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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SÃO PAULO
CURSO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO AMBIENTAL
O ESTRESSE HÍDRICO E O REÚSO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS COMO
ALTERNATIVA ECONÔMICA E SUSTENTÁVEL
RICARDO PARDELLI
ROGÉRIO CELESTE
ORIENTADORA
REGINA HELENA PACCA GUIMARÃES COSTA
São Paulo
2013
1
RICARDO PARDELLI
ROGÉRIO CELESTE
O ESTRESSE HÍDRICO E O REÚSO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS COMO
ALTERNATIVA ECONÔMICA E SUSTENTÁVEL
São Paulo
2013
Monografia apresentada à Faculdade de
Tecnologia de São Paulo, como parte dos
requisitos para obtenção do titulo de
Tecnólogo em Hidráulica e Saneamento
Ambiental.
Orientadora: Profª Regina Helena Pacca
Guimarães Costa.
2
DEDICATÓRIAS
Dedico este trabalho a meus filhos, que apesar de minha
presença menos constante, compreenderam e incentivaram,
à minha enteada, que acompanhou com entusiasmo minha
trajetória, e especialmente à minha esposa, por incentivar-me
a começa-lo, mesmo sabendo que os finais de semana
passariam a ser nossos maiores aliados.
Rogério Celeste
Dedico este trabalho especialmente à minha esposa Karina,
minha companheira e parceira, que sempre esteve ao meu
lado em todos os momentos, fáceis e difíceis, dessa
caminhada, e aos meus filhos Lucca e Isabela, razão pela
qual estarei sempre em formação pessoal e profissional,
servindo de exemplo também em suas próprias formações.
Ricardo Pardelli Jr.
3
RESUMO
Quando falamos sobre estresse hídrico queremos na verdade falar sobre a
falta de água potável em algumas regiões e o aumento de água não potável
em outras. Assim, iniciamos o trabalho justamente no ponto que mais nos
assombra: Os conflitos armados que podem ocorrer em torno da falta de
água. Aos poucos descortinam-se vários pontos de vista e informações que
convergem para o mesmo foco, a escassez da água, porém tornando-se
mais ameno à medida que o caminhamento dos tópicos guia-nos por novas
situações e pesquisas mais reveladoras sobre a viagem da água pelo
planeta como bem de consumo, tais como a Água Virtual e a Pegada
Hídrica. Neste momento entraremos no racionalismo humano e os motivos
que nos levam a tomar atitudes, tais como nossa consciência, nossas
obrigações legais ou nossos interesses financeiros. Qualquer que seja esta
motivação, uma norma, como a Produção Mais Limpa lançada pela
UNESCO nos anos 1990, ou uma lei, como a Política Nacional de Resíduos
Sólidos de 2010, que obriga governo, empresários e população a fazerem
parte de um ciclo que, fatalmente, provocará uma ação, como a reciclagem.
Toda ação leva a uma reação, e são essas reações, alavancadas pela
divulgação feita por instituições de credibilidade, como a FIESP e a
CETESB, a finalidade do presente trabalho: disseminar a prática do reuso de
água industrial, expondo os benefícios ambientais desta prática sem deixar
de lado os benefícios econômicos e os benefícios incomensuráveis, como a
imagem de uma empresa e a educação de uma população, utilizando-se
como grandes exemplos as ações que empreenderam grandes empresas,
tais como: Pirelli, Aquapolo e JBS, citadas nesta monografia, para que não
tenhamos que chegar um dia àquele ponto que mais nos assombra, citado
no início do Capítulo 2 e deste Resumo: As Guerras da Água.
Palavras-chave: água, recursos hídricos, estresse hídrico, reuso, reciclagem,
resíduos, escassez, água virtual, pegada hídrica, PNRS.
4
SUMÁRIO
DEDICATÓRIAS ............................................................................................ 2
RESUMO ....................................................................................................... 3
SUMÁRIO ...................................................................................................... 4
LISTA DE FIGURAS ...................................................................................... 5
LISTA DE ABREVIATURAS........................................................................... 6
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 7
2. REVISÃO da LITERATURA ..................................................................... 10
2.1 Estresse Hídrico ..................................................................................... 10
2.1.1 Água Virtual e Pegada Hídrica – Estudos sobre o consumo ............... 14
2.1.1.1 Água Virtual ...................................................................................... 14
2.1.1.2 Pegada Hídrica ................................................................................ 16
2.2 Os motivadores das mudanças .............................................................. 17
2.3 Em busca do equilíbrio ........................................................................... 18
2.3.1 Produção Mais Limpa (P+L) ................................................................ 18
2.3.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) .................................. 19
2.3.2.1 Por que reciclar? .............................................................................. 20
2.4 Exemplos a difundir ................................................................................ 21
2.4.1 Fiesp ................................................................................................... 22
2.4.1.1 Pirelli Pneus – Campinas/SP ........................................................... 23
2.4.1.2 Aquapolo Ambiental – São Paulo/SP ............................................... 35
2.4.2 Cetesb ................................................................................................. 47
2.4.2.1 Case JBS Couros S/A - Grupo Friboi (resumido) ............................. 47
3. CONCLUSÃO .......................................................................................... 50
3. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 53
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – “As Guerras da Água” ................................................................. 10
Figura 2 - Desigualdade no Acesso da População à Água Potável ............. 11
Figura 3 – Banner para a campanha do Dia Mundial da Água em 2013 ...... 12
