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Industriais e operários baianos numa conjuntura de crise (1914 - 1921)

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Industriais e operários baianos

numa conjuntura de crise

(1914 - 1921)

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Federação das Indústrias do Estado da Bahia

Jorge Lins Freire

Presidente

Victor Fernando Ollero Ventin

1º Vice-Presidente

Emmanuel Silva Maluf

Francisco Teixeira de Sá

Mário Reis Mendonça

Sérgio Pedreira de Oliveira e Souza

Vice-Presidentes

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Salvador

2004

Aldrin A. S. Castellucci

Industriais

e operários baianos

numa conjuntura de crise

(1914 - 1921)

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Castellucci, Aldrin Armstrong Silva 1969 -

C349 Industriais e operários baianos numa conjuntura de crise

(1914-1921) / Aldrin Armstrong Silva Castellucci. _Salvador:

Fieb, 2004.

330 p. il; (II Prêmio Fieb de Economia Industrial)

ISBN: 85-86125-09-1

1. Indústria e Trabalho - Bahia (Primeira República). 2.

Movimento Grevista - Bahia (1919 - 1921). 3. Sindicatos

Operários - Bahia. Associações Industriais – Bahia. I. Título

CDD – 331.88098142

Coordenação Geral

Assessoria de Comunicação do Sistema FIEB

Coordenação Editorial

Bete Capinan

Revisão

Jane Lemos

Normalização

Biblioteca Sede do Sistema FIEB

Copyright © 2004 by Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB)

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À minha mãe,

que apoiou este trabalho do início ao fim.

A Vivianne Longuinho,

que partilhou comigo

as dificuldades do percurso.

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O trabalho na Fábrica de Charutos Suerdieck.

Observe-se a presença majoritária da mão-de-obra feminina.

Fonte: BAHIA. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia. 30 anos da indús-

tria, comércio e turismo na Bahia 1966 – 1996. Salvador: Unifacs – IPA, 1997. p. 83.

Apresentação

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Às vésperas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a que-

da dos preços internacionais de commodities como café e

borracha levou o Brasil a ampliar as exportações de alimen-

tos para gerar superávits. Isso levou ao desabastecimento in-

terno. A escassez de produtos da cesta básica e a escalada de

preços daí decorrente, tornaram ainda mais difíceis as con-

dições de vida dos trabalhadores na República Velha. Os

salários eram corroídos pela inflação e o custo de vida era

extremamente elevado.

Essa realidade provocou manifestações de trabalhado-

res em vários estados brasileiros. Na Bahia, as primeiras pas-

seatas surgidas para protestar contra a carestia dos gêneros

de primeira necessidade, o aumento dos aluguéis e dos pre-

ços das passagens dos bondes, foram organizadas por Cosme

de Farias. No final de 1918 e princípio de 1919, a crise econô-

mica se tornou aguda, com elevado nível de desemprego e

crescente perda de poder aquisitivo tanto dos operários quanto

do funcionalismo público.

Foi nesse quadro de dificuldades que, em junho de 1919,

eclodiu em Salvador uma greve geral, paralisando trabalha-

dores da iniciativa privada e do setor público. O movimento

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expandiu-se para as cidades do Recôncavo baiano e, além de

lutar contra a carestia e o desemprego, evoluiu para reivindi-

cações relativas às condições de trabalho, questionando a jor-

nada, a mão-de-obra infantil e a falta de salubridade nas

empresas. Quase um século depois, esse movimento é classi-

ficado como pioneiro ao estabelecer na Bahia um padrão de

comportamento político do operariado, o qual ia além de rei-

vindicações ligadas às suas necessidades imediatas.

A descrição pormenorizada desse conflito e sua contex-

tualização frente à realidade política de então é o tema da

monografia Industriais e operários baianos numa conjuntura

de crise (1914-1921), vencedora do II Prêmio FIEB de Econo-

mia Industrial. Seu autor, o historiador Aldrin Castellucci,

realizou um exaustivo trabalho de pesquisa junto a fontes

primárias (jornais e revistas da época, arquivos públicos, da-

dos estatísticos etc) e a uma extensa bibliografia, para produ-

zir um alentado estudo que retrata de forma convincente e

em linguagem acessível um dos mais instigantes momentos

das lutas sociais no País.

O Prêmio FIEB de Economia Industrial, que, na sua

primeira versão, resultou na publicação da obra Os engenhos

centrais e a produção açucareira no Recôncavo Baiano, da tam-

bém historiadora Tatiana Brito de Araújo, tem periodicidade

bienal e foi instituído com a finalidade de premiar e publicar

trabalhos inéditos e capazes de contribuir para o conhecimento

do processo de industrialização da Bahia. Nesta edição, com

número recorde de participantes, foram inscritos trabalhos

de reconhecida qualidade, a demonstrar o sucesso da iniciati-

va.

Além deste projeto editorial, o Sistema FIEB vem pro-

movendo outras iniciativas no campo do conhecimento da

história da economia baiana. Cabe destacar, nesse sentido, a

Série FIEB Documentos Históricos, que já publicou o elogia-

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do Ensaio sobre o fabrico do açúcar, de Miguel Calmon du

Pin e Almeida, o Marquês de Abrantes, e que atualmente

lança o volume Cartas econômico-políticas sobre a agricultu-

ra e comércio da Bahia.

É com satisfação que oferecemos ao público este profí-

cuo estudo de Aldrin Castellucci, certos de contribuírmos para

enriquecer o conhecimento acerca de nosso passado. Final-

mente, cumpre registrar os agradecimentos à comissão julga-

dora do II Prêmio FIEB de Economia Industrial – composta

pelos acadêmicos Fernando Cardoso Pedrão, Waldir Freitas

Oliveira e Consuelo Pondé de Sena –, cujo apoio e dedicação

foram de suma importância para o sucesso desta iniciativa.

Salvador, maio de 2004

Jorge Lins Freire

Presidente da Federação das Indústrias

do Estado da Bahia

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Agradecimentos

A relação das pessoas que contribuíram, direta ou indireta-

mente, para a realização deste trabalho é bastante longa. Pro-

curo, assim, contemplar alguns nomes neste pequeno espa-

ço, ciente do risco de incorrer em injustiça pela omissão de

outros.

Em primeiro lugar, quero registrar os meus agradeci-

mentos à minha mãe, a quem dedico este trabalho, em sinal

de reconhecimento por todos os esforços empreendidos, des-

de a minha tenra idade até os dias de hoje, para ver concreti-

zados todos os meus sonhos, especialmente o de avançar nos

estudos de pós-graduação.

Ao longo do difícil percurso de elaboração da disserta-

ção de mestrado que deu origem ao presente livro, contei com

a compreensão e o apoio, também, de Vivianne Longuinho,

exemplo de companheirismo e carinho, freqüentemente tra-

duzidos nas incontáveis vezes em que abdicou dos seus dias

de folga e férias para, junto comigo, coletar fontes nos arqui-

vos baianos e nos inúmeros manuscritos que ajudou a orga-

nizar e digitar. Sua presença de espírito, descontração e dedi-

cação a uma causa que considerou comum foram muito im-

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portantes para o término deste trabalho nos marcos de um

tempo extremamente exíguo.

Tenho uma dívida intelectual impagável para com a

Profa. Dra. Maria Cecília Velasco e Cruz, mais que orienta-

dora nos mais de dois anos e meio de convivência no Progra-

ma de Pós-Graduação em História da Universidade Federal

da Bahia (PPGH - UFBA). O registro de seu nome, longe de

ser uma mera formalidade, está ligado ao que alguém já disse

sobre o caráter coletivo de uma obra, mesmo quando assina-

da por um único autor. Seu rigor, sua competência e seriedade

profissionais levam-me a partilhar com ela os méritos que

este trabalho acaso tenha, embora a exima das deficiências.

Além disso, seus trabalhos foram uma rara fonte inspiradora

e o leitor que os conhece poderá conferir comparando-os com

o presente texto. Agradeço, também, comentários e suges-

tões feitos pelos outros dois membros de minha Banca Exa-

minadora de Mestrado, Prof. Dr. Muniz Gonçalves Ferreira,

da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Prof. Dr. Clau-

dio Henrique M. Batalha, da Universidade Estadual de Cam-

pinas (Unicamp). Estendo a minha gratidão ao Prof. Dr.

Ubiratan Castro de Araújo (UFBA) e ao Prof. Dr. Paulo San-

tos Silva (Uneb) pelas importantes considerações que fize-

ram à minha monografia de final de curso de Especialização

em Teoria e Metodologia da História (Uefs).

Lembro também o nome de meu pai, Wellington

Castellucci, e dos meus irmãos, Wellington Castellucci Jr. e

Luciano Silva Castellucci, e dos colegas e amigos Alexandre

Augusto Costa Coutinho, Carlos Zacarias F. de Sena Jr., Iuri

Roberto Sacramento Ramos, Cláudio Clédson Novaes, Cláu-

dia Andrade Vieira e Marilécia Santos, com os quais troquei

informações sobre fontes e idéias.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico

e Tecnológico (CNPq) me concedeu uma bolsa de estudos

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por dois anos, fundamental para que pudesse me afastar das

atividades docentes e me dedicar à pesquisa e à elaboração

da dissertação de mestrado. O Programa de Pós-Graduação

em História da Universidade Federal da Bahia financiou uma

viagem de pesquisas que fiz a São Paulo, onde pude ter aces-

so a fontes da história da classe operária baiana que se en-

contravam no Arquivo Edgard Leuenroth (Unicamp).

Ao longo do referido curso, realizei pesquisas em mui-

tas instituições, sendo sempre bem acolhido em todas elas.

Na Biblioteca da Pós-Graduação da FFCH - UFBA, contei

com a inestimável ajuda e cordialidade de Marina. Registro

meus agradecimentos especiais também aos funcionários do

Arquivo Público do Estado da Bahia (Apeb), da Biblioteca

Pública do Estado da Bahia (BPEB - Biblioteca Central), do

Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHBA), do Insti-

tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Arquivo

Histórico de Salvador (AHS) / Fundação Gregório de Matos,

da Biblioteca da Associação Baiana de Imprensa (ABI), da

Biblioteca da Associação Comercial da Bahia (ACB) e do

Centro de Documentação e Informação Cultural sobre a Ba-

hia (Cedic) / Fundação Clemente Mariani. Em Campinas, lem-

bro a forma igualmente acolhedora com que fui recebido no

Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) e na Biblioteca Setorial de

Ciências Humanas da Unicamp.

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Sumário

Prefácio 19

Introdução 2 5

Salvador operária 4 1Estrutura social soteropolitana 44

Composição social da classe operária 59

Trabalhar e morar em Salvador 80

O reino da necessidade 9 5Carestia e especulação 98

A crise do pão 107

A crise de moradia 113

Crise de trabalho e compressão salarial 118

O reino da liberdade 147O conflito interoligárquico e o sindicalismo operário 155

As greves do início do ano 180

As jornadas de junho 186

Depois do vendaval de junho 223A crise do liberalismo e a questão social 225

A reação patronal 227

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A expansão do movimento para o Recôncavo 230

Politização e crescimento da organização sindical 232

As novas greves de 1919 e 1920 236

O primeiro congresso dos trabalhadores baianos 244

A Federação dos Trabalhadores Baianos

e a cisão de 1920 246

O Partido Socialista Baiano (1920) 248

A nova imprensa operária (1920-1922) 251

Conflitos e cisões sindicais 255

As greves de 1921 e a crise do movimento operário 259

Fontes e referências bibliográficas 269

AnexoFundação de sociedades mutualistas, beneficentes

e cooperativas Bahia, 1832-1930 323

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Prefácio

O trabalho na Fábrica de Massas Alimentícias Progresso.

Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia

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Em agosto de 1918, um velho operário revelou a um repórter

carioca que, antes da fundação da Sociedade de Resistência

dos Trabalhadores em Trapiche e Café, era comum um carre-

gador ser surrado com chicote de barbante por qualquer mo-

tivo. “Não havia apelação”, disse, “malhavam o negro”, e “a

polícia de nada sabia”. “Essa situação”, continuou, “se para

alguns era muito natural, porque a sua infeliz condição de

trabalhador de café era um prolongamento do eito, que o 13

de Maio demoliu, para a maioria era uma afronta aos brios

do gênero humano e um desmentido à bondade de Deus. E

Deus inspirou, protegeu e ajudou os companheiros que le-

vantaram a Resistência, como um braço forte que nos ampa-

ra nas lutas da vida”. “A Resistência”, completou, “deu o gri-

to do novo 13 de Maio”.

No Brasil das primeiras décadas do século XX, men-

ções à “escravidão” eram comuns no discurso dos militantes

sindicais, numa referência velada à obra de Leon Tolstoy – A

Escravidão Moderna. Mas apesar das alterações de nuanças

ou de palavras que certamente foram introduzidas neste rela-

to pela escrita do jornalista, é fácil se ver que não era a Tolstoy

ou ao regime fabril que o velho carregador se referia ao falar

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da “escravidão” do trabalhador moderno. Na sua fala emerge

um fragmento do cotidiano que projeta as experiências amar-

gas do cativeiro diretamente na vida dos trabalhadores de

trapiches e armazéns de café, que mourejavam a seu lado

naquele ano de 1918. Dizer que a Sociedade de Resistência

havia dado “o grito do novo 13 de Maio” era expressar um

simbolismo pleno de significado, pois construído sobre cone-

xões reais entre os antigos negros escravos da Corte imperial,

as práticas escravistas, e os carregadores negros coevos do

Rio de Janeiro republicano.

Este depoimento de um carregador de identidade des-

conhecida somente foi registrado porque o porto e a cidade

estavam convulsionados por uma forte greve de resistência a

um amplo lock out patronal. Os grandes embates grevistas

têm sempre esta dimensão: a de fazer aflorar um mundo sub-

terrâneo de queixas, violações de direitos, arbitrariedades,

protestos e reivindicações, em geral ignorados juntamente com

as existências obscuras daqueles que se queixam, protestam

e reivindicam. Isso porque a greve, na feliz expressão de

Michelle Perrot, “é um acontecimento que fala e do qual se

fala”. Por causa dela muito se observa, muito se diz e muito

se escreve. Fenômeno social dinâmico de enorme complexi-

dade, a greve desnuda e multiplica as relações de classe. Re-

vela conexões entre grupos e indivíduos, articula instâncias

muitas vezes vistas como compartimentos estanques, ilumi-

na entrelaçamentos entre ações e ideologias. Põe diante de

nós não só o operariado, como também o patronato, o Esta-

do, os partidos políticos e a opinião pública, e pelo emara-

nhado de fatos que joga em nossas mãos nos obriga a buscar

as relações e as mediações.

Escrito originalmente como uma dissertação de Mes-

trado voltada para a análise da greve geral de 1919 em Salva-

dor, este livro de Aldrin Armstrong Castellucci é, sobretudo,

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um estudo de relações e conexões. Relações entre a Primeira

Guerra Mundial e a escassez dos gêneros de primeira necessi-

dade, a especulação imobiliária, e a carestia de vida da popu-

lação em geral; ou entre a guerra e o aumento dos preços das

matérias-primas, a crise industrial, a compressão salarial, e o

desemprego de diferentes setores da classe operária. Cone-

xões entre os movimentos operário e sindical cariocas e os

soteropolitanos; ou entre os movimentos paredistas que ex-

plodem em 1917 em várias regiões do Brasil e a greves ocorri-

das depois na Bahia. Relações entre a crise política

interoligárquica baiana dos anos 10 e 20 e o comportamento

dos grupos políticos locais frente ao processo de luta iniciado

com as greves operárias de 1919; ou entre os grupos políticos

da situação seabrista e da oposição ruísta e as elites econômi-

cas encasteladas na Associação Comercial e no Centro In-

dustrial do Algodão. Conexões, por fim, entre experiências

de exploração, ação política, organização sindical e consciên-

cia de classe; ou entre a greve geral de Salvador e a mobiliza-

ção operária de várias cidades no Recôncavo.

Examinando a greve geral de 1919 principalmente do

ponto de vista do seu significado enquanto momento de acú-

mulo de forças, avanços organizativos e aprofundamento de

definições ideológicas, Aldrin Castellucci parte do pressuposto

teórico de que a ação humana é fruto não só de escolhas,

como de condicionantes estruturais. Este livro é, portanto,

mais do que uma investigação detalhada sobre a ação do pa-

tronato e do operariado baianos em uma conjuntura específi-

ca de crise. Nele o leitor encontrará também uma discussão

da estrutura social da cidade de Salvador nos anos 20; uma

análise cuidadosa da estrutura ocupacional da classe traba-

lhadora e da sua composição social em termos de idade, gê-

nero e etnia; uma descrição da geografia da indústria, do tra-

balho e dos locais de moradia do operariado; além de muitas

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informações sobre o capital investido, os meios de produção

e os lucros das indústrias, ou sobre as formas de organização

e de expressão dos trabalhadores.

Dentre os raros estudos sobre os industriais e a classe

operária na Bahia durante a República Velha, tema muito

pouco explorado pela historiografia brasileira, este livro é o

primeiro a examinar com abrangência os efeitos econômicos

da Primeira Guerra Mundial sobre o mundo do trabalho em

Salvador, e a apontar de forma clara que a amplitude e a dinâ-

mica das greves de 1919 foram também fortemente influenci-

adas por fatores de natureza política.

É um trabalho de grande qualidade, baseado fundamen-

talmente em fontes primárias dispersas e de localização ár-

dua, apresentando uma contextualização histórica extensa para

os fatos narrados e um quadro analítico sólido para os argu-

mentos desenvolvidos. Sem ter a vã pretensão de responder

a todas as questões, cumpre muito bem o seu papel. Não

fecha portas, e abre janelas.

Maria Cecília Velasco e Cruz

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Universidade Federal da Bahia

Fevereiro, 2004

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Introdução

Desenho original da fábrica de tecidos Todos os Santos, em Valença.

Fonte: COSTA, Shirley; BERMAN, Débora & HABIB, Roseane Luz. 150 anos da indústria têxtil bra-

sileira. Rio de Janeiro: Senai – Cetiqt, 2000. p. 41.

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A produção historiográfica acerca dos movimentos operá-

rio e sindical no Brasil já é relativamente extensa e diversifi-

cada, embora, paradoxalmente, seja também repleta de lacu-

nas e problemas de interpretação. Os primeiros registros so-

bre a presença, a importância e o papel da classe trabalhado-

ra na sociedade brasileira foram feitos pelas próprias lideran-

ças do movimento operário. Enfocando, prioritariamente, os

setores organizados, pudemos observar que esses escritos e

memórias dos militantes eram, marcadamente, voltados para

a legitimação das próprias correntes ideológicas às quais ti-

nham aderido, sendo essa análise enviesada em face do obje-

to da história comum tanto aos escritos dos libertários como

aos dos reformistas e comunistas.1

1 Essa literatura foi passada em revista recentemente por BATALHA, Claudio

H. M. A historiografia da classe operária no Brasil: trajetória e tendências. In:

FREITAS. Marcos Cezar (org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São

Paulo: Contexto, 1998. Os principais autores desse grupo são: PEREIRA,

Astrojildo. Formação do PCB (1922 - 1928): notas e documentos. Rio de

Janeiro: Editorial Vitória, 1962 e Construindo o PCB (1922 - 1924). São Paulo:

Livraria Editora Ciências Humanas, 1980; LINHARES, Hermínio. Contribui-

ção à história das lutas operárias no Brasil. São Paulo: Alfa-Omega, 1977; DIAS,

Everardo. História das lutas sociais no Brasil. 2. ed. São Paulo: Alfa-Omega,

1977 (1. ed. de 1962); LIMA, Heitor Ferreira. Caminhos percorridos: memórias

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Assim sendo, esses trabalhos eram tributários dos mes-

mos problemas de sua matriz européia, quando uma história

operária bastante tradicional, predominantemente feita fora

do mundo universitário e escrita por intelectuais e/ou mili-

tantes de uma das tendências políticas ou ideológicas da época,

associava e confundia, deliberadamente, classes operárias com

movimentos, partidos e organizações que tentavam se fundir

com as classes operárias ou que junto às mesmas tentavam

difundir as suas ideologias. Minimizando o mundo operário

a partir da exclusão dos aspectos ligados à cultura, ao cotidi-

ano e ao modo de vida da classe operária do rol de suas pre-

ocupações, esses estudiosos terminavam por realizar uma dis-

sociação entre classe e organização, bases e líderes, superes-

timando a real importância de determinados grupos, organi-

zações e partidos a partir de uma memória seletiva e subme-

tida aos imperativos da conjuntura, o que levava à constru-

ção de narrativas tradicionais, excessivamente valorizadoras

de aspectos institucionais, além de edificarem um passado

heróico e idealizado. Essa tendência perdurou até a década

de 1960, quando o mundo sofreu uma virada política e os

estudantes e jovens professores universitários entraram num

processo de radicalização, levando a história da classe operá-

ria para o âmbito das universidades, o que exigiu maior apro-

fundamento da pesquisa histórica, análise crítica da ampla

bibliografia e alargamento temático e teórico-metodológico

de militância. São Paulo: Brasiliense, 1982; BRANDÃO, Octávio. Combates e

batalhas: memórias. São Paulo: Alfa-Omega, 1978; BASBAUM, Leôncio. Uma

vida em seis tempos (memórias). São Paulo: Alfa-Omega, 1976. De RODRI-

GUES, Edgar, temos: Socialismo e sindicalismo no Brasil (1675 - 1913). Rio de

Janeiro: Laemmert, 1969; Nacionalismo e cultura social, 1913 - 1922. Rio de

Janeiro: Laemmert, 1972; Novos rumos: história do movimento operário e das

lutas sociais no Brasil, 1922 - 1946. Rio de Janeiro: Mundo Livre, [19--]; Alvo-

rada operária: os congressos operários no Brasil. Rio de Janeiro: Mundo Livre,

1979; Os anarquistas: trabalhadores italianos no Brasil. São Paulo: Global, 1984.

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desse campo de estudos. Isso implicou, como bem lembraram

Eric Hobsbawm e Georges Haupt, a realização de pesquisas

que abrangessem o conjunto da classe trabalhadora e a ruptura

com a história exclusivamente política e ideológica.2

A partir da década de 1960, os primeiros trabalhos aca-

dêmicos começaram a ser desenvolvidos pelos sociólogos bra-

sileiros, buscando construir grandes sínteses explicativas da

evolução do movimento operário no Brasil a partir de pesqui-

sas majoritariamente feitas com base num corpus documental

muito limitado e com um universo empírico circunscrito a São

Paulo. Disso decorreu que as generalizações se mostraram frá-

geis e não resistiram aos estudos posteriores que procuraram

dar conta da dinâmica de outras regiões ou estados brasileiros.

Ao reduzir a história da classe operária nacional ao seu movi-

mento no que hoje é o principal centro industrial e econômico

da federação, esses autores obscureceram tudo quanto não se

parecia com um padrão esquemático no qual os operários eram

imigrantes estrangeiros (em geral italianos), qualificados,

politizados e geralmente inclinados a apoiar o anarquismo.3

2 HOBSBAWM, Eric J. História operária e ideologia. In: _____. Mundos do

trabalho: novos estudos sobre história operária. Tradução de Waldea Barcellos

e Sandra Bedron. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 17-33; HAUPT,

Georges. Por que a história do movimento operário? Revista Brasileira de

História, ANPUH, São Paulo, v. 5, n. 10, p. 208-231, mar./ago. 1985.

3 Para uma crítica mais detida a esta literatura, ver: VELASCO E CRUZ, Maria

Cecília. Amarelo e negro: matizes do comportamento operário na República

Velha. 1981. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Instituto Universi-

tário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981. As principais obras

sociológicas do período foram: RODRIGUES, Leôncio Martins. Conflito in-

dustrial e sindicalismo no Brasil. São Paulo: Difel, 1966; RODRIGUES, José

Albertino. Sindicato e desenvolvimento no Brasil. São Paulo: Difel, 1968; LOPES,

Juarez Brandão. Sociedade industrial no Brasil. São Paulo: Difel, 1964 e Crise do

Brasil arcaico. São Paulo: Difel, 1967. Um trabalho histórico feito por sociólo-

go que destoa desta produção é o de SIMÃO, Azis. Sindicato e Estado: suas

relações na formação do proletariado de São Paulo. São Paulo: Dominus/Edusp,

1966 (2. edição - São Paulo, Ática, 1981).

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Nada mais distante da realidade que mostraremos para a Ba-

hia, onde a classe operária era esmagadoramente nacional,

ou seja, formada por brasileiros, e estes eram, em sua maio-

ria, negros ou mestiços. Além disso, uma variante do sindica-

lismo revolucionário chegou a se estabelecer em Salvador, mas

o fez de modo relativamente tardio e jamais conseguiu ven-

cer a hegemonia que os grupos socialistas exerciam sobre a

classe operária de Salvador e do Recôncavo desde a última

década do século XIX.

Dos anos 1970 em diante, particularmente com a produ-

ção historiográfica dos brasilianistas, a tendência a reduzir a

classe operária e seu movimento ao anarquismo trazido pelos

imigrantes estrangeiros foi superada, sendo mesmo negada

como um mito sem qualquer fundamentação na realidade.

Demonstrou-se também que tais trabalhadores imigrantes vi-

nham, em grande parte, da zona rural de seus países (inclusive

os da Itália), não possuindo nenhuma experiência com o tra-

balho fabril.4 Todavia, o movimento operário de São Paulo e,

secundariamente, o do Rio de Janeiro ainda continuaram sen-

do os referenciais para a maioria dos estudos sobre a classe

operária brasileira, situação que não mudou mesmo com a en-

trada em cena dos historiadores nacionais.5 Fora os estados já

4 Os principais brasilianistas aqui discutidos são: HALL, Michael. Trabalhadores

Imigrantes. In: Trabalhadores, nº 3 (Imigrantes), Campinas, SP: Secretaria Mu-

nicipal de Cultura, Esportes e Turismo/Fundo de Assistência à Cultura, 1989.

p. 2-15; HALL, Michael; PINHEIRO, Paulo Sérgio. Imigração e movimento

operário: uma interpretação. In: DEL ROIO, José Luiz (org.). Trabalhadores do

Brasil: imigração e industrialização. São Paulo: Ícone/Edusp, 1990; MARAN,

Sheldon Leslie. Anarquistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro (1890 -

1920). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979; DULLES, John W. F. Anarquistas e

comunistas no Brasil (1900 - 1935). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.

5 O trabalho pioneiro de maior peso é o de FAUSTO, Boris (Trabalho urbano e

conflito social (1890 - 1920). São Paulo/Rio de Janeiro: Difel, 1976), embora

o original artigo escrito por Maria Cecília Baeta Neves o anteceda no tempo.

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31

Ver: NEVES, Maria Cecília Baeta. Greve dos sapateiros de 1906 no Rio de

Janeiro: notas de pesquisa. Revista de Administração de Empresas, Rio de

Janeiro, v. 13, n. 2, p. 49-66, abr./jun. 1973.

6 Para o caso gaúcho, ver: LONER, Beatriz Ana. Construção de classe: operá-

rios de Pelotas e Rio Grande (1888 - 1930). Pelotas: Editora da UFPel., 2001;

PETERSEN, Sílvia Regina Ferraz. Que a união operária seja a nossa pátria!:

história das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações.

Santa Maria: Editora da UFSM; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001;

BILHÃO, Isabel. Rivalidades e solidariedades no movimento operário: Porto Ale-

gre, 1906-1911. Porto Alegre: Editora da PUC-RS, 1999. Para o caso mineiro,

ver: ANDRADE, Silvia Maria Belfort Vilela de. Classe operária em Juiz de

Fora: uma história de lutas (1912 - 1924). Juiz de Fora: Editora da UFJF, 1987;

DUTRA, Eliana de Freitas. Caminhos operários nas Minas Gerais: um estudo

das práticas operárias em Juiz de Fora e Belo Horizonte na Primeira República.

Belo Horizonte; São Paulo: Editora da UFMG/Hucitec, 1988.

7 RUBIM, Antonio Albino Canelas. Movimentos sociais e meios de comuni-

cação – Bahia, 1917 - 1921. Cadernos do CEAS, Salvador, n. 61, p. 30-43,

maio/jun. 1979; RUBIM, Antonio Albino Canelas; RUBIM, Jorge Luiz Ca-

nelas. As lutas operárias na Bahia (1917 - 1921). Cadernos do CEAS, Salva-

dor, n. 80, p. 22-34, jul./ago. 1982.

mencionados, a maioria dos estudos sobre o tema tem como

referência central o Rio Grande do Sul e Minas Gerais.6

Na Bahia, entre os poucos estudos existentes sobre a

classe trabalhadora durante a Primeira República, cabe menci-

onar os artigos dos irmãos Rubim. Procurando explorar as re-

lações entre o movimento operário baiano e a imprensa ligada

às elites, esses autores fizeram um mapeamento das posições

políticas e ideológicas que os principais órgãos da imprensa

local assumiram, na conjuntura de 1917 a 1921, frente às de-

mandas do operariado. Por meio do confronto e da análise dos

jornais ligados a Seabra e ao PRD (O Democrata e O Tempo)

e dos órgãos da oposição vinculada a Ruy Barbosa (Diário da

Bahia, O Imparcial, A Tarde e Diário de Notícias), juntamente

com o levantamento resumido dos principais fatos ocorridos

naqueles anos, eles chegaram a esboçar a dinâmica das gre-

ves e dos conflitos interoligárquicos que marcaram o período.7

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32

A dissertação de mestrado, infelizmente ainda não publica-

da, de José Raimundo Fontes foi, no entanto, o primeiro es-

tudo de história operária de maior fôlego, apresentando um

levantamento exaustivo sobre a incidência de greves e reivin-

dicações dos trabalhadores na Bahia durante toda a Primeira

República, sendo a abrangência da pesquisa e seus ganhos

em termos de conhecimento das tendências gerais do movi-

mento grevista e suas conjunturas de maiores ou menores

fluxos o principal mérito do trabalho.8

Contudo, um grande número de temas de história ope-

rária não foi ainda objeto de estudo na Bahia até hoje, tais

como as comemorações do 1º de Maio9 e do 14 de Julho (ve-

remos adiante como era grande a simpatia pela Revolução

Francesa), rituais político-partidários, a atuação dos primei-

ros sindicatos e organizações socialistas que apareceram em

Salvador nos primeiros anos da República, a vida cotidiana

nas vilas operárias, as festas e tradições, inclusive as religio-

sas, etc. Cabe dizer, ainda, que para a Bahia também não exis-

tem monografias sobre temas específicos da história da clas-

se operária: a análise de uma greve ou de uma conjuntura em

particular, a vida de um sindicato ou do sindicalismo em uma

determinada categoria, o exame de um jornal ou da imprensa

operária local, as correntes reformistas e libertárias, etc.10 O

8 FONTES, José Raimundo. Manifestações operárias na Bahia: o movimento

grevista, 1888-1930. 1982. 273p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)

– Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,

Salvador, 1982.

9 Há poucos estudos específicos sobre o tema no Brasil. Ver: ARÊAS, Luciana

Barbosa. As comemorações do Primeiro de Maio no Rio de Janeiro (1890 -

1930). História Social, Campinas (SP), n. 4/5, p. 9-28, 1997 - 1998.

10 Para uma visão panorâmica da imprensa operária brasileira, ver o clássico traba-

lho de FERREIRA, Maria Nazareth. Imprensa operária no Brasil (1880 - 1920).

Petrópolis: Vozes, 1978. Exemplos de estudos de jornais e grupos anarquistas

específicos podem ser vistos nos seguintes artigos: TOLEDO, Edilene Teresinha.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2932

33

Em torno do jornal “O Amigo do Povo”: os grupos de afinidade e a propagan-

da anarquista em São Paulo nos primeiros anos deste século. Cadernos AEL,

Unicamp, Campinas, v. 8/9, p. 89-113, 1998; BIONDI, Luigi. Anarquistas

italianos em São Paulo. O grupo do jornal anarquista La Bataglia e sua visão

da sociedade brasileira: o embate entre imaginários libertários e etnocêntricos.

Cadernos AEL, Campinas: Unicamp, v. 8/9, p. 117-147, 1998; ARAVANIS,

Evangelia. A utopia anarquista em Porto Alegre nos anos de 1906 e 1907: os

anarquistas porto-alegrenses do periódico “A Luta” e sua tentativa de mudar

o rumo local da história. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre: EDIPUCRS,

v. 22, n. 2, p. 41-52, dez. 1996. A imprensa operária no Paraná da Primeira

República e dos anos 1930 mereceu o estudo específico de ARAÚJO, Silvia

e CARDOSO, Alcina. Jornalismo e militância operária. Curitiba: Editora da

UFPR, 1992. Para o Ceará, ver: GONÇALVES, Adelaide; SILVA, Jorge E.

(orgs,). A imprensa libertária do Ceará (1908 - 1922). São Paulo: Imaginário,

2000; GONÇALVES, Adelaide; BRUNO, Allyson. (orgs.). O Trabalhador

Gráfico. Fortaleza: Editora da UFC, 2002.

11 SILVA, Maria da Conceição Barbosa da Costa e. O Montepio dos Artistas: elo

dos trabalhadores em Salvador. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do

Estado da Bahia; Fundação Cultural; Egba, 1998.

12 Embora numa nova perspectiva, o gênero biográfico está de volta à história e a

outros campos do saber. Para uma discussão teórica sobre o assunto, ver:

SCHMITD, Benito Bisso (org.). O biográfico: perspectivas interdisciplinares.

Santa Cruz do Sul, RS: Edunisc, 2000. Exemplos de biografias de militantes e/

ou intelectuais vinculados ao movimento operário e sindical podem ser vistos

em: SCHMITD, Benito Bisso. Um socialista no Rio Grande do Sul: Antônio

Guedes Coutinho (1868 – 1945). Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS,

2000; SCHMIDT, Benito Bisso. O patriarca e o tribuno: caminhos, encru

mutualismo, um fenômeno que foi muito forte na Bahia,

mereceu apenas um único estudo de caso.11 Visando enfren-

tar teoricamente a relação entre líderes e liderados, indivídu-

os e classe, é preciso lembrar também que nenhuma biografia

fora escrita sobre sujeitos históricos centrais no movimento

operário baiano da Primeira República, a exemplo do

ultrapopular rábula Cosme de Farias, de influência mais lo-

cal, ou do advogado socialista Agripino Nazareth, de proje-

ção nacional, largamente citado em vários momentos deste

trabalho como o intelectual orgânico da classe operária da

Bahia por excelência entre os anos de 1919 e 1921.12

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34

zilhadas, viagens e pontes de dois líderes socialistas – Francisco Xavier da

Costa (187? - 1934) e Carlos Cavaco (1878 - 1961). 2002. Tese (Doutorado

em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Esta-

dual de Campinas, Campinas, 2002; DUARTE, Regina Horta. A imagem

rebelde: a trajetória libertária de Avelino Fóscolo? Campinas: Editora da

Unicamp, 1991; FEIJÓ, Martin Cezar. O revolucionário cordial: Astrojildo

Pereira e as origens de uma política cultural. São Paulo: Boitempo Editorial,

2001; KHOURY, Yara Aun. Edgard Leuenroth: uma voz libertária. Imprensa,

memória e militância anarco-sindicalistas. 1989. Tese (Doutorado em Histó-

ria) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de

São Paulo, São Paulo, 1989; ROMANI, Carlo. Oreste Ristori: uma aventura

anarquista. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2002.13 SAMPAIO, José Luís Pamponet. Evolução de uma empresa no contexto da

industrialização brasileira: a Companhia Empório Industrial do Norte, 1891 -

1973. 1975. 236p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Faculdade

de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador,

1975; OLIVEIRA, Waldir Freitas. A industrial cidade de Valença: um surto de

industrialização na Bahia do século XIX. Salvador: Centro de Estudos Baia-

nos da UFBA, 1985.

14 BORBA, Silza Fraga Costa. Industrialização e exportação do fumo na Bahia,

1870-1930. 1975. 143p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Fa-

culdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,

Salvador, 1975.

As carências são tão grandes que os próprios estudos

sobre o processo de industrialização ocorrido no século XIX e

na Primeira República são rarefeitos, configurando, na ver-

dade, um espaço praticamente vazio, quando comparado à

pujante produção historiográfica sobre outros temas do Oi-

tocentos. As exceções a essa regra são os trabalhos de José

Luís Pamponet Sampaio e de Waldir Freitas Oliveira, que re-

alizaram estudos específicos sobre a indústria têxtil baiana,13

e Silza Fraga Costa Borba, que escreveu sobre a indústria

fumageira.14 Por último, é preciso lembrar a tese de doutora-

do de Mário Augusto da Silva Santos, na qual o operariado

baiano da República Velha aparece, mesmo que de modo di-

luído, num estudo sobre as diversas formas de luta pela so-

brevivência que as classes populares de Salvador empreende-

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35

ram no período, em particular as que se relacionavam à cares-

tia e ao açambarcamento dos gêneros de primeira necessida-

de e à especulação imobiliária com as habitações operárias e

dos pobres em geral.15

A riqueza histórica do período e o silêncio da bibliogra-

fia especializada aguçaram a nossa curiosidade em conhecer

melhor os acontecimentos de 1919, brevemente relatados pe-

los irmãos Rubim e por Raimundo Fontes. Qual a natureza

do sindicalismo baiano? E por que a greve geral ocorreu em

1919 e não em 1917? Para atingir nosso objetivo, convencemo-

nos da hipótese de que a história operária brasileira poderia

alcançar outro patamar analítico a partir da articulação das

pesquisas regionais, ou seja, cruzando as informações sobre a

vida e o movimento da classe operária nos vários estados bra-

sileiros.16 O que se segue, então, é uma pequena peça desse

enorme quebra-cabeça, tão diverso e complexo quanto o país

que ele representa.

A bibliografia geral sobre o tema dava conta, por exem-

plo, de que, no Rio de Janeiro, greves abarcando ramos de

produção e/ou atividade inteiros, já haviam ocorrido desde o

início do século XX, tendo a luta pela jornada de 8 horas

como pauta, caso dos movimentos de estivadores, tecelões e

sapateiros de 1903 e 1906.17 Mesmo em pontos tão distantes

15 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Sobrevivência e tensões: Salvador, 1890-

1930. 1982. 417p. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia,

Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982.

Uma versão do trabalho foi publicada recentemente. Ver: SANTOS, M. A.

S. A República do Povo: Sobrevivência e tensão: Salvador, 1890 - 1930. Salva-

dor: Edufba, 2001.16 PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. Cruzando fronteiras: as pesquisas regionais

e a história operária brasileira. In: ARAÚJO, Angela M. C. (org.). Trabalho,

cultura e cidadania: um balanço da história social brasileira. São Paulo: Scritta,

1997, p. 85-103.

17 VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Virando o jogo: estivadores e carregadores

no Rio de Janeiro da Primeira República. São Paulo: USP, 1998. Tese (Douto-

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36

e com histórias e tradições culturais e políticas tão distintas

como São Paulo e Rio Grande do Sul, greves gerais foram

feitas, respectivamente, em 1906 e 1907, tendo a jornada de 8

horas como reivindicação.18 Em 1917, uma nova leva de gre-

ves gerais foi desencadeada nestes estados, sendo que a de

São Paulo foi a que ficou imortalizada e retida de maneira

mais significativa na memória do movimento operário, influ-

enciando a própria classe operária de outras unidades da fe-

deração e inspirando um razoável número de trabalhos aca-

dêmicos.19

Na Bahia, a própria natureza do movimento de greve

geral de junho de 1919 e os acontecimentos que o sucederam

são sensivelmente diferentes de tudo quanto havia aconteci-

do até aquele momento no estado. Até então, a maioria da

classe operária baiana se debatia em lutas de caráter espontâ-

rado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998; VELASCO E CRUZ, Maria

Cecília. Solidariedade x rivalidade: a formação do sindicalismo estivador

brasileiro. História Unisinos (Dossiê Trabalho e Movimento Operário), São

Leopoldo, RS: PPGH - Unisinos, v. 6, n. 6, p. 29-62, 2002; NEVES, Maria

Cecília Baeta. Greve dos sapateiros de 1906 no Rio de Janeiro: notas de

pesquisa. Revista de Administração de Empresas, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p.

49-66, abr./jun. 1973; LOBO, Eulália Maria Lahmeyer; STOTZ, Eduardo

Navarro. Flutuações cíclicas da economia, condições de vida e movimento

operário. Revista do Rio de Janeiro, Niterói, RJ, v. 1, n. 1, p. 61-86, 1985.

18 PINHEIRO, Paulo Sérgio; HALL, Michael. A classe operária no Brasil, 1889

- 1930 (v. 1 - O movimento operário). São Paulo: Alfa-Omega, 1979. p. 64-

72; PETERSEN, Sílvia R. Ferraz. As greves no Rio Grande do Sul (1890 -

1919). In: GONZAGA, Sérgio (org.). RS: Economia e Política. Porto Alegre:

Mercado Aberto, 1979. p. 277-327.

19 Ver a respeito: FAUSTO, Boris. Conflito social na república oligárquica: a

greve de 1917. Estudos Cebrap, São Paulo, n. 10, p. 79-109, out.-nov.-dez.

1974; CAMPOS, Cristina Hebling. O sonhar libertário (movimento operário

nos anos 1917 - 1921). Campinas, SP: Pontes/Editora da Unicamp, 1998;

LOPREATO, Christina Roquette. O espírito da revolta: a greve geral anar-

quista. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2000.

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37

neo, sem qualquer organização sindical, ou tendo-a em situ-

ação de extrema fragilidade, reivindicando o pagamento de

salários atrasados por meio de negociação ou greves isoladas

por fábrica ou oficina. Em junho de 1919, a situação apresen-

ta-se de modo bem diferente, pois a classe operária incluiu

entre suas reivindicações elementos inteiramente novos, como

a duração da jornada de trabalho, a abolição do trabalho in-

fantil e a regulamentação e o estabelecimento da isonomia

salarial entre homens e mulheres que exercessem as mesmas

funções. Além disso, o movimento passou a abarcar um mai-

or número de estabelecimentos e operários e questionou os

mecanismos de compra e venda da força de trabalho.

Resolvemos, então, estudar a conjuntura de 1919, pro-

curando dar conta das múltiplas dimensões que envolviam a

história da classe operária de Salvador. Um de nossos objeti-

vos foi, portanto, demonstrar como a crise ocasionada pela

Primeira Guerra Mundial se manifestou na Bahia e qual a sua

relação com o movimento operário. Procuramos demonstrar,

pois, como os problemas relacionados a escassez, carestia e

especulação afetaram as condições de vida do conjunto da

população e, em seguida, estreitamos essa análise, objetivan-

do compreender como tais problemas se associavam e se com-

binavam com as questões específicas que afligiam a classe

operária, como o desemprego e a depreciação salarial, e como

tais privações e sofrimentos foram vivenciados de forma di-

ferenciada por cada uma de suas frações.

Em última análise, o que colocamos para demonstra-

ção foi como a guerra e os problemas derivados dela foram

essenciais na conformação de uma consciência de classe no

operariado baiano. Essa consciência de classe foi o resultado

direto de um processo de amadurecimento político determi-

nado por privações e sofrimentos causados pelo conflito, de-

vidamente catalisados pelos sindicatos operários, em sua

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38

maioria de orientação ideológica socialista, que souberam

transformar essa experiência operária - pautada pela fome,

fechamento de fábricas, desemprego, longas, insalubres e

extenuantes jornadas de trabalho - em argumentos capazes

de convencer a classe operária a avançar em suas lutas duran-

te o período de recuperação, a partir do primeiro trimestre de

1919, munida de uma consciência da exploração a que estava

submetida. Nesse sentido, é possível dizer que a mobilização

da classe operária baiana em 1919 seguiu um padrão já obser-

vado por Eric Hobsbawm, por exemplo, em outras conjuntu-

ras e lugares, segundo o qual a organização e a movimenta-

ção dos trabalhadores são favorecidas quando uma fase de

crise é sucedida por um novo ciclo de prosperidade econômi-

ca. Em função da maior estabilidade do emprego ou de um

maior número de postos de trabalho disponíveis, os operári-

os negociam numa posição mais confortável e têm melhores

condições de barganhar em seu favor.20

O que fizemos, então, foi reconstruir a ação política

dos homens e mulheres que fizeram a sua história nos mar-

cos de seus condicionantes estruturais e tensões da conjuntu-

ra, buscando os limites e as possibilidades da ação coletiva

da classe operária. O objetivo foi melhorar a margem de com-

preensão e explicação de suas próprias atitudes a partir do

entendimento de seu campo de ação. Como bem observou

Emília Viotti da Costa, a reconciliação entre as análises de

tipo estrutural e das experiências dos sujeitos é a melhor

maneira de ampliar as possibilidades de compreensão do com-

portamento operário, resgatando os sujeitos conscientes e

atuantes da nova historiografia, mas não caindo no equívoco

20 HOBSBAWM, Eric J. Flutuações econômicas e alguns movimentos sociais

desde 1800. In: _____. Os trabalhadores: estudos sobre a história do operaria-

do. Tradução de Marina Leão Teixeira Viriato. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

1981. p. 134-163.

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39

de pensar que esses sujeitos são absolutamente livres de qual-

quer tipo de determinação, o que se constituiria num retro-

cesso idealista, estranho à própria corrente do marxismo que

deu origem a essa abordagem.21

Procuramos também apontar que a amplitude e a dinâ-

mica das greves de 1919 foram fortemente influenciadas por

fatores de natureza política. Sem os conflitos intra-oligárquicos

e sem a liberdade de expressão arrancada pelos operários às

elites em crise no poder estadual, o movimento dos trabalha-

dores talvez não tivesse se convertido na primeira greve geral

da Bahia. De todo modo, a pesquisa demonstrou que a idéia

de um Estado oligárquico absolutamente impermeável à clas-

se operária e às suas reivindicações, tida por alguns autores

como válida principalmente para o caso paulista, é indefensável

em se tratando da Bahia, principalmente no que tange ao ano

de 1919. Nessa última unidade da federação, como se verá, as

tentativas de assimilação e cooptação eram muito mais pre-

sentes do que as práticas repressivas, o que não quer dizer

que estas últimas não existissem, como demonstraremos ao

analisarmos os acontecimentos do final da conjuntura, em

particular do ano de 1921. O mesmo se pode dizer da suposta

proteção dada pelo Estado aos industriais como forma de

compensar a sua fraqueza organizativa. Na medida em que

esses segmentos estavam identificados politicamente com as

facções oligárquicas da oposição e que seus antagonistas es-

21 COSTA, Emília Viotti da. A nova face do movimento operário na Primeira

República. Revista Brasileira de História, ANPUH, São Paulo, v. 2, n. 4, p. 217-

232, set. 1982; COSTA, Emília Viotti da. Estrutura versus experiência. Novas

tendências da história do movimento operário e das classes trabalhadoras na

América Latina: o que se perde e o que se ganha. Boletim Informativo e Bibliográ-

fico de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Vértice/ANPOCS, n. 29, p. 3-16,

1990; COSTA, Emília Viotti da. A dialética invertida, 1960 - 1990. Revista

Brasileira de História, ANPUH, São Paulo, n. 27, p. 14-26, 1994.

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40

tavam no comando do aparato estatal, em particular no ano

de 1919, tal pressuposto deve ser relativizado, o que também

não anula o fato de que as instituições estatais dessa fase de

nossa história fossem, regra geral, instrumentos de defesa dos

interesses oligárquicos e da propriedade burguesa.

É chegado o momento de resumir os conteúdos do tra-

balho. No primeiro capítulo, fizemos uma análise de tipo es-

trutural na qual procuramos traçar um perfil social da classe

operária de Salvador, discorrendo sobre sua composição em

termos socioprofissionais, o peso da mão-de-obra feminina

e infantil, a fraqueza da imigração estrangeira e a presença

majoritária dos negros e mestiços no conjunto dos brasilei-

ros. Depois passamos a nos ocupar com a descrição da geo-

grafia da indústria e do trabalho na cidade. No segundo capí-

tulo, trabalhamos num plano de análise das tensões

conjunturais geradas pela guerra, enfocando os problemas li-

gados a carestia e escassez de alimentos, especulação imobi-

liária e crise de trabalho e compressão salarial na fase de 1912

a 1919. No terceiro capítulo, procuramos mostrar como o iní-

cio de um novo ciclo de prosperidade econômica combinou

perfeitamente com a crise política interoligárquica de 1919 e

com a grande fermentação sindical iniciada com a guerra, res-

saltando a importância desse tríplice condicionamento na de-

flagração de uma série de greves setoriais a partir de janeiro

que culminaram na greve geral de junho. Com o capítulo qua-

tro finalizamos o trabalho discorrendo sobre os desdobramen-

tos daquele movimento no campo da mobilização, organiza-

ção e politização da classe operária de Salvador entre os anos

de 1919 e 1921.

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41

Salvador operária

O trabalho na Fábrica de Calçados Weber, Gama, Lenz & Cia.

Fonte: BAHIA. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia. 30 anos da indús-

tria, comércio e turismo na Bahia 1966 – 1996. Salvador: Unifacs; IPA, 1997. p. 83.

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42

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43

Desde tempos remotos, Salvador manteve uma estreita re-

lação com seu Recôncavo. A antiga metrópole colonial, que

tanto brilho havia revelado no século XVIII e no início do

XIX, viveu seus dias de glória a partir de um modelo econô-

mico no qual o porto, as atividades comerciais (inclusive o

tráfico negreiro) e a agroindústria açucareira ditavam as re-

gras de tudo o mais na sociedade baiana. Esta cidade essenci-

almente portuária e comercial era o escoadouro da produção

de sua hinterlândia, sendo, por isso mesmo, fortemente in-

fluenciada pelo mundo rural. Em conseqüência dessa situa-

ção, os governantes da província procuraram promover me-

lhoramentos nos meios de transportes e comunicações, cons-

truindo e expandindo ferrovias e criando as condições de

navegabilidade dos rios. Com isso, aumentava a dependên-

cia do interior em relação à capital, que passou a concentrar

todos os recursos econômicos, financeiros, sociais e políti-

cos, atraindo para si as massas de sertanejos esfomeados eva-

didos, periodicamente, das secas que assolavam a Bahia.

O comércio de importação e exportação era a principal

atividade econômica da cidade no século XIX e mesmo na

Primeira República. Por ordem de importância, tínhamos o

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44

cacau, o fumo, o açúcar, o café, os couros curtidos e em sal-

moura (couro cru), as peles, a piaçava, as pedras preciosas, a

cera de carnaúba, a borracha e as madeiras. Estes produtos

eram embarcados cotidianamente para vários países, ao pas-

so que chegavam a Salvador desde a lã, o linho e a seda até

objetos de vidro, o ouro e a prata, a perfumaria, os instru-

mentos musicais, os medicamentos, os vinhos, as especiari-

as, a farinha de trigo, o óleo de oliva, o charque, o bacalhau,

etc. Do mesmo modo que centralizava a recepção dos produ-

tos vindos do interior para encaminhá-los para o exterior, Sal-

vador monopolizava também a entrada de mercadorias vin-

das de outras nações e fazia, por meio de seu porto, sua

redistribuição para o interior da província por meio dos tro-

peiros e marinheiros.1

Estrutura social soteropolitana

Nas primeiras décadas do século XX, o peso e a influência do

comércio ainda eram bastante grandes. Foram os comercian-

tes que pressionaram as autoridades governamentais a reali-

zar as reformas urbanas necessárias à sua própria expansão.

Exemplo disso são as obras de construção do cais e pavimen-

tação de ruas na área portuária, iniciadas em 1906, a introdu-

ção do bonde elétrico, da telefonia e da eletricidade, em perí-

1 TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. 10 ed. ampl. São Paulo:

Editora da Unesp; Salvador: Edufba, 2001. P. 361-364; MATTOSO, Katia

M. de Queirós. Bahia, século XIX. Uma Província no Império. Rio de Janei-

ro: Nova Fronteira, 1992. p. 75-81; 487-523. Ver também, da mesma autora:

A opulência na Província da Bahia. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de

(org.). História da vida privada no Brasil: Império: A corte e a modernidade

nacional. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 143-179.

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45

odo anterior, e as reformas urbanas iniciadas no primeiro go-

verno de J. J. Seabra (1912 - 1916).2

Entretanto, apesar de sua vocação comercial inequívo-

ca, já tantas vezes lembrada pela historiografia, seria um erro

imaginar que em Salvador não existia uma indústria consoli-

dada em alguns setores da economia ou que a classe operária

era uma força social desprezível. Demonstrar quem fazia par-

te dessa classe operária, qual o seu peso e composição social,

onde trabalhava e onde morava, por ocasião da greve geral e

dos acontecimentos que a sucederam, é o objetivo principal

deste capítulo. Para tanto, é necessário analisar a estrutura

social da cidade em seu conjunto, o que será feito através das

informações fornecidas pelos Censos Industrial e Populacio-

nal de 1920, além de relatórios e várias estatísticas oficiais de

anos diversos.

O primeiro elemento que salta aos olhos ao se exami-

nar os dados da Tabela 1 é o elevado número de habitantes

enquadrados na categoria dos que não tinham ou não decla-

raram ter profissão: 163.410 pessoas ou 57,7% de uma popu-

lação total de 283.422 habitantes. Mesmo considerando que

no seio desse enorme contingente populacional houvesse

muitas donas de casa e crianças de todas as idades, esse é um

dado que revela a situação de pobreza em que vivia a maioria

da população de Salvador, boa parte dela sobrevivendo na

informalidade, por meio de expedientes não-convencionais,

desempregada ou subempregada, que compunha um enorme

exército industrial de reserva responsável por um rebaixamen-

to ainda maior das condições de vida dos integrados ao mer-

2 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Crescimento urbano e habitação em

Salvador (1890 - 1940). Revista de Arquitetura e Urbanismo, FAU-UFBA,

Salvador, v. 3, n. 4/5, p. 20-29, jul./dez. 1990.

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46

cado de trabalho, ou mesmo engrossando as fileiras dos de-

socupados, miseráveis e desvalidos, já absolutamente afasta-

dos de qualquer possibilidade de reintegração ao mundo da

produção.

Tabela 1

Estrutura social – Salvador, 1920

Fonte: BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral

de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920.

Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1930, v. IV (5ª Parte - População).

P. 362-363.

* Inclui os 1.538 operários do setor de extração.

** Inclui os trabalhadores do Centro Telefônico de Salvador, controlado pela

iniciativa privada.

AtividadeNúmeros

Absolutos%

Agricultura 11.719 4,1

Criação 224 0,1

Caça e pesca 1.178 0,4

Indústria* 45.653 16,1

Transportes marítimos e fluviais 3.212 1,1

Transportes terrestres e aéreos 5.770 2

Comércio e finanças 15.780 5,6

Força pública 2.857 1

Administração pública** 3.406 1,2

Administração particular 1.185 0,5

Sacerdócio e profissões liberais 5.932 2

Pessoas que vivem de suas rendas 645 0,3

Serviço doméstico 11.247 4

Profissões mal definidas 11.204 3,9

Profissão não declarada e sem profissão 163.410 57,7

Total da população de Salvador 283.422 100

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47

Pobreza e trabalho informal, portanto, são traços estru-

turais da sociedade baiana em geral, soteropolitana em parti-

cular, e suas origens remontam a tempos bem distantes. Já no

final do século XVIII, observadores confiáveis, a exemplo do

professor de grego Luis dos Santos Vilhena, registravam, com

certo amargor, que Salvador era uma cidade repleta de prosti-

tutas, decaídas em função da dura vida que levavam, e mendi-

gos de todas as raças. Eles poderiam ser brancos – marinheiros

igualmente decadentes em função de doenças não inteiramen-

te curadas na Santa Casa de Misericórdia e que se entregavam

à prática de esmolar e embriagar-se pelas ruas – ou negros e

mulatos entregues à própria sorte após longo período de des-

gaste provocado pelo trabalho intenso sob a escravidão. Nesse

número se encontravam, também, os ganhadores, forma gené-

rica pela qual eram chamados os carregadores baianos ainda

sob a República, e as ganhadeiras, escravas ou não, que atra-

vessaram os tempos vendendo seus quitutes pelas ruas estrei-

tas, acidentadas, sujas e fétidas de Salvador.3

Estudos históricos mais recentes têm mostrado que, no

século XIX, a riqueza de uma pequena elite ostentadora e

branca, construída em detrimento da maioria da população,

contrastava vivamente com o espetáculo de misérias e pobre-

zas das negras faces e ruas de salvador. As multidões de pe-

dintes e desempregados, que viviam da mendicância, eram a

face mais dramaticamente explícita da pobreza urbana, que

se apresentava, também, de forma menos visível, expressa

no grande número de pessoas que viviam do trabalho domés-

tico ou como agregados em casas de famílias, ricas ou não.

Os pobres estavam também pelas ruas, trabalhando como

vendedores ambulantes, serventes ou diaristas, ocupações

marcadamente sazonais e instáveis. A pobreza estava por toda

3 VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no século XVIII. Salvador: Itapuã,

1969. (Principalmente o v. 1.)

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48

parte e podia ser vista sob diversas perspectivas e em suas

múltiplas faces e gradações. No Oitocentos, pouco mais de

5% dos que morriam deixavam bens dignos de serem

inventariados. Por outro lado, a maior parte das pessoas re-

cebia remunerações tão baixas por seu trabalho que quais-

quer oscilações do mercado ou dos preços dos gêneros de

primeira necessidade poderiam levá-las à indigência. Esses

sujeitos moravam em habitações pequenas, úmidas, sem ven-

tilação, em desobediência a quaisquer normas de higiene e

saúde pública. A precariedade e a pobreza eram expressas,

também, pela inexistência de mobiliário em suas casas e rus-

ticidade das roupas dos moradores. Assim, a mendicância era

uma prática que extrapolava o âmbito restrito dos mendigos

de rua, sendo desenvolvida, também, por pessoas que tinham

ocupação e usavam aquele expediente como forma de com-

plementação da renda ou mesmo como renda principal e úni-

ca. Em alguns casos, a mendicância chegou a se tornar uma

prática reconhecida, aceita e legitimada pelas paróquias e ins-

tituições de caridade, a exemplo da Santa Casa de Misericór-

dia. Na maioria dos casos, porém, os que esmolavam – nú-

mero que cresceu ao longo do século XIX – não conseguiam

mais qualquer ajuda, passando a ser vistos como vadios e

ociosos, principalmente nas fases de crise econômica. Mal

alimentadas e vivendo em condições miseráveis, essas pesso-

as estavam mais suscetíveis às epidemias, como o cólera e os

surtos de febre amarela, que provocavam milhares de óbitos.

Havia também os problemas climáticos, representados pelas

secas e enchentes que afligiram os habitantes da Bahia no

período. Combinados, tais fatores ampliavam e degradavam

ainda mais o número e as condições de vida dos pobres e

miseráveis que perambulavam pelas ruas a pedir esmolas.4

4 FRAGA FILHO, Walter. Mendigos, moleques e vadios na Bahia do século XIX.

São Paulo: Hucitec; Salvador: Edufba, 1996.

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49

Dentre os trabalhadores informais, os carregadores se

constituíam num dos principais grupos ocupacionais na Salva-

dor do século XIX, até as primeiras décadas do XX. Esses su-

jeitos formavam mesmo uma fração da classe trabalhadora com

um corte étnico predominantemente africano, fossem eles es-

cravos ou livres, não havendo registro de mestiços ou brancos

nessa ocupação durante boa parte do Oitocentos. É apenas no

final do século XIX e durante a Primeira República que essa

situação se modificaria, quando os africanos vão, paulatina-

mente, cedendo lugar aos brasileiros negros e mestiços. Esse

numeroso grupo era responsável pela intensa circulação de

mercadorias e pessoas pela cidade, possuindo uma complexa

organização do trabalho representada pelos cantos de traba-

lho, nomeados segundo o local onde se concentravam à espera

de quem contratasse os seus serviços. Em 1887, no Livro de

Matrícula dos Cantos, documento no qual a polícia impunha

seu controle sobre esses trabalhadores, constava o registro de

89 cantos, com 1.703 membros na área urbana de Salvador. A

maioria era formada por libertos ou livres, observando-se a

presença de apenas 5 escravos. A maioria dos cantos e os mais

numerosos estavam localizados na Cidade Baixa, onde ficava

o complexo portuário e o comércio. Por último, é preciso dizer

que um grande número de ganhadores possuía ofícios especi-

alizados, informação que os africanos omitiam das autorida-

des como forma de escapar ao pagamento de impostos, mas

que os nacionais declaravam sem nenhum prejuízo. Estes in-

formaram, ao todo, 35 ocupações, sendo as mais freqüentes as

de pedreiro, carpinteiro, cozinheiro, marceneiro, ferreiro, ro-

ceiro, sapateiro, alfaiate, copeiro, padeiro, tanoeiro, indicando

que o trabalho de carregador poderia ser uma contingência em

períodos de crise/desemprego para muitos.5

5 Sobre o trabalho de rua em Salvador, ver: REIS, João José. A greve negra de

1857 na Bahia. Revista USP, São Paulo, n. 18, p. 7-29, 1993; REIS, João José.

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50

A situação se refletia claramente, também, na existên-

cia, ainda nas primeiras décadas do século XX, de um comér-

cio ao ar livre hipertrofiado, formado por muitas pessoas que

vendiam produtos ou serviços de modo itinerante ou fixan-

do-se num determinado ponto, rua, avenida, praça, etc., da

cidade. Suas práticas lembravam a dos numerosos ganhado-

res e ganhadeiras da velha Bahia. Em 1915, por exemplo, ti-

nham licença para comerciar pelas ruas cerca de 4.545 indiví-

duos, número que certamente seria maior se a relação inclu-

ísse todos aqueles que negociavam sem permissão oficial.6

Em estreita relação com o chamado comércio ao ar li-

vre estavam as grandes áreas verdes do perímetro urbano de

Salvador, conservadas a despeito das reformas modernizado-

ras implementadas desde o início do século XX. Nas colôni-

as, hortas, roças, chácaras, fazendas e estábulos dos bairros

centrais e principalmente dos distritos mais periféricos traba-

lhava um total de 13.121 pessoas alocadas no setor agropastoril

e pesqueiro da cidade, o que correspondia a 4,6% de sua po-

pulação. Esse contingente, denunciador da mistura entre o

rural e o urbano da capital baiana ainda nessa época, era res-

ponsável pelo pequeno abastecimento local, fornecendo raí-

zes, frutas, legumes, verduras, ovos, peixes e carnes frescas

para os segmentos proletários que habitavam os bairros po-

pulares da cidade. Suas atividades estavam diretamente vin-

culadas às inúmeras feiras de Salvador, como por exemplo as

existentes na Rampa do Mercado, em Ribeira de Itapagipe,

em Água de Meninos, no Porto do Bonfim e no Tanque da

Conceição, onde os pobres faziam suas compras e grande parte

De olho no canto: trabalho de rua na Bahia na véspera da Abolição. Afro-

Ásia, Ceao-UFBA, Salvador, n. 24, p. 199-242, 2000.

6 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Sobrevivência e tensões: Salvador, 1890-

1930. 1982. 417p. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras

e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982. p. 76.

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51

daquele enorme conjunto de pessoas sem profissão declara-

da conseguia obter o seu ganha-pão de cada dia. Esse setor

incluía, também, as centenas de pescadores que moravam nas

colônias de pesca que se estendiam pela Orla Marítima, a

exemplo das do Rio Vermelho, de Amaralina, Pituba e Itapuã

(conhecida área suburbana de pesca – e festa - da baleia) e

também na Enseada dos Tainheiros (no outro extremo de

Salvador, na Cidade Baixa).7 Seu número, aliás, certamente

era maior que as 1.178 pessoas indicadas pelo Censo Popula-

cional de 1920, pois em 1923 o registro da Capitania do Porto

atestava a existência de 3.407 pescadores matriculados, dis-

tribuídos por 38 colônias de pesca, um número igualmente

superior ao das 5 mais conhecidas citadas acima.8

O segundo aspecto que a Tabela 1 ressalta diz respeito

ao real peso da classe operária no conjunto da população de

Salvador. Em 1920, a cidade já era bem diferente daquela do

século XIX, não podendo mais ser vista como centro urbano

exclusivamente portuário e comercial. Na verdade, o comér-

cio e as finanças empregavam tão-somente 5,6% da mão-de-

obra urbana, embora estes setores econômicos ainda repre-

sentassem um valor substancial das finanças públicas em ter-

mos de arrecadação, principalmente o setor atacadista e de

importação e exportação, dominado pelos portugueses. O

setor varejista era o que apresentava o maior número de con-

tribuintes, agregando panificadoras, bares, tavernas, cafés,

restaurantes, comércio de alimentos, lojas de tecidos e arti-

7 Para uma discussão específica sobre o tema, ver: SANTOS, Mário Augusto

da Silva. Op. cit. p. 37-40 e Novas e velhas ocupações na Salvador republica-

na (1890 - 1930). Cidade & História, Salvador: UFBA/Faculdade de Arqui-

tetura/Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, p. 257-262, 1992.8 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial

do Estado da Bahia, p. 344-345, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário.

