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1 INSTITUTO BETEL DE ENSINO SUPERIOR DANIEL DE SOUZA LOURENÇO O CRISTÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA: O CRISTÃO MODERNO E OS DESAFIOS PARA O SECULO XXI São Paulo – 2014

O CRISTÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

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INSTITUTO BETEL DE ENSINO SUPERIOR

DANIEL DE SOUZA LOURENÇO

O CRISTÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA: O CRISTÃO MODERNO E OS DESAFIOS PARA O

SECULO XXI

São Paulo – 2014

2

DANIEL DE SOUZA LOURENÇO

O CRISTÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA: O CRISTÃO MODERNO E OS DESAFIOS PARA O

SECULO XXI

Trabalho acadêmico apresentado como exigência parcial para a conclusão do grau de Bacharel em Teologia, ao Prof. Mestre Ronald da Silva Lima, da Faculdade de Teologia – Instituto Betel de Ensino Superior.

São Paulo – 2014

3

COMISSÃO EXAMINADORA

A comissão, tendo examinado o presente Trabalho de Conclusão

de Curso, o considera:

_________________________________

_____________________________________ Prof. Me. Ronald da Silva Lima

4

Agradecimentos,

À Deus

Mais importante que o lugar que ocupas em mim, é a intensidade de tua

presença em tudo que faço.

Aos Meus Pais

Aos meus pais, que sonharam antes de mim, com este dia. Que tanto

colaboraram e lutaram para a realização deste ideal, minha homenagem,

admiração e gratidão, pois não cabem palavras para expressar a importância

de todos os gestos de amor e carinho concedido, fazendo com que eu

chegasse até aqui. Obrigado pais queridos, a tua presença se fará sentir a

cada instante da minha vida, pois sou a continuidade do teu brilho.

À Minha Esposa

O que teria sido de mim sem alguém ao meu lado para me apoiar, para me

incentivar e até mesmo para me alertar? Com o amor as coisas ficam mais

fáceis, os caminhos mais claros e os medos se dissolvem. Quando amamos,

tudo fica bom e sem você, minha querida esposa Keite, essa conquista não

teria sido fácil.

Aos Meus Filhos

Agradeço a vocês, Thiago e Guilherme, pequenas grandes bênçãos de Deus.

Reconheço que muitas foram às vezes que seus olhos me buscaram e estava

ausente. Muitas vezes quiseram me abraçar, beijar e não me encontraram.

Ainda que estivesse tão envolvido com o meu próprio caminho, sei do fundo de

minha alma que sem vocês não teria chegado até aqui. Perdoem-me pela

ausência e jamais se esqueçam do meu amor infinito por vocês.

A vocês, amados filhos, dedico essa conquista.

5

SUMARIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................6

CAPÍTULO I - O CRISTÃO DO NOVO SÉCULO................................................8

CAPITULO II -DESAFIOS AO CRISTÃO MODERNO NA SOCIEDADE BRASILEIRA.....................................................................................................13

CAPITULO III - A SOBERBA E O CRISTÃO MODERNO: UM GRANDE ENTRAVE PARA A VIDA ESPIRITUAL............................................................17

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................21

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................22

6

INTRODUÇÃO

Ser cristão e cumprir os princípios bíblicos para seguir essa ideologia e

fé nunca foi um ato fácil e ou simples nas mais diversas eras e tempos sociais

e políticos.

No entanto na modernidade do século XXI viver essencialmente como

cristão é um desafio como nunca antes foi uma vez que em todo lugar se vê

apelos à violência, luxuria, imoralidade, transgressões econômicas e desamor.

Na sociedade brasileira atual tudo é permitido em prol de ser feliz, a

família é considerada conceito antigo, relacionamentos com base na fidelidade

e amor são ultrapassados e a busca por sexo, dinheiro e poder é o alvo a ser

perseguido e encorajado nas mídias e nos meios sociais.

