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COPYRIGHT © 2014
GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO
Todos os direitos reservados ao:
Grupo Ănima Educação
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida,
sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros.
EdiçãoGrupo Ănima Educação
Coordenação GeralAnderson Ceolin Soares
Coordenação PedagógicaCláudia Silveira da Cunha
Coordenação de Produção de MateriaisPatrícia Ferreira Alves
Designer InstrucionalCarla Cristini Justino de Oliveira
Carolina Coelis Gomides Débora Cristina Cordeiro Campos Leal Ediane Cardoso de Araújo FernandesJanaína Mourão Freire Gori Felippe
Kênia da Silva Cunha CajahibaLaura Boaventura de Melo
Naiara Xavier de Aguiar
DiagramaçãoDaniele Bagno Tondato
Gleidson Franco
Capa e IlustraçãoAlexandre de Souza PazLeonardo Antonio Aguiar
RevisãoMariana Elizabeth da Silva Oliveira
Sandra Rocha Ribeiro
Normalização BibliográficaPatrícia Bárbara de Paula
Renata Moreira Lopes é graduada em
Ciências Econômicas pela Universidade
Federal de Minas Gerias, graduada
em Administração pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais
e Mestre em Administração pela FEAD-
MG. Atualmente, é professora do Centro
Universitário UNA. Tem experiência
como professora em graduação, pós-
graduação e EAD. Atua nas áreas
de Economia (Economia e Mercado,
Microeconomia, Macroeconomia), onde
ministrou aulas presenciais e em EAD.
CONHEÇA O AUTOR
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Prezado (a) aluno (a):
O objetivo desse curso é introduzirmos
o estudo da Economia. Você aprenderá
conceitos econômicos básicos, mas
ao mesmo tempo essenciais para o
entendimento da Economia.
O estudo e entendimento da Economia
são de grande importância para todo
cidadão, pois tratam de uma ciência muito
abrangente e que impacta diretamente a
vida de toda uma sociedade. Compreender
a Economia é fundamental para que você
possa entender o mundo em que vive,
além de ajudá-lo no processo de tomada
de decisão na vida pessoal e profissional.
Um outro fato importante é que,
quando você aprende Economia, seu
conhecimento de país e de mundo amplia-
se, e é possível compreender as decisões
dos governantes quanto às mudanças de
estratégias adotadas e seus resultados na
vida de cada cidadão.
A Ciência Econômica vai estudar formas
de melhor distribuir os recursos que
são escassos para todos os indivíduos.
Esse estudo é dividido em dois ramos:
Microeconomia e Macroeconomia. A
Microeconomia vai se dedicar ao estudo
do comportamento dos consumidores e
produtores dentro do mercado de bens e
serviços. Já a Macroeconomia vai tratar
do estudo da Economia de forma global,
como um todo.
Nesse material você entenderá as forças
de oferta e demanda no mercado e como
elas afetam os preços e as decisões de
consumo.
Aprenderá também como as empresas
tomam decisões a partir do levantamento
dos custos dos fatores produtivos,
importantes na formação de preço de um
produto.
Compreenderá também o funcionamento
dos mercados competitivos e das outras
formas de mercado que contam somente
com um único vendedor ou poucos
vendedores, afetando o bem-estar
econômico.
Espero que aproveite o curso e utilize seus
conhecimentos a partir de agora, tanto no
seu dia a dia, ao decidir sobre consumo e
investimento, quanto no seu trabalho, a
partir das forças que regem a Economia.
UNIDADE 1 002Oferta, Demanda e Mercado 003Demanda X Oferta 004Revisão 018
UNIDADE 2 020A empresa: produção, custos e lucros 021Empresas 021O que são custos? 022A função de produção: curto e longo prazo 023Custos contábeis e custos explícitos 027Revisão 028
UNIDADE 3 029Estrutura de Mercado 030Mercado perfeito 031Mercados não-competitivos 032Falhas de mercado 036Revisão 036
UNIDADE 4 038Economia brasileira contemporânea 039Introdução à macroeconomia 040Regime de metas inflacionárias 040Política fiscal 041O Banco Central e a política monetária 043Relações internacionais: o setor externo 047Políticas macroeconômicas adotadas na economia brasileira 056Revisão 058
REFERÊNCIAS 060
ECONOMIA APLICADA
unidade 1003
OFERTA, DEMANDA E MERCADO
Nessa unidade, vamos estudar alguns conceitos econômicos essenciais para o
entendimento de todo o restante do material. Será abordado inicialmente o conceito
de Economia e a sua utilização na vida diária e profissional de todos os cidadãos.
Você também entenderá que na economia sempre se deparará com escolhas, devido às
diversas opções possíveis existentes em sua vida. E toda escolha implica em uma renúncia.
Um exemplo na sua vida prática: para poder se dedicar ao estudo e tirar boas notas, você
terá que renunciar a muitos convites de festas e baladas.
Nessa unidade você também terá oportunidade de estudar o conceito de oferta e demanda
e a sua relação com a variação nos preços dos produtos. Ao final da unidade será estudado
o conceito de equilíbrio entre oferta e demanda e como esse equilíbrio afeta os preços dos
produtos no mercado econômico.
DEMANDA X OFERTA
A Economia é uma importante ciência que vai estudar os recursos escassos e procurar
melhores formas de distribuição desses recursos.
Segundo Troster e Mochón (2006, p.5), “a Economia estuda a maneira como se administram
os recursos escassos, com o objetivo de produzir bens e serviços e distribuí-los para seu
consumo entre os membros da sociedade".
ECONOMIA APLICADA
unidade 1004
A ESCASSEZ E O CUSTO DE OPORTUNIDADE
FIGURA 1 - Recursos escassos na Economia
Fonte: Site “Humortadela”.
Essa charge ilustra a escassez dos bens e como o indivíduo se adapta a esse fato. Quando os preços
dos produtos se elevam e não há renda suficiente para arcar com os novos preços, é necessário
fazer alterações no estilo de vida para se adaptar à nova realidade.
Os recursos existentes no mundo são escassos e as necessidades e desejos humanos são ilimitados.
FIGURA 2 – Trabalho x Educação
Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2014.
ECONOMIA APLICADA
unidade 1005
Todo ser humano se depara com escolhas
no seu dia a dia. Ao entrar para a faculdade
você deve ter se deparado com dúvidas
relacionadas ao curso escolhido. Será que
estou fazendo uma boa escolha? Vou gostar
desse curso? Vou conseguir um bom emprego
e ser bem remunerado ao final desse curso?
Esses são exemplos de dúvidas que devem
ter passado pela sua cabeça e você deve
estar se perguntando: qual a relação com o
estudo da Economia?
Um problema econômico é a escassez, que
pode ser de renda, de tempo ou de recursos
produtivos. Essa escassez pode ser cada
vez maior se o indivíduo tem o desejo de
adquirir uma quantidade de bens e serviços
bem maior que a disponibilidade.
Ao fazer uma escolha, uma renúncia
necessariamente acontecerá. Voltando ao
exemplo da faculdade. Os benefícios que você
obterá com essa escolha são inquestionáveis,
como o enriquecimento intelectual e melhores
oportunidades de emprego. Mas quais são
os custos relacionados a essa escolha? Você
vai pensar no custo dos livros, transporte,
alimentação, mensalidade. Mas não estou
falando somente desses custos. E o tempo
que você passa em sala de aula e estudando
em casa? Você poderia estar, por exemplo,
trabalhando ou descansando nesse período.
Caso houvesse a possibilidade de trabalhar
no horário da aula, o salário que você deixa de
ganhar pode ser considerado como um custo
da sua educação.
Na Economia, este custo é chamado de
custo de oportunidade, que é definido como
a quantidade de bens ou serviços que
devem ser renunciados para a obtenção
daquele escolhido.
E não somente o indivíduo, mas também
as empresas se deparam com escolhas no
dia a dia que geram custo de oportunidade.
Uma empresa, por exemplo, ao dedicar o seu
investimento em um determinado produto,
está abrindo mão de investir em outros
produtos que poderiam ser produzidos.
OS FATORES DE PRODUÇÃO
Para atender as necessidades humanas,
as empresas produzem bens e serviços,
Dessa forma, o indivíduo irá sempre se
deparar com escolhas para atender as suas
necessidades da melhor maneira.
Para adquirir os bens e serviços necessários
para atender aos seus desejos, as pessoas
se ocupam de atividades produtivas, são
remuneradas e essa renda limitará o seu
consumo. Dessa forma, as escolhas devem
ser bem feitas para que o indivíduo alcance o
nível de bem-estar material mais alto possível
a partir dos recursos disponíveis.
ECONOMIA APLICADA
unidade 1006
e, ao fazê-los, precisam dos chamados
recursos ou fatores produtivos que
serão combinados ao longo do processo
produtivo. O que é isso?
Segundo Viceconti e Neves (2005), os fatores
de produção vão ser classificados como:
1. Terra ou Recursos Naturais: o que for
fornecido pela natureza e é utilizado
na produção.
2. Trabalho: o tempo e a capacidade
intelectual de um indivíduo dedicado
à atividade produtiva.
3. Capital: é o chamado estoque de
capital e contempla os investimentos
realizados em edificações,
maquinários e instalações
necessárias à produção dos bens.
As empresas ao tentarem otimizar sua
produção e maximizarem os lucros, terão
que fazer escolhas e considerar três
problemas fundamentais:
- O que produzir? Dentro das possibilidades
de produção, a escolha deverá ser feita
almejando sempre o melhor resultado.
- Como produzir? A partir da definição
do que produzir, deverão ser escolhidos
quais os recursos produtivos que serão
utilizados para a fabricação, objetivando
o menor custo possível.
A CURVA OU FRONTEIRA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO
Como falamos anteriormente, a sociedade
se depara com diversas escolhas ao
determinar uma produção. A curva ou
fronteira de possibilidade de produção, vai
demonstrar as opções que são oferecidas
à sociedade e a necessidade de escolha.
Ao optar por produzir um determinado
bem, uma renúncia será feita (custo de
oportunidade).
EXEMPLONo exemplo abaixo, temos uma empresa que é
produtora de trigo e algodão. Essa empresa já
possui uma capacidade produtiva instalada e ela
tem que escolher a quantidade a ser produzida de
trigo ou algodão, pois ela não consegue produzir
toda a quantidade dos dois bens ao mesmo
tempo. Conforme será demonstrado na tabela,
para cada unidade de algodão produzida, ela terá
que deixar de produzir 0,5 unidade de trigo.
- Para quem produzir? A definição da
destinação de tudo o que será produzido.
O sistema econômico funcionará de
acordo com a resolução dos problemas
acima descritos.
ECONOMIA APLICADA
unidade 1007
FIGURA 3 – Trigo x Algodão
Fontes: Revista Globo Rural e Site “Iguatu.net”
TABELA 1 - Custo de oportunidade
Opção Algodão Trigo Custo de Oportunidade*
A 0 7,5
B 1 7,0 0,5
C 2 6,0 1,0
D 3 4,5 1,5
E 4 2,5 2,0
F 5 0,0 2,5
*Unidades de trigo que não devem ser produzidas para obter-se uma unidade adicional de algodão Fonte: TROSTER e MOCHON, 2002, p.15.
GRÁFICO 1 - Curva ou fronteira de possibilidade de produção
A
B
C
D
E
F
1 2 3 4 5
7,5
7,0
6,0
4,5
2,5
Trigo
Fonte: TROSTER e MÓCHON, 2002, p.15.
Algodão
ECONOMIA APLICADA
unidade 1008
A curva reflete as opções oferecidas à sociedade e as possíveis escolhas, lembrando que a
maior produção de um bem implica na menor produção do segundo bem, devido a existência
de uma limitação na capacidade produtiva instalada.
Nesse exemplo, o custo de oportunidade de uma unidade de algodão é o número de unidades
de trigo que é preciso deixar de se produzir para obtê-la.
FIGURA 4 – Pagamento pela compra de bens e serviços = Dispêndio
FLUXOS ECONÔMICOS NUMA ECONOMIA DE MERCADO
Ao verificarmos a versão simplificada do funcionamento de Economia de Mercado, é
necessário fazer a distinção de dois agentes econômicos fundamentais: as unidades
produtivas ou empresas e as unidades consumidoras ou famílias.
As famílias, proprietárias do fator de produção Trabalho, utilizam os salários, renda originária
da cessão de seu uso para empresas, para comprar os bens e serviços que essas produzem
e que satisfaçam às suas necessidades.
Fonte: VICECONTI e NEVES, 2005, p.8.
UNIDADES DE PRODUÇÃO:EMPRESAS
UNIDADES CONSUMIDORAS:
FAMÍLIAS
PAGAMENTO PELA COMPRA DE BENS E SERVIÇOS = DISPÊNDIO
BENS E SERVIÇOS
FATORES DE PRODUÇÃO
PAGAMENTO PELO USO DOS FATORES DE PRODUÇÃO = RENDA
Somente através do funcionamento desse fluxo que o mercado econômico funcionará.
