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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE DESENHO TÉCNICO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL MARIA CLARA BASTOS CAMPELLO SISTEMA AUXILIAR PARA TREINO DE MARCHA EM SUPERFÍCIE PLANA Niterói 2018

MARIA CLARA BASTOS CAMPELLO SISTEMA AUXILIAR

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE DESENHO TÉCNICO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL

MARIA CLARA BASTOS CAMPELLO

SISTEMA AUXILIAR PARA TREINO DE MARCHA EM SUPERFÍCIE PLANA

Niterói 2018

MARIA CLARA BASTOS CAMPELLO

SISTEMA AUXILIAR PARA TREINO DE MARCHA EM SUPERFÍCIE PLANA

Orientador Acadêmico Prof. Dr. Giuseppe Amado de Oliveira

Niterói 2018/1

Trabalho de conclusão de curso apresentado em 28 de junho de 2018, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Desenho Industrial pela Universidade Federal Fluminense.

MARIA CLARA BASTOS CAMPELLO

SISTEMA AUXILIAR PARA TREINO DE MARCHA EM SUPERFÍCIE PLANA

Trabalho de conclusão de curso apresentado em 28 de junho de 2018, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Desenho Industrial pela Universidade Federal Fluminense.

Trabalho aprovado em _____ de __________ de _____.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Giuseppe Amado de Oliveira (Orientador Acadêmico) Universidade Federal Fluminense

Profª. Drª. Luiza Helena Boueri Rebello (Avaliador) Universidade Federal Fluminense

Profª. Drª. Renata Vilanova Lima (Avaliador) Universidade Federal Fluminense

Dedico este trabalho a todos os que tornam meus dias melhores.

AGRADECIMENTOS Agradeço a toda equipe da Associação Fluminense de Reabilitação, em especial à Angelina e Henriette, que me acolheram e permitiram que eu acompanhasse o trabalho e os atendimentos realizados no setor de fisioterapia pediátrica. Conhecer um pouco mais do trabalho e dos pacientes foi um fator definitivo para me manter nesse caminho que se mostrou sacrificial. Agradeço muito aos pais que autorizaram o uso da imagem dos seus filhos para a documentação dos testes, especialmente àqueles que demonstraram apoio e me desejaram força ainda que soubessem tão pouco sobre mim ou minha ideia. Sinto que se tivesse optado por outro tema, dificilmente teria chegado até onde cheguei, pois a vontade de retribuir a atenção e fazer a diferença na vida de cada professional e paciente foi a única coisa que me manteve de pé durante os momentos mais difíceis. Agradeço aos meus pais, que dia após dia juntavam os pedaços do meu ser quebrado pelas dificuldades do ofício e tiravam de mim qualquer possibilidade de desistir. Agradeço especialmente a minha mãe, que deu vida a uma parte indispensável do projeto com suas habilidades de costureira, além de ter tido a ideia de criar manequins-criança estranhamente carismáticos para me auxiliar desde cedo. Agradeço aos meus amigos, Nicole, Caio, Douglas, Cecília, Virgínia, Lucas, Helena, entre outros. Agradeço aos que secaram minhas lágrimas, que me proporcionaram grandes momentos de alegria com pequenas coisas ou gestos, que tornaram meus dias mais leves e minha jornada menos solitária. Posso não expressar isso com a frequência que deveria, mas não me imagino aqui sem a companhia de cada um. Amo vocês. Agradeço aos profissionais Jodson e Magno, pela correção e por terem executado trabalhos de qualidade, ainda que com imprevistos e correndo contra o tempo. E por último, mas não menos importante, agradeço a todos os professores do curso de Desenho Industrial, em especial ao meu orientador Giuseppe Amado.

“The mystery of human existence lies not in just staying alive, but in finding something to live for.”

(Fiodor Dostoievski)

RESUMO

CAMPELLO, Maria Clara Bastos. Sistema auxiliar para treino de marcha em superfície plana. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2018. (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação.) Com base em um referencial teórico que aponta que fisioterapeutas são frequentemente expostos a desgaste físico durante o exercício da profissão, este trabalho propõe-se a desenvolver um produto para minimizar a tomada de posturas prejudiciais pelo profissional. Para observação e coleta de dados, foi escolhido o setor de Fisioterapia Pediátrica da Associação Fluminense de Reabilitação, onde foi possível concluir que o treino de marcha era a atividade onde os problemas posturais eram evidenciados. Com o auxílio da ergonomia, o estudo da tarefa realizada garantiu a classificação e priorização dos problemas envolvidos, tendo como resultado a geração de um sistema auxiliar para treino de marcha pediátrico que comporta crianças de 1 a 5 anos. O produto evita a exposição do fisioterapeuta ao desgaste físico e garante um treino efetivo para o paciente. Palavras-chaves: Tecnologia de reabilitação. Projeto de produto. Treino de marcha. Fisioterapia pediátrica.

ABSTRACT

CAMPELLO, Maria Clara Bastos. Sistema auxiliar para treino de marcha em superfície plana. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2018. (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação.) Based on studies pointing out that physical therapists are frequently exposed to physical strain while performing their professional duties, the current work aims to design a product to prevent the professional from assuming unhealthy body postures. Using the Pediatric Physical Therapy section from Associação Fluminense de Reabilitação as study object, it was possible to find a relationship between the physical damage and gait training, where the therapist was forced to assume bad postures to help the patient to execute the task properly. An ergonomic analysis about the tasks performed by the therapist ensures to highlight and prioritize the problems involved, resulting in a gait training body weight support to children aged between 1 and 5 years. The product was designed to prevent the therapist from being exposed to physical strain and provide safe training for the patient. Keywords: Rehabilitation engineering. Industrial design. Gait training. Pediatric rehabilitation

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Método PHAATE.............................................................. 24

Figura 2. Exemplos de quesitos para avaliação............................... 25

Figura 3. Áreas corporais mais exigidas em fisioterapeutas 27

Figura 4. Alguns resultados de busca para “harness baby walker” 28

Figura 5. Lokomat……………………………………………………… 29

Figura 6. Dificuldades posturais...................................................... 32

Figura 7. Fisioterapeuta auxiliada por cadeira com rodízios............ 33

Figura 8. Sustentando o peso do paciente....................................... 34

Figura 9. Paciente se bateu ao realizar o exercício......................... 35

Figura 10. O almoxarifado................................................................. 36

Figura 11. Equipamentos não comportados pelo almoxarifado......... 37

Figura 12. Mais equipamentos não comportados pelo almoxarifado 37

Figura 13. Andador com fitas crepe……………………………………. 38

Figura 14. Andador verde……………………………………………… 39

Figura 15. Comparação entre os dois manipulos…………………….. 39

Figura 16. Caracterização do Sistema………………………………… 40

Figura 17. Ordenação hierárquica…………………………………….. 41

Figura 18. Expansão do Sistema………………………………………. 42

Figura 19. Modelagem comunicacional……………………………….. 43

Figura 20. Caracterização da tarefa…………………………………… 49

Figura 21. Quadro de atividades e meios……………………………... 50

Figura 22. Fluxograma funcional ação-decisão……………………… 51

Figura 23. Registro cursivo…………………………………………….. 52

Figura 24. Contato com fornecedor……………………………………. 55

Figura 25. NXStep unweighing system……………………………….. 56

Figura 26. Innowalk……………………………………………………... 57

Figura 27. UpSee………………………………………………………... 58

Figura 28. Moonwalk……………………………………………………. 59

Figura 29. Niniwalker……………………………………………………. 60

Figura 30. My early steps……………………………………………….. 61

Figura 31. Embalagem do produto…………………………………….. 62

Figura 32. Detalhes da embalagem…………………………………… 63

Figura 33. Instruções……………………………………………………. 63

Figura 34. Detalhes das travas………………………………………… 64

Figura 35. Vista total do produto……………………………………….. 65

Figura 36. Valores mínimos e máximos encontrados........................ 67

Figura 37. Alternativa 1…………………………………………………. 68

Figura 38. Teste com manequim………………………………………. 69

Figura 39. Redução da estrutura………………………………………. 69

Figura 40. Teste com PVC……………………………………………… 70

Figura 41. Alternativa 2…………………………………………………. 71

Figura 42. Modelo de PVC……………………………………………… 72

Figura 43. Modelo alinhado…………………………………………….. 73

Figura 44. Estrutura “explodida”……………………………………….. 74

Figura 45. Estrutura alinhada…………………………………………... 75

Figura 46. Estrutura desmontada……………………………………… 76

Figura 47. O suporte…………………………………………………….. 77

Figura 48. Suporte com alças………...………………………………... 77

Figura 49. Ajustes……………………………………………………….. 78

Figura 50. Ajustes……………………………………………………….. 78

Figura 51. Esquema e possíveis variações…………………………… 79

Figura 52. Possível variação temática de instituições……………….. 80

Figura 53. Tubos de aço carbono……………………………………… 81

Figura 54. Chapas de aço inoxidável………………………………….. 82

Figura 55. Lingotes de alumínio……………………………………….. 83

Figura 56. Calça infantil em brim………………………………………. 83

Figura 57. Caminha pet em nylon dublado……………………………. 84

Figura 58. Gorgurinho estampado…………………………………….. 84

Figura 59. Extrusão de um tubo………………………………………... 85

Figura 60. Curvatura de tubo…………………………………………… 86

Figura 61. Escorredor pintado com tinta em pó………………………. 88

Figura 62. Caneca esmaltada………………………………………….. 89

Figura 63. Processo produtivo…………………………………………. 89

Figura 64. Manequins infantis de pano………………………………... 93

Figura 65. Criança de 12 a 15 meses………………………………….. 94

Figura 66. Criança de 5 anos…………………………………………… 94

Figura 67. Homem percentil 99………………………………………… 95

Figura 68. Mulher de percentil 1……………………………………….. 95

Figura 69. Compatibilização para altura total da estrutura………….. 96

Figura 70. Ângulos de conforto de braço e antebraço………………. 96

Figura 71. Compatibilização para altura da empunhadura………….. 97

Figura 72. Ângulos de conforto – alcance ……………………………. 97

Figura 73. Compatibilização – alcance………………………………... 97

Figura 74. Construção………………………………………………….. 98

Figura 75. Confecção da peça piloto…………………………………... 99

Figura 76. Padronagem do tecido utilizado…………………………… 100

Figura 77. Teste da peça piloto………………………………………… 100

Figura 78. Modelo preliminar…………………………………………… 101

Figura 79. Teste com paciente de 1 ano………………………………. 102

Figura 80. Teste com paciente de 4 anos…………………………….. 103

Figura 81. O dano……………………………………………………….. 104

Figura 82. Modelo danificado…………………………………………... 104

Figura 83. Modelo final………………………………………………….. 105

Figura 84. Rodízios com freio………………………………………….. 106

Figura 85. Aplicação da tinta de fundo………………………………… 107

Figura 86. Aplicação da tinta spray……………………………………. 107

Figura 87. Reparo estético……………………………………………... 108

Figura 88. Aspecto do acabamento com tinta automotiva…………... 108

Figura 89. Teste com paciente de 4 anos……………………………... 110

Figura 90. Teste com paciente de 4 anos……………………………... 111

Figura 91. Teste com paciente de 1 ano………………………………. 112

Figura 92. Teste com paciente de 1 ano………………………………. 113

Figura 93. Armazenado no almoxarifado……………………………... 114

Figura 94. Armazenado segundo sugestões…………………………. 115

Figura 95. Sendo transportado desmontado…………………………. 116

Figura 96. Atravessando portas……………………………………….. 117

Figura 97. Atravessando menor porta padrão e elevador…………… 118

Figura 98. Problema…………………………………………………….. 119

Figura 99. Limitadores………………………………………………….. 120

Figura 100 Simulação com manequim 5 anos………………………… 121

Figura 101 Referencial…………………………………………………... 122

Figura 102 Resultado……………………………………………………. 122

Figura 103 Modelo virtual……………………………………………….. 123

Figura 104 Decomposição do manequim........................................... 144

Figura 105 Pé..................................................................................... 145

Figura 106 Montagem da cabeça....................................................... 146

Figura 107 Sem enchimento.............................................................. 147

Figura 108 Preenchimento do corpo.................................................. 148

Figura 109 Inserção de fio.................................................................. 148

Figura 110 Furacão 2001 e Furacão 2005.......................................... 149

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Disfunções do sistema………………………………………. 44

Tabela 2. Gravidade x Urgência x Tendência…………………………. 45

Tabela 3. GUT hierarquizada…………………………………………… 45

Tabela 4. Parecer ergonômico………………………………………….. 47

Tabela 5. Registros posturais…………………………………………… 54

Tabela 6. Dimensões relevantes……………………………………….. 91

Tabela 7. Comparação dos registros posturais..……………………... 124

Tabela 8. Custo final unitário……….…………………………………... 125

Tabela 9. Especificações técnicas……………………………………... 127

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (se houver)