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52

gos do vestuário em geral, etc.9 Já o setor industrial ocupava,

independente de seu maior ou menor dinamismo, 45.653

operários distribuídos em diversos ramos de produção. Isso

significa que a mão-de-obra operária das fábricas, oficinas,

minas e pedreiras da cidade correspondia a 16,1% do conjun-

to da população, ou mais. Isto porque, se considerarmos que

na seção de profissões mal definidas, composta pelos 11.204

indivíduos que se apresentaram como “operário”, “trabalha-

dor”, “aprendiz”, “empregado”, etc. podem estar muitos

membros da classe trabalhadora que responderam ao inqué-

rito do Censo Populacional de forma vaga, concluiremos, fa-

cilmente, que o tamanho da classe operária de Salvador era

realmente maior. Em meio a esta categoria, certamente os

recenseadores incluíram muitos carregadores que buscavam

trabalho cotidianamente na zona portuária da Cidade Baixa e

até operários e aprendizes de fábricas e oficinas. Em seu con-

junto, a classe operária tinha um tamanho inferior apenas ao

enorme contingente dos sem-profissão (57,7% da população),

sendo 3 vezes maior que o comércio e finanças e tendo 13

vezes mais membros que a administração pública.

Sobre os operários fabris e de ofício, cabe fazer ainda

uma observação relevante. O setor manufatureiro de cigarros

e charutos parece ter sido englobado nas informações relati-

vas à agricultura (cultura do fumo), seus operários tendo sido

excluídos, portanto, do universo computado para Salvador.

Estudos específicos demonstraram que aquela foi uma indús-

tria que surgiu da iniciativa dos próprios comerciantes e ex-

portadores do fumo, possuía um caráter difuso, demandava

poucos investimentos e utilizava uma numerosa mão-de-obra

operária com baixo nível de qualificação. Salvador concentra-

9 BAHIA, Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia. A inserção da

Bahia na evolução nacional – 2ª Etapa (1890 - 1930). Salvador: CPE, 1980. p.

51-67.

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53

va as principais fábricas de cigarros, algumas mecanizadas, ao

passo que a maioria das manufaturas de charutos estava nas

cidades do Recôncavo, principalmente Cachoeira, São Félix,

Muritiba e Maragogipe, mas também em outros municípios,

a exemplo de Feira de Santana, Amargosa, Cruz das Almas,

Nazaré, Alagoinhas, Santo Antônio de Jesus e São Gonçalo

dos Campos.1 0 Encarada como atividade agroindustrial, o

número de operários empregados nas fábricas soteropolita-

nas é de difícil cálculo, mas pode-se dizer que era bem inferi-

or ao das unidades do Recôncavo. Em 1923, por exemplo, as

fábricas de charutos de São Félix, Cachoeira e Maragogipe,

as três principais cidades do Recôncavo Fumageiro, emprega-

vam, juntas, 7 mil operárias, sendo que a Danemann possuía

mais de 3.000, a Suerdick mais de 2.200 e as 2.000 restantes

labutavam nas incontáveis pequenas unidades e no trabalho

em domicílio.1 1

Outro setor operário que não aparece especificado nas

estatísticas dos Censos Demográfico e Industrial é o dos grá-

ficos da cidade. Uma fonte alternativa, contudo, informa-nos

que apenas a Imprensa Oficial do Estado empregava 588 tra-

balhadores em 1923, sendo 35 do quadro efetivo e 553 ope-

rários jornaleiros.1 2

À classe operária é preciso somar, por fim, os 3.212 tra-

balhadores em transportes marítimos e fluviais, um número

decerto subestimado, só tendo contado, ao que tudo indica,

10 BORBA, Silza Fraga Costa. Industrialização e exportação do fumo na Bahia,

1870 - 1930. 1975. 143p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) –

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,

Salvador, 1975. p. 35-54.11 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial

do Estado da Bahia, p. 294-296, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário.

12 ___. Salvador: Imprensa Oficial do Estado da Bahia, p. 215-218, 2 jul. 1923.

Edição Especial do Centenário.

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54

a mão-de-obra empregada nas grandes empresas, como a Com-

panhia de Navegação Baiana, que fazia o comércio de carga e

de passageiros entre Salvador, o Recôncavo e cidades do sul da

Bahia, e a Companhia de Transportes Marítimos, responsável

pela maior parte do transporte de carga entre o porto e os na-

vios ancorados no interior da Baía de Todos os Santos, deixan-

do-se de lado as centenas de indivíduos que trabalhavam nos

saveiros e barcos que também faziam a ligação da capital com

o Recôncavo e a Ilha de Itaparica.13 Acrescentemos, também,

os 5.770 trabalhadores em transportes terrestres, desde os

carroceiros e motoristas de automóveis até os condutores,

motorneiros e demais empregados das companhias Linha Mu-

nicipal, Linha Circular e Trilhos Centrais controladoras dos

serviços de bondes, elevadores, planos inclinados, energia elé-

trica e iluminação pública nos dois níveis da cidade.14 Além

13 As origens da Companhia de Navegação Baiana remontam a meados do

século XIX, tendo sido formada em 1858 a partir da fusão da Companhia

Bonfim (1847) com a Companhia Santa Cruz (1851). Em 1862, foi comprada

pelos ingleses, passando a se chamar Bahia Steam Navigation Company

Limited. Em 1879, após a sua liquidação, formou-se a Companhia Baiana de

Navegação a Vapor, sendo adquirida pelo Lloyd Brasileiro em 1891. Entre

1904 e 1906, foi arrendada ao engenheiro Alencar Lima. De 1906 a 1921,

ficou sob controle do Estado para depois passar a ser uma sociedade anônima.

Já a Companhia de Transportes Marítimos foi fundada em 1910, com um

capital de 2.000:000$000, sendo Wilson Sons & Co. Ltda. e José Gama da

Costa Santos os seus principais acionistas. Em 1913, esta empresa possuía

130 saveiros com capacidade total de transporte de 8 a 9 mil toneladas, 10

rebocadores e 3 estaleiros equipados com máquinas elétricas, controlando 7/

8 dos serviços de estiva do Porto de Salvador. Ver: DIÁRIO OFICIAL DO

ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial do Estado da Bahia, p.

132-143, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário e IMPRESSÕES DO

BRASIL NO SÉCULO VINTE. SUA HISTÓRIA, SEU COMÉRCIO,

INDÚSTRIAS E RECURSOS. Inglaterra: Lloyd’s Greater Britain Publishing

Company Ltda., 1913, p. 885.14 Até meados do século XIX, o cenário urbano de Salvador era dominado pelas

tradicionais cadeiras de arruar, carregadas por escravos, e as gôndolas, surgidas

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55

disso, nesse contingente estavam incluídos os ferroviários da

Companhia Chemins de Fer alocados em Salvador.15 A soma

do setor fabril ao de transportes marítimos e terrestres, por-

tanto, nos leva a um número, ainda bastante subestimado

depois. Por volta de 1865 ou 1866, foi fundada a Companhia Veículos Econô-

micos, operando com bondes movidos por tração animal na Cidade Baixa. Em

1894, essa empresa foi substituída pela Companhia de Carris Elétricos que, a

partir de 1897, passou a operar com bondes elétricos. Em 1905, o milionário

norte-americano Percival Farquhar e os investidores Pearson e Mackenzie se

associaram para comprar a antiga Companhia de Carris Elétricos e formar a

Bahia Tramway, Light and Power Company. Contando com mais de 3,5 milhões

de dólares em ações e debêntures, consolidaram a empresa comprando diversas

concessões dos germânicos (uma linha de bonde na Cidade Baixa) e dos britâ-

nicos (Bahia Gás Co.). Em seguida, compraram dos belgas a Companhie

d’Eclairage de Bahia. Em 1913, após uma série de incidentes, a empresa foi

vendida à municipalidade de Salvador, passando a se chamar Companhia Linha

Municipal. As Companhias Linha Circular e Trilhos Centrais também foram

formadas no século XIX. Em 1864, foi fundada a Companhia Transportes Urba-

nos, operando com bondes que faziam a linha entre a Praça do Palácio, a Graça

e depois a Barra. Em 1883, essa empresa foi incorporada pela Companhia Linha

Circular. Já a Companhia Trilhos Centrais começou a operar em 1869, fazendo

as linhas da Barroquinha, Retiro, Soledade e Rio Vermelho e passando a dispor

de bondes elétricos a partir de 1907. Juntas, essas duas companhias possuíam 3

estações geradoras de energia (Santana, Graça e Lapinha), 2 elevadores (Lacerda

e Taboão), 2 planos inclinados (Gonçalves e Pilar), cerca de 100 bondes e

empregavam 1.250 trabalhadores. Ver: DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA

BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial do Estado da Bahia, p. 132-143 e 533-

535, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário; SINGER, Paul. O Brasil no

contexto do capitalismo internacional, 1889 - 1930. In: FAUSTO, Boris. His-

tória geral da civilização brasileira. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.

Tomo III (O Brasil Republicano). v. 1 (Estrutura de Poder e Economia – 1889

- 1930). P. 345-390.15 Em 1920, existiam 10 ferrovias (federais e estaduais) na Bahia, perfazendo um

total de 1.757.343 quilômetros de linhas assim distribuídas: Bahia ao São

Francisco (123.340); Central da Bahia (323.225); Santo Amaro (88.350);

Nazaré e São Miguel a Areia (221.662); São Francisco (580.770); Bahia e

Minas Gerais (142.400); Timbó a Propriá e Ramal do Timbó (142.893);

centro-oeste da Bahia (51.863); Ilhéus a Conquista (82.840). DIÁRIO OFI-

CIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial do Estado da

Bahia, p. 132-143, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário.

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56

por não incluir os operários das fábricas de cigarros e charu-

tos, das usinas de açúcar e das empresas gráficas, de uma

classe trabalhadora urbana composta por 54.635 pessoas, ou

seja, 19,3% da população total. Salvador era uma cidade ope-

rária sitiada por um imenso mundo agrário que era quase todo

o resto da Bahia.

Se a classe operária de Salvador não era pequena, redu-

zida parece ter sido a classe média. Ainda assim, é perfeita-

mente possível localizá-la em Salvador no ano de 1920. Qual-

quer tentativa de quantificá-la deve incluir as seções denomi-

nadas de sacerdócio e profissões liberais, que abarcava todos

os membros do clero, professores, advogados, médicos, etc.,

num total de 5.932 indivíduos (2,0% da população), admi-

nistração pública, com 3.406 membros (1,2% da população),

e administração particular, com 1.185 pessoas (0,5% da popu-

lação). Se assim procedermos, teremos uma classe média com-

posta por 10.523 pessoas, ou seja, 3,7% da população total

da cidade, percentual que também deve ser maior, pois parte

do comércio também integra essa camada social. Porém, se

acreditarmos, como fez Hobsbawm para a Inglaterra do sécu-

lo XIX, que a mais nítida característica da classe média ou

daqueles que pretendiam imitá-la estava no fato de possuir

empregados domésticos,16 e se esse é realmente um indicador

do tamanho da classe média, então podemos dizer, com segu-

rança, que esse setor não era grande em Salvador, pois, ao

lado dos índices indicados acima, estavam os do serviço do-

méstico da cidade, com apenas 11.247 empregados ou 4,0%

da população.

16 HOBSBAWM, Eric. Da revolução industrial inglesa ao Imperialismo. Tradu-

ção de Donaldson Magalhães Garschagem. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 2000. (Especialmente o capítulo 8: Padrões de Vida, 1850 -

1914).

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57

Companhia Empório Industrial do Norte.

Sala das fiadeiras da Companhia Empório Industrial do Norte

Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia

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58

Sala dos teares nº 2 da Companhia Empório Industrial do Norte

Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia

Sala das fiadeiras da Companhia Empório Industrial do Norte

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59

Composição social da classe operária

Como se sabe, a classe operária não é um grupo social homo-

gêneo ou uma estrutura monolítica. Por trás de uma situação

comum de exploração econômica, oculta-se uma miríade sig-

nificativa de condições sociais e formas diferentes de traba-

lhar e estilos de vida igualmente distintos. Tentemos, então,

discutir um pouco o real perfil dessa classe operária para que

depois possamos melhor compreender o modo pelo qual as

suas diferentes frações se comportaram na conjuntura de 1919.

A Tabela 2 serve para elucidar vários aspectos sobre a

composição e estratificação interna da classe operária sotero-

politana. Talvez o primeiro elemento que chame a atenção ao

observarmos a disposição de seus dados seja o fato de que os

diferentes métodos utilizados para a realização do Censo In-

dustrial e do Censo Populacional tenham levado a resultados

numéricos gerais tão diferentes ao ponto deste último levan-

tamento ter apontado a existência de uma classe operária com

45.653 pessoas, quase três vezes maior que os 14.784 apre-

sentados pelo primeiro.

Como Maria Cecília Velasco e Cruz demonstrou em

sua análise da composição social da classe operária carioca

em 1917, a diferença de resultados é produto, entre outras

coisas, do fato do inquérito industrial não considerar, para

efeito de contagem, as pequenas unidades de produção, que

produziam em pequena escala e sob encomenda.1 7 De qual-

17 Para discussão e análise dos diferentes métodos utilizados pelos censos indus-

trial e populacional de 1920, e dos efeitos produzidos na contagem da popu-

lação operária, ver: VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Amarelo e negro:

matizes do comportamento operário na República Velha. 1981. p. 58-63.

Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Instituto Universitário de Pes-

quisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981.

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60

Tabela 2

Estrutura Ocupacional da Classe Operária – Salvador, 1920

Fonte: BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral

de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920.

Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v. IV (1ª Parte - População).

P. 52-53; ___. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1928, v. IV (2ª Parte

- População). P. 6; ___. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1930, v. IV

(5ª Parte - População). P. 362-363; ___. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatís-

tica, 1927, v. V (1ª Parte - Indústria). P. 252-277.

Ramo de Produção

Números

Absolutos%

Números

Absolutos%

Extração de matérias minerais - - 1.538 3,4

Têxtil 5.624 38 2.487 5,4

Couros e peles 141 1 70 0,2

Madeira 212 1,5 396 0,9

Metalurgia 22 0,2 3.081 6,7

Cerâmica 250 1,7 40 0

Produtos químicos e análogos 192 1,3 132 0,3

Alimentação 6.730 45,3 1.326 2,9

Vestuário e toucador 1.184 8 22.442 49,2

Mobiliário 110 0,8 1.578 3,4

Edificação 157 1 8.753 19,2

Aparelhos de transportes 138 1 71 0,2

Produção e transmissão de

forças físicas24 0,2 742 1,6

Ciências, letras e artes.

Indústria de luxo0 0 1.442 3,2

Outras indústrias - - 1.555 3,4

Total 14.784 100 45.653 100

Número de Operários

Censo Censo

Industrial Populacional

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61

quer forma, comparando e misturando as informações dos

dois censos quanto ao número de operários empregados, po-

demos distinguir a existência de quatro ramos principais de

produção: por ordem decrescente, os setores de vestuário e

toucador, têxtil, edificação e alimentação.

O setor de vestuário e toucador, que no Censo Indus-

trial apareceu com apenas 1.184 operários de manufaturas e

fábricas de chapéus, gravatas, luvas, calçados, pentes, botões,

etc., no Censo Populacional, que incluiu os artesãos das cen-

tenas de oficinas de sapateiros, costureiras e alfaiates, au-

mentou para 22.442 trabalhadores. Se destacarmos desse ramo

de produção o setor calçadista e empregarmos dados retira-

dos de outras fontes, veremos que suas três únicas fábricas

na Bahia, todas localizadas em Salvador, empregavam, jun-

tas, cerca de 320 operários.18 O número de oficinas de sapa-

teiros existentes na cidade era, no entanto, bem maior. Os

dados oferecidos por um relatório oficial de 1926 parecem ser

bem próximos da realidade. Por ele, ficamos sabendo que em

1925 existiam 429 oficinas e fábricas de calçados em Salva-

dor. Isolando as 4 fábricas existentes naquele ano e supondo

que as 425 unidades restantes empregavam, em média, 4 tra-

balhadores cada uma, teremos um total de 1.700 operários

sapateiros nas oficinas artesanais da capital baiana.1 9 Soma-

dos aos 320 operários das fábricas de calçados, inteiramente

mecanizadas e com uma inversão de capitais maior, temos

um setor calçadista composto por aproximadamente 2.020

obreiros. O conjunto do ramo de vestuário e toucador, po-

18 RELATÓRIO dos Serviços da Secretaria da Agricultura, Indústria, Comércio,

Viação e Obras Públicas durante o ano de 1920. Apeb, Documentação da

Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio, caixa 2386, maço 178, doc. 746.

19 RELATÓRIO do Secretário da Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e

Obras Públicas (1926). Apeb, Seção Republicana, Documentação da Secre-

taria da Agricultura, Indústria e Comércio, caixa 2387, maço 182, doc. 661.

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62

rém, possuía um padrão dominado por manufaturas que pou-

co ou nenhum maquinário utilizavam, sem falar, evidentemen-

te, no trabalho em domicílio, caso de um número enorme de

costureiras e alfaiates.

No setor têxtil, a situação era oposta. De todos os ra-

mos de produção que surgiram e se desenvolveram no Brasil

a partir do século XIX e nas três primeiras décadas republica-

nas, a indústria de fiação e tecelagem foi, sem sombra de

dúvidas, a principal delas e a Bahia foi o seu centro por exce-

lência até pelo menos a década de 1860, quando foi suplanta-

da pelo Rio de Janeiro e depois por São Paulo.20 As fábricas

têxteis, principalmente as de algodão e juta, mas também,

em menor grau e de maneira regionalizada, as de lã, seda e

linho, floresceram nessa época por todo o país, demandando

um volume de capitais nunca visto antes em qualquer outra

20 Em 1866, por exemplo, das 9 fábricas têxteis brasileiras, 5 estavam na Bahia.

A explicação para essa concentração industrial inicial na Bahia está relaciona-

da à presença abundante de matérias-primas, em especial do algodão, de

fontes de energia e à existência de mercados locais rurais e urbanos formados

por uma grande massa de escravos e trabalhadores livres pobres, consumido-

res potenciais de tecidos grossos. Acrescente-se também a disponibilidade de

capitais nacionais e estrangeiros, um razoável sistema portuário e fluvial e

uma legislação protecionista que taxava os produtos de exportação ensacados

com panos importados. Entre 1866 e 1885, um novo ciclo se abriu para a

indústria têxtil, verificando-se a existência de 42 fábricas em todo o Brasil,

sendo que 12 ficavam na Bahia. Apesar do aumento numérico em termos

absolutos, essa fase assinala o longo período de estagnação e declínio relativo

da indústria têxtil baiana, paulatinamente substituída pela do Rio de Janeiro

e depois por São Paulo. Parece consensual entre os estudiosos que essa mu-

dança foi determinada, em grande medida, pelo crescimento da cafeicultura.

Além disso, considera-se também a substituição da força hidráulica por turbi-

nas a vapor produzido a partir de carvão importado, que fizeram com que as

fábricas cariocas superassem as irregularidades das chuvas e seus efeitos sobre

a produção de energia para os teares e a construção de uma extensa rede

ferroviária ligando o Rio a São Paulo e Minas Gerais. Ver STEIN, Stanley J.

Origens e evolução da indústria têxtil no Brasil, 1850 - 1950. Rio de Janeiro:

Campus, 1979. p. 35-61.

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63

Tabela 3

Estrutura da indústria têxtil – Bahia, 1920

Fonte: RELATÓRIO dos Serviços da Secretaria da Agricultura, Indústria, Co-

mércio, Viação e Obras Públicas Durante o Ano de 1920. Apeb, Documen-

tação da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio, Caixa 2386, Maço

178, Doc. 746.

Capital Força Número Número Produção

Motriz de teares de operários (Metros)

Companhia União Fabril

da Bahia 3.631:575$000 Vapor 1.443 1.020 55.685.608

Fábricas

N. S. Conceição 700 850 54.755.748

São Salvador 162 100 929.860

N. S. Penha 581 70 -

S. A. Queimado - - -

Modelo - - -

São Carlos do Paraguaçu -

Companhia Progresso Eletricidade

Industrial da Bahia 4.650:000$000 e vapor 1846 2600 12.000.000

Fábricas

São Brás

Bonfim

São João

Paraguaçu

Companhia Valença

Industrial 4.000:000$000 Hidráulica 685 1100 7.600.000

Fábricas

N. S. Amparo

Todos os Santos

Companhia Empório Eletricidade

Industrial do Norte 3.000:000$000 e vapor 1300 1350 9.200.000

Fábrica

Boa Viagem

Companhia Fabril 1.000:000$000 Vapor 115 150 1.317.870

dos Fiais

Fábrica

Fábrica dos Fiais

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64

indústria de transformação, utilizando-se de tecnologias e

máquinas importadas e empregando um número de operári-

os igualmente sem par. Já em 1907, esse ramo de produção

representava 34,2% da indústria de transformação, 40,2% do

total da força motriz instalada e 40,4% do total do capital

investido na indústria brasileira.21

Em 1920, de acordo com o Censo Industrial, os operá-

rios têxteis representavam 38% da mão-de-obra estritamen-

te fabril de Salvador, mas essa participação cai drasticamente

para 5,4% no Censo Populacional, em função das já citadas

diferenças de métodos dos dois inquéritos. O caso particular

dos têxteis deve ser analisado em confronto com o dos

metalúrgicos, pois estes apareceram no Censo Industrial com

o insignificante número de 22 operários, ao passo que foram

contabilizados 3.081 no Censo Populacional. É possível que

a explicação resida no fato do inquérito industrial só ter con-

tabilizado as grandes fábricas, excluindo, portanto, muitas

fundições e oficinas de funileiros, ferreiros, serralheiros e

latoeiros existentes na cidade, e, ao mesmo tempo, ter agru-

pado os operários de cada ramo de acordo com a fábrica em

que trabalhavam e não segundo a natureza de seu ofício ou

atividade.2 2 Desta forma, os metalúrgicos que trabalhavam

nas seções de manutenção e conserto das fábricas têxteis fo-

ram considerados como operários têxteis, juntamente com os

tecelões propriamente ditos, e não como membros do ramo

de metalurgia. Isso talvez explique também a razão dos ope-

21 SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira: origens e desenvolvimento. São Pau-

lo: Hucitec; Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2000. p. 129.22 Para essa análise, baseio-me nas ponderações de VELASCO E CRUZ, Maria

Cecília, Amarelo e negro: matizes do comportamento operário na República

Velha. 1981. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) - Instituto Univer-

sitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981.

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65

rários têxteis serem computados em 5.624 no Censo Indus-

trial e apenas 2.487 no Censo Populacional. De qualquer

maneira, é importante frisar que esses números são muito

imprecisos. Já em 1908, portanto 12 anos antes do censo de

1920, fonte mais utilizada aqui, existiam 19 fábricas têxteis

na Bahia, com 4.080 operários.23 Um Manifesto assinado pelo

Centro Industrial do Algodão por ocasião da greve do ramo

têxtil de setembro de 1919, por sua vez, indicava que as fábri-

cas que representava empregavam aproximadamente 8 mil

operários naquele ano, número bastante diverso, portanto,

dos dados apresentados tanto pela estatística anterior quan-

to pelos censos industrial e populacional.24 De todo modo, é

possível que em 1919 - 1920 o número de operários têxteis de

Salvador girasse entre 6 e 7 mil.

A indústria têxtil brasileira se distinguia também pelo

fato de não ter tido seu desenvolvimento a partir de uma evo-

lução do artesanato e da manufatura, a exemplo do ocorrido

em alguns países da Europa, em particular da Inglaterra. Seu

aparecimento foi marcado, desde o início, por pesados inves-

timentos capitalistas e por uma tendência crescente à con-

centração e à centralização.2 5 Nesse sentido, vale observar

que muitas fábricas têxteis baianas, surgidas no século XIX,

acabaram sendo anexadas às nascentes sociedades anônimas,

empresas que se formaram com base em fusões que transfor-

23 Na mesma época, existiriam outras 22 fábricas no Distrito Federal, com

10.281 operários, 25 no estado do Rio de Janeiro, com 7.140 operários e 30

unidades no estado de São Paulo, empregando 9.738 operários. Ver IM-

PRESSÕES do Brasil no século XX: sua história, seu comércio, indústrias e

recursos. Inglaterra: Lloyd’s Greater Britain, 1913, p. 384-385.

24 O Tempo, Salvador, 9, 10, 11 e 12 set. 1919. Já o Jornal de Notícias. Salvador,

de 20/08/1919, p. 1, informava a existência de 30 fábricas têxteis na Bahia

daquele ano.

25 SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira: origens e desenvolvimento. São Paulo:

Hucitec; Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2000. p. 129.

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66

maram 14 unidades de produção em propriedade de apenas

cinco empreendimentos em 1919. Os níveis de concentração e

centralização podem ser aferidos, também, pelo número de

operários. Em 1920, das 14 fábricas têxteis baianas para as

quais conseguimos dados minuciosos, apenas duas poderiam

ser enquadradas na categoria das pequenas unidades (até 99

operários); cinco estariam na categoria das fábricas de tama-

nho médio (de 100 até 499 operários); enquanto outras seis

poderiam ser consideradas grandes (de 500 operários em di-

ante).26 Se analisarmos sob o ponto de vista dos capitais glo-

bais investidos em cada companhia, veremos que nenhuma

delas possuía inversão inferior a 1.000:000$000, chegando a

4.650:000$000 o maior investimento. Das 5 companhias têx-

teis baianas existentes em 1920, 3 delas já estavam num le-

vantamento das 100 maiores empresas do país no ano de

1907.27 Além disso, essa era uma indústria totalmente meca-

nizada, sendo que nenhuma de suas unidades possuía menos

de 100 teares, número que atingia a marca de até 1.846, con-

forme se vê na Tabela 3.

No setor de edificação, novamente a relação entre mão-

de-obra artesanal e fabril volta a definir diferenças profundas

no tamanho e no peso de cada uma das frações da classe ope-

rária. Nesse caso, o Censo Industrial só contabilizou os operá-

rios empregados nas fábricas de materiais de construção, tais

como as de cal e cimento, marmorarias, ornatos de cimento e

26 Ver Tabela 11 (Postos de Trabalho na Indústria Têxtil – Bahia, 1912 - 1920)

no capítulo 2. Tomei de empréstimo de Maria Alice Rosa Ribeiro (RIBEIRO,

Maria Alice Rosa. Condições de trabalho na indústria têxtil paulista, 1870 -

1930. São Paulo: Hucitec; Campinas: Editora da Unicamp, 1988. p. 52-53)

os critérios adotados para definir os tamanhos das fábricas têxteis.

27 DEAN, Warren. A industrialização durante a República Velha. In: FAUSTO,

Boris. História geral da civilização brasileira. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand

Brasil, 1997. Tomo III (O Brasil Republicano). v. 1 (Estrutura de Poder e

Economia – 1889 - 1930). p. 248-283.

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67

gesso, esquadrias, portas e escadas, etc., do que resultou só ter

achado o inexpressivo número de 157 trabalhadores. Quando

passamos a trabalhar com os dados do Censo Populacional,

que incluiu em seu levantamento as centenas de pedreiros,

carpinteiros, pintores, canteiros, frentistas, estucadores,

marmoristas, serventes, ajudantes, etc., que compunham o

setor da construção civil propriamente dito, os 8.753 operári-

os encontrados parecem bem mais razoáveis para uma cidade

com as características de Salvador.

No ramo da alimentação, o que de imediato chama a

atenção é a diferença numérica entre os 6.730 operários com-

putados pelo Censo Industrial e os 1.326 do Censo Populacio-

nal. Essa discrepância é merecedora de uma investigação mais

cuidadosa, pois como a história da industrialização da Bahia

ainda está por ser feita, a real configuração deste setor é, na

realidade, um tanto quanto obscura. De qualquer modo, algu-

mas evidências indicam que as fábricas de alimentos e bebidas

empregavam pequenas quantidades de operários. Disso se

depreende que os mesmos poderiam estar pulverizados numa

quantidade de unidades de produção que somadas talvez não

agrupassem mais que os 1.326 operários do Censo Populacio-

nal. Mesmo considerando que também aqui havia trabalhado-

res de outros ofícios que exerciam funções auxiliares nos esta-

belecimentos desse ramo, tal não explica a diferença de um

censo para o outro. Uma hipótese a ser descartada, também, é

a da inclusão dos trabalhadores de padaria e confeitarias, pois

estas unidades foram enquadradas como estabelecimentos va-

rejistas. As dúvidas acerca desses dados só fazem aumentar

quando lembramos que o Censo Populacional, em geral, apre-

senta um número superior ao do Censo Industrial, situação

que se encontra invertida no caso dessa atividade.

Em seu conjunto, pois, o setor artesanal, que no Censo

Industrial não é contado, no Censo Populacional aparece e

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68

determina uma mudança radical na composição, no tamanho

e no peso da classe operária. O ramo de vestuário e toucador,

por exemplo, aumenta em quase dez vezes e o de edificação

multiplica-se por mais de 50. Os setores de mobiliário e me-

talurgia, que praticamente não existiam no inquérito indus-

trial, no populacional passam a ocupar lugar destacado com

mais 1.500 e 3.000 operários, respectivamente. No total, a

mão-de-obra operária artesanal é três vezes maior que a fa-

bril, o que explica nossa surpresa ao ver o real tamanho e

peso da classe operária de Salvador.

É preciso referir, também, que o número de estabeleci-

mentos industriais cresceu num ritmo muitas vezes maior do

que o suposto na bibliografia. Em 1892, havia 142 “fábricas”

em funcionamento, sendo 12 têxteis, 3 de chapéus, 2 de cal-

çados, 4 de cigarros, 12 de charutos, 1 de rapé, 5 fundições de

ferro, bronze e outros metais, 1 de ferro esmaltado, 1 de pre-

gos, 9 engenhos centrais, 4 refinarias de açúcar, 5 alambi-

ques, 10 de sabão e sabonete, 2 de cerveja, 6 de velas (4 de

parafina e 2 de cera), 2 de chocolate, 1 de luvas de pelica e

camurça, 2 de camisas e meias, 1 de fósforos, 50 de pão e

massas alimentícias, 1 de biscoitos, 1 de gelo e óleo, 6 serrari-

as e 1 de móveis de madeira.28 Cerca de 12 anos mais tarde,

esse número permanecia praticamente o mesmo. Em 1904,

eram 141 estabelecimentos fabris, sendo 12 têxteis, 3 de cha-

péus (feltro, lã, pele de lebre, palha e sparterie), 3 de calça-

dos, 12 de charutos, 5 fundições (ferro e bronze), 2 de gelo,

12 de óleos, 3 de camisas, 2 de rapé, 5 de velas, 3 de chocola-

te, 3 de ferraduras para animais, 2 de flores artificiais, 2 de

ornamentos de igreja, 3 de produtos químicos, 5 de móveis,

28 CALMON, Francisco Marques de Góes. Ensaio de retrospecto sobre o comér-

cio e a vida econômica e comercial na Bahia de 1823 a 1900. Diário Oficial do

Estado da Bahia, p. 376-396, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário.

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69

4 curtumes, 4 de carros, 2 de luvas, 3 de caixas de papelão, 10

de malas e baús, 6 de vassouras, 3 de graxas e lubrificantes,

13 de sabão, 6 de sabonetes, 4 de perfumarias, 1 de confete, 3

de águas minerais, 3 de biscoitos finos, 6 de café, 11 de vina-

gre, 4 de cerveja, 1 de fósforos, 2 de licores e bebidas espiritu-

osas, 3 de cola, 2 de lapidações, 21 de tijolos e telhas, 14 de

cal, 1 de beneficiamento de piaçava, 5 de beneficiamento de

cereais, 2 de massas italianas, além de algumas serrarias, es-

taleiros, passamanarias, sacarias e oficinas de redes, chapéus

de sol, bandeiras, livros em branco, conservas de frutas, chi-

nelos de trança e carvão vegetal.2 9 Em 1908, por ocasião da

Exposição Permanente de Propaganda Industrial Brasileira,

esse número havia tido uma ligeira queda para 120 estabele-

cimentos.3 0

Mas em 1920 o Censo Industrial já acusava a existência

de 491 estabelecimentos industriais, sendo 14 têxteis, 8 de

couros e peles, 12 de madeira, 6 de metalurgia, 34 de cerâmi-

ca, 49 de produtos químicos e análogos, 195 de alimentação,

143 de vestuário e toucador, 8 de mobiliário, 17 de edificação,

4 de aparelhos de transportes, 1 de produção e transmissão

de forças físicas e nenhum na indústria de luxo.31 Lembre-se

que o Censo Industrial de 1920 contém uma imperfeição re-

levante na medida em que não contabiliza as pequenas ofici-

nas artesanais, o que nos faz pensar num número bem maior

de estabelecimentos. Determinado almanaque daquele ano

indicava (a título de propaganda) a existência, por exemplo,

29 AZEVEDO, Thales de; LINS, E. Q. Vieira. História do Banco da Bahia, 1858

- 1958. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1969. p. 191.30 Diário de Notícias, Salvador, 28 mar. 1908, p. 5.

31 BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral

de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920.

Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v. V (1ª Parte - Indústria).

p. 181.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2969

70

de outras 19 marcenarias, 3 serrarias, 7 marmorarias, 43

alfaiatarias e 14 ateliês de costura.32 Em 1925, uma mudança

drástica já havia ocorrido, pois apenas em Salvador o número

de estabelecimentos em funcionamento já era de 641, sendo

571 com até 6 operários, 38 com 6 a 12 trabalhadores e 32 com

mais de 12 operários. Naquele mesmo ano, o número de fábri-

cas têxteis em funcionamento era de 11 e as de “artefatos de

tecidos”, ou seja, as de vestuário, era de 103. As de calçados,

como vimos, eram em número de 429 entre “grandes e peque-

nas”, ou seja, entre oficinas e fábricas propriamente ditas.33

Um segundo aspecto da composição social da classe

operária a ser analisado diz respeito ao peso da mão-de-obra

feminina. O recrutamento de mulheres (e de menores) para a

indústria acabou por definir um padrão salarial extremamen-

te baixo, insuficiente até mesmo para a reprodução da força

de trabalho. Em termos globais, a inclusão ou não de deter-

minados ramos de produção, e até mesmo a forma de fazê-la,

fez com que não apenas o tamanho da classe operária de Sal-

vador fosse diferente, mas também a sua cara em termos de

gênero, pois no Censo Industrial as mulheres eram 65,7% e

os homens eram 34,3% do total, ao passo que no Censo Po-

pulacional as mulheres tinham sua participação reduzida para

41% e os homens passavam a ser 59%. Alterações importan-

tes ocorrem também nos pesos específicos de cada ramo no

conjunto da força de trabalho. Os operários têxteis, por exem-

plo, representavam 38% do total da classe operária baiana no

cálculo do Censo Industrial, mas tinham sua participação re-

duzida a 5,4% de acordo com o Censo Populacional. Com os

32 ALMANAQUE Indicador, Comercial e Administrativo do Estado da Bahia.

Bahia: Reis & Cia., 1919.

33 RELATÓRIO do Secretário da Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e

Obras Públicas (1926). Apeb, Seção Republicana, Documentação da Secre-

taria da Agricultura, Indústria e Comércio, caixa 2387, maço 182, doc. 661.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2970

71

trabalhadores do ramo de vestuário e toucador ocorreu o opos-

to, pois seu peso total saiu de 8% no Censo Industrial para

49,2% no Populacional, ou seja, quase a metade da classe

operária da cidade era desse setor.

Tabela 4

Estrutura ocupacional da classe operária segundo o sexo –

Salvador, 1920Ramo de produção

Extração de matérias

minerais - - - - 1.538 100,0% 0 0,0%

Têxtil 1.840 32,7% 3.784 67,3% 924 37,2% 1.563 62,8%

Couros e peles 105 74,5% 36 25,5% 67 95,7% 3 4,3%

Madeira 212 100,0% 0 0,0% 396 100,0% 0 0,0%

Metalurgia 22 100,0% 0 0,0% 3.081 100,0% 0 0,0%

Cerâmica 198 79,2% 52 20,8% 38 95,0% 2 5,0%

Produtos químicos

e análogos 93 48,4% 99 51,6% 125 94,7% 7 5,3%

Alimentação 1.745 25,9% 4.985 74,1% 1.145 86,3% 181 13,7%

Vestuário e toucador 446 37,7% 738 62,3% 6.281 28,0% 16.161 72,0%

Mobiliário 110 100,0% 0 0,0% 1.578 100,0% 0 0,0%

Edificação 143 91,0% 14 9,0% 8.753 100,0% 0 0,0%

Aparelhos

de transportes 138 100,0% 0 0,0% 71 100,0% 0 0,0%

Produção e transmissão

de forças físicas 19 79,2% 5 20,8% 742 100,0% 0 0,0%

Ciências, letras e artes.

Indústria de luxo 0 0,0% 0 0,0% 1.392 96,5% 50 3,5%

Outras indústrias - - - - 824 53,0% 731 47,0%

Total 5.071 34,3% 9.713 65,7% 26.955 59,0% 18.698 41,0%

Censo industrial Censo populacional

Homens Mulheres Homens Mulheres

Fonte: BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral

de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920.

Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v. IV (1ª Parte - População).

p. 52-53; ___. ___. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1928, v. IV (2ª

Parte - População). p. 6; ___. ___. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística,

1930, v. IV (5ª Parte - População). P. 362-363; ___. ___. Rio de Janeiro:

Tipografia da Estatística, 1927, v. V (1ª Parte - Indústria). p. 252-277.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2971

72

Seguindo um padrão da indústria brasileira e mundial,

em Salvador a maior parte das operárias estava nos ramos de

vestuário e toucador e no têxtil. No primeiro caso, as mulhe-

res constituíam 72% dos 22.442 operários do setor encontra-

dos pelo Censo Populacional e 62,3% dos 1.184 do Censo

Industrial. Já as operárias têxteis tinham uma participação de

62,8% dos 2.487 operários encontrados no Censo Populaci-

onal e 67,3% dos 5.624 indicados pelo Censo Industrial. Al-

gumas fábricas têxteis de Salvador chegavam a ter uma pro-

porção ainda maior de mulheres, podendo alcançar 2/3. Na

Companhia Empório Industrial do Norte, por exemplo, em

1914 a mão-de-obra feminina era composta por mais de 1.000

operárias num total de 1.500 trabalhadores.3 4 Em 1919, na

Fábrica Paraguaçu, dos 442 operários, apenas 170 eram ho-

mens, ao passo que 272 eram mulheres.3 5 Nas fábricas de

calçados, a presença da mão-de-obra feminina (e infantil)

também não era desprezível. Em 1921, a Fábrica Trocadero

possuía um total de 82 operários, sendo 47 homens, 25 mu-

lheres e 10 menores; na Fábrica Stella, eram 67 operários ao

todo, sendo 26 homens, 23 mulheres e 18 menores; final-

mente, na Fábrica Gama & Gama, de um total de 46 operári-

os, 25 eram homens, 15 eram mulheres e 6 eram menores.36

A principal surpresa ficou outra vez por conta do setor

de alimentação. No Censo Populacional, elas eram apenas 13,7%

dos 1.326 trabalhadores levantados, mas despontam com 74,1%

dos 6.730 membros achados pelo Censo Industrial. Na mes-

ma direção caminhou o setor de produtos químicos, uma in-

dústria que possuía apenas 5,3% de mulheres no Censo Po-

pulacional e surgiu com 51,6% no Censo Industrial.

34 A Tarde, Salvador, 15 out. 1914, p. 1.35 O Imparcial, Salvador, 11 jun. 1919, p. 3.

36 RELATÓRIO apresentado ao Exmº Sr. Dr. Governador do Estado pelo

Secretário da Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas no

ano de 1921. Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1922. p. 89-102.

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73

Na indústria do fumo, não especificada na Tabela 4, a

situação é mais complexa, pois enquanto nas fábricas de ci-

garros havia presença de homens e o trabalho era mecaniza-

do, nas manufaturas de charutos as mulheres eram quase a

totalidade da mão-de-obra e o trabalho era quase todo feito

de maneira artesanal. Isso explica por que esse ramo é com-

posto por operários dos dois sexos em Salvador e predomi-

nantemente feminino nas cidades do interior baiano, pois na

capital estavam localizados os principais estabelecimentos

industriais de cigarros.37 Ainda assim, a presença operária

feminina na indústria fumageira de Salvador era considerá-

vel. Em 1921, a Fábrica Cruz & Ruas empregava 44 trabalha-

dores, 14 homens e 30 mulheres, todos adultos; a Fábrica A.

Guimarães possuía 80 operárias adultas e nenhum homem

ou menor; a Fábrica Martins Fernandes & Cia. empregava 90

operários adultos, sendo 48 homens e 42 mulheres; por fim,

a Fábrica Leite & Alves operava com 121 operários, 38 ho-

mens, 59 mulheres e 24 menores.3 8

O terceiro aspecto a ser examinado é a nacionalidade

da classe operária. De maneira distinta de São Paulo, que

teve um processo de industrialização com características e

dinâmicas diferentes, com uma forte corrente imigratória que

lhe assegurou uma composição étnico-nacional fundamental-

mente estrangeira, a classe operária de Salvador era, essenci-

almente, brasileira e mestiça.3 9

37 BORBA, Silza Fraga Costa. Industrialização e exportação do fumo na Bahia,

1870-1930. 1975. p.35-54. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) –

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,

Salvador, 1975. (Ver também Tabela 13 (Fábricas de Charutos e Cigarros –

Bahia, 1920) no capítulo 2.).

38 RELATÓRIO apresentado ao Exmº Sr. Dr. Governador do Estado pelo

Secretário da Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas no

ano de 1921. Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1922. p. 89-102.

39 Segundo Sheldon Leslie Maram, “dos 3.390.000 imigrantes que entraram

no Brasil entre 1871 e 1920, os italianos constituíam mais de 1.373.000. Os

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2973

74

Ramo de Produção/ Total

Atividade Números % Números %

Extração de matérias 1.538 1.536 99,9 2 0,1

minerais

Têxtil 2.487 2.478 99,6 9 0,4

Couros e peles 70 70 100 0 0

Madeira 396 389 98,2 7 1,8

Metalurgia 3.081 2.993 97,1 88 2,9

Cerâmica 40 38 95 2 5

Produtos químicos

e análogos 131 127 96,9 4 3,1

Alimentação 1.326 1.298 97,9 28 2,1

Vestuário e toucador 22.442 22.206 98,9 236 1,1

Mobiliário 1.578 1.568 99,4 10 0,6

Edificação 8.753 8.526 97,4 227 2,6

Aparelhos de transportes 71 69 97,2 2 2,8

Produção e transmissão

de forças físicas 742 716 96,5 26 3,5

Ciências, letras e artes.

Indústria de luxo 1.442 1.427 99 15 1

Outras indústrias 1.555 1.514 97,4 41 2,6

Transportes marítimos

e fluviais 3.212 3.181 99 31 1

Transportes terrestres

e aéreos 5.770 5.668 98,2 102 1,8

Total 54.634 53.804 98,50% 830 1,50%

Brasileiros Estrangeiros

Fonte: BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral

de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920.

Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v. IV (1ª Parte – População).

p. 106-109.

* Exclui quatro indivíduos de nacionalidade ignorada.

Tabela 5

Estrutura ocupacional da classe trabalhadora

segundo a nacionalidade – Salvador, 1920*

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75

A imigração estrangeira para a Bahia foi insignificante

tanto no século XIX quanto no início do XX. Em 1920, os

estrangeiros eram apenas 10.600 em todo o estado, ou seja,

0,3% da população total formada por 3.334.465 habitantes.

Em Salvador, esse percentual aumentava, pois a capital con-

centrava a maior parte dos imigrantes, mas não o suficiente

para alterar significativamente o quadro acima mencionado.

Os 7.763 estrangeiros que viviam na capital baiana represen-

tavam apenas 2,7% de sua população total. As maiores e mais

importantes colônias eram, sem dúvida, as de Portugal, Es-

panha e Itália, sendo que em sua maioria esses estrangeiros

eram caixeiros ou comerciantes.4 0

mo, os imigrantes e seus filhos brasileiros constituíam a maioria da classe

operária urbana em São Paulo e Santos, e uma grande parte do proletariado

brasileiro. (...) Segundo o censo de 1893, realizado na capital de São Paulo, os

estrangeiros constituíam 54,6% da população total e um índice ainda maior

da força de trabalho. Dos 10.241 trabalhadores classificados como artesãos

(os operários da construção civil devem ter sido incluídos nessa categoria)

85,5% nasceram no exterior. Na manufatura, 79% eram imigrantes; nos trans-

portes e setores afins, 81%; no comércio, 71,6%; excluindo as pesquisas no

setor agrícola, os estrangeiros constituíam 71,2% da força de trabalho total da

cidade”. MARAM, Sheldon Leslie. Anarquistas, imigrantes e o movimento

operário brasileiro (1890 - 1920). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. p. 13-27.

Ver também PETRONE, Maria Tereza Schorer. Imigração. In: FAUSTO,

Boris (org.). História geral da civilização brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil, 1997. Tomo III (O Brasil Republicano). v. 2 (Sociedade e

Instituições – 1889 - 1930). p. 93-133.

40 Em 1920, os tamanhos das colônias estrangeiras na Bahia eram os seguintes:

Alemanha: 398; França: 419; Espanha: 2.489; Inglaterra: 240; Itália: 1.448;

Portugal: 3.345; Rússia: 152; Outras nacionalidades: 2.109. Para Salvador, os

números eram os seguintes: Alemanha: 291; França: 325; Espanha: 2.314;

Inglaterra: 214; Itália: 606; Portugal: 2.653; Rússia: 138; Outras nacionalida-

des: 1.222. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920. Rio

de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v. IV (1ª Parte – População). p.

52-53; 308-311; 598-601; Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v.

IV (2ª Parte – População). p. 6.

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76

Na Bahia, em geral, os portugueses ocupavam-se com

o grande comércio exportador e importador, ao passo que os

espanhóis concentravam-se mais no comércio varejista. Por

não estarem diretamente ligados à produção e em função de

seus laços de parentesco e dependência em relação aos seus

patrícios, com os quais partilhavam ideais de ascensão social,

os caixeiros em geral e os de origem ibérica, em particular,

ficaram conhecidos por sua posição social e política confor-

mista e conservadora não apenas em Salvador, mas no Brasil

como um todo, não tendo tido nenhuma importância ou par-

ticipação digna de nota em greves e movimentos sindicais na

conjuntura em análise. A integração à sociedade brasileira e

o enriquecimento eram as prioridades para esses grupos.41 O

cônsul italiano na Bahia, por sinal, não tinha de seus conter-

râneos uma opinião muito positiva e reclamava da capacida-

de que eles tinham de serem assimilados, abdicando dos va-

lores e da língua de sua pátria-mãe, adotando hábitos e tradi-

ções do novo ambiente, ignorando a existência do próprio

consulado e construindo relações estáveis com mulheres ne-

gras. Os laços de união dessa colônia eram realmente muito

frágeis. Em 1908, por exemplo, sua única sociedade mutualista

41 Ver, entre outros estudos, BACELAR, Jeferson. Galegos no paraíso racial.

Salvador: Ianamá/Ceao/CED-UFBA, 1994; BRAGA, Célia Maria Leal. Me-

mórias de imigrantes galegos. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA,

1995; KLEIN, Herbert S. A imigração espanhola no Brasil. São Paulo: Sumaré/

Fapesp, 1994; MARTINEZ, Elda Evangelina Gonzáles. O Brasil como país

de destino para os migrantes espanhóis. In: FAUSTO, Boris (org.). Fazer a

América. 2. ed. São Paulo: Editora da USP, 2000. p 239-271; LEITE, Joa-

quim da Costa. O Brasil e a emigração portuguesa (1855 - 1914). In: FAUSTO,

Boris (org.). Fazer a América. 2. ed. São Paulo: Editora da USP, 2000. p. 177-

200; OLIVEIRA, Lucia Lippi. O Brasil dos imigrantes. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar, 2001; RIBEIRO, Gladys Sabina. Mata galegos: os portugueses e os

conflitos de trabalho na República Velha. São Paulo: Brasiliense, 1990; SAN-

TOS, Mário Augusto da Silva. Os caixeiros da Bahia: seu papel conservador na

Primeira República. Salvador, 1974; mimeografado.

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77

só agrupava 56 sócios, e entre 1880 e 1920, apenas 3 publica-

ções em língua italiana foram editadas na Bahia.4 2

A insignificância da presença estrangeira na Bahia ficou

ainda mais evidente quando fizemos o cruzamento e a análi-

se das variáveis profissão e nacionalidade. Pela Tabela 5, vê-

se claramente que os estrangeiros representavam um percen-

tual desprezível da classe operária tanto em termos globais –

eles eram apenas 1,5% contra 98,5% de brasileiros – quanto

na análise por ramos, no qual mesmo as frações que apresen-

taram índices percentuais de imigrantes um pouco maiores

eram pequenas em termos absolutos.

Como levas significativas de imigrantes nunca chega-

ram à Bahia, e a escravidão marcara fortemente a estrutura

social da cidade, a população trabalhadora era formada, cada

vez mais, por negros e mestiços. Esse processo, que vinha

dos séculos anteriores, teve continuidade no século XX. No

ano de 1808, por exemplo, a população soteropolitana já era

composta por 20,4% de brancos, 1,3% de índios e caboclos,

43% de negros e mulatos livres e outros 35,3% de negros e

mulatos escravos. O percentual de negros e mestiços livres

continuou crescendo segundo os dados do Censo de 1872, no

qual apareceram 24,0% de brancos, 3,6% de índios e caboclos

e o considerável aumento da população negra e mestiça livre

para 60,2%, ao passo que os negros e mulatos escravos tive-

ram seu número diminuído para 12,2%. Naquele ano, os bran-

cos eram 33.672, ou seja, 31,1% da população, ao passo que os

não-brancos montavam a 74.466 ou 68,9% do total.43

42 TRENTO, Angelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração itali-

ana no Brasil. São Paulo: Nobel; Instituto Italiano di Cultura di San Paolo;

Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, 1989. p. 106, 173 e 185.43 MATTOSO, Katia M. de Queirós. Bahia, século XIX: uma província no

Império. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. p. 115-126.

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78

Como o Censo de 1920 não discrimina a cor dos habi-

tantes, é preciso trabalhar com projeções.44 Supondo o mes-

mo ritmo e proporção de crescimento, a população de Salva-

dor, em 1920, poderia ser estimada da seguinte maneira. Dos

seus 283.422 habitantes contabilizados, 31,1%, ou seja, 88.144,

seriam brancos e 68,9%, ou seja, 195.277, seriam negros e

mestiços. É claro que esta projeção está sendo apresentada

com o fito de demonstrar o quanto a presença mestiça foi

marcante na constituição da classe operária. A miscigenação

estava ocorrendo num ritmo frenético, e da fraqueza da imi-

gração estrangeira decorreu que a população trabalhadora

negra e mestiça baiana continuou a exercer, sob a República,

as mesmas fainas de que se ocupara à época do cativeiro.

Contudo, podemos tomar as projeções como válidas,

inclusive porque outras fontes indicam um padrão semelhante

para o período anterior a 1920. Em 1910, por exemplo, um co-

laborador do Diário de Notícias nos informava que naquele

ano a população total de Salvador era de 250.000 habitantes,

sendo 12.500 (5%) estrangeiros, 75.000 (30%) brasileiros bran-

cos, 50.000 (20%) negros e 112.000 (45%) mestiços. Somados

os dois últimos segmentos, tínhamos um total de 162.500 ou

65% de negros e mestiços na capital baiana, um percentual

bastante próximo do achado a partir do Censo de 1920.45

44 Os organizadores do Censo de 1920 justificaram tal omissão da seguinte

maneira: “(...) A supressão do quesito relativo a cor explica-se pelo fato das

respostas ocultarem em grande parte a verdade, especialmente quanto aos

mestiços, muito numerosos em quase todos os estados do Brasil, e, de ordiná-

rio, os mais refratários às declarações referentes à cor originária da raça a que

pertencem”. BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Di-

retoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setem-

bro de 1920. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1922, v. I (Introdução).

p. 488-489.

45 Diário de Notícias, Salvador, 7 mar. 1910, p. 1-2 (Colaboração – Impressões

da Bahia 1ª Parte).

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79

O mercado de trabalho de Salvador se formou a partir

da incorporação do grande número de homens de cor oriun-

dos da velha ordem, que continuaram a desempenhar as mes-

mas ocupações de épocas pretéritas. Mas isso não quer dizer

que a população afro-descendente da cidade mais negra do

Brasil dispusesse de condições vantajosas nas disputas por

uma colocação nesse mercado de trabalho, pois que era dis-

criminada por costumes e/ou normas tradicionais, fundadas

em relações pessoais (não-contratuais), que incluíam ou ex-

cluíam os indivíduos dos postos de trabalho, facilitavam ou

bloqueavam sua ascensão social, a partir de vários critérios,

menos o do mérito. Paralelo ao discurso de assimilação e har-

monização das raças, as elites dominantes e seus meios de

comunicação começaram a difundir, muitas vezes de modo

subliminar, uma concepção estigmatizante do negro, visto

como inferior e incivilizado, violento e desordeiro, criminoso

e desorganizado do ponto de vista da família, imoral e sexu-

almente degenerado, um bárbaro que cultuava o candomblé

e seus rituais de feitiçaria, magia e curandeirismo, verdadeiro

espetáculo do atraso aos olhos de uma elite que acreditava

estar marchando para a civilização.4 6

Brasileira, em grande parte feminina e acima de tudo

mestiça, mas nem por isso passiva, a classe trabalhadora de

Salvador era, então, uma multidão híbrida, saída da escravi-

dão, formada por homens e mulheres que labutavam nas ruas,

proletários fabris, totalmente desprovidos dos meios de pro-

dução e tendo como único meio de vida a venda de sua força

de trabalho a um capitalista em troca de um salário, e traba-

lhadores manuais qualificados empregados em obras da cons-

trução civil ou em pequenas oficinas de sapateiros, alfaiates,

46 BACELAR, Jéferson. A hierarquia das raças: negros e brancos em Salvador.

Rio de Janeiro: Pallas, 2001. p. 41-87.

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80

marceneiros, etc. e manufaturas pouco mecanizadas, mas às

vezes donos dos seus instrumentos de trabalho, o que lhes

assegurava uma existência mais digna, graças ao status de ar-

tistas, ou seja, artesãos dotados de reconhecimento, maiores

salários, menores taxas de desemprego, qualificação superior

e, como veremos mais adiante, sólida tradição de organiza-

ção sindical e política. Em seu conjunto, pois, somados os

proletários fabris, manufatureiros, de extração e construção,

os artesãos de oficinas, os trabalhadores de transportes ter-

restres, marítimos e fluviais e o trabalho de rua, a exemplo

dos carregadores e estivadores, temos uma classe operária

soteropolitana composta por cerca de 55.000 membros.

Trabalhar e morar em Salvador

Onde trabalhavam e moravam os operários da capital baiana

em 1919? Salvador ainda conservava, devido à sua topografia

bastante acidentada, muitas das características legadas de sua

formação. Seu perímetro urbano era dividido entre a Cidade

Alta e a Cidade Baixa. A partir da segunda metade do século

XIX, além das íngremes ladeiras que deveriam ser subidas a

pé, da mesma forma que os escravos fizeram por tanto tem-

po, e do serviço de bonde que ligava as duas partes, os sote-

ropolitanos passaram a dispor também do Elevador Lacerda

(1873), do Elevador do Taboão (1874) e do Plano Inclinado

Gonçalves (1895).47 Na parte baixa localizava-se a chamada

Península de Itapagipe, uma região composta pelo conhecido

bairro da Ribeira, com sua Avenida Beira-Mar e sua Enseada

dos Tainheiros, habitada por velhos pescadores e freqüenta-

47 SAMPAIO, Consuelo Novais. Fragmentos de história: como surgiram os

serviços urbanos. A Tarde, Salvador, 29 mar. 1999. Suplemento Especial aos

450 anos de Salvador.

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81

Fábrica de Cigarros Leite & Alves.

Fonte: BAHIA. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia. 30 anos da indús-

tria, comércio e turismo na Bahia 1966 – 1996. Salvador: Unifacs; IPA, 1997. p. 99.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2981

82

Companhia Fabril dos Fiais.

Fonte: BAHIA. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia. 30 anos da indús-

tria, comércio e turismo na Bahia 1966 – 1996. Salvador: Unifacs; IPA, 1997. p. 78.

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83

da por uma população flutuante de ricos veranistas.4 8 Ali

ficava também o bairro do Bonfim, bastante conhecido em

função das festas que todo ano traziam multidões à sua igre-

ja. Tínhamos, ainda, o bairro de Monte Serrat e sua Ponta de

Humaitá. Mas a Cidade Baixa não era apenas formada de

paisagens bucólicas e belas praias freqüentadas por pessoas

que buscavam recantos agradáveis para o repouso. A Penín-

sula de Itapagipe foi o primeiro centro industrial da Bahia,

formado a partir de meados do século XIX. No conjunto de

bairros da Cidade Baixa, que formavam os Distritos dos Ma-

res, de Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora do Pilar e

Nossa Senhora da Conceição da Praia, concentrava-se a mai-

oria das principais fábricas de Salvador.

A partir de critérios relacionados principalmente ao

número de operários empregados, foi possível fazer a Tabela

6. Por ela, podemos verificar que, das 27 mais importantes

fábricas da Bahia, 21 estavam em Salvador, enquanto as de-

mais se localizavam nas cidades de Valença (2 têxteis), Ca-

choeira (1 têxtil), Maragogipe (1 de charutos), São Félix (1 de

charutos) e Muritiba (1 de charutos). Na capital baiana, das

21 fábricas mais importantes, 17 estavam na Cidade Baixa,

enquanto apenas 4 ficavam na Cidade Alta, em geral nas pro-

ximidades do Centro Histórico. Se nos concentrarmos ainda

mais na Cidade Baixa, veremos que são três os principais ra-

mos de produção ali desenvolvidos. Em primeiro lugar, está a

indústria têxtil, com 9 de um total de 12 unidades de Salvador

e 15 do estado. Em seguida, vem o ramo de vestuário e touca-

48 A Ribeira e o conjunto arquitetônico formado pela antiga fábrica da Compa-

nhia Empório Industrial do Norte e sua Vila Operária ainda eram motivo de

orgulho, modelo perdido e lembranças saudosistas nos anos de 1950 até a

década de 1990. No Arquivo Histórico Municipal, Salvador, ver recortes dos

jornais A Tarde, 28.12.1956, 21.08.1972, 03.09.1982, 16.05.1987; Tribuna

da Bahia, 09.06.1975, 30.03.1987, 23.04.1987; Jornal da Bahia, 16.10.1986,

05.06.1987; Correio da Bahia, 13.01.1987, 26.08.1995, 28.10.1998.

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84

dor, com 2 das 3 únicas fábricas de calçados em toda a Bahia,

uma fábrica relativamente grande de roupas e outras menores

de chapéus. Por fim, havia o ramo do fumo, com 4 fábricas de

cigarros. Além disso, havia uma fábrica que produzia e

comercializava materiais de construção civil e realizava obras

desse ramo e de serraria. Ademais, na Cidade Baixa localizava-

se também a maior parte dos curtumes, destilarias, alambi-

ques, fundições e pequenas fábricas e manufaturas de alimen-

tos, bebidas, sebo, sabão, velas, vinagre, confecções do vestu-

ário, moinhos, vassouras e piaçava, vidros, gelo, etc.49

Além das fábricas São Salvador, Modelo e Stella, a Cida-

de Alta concentrava o grosso das oficinas de sapateiros, costu-

reiras, alfaiates, etc., que, como vimos, trabalhavam produzin-

do em pequena escala e a partir de encomendas prévias. Te-

mos, então, uma geografia da indústria e do trabalho na qual o

setor fabril e operário principal do ponto de vista econômico

ficava na Península de Itapagipe e suas adjacências, enquanto

a maior parte do trabalho artesanal concentrava-se na Cidade

Alta, em regiões como a área da chamada Baixa dos Sapatei-

ros, onde tínhamos, por exemplo, 14 de um total de 23 oficinas

de sapateiros localizadas no Centro da cidade. Pequenas fábri-

cas também existiam espalhadas na Cidade Alta, como por

exemplo a Grande Fábrica de Massas Alimentícias Progresso,

localizada no Distrito da Sé, e a Fábrica de Cerveja Polarctica,

no Rio Vermelho, mas elas empregavam poucos operários, prin-

cipalmente se comparadas com o padrão têxtil.50

49 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Sobrevivência e tensões. Salvador (1890-

1930). 1982. p. 47-49. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia,

Letras e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982.

50 RELATÓRIO do Diretor da Agricultura, feito pelo perito na vistoria da

Grande Fábrica de Massas Alimentícias Progresso (1926). Apeb, Documen-

tação da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio, caixa 2385, maço

175, doc. 610. Esta unidade empregava apenas 33 operários, sendo 10 mulhe-

res e 23 homens.

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85

Tabela 6

Geografia das principais fábricas – Bahia, 1919

Fontes: RELATÓRIO dos Serviços da Secretária da Agricultura, Indústria, Co-

mércio, Viação e Obras Públicas durante o ano de 1920. APEB, Documenta-

ção da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio, caixa 2386, maço

178, doc. 746; jornais diversos; Diários Oficiais do Estado da Bahia; Relató-

rios de fábricas; Almanaques.

* Dados de 1921.

Companhia Fábrica Ramo Local Número de

operários

Companhia Empório Fábrica da Têxtil Distrito dos Mares 1.400

Industrial do Norte Boa Viagem

Companhia União Fabril N. S. da Conceição Têxtil Distrito dos Mares 731

da Bahia São Salvador Têxtil Bairro de Nazaré 130

N. S. da Penha Têxtil Distrito da Penha 90

S. Antônio do Queimado Têxtil Distrito de S. Antônio 90

Modelo Têxtil Baixa dos Sapateiros 110

S. Carlos do Paraguaçu Têxtil Cidade de Cachoeira 125

Companhia Progresso São Brás Têxtil Pirajá 1.300

Industrial da Bahia Bonfim Têxtil Distrito do Pilar 535

São João Têxtil Distrito da Penha 165

Paraguaçu Têxtil Distrito da Penha 400

Companhia Valença Todos os Santos Têxtil Cidade de Valença 650

Industrial N. S. do Amparo Têxtil Cidade de Valença 650

Companhia Fabril Fábrica dos Fiais Têxtil Cais do Bulcão 150

dos Fiais

Fábrica Beira-Mar Têxtil Distrito da Penha

Gama & Gama Gama & Gama Calçados Distrito do Pilar 100

Stella Stella Calçados Largo do Barbalho 100

Trocadero Trocadero Calçados Boa Viagem 120

Variedades Variedades Vestuário Distrito do Pilar

Companhia Serraria Companhia Serraria e Construção Distrito do Pilar

e Construção e Construção e Madeira

Martins Fernandes Martins Fernandes

& Cia. & Cia. Cigarros Distrito do Pilar 90*

Leite & Alves Leite & Alves Cigarros Distrito do Pilar 500

A. Guimarães & Cia. A. Guimarães & Cia. Cigarros 170

Cruz & Ruas Cruz & Ruas Cigarros 44*

Suerdick Suerdick Charutos Cidade de Maragogipe 2.000

Dannemann Dannemann Charutos Cidade de São Félix

Costa & Penna Costa & Penna Charutos Cidade de Muritiba 300

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86

Como o Porto também ficava na Cidade Baixa, pode-

mos dizer que a maioria da classe operária ali trabalhava. Mas

não apenas isso. Essa também era uma das principais áreas

residenciais do operariado de Salvador, embora não fosse a

única. Além dos velhos e insalubres casarios transformados

em cortiços, nesta parte da cidade localizavam-se as vilas ope-

rárias, como a da Boa Viagem, com 258 casas e também ou-

tros tipos de moradia mantidos pelos industriais têxteis como

forma de atrair, fixar e disciplinar uma mão-de-obra por eles

considerada primitiva e pouco habituada aos rígidos horários

e regulamentos das fábricas.51 Em geral, essas habitações ope-

rárias eram edificadas em áreas adjacentes às plantas fabris,

resolvendo, com essa medida, os problemas decorrentes da

51 Para o número de casas, ver: PINHO, Péricles Madureira de. Luiz Tarquínio,

pioneiro da justiça social no Brasil. Salvador: Imprensa Vitória, 1944, p. 81-84.

O engenheiro José Simas da Costa, ao comentar o regulamento da Vila Operária

da Companhia Empório Industrial do Norte (Boa Viagem), procurou justificar

a sua aplicação argumentando que no mesmo estaria o “segredo de transformar

em massa uniformemente obediente e passiva uma classe refratária por índole

e por hábito, à ordem e ao asseio” e seguia dizendo que aquele seria o meio de

“converter uma massa composta de elementos heterogêneos, oriundos de

diversas raças, de cores várias e hábitos diversos, em um só grupo social,

homogêneo, entre o qual reina a cordialidade, a urbanidade e o respeito

mútuo”, além de “ensinar todos a serem fanáticos pelo asseio, pela estética,

pela higiene, pela ordem, pela moralidade e pela camaradagem”. O mesmo

testemunho comentou em termos de resultados que disso decorria “não se

ouvir ali assovio gaiato, desabafo da indolência, nem serem os ouvidos assal-

tados pelo rufo atroador de turas, ruído infernal que tanto deleita o inconsci-

ente elemento infantil, quando não é disciplinado ao gozo das delícias que

proporcionam brinquedos mais amenos... Daí enfim o estar a vila submersa

em absoluto repouso ao soar a última badalada das dez, todas as noites”. Para

assegurar que tal regulamento seria cumprido, havia, ainda, dentro do territó-

rio da vila, um corpo de polícia armado. Além disso, a ocupação de uma casa

pertencente à empresa obedecia ao critério de a família ter no mínimo dois

membros trabalhando na fábrica. Jornal de Notícias, Salvador, 2, 11, 22 e 24

nov. 1898.

