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370 Braz. J. vet. Res. anim. Sci., São Paulo, v. 43, n. 3, p. 370-378, 2006 Cristiane Macedo del Rio do VALLE 1 Rodrigo del Rio do VALLE 2 Frederico Ozanan de Barros MONTEIRO 3 Paulo Henrique Gomes de CASTRO 4 Renato VALENTIM 2 Reinaldo de Amorim CARVALHO 4 José Augusto Pereira Carneiro MUNIZ 4 Pedro Primo BOMBONATO 1 Correspondência para: CRISTIANE MACEDO DEL RIO DO VALLE Departamento de Cirurgia Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Universidade de São Paulo Av. Prof. Orlando Marques de Paiva, 87. Cidade Universitária Armando Salles Oliveira 05508-270 - São Paulo - SP [email protected] Recebido para publicação: 24/06/2004 Aprovado para publicação: 01/06/2005 Pelvimetria em macacos-da-noite (Aotus azarai infulatus – KUHL, 1820) 1 - Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, São Paulo - SP 2 - Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, São Paulo - SP 3 - Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista, Joaboticabal - SP 4 - Centro Nacional de Primatas – Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde Resumo Analisou-se os diâmetros pelvicos de 72 Aotus azarai infulatus, adultos, 42 machos e 30 fêmeas não prenhes, correlacionando-os com o dimorfismo sexual, a biometria corpórea e a origem dos animais por meio de radiografias em projeção ventro-dorsal, digitalizadas. As médias verificadas foram: para o comprimento do corpo 30,94 cm; comprimento da cauda 35,63 cm; perímetro do tórax 18,97 cm; perímetro da pelve 17,11 cm e o peso 0,96 Kg, em média. As médias dos diâmetros pélvicos foram de 2,64 cm para o diâmetro diagonal direito; 2,66 cm para o diâmetro diagonal esquerdo; 1,97 cm para o diâmetro biilíaco médio; 1,41 cm para o diâmetro biilíaco superior; 1,58 cm para o diâmetro biilíaco inferior; 2,48 cm para o diâmetro sacro-púbico e 3,85 cm 2 para a área de entrada da pelve. Concluiu-se que, tanto nos machos quanto nas fêmeas, a pelve de Aotus azarai infulatus pode ser classificada como dolicopélvica, tendo-se verificado dimorfismo sexual pélvico nos adultos. Palavras-chave: Pelve. Primatas. Macacos. Introdução Dentre as diversas espécies utilizadas em pesquisas biomédicas, os primatas do gênero Aotus - ILLIGER, 1811, representam excelentes modelos experimentais, sendo recomendados como modelos pelo “World Health Organization” para estudos da malária 1 em testes pré-clínicos de sua vacina e fisiologia da visão 2 , mas também em outros tipos de estudo, assim como a adaptação do Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax , avaliação de drogas, polimorfismo e variação dos antígenos parasitas, patologia e estudos básicos de seu sistema imune 1 . No entanto, há certa carência em pesquisas básicas que implementem um programa reprodutivo que vise o estabelecimento de uma colônia que sustente as pesquisas, diminuindo, ou até mesmo evitando a retirada destes animais da natureza 1 . No âmbito tocológico um dos principais obstáculos que o feto enfrenta, no momento do parto, está representado pelo trecho cranial da pelve 3 , que por estar constituída por elementos osteoligamentosos e com rigidez considerável para poder desempenhar múltiplas funções 4,5 , pode tornar-se um fator importante na predisposição de dificuldades obstétricas. O estudo das medidas pélvicas, denominado de pelvimetria 4 , constitui um método de auxílio ao diagnóstico das condições pélvicas, que podem facilitar, atrapalhar, ou até mesmo impedir a reprodução. A identificação destes problemas através de estudos radiográficos 083_04.pmd 9/10/2006, 12:51 370

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Cristiane Macedo del Rio doVALLE1