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

AFR Associação Fluminense de Reabilitação

DP Design Participativo

EPI Equipamento de proteção individual

GDI Graduação em Desenho Industrial

ISO International Standards Organization

PCP Planejamento e Controle da Produção

PVC Policloreto de polivinila (policloroeteno)

RESNA Rehabilitation Engineering and Assistive Technology Society of

North America

TA Tecnologia Assistiva

TDT Departamento de Desenho Técnico

UFF Universidade Federal Fluminense

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................... 18

1. REFERENCIAL TEÓRICO ……………………………………… 19

1.1. Breve histórico da fisioterapia……………………………………. 19

1.2. Tecnologia de reabilitação……………………………………….. 21

1.3. Justificativa………………………………………………………… 26

1.4. Resultados esperados……………………………………………. 30

2. APRECIAÇÃO E PARECER ERGONÔMICO…………………. 31

2.1. Apreciação ergonômica…………………………………………... 31

2.1.1. Problematização………………………………………………….. 31

2.1.2. Caracterização e posição serial do Sistema……………………. 40

2.1.3. Ordenação hierárquica…………………………………………… 41

2.1.4. Expansão do Sistema…………………………………………….. 42

2.1.5. Modelagem comunicacional do Sistema……………………….. 43

2.1.6. Disfunções do Sistema…………………………………………… 44

2.2. Parecer ergonômico………………………………………………. 44

2.2.1. Tabela G.U.T………………………………………………………. 44

2.2.2. Predições………………………………………………………….. 45

2.2.3. Sugestões preliminares de melhoria……………………………. 46

2.2.4. Quadro do parecer ergonômico………………………………….. 46

2.2.5. Conclusão…………………………………………………………. 47

3. ANÁLISES………………………………………………………… 48

3.1 Análise da tarefa…………………………………………………... 48

3.1.1. Caracterização da tarefa…………………………………………. 49

3.1.2. Quadro de atividades e meios…………………………………… 50

3.1.3. Fluxograma funcional ação-decisão…………………………….. 51

3.1.4. Registros posturais……………………………………………….. 52

3.2. Análise de similares………………………………………………. 55

3.2.1. Similares diretos…………………………………………………... 56

3.2.2. Similares indiretos………………………………………………… 59

3.2.3. Análise morfológica do similar indireto adquirido………………. 62

4. SÍNTESE…………………………………………………………… 66

4.1. Modelagem verbal………………………………………………… 66

4.2. Requisitos e restrições……………………………………………. 66

5. GERAÇÃO E SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS……………….. 68

5.1. Alternativa 1……………………………………………………….. 68

5.2. Alternativa 2……………………………………………………….. 70

5.3. Detalhamento da alternativa escolhida…………………………. 73

6. DESENVOLVIMENTO DA SOLUÇÃO…………………………. 81

6.1. Levantamento dos materiais de fabricação…………………….. 81

6.1.1. Estrutura…………………………………………………………… 81

6.1.2. Suporte…………………………………………………………... 83

6.2. Levantamento dos processos de fabricação…………………… 85

6.2.1. Estrutura…………………………………………………………… 85

6.2.2. Suporte…...………………………………………………………... 89

6.3. Projetação ergonômica…….…………………………………….. 91

6.3.1. Dimensões relevantes……………………………………………. 91

6.3.2. População usuária………………………………………………… 91

6.3.3. Percentil da população acomodada…………………………….. 92

6.3.4. Levantamento antropométrico utilizado………………………… 92

6.3.5. Manequins antropométricos……………………………………… 92

7. CONSTRUÇÃO DE MODELOS………………………………… 98

7.1. Modelo preliminar…………………………………………………. 98

7.1.1. Validação do modelo preliminar…………………………………. 102

7.1.2. Observações pós teste…………………………………………… 103

7.2. Modelo final………………………………………………………... 105

8. VALIDAÇÃO E ALTERAÇÕES…………………………………. 109

8.1. Validação do modelo final………………………………………… 109

8.2. Correções pós teste………………………………………………. 120

8.3. Custo final………………………………………………………….. 125

8.4. Observações………………………………………………………. 126

9. DESENHOS TÉCNICOS…………………………………………. 127

10. CONCLUSÃO……………………………………………………... 138

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................ 139

BIBLIOGRAFIA........................................................................ 142

ANEXO - CONSTRUÇÃO DOS MANEQUINS......................... 144

18

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem a intenção de desenvolver um produto para ser

utilizado nas sessões de fisioterapia pediátrica, com foco em minimizar os

problemas posturais sofridos pelo fisioterapeuta e tornar o treino de marcha

em superfície plana uma atividade mais fácil e proveitosa para o profissional e

seu paciente.

Em meio às pesquisas para aprofundamento no tema, foi possível

constatar que a Tecnologia de Reabilitação — quando não é confundida com

a Tecnologia Assistiva — é pouco explorada, principalmente no Brasil. O

produto proposto não tem o objetivo de ser utilizado pela criança em sua vida

diária como ocorrem com os recursos de Tecnologia Assistiva, e sim durante

as sessões de fisioterapia, com a criança na condição de paciente, sob as

avaliações e supervisão de um profissional.

O desconhecimento da Tecnologia de Reabilitação no cenário nacional,

ainda que possa ser um desafio, também pode ser encarado como uma

oportunidade de explorar um nicho de mercado dominado por produtos

importados que em geral são de difícil aquisição e manutenção. A visitação e

as observações foram feitas no setor de Fisioterapia Pediátrica da Associação

Fluminense de Reabilitação, onde foi possível conhecer um pouco mais do

trabalho realizado pelos fisioterapeutas e acompanhar pacientes que se

enquadrassem no perfil atendido pelo produto.

Serão apresentadas a seguir todas as etapas da elaboração e

construção do produto, desde uma breve apresentação do tema geral e

pesquisa histórica sobre a fisioterapia até os resultados finais.

19

1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1. Breve histórico da fisioterapia

Integrando de forma multidisciplinar os conhecimentos teóricos e

práticos da enfermagem, medicina e educação física, a constituição da

fisioterapia como profissão da área da saúde aconteceu a partir do final do

século XIX. (ESPÍNDOLA; BORENSTEIN, 2011). Ainda assim, uma das

técnicas utilizadas na profissão do fisioterapeuta é também uma das terapias

mais antigas existentes: a massagem. O manuscrito Nei Ching, também

conhecido como O Livro de Medicina do Imperador Amarelo e datado de 2598

a.C. possui a primeira referência escrita sobre a importância da massagem

para o alívio de desconfortos ortopédicos. Apesar de ter sido difundida e

aperfeiçoada no Oriente a ponto de gerar a Massagem Tradicional Chinesa e

o japonês Shiatsu (GOATS, 1994), a terapia manual passou por períodos de

esquecimento durante a Idade Média e só voltou a ganhar espaço no Ocidente

durante a época do Renascimento, devido ao surgimento do humanismo nas

artes e a retomada dos cuidados relativos a saúde com o culto ao corpo.

No que diz respeito ao campo da enfermagem, somente em 1860 a

massagem ganhou notoriedade devido aos estudos de Florence Nightingale,

a primeira mulher a fundar uma escola para a formação de enfermeiros.

Segundo ela, a massagem promovia o relaxamento muscular, além de reduzir

ansiedade e dores e contribuir para a diminuição de edemas crônicos

(GOLDSTONE, 1999). O aprendizado da massagem terapêutica se tornou

uma exigência para a qualificação das enfermeiras, o que contribuiu para o

surgimento da Society of Trained Masseuses, que futuramente viria a agregar

os conhecimentos técnicos e científicos da enfermagem e da medicina,

tornando-se em 1943 a Sociedade dos Fisioterapeutas Formados

(ESPÍNDOLA; BORENSTEIN, 2011).

Tão antiga quanto a existência da massagem terapêutica é a relação da

reabilitação com as guerras. A sociedade espartana, há mais de 2500 anos,

apesar de eliminar crianças nascidas com deficiências, oferecia proteção para

20

os soldados que se tornavam deficientes depois de lutar por seu país (ELDAR;

JELIC, 2003). Ainda que a reabilitação tenha dado seus primeiros passos com

a ortopedia — Neologismo criado em 1741 pelo professor de medicina

Nicholas Andry para nomear seu livro sobre como prevenir e tratar

deformidades em crianças, daí a combinação de duas palavras, “orthos” (reto)

e “paidias” (criança) em uma só (STAHELI, 2008) — e o surgimento do

primeiro institutos ortopédico especializado em fornecer educação e

tratamento para crianças deficientes na Suíça em 1780, em países como os

Estados Unidos, a fisioterapia e a reabilitação só começaram a ser mais

explorados durante a Primeira Guerra Mundial (ELDAR; JELIC, 2003).

“Contudo, a consolidação da reabilitação física como base fundamental da fisioterapia ocorreu na América, principalmente nos Estados Unidos da América (EUA), em decorrência da Primeira Guerra Mundial, por meio da criação da entidade denominada Mulheres Auxiliares dos Cuidados Médicos(...) Esta categoria fez parte da subdivisão do Departamento Médico do Exército, inserida no Serviço de Cirurgia Geral.” (ESPÍNDOLA; BORENSTEIN, 2011).

Em 1918, foram introduzidos nos programas de educação superior em

educação física os cursos de Fisioterapia nas Emergências de Guerra.Tais

cursos tinham como objetivo formar mulheres especialistas em saúde e

condicionamento físico, com bases científicas em fisiologia humana e cirurgias

ortopédicas, que atuariam diretamente na reabilitação física de soldados

mutilados, possibilitando o retorno deles aos campos de batalha (id.). Ainda

que o interesse na fisioterapia tenha sido deixado de lado por um breve período

de tempo após 1917, com o acontecimento da Segunda Guerra Mundial essa

área voltou a se desenvolver, tratando tanto de militares quanto de civis que

acabavam preciando de tais serviços. Os serviços de reabilitação também se

mostraram vantajosos para a Força Aérea Real Britânica, que comprovou que

era mais rápido e menos custoso tratar seus profissionais do que treinar novos.

Diversos centros de tratamento foram instalados na Inglaterra, Estados Unidos

e União Soviética, alguns com especializações, como o tratamento de lesões

cerebrais ou na medula espinhal. (ELDAR; JELIC, 2003).

21

Outros fatores que impulsionaram o desenvolvimento da fisioterapia

tanto quanto as guerras foram as epidemias de poliomielite, doença viral que

compromete a capacidade de contração dos músculos e costuma deixar

sequelas como paralisia. A epidemia norte-americana, que durou de 1916 a

1955, teve em média 38.000 pessoas infectadas por ano, entre elas o

presidente Franklin Roosevelt, que contraiu a doença aos 39 anos de idade e

foi o criador da Fundação Nacional para Paralisia Infantil, que buscava a

criação de uma vacina contra a pólio além de investir mais de um milhão de

dólares para o avanço da fisioterapia no tratamento das sequelas deixadas

pela doença (BARROS, 2008). No Brasil, ainda que os relatos de casos de

poliomielite datem desde o século XIX, a partir de 1930 ocorreram surtos em

capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, sendo que a última teve em 1953

sua maior epidemia. Enquanto em São Paulo o serviço de fisioterapia já era

oferecido no Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

desde 1929, o primeiro curso de formação profissional em técnicos de

fisioterapia só surgiu em 1951 no Instituto Central do Hospital das Clínicas,

fundado pelo médico Dr Waldo Rolim de Moraes (MARQUES; SANCHES,

1994).

No Rio de Janeiro, acredita-se que grande parte das crianças atingidas

pela poliomielite eram de famílias com uma boa condição social, o que

impulsionou banqueiros, médicos, industriais e militares a reunir recursos para

a criação da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR) e a

ERRJ — Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro, que formava profissionais

especializados em reabilitação — em 1956. A partir disso, começaram as

discussões em torno do exercício profissional da fisioterapia e a profissão foi

regulamentada em outubro de 1969 (BARROS, 2008).

1.2. Tecnologia de reabilitação

Tratando-se de Tecnologia de Reabilitação, é frequente a confusão

entre dois conceitos distintos. Como se tratam de recursos que lidam

frequentemente com indivíduos com deficiência, Tecnologia Assistiva e

22

Tecnologia de Reabilitação por muitas vezes são erroneamente considerados

sinônimos. Quando são feitas buscas em bancos de dados que contém livros

e artigos estabelecendo a palavra-chave como “Tecnologia de Reabilitação”,

os principais resultados são aqueles que apontam a diferença entre a

Tecnologia Assistiva e Tecnologia de Reabilitação. Entretanto, o termo só é

explorado nessa diferenciação de conceitos, pois a grande maioria das

publicações tem como foco ou objeto de estudo a Tecnologia Assistiva e seus

desdobramentos.