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87

precariedade e do alto custo dos transportes urbanos e evi-

tando, por meio da austera vigilância, o absenteísmo.5 2

Ligando-se com a Ribeira, na Cidade Baixa, por meio

de balsas que transportavam pessoas e mercadorias de um

ponto a outro, encontrava-se também a Plataforma, uma an-

tiga fazenda que, na segunda metade do século XIX, deu ori-

gem a um núcleo de povoamento formado por fábricas de

calçado, têxtil (Fábrica São Brás) e outras de brins, camisas e

meias, todas pertencentes à Companhia Progresso Industrial

da Bahia. O antigo Burgo Industrial da Plataforma, como era

chamado à época em que pertencia ao Comendador Manoel

Francisco de Almeida Brandão, era formado também por uma

vila operária, composta por 208 casas, 700 tarefas de terras,

mananciais de água e depósitos.53

Em todo caso, é preciso chamar a atenção para o fato

de que o isolamento dos bairros industriais e operários pode-

ria encontrar o seu contraponto no fortalecimento dos laços

52 A análise da função desempenhada pelas vilas operárias no processo de atra-

ção, fixação e disciplinamento da mão-de-obra operária têxtil já foi objeto de

vários estudos. Ver, entre outros: ALVIM, Rosilene. A sedução da cidade: os

operários-camponeses e a Fábrica dos Lundgren. Rio de Janeiro: Graphia,

1997; LOPES, José Sergio Leite. A tecelagem dos conflitos de classe na cidade

das chaminés. São Paulo: Marco Zero/UnB/CNPq, 1988; CORREIA, Telma

Barros. Pedra: plano e cotidiano no sertão. Campinas, SP: Papirus, 1998;

TEIXEIRA, Palmira Petratti. A fábrica do sonho: trajetória do industrial

Jorge Street. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. Embora tratando de uma

outra categoria e com uma periodização igualmente diferente – os operários

das usinas de açúcar de Pernambuco numa fase mais contemporânea – , é

imprescindível a consulta, também, a uma outra obra do antropólogo social

José Sérgio Leite Lopes. O vapor do diabo: o trabalho dos operários do açúcar.

São Paulo: Círculo do Livro, 1976.53 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial

do Estado da Bahia, 2 jul. 1923, p. 274-276. Edição Especial do Centenário;

ALMANAQUE Administrativo, Indicador, Noticioso, Comercial e Literá-

rio do Estado da Bahia Para o ano de 1896. Bahia: Reis e Cia., 1896, p. 237.

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de solidariedade de classe entre esses trabalhadores, posto

que eles partilhavam as mesmas condições de existência e

realizavam, a partir dessa experiência comum, trocas sociais e

culturais positivas do ponto de vista da consciência social.

Proximidade e imbricação entre moradia operária e planta

fabril, se muitas vezes dificultavam a atividade sindical, podi-

am se tornar, por outro lado, perigosas para os patrões em

épocas de greve, quando a expansão do movimento ganhava

corpo com a maré de adesões maciças e em bloco, justamente

o que ocorreu em 1919.

Com exceção dessas duas áreas de concentração operá-

ria, o restante da classe trabalhadora e as camadas populares

de um modo geral de Salvador dispersavam-se pelos vários

bairros da cidade, inclusive pelos distritos centrais e periféri-

cos da Cidade Alta. Durante toda a República Velha, a maio-

ria das pessoas morava de aluguel, restando a um pequeno

número de indivíduos o privilégio de ter residência fixa pró-

pria. Em períodos de maiores dificuldades, como o da Pri-

meira Guerra, a única alternativa encontrada pela maioria dos

inquilinos para enfrentar os problemas da carestia era mudar-

se continuamente em busca de senhorios menos ambiciosos.

É que a propriedade imobiliária tornou-se cada vez mais con-

centrada e transformou-se, ela mesma, em objeto de negóci-

os de alguns grupos. Comerciantes, ordens religiosas e socie-

dades filantrópicas e beneficentes, como a Santa Casa de

Misericórdia, grandes companhias industriais, especialmente

as têxteis, com suas vilas operárias, passaram a exercer um

virtual monopólio sobre a moradia da cidade. Paralelamente,

as reformas urbanas provocavam a demolição de muitos

casarios, sem que houvesse uma reposição dos mesmos, o

que agravava o déficit de moradia. Por outro lado, a pressão

das atividades comerciais também transformava prédios resi-

denciais em mercantis. Foi o que aconteceu com o Distrito da

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89

Conceição, que naquele ano já era um bairro eminentemente

comercial, com 56% de seus prédios destinados aos negóci-

os. Apesar disso, a maioria da população pobre e trabalhado-

ra continuava morando nos distritos centrais. Em 1920, os

prédios residenciais ainda eram maioria nessas localidades,

sendo 74% no Distrito do Passo, 76% em São Pedro, 58% na

Sé e 59% no Pilar. Em todos os distritos, porém, a maioria

dos moradores continuava sendo formada por inquilinos po-

bres. Naquele ano, eles eram 64% em Brotas, 98% na Con-

ceição, 85% nos Mares e em Nazaré, 96% no Passo, 80% na

Penha, 92% no Pilar, 88% em Santana, 74% no Santo Antô-

nio, 86% em São Pedro, 94% na Sé e 71% na Vitória.54 Em

geral, pode-se dizer que não havia, em Salvador, uma separa-

ção extrema entre moradias das camadas mais pobres e mais

ricas.

Os bairros de Santo Antônio e Nazaré constituem ca-

sos à parte, pois seus moradores, em geral, não tinham ori-

gem proletária. Elementos das classes médias, em particular

os profissionais liberais e funcionários públicos, mas também

muitos empregados no comércio, moravam nessas localida-

des. Testemunhos chegaram a afirmar mesmo que Nazaré era

um bairro povoado por pessoas de status social mais eleva-

do. Porém, comum aos dois bairros era o fato de terem como

vizinhos outras localidades pobres da cidade. Assim, Nazaré,

vista numa perspectiva mais ampliada, poderia incluir as des-

cidas, ladeiras, avenidas e até mesmo as roças, como a do

Jogo do Carneiro (atual Bairro da Saúde), que a cercavam.

Incluía também Tororó, Godinho e o Campo da Pólvora e

seus jovens pobres e tidos como violentos. Já o Santo Antô-

54 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Habitação em Salvador: fatos e mitos.

In: BRESCIANI, Maria Stella (org.). Imagens da cidade (séculos XIX e XX).

São Paulo: ANPUH; Marco Zero; Fapesb, 1993. p. 93-110.

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90

nio limitava-se, de um lado, com o rico bairro de Nazaré e, de

outro, com localidades pobres do Aquidabã, da Baixa dos

Sapateiros, do Godinho e da Saúde. Delimitava-se também

com o Subúrbio da Liberdade e com a área comercial do Pilar,

com a Jequitaia e Água de Meninos.55 De todo modo, vere-

mos no capítulo 2 como a moradia se constituiu num dos

muitos problemas que a classe operária enfrentou por oca-

sião da crise aberta a partir da Primeira Guerra Mundial.

Ainda quanto à Cidade Baixa, é preciso lembrar que

naquela região localizava-se também o conjunto da infra-es-

trutura necessária ao bom andamento das atividades produ-

tivas e comerciais da capital baiana. Assim, no Distrito do

Pilar, tínhamos o Porto de Salvador, para onde confluíam na-

vios, pessoas e mercadorias vindas de diversas partes do es-

tado, do país e do mundo. Embarcações atracavam com o fito

de descarregar mercadorias, carregar a produção de gêneros

agrícolas e matérias-primas e abastecer-se com gêneros ne-

cessários à continuidade de suas viagens. Essa função de im-

portante entreposto já era exercida pelo Porto de Salvador

desde o século XIX, tendo continuidade no século XX. De-

sempenhava, então, um importante papel na dinamização da

economia da cidade e do estado, sobretudo de seu Recônca-

vo, movimentando o mercado local, nacional e internacional.

Esse elemento harmonizava-se e entrelaçava-se com os gran-

des estabelecimentos comerciais que se concentravam na zona

próxima ao Porto, não por acaso uma região conhecida como

Bairro Comercial ou simplesmente Comércio. Nos limites dos

distritos da Conceição e do Pilar, ficavam também os muitos

trapiches, armazéns e depósitos das firmas de importação e

exportação, além das principais agências de bancos e compa-

nhias de seguros da cidade.

55 ARAÚJO, Ubiratan Castro de (org.). Salvador era assim. Salvador: IGHBA,

1999, p. 20-21, 25, 28-30, 35-51.

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Tabela 7

Oficinas de sapateiros – Salvador, 1919

Firma Nome da Oficina Endereço

Ângelo & Cia. Ângelo Rua do Arsenal, 28

Cidade Baixa

Antônio Romeu Glória Rua Silva Jardim, 41

Antônio Moura Moura Rua Silva Jardim, 45

Arnaldo A. Santos Confiança Rua Silva Jardim, 49

Alfredo L. & Cia. Elite Rua Dr. J. J. Seabra, 159

B. dos Sapateiros

Ângelo de Lego Vesúvio Rua Dr. J. J. Seabra, 68

B. dos Sapateiros

Attilio Bonelli & Irmão Arquimedes Rua São Bento, 19

Centro

Cuchinin Schkerab Dois Amigos Rua da Misericórdia, 18

Centro

Caetano Camardelli Roma Rua do Rosário, 20

Centro

Domingos Longo Brasil Rua Dr. J. J. Seabra, 56

B. dos Sapateiros

Domingos Longo Oriente Rua Dr. J. J. Seabra, 122

B. dos Sapateiros

Florentino Pastor Pastore Rua Dr. J. J. Seabra, 161

B. dos Sapateiros

Fratelli Barletta Ítalo-Brasileira Rua Dr. J. J. Seabra, 151

B. dos Sapateiros

Francisco Levita Francisco Levita Rua Dr. J. J. Seabra, 38

B. dos Sapateiros

Felice Deminco & Cia. Popular Rua Dr. J. J. Seabra, 162

B. dos Sapateiros

Grumann & Edelman Grumann & Edelman Rua Dr. J. J. Seabra, 84

B. dos Sapateiros

Geovani Pinella Geovani Penella Forte de São Pedro, 25

Centro

Isabel Doria Baiana Rua Lellis Piedade, 192

Cidade Baixa

José Avena Caprichosa Rua Silva Jardim, 75

(continua)

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Tabela 7 (continuação)

Oficinas de sapateiros – Salvador, 1919

Fonte: ALMANAQUE Indicador, Comercial e Administrativo do Estado da

Bahia. Bahia: Reis & Cia., 1919. p. 286-287.

Firma Nome da Oficina Endereço

José C. dos Santos José C. dos Santos Portas do Carmo, 1

Centro

Joaquim Pinto Ferreira Portuguesa Rua Silva Jardim, 57

João Priatico Flor da Mocidade Praça dos Veteranos, s/n

B. dos Sapateiros

Jusué & Cia. Carmadelli Praça 13 de maio

Manoel Jacintho de Almeida Elegante Largo da Piedade, 180

Centro

Nicola Maria Mélidiere Filial da Moda Rua da Calçada, 5

Orcisio Pereira dos Santos Natal Travassos, 3, Bonfim

Cidade Baixa

Paschoal Pataro Paschoal Pataro Pelourinho, 82

Centro

Pedro da Boa Morte São Pedro Rua do Cabeça, 23

Centro

Possidonio Menezes Baiana Rua da Calcada, 54

Ramon Esteves Triunfo Rua Dr. J. J. Seabra, 149

B. dos Sapateiros

Raphael Pinella Brasileira Rua da Calçada, 64

Severo Papa Papa Rua da Calçada, 33

Vecente Pucliezi Progresso Rua Silva Jardim, 71

Vicente Verbicaro Itália Barroquinha, 7

B. dos Sapateiros

Vicença Avena Vicença Avena Rua Dr. J. J. Seabra, 78

B. dos Sapateiros

Vicente Filardi Filardi Rua do Cabeça, 43

Centro

Zacharias José dos Santos Zacharias José Rua Dr. J. J. Seabra, 8 bis

dos Santos B. dos Sapateiros

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93

A Cidade Baixa era, portanto, o centro das atividades

industriais, comerciais – inclusive do comércio ambulante - ,

portuárias – com seus negócios de importação e exportação -

, além de ser o principal local de trabalho também de outros

setores operários além dos já referidos, como carregadores,

que para lá se dirigiam todos os dias em busca de colocação

no mercado de compra e venda de sua força de trabalho. Na

Península de Itapagipe, localizava-se também a Estação Fer-

roviária, com linhas que interligavam o Bairro da Boa Viagem

ao Porto e a diversas cidades do interior, inclusive do Recôn-

cavo, constituindo-se em imprescindível meio de transporte

de mercadorias e pessoas. Finalmente, lá ficavam também o

centro administrativo e operacional da Companhia Linha Cir-

cular de Carris da Bahia e sua Usina Termoelétrica da Pregui-

ça e o Gasômetro da Companhia Linha Municipal (Calçada

do Bonfim), que, como já vimos, controlavam os serviços de

bondes e de produção e distribuição de energia elétrica e ilu-

minação pública de Salvador.

Sabendo quem era a classe operária de Salvador em 1919,

seu perfil em termos socioprofissionais, étnico-nacionais,

etários e de gênero, onde morava e trabalhava, passemos ago-

ra a analisar como essa classe operária vivenciou a crise inter-

nacional aberta em 1913 e agravada durante a Primeira Guer-

ra Mundial (1914 - 1918) e quais as respostas por ela dadas a

partir de 1919 em face das transformações ocorridas no pós-

guerra.

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O reino da necessidade

Operários em frente à Fábrica da Boa Viagem, pertencente à Companhia

Empório Industrial do Norte, durante a greve geral de 1919.

Fonte: Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919.

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97

A Primeira República em geral e, mais particularmente, a

conjuntura dos anos 1914 - 1920 foram marcadas por crises

econômicas e financeiras que afetaram diretamente a vida e

influenciaram a própria ação política e social da classe operária

e do conjunto dos estratos populares. O período em análise

caracterizou-se pela incapacidade da indústria em garantir uma

produção suficientemente ampla para suprir as necessidades

de alimentação, transportes, moradia, etc. da classe trabalha-

dora em seu conjunto.1

Durante a Primeira Guerra Mundial, as atividades in-

dustriais no Brasil sofreram um incremento, principalmente a

partir do processo de substituição de importações, ao mesmo

tempo em que esforços eram envidados para ampliar as ex-

portações de alimentos.2 Essa política foi a responsável dire-

ta pelo desabastecimento interno, por escassez de alimentos

e escalada dos preços, movida não apenas pelas circunstânci-

as ditadas pelo livre mercado, como também por uma espe-

1 LINHARES, Maria Yedda Leite; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. História

política do abastecimento, 1918 - 1974. Brasília: Binagre, 1979. p. 18-20.

2 PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense,

1993. p. 257-269.

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culação desenfreada, tornando ainda mais insuportáveis as

condições materiais de vida da classe operária, que, por sua

vez, irrompeu em movimentos reivindicatórios em todo o país.

A grande imprensa noticiou nacionalmente o fenômeno da

inflação, a corrosão dos salários e a transformação do custo

de vida num dos mais altos da história do Brasil e da Bahia.

Carestia e especulação

A crise econômica, aguda do segundo semestre de 1918 ao

primeiro trimestre de 1919, iniciou-se, na realidade, pouco

antes da guerra e se agravou com ela. A carestia dos gêneros

de primeira necessidade já havia sido alvo de uma manifesta-

ção popular em 19 de outubro de 1911, quando Cosme de Fa-

rias, indivíduo que possuía grande prestígio junto às camadas

populares, liderou uma passeata, seguida de um comício e da

entrega de uma petição ao intendente da capital pedindo pro-

vidências sobre o assunto. De março a abril de 1913, o movi-

mento assumiu uma feição mais organizada, com manifesta-

ções de rua, reuniões e apelos parlamentares. Na pauta das

reivindicações constava não apenas a luta contra a carestia

dos alimentos de consumo popular, como também contra o

aumento dos aluguéis residenciais e dos preços das passa-

gens de bondes. Dessas manifestações, saiu o Comitê Popu-

lar Contra a Carestia da Vida, presidido por Cosme de Fari-

as, que se reunia periodicamente na sede do Centro Operário

da Bahia e da Sociedade Montepio dos Artistas. O comitê

chegou a apresentar um manifesto ao país, narrando o desen-

rolar do movimento e denunciando o descumprimento de acor-

dos e promessas por parte das autoridades governamentais.

Em seguida, elegeu uma comissão para atuar no Conselho

Municipal e interceder junto ao então deputado Mário

Hermes da Fonseca, líder da bancada baiana na Câmara Fe-

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deral, para que ele atuasse em favor de medidas contra a in-

flação. Em 1914, quando a guerra já era uma realidade e as

expectativas de uma maior deterioração das condições de vida

cresciam a cada dia, as mobilizações foram retomadas, desta-

cando-se as ações individuais de populares contra comerci-

antes retalhistas. Em 1917, ao contrário de São Paulo, Rio de

Janeiro, Rio Grande do Sul e outros estados, as greves não

eclodiram na Bahia, prevalecendo a luta contra a carestia,

particularmente depois que uma comissão popular foi forma-

da em julho e incumbida de tratar do preço do pão. Essa co-

missão chegou a enviar uma petição ao Conselho Municipal

reclamando contra a venda do produto nas tavernas, visando

eliminar este intermediário entre as padarias e os consumi-

dores. Em agosto, os comícios tomaram as ruas novamente,

com críticas e acusações contra autoridades, em particular

contra o intendente Pacheco Mendes, culminando com o des-

fecho trágico em frente ao Palácio do Governo, quando um

dos manifestantes foi morto à bala pela polícia. A ação popu-

lar continuou com quebra-quebra de candeeiros e lâmpadas e

o apedrejamento da Casa Magalhães & Cia., controladora

do comércio de açúcar.3

Testemunhos são unânimes em admitir que a virada de

1918 para 1919 configurou uma conjuntura específica de agra-

vamento da carestia e da crise econômica geral. As mobiliza-

ções contra a alta dos preços, que haviam diminuído depois

do confronto acima citado, ganharam novo impulso e culmi-

naram na retomada do movimento popular. Já em agosto de

1918, diversos operários procuraram o rábula Cosme de Fari-

as pedindo-lhe que usasse sua influência e trânsito junto às

autoridades no sentido de persuadi-las a agir contra a cares-

3 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Sobrevivência e tensões. Salvador (1890 -

1930). 1982. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e

Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982. p. 407-414.

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100

tia dos gêneros de primeira necessidade. Nesse encontro, Cos-

me de Farias comprometeu-se em convocar, com máxima ur-

gência, uma ampla reunião a realizar-se no Centro Operário da

Bahia. A intenção era realizar, previamente, uma audiência com

o governador do estado, o intendente, diretores de fábricas e

de oficinas, o secretário de Segurança Pública (Álvaro Cova) e

os representantes da Associação Comercial da Bahia, da Soci-

edade União dos Varejistas e do próprio Centro Operário.4

Dessa forma, no dia 5 de setembro ocorreram duas reuniões,

uma no Paço Municipal, sob a presidência do intendente Ro-

cha Leal, reunindo os comerciantes, representados pelas asso-

ciações acima indicadas, e a outra na sede do Centro Operário,

presidida por Cosme de Farias, na qual se deliberou continuar

pressionando os poderes públicos para solucionar a questão.5

A proposta de tabela de preços organizada pela Socie-

dade União dos Varejistas sofreu, a partir daí, uma intermi-

tente oposição do jornal seabrista O Tempo. Assim, no dia 13

de setembro, um articulista denunciava, por exemplo, a desi-

lusão das classes populares, pois, “ao contrário das providên-

cias que deviam ser tomadas para o barateamento dos artigos

de primeira necessidade, deu-se exatamente o aumento de

preços desses mesmos gêneros de maneira a tornar a vida

impossível justamente para aqueles que mais necessidade têm

das medidas aspiradas, (...) aqueles das classes mais pobres,

que ganham (...) o pequeno salário do operariado”. Além

disso, o jornal denunciou também que, além de apresentar

preços mais altos do que os que vigoravam antes, a organiza-

ção da tabela objetivava impedir a adoção, na Bahia, da tabe-

la organizada no Rio de Janeiro pelo Comissariado da Ali-

mentação Pública, a seu ver, mais vantajosa para a população

4 O Tempo, Salvador, 21 ago. 1918, p. 2

5 O Tempo, Salvador, 5 set. 1918, p. 2.

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101

pobre e trabalhadora.6 A campanha de oposição à tabela dos

varejistas e atacadistas continuou no dia seguinte, quando a

imprensa governista reafirmou, de maneira ainda mais con-

tundente, que os comerciantes tinham o objetivo único de

promover “o encarecimento dos gêneros de primeira necessi-

dade” e de “proteger os gananciosos exploradores da crise”,

apresentando uma tabela comparativa entre os preços propos-

tos pelos comerciantes baianos e os praticados pelos negocian-

tes do Rio de Janeiro, na qual se constata, claramente, a supe-

rioridade dos primeiros em relação aos últimos.7 Ora, se os

preços de primeira necessidade eram iguais ou superiores aos

praticados no Rio, o mesmo não se pode dizer dos salários da

classe operária. O caso dos tecelões é um exemplo claro disso.

Enquanto, em fins de 1918, um operário têxtil adulto de Salva-

dor ganhava 13$000 de empreitada semanal, em 1919 o operá-

rio da mesma ocupação recebia 8$000 de diária no Distrito

Federal e tinha um rendimento semanal de 48$000.8

6 O Tempo, 13 set. 1918, p. 1. O Comissariado da Alimentação Pública foi

criado a partir do Decreto nº 13.069, de 12 de junho de 1918, em um quadro

de emissões desordenadas de papel-moeda, política de incentivo às exporta-

ções de gêneros alimentícios para os países beligerantes, monopolização da

produção e comercialização dos alimentos, precariedade dos transportes, peso

dos impostos e tudo o mais que gerava a escassez e a inflação. O referido órgão

foi criado através de legislação provisória e visava, segundo Linhares e Silva,

assegurar a eficácia do sistema produtivo e a manutenção do conjunto de

relações sociais a ele associadas, ao mesmo tempo em que criava uma raciona-

lidade técnica supostamente capaz de amortecer os conflitos de classe. Ver

LINHARES, Maria Yedda Leite; SILVA, Francisco Carlos Teixeira e. Histó-

ria política do abastecimento, 1918 - 1974. Brasília: Binagre, 1979. p. 21.

7 O Tempo, Salvador, 14 set. 1918, p. 1. Dentre os produtos que tiveram seus

preços comparados, respectivamente no Rio de Janeiro e em Salvador, desta-

cam-se os seguintes: 1 kg arroz de 1ª, $900 e 1$200; 1 kg de arroz inferior,

$600 e $900; banha (lata de 2 kg), 4$000 e 4$800; 1 kg de café moído, 1$000

e 1$600; 1 kg de charque, 2$000 e 2$700; 1 kg de feijão mulatinho, $360 e

$500; 1 kg de pão, $800 e 1$300.

8 LOBO, Eulalia Maria Lahmeyer. Questão habitacional e movimento operário.

Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1989. p. 119.

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102

Ainda no dia 14 de setembro, Cosme de Farias presidiu

uma outra assembléia do Centro Operário da Bahia para dis-

cutir a carestia. Desse conclave saiu a deliberação de enviar

uma mensagem telegráfica ao então senador J. J. Seabra, pe-

dindo-lhe que interviesse no sentido de conseguir a aplicação,

na Bahia, da tabela feita pelo Comissariado da Alimentação

Pública que vigorava no Rio de Janeiro.9 O impasse nas nego-

ciações com os comerciantes fez com que o Conselho Munici-

pal e o governo do estado também se posicionassem a favor de

uma intervenção do Comissariado da Alimentação.10 Por sua

vez, respondendo ao telegrama que os membros do Centro

Operário lhe haviam enviado, o senador Seabra avisou que iria

agir no sentido de conseguir a extensão da ação do Comissariado

da Alimentação à Bahia, conforme o desejo popular.11 Instala-

do oficialmente em 8 de outubro de 1918, até dezembro sua

ação parece ter sido inócua.

Nos primeiros meses de 1919, a carestia dos gêneros de

primeira necessidade ainda não havia sido contida, apresen-

tando mesmo tendências ao agravamento da situação em al-

guns casos. Em março, o próprio editor do jornal O Tempo

voltou ao assunto, avisando que não era a primeira e nem seria

a última vez a usar sua coluna para defender os interesses po-

pulares hora em jogo, pois a crise estava atingindo indiscrimi-

nadamente a classe operária, os assalariados mais pobres e

mesmo a classe média, posto que esta era “obrigada a repre-

sentações”. As representações às quais o jornalista fez referên-

cia eram os gastos com vestuário e calçados, que alcançaram

9 O Tempo, Salvador, 16 set. 1918, p. 2. Além de Cosme de Farias, o telegrama

foi assinado por outras lideranças vinculadas ao Centro Operário da Bahia, a

exemplo de Felipe Tranquilino de Castro, Arnaldo Pereira, José Maria da

Rocha Argolo, Eugênio Cardoso, Manoel Santos Silva e João Afonso.

10 O Tempo, Salvador, 19 set. 1918, p. 1.11 O Tempo, Salvador, 20 set. 1918, p. 1.

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preços dados como fora do poder aquisitivo de muitos setores,

a exemplo dos funcionários públicos, que estariam na iminência

de freqüentar as repartições apresentando-se como “mendi-

gos, rotos, sujos e esfarrapados, pois os magros vencimentos

lhe são insuficientes para o alimento da família”.12

A situação dos funcionários públicos era, aliás, das pio-

res, pois, além dos constantes atrasos em seus pagamentos, os

salários não haviam tido qualquer reajuste desde 1º de maio de

1896, ou seja, estavam estagnados há 22 anos, tomando 1918

como referência.13 Foi nesse quadro de descontentamento ge-

neralizado que se aprovou, então, em agosto de 1918, a Lei nº

1.286, pela qual o governo do estado concedia uma gratifica-

ção especial a vigorar durante a fase final da guerra, como for-

ma de compensar a queda do poder de compra dos salários em

face da carestia geral. As gratificações variaram entre 8%, 10%

e 12% e incidiriam sobre os proventos (salários ou diárias) de

todos os funcionários e serventuários do Estado, inclusive os

da Câmara dos Deputados e do Senado do Estado, excluídos

do gozo de tais vantagens o governador, os deputados e sena-

dores e os comissionados. Já os 1.000 praças da Força Pública,

lotados em Salvador, receberiam uma gratificação extraordiná-

ria de 300 réis diários.14 Mas a corrosão dos salários era tanta,

que já em agosto de 1919 a Associação dos Funcionários Públi-

cos estava reivindicando 30% de aumento, enquanto a Câma-

ra dos Deputados do Estado discutia o projeto nº 111, que pre-

12 O Tempo, Salvador, 17 mar. 1919, p. 2.

13 ATA da 2ª Reunião de Assembléia Geral Extraordinária da Associação dos

Funcionários Públicos do Estado da Bahia de 16 de junho de 1919. Diário

Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 22 jun. 1919; A Tarde, Salvador, 19 jun.

1918, p. 1. Esse reajuste de 1896 ocorreu em função da primeira reforma nos

quadros do funcionalismo tendo por base a Lei nº 115, de 16 de agosto de 1895.

14 BAHIA. Lei 1.286, de 24 de agosto de 1918. Coleção de Leis do Estado da

Bahia do ano de 1918. Salvador: Imprensa Oficial do Estado, p. 30-31, 1921;

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 27 ago. 1918.

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via a incorporação definitiva da gratificação de guerra aos salá-

rios dos funcionários públicos baianos.15

A carestia e a depreciação salarial são fenômenos rela-

cionados às oportunidades criadas pela guerra para a expor-

tação de gêneros de primeira necessidade, como se pode ver

na Tabela 8. Na realidade, a Bahia viveu uma situação para-

doxal em que sua participação no conjunto das exportações

brasileiras encontrava-se em declínio por anos consecutivos,

enquanto seu comércio exterior, analisado separadamente,

mostrou uma ascensão nítida durante a guerra. Assim, nos

20 anos compreendidos entre 1890 - 1910, o crescimento mé-

dio anual foi da ordem de 6,9%, ao passo que nos cinco anos

que se seguiram (1911 - 1915) o crescimento do valor das ex-

portações em libras foi de 2%. Mas foi no qüinqüênio de 1915

a 1919 que a alta foi absolutamente fora do comum e longe de

qualquer previsão, tendo o superávit alcançado um avanço

de 72% em relação ao mesmo período anterior. O maior e

mais significativo pico não apenas dessa conjuntura, mas de

toda a Primeira República, foi exatamente o ano de 1919, com

exportações que atingiram 12.724.531 libras.16

Os problemas enfrentados pelas classes populares em

função do crescimento das exportações podem ser analisados

a partir de um exemplo concreto. Em dois momentos distintos

da conjuntura, a farinha de mandioca, elemento central da di-

eta popular, serviu a propósitos ligados à especulação. A pri-

meira vez foi em setembro de 1918, quando os três principais

controladores desse comércio formaram um cartel e resolve-

ram exportar todo o estoque que possuíam para Liverpool, na

Inglaterra. O segundo momento foi em setembro de 1919, quan-

15 A Hora, Salvador, 1. ago. 1919, p. 1; 12 ago. 1919, p. 2.

16 A INSERÇÃO da Bahia na evolução nacional – 2ª Etapa (1890-1930).

Salvador: CPE, 1980. p. 24-27.

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do os comerciantes começaram a drenar toda a farinha de man-

dioca de Salvador para Recife. Segundo alguns jornais, esta

operação teria assegurado lucros altíssimos, pois a mercadoria

era comprada na praça da Bahia a um preço médio de 15$000

por saco e revendida a 35$000 em Pernambuco. No varejo tam-

bém havia grande diferença, com grandes prejuízos para os

consumidores, pois enquanto a tabela do Comissariado da

Alimentação Pública estabelecia valores entre $120 e $180 por

litro, o produto já estava sendo vendido a $240 em Salvador e

$800 em Recife. Os lucros eram tão certos e altos que apenas

em um dia foram vendidos para aquele mercado 4.530 sacos

de farinha de mandioca. Mesmo considerando que esses valo-

res possam não representar fielmente a realidade, sendo um

expediente usado pela imprensa seabrista para acirrar a ani-

mosidade popular contra os comerciantes, é preciso admitir

que havia, efetivamente, especulação e aumento de preços e

esse é um fato confirmado por todas as fontes, independente

dos níveis que os mesmos tenham alcançado.17

Isso ajuda a explicar, em parte, por que em 1919 houve

uma exacerbação dos conflitos relacionados à carestia e ao

açambarcamento de alimentos. Ajuda a entender, também,

as razões que fizeram da greve geral de junho de 1919 não

apenas a maior e mais importante manifestação operária da

cidade até 1930, como também um momento de comunhão

de todo o povo contra uma situação considerada inadmissí-

vel. Na realidade, a degradação das condições de vida da po-

pulação trabalhadora e pobre foi o preço que o governo bra-

sileiro aceitou pagar para equilibrar a balança de pagamentos

e vencer as dificuldades causadas pela baixa dos preços dos

produtos tradicionais de exportação nacionais, a exemplo do

café e da borracha. É que a grande crise internacional de 1913

17 O Tempo, Salvador, 6 set. 1918, p. 1; 4 set. 1919, p. 1.

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106

fez com que os preços dos principais produtos de exportação

brasileiros sofressem uma queda inédita na história do co-

mércio exterior do Brasil. Além disso, as importações, princi-

palmente das matérias-primas, não diminuíram, causando um

grande desequilíbrio na balança de pagamentos. Foi só a par-

tir de 1915 que a situação começou a mudar, pois o país pas-

sou a promover exportações de gêneros não-tradicionais para

os países do bloco aliado em sua guerra contra o império ale-

mão, como açúcar, arroz, milho, farinha de mandioca, char-

que, etc., desconsiderando o risco de arruinar o frágil equilí-

brio da economia popular e provocar o aumento das tensões

sociais, traduzidas na maré de greves e manifestações popu-

lares ocorridas na conjuntura analisada.

Tabela 8

Exportações de gêneros de primeira necessidade

Em toneladas – Brasil, 1914-1918*

Fonte: Dados da Diretoria de Estatísticas do Ministério da Fazenda. Diário Ofi-

cial do Estado da Bahia, 20 fev. 1919.

* Dados correspondentes aos 11 primeiros meses de cada ano do qüinqüênio.

Os algarismos referentes ao ano de 1918 estão sujeitos a retificações.

O valor médio por unidade representa o quociente da divisão do valor posto

a bordo, de cada mercadoria, pela sua respectiva quantidade.

Produto

1914 1915 1916 1917 1918

Arroz 2 2 469 35.828 26.466

Açúcar 29.065 59.074 47.997 121.733 96.670

Batata - - - 3.311 5.064

Carnes em conserva 285 77 352 2.262 16.098

Carne congelada 1 6.670 32.395 62.333 58.043

Charque 6 737 2.270 3.928 4.431

Farinha de mandioca 4.342 3.890 4.534 16.517 57.669

Feijão 4 276 34.884 90.331 65.973

Milho - - 3.108 23.314 11.886

Quantidade

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107

Foi o que aconteceu, por exemplo, com a carne e o pão,

produtos transformados em objeto de ações mais radicais de

setores da população. Em junho de 1919, em meio à greve

geral, o comerciante José Presídio Figueiredo, que possuía

depósito na rua J. J. Seabra, na Baixa dos Sapateiros, abateu

três bois com o objetivo de vendê-los ao Hospital Santa Isa-

bel. Quando seu filho Joel Presídio e alguns carregadores fo-

ram levar a mercadoria ao hospital, viram-se “atacados por

um numeroso grupo de populares, estabelecendo-se por essa

ocasião grande e sério conflito, que ia tomando lamentáveis

proporções, aí não fosse a intervenção prudente do delegado

Lustosa de Aragão...” Pensando nas conseqüências políticas

do fato, o jornal O Tempo procurou desvincular do movi-

mento operário este ataque à propriedade. Em suas palavras,

“os turbulentos, que não pertenciam ao número dos operári-

os grevistas, derramaram querosene sobre 55 kg de carne,

atearam fogo, resultando sair ferido da luta, com uma pedra-

da na cabeça, o Sr. Joel Presídio, que fora medicado na Assis-

tência Pública”. E sentenciava: “Esperamos que esses fatos

não se reproduzam, a fim de que não se diga ser a classe ope-

rária a causadora desses excessos”.18

A crise do pão

Mas foi, sem sombra de dúvida, a alta do pão o que desper-

tou, de modo mais profundo, o rancor que a classe operária e

os estratos populares dispensavam aos comerciantes. Há for-

tes indícios de que os momentos mais críticos da carestia e

do açambarcamento do pão coincidiram com as fases mais

radicalizadas do movimento operário. Em maio de 1919, por

exemplo, em meio à greve nacional dos marítimos, entre os

18 O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.

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108

quais os da Bahia e do Rio de Janeiro, e emendando com a

greve geral de junho em Salvador e no Recôncavo, os proble-

mas relativos a escassez e alta do preço do pão voltaram a

ocupar o centro das atenções dos trabalhadores e também

dos jornais, não importando a sua coloração política. Já em 8

de maio, a Associação dos Estabelecimentos de Padaria da

Bahia fez publicar um manifesto dirigido às autoridades e ao

público em geral, no qual informava a paralisação da produ-

ção do pão sob o argumento de que a alta de preços da fari-

nha de trigo estava fazendo-os ter um prejuízo diário de

50$000.19

Mas a panificação em Salvador era um empreendimen-

to dominado pelos galegos, que, como estrangeiros, eram re-

lativamente mais vulneráveis que os brasileiros às tensões

geradas pelo aumento do preço do pão, alimento essencial e

secularmente incorporado à dieta popular. A situação se tor-

nava bastante complicada quando os atacadistas promoviam

retenções do trigo ou aumentavam o seu preço, fazendo com

que tal produto ficasse inacessível às padarias ou deixando-

lhes como única saída o impopular repasse de custos para os

consumidores diretos. Nesses casos, o sentimento de revolta

da população se voltava, prioritariamente, contra tais estabe-

lecimentos varejistas e seus proprietários estrangeiros, que

passavam a ser encarados, tanto pelo povo como pelas auto-

ridades, como forasteiros exploradores. Não por acaso, os

galegos fundaram, em 1917, a Associação dos Proprietários

de Padarias. Seu objetivo era criar uma instituição que asse-

gurasse unidade e coesão a esse segmento empresarial a fim

de lhe proporcionar maior poder de pressão para lutar pelos

seus interesses. Em maio de 1919, 38 donos de padaria, dos

quais 25 eram galegos, decidiram, em assembléia, suspender

19 O Tempo, Salvador, 9 maio 1919, p. 2.

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109

o fabrico do pão. Sentiam-se prejudicados pela alta do preço

da farinha de trigo e pelo tabelamento imposto pelo

Comissariado da Alimentação.20

Na verdade, mesmo admitindo que a taxa de lucro das

padarias pudesse estar caindo, o que fica claro é que os pro-

prietários de padaria aproveitaram-se do momento para fazer

um lockout visando pressionar as autoridades a revogar o ta-

belamento do pão e restabelecer a liberdade de comércio. A

imprensa ligada ao Palácio da Aclamação, talvez porque não

visse naquele grupo social um ponto de apoio para suas ma-

nobras políticas, não gostou e disse que o Comissariado da

Alimentação deveria intervir no conflito entre padarias e im-

portadores de trigo e punir os responsáveis pela escassez e

alta do pão, deter os “assaltos da ganância, parta de onde

partir, venha de onde vier”, e impedir que o povo continuasse

“escorchado e esmagado pelo choque de interesses subalter-

nos de indivíduos que se preocupam apenas com riquezas

rápidas”.21 O conflito se arrastou até junho, quando, além de

consumidores insatisfeitos, os proprietários de padaria en-

frentaram um confronto aberto com seus trabalhadores e seu

sindicato.

Os problemas gerados pelas disputas entre os comerci-

antes atacadistas controladores da importação e comerciali-

zação do trigo e os proprietários de padarias continuaram ainda

por muito tempo e, em agosto de 1919, às vésperas de uma

greve que abarcou todo o ramo têxtil e quase virou uma nova

20 A Associação dos Estabelecimentos de Padaria da Bahia foi fundada em 7 de

abril de 1917 e originalmente chamava-se Associação dos Proprietários de

Padarias. Os espanhóis também estavam firmemente estabelecidos no peque-

no comércio, controlando inclusive a União dos Varejistas da Bahia. BACE-

LAR, Jeferson. Galegos no paraíso racial. Salvador: Ianamá/Ceao/CED-UFBA,

1994. p. 144-145.21 O Tempo, Salvador, 9 maio 1919, p. 1

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110

greve geral, uma nova paralisação da produção e comerciali-

zação do pão ocorreu com a intenção de forçar um aumento

nos preços daquele produto. Em nova nota pública divulgada

entre os dias 21 e 23 de agosto, a Associação dos Estabeleci-

mentos de Padaria da Bahia declarou que as constantes altas

dos preços da farinha de trigo tornavam inviável o acatamen-

to da tabela do Comissariado da Alimentação, obrigando-os

a suspender o fabrico do pão, mantendo apenas a venda de

biscoitos e bolachas nos dias que se seguiriam.22 Os comerci-

antes atacadistas, por sua vez, argumentavam que estavam

repassando aumentos sofridos na importação de farinha de

trigo oriunda dos EUA e da Argentina e que a tendência con-

tinuava sendo de altas ainda maiores. O aumento dos preços

da farinha de trigo nesses países, por seu turno, foi justifica-

do em função do aumento da procura por parte dos aliados e

também em razão do aumento extraordinário dos fretes do

Rio da Prata. Além disso, os atacadistas disseram que a en-

trada da Alemanha e da Áustria na concorrência pela farinha

proveniente daquela região também pressionou os preços

desse produto para cima. Os proprietários de padarias procu-

raram salientar que, além dos aumentos da farinha de trigo

comprada dos atacadistas, tiveram também que arcar com o

aumento de 20% que concederam sobre os salários dos tra-

balhadores de seus estabelecimentos após a greve geral de

junho de 1919, o que fez com que o custo de produção ficasse

ainda maior.23

Em 25 de agosto, após realizar várias reuniões buscan-

do um acordo com o governador Antônio Moniz e o

Comissariado Geral, no Rio de Janeiro, a Associação dos Es-

tabelecimentos de Padaria resolveu paralisar de novo, tem-

porariamente, a produção do pão. Anunciou, contudo, que

22 Diário de Notícias, Salvador, 21 e 23 ago. 1919, p. 2.23 Jornal de Notícias, Salvador, 24 ago. 1919, p. 1.

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111

se suas reivindicações não fossem atendidas, a paralisação

seria por tempo indeterminado, o que acabou fazendo três

dias depois.24 O fato teve desdobramentos significativos. No

final da tarde do dia 29, numa ação aparentemente espontâ-

nea, um popular começou a discursar em frente a uma pada-

ria localizada na rua J. J. Seabra, na Baixa dos Sapateiros,

protestando, em voz alta, contra a falta do pão e clamando

por retaliações aos donos de panificação. Sem que precisasse

esperar por muito tempo, um grupo de indivíduos qualifica-

dos de “desocupados” logo aderiu ao protesto e, aos gritos

de “fecha, fecha”, forçou os proprietários daquele estabeleci-

mento, e outros da mesma área, a cerrar as portas. Em segui-

da, partiu para a Avenida Sete de Setembro, onde fez o mes-

mo com outras casas comerciais congêneres. O argumento

dos manifestantes foi o de que se os proprietários de padaria

não queriam vender o pão, também não poderiam comerci-

alizar biscoitos e bolachas, meio pelo qual ampliavam ainda

mais a sua margem de lucros à custa dos pobres. A força pú-

blica e o delegado Lustosa de Aragão só chegaram ao local

cerca de uma hora depois, momento em que algumas padari-

as aproveitaram para reabrir os seus negócios e passar a ven-

der os mesmos produtos a preços ainda maiores. A tensão

atingiu um nível tal que o Sindicato dos Pedreiros, Carpintei-

ros e Demais Classes e o Centro Operário da Bahia convoca-

ram comícios para o dia seguinte, a fim de discutir ampla-

mente a questão.25

Não se tem notícia do comício promovido pelo Sindica-

to dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, mas sabe-se

que da reunião convocada pelo Centro Operário participaram

24 Diário da Bahia, Salvador, 24 ago. 1919, p. 2; Diário de Notícias, Salvador, 27

ago. 1919, p. 1.

25 O Tempo, Salvador, 30 ago. 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 30 ago.

1919, p. 1; Diário de Notícias, Salvador, 30 ago. 1919, p. 7.

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112

muitos trabalhadores que, liderados por Cosme de Farias,

saíram em passeata pelas ruas do Centro de Salvador carre-

gando flâmulas com inscrições que diziam “o povo quer pão”.

Essa mobilização não parece ter surtido resultados práticos

palpáveis, pois em 1º de setembro a imprensa noticiava que

os proprietários de padaria haviam chegado a um acordo com

as autoridades e retomado a produção, mas ao custo de um

aumento de $100 por quilo de pão. O jornal O Tempo voltou

a responsabilizar os atacadistas de farinha de trigo pela alta

contínua do produto26 e o acordo efetivado foi logo

descumprido por algumas padarias, tanto no que diz respeito

ao peso quanto ao preço do pão.27

Os tempos eram realmente difíceis, e a imprensa obser-

vou que a falta do pão alterou alguns hábitos e rotinas da

população operária e pobre em geral. Uma dessas mudanças

foi uma freqüência maior às feiras da Ribeira de Itapagipe, de

Água de Meninos, do Porto do Bonfim e do Tanque da Con-

ceição, que vendiam alimentos substitutos temporários do

pão. O aumento da demanda, porém, fez com que até esses

produtos começassem a encarecer. A batata-doce, por exem-

plo, que era vendida a 1$200/lata, passou a custar, em agosto

de 1919, 1$700 e as raízes de inhame e de aipim sofreram

aumentos de até 50% no mesmo período.28

Além disso, a imprensa observou que o sistema de pe-

sos e medidas de Salvador era totalmente desrespeitado e até

alimentos impróprios ao consumo humano eram vendidos à

população cotidianamente. Denúncias de carne e bacalhau

deteriorados sendo comercializados era uma constante e os

26 O Tempo, Salvador, 1º set. 1919, p. 1. O PREÇO do pão passou de 1$000

para 1$100.

27 Diário da Bahia, Salvador, 3, 9 e 14 set. 1919, p. 1; Diário de Notícias,

Salvador, 10, 13 e 17 set. 1919, p. 1.

28 O Tempo, Salvador, 29 ago. 1919, p. 1.

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113

produtos falsificados também grassavam pela cidade. Por outro

lado, havia fraudes de todo tipo. Não era muito difícil com-

prar vinagre que causava graves intoxicações e as misturas de

café com milho e feijão, leite com água e/ou outras substânci-

as, azeite-doce com óleo de algodão e pimenta-do-reino e

cominho com milho adicionado pareciam ser fatos corriquei-

ros na Salvador dos anos de guerra e do imediato pós-guerra.29

Em julho de 1918, a própria Associação União dos Varejistas

admitiu que os consumidores eram roubados pela utilização

dos tradicionais sistemas de medidas, principalmente quan-

do compravam cereais, e chegou mesmo a enviar uma petição

à Câmara dos Deputados pedindo que esta aprovasse uma

lei convertendo o sistema antigo, em geral o litro, ao novo,

baseado no peso. Argumentava que já havia feito gestões

anteriores junto ao Conselho Municipal para alcançar tal ob-

jetivo, mas o projeto havia sido vetado pelo então intendente

Pacheco Mendes.30

A crise de moradia

Mas a crise advinda com a Primeira Guerra Mundial não se

expressou, apenas, na carestia e na especulação com os gêne-

ros alimentícios de primeira necessidade. Além das questões

relacionadas com a instabilidade do emprego e a compressão

salarial, que veremos um pouco mais adiante, o problema da

habitação também esteve no centro das atenções para as ca-

madas populares, em geral, e para a classe operária, em parti-

cular. E a razão muito justa para tal fato era que os anos se-

guintes a 1914 até o imediato pós-guerra foram marcados por

um processo de encarecimento e mesmo de especulação dos

preços dos aluguéis como nunca havia sido visto antes. A clas-

29 O Tempo, Salvador, 13 jul. 1918; 10 jan. 1919, p. 1.30 APEB, Seção Legislativa, livro 949.

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114

se trabalhadora, que já vivia em habitações condenáveis nos

velhos sobrados, casarios, cortiços e nas casas de cômodos,

sujeita à epidemias e enfermidades causadas pela falta de

saneamento e higiene, passou a sofrer dos males da carestia

de vida também de modo muito intenso na questão

habitacional a partir da guerra, em função da crescente perda

de poder aquisitivo dos seus salários.

Em maio de 1919, por duas vezes, o jornalista João

Varella ocupou o espaço de sua coluna Colaboração Operária

para denunciar as péssimas condições de moradia das cama-

das populares em geral. O articulista argumentou que a mo-

radia havia se tornado inacessível para a maioria da popula-

ção em virtude da carestia dos aluguéis, causada pelo retrai-

mento dos capitais investidos no setor da construção civil, e

do crescimento desordenado da população. Como desdobra-

mento desse problema, argumentou o jornalista, outros apa-

receram. A classe operária viu-se obrigada, pela força das cir-

cunstâncias, a retirar-se para bairros cada vez mais distantes,

localizados em “povoados lúgubres”, “becos escuros e

infectos”, e para “cortiços nojentos, verdadeiras antecâmaras

ou cemitérios”. Não podendo pagar os altos aluguéis impos-

tos pelo senhorio em virtude dos anos de compressão salari-

al, os operários tiveram que se mudar para tais bairros, “indo

viver em cômodos ou em promiscuidade condenável”.31 João

Varella salientou também que a necessidade de moradia para

o operariado havia se transformado em algo ainda mais ur-

gente porquanto, além de salários depreciados, a maior parte

comprometida com pagamento de aluguel, os trabalhadores

estavam tendo que arcar também com os igualmente altos

gastos com transportes, posto que seus “cômodos mal areja-

dos e apertados” localizavam-se distantes de seus locais de

31 Diário da Bahia, Salvador, 11 maio 1919, p. 2.

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115

trabalho, obrigando-os a pagar pelas viagens de bonde.32 Não

por acaso, antecipando-se aos conflitos que dessa situação

pudessem surgir e percebendo a necessidade de estarem uni-

dos para a defesa de seus interesses, os agentes da especula-

ção com os imóveis urbanos e rurais articularam-se, desde

1910, em torno da Sociedade Defensora da Propriedade Imo-

biliária.33

Quanto à questão da mobilidade operária pela cidade,

já se observou para outras regiões que assegurar transporte

barato e de qualidade para que os trabalhadores se deslocas-

sem de suas casas para o trabalho nunca foi algo que estives-

se entre as principais preocupações dos governos ou patrões

32 Diário da Bahia, Salvador, 14 maio 1919, p. 1. Entretanto, é necessário

relativizar as declarações de jornalistas, autoridades sanitárias e mesmo dos

industriais quanto às questões de higiene e salubridade das moradias proletá-

rias. Esse discurso pertencia muito mais ao mundo burguês que ao universo

operário. Para estes, o custo dos aluguéis, bem como seu peso sobre o orça-

mento familiar, era algo muito mais premente e revestido de materialidade

que os problemas de superpopulação ou degradação das habitações. E isso é

tão real que não encontramos nenhuma fala operária queixando-se do primei-

ro ponto, ao passo que abundam as que tratam do último. Com isto não se

quer dizer que os trabalhadores não aspirassem ao conforto, higiene e salubri-

dade de uma boa moradia, mas é que esses benefícios, quando conseguidos,

eram acompanhados de um cerceamento de sua liberdade e de profundo

controle do seu próprio modo de vida, a exemplo do que ocorria com as vilas

operárias. Essas limitações acabavam sendo um preço alto demais a pagar para

indivíduos que necessitavam explorar todas as possibilidades de sobrevivên-

cia por meio de diversos expedientes utilizados na cidade, ou seja, na rua. Ver

PECHMAN, Robert Moses. Os excluídos da rua: ordem urbana e cultura

popular. In: BRESCIANI, Maria Stella (org.). Imagens da cidade (séculos XIX

e XX). São Paulo: ANPUH; Marco Zero; Fapesp, 1993. p. 29-34. O assunto

foi tratado de modo específico por PERROT, Michelle. Os operários, a mo-

radia e a cidade no século XIX. In: _____. Os excluídos da história: operários,

mulheres e prisioneiros. Tradução de Denise Bottmann. 2. ed. Rio de Janeiro:

Paz e Terra, 1992. p. 101-125.

33 ESTATUTOS da Sociedade Defensora da Propriedade Imobiliária. Fundada

em 20 de setembro de 1910 e reformada em 10 de setembro de 1921. Diário

Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28 set. 1921.

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116

nos primeiros momentos da industrialização. Linhas de bon-

des e trens não foram pensadas tendo esse objetivo em men-

te e mesmo na Inglaterra, o berço da industrialização, isso só

aconteceu a partir de fins do século XIX. Tal deficiência limi-

tava até mesmo as perspectivas dos trabalhadores em termos

de busca de emprego, posto que sua mobilidade estava res-

trita aos locais para onde poderiam se deslocar a pé.34 Essa

situação estava claramente colocada em Salvador em maio de

1919 e o editor do jornal O Tempo criticou a precariedade dos

serviços prestados pelas companhias de transportes urbanos

da cidade, chamando a atenção para as péssimas condições

de manutenção dos seus bondes, o elevado preço das passa-

gens e a falta de segurança das linhas.35

As tensões geradas por essa situação fizeram com que

lideranças de algumas frações da classe operária atuassem

junto à imprensa e a autoridades estaduais em busca de solu-

ções, mesmo que paliativas. Ainda no mês de abril de 1919, o

deputado Cosme de Farias, velho conhecido dos operários de

Salvador pela posição de liderança que assumiu nas manifes-

tações contra a carestia desde o início da guerra, apresentou

um projeto na Câmara, pelo qual autorizava o governador a

construir “2.000 casas higiênicas e modestas, destinadas à

residência de operários”, mas a proposta, que chegou a rece-

ber algum apoio no início, logo foi engavetada e finalmente

rejeitada em 19 de abril de 1921.36

Em fins de maio de 1919, alguns sindicatos, a exemplo

da Sociedade União dos Operários Estivadores, da Socieda-

34 HOBSBAWM, Eric J. O mercado de trabalho de Londres no século XIX. In:

_____. Mundos do trabalho: novos estudos sobre a história operária. Tradução

de Waldea Barcellos e Sandra Bedran. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p.

191-220.

35 O Tempo, Salvador, 5 maio 1919, p. 1.36 APEB, Seção Legislativa, livro 195.

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117

de União dos Carregadores da Bahia, do Sindicato dos Pe-

dreiros, Carpinteiros e Demais Classes e do Centro Operário

da Bahia, passaram a se articular com o advogado Philemon

de Souza, o deputado Cosme de Farias, o jornalista João

Varella e outras pessoas de influência para conseguir fundar a

Cooperativa Operária, que, entre outras coisas, contemplaria

a idéia de construir habitações para a classe operária subven-

cionadas pelo Estado.37 A campanha pela fundação da Coo-

perativa Operária teve continuidade nos dias que se segui-

ram e em princípios de junho a imprensa dava conta de que

essa empreitada, se consolidada, seria de interesse muito mais

amplo do que se supunha, pois, além de assegurar aos seus

associados o acesso a gêneros de primeira necessidade a pre-

ços bem mais baixos numa época de carestia e especulação,

garantiria também a qualidade das mercadorias e a exatidão

de seus pesos e medidas, “circunstância que são valores para

a saúde e para a economia doméstica”. Dessa forma, o

cooperativismo interessaria não apenas aos operários, mas

também “aos pequenos funcionários e empregados” e “a to-

dos que, para se prover do necessário à vida apenas tem um

módico salário”.38

Porém, o capital total da sociedade, segundo seu proje-

to de estatutos, deveria ser formado não apenas a partir das

37 Diário de Notícias, Salvador, 24, 27 e 29 maio 1919, p. 3.38 O Tempo, Salvador, 4 e 5 jul. 1919; Diário de Notícias, Salvador, 5 jul. 1919,

p. 2. O Projeto de Estatutos da Cooperativa Operária previa a constituição

de quatro seções, que seriam responsáveis, respectivamente, pelo consumo

(fabricação, compra e venda de gêneros alimentícios), crédito (depósitos e

empréstimos), assistência, instrução e defesa social (serviços médicos,

odontológicos, farmacológicos, advocatícios e pensões por moléstia ou

invalidez, além de instrução e propaganda do cooperativismo) e produção

(construção de casas, agricultura de subsistência, obras públicas e particula-

res, oficinas de artes e ofícios, etc.). Cooperativa Operária. Projeto de estatu-

tos. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 6 jul. 1919.

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118

subscrições dos próprios sócios, mas também a partir das con-

tribuições de sócios beneméritos e de subvenções do Estado,

criando uma dependência prévia desses recursos.39 A idéia

foi praticamente enterrada quando o projeto que garantiria

uma subvenção estadual de 50:000$000 para a entidade foi

engavetado na Câmara dos Deputados em fins de julho de

1919 até maio de 1925, sendo definitivamente rejeitado nesse

ano.40 E isso aconteceu a despeito das garantias ideológicas

dos estatutos da referida sociedade de que a mesma se pres-

taria tão-somente à propaganda do cooperativismo e de ou-

tros “princípios socialistas não revolucionários”.

Crise de trabalho e compressão salarial

A alta dos preços dos gêneros de primeira necessidade, a es-

cassez do pão, os aluguéis cada vez mais caros ou a falta de

moradia adequada são fatos que afetaram a vida cotidiana

dos trabalhadores, mas de forma ainda um tanto lateral. A

classe operária incorpora-se como força de trabalho no pro-

cesso social global de produção. Para compreender melhor

como os operários sentiram e viveram os anos de guerra, é

preciso, portanto, sair da esfera do consumo e penetrar no

mundo do trabalho. Saber qual foi o impacto da guerra sobre

as atividades produtivas das quais os trabalhadores retira-

vam o seu ganha-pão é, assim, fundamental.

A guerra foi, para os autores dos mais diversos matizes

teóricos, um momento-chave no processo de industrialização

brasileira. Os primeiros estudiosos que se debruçaram sobre

o tema, a exemplo de Caio Prado Jr. e Celso Furtado, viram

39 Cooperativa Operária. Projeto de estatutos. Diário Oficial do Estado da Bahia,

Salvador, 6 jul. 1919.40 Apeb, Seção Legislativa, livro 195.

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119

O trabalho na Fábrica de Massas Alimentícias Progresso.

Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia

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120

no conflito do início do século um mecanismo propulsor da

industrialização por meio do processo de substituição de im-

portações. O conflito teria provocado uma suspensão do for-

necimento externo de alguns produtos manufaturados, fazen-

do com que investimentos fossem feitos na fundação de inú-

meras fábricas no país.41

Essa tese, porém, segundo a qual a Primeira Guerra te-

ria levado a uma aceleração substancial da industrialização

do Brasil, foi contestada por estudos de W. Dean e A. Villela

e W. Suzigan. Dean questionou a validade dos dados dos cen-

sos de 1907 e 1920 para demonstrar que o maior crescimento

industrial ocorreu durante a guerra, pois, além de possuírem

graves defeitos, eles se referiam a um intervalo de seis anos

anteriores e dois anos posteriores ao conflito. Além disso, o

aumento da produção industrial foi conseguido a partir do

prolongamento da jornada de trabalho dos operários, da uti-

lização da capacidade ociosa das fábricas e da produção ma-

nual. Não teria havido, portanto, aumento do número de fá-

bricas.42 Dentro da mesma perspectiva revisionista, Villela e

Suzigan argumentaram também que a eclosão da Primeira

Guerra Mundial provocou uma interrupção do ciclo de acu-

41 PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 40. ed. São Paulo:

Brasiliense, 1993. cap. 34. p. 257-269 disse textualmente que “A Grande

Guerra de 1914-1918 dará grande impulso à industrialização brasileira. Não

somente a importação dos países beligerantes, que eram nossos habituais

fornecedores de manufaturas, declina e mesmo se interrompe em muitos ca-

sos, mas a forte queda do câmbio reduz também consideravelmente a concor-

rência estrangeira. No primeiro grande censo posterior à guerra, realizado em

1920, os estabelecimentos industriais arrolados somarão 13.336, com

1.815.156 contos de capital e 275.512 operários. Destes estabelecimentos,

5.936 tinham sido fundados no qüinqüênio 1915-1919, o que revela clara-

mente a influência da guerra”. Ver também FURTADO, Celso. Formação

econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976.

42 DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo (1880-1945). 4. ed. Rio de

Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. p. 91-114.

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121

mulação de capitais iniciado em 1905, resultando numa drásti-

ca redução dos investimentos na indústria de transformação,

em especial no que diz respeito à aquisição de bens de capital.

As exceções a esse quadro de paralisação dos investimentos

foram os setores de processamento de carnes, açúcar, óleo de

caroço de algodão, papel, couro curtido e outros insumos para

a indústria de calçados, de produtos químicos e de metais.43

Uma tentativa de reavaliação deste debate foi apresen-

tada por Albert Fishlow44 e Flávio R. Versiani e Maria Teresa

R. O. Versiani.45 Fishlow procurou demonstrar que a substi-

tuição de importações vinculadas ao conflito mundial teria

sido mais importante pelos impulsos dados à demanda e,

mesmo não tendo sido acompanhada por grandes aumentos

na capacidade produtiva, gerou lucros que foram utilizados

como investimentos. Procurando relativizar as críticas de

Dean, indicou que o pêndulo fora deslocado para muito lon-

ge na outra direção. Em sua avaliação, houve sim um impacto

favorável da guerra sobre a indústria nacional, pois a produ-

ção têxtil de algodão em 1918 foi 57% superior a 1914, dado

que não muda mesmo se comparado com os anos de 1911 -

1913, de base mais elevada.

Diferentemente desta bibliografia, nossa preocupação

central será, porém, analisar o impacto da guerra na vida dos

43 VILLELA, Annibal Villanova; SUZIGAN, Wilson. Política do governo e cres-

cimento da economia brasileira, 1889-1945. Rio de Janeiro: Ipea/Inpes, 1973. p.

135-139; SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira: origens e desenvolvimento.

São Paulo: Hucitec; Campinas (SP): Editora da Unicamp, 2000. p. 89-90.

44 FISHLOW, Albert. Origens e conseqüências da substituição de importações

no Brasil. In: VERSIANI, Flávio; BARROS, José Roberto Mendonça de.

Formação econômica do Brasil: a experiência da industrialização. São Paulo:

Saraiva, 1977. p. 7-40.

45 VERSIANI, Flávio Rabelo; VERSIANI, Maria Teresa R. O. A industrializa-

ção brasileira antes de 1930. In: VERSIANI, Flávio; BARROS, José Roberto

Mendonça de. Formação econômica do Brasil: a experiência da industrializa-

ção. São Paulo: Saraiva, 1977. p. 121-142

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122

operários da indústria e das outras atividades produtivas, cen-

tralizando o foco de atenção nos reflexos desses efeitos nas

condições de trabalho, nos níveis de emprego, desemprego e

salário, etc. Os produtores diretos, portanto, são os nossos

personagens centrais e não a indústria, os industriais ou a

política econômica do governo.

Na Bahia, o mais importante ramo de produção, do

ponto de vista econômico, era, indiscutivelmente, o têxtil. A

Tabela 9 apresenta três períodos nitidamente definidos da

situação desse setor durante a guerra. Se tomarmos o ano de

1912 como pico de uma fase de relativa estabilidade anterior

ao conflito, veremos que, do ponto de vista da evolução dos

lucros, essa indústria viveu sua crise mais aguda nos anos

1913 - 1914, quando houve diminuição drástica das vendas,

retração do crédito bancário, agravamento da crise de super-

produção e venda dos estoques a preços abaixo dos pratica-

dos no mercado em tempos normais, começou a se recuperar

entre 1915 - 1916 e gozou de uma real prosperidade, a despei-

to das negativas e reclamações de seus diretores, algumas delas

reais, outras não, durante o período de 1917 - 1920. Em meio

a esta última fase e imbricando-se com ela, temos uma con-

juntura específica de crise profunda no imediato pós-guerra,

do segundo semestre de 1918 ao primeiro trimestre de 1919,

que não afetou a margem de lucros dos industriais, mas que

trouxe um mal-estar social nunca visto para a maioria dos

operários têxteis, pois os industriais resolveram seus proble-

mas de superprodução com a destruição de parte das forças

produtivas, ou seja, fechando algumas fábricas e/ou diminu-

indo o número de dias e horas de trabalho. Embora nenhuma

dessas conjunturas específicas tenha sido absolutamente fe-

chada e cada uma delas guardasse e trocasse elementos da

que lhe antecedeu ou sucedeu, é possível dizer que houve

uma crise de superprodução jamais experimentada pela in-

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123

dústria têxtil, mas, como veremos, quem arcou com todo o

ônus da pletora de tecidos foram os produtores diretos.

Independentemente da existência concreta de fases mais

críticas de crise, recuperação ou mesmo de prosperidade, os

industriais têxteis queixaram-se, durante todo o período da

guerra, dos diversos fatores que provocaram um aumento dos

custos de produção e diminuíram a margem de lucro das fá-

bricas. Esses fatores desestabilizadores da vida econômica

estavam ligados, primeiramente, aos problemas da escalada

dos preços dos insumos, tais como carvão, anilinas, óleos

combustíveis, lubrificantes e algodão. O algodão, em parti-

cular, tinha seu preço ditado pela situação do mercado inter-

nacional, o qual interferia na própria produção interna brasi-

leira. Nos anos de 1916 e 1917, seus preços externos se eleva-

ram bastante, forçando uma alta no plano nacional, especial-

mente do algodão nordestino, gerando um aumento dos cus-

tos de produção para a indústria têxtil em seu conjunto.46

Assim, os relatórios anuais de 1915, 1916 e 1917 da direto-

ria da Companhia Empório Industrial do Norte admitiam que

aquela fábrica havia tido lucros crescentes, mas recomendavam

moderação na distribuição dos dividendos, pois o perigo da alta

de matérias-primas centrais ao processo de produção, como al-

godão, anilinas e carvão, ainda poderia acontecer. Em 1915, só

foram distribuídos dividendos de 8%, o menor índice até 1920.47

46 CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. São Paulo:

Difel, 1977. p. 66.

47 RELATÓRIO da direção da Companhia Empório Industrial do Norte e pare-

cer do Conselho Fiscal apresentado aos srs. acionistas na Sessão de Assembléia

Geral Ordinária de 31 de março de 1916. Salvador: Reis & Cia., 1916 (Exercí-

cio de 1915). No caso do carvão, a escassez e aumento dos preços forçaram a

companhia a contratar os serviços da The Caloric Company e modificar cinco

caldeiras para que pudessem queimar óleos combustíveis. Também se procurou

baixar os gastos com o algodão, instalando-se um prédio para beneficiá-lo na

cidade de Serrinha, diminuindo a dependência da matéria-prima oriunda de

outros estados ou do exterior. Apeb, Seção Legislativa, livro 1074.

