básica:
❑ Eixo expressão/compreensão a Matemática, sem dúvida, apresenta-se como uma
maneira de expressar e compreender a realidade por meio de números, relações,
formas, tabelas e gráficos. Eles estão presentes em textos, gráficos e tabelas de índices
das mais diversas naturezas da atividade humana.
❑ Eixo argumentação/decisão o desenvolvimento do pensamento lógico e a análise
racional mostram-se como instrumentos muito fortes nesse eixo, sendo que o
desenvolvimento desses instrumentos está muito ligado à Matemática, principalmente
nas diversas situações-problema que o eixo permite aos alunos trabalharem.
❑ Eixo contextualização/abstração a Matemática permite simplificar a complexidade
de situações do cotidiano por meio da abstração (via modelagem) para buscar
compreendê-la e fazer ensaios sobre possíveis mudanças ou solução de problemas.
O ensino por competência pressupõe aprender a aprender, um dos pilares da
educação como forma de articulação do saber com vistas à resolução de problemas. Neste
Currículo, as competências estão organizadas em três grandes grupos formados por várias
habilidades: Grupo I - Competências para Observar, Grupo II - Competências para realizar e
Grupo III - Competência para Compreender.
As habilidades que compõem cada grupo de competências estão distribuídas ao
longo dos conteúdos apresentados em cada disciplina, de forma a oportunizar o
desenvolvimento de competências como pensar, observar, selecionar.
9 Eixos norteadores da ação educacional: Currículo do Estado de São Paulo Matemática, p. 31.
45
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Figura 14: Organização Curricular SEESP
Fonte: Formação de Professores de Matemática - DER SVI/201410
Nestes Cadernos os conteúdos do Currículo de Matemática estão distribuídos por
temas: Números, Relações e Geometria. Estes temas interpenetram-se permanentemente
formando uma rede de conhecimentos. Neles, o tema tratamento da Informação permeia todos
os temas de maneira complementar a cada Situação de Aprendizagem proposta.
A síntese apresentada nesta figura é parte integrante de uma formação pedagógica
realizada por mim como integrante do núcleo pedagógico aos professores de Matemática com
a intenção de oportunizar a várias ideias contempladas na bibliografia apresentada como base
para a construção deste Currículo.
Figura 15 - Blocos de Conhecimentos Matemáticos
Fonte: Adaptado pela pesquisadora a partir do Currículo e Práticas Pedagógicas DER SVI/2014
10 Material utilizado em Formação Continuada para professores de matemática realizada em 2014 pelo Núcleo
Pedagógico como síntese das ideias contidas nos Cadernos do Currículo.
Relações
Números
Geometria
Tratamento da Informação
Medidas/aproximações
Proporcionalidade
Interdependência Equivalência/ordem
Simbolização/operações
Percepção/concepção
Construção/representação
46
CAPÍTULO I Luciane Ramos Américo
Os professores entrevistados para a realização desta pesquisa lecionam em escolas
estaduais de São Paulo e têm como material didático disponível aos alunos os Cadernos do
Aluno e livros didáticos escolhidos pelos professores da escola. Por este motivo utilizamos
neste trabalho, como meio para a investigação dos conhecimentos docentes, atividades deste
material.
Ao estudarmos sobre a estrutura destes Cadernos percebemos que o entendimento
das atividades apresentadas sob a forma de sequência didática, com questões que se
complementam e apresentam-se em níveis crescentes de complexidades. Esta disposição
diferencia-se da maioria dos livros didáticos na forma de apresentação das atividades
propostas.
Conforme orientações contidas nos referenciais deste material curricular, as
sequencias didática apresentadas seguem um padrão, iniciam-se com questões que sugerem o
levantamento de conhecimentos prévios, problematização e sistematização da aprendizagem.
Ao longo dos cadernos, são apresentadas, além de uma visão panorâmica do
conteúdo do bimestre, quatro Situações de Aprendizagem (1, 2, 3 e 4), que pretendem ilustrar
a forma de abordagem sugerida, instrumentando o professor para sua ação na sala de aula.
Esta mesma lógica pode ser observada também entre as situações de
aprendizagens dos cadernos de matemática na qual a cada uma possui uma função no
desenvolvimento dos conceitos formando assim um bloco de conhecimentos.
Consideramos importante esta observação sobre este material pois utilizamos este
conhecimento em nossas análises como conhecimento do currículo e como conhecimento
especializado do conteúdo ensinado.
No próximo Capítulo apresentamos os referenciais teóricos que fundamentam o
desenvolvimento desta pesquisa.
CAPÍTULO II
REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo, apresentamos os aportes teóricos que fundamentam esta pesquisa
sobre os conhecimentos docentes, que envolvem os aspectos pedagógicos por meio dos
processos de generalização com padrões e regularidades, considerados conhecimentos
específicos.
Por este motivo, tomamos como referencial teórico pedagógico para esta pesquisa
os estudos de Charlot (2005), numa reflexão sobre os conhecimentos docentes, em Shulman
(1986) e Ball (2008), por meio das categorias de análises do conhecimento do professor.
Para os aportes teóricos específicos da Matemática, sobre a construção dos
processos de generalização algébrica, buscamos apoio nos estudos de Borralho (2009), Isabel
Vale (2011) e Luís Radford (2006). Corroborando com estes pesquisadores encontramos
Kaput (2008) que refere-se aos aspectos centrais da Álgebra, em Mason (1996) sobre
generalização, Lanin (2005) que também desenvolveram estudos sobre o processo de
generalização. Sobre o estudo da Álgebra apoiamo-nos nos estudos de Lins e Gimenez
(2005), em Fiorentini, Miorim e Miguel (1993), e Lee (2001).
2.1 CONHECIMENTOS DOCENTES PEDAGÓGICOS
Para fundamentar esta investigação procuramos pesquisadores que apresentam
estudos sobre como o trabalho docente poderá influenciar no desenvolvimento pessoal e
profissional, resultando em sua ação docente. Nesta busca, percebemos que é cada vez maior
o número de pesquisadores que estudam sobre este assunto, enriquecendo com seus trabalhos,
de forma diversificada, os estudos sobre os saberes docentes.
Dentre as várias pesquisas, nos identificamos com os estudos de Bernard Charlot
(2005), quando ao citar Sócrates – “Conhece-te a ti mesmo”, retrata a preocupação com o
saber e, também, com Lee Shulman (1987), ao apresentar estudos sobre o conhecimento
48 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
docente. Percebemos que os termos “conhecimento” e “saber” ainda que possuam
significados diferentes são citados por vários autores nesta área de pesquisa. Então como
podemos distingui-los?
Luís Radford (2015), em entrevista à revista Educação e Pesquisa, ao responder os
questionamentos sobre educação, e ao ser inquerido sobre os conceitos de conhecimento e
aprendizagem, responde partindo de uma ideia hegeliana11
relacionada com o saber:
[...] saber, conhecimento e aprendizagem. Para o construtivismo, que se inspira em
Piaget e que adota a posição da produção de saber enquanto produção privada, o
saber é aquilo que o sujeito produz. Da mesma maneira que o que o sujeito produz
pertence a ele, o que o aluno produz pertence a ele, e isso que pertence a ele é seu
conhecimento, é sua aprendizagem... (RADFORD, 2015, s.p.)
Trouxemos, neste momento, as palavras de Radford (2015) sobre conhecimento,
como sendo algo que pertence ao sujeito, por ser um dos pesquisadores que utilizamos para
fundamentar os aportes teóricos específicos da Matemática, corroborando com os saberes dos
pesquisadores que aqui mencionamos.
Apresentamos um breve estudo sobre os dois autores utilizados como base para os
aportes teóricos pedagógicos desta pesquisa – Bernard Charlot e Lee Shulman.
2.1.1 Bernard Charlot: O professor e a relação com o saber
Charlot (2005) chama atenção para a importância da influência docente sobre a
dificuldade na aprendizagem, considerando o que considera de carência cultural. Segundo o
autor, esta dificuldade pode estar diretamente relacionada com o fazer pedagógico.
Neste contexto, o autor, defende diversos objetos de aprendizagem, que implicam
em diferentes tipos de atividades, numa estreita relação do ato de ensinar e aprender, na qual
se relacionam, principalmente, a produção, a apropriação e a transformação dos
conhecimentos do docente.
Em suas palavras, os diferentes tipos de atividades realizadas pelos sujeitos,
resultam nas relações com o saber que passam pela ação do ensinar e aprender.
Para Charlot (2005), a relação com o saber está relacionada com a interação
complexa que o homem faz com o mundo, com o outro e consigo mesmo, mais amplamente
11
Ideia hegeliana.
49 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
nas “relações sociais”, submetidos a processos coletivos de validação, capitalização e
transmissão. Assim, a ação de ensinar envolve várias questões sobre o ato de educar.
Quando questionado sobre o conflito entre quem ensina e quem aprende, em sua
entrevista à Revista Nova Escola, o autor respondeu:
[...] existe uma tensão que faz parte do ato pedagógico. O primeiro problema que o
docente enfrenta é não produzir diretamente seu trabalho. Explico: o que faz o aluno
aprender é sua própria atividade intelectual, não a do mestre. O trabalho do educador
é despertar e promover essa atividade. [...] Se o estudante fracassa, a culpa é do
professor, por mais que ele não tenha o poder de enfiar o saber dentro da cabeça do
jovem. Essa tensão se converte facilmente em conflito quando o aluno se sente pressionado ou enganado. Mas os conflitos nem sempre são negativos. Penso que é
uma sorte viver tantas contradições. O humor, a reflexão e o prazer são
imprescindíveis para aceitar as diferenças e é isso que permite avançar. (CHARLOT,
2015, s.p.)
Para ele, para que o aluno se aproprie do saber ensinado, é necessário que o
professor disponha de diferentes atividades que estimulem competências cognitivas e o
mobilize intelectualmente, envolvendo-o nesta construção, estabelecendo uma relação com o
outro, no que chama de processo de humanização.
Sobre este aspecto, encontramos nas ideias de Charlot (2005), que formar
professores é trabalhar os saberes e as práticas em diferentes níveis, é dotá-los de
competências que lhes permitirão gerir tensões e construir mediações entre práticas e saberes.
Bianchini e Machado (2013), ao escreverem sobre a importância da reflexão do
professor sobre seu saber matemático evidenciam o que Charlot (2005, p.63) diz sobre a
relação do sujeito com o saber [...] não há saber senão em uma relação com o saber, isto é,
não se pode pensar o saber (ou o “aprender”) sem pensar ao mesmo tempo o tipo de relação
que se supõe para construir esse saber ou para alcança-lo. (CHARLOT, 2005 apud
BIANCHINI e MACHADO, 2015).
As autoras também ressaltam, nas palavras de Sztajn (2002, p.21), que Ball, ao
tratar do “professor de matemática”, entende que:
“O professor precisa ser capaz de articular seu saber, pois aquilo que é apenas
tacitamente aceito, não pode ser explicitamente ensinado [...] o saber explícito e
conectado do professor deve articular-se à visão que este tem sobre a Matemática,
sobre a natureza da disciplina, formando aquilo que influenciará a forma com a qual
decide apresentar certo tópico para seus alunos. (Sztajn, 2002, apud BIANCHINI e
MACHADO, 2015, p.63).
Sobre este aspecto, encontramos as ideias de vários autores que poderíamos
também empregar para corroborar com este estudo. Dentre eles, Shön (2000) explica este
50 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
conhecimento apresentado na ação como “conhecimento tácito”, conhecimento que mobiliza
diferentes tipos de saberes, aproximando-se dos alunos ao investigar as possibilidades para se
resolver uma questão. Perrenoud (1999) que refere-se a este conhecimento como
“conhecimento na ação”, capacidade de mobilizar diferentes competências, ou seja, recursos
cognitivos para enfrentar as situações.
Diante destas colocações, o que vem a ser saber? Charlot (2000) faz referência a
Monteil (1985), ao distinguir informação, conhecimento e saber.
A informação é um dado exterior ao sujeito, pode ser armazenada, estocada,
inclusive em um banco de dados; está “sob a primazia da objetividade”. O
conhecimento é o resultado de uma experiência pessoal ligada à atividade de um
sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas; como tal, é intransmissível, está
“sob a primazia da subjetividade”. Assim como a informação, o saber está “sob a
primazia da objetividade”; mas, é uma informação de que o sujeito se apropria.
Desse ponto de vista, é também conhecimento [...] (MONTEIL,1985 apud CHARLOT, 2000, p. 61).
Esta reflexão corrobora com o objeto de estudo desta pesquisa – O conhecimento
docente – quando Charlot (2005) explicita a importância do conhecimento docente e da
relação entre os saberes.
Ao entendermos que o ser humano aprende de diferentes formas, mobiliza e se
relaciona com o mundo e com os outros de maneiras variadas, para aprender é necessário
estar envolvido, o sujeito com os outros (que co-constróem, controlam, validam, partilham
esse saber).
Ainda neste pensar entre “conhecimento” e “saber”, Shulman (1987) refere-se ao
conhecimento docente em diferentes categorias. Por este motivo, consideramos este
pesquisador do conhecimento docente, como outro aporte desta pesquisa no âmbito
pedagógico.
2.1.2 Lee S. Shulman: Saberes docentes
Os estudos de Shulman (1987) apontam que o saber dos professores sobre o
currículo desenvolvido em sala de aula traz importantes influências na construção do
conhecimento, ao interferir diretamente na relação deste saber com o material utilizado.
Shulman (1986) apresenta em seu trabalho os subsídios para a reflexão sobre os
saberes docentes necessários para o exercício da função. Nestes estudos, o autor evidencia
51 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
categorias de conhecimentos presentes no desenvolvimento cognitivo do professor,
apresentados como o subject knowledge matter (conhecimento do conteúdo da matéria
ensinada); pedagogical knowledge matter (conhecimento pedagógico da matéria) e curricular
knowledge (conhecimento curricular).
Esta categorização revela como o professor articula estes conhecimentos:
conhecimento pedagógico da matéria, que nesta investigação entendemos ser o conhecimento
didático, que lhe permitirá mobilizar instrumentos para melhor atingirem os objetivos
previstos para cada etapa desta trajetória de ensino (como ensinar).
Ao estudarmos o que Shulman chama de conhecimento pedagógico, encontramos
na literatura alguns estudos que o denominam de conhecimento didático, por tratar-se da
forma como o professor utiliza seus conhecimentos de maneira articulada ao ensinar: “Ainda
falo aqui de conhecimento de conteúdo, mas da forma particular de conhecimento de
conteúdo que inclui os aspectos do conteúdo mais relativos ao seu ensino” (SHULMAN,
1986, p.9).
Esta forma de pensar aproxima-se do que Fiorentini (2005) conceitua como
Didática:
Didática como campo disciplinar que busca explorar as relações professor-aluno-conteúdo – triângulo didático, segundo a Didática Francesa. A Didática, neste
sentido, centra foco no processo de ensinar e aprender um determinado conteúdo e,
também, no que antecede esta ação. (p.108)
Diferente da ação da Pedagogia:
É fundamental para que o professor tenha autonomia intelectual para produzir seu
próprio currículo, constituindo-se efetivamente como mediador entre o
conhecimento historicamente produzido e aquele – o escolar reelaborado e relevante
sociocultural mente – a ser apropriado e construído interativamente pelos alunos em
sala. (FIORENTINI, 1998, p.316).
Fiorentini (2005), ao fazer referência aos estudos apresentados por Shulman
(1986) sobre o conhecimento docente, relata a ampliação das categorias de análise destes
saberes necessária à ação docente, como por exemplo, os saberes da experiência, os saberes
sobre os alunos e seu contexto.
Tomamos como base esta explicação por entendermos que, neste conhecimento,
caberá ao professor apresentar domínio de diferentes representações, estratégias, explicações
para que o conteúdo se torne compreensível para os alunos. Nesta investigação, usamos a
52 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
definição dada ao termo conhecimento didático, utilizado por Oliveira e Ponte (1996), como
aquele que permite ao professor aprofundar as reflexões sobre sua prática, analisar os
objetivos de aprendizagem e as tarefas matemáticas que se propõe a realizar.
Esta construção denota a necessidade de aprofundamento sobre o conhecimento
didático, como forma de melhor escolha na condução das estratégias de construção das
competências previstas, o que nos permite refletir sobre a necessidade de se conhecer com
profundidade o conteúdo ensinado, não apenas tendo o conhecimento das diferentes
atividades, que podem ser utilizadas, mas de onde se quer chegar em cada etapa desta
construção. É o que sugere a terceira categoria de Shulman (1986), conhecimento do conteúdo
da matéria ensinada.
Corroborando com Shulman, Cardoso (2010) sintetiza os conhecimentos
apresentados por este autor sobre os saberes docentes como saberes interligados, que se
completam dando sentido à ação de ensinar:
[...] difíceis de estabelecer uma fronteira nítida entre estes tipos de conhecimento já que todos se interpenetram no acto de ensino – o conhecimento científico, por si só,
não garante um bom ensino, e o domínio científico de um professor não tem de ser
como o de um matemático. Por seu lado, o conhecimento didáctico não faz sentido
desligado dos tópicos matemáticos que lhe dão corpo. Por último, o conhecimento
curricular pode ser considerado a argamassa que permite unir e pôr em acção os
outros dois tipos de conhecimento. (CARDOSO, 2010, p.21)
Em seus estudos, Shulman (1986) diferencia o conhecimento docente para o
ensino, ressaltando que saber Matemática para ser um matemático é diferente de saber
Matemática para ser professor de matemática, chamando a atenção para a importância na
formação docente.
Desta forma, o professor deve compreender as estruturas da matéria ensinada,
sobre esse aspecto, Ball (1991) assim com Fiorentini (2005) destacam a importância do
conhecimento “de e sobre Matemática”. Para ela, o conhecimento da Matemática para ser
ensinada envolve o conhecimento de conceitos, proposições e procedimentos matemáticos, o
conhecimento de sua estrutura da matemática e de relações entre temas matemáticos.
Para melhor categorizarmos os saberes docentes, nos aprofundamos nos estudos
de Deborah Ball e seus colaboradores (2008) sobre os conhecimentos docentes como
ampliação dos estudos de Shulman (1986).
53 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
Ball, Thames e Phelps (2008) apresentam em seu artigo “Conhecimento
Matemático para o Ensino” (no original, Mathematical Knowledge for Teaching – MKT), na
intenção de aprofundar e de ampliar o trabalho de Shulman (1986), sobre os tipos de
conhecimentos docentes, uma categorização que tem como foco o ensino de conteúdos
matemáticos e a Matemática necessária para o ensino.
Neste sentido os autores apresentam estudos sobre a prática docente, evidenciando
conhecimentos que favoreçam a ação de ensinar.
Figura 16 - Conhecimentos matemáticos para o ensino
Fonte: Adaptado da figura apresentada em Ball, Thames e Phelps (2008, p.403)
Nesta figura, Ball e seus colaboradores (2008) discutem que as categorias do
conhecimento docente apresentadas por Shulman (1986) podem ser subdivididas para que
melhor articulem as habilidades necessárias para os professores ensinarem. Assim definem
dois subdomínios do conhecimento pedagógico do conteúdo.
1) o conhecimento do conteúdo subdividido em: conhecimento comum do conteúdo, e
conhecimento especializado do conteúdo e conhecimento no horizonte matemático.