“Devemos diferenciar a TA de outras tecnologias como as aplicadas na área médica e de reabilitação. No campo da saúde a tecnologia visa facilitar e qualificar a atividade dos profissionais em procedimentos de avaliação e intervenção terapêutica. São equipamentos utilizados no diagnóstico de saúde, no tratamento de doenças ou na atividade específica de reabilitação, como melhorar a força muscular de um indivíduo, sua amplitude de movimentos ou equilíbrio. Estes equipamentos não são tecnologia assistiva e sim tecnologia médica ou de reabilitação.” (BERSCH, 2013).

Mesmo existindo essa diferença, é possível perceber que certos

produtos podem se adequar a ambos os conceitos. Quando se pensa, por

exemplo, em um idoso andando na calçada de uma rua auxiliado por um

andador, entende-se que o andador é utilizado como produto de Tecnologia

Assistiva. Entretanto, analisando o contexto de um setor de fisioterapia infantil

onde pacientes realizam exercícios de marcha auxiliados por um andador, o

caso passa a ser diferente. Há casos de pacientes que na vida diária são

cadeirantes, mas nas sessões de fisioterapia fazem treino de marcha por

questões que dizem respeito ao crescimento e fortalecimento muscular. Nesse

caso, o andador se faz um recurso importante para a aplicação da terapia

“treino de marcha”, encaixando-se no conceito de Tecnologia de Reabilitação.

“Conforme foi visto, portanto, a Tecnologia Assistiva “é diferente da tecnologia reabilitadora, usada, por exemplo, para auxiliar na recuperação de movimentos diminuídos” (Rede Entre Amigos, 2007). O conceito de Tecnologia Assistiva diferencia-se de toda a tecnologia médica ou de reabilitação, por referir-se a recursos ou procedimentos pessoais, que atendem a necessidades diretas do usuário final, visando sua independência e autonomia. Já os recursos médicos ou de reabilitação visam o diagnóstico ou

23

tratamento na área da saúde, sendo, portanto, recursos de trabalho dos profissionais dessa área.” (GALVÃO FILHO, 2009).

Entretanto, é necessário destacar que a diferença citada anteriormente

sobre Tecnologia Assistiva e Tecnologia de Reabilitação existe principalmente

no contexto brasileiro, como pode ser observado com as citações das obras

de Rita Bersch (2013) e Galvão Filho (2009). Dessa forma, um órgão norte-

americano como a Rehabilitation Engineering and Assistive Technology

Society of North America (RESNA) apresenta significados diferentes para

esses mesmos conceitos, sendo considerado um Artigo de Tecnologia

Assistiva — Assistive Technology Device — qualquer item, equipamento ou

produto utilizado para manter, aumentar ou recuperar capacidades funcionais

dos indivíduos com deficiência (RESNA, 2018), podendo ser usados em

diversos contextos, como no processo educacional, reabilitação, vida

profissional ou vida diária.

Dessa forma é possível relacionar nesse tópico resultados encontrados

em literatura estrangeira sobre Tecnologia Assistiva sem cometer equívocos.

Como campo de trabalho, a TA possui tantas particularidades que o próprio

conceito de “aplicar técnicas de engenharia para projetar, desenvolver,

adaptar, testar e avaliar soluções para problemas confrontados por indivíduos

com deficiências” (id.) vai além do conceito de design, ganhando a

nomenclatura de Rehabilitation Engineering. Com isso, pelo fato dos artigos de

TA apresentarem uma forte ligação com seus usuários, existem metodologias

particulares de projetação e avaliação que levam em consideração esse fator.

Um exemplo é o PHAATE, apresentado em tradução livre na Figura 1, que é

um modelo conceitual proposto para a projetação de quaisquer produtos ou

serviços que têm o propósito de dar assistência a pessoas deficientes

(COOPER; OHNABE; HOBSON, 2007). O nome, um acrônimo, demonstra os

fatores que devem ser considerados, e a importância de cada fator é expressa

na representação gráfica do modelo, com destaque para o ser humano no

centro interligando todos eles. Como os produtos ou serviços desenvolvidos

serão utilizados por pessoas, o modelo se tornaria incompleto caso não desse

ao ser humano sua devida importância. (id.)

24

● Política: Regras ou diretrizes de instituições públicas ou privadas que

exerçam influência sobre artigos relacionados a saúde e possam

afetar a inserção do produto de TA no mercado;

● Ser humano: O usuário ou os usuários do produto;

● Atividade: A tarefa que interliga produto e usuário, a atividade que o

produto auxilia o indivíduo a realizar;

● Assistência e Tecnologia: A relação do produto com as outras

pessoas ou sistemas que participam da mesma tarefa ou cercam o

usuário;

● Ambiente: “O ambiente pode determinar quando a deficiência se

torna um impedimento. Algumas atividades podem ser realizadas em

ambientes diversos e isso precisa ser levado em consideração.”

(ibid.)

Figura 1. Método PHAATE. Fonte: (COOPER; OHNABE; HOBSON, 2007)

Tendo em vista a valorização do usuário e das pessoas que também

participam da tarefa, é possível fazer uma analogia do método PHAATE e o

mais conhecido Design Participativo, uma metodologia de projetação que não

se restringe apenas à TA e que tem como foco desenvolver um projeto

juntamente com a participação dos indivíduos no funcionamento do processo.

Com isso, a projetação passa a contar com uma equipe multidisciplinar, não

apenas com profissionais especializados. (CAMARGO e FAZANI, 2014)

25

Entretanto, o DP vai ainda mais longe do que o PHAATE no que diz respeito a

envolver na projetação as pessoas que utilizarão o sistema posteriormente,

considerando um processo projetual de “design com o usuário”, em que

projetista e usuário se encontram unidos para obter um resultado comum.

“Pensa-se, portanto, em “design com o usuário”, na qual os usuários se envolvem e participam ativamente das decisões de projeto de uma forma mais democrática. O resultado dessa abordagem tende a ser o projeto de interfaces mais adequado aos usuários, às tarefas a serem desempenhadas e aos objetivos a serem alcançados.” (SANTA ROSA; MORAES, 2012)

Outro enfoque possível para a participação do usuário nas metodologias

para projetação de TA é na avaliação do produto. Existem desde métodos

simples de avaliação que consistem na enumeração de quesitos (Figura 2) aos

quais são atribuídas notas para saber o que é necessário melhorar até modelos

conceituais mais complexos que levam em conta cada aspecto da tarefa

realizada para promover a reflexão sobre quais as vantagens o produto trouxe

durante a execução da atividade.

Figura 2. Exemplos de quesitos para avaliação (tradução livre) 1 Fonte: (BATAVIA; HAMMER apud DiGIOVINE; SCHEIN; SCHMELER, 2012),

Exemplos como esses demonstram que o produto ou serviço, mesmo

que já fabricado e distribuído, nunca é algo definitivo, fechado em si mesmo.

1Com base em análises que seguem esses critérios, foi possível concluir que o primeiro item

(originalmente “affordability”) trata-se de acessibilidade de preço, não dizendo respeito ao conceito de “affordance”, existente no design.

26

Modificações e aprimoramentos não apenas podem como devem acontecer,

pois problemas e dificuldades referentes à tarefa que o produto se propõe a

cumprir ou ajudar no cumprimento só serão descobertos com base nas

experiências da lida com o produto. Dessa maneira, é possível concluir que

principalmente na produção de artigos de Tecnologia Assistiva/Tecnologia de

Reabilitação, a opinião do usuário que lida diretamente com o produto ou

serviço se mostra de extremo valor.

1.3. Justificativa

O treino de marcha é um conjunto de atividades que visam a aquisição

de competências para a deambulação. Equilíbrio, fortalecimento muscular e

coordenação motora são alguns dos aspectos trabalhados com esse tipo de

prática. (TREINO..., 2018) Ainda que o trabalho desenvolvido tenha o foco no

treino de marcha em superfície plana, existem as variações de treino em

superfícies como escadas e rampas que simulam obstáculos encontrados na

vida diária, uma vez que o propósito do exercício é promover o

desenvolvimento e a autonomia da criança, para que ela conquiste o máximo

de independência possível e consiga se integrar na sociedade e até mesmo

em sua própria família.

Para que sejam obtidos bons resultados, é importante que exista uma

boa interação entre o fisioterapeuta e seu paciente. Um dos fatores que pode

impedir que isso aconteça é o acometimento dos profissionais por distúrbios

osteoarticulares relacionados ao trabalho (DORT) resultantes da adoção

frequente de posturas prejudiciais, que ocorrem devido a grande diferença de

altura entre o adulto e a criança. Caracterizados por alguns autores como uma

epidemia, os distúrbios osteoarticulares relacionados ao trabalho ou as lesões

por esforço repetitivo (LER) são sérios problemas de saúde pública que

implicam em custos físicos e até mesmo psicológicos. (MORAES; BASTOS,

2013).

Ainda que possuam conhecimento sobre lesões musculoesqueléticas,

os fisioterapeutas não estão isentos de padecer desses problemas

27

(CARREGARO; TRELHA; MASTELARI, 2005), sendo a fisioterapia uma

ocupação que apresenta em seu processo de trabalho alguns fatores de risco

para LER/DORT, como a realização de movimentos repetitivos e posturas

inadequadas. Uma revisão de literatura feita sobre o tema (Figura 3) prova que

esses fatores são estressantes principalmente para a coluna lombar, coluna

cervical, mãos e punhos. (id)

Figura 3. Áreas corporais mais exigidas em fisioterapeutas Fonte: (CARREGARO; TRELHA; MASTELARI, 2005)

Tais problemas poderiam ser minimizados com o uso de equipamentos

ou produtos que facilitassem o trabalho do fisioterapeuta, mas há uma certa

lacuna no nicho de mercado que diz respeito a esse público. Mesmo existindo

uma certa variedade de artigos pensados para um adulto manter a postura

correta ao auxiliar uma criança a praticar treino de marcha — que podem ser

encontrados como andadores “tipo arnês” ou handheld baby walkers — esses

produtos são voltados apenas para crianças com desenvolvimento

convencional, na faixa etária de aproximadamente 6 a 16 meses. (Figura 4)

Sabendo que o setor de fisioterapia pediátrica da Associação

Fluminense de Reabilitação (AFR), onde o presente trabalho foi realizado,

28

atende crianças de 1 a 12 anos, é possível entender que a aquisição de um

dos produtos mencionados anteriormente contemplaria apenas uma parcela

mínima dos pacientes, já que nesse ambiente o treino de marcha ocorre por

questões que independem da idade da criança.

Figura 4. Alguns resultados de busca para “handheld baby walker” Fonte: O autor

Se não é possível adaptar ou utilizar um produto já existente, ao mesmo

tempo comprar um artigo desenvolvido para fisioterapia pode ser mais difícil

ainda. Analisando o nicho de produtos para reabilitação, a tendência do

mercado e das empresas especializadas na criação de tais equipamentos é

aliar cada vez mais recursos eletrônicos a seus produtos, gerando aparelhos

de excelência que visam melhorar a experiência de fisioterapeutas e pacientes

por meio de componentes motorizados, sensores para transmitir a resposta do

paciente à máquina e até mesmo estímulos de imersão, como jogos em

realidade virtual.

Entretanto, isso implica em gerar equipamentos de alto custo, que

podem se tornar mais altos ainda considerando gastos além do preço do

produto, já que manutenção, instalação e treinamento de profissionais também

29

precisam ser considerados. Aparelhos como a Lokomat (Figura 5) ― que

possui encaixes nos membros inferiores do paciente e simula a marcha sobre

uma esteira, podendo atender ao público adulto ou pediátrico ― chegam a

custar 260 mil euros, o que se converte em cerca de 1,2 milhão de reais

(PSDB, 2014) incluindo os custos de importação e instalação, excluindo

manutenção, do equipamento produzido pela empresa suíça Hocoma.

Figura 5. Lokomat Fonte: (HOCOMA, 2017)

No caso específico da Lokomat, é possível exemplificar outros fatores

além do preço que podem dificultar a aquisição do equipamento: Questões

políticas e burocráticas. O Ministério da Saúde alega que a Lokomat não tem

evidência científica suficiente para ser incorporada à rede de saúde, por isso

não aceita que os deputados aloquem emendas federais para a compra do

aparelho (GABRILLI, 2015). Dessa forma, ainda que se esteja ciente da

30

existência de equipamentos de ponta, eles simplesmente não são acessíveis

à maioria da população, seja por questões burocráticas ou, principalmente,

restrições monetárias.

Em suma, ao mesmo tempo em que as sessões de fisioterapia são

imprescindíveis na vida de seus pacientes e não podem deixar de ser

oferecidas por conta das dificuldades citadas, não é justo manter condições

que possam ser prejudiciais para a saúde do profissional, nem é viável que

problemas sejam minimizados com soluções improvisadas. O

desenvolvimento de um produto prático, pensado para fornecer conforto ao

fisioterapeuta e para contemplar uma faixa etária condizente com os pacientes

atendidos seria a oportunidade de melhorar o processo de reabilitação de

forma completa, considerando tanto o profissional quanto seu paciente e sendo

um recurso condizente com a realidade em que ambos estão incluídos.