ECONOMIA APLICADA
unidade 1009
MERCADOS E COMPETIÇÃO
DEMANDA
Agora vamos entender o funcionamento
do mercado econômico de acordo com a
oferta e demanda, que acontece apenas
no mercado competitivo.
Juntas, a oferta e a demanda fazem
funcionar a economia e através dessa
interação será determinada a quantidade
a ser produzida e o preço dos produtos.
O mercado competitivo, como será
estudado mais adiante, é aquele onde
existe um grande número de vendedores
e compradores e nenhum deles,
individualmente, consegue exercer
alguma influência sobre os preços.
Para iniciar esse estudo, vamos verificar
o comportamento dos compradores ou
demandantes.
“A quantidade demandada de um bem
qualquer é a quantidade desse bem que os
compradores desejam e podem comprar”.
(MANKIW, 2009, p.67).
A quantidade demandada irá variar de
acordo com o seu preço de venda. Quanto
menor o preço de um produto, maior será
a quantidade demandada e vice-versa.
Essa é a chamada Lei da Demanda.
CONCEITO A Lei da Demanda apresenta essa relação
inversa entre preço e quantidade, porque
quando o preço de um bem aumenta, alguns
consumidores deixarão de adquiri-lo e outros
irão trocá-lo por bens que podem substituí-
lo. Ex.: Se o preço do tomate subir, os
consumidores podem simplesmente deixar de
consumi-lo ou trocá-lo por outro legume.
A curva da demanda
Conforme demonstrado na tabela abaixo,
quanto maior for o preço de um produto,
menor será a quantidade demandada.
Através do gráfico, pode ser verificado que
a curva de demanda é decrescente, pois
demonstra essa relação inversa entre
preço e quantidade.
Para exemplificar a relação existente entre
preço e demanda, na tabela abaixo serão
demonstradas as alterações existentes
nas quantidades demandadas mediante
as alterações nos preços. Quanto maior
o preço do CD, menor será a quantidade
demandada desse bem.
ECONOMIA APLICADA
unidade 1010
TABELA 2 - Tabela de demanda
Preço de um CD (R$) Quantidade demandada (unid.)
10 13
15 10
20 7
25 4
30 1
GRÁFICO 2 - Curva de demanda
Fonte: MOCHON, 2007, p.18.
Fonte: MOCHON, 2007, p.18.
A curva de demanda é a relação entre o preço de um bem e a quantidade demandada.
DESLOCAMENTOS DA CURVA DE DEMANDA
O deslocamento da curva de demanda acontecerá quando houver uma alteração em
qualquer um dos fatores que podem influenciar a demanda, com exceção do preço.
Os fatores que fazem uma curva de demanda se deslocar são:
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
30
25
20
15
10
5
Curva de demanda de CDs
Preço de um CD (R$)
Quantidade de CDs
ECONOMIA APLICADA
unidade 1011
• A renda dos consumidores: uma
renda menor diminui o consumo
e uma renda maior aumenta o
consumo. Se a demanda por um
bem aumenta quando há um
aumento na renda, esse bem
é chamado bem normal. Se a
demanda por um bem cai quando
a renda aumenta, esse bem é
chamado de bem inferior. Um
exemplo de bem inferior pode ser
a passagem de ônibus. Se sua
renda aumenta, você vai querer
comprar um carro e deixar de
andar de ônibus.
• Preço dos bens relacionados:
quando há um aumento do
preço de um bem, você pode
deixar de comprá-lo e adquirir
o seu substituto que pode ser
mais barato. Por exemplo, se
houve um aumento na carne
bovina eu posso adquirir a
carne suína, mais barata, no
seu lugar. Quando o aumento
no preço de um bem, eleva a
demanda de outro bem, esses
bens podem ser classificados
como bens substitutos. Quando
o aumento do preço de um
bem reduz a demanda de outro
bem, podemos dizer que esses
bens são complementares.
Os bens complementares são,
frequentemente, pares de bens
usados em conjunto, como por
exemplo sanduíche e maionese.
• Preferência dos consumidores:
essas alterações podem ocorrer
ao longo do tempo, devido
à inovações tecnológicas
ou campanhas publicitárias
que levam à alterações nas
demandas dos consumidores. Se
há um aumento na demanda de
um produto, a curva se deslocará
para direita. Se há uma redução
na demanda do produto, a curva
se deslocará para a esquerda.
• Tamanho do mercado e
outros fatores: o tamanho
do mercado está relacionado
com a quantidade de pessoas
que demandam aquele tipo de
produto e, um outro fator que
pode influenciar a demanda,
é a expectativa relacionada à
atividade econômica futura.
ECONOMIA APLICADA
unidade 1012
GRÁFICO 3 - Deslocamentos da curva de demanda
Fonte: MANKIW, 2009, p.70.
PRÁTICAAPLICAÇÃO
Uma das grandes inovações nos últimos anos no mercado automotivo brasileiro foi a introdução
dos veículos flex fuel, que permitem tanto o uso de gasolina quanto de álcool como combustível no
mesmo carro. Antes dessa inovação, o consumidor brasileiro tinha de optar entre um veículo movido
a gasolina ou a etanol, ficando restrito à utilização de apenas um tipo de combustível. Nesse sentido,
a introdução dos veículos flex fuel no mercado brasileiro aumentou o grau de substituibilidade entre
os dois combustíveis para o consumidor que adquirir um carro desse tipo. Em outras palavras, caso
o preço da gasolina suba, o consumidor que possui um carro flex fuel pode optar por colocar etanol
no seu tanque (configurando um movimento de mercado típico de bens substitutos entre si).
OFERTA
A oferta demonstra a quantidade de produtos que os produtores ou ofertantes irão
disponibilizar para o mercado. Na oferta, quanto maior for o preço de um produto, maior
será a quantidade de produtores que irão ofertar aquele produto no mercado, porque os
produtores querem aumentar os seus lucros. Quanto menor o preço de um produto, menor
a quantidade de produtos que serão ofertados naquele mercado.
Preço do sorvete de casquinha
Quantidade de sorvete de casquinha0
Curva de demanda, D3
Diminuição da demanda
Aumento da demanda
Curva de demanda, D1
Curva de demanda, D2
ECONOMIA APLICADA
unidade 1013
TABELA 3 - Quantidade ofertada de sorvete
Preço do sorvete de casquinha (R$) Quantidade ofertada do sorvete de casquinha0,00 0
0,50 0
1,00 1
1,50 2
2,00 3
2,50 4
3,00 5
Fonte: MANKIW, 2009, p.73.
Na TABELA 3 você pôde observar que quanto maior o preço da casquinha de sorvete, mais
produtores irão participar desse mercado e oferecer mais produtos, pois o que eles querem é
aumentar seus lucros. Quando o preço está baixo, vários ofertantes saem daquele mercado
porque não querem obter um baixo lucro pela venda do produto, pois os custos de produção
não serão cobertos por aquele preço.
A curva de oferta é crescente, porque mostra uma relação direta entre preço e quantidade, ou seja,
quanto maior o preço de um produto, maior será a quantidade ofertada. Essa é a Lei da Oferta.
GRÁFICO 4 - Curva de oferta
Fonte: MANKIW, 2009, p.74.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
$ 3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
Preço do sorvete de casquinha
Quantidade de sorvete de casquinha
1. Um aumento no preço
2. Aumenta a quantidade ofertada de sorvetes de casquinhas
ECONOMIA APLICADA
unidade 1014
DESLOCAMENTOS DA CURVA DE OFERTA
E quais são os fatores que podem causar o deslocamento da curva de oferta, aumentando
ou diminuindo a quantidade ofertada de um determinado produto?
• Preço dos fatores produtivos ou insumos: quando há uma alteração no preço dos
insumos utilizados na produção de um bem, os custos serão modificados. Dessa
forma o produtor poderá produzir m ais ou menos de um determinado bem. Quando
aumenta o preço de um insumo, o produtor irá ofertar menos daquele bem e o
contrário irá ocorrer na redução do preço desse insumo.
• Tecnologia existente: inovações tecnológicas podem aumentar a produção de um
determinado bem sem aumentar o custo de produção, o que levará o produtor a
ofertar mais produtos.
• Expectativas: a quantidade de produto produzido dependerá das expectativas em
relação ao futuro da atividade econômica de um país. No ano da Copa, os brasileiros
compram mais televisores, sendo assim, será percebido um aumento na oferta de
televisores no mercado.
GRÁFICO 5 - Deslocamento da curva de oferta
Fonte: MANKIW, 2009, p.76.
Preço do sorvete de casquinha
Quantidade de sorvete de casquinha
Curva da oferta, O3
Redução da oferta
Aumento da oferta
Curva da oferta, O1
Curva da oferta, O2
ECONOMIA APLICADA
unidade 1015
OFERTA E DEMANDA REUNIDAS – EQUILÍBRIO DE MERCADO
Após a análise em separado das curvas de oferta e demanda, vamos analisá-las em conjunto
e verificar o que acontece com essa interação.
GRÁFICO 6 - Deslocamento da curva de oferta
Fonte: MANKIW, 2009, p.76.
No ponto de interseção das curvas de oferta e demanda teremos o chamado Ponto
de Equilíbrio. Nesse ponto, temos o preço de equilíbrio onde os preços dos ofertantes e
demandantes coincidem. O preço de equilíbrio também pode ser chamado de preço de
ajustamento do mercado, porque, a esse preço, o mercado está satisfeito: os compradores
compraram tudo que desejavam comprar e os vendedores venderam tudo que desejavam
vender.
A quantidade de equilíbrio é o ponto onde a quantidade ofertada é igual a quantidade
demandada.
Entretanto, esse mercado de equilíbrio nem sempre acontece. Quando há uma mercadoria
excedente, que não foi vendida, a concorrência entre os vendedores fará o preço descer. Isso
ocorre quando há um excesso de oferta, situação onde a quantidade ofertada é maior do que
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
$ 2,00
Preço do sorvete de casquinha
Preço do Equilíbrio
Quantidade de sorvete de casquinha
Demanda
Oferta
Equilibrio
Quantidade de Equilibrio
ECONOMIA APLICADA
unidade 1016
a quantidade demandada. Ao contrário, quando há mais demandantes do que mercadorias
oferecidas no mercado, haverá uma pressão dos ofertantes para elevar os preços. Isso
acontecerá quando há um excesso de demanda, situação onde a quantidade demandada é
maior do que a quantidade ofertada.
EXEMPLOGRÁFICO 7 - Mercados em desequilíbrio
Fonte: Mankiw, 2009, p.78.
No painel (a), temos um excesso de oferta. Como o preço de mercado de R$ 2,50 está acima
do preço de equilíbrio, a quantidade ofertada (10 sorvetes) excede a quantidade demandada
(4). Os fornecedores tentam aumentar suas vendas reduzindo o preço do sorvete, e isso
conduz o preço ao seu nível de equilíbrio.
No painel (b), temos um excesso de demanda. Como o preço de mercado de R$ 1,50 está
abaixo do equilíbrio, a quantidade demandada (10 sorvetes) supera a quantidade ofertada
(4). Com muitos compradores indo atrás de poucos bens, os fornecedores podem tirar
vantagem da escassez elevando os preços. Assim, em ambos os casos, o ajustamento dos
preços conduz o mercado em direção ao equilíbrio entre oferta e demanda.
0 4 7 10 0 4 7 10
$ 2,50 $ 2,00
$ 2,00 $ 1,50
Preço do sorvete de casquinha
Preço do sorvete de casquinha
Quantidade de sorvete de
casquinha
Quantidade de sorvete de
casquinha
Demanda
Demanda
Excesso de ofertaExcesso de oferta
Excesso de demanda
OfertaOferta
Quantidade demandada
Quantidade ofertada
Quantidade ofertada
Quantidade demandada
(a) Excesso de oferta (b) Excesso de demanda
ECONOMIA APLICADA
unidade 1017
PRÁTICAAPLICAÇÃO
FIGURA 5 - Hospedagem
Fonte: Acervo institucional
Se a disputa para conseguir ingressos para
os shows do Rock in Rio 2013 foi grande,
a luta para garantir uma hospedagem
no Rio de Janeiro em setembro, que não
comprometa o orçamento dos fãs, pode
ser ainda maior.
Um levantamento feito pelo HostelBookers
mostrou que a procura por estadia em
hostels nos fins de semana de 13 a 15 e
19 a 22 de setembro cresceu quase 200%.
Como consequência, o preço médio das
diárias também registrou um aumento na
casa dos três dígitos – média de 138%
nos quartos compartilhados.
Fator turismo prevalece
Se alguns preferem a comodidade de instalar-
se próximo à Cidade do Rock (na Barra
da Tijuca), há quem prefira evitar o valor
inflacionado dos hotéis da região e optar por
outras áreas.