2) o conhecimento pedagógico do conteúdo subdividido em: conhecimento do conteúdo e os
estudantes, conhecimento do conteúdo e o ensino e conhecimento do currículo.
Esta categorização do conhecimento evidencia o que se espera do conhecimento
docente, ao ser capaz de articular diferentes cálculos matemáticos, podemos citar como
Conhecimentos Matemáticos para o
ensino
conhecimentos do conteúdo
conhecimento comum
conhecimento especializado
conhecimento no horizonte matemático
conhecimento pedagógico do conteúdo
conhecimento do conteúdo e os estudantes
conhecimento do conteúdo e o ensino
conhecimento curricular
54 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
exemplo o domínio das operações Matemáticas: operações de multiplicação, nas quais espera-
se que o aluno seja capaz de reconhecer e operar com as diferentes representações dos
números racionais, entre outros procedimentos utilizados na resolução de situações-problema,
formados pelo conhecimento comum que ao estar ligada à ação docente deve ir além,
tornando-se conhecimento especializado, no qual espera-se que o professor consiga perceber
uma resposta incorreta e intervir de maneira que possa contribuir para a aprendizagem de seus
alunos.
Também considera-se conhecimento docente quando o professor reconhece que o
ensino de Matemática se aprofunda à medida que os anos de escolaridade avançam, nos quais
os conceitos matemáticos são retomados aprofundando os conteúdos construindo um ensino
horizontalizado.
Não menos importante que o conhecimento conteúdo matemático temos o
conhecimento pedagógico o qual permitirá ao professor observar de maneira atenta o
desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos, as diferentes formas de resoluções das
atividades propostas por eles e utilizar estratégias diferenciadas e explicações para que o
conteúdo se torne compreensível para os alunos, numa combinação entre o conhecimento
sobre os alunos e o conhecimento sobre a Matemática.
Nesta perspectiva, para o desenvolvimento de conceitos matemáticos entendemos
que o professor deve reunir conhecimentos sobre ensino e sobre a Matemática. Para tanto
precisará conhecer diferentes materiais e programas que servem como ferramentas de trabalho
que permitam ao aluno superar as dificuldades sobre o tema estudado, mostrando
conhecimento sobre os materiais de apoio curriculares.
Neste sentido, o estudo apresentado por Ball e seus colaboradores (2008) alerta
para a necessidade do conhecimento específico da matéria, numa constante investigação de
quais competências devem ser construídas e quais habilidades devem ser mobilizadas por
meio de atividades que possibilitem esta construção.
Este levantamento objetivou fomentar subsídios para a reflexão sobre o trabalho
docente na construção do conhecimento. Que saberes devem estar presentes em sua prática e
de que forma todo este conhecimento pode ser articulado para melhor favorecer a
aprendizagem de seus alunos.
55 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
Na próxima sessão deste capítulo, apresentamos os aportes teóricos do
conhecimento do conteúdo específico da Matemática, mais especificamente aqueles voltados
ao ensino da Álgebra e a construção do pensamento algébrico por meio da generalização de
padrões e regularidades, apresentados nos Cadernos do Professor de Matemática - 8º ano dos
anos finais do Ensino Fundamental.
2.2 CONHECIMENTOS DOCENTES ESPECÍFICOS DA MATEMÁTICA
Quando encontramos, nas ideias de Charlot (2005), reflexões que nos permitem
pensar sobre como apresenta-se o conhecimento sobre o assunto matemático que o professor
ministrará em suas aulas, percebemos que conexões poderão ser feitas para melhor
compreensão do objeto de ensino pelo aluno, percebemos nas categorias de Shulman (1986) o
enfoque no conhecimento do conteúdo. Consideramos o Conhecimento do Conteúdo
Especializado, conhecimento matemático que os professores utilizam para ensinar, que exige
uma compreensão mais profunda dos conceitos matemáticos.
Consideramos para esta pesquisa alguns momentos da história da Matemática que
nos permitiram construir uma linha do tempo evolutiva em direção á construção do
pensamento algébrico. Neste estudo evidenciamos alguns autores que retratam a importância
do trabalho docente com atividades voltadas ao uso de generalização de padrões e
regularidades para o desenvolvimento do pensamento algébrico que também se aproximam
dos objetivos deste trabalho ao investigar sobre os conhecimentos docentes.
2.2.1 O ensino curricular da Álgebra no Brasil
Não temos a intensão de descrever a evolução da trajetória da Matemática desde
seus primórdios, consideramos importante destacar para esta pesquisa uma parte retratada por
meio de pesquisadores e educadores matemáticos e também em documentos que nos
permitiram constatar a preocupação existente com a construção de um saber matemático
escolar que estimule os alunos a utilizar os conceitos aprendidos na escola para resolver
problemas.
56 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
Consideramos como ponto de partida para nossa construção as orientações
apresentadas nos PCN (BRASIL, 1998), no que se espera sobre a educação algébrica para o
ensino fundamental, seguida da apresentação de algumas concepções de pesquisadores sobre
a Álgebra.
Para uma tomada de decisões a respeito do ensino da Álgebra, deve-se ter,
evidentemente, clareza de seu papel no currículo, além da reflexão de como a
criança e o adolescente constroem o conhecimento matemático, principalmente
quanto à variedade de representações. Assim, é mais proveitoso propor situações
que levem os alunos a construir noções algébricas pela observação de regularidades
em tabelas e gráficos, estabelecendo relações, do que desenvolver um estudo da
Álgebra apenas enfatizando as “manipulações” com expressões e equações de uma
forma meramente mecânica. (BRASIL, 1998, p.116)
Com este documento, ganha força o ensino voltado ao desenvolvimento de
atividades exploratórias, que permitam a construção da linguagem, por meio de um pensar
algebricamente, para que o aluno possa organizar melhor sua forma de pensar ao resolver
situações-problema.
Oportunizar o ensino voltado a situações que permitam o desenvolvimento do
pensar algebricamente, denota uma postura diferenciada do professor e das concepções que
carrega sobre este ensino. Para que as aulas possam favorecer o desenvolvimento do
pensamento algébrico, serão necessárias modificações na ação docente, no tipo de atividade
proposta, no olhar sobre os resultados e também modificação sobre a postura dos alunos
frente a situações que os coloquem como investigadores e também responsáveis pela
construção do conhecimento.
Existe um razoável consenso de que para garantir o desenvolvimento do pensamento
algébrico o aluno deve estar necessariamente engajado em atividades que inter-
relacionem as diferentes concepções da Álgebra (BRASIL, 1998, p.116).
Estas concepções foram organizadas, evidenciando as diferentes interpretações da
álgebra escolar e as diferentes funções das letras:
57 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
Figura 17 - Álgebra no Ensino Fundamental
Fonte: Brasil, 1998, p.116
Este quadro apresenta quatro dimensões do ensino de Álgebra no ensino
fundamental, sendo elas: Aritmética Generalizada, Funcional, Equações e Estrutural:
❑ Aritmética Generalizada - traduzir e generalizar padrões aritméticos, estabelecer
relação entre duas grandezas, modelizar, resolver problemas aritmeticamente difíceis.
❑ Aritmética Funcional - compreender a álgebra como estudo de procedimentos para
resolver certos tipos de problemas, a incógnita é concebida como um valor a ser encontrado e
não variável.
❑ Equações - a função da álgebra é o estudo de relações entre grandezas, ocupando-se
com modelos e leis funcionais que descrevem ou representam as relações entre duas ou mais
grandezas variáveis.
❑ Estrutural - compreender a álgebra como estudo das estruturas, pelas propriedades que
atribuímos às operações com números reais e polinômios, com ênfase nos cálculos algébricos
e expressões, em que as variáveis são tratadas como apenas sinais, sem qualquer referência
numérica.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) enfatiza-se que o ensino
da Matemática deve favorecer o desenvolvimento pelo educando da habilidade de relacionar
ideias Matemáticas entre si, ressaltando que isto é fundamental para que haja a compreensão e
construção dos conteúdos matemáticos.
58 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
Para que seja possível o desenvolvimento destas habilidades, os PCN12
(BRASIL,
1998) trazem como recomendações aos docentes o uso de situações que permitam identificar
e generalizar as propriedades das operações aritméticas, estabelecer algumas fórmulas.
Os adolescentes desenvolvem de forma bastante significativa à habilidade de pensar
abstratamente, se lhes forem proporcionadas experiências variadas envolvendo
noções algébricas, a partir dos ciclos iniciais, de modo informal, em um trabalho
articulado com a Aritmética. Assim, os alunos adquirem base para uma
aprendizagem de Álgebra mais sólida e rica em significados. (BRASIL, 1998, p.
117)
Ao analisarmos o desempenho apresentado pelos alunos, muitos professores
atribuem à Álgebra, esta responsabilidade causada por um ensino baseado em regras e
procedimentos descontextualizados, repleto de exercícios que exigem o domínio de técnicas e
memorização, desconexos de situações-problema, levando a uma aprendizagem puramente
mecânica.
O estudo da Álgebra apresenta numerosos pesquisadores e educadores envolvidos
com investigações sobre o ensino, sobre as concepções da álgebra e sobre a educação
algébrica, de maneira geral preocupados em oportunizar aos estudantes uma educação
algébrica significativa.
Já não cabe classificar a álgebra apenas como aritmética generalizada, pois ela é
muito mais que isso. A álgebra continua sendo um veículo para a resolução de certos problemas, mas também é mais do que isso. Ela fornece meio para se
desenvolverem e se analisarem relações. E é a chave para caracterização e a
compreensão das estruturas matemáticas. (USISKIN, 1984, p.21)
Kaput (2008) ao referir-se aos aspectos centrais da Álgebra: (a) Álgebra como
generalização simbólica de regularidades; (b) Álgebra como raciocínio sintaticamente guiado
e ações em generalização expressas no sistema simbólico convencional. Mason (1996)
escreve que “a generalização é o coração da Matemática” e Lanin (2005) que refere “não se
poder separar a generalização da justificação”.
Lins e Gimenez (2005) descrevem o pensamento algébrico como um dos modos
de produzir significado para a álgebra. E caracterizam este pensar como:
1) Pensar aritmeticamente: produzir significado apenas com relação a números e operações
aritméticas.
12 Parâmetros Curriculares Nacionais
59 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
2) Pensar internamente: considerando números e operações apenas de acordo com suas
propriedades (usando números sem relação com outros objetos como, por exemplo, físicos,
geométricos etc.).
3) Pensar analiticamente: operar com números desconhecidos da mesma forma que se opera
com números conhecidos.
Para estes autores, a educação algébrica deve permitir que os alunos sejam
capazes de produzir conhecimentos com significados por meio de um pensar algebricamente.
Fiorentini, Miorim e Miguel (1993), em seus estudos sobre o desenvolvimento
histórico da Álgebra, apresentam as concepções da Álgebra:
● Processológica – a Álgebra é um conjunto de técnicas algorítmicas, métodos, artifícios próprios para trabalhar alguns problemas.
● Linguístico-estilística – a Álgebra é uma linguagem específica, criada para representar as técnicas algorítmicas da concepção processológica.
● Linguístico-sintático-semântica – entende a Álgebra como uma linguagem específica, uma linguagem simbólica, porém, estabelece a diferença entre o uso da
letra para representar quantidades discretas ou contínuas e o uso da letra para
representar quantidades genéricas.
● Linguístico-postulacional – estrutura todas as partes da Matemática, inclusive a lógica.
Segundo os autores, o pensamento algébrico pode ser caracterizado por elementos
diferentes em atividades que exijam “percepção de regularidades, de aspectos invariantes em
contrastes com outros que variam tentativas de expressar ou explicitar a estrutura de uma
situação-problema e a presença do processo de generalização” (FIORENTINI, MIORIM e
MIGUEL, 1993, p. 87).
Sobre a análise de situações em que esse pensamento pode se manifestar, os
autores concluem:
“não existe uma única forma de se expressar o pensamento algébrico. Ele pode
expressar-se através da linguagem natural, através da linguagem aritmética, através
da linguagem geométrica ou através da criação de uma linguagem específica para
esse fim, isto é, através de uma linguagem algébrica, estritamente de natureza
simbólica” (FIORENTINI; MIORIM e MIGUEL, 1993, p. 88).
Consideramos importante apresentar os estudos de Lesley Lee (2001), que
defende um estudo algébrico voltado à investigação, à construção de conhecimentos com
significado. Segundo a autora, o estudo da álgebra como linguagem, não é uma boa
introdução para qualquer nível escolar, e em especial para Educação Básica, pois as crianças
60 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
possuem poucos pensamentos algébricos conscientes para expressar e poucas atividades
algébricas registradas.
Em seu artigo Early Álgebra – but Which Álgebra? Lesley Lee (2001, p.60), sobre
o que chamou visões da Álgebra, organiza-as em seis categorias:
➢ Álgebra como linguagem refere-se a um aprendizado que envolve muitas regras de
manipulação. Para Lee (2011), o pensamento que age com símbolos algébricos
dirigidos por comandos ou moldes, são pensamentos que não só abarcam operações,
ações ou transformações, como também pensamentos sobre relações.
➢ Álgebra é uma atividade que refere-se à utilização de objetos manipuláveis para
aplicação às situações-problema, para auxiliar na representação das variáveis. Para a
autora, o pensamento algébrico, caracterizado como generalização, somente pode ser
desenvolvido por meio de atividades que envolvam, de fato, os alunos.
➢ Álgebra é uma ferramenta que refere-se à utilização de conceitos matemáticos
utilizáveis, também, em outras ciências como a Física, a Química e Biologia, na
resolução de problemas.
➢ Álgebra é uma aritmética generalizada. Segundo Lee (2011), o estudo de
generalização de padrões numéricos, de estruturas aritméticas e de expressões com
letras é excelente para a introdução da Álgebra nos primeiros anos escolares.
➢ Álgebra é uma cultura, apresenta-se como pensamento formado por valores, crenças,
práticas, tradições, história e processos para sua transmissão num contexto curricular.
Estas considerações apontam que o estudo da Álgebra, envolvendo símbolos, não
é apropriado para a introdução da Álgebra em qualquer nível escolar, principalmente para a
educação básica. (LEE, 2011, apud VAZ, 2008, p.66).
Nos estudos sobre a Álgebra, apresentados até aqui, percebemos que Lins e
Gimenez (2005) defendem o desenvolvimento do pensamento algébrico, por meio de uma
educação algébrica que permita aos alunos produzir conhecimentos e resolver situações-
problema.
61 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
Fiorentini, Miorim e Miguel (1993) defendem que este estudo deve, também,
proporcionar o desenvolvimento de uma linguagem simbólica significativa para os alunos,
isto é, em um processo de formulação de hipóteses e verificação dos resultados.
Para Lee (2011), o estudo da Álgebra não deve ser iniciado em qualquer época da
educação básica, devido à complexidade de suas representações e procedimentos de cálculos.
O desenvolvimento do pensamento algébrico, de forma ampla, deve possibilitar
ao aluno, segundo os autores destacados nesta pesquisa, estabelecer relações, conjecturas,
além de permitir um ensino que pode ser iniciado, desde muito cedo, ainda na educação
infantil ou nos primeiros anos do ensino fundamental.
Estas pesquisas nos permitem inferir que não existe um momento exato para se
iniciar a alfabetização algébrica, mas existem atividades que podem ser trabalhadas desde o
início da escolarização, que irão facilitar a construção de futuras generalizações, ganhando
profundidade e consistência a cada etapa e ano de escolaridade.
O estudo sobre a Matemática escolar, novamente nos coloca frente à questão que
mobilizam a investigação deste trabalho e corrobora com o objeto central desta pesquisa sobre
o conhecimento docente na construção do pensamento algébrico, por meio da generalização
de padrões e regularidades.
2.2.2 O ensino de Álgebra por meio de Generalização de Padrões e Regularidades
Os padrões são a essência da matemática e a linguagem na qual é expressa — a
matemática é a ciência que analisa e sintetiza tais padrões (SANDEFUR e CAMP,
2004).
Direcionamos esta pesquisa para o estudo de Padrões e Regularidades, em uma
reflexão sobre os conhecimentos docentes mobilizados.
A partir do 6º ano, atividades que envolvem o estudo de padrões tornam-se mais
frequentes, e apresentam-se sob a forma de sequências numéricas ou de padrões de figuras
para se descobrir qual a próxima figura, o próximo número ou o próximo termo que compõe a
sequência e representam assim um padrão, em uma posição “n” qualquer.
Focalizamos na Álgebra o estudo de Padrões e Regularidades, tema desta pesquisa
para reunirmos subsídios que nos permitam responder à questão que mobiliza nesta
62 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
investigação: Quais conhecimentos os professores de matemática evidenciam ao resolverem
as atividades propostas nos Cadernos do aluno de matemática – 8º ano sobre Padrões e
Regularidades?
As pesquisas que realizamos sobre o estudo de Padrões e Regularidades, para
estimular o desenvolvimento do pensamento algébrico, nos permitiram concluir que esta é
uma preocupação antiga, o que mais uma vez mostra a importância dessa investigação, pois
apesar de ser um tema amplamente investigado, ainda permanecem as dificuldades.
Ao pesquisar sobre Padrões, encontramos que esta exploração permite ao aluno o
desenvolvimento da capacidade de raciocínio algébrico, por ser um facilitador das conexões
com os conteúdos matemáticos, pode ser estimulado desde os anos iniciais escolares.
Observando a natureza, a organização apresentada em diferentes situações, nos
permite perceber a existência de padrões e regularidades. A percepção destas regularidades
tornou-se uma forma científica que encontramos para buscar explicações ao que vemos. Na
tentativa de se encontrar uma forma de traduzir esta “ordem” de maneira sistemática, permitiu
ao estudo da Matemática o título de ciência dos padrões.
Esta forma sistematizada de representação do pensamento algébrico, tem
evidenciado por meio da literatura, as dificuldades com a aprendizagem da álgebra, por parte
dos alunos. Segundo pesquisas, muitas destas dificuldades resultam de uma aprendizagem
descontextualizada e mecanizada da álgebra. Podemos encontrar na literatura sobre este tema
investigações que indicam que se podem e devem iniciar o estudo da álgebra, de modo
intuitivo, desde os primeiros anos de escolaridade, sendo que os alunos podem ir adquirindo
as noções básicas para um estudo posterior, mais formal (BLANTON e KAPUT (2001,
2004); MASON (1996); RADFORD (2006); USISKIN (1999)), para posteriormente
aprofundar-se em conceitos algébricos que necessitam do uso de letras para representar um
valor desconhecido, como no caso das expressões literais, equações etc.
Em Devlin (1998) encontramos que a Matemática não é apenas manipulação
simbólica, segundo determinadas regras de manipulações de operações, mas sim a
compreensão de padrões. Defende ainda, que os professores devem diversificar estratégias
permitindo, aos alunos desenvolver o pensamento algébrico.
63 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
Para tratar sobre o estudo de generalização do pensamento algébrico, nos
apoiaremos nos estudos de António Borralho (2009), Isabel Vale (2011) e Luís Radford
(2006).
2.2.3. Algumas ideias sobre os processos de generalização de padrões por António
Borralho (2009), Isabel Vale (2011) e Luís Radford (2006)
Buscou-se inicialmente nas pesquisas desenvolvidas por Borralho (2009) as ideias
apresentadas sobre as atividades que envolvem o estudo de padrões e regularidades,
mobilizadoras do pensamento algébrico, como forma de dar significado aos símbolos antes de
se avançar para a aplicação de regras e outros conceitos algébricos.