1.4. Resultados esperados

Desenvolver um produto que minimize a tomada de posturas

prejudiciais pelos profissionais dos setores de fisioterapia pediátrica enquanto

auxiliam os pacientes a realizar exercícios de marcha; otimize o exercício feito

pela criança, oferecendo a segurança e o suporte necessários para realização

do mesmo e atinja o maior número possível de usuários, sendo confortável

para profissionais de diversas alturas e adaptável a pacientes de uma

determinada faixa etária.

31

2. APRECIAÇÃO E PARECER ERGONÔMICO

Para coletar os dados pertinentes a essa seção, foram acompanhados

dois pacientes do setor de fisioterapia pediátrica da Associação Fluminense de

Reabilitação com idades relativas a 1 e 4 anos. Mesmo com diagnósticos

diferentes, ambos realizavam treino de marcha em superfície plana com a

finalidade de estimular a coordenação motora e o fortalecimento muscular. O

livro “Ergonomia – Conceitos e Aplicações”, de Anamaria de Moraes e Claudia

Mont’alvão (2012) foi utilizado como referencial.

2.1. Apreciação ergonômica

2.1.1. Problematização

Problema interfacial-postural: Para auxiliar a criança a realizar os

exercícios de marcha, o fisioterapeuta acaba assumindo posturas prejudiciais,

principalmente quando se trata da flexão frontal do tronco, que por muitas

vezes acontece durante todo o tempo do exercício realizado pela criança. A

figura 6 mostra o paciente de 4 anos realizando o exercício de marcha. Ainda

que ele possua um grau maior de autonomia e ande sozinho, ainda não

sustenta o tronco totalmente, o que faz com que possa cair sentado ou para a

frente de forma repentina. A fim de evitar acidentes e estimulá-lo a andar, a

fisioterapeuta precisa estar sempre pronta para atendê-lo.

32

Figura 6. Dificuldades posturais Fonte: O autor

Quando a criança é menor, uma cadeira com rodízio é utilizada pelo

fisioterapeuta. Ainda assim, a flexão frontal não é evitada ou minimizada. Com

o uso da cadeira é exigido um esforço extra dos membros inferiores do

profissional, que precisa utilizar suas pernas e pés como impulso para se

locomover pela sala enquanto auxilia a criança a realizar o exercício. A figura

7 mostra como o treino de marcha acontece com a paciente de 1 ano, que

utiliza um andador para realizar o exercício.

33

Figura 7. Fisioterapeuta auxiliada por cadeira com rodízios Fonte: O autor

Problema movimentacional: Muitas vezes durante a sessão o

fisioterapeuta tem que sustentar o corpo da criança (Figura 8). O deslocamento

de peso excessivo ocorre quando o professional tem que lidar com pacientes

de mais idade, consequentemente mais pesados. Quando questionada sobre

o cansaço no fim do dia de trabalho, uma estagiária relatou: “Não precisa nem

chegar no fim do dia. Às vezes na hora do almoço a coluna já está difícil de

aguentar”.

34

Figura 8. Sustentando o peso do paciente Fonte: O autor

Problema espacial/arquitetural de interiores: Devido aos vários

atendimentos simultâneos no setor, muitas vezes equipamentos pertencentes

a outras crianças como cadeiras de rodas ou andadores ficam espalhados pelo

caminho, dificultando a circulação de profissionais e pacientes na área livre

onde o exercício de marcha é praticado (Figura 9).

O fato do almoxarifado ter um tamanho reduzido (Figura 10), o que

contribui para agravar o problema citado anteriormente. Os equipamentos mais

volumosos e que não podem ser guardados em prateleiras nem nos nichos

específicos para armazenagem do almoxarifado acabam agrupados em outros

cantos da sala de atendimento (Figuras 11 e 12). As figuras ilustram a sala na

sua composição mais organizada possível, quando nenhum equipamento está

35

sendo usado, mas ainda assim é possível reparar que acessar alguns

equipamentos pode ser uma tarefa difícil.

Figura 9. Paciente se bateu ao realizar o exercício Fonte: O autor

36

Figura 10. O almoxarifado Fonte: O autor

37

Figura 11. Equipamentos não comportados pelo almoxarifado Fonte: O autor

Figura 12. Mais equipamentos não comportados pelo almoxarifado Fonte: O autor

Problema acidentário: A dificuldade em substituir ou fazer manutenção

adequada em equipamentos avariados acaba por gerar soluções improvisadas

38

devido a necessidade de uso. O andador tem na barra superior uma adaptação

(Figura 13). Como o produto original provavelmente não apresentava esse tipo

de apoio frontal, foi fixada uma barra extra com parafusos nas laterais e é

visível que a barra se encontra enferrujada, de forma contrastante com o bom

estado das outras estruturas do mesmo equipamento. A fita crepe foi colocada

como forma de proteger as pessoas das bordas de metal que podem ser

cortantes.

Figura 13. Andador com fitas crepe Fonte: O autor

O andador da figura seguinte foi pego no almoxarifado para atender um

paciente, mas não pode ser utilizado devido a um problema. Como mostrado

na figura 15, um dos manípulos está quebrado, o que dificulta a pega e impede

a regulagem do equipamento para uma altura diferente. Examinando o

andador de forma mais precisa, é possível reparar que há tinta verde já seca

fixando o manípulo quebrado, o que tira a função do sistema de regulagem

uma vez que mantém o equipamento fixo em apenas uma posição. No caso

do paciente que iria utilizar esse andador, como os outros andadores

disponíveis estavam sendo utilizados e o paciente tinha mais idade, o exercício

foi realizado nas barras de apoio.

39

Figura 14. Andador verde Fonte: O autor

Figura 15. Comparação entre os dois manípulos Fonte: O autor

Problema operacional: Tratando-se do treino de marcha em superfície

plana, os exercícios não apresentam muitas variações. Ao mesmo tempo em

que a repetição é o que auxilia o paciente a obter os progressos desejados,

não apresenta benefícios ao profissional que reproduz os mesmos movimentos

e posturas por períodos prolongados. Ainda que as sessões de cada paciente

tenha a duração de 30 minutos e os pacientes variem em questões como idade

ou tipo de tratamento/atividade realizada, a repetição das ações e posturas

prejudiciais durante uma tarefa que é realizada várias vezes por dia ou por

semana é um fato inevitável e que tende a gerar lesões laborais,

principalmente a longo prazo.

40

2.1.2. Caracterização e posição serial do sistema

Figura 16. Caracterização do sistema Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

41

2.1.3. Ordenação hierárquica

Figura 17. Ordenação hierárquica Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

42

2.1.4. Expansão do sistema

Figura 18. Expansão do sistema Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

43

2.1.5. Modelagem comunicacional do sistema

Figura 19. Modelagem comunicacional Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

44

2.1.6. Disfunções do sistema

Tabela 1. Disfunções do Sistema

DISFUNÇÕES CARACTERIZAÇÃO

Saídas / Resultados despropositados Pacientes que faltam ou abandonam

as sessões de fisioterapia.

Pacientes que não seguem as

recomendações de fazer os

exercícios em casa.

Disposição dos elementos Equipamentos espalhados pela sala.

Manutenção / Conservação das

máquinas

Dificuldade, falta ou irregularidade de

reparos, exemplificados pelos

andadores das figuras 13 a 15.

Rendimento do trabalho Pacientes resistentes e/ou

distraídos, não executando ou não

querendo executar o exercício.

Ambiente externo Instabilidades políticas ou

econômicas que acabem afetando o

funcionamento da AFR.

Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

2.2. Parecer ergonômico

2.2.1. Tabela G.U.T.

Para facilitar a priorização dos problemas, foi utilizada a tabela GUT,

que atribui notas para os fatores Gravidade, Urgência e Tendência de cada

problema listado na Problematização Ergonômica.

45

Tabela 2. Gravidade x Urgência xTendência

PROBLEMA G U T GxUxT

Adoção de posturas prejudiciais 5 5 4 100

Esforço dos membros posteriores 4 5 4 80

Suportar peso excessivo 3 4 4 48

Corredor que não comporta equipamentos e o exercício 3 2 2 12

Almoxarifado de tamanho reduzido 3 3 2 18

Equipamentos com manutenção inexistente ou irregular 3 4 3 36

Repetição constante de determinadas posturas e/ou

movimentos

4 5 3 60

Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

Tabela 3. G.U.T. hierarquizada

DESCRIÇÃO GxUxT

Adoção de posturas prejudiciais 100

Esforço dos membros posteriores 80

Repetição constante de posturas e/ou movimentos 60

Suportar peso excessivo 48

Equipamentos com manutenção faltante ou irregular 36

Almoxarifado de tamanho reduzido 18

Corredor com equipamentos espalhados 12

Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

2.2.2. Predições

É notório que o principal problema — as posturas assumidas — são

fruto da diferença de altura entre o fisioterapeuta e seu paciente, e a tentativa

de diminuir esse problema com o uso da cadeira com rodízios não é muito

eficiente. Somado com a constante flexão do tronco, o esforço das pernas para

mover a cadeira é mais uma fonte de cansaço e dores. Ainda que o treino de

marcha seja uma atividade repetitiva, a repetição de posturas prejudiciais

contribui para provocar ou agravar quaisquer prejuízos à saúde do profissional.

46

Ainda tratando da questão operacional, é possível reconhecer que

existem fatores que não podem ser controlados ou resolvidos por meio desse

projeto. O número de pacientes atendidos por dia é um exemplo, pois ainda

que exista o agendamento prévio e dias fixos na semana para cada paciente,

faltas ou reagendamentos de última hora podem acabar acontecendo e

contribuindo para a repetição e manutenção das posturas prejudiciais,

principalmente em certos dias de trabalho.

Quanto aos outros problemas, também é possível reparar que a falta de

espaço no almoxarifado está fortemente ligada ao problema dos equipamentos

e brinquedos espalhados. O corredor, quando vazio, possui um determinado

espaço útil suficiente para que os exercícios sejam praticados, mas quando há

bagunça ou a necessidade de dispor facilmente de outros equipamentos para

atender outros pacientes, o espaço fica mal aproveitado.

2.2.3. Sugestões preliminares de melhoria

Com base nas observações feitas é possível sugerir algumas medidas

para solucionar certos problemas de forma total ou parcial:

• Ampliação do corredor da sala ou criação de um espaço

destinado apenas à prática dos exercícios de marcha;

• Ampliação ou nova configuração do almoxarifado, aumentando

sua capacidade de armazenamento;

• Aquisição de novos equipamentos para substituir os que se

encontram danificados ou execução de reparos nos mesmos;

• Proposição de pausas ou ginástica laboral como tentativa de

remediar as dores e o cansaço dos profissionais.

2.2.4. Parecer ergonômico

De acordo com os dados coletados e com a observação feita, é possível

elaborar o parecer ergonômico por meio do seguinte quadro:

47

Tabela 4. Quadro do parecer ergonômico

Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

2.2.5. Conclusão

Com a priorização, foi possível ter um entendimento melhor dos

problemas que serão resolvidos com o desenvolvimento do produto e focar nos

que se fazem mais urgentes. Caberá à análise da tarefa a geração de um

detalhamento mais aprofundado das questões posturais para que seja feita a

definição dos requisitos e restrições a serem seguidos e uma preparação para

a projetação ergonômica.

48

3. ANÁLISES

3.1. Análise da tarefa

A tarefa em sua ambiência conta com as seguintes características:

Ruídos:

• Conversas, choro de outras crianças, músicas infantis tocadas

durante atendimentos simultâneos, sons de brinquedos que

tenham componentes lúdicos musicais. Ainda que alguns

possam distrair o paciente momentaneamente, nenhum ruído é

significativo a ponto de ser prejudicial para a saúde.

Iluminação:

• A iluminação é natural, vinda das janelas, podendo ser

complementada com iluminação artificial das lâmpadas de teto

quando o ambiente se apresentar escuro.

Temperatura:

• Existem aparelhos de ar-condicionado que deixam a

temperatura amena. É importante esse controle devido ao clima

da cidade, que no verão pode chegar a 40ºC. Em dias mais frios,

o ar condicionado pode ser desligado.

49

3.1.1. Caracterização da tarefa

Figura 20. Caracterização da tarefa Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

50

3.1.2. Quadro de atividades e meios

Figura 21. Quadro de atividades e meios Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

51

3.1.3. Fluxograma funcional ação-decisão

Figura 22. Fluxograma funcional ação-decisão Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

52

3.1.4. Registros

Figura 23. Registro cursivo Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

Por ser uma atividade repetitiva, para efetuar o registro cursivo

apresentado (Figura 23), foi registrado um período de trinta segundos do

atendimento de um paciente enquanto ocorria o treino de marcha. As

atividades anteriores a esse evento e posteriores não representaram duração

de tempo significativas para serem registradas no registro cursivo, já que a

paciente apenas chegou na sala e já deu início aos exercícios. As imagens

foram feitas em um intervalo de aproximadamente dois em dois segundos

enquanto houve treino de marcha. O registro permite observar que durante

53

toda a tarefa, a postura da fisioterapeuta apresenta poucas variações e a flexão

frontal do tronco é constante. Nesse caso há o uso da cadeira devido à altura

do paciente e é possível reparar o esforço feito com as pernas para que a

fisioterapeuta possa se locomover e acompanhar o paciente.

