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Junior EFP, Oliveira EB. Incorporação de tecnologia dura no setor...
Rev. Enf. Profissional 2014. jan/abr, 1(1):50-60. 50
Introduction of the hard technology in health sector: nursing workers health outcome
Incorporação da tecnologia dura no setor saúde: repercussões para a saúde do trabalhador
de enfermagem
El uso de la tecnología dura en el setor salud: repercusiones para la salud del trabajador
Eugênio Fuentez Peres Junior1, Elias Barbosa de Oliveira2
Objective: identifying the nursing scientific production related to the introduction of hard technology in health sector and contributing to the comprehension of repercussions in nursing workers health. Method: literature review of published articles by Brazilian nursing indexed with the Lilacs Medline and Scielo from 2000 to 2012. Only 46 articles have been found in the mentioned period. Results: It has been identified that, due to the increasing of technologies in health sector, education and service institutions must adequate to demands of work market and invest in human source training. Precarious work conditions cause occupational stress and mistakes and inaccuracy possibilities increase. Conclusion: There is the need of expanding hard technology research in health sector due to the implications in work and worker´s health. Descriptors: Nursing. Medical technology. Occupational risks. Worker health.
Objetivo: identificar a produção cientifica da enfermagem relacionada à incorporação da tecnologia dura no setor saúde e contribuir para a compreensão das repercussões na saúde dos trabalhadores. Método: revisão da literatura dos artigos produzidos pela enfermagem brasileira no período de 2000 a 2012 indexados no Lilacs, Medline e Scielo. Foram encontrados somente 46 artigos no período. Resultados: Identificou-se que devido aos avanços tecnológicos no setor saúde, as instituições de educação e serviço devem se adequar às exigências do mercado de trabalho e investir na capacitação de recursos humanos. Condições precárias de trabalho acarretam estresse ocupacional e aumentam as possibilidades de erros e iatrogenias. Conclusão: há necessidade de ampliar as pesquisas sobre tecnologias duras no setor saúde devido às implicações para o trabalho e a saúde do trabalhador. Descritores: Enfermagem. Tecnologia biomédica. Riscos ocupacionais. Saúde do trabalhador.
Objetivo: identificar la producción científica de la enfermería relacionada a la incorporación de la tecnología dura en el sector salud y contribuir con la comprensión de sus repercusiones para la salud del trabajador. Método: revisión de literatura de artículos producidos por enfermeros brasileños en el periodo de 2000 a 2012 en revistas indexadas en las bases de datos Lilacs, MedLine y Scielo. Fueron seleccionados 46 artículos. Resultados: se identificó que los establecimientos educacionales y de servicios deben adecuarse a las exigencias del mercado del trabajo y investir en la capacitación de recursos humanos, debido a los avanzos tecnológicos en el sector salud. Además, las condiciones frágiles de trabajo pueden causar estrés ocupacional y añaden la posibilidad de equívocos y efectos adversos. Conclusión: hay necesidad de aumentar las pesquisas sobre tecnologías duras en el sector salud debido las implicaciones para el proceso del trabajo e para la salud del trabajador. Descriptores: Enfermería. Tecnología biomédica. Riesgos laborales. Salud del trabajador. 1Enfermeiro. Hospital Estadual Azevedo Lima (RJ). Mestre em Enfermagem. Especialista em Docência do Ensino Superior (UCAM) e em Gestão Hospitalar (ENSP/FIOCRUZ). E-mail [email protected]. 2Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Pós Doutor em Álcool e Drogas. Professor Adjunto de Graduação de Pós Graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (orientador). Faculdade de Enfermagem. Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgico. E-mail [email protected].
RESUMO
RESUMEN
ABSTRACT
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O trabalho1 é o processo através do qual o homem transforma a
natureza, os outros homens e a si mesmo com vistas a construir as condições
necessárias à manutenção de sua vida biopsicossocial. Através dele o
trabalhador produz conhecimentos, exerce sua criatividade e liberdade,
constituindo-se em fonte de prazer pelo qual se identifica e se realiza como ser
humano, além de promover a evolução do seu modo de vida. No entanto, o
trabalho realizado em condições precárias pode acarretar ao trabalhador
insatisfação, desmotivação e absenteísmo por causas diversas.