Assim o objetivo desse estudo é destacar os desafios para ser cristão

na sociedade brasileiro do século XXI. Este tema e estudo têm sua justificativa

na necessidade e carência de maiores explicações no contexto onde teoria

está inserida. Em relação a contribuição do estudo espera-se que este ajude a

ampliar a discussão do tema, tanto no sentido de disseminação do

conhecimento para aqueles que tiverem a oportunidade de acessar este

trabalho, quanto em função do próprio engrandecimento acadêmico e pessoal,

resultado da pesquisa científica realizada.

Este estudo define-se pelo método de abordagem dedutiva, pois se

procura debater um tema conflitante, sem encerrar o assunto, e sim instigando

a busca de alternativas para responder as questões divergentes.

O estudo pretende angariar o maior tipo de informações que permitam

o caminhar pelo tema, possibilitando o incremento do debate já existente, a

criação de novos pontos de discussão e com a expectativa de auxiliar na

minimização de arestas ou respondendo questões.

A pesquisa se limitará à busca bibliográfica mais recente, priorizando

textos que tratem do tema de forma dinâmica e flexível.

7

Serão levantados os materiais necessários, compondo um conjunto de

informações a serem selecionadas e classificadas de acordo com os subtemas

que já estão pré-definidos e direcionam o estudo.

O método de procedimento se define, portanto, como monográfico por

tratar de tema específico, atual e baseado na literatura existente que será a

base para todas as discussões durante o estudo.

8

CAPÍTULO I - O CRISTÃO DO NOVO SÉCULO

Em uma modernidade onde a criminalidade, a ausência de valores

morais, o abuso de poder político, e inúmeros outros fatores se avolumam nas

mídias e na sociedade, manter um comportamento ético, moral e cristão é

considerado um desafio.

As religiões se multiplicam, teorias diversas de um deus morto, de um

ateísmo, de uma valorização do homem pelo próprio homem são cada vez

mais difundidas o que acarreta um distanciamento do homem com a religião

que tem por função religar o homem a Deus de uma forma concreta e efetiva.

A ação de ser um cristão valoroso na modernidade do século XXI não é

só física e mental, é também espiritual onde o comportamento humano deve

ser direcionado para princípios de amor a Deus e ao próximo. Com essas

bases de amor e caridade, comportamentos criminosos, imorais e pecaminosos

se afastam do dia a dia do homem.1

Mas a modernidade com sua alta tecnologia, o tempo correndo

acelerado, os compromissos do dia a dia se precipitando o homem encontra

pouco tempo para se firmar nos conceitos cristãos.

Entre os muitos desafios para o cristão do século XXI está o ato de

resistir a ações imorais, degradantes e biblicamente incorretas. A tecnologia

tem influenciado de forma negativa o comportamento humano na maior parte

do tempo quando se vê nas mídias sociais incitação à violência, ações

antiéticas e imorais.2

A tecnologia ajuda ao homem em seu desenvolvimento mas também

leva para dentro dos lares mulheres nuas, pedofilia, estupros, incitação a

adultério, prostituição, relações homossexuais entre outros.

1 MONDONI.D., Teologia da Espiritualidade Cristã, São Paulo, Loyola, 2000.2 QUEIRUGA, A.T., Um Deus para hoje, São Paulo, Paulus, 2006.

9

Através da internet é possível travar-se relações sexuais com homens,

mulheres, crianças, adolescentes e até animais em fantasias e erotismos

deturpados e perversos que se avolumam nas mais diversas páginas que

abrem sem permissão e sem a escolha do usuário, um mundo imoral e

degradante.

Tudo está na visão e alcance do cristão, do seu filho, sua filha e sua

esposa. Não existem mais parâmetros e limites para que certas cenas e

convites adentrem o lar cristão.3

No mercado de trabalho as propostas são de suborno, de desconhecer o

errado em troca de méritos, de mentir, enganar tudo para uma melhor posição

nas empresas diversas.

Na sociedade, ruas e locais públicos, a violência impera, o estresse

aumenta a pressão do cristão e o leva a pensar em atos que são contrários ao

amor ao próximo.