O registro postural (Tabela 5) foi feito adicionando observações de

outros pacientes. Com ele é possível entender que, especialmente nesse caso

do treino de marcha, a postura se apresenta como um elemento intimamente

ligado à atividade que está sendo desenvolvida e às dificuldades superpostas

(MORAES, MONT’ALVÃO, 2010), que têm origem principalmente nas

características antropométricas do adulto e da criança. Com base em ambos

registros é possível reparar que além da coluna, outras partes do corpo

bastante exigidas além da coluna e das pernas são os braços — que suportam

e amparam o paciente — e o pescoço, que se encontra frequentemente

flexionado. Essa observação corrobora o dado citado no referencial teórico

sobre LER/DORT, em que a coluna é apresentada como a parte do corpo mais

exigida durante as atividades do fisioterapeuta.

54

Tabela 5. Registros posturais

Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

55

3.2. Análise de similares

Os similares foram divididos em duas categorias: Diretos — produtos

para reabilitação — e indiretos, produtos pensados para o desenvolvimento da

marcha de crianças com desenvolvimento considerado “normal”. Todos estão

ou estiveram disponíveis no mercado, seja em lojas físicas ou pela internet, e

dados como preços foram conseguidos por meio do contato com fornecedores.

No caso dos produtos que apresentavam valor em dólar, o valor foi convertido

e a cotação utilizada foi de um dólar correspondendo a R$ 3,24, valor corrente

no dia em que a análise de similares foi feita. Houve a oportunidade de adquirir

um similar indireto e analisá-lo de forma mais detalhada, prestando atenção a

aspectos como acabamento e materiais.

É importante fazer algumas considerações finais sobre os similares

diretos. Por meio do contato com fabricantes e fornecedores para obter mais

informações (Figura 24) foi possível observar que quando existe algum serviço

de revenda que atenda ao Brasil, é relativamente complicado e demorado de

se obter qualquer resposta. Isso levanta algumas questões sobre o custo do

produto, que vai além do custo da aquisição. Instalação, manutenção e

treinamento de profissionais que irão utilizar o equipamento também precisam

ser levados em conta quando se pensa em adquirir qualquer produto.

Figura 24. Contato com fornecedor Fonte: O autor

56

3.2.1. Similares diretos

Figura 25. NXStep Unweighing System Fonte: (BIODEX, 2017)

• Nome: NXStep Unweighing System

• Fabricante: Biodex

• Preço: USD 24.000,00 (R$ 77.760,00)

• Dimensões: 121 x 122 x 239 cm — Quando fora de uso pode ser

reduzido e fica com as seguintes dimensões: 81 x 122 x 201 cm

• Descrição: Similar a uma grua, promove a sustentação do tronco

do paciente por meio de um “colete”. É ajustável para pacientes

de diversas alturas por controle remoto. Pode ser utilizado para

caminhadas livres ou para exercício sobre uma esteira.

57

Figura 26. Innowalk pro Fonte: (MADEFORMOVEMENT, 2017)

• Nome: Innowalk pro

• Fabricante: Made for Movement

• Preço: não especificado

• Dimensões: não especificadas (a empresa fabricante não

retornou o contato)

• Descrição: Simula marcha de forma estacionária e também

promove exercício para os braços. Pode servir como assento ou

parapódio, para o paciente se exercitar sentado ou sustentado

na posição ereta, de acordo com suas possibilidades e

necessidades. Existem dois modelos disponíveis, menor e

maior, embora o menor só possa ser utilizado por pacientes a

partir de um metro de altura. É possível encomendar peças

extras customizadas para o paciente, como suportes para

cabeça ou ombros.

58

Figura 27. UpSee Fonte: (FIREFLY, 2018)

• Nome: UpSee

• Fabricante: Leckey

• Preço: USD 445,00 (R$ 1.441,80)

• Dimensões: Variam com o tamanho do produto. Existem quatro

tamanhos disponíveis, atendendo de 1 a 8 anos/ 15 a 25 kg.

• Descrição: Produto pediátrico, mas de uso conjunto com um

adulto. Permite que a criança fique de pé e caminhe juntamente

com a outra pessoa. Pode ser utilizado durante sessões de

terapia ou em casa, com um caráter “recreativo”. Acompanha um

guia de exercícios elaborado por fisioterapeutas para otimizar o

uso doméstico do produto.

59

3.2.2. Similares indiretos

Figura 28. Moon Walk Fonte: (AMERICANAS, 2017)

• Nome: Andador Moon Walk – meus primeiros passos

• Fabricante: Moby Baby

• Preço: R$ 44,90

• Dimensões: 28 x 17 x 7cm.

• Descrição: Andador tipo arnês ajustável para crianças de 6 a 14

meses. Possui regulagens na altura e na circunferência do

corpo/cintura. Todo feito em tecido, exceto pela barra superior

(material não especificado).

60

Figura 29. Niniwalker Fonte: (NINIWALKER, 2017)

• Nome: Niniwalker

• Fabricante: Niniwalker

• Preço: R$ 250,00

• Dimensões: 25 x 120 x 16cm.

• Descrição: Para crianças de 8 a 16 meses. Permite que o adulto

guie a criança por meio do corpo do produto que, ao mesmo

tempo que serve para a criança se sustentar de pé, se mostra

lúdico por causa da rodinha. Combina uma cinta peitoral para

evitar quedas. É desmontável e acompanha bolsa para

transporte.

61

Figura 30. My early steps Fonte: (AMAZON, 2017)

• Nome: My early steps

• Fabricante: Little Dundi

• Preço: R$ 133,40

• Dimensões: 26 x 13 x 8cm.

• Descrição: Andador com suporte de corpo inteiro, similar a um

“maiô”, para passar mais segurança à criança. Recomendado

para crianças a partir de 8 meses, ou de 8 a 13 kg.

• Observação: Fora de estoque em todos os sites de venda

pesquisados, página do fabricante fora do ar. São

desconhecidos os motivos que tiraram o produto de circulação.

62

3.2.3. Análise morfológica do similar indireto adquirido

Figura 31. Embalagem do produto Fonte: O autor

Foi feita a aquisição do andador tipo arnês MoonWalk. Analisando o

produto fechado na embalagem é possível notar que é um andador leve,

compacto e simples. As imagens e ilustrações contidas na embalagem

demonstram como o uso deve ocorrer.

A frase em inglês "No need to bent [sic]" pode ser livremente traduzida

para "Não precisa se curvar", frisando como diferencial a preocupação com a

postura de quem auxilia a criança, pois com o uso do produto, a má postura

tende a não acontecer (Figura 32). Não há nenhum tipo de manual. As

instruções são escritas em inglês — ainda que de forma truncada — na parte

externa da caixa (Figura 33).

63

Figura 32. Detalhes da embalagem Fonte: O autor

Figura 33. Instruções Fonte: O autor

64

Existe a citação de que as travas são plásticas, mas outros materiais

não são especificados. A parte superior é totalmente rígida, improvável de se

dobrar como mostra a ilustração da caixa. O produto não foi descosturado,

cortado ou aberto para análise dessa parte. O tecido é o mesmo nas partes de

cor azul e laranja, com alguma espécie de recheio sintético e bem fino. As

peças que fazem a regulagem de tamanho das tiras se abrem com facilidade

(Figura 34), mas a princípio o ajuste não foi prejudicado por isso.

Figura 34. Detalhes das travas Fonte: O autor

Devido ao recheio, as tiras precisam ser puxadas com força para serem

reguladas. Existe regulagem nas laterais para o produto se adequar a largura

da cintura de crianças de 6 a 14 meses (Figura 34). O recheio e as dobras da

costura tornam as tiras grossas e dificultam o ajuste. O produto, quando vestido

em um manequim com medidas correspondentes a uma criança de 12 meses,

se apresentou como pode ser visto na figura 35. Como o manequim utilizado

para demonstração não possuía o peso de uma criança real, não foi possível

avaliar se o fato de as travas se abrirem facilmente afetaria a segurança do

usuário infantil.

65

Figura 35. Vista total do produto Fonte: O autor

66

4. SÍNTESE

4.1. Modelagem verbal

Tendo como base as análises feitas, o produto elaborado deve possuir

as seguintes características:

• Mecanismos de regulagem para se adequar as características

físicas dos pacientes dentro da faixa etária de 1 a 5 anos;

• Facilidade de limpeza, já que é um produto voltado para o uso

em clínicas/sessões de fisioterapia, sendo compartilhado por

diversos usuários em um mesmo dia;

• Estruturas compatíveis com profissionais fisioterapeutas de

diferentes alturas;

• Segurança e estabilidade necessárias para a realização dos

exercícios;

• Menor custo possível de execução.

4.2. Requisitos e restrições

Requisitos:

• Se adequar a crianças de altura variável de 70 a 108 cm e peso

variável de 10 a 20 kg, estimativa de altura e peso máximos para

crianças de 1 a 5 anos (DREYFUSS, 2009);

• Possuir as partes manejadas pelo fisioterapeuta

ergonomicamente projetadas para essa função, compreendendo

profissionais de ambos os sexos e alturas extremas;

• Caso possua partes que sejam vestidas pela criança, tais partes

devem ser confortáveis, feitas de materiais macios ou

acolchoados;

• Ser desmontável — ou reduzir de alguma forma sua estrutura —

para ocupar o mínimo de espaço possível quando estiver

armazenado sem uso.

67

Restrições:

• Monetária: O preço do produto deve estar abaixo dos preços

atualmente oferecidos pelo mercado. Com base em buscas feitas

em lojas multimarcas procurando por andadores infantis

oferecidos para a faixa etária atingida pelo projeto (Figura 36),

foram observados os valores cobrados, sendo definido que o

projeto não deve ultrapassar R$ 1000,00, valor médio entre os

valores máximos e mínimos encontrados;

Figura 36. Valores mínimos e máximos encontrados Fonte: O autor

• Dimensional, impondo ao projeto a largura máxima de 60 cm para

que seja permitida a passagem pelo menor modelo de porta

existente;

• Arquitetural, o produto deve funcionar plenamente sem que seja

necessária nenhuma modificação na arquitetura do local onde

ele será utilizado, como por exemplo, instalação de trilhos ou

ganchos em paredes ou teto.

68

5. GERAÇÃO E SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS

5.1. Alternativa 1

A alternativa 1 é composta de duas partes: uma estrutura que remete a

um andador posterior e uma parte que conecta a criança à estrutura. A

diferença dela para um andador posterior é uma barra por onde o fisioterapeuta

conduziria o equipamento. A vestimenta sustenta o tronco da criança e as

laterais servem como apoio para as mãos. Quando não estiver em uso, a

estrutura pode ser fechada em forma de “Z”, reduzindo seu volume.

Figura 37. Alternativa 1 Fonte: O autor

Um modelo da alternativa foi construído com canos de PVC de 20 e

25mm, mas o modelo foi feito erroneamente sem a parte posterior por onde o

fisioterapeuta conduziria o equipamento. Ainda assim foi possível simular o

69

fechamento e visualizar com o auxílio de um manequim de medidas

correspondentes a uma criança de um ano como o paciente se posicionaria.

Figura 38. Teste com manequim Fonte: O autor

Figura 39. Redução da estrutura Fonte: O autor

70

Figura 40. Teste com PVC Fonte: O autor

Ainda que o fechamento da estrutura correspondesse as expectativas

de redução para armazenamento, existiam alguns problemas. A fixação das

barras laterais que garantiam a estrutura aberta enquanto fosse usada era um

desafio, pois a criança teria acesso a elas e caso fossem tiradas do lugar, a

segurança do paciente seria comprometida. A parte a ser vestida pela criança

sustentava o tronco na postura correta, mas restringia demais os movimentos

da criança por ser presa pelas costas, tornando-se desconfortável. Dessa

forma, a dificuldade de contornar os problemas fez com que essa alternativa

fosse deixada de lado em prol do desenvolvimento de outras possibilidades.

5.2. Alternativa 2

A alternativa 2 é semelhante à sua precursora na composição, também

formada por duas unidades: uma parte a ser vestida pela criança que conecta

71

o paciente a uma estrutura de sustentação conduzida pelo fisioterapeuta. A

intenção é que a estrutura possa ser desmontada quando não estiver em uso,

ocupando o mínimo espaço possível.