“Além de pagarem bem menos que em hotéis
tradicionais, os jovens preferem ficar em um
hostel pelo fator social. Especialmente em
grandes eventos como o Rock in Rio, onde
aproveitam para fazer amigos, organizar
passeios, dividir o táxi até o local do show
etc.”, avalia Juan Perez, gerente de marketing
para o mercado de língua portuguesa do
HostelBookers.
Para ele, os viajantes preferem ficar em
áreas propícias para o turismo, onde podem
aproveitar a praia e fazer passeios antes do
shows. Por isso Copacabana, Ipanema e Santa
Teresa estão entre os bairros mais procurados.
Fonte: Revista Hotéis. Aumento da procura duplica preço de hostels para o Rock in Rio 2013. Ed. 122.
Imagine na Copa
Um hostel localizado em Copacabana, por
exemplo, cobra R$ 45 pela diária de uma cama
em quarto para 6 pessoas durante o ano. Em
setembro, durante os finais de semana do Rock
in Rio, a mesma cama passa para R$ 110.
O fenômeno se repete mesmo em áreas
menos turísticas, como a Favela do Vidigal.
Um dos hostels mais populares da região
passou o valor da diária em dormitório de
ECONOMIA APLICADA
unidade 1018
4 camas de R$ 60 para R$ 220, e já não tem
mais disponibilidade de vagas para setembro.
“Assim como já acontece em períodos como
o Carnaval e o Réveillon, esta relação entre
procura e alta dos preços é um bom indicador
do que acontecerá durante a Copa do Mundo
de 2014”, diz Perez, prevendo que muitos
torcedores já devem começar a reservar a
hospedagem nas próximas semanas, um ano
antes do início do campeonato.
Comparativo de preços
Usando como base de comparação a procura
para 2 noites no mês de junho/2013 e 2
noites durante os fins de semana de setembro
quando acontece o Rock in Rio, o levantamento
mostrou o seguinte:
Quartos compartilhados:
• Aumento de 195% nas pesquisas
para as datas do Rock in Rio
• Aumento de 138% nos preços das
diárias
• Preço médio por noite/pessoa: de R$
40 para R$ 95
Quartos privativos:
• Aumento de 193% nas pesquisas
para as datas do Rock in Rio
• Aumento de 94% no preço das diárias
• Preço médio por noite/pessoa: de R$
85 para R$ 165
REVISÃO
A Economia estuda como administrar
os recursos disponíveis, com o objetivo
de produzir bens diversos e distribuí-
los para consumo entre os membros da
sociedade.
A escassez não é um problema
tecnológico, mas de disparidade entre
desejos humanos e meios disponíveis.
Uma vez satisfeitas as necessidades,
surgem novos desejos.
O custo de oportunidade que ocorre ao
se fabricar um produto, é o que se deve
renunciar em termos de outros bens que
deixam de ser produzidos com os mesmos
recursos.
Os recursos ou fatores produtivos são
insumos utilizados na produção de um
bem e são divididos em três grandes
grupos: terra, trabalho e capital.
A fronteira de possibilidades de produção
é côncava em relação à origem. Isso
porque o custo de oportunidade aumenta
conforme continua o processo de
substituição da produção de um bem ou
serviço pela produção de outro.
Por mercado se entende a instituição
social, onde bens e serviços são trocados
de maneira livre e voluntária.
ECONOMIA APLICADA
unidade 1019
A demanda de determinado consumidor
por um bem específico demonstra a
relação existente entre o preço de um
bem e sua quantidade demandada. Essa
relação pode ser visualizada através
da representação gráfica da curva
decrescente de demanda, que apresenta a
relação inversa entre preço e quantidade,
comprovando assim, a chamada Lei da
Demanda.
A oferta reflete o desejo da quantidade
de bens que o empresário irá ofertar
no mercado mediante os preços
relacionados. Essa interação pode ser
visualizada através da representação
gráfica da curva crescente da oferta, que
demonstra a relação direta entre preço e
quantidade, ou seja, quanto maior o preço
maior a quantidade de produtos ofertada
pelos produtores.
O deslocamento da curva de demanda
acontece devido a alguns fatores:
renda dos consumidores, preço dos
bens relacionados, preferências dos
consumidores e tamanho do mercado.
As variáveis que podem levar a um
deslocamento da curva de oferta são:
preço dos fatores produtivos, tecnologias
existentes e expectativas.
Na situação de equilíbrio, as quantidades
ofertadas e demandadas se igualam. Um
preço superior ao de equilíbrio produzirá
um excesso de oferta, isto é, uma situação
em que a quantidade ofertada é superior
à demandada. Por outro lado, se o preço
for menor que o de equilíbrio, haverá
um excesso de demanda, ou seja, uma
situação em que a quantidade demandada
é superior à ofertada.
unidade 2021
ECONOMIA APLICADA
A EMPRESA: PRODUÇÃO, CUSTOS E LUCROS
A economia é composta por milhares de empresas que produzem bens e serviços
que usufruímos todos os dias. Temos micro, pequenas, médias e grandes
empresas, que juntas empregam milhões de pessoas, que constituem a força
de trabalho ativa do nosso país. Independente da empresa ser pública ou privada, será
empregado o uso dos fatores produtivos: terra, trabalho e capital.
As empresas, como ofertantes desse mercado, observam os custos dos fatores produtivos
envolvidos na produção de um bem, com o objetivo de maximizar seus lucros, otimizando
assim a sua sobrevivência no mercado.
EMPRESAS
Nas sociedades modernas, as empresas são responsáveis por oferecer os bens e serviços
diversos.
Segundo Tróster e Móchon (2002, p.20), “a empresa é a unidade de produção básica.
Contrata trabalho e compra fatores com o fim de fazer e vender bens e serviços.”
Os gestores responsáveis pelo funcionamento das empresas, organizam a produção,
incorporam novas ideias, processos ou atividades, tomam decisões e, para tanto, munem-
se das informações necessárias.
unidade 2022
ECONOMIA APLICADA
Qualquer que seja o produto ou serviço
realizado pela empresa, o empresário
diariamente precisa tomar múltiplas
decisões sobre sua atividade produtiva.
De todas essas decisões, as duas mais
relevantes são:
• Qual quantidade produzir e;
• Como produzir determinado bem,
objetivando a maximização dos
lucros.
TIPOS DE EMPRESA CONFORME SUA NATUREZA JURÍDICA
As empresas possuem diferentes
classificações, de acordo com a sua
natureza jurídica:
• Fundações: Trata-se de um
patrimônio personalizado, destinado
ao desenvolvimento de certas
atividades (religiosas, morais,
culturais, de assistência) conforme
previsto no ato de sua instituição.
• Associações: Apresentam quadro
de associados e não têm finalidade
lucrativa; suas atividades
(recreativas, esportivas, caritativas,
assistenciais, culturais, religiosas)
visam atender seus associados ou
terceiros.
• Sociedades: Apresentam quadro
de sócios e possuem finalidade
lucrativa.
O QUE SÃO CUSTOS?
Praticamente toda decisão implica um
custo, já que ao escolher uma opção
estamos deixando de lado muitas
outras (custo de oportunidade). Além do
chamado custo de oportunidade, temos
o custo contábil, que refere-se aos
gastos relacionados à produção.
Os custos ocupam um lugar muito
importante, pois ajudam a selecionar
as melhores decisões para se ajustar
aos objetivos das empresas, como a
maximização dos lucros.
Mas, o que é lucro? O montante que
a empresa recebe pela venda da sua
produção é chamado de receita total. O
que a empresa gasta com os insumos
utilizados na produção é chamado de
custo total. O lucro é a receita total
menos o custo total (MANKIW, 2009).
L = RT – CT
unidade 2023
ECONOMIA APLICADA
A FUNÇÃO DE PRODUÇÃO: CURTO E LONGO PRAZO
O que é Função de Produção? Trata-se da
relação entre a quantidade de insumos,
que são os bens utilizados na produção de
outro bem, usada para produzir um bem e
a quantidade produzida desse bem.
OS CUSTOS DE PRODUÇÃO NO CURTO PRAZO
O curto prazo é um período ao longo do
qual as empresas conseguem ajustar a
produção, mudando os fatores variáveis,
tais como trabalho e as matérias-primas.
No curto prazo, os fatores fixos, como
as instalações e os equipamentos, não
podem ser plenamente ajustados.
A produção no curto prazo apresenta dois
tipos de custos: os custos variáveis, que
dependem do volume da produção, (por
exemplo a matéria-prima utilizada) e, os
custos fixos, que não dependem do volume
de produção, pois incorre-se neles ainda
que nada se produza (exemplo: o aluguel
do imóvel onde a empresa está instalada).
CT= CF + CV
O custo médio de uma empresa vai ser
encontrado através da divisão do custo
total pela quantidade produzida.
O custo total de uma empresa é a soma
dos custos fixos mais os custos variáveis.
Cme= CT Q
Custo marginal é o custo adicional ou
extra, vinculado à produção de uma
unidade adicional do produto (Ex.: a cada
unidade produzida de um lápis de escrever,
a empresa vai precisar de mais madeira.)
Para analisar a Função Produção, vamos
considerar o quadro abaixo, verificando
a quantidade de bens produzidos,
aumentando o fator variável trabalho
e mantendo fixos os demais fatores
produtivos.
Cmg=delta(variação) CT/delta(variação) Q
unidade 2024
ECONOMIA APLICADA
QUADRO 1 Produto total e Produto Marginal do Trabalho – Produção de biscoitos
Quantidade de trabalhadores
Produto total
Produto Marginal
Custo da Fábrica
Custo dos trabalhadores
Custo Total
0 0 0 30 0 30
1 50 50-0 = 50 30 10 40
2 90 90-50= 40 30 20 50
3 120 120-90= 30 30 30 60
4 140 140-120= 20 30 40 70
5 150 150-140 = 10 30 50 80
6 155 155-150= 5 30 60 90
O produto marginal de qualquer insumo no processo de produção é o aumento da quantidade
produzida que se obtém a partir de uma unidade adicional do insumo em questão. Quando
o número de trabalhadores sobe de 1 para 2, a produção sobe de 50 para 90, de modo
que o produto marginal do segundo trabalhador são 40 biscoitos. E, quando o número de
trabalhadores sobe de 2 para 3, a produção de biscoitos aumenta para 120, de modo que o
produto marginal do terceiro trabalhador são 30 biscoitos.
Fonte: MANKIW, 2009, p.261.
ATENÇÃO!Observe que, à medida que o número de trabalhadores aumenta, o produto marginal
diminui. O segundo trabalhador tem um produto marginal de 40 biscoitos, o terceiro, de 30,
e o quarto, de 20. Essa propriedade é chamada produto marginal decrescente. O que pode
explicar a redução na produção é que, com o aumento do número de trabalhadores, eles
passam a ter que compartilhar equipamentos e trabalhar com uma lotação cada vez maior.
Portanto, ao contratar mais trabalhadores, cada trabalhador adicional contribui menos para
a produção total de biscoitos.
unidade 2025
ECONOMIA APLICADA
GRÁFICO 8 - Função de Produção
GRÁFICO 9 - Curva de Custo Total
Fonte: MANKIW, 2009, p.263.
Fonte: MANKIW, 2009, p.263.
Quantidade produzida
(biscoitos por hora)
Número de trabalhadores contratados
Função de produção
Custo total
0 1 2 3 4 5 6
160
140
120
100
80
60
40
20
0 20 40 60 80 100 120 140 160
$ 90
80
70
60
50
40
30
20
10
Quantidade produzida (biscoitos por hora)
Número de trabalhadores contratados
Curva de custo total
unidade 2026
ECONOMIA APLICADA
A Função de Produção no gráfico mostra
a relação entre o número de trabalhadores
empregados e a quantidade total de
produtos. A Função de Produção torna-se
menos inclinada à medida que o número
de trabalhadores aumenta, o que reflete a
diminuição do produto marginal.
A curva de custo total ilustra a relação entre
a quantidade produzida e o custo total de
produção. A inclinação da curva de custo
total aumenta com a quantidade produzida
por causa do produto marginal decrescente.
A Lei dos Rendimentos Decrescentes,
confirma o que foi verificado no gráfico
anterior. Em uma produção com pelo
menos um fator fixo, à medida que são
acrescentadas mais unidades de fatores
variáveis, os incrementos na produção
serão cada vez menores.
OS CUSTOS DE PRODUÇÃO NO LONGO PRAZO
No longo prazo, diferentemente do curto
prazo, todos os fatores produtivos podem
ser alterados de acordo com a quantidade
de produção que for necessária.
Um exemplo para explicar a diferença é se
analisarmos uma fábrica de carros após
um incentivo de redução de IPI. No curto
prazo, o aumento de demanda pelos carros
pode ser atendido através de contratação
de horas-extras. No longo prazo, se a
expectativa de aumento na demanda
permanecer, a fábrica pode ampliar a sua
planta e dessa forma produzir mais carros.