Rodrigo del Rio do VALLE2

Frederico Ozanan de BarrosMONTEIRO3

Paulo Henrique Gomes deCASTRO4

Renato VALENTIM2

Reinaldo de AmorimCARVALHO4

José Augusto PereiraCarneiro MUNIZ4

Pedro Primo BOMBONATO1

Correspondência para:CRISTIANE MACEDO DEL RIO DO VALLEDepartamento de CirurgiaFaculdade de Medicina Veterinária eZootecniaUniversidade de São PauloAv. Prof. Orlando Marques de Paiva, 87.Cidade Universitária Armando SallesOliveira05508-270 - São Paulo - [email protected]

Recebido para publicação: 24/06/2004Aprovado para publicação: 01/06/2005

Pelvimetria em macacos-da-noite (Aotus azaraiinfulatus – KUHL, 1820)

1 - Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária eZootecnia da Universidade de São Paulo, São Paulo - SP2 - Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de MedicinaVeterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, São Paulo - SP3 - Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animalda Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade EstadualPaulista, Joaboticabal - SP4 - Centro Nacional de Primatas – Secretaria de Vigilância Sanitária doMinistério da Saúde

Resumo

Analisou-se os diâmetros pelvicos de 72 Aotus azarai infulatus, adultos,42 machos e 30 fêmeas não prenhes, correlacionando-os com odimorfismo sexual, a biometria corpórea e a origem dos animais pormeio de radiografias em projeção ventro-dorsal, digitalizadas. Asmédias verificadas foram: para o comprimento do corpo 30,94 cm;comprimento da cauda 35,63 cm; perímetro do tórax 18,97 cm;perímetro da pelve 17,11 cm e o peso 0,96 Kg, em média. As médiasdos diâmetros pélvicos foram de 2,64 cm para o diâmetro diagonaldireito; 2,66 cm para o diâmetro diagonal esquerdo; 1,97 cm para odiâmetro biilíaco médio; 1,41 cm para o diâmetro biilíaco superior;1,58 cm para o diâmetro biilíaco inferior; 2,48 cm para o diâmetrosacro-púbico e 3,85 cm2 para a área de entrada da pelve. Concluiu-seque, tanto nos machos quanto nas fêmeas, a pelve de Aotus azaraiinfulatus pode ser classificada como dolicopélvica, tendo-se verificadodimorfismo sexual pélvico nos adultos.

Palavras-chave:Pelve.Primatas.Macacos.

Introdução

Dentre as diversas espécies utilizadasem pesquisas biomédicas, os primatas dogênero Aotus - ILLIGER, 1811, representamexcelentes modelos experimentais, sendorecomendados como modelos pelo “WorldHealth Organization” para estudos damalária1 em testes pré-clínicos de sua vacinae fisiologia da visão2, mas também emoutros tipos de estudo, assim como aadaptação do Plasmodium falciparum ePlasmodium vivax, avaliação de drogas,polimorfismo e variação dos antígenosparasitas, patologia e estudos básicos de seusistema imune1.

No entanto, há certa carência em pesquisasbásicas que implementem um programareprodutivo que vise o estabelecimento de uma

colônia que sustente as pesquisas, diminuindo,ou até mesmo evitando a retirada destesanimais da natureza1.

No âmbito tocológico um dosprincipais obstáculos que o feto enfrenta, nomomento do parto, está representado pelotrecho cranial da pelve3, que por estarconstituída por elementos osteoligamentosose com rigidez considerável para poderdesempenhar múltiplas funções4,5, podetornar-se um fator importante napredisposição de dificuldades obstétricas.

O estudo das medidas pélvicas,denominado de pelvimetria4, constitui ummétodo de auxílio ao diagnóstico dascondições pélvicas, que podem facilitar,atrapalhar, ou até mesmo impedir areprodução. A identificação destesproblemas através de estudos radiográficos

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ocorrer durante o parto e, conseqüentemente,a seleção de animais com melhorescaracterísticas para a reprodução, colaborandona criação de primatas não humanos emcativeiro, e até mesmo em vida livre.