Figura 41. Alternativa 2 Fonte: O autor

Também foi construído um modelo em tubos de PVC de 20 e 25mm, e

o mesmo manequim foi utilizado para as simulações. A parte vestida pela

criança foi feita em nylon dublado com base na forma do similar indireto

adquirido apenas para possibilitar as simulações, tendo a certeza de que a

forma e os ajustes ainda seriam reformulados.

72

Figura 42. Modelo de PVC Fonte: O autor

Os materiais escolhidos para a criação desse modelo possuíam certas

limitações em questões de encaixes, então não foi possível fazer o modelo

desmontável como era pretendido. Entretanto, foi observado que a estrutura,

para ser reduzida e guardada, não necessariamente teria que ser totalmente

decomposta. A rotação das laterais e o alinhamento do produto possibilitam

uma redução significativa no volume em caso de armazenamento.

73

Figura 43. Modelo alinhado Fonte: O autor

5.3. Detalhamento da alternativa escolhida

A modelagem — integrada ao desenvolvimento das alternativas — foi o

fator decisivo para a escolha da alternativa 2, não havendo necessidade de

métodos como matrizes decisórias uma vez que são mais complexos e

voltados a universos que possuam um número maior de alternativas. Durante

o detalhamento, foram definidos aspectos tanto da estrutura quanto do

“suporte” vestido pela criança. Alguns materiais foram propostos, ainda que

uma pesquisa mais minuciosa não pertença à essa seção.

74

Figura 44. Estrutura “explodida” Fonte: O autor

75

Figura 45. Estrutura alinhada Fonte: O autor

As rodas traseiras devem possuir freios para garantir a segurança do

paciente quando uma parada for necessária. O fisioterapeuta pode acioná-las

76

com os pés para interromper o exercício no momento que precisar ou desejar.

Mesmo com as rodas dianteiras ainda livres, os freios dificultam a locomoção

da estrutura, minimizando a chance de acontecerem acidentes.

Figura 46. Estrutura desmontada Fonte: O autor

Sobre a parte vestida pelo paciente, para que cumprisse o requisito de

ser adaptável a crianças de 1 a 5 anos, o velcro se mostrou um importante

recurso para realizar o fechamento e o ajuste ao redor do corpo. O ajuste é

arrematado por um cinto para garantir a fixação correta. O “suporte” é unido às

alças por fechos de engate rápido, também conhecidos como encaixe em

sistema macho-fêmea, comumente utilizados em mochilas.

Foi pensada a possibilidade de fazer as alças permanentemente ligadas

ao suporte, mas observações mostraram que o ato de vestir e despir a criança

do acessório poderia ser dificultado pelo grande comprimento das alças. Para

possibilitar a adequação do produto para crianças de diferentes alturas, as

alças também contam com regulagens que possibilitam a expansão ou

redução de seus comprimentos.

77

Figura 47. O suporte Fonte: O autor

Figura 48. Suporte com alças Fonte: O autor

Enquanto o velcro serve como mecanismo de ajuste da circunferência

do tronco/quadril, o gancho possui um sistema de colchetes para auxiliar na

78

diminuição do componente como um todo. Os colchetes garantem que, nas

crianças menores, o tecido não fique embolado nem cause desconfortos. O

restante do ajuste é feito por meio das tiras costuradas.

Figura 49. Ajustes Fonte: O autor

Figura 50. Ajustes Fonte: O autor

Uma decomposição simplificada dos componentes do suporte é

ilustrada na figura a seguir. Alguns materiais também são sugeridos.

79

Figura 51. Esquema e possíveis variações Fonte: O autor

Pensa-se no desenvolvimento de um produto vistoso e agradável para

crianças, mas sem tematização de personagens ou elementos que possam

trazer distinção de gênero. Essa consideração é importante por se tratar de um

artigo de uso compartilhado, pensado para atingir uma variedade de crianças

de diferentes idades, pertencentes a diferentes contextos e com distintos

gostos pessoais.

80

Ainda assim, a forma com a qual o elemento foi elaborado permite a

mudança desse conceito, dependendo apenas da mudança do tecido que

reveste o exterior. Variando a padronagem, podem ser criadas peças mais

direcionadas a um certo público ou até mesmo personalizadas, com tecidos

contendo a identidade visual da instituição que utiliza o produto.

Figura 52. Possível variação temática de instituição Fonte: O autor

81

6. DESENVOLVIMENTO DA SOLUÇÃO

6.1. Levantamento dos materiais de fabricação

É apresentada uma breve listagem dos materiais mais indicados para

serem usados na fabricação de cada componente do produto.

6.1.1. Estrutura

Aço carbono: É uma liga metálica composta de ferro e carbono. Outros

elementos como manganês, silício e fósforo também podem ser adicionados

para aumentar a resistência da liga, mas a porcentagem de carbono existente

determina a classificação e a dureza do material. Quanto mais carbono, menor

conformabilidade e soldabilidade. Ligas com até 30% de carbono são

chamadas baixo carbono. Quando o teor varia de 30 a 50%, médio carbono.

Já o grupo de aços duros e extraduros com 50 a 70% de carbono é conhecido

por alto carbono. (LIMA, 2006)

Figura 53. Tubos de aço carbono Fonte: (ABTERSTEEL, 2018)

Aço inoxidável: É a combinação da liga de aço carbono com cromo. Os

aços inox podem ser classificados em martensíticos, ferríticos ou austensíticos

82

(id.), variando em suas durezas e resistências à corrosão devido a

porcentagens diferentes de cromo e elementos de liga como níquel. Ainda

assim, o cromo é o metal que garante a estética e a resistência à oxidação

pelas quais o material é conhecido.

Figura 54. Chapas de aço inoxidável Fonte: (AÇOSPORTE, 2018)

Alumínio: Metal não ferroso conhecido pela versatilidade na aplicação.

Possui baixa densidade e resistência à corrosão. Pode formar ligas como

duralumínio (alumínio-cobre) e alumínio naval (alumínio-magnésio) para que

seja obtida maior resistência mecânica ou resistência à oxidação,

respectivamente. Muito utilizado em peças que precisam de leveza e objetos

do dia a dia como embalagens de bebidas.

83

Figura 55. Lingotes de alumínio Fonte: (I.C.A. LIGAS, 2018)

6.1.2. Suporte

Brim: Tecido 100% algodão, grosso, conhecido por ter alta resistência.

Similar ao denim encontrado em calças jeans, mas com a diferença de que

pode ser tingido em cores uniformes, o brim é encontrado em duas formas:

Leve e pesado, onde variam suas gramaturas. Enquanto o primeiro é

frequentemente encontrado em jalecos e jaquetas leves, o segundo é

comumente utilizado na fabricação de uniformes e bonés. Por não possuir

fibras sintéticas na composição, pode ser lavado em máquina e passado à

ferro em temperatura média. Não deve sofrer alvejamento com cloro.

Figura 56. Calça infantil de brim Fonte: (VENDA E CIA, 2018)

84

Nylon dublado: 100% sintético, é um tecido composto por uma camada

de nylon acoplada a uma espuma de 3mm. De toque frio e agradável, é muito

utilizado para revestimento interno de bolsas, casacos e caminhas pet

principalmente devido à sua característica “acolchoada” e firme, podendo ser

combinado com outros tecidos. É encontrado em cores uniformes, estampado

ou com aspecto matelassado. Por ser sintético, não pode ser lavado com água

quente nem passado a ferro.

Figura 57. Caminha pet em nylon dublado Fonte: (ELO7, 2018)

Gorgurinho: Tecido misto de poliéster e algodão, possui uma textura

ondulada característica e é muito utilizado em forração de almofadas e

cortinas. Facilmente encontrado em diversas cores e padronagens,

principalmente com motivos infantis. Não pode ser passado nem alvejado.

Figura 58. Gorgurinho estampado Fonte: (FHAMPLASTIC, 2018)

85

6.2. Levantamento dos processos de fabricação

6.2.1. Estrutura

Extrusão: Para que aconteça a extrusão, um tarugo de liga metálica

aquecido é pressionado com um pistão contra uma matriz. Sob efeito de

elevada temperatura e pressão, o material vai gradativamente passando pela

matriz e tomando sua forma. O corte ocorre quando o perfil atinge o

comprimento desejado. Tratando-se de metal, possíveis sobras podem ser

coletadas para sofrerem reuso. Uma vez pronto, o perfil pode ou não sofrer

tratamentos térmicos para aumentar sua resistência, bem como ajustes no

calibre quando se trata de tubos.

Figura 59. Extrusão de um tubo Fonte: (ALUMINIUMWERKUNAAG, 2018)

Curvamento de tubos: Pode ocorrer de diversas maneiras, dependendo

do material e do diâmetro do tubo que se deseja curvar. Pode ser manual ou

feito por máquina, tanto a frio (sem aquecimento do tubo) ou com aquecimento

da parte a ser curvada. Quando ocorre com aquecimento, normalmente é

86

utilizado preenchimento com areia para que o tubo não se deforme com o

procedimento. Diferentes tipos de máquina também podem ser usados

dependendo do raio de curvatura desejado. De uma forma geral, o tubo é

colocado entre pinos ou rolos posicionadores e é submetido a flexões para

chegar ao ângulo desejado. Entretanto, existem alguns fatores que podem

influenciar as condições de curvamento de um tubo, bem como suas

propriedades — dimensão do tubo reto, diâmetro, espessura, raio de

curvamento e composição química do tubo — são exemplos de variáveis que

interferem diretamente no processo de conformação do material.

(MEIRELLES, 2009)

Figura 60. Curvatura de tubo Fonte: (SENAI, 2018)

Soldagem: A união permanente de peças ou componentes metálicos é

dada pelo processo de soldagem. É aplicado calor para que ocorra o

aquecimento e posterior fusão parcial das partes a serem unidas.

Acabamentos: Lima (2006) divide os acabamentos para metais em

quatro categorias: Pintura tinta líquida, pintura em pó, filme e esmaltação. A

partir desses critérios foi elaborada a lista a seguir, onde constam alguns

métodos considerados possíveis para acabamento do projeto. Para

87

complementar o estudo, foram adicionadas descrições e características dos

processos.

Pintura com tinta líquida: Ainda que existam tintas líquidas de diversas

composições que garantem diferentes propriedades — desde beleza e brilho

até resistência a imersão — o processo de revestimento de uma superfície

metálica segue determinadas etapas independente da qualidade da tinta

aplicada.

O pré-tratamento tem como objetivo deixar o metal totalmente limpo de

resíduos. Nessa etapa ocorrem procedimentos como desengraxamento e

decapagem para retirar óleos, graxas e ferrugem, por meio de banhos

químicos e lavagens.

Com a superfície já limpa, aplica-se a tinta de fundo, também conhecida

como primer, de função protetora e anticorrosiva. Depois da secagem de duas

ou mais demãos de primer, é aplicada a tinta de acabamento, que vai dar

beleza e cor à superfície, sendo a camada protetora entre as agressões do

ambiente e a tinta de fundo. Dependendo da tinta de acabamento aplicada, é

necessária a aplicação de verniz para melhores resultados. (SENAI, 2018)

Pintura em pó: Também conhecida como pintura eletrostática, utiliza

tinta em pó, que pode ter composição epóxi, poliéster ou híbrida (mistura de

ambas) dependendo das características que se necessita. Enquanto a epóxi é

mais resistente a corrosão, a poliéster possui boa aderência e resiste melhor

ao amarelamento do tom escolhido. Independente da composição, o pó é

colocado em uma pistola de aplicação, onde é eletricamente carregado antes

de ser expelido. Enquanto isso, a superfície que receberá a pintura também é

eletricamente carregada, com uma carga oposta à do pó. A diferença entre as

cargas faz com que o pó seja atraído pela superfície e se fixe nela. Depois, a

superfície ou objeto pintado vai para uma estufa, que termina de fixar a

cobertura e deixá-la uniforme. (TELLES, 2013)

88

Figura 61. Escorredor pintado com tinta em pó Fonte: (CETEC, 2018)

Filme: São categorizados como acabamentos tipo “filme” os métodos

que formam uma camada metálica no exterior da superfície a ser acabada.

Alguns dos mais conhecidos são a galvanoplastia e anodização, que se

utilizam de correntes elétricas para gerar camadas de outros metais ou de

óxido sobre a superfície que se quer recobrir.

Esmaltação: Uma vez que o produto já se encontra conformado, ocorre

o processo de decapagem, onde impurezas como óleos, graxas e ferrugem

são retiradas por meio de banhos em desengraxantes e ácido. Com a peça já

decapada, é aplicada a primeira camada de esmalte — chamado fundente,

sempre preto — por meio de imersão ou com uma pistola aplicadora. O

fundente se fixa à peça depois de um forneamento. Com o fundente uma vez

fixado, ocorre a aplicação do esmalte colorido e novamente o produto é

forneado. (EWEL, 2018)

Popularmente conhecido pelo nome “ágata”, a esmaltação é um método

de acabamento muito utilizado em equipamentos para cozinha como canecas,

bules e leiteiras. Os frisos pretos típicos das alças e bordas desses utensílios

são feitos com a retirada do esmalte colorido dessas partes antes da segunda

queima, deixando o fundente à mostra.