O curto tempo para cuidar de si, do lar, do trabalho, do estudo tende a

afastar o homem da leitura bíblica diária, da comunhão com seus irmãos na

congregação cristã e na doação do amor ao próximo.

Portanto são inúmeros fatores e desafios que podem afastar o homem

do seu comportamento e vida cristã.4

Na atualidade não se valoriza mais o sacrifício do corpo e da mente em

favor de estar mais próximo dos princípios cristão, não se condena mais a

busca incansável do prazer, hoje tudo vale a pena, tudo é aceito em prol de se

ter mais e mais prazer físico levando a um vazio existencialista.

“Mais do que uma ausência, um vácuo, o vazio representa um novo conteúdo. A modernidade estruturou-se como imaginário do dever e do homogêneo. Cada indivíduo precisava corresponder ao imperativo moral dominante, mesmo naquilo que só dizia respeito ao seu espaço privado. A ideia de imperativo serviu de cobertura para a imposição de visões de mundo e para a exclusão de todos os que ousaram postular modos alternativos de vida. A corrosão do imperativo moral,

3 RUBIO, Alfonso García. Unidade na Pluralidade: o ser humano à luz da fé e da reflexão cristãs. São Paulo: Paulus, 2006.4 QUEIRUGA, A.T., Um Deus para hoje, São Paulo, Paulus, 2006.

10

vista por muitos como sinal de decadência da estrutura social, pode ser, na verdade, considerada uma marca de libertação”.5

No entanto o que o homem muitas vezes não percebe é que a busca do

prazer é saciada em minutos e o que surge é o vazio, a secura, a ausência de

conteúdo.

O homem quer ser livre de tudo, mas essa liberdade traz problemas,

angustias, depressões, tentativas de suicídios e o afastamento dramático do

homem de Deus.

“Na era do vazio, estamos menos carregados e mais livres, mais lúcidos e menos dependentes, mais exigentes e menos submissos, mais flexíveis e menos engessados por engrenagens de poder em nome de verdades que se apresentavam como transcendentais ou universais, embora não passassem de formas locais de controle. Em termos de moral, menos é mais. O moralismo caracteriza-se pelo excesso de valores que não podem ser discutidos. A ética numa sociedade liberada do sacrifício faz-se do mínimo indispensável à coesão social e ao respeito ao outro. O vazio salva do excessivo”.6

Com citações como a acima exposta, o homem se sente evoluído em

optar pelo prazer momentâneo firmado em um conceito de auto realização.

Não se preza mais por uma moralidade, por uma educação ética e religiosa.

Nas escolas conceitos deturpados são propagados como certos, e crianças já

surgem adeptas do homossexualismo, da violência, do consumo de drogas e

de álcool como se tudo natural fosse.7

A mídia diz que tudo é certo, a sociedade querendo ser aceita e

enaltecida a tudo encoraja e as famílias perdem sua estabilidade, seus padrões

cristãos de comportamento e não se ensina mais a criança no caminho em que

deve andar.8

A mesma tecnologia e desenvolvimento que trouxe melhorias e

qualidade de vida para todas as sociedades do mundo, trouxe mais violência,

5 LIPOVETSKY. G., A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo, São Paulo, Manole, 2005.6 LIPOVETSKY. G., A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo, São Paulo, Manole, 2005.7 RUBIO, Alfonso García. Unidade na Pluralidade: o ser humano à luz da fé e da reflexão cristãs. São Paulo: Paulus, 2006.8 QUEIRUGA, A.T., Um Deus para hoje, São Paulo, Paulus, 2006.8

11

desamor, imoralidade, sexualidade deturpada e valorização do corpo e do

dinheiro.