Figura 4 – Balanço da Água Virtual, por país ............................................... 16
Figura 5 - Gráfico de consumo de água em 2011 ........................................ 25
Figura 6 – Tanque de Água de Reuso com capacidade de 300m3 .............. 26
Figura 7 – Filtro de Areia e Carvão já em operação ..................................... 26
Figura 8 - Aquário utilizado no controle biológico. ........................................ 27
Figura 9 – Visão Geral da ETE Industrial e Aquário de controle biológico. .. 28
Figura 10 - Dia do Meio Ambiente realizado em Setembro/2011 ................. 29
Figura 11 – Quadro de atividades do Programa Sócio Ambiental ................ 30
Figura 12 – Escola EMEF Barraquet - Visita á Pirelli - Julho/2011. ............. 31
Figura 13 – Acompanhamento do consumo de água ................................... 31
Figura 14 – Gráfico da evolução do consumo específico - 2010.................. 32
Figura 15 – Gráfico de consumo de água específico - 2011. ....................... 33
Figura 16 – Gráfico demonstrativo da redução do consumo de água .......... 33
Figura 17 – Volume captado ........................................................................ 34
Figura 18 – ETE ABC ................................................................................... 36
Figura 19 – Refinaria Petrobras – Capuava/ABC......................................... 37
Figura 20 – Braskem ABC ........................................................................... 38
Figura 21 – Filtros-disco ............................................................................... 41
Figura 22 – Tanque de tratamento biológico. ............................................... 41
Figura 23 – Membranas de polissulfona. ..................................................... 42
Figura 24 – Sistema de ultrafiltragem com membranas submersas ............ 42
Figura 25 – Água de reuso produzida na Aquapolo Ambiental .................... 43
Figura 26 – Etapa de filtragem por osmose reversa .................................... 43
Figura 27 – Adição de uma solução de dióxido de cloro. ............................. 44
Figura 28 - Estação de Tratamento de Efluentes - Friboi / Lins ................... 48
6
LISTA DE ABREVIATURAS
ABC - Grande ABC, região metropolitana de São Paulo
BBC - Empresa Britânica de Comunicação
CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
DAEE - Departamento de Águas e Energia do Estado de São Paulo
DBO - Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO - Demanda Química de Oxigênio
EMEF - Escola Municipal de Ensino Fundamental
EPAI - Estação Produtora de Água Industrial
ETA - Estação de Tratamento de Água
ETE - Estação de Tratamento de Efluentes
EUA - Estados Unidos da América
FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
MMA - Ministério do Meio Ambiente
ONG - Organização Não Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
P+L - Produção Mais Limpa
PCS - Produção e Consumo Sustentáveis
pH - Potencial Hidrogeniônico
PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos
SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
TPA - Tonelada de Produto Acabado
UNESCO - ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura
WF - Water Footprint, do inglês Pegada Hídrica
7
1. INTRODUÇÃO
Nosso planeta corre sérios riscos de grandes conflitos, secas e fome
por conta da falta de água potável que se vislumbra em médio prazo.
O pronunciamento da Deputada Federal Maria do Carmo Lara
(PT/MG), na Sessão da Câmara do dia 10/04/2002, isto é, há 11 anos,
fomentava uma situação já perturbadora:
[...] a água vem recebendo a qualificação de "ouro azul"
e fala-se até na possibilidade de, num futuro próximo, haver
guerras em busca de água potável. Portanto, há que se tomar
consciência desta problemática que tem a ver diretamente com a
continuidade da vida e sua qualidade.
[...] o rápido crescimento da população mundial e a
crescente poluição, causada também pela industrialização, torna a
água o recurso natural mais estratégico de qualquer país do
mundo. Para cada 1.000 litros de água utilizados, outros 10 mil
são poluídos. Segundo a ONU, parece estar cada vez mais difícil
se conseguir água para todos, principalmente nos países em
desenvolvimento.
Assim, de um lado estão os países extremamente pobres, como a
Etiópia, onde mulheres, adultas ou crianças, são as responsáveis pela
obtenção de água andando até dezenas de quilômetros diariamente para
obter algumas dezenas de litros de água imprópria para o consumo humano;
do outro lado estão os países desenvolvidos, como os Estados Unidos da
América onde, em média, o consumo de apenas uma pessoa equivale ao
consumo de seiscentas pessoas na Etiópia.
O Brasil é outro grande exemplo dessa desigualdade hídrica. Aqui
estão 11,6% de toda a água doce do planeta. Aqui também se encontram o
maior rio do mundo - o Amazonas - e os maiores reservatórios de água
subterrânea do planeta - o Aquífero Guarani e o Aquífero Alter do Chão. No
entanto, essa água está mal distribuída: 70% das águas doces do Brasil
estão na Amazônia, onde vivem apenas 7% da população. Essa distribuição
irregular deixa apenas 30% do potencial hídrico para abastecer 93% da
8
população. Essa é a causa do problema de escassez de água verificado em
alguns pontos do país. Mas isto não seria um problema se a água fosse bem
gerenciada e se a infraestrutura urbana tivesse sido projetada em comum
acordo com o sistema natural: as bacias e sub-bacias, o ecossistema e o
ciclo hidrológico. Ao invés disso, proliferaram grandes avenidas e uma
imensidão de edifícios e shopping centers, cuidando para que a
impermeabilização do solo fosse perfeita; adicione-se a isto que o sistema
de drenagem e de esgoto sanitário contribuíssem para a completa
degradação de nossos próprios mananciais. Lembra-nos o professor Oscar
Cordeiro Neto (março/2002):
[...] São Paulo e Rio de Janeiro, cidades que sofrem, ao
mesmo tempo, com a falta de água e com as enchentes. Porque a
água que inunda é tão poluída que não pode ser aproveitada e a
água que se bebe é buscada em locais muito distantes.