O objetivo deste estudo é realizarmensurações pélvicas, in vivo, de “macacos-da-noite”, comparando os sexos e suasorigens (cativeiro ou vida livre) obtendodados morfológicos da pelve destes animais,que auxiliem sua classificação tocológicavisando melhoria no manejo reprodutivodas colônias e / ou a própria preservaçãoda espécie.

Materiais e Métodos

Foram utilizados 72 animais, 42machos e 30 fêmeas, da espécie Aotus azaraiinfulatus, mantidos na colônia de primatas nãohumanos do Centro Nacional de Primatas– CENP/SVS/MS, localizado em umareserva biológica de mata com vegetaçãotípica da floresta amazônica, com área deaproximadamente 25 hectares, no municípiode Ananindeua, Pará, Brasil, (latitude 1º38’26’’e longitude 48º38’22’’).

Os animais são mantidos em casaiscom suas crias jovens e recém nascidas, emgaiolas que medem 3,80 metros decomprimento x 1,10 metros de largura x2,40 metros de altura, em sistema “indoor”de galpão de alvenaria, com alimentaçãocomposta por frutas variadas, legumes, leite,ovos, ração canina (com 28% - 30% deproteína) e suplementos de vitaminas eminerais misturados à água de beber.

Os animais são identificados atravésde “microchip” e por tatuagem na faceinterna do membro pélvico direito. Cadaanimal tem um protocolo de cinco letras,de acordo com os registros do CENP. Asduas primeiras letras representam a espécie,quais sejam, AH, e as três últimas,representam o indivíduo.

As fêmeas utilizadas não estavamprenhes no momento do estudo, conformeverificação efetuada com exame ultra-sonográfico em equipamento da marca

GE®, modelo Logic® á 100 MP com sondaL 76, com transdutor linear de 7,5 mHz. Nocaso de detecção de prenhês, a radiografia ebiometria da pelve foram realizadas 30 diasapós o parto, e no caso de não ser constatadaprenhês, o exame foi realizado imediatamente.

A contenção física foi executada pelotratador, que devidamente paramentado,executou o serviço ainda com o animaldentro da gaiola. Os animais foram retiradosda gaiola e sedados com o uso de associaçãode 10 mg/kg de cloridrato de quetamina,0,2 mg/Kg de midazolan e 0,2 mg/Kg delevomepromazina, por via intramuscularsegundo protocolo recomendado porVALLE (2003) (informação verbal), deforma que o animal permaneceu sedadodurante todo o procedimento.

Com os animais sedados, foi realizadaa pesagem em balança digital e executada atomada dos dados biométricos corpóreos.A biometria consistiu na tomada das medidasdo comprimento do corpo (da extremidaderostral do mento, com a cabeça voltada paratrás até a altura da articulação da 1ª vértebracaudal), do perímetro pélvico, (tomado comos membros pélvicos unidos) e da cauda.As medidas foram obtidas com fita métricapadronizada.

As radiografias pélvicas foramrealizadas em projeção ventro-dorsal,conforme modelo preconizado por Schebitze Wilkens6, com a utilização de umequipamento da marca Intecal®, modelo CR-7 e potência de 100 KV e 100 mA e foramprocessadas manualmente. Foi colocadajunto do animal, no ato da radiografia, umaplaca de metal de 3,1 cm de largura e 2,0cm de comprimento com a finalidade de secriar um parâmetro de unidade de medida,para corrigir as diferenças de projeção. Aplaca de metal foi medida com umpaquímetro de precisão.

Nas pelves foram feitas as mensuraçõesdas seguintes medidas: diâmetro biilíacosuperior (DBIS); diâmetro biíliaco inferior(DBII); diâmetro biilíaco médio (DBIM);diâmetro diagonal direito (DDD); diâmetrodiagonal esquerdo (DDE); diâmetro sacro-

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púbico (DSP) e área de entrada da pelve(AEP) (Figura 1).

