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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE DESENHO TÉCNICO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL
MARIA CLARA BASTOS CAMPELLO
SISTEMA AUXILIAR PARA TREINO DE MARCHA EM SUPERFÍCIE PLANA
Niterói 2018
MARIA CLARA BASTOS CAMPELLO
SISTEMA AUXILIAR PARA TREINO DE MARCHA EM SUPERFÍCIE PLANA
Orientador Acadêmico Prof. Dr. Giuseppe Amado de Oliveira
Niterói 2018/1
Trabalho de conclusão de curso apresentado em 28 de junho de 2018, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Desenho Industrial pela Universidade Federal Fluminense.
MARIA CLARA BASTOS CAMPELLO
SISTEMA AUXILIAR PARA TREINO DE MARCHA EM SUPERFÍCIE PLANA
Trabalho de conclusão de curso apresentado em 28 de junho de 2018, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Desenho Industrial pela Universidade Federal Fluminense.
Trabalho aprovado em _____ de __________ de _____.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Giuseppe Amado de Oliveira (Orientador Acadêmico) Universidade Federal Fluminense
Profª. Drª. Luiza Helena Boueri Rebello (Avaliador) Universidade Federal Fluminense
Profª. Drª. Renata Vilanova Lima (Avaliador) Universidade Federal Fluminense
AGRADECIMENTOS Agradeço a toda equipe da Associação Fluminense de Reabilitação, em especial à Angelina e Henriette, que me acolheram e permitiram que eu acompanhasse o trabalho e os atendimentos realizados no setor de fisioterapia pediátrica. Conhecer um pouco mais do trabalho e dos pacientes foi um fator definitivo para me manter nesse caminho que se mostrou sacrificial. Agradeço muito aos pais que autorizaram o uso da imagem dos seus filhos para a documentação dos testes, especialmente àqueles que demonstraram apoio e me desejaram força ainda que soubessem tão pouco sobre mim ou minha ideia. Sinto que se tivesse optado por outro tema, dificilmente teria chegado até onde cheguei, pois a vontade de retribuir a atenção e fazer a diferença na vida de cada professional e paciente foi a única coisa que me manteve de pé durante os momentos mais difíceis. Agradeço aos meus pais, que dia após dia juntavam os pedaços do meu ser quebrado pelas dificuldades do ofício e tiravam de mim qualquer possibilidade de desistir. Agradeço especialmente a minha mãe, que deu vida a uma parte indispensável do projeto com suas habilidades de costureira, além de ter tido a ideia de criar manequins-criança estranhamente carismáticos para me auxiliar desde cedo. Agradeço aos meus amigos, Nicole, Caio, Douglas, Cecília, Virgínia, Lucas, Helena, entre outros. Agradeço aos que secaram minhas lágrimas, que me proporcionaram grandes momentos de alegria com pequenas coisas ou gestos, que tornaram meus dias mais leves e minha jornada menos solitária. Posso não expressar isso com a frequência que deveria, mas não me imagino aqui sem a companhia de cada um. Amo vocês. Agradeço aos profissionais Jodson e Magno, pela correção e por terem executado trabalhos de qualidade, ainda que com imprevistos e correndo contra o tempo. E por último, mas não menos importante, agradeço a todos os professores do curso de Desenho Industrial, em especial ao meu orientador Giuseppe Amado.
“The mystery of human existence lies not in just staying alive, but in finding something to live for.”
(Fiodor Dostoievski)
RESUMO
CAMPELLO, Maria Clara Bastos. Sistema auxiliar para treino de marcha em superfície plana. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2018. (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação.) Com base em um referencial teórico que aponta que fisioterapeutas são frequentemente expostos a desgaste físico durante o exercício da profissão, este trabalho propõe-se a desenvolver um produto para minimizar a tomada de posturas prejudiciais pelo profissional. Para observação e coleta de dados, foi escolhido o setor de Fisioterapia Pediátrica da Associação Fluminense de Reabilitação, onde foi possível concluir que o treino de marcha era a atividade onde os problemas posturais eram evidenciados. Com o auxílio da ergonomia, o estudo da tarefa realizada garantiu a classificação e priorização dos problemas envolvidos, tendo como resultado a geração de um sistema auxiliar para treino de marcha pediátrico que comporta crianças de 1 a 5 anos. O produto evita a exposição do fisioterapeuta ao desgaste físico e garante um treino efetivo para o paciente. Palavras-chaves: Tecnologia de reabilitação. Projeto de produto. Treino de marcha. Fisioterapia pediátrica.
ABSTRACT
CAMPELLO, Maria Clara Bastos. Sistema auxiliar para treino de marcha em superfície plana. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2018. (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação.) Based on studies pointing out that physical therapists are frequently exposed to physical strain while performing their professional duties, the current work aims to design a product to prevent the professional from assuming unhealthy body postures. Using the Pediatric Physical Therapy section from Associação Fluminense de Reabilitação as study object, it was possible to find a relationship between the physical damage and gait training, where the therapist was forced to assume bad postures to help the patient to execute the task properly. An ergonomic analysis about the tasks performed by the therapist ensures to highlight and prioritize the problems involved, resulting in a gait training body weight support to children aged between 1 and 5 years. The product was designed to prevent the therapist from being exposed to physical strain and provide safe training for the patient. Keywords: Rehabilitation engineering. Industrial design. Gait training. Pediatric rehabilitation
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Método PHAATE.............................................................. 24
Figura 2. Exemplos de quesitos para avaliação............................... 25
Figura 3. Áreas corporais mais exigidas em fisioterapeutas 27
Figura 4. Alguns resultados de busca para “harness baby walker” 28
Figura 5. Lokomat……………………………………………………… 29
Figura 6. Dificuldades posturais...................................................... 32
Figura 7. Fisioterapeuta auxiliada por cadeira com rodízios............ 33
Figura 8. Sustentando o peso do paciente....................................... 34
Figura 9. Paciente se bateu ao realizar o exercício......................... 35
Figura 10. O almoxarifado................................................................. 36
Figura 11. Equipamentos não comportados pelo almoxarifado......... 37
Figura 12. Mais equipamentos não comportados pelo almoxarifado 37
Figura 13. Andador com fitas crepe……………………………………. 38
Figura 14. Andador verde……………………………………………… 39
Figura 15. Comparação entre os dois manipulos…………………….. 39
Figura 16. Caracterização do Sistema………………………………… 40
Figura 17. Ordenação hierárquica…………………………………….. 41
Figura 18. Expansão do Sistema………………………………………. 42
Figura 19. Modelagem comunicacional……………………………….. 43
Figura 20. Caracterização da tarefa…………………………………… 49
Figura 21. Quadro de atividades e meios……………………………... 50
Figura 22. Fluxograma funcional ação-decisão……………………… 51
Figura 23. Registro cursivo…………………………………………….. 52
Figura 24. Contato com fornecedor……………………………………. 55
Figura 25. NXStep unweighing system……………………………….. 56
Figura 26. Innowalk……………………………………………………... 57
Figura 27. UpSee………………………………………………………... 58
Figura 28. Moonwalk……………………………………………………. 59
Figura 29. Niniwalker……………………………………………………. 60
Figura 30. My early steps……………………………………………….. 61
Figura 31. Embalagem do produto…………………………………….. 62
Figura 32. Detalhes da embalagem…………………………………… 63
Figura 33. Instruções……………………………………………………. 63
Figura 34. Detalhes das travas………………………………………… 64
Figura 35. Vista total do produto……………………………………….. 65
Figura 36. Valores mínimos e máximos encontrados........................ 67
Figura 37. Alternativa 1…………………………………………………. 68
Figura 38. Teste com manequim………………………………………. 69
Figura 39. Redução da estrutura………………………………………. 69
Figura 40. Teste com PVC……………………………………………… 70
Figura 41. Alternativa 2…………………………………………………. 71
Figura 42. Modelo de PVC……………………………………………… 72
Figura 43. Modelo alinhado…………………………………………….. 73
Figura 44. Estrutura “explodida”……………………………………….. 74
Figura 45. Estrutura alinhada…………………………………………... 75
Figura 46. Estrutura desmontada……………………………………… 76
Figura 47. O suporte…………………………………………………….. 77
Figura 48. Suporte com alças………...………………………………... 77
Figura 49. Ajustes……………………………………………………….. 78
Figura 50. Ajustes……………………………………………………….. 78
Figura 51. Esquema e possíveis variações…………………………… 79
Figura 52. Possível variação temática de instituições……………….. 80
Figura 53. Tubos de aço carbono……………………………………… 81
Figura 54. Chapas de aço inoxidável………………………………….. 82
Figura 55. Lingotes de alumínio……………………………………….. 83
Figura 56. Calça infantil em brim………………………………………. 83
Figura 57. Caminha pet em nylon dublado……………………………. 84
Figura 58. Gorgurinho estampado…………………………………….. 84
Figura 59. Extrusão de um tubo………………………………………... 85
Figura 60. Curvatura de tubo…………………………………………… 86
Figura 61. Escorredor pintado com tinta em pó………………………. 88
Figura 62. Caneca esmaltada………………………………………….. 89
Figura 63. Processo produtivo…………………………………………. 89
Figura 64. Manequins infantis de pano………………………………... 93
Figura 65. Criança de 12 a 15 meses………………………………….. 94
Figura 66. Criança de 5 anos…………………………………………… 94
Figura 67. Homem percentil 99………………………………………… 95
Figura 68. Mulher de percentil 1……………………………………….. 95
Figura 69. Compatibilização para altura total da estrutura………….. 96
Figura 70. Ângulos de conforto de braço e antebraço………………. 96
Figura 71. Compatibilização para altura da empunhadura………….. 97
Figura 72. Ângulos de conforto – alcance ……………………………. 97
Figura 73. Compatibilização – alcance………………………………... 97
Figura 74. Construção………………………………………………….. 98
Figura 75. Confecção da peça piloto…………………………………... 99
Figura 76. Padronagem do tecido utilizado…………………………… 100
Figura 77. Teste da peça piloto………………………………………… 100
Figura 78. Modelo preliminar…………………………………………… 101
Figura 79. Teste com paciente de 1 ano………………………………. 102
Figura 80. Teste com paciente de 4 anos…………………………….. 103
Figura 81. O dano……………………………………………………….. 104
Figura 82. Modelo danificado…………………………………………... 104
Figura 83. Modelo final………………………………………………….. 105
Figura 84. Rodízios com freio………………………………………….. 106
Figura 85. Aplicação da tinta de fundo………………………………… 107
Figura 86. Aplicação da tinta spray……………………………………. 107
Figura 87. Reparo estético……………………………………………... 108
Figura 88. Aspecto do acabamento com tinta automotiva…………... 108
Figura 89. Teste com paciente de 4 anos……………………………... 110
Figura 90. Teste com paciente de 4 anos……………………………... 111
Figura 91. Teste com paciente de 1 ano………………………………. 112
Figura 92. Teste com paciente de 1 ano………………………………. 113
Figura 93. Armazenado no almoxarifado……………………………... 114
Figura 94. Armazenado segundo sugestões…………………………. 115
Figura 95. Sendo transportado desmontado…………………………. 116
Figura 96. Atravessando portas……………………………………….. 117
Figura 97. Atravessando menor porta padrão e elevador…………… 118
Figura 98. Problema…………………………………………………….. 119
Figura 99. Limitadores………………………………………………….. 120
Figura 100 Simulação com manequim 5 anos………………………… 121
Figura 101 Referencial…………………………………………………... 122
Figura 102 Resultado……………………………………………………. 122
Figura 103 Modelo virtual……………………………………………….. 123
Figura 104 Decomposição do manequim........................................... 144
Figura 105 Pé..................................................................................... 145
Figura 106 Montagem da cabeça....................................................... 146
Figura 107 Sem enchimento.............................................................. 147
Figura 108 Preenchimento do corpo.................................................. 148
Figura 109 Inserção de fio.................................................................. 148
Figura 110 Furacão 2001 e Furacão 2005.......................................... 149
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Disfunções do sistema………………………………………. 44
Tabela 2. Gravidade x Urgência x Tendência…………………………. 45
Tabela 3. GUT hierarquizada…………………………………………… 45
Tabela 4. Parecer ergonômico………………………………………….. 47
Tabela 5. Registros posturais…………………………………………… 54
Tabela 6. Dimensões relevantes……………………………………….. 91
Tabela 7. Comparação dos registros posturais..……………………... 124