As mudanças que vem ocorrendo no mundo do trabalho2 como as
inovações tecnológicas, a precarização dos contratos, a redução de
trabalhadores e a intensificação dos ritmos laborais devido à necessidade de
aumento da produtividade, vão resultar no afastamento de trabalhadores
afetados por doenças relacionadas com o estresse ocupacional. O estresse no
ambiente laboral é considerado o segundo problema de saúde relacionado ao
trabalho, podendo provocar uma grave deterioração da saúde física e mental dos
trabalhadores.
A incorporação de novas e complexas tecnologias nas organizações, e,
entre elas a tecnologia dura3, representada pelo material concreto como
equipamentos, mobiliário do tipo permanente ou de consumo, têm contribuído
para o aparecimento de situações indutoras de estresse. Deste modo, as
mudanças introduzidas pela organização4 podem produzir experiências negativas
e altamente nocivas para a saúde e bem-estar psicológico dos trabalhadores,
devendo ser identificadas e analisadas adequadamente, para que seja possível
uma intervenção eficaz no sentido de minimizar os seus efeitos negativos.
Apesar de o uso intensivo de tecnologias diagnóstica e terapêutica
propiciarem benefícios inestimáveis aos usuários dos serviços e profissionais,
tem-se registrado poucos avanços5 no que diz respeito à produção de
conhecimentos sobre inovações tecnológicas no campo da organização, gestão e
relações de trabalho. Na área hospitalar, a incorporação de tecnologia dura ao
trabalho repercutiu no processo produtivo, nos formatos das organizações de
trabalho e nas relações profissionais6, constituindo-se em fator de risco
INTRODUÇÃO
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psicossocial a saúde dos trabalhadores.
Assim, a introdução de uma nova tecnologia7, independente de sua
natureza, é acompanhada de um aumento da intensificação do trabalho e da
pressão por produtividade, sendo mediada pelas condições de trabalho e pelo
trabalhador. Condições precárias de trabalho influenciam negativamente o
desempenho dos profissionais e produzem sobrecarga física e psíquica nos
trabalhadores, constituindo-se em risco psicossocial.
Ao se discutir a incorporação da tecnologia dura ao processo de trabalho,
há de se considerar que ambiente e equipamento de trabalho são riscos
psicossociais8 diante de problemas relativos à confiabilidade, à disponibilidade, à
conveniência, à manutenção e reparo de equipamentos. Portanto, deve haver
uma preocupação dos administradores em atingir os objetivos das organizações
na busca por um ambiente de qualidade, onde todos os equipamentos que
compõem um posto de trabalho devem estar adequados às características
psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.
Princípio ergonômico, que ao ser adotado pela organização, pode diminuir
substancialmente o estresse relacionado ao trabalho da enfermagem9,
principalmente em setores especializados onde há pacientes críticos e que
necessitam da assistência contínua e intensiva.
Diante do exposto o presente estudo teve como objetivo identificar a
produção cientifica da enfermagem relacionada à incorporação da tecnologia
dura no setor saúde e contribuir para a compreensão das repercussões para a
saúde dos trabalhadores.
Realizou-se uma revisão da literatura sobre a incorporação da tecnologia
dura ao trabalho da enfermagem nos artigos publicados em revistas brasileiras
no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2012. Consultou-se as bases de
dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Saúde Pública (LILACS);
Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), e Scientific
Electronic Library Online (SCIELO). A coleta de dados ocorreu de março a agosto
de 2012, tendo como princípio a pesquisa bibliográfica, envolvendo atividades de
identificação, compilação e fichamento dos estudos.
Na busca dos artigos foram utilizados os seguintes termos: enfermagem,
METODOLOGIA
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tecnologia biomédica, riscos ocupacionais, saúde do trabalhador e saúde mental.
