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Industriais e operários baianos
numa conjuntura de crise
(1914 - 1921)
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Federação das Indústrias do Estado da Bahia
Jorge Lins Freire
Presidente
Victor Fernando Ollero Ventin
1º Vice-Presidente
Emmanuel Silva Maluf
Francisco Teixeira de Sá
Mário Reis Mendonça
Sérgio Pedreira de Oliveira e Souza
Vice-Presidentes
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Salvador
2004
Aldrin A. S. Castellucci
Industriais
e operários baianos
numa conjuntura de crise
(1914 - 1921)
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Castellucci, Aldrin Armstrong Silva 1969 -
C349 Industriais e operários baianos numa conjuntura de crise
(1914-1921) / Aldrin Armstrong Silva Castellucci. _Salvador:
Fieb, 2004.
330 p. il; (II Prêmio Fieb de Economia Industrial)
ISBN: 85-86125-09-1
1. Indústria e Trabalho - Bahia (Primeira República). 2.
Movimento Grevista - Bahia (1919 - 1921). 3. Sindicatos
Operários - Bahia. Associações Industriais – Bahia. I. Título
CDD – 331.88098142
Coordenação Geral
Assessoria de Comunicação do Sistema FIEB
Coordenação Editorial
Bete Capinan
Revisão
Jane Lemos
Normalização
Biblioteca Sede do Sistema FIEB
Copyright © 2004 by Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB)
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À minha mãe,
que apoiou este trabalho do início ao fim.
A Vivianne Longuinho,
que partilhou comigo
as dificuldades do percurso.
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O trabalho na Fábrica de Charutos Suerdieck.
Observe-se a presença majoritária da mão-de-obra feminina.
Fonte: BAHIA. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia. 30 anos da indús-
tria, comércio e turismo na Bahia 1966 – 1996. Salvador: Unifacs – IPA, 1997. p. 83.
Apresentação
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Às vésperas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a que-
da dos preços internacionais de commodities como café e
borracha levou o Brasil a ampliar as exportações de alimen-
tos para gerar superávits. Isso levou ao desabastecimento in-
terno. A escassez de produtos da cesta básica e a escalada de
preços daí decorrente, tornaram ainda mais difíceis as con-
dições de vida dos trabalhadores na República Velha. Os
salários eram corroídos pela inflação e o custo de vida era
extremamente elevado.
Essa realidade provocou manifestações de trabalhado-
res em vários estados brasileiros. Na Bahia, as primeiras pas-
seatas surgidas para protestar contra a carestia dos gêneros
de primeira necessidade, o aumento dos aluguéis e dos pre-
ços das passagens dos bondes, foram organizadas por Cosme
de Farias. No final de 1918 e princípio de 1919, a crise econô-
mica se tornou aguda, com elevado nível de desemprego e
crescente perda de poder aquisitivo tanto dos operários quanto
do funcionalismo público.
Foi nesse quadro de dificuldades que, em junho de 1919,
eclodiu em Salvador uma greve geral, paralisando trabalha-
dores da iniciativa privada e do setor público. O movimento
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expandiu-se para as cidades do Recôncavo baiano e, além de
lutar contra a carestia e o desemprego, evoluiu para reivindi-
cações relativas às condições de trabalho, questionando a jor-
nada, a mão-de-obra infantil e a falta de salubridade nas
empresas. Quase um século depois, esse movimento é classi-
ficado como pioneiro ao estabelecer na Bahia um padrão de
comportamento político do operariado, o qual ia além de rei-
vindicações ligadas às suas necessidades imediatas.
A descrição pormenorizada desse conflito e sua contex-
tualização frente à realidade política de então é o tema da
monografia Industriais e operários baianos numa conjuntura
de crise (1914-1921), vencedora do II Prêmio FIEB de Econo-
mia Industrial. Seu autor, o historiador Aldrin Castellucci,
realizou um exaustivo trabalho de pesquisa junto a fontes
primárias (jornais e revistas da época, arquivos públicos, da-
dos estatísticos etc) e a uma extensa bibliografia, para produ-
zir um alentado estudo que retrata de forma convincente e
em linguagem acessível um dos mais instigantes momentos
das lutas sociais no País.
O Prêmio FIEB de Economia Industrial, que, na sua
primeira versão, resultou na publicação da obra Os engenhos
centrais e a produção açucareira no Recôncavo Baiano, da tam-
bém historiadora Tatiana Brito de Araújo, tem periodicidade
bienal e foi instituído com a finalidade de premiar e publicar
trabalhos inéditos e capazes de contribuir para o conhecimento
do processo de industrialização da Bahia. Nesta edição, com
número recorde de participantes, foram inscritos trabalhos
de reconhecida qualidade, a demonstrar o sucesso da iniciati-
va.
Além deste projeto editorial, o Sistema FIEB vem pro-
movendo outras iniciativas no campo do conhecimento da
história da economia baiana. Cabe destacar, nesse sentido, a
Série FIEB Documentos Históricos, que já publicou o elogia-
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do Ensaio sobre o fabrico do açúcar, de Miguel Calmon du
Pin e Almeida, o Marquês de Abrantes, e que atualmente
lança o volume Cartas econômico-políticas sobre a agricultu-
ra e comércio da Bahia.
É com satisfação que oferecemos ao público este profí-
cuo estudo de Aldrin Castellucci, certos de contribuírmos para
enriquecer o conhecimento acerca de nosso passado. Final-
mente, cumpre registrar os agradecimentos à comissão julga-
dora do II Prêmio FIEB de Economia Industrial – composta
pelos acadêmicos Fernando Cardoso Pedrão, Waldir Freitas
Oliveira e Consuelo Pondé de Sena –, cujo apoio e dedicação
foram de suma importância para o sucesso desta iniciativa.
Salvador, maio de 2004
Jorge Lins Freire
Presidente da Federação das Indústrias
do Estado da Bahia
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Agradecimentos
A relação das pessoas que contribuíram, direta ou indireta-
mente, para a realização deste trabalho é bastante longa. Pro-
curo, assim, contemplar alguns nomes neste pequeno espa-
ço, ciente do risco de incorrer em injustiça pela omissão de
outros.
Em primeiro lugar, quero registrar os meus agradeci-
mentos à minha mãe, a quem dedico este trabalho, em sinal
de reconhecimento por todos os esforços empreendidos, des-
de a minha tenra idade até os dias de hoje, para ver concreti-
zados todos os meus sonhos, especialmente o de avançar nos
estudos de pós-graduação.
Ao longo do difícil percurso de elaboração da disserta-
ção de mestrado que deu origem ao presente livro, contei com
a compreensão e o apoio, também, de Vivianne Longuinho,
exemplo de companheirismo e carinho, freqüentemente tra-
duzidos nas incontáveis vezes em que abdicou dos seus dias
de folga e férias para, junto comigo, coletar fontes nos arqui-
vos baianos e nos inúmeros manuscritos que ajudou a orga-
nizar e digitar. Sua presença de espírito, descontração e dedi-
cação a uma causa que considerou comum foram muito im-
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portantes para o término deste trabalho nos marcos de um
tempo extremamente exíguo.
Tenho uma dívida intelectual impagável para com a
Profa. Dra. Maria Cecília Velasco e Cruz, mais que orienta-
dora nos mais de dois anos e meio de convivência no Progra-
ma de Pós-Graduação em História da Universidade Federal
da Bahia (PPGH - UFBA). O registro de seu nome, longe de
ser uma mera formalidade, está ligado ao que alguém já disse
sobre o caráter coletivo de uma obra, mesmo quando assina-
da por um único autor. Seu rigor, sua competência e seriedade
profissionais levam-me a partilhar com ela os méritos que
este trabalho acaso tenha, embora a exima das deficiências.
Além disso, seus trabalhos foram uma rara fonte inspiradora
e o leitor que os conhece poderá conferir comparando-os com
o presente texto. Agradeço, também, comentários e suges-
tões feitos pelos outros dois membros de minha Banca Exa-
minadora de Mestrado, Prof. Dr. Muniz Gonçalves Ferreira,
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Prof. Dr. Clau-
dio Henrique M. Batalha, da Universidade Estadual de Cam-
pinas (Unicamp). Estendo a minha gratidão ao Prof. Dr.
Ubiratan Castro de Araújo (UFBA) e ao Prof. Dr. Paulo San-
tos Silva (Uneb) pelas importantes considerações que fize-
ram à minha monografia de final de curso de Especialização
em Teoria e Metodologia da História (Uefs).
Lembro também o nome de meu pai, Wellington
Castellucci, e dos meus irmãos, Wellington Castellucci Jr. e
Luciano Silva Castellucci, e dos colegas e amigos Alexandre
Augusto Costa Coutinho, Carlos Zacarias F. de Sena Jr., Iuri
Roberto Sacramento Ramos, Cláudio Clédson Novaes, Cláu-
dia Andrade Vieira e Marilécia Santos, com os quais troquei
informações sobre fontes e idéias.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) me concedeu uma bolsa de estudos
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por dois anos, fundamental para que pudesse me afastar das
atividades docentes e me dedicar à pesquisa e à elaboração
da dissertação de mestrado. O Programa de Pós-Graduação
em História da Universidade Federal da Bahia financiou uma
viagem de pesquisas que fiz a São Paulo, onde pude ter aces-
so a fontes da história da classe operária baiana que se en-
contravam no Arquivo Edgard Leuenroth (Unicamp).
Ao longo do referido curso, realizei pesquisas em mui-
tas instituições, sendo sempre bem acolhido em todas elas.
Na Biblioteca da Pós-Graduação da FFCH - UFBA, contei
com a inestimável ajuda e cordialidade de Marina. Registro
meus agradecimentos especiais também aos funcionários do
Arquivo Público do Estado da Bahia (Apeb), da Biblioteca
Pública do Estado da Bahia (BPEB - Biblioteca Central), do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHBA), do Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Arquivo
Histórico de Salvador (AHS) / Fundação Gregório de Matos,
da Biblioteca da Associação Baiana de Imprensa (ABI), da
Biblioteca da Associação Comercial da Bahia (ACB) e do
Centro de Documentação e Informação Cultural sobre a Ba-
hia (Cedic) / Fundação Clemente Mariani. Em Campinas, lem-
bro a forma igualmente acolhedora com que fui recebido no
Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) e na Biblioteca Setorial de
Ciências Humanas da Unicamp.
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Sumário
Prefácio 19
Introdução 2 5
Salvador operária 4 1Estrutura social soteropolitana 44
Composição social da classe operária 59
Trabalhar e morar em Salvador 80
O reino da necessidade 9 5Carestia e especulação 98
A crise do pão 107
A crise de moradia 113
Crise de trabalho e compressão salarial 118
O reino da liberdade 147O conflito interoligárquico e o sindicalismo operário 155
As greves do início do ano 180
As jornadas de junho 186
Depois do vendaval de junho 223A crise do liberalismo e a questão social 225
A reação patronal 227
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A expansão do movimento para o Recôncavo 230
Politização e crescimento da organização sindical 232
As novas greves de 1919 e 1920 236
O primeiro congresso dos trabalhadores baianos 244
A Federação dos Trabalhadores Baianos
e a cisão de 1920 246
O Partido Socialista Baiano (1920) 248
A nova imprensa operária (1920-1922) 251
Conflitos e cisões sindicais 255
As greves de 1921 e a crise do movimento operário 259
Fontes e referências bibliográficas 269
AnexoFundação de sociedades mutualistas, beneficentes
e cooperativas Bahia, 1832-1930 323
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Prefácio
O trabalho na Fábrica de Massas Alimentícias Progresso.
Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia
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21
Em agosto de 1918, um velho operário revelou a um repórter
carioca que, antes da fundação da Sociedade de Resistência
dos Trabalhadores em Trapiche e Café, era comum um carre-
gador ser surrado com chicote de barbante por qualquer mo-
tivo. “Não havia apelação”, disse, “malhavam o negro”, e “a
polícia de nada sabia”. “Essa situação”, continuou, “se para
alguns era muito natural, porque a sua infeliz condição de
trabalhador de café era um prolongamento do eito, que o 13
de Maio demoliu, para a maioria era uma afronta aos brios
do gênero humano e um desmentido à bondade de Deus. E
Deus inspirou, protegeu e ajudou os companheiros que le-
vantaram a Resistência, como um braço forte que nos ampa-
ra nas lutas da vida”. “A Resistência”, completou, “deu o gri-
to do novo 13 de Maio”.
No Brasil das primeiras décadas do século XX, men-
ções à “escravidão” eram comuns no discurso dos militantes
sindicais, numa referência velada à obra de Leon Tolstoy – A
Escravidão Moderna. Mas apesar das alterações de nuanças
ou de palavras que certamente foram introduzidas neste rela-
to pela escrita do jornalista, é fácil se ver que não era a Tolstoy
ou ao regime fabril que o velho carregador se referia ao falar
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da “escravidão” do trabalhador moderno. Na sua fala emerge
um fragmento do cotidiano que projeta as experiências amar-
gas do cativeiro diretamente na vida dos trabalhadores de
trapiches e armazéns de café, que mourejavam a seu lado
naquele ano de 1918. Dizer que a Sociedade de Resistência
havia dado “o grito do novo 13 de Maio” era expressar um
simbolismo pleno de significado, pois construído sobre cone-
xões reais entre os antigos negros escravos da Corte imperial,
as práticas escravistas, e os carregadores negros coevos do
Rio de Janeiro republicano.
Este depoimento de um carregador de identidade des-
conhecida somente foi registrado porque o porto e a cidade
estavam convulsionados por uma forte greve de resistência a
um amplo lock out patronal. Os grandes embates grevistas
têm sempre esta dimensão: a de fazer aflorar um mundo sub-
terrâneo de queixas, violações de direitos, arbitrariedades,
protestos e reivindicações, em geral ignorados juntamente com
as existências obscuras daqueles que se queixam, protestam
e reivindicam. Isso porque a greve, na feliz expressão de
Michelle Perrot, “é um acontecimento que fala e do qual se
fala”. Por causa dela muito se observa, muito se diz e muito
se escreve. Fenômeno social dinâmico de enorme complexi-
dade, a greve desnuda e multiplica as relações de classe. Re-
vela conexões entre grupos e indivíduos, articula instâncias
muitas vezes vistas como compartimentos estanques, ilumi-
na entrelaçamentos entre ações e ideologias. Põe diante de
nós não só o operariado, como também o patronato, o Esta-
do, os partidos políticos e a opinião pública, e pelo emara-
nhado de fatos que joga em nossas mãos nos obriga a buscar
as relações e as mediações.
Escrito originalmente como uma dissertação de Mes-
trado voltada para a análise da greve geral de 1919 em Salva-
dor, este livro de Aldrin Armstrong Castellucci é, sobretudo,
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23
um estudo de relações e conexões. Relações entre a Primeira
Guerra Mundial e a escassez dos gêneros de primeira necessi-
dade, a especulação imobiliária, e a carestia de vida da popu-
lação em geral; ou entre a guerra e o aumento dos preços das
matérias-primas, a crise industrial, a compressão salarial, e o
desemprego de diferentes setores da classe operária. Cone-
xões entre os movimentos operário e sindical cariocas e os
soteropolitanos; ou entre os movimentos paredistas que ex-
plodem em 1917 em várias regiões do Brasil e a greves ocorri-
das depois na Bahia. Relações entre a crise política
interoligárquica baiana dos anos 10 e 20 e o comportamento
dos grupos políticos locais frente ao processo de luta iniciado
com as greves operárias de 1919; ou entre os grupos políticos
da situação seabrista e da oposição ruísta e as elites econômi-
cas encasteladas na Associação Comercial e no Centro In-
dustrial do Algodão. Conexões, por fim, entre experiências
de exploração, ação política, organização sindical e consciên-
cia de classe; ou entre a greve geral de Salvador e a mobiliza-
ção operária de várias cidades no Recôncavo.
Examinando a greve geral de 1919 principalmente do
ponto de vista do seu significado enquanto momento de acú-
mulo de forças, avanços organizativos e aprofundamento de
definições ideológicas, Aldrin Castellucci parte do pressuposto
teórico de que a ação humana é fruto não só de escolhas,
como de condicionantes estruturais. Este livro é, portanto,
mais do que uma investigação detalhada sobre a ação do pa-
tronato e do operariado baianos em uma conjuntura específi-
ca de crise. Nele o leitor encontrará também uma discussão
da estrutura social da cidade de Salvador nos anos 20; uma
análise cuidadosa da estrutura ocupacional da classe traba-
lhadora e da sua composição social em termos de idade, gê-
nero e etnia; uma descrição da geografia da indústria, do tra-
balho e dos locais de moradia do operariado; além de muitas
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24
informações sobre o capital investido, os meios de produção
e os lucros das indústrias, ou sobre as formas de organização
e de expressão dos trabalhadores.
Dentre os raros estudos sobre os industriais e a classe
operária na Bahia durante a República Velha, tema muito
pouco explorado pela historiografia brasileira, este livro é o
primeiro a examinar com abrangência os efeitos econômicos
da Primeira Guerra Mundial sobre o mundo do trabalho em
Salvador, e a apontar de forma clara que a amplitude e a dinâ-
mica das greves de 1919 foram também fortemente influenci-
adas por fatores de natureza política.
É um trabalho de grande qualidade, baseado fundamen-
talmente em fontes primárias dispersas e de localização ár-
dua, apresentando uma contextualização histórica extensa para
os fatos narrados e um quadro analítico sólido para os argu-
mentos desenvolvidos. Sem ter a vã pretensão de responder
a todas as questões, cumpre muito bem o seu papel. Não
fecha portas, e abre janelas.
Maria Cecília Velasco e Cruz
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Universidade Federal da Bahia
Fevereiro, 2004
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25
Introdução
Desenho original da fábrica de tecidos Todos os Santos, em Valença.
Fonte: COSTA, Shirley; BERMAN, Débora & HABIB, Roseane Luz. 150 anos da indústria têxtil bra-
sileira. Rio de Janeiro: Senai – Cetiqt, 2000. p. 41.
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27
A produção historiográfica acerca dos movimentos operá-
rio e sindical no Brasil já é relativamente extensa e diversifi-
cada, embora, paradoxalmente, seja também repleta de lacu-
nas e problemas de interpretação. Os primeiros registros so-
bre a presença, a importância e o papel da classe trabalhado-
ra na sociedade brasileira foram feitos pelas próprias lideran-
ças do movimento operário. Enfocando, prioritariamente, os
setores organizados, pudemos observar que esses escritos e
memórias dos militantes eram, marcadamente, voltados para
a legitimação das próprias correntes ideológicas às quais ti-
nham aderido, sendo essa análise enviesada em face do obje-
to da história comum tanto aos escritos dos libertários como
aos dos reformistas e comunistas.1
1 Essa literatura foi passada em revista recentemente por BATALHA, Claudio
H. M. A historiografia da classe operária no Brasil: trajetória e tendências. In:
FREITAS. Marcos Cezar (org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São
Paulo: Contexto, 1998. Os principais autores desse grupo são: PEREIRA,
Astrojildo. Formação do PCB (1922 - 1928): notas e documentos. Rio de
Janeiro: Editorial Vitória, 1962 e Construindo o PCB (1922 - 1924). São Paulo:
Livraria Editora Ciências Humanas, 1980; LINHARES, Hermínio. Contribui-
ção à história das lutas operárias no Brasil. São Paulo: Alfa-Omega, 1977; DIAS,
Everardo. História das lutas sociais no Brasil. 2. ed. São Paulo: Alfa-Omega,
1977 (1. ed. de 1962); LIMA, Heitor Ferreira. Caminhos percorridos: memórias
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28
Assim sendo, esses trabalhos eram tributários dos mes-
mos problemas de sua matriz européia, quando uma história
operária bastante tradicional, predominantemente feita fora
do mundo universitário e escrita por intelectuais e/ou mili-
tantes de uma das tendências políticas ou ideológicas da época,
associava e confundia, deliberadamente, classes operárias com
movimentos, partidos e organizações que tentavam se fundir
com as classes operárias ou que junto às mesmas tentavam
difundir as suas ideologias. Minimizando o mundo operário
a partir da exclusão dos aspectos ligados à cultura, ao cotidi-
ano e ao modo de vida da classe operária do rol de suas pre-
ocupações, esses estudiosos terminavam por realizar uma dis-
sociação entre classe e organização, bases e líderes, superes-
timando a real importância de determinados grupos, organi-
zações e partidos a partir de uma memória seletiva e subme-
tida aos imperativos da conjuntura, o que levava à constru-
ção de narrativas tradicionais, excessivamente valorizadoras
de aspectos institucionais, além de edificarem um passado
heróico e idealizado. Essa tendência perdurou até a década
de 1960, quando o mundo sofreu uma virada política e os
estudantes e jovens professores universitários entraram num
processo de radicalização, levando a história da classe operá-
ria para o âmbito das universidades, o que exigiu maior apro-
fundamento da pesquisa histórica, análise crítica da ampla
bibliografia e alargamento temático e teórico-metodológico
de militância. São Paulo: Brasiliense, 1982; BRANDÃO, Octávio. Combates e
batalhas: memórias. São Paulo: Alfa-Omega, 1978; BASBAUM, Leôncio. Uma
vida em seis tempos (memórias). São Paulo: Alfa-Omega, 1976. De RODRI-
GUES, Edgar, temos: Socialismo e sindicalismo no Brasil (1675 - 1913). Rio de
Janeiro: Laemmert, 1969; Nacionalismo e cultura social, 1913 - 1922. Rio de
Janeiro: Laemmert, 1972; Novos rumos: história do movimento operário e das
lutas sociais no Brasil, 1922 - 1946. Rio de Janeiro: Mundo Livre, [19--]; Alvo-
rada operária: os congressos operários no Brasil. Rio de Janeiro: Mundo Livre,
1979; Os anarquistas: trabalhadores italianos no Brasil. São Paulo: Global, 1984.
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29
desse campo de estudos. Isso implicou, como bem lembraram
Eric Hobsbawm e Georges Haupt, a realização de pesquisas
que abrangessem o conjunto da classe trabalhadora e a ruptura
com a história exclusivamente política e ideológica.2
A partir da década de 1960, os primeiros trabalhos aca-
dêmicos começaram a ser desenvolvidos pelos sociólogos bra-
sileiros, buscando construir grandes sínteses explicativas da
evolução do movimento operário no Brasil a partir de pesqui-
sas majoritariamente feitas com base num corpus documental
muito limitado e com um universo empírico circunscrito a São
Paulo. Disso decorreu que as generalizações se mostraram frá-
geis e não resistiram aos estudos posteriores que procuraram
dar conta da dinâmica de outras regiões ou estados brasileiros.
Ao reduzir a história da classe operária nacional ao seu movi-
mento no que hoje é o principal centro industrial e econômico
da federação, esses autores obscureceram tudo quanto não se
parecia com um padrão esquemático no qual os operários eram
imigrantes estrangeiros (em geral italianos), qualificados,
politizados e geralmente inclinados a apoiar o anarquismo.3
2 HOBSBAWM, Eric J. História operária e ideologia. In: _____. Mundos do
trabalho: novos estudos sobre história operária. Tradução de Waldea Barcellos
e Sandra Bedron. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 17-33; HAUPT,
Georges. Por que a história do movimento operário? Revista Brasileira de
História, ANPUH, São Paulo, v. 5, n. 10, p. 208-231, mar./ago. 1985.
3 Para uma crítica mais detida a esta literatura, ver: VELASCO E CRUZ, Maria
Cecília. Amarelo e negro: matizes do comportamento operário na República
Velha. 1981. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Instituto Universi-
tário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981. As principais obras
sociológicas do período foram: RODRIGUES, Leôncio Martins. Conflito in-
dustrial e sindicalismo no Brasil. São Paulo: Difel, 1966; RODRIGUES, José
Albertino. Sindicato e desenvolvimento no Brasil. São Paulo: Difel, 1968; LOPES,
Juarez Brandão. Sociedade industrial no Brasil. São Paulo: Difel, 1964 e Crise do
Brasil arcaico. São Paulo: Difel, 1967. Um trabalho histórico feito por sociólo-
go que destoa desta produção é o de SIMÃO, Azis. Sindicato e Estado: suas
relações na formação do proletariado de São Paulo. São Paulo: Dominus/Edusp,
1966 (2. edição - São Paulo, Ática, 1981).
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30
Nada mais distante da realidade que mostraremos para a Ba-
hia, onde a classe operária era esmagadoramente nacional,
ou seja, formada por brasileiros, e estes eram, em sua maio-
ria, negros ou mestiços. Além disso, uma variante do sindica-
lismo revolucionário chegou a se estabelecer em Salvador, mas
o fez de modo relativamente tardio e jamais conseguiu ven-
cer a hegemonia que os grupos socialistas exerciam sobre a
classe operária de Salvador e do Recôncavo desde a última
década do século XIX.
Dos anos 1970 em diante, particularmente com a produ-
ção historiográfica dos brasilianistas, a tendência a reduzir a
classe operária e seu movimento ao anarquismo trazido pelos
imigrantes estrangeiros foi superada, sendo mesmo negada
como um mito sem qualquer fundamentação na realidade.
Demonstrou-se também que tais trabalhadores imigrantes vi-
nham, em grande parte, da zona rural de seus países (inclusive
os da Itália), não possuindo nenhuma experiência com o tra-
balho fabril.4 Todavia, o movimento operário de São Paulo e,
secundariamente, o do Rio de Janeiro ainda continuaram sen-
do os referenciais para a maioria dos estudos sobre a classe
operária brasileira, situação que não mudou mesmo com a en-
trada em cena dos historiadores nacionais.5 Fora os estados já
4 Os principais brasilianistas aqui discutidos são: HALL, Michael. Trabalhadores
Imigrantes. In: Trabalhadores, nº 3 (Imigrantes), Campinas, SP: Secretaria Mu-
nicipal de Cultura, Esportes e Turismo/Fundo de Assistência à Cultura, 1989.
p. 2-15; HALL, Michael; PINHEIRO, Paulo Sérgio. Imigração e movimento
operário: uma interpretação. In: DEL ROIO, José Luiz (org.). Trabalhadores do
Brasil: imigração e industrialização. São Paulo: Ícone/Edusp, 1990; MARAN,
Sheldon Leslie. Anarquistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro (1890 -
1920). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979; DULLES, John W. F. Anarquistas e
comunistas no Brasil (1900 - 1935). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.
5 O trabalho pioneiro de maior peso é o de FAUSTO, Boris (Trabalho urbano e
conflito social (1890 - 1920). São Paulo/Rio de Janeiro: Difel, 1976), embora
o original artigo escrito por Maria Cecília Baeta Neves o anteceda no tempo.
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31
Ver: NEVES, Maria Cecília Baeta. Greve dos sapateiros de 1906 no Rio de
Janeiro: notas de pesquisa. Revista de Administração de Empresas, Rio de
Janeiro, v. 13, n. 2, p. 49-66, abr./jun. 1973.
6 Para o caso gaúcho, ver: LONER, Beatriz Ana. Construção de classe: operá-
rios de Pelotas e Rio Grande (1888 - 1930). Pelotas: Editora da UFPel., 2001;
PETERSEN, Sílvia Regina Ferraz. Que a união operária seja a nossa pátria!:
história das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações.
Santa Maria: Editora da UFSM; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001;
BILHÃO, Isabel. Rivalidades e solidariedades no movimento operário: Porto Ale-
gre, 1906-1911. Porto Alegre: Editora da PUC-RS, 1999. Para o caso mineiro,
ver: ANDRADE, Silvia Maria Belfort Vilela de. Classe operária em Juiz de
Fora: uma história de lutas (1912 - 1924). Juiz de Fora: Editora da UFJF, 1987;
DUTRA, Eliana de Freitas. Caminhos operários nas Minas Gerais: um estudo
das práticas operárias em Juiz de Fora e Belo Horizonte na Primeira República.
Belo Horizonte; São Paulo: Editora da UFMG/Hucitec, 1988.
7 RUBIM, Antonio Albino Canelas. Movimentos sociais e meios de comuni-
cação – Bahia, 1917 - 1921. Cadernos do CEAS, Salvador, n. 61, p. 30-43,
maio/jun. 1979; RUBIM, Antonio Albino Canelas; RUBIM, Jorge Luiz Ca-
nelas. As lutas operárias na Bahia (1917 - 1921). Cadernos do CEAS, Salva-
dor, n. 80, p. 22-34, jul./ago. 1982.
mencionados, a maioria dos estudos sobre o tema tem como
referência central o Rio Grande do Sul e Minas Gerais.6
Na Bahia, entre os poucos estudos existentes sobre a
classe trabalhadora durante a Primeira República, cabe menci-
onar os artigos dos irmãos Rubim. Procurando explorar as re-
lações entre o movimento operário baiano e a imprensa ligada
às elites, esses autores fizeram um mapeamento das posições
políticas e ideológicas que os principais órgãos da imprensa
local assumiram, na conjuntura de 1917 a 1921, frente às de-
mandas do operariado. Por meio do confronto e da análise dos
jornais ligados a Seabra e ao PRD (O Democrata e O Tempo)
e dos órgãos da oposição vinculada a Ruy Barbosa (Diário da
Bahia, O Imparcial, A Tarde e Diário de Notícias), juntamente
com o levantamento resumido dos principais fatos ocorridos
naqueles anos, eles chegaram a esboçar a dinâmica das gre-
ves e dos conflitos interoligárquicos que marcaram o período.7
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32
A dissertação de mestrado, infelizmente ainda não publica-
da, de José Raimundo Fontes foi, no entanto, o primeiro es-
tudo de história operária de maior fôlego, apresentando um
levantamento exaustivo sobre a incidência de greves e reivin-
dicações dos trabalhadores na Bahia durante toda a Primeira
República, sendo a abrangência da pesquisa e seus ganhos
em termos de conhecimento das tendências gerais do movi-
mento grevista e suas conjunturas de maiores ou menores
fluxos o principal mérito do trabalho.8
Contudo, um grande número de temas de história ope-
rária não foi ainda objeto de estudo na Bahia até hoje, tais
como as comemorações do 1º de Maio9 e do 14 de Julho (ve-
remos adiante como era grande a simpatia pela Revolução
Francesa), rituais político-partidários, a atuação dos primei-
ros sindicatos e organizações socialistas que apareceram em
Salvador nos primeiros anos da República, a vida cotidiana
nas vilas operárias, as festas e tradições, inclusive as religio-
sas, etc. Cabe dizer, ainda, que para a Bahia também não exis-
tem monografias sobre temas específicos da história da clas-
se operária: a análise de uma greve ou de uma conjuntura em
particular, a vida de um sindicato ou do sindicalismo em uma
determinada categoria, o exame de um jornal ou da imprensa
operária local, as correntes reformistas e libertárias, etc.10 O
8 FONTES, José Raimundo. Manifestações operárias na Bahia: o movimento
grevista, 1888-1930. 1982. 273p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)
– Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 1982.
9 Há poucos estudos específicos sobre o tema no Brasil. Ver: ARÊAS, Luciana
Barbosa. As comemorações do Primeiro de Maio no Rio de Janeiro (1890 -
1930). História Social, Campinas (SP), n. 4/5, p. 9-28, 1997 - 1998.
10 Para uma visão panorâmica da imprensa operária brasileira, ver o clássico traba-
lho de FERREIRA, Maria Nazareth. Imprensa operária no Brasil (1880 - 1920).
Petrópolis: Vozes, 1978. Exemplos de estudos de jornais e grupos anarquistas
específicos podem ser vistos nos seguintes artigos: TOLEDO, Edilene Teresinha.
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33
Em torno do jornal “O Amigo do Povo”: os grupos de afinidade e a propagan-
da anarquista em São Paulo nos primeiros anos deste século. Cadernos AEL,
Unicamp, Campinas, v. 8/9, p. 89-113, 1998; BIONDI, Luigi. Anarquistas
italianos em São Paulo. O grupo do jornal anarquista La Bataglia e sua visão
da sociedade brasileira: o embate entre imaginários libertários e etnocêntricos.
Cadernos AEL, Campinas: Unicamp, v. 8/9, p. 117-147, 1998; ARAVANIS,
Evangelia. A utopia anarquista em Porto Alegre nos anos de 1906 e 1907: os
anarquistas porto-alegrenses do periódico “A Luta” e sua tentativa de mudar
o rumo local da história. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre: EDIPUCRS,
v. 22, n. 2, p. 41-52, dez. 1996. A imprensa operária no Paraná da Primeira
República e dos anos 1930 mereceu o estudo específico de ARAÚJO, Silvia
e CARDOSO, Alcina. Jornalismo e militância operária. Curitiba: Editora da
UFPR, 1992. Para o Ceará, ver: GONÇALVES, Adelaide; SILVA, Jorge E.
(orgs,). A imprensa libertária do Ceará (1908 - 1922). São Paulo: Imaginário,
2000; GONÇALVES, Adelaide; BRUNO, Allyson. (orgs.). O Trabalhador
Gráfico. Fortaleza: Editora da UFC, 2002.
11 SILVA, Maria da Conceição Barbosa da Costa e. O Montepio dos Artistas: elo
dos trabalhadores em Salvador. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do
Estado da Bahia; Fundação Cultural; Egba, 1998.
12 Embora numa nova perspectiva, o gênero biográfico está de volta à história e a
outros campos do saber. Para uma discussão teórica sobre o assunto, ver:
SCHMITD, Benito Bisso (org.). O biográfico: perspectivas interdisciplinares.
Santa Cruz do Sul, RS: Edunisc, 2000. Exemplos de biografias de militantes e/
ou intelectuais vinculados ao movimento operário e sindical podem ser vistos
em: SCHMITD, Benito Bisso. Um socialista no Rio Grande do Sul: Antônio
Guedes Coutinho (1868 – 1945). Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS,
2000; SCHMIDT, Benito Bisso. O patriarca e o tribuno: caminhos, encru
mutualismo, um fenômeno que foi muito forte na Bahia,
mereceu apenas um único estudo de caso.11 Visando enfren-
tar teoricamente a relação entre líderes e liderados, indivídu-
os e classe, é preciso lembrar também que nenhuma biografia
fora escrita sobre sujeitos históricos centrais no movimento
operário baiano da Primeira República, a exemplo do
ultrapopular rábula Cosme de Farias, de influência mais lo-
cal, ou do advogado socialista Agripino Nazareth, de proje-
ção nacional, largamente citado em vários momentos deste
trabalho como o intelectual orgânico da classe operária da
Bahia por excelência entre os anos de 1919 e 1921.12
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34
zilhadas, viagens e pontes de dois líderes socialistas – Francisco Xavier da
Costa (187? - 1934) e Carlos Cavaco (1878 - 1961). 2002. Tese (Doutorado
em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Esta-
dual de Campinas, Campinas, 2002; DUARTE, Regina Horta. A imagem
rebelde: a trajetória libertária de Avelino Fóscolo? Campinas: Editora da
Unicamp, 1991; FEIJÓ, Martin Cezar. O revolucionário cordial: Astrojildo
Pereira e as origens de uma política cultural. São Paulo: Boitempo Editorial,
2001; KHOURY, Yara Aun. Edgard Leuenroth: uma voz libertária. Imprensa,
memória e militância anarco-sindicalistas. 1989. Tese (Doutorado em Histó-
ria) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1989; ROMANI, Carlo. Oreste Ristori: uma aventura
anarquista. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2002.13 SAMPAIO, José Luís Pamponet. Evolução de uma empresa no contexto da
industrialização brasileira: a Companhia Empório Industrial do Norte, 1891 -
1973. 1975. 236p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Faculdade
de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
1975; OLIVEIRA, Waldir Freitas. A industrial cidade de Valença: um surto de
industrialização na Bahia do século XIX. Salvador: Centro de Estudos Baia-
nos da UFBA, 1985.
14 BORBA, Silza Fraga Costa. Industrialização e exportação do fumo na Bahia,
1870-1930. 1975. 143p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Fa-
culdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 1975.
As carências são tão grandes que os próprios estudos
sobre o processo de industrialização ocorrido no século XIX e
na Primeira República são rarefeitos, configurando, na ver-
dade, um espaço praticamente vazio, quando comparado à
pujante produção historiográfica sobre outros temas do Oi-
tocentos. As exceções a essa regra são os trabalhos de José
Luís Pamponet Sampaio e de Waldir Freitas Oliveira, que re-
alizaram estudos específicos sobre a indústria têxtil baiana,13
e Silza Fraga Costa Borba, que escreveu sobre a indústria
fumageira.14 Por último, é preciso lembrar a tese de doutora-
do de Mário Augusto da Silva Santos, na qual o operariado
baiano da República Velha aparece, mesmo que de modo di-
luído, num estudo sobre as diversas formas de luta pela so-
brevivência que as classes populares de Salvador empreende-
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35
ram no período, em particular as que se relacionavam à cares-
tia e ao açambarcamento dos gêneros de primeira necessida-
de e à especulação imobiliária com as habitações operárias e
dos pobres em geral.15
A riqueza histórica do período e o silêncio da bibliogra-
fia especializada aguçaram a nossa curiosidade em conhecer
melhor os acontecimentos de 1919, brevemente relatados pe-
los irmãos Rubim e por Raimundo Fontes. Qual a natureza
do sindicalismo baiano? E por que a greve geral ocorreu em
1919 e não em 1917? Para atingir nosso objetivo, convencemo-
nos da hipótese de que a história operária brasileira poderia
alcançar outro patamar analítico a partir da articulação das
pesquisas regionais, ou seja, cruzando as informações sobre a
vida e o movimento da classe operária nos vários estados bra-
sileiros.16 O que se segue, então, é uma pequena peça desse
enorme quebra-cabeça, tão diverso e complexo quanto o país
que ele representa.
A bibliografia geral sobre o tema dava conta, por exem-
plo, de que, no Rio de Janeiro, greves abarcando ramos de
produção e/ou atividade inteiros, já haviam ocorrido desde o
início do século XX, tendo a luta pela jornada de 8 horas
como pauta, caso dos movimentos de estivadores, tecelões e
sapateiros de 1903 e 1906.17 Mesmo em pontos tão distantes
15 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Sobrevivência e tensões: Salvador, 1890-
1930. 1982. 417p. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982.
Uma versão do trabalho foi publicada recentemente. Ver: SANTOS, M. A.
S. A República do Povo: Sobrevivência e tensão: Salvador, 1890 - 1930. Salva-
dor: Edufba, 2001.16 PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. Cruzando fronteiras: as pesquisas regionais
e a história operária brasileira. In: ARAÚJO, Angela M. C. (org.). Trabalho,
cultura e cidadania: um balanço da história social brasileira. São Paulo: Scritta,
1997, p. 85-103.
17 VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Virando o jogo: estivadores e carregadores
no Rio de Janeiro da Primeira República. São Paulo: USP, 1998. Tese (Douto-
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36
e com histórias e tradições culturais e políticas tão distintas
como São Paulo e Rio Grande do Sul, greves gerais foram
feitas, respectivamente, em 1906 e 1907, tendo a jornada de 8
horas como reivindicação.18 Em 1917, uma nova leva de gre-
ves gerais foi desencadeada nestes estados, sendo que a de
São Paulo foi a que ficou imortalizada e retida de maneira
mais significativa na memória do movimento operário, influ-
enciando a própria classe operária de outras unidades da fe-
deração e inspirando um razoável número de trabalhos aca-
dêmicos.19
Na Bahia, a própria natureza do movimento de greve
geral de junho de 1919 e os acontecimentos que o sucederam
são sensivelmente diferentes de tudo quanto havia aconteci-
do até aquele momento no estado. Até então, a maioria da
classe operária baiana se debatia em lutas de caráter espontâ-
rado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998; VELASCO E CRUZ, Maria
Cecília. Solidariedade x rivalidade: a formação do sindicalismo estivador
brasileiro. História Unisinos (Dossiê Trabalho e Movimento Operário), São
Leopoldo, RS: PPGH - Unisinos, v. 6, n. 6, p. 29-62, 2002; NEVES, Maria
Cecília Baeta. Greve dos sapateiros de 1906 no Rio de Janeiro: notas de
pesquisa. Revista de Administração de Empresas, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p.
49-66, abr./jun. 1973; LOBO, Eulália Maria Lahmeyer; STOTZ, Eduardo
Navarro. Flutuações cíclicas da economia, condições de vida e movimento
operário. Revista do Rio de Janeiro, Niterói, RJ, v. 1, n. 1, p. 61-86, 1985.
18 PINHEIRO, Paulo Sérgio; HALL, Michael. A classe operária no Brasil, 1889
- 1930 (v. 1 - O movimento operário). São Paulo: Alfa-Omega, 1979. p. 64-
72; PETERSEN, Sílvia R. Ferraz. As greves no Rio Grande do Sul (1890 -
1919). In: GONZAGA, Sérgio (org.). RS: Economia e Política. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1979. p. 277-327.
19 Ver a respeito: FAUSTO, Boris. Conflito social na república oligárquica: a
greve de 1917. Estudos Cebrap, São Paulo, n. 10, p. 79-109, out.-nov.-dez.
1974; CAMPOS, Cristina Hebling. O sonhar libertário (movimento operário
nos anos 1917 - 1921). Campinas, SP: Pontes/Editora da Unicamp, 1998;
LOPREATO, Christina Roquette. O espírito da revolta: a greve geral anar-
quista. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2000.
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37
neo, sem qualquer organização sindical, ou tendo-a em situ-
ação de extrema fragilidade, reivindicando o pagamento de
salários atrasados por meio de negociação ou greves isoladas
por fábrica ou oficina. Em junho de 1919, a situação apresen-
ta-se de modo bem diferente, pois a classe operária incluiu
entre suas reivindicações elementos inteiramente novos, como
a duração da jornada de trabalho, a abolição do trabalho in-
fantil e a regulamentação e o estabelecimento da isonomia
salarial entre homens e mulheres que exercessem as mesmas
funções. Além disso, o movimento passou a abarcar um mai-
or número de estabelecimentos e operários e questionou os
mecanismos de compra e venda da força de trabalho.
Resolvemos, então, estudar a conjuntura de 1919, pro-
curando dar conta das múltiplas dimensões que envolviam a
história da classe operária de Salvador. Um de nossos objeti-
vos foi, portanto, demonstrar como a crise ocasionada pela
Primeira Guerra Mundial se manifestou na Bahia e qual a sua
relação com o movimento operário. Procuramos demonstrar,
pois, como os problemas relacionados a escassez, carestia e
especulação afetaram as condições de vida do conjunto da
população e, em seguida, estreitamos essa análise, objetivan-
do compreender como tais problemas se associavam e se com-
binavam com as questões específicas que afligiam a classe
operária, como o desemprego e a depreciação salarial, e como
tais privações e sofrimentos foram vivenciados de forma di-
ferenciada por cada uma de suas frações.
Em última análise, o que colocamos para demonstra-
ção foi como a guerra e os problemas derivados dela foram
essenciais na conformação de uma consciência de classe no
operariado baiano. Essa consciência de classe foi o resultado
direto de um processo de amadurecimento político determi-
nado por privações e sofrimentos causados pelo conflito, de-
vidamente catalisados pelos sindicatos operários, em sua
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maioria de orientação ideológica socialista, que souberam
transformar essa experiência operária - pautada pela fome,
fechamento de fábricas, desemprego, longas, insalubres e
extenuantes jornadas de trabalho - em argumentos capazes
de convencer a classe operária a avançar em suas lutas duran-
te o período de recuperação, a partir do primeiro trimestre de
1919, munida de uma consciência da exploração a que estava
submetida. Nesse sentido, é possível dizer que a mobilização
da classe operária baiana em 1919 seguiu um padrão já obser-
vado por Eric Hobsbawm, por exemplo, em outras conjuntu-
ras e lugares, segundo o qual a organização e a movimenta-
ção dos trabalhadores são favorecidas quando uma fase de
crise é sucedida por um novo ciclo de prosperidade econômi-
ca. Em função da maior estabilidade do emprego ou de um
maior número de postos de trabalho disponíveis, os operári-
os negociam numa posição mais confortável e têm melhores
condições de barganhar em seu favor.20
O que fizemos, então, foi reconstruir a ação política
dos homens e mulheres que fizeram a sua história nos mar-
cos de seus condicionantes estruturais e tensões da conjuntu-
ra, buscando os limites e as possibilidades da ação coletiva
da classe operária. O objetivo foi melhorar a margem de com-
preensão e explicação de suas próprias atitudes a partir do
entendimento de seu campo de ação. Como bem observou
Emília Viotti da Costa, a reconciliação entre as análises de
tipo estrutural e das experiências dos sujeitos é a melhor
maneira de ampliar as possibilidades de compreensão do com-
portamento operário, resgatando os sujeitos conscientes e
atuantes da nova historiografia, mas não caindo no equívoco
20 HOBSBAWM, Eric J. Flutuações econômicas e alguns movimentos sociais
desde 1800. In: _____. Os trabalhadores: estudos sobre a história do operaria-
do. Tradução de Marina Leão Teixeira Viriato. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1981. p. 134-163.
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39
de pensar que esses sujeitos são absolutamente livres de qual-
quer tipo de determinação, o que se constituiria num retro-
cesso idealista, estranho à própria corrente do marxismo que
deu origem a essa abordagem.21
Procuramos também apontar que a amplitude e a dinâ-
mica das greves de 1919 foram fortemente influenciadas por
fatores de natureza política. Sem os conflitos intra-oligárquicos
e sem a liberdade de expressão arrancada pelos operários às
elites em crise no poder estadual, o movimento dos trabalha-
dores talvez não tivesse se convertido na primeira greve geral
da Bahia. De todo modo, a pesquisa demonstrou que a idéia
de um Estado oligárquico absolutamente impermeável à clas-
se operária e às suas reivindicações, tida por alguns autores
como válida principalmente para o caso paulista, é indefensável
em se tratando da Bahia, principalmente no que tange ao ano
de 1919. Nessa última unidade da federação, como se verá, as
tentativas de assimilação e cooptação eram muito mais pre-
sentes do que as práticas repressivas, o que não quer dizer
que estas últimas não existissem, como demonstraremos ao
analisarmos os acontecimentos do final da conjuntura, em
particular do ano de 1921. O mesmo se pode dizer da suposta
proteção dada pelo Estado aos industriais como forma de
compensar a sua fraqueza organizativa. Na medida em que
esses segmentos estavam identificados politicamente com as
facções oligárquicas da oposição e que seus antagonistas es-
21 COSTA, Emília Viotti da. A nova face do movimento operário na Primeira
República. Revista Brasileira de História, ANPUH, São Paulo, v. 2, n. 4, p. 217-
232, set. 1982; COSTA, Emília Viotti da. Estrutura versus experiência. Novas
tendências da história do movimento operário e das classes trabalhadoras na
América Latina: o que se perde e o que se ganha. Boletim Informativo e Bibliográ-
fico de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Vértice/ANPOCS, n. 29, p. 3-16,
1990; COSTA, Emília Viotti da. A dialética invertida, 1960 - 1990. Revista
Brasileira de História, ANPUH, São Paulo, n. 27, p. 14-26, 1994.
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40
tavam no comando do aparato estatal, em particular no ano
de 1919, tal pressuposto deve ser relativizado, o que também
não anula o fato de que as instituições estatais dessa fase de
nossa história fossem, regra geral, instrumentos de defesa dos
interesses oligárquicos e da propriedade burguesa.
É chegado o momento de resumir os conteúdos do tra-
balho. No primeiro capítulo, fizemos uma análise de tipo es-
trutural na qual procuramos traçar um perfil social da classe
operária de Salvador, discorrendo sobre sua composição em
termos socioprofissionais, o peso da mão-de-obra feminina
e infantil, a fraqueza da imigração estrangeira e a presença
majoritária dos negros e mestiços no conjunto dos brasilei-
ros. Depois passamos a nos ocupar com a descrição da geo-
grafia da indústria e do trabalho na cidade. No segundo capí-
tulo, trabalhamos num plano de análise das tensões
conjunturais geradas pela guerra, enfocando os problemas li-
gados a carestia e escassez de alimentos, especulação imobi-
liária e crise de trabalho e compressão salarial na fase de 1912
a 1919. No terceiro capítulo, procuramos mostrar como o iní-
cio de um novo ciclo de prosperidade econômica combinou
perfeitamente com a crise política interoligárquica de 1919 e
com a grande fermentação sindical iniciada com a guerra, res-
saltando a importância desse tríplice condicionamento na de-
flagração de uma série de greves setoriais a partir de janeiro
que culminaram na greve geral de junho. Com o capítulo qua-
tro finalizamos o trabalho discorrendo sobre os desdobramen-
tos daquele movimento no campo da mobilização, organiza-
ção e politização da classe operária de Salvador entre os anos
de 1919 e 1921.
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41
Salvador operária
O trabalho na Fábrica de Calçados Weber, Gama, Lenz & Cia.
Fonte: BAHIA. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia. 30 anos da indús-
tria, comércio e turismo na Bahia 1966 – 1996. Salvador: Unifacs; IPA, 1997. p. 83.
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43
Desde tempos remotos, Salvador manteve uma estreita re-
lação com seu Recôncavo. A antiga metrópole colonial, que
tanto brilho havia revelado no século XVIII e no início do
XIX, viveu seus dias de glória a partir de um modelo econô-
mico no qual o porto, as atividades comerciais (inclusive o
tráfico negreiro) e a agroindústria açucareira ditavam as re-
gras de tudo o mais na sociedade baiana. Esta cidade essenci-
almente portuária e comercial era o escoadouro da produção
de sua hinterlândia, sendo, por isso mesmo, fortemente in-
fluenciada pelo mundo rural. Em conseqüência dessa situa-
ção, os governantes da província procuraram promover me-
lhoramentos nos meios de transportes e comunicações, cons-
truindo e expandindo ferrovias e criando as condições de
navegabilidade dos rios. Com isso, aumentava a dependên-
cia do interior em relação à capital, que passou a concentrar
todos os recursos econômicos, financeiros, sociais e políti-
cos, atraindo para si as massas de sertanejos esfomeados eva-
didos, periodicamente, das secas que assolavam a Bahia.
O comércio de importação e exportação era a principal
atividade econômica da cidade no século XIX e mesmo na
Primeira República. Por ordem de importância, tínhamos o
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44
cacau, o fumo, o açúcar, o café, os couros curtidos e em sal-
moura (couro cru), as peles, a piaçava, as pedras preciosas, a
cera de carnaúba, a borracha e as madeiras. Estes produtos
eram embarcados cotidianamente para vários países, ao pas-
so que chegavam a Salvador desde a lã, o linho e a seda até
objetos de vidro, o ouro e a prata, a perfumaria, os instru-
mentos musicais, os medicamentos, os vinhos, as especiari-
as, a farinha de trigo, o óleo de oliva, o charque, o bacalhau,
etc. Do mesmo modo que centralizava a recepção dos produ-
tos vindos do interior para encaminhá-los para o exterior, Sal-
vador monopolizava também a entrada de mercadorias vin-
das de outras nações e fazia, por meio de seu porto, sua
redistribuição para o interior da província por meio dos tro-
peiros e marinheiros.1
Estrutura social soteropolitana
Nas primeiras décadas do século XX, o peso e a influência do
comércio ainda eram bastante grandes. Foram os comercian-
tes que pressionaram as autoridades governamentais a reali-
zar as reformas urbanas necessárias à sua própria expansão.
Exemplo disso são as obras de construção do cais e pavimen-
tação de ruas na área portuária, iniciadas em 1906, a introdu-
ção do bonde elétrico, da telefonia e da eletricidade, em perí-
1 TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. 10 ed. ampl. São Paulo:
Editora da Unesp; Salvador: Edufba, 2001. P. 361-364; MATTOSO, Katia
M. de Queirós. Bahia, século XIX. Uma Província no Império. Rio de Janei-
ro: Nova Fronteira, 1992. p. 75-81; 487-523. Ver também, da mesma autora:
A opulência na Província da Bahia. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de
(org.). História da vida privada no Brasil: Império: A corte e a modernidade
nacional. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 143-179.
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45
odo anterior, e as reformas urbanas iniciadas no primeiro go-
verno de J. J. Seabra (1912 - 1916).2
Entretanto, apesar de sua vocação comercial inequívo-
ca, já tantas vezes lembrada pela historiografia, seria um erro
imaginar que em Salvador não existia uma indústria consoli-
dada em alguns setores da economia ou que a classe operária
era uma força social desprezível. Demonstrar quem fazia par-
te dessa classe operária, qual o seu peso e composição social,
onde trabalhava e onde morava, por ocasião da greve geral e
dos acontecimentos que a sucederam, é o objetivo principal
deste capítulo. Para tanto, é necessário analisar a estrutura
social da cidade em seu conjunto, o que será feito através das
informações fornecidas pelos Censos Industrial e Populacio-
nal de 1920, além de relatórios e várias estatísticas oficiais de
anos diversos.
O primeiro elemento que salta aos olhos ao se exami-
nar os dados da Tabela 1 é o elevado número de habitantes
enquadrados na categoria dos que não tinham ou não decla-
raram ter profissão: 163.410 pessoas ou 57,7% de uma popu-
lação total de 283.422 habitantes. Mesmo considerando que
no seio desse enorme contingente populacional houvesse
muitas donas de casa e crianças de todas as idades, esse é um
dado que revela a situação de pobreza em que vivia a maioria
da população de Salvador, boa parte dela sobrevivendo na
informalidade, por meio de expedientes não-convencionais,
desempregada ou subempregada, que compunha um enorme
exército industrial de reserva responsável por um rebaixamen-
to ainda maior das condições de vida dos integrados ao mer-
2 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Crescimento urbano e habitação em
Salvador (1890 - 1940). Revista de Arquitetura e Urbanismo, FAU-UFBA,
Salvador, v. 3, n. 4/5, p. 20-29, jul./dez. 1990.
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46
cado de trabalho, ou mesmo engrossando as fileiras dos de-
socupados, miseráveis e desvalidos, já absolutamente afasta-
dos de qualquer possibilidade de reintegração ao mundo da
produção.
Tabela 1
Estrutura social – Salvador, 1920
Fonte: BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral
de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920.
Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1930, v. IV (5ª Parte - População).
P. 362-363.
* Inclui os 1.538 operários do setor de extração.
** Inclui os trabalhadores do Centro Telefônico de Salvador, controlado pela
iniciativa privada.
AtividadeNúmeros
Absolutos%
Agricultura 11.719 4,1
Criação 224 0,1
Caça e pesca 1.178 0,4
Indústria* 45.653 16,1
Transportes marítimos e fluviais 3.212 1,1
Transportes terrestres e aéreos 5.770 2
Comércio e finanças 15.780 5,6
Força pública 2.857 1
Administração pública** 3.406 1,2
Administração particular 1.185 0,5
Sacerdócio e profissões liberais 5.932 2
Pessoas que vivem de suas rendas 645 0,3
Serviço doméstico 11.247 4
Profissões mal definidas 11.204 3,9
Profissão não declarada e sem profissão 163.410 57,7
Total da população de Salvador 283.422 100
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47
Pobreza e trabalho informal, portanto, são traços estru-
turais da sociedade baiana em geral, soteropolitana em parti-
cular, e suas origens remontam a tempos bem distantes. Já no
final do século XVIII, observadores confiáveis, a exemplo do
professor de grego Luis dos Santos Vilhena, registravam, com
certo amargor, que Salvador era uma cidade repleta de prosti-
tutas, decaídas em função da dura vida que levavam, e mendi-
gos de todas as raças. Eles poderiam ser brancos – marinheiros
igualmente decadentes em função de doenças não inteiramen-
te curadas na Santa Casa de Misericórdia e que se entregavam
à prática de esmolar e embriagar-se pelas ruas – ou negros e
mulatos entregues à própria sorte após longo período de des-
gaste provocado pelo trabalho intenso sob a escravidão. Nesse
número se encontravam, também, os ganhadores, forma gené-
rica pela qual eram chamados os carregadores baianos ainda
sob a República, e as ganhadeiras, escravas ou não, que atra-
vessaram os tempos vendendo seus quitutes pelas ruas estrei-
tas, acidentadas, sujas e fétidas de Salvador.3
Estudos históricos mais recentes têm mostrado que, no
século XIX, a riqueza de uma pequena elite ostentadora e
branca, construída em detrimento da maioria da população,
contrastava vivamente com o espetáculo de misérias e pobre-
zas das negras faces e ruas de salvador. As multidões de pe-
dintes e desempregados, que viviam da mendicância, eram a
face mais dramaticamente explícita da pobreza urbana, que
se apresentava, também, de forma menos visível, expressa
no grande número de pessoas que viviam do trabalho domés-
tico ou como agregados em casas de famílias, ricas ou não.
Os pobres estavam também pelas ruas, trabalhando como
vendedores ambulantes, serventes ou diaristas, ocupações
marcadamente sazonais e instáveis. A pobreza estava por toda
3 VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no século XVIII. Salvador: Itapuã,
1969. (Principalmente o v. 1.)
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48
parte e podia ser vista sob diversas perspectivas e em suas
múltiplas faces e gradações. No Oitocentos, pouco mais de
5% dos que morriam deixavam bens dignos de serem
inventariados. Por outro lado, a maior parte das pessoas re-
cebia remunerações tão baixas por seu trabalho que quais-
quer oscilações do mercado ou dos preços dos gêneros de
primeira necessidade poderiam levá-las à indigência. Esses
sujeitos moravam em habitações pequenas, úmidas, sem ven-
tilação, em desobediência a quaisquer normas de higiene e
saúde pública. A precariedade e a pobreza eram expressas,
também, pela inexistência de mobiliário em suas casas e rus-
ticidade das roupas dos moradores. Assim, a mendicância era
uma prática que extrapolava o âmbito restrito dos mendigos
de rua, sendo desenvolvida, também, por pessoas que tinham
ocupação e usavam aquele expediente como forma de com-
plementação da renda ou mesmo como renda principal e úni-
ca. Em alguns casos, a mendicância chegou a se tornar uma
prática reconhecida, aceita e legitimada pelas paróquias e ins-
tituições de caridade, a exemplo da Santa Casa de Misericór-
dia. Na maioria dos casos, porém, os que esmolavam – nú-
mero que cresceu ao longo do século XIX – não conseguiam
mais qualquer ajuda, passando a ser vistos como vadios e
ociosos, principalmente nas fases de crise econômica. Mal
alimentadas e vivendo em condições miseráveis, essas pesso-
as estavam mais suscetíveis às epidemias, como o cólera e os
surtos de febre amarela, que provocavam milhares de óbitos.
Havia também os problemas climáticos, representados pelas
secas e enchentes que afligiram os habitantes da Bahia no
período. Combinados, tais fatores ampliavam e degradavam
ainda mais o número e as condições de vida dos pobres e
miseráveis que perambulavam pelas ruas a pedir esmolas.4
4 FRAGA FILHO, Walter. Mendigos, moleques e vadios na Bahia do século XIX.
São Paulo: Hucitec; Salvador: Edufba, 1996.
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49
Dentre os trabalhadores informais, os carregadores se
constituíam num dos principais grupos ocupacionais na Salva-
dor do século XIX, até as primeiras décadas do XX. Esses su-
jeitos formavam mesmo uma fração da classe trabalhadora com
um corte étnico predominantemente africano, fossem eles es-
cravos ou livres, não havendo registro de mestiços ou brancos
nessa ocupação durante boa parte do Oitocentos. É apenas no
final do século XIX e durante a Primeira República que essa
situação se modificaria, quando os africanos vão, paulatina-
mente, cedendo lugar aos brasileiros negros e mestiços. Esse
numeroso grupo era responsável pela intensa circulação de
mercadorias e pessoas pela cidade, possuindo uma complexa
organização do trabalho representada pelos cantos de traba-
lho, nomeados segundo o local onde se concentravam à espera
de quem contratasse os seus serviços. Em 1887, no Livro de
Matrícula dos Cantos, documento no qual a polícia impunha
seu controle sobre esses trabalhadores, constava o registro de
89 cantos, com 1.703 membros na área urbana de Salvador. A
maioria era formada por libertos ou livres, observando-se a
presença de apenas 5 escravos. A maioria dos cantos e os mais
numerosos estavam localizados na Cidade Baixa, onde ficava
o complexo portuário e o comércio. Por último, é preciso dizer
que um grande número de ganhadores possuía ofícios especi-
alizados, informação que os africanos omitiam das autorida-
des como forma de escapar ao pagamento de impostos, mas
que os nacionais declaravam sem nenhum prejuízo. Estes in-
formaram, ao todo, 35 ocupações, sendo as mais freqüentes as
de pedreiro, carpinteiro, cozinheiro, marceneiro, ferreiro, ro-
ceiro, sapateiro, alfaiate, copeiro, padeiro, tanoeiro, indicando
que o trabalho de carregador poderia ser uma contingência em
períodos de crise/desemprego para muitos.5
5 Sobre o trabalho de rua em Salvador, ver: REIS, João José. A greve negra de
1857 na Bahia. Revista USP, São Paulo, n. 18, p. 7-29, 1993; REIS, João José.
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50
A situação se refletia claramente, também, na existên-
cia, ainda nas primeiras décadas do século XX, de um comér-
cio ao ar livre hipertrofiado, formado por muitas pessoas que
vendiam produtos ou serviços de modo itinerante ou fixan-
do-se num determinado ponto, rua, avenida, praça, etc., da
cidade. Suas práticas lembravam a dos numerosos ganhado-
res e ganhadeiras da velha Bahia. Em 1915, por exemplo, ti-
nham licença para comerciar pelas ruas cerca de 4.545 indiví-
duos, número que certamente seria maior se a relação inclu-
ísse todos aqueles que negociavam sem permissão oficial.6
Em estreita relação com o chamado comércio ao ar li-
vre estavam as grandes áreas verdes do perímetro urbano de
Salvador, conservadas a despeito das reformas modernizado-
ras implementadas desde o início do século XX. Nas colôni-
as, hortas, roças, chácaras, fazendas e estábulos dos bairros
centrais e principalmente dos distritos mais periféricos traba-
lhava um total de 13.121 pessoas alocadas no setor agropastoril
e pesqueiro da cidade, o que correspondia a 4,6% de sua po-
pulação. Esse contingente, denunciador da mistura entre o
rural e o urbano da capital baiana ainda nessa época, era res-
ponsável pelo pequeno abastecimento local, fornecendo raí-
zes, frutas, legumes, verduras, ovos, peixes e carnes frescas
para os segmentos proletários que habitavam os bairros po-
pulares da cidade. Suas atividades estavam diretamente vin-
culadas às inúmeras feiras de Salvador, como por exemplo as
existentes na Rampa do Mercado, em Ribeira de Itapagipe,
em Água de Meninos, no Porto do Bonfim e no Tanque da
Conceição, onde os pobres faziam suas compras e grande parte
De olho no canto: trabalho de rua na Bahia na véspera da Abolição. Afro-
Ásia, Ceao-UFBA, Salvador, n. 24, p. 199-242, 2000.
6 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Sobrevivência e tensões: Salvador, 1890-
1930. 1982. 417p. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982. p. 76.
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51
daquele enorme conjunto de pessoas sem profissão declara-
da conseguia obter o seu ganha-pão de cada dia. Esse setor
incluía, também, as centenas de pescadores que moravam nas
colônias de pesca que se estendiam pela Orla Marítima, a
exemplo das do Rio Vermelho, de Amaralina, Pituba e Itapuã
(conhecida área suburbana de pesca – e festa - da baleia) e
também na Enseada dos Tainheiros (no outro extremo de
Salvador, na Cidade Baixa).7 Seu número, aliás, certamente
era maior que as 1.178 pessoas indicadas pelo Censo Popula-
cional de 1920, pois em 1923 o registro da Capitania do Porto
atestava a existência de 3.407 pescadores matriculados, dis-
tribuídos por 38 colônias de pesca, um número igualmente
superior ao das 5 mais conhecidas citadas acima.8
O segundo aspecto que a Tabela 1 ressalta diz respeito
ao real peso da classe operária no conjunto da população de
Salvador. Em 1920, a cidade já era bem diferente daquela do
século XIX, não podendo mais ser vista como centro urbano
exclusivamente portuário e comercial. Na verdade, o comér-
cio e as finanças empregavam tão-somente 5,6% da mão-de-
obra urbana, embora estes setores econômicos ainda repre-
sentassem um valor substancial das finanças públicas em ter-
mos de arrecadação, principalmente o setor atacadista e de
importação e exportação, dominado pelos portugueses. O
setor varejista era o que apresentava o maior número de con-
tribuintes, agregando panificadoras, bares, tavernas, cafés,
restaurantes, comércio de alimentos, lojas de tecidos e arti-
7 Para uma discussão específica sobre o tema, ver: SANTOS, Mário Augusto
da Silva. Op. cit. p. 37-40 e Novas e velhas ocupações na Salvador republica-
na (1890 - 1930). Cidade & História, Salvador: UFBA/Faculdade de Arqui-
tetura/Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, p. 257-262, 1992.8 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial
do Estado da Bahia, p. 344-345, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário.
