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In: Carolus Maria Vooren e Sandro Klippel (eds.)
Ações para a conservação de tubarões e raias no sul do Brasil. Porto Alegre: Igaré, 2005. 262 p.
(ISBN 85--99751--01--8)
Vooren, C. M., Klippel, S. e A. B. Galina
Dezesseis espécies de elasmobrânquios ocorreram no levantamento pesqueiro
do Projeto SALVAR
O cruzeiro do projeto SALVAR consistiu de 62 estações de pesca com rede de arrasto nas
profundidades de 7 a 20 m, entre os dias 13 e 28 de fevereiro de 2005, ao longo da costa
entre Torres e Chuí. Dezessete espécies de elasmobrânquios ocorreram, das quais 12 de
raias e cinco de tubarões (Tabela 7.1). A raia Myliobatis goodei foi identificada segundo a
descrição original dessa espécie (Garman, 1885), enquanto Myliobatis sp. foi o morfotipo
denominado de “DL” por Levy e Conceição (1989) e que segundo esses autores é uma
espécie cuja identidade taxonômica ainda não foi determinada. Rhinoptera brasiliensis foi
identificada segundo Bigelow e Schroeder (1953), Squatina guggenheim segundo Vooren
et al. (2003), e as demais espécies segundo Figueiredo (1977).
As raias Sympterygia acuta e Sympterygia bonapartii e a viola Rhinobatos horkelii
estavam amplamente distribuídas ao longo da costa, com freqüência de ocorrência entre 28
e 59% nas estações de pesca. Myliobatis sp. teve elevada CPUE média devido a uma captura
de 116 kg e de 53 indivíduos em uma das suas duas ocorrências. Fora essa espécie, a raia
Sympterygia acuta foi a espécie mais abundante em biomassa e em número de indivíduos,
com a raia elétrica Narcine brasiliensis em segundo lugar (Tabela 7.1).
Ocorreram neonatos, assim classificados pela presença da cicatriz do cordão um-
bilical ou pelo tamanho corporal, de sete espécies de raias e de três espécies de tubarões.
Entre os neonatos, a espécie mais abundante foi Sympterygia acuta, seguida por Symptery-
gia bonapartii, Squatina guggenheim, Sphyrna lewini e Rhinobatos horkelii, nessa ordem.
De Sympterygia acuta e Sympterygia bonapartii os adultos foram também abundantes (Ta-
bela 7.1).
Nas águas costeiras da Plataforma Sul existem áreas críticas para a
reprodução das populações regionais de 21 espécies de elasmobrânquios.
Além das 16 espécies encontradas no cruzeiro SALVAR, Sphyrna zygaena e Carcharias
taurus ocorrem nas profundidades de menos de 20 m entre Chuí e Solidão (Vooren, 1997).
Nos dados pretéritos da pesca artesanal na praia, ao sul do Cassino, existem registros de
Galeorhinus galeus, Mustelus schmitti, Carcharhinus plumbeus e Notorhynchus cepedia-
nus. No monitoramento da pesca industrial costeira da frota de Passo de Torres no verão
de 2005 ocorreram adultos de Rhizoprionodon porosus e neonatos de Isurus oxyrinchus,
Carcharhinus brevipinna, Carcharhinus signatus e Carcharhinus falciformis.
Vooren (1997) afirma que a raia-beiço-de-boi Rhinoptera bonasus ocorre como mi-
grante de verão na plataforma do Rio Grande do Sul, mas o posterior estudo de espécimes
revelou que se trata da ocorrência de Rhinoptera brasiliensis, assim identificada pela con-
formação das placas dentárias segundo Bigelow e Schroeder (1953). Grandes capturas de
Rhinoptera brasiliensis foram freqüentes na pesca de verão com o arrastão de praia ao sul
de Rio Grande na década de 1980. De 1982 a 1985 a espécie ocorreu em 15 das 21 cap-
turas com arrastão de praia examinadas nos meses de dezembro a fevereiro. No dia 14 de
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Elasmobrânquios das águas costeiras da Plataforma Sul
Tabela 7.1. Freqüência de ocorrência e capturas médias de elasmobrânquios em 62 lances com
rede de arrasto de fundo nas águas costeiras da Plataforma Sul, nas profundidades de 7 a 20 m entre
Torres e Chuí, em fevereiro de 2005. CPUE = captura por unidade de esforço.