A partir dos critérios de seleção adotados, foram captados 46 artigos cujos dados
foram organizados em uma planilha para o registro do ano e local da publicação,
metodologia empregada e os principais resultados. Para esta etapa, utilizou-se a
abordagem quantitativa, através da análise estatística (frequências absoluta e
relativa). Em um segundo momento, utilizou-se a abordagem qualitativa
mediante a técnica de análise temática, no intuito de descobrir núcleos de
sentido que compunham a comunicação e cuja presença contribuíram para o
alcance dos objetivos.
Os resultados são apresentados e discutidos a partir dos dados
quantitativos seguidos da análise qualitativa, de onde emergiram as seguintes
categorias: formação e treinamento como fatores relevantes na utilização das
tecnologias duras e incorporação da tecnologia como risco psicossocial: estresse
ocupacional.
No período de 2000 a 2005, a produção sobre tecnologias no setor saúde
pela enfermagem brasileira foi bastante inexpressiva, com uma média de duas
publicações por ano, totalizando 11 artigos (23%). Observado um crescimento a
partir de 2006 com cinco produções, cujo avanço manteve-se incipiente, nos
anos que se seguiram. Em 2010 ocorreu um aumento da produção com 12
publicações. Infere-se que o crescimento pode estar ancorado na expansão dos
cursos de pós-graduação stricto sensu e lato sensu no país e a um maior numero
de revistas de enfermagem indexadas nas bases de dados consultadas.
A opção metodológica dos estudos foi qualitativa (89%) e quantitativa
(11%), havendo um interesse investigativo sobre o tema com realização de
pesquisa original (41%), reflexão (28%), revisão integrativa (26%) e relato de
experiência (4%). O recorte espacial dos estudos originais foi o hospital geral
(100%), cuja maior concentração ocorreu em unidades especializadas (83%).
Dos 46 estudos analisados, 23 (50%), abordaram as mudanças no processo de
trabalho com a incorporação da tecnologia dura, principalmente no hospital geral
em unidades especializadas, como terapia intensiva onde se concentram
aparelhos como respiradores, multiparâmetros, monitores, bombas infusoras e
oxímetros de pulso.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Os sujeitos que contribuíram com os seus conhecimentos e práticas sobre
a incorporação das tecnologias no setor saúde foram enfermeiros (47%), equipe
de enfermagem (37%), equipe de saúde (11%) e não informado (5%).
Formação e treinamento como fatores relevantes na utilização das
tecnologias duras
As principais mudanças operadas com a incorporação das tecnologias
duras no setor saúde ocorreram após a II Guerra Mundial com a descoberta de
respiradores mecânicos, tubos orotraqueais, eletrocardiograma, desfibriladores e
outros recursos que propiciaram o prolongamento da vida e diminuíram os
quadros de morbidade e mortalidade na população. Neste período, foram
organizados novos espaços de cuidado, onde se concentraram recursos
tecnológicos de ponta com necessidade de mão de obra especializada.
No Brasil, unidades especializadas10 no atendimento de pacientes críticos
foram implantadas a partir da década de 1960, o que impulsionou a enfermagem
que iria atuar nestas unidades a formular as bases teóricas de sua prática nessa
nova área de atuação. Assim, foram incluídos na formação do enfermeiro temas
inerentes às tecnologias existentes, bem como em relação às condições
patológicas mais comumente apresentadas pelos indivíduos internados.
A formação de profissionais do setor saúde, principalmente de
enfermeiros e médicos, a partir da década de 70, sofreu nítida influência da
sofisticação tecnológica que exige qualificação dos profissionais para atender as
mudanças ocorridas no processo de trabalho. Nesse sentido, ressalta-se a
importância de profissionais qualificados e conectados com as novas exigências
do mercado de trabalho no setor saúde, impulsionando o enfermeiro na busca
pela especialização e atualização dos conhecimentos11-13 através de cursos e
capacitação em serviço, como condição essencial para a utilização adequada da
tecnologia.