O diâmetro biilíaco superior (AB) foimensurado traçando-se uma linha retatransversal ao diâmetro longitudinal da pelveno menor diâmetro da articulação sacro-ilíaca. O diâmetro biilíaco inferior (CD) foitomado traçando-se uma linha reta paralelaao diâmetro AB sendo este medido no localda junção ílio-púbica. Mensurou-se ainda,dois diâmetros diagonais, o direito que vaido ponto A até o D e o esquerdo, quecomeça no ponto B e vai até o C. No pontode interseção dos diâmetros diagonais eparalelo aos diâmetros biilíaco superior e aobiilíaco inferior foi traçado o terceirodiâmetro transversal, ou seja o biilíaco médio(E-F), que vai da face medial do ílio direitoao ílio esquerdo. Foi mensurado ainda, odiâmetro sacro-púbico (G-H) que foitomado a partir do ponto central dodiâmetro bi-ilíaco superior até a parte cranialda sínfise pubiana.

As imagens das radiografias, no nega-toscópio, foram digitalizadas com o auxíliode uma máquina fotográfica digital marcaSony®, modelo DSC-F717 Cyber-shotfixada em uma haste com eixo perpendicularfixo e mensuradas em com-putadorutilizando-se o programa KS 400 – Zeiss®.

Tendo-se os valores dos diâmetrospélvicos e da placa de metal em centímetro,calculou-se então as medidas dos diâmetrospélvicos em centímetros.

Partindo-se do pressuposto que apelve compunha um conjunto elípticoregular, conforme recomendado porOliveira4, a área da entrada pélvica (AEP)foi calculada utilizando-se a seguinte fórmulaAEP = (diâmetro bi-ilíaco médio/2) X(diâmetro sacro-púbico/2) X πππππ.

Os dados foram analisados peloprocedimento GLM do programa estatísticoSAS. O modelo matemático testou os efeitosdas variáveis sexo (M e F) e procedência (vidalivre, cativeiro e desconhecida) sobre asvariáveis com-primento do corpo, cauda,perímetro do tórax, perímetro da pelve,peso, DDD, DDE, DBIM, DBIS, DBII,

DSP e AEP.Correlações foram calculadas entre as

medidas de comprimento do corpo, cauda,perímetro do tórax, perímetro da pelve,peso, DDD, DDE, DBIM, DBIS, DBII,DSP e AEP. As correlações foram testadaspelo teste Fisher, considerando um nível designificância de 5%.

Resultados

Os dados obtidos neste estudo estãodescritos a seguir (Tabela 1 e 2).

Sumário estatísticoA análise de variância indica haver

diferenças significativas quando consideradaa origem dos animais (vida livre, cativeiroe desconhecida) somente em relação aoperímetro do tórax. A mesma indica haverdiferenças significativas quando consideradoo sexo dos animais (macho e fêmea) emrelação aos DDD, DDE, DBIM, DBIS,DBII, DSP e a AEP.

Os valores referentes aos coeficientesde correlação podem ser verificados nastabelas 3, 4 e 5.

Discussão

Derivaux e Ectors3 comentam que acircunferência pelviana está circunscrita“superiormente” pelo sacro e pelas vértebrascoccígeas, lateral e “inferiormente” peloscoxais, e “pôstero-lateralmente” peloligamento isquiático, sendo o coxalconstituído, pela reunião ao nível doacetábulo, de três ossos: ílio, púbis e ísquio,reunindo-se os dois coxais entre si, por umaanfiartrose, chamada sínfise pubiana,características estas evidenciadas nas pelvesde Aotus.

No tocante as diferenças morfológicasobservadas em relação ao formato da pelve,no que diz respeito ao dimorfismo sexual,Getty7, embora faça menção aos carnívoros,comenta que a entrada da pelve é muitooblíqua, sendo que na fêmea é quase circular,e oblíqua no macho, diferindo assim das

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Figura 1 – Esquema da pelve de Aotus azarai infulatus com marcação dos diâmetros estudados: AB – diâmetro biilíaco superior; CD – diâmetro biilíaco inferior; AD – diâmetro diagonal direito; BC – diâmetro diagonal esquerdo; EF – diâmetro biilíaco médio; GH – diâmetro sacro-púbico.

informações agora coletadas para o Aotus,onde machos e fêmeas tem pelves comformato elipsóide, em relação ao eixo crâniocaudal.