Em suas palavras,
A realização de tarefas que envolvam o estudo de padrões ajuda os alunos a perceber
a “verdadeira” noção de variável que, para a maioria, é apenas vista como um
número desconhecido. Procurar relações próximas (recursivas) e distantes (estas envolvendo a generalização, modelação), entre os termos exige a mobilização de um
tipo de pensamento algébrico, mas também o promove e desenvolve (BORRALHO,
2009, s.p.).
O autor defende que o desenvolvimento do pensamento algébrico torna-se
fundamental, pois vai além da utilização prática dos conceitos matemáticos, mas permite
desenvolver a capacidade de analisar estruturas matemáticas, relações de ordem e de
equivalência, além de interpretar e resolvendo problemas em diferentes áreas do
conhecimento.
Borralho (2009), em seus estudos, é enfático em defender que
O pensamento algébrico diz respeito à simbolização (representar e analisar situações
matemáticas, usando símbolos algébricos), ao estudo de estruturas (compreender
relações e funções) e à modelação. Implica conhecer, compreender e usar os
instrumentos simbólicos para representar o problema matematicamente, aplicar
procedimentos formais para obter um resultado e poder interpretar e avaliar esse
resultado. (BORRALHO, 2009, s.p.)
Vale (2011) apresenta, em seus trabalhos, alguns autores que retratam esta forma
de pensar:
O próprio objetivo da Matemática é, em certa medida, descobrir a regularidade onde parece vingar o caos, extrair a estrutura e a invariância da desordem e da confusão.
(DAVIS e HERSH, 1995, p.167)
64 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
A pesquisadora também cita Polya (1973), que defende a construção do
pensamento matemático por meio da resolução de problemas; Arcavi (2006), que defende a
investigação de padrões como forma de aprofundamento em teoria dos números, pré-algebra,
álgebra, geometria, probabilidades e funções, também sobre o pensamento algébrico, inclui:
[...] o principal instrumento da Álgebra é os símbolos. Apesar do pensamento
algébrico e dos símbolos terem muito em comum, não significam exactamente a
mesma coisa. Pensar algébrico consiste em usar os instrumentos simbólicos para
representar o problema de forma geral, aplicar procedimentos formais para obter um
resultado, e poder interpretar esse resultado [...] ter “symbol sense” implica [...]
questionar os símbolos em busca de significados, e abandoná-los a favor de outra
representação quando eles não proporcionam esses mesmos significados (ARCAVI,
2006, p. 374).
Vale (2011) defende que o estudo de padrões deve ser utilizado como forma de
construção do pensamento matemático, por meio da resolução de problemas que envolvam a
descoberta de padrões, num processo que permita ao aluno generalizar e representar esse
conhecimento ao desenvolver competências de comunicação, conjectura, generalização,
argumentação e prova.
A compreensão do sistema de numeração, por exemplo, ajuda a criança a organizar,
comparar e ordenar números que encontra à sua volta, começando a descobrir os
padrões inerentes ao sistema de numeração. Quando identificados, estes padrões
fornecem um apoio poderoso à extensão da sequência de contagem. À medida que o
aluno desenvolve a capacidade para detectar esses padrões, vai aprofundando a sua
compreensão da ordenação e regularidade do sistema numérico e começa a usar esse
conhecimento. Os alunos, ao aprenderem as operações elementares, compreendendo
situações que podem ser modeladas pelas operações, vão simultaneamente observando e comentando padrões no sistema numérico. Esses padrões, emergindo
naturalmente do trabalho são a base não só da exploração de generalizações acerca
do número e das operações, mas também das práticas de formular, testar e justificar
essas generalizações (VALE,1991, s.p.).
Os estudos sobre a generalização de padrões, apresentados por Vale (2011),
mostram-se importantes na construção do pensamento algébrico, por oferecerem por meio da
experimentação e da investigação significados à generalização sem recorrer,
obrigatoriamente, a variáveis e a fórmulas, e por outro lado os padrões visuais/figurativos
podem ser uma ferramenta poderosa para chegar a expressões numéricas que os estudantes
compreendam e não sejam mera manipulação de símbolos, sem significado (RIVERA e
BECKER, 2005 apud VALE, 2011).
Nesta perspectiva, os Principles and Standards for School Mathematics (NCTM,
2000), defendem o estudo da Álgebra como modelação, como procura de padrões e como
estudo de estruturas permitindo ao aluno a construção do conhecimento e modos de
raciocinar, identificar relações e fazer generalizações. Neste documento, também,
65 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
encontramos que o estudo da Álgebra pode oportunizar por meio de atividades o
desenvolvimento do pensamento algébrico, para que os alunos percebam o significado dos
símbolos.
O NCTM (2000) defende a Álgebra para todos, começando a promover nos
alunos o pensar algebricamente, desde muito cedo, nos anos mais elementares, pois o
raciocínio algébrico alicerça a aprendizagem dos alunos em muitos temas matemáticos. Sobre
as atividades que propõem o uso da linguagem, para expressar sua forma de pensar para
outros oralmente ou por escrito, aprendem a ser claros, convincentes, e precisos em seu uso da
linguagem matemática. Percebem, também, que as ideias matemáticas podem ser
representadas em uma variedade de formas: imagens, materiais concretos, tabelas, gráficos,
números e letras símbolos, e assim por diante.
Ainda neste documento, encontramos sugestões para a representação das ideias
matemáticas, que devem ser consideradas fundamentais para a forma como as pessoas
entendem e usam essas ideias. Quando os alunos obtêm acesso às representações matemáticas
e às ideias que as expressam e quando podem criar representações para capturar,
matematicamente, conceitos ou relações, eles adquirem um conjunto de ferramentas que
expandem significativamente a sua capacidade de modelar e interpretar os fenômenos físicos,
sociais e matemáticos. (NCTM, 2000, p.4).
Outro pesquisador matemático no qual buscamos referências por seus trabalhos
sobre Álgebra foi Luís Radford com a Teoria Cultural da Objetivação, tendo sua base nos
estudos filosóficos Bakhtiniano e Marxista e em Vigotsky.
Em sua teoria, o autor retoma a necessidade de entender o que se constitui o saber
e o papel docente neste processo. Segundo Radford (2015) “[...] saber, conhecimento e
aprendizagem é aquilo que o sujeito produz. Da mesma maneira que o sujeito produz
pertence a ele, o que o aluno produz pertence a ele, e isso que pertence a ele é seu
conhecimento, é sua aprendizagem [...].” (RADFORD, 2015, s.p.).
A aprendizagem, segundo Radford (2015), é a tomada de consciência das
maneiras como se atualiza o saber. Seus estudos nos mostram, ainda, que o desenvolvimento
do pensamento algébrico se dá em processos de tomada de consciência da síntese, codificada
sobre números conhecidos e desconhecidos, utilizando-se as operações e os sinais de
igualdade e desigualdade de forma analítica. Podemos entender como sendo o momento em
66 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
que o aluno reflete sobre sua ação. Para que este processo possa ocorrer, é necessária a
“interação social”, amplamente mencionada por Radford (2014).
Sobre o ensino da álgebra, Radford (2012) propõe o trabalho com sistema de
significação, para que levem o aluno a refletir sobre sua ação, sugere a utilização de gestos,
ações e artefatos, cabendo ao professor, importante papel no desenvolvimento da
aprendizagem. Em Radford (2011), é apresentado um retrato de momentos da história,
resgatando a construção da linguagem algébrica, ainda nos tempos mesopotâmicos,
babilônicos, passando por diversas fases na história humana.
Neste sentido, segundo o autor, devemos valorizar a construção da linguagem
algébrica, ao ensinar de maneira que garanta, ao aluno, formas para expressar-se, para que
suas ideias não sejam desprovidas de significado. Para Radford (2011)
[...] a passagem dos números para as letras não consiste em uma simples
transposição [...] a linguagem algébrica emergiu como uma ferramenta técnica e
posteriormente evoluiu sócio culturalmente a um nível de ser considerado como um
objeto matemático. Normalmente, no currículo moderno, a linguagem algébrica
aparece desde o início como um objeto matemático em si. Levando em conta este
aspecto, é possível alguma mudança quanto à introdução da linguagem algébrica em
sala de aula. (RADFORD, 2011, p. 149)
Mais especificamente sobre o processo de generalização do pensamento algébrico,
o autor também sugere que tais estímulos ocorram ainda nos anos iniciais da educação básica,
para que sejam estimuladas formas de representação e pensamentos.
2.2.4 Categorias do Conhecimento Matemático para o Estudo de Padrões e
Regularidades
Investigar sobre os conhecimentos docentes que os professores de matemática
apresentam em atividades que utilizam o processo de generalização é o que pretendemos
realizar nesta pesquisa. Para isso utilizamos os referenciais teóricos apresentados neste
capítulo.
Considerando os subsídios teóricos apresentados nesta pesquisa e observando a
forma de apresentação realizada por Lima (2014) ao adaptar as categorias do conhecimento
matemático para o estudo de Contagem, e a forma de apresentação de suas categorias de
análises, consideramos baseados nesta pesquisa, os conceitos utilizados como estruturantes
67 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
para a construção de nosso modelo matemático, voltado ao estudo de Padrões e Regularidades
para subsidiar as análises desta pesquisa.
Para a construção das categorias de análises, estabelecemos um critério sobre os
conceitos necessários para a realização das Atividades e para o Conhecimento do Conteúdo
sobre padrões e regularidades, elencando os conhecimentos sobre Álgebra (equações e
equivalências); sobre o Conhecimento Especializado, consideramos o objeto de estudo em
questão generalização de padrões e regularidades e sobre o Conhecimento no Horizonte
matemático, o percurso a ser desenvolvido pelo conhecimento matemático no ensino
fundamental.
Para a construção das diretrizes do conhecimento pedagógico, no que se refere ao
conhecimento do conteúdo e dos estudantes, consideramos a valorização das resoluções dos
alunos, segundo Ball e seus colaboradores (2008). Da mesma forma, no conhecimento para o
ensino, observamos as explicações dos professores em como conduzir suas aulas. Por fim,
sobre o conhecimento curricular, analisamos o conhecimento de materiais e da sequência
didática apresentada.
Toda esta construção feita por nós para esta pesquisa obteve como fonte os
conceitos e objetivos apresentados no Caderno do Currículo de Matemática, como orientação
ao professor para o desenvolvimento da generalização, por meio do estudo de padrões e
regularidades e como interpretação dos estudos de Ball e seus colaboradores (2008).
Conhecimentos matemáticos para o ensino da Álgebra por meio de Padrões e
Regularidades
1) Conhecimento do conteúdo sobre padrões e regularidades
Conhecimento comum sobre Álgebra: procedimentos de resoluções de operações
algébricas como equações, equivalências, operações matemáticas.
Conhecimento especializado sobre Álgebra: traduzir e generalizar padrões
aritméticos e figurais.
Conhecimento no horizonte matemático da Álgebra: aritmética generalizada, letras
como generalizações do modelo aritmético e propriedades das operações
68 CAPÍTULO II Luciane Ramos Américo
generalizações de padrões aritméticos (como forma de construção do pensamento
algébrico).
2) Conhecimento pedagógico sobre generalizações algébricas
Conhecimento do conteúdo e os estudantes: tomamos como referência os estudos
de Radford (2011) ao valorizar a construção da linguagem algébrica, ao ensinar de
maneira que garanta, ao aluno, formas para expressar-se, para que suas ideias não
sejam desprovidas de significado.
Conhecimento do conteúdo e o ensino da álgebra: utilização e valorização de
diferentes formas de resoluções por meio da investigação, da experimentação com
vistas apromover o desenvolvimento do pensamento algébrico e suas generalizações.
Conhecimento curricular: utilização de materiais pedagógicos diversificados e das
diretrizes curriculares que embasam este o currículo.
Em síntese
Neste capítulo, apresentamos os aportes teóricos que fundamentam essa pesquisa,
sob o aspecto do conhecimento docente, juntamente com os estudos sobre a Álgebra e a
generalização de padrões e regularidades, mais especificamente voltados ao conhecimento
matemático sobre nosso objeto de estudo: Generalização por meio de Padrões e Regularidade.
Com base nos referenciais teóricos sobre generalização algébrica apresentadas
pelos pesquisadores citados neste capítulo, construímos a estrutura de análise para os
conhecimentos docentes baseados no estudo de padrões e regularidades.
No próximo capítulo, detalharemos os procedimentos metodológicos, o perfil dos
entrevistados e as atividades que serviram como instrumento de apoio e observação do
conhecimento docente.
CAPÍTULO III
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo, apresentamos os procedimentos metodológicos que nortearam
nossas ações para melhor atender os objetivos de promover a reflexão sobre os saberes
docentes mobilizados frente às Situações de Aprendizagem propostas no Currículo Oficial da
SEESP13
investigando sobre o conhecimento apresentados pelos professores de matemática na
construção do processo de generalização algébrica.
3.1 PESQUISA QUALITATIVA
Tendo em vista a natureza investigativa desta pesquisa, a partir das ideias
apresentadas sobre a triangulação dos procedimentos, segundo (Araujo e Borba, 2013, p.41),
consideramos nesta pesquisa, o investigador agente responsável pela coleta de dados
apresentados por meio das gravações em áudio, protocolos de resoluções das atividades e
respostas dadas aos questionamentos feitos aos professores participantes.
[...] fazendo assim, o pesquisador, ao invés de construir suas conclusões apenas a
partir de observações, pode utilizar as entrevistas para checar algum detalhe ou para
compreender melhor algum fato ocorrido durante a observação, promovendo uma
maior credibilidade de sua pesquisa. (ARAÚJO E BORBA, 2013, p.41-42).
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, logo os instrumentos considerados para
análise foram apresentados na forma de descrições detalhadas dos protocolos das Atividades
que serviram como registros deste estudo, objetivando a reflexão sobre o conhecimento
docente mobilizado no estudo da generalização de padrões e regularidades.
3.1.1 Fontes e métodos de recolha de dados
As fontes de dados consideradas nesta pesquisa foram as entrevista composta por
duas fases: a primeira com o objetivo de obter informações sobre a vida profissional de cada
13 Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.
70 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
um dos entrevistados, sobre tempo de experiência docente, formação acadêmica e a segunda
fase, que teve como objetivo identificar os tipos de conhecimentos que os professores
apresentam ao resolver as Atividades propostas, sobre o conhecimento pedagógico e de
conteúdo.
Na segunda fase das entrevistas foram investigados os conhecimentos que os
professores têm sobre o estudo de padrões e regularidades na construção de generalizações
algébricas. Para esta fase foram utilizadas as gravações e os registros dos protocolos de
resolução das Atividades. Utilizamos as Atividades apresentadas na Situação de
Aprendizagem 5 do Caderno do Aluno do 8º ano, volume 1 sobre o tema padrões e
regularidades para investigarmos quais conhecimentos os professores de matemática
entrevistados evidenciam ao resolverem as Atividades propostas.
Os documentos citados encontram-se anexos a este trabalho.
3.1.2 Opções e critérios de seleção dos professores
Definimos como critérios para a escolha dos docentes participantes desta
investigação professores que ministraram aulas no 7º ano do Ensino Fundamental da rede
pública estadual de São Paulo, que utilizam os Cadernos do Aluno para o ensino de
matemática, que possuem experiência profissional no magistério de pelo menos cinco (5) anos
e disponibilidade para responder as Atividades e participar da entrevista.
O convite para participação dos professores neste trabalho foi feito por mim, a
pesquisadora, e a leitura dos dados colhidos e análises foram realizadas em conjunto com a
orientadora deste trabalho Dra Barbara Bianchini.
Optamos em convidar professores de escolas diferentes para que pudéssemos
realizar as entrevistas de modo particular, visto que este momento somente poderia ocorrer no
horário de aula vaga ou de reunião pedagógica. Por este motivo, foram escolhidas cinco
escolas estaduais.
Nestas visitas, em conversa com o diretor e o coordenador pedagógico de cada
unidade escolar, foi explicado sobre a realização desta pesquisa, assim como as intenções
deste trabalho para que não houvesse nenhuma ligação com as Atividades de
71 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
acompanhamento pedagógico, realizada pela pesquisadora, como integrante de um núcleo
pedagógico que assiste a estas escolas estaduais.
Como documentos foram apresentados ao Comitê de Ética, o registro na
Plataforma Brasil, a autorização para a realização das entrevistas e o Termo de Consentimento
Livre Esclarecido que seria utilizado para cada professor participante.
Sobre os professores participantes, pedimos aos coordenadores pedagógicos que
fizessem o convite a um professor com aulas em salas de 8º ano e que pudesse participar da
coleta de dados deste trabalho.
Para a realização do “Instrumento Piloto” primeira fase das entrevistas, chamado
assim para que pudéssemos ter nesta etapa a adequação de possíveis questões importantes
para a versão final deste trabalho convidamos dois professores, o professor Pardal e a
professora Penélope (nomes fictícios escolhidos pelos próprios professores) apresentados na
tabela a seguir:
Tabela 1: Professores participantes – Instrumento Piloto
Professores participantes – Instrumento Piloto
Professores participantes Experiência profissional Particularidades
Professora Penélope
Professora de Matemática.
Efetiva.
Com 5 anos de exercício docente.
Afirma nunca ter
participado de formação
continuada sobre o
Currículo da SEESP.
Professor Pardal
Professor de Matemática e Física.
Efetivo.
Por 15 anos ministrando aulas no EF e EM.
Participou de diversas
formações continuadas e
cursos.
Exerce a função de
coordenador pedagógico.
Fonte: A pesquisadora
Para a realização da segunda e última fase desta pesquisa, convidamos três
professores que também utilizaram nomes fictícios: Coruja, Margarida e Rosinha.
Tabela 2: Professores participantes – Instrumento Definitivo
Professores participantes – Instrumento Definitivo
Professores participantes Experiência profissional Particularidades
Professor Coruja
(42anos)
Professora de Matemática e Física.
Efetiva.
Leciona há18 anos ministrando aulas no EF, EM
e Ensino Superior.
Participou de diversas formações continuadas e
cursos.
Leciona Cálculo
Diferencial e Integral no
curso superior.
Possui experiência como
Coordenador Pedagógico
Professora Margarida Professora de Matemática possui Aposentada de um cargo
72 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
(57 anos) complementação em Pedagogia e
Psicopedagogia.
Efetiva.
Leciona há 38 anos ministrando aulas no EF e
EM.
Participou de diversas formações continuadas e
cursos.
de professora de
matemática pela SEESP.
Atua no segundo cargo desde o ano 2000.
Professora Rosinha
(49anos)
Professora de Matemática.
Efetiva.
Leciona há 24 anos ministrando aulas no EF, EM
e Ensino Superior.
Trabalha também em
escola municipal.
Fonte: A pesquisadora
3.1.3 As Entrevistas
Cada uma das entrevistas apresentadas nas duas fases desta pesquisa, aconteceram
em ambientes parecidos, na unidade escolar numa sala da coordenação pedagógica, no
momento das entrevistas estávamos sozinhos (eu “a pesquisadora” e o professor entrevistado)
o que favoreceu nossa conversa sem interferências.
Antes de cada entrevista explicando a cada professor que a gravação e a resolução
das Atividades seriam utilizadas como forma de registro para análise dos dados deste trabalho
de mestrado. Também foi apresentando o Termo de Consentimento Livre Esclarecido para
esclarecer o interesse desta pesquisa.