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52
gos do vestuário em geral, etc.9 Já o setor industrial ocupava,
independente de seu maior ou menor dinamismo, 45.653
operários distribuídos em diversos ramos de produção. Isso
significa que a mão-de-obra operária das fábricas, oficinas,
minas e pedreiras da cidade correspondia a 16,1% do conjun-
to da população, ou mais. Isto porque, se considerarmos que
na seção de profissões mal definidas, composta pelos 11.204
indivíduos que se apresentaram como “operário”, “trabalha-
dor”, “aprendiz”, “empregado”, etc. podem estar muitos
membros da classe trabalhadora que responderam ao inqué-
rito do Censo Populacional de forma vaga, concluiremos, fa-
cilmente, que o tamanho da classe operária de Salvador era
realmente maior. Em meio a esta categoria, certamente os
recenseadores incluíram muitos carregadores que buscavam
trabalho cotidianamente na zona portuária da Cidade Baixa e
até operários e aprendizes de fábricas e oficinas. Em seu con-
junto, a classe operária tinha um tamanho inferior apenas ao
enorme contingente dos sem-profissão (57,7% da população),
sendo 3 vezes maior que o comércio e finanças e tendo 13
vezes mais membros que a administração pública.
Sobre os operários fabris e de ofício, cabe fazer ainda
uma observação relevante. O setor manufatureiro de cigarros
e charutos parece ter sido englobado nas informações relati-
vas à agricultura (cultura do fumo), seus operários tendo sido
excluídos, portanto, do universo computado para Salvador.
Estudos específicos demonstraram que aquela foi uma indús-
tria que surgiu da iniciativa dos próprios comerciantes e ex-
portadores do fumo, possuía um caráter difuso, demandava
poucos investimentos e utilizava uma numerosa mão-de-obra
operária com baixo nível de qualificação. Salvador concentra-
9 BAHIA, Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia. A inserção da
Bahia na evolução nacional – 2ª Etapa (1890 - 1930). Salvador: CPE, 1980. p.
51-67.
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53
va as principais fábricas de cigarros, algumas mecanizadas, ao
passo que a maioria das manufaturas de charutos estava nas
cidades do Recôncavo, principalmente Cachoeira, São Félix,
Muritiba e Maragogipe, mas também em outros municípios,
a exemplo de Feira de Santana, Amargosa, Cruz das Almas,
Nazaré, Alagoinhas, Santo Antônio de Jesus e São Gonçalo
dos Campos.1 0 Encarada como atividade agroindustrial, o
número de operários empregados nas fábricas soteropolita-
nas é de difícil cálculo, mas pode-se dizer que era bem inferi-
or ao das unidades do Recôncavo. Em 1923, por exemplo, as
fábricas de charutos de São Félix, Cachoeira e Maragogipe,
as três principais cidades do Recôncavo Fumageiro, emprega-
vam, juntas, 7 mil operárias, sendo que a Danemann possuía
mais de 3.000, a Suerdick mais de 2.200 e as 2.000 restantes
labutavam nas incontáveis pequenas unidades e no trabalho
em domicílio.1 1
Outro setor operário que não aparece especificado nas
estatísticas dos Censos Demográfico e Industrial é o dos grá-
ficos da cidade. Uma fonte alternativa, contudo, informa-nos
que apenas a Imprensa Oficial do Estado empregava 588 tra-
balhadores em 1923, sendo 35 do quadro efetivo e 553 ope-
rários jornaleiros.1 2
À classe operária é preciso somar, por fim, os 3.212 tra-
balhadores em transportes marítimos e fluviais, um número
decerto subestimado, só tendo contado, ao que tudo indica,
10 BORBA, Silza Fraga Costa. Industrialização e exportação do fumo na Bahia,
1870 - 1930. 1975. 143p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) –
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 1975. p. 35-54.11 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial
do Estado da Bahia, p. 294-296, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário.
12 ___. Salvador: Imprensa Oficial do Estado da Bahia, p. 215-218, 2 jul. 1923.
Edição Especial do Centenário.
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54
a mão-de-obra empregada nas grandes empresas, como a Com-
panhia de Navegação Baiana, que fazia o comércio de carga e
de passageiros entre Salvador, o Recôncavo e cidades do sul da
Bahia, e a Companhia de Transportes Marítimos, responsável
pela maior parte do transporte de carga entre o porto e os na-
vios ancorados no interior da Baía de Todos os Santos, deixan-
do-se de lado as centenas de indivíduos que trabalhavam nos
saveiros e barcos que também faziam a ligação da capital com
o Recôncavo e a Ilha de Itaparica.13 Acrescentemos, também,
os 5.770 trabalhadores em transportes terrestres, desde os
carroceiros e motoristas de automóveis até os condutores,
motorneiros e demais empregados das companhias Linha Mu-
nicipal, Linha Circular e Trilhos Centrais controladoras dos
serviços de bondes, elevadores, planos inclinados, energia elé-
trica e iluminação pública nos dois níveis da cidade.14 Além
13 As origens da Companhia de Navegação Baiana remontam a meados do
século XIX, tendo sido formada em 1858 a partir da fusão da Companhia
Bonfim (1847) com a Companhia Santa Cruz (1851). Em 1862, foi comprada
pelos ingleses, passando a se chamar Bahia Steam Navigation Company
Limited. Em 1879, após a sua liquidação, formou-se a Companhia Baiana de
Navegação a Vapor, sendo adquirida pelo Lloyd Brasileiro em 1891. Entre
1904 e 1906, foi arrendada ao engenheiro Alencar Lima. De 1906 a 1921,
ficou sob controle do Estado para depois passar a ser uma sociedade anônima.
Já a Companhia de Transportes Marítimos foi fundada em 1910, com um
capital de 2.000:000$000, sendo Wilson Sons & Co. Ltda. e José Gama da
Costa Santos os seus principais acionistas. Em 1913, esta empresa possuía
130 saveiros com capacidade total de transporte de 8 a 9 mil toneladas, 10
rebocadores e 3 estaleiros equipados com máquinas elétricas, controlando 7/
8 dos serviços de estiva do Porto de Salvador. Ver: DIÁRIO OFICIAL DO
ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial do Estado da Bahia, p.
132-143, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário e IMPRESSÕES DO
BRASIL NO SÉCULO VINTE. SUA HISTÓRIA, SEU COMÉRCIO,
INDÚSTRIAS E RECURSOS. Inglaterra: Lloyd’s Greater Britain Publishing
Company Ltda., 1913, p. 885.14 Até meados do século XIX, o cenário urbano de Salvador era dominado pelas
tradicionais cadeiras de arruar, carregadas por escravos, e as gôndolas, surgidas
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55
disso, nesse contingente estavam incluídos os ferroviários da
Companhia Chemins de Fer alocados em Salvador.15 A soma
do setor fabril ao de transportes marítimos e terrestres, por-
tanto, nos leva a um número, ainda bastante subestimado
depois. Por volta de 1865 ou 1866, foi fundada a Companhia Veículos Econô-
micos, operando com bondes movidos por tração animal na Cidade Baixa. Em
1894, essa empresa foi substituída pela Companhia de Carris Elétricos que, a
partir de 1897, passou a operar com bondes elétricos. Em 1905, o milionário
norte-americano Percival Farquhar e os investidores Pearson e Mackenzie se
associaram para comprar a antiga Companhia de Carris Elétricos e formar a
Bahia Tramway, Light and Power Company. Contando com mais de 3,5 milhões
de dólares em ações e debêntures, consolidaram a empresa comprando diversas
concessões dos germânicos (uma linha de bonde na Cidade Baixa) e dos britâ-
nicos (Bahia Gás Co.). Em seguida, compraram dos belgas a Companhie
d’Eclairage de Bahia. Em 1913, após uma série de incidentes, a empresa foi
vendida à municipalidade de Salvador, passando a se chamar Companhia Linha
Municipal. As Companhias Linha Circular e Trilhos Centrais também foram
formadas no século XIX. Em 1864, foi fundada a Companhia Transportes Urba-
nos, operando com bondes que faziam a linha entre a Praça do Palácio, a Graça
e depois a Barra. Em 1883, essa empresa foi incorporada pela Companhia Linha
Circular. Já a Companhia Trilhos Centrais começou a operar em 1869, fazendo
as linhas da Barroquinha, Retiro, Soledade e Rio Vermelho e passando a dispor
de bondes elétricos a partir de 1907. Juntas, essas duas companhias possuíam 3
estações geradoras de energia (Santana, Graça e Lapinha), 2 elevadores (Lacerda
e Taboão), 2 planos inclinados (Gonçalves e Pilar), cerca de 100 bondes e
empregavam 1.250 trabalhadores. Ver: DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA
BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial do Estado da Bahia, p. 132-143 e 533-
535, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário; SINGER, Paul. O Brasil no
contexto do capitalismo internacional, 1889 - 1930. In: FAUSTO, Boris. His-
tória geral da civilização brasileira. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
Tomo III (O Brasil Republicano). v. 1 (Estrutura de Poder e Economia – 1889
- 1930). P. 345-390.15 Em 1920, existiam 10 ferrovias (federais e estaduais) na Bahia, perfazendo um
total de 1.757.343 quilômetros de linhas assim distribuídas: Bahia ao São
Francisco (123.340); Central da Bahia (323.225); Santo Amaro (88.350);
Nazaré e São Miguel a Areia (221.662); São Francisco (580.770); Bahia e
Minas Gerais (142.400); Timbó a Propriá e Ramal do Timbó (142.893);
centro-oeste da Bahia (51.863); Ilhéus a Conquista (82.840). DIÁRIO OFI-
CIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial do Estado da
Bahia, p. 132-143, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário.
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56
por não incluir os operários das fábricas de cigarros e charu-
tos, das usinas de açúcar e das empresas gráficas, de uma
classe trabalhadora urbana composta por 54.635 pessoas, ou
seja, 19,3% da população total. Salvador era uma cidade ope-
rária sitiada por um imenso mundo agrário que era quase todo
o resto da Bahia.
Se a classe operária de Salvador não era pequena, redu-
zida parece ter sido a classe média. Ainda assim, é perfeita-
mente possível localizá-la em Salvador no ano de 1920. Qual-
quer tentativa de quantificá-la deve incluir as seções denomi-
nadas de sacerdócio e profissões liberais, que abarcava todos
os membros do clero, professores, advogados, médicos, etc.,
num total de 5.932 indivíduos (2,0% da população), admi-
nistração pública, com 3.406 membros (1,2% da população),
e administração particular, com 1.185 pessoas (0,5% da popu-
lação). Se assim procedermos, teremos uma classe média com-
posta por 10.523 pessoas, ou seja, 3,7% da população total
da cidade, percentual que também deve ser maior, pois parte
do comércio também integra essa camada social. Porém, se
acreditarmos, como fez Hobsbawm para a Inglaterra do sécu-
lo XIX, que a mais nítida característica da classe média ou
daqueles que pretendiam imitá-la estava no fato de possuir
empregados domésticos,16 e se esse é realmente um indicador
do tamanho da classe média, então podemos dizer, com segu-
rança, que esse setor não era grande em Salvador, pois, ao
lado dos índices indicados acima, estavam os do serviço do-
méstico da cidade, com apenas 11.247 empregados ou 4,0%
da população.
16 HOBSBAWM, Eric. Da revolução industrial inglesa ao Imperialismo. Tradu-
ção de Donaldson Magalhães Garschagem. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2000. (Especialmente o capítulo 8: Padrões de Vida, 1850 -
1914).
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57
Companhia Empório Industrial do Norte.
Sala das fiadeiras da Companhia Empório Industrial do Norte
Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia
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58
Sala dos teares nº 2 da Companhia Empório Industrial do Norte
Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia
Sala das fiadeiras da Companhia Empório Industrial do Norte
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59
Composição social da classe operária
Como se sabe, a classe operária não é um grupo social homo-
gêneo ou uma estrutura monolítica. Por trás de uma situação
comum de exploração econômica, oculta-se uma miríade sig-
nificativa de condições sociais e formas diferentes de traba-
lhar e estilos de vida igualmente distintos. Tentemos, então,
discutir um pouco o real perfil dessa classe operária para que
depois possamos melhor compreender o modo pelo qual as
suas diferentes frações se comportaram na conjuntura de 1919.
A Tabela 2 serve para elucidar vários aspectos sobre a
composição e estratificação interna da classe operária sotero-
politana. Talvez o primeiro elemento que chame a atenção ao
observarmos a disposição de seus dados seja o fato de que os
diferentes métodos utilizados para a realização do Censo In-
dustrial e do Censo Populacional tenham levado a resultados
numéricos gerais tão diferentes ao ponto deste último levan-
tamento ter apontado a existência de uma classe operária com
45.653 pessoas, quase três vezes maior que os 14.784 apre-
sentados pelo primeiro.
Como Maria Cecília Velasco e Cruz demonstrou em
sua análise da composição social da classe operária carioca
em 1917, a diferença de resultados é produto, entre outras
coisas, do fato do inquérito industrial não considerar, para
efeito de contagem, as pequenas unidades de produção, que
produziam em pequena escala e sob encomenda.1 7 De qual-
17 Para discussão e análise dos diferentes métodos utilizados pelos censos indus-
trial e populacional de 1920, e dos efeitos produzidos na contagem da popu-
lação operária, ver: VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Amarelo e negro:
matizes do comportamento operário na República Velha. 1981. p. 58-63.
Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Instituto Universitário de Pes-
quisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981.
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60
Tabela 2
Estrutura Ocupacional da Classe Operária – Salvador, 1920
Fonte: BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral
de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920.
Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v. IV (1ª Parte - População).
P. 52-53; ___. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1928, v. IV (2ª Parte
- População). P. 6; ___. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1930, v. IV
(5ª Parte - População). P. 362-363; ___. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatís-
tica, 1927, v. V (1ª Parte - Indústria). P. 252-277.
Ramo de Produção
Números
Absolutos%
Números
Absolutos%
Extração de matérias minerais - - 1.538 3,4
Têxtil 5.624 38 2.487 5,4
Couros e peles 141 1 70 0,2
Madeira 212 1,5 396 0,9
Metalurgia 22 0,2 3.081 6,7
Cerâmica 250 1,7 40 0
Produtos químicos e análogos 192 1,3 132 0,3
Alimentação 6.730 45,3 1.326 2,9
Vestuário e toucador 1.184 8 22.442 49,2
Mobiliário 110 0,8 1.578 3,4
Edificação 157 1 8.753 19,2
Aparelhos de transportes 138 1 71 0,2
Produção e transmissão de
forças físicas24 0,2 742 1,6
Ciências, letras e artes.
Indústria de luxo0 0 1.442 3,2
Outras indústrias - - 1.555 3,4
Total 14.784 100 45.653 100
Número de Operários
Censo Censo
Industrial Populacional
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61
quer forma, comparando e misturando as informações dos
dois censos quanto ao número de operários empregados, po-
demos distinguir a existência de quatro ramos principais de
produção: por ordem decrescente, os setores de vestuário e
toucador, têxtil, edificação e alimentação.
O setor de vestuário e toucador, que no Censo Indus-
trial apareceu com apenas 1.184 operários de manufaturas e
fábricas de chapéus, gravatas, luvas, calçados, pentes, botões,
etc., no Censo Populacional, que incluiu os artesãos das cen-
tenas de oficinas de sapateiros, costureiras e alfaiates, au-
mentou para 22.442 trabalhadores. Se destacarmos desse ramo
de produção o setor calçadista e empregarmos dados retira-
dos de outras fontes, veremos que suas três únicas fábricas
na Bahia, todas localizadas em Salvador, empregavam, jun-
tas, cerca de 320 operários.18 O número de oficinas de sapa-
teiros existentes na cidade era, no entanto, bem maior. Os
dados oferecidos por um relatório oficial de 1926 parecem ser
bem próximos da realidade. Por ele, ficamos sabendo que em
1925 existiam 429 oficinas e fábricas de calçados em Salva-
dor. Isolando as 4 fábricas existentes naquele ano e supondo
que as 425 unidades restantes empregavam, em média, 4 tra-
balhadores cada uma, teremos um total de 1.700 operários
sapateiros nas oficinas artesanais da capital baiana.1 9 Soma-
dos aos 320 operários das fábricas de calçados, inteiramente
mecanizadas e com uma inversão de capitais maior, temos
um setor calçadista composto por aproximadamente 2.020
obreiros. O conjunto do ramo de vestuário e toucador, po-
18 RELATÓRIO dos Serviços da Secretaria da Agricultura, Indústria, Comércio,
Viação e Obras Públicas durante o ano de 1920. Apeb, Documentação da
Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio, caixa 2386, maço 178, doc. 746.
19 RELATÓRIO do Secretário da Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e
Obras Públicas (1926). Apeb, Seção Republicana, Documentação da Secre-
taria da Agricultura, Indústria e Comércio, caixa 2387, maço 182, doc. 661.
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62
rém, possuía um padrão dominado por manufaturas que pou-
co ou nenhum maquinário utilizavam, sem falar, evidentemen-
te, no trabalho em domicílio, caso de um número enorme de
costureiras e alfaiates.
No setor têxtil, a situação era oposta. De todos os ra-
mos de produção que surgiram e se desenvolveram no Brasil
a partir do século XIX e nas três primeiras décadas republica-
nas, a indústria de fiação e tecelagem foi, sem sombra de
dúvidas, a principal delas e a Bahia foi o seu centro por exce-
lência até pelo menos a década de 1860, quando foi suplanta-
da pelo Rio de Janeiro e depois por São Paulo.20 As fábricas
têxteis, principalmente as de algodão e juta, mas também,
em menor grau e de maneira regionalizada, as de lã, seda e
linho, floresceram nessa época por todo o país, demandando
um volume de capitais nunca visto antes em qualquer outra
20 Em 1866, por exemplo, das 9 fábricas têxteis brasileiras, 5 estavam na Bahia.
A explicação para essa concentração industrial inicial na Bahia está relaciona-
da à presença abundante de matérias-primas, em especial do algodão, de
fontes de energia e à existência de mercados locais rurais e urbanos formados
por uma grande massa de escravos e trabalhadores livres pobres, consumido-
res potenciais de tecidos grossos. Acrescente-se também a disponibilidade de
capitais nacionais e estrangeiros, um razoável sistema portuário e fluvial e
uma legislação protecionista que taxava os produtos de exportação ensacados
com panos importados. Entre 1866 e 1885, um novo ciclo se abriu para a
indústria têxtil, verificando-se a existência de 42 fábricas em todo o Brasil,
sendo que 12 ficavam na Bahia. Apesar do aumento numérico em termos
absolutos, essa fase assinala o longo período de estagnação e declínio relativo
da indústria têxtil baiana, paulatinamente substituída pela do Rio de Janeiro
e depois por São Paulo. Parece consensual entre os estudiosos que essa mu-
dança foi determinada, em grande medida, pelo crescimento da cafeicultura.
Além disso, considera-se também a substituição da força hidráulica por turbi-
nas a vapor produzido a partir de carvão importado, que fizeram com que as
fábricas cariocas superassem as irregularidades das chuvas e seus efeitos sobre
a produção de energia para os teares e a construção de uma extensa rede
ferroviária ligando o Rio a São Paulo e Minas Gerais. Ver STEIN, Stanley J.
Origens e evolução da indústria têxtil no Brasil, 1850 - 1950. Rio de Janeiro:
Campus, 1979. p. 35-61.
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63
Tabela 3
Estrutura da indústria têxtil – Bahia, 1920
Fonte: RELATÓRIO dos Serviços da Secretaria da Agricultura, Indústria, Co-
mércio, Viação e Obras Públicas Durante o Ano de 1920. Apeb, Documen-
tação da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio, Caixa 2386, Maço
178, Doc. 746.
Capital Força Número Número Produção
Motriz de teares de operários (Metros)
Companhia União Fabril
da Bahia 3.631:575$000 Vapor 1.443 1.020 55.685.608
Fábricas
N. S. Conceição 700 850 54.755.748
São Salvador 162 100 929.860
N. S. Penha 581 70 -
S. A. Queimado - - -
Modelo - - -
São Carlos do Paraguaçu -
Companhia Progresso Eletricidade
Industrial da Bahia 4.650:000$000 e vapor 1846 2600 12.000.000
Fábricas
São Brás
Bonfim
São João
Paraguaçu
Companhia Valença
Industrial 4.000:000$000 Hidráulica 685 1100 7.600.000
Fábricas
N. S. Amparo
Todos os Santos
Companhia Empório Eletricidade
Industrial do Norte 3.000:000$000 e vapor 1300 1350 9.200.000
Fábrica
Boa Viagem
Companhia Fabril 1.000:000$000 Vapor 115 150 1.317.870
dos Fiais
Fábrica
Fábrica dos Fiais
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64
indústria de transformação, utilizando-se de tecnologias e
máquinas importadas e empregando um número de operári-
os igualmente sem par. Já em 1907, esse ramo de produção
representava 34,2% da indústria de transformação, 40,2% do
total da força motriz instalada e 40,4% do total do capital
investido na indústria brasileira.21
Em 1920, de acordo com o Censo Industrial, os operá-
rios têxteis representavam 38% da mão-de-obra estritamen-
te fabril de Salvador, mas essa participação cai drasticamente
para 5,4% no Censo Populacional, em função das já citadas
diferenças de métodos dos dois inquéritos. O caso particular
dos têxteis deve ser analisado em confronto com o dos
metalúrgicos, pois estes apareceram no Censo Industrial com
o insignificante número de 22 operários, ao passo que foram
contabilizados 3.081 no Censo Populacional. É possível que
a explicação resida no fato do inquérito industrial só ter con-
tabilizado as grandes fábricas, excluindo, portanto, muitas
fundições e oficinas de funileiros, ferreiros, serralheiros e
latoeiros existentes na cidade, e, ao mesmo tempo, ter agru-
pado os operários de cada ramo de acordo com a fábrica em
que trabalhavam e não segundo a natureza de seu ofício ou
atividade.2 2 Desta forma, os metalúrgicos que trabalhavam
nas seções de manutenção e conserto das fábricas têxteis fo-
ram considerados como operários têxteis, juntamente com os
tecelões propriamente ditos, e não como membros do ramo
de metalurgia. Isso talvez explique também a razão dos ope-
21 SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira: origens e desenvolvimento. São Pau-
lo: Hucitec; Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2000. p. 129.22 Para essa análise, baseio-me nas ponderações de VELASCO E CRUZ, Maria
Cecília, Amarelo e negro: matizes do comportamento operário na República
Velha. 1981. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) - Instituto Univer-
sitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981.
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65
rários têxteis serem computados em 5.624 no Censo Indus-
trial e apenas 2.487 no Censo Populacional. De qualquer
maneira, é importante frisar que esses números são muito
imprecisos. Já em 1908, portanto 12 anos antes do censo de
1920, fonte mais utilizada aqui, existiam 19 fábricas têxteis
na Bahia, com 4.080 operários.23 Um Manifesto assinado pelo
Centro Industrial do Algodão por ocasião da greve do ramo
têxtil de setembro de 1919, por sua vez, indicava que as fábri-
cas que representava empregavam aproximadamente 8 mil
operários naquele ano, número bastante diverso, portanto,
dos dados apresentados tanto pela estatística anterior quan-
to pelos censos industrial e populacional.24 De todo modo, é
possível que em 1919 - 1920 o número de operários têxteis de
Salvador girasse entre 6 e 7 mil.
A indústria têxtil brasileira se distinguia também pelo
fato de não ter tido seu desenvolvimento a partir de uma evo-
lução do artesanato e da manufatura, a exemplo do ocorrido
em alguns países da Europa, em particular da Inglaterra. Seu
aparecimento foi marcado, desde o início, por pesados inves-
timentos capitalistas e por uma tendência crescente à con-
centração e à centralização.2 5 Nesse sentido, vale observar
que muitas fábricas têxteis baianas, surgidas no século XIX,
acabaram sendo anexadas às nascentes sociedades anônimas,
empresas que se formaram com base em fusões que transfor-
23 Na mesma época, existiriam outras 22 fábricas no Distrito Federal, com
10.281 operários, 25 no estado do Rio de Janeiro, com 7.140 operários e 30
unidades no estado de São Paulo, empregando 9.738 operários. Ver IM-
PRESSÕES do Brasil no século XX: sua história, seu comércio, indústrias e
recursos. Inglaterra: Lloyd’s Greater Britain, 1913, p. 384-385.
24 O Tempo, Salvador, 9, 10, 11 e 12 set. 1919. Já o Jornal de Notícias. Salvador,
de 20/08/1919, p. 1, informava a existência de 30 fábricas têxteis na Bahia
daquele ano.
25 SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira: origens e desenvolvimento. São Paulo:
Hucitec; Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2000. p. 129.
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66
maram 14 unidades de produção em propriedade de apenas
cinco empreendimentos em 1919. Os níveis de concentração e
centralização podem ser aferidos, também, pelo número de
operários. Em 1920, das 14 fábricas têxteis baianas para as
quais conseguimos dados minuciosos, apenas duas poderiam
ser enquadradas na categoria das pequenas unidades (até 99
operários); cinco estariam na categoria das fábricas de tama-
nho médio (de 100 até 499 operários); enquanto outras seis
poderiam ser consideradas grandes (de 500 operários em di-
ante).26 Se analisarmos sob o ponto de vista dos capitais glo-
bais investidos em cada companhia, veremos que nenhuma
delas possuía inversão inferior a 1.000:000$000, chegando a
4.650:000$000 o maior investimento. Das 5 companhias têx-
teis baianas existentes em 1920, 3 delas já estavam num le-
vantamento das 100 maiores empresas do país no ano de
1907.27 Além disso, essa era uma indústria totalmente meca-
nizada, sendo que nenhuma de suas unidades possuía menos
de 100 teares, número que atingia a marca de até 1.846, con-
forme se vê na Tabela 3.
No setor de edificação, novamente a relação entre mão-
de-obra artesanal e fabril volta a definir diferenças profundas
no tamanho e no peso de cada uma das frações da classe ope-
rária. Nesse caso, o Censo Industrial só contabilizou os operá-
rios empregados nas fábricas de materiais de construção, tais
como as de cal e cimento, marmorarias, ornatos de cimento e
26 Ver Tabela 11 (Postos de Trabalho na Indústria Têxtil – Bahia, 1912 - 1920)
no capítulo 2. Tomei de empréstimo de Maria Alice Rosa Ribeiro (RIBEIRO,
Maria Alice Rosa. Condições de trabalho na indústria têxtil paulista, 1870 -
1930. São Paulo: Hucitec; Campinas: Editora da Unicamp, 1988. p. 52-53)
os critérios adotados para definir os tamanhos das fábricas têxteis.
27 DEAN, Warren. A industrialização durante a República Velha. In: FAUSTO,
Boris. História geral da civilização brasileira. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1997. Tomo III (O Brasil Republicano). v. 1 (Estrutura de Poder e
Economia – 1889 - 1930). p. 248-283.
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67
gesso, esquadrias, portas e escadas, etc., do que resultou só ter
achado o inexpressivo número de 157 trabalhadores. Quando
passamos a trabalhar com os dados do Censo Populacional,
que incluiu em seu levantamento as centenas de pedreiros,
carpinteiros, pintores, canteiros, frentistas, estucadores,
marmoristas, serventes, ajudantes, etc., que compunham o
setor da construção civil propriamente dito, os 8.753 operári-
os encontrados parecem bem mais razoáveis para uma cidade
com as características de Salvador.
No ramo da alimentação, o que de imediato chama a
atenção é a diferença numérica entre os 6.730 operários com-
putados pelo Censo Industrial e os 1.326 do Censo Populacio-
nal. Essa discrepância é merecedora de uma investigação mais
cuidadosa, pois como a história da industrialização da Bahia
ainda está por ser feita, a real configuração deste setor é, na
realidade, um tanto quanto obscura. De qualquer modo, algu-
mas evidências indicam que as fábricas de alimentos e bebidas
empregavam pequenas quantidades de operários. Disso se
depreende que os mesmos poderiam estar pulverizados numa
quantidade de unidades de produção que somadas talvez não
agrupassem mais que os 1.326 operários do Censo Populacio-
nal. Mesmo considerando que também aqui havia trabalhado-
res de outros ofícios que exerciam funções auxiliares nos esta-
belecimentos desse ramo, tal não explica a diferença de um
censo para o outro. Uma hipótese a ser descartada, também, é
a da inclusão dos trabalhadores de padaria e confeitarias, pois
estas unidades foram enquadradas como estabelecimentos va-
rejistas. As dúvidas acerca desses dados só fazem aumentar
quando lembramos que o Censo Populacional, em geral, apre-
senta um número superior ao do Censo Industrial, situação
que se encontra invertida no caso dessa atividade.
Em seu conjunto, pois, o setor artesanal, que no Censo
Industrial não é contado, no Censo Populacional aparece e
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68
determina uma mudança radical na composição, no tamanho
e no peso da classe operária. O ramo de vestuário e toucador,
por exemplo, aumenta em quase dez vezes e o de edificação
multiplica-se por mais de 50. Os setores de mobiliário e me-
talurgia, que praticamente não existiam no inquérito indus-
trial, no populacional passam a ocupar lugar destacado com
mais 1.500 e 3.000 operários, respectivamente. No total, a
mão-de-obra operária artesanal é três vezes maior que a fa-
bril, o que explica nossa surpresa ao ver o real tamanho e
peso da classe operária de Salvador.
É preciso referir, também, que o número de estabeleci-
mentos industriais cresceu num ritmo muitas vezes maior do
que o suposto na bibliografia. Em 1892, havia 142 “fábricas”
em funcionamento, sendo 12 têxteis, 3 de chapéus, 2 de cal-
çados, 4 de cigarros, 12 de charutos, 1 de rapé, 5 fundições de
ferro, bronze e outros metais, 1 de ferro esmaltado, 1 de pre-
gos, 9 engenhos centrais, 4 refinarias de açúcar, 5 alambi-
ques, 10 de sabão e sabonete, 2 de cerveja, 6 de velas (4 de
parafina e 2 de cera), 2 de chocolate, 1 de luvas de pelica e
camurça, 2 de camisas e meias, 1 de fósforos, 50 de pão e
massas alimentícias, 1 de biscoitos, 1 de gelo e óleo, 6 serrari-
as e 1 de móveis de madeira.28 Cerca de 12 anos mais tarde,
esse número permanecia praticamente o mesmo. Em 1904,
eram 141 estabelecimentos fabris, sendo 12 têxteis, 3 de cha-
péus (feltro, lã, pele de lebre, palha e sparterie), 3 de calça-
dos, 12 de charutos, 5 fundições (ferro e bronze), 2 de gelo,
12 de óleos, 3 de camisas, 2 de rapé, 5 de velas, 3 de chocola-
te, 3 de ferraduras para animais, 2 de flores artificiais, 2 de
ornamentos de igreja, 3 de produtos químicos, 5 de móveis,
28 CALMON, Francisco Marques de Góes. Ensaio de retrospecto sobre o comér-
cio e a vida econômica e comercial na Bahia de 1823 a 1900. Diário Oficial do
Estado da Bahia, p. 376-396, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário.
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69
4 curtumes, 4 de carros, 2 de luvas, 3 de caixas de papelão, 10
de malas e baús, 6 de vassouras, 3 de graxas e lubrificantes,
13 de sabão, 6 de sabonetes, 4 de perfumarias, 1 de confete, 3
de águas minerais, 3 de biscoitos finos, 6 de café, 11 de vina-
gre, 4 de cerveja, 1 de fósforos, 2 de licores e bebidas espiritu-
osas, 3 de cola, 2 de lapidações, 21 de tijolos e telhas, 14 de
cal, 1 de beneficiamento de piaçava, 5 de beneficiamento de
cereais, 2 de massas italianas, além de algumas serrarias, es-
taleiros, passamanarias, sacarias e oficinas de redes, chapéus
de sol, bandeiras, livros em branco, conservas de frutas, chi-
nelos de trança e carvão vegetal.2 9 Em 1908, por ocasião da
Exposição Permanente de Propaganda Industrial Brasileira,
esse número havia tido uma ligeira queda para 120 estabele-
cimentos.3 0
Mas em 1920 o Censo Industrial já acusava a existência
de 491 estabelecimentos industriais, sendo 14 têxteis, 8 de
couros e peles, 12 de madeira, 6 de metalurgia, 34 de cerâmi-
ca, 49 de produtos químicos e análogos, 195 de alimentação,
143 de vestuário e toucador, 8 de mobiliário, 17 de edificação,
4 de aparelhos de transportes, 1 de produção e transmissão
de forças físicas e nenhum na indústria de luxo.31 Lembre-se
que o Censo Industrial de 1920 contém uma imperfeição re-
levante na medida em que não contabiliza as pequenas ofici-
nas artesanais, o que nos faz pensar num número bem maior
de estabelecimentos. Determinado almanaque daquele ano
indicava (a título de propaganda) a existência, por exemplo,
29 AZEVEDO, Thales de; LINS, E. Q. Vieira. História do Banco da Bahia, 1858
- 1958. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1969. p. 191.30 Diário de Notícias, Salvador, 28 mar. 1908, p. 5.
31 BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral
de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920.
Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v. V (1ª Parte - Indústria).
p. 181.
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70
de outras 19 marcenarias, 3 serrarias, 7 marmorarias, 43
alfaiatarias e 14 ateliês de costura.32 Em 1925, uma mudança
drástica já havia ocorrido, pois apenas em Salvador o número
de estabelecimentos em funcionamento já era de 641, sendo
571 com até 6 operários, 38 com 6 a 12 trabalhadores e 32 com
mais de 12 operários. Naquele mesmo ano, o número de fábri-
cas têxteis em funcionamento era de 11 e as de “artefatos de
tecidos”, ou seja, as de vestuário, era de 103. As de calçados,
como vimos, eram em número de 429 entre “grandes e peque-
nas”, ou seja, entre oficinas e fábricas propriamente ditas.33
Um segundo aspecto da composição social da classe
operária a ser analisado diz respeito ao peso da mão-de-obra
feminina. O recrutamento de mulheres (e de menores) para a
indústria acabou por definir um padrão salarial extremamen-
te baixo, insuficiente até mesmo para a reprodução da força
de trabalho. Em termos globais, a inclusão ou não de deter-
minados ramos de produção, e até mesmo a forma de fazê-la,
fez com que não apenas o tamanho da classe operária de Sal-
vador fosse diferente, mas também a sua cara em termos de
gênero, pois no Censo Industrial as mulheres eram 65,7% e
os homens eram 34,3% do total, ao passo que no Censo Po-
pulacional as mulheres tinham sua participação reduzida para
41% e os homens passavam a ser 59%. Alterações importan-
tes ocorrem também nos pesos específicos de cada ramo no
conjunto da força de trabalho. Os operários têxteis, por exem-
plo, representavam 38% do total da classe operária baiana no
cálculo do Censo Industrial, mas tinham sua participação re-
duzida a 5,4% de acordo com o Censo Populacional. Com os
32 ALMANAQUE Indicador, Comercial e Administrativo do Estado da Bahia.
Bahia: Reis & Cia., 1919.
33 RELATÓRIO do Secretário da Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e
Obras Públicas (1926). Apeb, Seção Republicana, Documentação da Secre-
taria da Agricultura, Indústria e Comércio, caixa 2387, maço 182, doc. 661.
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71
trabalhadores do ramo de vestuário e toucador ocorreu o opos-
to, pois seu peso total saiu de 8% no Censo Industrial para
49,2% no Populacional, ou seja, quase a metade da classe
operária da cidade era desse setor.
Tabela 4
Estrutura ocupacional da classe operária segundo o sexo –
Salvador, 1920Ramo de produção
Extração de matérias
minerais - - - - 1.538 100,0% 0 0,0%
Têxtil 1.840 32,7% 3.784 67,3% 924 37,2% 1.563 62,8%
Couros e peles 105 74,5% 36 25,5% 67 95,7% 3 4,3%
Madeira 212 100,0% 0 0,0% 396 100,0% 0 0,0%
Metalurgia 22 100,0% 0 0,0% 3.081 100,0% 0 0,0%
Cerâmica 198 79,2% 52 20,8% 38 95,0% 2 5,0%
Produtos químicos
e análogos 93 48,4% 99 51,6% 125 94,7% 7 5,3%
Alimentação 1.745 25,9% 4.985 74,1% 1.145 86,3% 181 13,7%
Vestuário e toucador 446 37,7% 738 62,3% 6.281 28,0% 16.161 72,0%
Mobiliário 110 100,0% 0 0,0% 1.578 100,0% 0 0,0%
Edificação 143 91,0% 14 9,0% 8.753 100,0% 0 0,0%
Aparelhos
de transportes 138 100,0% 0 0,0% 71 100,0% 0 0,0%
Produção e transmissão
de forças físicas 19 79,2% 5 20,8% 742 100,0% 0 0,0%
Ciências, letras e artes.
Indústria de luxo 0 0,0% 0 0,0% 1.392 96,5% 50 3,5%
Outras indústrias - - - - 824 53,0% 731 47,0%
Total 5.071 34,3% 9.713 65,7% 26.955 59,0% 18.698 41,0%
Censo industrial Censo populacional
Homens Mulheres Homens Mulheres
Fonte: BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral
de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920.
Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v. IV (1ª Parte - População).
p. 52-53; ___. ___. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1928, v. IV (2ª
Parte - População). p. 6; ___. ___. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística,
1930, v. IV (5ª Parte - População). P. 362-363; ___. ___. Rio de Janeiro:
Tipografia da Estatística, 1927, v. V (1ª Parte - Indústria). p. 252-277.
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72
Seguindo um padrão da indústria brasileira e mundial,
em Salvador a maior parte das operárias estava nos ramos de
vestuário e toucador e no têxtil. No primeiro caso, as mulhe-
res constituíam 72% dos 22.442 operários do setor encontra-
dos pelo Censo Populacional e 62,3% dos 1.184 do Censo
Industrial. Já as operárias têxteis tinham uma participação de
62,8% dos 2.487 operários encontrados no Censo Populaci-
onal e 67,3% dos 5.624 indicados pelo Censo Industrial. Al-
gumas fábricas têxteis de Salvador chegavam a ter uma pro-
porção ainda maior de mulheres, podendo alcançar 2/3. Na
Companhia Empório Industrial do Norte, por exemplo, em
1914 a mão-de-obra feminina era composta por mais de 1.000
operárias num total de 1.500 trabalhadores.3 4 Em 1919, na
Fábrica Paraguaçu, dos 442 operários, apenas 170 eram ho-
mens, ao passo que 272 eram mulheres.3 5 Nas fábricas de
calçados, a presença da mão-de-obra feminina (e infantil)
também não era desprezível. Em 1921, a Fábrica Trocadero
possuía um total de 82 operários, sendo 47 homens, 25 mu-
lheres e 10 menores; na Fábrica Stella, eram 67 operários ao
todo, sendo 26 homens, 23 mulheres e 18 menores; final-
mente, na Fábrica Gama & Gama, de um total de 46 operári-
os, 25 eram homens, 15 eram mulheres e 6 eram menores.36
A principal surpresa ficou outra vez por conta do setor
de alimentação. No Censo Populacional, elas eram apenas 13,7%
dos 1.326 trabalhadores levantados, mas despontam com 74,1%
dos 6.730 membros achados pelo Censo Industrial. Na mes-
ma direção caminhou o setor de produtos químicos, uma in-
dústria que possuía apenas 5,3% de mulheres no Censo Po-
pulacional e surgiu com 51,6% no Censo Industrial.
34 A Tarde, Salvador, 15 out. 1914, p. 1.35 O Imparcial, Salvador, 11 jun. 1919, p. 3.
36 RELATÓRIO apresentado ao Exmº Sr. Dr. Governador do Estado pelo
Secretário da Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas no
ano de 1921. Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1922. p. 89-102.
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73
Na indústria do fumo, não especificada na Tabela 4, a
situação é mais complexa, pois enquanto nas fábricas de ci-
garros havia presença de homens e o trabalho era mecaniza-
do, nas manufaturas de charutos as mulheres eram quase a
totalidade da mão-de-obra e o trabalho era quase todo feito
de maneira artesanal. Isso explica por que esse ramo é com-
posto por operários dos dois sexos em Salvador e predomi-
nantemente feminino nas cidades do interior baiano, pois na
capital estavam localizados os principais estabelecimentos
industriais de cigarros.37 Ainda assim, a presença operária
feminina na indústria fumageira de Salvador era considerá-
vel. Em 1921, a Fábrica Cruz & Ruas empregava 44 trabalha-
dores, 14 homens e 30 mulheres, todos adultos; a Fábrica A.
Guimarães possuía 80 operárias adultas e nenhum homem
ou menor; a Fábrica Martins Fernandes & Cia. empregava 90
operários adultos, sendo 48 homens e 42 mulheres; por fim,
a Fábrica Leite & Alves operava com 121 operários, 38 ho-
mens, 59 mulheres e 24 menores.3 8
O terceiro aspecto a ser examinado é a nacionalidade
da classe operária. De maneira distinta de São Paulo, que
teve um processo de industrialização com características e
dinâmicas diferentes, com uma forte corrente imigratória que
lhe assegurou uma composição étnico-nacional fundamental-
mente estrangeira, a classe operária de Salvador era, essenci-
almente, brasileira e mestiça.3 9
37 BORBA, Silza Fraga Costa. Industrialização e exportação do fumo na Bahia,
1870-1930. 1975. p.35-54. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) –
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 1975. (Ver também Tabela 13 (Fábricas de Charutos e Cigarros –
Bahia, 1920) no capítulo 2.).
38 RELATÓRIO apresentado ao Exmº Sr. Dr. Governador do Estado pelo
Secretário da Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas no
ano de 1921. Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1922. p. 89-102.
39 Segundo Sheldon Leslie Maram, “dos 3.390.000 imigrantes que entraram
no Brasil entre 1871 e 1920, os italianos constituíam mais de 1.373.000. Os
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74
Ramo de Produção/ Total
Atividade Números % Números %
Extração de matérias 1.538 1.536 99,9 2 0,1
minerais
Têxtil 2.487 2.478 99,6 9 0,4
Couros e peles 70 70 100 0 0
Madeira 396 389 98,2 7 1,8
Metalurgia 3.081 2.993 97,1 88 2,9
Cerâmica 40 38 95 2 5
Produtos químicos
e análogos 131 127 96,9 4 3,1
Alimentação 1.326 1.298 97,9 28 2,1
Vestuário e toucador 22.442 22.206 98,9 236 1,1
Mobiliário 1.578 1.568 99,4 10 0,6
Edificação 8.753 8.526 97,4 227 2,6
Aparelhos de transportes 71 69 97,2 2 2,8
Produção e transmissão
de forças físicas 742 716 96,5 26 3,5
Ciências, letras e artes.
Indústria de luxo 1.442 1.427 99 15 1
Outras indústrias 1.555 1.514 97,4 41 2,6
Transportes marítimos
e fluviais 3.212 3.181 99 31 1
Transportes terrestres
e aéreos 5.770 5.668 98,2 102 1,8
Total 54.634 53.804 98,50% 830 1,50%
Brasileiros Estrangeiros
Fonte: BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral
de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920.
Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v. IV (1ª Parte – População).
p. 106-109.
* Exclui quatro indivíduos de nacionalidade ignorada.
Tabela 5
Estrutura ocupacional da classe trabalhadora
segundo a nacionalidade – Salvador, 1920*
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75
A imigração estrangeira para a Bahia foi insignificante
tanto no século XIX quanto no início do XX. Em 1920, os
estrangeiros eram apenas 10.600 em todo o estado, ou seja,
0,3% da população total formada por 3.334.465 habitantes.
Em Salvador, esse percentual aumentava, pois a capital con-
centrava a maior parte dos imigrantes, mas não o suficiente
para alterar significativamente o quadro acima mencionado.
Os 7.763 estrangeiros que viviam na capital baiana represen-
tavam apenas 2,7% de sua população total. As maiores e mais
importantes colônias eram, sem dúvida, as de Portugal, Es-
panha e Itália, sendo que em sua maioria esses estrangeiros
eram caixeiros ou comerciantes.4 0
mo, os imigrantes e seus filhos brasileiros constituíam a maioria da classe
operária urbana em São Paulo e Santos, e uma grande parte do proletariado
brasileiro. (...) Segundo o censo de 1893, realizado na capital de São Paulo, os
estrangeiros constituíam 54,6% da população total e um índice ainda maior
da força de trabalho. Dos 10.241 trabalhadores classificados como artesãos
(os operários da construção civil devem ter sido incluídos nessa categoria)
85,5% nasceram no exterior. Na manufatura, 79% eram imigrantes; nos trans-
portes e setores afins, 81%; no comércio, 71,6%; excluindo as pesquisas no
setor agrícola, os estrangeiros constituíam 71,2% da força de trabalho total da
cidade”. MARAM, Sheldon Leslie. Anarquistas, imigrantes e o movimento
operário brasileiro (1890 - 1920). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. p. 13-27.
Ver também PETRONE, Maria Tereza Schorer. Imigração. In: FAUSTO,
Boris (org.). História geral da civilização brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1997. Tomo III (O Brasil Republicano). v. 2 (Sociedade e
Instituições – 1889 - 1930). p. 93-133.
40 Em 1920, os tamanhos das colônias estrangeiras na Bahia eram os seguintes:
Alemanha: 398; França: 419; Espanha: 2.489; Inglaterra: 240; Itália: 1.448;
Portugal: 3.345; Rússia: 152; Outras nacionalidades: 2.109. Para Salvador, os
números eram os seguintes: Alemanha: 291; França: 325; Espanha: 2.314;
Inglaterra: 214; Itália: 606; Portugal: 2.653; Rússia: 138; Outras nacionalida-
des: 1.222. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setembro de 1920. Rio
de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v. IV (1ª Parte – População). p.
52-53; 308-311; 598-601; Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927, v.
IV (2ª Parte – População). p. 6.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2975
76
Na Bahia, em geral, os portugueses ocupavam-se com
o grande comércio exportador e importador, ao passo que os
espanhóis concentravam-se mais no comércio varejista. Por
não estarem diretamente ligados à produção e em função de
seus laços de parentesco e dependência em relação aos seus
patrícios, com os quais partilhavam ideais de ascensão social,
os caixeiros em geral e os de origem ibérica, em particular,
ficaram conhecidos por sua posição social e política confor-
mista e conservadora não apenas em Salvador, mas no Brasil
como um todo, não tendo tido nenhuma importância ou par-
ticipação digna de nota em greves e movimentos sindicais na
conjuntura em análise. A integração à sociedade brasileira e
o enriquecimento eram as prioridades para esses grupos.41 O
cônsul italiano na Bahia, por sinal, não tinha de seus conter-
râneos uma opinião muito positiva e reclamava da capacida-
de que eles tinham de serem assimilados, abdicando dos va-
lores e da língua de sua pátria-mãe, adotando hábitos e tradi-
ções do novo ambiente, ignorando a existência do próprio
consulado e construindo relações estáveis com mulheres ne-
gras. Os laços de união dessa colônia eram realmente muito
frágeis. Em 1908, por exemplo, sua única sociedade mutualista
41 Ver, entre outros estudos, BACELAR, Jeferson. Galegos no paraíso racial.
Salvador: Ianamá/Ceao/CED-UFBA, 1994; BRAGA, Célia Maria Leal. Me-
mórias de imigrantes galegos. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA,
1995; KLEIN, Herbert S. A imigração espanhola no Brasil. São Paulo: Sumaré/
Fapesp, 1994; MARTINEZ, Elda Evangelina Gonzáles. O Brasil como país
de destino para os migrantes espanhóis. In: FAUSTO, Boris (org.). Fazer a
América. 2. ed. São Paulo: Editora da USP, 2000. p 239-271; LEITE, Joa-
quim da Costa. O Brasil e a emigração portuguesa (1855 - 1914). In: FAUSTO,
Boris (org.). Fazer a América. 2. ed. São Paulo: Editora da USP, 2000. p. 177-
200; OLIVEIRA, Lucia Lippi. O Brasil dos imigrantes. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2001; RIBEIRO, Gladys Sabina. Mata galegos: os portugueses e os
conflitos de trabalho na República Velha. São Paulo: Brasiliense, 1990; SAN-
TOS, Mário Augusto da Silva. Os caixeiros da Bahia: seu papel conservador na
Primeira República. Salvador, 1974; mimeografado.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2976
77
só agrupava 56 sócios, e entre 1880 e 1920, apenas 3 publica-
ções em língua italiana foram editadas na Bahia.4 2
A insignificância da presença estrangeira na Bahia ficou
ainda mais evidente quando fizemos o cruzamento e a análi-
se das variáveis profissão e nacionalidade. Pela Tabela 5, vê-
se claramente que os estrangeiros representavam um percen-
tual desprezível da classe operária tanto em termos globais –
eles eram apenas 1,5% contra 98,5% de brasileiros – quanto
na análise por ramos, no qual mesmo as frações que apresen-
taram índices percentuais de imigrantes um pouco maiores
eram pequenas em termos absolutos.
Como levas significativas de imigrantes nunca chega-
ram à Bahia, e a escravidão marcara fortemente a estrutura
social da cidade, a população trabalhadora era formada, cada
vez mais, por negros e mestiços. Esse processo, que vinha
dos séculos anteriores, teve continuidade no século XX. No
ano de 1808, por exemplo, a população soteropolitana já era
composta por 20,4% de brancos, 1,3% de índios e caboclos,
43% de negros e mulatos livres e outros 35,3% de negros e
mulatos escravos. O percentual de negros e mestiços livres
continuou crescendo segundo os dados do Censo de 1872, no
qual apareceram 24,0% de brancos, 3,6% de índios e caboclos
e o considerável aumento da população negra e mestiça livre
para 60,2%, ao passo que os negros e mulatos escravos tive-
ram seu número diminuído para 12,2%. Naquele ano, os bran-
cos eram 33.672, ou seja, 31,1% da população, ao passo que os
não-brancos montavam a 74.466 ou 68,9% do total.43
42 TRENTO, Angelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração itali-
ana no Brasil. São Paulo: Nobel; Instituto Italiano di Cultura di San Paolo;
Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, 1989. p. 106, 173 e 185.43 MATTOSO, Katia M. de Queirós. Bahia, século XIX: uma província no
Império. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. p. 115-126.
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78
Como o Censo de 1920 não discrimina a cor dos habi-
tantes, é preciso trabalhar com projeções.44 Supondo o mes-
mo ritmo e proporção de crescimento, a população de Salva-
dor, em 1920, poderia ser estimada da seguinte maneira. Dos
seus 283.422 habitantes contabilizados, 31,1%, ou seja, 88.144,
seriam brancos e 68,9%, ou seja, 195.277, seriam negros e
mestiços. É claro que esta projeção está sendo apresentada
com o fito de demonstrar o quanto a presença mestiça foi
marcante na constituição da classe operária. A miscigenação
estava ocorrendo num ritmo frenético, e da fraqueza da imi-
gração estrangeira decorreu que a população trabalhadora
negra e mestiça baiana continuou a exercer, sob a República,
as mesmas fainas de que se ocupara à época do cativeiro.
Contudo, podemos tomar as projeções como válidas,
inclusive porque outras fontes indicam um padrão semelhante
para o período anterior a 1920. Em 1910, por exemplo, um co-
laborador do Diário de Notícias nos informava que naquele
ano a população total de Salvador era de 250.000 habitantes,
sendo 12.500 (5%) estrangeiros, 75.000 (30%) brasileiros bran-
cos, 50.000 (20%) negros e 112.000 (45%) mestiços. Somados
os dois últimos segmentos, tínhamos um total de 162.500 ou
65% de negros e mestiços na capital baiana, um percentual
bastante próximo do achado a partir do Censo de 1920.45
44 Os organizadores do Censo de 1920 justificaram tal omissão da seguinte
maneira: “(...) A supressão do quesito relativo a cor explica-se pelo fato das
respostas ocultarem em grande parte a verdade, especialmente quanto aos
mestiços, muito numerosos em quase todos os estados do Brasil, e, de ordiná-
rio, os mais refratários às declarações referentes à cor originária da raça a que
pertencem”. BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Di-
retoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de setem-
bro de 1920. Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1922, v. I (Introdução).
p. 488-489.
45 Diário de Notícias, Salvador, 7 mar. 1910, p. 1-2 (Colaboração – Impressões
da Bahia 1ª Parte).
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79
O mercado de trabalho de Salvador se formou a partir
da incorporação do grande número de homens de cor oriun-
dos da velha ordem, que continuaram a desempenhar as mes-
mas ocupações de épocas pretéritas. Mas isso não quer dizer
que a população afro-descendente da cidade mais negra do
Brasil dispusesse de condições vantajosas nas disputas por
uma colocação nesse mercado de trabalho, pois que era dis-
criminada por costumes e/ou normas tradicionais, fundadas
em relações pessoais (não-contratuais), que incluíam ou ex-
cluíam os indivíduos dos postos de trabalho, facilitavam ou
bloqueavam sua ascensão social, a partir de vários critérios,
menos o do mérito. Paralelo ao discurso de assimilação e har-
monização das raças, as elites dominantes e seus meios de
comunicação começaram a difundir, muitas vezes de modo
subliminar, uma concepção estigmatizante do negro, visto
como inferior e incivilizado, violento e desordeiro, criminoso
e desorganizado do ponto de vista da família, imoral e sexu-
almente degenerado, um bárbaro que cultuava o candomblé
e seus rituais de feitiçaria, magia e curandeirismo, verdadeiro
espetáculo do atraso aos olhos de uma elite que acreditava
estar marchando para a civilização.4 6
Brasileira, em grande parte feminina e acima de tudo
mestiça, mas nem por isso passiva, a classe trabalhadora de
Salvador era, então, uma multidão híbrida, saída da escravi-
dão, formada por homens e mulheres que labutavam nas ruas,
proletários fabris, totalmente desprovidos dos meios de pro-
dução e tendo como único meio de vida a venda de sua força
de trabalho a um capitalista em troca de um salário, e traba-
lhadores manuais qualificados empregados em obras da cons-
trução civil ou em pequenas oficinas de sapateiros, alfaiates,
46 BACELAR, Jéferson. A hierarquia das raças: negros e brancos em Salvador.
Rio de Janeiro: Pallas, 2001. p. 41-87.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2979
80
marceneiros, etc. e manufaturas pouco mecanizadas, mas às
vezes donos dos seus instrumentos de trabalho, o que lhes
assegurava uma existência mais digna, graças ao status de ar-
tistas, ou seja, artesãos dotados de reconhecimento, maiores
salários, menores taxas de desemprego, qualificação superior
e, como veremos mais adiante, sólida tradição de organiza-
ção sindical e política. Em seu conjunto, pois, somados os
proletários fabris, manufatureiros, de extração e construção,
os artesãos de oficinas, os trabalhadores de transportes ter-
restres, marítimos e fluviais e o trabalho de rua, a exemplo
dos carregadores e estivadores, temos uma classe operária
soteropolitana composta por cerca de 55.000 membros.
Trabalhar e morar em Salvador
Onde trabalhavam e moravam os operários da capital baiana
em 1919? Salvador ainda conservava, devido à sua topografia
bastante acidentada, muitas das características legadas de sua
formação. Seu perímetro urbano era dividido entre a Cidade
Alta e a Cidade Baixa. A partir da segunda metade do século
XIX, além das íngremes ladeiras que deveriam ser subidas a
pé, da mesma forma que os escravos fizeram por tanto tem-
po, e do serviço de bonde que ligava as duas partes, os sote-
ropolitanos passaram a dispor também do Elevador Lacerda
(1873), do Elevador do Taboão (1874) e do Plano Inclinado
Gonçalves (1895).47 Na parte baixa localizava-se a chamada
Península de Itapagipe, uma região composta pelo conhecido
bairro da Ribeira, com sua Avenida Beira-Mar e sua Enseada
dos Tainheiros, habitada por velhos pescadores e freqüenta-
47 SAMPAIO, Consuelo Novais. Fragmentos de história: como surgiram os
serviços urbanos. A Tarde, Salvador, 29 mar. 1999. Suplemento Especial aos
450 anos de Salvador.
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81
Fábrica de Cigarros Leite & Alves.
Fonte: BAHIA. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia. 30 anos da indús-
tria, comércio e turismo na Bahia 1966 – 1996. Salvador: Unifacs; IPA, 1997. p. 99.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2981
82
Companhia Fabril dos Fiais.
Fonte: BAHIA. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia. 30 anos da indús-
tria, comércio e turismo na Bahia 1966 – 1996. Salvador: Unifacs; IPA, 1997. p. 78.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2982
83
da por uma população flutuante de ricos veranistas.4 8 Ali
ficava também o bairro do Bonfim, bastante conhecido em
função das festas que todo ano traziam multidões à sua igre-
ja. Tínhamos, ainda, o bairro de Monte Serrat e sua Ponta de
Humaitá. Mas a Cidade Baixa não era apenas formada de
paisagens bucólicas e belas praias freqüentadas por pessoas
que buscavam recantos agradáveis para o repouso. A Penín-
sula de Itapagipe foi o primeiro centro industrial da Bahia,
formado a partir de meados do século XIX. No conjunto de
bairros da Cidade Baixa, que formavam os Distritos dos Ma-
res, de Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora do Pilar e
Nossa Senhora da Conceição da Praia, concentrava-se a mai-
oria das principais fábricas de Salvador.
A partir de critérios relacionados principalmente ao
número de operários empregados, foi possível fazer a Tabela
6. Por ela, podemos verificar que, das 27 mais importantes
fábricas da Bahia, 21 estavam em Salvador, enquanto as de-
mais se localizavam nas cidades de Valença (2 têxteis), Ca-
choeira (1 têxtil), Maragogipe (1 de charutos), São Félix (1 de
charutos) e Muritiba (1 de charutos). Na capital baiana, das
21 fábricas mais importantes, 17 estavam na Cidade Baixa,
enquanto apenas 4 ficavam na Cidade Alta, em geral nas pro-
ximidades do Centro Histórico. Se nos concentrarmos ainda
mais na Cidade Baixa, veremos que são três os principais ra-
mos de produção ali desenvolvidos. Em primeiro lugar, está a
indústria têxtil, com 9 de um total de 12 unidades de Salvador
e 15 do estado. Em seguida, vem o ramo de vestuário e touca-
48 A Ribeira e o conjunto arquitetônico formado pela antiga fábrica da Compa-
nhia Empório Industrial do Norte e sua Vila Operária ainda eram motivo de
orgulho, modelo perdido e lembranças saudosistas nos anos de 1950 até a
década de 1990. No Arquivo Histórico Municipal, Salvador, ver recortes dos
jornais A Tarde, 28.12.1956, 21.08.1972, 03.09.1982, 16.05.1987; Tribuna
da Bahia, 09.06.1975, 30.03.1987, 23.04.1987; Jornal da Bahia, 16.10.1986,
05.06.1987; Correio da Bahia, 13.01.1987, 26.08.1995, 28.10.1998.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:2983
84
dor, com 2 das 3 únicas fábricas de calçados em toda a Bahia,
uma fábrica relativamente grande de roupas e outras menores
de chapéus. Por fim, havia o ramo do fumo, com 4 fábricas de
cigarros. Além disso, havia uma fábrica que produzia e
comercializava materiais de construção civil e realizava obras
desse ramo e de serraria. Ademais, na Cidade Baixa localizava-
se também a maior parte dos curtumes, destilarias, alambi-
ques, fundições e pequenas fábricas e manufaturas de alimen-
tos, bebidas, sebo, sabão, velas, vinagre, confecções do vestu-
ário, moinhos, vassouras e piaçava, vidros, gelo, etc.49
Além das fábricas São Salvador, Modelo e Stella, a Cida-
de Alta concentrava o grosso das oficinas de sapateiros, costu-
reiras, alfaiates, etc., que, como vimos, trabalhavam produzin-
do em pequena escala e a partir de encomendas prévias. Te-
mos, então, uma geografia da indústria e do trabalho na qual o
setor fabril e operário principal do ponto de vista econômico
ficava na Península de Itapagipe e suas adjacências, enquanto
a maior parte do trabalho artesanal concentrava-se na Cidade
Alta, em regiões como a área da chamada Baixa dos Sapatei-
ros, onde tínhamos, por exemplo, 14 de um total de 23 oficinas
de sapateiros localizadas no Centro da cidade. Pequenas fábri-
cas também existiam espalhadas na Cidade Alta, como por
exemplo a Grande Fábrica de Massas Alimentícias Progresso,
localizada no Distrito da Sé, e a Fábrica de Cerveja Polarctica,
no Rio Vermelho, mas elas empregavam poucos operários, prin-
cipalmente se comparadas com o padrão têxtil.50
49 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Sobrevivência e tensões. Salvador (1890-
1930). 1982. p. 47-49. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982.
50 RELATÓRIO do Diretor da Agricultura, feito pelo perito na vistoria da
Grande Fábrica de Massas Alimentícias Progresso (1926). Apeb, Documen-
tação da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio, caixa 2385, maço
175, doc. 610. Esta unidade empregava apenas 33 operários, sendo 10 mulhe-
res e 23 homens.
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85
Tabela 6
Geografia das principais fábricas – Bahia, 1919
Fontes: RELATÓRIO dos Serviços da Secretária da Agricultura, Indústria, Co-
mércio, Viação e Obras Públicas durante o ano de 1920. APEB, Documenta-
ção da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio, caixa 2386, maço
178, doc. 746; jornais diversos; Diários Oficiais do Estado da Bahia; Relató-
rios de fábricas; Almanaques.
* Dados de 1921.
Companhia Fábrica Ramo Local Número de
operários
Companhia Empório Fábrica da Têxtil Distrito dos Mares 1.400
Industrial do Norte Boa Viagem
Companhia União Fabril N. S. da Conceição Têxtil Distrito dos Mares 731
da Bahia São Salvador Têxtil Bairro de Nazaré 130
N. S. da Penha Têxtil Distrito da Penha 90
S. Antônio do Queimado Têxtil Distrito de S. Antônio 90
Modelo Têxtil Baixa dos Sapateiros 110
S. Carlos do Paraguaçu Têxtil Cidade de Cachoeira 125
Companhia Progresso São Brás Têxtil Pirajá 1.300
Industrial da Bahia Bonfim Têxtil Distrito do Pilar 535
São João Têxtil Distrito da Penha 165
Paraguaçu Têxtil Distrito da Penha 400
Companhia Valença Todos os Santos Têxtil Cidade de Valença 650
Industrial N. S. do Amparo Têxtil Cidade de Valença 650
Companhia Fabril Fábrica dos Fiais Têxtil Cais do Bulcão 150
dos Fiais
Fábrica Beira-Mar Têxtil Distrito da Penha
Gama & Gama Gama & Gama Calçados Distrito do Pilar 100
Stella Stella Calçados Largo do Barbalho 100
Trocadero Trocadero Calçados Boa Viagem 120
Variedades Variedades Vestuário Distrito do Pilar
Companhia Serraria Companhia Serraria e Construção Distrito do Pilar
e Construção e Construção e Madeira
Martins Fernandes Martins Fernandes
& Cia. & Cia. Cigarros Distrito do Pilar 90*
Leite & Alves Leite & Alves Cigarros Distrito do Pilar 500
A. Guimarães & Cia. A. Guimarães & Cia. Cigarros 170
Cruz & Ruas Cruz & Ruas Cigarros 44*
Suerdick Suerdick Charutos Cidade de Maragogipe 2.000
Dannemann Dannemann Charutos Cidade de São Félix
Costa & Penna Costa & Penna Charutos Cidade de Muritiba 300
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86
Como o Porto também ficava na Cidade Baixa, pode-
mos dizer que a maioria da classe operária ali trabalhava. Mas
não apenas isso. Essa também era uma das principais áreas
residenciais do operariado de Salvador, embora não fosse a
única. Além dos velhos e insalubres casarios transformados
em cortiços, nesta parte da cidade localizavam-se as vilas ope-
rárias, como a da Boa Viagem, com 258 casas e também ou-
tros tipos de moradia mantidos pelos industriais têxteis como
forma de atrair, fixar e disciplinar uma mão-de-obra por eles
considerada primitiva e pouco habituada aos rígidos horários
e regulamentos das fábricas.51 Em geral, essas habitações ope-
rárias eram edificadas em áreas adjacentes às plantas fabris,
resolvendo, com essa medida, os problemas decorrentes da
51 Para o número de casas, ver: PINHO, Péricles Madureira de. Luiz Tarquínio,
pioneiro da justiça social no Brasil. Salvador: Imprensa Vitória, 1944, p. 81-84.
