11
Influência da Arquitetura Construtivismo Russo sobre o High tech Leonardo Silva Leite Resumo O presente artigo propõe uma comparação entre obras de dois emblemáticos ícones da arquitetura, diferenciados principalmente pelo contexto social, o Construtivismo Russo (passando por uma revolução social) e o High-Tech (passado assim por uma revolução tecnológica e financeira), demonstrando não somente a vontade tecnológica construtivista, mas a influência de seus traçados.

Influencias do construtivismo Russo no High Tech (arquitetura)

Embed Size (px)

Citation preview

Influência da Arquitetura Construtivismo Russo sobre o High tech

Leonardo Silva Leite

Resumo

O presente artigo propõe uma comparação entre obras de dois emblemáticos

ícones da arquitetura, diferenciados principalmente pelo contexto social, o

Construtivismo Russo (passando por uma revolução social) e o High-Tech

(passado assim por uma revolução tecnológica e financeira), demonstrando

não somente a vontade tecnológica construtivista, mas a influência de seus

traçados.

Introdução

O mundo da arquitetura passa por revoluções, com o “bordão” “arquitetura de

sua época”, mas o que isso realmente quer dizer? Quer dizer que a arquitetura

tem que, segundo o contexto em geral dos manifestos, representar

arquitetonicamente e tecnologicamente a época vivida, com suas maquinas de

morar, e de se locomover, a agitação de assim uma denominada metrópole.

Mas como podemos resolver seus problemas desde projetual à plásticos? Por

meio de referências, onde estas são apresentados e estudadas nas escolas de

ensino superior, para com isso auxiliar a resolução de projetos, desde plástico

até psicológicos. Então a arquitetura se baseia “revolucionariamente” por meio

de referências? Como se relaciona essas referências? O presente artigo

pretende responder essas e outras questões.

Construtivismo Russo

A permanência de estruturas tão antiquadas e antidemocráticas gerava forte

insatisfação nos mais diversos grupos da sociedade russa. Trabalhadores

urbanos e camponeses mostravam-se cada vez mais inconformados com as

péssimas condições às quais estavam submetidos, descontentamento esse

aguçado por graves ondas de fome causadas pelas constantes crises

agrícolas. No caso da burguesia, as críticas ao governo se faziam tanto em

oposição ao quadro de permanente estagnação econômica, quanto a uma

sociedade de privilégios que beneficiava o clero ortodoxo e os setores da

nobreza.

Este cenário de insatisfação social ganhou ainda mais força nos primeiros anos

do século XX, principalmente após a derrota russa na guerra contra o Japão

(1904-1905) e a partir dos acontecimentos que constituíram o chamado Ensaio

Geral. Neste momento, rebeliões populares tomaram as ruas em diversas

regiões do país, tendo o czar Nicolau II como o seu principal alvo.

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918/19), as condições de

vida da maioria da população russa ficaram ainda piores. Em fevereiro de 1917

intitulado “A revolução Branca”, a queda do czar Nicolau II foi inevitável, sendo

instituído em seu lugar um governo provisório.

Em outubro de 1917, o processo revolucionário atingiu seu ápice através de um

novo golpe, mas agora tendo os bolcheviques como condutores do movimento.

Liderado por Lenin, passa as diretrizes de cunho socialista.

Juntamente a Lenin, Alexandra Kollontai1, feminina russa, promovei

equiparação salarial, que anteriormente era regida pelo sexo, o divórcio, o

aborto, inúmeros benefícios sociais para enfatizar a função social da

maternidade, como creches urbanas e rurais, e sob seu comando, foram

elaboradas as novas leis sobre as diretrizes das mulheres, o mais amplo do

pais, e no mundo, até os dias de hoje.