89

Figura 62. Caneca esmaltada Fonte: (EWEL, 2018)

6.2.2. Suporte

A produção de artigos de vestuário pode ser resumida como:

Figura 63. Processo produtivo Fonte: (MENDES, 2006)

90

Pesquisa de tendências é o início do planejamento da coleção. Segundo

Andrade Filho e Santos (1980) Durante essa etapa a empresa deve buscar

desenvolver seus produtos de acordo com as necessidades do mercado e sua

capacidade de produção. (apud PAIVA, 2010) A pesquisa de materiais segue

esse planejamento, já que a seleção das matérias primas, segundo o critério

do estilista ou do responsável pela coleção, constitui uma fase muito

importante na criação e na qualidade do vestuário. (GUSMÃO, 2013)

Durante as etapas que se seguem:

“...a idéia do modelo será transformada em croqui, para assim ser realizada a primeira etapa de desenvolvimento dos moldes. Depois de confeccionada a primeira peça é realizada a primeira prova da roupa montada. Esta peça sendo aprovada receberá o nome de peça piloto que servirá de base para a reprodução da produção. Juntamente com a peça piloto deve ser desenvolvida a ficha técnica, que é o histórico do produto. Esta ficha deve conter o desenho da roupa e todas as informações necessárias para a sua confecção, como informações claras sobre o modelo, tipo e quantidade de materiais utilizados, composição do tecido e tempo de processo de cada operação.” (LIDÓRIO; BIERMANN, 2013 apud PAIVA, 2010)

Após a elaboração das fichas técnicas, a etapa de

planejamento/programação e controle da produção (PCP) é a responsável por

coordenar as etapas seguintes. Com base nas informações das fichas, são

levados em conta desde aspectos como quantidade de matéria prima

necessária até tempo de produção de cada peça, tornando possível a gestão

de etapas altamente automatizadas como o corte até a confecção e o

acabamento, estágios difíceis de serem automatizados e que dependem do

contato humano com a peça produzida. O PCP também inclui em seus planos

questões como verificação e manutenção preventiva de equipamentos,

atendimento de prazos, controle de estoque e tempo de alimentação das

máquinas sem espera entre as operações. (GUSMÃO, 2013)

Por fim, na fase de expedição as peças são passadas, embaladas e

encaminhadas para seu estoque ou ponto de venda.

91

6.3. Projetação ergonômica

6.3.1. Dimensões relevantes

Tabela 6. Dimensões relevantes

Atividade Componente do produto

Dimensão relevante

Adultos Crianças

Sustentar o tronco do paciente

Estrutura Altura do menor e maior indivíduo

Altura do maior indivíduo Peso do maior indivíduo

Conduzir o paciente sem assumir posturas prejudiciais

Estrutura Ângulos de conforto de braço e antebraço do menor e maior indivíduo Alcance máximo do menor e do maior indivíduo

-

Executar o treino de marcha

Suporte - Altura total Comprimento da cintura Largura do quadril Comprimento do tronco Gancho (cintura até meio das pernas)

Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

6.3.2. População usuária

A população usuária do produto é composta por homens e mulheres

adultos, maiores de 18 anos (fisioterapeutas) e crianças de 1 a 5 anos

(pacientes), também de ambos os sexos.

92

6.3.3. Percentil da população acomodada

Para realizar o dimensionamento do projeto de forma a acomodar a

maior porcentagem da população, foram utilizados os percentis 1 e 99 como

referenciais de menor e maior usuário adulto, respectivamente. Quando a

antropometria infantil foi necessária, como não há diferença de percentis entre

crianças no referencial utilizado, a população acomodada foi a de crianças

entre 1 e 5 anos. Não há distinções entre nível socioeconômico ou etnia em

nenhum dos grupos usuários.

6.3.4. Levantamento antropométrico utilizado

Para a projetação antropométrica, foi utilizado como referencial o

conteúdo do livro “As medidas do homem e da mulher: fatores humanos em

design”, de Henry Dreyfuss (2009).

6.3.5. Manequins antropométricos

Com base no levantamento antropométrico utilizado, foram elaborados

manequins de pano representando a população infantil acomodada. Eles se

mostraram fundamentais para a modelagem e confecção do suporte, já que

são necessários modelos tridimensionais de teste para que forma,

dimensionamento e caimento da peça sejam avaliados durante a criação dos

moldes e da peça piloto.

93

Figura 64. Manequins infantis de pano Fonte: O autor

94

Figura 65. Criança de 12 a 15 meses Fonte: (DREYFUSS, 2009)

Figura 66. Criança de 5 anos Fonte: (DREYFUSS, 2009)

Sobre a antropometria dos adultos, é necessário informar que não são

praticadas tarefas que necessitem do uso de roupas específicas ou EPIs, não

95

havendo acréscimos de medidas dessa natureza nos dimensionamentos

disponibilizados no referencial.

Figura 67. Homem percentil 99 Fonte: (DREYFUSS, 2009)

Figura 68. Mulher percentil 1 Fonte: (DREYFUSS, 2009)

96

Figura 69. Compatibilização para altura total da estrutura Fonte: (DREYFUSS, 2009)

Figura 70. Ângulos de conforto de braço e antebraço Fonte: (DREYFUSS, 2009)

97

Figura 71. Compatibilização para altura da empunhadura Fonte: (DREYFUSS, 2009)

Figura 72. Ângulos de conforto - alcance Fonte: (DREYFUSS, 2009)

Figura 73. Compatibilização - alcance Fonte: (DREYFUSS, 2009)

98

7. CONSTRUÇÃO DE MODELOS

7.1. Construção do modelo preliminar

O modelo feito durante a geração de alternativas foi de grande utilidade

para visualizar a forma e o funcionamento da estrutura, mas era sabido que o

material era muito frágil para a validação com usuário.

Para a realização de testes, foi construído um segundo modelo, com

apenas as laterais em tubos de PVC de diâmetro 25mm, pela facilidade de

trabalhar com o material. A parte superior foi feita por um serralheiro em tubos

de aço, para garantir que o peso da criança fosse sustentado com segurança.

Figura 74. Construção Fonte: O autor

99

Figura 75. Confecção da peça piloto Fonte: O autor

O suporte foi pensado originalmente para ser executado em nylon

dublado com revestimento externo em gorgurinho. Entretanto, durante a ida ao

armarinho para a compra de materiais foi descoberto um tecido também 100%

algodão de textura mais agradável, produzido pela marca Círculo. Não há

diferença quanto às instruções de limpeza do tecido, que pode ser lavado à

máquina, mas não passado ou alvejado. Outro fator que influenciou na escolha

foi a estampa, muito vistosa e chamativa por suas cores vivas, sem deixar de

fazer referência ao universo infantil devido a temática de doces.

100

Figura 76. Padronagem do tecido utilizado Fonte: O autor

Figura 77. Teste da peça piloto Fonte: O autor

101

Figura 78. Modelo preliminar Fonte: O autor

102

7.1.1. Validação do modelo preliminar

O teste foi realizado no setor de fisioterapia pediátrica da Associação

Fluminense de Reabilitação, com pacientes que atenderam aos critérios do

projeto, sendo o menor usuário uma criança de 1 ano e o maior uma criança

de 4, pois não existia no momento um paciente de 5 anos. Os resultados dos

testes são descritos a seguir.

Figura 79. Teste com paciente de 1 ano Fonte: O autor

A paciente se mostrou muito resistente ao exercício e relutante em

utilizar o produto. Enquanto tentava se desvencilhar do equipamento para

voltar ao colo da mãe, a criança torceu as alças do produto e se jogou contra

uma das laterais, o que danificou a estrutura. O ferro arrebentou o caps de

PVC que finalizava a lateral e passou a bater no chão, deixando o produto

103

empenado e impedindo o uso. Ainda assim, o dano foi minimizado na hora e

foi possível fazer um teste com o paciente de 4 anos para avaliar o

dimensionamento do produto, ainda que não fosse possível realizar o treino de

marcha com ele.

Figura 80. Teste com paciente de 4 anos Fonte: O autor

7.1.2. Observações pós teste

Foi possível concluir que o dano no modelo ocorreu devido aos

materiais utilizados para a sua confecção. O PVC é um bom material para

modelos volumétricos, entretanto não aguenta muito peso ou esforço. Ainda

assim, o suporte pode ser avaliado corretamente durante os testes. Eficiente e

104

com dimensionamento adequado, não houve nenhum problema relativo aos

ajustes para crianças com diferentes idades e tipos físicos.

Figura 81. O dano Fonte: O autor

Figura 82. Modelo danificado Fonte: O autor

105

7.2. Modelo final

Como o teste anterior não pode ser realizado corretamente, foi

necessária a confecção de uma nova estrutura, feito em materiais mais

resistentes e mais próximos ao que seria a realidade de fabricação do produto.

Não foram feitas alterações no suporte.

Foi executado um modelo em tubos de aço carbono de 7/8” e 3/4” de

diâmetro, todos com 1,5mm de espessura. A única diferença em relação ao

modelo pensado foi a colocação dos rodízios, pois o rodízio com base de pino

não estava disponível, tendo que ser feita uma adaptação para a colocação de

rodízios com base de chapa. Os rodízios traseiros, com freio, foram soldados

para possibilitar o acesso ao freio da forma correta.

Figura 83. Modelo final Fonte: O autor

106

Figura 84. Rodízios com freio Fonte: O autor

Para o teste, a estrutura recebeu um primeiro acabamento por meio de

pintura com tinta tipo esmalte em spray, escolhida pela variedade de cores

disponível e pela facilidade de aplicação. Ainda que os passos do

procedimento tenham sido executados corretamente, com a aplicação de tinta

de fundo/primer e respeitando as características da tinta como tempo de

secagem, em poucos dias após a validação com o usuário a cor começou a

descascar e a tinta precisou ser removida.

Para garantir um revestimento de qualidade, o novo acabamento foi feito

por um profissional especializado, com a aplicação de tinta automotiva de

poliuretano, que tem boa cobertura e não precisa de finalização com verniz.

Também foram executados reparos estéticos com massa plástica, retirando

imperfeições e o aspecto grosseiro da solda do metal.

107

Figura 85. Aplicação da tinta de fundo Fonte: O autor

Figura 86. Aplicação da tinta spray Fonte: O autor

108

Figura 87. Reparo estético Fonte: O autor

Figura 88. Aspecto do acabamento com tinta automotiva Fonte: O autor

109

8. VALIDAÇÃO E ALTERAÇÕES

8.1. Validação do modelo final

A validação ocorreu novamente no setor de fisioterapia infantil da AFR

em dois momentos distintos, com a única diferença sendo o acabamento da

estrutura, aspecto meramente estético que não implica em alterações em sua

função ou dimensionamento. Novamente, os testes aconteceram com

pacientes de 1 e 4 anos por não existirem no momento pacientes de 5 anos

que cumprissem a rotina de treino de marcha em suas sessões de fisioterapia.

A estrutura se mostrou segura e não apresentou alterações quando

recebeu o peso do paciente, como era esperado. Os freios cumpriram sua

função corretamente quando acionados. A recepção dos fisioterapeutas foi

muito positiva, pois o caráter de um produto pensado para evitar a questão das

posturas prejudiciais era até então desconhecido. “A nossa coluna agradece”,

relatou em tom bem-humorado uma estagiária do setor. Outras pessoas que

demonstraram muito interesse perante o projeto foram os responsáveis dos

pacientes que realizaram o teste. O impacto emocional de um responsável em

ver um filho ou ente querido — que não se locomove sozinho — de pé, ainda

que atrelado a um aparelho, se mostrou muito forte e positivo.

Também foram realizadas algumas simulações de armazenamento do

produto. Mesmo não se encaixando nos nichos do almoxarifado, a estrutura

alinhada coube no local e pode ser acessada com facilidade, mesmo com o

espaço reduzido. Entretanto, quando perguntados se haveria um lugar mais

indicado para guardar o produto, os fisioterapeutas concordaram que seria

preferível deixá-lo encostado na bancada junto aos outros equipamentos, que

dessa forma o acesso se tornaria mais prático e mais aproximado ao que

aconteceria caso o equipamento estivesse sendo usado no dia-a-dia do setor.

Ambas formas de armazenamento provaram que mesmo sem desmontar a

estrutura, o alinhamento diminuiu radicalmente o espaço ocupado por ela.