“Quem continua acreditando no trabalho, quando o frenesi das férias, dos fins de semana, dos lazeres, não cessa de se desenvolver, quando a aposentadoria se torna uma aspiração de massa, um ideal? Quem continua acreditando na família quando os índices de divórcio não param de subir, quando os velhos são exilados para casas de repouso, quando os casais se tornam ‘livres’, quando o aborto, a contracepção, a esterilização se tornam legais? Quem continua acreditando no exército quando escapar do serviço militar não é uma desonra? Quem continua acreditando nas virtudes do esforço, da economia, da consciência profissional, na autoridade, nas sanções? A onda de desafeição se propaga por todo lado, despindo as instituições de sua grandiosidade e do seu poder de mobilização emocional”.9

Mas o que é uma verdade universal é que nunca houve tanto índice de

doenças mentais, sofrimentos psíquicos e até físicos na busca de realizações

que nunca chegam.10

Os alcances da sociedade pós-moderna não conseguem trazer

satisfação plena ao indivíduo, mas apresentam um paradoxo inevitável:

saturação de caminhos, versus indecisão e dúvidas.

“Quanto mais a cidade desenvolve as possibilidades de encontros, mais os indivíduos se sentem sós; quanto mais as relações se tornam livres, emancipadas das antigas restrições, mais rara se torna a possibilidade de conhecer uma relação intensa. Por todo lado há solidão, vazio, dificuldade de sentir, de ser transportado para fora de si mesmo”.11

O que se destaca nesse cenário é que o ser cristão na modernidade se

atrela a ser moral e ético, onde não existe mais valor a essa mesma moral e

ética.

9 LIPOVETSKY. G., A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo, São Paulo, Manole, 2005.10 RUBIO, Alfonso García. Unidade na Pluralidade: o ser humano à luz da fé e da reflexão cristãs. São Paulo: Paulus, 2006 11 LIPOVETSKY. G., A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo, São Paulo, Manole, 2005.

12

“A moral rigorista ocidental fazia do homem o chefe da família, a autoridade paterna, a voz incontestável, o esteio da sociedade do microcosmo do lar. A mulher vivia em situação secundária, praticamente sem direito ao prazer, ao orgasmo, à liberdade sexual e à vida profissional. Não se estava numa sociedade de escolha, mas numa teia coercitiva. Família, Igreja, Pátria, Partido e Ideologia dominavam a cena social e serviam de pastores e de sentido para a existência, obrigando a conformar-se, a tomar a forma de um mundo moralmente determinado, sexista e produtivista”.12

12 LIPOVETSKY. G., A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo, São Paulo, Manole, 2005.

13

CAPITULO II - DESAFIOS AO CRISTÃO MODERNO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Alguns fatores e conceitos tendem a dificultar o elo entre homem e

Deus, entre indivíduo e padrões cristãos. São conceitos que se tornam

verdadeiros desafios para o cristão na sociedade brasileira.

2.1 Narcisismo

Quando o homem se olha no espelho e se acha melhor que todos os

que o rodeiam, quando o ser humano quer somente as coisas para si, e se

idolatra como centro do universo ele naturalmente entra em conflito com os

princípios cristão onde o amor ao próximo, a caridade e o “ser” o menor entre

todos é um padrão desejado.

Nesse sentido o “ser e perseverar em ser cristão” entra em atrito com o

narcísico pós-moderno em busca de respostas imagéticas questionando

valores cristãos onde alguns desses valores não são mais preservados

buscando-se a felicidade onde:

O desejo de felicidade é o primeiro elemento desse referencial. Entenda-se tal desejo como busca do prazer pessoal, sem nenhuma relação com a solidariedade e a partilha. É o querer ter momentos de autossatisfação, momentos prazerosos, mas sem nenhum compromisso, especialmente com os outros e as outras.13

O grande valor para o narcísico hoje em dia é sentir-se bem, em

harmonia com o corpo, e com sua própria imagem, resguardando um falso

sentimento de emocionalmente compartilhar da vida dos outros, sentindo-se

feliz somente com essa imagem de importância de si mesmo, entrando em

conflito com a necessidade de um deus, um mestre espiritual.14

13 OLIVEIRA, José Lisboa M. de. Viver os votos em tempos de pós-modernidade. São Paulo: Loyola, 2001.14 RUBIO, Alfonso García. Unidade na Pluralidade: o ser humano à luz da fé e da reflexão cristãs. São Paulo: Paulus, 2006