O engenheiro José Simas da Costa, ao comentar o regulamento da Vila Operária
da Companhia Empório Industrial do Norte (Boa Viagem), procurou justificar
a sua aplicação argumentando que no mesmo estaria o “segredo de transformar
em massa uniformemente obediente e passiva uma classe refratária por índole
e por hábito, à ordem e ao asseio” e seguia dizendo que aquele seria o meio de
“converter uma massa composta de elementos heterogêneos, oriundos de
diversas raças, de cores várias e hábitos diversos, em um só grupo social,
homogêneo, entre o qual reina a cordialidade, a urbanidade e o respeito
mútuo”, além de “ensinar todos a serem fanáticos pelo asseio, pela estética,
pela higiene, pela ordem, pela moralidade e pela camaradagem”. O mesmo
testemunho comentou em termos de resultados que disso decorria “não se
ouvir ali assovio gaiato, desabafo da indolência, nem serem os ouvidos assal-
tados pelo rufo atroador de turas, ruído infernal que tanto deleita o inconsci-
ente elemento infantil, quando não é disciplinado ao gozo das delícias que
proporcionam brinquedos mais amenos... Daí enfim o estar a vila submersa
em absoluto repouso ao soar a última badalada das dez, todas as noites”. Para
assegurar que tal regulamento seria cumprido, havia, ainda, dentro do territó-
rio da vila, um corpo de polícia armado. Além disso, a ocupação de uma casa
pertencente à empresa obedecia ao critério de a família ter no mínimo dois
membros trabalhando na fábrica. Jornal de Notícias, Salvador, 2, 11, 22 e 24
nov. 1898.
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87
precariedade e do alto custo dos transportes urbanos e evi-
tando, por meio da austera vigilância, o absenteísmo.5 2
Ligando-se com a Ribeira, na Cidade Baixa, por meio
de balsas que transportavam pessoas e mercadorias de um
ponto a outro, encontrava-se também a Plataforma, uma an-
tiga fazenda que, na segunda metade do século XIX, deu ori-
gem a um núcleo de povoamento formado por fábricas de
calçado, têxtil (Fábrica São Brás) e outras de brins, camisas e
meias, todas pertencentes à Companhia Progresso Industrial
da Bahia. O antigo Burgo Industrial da Plataforma, como era
chamado à época em que pertencia ao Comendador Manoel
Francisco de Almeida Brandão, era formado também por uma
vila operária, composta por 208 casas, 700 tarefas de terras,
mananciais de água e depósitos.53
Em todo caso, é preciso chamar a atenção para o fato
de que o isolamento dos bairros industriais e operários pode-
ria encontrar o seu contraponto no fortalecimento dos laços
52 A análise da função desempenhada pelas vilas operárias no processo de atra-
ção, fixação e disciplinamento da mão-de-obra operária têxtil já foi objeto de
vários estudos. Ver, entre outros: ALVIM, Rosilene. A sedução da cidade: os
operários-camponeses e a Fábrica dos Lundgren. Rio de Janeiro: Graphia,
1997; LOPES, José Sergio Leite. A tecelagem dos conflitos de classe na cidade
das chaminés. São Paulo: Marco Zero/UnB/CNPq, 1988; CORREIA, Telma
Barros. Pedra: plano e cotidiano no sertão. Campinas, SP: Papirus, 1998;
TEIXEIRA, Palmira Petratti. A fábrica do sonho: trajetória do industrial
Jorge Street. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. Embora tratando de uma
outra categoria e com uma periodização igualmente diferente – os operários
das usinas de açúcar de Pernambuco numa fase mais contemporânea – , é
imprescindível a consulta, também, a uma outra obra do antropólogo social
José Sérgio Leite Lopes. O vapor do diabo: o trabalho dos operários do açúcar.
São Paulo: Círculo do Livro, 1976.53 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial
do Estado da Bahia, 2 jul. 1923, p. 274-276. Edição Especial do Centenário;
ALMANAQUE Administrativo, Indicador, Noticioso, Comercial e Literá-
rio do Estado da Bahia Para o ano de 1896. Bahia: Reis e Cia., 1896, p. 237.
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88
de solidariedade de classe entre esses trabalhadores, posto
que eles partilhavam as mesmas condições de existência e
realizavam, a partir dessa experiência comum, trocas sociais e
culturais positivas do ponto de vista da consciência social.
Proximidade e imbricação entre moradia operária e planta
fabril, se muitas vezes dificultavam a atividade sindical, podi-
am se tornar, por outro lado, perigosas para os patrões em
épocas de greve, quando a expansão do movimento ganhava
corpo com a maré de adesões maciças e em bloco, justamente
o que ocorreu em 1919.
Com exceção dessas duas áreas de concentração operá-
ria, o restante da classe trabalhadora e as camadas populares
de um modo geral de Salvador dispersavam-se pelos vários
bairros da cidade, inclusive pelos distritos centrais e periféri-
cos da Cidade Alta. Durante toda a República Velha, a maio-
ria das pessoas morava de aluguel, restando a um pequeno
número de indivíduos o privilégio de ter residência fixa pró-
pria. Em períodos de maiores dificuldades, como o da Pri-
meira Guerra, a única alternativa encontrada pela maioria dos
inquilinos para enfrentar os problemas da carestia era mudar-
se continuamente em busca de senhorios menos ambiciosos.
É que a propriedade imobiliária tornou-se cada vez mais con-
centrada e transformou-se, ela mesma, em objeto de negóci-
os de alguns grupos. Comerciantes, ordens religiosas e socie-
dades filantrópicas e beneficentes, como a Santa Casa de
Misericórdia, grandes companhias industriais, especialmente
as têxteis, com suas vilas operárias, passaram a exercer um
virtual monopólio sobre a moradia da cidade. Paralelamente,
as reformas urbanas provocavam a demolição de muitos
casarios, sem que houvesse uma reposição dos mesmos, o
que agravava o déficit de moradia. Por outro lado, a pressão
das atividades comerciais também transformava prédios resi-
denciais em mercantis. Foi o que aconteceu com o Distrito da
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89
Conceição, que naquele ano já era um bairro eminentemente
comercial, com 56% de seus prédios destinados aos negóci-
os. Apesar disso, a maioria da população pobre e trabalhado-
ra continuava morando nos distritos centrais. Em 1920, os
prédios residenciais ainda eram maioria nessas localidades,
sendo 74% no Distrito do Passo, 76% em São Pedro, 58% na
Sé e 59% no Pilar. Em todos os distritos, porém, a maioria
dos moradores continuava sendo formada por inquilinos po-
bres. Naquele ano, eles eram 64% em Brotas, 98% na Con-
ceição, 85% nos Mares e em Nazaré, 96% no Passo, 80% na
Penha, 92% no Pilar, 88% em Santana, 74% no Santo Antô-
nio, 86% em São Pedro, 94% na Sé e 71% na Vitória.54 Em
geral, pode-se dizer que não havia, em Salvador, uma separa-
ção extrema entre moradias das camadas mais pobres e mais
ricas.
Os bairros de Santo Antônio e Nazaré constituem ca-
sos à parte, pois seus moradores, em geral, não tinham ori-
gem proletária. Elementos das classes médias, em particular
os profissionais liberais e funcionários públicos, mas também
muitos empregados no comércio, moravam nessas localida-
des. Testemunhos chegaram a afirmar mesmo que Nazaré era
um bairro povoado por pessoas de status social mais eleva-
do. Porém, comum aos dois bairros era o fato de terem como
vizinhos outras localidades pobres da cidade. Assim, Nazaré,
vista numa perspectiva mais ampliada, poderia incluir as des-
cidas, ladeiras, avenidas e até mesmo as roças, como a do
Jogo do Carneiro (atual Bairro da Saúde), que a cercavam.
Incluía também Tororó, Godinho e o Campo da Pólvora e
seus jovens pobres e tidos como violentos. Já o Santo Antô-
54 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Habitação em Salvador: fatos e mitos.
In: BRESCIANI, Maria Stella (org.). Imagens da cidade (séculos XIX e XX).
São Paulo: ANPUH; Marco Zero; Fapesb, 1993. p. 93-110.
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90
nio limitava-se, de um lado, com o rico bairro de Nazaré e, de
outro, com localidades pobres do Aquidabã, da Baixa dos
Sapateiros, do Godinho e da Saúde. Delimitava-se também
com o Subúrbio da Liberdade e com a área comercial do Pilar,
com a Jequitaia e Água de Meninos.55 De todo modo, vere-
mos no capítulo 2 como a moradia se constituiu num dos
muitos problemas que a classe operária enfrentou por oca-
sião da crise aberta a partir da Primeira Guerra Mundial.
Ainda quanto à Cidade Baixa, é preciso lembrar que
naquela região localizava-se também o conjunto da infra-es-
trutura necessária ao bom andamento das atividades produ-
tivas e comerciais da capital baiana. Assim, no Distrito do
Pilar, tínhamos o Porto de Salvador, para onde confluíam na-
vios, pessoas e mercadorias vindas de diversas partes do es-
tado, do país e do mundo. Embarcações atracavam com o fito
de descarregar mercadorias, carregar a produção de gêneros
agrícolas e matérias-primas e abastecer-se com gêneros ne-
cessários à continuidade de suas viagens. Essa função de im-
portante entreposto já era exercida pelo Porto de Salvador
desde o século XIX, tendo continuidade no século XX. De-
sempenhava, então, um importante papel na dinamização da
economia da cidade e do estado, sobretudo de seu Recônca-
vo, movimentando o mercado local, nacional e internacional.
Esse elemento harmonizava-se e entrelaçava-se com os gran-
des estabelecimentos comerciais que se concentravam na zona
próxima ao Porto, não por acaso uma região conhecida como
Bairro Comercial ou simplesmente Comércio. Nos limites dos
distritos da Conceição e do Pilar, ficavam também os muitos
trapiches, armazéns e depósitos das firmas de importação e
exportação, além das principais agências de bancos e compa-
nhias de seguros da cidade.
55 ARAÚJO, Ubiratan Castro de (org.). Salvador era assim. Salvador: IGHBA,
1999, p. 20-21, 25, 28-30, 35-51.
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91
Tabela 7
Oficinas de sapateiros – Salvador, 1919
Firma Nome da Oficina Endereço
Ângelo & Cia. Ângelo Rua do Arsenal, 28
Cidade Baixa
Antônio Romeu Glória Rua Silva Jardim, 41
Antônio Moura Moura Rua Silva Jardim, 45
Arnaldo A. Santos Confiança Rua Silva Jardim, 49
Alfredo L. & Cia. Elite Rua Dr. J. J. Seabra, 159
B. dos Sapateiros
Ângelo de Lego Vesúvio Rua Dr. J. J. Seabra, 68
B. dos Sapateiros
Attilio Bonelli & Irmão Arquimedes Rua São Bento, 19
Centro
Cuchinin Schkerab Dois Amigos Rua da Misericórdia, 18
Centro
Caetano Camardelli Roma Rua do Rosário, 20
Centro
Domingos Longo Brasil Rua Dr. J. J. Seabra, 56
B. dos Sapateiros
Domingos Longo Oriente Rua Dr. J. J. Seabra, 122
B. dos Sapateiros
Florentino Pastor Pastore Rua Dr. J. J. Seabra, 161
B. dos Sapateiros
Fratelli Barletta Ítalo-Brasileira Rua Dr. J. J. Seabra, 151
B. dos Sapateiros
Francisco Levita Francisco Levita Rua Dr. J. J. Seabra, 38
B. dos Sapateiros
Felice Deminco & Cia. Popular Rua Dr. J. J. Seabra, 162
B. dos Sapateiros
Grumann & Edelman Grumann & Edelman Rua Dr. J. J. Seabra, 84
B. dos Sapateiros
Geovani Pinella Geovani Penella Forte de São Pedro, 25
Centro
Isabel Doria Baiana Rua Lellis Piedade, 192
Cidade Baixa
José Avena Caprichosa Rua Silva Jardim, 75
(continua)
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92
Tabela 7 (continuação)
Oficinas de sapateiros – Salvador, 1919
Fonte: ALMANAQUE Indicador, Comercial e Administrativo do Estado da
Bahia. Bahia: Reis & Cia., 1919. p. 286-287.
Firma Nome da Oficina Endereço
José C. dos Santos José C. dos Santos Portas do Carmo, 1
Centro
Joaquim Pinto Ferreira Portuguesa Rua Silva Jardim, 57
João Priatico Flor da Mocidade Praça dos Veteranos, s/n
B. dos Sapateiros
Jusué & Cia. Carmadelli Praça 13 de maio
Manoel Jacintho de Almeida Elegante Largo da Piedade, 180
Centro
Nicola Maria Mélidiere Filial da Moda Rua da Calçada, 5
Orcisio Pereira dos Santos Natal Travassos, 3, Bonfim
Cidade Baixa
Paschoal Pataro Paschoal Pataro Pelourinho, 82
Centro
Pedro da Boa Morte São Pedro Rua do Cabeça, 23
Centro
Possidonio Menezes Baiana Rua da Calcada, 54
Ramon Esteves Triunfo Rua Dr. J. J. Seabra, 149
B. dos Sapateiros
Raphael Pinella Brasileira Rua da Calçada, 64
Severo Papa Papa Rua da Calçada, 33
Vecente Pucliezi Progresso Rua Silva Jardim, 71
Vicente Verbicaro Itália Barroquinha, 7
B. dos Sapateiros
Vicença Avena Vicença Avena Rua Dr. J. J. Seabra, 78
B. dos Sapateiros
Vicente Filardi Filardi Rua do Cabeça, 43
Centro
Zacharias José dos Santos Zacharias José Rua Dr. J. J. Seabra, 8 bis
dos Santos B. dos Sapateiros
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93
A Cidade Baixa era, portanto, o centro das atividades
industriais, comerciais – inclusive do comércio ambulante - ,
portuárias – com seus negócios de importação e exportação -
, além de ser o principal local de trabalho também de outros
setores operários além dos já referidos, como carregadores,
que para lá se dirigiam todos os dias em busca de colocação
no mercado de compra e venda de sua força de trabalho. Na
Península de Itapagipe, localizava-se também a Estação Fer-
roviária, com linhas que interligavam o Bairro da Boa Viagem
ao Porto e a diversas cidades do interior, inclusive do Recôn-
cavo, constituindo-se em imprescindível meio de transporte
de mercadorias e pessoas. Finalmente, lá ficavam também o
centro administrativo e operacional da Companhia Linha Cir-
cular de Carris da Bahia e sua Usina Termoelétrica da Pregui-
ça e o Gasômetro da Companhia Linha Municipal (Calçada
do Bonfim), que, como já vimos, controlavam os serviços de
bondes e de produção e distribuição de energia elétrica e ilu-
minação pública de Salvador.
Sabendo quem era a classe operária de Salvador em 1919,
seu perfil em termos socioprofissionais, étnico-nacionais,
etários e de gênero, onde morava e trabalhava, passemos ago-
ra a analisar como essa classe operária vivenciou a crise inter-
nacional aberta em 1913 e agravada durante a Primeira Guer-
ra Mundial (1914 - 1918) e quais as respostas por ela dadas a
partir de 1919 em face das transformações ocorridas no pós-
guerra.
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O reino da necessidade
Operários em frente à Fábrica da Boa Viagem, pertencente à Companhia
Empório Industrial do Norte, durante a greve geral de 1919.
Fonte: Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919.
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97
A Primeira República em geral e, mais particularmente, a
conjuntura dos anos 1914 - 1920 foram marcadas por crises
econômicas e financeiras que afetaram diretamente a vida e
influenciaram a própria ação política e social da classe operária
e do conjunto dos estratos populares. O período em análise
caracterizou-se pela incapacidade da indústria em garantir uma
produção suficientemente ampla para suprir as necessidades
de alimentação, transportes, moradia, etc. da classe trabalha-
dora em seu conjunto.1
Durante a Primeira Guerra Mundial, as atividades in-
dustriais no Brasil sofreram um incremento, principalmente a
partir do processo de substituição de importações, ao mesmo
tempo em que esforços eram envidados para ampliar as ex-
portações de alimentos.2 Essa política foi a responsável dire-
ta pelo desabastecimento interno, por escassez de alimentos
e escalada dos preços, movida não apenas pelas circunstânci-
as ditadas pelo livre mercado, como também por uma espe-
1 LINHARES, Maria Yedda Leite; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. História
política do abastecimento, 1918 - 1974. Brasília: Binagre, 1979. p. 18-20.
2 PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense,
1993. p. 257-269.
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98
culação desenfreada, tornando ainda mais insuportáveis as
condições materiais de vida da classe operária, que, por sua
vez, irrompeu em movimentos reivindicatórios em todo o país.
A grande imprensa noticiou nacionalmente o fenômeno da
inflação, a corrosão dos salários e a transformação do custo
de vida num dos mais altos da história do Brasil e da Bahia.
Carestia e especulação
A crise econômica, aguda do segundo semestre de 1918 ao
primeiro trimestre de 1919, iniciou-se, na realidade, pouco
antes da guerra e se agravou com ela. A carestia dos gêneros
de primeira necessidade já havia sido alvo de uma manifesta-
ção popular em 19 de outubro de 1911, quando Cosme de Fa-
rias, indivíduo que possuía grande prestígio junto às camadas
populares, liderou uma passeata, seguida de um comício e da
entrega de uma petição ao intendente da capital pedindo pro-
vidências sobre o assunto. De março a abril de 1913, o movi-
mento assumiu uma feição mais organizada, com manifesta-
ções de rua, reuniões e apelos parlamentares. Na pauta das
reivindicações constava não apenas a luta contra a carestia
dos alimentos de consumo popular, como também contra o
aumento dos aluguéis residenciais e dos preços das passa-
gens de bondes. Dessas manifestações, saiu o Comitê Popu-
lar Contra a Carestia da Vida, presidido por Cosme de Fari-
as, que se reunia periodicamente na sede do Centro Operário
da Bahia e da Sociedade Montepio dos Artistas. O comitê
chegou a apresentar um manifesto ao país, narrando o desen-
rolar do movimento e denunciando o descumprimento de acor-
dos e promessas por parte das autoridades governamentais.
Em seguida, elegeu uma comissão para atuar no Conselho
Municipal e interceder junto ao então deputado Mário
Hermes da Fonseca, líder da bancada baiana na Câmara Fe-
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99
deral, para que ele atuasse em favor de medidas contra a in-
flação. Em 1914, quando a guerra já era uma realidade e as
expectativas de uma maior deterioração das condições de vida
cresciam a cada dia, as mobilizações foram retomadas, desta-
cando-se as ações individuais de populares contra comerci-
antes retalhistas. Em 1917, ao contrário de São Paulo, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul e outros estados, as greves não
eclodiram na Bahia, prevalecendo a luta contra a carestia,
particularmente depois que uma comissão popular foi forma-
da em julho e incumbida de tratar do preço do pão. Essa co-
missão chegou a enviar uma petição ao Conselho Municipal
reclamando contra a venda do produto nas tavernas, visando
eliminar este intermediário entre as padarias e os consumi-
dores. Em agosto, os comícios tomaram as ruas novamente,
com críticas e acusações contra autoridades, em particular
contra o intendente Pacheco Mendes, culminando com o des-
fecho trágico em frente ao Palácio do Governo, quando um
dos manifestantes foi morto à bala pela polícia. A ação popu-
lar continuou com quebra-quebra de candeeiros e lâmpadas e
o apedrejamento da Casa Magalhães & Cia., controladora
do comércio de açúcar.3
Testemunhos são unânimes em admitir que a virada de
1918 para 1919 configurou uma conjuntura específica de agra-
vamento da carestia e da crise econômica geral. As mobiliza-
ções contra a alta dos preços, que haviam diminuído depois
do confronto acima citado, ganharam novo impulso e culmi-
naram na retomada do movimento popular. Já em agosto de
1918, diversos operários procuraram o rábula Cosme de Fari-
as pedindo-lhe que usasse sua influência e trânsito junto às
autoridades no sentido de persuadi-las a agir contra a cares-
3 SANTOS, Mário Augusto da Silva. Sobrevivência e tensões. Salvador (1890 -
1930). 1982. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982. p. 407-414.
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100
tia dos gêneros de primeira necessidade. Nesse encontro, Cos-
me de Farias comprometeu-se em convocar, com máxima ur-
gência, uma ampla reunião a realizar-se no Centro Operário da
Bahia. A intenção era realizar, previamente, uma audiência com
o governador do estado, o intendente, diretores de fábricas e
de oficinas, o secretário de Segurança Pública (Álvaro Cova) e
os representantes da Associação Comercial da Bahia, da Soci-
edade União dos Varejistas e do próprio Centro Operário.4
Dessa forma, no dia 5 de setembro ocorreram duas reuniões,
uma no Paço Municipal, sob a presidência do intendente Ro-
cha Leal, reunindo os comerciantes, representados pelas asso-
ciações acima indicadas, e a outra na sede do Centro Operário,
presidida por Cosme de Farias, na qual se deliberou continuar
pressionando os poderes públicos para solucionar a questão.5
A proposta de tabela de preços organizada pela Socie-
dade União dos Varejistas sofreu, a partir daí, uma intermi-
tente oposição do jornal seabrista O Tempo. Assim, no dia 13
de setembro, um articulista denunciava, por exemplo, a desi-
lusão das classes populares, pois, “ao contrário das providên-
cias que deviam ser tomadas para o barateamento dos artigos
de primeira necessidade, deu-se exatamente o aumento de
preços desses mesmos gêneros de maneira a tornar a vida
impossível justamente para aqueles que mais necessidade têm
das medidas aspiradas, (...) aqueles das classes mais pobres,
que ganham (...) o pequeno salário do operariado”. Além
disso, o jornal denunciou também que, além de apresentar
preços mais altos do que os que vigoravam antes, a organiza-
ção da tabela objetivava impedir a adoção, na Bahia, da tabe-
la organizada no Rio de Janeiro pelo Comissariado da Ali-
mentação Pública, a seu ver, mais vantajosa para a população
4 O Tempo, Salvador, 21 ago. 1918, p. 2
5 O Tempo, Salvador, 5 set. 1918, p. 2.
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101
pobre e trabalhadora.6 A campanha de oposição à tabela dos
varejistas e atacadistas continuou no dia seguinte, quando a
imprensa governista reafirmou, de maneira ainda mais con-
tundente, que os comerciantes tinham o objetivo único de
promover “o encarecimento dos gêneros de primeira necessi-
dade” e de “proteger os gananciosos exploradores da crise”,
apresentando uma tabela comparativa entre os preços propos-
tos pelos comerciantes baianos e os praticados pelos negocian-
tes do Rio de Janeiro, na qual se constata, claramente, a supe-
rioridade dos primeiros em relação aos últimos.7 Ora, se os
preços de primeira necessidade eram iguais ou superiores aos
praticados no Rio, o mesmo não se pode dizer dos salários da
classe operária. O caso dos tecelões é um exemplo claro disso.
Enquanto, em fins de 1918, um operário têxtil adulto de Salva-
dor ganhava 13$000 de empreitada semanal, em 1919 o operá-
rio da mesma ocupação recebia 8$000 de diária no Distrito
Federal e tinha um rendimento semanal de 48$000.8
6 O Tempo, 13 set. 1918, p. 1. O Comissariado da Alimentação Pública foi
criado a partir do Decreto nº 13.069, de 12 de junho de 1918, em um quadro
de emissões desordenadas de papel-moeda, política de incentivo às exporta-
ções de gêneros alimentícios para os países beligerantes, monopolização da
produção e comercialização dos alimentos, precariedade dos transportes, peso
dos impostos e tudo o mais que gerava a escassez e a inflação. O referido órgão
foi criado através de legislação provisória e visava, segundo Linhares e Silva,
assegurar a eficácia do sistema produtivo e a manutenção do conjunto de
relações sociais a ele associadas, ao mesmo tempo em que criava uma raciona-
lidade técnica supostamente capaz de amortecer os conflitos de classe. Ver
LINHARES, Maria Yedda Leite; SILVA, Francisco Carlos Teixeira e. Histó-
ria política do abastecimento, 1918 - 1974. Brasília: Binagre, 1979. p. 21.
7 O Tempo, Salvador, 14 set. 1918, p. 1. Dentre os produtos que tiveram seus
preços comparados, respectivamente no Rio de Janeiro e em Salvador, desta-
cam-se os seguintes: 1 kg arroz de 1ª, $900 e 1$200; 1 kg de arroz inferior,
$600 e $900; banha (lata de 2 kg), 4$000 e 4$800; 1 kg de café moído, 1$000
e 1$600; 1 kg de charque, 2$000 e 2$700; 1 kg de feijão mulatinho, $360 e
$500; 1 kg de pão, $800 e 1$300.
8 LOBO, Eulalia Maria Lahmeyer. Questão habitacional e movimento operário.
Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1989. p. 119.
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102
Ainda no dia 14 de setembro, Cosme de Farias presidiu
uma outra assembléia do Centro Operário da Bahia para dis-
cutir a carestia. Desse conclave saiu a deliberação de enviar
uma mensagem telegráfica ao então senador J. J. Seabra, pe-
dindo-lhe que interviesse no sentido de conseguir a aplicação,
na Bahia, da tabela feita pelo Comissariado da Alimentação
Pública que vigorava no Rio de Janeiro.9 O impasse nas nego-
ciações com os comerciantes fez com que o Conselho Munici-
pal e o governo do estado também se posicionassem a favor de
uma intervenção do Comissariado da Alimentação.10 Por sua
vez, respondendo ao telegrama que os membros do Centro
Operário lhe haviam enviado, o senador Seabra avisou que iria
agir no sentido de conseguir a extensão da ação do Comissariado
da Alimentação à Bahia, conforme o desejo popular.11 Instala-
do oficialmente em 8 de outubro de 1918, até dezembro sua
ação parece ter sido inócua.
Nos primeiros meses de 1919, a carestia dos gêneros de
primeira necessidade ainda não havia sido contida, apresen-
tando mesmo tendências ao agravamento da situação em al-
guns casos. Em março, o próprio editor do jornal O Tempo
voltou ao assunto, avisando que não era a primeira e nem seria
a última vez a usar sua coluna para defender os interesses po-
pulares hora em jogo, pois a crise estava atingindo indiscrimi-
nadamente a classe operária, os assalariados mais pobres e
mesmo a classe média, posto que esta era “obrigada a repre-
sentações”. As representações às quais o jornalista fez referên-
cia eram os gastos com vestuário e calçados, que alcançaram
9 O Tempo, Salvador, 16 set. 1918, p. 2. Além de Cosme de Farias, o telegrama
foi assinado por outras lideranças vinculadas ao Centro Operário da Bahia, a
exemplo de Felipe Tranquilino de Castro, Arnaldo Pereira, José Maria da
Rocha Argolo, Eugênio Cardoso, Manoel Santos Silva e João Afonso.
10 O Tempo, Salvador, 19 set. 1918, p. 1.11 O Tempo, Salvador, 20 set. 1918, p. 1.
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preços dados como fora do poder aquisitivo de muitos setores,
a exemplo dos funcionários públicos, que estariam na iminência
de freqüentar as repartições apresentando-se como “mendi-
gos, rotos, sujos e esfarrapados, pois os magros vencimentos
lhe são insuficientes para o alimento da família”.12
A situação dos funcionários públicos era, aliás, das pio-
res, pois, além dos constantes atrasos em seus pagamentos, os
salários não haviam tido qualquer reajuste desde 1º de maio de
1896, ou seja, estavam estagnados há 22 anos, tomando 1918
como referência.13 Foi nesse quadro de descontentamento ge-
neralizado que se aprovou, então, em agosto de 1918, a Lei nº
1.286, pela qual o governo do estado concedia uma gratifica-
ção especial a vigorar durante a fase final da guerra, como for-
ma de compensar a queda do poder de compra dos salários em
face da carestia geral. As gratificações variaram entre 8%, 10%
e 12% e incidiriam sobre os proventos (salários ou diárias) de
todos os funcionários e serventuários do Estado, inclusive os
da Câmara dos Deputados e do Senado do Estado, excluídos
do gozo de tais vantagens o governador, os deputados e sena-
dores e os comissionados. Já os 1.000 praças da Força Pública,
lotados em Salvador, receberiam uma gratificação extraordiná-
ria de 300 réis diários.14 Mas a corrosão dos salários era tanta,
que já em agosto de 1919 a Associação dos Funcionários Públi-
cos estava reivindicando 30% de aumento, enquanto a Câma-
ra dos Deputados do Estado discutia o projeto nº 111, que pre-
12 O Tempo, Salvador, 17 mar. 1919, p. 2.
13 ATA da 2ª Reunião de Assembléia Geral Extraordinária da Associação dos
Funcionários Públicos do Estado da Bahia de 16 de junho de 1919. Diário
Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 22 jun. 1919; A Tarde, Salvador, 19 jun.
1918, p. 1. Esse reajuste de 1896 ocorreu em função da primeira reforma nos
quadros do funcionalismo tendo por base a Lei nº 115, de 16 de agosto de 1895.
14 BAHIA. Lei 1.286, de 24 de agosto de 1918. Coleção de Leis do Estado da
Bahia do ano de 1918. Salvador: Imprensa Oficial do Estado, p. 30-31, 1921;
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 27 ago. 1918.
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via a incorporação definitiva da gratificação de guerra aos salá-
rios dos funcionários públicos baianos.15
A carestia e a depreciação salarial são fenômenos rela-
cionados às oportunidades criadas pela guerra para a expor-
tação de gêneros de primeira necessidade, como se pode ver
na Tabela 8. Na realidade, a Bahia viveu uma situação para-
doxal em que sua participação no conjunto das exportações
brasileiras encontrava-se em declínio por anos consecutivos,
enquanto seu comércio exterior, analisado separadamente,
mostrou uma ascensão nítida durante a guerra. Assim, nos
20 anos compreendidos entre 1890 - 1910, o crescimento mé-
dio anual foi da ordem de 6,9%, ao passo que nos cinco anos
que se seguiram (1911 - 1915) o crescimento do valor das ex-
portações em libras foi de 2%. Mas foi no qüinqüênio de 1915
a 1919 que a alta foi absolutamente fora do comum e longe de
qualquer previsão, tendo o superávit alcançado um avanço
de 72% em relação ao mesmo período anterior. O maior e
mais significativo pico não apenas dessa conjuntura, mas de
toda a Primeira República, foi exatamente o ano de 1919, com
exportações que atingiram 12.724.531 libras.16
Os problemas enfrentados pelas classes populares em
função do crescimento das exportações podem ser analisados
a partir de um exemplo concreto. Em dois momentos distintos
da conjuntura, a farinha de mandioca, elemento central da di-
eta popular, serviu a propósitos ligados à especulação. A pri-
meira vez foi em setembro de 1918, quando os três principais
controladores desse comércio formaram um cartel e resolve-
ram exportar todo o estoque que possuíam para Liverpool, na
Inglaterra. O segundo momento foi em setembro de 1919, quan-
15 A Hora, Salvador, 1. ago. 1919, p. 1; 12 ago. 1919, p. 2.
16 A INSERÇÃO da Bahia na evolução nacional – 2ª Etapa (1890-1930).
Salvador: CPE, 1980. p. 24-27.
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do os comerciantes começaram a drenar toda a farinha de man-
dioca de Salvador para Recife. Segundo alguns jornais, esta
operação teria assegurado lucros altíssimos, pois a mercadoria
era comprada na praça da Bahia a um preço médio de 15$000
por saco e revendida a 35$000 em Pernambuco. No varejo tam-
bém havia grande diferença, com grandes prejuízos para os
consumidores, pois enquanto a tabela do Comissariado da
Alimentação Pública estabelecia valores entre $120 e $180 por
litro, o produto já estava sendo vendido a $240 em Salvador e
$800 em Recife. Os lucros eram tão certos e altos que apenas
em um dia foram vendidos para aquele mercado 4.530 sacos
de farinha de mandioca. Mesmo considerando que esses valo-
res possam não representar fielmente a realidade, sendo um
expediente usado pela imprensa seabrista para acirrar a ani-
mosidade popular contra os comerciantes, é preciso admitir
que havia, efetivamente, especulação e aumento de preços e
esse é um fato confirmado por todas as fontes, independente
dos níveis que os mesmos tenham alcançado.17
Isso ajuda a explicar, em parte, por que em 1919 houve
uma exacerbação dos conflitos relacionados à carestia e ao
açambarcamento de alimentos. Ajuda a entender, também,
as razões que fizeram da greve geral de junho de 1919 não
apenas a maior e mais importante manifestação operária da
cidade até 1930, como também um momento de comunhão
de todo o povo contra uma situação considerada inadmissí-
vel. Na realidade, a degradação das condições de vida da po-
pulação trabalhadora e pobre foi o preço que o governo bra-
sileiro aceitou pagar para equilibrar a balança de pagamentos
e vencer as dificuldades causadas pela baixa dos preços dos
produtos tradicionais de exportação nacionais, a exemplo do
café e da borracha. É que a grande crise internacional de 1913
17 O Tempo, Salvador, 6 set. 1918, p. 1; 4 set. 1919, p. 1.
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106
fez com que os preços dos principais produtos de exportação
brasileiros sofressem uma queda inédita na história do co-
mércio exterior do Brasil. Além disso, as importações, princi-
palmente das matérias-primas, não diminuíram, causando um
grande desequilíbrio na balança de pagamentos. Foi só a par-
tir de 1915 que a situação começou a mudar, pois o país pas-
sou a promover exportações de gêneros não-tradicionais para
os países do bloco aliado em sua guerra contra o império ale-
mão, como açúcar, arroz, milho, farinha de mandioca, char-
que, etc., desconsiderando o risco de arruinar o frágil equilí-
brio da economia popular e provocar o aumento das tensões
sociais, traduzidas na maré de greves e manifestações popu-
lares ocorridas na conjuntura analisada.
Tabela 8
Exportações de gêneros de primeira necessidade
Em toneladas – Brasil, 1914-1918*
Fonte: Dados da Diretoria de Estatísticas do Ministério da Fazenda. Diário Ofi-
cial do Estado da Bahia, 20 fev. 1919.
* Dados correspondentes aos 11 primeiros meses de cada ano do qüinqüênio.
Os algarismos referentes ao ano de 1918 estão sujeitos a retificações.
O valor médio por unidade representa o quociente da divisão do valor posto
a bordo, de cada mercadoria, pela sua respectiva quantidade.
Produto
1914 1915 1916 1917 1918
Arroz 2 2 469 35.828 26.466
Açúcar 29.065 59.074 47.997 121.733 96.670
Batata - - - 3.311 5.064
Carnes em conserva 285 77 352 2.262 16.098
Carne congelada 1 6.670 32.395 62.333 58.043
Charque 6 737 2.270 3.928 4.431
Farinha de mandioca 4.342 3.890 4.534 16.517 57.669
Feijão 4 276 34.884 90.331 65.973
Milho - - 3.108 23.314 11.886
Quantidade
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107
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a carne e o pão,
produtos transformados em objeto de ações mais radicais de
setores da população. Em junho de 1919, em meio à greve
geral, o comerciante José Presídio Figueiredo, que possuía
depósito na rua J. J. Seabra, na Baixa dos Sapateiros, abateu
três bois com o objetivo de vendê-los ao Hospital Santa Isa-
bel. Quando seu filho Joel Presídio e alguns carregadores fo-
ram levar a mercadoria ao hospital, viram-se “atacados por
um numeroso grupo de populares, estabelecendo-se por essa
ocasião grande e sério conflito, que ia tomando lamentáveis
proporções, aí não fosse a intervenção prudente do delegado
Lustosa de Aragão...” Pensando nas conseqüências políticas
do fato, o jornal O Tempo procurou desvincular do movi-
mento operário este ataque à propriedade. Em suas palavras,
“os turbulentos, que não pertenciam ao número dos operári-
os grevistas, derramaram querosene sobre 55 kg de carne,
atearam fogo, resultando sair ferido da luta, com uma pedra-
da na cabeça, o Sr. Joel Presídio, que fora medicado na Assis-
tência Pública”. E sentenciava: “Esperamos que esses fatos
não se reproduzam, a fim de que não se diga ser a classe ope-
rária a causadora desses excessos”.18
A crise do pão
Mas foi, sem sombra de dúvida, a alta do pão o que desper-
tou, de modo mais profundo, o rancor que a classe operária e
os estratos populares dispensavam aos comerciantes. Há for-
tes indícios de que os momentos mais críticos da carestia e
do açambarcamento do pão coincidiram com as fases mais
radicalizadas do movimento operário. Em maio de 1919, por
exemplo, em meio à greve nacional dos marítimos, entre os
18 O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.
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108
quais os da Bahia e do Rio de Janeiro, e emendando com a
greve geral de junho em Salvador e no Recôncavo, os proble-
mas relativos a escassez e alta do preço do pão voltaram a
ocupar o centro das atenções dos trabalhadores e também
dos jornais, não importando a sua coloração política. Já em 8
de maio, a Associação dos Estabelecimentos de Padaria da
Bahia fez publicar um manifesto dirigido às autoridades e ao
público em geral, no qual informava a paralisação da produ-
ção do pão sob o argumento de que a alta de preços da fari-
nha de trigo estava fazendo-os ter um prejuízo diário de
50$000.19
Mas a panificação em Salvador era um empreendimen-
to dominado pelos galegos, que, como estrangeiros, eram re-
lativamente mais vulneráveis que os brasileiros às tensões
geradas pelo aumento do preço do pão, alimento essencial e
secularmente incorporado à dieta popular. A situação se tor-
nava bastante complicada quando os atacadistas promoviam
retenções do trigo ou aumentavam o seu preço, fazendo com
que tal produto ficasse inacessível às padarias ou deixando-
lhes como única saída o impopular repasse de custos para os
consumidores diretos. Nesses casos, o sentimento de revolta
da população se voltava, prioritariamente, contra tais estabe-
lecimentos varejistas e seus proprietários estrangeiros, que
passavam a ser encarados, tanto pelo povo como pelas auto-
ridades, como forasteiros exploradores. Não por acaso, os
galegos fundaram, em 1917, a Associação dos Proprietários
de Padarias. Seu objetivo era criar uma instituição que asse-
gurasse unidade e coesão a esse segmento empresarial a fim
de lhe proporcionar maior poder de pressão para lutar pelos
seus interesses. Em maio de 1919, 38 donos de padaria, dos
quais 25 eram galegos, decidiram, em assembléia, suspender
19 O Tempo, Salvador, 9 maio 1919, p. 2.
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109
o fabrico do pão. Sentiam-se prejudicados pela alta do preço
da farinha de trigo e pelo tabelamento imposto pelo
Comissariado da Alimentação.20
Na verdade, mesmo admitindo que a taxa de lucro das
padarias pudesse estar caindo, o que fica claro é que os pro-
prietários de padaria aproveitaram-se do momento para fazer
um lockout visando pressionar as autoridades a revogar o ta-
belamento do pão e restabelecer a liberdade de comércio. A
imprensa ligada ao Palácio da Aclamação, talvez porque não
visse naquele grupo social um ponto de apoio para suas ma-
nobras políticas, não gostou e disse que o Comissariado da
Alimentação deveria intervir no conflito entre padarias e im-
portadores de trigo e punir os responsáveis pela escassez e
alta do pão, deter os “assaltos da ganância, parta de onde
partir, venha de onde vier”, e impedir que o povo continuasse
“escorchado e esmagado pelo choque de interesses subalter-
nos de indivíduos que se preocupam apenas com riquezas
rápidas”.21 O conflito se arrastou até junho, quando, além de
consumidores insatisfeitos, os proprietários de padaria en-
frentaram um confronto aberto com seus trabalhadores e seu
sindicato.
Os problemas gerados pelas disputas entre os comerci-
antes atacadistas controladores da importação e comerciali-
zação do trigo e os proprietários de padarias continuaram ainda
por muito tempo e, em agosto de 1919, às vésperas de uma
greve que abarcou todo o ramo têxtil e quase virou uma nova
20 A Associação dos Estabelecimentos de Padaria da Bahia foi fundada em 7 de
abril de 1917 e originalmente chamava-se Associação dos Proprietários de
Padarias. Os espanhóis também estavam firmemente estabelecidos no peque-
no comércio, controlando inclusive a União dos Varejistas da Bahia. BACE-
LAR, Jeferson. Galegos no paraíso racial. Salvador: Ianamá/Ceao/CED-UFBA,
1994. p. 144-145.21 O Tempo, Salvador, 9 maio 1919, p. 1
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110
greve geral, uma nova paralisação da produção e comerciali-
zação do pão ocorreu com a intenção de forçar um aumento
nos preços daquele produto. Em nova nota pública divulgada
entre os dias 21 e 23 de agosto, a Associação dos Estabeleci-
mentos de Padaria da Bahia declarou que as constantes altas
dos preços da farinha de trigo tornavam inviável o acatamen-
to da tabela do Comissariado da Alimentação, obrigando-os
a suspender o fabrico do pão, mantendo apenas a venda de
biscoitos e bolachas nos dias que se seguiriam.22 Os comerci-
antes atacadistas, por sua vez, argumentavam que estavam
repassando aumentos sofridos na importação de farinha de
trigo oriunda dos EUA e da Argentina e que a tendência con-
tinuava sendo de altas ainda maiores. O aumento dos preços
da farinha de trigo nesses países, por seu turno, foi justifica-
do em função do aumento da procura por parte dos aliados e
também em razão do aumento extraordinário dos fretes do
Rio da Prata. Além disso, os atacadistas disseram que a en-
trada da Alemanha e da Áustria na concorrência pela farinha
proveniente daquela região também pressionou os preços
desse produto para cima. Os proprietários de padarias procu-
raram salientar que, além dos aumentos da farinha de trigo
comprada dos atacadistas, tiveram também que arcar com o
aumento de 20% que concederam sobre os salários dos tra-
balhadores de seus estabelecimentos após a greve geral de
junho de 1919, o que fez com que o custo de produção ficasse
ainda maior.23
Em 25 de agosto, após realizar várias reuniões buscan-
do um acordo com o governador Antônio Moniz e o
Comissariado Geral, no Rio de Janeiro, a Associação dos Es-
tabelecimentos de Padaria resolveu paralisar de novo, tem-
porariamente, a produção do pão. Anunciou, contudo, que
22 Diário de Notícias, Salvador, 21 e 23 ago. 1919, p. 2.23 Jornal de Notícias, Salvador, 24 ago. 1919, p. 1.
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111
se suas reivindicações não fossem atendidas, a paralisação
seria por tempo indeterminado, o que acabou fazendo três
dias depois.24 O fato teve desdobramentos significativos. No
final da tarde do dia 29, numa ação aparentemente espontâ-
nea, um popular começou a discursar em frente a uma pada-
ria localizada na rua J. J. Seabra, na Baixa dos Sapateiros,
protestando, em voz alta, contra a falta do pão e clamando
por retaliações aos donos de panificação. Sem que precisasse
esperar por muito tempo, um grupo de indivíduos qualifica-
dos de “desocupados” logo aderiu ao protesto e, aos gritos
de “fecha, fecha”, forçou os proprietários daquele estabeleci-
mento, e outros da mesma área, a cerrar as portas. Em segui-
da, partiu para a Avenida Sete de Setembro, onde fez o mes-
mo com outras casas comerciais congêneres. O argumento
dos manifestantes foi o de que se os proprietários de padaria
não queriam vender o pão, também não poderiam comerci-
alizar biscoitos e bolachas, meio pelo qual ampliavam ainda
mais a sua margem de lucros à custa dos pobres. A força pú-
blica e o delegado Lustosa de Aragão só chegaram ao local
cerca de uma hora depois, momento em que algumas padari-
as aproveitaram para reabrir os seus negócios e passar a ven-
der os mesmos produtos a preços ainda maiores. A tensão
atingiu um nível tal que o Sindicato dos Pedreiros, Carpintei-
ros e Demais Classes e o Centro Operário da Bahia convoca-
ram comícios para o dia seguinte, a fim de discutir ampla-
mente a questão.25
Não se tem notícia do comício promovido pelo Sindica-
to dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, mas sabe-se
que da reunião convocada pelo Centro Operário participaram
24 Diário da Bahia, Salvador, 24 ago. 1919, p. 2; Diário de Notícias, Salvador, 27
ago. 1919, p. 1.
25 O Tempo, Salvador, 30 ago. 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 30 ago.
1919, p. 1; Diário de Notícias, Salvador, 30 ago. 1919, p. 7.
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112
muitos trabalhadores que, liderados por Cosme de Farias,
saíram em passeata pelas ruas do Centro de Salvador carre-
gando flâmulas com inscrições que diziam “o povo quer pão”.
Essa mobilização não parece ter surtido resultados práticos
palpáveis, pois em 1º de setembro a imprensa noticiava que
os proprietários de padaria haviam chegado a um acordo com
as autoridades e retomado a produção, mas ao custo de um
aumento de $100 por quilo de pão. O jornal O Tempo voltou
a responsabilizar os atacadistas de farinha de trigo pela alta
contínua do produto26 e o acordo efetivado foi logo
descumprido por algumas padarias, tanto no que diz respeito
ao peso quanto ao preço do pão.27
Os tempos eram realmente difíceis, e a imprensa obser-
vou que a falta do pão alterou alguns hábitos e rotinas da
população operária e pobre em geral. Uma dessas mudanças
foi uma freqüência maior às feiras da Ribeira de Itapagipe, de
Água de Meninos, do Porto do Bonfim e do Tanque da Con-
ceição, que vendiam alimentos substitutos temporários do
pão. O aumento da demanda, porém, fez com que até esses
produtos começassem a encarecer. A batata-doce, por exem-
plo, que era vendida a 1$200/lata, passou a custar, em agosto
de 1919, 1$700 e as raízes de inhame e de aipim sofreram
aumentos de até 50% no mesmo período.28
Além disso, a imprensa observou que o sistema de pe-
sos e medidas de Salvador era totalmente desrespeitado e até
alimentos impróprios ao consumo humano eram vendidos à
população cotidianamente. Denúncias de carne e bacalhau
deteriorados sendo comercializados era uma constante e os
26 O Tempo, Salvador, 1º set. 1919, p. 1. O PREÇO do pão passou de 1$000
para 1$100.
27 Diário da Bahia, Salvador, 3, 9 e 14 set. 1919, p. 1; Diário de Notícias,
Salvador, 10, 13 e 17 set. 1919, p. 1.
28 O Tempo, Salvador, 29 ago. 1919, p. 1.
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113
produtos falsificados também grassavam pela cidade. Por outro
lado, havia fraudes de todo tipo. Não era muito difícil com-
prar vinagre que causava graves intoxicações e as misturas de
café com milho e feijão, leite com água e/ou outras substânci-
as, azeite-doce com óleo de algodão e pimenta-do-reino e
cominho com milho adicionado pareciam ser fatos corriquei-
ros na Salvador dos anos de guerra e do imediato pós-guerra.29
Em julho de 1918, a própria Associação União dos Varejistas
admitiu que os consumidores eram roubados pela utilização
dos tradicionais sistemas de medidas, principalmente quan-
do compravam cereais, e chegou mesmo a enviar uma petição
à Câmara dos Deputados pedindo que esta aprovasse uma
lei convertendo o sistema antigo, em geral o litro, ao novo,
baseado no peso. Argumentava que já havia feito gestões
anteriores junto ao Conselho Municipal para alcançar tal ob-
jetivo, mas o projeto havia sido vetado pelo então intendente
Pacheco Mendes.30
A crise de moradia
Mas a crise advinda com a Primeira Guerra Mundial não se
expressou, apenas, na carestia e na especulação com os gêne-
ros alimentícios de primeira necessidade. Além das questões
relacionadas com a instabilidade do emprego e a compressão
salarial, que veremos um pouco mais adiante, o problema da
habitação também esteve no centro das atenções para as ca-
madas populares, em geral, e para a classe operária, em parti-
cular. E a razão muito justa para tal fato era que os anos se-
guintes a 1914 até o imediato pós-guerra foram marcados por
um processo de encarecimento e mesmo de especulação dos
preços dos aluguéis como nunca havia sido visto antes. A clas-
29 O Tempo, Salvador, 13 jul. 1918; 10 jan. 1919, p. 1.30 APEB, Seção Legislativa, livro 949.
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114
se trabalhadora, que já vivia em habitações condenáveis nos
velhos sobrados, casarios, cortiços e nas casas de cômodos,
sujeita à epidemias e enfermidades causadas pela falta de
saneamento e higiene, passou a sofrer dos males da carestia
de vida também de modo muito intenso na questão
habitacional a partir da guerra, em função da crescente perda
de poder aquisitivo dos seus salários.
Em maio de 1919, por duas vezes, o jornalista João
Varella ocupou o espaço de sua coluna Colaboração Operária
para denunciar as péssimas condições de moradia das cama-
das populares em geral. O articulista argumentou que a mo-
radia havia se tornado inacessível para a maioria da popula-
ção em virtude da carestia dos aluguéis, causada pelo retrai-
mento dos capitais investidos no setor da construção civil, e
do crescimento desordenado da população. Como desdobra-
mento desse problema, argumentou o jornalista, outros apa-
receram. A classe operária viu-se obrigada, pela força das cir-
cunstâncias, a retirar-se para bairros cada vez mais distantes,
localizados em “povoados lúgubres”, “becos escuros e
infectos”, e para “cortiços nojentos, verdadeiras antecâmaras
ou cemitérios”. Não podendo pagar os altos aluguéis impos-
tos pelo senhorio em virtude dos anos de compressão salari-
al, os operários tiveram que se mudar para tais bairros, “indo
viver em cômodos ou em promiscuidade condenável”.31 João
Varella salientou também que a necessidade de moradia para
o operariado havia se transformado em algo ainda mais ur-
gente porquanto, além de salários depreciados, a maior parte
comprometida com pagamento de aluguel, os trabalhadores
estavam tendo que arcar também com os igualmente altos
gastos com transportes, posto que seus “cômodos mal areja-
dos e apertados” localizavam-se distantes de seus locais de
31 Diário da Bahia, Salvador, 11 maio 1919, p. 2.
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115
trabalho, obrigando-os a pagar pelas viagens de bonde.32 Não
por acaso, antecipando-se aos conflitos que dessa situação
pudessem surgir e percebendo a necessidade de estarem uni-
dos para a defesa de seus interesses, os agentes da especula-
ção com os imóveis urbanos e rurais articularam-se, desde
1910, em torno da Sociedade Defensora da Propriedade Imo-
biliária.33
Quanto à questão da mobilidade operária pela cidade,
já se observou para outras regiões que assegurar transporte
barato e de qualidade para que os trabalhadores se deslocas-
sem de suas casas para o trabalho nunca foi algo que estives-
se entre as principais preocupações dos governos ou patrões
32 Diário da Bahia, Salvador, 14 maio 1919, p. 1. Entretanto, é necessário
relativizar as declarações de jornalistas, autoridades sanitárias e mesmo dos
industriais quanto às questões de higiene e salubridade das moradias proletá-
rias. Esse discurso pertencia muito mais ao mundo burguês que ao universo
operário. Para estes, o custo dos aluguéis, bem como seu peso sobre o orça-
mento familiar, era algo muito mais premente e revestido de materialidade
que os problemas de superpopulação ou degradação das habitações. E isso é
tão real que não encontramos nenhuma fala operária queixando-se do primei-
ro ponto, ao passo que abundam as que tratam do último. Com isto não se
quer dizer que os trabalhadores não aspirassem ao conforto, higiene e salubri-
dade de uma boa moradia, mas é que esses benefícios, quando conseguidos,
eram acompanhados de um cerceamento de sua liberdade e de profundo
controle do seu próprio modo de vida, a exemplo do que ocorria com as vilas
operárias. Essas limitações acabavam sendo um preço alto demais a pagar para
indivíduos que necessitavam explorar todas as possibilidades de sobrevivên-
cia por meio de diversos expedientes utilizados na cidade, ou seja, na rua. Ver
PECHMAN, Robert Moses. Os excluídos da rua: ordem urbana e cultura
popular. In: BRESCIANI, Maria Stella (org.). Imagens da cidade (séculos XIX
e XX). São Paulo: ANPUH; Marco Zero; Fapesp, 1993. p. 29-34. O assunto
foi tratado de modo específico por PERROT, Michelle. Os operários, a mo-
radia e a cidade no século XIX. In: _____. Os excluídos da história: operários,
mulheres e prisioneiros. Tradução de Denise Bottmann. 2. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1992. p. 101-125.
33 ESTATUTOS da Sociedade Defensora da Propriedade Imobiliária. Fundada
em 20 de setembro de 1910 e reformada em 10 de setembro de 1921. Diário
Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28 set. 1921.
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116
nos primeiros momentos da industrialização. Linhas de bon-
des e trens não foram pensadas tendo esse objetivo em men-
te e mesmo na Inglaterra, o berço da industrialização, isso só
aconteceu a partir de fins do século XIX. Tal deficiência limi-
tava até mesmo as perspectivas dos trabalhadores em termos
de busca de emprego, posto que sua mobilidade estava res-
trita aos locais para onde poderiam se deslocar a pé.34 Essa
situação estava claramente colocada em Salvador em maio de
1919 e o editor do jornal O Tempo criticou a precariedade dos
serviços prestados pelas companhias de transportes urbanos
da cidade, chamando a atenção para as péssimas condições
de manutenção dos seus bondes, o elevado preço das passa-
gens e a falta de segurança das linhas.35
As tensões geradas por essa situação fizeram com que
lideranças de algumas frações da classe operária atuassem
junto à imprensa e a autoridades estaduais em busca de solu-
ções, mesmo que paliativas. Ainda no mês de abril de 1919, o
deputado Cosme de Farias, velho conhecido dos operários de
Salvador pela posição de liderança que assumiu nas manifes-
tações contra a carestia desde o início da guerra, apresentou
um projeto na Câmara, pelo qual autorizava o governador a
construir “2.000 casas higiênicas e modestas, destinadas à
residência de operários”, mas a proposta, que chegou a rece-
ber algum apoio no início, logo foi engavetada e finalmente
rejeitada em 19 de abril de 1921.36
Em fins de maio de 1919, alguns sindicatos, a exemplo
da Sociedade União dos Operários Estivadores, da Socieda-
34 HOBSBAWM, Eric J. O mercado de trabalho de Londres no século XIX. In:
_____. Mundos do trabalho: novos estudos sobre a história operária. Tradução
de Waldea Barcellos e Sandra Bedran. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p.
191-220.
35 O Tempo, Salvador, 5 maio 1919, p. 1.36 APEB, Seção Legislativa, livro 195.
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117
de União dos Carregadores da Bahia, do Sindicato dos Pe-
dreiros, Carpinteiros e Demais Classes e do Centro Operário
da Bahia, passaram a se articular com o advogado Philemon
de Souza, o deputado Cosme de Farias, o jornalista João
Varella e outras pessoas de influência para conseguir fundar a
Cooperativa Operária, que, entre outras coisas, contemplaria
a idéia de construir habitações para a classe operária subven-
cionadas pelo Estado.37 A campanha pela fundação da Coo-
perativa Operária teve continuidade nos dias que se segui-
ram e em princípios de junho a imprensa dava conta de que
essa empreitada, se consolidada, seria de interesse muito mais
amplo do que se supunha, pois, além de assegurar aos seus
associados o acesso a gêneros de primeira necessidade a pre-
ços bem mais baixos numa época de carestia e especulação,
garantiria também a qualidade das mercadorias e a exatidão
de seus pesos e medidas, “circunstância que são valores para
a saúde e para a economia doméstica”. Dessa forma, o
cooperativismo interessaria não apenas aos operários, mas
também “aos pequenos funcionários e empregados” e “a to-
dos que, para se prover do necessário à vida apenas tem um
módico salário”.38
Porém, o capital total da sociedade, segundo seu proje-
to de estatutos, deveria ser formado não apenas a partir das
37 Diário de Notícias, Salvador, 24, 27 e 29 maio 1919, p. 3.38 O Tempo, Salvador, 4 e 5 jul. 1919; Diário de Notícias, Salvador, 5 jul. 1919,
p. 2. O Projeto de Estatutos da Cooperativa Operária previa a constituição
de quatro seções, que seriam responsáveis, respectivamente, pelo consumo
(fabricação, compra e venda de gêneros alimentícios), crédito (depósitos e
empréstimos), assistência, instrução e defesa social (serviços médicos,
odontológicos, farmacológicos, advocatícios e pensões por moléstia ou
invalidez, além de instrução e propaganda do cooperativismo) e produção
(construção de casas, agricultura de subsistência, obras públicas e particula-
res, oficinas de artes e ofícios, etc.). Cooperativa Operária. Projeto de estatu-
tos. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 6 jul. 1919.
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118
subscrições dos próprios sócios, mas também a partir das con-
tribuições de sócios beneméritos e de subvenções do Estado,
criando uma dependência prévia desses recursos.39 A idéia
foi praticamente enterrada quando o projeto que garantiria
uma subvenção estadual de 50:000$000 para a entidade foi
engavetado na Câmara dos Deputados em fins de julho de
1919 até maio de 1925, sendo definitivamente rejeitado nesse
ano.40 E isso aconteceu a despeito das garantias ideológicas
dos estatutos da referida sociedade de que a mesma se pres-
taria tão-somente à propaganda do cooperativismo e de ou-
tros “princípios socialistas não revolucionários”.
Crise de trabalho e compressão salarial
A alta dos preços dos gêneros de primeira necessidade, a es-
cassez do pão, os aluguéis cada vez mais caros ou a falta de
moradia adequada são fatos que afetaram a vida cotidiana
dos trabalhadores, mas de forma ainda um tanto lateral. A
classe operária incorpora-se como força de trabalho no pro-
cesso social global de produção. Para compreender melhor
como os operários sentiram e viveram os anos de guerra, é
preciso, portanto, sair da esfera do consumo e penetrar no
mundo do trabalho. Saber qual foi o impacto da guerra sobre
as atividades produtivas das quais os trabalhadores retira-
vam o seu ganha-pão é, assim, fundamental.
A guerra foi, para os autores dos mais diversos matizes
teóricos, um momento-chave no processo de industrialização
brasileira. Os primeiros estudiosos que se debruçaram sobre
o tema, a exemplo de Caio Prado Jr. e Celso Furtado, viram
39 Cooperativa Operária. Projeto de estatutos. Diário Oficial do Estado da Bahia,
Salvador, 6 jul. 1919.40 Apeb, Seção Legislativa, livro 195.
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119
O trabalho na Fábrica de Massas Alimentícias Progresso.
Fonte: Arquivo Público do Estado da Bahia
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120
no conflito do início do século um mecanismo propulsor da
industrialização por meio do processo de substituição de im-
portações. O conflito teria provocado uma suspensão do for-
necimento externo de alguns produtos manufaturados, fazen-
do com que investimentos fossem feitos na fundação de inú-
meras fábricas no país.41
Essa tese, porém, segundo a qual a Primeira Guerra te-
ria levado a uma aceleração substancial da industrialização
do Brasil, foi contestada por estudos de W. Dean e A. Villela
e W. Suzigan. Dean questionou a validade dos dados dos cen-
sos de 1907 e 1920 para demonstrar que o maior crescimento
industrial ocorreu durante a guerra, pois, além de possuírem
graves defeitos, eles se referiam a um intervalo de seis anos
anteriores e dois anos posteriores ao conflito. Além disso, o
aumento da produção industrial foi conseguido a partir do
prolongamento da jornada de trabalho dos operários, da uti-
lização da capacidade ociosa das fábricas e da produção ma-
nual. Não teria havido, portanto, aumento do número de fá-
bricas.42 Dentro da mesma perspectiva revisionista, Villela e
Suzigan argumentaram também que a eclosão da Primeira
Guerra Mundial provocou uma interrupção do ciclo de acu-
41 PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 40. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1993. cap. 34. p. 257-269 disse textualmente que “A Grande
Guerra de 1914-1918 dará grande impulso à industrialização brasileira. Não
somente a importação dos países beligerantes, que eram nossos habituais
fornecedores de manufaturas, declina e mesmo se interrompe em muitos ca-
sos, mas a forte queda do câmbio reduz também consideravelmente a concor-
rência estrangeira. No primeiro grande censo posterior à guerra, realizado em
1920, os estabelecimentos industriais arrolados somarão 13.336, com
1.815.156 contos de capital e 275.512 operários. Destes estabelecimentos,
5.936 tinham sido fundados no qüinqüênio 1915-1919, o que revela clara-
mente a influência da guerra”. Ver também FURTADO, Celso. Formação
econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976.
42 DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo (1880-1945). 4. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. p. 91-114.
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121
mulação de capitais iniciado em 1905, resultando numa drásti-
ca redução dos investimentos na indústria de transformação,
em especial no que diz respeito à aquisição de bens de capital.
As exceções a esse quadro de paralisação dos investimentos
foram os setores de processamento de carnes, açúcar, óleo de
caroço de algodão, papel, couro curtido e outros insumos para
a indústria de calçados, de produtos químicos e de metais.43
Uma tentativa de reavaliação deste debate foi apresen-
tada por Albert Fishlow44 e Flávio R. Versiani e Maria Teresa
R. O. Versiani.45 Fishlow procurou demonstrar que a substi-
tuição de importações vinculadas ao conflito mundial teria
sido mais importante pelos impulsos dados à demanda e,
mesmo não tendo sido acompanhada por grandes aumentos
na capacidade produtiva, gerou lucros que foram utilizados
como investimentos. Procurando relativizar as críticas de
Dean, indicou que o pêndulo fora deslocado para muito lon-
ge na outra direção. Em sua avaliação, houve sim um impacto
favorável da guerra sobre a indústria nacional, pois a produ-
ção têxtil de algodão em 1918 foi 57% superior a 1914, dado
que não muda mesmo se comparado com os anos de 1911 -
1913, de base mais elevada.
Diferentemente desta bibliografia, nossa preocupação
central será, porém, analisar o impacto da guerra na vida dos
43 VILLELA, Annibal Villanova; SUZIGAN, Wilson. Política do governo e cres-
cimento da economia brasileira, 1889-1945. Rio de Janeiro: Ipea/Inpes, 1973. p.
135-139; SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira: origens e desenvolvimento.
São Paulo: Hucitec; Campinas (SP): Editora da Unicamp, 2000. p. 89-90.
44 FISHLOW, Albert. Origens e conseqüências da substituição de importações
no Brasil. In: VERSIANI, Flávio; BARROS, José Roberto Mendonça de.
Formação econômica do Brasil: a experiência da industrialização. São Paulo:
Saraiva, 1977. p. 7-40.
45 VERSIANI, Flávio Rabelo; VERSIANI, Maria Teresa R. O. A industrializa-
ção brasileira antes de 1930. In: VERSIANI, Flávio; BARROS, José Roberto
Mendonça de. Formação econômica do Brasil: a experiência da industrializa-
ção. São Paulo: Saraiva, 1977. p. 121-142
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122
operários da indústria e das outras atividades produtivas, cen-
tralizando o foco de atenção nos reflexos desses efeitos nas
condições de trabalho, nos níveis de emprego, desemprego e
salário, etc. Os produtores diretos, portanto, são os nossos
personagens centrais e não a indústria, os industriais ou a
política econômica do governo.
Na Bahia, o mais importante ramo de produção, do
ponto de vista econômico, era, indiscutivelmente, o têxtil. A
Tabela 9 apresenta três períodos nitidamente definidos da
situação desse setor durante a guerra. Se tomarmos o ano de
1912 como pico de uma fase de relativa estabilidade anterior
ao conflito, veremos que, do ponto de vista da evolução dos
lucros, essa indústria viveu sua crise mais aguda nos anos
1913 - 1914, quando houve diminuição drástica das vendas,
retração do crédito bancário, agravamento da crise de super-
produção e venda dos estoques a preços abaixo dos pratica-
dos no mercado em tempos normais, começou a se recuperar
entre 1915 - 1916 e gozou de uma real prosperidade, a despei-
to das negativas e reclamações de seus diretores, algumas delas
reais, outras não, durante o período de 1917 - 1920. Em meio
a esta última fase e imbricando-se com ela, temos uma con-
juntura específica de crise profunda no imediato pós-guerra,
do segundo semestre de 1918 ao primeiro trimestre de 1919,
que não afetou a margem de lucros dos industriais, mas que
trouxe um mal-estar social nunca visto para a maioria dos
operários têxteis, pois os industriais resolveram seus proble-
mas de superprodução com a destruição de parte das forças
produtivas, ou seja, fechando algumas fábricas e/ou diminu-
indo o número de dias e horas de trabalho. Embora nenhuma
dessas conjunturas específicas tenha sido absolutamente fe-
chada e cada uma delas guardasse e trocasse elementos da
que lhe antecedeu ou sucedeu, é possível dizer que houve
uma crise de superprodução jamais experimentada pela in-
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123
dústria têxtil, mas, como veremos, quem arcou com todo o
ônus da pletora de tecidos foram os produtores diretos.
Independentemente da existência concreta de fases mais
críticas de crise, recuperação ou mesmo de prosperidade, os
industriais têxteis queixaram-se, durante todo o período da
guerra, dos diversos fatores que provocaram um aumento dos
custos de produção e diminuíram a margem de lucro das fá-
bricas. Esses fatores desestabilizadores da vida econômica
estavam ligados, primeiramente, aos problemas da escalada
dos preços dos insumos, tais como carvão, anilinas, óleos
combustíveis, lubrificantes e algodão. O algodão, em parti-
cular, tinha seu preço ditado pela situação do mercado inter-
nacional, o qual interferia na própria produção interna brasi-
leira. Nos anos de 1916 e 1917, seus preços externos se eleva-
ram bastante, forçando uma alta no plano nacional, especial-
mente do algodão nordestino, gerando um aumento dos cus-
tos de produção para a indústria têxtil em seu conjunto.46
Assim, os relatórios anuais de 1915, 1916 e 1917 da direto-
ria da Companhia Empório Industrial do Norte admitiam que
aquela fábrica havia tido lucros crescentes, mas recomendavam
moderação na distribuição dos dividendos, pois o perigo da alta
de matérias-primas centrais ao processo de produção, como al-
godão, anilinas e carvão, ainda poderia acontecer. Em 1915, só
foram distribuídos dividendos de 8%, o menor índice até 1920.47
46 CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. São Paulo:
Difel, 1977. p. 66.