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124

Em 1916, devido à conversão das caldeiras que queimavam

carvão para o modelo das que usavam combustíveis líquidos

(óleo), a diretoria voltou a queixar-se da elevação dos custos

de produção, mas o relatório mostra que essa conversão re-

gularizou e ampliou a produção, aumentando a margem de

realização dos lucros e a distribuição de dividendos (10%).48

O ano de 1917 também foi descrito de modo negativo, apesar

de os lucros líquidos terem sido ainda maiores e a distribui-

ção de dividendos ter pulado para 12%. O relatório informa-

va que o algodão nordestino, que em 1914 custava à compa-

nhia 13$000/arroba, passara, em 1917, a 60$000, o carvão

pulara de 30$000/tonelada a 180$000 e as anilinas e outros

Tabela 9

Indústria têxtil - Bahia - Evolução dos lucros líquidos,

1912-1920

Fonte: Atas das Assembléias de Acionistas, Estatutos e Relatórios das Companhias

Têxteis - 1912-1920.

* Lucros brutos.

48 RELATÓRIO da direção da Companhia Empório Industrial do Norte e

parecer do Conselho Fiscal apresentado aos srs. acionistas na Sessão de As-

sembléia Geral Ordinária de 30 de março de 1917. Salvador: Reis & Cia.,

1917 (Exercício de 1916).

Ano Companhia

Empório

Industrial do

Norte

Companhia União

Fabril da Bahia

Companhia Progresso

Industrial da Bahia

Companhia

Valença Industrial

Companhia Fabril

dos Fiais*

1912 739:504$490 - 770:299$070 466:963$136 781:003$510

1913 408:060$660 822:432$550 315:874$250 210:255$665 -

1914 168:818$970 1.077:942$100 122:035$760 675:300$455 -

1915 686:893$640 465:934$130 478:223$210 276:235$730 1.283:831$370

1916 657:419$280 - 318:409$070 426:350$540 1.039:793$110

1917 813:308$980 560:950$000 843:053$720 644:783$910 1.751:868$490

1918 857:467$110 819:231$350 878:089$360 1.209:494$790 1.862:865$250

1919 859:147$270 763:407$160 876:946$620 1.546:655$630 1.700:038$620

1920 2.116:441$450 1.414:731$390 1.371:360$980 1.604:950$530 1.231:581$050

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125

produtos químicos haviam tido aumentos superiores a 500%.

Para completar, em 1919, a praga da lagarta-rosada e, em 1920,

a da lagarta-verde fizeram grandes estragos na lavoura do al-

godão, pressionando ainda mais os preços daquele insumo.49

A direção das fábricas da Companhia Progresso Indus-

trial da Bahia também lamentou a alta das matérias-primas,

tendo o algodão subido, em 1915, dos 18$500/arroba no mês

de agosto para 30$000/arroba em dezembro, alcançando, em

janeiro, 37$000. Apesar deste problema e da escassez das

anilinas, suas duas fábricas operaram em plena força.50 No

decorrer de 1916, a tendência foi de alta, e essa companhia

chegou a comprar a arroba do algodão por 42$000.51

O carvão foi outro vilão das fábricas têxteis. A Tabela

10 mostra a queda contínua da importação e a elevação astro-

nômica do seu custo, a ponto de em 1918 ter-se comprado

cerca de ¼ do carvão do ano de 1913 e pago uma quantia

ainda maior em moeda nacional do que a que havia sido paga

no ano que antecedeu à guerra.52 Os resultados dessa alta

não tardaram a aparecer e, em 1917, a Fábrica Conceição, per-

49 RELATÓRIO da direção da Companhia Empório Industrial do Norte e

parecer do Conselho Fiscal apresentado aos srs. acionistas na Sessão de As-

sembléia Geral Ordinária de 2 de abril de 1918. Salvador: Reis & Cia., 1918

(Exercício de 1917). BAHIA. Secretaria da Agricultura, Indústria e Comér-

cio. Relatório dos Serviços da Secretária da Agricultura, Indústria, Comércio,

Viação e Obras Públicas durante o ano de 1920. Documento disponível no

APEB, Seção Republicana, caixa 2386, maço 178, doc. 746.

50 RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso Industrial da Bahia para

ser apresentado aos srs. acionistas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral

em 14 de março de 1916 (Exercício de 1915). Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 14 mar. 1916.

51 RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso Industrial da Bahia para

ser apresentado aos srs. acionistas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral

em 28 de março de 1917 (Exercício de 1916). Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 25 mar. 1917.52 Jornal de Notícias, Salvador, 9 jul. 1919, p. 3.

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126

tencente à Companhia União Fabril da Bahia, resolveu subs-

tituir o minério por lenha, fazendo com que o número de te-

ares em funcionamento caísse para 2/3, pois as caldeiras eram

inadequadas para queimar aquele tipo de combustível.53

Tabela 10

Importações de carvão*- Brasil, 1913-1918

53 RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia referente ao exercício de

1917. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 9 abr. 1918. A companhia

estava resolvendo o problema com a compra de outra caldeira.

54 COMPANHIA Fabril dos Fiais. Relatório que tem de ser apresentado pela dire-

toria à Assembléia Geral Ordinária dos srs. acionistas, em 21 de fevereiro de 1918

(Exercício de 1917). Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 21 fev. 1918.

Mesmo a Companhia Fabril dos Fiais, que era a única

indústria têxtil baiana de juta e fabricava toda a aniagem usa-

da para ensacar as crescentes exportações baianas, queixou-

se de escassez e alta dos insumos, em particular da juta. Em

1917, esses problemas, que já se arrastavam desde o início da

guerra, pioraram sensivelmente, ao ponto dessa fábrica ame-

açar a paralisação da produção em face da suspensão tempo-

rária da exportação inglesa. Contudo, a fábrica continuou a

produzir e seus lucros chegaram a crescer naquele ano.54

Na verdade, o que aconteceu foi que os industriais en-

frentaram os problemas gerados pela guerra adotando medi-

Ano Toneladas Réis Libras

1913 2.518.561 69.188.000 4.613.000

1915 1.276.287 57.255.000 2.956.000

1916 1.091.322 83.020.000 4.012.000

1917 825.940 94.260.000 5.012.000

1918 650.115 74.745.000 4.020.000

Fonte: Jornal de Notícias, 9 jul. 1919, p. 3.

* Inclui o carvão nas formas de pedra, briquete e coque.

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127

das para reduzir os custos de produção, aumentar a produti-

vidade e valorizar os seus produtos. Uma delas foi a paralisa-

ção parcial ou total da produção de algumas unidades e a

ampliação, ao máximo, da produção de outras, tarefa relati-

vamente fácil, já que três das cinco companhias existentes no

estado possuíam mais de uma fábrica. Em abril de 1916, por

exemplo, a Companhia Progresso Industrial da Bahia inter-

rompeu a produção da Fábrica Bonfim, que fechou o balanço

com um déficit de 8:298$730.55 Em 1917, no entanto, os lu-

cros da Companhia Progresso Industrial duplicaram, permi-

tindo a reabertura da Fábrica Bonfim, em maio de 1918. Nes-

se ano, a Progresso Industrial chegou mesmo a adquirir 85

teares revólveres, utilizados na Fábrica São Brás para o apro-

veitamento do excedente de produção do setor de fiação. A

Fábrica Bonfim também recebeu novos equipamentos, em

particular um locomóvel de 60 HP, visando complementar a

deficiente oferta de energia daquela unidade, e uma máquina

para fabrico de cordão tubular.56 Em 1919, os negócios da

Companhia Progresso Industrial da Bahia se ampliaram tan-

to que a empresa comprou as fábricas São João e Paraguaçu,

ambas localizadas no Distrito da Penha, aumentando o seu

capital de 2.450:000$000 para 4.650:000$000.57

55 RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso Industrial da Bahia para

ser apresentado aos srs. acionistas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral

em 28 de março de 1917 (Exercício de 1916). Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 25 mar. 1917.56 RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso Industrial da Bahia para

ser apresentado aos srs. acionistas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária

em 30 de março de 1918 (Exercício de 1917). Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 27 mar. 1918; RELATÓRIO da direção da Companhia

Progresso Industrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionistas em

Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 29 de março de 1919 (Exercício

de 1918). Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28 mar. 1919.

57 RELATÓRIO da Direção da Companhia Progresso Industrial da Bahia Para

Ser Apresentado aos srs. acionistas em Reunião da Assembléia Geral Ordiná-

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:29127

128

ria em 29 de abril de 1920 (Exercício de 1919). Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 28 abr. 1920.58 RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia (Exercício de 1915). Diário

Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 23 abr. 1916; RELATÓRIO da Companhia

União Fabril da Bahia (Exercício de 1917). Diário Oficial do Estado, Salvador, 9

abr. 1918; RELATÓRIO da direção da Companhia União Fabril da Bahia (Exer-

cício de 1918). Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 25 mar. 1919; RELA-

TÓRIO da direção da Companhia União Fabril da Bahia para ser apresentado à

Assembléia Geral dos srs. acionistas, no dia 29 de abril de 1920 (Exercício de

1919). Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28 abr. 1920; RELATÓRIO

da direção da Companhia União Fabril da Bahia para ser apresentado à Assem-

bléia Geral dos srs. acionistas, em Sessão de 30 de março de 1921 (Exercício de

1920). Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 27 mar. 1921.

59 RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia (Exercício de 1914).

Diário da Bahia, Salvador, 24 fev. 1915, p. 7-8.

As dificuldades na Companhia União Fabril da Bahia

foram, decerto, maiores. De suas seis fábricas, apenas a N. S.

da Conceição funcionou de forma regular durante todo o perí-

odo compreendido entre 1912 e 1920. As demais (São Salva-

dor, N. S. da Penha, S. A. do Queimado, Modelo e S. C. do

Paraguaçu) funcionaram de modo precário ou permaneceram

fechadas. É que, além do encarecimento e da escassez dos

insumos necessários ao desenvolvimento da produção têxtil, a

Companhia União Fabril tinha que arcar com o serviço de uma

enorme dívida junto à Fazenda Pública Federal, oriunda de

impostos atrasados e empréstimos constantemente renovados

junto à Firma Moraes & Cia., a quem a direção daquela em-

presa creditava o mérito de não ter entrado em falência. Mes-

mo assim, e apesar das outras fábricas da companhia também

terem tido momentos de altos e baixos, os lucros da empresa

em seu conjunto tenderam a crescer.58 Além disso, a guerra

não a impediu de iniciar o processo de modernização de uma

de suas fábricas, ampliando sua capacidade instalada a partir

da compra, em 1914, de novos teares e outras máquinas.59

A Tabela 11 sistematiza essas informações para todas as

fábricas, mostrando claramente que os efeitos negativos da

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:30128

129

crise gerada pela guerra foram sentidos de maneira mais in-

tensa pelos operários têxteis nos anos de 1914 a 1917, quando

a taxa de desemprego alcançou nível muito alto em função da

paralisação parcial ou total, temporária ou de longo prazo de

pelo menos 8 das fábricas existentes. Das 14 unidades de pro-

dução desse setor para as quais temos informações precisas,

apenas 6 funcionaram de modo regular e ininterrupto de 1912

a 1920. Para assegurar o lucro, não era raro um industrial fe-

char uma de suas fábricas, contratar um número menor de

indivíduos do que o conjunto de operários despedidos e alocá-

los numa segunda unidade, ampliando a jornada de trabalho

de todo o grupo, inclusive com serões noturnos e contratação

em massa de mulheres e menores a salários depreciados.

Ainda com base na Tabela 11, pode-se ver também que

em 1918 e 1919 a oferta de emprego na indústria têxtil cresceu

de forma sensível, devido à incorporação de duas novas fá-

bricas e, fundamentalmente, ao aumento do número de ope-

rários contratados por unidade de produção. Fábricas que es-

tavam paralisadas voltaram a funcionar a toda força ou parci-

almente, enquanto outras ampliaram o tamanho de suas plan-

tas e aumentaram o número de seus teares e postos de traba-

lho. Em 1918 e 1919, o número de postos de trabalho na in-

dústria têxtil era maior do que em 1912, ano anterior à grande

crise internacional de 1913.

Mas não nos enganemos. A análise da referida tabela

sem uma confrontação com fontes mais qualitativas pode le-

var a uma impressão equivocada acerca das reais condições

de existência dos operários têxteis. Essa não foi uma fase de

elevação do nível de vida desses operários. Por detrás da apa-

rente estabilidade no emprego escondia-se uma conjuntura

de profunda depressão salarial e deterioração das condições

de trabalho dos operários. Por outro lado, é preciso notar

que, do segundo semestre de 1918 até o primeiro trimestre de

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:30129

130

1919, a indústria têxtil viveu um prolongado período de crise

de superprodução. O comércio atacadista cancelou encomen-

das anteriormente feitas e suspendeu todos os pedidos no-

vos, alegando dispor de um estoque não vendido incompatí-

vel com a sua capacidade de comercialização. As fábricas têx-

teis argumentaram que estavam tendo prejuízos imediatos

com a paralisação das entregas, a ampliação dos seus própri-

os estoques e a conseqüente desvalorização de seus tecidos,

justificativa perfeita para manter os salários depreciados.

Em fins de julho de 1918, o jornal O Tempo, porta-voz

oficioso do governo, publicou uma série de matérias e edito-

riais nos quais advogava a realização de uma campanha re-dentora em prol do operariado. Argumentando que era

um órgão de imprensa que pugnava pela defesa dos interes-

ses coletivos, pela justiça e pela razão, respeitando os pode-

res constituídos e a ordem pública, asseguradora do progres-

so e da prosperidade do povo, e lembrando os ideais de liber-

dade e igualdade inaugurados, segundo ele, pela República

fundada em 15 de novembro de 1889, o editor desse jornal

procurava justificar e embasar a sua intervenção em defesa

dos operários naquele momento.60

Em primeiro lugar, o jornal procurou refutar a idéia de

que os industriais enfrentaram momentos difíceis. O algo-

dão, por exemplo, que havia passado de 11$000 ou 12$000/

arroba antes da guerra para 45$000 ou 50$000 em 1918, não

poderia ser usado como exemplo de dificuldades, pois os in-

dustriais haviam repassado o aumento para os consumido-

res. A bulgariana, por exemplo, que antes da guerra custava

$500/metro, em 1918 já custava 1$200, “não tendo, portanto,

a Companhia Empório Industrial do Norte nenhum prejuízo

com a alta da matéria-prima”. Na visão do jornalista, o nú-

60 O Tempo, Salvador, 23 jul. 1918, p. 1.

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131

Tabela

11

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132

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133

mero de fábricas e oficinas tinha aumentado de modo signifi-

cativo, pois os industriais brasileiros estavam lucrando como

nunca. Já os operários, receberam salários cada vez mais bai-

xos e seu padrão de vida caiu em demasia, passando a viver

numa pobreza sem igual e ainda perderam alguns direitos de

que dispunham antes do conflito.61

Na edição de 29 de julho, o articulista informava que

em julho de 1918 a Companhia Empório Industrial do Norte

empregava cerca de 2 mil operários, entre homens, mulheres

e crianças, e pagava salários insuficientes à própria reprodu-

ção da força de trabalho. Os operários eram contratados sob

o regime de empreitada, mas, como a remuneração por peça

era baixa, os adultos do sexo masculino estavam recebendo

entre 12$000 e 13$000 por semana e as mulheres, a metade

ou menos, algo entre 5$000 e 7$000 pela mesma empreitada

semanal. A situação de compressão salarial pode ser estima-

da pelas declarações de uma operária da Fábrica Conceição.

Segundo ela, nos bons tempos (antes da guerra), um operá-

rio conseguia fazer até 50$000 por semana ao invés dos 13$000

recebidos naquele momento.62 Já os inúmeros menores de

ambos os sexos eram jornaleiros e percebiam ainda menos,

isto quando recebiam salários, posto que era comum o traba-

lho infantil em troca apenas da aprendizagem de um ofício

pouco qualificado, da comida, do alojamento e das roupas.63

61 O Tempo, Salvador, 29 jul. 1918, p. 1; Diário de Notícias, Salvador, 24-27

maio 1919, p. 3, coluna Colaboração Operária.62 A Tarde, Salvador, 20 dez. 1918, p. 1.

63 O já citado jornalista João Varella, que assinava a Coluna Colaboração Operária

nos jornais Diário de Notícias e Diário da Bahia, apreciou a questão do trabalho

infantil em maio e junho de 1919. Ele não era totalmente contrário ao uso de

menores na composição da mão-de-obra. O diferencial para ele era a idade e a

forma de emprego. Para ele, os menores não deveriam ser utilizados nas fábricas,

pois elas se caracterizavam pelo regime prisional e a disciplina do horário, a

rudeza das relações e as influências moralmente condenáveis, o ódio cego e o

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134

protesto bruto, responsável pela criação de verdadeiras feras subordinadas

aos mestres, contramestres, inspetores e qualquer outra autoridade que se

interpusesse entre os operários e o capitalista. Por outro lado, o jornalista se

colocava favorável ao uso de menores no auxílio de seus pais em casa ou

mesmo nas oficinas, posto que nestes locais, segundo ele, ainda vigorava um

clima familiar, de carinho, cuidado e atenção necessária ao desenvolvimento

da infância. Nesses locais, também, os menores valorizariam o trabalho como

elemento dignificante e positivo para a sociedade, sem passar pelas crueldades

e injustiças das fábricas, a exemplo da rigidez do relógio e das multas

indevidamente cobradas em favor dos industriais. Concluía dizendo que caso

a utilização dos menores em fábricas fosse imprescindível, que pelo menos o

fosse em seções especiais, onde os mesmos pudessem desenvolver trabalhos

leves, para que seus dias de vida não fossem encurtados, negando-lhes a possi-

bilidade de cumprir seu papel na construção do futuro do país. Para tanto, o

labor deveria ser desenvolvido paralelo à educação e à instrução para o traba-

lho. Mas João Varella levantava-se também contra os salários bem inferiores

desses menores e argumentava que se os mesmos desempenhavam o mesmo

tipo de função que um operário adulto e o faziam com a mesma habilidade,

despendendo a mesma energia, envelhecendo, adoecendo e enriquecendo um

capitalista, faziam jus a um salário igual, sem que isso significasse uma depreci-

ação do operário adulto. Diário da Bahia, 16 maio e 5 jun. 1919, p. 2.

64 MANTOUX, Paul. A Revolução Industrial no século XVIII: estudo sobre os

primórdios da grande indústria moderna na Inglaterra. São Paulo: Editora da

Unesp; Hucitec, [19--]. p. 417-426.

Além do baixo custo, é preciso lembrar também que algumas

operações nas fiações exigiam muito pouca força muscular,

sendo o pequeno porte das crianças e a finura de seus dedos

os melhores auxiliares das máquinas, conforme observou um

estudo clássico sobre as manufaturas têxteis inglesas da Re-

volução Industrial do século XVIII. Frise-se, ainda, que a fra-

queza daquelas pequenas criaturas era a garantia de sua

docilidade, podendo ser reduzidas a um estado de obediência

passiva não encontrável facilmente nos operários adultos.64

Por fim, é preciso dizer que todos os salários sofriam redu-

ções semanais referentes a aluguéis na vila operária e multas

cobradas por defeitos nos panos. Esses fatos eram tão fre-

qüentes, que de acordo com essa mesma fonte, no segundo

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135

semestre de 1918, por várias vezes os ganhos dos operários

ficaram reduzidos a zero.65

Um elemento catalisador das insatisfações e tomada de

consciência da exploração patronal foi a denúncia de que um

alto funcionário da Companhia Empório Industrial do Norte

estava, juntamente com seu filho, praticando agiotagem contra

os operários. Vicencio Constantino Figueiredo, “verdadeiro san-

guessuga”, estaria se aproveitando da situação de penúria dos

trabalhadores e, contando com a leniência da empresa, fazia-

lhes pequenos adiantamentos de seus próprios salários em troca

de juros de 20% por semana, “verdadeiro assalto à bolsa daque-

les infelizes”. O jornalista frisava que aquele ato era tanto mais

criminoso porque aquela era uma época “de crise e de carestia

de vida”. Além disso, a situação de pobreza dos operários con-

trastava com a vantajosa posição de seu algoz, pois enquanto os

trabalhadores recebiam no máximo 13$000 brutos por emprei-

tada semanal, aquele funcionário ganhava 400$000 mensais e

era dono de várias propriedades. O esquema era lesivo à própria

empresa, pois implicava a adulteração das folhas de pagamento,

registrando-se as faltas na usada para pagamento dos operários

e omitindo-as na que era usada para justificar gastos da compa-

nhia, ficando com a diferença para si. Aproveitando-se da situa-

ção de defensiva dos industriais, O Tempo exigiu que a compa-

nhia aumentasse em no mínimo 1$000 o valor da empreitada de

cada peça de 120 metros de pano. Alegava que os operários da-

quela empresa estavam levando uma vida ignóbil e sem nenhu-

ma garantia para si e suas famílias e ameaçava orquestrar uma

campanha que levaria a uma greve, caso suas exigências não fos-

sem atendidas.66

65 O Tempo, Salvador, 29 jul. 1918, p. 1. O regime de empreitada combinava-se

com metas previamente estabelecidas. Cada operário deveria produzir, no míni-

mo, uma peça de pano de 120 metros a cada cinco dias, dentro de uma jornada

de trabalho diário de 10 horas, que começava às 6h30 e terminava às 17h30.66 O Tempo, Salvador, 30 jul. 1918, p. 1.

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136

Uma reunião chegou a ser convocada para domingo, 4

de agosto, objetivando sistematizar as reivindicações dos ope-

rários para serem levadas à direção da fábrica. O funcionário

agiota também foi alvo de novas críticas, sendo acusado de

estar coagindo muitos trabalhadores a subscrever um abaixo-

assinado isentando-o de quaisquer crimes. Segundo o editor,

os operários estavam assinando o documento por medo de

perder seus empregos.67 No dia 5 de agosto, o jornal O Tem-

po chegou a encaminhar uma representação à diretoria da

Companhia Empório Industrial do Norte, por meio da qual

tomava para si o “louvável intuito de defender os interesses

das classes populares, de que é órgão genuíno”, assumindo a

“iniciativa de pugnar pelos interesses dos infelizes operários

das fábricas, no sentido de alcançar dos seus diretores, um

aumento relativo nos seus salários”. O documento mencio-

nava a carestia e avisava que ingerências estavam sendo fei-

tas também junto ao intendente para que este, por meio de

uma reunião com os comerciantes, adotasse medidas que ba-

rateassem os produtos de consumo popular.68

Mas a situação em vez de melhorar piorou, principal-

mente a partir de novembro de 1918. Os armazéns estavam

com enormes estoques de mercadorias sem saída e as fábri-

cas têxteis com grande quantidade de algodão comprado no

período de alta. Quando a guerra acabou, os preços dessa

matéria-prima despencaram e as companhias ficaram com um

estoque do insumo que puxava seus custos de produção para

cima, mas que não encontrava correspondência nos preços de

seus produtos colocados no mercado. A Companhia Empó-

rio Industrial do Norte diminuiu, então, de forma drástica, o

número de horas e dias de trabalho. A Fábrica da Boa Via-

67 O Tempo, Salvador, 1 ago. 1918, p. 1.68 O Tempo, Salvador, 5-6 ago. 1918, p. 1.

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gem passou a funcionar apenas quatro dias na semana, ao

invés dos seis anteriores à crise. Os salários dos operários

sofreram diminuição na mesma proporção, levando-os a uma

situação de desespero, relatada em carta ao editor de O Tem-

po. Segundo eles, depois de realizados os descontos de mul-

tas e aluguéis, nada recebiam aos sábados, estando a fome

rondando os lares na vila operária da fábrica.69 Esta situação

de subemprego e compressão salarial na Companhia Empório

Industrial do Norte perdurou até maio de 1919, quando novas

encomendas foram feitas e os negócios em geral foram

reativados, abrindo um novo ciclo de prosperidade para o se-

tor.70 Situação semelhante ocorreu nas fábricas Conceição, a

mais importante da Companhia União Fabril da Bahia, e São

João e Paraguaçu, onde o trabalho seria paralisado por perío-

dos que iriam variar entre 8 e 15 dias após o Natal de 1918.71

O ramo de produção de vestuário e toucador também

passou por dificuldades provocadas, direta ou indiretamente,

pela Primeira Guerra Mundial. Desde pelo menos janeiro de

1917, a imprensa denunciava que um truste norte-americano

estava comprando toda a produção de couros da Bahia e de

outros estados, exportando-a para abastecer suas fábricas nos

EUA. “A América do Norte levando-nos os couros leva-nos

também a pele”, dizia um articulista do jornal A Tarde. De

fato, os armazéns da Companhia das Docas do Estado da

Bahia estavam empanturrados de couros e peles para serem

exportados. Mas se antes da guerra parte dessa matéria-pri-

ma era enviada ao exterior para ser curtida e retornava ao

69 O Tempo, Salvador, 11 e 12 nov. 1918, p. 1.

70 RELATÓRIO da direção da Companhia Empório Industrial do Norte e

parecer do Conselho Fiscal apresentados aos srs. acionistas na Sessão da

Assembléia Geral Ordinária de 31 de março de 1920. Salvador: Reis &

Companhia, 1920 (Exercício de 1919).71 A Tarde, Salvador, 20 dez. 1918, p. 1.

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Brasil para ser utilizada nas fábricas locais, agora a viagem

era só de ida, ocasionando escassez e alta dos insumos para

as três únicas fábricas de calçados existentes em Salvador.

A Fábrica Stella, por exemplo, alegava que a sola de

primeira qualidade, que em novembro de 1916 custava 3$000/

quilo, passara a custar 6$500/quilo em janeiro de 1917, sendo

que a pelica preta, que em julho de 1916 custava 17 centavos

por pé quadrado, nos EUA, passara a valer, em janeiro de

1917, 68 centavos, fato que determinou um aumento de 20%

nos seus preços.72 Na Fábrica Trocadero a situação não era

diferente. Seu diretor chamava a atenção que, de janeiro de

1916 a janeiro de 1917, o quilo de sola saltara de 2$800 para

7$000/quilo. A Carneira da Bahia, amarela e preta, que na

alta estação já custava 52$000/dúzia, passou para 110$000

em janeiro de 1917. Já os forros, que custavam de 700 a 800

réis/metro, passaram a custar 1$200 e 1$400/metro em janei-

ro de 1917. O próprio preço dos calçados subiu 100% em rela-

ção a janeiro de 1916 e a fábrica estava ameaçando paralisar a

sua produção, a começar pelos sapatos mais populares.73

No ano da greve geral, a situação de crise vivida por

essa indústria não parecia ter sido inteiramente superada,

principalmente se considerarmos que as exportações brasilei-

ras de matérias-primas necessárias ao processo produtivo das

fábricas de calçados, longe de terem diminuído, aumentaram

sensivelmente. Em 1918, as exportações de couros da Bahia

haviam chegado a 42.281 toneladas, ao passo que em 1914

tinham sido de apenas 29.56974 e, até outubro de 1919, as

exportações dessa matéria-prima já haviam atingido 51.358

toneladas.75 De todo modo, de alguma forma a ameaça de

72 A Tarde, Salvador, 19 jan. 1917, p. 1.

73 A Tarde, Salvador, 20 jan. 1917, p. 1 e 3.

74 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 20 fev. 1919.75 Jornal de Notícias, Salvador, 11 jan. 1920, p. 1.

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paralisação das fábricas não parece ter se concretizado, pois

seus dirigentes não se queixaram mais da falta de insumos.

Contudo, se os operários sapateiros viviam sobressal-

tados com a ameaça da perda do emprego, pior aconteceu

com os chapeleiros. Demandando um investimento em ma-

quinário relativamente pequeno, mas empregando mão-de-

obra de forma extensiva, a indústria de chapéus utilizou, des-

de o início, matérias-primas importadas. Durante a conjuntu-

ra em análise, o setor parecia francamente estagnado e em

retrocesso na Bahia. Sua principal fábrica, a Companhia Cha-

pelaria Norte Industrial, escapava totalmente aos padrões da

época, pois possuía um capital de 1.500:000$000, capacida-

de de produção de 2.500 unidades/dia, além de empregar 500

operários. Essa fábrica sumiu em meio às cinzas de um incên-

dio que a consumira em abril de 1918. Em 22 de setembro de

1919, uma Comissão Liquidante anunciou que havia conse-

guido negociar o recebimento de uma indenização no valor

de cem contos de réis da Companhia de Seguro Aliança da

Bahia e vender as ruínas do prédio da fábrica e o domínio útil

dos terrenos de marinha por 150 contos.76 As outras fábricas

de chapéus da cidade eram muito pequenas e tudo indica que

não puderam assimilar os 500 operários que, em 1918, tive-

ram seus empregos consumidos pelo fogo.

Ainda no que tange ao ramo de vestuário e toucador, é

preciso salientar as condições de profunda exploração e po-

breza das operárias de manufaturas de roupas e das costurei-

ras dos ateliês da cidade. Sua situação miserável não parece

ter mudado de modo significativo, nem mesmo depois da greve

geral de 1919. Prova disso é que, em março de 1921, o grupo

sindicalista revolucionário, vinculado ao Sindicato dos Pedrei-

76 ATA da Sessão de Assembléia Geral Extraordinária dos srs. acionistas da

Companhia Chapelaria Norte Industrial realizada em 22 de setembro de 1919.

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 11 out. 1919.

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ros, Carpinteiros e Demais Classes e ao jornal A Voz do Tra-

balhador, denunciou a opressão vivida pelas operárias que

trabalhavam sob o regime de “costuras de carregação”. Por

esse sistema, as trabalhadoras entravam nas manufaturas e

labutavam das 6 horas da manhã às 6 horas da tarde, rece-

bendo, segundo o articulista, a insignificante quantia de $200

por cada calça que entregassem pronta, caseada e com bo-

tões. O jornal chamava a atenção para o fato de que era pre-

ciso que a operária fosse “forte e ligeira” para que, dentro

daquela extenuante jornada de trabalho, conseguisse costu-

rar oito calças, pelas quais receberia 1$600, dos quais seriam

descontadas, ainda, as despesas com linhas, agulhas e carreto.

Nas camisarias a situação não era melhor. Seus proprietários,

“Gargântuas... sugadores do sangue das pobres operárias”,

pagavam entre $500 e $600 por uma dúzia de mangas, $700

por uma dúzia de peitilhos, $200 por uma dúzia de punhos,

$100 por uma dúzia de presilhas, $500 por uma dúzia de pélas,

$200 por uma dúzia de bainhas, $100 para pregar botões em

uma dúzia de camisas e $100 para repassar. Além dos

baixíssimos valores recebidos pelas empreitadas, as costurei-

ras ainda tinham que arcar com os custos relativos à aquisi-

ção de linhas, enquanto outros estabelecimentos realizavam

descontos de até $300 nos salários das operárias que tives-

sem suas agulhas quebradas durante o processo de trabalho,

não obtendo emprego “as que não querem se sujeitar a seme-

lhante roubalheira”. Por sua vez, as engomadeiras ganhavam

entre 1$000 e 2$000 por cada dúzia de peças, variando de

acordo com a “obra”. As que trabalhavam em casa, por exem-

plo, recebiam um valor entre 3$000 e 3$500 por cada dúzia

de camisas. “Em resumo, trabalham essas desprotegidas da

sorte a semana inteira para ganharem 7$000 a 8$000, sendo

que as pregadeiras de botões e as repassadeiras ganham, no

máximo, 4$000 por semana”. Além disso, “os tais proprietá-

rios são quase todos conquistadores, campeando por isso,

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impune, a prostituição em muitos desses antros de perdição!”.

Diante de tais informações, A Voz do Trabalhador questiona-

va: “pode uma pobre mulher, carregada de filhos, com tão

diminuta quantia abrigar e alimentar a si e a sua prole? Não!

Logo, o burguês pançudo e avinhado, além de roubá-la e pros-

tituí-la miseravelmente, mata-a de inanição”.77

Como desdobramento direto da guerra, o desemprego

perseguiu também os milhares de operários e operárias da

indústria fumageira. O conflito provocou o estremecimento

e, depois, a ruptura de relações entre o Brasil e a Alemanha.

Em 1917, a declaração de guerra àquele país provocou a sus-

pensão do fornecimento de fumos importados de Bremen e

Hamburgo e o fechamento, por ordem direta do governo fe-

deral, das fábricas de fumo das cidades do Recôncavo. A si-

tuação só foi resolvida em novembro de 1917, quando um

arranjo político foi feito e as fábricas foram chamadas a apre-

sentar documentos que atestassem sua nacionalidade brasi-

leira. O acordo firmado com o ministro da Fazenda previa a

reabertura das manufaturas e a retomada da produção desde

que elas concordassem em efetuar o saque de todo o dinhei-

ro que tivessem depositado no Banco Alemão e o usassem

para o pagamento dos salários atrasados de seus operários.78

Apesar do acordo, os problemas com o fornecimento de

insumos continuaram agudos em 1917 e 1918. Na realidade, a

crise do setor só parece mesmo ter sido contornada em 1919,

quando as fábricas baianas começaram a comprar fumo atra-

vés de firmas exportadoras norte-americanas.79

77 A Voz do Trabalhador, Salvador, ano 1, n. 22, 5 mar. 1921, p. 1-2.78 A Tarde, Salvador, 21 maio e 17 nov. 1917.

79 BORBA, Silza Fraga Costa. Industrialização e exportação do fumo na Bahia,

1870-1930. 1975. p. 43-44. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) -

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,

Salvador, 1975.

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Situação semelhante de crise setorial prolongada tam-

bém afetou a vida dos trabalhadores da construção civil em

função da paralisação das obras de remodelamento e moder-

nização de Salvador. A primeira gestão de J. J. Seabra à frente

do governo estadual (1912 - 1916) fora marcada pelas obras

de aterro do Cais do Porto, alargamento de inúmeras ruas da

Cidade Baixa, abertura da Avenida Sete de Setembro, princi-

pal via da Cidade Alta, e sua interligação com a Orla Maríti-

ma através da Avenida Oceânica. Além disso, procedeu-se

também a reformas, construções, demolições e reconstruções

de edifícios públicos.80 Tantas obras e edificações trouxeram,

para o mercado de trabalho soteropolitano, centenas de ope-

rários da construção civil, que vieram de toda parte do esta-

do, de outras regiões do país (principalmente SP e RJ) e mes-

mo do exterior, especialmente de Portugal.81

Em 1913, apesar da grande crise internacional e de seus

efeitos sobre o país, a “atividade febril de uma cidade que se

80 A remodelação e modernização urbanas de Salvador durante o primeiro go-

verno de Seabra foram objeto de estudo específico de LEITE, Rinaldo Cesar

Nascimento. E a Bahia civiliza-se...: Idéias de civilização e cenas de anti-

civilidade em um contexto de modernização urbana. Salvador, 1912-1916.

1996. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências

Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1996. Ver também SAN-

TOS, Mário Augusto da Silva. Sobrevivência e tensões. Salvador (1890-1930).

1982. p. 56-58. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia,

Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982.

Para uma análise comparativa entre o modelo original implantado na Paris de

Haussmann do Segundo Império (1853-1870) e suas experiências tributárias

desenvolvidas no Rio de Janeiro e Salvador, respectivamente na primeira e

segunda década do século XX, ver: PINHEIRO, Eloísa Petti. Europa, França

e Bahia: difusão e adaptação de modelos urbanos (Paris, Rio e Salvador).

Salvador: Edufba, 2002.

81 UBATUBA, Ezequiel. O Estado da Bahia: Bahia Urbana – Bahia Rural (Con-

ferência realizada pelo Dr. Ezequiel Ubatuba no Salão Nobre do IGHBA em

setembro de 1917). Salvador: Imprensa Oficial do Estado, 1918. p. 19-20.

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renova, resgatando, pela ânsia de construir e edificar, a incúria

do passado”, continuou. Mesmo que em intensidade menor,

avenidas foram rasgadas, ruas alargadas, passos levantados,

casas, pavilhões e jardins foram surgindo; muitos muros, calça-

das, meios-fios e revestimentos foram feitos ou refeitos; fa-

chadas, cúpulas e torres foram erguidas. As obras eram realiza-

das na Orla, no Centro e na Cidade Baixa, a maioria do Esta-

do, mas também se viam as da União e da Intendência, além

das de iniciativa de particulares e de empresas, que também

não faltavam.82 Em 1914, os recursos foram se tornando mais

escassos e os materiais começaram a faltar, além de estarem

cada vez mais caros e só poderem ser pagos à vista. As obras,

então, começaram a ficar mais lentas e algumas foram suspen-

sas ou paralisadas. Os pagamentos aos empreiteiros começa-

ram a ser efetuados por meio de apólices e depois mediante o

empréstimo popular de 1914.83 Os próprios operários da cons-

trução civil fizeram greves em novembro de 1913 e fevereiro de

1914 reivindicando o pagamento de salários atrasados.84

Em seu último ano de governo, Seabra reconhecia que

muitas das obras iniciadas ainda não haviam sido concluídas,

apesar de firmar posição como aquele que empreendeu as

maiores transformações urbanas do estado. Seu objetivo de

82 MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legislativa do Estado da Bahia

na abertura da 2ª Sessão Ordinária da 12ª Legislatura pelo Dr. J. J. Seabra,

governador do Estado. Salvador: Seção de Obras da “Revista do Brasil”,

1914. p. 71-74.

83 MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legislativa do Estado da Bahia

na abertura da 1ª Sessão Ordinária da 13ª Legislatura pelo Dr. J. J. Seabra,

governador do Estado. Salvador: Seção de Obras da “Revista do Brasil”,

1915. p. 105-113.84 FONTES, José Raimundo. Manifestações operárias na Bahia: o movimento

grevista, 1888-1930. 1982. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) –

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,

Salvador, 1982.

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tirar a cidade das “fealdades de sua vetustez colonial”,85 por

meio desse modelo de modernização, havia sido parcialmen-

te alcançado, mas, quando a euforia acabou e os emprésti-

mos dos banqueiros pararam de regar os cofres públicos, as

obras sofreram paralisação geral. O enorme contingente ope-

rário da construção civil, contratado e estabelecido na cidade

nos anos anteriores, rapidamente converteu-se num grande

exército industrial de reserva e uma vaga de desemprego,

subemprego, compressão salarial e fome se abriu para esse

setor.

Os efeitos negativos da profunda retração das ativida-

des relacionadas à construção civil ainda se faziam sentir de

modo vigoroso no início de 1919. A guerra havia provocado

altas tão elevadas nos preços dos insumos, que os pequenos

empreiteiros e mestres da construção preferiam não construir

a correr o risco de uma virtual falência. Esta situação foi vivi-

da, até mesmo, por uma grande empresa do ramo, a Compa-

nhia Serraria e Construções, pertencente aos Martins

Catharino, industriais que também possuíam investimentos

em fábricas têxteis e de calçados. Em 1919, o capital da com-

panhia chegava a 500 contos e suas atividades abarcavam in-

dústria e comércio de importação e exportação, além da ser-

85 EXPOSIÇÃO apresentada pelo Dr. José Joaquim Seabra ao passar, a 29 de

março de 1916, o Governo da Bahia ao seu sucessor, o Exmº Sr. Dr. Antonio

Ferrão Moniz de Aragão, empossado nesse dia no cargo de Governador do

Estado. Salvador: Imprensa Oficial do Estado, 1916. p. 30-38. Já em outubro

de 1914, o jornal A Tarde lançou um ataque direto contra Seabra, qualifican-

do seu projeto de modernização urbana como produto de uma mente mega-

lomaníaca, que queria fazer na Bahia uma reforma da mesma envergadura e no

mesmo ritmo da que foi feita na capital da República, onde a arrecadação e os

investimentos federais eram bem maiores. Quando o sonho virou pesadelo,

disse o articulista daquele órgão da imprensa oposicionista, as obras começa-

ram a ser paralisadas e milhares de operários e seus familiares, esfomeados,

começaram a marchar para o Palácio do Governo para lhe pedir o pagamento

dos salários atrasados. A Tarde, Salvador, 8 out. 1914, p. 1.

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raria e de construções propriamente ditas. Pois bem, apesar

do seu porte, a empresa passou por sérias dificuldades e só

saiu do vermelho no segundo semestre de 1919.86

O final da guerra, em 1918, pois, assinalou não apenas

um curto e doloroso período de agravamento da crise que já

vinha se desenrolando desde 1913, seguida de momentos de

recuperação e novas depressões. Quando os males da super-

produção se foram, a partir de abril de 1919, uma nova etapa

se abriu para a história da classe operária da Bahia. As agru-

ras da crise de guerra tinham ficado marcadas na memória, os

rancores contra a ampliação da exploração feita pelos indus-

triais, muito particularmente no que tange à jornada de tra-

balho e à compressão salarial, e os horrores da especulação e

da carestia dos preços dos gêneros de primeira necessidade

haviam se cristalizado. Os industriais passaram a buscar mais

mão-de-obra, pois estavam abarrotados de encomendas. As

máquinas funcionavam a toda força. O ritmo das atividades

portuárias e comerciais havia voltado ao normal. Para muitos

setores, a exemplo dos têxteis, o risco de desemprego havia

se reduzido a um patamar insignificante. Junto com a nova

maré de prosperidade vieram as aspirações de um novo mun-

do. As condições objetivas para a revanche estavam dadas e

alguns líderes operários e socialistas perceberam isso. A vez

da classe operária havia chegado...

86 COMPANHIA SERRARIA E CONSTRUÇÕES. Relatório do exercício de

julho de 1918 a julho de 1919. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 30

out. 1919; ATA da Assembléia Geral Ordinária dos acionistas da Companhia

Serraria e Construções. Diário Oficial do Estado da Bahia, 22 nov. 1919.

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O reino da liberdade

Os operários Annibal Lopes Pinho e Gaudêncio José dos Santos,

representantes da Federação dos Trabalhadores Baianos no 3º

Congresso Operário Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro em 1920.

Fonte: Germinal, Salvador, ano 1, n. 3, 1 maio 1920, p. 4.

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Tão velha quanto a mitologia, a greve é sempre nova. Admira,

emociona, amedronta e empolga, não só aos que a ela são indi-

ferentes, como aos que ela interessa.

É uma manifestação violenta da luta pela vida. É um protesto,

uma queixa, acompanhada de uma exigência.

Mas, é também o surto vigoroso de muitas dores acumuladas, de

inúmeros sofrimentos desconhecidos, de copiosas injustiças e vi-

olações de direito, de uma impiedade constante, que rompendo as

comportas do medo, da tolerância e dessa disciplina de empregado

a patrão, vem patentear, à luz meridiana, a sua hediondez, para

que o reino da miséria desapareça da vida do trabalhador.

Diário de Notícias, Salvador, 5 de junho de 1919.

O ano de 1919 foi marcado pelos episódios mais importantes

de que se tem notícia na história da classe operária baiana da

Primeira República. Culminaram com a formação de dezenas

de sindicatos operários que preencheram o espaço deixado pelo

predomínio do mutualismo até a Primeira Guerra Mundial, e

seu desdobramento mais importante foi a deflagração e vitória

da primeira greve geral baiana, em junho de 1919. Como vere-

mos, o movimento de junho desencadeou uma série de outros

eventos, desde a eclosão de novas greves até a formação de

outros sindicatos, de uma federação operária e um partido so-

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cialista, além de ter aberto caminho para a maior diferencia-

ção entre as ideologias e grupos de tendências reformistas e

libertárias no interior do movimento operário baiano.

A greve geral de junho de 1919 foi um fenômeno extraor-

dinário, não só por ter sido o primeiro movimento da classe

operária capaz de paralisar toda a cidade do Salvador e se ex-

pandido para o Recôncavo, mas também por ter legado ao ope-

rariado (ou para parte dele) um novo padrão de comporta-

mento político frente às suas necessidades imediatas. Apoian-

do-nos numa distinção feita por Maria Cecília Velasco e Cruz

para a análise das greves cariocas de 1917,1 podemos dizer que

o movimento operário baiano de 1919 diferenciou-se do de sua

fase anterior, principalmente por ter superado seu antigo cará-

ter puramente defensivo, quando os operários apenas lutavam

em condições adversas para manter conquistas preexistentes,

e por ter passado para um movimento ofensivo, apresentando

reivindicações novas, ligadas, inclusive, ao processo de traba-

lho, distintas em sua própria natureza das que antes eram al-

mejadas. Além disso, o que era antes apenas um movimento

de consumidores tornou-se mais complexo e, sem abandonar a

luta contra a carestia, passou a colocar na ordem do dia proble-

mas mais ligados ao mundo do trabalho. As questões relacio-

nadas a jornada de trabalho, mão-de-obra infantil e feminina

nas fábricas e oficinas, salubridade, etc., foram agregadas como

elementos centrais numa nova modalidade de movimento, que

trouxe para a arena da história um novo sujeito, a classe operá-

ria, que atuou como um protagonista capaz de alterar a correla-

ção de forças políticas e influenciar uma mudança de compor-

tamento das próprias elites e do Estado.

1 VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Amarelo e negro: matizes do comporta-

mento operário na República Velha. 1981. p. 122-123. Dissertação (Mestra-

do em Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 1981.

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151

O ano de 1919, na realidade, foi o ápice de um movi-

mento de dimensões mais amplas que vinha se desenrolando

desde 1917, e é nesse contexto mais global que a greve geral

em Salvador e sua expansão para as cidades do Recôncavo

baiano deve ser pensada. As duas revoluções que eclodiram

na Rússia entre fevereiro e outubro, os acontecimentos da

Alemanha e do resto da Europa e a fundação da Internacio-

nal Comunista (I.C.) e da Internacional Sindical Vermelha

(I.S.V.), em 1919, formaram o pano de fundo dos movimen-

tos operário e sindical na época. Não é à toa que a conjuntura

de 1917 - 1921 tenha sido marcada por intensas agitações ope-

rárias em todo o mundo.2 No Brasil, as greves assumiram

contornos jamais vistos, abarcando diversos ramos e parali-

sando cidades, regiões e setores econômicos inteiros, pairan-

do no ar uma perspectiva de profundas reformas sociais que

melhorassem ou mesmo transformassem radicalmente as con-

dições de vida da classe trabalhadora em geral. Assim, entre

os dias 9 e 16 de julho de 1917, os anarquistas de São Paulo

conseguiram, em sintonia com os socialistas e após um longo

processo de construção do movimento, fazer eclodir aquela

que foi a maior greve geral do período.3 O movimento rapi-

damente se expandiu para outras cidades do interior daquele

estado e para o Rio de Janeiro, onde assumiu contornos pró-

prios desde o dia 14 de julho.4 Ainda em fins de julho de

1917, o conflito, seguido de novas greves gerais, alastrou-se

2 Ver tabelas de greves e grevistas em FERRO, Marc. História da Primeira

Guerra Mundial, 1914-1918. Lisboa: Edições 70, 1992. p. 261-262.3 LOPREATO, Christina Roquette. O espírito da revolta: a greve geral anar-

quista. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2000.

4 VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Amarelo e negro: matizes do comporta-

mento operário na República Velha. 1981. Dissertação (Mestrado em Ciência

Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janei-

ro, 1981; CAMPOS, Cristina Hebling. O sonhar libertário: movimento operá-

rio nos anos 1917-1921. Campinas, SP: Pontes; Editora da Unicamp, 1998.

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152

para áreas distantes do centro industrial do país e atingiu ci-

dades do Rio Grande do Sul como Porto Alegre (1º a 5 de

agosto)5 e Pelotas (9 a 17 de agosto).6 Em outubro de 1918,

uma nova greve geral foi desencadeada na cidade de Rio Gran-

de (RS) e no mês seguinte uma insurreição anarquista foi

sufocada e violentamente reprimida no Rio de Janeiro.7 Em

1919, uma nova onda de greves gerais foi desencadeada em

Rio Grande (5 a 21 de maio), Salvador (2 a 13 de junho),

Recife (fins de julho)8 e Porto Alegre (25 de agosto a 11 de

setembro). Entretanto, é preciso deixar claro que admitir co-

nexões entre o movimento baiano e o dos outros estados não

implica em afirmar que as greves de Salvador e das demais

cidades do país tenham sido meros efeitos de demonstração

do movimento original de São Paulo. O movimento operário

da Bahia e de cada uma das unidades federativas do Brasil

guardava semelhanças, mas também peculiaridades próprias,

e teve características, dinâmicas e reivindicações que não po-

dem ser reduzidas a um modelo construído a partir da reali-

dade do centro do país.

5 PETERSEN, Sílvia R. Ferraz. As greves no Rio Grande do Sul (1890 - 1919).

In: GONZAGA, Sérgio (org.). RS: economia e política. Porto Alegre: Mer-

cado Aberto, 1979. p. 277-327.6 LONER, Beatriz Ana. Construção de classe: operários de Pelotas e Rio Gran-

de (1888-1930). Pelotas: Editora da UFPel., 2001.

7 ADDOR, Carlos Augusto. A Insurreição Anarquista no Rio de Janeiro. Rio de

Janeiro: Dois Pontos, 1986.

8 REZENDE, Antonio Paulo de Morais. A classe operária em Pernambuco:

cooptação e resistência (1900 - 1922). 1981. p. 88-114. Dissertação (Mestra-

do em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Universidade

Estadual de Campinas, Campinas, 1981; DULLES, John W.F. Anarquistas e

comunistas no Brasil (1900 - 1935). 2. ed. São Paulo: Nova Fronteira, 1977.

p. 81-82.

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153

Fonte: A Tarde, Salvador, 10 jun. 1919.

Cenas da greve geral de 1919.

Os operários em frente à Usina da Linha Circular.

Cenas da greve geral de 1919.

Os grevistas no Largo do Teatro e São Bento

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154

Operários das fábricas de camisas percorrendo as ruas da cidade durante

a greve geral de 1919.

Fonte: Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919.

Aspectos da greve geral de 1919.

Os grevistas na Praça Rio Branco

Fonte: A Tarde, 10 jun. 1919.

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155

O conflito interoligárquico e

o sindicalismo operário

Vimos, no capítulo anterior, que a Primeira Guerra Mundial

marcou uma sombria fase de profunda crise de trabalho e

compressão salarial para a classe operária e que essa situação

agravou-se, ainda mais, no pós-guerra e na virada de 1918

para 1919, quando, além das fábricas paralisadas desde o iní-

cio do conflito, houve a redução de horas e dias de trabalho

nas unidades fabris que estavam em funcionamento. Outros-

sim, a carestia e a especulação com os gêneros de primeira

necessidade haviam chegado a níveis nunca vistos, o que atin-

giu não apenas a classe operária, empobrecida com seus salá-

rios depreciados, como o conjunto das camadas populares e a

sociedade como um todo. Essa foi uma fase, portanto, adver-

sa para o movimento operário local. Porém, a partir do pri-

meiro trimestre de 1919, uma nova fase de prosperidade se

abriu para a indústria e para a economia baiana em seu con-

junto. As fábricas voltaram a funcionar em potência máxima

e algumas delas ressentiram-se mesmo de falta de braços para

operar as máquinas. Os lucros dos industriais atingiram o

ápice. O mercado de trabalho tornou-se mais favorável aos

operários, que viram naquele momento a oportunidade apro-

priada para colocar as suas reivindicações na ordem do dia.

Contudo, apenas o início de um novo ciclo de prosperi-

dade econômica não seria suficiente para desencadear um

movimento de envergadura contendo as características da gre-

ve geral de junho de 1919 em Salvador. As relações de deter-

minação entre o econômico e o político não são mecânicas

nem simples. O quadro traçado do período de crise e recupe-

ração econômica é essencial para contextualizar a ação dos

trabalhadores, mas pelo menos mais dois outros fatores fo-

ram importantes para que o movimento operário tomasse as

proporções que acabou ganhando e fosse vitorioso. O pri-

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156

meiro deles é exógeno à classe operária e se refere à crise

política aberta pela cisão das elites dominantes baianas em

torno das eleições para a Presidência da República e o gover-

no do estado em 1919. O segundo elemento é de caráter

endógeno e diz respeito à organização sindical.

Na Bahia, como de resto em todo o Brasil, a República

não se traduziu na concretização dos anseios de ampliação da

cidadania política e social para as classes trabalhadoras e po-

pulares de modo geral. O Partido Republicano só foi fundado

às vésperas da Proclamação e seus elementos históricos mais

ligados aos interesses dos subalternos logo cederam lugar aos

velhos políticos profissionais do Império, em geral ex-monar-

quistas e republicanos de última hora. Os partidos não con-

seguiram se firmar durante toda a República Velha e as dis-

putas e cisões sempre ocorriam em torno de interesses pes-

soais, particularistas e localistas e não de idéias e princípios

preestabelecidos. Ao invés de partidos, tínhamos claques

personalistas, conhecidas pelo nome dos seus chefes. Assim,

por exemplo, quando Severino Vieira era o governador da

Bahia (1900 - 1904), seus partidários eram chamados e se

definiam como severinistas e não como membros do Partido

Republicano da Bahia (PRB), o mesmo ocorrendo com seu

sucessor, José Marcelino de Souza (1904 - 1908), cujos parti-

dários eram conhecidos como marcelinistas. Mais tarde, quan-

do J. J. Seabra chegou ao poder (1912), os adeptos do Partido

Republicano Democrata (PRD) passaram a ser identificados

como seabristas e não como democratas, o mesmo se dando

com seus futuros arquiinimigos Ruy Barbosa e os ruístas e

com o governador Góes Calmon (1924 - 1928).

Entre 1901 e 1907, o PRB monopolizou a política e o

controle do Estado na Bahia. Porém, esse domínio não tarda-

ria a ser abalado. J. J. Seabra havia passado a integrar o mi-

nistério do presidente Rodrigues Alves (1902 - 1906), ao fi-

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157

nal do qual passou a esboçar uma dissidência com o PRB,

particularmente quando começou a entrar em conflito com

Severino Vieira. Aos poucos, as decisões iam se concentran-

do nas mãos deste último, ao invés de nas do governador

José Marcelino, e, no momento de compor a chapa para as

eleições federais de 30 de janeiro de 1906, esse conflito se

tornou mais acirrado, dando lugar à formação da dissidência

do Partido Republicano, agrupando os seabristas excluídos.

Já em 22 de fevereiro de 1906, às vésperas da eleição, o novo

partido estava organizado visando combater os severinistas.

Estrategicamente, Seabra e seus seguidores se aliaram a Ruy

Barbosa como forma de evitar a degola durante o processo de

reconhecimento no Congresso. Em seguida, como forma de

evitar a marginalização e o ostracismo político, dissolveram o

Partido Republicano Dissidente e se acomodaram no interior

da facção marcelinista, passando a defender a candidatura

oficial de Araújo Pinho ao governo estadual.

Em 1907, os dois caciques principais do PRB, José Mar-

celino e Severino Vieira, divergiram em torno da indicação do

nome do próximo candidato ao governo baiano. Ao contes-

tarem a tradição, segundo a qual ao governador cabia a indi-

cação do seu sucessor, os severinistas desencadearam uma

crise política sem precedentes. O senador Severino Vieira in-

sistia em indicar o nome de Augusto de Freitas, ao passo que

o governador José Marcelino hesitava entre Leovigildo e

Miguel Calmon. O impasse alcançou o ápice em abril de 1907,

com a indicação de Araújo Pinho, o que agravou a crise e

ampliou o conflito, ao final do qual o candidato governista

foi eleito para o quatriênio 1908 - 1912. Cindido entre as claques

que disputavam o poder, o PRB definhou e foi cedendo cami-

nho para Seabra. Em 1910, por ocasião das eleições presiden-

ciais, a política baiana já se encontrava dividida em três fac-

ções, que rivalizavam em torno do marechal Hermes da Fon-

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158

seca e do senador Ruy Barbosa. A unidade precária entre José

Marcelino e J. J. Seabra se rompeu, pois enquanto os

marcelinistas se identificaram com a Campanha Civilista, o

seabrismo se associou ao hermismo e sua política de salva-

ções, amparada nos militares e nas classes médias urbanas.

Para completar, receberam apoio também dos severinistas,

velhos inimigos de Seabra, que com eles passaram a dividir o

mesmo comitê.

A eleição foi feita sob o signo da fraude, do fisiologismo,

do nepotismo, do clientelismo e da corrupção de lado a lado

em todo o país e o marechal Hermes da Fonseca foi vitorioso.

Seu triunfo abriu caminho para a liquidação final do PRB e

para o surgimento do Partido Republicano Democrata (PRD).

Apoiando-se no presidente Hermes da Fonseca, em Mário

Hermes, filho do presidente, que havia sido eleito deputado

federal pela Bahia, e nos numerosos dissidentes do moribundo

PRB, J. J. Seabra se preparava para assumir o governo do esta-

do, e a eleição de 1912 era o momento ideal para isso. As anti-

gas oligarquias ligadas ao PRB tentaram resistir e o governa-

dor Araújo Pinho, pressionado, renunciou ao cargo faltando

uma semana para o pleito. O conflito acabou levando à duali-

dade de legislativos; tropas foram mobilizadas e outras foram

requeridas pelo juiz federal Paulo Fontes para impedir a trans-

ferência da Assembléia Estadual. Finalmente, em 10 de janeiro

de 1912, as coisas tomaram contornos nunca vistos, tendo Sal-

vador sido bombardeada por forças federais, que intervieram

com vistas a submeter os governistas. No dia 27 de março, às

vésperas da eleição, Seabra chegou à capital baiana para acom-

panhar de perto o processo eleitoral, que lhe deu a maioria dos

votos. Em seguida, a Assembléia Geral foi convocada extraor-

dinariamente para empossar o candidato vitorioso. Erigido ao

poder na esteira da política das salvações, J. J. Seabra e o PRD

se cristalizaram nele por 12 anos. Ao todo, foram três manda-

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159

tos, sendo dois do próprio Seabra (1912 - 1916 e 1920 - 1924) e

o outro de Antônio Ferrão Moniz de Aragão (1916 - 1920).9

Diferente do que ocorreu no centro-sul do país, na Bahia

não surgiu uma oligarquia hegemônica que fosse capaz de

assegurar a estabilidade das instituições do novo regime. A

acirrada competição fazia da política uma área de conflitos

muito intensos e, por vezes, sangrentos. Não por um acaso,

intervenções federais foram realizadas em três momentos dis-

tintos da Primeira República baiana: 10 de janeiro de 1912; 23

de fevereiro de 1920; 19 de março de 1924.

Nesse quadro de conflitos, o ano de 1919 possuiu, no

entanto, características que o tornaram singular, pois as elei-

ções para a Presidência da República e para o governo esta-

dual aprofundaram a cisão das elites baianas. Nos dois casos,

as antigas oligarquias se realinharam em torno da liderança

de Ruy Barbosa contra o PRD, Seabra e seus partidários. Em

janeiro, o presidente Rodrigues Alves, eleito para o quatriênio

de 1918 - 1922, não resistiu à gripe espanhola e faleceu. Pelas

regras da política do café-com-leite, o mineiro Wenceslau Brás

deveria ter sido empossado. Contudo, Delfim Moreira, o vice

de Rodrigues Alves, acabou assumindo em caráter interino e

realizando, conforme prescrevia a norma constitucional, no-

vas eleições. Da falta de consenso entre as oligarquias domi-

nantes de São Paulo e Minas Gerais, surgiu o nome de Epitácio

Pessoa, da Paraíba, um político tradicional do Nordeste, que

passou a contar com o apoio daqueles dois estados principais

e do Rio Grande do Sul, Pernambuco e Bahia.10 Seu nome foi

9 Baseamos essa sucinta exposição sobre os conflitos interoligárquicos baianos

na obra de SAMPAIO, Consuelo Novais. Partidos políticos da Bahia na Pri-

meira República: uma política de acomodação. 2. ed. Salvador: Edufba, 1999.

10 SOUZA, Maria do Carmo Campello de. O processo político-partidário na

República Velha. In: MOTTA, Carlos Guilherme (org.). Brasil em perspecti-

va. 2. ed. São Paulo: Difel, 1969.

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160

referendado na Convenção da Situação, realizada no Senado

da República, Rio de Janeiro, em 25 de fevereiro. Opondo-se

a Ruy Barbosa tanto no plano nacional quanto no estadual,

Seabra e outros políticos do PRD lançaram-se na campanha

de Epitácio Pessoa e, já em princípios de março, Seabra che-

gava a Salvador para iniciar os embates contra seu conterrâ-

neo e colega de Senado. Derrotados em sua nova Campanha

Civilista, os ruístas mantiveram-se inconformados durante

todo o ano e lançaram uma enxurrada de denúncias de cor-

rupção e malversação de verbas públicas contra o governador

Antônio Moniz nas páginas de seus jornais. Por outro lado,

aproveitando-se que o presidente Epitácio Pessoa havia rela-

xado a política dos governadores, re-agruparam-se para apoi-

ar a candidatura do juiz federal Paulo Fontes ao governo esta-

dual nas eleições de 29 de dezembro.11

O conflito interoligárquico havia chegado a tal ponto

que as antigas lutas sangrentas entre os coronéis do sertão,

que tinham sido amainadas pela trégua de 1915, recrudesce-

ram outra vez em meados de 1919, quando atingiram o ponto

mais dramático da contenda que já durava dois anos. Horácio

de Matos, expressão maior do coronelismo na região das La-

vras Diamantinas, entrou em confronto aberto com os chefes

locais do PRD, a exemplo de César Sá, Militão Coelho, Ma-

nuel Fabrício e Monsenhor Hermelino Leão. O governador

Antonio Moniz enviou tropas policiais para enfrentá-lo em

junho e julho de 1919, mas, desmoralizadas em função de es-

tarem mal armadas e com os salários atrasados, as expedi-

ções falharam vergonhosamente na tarefa de enfrentar os ja-

gunços e submeter o potentado de Horácio de Matos, que, a

essa altura, já estava ligado à oposição comandada por Ruy

11 SAMPAIO, Consuelo N. Partidos políticos da Bahia na Primeira República:

uma política de acomodação. 2. ed. Salvador: Edufba, 1999. p. 135-142;

146-157.

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161

Barbosa, e o máximo que faziam era promover o saque e a

pilhagem nas fazendas dos aliados da Águia de Haia, quando

não eram diretamente cooptadas pela oligarquia sertaneja.12

A quebra radical e definitiva do monolitismo das elites

baianas da Primeira República trouxe conseqüências impor-

tantes para o movimento operário. A cisão e o conflito

interoligárquico, em 1919, fizeram com que tanto seabristas

quanto ruístas buscassem apoio da classe operária em suas

disputas. Durante a greve geral de junho, como veremos, essa

política será levada ao limite por meio de uma permissividade

extrema em relação ao movimento operário, que não será re-

primido em nenhum momento pelas forças do Estado. Os

próprios operários procurarão tirar o máximo de proveito da

situação, trazendo o governo e os políticos do PRD para o

seu lado na luta contra os industriais, empreiteiros, comerci-

antes e o patronato em geral. Aliás, essa não foi uma tarefa

difícil, pois a Associação Comercial da Bahia e o Centro In-

dustrial do Algodão haviam apoiado Ruy Barbosa em suas

disputas contra J. J. Seabra e Antônio Moniz, e era chegado o

momento de pagarem por isso...

Aqui também é preciso apontar a semelhança com fe-

nômenos ocorridos em outros locais. Num confronto entre

duas classes ou grupos sociais/políticos polares, não é inco-

mum que um dos contendores – geralmente o mais fraco,

posto que se trata de uma relação assimétrica – busque trazer

para a arena da luta de classes um terceiro elemento. Joan

Bak observou que isso aconteceu no Rio Grande do Sul no

momento das greves ferroviárias de julho e outubro de 1917,

quando os operários buscaram o apoio do governador Borges

de Medeiros em sua luta contra a Compagnie Auxiliaire de

12 PANG, Eul-Soo. Coronelismo e oligarquias: a Bahia na Primeira República

(1889 - 1934). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. p. 134-140.

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162

Chemins de Fer. O movimento teve contornos claramente

nacionalistas, apresentando-se como um combate dos brasi-

leiros em geral numa aliança pluriclassista (operários da em-

presa, populares e comerciantes usuários do sistema de trans-

porte de pessoas e mercadorias e governo estadual) contra a

exploração dos capitalistas estrangeiros que possuíam a con-

cessão da ferrovia federal.13

Na Bahia, apesar da quase ausência do componente na-

cional, os operários e seus sindicatos aproveitaram-se da cisão

no interior das elites políticas, fazendo com que o conflito en-

tre capital e trabalho se misturasse à luta da classe operária e

das forças seabristas contra os ruístas e seus aliados político-

eleitorais na burguesia mercantil, industrial e financeira local.

Os problemas referentes ao caso gaúcho também valem para o

baiano, estando relacionados ao fato de que, quanto mais se

amplia a aliança pluriclassista, maior é o risco de o movimento

operário virar massa de manobra nas mãos de uma das frações

da burguesia ou dos governos. Por outro lado, ao assumirem

os riscos, os trabalhadores influenciaram os rumos da própria

política estatal em relação ao movimento operário. Conside-

rando o quadro político e que numa aliança dessa natureza os

interesses são mútuos, ou seja, da classe operária para as elites

e das elites para a classe operária, tais problemas foram resu-

midos em três questões pela autora já citada: as condições da

aliança, o grau de independência de classe e influência na ali-

ança e a utilidade da mesma para os interesses dos operários.

A dinâmica e os desdobramentos da aliança da classe operária

baiana com uma das frações oligárquicas em 1919 e nos dois

anos subseqüentes serão analisados a seguir.