14

“O novo deus é um deus que goza da sua corporeidade, serve como

modelo para todos, porque todos aspiram integrar-se a ele”.15

Nesse novo endeusamento do corpo, o que destaca-se não diz respeito

somente à corporeidade, mas tem-se agora a noção invertida de que o que

importa é ser racional, independente e não precisar de ninguém nem de nada

para se sentir realizado e livre.16

“No momento em que o crescimento econômico perde fôlego, o desenvolvimento psíquico toma impulso e o consumo de consciência se torna uma nova bulimia: ioga, psicanálise, expressão corporal, zen, terapia primal, dinâmica de grupo, meditação transcendental; à inflação econômica respondem a inflação psi e o formidável impulso narcísico que ela produz. Canalizando as paixões para o Eu, que assim se promove a umbigo do mundo, a terapia psi gera uma figura inédita de Narciso, obcecado por si mesmo”.17

Nos princípios cristãos é essencial que sejamos um corpo em Cristo

Jesus precisando uns dos outros, ajudando uns aos outros não sendo em nada

compatível com o conceito e diretriz do narcisismo.

“Instala-se um novo estágio de individualismo: o narcisismo designa o surgimento de um perfil inédito do indivíduo nas suas relações consigo mesmo e com o seu corpo, com os outros, com o mundo e com o tempo no momento em que o capitalismo autoritário cede lugar a um capitalismo hedonista e permissivo. A idade de ouro do individualismo, concorrente no nível econômico, sentimental no nível doméstico, revolucionário nos níveis político e artístico, chega ao fim e um individualismo puro se desenvolve, desembaraçado dos últimos valores sociais e morais que ainda coexistiam. Emancipada de qualquer enquadramento transcendental, a própria esfera privada muda de sentido, uma vez entregue aos desejos variáveis dos indivíduos”.18

15 COMBLIN, José. Os desafios da cidade no século XXI. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2003.

16 RUBIO, Alfonso García. Unidade na Pluralidade: o ser humano à luz da fé e da reflexão cristãs. São Paulo: Paulus, 2006.17 LIPOVETSKY. G., A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo, São Paulo, Manole, 2005.18 LIPOVETSKY. G., A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo, São Paulo, Manole, 2005.

15

2.3 A sedução e o consumo em massa

A multiplicidade de opções é uma arma poderosa do consumismo pós-

moderno. Oferta abundante e direito de escolher andam de mãos dadas. Assim

o consumidor precisa ser seduzido.

Aparece como mola propulsora do consumismo pós-moderno, a

sedução. Reduzindo quadros rígidos e coercitivos, a personalização age com

suavidade, respeitando inclinações individuais, bem-estar, liberdade, interesses

de cada um.

A coerção cede lugar à comunicação, e o discurso consumista é criado

por elementos sedutores, visando sempre “conquistar” o consumidor de forma

que a temperança e moderação sejam retirados do dia a dia do cristão.“A sedução nada tem a ver com a representação falsa e a alienação das consciências; é ela que dirige o nosso mundo e o remodela de acordo com um processo sistemático de personalização cuja finalidade consiste essencialmente em multiplicar e diversificar a oferta, em oferecer mais para que você possa escolher melhor, em substituir a indução uniforme pela livre escolha, a homogeneidade pela pluralidade, a austeridade pela satisfação dos desejos. A sedução remete ao nosso universo de gamas opcionais, das nuanças exóticas, da ambiência psicológica, musical e informativa, no qual cada um tem o prazer de compor à vontade os elementos da sua existência”.19