Ainda que timidamente e um tanto esparsas, atitudes estão sendo
tomadas. Estudos reconhecidos internacionalmente, como a Água Virtual e a
Pegada Hídrica, vêm sendo adotados por empresas, governos e pela própria
ONU, quando da mensuração destes no consumo de água. Programas
como a Produção Mais Limpa (P+L) da ONU/PNUMA, criado há décadas,
ressurgem mais fortes e dão origem a outros programas e leis, como a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305/2010), “tendo como
princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e
população, impulsionando o retorno dos produtos às indústrias após o
consumo e obrigando o poder público a realizar planos para o
gerenciamento do lixo” (MMA/2010).
A reciclagem passou a ser vista como saída para a socialização de
catadores, organizados em cooperativas de trabalho, ao passo que neste
ponto, aliado à obrigatoriedade da logística reversa, disseminou-se a ideia
de que reciclar e reusar são sinônimos de legislação, economia financeira e
sustentabilidade.
O tratamento de efluentes industriais é prática obrigatória de acordo
com diversas leis e resoluções, como o Código e a Lei das Águas, a
9
Resolução 357/05 do CONAMA, a Portaria 2914/11 do Ministério da Saúde,
entre outras. Mas o que o empresariado está passando a perceber é que o
custo com estas adequações poderiam ser “diluídos” caso houvesse o
reaproveitamento do descarte em seus próprios processos industriais. O
conceito do reuso de água industrial deixou de ser, aos poucos, uma teoria
poética disseminada por alguns “nobres cruzados” do ambientalismo para se
tornar uma prática rentável e ambientalmente correta.
Porém, neste país a educação, a cultura e o acesso à informação
são deficientes ou manipulados. A massificação de informações e diversões
efêmeras, porém imediatas, são os preferidos pois trazem resultados
também imediatos. Se somarmos a isso o bombardeio feito diariamente
quanto às mudanças climáticas, será fácil deduzir que o espaço
extremamente importante relegado ao saneamento ambiental fica próximo a
zero.
O objetivo geral do presente trabalho é trazer um panorama do
consumo hídrico englobando: a) uma previsão do futuro, caso nada seja
modificado; b) quais são os motivadores para mudança de atitudes; c)
citação de programas e ações advindos em prol do equilíbrio e da
sustentabilidade; d) exemplos de sucesso na implantação de reuso
industrial, com suas características e resultados, divulgados por instituições
extremamente conceituadas, como FIESP e CETESB.
Especificamente, o objetivo é demonstrar que, diante de um quadro
precário de acesso à informações ou atividades, toda e qualquer iniciativa de
práticas sustentáveis do uso de recurso hídricos deve ser disseminada.
A justificativa deste tema reside em que há uma inércia por parte da
mídia em geral com relação a conceder-lhe um espaço maior. Algo precisa
ser feito nestes próximos anos para reverter uma situação prevista há
décadas atrás, a acontecer em algumas décadas à frente, e que esse algo a
ser feito é tão mais simples e econômico do que tentar, lá no futuro,
remediar. Propagar o reuso em geral e seus empreendedores é, com
certeza, uma das saídas.
10
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Estresse Hídrico
Muito se tem dito sobre a atual escassez de água em nível mundial e
as consequências que isso poderia trazer: racionamentos, fome e conflitos
armados são os principais. A frequência com que os meios de comunicação
vêm noticiando sobre tais ocorrências tem aumentado, como podemos
verificar na Figura 1.
Figura 1 – “As Guerras da Água” – Matéria publicada no programa Matéria de Capa da Rede Cultura de Televisão
Fonte: Sítio CMAIS – Rede Cultura/2013
O Guia do Estudante (versão escrita) e a revista Planeta Sustentável
(versão eletrônica), publicaram simultaneamente em 2009 uma matéria de
cinco páginas do jornalista Sérgio Adeodato sob o título “Líquido Precioso”,
reportando-nos que a água vem sendo disputada como um tesouro e pode
11
transformar-se em motivo de conflitos e guerras, alegando também que hoje
(2009), levantamentos mostram que 2,2 bilhões de pessoas (figura 2), ou
seja, quase um terço da população do planeta vem sofrendo com a
escassez de água potável, calculando-se ainda que em 20 anos haverá 3,9
bilhões de pessoas com sede.
Figura 2 - Desigualdade no Acesso da População à Água Potável
Fonte: IBGE, 2003
Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU/2013)
demonstram que um bilhão de pessoas não tem acesso suficiente à água, o
qual é definido como 20 litros por pessoa/dia a uma distância não superior a
mil metros de alguma ligação doméstica, fonte pública, fossos, poços e
nascentes protegidas e a coleta de águas pluviais.