47 RELATÓRIO da direção da Companhia Empório Industrial do Norte e pare-
cer do Conselho Fiscal apresentado aos srs. acionistas na Sessão de Assembléia
Geral Ordinária de 31 de março de 1916. Salvador: Reis & Cia., 1916 (Exercí-
cio de 1915). No caso do carvão, a escassez e aumento dos preços forçaram a
companhia a contratar os serviços da The Caloric Company e modificar cinco
caldeiras para que pudessem queimar óleos combustíveis. Também se procurou
baixar os gastos com o algodão, instalando-se um prédio para beneficiá-lo na
cidade de Serrinha, diminuindo a dependência da matéria-prima oriunda de
outros estados ou do exterior. Apeb, Seção Legislativa, livro 1074.
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124
Em 1916, devido à conversão das caldeiras que queimavam
carvão para o modelo das que usavam combustíveis líquidos
(óleo), a diretoria voltou a queixar-se da elevação dos custos
de produção, mas o relatório mostra que essa conversão re-
gularizou e ampliou a produção, aumentando a margem de
realização dos lucros e a distribuição de dividendos (10%).48
O ano de 1917 também foi descrito de modo negativo, apesar
de os lucros líquidos terem sido ainda maiores e a distribui-
ção de dividendos ter pulado para 12%. O relatório informa-
va que o algodão nordestino, que em 1914 custava à compa-
nhia 13$000/arroba, passara, em 1917, a 60$000, o carvão
pulara de 30$000/tonelada a 180$000 e as anilinas e outros
Tabela 9
Indústria têxtil - Bahia - Evolução dos lucros líquidos,
1912-1920
Fonte: Atas das Assembléias de Acionistas, Estatutos e Relatórios das Companhias
Têxteis - 1912-1920.
* Lucros brutos.
48 RELATÓRIO da direção da Companhia Empório Industrial do Norte e
parecer do Conselho Fiscal apresentado aos srs. acionistas na Sessão de As-
sembléia Geral Ordinária de 30 de março de 1917. Salvador: Reis & Cia.,
1917 (Exercício de 1916).
Ano Companhia
Empório
Industrial do
Norte
Companhia União
Fabril da Bahia
Companhia Progresso
Industrial da Bahia
Companhia
Valença Industrial
Companhia Fabril
dos Fiais*
1912 739:504$490 - 770:299$070 466:963$136 781:003$510
1913 408:060$660 822:432$550 315:874$250 210:255$665 -
1914 168:818$970 1.077:942$100 122:035$760 675:300$455 -
1915 686:893$640 465:934$130 478:223$210 276:235$730 1.283:831$370
1916 657:419$280 - 318:409$070 426:350$540 1.039:793$110
1917 813:308$980 560:950$000 843:053$720 644:783$910 1.751:868$490
1918 857:467$110 819:231$350 878:089$360 1.209:494$790 1.862:865$250
1919 859:147$270 763:407$160 876:946$620 1.546:655$630 1.700:038$620
1920 2.116:441$450 1.414:731$390 1.371:360$980 1.604:950$530 1.231:581$050
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125
produtos químicos haviam tido aumentos superiores a 500%.
Para completar, em 1919, a praga da lagarta-rosada e, em 1920,
a da lagarta-verde fizeram grandes estragos na lavoura do al-
godão, pressionando ainda mais os preços daquele insumo.49
A direção das fábricas da Companhia Progresso Indus-
trial da Bahia também lamentou a alta das matérias-primas,
tendo o algodão subido, em 1915, dos 18$500/arroba no mês
de agosto para 30$000/arroba em dezembro, alcançando, em
janeiro, 37$000. Apesar deste problema e da escassez das
anilinas, suas duas fábricas operaram em plena força.50 No
decorrer de 1916, a tendência foi de alta, e essa companhia
chegou a comprar a arroba do algodão por 42$000.51
O carvão foi outro vilão das fábricas têxteis. A Tabela
10 mostra a queda contínua da importação e a elevação astro-
nômica do seu custo, a ponto de em 1918 ter-se comprado
cerca de ¼ do carvão do ano de 1913 e pago uma quantia
ainda maior em moeda nacional do que a que havia sido paga
no ano que antecedeu à guerra.52 Os resultados dessa alta
não tardaram a aparecer e, em 1917, a Fábrica Conceição, per-
49 RELATÓRIO da direção da Companhia Empório Industrial do Norte e
parecer do Conselho Fiscal apresentado aos srs. acionistas na Sessão de As-
sembléia Geral Ordinária de 2 de abril de 1918. Salvador: Reis & Cia., 1918
(Exercício de 1917). BAHIA. Secretaria da Agricultura, Indústria e Comér-
cio. Relatório dos Serviços da Secretária da Agricultura, Indústria, Comércio,
Viação e Obras Públicas durante o ano de 1920. Documento disponível no
APEB, Seção Republicana, caixa 2386, maço 178, doc. 746.
50 RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso Industrial da Bahia para
ser apresentado aos srs. acionistas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral
em 14 de março de 1916 (Exercício de 1915). Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 14 mar. 1916.
51 RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso Industrial da Bahia para
ser apresentado aos srs. acionistas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral
em 28 de março de 1917 (Exercício de 1916). Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 25 mar. 1917.52 Jornal de Notícias, Salvador, 9 jul. 1919, p. 3.
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126
tencente à Companhia União Fabril da Bahia, resolveu subs-
tituir o minério por lenha, fazendo com que o número de te-
ares em funcionamento caísse para 2/3, pois as caldeiras eram
inadequadas para queimar aquele tipo de combustível.53
Tabela 10
Importações de carvão*- Brasil, 1913-1918
53 RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia referente ao exercício de
1917. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 9 abr. 1918. A companhia
estava resolvendo o problema com a compra de outra caldeira.
54 COMPANHIA Fabril dos Fiais. Relatório que tem de ser apresentado pela dire-
toria à Assembléia Geral Ordinária dos srs. acionistas, em 21 de fevereiro de 1918
(Exercício de 1917). Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 21 fev. 1918.
Mesmo a Companhia Fabril dos Fiais, que era a única
indústria têxtil baiana de juta e fabricava toda a aniagem usa-
da para ensacar as crescentes exportações baianas, queixou-
se de escassez e alta dos insumos, em particular da juta. Em
1917, esses problemas, que já se arrastavam desde o início da
guerra, pioraram sensivelmente, ao ponto dessa fábrica ame-
açar a paralisação da produção em face da suspensão tempo-
rária da exportação inglesa. Contudo, a fábrica continuou a
produzir e seus lucros chegaram a crescer naquele ano.54
Na verdade, o que aconteceu foi que os industriais en-
frentaram os problemas gerados pela guerra adotando medi-
Ano Toneladas Réis Libras
1913 2.518.561 69.188.000 4.613.000
1915 1.276.287 57.255.000 2.956.000
1916 1.091.322 83.020.000 4.012.000
1917 825.940 94.260.000 5.012.000
1918 650.115 74.745.000 4.020.000
Fonte: Jornal de Notícias, 9 jul. 1919, p. 3.
* Inclui o carvão nas formas de pedra, briquete e coque.
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127
das para reduzir os custos de produção, aumentar a produti-
vidade e valorizar os seus produtos. Uma delas foi a paralisa-
ção parcial ou total da produção de algumas unidades e a
ampliação, ao máximo, da produção de outras, tarefa relati-
vamente fácil, já que três das cinco companhias existentes no
estado possuíam mais de uma fábrica. Em abril de 1916, por
exemplo, a Companhia Progresso Industrial da Bahia inter-
rompeu a produção da Fábrica Bonfim, que fechou o balanço
com um déficit de 8:298$730.55 Em 1917, no entanto, os lu-
cros da Companhia Progresso Industrial duplicaram, permi-
tindo a reabertura da Fábrica Bonfim, em maio de 1918. Nes-
se ano, a Progresso Industrial chegou mesmo a adquirir 85
teares revólveres, utilizados na Fábrica São Brás para o apro-
veitamento do excedente de produção do setor de fiação. A
Fábrica Bonfim também recebeu novos equipamentos, em
particular um locomóvel de 60 HP, visando complementar a
deficiente oferta de energia daquela unidade, e uma máquina
para fabrico de cordão tubular.56 Em 1919, os negócios da
Companhia Progresso Industrial da Bahia se ampliaram tan-
to que a empresa comprou as fábricas São João e Paraguaçu,
ambas localizadas no Distrito da Penha, aumentando o seu
capital de 2.450:000$000 para 4.650:000$000.57
55 RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso Industrial da Bahia para
ser apresentado aos srs. acionistas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral
em 28 de março de 1917 (Exercício de 1916). Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 25 mar. 1917.56 RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso Industrial da Bahia para
ser apresentado aos srs. acionistas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária
em 30 de março de 1918 (Exercício de 1917). Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 27 mar. 1918; RELATÓRIO da direção da Companhia
Progresso Industrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionistas em
Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 29 de março de 1919 (Exercício
de 1918). Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28 mar. 1919.
57 RELATÓRIO da Direção da Companhia Progresso Industrial da Bahia Para
Ser Apresentado aos srs. acionistas em Reunião da Assembléia Geral Ordiná-
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128
ria em 29 de abril de 1920 (Exercício de 1919). Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 28 abr. 1920.58 RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia (Exercício de 1915). Diário
Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 23 abr. 1916; RELATÓRIO da Companhia
União Fabril da Bahia (Exercício de 1917). Diário Oficial do Estado, Salvador, 9
abr. 1918; RELATÓRIO da direção da Companhia União Fabril da Bahia (Exer-
cício de 1918). Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 25 mar. 1919; RELA-
TÓRIO da direção da Companhia União Fabril da Bahia para ser apresentado à
Assembléia Geral dos srs. acionistas, no dia 29 de abril de 1920 (Exercício de
1919). Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28 abr. 1920; RELATÓRIO
da direção da Companhia União Fabril da Bahia para ser apresentado à Assem-
bléia Geral dos srs. acionistas, em Sessão de 30 de março de 1921 (Exercício de
1920). Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 27 mar. 1921.
59 RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia (Exercício de 1914).
Diário da Bahia, Salvador, 24 fev. 1915, p. 7-8.
As dificuldades na Companhia União Fabril da Bahia
foram, decerto, maiores. De suas seis fábricas, apenas a N. S.
da Conceição funcionou de forma regular durante todo o perí-
odo compreendido entre 1912 e 1920. As demais (São Salva-
dor, N. S. da Penha, S. A. do Queimado, Modelo e S. C. do
Paraguaçu) funcionaram de modo precário ou permaneceram
fechadas. É que, além do encarecimento e da escassez dos
insumos necessários ao desenvolvimento da produção têxtil, a
Companhia União Fabril tinha que arcar com o serviço de uma
enorme dívida junto à Fazenda Pública Federal, oriunda de
impostos atrasados e empréstimos constantemente renovados
junto à Firma Moraes & Cia., a quem a direção daquela em-
presa creditava o mérito de não ter entrado em falência. Mes-
mo assim, e apesar das outras fábricas da companhia também
terem tido momentos de altos e baixos, os lucros da empresa
em seu conjunto tenderam a crescer.58 Além disso, a guerra
não a impediu de iniciar o processo de modernização de uma
de suas fábricas, ampliando sua capacidade instalada a partir
da compra, em 1914, de novos teares e outras máquinas.59
A Tabela 11 sistematiza essas informações para todas as
fábricas, mostrando claramente que os efeitos negativos da
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129
crise gerada pela guerra foram sentidos de maneira mais in-
tensa pelos operários têxteis nos anos de 1914 a 1917, quando
a taxa de desemprego alcançou nível muito alto em função da
paralisação parcial ou total, temporária ou de longo prazo de
pelo menos 8 das fábricas existentes. Das 14 unidades de pro-
dução desse setor para as quais temos informações precisas,
apenas 6 funcionaram de modo regular e ininterrupto de 1912
a 1920. Para assegurar o lucro, não era raro um industrial fe-
char uma de suas fábricas, contratar um número menor de
indivíduos do que o conjunto de operários despedidos e alocá-
los numa segunda unidade, ampliando a jornada de trabalho
de todo o grupo, inclusive com serões noturnos e contratação
em massa de mulheres e menores a salários depreciados.
Ainda com base na Tabela 11, pode-se ver também que
em 1918 e 1919 a oferta de emprego na indústria têxtil cresceu
de forma sensível, devido à incorporação de duas novas fá-
bricas e, fundamentalmente, ao aumento do número de ope-
rários contratados por unidade de produção. Fábricas que es-
tavam paralisadas voltaram a funcionar a toda força ou parci-
almente, enquanto outras ampliaram o tamanho de suas plan-
tas e aumentaram o número de seus teares e postos de traba-
lho. Em 1918 e 1919, o número de postos de trabalho na in-
dústria têxtil era maior do que em 1912, ano anterior à grande
crise internacional de 1913.
Mas não nos enganemos. A análise da referida tabela
sem uma confrontação com fontes mais qualitativas pode le-
var a uma impressão equivocada acerca das reais condições
de existência dos operários têxteis. Essa não foi uma fase de
elevação do nível de vida desses operários. Por detrás da apa-
rente estabilidade no emprego escondia-se uma conjuntura
de profunda depressão salarial e deterioração das condições
de trabalho dos operários. Por outro lado, é preciso notar
que, do segundo semestre de 1918 até o primeiro trimestre de
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130
1919, a indústria têxtil viveu um prolongado período de crise
de superprodução. O comércio atacadista cancelou encomen-
das anteriormente feitas e suspendeu todos os pedidos no-
vos, alegando dispor de um estoque não vendido incompatí-
vel com a sua capacidade de comercialização. As fábricas têx-
teis argumentaram que estavam tendo prejuízos imediatos
com a paralisação das entregas, a ampliação dos seus própri-
os estoques e a conseqüente desvalorização de seus tecidos,
justificativa perfeita para manter os salários depreciados.
Em fins de julho de 1918, o jornal O Tempo, porta-voz
oficioso do governo, publicou uma série de matérias e edito-
riais nos quais advogava a realização de uma campanha re-dentora em prol do operariado. Argumentando que era
um órgão de imprensa que pugnava pela defesa dos interes-
ses coletivos, pela justiça e pela razão, respeitando os pode-
res constituídos e a ordem pública, asseguradora do progres-
so e da prosperidade do povo, e lembrando os ideais de liber-
dade e igualdade inaugurados, segundo ele, pela República
fundada em 15 de novembro de 1889, o editor desse jornal
procurava justificar e embasar a sua intervenção em defesa
dos operários naquele momento.60
Em primeiro lugar, o jornal procurou refutar a idéia de
que os industriais enfrentaram momentos difíceis. O algo-
dão, por exemplo, que havia passado de 11$000 ou 12$000/
arroba antes da guerra para 45$000 ou 50$000 em 1918, não
poderia ser usado como exemplo de dificuldades, pois os in-
dustriais haviam repassado o aumento para os consumido-
res. A bulgariana, por exemplo, que antes da guerra custava
$500/metro, em 1918 já custava 1$200, “não tendo, portanto,
a Companhia Empório Industrial do Norte nenhum prejuízo
com a alta da matéria-prima”. Na visão do jornalista, o nú-
60 O Tempo, Salvador, 23 jul. 1918, p. 1.
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Tabela
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mero de fábricas e oficinas tinha aumentado de modo signifi-
cativo, pois os industriais brasileiros estavam lucrando como
nunca. Já os operários, receberam salários cada vez mais bai-
xos e seu padrão de vida caiu em demasia, passando a viver
numa pobreza sem igual e ainda perderam alguns direitos de
que dispunham antes do conflito.61
Na edição de 29 de julho, o articulista informava que
em julho de 1918 a Companhia Empório Industrial do Norte
empregava cerca de 2 mil operários, entre homens, mulheres
e crianças, e pagava salários insuficientes à própria reprodu-
ção da força de trabalho. Os operários eram contratados sob
o regime de empreitada, mas, como a remuneração por peça
era baixa, os adultos do sexo masculino estavam recebendo
entre 12$000 e 13$000 por semana e as mulheres, a metade
ou menos, algo entre 5$000 e 7$000 pela mesma empreitada
semanal. A situação de compressão salarial pode ser estima-
da pelas declarações de uma operária da Fábrica Conceição.
Segundo ela, nos bons tempos (antes da guerra), um operá-
rio conseguia fazer até 50$000 por semana ao invés dos 13$000
recebidos naquele momento.62 Já os inúmeros menores de
ambos os sexos eram jornaleiros e percebiam ainda menos,
isto quando recebiam salários, posto que era comum o traba-
lho infantil em troca apenas da aprendizagem de um ofício
pouco qualificado, da comida, do alojamento e das roupas.63
61 O Tempo, Salvador, 29 jul. 1918, p. 1; Diário de Notícias, Salvador, 24-27
maio 1919, p. 3, coluna Colaboração Operária.62 A Tarde, Salvador, 20 dez. 1918, p. 1.
63 O já citado jornalista João Varella, que assinava a Coluna Colaboração Operária
nos jornais Diário de Notícias e Diário da Bahia, apreciou a questão do trabalho
infantil em maio e junho de 1919. Ele não era totalmente contrário ao uso de
menores na composição da mão-de-obra. O diferencial para ele era a idade e a
forma de emprego. Para ele, os menores não deveriam ser utilizados nas fábricas,
pois elas se caracterizavam pelo regime prisional e a disciplina do horário, a
rudeza das relações e as influências moralmente condenáveis, o ódio cego e o
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134
protesto bruto, responsável pela criação de verdadeiras feras subordinadas
aos mestres, contramestres, inspetores e qualquer outra autoridade que se
interpusesse entre os operários e o capitalista. Por outro lado, o jornalista se
colocava favorável ao uso de menores no auxílio de seus pais em casa ou
mesmo nas oficinas, posto que nestes locais, segundo ele, ainda vigorava um
clima familiar, de carinho, cuidado e atenção necessária ao desenvolvimento
da infância. Nesses locais, também, os menores valorizariam o trabalho como
elemento dignificante e positivo para a sociedade, sem passar pelas crueldades
e injustiças das fábricas, a exemplo da rigidez do relógio e das multas
indevidamente cobradas em favor dos industriais. Concluía dizendo que caso
a utilização dos menores em fábricas fosse imprescindível, que pelo menos o
fosse em seções especiais, onde os mesmos pudessem desenvolver trabalhos
leves, para que seus dias de vida não fossem encurtados, negando-lhes a possi-
bilidade de cumprir seu papel na construção do futuro do país. Para tanto, o
labor deveria ser desenvolvido paralelo à educação e à instrução para o traba-
lho. Mas João Varella levantava-se também contra os salários bem inferiores
desses menores e argumentava que se os mesmos desempenhavam o mesmo
tipo de função que um operário adulto e o faziam com a mesma habilidade,
despendendo a mesma energia, envelhecendo, adoecendo e enriquecendo um
capitalista, faziam jus a um salário igual, sem que isso significasse uma depreci-
ação do operário adulto. Diário da Bahia, 16 maio e 5 jun. 1919, p. 2.
64 MANTOUX, Paul. A Revolução Industrial no século XVIII: estudo sobre os
primórdios da grande indústria moderna na Inglaterra. São Paulo: Editora da
Unesp; Hucitec, [19--]. p. 417-426.
Além do baixo custo, é preciso lembrar também que algumas
operações nas fiações exigiam muito pouca força muscular,
sendo o pequeno porte das crianças e a finura de seus dedos
os melhores auxiliares das máquinas, conforme observou um
estudo clássico sobre as manufaturas têxteis inglesas da Re-
volução Industrial do século XVIII. Frise-se, ainda, que a fra-
queza daquelas pequenas criaturas era a garantia de sua
docilidade, podendo ser reduzidas a um estado de obediência
passiva não encontrável facilmente nos operários adultos.64
Por fim, é preciso dizer que todos os salários sofriam redu-
ções semanais referentes a aluguéis na vila operária e multas
cobradas por defeitos nos panos. Esses fatos eram tão fre-
qüentes, que de acordo com essa mesma fonte, no segundo
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135
semestre de 1918, por várias vezes os ganhos dos operários
ficaram reduzidos a zero.65
Um elemento catalisador das insatisfações e tomada de
consciência da exploração patronal foi a denúncia de que um
alto funcionário da Companhia Empório Industrial do Norte
estava, juntamente com seu filho, praticando agiotagem contra
os operários. Vicencio Constantino Figueiredo, “verdadeiro san-
guessuga”, estaria se aproveitando da situação de penúria dos
trabalhadores e, contando com a leniência da empresa, fazia-
lhes pequenos adiantamentos de seus próprios salários em troca
de juros de 20% por semana, “verdadeiro assalto à bolsa daque-
les infelizes”. O jornalista frisava que aquele ato era tanto mais
criminoso porque aquela era uma época “de crise e de carestia
de vida”. Além disso, a situação de pobreza dos operários con-
trastava com a vantajosa posição de seu algoz, pois enquanto os
trabalhadores recebiam no máximo 13$000 brutos por emprei-
tada semanal, aquele funcionário ganhava 400$000 mensais e
era dono de várias propriedades. O esquema era lesivo à própria
empresa, pois implicava a adulteração das folhas de pagamento,
registrando-se as faltas na usada para pagamento dos operários
e omitindo-as na que era usada para justificar gastos da compa-
nhia, ficando com a diferença para si. Aproveitando-se da situa-
ção de defensiva dos industriais, O Tempo exigiu que a compa-
nhia aumentasse em no mínimo 1$000 o valor da empreitada de
cada peça de 120 metros de pano. Alegava que os operários da-
quela empresa estavam levando uma vida ignóbil e sem nenhu-
ma garantia para si e suas famílias e ameaçava orquestrar uma
campanha que levaria a uma greve, caso suas exigências não fos-
sem atendidas.66
65 O Tempo, Salvador, 29 jul. 1918, p. 1. O regime de empreitada combinava-se
com metas previamente estabelecidas. Cada operário deveria produzir, no míni-
mo, uma peça de pano de 120 metros a cada cinco dias, dentro de uma jornada
de trabalho diário de 10 horas, que começava às 6h30 e terminava às 17h30.66 O Tempo, Salvador, 30 jul. 1918, p. 1.
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136
Uma reunião chegou a ser convocada para domingo, 4
de agosto, objetivando sistematizar as reivindicações dos ope-
rários para serem levadas à direção da fábrica. O funcionário
agiota também foi alvo de novas críticas, sendo acusado de
estar coagindo muitos trabalhadores a subscrever um abaixo-
assinado isentando-o de quaisquer crimes. Segundo o editor,
os operários estavam assinando o documento por medo de
perder seus empregos.67 No dia 5 de agosto, o jornal O Tem-
po chegou a encaminhar uma representação à diretoria da
Companhia Empório Industrial do Norte, por meio da qual
tomava para si o “louvável intuito de defender os interesses
das classes populares, de que é órgão genuíno”, assumindo a
“iniciativa de pugnar pelos interesses dos infelizes operários
das fábricas, no sentido de alcançar dos seus diretores, um
aumento relativo nos seus salários”. O documento mencio-
nava a carestia e avisava que ingerências estavam sendo fei-
tas também junto ao intendente para que este, por meio de
uma reunião com os comerciantes, adotasse medidas que ba-
rateassem os produtos de consumo popular.68
Mas a situação em vez de melhorar piorou, principal-
mente a partir de novembro de 1918. Os armazéns estavam
com enormes estoques de mercadorias sem saída e as fábri-
cas têxteis com grande quantidade de algodão comprado no
período de alta. Quando a guerra acabou, os preços dessa
matéria-prima despencaram e as companhias ficaram com um
estoque do insumo que puxava seus custos de produção para
cima, mas que não encontrava correspondência nos preços de
seus produtos colocados no mercado. A Companhia Empó-
rio Industrial do Norte diminuiu, então, de forma drástica, o
número de horas e dias de trabalho. A Fábrica da Boa Via-
67 O Tempo, Salvador, 1 ago. 1918, p. 1.68 O Tempo, Salvador, 5-6 ago. 1918, p. 1.
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137
gem passou a funcionar apenas quatro dias na semana, ao
invés dos seis anteriores à crise. Os salários dos operários
sofreram diminuição na mesma proporção, levando-os a uma
situação de desespero, relatada em carta ao editor de O Tem-
po. Segundo eles, depois de realizados os descontos de mul-
tas e aluguéis, nada recebiam aos sábados, estando a fome
rondando os lares na vila operária da fábrica.69 Esta situação
de subemprego e compressão salarial na Companhia Empório
Industrial do Norte perdurou até maio de 1919, quando novas
encomendas foram feitas e os negócios em geral foram
reativados, abrindo um novo ciclo de prosperidade para o se-
tor.70 Situação semelhante ocorreu nas fábricas Conceição, a
mais importante da Companhia União Fabril da Bahia, e São
João e Paraguaçu, onde o trabalho seria paralisado por perío-
dos que iriam variar entre 8 e 15 dias após o Natal de 1918.71
O ramo de produção de vestuário e toucador também
passou por dificuldades provocadas, direta ou indiretamente,
pela Primeira Guerra Mundial. Desde pelo menos janeiro de
1917, a imprensa denunciava que um truste norte-americano
estava comprando toda a produção de couros da Bahia e de
outros estados, exportando-a para abastecer suas fábricas nos
EUA. “A América do Norte levando-nos os couros leva-nos
também a pele”, dizia um articulista do jornal A Tarde. De
fato, os armazéns da Companhia das Docas do Estado da
Bahia estavam empanturrados de couros e peles para serem
exportados. Mas se antes da guerra parte dessa matéria-pri-
ma era enviada ao exterior para ser curtida e retornava ao
69 O Tempo, Salvador, 11 e 12 nov. 1918, p. 1.
70 RELATÓRIO da direção da Companhia Empório Industrial do Norte e
parecer do Conselho Fiscal apresentados aos srs. acionistas na Sessão da
Assembléia Geral Ordinária de 31 de março de 1920. Salvador: Reis &
Companhia, 1920 (Exercício de 1919).71 A Tarde, Salvador, 20 dez. 1918, p. 1.
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Brasil para ser utilizada nas fábricas locais, agora a viagem
era só de ida, ocasionando escassez e alta dos insumos para
as três únicas fábricas de calçados existentes em Salvador.
A Fábrica Stella, por exemplo, alegava que a sola de
primeira qualidade, que em novembro de 1916 custava 3$000/
quilo, passara a custar 6$500/quilo em janeiro de 1917, sendo
que a pelica preta, que em julho de 1916 custava 17 centavos
por pé quadrado, nos EUA, passara a valer, em janeiro de
1917, 68 centavos, fato que determinou um aumento de 20%
nos seus preços.72 Na Fábrica Trocadero a situação não era
diferente. Seu diretor chamava a atenção que, de janeiro de
1916 a janeiro de 1917, o quilo de sola saltara de 2$800 para
7$000/quilo. A Carneira da Bahia, amarela e preta, que na
alta estação já custava 52$000/dúzia, passou para 110$000
em janeiro de 1917. Já os forros, que custavam de 700 a 800
réis/metro, passaram a custar 1$200 e 1$400/metro em janei-
ro de 1917. O próprio preço dos calçados subiu 100% em rela-
ção a janeiro de 1916 e a fábrica estava ameaçando paralisar a
sua produção, a começar pelos sapatos mais populares.73
No ano da greve geral, a situação de crise vivida por
essa indústria não parecia ter sido inteiramente superada,
principalmente se considerarmos que as exportações brasilei-
ras de matérias-primas necessárias ao processo produtivo das
fábricas de calçados, longe de terem diminuído, aumentaram
sensivelmente. Em 1918, as exportações de couros da Bahia
haviam chegado a 42.281 toneladas, ao passo que em 1914
tinham sido de apenas 29.56974 e, até outubro de 1919, as
exportações dessa matéria-prima já haviam atingido 51.358
toneladas.75 De todo modo, de alguma forma a ameaça de
72 A Tarde, Salvador, 19 jan. 1917, p. 1.
73 A Tarde, Salvador, 20 jan. 1917, p. 1 e 3.
74 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 20 fev. 1919.75 Jornal de Notícias, Salvador, 11 jan. 1920, p. 1.
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paralisação das fábricas não parece ter se concretizado, pois
seus dirigentes não se queixaram mais da falta de insumos.
Contudo, se os operários sapateiros viviam sobressal-
tados com a ameaça da perda do emprego, pior aconteceu
com os chapeleiros. Demandando um investimento em ma-
quinário relativamente pequeno, mas empregando mão-de-
obra de forma extensiva, a indústria de chapéus utilizou, des-
de o início, matérias-primas importadas. Durante a conjuntu-
ra em análise, o setor parecia francamente estagnado e em
retrocesso na Bahia. Sua principal fábrica, a Companhia Cha-
pelaria Norte Industrial, escapava totalmente aos padrões da
época, pois possuía um capital de 1.500:000$000, capacida-
de de produção de 2.500 unidades/dia, além de empregar 500
operários. Essa fábrica sumiu em meio às cinzas de um incên-
dio que a consumira em abril de 1918. Em 22 de setembro de
1919, uma Comissão Liquidante anunciou que havia conse-
guido negociar o recebimento de uma indenização no valor
de cem contos de réis da Companhia de Seguro Aliança da
Bahia e vender as ruínas do prédio da fábrica e o domínio útil
dos terrenos de marinha por 150 contos.76 As outras fábricas
de chapéus da cidade eram muito pequenas e tudo indica que
não puderam assimilar os 500 operários que, em 1918, tive-
ram seus empregos consumidos pelo fogo.
Ainda no que tange ao ramo de vestuário e toucador, é
preciso salientar as condições de profunda exploração e po-
breza das operárias de manufaturas de roupas e das costurei-
ras dos ateliês da cidade. Sua situação miserável não parece
ter mudado de modo significativo, nem mesmo depois da greve
geral de 1919. Prova disso é que, em março de 1921, o grupo
sindicalista revolucionário, vinculado ao Sindicato dos Pedrei-
76 ATA da Sessão de Assembléia Geral Extraordinária dos srs. acionistas da
Companhia Chapelaria Norte Industrial realizada em 22 de setembro de 1919.
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 11 out. 1919.
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ros, Carpinteiros e Demais Classes e ao jornal A Voz do Tra-
balhador, denunciou a opressão vivida pelas operárias que
trabalhavam sob o regime de “costuras de carregação”. Por
esse sistema, as trabalhadoras entravam nas manufaturas e
labutavam das 6 horas da manhã às 6 horas da tarde, rece-
bendo, segundo o articulista, a insignificante quantia de $200
por cada calça que entregassem pronta, caseada e com bo-
tões. O jornal chamava a atenção para o fato de que era pre-
ciso que a operária fosse “forte e ligeira” para que, dentro
daquela extenuante jornada de trabalho, conseguisse costu-
rar oito calças, pelas quais receberia 1$600, dos quais seriam
descontadas, ainda, as despesas com linhas, agulhas e carreto.
Nas camisarias a situação não era melhor. Seus proprietários,
“Gargântuas... sugadores do sangue das pobres operárias”,
pagavam entre $500 e $600 por uma dúzia de mangas, $700
por uma dúzia de peitilhos, $200 por uma dúzia de punhos,
$100 por uma dúzia de presilhas, $500 por uma dúzia de pélas,
$200 por uma dúzia de bainhas, $100 para pregar botões em
uma dúzia de camisas e $100 para repassar. Além dos
baixíssimos valores recebidos pelas empreitadas, as costurei-
ras ainda tinham que arcar com os custos relativos à aquisi-
ção de linhas, enquanto outros estabelecimentos realizavam
descontos de até $300 nos salários das operárias que tives-
sem suas agulhas quebradas durante o processo de trabalho,
não obtendo emprego “as que não querem se sujeitar a seme-
lhante roubalheira”. Por sua vez, as engomadeiras ganhavam
entre 1$000 e 2$000 por cada dúzia de peças, variando de
acordo com a “obra”. As que trabalhavam em casa, por exem-
plo, recebiam um valor entre 3$000 e 3$500 por cada dúzia
de camisas. “Em resumo, trabalham essas desprotegidas da
sorte a semana inteira para ganharem 7$000 a 8$000, sendo
que as pregadeiras de botões e as repassadeiras ganham, no
máximo, 4$000 por semana”. Além disso, “os tais proprietá-
rios são quase todos conquistadores, campeando por isso,
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impune, a prostituição em muitos desses antros de perdição!”.
Diante de tais informações, A Voz do Trabalhador questiona-
va: “pode uma pobre mulher, carregada de filhos, com tão
diminuta quantia abrigar e alimentar a si e a sua prole? Não!
Logo, o burguês pançudo e avinhado, além de roubá-la e pros-
tituí-la miseravelmente, mata-a de inanição”.77
Como desdobramento direto da guerra, o desemprego
perseguiu também os milhares de operários e operárias da
indústria fumageira. O conflito provocou o estremecimento
e, depois, a ruptura de relações entre o Brasil e a Alemanha.
Em 1917, a declaração de guerra àquele país provocou a sus-
pensão do fornecimento de fumos importados de Bremen e
Hamburgo e o fechamento, por ordem direta do governo fe-
deral, das fábricas de fumo das cidades do Recôncavo. A si-
tuação só foi resolvida em novembro de 1917, quando um
arranjo político foi feito e as fábricas foram chamadas a apre-
sentar documentos que atestassem sua nacionalidade brasi-
leira. O acordo firmado com o ministro da Fazenda previa a
reabertura das manufaturas e a retomada da produção desde
que elas concordassem em efetuar o saque de todo o dinhei-
ro que tivessem depositado no Banco Alemão e o usassem
para o pagamento dos salários atrasados de seus operários.78
Apesar do acordo, os problemas com o fornecimento de
insumos continuaram agudos em 1917 e 1918. Na realidade, a
crise do setor só parece mesmo ter sido contornada em 1919,
quando as fábricas baianas começaram a comprar fumo atra-
vés de firmas exportadoras norte-americanas.79
77 A Voz do Trabalhador, Salvador, ano 1, n. 22, 5 mar. 1921, p. 1-2.78 A Tarde, Salvador, 21 maio e 17 nov. 1917.
79 BORBA, Silza Fraga Costa. Industrialização e exportação do fumo na Bahia,
1870-1930. 1975. p. 43-44. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) -
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 1975.
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Situação semelhante de crise setorial prolongada tam-
bém afetou a vida dos trabalhadores da construção civil em
função da paralisação das obras de remodelamento e moder-
nização de Salvador. A primeira gestão de J. J. Seabra à frente
do governo estadual (1912 - 1916) fora marcada pelas obras
de aterro do Cais do Porto, alargamento de inúmeras ruas da
Cidade Baixa, abertura da Avenida Sete de Setembro, princi-
pal via da Cidade Alta, e sua interligação com a Orla Maríti-
ma através da Avenida Oceânica. Além disso, procedeu-se
também a reformas, construções, demolições e reconstruções
de edifícios públicos.80 Tantas obras e edificações trouxeram,
para o mercado de trabalho soteropolitano, centenas de ope-
rários da construção civil, que vieram de toda parte do esta-
do, de outras regiões do país (principalmente SP e RJ) e mes-
mo do exterior, especialmente de Portugal.81
Em 1913, apesar da grande crise internacional e de seus
efeitos sobre o país, a “atividade febril de uma cidade que se
80 A remodelação e modernização urbanas de Salvador durante o primeiro go-
verno de Seabra foram objeto de estudo específico de LEITE, Rinaldo Cesar
Nascimento. E a Bahia civiliza-se...: Idéias de civilização e cenas de anti-
civilidade em um contexto de modernização urbana. Salvador, 1912-1916.
1996. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1996. Ver também SAN-
TOS, Mário Augusto da Silva. Sobrevivência e tensões. Salvador (1890-1930).
1982. p. 56-58. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982.
Para uma análise comparativa entre o modelo original implantado na Paris de
Haussmann do Segundo Império (1853-1870) e suas experiências tributárias
desenvolvidas no Rio de Janeiro e Salvador, respectivamente na primeira e
segunda década do século XX, ver: PINHEIRO, Eloísa Petti. Europa, França
e Bahia: difusão e adaptação de modelos urbanos (Paris, Rio e Salvador).
Salvador: Edufba, 2002.
81 UBATUBA, Ezequiel. O Estado da Bahia: Bahia Urbana – Bahia Rural (Con-
ferência realizada pelo Dr. Ezequiel Ubatuba no Salão Nobre do IGHBA em
setembro de 1917). Salvador: Imprensa Oficial do Estado, 1918. p. 19-20.
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renova, resgatando, pela ânsia de construir e edificar, a incúria
do passado”, continuou. Mesmo que em intensidade menor,
avenidas foram rasgadas, ruas alargadas, passos levantados,
casas, pavilhões e jardins foram surgindo; muitos muros, calça-
das, meios-fios e revestimentos foram feitos ou refeitos; fa-
chadas, cúpulas e torres foram erguidas. As obras eram realiza-
das na Orla, no Centro e na Cidade Baixa, a maioria do Esta-
do, mas também se viam as da União e da Intendência, além
das de iniciativa de particulares e de empresas, que também
não faltavam.82 Em 1914, os recursos foram se tornando mais
escassos e os materiais começaram a faltar, além de estarem
cada vez mais caros e só poderem ser pagos à vista. As obras,
então, começaram a ficar mais lentas e algumas foram suspen-
sas ou paralisadas. Os pagamentos aos empreiteiros começa-
ram a ser efetuados por meio de apólices e depois mediante o
empréstimo popular de 1914.83 Os próprios operários da cons-
trução civil fizeram greves em novembro de 1913 e fevereiro de
1914 reivindicando o pagamento de salários atrasados.84
Em seu último ano de governo, Seabra reconhecia que
muitas das obras iniciadas ainda não haviam sido concluídas,
apesar de firmar posição como aquele que empreendeu as
maiores transformações urbanas do estado. Seu objetivo de
82 MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legislativa do Estado da Bahia
na abertura da 2ª Sessão Ordinária da 12ª Legislatura pelo Dr. J. J. Seabra,
governador do Estado. Salvador: Seção de Obras da “Revista do Brasil”,
1914. p. 71-74.
83 MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legislativa do Estado da Bahia
na abertura da 1ª Sessão Ordinária da 13ª Legislatura pelo Dr. J. J. Seabra,
governador do Estado. Salvador: Seção de Obras da “Revista do Brasil”,
1915. p. 105-113.84 FONTES, José Raimundo. Manifestações operárias na Bahia: o movimento
grevista, 1888-1930. 1982. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) –
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 1982.
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tirar a cidade das “fealdades de sua vetustez colonial”,85 por
meio desse modelo de modernização, havia sido parcialmen-
te alcançado, mas, quando a euforia acabou e os emprésti-
mos dos banqueiros pararam de regar os cofres públicos, as
obras sofreram paralisação geral. O enorme contingente ope-
rário da construção civil, contratado e estabelecido na cidade
nos anos anteriores, rapidamente converteu-se num grande
exército industrial de reserva e uma vaga de desemprego,
subemprego, compressão salarial e fome se abriu para esse
setor.
Os efeitos negativos da profunda retração das ativida-
des relacionadas à construção civil ainda se faziam sentir de
modo vigoroso no início de 1919. A guerra havia provocado
altas tão elevadas nos preços dos insumos, que os pequenos
empreiteiros e mestres da construção preferiam não construir
a correr o risco de uma virtual falência. Esta situação foi vivi-
da, até mesmo, por uma grande empresa do ramo, a Compa-
nhia Serraria e Construções, pertencente aos Martins
Catharino, industriais que também possuíam investimentos
em fábricas têxteis e de calçados. Em 1919, o capital da com-
panhia chegava a 500 contos e suas atividades abarcavam in-
dústria e comércio de importação e exportação, além da ser-
85 EXPOSIÇÃO apresentada pelo Dr. José Joaquim Seabra ao passar, a 29 de
março de 1916, o Governo da Bahia ao seu sucessor, o Exmº Sr. Dr. Antonio
Ferrão Moniz de Aragão, empossado nesse dia no cargo de Governador do
Estado. Salvador: Imprensa Oficial do Estado, 1916. p. 30-38. Já em outubro
de 1914, o jornal A Tarde lançou um ataque direto contra Seabra, qualifican-
do seu projeto de modernização urbana como produto de uma mente mega-
lomaníaca, que queria fazer na Bahia uma reforma da mesma envergadura e no
mesmo ritmo da que foi feita na capital da República, onde a arrecadação e os
investimentos federais eram bem maiores. Quando o sonho virou pesadelo,
disse o articulista daquele órgão da imprensa oposicionista, as obras começa-
ram a ser paralisadas e milhares de operários e seus familiares, esfomeados,
começaram a marchar para o Palácio do Governo para lhe pedir o pagamento
dos salários atrasados. A Tarde, Salvador, 8 out. 1914, p. 1.
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raria e de construções propriamente ditas. Pois bem, apesar
do seu porte, a empresa passou por sérias dificuldades e só
saiu do vermelho no segundo semestre de 1919.86
O final da guerra, em 1918, pois, assinalou não apenas
um curto e doloroso período de agravamento da crise que já
vinha se desenrolando desde 1913, seguida de momentos de
recuperação e novas depressões. Quando os males da super-
produção se foram, a partir de abril de 1919, uma nova etapa
se abriu para a história da classe operária da Bahia. As agru-
ras da crise de guerra tinham ficado marcadas na memória, os
rancores contra a ampliação da exploração feita pelos indus-
triais, muito particularmente no que tange à jornada de tra-
balho e à compressão salarial, e os horrores da especulação e
da carestia dos preços dos gêneros de primeira necessidade
haviam se cristalizado. Os industriais passaram a buscar mais
mão-de-obra, pois estavam abarrotados de encomendas. As
máquinas funcionavam a toda força. O ritmo das atividades
portuárias e comerciais havia voltado ao normal. Para muitos
setores, a exemplo dos têxteis, o risco de desemprego havia
se reduzido a um patamar insignificante. Junto com a nova
maré de prosperidade vieram as aspirações de um novo mun-
do. As condições objetivas para a revanche estavam dadas e
alguns líderes operários e socialistas perceberam isso. A vez
da classe operária havia chegado...
86 COMPANHIA SERRARIA E CONSTRUÇÕES. Relatório do exercício de
julho de 1918 a julho de 1919. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 30
out. 1919; ATA da Assembléia Geral Ordinária dos acionistas da Companhia
Serraria e Construções. Diário Oficial do Estado da Bahia, 22 nov. 1919.
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O reino da liberdade
Os operários Annibal Lopes Pinho e Gaudêncio José dos Santos,
representantes da Federação dos Trabalhadores Baianos no 3º
Congresso Operário Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro em 1920.
Fonte: Germinal, Salvador, ano 1, n. 3, 1 maio 1920, p. 4.
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149
Tão velha quanto a mitologia, a greve é sempre nova. Admira,
emociona, amedronta e empolga, não só aos que a ela são indi-
ferentes, como aos que ela interessa.
É uma manifestação violenta da luta pela vida. É um protesto,
uma queixa, acompanhada de uma exigência.
Mas, é também o surto vigoroso de muitas dores acumuladas, de
inúmeros sofrimentos desconhecidos, de copiosas injustiças e vi-
olações de direito, de uma impiedade constante, que rompendo as
comportas do medo, da tolerância e dessa disciplina de empregado
a patrão, vem patentear, à luz meridiana, a sua hediondez, para
que o reino da miséria desapareça da vida do trabalhador.
Diário de Notícias, Salvador, 5 de junho de 1919.
O ano de 1919 foi marcado pelos episódios mais importantes
de que se tem notícia na história da classe operária baiana da
Primeira República. Culminaram com a formação de dezenas
de sindicatos operários que preencheram o espaço deixado pelo
predomínio do mutualismo até a Primeira Guerra Mundial, e
seu desdobramento mais importante foi a deflagração e vitória
da primeira greve geral baiana, em junho de 1919. Como vere-
mos, o movimento de junho desencadeou uma série de outros
eventos, desde a eclosão de novas greves até a formação de
outros sindicatos, de uma federação operária e um partido so-
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cialista, além de ter aberto caminho para a maior diferencia-
ção entre as ideologias e grupos de tendências reformistas e
libertárias no interior do movimento operário baiano.
A greve geral de junho de 1919 foi um fenômeno extraor-
dinário, não só por ter sido o primeiro movimento da classe
operária capaz de paralisar toda a cidade do Salvador e se ex-
pandido para o Recôncavo, mas também por ter legado ao ope-
rariado (ou para parte dele) um novo padrão de comporta-
mento político frente às suas necessidades imediatas. Apoian-
do-nos numa distinção feita por Maria Cecília Velasco e Cruz
para a análise das greves cariocas de 1917,1 podemos dizer que
o movimento operário baiano de 1919 diferenciou-se do de sua
fase anterior, principalmente por ter superado seu antigo cará-
ter puramente defensivo, quando os operários apenas lutavam
em condições adversas para manter conquistas preexistentes,
e por ter passado para um movimento ofensivo, apresentando
reivindicações novas, ligadas, inclusive, ao processo de traba-
lho, distintas em sua própria natureza das que antes eram al-
mejadas. Além disso, o que era antes apenas um movimento
de consumidores tornou-se mais complexo e, sem abandonar a
luta contra a carestia, passou a colocar na ordem do dia proble-
mas mais ligados ao mundo do trabalho. As questões relacio-
nadas a jornada de trabalho, mão-de-obra infantil e feminina
nas fábricas e oficinas, salubridade, etc., foram agregadas como
elementos centrais numa nova modalidade de movimento, que
trouxe para a arena da história um novo sujeito, a classe operá-
ria, que atuou como um protagonista capaz de alterar a correla-
ção de forças políticas e influenciar uma mudança de compor-
tamento das próprias elites e do Estado.
1 VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Amarelo e negro: matizes do comporta-
mento operário na República Velha. 1981. p. 122-123. Dissertação (Mestra-
do em Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 1981.
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151
O ano de 1919, na realidade, foi o ápice de um movi-
mento de dimensões mais amplas que vinha se desenrolando
desde 1917, e é nesse contexto mais global que a greve geral
em Salvador e sua expansão para as cidades do Recôncavo
baiano deve ser pensada. As duas revoluções que eclodiram
na Rússia entre fevereiro e outubro, os acontecimentos da
Alemanha e do resto da Europa e a fundação da Internacio-
nal Comunista (I.C.) e da Internacional Sindical Vermelha
(I.S.V.), em 1919, formaram o pano de fundo dos movimen-
tos operário e sindical na época. Não é à toa que a conjuntura
de 1917 - 1921 tenha sido marcada por intensas agitações ope-
rárias em todo o mundo.2 No Brasil, as greves assumiram
contornos jamais vistos, abarcando diversos ramos e parali-
sando cidades, regiões e setores econômicos inteiros, pairan-
do no ar uma perspectiva de profundas reformas sociais que
melhorassem ou mesmo transformassem radicalmente as con-
dições de vida da classe trabalhadora em geral. Assim, entre
os dias 9 e 16 de julho de 1917, os anarquistas de São Paulo
conseguiram, em sintonia com os socialistas e após um longo
processo de construção do movimento, fazer eclodir aquela
que foi a maior greve geral do período.3 O movimento rapi-
damente se expandiu para outras cidades do interior daquele
estado e para o Rio de Janeiro, onde assumiu contornos pró-
prios desde o dia 14 de julho.4 Ainda em fins de julho de
1917, o conflito, seguido de novas greves gerais, alastrou-se
2 Ver tabelas de greves e grevistas em FERRO, Marc. História da Primeira
Guerra Mundial, 1914-1918. Lisboa: Edições 70, 1992. p. 261-262.3 LOPREATO, Christina Roquette. O espírito da revolta: a greve geral anar-
quista. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2000.
4 VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Amarelo e negro: matizes do comporta-
mento operário na República Velha. 1981. Dissertação (Mestrado em Ciência
Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janei-
ro, 1981; CAMPOS, Cristina Hebling. O sonhar libertário: movimento operá-
rio nos anos 1917-1921. Campinas, SP: Pontes; Editora da Unicamp, 1998.
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152
para áreas distantes do centro industrial do país e atingiu ci-
dades do Rio Grande do Sul como Porto Alegre (1º a 5 de
agosto)5 e Pelotas (9 a 17 de agosto).6 Em outubro de 1918,
uma nova greve geral foi desencadeada na cidade de Rio Gran-
de (RS) e no mês seguinte uma insurreição anarquista foi
sufocada e violentamente reprimida no Rio de Janeiro.7 Em
1919, uma nova onda de greves gerais foi desencadeada em
Rio Grande (5 a 21 de maio), Salvador (2 a 13 de junho),
Recife (fins de julho)8 e Porto Alegre (25 de agosto a 11 de
setembro). Entretanto, é preciso deixar claro que admitir co-
nexões entre o movimento baiano e o dos outros estados não
implica em afirmar que as greves de Salvador e das demais
cidades do país tenham sido meros efeitos de demonstração
do movimento original de São Paulo. O movimento operário
da Bahia e de cada uma das unidades federativas do Brasil
guardava semelhanças, mas também peculiaridades próprias,
e teve características, dinâmicas e reivindicações que não po-
dem ser reduzidas a um modelo construído a partir da reali-
dade do centro do país.
5 PETERSEN, Sílvia R. Ferraz. As greves no Rio Grande do Sul (1890 - 1919).
In: GONZAGA, Sérgio (org.). RS: economia e política. Porto Alegre: Mer-
cado Aberto, 1979. p. 277-327.6 LONER, Beatriz Ana. Construção de classe: operários de Pelotas e Rio Gran-
de (1888-1930). Pelotas: Editora da UFPel., 2001.
7 ADDOR, Carlos Augusto. A Insurreição Anarquista no Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Dois Pontos, 1986.
8 REZENDE, Antonio Paulo de Morais. A classe operária em Pernambuco:
cooptação e resistência (1900 - 1922). 1981. p. 88-114. Dissertação (Mestra-
do em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 1981; DULLES, John W.F. Anarquistas e
comunistas no Brasil (1900 - 1935). 2. ed. São Paulo: Nova Fronteira, 1977.
p. 81-82.
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153
Fonte: A Tarde, Salvador, 10 jun. 1919.
Cenas da greve geral de 1919.
Os operários em frente à Usina da Linha Circular.
Cenas da greve geral de 1919.
Os grevistas no Largo do Teatro e São Bento
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154
Operários das fábricas de camisas percorrendo as ruas da cidade durante
a greve geral de 1919.
Fonte: Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919.
Aspectos da greve geral de 1919.
Os grevistas na Praça Rio Branco
Fonte: A Tarde, 10 jun. 1919.
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155
O conflito interoligárquico e
o sindicalismo operário
Vimos, no capítulo anterior, que a Primeira Guerra Mundial
marcou uma sombria fase de profunda crise de trabalho e
compressão salarial para a classe operária e que essa situação
agravou-se, ainda mais, no pós-guerra e na virada de 1918
para 1919, quando, além das fábricas paralisadas desde o iní-
cio do conflito, houve a redução de horas e dias de trabalho
nas unidades fabris que estavam em funcionamento. Outros-
sim, a carestia e a especulação com os gêneros de primeira
necessidade haviam chegado a níveis nunca vistos, o que atin-
giu não apenas a classe operária, empobrecida com seus salá-
rios depreciados, como o conjunto das camadas populares e a
sociedade como um todo. Essa foi uma fase, portanto, adver-
sa para o movimento operário local. Porém, a partir do pri-
meiro trimestre de 1919, uma nova fase de prosperidade se
abriu para a indústria e para a economia baiana em seu con-
junto. As fábricas voltaram a funcionar em potência máxima
e algumas delas ressentiram-se mesmo de falta de braços para
operar as máquinas. Os lucros dos industriais atingiram o
ápice. O mercado de trabalho tornou-se mais favorável aos
operários, que viram naquele momento a oportunidade apro-
priada para colocar as suas reivindicações na ordem do dia.
Contudo, apenas o início de um novo ciclo de prosperi-
dade econômica não seria suficiente para desencadear um
movimento de envergadura contendo as características da gre-
ve geral de junho de 1919 em Salvador. As relações de deter-
minação entre o econômico e o político não são mecânicas
nem simples. O quadro traçado do período de crise e recupe-
ração econômica é essencial para contextualizar a ação dos
trabalhadores, mas pelo menos mais dois outros fatores fo-
ram importantes para que o movimento operário tomasse as
proporções que acabou ganhando e fosse vitorioso. O pri-
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156
meiro deles é exógeno à classe operária e se refere à crise
política aberta pela cisão das elites dominantes baianas em
torno das eleições para a Presidência da República e o gover-
no do estado em 1919. O segundo elemento é de caráter
endógeno e diz respeito à organização sindical.
Na Bahia, como de resto em todo o Brasil, a República
não se traduziu na concretização dos anseios de ampliação da
cidadania política e social para as classes trabalhadoras e po-
pulares de modo geral. O Partido Republicano só foi fundado
às vésperas da Proclamação e seus elementos históricos mais
ligados aos interesses dos subalternos logo cederam lugar aos
velhos políticos profissionais do Império, em geral ex-monar-
quistas e republicanos de última hora. Os partidos não con-
seguiram se firmar durante toda a República Velha e as dis-
putas e cisões sempre ocorriam em torno de interesses pes-
soais, particularistas e localistas e não de idéias e princípios
preestabelecidos. Ao invés de partidos, tínhamos claques
personalistas, conhecidas pelo nome dos seus chefes. Assim,
por exemplo, quando Severino Vieira era o governador da
Bahia (1900 - 1904), seus partidários eram chamados e se
definiam como severinistas e não como membros do Partido
Republicano da Bahia (PRB), o mesmo ocorrendo com seu
sucessor, José Marcelino de Souza (1904 - 1908), cujos parti-
dários eram conhecidos como marcelinistas. Mais tarde, quan-
do J. J. Seabra chegou ao poder (1912), os adeptos do Partido
Republicano Democrata (PRD) passaram a ser identificados
como seabristas e não como democratas, o mesmo se dando
com seus futuros arquiinimigos Ruy Barbosa e os ruístas e
com o governador Góes Calmon (1924 - 1928).
Entre 1901 e 1907, o PRB monopolizou a política e o
controle do Estado na Bahia. Porém, esse domínio não tarda-
ria a ser abalado. J. J. Seabra havia passado a integrar o mi-
nistério do presidente Rodrigues Alves (1902 - 1906), ao fi-
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157
nal do qual passou a esboçar uma dissidência com o PRB,
particularmente quando começou a entrar em conflito com
Severino Vieira. Aos poucos, as decisões iam se concentran-
do nas mãos deste último, ao invés de nas do governador
José Marcelino, e, no momento de compor a chapa para as
eleições federais de 30 de janeiro de 1906, esse conflito se
tornou mais acirrado, dando lugar à formação da dissidência
do Partido Republicano, agrupando os seabristas excluídos.
Já em 22 de fevereiro de 1906, às vésperas da eleição, o novo
partido estava organizado visando combater os severinistas.
Estrategicamente, Seabra e seus seguidores se aliaram a Ruy
Barbosa como forma de evitar a degola durante o processo de
reconhecimento no Congresso. Em seguida, como forma de
evitar a marginalização e o ostracismo político, dissolveram o
Partido Republicano Dissidente e se acomodaram no interior
da facção marcelinista, passando a defender a candidatura
oficial de Araújo Pinho ao governo estadual.
Em 1907, os dois caciques principais do PRB, José Mar-
celino e Severino Vieira, divergiram em torno da indicação do
nome do próximo candidato ao governo baiano. Ao contes-
tarem a tradição, segundo a qual ao governador cabia a indi-
cação do seu sucessor, os severinistas desencadearam uma
crise política sem precedentes. O senador Severino Vieira in-
sistia em indicar o nome de Augusto de Freitas, ao passo que
o governador José Marcelino hesitava entre Leovigildo e
Miguel Calmon. O impasse alcançou o ápice em abril de 1907,
com a indicação de Araújo Pinho, o que agravou a crise e
ampliou o conflito, ao final do qual o candidato governista
foi eleito para o quatriênio 1908 - 1912. Cindido entre as claques
que disputavam o poder, o PRB definhou e foi cedendo cami-
nho para Seabra. Em 1910, por ocasião das eleições presiden-
ciais, a política baiana já se encontrava dividida em três fac-
ções, que rivalizavam em torno do marechal Hermes da Fon-
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158
seca e do senador Ruy Barbosa. A unidade precária entre José
Marcelino e J. J. Seabra se rompeu, pois enquanto os
marcelinistas se identificaram com a Campanha Civilista, o
seabrismo se associou ao hermismo e sua política de salva-
ções, amparada nos militares e nas classes médias urbanas.
Para completar, receberam apoio também dos severinistas,
velhos inimigos de Seabra, que com eles passaram a dividir o
mesmo comitê.
A eleição foi feita sob o signo da fraude, do fisiologismo,
do nepotismo, do clientelismo e da corrupção de lado a lado
em todo o país e o marechal Hermes da Fonseca foi vitorioso.
Seu triunfo abriu caminho para a liquidação final do PRB e
para o surgimento do Partido Republicano Democrata (PRD).
Apoiando-se no presidente Hermes da Fonseca, em Mário
Hermes, filho do presidente, que havia sido eleito deputado
federal pela Bahia, e nos numerosos dissidentes do moribundo
PRB, J. J. Seabra se preparava para assumir o governo do esta-
do, e a eleição de 1912 era o momento ideal para isso. As anti-
gas oligarquias ligadas ao PRB tentaram resistir e o governa-
dor Araújo Pinho, pressionado, renunciou ao cargo faltando
uma semana para o pleito. O conflito acabou levando à duali-
dade de legislativos; tropas foram mobilizadas e outras foram
requeridas pelo juiz federal Paulo Fontes para impedir a trans-
ferência da Assembléia Estadual. Finalmente, em 10 de janeiro
de 1912, as coisas tomaram contornos nunca vistos, tendo Sal-
vador sido bombardeada por forças federais, que intervieram
com vistas a submeter os governistas. No dia 27 de março, às
vésperas da eleição, Seabra chegou à capital baiana para acom-
panhar de perto o processo eleitoral, que lhe deu a maioria dos
votos. Em seguida, a Assembléia Geral foi convocada extraor-
dinariamente para empossar o candidato vitorioso. Erigido ao
poder na esteira da política das salvações, J. J. Seabra e o PRD
se cristalizaram nele por 12 anos. Ao todo, foram três manda-
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tos, sendo dois do próprio Seabra (1912 - 1916 e 1920 - 1924) e
o outro de Antônio Ferrão Moniz de Aragão (1916 - 1920).9
Diferente do que ocorreu no centro-sul do país, na Bahia
não surgiu uma oligarquia hegemônica que fosse capaz de
assegurar a estabilidade das instituições do novo regime. A
acirrada competição fazia da política uma área de conflitos
muito intensos e, por vezes, sangrentos. Não por um acaso,
intervenções federais foram realizadas em três momentos dis-
tintos da Primeira República baiana: 10 de janeiro de 1912; 23
de fevereiro de 1920; 19 de março de 1924.
Nesse quadro de conflitos, o ano de 1919 possuiu, no
entanto, características que o tornaram singular, pois as elei-
ções para a Presidência da República e para o governo esta-
dual aprofundaram a cisão das elites baianas. Nos dois casos,
as antigas oligarquias se realinharam em torno da liderança
de Ruy Barbosa contra o PRD, Seabra e seus partidários. Em
janeiro, o presidente Rodrigues Alves, eleito para o quatriênio
de 1918 - 1922, não resistiu à gripe espanhola e faleceu. Pelas
regras da política do café-com-leite, o mineiro Wenceslau Brás
deveria ter sido empossado. Contudo, Delfim Moreira, o vice
de Rodrigues Alves, acabou assumindo em caráter interino e
realizando, conforme prescrevia a norma constitucional, no-
vas eleições. Da falta de consenso entre as oligarquias domi-
nantes de São Paulo e Minas Gerais, surgiu o nome de Epitácio
Pessoa, da Paraíba, um político tradicional do Nordeste, que
passou a contar com o apoio daqueles dois estados principais
e do Rio Grande do Sul, Pernambuco e Bahia.10 Seu nome foi
9 Baseamos essa sucinta exposição sobre os conflitos interoligárquicos baianos
na obra de SAMPAIO, Consuelo Novais. Partidos políticos da Bahia na Pri-
meira República: uma política de acomodação. 2. ed. Salvador: Edufba, 1999.
10 SOUZA, Maria do Carmo Campello de. O processo político-partidário na
República Velha. In: MOTTA, Carlos Guilherme (org.). Brasil em perspecti-
va. 2. ed. São Paulo: Difel, 1969.
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160
referendado na Convenção da Situação, realizada no Senado
da República, Rio de Janeiro, em 25 de fevereiro. Opondo-se
a Ruy Barbosa tanto no plano nacional quanto no estadual,
Seabra e outros políticos do PRD lançaram-se na campanha
de Epitácio Pessoa e, já em princípios de março, Seabra che-
gava a Salvador para iniciar os embates contra seu conterrâ-
neo e colega de Senado. Derrotados em sua nova Campanha
Civilista, os ruístas mantiveram-se inconformados durante
todo o ano e lançaram uma enxurrada de denúncias de cor-
rupção e malversação de verbas públicas contra o governador
Antônio Moniz nas páginas de seus jornais. Por outro lado,
aproveitando-se que o presidente Epitácio Pessoa havia rela-
xado a política dos governadores, re-agruparam-se para apoi-
ar a candidatura do juiz federal Paulo Fontes ao governo esta-
dual nas eleições de 29 de dezembro.11
O conflito interoligárquico havia chegado a tal ponto
que as antigas lutas sangrentas entre os coronéis do sertão,
que tinham sido amainadas pela trégua de 1915, recrudesce-
ram outra vez em meados de 1919, quando atingiram o ponto
mais dramático da contenda que já durava dois anos. Horácio
de Matos, expressão maior do coronelismo na região das La-
vras Diamantinas, entrou em confronto aberto com os chefes
locais do PRD, a exemplo de César Sá, Militão Coelho, Ma-
nuel Fabrício e Monsenhor Hermelino Leão. O governador
Antonio Moniz enviou tropas policiais para enfrentá-lo em
junho e julho de 1919, mas, desmoralizadas em função de es-
tarem mal armadas e com os salários atrasados, as expedi-
ções falharam vergonhosamente na tarefa de enfrentar os ja-
gunços e submeter o potentado de Horácio de Matos, que, a
essa altura, já estava ligado à oposição comandada por Ruy
11 SAMPAIO, Consuelo N. Partidos políticos da Bahia na Primeira República:
uma política de acomodação. 2. ed. Salvador: Edufba, 1999. p. 135-142;
146-157.
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Barbosa, e o máximo que faziam era promover o saque e a
pilhagem nas fazendas dos aliados da Águia de Haia, quando
não eram diretamente cooptadas pela oligarquia sertaneja.12
A quebra radical e definitiva do monolitismo das elites
baianas da Primeira República trouxe conseqüências impor-
tantes para o movimento operário. A cisão e o conflito
interoligárquico, em 1919, fizeram com que tanto seabristas
quanto ruístas buscassem apoio da classe operária em suas
disputas. Durante a greve geral de junho, como veremos, essa
política será levada ao limite por meio de uma permissividade
extrema em relação ao movimento operário, que não será re-
primido em nenhum momento pelas forças do Estado. Os
próprios operários procurarão tirar o máximo de proveito da
situação, trazendo o governo e os políticos do PRD para o
seu lado na luta contra os industriais, empreiteiros, comerci-
antes e o patronato em geral. Aliás, essa não foi uma tarefa
difícil, pois a Associação Comercial da Bahia e o Centro In-
dustrial do Algodão haviam apoiado Ruy Barbosa em suas
disputas contra J. J. Seabra e Antônio Moniz, e era chegado o
momento de pagarem por isso...
Aqui também é preciso apontar a semelhança com fe-
nômenos ocorridos em outros locais. Num confronto entre
duas classes ou grupos sociais/políticos polares, não é inco-
mum que um dos contendores – geralmente o mais fraco,
posto que se trata de uma relação assimétrica – busque trazer
para a arena da luta de classes um terceiro elemento. Joan
Bak observou que isso aconteceu no Rio Grande do Sul no
momento das greves ferroviárias de julho e outubro de 1917,
quando os operários buscaram o apoio do governador Borges
de Medeiros em sua luta contra a Compagnie Auxiliaire de
12 PANG, Eul-Soo. Coronelismo e oligarquias: a Bahia na Primeira República
(1889 - 1934). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. p. 134-140.