13 BAK, Joan. Labor, community, and the making of a cross-class alliance in

Brazil: the 1917 railroad strikes in Rio Grande do Sul. Hispanic American

Historical Review, Duke University Press, Carolina do Norte, EUA, v. 78, n. 2,

p. 179-227, 1998.

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163

Mas, se o novo ciclo de prosperidade econômica abriu

condições objetivas para o movimento operário e este pôde

agir com relativa liberdade em função da crise política

interoligárquica, um terceiro elemento ainda se fazia neces-

sário para que a greve geral de 1919 fosse vitoriosa: a organi-

zação da classe operária em sindicatos de resistência. Nesse

sentido, é importante saber quem estava e quem não estava

organizado nos sindicatos operários antes da greve geral, quem

se organizou no decorrer dela e quem o fez depois. Por en-

quanto, abordaremos o primeiro aspecto da questão.

Para alguns setores importantes da classe operária bai-

ana, o sindicalismo foi algo que chegou tarde se comparar-

mos a Bahia com outras regiões do país. Afora as organiza-

ções localizadas fundamentalmente no complexo portuário e

em alguns setores artesanais e de transportes de Salvador, até

a Primeira Guerra Mundial, boa parte da organização operá-

ria de Salvador era de caráter mutualista, beneficente ou

cooperativista, fossem essas sociedades produto da iniciativa

dos trabalhadores, de seus patrões (caso típico das fábricas

têxteis, de calçados, cigarros e charutos e das ferrovias), da

Igreja Católica, de elementos de destaque das elites locais ou

mesmo do Estado e de suas autoridades. Elas congregavam

operários de um ou mais ofícios, de uma empresa, fábrica ou

oficina, de uma cidade ou um bairro ou eram organizações

étnico-nacionais – de negros e estrangeiros (espanhóis, por-

tugueses, italianos, franceses, alemães e suíços) - , nesse caso

não havendo separação entre trabalhadores e patrões, ricos e

pobres, etc. Havia, ainda, as sociedades de ajuda mútua de

funcionários públicos das três esferas dos poderes executivo

e judiciário, de profissionais liberais, empregados do comér-

cio e outros setores de serviços e de estudantes. Como se

pode ver pelo Anexo 1, o socorro mútuo foi uma prática que

surgiu por volta de 1832 na Bahia e se manteve enquanto

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164

fenômeno social significativo até o pós-1930, convivendo e

se desenvolvendo de modo distinto e paralelamente aos sin-

dicatos de resistência criados durante a Primeira República,

não mantendo nenhuma relação de anterioridade com estes

sindicatos, mesmo porque os dois modelos de organizações

possuíam objetivos diferentes. Em um levantamento ainda

incompleto para o período, identificamos um número superi-

or a 130 sociedades desse tipo no estado da Bahia, sendo que

a maior parte delas se concentrava na capital.14

Como passaremos a demonstrar, até a véspera da greve

geral de junho de 1919 existiam cerca de 16 sindicatos operá-

14 Durante muito tempo, o mutualismo foi visto como uma simples pré-história

do movimento operário, só recentemente sendo superada essa concepção.

Por esta razão, os estudos sobre esse fenômeno ainda são muito poucos. Para a

Bahia, ver: SILVA, Maria da Conceição Barbosa da Costa e. O Montepio dos

Artistas: elo dos trabalhadores em Salvador. Salvador: Secretaria da Cultura e

Turismo do Estado da Bahia; Fundação Cultural; Egba, 1998 e CASTELLUCCI,

Aldrin A. S. Centro Operário da Bahia: mutualismo e jogo oligárquico. In:

SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA XXI, Niterói. Comunicação.

Niterói: ANPUH, 2001. 8 p. Para os casos paulista e carioca, ver: LUCA,

Tania Regina de. O sonho do futuro assegurado: o mutualismo em São Paulo.

São Paulo: Contexto; Brasília: CNPq, 1990 e BATALHA, Claudio H. M.

Sociedades de trabalhadores no Rio de Janeiro no século XIX: algumas refle-

xões em torno da formação da classe operária. Cadernos AEL, Campinas, SP:

IFCH/Unicamp, v. 6, n. 10/11, p. 41-66, 1999. Para o caso gaúcho, ver:

SILVA JUNIOR, Adhemar Lourenço da. Etnia e classe no mutualismo do

Rio Grande do Sul (1854 - 1889). Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre:

PUCRS, v. XXV, n. 2, p. 147-174, dez. 1999; SILVA JUNIOR, Adhemar

Lourenço da. Estado e mutualismo no Rio Grande do Sul (1854 - 1940).doc.

In: PRIMEIRAS JORNADAS DE HISTÓRIA REGIONAL COMPARA-

DA. Produzido por: Delnei Friedrich; Paulo Ribeiro. 2000, Porto Alegre, 1

CD-ROM (s9a1.doc). Word for Windows; SCHMIDT, Benito Bisso. A dire-

toria dos espíritos da classe: a Sociedade União Operária de Rio Grande

(1893 - 1911). Cadernos AEL, Campinas, SP: IFCH/Unicamp, v. 6, n. 10/11,

p. 147-170, 1999; FORTES, Alexandre. Da solidariedade à assistência: es-

tratégias organizativas e mutualidade no movimento operário de Porto Ale-

gre na primeira metade do século XX. Cadernos AEL, IFCH/Unicamp, Cam-

pinas, SP, v. 6, n. 10/11, p. 171-218, 1999.

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165

rios de resistência ativos em Salvador, parte deles fundada ou

reorganizada a partir de 1910, enquanto outros haviam sido

criados em período anterior e sobrevivido por mais tempo.

Durante os dias de paralisação, outros 3 foram fundados e,

do momento imediatamente posterior à greve geral até 1921,

pelo menos outras 14 organizações sindicais, 1 federação, 1

partido socialista e 2 jornais operários foram fundados.

Assim, naquele momento, entre os trabalhadores do

complexo portuário de Salvador foi possível identificar cerca

de 8 organizações operárias atuantes. Dentre as mais antigas

e importantes, destaca-se a Sociedade União dos Operários

Estivadores, fundada no Rio de Janeiro em 13 de setembro de

1903 e criando sua filial em Salvador no dia 1º de maio de

1912, após uma sangrenta luta entre as lideranças dos operá-

rios estivadores e os mestres de estiva, que disputavam com

o sindicato o controle sobre a gestão do mercado de traba-

lho.15 Do mesmo período foi a Sociedade Civil União Geral

dos Carregadores da Bahia, fundada em 22 de abril de 1912.16

Gravitando em torno das lideranças dos estivadores e

igualmente dotada de grande solução de continuidade, tínha-

mos também a Sociedade União dos Foguistas, aglutinadora

15 Ver VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Virando o jogo: estivadores e carre-

gadores no Rio de Janeiro da Primeira República. 1998. Tese (Doutorado em

Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universida-

de de São Paulo, São Paulo, 1998; VELASCO E CRUZ, Maria Cecília.

Solidariedade X rivalidade: a formação do sindicalismo estivador brasileiro.

História Unisinos (Dossiê Trabalho e Movimento Operário), São Leopoldo,

v. 6, n. 6, p. 29-62, 2002. Para os conflitos que deram origem à sucursal da

União dos Estivadores na Bahia, ver: PINHO, Péricles Madureira de. Confli-

tos coletivos de trabalho no porto da Bahia em 1912. Fórum, Revista do

Instituto da Ordem dos Advogados da Bahia, Salvador, ano V, v. XIII, fasc. 4,

p. 19-27, 1940; PINHO, Péricles Madureira de. O problema da sindicalização

rural. Rio de Janeiro: [s.n.], 1939. p. 85-89.

16 ESTATUTOS da Sociedade Civil União Geral dos Carregadores da Bahia.

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 12 set. 1920.

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166

de outra importante categoria operária que devia sua organi-

zação sindical à liderança carioca. Sua matriz foi fundada no

Rio de Janeiro em 26 de setembro de 1903.17 As articulações

para a fundação da sucursal baiana da Sociedade União dos

Foguistas começaram ainda em fins de maio de 1910, quando

uma comissão formada pelos operários João Fausto Góes,

Rogaciano Carteado da Silva e Manoel Augusto Vieira foi

até o jornal Diário de Notícias para apresentar Julio Marcellino

de Carvalho, um operário designado pela matriz carioca para

atuar em Salvador como delegado especial visando fundar a

filial baiana.18 Já em princípios de junho de 1910 aquele mes-

mo órgão de imprensa divulgou que, no domingo, dia 12 de

junho, seria instalada solenemente a sucursal baiana da União

dos Foguistas na rua do Pilar, nº 62, onde funcionaria sua

sede provisória.19 Na noite daquele dia, conforme combina-

do e “perante uma numerosa assistência”, foi aberta a sessão

pelo delegado especial Julio Marcellino de Carvalho, que, de

imediato, convidou o tenente Alcebíades Calmon dos Pas-

sos, representante do chefe de polícia, para presidir o conclave.

Este convocou Apolinário dos Anjos, repórter do Diário de

Notícias, e o capitão Arthur José da Silva, presidente do Clu-

be Defensor e Beneficente dos Maquinistas, para secretariá-

lo. O major Cosme de Farias foi escolhido orador oficial da

entidade, fazendo o seu histórico e salientando a justeza dos

seus fins. Sucedendo-o, usou da palavra o capitão Olavo de

Almeida, representando o Centro Operário da Bahia, que

enalteceu o progresso das sucursais dos foguistas de Pernam-

buco e do Rio Grande do Sul. Os últimos inscritos a falar

17 ESTATUTOS da Sociedade União dos Foguistas. Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 22 maio 1919; O Tempo, Salvador, 21 nov. 1918, p. 4.18 Diário de Notícias, Salvador, 4 e 11 jun. 1910, p. 1 e 3. Uma outra fonte

remetia sua origem, em Salvador, ao ano de 1900. O Imparcial, Salvador, 3

ago. 1919, p. 3.19 Diário de Notícias, Salvador, 25 maio 1910, p. 5.

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foram o capitão Adalberto Silveira e o farmacêutico Fellipe

de Araújo Pinho, oficial de gabinete do governador, em nome

do qual cumprimentou os foguistas por sua organização. Após

esses discursos e em meio a uma salva de palmas do plenário,

o presidente encerrou a sessão agradecendo a indicação de

seu nome para a tarefa da qual acabara de se desincumbir e

fazendo votos de sucesso para aquele sindicato.20

Com uma história também pouco conhecida, mas sendo

muito atuante e influente em Salvador nos anos de 1918 e 1919,

temos a Associação dos Marinheiros e Remadores, que havia

sido fundada na capital federal em 23 de outubro de 1904 e já

possuía sucursais em Recife (PE), Rio Grande e Pelotas (RS) e

Belém (PA) desde a segunda década republicana. A fundação

de sua sucursal em Salvador seguiu caminho semelhante ao

dos foguistas. No final de março de 1911, já se encontrava na

capital baiana o operário José Francisco de Menezes, um diri-

gente da matriz carioca da Associação dos Marinheiros e Re-

madores designado, especialmente, para fundar a sucursal da-

quele sindicato na Bahia. Em poucos dias sua tarefa já estava

bastante adiantada, sendo a noite do dia 1º de abril a data ini-

cialmente pensada para a instalação solene da organização, num

prédio da rua do Pilar, nº 8.21 Entretanto, por alguma razão não

esclarecida pelas fontes consultadas, a instauração oficial do

sindicato marítimo foi transferida para o dia 3 de abril de 1911.22

Assim, por volta das 9 horas da noite daquele dia, ao som da

música do 2º Corpo do Regimento Policial, o enviado especial

da matriz carioca abriu a sessão explicando os fins da reunião e

lendo as bases dos estatutos daquela sociedade. Em seguida,

foi dada posse a José Bento no cargo de delegado da sucursal

da Associação dos Marinheiros e Remadores na Bahia, que,

20 Diário de Notícias, Salvador, 13 jun. 1910, p. 5.

21 Diário de Notícias, Salvador, 28 mar. e 1º abr. 1911, p. 2.22 Diário de Notícias, Salvador, 3 abr. 1911, p. 2.

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por sua vez, declarou instalada a entidade. Depois, o capitão

João Pompílio de Abreu foi convidado para presidir o conclave,

no que aceitou fazendo breve discurso de incentivo aos sócios

do sindicato. Franqueada a palavra, inscreveram-se para profe-

rir algumas palavras o bacharel Jacintho Moreira da Fontoura,

Paulo Pompílio de Abreu, Marcionilio Baptista de Almeida e

Apolinário dos Anjos. O último a pronunciar-se foi o orador

oficial da associação na Bahia, o tenente Olavo José de Almei-

da.23

Outra organização de trabalhadores portuários de Sal-

vador que atuou em estreita sintonia com o grupo dos estiva-

dores foi a Sociedade União dos Conferentes da Bahia, fun-

dada em 28 de janeiro de 1918.24 A sucursal de Salvador do

Grêmio dos Maquinistas da Marinha Civil, com matriz no

Rio de Janeiro, também teve sua participação registrada nos

acontecimentos que antecederam a greve geral de 1919, inclu-

sive nas comemorações do 1º de maio.25 Finalmente, em prin-

cípios de março de 1919, os calafates também já se encontra-

vam recém-organizados, convocando uma assembléia para a

qual todos os membros do ofício deveriam acorrer, fossem ou

não sócios, a fim de discutir e aprovar os estatutos da Socie-

dade dos Calafates.26 A União dos Operários Estivadores ti-

nha uma posição de liderança até mesmo nas organizações

por ela considerada como co-irmãs, mas que não funciona-

vam como filiais de outras sociedades congêneres do Rio de

Janeiro. Entre 1918 e 1920, por exemplo, Alípio Marciano dos

Santos, seu delegado na Bahia, acumulava também a função

23 Diário de Notícias, Salvador, 4 abr. 1911, p. 2.

24 ESTATUTOS da Sociedade União dos Conferentes da Bahia. Diário Oficial

do Estado da Bahia, Salvador, 4 jul. 1920.25 APEB, Seção Legislativa, livro 1200; O Democrata, Salvador, 3 maio 1919,

p. 1-2; O Tempo, Salvador, 2 maio 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 3

maio 1919, p. 2; A Tarde, Salvador, 2 maio 1919, p. 2;26 Diário de Notícias, Salvador, 7 mar. 1919, p. 2.

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de presidente da Sociedade União dos Carregadores das Do-

cas e Trapiches.27

De modo geral, esses sindicatos operários combinavam

os tradicionais métodos de ação coletiva, como as greves, com

a negociação de suas demandas através de advogados, políti-

cos e autoridades oficiais, fenômeno já verificado também em

vários outros estados, a exemplo de Rio de Janeiro, Rio Gran-

de do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Maranhão,

Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Sergipe e Pará.28

27 O Tempo, Salvador, 21 nov. 1918, p. 4; 2 maio 1919, p. 1; 21 out. 1919, p. 1.

28 Ver VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Amarelo e negro: matizes do com-

portamento operário na República Velha. 1981. Dissertação (Mestrado em

Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio

de Janeiro, 1981; VELASCO E CRUZ, M. C. Virando o jogo: estivadores e

carregadores no Rio de Janeiro da Primeira República. 1998. Tese (Doutora-

do em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998; VELASCO E CRUZ, M. C.

Solidariedade X rivalidade: a formação do sindicalismo estivador brasileiro.

História Unisinos (Dossiê Trabalho e Movimento Operário), São Leopoldo,

v. 6, n. 6, p. 29-62, 2002; VELASCO E CRUZ, M. C. Tradições negras na

formação de um sindicato: Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em

Trapiche e Café. Rio de Janeiro, 1905-1930. Afro-Ásia, Salvador: Ceao-

UFBA, n. 24, p. 243-290, 2000; BATALHA, Claudio H. M. Uma outra

consciência de classe? O sindicalismo reformista na Primeira República. Ci-

ências Sociais Hoje, São Paulo: Vértice/Anpocs, p. 117-127, 1990; BATA-

LHA, Claudio H. M. O movimento operário na Primeira República. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 31-35; GOMES, Angela de Castro. A invenção

do trabalhismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994; BILHÃO, Isa-

bel. Rivalidades e solidariedades no movimento operário (Porto Alegre, 1906 -

1911). Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999; DUTRA, Eliana F. Caminhos operá-

rios nas Minas Gerais. Um estudo das práticas operárias em Juiz de Fora e Belo

Horizonte na Primeira República. São Paulo: Hucitec/Editora da UFMG,

1988; ANDRADE, Silvia M. B. V. Classe operária em Juiz de Fora. Uma

história de lutas (1912-1924). Juiz de Fora: Editora da UFJF, 1987;

HARDMAN, Francisco Foot; LEONARD, Victor. História da indústria e do

trabalho no Brasil (das origens aos anos 20). 2. ed. rev. e ampl. São Paulo:

Ática, 1991; SALLES, Vicente. Marxismo, socialismo e os militantes excluídos.

Capítulos de história do Pará. Belém: Paka-Tatu, 2001.

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170

Isso implica dizer que o sindicalismo reformista não via a so-

ciedade como algo harmônico, sem conflito de classes, a exem-

plo de algumas lideranças de sociedades mutualistas, mas

também não era adepto de uma concepção que visse o Esta-

do e seus dirigentes apenas como os fiéis servidores dos inte-

resses dominantes, caso dos libertários. Dependendo da con-

juntura, o Estado era, para o conjunto desses sindicatos, um

mediador ou mesmo um aliado na luta para obter ganhos,

uma posição bastante confortável no peculiar e conflituoso

ano de 1919. Havia, pois, uma relação de troca, pela qual o

Estado e seus governantes apoiavam algumas das demandas

dos operários e suas organizações, ao passo que estes retri-

buíam com variadas formas de apoio político que iam desde

a modalidade clássica do voto até a simbólica, muitas vezes

representada por gestos que indicavam prestígio mútuo das

duas partes. Conclui-se destes dados, também, que o sindica-

lismo reformista constituiu-se numa clivagem muito mais am-

pla e enraizada no Brasil que o sindicalismo revolucionário,

que se estabeleceu de modo muito sólido em São Paulo, mas

não parece ter sido hegemônico em nenhuma outra região.29

Por ocasião das eleições legislativas de janeiro de 1919,

por exemplo, um manifesto, assinado por vários comercian-

tes e caixeiros e por diversos diretores da União dos Operári-

29 Sobre as fontes teóricas, experiências e distinções entre o anarquismo e o sindi-

calismo revolucionário, ver: TOLEDO, Edilene T. O sindicalismo revolucioná-

rio e a Federação Operária de São Paulo no início do século XX. Cadernos de

História Social, Campinas. SP, n. 2, p. 27-41, 1995; TOLEDO, Edilene T. Em

torno do jornal O Amigo do Povo: os grupos de afinidade e a propaganda

anarquista em São Paulo nos primeiros anos deste século. Cadernos AEL.

Campinas, SP: Arquivo Edgard Leuenroth, n. 8/9, p. 89-116, 1998; TOLEDO,

Edilene T. O sindicalismo revolucionário em São Paulo e na Itália: circulação de

idéias e experiências na militância sindical transnacional entre 1890 e o fascis-

mo. 2002. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências

Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.

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171

os Estivadores, da União dos Carregadores, da União dos

Conferentes e da União dos Foguistas, foi dirigido ao comér-

cio e às classes operárias, conclamando-os a sufragar os can-

didatos do PRD.30 Na noite de 9 de março de 1919, uma gran-

de passeata operária, organizada pelos dirigentes das “distin-

tas classes proletárias, representadas pelos honrados núcleos

de homens do trabalho que constituem e impulsionam as or-

deiras e progressistas” sociedades União dos Operários Esti-

vadores, União dos Carregadores, União dos Foguistas, União

dos Conferentes e Associação dos Marinheiros e Remado-

res, percorreu as ruas do Centro de Salvador,31 iluminadas

“profusa e belamente por fogos cambiantes”, e em seguida

postou-se em frente à residência do senador J. J. Seabra, par-

lamentar de “atitude máscula”, “valoroso representante e ami-

go incansável e devotado de sempre” do “povo baiano”, para

anunciar, por meio de uma “bela, imponente e significativa

manifestação”, seu apoio à candidatura de Epitácio Pessoa à

30 O Tempo, Salvador, 9 jan. 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 9 jan. 1919,

p. 2; O Democrata, Salvador, 9 jan. 1919, p. 1. Constavam no manifesto os

nomes de várias lideranças operárias da zona portuária e marítima. Pela União

dos Estivadores: Alípio Marciano dos Santos (delegado), João Capistrano Pi-

res Dias (secretário), Moyses da Conceição Neves (relator), Delmiro Pereira

(fiscal geral), Domingos Cícero Alves e Marinho Manoel de Jesus (tesourei-

ros) e Cosme de Sant’Anna (diretor da Caixa de Auxílios); pela União dos

Carregadores: Agapito Damião de Lacerda (presidente), Manoel Antonio da

Silva (tesoureiro), Joviniano Santheago, Alziro Gomes de Figueiredo, Genesio

Carvalho do Espírito Santo, Reginaldo Ribeiro, Feliciano Hilário dos Santos

e Juvenal Dias; pela União dos Foguistas: João Baptista do Espírito Santo,

Domingos Alves da Costa, Livino José de Pinho, João Regis, Arlindo Eloy

Rodrigues, Bertolino Pereira Passos e Faustino Firtulino Pereira; pela União

dos Conferentes: Jacintho Souza, Humberto Fonseca, Fructuoso Telles de

Araújo, Custódio Oliveira Pontes e Chrispim Gonçalves Ramos.

31 O percurso feito pela multidão operária foi o seguinte: Alto do Caminho

Novo, rua Silva Jardim, praça José de Alencar, Portas do Carmo, praça 15 de

Novembro, Misericórdia, praça Rio Branco, rua Chile, praça Castro Alves,

São Bento, São Pedro, Piedade, Rosário, Mercês, Aclamação, Duque de

Caxias e, finalmente, Corredor da Vitória.

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172

Presidência da República, conforme desejo do PRD. Do “seio

da multidão” ecoavam também vivas ao governador Antonio

Moniz, ao chefe de polícia Álvaro Cova, ao deputado federal

Moniz Sodré e a “outros eminentes próceres da situação”.

Os sindicatos operários e seus filiados tiveram no capitão

Marcos Paulo de Carvalho o seu “inteligente orador”, que

pronunciou um discurso de “felicitações ao baiano egrégio” e

chamou a atenção para a “grande alegria” sentida por todos

pelo seu regresso à terra natal. Em resposta, Seabra declarou

que “nenhuma manifestação de simpatia ou solidariedade à

sua pessoa mais de perto lhe toca ao coração de que as que

partem do operariado, sempre sincero no testemunho do seu

sentir”. Continuou falando, “com desvanecimento”, que “em

todos os transes da sua longa e acidentada vida pública tem

tido o apoio e o conforto dos operários, daqueles que vivem

do trabalho quotidiano, lutando com as maiores dificuldades

para a satisfação das necessidades mais urgentes, porém que,

apesar disso, não se esqueceu dos legítimos interesses da co-

letividade, colocando-se sempre ao lado das boas causas”.

Dentre os muitos outros assuntos tratados, J. J. Seabra “refe-

riu-se à urgência de ser decretado o Código do Trabalho, em

que os direitos do operariado fiquem bem discriminados e

garantidos, impedindo assim que nos choques entre o traba-

lho e o capital, este sobrepuje aquele, asfixiando as suas as-

pirações, sempre modestas e justas”.32

Ao final de maio de 1919, uma multidão operária foi

conduzida pela Associação dos Marinheiros e Remadores até

o Palácio da Aclamação para prestar homenagem ao governa-

dor Antonio Ferrão Moniz de Aragão, que estava aniversari-

ando, e ao mesmo tempo agradecer-lhe o apoio dado durante

a greve nacional dos marítimos.33 Finalmente, em outubro de

32 O Democrata, Salvador, 11 mar. 1919, p. 1.

33 O Tempo, Salvador, 31 maio 1919, p. 1-2.

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1919, os dirigentes da União dos Operários Estivadores enca-

beçaram mais uma iniciativa, que contou com o apoio da

União dos Carregadores das Docas e Trapiches, da União dos

Foguistas Marítimos e Terrestres e da Associação dos Mari-

nheiros e Remadores, objetivando apoiar a candidatura do

próprio Seabra em sua campanha para suceder Antônio Moniz

no governo do estado. Numa assembléia conjunta de seus

sócios para deliberar sobre o assunto, esses sindicatos conse-

guiram a audiência e o apoio de cerca de 5 mil operários.34

Seja como for, a história do sindicalismo de todos esses gru-

pos ainda está por ser escrita.35

Antes da greve geral de junho de 1919, estavam reunidos

em sindicatos de resistência, também, os sapateiros, que foram

bastante atuantes, mas se encontravam divididos entre o Cen-

34 O Tempo, Salvador, 21 out. 1919, p. 1. A mesma fonte informa-nos que o

manifesto era assinado por Alípio Marciano dos Santos, João Capistrano Pires

Dias e Marinho Manoel de Jesus, respectivamente delegado, secretário e tesou-

reiro da União dos Estivadores; Alípio Marciano dos Santos, Agapito Damião

Lacerda e Manoel Antonio da Silva, respectivamente presidente, secretário e

tesoureiro da União dos Carregadores das Docas e Trapiches; João Baptista do

Espírito Santo e Manoel Atanasio de Almeida, presidente e secretário da União

dos Foguistas Marítimos e Terrestres; Manoel Dantas e Antonio Alves Junqueira,

delegado e secretário da Associação dos Marinheiros e Remadores.35 A professora Maria Cecília Velasco e Cruz, que já havia realizado estudos

acerca dos trabalhadores do porto do Rio de Janeiro, desenvolve, atualmente,

uma pesquisa comparativa sobre trabalhadores avulsos no Porto do Rio de

Janeiro e de Salvador, ao final da qual certamente se saberá mais sobre os

mesmos. Ver VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. A dialética da solidariedade

e da rivalidade: trabalhadores avulsos no porto do Rio de Janeiro e Salvador.

Projeto parcialmente financiado pelo CADCT/UFBA. Ver também, da mes-

ma autora, os artigos Tradições negras na formação de um sindicato: Socieda-

de de Resistência dos Trabalhadores em Trapiche e Café. Rio de Janeiro,

1905-1930. Afro-Ásia, Salvador: Ceao-UFBA, n. 24, p. 243-290, 2000 e

Solidariedade X rivalidade: a formação do sindicalismo estivador brasileiro.

História Unisinos (Dossiê Trabalho e Movimento Operário), São Leopoldo,

v. 6, n. 6, p. 29-62, 2002.

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174

tro Unificador dos Sapateiros, fundado em 25 de maio de 1906,36

e a Sociedade União Defensora dos Sapateiros,37 cujo marco

inicial não foi identificado, os padeiros, que fundaram a Socie-

dade União dos Operários de Padaria em 6 de abril de 191938

e os metalúrgicos, que criaram a Sociedade União dos

Metalúrgicos da Bahia em 30 de abril de 1919.39 Já os gráficos

baianos, que desde 1870 se organizavam em bases mutualistas

em torno da Associação Tipográfica Baiana,40 só fundaram o

seu sindicato de resistência durante a greve geral.

No setor de transportes terrestres, uma parte dos tra-

balhadores já estava organizada em sindicatos de resistência

antes da greve geral, ao passo que outra se organizaria no

decorrer do movimento e uma última logo após ele. No pri-

meiro caso temos o Centro Automobilístico do Estado da

Bahia, criado em 17 de setembro de 1917,41 e os ferroviários,

que em abril de 1919 fundaram a Sociedade União Defensora

dos Operários de Ferrovia.42 Os trabalhadores das compa-

nhias de bondes se organizaram em meio à greve geral, en-

quanto os condutores de veículos e carroças fundariam seus

sindicatos no imediato pós-greve geral.

36 Diário de Notícias, Salvador, 26 maio 1906, p. 2.

37 Em princípios de 1920, o Centro Unificador dos Sapateiros se dissolveu, trans-

ferindo para a Sociedade União Defensora dos Sapateiros todos os seus bens e

filiados. AEL-UNICAMP, Germinal, Salvador, ano I, n. 1, 19 mar. 1920, p. 11;

Germinal, Salvador, ano I, n. 2, 3 abr. 1920, p. 6.38 ESTATUTOS da Sociedade União dos Operários de Padaria. Diário Oficial

do Estado da Bahia, Salvador, 12 set. 1919.

39 ESTATUTOS da Sociedade União dos Metalúrgicos da Bahia. Diário Oficial

do Estado da Bahia, Salvador, 14 out. 1919.

40 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial

do Estado da Bahia, 2 jul. 1923. p. 397. Edição Especial do Centenário.41 ESTATUTOS do Centro Automobilístico do Estado da Bahia. Diário Oficial

do Estado da Bahia, Salvador, 24 abr. 1920.

42 ESTATUTOS da Sociedade União Defensora dos Operários de Ferrovia.

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 18 mar. 1920.

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Os trabalhadores das oficinas, manufaturas e fábricas

do setor têxtil, de roupas, chapéus, fumo (cigarros e charu-

tos) e alimentos constituíam um grupo formado por uma gran-

de massa desorganizada. Antes de 1919, todas as sociedades

surgidas nesses setores parecem ter sido mutualistas e/ou

beneficentes, a exemplo das dos chapeleiros, dos alfaiates e

das costureiras. Os operários têxteis e da indústria fumageira,

a despeito de terem feito greves desde o final do século XIX,

viviam enquadrados pelos patrões, que os congregavam, com-

pulsoriamente, em sociedades beneficentes de suas fábricas,

todas mantidas a partir de descontos nas folhas salariais. Como

veremos, os têxteis se organizarão solidamente após a greve

geral e os operários das manufaturas e fábricas de cigarros e

charutos não terão um sindicato próprio, mesmo depois des-

se movimento. Com os trabalhadores da indústria de alimen-

tação e bebida a situação também era de marasmo, pois estes

não possuíam, ao que tudo indica, qualquer tipo de organiza-

ção, fosse ela mutualista ou de resistência.

Na conjuntura de 1919, foi bastante significativa, tam-

bém, a influência da Sociedade União dos Marmoristas, cuja

data de fundação também não conseguimos precisar. Porém, o

grupo operário pesquisado que teve maior importância na gre-

ve geral de 1919 foi o da construção civil. Seu processo de orga-

nização, como já vimos, remonta ao ano de 1905, quando fora

criada a Associação Defensora dos Trabalhadores em Constru-

ção. Já em 1913, porém, ocorre uma mudança na orientação

ideológica dessa categoria. Naquele ano, chegara a Salvador

José Elias da Silva, delegado da Confederação Operária Brasi-

leira enviado ao Nordeste do Brasil em março de 1913 com a

finalidade de fazer propaganda do sindicalismo revolucionário.43

43 O militante anarquista José Elias da Silva depois passou para o comunismo,

sendo um dos fundadores do PCB, em 1922. Sua viagem pelo Nordeste do

Brasil, em 1913, incluía os estados da Bahia, de Alagoas e Pernambuco.

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Sua passagem pela Bahia serve para mostrar as dificuldades

de penetração desse ideário e evidencia a força das idéias de

grupos socialistas e reformistas no estado. José Elias chegou

a Salvador no dia 11 de março, quando manteve contatos com

alguns trabalhadores interessados na “propaganda de organi-

zação das classes operárias”. Entre estes estava o operário

João Damasceno dos Santos, presidente da Sociedade União

Defensora dos Pedreiros. Esta associação encontrava-se em

sessão de assembléia geral para eleger a sua nova diretoria,

momento mais que propício para divulgação das idéias do

sindicalismo revolucionário. José Elias chegou a ser convida-

do para presidir os trabalhos de escrutinação do pleito, o que

aceitou prontamente, ao mesmo tempo em que solicitou o

salão daquele sindicato com vistas à realização de sua primei-

ra conferência. Realizado no dia 22 de março, o referido evento

reuniu “numerosa assistência”. Nele fora distribuído “eleva-

do número de folhetos que a Confederação Operária Brasi-

leira publicou para esta excursão, ficando os assistentes

animadíssimos com a nova orientação que lhe levávamos”,

concluíram os editores de A Voz do Trabalhador. Na seqüên-

cia dos acontecimentos, José Elias da Silva tomou parte tam-

bém de uma greve de operários da construção civil, emprega-

dos da firma Lafayete, que reclamavam o pagamento de cin-

co quinzenas de salários atrasados. Neste movimento pôde

encontrar-se com “companheiros da velha guarda”, de acor-

do com as palavras que usou em carta enviada no dia 25 de

março aos cariocas. Tais companheiros eram “conhecedores

da organização sindical em Portugal”, estando dispostos, na-

quele momento, a “re-encetar a luta”, graças ao incentivo da

COB. “Com esse grupo de bons companheiros”, disse o arti-

culista de A Voz do Trabalhador, “pôde o nosso delegado

desenvolver uma imediata propaganda, publicando um ex-

tenso e bem dirigido manifesto convidando o operariado a

uma grande reunião”, que se realizaria no dia 24 de março. A

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sessão foi aberta por Félix Maurício e o vasto salão teria sido

pequeno para a quantidade de operários que para ali se diri-

giram. José Elias da Silva ocupou a tribuna por uma hora e

meia, “terminando sob entusiásticos aplausos, vivas à eman-

cipação proletária, ao sindicalismo, à Confederação Operária

Brasileira, ao operariado universal, à solidariedade humana,

etc.”. Um dos desdobramentos da reunião foi a fundação do

Sindicato Operário de Ofícios Vários, oficializada no dia 24

de abril de 1913 e contando com a inscrição imediata de 70

obreiros, sendo 15 pedreiros, 25 estucadores, 13 carpinteiros,

7 serventes, 4 calceteiros, 2 marceneiros, 1 funileiro, 1 cozi-

nheiro, 1 pintor e 1 maquinista.44

Por ocasião da greve geral de junho de 1919, porém, os

operários da construção civil estavam agrupados em torno do

Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, fun-

dado em 19 de março de 1919, dia de São José. À frente desta

entidade estavam algumas das mais importantes lideranças

da classe operária baiana até 1921, a exemplo de Guilherme

Francisco Nery, José dos Santos Gomes, Abílio José dos San-

tos, Antonio Amaro de Sant’Anna e José Domiense da Sil-

va.45 Categoria que, como vimos, possuía longa e forte tradi-

ção organizativa, seus líderes se destacaram na preparação,

organização e condução da greve geral de 1919, que do início

ao fim permanecera sob a hegemonia dos socialistas. Foram

responsáveis, também, pelo agrupamento e formação de qua-

dros que fundaram outros sindicatos, inclusive em categorias

44 A Voz do Trabalhador, Rio de Janeiro, ano VII, n. 51-52, 1. abr. 1914, p. 1;

ano VII, n. 53-54, 1 maio 1914, p. 1; ano VII, n. 55, 15 maio 1914, p. 1-2.

(A VOZ DO TRABALHADOR. Órgão da Confederação Operária Brasilei-

ra. Coleção fac-similar 1908-1915. Prefácio de Paulo Sérgio Pinheiro. São

Paulo: Imprensa Oficial do Estado/Secretaria de Estado da Cultura/Centro de

Memória Sindical, 1985).45 ESTATUTOS do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes.

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 19 out. 1919.

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tradicionalmente desorganizadas e que enfrentavam empeci-

lhos estruturais para superar tal situação, a exemplo dos ope-

rários têxteis. Sua influência chegou a penetrar em setores

operários de outras cidades, como Nazaré das Farinhas, onde,

em agosto de 1919, fundaram a União dos Pedreiros

Nazarenos,46 sucursal daquele sindicato, em 1919 - 1920.47

Atuaram também como principais articuladores do Primeiro

Congresso dos Trabalhadores Baianos, realizado entre 14 e

20 de julho de 1919, e de seu fruto mais importante, a Federa-

ção dos Trabalhadores Baianos, instituída, por deliberação

daquele evento, em 13 de fevereiro de 1920.48

É preciso lembrar que, a exemplo das situações obser-

vadas em outras cidades, em Salvador a indústria da constru-

ção civil possuía um empresariado relativamente frágil. Pre-

dominavam os pequenos empreiteiros de obras, que dispu-

nham de poucos capitais e eram contratados para a realização

de determinadas construções, com prazos previamente acer-

tados para a conclusão do serviço, só recebendo o pagamento

depois disso. Disso decorria que esses patrões eram bastante

sensíveis às paralisações do trabalho de seus operários por

quaisquer razões, pois os atrasos redundavam, para o em-

preiteiro, em ter que honrar os compromissos e dívidas con-

traídas junto aos fornecedores de matérias-primas (cimento,

pedras, tijolos, ferragens, etc.). Uma greve, pois, poderia ge-

rar um processo de descapitalização acentuada, resultando

na perda do contrato por parte do empreiteiro ou na sua vir-

tual falência. Além disso, os trabalhadores da construção ci-

vil eram, em grande parte, qualificados e, portanto, difíceis

de serem substituídos, principalmente em épocas de prospe-

46 O Conservador, Nazaré-BA, 31 ago. 1919, p. 1.

47 O Conservador, Nazaré-BA, 5 maio 1920, p. 2.48 A Voz do Trabalhador, Salvador, ano I, n. 24, 19 mar. 1921, p. 1.

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179

ridade econômica, quando o ritmo das construções e refor-

mas era retomado e os artistas se tornavam mão-de-obra rara

e cara. O leitor deve ficar atento para o fato desta ser a situ-

ação concreta vivida em Salvador a partir do primeiro trimes-

tre de 1919 e, não por acaso, esse foi o setor de vanguarda do

movimento operário baiano a partir de então, assim como já

o havia sido também em outras cidades, como Santos.49

A maré de sindicalização parece ter atingido até mesmo

alguns setores de trabalhadores não-operários tradicionalmente

desorganizados e submetidos ao domínio patronal e do Esta-

do, a exemplo dos empregados do comércio e dos funcionários

públicos. Os caixeiros, que de longa data se agrupavam em

várias associações mutualistas espalhadas por Salvador e cida-

des do interior da Bahia (ver Anexo 1), fundaram, em 1º de

junho de 1919, véspera da greve geral, a União Caixeiral da

Bahia, que ainda praticava a beneficência e o auxílio mútuo

como as outras sociedades, mas combinava-os com a resistên-

cia, ou seja, com a luta econômica.50 Já os servidores do Esta-

do, que também tinham longa tradição beneficente, fundaram

a Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia

em 20 de agosto e instalaram-na em 8 de setembro de 1918.51

49 Para uma discussão sobre a indústria e os operários da construção civil, ver:

SILVA, Fernando Teixeira da; GITAHY, Maria Lúcia C. O movimento ope-

rário da construção civil santista durante a Primeira Guerra Mundial (1914 -

1918). História Social, Campinas, SP, n. 3, p. 87-124, 1996 e SILVA, Fernan-

do Teixeira. Operários sem patrões: os trabalhadores da cidade de Santos no

entreguerras. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003, cap. 1 e 2. Ver

também: MARAM, Sheldon Leslie. Anarquistas, imigrantes e o movimento

operário brasileiro (1890 - 1920). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. p. 51-52;

FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social (1890 - 1920). São Paulo;

Rio de Janeiro: Difel, 1976. p. 132.50 ESTATUTOS da União Caixeiral da Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia,

Salvador, 11 jul. 1920.

51 A propaganda para fundação e a discussão dos projetos de estatutos foram

fartamente cobertos pela imprensa, especialmente a seabrista e oficial. Ver:

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180

As greves do início do ano

As dificuldades e o descontentamento gerados pela crise aber-

ta com a guerra e que prosseguiram no imediato pós-guerra

eram tão grandes que o ano de 1919 já havia se iniciado sob o

signo de greves em várias categorias, estivessem elas organi-

zadas ou não em sindicatos. Esses movimentos, entretanto,

eram bem fugazes e guardavam diferenças substanciais em

relação à greve geral de junho. Os empregados da Empresa

de Asseio da Cidade, por exemplo, paralisaram o trabalho no

dia 13 de janeiro reclamando o pagamento de 9 quinzenas de

salários atrasados. O clima parecia tenso, pois além das cons-

tantes quebras de promessas de liberação dos recursos reti-

dos, viam-se, na manhã do dia 23, corpos de infantaria e ca-

valaria postados na entrada da empresa prontos para repri-

mir eventuais protestos. Naquele mesmo dia, o chefe de po-

lícia anunciou que os salários seriam pagos em 48 horas, ao

que os trabalhadores acenaram com o retorno temporário aos

seus afazeres. A imprensa frisava que a situação se tornava

tanto mais revoltante em função do município nada dever ao

empreiteiro Germano de Assis, responsável pelo serviço de

coleta do lixo.52 O compromisso assumido de pagamento dos

proventos atrasados dos carroceiros, varredores de rua e fis-

cais, porém, não foi integralmente cumprido, só sendo pagas

5 das 9 quinzenas devidas. Além disso, os pagamentos sofre-

ram todo tipo de reduções, inclusive os tradicionais descon-

tos com equipamentos de trabalho (roupas, vassouras, pás),

feitos de forma desigual, resultando disso uma nova paralisa-

PROJETO de Estatutos da Associação dos Funcionários Públicos do Estado

da Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 31 jul. 1918; PROJETO

de Estatutos da Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia

(Redigido de acordo com as emendas). Diário Oficial do Estado da Bahia,

Salvador, 15 ago. 1918; O Tempo, Salvador, 17 e 19 jul. 1918; 8, 21 e 27 ago.

1918; 5, 6 e 9 set. 1918.

52 O Imparcial, Salvador, 14 jan. 1919, p. 1.

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ção do trabalho de limpeza da cidade.53 No dia 18, o lixo

ainda se acumulava pelas ruas e os odores se tornavam insu-

portáveis, sem que qualquer solução surgisse.54

No início de abril, uma greve foi feita também pelos ope-

rários do Gasômetro. Em princípio, os trabalhadores exigiam o

pagamento da quarta quinzena vencida de seus salários, o que

efetivamente ocorreu, impedindo a eclosão do movimento. No

dia 7, porém, um antigo maquinista chamado Paulo Passos

Moreira55 foi demitido em função de ter liderado os demais

operários na ameaça de greve ocorrida dias antes. Em solidarie-

dade ao companheiro, seus colegas paralisaram o trabalho rei-

vindicando a readmissão do líder operário, levando os bondes a

parar nas linhas do Comércio a Itapagipe por falta de energia. O

movimento sagrou-se vitorioso, com o maquinista sendo

readmitido em seu posto e os bondes voltando a funcionar.56

Em maio, os operários da Fábrica de Gelo da Brahma

em Salvador paralisaram o trabalho em solidariedade a seus

colegas de empresa do Rio de Janeiro. Acompanhando os

operários da capital federal, os trabalhadores baianos reivin-

dicavam a jornada de 8 horas e aumento de 1$000 em seus

salários. Os patrões negaram-se a conceder o aumento salari-

al, alegando que já haviam feito isso dias antes e que o inver-

no era uma fase ingrata para atender a tais pleitos, restando

aos patrões o fechamento da fábrica.57 As notícias sobre o

movimento desapareceram das fontes sem que soubéssemos

do resultado final.

53 O Imparcial, Salvador, 16 jan. 1919, p. 1.

54 O Imparcial, Salvador, 18 jan. 1919, p. 1.55 Paulo Passos Moreira aparece nos estatutos do sindicato da categoria como

um de seus organizadores, em junho de 1919. Ver ESTATUTOS da Socieda-

de União dos Empregados de Bondes, Luz e Força Elétrica do Estado da

Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 1º fev. 1920.

56 O Imparcial, Salvador, 8 abr. 1919, p. 2.

57 A Tarde, Salvador, 26 maio 1919, p. 1.

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Mas foi a greve nacional dos marítimos, iniciada em 7 de

maio de 1919, a mais importante e a que teve, antes de junho,

um caráter mais radical. A greve se desenrolou nos marcos de

um movimento mais amplo e sua dinâmica estava em estreita

relação com os acontecimentos do Rio de Janeiro. Logo no prin-

cípio da parede, os tripulantes dos vapores da Companhia de

Navegação Baiana, dos Paquetes da Companhia Costeira, Lloyd

Brasileiro e da Companhia Comércio e Navegação aderiram

ao movimento, passando a orientar-se pela sucursal da Asso-

ciação dos Marinheiros e Remadores que, como vimos, tinha

sua sede na capital da República.58 No dia 8 de maio, o dele-

gado da associação em Salvador, Argemiro Alves da Fonseca,

informou que a greve já tinha conseguido a adesão de 800

marítimos no estado, que paralisaram vários paquetes, após o

que se concentraram na sede de seu sindicato, localizada na

Conceição da Praia (Cidade Baixa). Na raiz da greve estava a

luta dos trabalhadores contra o estabelecimento de um novo

regulamento baixado pelo Lloyd, pelo qual as companhias ti-

ravam os pagamentos de horas extras, mudavam o horário das

refeições – o almoço passava das 10 para as 12 horas e o jantar

das 16 para as 19 horas – e criavam uma associação atrelada aos

patrões cuja finalidade explícita era de destruir a Associação

dos Marinheiros e Remadores. Para voltar ao trabalho, os ope-

rários apresentaram uma pauta propondo alterações no regu-

lamento formulado pelas companhias, reivindicando a jornada

de trabalho de 8 horas, o controle do sindicato sobre os embar-

ques, o restabelecimento dos antigos horários de refeições e

aumentos salariais.59 Em todas as negociações, o deputado

58 A Tarde, Salvador, 8 maio 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 10 maio

1919, p. 1.

59 A tabela apresentada pelo sindicato propunha os seguintes aumentos: os con-

tramestres, que ganhavam 170$000 passariam a ganhar 270$000; os marinhei-

ros que recebiam vencimentos de 140$000 deveriam ganhar 220$000; os mo-

ços sairiam dos 100$000 anteriores ao movimento para 160$000; finalmente,

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183

seabrista Lauro Villas-Boas se apresentou como advogado dos

grevistas. Um órgão de imprensa ligado à oposição ruísta che-

gou a noticiar que os estivadores e carregadores, outras duas

categorias que mantinham relações com esse parlamentar,

estariam aderindo ao movimento. A idéia era criar um clima

de tensão contra o governo. Contudo, um outro órgão de

imprensa, ligado ao grupo de Seabra e ao PRD, obteve uma

entrevista com a representação dos sindicatos desses operári-

os negando sua adesão ao movimento.60

No dia 10 de maio, momentos de tensão ocorreram em

forma de insubordinação e quebra de disciplina. O marinhei-

ro Raymundo Nonato dos Santos, do vapor Cachoeira, per-

tencente à Companhia de Navegação Baiana, após receber

do capitão do porto um exemplar do novo regulamento, in-

dispôs-se com o referido oficial e rasgou o documento. Pron-

tamente, um remador e outros seis marinheiros do Couraça-

do Deodoro prenderam-no e levaram-no à presença do juiz

seccional, que, por sua vez, mandou fichá-lo na Secretaria de

Polícia.61 No dia 17 de maio, a imprensa reclamava que o ca-

pitão do porto mostrava-se muito insensível e pouco propen-

so a ceder às reivindicações dos trabalhadores. Com essa po-

sição, alimentava a continuidade da greve, mesmo que “si-

lenciosa” e “pacífica”. Nesse momento, o número de grevis-

tas desembarcados na Bahia já atingira a 900 operários. Além

disso, o delegado da sucursal da Associação dos Marinheiros

e Remadores na Bahia denunciou que esse mesmo Capitão

os boys teriam seus vencimentos alterados de 50$000 para 100$000. Os marí-

timos reclamavam ainda o acréscimo de 1$000 para cada hora de trabalho

extraordinário. O Tempo, Salvador, 8 maio 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salva-

dor, 8 maio 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 9 maio 1919, p. 2; Diário da

Bahia, Salvador, 10 maio 1919, p. 1.

60 O Tempo, Salvador, 8 maio 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 8 maio

1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 9 maio 1919, p. 2; Diário da Bahia,

Salvador, 10 maio 1919, p. 1.

61 Jornal de Notícias, Salvador, 10 maio 1919, p. 2.

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do Porto estava fazendo com os trabalhadores baianos o mes-

mo tipo de repressão que Barbosa Lima, diretor do Lloyd,

fazia no Rio de Janeiro. Segundo o sindicalista, a autoridade

portuária baiana havia contratado fura-greves em massa e

“enchido os navios de pessoal incompetente, desafeito à lide

do mar e ignorante, que não tem consciência dos seus direi-

tos”.62 No dia 30 de maio, a greve nacional dos marítimos

terminou com saldo positivo para os trabalhadores. A direto-

ria da Associação dos Marinheiros e Remadores, no Rio, co-

municou à sua sucursal de Salvador que as reivindicações dos

seus filiados haviam sido aceitas pelos patrões.63

O jornal O Tempo, porta-voz oficioso do governo esta-

dual, felicitou os “dignos homens do trabalho pela vitória

conseguida, como também pela atitude pacífica, ordeira e res-

62 Diário de Notícias, Salvador, 17 maio 1919, p. 1.

63 O Imparcial, Salvador, 31 maio 1919, p. 1; O Tempo, Salvador, 31 maio 1919,

p. 1-2. O acordo entre a Associação dos Marinheiros e Remadores e o patrona-

to estabeleceu o seguinte: os contramestres passariam a ganhar 229$000; os

marinheiros fiéis, 202$000; os marinheiros, 189$000; os moços, 130$000 e os

boys, 58$500. As horas extras seriam pagas com acréscimo de 1$000 em todos

os casos, ao passo que a jornada de trabalho de 8 horas foi estabelecida. Além

disso, o sindicato operário controlaria a contratação da mão-de-obra, organi-

zando o “quadro dos marítimos desembarcados, fazendo a classificação dos

mesmos em classificação seguida, segundo a ordem de antiguidade nos desem-

barques, comprovada pelas cadernetas expedidas pela Capitania dos Portos”.

Mas havia uma ressalva que funcionava como garantia dos patrões, pois a

associação operária ficava obrigada a “incluir no mesmo quadro os reservistas

da Marinha de Guerra, bem como quaisquer outros matriculados pelas capita-

nias dos portos, sejam ou não filiados à associação”. Além disso, “do quadro

acima referido, que o Lloyd Brasileiro se reserva o direito de fiscalizar na sede da

associação por pessoa da sua confiança, será tirado por ordem da antiguidade

dos desembarques o pessoal marítimo necessário para prover as vagas que se

forem verificando na tripulação dos navios”. Por fim, as alterações feitas nas

referidas listas deveriam ser comunicadas ao Lloyd e ao “direito de indicação,

garantido à associação, corresponde para o Lloyd o direito de recusar o indicado

até haver acordo entre as duas partes, que se empenharão em recebê-lo pronta-

mente, de modo a evitar os prejuízos de delongas injustificáveis”.

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peitável que mantiveram durante o período das negociações

que acabam de chegar a termo”. Enquanto isso, na capital da

República, era feita uma grande manifestação, da qual toma-

ram parte 20 mil operários, comemorando a vitória e acla-

mando os nomes de Nicanor do Nascimento, Moniz Sodré,

Maurício de Lacerda, Lauro Villas-Boas e outros.64

Em Salvador também houve manifestações de rua. Após

uma assembléia presidida por Argemiro Alves da Fonseca, na

qual tomou parte ativa o deputado seabrista Durval Fraga,

uma grande passeata puxada pela banda da polícia saiu do

Bairro Comercial, na Cidade Baixa, e dirigiu-se até o Centro,

na Cidade Alta. O Palácio da Aclamação, residência do go-

vernador, era o destino final e o objetivo era “saudar o emi-

nente dr. Antonio Moniz pela passagem de seu aniversário e

agradecer-lhe também os relevantes serviços prestados ao

operariado.” Ao chegar, o deputado Durval Fraga pronunciou

“vibrante e eloqüente discurso de saudação, pondo em des-

taque os serviços que aos operários em geral tem prestado S.

Ex. durante a sua gestão administrativa, de boa vontade lhe

amparando as justas pretensões na reivindicação dos seus

direitos até então postergados pelo predomínio asfixiante do

capital sobre o trabalho”. Em resposta, o governador Anto-

nio Moniz “disse que muito lhe dignificava o receber os aplau-

sos do operariado, que se sentia cada vez mais encorajado

por essa espontânea e valiosa solidariedade, podendo afir-

mar, sem tergiversações, que está disposto a enfrentar todas

as campanhas que o despeito e desorientação dos seus adver-

sários lhe movem ou venham mover na contínua faina de en-

xovalhar a Bahia, desnaturada e impatrioticamente”.65

64 O Tempo, Salvador, 30 maio 1919, p. 1.

65 O Tempo, Salvador, 31 maio 1919, p. 1-2.

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186

As jornadas de junho

No final de maio de 1919, mal terminava a greve nacional dos

marítimos, o recém-fundado Sindicato dos Pedreiros, Carpin-

teiros e Demais Classes desenvolveu uma intensa propagan-

da na imprensa local convocando todos os trabalhadores, sem

distinção de ofício ou categoria profissional, para que assis-

tissem, em sua sede social, a uma conferência de propaganda

sindical, que seria proferida no final da tarde de domingo, dia

1º de junho. Em seu apelo “a todas as classes de trabalhado-

res terrestres e marítimos, ferroviários, metalúrgicos, foguis-

tas, marinheiros...”, os líderes operários deixavam antever o

caráter da reunião ao avisar que “o mundo trabalhador já não

pode suportar a opressão dos sugadores e detentores do bem-

estar da humanidade”. Em tom quase profético, concluía, sob

vivas à organização operária e ao operariado internacional,

chamando os trabalhadores baianos ao sindicato para “co-

nhecer o caminho por onde vos haveis de libertar das miséri-

as que vos traz o jugo patronal”.66

O conferencista era nada menos que Agripino Nazareth,

um advogado socialista que dali por diante exerceu uma

indubitável liderança sobre o movimento operário baiano. Sua

biografia ainda não é conhecida em detalhes, mas sabe-se que

ele havia se destacado pela participação em vários movimen-

tos em diferentes partes do país. Em 1915, por exemplo, envol-

veu-se numa conspiração capitaneada por Maurício de Lacerda

e que teve Maurício de Medeiros e Alexandre Barbosa Lima

como co-participes, cujo objetivo era estabelecer, no Brasil, uma

República Parlamentar sob a direção do general Emílio Dantas

Ribeiro, antigo aliado de Hermes da Fonseca e conhecido pelo

golpe que desferiu contra a oligarquia Rosa e Silva, após 22

anos de domínio daquele grupo em Pernambuco. O movimen-

66 O Imparcial, Salvador, 31 maio 1919, p. 2; Diário da Bahia, Salvador, 1º jun.

1919, p. 2.

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187

to foi descoberto e seus líderes foram indiciados. Já em 1917,

Agripino Nazareth reaparece no Rio de Janeiro se associando a

Astrojildo Pereira, Fábio Luz, Maurício de Lacerda e Lima

Barreto, nas páginas do jornal O Debate, na luta contra as ca-

lúnias que a grande imprensa fazia da Revolução Russa.67 Mas

foi como membro do grupo que dirigiu a malfadada Insurrei-

ção Anarquista de novembro de 1918 que Agripino Nazareth

ficou mais conhecido. A condução do movimento foi partilha-

da por ele, Astrojildo Pereira (naquele momento anarquista,

mas que depois se passará para o comunismo, sendo o princi-

pal articulador da fundação do PCB em 1922) e seu principal

líder, José Oiticica. Tomaram parte também outras figuras co-

nhecidas, a exemplo do anarquista espanhol Manuel Campos,

o professor Álvaro Palmeira e o operário gráfico Carlos Dias.

Além disso, Manuel Castro e Joaquim Moraes, operários têx-

teis, assegurariam a participação de sua categoria na greve que

desencadearia a revolta. José Elias da Silva, João da Costa Pi-

menta (também futuros integrantes do PCB, sendo o último,

mais tarde, membro da fração trotskista) e o jornalista José

Romero completavam o número dos conspiradores. Contudo,

graças à ação do tenente Jorge Elias Ajus, que se infiltrou e

denunciou os objetivos do conclave, a insurreição foi abortada

e uma intensa repressão policial se seguiu. Os tecelões,

metalúrgicos e operários da construção civil ainda deflagraram

greves em suas categorias, mas elas não se transformaram na

sonhada greve geral insurrecional e foram violentamente repri-

midos pela polícia de Aurelino Leal. No final de novembro,

cerca de 200 pessoas entre militantes – libertários ou não – ,

operários e outros suspeitos haviam sido presas. Vários sindi-

catos foram fechados ou sofreram intervenção, a exemplo da

União dos Operários em Fábricas de Tecidos, União Geral dos

67 DULLES, John W.F. Anarquistas e comunistas no Brasil (1900 - 1935). 2. ed.

São Paulo: Nova Fronteira, 1977. p. 63 e 107.

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Metalúrgicos e União Geral da Construção Civil. A União Geral

dos Trabalhadores (UGT) foi dissolvida. Cerca de 180 presos

foram deportados do Rio de Janeiro. A almejada República de

Operários e Soldados, inspirada na Rússia, que deveria pôr

fim ao Estado e às desigualdades sociais, não vingou. Já em

março de 1919, 14 lideranças haviam sido pronunciadas como

incursas no artigo 107 do Código Penal por prática de crime

contra a Constituição da República e sua Forma de Governo.

José Oiticica foi acusado na condição de cabeça e Agripino

Nazareth e os demais de serem co-autores.68

Já na Bahia, explicando os acontecimentos de novem-

bro de 1918, o próprio Agripino Nazareth disse que só não foi

preso em função da inabilidade da polícia carioca e que, de-

pois do levante, ainda permaneceu na capital da República

até janeiro de 1919. Ao ser pronunciado, refugiou-se no esta-

do do Espírito Santo, primeiro em uma cidade do interior e

depois na capital, de lá vindo para Salvador, disposto a viajar

para a Europa caso as circunstâncias o obrigassem. Reconhe-

cendo que em todos esses portos havia usado nomes falsos,

denúncia feita pela oposição baiana ligada aos industriais e

comerciantes, defendeu-se argumentando que aquele foi um

meio de defesa de suas idéias e princípios, posto que estava

sendo injustamente perseguido pelo chefe de polícia Aurelino

Leal. Invocou, ainda, que havia feito o mesmo que Ruy Bar-

bosa por ocasião da Revolta da Armada de 1893, quando

Floriano Peixoto mandou prendê-lo e o velho conselheiro

exilou-se fora do país também utilizando outra identidade.

Após a retirada das acusações, por falta de provas, Agripino

Nazareth voltou a usar seu verdadeiro nome.69

68 ADDOR, Carlos Augusto. A insurreição anarquista no Rio de Janeiro. Rio de

Janeiro: Dois Pontos, 1986.

69 NAZARETH, Agripino. Ao povo baiano. Jornal de Notícias, Salvador, 15

jun. 1919, p. 3 e 5.

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189

De fato, a preocupação de Agripino Nazareth não era

infundada. Já em janeiro de 1919, o secretário de Polícia e Se-

gurança Pública da Bahia, Álvaro Cova, oficiara a Gambeta

Spínola, inspetor da Polícia do Porto de Salvador, orientando-

o a exercer uma fiscalização mais rígida sobre as embarcações e

passageiros que chegassem ao porto de Salvador, visando im-

pedir o desembarque de todos quantos fossem considerados

“elementos indesejáveis e perniciosos”. Em seu comunicado, a

autoridade policial baiana recomendava que os agentes de po-

lícia do porto, sob a direção dos subinspetores, verificassem

cuidadosamente os papéis de identidade de todos os passagei-

ros, “procurando colher informações sobre os precedentes dos

mesmos” e “levando ao conhecimento do subinspetor que fi-

zer a visita qualquer irregularidade”. Estavam terminantemen-

te proibidos de desembarcar todos que fossem qualificados

como mutilados, incapazes para o trabalho, mendigos, loucos

sem acompanhantes, cafetões, ladrões, anarquistas, apaches e

todos os passageiros de 3ª classe que estivessem em trânsito e

fossem procedentes do Rio da Prata. Ademais, todos os indi-

víduos de 1ª e 2ª classe que tivessem a mesma procedência e

destino deveriam ser rigorosamente vigiados enquanto suas

embarcações continuassem atracadas na capital baiana.70

O fato, porém, é que da conferência de Agripino

Nazareth para a eclosão da greve geral no dia seguinte, foi

apenas um passo. No dia 2 de junho, os operários da cons-

trução civil que trabalhavam nas obras da Biblioteca Pública

do Estado fizeram uma reunião no horário do almoço, na qual

deliberaram paralisar o trabalho, reivindicando a jornada de

8 horas e aumento salarial de 20%. Liderados pelo Sindicato

dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, os operários

concentraram-se na Praça Rio Branco, onde conseguiram a

70 Jornal de Notícias, Salvador, 23 jan. 1919, p. 2; O Democrata, Salvador, 23 jan.

1919, p. 2.

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190

adesão de seus colegas que labutavam nas obras do Palácio

do Governo, do Tesouro do Estado e em outras construções.

Depois, seguindo em passeata pelas ruas do Centro da cida-

de até a Ladeira da Barra, carregando estandartes com inscri-

ções que exigiam “respeito aos seus direitos”, proclamavam

que “8 horas de trabalho são bastante”, e davam “vivas ao

operariado baiano”, conseguindo novas adesões. De volta da

Ladeira da Barra, ao passarem pelo Relógio de São Pedro, o

número de operários já chegava a cerca de mil. Em seguida,

rumaram para a Praça Castro Alves, finalizando a passeata

na sede do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais

Classes, na rua do Maciel de Cima, nº 28.71

Até então, além dos operários da construção civil, apenas

os trabalhadores da Companhia Linha Circular e os padeiros

haviam-se mostrado dispostos a aderir ao movimento. Contu-

do, na noite daquele mesmo dia, numa reunião ocorrida na sede

do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, os

operários decidiram generalizar o movimento. Tomaram parte

no conclave, além dos diretores daquela entidade, a exemplo de

Abílio José dos Santos e José dos Santos Gomes, os represen-

tantes de outras sociedades, como José de Souza, da Sociedade

União Defensora e Beneficente dos Pintores da Bahia, Antônio

dos Santos, da Sociedade União dos Operários de Padaria e ou-

tras lideranças não nomeadas. Para atingir tal objetivo, Agripino

Nazareth sugeriu que se formassem três comissões operárias,

uma com atribuição de negociar com os empreiteiros, outra para

buscar apoio junto às autoridades e a última para tratar com a

imprensa. Além disso, uma nova assembléia geral operária foi

convocada para o dia seguinte, à tarde, no mesmo local.72

71 Diário de Notícias, Salvador, 3 jun. 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 3

jun. 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 3 jun. 1919, p. 3.

72 Diário da Bahia, Diário de Notícias e O Imparcial, Salvador, 3 jun. 1919, p. 1. A

composição das comissões foi a seguinte: 1 - comissão para se entender com os

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Agripino Nazareth

Fonte: DULLES, John W. Foster. Anarquistas e comunistas no Brasil (1900-1935). Tradução de César

Horta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.

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Rememorando depois os fatos ligados à conferência

anterior que pronunciara na véspera da eclosão da greve geral

e seus desdobramentos posteriores, Agripino Nazareth fez

questão de pontuar que naquela ocasião “tratara apenas de

incentivar o movimento associativo, não insinuando, nem ao

menos veladamente, uma greve”. Sua posição era, efetiva-

mente, contrária ao desencadeamento do movimento naque-

le momento, argumentando que o mesmo era precipitado. A

principal organização operária, o Sindicato dos Pedreiros,

Carpinteiros e Demais Classes, tinha apenas três meses de

vida e contava com um número pequeno de filiados e fundo

de greve ainda em formação, impossibilitado de auxiliar os

grevistas em caso de um enfrentamento longo com os pa-

trões. Contudo, ao estourar o movimento, o líder socialista

ponderou que “a sorte estava lançada” e “para ver se algo

seria possível salvar do naufrágio iminente, um único recurso

se impunha: projetar a greve às demais classes proletárias,

generalizá-la, para o que na manhã do dia seguinte seria for-

çoso destinar comissões para todas as casas de trabalho (...)

para obterem o maior número de solidariedades”.73

De fato, a 3 de junho, a greve se generalizou. O Diário

de Notícias daquele dia chegou a noticiar que “os operários

baianos que até hoje se tinham conservado inativos e impas-

síveis ante o movimento de protesto que se nota em todo o

empreiteiros: João Augusto Mendes, Abílio José dos Santos, Alfredo Tolentino

do Espírito Santo, Fagundes João da Cruz, João Borges, Anacleto Eugênio

dos Santos e Paulo Francisco de Almeida; 2 - comissão para se entendercom os poderes competentes: Damásio Simões, Phelipino Gonzaga, José

dos Santos Gomes, Thomaz Firmino da Silva, Firmo Ferreira de Moraes,

Napoleão Marinari e Abílio Almeida; 3 - comissão de imprensa: Aurino

Cavalcante, Anselmo Pereira Alves, Vicente Honório da Silva, Antônio

Ferreira das Chagas e Adriano Alves da Silva.

73 “O protesto do operariado. A Conferência do Dr. Agripino Nazareth no Sindica-

to dos Pedreiros e Carpinteiros”. O Tempo, Salvador, 6, 8, 9, 10 e 11 dez. 1919.

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mundo, levantaram-se agora para defender os seus direitos,

pugnar por suas reivindicações”. Observando o grande movi-

mento associativo e o crescimento dos laços de solidariedade

que se processavam no seio da classe trabalhadora, o articu-

lista anunciava que “enquanto os dignos operários baianos

se mantiverem dentro dos limites da lei, da ordem e da har-

monia” teriam o apoio daquele e de todos os outros órgãos

da “imprensa conscienciosa e justa”.