Após a leitura e assinatura do Termo iniciamos a entrevista com algumas
perguntas para obter informações sobre a vida funcional de cada professor que nos permitiram
traçar o perfil de cada entrevistado. Os questionamentos feitos, para conseguir estas
informações, foram os seguintes:
1- Quanto tempo de magistério possui?
2- Sua situação Funcional - categoria: ( ) efetivo ( ) contratado
3- Qual sua formação acadêmica/titulação?
4- Possui formação complementar?
5- Disciplina(s) que leciona/ano:
6- Leciona em quais redes de ensino?
7- Há quanto tempo leciona no atual nível de ensino?
Depois desta fase, iniciamos a segunda fase das entrevistas utilizando as
Atividades contidas na Situação de Aprendizagem presente no Caderno do Aluno
“Aritmética com Álgebra: as letras como números” presente no volume 1 do 8ºano do Ensino
Fundamental como protocolos de observação para melhor subsidiar as análises.
73 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
Investigamos indícios para que pudéssemos indentificar os conhecimentos
pedagógicos e o conhecimento matemático. Sobre estes conhecimentos detalharemos ao
explicar como foram feitas as análises utilizando os referenciais teóricos desta pesquisa como
subsídios.
No momento da entrevista foi pedido aos professores que participaram tanto do
instrumento piloto, quanto do definitivo que resolvessem as seis Atividades da Situação de
Aprendizagem 5 e explicassem como pensaram e desenvolveram cada uma das questões
propostas.
Em cada uma das entrevistas os professores envolvidos poderiam, se quisessem,
mencionar as orientações contidas no Caderno do Professor, embora este material não tenha
sido disponibilizado naquele momento, consideramos que este poderia fazer parte da rotina
dos professores e seu conteúdo ser parte de sua rotina docente. Esta forma de pensar
corrobora com a hipótese desta pesquisa de que os professores conhecem e utilizam este
material pedagógico desde 2008, ano de sua implementação.
Para melhor entendimento da Situação de Aprendizagem utilizada como apoio
para a investigação sobre os conhecimentos docentes, apresentamos uma análise das
Atividades contidas na proposta apresentada no Caderno do Professor seguida de análise da
pesquisadora.
3.2 ANÁLISE DAS ATIVIDADES DA SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5 DO 8º
ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL – CADERNO DO ALUNO DA SEESP
Para a realização da segunda fase das entrevistas utilizamos como subsídio as
Atividades da Situação de Aprendizagem 5 com o tema “Aritmética com Álgebra: as letras
como números”. Escolhemos esta Situação de Aprendizagem por representar uma das maiores
queixas dos professores que participaram dos acompanhamentos pedagógicos realizados nas
escolas estaduais e das formações continuadas realizadas pelo Núcleo Pedagógico ao qual a
pesquisadora pertence.
Realizamos esta descrição sobre as Atividades propostas baseadas nas orientações
contidas no Caderno do Professor para resolução das questões e condução das aulas.
74 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
Procuramos apresentar aspecto especificamente técnico e investigativo, sem qualquer
intenção de julgamento, procurando identificar o percurso para obtenção dos objetivos
previstos.
O Caderno do Professor contém a descrição das Situações de Aprendizagens
apresentadas aos alunos como forma de Atividades para cada ano/série do ensino básico.
Figura 18: Caderno do Currículo do Professor de Matemática
Orientação geral sobre os Cadernos
Situações de Aprendizagem 10
Situação de Aprendizagem 1 – Os racionais como mostruário das frações Situação de Aprendizagem 2 – As dízimas periódicas são previsíveis...
Situação de Aprendizagem 3 – Dos googol ao angstrom, um caminho para as
potências.
Situação de Aprendizagem 4 – As potências e a memória do computador
Situação de Aprendizagem 5 – Aritmética com álgebra: as letras como números
Situação de Aprendizagem 6 – Produtos notáveis: significados geométricos
Situação de Aprendizagem 7 – Álgebra: fatoração e equações
Situação de Aprendizagem 8 – Aritmética e Geometria: expressões algébricas de
algumas ideias fundamentais
Orientações para recuperação
Recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão do tema
Considerações finais
Quadro de conteúdos do Ensino Fundamental – Anos Finais Fonte: São Paulo, CCPM, 2014, p.44.
Os conteúdos matemáticos são apresentados aos alunos sob a forma de Caderno
do Aluno, contendo Situações de Aprendizagem que oferecem níveis crescentes de
dificuldades e conceitos.
[...] A riqueza dessa Atividade como instrumento didático está na busca de
representações distintas, porém equivalentes, para indicar a quantidade de bolinhas
em função do número da figura. Assim, é importante que o professor incentive seus
alunos a buscar mais de uma expressão e a mostrar a equivalência entre as expressões obtidas. A seguir, apresentamos outros exemplos de Atividades que
permitem esse tipo de exploração, bem como algumas possíveis estratégias de
soluções. (SÃO PAULO, 2014, p.45)
75 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
Figura 19: Caderno do Aluno 8º ano Ensino Fundamental
Conteúdos e temas: uso de letras representando números; operações com letras
representativas de números; expressões algébricas; propriedade distributiva da
multiplicação com relação à adição e à subtração.
Competências e habilidades: compreender o uso de letras representativas de números;
generalizar padrões em sequências por meio de expressões algébricas; reconhecer
equivalências entre expressões algébricas; realizar operações simples com polinômios.
Sugestão de estratégias: proposição de sequências com diferentes padrões para serem
analisadas por estratégias diversificadas de contagem, na busca da identificação de
equivalências; Atividades individuais e em grupo; resolução de situações-problema.
Fonte: São Paulo, CCAM, 2014, p.44.
Ao analisar as Atividades desta Situação de Aprendizagem percebemos que elas
integram um conjunto Situações de Aprendizagens que utilizam como base conceitos já
estudados no 7º ano no estudo dos números racionais, com a ideia de equivalência, para
representar na forma de “fórmulas” a escrita algébrica por meio de generalizações.
Estas Atividades são retomadas no 8º ano com regras de manipulação de símbolos
algébricos, procurando relacionar a escrita algébrica, resolução de problemas, representação
de variação de grandezas e formalização de estruturas matemáticas 14
de forma integrada
estabelecendo relações entre duas ou mais ideias da álgebra.
Esta Situação de Aprendizagem retoma o estudo de sequências de figuras com
padrões algébricos, iniciada no 8º ano, formada inicialmente pelo “Você aprendeu? ” que
propõe a investigação de regularidades por meio da contagem composto por sete Atividades
detalhadas no Caderno do Professor de Matemática.
Na Situação de Aprendizagem 5 abordam-se os padrões e as regularidades em
sequências numéricas sob o ponto de vista da diversidade de representações com
letras. A estratégia utilizada para que a diversidade de representações possa ser
trabalhada por meio da investigação dos alunos é a de associar as sequências
numéricas ao arranjo geométrico de bolinhas, arranjo este que poderá ser
identificado pelo aluno de diferentes maneiras (por linhas, colunas, reagrupando
bolinhas e completando bolinhas). Com base na diversidade de expressões com
letras que podem ser obtidas de cada uma das sequências, o professor poderá
trabalhar, por meio da ideia de equivalência, a generalização de algumas
propriedades, como a distributiva no produto, a comutativa e a associativa, iniciadas na 6a série/7º ano com os números naturais. (SÃO PAULO, 2014, p.44)
14 Dimensões da Álgebra (BRASIL, 1998, p.116) – Álgebra estrutural Exemplo: reconhecer e utilizar
propriedades algébricas como associativa, comutativa na resolução das atividades.
76 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
Quadro 1: Apresentação da Situação de Aprendizagem 5
Situação de Aprendizagem estudada
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Atividade 1 Usando a letra n para representar o número da
figura, o total de bolinhas pode ser representado por n + (n – 1).
Atividade 2 Agora, o número de colunas é igual ao número da figura e temos duas bolinhas em cada coluna, exceto em uma delas (última coluna), que terá
apenas uma bolinha. Se preenchermos a coluna que tem apenas uma bolinha com mais uma
bolinha, podemos calcular o total de bolinhas multiplicando o número de colunas pelo de linhas e
subtraindo a bolinha adicional ao final da conta. Usando letras, o total de bolinhas da figura n
será 2n – 1.
Atividade 3: Uma vez que as duas expressões obtidas são equivalentes, n + (n – 1) tem de ser
idêntico a 2n – 1, o que significa dizer que ambas as expressões devem ser válidas para qualquer
n. Decorre, portanto, que n + n tem de ser igual a 2n. (SÃO PAULO, 2014, p.45)
Fonte: São Paulo CCPM, 2014, p.42 - 44.
Além da proposta de resolução presentes no Caderno do Professor, apresentamos
também outra forma de resolução aos professores na formação continuada realizada pelo
Núcleo Pedagógico em 2012.
15CCAM: Caderno do Aluno
77 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
Figura 20: Proposta do NPE para a Resolução das Atividades 1, 2 e 3.
Fonte: Arquivos NPE/2012
78 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
O quadro “Você Aprendeu?” inicia a Situação de Aprendizagem retomando
alguns conceitos cujo desenvolvimento baseia-se na observação de regularidades que podem
ser apresentadas pela operação de adição, multiplicativa e/ou recursiva dos acontecimentos.
A proposta de resolução apresentada neste material recorre à escrita de equações
equivalentes utilizando como base os conhecimentos relacionados aos números racionais. Tal
postura investigativa pode ser estimulada pelo professor por meio de indagações sobre as
possíveis formas de resoluções de cada Atividade.
Quadro 2: Apresentação da Sequencia Didática - Atividades 4 a 7.
Situação de Aprendizagem estudada
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Atividade 4 Fechando retângulos de n linhas e 3 colunas, devemos acrescentar ainda n – 1 bolinha. Nesse caso, a fórmula seria 3n + (n – 1).
Atividade 5: A fórmula, que agora seria 4n – 1 pode ser comparada com a anterior, de onde se
conclui que 3n + n tem de ser igual a 4n.
Atividade 6:
Atividade 7: Como n(n+ 2) é equivalente a n² + 2n, concluímos que n * n = n² e que n *2 = 2n.
Fonte: São Paulo CCPM, 2014, p.42-44.
79 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
[...] A riqueza dessa Atividade como instrumento didático está na busca de
representações distintas, porém equivalentes, para indicar a quantidade de bolinhas
em função do número da figura. Assim, é importante que o professor incentive seus alunos a buscar mais de uma expressão e a mostrar a equivalência entre as
expressões obtidas. A seguir, apresentamos outros exemplos de Atividades que
permitem esse tipo de exploração, bem como algumas possíveis estratégias de
soluções. (SÃO PAULO, 2014, p.45)
Figura 21: Proposta do NPE para a Resolução da Atividade 4
Fonte: Arquivos NPE/2012
Figura 22: Proposta do NPE para a Resolução da Atividade 6
Fonte: Arquivos NPE/2012
80 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
Ao final desta Situação de Aprendizagem, a expectativa é de que o aluno tenha se
familiarizado com a possibilidade de expressão de um movimento quantitativo por
meio de uma fórmula ou de uma expressão algébrica. Recuperando a noção de equivalência tratada anteriormente, o foco é a equivalência
entre expressões com letras, que representam a generalização de determinado
padrão. Nas Atividades apresentadas, a colaboração entre Álgebra e Geometria pode
ser notada e será aprofundada no decorrer das Situações de Aprendizagem seguintes.
Consideramos que o desenvolvimento desta Situação de Aprendizagem foi
satisfatório se os alunos estiverem motivados a encontrar as expressões equivalentes
e se eles conseguirem generalizar algumas propriedades como a comutativa, a
associativa e a distributiva da multiplicação em relação à adição e à subtração. (SÃO
PAULO, 2014, p.53)
Considerações da pesquisadora: As Atividades 4, 5, 6 e 7 apresentam o mesmo padrão das
Atividades o que permite aos alunos utilizarem os mesmos recursos da resolução anterior para
expressar o padrão podendo também apoiar-se na ideia do pensamento geométrico, intuindo o
cálculo de área já estudado no 5º ano.
Podemos considerar estas três Atividades similares às primeiras, como forma de
oportunizar a resolução por meio de estratégias parecidas. Por apresentarem grau de
dificuldade mais elevado que as primeiras permitindo assim que os alunos iniciem o processo
de análise e discussão de estratégias de resoluções.
Embora estejamos nos baseando nos estudos de Atividades que compõem uma
Situação de Aprendizagem, o professor poderá sempre que necessário oportunizar situações
complementares, com o uso de materiais que permitam aos alunos melhor apreensão do
conhecimento.
As Atividades que compõem esta Situação de Aprendizagem apresentam-se em
níveis de dificuldades crescentes, que necessita que o professor desempenhe o papel de
mediador do processo investigativo e clareza para alcançar os objetivos descritos como as
competências e habilidades a serem desenvolvidas.
Do ponto de vista da matemática, encontramos nos estudos apresentados por Vale
(2012) que atividades sobre o estudo de padrões e regularidades que utilizam apresentação
visual permitem aos alunos o desenvolvimento de uma representação mental, importante para
o estudo de conceitos matemáticos pois perpassam por todo ensino em sua horizontalidade
como preconizam Ball e seus colaboradores (2008) nos referenciais teóricos desta pesquisa.
81 CAPÍTULO III Luciane Ramos Américo
Na medida em que a matemática é a ciência dos padrões, ela trata da procura da
estrutura comum subjacente a coisas que em todo o resto parecem completamente
diferentes. Deste modo o uso de padrões é uma componente poderosa da atividade matemática, uma vez que a sua procura é indispensável para conjecturar e
generalizar. (VALE e PIMENTEL, 2005, p.14)
Esta forma de representação aproxima também o desenvolvimento de conceitos
geométricos, numéricos e possibilita ao generalizar a utilização de formas concretas, verbais,
numéricas e outras importantes representações algébricas.
Assim encontramos nestas atividades caracteristicas que permitem portanto um
pensar algébrico que em nossa pesquisa denota a ação generalizadora que leva ao
desenvolvimento de conceitos e propriedades matemáticas que permitem escrever este
pensamento por meio de “fórmulas”.
A função docente na condução destas atividades vem ao encontro da postura
desejada pelos idealizadores deste material curricular, de forma a permitir a discussão das
tarefas, estimular os alunos a investigar, como é sugerido nos NCTN (2000).
As discussões geradas por este tipo de tarefas proporcionam aos alunos
oportunidades para partilhar e clarificar ideias, desenvolver argumentos
convincentes sobre o porquê do funcionamento das coisas, desenvolver uma
linguagem para exprimir ideias matemáticas e aprender a partir de outras
perspectivas (NCTM, 2000 apud Vale, 2012).
Esta forma de apresentação também corrobora com os estudos de Radford et al.
(2006) ao oportunizar atividades com padrões numéricos em progressão aritmética
representados por uma sequência com figuras, ou seja, um padrão figurativo-numérico
permite aos alunos o desenvolvimento da “visão” da generalidade.
Sobre esta generalização estes autores chamam de “objetificação”, um processo de
ação, criação, imaginação e interpretação social para compreensão gradual de algo.
Nesse contexto, a objetificação em generalização de padrões consiste em observar
propriedades matemáticas gerais não diretamente visíveis em um caso particular (Radford et
al., 2006).
A seguir apresentamos as análises das entrevistas e dos protocolos subsidiadas
pelos referenciais teóricos e pelos procedimentos metodológicos evidenciados neste capítulo.
CAPÍTULO IV
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS E DOS PROTOCOLOS
Neste Capítulo, apresentamos os resultados dos dados colhidos nas entrevistas
para análise à luz dos referenciais teóricos que norteiam este estudo.
Os meios utilizados para obtenção dos dados que subsidiaram estas análises foram
colhidos por meio de registros escritos das resoluções das Atividades propostas (protocolos),
gravações em áudio e por questionamentos realizados durante o processo de investigação.
4.1 OS PROFESSORES ENVOLVIDOS NA PRIMEIRA FASE DESTA PESQUISA –
INSTRUMENTO PILOTO
Esta investigação tem como objetivos:
Investigar o conhecimento dos Professores sobre os estudos de generalizações de
padrões e regularidades.
Para responder tal questão, procuramos analisar como o professor mobiliza seu
conhecimento ao ensinar generalização de padrões e regularidades; como entende a
generalização algébrica proposta nas Atividades apresentadas, e investigar como o professor
utiliza, ou não, as propostas apresentadas no Caderno do Professor de Matemática da SEESP.
Buscamos nestas entrevistas indícios que nos permitissem categorizar os
conhecimentos docentes à medida que os Professores nos relatavam como estavam pensando
em resolver as Atividades. Para isso nos apoiamos nos estudos de Shulman (1986), Deborah
Ball e seus colaboradores (2008).
Nestas categorias de conhecimentos buscamos indícios de conhecimentos
matemáticos apresentados nos referenciais desta pesquisa necessários ao ensino da Álgebra
por meio de generalização algébrica, assim como as reflexões promovidas por Bernard
Charlot (2005) sobre o saber docente apresentadas no Capítulo II desta pesquisa.
83 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Muito embora possamos encontrar nas palavras de Charlot (2000) que não
devemos estabelecer categorias estanques e delimitadas para o saber, pois elas podem se
tornar amplas e ambíguas.
No aspecto “Aprender x Ensinar”, perguntamos aos Professores como entendem o
conhecimento matemático do professore o ensino da Matemática, relacionando possíveis
semelhanças e diferenças entre eles. Durante a realização das Atividades também
perguntamos como eles se preparam para ministrar suas aulas e como introduzem um novo
tema matemático.
Estas questões foram sendo feitas à medida que os professores resolviam as
Atividades propostas para que nos contassem como se preparavam para suas aulas, se
resolviam as Atividades, se entendiam o encadeamento proposto nos Cadernos, reconhecendo
as etapas de uma sequencia didática, princípio básico do Currículo desta Secretaria de
Educação de São Paulo. Desta forma também poderiam identificar o objetivo de cada
Atividade apresentada, dados que nos apresentam indícios dos conhecimentos sobre o
Currículo.
Para a realização deste instrumento piloto, convidamos dois Professores de
Matemática que nesta investigação serão tratados pelos nomes fictícios de Penélope e Pardal,
escolhidos pelos próprios Professores. A professora Penélope, é iniciante na carreira do
magistério e o professor Pardal, com experiência de, pelo menos, quinze anos ministrando
aulas de Matemática e física, ambos da rede pública estadual de São Paulo e efetivos.
4.1.1 Descrição da Entrevista – Professora Penélope
Professora de Matemática, com cinco anos de exercício docente, efetiva e que
afirma não ter participado de nenhuma formação continuada realizada devido ao pouco tempo
de experiência Profissional.
Ao iniciar esta conversa com a professora Penélope, foi pedido que explicasse
como resolveria as Atividades da Situação de Aprendizagem 5 do Caderno do Aluno do 8º
ano do Ensino Fundamental.
84 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Figura 23: Resolução apresentada pela Profª Penélope - Atividade 1
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 1.
Eu tenho uma posição e eu tenho que formar, criar uma fórmula que expresse isso
daqui, o que eu tenho dificuldade é de fazer o aluno entender isso [...] tem todo um procedimento, como fazer entender. (Trecho da entrevista com a Profª Penélope).