Ainda de acordo com a ONU:
[...] causas de abastecimento inadequado de água
incluem o uso ineficiente, a degradação da água pela poluição e a
superexploração das reservas de águas subterrâneas. Ações
corretivas visam a alcançar uma melhor gestão dos escassos
recursos de água potável, com foco particular na oferta e na
demanda, quantidade e qualidade. Atividades do Sistema das
Nações Unidas visam ao desenvolvimento sustentável dos
recursos finitos e frágeis de água doce, que estão sob pressão
crescente com o crescimento populacional, a poluição e as
demandas de usos agrícolas e industriais.
12
A UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura, um dos braços da ONU, que vem enfatizando a
preocupação da comunidade internacional em concretizar os compromissos
assumidos com relação aos recursos hídricos do planeta, lançou 2013 como
o “Ano Internacional de Cooperação pela Água”.
O órgão tem veiculado material informativo e educacional visando
uma conscientização acessível e de fácil assimilação pelo público em geral,
em linguagem iconográfica (figura 3) simples, porém direta.
Figura 3 – Banner para a campanha do Dia Mundial da Água em 2013
Fonte: UNESCO/2013
O próprio órgão manifestou sua preocupação com relação a conflitos
internacionais por conta da escassez de água quando menciona:
[...] são ações que podem ajudar na construção de
respeito, entendimento e confiança mútuos entre os países, e
também na promoção da paz, da segurança e do crescimento
econômico sustentável.
[...]
Surpreendentemente, os territórios de 148 nações estão
dentro de bacias hidrográficas internacionais, e mais de 30 países
estão localizados quase completamente nessas bacias. No total,
existem 276 bacias internacionais. Elas cobrem 45% da superfície
da parte terrestre do planeta, abrigam cerca de 40% da população
13
mundial e são responsáveis por aproximadamente 60% dos rios
do mundo (UNESCO, 2013).
Para o Prof. Milton Matta, da Universidade Federal do Pará (2013), a
verdadeira crise teria origem no gerenciamento deste recurso. A quantidade
de água existente no planeta é suficiente para abastecer o dobro de sua
população, desmistificando a chamada „crise da água‟. O consumo da água
distribuir-se-ia em 10% no consumo humano, 20% no uso industrial e 70%
na agricultura.
Segundo o professor, se pudéssemos ser mais eficientes em sua
distribuição e em seu uso, não teríamos qualquer risco de escassez.
Imaginando que esta eficiência reduzisse os consumos humanos e
industriais, teríamos então disponíveis para uso esses mesmos índices; por
exemplo, reduzindo 10% teríamos disponíveis então mais 10%, e assim
sucessivamente. Isto sem considerarmos a Agricultura, onde há o consumo
de maior demanda e pior gerenciado com perdas assustadoras originadas
nos projetos. Basta visualizar que uma redução mínima efetiva de 10%
significaria todo o consumo humano.
A dificuldade no correto gerenciamento estaria nas diferentes
características locais: clima, disponibilidade, acessibilidade e qualidade
hídrica, bem como o desenvolvimento econômico e social do país.
O Brasil seria um exemplo dessa falta de gerenciamento. O
crescimento desordenado acelera o processo de degradação de recursos
ambientais, principalmente os hídricos, mas os poderes públicos não
contemplam o seu uso racional. Além disso, a falta de educação não permite
com que sua população entenda conceitos básicos. Toma-se como exemplo
o povo da Amazônia: Como convencê-los a economizar água se todas as
tardes veem o céu escurecer, num prenúncio de mais chuvas?
Portanto, na opinião do professor, o planeta favorece-nos com
relação à abundância de água, mas esta relação de quantidade não está
sempre diretamente ligada à sua qualidade.
14
2.1.1 Água Virtual e Pegada Hídrica – Estudos sobre o consumo
2.1.1.1 Água Virtual
Segundo a ONU (2013), estima-se que cada ser humano gasta em
média 110 litros de água por dia em suas necessidades básicas, tais como
preparo de alimentos, higiene, etc. Nos Estados Unidos da América (EUA) o
consumo varia entre 400 e 600 litros/hab./dia, enquanto que na Etiópia o
consumo médio é de 1 litro/hab./dia. Porém, esta estimativa considera
apenas o uso direto, como ingestão, higienização, preparação de alimentos,
etc. O consumo utilizado nos processos de produção de tudo o que se
consome, tais como livros, alimentos e automóveis, não são levados em
consideração. Tal consumo indireto, denominado Virtual Water, ou Água
Virtual é parte de um estudo que vem chamando a atenção de especialistas,
pois demonstra que a demanda por esse recurso é muito maior do que se
imaginava e, em contrapartida, sua disponibilidade vem diminuindo.
O estudo da Água Virtual tem uma definição simples, segundo a qual
o volume de água utilizado na produção de qualquer bem ou produto, seja
de origem animal, vegetal ou mineral, é considerado Água Virtual. No setor
produtivo, esta água seria dividida em verde (chuva), azul (na superfície e
debaixo da terra) e cinza (poluída).
Em novembro de 2004, uma empresa jornalística de expressão
mundial, a BBC, abriu espaço em seu sítio para esta preocupação de
escassez e mencionou este novo conceito de Água Virtual. Segue uma
tradução do início da matéria:
Um terço da população mundial vive em países com
carência de água atualmente e em 2025 este número
provavelmente terá aumentado para dois terços. Poderíamos
resolver os problemas de água do mundo e, se sim, como fazer?