Na manhã daquele dia, as comissões formadas na vés-

pera começaram a agir para cumprir as tarefas que lhes havi-

am sido designadas. Um desses grupos rapidamente se trans-

formou numa linha de piquete, rumando para o Comércio,

na Cidade Baixa, e conseguindo a adesão dos operários de

várias construções que ainda se mantinham no trabalho, in-

clusive das Obras do Porto e da Empresa de Construções

Germano de Assis. De lá, os operários voltaram até o Sindi-

cato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, onde re-

ceberam novas adesões e partiram, por volta do meio-dia,

para a Península de Itapagipe, ponto de encontro dos demais

trabalhadores. Já incorporados os novos companheiros de luta,

rumaram todos para a área industrial, onde conseguiram a

adesão de milhares de operários, principalmente dos têxteis.

Entre eles estavam os 1.400 operários da Companhia Empó-

rio Industrial do Norte, “que ali trabalhavam sob um regime

de exploração e opressão bruscamente sucedido ao de libera-

lidade mantido na gestão do industrial Luiz Tarquínio”, disse

Agripino Nazareth.74 Os líderes grevistas convenceram a en-

74 “O protesto do operariado. A Conferência do Dr. Agripino Nazareth no Sindi-

cato dos Pedreiros e Carpinteiros”. O Tempo, Salvador, 6, 8, 9, 10 e 11 dez.

1919. No ano seguinte, o líder socialista Agripino Nazareth voltou a expor sua

opinião sobre o industrial Luiz Tarquínio, falecido em 1903. Em uma das colunas

de seu jornal, o advogado denunciou “a maneira pela qual os abutres que dirigem

a Fábrica da Boa Viagem maltratam os operários, espoliando-os nos seus direi-

tos, sugando, escandalosamente, parte dos seus minguados salários já bastante

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reduzidos, enquanto à custa do suor dos nossos companheiros enchem ilícita

e escandalosamente suas burras em curtíssimo período”. E continuava argu-

mentando que aquele “grande núcleo de trabalho” fora transformado em

“casa de disfarçada escravatura”, operação que foi feita “com desvio da rota

luminosa e sábia do seu grande fundador, Luiz Tarquinio”. Germinal, Salva-

dor, nº 2, 3 abr. 1920, p. 4.

75 Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 4

jun. 1919, p. 1.

trar no movimento também os 730 trabalhadores da Fábrica

Conceição, onde “foram recebidos com entusiasmo pelos

operários e operárias desse estabelecimento, silvando todos

seus apitos em testemunho evidente de solidariedade ao

movimento, paralisando em seguida o trabalho”. Arrastaram

depois para o movimento os 150 operários da Fábrica Fabril

dos Fiais, na qual “já a massa era colossal, e crescente o entu-

siasmo”. Os 120 operários da Fábrica de Calçados Trocadero,

juntamente com outros 500 trabalhadores da Fábrica Leite &

Alves (cigarros), 170 da Fábrica A. Guimarães & Cia (cigar-

ros) e um número não calculado das fábricas Martins

Fernandes & Cia (cigarros), Mangueira, Beira-Mar (têxtil),

Palmeira e outras de vestuário, como Variedades, Princesa do

Norte e Caboclo, e das Oficinas Cezar Filho também aderi-

ram naquele dia. Por volta das 16 horas, os operários das Docas

Wilson e Sons e os trabalhadores da Companhia Linha Mu-

nicipal também paralisaram seu trabalho e “a chuva intermi-

tente que caía (...), não apagou o brilho dessa jornada de

reivindicações”, disse o editor do Diário da Bahia.75

A multidão operária, então, já havia se dividido em dois

grupos, dos quais um foi em direção a Vitória e Barra, na

Cidade Alta, onde conseguiu a adesão dos operários da Fá-

brica de Xales Vitória, da Usina da Graça e das oficinas da

Companhia Linha Circular. De volta ao Centro, “sempre com

vivas às classes trabalhadoras e ao dia de 8 horas de traba-

lho”, esses operários pararam em frente à sede da Empresa

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de Asseio da Cidade, no Largo Dois de Julho, quando os em-

pregados em limpeza pública se incorporaram ao movimento.

Ainda na Cidade Alta, cerca de 130 operários têxteis da Fábri-

ca São Salvador integraram-se à greve, juntamente com outros

100 da Fábrica de Calçados Stella. Nesta última, os industriais

já tinham concedido aos seus operários a jornada de 8 horas

“espontaneamente”. Ainda assim, aqueles trabalhadores re-

solveram aderir ao movimento em sinal de solidariedade. Por

volta das 19 horas, o outro grupo, que chegava a cerca de 5 mil

operários, permaneceu na Cidade Baixa e decidiu enviar ao

Palácio da Aclamação uma comissão encarregada de negociar

com o governador Antônio Moniz. Acompanhados dos direto-

res do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes,

de Agripino Nazareth e de aproximadamente 2 mil operários,

os membros da comissão “protestaram contra o indiferentismo

do governo, no que é referente aos interesses e ao conforto das

classes trabalhadoras”, ao mesmo tempo em que asseguravam

que “o movimento era grevista pacífico, dentro da ordem e da

lei, respeitando as autoridades constituídas e que, portanto, o

operariado esperava que o poder executivo não continuasse

quedo, na sua clássica negligência com relação à sorte do ele-

mento mais poderoso do progresso e civilização”. Estas pala-

vras “foram coroadas por longa salva de palmas”, e os operári-

os ouviram do governador o compromisso de “agir em defesa

dos reclamantes”.76

Os ferroviários, que aderiram à agitação logo nas pri-

meiras horas, manifestaram-se através da Sociedade União

Defensora dos Empregados de Ferrovia. Esta oficiou ao Sin-

dicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes avisan-

do-lhe que estava “coesa e de comum acordo com as demais

classes em levante”, tendo a “subida honra de acompanhá-

76 Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 4

jun. 1919, p. 1; A Hora, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1.

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los na situação presente, a fim de fazer desaparecer os abusos

que contra os operários existem”. Em seguida, como maior

prova de tal apoio, os ferroviários da Companhia Chemins

de Fer começaram a recolher todas as locomotivas na madru-

gada do dia 3, levando-as para a cidade de Alagoinhas, fican-

do o tráfego de trens totalmente paralisado na manhã do dia

4 de junho.77 Na pauta específica dos ferroviários, encontra-

va-se a reintegração dos companheiros que haviam sido de-

mitidos em 1915, a jornada de 6 horas e o aumento salarial.78

Os padeiros, que haviam aderido no dia 2 ao movimen-

to, apresentaram, no dia 3, sua pauta de reivindicações por

meio da Sociedade União dos Operários de Padaria, que, além

da jornada de 8 horas e aumento salarial “em proporção ao

trabalho e à força da padaria”, exigia também o revezamento

noturno e o fim do serviço de entrega de pão. Essa entidade

também enviou um ofício ao Sindicato dos Pedreiros, Carpin-

teiros e Demais Classes, assinado pelos diretores Constâncio

Pereira Victorio e Antônio F. dos Santos e por 200 outros

sócios, no qual dizia-se “solidária com o movimento em prol

dos nossos direitos ultrajados por todos aqueles que se jul-

77 Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 4

jun. 1919, p. 1; A Hora, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1.

78 Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3. O trabalho na Chemins de Fer

parecia realmente não trazer boas recordações aos operários demitidos de 1915

e um deles, José de Abreu Farias, pronunciou-se nos seguintes termos nas

colunas do jornal O Tempo, Salvador, : “Chegando ao meu conhecimento de

que os honrados e espoliados empregados da Chemins, ora em movimento

muitíssimo justo e retardado, numa de suas cláusulas indicam a readmissão de

empregados dispensados sem causa justificada desde 1915 para cá; sendo eu

uma dessas vítimas dos bandidos Hypolito Mutazzi e Henri Martin, venho de

público agradecer aos meus ex-companheiros a parte em que me toca, oferecen-

do-lhes os meus préstimos onde quer que eu esteja, ao mesmo tempo em que

declaro não aceitar a minha volta para o serviço de tão nefasta empresa, onde

infelizmente perdi alguns anos de vida, pedindo a Deus que me livre de traba-

lhar ainda durante a minha vida em empresas que tenham como mandões

canalhas iguais aos acima mencionados”. O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.

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gam nossos donos”. Os padeiros avisavam que paralisariam

suas atividades na manhã de 4 de junho e apenas “os hospi-

tais, as casas de saúde e pias terão o fornecimento de pão”.

Os empregados dos setores de serviços, a exemplo dos cafés,

bares e hotéis e os trabalhadores em açougues, sob a lideran-

ça da União dos Açougueiros, também abandonaram o traba-

lho. Os trabalhadores do Cemitério Quinta dos Lázaros tam-

bém paralisaram seu trabalho, reivindicando o pagamento de

proventos atrasados e aumento salarial, além da ampliação

do pessoal empregado naquela instituição. Segundos os re-

clamantes, os 5 coveiros e 2 pedreiros que lá estavam lotados

eram em número insuficiente para enterrar os cerca de 25 a

30 corpos que chegavam diariamente, disso resultando estar o

cemitério descuidado e malcheiroso. A entrada desses traba-

lhadores na greve trouxe como uma das conseqüências imedi-

atas a exposição de “cadáveres insepultos” que entravam em

processo de decomposição ao ar livre. Até mesmo os 1.300

operários têxteis da distante Companhia Valença Industrial

parecem ter se incorporado ao movimento neste dia.79 Ao todo,

o número de operários grevistas foi calculado entre 10 e 12 mil.80

79 Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 4

jun. 1919, p. 1. A participação dos operários da Companhia Valença Industria na

greve geral é controvertida, sendo negada pela direção da empresa. Em suas

palavras: “As duas greves verificadas nesta capital durante o ano de 1919 entre

operários das fábricas de tecidos, felizmente não tiveram repercussão ou acolhi-

mento por parte dos nossos operários, que se mostraram mais uma vez

compenetrados dos seus deveres e amigos da nossa Companhia, alcançando

vantagens relativas às horas de trabalho independente de qualquer exigência.

Consignando esse fato altamente honroso para todos nós visamos enaltecer a

conduta dos nossos operários, para louvá-los como eles bem merecem”. RELA-

TÓRIO da direção da Companhia Valença Industrial para ser apresentado na

Assembléia Geral Ordinária dos srs. acionistas, a realizar-se em 24 de março de

1920, acompanhado do Parecer do Conselho Fiscal. (Exercício de 1919). Diá-

rio Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 21 mar. 1920.80 A Tarde, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1.

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Ainda na noite do dia 3, percebendo que a greve tinha-

se alastrado por todos os setores da vida econômica da cida-

de, os líderes operários fizeram uma nova assembléia no Sin-

dicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, na qual

falou, por mais de uma hora, Agripino Nazareth, seguido de

vários sindicalistas. Fazendo um balanço da situação em que

o movimento se encontrava e o que ainda precisava ser feito

para assegurar a vitória da parede geral, o advogado socialis-

ta diagnosticou que as antigas comissões, formadas pratica-

mente para atender aos interesses dos operários da constru-

ção civil, já não serviam aos propósitos mais amplos do mo-

mento. Propôs, então, a sua substituição por um Comitê

Central de Greve, que dirigiria o movimento daquele mo-

mento em diante e do qual tomariam parte os diversos repre-

sentantes das categorias operárias envolvidas, sendo de pronto

aprovado.81 Uma das primeiras tarefas a que esse órgão se

propôs foi redigir um memorial dirigido às autoridades e aos

industriais, empreiteiros e patrões em geral, expondo as ra-

zões e reivindicações de todas as categorias em greve. Em

seguida, deveria telegrafar aos senadores Ruy Barbosa e J. J.

Seabra, solicitando-lhes que voltassem as suas atenções e

esforços, no Congresso Nacional, para uma reforma da Cons-

tituição, visando incluir naquele texto os direitos conquista-

dos pelos operários no Tratado de Versalhes (janeiro de 1919),

tais como a proibição do trabalho de menores, a isonomia

salarial entre homens e mulheres e a jornada de 8 horas. Te-

legramas deveriam ser expedidos também ao deputado Mau-

81 É preciso chamar a atenção para a semelhança organizativa e de objetivos entre

o Comitê Central de Greve, criado pelas lideranças da greve geral de junho de

1919 na Bahia, e o Comitê de Defesa Proletária, criado pelas lideranças da

greve geral de julho de 1917 em São Paulo. Contudo, para além das semelhan-

ças, é necessário distinguir que no caso baiano a hegemonia na organização era

dos socialistas, ao passo que no caso paulista era dos anarquistas, a despeito dos

socialistas também tomarem parte no órgão e na condução da greve.

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rício de Lacerda, “grande defensor dos operários”, à União

dos Operários em Fábricas de Tecidos e à Associação de Im-

prensa, ambas do Rio de Janeiro, solicitando apoio e solidari-

edade.82

No dia 4 de junho, os diretores do Sindicato dos Pe-

dreiros, Carpinteiros e Demais Classes, bem como os mem-

bros do Comitê Central de Greve, amanheceram ocupados

em receber as diversas delegações operárias que vinham tra-

zer as reivindicações específicas de suas categorias. Além dis-

so, tinham que fazer paralisar o trabalho nos estabelecimen-

tos em que a greve estava sendo furada, a exemplo da Fábrica

Stella, no Barbalho, da Serraria Palmeira, pertencente a Pe-

dro Gordilho, da Manufatura Variedades e das obras da San-

ta Casa de Misericórdia.83

Enquanto isso, grupos de operários percorriam as ruas

em “vivas delirantes”, um verdadeiro “frêmito de entusias-

mo nas classes trabalhadoras”. Às 5 horas da madrugada, um

desses grupos já havia chegado à Estação Ferroviária e ao

82 Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 4

jun. 1919, p. 1. A composição do Comitê Central de Greve era a seguinte:

Constâncio Pereira Victorio (representando os padeiros), Odilon Neves da Costa

(representante dos pintores), Abílio Faustino de Assis (representando os operári-

os da Usina da Graça), Tibúrcio Luiz Santos (Carpintaria Palmeira), Eleotério

Bispo Ferreira e José Lúcio dos Santos (representantes dos operários da Fábrica

Fabril dos Fiais, Nossa Senhora da Conceição e Luiz Tarquínio), Teophilo Felix do

Nascimento (representante dos operários das obras do porto), Nathalio de Jesus

(representante dos ferroviários da Chemins de Fer), Manoel da Costa (represen-

tante das Docas Wilson e Sons), Félix Bitencourt (representante das Oficinas

Cezar Filho), Aristeu P. dos Santos (representante das obras do Asilo de Mendi-

cância), Joaquim José Ferreira (representante das obras Germano de Assis), João

dos Santos (representante da Fábrica Victoria), Guilherme Francisco Nery, Antô-

nio Amaro Sant’Anna e Abílio José dos Santos Gomes (diretores do Sindicato

dos Pedreiros e Carpinteiros) e Damásio Simões (representante dos estucadores),

além do advogado e líder socialista Agripino Nazareth.

83 Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3; Diário de Notícias, Salvador, 5

jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.

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Barracão da Calçada, ambos pertencentes à Chemins de Fer.

Em frente aos prédios, uma força do Exército estava a postos

“garantindo a propriedade federal”. Erguendo “vivas ao Brasil,

ao operariado brasileiro e ao Exército Nacional”, os grevistas

solicitaram apoio aos empregados que lá se encontravam. Es-

tes, que já tinham, em sua maioria, aderido ao movimento no

dia anterior, inclusive com o envio de oito ou dez locomotivas

para a Estação de Aramary, em Alagoinhas, reafirmaram a sua

adesão, juntando-se às linhas de piquetes. Já o Comandante

da força, “disse que nada havia a recear, contanto que se man-

tivessem sempre dentro da ordem, pois o movimento era jus-

to”. Para completar a paralisação de todo o sistema de trans-

portes da cidade, os operários da Companhia Linha Circular

que ainda estavam vacilantes, do Gasômetro e os marítimos

da Companhia de Navegação Baiana anunciaram sua entrada

na greve, sendo seguidos pelos choferes e carroceiros.84

Retornando da Estação Ferroviária, os grevistas iam re-

cebendo novas adesões e confirmação de outras, que haviam

sido anunciadas nos dias anteriores. Ao passarem pelo Bairro

Comercial, “encontraram-se com outros numerosos grupos,

que vinham da Cidade Alta, com eles juntando-se e forman-

do, assim, uma verdadeira multidão de cerca de 3 mil operá-

rios em vibrantes aclamações às classes operárias”. Dando

continuidade à sua passeata pelo Comércio, a multidão de

trabalhadores parou em fábricas e manufaturas de vestuário,

incorporando ao movimento as muitas operárias de várias

camisarias, como Princesa do Norte, Variedades, Caboclo,

Modelo, Tude e Leão de Ouro. Mais adiante, conseguiram a

adesão das obreiras da Casa Luiz Lobo e aproveitaram para

registrar as reivindicações daquelas operárias, que, além da

84 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 5

jun. 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3; O Tempo,

Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.

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jornada de 8 horas e aumento salarial, pleiteavam a supres-

são dos gastos com a compra de correias, azeite e linhas para

as máquinas de costuras e o fim da cobrança das multas.85

Um operário encarregado de verificar a situação do movimento

na Cidade Baixa chegou a exclamar, indignado, que a

Camisaria Modelo estava cometendo muitos abusos, inclusi-

ve impondo reduções de salário e jornada de trabalho de 10

horas a suas operárias, que entravam às 7:30 e saíam às 17:30,

“sendo-lhes privado o direito de aquecer as suas comidas”.86

Ainda nesse terceiro dia de greve, a maré de adesões

prosseguiu também em outras fábricas, manufaturas e ofici-

nas. Os 535 operários têxteis da Fábrica Bonfim, 400 da mes-

ma categoria que trabalhavam na Fábrica Paraguaçu e 100 da

Fábrica de Calçados Gama & Gama somaram-se a um núme-

ro não calculado dos que trabalhavam na Fábrica

Marquesinho, Fábrica de Cristais Fratelli Vitta, Fábrica Man-

gueira, Fábrica Mira-Mar, Oficinas Belmonte e nas dezenas

de fabriquetas de chapéus, vassouras, cestos, papel e pape-

lão, de perfumarias e flores, torrefações de café, além das

oficinas de sapateiros da cidade, que também aderiram ao

movimento naquele momento. Ao final do dia, após o en-

contro das multidões em passeatas vindas das duas partes da

cidade, a greve já havia atingido 15 mil operários.87

A entrada do operariado fabril na greve a partir dos

dias 3 e 4 de junho, em particular o da indústria têxtil e de

calçados, fez aparecer novas reivindicações. Agora, além da

jornada de 8 horas e do aumento de salários, os trabalhado-

res passaram a exigir outras duas bandeiras gerais da classe

85 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2.86 Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3.

87 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 5

jun. 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3; O Democrata,

Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.

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operária, a isonomia salarial entre homens e mulheres que

exercessem as mesmas funções e a abolição do trabalho in-

fantil, problemas centrais do trabalho industrial.88

No dia 5 de junho, o movimento atingiu o seu ápice,

com a paralisação do trabalho em todos os setores de trans-

portes terrestres urbanos (bondes da Circular, Municipal e

Trilhos Centrais, carroças, automóveis), ferroviários (Chemins

de Fer) e marítimos (Companhia de Navegação Baiana), o

setor fabril (têxtil, calçados, cigarros, alimentos, etc.), as usi-

nas de geração de energia, etc. Salvador já era dos operários.

Os membros do Comitê Central de Greve, bastante

empolgados com o quadro, distribuíram um boletim dirigido

aos trabalhadores, aos patrões e à população no qual diziam

não ter sido “em vão que o nosso advogado, dr. Agripino

Nazareth, ontem nos disse que o sol hoje iluminaria a nossa

vitória proletária”. O documento registrava, com satisfação, a

paralisação completa da cidade e convocava os industriais e

todos os outros patrões a comparecerem a uma reunião com os

representantes operários no dia 6, momento em que se formu-

lariam as bases de um acordo. Tomariam parte no evento, tam-

bém, os representantes do governador, do chefe de polícia e de

todos os jornais da cidade, fossem eles da situação ou da opo-

sição. Concluía explicitando “às autoridades constituídas, às

classes conservadoras, aos políticos de todos os matizes e aos

operários em geral que nada nos levará a lisonjear os interesses

deste ou daquele partido”, posto que “o nosso lema é tudo

pelos trabalhadores e só pelos trabalhadores”.89

Assim, logo nas primeiras horas da manhã, “extraordi-

nário era o movimento de operários nas ruas, solicitando a

88 O Tempo, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.

89 AOS TRABALHADORES! Aos Patrões! À População Baiana. Boletim do

Comitê Central de Greve, Salvador, 5 jun. 1919. O Tempo, Salvador, 6 jun.

1919, p. 1 e Diário da Bahia, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1.

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adesão de todos os companheiros que ainda não haviam se

manifestado” e dando “vivas às classes trabalhadoras, aos

seus defensores e ao seu advogado, dr. Agripino Nazareth,

que vem se esforçando pela manutenção da ordem”. Por vol-

ta das 6 horas da manhã, grupos de grevistas dirigiram-se

para a Usina da Preguiça, pertencente à Companhia Linha

Circular, e convenceram os últimos trabalhadores daquela

empresa a aderir ao movimento de greve geral. Com isso, a

cidade ficou completamente sem energia elétrica e sem luz.

Ao mesmo tempo, outros grupos de piquetes se colocaram

em frente aos portões de entrada dos Barracões de Sant’Anna

e da Graça, garantindo que nenhum bonde saísse.90

A paralisação da usina geradora de eletricidade parece

ter sido um ato ditado por uma radicalização não programada

do movimento e estava mesmo em contradição com uma deli-

beração tomada na assembléia realizada no Sindicato dos Pe-

dreiros, Carpinteiros e Demais Classes no dia anterior, na qual

se decidira que a mesma “trabalharia para que os jornais pu-

dessem sair”.91 A Usina da Preguiça e a Usina da Graça pare-

cem ter sido encaradas pelos patrões como pontos estratégicos

que não deveriam ser contaminados com movimentos

reivindicatórios. Prova disso é que os seus operários já haviam

tido aumentos salariais e diminuição de jornada de trabalho

antes da eclosão da greve geral. No meio da greve, a compa-

nhia chegou a anunciar outros aumentos para várias categori-

as, entre as quais a dos motorneiros, condutores, fiscais, su-

binspetores, inspetores e zeladores. Sabendo desses fatos, o

Diário da Bahia opinou que essa adesão não tinha sentido e,

alegando que a suspensão do fornecimento de energia prejudi-

caria os serviços hospitalares, da Assistência Pública e do Ne-

crotério, “além do vexame enorme da falta de transportes”,

90 Diário da Bahia, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1.91 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2.

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204

concluía seu apelo dizendo que confiava na “prudência e refle-

xão dos grevistas”.92 O Jornal de Notícias havia feito as mes-

mas ponderações, frisando que “a própria imprensa desprovi-

da de motores particulares” ficaria impedida de circular “na

defesa do mesmo operariado”.93 As queixas tiveram seguimento

no dia 6, quando foi dito que “esta atitude do operariado não

foi de acordo com o desejo do Dr. Agripino Nazareth, porquanto

ficaram os hospitais, as casas de saúde, Maternidade Climério

de Oliveira, os jornais etc. privados de energia elétrica”.94

Ainda no dia 5, os operários de bonde da Linha Circular,

os choferes e os carroceiros suspenderam o trabalho e a circula-

ção de veículos foi proibida, exceção feita aos da Assistência

Pública e dos agentes de combate à febre amarela, que circula-

vam portando uma bandeira com uma cruz vermelha. Em decor-

rência disso, Cidade Alta e Baixa ficaram isoladas.95 Na Ladeira

da Montanha, elo entre essas duas áreas de Salvador, piquetes

impediam a passagem de carroças e carros conduzidos por mo-

toristas insistentes e “grupos de operários exaltados furam os

pneumáticos dos automóveis, impedindo-os de circular”. A con-

fusão gerada por essa atitude foi tanta “que um chofer puxou do

revólver, sendo, porém, impedido de atirar”. Os 33 operários da

Fábrica de Macarrão Progresso, juntamente com as telefonistas

e os alfaiates, também aderiram ao movimento nessa ocasião.

Estes últimos, inclusive, fundaram nesse dia, com a presença de

cem companheiros, a Sociedade dos Oficiais Alfaiates e apre-

sentaram as reivindicações de jornada de 8 horas e aumento de

30% sobre os salários de empreitada e 20% nas diárias. 96

92 Diário da Bahia, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.93 Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3.

94 Diário da Bahia, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1.

95 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 6

jun. 1919, p. 1.

96 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2; O Tempo, Salvador, 6 jun.

1919, p. 1.

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205

O dia 5 de junho foi realmente bastante agitado. Por

volta das 14 horas, um grande número de operários se con-

centrou em frente à sede do Sindicato dos Pedreiros, Carpin-

teiros e Demais Classes e logo iniciou uma passeata pela ci-

dade. Começando pelo Maciel, o préstito foi percorrendo as

ruas do Centro, Misericórdia, Praça Rio Branco, Rua Chile,

Praça Castro Alves, São Bento, São Pedro, Rua do Cabeça,

Praça da Piedade, Largo das Mercês e Rua do Rosário até

chegar ao Palácio da Aclamação. Lá chegando, uma comissão

entregou ao governador Antônio Moniz “uma justa represen-

tação do operariado”, ao que este apareceu à janela, “sendo

aclamado em entusiasmo pela compacta massa popular (...),

reafirmando o seu apoio decidido à causa do proletariado”.

Em seguida, alguns membros do Comitê Central de Greve se

pronunciaram, “aconselhando sempre calma, ordem e respei-

to à lei”, e depois conduziram a multidão em torno do Cam-

po Grande, retornaram pelo percurso anterior e, incorporan-

do novos membros, foram até a Praça Rio Branco, onde já se

contavam, “sem exagero”, 15 mil pessoas. De volta à sede do

Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, os

numerosos operários passaram a ouvir os discursos de diver-

sos oradores que falavam das sacadas daquela entidade, “con-

citando as classes trabalhadoras a não esmorecerem”. Nessa

ocasião, chegou o “intrépido jornalista Simões Filho”, editor

de A Tarde, dizendo estar ali para dar “apoio incondicional

aos operários”. Às 16 horas, Agripino Nazareth e alguns mem-

bros do Comitê Central de Greve intermediaram uma reu-

nião com jornalistas e operários da Usina da Preguiça, na qual

os diretores da Linha Circular insistiam no restabelecimento

da produção e do fornecimento de energia e tráfego de bon-

des, mas “nada pôde ficar assentado, porque os grevistas de

outros ramos de trabalho exigiram que não houvesse acordo

parcial”. O último ato daquele dia 5 ocorreu aproximadamente

às 21 horas, na Calçada do Bonfim, quando populares chega-

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206

ram à Estação Ferroviária, impedindo que três carros de car-

ne, procedentes de Mata de São João e pertencentes a Ama-

do Bahia, o rei do bife, chegassem aos açougues.97

Assustados com a dimensão que o movimento estava

tomando, os representantes dos interesses capitalistas não

tardaram a se manifestar. Assim, o editor do Diário da Bahia,

possivelmente o porta-voz mais autorizado dos industriais,

reconhecia, naquele movimentado dia 5 de junho, que as rei-

vindicações operárias eram justas, mas que era necessário que

os trabalhadores tivessem a “maior calma e prudência máxi-

ma”, pois “a solução do grande problema está justamente no

acordo e na harmonia do capital e do trabalho”. Essa concili-

ação entre tais interesses industriais e operários seria possí-

vel porque “os capitalistas, os diretores de fábricas, os que se

acham à testa das empresas estão dispostos a atendê-los no

que for de justiça”. Dessa lógica decorria que o articulista

chamava os operários a ouvirem “a voz da sua consciência e a

palavra de seus fiéis amigos” e “voltassem todos à faina quo-

tidiana sem prejuízo das suas justas reclamações”.98

Já a Associação Comercial da Bahia, reuniu a sua diretoria

no dia 5 e entrou em sessão permanente até o dia 9 de junho,

intervalo em que, segundo os comerciantes, a greve geral adqui-

riu o caráter de “grande anarquia e subversão da ordem”. A par-

tir de então, essa entidade e o Centro Industrial do Algodão

passaram a discutir o problema com seus associados, com o go-

vernador e com a oposição ligada a Ruy Barbosa.99

No dia 6, a cidade continuou sem eletricidade, luz, te-

lefones, transportes e com a vida econômica e industrial to-

97 O Tempo, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1

98 Diário da Bahia, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1

99 LIVRO de Atas da Associação Comercial da Bahia (1917-1921). 2ª Sessão

Ordinária e Continuada da Diretoria da ACB. Salvador: Associação Comer-

cial da Bahia, 5-9 jun. 1919. p. 164-166.

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talmente paralisada. Mas não parava por aí. Novas adesões

dos últimos setores ainda reticentes, passeatas, negociações,

reuniões operárias e discussões entre os trabalhadores, seus

patrões e o governo compuseram o quadro daquele dia. As-

sim, “apesar da manhã chuvosa, (...) desde cedo, numerosos

grupos grevistas percorriam as principais ruas da Cidade Bai-

xa e Alta, em constantes aclamações às classes trabalhado-

ras”. Na esteira dessa movimentação, os carregadores das

docas, os operários das alvarengas e os sapateiros das muitas

oficinas da cidade declararam-se em greve, “indo engrossar o

grupo dos reclamantes que permaneciam sempre em ordem”.

O Comércio, que havia cerrado suas portas alegando falta de

garantias, continuou fechado. Os próprios homens de sua

Guarda Noturna também ameaçaram abandonar os seus pos-

tos caso não fossem contemplados na reivindicação de dimi-

nuição da jornada de trabalho de 13 para 12 horas/dia, remu-

neradas à razão de 12$000. Os alfaiates, que no dia anterior

haviam fundado seu sindicato e aderido ao movimento, já

podiam se gabar, no dia 6, que tinham paralisado o trabalho

em 22 alfaiatarias e estariam reunidos em assembléia a partir

das 10 horas da manhã.100

Ainda pela manhã, “um numeroso grupo de operários

se dirigia às pensões da rua Chile e adjacências para intimar

os empregados a incorporarem-se ao movimento”. Lá che-

gando, Mário Leal, um professor da Faculdade de Medicina

que possuía consultório naquela localidade, teria “mostrado

com isenção de ânimo a improficuidade do movimento tal

qual se estava fazendo, sem diretriz prática”. Em sua opinião,

os operários deviam ceder às intenções dos patrões quanto à

100 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1; O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919,

p. 1. As alfaiatarias paralisadas eram: Ozéas, Silva, Lacerda, Mattos, Bazar 65,

Moreira, Villaça, Variedades, Araújo, Luso, Louvre, Madrid, Colonial,

Medeiros, Brasil, Tesoura, Baiana, Bloco, Abílio, Sampaio, Pedreira e Chile.

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208

formação de “comissões pouco numerosas” em substituição

ao Comitê Central de Greve, pois os mesmos tinham “boa

vontade de atender às justas pretensões operárias”. Disse ain-

da o “talentoso e digno professor”, claramente vinculado à

oposição ruísta, que “o operário não podia e não devia sepa-

rar-se dos patrões, porquanto tinham os seus interesses es-

treita e indissoluvelmente ligados” e que “da harmonia das

duas forças nasce o progresso, a força e a beleza das nações”.

Finalizava apelando para o “espírito ordeiro do povo baia-

no”, que não devia se deixar “arrastar pelas vozes caçadoras

da politicagem”, que queriam “dourar a popularidade do go-

verno entre as classes trabalhadoras”.101

Já os bancos estrangeiros, temendo maiores tumultos,

solicitaram garantias ao governo do estado para funcionar.

Até o Cônsul da Noruega resolveu pedir providências ao ge-

neral inspetor da região “para que o seu automóvel tivesse

livre trânsito pelas ruas da cidade, uma vez que necessitava

comparecer diariamente à sede do Consulado, que fica bas-

tante longe da sua residência”.102 O clima realmente parecia

tenso, pois houve boatos de que a Fábrica Cruz e Ruas, pro-

dutora de cigarros e artefatos de fumo, teria sido “dinamita-

da” pelos grevistas que, em seguida, “percorreram as ruas da

cidade em atitude ameaçadora”.103

Mas, junto com a euforia, vigorava uma “ansiedade

geral” em função da “anunciada conferência dos trabalhado-

res com as classes conservadoras”. De fato, por volta das 9

horas da manhã, os diretores da Associação Comercial fize-

ram uma primeira reunião “a fim de discutir a situação de

101 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.

102 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1; O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.103 A Ordem, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1. Esse é um fato duvidoso, pois nenhum

outro jornal da capital, fosse ele vinculado ao governo ou à oposição, confir-

mou tal informação.

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209

insegurança em que se encontra o comércio”. A sessão teria

sido “animadíssima”, com o seu presidente, Rodolpho

Martins, relatando o resultado do encontro que tivera com o

governador no momento anterior. Os comerciantes resolve-

ram, então, enviar um ofício a Antônio Moniz, invocando os

interesses “das figuras mais representativas do comércio e da

indústria”, ratificando o “pedido de providências (...) no sen-

tido de ser restaurada a ordem pública, aqui perturbada por

elementos exaltados”. Salientavam que a consecução de tal

objetivo só seria possível com “as medidas mais enérgicas e

decisivas, que suprimam esta situação de insegurança e insta-

bilidade”. Além disso, pediam o fim das ações feitas pelas

comissões de piquetes, posto que os operários de alguns es-

tabelecimentos estariam sendo “obrigados a co-participar da

greve, sem que de modo nenhum a desejassem”, mas eram

“instados por elementos estranhos, apoiados por autorida-

des policiais”. Finalmente, arrogando-se a falar em nome de

“toda a sociedade baiana”, os comerciantes e industriais exi-

giam, entre outros, a “liberdade de trabalho assegurada para

todos aqueles que desejem voltar aos seus serviços habitu-

ais”, a liberdade de locomoção “sem quaisquer constrangi-

mentos ou coações” e o restabelecimento de todos os meios

de transportes, luz, energia e telefone.104

Convidado ao Palácio da Aclamação, o presidente da

Associação Comercial ouviu do governador Antônio Moniz

que, ao contrário do que aquele comerciante havia dito, “na

Bahia o que se verifica é um movimento grevista, a exemplo

do que se tem observado em vários outros estados da Repú-

blica e no estrangeiro, não tendo havido ainda perturbação

da ordem”. Quanto aos “incidentes ocorridos”, dizia o gover-

nador, providências estavam sendo tomadas, “evitando o

104 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.

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210

emprego de meios violentos, que os fatos não justificam”.

Ainda assim, assegurava que “o governo se sentia habilitado

a garantir a ordem”. Finalmente, Antônio Moniz informava

que, antes de atender ao presidente da Associação Comerci-

al, já havia sido procurado por uma comissão de operários e

seu advogado, Agripino Nazareth, que lhe pediram para me-

diar as negociações com os patrões. O governador teria acha-

do a iniciativa bastante positiva e indagava se era do interes-

se dos comerciantes e industriais a promoção de uma reunião

com as partes interessadas.105

Poucas horas depois, os diretores da Associação Co-

mercial fizeram uma segunda reunião, na qual seu presidente

relatou, aos comerciantes e industriais presentes, a intenção

do governador de promover um encontro de negociação en-

tre os patrões e o Comitê Central de Greve. Na resposta que

enviaram a Antônio Moniz, diziam que os industriais esta-

vam dispostos a receber os operários de suas fábricas, “por

meio de pequenas delegações”, no Centro Industrial do Al-

godão, em hora a ser anunciada pela imprensa da manhã do

dia 7.106 Ao receber essa missiva, Antônio Moniz remeteu

outra a Rodolpho Martins, na qual dizia haver uma omissão

grave em sua carta, chamando a atenção que na mesma só

havia um convite aos operários das fábricas e que a solução

do problema com brevidade dependia de uma convocação de

todos os patrões e operários.107

Aproximadamente às 13 horas, a diretoria da Associa-

ção Comercial chegou ao Palácio da Aclamação, onde já se

encontrava Agripino Nazareth, “a fim de combinar, juntamente

com o Poder Executivo, as medidas mais práticas para soluci-

onar o caso”. Desse encontro saiu a deliberação de se fazer

105 O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.

106 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.107 O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.

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211

uma grande reunião para o dia seguinte, a qual compareceri-

am os membros do Comitê Central de Greve, Agripino

Nazareth, a diretoria da Associação Comercial, os industri-

ais, diretores de companhias e empresas, empreiteiros, repre-

sentantes de toda a imprensa, um representante do governo

e o chefe de polícia. Ao sair desse encontro, Agripino Nazareth

seguiu direto para o Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e

Demais Classes e, de uma das janelas daquela entidade, co-

municou aos operários os últimos encaminhamentos.108 O

governador continuou tratando da greve com Narciso da Boa

Morte, representante da Sociedade dos Maquinistas, e com

João Baptista do Espírito Santo, delegado da União dos Fo-

guistas. Depois esteve no Palácio da Aclamação a diretoria

do Centro Operário da Bahia, declarando ao governador “os

seus intuitos pacíficos e a sua ação de ordem no sentido de se

evitar que se ferissem os mais legítimos interesses da popula-

ção”.109

Já o Comitê Central de Greve, preocupado em impedir

acordos parciais, distribuiu um novo boletim, no qual afirma-

va que nenhum acordo seria assinado “antes de ser submeti-

do à aprovação geral dos grevistas” e que nenhuma solução

para a crise seria aceita caso implicasse na abdicação da jor-

nada de 8 horas, do aumento salarial (variável entre 30 e

50%), da isonomia entre homens e mulheres que exercessem

as mesmas funções, do direito de associação ou da garantia

contra as demissões motivadas por perseguição política em

função da greve.110

No sábado, dia 7 de junho, porém, acordos foram fei-

tos permitindo que padarias e açougues fossem reabertos e

108 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.109 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919.

110 BOLETIM do Comitê Central de Greve (Fragmento). O Tempo, Salvador, 7

jun. 1919, p. 1.

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212

que os serviços telefônicos, de luz e bondes fossem restabe-

lecidos.111 A justificativa, naturalmente, passou pelo fato de

que tanto a Associação dos Estabelecimentos de Padaria quan-

to a Companhia Linha Circular já haviam cedido nas reivin-

dicações de seus trabalhadores, inclusive quanto ao aumento

salarial (20% no caso dos padeiros) e jornada de trabalho de

8 horas.112 Mas, independente de terem voltado ao trabalho

no dia 7, o dia anterior fora particularmente proveitoso, do

ponto de vista organizativo, para os empregados desta última

empresa. É que cerca de 50 trabalhadores, entre condutores,

motorneiros e fiscais das companhias de bondes e usinas de

geração e distribuição de energia elétrica, que até então se

encontravam desorganizados, tiveram a iniciativa de fundar o

sindicato de resistência de sua categoria, a Sociedade União

dos Empregados de Bondes, Luz e Força Elétrica.113

Apesar desses acordos parciais, na realidade, o dia 7 de

junho foi marcado pelas tentativas do grosso do empresariado

comercial e industrial de obstruir toda e qualquer possibili-

dade de acordo com seus operários, num movimento claro de

tentar vencê-los pela fome e para desestabilizar o governo de

Antônio Moniz e o PRD. Assim, logo nas primeiras horas da

manhã daquele sábado, sob o argumento de que “discursos

subversivos ainda hoje pronunciados em reuniões populares”

se relacionavam com a denúncia de que o comércio seria sa-

queado, a Associação Comercial da Bahia lançou-se numa

campanha marcada pelo envio de telegramas ao juiz federal

Paulo Martins Fontes, ao presidente da República Delfin

111 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 8 jun. 1919.

112 O Tempo, O Imparcial e Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919.113 O Tempo, Salvador, 6 jun. 1919; ESTATUTOS da Sociedade União dos

Empregados de Bondes, Luz e Força Elétrica. Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 1º fev. 1920. A primeira fonte indica a fundação dessa soci-

edade no dia 6, mas os estatutos foram registrados e publicados com a data de

11 de junho de 1919.

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Moreira, à Associação Comercial do Rio de Janeiro e ao Jor-

nal do Comércio, também da capital da República. À autori-

dade judiciária federal, os comerciantes e industriais se quei-

xavam que a cidade estava mergulhada numa “crise grevista”

que assumia, de momento a momento, “proporções assusta-

doras”, pois estavam sendo pronunciados “discursos incen-

diários de mandatários dos grevistas” aconselhando o “saque

ao comércio”. Ao presidente foi dito que há dias Salvador

estava sem “luz, pão, carne, serviço telefônico e tráfego de

qualquer espécie”, não se encontrando “um só policial ou

guarda civil” nas ruas, do que se aproveitava o “advogado

grevista” para aconselhar o saque e a desordem. Finalizava

pedindo a adoção de medidas que visassem garantir a integri-

dade de suas propriedades e a continuidade dos seus negócios,

discurso que foi reproduzido para a imprensa e para as de-

mais associações patronais. O próprio presidente do Superi-

or Tribunal do Estado telegrafou ao presidente da República

reforçando as acusações da Associação Comercial contra o

governador Antônio Moniz e o suposto acordo que este man-

tinha com os grevistas para liquidar o comércio e a indústria

da Bahia.114 Seja como for, os planos desestabilizadores do

governo Moniz não deram certo, pois o próprio presidente da

República disponibilizou as tropas federais para aquela auto-

ridade.115

Apesar das provocações, o governador chamou os dire-

tores da Associação Comercial ao Palácio da Aclamação com

o intuito de promover as novas negociações, reafirmando sua

disposição e capacidade para manter a ordem pública e a li-

114 RELATÓRIO da diretoria da Associação Comercial da Bahia, apresentado e

aprovado em Reunião da Assembléia Geral Ordinária de 23 de março de

1920 (Referente ao ano de 1919). Salvador: Oficinas da Livraria Duas Amé-

ricas, 1920. p. 91-109.

115 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 10 e 11 jun. 1919.

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berdade de trabalho. Informou, também, ao presidente da

república e o ministro do interior acerca dos acontecimentos

e negociações, negando a existência de perturbação da ordem

na Bahia. O chefe de polícia chegou a mandar montar guarda

nos bancos estrangeiros e no comércio, a fim de evitar even-

tuais problemas causados pela entrada na greve dos 30 mem-

bros da Guarda Noturna do Comércio. Em resposta, os em-

presários disseram que desejavam o restabelecimento da nor-

malidade o mais breve possível e que tanto comerciantes quan-

to industriais, inclusive os têxteis, estavam dispostos a aten-

der às reivindicações dos trabalhadores.116

Como forma de quebrar a resistência do patronato, em

sua grande maioria umbilicalmente ligado à oposição capita-

neada por Ruy Barbosa, Agripino Nazareth teve a idéia de

convidar Simões Filho, editor do jornal A Tarde e um dos

mais raivosos inimigos da situação seabrista, para, de modo

insuspeito, intermediar as negociações entre o patronato e o

operariado. Por esse meio, o líder socialista desejava demons-

trar também a independência da classe operária e de suas or-

ganizações sindicais frente ao governo de Antônio Moniz, o

senador J. J. Seabra e demais políticos do PRD. Apesar da

posição contrária de alguns operários, a proposta foi encami-

nhada e Simões Filho aceitou a incumbência 117

Assim, na manhã de domingo, 8 de junho, o referido

jornalista e uma comissão de operários foram até o Clube

Caixeiral, onde estavam reunidos vários comerciantes e in-

dustriais, e solicitou dos mesmos uma reunião entre patrões

e trabalhadores. Rodolpho Martins, o presidente da Associa-

ção Comercial, informou que já havia um encontro marcado

116 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 8 jun. 1919.

117 “O protesto do operariado. A Conferência do Dr. Agripino Nazareth no

Sindicato dos Pedreiros e Carpinteiros”. O Tempo, Salvador, 6, 8, 9, 10 e 11

dez. 1919.

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para o dia 9, quando os industriais estariam atendendo seus

operários das 10 da manhã até as 17 horas no Centro Industrial

do Algodão. Mas Simões Filho invocou a necessidade de ante-

cipar tal reunião para o mesmo dia, à tarde, o que foi aceito.

Assim, por volta das 15 horas, chegavam àquele local as dele-

gações operárias da Companhia Empório Industrial do Norte

e Companhia Fabril dos Fiais, das fábricas Conceição, Para-

guaçu, Leite & Alves, Martins Fernandes & Cia. e Camisaria

Caboclo, de ferroviários da Chemins de Fer e operários das

obras do porto, além do Comitê Central de Greve e de Agripino

Nazareth. A maior parte dos presentes era formada por mu-

lheres, que fizeram diversas queixas e reivindicações. Uma das

operárias chegou mesmo a denunciar que as condições de tra-

balho nas fábricas têxteis eram tão ruins que já havia perdido o

pai e duas tias em função de tuberculose adquirida na fábrica

de Luiz Tarquínio. As negociações prosseguiram até as 19 ho-

ras, quando foram suspensas sem que nada ficasse acertado.

Uma nova rodada de negociações foi, então, marcada para o

dia seguinte, na vã expectativa de marginalizar e isolar Agripino

Nazareth e o Comitê Central de Greve.118

Contudo, na segunda-feira, dia 9 de junho, os empre-

sários, principalmente os industriais têxteis, cederam às rei-

vindicações operárias. Naquela data, por volta do meio-dia,

o Centro Industrial do Algodão divulgou um boletim em nome

de suas associadas (Companhia Progresso Industrial da Bahia,

Companhia Empório Industrial do Norte, Companhia União

Fabril da Bahia, Companhia Fabril dos Fiais, Companhia

Valença Industrial e Fábrica Beira-Mar) no qual concordava

em acatar as seguintes reivindicações: 1) jornada de trabalho

de 8 horas; 2) isonomia salarial entre homens e mulheres que

exercessem as mesmas funções; 3) manutenção dos mesmos

118 Diário da Bahia, Salvador, 11 jun. 1919, p. 1; O Tempo, Salvador, 9 jun. 1919,

p. 1.

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216

valores das diárias dos jornaleiros a despeito da diminuição

da jornada; 4) aumento de 20% sobre as empreitadas; 5) es-

tabilidade no emprego para os operários que tomaram parte

no movimento (considerados pelas companhias e pela asso-

ciação patronal como não-grevistas); 6) reversão de todas as

multas para as caixas de beneficência das fábricas e compa-

nhias; 7) liberdade de organização para patrões e operários

“dentro da legislação vigente”. Com o objetivo de desqualifi-

car o papel cumprido pela liderança socialista, os industriais

diziam em seu documento que os pleitos dos operários já ti-

nham sido “objeto de estudo atento e dedicado” por parte

dos seus patrões muito antes do movimento. Finalizavam di-

zendo que os outros pontos de “recíproco interesse” ficariam

adiados até a promulgação da Lei Federal do Trabalho, su-

postamente “aguardada na vigente legislatura”.119

O mesmo começou a ocorrer em outros ramos. O Sindica-

to dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes também conse-

guiu arrancar as reivindicações de aumento salarial e jornada de

8 horas para os operários da construção civil que trabalhavam

nas obras do Estado, tendo cumprido um papel de vanguarda

dirigente da greve geral até o fim.120 A Sociedade União dos

Marmoristas, que havia aderido naquele mesmo momento, tam-

bém conseguiu alcançar suas pretensões e assinou um acordo

pelo qual seus associados ganharam aumentos variáveis entre

20 e 30%.121 Agripino Nazareth e o Comitê Central de Greve

intermediaram, também, as negociações entre os proprietários

de 17 oficinas de calçados e seus operários sapateiros, do que

resultou um acordo no qual estes últimos conseguiram a jornada

de 8 horas e aumentos nos valores das empreitadas e diárias. As

119 BOLETIM do Centro Industrial do Algodão. Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 10 jun. 1919 e O Tempo, Salvador, 10 jun. 1919, p. 1.

120 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 10 jun. 1919.

121 Germinal, Salvador, ano I, n. 3, 1 maio 1920, p. 11.

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217

obras de primeira seriam remuneradas à razão de 10$000 para os

homens e 9$000 para as mulheres. As demais obras de emprei-

tada e as diárias seriam pagas com aumentos de 20% para am-

bos os sexos. Além disso, os operários sapateiros teriam seu

direito de organização respeitado e nenhum grevista seria demi-

tido.122 Agripino Nazareth chegou a dizer aos operários que

“os patrões, na sua maioria, procrastinavam a solução da gre-

ve, fugindo a encontros previamente combinados, fiando que

as torturas da fome vos arrastassem à volta ao trabalho, sem

nenhuma vantagem obtida e com a humilhação da derrota”.

Segundo esse líder socialista, os proprietários de sapatarias

foram exceções a essa “regra vergonhosa”, posto que “breves

entendimentos resolviam o conflito de interesses, sem

irritações nem atitudes hostis de parte a parte”.123

Considerando os acordos já feitos e os últimos enten-

dimentos que se realizavam, o governo emitiu uma nota ofi-

cial na qual dizia que o movimento caminhava para o fim e

que todas as providências estavam sendo tomadas para que a

cidade voltasse ao normal no dia seguinte. Chamava a aten-

ção que o tráfego das linhas de bondes e a geração e distri-

buição de eletricidade e iluminação só não haviam sido resta-

belecidos em função de dificuldades para acionar as usinas.

Já a Associação Comercial, de posse dessas declarações, afir-

mou que no dia 10 de junho o comércio e as fábricas seriam

reabertos, o que de fato aconteceu.124

Na zona portuária, os operários das Docas Wilson & Sons

aderiram ao movimento desde o início e foram atendidos em

122 Diário de Notícias, Salvador, 12 jun. 1919.

123 “O protesto do operariado. A Conferência do Dr. Agripino Nazareth no

Sindicato dos Pedreiros e Carpinteiros”. O Tempo, Salvador, 6, 8, 9, 10 e 11

dez. 1919.

124 O Imparcial, Salvador, 11 jun. 1919; O Tempo, Salvador, 9 jun. 1919, p. 1;

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 11 jun. 1919.

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suas reivindicações já no dia 4 de junho, permanecendo na gre-

ve até aquele momento em sinal de solidariedade.125 As infor-

mações acerca da adesão das outras categorias portuárias ao

movimento não são muito precisas. Tudo indica que os

alvarengueiros,126 carregadores das docas e estivadores entra-

ram em greve no sábado, dia 7 de junho. Também não conhe-

cemos as reivindicações específicas de todas as categorias por-

tuárias envolvidas, mas sabemos que os alvarengueiros esta-

vam exigindo a jornada de 8 horas e diárias de 8$000 no turno

do dia e jornada de 6 horas e diárias de 12$000 no noturno.

Entretanto, a importância das atividades econômicas desen-

volvidas pelos operários do porto para a estrutura produtiva

do estado merece um destaque especial. Suas reivindicações

não se diferiam substancialmente das de outros estratos e fra-

ções de classe do operariado. O que realmente chama a aten-

ção é a relativa rapidez e facilidade com que são atendidas as

referidas reivindicações, o que está em contradição com a pos-

tura geral do empresariado da época, que se mostrou bastante

recalcitrante em relação aos pleitos do operariado. Já no dia 11,

o superintendente das Docas de Salvador e o diretor da Com-

panhia de Transportes Marítimos procuraram o governador e

convenceram-no a instar o deputado federal Lauro Villas-Boas

a buscar uma solução para a crise junto aos sindicatos operári-

os do porto. No dia 12 de junho, esses trabalhadores fecharam

o acordo com uma vitória parcial de aumento salarial.127

Como já deve ter ficado claro, o porto de Salvador era

essencial para o conjunto da economia baiana em função do

125 O Tempo, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.

126 O termo designava tanto o dono como o tripulante da alvarenga, espécie de

embarcação utilizada para carga e descarga de navios. No presente caso,

contudo, trata-se da segunda opção, ou seja, diz respeito aos trabalhadores

responsáveis pela carga e descarga das mercadorias que aportavam e/ou eram

despachadas a partir do Porto de Salvador.127 Diário de Notícias, Salvador, 11 jun. 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 12 e

13 jun. 1919, p. 1

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papel que cumpria nos negócios de exportação e importação.

Sua paralisação implicava sempre em perdas econômicas para

os empresários e de receita para o Estado. Durante a greve geral

de 1919, esse era exatamente um dos problemas que preocupa-

vam as classes dominantes locais, pois o Porto de Salvador era a

única forma de escoar a produção agrícola e de matérias-primas

do estado para os clientes estrangeiros e receber destes os ma-

nufaturados aqui inexistentes. As fontes consultadas noticiaram

grandes prejuízos no período da greve. A embarcação Ipanema,

por exemplo, procedente do sul do país, não conseguiu descar-

regar as 450 toneladas de alimentos que se destinavam ao co-

mércio varejista, sendo obrigada a enviar a referida carga a Per-

nambuco, o mesmo ocorrendo com as 350 toneladas do Itatinga

e as 250 do Itaituba. As embarcações Chicago Brilge, com

3.139 toneladas de máquinas para usinas, estradas de ferro,

etc., procedente de Nova Iorque, e Itiabo, com suas 450 to-

neladas, vindo da Inglaterra, também foram impedidas de

descarregar suas mercadorias e carregar com os gêneros da

Bahia. As exportações de 359 toneladas de borracha, fumo e

cacau, encomendados pela França, também não ocorreram.128

Os trabalhadores da Imprensa Oficial da Bahia, que já

desfrutavam do regime de trabalho de 8 horas diárias desde

1915,129 tiveram seus salários aumentados a partir do dia 17 de

junho de 1919.130 Entre os gráficos da grande imprensa diária

também houve movimentação para a obtenção de aumentos

salariais e, apesar de não terem entrado em greve, um Comi-

tê Gráfico de Resistência foi formado, encaminhando suas

reivindicações às redações dos jornais.131 Porém, a maior con-

128 Diário da Bahia, Salvador, 12 e 13 jun. 1919 e O Tempo, Salvador, 6 jun. 1919.129 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 4 jun. 1919.

130 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 18 jun. 1919.

131 O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1. O Comitê Gráfico de Resistência era

formado pelos seguintes trabalhadores: Theodomiro Baptista, Caetano de

Carvalho, Paulino Freitas, Edgard Guedes e Ludgero Ribeiro.

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quista dos artistas gráficos parece ter sido no campo organi-

zativo. De 1870 até aquele momento, eles haviam se agrega-

do apenas em bases mutualistas na Associação Tipográfica

Baiana.132 Em 8 de junho de 1919, entretanto, esse setor ope-

rário organizou-se em torno de um sindicato de resistência,

fundando a União Gráfica Baiana, que levou uma vida har-

moniosa com sua antecessora, inclusive partilhando com ela

a mesma sede social.133

O final da greve geral assinalou uma mudança radical

na avaliação que a imprensa vinculada a Ruy Barbosa fazia

do movimento. Até então, aqueles setores não se diferencia-

vam muito dos jornais ligados ao governo. A greve era trata-

da por ambos como um movimento justo, legítimo e pacífico,

merecedor de apoio de ambas as facções oligárquicas. Porém,

não existiam inocentes ou bem-intencionados no jogo políti-

co das oligarquias baianas e os dois grupos almejavam atirar

a classe operária contra seu opositor, do mesmo modo que a

classe operária tirava proveito da cisão entre eles. A maior

parte dos sindicatos, porém, principalmente os ligados a

Agripino Nazareth, manteve uma posição de relativa neutra-

lidade, ao passo que outros ratificaram sua posição de apoio

explícito ao PRD, caso dos portuários. Fracassadas as tentati-

vas de usar a classe operária contra Antônio Moniz e os políti-

cos do PRD, a imprensa ruísta passou a atacar violentamente o

movimento operário, taxando a greve geral de anarquista, sub-

versiva, perturbadora da ordem pública e subvencionada pelo

“maximalismo oficial” do governador. De potencial aliada, a

132 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial

do Estado da Bahia, p. 397, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário.Ver

também os relatórios da Associação Tipográfica Baiana dos anos 1904 a

1938.

133 ESTATUTOS da União Gráfica Baiana. Diário Oficial do Estado da Bahia,

Salvador, 21 fev. 1920.

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classe operária passou a ser tratada como massa de manobra

a serviço das ardilosas maquinações tramadas pela situação

contra a oposição.134

De fato, no dia 15 de junho, como coroamento da vitó-

ria, Agripino Nazareth e o Comitê Central de Greve promo-

veram um ato público em homenagem e reconhecimento à

suposta postura positiva assumida pelo governador em face

do movimento operário. Concentrados na Praça 15 de No-

vembro, os operários e suas lideranças saíram em passeata às

18 horas, seguindo o tradicional percurso pelo Centro de Sal-

vador. Acompanhados por diversas bandas de música,

rumaram em direção ao Palácio da Aclamação, onde encon-

traram o governador em uma das janelas a ouvir Agripino

Nazareth pronunciar “vibrante alocução” agradecendo a An-

tônio Moniz os “serviços que foram prestados à causa operá-

ria”. O governador reconheceu a distinção e disse que “no

posto que lhe fora confiado pelo povo baiano, a sua preocu-

pação maior era a consciência do cumprimento do dever, em-

penho pela grandeza e felicidade da Bahia”.135

134 Ver principalmente as edições do Diário da Bahia, Salvador, 11 jun. 1919, p. 1

(“O Soviete dos Monizes”) e Diário de Notícias, Salvador, 10 jun. 1919, p. 1

(“Greve, não: anarquia!”).

135 Jornal de Notícias, Salvador, 17 jun. 1919, p. 3.

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Depois do

vendaval de junho

Caricatura da opressão e da exploração dos capitalistas sobre os operários.

Fonte: A VOZ DO TRABALHADOR, Salvador, ano 1, n. 24, 19 mar. 1921, p. 1.

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A greve geral da classe operária de Salvador chegou ao final

vitoriosa para a maioria dos que cruzaram os braços e foram

às ruas lutar por salários mais dignos e melhores condições

de vida e de trabalho. Os operários metalúrgicos, das fábricas

de cigarros, das manufaturas e oficinas de roupas e das ferro-

vias desapareceram dos jornais. Podem ter sido derrotados,

mas também podem ter obtido acordos parciais favoráveis.

Os trabalhadores da construção civil, das companhias de bon-

des, luz e força, os têxteis, sapateiros, marmoristas, padeiros,

carregadores, estivadores e marítimos conseguiram, no en-

tanto, arrancar dos seus patrões acordos que atendiam às suas

principais reivindicações.

A crise do liberalismo e a questão social

O próprio governo, pressionado pela crescente politização do

movimento operário e tentando estreitar suas relações com

alguns de seus setores, lançou mão de um esboço de legisla-

ção social a partir de 1919. No mês de maio havia sido apro-

vado na Assembléia Legislativa da Bahia o projeto apresen-

tado, quase simultaneamente, pelo senador João Martins da

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Silva e pelo deputado Cosme de Farias, fixando em 8 horas o

dia de trabalho para todos os estabelecimentos industriais e

oficinas pertencentes ao Estado ou por ele subvencionados.

No dia 10 de junho, em meio às negociações do final da greve

geral, o governador Antônio Moniz sancionou o projeto, trans-

formando-o na Lei 7.309.1 A promulgação de tal lei repre-

sentou uma mudança de comportamento do Estado e de suas

autoridades frente à chamada questão social. O velho libera-

lismo de corte mais estreito, que a tudo e a todos homoge-

neizava e que dava tratamento igual para os que eram estru-

turalmente desiguais – o capital e o trabalho –, começou a

sofrer contestações. Percebeu-se que o tão propalado equilí-

brio natural entre os que produziam a riqueza e aqueles que

dela se apropriavam não tinha base na realidade e que era

necessária a intervenção de um terceiro sujeito – o Estado –

para mediar os diferentes interesses que, de outra forma, ter-

minariam em conflito social aberto. O novo padrão de com-

portamento do Estado em relação à classe operária foi verifi-

cado em menor ou maior grau no plano nacional.

O próprio Tratado de Versalhes, assinado em 1919, re-

comendou a instituição da jornada de trabalho de 8 horas, o

descanso semanal, a proibição do trabalho de menores de 14

anos, a proibição do trabalho noturno de mulheres, o auxílio

à gestante, a isonomia de salários para trabalhos iguais, o

pagamento de pensões a velhos e inválidos, a proteção con-

tra doenças e acidentes de trabalho, a afirmação do sindica-

lismo, a organização do ensino profissional e a luta contra o

desemprego. Até mesmo uma conferência foi convocada para

ser realizada em Washington em outubro daquele ano visan-

do instalar a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

1 APEB, Seção Legislativa, livros 59, 116, 908, 1102 e 1200; O Tempo, Salva-

dor, 8 maio 1919; 5, 6 e 18 jun. 1919; Diário Oficial do Estado da Bahia,

Salvador, 18 jun. 1919.

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Apesar de tudo, o patronato industrial ainda resistia de modo

radical à idéia de reconhecimento dos sindicatos como legíti-

mos representantes da classe operária, alegando que tal pos-

tura resultaria na quebra da liberdade de trabalho e na contí-

nua e indevida ingerência das organizações da classe operária

no interior das fábricas, desorganizando a produção e dimi-

nuindo o ritmo de trabalho e a autoridade patronal.2

O ano de 1919 ainda trazia características da Constitui-

ção de 1891, tais como a idéia de liberdade de trabalho, mas

as lutas operárias do período anterior haviam mostrado a fa-

lência do velho liberalismo. O Estado começou a intervir no

mercado de trabalho de maneira nunca vista antes. Já em 15

de fevereiro de 1919 foi promulgada a Lei nº 3.724, amparan-

do os operários vitimados em acidente de trabalho. Em 24 de

fevereiro de 1923 são instituídas, por meio da Lei nº 4.682

(Lei Elói Chaves), as Caixas de Aposentadoria e Pensões

(CAP’s) dos ferroviários. Naquele mesmo ano, em 30 de abril,

foi aprovada a Lei nº 16.027, que criou o Conselho Nacional

do Trabalho. Em 1925, foi instituída a Lei de Férias e no ano

seguinte foi criado o Código de Menores. Em 1927, criou-se

o seguro contra doença.3

A reação patronal

Mas, como sempre, estas vitórias não foram o final da histó-

ria. Seguindo um padrão da época, alguns patrões tentaram

2 LEME, Marisa Saenz. A ideologia dos industriais brasileiros, 1919-1945.

Petrópolis: Vozes, 1978. p. 98-107.

3 VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo e sindicato no Brasil. 4. ed. rev. Belo

Horizonte: Editora da UFMG, 1999. p. 92-94; GOMES, Angela Maria de

Castro. Burguesia e trabalho: política e legislação social no Brasil, 1917-1937.

Rio de Janeiro: Campus, 1979. p. 157-195 e Cidadania e direitos do trabalho.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

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fazer a roda da história girar no sentido contrário e cassar as

conquistas concedidas no calor da luta de junho. A Compa-

nhia Linha Circular, por exemplo, começou a demitir gradati-

vamente os motorneiros e condutores que haviam tomado

parte no movimento. As demissões eram em número tão avul-

tado que, em julho, já estavam faltando trabalhadores para

mover os bondes e os poucos veículos que circulavam chega-

vam aos terminais com muito atraso. Disso decorria que nos

horários de pico a superlotação se tornava insuportável. No

dia 4 de julho, após uma longa espera sob forte chuva, cerca

de 150 pessoas tiveram que dividir um único bonde na Baixa

dos Sapateiros. O aperto e o desconforto foram tão grandes

que o condutor ficou impossibilitado de fazer a cobrança das

passagens. A multidão, então, “numa atitude justíssima de

revolta”, levantou-se num ato de protesto e quebrou todas as

lâmpadas e vidros e rasgou todas as cortinas do veículo.4 Mas

as represálias da Companhia Linha Circular contra seus ope-

rários não paravam por aí. O acordo de junho estabelecia que

os trabalhadores teriam uma jornada de 8 horas e o que exce-

desse a isso seria remunerado à parte. Porém, em julho os

operários da Usina da Preguiça estavam tendo uma jornada

regular que se iniciava às 7 da manhã e terminava às 17 horas,

ou seja, 10 horas diárias, “sem direito a reclamações, sob pena

de rezarem em outra freguesia”.5

Nem mesmo os operários do Estado escaparam às per-

seguições do pós-greve. No Gasômetro da Linha Municipal,

localizado na Calçada do Bonfim, houve alterações de horários

e condições de trabalho, sendo cortados os passes de bondes

para os maquinistas e operadores daquele estabelecimento e

para os do Largo de Roma. Além disso, ao contrário do que a

empresa dizia, os operários denunciavam que os salários es-

4 O Tempo, Salvador, 5 jul. 1919, p. 2.5 O Tempo, Salvador, 15 jul. 1919, p. 2.

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tavam com duas semanas de atraso.6 Em represália a tais ati-

tudes, dez trabalhadores que haviam reclamado o pagamento

dos salários atrasados foram demitidos. Indignados, seus co-

legas do Gasômetro se declararam em greve na manhã do dia

30 de julho, ocasionando a paralisação também dos bondes.