As artes passam em 1917 os efeitos da revolução de outubro que, foram

rápidos quanto diversificado. Após a guerra civil, a repressão bolchevista levara

várias pessoas ao exilio, enquanto as diretrizes socialistas entram em vigor

1 Disponível em < http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/f%C3%A1tima-oliveira/alexandra-

kollontai-feminista-bolchevique-e-incompreendida-1.721530>

(desapropriação e nacionalização da terra) e a ascensão ao poder de novos

conselhos locais, os “sovietes”2, que mudavam as circunstancias para aqueles

que permaneciam no pais. Em 1918 foi estimulado o desenvolvimento de

projetos temporários em ruas e praças, para comemorar a revolução do dia

Primeiro de Maio, mas limitavam-se de início à exibição de bandeiras e à

instalação de esculturas isoladas, acabando assim por transfigurar vastos

espaços públicos. Segundo Cohen “O mais ambicioso desses projetos foi o não

realizado Monumento à Terceira Internacional, de Vladimir Tátlin, com seus

400 metros de altura e estrutura de aço, pretendia competir explicitamente com

a Torre Eiffel” (Cohen, 2013; pg. 162).

No mesmo ano, esses estímulos, criaram-se os Ateliês Livre sobre direção do

NARKOMPROS, os chamados SVOMAS (Atelier Artístico Livre Estatal), que

constituía inúmeros ateliês de artes aplicadas (arquitetura de interiores, têxtil,

metais, gravuras, impressão entre outros). Surgi então nessa instituição,

inovação pedagógica. Uma delas era, a não intervenção das impressas

estatais no campo das artes. Quanto aos alunos, era livre a entrada e

frequência, não era exigido diploma, conhecimento prévio, serem membro do

Partido Bolchevique ou prova de admissão, era exigida, idade mínima de

dezesseis anos para iniciar os estudos. Essas inovações significaram uma

nova configuração das escolas de artes, que antes era elitistas, centralizadas e

autoritárias, agora aberta e democrática. O resultado dessa democratização

das escolas de artes, atraiu inúmeros alunos, jovens artistas e alguns dos

maiores nomes das artes soviéticas, colocando Moscou como centro do

desenvolvimento artístico da Rússia.

Tendo em seus quadros um conjunto muito grande de importantes artistas

russo, e com semelhanças de ensino com a Bauhaus, o ateliê tinha curso

preparatório para os novos alunos, era basicamente a seção preparatória

experimental, consistia em dois métodos, no primeiro, o aluno passava por um

teste formal e psicotécnico e as ligação entre cada área de concentração, a

segunda dependente da primeira, era a designação dos alunos as faculdades.

2 Era o órgão criado pelos trabalhadores e soldados russo, exerciam um poder ao mesmo tempo executivo e legislativo, elegendo seus representantes a partir dos locais de trabalho e quartéis.

O principal objetivo desse método era a eliminação academicista e empirista,

assim moldando um novo jeito de conceber a composição.

Em 1920, com a vitória bolchevista, a política economia mudou gerando novos

tipos de necessidades, assim Vkhutemas passa a se chamar Vkhutein, com o

compromisso de uma formação técnica e especializada. Anos depois torna-se

Dermeftka, conhecida hoje em dia como escola design industrial. Suas

pesquisas se davam a vida diária, através deste criando utensílios capazes de

satisfazer e embelezar, além de se caracterizar pela estética técnica artística.

Tanto as necessidades da demanda industrial, como fabricas, alojamentos de

trabalhadores, entre outros, quanto campanhas de construção habitacional, os

clubes de trabalhadores. Os concursos arquitetônicos ocorriam com frequência,

jovens arquitetos que até então eram desconhecidos, e nomes conhecidos de

movimentos passados como o arquiteto neoclássico Ivan Fomín e o paladino

Joltóvski entre outros, eram estimulados a participar desses concursos. Com

esse estimulo a formação de três principais grupos, a velha vanguarda, que

constituiu o MAO (Sociedade de Arquitetos de Moscou), a OSA (União de

Arquitetos Contemporâneos), com o principal administrados Moises Ginzburg,

cuja livro “Estilo e Época” repercuti as teorias de Le Corbusier, ao propor um

estudo das maquinas e a aplicação na arquitetura e o Asnova (Associação de

Novos Arquitetos), era integrado por El Lissitzky, Krinski, Dokutcháiev, entre

outros, durante muito tempo, influente entre os jovens arquitetos, pois defendia

uma forte expressão arquitetônica da estrutura do edifício e exaltação visual de

sua função.