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Chemins de Fer. O movimento teve contornos claramente
nacionalistas, apresentando-se como um combate dos brasi-
leiros em geral numa aliança pluriclassista (operários da em-
presa, populares e comerciantes usuários do sistema de trans-
porte de pessoas e mercadorias e governo estadual) contra a
exploração dos capitalistas estrangeiros que possuíam a con-
cessão da ferrovia federal.13
Na Bahia, apesar da quase ausência do componente na-
cional, os operários e seus sindicatos aproveitaram-se da cisão
no interior das elites políticas, fazendo com que o conflito en-
tre capital e trabalho se misturasse à luta da classe operária e
das forças seabristas contra os ruístas e seus aliados político-
eleitorais na burguesia mercantil, industrial e financeira local.
Os problemas referentes ao caso gaúcho também valem para o
baiano, estando relacionados ao fato de que, quanto mais se
amplia a aliança pluriclassista, maior é o risco de o movimento
operário virar massa de manobra nas mãos de uma das frações
da burguesia ou dos governos. Por outro lado, ao assumirem
os riscos, os trabalhadores influenciaram os rumos da própria
política estatal em relação ao movimento operário. Conside-
rando o quadro político e que numa aliança dessa natureza os
interesses são mútuos, ou seja, da classe operária para as elites
e das elites para a classe operária, tais problemas foram resu-
midos em três questões pela autora já citada: as condições da
aliança, o grau de independência de classe e influência na ali-
ança e a utilidade da mesma para os interesses dos operários.
A dinâmica e os desdobramentos da aliança da classe operária
baiana com uma das frações oligárquicas em 1919 e nos dois
anos subseqüentes serão analisados a seguir.
13 BAK, Joan. Labor, community, and the making of a cross-class alliance in
Brazil: the 1917 railroad strikes in Rio Grande do Sul. Hispanic American
Historical Review, Duke University Press, Carolina do Norte, EUA, v. 78, n. 2,
p. 179-227, 1998.
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163
Mas, se o novo ciclo de prosperidade econômica abriu
condições objetivas para o movimento operário e este pôde
agir com relativa liberdade em função da crise política
interoligárquica, um terceiro elemento ainda se fazia neces-
sário para que a greve geral de 1919 fosse vitoriosa: a organi-
zação da classe operária em sindicatos de resistência. Nesse
sentido, é importante saber quem estava e quem não estava
organizado nos sindicatos operários antes da greve geral, quem
se organizou no decorrer dela e quem o fez depois. Por en-
quanto, abordaremos o primeiro aspecto da questão.
Para alguns setores importantes da classe operária bai-
ana, o sindicalismo foi algo que chegou tarde se comparar-
mos a Bahia com outras regiões do país. Afora as organiza-
ções localizadas fundamentalmente no complexo portuário e
em alguns setores artesanais e de transportes de Salvador, até
a Primeira Guerra Mundial, boa parte da organização operá-
ria de Salvador era de caráter mutualista, beneficente ou
cooperativista, fossem essas sociedades produto da iniciativa
dos trabalhadores, de seus patrões (caso típico das fábricas
têxteis, de calçados, cigarros e charutos e das ferrovias), da
Igreja Católica, de elementos de destaque das elites locais ou
mesmo do Estado e de suas autoridades. Elas congregavam
operários de um ou mais ofícios, de uma empresa, fábrica ou
oficina, de uma cidade ou um bairro ou eram organizações
étnico-nacionais – de negros e estrangeiros (espanhóis, por-
tugueses, italianos, franceses, alemães e suíços) - , nesse caso
não havendo separação entre trabalhadores e patrões, ricos e
pobres, etc. Havia, ainda, as sociedades de ajuda mútua de
funcionários públicos das três esferas dos poderes executivo
e judiciário, de profissionais liberais, empregados do comér-
cio e outros setores de serviços e de estudantes. Como se
pode ver pelo Anexo 1, o socorro mútuo foi uma prática que
surgiu por volta de 1832 na Bahia e se manteve enquanto
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164
fenômeno social significativo até o pós-1930, convivendo e
se desenvolvendo de modo distinto e paralelamente aos sin-
dicatos de resistência criados durante a Primeira República,
não mantendo nenhuma relação de anterioridade com estes
sindicatos, mesmo porque os dois modelos de organizações
possuíam objetivos diferentes. Em um levantamento ainda
incompleto para o período, identificamos um número superi-
or a 130 sociedades desse tipo no estado da Bahia, sendo que
a maior parte delas se concentrava na capital.14
Como passaremos a demonstrar, até a véspera da greve
geral de junho de 1919 existiam cerca de 16 sindicatos operá-
14 Durante muito tempo, o mutualismo foi visto como uma simples pré-história
do movimento operário, só recentemente sendo superada essa concepção.
Por esta razão, os estudos sobre esse fenômeno ainda são muito poucos. Para a
Bahia, ver: SILVA, Maria da Conceição Barbosa da Costa e. O Montepio dos
Artistas: elo dos trabalhadores em Salvador. Salvador: Secretaria da Cultura e
Turismo do Estado da Bahia; Fundação Cultural; Egba, 1998 e CASTELLUCCI,
Aldrin A. S. Centro Operário da Bahia: mutualismo e jogo oligárquico. In:
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA XXI, Niterói. Comunicação.
Niterói: ANPUH, 2001. 8 p. Para os casos paulista e carioca, ver: LUCA,
Tania Regina de. O sonho do futuro assegurado: o mutualismo em São Paulo.
São Paulo: Contexto; Brasília: CNPq, 1990 e BATALHA, Claudio H. M.
Sociedades de trabalhadores no Rio de Janeiro no século XIX: algumas refle-
xões em torno da formação da classe operária. Cadernos AEL, Campinas, SP:
IFCH/Unicamp, v. 6, n. 10/11, p. 41-66, 1999. Para o caso gaúcho, ver:
SILVA JUNIOR, Adhemar Lourenço da. Etnia e classe no mutualismo do
Rio Grande do Sul (1854 - 1889). Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre:
PUCRS, v. XXV, n. 2, p. 147-174, dez. 1999; SILVA JUNIOR, Adhemar
Lourenço da. Estado e mutualismo no Rio Grande do Sul (1854 - 1940).doc.
In: PRIMEIRAS JORNADAS DE HISTÓRIA REGIONAL COMPARA-
DA. Produzido por: Delnei Friedrich; Paulo Ribeiro. 2000, Porto Alegre, 1
CD-ROM (s9a1.doc). Word for Windows; SCHMIDT, Benito Bisso. A dire-
toria dos espíritos da classe: a Sociedade União Operária de Rio Grande
(1893 - 1911). Cadernos AEL, Campinas, SP: IFCH/Unicamp, v. 6, n. 10/11,
p. 147-170, 1999; FORTES, Alexandre. Da solidariedade à assistência: es-
tratégias organizativas e mutualidade no movimento operário de Porto Ale-
gre na primeira metade do século XX. Cadernos AEL, IFCH/Unicamp, Cam-
pinas, SP, v. 6, n. 10/11, p. 171-218, 1999.
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165
rios de resistência ativos em Salvador, parte deles fundada ou
reorganizada a partir de 1910, enquanto outros haviam sido
criados em período anterior e sobrevivido por mais tempo.
Durante os dias de paralisação, outros 3 foram fundados e,
do momento imediatamente posterior à greve geral até 1921,
pelo menos outras 14 organizações sindicais, 1 federação, 1
partido socialista e 2 jornais operários foram fundados.
Assim, naquele momento, entre os trabalhadores do
complexo portuário de Salvador foi possível identificar cerca
de 8 organizações operárias atuantes. Dentre as mais antigas
e importantes, destaca-se a Sociedade União dos Operários
Estivadores, fundada no Rio de Janeiro em 13 de setembro de
1903 e criando sua filial em Salvador no dia 1º de maio de
1912, após uma sangrenta luta entre as lideranças dos operá-
rios estivadores e os mestres de estiva, que disputavam com
o sindicato o controle sobre a gestão do mercado de traba-
lho.15 Do mesmo período foi a Sociedade Civil União Geral
dos Carregadores da Bahia, fundada em 22 de abril de 1912.16
Gravitando em torno das lideranças dos estivadores e
igualmente dotada de grande solução de continuidade, tínha-
mos também a Sociedade União dos Foguistas, aglutinadora
15 Ver VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Virando o jogo: estivadores e carre-
gadores no Rio de Janeiro da Primeira República. 1998. Tese (Doutorado em
Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universida-
de de São Paulo, São Paulo, 1998; VELASCO E CRUZ, Maria Cecília.
Solidariedade X rivalidade: a formação do sindicalismo estivador brasileiro.
História Unisinos (Dossiê Trabalho e Movimento Operário), São Leopoldo,
v. 6, n. 6, p. 29-62, 2002. Para os conflitos que deram origem à sucursal da
União dos Estivadores na Bahia, ver: PINHO, Péricles Madureira de. Confli-
tos coletivos de trabalho no porto da Bahia em 1912. Fórum, Revista do
Instituto da Ordem dos Advogados da Bahia, Salvador, ano V, v. XIII, fasc. 4,
p. 19-27, 1940; PINHO, Péricles Madureira de. O problema da sindicalização
rural. Rio de Janeiro: [s.n.], 1939. p. 85-89.
16 ESTATUTOS da Sociedade Civil União Geral dos Carregadores da Bahia.
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 12 set. 1920.
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166
de outra importante categoria operária que devia sua organi-
zação sindical à liderança carioca. Sua matriz foi fundada no
Rio de Janeiro em 26 de setembro de 1903.17 As articulações
para a fundação da sucursal baiana da Sociedade União dos
Foguistas começaram ainda em fins de maio de 1910, quando
uma comissão formada pelos operários João Fausto Góes,
Rogaciano Carteado da Silva e Manoel Augusto Vieira foi
até o jornal Diário de Notícias para apresentar Julio Marcellino
de Carvalho, um operário designado pela matriz carioca para
atuar em Salvador como delegado especial visando fundar a
filial baiana.18 Já em princípios de junho de 1910 aquele mes-
mo órgão de imprensa divulgou que, no domingo, dia 12 de
junho, seria instalada solenemente a sucursal baiana da União
dos Foguistas na rua do Pilar, nº 62, onde funcionaria sua
sede provisória.19 Na noite daquele dia, conforme combina-
do e “perante uma numerosa assistência”, foi aberta a sessão
pelo delegado especial Julio Marcellino de Carvalho, que, de
imediato, convidou o tenente Alcebíades Calmon dos Pas-
sos, representante do chefe de polícia, para presidir o conclave.
Este convocou Apolinário dos Anjos, repórter do Diário de
Notícias, e o capitão Arthur José da Silva, presidente do Clu-
be Defensor e Beneficente dos Maquinistas, para secretariá-
lo. O major Cosme de Farias foi escolhido orador oficial da
entidade, fazendo o seu histórico e salientando a justeza dos
seus fins. Sucedendo-o, usou da palavra o capitão Olavo de
Almeida, representando o Centro Operário da Bahia, que
enalteceu o progresso das sucursais dos foguistas de Pernam-
buco e do Rio Grande do Sul. Os últimos inscritos a falar
17 ESTATUTOS da Sociedade União dos Foguistas. Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 22 maio 1919; O Tempo, Salvador, 21 nov. 1918, p. 4.18 Diário de Notícias, Salvador, 4 e 11 jun. 1910, p. 1 e 3. Uma outra fonte
remetia sua origem, em Salvador, ao ano de 1900. O Imparcial, Salvador, 3
ago. 1919, p. 3.19 Diário de Notícias, Salvador, 25 maio 1910, p. 5.
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167
foram o capitão Adalberto Silveira e o farmacêutico Fellipe
de Araújo Pinho, oficial de gabinete do governador, em nome
do qual cumprimentou os foguistas por sua organização. Após
esses discursos e em meio a uma salva de palmas do plenário,
o presidente encerrou a sessão agradecendo a indicação de
seu nome para a tarefa da qual acabara de se desincumbir e
fazendo votos de sucesso para aquele sindicato.20
Com uma história também pouco conhecida, mas sendo
muito atuante e influente em Salvador nos anos de 1918 e 1919,
temos a Associação dos Marinheiros e Remadores, que havia
sido fundada na capital federal em 23 de outubro de 1904 e já
possuía sucursais em Recife (PE), Rio Grande e Pelotas (RS) e
Belém (PA) desde a segunda década republicana. A fundação
de sua sucursal em Salvador seguiu caminho semelhante ao
dos foguistas. No final de março de 1911, já se encontrava na
capital baiana o operário José Francisco de Menezes, um diri-
gente da matriz carioca da Associação dos Marinheiros e Re-
madores designado, especialmente, para fundar a sucursal da-
quele sindicato na Bahia. Em poucos dias sua tarefa já estava
bastante adiantada, sendo a noite do dia 1º de abril a data ini-
cialmente pensada para a instalação solene da organização, num
prédio da rua do Pilar, nº 8.21 Entretanto, por alguma razão não
esclarecida pelas fontes consultadas, a instauração oficial do
sindicato marítimo foi transferida para o dia 3 de abril de 1911.22
Assim, por volta das 9 horas da noite daquele dia, ao som da
música do 2º Corpo do Regimento Policial, o enviado especial
da matriz carioca abriu a sessão explicando os fins da reunião e
lendo as bases dos estatutos daquela sociedade. Em seguida,
foi dada posse a José Bento no cargo de delegado da sucursal
da Associação dos Marinheiros e Remadores na Bahia, que,
20 Diário de Notícias, Salvador, 13 jun. 1910, p. 5.
21 Diário de Notícias, Salvador, 28 mar. e 1º abr. 1911, p. 2.22 Diário de Notícias, Salvador, 3 abr. 1911, p. 2.
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168
por sua vez, declarou instalada a entidade. Depois, o capitão
João Pompílio de Abreu foi convidado para presidir o conclave,
no que aceitou fazendo breve discurso de incentivo aos sócios
do sindicato. Franqueada a palavra, inscreveram-se para profe-
rir algumas palavras o bacharel Jacintho Moreira da Fontoura,
Paulo Pompílio de Abreu, Marcionilio Baptista de Almeida e
Apolinário dos Anjos. O último a pronunciar-se foi o orador
oficial da associação na Bahia, o tenente Olavo José de Almei-
da.23
Outra organização de trabalhadores portuários de Sal-
vador que atuou em estreita sintonia com o grupo dos estiva-
dores foi a Sociedade União dos Conferentes da Bahia, fun-
dada em 28 de janeiro de 1918.24 A sucursal de Salvador do
Grêmio dos Maquinistas da Marinha Civil, com matriz no
Rio de Janeiro, também teve sua participação registrada nos
acontecimentos que antecederam a greve geral de 1919, inclu-
sive nas comemorações do 1º de maio.25 Finalmente, em prin-
cípios de março de 1919, os calafates também já se encontra-
vam recém-organizados, convocando uma assembléia para a
qual todos os membros do ofício deveriam acorrer, fossem ou
não sócios, a fim de discutir e aprovar os estatutos da Socie-
dade dos Calafates.26 A União dos Operários Estivadores ti-
nha uma posição de liderança até mesmo nas organizações
por ela considerada como co-irmãs, mas que não funciona-
vam como filiais de outras sociedades congêneres do Rio de
Janeiro. Entre 1918 e 1920, por exemplo, Alípio Marciano dos
Santos, seu delegado na Bahia, acumulava também a função
23 Diário de Notícias, Salvador, 4 abr. 1911, p. 2.
24 ESTATUTOS da Sociedade União dos Conferentes da Bahia. Diário Oficial
do Estado da Bahia, Salvador, 4 jul. 1920.25 APEB, Seção Legislativa, livro 1200; O Democrata, Salvador, 3 maio 1919,
p. 1-2; O Tempo, Salvador, 2 maio 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 3
maio 1919, p. 2; A Tarde, Salvador, 2 maio 1919, p. 2;26 Diário de Notícias, Salvador, 7 mar. 1919, p. 2.
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169
de presidente da Sociedade União dos Carregadores das Do-
cas e Trapiches.27
De modo geral, esses sindicatos operários combinavam
os tradicionais métodos de ação coletiva, como as greves, com
a negociação de suas demandas através de advogados, políti-
cos e autoridades oficiais, fenômeno já verificado também em
vários outros estados, a exemplo de Rio de Janeiro, Rio Gran-
de do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Maranhão,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Sergipe e Pará.28
27 O Tempo, Salvador, 21 nov. 1918, p. 4; 2 maio 1919, p. 1; 21 out. 1919, p. 1.
28 Ver VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Amarelo e negro: matizes do com-
portamento operário na República Velha. 1981. Dissertação (Mestrado em
Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 1981; VELASCO E CRUZ, M. C. Virando o jogo: estivadores e
carregadores no Rio de Janeiro da Primeira República. 1998. Tese (Doutora-
do em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998; VELASCO E CRUZ, M. C.
Solidariedade X rivalidade: a formação do sindicalismo estivador brasileiro.
História Unisinos (Dossiê Trabalho e Movimento Operário), São Leopoldo,
v. 6, n. 6, p. 29-62, 2002; VELASCO E CRUZ, M. C. Tradições negras na
formação de um sindicato: Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em
Trapiche e Café. Rio de Janeiro, 1905-1930. Afro-Ásia, Salvador: Ceao-
UFBA, n. 24, p. 243-290, 2000; BATALHA, Claudio H. M. Uma outra
consciência de classe? O sindicalismo reformista na Primeira República. Ci-
ências Sociais Hoje, São Paulo: Vértice/Anpocs, p. 117-127, 1990; BATA-
LHA, Claudio H. M. O movimento operário na Primeira República. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 31-35; GOMES, Angela de Castro. A invenção
do trabalhismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994; BILHÃO, Isa-
bel. Rivalidades e solidariedades no movimento operário (Porto Alegre, 1906 -
1911). Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999; DUTRA, Eliana F. Caminhos operá-
rios nas Minas Gerais. Um estudo das práticas operárias em Juiz de Fora e Belo
Horizonte na Primeira República. São Paulo: Hucitec/Editora da UFMG,
1988; ANDRADE, Silvia M. B. V. Classe operária em Juiz de Fora. Uma
história de lutas (1912-1924). Juiz de Fora: Editora da UFJF, 1987;
HARDMAN, Francisco Foot; LEONARD, Victor. História da indústria e do
trabalho no Brasil (das origens aos anos 20). 2. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Ática, 1991; SALLES, Vicente. Marxismo, socialismo e os militantes excluídos.
Capítulos de história do Pará. Belém: Paka-Tatu, 2001.
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170
Isso implica dizer que o sindicalismo reformista não via a so-
ciedade como algo harmônico, sem conflito de classes, a exem-
plo de algumas lideranças de sociedades mutualistas, mas
também não era adepto de uma concepção que visse o Esta-
do e seus dirigentes apenas como os fiéis servidores dos inte-
resses dominantes, caso dos libertários. Dependendo da con-
juntura, o Estado era, para o conjunto desses sindicatos, um
mediador ou mesmo um aliado na luta para obter ganhos,
uma posição bastante confortável no peculiar e conflituoso
ano de 1919. Havia, pois, uma relação de troca, pela qual o
Estado e seus governantes apoiavam algumas das demandas
dos operários e suas organizações, ao passo que estes retri-
buíam com variadas formas de apoio político que iam desde
a modalidade clássica do voto até a simbólica, muitas vezes
representada por gestos que indicavam prestígio mútuo das
duas partes. Conclui-se destes dados, também, que o sindica-
lismo reformista constituiu-se numa clivagem muito mais am-
pla e enraizada no Brasil que o sindicalismo revolucionário,
que se estabeleceu de modo muito sólido em São Paulo, mas
não parece ter sido hegemônico em nenhuma outra região.29
Por ocasião das eleições legislativas de janeiro de 1919,
por exemplo, um manifesto, assinado por vários comercian-
tes e caixeiros e por diversos diretores da União dos Operári-
29 Sobre as fontes teóricas, experiências e distinções entre o anarquismo e o sindi-
calismo revolucionário, ver: TOLEDO, Edilene T. O sindicalismo revolucioná-
rio e a Federação Operária de São Paulo no início do século XX. Cadernos de
História Social, Campinas. SP, n. 2, p. 27-41, 1995; TOLEDO, Edilene T. Em
torno do jornal O Amigo do Povo: os grupos de afinidade e a propaganda
anarquista em São Paulo nos primeiros anos deste século. Cadernos AEL.
Campinas, SP: Arquivo Edgard Leuenroth, n. 8/9, p. 89-116, 1998; TOLEDO,
Edilene T. O sindicalismo revolucionário em São Paulo e na Itália: circulação de
idéias e experiências na militância sindical transnacional entre 1890 e o fascis-
mo. 2002. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
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171
os Estivadores, da União dos Carregadores, da União dos
Conferentes e da União dos Foguistas, foi dirigido ao comér-
cio e às classes operárias, conclamando-os a sufragar os can-
didatos do PRD.30 Na noite de 9 de março de 1919, uma gran-
de passeata operária, organizada pelos dirigentes das “distin-
tas classes proletárias, representadas pelos honrados núcleos
de homens do trabalho que constituem e impulsionam as or-
deiras e progressistas” sociedades União dos Operários Esti-
vadores, União dos Carregadores, União dos Foguistas, União
dos Conferentes e Associação dos Marinheiros e Remado-
res, percorreu as ruas do Centro de Salvador,31 iluminadas
“profusa e belamente por fogos cambiantes”, e em seguida
postou-se em frente à residência do senador J. J. Seabra, par-
lamentar de “atitude máscula”, “valoroso representante e ami-
go incansável e devotado de sempre” do “povo baiano”, para
anunciar, por meio de uma “bela, imponente e significativa
manifestação”, seu apoio à candidatura de Epitácio Pessoa à
30 O Tempo, Salvador, 9 jan. 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 9 jan. 1919,
p. 2; O Democrata, Salvador, 9 jan. 1919, p. 1. Constavam no manifesto os
nomes de várias lideranças operárias da zona portuária e marítima. Pela União
dos Estivadores: Alípio Marciano dos Santos (delegado), João Capistrano Pi-
res Dias (secretário), Moyses da Conceição Neves (relator), Delmiro Pereira
(fiscal geral), Domingos Cícero Alves e Marinho Manoel de Jesus (tesourei-
ros) e Cosme de Sant’Anna (diretor da Caixa de Auxílios); pela União dos
Carregadores: Agapito Damião de Lacerda (presidente), Manoel Antonio da
Silva (tesoureiro), Joviniano Santheago, Alziro Gomes de Figueiredo, Genesio
Carvalho do Espírito Santo, Reginaldo Ribeiro, Feliciano Hilário dos Santos
e Juvenal Dias; pela União dos Foguistas: João Baptista do Espírito Santo,
Domingos Alves da Costa, Livino José de Pinho, João Regis, Arlindo Eloy
Rodrigues, Bertolino Pereira Passos e Faustino Firtulino Pereira; pela União
dos Conferentes: Jacintho Souza, Humberto Fonseca, Fructuoso Telles de
Araújo, Custódio Oliveira Pontes e Chrispim Gonçalves Ramos.
31 O percurso feito pela multidão operária foi o seguinte: Alto do Caminho
Novo, rua Silva Jardim, praça José de Alencar, Portas do Carmo, praça 15 de
Novembro, Misericórdia, praça Rio Branco, rua Chile, praça Castro Alves,
São Bento, São Pedro, Piedade, Rosário, Mercês, Aclamação, Duque de
Caxias e, finalmente, Corredor da Vitória.
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Presidência da República, conforme desejo do PRD. Do “seio
da multidão” ecoavam também vivas ao governador Antonio
Moniz, ao chefe de polícia Álvaro Cova, ao deputado federal
Moniz Sodré e a “outros eminentes próceres da situação”.
Os sindicatos operários e seus filiados tiveram no capitão
Marcos Paulo de Carvalho o seu “inteligente orador”, que
pronunciou um discurso de “felicitações ao baiano egrégio” e
chamou a atenção para a “grande alegria” sentida por todos
pelo seu regresso à terra natal. Em resposta, Seabra declarou
que “nenhuma manifestação de simpatia ou solidariedade à
sua pessoa mais de perto lhe toca ao coração de que as que
partem do operariado, sempre sincero no testemunho do seu
sentir”. Continuou falando, “com desvanecimento”, que “em
todos os transes da sua longa e acidentada vida pública tem
tido o apoio e o conforto dos operários, daqueles que vivem
do trabalho quotidiano, lutando com as maiores dificuldades
para a satisfação das necessidades mais urgentes, porém que,
apesar disso, não se esqueceu dos legítimos interesses da co-
letividade, colocando-se sempre ao lado das boas causas”.
Dentre os muitos outros assuntos tratados, J. J. Seabra “refe-
riu-se à urgência de ser decretado o Código do Trabalho, em
que os direitos do operariado fiquem bem discriminados e
garantidos, impedindo assim que nos choques entre o traba-
lho e o capital, este sobrepuje aquele, asfixiando as suas as-
pirações, sempre modestas e justas”.32
Ao final de maio de 1919, uma multidão operária foi
conduzida pela Associação dos Marinheiros e Remadores até
o Palácio da Aclamação para prestar homenagem ao governa-
dor Antonio Ferrão Moniz de Aragão, que estava aniversari-
ando, e ao mesmo tempo agradecer-lhe o apoio dado durante
a greve nacional dos marítimos.33 Finalmente, em outubro de
32 O Democrata, Salvador, 11 mar. 1919, p. 1.
33 O Tempo, Salvador, 31 maio 1919, p. 1-2.
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1919, os dirigentes da União dos Operários Estivadores enca-
beçaram mais uma iniciativa, que contou com o apoio da
União dos Carregadores das Docas e Trapiches, da União dos
Foguistas Marítimos e Terrestres e da Associação dos Mari-
nheiros e Remadores, objetivando apoiar a candidatura do
próprio Seabra em sua campanha para suceder Antônio Moniz
no governo do estado. Numa assembléia conjunta de seus
sócios para deliberar sobre o assunto, esses sindicatos conse-
guiram a audiência e o apoio de cerca de 5 mil operários.34
Seja como for, a história do sindicalismo de todos esses gru-
pos ainda está por ser escrita.35
Antes da greve geral de junho de 1919, estavam reunidos
em sindicatos de resistência, também, os sapateiros, que foram
bastante atuantes, mas se encontravam divididos entre o Cen-
34 O Tempo, Salvador, 21 out. 1919, p. 1. A mesma fonte informa-nos que o
manifesto era assinado por Alípio Marciano dos Santos, João Capistrano Pires
Dias e Marinho Manoel de Jesus, respectivamente delegado, secretário e tesou-
reiro da União dos Estivadores; Alípio Marciano dos Santos, Agapito Damião
Lacerda e Manoel Antonio da Silva, respectivamente presidente, secretário e
tesoureiro da União dos Carregadores das Docas e Trapiches; João Baptista do
Espírito Santo e Manoel Atanasio de Almeida, presidente e secretário da União
dos Foguistas Marítimos e Terrestres; Manoel Dantas e Antonio Alves Junqueira,
delegado e secretário da Associação dos Marinheiros e Remadores.35 A professora Maria Cecília Velasco e Cruz, que já havia realizado estudos
acerca dos trabalhadores do porto do Rio de Janeiro, desenvolve, atualmente,
uma pesquisa comparativa sobre trabalhadores avulsos no Porto do Rio de
Janeiro e de Salvador, ao final da qual certamente se saberá mais sobre os
mesmos. Ver VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. A dialética da solidariedade
e da rivalidade: trabalhadores avulsos no porto do Rio de Janeiro e Salvador.
Projeto parcialmente financiado pelo CADCT/UFBA. Ver também, da mes-
ma autora, os artigos Tradições negras na formação de um sindicato: Socieda-
de de Resistência dos Trabalhadores em Trapiche e Café. Rio de Janeiro,
1905-1930. Afro-Ásia, Salvador: Ceao-UFBA, n. 24, p. 243-290, 2000 e
Solidariedade X rivalidade: a formação do sindicalismo estivador brasileiro.
História Unisinos (Dossiê Trabalho e Movimento Operário), São Leopoldo,
v. 6, n. 6, p. 29-62, 2002.
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174
tro Unificador dos Sapateiros, fundado em 25 de maio de 1906,36
e a Sociedade União Defensora dos Sapateiros,37 cujo marco
inicial não foi identificado, os padeiros, que fundaram a Socie-
dade União dos Operários de Padaria em 6 de abril de 191938
e os metalúrgicos, que criaram a Sociedade União dos
Metalúrgicos da Bahia em 30 de abril de 1919.39 Já os gráficos
baianos, que desde 1870 se organizavam em bases mutualistas
em torno da Associação Tipográfica Baiana,40 só fundaram o
seu sindicato de resistência durante a greve geral.
No setor de transportes terrestres, uma parte dos tra-
balhadores já estava organizada em sindicatos de resistência
antes da greve geral, ao passo que outra se organizaria no
decorrer do movimento e uma última logo após ele. No pri-
meiro caso temos o Centro Automobilístico do Estado da
Bahia, criado em 17 de setembro de 1917,41 e os ferroviários,
que em abril de 1919 fundaram a Sociedade União Defensora
dos Operários de Ferrovia.42 Os trabalhadores das compa-
nhias de bondes se organizaram em meio à greve geral, en-
quanto os condutores de veículos e carroças fundariam seus
sindicatos no imediato pós-greve geral.
36 Diário de Notícias, Salvador, 26 maio 1906, p. 2.
37 Em princípios de 1920, o Centro Unificador dos Sapateiros se dissolveu, trans-
ferindo para a Sociedade União Defensora dos Sapateiros todos os seus bens e
filiados. AEL-UNICAMP, Germinal, Salvador, ano I, n. 1, 19 mar. 1920, p. 11;
Germinal, Salvador, ano I, n. 2, 3 abr. 1920, p. 6.38 ESTATUTOS da Sociedade União dos Operários de Padaria. Diário Oficial
do Estado da Bahia, Salvador, 12 set. 1919.
39 ESTATUTOS da Sociedade União dos Metalúrgicos da Bahia. Diário Oficial
do Estado da Bahia, Salvador, 14 out. 1919.
40 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial
do Estado da Bahia, 2 jul. 1923. p. 397. Edição Especial do Centenário.41 ESTATUTOS do Centro Automobilístico do Estado da Bahia. Diário Oficial
do Estado da Bahia, Salvador, 24 abr. 1920.
42 ESTATUTOS da Sociedade União Defensora dos Operários de Ferrovia.
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 18 mar. 1920.
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Os trabalhadores das oficinas, manufaturas e fábricas
do setor têxtil, de roupas, chapéus, fumo (cigarros e charu-
tos) e alimentos constituíam um grupo formado por uma gran-
de massa desorganizada. Antes de 1919, todas as sociedades
surgidas nesses setores parecem ter sido mutualistas e/ou
beneficentes, a exemplo das dos chapeleiros, dos alfaiates e
das costureiras. Os operários têxteis e da indústria fumageira,
a despeito de terem feito greves desde o final do século XIX,
viviam enquadrados pelos patrões, que os congregavam, com-
pulsoriamente, em sociedades beneficentes de suas fábricas,
todas mantidas a partir de descontos nas folhas salariais. Como
veremos, os têxteis se organizarão solidamente após a greve
geral e os operários das manufaturas e fábricas de cigarros e
charutos não terão um sindicato próprio, mesmo depois des-
se movimento. Com os trabalhadores da indústria de alimen-
tação e bebida a situação também era de marasmo, pois estes
não possuíam, ao que tudo indica, qualquer tipo de organiza-
ção, fosse ela mutualista ou de resistência.
Na conjuntura de 1919, foi bastante significativa, tam-
bém, a influência da Sociedade União dos Marmoristas, cuja
data de fundação também não conseguimos precisar. Porém, o
grupo operário pesquisado que teve maior importância na gre-
ve geral de 1919 foi o da construção civil. Seu processo de orga-
nização, como já vimos, remonta ao ano de 1905, quando fora
criada a Associação Defensora dos Trabalhadores em Constru-
ção. Já em 1913, porém, ocorre uma mudança na orientação
ideológica dessa categoria. Naquele ano, chegara a Salvador
José Elias da Silva, delegado da Confederação Operária Brasi-
leira enviado ao Nordeste do Brasil em março de 1913 com a
finalidade de fazer propaganda do sindicalismo revolucionário.43
43 O militante anarquista José Elias da Silva depois passou para o comunismo,
sendo um dos fundadores do PCB, em 1922. Sua viagem pelo Nordeste do
Brasil, em 1913, incluía os estados da Bahia, de Alagoas e Pernambuco.
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Sua passagem pela Bahia serve para mostrar as dificuldades
de penetração desse ideário e evidencia a força das idéias de
grupos socialistas e reformistas no estado. José Elias chegou
a Salvador no dia 11 de março, quando manteve contatos com
alguns trabalhadores interessados na “propaganda de organi-
zação das classes operárias”. Entre estes estava o operário
João Damasceno dos Santos, presidente da Sociedade União
Defensora dos Pedreiros. Esta associação encontrava-se em
sessão de assembléia geral para eleger a sua nova diretoria,
momento mais que propício para divulgação das idéias do
sindicalismo revolucionário. José Elias chegou a ser convida-
do para presidir os trabalhos de escrutinação do pleito, o que
aceitou prontamente, ao mesmo tempo em que solicitou o
salão daquele sindicato com vistas à realização de sua primei-
ra conferência. Realizado no dia 22 de março, o referido evento
reuniu “numerosa assistência”. Nele fora distribuído “eleva-
do número de folhetos que a Confederação Operária Brasi-
leira publicou para esta excursão, ficando os assistentes
animadíssimos com a nova orientação que lhe levávamos”,
concluíram os editores de A Voz do Trabalhador. Na seqüên-
cia dos acontecimentos, José Elias da Silva tomou parte tam-
bém de uma greve de operários da construção civil, emprega-
dos da firma Lafayete, que reclamavam o pagamento de cin-
co quinzenas de salários atrasados. Neste movimento pôde
encontrar-se com “companheiros da velha guarda”, de acor-
do com as palavras que usou em carta enviada no dia 25 de
março aos cariocas. Tais companheiros eram “conhecedores
da organização sindical em Portugal”, estando dispostos, na-
quele momento, a “re-encetar a luta”, graças ao incentivo da
COB. “Com esse grupo de bons companheiros”, disse o arti-
culista de A Voz do Trabalhador, “pôde o nosso delegado
desenvolver uma imediata propaganda, publicando um ex-
tenso e bem dirigido manifesto convidando o operariado a
uma grande reunião”, que se realizaria no dia 24 de março. A
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sessão foi aberta por Félix Maurício e o vasto salão teria sido
pequeno para a quantidade de operários que para ali se diri-
giram. José Elias da Silva ocupou a tribuna por uma hora e
meia, “terminando sob entusiásticos aplausos, vivas à eman-
cipação proletária, ao sindicalismo, à Confederação Operária
Brasileira, ao operariado universal, à solidariedade humana,
etc.”. Um dos desdobramentos da reunião foi a fundação do
Sindicato Operário de Ofícios Vários, oficializada no dia 24
de abril de 1913 e contando com a inscrição imediata de 70
obreiros, sendo 15 pedreiros, 25 estucadores, 13 carpinteiros,
7 serventes, 4 calceteiros, 2 marceneiros, 1 funileiro, 1 cozi-
nheiro, 1 pintor e 1 maquinista.44
Por ocasião da greve geral de junho de 1919, porém, os
operários da construção civil estavam agrupados em torno do
Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, fun-
dado em 19 de março de 1919, dia de São José. À frente desta
entidade estavam algumas das mais importantes lideranças
da classe operária baiana até 1921, a exemplo de Guilherme
Francisco Nery, José dos Santos Gomes, Abílio José dos San-
tos, Antonio Amaro de Sant’Anna e José Domiense da Sil-
va.45 Categoria que, como vimos, possuía longa e forte tradi-
ção organizativa, seus líderes se destacaram na preparação,
organização e condução da greve geral de 1919, que do início
ao fim permanecera sob a hegemonia dos socialistas. Foram
responsáveis, também, pelo agrupamento e formação de qua-
dros que fundaram outros sindicatos, inclusive em categorias
44 A Voz do Trabalhador, Rio de Janeiro, ano VII, n. 51-52, 1. abr. 1914, p. 1;
ano VII, n. 53-54, 1 maio 1914, p. 1; ano VII, n. 55, 15 maio 1914, p. 1-2.
(A VOZ DO TRABALHADOR. Órgão da Confederação Operária Brasilei-
ra. Coleção fac-similar 1908-1915. Prefácio de Paulo Sérgio Pinheiro. São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado/Secretaria de Estado da Cultura/Centro de
Memória Sindical, 1985).45 ESTATUTOS do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes.
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 19 out. 1919.
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tradicionalmente desorganizadas e que enfrentavam empeci-
lhos estruturais para superar tal situação, a exemplo dos ope-
rários têxteis. Sua influência chegou a penetrar em setores
operários de outras cidades, como Nazaré das Farinhas, onde,
em agosto de 1919, fundaram a União dos Pedreiros
Nazarenos,46 sucursal daquele sindicato, em 1919 - 1920.47
Atuaram também como principais articuladores do Primeiro
Congresso dos Trabalhadores Baianos, realizado entre 14 e
20 de julho de 1919, e de seu fruto mais importante, a Federa-
ção dos Trabalhadores Baianos, instituída, por deliberação
daquele evento, em 13 de fevereiro de 1920.48
É preciso lembrar que, a exemplo das situações obser-
vadas em outras cidades, em Salvador a indústria da constru-
ção civil possuía um empresariado relativamente frágil. Pre-
dominavam os pequenos empreiteiros de obras, que dispu-
nham de poucos capitais e eram contratados para a realização
de determinadas construções, com prazos previamente acer-
tados para a conclusão do serviço, só recebendo o pagamento
depois disso. Disso decorria que esses patrões eram bastante
sensíveis às paralisações do trabalho de seus operários por
quaisquer razões, pois os atrasos redundavam, para o em-
preiteiro, em ter que honrar os compromissos e dívidas con-
traídas junto aos fornecedores de matérias-primas (cimento,
pedras, tijolos, ferragens, etc.). Uma greve, pois, poderia ge-
rar um processo de descapitalização acentuada, resultando
na perda do contrato por parte do empreiteiro ou na sua vir-
tual falência. Além disso, os trabalhadores da construção ci-
vil eram, em grande parte, qualificados e, portanto, difíceis
de serem substituídos, principalmente em épocas de prospe-
46 O Conservador, Nazaré-BA, 31 ago. 1919, p. 1.
47 O Conservador, Nazaré-BA, 5 maio 1920, p. 2.48 A Voz do Trabalhador, Salvador, ano I, n. 24, 19 mar. 1921, p. 1.
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ridade econômica, quando o ritmo das construções e refor-
mas era retomado e os artistas se tornavam mão-de-obra rara
e cara. O leitor deve ficar atento para o fato desta ser a situ-
ação concreta vivida em Salvador a partir do primeiro trimes-
tre de 1919 e, não por acaso, esse foi o setor de vanguarda do
movimento operário baiano a partir de então, assim como já
o havia sido também em outras cidades, como Santos.49
A maré de sindicalização parece ter atingido até mesmo
alguns setores de trabalhadores não-operários tradicionalmente
desorganizados e submetidos ao domínio patronal e do Esta-
do, a exemplo dos empregados do comércio e dos funcionários
públicos. Os caixeiros, que de longa data se agrupavam em
várias associações mutualistas espalhadas por Salvador e cida-
des do interior da Bahia (ver Anexo 1), fundaram, em 1º de
junho de 1919, véspera da greve geral, a União Caixeiral da
Bahia, que ainda praticava a beneficência e o auxílio mútuo
como as outras sociedades, mas combinava-os com a resistên-
cia, ou seja, com a luta econômica.50 Já os servidores do Esta-
do, que também tinham longa tradição beneficente, fundaram
a Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia
em 20 de agosto e instalaram-na em 8 de setembro de 1918.51
49 Para uma discussão sobre a indústria e os operários da construção civil, ver:
SILVA, Fernando Teixeira da; GITAHY, Maria Lúcia C. O movimento ope-
rário da construção civil santista durante a Primeira Guerra Mundial (1914 -
1918). História Social, Campinas, SP, n. 3, p. 87-124, 1996 e SILVA, Fernan-
do Teixeira. Operários sem patrões: os trabalhadores da cidade de Santos no
entreguerras. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003, cap. 1 e 2. Ver
também: MARAM, Sheldon Leslie. Anarquistas, imigrantes e o movimento
operário brasileiro (1890 - 1920). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. p. 51-52;
FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social (1890 - 1920). São Paulo;
Rio de Janeiro: Difel, 1976. p. 132.50 ESTATUTOS da União Caixeiral da Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia,
Salvador, 11 jul. 1920.
51 A propaganda para fundação e a discussão dos projetos de estatutos foram
fartamente cobertos pela imprensa, especialmente a seabrista e oficial. Ver:
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180
As greves do início do ano
As dificuldades e o descontentamento gerados pela crise aber-
ta com a guerra e que prosseguiram no imediato pós-guerra
eram tão grandes que o ano de 1919 já havia se iniciado sob o
signo de greves em várias categorias, estivessem elas organi-
zadas ou não em sindicatos. Esses movimentos, entretanto,
eram bem fugazes e guardavam diferenças substanciais em
relação à greve geral de junho. Os empregados da Empresa
de Asseio da Cidade, por exemplo, paralisaram o trabalho no
dia 13 de janeiro reclamando o pagamento de 9 quinzenas de
salários atrasados. O clima parecia tenso, pois além das cons-
tantes quebras de promessas de liberação dos recursos reti-
dos, viam-se, na manhã do dia 23, corpos de infantaria e ca-
valaria postados na entrada da empresa prontos para repri-
mir eventuais protestos. Naquele mesmo dia, o chefe de po-
lícia anunciou que os salários seriam pagos em 48 horas, ao
que os trabalhadores acenaram com o retorno temporário aos
seus afazeres. A imprensa frisava que a situação se tornava
tanto mais revoltante em função do município nada dever ao
empreiteiro Germano de Assis, responsável pelo serviço de
coleta do lixo.52 O compromisso assumido de pagamento dos
proventos atrasados dos carroceiros, varredores de rua e fis-
cais, porém, não foi integralmente cumprido, só sendo pagas
5 das 9 quinzenas devidas. Além disso, os pagamentos sofre-
ram todo tipo de reduções, inclusive os tradicionais descon-
tos com equipamentos de trabalho (roupas, vassouras, pás),
feitos de forma desigual, resultando disso uma nova paralisa-
PROJETO de Estatutos da Associação dos Funcionários Públicos do Estado
da Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 31 jul. 1918; PROJETO
de Estatutos da Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia
(Redigido de acordo com as emendas). Diário Oficial do Estado da Bahia,
Salvador, 15 ago. 1918; O Tempo, Salvador, 17 e 19 jul. 1918; 8, 21 e 27 ago.
1918; 5, 6 e 9 set. 1918.
52 O Imparcial, Salvador, 14 jan. 1919, p. 1.
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ção do trabalho de limpeza da cidade.53 No dia 18, o lixo
ainda se acumulava pelas ruas e os odores se tornavam insu-
portáveis, sem que qualquer solução surgisse.54
No início de abril, uma greve foi feita também pelos ope-
rários do Gasômetro. Em princípio, os trabalhadores exigiam o
pagamento da quarta quinzena vencida de seus salários, o que
efetivamente ocorreu, impedindo a eclosão do movimento. No
dia 7, porém, um antigo maquinista chamado Paulo Passos
Moreira55 foi demitido em função de ter liderado os demais
operários na ameaça de greve ocorrida dias antes. Em solidarie-
dade ao companheiro, seus colegas paralisaram o trabalho rei-
vindicando a readmissão do líder operário, levando os bondes a
parar nas linhas do Comércio a Itapagipe por falta de energia. O
movimento sagrou-se vitorioso, com o maquinista sendo
readmitido em seu posto e os bondes voltando a funcionar.56
Em maio, os operários da Fábrica de Gelo da Brahma
em Salvador paralisaram o trabalho em solidariedade a seus
colegas de empresa do Rio de Janeiro. Acompanhando os
operários da capital federal, os trabalhadores baianos reivin-
dicavam a jornada de 8 horas e aumento de 1$000 em seus
salários. Os patrões negaram-se a conceder o aumento salari-
al, alegando que já haviam feito isso dias antes e que o inver-
no era uma fase ingrata para atender a tais pleitos, restando
aos patrões o fechamento da fábrica.57 As notícias sobre o
movimento desapareceram das fontes sem que soubéssemos
do resultado final.
53 O Imparcial, Salvador, 16 jan. 1919, p. 1.
54 O Imparcial, Salvador, 18 jan. 1919, p. 1.55 Paulo Passos Moreira aparece nos estatutos do sindicato da categoria como
um de seus organizadores, em junho de 1919. Ver ESTATUTOS da Socieda-
de União dos Empregados de Bondes, Luz e Força Elétrica do Estado da
Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 1º fev. 1920.
56 O Imparcial, Salvador, 8 abr. 1919, p. 2.
57 A Tarde, Salvador, 26 maio 1919, p. 1.
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Mas foi a greve nacional dos marítimos, iniciada em 7 de
maio de 1919, a mais importante e a que teve, antes de junho,
um caráter mais radical. A greve se desenrolou nos marcos de
um movimento mais amplo e sua dinâmica estava em estreita
relação com os acontecimentos do Rio de Janeiro. Logo no prin-
cípio da parede, os tripulantes dos vapores da Companhia de
Navegação Baiana, dos Paquetes da Companhia Costeira, Lloyd
Brasileiro e da Companhia Comércio e Navegação aderiram
ao movimento, passando a orientar-se pela sucursal da Asso-
ciação dos Marinheiros e Remadores que, como vimos, tinha
sua sede na capital da República.58 No dia 8 de maio, o dele-
gado da associação em Salvador, Argemiro Alves da Fonseca,
informou que a greve já tinha conseguido a adesão de 800
marítimos no estado, que paralisaram vários paquetes, após o
que se concentraram na sede de seu sindicato, localizada na
Conceição da Praia (Cidade Baixa). Na raiz da greve estava a
luta dos trabalhadores contra o estabelecimento de um novo
regulamento baixado pelo Lloyd, pelo qual as companhias ti-
ravam os pagamentos de horas extras, mudavam o horário das
refeições – o almoço passava das 10 para as 12 horas e o jantar
das 16 para as 19 horas – e criavam uma associação atrelada aos
patrões cuja finalidade explícita era de destruir a Associação
dos Marinheiros e Remadores. Para voltar ao trabalho, os ope-
rários apresentaram uma pauta propondo alterações no regu-
lamento formulado pelas companhias, reivindicando a jornada
de trabalho de 8 horas, o controle do sindicato sobre os embar-
ques, o restabelecimento dos antigos horários de refeições e
aumentos salariais.59 Em todas as negociações, o deputado
58 A Tarde, Salvador, 8 maio 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 10 maio
1919, p. 1.
59 A tabela apresentada pelo sindicato propunha os seguintes aumentos: os con-
tramestres, que ganhavam 170$000 passariam a ganhar 270$000; os marinhei-
ros que recebiam vencimentos de 140$000 deveriam ganhar 220$000; os mo-
ços sairiam dos 100$000 anteriores ao movimento para 160$000; finalmente,
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183
seabrista Lauro Villas-Boas se apresentou como advogado dos
grevistas. Um órgão de imprensa ligado à oposição ruísta che-
gou a noticiar que os estivadores e carregadores, outras duas
categorias que mantinham relações com esse parlamentar,
estariam aderindo ao movimento. A idéia era criar um clima
de tensão contra o governo. Contudo, um outro órgão de
imprensa, ligado ao grupo de Seabra e ao PRD, obteve uma
entrevista com a representação dos sindicatos desses operári-
os negando sua adesão ao movimento.60
No dia 10 de maio, momentos de tensão ocorreram em
forma de insubordinação e quebra de disciplina. O marinhei-
ro Raymundo Nonato dos Santos, do vapor Cachoeira, per-
tencente à Companhia de Navegação Baiana, após receber
do capitão do porto um exemplar do novo regulamento, in-
dispôs-se com o referido oficial e rasgou o documento. Pron-
tamente, um remador e outros seis marinheiros do Couraça-
do Deodoro prenderam-no e levaram-no à presença do juiz
seccional, que, por sua vez, mandou fichá-lo na Secretaria de
Polícia.61 No dia 17 de maio, a imprensa reclamava que o ca-
pitão do porto mostrava-se muito insensível e pouco propen-
so a ceder às reivindicações dos trabalhadores. Com essa po-
sição, alimentava a continuidade da greve, mesmo que “si-
lenciosa” e “pacífica”. Nesse momento, o número de grevis-
tas desembarcados na Bahia já atingira a 900 operários. Além
disso, o delegado da sucursal da Associação dos Marinheiros
e Remadores na Bahia denunciou que esse mesmo Capitão
os boys teriam seus vencimentos alterados de 50$000 para 100$000. Os marí-
timos reclamavam ainda o acréscimo de 1$000 para cada hora de trabalho
extraordinário. O Tempo, Salvador, 8 maio 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salva-
dor, 8 maio 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 9 maio 1919, p. 2; Diário da
Bahia, Salvador, 10 maio 1919, p. 1.
60 O Tempo, Salvador, 8 maio 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 8 maio
1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 9 maio 1919, p. 2; Diário da Bahia,
Salvador, 10 maio 1919, p. 1.
61 Jornal de Notícias, Salvador, 10 maio 1919, p. 2.
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do Porto estava fazendo com os trabalhadores baianos o mes-
mo tipo de repressão que Barbosa Lima, diretor do Lloyd,
fazia no Rio de Janeiro. Segundo o sindicalista, a autoridade
portuária baiana havia contratado fura-greves em massa e
“enchido os navios de pessoal incompetente, desafeito à lide
do mar e ignorante, que não tem consciência dos seus direi-
tos”.62 No dia 30 de maio, a greve nacional dos marítimos
terminou com saldo positivo para os trabalhadores. A direto-
ria da Associação dos Marinheiros e Remadores, no Rio, co-
municou à sua sucursal de Salvador que as reivindicações dos
seus filiados haviam sido aceitas pelos patrões.63
O jornal O Tempo, porta-voz oficioso do governo esta-
dual, felicitou os “dignos homens do trabalho pela vitória
conseguida, como também pela atitude pacífica, ordeira e res-
62 Diário de Notícias, Salvador, 17 maio 1919, p. 1.
63 O Imparcial, Salvador, 31 maio 1919, p. 1; O Tempo, Salvador, 31 maio 1919,
p. 1-2. O acordo entre a Associação dos Marinheiros e Remadores e o patrona-
to estabeleceu o seguinte: os contramestres passariam a ganhar 229$000; os
marinheiros fiéis, 202$000; os marinheiros, 189$000; os moços, 130$000 e os
boys, 58$500. As horas extras seriam pagas com acréscimo de 1$000 em todos
os casos, ao passo que a jornada de trabalho de 8 horas foi estabelecida. Além
disso, o sindicato operário controlaria a contratação da mão-de-obra, organi-
zando o “quadro dos marítimos desembarcados, fazendo a classificação dos
mesmos em classificação seguida, segundo a ordem de antiguidade nos desem-
barques, comprovada pelas cadernetas expedidas pela Capitania dos Portos”.
Mas havia uma ressalva que funcionava como garantia dos patrões, pois a
associação operária ficava obrigada a “incluir no mesmo quadro os reservistas
da Marinha de Guerra, bem como quaisquer outros matriculados pelas capita-
nias dos portos, sejam ou não filiados à associação”. Além disso, “do quadro
acima referido, que o Lloyd Brasileiro se reserva o direito de fiscalizar na sede da
associação por pessoa da sua confiança, será tirado por ordem da antiguidade
dos desembarques o pessoal marítimo necessário para prover as vagas que se
forem verificando na tripulação dos navios”. Por fim, as alterações feitas nas
referidas listas deveriam ser comunicadas ao Lloyd e ao “direito de indicação,
garantido à associação, corresponde para o Lloyd o direito de recusar o indicado
até haver acordo entre as duas partes, que se empenharão em recebê-lo pronta-
mente, de modo a evitar os prejuízos de delongas injustificáveis”.
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peitável que mantiveram durante o período das negociações
que acabam de chegar a termo”. Enquanto isso, na capital da
República, era feita uma grande manifestação, da qual toma-
ram parte 20 mil operários, comemorando a vitória e acla-
mando os nomes de Nicanor do Nascimento, Moniz Sodré,
Maurício de Lacerda, Lauro Villas-Boas e outros.64
Em Salvador também houve manifestações de rua. Após
uma assembléia presidida por Argemiro Alves da Fonseca, na
qual tomou parte ativa o deputado seabrista Durval Fraga,
uma grande passeata puxada pela banda da polícia saiu do
Bairro Comercial, na Cidade Baixa, e dirigiu-se até o Centro,
na Cidade Alta. O Palácio da Aclamação, residência do go-
vernador, era o destino final e o objetivo era “saudar o emi-
nente dr. Antonio Moniz pela passagem de seu aniversário e
agradecer-lhe também os relevantes serviços prestados ao
operariado.” Ao chegar, o deputado Durval Fraga pronunciou
“vibrante e eloqüente discurso de saudação, pondo em des-
taque os serviços que aos operários em geral tem prestado S.
Ex. durante a sua gestão administrativa, de boa vontade lhe
amparando as justas pretensões na reivindicação dos seus
direitos até então postergados pelo predomínio asfixiante do
capital sobre o trabalho”. Em resposta, o governador Anto-
nio Moniz “disse que muito lhe dignificava o receber os aplau-
sos do operariado, que se sentia cada vez mais encorajado
por essa espontânea e valiosa solidariedade, podendo afir-
mar, sem tergiversações, que está disposto a enfrentar todas
as campanhas que o despeito e desorientação dos seus adver-
sários lhe movem ou venham mover na contínua faina de en-
xovalhar a Bahia, desnaturada e impatrioticamente”.65
64 O Tempo, Salvador, 30 maio 1919, p. 1.
65 O Tempo, Salvador, 31 maio 1919, p. 1-2.
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As jornadas de junho
No final de maio de 1919, mal terminava a greve nacional dos
marítimos, o recém-fundado Sindicato dos Pedreiros, Carpin-
teiros e Demais Classes desenvolveu uma intensa propagan-
da na imprensa local convocando todos os trabalhadores, sem
distinção de ofício ou categoria profissional, para que assis-
tissem, em sua sede social, a uma conferência de propaganda
sindical, que seria proferida no final da tarde de domingo, dia
1º de junho. Em seu apelo “a todas as classes de trabalhado-
res terrestres e marítimos, ferroviários, metalúrgicos, foguis-
tas, marinheiros...”, os líderes operários deixavam antever o
caráter da reunião ao avisar que “o mundo trabalhador já não
pode suportar a opressão dos sugadores e detentores do bem-
estar da humanidade”. Em tom quase profético, concluía, sob
vivas à organização operária e ao operariado internacional,
chamando os trabalhadores baianos ao sindicato para “co-
nhecer o caminho por onde vos haveis de libertar das miséri-
as que vos traz o jugo patronal”.66
O conferencista era nada menos que Agripino Nazareth,
um advogado socialista que dali por diante exerceu uma
indubitável liderança sobre o movimento operário baiano. Sua
biografia ainda não é conhecida em detalhes, mas sabe-se que
ele havia se destacado pela participação em vários movimen-
tos em diferentes partes do país. Em 1915, por exemplo, envol-
veu-se numa conspiração capitaneada por Maurício de Lacerda
e que teve Maurício de Medeiros e Alexandre Barbosa Lima
como co-participes, cujo objetivo era estabelecer, no Brasil, uma
República Parlamentar sob a direção do general Emílio Dantas
Ribeiro, antigo aliado de Hermes da Fonseca e conhecido pelo
golpe que desferiu contra a oligarquia Rosa e Silva, após 22
anos de domínio daquele grupo em Pernambuco. O movimen-
66 O Imparcial, Salvador, 31 maio 1919, p. 2; Diário da Bahia, Salvador, 1º jun.
1919, p. 2.
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to foi descoberto e seus líderes foram indiciados. Já em 1917,
Agripino Nazareth reaparece no Rio de Janeiro se associando a
Astrojildo Pereira, Fábio Luz, Maurício de Lacerda e Lima
Barreto, nas páginas do jornal O Debate, na luta contra as ca-
lúnias que a grande imprensa fazia da Revolução Russa.67 Mas
foi como membro do grupo que dirigiu a malfadada Insurrei-
ção Anarquista de novembro de 1918 que Agripino Nazareth
ficou mais conhecido. A condução do movimento foi partilha-
da por ele, Astrojildo Pereira (naquele momento anarquista,
mas que depois se passará para o comunismo, sendo o princi-
pal articulador da fundação do PCB em 1922) e seu principal
líder, José Oiticica. Tomaram parte também outras figuras co-
nhecidas, a exemplo do anarquista espanhol Manuel Campos,
o professor Álvaro Palmeira e o operário gráfico Carlos Dias.
Além disso, Manuel Castro e Joaquim Moraes, operários têx-
teis, assegurariam a participação de sua categoria na greve que
desencadearia a revolta. José Elias da Silva, João da Costa Pi-
menta (também futuros integrantes do PCB, sendo o último,
mais tarde, membro da fração trotskista) e o jornalista José
Romero completavam o número dos conspiradores. Contudo,
graças à ação do tenente Jorge Elias Ajus, que se infiltrou e
denunciou os objetivos do conclave, a insurreição foi abortada
e uma intensa repressão policial se seguiu. Os tecelões,
metalúrgicos e operários da construção civil ainda deflagraram
greves em suas categorias, mas elas não se transformaram na
sonhada greve geral insurrecional e foram violentamente repri-
midos pela polícia de Aurelino Leal. No final de novembro,
cerca de 200 pessoas entre militantes – libertários ou não – ,
operários e outros suspeitos haviam sido presas. Vários sindi-
catos foram fechados ou sofreram intervenção, a exemplo da
União dos Operários em Fábricas de Tecidos, União Geral dos
67 DULLES, John W.F. Anarquistas e comunistas no Brasil (1900 - 1935). 2. ed.
São Paulo: Nova Fronteira, 1977. p. 63 e 107.
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Metalúrgicos e União Geral da Construção Civil. A União Geral
dos Trabalhadores (UGT) foi dissolvida. Cerca de 180 presos
foram deportados do Rio de Janeiro. A almejada República de
Operários e Soldados, inspirada na Rússia, que deveria pôr
fim ao Estado e às desigualdades sociais, não vingou. Já em
março de 1919, 14 lideranças haviam sido pronunciadas como
incursas no artigo 107 do Código Penal por prática de crime
contra a Constituição da República e sua Forma de Governo.
José Oiticica foi acusado na condição de cabeça e Agripino
Nazareth e os demais de serem co-autores.68
Já na Bahia, explicando os acontecimentos de novem-
bro de 1918, o próprio Agripino Nazareth disse que só não foi
preso em função da inabilidade da polícia carioca e que, de-
pois do levante, ainda permaneceu na capital da República
até janeiro de 1919. Ao ser pronunciado, refugiou-se no esta-
do do Espírito Santo, primeiro em uma cidade do interior e
depois na capital, de lá vindo para Salvador, disposto a viajar
para a Europa caso as circunstâncias o obrigassem. Reconhe-
cendo que em todos esses portos havia usado nomes falsos,
denúncia feita pela oposição baiana ligada aos industriais e
comerciantes, defendeu-se argumentando que aquele foi um
meio de defesa de suas idéias e princípios, posto que estava
sendo injustamente perseguido pelo chefe de polícia Aurelino
Leal. Invocou, ainda, que havia feito o mesmo que Ruy Bar-
bosa por ocasião da Revolta da Armada de 1893, quando
Floriano Peixoto mandou prendê-lo e o velho conselheiro
exilou-se fora do país também utilizando outra identidade.
Após a retirada das acusações, por falta de provas, Agripino
Nazareth voltou a usar seu verdadeiro nome.69
68 ADDOR, Carlos Augusto. A insurreição anarquista no Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Dois Pontos, 1986.
69 NAZARETH, Agripino. Ao povo baiano. Jornal de Notícias, Salvador, 15
jun. 1919, p. 3 e 5.
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189
De fato, a preocupação de Agripino Nazareth não era
infundada. Já em janeiro de 1919, o secretário de Polícia e Se-
gurança Pública da Bahia, Álvaro Cova, oficiara a Gambeta
Spínola, inspetor da Polícia do Porto de Salvador, orientando-
o a exercer uma fiscalização mais rígida sobre as embarcações e
passageiros que chegassem ao porto de Salvador, visando im-
pedir o desembarque de todos quantos fossem considerados
“elementos indesejáveis e perniciosos”. Em seu comunicado, a
autoridade policial baiana recomendava que os agentes de po-
lícia do porto, sob a direção dos subinspetores, verificassem
cuidadosamente os papéis de identidade de todos os passagei-
ros, “procurando colher informações sobre os precedentes dos
mesmos” e “levando ao conhecimento do subinspetor que fi-
zer a visita qualquer irregularidade”. Estavam terminantemen-
te proibidos de desembarcar todos que fossem qualificados
como mutilados, incapazes para o trabalho, mendigos, loucos
sem acompanhantes, cafetões, ladrões, anarquistas, apaches e
todos os passageiros de 3ª classe que estivessem em trânsito e
fossem procedentes do Rio da Prata. Ademais, todos os indi-
víduos de 1ª e 2ª classe que tivessem a mesma procedência e
destino deveriam ser rigorosamente vigiados enquanto suas
embarcações continuassem atracadas na capital baiana.70
O fato, porém, é que da conferência de Agripino
Nazareth para a eclosão da greve geral no dia seguinte, foi
apenas um passo. No dia 2 de junho, os operários da cons-
trução civil que trabalhavam nas obras da Biblioteca Pública
do Estado fizeram uma reunião no horário do almoço, na qual
deliberaram paralisar o trabalho, reivindicando a jornada de
8 horas e aumento salarial de 20%. Liderados pelo Sindicato
dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, os operários
concentraram-se na Praça Rio Branco, onde conseguiram a
70 Jornal de Notícias, Salvador, 23 jan. 1919, p. 2; O Democrata, Salvador, 23 jan.
1919, p. 2.
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190
adesão de seus colegas que labutavam nas obras do Palácio
do Governo, do Tesouro do Estado e em outras construções.
Depois, seguindo em passeata pelas ruas do Centro da cida-
de até a Ladeira da Barra, carregando estandartes com inscri-
ções que exigiam “respeito aos seus direitos”, proclamavam
que “8 horas de trabalho são bastante”, e davam “vivas ao
operariado baiano”, conseguindo novas adesões. De volta da
Ladeira da Barra, ao passarem pelo Relógio de São Pedro, o
número de operários já chegava a cerca de mil. Em seguida,
rumaram para a Praça Castro Alves, finalizando a passeata
na sede do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais
Classes, na rua do Maciel de Cima, nº 28.71
Até então, além dos operários da construção civil, apenas
os trabalhadores da Companhia Linha Circular e os padeiros
haviam-se mostrado dispostos a aderir ao movimento. Contu-
do, na noite daquele mesmo dia, numa reunião ocorrida na sede
do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, os
operários decidiram generalizar o movimento. Tomaram parte
no conclave, além dos diretores daquela entidade, a exemplo de
Abílio José dos Santos e José dos Santos Gomes, os represen-
tantes de outras sociedades, como José de Souza, da Sociedade
União Defensora e Beneficente dos Pintores da Bahia, Antônio
dos Santos, da Sociedade União dos Operários de Padaria e ou-
tras lideranças não nomeadas. Para atingir tal objetivo, Agripino
Nazareth sugeriu que se formassem três comissões operárias,
uma com atribuição de negociar com os empreiteiros, outra para
buscar apoio junto às autoridades e a última para tratar com a
imprensa. Além disso, uma nova assembléia geral operária foi
convocada para o dia seguinte, à tarde, no mesmo local.72
71 Diário de Notícias, Salvador, 3 jun. 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 3
jun. 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 3 jun. 1919, p. 3.
72 Diário da Bahia, Diário de Notícias e O Imparcial, Salvador, 3 jun. 1919, p. 1. A
composição das comissões foi a seguinte: 1 - comissão para se entender com os
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191
Agripino Nazareth
Fonte: DULLES, John W. Foster. Anarquistas e comunistas no Brasil (1900-1935). Tradução de César
Horta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.