Pesquisadora: Se você perguntasse a seus alunos como ele resolveria tal questão?
Qual seria a resposta?
[...] ai vai ele acha uma situação a 1+1=2, na posição 2 tem 3 bolinhas 2+1=3, mas
quando ele for fazer a mesma situação na posição 3 não vai bater porque 3+1 não é 5
então, eu tenho dificuldade. (Trecho da entrevista com a Profª Penélope).
Pesquisadora: Levando em consideração o que foi solicitado na Atividade, “Você
já tentou pensar numa estratégia que o leve a fazer uma investigação sobre este processo de
construção? Encontre uma fórmula”.
Então o que esta acontecendo daqui pra cá (P1 para P2, da P2 para a P3...) então ele
pode falar esta aumentando de 2 em 2, tudo bem, só que ai eu falo pra ele eu quero
saber quantas bolinhas terá em tal posição. Com este pensamento ele não vai
conseguir a não ser que ele vá de 1 em 1 até chegar lá. (Trecho da entrevista com a
Profª Penélope).
Neste início de conversa a professora Penélope confessou não seguir a sequência
didática devido à falta de entendimento desta estrutura curricular, por isso observa as
Atividades do Caderno do Aluno que serão “ensinadas”, prepara aulas que subsidiem este
saber para depois usar os Cadernos como Atividades complementares.
Em continuidade a esta investigação sobre o saber docente, foi questionada sobre
como pensou para responder a questão. As respostas obtidas na questão 1 foram testadas na
questão 2, numa verificação da propriedade algébrica (associativa, comutativa e distributiva
da multiplicação em relação à adição) e a relação de equivalência citadas no Caderno do
Professor.
85 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Figura 24: Resolução apresentada pela Profª Penélope - Atividade 2
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 2.
Um aspecto que me chamou a atenção foi o questionamento sobre o que seriam
propriedades algébricas e se os alunos teriam este conhecimento.
Após resolução das Atividades 1, 2 e 3, foi iniciada a segunda etapa desta
investigação, os conhecimentos pedagógicos para o ensino da Matemática. Segundo a
professora Penélope, ela ensinava os conceitos básicos trazidos de outros materiais didáticos,
“ensinava como resolver” as Atividades.
Eu respondia as questões do Caderno do Aluno, e buscava em livros didáticos uma
introdução a este assunto. (Trecho da entrevista com a Profª Penélope).
Também foi observado que em momento algum a professora Penélope, buscou no
Caderno do Professor orientações de como conduzir o desenvolvimento das Atividades.
A condução dessa e das demais entrevistas que compõem essa pesquisa foram
realizada por essa pesquisadora. Por esse motivo, percebi que não poderia tornar esta
investigação apenas levantamento de dados sobre os conhecimentos docentes. Embora a
professora apresentasse domínio sobre os conhecimentos específicos da Matemática, começou
a incomodá-la a falta de conhecimentos didáticos para explicar-me como conduziria tais
Atividades.
Como pesquisadora estava numa situação de conflito, aproveitar o momento e
comprometer este Instrumento Piloto ou prosseguir com a entrevista. Esta observação também
deixou-me muito desconfortável e optei por aproveitar a oportunidade de orientação
pedagógica desta professora.
Continuamos a resolução das Atividades 4 e 5 que seguiram o mesmo modelo das
Atividades 1 e 2 o que nos permitiu concluir que estas Atividades serviriam como
levantamento de conhecimentos prévios dos alunos.
86 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Figura 25: Resolução apresentada pela Profª Penélope - Atividades 4 e 5
Fonte: Protocolo de resolução da Atividades 4 e 5.
Nessas Atividades, além das propriedades algébricas propostas no enunciado do
problema, a professora entrevistada ressaltou que embora sejam parecidas elas possuem níveis
de dificuldade maiores em cada questão.
Figura 26: Resolução apresentada pela Profª Penélope - Atividades 6 e 7
Fonte: Protocolo de resolução da Atividades 6 e 7
87 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Depois de responder a estas Atividades, a professora Penélope conclui que os
alunos vão percebendo que elas embora sejam parecidas, vão ficando cada vez mais difíceis.
Sob esta observação perguntei se ela achava necessário propor mais atividades
como estas que permitam o desenvolvimento deste processo de investigação antes de propor a
resolução da lição de casa.
[...] sim, porque esta Atividade é mais complexa para que eles resolvam sozinhos.
Seria importante propor mais Atividades como estas. (Trecho da entrevista com a
Profª Penélope)
Como entrevistadora e também pesquisadora pude perceber que depois da análise
proposta sob a forma de condução das Atividades 1 e 2, a Professora Penélope mostrou-se
mais receptiva, percebendo a importância de se conhecer o caminho percorrido para o
desenvolvimento do conhecimento, o que se passou e o que virá depois de cada Situação de
Aprendizagem.
4.1.2 Descrição da Entrevista – Professor Pardal
O segundo entrevistado foi o professor Pardal, traz como experiência docente,
quinze anos ministrando aulas no EF e EM. Participou de diversas formações continuadas e
também de quatro cursos de formação continuada promovidos pela SEESP, em 2010.
Ao iniciar esta entrevista novamente expliquei os procedimentos que seriam
adotados, numa análise pontual de cada Atividade apresentada na Situação de Aprendizagem
5 do Caderno do Aluno e do Professor do 8º ano volume 1. A primeira coisa que o professor
Pardal colocou foi à necessidade de se fazer a leitura das orientações contidas no Caderno do
Professor de Matemática para sabermos o direcionamento e os objetivos desta Situação de
Aprendizagem.
Como sua maior atuação docente estava na área de Física, relatou que possui
dificuldades organizar uma forma de pensar para responder este tipo de Atividade.
Em provas de concurso consigo chegar ao resultado testando as fórmulas. [...] sei
que devo propor um processo de construção, mas tenho dificuldades em construir
esta linha de raciocínio. (Trecho da entrevista com o Prof. Pardal)
Sobre a resolução das Atividades o professor Pardal completa
[...] o Caderno do professor traz a ideia de uma leitura linear, lendo por linha e não
pelo conjunto de quantidade de bolinhas. Na linha do número 1 tem uma bolinha, na
88 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
linha do número 2 tem 2 bolinhas na primeira linha e na linha de baixo vem o
acréscimo de uma bolinha,... Aqui aumentou 2, aqui 3... O aumento é sempre o
número antecessor a ele... Ficaria n que é numero correspondente à posição na
primeira linha e na segunda linha é a quantidade de acréscimo n, ou seja, n + n - 1. (Trecho da entrevista com o Prof. Pardal)
Figura 27: Resolução apresentada pelo Prof. Pardal - Atividades 1 e 2
Fonte: Protocolo de resolução da Atividades 1 e 2.
Quando perguntei sobre como explicaria esta Atividade, o professor Pardal tentou
aproximar sua forma de conduzir a explicação das orientações contidas no Caderno do
Professor, embora não se sentisse muito seguro.
Para responder à questão dois perguntei: E se eu fosse um aluno e respondesse
que pensei em completar a bolinha que falta em cada figura, como você me orientaria?
[...] neste caso você não apresenta uma leitura linear e sim uma leitura de
completamento de figura, uma configuração retangular... Neste caso poderia pensar
em o dobro menos um, seria 2n-1... O importante é apresentar as diversas
possibilidades de leitura. (Trecho da entrevista com o Prof. Pardal)
Ao retomarmos as duas fórmulas, o professor Pardal utilizou-se de termos como
“Campo Multiplicativo e Campo Aditivo”. E ressaltou que a primeira ideia que os alunos
apresentam é sempre a ideia do campo aditivo, pensando na questão de agrupamento.
Para responder à questão três assim como a professora Penélope, ele questionou-
me sobre a ideia de equivalência, pois não lembrava se a Atividade da balança na qual os
alunos trabalham com equações já teria sido desenvolvida com estes alunos para que
pudessem resolver equações.
89 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Novamente ele menciona as recomendações pedagógicas contidas no Caderno do
Professor e ressaltou a importância de se explicar que equivalência não quer dizer igual, mas
que escritas diferentes representam a mesma coisa.
Figura 28: Resolução apresentada pelo Prof. Pardal - Atividade 3
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 3.
[...] para resolver as Atividades 4 e 5 o aluno irá observar o que fizemos nas Atividades 1, 2 e 3,... Primeiro a leitura linear, na primeira linha ele sempre tem 3
bolinhas, nas outras linha ele sempre tem 4 bolinhas e em cada figura ele tem o
número de linhas igual ao número apresentado (número da posição)... Você tem um
padrão ele sempre aumenta o número de linhas em 4 bolinhas...
.4*)1(3,...443,43,3 321 nPPPP nNa leitura utilizando o
pensamento multiplicativo completando 1 bolinha,
.14*,...14*3,14*2,3 321 nPPPP nO que atende a propriedade
algébrica distributiva... (Trecho da entrevista com Prof. Pardal)
Figura 29: Resolução apresentada pelo Prof. Pardal - Atividades 4 e 5
Fonte: Protocolo de resolução das Atividades 4 e 5.
90 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
À medida que as Atividades foram sendo desenvolvidas evidenciou-se o
desconforto na resolução e nas explicações, confirmando a fragilidade no saber matemático,
chegando a pensar em fórmulas de progressões aritméticas e geométricas mesmo sabendo que
este conhecimento ainda não é de domínio dos alunos do 8º ano do Ensino Fundamental.
Figura 30: Resolução apresentada pelo Prof. Pardal - Atividades 6 e 7
Fonte: Protocolo de resolução das Atividades 6 e 7
[...] aqui como entrou a ideia de linha e coluna podemos pensar na ideia de área Pn=
n x (n+2). [...] na segunda possibilidade de fórmula poderia ser pensando em
quadrados perfeitos teríamos um quadrado e duas colunas logo Pn = nxn + 2xn ou
nnPn 2² . (Trecho da entrevista com o Prof. Pardal)
4.2 ANÁLISES DAS ENTREVISTAS DO INSTRUMENTO PILOTO
Para a realização destas análises tomamos como base as categorias de
conhecimentos de Shulman (1986) apresentadas neste trabalho ampliadas pelos estudos de
Ball e seus colaboradores (2008) numa releitura adaptada aos conhecimentos matemáticos
para o ensino da Álgebra por meio da Generalização de Padrões Algébricos já apresentados
no Capítulo II desta pesquisa.
91 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Conhecimentos matemáticos para o ensino da Álgebra por meio da Generalização de
Padrões Algébricos – Professora Penélope
1) Conhecimento do conteúdo sobre generalização algébrica
Conhecimento comum sobre Álgebra: procedimentos de resoluções de operações
algébricas como equações, equivalências, operações matemáticas.
Ao analisarmos o Conhecimento comum sobre Álgebra percebemos que a
professora Penélope, durante a realização das Atividades propostas mostrou ter domínio de
conceitos matemáticos.
Shulman (1986) diferencia o conhecimento docente para o ensino, ressaltando que
saber Matemática para ser um matemático é diferente de saber Matemática para ser professor
de Matemática.
Conhecimento especializado sobre Álgebra: traduzir e generalizar padrões
aritméticos e figurais.
Sobre os conhecimentos especializados, necessários à ação docente para que
possam orientar os alunos ao perceberem resoluções incorretas e contribuir para a
aprendizagem percebe-se que a professora Penélope em suas colocações apresenta
dificuldades em intervir nos erros dos alunos.
Então o que esta acontecendo daqui pra cá (P1 para P2, da P2 para a P3...) então ele
pode falar esta aumentando de 2 em 2, tudo bem, só que ai eu falo pra ele eu quero saber quantas bolinhas terá em tal posição. Com este pensamento ele não vai
conseguir a não ser que ele vá de 1 em 1 até chegar lá.
Como eu falei ele vai perceber que vai de 2 em 2 então ele vai contar de um em 1...
ele vai notar esta coincidência... ele vai colocar a ideia do mais 2, mas ai eu vou
jogar na cabeça dele que eu quero saber o valor da posição 15, por exemplo, ele teria
que saber o valor da posição anterior... ele iria contando da posição até chegar no 15.
(Trechos da entrevista com a Profª Penélope, na resolução da Atividade 1).
Este comportamento corrobora com o apresentado nos estudos de Ball (2001) na
fragilidade apresentada pelos docentes, em lidar como o conhecimento de Matemática é
necessário especificamente à tarefa de ensinar. Em Charlot (2005), encontramos que o
professor deve ser dotado de competência que lhe permita gerir tensões e construir as
mediações entre práticas e saberes.
92 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Conhecimento no horizonte matemático da Álgebra: aritmética generalizada, letras
como generalizações do modelo aritmético e propriedades das operações
generalizações de padrões aritméticos (como forma de construção do pensamento
algébrico).
Na Atividade 2 nos chamou a atenção o questionamento sobre o que seriam
propriedades algébricas e se os alunos teriam este conhecimento. Este questionamento nos
mostra que esta professora parece não ter conhecimento de todos os conceitos desenvolvidos
nos Cadernos, apresentando assim uma visão parcial do processo de construção do
conhecimento horizontalizado da Álgebra.
A necessidade desta informação relacionada aos conteúdos abordados em outros
Cadernos e até mesmo em outros anos nos permite concluir que pode existir desconhecimento
de algumas partes deste currículo praticado pela professora Penélope.
Esta postura apresenta desconhecimento sobre a dimensão Aritmética
Generalizada apresentada nos PCN (BRASIL, 1998, p.116) na qual estas Atividades buscam
construir a linguagem algébrica para descrever estes padrões de forma simbólica sempre com
a intenção de traduzir e generalizar.
2) Conhecimento pedagógico sobre generalização algébrica
Conhecimento do conteúdo e os estudantes: valorização da construção da linguagem
algébrica, ao ensinar de maneira que garanta, ao aluno, formas para expressar-se, para
que suas ideias não sejam desprovidas de significado.
Observamos nas respostas apresentadas pela professora referentes ao
conhecimento do conteúdo e os estudantes, por meio dos protocolos que desconhece as
estratégias apresentadas pelo material curricular e também não apresentou suas próprias
estratégias de resolução para as atividades.
Eu tenho uma posição e eu tenho que formar, criar uma fórmula que expresse isso daqui, o que eu tenho dificuldade é de fazer o aluno entender isso [...] tem todo um
procedimento, como o fazer entender. (Trecho da entrevista com a Profª Penélope).
Tomamos como referência os estudos de Radford (2011) ao valorizar a construção
da linguagem algébrica, na qual o ensino deve oportunizar maneiras que garantam ao aluno,
formas para expressar-se, para que suas ideias não sejam desprovidas de significado.
93 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Conhecimento do conteúdo e o ensino da álgebra: utilização e valorização de
diferentes formas de resoluções por meio da investigação, da experimentação com
vistas apromover o desenvolvimento do pensamento algébrico e suas generalizações.
A análise do áudio nos permitiu perceber que o conhecimento do conteúdo e o
ensino da álgebra também eram falhos, pois em suas aulas não valorizava diferentes formas
de resoluções, nem tão pouco utilizava a investigação com vistas a promover o
desenvolvimento do pensamento algébrico e suas generalizações.
Segundo Borralho (2009), o processo investigativo do pensamento algébrico deve
oportunizar procedimentos formais para obter um resultado e poder interpretar e avaliar essa
Atividade. Este processo segundo Vale (2011) deve permitir ao aluno generalizar e
representar esse conhecimento ao desenvolver competências de comunicação, conjectura,
generalização, argumentação e prova.
Conhecimento curricular: utilização de materiais pedagógicos diversificados e das
diretrizes curriculares que embasam este o currículo.
Percebemos que, quanto ao conhecimento curricular, a professora Penélope
também apresenta fragilidades, ao considerar seus alunos como receptores de informações.
Segundo ela, os conceitos básicos utilizados em suas aulas eram trazidos de outros materiais
didáticos, “ensinava como resolver” as Atividades. Neste relato percebe-se que os alunos
esperavam que ela os ensinasse como fazer as Atividades.
Eu respondia as questões do Caderno do Aluno, e buscava em livros didáticos uma introdução a este assunto. (Trecho da entrevista com a Profª Penélope).
Conhecimentos matemáticos para o ensino da Álgebra por meio da Generalização de
Padrões Algébricos – Professor Pardal
1) Conhecimento do conteúdo sobre generalização de padrões e regularidades
Conhecimento comum sobre Álgebra: procedimentos de resoluções de operações
algébricas como equações, equivalências, operações matemáticas.
94 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
O professor apresenta domínio dos procedimentos e clareza na condução de suas
explicações.
Conhecimento especializado sobre Álgebra: traduzir e generalizar padrões
aritméticos e figurais.
Ao analisarmos os protocolos das Atividades do professor Pardal, percebemos que
apresenta domínio de conceitos matemáticos, e mostra-se preocupado com o conhecimento
especializado do conteúdo algébrico ao procurar aproximar suas explicações dos saberes dos
alunos para que possa auxiliar no desenvolvimento da aprendizagem.
Conhecimento no horizonte matemático da Álgebra: aritmética generalizada, letras
como generalizações do modelo aritmético e propriedades das operações
generalizações de padrões aritméticos (como forma de construção do pensamento
algébrico).
Embora o professor Pardal apresentasse maior familiaridade com as Atividades do
Caderno de Física, pudemos perceber que conhece o currículo de Matemática em sua
horizontalidade identificando conceitos já estudados e outros que ainda serão desenvolvidos.
Fez uso de termos como “Campo Multiplicativo e Campo Aditivo” o que nos oferece indícios
de conhecimentos teóricos da matemática sobre a teoria de dos Campos Conceituais de
Vergnaud.
2) Conhecimento pedagógico sobre generalização algébrica
Conhecimento do conteúdo e os estudantes: valorização a construção da linguagem
algébrica, ao ensinar de maneira que garanta, ao aluno, formas para expressar-se, para
que suas ideias não sejam desprovidas de significado.
Embora o professor admita ter dificuldades na realização de Atividades que
envolvem o ensino de padrões e regularidades, percebemos que para melhor condução de suas
aulas baseia-se nas orientações contidas no Caderno do Professor.
Em provas de concurso consigo chegar ao resultado testando as fórmulas. [...] sei
que devo propor um processo de construção, mas tenho dificuldades em construir
esta linha de raciocínio. (Trecho da entrevista com o Prof. Pardal)
95 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Conhecimento do conteúdo e o ensino da álgebra: utilização e valorização de
diferentes formas de resoluções por meio da investigação, da experimentação com
vistas apromover o desenvolvimento do pensamento algébrico e suas generalizações.
Sobre o conhecimento do conteúdo e do ensino, percebemos que respeita as
diferentes formas de expressão do pensamento.
[...] neste caso você não apresenta uma leitura linear e sim uma leitura de
completamento de figura, uma configuração retangular... Neste caso poderia pensar
em o dobro menos um, seria 2n-1[...]. O importante é apresentar as diversas
possibilidades de leitura. (Trecho da entrevista com o Prof. Pardal)
Conhecimento curricular: utilização de materiais pedagógicos diversificados e das
diretrizes curriculares que embasam este o currículo.
Também pudemos perceber que reconhece a ideia apresentada em cada conjunto
de Atividades, identificando facilmente o levantamento de conhecimentos prévios, a
problematização e as Atividades de sistematização. Estas colocações nos permitem observar
que o Professor apresenta conhecimento do currículo apresentado nos Cadernos dos Alunos e
de seus fundamentos.