No longo prazo, a produção vai acontecer
em torno das alterações nos fatores
produtivos e são estabelecidas em torno
do conceito de rendimentos de escala.
Escala significa o tamanho da empresa
medido por sua produção. Ao verificar
a quantidade de produtos produzidos
através dos fatores produtivos instalados
a empresa pode apresentar:
• Rendimentos de escala crescente: à
medida que a quantidade utilizada de
todos os fatores varia em determinada
proporção, a quantidade obtida do
produto varia em uma proporção maior.
• Rendimentos constantes de escala:
quando a quantidade dos fatores
utilizados e a quantidade obtida
de produtos variam na mesma
proporção.
• Rendimentos decrescentes de
escala: à medida que a quantidade
dos fatores utilizados varia
em determinada proporção, a
quantidade obtida de produtos varia
em uma proporção menor.
unidade 2027
ECONOMIA APLICADA
PRÁTICAAPLICAÇÃO
Lições de uma fábrica de alfinetes
“Quem tudo faz, nada sabe”. Essa frase ajuda
a explicar por que as empresas às vezes
usufruem de economias de escala. Alguém
que tenta fazer de tudo geralmente acaba
fazendo tudo mal. Se uma empresa quer que
seus trabalhadores sejam o mais produtivo
que puderem, muitas vezes é melhor confiar
a cada um uma tarefa limitada que possa ser
dominada. Entretanto, isso só é possível se a
empresa tem muitos trabalhadores e gera uma
grande quantidade de produto.
Em seu famoso livro “A Riqueza das Nações”,
Adam Smith descreveu uma visita que fez a uma
fábrica de alfinetes. Smith ficou impressionado
com a especialização entre os trabalhadores
e com as economias de escala resultantes.
Ele escreveu: “Um homem estende o arame, o
outro estica, um terceiro o corta, um quarto lhe
deixa com a ponta, um quinto lixa o topo para
receber a cabeça; a feitura da cabeça requer
duas ou três operações distintas; encaixá-la é
uma atividade peculiar; branqueá-la é outra; até
mesmo embalá-los é um negócio por si só”.
Smith relatou que, graças à especialização,
a fábrica de alfinetes produzia milhares de
alfinetes por trabalhador, por dia. Ele conjeturou
que, se os trabalhadores tivessem optado por
trabalhar separadamente e não como uma
equipe de especialistas, “eles certamente não
poderiam, cada um por si só, fazer sequer
vinte alfinetes por dia”. Em outras palavras, por
causa da especialização, uma grande fábrica
de alfinetes pode atingir uma maior produção
por trabalhador e um menor custo por alfinete
do que uma fábrica de alfinetes menor.
A especialização que Smith observou na
fábrica de alfinetes prevalece na economia
moderna. Se você quiser construir uma casa
por exemplo, pode tentar fazer tudo sozinho,
mas muitas pessoas recorrem a um construtor,
que, por sua vez, contrata carpinteiros,
encanadores, eletricistas, pintores e muitos
outros tipos de trabalhadores. Esses
trabalhadores especializam-se em atividades
específicas, e isso lhes permite fazer melhor
o seu trabalho do que se fossem generalistas.
Na verdade, o uso da especialização para
alcançar economias de escala é um dos
motivos pelos quais as sociedades modernas
são tão prósperas. (MANKIW, 2009, p.271).
CUSTOS CONTÁBEIS ECUSTOS EXPLÍCITOS
O conceito de custo em economia
é mais amplo que o empregado na
Contabilidade. Nas Ciências Contábeis,
o custo corresponde ao gasto monetário
no qual se incorre pela utilização dos
fatores produtivos. Em economia, o
unidade 2028
ECONOMIA APLICADA
conceito de custo relevante é o custo
de oportunidade, que inclui os custos
dos fatores que não exigem desembolso
em dinheiro. Ao fazer um determinado
investimento, o indivíduo tem que
analisar as oportunidades existentes
para aplicar aquele recurso financeiro e
verificar qual a mais viável.
REVISÃO
A empresa se encarrega de produzir e
distribuir a maior parte dos bens e serviços
que circulam na economia.
O objetivo de qualquer empresa é a
maximização dos lucros.
A Função de Produção é a relação técnica
que nos diz qual quantidade máxima
de produto é possível obter com cada
combinação de fatores produtivos,
durante determinado período.
Os custos de uma empresa refletem seu
processo de produção. A propriedade do
produto marginal decrescente mostra
que a inclinação da Função de Produção
diminui à medida que a quantidade de um
insumo aumenta.
Ao se analisar o comportamento de uma
empresa, é importante incluir todos os
custos de oportunidade da produção.
No curto prazo, os fatores fixos não podem
sofrer alterações. No longo prazo todos
os fatores podem ser alterados de acordo
com expectativa de demanda existente.
Os custos totais de uma empresa podem
ser divididos em custos fixos e custos
variáveis. Custos fixos são aqueles que
não mudam quando a empresa altera a
quantidade produzida. Custos variáveis
são aqueles que mudam quando a
empresa altera a quantidade produzida.
No longo prazo, de acordo com a
produtividade obtida pela empresa
através do uso dos fatores produtivos,
ela pode apresentar rendimentos de
escala crescente, rendimentos de escala
decrescente e rendimentos de escala
constante.
unidade 3030
ECONOMIA APLICADA
3ESTRUTURA DE MERCADO
Há dois extremos nos mercados. Num deles, está o monopólio, no qual apenas uma
firma vende um bem, que não possui substitutos similares. No outro extremo está
o mercado de concorrência perfeita, no qual muitas firmas vendem bens que são
substitutos entre si. Os outros mercados existentes ficam entre esses dois extremos.
Podemos começar mostrando um exemplo prático desses dois mercados para que você
possa entender o que será abordado nessa unidade.
Numa fábrica de gelatina, o comprador ao adquirir mais açúcar, foi informado que seu
fornecedor está praticando um preço dez por cento acima do valor do açúcar adquirido na
última compra. Para evitar que esse aumento impacte no custo de produção desse produto, o
comprador buscará outros concorrentes no mercado na tentativa de comprar açúcar por um
preço mais baixo. Esse mercado apresenta as características de um mercado competitivo,
onde há muitos vendedores, muitos demandantes, e nenhum deles tem capacidade para
afetar o preço de mercado.
Entretanto, se a empresa fornecedora de energia da sua cidade decide reajustar o preço da
tarifa em dez por cento, você teria que aceitar o aumento, pois dificilmente encontraria um
fornecedor alternativo, já que se trata de um mercado não competitivo.
Portanto, esses dois mercados afetam diferentemente os ofertantes e demandantes, de
acordo com as características de cada um.
unidade 3031
ECONOMIA APLICADA
MERCADO PERFEITO
Fonte: Acervo Institucional.
Como se diferenciam os mercados ou concorrência? A concorrência entre um grande número de
vendedores que vende um produto ou serviço homogêneo (concorrência perfeita) será diferente
daquela observada em um mercado em que os concorrentes são numerosos, mas conseguem
diferenciar o produto ou serviço que oferecem (concorrência monopolística), e daquela em que
existe apenas um número reduzido de vendedores (oligopólio). Como caso extremo, em que a
concorrência inexiste, destaca-se o mercado controlado por um único produtor (monopólio).
Quanto maior o número de participantes, mais competitivo será o mercado (MÓCHON, 2006).
FIGURA 7 - Tipos de Estrutura de mercado
Fonte: MÓCHON, 2006, p.67 [Esquema 5.1].
NÚMERO DE VENDEDORES
Muitos Poucos Um
Concorrência perfeita(produtos idênticos)
OligopólioConcorrência monopolística (diferenciados)
Monopólio
FIGURA 6 - Concorrência
unidade 3032
ECONOMIA APLICADA
CARACTERÍSTICAS DOS MERCADOS COMPETITIVOS
Os mercados competitivos ou de
concorrência perfeita apresentam as
seguintes características:
1. Existência de elevado números de
ofertantes e demandantes: isso
implica que a decisão individual
de cada um deles exercerá pouca
influência sobre o mercado global.
2. Os bens oferecidos pelos diferentes
vendedores são praticamente
idênticos ou homogêneos: supõe que
não existe diferença entre o produto
que vende um ofertante e o que
vendem os demais.
3. As empresas podem entrar ou sair
livremente do mercado: todas as
empresas participantes poderão entrar
e sair do mercado de forma imediata.
Assim, por exemplo, se uma empresa
está produzindo calçados esportivos
e não obtém lucros, abandonará esta
atividade e começará a produzir outros
bens mais lucrativos.
4. As empresas individualmente não são
capazes de fixar o preço: como não
há barreiras de entrada e o produto
é homogêneo, nenhuma empresa
sozinha consegue afetar o preço
de venda. Cada empresa vende seu
produto ao preço fixado pelo mercado,
consciente de que se cobrar mais,
verá sua produção encalhada, já que
os produtores sabem que há muitas
outras empresas vendendo um
produto idêntico a um preço menor.
5. Existe informação perfeita: pois
todos os participantes têm pleno
conhecimento das condições gerais
em que o mercado opera.
Nos mercados de concorrência perfeita, as
empresas que buscam os maiores lucros
devem recorrer ao máximo à tecnologia,
ou seja, incorporar os últimos avanços em
técnicas produtivas, atingindo uma maior
eficiência e melhor aproveitamento dos
fatores produtivos.
MERCADOSNÃO-COMPETITIVOS
FIGURA 8 - Monopólio
Fonte: Acervo Institucional.
unidade 3033
ECONOMIA APLICADA
As empresas participantes desse cenário
têm poder de mercado, isto é, capacidade
de influir sobre os preços.
Um extremo desse mercado é o monopólio,
onde existe apenas uma empresa ofertante
daquele tipo de produto no mercado e com
plena capacidade de determinar o preço.
Apesar de existirem poucas empresas
monopolistas no mercado, existem fatores
que favorecem o seu aparecimento:
1. Barreiras legais: o governo tem
interesse em explorar determinados
bens ou serviços e limita a entrada
de outros participantes nesses
setores.
2. Patentes e direitos autorais: as
patentes protegem os inventores
e os direitos autorais protegem
os escritores e artistas, evitando
que outros copiem as suas ideias
livremente durante um certo número
de anos.
3. Controle de recursos estratégicos:
uma empresa controla a produção
de um determinado fator produtivo,
por ser a única detentora de um fator
produtivo essencial na produção de
um bem.
4. Grandes economias de escala:
economias de escala existem quando
uma firma amplia a produção e
encontra um custo médio menor.
MAISSAIBA
Resposta dos Governos aos Monopólios
Em reação à perda de eficiência gerada
pelos monopólios, os poderes públicos
podem tomar as seguintes providências:
1. Regular o funcionamento dos
monopólios: a regulação é a solução
habitual no caso dos monopólios
naturais, como as companhias de
gás ou água. Essas companhias
não podem fixar as tarifas que
desejam, e sim um preço regulado
pelos organismos públicos.
2. Aumentar a concorrência mediante
leis antitruste: a questão da defesa
da concorrência sempre constituiu
uma preocupação crescente dos
governos de vários países ao longo
das últimas décadas. No caso
do Brasil, o Sistema Brasileiro de
Defesa da Concorrência (SBDC) é,
em última instância, o responsável
pela aprovação de mudanças nas
estruturas de mercado no país por
meio de fusões ou outros atos de
concentração e, excluindo-se alguns
setores regulados, pela coibição de
práticas e condutas anticompetitivas.
A legislação brasileira estabelece que a
unidade 3034
ECONOMIA APLICADA
defesa da concorrência é uma atribuição do
CADE (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), autarquia vinculada à Secretaria
de Direito Econômico (SDE) do Ministério da
Justiça e à Secretaria de Acompanhamento
Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda.
3. Converter alguns monopólios
privados em empresas públicas: no
passado, para resolver o problema
dos monopólios administrados por
empresas privadas, era frequente
que os Estados optassem por tomar
a propriedade dessas empresas e
geri-las eles próprios. Em muitos
países europeus, é comum que o
Estado possua e administre boa
parte dos serviços públicos, como
telecomunicações, energia elétrica,
água, gás ou correios.
O grande problema dessa conduta, é que
em empresas públicas, dificilmente os
gestores são demitidos, e, quando a gestão
é ruim, quem perde são os consumidores.
Por isso, durante as últimas décadas
temos presenciado um importante
processo de privatização de empresas
públicas e liberalização dos setores
regulados. Para tanto, a concorrência tem
sido estimulada em todas as atividades
que tradicionalmente funcionavam em
regime monopolista.
OLIGOPÓLIO
O oligopólio é uma estrutura de mercado
em que atuam poucos ofertantes em um
grande mercado de demandantes. Um
exemplo de oligopólio é o mercado das
empresas de telefonia celular. Atualmente
no Brasil temos quatro empresas para
um universo de aproximadamente 200
milhões de celulares habilitados.
O caso extremo do oligopólio, denominado
duopólio, é aquele em que existem apenas
dois produtores.