Tabela 8. Custo final unitário……….…………………………………... 125
Tabela 9. Especificações técnicas……………………………………... 127
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (se houver)
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AFR Associação Fluminense de Reabilitação
DP Design Participativo
EPI Equipamento de proteção individual
GDI Graduação em Desenho Industrial
ISO International Standards Organization
PCP Planejamento e Controle da Produção
PVC Policloreto de polivinila (policloroeteno)
RESNA Rehabilitation Engineering and Assistive Technology Society of
North America
TA Tecnologia Assistiva
TDT Departamento de Desenho Técnico
UFF Universidade Federal Fluminense
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................... 18
1. REFERENCIAL TEÓRICO ……………………………………… 19
1.1. Breve histórico da fisioterapia……………………………………. 19
1.2. Tecnologia de reabilitação……………………………………….. 21
1.3. Justificativa………………………………………………………… 26
1.4. Resultados esperados……………………………………………. 30
2. APRECIAÇÃO E PARECER ERGONÔMICO…………………. 31
2.1. Apreciação ergonômica…………………………………………... 31
2.1.1. Problematização………………………………………………….. 31
2.1.2. Caracterização e posição serial do Sistema……………………. 40
2.1.3. Ordenação hierárquica…………………………………………… 41
2.1.4. Expansão do Sistema…………………………………………….. 42
2.1.5. Modelagem comunicacional do Sistema……………………….. 43
2.1.6. Disfunções do Sistema…………………………………………… 44
2.2. Parecer ergonômico………………………………………………. 44
2.2.1. Tabela G.U.T………………………………………………………. 44
2.2.2. Predições………………………………………………………….. 45
2.2.3. Sugestões preliminares de melhoria……………………………. 46
2.2.4. Quadro do parecer ergonômico………………………………….. 46
2.2.5. Conclusão…………………………………………………………. 47
3. ANÁLISES………………………………………………………… 48
3.1 Análise da tarefa…………………………………………………... 48
3.1.1. Caracterização da tarefa…………………………………………. 49
3.1.2. Quadro de atividades e meios…………………………………… 50
3.1.3. Fluxograma funcional ação-decisão…………………………….. 51
3.1.4. Registros posturais……………………………………………….. 52
3.2. Análise de similares………………………………………………. 55
3.2.1. Similares diretos…………………………………………………... 56
3.2.2. Similares indiretos………………………………………………… 59
3.2.3. Análise morfológica do similar indireto adquirido………………. 62
4. SÍNTESE…………………………………………………………… 66
4.1. Modelagem verbal………………………………………………… 66
4.2. Requisitos e restrições……………………………………………. 66
5. GERAÇÃO E SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS……………….. 68
5.1. Alternativa 1……………………………………………………….. 68
5.2. Alternativa 2……………………………………………………….. 70
5.3. Detalhamento da alternativa escolhida…………………………. 73
6. DESENVOLVIMENTO DA SOLUÇÃO…………………………. 81
6.1. Levantamento dos materiais de fabricação…………………….. 81
6.1.1. Estrutura…………………………………………………………… 81
6.1.2. Suporte…………………………………………………………... 83
6.2. Levantamento dos processos de fabricação…………………… 85
6.2.1. Estrutura…………………………………………………………… 85
6.2.2. Suporte…...………………………………………………………... 89
6.3. Projetação ergonômica…….…………………………………….. 91
6.3.1. Dimensões relevantes……………………………………………. 91
6.3.2. População usuária………………………………………………… 91
6.3.3. Percentil da população acomodada…………………………….. 92
6.3.4. Levantamento antropométrico utilizado………………………… 92
6.3.5. Manequins antropométricos……………………………………… 92
7. CONSTRUÇÃO DE MODELOS………………………………… 98
7.1. Modelo preliminar…………………………………………………. 98
7.1.1. Validação do modelo preliminar…………………………………. 102
7.1.2. Observações pós teste…………………………………………… 103
7.2. Modelo final………………………………………………………... 105
8. VALIDAÇÃO E ALTERAÇÕES…………………………………. 109
8.1. Validação do modelo final………………………………………… 109
8.2. Correções pós teste………………………………………………. 120
8.3. Custo final………………………………………………………….. 125
8.4. Observações………………………………………………………. 126
9. DESENHOS TÉCNICOS…………………………………………. 127
10. CONCLUSÃO……………………………………………………... 138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................ 139
BIBLIOGRAFIA........................................................................ 142
ANEXO - CONSTRUÇÃO DOS MANEQUINS......................... 144
18
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem a intenção de desenvolver um produto para ser
utilizado nas sessões de fisioterapia pediátrica, com foco em minimizar os
problemas posturais sofridos pelo fisioterapeuta e tornar o treino de marcha
em superfície plana uma atividade mais fácil e proveitosa para o profissional e
seu paciente.
Em meio às pesquisas para aprofundamento no tema, foi possível
constatar que a Tecnologia de Reabilitação — quando não é confundida com
a Tecnologia Assistiva — é pouco explorada, principalmente no Brasil. O
produto proposto não tem o objetivo de ser utilizado pela criança em sua vida
diária como ocorrem com os recursos de Tecnologia Assistiva, e sim durante
as sessões de fisioterapia, com a criança na condição de paciente, sob as
avaliações e supervisão de um profissional.
O desconhecimento da Tecnologia de Reabilitação no cenário nacional,
ainda que possa ser um desafio, também pode ser encarado como uma
oportunidade de explorar um nicho de mercado dominado por produtos
importados que em geral são de difícil aquisição e manutenção. A visitação e
as observações foram feitas no setor de Fisioterapia Pediátrica da Associação
Fluminense de Reabilitação, onde foi possível conhecer um pouco mais do
trabalho realizado pelos fisioterapeutas e acompanhar pacientes que se
enquadrassem no perfil atendido pelo produto.
Serão apresentadas a seguir todas as etapas da elaboração e
construção do produto, desde uma breve apresentação do tema geral e
pesquisa histórica sobre a fisioterapia até os resultados finais.
19
1. REFERENCIAL TEÓRICO
1.1. Breve histórico da fisioterapia
Integrando de forma multidisciplinar os conhecimentos teóricos e
práticos da enfermagem, medicina e educação física, a constituição da
fisioterapia como profissão da área da saúde aconteceu a partir do final do
século XIX. (ESPÍNDOLA; BORENSTEIN, 2011). Ainda assim, uma das
técnicas utilizadas na profissão do fisioterapeuta é também uma das terapias
mais antigas existentes: a massagem. O manuscrito Nei Ching, também
conhecido como O Livro de Medicina do Imperador Amarelo e datado de 2598
a.C. possui a primeira referência escrita sobre a importância da massagem
para o alívio de desconfortos ortopédicos. Apesar de ter sido difundida e
aperfeiçoada no Oriente a ponto de gerar a Massagem Tradicional Chinesa e
o japonês Shiatsu (GOATS, 1994), a terapia manual passou por períodos de
esquecimento durante a Idade Média e só voltou a ganhar espaço no Ocidente
durante a época do Renascimento, devido ao surgimento do humanismo nas
artes e a retomada dos cuidados relativos a saúde com o culto ao corpo.
No que diz respeito ao campo da enfermagem, somente em 1860 a
massagem ganhou notoriedade devido aos estudos de Florence Nightingale,
a primeira mulher a fundar uma escola para a formação de enfermeiros.
Segundo ela, a massagem promovia o relaxamento muscular, além de reduzir
ansiedade e dores e contribuir para a diminuição de edemas crônicos
(GOLDSTONE, 1999). O aprendizado da massagem terapêutica se tornou
uma exigência para a qualificação das enfermeiras, o que contribuiu para o
surgimento da Society of Trained Masseuses, que futuramente viria a agregar
os conhecimentos técnicos e científicos da enfermagem e da medicina,
tornando-se em 1943 a Sociedade dos Fisioterapeutas Formados
(ESPÍNDOLA; BORENSTEIN, 2011).
Tão antiga quanto a existência da massagem terapêutica é a relação da
reabilitação com as guerras. A sociedade espartana, há mais de 2500 anos,
apesar de eliminar crianças nascidas com deficiências, oferecia proteção para
20
os soldados que se tornavam deficientes depois de lutar por seu país (ELDAR;
JELIC, 2003). Ainda que a reabilitação tenha dado seus primeiros passos com
a ortopedia — Neologismo criado em 1741 pelo professor de medicina
Nicholas Andry para nomear seu livro sobre como prevenir e tratar
deformidades em crianças, daí a combinação de duas palavras, “orthos” (reto)
e “paidias” (criança) em uma só (STAHELI, 2008) — e o surgimento do
primeiro institutos ortopédico especializado em fornecer educação e
tratamento para crianças deficientes na Suíça em 1780, em países como os
Estados Unidos, a fisioterapia e a reabilitação só começaram a ser mais
explorados durante a Primeira Guerra Mundial (ELDAR; JELIC, 2003).
“Contudo, a consolidação da reabilitação física como base fundamental da fisioterapia ocorreu na América, principalmente nos Estados Unidos da América (EUA), em decorrência da Primeira Guerra Mundial, por meio da criação da entidade denominada Mulheres Auxiliares dos Cuidados Médicos(...) Esta categoria fez parte da subdivisão do Departamento Médico do Exército, inserida no Serviço de Cirurgia Geral.” (ESPÍNDOLA; BORENSTEIN, 2011).
Em 1918, foram introduzidos nos programas de educação superior em
educação física os cursos de Fisioterapia nas Emergências de Guerra.Tais
cursos tinham como objetivo formar mulheres especialistas em saúde e
condicionamento físico, com bases científicas em fisiologia humana e cirurgias
ortopédicas, que atuariam diretamente na reabilitação física de soldados
mutilados, possibilitando o retorno deles aos campos de batalha (id.). Ainda
que o interesse na fisioterapia tenha sido deixado de lado por um breve período
de tempo após 1917, com o acontecimento da Segunda Guerra Mundial essa
área voltou a se desenvolver, tratando tanto de militares quanto de civis que
acabavam preciando de tais serviços. Os serviços de reabilitação também se
mostraram vantajosos para a Força Aérea Real Britânica, que comprovou que
era mais rápido e menos custoso tratar seus profissionais do que treinar novos.
Diversos centros de tratamento foram instalados na Inglaterra, Estados Unidos
e União Soviética, alguns com especializações, como o tratamento de lesões
cerebrais ou na medula espinhal. (ELDAR; JELIC, 2003).
21
Outros fatores que impulsionaram o desenvolvimento da fisioterapia
tanto quanto as guerras foram as epidemias de poliomielite, doença viral que
compromete a capacidade de contração dos músculos e costuma deixar
sequelas como paralisia. A epidemia norte-americana, que durou de 1916 a
1955, teve em média 38.000 pessoas infectadas por ano, entre elas o
presidente Franklin Roosevelt, que contraiu a doença aos 39 anos de idade e
foi o criador da Fundação Nacional para Paralisia Infantil, que buscava a
criação de uma vacina contra a pólio além de investir mais de um milhão de
dólares para o avanço da fisioterapia no tratamento das sequelas deixadas
pela doença (BARROS, 2008). No Brasil, ainda que os relatos de casos de
poliomielite datem desde o século XIX, a partir de 1930 ocorreram surtos em
capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, sendo que a última teve em 1953
sua maior epidemia. Enquanto em São Paulo o serviço de fisioterapia já era
oferecido no Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
desde 1929, o primeiro curso de formação profissional em técnicos de
fisioterapia só surgiu em 1951 no Instituto Central do Hospital das Clínicas,
fundado pelo médico Dr Waldo Rolim de Moraes (MARQUES; SANCHES,
1994).
No Rio de Janeiro, acredita-se que grande parte das crianças atingidas
pela poliomielite eram de famílias com uma boa condição social, o que
impulsionou banqueiros, médicos, industriais e militares a reunir recursos para
a criação da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR) e a
ERRJ — Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro, que formava profissionais
especializados em reabilitação — em 1956. A partir disso, começaram as
discussões em torno do exercício profissional da fisioterapia e a profissão foi
regulamentada em outubro de 1969 (BARROS, 2008).
1.2. Tecnologia de reabilitação
Tratando-se de Tecnologia de Reabilitação, é frequente a confusão
entre dois conceitos distintos. Como se tratam de recursos que lidam
frequentemente com indivíduos com deficiência, Tecnologia Assistiva e
22
Tecnologia de Reabilitação por muitas vezes são erroneamente considerados
sinônimos. Quando são feitas buscas em bancos de dados que contém livros
e artigos estabelecendo a palavra-chave como “Tecnologia de Reabilitação”,
os principais resultados são aqueles que apontam a diferença entre a
Tecnologia Assistiva e Tecnologia de Reabilitação. Entretanto, o termo só é
explorado nessa diferenciação de conceitos, pois a grande maioria das
publicações tem como foco ou objeto de estudo a Tecnologia Assistiva e seus
desdobramentos.