Hoje vivemos uma apoteose de relações de sedução, a serviço da

sociedade cada vez mais consumista, não pelo acúmulo, porém pela

necessidade constante de experiências satisfatórias novas.“Com sua profusão luxuriante de produtos, imagens e serviços, com o hedonismo ao qual induz, com seu ambiente eufórico de tentação e proximidade, a sociedade de consumo revela claramente a amplidão da estratégia da sedução. No entanto, ela não se limita ao espetáculo do acúmulo; mais exatamente, identifica-se com a repetida multiplicação das escolhas que torna possível a abundância, levando a maioria das pessoas a permanecerem mergulhadas num universo transparente e aberto, ao oferecer-lhes cada vez mais opções e combinações sob medida, permitindo, assim, circulação e escolha livres”.20

Nesse cenário cada compra é uma experiência nova, e o consumidor

moderno se torna um verdadeiro “colecionador de experiências” tornando-se

viciado nessas sensações perdendo o caráter moderado que é exigido de uma

vida cristã.19 LIPOVETSKY. G., A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo, São Paulo, Manole, 2005.20 LIPOVETSKY. G., A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo, São Paulo, Manole, 2005.

16

“É preciso interpretar o apetite consumista como uma maneira de conjurar a fossilização do cotidiano, de escapar à perpetuação do mesmo pela busca de pequenas novidades vividas. Através do ato de consumo, é a rejeição de uma certa rotina e da coisificação do eu que se exprime. O hiperconsumo é a mobilização da banalidade mercantil, com vista à intensidade vivida e à vibração emocional”.21

Na atualidade o consumo atinge um ponto de saturação, sendo

remodelado sob o signo do indivíduo, tornando esse um “turboconsumidor”.

Não existe mais limites para o consumismo e afunda-se o indivíduo em dividas,

empréstimos, desarraigando a estrutura do cristão. “O que está em ação é um processo de organização de um universo hiperconsumista em fluxo estendido, funcionando ininterruptamente dia e noite, 365 dias por ano. Da mesma maneira que o capitalismo desregulamentado e globalizado se tornou ‘turbocapitalismo’, somos testemunhas da emergência de um ‘turboconsumismo’ estruturalmente liberto dos enquadramentos espaçotemporais tradicionais”.22

Esse processo desenfreado de consumo não é isento de um paradoxo

que levanta preocupações constantes. Pois, se, por um lado, se aumenta o

pleno poder sobre a condução da própria vida, por outro lado, as amostras de

dependência e de fraqueza subjetivas se ampliam em ritmo crescente.

Somos livres, mas ao mesmo tempo estamos acorrentados. “O estágio III pôs em órbita um consumidor amplamente emancipado das imposições e ritos coletivos. Mas essa autonomia pessoal traz consigo novas formas de servidão. Se ele está menos submetido aos valores conformistas, está mais subordinado ao reino monetizado do consumo. Se o indivíduo é socialmente autônomo, ei-lo mais do que nunca dependente da forma mercantil para a satisfação de suas necessidades. Considerados um a um, os atos de consumo são menos dirigidos socialmente, mas, juntos, o poder de enquadramento da existência pelo mercado aumenta. A influência geral do consumo sobre os modos de vida e os prazeres amplia-se tanto mais quanto impõe menos regras sociais coercitivas”.23

21 LIPOVETSKY. G., Felicidade Paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo, São Paulo, Companhia das Letras, 2007.22 LIPOVETSKY. G., Metamorfoses da Cultura Liberal: ética, mídia e empresa, Porto Alegre, Sulina, 2004.23 LIPOVETSKY. G., Metamorfoses da Cultura Liberal: ética, mídia e empresa, Porto Alegre, Sulina, 2004.

17

CAPITULO III - A SOBERBA E O CRISTÃO MODERNO: UM GRANDE ENTRAVE PARA A

VIDA ESPIRITUAL

Falamos já sobre o narcisismo frente a construção e uma vida cristão de

qualidade, onde o ser humano centraliza-se no seu eu, na sua prepotência se

achando autossuficiente e importante em si mesmo de forma a desvalorizar a

ação suprema de Deus como ícone do foco da vida cristão.