A realização deste Instrumento Piloto e as análises decorrentes do levantamento
de dados destas duas entrevistas serviram como balizadoras para elaboração do Instrumento
Definitivo desta pesquisa.
Para o instrumento definitivo empregamos as mesmas atividades contidas no
Caderno do Aluno utilizadas no instrumento piloto. Priorizamos para a coleta de dados o
instrumento definitivo professores que possuíssem experiência profissional docente acima de
dez anos e efetivos, tendo participado de formação continuada sobre a utilização deste
material curricular. As adequações ocorreram na escolha dos sujeitos desta pesquisa e na
aplicação das Atividades, que aconteceram com a mínima interferência desta pesquisadora.
96 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
4.3 OS PROFESSORES ENVOLVIDOS NO INSTRUMENTO DEFINITIVO DESTA
PESQUISA
Para a realização deste Instrumento Definitivo contamos com a participação de
três Professores de Matemática efetivos que lecionam em escolas públicas estaduais de São
Paulo.
4.3.1 Descrição das entrevistas
– Professora Rosinha
Professora de Matemática efetiva leciona há vinte e quatro anos na rede pública
estadual e municipal de São Paulo. Participou de todo o processo de implementação do
Currículo Oficial da SEESP e utiliza os Cadernos dos Alunos em suas aulas.
Foi explicado à professora que nossa intenção era observar como ela entende e
resolve cada questão que compõe esta Situação de Aprendizagem, e quais conhecimentos
matemáticos podem ser desenvolvidos por meio destas Atividades.
Na resolução das Atividades propostas obtivemos o seguinte relato sobre cada
questão:
Figura 31: Resolução apresentada pela Profª Rosinha - Atividade 1
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 1
Eu vejo que esta Atividade permite ao aluno trabalhar não somente a contagem das
bolinhas mas a fórmula, porque esta é uma série, 8º ano onde os alunos irão
trabalhar com incognitas, equações que já aprenderam anteriormente no 7º ano, só
que agora ampliarão este conhecimento com o estudo de polinômios. Estas
Atividades são uma preparação para se trabalhar com adição, subtração, as
operações com letras. (Trecho da entrevista com a Profª Rosinha).
97 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Para facilitar a investigação, a professora também utiliza materiais manipuláveis
como tampinhas, bolinhas que possam ser reagrupados pelos alunos no processo de
investigação.
Respeito à forma de pensar deles “alunos” mesmo que ela esteja errada [...] a gente
põe aquela resposta na lousa e vamos verificar a validade, se der errado então tem
alguma coisa a mais ou a menos e ai eles mesmos vão tentando chegar [...]. Mas
quando percebo que a discussão não avança ai eu vou dando o direcionamento na
forma de perguntas.” (Trecho da entrevista com a Profª Rosinha).
A professora segue em sua explicação:
Então como achar esta equação? Veja todo número par é multiplo de 2 logo se n=1
então 2X1=2, se n=2 então 2X2=4 como encontrar 3, 2n-1. É importante que o aluno
perceba que esta fórmula corresponde a qualquer termo desta sequência, mesmo que
na primeira Atividade o professor tenha que fazer junto, induzindo-o a pensar e
ajuda-lo a construir este caminho. Na Atividade 2 o aluno já percebeu esta fórmula
logo temos n+n -1 ou desmembrando 2n-1. (Trecho da entrevista com a Profª
Rosinha).
Figura 32: Resolução apresentada pela Profª Rosinha - Atividade 3
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 3.
Na Atividade 3 as propriedades algébricas eu mostro que uma coisa é igual a outra,
então 2n-1 = n+n-1 que eu estaria trabalhando as propriedades associativa,
comutativa. [...] Se você escrever 3+5=8 que outra maneira eu poderia escrever esse
número para que de 8? 5+3=8. Esta é uma relação de equivalência porque embora estejam escritos de forma diferente 2n-1 = n+n-1, podemos ter 2 respostas ou mais
para a mesma questão. O aluno ainda não tem domínio sobre os termos algébricos,
daí a importância destas Atividades. Estas letras substituem aquele quadradinho
usado no ciclo I, o número desconhecido. Esta Atividade retoma conceitos do 6º e
do 7º ano é um momento de construção do pensamento. (Trecho da entrevista da
Profª Rosinha).
98 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Figura 33: Resolução apresentada pela Profª Rosinha - Atividade 4
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 4.
Para a Atividade 4 usamos o mesmo procedimento que fizemos. Faço as contagens
das bolinhas e ai eles utilizam os caminhos do exercício anterior, a apostila faz isso ela utiliza o que voce fez no anterior e faz o proximo um pouquinho mais elaborado.
(Trecho da entrevista da Profª Rosinha, 2015).
Quando perguntado sobre sua opinião a respeito das Atividades propostas e a
disposição delas, se tiraria ou alteraria a sequência apresentada nos Cadernos do Aluno ela
respondeu:
Eu acho interessante porque o aluno é sempre desafiado, se todas as Atividades
fossem iguais não desenvolveria o pensamento [...]. Mas se fizer a primeira e pular para outra sem seguir a sequencia pode dificultar muito. (Trecho da entrevista com a
Profª Rosinha).
Quanto às possíveis dificuldades encontradas na construção do conhecimento com
os alunos a professora relata que possui duas classe bem diferentes “uma classe eu consigo
avançar mais rapidamente na outra eu preciso me preparar melhor para conseguir atingir os
alunos com maior dificuldade de aprendizagem[...] busco apoio em exercícios similares e em
outra aula eu retomo depois de ter pesquisado um pouco mais como eu posso ensinar.
(Trecho da entrevista da Profª Rosinha).
Figura 34: Resolução apresentada pela Profª Rosinha - Atividades 6 e 7
Fonte: São Paulo CCPM, 2014, p.44.
Fonte: Protocolo de resolução das Atividades 6 e 7.
99 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Essa generalização é importante porque, o faz perceber que embora escrita seja a
mesma coisa. Essas Atividades permitem ao professor relacionar com Atividades do
6º ano, do 7º ano e até do ciclo I quando se pretendia descobrir o valor do
quadradinho. (Trecho da entrevista com a Profª Rosinha).
Figura 35: Resolução apresentada pela Profª Rosinha - Atividade 8
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 8.
– Professora Margarida
Professora de Matemática efetiva leciona há trinta e oito anos na rede pública
estadual e municipal de São Paulo. Também possui complementação em Pedagogia e
Psicopedagogia. Participou de todo o processo de implementação do Currículo Oficial da
SEESP e utiliza os Cadernos dos Alunos em suas aulas. Aposentada como professora de
Matemática desta secretaria atua no segundo cargo desde o ano 2000, sem interrupção.
Depois da conversa inicial sobre os aspectos e objetivos desta pesquisa foram
apresentadas à professora Margarida as Atividades utilizadas como protocolos de análise para
este estudo. Ela iniciou sua explicação:
[...] se eu pensar em um número “n” o próximo número será n+2. (Trecho da entrevista com a Profª Margarida).
100 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Figura 36: Resolução apresentada pelo Profª Margarida - Atividade 1
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 1.
[...] pensei primeiro em quantidade... (Trecho da entrevista com a Profª Margarida).
Para a Atividade 2 a professora propôs a resolução por meio da fórmula de
progressão reconhecendo a razão e a posição inicial de cada sequência.
Figura 37: Resolução apresentada pela Profª Margarida - Atividade 2
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 2.
101 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
[...] pode ser P.A16? Porque a razão (r=2), a quantidade que aumenta de um para o
outro é sempre 2. (Trecho da entrevista com a Profª Margarida).
Neste desenvolvimento seguido deste questionamento percebe-se que mesmo
utilizando os termos de uma Progressão Aritmética – PA, a professora não conseguiu
estabelecer uma generalização para esta representação.
Quando questionada sobre a condução de suas aulas, a professora relatou que as
prepara e todas as Atividades que serão propostas, incluem Atividades diversificadas para
melhor atender aos “diferentes tipos de dificuldades que possam surgir” e utiliza os Cadernos
dos Alunos como complemento aos conteúdos, pois ela os considera falhos em sua
apresentação.
Quando foi pedido que contasse como iniciaria essa Situação de Aprendizagem a
professora disse que verifica qual será o conteúdo abordado no Caderno do Aluno e busca em
seus materiais de apoio (livros didáticos e apostilas) uma forma de melhor abordar o conteúdo
para depois utilizar as Atividades propostas. Também disse que gosta de trabalhar com
tabuleiros de dama, xadrez, jogos e Atividades lúdicas.
Foi perguntado como entende a relação entre o conhecimento docente e o saber a
ser ensinado aos alunos, ela nos contou que utiliza “cartelinhas”, figuras, para ensinar:
[...] porque se der para ele fazer ele não faz ele não sabe. [...] alguns entendem, mas
outros não. [...]Vou buscar esta Atividade nos meus livros. A dificuldade aumenta quando se precisa trabalhar com tabuada. Eles não trabalham com a mente, acham
que não é importante. (Trecho da entrevista com a Profª Margarida).
Pensando na proposta apresentada nestas Atividades, foi questionado sobre as
observações que a professora teria sobre a construção destas generalizações, como entende
este processo?
Ela explicou que é importante, mas prefere trabalhar com a “visualização”,
tabuleiros para construir sequências, explica que quando pensamos em uma representação
generalizada podemos pensar em uma letra para representar esta ideia. Para isso o livro
didático oferece um saber pronto e o aluno precisa entender isso. Neste sentido o professor
deve oportunizar estas atividades para preparar os alunos.
Para a professora representação algébrica significa entender que podemos utilizar
qualquer letra do alfabeto para expressar uma ideia generalizada.
16Progressão Aritmética.
102 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Se eu tenho uma equação do 2º grau utilizando x e lá no ensino médio ele vai usar
outra letra ele não entende esta representação e diz isso o professor não ensinou.
(Trecho da entrevista com a Profª Margarida).
O tempo destinado à entrevista passou e a professora precisou retornar a suas
aulas não conseguindo terminar a Atividade 2.
Interrompemos a resolução deste protocolo com apenas duas Atividades, pois
consideramos que qualquer intervenção por parte da pesquisadora poderia comprometer as
respostas apresentadas. Entendemos também que estes dados seriam suficientes para
investigar os conhecimentos docentes desta nesta pesquisa.
– Professor Coruja
Professor de Matemática efetivo leciona há dezoito anos na rede pública estadual
e municipal de São Paulo possui complementação pedagógica em Física e leciona há nove
anos nesta unidade escolar. Também possui experiência docente em curso superior. Participou
de todo o processo de implementação do Currículo Oficial da SEESP e utiliza os Cadernos
dos Alunos em suas aulas.
Após a explicação apresentada a todos os entrevistados sobre o objetivo desta
pesquisa, iniciamos as Atividades.
Para a resolução da Atividade 1, o professor Coruja propôs a observação
horizontal das sequências de bolinhas formando linhas “Fui pela observação direta n, n+2,
pensando em linha” assim a cada termo aumentamos 2 bolinhas.
Figura 38: Resolução apresentada pelo Prof. Coruja - Atividade 1
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 1.
Se eu tenho o segundo elemento n=2, aí eu tenho 2+1 então teremos n+ (n-1). Para o terceiro elemento n=3 teremos 4 +3, ou seja, 3+ 3-1. (Trecho da entrevista
com o Prof. Coruja).
103 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Para as Atividades 2 e 3 o professor rapidamente escreveu 2n-1 e usou o termo
como configuração retangular, investigação por meio da experimentação até a obtenção da
generalização. Ao relacionar as diferentes escritas das Atividades 1 e 2, apresentou na
Atividade 3 a seguinte resolução.
Figura 39: Resolução apresentada pelo Prof. Coruja - Atividade 3
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 3.
[...] embora as fórmulas tenham sido escritas de maneiras diferentes representam a
mesma coisa. (Trecho da entrevista com o Prof. Coruja).
Ao ser perguntado como era apresentada esta ideia de construção como
generalização escrita por meio de fórmulas, o Prof. Coruja explicou que as Atividades
desenvolvidas até esta Situação de Aprendizagem eram mais voltadas à aritmética.
Sobre a generalização: para a observação dos elementos (bolinhas) é fundamental, ampliar o campo numérico de forma significativa não é simples. Porque com
números e com expressões ele (aluno) não tem essa percepção exata da construção.
Eu quando resolvo esse tipo de Atividade primeiro procuro observar o conjunto
depois relacionar com números. (Trecho da entrevista do Prof. Coruja, 2015).
Nas palavras do Professor, a Álgebra permite a observação tanto da parte
numérica como da representação geométrica.
[...] passar por este processo de construção, dar significado a esta representação
priorizando a representação (generalização do pensamento algébrico). Estas
Atividades ajudam a construir o significado da expressão algébrica. Antes os alunos
sabiam resolver o cálculo de maneira mecânica, contudo não sabia pra que servia tudo aquilo, uma Matemática sem significado. (Trecho da entrevista com o Prof.
Coruja).
O currículo segundo o professor permite a evolução de uma escrita numérica para
uma escrita generalizada e algébrica. Esta construção é importante porque se o aluno for
direto para o cálculo das expressões ele terá dificuldades em relacionar as representações. Em
suas palavras “o aluno percebe que esta resolução representa algo. Isso mostra que existe
uma relação de área que ele pode utilizar”. (Trecho da entrevista com o Prof. Coruja).
104 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Neste aspecto como você entende a relação existente entre o conhecimento do
professor e o saber ensinado. Para esta pergunta ele respondeu que aprendeu na prática,
quando começou a lecionar no ensino fundamental e sentiu a dificuldade na construção do
conhecimento. Afirmou que os alunos sabiam a regra (procedimentos), mas não
compreendiam os resultados apresentados.
[...] e quando se apresentavam situações-problema eles não sabiam, aí era um
problema. [...] eu vim da engenharia e trabalhava na indústria eu tinha o
conhecimento e sabia fazer, mas quando eu fui lecionar percebi que o que eu sabia era diferente de ensinar eu precisava aprender a estruturar o pensamento deles para
que eles entendessem o que eu quero. (Trecho da entrevista com o Prof. Coruja).
Para a resolução da Atividade 4 ele utilizou como princípio o cálculo de área, e
afirmou que nesta sequência o aluno utilizaria o caminho percorrido na Atividade anterior
para pensar.
Figura 40: Resolução apresentada pelo Prof. Coruja - Atividade 4
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 4.
[...] nesta Atividade intuitivamente o aluno começa a utilizar o conceito de área.
(Trecho da entrevista com o Prof. Coruja).
Segundo o Professor, outra forma de resolver esta Atividade é pensar em separar
as bolinhas dispostas em linhas.
105 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Figura 41: Resolução apresentada pelo Prof. Coruja - Atividades 5 e 6
Fonte: Protocolo de resolução das Atividades 5 e 6.
Essas Atividades utilizando o lúdico, ou uma representação que não seja numérica
leva eles a terem essa percepção. [...] o mundo Matemática hoje é muito mais de
observação dos elementos do que da construção geométrica que vira
automaticamente depois de ampliada esta visão. [...] se for direto para o cálculo, eles
depois não irão conseguir desenvolver este olhar. (Trecho da entrevista com o Prof.
Coruja).
Figura 42: Resolução apresentada pelo Prof. Coruja - Atividade 7
Fonte: Protocolo de resolução da Atividade 7.
Ao responder a Atividade 7 concluiu:
[...] as Atividades sempre finalizam comparando as diferentes escritas, mostrando
que escritas diferentes podem representar a mesma coisa. Trecho da entrevista com o
Prof. Coruja).
106 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Foi perguntado que leitura faz desta Situação de Aprendizagem, e como aborda
este tema em suas aulas, o professor respondeu:
[...] representa a ideia de expressões, as Atividades são sequenciais [...] não
podemos tirar uma Atividade porque achamos que ela não é legal o aluno precisa
passar por elas [...] sempre inicio a aula com as Atividades do Caderno, resolvo
antes as Atividades para ver se realmente batem com a habilidade que está sendo
prevista. (Trecho da entrevista com o Prof. Coruja).
Sobre as atividades, o professor Coruja, ressaltou ainda que os Cadernos dispõem
de poucas Atividades com níveis de dificuldades diferenciados e, por este motivo “o professor
precisa preencher lacunas entre elas” com atividade de livros didáticos, atividades de lição
de casa.
4.4 ANÁLISES DAS ENTREVISTAS E DO INSTRUMENTO DEFINITIVO
Como parte das análises dos protocolos destas entrevistas, também apoiamo-nos
nos estudos apresentados no Capítulo II sobre o “Conhecimento Matemático para o Ensino”,
como forma de identificar os conhecimentos que os Professores participantes deste
Instrumento Definitivo apresentaram como explicações durante a resolução das Atividades
utilizadas como subsídios para este levantamento de dados.
Conhecimentos matemáticos para o ensino da Álgebra por meio da Generalização de
Padrões Algébricos
1) Conhecimento do conteúdo sobre generalização algébrica: conhecimento comum do
conteúdo, e conhecimento especializado do conteúdo e conhecimento no horizonte
matemático.
– Professora Rosinha: Durante a realização das Atividades a professora mostrou
familiaridade com as Atividades estudadas, e conduziu suas explicações sobre os
procedimentos de forma didática, contando como seus alunos resolveram e como ela fazia as
intervenções.
[...] ao iniciar a resolução da Atividade identifica que trata-se de uma sequência de
números ímpares, logo a próxima sequência de bolinhas será sempre a anterior mais
107 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
2. Assim teríamos como fórmula resultante 2n-1. (Trecho da entrevista com a Profª
Rosinha)
Também refere-se aos conteúdos já estudados em momentos anteriores. Parte do
que o aluno conhece e avança, coloca-se como mediadora das propostas de resolução ao
conduzir o processo de condução das possíveis respostas.
[...] no 8º ano iniciaremos o trabalho com letras, revendo as equações e agora as
operações, no caso os polinômios que virão [...] uma preparação para se trabalhar
operações com letras. (Trecho da entrevista com a Profª Rosinha)
Estas observações nos permitem observar indícios de conhecimento do conteúdo e
de suas especificações.
- Professora Margarida:
Durante a realização desta entrevista a professora apresentou dificuldades em
resolver a Atividade. Mesmo apoiando-se nos conceitos de Progressão Aritmética,
reconhecendo a razão 2, não conseguiu definir uma fórmula que representasse a generalização
desta sequência. Observamos que mesmo tendo encontrado as duas formas de generalização
solicitadas pelas Atividades não as reconheceu, embora tenha identificado o termo 1a e a razão
r não conseguiu escrever sua representação como sendo 12 nan .
Em seu relato esclarece que prepara suas aulas fazendo uso de diferentes recursos
com vistas a favorecer o desenvolvimento da aprendizagem. Quando questionada sobre a
importância do desenvolvimento do pensamento e da generalização de padrões, a professora
nos afirmou que considera importante porque “quando o aluno chega ao ensino médio ele
não consegue perceber que aquele x da equação é o mesmo termo que pode ser usado na
Física, na Química.”.
Em suas palavras afirma não iniciar suas aulas partindo da proposta de Atividade
deste material curricular, o que nos permite concluir que desconhece suas concepções e em
suas aulas apoia-se em materiais didáticos como livros de sua familiaridade.
Esta entrevista embora tenha sido possível a realização de apenas duas das
Atividades propostas pode-se observar fragilidades no conhecimento do conteúdo e os
estudantes, conhecimento do conteúdo e o ensino e conhecimento do currículo.