“Devemos diferenciar a TA de outras tecnologias como as aplicadas na área médica e de reabilitação. No campo da saúde a tecnologia visa facilitar e qualificar a atividade dos profissionais em procedimentos de avaliação e intervenção terapêutica. São equipamentos utilizados no diagnóstico de saúde, no tratamento de doenças ou na atividade específica de reabilitação, como melhorar a força muscular de um indivíduo, sua amplitude de movimentos ou equilíbrio. Estes equipamentos não são tecnologia assistiva e sim tecnologia médica ou de reabilitação.” (BERSCH, 2013).
Mesmo existindo essa diferença, é possível perceber que certos
produtos podem se adequar a ambos os conceitos. Quando se pensa, por
exemplo, em um idoso andando na calçada de uma rua auxiliado por um
andador, entende-se que o andador é utilizado como produto de Tecnologia
Assistiva. Entretanto, analisando o contexto de um setor de fisioterapia infantil
onde pacientes realizam exercícios de marcha auxiliados por um andador, o
caso passa a ser diferente. Há casos de pacientes que na vida diária são
cadeirantes, mas nas sessões de fisioterapia fazem treino de marcha por
questões que dizem respeito ao crescimento e fortalecimento muscular. Nesse
caso, o andador se faz um recurso importante para a aplicação da terapia
“treino de marcha”, encaixando-se no conceito de Tecnologia de Reabilitação.
“Conforme foi visto, portanto, a Tecnologia Assistiva “é diferente da tecnologia reabilitadora, usada, por exemplo, para auxiliar na recuperação de movimentos diminuídos” (Rede Entre Amigos, 2007). O conceito de Tecnologia Assistiva diferencia-se de toda a tecnologia médica ou de reabilitação, por referir-se a recursos ou procedimentos pessoais, que atendem a necessidades diretas do usuário final, visando sua independência e autonomia. Já os recursos médicos ou de reabilitação visam o diagnóstico ou
23
tratamento na área da saúde, sendo, portanto, recursos de trabalho dos profissionais dessa área.” (GALVÃO FILHO, 2009).
Entretanto, é necessário destacar que a diferença citada anteriormente
sobre Tecnologia Assistiva e Tecnologia de Reabilitação existe principalmente
no contexto brasileiro, como pode ser observado com as citações das obras
de Rita Bersch (2013) e Galvão Filho (2009). Dessa forma, um órgão norte-
americano como a Rehabilitation Engineering and Assistive Technology
Society of North America (RESNA) apresenta significados diferentes para
esses mesmos conceitos, sendo considerado um Artigo de Tecnologia
Assistiva — Assistive Technology Device — qualquer item, equipamento ou
produto utilizado para manter, aumentar ou recuperar capacidades funcionais
dos indivíduos com deficiência (RESNA, 2018), podendo ser usados em
diversos contextos, como no processo educacional, reabilitação, vida
profissional ou vida diária.
Dessa forma é possível relacionar nesse tópico resultados encontrados
em literatura estrangeira sobre Tecnologia Assistiva sem cometer equívocos.
Como campo de trabalho, a TA possui tantas particularidades que o próprio
conceito de “aplicar técnicas de engenharia para projetar, desenvolver,
adaptar, testar e avaliar soluções para problemas confrontados por indivíduos
com deficiências” (id.) vai além do conceito de design, ganhando a
nomenclatura de Rehabilitation Engineering. Com isso, pelo fato dos artigos de
TA apresentarem uma forte ligação com seus usuários, existem metodologias
particulares de projetação e avaliação que levam em consideração esse fator.
Um exemplo é o PHAATE, apresentado em tradução livre na Figura 1, que é
um modelo conceitual proposto para a projetação de quaisquer produtos ou
serviços que têm o propósito de dar assistência a pessoas deficientes
(COOPER; OHNABE; HOBSON, 2007). O nome, um acrônimo, demonstra os
fatores que devem ser considerados, e a importância de cada fator é expressa
na representação gráfica do modelo, com destaque para o ser humano no
centro interligando todos eles. Como os produtos ou serviços desenvolvidos
serão utilizados por pessoas, o modelo se tornaria incompleto caso não desse
ao ser humano sua devida importância. (id.)
24
● Política: Regras ou diretrizes de instituições públicas ou privadas que
exerçam influência sobre artigos relacionados a saúde e possam
afetar a inserção do produto de TA no mercado;
● Ser humano: O usuário ou os usuários do produto;
● Atividade: A tarefa que interliga produto e usuário, a atividade que o
produto auxilia o indivíduo a realizar;
● Assistência e Tecnologia: A relação do produto com as outras
pessoas ou sistemas que participam da mesma tarefa ou cercam o
usuário;
● Ambiente: “O ambiente pode determinar quando a deficiência se
torna um impedimento. Algumas atividades podem ser realizadas em
ambientes diversos e isso precisa ser levado em consideração.”
(ibid.)
Figura 1. Método PHAATE. Fonte: (COOPER; OHNABE; HOBSON, 2007)
Tendo em vista a valorização do usuário e das pessoas que também
participam da tarefa, é possível fazer uma analogia do método PHAATE e o
mais conhecido Design Participativo, uma metodologia de projetação que não
se restringe apenas à TA e que tem como foco desenvolver um projeto
juntamente com a participação dos indivíduos no funcionamento do processo.
Com isso, a projetação passa a contar com uma equipe multidisciplinar, não
apenas com profissionais especializados. (CAMARGO e FAZANI, 2014)
25
Entretanto, o DP vai ainda mais longe do que o PHAATE no que diz respeito a
envolver na projetação as pessoas que utilizarão o sistema posteriormente,
considerando um processo projetual de “design com o usuário”, em que
projetista e usuário se encontram unidos para obter um resultado comum.
“Pensa-se, portanto, em “design com o usuário”, na qual os usuários se envolvem e participam ativamente das decisões de projeto de uma forma mais democrática. O resultado dessa abordagem tende a ser o projeto de interfaces mais adequado aos usuários, às tarefas a serem desempenhadas e aos objetivos a serem alcançados.” (SANTA ROSA; MORAES, 2012)
Outro enfoque possível para a participação do usuário nas metodologias
para projetação de TA é na avaliação do produto. Existem desde métodos
simples de avaliação que consistem na enumeração de quesitos (Figura 2) aos
quais são atribuídas notas para saber o que é necessário melhorar até modelos
conceituais mais complexos que levam em conta cada aspecto da tarefa
realizada para promover a reflexão sobre quais as vantagens o produto trouxe
durante a execução da atividade.
Figura 2. Exemplos de quesitos para avaliação (tradução livre) 1 Fonte: (BATAVIA; HAMMER apud DiGIOVINE; SCHEIN; SCHMELER, 2012),
Exemplos como esses demonstram que o produto ou serviço, mesmo
que já fabricado e distribuído, nunca é algo definitivo, fechado em si mesmo.
1Com base em análises que seguem esses critérios, foi possível concluir que o primeiro item
(originalmente “affordability”) trata-se de acessibilidade de preço, não dizendo respeito ao conceito de “affordance”, existente no design.
26
Modificações e aprimoramentos não apenas podem como devem acontecer,
pois problemas e dificuldades referentes à tarefa que o produto se propõe a
cumprir ou ajudar no cumprimento só serão descobertos com base nas
experiências da lida com o produto. Dessa maneira, é possível concluir que
principalmente na produção de artigos de Tecnologia Assistiva/Tecnologia de
Reabilitação, a opinião do usuário que lida diretamente com o produto ou
serviço se mostra de extremo valor.
1.3. Justificativa
O treino de marcha é um conjunto de atividades que visam a aquisição
de competências para a deambulação. Equilíbrio, fortalecimento muscular e
coordenação motora são alguns dos aspectos trabalhados com esse tipo de
prática. (TREINO..., 2018) Ainda que o trabalho desenvolvido tenha o foco no
treino de marcha em superfície plana, existem as variações de treino em
superfícies como escadas e rampas que simulam obstáculos encontrados na
vida diária, uma vez que o propósito do exercício é promover o
desenvolvimento e a autonomia da criança, para que ela conquiste o máximo
de independência possível e consiga se integrar na sociedade e até mesmo
em sua própria família.
Para que sejam obtidos bons resultados, é importante que exista uma
boa interação entre o fisioterapeuta e seu paciente. Um dos fatores que pode
impedir que isso aconteça é o acometimento dos profissionais por distúrbios
osteoarticulares relacionados ao trabalho (DORT) resultantes da adoção
frequente de posturas prejudiciais, que ocorrem devido a grande diferença de
altura entre o adulto e a criança. Caracterizados por alguns autores como uma
epidemia, os distúrbios osteoarticulares relacionados ao trabalho ou as lesões
por esforço repetitivo (LER) são sérios problemas de saúde pública que
implicam em custos físicos e até mesmo psicológicos. (MORAES; BASTOS,
2013).
Ainda que possuam conhecimento sobre lesões musculoesqueléticas,
os fisioterapeutas não estão isentos de padecer desses problemas
27
(CARREGARO; TRELHA; MASTELARI, 2005), sendo a fisioterapia uma
ocupação que apresenta em seu processo de trabalho alguns fatores de risco
para LER/DORT, como a realização de movimentos repetitivos e posturas
inadequadas. Uma revisão de literatura feita sobre o tema (Figura 3) prova que
esses fatores são estressantes principalmente para a coluna lombar, coluna
cervical, mãos e punhos. (id)
Figura 3. Áreas corporais mais exigidas em fisioterapeutas Fonte: (CARREGARO; TRELHA; MASTELARI, 2005)
Tais problemas poderiam ser minimizados com o uso de equipamentos
ou produtos que facilitassem o trabalho do fisioterapeuta, mas há uma certa
lacuna no nicho de mercado que diz respeito a esse público. Mesmo existindo
uma certa variedade de artigos pensados para um adulto manter a postura
correta ao auxiliar uma criança a praticar treino de marcha — que podem ser
encontrados como andadores “tipo arnês” ou handheld baby walkers — esses
produtos são voltados apenas para crianças com desenvolvimento
convencional, na faixa etária de aproximadamente 6 a 16 meses. (Figura 4)
Sabendo que o setor de fisioterapia pediátrica da Associação
Fluminense de Reabilitação (AFR), onde o presente trabalho foi realizado,
28
atende crianças de 1 a 12 anos, é possível entender que a aquisição de um
dos produtos mencionados anteriormente contemplaria apenas uma parcela
mínima dos pacientes, já que nesse ambiente o treino de marcha ocorre por
questões que independem da idade da criança.
Figura 4. Alguns resultados de busca para “handheld baby walker” Fonte: O autor
Se não é possível adaptar ou utilizar um produto já existente, ao mesmo
tempo comprar um artigo desenvolvido para fisioterapia pode ser mais difícil
ainda. Analisando o nicho de produtos para reabilitação, a tendência do
mercado e das empresas especializadas na criação de tais equipamentos é
aliar cada vez mais recursos eletrônicos a seus produtos, gerando aparelhos
de excelência que visam melhorar a experiência de fisioterapeutas e pacientes
por meio de componentes motorizados, sensores para transmitir a resposta do
paciente à máquina e até mesmo estímulos de imersão, como jogos em
realidade virtual.
Entretanto, isso implica em gerar equipamentos de alto custo, que
podem se tornar mais altos ainda considerando gastos além do preço do
produto, já que manutenção, instalação e treinamento de profissionais também
29
precisam ser considerados. Aparelhos como a Lokomat (Figura 5) ― que
possui encaixes nos membros inferiores do paciente e simula a marcha sobre
uma esteira, podendo atender ao público adulto ou pediátrico ― chegam a
custar 260 mil euros, o que se converte em cerca de 1,2 milhão de reais
(PSDB, 2014) incluindo os custos de importação e instalação, excluindo
manutenção, do equipamento produzido pela empresa suíça Hocoma.
Figura 5. Lokomat Fonte: (HOCOMA, 2017)
No caso específico da Lokomat, é possível exemplificar outros fatores
além do preço que podem dificultar a aquisição do equipamento: Questões
políticas e burocráticas. O Ministério da Saúde alega que a Lokomat não tem
evidência científica suficiente para ser incorporada à rede de saúde, por isso
não aceita que os deputados aloquem emendas federais para a compra do
aparelho (GABRILLI, 2015). Dessa forma, ainda que se esteja ciente da
30
existência de equipamentos de ponta, eles simplesmente não são acessíveis
à maioria da população, seja por questões burocráticas ou, principalmente,
restrições monetárias.
Em suma, ao mesmo tempo em que as sessões de fisioterapia são
imprescindíveis na vida de seus pacientes e não podem deixar de ser
oferecidas por conta das dificuldades citadas, não é justo manter condições
que possam ser prejudiciais para a saúde do profissional, nem é viável que
problemas sejam minimizados com soluções improvisadas. O
desenvolvimento de um produto prático, pensado para fornecer conforto ao
fisioterapeuta e para contemplar uma faixa etária condizente com os pacientes
atendidos seria a oportunidade de melhorar o processo de reabilitação de
forma completa, considerando tanto o profissional quanto seu paciente e sendo
um recurso condizente com a realidade em que ambos estão incluídos.