Derivando-se do narcisismo surge a soberba como um do grande mal do

século atual verdadeiro entrave ao desenvolvimento e permanecia de uma vida

crista edificante.

A mentalidade ordinária dos indivíduos inclina-se a descobrir em si

mesmo um soberbo, e, portanto, engana-se acerca da verdadeira essência da

humildade. “É um soberbo”, proclama-se facilmente. Mas poucas vezes essa

locução coincide com a verdadeira soberba (superbia).

A soberba não é um modo de comportamento simples nas relações

humanas.

A soberba refere-se à relação do homem com o outro se sentindo

sempre certo e maior e com Deus: é uma negação, contrária à realidade, de

uma relação de dependência da criatura com o Criador.

Ser soberbo na vida de um cristão é um desconhecimento da sua

condição de criatura.

Em todos os pecados existe duplo aspecto: aversio, aversão a Deus, e

aconversio, a conversão, ou seja um apegamento aos bens efêmeros.

O elemento formal que determina a essência e é o primeiro: aversão a

Deus.

E este, em nenhum outro pecado é tão ferozmente explícito como na

soberba.

18

“Todos os outros pecados fogem de Deus, e só a soberba se opõe a

Deus”. É só dos soberbos que a Sagrada Escritura diz que Deus lhes resiste

(TIAGO 4, 6).

Nesse cenário destaca-se que

“A dinâmica de reconhecimento social da moral auto-suficiente

prosseguirá, legitimando sempre mais amplamente o princípio laico-moderno

da separação entre o dever terreno e a vida eterna, mediante a rejeição de

uma ideia de moralidade que seja tributária de uma concepção religiosa de vida

após a morte”.24

Assim quanto mais soberbo o ser humano se encontra mais afastado ele

fica de Deus.

Embora alguns autores discordem, na teologia paulina é evidente o uso

de um indicativo-imperativo para a conduta da vida cristã. Isso quer dizer que,

para Paulo, se o ato salvador de Deus em Cristo, por meio da sua morte e

ressurreição, é o fundamento da experiência de vida cotidiana do cristão,

então, o comportamento ético, o caráter e a conduta do cristão, nas suas

relações sociais diversas, deve corresponder ao que Deus, em Cristo, o faz ter

onde a soberba entre em contradição com o que é previsto para esses

comportamentos.

Dessa forma, o Paulo (1Tm 4.7, 5.22; 2Tm 3.14-15) não consegue

conceber (imperativo) um comportamento cristão que não corresponda à graça

salvadora de Deus que é capaz de tornar o velho homem em novo homem

(indicativo).

Essa resposta é sempre descrita como o processo de santificação do

cristão, onde, a santidade ou a santificação inclui o status soteriológico e –

mais importante – a perfeição ética e escatológica no presente cotidiano das

24 LIPOVETSKY. G., Os Tempos Hipermodernos, São Paulo, Editora Barcarolla, 2004.

19

relações, com Deus e com o próximo. Ora não é possível amar ao próximo e

com ele ter boas relações se existe a soberba no coração do homem.

Por três vezes, pelo menos, é possível encontrar essa recomendação a

Timóteo para o desenvolvimento de uma vida de santificação, da busca por

santidade e pureza: “Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas.

Exercita-te, pessoalmente, na piedade” (1Tm 4.7); “Conserva-te a ti mesmo

puro” (1Tm 5.22); “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que

foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes

as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em

Cristo Jesus” (2Tm 3.14-15).

O apóstolo Paulo insiste: “Exercita-te, pessoalmente, na piedade”. A

palavra “piedade” aparece cerca de 13 vezes em todas as Pastorais (1Tm 2.2;

3.16; 4.7, 8; 5.4; 6.3, 5, 6, 11; 2Tm 3.5, 12; Tt 1.1; 2.12) e sempre se refere à

atitude religiosa dos cristãos, ligada ao conhecimento da fé, que tem como

centro a consciência da nova vida em Cristo Jesus.