Quando da análise dos dadosobtidos nesta pesquisa, notou-se que emrelação à biometria corpórea, os resultadosreferentes ao comprimento do corpo, dacauda e os pesos verificados foramsemelhantes aos citados por Auricchio8, Baer,Weller e Kakoma2 et al.2 e Greenberg9, fatoeste que confere aos dados pélvicos, porinferência, elementos de sustentação do seupadrão de normalidade, ou seja, os animaisutilizados neste estudo tinham dimensõescorpóreas características da espécie,posicionando-se no centro da curvagaussiniana de normalidade. Estes resultadostambém indicam não existir dimorfismosexual aparente entre machos e fêmeas, paraestes dados citados.

Em relação ao formato da pelve,

através das médias encontradas, por ter sidoverificado que os diâmetros biilíaco médiossão menores do que os diâmetros sacro-púbicos, tanto nos machos quanto nasfêmeas, pode-se dizer que a pelve demacacos-da-noite (Aotus azarai infulatus) éclassificada como dolicopélvica.

Neste estudo, com os resultadosobtidos através da análise de variância, pode-se afirmar que as pelves de machos e fêmeasde Aotus azarai infulatus adultos sãosexualmente dimórficas, apesar de terem amesma conformação elíptica.

Com relação aos diâmetros pélvicos,todas as médias dos diâmetros forammaiores nas fêmeas em relação aos machos,tendo diferido dos diâmetros biilíacossuperiores e diâmetros biilíacos inferiorescitados por Ramadinha10 nos Leontopithecussp, que foram maiores nos machos do quenas fêmeas, indicando que naquela espécieas pelves dos machos possuem maior larguraque das fêmeas, fato este não identificadono material deste estudo, indicando haverdiferenças importantes na conformação dapelve entre os primatas, embora aquelasespécies estudadas e a espécie deste estudopossam ser classificadas como dolicopélvicas.

A área de entrada da pelve verificadafoi maior nas fêmeas do que nos machos,assim como citado por Schultz11 que relataainda maiores diferenças sexuais emorangotango e gorila, menor diferenças nosmacacos de pequeno porte e no homem ecomparativamente as menores diferençasnos gibões.

A análise de variância indica haverdiferenças significativas quando consideradaa origem dos animais somente em relaçãoao perímetro do tórax donde pode-se inferirque a origem dos animais não influencia notamanho da pelve de macacos-da-noite(Aotus azarai infulatus).

Os achados indicam haver diferençassignificativas quando considerado o sexo dosanimais em ralação ao DDD, DDE, DBIM,DBIS, DBII, DSP e AEP, o que demonstraque o sexo dos animais influencia nasmedidas pélvicas nos Aotus azarai infulatus. A

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análise de correlações indica haver correlaçõespositivas de alta intensidade entre algunsdiâmetros pélvicos como, por exemplo, entreo DBIM e a AEP e entre o DSP e a AEPsugerindo que o diâmetro biilíaco médio e odiâmetro sacro-púbico são os diâmetros maisimportantes para se verificar a área de entradada pelve.