110

Figura 89. Teste com paciente de 4 anos Fonte: O autor

111

Figura 90. Teste com paciente de 4 anos Fonte: O autor

112

Figura 91. Teste com paciente de 1 ano Fonte: O autor

113

Figura 92. Teste com paciente de 1 ano Fonte: O autor

114

Figura 93. Armazenado no almoxarifado Fonte: O autor

115

Figura 94. Armazenado segundo sugestões Fonte: O autor

O produto, quando desmontado, mostrou-se possível de ser

transportado por uma só pessoa. Ainda assim, a estutura pode ser

transportada de forma totalmente montada através de espaços diminutos,

como uma porta de 60cm de largura (menor porta padrão) ou a porta de um

elevador de serviço.

116

Figura 95. Sendo transportado desmontado Fonte: O autor

117

Figura 96. Atravessando portas montado Fonte: O autor

118

Figura 97. Atravessando menor porta padrão e elevador Fonte: O autor

Quanto a uma avaliação final do teste, mesmo que o produto

desenvolvido tenha tido como objetivo a eliminação do uso de recursos como

a cadeira de rodízios, é importante não considerar as figuras 91 e 92 — em

que a fisioterapeuta utiliza o produto e a cadeira — como uma falha no teste

ou um uso indevido do produto.

Como uma das intenções da validação é simular o uso do equipamento

dentro do ambiente em que ele foi projetado para ser utilizado e da rotina de

trabalho desse local, foi preferível não interferir ou “conduzir” os profissionais

para que usassem o produto de uma forma que resultasse na documentação

de um uso perfeito, mas sem espontaneidade.

Assim, as escolhas de cada profissional não foram questionadas, cada

um que optou por usar o produto o fez da forma que julgou melhor para si e

para seu paciente, incorporando a novidade à rotina de trabalho daquele dia.

É possível entender que a cadeira com rodízios não é imprescindível para o

119

contato com a criança nem para a execução do exercício, sendo uma opção

pontual daquele profissional em particular. Fatores externos como cansaço da

profissional também podem ter interferido nessa escolha.

Tabela 7. Comparação dos registros posturais

Sem o produto Com o produto

Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)

120

8.2. Correções pós-teste

Com a validação do modelo final, foi possível fazer observações e

receber um certo feedback dos usuários para elaborar possíveis alterações no

produto. Uma das fisioterapeutas que testou o modelo final já pintado apontou

o problema retratado na figura 98. Com o movimento do exercício, as alças do

suporte tendem a se aproximar demais do rosto da criança.

Figura 98. Problema Fonte: O autor

Dessa forma, foi pensada uma solução para esse problema por meio da

instalação de limitadores na parte superior da estrutura, de forma a prevenir

que as alças se movam para perto demais do rosto da criança. Essa estratégia

121

também impede que as alças deslizem para os extremos da estrutura, evitando

um problema que poderia colocar em risco a segurança do paciente.

Figura 99. Limitadores Fonte: O autor

122

Figura 100. Simulação com manequim 5 anos Fonte: O autor

Outro ponto que também pode ser observado durante a validação foi a

necessidade de proporcionar conforto para as mãos do profissional que vai

segurar na empunhadura. Uma vez que o item não possuía o diâmetro correto

para proporcionar uma pega agradável, foi adicionado um componente extra

para garantir que a espessura da parte a ser segurada esteja entre os

diâmetros mínimo e máximo para proporcionar uma pega ideal, segundo os

123

referenciais antropométricos de Dreyfuss. (2009) Foi utilizado polietileno

expandido devido a sua maior facilidade de higienização quando comparado

com outros materiais similares, como espumas.

Figura 101. Referencial Fonte: (DREYFUSS, 2009)

Figura 102. Resultado Fonte: O autor

124

O seguinte modelo simula a estrutura após as modificações sofridas. O

componente “suporte” não foi modificado.

Figura 103. Modelo virtual Fonte: O autor

125

8.3. Custo final

Tabela 8. Custo final unitário

Item Qtd. Preço Valor unitário Total

utilizado

Tecido algodão 60

cm

R$40,00/metro - R$ 24,00

Nylon dublado 50

cm

R$25,00/metro - R$ 12,50

Velcro largura

50mm

60

cm

R$61,79 (rolo

com 25m)

Aproximadamente

R$2,50/metro

R$ 1,50

Tira de algodão 684

cm

R$ 68,00 (rolo

com 50m)

Aproximadamente

R$1,36/metro

R$ 9,30

Fecho mochila

35mm

5 un R$ 5,50/unid. - R$ 27,50

Regulador

plástico

3 un R$ 90,00

(pacote de

1000

unidades)

R$ 0,09/unidade R$ 0,27

Colchete grande 1 un R$ 5,50/unid. - R$ 5,50

Kit de tinta

automotiva (tinta

+ catalisador)

1 un R$ 100,00/kit - R$ 100,00

Reparos e

pintura

- R$ 250,00 (primer + reparos com

massa + mão de obra da pintura)

R$ 250,00

Aço carbono - R$ 300,00 (material + mão de obra) R$ 300,00

Rodízios 4 un R$ 17,90/unid. - R$ 71,60

Polietileno

expandido

1 un R$ 4,90 - R$ 4,90

Soma final R$ 807,07

Fonte: O autor

126

8.4. Observações

Tendo como base similares como andadores e outros equipamentos

voltados para reabilitação ou uso clínico, pode-se pensar que a matéria-prima

ideal para execução da estrutura seria uma liga de alumínio, já que garante

leveza e resistência. Nesse caso, ao se pensar na fabricação industrial, haveria

a possibilidade de acabamentos esteticamente agradáveis como a anodização

colorida2. Contudo, a dificuldade de manuseio e, principalmente, soldagem do

alumínio impossibilitou que o produto fosse feito e testado nesse material.

Mesmo existindo pequenas diferenças entre o modelo final e os

modelos virtuais mostrados, o modelo testado não está distante do produto

caso fosse fabricado industrialmente. Também utilizado em equipamentos

como cadeiras de rodas ou de banho, o aço carbono não se mostrou um

material inadequado, pois garantiu a segurança necessária para os testes

realizados. O custo foi estimado, conforme especificado (Tabela 8) contando

com aspectos típicos da confecção de uma unidade de produto, como a mão

de obra dos profissionais de serralheria e pintura. Estima-se que, produzido

em série, o produto tenha um custo menor do que os R$ 807,07 descritos na

tabela.

Com forma, dimensionamento e função levados em conta, o modelo

final tornou-se a forma mais fiel em que o produto poderia ser executado nesse

momento.

2Processo que utiliza uma corrente elétrica para criar uma camada protetora de óxido na peça.

Antes da selagem final da camada, podem ser aplicados pigmentos diversos, dando cor e beleza.

127

9. DESENHOS TÉCNICOS

Tabela 9. Especificações técnicas

Item Descrição Fabricante

Tecido algodão Código 332429 – cor 50 – ref: Candy Círculo

Primer automotivo Wandaprimer branco AkzoNobel

Tinta automotiva Poliuretano (PU) - cor azul caiçara AkzoNobel

Rodízios Ref: RG TN 75 (com e sem freio) FGVTN

Fonte: O autor

128

129

130

131

132

133

18

A

138

10. CONCLUSÃO

Tecnologia de reabilitação é uma área até agora pouco explorada no

contexto nacional, mas não por isso menos complexa. Mais do que nunca, a

observação e o contato com os profissionais envolvidos na tarefa se fazem

primordiais. São necessários disposição, atenção e humildade para em um

primeiro momento, escutar quem tem a vivência do meio e assim compreender

os problemas, para somente depois propor soluções.

Com base no que foi observado durante esse projeto é possível dizer

que o design pode contribuir muito nessa área no que diz respeito a ergonomia.

Em um universo de artigos normalmente voltados apenas para o paciente, o

diferencial de um produto pode estar no olhar também focado no fisioterapeuta

que tem seu corpo desgastado pela profissão. Dessa forma, é possível dizer

que esse projeto foi desafiador, porém gratificante na mesma proporção.

Sabe-se que o projeto cumpriu seu objetivo quando sua relevância é

ressaltada por aqueles que o estão utilizando, mostrando que é possível e

necessário conciliar o bem estar de ambas as partes, terapeuta e paciente,

para que bons resultados sejam alcançados. Não é demais destacar que esse

projeto só se tornou possível por conta da boa vontade e da solicitude

demonstrada por todos da AFR, desde os setores responsáveis pelo

encaminhamento e agendamento de visitas até o setor de fisioterapia

pediátrica, que acompanhou de perto o processo de projetação.

Mesmo tendo chegado a um modelo plenamente funcional, o projeto

ainda pode sofrer desdobramentos futuros. Variações no material podem ser

interessantes para saber até que ponto o produto pode se tornar leve sem que

sua estabilidade e a segurança do paciente sejam prejudicados. O

desenvolvimento de um envoltório que auxilie a lidar com o produto

desmontado (Figura 95) também é uma possibilidade para ajudar a manter a

boa conservação do produto, evitando que as peças se danifiquem e

facilitando a tarefa do indivíduo que faz o transporte. E conforme ocorra o uso

e mais feedback dos usuários, uma vez que já se tem o dimensionamento e a

função bem definidas, pode ocorrer até mesmo um refinamento da estrutura.

139

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144

ANEXO – CONSTRUÇÃO DOS MANEQUINS

Nenhum dos desenhos dessa seção é ou se propõe a ser um desenho

técnico ou um molde. São figuras meramente ilustrativas detalhando a

construção dos manequins infantis que auxiliaram na modelagem do

componente “suporte” devido à impossibilidade de se contar com crianças

reais para modelar o componente. Os materiais utilizados foram TNT como

revestimento e manta acrílica como enchimento. Recomenda-se alterar o

revestimento caso o manequim precise ser mais resistente.

Não são instituídas medidas nem desenvolvidos moldes devido ao

caráter experimental dos manequins, elaborados por pessoas sem

conhecimento formal em corte e costura, confecção de bonecos ou artigos de

vestuário. Também é sabido que as medidas podem variar de acordo com

alguns fatores, como o referencial antropométrico utilizado ou o desejo do

projetista. O detalhamento apresentado não é um passo-a-passo de costura e

confecção, e sim um relato de técnicas que se mostraram satisfatórias para

gerar um modelo com medidas humanas relativamente fiel a um determinado

referencial antropométrico.

Figura 104. Decomposição do manequim

Fonte: O autor

145

A Figura 104 mostra o manequim decomposto. Para facilitar o

entendimento e projetação de um molde, é possível fazer a correspondência

do molde do corpo com o de um body ou uma camisa. Os braços são unidos

ao corpo com o mesmo princípio da produção de uma camisa com mangas

longas. A diferença proposital ressaltada no braço direito é para ilustrar que

contornos mais humanos — como marcas indicando braço, antebraço e pulso

— podem ser conseguidos de acordo com a costura feita para fechar a

“manga” que forma o braço. É preferível preencher os braços com a manta

acrílica antes de fixá-los na peça do corpo.

Figura 105. Pé Fonte: O autor

146

Assim como os pés (Figura 105), a cabeça (Figura 106) também

depende do enchimento para que fique com sua forma correta. Modelada a

partir de uma tira com gomos semelhante ao topo de um boné, os gomos são

fechados e a cabeça é recheada antes de ser fixada no pescoço, que também

é um cilindro de tecido. A emenda do início e do final da tira pode ser fechada

com costura de forma a garantir um contorno que lembre um nariz, tornando-

se a face do manequim, sendo uma escolha imprecisa em termos de medidas,

meramente estética.

Figura 106. Montagem da cabeça Fonte: O autor

147

Uma vez que os componentes estão já prontos e os pés unidos ao

corpo, o manequim fica semelhante à figura 107, podendo ter o corpo

preenchido pela abertura do pescoço.

Figura 107. Sem enchimento Fonte: O autor

148

Caso a cabeça já tenha sido fixada, pode ser feita uma abertura nas

costas, fechada posteriormente com costura manual (Figura 108).

Figura 108. Preenchimento do corpo Fonte: O autor

Para manequins maiores, apenas a manta acrílica não é capaz de dar

sustentação suficiente para as pernas, fazendo com que o manequim não fique

de pé nem apoiado a uma superfície como uma parede. A solução encontrada

foi a inserção de arames/fios encapados por aberturas feitas na sola dos pés

(Figura 109). Dessa forma, foi possível dar certa rigidez às pernas, mas

mantendo-as relativamente moldáveis.

Figura 109. Inserção de fio Fonte: O autor

149

Como é possível observar, os manequins não ficam ideais em termos

de estética, delicadeza ou precisão, mas é plenamente possível respeitar

dimensões maiores e mais relevantes como altura, comprimento de

braços/pernas, circunferência de tronco. Recursos como esses são de grande

valia na modelagem de componentes de vestuário, que precisam ser avaliados

constantemente quanto a forma e caimento. Os manequins utilizados no

presente trabalho foram nomeados, sem motivo aparente, como Furacão 2001

e Furacão 2005, por corresponderem a crianças de 1 e 5 anos.

Figura 110. Furacão 2001 e Furacão 2005

Fonte: O autor