1.4. Resultados esperados
Desenvolver um produto que minimize a tomada de posturas
prejudiciais pelos profissionais dos setores de fisioterapia pediátrica enquanto
auxiliam os pacientes a realizar exercícios de marcha; otimize o exercício feito
pela criança, oferecendo a segurança e o suporte necessários para realização
do mesmo e atinja o maior número possível de usuários, sendo confortável
para profissionais de diversas alturas e adaptável a pacientes de uma
determinada faixa etária.
31
2. APRECIAÇÃO E PARECER ERGONÔMICO
Para coletar os dados pertinentes a essa seção, foram acompanhados
dois pacientes do setor de fisioterapia pediátrica da Associação Fluminense de
Reabilitação com idades relativas a 1 e 4 anos. Mesmo com diagnósticos
diferentes, ambos realizavam treino de marcha em superfície plana com a
finalidade de estimular a coordenação motora e o fortalecimento muscular. O
livro “Ergonomia – Conceitos e Aplicações”, de Anamaria de Moraes e Claudia
Mont’alvão (2012) foi utilizado como referencial.
2.1. Apreciação ergonômica
2.1.1. Problematização
Problema interfacial-postural: Para auxiliar a criança a realizar os
exercícios de marcha, o fisioterapeuta acaba assumindo posturas prejudiciais,
principalmente quando se trata da flexão frontal do tronco, que por muitas
vezes acontece durante todo o tempo do exercício realizado pela criança. A
figura 6 mostra o paciente de 4 anos realizando o exercício de marcha. Ainda
que ele possua um grau maior de autonomia e ande sozinho, ainda não
sustenta o tronco totalmente, o que faz com que possa cair sentado ou para a
frente de forma repentina. A fim de evitar acidentes e estimulá-lo a andar, a
fisioterapeuta precisa estar sempre pronta para atendê-lo.
32
Figura 6. Dificuldades posturais Fonte: O autor
Quando a criança é menor, uma cadeira com rodízio é utilizada pelo
fisioterapeuta. Ainda assim, a flexão frontal não é evitada ou minimizada. Com
o uso da cadeira é exigido um esforço extra dos membros inferiores do
profissional, que precisa utilizar suas pernas e pés como impulso para se
locomover pela sala enquanto auxilia a criança a realizar o exercício. A figura
7 mostra como o treino de marcha acontece com a paciente de 1 ano, que
utiliza um andador para realizar o exercício.
33
Figura 7. Fisioterapeuta auxiliada por cadeira com rodízios Fonte: O autor
Problema movimentacional: Muitas vezes durante a sessão o
fisioterapeuta tem que sustentar o corpo da criança (Figura 8). O deslocamento
de peso excessivo ocorre quando o professional tem que lidar com pacientes
de mais idade, consequentemente mais pesados. Quando questionada sobre
o cansaço no fim do dia de trabalho, uma estagiária relatou: “Não precisa nem
chegar no fim do dia. Às vezes na hora do almoço a coluna já está difícil de
aguentar”.
34
Figura 8. Sustentando o peso do paciente Fonte: O autor
Problema espacial/arquitetural de interiores: Devido aos vários
atendimentos simultâneos no setor, muitas vezes equipamentos pertencentes
a outras crianças como cadeiras de rodas ou andadores ficam espalhados pelo
caminho, dificultando a circulação de profissionais e pacientes na área livre
onde o exercício de marcha é praticado (Figura 9).
O fato do almoxarifado ter um tamanho reduzido (Figura 10), o que
contribui para agravar o problema citado anteriormente. Os equipamentos mais
volumosos e que não podem ser guardados em prateleiras nem nos nichos
específicos para armazenagem do almoxarifado acabam agrupados em outros
cantos da sala de atendimento (Figuras 11 e 12). As figuras ilustram a sala na
sua composição mais organizada possível, quando nenhum equipamento está
35
sendo usado, mas ainda assim é possível reparar que acessar alguns
equipamentos pode ser uma tarefa difícil.
Figura 9. Paciente se bateu ao realizar o exercício Fonte: O autor
37
Figura 11. Equipamentos não comportados pelo almoxarifado Fonte: O autor
Figura 12. Mais equipamentos não comportados pelo almoxarifado Fonte: O autor
Problema acidentário: A dificuldade em substituir ou fazer manutenção
adequada em equipamentos avariados acaba por gerar soluções improvisadas
38
devido a necessidade de uso. O andador tem na barra superior uma adaptação
(Figura 13). Como o produto original provavelmente não apresentava esse tipo
de apoio frontal, foi fixada uma barra extra com parafusos nas laterais e é
visível que a barra se encontra enferrujada, de forma contrastante com o bom
estado das outras estruturas do mesmo equipamento. A fita crepe foi colocada
como forma de proteger as pessoas das bordas de metal que podem ser
cortantes.
Figura 13. Andador com fitas crepe Fonte: O autor
O andador da figura seguinte foi pego no almoxarifado para atender um
paciente, mas não pode ser utilizado devido a um problema. Como mostrado
na figura 15, um dos manípulos está quebrado, o que dificulta a pega e impede
a regulagem do equipamento para uma altura diferente. Examinando o
andador de forma mais precisa, é possível reparar que há tinta verde já seca
fixando o manípulo quebrado, o que tira a função do sistema de regulagem
uma vez que mantém o equipamento fixo em apenas uma posição. No caso
do paciente que iria utilizar esse andador, como os outros andadores
disponíveis estavam sendo utilizados e o paciente tinha mais idade, o exercício
foi realizado nas barras de apoio.
39
Figura 14. Andador verde Fonte: O autor
Figura 15. Comparação entre os dois manípulos Fonte: O autor
Problema operacional: Tratando-se do treino de marcha em superfície
plana, os exercícios não apresentam muitas variações. Ao mesmo tempo em
que a repetição é o que auxilia o paciente a obter os progressos desejados,
não apresenta benefícios ao profissional que reproduz os mesmos movimentos
e posturas por períodos prolongados. Ainda que as sessões de cada paciente
tenha a duração de 30 minutos e os pacientes variem em questões como idade
ou tipo de tratamento/atividade realizada, a repetição das ações e posturas
prejudiciais durante uma tarefa que é realizada várias vezes por dia ou por
semana é um fato inevitável e que tende a gerar lesões laborais,
principalmente a longo prazo.
40
2.1.2. Caracterização e posição serial do sistema
Figura 16. Caracterização do sistema Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
41
2.1.3. Ordenação hierárquica
Figura 17. Ordenação hierárquica Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
42
2.1.4. Expansão do sistema
Figura 18. Expansão do sistema Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
43
2.1.5. Modelagem comunicacional do sistema
Figura 19. Modelagem comunicacional Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
44
2.1.6. Disfunções do sistema
Tabela 1. Disfunções do Sistema
DISFUNÇÕES CARACTERIZAÇÃO
Saídas / Resultados despropositados Pacientes que faltam ou abandonam
as sessões de fisioterapia.
Pacientes que não seguem as
recomendações de fazer os
exercícios em casa.
Disposição dos elementos Equipamentos espalhados pela sala.
Manutenção / Conservação das
máquinas
Dificuldade, falta ou irregularidade de
reparos, exemplificados pelos
andadores das figuras 13 a 15.
Rendimento do trabalho Pacientes resistentes e/ou
distraídos, não executando ou não
querendo executar o exercício.
Ambiente externo Instabilidades políticas ou
econômicas que acabem afetando o
funcionamento da AFR.
Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
2.2. Parecer ergonômico
2.2.1. Tabela G.U.T.
Para facilitar a priorização dos problemas, foi utilizada a tabela GUT,
que atribui notas para os fatores Gravidade, Urgência e Tendência de cada
problema listado na Problematização Ergonômica.
45
Tabela 2. Gravidade x Urgência xTendência
PROBLEMA G U T GxUxT
Adoção de posturas prejudiciais 5 5 4 100
Esforço dos membros posteriores 4 5 4 80
Suportar peso excessivo 3 4 4 48
Corredor que não comporta equipamentos e o exercício 3 2 2 12
Almoxarifado de tamanho reduzido 3 3 2 18
Equipamentos com manutenção inexistente ou irregular 3 4 3 36
Repetição constante de determinadas posturas e/ou
movimentos
4 5 3 60
Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
Tabela 3. G.U.T. hierarquizada
DESCRIÇÃO GxUxT
Adoção de posturas prejudiciais 100
Esforço dos membros posteriores 80
Repetição constante de posturas e/ou movimentos 60
Suportar peso excessivo 48
Equipamentos com manutenção faltante ou irregular 36
Almoxarifado de tamanho reduzido 18
Corredor com equipamentos espalhados 12
Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
2.2.2. Predições
É notório que o principal problema — as posturas assumidas — são
fruto da diferença de altura entre o fisioterapeuta e seu paciente, e a tentativa
de diminuir esse problema com o uso da cadeira com rodízios não é muito
eficiente. Somado com a constante flexão do tronco, o esforço das pernas para
mover a cadeira é mais uma fonte de cansaço e dores. Ainda que o treino de
marcha seja uma atividade repetitiva, a repetição de posturas prejudiciais
contribui para provocar ou agravar quaisquer prejuízos à saúde do profissional.
46
Ainda tratando da questão operacional, é possível reconhecer que
existem fatores que não podem ser controlados ou resolvidos por meio desse
projeto. O número de pacientes atendidos por dia é um exemplo, pois ainda
que exista o agendamento prévio e dias fixos na semana para cada paciente,
faltas ou reagendamentos de última hora podem acabar acontecendo e
contribuindo para a repetição e manutenção das posturas prejudiciais,
principalmente em certos dias de trabalho.
Quanto aos outros problemas, também é possível reparar que a falta de
espaço no almoxarifado está fortemente ligada ao problema dos equipamentos
e brinquedos espalhados. O corredor, quando vazio, possui um determinado
espaço útil suficiente para que os exercícios sejam praticados, mas quando há
bagunça ou a necessidade de dispor facilmente de outros equipamentos para
atender outros pacientes, o espaço fica mal aproveitado.
2.2.3. Sugestões preliminares de melhoria
Com base nas observações feitas é possível sugerir algumas medidas
para solucionar certos problemas de forma total ou parcial:
• Ampliação do corredor da sala ou criação de um espaço
destinado apenas à prática dos exercícios de marcha;
• Ampliação ou nova configuração do almoxarifado, aumentando
sua capacidade de armazenamento;
• Aquisição de novos equipamentos para substituir os que se
encontram danificados ou execução de reparos nos mesmos;
• Proposição de pausas ou ginástica laboral como tentativa de
remediar as dores e o cansaço dos profissionais.
2.2.4. Parecer ergonômico
De acordo com os dados coletados e com a observação feita, é possível
elaborar o parecer ergonômico por meio do seguinte quadro:
47
Tabela 4. Quadro do parecer ergonômico
Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
2.2.5. Conclusão
Com a priorização, foi possível ter um entendimento melhor dos
problemas que serão resolvidos com o desenvolvimento do produto e focar nos
que se fazem mais urgentes. Caberá à análise da tarefa a geração de um
detalhamento mais aprofundado das questões posturais para que seja feita a
definição dos requisitos e restrições a serem seguidos e uma preparação para
a projetação ergonômica.
48
3. ANÁLISES
3.1. Análise da tarefa
A tarefa em sua ambiência conta com as seguintes características:
Ruídos:
• Conversas, choro de outras crianças, músicas infantis tocadas
durante atendimentos simultâneos, sons de brinquedos que
tenham componentes lúdicos musicais. Ainda que alguns
possam distrair o paciente momentaneamente, nenhum ruído é
significativo a ponto de ser prejudicial para a saúde.
Iluminação:
• A iluminação é natural, vinda das janelas, podendo ser
complementada com iluminação artificial das lâmpadas de teto
quando o ambiente se apresentar escuro.
Temperatura:
• Existem aparelhos de ar-condicionado que deixam a
temperatura amena. É importante esse controle devido ao clima
da cidade, que no verão pode chegar a 40ºC. Em dias mais frios,
o ar condicionado pode ser desligado.