As opiniões divergem - embora a maioria concorde que a
escassez de água é uma questão complexa, sem solução simples.
15
Uma série de especialistas em água tenta explicar de
que forma o setor privado, do comércio internacional e da
tecnologia podem ajudar. [...]
Naquela matéria, um professor da Universidade de Londres afirma
que noventa por cento da água consumida por um indivíduo é utilizada para
produzir sua alimentação. Os demais 10% da água doce, necessários aos
trabalhos domésticos ou não-agrícolas, estão quase sempre disponíveis
localmente. Ele afirma ainda que onde há escassez de água, a
dessalinização tornou-se uma opção econômica - embora as populações em
altitudes elevadas enfrentem problemas.
O professor anteriormente mencionado é John Anthony Allan,
professor da Universidade de Londres, que iniciou esses estudos em 1993.
Ele calcula que cerca de um quinto de toda a água vai para a produção de
culturas e de commodities para exportação, parte de um fenômeno global
que ele denominou, como mencionado anteriormente, Água Virtual.
Por conta deste estudo, o professor Tony Allan recebeu inclusive um
prêmio do Stockholm International Water Institute, em 2008, pela relevância
do trabalho e, como pudemos atentar no início deste tópico, a denominação
Água Virtual já vem sendo utilizada inclusive pela ONU.
A Reuters, agência internacional de notícias, publicou em 2008 que
o próprio Stockholm International Water Institute afirma que a ideia de Água
Virtual vem fazendo parte da produção de alimentos e de produtos
industrializados. Segundo avaliação daquele instituto, as pessoas não
consomem apenas água quando a bebem ou tomam um banho. Por trás de
uma xícara de café, por exemplo, há 140 litros de água que foram
consumidos para fazer crescer, produzir, empacotar e enviar o grão.
Ainda de acordo com a agência Reuters, o instituto declarou que nos
EUA uma pessoa média consome cerca de 7.000 litros de água virtual todos
os dias, mais de três vezes o consumo médio de uma pessoa chinesa.
16
2.1.1.2 Pegada Hídrica
Com origem intelectual nos anos 1990, a Pegada Hídrica (WF, do
termo original em inglês Water Footprint), passou por vários ajustes até sua
final edição e apresentação em 2011 pelos pesquisadores Hoekstra e
Mekonnen, do Department of Water Engineering and Management da
Universidade de Twente, na Holanda. Com base nos princípios da Água
Virtual, este estudo quantifica e mapeia a WF da humanidade em uma
resolução espacial, isto é, estimada por nação, tanto da produção quanto
uma perspectiva de consumo. Fluxos de WF internacional são estimados
com base no comércio de commodities agrícolas e industriais.
De acordo com os autores (Hoekstra & Mekonnen, 2011), o estudo
ilustra a dimensão global do consumo de água e poluição, mostrando que
vários países dependem fortemente dos recursos hídricos estrangeiros e
que muitos países têm impactos significativos sobre o consumo de água e
poluição em outro lugar (figura 4).
Figura 4 – Balanço da Água Virtual, por país
Fonte: Sítio da Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America/2012
17
A seção Economia & Negócios no sítio do jornal O Estado de São
Paulo destaca, em um comentário do professor Paulo Roberto Haddad
(2012), Ex-Ministro da Fazenda e do Planejamento (1992/93), a dimensão e
o uso deste estudo:
É crescente, entre os principais líderes públicos e
privados em escala mundial, a preocupação com a extensão e a
magnitude que as organizações empresariais e os consumidores
estão interferindo nos ciclos hidrológicos de países e regiões,
frequentemente de forma não sustentável. [...] O cálculo da
pegada hídrica na linha de produção pode contribuir para tornar
efetiva a responsabilidade social ampliada das grandes
corporações.
2.2 Os motivadores das mudanças
Existem três motivadores das mudanças de atitudes relacionadas ao
meio ambiente: OBRIGAÇÃO, ECONOMIA e CONSCIÊNCIA.
→ Motivador OBRIGAÇÃO: Temos duas formas, a obrigação legal
e a obrigação comercial.
Obrigação legal: é aquela imposta pelos órgãos públicos
reguladores e/ou por leis específicas federais, estaduais ou
municipais;
Obrigação comercial: é aquela exigida por clientes ou
fornecedores, como condição ao fechamento do negócio. Por
exemplo, vários fabricantes certificados pela ISO14000
exigem que seus clientes também o sejam, assim como o
cliente certificado exige esta reciprocidade de seu fornecedor.
→ Motivador ECONOMIA: puramente racional, está relacionado ao
aumento da procura por produto ou serviço de empresas cujos processos e
imagem ajustam-se às questões sustentáveis e consequentemente aos seus
clientes, fornecedores ou às leis e opinião pública; é inerente aos
empresários e origina-se da intenção de maiores lucros e menores prejuízos,
os quais podem ser inclusive resultado dos outros motivadores. Portanto,
18
este pode ser um motivador subproduto do resultado de um ato de obrigação
ou de um ato de consciência.
→ Motivador CONSCIÊNCIA: contrariamente ao anterior, este
motivador é passional, mas dentro da racionalidade pois nasce quando há o
vislumbre de um futuro caótico, visto através dos meios de comunicação ou
da educação. Inerente ao cidadão melhor informado e/ou com bom nível de
formação, entre eles alguns empresários, os quais entendem que o lucro
visado é a preservação da natureza para as futuras gerações.