Quando um mercado é composto de
um número reduzido de empresas,
estas tomam consciência de sua
interdependência. Característica
específica do oligopólio, a chamada
interação ou interdependência
estratégica, surge quando os planos de
cada empresa dependem da conduta de
seus concorrentes.
A partir dessa interação foi que surgiu a
Teoria dos Jogos1 , que estuda como as
pessoas se comportam em situações
estratégicas.
Por essa razão, é lógico que as empresas
oligopolistas, na hora de tomar qualquer
decisão, levem em conta a reação
1 Teoria dos Jogos – foi empregada para analisar a interação entre duopolistas. Quando em um setor há apenas dois concorrentes, e cada um começa a se perguntar como o outro reagirá as suas decisões.
unidade 3035
ECONOMIA APLICADA
previsível da concorrência, o que ocasiona
os comportamentos estratégicos. Por
exemplo, ao inovar com o lançamento
de um novo produto, a empresa adota
a estratégia de sair à frente do seu
concorrente e assim aumentar sua
participação no mercado.
As empresas participantes do mercado de
oligopólio, podem realizar acordos sobre
produção e preço. Esse tipo de acordo é
conhecido como colusão, e o grupo de
empresas que atua desse modo, como
cartel. Essa prática, apesar de apresentar
restrições legais, infelizmente ainda é
adotada com o objetivo de alcançar uma
maximização conjunta dos lucros. Muitas
empresas optam por praticar a colusão
tácita, isto é, não fazem acordos explícitos,
mas também não concorrem entre si.
Nesses casos, as empresas acordam
preços muito similares, conseguindo
assim elevar os lucros e reduzir o risco da
atividade.
As empresas, ao optarem por cooperar,
podem atingir assim o chamado Equilíbrio
de Nash (em homenagem ao economista
John Nash, cuja vida foi retratada no
livro e no filme chamados Uma Mente
Brilhante). O Equilíbrio de Nash é aquela
situação em que os agentes econômicos
interagem entre si e cada um escolhe sua
melhor estratégia, dadas as estratégias
escolhidas pelos demais.
CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA No mercado de concorrência monopolística,
temos a participação de várias empresas,
que vendem produtos similares mas não
idênticos. Oferecem produtos diferenciados
que acabam interferindo na escolha
do consumidor. Podemos exemplificar
utilizando as empresas que produzem
refrigerante. Existem atualmente várias
empresas participantes desse mercado,
mas aquele consumidor de Coca-Cola,
sempre vai comprar esse refrigerante,
por causa do sabor, independente do seu
preço. A escolha do produto é determinada
pela preferência do consumidor.
Além das diferenças físicas dos bens, os
ofertantes, por meio da publicidade ou de
um atendimento personalizado, tentam criar
diferenças subjetivas, capazes de ampliar ou
intensificar a heterogeneidade dos produtos.
MERCADOMONOPSÔNICO
Um mercado monopsônico é aquele em
que há apenas um único comprador. Ex.:
Vários produtores de leite com apenas um
laticínio comprando essa produção.
unidade 3036
ECONOMIA APLICADA
MERCADO OLIGOPSÔNICO
Um mercado oligopsônico é aquele
caracterizado pela existência de um
pequeno número de compradores
responsável por uma parcela significativa
das compras ocorridas no mercado.
Ex.: A indústria automobilística (poucas
empresas) é a responsável pela maioria
das vendas na indústria de autopeças.
FALHAS DE MERCADO
REVISÃO
As falhas de mercado ocorrem quando
os mercados não são eficientes, ou seja,
quando em certas ocasiões de produção ou
de consumo de um bem ou serviço, ocorrem
efeitos colaterais, positivos ou negativos.
Esses efeitos colaterais são conhecidos
como externalidades ou economias
externas.
Veja um exemplo de externalidade na
produção:
Uma mineradora, ao extrair o minério de
ferro, gera um efeito ambiental negativo, que
toda a sociedade terá como custo social.
Ao compor o preço do minério de ferro, a
mineradora apenas considera o custo privado
da produção, ignorando o custo social.
Há dois extremos nos mercados. Num deles,
está o monopólio, no qual apenas uma firma
vende um bem, que não possui substitutos
similares. No outro extremo está o mercado
de concorrência perfeita, no qual muitas
firmas vendem bens que são substitutos
entre si. Os outros mercados existentes
ficam entre esses dois extremos.
Sob um sistema de concorrência
imperfeita, as empresas têm poder para
influenciar o preço.
Nesses casos, o governo precisa intervir,
cobrando impostos ou concedendo subsídios
que forcem o sistema de preços a igualar
os custos e os benefícios privados e sociais
associados ao consumo e à produção de
determinado bem ou serviço. Ou seja, o
sistema de preços deve internalizar o custo
social, mediante a aplicação de um imposto,
à produção ou ao consumo, que reduza a
quantidade transacionada.
Os impostos utilizados na correção de
externalidades são chamados de impostos
pigouvianos ou impostos de Pigou, em
homenagem ao economista Alfred Pigou, um
dos primeiros a abordar esse tema.
unidade 3037
ECONOMIA APLICADA
Na concorrência imperfeita temos o
monopólio, oligopólio, concorrência
monopolística, oligopsônio e monopsônio.
As causas para a aparição do monopólio
são: acesso exclusivo a certos recursos,
patentes, concessões públicas e
existência de economias de escala.
A legislação em defesa da concorrência
tenta evitar que, uma vez instituídas
regras que permitam a concorrência, esta
se veja fraudada pelo comportamento
dos agentes econômicos. A política de
concorrência serve para aprimorar e
fiscalizar o funcionamento dos mercados.
Temos oligopólio quando a demanda é
atendida por alguns poucos ofertantes.
O caso extremo do oligopólio, em que
existem apenas dois produtores, é
denominado duopólio.
Dizemos que um oligopólio encontrou
uma solução colusiva quando todos
os concorrentes, de forma explícita,
estabelecem acordos que lhes permitam
ter informações sobre o comportamento
ou reação dos demais diante de uma
decisão tomada no mercado. Dentro desse
tipo de solução a mais característica é
o cartel (combinação de empresas que
tentam limitar as forças da concorrência
para acordar um preço comum e alcançar
a maximização conjunta dos lucros).
Quando falamos em soluções não
colusivas, entendemos que os
concorrentes não dispõem de informações
sobre o comportamento e a reação de seus
concorrentes diante de qualquer solução
que se tome. Nesse caso, a Teoria dos
Jogos pode ser usada como referência para
estudar o comportamento oligopolístico.
Ela analisa o comportamento dos
indivíduos em situações estratégicas, isto
é, considerando como os outros poderiam
responder às suas decisões.
A concorrência monopolística surge
quando existem muitos vendedores,
mas cada um é capaz de diferenciar seu
produto e, assim, acaba atuando como
monopolista de sua marca.
Um mercado monopsônico é aquele em
que há apenas um único comprador.
Um mercado oligopsônico é aquele
caracterizado pela existência de um
pequeno número de compradores
responsável por uma parcela significativa
das compras ocorridas no mercado.
As falhas de mercado ocorrem quando
os mercados não são eficientes, ou seja,
quando em certas ocasiões de produção
ou de consumo de um bem ou serviço,
ocorrem efeitos colaterais, positivos ou
negativos.
unidade 4039
ECONOMIA APLICADA
ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
Quando você concluir os estudos e começar a procurar por um emprego, sua
experiência será moldada pelas condições econômicas do momento. O cenário
poderá ser de uma economia onde todas as empresas estão expandindo sua
produção de bens e serviços, o nível de emprego está aumentando e é fácil encontrar
trabalho. Ou poderá ser um momento onde as empresas estão reduzindo a produção, o
nível de emprego está em queda e leva muito tempo para encontrar um bom trabalho.
Como a saúde geral da economia afeta profundamente a todos nós, as mudanças nas
condições econômicas são muito noticiadas pela mídia. Os jornais, a internet e a TV
apresentam frequentemente alguma nova estatística sobre a economia. A estatística pode
medir o crescimento econômico (PIB), a taxa que os preços estão aumentando (a inflação), a
porcentagem da força de trabalho que está sem trabalhar (taxa de desemprego), a despesa
total nas lojas (vendas no varejo) ou o desequilíbrio do comércio entre o Brasil e o resto do
mundo (o déficit comercial). Todas essas estatísticas são macroeconômicas e trata-se do
que vamos estudar nessa unidade.
unidade 4040
ECONOMIA APLICADA
INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
REGIME DE METAS INFLACIONÁRIAS
Um dos mais importantes indicadores
mensurados na economia é o Produto
Interno Bruto (PIB), que é o valor de
mercado de todos os bens e serviços finais
produzidos em um país (dentro de suas
fronteiras) em dado período de tempo. O
PIB é constituído pela soma do consumo,
investimento, compras de bens e serviços
pelo governo e exportações líquidas.
O PIB é a medida mais abrangente da
atividade econômica de uma nação. As
autoridades que elaboram as políticas
utilizam as informações sobre o PIB para
monitorar flutuações econômicas de
curto prazo e tendências de crescimento
a longo prazo para a economia.
FIGURA 9 – Inflação
Fonte: Acervo Institucional.
A inflação acontece quando os preços se
elevam. Ela se torna muito danosa para
uma economia, quando sai do controle
do governo e principalmente se acelera
demais, se tornando uma hiperinflação.
Num cenário de inflação, o poder aquisitivo
dos indivíduos é corroído pelo aumento de
preço dos produtos e há perda do valor da
moeda.
Para evitar que a inflação alcance
patamares muito altos e fora de controle, o
governo brasileiro passou a adotar a partir
de 1999, o Regime de Metas Inflacionárias.
Na atualidade, diversos países adotam
a prática de “Regime de Metas para a
Inflação”. Esse regime é caracterizado por
três elementos:
1. O gestor: o Banco Central (Bacen),
principal agente do sistema
financeiro, é o responsável pela
gestão do regime. A ele cabe
manter a inflação sob controle (isto
é, dentro das metas estabelecidas).
2. A meta: o Bacen estabelece com
antecedência as metas de inflação
para os anos à frente. Em geral, são
fixadas faixas de tolerância para a
inflação, um intervalo com valores
máximos e mínimos entre os quais
está o “alvo” ou centro da meta.
No Brasil, as metas são definidas
unidade 4041
ECONOMIA APLICADA
pelo CMN – Conselho Monetário
Nacional, composto pelo presidente
do Banco Central, o Ministro do
Planejamento e o Ministro da
Fazenda.
3. O instrumento: o Bacen utiliza a
taxa de juros básica que no Brasil
é a Selic (Sistema de Liquidação e
Custódia) com o objetivo de manter
a inflação nos limites das metas
estabelecidas. O Copom (Comitê de
Política Monetária), composto dos
diretores e presidente do Bacen, se
reúne periodicamente e examina a
tendência da inflação.
O que acontece se a inflação começa
a ultrapassar o limite das metas
estabelecidas? A lógica é simples:
havendo ameaça de descumprimento
da meta inflacionária, o Bacen eleva as
taxas de juros. Com isso, visa reduzir a
demanda por bens e serviços e criar um
ambiente desfavorável à alta de preços.
Se a meta está para ser cumprida com
certa folga, o Bacen pode reduzir as taxas
de juros. Isso contribui para a retomada
do consumo e pode provocar nova
pressão inflacionária. Desde que isso
não leve novamente ao descumprimento
da meta, as taxas de juros podem ser
mantidas em baixa.
A inflação é um fenômeno complexo
que pode estar associado a diversos
fatores, nem todos muito sensíveis
aos juros fixados pelo Bacen. De todo
o modo, desde a Grande Depressão,
os países desenvolvidos perceberam
que é melhor conviver com uma taxa
de inflação baixa e constante do que
com uma deflação (queda contínua nos
preços). Atualmente, todos os países
desenvolvidos têm metas de inflação
(explícitas ou implícitas). Quanto mais
estáveis as taxas de juros, mais longos
se tornam os horizontes de planejamento
das empresas.
POLÍTICA FISCAL
FIGURA 10 - Política fiscal
Fonte: Acervo Institucional.
unidade 4042
ECONOMIA APLICADA
Para controlar a atividade econômica de
um país, evitando oscilações bruscas
nos preços dos produtos e procurando
minimizar os problemas de uma inflação
descontrolada, o governo pode adotar
políticas macroeconômicas. Nessa
unidade você estudará a política fiscal,
monetária e cambial que podem ser
utilizadas em conjunto ou separadamente,
objetivando um maior crescimento
econômico, controle dos preços e maiores
índices de empregos.
Política fiscal: as decisões do governo
que se referem ao nível de gasto público
e aos impostos. Incide sobre a renda
e o consumo dos indivíduos e oferece
incentivos aos investimentos e outras
decisões econômicas.