49
3.1.1. Caracterização da tarefa
Figura 20. Caracterização da tarefa Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
50
3.1.2. Quadro de atividades e meios
Figura 21. Quadro de atividades e meios Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
51
3.1.3. Fluxograma funcional ação-decisão
Figura 22. Fluxograma funcional ação-decisão Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
52
3.1.4. Registros
Figura 23. Registro cursivo Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
Por ser uma atividade repetitiva, para efetuar o registro cursivo
apresentado (Figura 23), foi registrado um período de trinta segundos do
atendimento de um paciente enquanto ocorria o treino de marcha. As
atividades anteriores a esse evento e posteriores não representaram duração
de tempo significativas para serem registradas no registro cursivo, já que a
paciente apenas chegou na sala e já deu início aos exercícios. As imagens
foram feitas em um intervalo de aproximadamente dois em dois segundos
enquanto houve treino de marcha. O registro permite observar que durante
53
toda a tarefa, a postura da fisioterapeuta apresenta poucas variações e a flexão
frontal do tronco é constante. Nesse caso há o uso da cadeira devido à altura
do paciente e é possível reparar o esforço feito com as pernas para que a
fisioterapeuta possa se locomover e acompanhar o paciente.
O registro postural (Tabela 5) foi feito adicionando observações de
outros pacientes. Com ele é possível entender que, especialmente nesse caso
do treino de marcha, a postura se apresenta como um elemento intimamente
ligado à atividade que está sendo desenvolvida e às dificuldades superpostas
(MORAES, MONT’ALVÃO, 2010), que têm origem principalmente nas
características antropométricas do adulto e da criança. Com base em ambos
registros é possível reparar que além da coluna, outras partes do corpo
bastante exigidas além da coluna e das pernas são os braços — que suportam
e amparam o paciente — e o pescoço, que se encontra frequentemente
flexionado. Essa observação corrobora o dado citado no referencial teórico
sobre LER/DORT, em que a coluna é apresentada como a parte do corpo mais
exigida durante as atividades do fisioterapeuta.
55
3.2. Análise de similares
Os similares foram divididos em duas categorias: Diretos — produtos
para reabilitação — e indiretos, produtos pensados para o desenvolvimento da
marcha de crianças com desenvolvimento considerado “normal”. Todos estão
ou estiveram disponíveis no mercado, seja em lojas físicas ou pela internet, e
dados como preços foram conseguidos por meio do contato com fornecedores.
No caso dos produtos que apresentavam valor em dólar, o valor foi convertido
e a cotação utilizada foi de um dólar correspondendo a R$ 3,24, valor corrente
no dia em que a análise de similares foi feita. Houve a oportunidade de adquirir
um similar indireto e analisá-lo de forma mais detalhada, prestando atenção a
aspectos como acabamento e materiais.
É importante fazer algumas considerações finais sobre os similares
diretos. Por meio do contato com fabricantes e fornecedores para obter mais
informações (Figura 24) foi possível observar que quando existe algum serviço
de revenda que atenda ao Brasil, é relativamente complicado e demorado de
se obter qualquer resposta. Isso levanta algumas questões sobre o custo do
produto, que vai além do custo da aquisição. Instalação, manutenção e
treinamento de profissionais que irão utilizar o equipamento também precisam
ser levados em conta quando se pensa em adquirir qualquer produto.
Figura 24. Contato com fornecedor Fonte: O autor
56
3.2.1. Similares diretos
Figura 25. NXStep Unweighing System Fonte: (BIODEX, 2017)
• Nome: NXStep Unweighing System
• Fabricante: Biodex
• Preço: USD 24.000,00 (R$ 77.760,00)
• Dimensões: 121 x 122 x 239 cm — Quando fora de uso pode ser
reduzido e fica com as seguintes dimensões: 81 x 122 x 201 cm
• Descrição: Similar a uma grua, promove a sustentação do tronco
do paciente por meio de um “colete”. É ajustável para pacientes
de diversas alturas por controle remoto. Pode ser utilizado para
caminhadas livres ou para exercício sobre uma esteira.
57
Figura 26. Innowalk pro Fonte: (MADEFORMOVEMENT, 2017)
• Nome: Innowalk pro
• Fabricante: Made for Movement
• Preço: não especificado
• Dimensões: não especificadas (a empresa fabricante não
retornou o contato)
• Descrição: Simula marcha de forma estacionária e também
promove exercício para os braços. Pode servir como assento ou
parapódio, para o paciente se exercitar sentado ou sustentado
na posição ereta, de acordo com suas possibilidades e
necessidades. Existem dois modelos disponíveis, menor e
maior, embora o menor só possa ser utilizado por pacientes a
partir de um metro de altura. É possível encomendar peças
extras customizadas para o paciente, como suportes para
cabeça ou ombros.
58
Figura 27. UpSee Fonte: (FIREFLY, 2018)
• Nome: UpSee
• Fabricante: Leckey
• Preço: USD 445,00 (R$ 1.441,80)
• Dimensões: Variam com o tamanho do produto. Existem quatro
tamanhos disponíveis, atendendo de 1 a 8 anos/ 15 a 25 kg.
• Descrição: Produto pediátrico, mas de uso conjunto com um
adulto. Permite que a criança fique de pé e caminhe juntamente
com a outra pessoa. Pode ser utilizado durante sessões de
terapia ou em casa, com um caráter “recreativo”. Acompanha um
guia de exercícios elaborado por fisioterapeutas para otimizar o
uso doméstico do produto.
59
3.2.2. Similares indiretos
Figura 28. Moon Walk Fonte: (AMERICANAS, 2017)
• Nome: Andador Moon Walk – meus primeiros passos
• Fabricante: Moby Baby
• Preço: R$ 44,90
• Dimensões: 28 x 17 x 7cm.
• Descrição: Andador tipo arnês ajustável para crianças de 6 a 14
meses. Possui regulagens na altura e na circunferência do
corpo/cintura. Todo feito em tecido, exceto pela barra superior
(material não especificado).
60
Figura 29. Niniwalker Fonte: (NINIWALKER, 2017)
• Nome: Niniwalker
• Fabricante: Niniwalker
• Preço: R$ 250,00
• Dimensões: 25 x 120 x 16cm.
• Descrição: Para crianças de 8 a 16 meses. Permite que o adulto
guie a criança por meio do corpo do produto que, ao mesmo
tempo que serve para a criança se sustentar de pé, se mostra
lúdico por causa da rodinha. Combina uma cinta peitoral para
evitar quedas. É desmontável e acompanha bolsa para
transporte.
61
Figura 30. My early steps Fonte: (AMAZON, 2017)
• Nome: My early steps
• Fabricante: Little Dundi
• Preço: R$ 133,40
• Dimensões: 26 x 13 x 8cm.
• Descrição: Andador com suporte de corpo inteiro, similar a um
“maiô”, para passar mais segurança à criança. Recomendado
para crianças a partir de 8 meses, ou de 8 a 13 kg.
• Observação: Fora de estoque em todos os sites de venda
pesquisados, página do fabricante fora do ar. São
desconhecidos os motivos que tiraram o produto de circulação.
62
3.2.3. Análise morfológica do similar indireto adquirido
Figura 31. Embalagem do produto Fonte: O autor
Foi feita a aquisição do andador tipo arnês MoonWalk. Analisando o
produto fechado na embalagem é possível notar que é um andador leve,
compacto e simples. As imagens e ilustrações contidas na embalagem
demonstram como o uso deve ocorrer.
A frase em inglês "No need to bent [sic]" pode ser livremente traduzida
para "Não precisa se curvar", frisando como diferencial a preocupação com a
postura de quem auxilia a criança, pois com o uso do produto, a má postura
tende a não acontecer (Figura 32). Não há nenhum tipo de manual. As
instruções são escritas em inglês — ainda que de forma truncada — na parte
externa da caixa (Figura 33).
64
Existe a citação de que as travas são plásticas, mas outros materiais
não são especificados. A parte superior é totalmente rígida, improvável de se
dobrar como mostra a ilustração da caixa. O produto não foi descosturado,
cortado ou aberto para análise dessa parte. O tecido é o mesmo nas partes de
cor azul e laranja, com alguma espécie de recheio sintético e bem fino. As
peças que fazem a regulagem de tamanho das tiras se abrem com facilidade
(Figura 34), mas a princípio o ajuste não foi prejudicado por isso.
Figura 34. Detalhes das travas Fonte: O autor
Devido ao recheio, as tiras precisam ser puxadas com força para serem
reguladas. Existe regulagem nas laterais para o produto se adequar a largura
da cintura de crianças de 6 a 14 meses (Figura 34). O recheio e as dobras da
costura tornam as tiras grossas e dificultam o ajuste. O produto, quando vestido
em um manequim com medidas correspondentes a uma criança de 12 meses,
se apresentou como pode ser visto na figura 35. Como o manequim utilizado
para demonstração não possuía o peso de uma criança real, não foi possível
avaliar se o fato de as travas se abrirem facilmente afetaria a segurança do
usuário infantil.
66
4. SÍNTESE
4.1. Modelagem verbal
Tendo como base as análises feitas, o produto elaborado deve possuir
as seguintes características:
• Mecanismos de regulagem para se adequar as características
físicas dos pacientes dentro da faixa etária de 1 a 5 anos;
• Facilidade de limpeza, já que é um produto voltado para o uso
em clínicas/sessões de fisioterapia, sendo compartilhado por
diversos usuários em um mesmo dia;
• Estruturas compatíveis com profissionais fisioterapeutas de
diferentes alturas;
• Segurança e estabilidade necessárias para a realização dos
exercícios;
• Menor custo possível de execução.
4.2. Requisitos e restrições
Requisitos:
• Se adequar a crianças de altura variável de 70 a 108 cm e peso
variável de 10 a 20 kg, estimativa de altura e peso máximos para
crianças de 1 a 5 anos (DREYFUSS, 2009);
• Possuir as partes manejadas pelo fisioterapeuta
ergonomicamente projetadas para essa função, compreendendo
profissionais de ambos os sexos e alturas extremas;
• Caso possua partes que sejam vestidas pela criança, tais partes
devem ser confortáveis, feitas de materiais macios ou
acolchoados;
• Ser desmontável — ou reduzir de alguma forma sua estrutura —
para ocupar o mínimo de espaço possível quando estiver
armazenado sem uso.
67
Restrições:
• Monetária: O preço do produto deve estar abaixo dos preços
atualmente oferecidos pelo mercado. Com base em buscas feitas
em lojas multimarcas procurando por andadores infantis
oferecidos para a faixa etária atingida pelo projeto (Figura 36),
foram observados os valores cobrados, sendo definido que o
projeto não deve ultrapassar R$ 1000,00, valor médio entre os
valores máximos e mínimos encontrados;
Figura 36. Valores mínimos e máximos encontrados Fonte: O autor
• Dimensional, impondo ao projeto a largura máxima de 60 cm para
que seja permitida a passagem pelo menor modelo de porta
existente;
• Arquitetural, o produto deve funcionar plenamente sem que seja
necessária nenhuma modificação na arquitetura do local onde
ele será utilizado, como por exemplo, instalação de trilhos ou
ganchos em paredes ou teto.
68
5. GERAÇÃO E SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS
5.1. Alternativa 1
A alternativa 1 é composta de duas partes: uma estrutura que remete a
um andador posterior e uma parte que conecta a criança à estrutura. A
diferença dela para um andador posterior é uma barra por onde o fisioterapeuta
conduziria o equipamento. A vestimenta sustenta o tronco da criança e as
laterais servem como apoio para as mãos. Quando não estiver em uso, a
estrutura pode ser fechada em forma de “Z”, reduzindo seu volume.
Figura 37. Alternativa 1 Fonte: O autor
Um modelo da alternativa foi construído com canos de PVC de 20 e
25mm, mas o modelo foi feito erroneamente sem a parte posterior por onde o
fisioterapeuta conduziria o equipamento. Ainda assim foi possível simular o
69
fechamento e visualizar com o auxílio de um manequim de medidas
correspondentes a uma criança de um ano como o paciente se posicionaria.
Figura 38. Teste com manequim Fonte: O autor
Figura 39. Redução da estrutura Fonte: O autor
70
Figura 40. Teste com PVC Fonte: O autor
Ainda que o fechamento da estrutura correspondesse as expectativas
de redução para armazenamento, existiam alguns problemas. A fixação das
barras laterais que garantiam a estrutura aberta enquanto fosse usada era um
desafio, pois a criança teria acesso a elas e caso fossem tiradas do lugar, a
segurança do paciente seria comprometida. A parte a ser vestida pela criança
sustentava o tronco na postura correta, mas restringia demais os movimentos
da criança por ser presa pelas costas, tornando-se desconfortável. Dessa
forma, a dificuldade de contornar os problemas fez com que essa alternativa
fosse deixada de lado em prol do desenvolvimento de outras possibilidades.
5.2. Alternativa 2
A alternativa 2 é semelhante à sua precursora na composição, também
formada por duas unidades: uma parte a ser vestida pela criança que conecta
71
o paciente a uma estrutura de sustentação conduzida pelo fisioterapeuta. A
intenção é que a estrutura possa ser desmontada quando não estiver em uso,
ocupando o mínimo espaço possível.