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192
Rememorando depois os fatos ligados à conferência
anterior que pronunciara na véspera da eclosão da greve geral
e seus desdobramentos posteriores, Agripino Nazareth fez
questão de pontuar que naquela ocasião “tratara apenas de
incentivar o movimento associativo, não insinuando, nem ao
menos veladamente, uma greve”. Sua posição era, efetiva-
mente, contrária ao desencadeamento do movimento naque-
le momento, argumentando que o mesmo era precipitado. A
principal organização operária, o Sindicato dos Pedreiros,
Carpinteiros e Demais Classes, tinha apenas três meses de
vida e contava com um número pequeno de filiados e fundo
de greve ainda em formação, impossibilitado de auxiliar os
grevistas em caso de um enfrentamento longo com os pa-
trões. Contudo, ao estourar o movimento, o líder socialista
ponderou que “a sorte estava lançada” e “para ver se algo
seria possível salvar do naufrágio iminente, um único recurso
se impunha: projetar a greve às demais classes proletárias,
generalizá-la, para o que na manhã do dia seguinte seria for-
çoso destinar comissões para todas as casas de trabalho (...)
para obterem o maior número de solidariedades”.73
De fato, a 3 de junho, a greve se generalizou. O Diário
de Notícias daquele dia chegou a noticiar que “os operários
baianos que até hoje se tinham conservado inativos e impas-
síveis ante o movimento de protesto que se nota em todo o
empreiteiros: João Augusto Mendes, Abílio José dos Santos, Alfredo Tolentino
do Espírito Santo, Fagundes João da Cruz, João Borges, Anacleto Eugênio
dos Santos e Paulo Francisco de Almeida; 2 - comissão para se entendercom os poderes competentes: Damásio Simões, Phelipino Gonzaga, José
dos Santos Gomes, Thomaz Firmino da Silva, Firmo Ferreira de Moraes,
Napoleão Marinari e Abílio Almeida; 3 - comissão de imprensa: Aurino
Cavalcante, Anselmo Pereira Alves, Vicente Honório da Silva, Antônio
Ferreira das Chagas e Adriano Alves da Silva.
73 “O protesto do operariado. A Conferência do Dr. Agripino Nazareth no Sindica-
to dos Pedreiros e Carpinteiros”. O Tempo, Salvador, 6, 8, 9, 10 e 11 dez. 1919.
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mundo, levantaram-se agora para defender os seus direitos,
pugnar por suas reivindicações”. Observando o grande movi-
mento associativo e o crescimento dos laços de solidariedade
que se processavam no seio da classe trabalhadora, o articu-
lista anunciava que “enquanto os dignos operários baianos
se mantiverem dentro dos limites da lei, da ordem e da har-
monia” teriam o apoio daquele e de todos os outros órgãos
da “imprensa conscienciosa e justa”.
Na manhã daquele dia, as comissões formadas na vés-
pera começaram a agir para cumprir as tarefas que lhes havi-
am sido designadas. Um desses grupos rapidamente se trans-
formou numa linha de piquete, rumando para o Comércio,
na Cidade Baixa, e conseguindo a adesão dos operários de
várias construções que ainda se mantinham no trabalho, in-
clusive das Obras do Porto e da Empresa de Construções
Germano de Assis. De lá, os operários voltaram até o Sindi-
cato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, onde re-
ceberam novas adesões e partiram, por volta do meio-dia,
para a Península de Itapagipe, ponto de encontro dos demais
trabalhadores. Já incorporados os novos companheiros de luta,
rumaram todos para a área industrial, onde conseguiram a
adesão de milhares de operários, principalmente dos têxteis.
Entre eles estavam os 1.400 operários da Companhia Empó-
rio Industrial do Norte, “que ali trabalhavam sob um regime
de exploração e opressão bruscamente sucedido ao de libera-
lidade mantido na gestão do industrial Luiz Tarquínio”, disse
Agripino Nazareth.74 Os líderes grevistas convenceram a en-
74 “O protesto do operariado. A Conferência do Dr. Agripino Nazareth no Sindi-
cato dos Pedreiros e Carpinteiros”. O Tempo, Salvador, 6, 8, 9, 10 e 11 dez.
1919. No ano seguinte, o líder socialista Agripino Nazareth voltou a expor sua
opinião sobre o industrial Luiz Tarquínio, falecido em 1903. Em uma das colunas
de seu jornal, o advogado denunciou “a maneira pela qual os abutres que dirigem
a Fábrica da Boa Viagem maltratam os operários, espoliando-os nos seus direi-
tos, sugando, escandalosamente, parte dos seus minguados salários já bastante
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reduzidos, enquanto à custa do suor dos nossos companheiros enchem ilícita
e escandalosamente suas burras em curtíssimo período”. E continuava argu-
mentando que aquele “grande núcleo de trabalho” fora transformado em
“casa de disfarçada escravatura”, operação que foi feita “com desvio da rota
luminosa e sábia do seu grande fundador, Luiz Tarquinio”. Germinal, Salva-
dor, nº 2, 3 abr. 1920, p. 4.
75 Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 4
jun. 1919, p. 1.
trar no movimento também os 730 trabalhadores da Fábrica
Conceição, onde “foram recebidos com entusiasmo pelos
operários e operárias desse estabelecimento, silvando todos
seus apitos em testemunho evidente de solidariedade ao
movimento, paralisando em seguida o trabalho”. Arrastaram
depois para o movimento os 150 operários da Fábrica Fabril
dos Fiais, na qual “já a massa era colossal, e crescente o entu-
siasmo”. Os 120 operários da Fábrica de Calçados Trocadero,
juntamente com outros 500 trabalhadores da Fábrica Leite &
Alves (cigarros), 170 da Fábrica A. Guimarães & Cia (cigar-
ros) e um número não calculado das fábricas Martins
Fernandes & Cia (cigarros), Mangueira, Beira-Mar (têxtil),
Palmeira e outras de vestuário, como Variedades, Princesa do
Norte e Caboclo, e das Oficinas Cezar Filho também aderi-
ram naquele dia. Por volta das 16 horas, os operários das Docas
Wilson e Sons e os trabalhadores da Companhia Linha Mu-
nicipal também paralisaram seu trabalho e “a chuva intermi-
tente que caía (...), não apagou o brilho dessa jornada de
reivindicações”, disse o editor do Diário da Bahia.75
A multidão operária, então, já havia se dividido em dois
grupos, dos quais um foi em direção a Vitória e Barra, na
Cidade Alta, onde conseguiu a adesão dos operários da Fá-
brica de Xales Vitória, da Usina da Graça e das oficinas da
Companhia Linha Circular. De volta ao Centro, “sempre com
vivas às classes trabalhadoras e ao dia de 8 horas de traba-
lho”, esses operários pararam em frente à sede da Empresa
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de Asseio da Cidade, no Largo Dois de Julho, quando os em-
pregados em limpeza pública se incorporaram ao movimento.
Ainda na Cidade Alta, cerca de 130 operários têxteis da Fábri-
ca São Salvador integraram-se à greve, juntamente com outros
100 da Fábrica de Calçados Stella. Nesta última, os industriais
já tinham concedido aos seus operários a jornada de 8 horas
“espontaneamente”. Ainda assim, aqueles trabalhadores re-
solveram aderir ao movimento em sinal de solidariedade. Por
volta das 19 horas, o outro grupo, que chegava a cerca de 5 mil
operários, permaneceu na Cidade Baixa e decidiu enviar ao
Palácio da Aclamação uma comissão encarregada de negociar
com o governador Antônio Moniz. Acompanhados dos direto-
res do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes,
de Agripino Nazareth e de aproximadamente 2 mil operários,
os membros da comissão “protestaram contra o indiferentismo
do governo, no que é referente aos interesses e ao conforto das
classes trabalhadoras”, ao mesmo tempo em que asseguravam
que “o movimento era grevista pacífico, dentro da ordem e da
lei, respeitando as autoridades constituídas e que, portanto, o
operariado esperava que o poder executivo não continuasse
quedo, na sua clássica negligência com relação à sorte do ele-
mento mais poderoso do progresso e civilização”. Estas pala-
vras “foram coroadas por longa salva de palmas”, e os operári-
os ouviram do governador o compromisso de “agir em defesa
dos reclamantes”.76
Os ferroviários, que aderiram à agitação logo nas pri-
meiras horas, manifestaram-se através da Sociedade União
Defensora dos Empregados de Ferrovia. Esta oficiou ao Sin-
dicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes avisan-
do-lhe que estava “coesa e de comum acordo com as demais
classes em levante”, tendo a “subida honra de acompanhá-
76 Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 4
jun. 1919, p. 1; A Hora, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1.
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los na situação presente, a fim de fazer desaparecer os abusos
que contra os operários existem”. Em seguida, como maior
prova de tal apoio, os ferroviários da Companhia Chemins
de Fer começaram a recolher todas as locomotivas na madru-
gada do dia 3, levando-as para a cidade de Alagoinhas, fican-
do o tráfego de trens totalmente paralisado na manhã do dia
4 de junho.77 Na pauta específica dos ferroviários, encontra-
va-se a reintegração dos companheiros que haviam sido de-
mitidos em 1915, a jornada de 6 horas e o aumento salarial.78
Os padeiros, que haviam aderido no dia 2 ao movimen-
to, apresentaram, no dia 3, sua pauta de reivindicações por
meio da Sociedade União dos Operários de Padaria, que, além
da jornada de 8 horas e aumento salarial “em proporção ao
trabalho e à força da padaria”, exigia também o revezamento
noturno e o fim do serviço de entrega de pão. Essa entidade
também enviou um ofício ao Sindicato dos Pedreiros, Carpin-
teiros e Demais Classes, assinado pelos diretores Constâncio
Pereira Victorio e Antônio F. dos Santos e por 200 outros
sócios, no qual dizia-se “solidária com o movimento em prol
dos nossos direitos ultrajados por todos aqueles que se jul-
77 Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 4
jun. 1919, p. 1; A Hora, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1.
78 Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3. O trabalho na Chemins de Fer
parecia realmente não trazer boas recordações aos operários demitidos de 1915
e um deles, José de Abreu Farias, pronunciou-se nos seguintes termos nas
colunas do jornal O Tempo, Salvador, : “Chegando ao meu conhecimento de
que os honrados e espoliados empregados da Chemins, ora em movimento
muitíssimo justo e retardado, numa de suas cláusulas indicam a readmissão de
empregados dispensados sem causa justificada desde 1915 para cá; sendo eu
uma dessas vítimas dos bandidos Hypolito Mutazzi e Henri Martin, venho de
público agradecer aos meus ex-companheiros a parte em que me toca, oferecen-
do-lhes os meus préstimos onde quer que eu esteja, ao mesmo tempo em que
declaro não aceitar a minha volta para o serviço de tão nefasta empresa, onde
infelizmente perdi alguns anos de vida, pedindo a Deus que me livre de traba-
lhar ainda durante a minha vida em empresas que tenham como mandões
canalhas iguais aos acima mencionados”. O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.
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gam nossos donos”. Os padeiros avisavam que paralisariam
suas atividades na manhã de 4 de junho e apenas “os hospi-
tais, as casas de saúde e pias terão o fornecimento de pão”.
Os empregados dos setores de serviços, a exemplo dos cafés,
bares e hotéis e os trabalhadores em açougues, sob a lideran-
ça da União dos Açougueiros, também abandonaram o traba-
lho. Os trabalhadores do Cemitério Quinta dos Lázaros tam-
bém paralisaram seu trabalho, reivindicando o pagamento de
proventos atrasados e aumento salarial, além da ampliação
do pessoal empregado naquela instituição. Segundos os re-
clamantes, os 5 coveiros e 2 pedreiros que lá estavam lotados
eram em número insuficiente para enterrar os cerca de 25 a
30 corpos que chegavam diariamente, disso resultando estar o
cemitério descuidado e malcheiroso. A entrada desses traba-
lhadores na greve trouxe como uma das conseqüências imedi-
atas a exposição de “cadáveres insepultos” que entravam em
processo de decomposição ao ar livre. Até mesmo os 1.300
operários têxteis da distante Companhia Valença Industrial
parecem ter se incorporado ao movimento neste dia.79 Ao todo,
o número de operários grevistas foi calculado entre 10 e 12 mil.80
79 Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 4
jun. 1919, p. 1. A participação dos operários da Companhia Valença Industria na
greve geral é controvertida, sendo negada pela direção da empresa. Em suas
palavras: “As duas greves verificadas nesta capital durante o ano de 1919 entre
operários das fábricas de tecidos, felizmente não tiveram repercussão ou acolhi-
mento por parte dos nossos operários, que se mostraram mais uma vez
compenetrados dos seus deveres e amigos da nossa Companhia, alcançando
vantagens relativas às horas de trabalho independente de qualquer exigência.
Consignando esse fato altamente honroso para todos nós visamos enaltecer a
conduta dos nossos operários, para louvá-los como eles bem merecem”. RELA-
TÓRIO da direção da Companhia Valença Industrial para ser apresentado na
Assembléia Geral Ordinária dos srs. acionistas, a realizar-se em 24 de março de
1920, acompanhado do Parecer do Conselho Fiscal. (Exercício de 1919). Diá-
rio Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 21 mar. 1920.80 A Tarde, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1.
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Ainda na noite do dia 3, percebendo que a greve tinha-
se alastrado por todos os setores da vida econômica da cida-
de, os líderes operários fizeram uma nova assembléia no Sin-
dicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, na qual
falou, por mais de uma hora, Agripino Nazareth, seguido de
vários sindicalistas. Fazendo um balanço da situação em que
o movimento se encontrava e o que ainda precisava ser feito
para assegurar a vitória da parede geral, o advogado socialis-
ta diagnosticou que as antigas comissões, formadas pratica-
mente para atender aos interesses dos operários da constru-
ção civil, já não serviam aos propósitos mais amplos do mo-
mento. Propôs, então, a sua substituição por um Comitê
Central de Greve, que dirigiria o movimento daquele mo-
mento em diante e do qual tomariam parte os diversos repre-
sentantes das categorias operárias envolvidas, sendo de pronto
aprovado.81 Uma das primeiras tarefas a que esse órgão se
propôs foi redigir um memorial dirigido às autoridades e aos
industriais, empreiteiros e patrões em geral, expondo as ra-
zões e reivindicações de todas as categorias em greve. Em
seguida, deveria telegrafar aos senadores Ruy Barbosa e J. J.
Seabra, solicitando-lhes que voltassem as suas atenções e
esforços, no Congresso Nacional, para uma reforma da Cons-
tituição, visando incluir naquele texto os direitos conquista-
dos pelos operários no Tratado de Versalhes (janeiro de 1919),
tais como a proibição do trabalho de menores, a isonomia
salarial entre homens e mulheres e a jornada de 8 horas. Te-
legramas deveriam ser expedidos também ao deputado Mau-
81 É preciso chamar a atenção para a semelhança organizativa e de objetivos entre
o Comitê Central de Greve, criado pelas lideranças da greve geral de junho de
1919 na Bahia, e o Comitê de Defesa Proletária, criado pelas lideranças da
greve geral de julho de 1917 em São Paulo. Contudo, para além das semelhan-
ças, é necessário distinguir que no caso baiano a hegemonia na organização era
dos socialistas, ao passo que no caso paulista era dos anarquistas, a despeito dos
socialistas também tomarem parte no órgão e na condução da greve.
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rício de Lacerda, “grande defensor dos operários”, à União
dos Operários em Fábricas de Tecidos e à Associação de Im-
prensa, ambas do Rio de Janeiro, solicitando apoio e solidari-
edade.82
No dia 4 de junho, os diretores do Sindicato dos Pe-
dreiros, Carpinteiros e Demais Classes, bem como os mem-
bros do Comitê Central de Greve, amanheceram ocupados
em receber as diversas delegações operárias que vinham tra-
zer as reivindicações específicas de suas categorias. Além dis-
so, tinham que fazer paralisar o trabalho nos estabelecimen-
tos em que a greve estava sendo furada, a exemplo da Fábrica
Stella, no Barbalho, da Serraria Palmeira, pertencente a Pe-
dro Gordilho, da Manufatura Variedades e das obras da San-
ta Casa de Misericórdia.83
Enquanto isso, grupos de operários percorriam as ruas
em “vivas delirantes”, um verdadeiro “frêmito de entusias-
mo nas classes trabalhadoras”. Às 5 horas da madrugada, um
desses grupos já havia chegado à Estação Ferroviária e ao
82 Diário de Notícias, Salvador, 4 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 4
jun. 1919, p. 1. A composição do Comitê Central de Greve era a seguinte:
Constâncio Pereira Victorio (representando os padeiros), Odilon Neves da Costa
(representante dos pintores), Abílio Faustino de Assis (representando os operári-
os da Usina da Graça), Tibúrcio Luiz Santos (Carpintaria Palmeira), Eleotério
Bispo Ferreira e José Lúcio dos Santos (representantes dos operários da Fábrica
Fabril dos Fiais, Nossa Senhora da Conceição e Luiz Tarquínio), Teophilo Felix do
Nascimento (representante dos operários das obras do porto), Nathalio de Jesus
(representante dos ferroviários da Chemins de Fer), Manoel da Costa (represen-
tante das Docas Wilson e Sons), Félix Bitencourt (representante das Oficinas
Cezar Filho), Aristeu P. dos Santos (representante das obras do Asilo de Mendi-
cância), Joaquim José Ferreira (representante das obras Germano de Assis), João
dos Santos (representante da Fábrica Victoria), Guilherme Francisco Nery, Antô-
nio Amaro Sant’Anna e Abílio José dos Santos Gomes (diretores do Sindicato
dos Pedreiros e Carpinteiros) e Damásio Simões (representante dos estucadores),
além do advogado e líder socialista Agripino Nazareth.
83 Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3; Diário de Notícias, Salvador, 5
jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.
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Barracão da Calçada, ambos pertencentes à Chemins de Fer.
Em frente aos prédios, uma força do Exército estava a postos
“garantindo a propriedade federal”. Erguendo “vivas ao Brasil,
ao operariado brasileiro e ao Exército Nacional”, os grevistas
solicitaram apoio aos empregados que lá se encontravam. Es-
tes, que já tinham, em sua maioria, aderido ao movimento no
dia anterior, inclusive com o envio de oito ou dez locomotivas
para a Estação de Aramary, em Alagoinhas, reafirmaram a sua
adesão, juntando-se às linhas de piquetes. Já o Comandante
da força, “disse que nada havia a recear, contanto que se man-
tivessem sempre dentro da ordem, pois o movimento era jus-
to”. Para completar a paralisação de todo o sistema de trans-
portes da cidade, os operários da Companhia Linha Circular
que ainda estavam vacilantes, do Gasômetro e os marítimos
da Companhia de Navegação Baiana anunciaram sua entrada
na greve, sendo seguidos pelos choferes e carroceiros.84
Retornando da Estação Ferroviária, os grevistas iam re-
cebendo novas adesões e confirmação de outras, que haviam
sido anunciadas nos dias anteriores. Ao passarem pelo Bairro
Comercial, “encontraram-se com outros numerosos grupos,
que vinham da Cidade Alta, com eles juntando-se e forman-
do, assim, uma verdadeira multidão de cerca de 3 mil operá-
rios em vibrantes aclamações às classes operárias”. Dando
continuidade à sua passeata pelo Comércio, a multidão de
trabalhadores parou em fábricas e manufaturas de vestuário,
incorporando ao movimento as muitas operárias de várias
camisarias, como Princesa do Norte, Variedades, Caboclo,
Modelo, Tude e Leão de Ouro. Mais adiante, conseguiram a
adesão das obreiras da Casa Luiz Lobo e aproveitaram para
registrar as reivindicações daquelas operárias, que, além da
84 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 5
jun. 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3; O Tempo,
Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.
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jornada de 8 horas e aumento salarial, pleiteavam a supres-
são dos gastos com a compra de correias, azeite e linhas para
as máquinas de costuras e o fim da cobrança das multas.85
Um operário encarregado de verificar a situação do movimento
na Cidade Baixa chegou a exclamar, indignado, que a
Camisaria Modelo estava cometendo muitos abusos, inclusi-
ve impondo reduções de salário e jornada de trabalho de 10
horas a suas operárias, que entravam às 7:30 e saíam às 17:30,
“sendo-lhes privado o direito de aquecer as suas comidas”.86
Ainda nesse terceiro dia de greve, a maré de adesões
prosseguiu também em outras fábricas, manufaturas e ofici-
nas. Os 535 operários têxteis da Fábrica Bonfim, 400 da mes-
ma categoria que trabalhavam na Fábrica Paraguaçu e 100 da
Fábrica de Calçados Gama & Gama somaram-se a um núme-
ro não calculado dos que trabalhavam na Fábrica
Marquesinho, Fábrica de Cristais Fratelli Vitta, Fábrica Man-
gueira, Fábrica Mira-Mar, Oficinas Belmonte e nas dezenas
de fabriquetas de chapéus, vassouras, cestos, papel e pape-
lão, de perfumarias e flores, torrefações de café, além das
oficinas de sapateiros da cidade, que também aderiram ao
movimento naquele momento. Ao final do dia, após o en-
contro das multidões em passeatas vindas das duas partes da
cidade, a greve já havia atingido 15 mil operários.87
A entrada do operariado fabril na greve a partir dos
dias 3 e 4 de junho, em particular o da indústria têxtil e de
calçados, fez aparecer novas reivindicações. Agora, além da
jornada de 8 horas e do aumento de salários, os trabalhado-
res passaram a exigir outras duas bandeiras gerais da classe
85 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2.86 Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3.
87 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 5
jun. 1919, p. 1; Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3; O Democrata,
Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.
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operária, a isonomia salarial entre homens e mulheres que
exercessem as mesmas funções e a abolição do trabalho in-
fantil, problemas centrais do trabalho industrial.88
No dia 5 de junho, o movimento atingiu o seu ápice,
com a paralisação do trabalho em todos os setores de trans-
portes terrestres urbanos (bondes da Circular, Municipal e
Trilhos Centrais, carroças, automóveis), ferroviários (Chemins
de Fer) e marítimos (Companhia de Navegação Baiana), o
setor fabril (têxtil, calçados, cigarros, alimentos, etc.), as usi-
nas de geração de energia, etc. Salvador já era dos operários.
Os membros do Comitê Central de Greve, bastante
empolgados com o quadro, distribuíram um boletim dirigido
aos trabalhadores, aos patrões e à população no qual diziam
não ter sido “em vão que o nosso advogado, dr. Agripino
Nazareth, ontem nos disse que o sol hoje iluminaria a nossa
vitória proletária”. O documento registrava, com satisfação, a
paralisação completa da cidade e convocava os industriais e
todos os outros patrões a comparecerem a uma reunião com os
representantes operários no dia 6, momento em que se formu-
lariam as bases de um acordo. Tomariam parte no evento, tam-
bém, os representantes do governador, do chefe de polícia e de
todos os jornais da cidade, fossem eles da situação ou da opo-
sição. Concluía explicitando “às autoridades constituídas, às
classes conservadoras, aos políticos de todos os matizes e aos
operários em geral que nada nos levará a lisonjear os interesses
deste ou daquele partido”, posto que “o nosso lema é tudo
pelos trabalhadores e só pelos trabalhadores”.89
Assim, logo nas primeiras horas da manhã, “extraordi-
nário era o movimento de operários nas ruas, solicitando a
88 O Tempo, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.
89 AOS TRABALHADORES! Aos Patrões! À População Baiana. Boletim do
Comitê Central de Greve, Salvador, 5 jun. 1919. O Tempo, Salvador, 6 jun.
1919, p. 1 e Diário da Bahia, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1.
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adesão de todos os companheiros que ainda não haviam se
manifestado” e dando “vivas às classes trabalhadoras, aos
seus defensores e ao seu advogado, dr. Agripino Nazareth,
que vem se esforçando pela manutenção da ordem”. Por vol-
ta das 6 horas da manhã, grupos de grevistas dirigiram-se
para a Usina da Preguiça, pertencente à Companhia Linha
Circular, e convenceram os últimos trabalhadores daquela
empresa a aderir ao movimento de greve geral. Com isso, a
cidade ficou completamente sem energia elétrica e sem luz.
Ao mesmo tempo, outros grupos de piquetes se colocaram
em frente aos portões de entrada dos Barracões de Sant’Anna
e da Graça, garantindo que nenhum bonde saísse.90
A paralisação da usina geradora de eletricidade parece
ter sido um ato ditado por uma radicalização não programada
do movimento e estava mesmo em contradição com uma deli-
beração tomada na assembléia realizada no Sindicato dos Pe-
dreiros, Carpinteiros e Demais Classes no dia anterior, na qual
se decidira que a mesma “trabalharia para que os jornais pu-
dessem sair”.91 A Usina da Preguiça e a Usina da Graça pare-
cem ter sido encaradas pelos patrões como pontos estratégicos
que não deveriam ser contaminados com movimentos
reivindicatórios. Prova disso é que os seus operários já haviam
tido aumentos salariais e diminuição de jornada de trabalho
antes da eclosão da greve geral. No meio da greve, a compa-
nhia chegou a anunciar outros aumentos para várias categori-
as, entre as quais a dos motorneiros, condutores, fiscais, su-
binspetores, inspetores e zeladores. Sabendo desses fatos, o
Diário da Bahia opinou que essa adesão não tinha sentido e,
alegando que a suspensão do fornecimento de energia prejudi-
caria os serviços hospitalares, da Assistência Pública e do Ne-
crotério, “além do vexame enorme da falta de transportes”,
90 Diário da Bahia, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1.91 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2.
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204
concluía seu apelo dizendo que confiava na “prudência e refle-
xão dos grevistas”.92 O Jornal de Notícias havia feito as mes-
mas ponderações, frisando que “a própria imprensa desprovi-
da de motores particulares” ficaria impedida de circular “na
defesa do mesmo operariado”.93 As queixas tiveram seguimento
no dia 6, quando foi dito que “esta atitude do operariado não
foi de acordo com o desejo do Dr. Agripino Nazareth, porquanto
ficaram os hospitais, as casas de saúde, Maternidade Climério
de Oliveira, os jornais etc. privados de energia elétrica”.94
Ainda no dia 5, os operários de bonde da Linha Circular,
os choferes e os carroceiros suspenderam o trabalho e a circula-
ção de veículos foi proibida, exceção feita aos da Assistência
Pública e dos agentes de combate à febre amarela, que circula-
vam portando uma bandeira com uma cruz vermelha. Em decor-
rência disso, Cidade Alta e Baixa ficaram isoladas.95 Na Ladeira
da Montanha, elo entre essas duas áreas de Salvador, piquetes
impediam a passagem de carroças e carros conduzidos por mo-
toristas insistentes e “grupos de operários exaltados furam os
pneumáticos dos automóveis, impedindo-os de circular”. A con-
fusão gerada por essa atitude foi tanta “que um chofer puxou do
revólver, sendo, porém, impedido de atirar”. Os 33 operários da
Fábrica de Macarrão Progresso, juntamente com as telefonistas
e os alfaiates, também aderiram ao movimento nessa ocasião.
Estes últimos, inclusive, fundaram nesse dia, com a presença de
cem companheiros, a Sociedade dos Oficiais Alfaiates e apre-
sentaram as reivindicações de jornada de 8 horas e aumento de
30% sobre os salários de empreitada e 20% nas diárias. 96
92 Diário da Bahia, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.93 Jornal de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 3.
94 Diário da Bahia, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1.
95 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2; Diário da Bahia, Salvador, 6
jun. 1919, p. 1.
96 Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1-2; O Tempo, Salvador, 6 jun.
1919, p. 1.
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205
O dia 5 de junho foi realmente bastante agitado. Por
volta das 14 horas, um grande número de operários se con-
centrou em frente à sede do Sindicato dos Pedreiros, Carpin-
teiros e Demais Classes e logo iniciou uma passeata pela ci-
dade. Começando pelo Maciel, o préstito foi percorrendo as
ruas do Centro, Misericórdia, Praça Rio Branco, Rua Chile,
Praça Castro Alves, São Bento, São Pedro, Rua do Cabeça,
Praça da Piedade, Largo das Mercês e Rua do Rosário até
chegar ao Palácio da Aclamação. Lá chegando, uma comissão
entregou ao governador Antônio Moniz “uma justa represen-
tação do operariado”, ao que este apareceu à janela, “sendo
aclamado em entusiasmo pela compacta massa popular (...),
reafirmando o seu apoio decidido à causa do proletariado”.
Em seguida, alguns membros do Comitê Central de Greve se
pronunciaram, “aconselhando sempre calma, ordem e respei-
to à lei”, e depois conduziram a multidão em torno do Cam-
po Grande, retornaram pelo percurso anterior e, incorporan-
do novos membros, foram até a Praça Rio Branco, onde já se
contavam, “sem exagero”, 15 mil pessoas. De volta à sede do
Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, os
numerosos operários passaram a ouvir os discursos de diver-
sos oradores que falavam das sacadas daquela entidade, “con-
citando as classes trabalhadoras a não esmorecerem”. Nessa
ocasião, chegou o “intrépido jornalista Simões Filho”, editor
de A Tarde, dizendo estar ali para dar “apoio incondicional
aos operários”. Às 16 horas, Agripino Nazareth e alguns mem-
bros do Comitê Central de Greve intermediaram uma reu-
nião com jornalistas e operários da Usina da Preguiça, na qual
os diretores da Linha Circular insistiam no restabelecimento
da produção e do fornecimento de energia e tráfego de bon-
des, mas “nada pôde ficar assentado, porque os grevistas de
outros ramos de trabalho exigiram que não houvesse acordo
parcial”. O último ato daquele dia 5 ocorreu aproximadamente
às 21 horas, na Calçada do Bonfim, quando populares chega-
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206
ram à Estação Ferroviária, impedindo que três carros de car-
ne, procedentes de Mata de São João e pertencentes a Ama-
do Bahia, o rei do bife, chegassem aos açougues.97
Assustados com a dimensão que o movimento estava
tomando, os representantes dos interesses capitalistas não
tardaram a se manifestar. Assim, o editor do Diário da Bahia,
possivelmente o porta-voz mais autorizado dos industriais,
reconhecia, naquele movimentado dia 5 de junho, que as rei-
vindicações operárias eram justas, mas que era necessário que
os trabalhadores tivessem a “maior calma e prudência máxi-
ma”, pois “a solução do grande problema está justamente no
acordo e na harmonia do capital e do trabalho”. Essa concili-
ação entre tais interesses industriais e operários seria possí-
vel porque “os capitalistas, os diretores de fábricas, os que se
acham à testa das empresas estão dispostos a atendê-los no
que for de justiça”. Dessa lógica decorria que o articulista
chamava os operários a ouvirem “a voz da sua consciência e a
palavra de seus fiéis amigos” e “voltassem todos à faina quo-
tidiana sem prejuízo das suas justas reclamações”.98
Já a Associação Comercial da Bahia, reuniu a sua diretoria
no dia 5 e entrou em sessão permanente até o dia 9 de junho,
intervalo em que, segundo os comerciantes, a greve geral adqui-
riu o caráter de “grande anarquia e subversão da ordem”. A par-
tir de então, essa entidade e o Centro Industrial do Algodão
passaram a discutir o problema com seus associados, com o go-
vernador e com a oposição ligada a Ruy Barbosa.99
No dia 6, a cidade continuou sem eletricidade, luz, te-
lefones, transportes e com a vida econômica e industrial to-
97 O Tempo, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1
98 Diário da Bahia, Salvador, 6 jun. 1919, p. 1
99 LIVRO de Atas da Associação Comercial da Bahia (1917-1921). 2ª Sessão
Ordinária e Continuada da Diretoria da ACB. Salvador: Associação Comer-
cial da Bahia, 5-9 jun. 1919. p. 164-166.
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talmente paralisada. Mas não parava por aí. Novas adesões
dos últimos setores ainda reticentes, passeatas, negociações,
reuniões operárias e discussões entre os trabalhadores, seus
patrões e o governo compuseram o quadro daquele dia. As-
sim, “apesar da manhã chuvosa, (...) desde cedo, numerosos
grupos grevistas percorriam as principais ruas da Cidade Bai-
xa e Alta, em constantes aclamações às classes trabalhado-
ras”. Na esteira dessa movimentação, os carregadores das
docas, os operários das alvarengas e os sapateiros das muitas
oficinas da cidade declararam-se em greve, “indo engrossar o
grupo dos reclamantes que permaneciam sempre em ordem”.
O Comércio, que havia cerrado suas portas alegando falta de
garantias, continuou fechado. Os próprios homens de sua
Guarda Noturna também ameaçaram abandonar os seus pos-
tos caso não fossem contemplados na reivindicação de dimi-
nuição da jornada de trabalho de 13 para 12 horas/dia, remu-
neradas à razão de 12$000. Os alfaiates, que no dia anterior
haviam fundado seu sindicato e aderido ao movimento, já
podiam se gabar, no dia 6, que tinham paralisado o trabalho
em 22 alfaiatarias e estariam reunidos em assembléia a partir
das 10 horas da manhã.100
Ainda pela manhã, “um numeroso grupo de operários
se dirigia às pensões da rua Chile e adjacências para intimar
os empregados a incorporarem-se ao movimento”. Lá che-
gando, Mário Leal, um professor da Faculdade de Medicina
que possuía consultório naquela localidade, teria “mostrado
com isenção de ânimo a improficuidade do movimento tal
qual se estava fazendo, sem diretriz prática”. Em sua opinião,
os operários deviam ceder às intenções dos patrões quanto à
100 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1; O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919,
p. 1. As alfaiatarias paralisadas eram: Ozéas, Silva, Lacerda, Mattos, Bazar 65,
Moreira, Villaça, Variedades, Araújo, Luso, Louvre, Madrid, Colonial,
Medeiros, Brasil, Tesoura, Baiana, Bloco, Abílio, Sampaio, Pedreira e Chile.
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formação de “comissões pouco numerosas” em substituição
ao Comitê Central de Greve, pois os mesmos tinham “boa
vontade de atender às justas pretensões operárias”. Disse ain-
da o “talentoso e digno professor”, claramente vinculado à
oposição ruísta, que “o operário não podia e não devia sepa-
rar-se dos patrões, porquanto tinham os seus interesses es-
treita e indissoluvelmente ligados” e que “da harmonia das
duas forças nasce o progresso, a força e a beleza das nações”.
Finalizava apelando para o “espírito ordeiro do povo baia-
no”, que não devia se deixar “arrastar pelas vozes caçadoras
da politicagem”, que queriam “dourar a popularidade do go-
verno entre as classes trabalhadoras”.101
Já os bancos estrangeiros, temendo maiores tumultos,
solicitaram garantias ao governo do estado para funcionar.
Até o Cônsul da Noruega resolveu pedir providências ao ge-
neral inspetor da região “para que o seu automóvel tivesse
livre trânsito pelas ruas da cidade, uma vez que necessitava
comparecer diariamente à sede do Consulado, que fica bas-
tante longe da sua residência”.102 O clima realmente parecia
tenso, pois houve boatos de que a Fábrica Cruz e Ruas, pro-
dutora de cigarros e artefatos de fumo, teria sido “dinamita-
da” pelos grevistas que, em seguida, “percorreram as ruas da
cidade em atitude ameaçadora”.103
Mas, junto com a euforia, vigorava uma “ansiedade
geral” em função da “anunciada conferência dos trabalhado-
res com as classes conservadoras”. De fato, por volta das 9
horas da manhã, os diretores da Associação Comercial fize-
ram uma primeira reunião “a fim de discutir a situação de
101 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.
102 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1; O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.103 A Ordem, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1. Esse é um fato duvidoso, pois nenhum
outro jornal da capital, fosse ele vinculado ao governo ou à oposição, confir-
mou tal informação.
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209
insegurança em que se encontra o comércio”. A sessão teria
sido “animadíssima”, com o seu presidente, Rodolpho
Martins, relatando o resultado do encontro que tivera com o
governador no momento anterior. Os comerciantes resolve-
ram, então, enviar um ofício a Antônio Moniz, invocando os
interesses “das figuras mais representativas do comércio e da
indústria”, ratificando o “pedido de providências (...) no sen-
tido de ser restaurada a ordem pública, aqui perturbada por
elementos exaltados”. Salientavam que a consecução de tal
objetivo só seria possível com “as medidas mais enérgicas e
decisivas, que suprimam esta situação de insegurança e insta-
bilidade”. Além disso, pediam o fim das ações feitas pelas
comissões de piquetes, posto que os operários de alguns es-
tabelecimentos estariam sendo “obrigados a co-participar da
greve, sem que de modo nenhum a desejassem”, mas eram
“instados por elementos estranhos, apoiados por autorida-
des policiais”. Finalmente, arrogando-se a falar em nome de
“toda a sociedade baiana”, os comerciantes e industriais exi-
giam, entre outros, a “liberdade de trabalho assegurada para
todos aqueles que desejem voltar aos seus serviços habitu-
ais”, a liberdade de locomoção “sem quaisquer constrangi-
mentos ou coações” e o restabelecimento de todos os meios
de transportes, luz, energia e telefone.104
Convidado ao Palácio da Aclamação, o presidente da
Associação Comercial ouviu do governador Antônio Moniz
que, ao contrário do que aquele comerciante havia dito, “na
Bahia o que se verifica é um movimento grevista, a exemplo
do que se tem observado em vários outros estados da Repú-
blica e no estrangeiro, não tendo havido ainda perturbação
da ordem”. Quanto aos “incidentes ocorridos”, dizia o gover-
nador, providências estavam sendo tomadas, “evitando o
104 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.
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210
emprego de meios violentos, que os fatos não justificam”.
Ainda assim, assegurava que “o governo se sentia habilitado
a garantir a ordem”. Finalmente, Antônio Moniz informava
que, antes de atender ao presidente da Associação Comerci-
al, já havia sido procurado por uma comissão de operários e
seu advogado, Agripino Nazareth, que lhe pediram para me-
diar as negociações com os patrões. O governador teria acha-
do a iniciativa bastante positiva e indagava se era do interes-
se dos comerciantes e industriais a promoção de uma reunião
com as partes interessadas.105
Poucas horas depois, os diretores da Associação Co-
mercial fizeram uma segunda reunião, na qual seu presidente
relatou, aos comerciantes e industriais presentes, a intenção
do governador de promover um encontro de negociação en-
tre os patrões e o Comitê Central de Greve. Na resposta que
enviaram a Antônio Moniz, diziam que os industriais esta-
vam dispostos a receber os operários de suas fábricas, “por
meio de pequenas delegações”, no Centro Industrial do Al-
godão, em hora a ser anunciada pela imprensa da manhã do
dia 7.106 Ao receber essa missiva, Antônio Moniz remeteu
outra a Rodolpho Martins, na qual dizia haver uma omissão
grave em sua carta, chamando a atenção que na mesma só
havia um convite aos operários das fábricas e que a solução
do problema com brevidade dependia de uma convocação de
todos os patrões e operários.107
Aproximadamente às 13 horas, a diretoria da Associa-
ção Comercial chegou ao Palácio da Aclamação, onde já se
encontrava Agripino Nazareth, “a fim de combinar, juntamente
com o Poder Executivo, as medidas mais práticas para soluci-
onar o caso”. Desse encontro saiu a deliberação de se fazer
105 O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.
106 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.107 O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.
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211
uma grande reunião para o dia seguinte, a qual compareceri-
am os membros do Comitê Central de Greve, Agripino
Nazareth, a diretoria da Associação Comercial, os industri-
ais, diretores de companhias e empresas, empreiteiros, repre-
sentantes de toda a imprensa, um representante do governo
e o chefe de polícia. Ao sair desse encontro, Agripino Nazareth
seguiu direto para o Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e
Demais Classes e, de uma das janelas daquela entidade, co-
municou aos operários os últimos encaminhamentos.108 O
governador continuou tratando da greve com Narciso da Boa
Morte, representante da Sociedade dos Maquinistas, e com
João Baptista do Espírito Santo, delegado da União dos Fo-
guistas. Depois esteve no Palácio da Aclamação a diretoria
do Centro Operário da Bahia, declarando ao governador “os
seus intuitos pacíficos e a sua ação de ordem no sentido de se
evitar que se ferissem os mais legítimos interesses da popula-
ção”.109
Já o Comitê Central de Greve, preocupado em impedir
acordos parciais, distribuiu um novo boletim, no qual afirma-
va que nenhum acordo seria assinado “antes de ser submeti-
do à aprovação geral dos grevistas” e que nenhuma solução
para a crise seria aceita caso implicasse na abdicação da jor-
nada de 8 horas, do aumento salarial (variável entre 30 e
50%), da isonomia entre homens e mulheres que exercessem
as mesmas funções, do direito de associação ou da garantia
contra as demissões motivadas por perseguição política em
função da greve.110
No sábado, dia 7 de junho, porém, acordos foram fei-
tos permitindo que padarias e açougues fossem reabertos e
108 Diário da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1.109 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 7 jun. 1919.
110 BOLETIM do Comitê Central de Greve (Fragmento). O Tempo, Salvador, 7
jun. 1919, p. 1.
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212
que os serviços telefônicos, de luz e bondes fossem restabe-
lecidos.111 A justificativa, naturalmente, passou pelo fato de
que tanto a Associação dos Estabelecimentos de Padaria quan-
to a Companhia Linha Circular já haviam cedido nas reivin-
dicações de seus trabalhadores, inclusive quanto ao aumento
salarial (20% no caso dos padeiros) e jornada de trabalho de
8 horas.112 Mas, independente de terem voltado ao trabalho
no dia 7, o dia anterior fora particularmente proveitoso, do
ponto de vista organizativo, para os empregados desta última
empresa. É que cerca de 50 trabalhadores, entre condutores,
motorneiros e fiscais das companhias de bondes e usinas de
geração e distribuição de energia elétrica, que até então se
encontravam desorganizados, tiveram a iniciativa de fundar o
sindicato de resistência de sua categoria, a Sociedade União
dos Empregados de Bondes, Luz e Força Elétrica.113
Apesar desses acordos parciais, na realidade, o dia 7 de
junho foi marcado pelas tentativas do grosso do empresariado
comercial e industrial de obstruir toda e qualquer possibili-
dade de acordo com seus operários, num movimento claro de
tentar vencê-los pela fome e para desestabilizar o governo de
Antônio Moniz e o PRD. Assim, logo nas primeiras horas da
manhã daquele sábado, sob o argumento de que “discursos
subversivos ainda hoje pronunciados em reuniões populares”
se relacionavam com a denúncia de que o comércio seria sa-
queado, a Associação Comercial da Bahia lançou-se numa
campanha marcada pelo envio de telegramas ao juiz federal
Paulo Martins Fontes, ao presidente da República Delfin
111 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 8 jun. 1919.
112 O Tempo, O Imparcial e Diário de Notícias, Salvador, 5 jun. 1919.113 O Tempo, Salvador, 6 jun. 1919; ESTATUTOS da Sociedade União dos
Empregados de Bondes, Luz e Força Elétrica. Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 1º fev. 1920. A primeira fonte indica a fundação dessa soci-
edade no dia 6, mas os estatutos foram registrados e publicados com a data de
11 de junho de 1919.
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Moreira, à Associação Comercial do Rio de Janeiro e ao Jor-
nal do Comércio, também da capital da República. À autori-
dade judiciária federal, os comerciantes e industriais se quei-
xavam que a cidade estava mergulhada numa “crise grevista”
que assumia, de momento a momento, “proporções assusta-
doras”, pois estavam sendo pronunciados “discursos incen-
diários de mandatários dos grevistas” aconselhando o “saque
ao comércio”. Ao presidente foi dito que há dias Salvador
estava sem “luz, pão, carne, serviço telefônico e tráfego de
qualquer espécie”, não se encontrando “um só policial ou
guarda civil” nas ruas, do que se aproveitava o “advogado
grevista” para aconselhar o saque e a desordem. Finalizava
pedindo a adoção de medidas que visassem garantir a integri-
dade de suas propriedades e a continuidade dos seus negócios,
discurso que foi reproduzido para a imprensa e para as de-
mais associações patronais. O próprio presidente do Superi-
or Tribunal do Estado telegrafou ao presidente da República
reforçando as acusações da Associação Comercial contra o
governador Antônio Moniz e o suposto acordo que este man-
tinha com os grevistas para liquidar o comércio e a indústria
da Bahia.114 Seja como for, os planos desestabilizadores do
governo Moniz não deram certo, pois o próprio presidente da
República disponibilizou as tropas federais para aquela auto-
ridade.115
Apesar das provocações, o governador chamou os dire-
tores da Associação Comercial ao Palácio da Aclamação com
o intuito de promover as novas negociações, reafirmando sua
disposição e capacidade para manter a ordem pública e a li-
114 RELATÓRIO da diretoria da Associação Comercial da Bahia, apresentado e
aprovado em Reunião da Assembléia Geral Ordinária de 23 de março de
1920 (Referente ao ano de 1919). Salvador: Oficinas da Livraria Duas Amé-
ricas, 1920. p. 91-109.
115 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 10 e 11 jun. 1919.
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214
berdade de trabalho. Informou, também, ao presidente da
república e o ministro do interior acerca dos acontecimentos
e negociações, negando a existência de perturbação da ordem
na Bahia. O chefe de polícia chegou a mandar montar guarda
nos bancos estrangeiros e no comércio, a fim de evitar even-
tuais problemas causados pela entrada na greve dos 30 mem-
bros da Guarda Noturna do Comércio. Em resposta, os em-
presários disseram que desejavam o restabelecimento da nor-
malidade o mais breve possível e que tanto comerciantes quan-
to industriais, inclusive os têxteis, estavam dispostos a aten-
der às reivindicações dos trabalhadores.116
Como forma de quebrar a resistência do patronato, em
sua grande maioria umbilicalmente ligado à oposição capita-
neada por Ruy Barbosa, Agripino Nazareth teve a idéia de
convidar Simões Filho, editor do jornal A Tarde e um dos
mais raivosos inimigos da situação seabrista, para, de modo
insuspeito, intermediar as negociações entre o patronato e o
operariado. Por esse meio, o líder socialista desejava demons-
trar também a independência da classe operária e de suas or-
ganizações sindicais frente ao governo de Antônio Moniz, o
senador J. J. Seabra e demais políticos do PRD. Apesar da
posição contrária de alguns operários, a proposta foi encami-
nhada e Simões Filho aceitou a incumbência 117
Assim, na manhã de domingo, 8 de junho, o referido
jornalista e uma comissão de operários foram até o Clube
Caixeiral, onde estavam reunidos vários comerciantes e in-
dustriais, e solicitou dos mesmos uma reunião entre patrões
e trabalhadores. Rodolpho Martins, o presidente da Associa-
ção Comercial, informou que já havia um encontro marcado
116 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 8 jun. 1919.
117 “O protesto do operariado. A Conferência do Dr. Agripino Nazareth no
Sindicato dos Pedreiros e Carpinteiros”. O Tempo, Salvador, 6, 8, 9, 10 e 11
dez. 1919.
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para o dia 9, quando os industriais estariam atendendo seus
operários das 10 da manhã até as 17 horas no Centro Industrial
do Algodão. Mas Simões Filho invocou a necessidade de ante-
cipar tal reunião para o mesmo dia, à tarde, o que foi aceito.
Assim, por volta das 15 horas, chegavam àquele local as dele-
gações operárias da Companhia Empório Industrial do Norte
e Companhia Fabril dos Fiais, das fábricas Conceição, Para-
guaçu, Leite & Alves, Martins Fernandes & Cia. e Camisaria
Caboclo, de ferroviários da Chemins de Fer e operários das
obras do porto, além do Comitê Central de Greve e de Agripino
Nazareth. A maior parte dos presentes era formada por mu-
lheres, que fizeram diversas queixas e reivindicações. Uma das
operárias chegou mesmo a denunciar que as condições de tra-
balho nas fábricas têxteis eram tão ruins que já havia perdido o
pai e duas tias em função de tuberculose adquirida na fábrica
de Luiz Tarquínio. As negociações prosseguiram até as 19 ho-
ras, quando foram suspensas sem que nada ficasse acertado.
Uma nova rodada de negociações foi, então, marcada para o
dia seguinte, na vã expectativa de marginalizar e isolar Agripino
Nazareth e o Comitê Central de Greve.118
Contudo, na segunda-feira, dia 9 de junho, os empre-
sários, principalmente os industriais têxteis, cederam às rei-
vindicações operárias. Naquela data, por volta do meio-dia,
o Centro Industrial do Algodão divulgou um boletim em nome
de suas associadas (Companhia Progresso Industrial da Bahia,
Companhia Empório Industrial do Norte, Companhia União
Fabril da Bahia, Companhia Fabril dos Fiais, Companhia
Valença Industrial e Fábrica Beira-Mar) no qual concordava
em acatar as seguintes reivindicações: 1) jornada de trabalho
de 8 horas; 2) isonomia salarial entre homens e mulheres que
exercessem as mesmas funções; 3) manutenção dos mesmos
118 Diário da Bahia, Salvador, 11 jun. 1919, p. 1; O Tempo, Salvador, 9 jun. 1919,
p. 1.
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valores das diárias dos jornaleiros a despeito da diminuição
da jornada; 4) aumento de 20% sobre as empreitadas; 5) es-
tabilidade no emprego para os operários que tomaram parte
no movimento (considerados pelas companhias e pela asso-
ciação patronal como não-grevistas); 6) reversão de todas as
multas para as caixas de beneficência das fábricas e compa-
nhias; 7) liberdade de organização para patrões e operários
“dentro da legislação vigente”. Com o objetivo de desqualifi-
car o papel cumprido pela liderança socialista, os industriais
diziam em seu documento que os pleitos dos operários já ti-
nham sido “objeto de estudo atento e dedicado” por parte
dos seus patrões muito antes do movimento. Finalizavam di-
zendo que os outros pontos de “recíproco interesse” ficariam
adiados até a promulgação da Lei Federal do Trabalho, su-
postamente “aguardada na vigente legislatura”.119
O mesmo começou a ocorrer em outros ramos. O Sindica-
to dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes também conse-
guiu arrancar as reivindicações de aumento salarial e jornada de
8 horas para os operários da construção civil que trabalhavam
nas obras do Estado, tendo cumprido um papel de vanguarda
dirigente da greve geral até o fim.120 A Sociedade União dos
Marmoristas, que havia aderido naquele mesmo momento, tam-
bém conseguiu alcançar suas pretensões e assinou um acordo
pelo qual seus associados ganharam aumentos variáveis entre
20 e 30%.121 Agripino Nazareth e o Comitê Central de Greve
intermediaram, também, as negociações entre os proprietários
de 17 oficinas de calçados e seus operários sapateiros, do que
resultou um acordo no qual estes últimos conseguiram a jornada
de 8 horas e aumentos nos valores das empreitadas e diárias. As
119 BOLETIM do Centro Industrial do Algodão. Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 10 jun. 1919 e O Tempo, Salvador, 10 jun. 1919, p. 1.
120 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 10 jun. 1919.
121 Germinal, Salvador, ano I, n. 3, 1 maio 1920, p. 11.
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217
obras de primeira seriam remuneradas à razão de 10$000 para os
homens e 9$000 para as mulheres. As demais obras de emprei-
tada e as diárias seriam pagas com aumentos de 20% para am-
bos os sexos. Além disso, os operários sapateiros teriam seu
direito de organização respeitado e nenhum grevista seria demi-
tido.122 Agripino Nazareth chegou a dizer aos operários que
“os patrões, na sua maioria, procrastinavam a solução da gre-
ve, fugindo a encontros previamente combinados, fiando que
as torturas da fome vos arrastassem à volta ao trabalho, sem
nenhuma vantagem obtida e com a humilhação da derrota”.
Segundo esse líder socialista, os proprietários de sapatarias
foram exceções a essa “regra vergonhosa”, posto que “breves
entendimentos resolviam o conflito de interesses, sem
irritações nem atitudes hostis de parte a parte”.123
Considerando os acordos já feitos e os últimos enten-
dimentos que se realizavam, o governo emitiu uma nota ofi-
cial na qual dizia que o movimento caminhava para o fim e
que todas as providências estavam sendo tomadas para que a
cidade voltasse ao normal no dia seguinte. Chamava a aten-
ção que o tráfego das linhas de bondes e a geração e distri-
buição de eletricidade e iluminação só não haviam sido resta-
belecidos em função de dificuldades para acionar as usinas.
Já a Associação Comercial, de posse dessas declarações, afir-
mou que no dia 10 de junho o comércio e as fábricas seriam
reabertos, o que de fato aconteceu.124
Na zona portuária, os operários das Docas Wilson & Sons
aderiram ao movimento desde o início e foram atendidos em
122 Diário de Notícias, Salvador, 12 jun. 1919.
123 “O protesto do operariado. A Conferência do Dr. Agripino Nazareth no
Sindicato dos Pedreiros e Carpinteiros”. O Tempo, Salvador, 6, 8, 9, 10 e 11
dez. 1919.
124 O Imparcial, Salvador, 11 jun. 1919; O Tempo, Salvador, 9 jun. 1919, p. 1;
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 11 jun. 1919.
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suas reivindicações já no dia 4 de junho, permanecendo na gre-
ve até aquele momento em sinal de solidariedade.125 As infor-
mações acerca da adesão das outras categorias portuárias ao
movimento não são muito precisas. Tudo indica que os
alvarengueiros,126 carregadores das docas e estivadores entra-
ram em greve no sábado, dia 7 de junho. Também não conhe-
cemos as reivindicações específicas de todas as categorias por-
tuárias envolvidas, mas sabemos que os alvarengueiros esta-
vam exigindo a jornada de 8 horas e diárias de 8$000 no turno
do dia e jornada de 6 horas e diárias de 12$000 no noturno.
Entretanto, a importância das atividades econômicas desen-
volvidas pelos operários do porto para a estrutura produtiva
do estado merece um destaque especial. Suas reivindicações
não se diferiam substancialmente das de outros estratos e fra-
ções de classe do operariado. O que realmente chama a aten-
ção é a relativa rapidez e facilidade com que são atendidas as
referidas reivindicações, o que está em contradição com a pos-
tura geral do empresariado da época, que se mostrou bastante
recalcitrante em relação aos pleitos do operariado. Já no dia 11,
o superintendente das Docas de Salvador e o diretor da Com-
panhia de Transportes Marítimos procuraram o governador e
convenceram-no a instar o deputado federal Lauro Villas-Boas
a buscar uma solução para a crise junto aos sindicatos operári-
os do porto. No dia 12 de junho, esses trabalhadores fecharam
o acordo com uma vitória parcial de aumento salarial.127
Como já deve ter ficado claro, o porto de Salvador era
essencial para o conjunto da economia baiana em função do
125 O Tempo, Salvador, 5 jun. 1919, p. 1.
126 O termo designava tanto o dono como o tripulante da alvarenga, espécie de
embarcação utilizada para carga e descarga de navios. No presente caso,
contudo, trata-se da segunda opção, ou seja, diz respeito aos trabalhadores
responsáveis pela carga e descarga das mercadorias que aportavam e/ou eram
despachadas a partir do Porto de Salvador.127 Diário de Notícias, Salvador, 11 jun. 1919, p. 1; Diário da Bahia, Salvador, 12 e
13 jun. 1919, p. 1
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papel que cumpria nos negócios de exportação e importação.
Sua paralisação implicava sempre em perdas econômicas para
os empresários e de receita para o Estado. Durante a greve geral
de 1919, esse era exatamente um dos problemas que preocupa-
vam as classes dominantes locais, pois o Porto de Salvador era a
única forma de escoar a produção agrícola e de matérias-primas
do estado para os clientes estrangeiros e receber destes os ma-
nufaturados aqui inexistentes. As fontes consultadas noticiaram
grandes prejuízos no período da greve. A embarcação Ipanema,
por exemplo, procedente do sul do país, não conseguiu descar-
regar as 450 toneladas de alimentos que se destinavam ao co-
mércio varejista, sendo obrigada a enviar a referida carga a Per-
nambuco, o mesmo ocorrendo com as 350 toneladas do Itatinga
e as 250 do Itaituba. As embarcações Chicago Brilge, com
3.139 toneladas de máquinas para usinas, estradas de ferro,
etc., procedente de Nova Iorque, e Itiabo, com suas 450 to-
neladas, vindo da Inglaterra, também foram impedidas de
descarregar suas mercadorias e carregar com os gêneros da
Bahia. As exportações de 359 toneladas de borracha, fumo e
cacau, encomendados pela França, também não ocorreram.128
Os trabalhadores da Imprensa Oficial da Bahia, que já
desfrutavam do regime de trabalho de 8 horas diárias desde
1915,129 tiveram seus salários aumentados a partir do dia 17 de
junho de 1919.130 Entre os gráficos da grande imprensa diária
também houve movimentação para a obtenção de aumentos
salariais e, apesar de não terem entrado em greve, um Comi-
tê Gráfico de Resistência foi formado, encaminhando suas
reivindicações às redações dos jornais.131 Porém, a maior con-
128 Diário da Bahia, Salvador, 12 e 13 jun. 1919 e O Tempo, Salvador, 6 jun. 1919.129 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 4 jun. 1919.
130 Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 18 jun. 1919.
131 O Tempo, Salvador, 7 jun. 1919, p. 1. O Comitê Gráfico de Resistência era
formado pelos seguintes trabalhadores: Theodomiro Baptista, Caetano de
Carvalho, Paulino Freitas, Edgard Guedes e Ludgero Ribeiro.
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quista dos artistas gráficos parece ter sido no campo organi-
zativo. De 1870 até aquele momento, eles haviam se agrega-
do apenas em bases mutualistas na Associação Tipográfica
Baiana.132 Em 8 de junho de 1919, entretanto, esse setor ope-
rário organizou-se em torno de um sindicato de resistência,
fundando a União Gráfica Baiana, que levou uma vida har-
moniosa com sua antecessora, inclusive partilhando com ela
a mesma sede social.133
O final da greve geral assinalou uma mudança radical
na avaliação que a imprensa vinculada a Ruy Barbosa fazia
do movimento. Até então, aqueles setores não se diferencia-
vam muito dos jornais ligados ao governo. A greve era trata-
da por ambos como um movimento justo, legítimo e pacífico,
merecedor de apoio de ambas as facções oligárquicas. Porém,
não existiam inocentes ou bem-intencionados no jogo políti-
co das oligarquias baianas e os dois grupos almejavam atirar
a classe operária contra seu opositor, do mesmo modo que a
classe operária tirava proveito da cisão entre eles. A maior
parte dos sindicatos, porém, principalmente os ligados a
Agripino Nazareth, manteve uma posição de relativa neutra-
lidade, ao passo que outros ratificaram sua posição de apoio
explícito ao PRD, caso dos portuários. Fracassadas as tentati-
vas de usar a classe operária contra Antônio Moniz e os políti-
cos do PRD, a imprensa ruísta passou a atacar violentamente o
movimento operário, taxando a greve geral de anarquista, sub-
versiva, perturbadora da ordem pública e subvencionada pelo
“maximalismo oficial” do governador. De potencial aliada, a
132 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Salvador: Imprensa Oficial
do Estado da Bahia, p. 397, 2 jul. 1923. Edição Especial do Centenário.Ver
também os relatórios da Associação Tipográfica Baiana dos anos 1904 a
1938.
133 ESTATUTOS da União Gráfica Baiana. Diário Oficial do Estado da Bahia,
Salvador, 21 fev. 1920.
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classe operária passou a ser tratada como massa de manobra
a serviço das ardilosas maquinações tramadas pela situação
contra a oposição.134
De fato, no dia 15 de junho, como coroamento da vitó-
ria, Agripino Nazareth e o Comitê Central de Greve promo-
veram um ato público em homenagem e reconhecimento à
suposta postura positiva assumida pelo governador em face
do movimento operário. Concentrados na Praça 15 de No-
vembro, os operários e suas lideranças saíram em passeata às
18 horas, seguindo o tradicional percurso pelo Centro de Sal-
vador. Acompanhados por diversas bandas de música,
rumaram em direção ao Palácio da Aclamação, onde encon-
traram o governador em uma das janelas a ouvir Agripino
Nazareth pronunciar “vibrante alocução” agradecendo a An-
tônio Moniz os “serviços que foram prestados à causa operá-
ria”. O governador reconheceu a distinção e disse que “no
posto que lhe fora confiado pelo povo baiano, a sua preocu-
pação maior era a consciência do cumprimento do dever, em-
penho pela grandeza e felicidade da Bahia”.135
134 Ver principalmente as edições do Diário da Bahia, Salvador, 11 jun. 1919, p. 1
(“O Soviete dos Monizes”) e Diário de Notícias, Salvador, 10 jun. 1919, p. 1
(“Greve, não: anarquia!”).
135 Jornal de Notícias, Salvador, 17 jun. 1919, p. 3.
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Depois do
vendaval de junho
Caricatura da opressão e da exploração dos capitalistas sobre os operários.
Fonte: A VOZ DO TRABALHADOR, Salvador, ano 1, n. 24, 19 mar. 1921, p. 1.
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A greve geral da classe operária de Salvador chegou ao final
vitoriosa para a maioria dos que cruzaram os braços e foram
às ruas lutar por salários mais dignos e melhores condições
de vida e de trabalho. Os operários metalúrgicos, das fábricas
de cigarros, das manufaturas e oficinas de roupas e das ferro-
vias desapareceram dos jornais. Podem ter sido derrotados,
mas também podem ter obtido acordos parciais favoráveis.
Os trabalhadores da construção civil, das companhias de bon-
des, luz e força, os têxteis, sapateiros, marmoristas, padeiros,
carregadores, estivadores e marítimos conseguiram, no en-
tanto, arrancar dos seus patrões acordos que atendiam às suas
principais reivindicações.
A crise do liberalismo e a questão social
O próprio governo, pressionado pela crescente politização do
movimento operário e tentando estreitar suas relações com
alguns de seus setores, lançou mão de um esboço de legisla-
ção social a partir de 1919. No mês de maio havia sido apro-
vado na Assembléia Legislativa da Bahia o projeto apresen-
tado, quase simultaneamente, pelo senador João Martins da
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Silva e pelo deputado Cosme de Farias, fixando em 8 horas o
dia de trabalho para todos os estabelecimentos industriais e
oficinas pertencentes ao Estado ou por ele subvencionados.
No dia 10 de junho, em meio às negociações do final da greve
geral, o governador Antônio Moniz sancionou o projeto, trans-
formando-o na Lei 7.309.1 A promulgação de tal lei repre-
sentou uma mudança de comportamento do Estado e de suas
autoridades frente à chamada questão social. O velho libera-
lismo de corte mais estreito, que a tudo e a todos homoge-
neizava e que dava tratamento igual para os que eram estru-
turalmente desiguais – o capital e o trabalho –, começou a
sofrer contestações. Percebeu-se que o tão propalado equilí-
brio natural entre os que produziam a riqueza e aqueles que
dela se apropriavam não tinha base na realidade e que era
necessária a intervenção de um terceiro sujeito – o Estado –
para mediar os diferentes interesses que, de outra forma, ter-
minariam em conflito social aberto. O novo padrão de com-
portamento do Estado em relação à classe operária foi verifi-
cado em menor ou maior grau no plano nacional.
O próprio Tratado de Versalhes, assinado em 1919, re-
comendou a instituição da jornada de trabalho de 8 horas, o
descanso semanal, a proibição do trabalho de menores de 14
anos, a proibição do trabalho noturno de mulheres, o auxílio
à gestante, a isonomia de salários para trabalhos iguais, o
pagamento de pensões a velhos e inválidos, a proteção con-
tra doenças e acidentes de trabalho, a afirmação do sindica-
lismo, a organização do ensino profissional e a luta contra o
desemprego. Até mesmo uma conferência foi convocada para
ser realizada em Washington em outubro daquele ano visan-
do instalar a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
1 APEB, Seção Legislativa, livros 59, 116, 908, 1102 e 1200; O Tempo, Salva-
dor, 8 maio 1919; 5, 6 e 18 jun. 1919; Diário Oficial do Estado da Bahia,
Salvador, 18 jun. 1919.
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Apesar de tudo, o patronato industrial ainda resistia de modo
radical à idéia de reconhecimento dos sindicatos como legíti-
mos representantes da classe operária, alegando que tal pos-
tura resultaria na quebra da liberdade de trabalho e na contí-
nua e indevida ingerência das organizações da classe operária
no interior das fábricas, desorganizando a produção e dimi-
nuindo o ritmo de trabalho e a autoridade patronal.2
O ano de 1919 ainda trazia características da Constitui-
ção de 1891, tais como a idéia de liberdade de trabalho, mas
as lutas operárias do período anterior haviam mostrado a fa-
lência do velho liberalismo. O Estado começou a intervir no
mercado de trabalho de maneira nunca vista antes. Já em 15
de fevereiro de 1919 foi promulgada a Lei nº 3.724, amparan-
do os operários vitimados em acidente de trabalho. Em 24 de
fevereiro de 1923 são instituídas, por meio da Lei nº 4.682
(Lei Elói Chaves), as Caixas de Aposentadoria e Pensões
(CAP’s) dos ferroviários. Naquele mesmo ano, em 30 de abril,
foi aprovada a Lei nº 16.027, que criou o Conselho Nacional
do Trabalho. Em 1925, foi instituída a Lei de Férias e no ano
seguinte foi criado o Código de Menores. Em 1927, criou-se
o seguro contra doença.3
A reação patronal
Mas, como sempre, estas vitórias não foram o final da histó-
ria. Seguindo um padrão da época, alguns patrões tentaram
2 LEME, Marisa Saenz. A ideologia dos industriais brasileiros, 1919-1945.
Petrópolis: Vozes, 1978. p. 98-107.
3 VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo e sindicato no Brasil. 4. ed. rev. Belo
Horizonte: Editora da UFMG, 1999. p. 92-94; GOMES, Angela Maria de
Castro. Burguesia e trabalho: política e legislação social no Brasil, 1917-1937.