As medidas expansionistas (aumento do
gasto público ou redução de impostos)
tenderão a criar déficit no orçamento e são
utilizadas para impulsionar a demanda
agregada (investimento e consumo),
enquanto as medidas restritivas (redução
do gasto público e aumento de impostos)
atuarão no sentido contrário. Como
exemplo de uso da política fiscal, podemos
falar da redução do IPI dos veículos
automotivos. O governo brasileiro adotou
essa estratégia em 2010 e tornou a repetir
em 2012 com o objetivo de aumentar o
consumo de carros novos, evitando assim
maiores taxas de desemprego devido a
uma queda na produção da indústria.
A condução da política fiscal envolve tanto
a administração dos gastos públicos (G)
quanto o gerenciamento das receitas
tributárias (T). Através dos gastos
públicos, o governo pode interferir na
demanda agregada por bens e serviços,
intensificando ou desacelerando o nível
de atividade. Nesse sentido, o excesso de
gastos públicos pode ser um fator gerador
de inflação de demanda. Ao mesmo tempo,
os gastos públicos podem servir como um
freio à recessão gerada em movimentos de
desaquecimento. Por fim, a arrecadação
tributária afeta indiretamente o gasto
privado. Elevações de impostos podem
reduzir tanto o consumo privado quanto o
investimento privado.
ORÇAMENTO PÚBLICO
Orçamento do setor público: é uma
descrição de seus planos de gasto e
financiamento. Na esfera federal, o
governo brasileiro, anualmente, faz um
planejamento dos seus gastos e das
fontes de receita que serão utilizados no
ano seguinte.
As receitas públicas são as receitas do
Estado obtidas basicamente por meio dos
impostos. Os impostos são as receitas
unidade 4043
ECONOMIA APLICADA
públicas criadas por lei e de cumprimento
obrigatório para os sujeitos contemplados
por ela.
Orçamento do setor público = Receitas
públicas – Gastos públicos
Se as receitas públicas superam os gastos
públicos, haverá um superávit orçamentário.
Pelo contrário, haverá um déficit
orçamentário quando as receitas públicas
forem menores que os gastos públicos.
O orçamento estará equilibrado quando a
receita pública for igual ao gasto público.
O setor público tem diferentes modos de
financiar o déficit público, veja quais são:
1. Emissão de moeda: isto equivale a
mera fabricação de dinheiro. Este
fato fará com que haja mais dinheiro
em circulação e, portanto, a demanda
agregada tende a ficar aquecida,
causando um aumento do nível de
preços. Ao perceberem o aquecimento
da demanda, os produtores logo
aumentarão seus preços, o que pode
fazer com que o resultado seja apenas
inflação, sem nenhuma consequência
sobre o nível da atividade.
2. Emissão de títulos da dívida
pública: o Estado coloca à venda
títulos de renda fixa (Letras do
Tesouro Nacional).
3. Aumento dos impostos: serve como
aumento da arrecadação da receita
do governo. Entretanto, a carga
tributária no Brasil é tão elevada,
que o brasileiro não consegue mais
aceitar uma elevação nos impostos.
O BANCO CENTRAL E A POLÍTICA MONETÁRIA
A “Lei da Oferta e da Demanda” tem uma
forma simples de analisar a formação dos
preços na economia. A escassez eleva o
preço, seja por causa de uma demanda
elevada, seja por causa de uma oferta
reduzida. No sentido contrário, preços em
baixa são causados por uma abundância
relativa, seja esta devido à falta de
demanda ou a excesso de oferta.
Com a moeda ocorre algo semelhante.
Basta que seja feita pequena adaptação
para melhor compreender a taxa de juros
como um preço e o Banco Central como um
grande agente no mercado monetário, capaz
de gerar escassez ou abundância de moeda
no sistema financeiro. Em última instância, o
Banco Central é o guardião da moeda.
Para analisar com mais detalhes os
mecanismos por meio dos quais o Bacen
atua, deve-se lembrar que ele é um agente
privilegiado no tratamento com o sistema
bancário. Quando o Bacen estabelece a
unidade 4044
ECONOMIA APLICADA
taxa de juros com a qual opera, essa taxa
passa a ser um parâmetro para as demais
operações do sistema financeiro.
FIGURA 11 – Banco
Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2014.
O Banco Central do Brasil (Bacen) é o
responsável pelo controle e funcionamento
do sistema financeiro. Uma de suas
tarefas fundamentais consiste em manter
sob controle a quantidade de dinheiro
ajustado aos objetivos pré-estabelecidos.
Ao fazer esse controle, simultaneamente
condiciona-se a taxa de juros.
Quais são as funções do Banco Central?
1. Banco dos bancos: é responsabilidade
do Banco Central zelar pela estabilidade
do sistema financeiro nacional, e
como tal possuir um papel regulador
e fiscalizador sobre os agentes que
compõem o sistema, além de funcionar
como emprestador em última instância,
em momentos em que as instituições
passem por problemas de liquidez.
Define o depósito compulsório2 ou taxa
de reserva compulsória.
2. Depositário das reservas
internacionais: o Banco Central
mantém em seu ativo um estoque de
moedas estrangeiras que viabilizam
sua intervenção no mercado cambial.
O Bacen lança mão dessas reservas
quando o valor do dólar está muito
valorizado ou desvalorizado. Em
caso de alta do dólar, o governo
vende dólares no mercado,
aumentando a oferta de moeda e
consequentemente reduzindo o valor
do dólar no mercado. Em caso de
queda, é feito o movimento contrário.
3. Banco do governo: o Bacen é
responsável pelo controle das contas
do governo, fazendo pagamentos e
recebimentos para este.
4. Banco emissor: responsável pela
emissão e controle do volume de
moeda em circulação, garantindo que a
taxa de juros de mercado esteja no nível
adequado para o controle da inflação.
2 - Depósito compulsório - O depósito compulsório é geralmente feito através de determinação legal, obrigando os bancos comerciais e outras instituições financeiras a depositarem, junto ao Banco Central, parte de suas captações em depósitos à vista ou outros títulos contábeis.
FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL:
unidade 4045
ECONOMIA APLICADA
A POLÍTICA MONETÁRIA
CONCEITOPolítica monetária são decisões do governo a
fim de modificar a quantidade de moeda ou a
taxa de juros (MÓCHON, 2007, p.206).
A política monetária pretende influir na
atividade econômica, atuando sobre o gasto
total da economia e, em particular, sobre o
gasto das famílias e sobre o investimento das
empresas. Dado que o gasto está relacionado
com a quantidade de dinheiro existente na
economia e com as condições de crédito,
principalmente com a taxa de juros, o BACEN
procura controlar ambas as variáveis.
A POLÍTICA MONETÁRIA POSTA EM PRÁTICA
O governo, e em particular o Ministério
da Fazenda, normalmente no começo
do ano, encarregam-se de estimar e
calcular qual evolução deve seguir as
principais variáveis da economia: preços e
desempregos. A partir dessas previsões, o
Bacen estima qual quantidade de dinheiro
deve existir na economia para que os
objetivos pretendidos sejam alcançados.
FIGURA 12 - Política monetária
Fonte: Elaborado pela autora.
Conselho Monetário Nacional
BACEN
Sistema Bancário
Oferta monetária
Taxa de juros Condições Creditícias
Demanda agregada
• Consumo • Investimento
Produção real Emprego Inflação
Política monetária restritiva: engloba um
conjunto de medidas que tendem a reduzir
o crescimento da quantidade de dinheiro e
a encarecer os empréstimos (elevar a taxa
de juros).
Política monetária expansiva: é formada
por aquelas medidas que tendem a
acelerar o crescimento da quantidade
de dinheiro e a baratear os empréstimos
(baixar as taxas de juros).
unidade 4046
ECONOMIA APLICADA
OS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA MONETÁRIA
1. O coeficiente de reservas ou
depósito compulsório
O coeficiente de caixas define-se
como a porcentagem sobre o total
dos depósitos que as entidades
financeiras têm de cobrir em efetivo
ou na forma de depósito no Bacen.
Esta porcentagem é decidida pelo Bacen
e é obrigatoriamente cumprida por todas
as entidades financeiras. Ao se elevar
o coeficiente de caixa, a quantidade de
dinheiro de que essas entidades dispõem
para emprestar a seus clientes diminuirá,
e será de se esperar que ocorra uma
elevação na taxa de juros. Sucederá o
contrário se o Bacen reduzir o coeficiente.
2. Operações de open-market:
Este é o principal instrumento
utilizado no Brasil. O Bacen possui
um estoque de títulos públicos.
Quando o objetivo é reduzir a base
monetária, vende parcela dos
títulos públicos de sua carteira
retirando moeda de circulação.
Se o objetivo for a expansão
monetária, o Bacen compra títulos
no mercado, ampliando sua carteira
e monetizando a economia.
3. Operações de redesconto: Essas
operações ocorrem quando os
bancos comerciais solicitam
empréstimo ao Bacen. A variável
importante é a taxa de juros
cobrada pelo Banco Central em
seus empréstimos aos bancos
comerciais, ou seja, a taxa de juros
de redesconto. Essa taxa pode ser
usada para sinalizar as taxas de juros
a serem praticadas pelo mercado.
OS EFEITOS DA POLÍTICA MONETÁRIA
• Efeitos sobre a demanda agregada:
A elevação das taxas de juros por
parte do Bacen induz o sistema
financeiro a reduzir o volume de
empréstimo ao setor privado, o
que encarece a oferta de crédito,
desestimulando o gasto dos
agentes econômicos, tanto em
investimentos produtivos quanto
em consumo. O inverso ocorre
quando há redução da taxa de
juros.
• Efeitos sobre a inflação: Os
economistas, chamados
monetaristas, defendem que
a inflação é causada por um
aumento excessivo da oferta
monetária. Por isso, o controle do
crescimento da oferta monetária
é um fator chave para conter o
aumento dos preços.
unidade 4047
ECONOMIA APLICADA
• Efeitos sobre a entrada de capitais
estrangeiros: Uma taxa de juros
elevada incentiva a entrada de
capital estrangeiro no país e
desincentiva a fuga de capitais.
O Brasil é um país que tem um
das taxas de juros mais elevada
do mundo e está com a economia
relativamente estabilizada. Sendo
assim, os investidores estrangeiros
que conseguem capital pagando
juros muito baixos, aplicam esse
dinheiro no país obtendo uma
maior rentabilidade. Isso é o
que chamamos de transações
especulativas, cujo fim é a obtenção
de lucros através de ganhos em
relação às taxas de juros.
RELAÇÕES INTERNACIONAIS: O SETOR EXTERNO
FIGURA 13 - Relações internacionais
Fonte: Acervo Institucional.
FLUXOS DE COMÉRCIO, RENDA E CAPITAIS
As influências econômicas externas às
vezes têm um efeito poderoso sobre a
economia. Uma economia está ligada ao
resto do mundo através de dois canais
externos: o comércio (exportação e
importação) e o financiamento (transação
de ativos financeiros).
As relações econômicas de um país com
o resto do mundo são complexas, pois
envolvem um conjunto muito grande de
transações. O estudo dessas relações
exige um tratamento sistemático e deve
ser feito por meio de uma das mais
importantes ferramentas contábeis
utilizadas na economia: o balanço de
pagamentos.
ATENÇÃO!O balanço de pagamentos é o registro das
transações dos residentes de um país com
o resto do mundo. Existem duas contas
principais no balanço de pagamentos: a conta
corrente e a conta capital.
A conta corrente registra o comércio
de bens e serviços, assim como
os pagamentos de transferências.
São registrados os pagamentos e
unidade 4048
ECONOMIA APLICADA
Balança Comercial – Nessa conta é registrado, período a período, os valores em
moeda estrangeira relativos às exportações e importações de bens ocorridas
em um determinado país. Somente o valor dos bens importados e exportados
deve ser contabilizado na balança comercial. Nenhum tipo de serviço (tais
como fretes) deve ser colocado lado a lado com a transação de bens.
Balança de Serviços e Renda – Nela estão incluídos itens como fretes e seguros
internacionais (que são chamados de serviços não-fatores de produção, pois
não são utilizados diretamente nas atividades produtivas). Este tipo de serviço
em geral é prestado por grandes companhias internacionais.
Transferências Unilaterais – Nela estão incluídos os recursos a fundos
perdidos doados por entidades estrangeiras, em geral na forma de ajuda
humanitária, como também os recursos enviados e recebidos por emigrantes
aos seus familiares.
recebimentos relativos a todas as transações realizadas com bens e serviços entre um país
e o exterior. Os serviços incluem fretes, pagamento de royalties3 e de juros. Os pagamentos
de transferências consistem em remessas, doações e concessões. A balança comercial
registra o comércio de bens. Existe um superávit em conta corrente se as exportações
excedem as importações somadas às transferências líquidas aos estrangeiros, isto é, se as
receitas provenientes do comércio de bens e serviços e transferências
A conta capital registra a compra e venda de ativo, como, por exemplo, estoques, títulos
e terra. Ocorre um superávit da conta capital, quando as receitas provenientes da venda
de estoques, títulos, terra, depósitos bancários e outros ativos excederem os pagamentos
sobre a compra de ativos estrangeiros. No caso do contrário ocorrer, haverá um déficit.