CPUE (kg/h) CPUE (número/h)
Juvenis e Juvenis e
Espécie F.O. (%) adultos Neonatos Total adultos Neonatos Total
Sympterygia acuta 85 2,18 0,13 2,30 4,52 5,03 9,55
Sympterygia bonapartii 26 0,22 0,02 0,24 1,58 0,35 1,94
Rioraja agassizi 13 0,35 0,00 0,35 0,48 0,00 0,48
Dasyatis say 5 0,19 0,01 0,20 0,13 0,03 0,16
Myliobatis goodei 11 1,29 0,02 1,31 0,23 0,06 0,29
Myliobatis sp. 3 3,73 0,01 3,74 1,71 0,03 1,74
Gymnura altavela 3 0,08 0,00 0,08 0,06 0,00 0,06
Rhinoptera brasiliensis 2 0,00 0,06 0,06 0,00 0,06 0,06
Narcine brasiliensis 18 2,25 0,00 2,25 6,48 0,00 6,48
Rhinobatos horkelii 32 1,67 0,01 1,68 0,58 0,16 0,74
Zapteryx brevirostris 5 0,08 0,00 0,08 0,10 0,00 0,10
Squatina guggenheim 8 0,00 0,18 0,18 0,00 0,55 0,55
Mustelus fasciatus 2 0,02 0,00 0,02 0,03 0,00 0,03
Rhizoprionodon lalandei 2 0,00 0,02 0,02 0,00 0,06 0,06
Sphyrna lewini 8 0,00 0,13 0,13 0,00 0,19 0,19
janeiro de 1985 foram encontrados 1.711 indivíduos dessa espécie, descartados pela pesca
com arrastão, ao longo de 28 km de praia ao sul do Cassino, e no dia 18 de janeiro de 1985
foram capturados 170 indivíduos em um só lance de arrastão nessa mesma praia. A largura
do disco dos indivíduos capturados variou entre 55 e 102 cm, e as capturas incluíam fêmeas
prenhes com fetos com largura do disco de até 37 cm, o que é próximo ao tamanho ao nas-
cer da espécie segundo Bigelow e Schroeder (1953). A fecundidade foi de um só filhote
por fêmea, o que também é observado em Rhinoptera bonasus (Smith e Merriner, 1986).
Segundo os dados pretéritos dos levantamentos da plataforma, Rhinoptera brasiliensis foi
capturada em pequenos números com rede de arrasto nas profundidades de 10 a 20 m em
fevereiro de 1981 e janeiro de 1982. Na década de 1980 a espécie era abundante, mas so-
mente nas profundidades menores de 10 m, onde a população se concentrava no verão e se
tornava vulnerável ao arrastão de praia. Um só neonato foi capturado nos 62 lances de pesca
do cruzeiro SALVAR em fevereiro de 2005. A espécie não ocorreu no monitoramento da
pesca de praia no ano de 2003, nem na pesca com rede de emalhe pela frota de Passo de
Torres no verão de 2005. Rhinoptera brasiliensis tornou-se uma espécie rara na Plataforma
Sul.
Um neonato de Notorhynchus cepedianus com CT de 47 cm ocorreu numa captura
da pesca de praia no dia 11 de novembro de 1981. Outro neonato dessa espécie, do sexo
feminino e com CT de 43 cm, foi capturado com arrasto de fundo pelo N.Oc. “Atlântico
Sul” no dia 2 de novembro de 1992 na posição 32◦55’S, 52◦28’W, em frente ao Farol
Verga, na profundidade de 12 m (Figura 7.1). Na década de 1980 existiu uma população
regional de Notorhynchus cepedianus que utilizava as águas costeiras como berçário, com
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Vooren, C. M., Klippel, S. e A. B. Galina
Figura 7.1. Uma captura de neonatos com rede de arrasto no dia 2 de novembro de 1992 na
posição 32◦55’S, 52◦28’W, em frente ao Farol Verga, na profundidade de 12 m. De cima para
baixo: Carcharias taurus (comprimento 89 cm), Notorhynchus cepedianus, Mustelus fasciatus.
o parto no mês de novembro. Um único neonato (fêmea, com CT de 59 cm) foi observado
no monitoramento da pesca costeira da frota de Passo de Torres no verão de 2005. A
população regional ainda existe, mas pela falta de dados históricos sobre sua abundância,
não é possível determinar seu status de conservação.