As Habitações sociais, dava-se de duas formas, e cada edificação era

submetida a uma pesquisa detalhada, afim de transformar os hábitos

cotidianos aceleradamente. A primeira assim denominado a casa do povo, e os

Clube de trabalhadores tornaram-se o principal local de aculturação e o

conforto. Os clubes teriam os auditórios, cantinas, equipamentos esportivos, e

dando maior ênfase as bibliotecas, pois a Rússia nessa época estava

destinada a uma forte campanha de alfabetização. A segunda forma dava-se

na “casa comunal”, um complexo residencial com serviços integrados,

descendente direto dos falanstérios.

A arte construtivista se caracterizava, de uma forma mais direta, com o

cubismo, pegaram emprestado as formas “quebradas”, do futurismo Italiano e

Russo, do Raionismo as imagens múltiplas sobrepostas para expressar a

agitação da vida.

O High-Tech

“Este é um pequeno passo para um homem, mas um enorme salto para a

humanidade” foi a frase dita por Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar

na lua. Quem nunca leu essa frase? Esta foi, e ainda é, a frese bordão da

viagem espacial, e foi nesse rumo que a arquitetura e a vida de um âmbito

geral, rumou, a tecnologia. Mas o que é tecnologia? Segundo o Aurélio

“Tecnologia é um produto da ciência e da engenharia que envolve um conjunto

de instrumentos, métodos e técnicas que visam a resolução de problemas”,

qual era o “problema”, ou um deles, que a arquitetura do século XIX/XX tinha?

Um dos maiores problemas da arquitetura desse tempo, e exatamente o

“tempo”, no contexto, como representar a arquitetura do seu tempo, mas não

somente idealizar, mas executar conforme proposto.

O High Tech foi uma arquitetura que explorava novas tecnologias,

desvinculada de países, sua aceitação foi difícil pois, sua orientação estava

fora de sintonia com a cultura dominante local. Sem “rumo”, mas com grande

persistência, esse novo movimento teve uma chance de aparecer, em 1971, o

concurso para o novo centro de arte e cultura no Beaubourg, área central de

Paris. Presidido por Jean Prouvé, o júri do primeiro concurso

internacionalmente aberto desde o século XVII. A cargo desse projeto, dois

arquitetos até então desconhecidos, Renzo Piano e Richard Rogers, na época

qualificado por Reyner Banham como “o mais completo monumento”, essa

apresenta as características que marcaram o movimento, as quais destaco:

Caracteriza-se pela exposição dos sistemas técnicos (elétricos, hidráulicos,

climatização, circulação), uso intenso de cores vivas e acabamentos metálicos,

vedações com painéis industrializados e vidro, nunca com processos

tradicionais de alvenaria, por exemplo, grandes vãos e estruturas tensionadas.

Proponha-se resolver espaços de máxima eficiência, que jamais perturbados

por elementos estruturais ou blocos de circulação e serviços.

O Archigram foi um grupo de arquitetos, que se uniram em torno de Peter Cook

na Architectural Association, Londres, no início da década de 1960, publicaram

sua própria revista e promoveram exposições de seus croquis no estilo arte

pop. Os projetos do Archigram eram especulativos e poucos foram executados,

teve influência em Piano e Rogers.

Obras e Comparações

As obras arquitetônicas Construtivista foram em sua grande maioria somente

idealizadas, pois a falta tecnológica era o ponto chave.