Imediatamente, 45 praças de infantaria e cavalaria para lá se

dirigiram e dispersaram os operários que estavam reunidos

na porta da usina. Depois de muitos apelos, o delegado Lustosa

de Aragão permitiu que eles se reunissem no outro lado da

rua. Enquanto isso, negociações eram feitas no Palácio da

Aclamação, onde o advogado Pedro Gordilho teria consegui-

do convencer o governador a rever tais demissões. Resolvido

o impasse, por volta das 14 horas, o tráfego de bondes já

estava restabelecido.7

Na Companhia de Navegação Baiana, a situação tam-

bém não era das melhores e já no dia 14 de julho, data da

Queda da Bastilha, uma greve foi feita pelos marítimos recla-

mando do governo o pagamento de salários atrasados.8 A

situação era tão grave que os trabalhadores ainda estavam

em greve no final de julho, reclamando salários com atrasos

que variavam de três semanas a três meses. Os fornecedores

de lenha também não recebiam seus pagamentos e não era

raro que vapores daquela companhia ficassem à deriva ou ti-

vessem que aportar em cidades próximas para que seus ope-

rários e marinheiros fossem cortar lenha para abastecer as

caldeiras. Diante desse quadro, o delegado da Associação dos

Marinheiros e Remadores informou à imprensa que nem pen-

sava em cobrar os aumentos salariais conseguidos com a gre-

ve geral enquanto seus filiados não recebessem os proventos

6 A Tarde, Salvador, 17 jul. 1919, p. 1.7 O Imparcial, Salvador, 31 jul. 1919, p. 3; Diário da Bahia, Salvador, 31 jul.

1919, p. 1-2.

8 Diário da Bahia, Salvador, 13 jul. 1919, p. 1.

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retidos.9 Os problemas de atrasos de salários na Companhia

de Navegação Baiana ainda perdurariam por algum tempo e

nova greve foi feita em agosto tendo esse elemento como

motivador.10 Ainda em julho, comissões foram formadas, tam-

bém, com o objetivo de interceder junto aos diretores das

obras do porto e da Chemins de Fer para exigir a readmissão

de operários dispensados em função da greve geral.11

A expansão do movimento para o Recôncavo

Entretanto, a conjuntura e a greve geral de 1919 haviam de-

sencadeado forças incontroláveis e muito do que foi conquis-

tado não desapareceria totalmente, apesar do caráter profun-

damente reacionário das elites políticas e econômicas da Bahia.

O que se veria daquele momento em diante seria uma irresis-

tível ascensão do movimento operário até princípio de 1921.

Como passaremos agora a relatar, um dos principais desdo-

bramentos da greve foi a imediata expansão dos protestos

para as cidades do Recôncavo Baiano, onde os operários tam-

bém passaram a lutar por salários mais altos e menor jornada

de trabalho.

Em Nazaré, por exemplo, paralisaram o trabalho apro-

ximadamente 300 trabalhadores de todas as frações do pro-

letariado local. Os cerca de cem carregadores, que atuavam

no cais do porto pediram remuneração de 80 réis por cada

volume carregado ou descarregado dos armazéns e barcos.

As casas Tavares e César Orrico se dispuseram a acatar a nova

tabela proposta, mas outras, como Scaldaferri, Emygdio, Tude

e Raphael Schwab, só se dispunham a pagar 20 réis a mais

9 Diário da Bahia, Salvador, 26 jul. 1919, p. 1.10 A Hora, Salvador, 20 ago. 1919, p. 1-2.

11 O Tempo, Salvador, 17 jul. 1919.

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sobre o que os operários recebiam. O acordo final, mediado

pelo intendente Eurico Matta, um político tradicional ligado

à oligarquia seabrista, estabeleceu que o transporte do barco

para o carro ou do carro para o armazém seria remunerado à

razão de 40 réis por volume, enquanto do barco para o arma-

zém e vice-versa ou para outro ponto do cais seria pago a 60

réis por volume. Os marítimos conseguiram um acordo com

os proprietários de barcos que previa o pagamento de

324$000 aos marinheiros e 424$000 aos mestres, por via-

gem. Os ferroviários da Estrada de Ferro de Nazaré firmaram

seu acordo com a conquista da jornada de 8 horas e 20% de

aumento sobre os salários. Os escolhedores e as destaladeiras

de fumo aceitaram uma jornada de 9 horas e aumento de

20%. As catadeiras de café, que recebiam 800 réis para cada

75 quilos do grão, passaram a receber 20% a mais sobre esse

valor. Os alfaiates fizeram uma rápida paralisação, conseguin-

do, também, um aumento de 20% sobre os salários.12

No dia 16 de junho de 1919, cerca de 2 mil operários das

fábricas de fumo das cidades de São Félix e Muritiba, especi-

almente os das firmas Costa Ferreira & Penna e Dannemann

& Cia., entraram em greve reivindicando aumento salarial de

20%, jornada de 8 horas, direito de livre organização sindical

e indenização por acidentes de trabalho. À frente desse pro-

letariado fundamentalmente feminino estavam o advogado

Luiz Soares e a União Operária de São Félix. Na manhã do

dia seguinte, a multidão operária se dirigiu à vizinha cidade

de Cachoeira com o intento de buscar novas adesões. Entre-

tanto, encontrou pela frente a repressão. Com o auxílio de 8

praças da força pública, 15 funcionários públicos e 4 guardas-

fiscais, o deputado Ubaldino de Assis interceptou os mani-

festantes, lançando mão de agressões dirigidas principalmen-

12 O Conservador, Nazaré-Ba, 15 jun. 1919, p. 1-2.

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te contra Luiz Soares, com quem aquele político da oligar-

quia local possuía uma antiga contenda. A Associação Co-

mercial da Bahia, atendendo ao pedido dos proprietários de

fábricas, solicitou ao secretário de Polícia e Segurança Públi-

ca que enviasse tropas para reprimir o movimento, mas não

parece ter sido atendida. Sem apoio das autoridades estadu-

ais, os patrões tiveram que ceder às reivindicações dos operá-

rios, que saíram em passeata comemorativa pelas ruas de São

Félix no dia 18, ao mesmo tempo em que arrastavam para o

movimento seus colegas trabalhadores de Cachoeira.13

O patronato do setor fumageiro não assistiu ao processo

de organização de seus operários sem reagir e, já em agosto de

1920, mostrava que também estava organizado, com um certo

Centro Industrial do Fumo, aglutinador das fábricas de São

Félix, Cachoeira, Maragogipe, Muritiba e Nagé, enviando re-

presentação à Câmara dos Deputados da Bahia contrária aos

dispositivos orçamentários que previam aumento de carga tri-

butária sobre aquele ramo de produção no ano de 1921.14

Politização e crescimento da organização sindical

Após a greve geral de junho de 1919, o movimento operário

baiano e suas organizações sofreram um intenso processo de

politização, inclusive com preocupações francamente

internacionalistas. No dia 14 de julho de 1920, data comemo-

rativa da Tomada da Bastilha, a Federação dos Trabalhadores

Baianos enviou um telegrama ao presidente da República,

expressando-se em nome dos 16 sindicatos e dos mais de 25

mil filiados, no qual reivindicava o reconhecimento da Repú-

13 A Tarde, Salvador, 18 e 19 jun. 1919; O Democrata, Salvador, 21 jun. 1919;

Diário de Notícias, Salvador, 25 jun. 1919; Diário da Bahia, Salvador, 5 jul. 1919.

14 Diário de Notícias, Salvador, 12 ago. 1920, p. 1.

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blica Russa dos Sovietes.15 A maior politização do movimen-

to operário pode ser percebida até nas questões raciais. Em

agosto de 1919, por exemplo, o Sindicato dos Produtores de

Marcenaria promoveu, na Praça 15 de Novembro, um “comí-

cio de protesto contra as chacinas de homens de cor ultima-

mente perpetradas em Chicago”. Foram convocadas “todas

as laboriosas classes, repelindo, assim, incorporadas unâni-

mes, numa vibrante demonstração, todos os preconceitos

inconfessáveis de raça, ainda existente na América do Nor-

te”.16 A manifestação constitui-se numa forte evidência do

quanto a liderança socialista baiana estava informada acerca

das questões internacionais daquele ano, posto que o fim da

Primeira Guerra Mundial havia sido marcado por um intenso

movimento migratório nos EUA, com as populações negras

saindo do campo para cidades como Pittsburgh, Cleveland e

Chicago em busca de emprego e melhores condições de vida,

mas efetivamente tendo que enfrentar as ações criminosas da

Ku Klux Klan.17 Paradoxalmente, a manifestação demonstra-

va, também, uma aparente ignorância das lideranças socialis-

tas em relação aos preconceitos raciais (e sociais) existentes

em seu próprio país, de modo geral, e na Bahia em particular.18

15 A Tarde, Salvador, 16 jul. 1920, p. 2.

16 Jornal de Notícias, Salvador, 17 ago. 1919, p. 2.

17 FRANKLIN, John Hope. Raça e História. Ensaios selecionados (1938 - 1988).

Tradução de Mauro Gama. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 178.

18 Em 15 de novembro de 1918, o governador Antonio Ferrão Moniz de Aragão

promoveu uma recepção no Palácio da Aclamação com o intuito de comemo-

rar o aniversário da Proclamação da República no Brasil e a vitória dos aliados

na Primeira Guerra Mundial. Além de grande número de correligionários polí-

ticos e integrantes da elite local, fizeram-se presentes os representantes sindicais

da União dos Estivadores, da União dos Carregadores, da União dos Conferen-

tes e da União dos Foguistas, os únicos homens de cor na celebração. Tal fato

serviu para explicitar os preconceitos raciais e de classe da sociedade baiana,

com o jornalista Simões Filho, editor do jornal A Tarde, chamando-os de

“latagões pretos e façanhudos” e “profissionais da faca e da garrucha” a serviço

do governo. Mais tarde, ao analisar os tumultos ocorridos num comício feito

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No dia 12 de maio de 1920, na mesma Praça 15 de No-

vembro, outro comício operário foi feito, sendo proferidos duros

discursos contra o clero católico. O padre João de Barros, pre-

sente ao conclave, tentou contestar um dos líderes que esta-

vam discursando. Porém, a multidão operária o repeliu e ten-

tou mesmo atacá-lo fisicamente, o que só não aconteceu gra-

ças à intervenção de um auxiliar da 2ª delegacia e um tenente.19

Um segundo desdobramento da greve diz respeito à for-

mação de sindicatos operários de resistência no âmbito de

frações de classe até então sem direção própria e à consolida-

ção das organizações surgidas ao longo daquele ano. São do

momento imediatamente posterior à greve, por exemplo, dois

sindicatos do setor de transportes, a União dos Condutores

de Veículos e Classes Anexas da Bahia, de 23 de junho de

1919,20 e a Sociedade União dos Condutores de Carroças e

Classes Anexas, de 23 de julho de 1919,21 além do Sindicato

dos Marceneiros, de 8 de julho de 1919,22 e da Associação das

Costureiras, de dezembro de 1919.23 Os empregados de ba-

res, restaurantes, hotéis etc., tradicionalmente desorganiza-

dos em Salvador, fundaram a Sociedade Centro e União Cu-

linária, em 29 de janeiro de 1920.24 Na noite do dia 16 de

pela oposição no dia 25 de março de 1919, o Diário da Bahia, também da

oposição, atribuiu o fato à ação dos mesmos sindicatos, aos quais chamava de

“guarda negra do situacionismo”. Ver: O Tempo, Salvador, 21 nov. 1918, p. 1

e 4; O Tempo, Salvador, 27 mar. 1919, p. 1.

19 Diário de Notícias, Salvador, 14 maio 1920, p. 1.

20 ESTATUTOS da União dos Condutores de Veículos e Classes Anexas da

Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28 maio 1920.

21 ESTATUTOS da União dos Condutores de Carroças e Classes Anexas. Diá-

rio Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 25 e 27 set. 1920.22 Diário da Bahia, Salvador, 8 jul. 1919, p. 2; Jornal de Notícias, Salvador, 8

jul. 1919, p. 3; O Imparcial, Salvador, 8 jul. 1919, p. 2

23 O Tempo, Salvador, 13 dez. 1919, p. 2.24 ESTATUTOS da Sociedade Centro e União Culinária. Diário Oficial do

Estado da Bahia, Salvador, 21 jan. 1921.

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julho de 1920, uma certa Sociedade União dos Polidores de

Calçados foi fundada na sede da Sociedade União dos Ope-

rários de Padaria.25 Nas cidades do Recôncavo fumageiro,

houve também a penetração das novas idéias e práticas di-

fundidas principalmente pelo Sindicato dos Pedreiros, Car-

pinteiros e Demais Classes. Na vila de Muritiba, por exem-

plo, foi fundado, em 1º de agosto de 1919, o Comitê de Defe-

sa Operária,26 criado no fluxo do movimento de junho e

aglutinando centenas de operários, principalmente das fábri-

cas de charutos daquela região. Não tardou até que os pa-

trões impusessem àquela organização operária sua primeira

prova de fogo, espionando, multando, suspendendo e despe-

dindo seus dirigentes. Ao mesmo tempo, os mestres daque-

las fábricas articularam a fundação de uma sociedade benefi-

cente, com apoio e financiamento patronal, a ela querendo

“atrair todos os operários, acenando-lhes com purgantes,

clisteres, vomitórios para quando estiverem doentes, prome-

tendo-lhes um confortável caixão mortuário ao soar para os

incautos que se deixarem imbuir, o dia da viagem suprema”.27

Como os operários não abandonaram o Comitê de Defesa

Operária, os industriais, principalmente os das fábricas

Stender, Dannemann e Costa & Penna, deram “carta branca

aos mestres e contramestres, (...) sujeitos de péssimos costu-

mes” que “requintam as injustiças e os vexames infringidos

desde muito aos que sob sua direção trabalham”, privando-

lhes de água potável e assediando as operárias que, como

vimos, eram majoritárias nessas indústrias.28 Mas a pressão

dos industriais do Recôncavo parece não ter sido suficiente e,

em princípios de abril de 1920, os socialistas já informavam a

25 A Tarde, Salvador, 16 jul. 1920, p. 2.

26 O Tempo, Salvador, 16 ago. 1919; A Ordem, Salvador, 20 ago. 1919, p. 1.27 Germinal, Salvador, ano I, n. 2, 3 abr. 1920, p. 8.

28 Germinal, Salvador, ano I, n. 3, 1 maio 1920, p. 9.

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existência também da Sociedade de Resistência Protetora dos

Operários de São Félix e Cachoeira.29 Uma certa União dos

Pedreiros Nazarenos, sucursal do Sindicato dos Pedreiros,

Carpinteiros e Demais Classes, foi fundada na cidade de

Nazaré, no final de agosto de 1919.30 Até mesmo na Ilha de

Maré, um Sindicato de Ofícios Vários foi fundado, em agos-

to de 1920, sob a influência direta de Agripino Nazareth.31

As novas greves de 1919 e 1920

Porém, mais relevante foi a fundação da Sociedade União

Geral dos Tecelões da Bahia, de 21 de agosto de 1919.32 Du-

rante todo o ano, esse sindicato operário teve de enfrentar os

poderosos capitães da indústria têxtil e sua associação, o

Centro Industrial do Algodão, fundado em período anterior,

em 21 de agosto de 1916.33 O auge dessa luta ocorreu em

29 Germinal, Salvador, ano I, nº 2, 3 abr. 1920, p. 6.30 O Conservador, Nazaré-BA, 31 ago. 1919, p. 1 e 5 maio 1920, p. 2.

31 PROJETO de Estatutos do Sindicato de Ofícios Vários de Maré. Diário

Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 4 jan. 1921.32 ESTATUTOS da Sociedade União Geral dos Tecelões da Bahia. Diário Ofi-

cial do Estado da Bahia, Salvador, 11 set. 1920.

33 Livro de Atas e Estatutos do Centro Industrial do Algodão. APEB, Seção de

Arquivos Privados. É interessante notar que o Centro Industrial do Algodão

não nasceu como uma associação patronal exclusiva dos capitães da indústria

têxtil. Inicialmente, ele foi criado visando conciliar os interesses destes com

os da lavoura do algodão. Daí a relação direta entre uns e outros em relação

ao fomento e ao auxílio à lavoura do algodão, ao mesmo tempo em que

representava os interesses das fábricas de fiação e tecelagem, consumidoras

diretas daquela matéria-prima. Em certa medida, a mistura de interesses agrá-

rios e industriais era o resultado não apenas da coincidência pontual de obje-

tivos dos dois setores, mas também fruto de uma certa fraqueza da própria

indústria têxtil baiana, que não conseguia aglutinar forças suficientes para

barganhar em torno dos seus interesses de maneira separada, não obstante

fosse o mais importante ramo industrial do estado.

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setembro, quando os operários das fábricas de fiação e tece-

lagem paralisaram novamente o trabalho, reivindicando o

cumprimento de cláusulas do acordo que estavam sendo des-

respeitadas pelos patrões, em especial os pontos relativos à

jornada de trabalho e ao reconhecimento do sindicato como

único interlocutor nos conflitos e nas negociações entre ope-

rários e patrões, ou seja, a greve também tinha como objetivo

a construção e afirmação de um sujeito coletivo dotado de

solidariedade de classe.34

O elemento que desencadeou o processo de luta foi a

demissão do operário Daniel José do Nascimento, contrames-

tre da Companhia Empório Industrial do Norte. A explosão

do conflito ocorreu quando este se ausentou da área de pro-

dução para ir ao banheiro e demorou-se. Chamado à atenção

por um fiscal, retrucou suas críticas, sendo, por isso, conside-

rado infrator da disciplina da fábrica. A pena aplicada foi uma

multa, contra a qual o operário outra vez emitiu opinião con-

trária, tentando reverter a situação junto aos diretores. Por

ter mostrado sua insatisfação, Daniel foi demitido e comuni-

cou o fato aos seus colegas. De imediato, os operários se de-

clararam solidários com a sua causa e, no dia 4 de setembro,

a greve começou por aquela fábrica e logo se expandiu para

as demais, quase se transformando num novo movimento

generalizado, que só teve fim por volta do dia 25. Não anali-

saremos essa greve aqui, pois a mesma é merecedora de um

estudo à parte. Porém, cabe ressaltar que os fatos relatados

constituem apenas o elemento revelador de processos muito

34 O fenômeno das greves de reconhecimento foi observado tanto entre os sindi-

calistas revolucionários franceses e seus aliados na Itália e Espanha quanto

entre algumas categorias operárias norte-americanas no período pós Primeira

Guerra Mundial. A esse respeito, ver: PIZZORNO, Alessandro. Los sindica-

tos y la acción política. Cuadernos de Pasado e Presente, (Economía e política

en la acción sindical), Buenos Aires, n. 44, p. 75-106, 1973.

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mais profundos. Na raiz da greve estava a luta da Sociedade

União Geral dos Tecelões da Bahia contra os mecanismos

utilizados pelos industriais em geral, e pelos têxteis em parti-

cular, para fazer retroceder as conquistas da greve geral de

junho. Os expedientes eram, concretamente, o prolongamen-

to da jornada de trabalho para além das 8 horas e a cobrança

generalizada e abusiva de multas. Por meio deles, os industri-

ais tencionavam recuperar as taxas de lucros vigentes antes

daquele movimento. Contra eles o sindicato operário teve

que lutar para assegurar as melhorias das condições de traba-

lho e de vida dos seus associados a partir de junho.35

Ainda em setembro de 1919, uma greve de marítimos

foi deflagrada, encontrando, porém, alguma resistência por

parte dos trabalhadores de pequenas embarcações da cidade

de Nazaré em aderir ao movimento. O jornal A Tarde, de

Simões Filho, político ligado à oposição liderada por Ruy

Barbosa, chegou a dizer que aqueles trabalhadores estavam

sendo coagidos a não trabalhar e até ameaçados de morte,

caso furassem a greve, supostamente feita com o apoio do

governo.36 O delegado da sucursal da Associação dos Mari-

nheiros e Remadores, Manoel Dantas, porém, divulgou uma

nota por meio do jornal seabrista O Tempo chamando a acu-

sação de “infamante e mentirosa” e declarando que o sindi-

cato marítimo “não tem ligações político-partidárias”. Con-

cluía dizendo que só desejava que os marítimos de Nazaré se

conservassem firmes, sem assinar nenhum acordo em separa-

do, até que todas as reivindicações do sindicato fossem aten-

didas.37 O fato é que, em fins de setembro, a Associação

Comercial da Bahia ainda se dirigia ao chefe de polícia, Álva-

35 Ver os jornais A Tarde, O Tempo, Diário da Bahia, Diário de Notícias e Jornal de

Notícias, Salvador, 4 a 30 set. 1919.

36 A Tarde, Salvador, 24 set. 1919, p. 1.

37 O Tempo, Salvador, 26 set. 1919, p. 3.

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ro Cova, reclamando providência contra a continuidade do

que qualificou de atentados contra a “liberdade de trabalho”

dos marítimos de Nazaré, impedidos de sair do porto de Sal-

vador pela Associação dos Marinheiros e Remadores.38

No dia 17 de novembro de 1919, chegou a vez dos carre-

gadores de trapiches fazerem a sua greve. O movimento co-

meçou no Trapiche Barnabé, de propriedade de Francisco

Ventura, num momento em que se realizava o transporte do

cacau, mas logo tomou corpo e se espalhou por todos os de-

mais trapiches em função da resistência daquele trapicheiro.

Por iniciativa da Sociedade União dos Carregadores, os ope-

rários resolveram paralisar o trabalho e reivindicar um au-

mento salarial. Na pauta, os trabalhadores exigiam que cada

um dos sacos de 60 quilos, fosse de fumo, cacau ou cereais,

passasse a ser pago à razão de 220 réis, ao invés da remune-

ração dada pela tabela antiga, que era de 100 réis. A parede

operária, contudo, durou pouco, e às 13 horas daquele dia um

acordo de conteúdo desconhecido já havia sido assinado, su-

postamente “sem prejuízo de ambos os lados”. No dia 19,

por volta das 17 horas, após ingerências do sindicato, o traba-

lho fora normalizado.39

Mas os carregadores de trapiches não parecem ter saí-

do satisfeitos do movimento de fins de 1919 e, na segunda-

feira, 19 de janeiro de 1920, outra greve foi deflagrada por

esses trabalhadores. Desta vez, porém, os operários passa-

ram por cima da própria Sociedade União dos Carregadores e

exigiram um aumento de 300% em seus salários.40 Os pa-

trões, por sua vez, reclamavam que alguns carregadores, su-

postamente, recebiam de 80 a 100 mil réis por semana, e que

38 Diário de Notícias, Salvador, 27 set. 1919, p. 7.39 O Imparcial, Salvador, 19 nov. 1919, p. 2.

40 A Tarde, Salvador, 19 e 20 jan. 1920; Diário da Bahia, Salvador, 20 jan. 1920;

Diário de Notícias, Salvador, 20 jan. 1920.

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as novas vantagens reivindicadas “estabelecem uma quase so-

ciedade com os seus patrões”. Além disso, os trapicheiros

esbravejavam contra os enormes prejuízos comerciais que es-

tavam tendo por não embarcarem o cacau, o fumo, o café, etc.

e reclamavam ainda que por trás do movimento dos operários

estava a mão do advogado e deputado seabrista Lauro Villas-

Boas.41 Na quarta-feira, 21 de janeiro, o movimento foi sus-

penso provisoriamente e os operários voltaram ao trabalho,

sendo dado um prazo até sábado, 24 de janeiro, para que os

patrões atendessem à reivindicação de aumento salarial, sob

pena de a greve ser outra vez decretada pelo sindicato. Além

disso, Lauro Villas-Boas continuou apoiando o movimento, que

recebeu também a solidariedade dos estivadores.42 Como os

trapicheiros não atenderam aos reclamos dos operários, estes

paralisaram o trabalho outra vez, havendo indícios de que os

estivadores também tivessem aderido ao movimento nessa nova

fase.43 A quebra-de-braços entre operários e patrões entrou

pelo mês de fevereiro sem que qualquer solução fosse dada ao

problema. A imprensa ligada aos industriais e ao grande co-

mércio de importação e exportação dizia que a cidade estava

entregue à anarquia e que os operários aspiravam a serem iguais

a seus patrões! A Sociedade União dos Carregadores entrou

em conflito aberto com um certo alemão chamado Dewald,

proprietário de trapiche que insistia na substituição de um de

seus operários, a que o sindicato negava-se radicalmente, pos-

sivelmente por se tratar de um fiscal da entidade.44 De todo

modo, o movimento dos carregadores de trapiche se misturou

ao dos trabalhadores de padaria e condutores de carroça.45 Em

41 Diário de Notícias, Salvador, 20 jan. 1920, p. 1.

42 ___. ___, 21 jan. 1920, p. 1.

43 ___. ___, 29 jan. 1920, p. 2.44 ___. ___, 9 fev. 1920, p. 1.

45 ___. ___, 3 fev. 1920, p. 2.

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241

meio ao conflito, uma certa Sociedade Protetora dos Proprie-

tários de Carroças foi fundada, em 5 de fevereiro de 1920,

com o objetivo explícito de se opor à Sociedade dos Condu-

tores de Carroças,46 e, em meados de fevereiro de 1920, insti-

tuiu-se a Associação dos Trapicheiros da Bahia, sociedade

patronal claramente criada para enfrentar a ofensiva dos ope-

rários carregadores.47

Ainda mais radicalizada foi a greve desfechada pelo Sin-

dicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes nos pri-

meiros dias de fevereiro e que se estendeu até a segunda

metade de março de 1920. O potencial de mobilização de seus

filiados e a capacidade de resistir por longo período parecem

ter aumentado em função da experiência de 1919, pois o mo-

vimento desta vez durou 58 dias, uma quebra-de-braços com

os patrões da qual os operários da construção civil saíram

vitoriosos. Em 19 de março daquele ano, após quase dois

meses de paralisação parcial do ramo, as centenas de operári-

os envolvidos no movimento voltaram ao trabalho, com a

assinatura de um acordo que estabelecia: 1) imposto de 2%

sobre os contratos dos empreiteiros, que a partir daquele

momento seriam avaliados e registrados no sindicato; 2) sa-

lário (diário) mínimo para os oficiais pedreiros e carpintei-

ros, que antes ganhavam entre 4$000 e 5$500 e passariam a

receber 7$000, e para os serventes e ajudantes, que antes

recebiam 2$500 e passariam a ganhar 4$000.48

Ainda no mês de março de 1920, os carroceiros do ser-

viço de coleta de lixo da cidade entraram em greve reclaman-

46 Diário de Notícias, Salvador, 6 fev. 1920, p. 1.47 ESTATUTOS da Associação dos Trapicheiros da Bahia. Diário Oficial do

Estado da Bahia, Salvador, 19 mar. 1920.

48 Germinal, Salvador, ano I, n. 1, 19 mar. 1920, p. 8; Diário de Notícias, Salva-

dor, 28 fev. 1920, p. 3; O Tempo, Salvador, 19 mar. 1920, p. 2. A Tarde,

Salvador, e Diário da Bahia, Salvador, jan. a mar. 1920.

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242

do o pagamento de três meses de salários atrasados.49 Entre

idas e vindas do movimento, a oposição denunciou outra vez

o envolvimento político das forças seabristas com a classe

operária. A imprensa ruísta chegou a dizer que o governador

Antonio Moniz era sócio de Germano de Assis na Empresa

Asseio da Cidade e que Martinho Porto, presidente da Soci-

edade dos Carroceiros, era secreta da polícia de Moniz e

Seabra. O delegado da sucursal da União dos Operários Esti-

vadores teria feito o pagamento dos carroceiros sob a super-

visão direta do deputado Lauro Villas-Boas, mas deixado de

fora os outros funcionários (fiscais, jardineiros, conservado-

res e o pessoal de escritório), fazendo com que esse setor da

empresa de limpeza pública entrasse em greve outra vez. O

próprio dinheiro para pagar os carroceiros, cinco contos de

réis, teria sido emprestado pela União dos Estivadores, sob a

garantia do coronel Frederico Costa, e o delegado desse sin-

dicato assumiu, também, a função de fiscal do serviço de lim-

peza.50

Entre meados de maio e início de junho de 1920, os

operários das oficinas da Companhia de Navegação Baiana,

em Itapagipe, fizeram outra greve reivindicando o pagamen-

to de sete quinzenas de salários atrasados e protestando con-

tra o excesso de trabalho, a prepotência dos chefes e a aplica-

ção generalizada e abusiva de multas.51

49 Diário de Notícias, Salvador, 13 mar. 1920, p. 6; 15 mar. 1920, p. 1; 16 mar.

1920, p. 5.50 Diário de Notícias, Salvador, 18 mar. 1920, p. 1; 20 mar. 1920, p. 1; 22 mar.

1920, p. 2; 23 mar. 1920, p. 2.

51 Diário de Notícias, Salvador, 18 e 19 maio 1920, p. 1; A Tarde, Salvador, maio

a jun. 1920.

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243

Capa do primeiro número de Germinal, periódico socialista editado

pelo advogado Agripino Nazareth em 1920. Na foto, de pé: Guilherme

Francisco Nery, Abílio José dos Santos; sentados: Durval dos Santos

Cárceres, José Domiense da Silva e Ezequiel Antonio Pompeu, todos

operários e membros da diretoria do Sindicato dos Pedreiros,

Carpinteiros e Demais Classes.

Fonte: Germinal, Salvador, ano 1, n. 1, 19 mar. 1920, p. 1.

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244

O primeiro congresso dos trabalhadores baianos

O ano de 1919 assistiu, também, a um processo de crescimen-

to dos laços de solidariedade de classe e a uma maior delimi-

tação política e ideológica entre os operários e seus sindica-

tos na Bahia. A politização ocorrida durante a greve geral foi

grande e assumiu novos contornos durante o Primeiro Con-

gresso dos Trabalhadores Baianos, realizado entre os dias 14

e 20 de julho de 1919. Convocado e fortemente influenciado

pelo Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes

e seu advogado Agripino Nazareth, o evento foi dominado

pelas correntes sindicais reformistas, que se proclamavam

socialistas coletivistas e defendiam o internacionalismo pro-

letário, a substituição das sociedades mutualistas por socie-

dades de resistência, sem a presença de mestres e contrames-

tres, a abolição do trabalho de menores de 14 anos, a regula-

mentação do trabalho de mulheres e a instituição do salário

mínimo. Contando com a liderança dos pedreiros e carpintei-

ros, o evento reuniu, desde a sua sessão de abertura, no Tea-

tro São João, 10 sindicatos e 26 delegados entre ferroviários,

sapateiros, pedreiros e carpinteiros, marmoristas, marcenei-

ros, padeiros, gráficos, operários das linhas de bonde e usi-

nas de energia e carroceiros. Logo na primeira sessão, Agripino

Nazareth fez uso da palavra “convidando os operários a co-

memorar com o mais intenso júbilo o dia 14 de Julho, que foi

o primeiro a assinalar a vitória do socialismo”. Este é um fato

importante, pois indica como, mesmo decorridos dois anos

da Revolução Russa de 1917, a Revolução Francesa ainda era

um paradigma para boa parte do movimento operário e socia-

lista brasileiro.52 Um boletim distribuído no dia 2 de julho

52 Sobre o assunto, ver: BATALHA, Claudio H. M. “Nós, Filhos da Revolução

Francesa”: a imagem da revolução no movimento operário brasileiro no início

do século XX. Revista Brasileira de História, ANPUH, São Paulo, v. 10, n. 20,

p. 233-249, mar.-ago. 1991.

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245

pelo Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes

dizia que cada sindicato ou categoria deveria ser representa-

do por três delegados e só na absoluta falta de possibilidades

de arcar com as despesas com tal representação deveria envi-

ar um único representante. O mesmo documento deixava cla-

ro que não reconheceria delegados que não fossem operári-

os, um veto explícito aos mestres e patrões.53 Porém, essa

medida não livraria a classe operária de influências políticas

ou mesmo ideológicas externas. Já no primeiro dia do encon-

tro, a própria imprensa seabrista esclarecia que “além da grande

massa operária que se achava presente”, lá se encontravam

também os representantes “de todas as classes da sociedade,

inclusive das autoridades civis, militares e do Estado”.54 Fato

53 É interessante observar que a convocação do Sindicato dos Pedreiros, Car-

pinteiros e Demais Classes fora feita na data em que se comemora a expulsão

definitiva dos portugueses da Bahia em 1823, por ocasião das últimas lutas de

Independência do Brasil.54 O Tempo, Salvador, 15, 16, 17 e 19 jul. 1919; Jornal de Notícias, Salvador, 28

jun. 1919, 15, 16, 18 e 23 jul. 1919; O Democrata, Salvador, 16 e 22 jul.

1919; O Imparcial, Salvador, 15, 16, 17, 19, 20 e 27 jul. 1919; Diário da

Bahia, Salvador, 16 jul. 1919; Diário de Notícias, Salvador, 2 jul. 1919. Os

delegados presentes no Primeiro Congresso dos Trabalhadores Baianosforam os seguintes: Nathalio de Jesus, Antonio da Silva e Luís José Soares

(Sociedade União Defensora dos Empregados de Ferrovia); Antonio Portugal

de Azevedo, Manuel Maria dos Santos e João Paulo Baptista (Sociedade

União Defensora dos Sapateiros); Oscar Francisco Lopes, Constancio P.

Victorio e Honorato Gomes Filho (União dos Operários de Padaria); Edgard

José Britto, Maximiano José da Silva e José Alves do Nascimento (Sociedade

União e Progresso dos Operários da Bahia); João Lessa (União Gráfica Baia-

na); Alfredo Campos de Oliveira, Aurelio Pereira da Silva e Oscar Correia

(Sociedade União dos Empregados de Bondes, Luz e Força Elétrica do Estado

da Bahia); José dos Santos Gomes (Sindicato dos Pedreiros e Carpinteiros);

Marciano Pacífico da Paixão e Estephanio do Nascimento (Sociedade União

dos Marmoristas); Asterio Luiz dos Prazeres, Manoel P. de Oliveira e Petronillo

Dantas (Sindicato dos Marceneiros); Martinho Pontes, Antonio Henrique

Pimentel, Antonio F. da Silva e Maximiano José da Silva (Sociedade União

dos Condutores de Carroças e Classes Anexas).

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246

importante, também, de se observar é que, além das socieda-

des operárias mutualistas, estiveram ausentes do conclave

todas as organizações sindicais portuárias e marítimas da

Bahia, a exemplo da União dos Estivadores, da União dos

Carregadores, da União dos Foguistas, da Associação dos

Marinheiros e Remadores e do Clube Defensor e Beneficen-

te dos Maquinistas, demarcando uma clivagem que reproduz

uma separação existente no movimento sindical carioca, con-

forme já se observou em outro momento deste livro.

A Federação dos Trabalhadores Baianos

e a cisão de 1920

As clivagens do sindicalismo operário baiano ganharam no-

vos contornos depois que, seguindo deliberação do Primeiro

Congresso dos Trabalhadores Baianos, foi fundada a Federa-

ção dos Trabalhadores Baianos (FTB), em 13 de fevereiro de

1920. Após seis meses de criada, em julho de 1920, aquela

entidade já aglutinava 16 sindicatos e um total de mais de 25

mil trabalhadores. A partir de 24 de setembro, porém, o Sin-

dicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes rompeu

com a FTB, arrastando atrás de si outras entidades e muitos

operários. Tratava-se de uma cisão intimamente relacionada

com a participação daquele sindicato no Terceiro Congresso

Operário Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro entre os dias

25 e 30 de abril de 1920, quando aderiu às teses libertárias

contrárias à participação da classe operária na política insti-

tucional e partidária.55 Os operários Gaudêncio José dos Santos

55 A VOZ DO TRABALHADOR, Salvador, ano I, n. 2, 9 out. 1920, p. 4; A

Voz do Trabalhador, Salvador, ano I, n. 24, 19 mar. 1921, p. 1; A Tarde,

Salvador, 16 jul. 1920, p. 2. DULLES, John W. F. Anarquistas e comunistas no

Brasil, 1900-1935. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977. p. 113, 114 e 128.

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247

Capa do periódico libertário A Voz do Trabalhador ameaça com uma

invasão da Bahia pela Rússia dos Sovietes.

Fonte: A VOZ DO TRABALHADOR, Salvador, ano 1, n. 2, 9 out. 1920, p. 1

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248

e Annibal Lopes Pinho foram os delegados eleitos e enviados

pela Federação dos Trabalhadores Baianos para representar

os seus 14 sindicatos filiados naquela ocasião.56

O Partido Socialista Baiano (1920)

Essa nova orientação ideológica estava em contradição com a

influência cada vez maior dos socialistas sobre a FTB. De fato,

em agosto de 1920, um mês antes da cisão libertária, essa

influência reformista se traduziu na fundação do Partido So-

cialista Baiano. Possuindo significativo vínculo com a classe

operária, sua Comissão Operária Organizadora era composta

por 4 marceneiros, 1 metalúrgico, 1 pedreiro, 2 estucadores, 1

eletricista, 1 sapateiro e 1 entalhador. Entre os seus membros

estava o português Annibal Lopes Pinho, o mesmo que havia

sido eleito para representar, juntamente com Gaudêncio José

dos Santos, a Federação dos Trabalhadores Baianos e seus 14

sindicatos filiados no Terceiro Congresso Operário Brasilei-

ro, no Rio de Janeiro, em abril de 1920. A sede do Partido

Socialista Baiano foi instalada no Sindicato dos Marceneiros

e em seu programa político, relativamente avançado para a

56 Germinal, Salvador, ano I, n. 3, 1º maio 1920, p. 4. Eram os seguintes os

sindicatos representados pelos dois delegados da Federação dos TrabalhadoresBaianos no Terceiro Congresso Operário Brasileiro: Sociedade União dos

Metalúrgicos da Bahia; Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes;

Sociedade União Defensora dos Sapateiros; Sindicato dos Produtores de Mar-

cenaria; Sociedade União dos Operários de Padaria; Liga Operária dos Alfaiates

da Bahia; Sociedade União dos Marmoristas; União Gráfica Baiana; Sociedade

União dos Foguistas Terrestres da Bahia; Sociedade Defensora dos Eletricistas;

Sociedade União Defensora dos Operários de Ferrovia; União dos Empregados

de Bonde, Força e Luz da Bahia; Sociedade Resistência Protetora dos Operários

de São Félix e Cachoeira; União Defesa Operária de Muritiba, além do periódi-

co socialista Germinal, editado por Agripino Nazareth.

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249

época, constava: socialização do comércio, das grandes in-

dústrias e de todos os meios de transporte; fixação do salário

mínimo; equiparação dos operários municipais, estaduais e

federais aos funcionários públicos;57 abolição de todos os

impostos indiretos e transformação dos diretos num imposto

progressivo sobre qualquer renda superior a seis contos de

réis anuais; voto da mulher e do soldado; reforma das leis de

inquilinato e despejo. Além disso, moções de simpatia pelos

trabalhadores de todos os países e de protesto contra o go-

verno da França e sua postura hostil em relação à Rússia re-

volucionária foram aprovadas. Naquela primeira sessão foi

deliberado, também, o lançamento das candidaturas de Mau-

rício de Lacerda e Agripino Nazareth, que concorreram, res-

pectivamente, ao Senado e à Câmara Federal pela Bahia. Na

segunda sessão, feita no dia seguinte, Agripino Nazareth pro-

feriu uma palestra sobre a questão social e os partidos socia-

listas. Após a conferência, a Sociedade União dos Carrega-

dores das Docas hipotecou seu apoio e solidariedade ao PSB

e a seus candidatos. Finalizando a reunião, foi eleita a Co-

missão Administrativa Provisória do partido, que ficou cons-

tituída por 1 marceneiro, 1 gráfico, 1 metalúrgico, 1 alfaiate, 1

sapateiro, 1 pedreiro e 1 tecelão.58 A inserção do Partido So-

57 Regra geral, os operários diaristas e jornaleiros do Estado (fossem municipais,

estaduais ou federais) reivindicavam, sob a influência dos grupos e partidos

socialistas, a sua incorporação ou equiparação aos quadros estáveis do funci-

onalismo público visando obter as vantagens relacionadas ao montepio, forma

genérica como eram chamadas as caixas de pensões e aposentadorias, precur-

soras do sistema de previdência social pública.

58 A Tarde, Salvador, 24 e 27 ago. 1920, p. 3. A Comissão Operária Organiza-dora do PSB foi formada por Adriano Marques (metalúrgico), Guilherme

Nery (pedreiro), Angelo Barbosa (estucador), José Camerino dos Santos (mar-

ceneiro), Domingos Ferreira (eletricista), Estevam Nery (marceneiro), Firmo

de Novaes (estucador), Ildefonso Soares (sapateiro), Cassiano José de Araújo

(entalhador), José de Almeida (marceneiro) e Annibal Lopes Pinho (marcenei-

ro). Já a Comissão Administrativa Provisória do PSB foi assim constituída:

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250

cialista Baiano nos meios operários pode ser percebida tam-

bém pela penetração e o prestígio que seus membros desfru-

tavam nos sindicatos mais combativos da época, a exemplo

de José dos Santos Gomes, Guilherme Francisco Nery e José

Domiense da Silva, fundadores e militantes ativos do Sindi-

cato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes desde 1919.

Por outro lado, as clivagens entre os sindicatos socialistas vin-

culados a Agripino Nazareth e as organizações operárias do

porto se aprofundavam. Outrossim, as reivindicações do Par-

tido Socialista Baiano eram muito semelhantes às de outras

organizações congêneres criadas no decorrer de toda a Pri-

meira República, a exemplo dos partidos operários e socialis-

tas do Rio de Janeiro (1890, 1893, 1895 e 1909), São Paulo

(1890, 1896 e 1902), Rio Grande do Sul (1890, 1893 e 1897) e

da própria Bahia (1890), o que põe em evidência que, apesar

da dispersão orgânica, tais grupos socialistas mantinham con-

tatos e articulações entre si, trocando correspondências e ma-

terial de propaganda, a exemplo de jornais, revistas, estatu-

tos, históricos de associações e opúsculos, fossem estes de

autoria local ou traduções de socialistas e anarquistas estran-

geiros.59

Secretário-geral - José Domiense da Silva (marceneiro), 1º Secretário – Oscar

Mattos (gráfico), 2º Secretário – Adriano Ribeiro de Moura (metalúrgico), 3º

Secretário – Salustiano dos Santos (alfaiate), 4º Secretário – João Pedreira

dos Santos (sapateiro), 1º Tesoureiro – José dos Santos Gomes (pedreiro), 2º

Tesoureiro – Eleutério Bispo Ferreira de Souza (tecelão).

59 Os programas e manifestos dos referidos partidos operários e socialistas po-

dem ser consultados nas coletâneas de fontes de CARONE, Edgard. Movi-

mento operário no Brasil (1877-1944). São Paulo/Rio de Janeiro: Difel, 1979.

p. 296-333 e PETERSEN, Silvia Regina Ferraz; LUCAS, Maria Elizabeth.

Antologia do movimento operário gaúcho (1870-1937). Porto Alegre: Editora

da UFRGS/Tchê!, 1992. p. 81-95.

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251

A nova imprensa operária (1920 - 1922)

A delimitação político-ideológica posterior à greve geral tam-

bém fica clara pela análise da imprensa operária surgida em

1920. O Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Clas-

ses se destacou por ter publicado dois jornais nesse período.

Ambas as publicações refletiram as posições políticas e ideoló-

gicas daquela organização em dois momentos muito próximos.

A primeira foi Germinal, editada pelo advogado socialista

Agripino Nazareth, com existência efêmera e tiragem de ape-

nas três números, em 19 de março, 3 de abril e 1º de maio de

1920, período em que seu editor trabalhava como advogado do

sindicato. As colunas desse jornal estão cheias de alusões às

vitórias que a classe operária conseguiu após a fundação do

Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes e à greve

geral, que teve naquela entidade sua vanguarda. O proletaria-

do baiano aparecia imbuído de uma nova mentalidade e cons-

ciência, disposto a lutar pela fundação de novos sindicatos e

contra os patrões. Além disso, o jornal recebia colaborações de

militantes de outros estados, a exemplo de Adolpho Porto e

Astrojildo Pereira, que davam informações sobre a situação do

movimento operário em outras regiões do país. Por fim,

Germinal procurava dar conta de analisar as lutas da classe

operária baiana naquele momento. Ainda no ano de 1920,

Agripino Nazareth teria colaborado também com o jornal Voz

do Povo, editado pela Federação dos Trabalhadores do Rio de

Janeiro, juntamente com Maurício de Lacerda, José Oiticica,

Fábio Luz, Astrojildo Pereira, Domingos Ribeiro Filho, o escri-

tor Lima Barreto, Teodoro Magalhães e outros. O jornal era

anunciado em Germinal e vendido nas sedes do Sindicato dos

Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, da União Geral dos

Tecelões da Bahia e do Sindicato dos Produtores de Marcena-

ria, entidades ligadas aos socialistas baianos à época.60

60 Germinal, Salvador, ano I, n. 3, 1 maio 1920, p. 3.

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252

O segundo periódico baiano dessa conjuntura, publica-

do pelo Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Clas-

ses, foi A Voz do Trabalhador, não por um acaso homônimo

ao da Confederação Operária Brasileira, correspondendo à

mudança da coloração político-ideológica da principal orga-

nização sindical baiana.61 De maior longevidade, seu primei-

ro número saiu em 22 de outubro de 1920 e o último de que

temos conhecimento, em 14 de outubro de 1922. De fato, a

substituição de um jornal pelo outro não foi apenas no nome

e no tempo, tampouco se deveu aos tradicionais problemas

financeiros que inviabilizaram tantos outros órgãos operários

da época. O que estava por trás da questão era a cisão políti-

co-ideológica libertária. Esse fato se refletia diretamente no

caráter de suas matérias, que, além de trazerem notícias acerca

do movimento real da classe operária – suas greves, vitórias,

derrotas, fracassos, movimento associativo –, eram profun-

damente doutrinárias, de combate ao alcoolismo, ao carna-

val, ao futebol, à religião, à tática eleitoral e parlamentar, ao

Estado e suas autoridades e ao militarismo. Em contraparti-

da, afirmava-se o internacionalismo operário como valor su-

premo e a estratégia da greve geral insurrecional como meio

de a classe operária realizar a revolução social pondo fim à

exploração capitalista, a defesa do ofício e o fortalecimento

dos laços de identidade de classe, colocados em oposição aos

interesses dos mestres e dos contramestres. Ao mesmo tem-

po, havia a afirmação do “casamento comunista”, baseado

nos “ditames do coração e do amor livre”, e reivindicava-se a

existência de uma tradição de luta da população negra baiana

que deveria ser herdada pela classe operária local. O grupo se

julgava mesmo imbuído de uma missão civilizadora e peda-

gógica, que tinha por finalidade construir um homem novo,

61 Todos os números de Germinal e A Voz do Trabalhador encontram-se no

Arquivo Edgard Leuenroth, na Universidade Estadual de Campinas.

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253

inclusive por meio da escola (Grupo Escolar Carlos Dias)

mantida pelo jornal e o sindicato, onde, naturalmente, ensi-

navam-se não apenas as primeiras letras, mas também a uto-

pia do novo mundo. A profusão de influências e referências

distintas e, muitas vezes, opostas entre si ia desde pensado-

res do mundo antigo clássico, a exemplo de Platão, Sócrates

e Aristóteles, passava pelos socialistas utópicos e anarquis-

tas, como Sant Simon, Babeuf, Owen, Fourier, Bakunin,

Proudhon e Kropotkin, passeava nos filósofos e economistas

iluministas e liberais, como J. J. Rousseau, Mirabeau, Turgot,

Necker, até chegar nas teorias cientificistas que se debruça-

vam sobre o estudo da natureza (Darwin), da sociedade

(positivismo de Comte e o darwinismo social de Spencer) e

do direito (antropologia criminal de Lombroso). Longe de

corresponderem a um “exotismo brasileiro”, um conjunto de

“idéias fora do lugar” ou um “porre ideológico”, a literatura

sobre o assunto tem demonstrado que tais misturas e cruza-

mentos já estavam presentes não apenas no ideário dos mili-

tantes de outras cidades e estados do Brasil, como nas pró-

prias matrizes européias do anarquismo e/ou do socialismo

da II Internacional. Daí não faltarem citações nem mesmo de

Marx no jornal dos partidários da ação direta na Bahia.62

62 Sobre a difusão das idéias cientificistas nos meios operários brasileiros, ver:

BATALHA, Claudio H. M. A difusão do marxismo e os socialistas brasileiros

na virada do século XIX. In: MORAES, João Quartim (Org). História do

marxismo no Brasil Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1995. (v. II - Os Influ-

xos Teóricos). p. 11-44; PANSARDI, Marcos Vinícius. O socialismo dos mo-

dernos e o socialismo dos antigos. A incorporação do vocabulário ideológico da

II Internacional pelo movimento socialista. História Social, Campinas, SP, n. 1,

p. 65-94, 1994; e SCHMIDT, Benito Bisso. O deus do progresso: a difusão do

cientificismo no movimento operário gaúcho da I República. Revista Brasileira

de História, ANPUH, São Paulo, v. 21, n. 41, p. 113-126, 2001 e SCHMIDT,

Benito Bisso. Ser socialista em Rio Grande na virada do século XIX: ciência/

religião e reforma/revolução no pensamento de Antônio Guedes Coutinho.

Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 22, n. 2, p. 53-70, dez.

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254

Dessa forma, fica difícil classificar de modo muito rígi-

do a corrente à qual o grupo baiano do jornal A Voz do Tra-

balhador se vinculava. Entretanto, é possível identificar a in-

fluência mais marcante a partir do artifício da comparação do

grupo soteropolitano com os de outras cidades e estados.

Nesse sentido, são bastante ilustrativos os estudos que reve-

lam a existência de dois grupos libertários distintos em São

Paulo, nas duas primeiras décadas do século XX. O primeiro

é o dos anarco-comunistas, influenciados pelas idéias de

Kropotkin, Réclus, Jean Grave e Malatesta e agrupados inici-

almente em torno do jornal Il Risveglio, editado em 1898 por

Luigi Damiani, e, depois, no jornal La Bataglia, fundado em

junho de 1904 pelo anarquista toscano Oreste Ristori, acom-

panhado dos militantes Luigi Damiani, Alessandro Cerchiai,

Angelo Bandoni, Florentino de Carvalho e outros. Na mes-

ma perspectiva, existiam também outros dois jornais, La

Barricata e Guerra Sociale. Nos três casos, havia um ataque

radical à participação anarquista nos sindicatos, considerada

reformista e não-revolucionária.63 O outro grupo, apesar de

também se referir ao anarco-comunismo enquanto sua ma-

triz ideológica, diferia-se das demais publicações em função

de seus militantes adotarem uma postura de abertura e até

de engajamento nos sindicatos operários e mesmo de adoção

1996. O processo de expansão e empobrecimento, ampliação e sistematização

do marxismo, sua vulgarização e combinação com idéias mecanicistas,

evolucionistas, positivistas e cientificistas de modo geral, particularmente na

época da Segunda Internacional, foi analisado por ANDREUCCI, Franco. A

difusão e a vulgarização do marxismo. In: HOBSBAWM, Eric J. (Org.). Histó-

ria do marxismo, 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989 (v. 2 – O marxismo

na época da Segunda Internacional. Primeira parte). p. 15-73.63 BIONDI, Luigi. Anarquistas italianos em São Paulo: O grupo do jornal anar-

quista La Bataglia e sua visão da sociedade brasileira: o embate entre imaginá-

rios libertários e etnocêntricos. Cadernos AEL, Campinas, v. 8/9, p. 117-147,

1998.

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255

da estratégia da greve geral insurrecional. No início do sécu-

lo, o jornal que representava bem esta corrente era O Amigo

do Povo, publicado a partir de abril de 1902 e tendo em Edgard

Leuenroth, Neno Vasco, Benjamim Mota, José Sarmento

Marques e Giulio Sorelli alguns dos seus mais importantes e

combativos militantes.64 Edgard Leuenroth terá papel de

maior destaque ainda, inclusive fundando, em junho de 1917,

outro jornal anarquista, A Plebe, e sendo um dos principais

líderes da greve geral de julho daquele ano em São Paulo. Do

que foi dito, pois, vê-se claramente que os libertários baianos

estavam mais próximos da concepção que via no sindicato

operário um instrumento central na defesa dos interesses da

classe operária e no processo de transformação social que poria

fim à exploração e à opressão do capitalismo e instituiria a

nova sociedade, livre, sem patrões e sem Estado ou qualquer

forma de autoridade. O próprio sindicato seria o embrião desta

nova sociedade.

Conflitos e cisões sindicais

Porém, a maior politização e a maior delimitação ideológica

no interior do movimento operário baiano não se expressa-

vam apenas na fundação de sindicatos em categorias até en-

tão desorganizadas, na luta contra o racismo ou nas clivagens

entre o mutualismo, as variadas formas de sindicalismo soci-

alista, reformista e revolucionário. Não só a solidariedade

cresceu entre os trabalhadores baianos. Algumas rivalidades

começaram a ganhar corpo ainda no ano de 1919 e se agrava-

ram ao longo de 1920 e princípios de 1921. Elas se expressa-

64 TOLEDO, Edilene Teresinha. Em torno do jornal O Amigo do Povo: os

grupos de afinidade e a propaganda anarquista em São Paulo nos primeiros

anos deste século. Cadernos AEL, Campinas, v. 8/9, p. 89-113, 1998.

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256

vam no âmbito político, caso da cisão entre sindicalistas re-

volucionários e reformistas no interior da Federação dos Tra-

balhadores Baianos, por ocasião da fundação do Partido So-

cialista Baiano, e também em algumas categorias profissio-

nais organizadas do ponto de vista sindical. Exemplo disso

pode ser visto entre os foguistas. Conforme já vimos, a Soci-

edade União dos Foguistas fora fundada no Rio de Janeiro

em 26 de setembro de 1903, sendo lá sediada sua matriz.65 A

iniciativa de fundar uma sucursal desse sindicato em Salvador

só se materializou no dia 12 de junho de 1910, sendo funda-

mental a intervenção do operário Júlio Marcellino de Carva-

lho, enviado pela matriz carioca na condição de delegado espe-

cialmente designado para auxiliar e dirigir o processo de cons-

trução da filial baiana.66 Entretanto, no dia 13 de agosto de

1919, uma nova entidade dessa categoria fora fundada e, ape-

sar de chamar-se Sociedade União dos Foguistas Terrestres, pres-

tava-se, segundo seu estatuto, a congregar os foguistas e car-

voeiros terrestres e marítimos, o que é um forte indício de que

não se tratava de um simples desmembramento dos ofícios de

terra dos de mar, mas uma disputa pelos sócios da antiga orga-

nização, que continuava atuante. Além disso, frise-se que o

sindicato mais novo não se prestava mais a ser uma mera su-

cursal subordinada à matriz carioca, constituindo-se numa so-

ciedade com sede e base territorial baiana, apesar de um dos

seus organizadores, o operário João Baptista do Espírito San-

to, ser o antigo delegado da sucursal soteropolitana do sindica-

to carioca em 1919.67 Além disso, é preciso lembrar que esta

65 ESTATUTOS da Sociedade União dos Foguistas. Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 22 maio 1919.

66 Diário de Notícias, Salvador, 25 maio 1910, p. 5; 4 jun. 1919, p. 1; 13 jun.

1910, p. 5.67 ESTATUTOS da Sociedade União dos Foguistas Terrestres da Bahia. Diário

Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28 fev. 1920.

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257

entidade era uma das filiadas à Federação dos Trabalhadores

Baianos, hegemonizada pelos socialistas ligados a Agripino

Nazareth, uma clivagem político-sindical, como já vimos, se-

parada da clivagem das organizações do porto.

Com os carregadores a situação era mais grave. Já em

1920, eles estavam fracionados em três sindicatos distintos e

em situação de concorrência e rivalidade mútua. Além da

Sociedade Civil União Geral dos Carregadores da Bahia, fun-

dada em 22 de abril de 1912,68 outras duas entidades haviam

sido criadas, já indicando em seus nomes as referidas dife-

renças. Eram elas o Sindicato dos Carregadores da Bahia, de

30 de maio de 1920,69 e a Sociedade União de Resistência

dos Trabalhadores das Docas da Bahia.70 Esta última, inclu-

sive, vinculava-se, como vimos, ao Partido Socialista de

Agripino Nazareth.

A própria Sociedade União dos Operários Estivadores,

responsável pelo trabalho de organização e/ou congregação

de outros sindicatos do porto, mergulhou numa profunda cri-

se em fevereiro de 1921. É que o antigo delegado da sucursal

deste sindicato na Bahia, Alípio Marciano dos Santos, fora

deslocado de sua função por decisão da diretoria da matriz

carioca, que imediatamente indicara outro para o seu posto.

Insatisfeito, Alípio Marciano dos Santos, que também acu-

mulava a função de presidente da Sociedade União dos Car-

regadores, tentou produzir uma cisão que levasse à fundação

de um sindicato de estivadores independente do Rio de Ja-

neiro, tal qual acontecia com os carregadores. As duas enti-

68 ESTATUTOS da Sociedade Civil União Geral dos Carregadores da Bahia.

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 12 set. 1920

69 ESTATUTOS do Sindicato dos Carregadores da Bahia. Diário Oficial do

Estado da Bahia, Salvador, 5 ago. 1920.70 ESTATUTOS da Sociedade União de Resistência dos Trabalhadores das

Docas da Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 6 nov. 1920.

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258

dades eram sediadas no mesmo prédio, o que de certa forma

facilitou o acirramento dos ânimos que levaria ao conflito

aberto entre os facciosos. Um articulista do Diário de Notícias

observou que a intervenção rápida do novo delegado conven-

ceu os estivadores a não aderirem ao projeto de fundação da

“Sociedade Civil União dos Estivadores da Bahia”, proposto

por Alípio Marciano dos Santos. Porém, o que o grupo fiel à

matriz carioca e seu delegado não conseguiram foi “acabar

com as rixas, as intrigas, os boatos e declarações inverossí-

meis que permaneciam e tomavam grande incremento no seio

da classe. Cada dia surgia uma novidade, uma intriga”. Na

madrugada de 26 de fevereiro de 1921, as divergências atingi-

ram o seu ápice, desembocando num conflito aberto com “forte

tiroteio entre carregadores e estivadores”. A rua do Pilar, na

Cidade Baixa, “ficou transformada numa praça de guerra, onde

só se viam correrias e se escutavam detonações de armas de

vários calibres”. No centro do conflito, dois nomes se desta-

caram na liderança das facções favoráveis e contrárias à cisão

do sindicato dos estivadores: Firmino Guilherme da Silva e

Liberato Ferreira da Silva. Tendo chegado após muitos tiros e

cacetadas, a polícia prestou-se tão-somente para convocar a

Assistência Pública, que conduziu quatro feridos para o hos-

pital.71 Seja como for, Alípio Marciano dos Santos parece ter

sido derrotado em seus intentos de cortar os vínculos da su-

cursal baiana da União dos Estivadores com a matriz carioca,

sendo mesmo desligado deste sindicato por sua conduta.

Os padeiros, que, como vimos, haviam fundado um sin-

dicato de resistência – a Sociedade União dos Operários de

Padaria – em 6 de abril de 1919, também tiveram os seus pro-

71 Diário de Notícias, Salvador, 26 fev. 1921, p. 1. A mesma fonte informa mais

detalhes sobre os feridos no conflito. Eram eles: Francisco Guilherme da

Silva, preto, 32 anos; Liberato Ferreira da Silva, preto, 41 anos, solteiro;

Manoel Pedro de Alcântara, 27 anos, solteiro; João Lopes, pardo.

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259

blemas. Possuindo 700 filiados, sua organização sindical teve

que enfrentar uma dissidência consubstanciada na fundação,

em 16 de agosto de 1920, do Sindicato dos Padeiros e Paste-

leiros. Em carta aberta à classe operária baiana, os dissiden-

tes (98, segundo informavam seus líderes) alegavam terem

se desligado da antiga sociedade em função das “bandalheiras

praticadas pelo seu delegado”, Constancio Pereira Victorio, e

por seus companheiros de diretoria, que “por vários meios

fraudulentos desviaram o dinheiro da sociedade”. Em 19 me-

ses de funcionamento, continuavam os denunciantes, a dire-

toria da antiga organização dos padeiros arrecadou, regular-

mente, as jóias de 20$000 e as mensalidades de 5$500 dos

seus 700 sócios e não apresentou nenhum balancete ou es-

clarecimento sobre o uso dos recursos.72 Os denunciados res-

ponderam que as acusações não passavam de “petulantes

aleives e torpes calúnias” de João Bruno de Souza, “cabecilha”

de um “ajuntamento ilícito de cinco ou sete elementos noci-

vos expulsos da nossa sociedade, a bem da ordem e da mora-

lidade”. Lembravam que a Assembléia Geral do sindicato havia

aprovado todas as contas e que seus detratores seriam cha-

mados à “barra dos tribunais, a fim de merecerem a punição

que as leis impõem aos que atentam contra a honra dos ho-

mens de bem”.73

As greves de 1921

e a crise do movimento operário

As dissensões no interior do movimento operário e o início

de seu declínio ocorreram num momento em que se proces-

sava também uma reaproximação do governador J. J. Seabra

72 A Tarde, Salvador, 17 ago. 1920, p. 3.

73 A Tarde, Salvador, 20 ago. 1920, p. 3.

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260

com as classes dominantes de Salvador. Começou a ocorrer

mesmo uma reconciliação do PRD com os industriais e com o

grande comércio. Já em abril de 1920, Agripino Nazareth ques-

tionava a razão de Seabra, numa entrevista à imprensa local,

ter feito muitas promessas e falado de muitos pontos de seu

novo programa de governo, mas ter deixado omisso o tema

da questão social.74

A mudança no jogo oligárquico e em seu espectro de

alianças continuou influenciando o movimento operário. A

guinada seabrista em relação ao tratamento dispensado à clas-

se operária ficou bastante evidente por ocasião da greve dos

carregadores das docas e dos operários de uma das fábricas

têxteis da Companhia Progresso Industrial da Bahia, no final

de janeiro de 1921, quando várias lideranças operárias foram

presas e Agripino Nazareth finalmente foi deportado. Apa-

rentemente, os dois movimentos haviam começado de modo

isolado. Os carregadores entraram em greve no dia 26 de ja-

neiro, quando a superintendência da Companhia das Docas

negou-se a remunerar os fiscais criados pela Sociedade dos

Carregadores. A empresa alegava que não poderia pagar os

salários de operários que não trabalhavam e que para o servi-

ço de fiscalização ela já dispunha dos seus próprios prepostos.