Quando o balanço de pagamentos como um todo se encontra em déficit, o país tem que
pagar mais moeda estrangeira aos estrangeiros do que recebe.
Entendida a lógica básica da organização do balanço de pagamentos, deve se detalhar um
pouco mais os itens a serem registrados em cada bloco.
3 Royalty é uma palavra de origem inglesa que se refere a uma importância cobrada pelo proprietário de uma patente de produto, processo de produção, marca, entre outros, ou pelo autor de uma obra, para permitir seu uso ou comercialização.
unidade 4049
ECONOMIA APLICADA
O somatório destas três contas (comercial, serviços e transferências unilaterais) resulta no
saldo da conta transações correntes.
Capital e financeira - registra as transações de caráter financeiro ocorridas
em um determinado país. São registrados como entradas os valores de
empréstimos obtidos pelos residentes no país (governos, empresas e
bancos) no exterior. E também os financiamentos obtidos ou ofertados
nas transações comerciais, os quais representam créditos ou dívidas,
respectivamente, dos agentes econômicos do país com algum outro agente
no exterior. Nela também ingressa ainda o investimento estrangeiro direto,
que são recursos que se destinam à aplicação nas atividades produtivas, e
os chamados capitais de carteira ou de portfólio, que se destinam à aplicação
no mercado financeiro. Assim como a conta de transações correntes, a de
capital e financeira pode apresentar déficit ou superávit
Erros e Omissões - registra alterações ocorridas nos registros de entrada ou
de saída de fluxos de comércio, de renda ou de capitais estrangeiros.
À consolidação das contas “transações correntes”, de “capital e financeira” e “erros e
omissões”, tem-se o resultado final do balanço de pagamentos. Caso um país apresente
déficit em transações correntes e superávit na conta de capital e financeira, sendo ambos
exatamente iguais, isto significa que as divisas que saíram por uma das contas e ingressaram
pela outra. Neste caso, diz-se que o balanço de pagamentos está em equilíbrio. Porém,
caso o déficit de transações correntes seja maior que a entrada de divisas por meio da
conta de capital e financeira, o país terá que desembolsar parte das reservas internacionais
para honrar os compromissos externos de seus residentes. Países que não disponham
de reservas internacionais suficientes para “fechar” o balanço de pagamentos ou que não
desejam lançar mão de suas reservas podem recorrer a organismos internacionais como o
FMI (Fundo Monetário Internacional).
Se o país não obtém apoio dos organismos internacionais para “fechar” o balanço de
pagamentos e as reservas internacionais atinjam um nível reduzido, o país pode entrar em
moratória. Neste caso o pagamento a não residentes que forem postergados devem ser
registrados na conta “Atrasados”, indicando um endividamento forçado que o país realiza à
custa de credores externos, os quais deixam de receber seus pagamentos involuntariamente.
unidade 4050
ECONOMIA APLICADA
MAISSAIBA
Na conta de balança de serviços e renda também
são registrados os fluxos de renda tais como:
juros, lucros e dividendos enviados para fora
do país no pagamento de empréstimos e como
remuneração pelo capital estrangeiro investido
no país. Se houver empresas nacionais atuando
no exterior que estejam enviando remessas de
lucros para matrizes no país, esse recebimento
também será registrado na conta de rendas
como um recebimento. Nessa conta também
são incluídos fluxos relativos aos pagamentos
e recebimentos de direitos sobre propriedade
intelectual, salários de executivos que estejam
no país por um período de curto tempo, etc. Estes
itens constituem a remuneração pela utilização
de capitais financeiros, capitais produtivos,
patentes e capital humano, respectivamente,
todos diretamente associados às atividades
produtivas.
RESERVAS INTERNACIONAIS, REGIME MONETÁRIO E CAMBIAL
As Reservas Internacionais constituem
os estoques de moedas estrangeiras e
de ouro que o Bacen possui custódia e
vende no mercado quando há excesso
de demanda por dólares. Por outro lado,
quando há um excesso de oferta de
dólares, ele os compra.
As relações econômicas de um país com
o resto do mundo dependem, acima de
tudo, da forma como funciona o mercado
de divisas estrangeiras (moeda). A taxa de
câmbio pode ser entendida como o preço
em moeda nacional de uma unidade de
moeda estrangeira. Por se tratar de um
preço, a taxa de câmbio é determinada
pelos mecanismos de oferta e demanda
do mercado cambial ou mercado de
divisas estrangeiras.
No mercado cambial, os agentes
que possuem moeda estrangeira e
desejam trocar por moeda nacional são
ofertantes. Contrariamente, os agentes
que desejam adquirir moeda estrangeira,
comprando-a com moeda nacional,
são os demandantes. Isto significa
que a “mercadoria” transacionada
neste mercado são as divisas, isto é,
qualquer moeda estrangeira utilizável em
transações econômicas internacionais
as quais envolvem, em geral, residentes
no país e residentes no exterior. Para se
entender bem o funcionamento desse
mercado, é importante deixar claro
quem são os potenciais compradores e
vendedores de divisas estrangeiras.
No grupo de ofertantes de moeda
estrangeira estão:
unidade 4051
ECONOMIA APLICADA
• Exportadores, que vendem
suas mercadorias ao exterior
e são remunerados em moeda
estrangeira.
• Turistas estrangeiros, que trazem
moeda estrangeira e a trocam no
país.
• Investidores internacionais, que
trazem divisas para aplicar no país,
seja no mercado financeiro ou em
atividades produtivas.
• Agentes econômicos (em geral,
bancos, mas também empresas
e o próprio governo) que captam
recursos no exterior (emissão de
títulos, obtenção de empréstimos
e financiamentos) os quais entram
no país como valores em moeda
estrangeira.
No grupo de demandantes de moeda
estrangeira estão:
• Importadores, que precisam
comprar moeda estrangeira para
remeter a seus fornecedores de
bens e serviços no exterior.
• Turistas brasileiros que se dirigem
ao exterior e precisam comprar
moeda estrangeira antes da
viagem.
• Agentes econômicos que investem
ou enviam renda para o exterior.
• Agentes econômicos que possuem
compromissos a pagar no exterior
(amortizações e juros referentes
a empréstimos, por exemplo) e
que precisam enviar valores em
moeda estrangeira para efetivar o
pagamento.
A oferta e a demanda de moeda estrangeira
estão diretamente relacionadas com seu
preço, isto é, com a taxa de câmbio.
EXEMPLOColoque-se no lugar do exportador, por
exemplo. Se ele vende para clientes
no exterior um produto que é cotado
internacionalmente a US$ 100,00 quando a
taxa de câmbio é R$/US$ = 2,50 sua receita
será de R$ 250,00 por unidade. Se a taxa
de câmbio se desvalorizasse para R$ 2,90
sua receita se elevaria para R$ 290,00 por
unidade. Se tudo permanece constante (os
custos de produção sendo os mesmos, por
exemplo), isso seria um estímulo para que
ele ofertasse mais desse produto no exterior
e também incentivaria todos os demais
exportadores a fazerem o mesmo. O aumento
das exportações geraria uma maior oferta
de dólares norte-americanos no mercado
brasileiro. Da mesma forma, o turista
estrangeiro que tivesse que pagar por uma
diária de hotel no Brasil no valor de R$ 200,00,
unidade 4052
ECONOMIA APLICADA
teria que desembolsar US$ 80,00 se a taxa de
câmbio fosse R$ 2,50 por dólar. Mas essa
diária representaria menos de US$ 69,00 se
o valor da taxa de câmbio passasse para R$
2,90 por dólar americano. Isso atrairia mais
turistas estrangeiros para o Brasil, elevando
a oferta de divisas.
No caso dos importadores e dos
turistas brasileiros que vão ao exterior, o
comportamento seria simetricamente oposto.
Quanto mais alta a taxa de câmbio, mais
caro os produtos estrangeiros e maiores os
gastos (em reais) dos turistas que saíssem do
país. Isso desestimularia ambos os tipos de
transação e reduziria a demanda por divisas.
Então é importante saber que:
A taxa de câmbio é um preço
determinado no mercado de divisas
pelas condições de oferta e demanda
por moeda estrangeira.
Regime cambial é a regra de
funcionamento do mercado cambial,
estabelecendo o papel e a forma
de atuação do Banco Central nesse
mercado.
Uma característica importante do mercado
de câmbio é a existência de um agente com
uma capacidade muito grande de vender e de
comprar divisas: o Banco Central. É ele quem
administra as reservas internacionais do país
e, por isso, pode atuar no mercado comprando
ou vendendo grandes valores em moeda
estrangeira, alterando as condições de oferta
e demanda e, portanto, interferindo no nível da
taxa de câmbio.
O padrão típico de atuação do Banco
Central no mercado de câmbio determina
o regime cambial.
3 - Paridade - O Sistema Cambial de Paridades Fixas é um sistema cambial segundo o qual os países mantém uma taxa de câmbio fixa relativamente a outras divisas.
Dessa forma, podemos dizer que existem
dois regimes cambiais polares:
• Câmbio Fixo: nesse regime, a taxa
de câmbio é mantida constante.
Os bancos centrais ficam a postos
para comprar e vender suas
moedas, pois ele tem o dever de
manter a paridade3 fixada. Em
um sistema de taxas fixas, os
bancos centrais têm que financiar
quaisquer superávits ou déficits
de balanços de pagamentos que
surjam à taxa de câmbio oficial.
Nesse regime a necessidade de
unidade 4053
ECONOMIA APLICADA
intervenção do Banco Central no
mercado de câmbio é máxima,
exatamente para evitar a flutuação.
• Câmbio Flutuante ou Flexível: em
um sistema de taxas de câmbio
flexíveis, os bancos centrais
permitem que a taxa de câmbio se
ajuste para equacionar a oferta e a
demanda por moeda estrangeira.
A necessidade de intervenção
do Banco Central é nula e ele
permanece totalmente ausente do
mercado de câmbio e a taxa passa
a ser comandada exclusivamente
pelas forças de mercado.
• Flutuação com e sem Intervenção:
Em um sistema de flutuação
limpa, os bancos centrais ficam
totalmente de fora e permitem
que as taxas de câmbio sejam
determinadas livremente
nos mercados de câmbios
estrangeiros. Na prática, o sistema
de taxas de câmbio flexíveis,
não tem sido de flutuação sem
intervenção ou limpa. Ao contrário,
o sistema tem sido de flutuação
com intervenção ou suja. Sob
flutuação controlada, os bancos
centrais intervêm para comprar
e vender moedas estrangeiras na
tentativa de influenciar as taxas
de câmbio.
REFLEXÃOPARA
No Brasil, entre março de 1995 e janeiro de 1999,
adotou-se um regime de bandas cambiais
móveis, isto é, os limites de flutuação eram
revistos periodicamente a fim de administrar a
progressiva elevação da taxa de câmbio.
O regime de câmbio administrado (bandas
cambiais) praticado durante os primeiros
anos do Plano Real atuou como coadjuvante
no controle inflacionário. Foi utilizada a âncora
cambial, onde o real equiparado ao dólar (no
início do plano real, como veremos à frente)
equivalia a um dólar, para manter a inflação
sob controle. Os produtos e serviços que
foram precificados em dólares americanos
mantinham seus preços razoavelmente
constantes em reais, assim como os preços
dos bens e serviços importados.
Outro ponto importante foi que após a
abertura da economia em 1990, a âncora
cambial trouxe muita concorrência a setores
pouco competitivos da economia brasileira
que tiveram que se reestruturar para alcançar
maior produtividade, uma vez que tinham
pouco espaço para aumentar seus preços
como anteriormente. Contudo, para manter
a taxa de câmbio estável o Banco Central
necessitava de reservas internacionais para
atuar na ponta de venda quando havia pressão
de compra de dólares norte-americanos. As
unidade 4054
ECONOMIA APLICADA
diversas crises internacionais enfrentadas a
partir de 1994 (México – 1995, Ásia – 1997 e
Rússia – 1998) e o aumento da aversão ao risco
mundial drenaram as reservas internacionais
do país a um nível baixo, o que obrigou o
Banco Central a desistir da âncora cambial e
deixar a taxa de câmbio flutuar frente à moeda
dos EUA. Durante essas crises o Real (R$)
sofreu diversos ataques especulativos. Os
investidores, ao perceberem que as reservas
internacionais eram insuficientes para impedir
a desvalorização cambial, se desfaziam da
moeda nacional para adquirir dólares norte-
americanos, buscando forçar a desvalorização
cambial e, assim, obter elevados rendimentos.
A partir de janeiro de 1999, o Banco Central
do Brasil adotou o regime de câmbio
flutuante, onde as intervenções do Banco
Central no mercado de câmbio podem ou
não ocorrer sem determinar uma regra clara
de procedimento. De modo geral, os Bancos
Centrais procuram atuar para que a taxa de
câmbio não flutue excessivamente, a fim de
evitar desestabilização no mercado de divisas
estrangeiras.