108 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
– Professor Coruja: Destacamos alguns Trechos da fala deste professor que nos permitiram
observar aspectos sobre o conhecimento do conteúdo:
[...] fui pela observação direta n, n+2, n pensando em linha. [...] nesta Atividade
intuitivamente o aluno começa a utilizar o conceito de área. [...] quando resolvo esse
tipo de Atividade primeiro procuro observar o conjunto depois relacionar com
números. (Trecho da entrevista com a Prof. Coruja)
Em suas respostas pudemos perceber o aspecto investigativo que este professor
realiza sobre a resolução das Atividades, embora não tenha feito relação destes conceitos com
conhecimentos estudados anteriormente ou posteriores a esta construção.
[...] a observação dos elementos (bolinhas) é fundamental [...] porque com números
e com expressões ele (aluno) não tem essa percepção exata da construção. (Trecho
da entrevista com a Prof. Coruja)
De maneira simples deixa claro que entende a importância do trabalho com
Atividades de padrões e regularidades para promover o desenvolvimento do pensamento
algébrico, ao relatar sua vinda para a área da Educação como Profissão deixou claro suas
percepções sobre a diferença entre saber Matemática e a necessidade de saber ensinar
Matemática.
Como apresentado nos aportes teóricos, segundo os estudos de Vale e Pimentel
(2005) deve-se oportunizar aos alunos abordagens de natureza diferente, visuais e não visuais,
desenvolvendo um raciocínio mais flexível, construindo imagens mentais que possibilitem
resolver a situação proposta. Reforçam a ideia da configuração retangular intuindo o conceito
de área e a propriedade distributiva da multiplicação e a noção de equivalência.
Os estudos apresentados por Shulman (1986) nos permitem constatar que o olhar
docente deve estar atento à forma como seus alunos aprendem, suprindo assim as
necessidades de Atividades diversificadas que permitam aos alunos atingirem os objetivos
esperados pelo professor para cada etapa desenvolvida no processo de aprendizagem.
2) Conhecimento pedagógico do conteúdo subdividido em: conhecimento do conteúdo e os
estudantes, conhecimento do conteúdo e o ensino e conhecimento do currículo.
– Professora Rosinha
Em sua entrevista em diferentes momentos pode-se observar indícios dos
conhecimentos investigados. Percebe-se a presença do conhecimento do conteúdo e os
109 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
estudantes quando a professora menciona a forma de condução de suas aulas, mostrando
atenta ao processo de aprendizagem apresentado pelos alunos, mencionou sua preocupação
em envolver os alunos na realização das Atividades, valorizando a forma de pensar de seus
alunos.
Respeito à forma de pensar deles “Alunos” mesmo que ela esteja errada. “a gente
põe aquela resposta na lousa e vamos verificar a validade [...] outros pensam: se a
diferença entre as bolinhas é 4 então eles começam com 4 vezes alguém, quem é
esse alguém? É n-1+ 1, de onde saiu n-1 + 1? 1-1= 0 +1=1. (Trecho da entrevista com a Profª Rosinha).
Sobre o conhecimento do conteúdo e o ensino, a professora menciona o percurso
apresentado pelas Situações de Aprendizagem dos Cadernos dos Alunos em diferentes anos
do ensino de Matemática, anteriores e posteriores ao 8º ano do ensino fundamental.
[...] no finalzinho do 7º ano os cadernos voltam a falar sobre sequência, no 8º ele
retoma como um preparo para o trabalho com polinômios [...] é importante o aluno
perceber que essa escrita é fundamental para que ele perceba essa regularidade.
(Trecho da entrevista com a Profª Rosinha)
No conhecimento do currículo, embora durante a realização destas Atividades a
professora não tenha utilizado nenhum termo específico que evidenciasse o conhecimento da
Situação de Aprendizagem, por várias vezes ela referiu-se à retomada de conceitos já
aprendidos, identificou as Atividades que permitem ao aluno a negociação de significados e
as que intencionam a sistematização da aprendizagem.
– Professora Margarida
A dificuldade apresentada pela professora em resolver as Atividades propostas
nos permitiu verificar que ela não utiliza a Situação de Aprendizagem apresentada no Caderno
do Aluno para desenvolver os conceitos matemáticos deste Currículo.
Para realizar esta análise nos apoiamos nos estudos apresentados por Charlot
(2000) numa relação com o saber na qual devemos buscar compreender como o sujeito
apreende o mundo e, com isso, como se constrói e transforma a si próprio: um sujeito
indissociavelmente humano, social e singular (p.41). Assim sendo, esta concepção do saber,
nos permite refletir sobre o entendimento que os docentes têm sobre o saber e ações sobre a
relação do saber existente no espaço educacional. Em outras palavras como esse
conhecimento interfere em sua prática docente.
110 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
– Professor Coruja
Durante a entrevista notou-se que em nenhum momento este professor fez
referencia à intencionalidade da Atividade. Foi perguntado se ele percebia alguma relação
entre as Atividades propostas. A resposta foi que “as Atividades vão evoluindo no nível de
complexidade agregando novos conceitos à resolução” sempre apoiando-se na resolução
anterior.
Sobre a estrutura curricular reconhece a importância de inserir Atividades que
permitam o desenvolvimento das mesmas ideias propostas.
[...] sempre inicio a aula com as Atividades do Caderno, resolvo antes as Atividades para ver se realmente batem com a habilidade que está sendo prevista. [...] as
Atividades são sequenciais, não podemos tirar uma Atividade porque achamos que
ela não é legal o aluno precisa passar por elas.
Pode-se perceber em diferentes momentos a preocupação com o ensino da
Matemática quando o professor se refere à preparação de suas aulas e a preocupação com a
apropriação do saber estudado pelos alunos, também ao reconhecer o encadeamento da
Situação de Aprendizagem proposto nas atividades apresentadas aos alunos. Assim, a
resolução apresentada nos protocolos nos mostra o domínio e conhecimento do conteúdo
sobre padrões e regularidades.
Considerações da Pesquisadora
Numa perspectiva pedagógica podemos observar que o conhecimento pedagógico
do conteúdo transcende o conteúdo para o ensino. Nas palavras de Charlort (2005) esta
construção ocorre nas relações estabelecidas com o saber, em Shulman (1986) ao analisar os
saberes docentes envolvidos no processo de ensino, permite que o professor possa conduzir a
aprendizagem de seus alunos por meio da compreensão do assunto estudado incluindo a
previsão de possíveis obstáculos didáticos e epistemológicos, antecipando-se para melhor
intervir quando a situação se apresentar (BALL, 1991).
Sobre os conhecimentos do conteúdo procuramos observar se os professores
compreendiam que as atividades apresentadas nesta Situação de Aprendizagem apoiam-se na
ideia de um padrão que envolve repetição e crescimento. Que esta forma visual nos remete à
111 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
geometria, aproximando assim o desenvolvimento de conceitos significativos como
propriedades numéricas e geométricas.
Esta forma de observação nos remete aos estudos de Vale (2009) no qual
apresenta em seus trabalhos, vários autores que defenderm a utilização de atividades com
padrões como estas, por favorecem o desenvolvimento de competências visuais pois muitos
alunos apoiam-se na observação destas regularidades figurais para iniciarem suas
investigações e assim conseguiresm estabelecer suas congecturas.
Além disso, os sujeitos de nossa pesquisa, poderiam citar em relação ao
conhecimento pedagógico, a preocupação com o desenvolvimento da forma exploratória de
conceitos matemáticos envolvidos neste contexto, como preconizam documentos como o
NCTM (2000).
Este documento considera o estudo de generalização de padrões um forte aliado
ao ensino da Matemática, quando oportunizado por meio do estudo de padrões e
regularidades, o qual permite ao aluno a exploração de ideias importantes e conjecturas por
meio da observação e experimentação, além de permear grande parte do estudo da
Matemática, principalmente pela ideia generalização.
Para o desevolvimento destas ideias percebemos no professor importante papel,
pela forma como conduz suas aulas.
A forma como se apresenta uma tarefa ou como o questionamento é efectuado pode condicionar que uma simples tarefa aritmética se transforme numa tarefa algébrica,
onde há espaço para construir padrões, conjecturar, generalizar e justificar factos e
relações matemáticas. Blanton e Kaput (2005) consideram que o raciocínio algébrico
pressupõe que os alunos, partindo da observação de um conjunto de evidências,
generalizem ideias matemáticas através de argumentações, expressando-as de modos
cada vez mais formais de acordo com a idade. Assim, a álgebra é vista como uma
ferramenta para expressar tais generalizações. (VALE, 2012, p. 188).
Estas colocações corroboram com nossas pesquisas e com as ideias apresentadas
pelos professores nestas entrevistas no aspecto de conhecimentos docentes para o ensino.
112 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
4.5 COMPARAÇÕES DOS PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NA RESOLUÇÃO
DOS PROTOCOLOS
Após análise dos protocolos de resoluções das Atividades utilizadas para
investigar os conhecimentos docentes relacionados aos saberes pedagógicos e específicos da
Matemática, faremos a leitura conjunta das Atividades para melhor exploração e análise das
Atividades.
Atividades explorada apresenta-se dividida em dois grupos com três Atividades
(Atividades 1, 2 e 3, Atividades 4, 5 e 6) nas quais espera-se que por meio da investigação
observe-se que as bolinhas podem ser agrupadas ou reagrupadas na forma de configuração
retangular para completar o que falta, retomando-se conceitos de propriedades comutativas e
associativas já estudadas anteriormente (SÃO PAULO, 2014, p.44).
Conforme apresentado nos referenciais teóricos pode-se perceber nestas
Atividades o estudo da Aritmética Generalizada considerada a primeira das quatro dimensões
da Álgebra contidas no PCN (BRASIL, 1998, p.116). Neste aspecto considera-se que este
estudo deve favorecer o desenvolvimento da habilidade de relacionar as ideias Matemáticas
entre si, chegando à construção da escrita algébrica generalizada por meio do pensamento
aritmético por apoiar-se em conceitos mais numéricos que algébricos.
Dos três Professores participantes desta fase final, os protocolos nos permitem
observar que dois deles de forma intuitiva favorecem o desenvolvimento destas habilidades
(Profª Rosinha e Prof. Coruja). Consideramos intuitiva por percebermos que em momento
algum foi citado ou feita referência a nenhuma orientação curricular ou teórica para tal
percepção.
Ao referir-se a estas Atividades (1 e 2), a professora Rosinha identifica padrões de
números ímpares, relembra o trabalho desenvolvido com equações em situações que usam a
balança como forma de comparação de escritas diferentes. Já o professor Coruja, inicia sua
análise partindo da observação de configurações geométricas, pensando em completar a
bolinha que falta. Esta forma de pensar permite a exploração de conceitos de área,
potenciação que poderão ser retomados na generalização destes padrões.
Observamos que a professora Margarida ao ler a Atividade 1, percebeu que
tratava-se de uma sequência o que a fez pensar em conceitos de Progressões Aritméticas por
113 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
este motivo optou em utilizar a fórmula 1aan (n-1)r. Em sua resolução identifica o termo
referente à razão r = 2, 1a = 1 e na termo a ser descoberto.
Mesmo identificando os valores de cada termo que compõe a fórmula ela não
conseguiu avançar e responder a questão que solicitava a escrita de uma fórmula que
representasse a sequência dada.
Sobre este procedimento percebemos que o conhecimento apresentado pela
professora Margarida aproxima-se do que Devlin (1998) define como manipulação simbólica
da Matemática, por meio de regras sem a construção de significados.
Ainda retomando as reflexões destes Professores estas seis Atividades iniciais
observa-se que elas demandam maior tempo em seu desenvolvimento por necessitarem de
experimentação, de observação da regularidade apresentada nos padrões, num processo de
construção do pensamento, retomando conceitos sobre representações aditivas, multiplicativas
ou até recursivas. Corroboram assim com o que preconizam os estudos de Vale (2011) ao
mostrarem que Atividades como estas permitem a experimentação como forma de construção
da linguagem algébrica por serem ricas ao envolverem diferentes conceitos na construção da
generalização.
As Atividades 4, 5, 6 e 7 compõem o segundo grupo de Atividades de padrões
desta Situação de Aprendizagem, nas quais segundo orientações contidas no Caderno do
Professor, espera-se que os alunos se apoiem nas três Atividades anteriores e encontrem a
fórmula que represente a generalização expressa por meio das bolinas.
Observamos que a professora Rosinha e o professor Pardal mostraram-se
preocupados em explicar como desenvolvem estas Atividades em suas aulas. Assim
resolveram as questões propostas como se estivessem ensinando a entrevistadora, fazendo
perguntas e respondendo. Nestas explicações pudemos observar os conhecimentos que
procuramos para esta investigação: conhecimentos do conteúdo, do ensino, do aluno e do
currículo.
Na resolução desta segunda sequência de Atividades, a ideia proposta baseia-se no
princípio multiplicativo, organizando as sequências em linhas e colunas, completando a
bolinha que falta.
114 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Nos protocolos analisados percebe-se que a professora Rosinha e o professor
Coruja reconhecem este objetivo, mostrando conhecimento do conteúdo e do currículo.
Nas palavras do professor Coruja sobre a construção de uma escrita algébrica que
represente o que se vê, vai ao encontro do que preconiza o NCTM (2000) quanto ao
desenvolvimento das ideias Matemáticas que podem ser representadas em uma variedade de
formas: imagens, materiais concretos, tabelas, gráficos, números e letras símbolos, e assim
por diante.
Quadro3 - Síntese dos protocolos de resoluções
Comparativo dos Protocolos de Resolução das Atividades do Instrumento Definitivo
Pro
fess
ora
Rosi
nha
Atende satisfatoriamente a proposta
da Atividade, identifica padrões
formados por números ímpares.
Apoia-se na observação das
regularidades figurais, explora a
diferença entre construção de números
ímpares e pares.
115 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
P
rofe
ssora
Mar
gar
ida
Apoia-se em conceitos de PA, mostra
entendimento e clareza do que é
solicitado nas Atividades, porém não
consegue resolvê-las.
Percebemos a estratégia adotada pela
professora, que corrobora com os
estudos apresentados por Vale (2000)
ao referir-se à forma de condução das
atividades propostas. Neste caso
percebemos a utilização das atividades
como tarefas aritméticas.
Pro
fess
or
Coru
ja
Atende satisfatoriamente à proposta
da Atividade, apoia-se na visualização
de padrões geométricos por meio de
completamento da figura.
Esta forma de resolução permite a
aproximação dos conceitos numéricos
e geométricos com a álgebra.
Pro
fess
ora
Ro
sin
ha
Atende satisfatoriamente à proposta
da Atividade.
Utiliza as relações matemáticas, como
previsto nas atividades de uma
Sequencia Didática que apresentam
nível crescente de dificuldade.
Pro
fess
ora
Mar
gar
ida
Não respondeu
116 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
Pro
fess
or
Co
ruja
Atende satisfatoriamente à proposta
da Atividade.
Utiliza a propriedade distributiva da
multiplicação em relação à adição.
Aprofundando assim conceitos
algébricos.
Atribuiu valores 1, 2 e 3 para n na
expressão 4n-1 colocando reticências,
em seguida calculou os valores n=1 e
n=2 na expressão 3n+(n-1). Em
seguida igualou as expressões 3n+(n-
1) e 4n-1 e provou que elas são iguais.
Pro
fess
ora
Rosi
nha
Atende satisfatoriamente à proposta
da Atividade.
Considerou “n, a base da figura” e
substituiu n por 3, 4 e 5 fazendo para
cada caso, os cálculos. Em seguida
escreveu a expressão n(n-2) e a
desenvolveu.
Pro
fess
ora
Mar
gar
ida
Não respondeu
117 CAPÍTULO IV Luciane Ramos Américo
P
rofe
sso
r C
oru
ja
Atende satisfatoriamente à proposta
da Atividade.
Considerou a noção de área e atribuiu
valores a expressão n²+2n e chamou
de “linha”, escrevendo n(n+2) e
atribuiu valores. Novamente igualou
as expressões n²+2n com n(n+2) e
demonstrou que são iguais.
Fonte: A pesquisadora
Neste Capítulo apresentamos as análises realizadas por meio das entrevistas feitas
com os três professores de matemática, baseadas nos áudios e nos protocolos de resoluções
das Atividades sobre o tema: “Aritmética com Álgebra: as letras como números” que nos
permitiram construir as considerações finais sobre esta pesquisa apresentadas no Capítulo V
das considerações finais sobre esta pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a construção desta pesquisa, tomou-se como problemática inicial as
dificuldades encontradas por esta pesquisadora durante alguns anos de docência ao aprofundar
com seus alunos conceitos sobre a generalização de padrões e regularidades. Esta mesma
dificuldade pode ser observada no trabalho de outros docentes, por meio da formação
continuada e de acompanhamento pedagógico realizado em escolas da rede pública estadual
assistidadas pelo Núcleo Pedagógico.
Ao analisar os resultados apresentados pelos alunos do 8ºano em avaliações
externas, em atividades sobre o tema padrões e regularidades, pode-se constatar por meio dos
dados apresentados pela Secretaria de Educação que os alunos não responderam de forma
correta as atividades propostas sobre o tema padrões e regularidades, objeto de estudo desta
pesquisa. Pensando em dificuldades, direcionamos o estudo para o ensino, mais
especificamente para o conhecimento apresentado pelos docentes sobre o tema proposto.
Esta observação nos levou a questionar quais poderiam ser as causas da
dificuldade docente em obter êxito ao desenvolverem as atividades propostas com seus
alunos? Seria a forma de apresentação dos conteúdos neste material didático oferecido às
escolas da rede pública estadual? Falta de conhecimento específico do conteúdo? Ou
desconhecimento da gestão da sala de aula para o desenvolvimento de tais atividades?
Além destas possibilidades, também consideramos ao analisar os resultados
apresentados nas avaliações externas, a forma de desenvolvimento destes conteúdos em sala
de aula e percebemos que os questionamentos e justicativas (sobre o ensino ou sobre a
aprendizagem) podem ser muitos.
Por este motivo, o objetivo escolhido para esta pesquisa foi a investigação sobre
o conhecimento docente sobre o processo de generalização de padrões e regularidades. Desta
forma, este trabalho buscou em seu desenvolvimento subsídios que nos permitissem
responder: Quais conhecimentos os professores de matemátia evidenciam ao resolverem as
atividades propostas nos Cadernos do Aluno de Matemática do 8º ano sobre o tema padrões e
regularidades?
119 CAPÍTULO V Luciane Ramos Américo
Esta pergunta tornou-se o centro desta investigação e nossa hipótese partiu do
pressuposto que os professores observados conhecem e utilizam os materiais curriculares
disponibilizados pela Secretaria de Educação desde o ano de 2008. Esta observação não nos
permite afirmar como estes materiais são utilizados e quais conhecimentos os professores
possuem sobre as atividades propostas.
Corroborando com as observações apresentadas inicialmente como problemática
desta pesquisa, buscou-se por meio da revisão bibliográfica trabalhos que tivessem o mesmo
objeto matemático – generalização algébrica por meio de padrões e regularidades, e estudo
sobre o conhecimento docente.
Neste levantamento pudemos verificar por meio das pesquisas que a dificuldade
docente é um tema real e que desperta a preocupação de vários pesquisadores tanto no campo
algébrico como no pedagógico.