Na Plataforma Sul, o mangona Carcharias taurus era na década de 1980 o objeto de
uma importante pescaria costeira com barcos que usavam redes de emalhe1. A espécie era
tão abundante que a pesca com o arrastão de praia capturava cardumes desse tubarão. Treze
fêmeas com CT de 182 a 260 cm, e 10 machos com CT de 210 a 230 cm, foram capturados
em dois lances com o arrasto de praia ao sul do Cassino no dia 10 de janeiro de 1983. Um
neonato dessa espécie, assim classificado pela presença de vitelo no estômago e com CT de
89 cm, foi capturado com arrasto de fundo pelo N.Oc. “Atlântico Sul” no dia 2 de novembro
de 1992 na posição 32◦55’S, 52◦28’W, em frente ao Farol Verga, na profundidade de 12 m
(Figura 7.1). Isto é evidência de que uma população local de Carcharias taurus utilizava
as águas costeiras como berçário, com o parto em novembro. A espécie não ocorreu no
monitoramento de pesca de praia no verão de 2003. No período de novembro a março de
2005, a espécie ocorreu em apenas três das 43 viagens de pesca monitoradas na frota de
1Soto, J. M. R. (não publicado)
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Elasmobrânquios das águas costeiras da Plataforma Sul
emalhe de Passo de Torres, com a captura total de 11 indivíduos. Na costa do Rio Grande
do Sul o mangona se tornou uma espécie rara.
Em sete dos 13 lances com rede de emalhe para cação, monitorados na frota de
Passo de Torres em janeiro-maio de 2005, ocorreram ao todo 41 indivíduos de Isurus oxy-
rinchus, a maioria com CT de 75–105 cm, nas profundidades de 28–63 m (Figura 7.2).
Branstetter (1990; p.19, tradução pelos autores) informa que o tamanho ao nascer dessa
espécie é de “70 cm ou mais”. O ambiente pelágico costeiro nas latitudes de 29–31◦S é um
berçário de Isurus oxyrhinchus no verão.
Neonatos de Mustelus schmitti foram abundantes nas águas costeiras da Plataforma
Sul na década de 1980 (Figura 7.3). Nos meses de outubro a janeiro de 1981–1983 ocorre-
ram 42 neonatos (CT 22–29 cm) e oito adultos (CT 59–85 cm) em sete capturas da pesca
com arrastão e com rede de cabo na praia do Cassino. Neonatos de Mustelus schmitti não
foram encontrados no monitoramento da pesca nesta praia no verão de 2003, e tampouco
no levantamento das águas costeiras com arrasto em fevereiro de 2005. No monitoramento
da pesca industrial costeira entre Torres e Solidão, de dezembro a março de 2005, foram
capturados 45 indivíduos de ambos os sexos com CT de 41–95 cm, com rede de corvina.
Na Plataforma Sul existe uma população regional de Mustelus schmitti que utiliza as águas
costeiras como berçário. A falta de capturas de neonatos em 2003–2005, em comparação
com os dados da década de 1980, é sinal de declínio dessa população.
Galeorhinus galeus ocorre na Plataforma Sul como migrante de inverno (Vooren,
1997). Porém em novembro e dezembro de 1981, a pesca de praia capturou em três ocasiões
um total de nove neonatos dessa espécie, com CT de 32 a 48 cm, na praia do Cassino. Na
década de 1980 existiu uma população regional de Galeorhinus galeus que tinha seu berçá-
rio nas águas costeiras da Plataforma Sul. A espécie não foi encontrada no monitoramento
da pesca costeira em dezembro-março de 2002/2003 e 2004/2005.
Adultos, juvenis e neonatos de Rhizoprionodon lalandii (CT 33–75 cm) e adultos
e juvenis de Rhizoprionodon porosus (CT 55–132 cm) foram comuns no monitoramento
da pesca costeira da frota de Passo de Torres no verão de 2005, nas profundidades de 18 a
60 m, em frente à costa entre Tramandaí e São Simão, nas latitudes de 30 a 31◦S.