Rio de Janeiro: Campus, 1979. p. 157-195 e Cidadania e direitos do trabalho.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
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fazer a roda da história girar no sentido contrário e cassar as
conquistas concedidas no calor da luta de junho. A Compa-
nhia Linha Circular, por exemplo, começou a demitir gradati-
vamente os motorneiros e condutores que haviam tomado
parte no movimento. As demissões eram em número tão avul-
tado que, em julho, já estavam faltando trabalhadores para
mover os bondes e os poucos veículos que circulavam chega-
vam aos terminais com muito atraso. Disso decorria que nos
horários de pico a superlotação se tornava insuportável. No
dia 4 de julho, após uma longa espera sob forte chuva, cerca
de 150 pessoas tiveram que dividir um único bonde na Baixa
dos Sapateiros. O aperto e o desconforto foram tão grandes
que o condutor ficou impossibilitado de fazer a cobrança das
passagens. A multidão, então, “numa atitude justíssima de
revolta”, levantou-se num ato de protesto e quebrou todas as
lâmpadas e vidros e rasgou todas as cortinas do veículo.4 Mas
as represálias da Companhia Linha Circular contra seus ope-
rários não paravam por aí. O acordo de junho estabelecia que
os trabalhadores teriam uma jornada de 8 horas e o que exce-
desse a isso seria remunerado à parte. Porém, em julho os
operários da Usina da Preguiça estavam tendo uma jornada
regular que se iniciava às 7 da manhã e terminava às 17 horas,
ou seja, 10 horas diárias, “sem direito a reclamações, sob pena
de rezarem em outra freguesia”.5
Nem mesmo os operários do Estado escaparam às per-
seguições do pós-greve. No Gasômetro da Linha Municipal,
localizado na Calçada do Bonfim, houve alterações de horários
e condições de trabalho, sendo cortados os passes de bondes
para os maquinistas e operadores daquele estabelecimento e
para os do Largo de Roma. Além disso, ao contrário do que a
empresa dizia, os operários denunciavam que os salários es-
4 O Tempo, Salvador, 5 jul. 1919, p. 2.5 O Tempo, Salvador, 15 jul. 1919, p. 2.
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tavam com duas semanas de atraso.6 Em represália a tais ati-
tudes, dez trabalhadores que haviam reclamado o pagamento
dos salários atrasados foram demitidos. Indignados, seus co-
legas do Gasômetro se declararam em greve na manhã do dia
30 de julho, ocasionando a paralisação também dos bondes.
Imediatamente, 45 praças de infantaria e cavalaria para lá se
dirigiram e dispersaram os operários que estavam reunidos
na porta da usina. Depois de muitos apelos, o delegado Lustosa
de Aragão permitiu que eles se reunissem no outro lado da
rua. Enquanto isso, negociações eram feitas no Palácio da
Aclamação, onde o advogado Pedro Gordilho teria consegui-
do convencer o governador a rever tais demissões. Resolvido
o impasse, por volta das 14 horas, o tráfego de bondes já
estava restabelecido.7
Na Companhia de Navegação Baiana, a situação tam-
bém não era das melhores e já no dia 14 de julho, data da
Queda da Bastilha, uma greve foi feita pelos marítimos recla-
mando do governo o pagamento de salários atrasados.8 A
situação era tão grave que os trabalhadores ainda estavam
em greve no final de julho, reclamando salários com atrasos
que variavam de três semanas a três meses. Os fornecedores
de lenha também não recebiam seus pagamentos e não era
raro que vapores daquela companhia ficassem à deriva ou ti-
vessem que aportar em cidades próximas para que seus ope-
rários e marinheiros fossem cortar lenha para abastecer as
caldeiras. Diante desse quadro, o delegado da Associação dos
Marinheiros e Remadores informou à imprensa que nem pen-
sava em cobrar os aumentos salariais conseguidos com a gre-
ve geral enquanto seus filiados não recebessem os proventos
6 A Tarde, Salvador, 17 jul. 1919, p. 1.7 O Imparcial, Salvador, 31 jul. 1919, p. 3; Diário da Bahia, Salvador, 31 jul.
1919, p. 1-2.
8 Diário da Bahia, Salvador, 13 jul. 1919, p. 1.
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retidos.9 Os problemas de atrasos de salários na Companhia
de Navegação Baiana ainda perdurariam por algum tempo e
nova greve foi feita em agosto tendo esse elemento como
motivador.10 Ainda em julho, comissões foram formadas, tam-
bém, com o objetivo de interceder junto aos diretores das
obras do porto e da Chemins de Fer para exigir a readmissão
de operários dispensados em função da greve geral.11
A expansão do movimento para o Recôncavo
Entretanto, a conjuntura e a greve geral de 1919 haviam de-
sencadeado forças incontroláveis e muito do que foi conquis-
tado não desapareceria totalmente, apesar do caráter profun-
damente reacionário das elites políticas e econômicas da Bahia.
O que se veria daquele momento em diante seria uma irresis-
tível ascensão do movimento operário até princípio de 1921.
Como passaremos agora a relatar, um dos principais desdo-
bramentos da greve foi a imediata expansão dos protestos
para as cidades do Recôncavo Baiano, onde os operários tam-
bém passaram a lutar por salários mais altos e menor jornada
de trabalho.
Em Nazaré, por exemplo, paralisaram o trabalho apro-
ximadamente 300 trabalhadores de todas as frações do pro-
letariado local. Os cerca de cem carregadores, que atuavam
no cais do porto pediram remuneração de 80 réis por cada
volume carregado ou descarregado dos armazéns e barcos.
As casas Tavares e César Orrico se dispuseram a acatar a nova
tabela proposta, mas outras, como Scaldaferri, Emygdio, Tude
e Raphael Schwab, só se dispunham a pagar 20 réis a mais
9 Diário da Bahia, Salvador, 26 jul. 1919, p. 1.10 A Hora, Salvador, 20 ago. 1919, p. 1-2.
11 O Tempo, Salvador, 17 jul. 1919.
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sobre o que os operários recebiam. O acordo final, mediado
pelo intendente Eurico Matta, um político tradicional ligado
à oligarquia seabrista, estabeleceu que o transporte do barco
para o carro ou do carro para o armazém seria remunerado à
razão de 40 réis por volume, enquanto do barco para o arma-
zém e vice-versa ou para outro ponto do cais seria pago a 60
réis por volume. Os marítimos conseguiram um acordo com
os proprietários de barcos que previa o pagamento de
324$000 aos marinheiros e 424$000 aos mestres, por via-
gem. Os ferroviários da Estrada de Ferro de Nazaré firmaram
seu acordo com a conquista da jornada de 8 horas e 20% de
aumento sobre os salários. Os escolhedores e as destaladeiras
de fumo aceitaram uma jornada de 9 horas e aumento de
20%. As catadeiras de café, que recebiam 800 réis para cada
75 quilos do grão, passaram a receber 20% a mais sobre esse
valor. Os alfaiates fizeram uma rápida paralisação, conseguin-
do, também, um aumento de 20% sobre os salários.12
No dia 16 de junho de 1919, cerca de 2 mil operários das
fábricas de fumo das cidades de São Félix e Muritiba, especi-
almente os das firmas Costa Ferreira & Penna e Dannemann
& Cia., entraram em greve reivindicando aumento salarial de
20%, jornada de 8 horas, direito de livre organização sindical
e indenização por acidentes de trabalho. À frente desse pro-
letariado fundamentalmente feminino estavam o advogado
Luiz Soares e a União Operária de São Félix. Na manhã do
dia seguinte, a multidão operária se dirigiu à vizinha cidade
de Cachoeira com o intento de buscar novas adesões. Entre-
tanto, encontrou pela frente a repressão. Com o auxílio de 8
praças da força pública, 15 funcionários públicos e 4 guardas-
fiscais, o deputado Ubaldino de Assis interceptou os mani-
festantes, lançando mão de agressões dirigidas principalmen-
12 O Conservador, Nazaré-Ba, 15 jun. 1919, p. 1-2.
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te contra Luiz Soares, com quem aquele político da oligar-
quia local possuía uma antiga contenda. A Associação Co-
mercial da Bahia, atendendo ao pedido dos proprietários de
fábricas, solicitou ao secretário de Polícia e Segurança Públi-
ca que enviasse tropas para reprimir o movimento, mas não
parece ter sido atendida. Sem apoio das autoridades estadu-
ais, os patrões tiveram que ceder às reivindicações dos operá-
rios, que saíram em passeata comemorativa pelas ruas de São
Félix no dia 18, ao mesmo tempo em que arrastavam para o
movimento seus colegas trabalhadores de Cachoeira.13
O patronato do setor fumageiro não assistiu ao processo
de organização de seus operários sem reagir e, já em agosto de
1920, mostrava que também estava organizado, com um certo
Centro Industrial do Fumo, aglutinador das fábricas de São
Félix, Cachoeira, Maragogipe, Muritiba e Nagé, enviando re-
presentação à Câmara dos Deputados da Bahia contrária aos
dispositivos orçamentários que previam aumento de carga tri-
butária sobre aquele ramo de produção no ano de 1921.14
Politização e crescimento da organização sindical
Após a greve geral de junho de 1919, o movimento operário
baiano e suas organizações sofreram um intenso processo de
politização, inclusive com preocupações francamente
internacionalistas. No dia 14 de julho de 1920, data comemo-
rativa da Tomada da Bastilha, a Federação dos Trabalhadores
Baianos enviou um telegrama ao presidente da República,
expressando-se em nome dos 16 sindicatos e dos mais de 25
mil filiados, no qual reivindicava o reconhecimento da Repú-
13 A Tarde, Salvador, 18 e 19 jun. 1919; O Democrata, Salvador, 21 jun. 1919;
Diário de Notícias, Salvador, 25 jun. 1919; Diário da Bahia, Salvador, 5 jul. 1919.
14 Diário de Notícias, Salvador, 12 ago. 1920, p. 1.
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blica Russa dos Sovietes.15 A maior politização do movimen-
to operário pode ser percebida até nas questões raciais. Em
agosto de 1919, por exemplo, o Sindicato dos Produtores de
Marcenaria promoveu, na Praça 15 de Novembro, um “comí-
cio de protesto contra as chacinas de homens de cor ultima-
mente perpetradas em Chicago”. Foram convocadas “todas
as laboriosas classes, repelindo, assim, incorporadas unâni-
mes, numa vibrante demonstração, todos os preconceitos
inconfessáveis de raça, ainda existente na América do Nor-
te”.16 A manifestação constitui-se numa forte evidência do
quanto a liderança socialista baiana estava informada acerca
das questões internacionais daquele ano, posto que o fim da
Primeira Guerra Mundial havia sido marcado por um intenso
movimento migratório nos EUA, com as populações negras
saindo do campo para cidades como Pittsburgh, Cleveland e
Chicago em busca de emprego e melhores condições de vida,
mas efetivamente tendo que enfrentar as ações criminosas da
Ku Klux Klan.17 Paradoxalmente, a manifestação demonstra-
va, também, uma aparente ignorância das lideranças socialis-
tas em relação aos preconceitos raciais (e sociais) existentes
em seu próprio país, de modo geral, e na Bahia em particular.18
15 A Tarde, Salvador, 16 jul. 1920, p. 2.
16 Jornal de Notícias, Salvador, 17 ago. 1919, p. 2.
17 FRANKLIN, John Hope. Raça e História. Ensaios selecionados (1938 - 1988).
Tradução de Mauro Gama. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 178.
18 Em 15 de novembro de 1918, o governador Antonio Ferrão Moniz de Aragão
promoveu uma recepção no Palácio da Aclamação com o intuito de comemo-
rar o aniversário da Proclamação da República no Brasil e a vitória dos aliados
na Primeira Guerra Mundial. Além de grande número de correligionários polí-
ticos e integrantes da elite local, fizeram-se presentes os representantes sindicais
da União dos Estivadores, da União dos Carregadores, da União dos Conferen-
tes e da União dos Foguistas, os únicos homens de cor na celebração. Tal fato
serviu para explicitar os preconceitos raciais e de classe da sociedade baiana,
com o jornalista Simões Filho, editor do jornal A Tarde, chamando-os de
“latagões pretos e façanhudos” e “profissionais da faca e da garrucha” a serviço
do governo. Mais tarde, ao analisar os tumultos ocorridos num comício feito
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No dia 12 de maio de 1920, na mesma Praça 15 de No-
vembro, outro comício operário foi feito, sendo proferidos duros
discursos contra o clero católico. O padre João de Barros, pre-
sente ao conclave, tentou contestar um dos líderes que esta-
vam discursando. Porém, a multidão operária o repeliu e ten-
tou mesmo atacá-lo fisicamente, o que só não aconteceu gra-
ças à intervenção de um auxiliar da 2ª delegacia e um tenente.19
Um segundo desdobramento da greve diz respeito à for-
mação de sindicatos operários de resistência no âmbito de
frações de classe até então sem direção própria e à consolida-
ção das organizações surgidas ao longo daquele ano. São do
momento imediatamente posterior à greve, por exemplo, dois
sindicatos do setor de transportes, a União dos Condutores
de Veículos e Classes Anexas da Bahia, de 23 de junho de
1919,20 e a Sociedade União dos Condutores de Carroças e
Classes Anexas, de 23 de julho de 1919,21 além do Sindicato
dos Marceneiros, de 8 de julho de 1919,22 e da Associação das
Costureiras, de dezembro de 1919.23 Os empregados de ba-
res, restaurantes, hotéis etc., tradicionalmente desorganiza-
dos em Salvador, fundaram a Sociedade Centro e União Cu-
linária, em 29 de janeiro de 1920.24 Na noite do dia 16 de
pela oposição no dia 25 de março de 1919, o Diário da Bahia, também da
oposição, atribuiu o fato à ação dos mesmos sindicatos, aos quais chamava de
“guarda negra do situacionismo”. Ver: O Tempo, Salvador, 21 nov. 1918, p. 1
e 4; O Tempo, Salvador, 27 mar. 1919, p. 1.
19 Diário de Notícias, Salvador, 14 maio 1920, p. 1.
20 ESTATUTOS da União dos Condutores de Veículos e Classes Anexas da
Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28 maio 1920.
21 ESTATUTOS da União dos Condutores de Carroças e Classes Anexas. Diá-
rio Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 25 e 27 set. 1920.22 Diário da Bahia, Salvador, 8 jul. 1919, p. 2; Jornal de Notícias, Salvador, 8
jul. 1919, p. 3; O Imparcial, Salvador, 8 jul. 1919, p. 2
23 O Tempo, Salvador, 13 dez. 1919, p. 2.24 ESTATUTOS da Sociedade Centro e União Culinária. Diário Oficial do
Estado da Bahia, Salvador, 21 jan. 1921.
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julho de 1920, uma certa Sociedade União dos Polidores de
Calçados foi fundada na sede da Sociedade União dos Ope-
rários de Padaria.25 Nas cidades do Recôncavo fumageiro,
houve também a penetração das novas idéias e práticas di-
fundidas principalmente pelo Sindicato dos Pedreiros, Car-
pinteiros e Demais Classes. Na vila de Muritiba, por exem-
plo, foi fundado, em 1º de agosto de 1919, o Comitê de Defe-
sa Operária,26 criado no fluxo do movimento de junho e
aglutinando centenas de operários, principalmente das fábri-
cas de charutos daquela região. Não tardou até que os pa-
trões impusessem àquela organização operária sua primeira
prova de fogo, espionando, multando, suspendendo e despe-
dindo seus dirigentes. Ao mesmo tempo, os mestres daque-
las fábricas articularam a fundação de uma sociedade benefi-
cente, com apoio e financiamento patronal, a ela querendo
“atrair todos os operários, acenando-lhes com purgantes,
clisteres, vomitórios para quando estiverem doentes, prome-
tendo-lhes um confortável caixão mortuário ao soar para os
incautos que se deixarem imbuir, o dia da viagem suprema”.27
Como os operários não abandonaram o Comitê de Defesa
Operária, os industriais, principalmente os das fábricas
Stender, Dannemann e Costa & Penna, deram “carta branca
aos mestres e contramestres, (...) sujeitos de péssimos costu-
mes” que “requintam as injustiças e os vexames infringidos
desde muito aos que sob sua direção trabalham”, privando-
lhes de água potável e assediando as operárias que, como
vimos, eram majoritárias nessas indústrias.28 Mas a pressão
dos industriais do Recôncavo parece não ter sido suficiente e,
em princípios de abril de 1920, os socialistas já informavam a
25 A Tarde, Salvador, 16 jul. 1920, p. 2.
26 O Tempo, Salvador, 16 ago. 1919; A Ordem, Salvador, 20 ago. 1919, p. 1.27 Germinal, Salvador, ano I, n. 2, 3 abr. 1920, p. 8.
28 Germinal, Salvador, ano I, n. 3, 1 maio 1920, p. 9.
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existência também da Sociedade de Resistência Protetora dos
Operários de São Félix e Cachoeira.29 Uma certa União dos
Pedreiros Nazarenos, sucursal do Sindicato dos Pedreiros,
Carpinteiros e Demais Classes, foi fundada na cidade de
Nazaré, no final de agosto de 1919.30 Até mesmo na Ilha de
Maré, um Sindicato de Ofícios Vários foi fundado, em agos-
to de 1920, sob a influência direta de Agripino Nazareth.31
As novas greves de 1919 e 1920
Porém, mais relevante foi a fundação da Sociedade União
Geral dos Tecelões da Bahia, de 21 de agosto de 1919.32 Du-
rante todo o ano, esse sindicato operário teve de enfrentar os
poderosos capitães da indústria têxtil e sua associação, o
Centro Industrial do Algodão, fundado em período anterior,
em 21 de agosto de 1916.33 O auge dessa luta ocorreu em
29 Germinal, Salvador, ano I, nº 2, 3 abr. 1920, p. 6.30 O Conservador, Nazaré-BA, 31 ago. 1919, p. 1 e 5 maio 1920, p. 2.
31 PROJETO de Estatutos do Sindicato de Ofícios Vários de Maré. Diário
Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 4 jan. 1921.32 ESTATUTOS da Sociedade União Geral dos Tecelões da Bahia. Diário Ofi-
cial do Estado da Bahia, Salvador, 11 set. 1920.
33 Livro de Atas e Estatutos do Centro Industrial do Algodão. APEB, Seção de
Arquivos Privados. É interessante notar que o Centro Industrial do Algodão
não nasceu como uma associação patronal exclusiva dos capitães da indústria
têxtil. Inicialmente, ele foi criado visando conciliar os interesses destes com
os da lavoura do algodão. Daí a relação direta entre uns e outros em relação
ao fomento e ao auxílio à lavoura do algodão, ao mesmo tempo em que
representava os interesses das fábricas de fiação e tecelagem, consumidoras
diretas daquela matéria-prima. Em certa medida, a mistura de interesses agrá-
rios e industriais era o resultado não apenas da coincidência pontual de obje-
tivos dos dois setores, mas também fruto de uma certa fraqueza da própria
indústria têxtil baiana, que não conseguia aglutinar forças suficientes para
barganhar em torno dos seus interesses de maneira separada, não obstante
fosse o mais importante ramo industrial do estado.
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setembro, quando os operários das fábricas de fiação e tece-
lagem paralisaram novamente o trabalho, reivindicando o
cumprimento de cláusulas do acordo que estavam sendo des-
respeitadas pelos patrões, em especial os pontos relativos à
jornada de trabalho e ao reconhecimento do sindicato como
único interlocutor nos conflitos e nas negociações entre ope-
rários e patrões, ou seja, a greve também tinha como objetivo
a construção e afirmação de um sujeito coletivo dotado de
solidariedade de classe.34
O elemento que desencadeou o processo de luta foi a
demissão do operário Daniel José do Nascimento, contrames-
tre da Companhia Empório Industrial do Norte. A explosão
do conflito ocorreu quando este se ausentou da área de pro-
dução para ir ao banheiro e demorou-se. Chamado à atenção
por um fiscal, retrucou suas críticas, sendo, por isso, conside-
rado infrator da disciplina da fábrica. A pena aplicada foi uma
multa, contra a qual o operário outra vez emitiu opinião con-
trária, tentando reverter a situação junto aos diretores. Por
ter mostrado sua insatisfação, Daniel foi demitido e comuni-
cou o fato aos seus colegas. De imediato, os operários se de-
clararam solidários com a sua causa e, no dia 4 de setembro,
a greve começou por aquela fábrica e logo se expandiu para
as demais, quase se transformando num novo movimento
generalizado, que só teve fim por volta do dia 25. Não anali-
saremos essa greve aqui, pois a mesma é merecedora de um
estudo à parte. Porém, cabe ressaltar que os fatos relatados
constituem apenas o elemento revelador de processos muito
34 O fenômeno das greves de reconhecimento foi observado tanto entre os sindi-
calistas revolucionários franceses e seus aliados na Itália e Espanha quanto
entre algumas categorias operárias norte-americanas no período pós Primeira
Guerra Mundial. A esse respeito, ver: PIZZORNO, Alessandro. Los sindica-
tos y la acción política. Cuadernos de Pasado e Presente, (Economía e política
en la acción sindical), Buenos Aires, n. 44, p. 75-106, 1973.
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mais profundos. Na raiz da greve estava a luta da Sociedade
União Geral dos Tecelões da Bahia contra os mecanismos
utilizados pelos industriais em geral, e pelos têxteis em parti-
cular, para fazer retroceder as conquistas da greve geral de
junho. Os expedientes eram, concretamente, o prolongamen-
to da jornada de trabalho para além das 8 horas e a cobrança
generalizada e abusiva de multas. Por meio deles, os industri-
ais tencionavam recuperar as taxas de lucros vigentes antes
daquele movimento. Contra eles o sindicato operário teve
que lutar para assegurar as melhorias das condições de traba-
lho e de vida dos seus associados a partir de junho.35
Ainda em setembro de 1919, uma greve de marítimos
foi deflagrada, encontrando, porém, alguma resistência por
parte dos trabalhadores de pequenas embarcações da cidade
de Nazaré em aderir ao movimento. O jornal A Tarde, de
Simões Filho, político ligado à oposição liderada por Ruy
Barbosa, chegou a dizer que aqueles trabalhadores estavam
sendo coagidos a não trabalhar e até ameaçados de morte,
caso furassem a greve, supostamente feita com o apoio do
governo.36 O delegado da sucursal da Associação dos Mari-
nheiros e Remadores, Manoel Dantas, porém, divulgou uma
nota por meio do jornal seabrista O Tempo chamando a acu-
sação de “infamante e mentirosa” e declarando que o sindi-
cato marítimo “não tem ligações político-partidárias”. Con-
cluía dizendo que só desejava que os marítimos de Nazaré se
conservassem firmes, sem assinar nenhum acordo em separa-
do, até que todas as reivindicações do sindicato fossem aten-
didas.37 O fato é que, em fins de setembro, a Associação
Comercial da Bahia ainda se dirigia ao chefe de polícia, Álva-
35 Ver os jornais A Tarde, O Tempo, Diário da Bahia, Diário de Notícias e Jornal de
Notícias, Salvador, 4 a 30 set. 1919.
36 A Tarde, Salvador, 24 set. 1919, p. 1.
37 O Tempo, Salvador, 26 set. 1919, p. 3.
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239
ro Cova, reclamando providência contra a continuidade do
que qualificou de atentados contra a “liberdade de trabalho”
dos marítimos de Nazaré, impedidos de sair do porto de Sal-
vador pela Associação dos Marinheiros e Remadores.38
No dia 17 de novembro de 1919, chegou a vez dos carre-
gadores de trapiches fazerem a sua greve. O movimento co-
meçou no Trapiche Barnabé, de propriedade de Francisco
Ventura, num momento em que se realizava o transporte do
cacau, mas logo tomou corpo e se espalhou por todos os de-
mais trapiches em função da resistência daquele trapicheiro.
Por iniciativa da Sociedade União dos Carregadores, os ope-
rários resolveram paralisar o trabalho e reivindicar um au-
mento salarial. Na pauta, os trabalhadores exigiam que cada
um dos sacos de 60 quilos, fosse de fumo, cacau ou cereais,
passasse a ser pago à razão de 220 réis, ao invés da remune-
ração dada pela tabela antiga, que era de 100 réis. A parede
operária, contudo, durou pouco, e às 13 horas daquele dia um
acordo de conteúdo desconhecido já havia sido assinado, su-
postamente “sem prejuízo de ambos os lados”. No dia 19,
por volta das 17 horas, após ingerências do sindicato, o traba-
lho fora normalizado.39
Mas os carregadores de trapiches não parecem ter saí-
do satisfeitos do movimento de fins de 1919 e, na segunda-
feira, 19 de janeiro de 1920, outra greve foi deflagrada por
esses trabalhadores. Desta vez, porém, os operários passa-
ram por cima da própria Sociedade União dos Carregadores e
exigiram um aumento de 300% em seus salários.40 Os pa-
trões, por sua vez, reclamavam que alguns carregadores, su-
postamente, recebiam de 80 a 100 mil réis por semana, e que
38 Diário de Notícias, Salvador, 27 set. 1919, p. 7.39 O Imparcial, Salvador, 19 nov. 1919, p. 2.
40 A Tarde, Salvador, 19 e 20 jan. 1920; Diário da Bahia, Salvador, 20 jan. 1920;
Diário de Notícias, Salvador, 20 jan. 1920.
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as novas vantagens reivindicadas “estabelecem uma quase so-
ciedade com os seus patrões”. Além disso, os trapicheiros
esbravejavam contra os enormes prejuízos comerciais que es-
tavam tendo por não embarcarem o cacau, o fumo, o café, etc.
e reclamavam ainda que por trás do movimento dos operários
estava a mão do advogado e deputado seabrista Lauro Villas-
Boas.41 Na quarta-feira, 21 de janeiro, o movimento foi sus-
penso provisoriamente e os operários voltaram ao trabalho,
sendo dado um prazo até sábado, 24 de janeiro, para que os
patrões atendessem à reivindicação de aumento salarial, sob
pena de a greve ser outra vez decretada pelo sindicato. Além
disso, Lauro Villas-Boas continuou apoiando o movimento, que
recebeu também a solidariedade dos estivadores.42 Como os
trapicheiros não atenderam aos reclamos dos operários, estes
paralisaram o trabalho outra vez, havendo indícios de que os
estivadores também tivessem aderido ao movimento nessa nova
fase.43 A quebra-de-braços entre operários e patrões entrou
pelo mês de fevereiro sem que qualquer solução fosse dada ao
problema. A imprensa ligada aos industriais e ao grande co-
mércio de importação e exportação dizia que a cidade estava
entregue à anarquia e que os operários aspiravam a serem iguais
a seus patrões! A Sociedade União dos Carregadores entrou
em conflito aberto com um certo alemão chamado Dewald,
proprietário de trapiche que insistia na substituição de um de
seus operários, a que o sindicato negava-se radicalmente, pos-
sivelmente por se tratar de um fiscal da entidade.44 De todo
modo, o movimento dos carregadores de trapiche se misturou
ao dos trabalhadores de padaria e condutores de carroça.45 Em
41 Diário de Notícias, Salvador, 20 jan. 1920, p. 1.
42 ___. ___, 21 jan. 1920, p. 1.
43 ___. ___, 29 jan. 1920, p. 2.44 ___. ___, 9 fev. 1920, p. 1.
45 ___. ___, 3 fev. 1920, p. 2.
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meio ao conflito, uma certa Sociedade Protetora dos Proprie-
tários de Carroças foi fundada, em 5 de fevereiro de 1920,
com o objetivo explícito de se opor à Sociedade dos Condu-
tores de Carroças,46 e, em meados de fevereiro de 1920, insti-
tuiu-se a Associação dos Trapicheiros da Bahia, sociedade
patronal claramente criada para enfrentar a ofensiva dos ope-
rários carregadores.47
Ainda mais radicalizada foi a greve desfechada pelo Sin-
dicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes nos pri-
meiros dias de fevereiro e que se estendeu até a segunda
metade de março de 1920. O potencial de mobilização de seus
filiados e a capacidade de resistir por longo período parecem
ter aumentado em função da experiência de 1919, pois o mo-
vimento desta vez durou 58 dias, uma quebra-de-braços com
os patrões da qual os operários da construção civil saíram
vitoriosos. Em 19 de março daquele ano, após quase dois
meses de paralisação parcial do ramo, as centenas de operári-
os envolvidos no movimento voltaram ao trabalho, com a
assinatura de um acordo que estabelecia: 1) imposto de 2%
sobre os contratos dos empreiteiros, que a partir daquele
momento seriam avaliados e registrados no sindicato; 2) sa-
lário (diário) mínimo para os oficiais pedreiros e carpintei-
ros, que antes ganhavam entre 4$000 e 5$500 e passariam a
receber 7$000, e para os serventes e ajudantes, que antes
recebiam 2$500 e passariam a ganhar 4$000.48
Ainda no mês de março de 1920, os carroceiros do ser-
viço de coleta de lixo da cidade entraram em greve reclaman-
46 Diário de Notícias, Salvador, 6 fev. 1920, p. 1.47 ESTATUTOS da Associação dos Trapicheiros da Bahia. Diário Oficial do
Estado da Bahia, Salvador, 19 mar. 1920.
48 Germinal, Salvador, ano I, n. 1, 19 mar. 1920, p. 8; Diário de Notícias, Salva-
dor, 28 fev. 1920, p. 3; O Tempo, Salvador, 19 mar. 1920, p. 2. A Tarde,
Salvador, e Diário da Bahia, Salvador, jan. a mar. 1920.
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do o pagamento de três meses de salários atrasados.49 Entre
idas e vindas do movimento, a oposição denunciou outra vez
o envolvimento político das forças seabristas com a classe
operária. A imprensa ruísta chegou a dizer que o governador
Antonio Moniz era sócio de Germano de Assis na Empresa
Asseio da Cidade e que Martinho Porto, presidente da Soci-
edade dos Carroceiros, era secreta da polícia de Moniz e
Seabra. O delegado da sucursal da União dos Operários Esti-
vadores teria feito o pagamento dos carroceiros sob a super-
visão direta do deputado Lauro Villas-Boas, mas deixado de
fora os outros funcionários (fiscais, jardineiros, conservado-
res e o pessoal de escritório), fazendo com que esse setor da
empresa de limpeza pública entrasse em greve outra vez. O
próprio dinheiro para pagar os carroceiros, cinco contos de
réis, teria sido emprestado pela União dos Estivadores, sob a
garantia do coronel Frederico Costa, e o delegado desse sin-
dicato assumiu, também, a função de fiscal do serviço de lim-
peza.50
Entre meados de maio e início de junho de 1920, os
operários das oficinas da Companhia de Navegação Baiana,
em Itapagipe, fizeram outra greve reivindicando o pagamen-
to de sete quinzenas de salários atrasados e protestando con-
tra o excesso de trabalho, a prepotência dos chefes e a aplica-
ção generalizada e abusiva de multas.51
49 Diário de Notícias, Salvador, 13 mar. 1920, p. 6; 15 mar. 1920, p. 1; 16 mar.
1920, p. 5.50 Diário de Notícias, Salvador, 18 mar. 1920, p. 1; 20 mar. 1920, p. 1; 22 mar.
1920, p. 2; 23 mar. 1920, p. 2.
51 Diário de Notícias, Salvador, 18 e 19 maio 1920, p. 1; A Tarde, Salvador, maio
a jun. 1920.
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243
Capa do primeiro número de Germinal, periódico socialista editado
pelo advogado Agripino Nazareth em 1920. Na foto, de pé: Guilherme
Francisco Nery, Abílio José dos Santos; sentados: Durval dos Santos
Cárceres, José Domiense da Silva e Ezequiel Antonio Pompeu, todos
operários e membros da diretoria do Sindicato dos Pedreiros,
Carpinteiros e Demais Classes.
Fonte: Germinal, Salvador, ano 1, n. 1, 19 mar. 1920, p. 1.
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244
O primeiro congresso dos trabalhadores baianos
O ano de 1919 assistiu, também, a um processo de crescimen-
to dos laços de solidariedade de classe e a uma maior delimi-
tação política e ideológica entre os operários e seus sindica-
tos na Bahia. A politização ocorrida durante a greve geral foi
grande e assumiu novos contornos durante o Primeiro Con-
gresso dos Trabalhadores Baianos, realizado entre os dias 14
e 20 de julho de 1919. Convocado e fortemente influenciado
pelo Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes
e seu advogado Agripino Nazareth, o evento foi dominado
pelas correntes sindicais reformistas, que se proclamavam
socialistas coletivistas e defendiam o internacionalismo pro-
letário, a substituição das sociedades mutualistas por socie-
dades de resistência, sem a presença de mestres e contrames-
tres, a abolição do trabalho de menores de 14 anos, a regula-
mentação do trabalho de mulheres e a instituição do salário
mínimo. Contando com a liderança dos pedreiros e carpintei-
ros, o evento reuniu, desde a sua sessão de abertura, no Tea-
tro São João, 10 sindicatos e 26 delegados entre ferroviários,
sapateiros, pedreiros e carpinteiros, marmoristas, marcenei-
ros, padeiros, gráficos, operários das linhas de bonde e usi-
nas de energia e carroceiros. Logo na primeira sessão, Agripino
Nazareth fez uso da palavra “convidando os operários a co-
memorar com o mais intenso júbilo o dia 14 de Julho, que foi
o primeiro a assinalar a vitória do socialismo”. Este é um fato
importante, pois indica como, mesmo decorridos dois anos
da Revolução Russa de 1917, a Revolução Francesa ainda era
um paradigma para boa parte do movimento operário e socia-
lista brasileiro.52 Um boletim distribuído no dia 2 de julho
52 Sobre o assunto, ver: BATALHA, Claudio H. M. “Nós, Filhos da Revolução
Francesa”: a imagem da revolução no movimento operário brasileiro no início
do século XX. Revista Brasileira de História, ANPUH, São Paulo, v. 10, n. 20,
p. 233-249, mar.-ago. 1991.
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245
pelo Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes
dizia que cada sindicato ou categoria deveria ser representa-
do por três delegados e só na absoluta falta de possibilidades
de arcar com as despesas com tal representação deveria envi-
ar um único representante. O mesmo documento deixava cla-
ro que não reconheceria delegados que não fossem operári-
os, um veto explícito aos mestres e patrões.53 Porém, essa
medida não livraria a classe operária de influências políticas
ou mesmo ideológicas externas. Já no primeiro dia do encon-
tro, a própria imprensa seabrista esclarecia que “além da grande
massa operária que se achava presente”, lá se encontravam
também os representantes “de todas as classes da sociedade,
inclusive das autoridades civis, militares e do Estado”.54 Fato
53 É interessante observar que a convocação do Sindicato dos Pedreiros, Car-
pinteiros e Demais Classes fora feita na data em que se comemora a expulsão
definitiva dos portugueses da Bahia em 1823, por ocasião das últimas lutas de
Independência do Brasil.54 O Tempo, Salvador, 15, 16, 17 e 19 jul. 1919; Jornal de Notícias, Salvador, 28
jun. 1919, 15, 16, 18 e 23 jul. 1919; O Democrata, Salvador, 16 e 22 jul.
1919; O Imparcial, Salvador, 15, 16, 17, 19, 20 e 27 jul. 1919; Diário da
Bahia, Salvador, 16 jul. 1919; Diário de Notícias, Salvador, 2 jul. 1919. Os
delegados presentes no Primeiro Congresso dos Trabalhadores Baianosforam os seguintes: Nathalio de Jesus, Antonio da Silva e Luís José Soares
(Sociedade União Defensora dos Empregados de Ferrovia); Antonio Portugal
de Azevedo, Manuel Maria dos Santos e João Paulo Baptista (Sociedade
União Defensora dos Sapateiros); Oscar Francisco Lopes, Constancio P.
Victorio e Honorato Gomes Filho (União dos Operários de Padaria); Edgard
José Britto, Maximiano José da Silva e José Alves do Nascimento (Sociedade
União e Progresso dos Operários da Bahia); João Lessa (União Gráfica Baia-
na); Alfredo Campos de Oliveira, Aurelio Pereira da Silva e Oscar Correia
(Sociedade União dos Empregados de Bondes, Luz e Força Elétrica do Estado
da Bahia); José dos Santos Gomes (Sindicato dos Pedreiros e Carpinteiros);
Marciano Pacífico da Paixão e Estephanio do Nascimento (Sociedade União
dos Marmoristas); Asterio Luiz dos Prazeres, Manoel P. de Oliveira e Petronillo
Dantas (Sindicato dos Marceneiros); Martinho Pontes, Antonio Henrique
Pimentel, Antonio F. da Silva e Maximiano José da Silva (Sociedade União
dos Condutores de Carroças e Classes Anexas).
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246
importante, também, de se observar é que, além das socieda-
des operárias mutualistas, estiveram ausentes do conclave
todas as organizações sindicais portuárias e marítimas da
Bahia, a exemplo da União dos Estivadores, da União dos
Carregadores, da União dos Foguistas, da Associação dos
Marinheiros e Remadores e do Clube Defensor e Beneficen-
te dos Maquinistas, demarcando uma clivagem que reproduz
uma separação existente no movimento sindical carioca, con-
forme já se observou em outro momento deste livro.
A Federação dos Trabalhadores Baianos
e a cisão de 1920
As clivagens do sindicalismo operário baiano ganharam no-
vos contornos depois que, seguindo deliberação do Primeiro
Congresso dos Trabalhadores Baianos, foi fundada a Federa-
ção dos Trabalhadores Baianos (FTB), em 13 de fevereiro de
1920. Após seis meses de criada, em julho de 1920, aquela
entidade já aglutinava 16 sindicatos e um total de mais de 25
mil trabalhadores. A partir de 24 de setembro, porém, o Sin-
dicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes rompeu
com a FTB, arrastando atrás de si outras entidades e muitos
operários. Tratava-se de uma cisão intimamente relacionada
com a participação daquele sindicato no Terceiro Congresso
Operário Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro entre os dias
25 e 30 de abril de 1920, quando aderiu às teses libertárias
contrárias à participação da classe operária na política insti-
tucional e partidária.55 Os operários Gaudêncio José dos Santos
55 A VOZ DO TRABALHADOR, Salvador, ano I, n. 2, 9 out. 1920, p. 4; A
Voz do Trabalhador, Salvador, ano I, n. 24, 19 mar. 1921, p. 1; A Tarde,
Salvador, 16 jul. 1920, p. 2. DULLES, John W. F. Anarquistas e comunistas no
Brasil, 1900-1935. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977. p. 113, 114 e 128.
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247
Capa do periódico libertário A Voz do Trabalhador ameaça com uma
invasão da Bahia pela Rússia dos Sovietes.
Fonte: A VOZ DO TRABALHADOR, Salvador, ano 1, n. 2, 9 out. 1920, p. 1
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248
e Annibal Lopes Pinho foram os delegados eleitos e enviados
pela Federação dos Trabalhadores Baianos para representar
os seus 14 sindicatos filiados naquela ocasião.56
O Partido Socialista Baiano (1920)
Essa nova orientação ideológica estava em contradição com a
influência cada vez maior dos socialistas sobre a FTB. De fato,
em agosto de 1920, um mês antes da cisão libertária, essa
influência reformista se traduziu na fundação do Partido So-
cialista Baiano. Possuindo significativo vínculo com a classe
operária, sua Comissão Operária Organizadora era composta
por 4 marceneiros, 1 metalúrgico, 1 pedreiro, 2 estucadores, 1
eletricista, 1 sapateiro e 1 entalhador. Entre os seus membros
estava o português Annibal Lopes Pinho, o mesmo que havia
sido eleito para representar, juntamente com Gaudêncio José
dos Santos, a Federação dos Trabalhadores Baianos e seus 14
sindicatos filiados no Terceiro Congresso Operário Brasilei-
ro, no Rio de Janeiro, em abril de 1920. A sede do Partido
Socialista Baiano foi instalada no Sindicato dos Marceneiros
e em seu programa político, relativamente avançado para a
56 Germinal, Salvador, ano I, n. 3, 1º maio 1920, p. 4. Eram os seguintes os
sindicatos representados pelos dois delegados da Federação dos TrabalhadoresBaianos no Terceiro Congresso Operário Brasileiro: Sociedade União dos
Metalúrgicos da Bahia; Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes;
Sociedade União Defensora dos Sapateiros; Sindicato dos Produtores de Mar-
cenaria; Sociedade União dos Operários de Padaria; Liga Operária dos Alfaiates
da Bahia; Sociedade União dos Marmoristas; União Gráfica Baiana; Sociedade
União dos Foguistas Terrestres da Bahia; Sociedade Defensora dos Eletricistas;
Sociedade União Defensora dos Operários de Ferrovia; União dos Empregados
de Bonde, Força e Luz da Bahia; Sociedade Resistência Protetora dos Operários
de São Félix e Cachoeira; União Defesa Operária de Muritiba, além do periódi-
co socialista Germinal, editado por Agripino Nazareth.
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época, constava: socialização do comércio, das grandes in-
dústrias e de todos os meios de transporte; fixação do salário
mínimo; equiparação dos operários municipais, estaduais e
federais aos funcionários públicos;57 abolição de todos os
impostos indiretos e transformação dos diretos num imposto
progressivo sobre qualquer renda superior a seis contos de
réis anuais; voto da mulher e do soldado; reforma das leis de
inquilinato e despejo. Além disso, moções de simpatia pelos
trabalhadores de todos os países e de protesto contra o go-
verno da França e sua postura hostil em relação à Rússia re-
volucionária foram aprovadas. Naquela primeira sessão foi
deliberado, também, o lançamento das candidaturas de Mau-
rício de Lacerda e Agripino Nazareth, que concorreram, res-
pectivamente, ao Senado e à Câmara Federal pela Bahia. Na
segunda sessão, feita no dia seguinte, Agripino Nazareth pro-
feriu uma palestra sobre a questão social e os partidos socia-
listas. Após a conferência, a Sociedade União dos Carrega-
dores das Docas hipotecou seu apoio e solidariedade ao PSB
e a seus candidatos. Finalizando a reunião, foi eleita a Co-
missão Administrativa Provisória do partido, que ficou cons-
tituída por 1 marceneiro, 1 gráfico, 1 metalúrgico, 1 alfaiate, 1
sapateiro, 1 pedreiro e 1 tecelão.58 A inserção do Partido So-
57 Regra geral, os operários diaristas e jornaleiros do Estado (fossem municipais,
estaduais ou federais) reivindicavam, sob a influência dos grupos e partidos
socialistas, a sua incorporação ou equiparação aos quadros estáveis do funci-
onalismo público visando obter as vantagens relacionadas ao montepio, forma
genérica como eram chamadas as caixas de pensões e aposentadorias, precur-
soras do sistema de previdência social pública.
58 A Tarde, Salvador, 24 e 27 ago. 1920, p. 3. A Comissão Operária Organiza-dora do PSB foi formada por Adriano Marques (metalúrgico), Guilherme
Nery (pedreiro), Angelo Barbosa (estucador), José Camerino dos Santos (mar-
ceneiro), Domingos Ferreira (eletricista), Estevam Nery (marceneiro), Firmo
de Novaes (estucador), Ildefonso Soares (sapateiro), Cassiano José de Araújo
(entalhador), José de Almeida (marceneiro) e Annibal Lopes Pinho (marcenei-
ro). Já a Comissão Administrativa Provisória do PSB foi assim constituída:
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cialista Baiano nos meios operários pode ser percebida tam-
bém pela penetração e o prestígio que seus membros desfru-
tavam nos sindicatos mais combativos da época, a exemplo
de José dos Santos Gomes, Guilherme Francisco Nery e José
Domiense da Silva, fundadores e militantes ativos do Sindi-
cato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes desde 1919.
Por outro lado, as clivagens entre os sindicatos socialistas vin-
culados a Agripino Nazareth e as organizações operárias do
porto se aprofundavam. Outrossim, as reivindicações do Par-
tido Socialista Baiano eram muito semelhantes às de outras
organizações congêneres criadas no decorrer de toda a Pri-
meira República, a exemplo dos partidos operários e socialis-
tas do Rio de Janeiro (1890, 1893, 1895 e 1909), São Paulo
(1890, 1896 e 1902), Rio Grande do Sul (1890, 1893 e 1897) e
da própria Bahia (1890), o que põe em evidência que, apesar
da dispersão orgânica, tais grupos socialistas mantinham con-
tatos e articulações entre si, trocando correspondências e ma-
terial de propaganda, a exemplo de jornais, revistas, estatu-
tos, históricos de associações e opúsculos, fossem estes de
autoria local ou traduções de socialistas e anarquistas estran-
geiros.59
Secretário-geral - José Domiense da Silva (marceneiro), 1º Secretário – Oscar
Mattos (gráfico), 2º Secretário – Adriano Ribeiro de Moura (metalúrgico), 3º
Secretário – Salustiano dos Santos (alfaiate), 4º Secretário – João Pedreira
dos Santos (sapateiro), 1º Tesoureiro – José dos Santos Gomes (pedreiro), 2º
Tesoureiro – Eleutério Bispo Ferreira de Souza (tecelão).
59 Os programas e manifestos dos referidos partidos operários e socialistas po-
dem ser consultados nas coletâneas de fontes de CARONE, Edgard. Movi-
mento operário no Brasil (1877-1944). São Paulo/Rio de Janeiro: Difel, 1979.
p. 296-333 e PETERSEN, Silvia Regina Ferraz; LUCAS, Maria Elizabeth.
Antologia do movimento operário gaúcho (1870-1937). Porto Alegre: Editora
da UFRGS/Tchê!, 1992. p. 81-95.
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A nova imprensa operária (1920 - 1922)
A delimitação político-ideológica posterior à greve geral tam-
bém fica clara pela análise da imprensa operária surgida em
1920. O Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Clas-
ses se destacou por ter publicado dois jornais nesse período.
Ambas as publicações refletiram as posições políticas e ideoló-
gicas daquela organização em dois momentos muito próximos.
A primeira foi Germinal, editada pelo advogado socialista
Agripino Nazareth, com existência efêmera e tiragem de ape-
nas três números, em 19 de março, 3 de abril e 1º de maio de
1920, período em que seu editor trabalhava como advogado do
sindicato. As colunas desse jornal estão cheias de alusões às
vitórias que a classe operária conseguiu após a fundação do
Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes e à greve
geral, que teve naquela entidade sua vanguarda. O proletaria-
do baiano aparecia imbuído de uma nova mentalidade e cons-
ciência, disposto a lutar pela fundação de novos sindicatos e
contra os patrões. Além disso, o jornal recebia colaborações de
militantes de outros estados, a exemplo de Adolpho Porto e
Astrojildo Pereira, que davam informações sobre a situação do
movimento operário em outras regiões do país. Por fim,
Germinal procurava dar conta de analisar as lutas da classe
operária baiana naquele momento. Ainda no ano de 1920,
Agripino Nazareth teria colaborado também com o jornal Voz
do Povo, editado pela Federação dos Trabalhadores do Rio de
Janeiro, juntamente com Maurício de Lacerda, José Oiticica,
Fábio Luz, Astrojildo Pereira, Domingos Ribeiro Filho, o escri-
tor Lima Barreto, Teodoro Magalhães e outros. O jornal era
anunciado em Germinal e vendido nas sedes do Sindicato dos
Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, da União Geral dos
Tecelões da Bahia e do Sindicato dos Produtores de Marcena-
ria, entidades ligadas aos socialistas baianos à época.60
60 Germinal, Salvador, ano I, n. 3, 1 maio 1920, p. 3.
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O segundo periódico baiano dessa conjuntura, publica-
do pelo Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Clas-
ses, foi A Voz do Trabalhador, não por um acaso homônimo
ao da Confederação Operária Brasileira, correspondendo à
mudança da coloração político-ideológica da principal orga-
nização sindical baiana.61 De maior longevidade, seu primei-
ro número saiu em 22 de outubro de 1920 e o último de que
temos conhecimento, em 14 de outubro de 1922. De fato, a
substituição de um jornal pelo outro não foi apenas no nome
e no tempo, tampouco se deveu aos tradicionais problemas
financeiros que inviabilizaram tantos outros órgãos operários
da época. O que estava por trás da questão era a cisão políti-
co-ideológica libertária. Esse fato se refletia diretamente no
caráter de suas matérias, que, além de trazerem notícias acerca
do movimento real da classe operária – suas greves, vitórias,
derrotas, fracassos, movimento associativo –, eram profun-
damente doutrinárias, de combate ao alcoolismo, ao carna-
val, ao futebol, à religião, à tática eleitoral e parlamentar, ao
Estado e suas autoridades e ao militarismo. Em contraparti-
da, afirmava-se o internacionalismo operário como valor su-
premo e a estratégia da greve geral insurrecional como meio
de a classe operária realizar a revolução social pondo fim à
exploração capitalista, a defesa do ofício e o fortalecimento
dos laços de identidade de classe, colocados em oposição aos
interesses dos mestres e dos contramestres. Ao mesmo tem-
po, havia a afirmação do “casamento comunista”, baseado
nos “ditames do coração e do amor livre”, e reivindicava-se a
existência de uma tradição de luta da população negra baiana
que deveria ser herdada pela classe operária local. O grupo se
julgava mesmo imbuído de uma missão civilizadora e peda-
gógica, que tinha por finalidade construir um homem novo,
61 Todos os números de Germinal e A Voz do Trabalhador encontram-se no
Arquivo Edgard Leuenroth, na Universidade Estadual de Campinas.
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inclusive por meio da escola (Grupo Escolar Carlos Dias)
mantida pelo jornal e o sindicato, onde, naturalmente, ensi-
navam-se não apenas as primeiras letras, mas também a uto-
pia do novo mundo. A profusão de influências e referências
distintas e, muitas vezes, opostas entre si ia desde pensado-
res do mundo antigo clássico, a exemplo de Platão, Sócrates
e Aristóteles, passava pelos socialistas utópicos e anarquis-
tas, como Sant Simon, Babeuf, Owen, Fourier, Bakunin,
Proudhon e Kropotkin, passeava nos filósofos e economistas
iluministas e liberais, como J. J. Rousseau, Mirabeau, Turgot,
Necker, até chegar nas teorias cientificistas que se debruça-
vam sobre o estudo da natureza (Darwin), da sociedade
(positivismo de Comte e o darwinismo social de Spencer) e
do direito (antropologia criminal de Lombroso). Longe de
corresponderem a um “exotismo brasileiro”, um conjunto de
“idéias fora do lugar” ou um “porre ideológico”, a literatura
sobre o assunto tem demonstrado que tais misturas e cruza-
mentos já estavam presentes não apenas no ideário dos mili-
tantes de outras cidades e estados do Brasil, como nas pró-
prias matrizes européias do anarquismo e/ou do socialismo
da II Internacional. Daí não faltarem citações nem mesmo de
Marx no jornal dos partidários da ação direta na Bahia.62
62 Sobre a difusão das idéias cientificistas nos meios operários brasileiros, ver:
BATALHA, Claudio H. M. A difusão do marxismo e os socialistas brasileiros
na virada do século XIX. In: MORAES, João Quartim (Org). História do
marxismo no Brasil Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1995. (v. II - Os Influ-
xos Teóricos). p. 11-44; PANSARDI, Marcos Vinícius. O socialismo dos mo-
dernos e o socialismo dos antigos. A incorporação do vocabulário ideológico da
II Internacional pelo movimento socialista. História Social, Campinas, SP, n. 1,
p. 65-94, 1994; e SCHMIDT, Benito Bisso. O deus do progresso: a difusão do
cientificismo no movimento operário gaúcho da I República. Revista Brasileira
de História, ANPUH, São Paulo, v. 21, n. 41, p. 113-126, 2001 e SCHMIDT,
Benito Bisso. Ser socialista em Rio Grande na virada do século XIX: ciência/
religião e reforma/revolução no pensamento de Antônio Guedes Coutinho.
Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 22, n. 2, p. 53-70, dez.
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Dessa forma, fica difícil classificar de modo muito rígi-
do a corrente à qual o grupo baiano do jornal A Voz do Tra-
balhador se vinculava. Entretanto, é possível identificar a in-
fluência mais marcante a partir do artifício da comparação do
grupo soteropolitano com os de outras cidades e estados.
Nesse sentido, são bastante ilustrativos os estudos que reve-
lam a existência de dois grupos libertários distintos em São
Paulo, nas duas primeiras décadas do século XX. O primeiro
é o dos anarco-comunistas, influenciados pelas idéias de
Kropotkin, Réclus, Jean Grave e Malatesta e agrupados inici-
almente em torno do jornal Il Risveglio, editado em 1898 por
Luigi Damiani, e, depois, no jornal La Bataglia, fundado em
junho de 1904 pelo anarquista toscano Oreste Ristori, acom-
panhado dos militantes Luigi Damiani, Alessandro Cerchiai,
Angelo Bandoni, Florentino de Carvalho e outros. Na mes-
ma perspectiva, existiam também outros dois jornais, La
Barricata e Guerra Sociale. Nos três casos, havia um ataque
radical à participação anarquista nos sindicatos, considerada
reformista e não-revolucionária.63 O outro grupo, apesar de
também se referir ao anarco-comunismo enquanto sua ma-
triz ideológica, diferia-se das demais publicações em função
de seus militantes adotarem uma postura de abertura e até
de engajamento nos sindicatos operários e mesmo de adoção
1996. O processo de expansão e empobrecimento, ampliação e sistematização
do marxismo, sua vulgarização e combinação com idéias mecanicistas,
evolucionistas, positivistas e cientificistas de modo geral, particularmente na
época da Segunda Internacional, foi analisado por ANDREUCCI, Franco. A
difusão e a vulgarização do marxismo. In: HOBSBAWM, Eric J. (Org.). Histó-
ria do marxismo, 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989 (v. 2 – O marxismo
na época da Segunda Internacional. Primeira parte). p. 15-73.63 BIONDI, Luigi. Anarquistas italianos em São Paulo: O grupo do jornal anar-
quista La Bataglia e sua visão da sociedade brasileira: o embate entre imaginá-
rios libertários e etnocêntricos. Cadernos AEL, Campinas, v. 8/9, p. 117-147,
1998.
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da estratégia da greve geral insurrecional. No início do sécu-
lo, o jornal que representava bem esta corrente era O Amigo
do Povo, publicado a partir de abril de 1902 e tendo em Edgard
Leuenroth, Neno Vasco, Benjamim Mota, José Sarmento
Marques e Giulio Sorelli alguns dos seus mais importantes e
combativos militantes.64 Edgard Leuenroth terá papel de
maior destaque ainda, inclusive fundando, em junho de 1917,
outro jornal anarquista, A Plebe, e sendo um dos principais
líderes da greve geral de julho daquele ano em São Paulo. Do
que foi dito, pois, vê-se claramente que os libertários baianos
estavam mais próximos da concepção que via no sindicato
operário um instrumento central na defesa dos interesses da
classe operária e no processo de transformação social que poria
fim à exploração e à opressão do capitalismo e instituiria a
nova sociedade, livre, sem patrões e sem Estado ou qualquer
forma de autoridade. O próprio sindicato seria o embrião desta
nova sociedade.
Conflitos e cisões sindicais
Porém, a maior politização e a maior delimitação ideológica
no interior do movimento operário baiano não se expressa-
vam apenas na fundação de sindicatos em categorias até en-
tão desorganizadas, na luta contra o racismo ou nas clivagens
entre o mutualismo, as variadas formas de sindicalismo soci-
alista, reformista e revolucionário. Não só a solidariedade
cresceu entre os trabalhadores baianos. Algumas rivalidades
começaram a ganhar corpo ainda no ano de 1919 e se agrava-
ram ao longo de 1920 e princípios de 1921. Elas se expressa-
64 TOLEDO, Edilene Teresinha. Em torno do jornal O Amigo do Povo: os
grupos de afinidade e a propaganda anarquista em São Paulo nos primeiros
anos deste século. Cadernos AEL, Campinas, v. 8/9, p. 89-113, 1998.
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vam no âmbito político, caso da cisão entre sindicalistas re-
volucionários e reformistas no interior da Federação dos Tra-
balhadores Baianos, por ocasião da fundação do Partido So-
cialista Baiano, e também em algumas categorias profissio-
nais organizadas do ponto de vista sindical. Exemplo disso
pode ser visto entre os foguistas. Conforme já vimos, a Soci-
edade União dos Foguistas fora fundada no Rio de Janeiro
em 26 de setembro de 1903, sendo lá sediada sua matriz.65 A
iniciativa de fundar uma sucursal desse sindicato em Salvador
só se materializou no dia 12 de junho de 1910, sendo funda-
mental a intervenção do operário Júlio Marcellino de Carva-
lho, enviado pela matriz carioca na condição de delegado espe-
cialmente designado para auxiliar e dirigir o processo de cons-
trução da filial baiana.66 Entretanto, no dia 13 de agosto de
1919, uma nova entidade dessa categoria fora fundada e, ape-
sar de chamar-se Sociedade União dos Foguistas Terrestres, pres-
tava-se, segundo seu estatuto, a congregar os foguistas e car-
voeiros terrestres e marítimos, o que é um forte indício de que
não se tratava de um simples desmembramento dos ofícios de
terra dos de mar, mas uma disputa pelos sócios da antiga orga-
nização, que continuava atuante. Além disso, frise-se que o
sindicato mais novo não se prestava mais a ser uma mera su-
cursal subordinada à matriz carioca, constituindo-se numa so-
ciedade com sede e base territorial baiana, apesar de um dos
seus organizadores, o operário João Baptista do Espírito San-
to, ser o antigo delegado da sucursal soteropolitana do sindica-
to carioca em 1919.67 Além disso, é preciso lembrar que esta
65 ESTATUTOS da Sociedade União dos Foguistas. Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 22 maio 1919.
66 Diário de Notícias, Salvador, 25 maio 1910, p. 5; 4 jun. 1919, p. 1; 13 jun.
1910, p. 5.67 ESTATUTOS da Sociedade União dos Foguistas Terrestres da Bahia. Diário
Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28 fev. 1920.
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entidade era uma das filiadas à Federação dos Trabalhadores
Baianos, hegemonizada pelos socialistas ligados a Agripino
Nazareth, uma clivagem político-sindical, como já vimos, se-
parada da clivagem das organizações do porto.
Com os carregadores a situação era mais grave. Já em
1920, eles estavam fracionados em três sindicatos distintos e
em situação de concorrência e rivalidade mútua. Além da
Sociedade Civil União Geral dos Carregadores da Bahia, fun-
dada em 22 de abril de 1912,68 outras duas entidades haviam
sido criadas, já indicando em seus nomes as referidas dife-
renças. Eram elas o Sindicato dos Carregadores da Bahia, de
30 de maio de 1920,69 e a Sociedade União de Resistência
dos Trabalhadores das Docas da Bahia.70 Esta última, inclu-
sive, vinculava-se, como vimos, ao Partido Socialista de
Agripino Nazareth.
A própria Sociedade União dos Operários Estivadores,
responsável pelo trabalho de organização e/ou congregação
de outros sindicatos do porto, mergulhou numa profunda cri-
se em fevereiro de 1921. É que o antigo delegado da sucursal
deste sindicato na Bahia, Alípio Marciano dos Santos, fora
deslocado de sua função por decisão da diretoria da matriz
carioca, que imediatamente indicara outro para o seu posto.
Insatisfeito, Alípio Marciano dos Santos, que também acu-
mulava a função de presidente da Sociedade União dos Car-
regadores, tentou produzir uma cisão que levasse à fundação
de um sindicato de estivadores independente do Rio de Ja-
neiro, tal qual acontecia com os carregadores. As duas enti-
68 ESTATUTOS da Sociedade Civil União Geral dos Carregadores da Bahia.
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 12 set. 1920
69 ESTATUTOS do Sindicato dos Carregadores da Bahia. Diário Oficial do
Estado da Bahia, Salvador, 5 ago. 1920.70 ESTATUTOS da Sociedade União de Resistência dos Trabalhadores das
Docas da Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 6 nov. 1920.
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dades eram sediadas no mesmo prédio, o que de certa forma
facilitou o acirramento dos ânimos que levaria ao conflito
aberto entre os facciosos. Um articulista do Diário de Notícias
observou que a intervenção rápida do novo delegado conven-
ceu os estivadores a não aderirem ao projeto de fundação da
“Sociedade Civil União dos Estivadores da Bahia”, proposto
por Alípio Marciano dos Santos. Porém, o que o grupo fiel à
matriz carioca e seu delegado não conseguiram foi “acabar
com as rixas, as intrigas, os boatos e declarações inverossí-
meis que permaneciam e tomavam grande incremento no seio
da classe. Cada dia surgia uma novidade, uma intriga”. Na
madrugada de 26 de fevereiro de 1921, as divergências atingi-
ram o seu ápice, desembocando num conflito aberto com “forte
tiroteio entre carregadores e estivadores”. A rua do Pilar, na
Cidade Baixa, “ficou transformada numa praça de guerra, onde
só se viam correrias e se escutavam detonações de armas de
vários calibres”. No centro do conflito, dois nomes se desta-
caram na liderança das facções favoráveis e contrárias à cisão
do sindicato dos estivadores: Firmino Guilherme da Silva e
Liberato Ferreira da Silva. Tendo chegado após muitos tiros e
cacetadas, a polícia prestou-se tão-somente para convocar a
Assistência Pública, que conduziu quatro feridos para o hos-
pital.71 Seja como for, Alípio Marciano dos Santos parece ter
sido derrotado em seus intentos de cortar os vínculos da su-
cursal baiana da União dos Estivadores com a matriz carioca,
sendo mesmo desligado deste sindicato por sua conduta.
Os padeiros, que, como vimos, haviam fundado um sin-
dicato de resistência – a Sociedade União dos Operários de
Padaria – em 6 de abril de 1919, também tiveram os seus pro-
71 Diário de Notícias, Salvador, 26 fev. 1921, p. 1. A mesma fonte informa mais
detalhes sobre os feridos no conflito. Eram eles: Francisco Guilherme da
Silva, preto, 32 anos; Liberato Ferreira da Silva, preto, 41 anos, solteiro;
Manoel Pedro de Alcântara, 27 anos, solteiro; João Lopes, pardo.
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blemas. Possuindo 700 filiados, sua organização sindical teve
que enfrentar uma dissidência consubstanciada na fundação,
em 16 de agosto de 1920, do Sindicato dos Padeiros e Paste-
leiros. Em carta aberta à classe operária baiana, os dissiden-
tes (98, segundo informavam seus líderes) alegavam terem
se desligado da antiga sociedade em função das “bandalheiras
praticadas pelo seu delegado”, Constancio Pereira Victorio, e
por seus companheiros de diretoria, que “por vários meios
fraudulentos desviaram o dinheiro da sociedade”. Em 19 me-
ses de funcionamento, continuavam os denunciantes, a dire-
toria da antiga organização dos padeiros arrecadou, regular-
mente, as jóias de 20$000 e as mensalidades de 5$500 dos
seus 700 sócios e não apresentou nenhum balancete ou es-
clarecimento sobre o uso dos recursos.72 Os denunciados res-
ponderam que as acusações não passavam de “petulantes
aleives e torpes calúnias” de João Bruno de Souza, “cabecilha”
de um “ajuntamento ilícito de cinco ou sete elementos noci-
vos expulsos da nossa sociedade, a bem da ordem e da mora-
lidade”. Lembravam que a Assembléia Geral do sindicato havia
aprovado todas as contas e que seus detratores seriam cha-
mados à “barra dos tribunais, a fim de merecerem a punição
que as leis impõem aos que atentam contra a honra dos ho-
mens de bem”.73
As greves de 1921
e a crise do movimento operário
As dissensões no interior do movimento operário e o início
de seu declínio ocorreram num momento em que se proces-
sava também uma reaproximação do governador J. J. Seabra
72 A Tarde, Salvador, 17 ago. 1920, p. 3.
73 A Tarde, Salvador, 20 ago. 1920, p. 3.
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260
com as classes dominantes de Salvador. Começou a ocorrer
mesmo uma reconciliação do PRD com os industriais e com o
grande comércio. Já em abril de 1920, Agripino Nazareth ques-
tionava a razão de Seabra, numa entrevista à imprensa local,
ter feito muitas promessas e falado de muitos pontos de seu
novo programa de governo, mas ter deixado omisso o tema
da questão social.74
A mudança no jogo oligárquico e em seu espectro de
alianças continuou influenciando o movimento operário. A
guinada seabrista em relação ao tratamento dispensado à clas-
se operária ficou bastante evidente por ocasião da greve dos
carregadores das docas e dos operários de uma das fábricas
têxteis da Companhia Progresso Industrial da Bahia, no final
de janeiro de 1921, quando várias lideranças operárias foram
presas e Agripino Nazareth finalmente foi deportado. Apa-
rentemente, os dois movimentos haviam começado de modo
isolado. Os carregadores entraram em greve no dia 26 de ja-
neiro, quando a superintendência da Companhia das Docas
negou-se a remunerar os fiscais criados pela Sociedade dos
Carregadores. A empresa alegava que não poderia pagar os
salários de operários que não trabalhavam e que para o servi-
ço de fiscalização ela já dispunha dos seus próprios prepostos.