A estrutura linguística metafórica é a esportiva, isto é, Paulo utiliza a

imagem do atleta que sempre busca estar em forma (1Tm 4.8), por meio de

uma vida disciplinada de exercícios físicos, para falar da vida de santidade

pessoal que Timóteo deveria desenvolver sempre.

Se o objetivo do atleta é desenvolver o corpo, o objetivo do pastor

Timóteo deve ser desenvolver-se na piedade. Se o atleta se torna modelo de

dedicação e empenho na busca pelo condicionamento físico ideal, o pastor

Timóteo deveria tornar-se modelo de dedicação e empenho na busca por uma

vida correta, pura e fiel aos mandamentos do Senhor.

Agindo assim, será modelo para toda a Igreja, de um “bom ministro de

Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina” (1Tm 4.6).

A busca pela pureza, santidade e autodisciplina se resume ao desejo da

própria piedade, uma vez que ela “designa a atitude religiosa no sentido mais

profundo, a verdadeira reverência a Deus que advém do conhecimento dEle”. A

busca pelo desenvolvimento da santificação é o desejo correto do crente que

20

tem consciência da graça de Deus que o alcançou e que deve responder a ela,

de forma que o caráter de Cristo seja desenvolvido, formado e reproduzido na

vida dos outros.

No entanto, por causa do ativismo das suas agendas superlotadas e se

a força numérica do próprio eu (soberba) seduz mais que o empenho e

compromisso espiritual, moral e ético, a consequência imediata é a falta de

tempo para que os cristãos se tornem comprometidos com a leitura da Bíblia e a oração, os exercícios fundamentais para o desenvolvimento da

espiritualidade pessoal.

Isso demonstra que muitos têm falhado na tarefa primeira, e necessária,

da busca pela santificação individual. Se os cristãos não têm “piedade” alguma,

suas vidas se tornam um desastre e um mau exemplo para todos, e o resultado

se mostra por meio dos inúmeros escândalos, propagandeados e explorados

pela mídia, revelando que o que muitos proclamam nas suas vidas é cancelado

pela soberba presente diariamente em suas vidas, pela falta de temor a Deus e

desejo de seguir verdadeiramente a Cristo.

21

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vida do cristão nunca foi uma vida fácil. Desde os primórdios, com

Paulo e seus conterrâneos, ser um cristão sempre foi um desafio.

No entanto, frente a atual modernidade, ser um cristão com uma vida

plena e estável espiritualmente é cada vez mais complexo.

Temos diversos fatores que podem servir de entraves para a vida cristã

na modernidade.

A sedução da mídia, do consumismo, o narcisismo, o amor ao poder e

ao dinheiro e principalmente a soberba onde o homem se entendem superior

aos seus demais sendo até mesmo desnecessário para ele em muitos pontos

estar atrelado a presença de Deus.

A oração diária e a leitura da Bíblia, fatores direcionadores e

motivadores para uma vida cristã fiel e digna, estão sendo deixados de lado no

acúmulo de atividades que o homem desenvolve em prol de crescer mais e

mais dentro de seu ego e de sua soberba.

Conclui-se nesse estudo que são muitos os desafios para o cristão na

sociedade brasileira no cenário do século XXI indo desde a imoralidade e

lascívia explosiva e propagada, até o amor e endeusamento do próprio eu,

onde o ser humano é consumido pela soberba sem ao menos perceber

incialmente e quando já está dominado por ela, não sente a necessidade de

amar a Deus e ao próximo como regem os mandamentos de uma vida cristã.

É mister quer é urgente que o cristão se mantenha mais afastado das

práticas contaminadores que hoje dominam o mundo, buscando cada dia mais

despertar em si os dons do Espirito Santo, em prol de uma verdadeira

metanóia na sua vida, colocando em primeiro lugar Deus em segundo lugar o

próximo e só então a si mesmo, tendo assim noção total de sua pequenez.

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