O mesmo tipo de análise indica havercorrelações positivas de média intensidadeentre o peso e algumas medidas corpóreas eentre alguns diâmetros pélvicos, dondepodemos inferir que o peso é o parâmetrocorpóreo que mais se correlaciona com asmedidas corpóreas, ainda que considerandoque este fator sofre influência de outras

Tabela 1 – Relação das médias, desvios padrões (DP) e medianas dos valores biométricos corpóreos e peso de macacos-da-noite (Aotus azaraiinfulatus) segundo sexo e procedência (C= cativeiro, L= vida-livre, D= desconhecida), em relação às medidas do corpo, cauda,perímetro do tórax, perímetro da pelve e peso. Ananindeua, 2003

Tabela 3 – Valores referentes ao coeficiente de correlação (r) entre os DDD,DDE, DBIM, DBIS, DBII, DSP e AEP de macacos-da-noite (Aotus azarai infulatus). Ananindeua, 2004

DDD= Diâmetro diagonal direito; DDE= Diâmetro diagonal esquerdo; DBIM= Diâmetro biilíaco médio; DBIS= Diâmetro biilíaco superior;DBII= Diâmetro biilíaco inferior; DSP= Diâmetro sacro-púbico; AEP= Área de entrada da pelve

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Tabela 2 – Relação das médias, desvios padrões (DP) e medianas dos valores relativos à mensuração pélvica segundo sexo e procedência (C= cativeiro, L= vida-livre, D= desconhecida) de macacos-da-noite (Aotus azarai infulatus). Ananindeua, 2003

DDD= Diâmetro diagonal direito; DDE= Diâmetro diagonal esquerdo; DBIM= Diâmetro biilíaco médio; DBIS= Diâmetro biilíaco superior;DBII= Diâmetro biilíaco inferior; DSP= Diâmetro sacro-púbico; AEP= Área de entrada da pelve.Tabela 3 – Valores referentes ao coeficiente decorrelação (r) entre os DDD,DDE, DBIM, DBIS, DBII, DSP e AEP de macacos-da-noite (Aotus azarai infulatus). Ananindeua, 2004

Tabela 4 – Valores referentes ao coeficiente de correlação (r) entre o comprimento do corpo, comprimento da cauda, perímetro do tórax, perímetroda pelve e peso de macacos-da-noite (Aotus azarai infulatus). Ananindeua, 2004

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Tabela 5 – Valores referentes ao coeficiente de correlação (r) entre o comprimento do corpo, comprimento da cauda, perímetro do tórax, perímetro da pelve e peso e os DDD,DDE, DBIM, DBIS, DBII, DSP e AEP de macacos-da-noite (Aotus azarai infulatus). Ananindeua, 2004

variáveis que não somente as dimensõescorpóreas.

O teste indica haver correlaçõespositivas de baixa intensidade entre abiometria corpórea e as medidas pélvicas.Com os resultados podemos sugerir que abiometria corpórea não tem valor significativopara se predizer as medidas pélvicas.

Além disso, notou-se correlaçõesnegativas com tendência à nulidade, istoé, quando uma medida aumenta a outradiminui entre o perímetro da pelve e oDDD, DDE, DBIM, DBII, DSP e a AEP.Pode-se inferir que o perímetro externo dapelve não serve de parâmetro para se predizeros diâmetros pélvicos nos Aotus azarai infulatus.

Finalmente, cabe salientar a relevânciada pelvilogia como elemento preditório deriscos obstétricos ou mesmo como elementoconsiderado na instituição de programasespecíficos de manejo reprodutivo apoiadoem dados pelvimétricos. Vários trabalhosrelatam e assinalam enfaticamente este fatocomo:

Abee12 e Aksel e Abee13 em seusestudos, relatam que pelo fato dos Saimiri sp.gerarem fetos grandes, natimortos e mortesde neonatais associadas com distocia sãoconsiderações importantes, também descritopor Brady14, portanto a detecção antecipadade fêmeas que tiveram um alto risco denatimortos ou de abortos proporciona a

oportunidade de selecionar e retirar estesanimais de uma colônia reprodutiva ouindicar a realização de intervenções cirúrgicas,e concluíram que a pelvimetria pode ser umaferramenta útil para prognosticar umresultado de uma gestação, como uma saídapélvica estreita, que foi observadaconstantemente em fêmeas que pariram fetosa termo mortos.

Ramadinha91 também cita a impor-tância de estudos pelvimétricos em micosleões, devido a algumas espécies deLeontopithecus serem consideradas raras ou atémesmo em vias de extinção e devido aosignificante número de partos distócicos queacometem estes animais em cativeiro.