Paralelamente, rebentou uma greve também entre os operá-
rios têxteis da Fábrica Paraguaçu, pertencente à Companhia
Progresso Industrial da Bahia. É que no dia 24 de janeiro,
segunda-feira, os trabalhadores daquela unidade e os da Fá-
brica São João haviam faltado ao trabalho para ir à festa do
Bonfim. Segundo os diretores da empresa, até aí a situação
teria sido tolerável, havendo indícios de que a chamada Se-
gunda-Feira Gorda da Ribeira era aberta ou tacitamente acei-
ta. O Diário de Notícias chegou a assinalar que “as festas de
74 Germinal, Salvador, ano I, n. 2, 3 abr. 1920, p. 1.
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nosso Senhor do Bonfim apaixonam toda a cidade” e que,
“tradicionalmente, o povo prolonga-as das nove noites de
orações e cânticos no templo, das cerimônias do culto no
domingo pela segunda-feira afora, avançando pela terça e pela
quarta”. Além disso, “como a alegria é geral, os operários da
Fábrica de Tecidos Paraguaçu resolveram feriar também a se-
gunda das farras na Ribeira e adjacências e deixaram os tea-
res em silêncio”. Porém, o lado profano da festa parece ter se
sobreposto de modo extraordinário ao aspecto sagrado e no
dia seguinte, terça-feira, os operários faltaram outra vez às
suas fainas no turno da manhã, só comparecendo a partir do
meio-dia. Irritados, os industriais, que tinham “urgência de
produção para satisfazer a grandes encomendas”, aplicaram
multas sobre todos os trabalhadores das duas unidades de
produção. Os descontos foram de mil réis para as mulheres e
de dois mil réis para os homens. Os operários da Fábrica São
João apelaram para seus patrões e conseguiram o cancela-
mento da punição, mas na Fábrica Paraguaçu os trabalhado-
res preferiram o caminho da greve. Em grupo, e crédulos da
justeza de sua causa, rumaram para a Boa Viagem, em busca
de apoio e adesão dos companheiros que trabalhavam na fá-
brica da Companhia Empório Industrial do Norte, no que
não foram bem-sucedidos. Além disso, piquetes de cavalaria
e infantaria de polícia foram postados junto às fábricas, “evi-
tando qualquer excesso”.75
As notícias da greve dos têxteis desapareceram dos jor-
nais, não deixando pistas sobre os desdobramentos desse
movimento, e, no dia 27 de janeiro de 1921, sob o argumento
de que várias bombas de dinamite haviam sido descobertas
espalhadas pela cidade e que tentativas de incendiar bondes
75 Diário de Notícias, Salvador, 26 jan. 1921, p. 3; 27 jan. 1921, p. 1.
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foram frustradas, a polícia desencadeou uma onda de repres-
são contra o movimento operário. O líder socialista Agripino
Nazareth foi preso, sob acusação de desacato à autoridade
do delegado Pedro Gordilho, que o encaminhou à Casa de
Correção, uma antiga fortaleza edificada no Largo de Santo
Antonio, onde ficou em regime de incomunicabilidade. O
secretário-geral da Federação dos Trabalhadores Baianos, José
Domiense da Silva, tentou uma audiência com o governador
para tentar convencê-lo a mandar soltar Agripino Nazareth,
mas Seabra mandou prendê-lo também. Um seguimento da
imprensa ainda chegou a se pronunciar por uma solução de
conciliação e apaziguamento dos conflitos. O editor do Diá-
rio de Notícias, o também advogado Antonio Marques Silva,
chegou mesmo a dizer que a prisão de Agripino Nazareth e seu
encaminhamento para a Casa de Correção já teriam sido sufi-
cientes para desagravar a suposta ofensa contra o delegado
Pedro Gordilho. “Por que persistir em manter preso o advoga-
do proletário?”, questionou o jornalista, que ponderou: “A
polícia, neste ponto, a bem da ordem da cidade, precisa con-
temporizar um pouco. Por que manter na prisão o sr. Nazareth,
que andando acertado ou não, é advogado de uma classe gran-
de e respeitável?” Percebendo que o governo preparava para o
advogado socialista o degredo e preocupado com os desdobra-
mentos imprevisíveis de uma eventual reação da classe operá-
ria e da liderança socialista, o articulista avisou: “Bem ou mal,
o sr. Nazareth dispõe de não pequeno número de amigos deci-
didos e intransigentes. O meio operário da Bahia, não há dúvi-
da alguma, estima o sr. Nazareth e poderá tomar atitudes agres-
sivas e lamentáveis se a polícia persistir em conservar preso o
advogado, incomunicável e, o que é muito mais grave, mandá-
lo para lugar ignorado”. O articulista foi mais longe e disse que
a expulsão de Agripino Nazareth seria interpretada pela classe
operária baiana como a morte de todos os “grandes ideais pro-
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letários” no estado, o que a levaria a entrar em cena, numa
ação quase que defensiva. De fato, uma comissão de operários
do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes che-
gou a visitar a redação do Diário de Notícias para avisar que
uma greve geral teria sido decretada nas obras da construção
civil exigindo a libertação do líder socialista, embora não te-
nhamos conseguido mais informações sobre tal movimento.76
Ao mesmo tempo, a luta entre o sindicato dos carrega-
dores e a Companhia das Docas teve continuidade, momento
em que esta última começou a anunciar que contrataria fura-
greves para substituir os operários que haviam aderido ao mo-
vimento.77 No dia 28 de janeiro de 1921, de modo clandesti-
no e em perfeita sintonia com o momento de refluxo do mo-
vimento operário e ampliação da escalada repressiva
implementada pelo Estado em nível nacional, Agripino
Nazareth foi deportado pela polícia baiana. Embarcado no
Paquete Manaus pela polícia do porto, deveria seguir para o
desterro no Amazonas ou Mato Grosso, tendo sido avisadas
as autoridades policiais de vários estados para não permitir o
seu desembarque em qualquer outro porto. Ao mesmo tempo,
tirando proveito do fato de que os carregadores constituíam
um ofício muito pouco qualificado, que dispensava longos
períodos de aprendizagem, e usando os carregadores dos tra-
piches como fura-greves, os patrões conseguiram enfraque-
cer e derrotar os carregadores das docas, levando o movimen-
to ao fracasso.78 É possível que esse conflito se relacione com
76 Diário de Notícias, Salvador, 28 jan. 1921, p. 1.
77 ___. Salvador, 28 jan. 1921, p. 2.78 ___. Salvador, 29 jan. 1921, p. 1. Como observou Maria Cecília Velasco e
Cruz, “na maioria dos portos do mundo foi grande a dificuldade de organiza-
ção dos operários envolvidos com o transporte manual de carga no cais e nos
armazéns, e a literatura acadêmica internacional em geral indica como ra-
zões deste fato a pouca qualificação e a facilidade de substituição da força de
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a existência, desde 1920, de três organizações distintas dos
carregadores, o que contribuía, como já dissemos, para a di-
visão e um maior enfraquecimento daquela fração da classe
operária baiana. O fato é que, no dia 29 de janeiro, a Supe-
rintendência das Docas comunicou que na manhã do dia se-
guinte, domingo, estaria realizando o pagamento dos salários
a que faziam jus os operários grevistas, ou seja, confirmava a
demissão em massa daqueles trabalhadores.79
De todo modo, por razões ou expedientes não
explicitados pelas fontes consultadas, a rota de Agripino
Nazareth foi alterada e ele desembarcou no Rio de Janeiro.
De lá, denunciou que os recursos do Estado da Bahia esta-
vam sendo “tragados pelos negociantes insaciáveis e pelos
jornalistas venais” e que Seabra se humilhou aos pés dos in-
dustriais têxteis para conseguir dinheiro emprestado e depois
entregou a Companhia de Navegação Baiana aos “monopoli-
zadores do açúcar e da carne seca”. Finalizava dizendo que
voltaria à Bahia para pleitear sua eleição à cadeira de deputa-
do federal pelo Partido Socialista Baiano.80 Em princípios de
fevereiro de 1921, o jornal baiano A Voz do Trabalhador che-
gou a anunciar que Agripino Nazareth teria notificado que
requereria uma ordem de habeas corpus ao Supremo Tribu-
nal Federal, mas não conseguimos apurar o resultado de tal
empreitada.81
trabalho”. Ver: VELASCO E CRUZ, Maria Cecília. Tradições negras na
formação de um sindicato: Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em
Trapiche e Café. Rio de Janeiro, 1905-1930. Afro-Ásia, Ceao-UFBA, Salva-
dor, n. 24, p. 243-290, 2000. Ver também: HOBSBAWM, Eric J. Sindicatos
nacionais portuários. In: _____. Os trabalhadores: estudos sobre a história do
operariado. Tradução de Marina Leão Teixeira Viriato de Medeiros. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1981. p. 209-235.79 Diário de Notícias, Salvador, 29 jan. 1921, p. 2.
80 _____. Salvador, 2 fev. 1921, p. 1
81 A Voz do Trabalhador, Salvador, ano I, n. 18, 5 fev. 1921, p. 8
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No Rio de Janeiro, o líder socialista enfrentaria fortes
embates com o PCB nos anos 1920 e trilharia seu caminho
até o governo de Getúlio Vargas. É que a partir de 1930, quan-
do foi iniciado o processo de organização do Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio, Lindolfo Collor, titular da
pasta, cercou-se de antigos líderes reformistas da classe ope-
rária, a exemplo dos advogados Agripino Nazareth, Evaristo
de Moraes e Joaquim Pimenta, do jornalista Carlos Cavaco e
do deputado federal Deodato Maia, convertendo-os em téc-
nicos e assessores diretos do referido órgão.82
Mais importante, porém, foi o esclarecimento dado pela
imprensa ruísta acerca da mudança de postura do PRD em
relação à classe operária no caso específico da greve portuária
de 1921: “o sr. Seabra, tomando conta do governo, mandou às
favas a política baixa e mesquinha do sr. Moniz e tratou de se
aproximar dos comerciantes e industriais”.83 Encerrava-se,
assim, uma fase heróica do movimento operário baiano. Dali
em diante, seria outra história...
Com base na narrativa feita ao longo destas páginas, e
em descobertas realizadas durante o processo de pesquisa, é
possível formular algumas considerações finais, apontando
três temas merecedores de investigações mais profundas, e
com eles terminamos este trabalho.
O primeiro tema diz respeito às relações entre a classe
operária e as elites políticas na Bahia. Os fatos que envolve-
ram a atuação de Antônio Ferrão Moniz de Aragão, J. J. Seabra,
o PRD e o movimento operário não são uma novidade por
82 Diário de Notícias, Salvador, 26, 27, 28 e 29 jan. 1921 e 2 fev. 1921; A Voz do
Trabalhador, Salvador, ano I, nº 18, 5 fev. 1921, p. 8. ARAÚJO, Rosa M. B. O
batismo do trabalho: a experiência de Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Civiliza-
ção Brasileira, 1981. p. 61-68; BRANDÃO, Octavio. Combates e batalhas:
memórias. São Paulo: Alfa-Omega, 1978. p. 319 e 324-327.
83 Diário de Notícias, Salvador, 2 fev. 1921, p. 1
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nós anunciada. Já se chegou mesmo a falar em um certo pré-
populismo para qualificar a ação destas facções políticas. Po-
rém, tais relações transcendem os períodos de governo do
PRD, ou mesmo a conjuntura de 1919. As sociedades
mutualistas existentes na Bahia, por exemplo, recebiam de
longa data subvenções dos poderes municipal, estadual e fe-
deral, e parecem ter se envolvido fortemente no jogo eleito-
ral local desde os primeiros anos da República. Até que pon-
to este fato explica dimensões importantes da política baiana
e esclarece aspectos relevantes do comportamento operário
é, contudo, algo que ainda está para ser analisado.
Um segundo importante tema de pesquisa está relacio-
nado com a necessidade de se romper com a perspectiva es-
tritamente regional e integrar os estudos sobre o sindicalis-
mo portuário e marítimo baiano numa dimensão mais nacio-
nal. Conforme Maria Cecília Velasco e Cruz apontou em seus
estudos sobre a classe operária no Rio de Janeiro, tanto os
marítimos quanto os estivadores cariocas criaram organiza-
ções que transcendiam em muito os limites do Distrito Fede-
ral, através de sucursais espalhadas em vários pontos do país.
Ao longo da pesquisa, confirmamos que quase todas as orga-
nizações desses setores em Salvador eram filiais de sindica-
tos com sede no Rio de Janeiro, devendo à liderança operária
carioca o seu processo de organização e levando uma vida em
estreita sintonia com ela. No porto de Salvador, o movimen-
to operário se entrelaça, portanto, com o do Rio de Janeiro
de uma forma e com uma intensidade que também nunca
foram seriamente examinadas. As várias organizações operá-
rias do complexo portuário – União dos Operários Estivado-
res, União dos Foguistas, União dos Carregadores, Associa-
ção dos Marinheiros e Remadores e outras – formavam uma
clivagem sindical claramente separada da que reunia as soci-
edades mutualistas, a exemplo do Centro Operário da Bahia
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267
e da Associação Tipográfica Baiana, e da que aglutinava os
sindicatos socialistas liderados por Agripino Nazareth, a
exemplo das organizações dos sapateiros, tecelões, cigarreiros
e charuteiros, marceneiros, marmoristas, pedreiros e carpin-
teiros e outros. Além disso, uma quarta clivagem surgiu em
1920, a partir de uma cisão sindicalista revolucionária no Sin-
dicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, que se
separou dos socialistas e da Federação dos Trabalhadores
Baianos naquele ano, formando um grupo ainda mais distan-
te do chamado sindicalismo reformista da zona portuária.
A greve têxtil de 1921, motivada pela cobrança de mul-
tas aos operários faltosos do trabalho em função do cansaço
provocado pela folia na festa do Bonfim, nos traz ao último
tema, cuja importância queremos ressaltar. Tradições e hábi-
tos culturais dos afro-descendentes explicam os motivos e as
dimensões simbólicas de inúmeros conflitos operários no Bra-
sil e na Bahia, em particular. Na história da classe operária,
entrelaçar “raça” e “classe” sem reducionismo, mecanicismo
ou preconceito é também um caminho que mal começamos a
trilhar.
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269
Fontes e referências bibliográficas
Arquivos
Arquivo Edgard Leuenroth (AEL - Unicamp)
Arquivo Histórico de Salvador (AHS) / Fundação Gre-
gório de Matos
Arquivo Público do Estado da Bahia (Apeb)
Associação Baiana de Imprensa (ABI)
Associação Comercial da Bahia (ACB)
Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro (BN)
Biblioteca Pública do Estado da Bahia (BPEB)
Centro de Documentação e Informação Cultural sobre
a Bahia (Cedic) / Fundação Clemente Mariani
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHBA)
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Periódicos
Jornais da grande imprensa
A TARDE, Salvador-BA, 1913, 1914, 1915, 1917, 1918,
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O TEMPO, Salvador-BA, maio/agosto de 1901; julho
de 1918/abril de 1920.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Salvador- BA, 1900, 1903,
1904, 1905, 1906, 1907, 1908, 1909, 1910, 1911, 1912, 1913,
1914, 1915, 1919, 1920, 1921.
O DEMOCRATA, Salvador-BA, 1919.
DIÁRIO DA BAHIA, Salvador-BA, maio de 1888; 1890,
1901, 1902, 1913, 1914, 1915, 1917, 1919, 1920.
JORNAL DE NOTÍCIAS, Salvador-BA,1890, 1891,
1892, 1893, 1894, 1895, 1897, 1898, 1901, 1902, 1903,
1904, 1906, 1907, 1908, 1909, 1910, 1911, 1912, 1913, 1914,
1915, 1919, 1920.
O IMPARCIAL, Salvador-BA, 1918, 1919.
GAZETA DO POVO, Salvador-BA, 1910, 1914.
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cial do Centenário, 2 de julho de 1923.
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Imprensa operária
A VOZ DO TRABALHADOR, Confederação Operá-
ria Brasileira, Rio de Janeiro-RJ, 1908, 1909, 1913, 1914,
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ção Operária Brasileira. Coleção fac-similar 1908-1915.
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res em Geral, n. 1, 2 out. 1920; n. 2, 9 out. 1920; n. 18, 5
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19 mar. 1921; n. 26, 1 maio 1921; n.?, 16 set 1922; n. 35
14 out. 1922.
A VOZ DO OPERÁRIO, Centro Operário da Bahia,
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O TRABALHO, Manuel R. Querino, Salvador, 1894.
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Almanaques
ALMANAQUE Administrativo, Indicador, Noticioso,
Comercial e Literário do Estado da Bahia para o ano de
1896. Bahia: Reis e Cia., 1896.
ALMANAQUE Administrativo, Indicador, Noticioso,
Comercial e Literário do Estado da Bahia para o ano de
1899. Organizado por Antônio Alexandre Borges dos
Reis. Bahia: Wilcke, Picard e Cia., 1899.
ALMANAQUE Administrativo, Indicador, Noticioso,
Comercial e Literário do Estado da Bahia para o ano de
1903. Bahia: Reis e Cia., 1903.
ANUÁRIO Administrativo, Agrícola, Profissional, Mer-
cantil e Industrial da República dos Estados Unidos do
Brasil para 1913 (Almanaque Laemmert). Rio de Janei-
ro: Oficinas Tipográficas do Almanaque Laemmert, 1913.
ALMANAQUE Indicador, Comercial e Administrativo
do Estado da Bahia. v. 10 (1919-1920). Salvador: Reis e
Cia., 1919.
Poder Legislativo
Municipal
Atas das Sessões do Conselho Municipal de Salvador
Legislaturas de 1890-1891; 1892-1895; 1896-1899; 1900-
1903; 1904-1907; 1908-1911; 1912-1915; 1916-1919; 1920-
1923; 1924-1927; 1928-1930.
Estadual
Documentos da Câmara dos Deputados do Estado da Bahia
Projetos de Leis e Resoluções, livros 173 (1913-1919),
174 (1917-1923); Projetos, livro 928 (1900-1921); Atas
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273
das Sessões, livros 320 (1919), 321 (1920), 322 (1921) e
323 (1922); Representações, livro 949 (1892-1928); Re-
querimentos, livro 956 (1900-1930); Correspondências
Recebidas e Expedidas, livro 964 (1837-1937); Correspon-
dências Recebidas, livro 450 (1901-1905); Ofícios Recebi-
dos e Expedidos, livros 1186 (1891-1892), 1187 (1891-1894),
1188 (1893-1895), 1189 (1895-1896), 1190 (1896-1899), 1191
(1897-1899), 1192 (1900), 1193 (1900-1902), 1194 (1902-
1904), 1195 (1903-1909), 1196 (1905-1908), 1197 (1912-
1913), 1198 (1914-1915), 1199 (1916-1917), 1200 (1919-1920);
Ofícios Recebidos e Petições, livros 455 (1891), 456 (1891),
457 (1891-1901); Abaixo-Assinados, livro 992 (1901-1935);
Petições, livro 1075 (1857-1919); Relatórios, livro 195 (1919-
1925); Registros Diversos, livro 527, 528 e 531.
Documentos do Senado do Estado da Bahia
Originais de Leis, livro 59 (1919); Atas de Sessões, livros
365 (1919), 366 (1920), 367 (1920), 368 (1921) e 369
(1922); Abaixo-Assinados, livro 990 (1896-1930); Re-
presentações e Requerimentos, livro 954 (1891-1930);
Correspondências Recebidas, livro 967 (1917-1927); Pe-
tições, livro 1078 (1912-1931); Ofícios Recebidos e Expe-
didos, livro 1210 (1895-1921); Pareceres, livros 116 (1919),
117 (1920), 118 (1921) e 119 (1922); Registros Diversos,
livro 517, 519, 520, 521 e 522; Trabalhos, livro 537 (1912-
1933); Minutas, livros 486 (1919), 487 (1919-1920).
Documentos da Assembléia Geral Legislativa do Estado da Bahia
Projetos, livros 905 (1912-1915), 906 (1913-1917), 907
(1918), 908 (1919), 909 (1920), 910 (1921); Abaixo-As-
sinados, livro 989 (1903-1937); Ofícios Recebidos e
Expedidos, livros 1180 (1888-1894), 1181 (1891-1935), 1182
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274
(1909-1935); Petições, livro 1072 (1900-1940), 1074 (1891-
1939); Representações, livro 951 (1897-1925); Pareceres
das Comissões, livro 1102 (1917-1919); Mensagens, livro
969 (1912-1923); Minutas, livro 1119 (1916-1919).
Leis
LEIS e Resoluções da Assembléia do Estado da Bahia
do ano de 1895. Salvador: Lito-Tipografia de João Gon-
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Salvador: Tipografia do Correio de Notícias, 1899.
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LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1903
e Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salva-
dor: Oficinas do Diário da Bahia, 1905.
LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1904
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LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1905
e Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salva-
dor: Oficinas do Diário da Bahia, 1906.
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LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1906
e Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salva-
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LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1907
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DECRETOS do Poder Executivo do Estado da Bahia no
ano de 1908. Salvador: Oficinas da Empresa A Bahia, 1910.
LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1909
e Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salva-
dor: Oficinas da Empresa A Bahia, 1911.
LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1910 e
Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salvador:
Oficinas da Empresa A Bahia, 1911.
LEIS e Resoluções do Estado da Bahia do ano de 1911 e
Decretos do Poder Executivo do mesmo ano. Salvador:
Seção de Obras da Revista do Brasil, 1915.
LEIS do Poder Legislativo e Decretos do Poder Executi-
vo do Estado da Bahia do ano de 1912. Salvador: Tipo-
grafia Baiana, 1913.
LEIS do Poder Legislativo e Decretos do Poder Executi-
vo do Estado da Bahia do ano de 1913. Salvador: Tipo-
grafia Baiana, 1914.
LEIS do Poder Legislativo e Decretos do Poder Executi-
vo do Estado da Bahia do ano de 1914. Salvador: Tipo-
grafia Baiana, 1915.
LEIS do Estado da Bahia do ano de 1915. Salvador: Im-
prensa Oficial do Estado, 1916.
LEIS do Estado da Bahia do ano de 1916. Salvador: Im-
prensa Oficial do Estado, 1917.
LEIS do Estado da Bahia do ano de 1917. Salvador: Im-
prensa Oficial do Estado, 1918.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31275
276
LEIS do Estado da Bahia do ano de 1918. Salvador: Im-
prensa Oficial do Estado, 1921.
LEIS do Estado da Bahia do ano de 1919. Salvador: Im-
prensa Oficial do Estado, 1919.
LEIS do Estado da Bahia do ano de 1920. Salvador: Im-
prensa Oficial do Estado, 1922.
LEIS do Estado da Bahia do ano de 1921. Salvador:
Imprensa Oficial do Estado, 1922.
LEIS do Estado da Bahia do ano de 1922. Salvador:
Imprensa Oficial do Estado, 1925.
LEIS do Estado da Bahia do ano de 1923. Salvador:
Imprensa Oficial do Estado, 1926.
LEIS do Estado da Bahia dos anos de 1924 e 1925. Sal-
vador: Imprensa Oficial do Estado, 1925.
Federal
Leis
BRASIL. Lei nº 173, de 10 de setembro de 1893. Dispõe
sobre a organização das associações que se fundem para
fins religiosos, morais, científicos, artísticos, políticos
ou de simples recreio, nos termos do art. 72, inciso 3º
da Constituição. Coleção das Leis da República dos Es-
tados Unidos do Brasil de 1893, partes I e II. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1894, p. 45-47.
BRASIL. Lei 1.637, de 5 de janeiro de 1907. Dispõe sobre
a criação de sindicatos profissionais e cooperativas. Cole-
ção das Leis da República dos Estados Unidos do Brasil de
1907, v. I. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, s/d, p. 17-22.
Anais da Câmara dos Deputados
ANAIS da Câmara dos Deputados, v. V (1917). Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1918.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31276
277
Poder Executivo
Estadual
Falas, Relatórios e Mensagens dos Presidentes de Província e
Governadores de Estado.
FALA com que abriu a 56ª Legislatura da Assembléia
Legislativa Provincial da Bahia o Exmo Sr. Des. Henri-
que Pereira de Lucena, Presidente da Província, no dia
1º de março de 1877. Salvador: Tipografia do Jornal da
Bahia, 1877.
RELATÓRIO com que o Exmo Sr. Dr. João dos Reis de
Souza Dantas, 2º Vice-Presidente, passou a adminis-
tração da Província ao Exmo Sr. Conselheiro Pedro Luiz
Pereira de Souza, em 29 de março de 1882. Salvador:
Tipografia do Diário da Bahia, 1882.
FALA com que o Exmo Sr. Des. Aurelio Ferreira Espi-
nheira, 1º Vice-Presidente da Província, abriu a 2ª Ses-
são da 27ª Legislatura da Assembléia Legislativa Pro-
vincial, no dia 3 de abril de 1889. Salvador: Tipografia
da Gazeta da Bahia, 1889.
MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legisla-
tiva do Estado da Bahia na abertura da 1ª Sessão Ordi-
nária da 12ª Legislatura, pelo Dr. J. J. Seabra, Governa-
dor do Estado da Bahia. Salvador: Seção de Obras da
“Revista do Brasil”, 1913.
MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legis-
lativa do Estado da Bahia na abertura da 2ª Sessão Or-
dinária da 12ª Legislatura, pelo Dr. J. J. Seabra, Gover-
nador do Estado. Salvador: Seção de Obras da “Revista
do Brasil”, 1914.
MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legislati-
va do Estado da Bahia na abertura da 1ª Sessão Ordinária
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31277
278
da 13ª Legislatura, pelo Dr. J. J. Seabra, Governador do
Estado. Salvador: Seção de Obras da “Revista do Bra-
sil”, 1915.
EXPOSIÇÃO apresentada pelo Dr. Joaquim José Seabra
ao passar, a 29 de março de 1916, o governo da Bahia ao
seu sucessor, o Exmo. Sr. Dr. Antonio Ferrão Moniz de
Aragão, empossado nesse dia no cargo de Governador
do Estado. Salvador: Imprensa Oficial, 1916.
MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legis-
lativa do Estado da Bahia na abertura da 1ª Sessão Or-
dinária da 14ª Legislatura pelo Dr. Antonio Ferrão Moniz
de Aragão, Governador do Estado. Salvador: Imprensa
Oficial, 1917.
MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legis-
lativa do Estado da Bahia na abertura da 2ª Sessão Or-
dinária da 14ª Legislatura pelo Dr. Antonio Ferrão Moniz
de Aragão, Governador do Estado. Salvador: Imprensa
Oficial, 1918.
MENSAGEM apresentada à Assembléia Geral Legis-
lativa do Estado da Bahia na abertura da 1ª Sessão Or-
dinária da 15ª Legislatura pelo Dr. Antonio Ferrão Moniz
de Aragão, Governador do Estado. Salvador: Imprensa
Oficial, 1919.
EXPOSIÇÃO apresentada pelo Dr. Antonio Ferrão
Moniz de Aragão ao passar, a 29 de março de 1920, o
governo da Bahia ao seu sucessor, o Exmo. Sr. Dr. José
Joaquim Seabra, empossado nesse dia no cargo de Go-
vernador do Estado no quatriênio de 1920 a 1924. Sal-
vador: Imprensa Oficial, 1920.
Apeb - Secretaria de Governo
CORRESPONDÊNCIAS, caixa 1821 (maço 1935), cai-
xa 2294 (maços 2898, 2899).
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31278
279
Apeb - Seção Colonial e Provincial (Guia do Império - 3ª Parte)
PRESIDÊNCIA da Província, série agricultura, indús-
tria e comércio, maços 4602 e 4603 (Fábricas) e 1575
(Sociedades Operárias)
Apeb - Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio
RELATÓRIO dos Serviços da Secretária da Agricultu-
ra, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas du-
rante o ano de 1920, caixa 2386, maço178, doc. 746.
RELATÓRIO apresentado ao Exmo Sr. Dr. Governador
do Estado pelo Secretário da Agricultura, Indústria, Co-
mércio, Viação e Obras Públicas no ano de 1921. Bahia:
Imprensa Oficial do Estado, 1922.
RELATÓRIO dos Serviços da Secretaria da Agricultu-
ra, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas (1926),
caixa 2387, maço 182, doc. 661.
RELATÓRIO sobre a inspeção na Fábrica de Cerveja
situada ao Grão-Mogol, Rio Vermelho, 1915, caixa 2385,
maço 175, doc. 610.
RELATÓRIO do Diretor da Agricultura pelo Perito na
vistoria da Grande Fábrica de Massas Alimentícias Pro-
gresso (1926), caixa 2387, maço 182, doc. 666.
Federal
IBGE - Estatísticas Oficiais
BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-
cio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do
Brasil realizado em 1º de setembro de 1920. v. I (Intro-
dução). Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1922.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-
cio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil
realizado em 1º de setembro de 1920. v. IV (1ª Parte - Po-
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31279
280
pulação). Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1927.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-
cio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil
realizado em 1º de setembro de 1920. v. IV (2ª Parte -
População). Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1928.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-
cio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do
Brasil realizado em 1º de setembro de 1920. v. IV (5ª
Parte - População). Rio de Janeiro: Tipografia da Esta-
tística, 1930.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-
cio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do
Brasil realizado em 1º de setembro de 1920. v. V (1ª
Parte - Indústria). Rio de Janeiro: Tipografia da Esta-
tística, 1927.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-
cio. Diretoria Geral de Estatísticas. Anuário Estatístico
do Brasil, 1908-1912. Rio de Janeiro, 1917.
BRASIL. Estatísticas Históricas do Brasil: Séries Eco-
nômicas, Demográficas e Sociais de 1550 a 1988. 2ª ed.
Rio de Janeiro: IBGE, 1990.
República dos Estados Unidos do Brasil. Estado da
Bahia. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Departamento Estadual de Estatística. Sinopse Esta-
tística do Estado da Bahia (v. 3). Salvador: Oficinas Grá-
ficas Era Nova, 1939.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31280
281
Estatutos, relatórios, históricos e
outros documentos de congressos,
sindicatos operários e sociedades mutualistas.
CONSTITUIÇÃO do Centro Operário da Bahia. Diá-
rio da Bahia, 30 maio 1894, p. 1; 8-9 jun. 1984, p. 2.
ESTATUTOS do Centro Operário da Capital do Esta-
do da Bahia. Bahia: Tipografia do Salvador - Catedral,
1911. 36 p. Reformado e passando a chamar-se Associa-
ção Cooperativa Centro Operário da Bahia.
RELATÓRIO do Centro Operário da Bahia no Exercí-
cio Social de 6 de maio de 1899 a 31 de abril de 1900
apresentado pelo sr. Ismael Ribeiro, Presidente do Con-
selho Executivo e aprovado em Assembléia Geral de 12
de agosto de 1900. Salvador: Tipografia Passos, 1900.
RELATÓRIO do Centro Operário da Bahia. Exercício
Social de 6 de maio de 1902 a 30 de abril de 1903, apre-
sentado pelo sr. Ismael Ribeiro, Presidente do Conse-
lho Executivo, e aprovado em sessão de Assembléia
Geral de 3 de maio de 1903. Salvador: Imprensa Mo-
derna de Prudêncio de Carvalho, 1903.
RELATÓRIO do Centro Operário da Bahia. Exercício
Social de 6 de maio de 1908 a 5 de maio de 1909, apre-
sentado pelo sr. Ismael Ribeiro dos Santos, Presidente
do Conselho Executivo à Assembléia Geral e por esta
aprovado em sessão de 20 de abril de 1910, sob a presi-
dência do sr. Felippe Tranquilino de Castro. Salvador:
Liceu de Artes e Ofícios, 1910.
RELATÓRIO da Associação Cooperativa Centro Ope-
rário da Bahia, do Exercício de 1º de abril de 1912 a 31
de março de 1913, apresentado pelo Presidente do Con-
selho Executivo Prediliano Pereira Pitta, aprovado em
Assembléia Geral de 18 de maio de 1913. Salvador: Li-
ceu de Artes e Ofícios, 1913.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31281
282
CENTRO OPERÁRIO DA CAPITAL DO ESTADO
DA BAHIA. Relatório apresentado pelo Presidente do
Conselho Executivo, Capitão João Pedro Rodrigues
Lima, à Assembléia Geral em sessão de 1º de maio de
1917 e na mesma aprovado. Referente ao exercício de 1º
de abril de 1915 a 31 de março de 1917. Salvador: Liceu
de Artes e Ofícios, 1917.
CENTRO OPERÁRIO DA BAHIA. Relatórios apre-
sentados pelo Presidente do Conselho Executivo, Te-
nente Coronel Júlio Fernandes Leitão às Assembléias
Gerais de 2 de abril de 1918 e 25 de abril de 1919 e nas
mesmas aprovados. Referentes ao exercício de 1º de abril
de 1917 a 31 de março de 1919. Salvador: Liceu de Artes
e Ofícios, 1919.
RELATÓRIOS do Centro Operário da Bahia apresen-
tados pelo Coronel Eugenio Antonio Cardoso, Presi-
dente do Conselho Executivo. Exercício de 1º de abril
de 1919 a 31 de março de 1921. Salvador: Liceu de Artes
e Ofícios, 1921.
ESTATUTOS do Sindicato de Pedreiros, Carpinteiros
e demais classes. Diário Oficial do Estado da Bahia,
Salvador, 19 out. 1919.
ESTATUTOS da União Geral dos Tecelões da Bahia.
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 11 fev. 1920.
ESTATUTOS da Sociedade União dos Empregados de
Bondes, Luz e Força Elétrica do Estado da Bahia. Diário
Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 1º fev. 1920.
ESTATUTOS da União dos Metalúrgicos da Bahia.
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 14 out. 1919.
ESTATUTOS da União Gráfica Baiana. Diário Oficial
do Estado da Bahia, Salvador, 21 fev. 1920.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31282
283
ESTATUTOS da União dos Foguistas. Diário Oficial
do Estado da Bahia, Salvador, 22 maio 1919.
ESTATUTOS da União dos Foguistas Terrestres da
Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 28
fev. 1920.
ESTATUTOS da Sociedade Civil União Geral dos Car-
regadores da Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia,
Salvador, 12 set. 1920.
ESTATUTOS da União dos Conferentes da Bahia. Di-
ário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 4 jul. 1920.
ESTATUTOS da Sociedade União de Resistência dos
Trabalhadores das Docas da Bahia. Diário Oficial do
Estado da Bahia, Salvador, 6 nov. 1920.
ESTATUTOS do Sindicato dos Carregadores da Bahia.
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 5 ago. 1920.
ESTATUTOS da Sociedade União Defensora dos Em-
pregados de Ferrovia. Diário Oficial do Estado da Bahia,
Salvador, 18 mar. 1920.
ESTATUTOS da Sociedade União dos Operários de Pa-
daria. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 12
set. 1919.
ESTATUTOS da União dos Condutores de Veículos e
Classes Anexas da Bahia. Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 28 maio 1920.
ESTATUTOS da Sociedade União dos Condutores de
Carroças e Classes Anexas. Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 25 set. 1920.
ESTATUTOS da Sociedade Beneficente e Defensora
dos Eletricistas. Diário Oficial do Estado da Bahia, Sal-
vador, 14 fev. 1920.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31283
284
ESTATUTOS da Sociedade União Defensora e Benefi-
cente dos Pintores da Bahia. Diário Oficial do Estado
da Bahia, Salvador, 10 ago. 1919.
ESTATUTOS (extratos) da Sociedade Beneficente dos
Empregados do Telégrafo Nacional na Bahia. Diário
Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 6 ago. 1919.
ESTATUTOS do Centro Automobilístico do Estado da
Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 24
abr. 1920.
PROJETO de Estatutos do Sindicato de Ofícios Vários
de Maré (Ilha de Maré). Diário Oficial do Estado da
Bahia, Salvador, 4 jan. 1921.
ESTATUTOS da Sociedade Centro e União Culinária.
Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 21 jan. 1921.
ESTATUTOS da Associação Liceu de Artes e Ofícios
da Bahia. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador,
24 jan. 1919.
PROJETO de Estatutos da Cooperativa Operária. Diá-
rio Oficial do Estado da Bahia, Salvador, 6 jul. 1919.
ATA e Estatutos da Sociedade Cooperativa e
Auxiliadora dos Empregados da Compagnie Chemins
de Fer Fédéraux de l’Est Brésilien. Diário Oficial do
Estado da Bahia, Salvador, 30 jan. 1918.
BOLETIM da Comissão Executiva do Terceiro Congres-
so Operário Brasileiro, ano I, nº 1, agosto de 1920.
CONCLUSÕES do Quarto Congresso Operário Brasi-
leiro, realizado de 7 a 15 de novembro de 1912, no Palá-
cio Monroe, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tipografia
Leuzinger, 1913, 252 p.
PROJETO de Reforma dos Estatutos da Sociedade Be-
neficência Caixeiral. Diário Oficial do Estado da Bahia,
Salvador, 18 jan. 1918.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31284
285
ESTATUTOS da Sociedade Beneficente 24 de Julho dos
Operários da Fábrica Boa Viagem, a Companhia Empó-
rio Industrial do Norte. Instalada em 4 de abril de 1909.
Salvador: Tipografia do Colégio São Joaquim, 1933.
ESTATUTOS da Sociedade Beneficente Valença Indus-
trial. Instalada em 8 de dezembro de 1913. Salvador:
Tipografia Baiana, 1914.
REAL SOCIEDADE PORTUGUESA DE BENEFICÊN-
CIA 16 de Setembro – 1857-1957. Um Século de Exis-
tência. Salvador: Tipografia Menu, 1957.
RELATÓRIO apresentado à Assembléia Geral da As-
sociação Tipográfica Baiana pelo Conselho Diretório de
1904 a 1905, em sessão de 30 de abril de 1905 e na
mesma aprovado. Salvador: Imprensa Moderna, 1905.
RELATÓRIO apresentado à Assembléia Geral da Asso-
ciação Tipográfica Baiana pelo Conselho Diretório de
1905 a 1906, em sessão de 22 de abril de 1906 e na mes-
ma aprovado. Salvador: Liceu de Artes e Ofícios, 1906.
RELATÓRIO apresentado à Assembléia Geral da As-
sociação Tipográfica Baiana pelo Conselho Diretório de
1906 a 1907, em sessão de Assembléia Geral de 21 de
abril de 1907 e unanimemente aprovado. Salvador: Li-
ceu de Artes e Ofícios, 1907.
RELATÓRIO apresentado à Assembléia Geral da As-
sociação Tipográfica Baiana pelo Conselho Diretório de
1907 a 1908, em Assembléia Geral de 19 de abril de
1908 e unanimemente aprovado. Salvador: Liceu de
Artes e Ofícios, 1908.
ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório
apresentado pelo Conselho Diretório em sessão da
Assembléia Geral de 25 de abril de 1909, exercício de
1908 a 1909. Salvador: do Liceu de Artes e Ofícios, 1909.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31285
286
ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório
do exercício de 1909 a 1910, apresentado pelo Conse-
lho Diretório em sessão da Assembléia Geral de 24 de
abril de 1910. Salvador: Liceu de Artes e Ofícios, 1910.
ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório
do exercício de 1910 a 1911, apresentado pelo Conselho
Diretório em sessão da Assembléia Geral de 16 de abril
de 1911. Salvador: Liceu de Artes e Ofícios, 1911.
ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório
apresentado pelo Conselho Diretório em Assembléia
Geral de 28 de abril de 1912 e na mesma unanimemen-
te aprovado, exercício de 1911 a 1912. Salvador: Liceu
de Artes e Ofícios, 1911.
RELATÓRIO do exercício de 1924 da Associação Ti-
pográfica Baiana, apresentado pelo presidente do Con-
selho Diretório, Theodomiro Baptista, aprovado em
sessão de Assembléia Geral do dia 8 de fevereiro de
1925. Salvador: Tipografia América, 1925.
ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório
do exercício de 1928, apresentado pelo Conselho
Diretório, Caetano de Carvalho, aprovado em Assem-
bléia Geral do dia 24 de fevereiro de 1929. Salvador:
s.e., 1929.
ASSOCIAÇÃO TIPOGRÁFICA BAIANA. Relatório
do exercício de 1937, apresentado pelo Presidente do
Conselho Diretório, Democrito Gomes de Carvalho,
aprovado em Assembléia Geral de 27 de março de 1938.
CONCLUSÕES do Quarto Congresso Operário Brasi-
leiro, realizado de 7 a 15 de novembro de 1912, no Palá-
cio Monroe, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tipografia
Leuzinger, 1913. 252 p.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31286
287
ESTATUTOS da Sociedade Beneficente 24 de Julho dos
Operários da Fábrica Boa Viagem, a Companhia Em-
pório industrial do Norte. Instalada a 4 de abril de 1909.
Salvador: Tipografia do Colégio São Joaquim, 1933.
ESTATUTOS da Sociedade Beneficente Valença Indus-
trial. Instalada em 8 de dezembro de 1913. Salvador:
Tipografia Baiana, 1914.
PROJETO de Reforma dos Estatutos da Sociedade Be-
neficência Caixeiral. Diário Oficial do Estado da Bahia,
Salvador, 18 jan. 1918.
REAL SOCIEDADE PORTUGUESA DE BENEFICÊN-
CIA 16 de Setembro – 1857-1957. Um século de exis-
tência. Salvador: Tipografia Menu Editora Ltda., 1957.
Documentos e relatórios das companhias e
associações empresariais
LIVRO de Atas e Estatutos do Centro Industrial do
Algodão (1917-1921). Apeb, Seção de Arquivos Priva-
dos.
RELATÓRIOS Anuais da Associação Comercial da
Bahia (volumes de 1913 a 1920)
BOLETINS Mensais da Associação Comercial da Bahia
(janeiro a dezembro de 1919)
ATAS da Associação Comercial da Bahia (livro de 1917
a 1921)
CENTRO INDUSTRIAL DO ALGODÃO. Relatório
apresentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordiná-
ria, realizada a 16 de agosto de 1917, relativo à adminis-
tração de 18 de setembro de 1916 a 30 de junho de 1917.
Salvador: Tipografia Baiana, 1917.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31287
288
CENTRO INDUSTRIAL DO ALGODÃO. Relatório
apresentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordiná-
ria, realizada a 29 de agosto de 1918, relativo à admi-
nistração do ano social de 1º de julho de 1917 a 30 de
junho de 1918. Salvador: Tipografia Baiana, 1918.
ESTATUTOS da Companhia Empório Industrial do
Norte aprovados em Assembléia Geral Extraordinária de
11 de julho de 1921. Salvador: Reis & Companhia, 1921.
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 31 de março de 1916. Salvador: Reis
& Companhia, 1916. (Exercício de 1915).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 30 de março de 1917. Salvador: Reis
& Companhia, 1917. (Exercício de 1916).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 2 de abril de 1918. Salvador: Reis &
Companhia, 1918. (Exercício de 1917).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 31 de março de 1920. Salvador: Reis
& Companhia, 1920. (Exercício de 1919).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 20 de fevereiro de 1923. Salvador:
Dois Mundos, 1923. (Exercício de 1922).
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31288
289
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 21 de fevereiro de 1925. Salvador:
Dois Mundos, 1925. (Exercício de 1924).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 15 de março de 1926. Salvador: Dois
Mundos, 1926. (Exercício de 1925).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 7 de março de 1927. Salvador: Dois
Mundos, 1927. (Exercício de 1926).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 27 de fevereiro de 1928. Salvador:
Dois Mundos, 1928. (Exercício de 1927).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 30 de março de 1929. Salvador: Dois
Mundos, 1929. (Exercício de 1928).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 31 de março de 1930. Salvador: Por-
ta São Miguel, 1930. (Exercício de 1929).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte. A Tarde, Salvador, 29 mar. 1913 (Exer-
cício de 1912).
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290
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer da Comissão Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 30 de março de 1914. Diário da Bahia,
Salvador, 21 jun. 1914. (exercício de 1913).
COMPANHIA EMPÓRIO INDUSTRIAL DO NOR-
TE. Relatório a ser apresentado em Assembléia Geral
dos acionistas no dia 5 de abril de 1915. Jornal de Notí-
cias, Salvador, 3 abr. 1915 (Exercício de 1914).
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 31 de março de 1916. Referente ao
exercício de 1915. Diário Oficial do Estado, Salvador, 31
mar. 1916.
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal apre-
sentados aos srs. acionistas na Sessão da Assembléia
Geral Ordinária de 2 de abril de 1918. Referente ao exer-
cício de 1917. Diário Oficial do Estado, 2 abr. 1918.
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal a serem
apresentados à Assembléia Geral Ordinária dos srs. aci-
onistas em Sessão de 29 de março de 1919. Referente
ao exercício de 1918. Diário Oficial do Estado, Salvador,
29 mar. 1919.
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal para
serem apresentados à Assembléia Geral Ordinária dos
srs. acionistas em Sessão de 31 de março de 1920. Refe-
rente ao exercício de 1919. Diário Oficial do Estado,
Salvador, 31 mar. 1920.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31290
291
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal a serem
apresentados à Assembléia Geral Ordinária dos srs. aci-
onistas em Sessão de 21 de março de 1921. Referente ao
exercício de 1920. Diário Oficial do Estado, Salvador,
16 mar. 1921.
RELATÓRIO da direção da Companhia Empório In-
dustrial do Norte e parecer do Conselho Fiscal a serem
apresentados à Assembléia Geral Ordinária dos srs. aci-
onistas em Sessão de 20 de fevereiro de 1922. Referen-
te ao exercício de 1921. Diário Oficial do Estado, Salva-
dor, 18 e 19 fev. 1922.
ATA da Sessão da Assembléia Geral Ordinária dos aci-
onistas da Companhia Empório Industrial do Norte,
realizada em 29 de março de 1919. Diário Oficial do
Estado, Salvador, 29 abr. 1919.
ATA da Sessão da Assembléia Geral Ordinária da Com-
panhia Empório Industrial do Norte, realizada em 31
de março de 1920. Diário Oficial do Estado, Salvador,
27 abr. 1920.
ATA da Sessão da Assembléia Geral Ordinária da Com-
panhia Empório Industrial do Norte, realizada em 21
de março de 1921. Diário Oficial do Estado, Salvador, 1º
abr. 1921.
RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia. Re-
ferente ao exercício de 1914. Diário da Bahia, Salvador,
24 fev. 1915.
RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia. Re-
ferente ao exercício de 1915. Diário Oficial do Estado,
Salvador, 23 abr. 1916.
RELATÓRIO da Companhia União Fabril da Bahia. Re-
ferente ao exercício de 1917. Diário Oficial do Estado,
Salvador, 9 abr. 1918.
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RELATÓRIO da direção da Companhia União Fabril
da Bahia. Referente ao exercício de 1918. Diário Oficial
do Estado, Salvador, 25 mar. 1919.
RELATÓRIO da direção da Companhia União Fabril
da Bahia para ser apresentado à Assembléia Geral dos
srs. acionistas, no dia 29 de abril de 1920. Referente ao
exercício de 1919. Diário Oficial do Estado, Salvador,
28 abr. 1920.
RELATÓRIO da direção da Companhia União Fabril
da Bahia para ser apresentado à Assembléia Geral dos
srs. acionistas, em Sessão de 30 de março de 1921. Re-
ferente ao exercício de 1920. Diário Oficial do Estado,
Salvador, 27 mar. 1921.
RELATÓRIO da direção da Companhia União Fabril
da Bahia Referente ao ano de 1921, a ser apresentado à
Assembléia Geral dos srs. acionistas em Sessão de 30
de março de 1922. Diário Oficial do Estado, Salvador,
28 mar. 1922.
ATA da Sessão de Assembléia Geral Ordinária da Com-
panhia União Fabril da Bahia, realizada em 31 de março
de 1919. Diário Oficial do Estado, Salvador, 26 abr. 1919.
ATA da Sessão de Assembléia Geral Ordinária da Com-
panhia União Fabril da Bahia, realizada em 29 de abril
de 1920. Diário Oficial do Estado, Salvador, 22 maio 1920.
COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório referen-
te ao exercício de 1912. Diário da Bahia, Salvador, 25
fev. 1913.
COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório apre-
sentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordinária dos
acionistas, em 25 de fevereiro de 1916. Referente ao
exercício de 1915. Diário Oficial do Estado, Salvador,
24 fev. 1916.
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31292
293
COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório apre-
sentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordinária dos
acionistas, em 26 de fevereiro de 1917. Referente ao
exercício de 1916. Diário Oficial do Estado, Salvador,
24 fev. 1917.
COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório que tem
de ser apresentado pela diretoria à Assembléia Geral
Ordinária dos srs. acionistas, em 21 de fevereiro de 1918.
Referente ao exercício de 1917. Diário Oficial do Esta-
do, Salvador, 21 fev. 1918.
COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório apre-
sentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordinária dos
srs. acionistas, em 20 de fevereiro de 1919. Referente
ao exercício de 1918. Diário Oficial do Estado, Salvador,
20 fev. 1919.
COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório apre-
sentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordinária dos
srs. acionistas, em 23 de fevereiro de 1920. Referente
ao exercício de 1919. Diário Oficial do Estado, Salvador,
22 fev. 1920.
COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório para ser
apresentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordiná-
ria dos srs. acionistas, em 21 de fevereiro de 1921. Re-
ferente ao exercício de 1920. Diário Oficial do Estado,
Salvador, 19 fev. 1921.
COMPANHIA FABRIL DOS FIAIS. Relatório para ser
apresentado pela diretoria à Assembléia Geral Ordiná-
ria dos srs. acionistas, em 23 de fevereiro de 1922. Re-
ferente ao exercício de 1921. Diário Oficial do Estado,
Salvador, 22 fev. 1922.
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ATA da Sessão da Assembléia Geral Ordinária da Com-
panhia Fabril dos Fiais de 23 de fevereiro de 1920. Diá-
rio Oficial do Estado, Salvador, 10 mar. 1920.
ATA da Sessão da Assembléia Geral Ordinária da Com-
panhia Fabril dos Fiais de 21 de fevereiro de 1921. Diá-
rio Oficial do Estado, Salvador, 8 mar. 1921.
RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-
dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-
tas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral em 30
de março de 1914. Referente ao exercício de 1913. Gaze-
ta do Povo, Salvador, 29 mar. 1914.
RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-
dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-
tas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral em 14
de março de 1916. Referente ao exercício de 1915. Diá-
rio Oficial do Estado, Salvador, 14 mar. 1916.
RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-
dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-
tas em Reunião Ordinária da Assembléia Geral em 28
de março de 1917. Referente ao exercício de 1916. Diá-
rio Oficial do Estado, Salvador, 25 mar. 1917.
RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-
dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-
tas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 30
de março de 1918. . Referente ao exercício de 1917. Diá-
rio Oficial do Estado, Salvador, 27 mar. 1918.
RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-
dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-
tas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 29
de março de 1919. Referente ao exercício de 1918. Diá-
rio Oficial do Estado, Salvador, 28 mar. 1919.
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RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-
dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-
tas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 29
de abril de 1920. Referente ao exercício de 1919. Diário
Oficial do Estado, Salvador, 28 abr. 1920.
RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-
dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-
tas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 30
de março de 1921. Referente ao exercício de 1920. Diá-
rio Oficial do Estado, Salvador, 29 mar. 1921.
RELATÓRIO da direção da Companhia Progresso In-
dustrial da Bahia para ser apresentado aos srs. acionis-
tas em Reunião da Assembléia Geral Ordinária em 30
de março de 1922. Referente ao exercício de 1921. Diá-
rio Oficial do Estado, Salvador, 26 mar. 1922.
ATA da Reunião Ordinária da Assembléia Geral da
Companhia Progresso Industrial da Bahia em 18 de
março de 1916. Diário Oficial do Estado, Salvador, 14
abr. 1916.
ATA da Reunião Ordinária da Assembléia Geral dos
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ATA da Reunião Ordinária da Assembléia Geral dos
srs. acionistas da Companhia Progresso Industrial da
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do, Salvador, 13 abr. 1919.
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ATA da Assembléia Geral Extraordinária dos acionis-
tas da Companhia Progresso Industrial da Bahia, em
29 de março de 1919. Diário Oficial do Estado, Salva-
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30 de abril de 1915. Referente ao exercício de 1914. Jor-
nal de Notícias, Salvador, 27 abr. 1915.
RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-
trial para ser apresentado aos srs. acionistas em Reu-
nião de Assembléia Geral Ordinária, a realizar-se em
30 de março de 1916. Referente ao exercício de 1915.
Diário Oficial do Estado, Salvador, 26 mar. 1916.
RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-
trial para ser apresentado aos srs. acionistas em Reu-
nião de Assembléia Geral Ordinária, a realizar-se em 31
de março de 1917. Referente ao exercício de 1916. Diá-
rio Oficial do Estado, Salvador, 28 mar. 1917.
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RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-
trial para ser apresentado aos srs. acionistas em Assem-
bléia Geral Ordinária, a realizar-se em 30 de março de
1918. Referente ao exercício de 1917. Diário Oficial do
Estado, Salvador, 27 mar. 1918.
RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-
trial para ser apresentado na Assembléia Geral Ordiná-
ria dos srs. acionistas, a realizar-se em 18 de março de
1919. Referente ao exercício de 1918. Diário Oficial do
Estado, Salvador, 14 mar. 1919.
RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-
trial para ser apresentado na Assembléia Geral Ordiná-
ria dos srs. acionistas, a realizar-se em 24 de março de
1920 acompanhado do parecer do Conselho Fiscal. Re-
ferente ao exercício de 1919. Diário Oficial do Estado,
Salvador, 21 mar. 1920.
RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-
trial para ser apresentado na Assembléia Geral Ordinária
dos srs. acionistas, a realizar-se em 31 de março de 1921
acompanhado do parecer do Conselho Fiscal. Referente ao
exercício de 1920. Diário Oficial do Estado, Salvador, 20
mar. 1921.
RELATÓRIO da direção da Companhia Valença Indus-
trial para ser apresentado na Assembléia Geral Ordiná-
ria dos srs. acionistas, a realizar-se em 31 de março de
1922 acompanhado do parecer do Conselho Fiscal. Re-
ferente ao exercício de 1921. Diário Oficial do Estado,
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321
Anexo
Estética operária
A legenda dizia: “Os burgueses ficam danados quando vêem um operário
bonito e elegante, como eu, andar no rigor da moda e do luxo. Não
sabem eles quantas voltas nas tripas eu sofro para poder vestir-me
luxuosamente e fazer pouses de fidalgo. Agora vou ser socialista para
forçar esses burgueses a pagarem bem os meus trabalhos, a fim de que
eu possa fazer pouses, sem estar tremendo de necessidades”.
Fonte: A Voz do Trabalhador, Salvador, ano 1, nº 1, 2 out. 1920, p. 3.
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323
Fundação de sociedades mutualistas,
beneficentes e cooperativas Bahia, 1832-1930*
Salvador
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade Protetora dos Desvalidos 16/09/1832 05/06/1929
Sociedade Montepio 16/12/1832
dos Artífices da Bahia
Sociedade Euterpe 14/03/1848
Sociedade Italiana de Mútuos Socorros 28/06/1903 ?/?/1849
Montepio da Bahia 08/10/1851
Sociedade Montepio dos Artistas 02/02/1853
Associação das Senhoras de Caridade 09/07/1854
Sociedade Humanitária dos Artistas 13/06/1856
Sociedade Montepio
dos Caixeiros Nacionais 22/11/1857 ?/?/1870
Sociedade Portuguesa 16 de Setembro 01/01/1857
Sociedade de Beneficência Portuguesa 20/09/1857
Societé Suisse de Bienfaisance ?/?/1857
Montepio Geral da Bahia 22/11/1857
Real S. Portuguesa de Beneficência
16 de Setembro 14/08/1859
S. B. Protetora dos Artífices
Carpinteiros e Calafates 03/03/1860
Sociedade Italiana
de Recreio e Beneficência ?/03/1861 ?/?/1863
Sociedade Beneficência Italiana 20/01/1863
S. Médico-Farmacêutica de
Beneficência Mútua ?/12/1866
Societé Française de Bienfaisance 09/02/1868
Deutscher Hilfsverein 28/08/1868
Associação Tipográfica Baiana 16/04/1871 ?/?/1904
S. Bolsa de Caridade do Arsenal
de Guerra da Bahia 08/05/1872
* Não inclui as confrarias (irmandades e ordens terceiras), que também pratica-
vam a ajuda mútua, nem as diversas entidades recreativas (bailantes, carnava-
lescas, teatrais, musicais e esportivas) vinculadas à classe operária. Estão exclu-
ídos, igualmente, os sindicatos que além do tradicional e distintivo fundo de
greve tivessem uma caixa de auxílio mútuo, posto que a mesma era, via de regra,
uma atividade secundária neste tipo de organização, destinada fundamental-
mente à luta econômica.
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324
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade Beneficente Acadêmica 15/09/1872
Clube Caixeiral 21/05/1876 16/03/1914
Associação Protetora
da Infância Desvalida 03/01/1882
S. B. dos Empregados da
Tesouraria de Fazenda ?/?/1884
Sociedade Espanhola de Beneficência 01/01/1885
Sociedade Beneficência Caixeiral 19/04/1885 30/03/1917
Sociedade Beneficente dos
Funcionários Públicos 09/01/1887
Sociedade 13 de Maio 21/05/1888
Sociedade Humanitária das Senhoras 10/06/1888
Sociedade Beneficente União
Filantrópica dos Artistas 07/06/1889
Clube dos Maquinistas 11/10/1889
Sociedade Cooperativa dos Alfaiates 01/01/1890
Sociedade Beneficente Montepio dos
Empreg. Municipais da Capital
da Bahia ?/05/1890
Clube Beneficente dos Mártires 20/01/1891
Sociedade Bolsa dos Chapeleiros 12/09/1891
Sociedade Beneficência Mútua de Brotas 25/06/1893
Centro Operário da Bahia 06/05/1894 09/07/1911
Sociedade Beneficência 1º de Maio ?/05/1894
S. Beneficente Vitória
(Fábrica de Charutos Vitória) 22/08/1894
Sociedade Bolsa dos Patriotas 01/11/1895
Sociedade Beneficente
União das Classes 15/11/1895
Sociedade Beneficente 8 de Dezembro ?/?/1898
Grêmio Beneficente do
Professorado Baiano 25/03/1898
Sociedade Beneficente Telegráfica 01/01/1898
Sociedade Beneficente
União dos Alfaiates 01/04/1898 03/06/1919
Sociedade Beneficente de Santana 29/06/1899 07/06/1917
Associação dos Empregados do
Comércio da Bahia 21/01/1900
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325
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
S. de Beneficência dos
Empregados de Restaurantes 20/06/1900
Círculo Católico 22/05/1901
Sociedade Beneficente e Musical
Recreio do Pilar 01/05/1902
Liga Beneficente dos
Paroquianos da Sé 07/07/1903
Sociedade Beneficente de Itapuã 04/07/1903
Associação dos Empregados
em Restaurantes ?/?/1903
Sociedade Beneficente dos Mares ?/?/1903
Sociedade B. União dos Carteiros
do Correio da Bahia ?/09/1904
Sociedade Fraternal do
Corpo de Bombeiros 03/11/1904
Sociedade Beneficente do
Regimento Policial 14/02/1905
Grêmio das Artes Gráficas 24/02/1905
Sociedade Beneficente Belo Sexo 09/06/1905
Sociedade Cooperativa dos Funcionários Públicos
e Procuradores do Estado da Bahia 29/08/1905
Sociedade Beneficente União Auxiliadora 22/04/1906 26/03/1916
Mutuaria Baiana Pedro II 30/04/1906
Socorros Mútuos Rio Branco 02/05/1906
Sociedade Beneficente União
dos Postilhões 16/07/1906
Sociedade Beneficente dos
Carteiros da Bahia 20/08/1906
Sociedade Beneficente da Chapelaria
Norte Industrial 03/12/1906
Clube Beneficente e Defensor
dos Operários Mecânicos 01/11/1907
S. B. dos Empregados nas
Capatazias de Alfândega 14/06/1908
Sociedade Beneficência 2 de Fevereiro 20/01/1909
(Cia. Empório Industrial do Norte) 04/04/1909
Sociedade Beneficente Familiar 06/04/1909
Mutuaria Alagoinhense 22/04/1909
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326
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade dos Guardas da Alfândega 25/05/1909
S. B. União dos Carteiros
do Correio da Bahia 08/09/1909
Sociedade Protetora das Desvalidas 10/08/1910
Beneficência Operária 23 de Novembro 12/11/1910
Cooperativa Municipal 06/01/1911
Sociedade Beneficente
Amparo dos Profissionais 20/10/1911
Sociedade Beneficente
União dos Padeiros 09/06/1912
Sociedade Beneficente 1º de Dezembro 04/03/1914
Liga dos Funcionários
Federais da Bahia 29/08/1914
Sociedade Beneficente dos Cabeleireiros 31/08/1915
S. União dos Empregados
do Comércio Varejista 15/11/1915
S. B. dos Empregados do Telégrafo
Nacional na Bahia 17/09/1916
Sociedade Beneficente 11 de Março
(Companhia União Fabril da Bahia) ?/?/1916
Sociedade Cooperativa e Auxiliadora
dos E. da Compagnie Chemins de Fer 15/01/1918
Sociedade Beneficente dos
Funcionários da Justiça 13/05/1918
Associação dos Funcionários
Públicos do E. da Bahia 20/08/1918
S. União Defensora e
B. dos Pintores da Bahia 26/02/1919
União Caixeiral da Bahia 01/06/1919
Sociedade Beneficente e Defensora
dos Eletricistas 20/07/1919
(Fábrica São Brás –
Cia. Progresso Industrial da Bahia) 27/07/1919
Beneficência Operária Sanfelixta 17/08/1919
Associação dos E. da Cia. Ferroviária
Este Brasileiro 28/01/1921
União Operária Beneficente 12/09/1922
Clube Caixeiral “Afrânio Peixoto” 27/09/1924
Caixa Imobiliária da Classe Caixeiral 28/06/1925
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327
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Associação dos Caixeiros
Viajantes da Bahia 17/11/192502-04/09/1936
S. B. dos Sargentos da Força Policial
do E. da Bahia 02/02/1927
Sociedade Defesa e Progresso
de Massaranduba 18/08/1929
Sociedade Beneficente 24 de Julho 04/04/1909
Sociedade Beneficente
e Recreativa de São Brás 27/07/1919
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade Montepio dos Artistas Nazarenos 08/09/1861
S. Montepio dos Empregados da E. de Ferro de Nazaré 29/01/1918
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade Montepio dos Artistas Feirenses 08/09/1876
Associação B. dos E. no Comércio de Feira de Santana 29/10/1903
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade Beneficente União e Amparo 02/02/1893
Sociedade Montepio dos Artistas Amargosenses 13/05/1895
Clube Caixeiral Amargosense 11/06/1904
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Associação Geral de Auxílios Mútuos 10/09/1893
dos Empregados da Estrada de Ferro
do São Francisco
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade Montepio dos Artistas Cachoeiranos ?/?/1898
Sociedade Beneficente Cachoeirana ?/?/1900
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade Montepio União Operária de São Félix 04/06/1901
Nazaré
Feira de Santana
Amargosa
Alagoinhas
Cachoeira
São Félix
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328
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade Montepio dos Artistas Iraraenses 24/07/1903
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade dos Desvalidos de Maragogipe 04/07/1903
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade Beneficente União das Artes 01/05/1904
União Caixeiral de Santo Antônio de Jesus 11/06/1920
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade Cooperativa dos
Operários Canavieirenses 09/05/1904
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Clube Caixeiral de Santo Amaro 27/05/1905
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
S. de B. Socorros Mútuos da Cidade de Lençóis 11/10/1905
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
S. Montepio Liga Operária dos Operários ?/?/1905
da Cia. Valença Industrial
(Cia. Valença Industrial) 08/12/1913
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Mutuaria Amparo do Lar 08/02/1908
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Associação dos Empreg. no Comércio de Ilhéus 23/01/1908
Associação dos Empreg. no Comércio de Ilhéus 01/08/1920
S. B. dos Artistas e Operários da Cidade ?/?/1922
de Ilhéus
Maragogipe
Santo Antonio de Jesus
Canavieiras
Irará
Senhor do Bonfim
Valença
Lençóis
Santo Amaro
Ilhéus
Untitled-1.pmd 3/5/2004, 10:31328
329
Fontes: APEB, documentos das Seções Colonial e Provincial; Legislativa e Re-
publicana; jornais diversos (1890-1922); Diário Oficial do E. da Bahia (1915-
1923); estatutos, atas e relatórios das associações; almanaques; memórias.
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Sociedade União Beneficente Caixeiral 31/10/1908
de Itabuna
Sociedade Montepio dos Artistas 12/09/1921
de Itabuna
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Associação dos Empregados 05/02/1909
no Comércio do Ventura
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Beneficência Sempre Viva 26/04/1911
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Clube Dramático Beneficente
Bom-Jesuense ?/07/1911
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
Beneficência Caixeiral de Belmonte 12/10/1911
Nome Fundação Reorganiz. P. Notícia
União Operária Beneficente
de Caitité 15/03/1912
Vila do Bom Jesus do Rio de Contas
Belmonte
Caitité
Itabuna
Ventura
Andaraí
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