Por outro lado, o conhecimento advindo da formação não tem
acompanhado as inovações tecnológicas13 no setor saúde, que se processa de
forma dinâmica e acelerada, devido aos avanços da ciência. E, na medida em
que novas tecnologias são introduzidas ao processo de trabalho, há um
descompasso em relação aos conhecimentos oferecidos na formação e ambiente
de trabalho, tendo como consequência defasagem de saberes e práticas.
Portanto, a atualização da praxis é condição essencial para a segurança,
prestação de serviços de qualidade e tomada de decisão14-16, no ambiente de
trabalho. Nesse sentido, as instituições de ensino e serviço devem se adequar a
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esta realidade, tendo em vista a grande responsabilidade no que diz respeito à
formação e prestação de serviços de qualidade a saúde da população.
No âmbito das organizações de saúde, para que o trabalhador obtenha os
benefícios oferecidos pela tecnologia é relevante à atualização da praxis11-15-17-19,
o que pode ser feito através de realização de oficinas, convite a fabricantes,
promoção de cursos de atualização e disponibilidade de manuais que auxiliem na
utilização e manutenção. Portanto, as organizações devem se adequar às
necessidades dos trabalhadores e usuários, sendo indispensável à implantação
de protocolos para a utilização adequada das tecnologias todos os componentes
das equipes, evitando a todo custo à introdução de novas tecnologias sem o
devido treinamento dos trabalhadores.
Estudos evidenciam que as organizações de saúde não têm primado pela
capacitação em serviço5-13-17, gerando no trabalhador insatisfação e
desmotivação, devido a riscos inerentes de uma prática onde o profissional
utiliza-se de conhecimentos prévios, sem clareza no que diz respeito à sua
aplicabilidade e suas consequências. Ressalta-se a importância da atualização da
prática por promover segurança, minimizar a ocorrência de erros e efeitos
adversos ao paciente, fatores que contribuem para a qualidade do serviço
ofertado e a satisfação do trabalhador.
Por outro lado, na ausência de uma política institucional de capacitação
em serviço, e, considerando as responsabilidades inerentes à função e a
insuficiência de conhecimentos para a utilização adequada da tecnologia dura, os
próprios trabalhadores têm buscado a atualização dos conhecimentos fora do
serviço13-19-21 de modo a atender as demandas organizacionais impostas e
minimizar incertezas e manifestações de angústia no trabalho. Fato observado,
principalmente na área hospitalar em unidades especializadas, onde a
incorporação de equipamentos sofisticados modifica o cotidiano dos
trabalhadores18-22, caracterizando o trabalho como de alta demanda e baixo
controle por parte do trabalhador, devido à insuficiência de conhecimentos e
habilidades específicas.
Incorporação da tecnologia ao trabalho: estresse ocupacional
Quanto às repercussões da tecnologia dura para a saúde dos
trabalhadores de enfermagem, 12 estudos (26%) abordaram o estresse
ocupacional20 devido à utilização de maquinário obsoleto e com problemas
técnicos apontados em quatro estudos (8,6%). Nestas situações de trabalho,
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perde-se a confiança nos parâmetros estabelecidos nos aparelhos, o que gera
desgaste no trabalhador na tentativa de contornar problemas, que em sua
maioria, resultam da ausência de manutenção preventiva e corretiva.
Acrescenta-se que a introdução de tecnologias sofisticadas e complexas geram
novas exigências em relação ao trabalho e aos próprios profissionais24,
repercutindo diretamente na configuração das relações profissionais, no
ambiente laboral e na qualidade dos serviços prestados.
Evidenciou-se que a incorporação da tecnologia dura ao trabalho, na área
hospitalar expõe os trabalhadores5-16-20-23 aos agentes físicos (ruído, vibração,
radiação), aos ergonômicos (deslocamentos, movimentos repetitivos) e aos
psicossociais (problemas relativos à confiabilidade, à disponibilidade, à
conveniência, à manutenção e reparo de equipamentos). Quanto às cargas
psíquicas, elas são acentuadas devido à necessidade de intervenções junto aos
aparelhos conectados aos pacientes, que exigem do trabalhador memorização,
atenção constante e realização de atividades repetitivas3-12-20. Reitera-se que a
exposição prolongada e acumulativa do trabalhador a esses fatores de risco a
saúde15-22-24 quando não diagnosticadas e minimizadas pela organização podem
levar a insatisfação e a desmotivação no trabalho com consequentes encargos
sociais e financeiros.