Este estudo espera contribuir comvalores que possam ser utilizados comoreferência em futuros manejos reprodutivoe obstétrico desta espécie em cativeiro, vistoque ainda não encontrou-se relato de partosdistócicos em Aotus.

Conclusões

Com os resultados obtidos, pode-seconcluir que em macacos-da-noite (Aotusazarai infulatus) adultos:

- As mensurações dos diâmetrosindicam ser a pelve classificada comodolicopélvica.

- Existe dimorfismo sexual, em relação

DDD= Diâmetro diagonal direito; DDE= Diâmetro diagonal esquerdo; DBIM= Diâmetro biilíaco médio; DBIS= Diâmetro biilíaco superior;DBII= Diâmetro biilíaco inferior; DSP= Diâmetro sacro-púbico; AEP= Área de entrada da pelve.

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Pelvimetry on owl monkeys (Aotus azarai infulatus – KUHL, 1820)

Abstract

Related data to the diameters of the pelvis from 72 Aotus azaraiinfulatus, owl monkeys, 42 adult males and 30 adult non-pregnantfemales, were obtained in vivo by ventrodorsal projection radiographicexams, correlated with sex, the measures of the body and their origin.The mean values of the body length (30.94 cm), tail length (35.63cm), thoracic perimeter (18.97 cm), hip perimeter (17.11 cm) and theweight (0.96 Kg) were verified. The radiographic images weredigitalized and measured, and the mean values were 1.41 cm for thesuperior biiliac diameter; 1.58 cm for the inferior biiliac diameter; 1.97cm for the medium biiliac diameter; 2.64 cm for the right diagonaldiameter; 2.66 cm for the left diagonal diameter; 2.48 cm for thesacrum-pubic diameter; 3.85 cm2 for the inlet pelvic area. In conclusion,the pelvis from males and females Aotus azarai infulatus can be classifiedas dolicopelvic and there is pelvic sexual dimorphism in adult owlmonkeys (Aotus azarai infulatus).

Key words:Pelvis.Primates.Monkeys.

Referências

1 CARVALHO, L. J. M.; et al. Severe anemia affectsboth splenectomized and non-splenectomizedPlasmodium falciparum – infected Aotus infulatusmonkeys. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Riode Janeiro, v. 98, n. 5, p. 679-686, 2003.

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5 STEWART, D. B. The pelvis as a passageway. I.Evolution and adaptations. British Journal of Obstetricsand Gynaecology, v. 91, n. 7, p. 611-617, 1984.

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10 RAMADINHA, L. S. Pelvimetria em micos leões.2003. 59 f. Tese (Doutorado em Anatomia dos AnimaisDomésticos) - Faculdade de Medicina Veterinária eZootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

11 SCHULTZ, A. H. Sex differences in the pelvis ofprimates. American Journal of Physiology andAnthropology, v.7, p. 401-423, 1949.

12 ABEE, C. R. The squirrel monkey in biomedicalresearch. ILAR News, v. 31, n. 1, p. 11-20, 1989.

13 AKSEL, S.; ABEE, C. R. A pelvimetry method for

às pelves destes animais, quando adultos.- Há diferenças significativas, quando

considerado o sexo, em relação ao diâmetrodiagonal esquerdo, diâmetro biilíaco médio,diâmetro biilíaco superior, diâmetro biilíacoinferior, diâmetro sacro-púbico e área deentrada da pelve.

- Quanto maior o diâmetro diagonalesquerdo, maior o diâmetro biilíaco médio,

o diâmetro sacro-púbico e a área de entradada pelve; quanto maior o diâmetro biilíacomédio, maior a área de entrada da pelve equanto maior o diâmetro sacro-púbico, maiora área de entrada da pelve.

- A biometria corpórea tem valorrelativo para se predizer as medidas pélvicas,embora sirva como importante referencial nasindicações taxonômicas.

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