Grandes capturas de juvenis de Carcharhinus plumbeus foram freqüentes na pesca
de verão com o arrastão de praia ao sul do Cassino na década de 1980. A empresa SO-
PESCA em Rio Grande recebeu no dia 11 de fevereiro de 1983 uma quantidade de 10 t
de Carcharhinus plumbeus. Em uma amostra de 62 indivíduos dessa captura, o CT foi de
82–149 cm. Vinte indivíduos dessa espécie, com CT de 63–121 cm, foram capturados em
um só lance do arrastão ao sul do Cassino no dia 23 de fevereiro de 1983. O CT de 63 cm
corresponde ao tamanho do neonato dessa espécie (Compagno, 1984b). Isto é evidência de
que existiu uma população de Carcharhinus plumbeus que realizava o parto nas águas cos-
teiras no verão e cujos juvenis migravam em grandes números para essas águas também no
verão. A espécie não foi registrada no monitoramento da pesca de praia ao sul do Cassino
no verão de 2003, mas neonatos de Carcharhinus plumbeus foram comuns no monitora-
mento da pesca costeira da frota de Passo de Torres no verão de 2005, nas profundidades de
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Vooren, C. M., Klippel, S. e A. B. Galina
Figura 7.2. Neonatos de tubarões, capturados pela pesca com rede de emalhe da frota de Passo
de Torres no verão de 2005. (a) Isurus oxyrinchus. (b) Carcharhinus plumbeus. (c) Carcharhinus
signatus.
118
Elasmobrânquios das águas costeiras da Plataforma Sul
Figura 7.3. O descarte de uma captura com arrastão de praia no Cassino, 19 de novembro de
1989. Acima, na esquerda Myliobatis sp., na direita Myliobatis goodei. No centro, 16 neonatos de
Mustelus schmitti com CT de 23–29 cm.
18 a 60 m, em frente à costa entre Tramandaí e São Simão, nas latitudes de 30 a 31◦S (Fi-
gura 7.2). Nessa mesma área, neonatos de Carcharhinus brevipinna também foram comuns,
e neonatos de Carcharhinus falciformis e Carcharhinus signatus (Figura 7.2) ocorreram em
pequenos números.
As populações regionais das raias ovíparas Sympterygia acuta e Sympterygia bo-
napartii realizam todo seu ciclo de vida nas águas costeiras da Plataforma Sul. Existem
registros de neonatos de 14 espécies de tubarões e sete espécies de raias nas águas costeiras
na primavera e no verão (Tabela 7.2). Pela ausência ou a escassez de recentes registros
de neonatos de Carcharias taurus, Galeorhinus galeus, Mustelus schmitti e Notorhynchus
cepedianus nas águas costeiras, o estado de conservação das populações regionais dessas
quatro espécies inspira cuidados. Em frente à costa entre Tramandaí e São Simão, nas
latitudes de 30 a 31◦S, existe dentro da isóbata de 60 m uma importante área de berçá-
rio de Isurus oxyrinchus, Rhizoprionodon lalandii, Carcharhinus plumbeus, Carcharhinus
brevipinna, Carcharhinus falciformis e Carcharhinus signatus. Nessa área ainda ocorrem
adultos de Carcharias taurus e neonatos de Notorhynchus cepedianus. Nas águas costeiras
da Plataforma Sul existem áreas críticas para a reprodução das populações regionais de 21
espécies de elasmobrânquios.
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Vooren, C. M., Klippel, S. e A. B. Galina
Tabela 7.2. As 27 espécies de elasmobrânquios registradas nas águas costeiras da Plataforma Sul.
Adultos Juvenis Neonatos
Sympterygia acuta1,2,4 x x x
Sympterygia bonapartii1,2,4 x x x
Rioraja agassizi1,2,4 x x
Atlantoraja castelnaui1,2,4 x
Dasyatis say1,2,3,4 x x
Myliobatis goodei1,2,3 x x
Myliobatis sp.1,2,3,4 x x
Gymnura altavela1,2,4 x
Rhinoptera brasiliensis1,2 x x
Narcine brasiliensis1,2,4 x x
Rhinobatos horkelii1,2,3,4 x x x
Zapteryx brevirostris1,2,4 x x
Squatina guggenheim1,2,3,4 x x
Notorhynchus cepedianus3,4 x
Carcharias taurus2,3,4 x x
Isurus oxyrinchus4 x
Mustelus schmitti1,3,4 x x
Mustelus fasciatus1,2,3,4 x x x
Galeorhinus galeus3 x
Rhizoprionodon lalandii1,4 x x x
Rhizoprionodon porosus x x
Sphyrna lewini1,2,3,4 x x x
Sphyrna zygaena3,4 x x
Carcharhinus plumbeus3,4 x x
Carcharhinus brevipinna4 x x
Carcharhinus signatus4 x
Carcharhinus falciformis4 x
Fontes de dados: 1) Cruzeiro SALVAR, fevereiro 2005; 2) Vooren (1997); 3) dados pretéritos da
pesca de praia ao sul do Cassino, 1980–1983; 4) monitoramento da pesca artesanal na praia e da
pesca industrial costeira, entre Passo de Torres e Albardão, nos anos 2002–2005.
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