Figura 41. Alternativa 2 Fonte: O autor
Também foi construído um modelo em tubos de PVC de 20 e 25mm, e
o mesmo manequim foi utilizado para as simulações. A parte vestida pela
criança foi feita em nylon dublado com base na forma do similar indireto
adquirido apenas para possibilitar as simulações, tendo a certeza de que a
forma e os ajustes ainda seriam reformulados.
72
Figura 42. Modelo de PVC Fonte: O autor
Os materiais escolhidos para a criação desse modelo possuíam certas
limitações em questões de encaixes, então não foi possível fazer o modelo
desmontável como era pretendido. Entretanto, foi observado que a estrutura,
para ser reduzida e guardada, não necessariamente teria que ser totalmente
decomposta. A rotação das laterais e o alinhamento do produto possibilitam
uma redução significativa no volume em caso de armazenamento.
73
Figura 43. Modelo alinhado Fonte: O autor
5.3. Detalhamento da alternativa escolhida
A modelagem — integrada ao desenvolvimento das alternativas — foi o
fator decisivo para a escolha da alternativa 2, não havendo necessidade de
métodos como matrizes decisórias uma vez que são mais complexos e
voltados a universos que possuam um número maior de alternativas. Durante
o detalhamento, foram definidos aspectos tanto da estrutura quanto do
“suporte” vestido pela criança. Alguns materiais foram propostos, ainda que
uma pesquisa mais minuciosa não pertença à essa seção.
75
Figura 45. Estrutura alinhada Fonte: O autor
As rodas traseiras devem possuir freios para garantir a segurança do
paciente quando uma parada for necessária. O fisioterapeuta pode acioná-las
76
com os pés para interromper o exercício no momento que precisar ou desejar.
Mesmo com as rodas dianteiras ainda livres, os freios dificultam a locomoção
da estrutura, minimizando a chance de acontecerem acidentes.
Figura 46. Estrutura desmontada Fonte: O autor
Sobre a parte vestida pelo paciente, para que cumprisse o requisito de
ser adaptável a crianças de 1 a 5 anos, o velcro se mostrou um importante
recurso para realizar o fechamento e o ajuste ao redor do corpo. O ajuste é
arrematado por um cinto para garantir a fixação correta. O “suporte” é unido às
alças por fechos de engate rápido, também conhecidos como encaixe em
sistema macho-fêmea, comumente utilizados em mochilas.
Foi pensada a possibilidade de fazer as alças permanentemente ligadas
ao suporte, mas observações mostraram que o ato de vestir e despir a criança
do acessório poderia ser dificultado pelo grande comprimento das alças. Para
possibilitar a adequação do produto para crianças de diferentes alturas, as
alças também contam com regulagens que possibilitam a expansão ou
redução de seus comprimentos.
77
Figura 47. O suporte Fonte: O autor
Figura 48. Suporte com alças Fonte: O autor
Enquanto o velcro serve como mecanismo de ajuste da circunferência
do tronco/quadril, o gancho possui um sistema de colchetes para auxiliar na
78
diminuição do componente como um todo. Os colchetes garantem que, nas
crianças menores, o tecido não fique embolado nem cause desconfortos. O
restante do ajuste é feito por meio das tiras costuradas.
Figura 49. Ajustes Fonte: O autor
Figura 50. Ajustes Fonte: O autor
Uma decomposição simplificada dos componentes do suporte é
ilustrada na figura a seguir. Alguns materiais também são sugeridos.
79
Figura 51. Esquema e possíveis variações Fonte: O autor
Pensa-se no desenvolvimento de um produto vistoso e agradável para
crianças, mas sem tematização de personagens ou elementos que possam
trazer distinção de gênero. Essa consideração é importante por se tratar de um
artigo de uso compartilhado, pensado para atingir uma variedade de crianças
de diferentes idades, pertencentes a diferentes contextos e com distintos
gostos pessoais.
80
Ainda assim, a forma com a qual o elemento foi elaborado permite a
mudança desse conceito, dependendo apenas da mudança do tecido que
reveste o exterior. Variando a padronagem, podem ser criadas peças mais
direcionadas a um certo público ou até mesmo personalizadas, com tecidos
contendo a identidade visual da instituição que utiliza o produto.
Figura 52. Possível variação temática de instituição Fonte: O autor
81
6. DESENVOLVIMENTO DA SOLUÇÃO
6.1. Levantamento dos materiais de fabricação
É apresentada uma breve listagem dos materiais mais indicados para
serem usados na fabricação de cada componente do produto.
6.1.1. Estrutura
Aço carbono: É uma liga metálica composta de ferro e carbono. Outros
elementos como manganês, silício e fósforo também podem ser adicionados
para aumentar a resistência da liga, mas a porcentagem de carbono existente
determina a classificação e a dureza do material. Quanto mais carbono, menor
conformabilidade e soldabilidade. Ligas com até 30% de carbono são
chamadas baixo carbono. Quando o teor varia de 30 a 50%, médio carbono.
Já o grupo de aços duros e extraduros com 50 a 70% de carbono é conhecido
por alto carbono. (LIMA, 2006)
Figura 53. Tubos de aço carbono Fonte: (ABTERSTEEL, 2018)
Aço inoxidável: É a combinação da liga de aço carbono com cromo. Os
aços inox podem ser classificados em martensíticos, ferríticos ou austensíticos
82
(id.), variando em suas durezas e resistências à corrosão devido a
porcentagens diferentes de cromo e elementos de liga como níquel. Ainda
assim, o cromo é o metal que garante a estética e a resistência à oxidação
pelas quais o material é conhecido.
Figura 54. Chapas de aço inoxidável Fonte: (AÇOSPORTE, 2018)
Alumínio: Metal não ferroso conhecido pela versatilidade na aplicação.
Possui baixa densidade e resistência à corrosão. Pode formar ligas como
duralumínio (alumínio-cobre) e alumínio naval (alumínio-magnésio) para que
seja obtida maior resistência mecânica ou resistência à oxidação,
respectivamente. Muito utilizado em peças que precisam de leveza e objetos
do dia a dia como embalagens de bebidas.
83
Figura 55. Lingotes de alumínio Fonte: (I.C.A. LIGAS, 2018)
6.1.2. Suporte
Brim: Tecido 100% algodão, grosso, conhecido por ter alta resistência.
Similar ao denim encontrado em calças jeans, mas com a diferença de que
pode ser tingido em cores uniformes, o brim é encontrado em duas formas:
Leve e pesado, onde variam suas gramaturas. Enquanto o primeiro é
frequentemente encontrado em jalecos e jaquetas leves, o segundo é
comumente utilizado na fabricação de uniformes e bonés. Por não possuir
fibras sintéticas na composição, pode ser lavado em máquina e passado à
ferro em temperatura média. Não deve sofrer alvejamento com cloro.
Figura 56. Calça infantil de brim Fonte: (VENDA E CIA, 2018)
84
Nylon dublado: 100% sintético, é um tecido composto por uma camada
de nylon acoplada a uma espuma de 3mm. De toque frio e agradável, é muito
utilizado para revestimento interno de bolsas, casacos e caminhas pet
principalmente devido à sua característica “acolchoada” e firme, podendo ser
combinado com outros tecidos. É encontrado em cores uniformes, estampado
ou com aspecto matelassado. Por ser sintético, não pode ser lavado com água
quente nem passado a ferro.
Figura 57. Caminha pet em nylon dublado Fonte: (ELO7, 2018)
Gorgurinho: Tecido misto de poliéster e algodão, possui uma textura
ondulada característica e é muito utilizado em forração de almofadas e
cortinas. Facilmente encontrado em diversas cores e padronagens,
principalmente com motivos infantis. Não pode ser passado nem alvejado.
Figura 58. Gorgurinho estampado Fonte: (FHAMPLASTIC, 2018)
85
6.2. Levantamento dos processos de fabricação
6.2.1. Estrutura
Extrusão: Para que aconteça a extrusão, um tarugo de liga metálica
aquecido é pressionado com um pistão contra uma matriz. Sob efeito de
elevada temperatura e pressão, o material vai gradativamente passando pela
matriz e tomando sua forma. O corte ocorre quando o perfil atinge o
comprimento desejado. Tratando-se de metal, possíveis sobras podem ser
coletadas para sofrerem reuso. Uma vez pronto, o perfil pode ou não sofrer
tratamentos térmicos para aumentar sua resistência, bem como ajustes no
calibre quando se trata de tubos.
Figura 59. Extrusão de um tubo Fonte: (ALUMINIUMWERKUNAAG, 2018)
Curvamento de tubos: Pode ocorrer de diversas maneiras, dependendo
do material e do diâmetro do tubo que se deseja curvar. Pode ser manual ou
feito por máquina, tanto a frio (sem aquecimento do tubo) ou com aquecimento
da parte a ser curvada. Quando ocorre com aquecimento, normalmente é
86
utilizado preenchimento com areia para que o tubo não se deforme com o
procedimento. Diferentes tipos de máquina também podem ser usados
dependendo do raio de curvatura desejado. De uma forma geral, o tubo é
colocado entre pinos ou rolos posicionadores e é submetido a flexões para
chegar ao ângulo desejado. Entretanto, existem alguns fatores que podem
influenciar as condições de curvamento de um tubo, bem como suas
propriedades — dimensão do tubo reto, diâmetro, espessura, raio de
curvamento e composição química do tubo — são exemplos de variáveis que
interferem diretamente no processo de conformação do material.
(MEIRELLES, 2009)
Figura 60. Curvatura de tubo Fonte: (SENAI, 2018)
Soldagem: A união permanente de peças ou componentes metálicos é
dada pelo processo de soldagem. É aplicado calor para que ocorra o
aquecimento e posterior fusão parcial das partes a serem unidas.
Acabamentos: Lima (2006) divide os acabamentos para metais em
quatro categorias: Pintura tinta líquida, pintura em pó, filme e esmaltação. A
partir desses critérios foi elaborada a lista a seguir, onde constam alguns
métodos considerados possíveis para acabamento do projeto. Para
87
complementar o estudo, foram adicionadas descrições e características dos
processos.
Pintura com tinta líquida: Ainda que existam tintas líquidas de diversas
composições que garantem diferentes propriedades — desde beleza e brilho
até resistência a imersão — o processo de revestimento de uma superfície
metálica segue determinadas etapas independente da qualidade da tinta
aplicada.
O pré-tratamento tem como objetivo deixar o metal totalmente limpo de
resíduos. Nessa etapa ocorrem procedimentos como desengraxamento e
decapagem para retirar óleos, graxas e ferrugem, por meio de banhos
químicos e lavagens.
Com a superfície já limpa, aplica-se a tinta de fundo, também conhecida
como primer, de função protetora e anticorrosiva. Depois da secagem de duas
ou mais demãos de primer, é aplicada a tinta de acabamento, que vai dar
beleza e cor à superfície, sendo a camada protetora entre as agressões do
ambiente e a tinta de fundo. Dependendo da tinta de acabamento aplicada, é
necessária a aplicação de verniz para melhores resultados. (SENAI, 2018)
Pintura em pó: Também conhecida como pintura eletrostática, utiliza
tinta em pó, que pode ter composição epóxi, poliéster ou híbrida (mistura de
ambas) dependendo das características que se necessita. Enquanto a epóxi é
mais resistente a corrosão, a poliéster possui boa aderência e resiste melhor
ao amarelamento do tom escolhido. Independente da composição, o pó é
colocado em uma pistola de aplicação, onde é eletricamente carregado antes
de ser expelido. Enquanto isso, a superfície que receberá a pintura também é
eletricamente carregada, com uma carga oposta à do pó. A diferença entre as
cargas faz com que o pó seja atraído pela superfície e se fixe nela. Depois, a
superfície ou objeto pintado vai para uma estufa, que termina de fixar a
cobertura e deixá-la uniforme. (TELLES, 2013)
88
Figura 61. Escorredor pintado com tinta em pó Fonte: (CETEC, 2018)
Filme: São categorizados como acabamentos tipo “filme” os métodos
que formam uma camada metálica no exterior da superfície a ser acabada.
Alguns dos mais conhecidos são a galvanoplastia e anodização, que se
utilizam de correntes elétricas para gerar camadas de outros metais ou de
óxido sobre a superfície que se quer recobrir.