Paralelamente, rebentou uma greve também entre os operá-

rios têxteis da Fábrica Paraguaçu, pertencente à Companhia

Progresso Industrial da Bahia. É que no dia 24 de janeiro,

segunda-feira, os trabalhadores daquela unidade e os da Fá-

brica São João haviam faltado ao trabalho para ir à festa do

Bonfim. Segundo os diretores da empresa, até aí a situação

teria sido tolerável, havendo indícios de que a chamada Se-

gunda-Feira Gorda da Ribeira era aberta ou tacitamente acei-

ta. O Diário de Notícias chegou a assinalar que “as festas de

74 Germinal, Salvador, ano I, n. 2, 3 abr. 1920, p. 1.

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261

nosso Senhor do Bonfim apaixonam toda a cidade” e que,

“tradicionalmente, o povo prolonga-as das nove noites de

orações e cânticos no templo, das cerimônias do culto no

domingo pela segunda-feira afora, avançando pela terça e pela

quarta”. Além disso, “como a alegria é geral, os operários da

Fábrica de Tecidos Paraguaçu resolveram feriar também a se-

gunda das farras na Ribeira e adjacências e deixaram os tea-

res em silêncio”. Porém, o lado profano da festa parece ter se

sobreposto de modo extraordinário ao aspecto sagrado e no

dia seguinte, terça-feira, os operários faltaram outra vez às

suas fainas no turno da manhã, só comparecendo a partir do

meio-dia. Irritados, os industriais, que tinham “urgência de

produção para satisfazer a grandes encomendas”, aplicaram

multas sobre todos os trabalhadores das duas unidades de

produção. Os descontos foram de mil réis para as mulheres e

de dois mil réis para os homens. Os operários da Fábrica São

João apelaram para seus patrões e conseguiram o cancela-

mento da punição, mas na Fábrica Paraguaçu os trabalhado-

res preferiram o caminho da greve. Em grupo, e crédulos da

justeza de sua causa, rumaram para a Boa Viagem, em busca

de apoio e adesão dos companheiros que trabalhavam na fá-

brica da Companhia Empório Industrial do Norte, no que

não foram bem-sucedidos. Além disso, piquetes de cavalaria

e infantaria de polícia foram postados junto às fábricas, “evi-

tando qualquer excesso”.75

As notícias da greve dos têxteis desapareceram dos jor-

nais, não deixando pistas sobre os desdobramentos desse

movimento, e, no dia 27 de janeiro de 1921, sob o argumento

de que várias bombas de dinamite haviam sido descobertas

espalhadas pela cidade e que tentativas de incendiar bondes

75 Diário de Notícias, Salvador, 26 jan. 1921, p. 3; 27 jan. 1921, p. 1.

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foram frustradas, a polícia desencadeou uma onda de repres-

são contra o movimento operário. O líder socialista Agripino

Nazareth foi preso, sob acusação de desacato à autoridade

do delegado Pedro Gordilho, que o encaminhou à Casa de

Correção, uma antiga fortaleza edificada no Largo de Santo

Antonio, onde ficou em regime de incomunicabilidade. O

secretário-geral da Federação dos Trabalhadores Baianos, José

Domiense da Silva, tentou uma audiência com o governador

para tentar convencê-lo a mandar soltar Agripino Nazareth,

mas Seabra mandou prendê-lo também. Um seguimento da

imprensa ainda chegou a se pronunciar por uma solução de

conciliação e apaziguamento dos conflitos. O editor do Diá-

rio de Notícias, o também advogado Antonio Marques Silva,

chegou mesmo a dizer que a prisão de Agripino Nazareth e seu

encaminhamento para a Casa de Correção já teriam sido sufi-

cientes para desagravar a suposta ofensa contra o delegado

Pedro Gordilho. “Por que persistir em manter preso o advoga-

do proletário?”, questionou o jornalista, que ponderou: “A

polícia, neste ponto, a bem da ordem da cidade, precisa con-

temporizar um pouco. Por que manter na prisão o sr. Nazareth,

que andando acertado ou não, é advogado de uma classe gran-

de e respeitável?” Percebendo que o governo preparava para o

advogado socialista o degredo e preocupado com os desdobra-

mentos imprevisíveis de uma eventual reação da classe operá-

ria e da liderança socialista, o articulista avisou: “Bem ou mal,

o sr. Nazareth dispõe de não pequeno número de amigos deci-

didos e intransigentes. O meio operário da Bahia, não há dúvi-

da alguma, estima o sr. Nazareth e poderá tomar atitudes agres-

sivas e lamentáveis se a polícia persistir em conservar preso o

advogado, incomunicável e, o que é muito mais grave, mandá-

lo para lugar ignorado”. O articulista foi mais longe e disse que

a expulsão de Agripino Nazareth seria interpretada pela classe

operária baiana como a morte de todos os “grandes ideais pro-

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263

letários” no estado, o que a levaria a entrar em cena, numa

ação quase que defensiva. De fato, uma comissão de operários

do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes che-

gou a visitar a redação do Diário de Notícias para avisar que

uma greve geral teria sido decretada nas obras da construção

civil exigindo a libertação do líder socialista, embora não te-

nhamos conseguido mais informações sobre tal movimento.76

Ao mesmo tempo, a luta entre o sindicato dos carrega-

dores e a Companhia das Docas teve continuidade, momento

em que esta última começou a anunciar que contrataria fura-

greves para substituir os operários que haviam aderido ao mo-

vimento.77 No dia 28 de janeiro de 1921, de modo clandesti-

no e em perfeita sintonia com o momento de refluxo do mo-

vimento operário e ampliação da escalada repressiva

implementada pelo Estado em nível nacional, Agripino

Nazareth foi deportado pela polícia baiana. Embarcado no

Paquete Manaus pela polícia do porto, deveria seguir para o

desterro no Amazonas ou Mato Grosso, tendo sido avisadas

as autoridades policiais de vários estados para não permitir o

seu desembarque em qualquer outro porto. Ao mesmo tempo,

tirando proveito do fato de que os carregadores constituíam

um ofício muito pouco qualificado, que dispensava longos

períodos de aprendizagem, e usando os carregadores dos tra-

piches como fura-greves, os patrões conseguiram enfraque-

cer e derrotar os carregadores das docas, levando o movimen-

to ao fracasso.78 É possível que esse conflito se relacione com

76 Diário de Notícias, Salvador, 28 jan. 1921, p. 1.

77 ___. Salvador, 28 jan. 1921, p. 2.78 ___. Salvador, 29 jan. 1921, p. 1. Como observou Maria Cecília Velasco e

Cruz, “na maioria dos portos do mundo foi grande a dificuldade de organiza-

ção dos operários envolvidos com o transporte manual de carga no cais e nos

armazéns, e a literatura acadêmica internacional em geral indica como ra-

zões deste fato a pouca qualificação e a facilidade de substituição da força de

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a existência, desde 1920, de três organizações distintas dos

carregadores, o que contribuía, como já dissemos, para a di-

visão e um maior enfraquecimento daquela fração da classe

operária baiana. O fato é que, no dia 29 de janeiro, a Supe-

rintendência das Docas comunicou que na manhã do dia se-

guinte, domingo, estaria realizando o pagamento dos salários

a que faziam jus os operários grevistas, ou seja, confirmava a

demissão em massa daqueles trabalhadores.79

De todo modo, por razões ou expedientes não

explicitados pelas fontes consultadas, a rota de Agripino

Nazareth foi alterada e ele desembarcou no Rio de Janeiro.

De lá, denunciou que os recursos do Estado da Bahia esta-

vam sendo “tragados pelos negociantes insaciáveis e pelos

jornalistas venais” e que Seabra se humilhou aos pés dos in-

dustriais têxteis para conseguir dinheiro emprestado e depois

entregou a Companhia de Navegação Baiana aos “monopoli-

zadores do açúcar e da carne seca”. Finalizava dizendo que

voltaria à Bahia para pleitear sua eleição à cadeira de deputa-

do federal pelo Partido Socialista Baiano.80 Em princípios de

fevereiro de 1921, o jornal baiano A Voz do Trabalhador che-

gou a anunciar que Agripino Nazareth teria notificado que

requereria uma ordem de habeas corpus ao Supremo Tribu-

nal Federal, mas não conseguimos apurar o resultado de tal

empreitada.81

trabalho”. Ver: VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Tradições negras na

formação de um sindicato: Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em

Trapiche e Café. Rio de Janeiro, 1905-1930. Afro-Ásia, Ceao-UFBA, Salva-

dor, n. 24, p. 243-290, 2000. Ver também: HOBSBAWM, Eric J. Sindicatos

nacionais portuários. In: _____. Os trabalhadores: estudos sobre a história do

operariado. Tradução de Marina Leão Teixeira Viriato de Medeiros. Rio de

Janeiro: Paz e Terra, 1981. p. 209-235.79 Diário de Notícias, Salvador, 29 jan. 1921, p. 2.

80 _____. Salvador, 2 fev. 1921, p. 1

81 A Voz do Trabalhador, Salvador, ano I, n. 18, 5 fev. 1921, p. 8

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265

No Rio de Janeiro, o líder socialista enfrentaria fortes

embates com o PCB nos anos 1920 e trilharia seu caminho

até o governo de Getúlio Vargas. É que a partir de 1930, quan-

do foi iniciado o processo de organização do Ministério do

Trabalho, Indústria e Comércio, Lindolfo Collor, titular da

pasta, cercou-se de antigos líderes reformistas da classe ope-

rária, a exemplo dos advogados Agripino Nazareth, Evaristo

de Moraes e Joaquim Pimenta, do jornalista Carlos Cavaco e

do deputado federal Deodato Maia, convertendo-os em téc-

nicos e assessores diretos do referido órgão.82

Mais importante, porém, foi o esclarecimento dado pela

imprensa ruísta acerca da mudança de postura do PRD em

relação à classe operária no caso específico da greve portuária

de 1921: “o sr. Seabra, tomando conta do governo, mandou às

favas a política baixa e mesquinha do sr. Moniz e tratou de se

aproximar dos comerciantes e industriais”.83 Encerrava-se,

assim, uma fase heróica do movimento operário baiano. Dali

em diante, seria outra história...

Com base na narrativa feita ao longo destas páginas, e

em descobertas realizadas durante o processo de pesquisa, é

possível formular algumas considerações finais, apontando

três temas merecedores de investigações mais profundas, e

com eles terminamos este trabalho.

O primeiro tema diz respeito às relações entre a classe

operária e as elites políticas na Bahia. Os fatos que envolve-

ram a atuação de Antônio Ferrão Moniz de Aragão, J. J. Seabra,

o PRD e o movimento operário não são uma novidade por

82 Diário de Notícias, Salvador, 26, 27, 28 e 29 jan. 1921 e 2 fev. 1921; A Voz do

Trabalhador, Salvador, ano I, nº 18, 5 fev. 1921, p. 8. ARAÚJO, Rosa M. B. O

batismo do trabalho: a experiência de Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Civiliza-

ção Brasileira, 1981. p. 61-68; BRANDÃO, Octavio. Combates e batalhas:

memórias. São Paulo: Alfa-Omega, 1978. p. 319 e 324-327.

83 Diário de Notícias, Salvador, 2 fev. 1921, p. 1

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266

nós anunciada. Já se chegou mesmo a falar em um certo pré-

populismo para qualificar a ação destas facções políticas. Po-

rém, tais relações transcendem os períodos de governo do

PRD, ou mesmo a conjuntura de 1919. As sociedades

mutualistas existentes na Bahia, por exemplo, recebiam de

longa data subvenções dos poderes municipal, estadual e fe-

deral, e parecem ter se envolvido fortemente no jogo eleito-

ral local desde os primeiros anos da República. Até que pon-

to este fato explica dimensões importantes da política baiana

e esclarece aspectos relevantes do comportamento operário

é, contudo, algo que ainda está para ser analisado.

Um segundo importante tema de pesquisa está relacio-

nado com a necessidade de se romper com a perspectiva es-

tritamente regional e integrar os estudos sobre o sindicalis-

mo portuário e marítimo baiano numa dimensão mais nacio-

nal. Conforme Maria Cecília Velasco e Cruz apontou em seus

estudos sobre a classe operária no Rio de Janeiro, tanto os

marítimos quanto os estivadores cariocas criaram organiza-

ções que transcendiam em muito os limites do Distrito Fede-

ral, através de sucursais espalhadas em vários pontos do país.

Ao longo da pesquisa, confirmamos que quase todas as orga-

nizações desses setores em Salvador eram filiais de sindica-

tos com sede no Rio de Janeiro, devendo à liderança operária

carioca o seu processo de organização e levando uma vida em

estreita sintonia com ela. No porto de Salvador, o movimen-

to operário se entrelaça, portanto, com o do Rio de Janeiro

de uma forma e com uma intensidade que também nunca

foram seriamente examinadas. As várias organizações operá-

rias do complexo portuário – União dos Operários Estivado-

res, União dos Foguistas, União dos Carregadores, Associa-

ção dos Marinheiros e Remadores e outras – formavam uma

clivagem sindical claramente separada da que reunia as soci-

edades mutualistas, a exemplo do Centro Operário da Bahia

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267

e da Associação Tipográfica Baiana, e da que aglutinava os

sindicatos socialistas liderados por Agripino Nazareth, a

exemplo das organizações dos sapateiros, tecelões, cigarreiros

e charuteiros, marceneiros, marmoristas, pedreiros e carpin-

teiros e outros. Além disso, uma quarta clivagem surgiu em

1920, a partir de uma cisão sindicalista revolucionária no Sin-

dicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, que se

separou dos socialistas e da Federação dos Trabalhadores

Baianos naquele ano, formando um grupo ainda mais distan-

te do chamado sindicalismo reformista da zona portuária.

A greve têxtil de 1921, motivada pela cobrança de mul-

tas aos operários faltosos do trabalho em função do cansaço

provocado pela folia na festa do Bonfim, nos traz ao último

tema, cuja importância queremos ressaltar. Tradições e hábi-

tos culturais dos afro-descendentes explicam os motivos e as

dimensões simbólicas de inúmeros conflitos operários no Bra-

sil e na Bahia, em particular. Na história da classe operária,

entrelaçar “raça” e “classe” sem reducionismo, mecanicismo

ou preconceito é também um caminho que mal começamos a

trilhar.

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268

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269

Fontes e referências bibliográficas

Arquivos

Arquivo Edgard Leuenroth (AEL - Unicamp)

Arquivo Histórico de Salvador (AHS) / Fundação Gre-

gório de Matos

Arquivo Público do Estado da Bahia (Apeb)

Associação Baiana de Imprensa (ABI)

Associação Comercial da Bahia (ACB)

Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro (BN)

Biblioteca Pública do Estado da Bahia (BPEB)

Centro de Documentação e Informação Cultural sobre

a Bahia (Cedic) / Fundação Clemente Mariani

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHBA)

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270

Periódicos

Jornais da grande imprensa

A TARDE, Salvador-BA, 1913, 1914, 1915, 1917, 1918,

1919, 1920, 1921.

O TEMPO, Salvador-BA, maio/agosto de 1901; julho

de 1918/abril de 1920.

DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Salvador- BA, 1900, 1903,

1904, 1905, 1906, 1907, 1908, 1909, 1910, 1911, 1912, 1913,

1914, 1915, 1919, 1920, 1921.

O DEMOCRATA, Salvador-BA, 1919.

DIÁRIO DA BAHIA, Salvador-BA, maio de 1888; 1890,

1901, 1902, 1913, 1914, 1915, 1917, 1919, 1920.

JORNAL DE NOTÍCIAS, Salvador-BA,1890, 1891,

1892, 1893, 1894, 1895, 1897, 1898, 1901, 1902, 1903,

1904, 1906, 1907, 1908, 1909, 1910, 1911, 1912, 1913, 1914,

1915, 1919, 1920.

O IMPARCIAL, Salvador-BA, 1918, 1919.

GAZETA DO POVO, Salvador-BA, 1910, 1914.

A BAHIA, Salvador-BA, 1902, 1906.

A HORA, Salvador-BA, 1919.

CORREIO DA TARDE, Salvador-BA, 1902, 1903.

CORREIO DE NOTÍCIAS, Salvador-BA, 1900.

A UNIÃO, Salvador-BA, 7, 12 e 17 de setembro de 1922).

A ORDEM, Cachoeira-BA, 1919.

O CONSERVADOR, Nazaré-BA, janeiro de 1918 a de-

zembro de 1920.

DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA, Salva-

dor-BA, outubro de 1915 a junho de 1922; Edição Espe-

cial do Centenário, 2 de julho de 1923.

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271

Imprensa operária

A VOZ DO TRABALHADOR, Confederação Operá-

ria Brasileira, Rio de Janeiro-RJ, 1908, 1909, 1913, 1914,

1915.

A VOZ DO TRABALHADOR. Órgão da Confedera-

ção Operária Brasileira. Coleção fac-similar 1908-1915.

Prefácio de Paulo Sérgio Pinheiro. São Paulo: Imprensa

Oficial do Estado/Secretaria do Estado da Cultura/Cen-

tro de Memória Sindical, 1985.

O SOCIALISTA, Salvador, 1882 e 1890.

IMPRENSA SOCIAL, Federação Socialista Baiana,

Salvador, n. 03, 23 maio 1903 a n. 8, 1904.

GERMINAL, Agripino Nazareth, (Salvador, n. 1, 19 mar.

1920; n. 02, 03 abr. 1920; n.3, 01 maio 1920.

A VOZ DO TRABALHADOR, Sindicato dos Pedrei-

ros, Carpinteiros e Demais Classes e dos Trabalhado-

res em Geral, n. 1, 2 out. 1920; n. 2, 9 out. 1920; n. 18, 5

fev. 1921; n. 19, 12 fev. 1921; n. 20, 19 fev. 1921; n. 21, 26

fev. 1921; n. 22, 5 mar. 1921; n. 23, 12 mar. 1921; n. 24,

19 mar. 1921; n. 26, 1 maio 1921; n.?, 16 set 1922; n. 35

14 out. 1922.

A VOZ DO OPERÁRIO, Centro Operário da Bahia,

Salvador, n. 3, 19 set. 1891; n. 1, Especial, 2 jan. 1894;

n. Especial, 6 maio 1894; n. 18, 2 jan. 1896.

O TRABALHO, Manuel R. Querino, Salvador, 1894.

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272

Almanaques

ALMANAQUE Administrativo, Indicador, Noticioso,

Comercial e Literário do Estado da Bahia para o ano de

1896. Bahia: Reis e Cia., 1896.

ALMANAQUE Administrativo, Indicador, Noticioso,

Comercial e Literário do Estado da Bahia para o ano de

1899. Organizado por Antônio Alexandre Borges dos

Reis. Bahia: Wilcke, Picard e Cia., 1899.

ALMANAQUE Administrativo, Indicador, Noticioso,

Comercial e Literário do Estado da Bahia para o ano de

1903. Bahia: Reis e Cia., 1903.

ANUÁRIO Administrativo, Agrícola, Profissional, Mer-

cantil e Industrial da República dos Estados Unidos do

Brasil para 1913 (Almanaque Laemmert). Rio de Janei-

ro: Oficinas Tipográficas do Almanaque Laemmert, 1913.

ALMANAQUE Indicador, Comercial e Administrativo

do Estado da Bahia. v. 10 (1919-1920). Salvador: Reis e

Cia., 1919.

Poder Legislativo

Municipal

Atas das Sessões do Conselho Municipal de Salvador

Legislaturas de 1890-1891; 1892-1895; 1896-1899; 1900-

1903; 1904-1907; 1908-1911; 1912-1915; 1916-1919; 1920-

1923; 1924-1927; 1928-1930.

Estadual

Documentos da Câmara dos Deputados do Estado da Bahia

Projetos de Leis e Resoluções, livros 173 (1913-1919),

174 (1917-1923); Projetos, livro 928 (1900-1921); Atas

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273

das Sessões, livros 320 (1919), 321 (1920), 322 (1921) e

323 (1922); Representações, livro 949 (1892-1928); Re-

querimentos, livro 956 (1900-1930); Correspondências

Recebidas e Expedidas, livro 964 (1837-1937); Correspon-

dências Recebidas, livro 450 (1901-1905); Ofícios Recebi-

dos e Expedidos, livros 1186 (1891-1892), 1187 (1891-1894),

1188 (1893-1895), 1189 (1895-1896), 1190 (1896-1899), 1191

(1897-1899), 1192 (1900), 1193 (1900-1902), 1194 (1902-

1904), 1195 (1903-1909), 1196 (1905-1908), 1197 (1912-

1913), 1198 (1914-1915), 1199 (1916-1917), 1200 (1919-1920);

Ofícios Recebidos e Petições, livros 455 (1891), 456 (1891),

457 (1891-1901); Abaixo-Assinados, livro 992 (1901-1935);

Petições, livro 1075 (1857-1919); Relatórios, livro 195 (1919-

1925); Registros Diversos, livro 527, 528 e 531.

Documentos do Senado do Estado da Bahia

Originais de Leis, livro 59 (1919); Atas de Sessões, livros

365 (1919), 366 (1920), 367 (1920), 368 (1921) e 369

(1922); Abaixo-Assinados, livro 990 (1896-1930); Re-

presentações e Requerimentos, livro 954 (1891-1930);

Correspondências Recebidas, livro 967 (1917-1927); Pe-

tições, livro 1078 (1912-1931); Ofícios Recebidos e Expe-

didos, livro 1210 (1895-1921); Pareceres, livros 116 (1919),

117 (1920), 118 (1921) e 119 (1922); Registros Diversos,

livro 517, 519, 520, 521 e 522; Trabalhos, livro 537 (1912-

1933); Minutas, livros 486 (1919), 487 (1919-1920).

Documentos da Assembléia Geral Legislativa do Estado da Bahia

Projetos, livros 905 (1912-1915), 906 (1913-1917), 907

(1918), 908 (1919), 909 (1920), 910 (1921); Abaixo-As-

sinados, livro 989 (1903-1937); Ofícios Recebidos e

Expedidos, livros 1180 (1888-1894), 1181 (1891-1935), 1182

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31273

274

(1909-1935); Petições, livro 1072 (1900-1940), 1074 (1891-

1939); Representações, livro 951 (1897-1925); Pareceres

das Comissões, livro 1102 (1917-1919); Mensagens, livro

969 (1912-1923); Minutas, livro 1119 (1916-1919).

Leis

LEIS e Resoluções da Assembléia do Estado da Bahia

do ano de 1895. Salvador: Lito-Tipografia de João Gon-

çalves Tourinho, 1896.

ATOS do Governo do Estado da Bahia do ano de 1896.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1897.

Salvador: Tipografia do Correio de Notícias, 1898.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1898.

Salvador: Tipografia do Correio de Notícias, 1899.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia no ano de 1899.

Salvador: Tipografia do Correio de Notícias, 1899.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1900.

Salvador: Tipografia do Diário da Bahia, 1901.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1901 e

Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salvador:

Oficinas do Diário da Bahia, 1903.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1902

e Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salva-

dor: Oficinas do Diário da Bahia, 1904.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1903

e Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salva-

dor: Oficinas do Diário da Bahia, 1905.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1904

e Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salva-

dor: Oficinas do Diário da Bahia, 1906.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1905

e Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salva-

dor: Oficinas do Diário da Bahia, 1906.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31274

275

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1906

e Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salva-

dor: Oficinas do Diário da Bahia, 1907.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1907

e Decretos do Poder Executivo no mesmo ano. Salva-

dor: Oficinas da Empresa A Bahia, 1910.

DECRETOS do Poder Executivo do Estado da Bahia no

ano de 1908. Salvador: Oficinas da Empresa A Bahia, 1910.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1909

e Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salva-

dor: Oficinas da Empresa A Bahia, 1911.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1910 e

Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salvador:

Oficinas da Empresa A Bahia, 1911.

LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1911 e

Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salvador:

Seção de Obras da Revista do Brasil, 1915.

LEIS do Poder Legislativo e Decretos do Poder Executi-

vo do Estado da Bahia do ano de 1912. Salvador: Tipo-

grafia Baiana, 1913.

LEIS do Poder Legislativo e Decretos do Poder Executi-

vo do Estado da Bahia do ano de 1913. Salvador: Tipo-

grafia Baiana, 1914.

LEIS do Poder Legislativo e Decretos do Poder Executi-

vo do Estado da Bahia do ano de 1914. Salvador: Tipo-

grafia Baiana, 1915.

LEIS do Estado da Bahia do ano de 1915. Salvador: Im-

prensa Oficial do Estado, 1916.

LEIS do Estado da Bahia do ano de 1916. Salvador: Im-

prensa Oficial do Estado, 1917.

LEIS do Estado da Bahia do ano de 1917. Salvador: Im-

prensa Oficial do Estado, 1918.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31275

276

LEIS do Estado da Bahia do ano de 1918. Salvador: Im-

prensa Oficial do Estado, 1921.

LEIS do Estado da Bahia do ano de 1919. Salvador: Im-

prensa Oficial do Estado, 1919.

LEIS do Estado da Bahia do ano de 1920. Salvador: Im-

prensa Oficial do Estado, 1922.

LEIS do Estado da Bahia do ano de 1921. Salvador:

Imprensa Oficial do Estado, 1922.

LEIS do Estado da Bahia do ano de 1922. Salvador:

Imprensa Oficial do Estado, 1925.

LEIS do Estado da Bahia do ano de 1923. Salvador:

Imprensa Oficial do Estado, 1926.

LEIS do Estado da Bahia dos anos de 1924 e 1925. Sal-

vador: Imprensa Oficial do Estado, 1925.

Federal

Leis

BRASIL. Lei nº 173, de 10 de setembro de 1893. Dispõe

sobre a organização das associações que se fundem para

fins religiosos, morais, científicos, artísticos, políticos

ou de simples recreio, nos termos do art. 72, inciso 3º

da Constituição. Coleção das Leis da República dos Es-

tados Unidos do Brasil de 1893, partes I e II. Rio de

Janeiro: Imprensa Nacional, 1894, p. 45-47.

BRASIL. Lei 1.637, de 5 de janeiro de 1907. Dispõe sobre

a criação de sindicatos profissionais e cooperativas. Cole-

ção das Leis da República dos Estados Unidos do Brasil de

1907, v. I. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, s/d, p. 17-22.

Anais da Câmara dos Deputados

ANAIS da Câmara dos Deputados, v. V (1917). Rio de

Janeiro: Imprensa Nacional, 1918.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31276

277

Poder Executivo

Estadual

Falas, Relatórios e Mensagens dos Presidentes de Província e

Governadores de Estado.

FALA com que abriu a 56ª Legislatura da Assembléia

Legislativa Provincial da Bahia o Exmo Sr. Des. Henri-

que Pereira de Lucena, Presidente da Província, no dia

1º de março de 1877. Salvador: Tipografia do Jornal da

Bahia, 1877.

RELATÓRIO com que o Exmo Sr. Dr. João dos Reis de

Souza Dantas, 2º Vice-Presidente, passou a adminis-

tração da Província ao Exmo Sr. Conselheiro Pedro Luiz

Pereira de Souza, em 29 de março de 1882. Salvador:

Tipografia do Diário da Bahia, 1882.

FALA com que o Exmo Sr. Des. Aurelio Ferreira Espi-

nheira, 1º Vice-Presidente da Província, abriu a 2ª Ses-

são da 27ª Legislatura da Assembléia Legislativa Pro-

vincial, no dia 3 de abril de 1889. Salvador: Tipografia

da Gazeta da Bahia, 1889.

MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legisla-

tiva do Estado da Bahia na abertura da 1ª Sessão Ordi-

nária da 12ª Legislatura, pelo Dr. J. J. Seabra, Governa-

dor do Estado da Bahia. Salvador: Seção de Obras da

“Revista do Brasil”, 1913.

MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legis-

lativa do Estado da Bahia na abertura da 2ª Sessão Or-

dinária da 12ª Legislatura, pelo Dr. J. J. Seabra, Gover-

nador do Estado. Salvador: Seção de Obras da “Revista

do Brasil”, 1914.

MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legislati-

va do Estado da Bahia na abertura da 1ª Sessão Ordinária

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31277

278

da 13ª Legislatura, pelo Dr. J. J. Seabra, Governador do

Estado. Salvador: Seção de Obras da “Revista do Bra-

sil”, 1915.

EXPOSIÇÃO apresentada pelo Dr. Joaquim José Seabra

ao passar, a 29 de março de 1916, o governo da Bahia ao

seu sucessor, o Exmo. Sr. Dr. Antonio Ferrão Moniz de

Aragão, empossado nesse dia no cargo de Governador

do Estado. Salvador: Imprensa Oficial, 1916.

MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legis-

lativa do Estado da Bahia na abertura da 1ª Sessão Or-

dinária da 14ª Legislatura pelo Dr. Antonio Ferrão Moniz

de Aragão, Governador do Estado. Salvador: Imprensa

Oficial, 1917.

MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legis-

lativa do Estado da Bahia na abertura da 2ª Sessão Or-

dinária da 14ª Legislatura pelo Dr. Antonio Ferrão Moniz

de Aragão, Governador do Estado. Salvador: Imprensa

Oficial, 1918.

MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legis-

lativa do Estado da Bahia na abertura da 1ª Sessão Or-

dinária da 15ª Legislatura pelo Dr. Antonio Ferrão Moniz

de Aragão, Governador do Estado. Salvador: Imprensa

Oficial, 1919.

EXPOSIÇÃO apresentada pelo Dr. Antonio Ferrão

Moniz de Aragão ao passar, a 29 de março de 1920, o

governo da Bahia ao seu sucessor, o Exmo. Sr. Dr. José

Joaquim Seabra, empossado nesse dia no cargo de Go-

vernador do Estado no quatriênio de 1920 a 1924. Sal-

vador: Imprensa Oficial, 1920.

Apeb - Secretaria de Governo

CORRESPONDÊNCIAS, caixa 1821 (maço 1935), cai-

xa 2294 (maços 2898, 2899).

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31278

279

Apeb - Seção Colonial e Provincial (Guia do Império - 3ª Parte)

PRESIDÊNCIA da Província, série agricultura, indús-

tria e comércio, maços 4602 e 4603 (Fábricas) e 1575

(Sociedades Operárias)

Apeb - Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio

RELATÓRIO dos Serviços da Secretária da Agricultu-

ra, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas du-

rante o ano de 1920, caixa 2386, maço178, doc. 746.

RELATÓRIO apresentado ao Exmo Sr. Dr. Governador

do Estado pelo Secretário da Agricultura, Indústria, Co-

mércio, Viação e Obras Públicas no ano de 1921. Bahia:

Imprensa Oficial do Estado, 1922.

RELATÓRIO dos Serviços da Secretaria da Agricultu-

ra, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas (1926),

caixa 2387, maço 182, doc. 661.

RELATÓRIO sobre a inspeção na Fábrica de Cerveja

situada ao Grão-Mogol, Rio Vermelho, 1915, caixa 2385,

maço 175, doc. 610.

RELATÓRIO do Diretor da Agricultura pelo Perito na

vistoria da Grande Fábrica de Massas Alimentícias Pro-

gresso (1926), caixa 2387, maço 182, doc. 666.

Federal

IBGE - Estatísticas Oficiais

BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-

cio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do

Brasil realizado em 1º de setembro de 1920. v. I (Intro-

dução). Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1922.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-

cio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil

realizado em 1º de setembro de 1920. v. IV (1ª Parte - Po-

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31279

280

pulação). Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-

cio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil

realizado em 1º de setembro de 1920. v. IV (2ª Parte -

População). Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1928.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-

cio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do

Brasil realizado em 1º de setembro de 1920. v. IV (5ª

Parte - População). Rio de Janeiro: Tipografia da Esta-

tística, 1930.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-

cio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do

Brasil realizado em 1º de setembro de 1920. v. V (1ª

Parte - Indústria). Rio de Janeiro: Tipografia da Esta-

tística, 1927.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-

cio. Diretoria Geral de Estatísticas. Anuário Estatístico

do Brasil, 1908-1912. Rio de Janeiro, 1917.

BRASIL. Estatísticas Históricas do Brasil: Séries Eco-

nômicas, Demográficas e Sociais de 1550 a 1988. 2ª ed.

Rio de Janeiro: IBGE, 1990.

República dos Estados Unidos do Brasil. Estado da

Bahia. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Departamento Estadual de Estatística. Sinopse Esta-

tística do Estado da Bahia (v. 3). Salvador: Oficinas Grá-

ficas Era Nova, 1939.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31280

281

Estatutos, relatórios, históricos e

outros documentos de congressos,

sindicatos operários e sociedades mutualistas.

CONSTITUIÇÃO do Centro Operário da Bahia. Diá-

rio da Bahia, 30 maio 1894, p. 1; 8-9 jun. 1984, p. 2.

ESTATUTOS do Centro Operário da Capital do Esta-

do da Bahia. Bahia: Tipografia do Salvador - Catedral,

1911. 36 p. Reformado e passando a chamar-se Associa-

ção Cooperativa Centro Operário da Bahia.

RELATÓRIO do Centro Operário da Bahia no Exercí-

cio Social de 6 de maio de 1899 a 31 de abril de 1900

apresentado pelo sr. Ismael Ribeiro, Presidente do Con-

selho Executivo e aprovado em Assembléia Geral de 12

de agosto de 1900. Salvador: Tipografia Passos, 1900.

RELATÓRIO do Centro Operário da Bahia. Exercício

Social de 6 de maio de 1902 a 30 de abril de 1903, apre-

sentado pelo sr. Ismael Ribeiro, Presidente do Conse-

lho Executivo, e aprovado em sessão de Assembléia

Geral de 3 de maio de 1903. Salvador: Imprensa Mo-

derna de Prudêncio de Carvalho, 1903.

RELATÓRIO do Centro Operário da Bahia. Exercício

Social de 6 de maio de 1908 a 5 de maio de 1909, apre-

sentado pelo sr. Ismael Ribeiro dos Santos, Presidente

do Conselho Executivo à Assembléia Geral e por esta

aprovado em sessão de 20 de abril de 1910, sob a presi-

dência do sr. Felippe Tranquilino de Castro. Salvador:

Liceu de Artes e Ofícios, 1910.

RELATÓRIO da Associação Cooperativa Centro Ope-

rário da Bahia, do Exercício de 1º de abril de 1912 a 31

de março de 1913, apresentado pelo Presidente do Con-

selho Executivo Prediliano Pereira Pitta, aprovado em

Assembléia Geral de 18 de maio de 1913. Salvador: Li-

ceu de Artes e Ofícios, 1913.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31281

282

CENTRO OPERÁRIO DA CAPITAL DO ESTADO

DA BAHIA. Relatório apresentado pelo Presidente do

Conselho Executivo, Capitão João Pedro Rodrigues

Lima, à Assembléia Geral em sessão de 1º de maio de

1917 e na mesma aprovado. Referente ao exercício de 1º

de abril de 1915 a 31 de março de 1917. Salvador: Liceu

de Artes e Ofícios, 1917.

CENTRO OPERÁRIO DA BAHIA. Relatórios apre-

sentados pelo Presidente do Conselho Executivo, Te-

nente Coronel Júlio Fernandes Leitão às Assembléias

Gerais de 2 de abril de 1918 e 25 de abril de 1919 e nas

mesmas aprovados. Referentes ao exercício de 1º de abril

de 1917 a 31 de março de 1919. Salvador: Liceu de Artes

e Ofícios, 1919.

RELATÓRIOS do Centro Operário da Bahia apresen-

tados pelo Coronel Eugenio Antonio Cardoso, Presi-

dente do Conselho Executivo. Exercício de 1º de abril

de 1919 a 31 de março de 1921. Salvador: Liceu de Artes

e Ofícios, 1921.

ESTATUTOS do Sindicato de Pedreiros, Carpinteiros

e demais classes. Diário Oficial do Estado da Bahia,

Salvador, 19 out. 1919.

ESTATUTOS da União Geral dos Tecelões da Bahia.

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 11 fev. 1920.

ESTATUTOS da Sociedade União dos Empregados de

Bondes, Luz e Força Elétrica do Estado da Bahia. Diário

Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 1º fev. 1920.

ESTATUTOS da União dos Metalúrgicos da Bahia.

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 14 out. 1919.

ESTATUTOS da União Gráfica Baiana. Diário Oficial

do Estado da Bahia, Salvador, 21 fev. 1920.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31282

283

ESTATUTOS da União dos Foguistas. Diário Oficial

do Estado da Bahia, Salvador, 22 maio 1919.

ESTATUTOS da União dos Foguistas Terrestres da

Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28

fev. 1920.

ESTATUTOS da Sociedade Civil União Geral dos Car-

regadores da Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia,

Salvador, 12 set. 1920.

ESTATUTOS da União dos Conferentes da Bahia. Di-

ário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 4 jul. 1920.

ESTATUTOS da Sociedade União de Resistência dos

Trabalhadores das Docas da Bahia. Diário Oficial do

Estado da Bahia, Salvador, 6 nov. 1920.

ESTATUTOS do Sindicato dos Carregadores da Bahia.

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 5 ago. 1920.

ESTATUTOS da Sociedade União Defensora dos Em-

pregados de Ferrovia. Diário Oficial do Estado da Bahia,

Salvador, 18 mar. 1920.

ESTATUTOS da Sociedade União dos Operários de Pa-

daria. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 12

set. 1919.

ESTATUTOS da União dos Condutores de Veículos e

Classes Anexas da Bahia. Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 28 maio 1920.

ESTATUTOS da Sociedade União dos Condutores de

Carroças e Classes Anexas. Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 25 set. 1920.

ESTATUTOS da Sociedade Beneficente e Defensora

dos Eletricistas. Diário Oficial do Estado da Bahia, Sal-

vador, 14 fev. 1920.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31283

284

ESTATUTOS da Sociedade União Defensora e Benefi-

cente dos Pintores da Bahia. Diário Oficial do Estado

da Bahia, Salvador, 10 ago. 1919.

ESTATUTOS (extratos) da Sociedade Beneficente dos

Empregados do Telégrafo Nacional na Bahia. Diário

Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 6 ago. 1919.

ESTATUTOS do Centro Automobilístico do Estado da

Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 24

abr. 1920.

PROJETO de Estatutos do Sindicato de Ofícios Vários

de Maré (Ilha de Maré). Diário Oficial do Estado da

Bahia, Salvador, 4 jan. 1921.

ESTATUTOS da Sociedade Centro e União Culinária.

Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 21 jan. 1921.

ESTATUTOS da Associação Liceu de Artes e Ofícios

da Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador,

24 jan. 1919.

PROJETO de Estatutos da Cooperativa Operária. Diá-

rio Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 6 jul. 1919.

ATA e Estatutos da Sociedade Cooperativa e

Auxiliadora dos Empregados da Compagnie Chemins

de Fer Fédéraux de l’Est Brésilien. Diário Oficial do

Estado da Bahia, Salvador, 30 jan. 1918.

BOLETIM da Comissão Executiva do Terceiro Congres-

so Operário Brasileiro, ano I, nº 1, agosto de 1920.

CONCLUSÕES do Quarto Congresso Operário Brasi-

leiro, realizado de 7 a 15 de novembro de 1912, no Palá-

cio Monroe, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tipografia

Leuzinger, 1913, 252 p.

PROJETO de Reforma dos Estatutos da Sociedade Be-

neficência Caixeiral. Diário Oficial do Estado da Bahia,

Salvador, 18 jan. 1918.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31284

285

ESTATUTOS da Sociedade Beneficente 24 de Julho dos

Operários da Fábrica Boa Viagem, a Companhia Empó-

rio Industrial do Norte. Instalada em 4 de abril de 1909.

Salvador: Tipografia do Colégio São Joaquim, 1933.

ESTATUTOS da Sociedade Beneficente Valença Indus-

trial. Instalada em 8 de dezembro de 1913. Salvador:

Tipografia Baiana, 1914.

REAL SOCIEDADE PORTUGUESA DE BENEFICÊN-

CIA 16 de Setembro – 1857-1957. Um Século de Exis-

tência. Salvador: Tipografia Menu, 1957.

RELATÓRIO apresentado à Assembléia Geral da As-

sociação Tipográfica Baiana pelo Conselho Diretório de

1904 a 1905, em sessão de 30 de abril de 1905 e na

mesma aprovado. Salvador: Imprensa Moderna, 1905.

RELATÓRIO apresentado à Assembléia Geral da Asso-

ciação Tipográfica Baiana pelo Conselho Diretório de

1905 a 1906, em sessão de 22 de abril de 1906 e na mes-

ma aprovado. Salvador: Liceu de Artes e Ofícios, 1906.

RELATÓRIO apresentado à Assembléia Geral da As-

sociação Tipográfica Baiana pelo Conselho Diretório de

1906 a 1907, em sessão de Assembléia Geral de 21 de

abril de 1907 e unanimemente aprovado. Salvador: Li-

ceu de Artes e Ofícios, 1907.

RELATÓRIO apresentado à Assembléia Geral da As-

sociação Tipográfica Baiana pelo Conselho Diretório de

1907 a 1908, em Assembléia Geral de 19 de abril de

1908 e unanimemente aprovado. Salvador: Liceu de

Artes e Ofícios, 1908.

ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório

apresentado pelo Conselho Diretório em sessão da

Assembléia Geral de 25 de abril de 1909, exercício de

1908 a 1909. Salvador: do Liceu de Artes e Ofícios, 1909.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31285

286

ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório

do exercício de 1909 a 1910, apresentado pelo Conse-

lho Diretório em sessão da Assembléia Geral de 24 de

abril de 1910. Salvador: Liceu de Artes e Ofícios, 1910.

ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório

do exercício de 1910 a 1911, apresentado pelo Conselho

Diretório em sessão da Assembléia Geral de 16 de abril

de 1911. Salvador: Liceu de Artes e Ofícios, 1911.

ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório

apresentado pelo Conselho Diretório em Assembléia

Geral de 28 de abril de 1912 e na mesma unanimemen-

te aprovado, exercício de 1911 a 1912. Salvador: Liceu

de Artes e Ofícios, 1911.

RELATÓRIO do exercício de 1924 da Associação Ti-

pográfica Baiana, apresentado pelo presidente do Con-

selho Diretório, Theodomiro Baptista, aprovado em

sessão de Assembléia Geral do dia 8 de fevereiro de

1925. Salvador: Tipografia América, 1925.

ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório

do exercício de 1928, apresentado pelo Conselho

Diretório, Caetano de Carvalho, aprovado em Assem-

bléia Geral do dia 24 de fevereiro de 1929. Salvador:

s.e., 1929.

ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório

do exercício de 1937, apresentado pelo Presidente do

Conselho Diretório, Democrito Gomes de Carvalho,

aprovado em Assembléia Geral de 27 de março de 1938.

CONCLUSÕES do Quarto Congresso Operário Brasi-

leiro, realizado de 7 a 15 de novembro de 1912, no Palá-

cio Monroe, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tipografia

Leuzinger, 1913. 252 p.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31286

287

ESTATUTOS da Sociedade Beneficente 24 de Julho dos

Operários da Fábrica Boa Viagem, a Companhia Em-

pório industrial do Norte. Instalada a 4 de abril de 1909.

Salvador: Tipografia do Colégio São Joaquim, 1933.

ESTATUTOS da Sociedade Beneficente Valença Indus-

trial. Instalada em 8 de dezembro de 1913. Salvador:

Tipografia Baiana, 1914.

PROJETO de Reforma dos Estatutos da Sociedade Be-

neficência Caixeiral. Diário Oficial do Estado da Bahia,

Salvador, 18 jan. 1918.

REAL SOCIEDADE PORTUGUESA DE BENEFICÊN-

CIA 16 de Setembro – 1857-1957. Um século de exis-

tência. Salvador: Tipografia Menu Editora Ltda., 1957.

Documentos e relatórios das companhias e

associações empresariais

LIVRO de Atas e Estatutos do Centro Industrial do

Algodão (1917-1921). Apeb, Seção de Arquivos Priva-

dos.

RELATÓRIOS Anuais da Associação Comercial da

Bahia (volumes de 1913 a 1920)

BOLETINS Mensais da Associação Comercial da Bahia

(janeiro a dezembro de 1919)

ATAS da Associação Comercial da Bahia (livro de 1917

a 1921)

CENTRO INDUSTRIAL DO ALGODÃO. Relatório

apresentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordiná-

ria, realizada a 16 de agosto de 1917, relativo à adminis-

tração de 18 de setembro de 1916 a 30 de junho de 1917.

Salvador: Tipografia Baiana, 1917.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31287

288

CENTRO INDUSTRIAL DO ALGODÃO. Relatório

apresentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordiná-

ria, realizada a 29 de agosto de 1918, relativo à admi-

nistração do ano social de 1º de julho de 1917 a 30 de

junho de 1918. Salvador: Tipografia Baiana, 1918.

ESTATUTOS da Companhia Empório Industrial do

Norte aprovados em Assembléia Geral Extraordinária de

11 de julho de 1921. Salvador: Reis & Companhia, 1921.

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 31 de março de 1916. Salvador: Reis

& Companhia, 1916. (Exercício de 1915).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 30 de março de 1917. Salvador: Reis

& Companhia, 1917. (Exercício de 1916).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 2 de abril de 1918. Salvador: Reis &

Companhia, 1918. (Exercício de 1917).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 31 de março de 1920. Salvador: Reis

& Companhia, 1920. (Exercício de 1919).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 20 de fevereiro de 1923. Salvador:

Dois Mundos, 1923. (Exercício de 1922).

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31288

289

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 21 de fevereiro de 1925. Salvador:

Dois Mundos, 1925. (Exercício de 1924).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 15 de março de 1926. Salvador: Dois

Mundos, 1926. (Exercício de 1925).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 7 de março de 1927. Salvador: Dois

Mundos, 1927. (Exercício de 1926).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 27 de fevereiro de 1928. Salvador:

Dois Mundos, 1928. (Exercício de 1927).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 30 de março de 1929. Salvador: Dois

Mundos, 1929. (Exercício de 1928).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 31 de março de 1930. Salvador: Por-

ta São Miguel, 1930. (Exercício de 1929).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte. A Tarde, Salvador, 29 mar. 1913 (Exer-

cício de 1912).

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31289

290

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer da Comissão Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 30 de março de 1914. Diário da Bahia,

Salvador, 21 jun. 1914. (exercício de 1913).

COMPANHIA EMPÓRIO INDUSTRIAL DO NOR-

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dos acionistas no dia 5 de abril de 1915. Jornal de Notí-

cias, Salvador, 3 abr. 1915 (Exercício de 1914).

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 31 de março de 1916. Referente ao

exercício de 1915. Diário Oficial do Estado, Salvador, 31

mar. 1916.

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-

sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia

Geral Ordinária de 2 de abril de 1918. Referente ao exer-

cício de 1917. Diário Oficial do Estado, 2 abr. 1918.

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal a serem

apresentados à Assembléia Geral Ordinária dos srs. aci-

onistas em Sessão de 29 de março de 1919. Referente

ao exercício de 1918. Diário Oficial do Estado, Salvador,

29 mar. 1919.

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal para

serem apresentados à Assembléia Geral Ordinária dos

srs. acionistas em Sessão de 31 de março de 1920. Refe-

rente ao exercício de 1919. Diário Oficial do Estado,

Salvador, 31 mar. 1920.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31290

291

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal a serem

apresentados à Assembléia Geral Ordinária dos srs. aci-

onistas em Sessão de 21 de março de 1921. Referente ao

exercício de 1920. Diário Oficial do Estado, Salvador,

16 mar. 1921.

RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-

dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal a serem

apresentados à Assembléia Geral Ordinária dos srs. aci-

onistas em Sessão de 20 de fevereiro de 1922. Referen-

te ao exercício de 1921. Diário Oficial do Estado, Salva-

dor, 18 e 19 fev. 1922.

ATA da Sessão da Assembléia Geral Ordinária dos aci-

onistas da Companhia Empório Industrial do Norte,

realizada em 29 de março de 1919. Diário Oficial do

Estado, Salvador, 29 abr. 1919.

ATA da Sessão da Assembléia Geral Ordinária da Com-

panhia Empório Industrial do Norte, realizada em 31

de março de 1920. Diário Oficial do Estado, Salvador,

27 abr. 1920.

ATA da Sessão da Assembléia Geral Ordinária da Com-

panhia Empório Industrial do Norte, realizada em 21

de março de 1921. Diário Oficial do Estado, Salvador, 1º

abr. 1921.

RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia. Re-

ferente ao exercício de 1914. Diário da Bahia, Salvador,

24 fev. 1915.

RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia. Re-

ferente ao exercício de 1915. Diário Oficial do Estado,

Salvador, 23 abr. 1916.

RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia. Re-

ferente ao exercício de 1917. Diário Oficial do Estado,

Salvador, 9 abr. 1918.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31291

292

RELATÓRIO da direção da Companhia União Fabril

da Bahia. Referente ao exercício de 1918. Diário Oficial

do Estado, Salvador, 25 mar. 1919.

RELATÓRIO da direção da Companhia União Fabril

da Bahia para ser apresentado à Assembléia Geral dos

srs. acionistas, no dia 29 de abril de 1920. Referente ao

exercício de 1919. Diário Oficial do Estado, Salvador,

28 abr. 1920.

RELATÓRIO da direção da Companhia União Fabril

da Bahia para ser apresentado à Assembléia Geral dos

srs. acionistas, em Sessão de 30 de março de 1921. Re-

ferente ao exercício de 1920. Diário Oficial do Estado,

Salvador, 27 mar. 1921.

RELATÓRIO da direção da Companhia União Fabril

da Bahia Referente ao ano de 1921, a ser apresentado à

Assembléia Geral dos srs. acionistas em Sessão de 30

de março de 1922. Diário Oficial do Estado, Salvador,

28 mar. 1922.

ATA da Sessão de Assembléia Geral Ordinária da Com-

panhia União Fabril da Bahia, realizada em 31 de março

de 1919. Diário Oficial do Estado, Salvador, 26 abr. 1919.

ATA da Sessão de Assembléia Geral Ordinária da Com-

panhia União Fabril da Bahia, realizada em 29 de abril

de 1920. Diário Oficial do Estado, Salvador, 22 maio 1920.

COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório referen-

te ao exercício de 1912. Diário da Bahia, Salvador, 25

fev. 1913.

COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório apre-

sentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordinária dos

acionistas, em 25 de fevereiro de 1916. Referente ao

exercício de 1915. Diário Oficial do Estado, Salvador,

24 fev. 1916.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31292

293

COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório apre-

sentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordinária dos

acionistas, em 26 de fevereiro de 1917. Referente ao

exercício de 1916. Diário Oficial do Estado, Salvador,

24 fev. 1917.

COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório que tem

de ser apresentado pela diretoria à Assembléia Geral

Ordinária dos srs. acionistas, em 21 de fevereiro de 1918.

Referente ao exercício de 1917. Diário Oficial do Esta-

do, Salvador, 21 fev. 1918.

COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório apre-

sentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordinária dos

srs. acionistas, em 20 de fevereiro de 1919. Referente

ao exercício de 1918. Diário Oficial do Estado, Salvador,

20 fev. 1919.

COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório apre-

sentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordinária dos

srs. acionistas, em 23 de fevereiro de 1920. Referente

ao exercício de 1919. Diário Oficial do Estado, Salvador,

22 fev. 1920.

COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório para ser

apresentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordiná-

ria dos srs. acionistas, em 21 de fevereiro de 1921. Re-

ferente ao exercício de 1920. Diário Oficial do Estado,

Salvador, 19 fev. 1921.

COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório para ser

apresentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordiná-

ria dos srs. acionistas, em 23 de fevereiro de 1922. Re-

ferente ao exercício de 1921. Diário Oficial do Estado,

Salvador, 22 fev. 1922.

COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Ata da Sessão Ex-

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de 1918. Diário Oficial do Estado, Salvador, 12 dez. 1918.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31293

294

ATA da Sessão da Assembléia Geral Ordinária da Com-

panhia Fabril dos Fiais de 23 de fevereiro de 1920. Diá-

rio Oficial do Estado, Salvador, 10 mar. 1920.

ATA da Sessão da Assembléia Geral Ordinária da Com-

panhia Fabril dos Fiais de 21 de fevereiro de 1921. Diá-

rio Oficial do Estado, Salvador, 8 mar. 1921.

RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-

dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-

tas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral em 30

de março de 1914. Referente ao exercício de 1913. Gaze-

ta do Povo, Salvador, 29 mar. 1914.

RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-

dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-

tas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral em 14

de março de 1916. Referente ao exercício de 1915. Diá-

rio Oficial do Estado, Salvador, 14 mar. 1916.

RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-

dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-

tas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral em 28

de março de 1917. Referente ao exercício de 1916. Diá-

rio Oficial do Estado, Salvador, 25 mar. 1917.

RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-

dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-

tas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 30

de março de 1918. . Referente ao exercício de 1917. Diá-

rio Oficial do Estado, Salvador, 27 mar. 1918.

RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-

dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-

tas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 29

de março de 1919. Referente ao exercício de 1918. Diá-

rio Oficial do Estado, Salvador, 28 mar. 1919.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31294

295

RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-

dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-

tas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 29

de abril de 1920. Referente ao exercício de 1919. Diário

Oficial do Estado, Salvador, 28 abr. 1920.

RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-

dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-

tas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 30

de março de 1921. Referente ao exercício de 1920. Diá-

rio Oficial do Estado, Salvador, 29 mar. 1921.

RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-

dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-

tas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 30

de março de 1922. Referente ao exercício de 1921. Diá-

rio Oficial do Estado, Salvador, 26 mar. 1922.

ATA da Reunião Ordinária da Assembléia Geral da

Companhia Progresso Industrial da Bahia em 18 de

março de 1916. Diário Oficial do Estado, Salvador, 14

abr. 1916.

ATA da Reunião Ordinária da Assembléia Geral dos

srs. acionistas da Companhia Progresso Industrial da

Bahia, em 30 de março de 1918. Diário Oficial do Esta-

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ATA da Assembléia Geral Extraordinária dos srs. acio-

nistas da Companhia Progresso Industrial da Bahia, em

15 de junho de 1918. Diário Oficial do Estado, Salvador,

29 ago. 1918.

ATA da Reunião Ordinária da Assembléia Geral dos

srs. acionistas da Companhia Progresso Industrial da

Bahia, em 29 de março de 1919. Diário Oficial do Esta-

do, Salvador, 13 abr. 1919.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31295

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ATA da Assembléia Geral Extraordinária dos acionis-

tas da Companhia Progresso Industrial da Bahia, em

29 de março de 1919. Diário Oficial do Estado, Salva-

dor, 20 abr. 1919.

ATA da Reunião Ordinária da Assembléia Geral dos

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Jornal de Notícias, 29 de abril de 1914.

RELATÓRIO da Companhia Valença Industrial a ser

apresentado à Assembléia Geral dos srs. acionistas em

30 de abril de 1915. Referente ao exercício de 1914. Jor-

nal de Notícias, Salvador, 27 abr. 1915.

RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-

trial para ser apresentado aos srs. acionistas em Reu-

nião de Assembléia Geral Ordinária, a realizar-se em

30 de março de 1916. Referente ao exercício de 1915.

Diário Oficial do Estado, Salvador, 26 mar. 1916.

RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-

trial para ser apresentado aos srs. acionistas em Reu-

nião de Assembléia Geral Ordinária, a realizar-se em 31

de março de 1917. Referente ao exercício de 1916. Diá-

rio Oficial do Estado, Salvador, 28 mar. 1917.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31296

297

RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-

trial para ser apresentado aos srs. acionistas em Assem-

bléia Geral Ordinária, a realizar-se em 30 de março de

1918. Referente ao exercício de 1917. Diário Oficial do

Estado, Salvador, 27 mar. 1918.

RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-

trial para ser apresentado na Assembléia Geral Ordiná-

ria dos srs. acionistas, a realizar-se em 18 de março de

1919. Referente ao exercício de 1918. Diário Oficial do

Estado, Salvador, 14 mar. 1919.

RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-

trial para ser apresentado na Assembléia Geral Ordiná-

ria dos srs. acionistas, a realizar-se em 24 de março de

1920 acompanhado do parecer do Conselho Fiscal. Re-

ferente ao exercício de 1919. Diário Oficial do Estado,

Salvador, 21 mar. 1920.

RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-

trial para ser apresentado na Assembléia Geral Ordinária

dos srs. acionistas, a realizar-se em 31 de março de 1921

acompanhado do parecer do Conselho Fiscal. Referente ao

exercício de 1920. Diário Oficial do Estado, Salvador, 20

mar. 1921.

RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-

trial para ser apresentado na Assembléia Geral Ordiná-

ria dos srs. acionistas, a realizar-se em 31 de março de

1922 acompanhado do parecer do Conselho Fiscal. Re-

ferente ao exercício de 1921. Diário Oficial do Estado,

Salvador, 8 mar. 1922.

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nhia Valença Industrial em 12 de dezembro de 1918.

Diário Oficial do Estado, Salvador, 22 dez. 1918.

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ATA da Reunião da Assembléia Geral Ordinária da

Companhia Valença Industrial, realizada em 24 de mar-

ço de 1920. Diário Oficial do Estado, Salvador, 11 abr.

1920.

ATA da Reunião da Assembléia Geral Ordinária da

Companhia Valença Industrial, realizada em 31 de mar-

ço de 1921. Diário Oficial do Estado, Salvador, 26 abr.

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Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31320

321

Anexo

Estética operária

A legenda dizia: “Os burgueses ficam danados quando vêem um operário

bonito e elegante, como eu, andar no rigor da moda e do luxo. Não

sabem eles quantas voltas nas tripas eu sofro para poder vestir-me

luxuosamente e fazer pouses de fidalgo. Agora vou ser socialista para

forçar esses burgueses a pagarem bem os meus trabalhos, a fim de que

eu possa fazer pouses, sem estar tremendo de necessidades”.

Fonte: A Voz do Trabalhador, Salvador, ano 1, nº 1, 2 out. 1920, p. 3.

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322

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31322

323

Fundação de sociedades mutualistas,

beneficentes e cooperativas Bahia, 1832-1930*

Salvador

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade Protetora dos Desvalidos 16/09/1832 05/06/1929

Sociedade Montepio 16/12/1832

dos Artífices da Bahia

Sociedade Euterpe 14/03/1848

Sociedade Italiana de Mútuos Socorros 28/06/1903 ?/?/1849

Montepio da Bahia 08/10/1851

Sociedade Montepio dos Artistas 02/02/1853

Associação das Senhoras de Caridade 09/07/1854

Sociedade Humanitária dos Artistas 13/06/1856

Sociedade Montepio

dos Caixeiros Nacionais 22/11/1857 ?/?/1870

Sociedade Portuguesa 16 de Setembro 01/01/1857

Sociedade de Beneficência Portuguesa 20/09/1857

Societé Suisse de Bienfaisance ?/?/1857

Montepio Geral da Bahia 22/11/1857

Real S. Portuguesa de Beneficência

16 de Setembro 14/08/1859

S. B. Protetora dos Artífices

Carpinteiros e Calafates 03/03/1860

Sociedade Italiana

de Recreio e Beneficência ?/03/1861 ?/?/1863

Sociedade Beneficência Italiana 20/01/1863

S. Médico-Farmacêutica de

Beneficência Mútua ?/12/1866

Societé Française de Bienfaisance 09/02/1868

Deutscher Hilfsverein 28/08/1868

Associação Tipográfica Baiana 16/04/1871 ?/?/1904

S. Bolsa de Caridade do Arsenal

de Guerra da Bahia 08/05/1872

* Não inclui as confrarias (irmandades e ordens terceiras), que também pratica-

vam a ajuda mútua, nem as diversas entidades recreativas (bailantes, carnava-

lescas, teatrais, musicais e esportivas) vinculadas à classe operária. Estão exclu-

ídos, igualmente, os sindicatos que além do tradicional e distintivo fundo de

greve tivessem uma caixa de auxílio mútuo, posto que a mesma era, via de regra,

uma atividade secundária neste tipo de organização, destinada fundamental-

mente à luta econômica.

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31323

324

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade Beneficente Acadêmica 15/09/1872

Clube Caixeiral 21/05/1876 16/03/1914

Associação Protetora

da Infância Desvalida 03/01/1882

S. B. dos Empregados da

Tesouraria de Fazenda ?/?/1884

Sociedade Espanhola de Beneficência 01/01/1885

Sociedade Beneficência Caixeiral 19/04/1885 30/03/1917

Sociedade Beneficente dos

Funcionários Públicos 09/01/1887

Sociedade 13 de Maio 21/05/1888

Sociedade Humanitária das Senhoras 10/06/1888

Sociedade Beneficente União

Filantrópica dos Artistas 07/06/1889

Clube dos Maquinistas 11/10/1889

Sociedade Cooperativa dos Alfaiates 01/01/1890

Sociedade Beneficente Montepio dos

Empreg. Municipais da Capital

da Bahia ?/05/1890

Clube Beneficente dos Mártires 20/01/1891

Sociedade Bolsa dos Chapeleiros 12/09/1891

Sociedade Beneficência Mútua de Brotas 25/06/1893

Centro Operário da Bahia 06/05/1894 09/07/1911

Sociedade Beneficência 1º de Maio ?/05/1894

S. Beneficente Vitória

(Fábrica de Charutos Vitória) 22/08/1894

Sociedade Bolsa dos Patriotas 01/11/1895

Sociedade Beneficente

União das Classes 15/11/1895

Sociedade Beneficente 8 de Dezembro ?/?/1898

Grêmio Beneficente do

Professorado Baiano 25/03/1898

Sociedade Beneficente Telegráfica 01/01/1898

Sociedade Beneficente

União dos Alfaiates 01/04/1898 03/06/1919

Sociedade Beneficente de Santana 29/06/1899 07/06/1917

Associação dos Empregados do

Comércio da Bahia 21/01/1900

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325

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

S. de Beneficência dos

Empregados de Restaurantes 20/06/1900

Círculo Católico 22/05/1901

Sociedade Beneficente e Musical

Recreio do Pilar 01/05/1902

Liga Beneficente dos

Paroquianos da Sé 07/07/1903

Sociedade Beneficente de Itapuã 04/07/1903

Associação dos Empregados

em Restaurantes ?/?/1903

Sociedade Beneficente dos Mares ?/?/1903

Sociedade B. União dos Carteiros

do Correio da Bahia ?/09/1904

Sociedade Fraternal do

Corpo de Bombeiros 03/11/1904

Sociedade Beneficente do

Regimento Policial 14/02/1905

Grêmio das Artes Gráficas 24/02/1905

Sociedade Beneficente Belo Sexo 09/06/1905

Sociedade Cooperativa dos Funcionários Públicos

e Procuradores do Estado da Bahia 29/08/1905

Sociedade Beneficente União Auxiliadora 22/04/1906 26/03/1916

Mutuaria Baiana Pedro II 30/04/1906

Socorros Mútuos Rio Branco 02/05/1906

Sociedade Beneficente União

dos Postilhões 16/07/1906

Sociedade Beneficente dos

Carteiros da Bahia 20/08/1906

Sociedade Beneficente da Chapelaria

Norte Industrial 03/12/1906

Clube Beneficente e Defensor

dos Operários Mecânicos 01/11/1907

S. B. dos Empregados nas

Capatazias de Alfândega 14/06/1908

Sociedade Beneficência 2 de Fevereiro 20/01/1909

(Cia. Empório Industrial do Norte) 04/04/1909

Sociedade Beneficente Familiar 06/04/1909

Mutuaria Alagoinhense 22/04/1909

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31325

326

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade dos Guardas da Alfândega 25/05/1909

S. B. União dos Carteiros

do Correio da Bahia 08/09/1909

Sociedade Protetora das Desvalidas 10/08/1910

Beneficência Operária 23 de Novembro 12/11/1910

Cooperativa Municipal 06/01/1911

Sociedade Beneficente

Amparo dos Profissionais 20/10/1911

Sociedade Beneficente

União dos Padeiros 09/06/1912

Sociedade Beneficente 1º de Dezembro 04/03/1914

Liga dos Funcionários

Federais da Bahia 29/08/1914

Sociedade Beneficente dos Cabeleireiros 31/08/1915

S. União dos Empregados

do Comércio Varejista 15/11/1915

S. B. dos Empregados do Telégrafo

Nacional na Bahia 17/09/1916

Sociedade Beneficente 11 de Março

(Companhia União Fabril da Bahia) ?/?/1916

Sociedade Cooperativa e Auxiliadora

dos E. da Compagnie Chemins de Fer 15/01/1918

Sociedade Beneficente dos

Funcionários da Justiça 13/05/1918

Associação dos Funcionários

Públicos do E. da Bahia 20/08/1918

S. União Defensora e

B. dos Pintores da Bahia 26/02/1919

União Caixeiral da Bahia 01/06/1919

Sociedade Beneficente e Defensora

dos Eletricistas 20/07/1919

(Fábrica São Brás –

Cia. Progresso Industrial da Bahia) 27/07/1919

Beneficência Operária Sanfelixta 17/08/1919

Associação dos E. da Cia. Ferroviária

Este Brasileiro 28/01/1921

União Operária Beneficente 12/09/1922

Clube Caixeiral “Afrânio Peixoto” 27/09/1924

Caixa Imobiliária da Classe Caixeiral 28/06/1925

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31326

327

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Associação dos Caixeiros

Viajantes da Bahia 17/11/192502-04/09/1936

S. B. dos Sargentos da Força Policial

do E. da Bahia 02/02/1927

Sociedade Defesa e Progresso

de Massaranduba 18/08/1929

Sociedade Beneficente 24 de Julho 04/04/1909

Sociedade Beneficente

e Recreativa de São Brás 27/07/1919

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade Montepio dos Artistas Nazarenos 08/09/1861

S. Montepio dos Empregados da E. de Ferro de Nazaré 29/01/1918

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade Montepio dos Artistas Feirenses 08/09/1876

Associação B. dos E. no Comércio de Feira de Santana 29/10/1903

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade Beneficente União e Amparo 02/02/1893

Sociedade Montepio dos Artistas Amargosenses 13/05/1895

Clube Caixeiral Amargosense 11/06/1904

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Associação Geral de Auxílios Mútuos 10/09/1893

dos Empregados da Estrada de Ferro

do São Francisco

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade Montepio dos Artistas Cachoeiranos ?/?/1898

Sociedade Beneficente Cachoeirana ?/?/1900

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade Montepio União Operária de São Félix 04/06/1901

Nazaré

Feira de Santana

Amargosa

Alagoinhas

Cachoeira

São Félix

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31327

328

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade Montepio dos Artistas Iraraenses 24/07/1903

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade dos Desvalidos de Maragogipe 04/07/1903

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade Beneficente União das Artes 01/05/1904

União Caixeiral de Santo Antônio de Jesus 11/06/1920

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade Cooperativa dos

Operários Canavieirenses 09/05/1904

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Clube Caixeiral de Santo Amaro 27/05/1905

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

S. de B. Socorros Mútuos da Cidade de Lençóis 11/10/1905

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

S. Montepio Liga Operária dos Operários ?/?/1905

da Cia. Valença Industrial

(Cia. Valença Industrial) 08/12/1913

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Mutuaria Amparo do Lar 08/02/1908

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Associação dos Empreg. no Comércio de Ilhéus 23/01/1908

Associação dos Empreg. no Comércio de Ilhéus 01/08/1920

S. B. dos Artistas e Operários da Cidade ?/?/1922

de Ilhéus

Maragogipe

Santo Antonio de Jesus

Canavieiras

Irará

Senhor do Bonfim

Valença

Lençóis

Santo Amaro

Ilhéus

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31328

329

Fontes: APEB, documentos das Seções Colonial e Provincial; Legislativa e Re-

publicana; jornais diversos (1890-1922); Diário Oficial do E. da Bahia (1915-

1923); estatutos, atas e relatórios das associações; almanaques; memórias.

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Sociedade União Beneficente Caixeiral 31/10/1908

de Itabuna

Sociedade Montepio dos Artistas 12/09/1921

de Itabuna

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Associação dos Empregados 05/02/1909

no Comércio do Ventura

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Beneficência Sempre Viva 26/04/1911

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Clube Dramático Beneficente

Bom-Jesuense ?/07/1911

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

Beneficência Caixeiral de Belmonte 12/10/1911

Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia

União Operária Beneficente

de Caitité 15/03/1912

Vila do Bom Jesus do Rio de Contas

Belmonte

Caitité

Itabuna

Ventura

Andaraí

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31329

Industriais e operários baianos

numa conjuntura de crise

(1914 - 1921)

de Aldrin A. S. Castellucci,

II Prêmio FIEB de Economia Industrial,

é uma edição da Federação das Indústrias do

Estado da Bahia.

Impressão e acabamento

Press Color.

Salvador, abril de 2004

Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31330