3Yakov Chernikhov

4 ivan leonidovSede do Hongkong and shanghai

Bank,1979-1986, Forter+Partens

3 Referência www.googleimagens.com 4 Referência www.googleimagens.com7 Referência www.googleimagens.com

Ivan Leonidov

6

Ivan Leonidov

Centro Pompidou, 1971-1977, Roger,

Piano.

9Willis

Faber & Dumas e o Sainsbury Centre

for Visual Arts.

5 Referência www.googleimagens.com6 Referência www.googleimagens.com8 Referência www.googleimagens.com9 Referência www.googleimagens.com

Nas imagens a cima, podemos ver com clareza as influencias construtivistas

tecnológicas, ou a vontade deste, nos traçados das obras high tech. As

semelhanças vão desde volume, escalonamento, uso de materiais, com isso

influenciando sua aparência industrial.

Conclusão

Então para passarmos essa página na história da arquitetura, a resposta da

questão, A arquitetura construtivista influenciou o High tech, não somente na

sua vontade tecnológica, mas também em seus traçados? A Arquitetura passa

por reviravoltas durante seu tempo vivido, e tende a se adaptar a este, sendo

influenciado pele política, economia, tecnológica, sexualidade, entre outros.

Segundo Lucio Casta: “Arquitetura é antes de mais nada construção, mas,

construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o

espaço para determinada finalidade e visando a determinada intenção. ”

(Costa,1940). A intenção da arquitetura Construtivista, era de condensador

social, e demostrar uma “falsa” tecnologia, fazendo deste de seus projetos

arquitetônicos, um modo da população aprender rápido sobre o novo regime

imposto, e ao mesmo tempo pensar que essa era a nova Rússia

tecnologicamente avançada, das leis as ciências, o “verdadeiro império”, um

país livre, sem ditadores. No caso do High tech, a intenção era fazer uma

arquitetura abusando da tecnologia a seu favor, mostrando o poder da nação

na área. Segundo Lucio Costa: “E nesse processo fundamental de ordenar e

expressar-se ela se revela igualmente arte plástica, porquanto nos inumeráveis

problemas com que se defronta o arquiteto desde a germinação do projeto até

a conclusão efetiva da obra, há sempre, para cada caso específico, certa

margem final de opção entre os limites - máximo e mínimo - determinados pelo

cálculo, preconizados pela técnica, condicionados pelo meio, reclamados pela

função ou impostos pelo programa, [...]”(Costa,1940). Com a vontade

tecnológica, abusando da plástica, mas deparando-se com inúmeros

problemas, principalmente a tecnológica, essa expressada no High tech. “[...]

cabendo então ao sentimento individual do arquiteto, no que ele tem de artista,

portanto, escolher na escala dos valores contidos entre dois valores extremos,

a forma plástica apropriada a cada pormenor em função da unidade última da

obra idealizada." (Costa,1940).

Segundo os autores, Michael Fazio, Marian Moffett, Lawrence Wodenhouse:

“Ler sobre arquitetura e, ao mesmo tempo, estudar desenhos e fotografias e

uma boa maneira de aprender sobre o assunto [...]. ” (Fazio, Moffet,

Wodehouse, História da Arquitetura Mundial, 2013, pg. 584). Concluímos com

uma resposta positiva, a arquitetura high tech, foi influenciado pelo

Construtivismo, como mostra o tópico desse pressente artigo “Obras e

comparações”, onde este mostra algumas das mais importantes e influentes

obras arquitetônicas de ambos movimentos.

Bibliografia

FAZIO, MOFFETT, WODEHOUSE; História da Arquitetura Mundial; Terceira

Edição. 2013

COHEN, Louis; O futuro da arquitetura desde 1889, uma história mundial;

2013.

GLANCEY, Jonathan; A História da Arquitetura; 2012.

HOBSBAWN, Eric; A era da Revolução; A era do Capital; A era dos Impérios;

2014.