A maior parte dos trabalhos encontrados sobre o tema padrões e regularidades,
voltam-se à aprendizagem do aluno, procuram analisar as dificuldades apresentadas por estes
ao generalizarem o saber matemático. As pesquisas que mais se aproximaram de nossas
investigações com contribuições sobre o conhecimento docente e a Álgebra foram
apresentadas em nossa revisão bibliográfica.
Como fundamentação teórica buscou-se para esta investigação autores que
estudam aspectos sobre o conhecimento docente como Bernard Charlot (2005) e Lee Shulman
(1996) e autores que estudam a generalização algébrica apresentada nos padrões e
regularidades.
Dentre eles trouxemos para este trabalho pesquisadores que são educadores
matemáticos como António Borralho (2009), Isabel Valle (2011) e Luis Radford (2006) que
além de estudar a Álgebra por meio do ensino de padrões e regularidades, também estudam
sobre o trabalho docente.
Os aportes teóricos tanto pedagógicos quanto específicos do saber matemático
nortearam os procedimentos metodológicos, direcionando o quê, quando e como realizar cada
etapa deste processo de forma a evidenciar dados de uma pesquisa qualitativa.
Para a subsidiar nossa investigação sobre o saber docente e o conhecimento destes
sobre o tema desta pesquisa, escolhemos a Situação de Aprendizagem 5: “Aritmética com
120 CAPÍTULO V Luciane Ramos Américo
Álgebra: as letras como números” apresentada no Caderno do Aluno do 8º ano do Ensino
Fundamental da rede pública estadual de São Paulo, por conter diversas atividades formadas
por padrões e regularidades e que possuem por objetivo promover por meio da investigação e
experimentação a construção de uma generalização algébrica que permita representar
qualquer termo da sequência dada.
Esta observação ocorreu em dois momentos: sob a forma de entrevistas, com
algumas perguntas pessoais sobre a experiência docente e outras fundamentadas nos
referenciais teóricos que direcionavam a observação dos conhecimentos investigados.
O primeiro momento das entrevistas contou com a participação de dois
professores efetivos em Matemática na rede estadual de ensino de São Paulo (projeto piloto)
que serviu para ajustarmos as observações, as perguntas e as questões sobre os conhecimentos
que queríamos observar.
Por inexperiência desta pesquisadora, perdeu-se um dos intrumentos piloto. No
momento de uma das entrevistas, ao perceber que a professora Penélope apresentava pouco
conhecimento curricular e pedagógico, a pesquisadora que também era a entrevistadora,
tornou o momento da entrevista em orientação pedagógica.
Para nossas análises do Instrumento Definitivo, consideramos o segundo
momento de entrevistas que ocorreu no final do ano letivo de 2015, com três professores
efetivos em Matemática, da rede pública estadual de São Paulo. Convidamos professores que
tivessem mais de 10 anos de magistério na rede pública e que conheciam e utilizavam as
atividades contidas no “Caderno dos Alunos”.
No capítulo IV, foram apresentado trechos da entrevista de cada professor,
extraídos das gravações em áudio e dos registros de protocolos de resolução das atividades,
para que pudessem subsidiar a categorização dos Conhecimentos matemáticos para o ensino
da Álgebra por meio da Generalização de Padrões Algébricos tomando como referência os
estudos de Ball e seus colaboradores (2008) sobre as categorias de análises do conhecimento
docente.
Buscamos indícios de conhecimentos do conteúdo sobre generalizações algébricas
(Conhecimento comum sobre Álgebra, Conhecimento especializado sobre o tema proposto e
Conhecimento no horizonte matemático) e Conhecimento pedagógico sobre generalizações
121 CAPÍTULO V Luciane Ramos Américo
algébricas (Conhecimento do conteúdo e os estudantes, Conhecimento do conteúdo e o ensino
da álgebra e Conhecimento curricular).
Todo este procedimento para que pudéssemos responder à questão de pesquisa
que mobilizou esta investigação: “Quais conhecimentos os professores de matemática
evidenciam ao resolverem as atividades propostas no Caderno do Aluno de Matemática – 8º
ano sobre Padrões e Regularidades?”.
Confirmando nossa hipótese inicial de que embora os professores participantes
desta pesquisa tivessem conhecimento das atividades apresentadas, observamos no momento
da entrevista certo desconforto ao explicar os procedimentos adotados para a resolução.
Percebemos que apesar deste material curricular estar disponibilizado a todos os alunos e
professores desde o ano de 2008, ainda existem dificuldades, para estes professores, em
compreendê-lo.
Dos três professores entrevistados, um deles mantém-se fiel à forma como
ministrava suas aulas há 30 anos. Neste sentido, prefere ministrar suas aulas seguindo o livro
didático de sua preferência, utilizando em aulas conceitos, procedimentos e estratégias a partir
de exemplos. Esta forma de agir corrobora com o que alguns pesquisadores chamam de
utilização da álgebra como objeto matemático em si, tal como Radford (2011) afirma como
sendo o ensino por meio da aplicação automática de regras prejudicando a construção do
pensamento algébrico e da construção de significados aos símbolos.
Assim utiliza as atividades propostas nos Cadernos do Aluno como complemento
e justifica-se dizendo que elas não atendem às necessidades de aprendizagem dos alunos. Esta
atitude mostra falta de compreensão dos pressupostos apresentados neste material curricular,
além de uma prática da educação matemática diferente da preconizada pelos pesquisadores
que apresentamos neste trabalho.
Percebemos também a dificuldade em resolver as atividades propostas, mesmo
podendo utilizar-se de conhecimentos específicos de conceitos que ainda não são necessários
nestas atividades.
Os outros dois professores afirmam partir das atividades contidas nos Cadernos e
estimulam o processo investigativo e exploratório. Segundo Radford (2011) é a construção de
122 CAPÍTULO V Luciane Ramos Américo
um processo de significação, momento em que, no nosso estudo, os professores refletem
sobre sua ação.
Percebemos que os professores entendem a necessidade de conhecer os caminhos
sugeridos para a construção de conceitos e mostraram-se abertos a novos conhecimentos.
Estas afirmações puderam ser percebidas durante a entrevista no momento das explicações
das atividades, por meio dos comentários sobre os conhecimentos mobilizados em cada etapa,
na forma de condução das intervenções.
A leitura das entrevistas evidenciou o que aponta Charlot (2005) ao referir-se ao
conhecimento docente, que mesmo considerando que todo docente carrega em sua trajetória
conhecimentos que se constróem empiricamente por meio da prática diária e que muitas vezes
não são exteriorizados, estes não são suficientes para o desenvolvimento de compêtencias
necessárias para o ensino.
Em nossas análises pudemos observar a fragilidade do conhecimento docente
presente tanto no aspecto pedagógico, quanto no aspecto específico do conteúdo matemático.
Muito ainda temos que avançar no desenvolvimento destes saberes e da prática reflexiva que
nos permite como docentes realizar leitura sobre nossas necessidades de formação. Este fato
confirma a complexidade do ato de ensinar citado por Ponte (2003), que vai além da
transmissão de conhecimentos.
Esta fragilidade reflete diretamente na aprendizagem, no gosto pela matemática
como uma ciência estruturante, necessária ao desenvolvimento humano. Compromete o
desenvolvimento de competências de comunicação, conjectura, generalização, argumentação
e prova, segundo Vale (2011).
A Matemática representa parte do patrimônio cultural da humanidade e um modo de
pensar. A sua apropriação é um direito de todos. Neste sentido, seria impensável que
não se proporcionasse a todos a oportunidade de aprender Matemática de um modo
realmente significativo [...]. (SÃO PAULO, 2014, p. 3).
Sobre os conhecimentos matemáticos observados também percebemos que,
embora tenhamos diferentes estudos que nos apontem os conhecimentos que devem ser
oportunizados na construção do pensamento algébrico por meio da generalização de padrões e
regularidades, muitos professores ainda desconhecem esta prática. Também percebemos que a
presença de atividades diferenciadas em materiais curriculares não garante a sua utilização de
maneira correta.
123 CAPÍTULO V Luciane Ramos Américo
Por este motivo percebemos na formação continuada nossa maior aliada e
sugerimos que novas pesquisas possam ser realizadas sobre este tema envolvendo a prática
reflexiva do professor sobre os processos de construção do pensamento algébrico. Muito
ainda temos que avançar na construção do conhecimento docente, principalmente no
conhecimento específico dos conceitos matemáticos.
Percebemos que muitas são as pesquisas, e os trabalhos acadêmicos voltados à
educação algébrica. Mas o caminho a ser percorrido para aproximar universo acadêmico e
escola básica ainda é longo, mesmo proporcionando o uso de materiais curriculares
diversificados a formação continuada é fundamental e deve acontecer com frequência. Esta
investigação nos oportunizou perceber as grandes lacunas existentes no trabalho docente
resultantes da falta de conhecimento, da falta de hábito em pesquisar, em mobilizar-se em
buscar novas formas de ensino com vistas a promover o desenvolvimento das competências
desejadas de um cidadão que pensa e questiona.
Espera-se que este trabalho possa contribuir para a reflexão sobre a prática
docente e que novas pesquisas possam nos aproximar do fazer pedagógico. Nesta investigação
sobre os conhecimentos docentes convidamos professores de diferentes escolas, e percebemos
as diferentes apreensões sobre o conteúdo estudado. Buscamos respostas para a pergunta que
mobilizou esta investigação e percebemos que muitos são os conhecimentos docentes e as
fragilidades existentes, que estão diretamente ligadas ao alcance dos objetivos esperados para
a aprendizagem.
Do ponto de vista matemático, percebemos que o domínio do objeto de ensino,
generalização de padrões, por parte dos professores participantes desta pesquisa, não é
completo, o conhecimento no horizonte matemático apresentado por Ball e seus
colaboradores (2008) é superficial. A falta de clareza neste percurso faz com que os
professores sintam que este processo de construção esta incompleto. Da mesma forma, ficou
evidente na entrevista com a professora Margarida seu conhecimento técnico baseado em
procedimentos nos quais a inclusão destes em uma situação-problema dificultou sua
resolução.
Segundo PCN (BRASIL, 1998) temos que o ensino da matemática deve favorecer
o desenvolvimento de habilidades que relacionem os conceitos matemáticos entre si,
oportunizando a construção do pensamento por meio da observação, investigação e
experimentação de forma a estabelecer conjecturas sobre suas conclusões.
124 CAPÍTULO V Luciane Ramos Américo
Desta forma, torna-se significativo o uso de atividades que permitam a
exploração, priorizando a construção do pensamento e os procedimentos como forma de
expressão deste pensar.
Chego ao final desta pesquisa, considerando dois aspectos significativos: um deles
sobre as percepções colhidas ao longo deste trabalho, provenientes de todo o estudo
oportunizado pelas buscas dos referenciais teóricos, pela revisão de literatura que nos
permitiram o desenvolvimento e a ampliação do olhar investigativo sobre as questões que
podem influenciar o trabalho docente. E o outro pelo amadurecimento profissional que tais
estudos nos permitiram atingir.
Percebemos que, embora seja vasto o campo de pesquisa ainda temos muitos
aspectos a considerar sobre o desenvolvimento do saber docente, os estudos já realizados
sobre este tema, como os de Charlot (2005). Estas investigações nos permitem considerar que
estas pesquisas precisam ganhar profundidade iluminadas pelo que nos mostra a teoria e a
prática docente vivenciada diariamente.
No universo escolar entre o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos e o
saber docente residem inúmeros aspectos a se considerar de naturezas distintas, que dificultam
o desenvolvimento de uma boa aula e da aprendizagem, como destacado por Nogueira (2015).
A herança de uma formação, por parte dos professores participantes desta
pesquisa, que priorizou o desenvolvimento de técnicas e procedimentos de cálculos em
detrimento da compreensão e da investigação que permitam clareza nos resultados,
percebemos que apresenta-se muito forte, o conhecimento docente sobre aspectos
pedagógicos da educação matemática mas, os conhecimentos no horizonte matemático ainda
precisam ser apropriados para que os objetivos da aprendizagem possam ser alcançados, como
preconiza Radford (2015).
Desejamos que nossos alunos sejam investigadores e questionadores, mas muito
ainda temos que aprender sobre como ser professores, que oportunizem em suas aulas tal
comportamento. Neste aspecto os estudos de Ball e seus colaboradores (2008) muito nos
auxiliaram com suas categorias de análises sobre o conhecimento docente.
Percebemos na formação continuada dos professores em exercício de suas funções
um berço rico de investigação e experimentação sobre esta prática.
125 CAPÍTULO V Luciane Ramos Américo
Por este motivo, finalizamos este trabalho certo de que não chegamos ao fim desta
investigação sobre os conhecimentos docentes, percebemos a necessidade da formação
continuada com a intenção de oportunizar entendimento do material curricular disponível para
uso em sala de aula, que aproxime os referenciais teóricos da prática docente.
Como integrante de um Núcleo de Formação Pedagógica, trago para meu trabalho
a constante investigação sobre este saber docente, reflexões que me permitiram iniciar esta
pesquisa e que me trouxeram ao caminho do mestrado acadêmico. Por sua vez, estas nos
mostram as fragilidades existentes, embora o tratamento de tais considerações ainda
representem interrogações a serem estudadas.
Sugerimos para próximas pesquisas a observação de um grupo de professores
após a participação em curso, na qual fossem oportunizados os conhecimentos observados
nesta pesquisa e que utilizamos em nossas categorias de análises sobre a álgebra e as
generalizações na matemática. Esta ação seria garantia de mudança na prática docente? Que
conhecimentos poderiam ser observados neste novo quadro?
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ANEXOS
ANEXO 1 - ROTEIRO DE ENTREVISTA
ESTUDO SOBRE OS CONHECIMENTOS DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA NA
CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE GENERALIZAÇÃO
Pesquisador(a) Luciane Ramos Américo, aluna do curso de Pós-Graduação em Educação
Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.
1ª etapa Entrevista
Apresentação e desenvolvimento profissional (percurso profissional e relação com aspectos
do conhecimento profissional)
Dados pessoais prévios à entrevista
Nome:________________________________________________ Idade: ____ anos
Tempo de magistério: ______ anos
Situação Funcional - categoria: ( ) efetivo ( ) contratado
Formação acadêmica/ titulação:
Formação complementar:
Disciplina(s) que leciona / ano: ___________________________________________
2ª etapa Profissão docente:
Há quanto tempo leciona na atual escola:___________________________________
Aprender a ensinar.
Como entende a relação entre o conhecimento matemático do professor e o ensino da
matemática? Se lhe pedissem para encontrar semelhanças e diferenças entre saber
Matemática‟ e saber ensinar Matemática‟ o que diria?
Como se prepara e ministra suas aulas de matemática? Como você mobiliza seus saberes
rumo à estruturação do seu trabalho pedagógico?
Quando tem que introduzir um assunto novo, como procede habitualmente? Em quais
recursos se apoia, essencialmente?
O Currículo e desenvolvimento curricular
O que sabe sobre o Currículo da SEESP apresentado nos Cadernos do Aluno e do
Professor?
Que temas/conceitos considera mais importantes no currículo do 7.º ano? Porquê?
Como analisa a álgebra apresentada no 7º ano do Ensino Fundamental segundo a
proposta curricular da SEESP?
Como entende o processo de generalização algébrica proposto nas atividades da Situação
de Aprendizagem 5 - 1º Bimestre do 7º ano?
Outras questões importantes que gostaria de expressar
131 ANEXOS Luciane Ramos Américo
ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Em acordo com a Resolução n° 196/96 da CONEP (Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa) e Regimento dos Comitês de Ética em Pesquisa da PUC-SP, “toda pesquisa que,
individual ou coletivamente, envolva o ser humano, de forma direta ou indireta, em sua
totalidade ou em partes dele, incluindo o manejo de informações ou materiais”, deve ser
submetida à apreciação e acompanhamento do CEP e em cumprimento à Resolução CNS/MS
n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Eu, _______________________________,
nacionalidade ________________, idade ___ anos, estado civil __________, profissão
_______________________________, endereço ___________________________________,
RG ______________, estou sendo convidado a participar de um estudo denominado “Estudo
sobre os conhecimentos dos professores de matemática na construção do processo de
Generalização.”, cujos objetivos e justificativas são: observar como os professores mobilizam
seus saberes, quais conhecimentos pedagógicos são necessários para melhor condução do
conteúdo previsto, como interagem com o material didático, por meio dos registros escritos,
das leituras, resoluções compartilhadas e dos áudios. A minha participação no referido estudo
será no sentido de colaboração voluntária e a minha recusa em participar não acarretará
qualquer penalidade ou modificação na forma em que é atendido(a) pelo pesquisador.
Declaro ter Recebido os esclarecimentos necessários sobre os possíveis desconfortos e
riscos decorrentes do estudo, levando-se em conta que é uma pesquisa, e os resultados
positivos ou negativos somente serão obtidos após a sua realização. Por tratar-se de uma
pesquisa sobre os saberes docentes, este estudo não oferece riscos e os resultados da pesquisa
estarão à disposição quando finalizada e somente serão utilizados com minha permissão. Bem
como meus dados serão mantido em sigilo. O referido projeto é de responsabilidade da
mestranda Luciane Ramos Américo sob a orientação da Professora Doutora Barbara Lutaif
Bianchini – PUCSP. Será assegurada a assistência durante toda pesquisa, bem como acesso a
todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas conseqüências.
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado e
compreendido a natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livre
consentimento em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor
econômico, a receber ou a pagar, por minha participação e caso ocorra algum dano decorrente
da minha participação no estudo, serei devidamente indenizado, conforme determina a lei. Em
caso de reclamação ou qualquer tipo de denúncia sobre este estudo devo ligar para o CEP
PUCSP (11) 36708466 - e-mail: [email protected]
São Vicente,____ de ________________de 2015.
________________________________________________
Nome e assinatura do sujeito da pesquisa
________________________________________________
Pesquisadora Luciane Ramos Américo
________________________________________________
Orientadora Dra. Barbara Lutaif Bianchini – PUC/SP
132 ANEXOS Luciane Ramos Américo
ANEXO 3 - AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
São Vicente, ____ de _______________ de 2015.
Ao
Comitê de Ética em Pesquisa da PUC/SP - CEP-PUC/SP
A/c. Prof. Dr. Edgard de Assis Carvalho
Coordenador do CEP-PUC/SP
Autorização para realização de pesquisa
Eu, __________________________________ diretor/coordenador/reitor/responsável da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP. Venho por meio desta, informar a
V.Sa. que autorizo o(a) pesquisador(a) Luciane Ramos Américo aluno(a) do curso de Pós
Graduação em Educação Matemática_ da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –
PUC/SP a realizar/desenvolver a pesquisa intitulada “Estudo sobre os conhecimentos dos
professores de Matemática na construção do processo de generalização”, sob orientação do
Professora Dra. Barbara Lutaif Bianchini.
Declaro conhecer e cumprir as Resoluções Éticas Brasileiras, em especial a
Resolução CNS 466/12. Esta instituição está ciente de suas coresponsabilidades como
instituição coparticipante do presente projeto de pesquisa, e de seu compromisso no resguardo
da segurança e bem-estar dos sujeitos de pesquisa nela recrutados, dispondo de infraestrutura
necessária para a garantia de tal segurança e bem estar.
__________________________________________ “Assinatura e carimbo do responsável institucional”