2.3 Em busca do equilíbrio
Ações que visem, se não reverter, ao menos minimizar os efeitos de
um possível estresse hídrico, precisam ser adotadas agora enquanto o
problema é previsto mais à frente. Isto não seria preocupante se o ser
humano tivesse por hábito evitar suas tragédias anunciadas mas,
historicamente, ele tende a remediar as situações críticas ao invés de
preveni-las.
2.3.1 Produção Mais Limpa (P+L)
O P+L é um conceito introduzido na década de 1990 por dois braços
da ONU: o UNIDO (Organização pelo Desenvolvimento Industrial das
Nações Unidas) e o PNUMA (Programa de Meio Ambiente das Nações
Unidas).
Em resumo, este conceito é definido como a aplicação contínua de
uma estratégia ambiental preventiva integrada aos processos, produtos e
serviços com o intuito de aumentar a ecoeficiência e reduzir os riscos à
saúde e ao meio ambiente (MMA, 2012).
Posteriormente, a preocupação com o aquecimento global contribuiu
para a evolução do P+L, inserindo a ideia de Produção e Consumo
Sustentáveis (PCS) a qual une os extremos dos processos produtivos que
19
impactam diretamente no meio ambiente e, consequentemente, na
sustentabilidade.
Portanto, o advento da P+L tem papel fundamental na conservação
dos recursos hídricos dentro da produção industrial.
2.3.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
A lei 12.305/2010 instituiu o mais moderno plano para
gerenciamento de resíduos urbanos do mundo: A Política Nacional de
Resíduos Sólidos – PNRS. Com o princípio da responsabilidade
compartilhada entre governo, empresas e população, este marco histórico
da gestão ambiental impulsiona o retorno dos produtos às indústrias após o
consumo, obrigando o poder público a realizar planos para o gerenciamento
do lixo e determinando o fim dos lixões até agosto/2014.
Uma reportagem no sítio da Agência Brasil (março, 2013), empresa
de comunicação do Governo Federal, responsável inclusive pelo programa
"A Voz do Brasil" posicionou oficialmente a situação atual:
[...]
Em outubro todas as contribuições da 4ª Conferência
Nacional de Meio Ambiente serão consolidadas em um encontro
nacional. A proposta do governo com a iniciativa, que, pela
primeira vez vai abrir espaço para que organizações da sociedade
civil também apresentem sugestões em uma página na internet
(www.conferenciameioambiente.gov.br), é criar as condições
necessárias para que a lei saia definitivamente do papel.
Esta fase de entrega de propostas venceu em agosto/2012 e apenas
10% dos municípios haviam entregado seus planos. Apesar disto, há
grandes possibilidades de que sua implantação se dê ainda dentro do prazo
inicialmente previsto: agosto/2014.
Findo o prazo, os municípios que ainda estiverem irregulares ou não
entregaram suas propostas, ficarão sem o repasse.
20
2.3.2.1 Por que reciclar?
Na fabricação do papel, por exemplo, considerando o estudo da
Água Virtual anteriormente mencionado – capítulo 2.1.1.1, seriam
necessários 10 litros de água para produção de cada folha tipo “A4” com
gramatura de 90g/m2. Então, para se produzir uma tonelada serão
necessários:
- Área de uma folha A4 = 0,21m X 0,297m = 0,06237 m2
- Peso de uma folha A4 = 0,06237 m2 X 90 g/m2 = 5,6133 gramas
- Total de folhas A4/T = 1000 kg / 0,0056133 kg = 178.148 folhas
- Água utilizada = 178.148 folhas X 10 litros = 1.782 m3 de água
Portanto, são gastos 1.782 m3 de água para produzir-se uma
tonelada de papel.
Em matéria feita por Lydia Cintra para a revista SuperInteressante
eletrônica (junho/2011), um quilo de papel consome 540 litros de água.
Então, para uma tonelada teremos: 1000 X 540 = 540.000 litros ou 540 m3
de água. Como este cálculo não está baseado na Água Virtual, mas apenas
na etapa de produção, o balanço de valores resulta a quantidade utilizada no
plantio:
1782 m3 – 540 m3 = 1242 m3 utilizados na fase de plantio.
De acordo com o prof. Rui Meira (2002), uma tonelada de papel
reciclado economiza cerca de 20.000 litros de água ou 20 m3, isto
novamente considerando apenas a etapa de produção. Se considerarmos a
etapa de plantio com sua respectiva irrigação, somada à economia na etapa
de produção, teremos:
1242 m3 + 20 m3 = 1262 m3 de água economizada na
reciclagem de uma tonelada (1 T = 1000 kg) de papel.
21
Este cálculo simples pode ser feito para todos os materiais passíveis
de reciclagem ou reuso, mas que são descartados diariamente sem uma
correta destinação: alumínio, vidro, etc.
2.4 Exemplos a difundir
Hoje o aquecimento global é a vedete dos problemas ambientais.