Esmaltação: Uma vez que o produto já se encontra conformado, ocorre
o processo de decapagem, onde impurezas como óleos, graxas e ferrugem
são retiradas por meio de banhos em desengraxantes e ácido. Com a peça já
decapada, é aplicada a primeira camada de esmalte — chamado fundente,
sempre preto — por meio de imersão ou com uma pistola aplicadora. O
fundente se fixa à peça depois de um forneamento. Com o fundente uma vez
fixado, ocorre a aplicação do esmalte colorido e novamente o produto é
forneado. (EWEL, 2018)
Popularmente conhecido pelo nome “ágata”, a esmaltação é um método
de acabamento muito utilizado em equipamentos para cozinha como canecas,
bules e leiteiras. Os frisos pretos típicos das alças e bordas desses utensílios
são feitos com a retirada do esmalte colorido dessas partes antes da segunda
queima, deixando o fundente à mostra.
89
Figura 62. Caneca esmaltada Fonte: (EWEL, 2018)
6.2.2. Suporte
A produção de artigos de vestuário pode ser resumida como:
Figura 63. Processo produtivo Fonte: (MENDES, 2006)
90
Pesquisa de tendências é o início do planejamento da coleção. Segundo
Andrade Filho e Santos (1980) Durante essa etapa a empresa deve buscar
desenvolver seus produtos de acordo com as necessidades do mercado e sua
capacidade de produção. (apud PAIVA, 2010) A pesquisa de materiais segue
esse planejamento, já que a seleção das matérias primas, segundo o critério
do estilista ou do responsável pela coleção, constitui uma fase muito
importante na criação e na qualidade do vestuário. (GUSMÃO, 2013)
Durante as etapas que se seguem:
“...a idéia do modelo será transformada em croqui, para assim ser realizada a primeira etapa de desenvolvimento dos moldes. Depois de confeccionada a primeira peça é realizada a primeira prova da roupa montada. Esta peça sendo aprovada receberá o nome de peça piloto que servirá de base para a reprodução da produção. Juntamente com a peça piloto deve ser desenvolvida a ficha técnica, que é o histórico do produto. Esta ficha deve conter o desenho da roupa e todas as informações necessárias para a sua confecção, como informações claras sobre o modelo, tipo e quantidade de materiais utilizados, composição do tecido e tempo de processo de cada operação.” (LIDÓRIO; BIERMANN, 2013 apud PAIVA, 2010)
Após a elaboração das fichas técnicas, a etapa de
planejamento/programação e controle da produção (PCP) é a responsável por
coordenar as etapas seguintes. Com base nas informações das fichas, são
levados em conta desde aspectos como quantidade de matéria prima
necessária até tempo de produção de cada peça, tornando possível a gestão
de etapas altamente automatizadas como o corte até a confecção e o
acabamento, estágios difíceis de serem automatizados e que dependem do
contato humano com a peça produzida. O PCP também inclui em seus planos
questões como verificação e manutenção preventiva de equipamentos,
atendimento de prazos, controle de estoque e tempo de alimentação das
máquinas sem espera entre as operações. (GUSMÃO, 2013)
Por fim, na fase de expedição as peças são passadas, embaladas e
encaminhadas para seu estoque ou ponto de venda.
91
6.3. Projetação ergonômica
6.3.1. Dimensões relevantes
Tabela 6. Dimensões relevantes
Atividade Componente do produto
Dimensão relevante
Adultos Crianças
Sustentar o tronco do paciente
Estrutura Altura do menor e maior indivíduo
Altura do maior indivíduo Peso do maior indivíduo
Conduzir o paciente sem assumir posturas prejudiciais
Estrutura Ângulos de conforto de braço e antebraço do menor e maior indivíduo Alcance máximo do menor e do maior indivíduo
-
Executar o treino de marcha
Suporte - Altura total Comprimento da cintura Largura do quadril Comprimento do tronco Gancho (cintura até meio das pernas)
Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
6.3.2. População usuária
A população usuária do produto é composta por homens e mulheres
adultos, maiores de 18 anos (fisioterapeutas) e crianças de 1 a 5 anos
(pacientes), também de ambos os sexos.
92
6.3.3. Percentil da população acomodada
Para realizar o dimensionamento do projeto de forma a acomodar a
maior porcentagem da população, foram utilizados os percentis 1 e 99 como
referenciais de menor e maior usuário adulto, respectivamente. Quando a
antropometria infantil foi necessária, como não há diferença de percentis entre
crianças no referencial utilizado, a população acomodada foi a de crianças
entre 1 e 5 anos. Não há distinções entre nível socioeconômico ou etnia em
nenhum dos grupos usuários.
6.3.4. Levantamento antropométrico utilizado
Para a projetação antropométrica, foi utilizado como referencial o
conteúdo do livro “As medidas do homem e da mulher: fatores humanos em
design”, de Henry Dreyfuss (2009).
6.3.5. Manequins antropométricos
Com base no levantamento antropométrico utilizado, foram elaborados
manequins de pano representando a população infantil acomodada. Eles se
mostraram fundamentais para a modelagem e confecção do suporte, já que
são necessários modelos tridimensionais de teste para que forma,
dimensionamento e caimento da peça sejam avaliados durante a criação dos
moldes e da peça piloto.
94
Figura 65. Criança de 12 a 15 meses Fonte: (DREYFUSS, 2009)
Figura 66. Criança de 5 anos Fonte: (DREYFUSS, 2009)
Sobre a antropometria dos adultos, é necessário informar que não são
praticadas tarefas que necessitem do uso de roupas específicas ou EPIs, não
95
havendo acréscimos de medidas dessa natureza nos dimensionamentos
disponibilizados no referencial.
Figura 67. Homem percentil 99 Fonte: (DREYFUSS, 2009)
Figura 68. Mulher percentil 1 Fonte: (DREYFUSS, 2009)
96
Figura 69. Compatibilização para altura total da estrutura Fonte: (DREYFUSS, 2009)
Figura 70. Ângulos de conforto de braço e antebraço Fonte: (DREYFUSS, 2009)
97
Figura 71. Compatibilização para altura da empunhadura Fonte: (DREYFUSS, 2009)
Figura 72. Ângulos de conforto - alcance Fonte: (DREYFUSS, 2009)
Figura 73. Compatibilização - alcance Fonte: (DREYFUSS, 2009)
98
7. CONSTRUÇÃO DE MODELOS
7.1. Construção do modelo preliminar
O modelo feito durante a geração de alternativas foi de grande utilidade
para visualizar a forma e o funcionamento da estrutura, mas era sabido que o
material era muito frágil para a validação com usuário.
Para a realização de testes, foi construído um segundo modelo, com
apenas as laterais em tubos de PVC de diâmetro 25mm, pela facilidade de
trabalhar com o material. A parte superior foi feita por um serralheiro em tubos
de aço, para garantir que o peso da criança fosse sustentado com segurança.
Figura 74. Construção Fonte: O autor
99
Figura 75. Confecção da peça piloto Fonte: O autor
O suporte foi pensado originalmente para ser executado em nylon
dublado com revestimento externo em gorgurinho. Entretanto, durante a ida ao
armarinho para a compra de materiais foi descoberto um tecido também 100%
algodão de textura mais agradável, produzido pela marca Círculo. Não há
diferença quanto às instruções de limpeza do tecido, que pode ser lavado à
máquina, mas não passado ou alvejado. Outro fator que influenciou na escolha
foi a estampa, muito vistosa e chamativa por suas cores vivas, sem deixar de
fazer referência ao universo infantil devido a temática de doces.
100
Figura 76. Padronagem do tecido utilizado Fonte: O autor
Figura 77. Teste da peça piloto Fonte: O autor
102
7.1.1. Validação do modelo preliminar
O teste foi realizado no setor de fisioterapia pediátrica da Associação
Fluminense de Reabilitação, com pacientes que atenderam aos critérios do
projeto, sendo o menor usuário uma criança de 1 ano e o maior uma criança
de 4, pois não existia no momento um paciente de 5 anos. Os resultados dos
testes são descritos a seguir.
Figura 79. Teste com paciente de 1 ano Fonte: O autor
A paciente se mostrou muito resistente ao exercício e relutante em
utilizar o produto. Enquanto tentava se desvencilhar do equipamento para
voltar ao colo da mãe, a criança torceu as alças do produto e se jogou contra
uma das laterais, o que danificou a estrutura. O ferro arrebentou o caps de
PVC que finalizava a lateral e passou a bater no chão, deixando o produto
103
empenado e impedindo o uso. Ainda assim, o dano foi minimizado na hora e
foi possível fazer um teste com o paciente de 4 anos para avaliar o
dimensionamento do produto, ainda que não fosse possível realizar o treino de
marcha com ele.
Figura 80. Teste com paciente de 4 anos Fonte: O autor
7.1.2. Observações pós teste
Foi possível concluir que o dano no modelo ocorreu devido aos
materiais utilizados para a sua confecção. O PVC é um bom material para
modelos volumétricos, entretanto não aguenta muito peso ou esforço. Ainda
assim, o suporte pode ser avaliado corretamente durante os testes. Eficiente e
104
com dimensionamento adequado, não houve nenhum problema relativo aos
ajustes para crianças com diferentes idades e tipos físicos.
Figura 81. O dano Fonte: O autor
Figura 82. Modelo danificado Fonte: O autor
105
7.2. Modelo final
Como o teste anterior não pode ser realizado corretamente, foi
necessária a confecção de uma nova estrutura, feito em materiais mais
resistentes e mais próximos ao que seria a realidade de fabricação do produto.
Não foram feitas alterações no suporte.
Foi executado um modelo em tubos de aço carbono de 7/8” e 3/4” de
diâmetro, todos com 1,5mm de espessura. A única diferença em relação ao
modelo pensado foi a colocação dos rodízios, pois o rodízio com base de pino
não estava disponível, tendo que ser feita uma adaptação para a colocação de
rodízios com base de chapa. Os rodízios traseiros, com freio, foram soldados
para possibilitar o acesso ao freio da forma correta.
Figura 83. Modelo final Fonte: O autor
106
Figura 84. Rodízios com freio Fonte: O autor
Para o teste, a estrutura recebeu um primeiro acabamento por meio de
pintura com tinta tipo esmalte em spray, escolhida pela variedade de cores
disponível e pela facilidade de aplicação. Ainda que os passos do
procedimento tenham sido executados corretamente, com a aplicação de tinta
de fundo/primer e respeitando as características da tinta como tempo de
secagem, em poucos dias após a validação com o usuário a cor começou a
descascar e a tinta precisou ser removida.
Para garantir um revestimento de qualidade, o novo acabamento foi feito
por um profissional especializado, com a aplicação de tinta automotiva de
poliuretano, que tem boa cobertura e não precisa de finalização com verniz.
Também foram executados reparos estéticos com massa plástica, retirando
imperfeições e o aspecto grosseiro da solda do metal.
107
Figura 85. Aplicação da tinta de fundo Fonte: O autor
Figura 86. Aplicação da tinta spray Fonte: O autor
108
Figura 87. Reparo estético Fonte: O autor
Figura 88. Aspecto do acabamento com tinta automotiva Fonte: O autor
109
8. VALIDAÇÃO E ALTERAÇÕES
8.1. Validação do modelo final
A validação ocorreu novamente no setor de fisioterapia infantil da AFR
em dois momentos distintos, com a única diferença sendo o acabamento da
estrutura, aspecto meramente estético que não implica em alterações em sua
função ou dimensionamento. Novamente, os testes aconteceram com
pacientes de 1 e 4 anos por não existirem no momento pacientes de 5 anos
que cumprissem a rotina de treino de marcha em suas sessões de fisioterapia.
A estrutura se mostrou segura e não apresentou alterações quando
recebeu o peso do paciente, como era esperado. Os freios cumpriram sua
função corretamente quando acionados. A recepção dos fisioterapeutas foi
muito positiva, pois o caráter de um produto pensado para evitar a questão das
posturas prejudiciais era até então desconhecido. “A nossa coluna agradece”,
relatou em tom bem-humorado uma estagiária do setor. Outras pessoas que
demonstraram muito interesse perante o projeto foram os responsáveis dos
pacientes que realizaram o teste. O impacto emocional de um responsável em
ver um filho ou ente querido — que não se locomove sozinho — de pé, ainda
que atrelado a um aparelho, se mostrou muito forte e positivo.
Também foram realizadas algumas simulações de armazenamento do
produto. Mesmo não se encaixando nos nichos do almoxarifado, a estrutura
alinhada coube no local e pode ser acessada com facilidade, mesmo com o
espaço reduzido. Entretanto, quando perguntados se haveria um lugar mais
indicado para guardar o produto, os fisioterapeutas concordaram que seria
preferível deixá-lo encostado na bancada junto aos outros equipamentos, que
dessa forma o acesso se tornaria mais prático e mais aproximado ao que
aconteceria caso o equipamento estivesse sendo usado no dia-a-dia do setor.
Ambas formas de armazenamento provaram que mesmo sem desmontar a
estrutura, o alinhamento diminuiu radicalmente o espaço ocupado por ela.