PRÁTICAAPLICAÇÃO
Efeitos do Pré-Sal no Câmbio e na Economia.
MAGALHÃES, Aline Souza; DOMINGUES, Edson Paulo. Bênção ou maldição: impactos do pré-sal na indústria brasileira. Prêmio CNI de Economia 2012.
Com uma produção estimada em 5,7 milhões de
barris/dia de petróleo e uma previsão de exportação
líquida de quase metade desse volume em 2035, o
Brasil pode se tornar um dos maiores exportadores
do mundo deste produto, atrás somente de Arábia
Saudita, Rússia e Irã, e transformar o atual déficit
de sua balança comercial de óleo bruto e derivados
para superávit. Neste novo ciclo, em que pesam as
descobertas do pré-sal e o megacampo de Libra
- com capacidade para até 1,4 milhão de barris
por dia no auge da produção daqui a 10 anos -,
aumenta o risco de o país vivenciar a "doença
holandesa" ou a "maldição dos recursos naturais",
acreditam economistas.
A "doença holandesa" seria a repetição de
um fenômeno ocorrido no século passado na
Holanda, quando houve descoberta de gás
naquele país. Pode ocorrer quando há ingresso
maciço de dólares, proveniente da exploração e
exportação de um recurso natural, como é o caso
do petróleo extraído do pré-sal. Isso levaria a uma
sobrevalorização da moeda nacional, o que poderia
prejudicar setores industriais que necessitam
de câmbio desvalorizado para crescer. Como
consequência, o país pode entrar num processo
de desindustrialização, com perda de importância
relativa da indústria de transformação na
economia como um todo, agora mais dependente
do recurso natural.
"Se o Brasil virar exportador de petróleo, isso
não produz só uma doença holandesa, mas uma
desagregação completa da soberania nacional
brasileira", afirma o professor da Universidade
unidade 4055
ECONOMIA APLICADA
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente
do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa. Para
ele, a questão do petróleo perpassa o tema da
construção de um projeto futuro para o Brasil.
"Se o projeto do Brasil for, além de vender soja,
algodão, minério de ferro, vender petróleo também,
estamos optando definitivamente por ser uma
economia 'supridora-primário-exportadora'".
Na sua opinião, ser exportador de óleo bruto é
um erro e pode garantir "um futuro maldito ao
país". " À exceção da Noruega, o resto dos países
exportadores de petróleo são hiperproblemáticos",
diz. "Viraremos uma Arábia Saudita ou um Iraque
do Atlântico Sul? Ou nós vamos com o petróleo
aumentar a disponibilidade de energia para
cada brasileiro e com isso desenvolver as forças
produtivas do país?", questionou.
O pré-sal, segundo os economistas, pode levar a
uma maior concentração da pauta de exportação
do país em commodities4 , bem como, caso seja
fartamente exportado, induzir a transferência
para o exterior de diversos benefícios que os
novos campos poderiam trazer para os demais
setores industriais do país.
Na avaliação do professor da Fundação Getúlio
Vargas (FGV-Rio), Fernando de Holanda Barbosa
Filho, numa economia tão diversificada como
a brasileira, a tendência de ocorrer a "doença
holandesa" é menor, mas pode acontecer. "Não
tem remédio. Se você pegar todo o dinheiro do
pré-sal, internalizar e virar gasto do governo -
por mais bem intencionado que seja, em saúde
e educação -, isso vai gerar uma apreciação do
câmbio e uma maior demanda por recursos, a
sociedade não será capaz de produzir tudo e vai
importar bens e serviços", afirma.
Edson Domingues, professor de economia
da Universidade Federal de Minas Gerais, ao
contrário de Lessa, diz que não vê problemas
em o país exportar principalmente produtos
primários. Porém, destaca que seria importante
o governo ter foco nos efeitos encadeadores
internos para a economia nacional que o petróleo
do pré-sal pode gerar. "Seria ilógico não explorar
recursos naturais onde o país tem vantagens
comparativas", diz. "Mas você poderia garantir
que os benefícios dessa exportação e dessa
produção fossem mais direcionados para outros
setores, outras regiões e criassem mais 'valor'".
Nos cálculos de David Zylbersztajn, ex-diretor da
Agência Nacional de Petróleo (ANP), a exploração
do campo de Libra em 15 anos injetará até R$
1 trilhão na economia brasileira entre venda do
petróleo e investimentos necessários. Caso o
volume de exportações seja confirmado, ele espera
uma enxurrada de dólares no país. "Com isso, fica
4 Commodities - Significa mercadoria em inglês e pode ser definido como mercadorias, principalmente minérios e gêneros agrícolas, que são produzidos em larga escala e comercializados em nível mundial. As commodities são negociadas em bolsas mercadorias, portanto seus preços são definidos em nível global, pelo mercado internacional (Wikipédia).
unidade 4056
ECONOMIA APLICADA
mais difícil conter uma apreciação cambial, que
vai desestimular a atividade de outras indústrias
que não a petroquímica", acredita.
Apesar de dizer que "o Brasil está um
pouco vacinado contra oscilações cambiais
indesejáveis", Zylbersztajn acredita que haverá
"impacto significativo" no câmbio.
Em recente estudo, Luciano Losekann e Thiago
Periard, da Universidade Federal Fluminense
(UFF), concluíram que o pré-sal de forma isolada
não deve levar a uma pressão tão significativa
sobre o câmbio, não tornando o país "um
petro-estado". No entanto, Losekann alerta
que além do pré-sal há outras questões na
economia brasileira que contribuem para uma
pressão sobre o câmbio, como o desempenho
exportador de outras commodities brasileiras,
especialmente a soja. E aí sim, com o conjunto,
"se poderia pensar em doença holandesa".
Uma política de Estado, de usar parte das
divisas garantidas com a exploração do
petróleo como subsídio a outras atividades
da indústria, é visto como um antídoto para
os riscos da doença holandesa. A entrada de
dólares do petróleo deve ser acompanhada
da manutenção do "peso relativo" da indústria
nas compras e vendas externas, na opinião de
Fábio Silveira, diretor de pesquisa econômica
da GO Associados. "O risco de acomodação
em face desse potencial de aumento de receita
de petróleo é grande. O superávit na balança
comercial e a entrada de dólares podem
acomodar tanto o governo como a iniciativa
privada, que vai garantir seus mercados", diz.
Segundo Silveira, o país tem exportado cerca
de US$ 20 bilhões de petróleo por ano. Apesar
desse resultado, a importação de derivados
associada à compra de óleo bruto - boa
parte do petróleo ainda extraído no país não
é compatível com as refinarias em operação
- têm levado a balança comercial do país ao
déficit. Com o incremento a partir do pré-sal,
as vendas do óleo devem subir, em cinco
anos, para cerca de US$ 40 bilhões. Nas suas
contas, as quatro refinarias em construção
devem reduzir o déficit com a importação
de derivados. "Somando a alta das vendas
de petróleo e a diminuição da importação
de petróleo e derivados, o déficit deve virar
superávit de US$ 15 bilhões ao ano no setor".
POLÍTICAS MACROECONÔMICAS ADOTADAS NA ECONOMIA BRASILEIRA.
Em qualquer economia, um dos indicadores
econômicos mais observados, que diz
respeito ao crescimento econômico é o
Produto Interno Bruto (PIB).
Observando o PIB brasileiro nas últimas
décadas, após a Segunda Guerra Mundial,
o Brasil registrou elevadas taxas de
unidade 4057
ECONOMIA APLICADA
crescimento do PIB. Ao longo dos trinta anos que se sucederam à Segunda Guerra, o Brasil
se consolidou como uma economia que migrou de uma base produtiva agrária para uma
estrutura diversificada, com um grau de industrialização consideravelmente elevado.
Entretanto, a partir do final da década de 1970, essas taxas de crescimento caíram, por causa
da estratégia do governo de manter elevadas taxas de crescimento a partir de ampliação
nos investimentos em infraestrutura, por meio de endividamento externo, o que levou à
crise da dívida brasileira no início dos anos 1980.
Essa crise da dívida externa brasileira e o agravamento do quadro inflacionário reverteram
as prioridades do período, e busca pela estabilidade da inflação em patamar baixo permeou
a década, que vivenciou uma sucessão de malsucedidos programas de estabilização. A
perda do dinamismo do crescimento econômico nos anos 80 e as sucessivas crises da
época levaram boa parte dos economistas a denominar esse período de “década perdida”.
QUADRO 3 Planos de Estabilização (site Banco Central do Brasil)
PLANO DE ESTABILIZAÇÃO ANO DE IMPLEMENTAÇÃO
Plano Cruzado 1986 (Governo Sarney)
Plano Cruzado II 1986 (Governo Sarney)
Plano Bresser 1987 (Governo Sarney)
Plano Verão 1989 (Governo Sarney)
Plano Collor I 1990 (Governo Collor)
Plano Collor II 1991 (Governo Collor)
Plano Real 1993 (Governo Itamar)
Fonte: MÓCHON, 2006, p.306.
A solução para o problema inflacionário só foi obtida com a implementação do Plano
Real, que ocorreu em fases entre 1993 e 1994.
O sucesso do Plano Real se traduziu em uma rápida queda da inflação para o patamar
de um dígito, no período de onze meses.
Mesmo com o sucesso no combate à inflação nos últimos vinte anos, o país ainda
tem registrado baixo crescimento do PIB. O desafio de um crescimento econômico
unidade 4058
ECONOMIA APLICADA
vigoroso em bases sustentáveis e do
desenvolvimento ainda é uma questão
que se impõe à sociedade e ao governo
no contexto de um país com elevado
nível de pobreza.
Uma das grandes questões acerca
da política monetária brasileira diz
respeito aos elevados níveis da taxa
de juros, que representam um forte
limitador à expansão dos investimentos
produtivos. Tal fenômeno impõe
limites à expansão da demanda e
ao crescimento econômico e gera
pressões inflacionárias. Sendo assim, é
necessário um reforço no ajuste fiscal
do país, centrado do lado do corte nos
gastos públicos. Tal fato daria maior
espaço para o crescimento da demanda
do setor privado, em particular dos
investimentos produtivos, o que
permitiria que o país atingisse maiores
taxas de crescimento do produto no
longo prazo.
MAISPARA SABER
Para mais detalhes sobre os planos e
programas de estabilização do governo
brasileiro nas décadas de 1980 e 1990,
consulte o capítulo 1 do Manual de Finanças
Públicas do Banco Central do Brasil, disponível
no site da instituição.
REVISÃO
Produto Interno Bruto (PIB), é o valor de
mercado de todos os bens e serviços finais
produzidos em um país (dentro de suas
fronteiras) em dado período de tempo. O
PIB é constituído pela soma do consumo,
investimento, compras de bens e serviços
pelo governo e exportações líquidas.
A inflação ocorre quando os preços se
elevam. E ela torna-se danosa para a
economia quando está fora de controle,
corroendo o poder de compra da moeda.
Regime de metas inflacionárias: adotado
pelo governo brasileiro para controlar
a inflação. O seu gestor é o Bacen, que
define a meta para inflação e estipula a
taxa de juros como forma de controle.
Política fiscal: as decisões do governo
que se referem ao nível de gasto público
e aos impostos. Incide sobre a renda
e o consumo dos indivíduos e oferece
incentivos ao investimentos e outras
decisões econômicas.
Política monetária são decisões do
governo a fim de modificar a quantidade
de moeda ou a taxa de juros.
O balanço de pagamentos é o registro das
transações dos residentes de um país com
o resto do mundo. Existem duas contas
unidade 4059
ECONOMIA APLICADA
principais no balanço de pagamentos: a
conta corrente e a conta capital.
As Reservas Internacionais constituem
os estoques de moedas estrangeiras e
de ouro que o Bacen possui custódia e
vende no mercado quando há excesso
de demanda por dólares. Por outro lado,
quando há um excesso de oferta de
dólares, ele os compra.
A taxa de câmbio pode ser entendida
como o preço em moeda nacional de uma
unidade de moeda estrangeira.
Regime cambial é a regra de
funcionamento do mercado cambial,
estabelecendo o papel e a forma de
atuação do Banco Central nesse mercado.
Câmbio Fixo: nesse regime, a taxa de
câmbio é mantida constante.
Câmbio Flutuante ou Flexível: em um
sistema de taxas de câmbio flexíveis, os
bancos centrais permitem que a taxa de
câmbio se ajuste para equacionar a oferta
e a demanda por moeda estrangeira.
060
AUMENTO DA PROCURA DUPLICA
PREÇO DE HOSTELS PARA O ROCK IN RIO
2013. ed. 122. Revista Hotéis. Disponível
em: <http://www.revistahoteis.com.
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MAGALHÃES, Aline Souza; DOMINGUES,
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