Independentemente da veracidade, maledicência ou confiabilidade de seus
estudos e até mesmo quanto ao real poder maléfico do Dióxido de Carbono
(CO2) sobre o efeito estufa, o fato é que toda iniciativa ou pesquisa voltada
àquele assunto tende a receber créditos, incentivos e promoções. Basta
verificar-se o número de Organizações Não Governamentais (ONGs)
existentes voltadas à esfera ambiental: Segundo o Conselho Nacional de
Meio Ambiente (CONAMA/2013), existem hoje registradas 635 ONGs
ambientais incluídas oficialmente no Cadastro Nacional de Entidades
Ambientalistas (CNEA). O cadastro foi criado em 1991, ano anterior à
RIO92, com o registro de apenas 170 instituições. Portanto, um aumento de
373% em 22 anos.
Um pouco mais distante dos holofotes, a possibilidade de haver um
estresse hídrico em 20 anos seria quase unânime. Mas a cultura popular,
acostumada a frequentes notícias de temporais, deslizamentos, enchentes e
inundações, por falta de conhecimento acaba traçando um paralelo (induzido
ou subconscientemente) entre mudanças climáticas e desastres naturais,
quando ao menos deveria ter mais informações sobre, por exemplo,
impermeabilização do solo ou desmatamento de encostas, origens de várias
dessas catástrofes, e ainda informações sobre qual o destino de todas essas
águas que muitas vezes invadem ruas e avenidas, arrastando resíduos
urbanos de toda sorte e natureza para dentro de rios, córregos, lençóis
freáticos, etc.
Uma saída para esta falta de publicidade está em divulgar o trabalho
daqueles que adotaram grandes mudanças e estão gerando benefícios
ambientais.
22
Vindo ao encontro desses pensamentos estão algumas instituições,
incentivando e divulgando, há algum tempo, todos os esforços praticados
por empresas que investem na racionalização e na conservação ambiental.
A Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e a CETESB –
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, por exemplo, são algumas
das quais apresentaremos, de forma dinâmica, alguns de seus trabalhos de
divulgação pública.
Como pudemos observar anteriormente no capítulo 2.2, os
motivadores das mudanças de atitudes dos tipos OBRIGAÇÃO e
ECONOMIA são aqueles mais comumente pensados entre a grande maioria
do empresariado. Premiações ou divulgação gratuita em espaços
específicos podem ajudar a incentivar os concorrentes a aderirem
naturalmente ao engajamento ambiental, difundindo práticas e processos
sustentáveis.
2.4.1 Fiesp
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP, maior
entidade de classe da indústria brasileira, desde 2006 vem premiando
empresas que desenvolvem projetos baseados na preocupação ambiental: o
Prêmio FIESP de Mérito Ambiental, instituído em 1995, e o Prêmio FIESP
de Conservação e Reuso de Água, instituído em 2006.
De acordo com a entidade (Fiesp, 2012):
O Prêmio (Conservação e Reuso de Água) tem como
finalidade conhecer, difundir e homenagear, anualmente, empresas
que utilizam boas práticas na promoção do uso eficiente de água,
com medidas efetivas na redução do consumo e do desperdício de
água, gerando benefícios ambientais, econômicos e sociais e
aumentando a competitividade do setor.
O Prêmio também procura dar ampla publicidade às
ações realizadas pela indústria paulista na construção do
desenvolvimento sustentável. De 2006 a 2012, recebeu 113
projetos de 88 empresas dos mais variados segmentos. Ao todo,
23
foram premiadas 12 empresas, divididas entre as categorias
micro, pequena, média e grande. Contabilizando todas as edições,
as empresas participantes do Prêmio investiram mais de R$ 37,3
milhões em conservação e reuso, gerando uma economia
equivalente à 20.092.552 metros cúbicos de água por ano.
São duas as categorias às quais concorrem as empresas: Micro e
Pequeno Porte ou Médio e Grande Porte. Os vencedores de cada uma
recebe, além de um troféu, o direito de utilizar um selo com registro do
prêmio e ano de referência. Outras quatro empresas são premiadas com
placas de menção honrosa. A participação para concorrer ao Prêmio é
gratuita.
Apresentaremos aqui as duas últimas empresas vencedoras da
categoria Médio e Grande Porte em virtude da magnitude que suas
mudanças redundaram. São elas:
Pirelli Pneus Ltda. – Unidade Campinas
Vencedora da 7ª edição – 2012
Aquapolo Ambiental – Empresa SABESP e Foz do Brasil
Vencedora da 8ª edição - 2013
2.4.1.1 Pirelli Pneus – Campinas/SP
A) Situação inicial:
A unidade Campinas da Pirelli, em atividade desde 1971, mantém
2.097 postos de trabalho diretos e 430 indiretos (estes aproximados).
Certificada ISO14001 desde 1998 possui em operação nesta
unidade duas Estações de Tratamento de Efluentes (ETE): uma para a
geração nos processos industriais e outra para o efluente doméstico. Há
ainda uma Estação de Tratamento de Água (ETA).
O consumo de toda água tinha como origem duas fontes, ambas
outorgadas pelo DAEE:
1) Captação superficial junto ao Rio Capivari para utilização
industrial
24
2) Captação subterrânea em poços artesianos, também para
utilização industrial, e ainda para consumo humano após
tratamento e distribuição interna.
B) Objetivo do Projeto:
O projeto teve como objetivo diminuir o consumo de água nos
processos industriais por meio da reutilização de seus efluentes
devidamente tratados, reduzindo assim a captação superficial.
Como parte do projeto, buscou-se intensificar os treinamentos e
campanhas internas visando a conscientização e o uso racional.