115
Figura 94. Armazenado segundo sugestões Fonte: O autor
O produto, quando desmontado, mostrou-se possível de ser
transportado por uma só pessoa. Ainda assim, a estutura pode ser
transportada de forma totalmente montada através de espaços diminutos,
como uma porta de 60cm de largura (menor porta padrão) ou a porta de um
elevador de serviço.
118
Figura 97. Atravessando menor porta padrão e elevador Fonte: O autor
Quanto a uma avaliação final do teste, mesmo que o produto
desenvolvido tenha tido como objetivo a eliminação do uso de recursos como
a cadeira de rodízios, é importante não considerar as figuras 91 e 92 — em
que a fisioterapeuta utiliza o produto e a cadeira — como uma falha no teste
ou um uso indevido do produto.
Como uma das intenções da validação é simular o uso do equipamento
dentro do ambiente em que ele foi projetado para ser utilizado e da rotina de
trabalho desse local, foi preferível não interferir ou “conduzir” os profissionais
para que usassem o produto de uma forma que resultasse na documentação
de um uso perfeito, mas sem espontaneidade.
Assim, as escolhas de cada profissional não foram questionadas, cada
um que optou por usar o produto o fez da forma que julgou melhor para si e
para seu paciente, incorporando a novidade à rotina de trabalho daquele dia.
É possível entender que a cadeira com rodízios não é imprescindível para o
119
contato com a criança nem para a execução do exercício, sendo uma opção
pontual daquele profissional em particular. Fatores externos como cansaço da
profissional também podem ter interferido nessa escolha.
Tabela 7. Comparação dos registros posturais
Sem o produto Com o produto
Fonte: O autor (baseado em MORAES; MONT’ALVÃO, 2009)
120
8.2. Correções pós-teste
Com a validação do modelo final, foi possível fazer observações e
receber um certo feedback dos usuários para elaborar possíveis alterações no
produto. Uma das fisioterapeutas que testou o modelo final já pintado apontou
o problema retratado na figura 98. Com o movimento do exercício, as alças do
suporte tendem a se aproximar demais do rosto da criança.
Figura 98. Problema Fonte: O autor
Dessa forma, foi pensada uma solução para esse problema por meio da
instalação de limitadores na parte superior da estrutura, de forma a prevenir
que as alças se movam para perto demais do rosto da criança. Essa estratégia
121
também impede que as alças deslizem para os extremos da estrutura, evitando
um problema que poderia colocar em risco a segurança do paciente.
Figura 99. Limitadores Fonte: O autor
122
Figura 100. Simulação com manequim 5 anos Fonte: O autor
Outro ponto que também pode ser observado durante a validação foi a
necessidade de proporcionar conforto para as mãos do profissional que vai
segurar na empunhadura. Uma vez que o item não possuía o diâmetro correto
para proporcionar uma pega agradável, foi adicionado um componente extra
para garantir que a espessura da parte a ser segurada esteja entre os
diâmetros mínimo e máximo para proporcionar uma pega ideal, segundo os
123
referenciais antropométricos de Dreyfuss. (2009) Foi utilizado polietileno
expandido devido a sua maior facilidade de higienização quando comparado
com outros materiais similares, como espumas.
Figura 101. Referencial Fonte: (DREYFUSS, 2009)
Figura 102. Resultado Fonte: O autor
124
O seguinte modelo simula a estrutura após as modificações sofridas. O
componente “suporte” não foi modificado.
Figura 103. Modelo virtual Fonte: O autor
125
8.3. Custo final
Tabela 8. Custo final unitário
Item Qtd. Preço Valor unitário Total
utilizado
Tecido algodão 60
cm
R$40,00/metro - R$ 24,00
Nylon dublado 50
cm
R$25,00/metro - R$ 12,50
Velcro largura
50mm
60
cm
R$61,79 (rolo
com 25m)
Aproximadamente
R$2,50/metro
R$ 1,50
Tira de algodão 684
cm
R$ 68,00 (rolo
com 50m)
Aproximadamente
R$1,36/metro
R$ 9,30
Fecho mochila
35mm
5 un R$ 5,50/unid. - R$ 27,50
Regulador
plástico
3 un R$ 90,00
(pacote de
1000
unidades)
R$ 0,09/unidade R$ 0,27
Colchete grande 1 un R$ 5,50/unid. - R$ 5,50
Kit de tinta
automotiva (tinta
+ catalisador)
1 un R$ 100,00/kit - R$ 100,00
Reparos e
pintura
- R$ 250,00 (primer + reparos com
massa + mão de obra da pintura)
R$ 250,00
Aço carbono - R$ 300,00 (material + mão de obra) R$ 300,00
Rodízios 4 un R$ 17,90/unid. - R$ 71,60
Polietileno
expandido
1 un R$ 4,90 - R$ 4,90
Soma final R$ 807,07
Fonte: O autor
126
8.4. Observações
Tendo como base similares como andadores e outros equipamentos
voltados para reabilitação ou uso clínico, pode-se pensar que a matéria-prima
ideal para execução da estrutura seria uma liga de alumínio, já que garante
leveza e resistência. Nesse caso, ao se pensar na fabricação industrial, haveria
a possibilidade de acabamentos esteticamente agradáveis como a anodização
colorida2. Contudo, a dificuldade de manuseio e, principalmente, soldagem do
alumínio impossibilitou que o produto fosse feito e testado nesse material.
Mesmo existindo pequenas diferenças entre o modelo final e os
modelos virtuais mostrados, o modelo testado não está distante do produto
caso fosse fabricado industrialmente. Também utilizado em equipamentos
como cadeiras de rodas ou de banho, o aço carbono não se mostrou um
material inadequado, pois garantiu a segurança necessária para os testes
realizados. O custo foi estimado, conforme especificado (Tabela 8) contando
com aspectos típicos da confecção de uma unidade de produto, como a mão
de obra dos profissionais de serralheria e pintura. Estima-se que, produzido
em série, o produto tenha um custo menor do que os R$ 807,07 descritos na
tabela.
Com forma, dimensionamento e função levados em conta, o modelo
final tornou-se a forma mais fiel em que o produto poderia ser executado nesse
momento.
2Processo que utiliza uma corrente elétrica para criar uma camada protetora de óxido na peça.
Antes da selagem final da camada, podem ser aplicados pigmentos diversos, dando cor e beleza.
127
9. DESENHOS TÉCNICOS
Tabela 9. Especificações técnicas
Item Descrição Fabricante
Tecido algodão Código 332429 – cor 50 – ref: Candy Círculo
Primer automotivo Wandaprimer branco AkzoNobel
Tinta automotiva Poliuretano (PU) - cor azul caiçara AkzoNobel
Rodízios Ref: RG TN 75 (com e sem freio) FGVTN
Fonte: O autor
138
10. CONCLUSÃO
Tecnologia de reabilitação é uma área até agora pouco explorada no
contexto nacional, mas não por isso menos complexa. Mais do que nunca, a
observação e o contato com os profissionais envolvidos na tarefa se fazem
primordiais. São necessários disposição, atenção e humildade para em um
primeiro momento, escutar quem tem a vivência do meio e assim compreender
os problemas, para somente depois propor soluções.
Com base no que foi observado durante esse projeto é possível dizer
que o design pode contribuir muito nessa área no que diz respeito a ergonomia.
Em um universo de artigos normalmente voltados apenas para o paciente, o
diferencial de um produto pode estar no olhar também focado no fisioterapeuta
que tem seu corpo desgastado pela profissão. Dessa forma, é possível dizer
que esse projeto foi desafiador, porém gratificante na mesma proporção.
Sabe-se que o projeto cumpriu seu objetivo quando sua relevância é
ressaltada por aqueles que o estão utilizando, mostrando que é possível e
necessário conciliar o bem estar de ambas as partes, terapeuta e paciente,
para que bons resultados sejam alcançados. Não é demais destacar que esse
projeto só se tornou possível por conta da boa vontade e da solicitude
demonstrada por todos da AFR, desde os setores responsáveis pelo
encaminhamento e agendamento de visitas até o setor de fisioterapia
pediátrica, que acompanhou de perto o processo de projetação.
Mesmo tendo chegado a um modelo plenamente funcional, o projeto
ainda pode sofrer desdobramentos futuros. Variações no material podem ser
interessantes para saber até que ponto o produto pode se tornar leve sem que
sua estabilidade e a segurança do paciente sejam prejudicados. O
desenvolvimento de um envoltório que auxilie a lidar com o produto
desmontado (Figura 95) também é uma possibilidade para ajudar a manter a
boa conservação do produto, evitando que as peças se danifiquem e
facilitando a tarefa do indivíduo que faz o transporte. E conforme ocorra o uso
e mais feedback dos usuários, uma vez que já se tem o dimensionamento e a
função bem definidas, pode ocorrer até mesmo um refinamento da estrutura.
139
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144
ANEXO – CONSTRUÇÃO DOS MANEQUINS
Nenhum dos desenhos dessa seção é ou se propõe a ser um desenho
técnico ou um molde. São figuras meramente ilustrativas detalhando a
construção dos manequins infantis que auxiliaram na modelagem do
componente “suporte” devido à impossibilidade de se contar com crianças
reais para modelar o componente. Os materiais utilizados foram TNT como
revestimento e manta acrílica como enchimento. Recomenda-se alterar o
revestimento caso o manequim precise ser mais resistente.
Não são instituídas medidas nem desenvolvidos moldes devido ao
caráter experimental dos manequins, elaborados por pessoas sem
conhecimento formal em corte e costura, confecção de bonecos ou artigos de
vestuário. Também é sabido que as medidas podem variar de acordo com
alguns fatores, como o referencial antropométrico utilizado ou o desejo do
projetista. O detalhamento apresentado não é um passo-a-passo de costura e
confecção, e sim um relato de técnicas que se mostraram satisfatórias para
gerar um modelo com medidas humanas relativamente fiel a um determinado
referencial antropométrico.
Figura 104. Decomposição do manequim
Fonte: O autor
145
A Figura 104 mostra o manequim decomposto. Para facilitar o
entendimento e projetação de um molde, é possível fazer a correspondência
do molde do corpo com o de um body ou uma camisa. Os braços são unidos
ao corpo com o mesmo princípio da produção de uma camisa com mangas
longas. A diferença proposital ressaltada no braço direito é para ilustrar que
contornos mais humanos — como marcas indicando braço, antebraço e pulso
— podem ser conseguidos de acordo com a costura feita para fechar a
“manga” que forma o braço. É preferível preencher os braços com a manta
acrílica antes de fixá-los na peça do corpo.
Figura 105. Pé Fonte: O autor
146
Assim como os pés (Figura 105), a cabeça (Figura 106) também
depende do enchimento para que fique com sua forma correta. Modelada a
partir de uma tira com gomos semelhante ao topo de um boné, os gomos são
fechados e a cabeça é recheada antes de ser fixada no pescoço, que também
é um cilindro de tecido. A emenda do início e do final da tira pode ser fechada
com costura de forma a garantir um contorno que lembre um nariz, tornando-
se a face do manequim, sendo uma escolha imprecisa em termos de medidas,
meramente estética.
Figura 106. Montagem da cabeça Fonte: O autor
147
Uma vez que os componentes estão já prontos e os pés unidos ao
corpo, o manequim fica semelhante à figura 107, podendo ter o corpo
preenchido pela abertura do pescoço.
Figura 107. Sem enchimento Fonte: O autor
148
Caso a cabeça já tenha sido fixada, pode ser feita uma abertura nas
costas, fechada posteriormente com costura manual (Figura 108).
Figura 108. Preenchimento do corpo Fonte: O autor
Para manequins maiores, apenas a manta acrílica não é capaz de dar
sustentação suficiente para as pernas, fazendo com que o manequim não fique
de pé nem apoiado a uma superfície como uma parede. A solução encontrada
foi a inserção de arames/fios encapados por aberturas feitas na sola dos pés
(Figura 109). Dessa forma, foi possível dar certa rigidez às pernas, mas
mantendo-as relativamente moldáveis.
Figura 109. Inserção de fio Fonte: O autor
149
Como é possível observar, os manequins não ficam ideais em termos
de estética, delicadeza ou precisão, mas é plenamente possível respeitar
dimensões maiores e mais relevantes como altura, comprimento de
braços/pernas, circunferência de tronco. Recursos como esses são de grande
valia na modelagem de componentes de vestuário, que precisam ser avaliados
constantemente quanto a forma e caimento. Os manequins utilizados no
presente trabalho foram nomeados, sem motivo aparente, como Furacão 2001
e Furacão 2005, por corresponderem a crianças de 1 e 5 anos.
Figura 110. Furacão 2001 e Furacão 2005
Fonte: O autor