Em ambientes altamente tecnológicos como terapia intensiva e outros, o
enfermeiro, além de ter sob a sua responsabilidade a gerência do serviço e a
assistência ao paciente crítico, vê-se diante da ambiguidade de papéis11-15 por
ter sob a sua responsabilidade a manutenção da homeostase paciente e
máquina. Nas situações em que ocorrem alterações clínicas no paciente ou
problemas técnicos com os aparelhos11, cabe ao profissional identificar falhas e
intervir prontamente, diminuindo de modo substancial as possibilidades de
complicações.
Cabe, portanto, à organização uma política institucional de controle de
risco hospitalar (tecnovigilância)12, com vistas ao diagnostico e intervenção
frente aos problemas de ordem técnica e estrutural que afetam o desempenho
do trabalhador e a qualidade do serviço ofertado. Afinal, a precarização das
condições de trabalho, principalmente com a incorporação de novas tecnologias
ao processo de trabalho, constitui fonte de estresse ocupacional3-5-20-24, que
comprometem o bem estar, a saúde de trabalhadores com repercussões para a
qualidade do serviço ofertado a população.
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A produção do conhecimento da enfermagem brasileira sobre a
incorporação da tecnologia no setor saúde nas bases de dados consultadas é
incipiente, conforme se observou nas publicações sobre esta temática, no
período de 2000 a 2005. Entretanto, em 2010, houve um aumento expressivo,
tendo o hospital geral como recorte espacial dos estudos originais,
principalmente em setores especializados como terapia intensiva.
Apreendeu-se dos estudos analisados que a incorporação de tecnologias
duras ao trabalho exige do profissional de enfermagem formação específica,
informação e atualização da prática, tendo em vista a defasagem da formação
diante do acelerado avanço da ciência e incorporação de equipamentos cada vez
mais sofisticados ao processo de trabalho.
Apesar dos inúmeros benefícios obtidos com a incorporação da tecnologia
dura ao processo de trabalho, existem repercussões para a saúde do trabalhador
decorrentes dos riscos físicos (ruído, vibração, radiação), dos ergonômicos
(deslocamentos, movimentos repetitivos) e os psicossociais (problemas relativos
à confiabilidade, à disponibilidade, à conveniência, à manutenção e reparo de
equipamentos). Cabe, portanto as instituições de saúde o gerenciamento de
risco hospitalar (tecnovigilância em saúde) no intuito de sistematizar o
monitoramento de eventos adversos, executando ações para o controle e
eliminação dos seus danos, o que poderá propiciar maior segurança e melhor
desempenho do trabalhador.
Apesar das limitações do estudo e da impossibilidade de generalizações, a
produção do conhecimento de enfermagem sobre a incorporação de novas
tecnologias ao processo de trabalho no setor saúde vem se ampliando nos
últimos anos. No entanto, são incipientes os estudos que discutam a tecnologia
dura como risco psicossocial à saúde do trabalhador, considerando seu potencial
para acarretar estresse ocupacional. Recomenda-se a ampliação de estudos que
fortaleçam a discussão/reflexão sobre a necessidade de atualização da praxis e
implementação da política de tecnovigilância em saúde com vistas à identificação
de risco hospitalar e intervenção no ambiente laboral. Deste modo, vislumbra-se
minimizar os agravos à saúde do trabalhador e a qualidade do serviço ofertado a
população.
CONCLUSÃO
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Recebido em: 07/08/2013
Revisão requerida: Não
Aprovado em: 05/12/2013
Publicado em: 31/02/2014
Contato do autor correspondente:
Hospital Estadual Azevedo Lima (Niterói) Av. Prof
a. Romanda Gonçalves nº 2298. Itaipu (Niterói)
CEP: 24340-090 (RJ) Email: [email protected]