Segundo justificativa da própria empresa, a razão principal da
implantação do sistema foi a sustentabilidade, uma vez que a água é parte
indispensável ao processo industrial dos pneumáticos, sendo importante
existir em quantidade, qualidade e em meios economicamente viáveis. O
reuso seria então um meio de reduzir a captação sem causar prejuízos à sua
produção.
O reuso proporcionaria ainda uma grande economia, uma vez que
haveria consequentemente a redução: no uso de bombas de captação
(energia elétrica); na adição de produtos químicos para tratamento da água
e; no consumo de água.
Todos estes motivos mostraram que o projeto seria tecnicamente,
economicamente e ambientalmente viável.
C) Dados iniciais:
A unidade sempre manteve monitoramento sistemático do consumo
de água em relação ao volume de produção por meio do índice m3/TPA
(Tonelada de Produto Acabado). O gráfico da figura 5 foi levantado tendo
por base o volume total de água captada (superficial e subterrânea) e o
volume de produção no período de medição.
25
Figura 5 - Gráfico de consumo de água em 2011
Fonte: Pirelli/2012
D) Projeto – Sistema de Reuso de Água – Dados Técnicos:
O ponto principal é a reutilização de 100% do volume de efluentes,
reduzindo em 30% a captação do rio Capivari e consequentemente
reduzindo o indicador específico (m3/TPA), os custos com energia elétrica,
produtos químicos para tratamento da água do rio, alcançando então a
almejada sustentabilidade.
Após levantamento prévio dos recursos necessários à adequação do
sistema, das análises da qualidade do efluente tratado visando parâmetros
físico-químicos, como: Sólidos sedimentáveis, sais e dureza, entre outros,
cuja não-conformidade poderia causar danos às máquinas e equipamentos
ou até mesmo aos processos, ocorrendo incrustações, corrosões ou
contaminação de produtos (massas de borracha). Nesta primeira etapa
foram detectadas as seguintes necessidades:
- Construção de tanque com capacidade de 300m3para reservação
do efluente tratado a ser reutilizado (Tanque de Reuso – figura 6);
- Instalação de um filtro de areia e um filtro de carvão ativado (figura
7) para “polimento” final da água após a passagem da mesma pela ETA de
26
forma a proporcionar melhor qualidade da água e assim possibilitar a sua
reutilização.
- O investimento para construção e implantação dessa etapa foi da
ordem de aproximadamente R$ 540.000,00.
Figura 6 – Tanque de Água de Reuso em operação, com capacidade de 300m3
Fonte: Pirelli/2012
Figura 7 – Filtro de Areia e Carvão já em operação, utilizado no tratamento final da água de reuso
Fonte: Pirelli/2012
Na segunda etapa, para controle da qualidade do efluente tratado,
optou-se por um método fácil e eficiente de avaliação: A implantação de um
controle biológico por meio de um aquário adaptado na saída do tratamento
do efluente industrial, por este ser mais crítico.
27
Assim, 50 litros do efluente tratado são enviados ao aquário, através
de um by-pass entre o tanque de efluente e o aquário, a cada 150m3
tratados, acrescidos de 50 litros de água potável. Portanto os peixes habitam
ali com 50% de água potável e 50% de água de reuso.
Havendo alteração brusca na qualidade do efluente tratado, este
indicador a apontará por meio da alteração da atividade na vida aquática.
Desta forma é possível uma rápida intervenção no sistema antes que a água
de qualidade inferior seja encaminhada para reuso na produção, causando
danos e inviabilizando o efluente tratado. Nesta etapa foram necessárias as
instalações dos seguintes equipamentos:
- Aquário com capacidade para 100 litros (figuras 8 e 9);
- Construção de sistema by-pass entre o tanque de saída e o
efluente tratado e o aquário;
- Construção de plataforma para sustentação do aquário;
- Investimento de aproximadamente R$ 6.500,00.
Figura 8 - Aquário utilizado no controle biológico da qualidade da água, os círculos indicam o sistema de By-pass
que permitem o envio de água tratada para dentro do aquário.
Fonte: Pirelli/2012
28
Figura 9 – Visão Geral da ETE Industrial e Aquário de controle biológico da qualidade da água.
Fonte: Pirelli/2012
E) Resultados do Projeto:
Todas as implementações previstas ocorreram dentro das
expectativas: Reutilização de 100% do efluente tratado, 130 m3 de efluente
industrial e 170m3 de efluente doméstico, totalizando 300 m3 de efluentes
que deixaram de ser descartados no corpo hídrico.
F) Programa de Educação Ambiental Interna:
O sucesso na implantação do projeto possibilitou avançar na última
etapa rumo ao objetivo principal: Redução do consumo de água.
A divulgação e a sistematização de programas de conscientização
ambiental junto aos funcionários foram propostas, de forma a compreender e
partilhar as ações implantadas na reutilização da água e consequente
redução de consumo. Assim, a empresa realizou o programa denominado de
Dia do Meio Ambiente.Com o objetivo de sistematizar os diálogos
ambientais, o programa propõe temas e metas sob os seguintes princípios:
1) Realizado durante um dia por mês, em todas as áreas e em todos
os turnos de trabalho;
29
2) Método: montar grupos de 15 a 25 pessoas no local de trabalho;
3) Realizar diálogos fornecendo informações, curiosidades, etc.
sobre temas ambientais, com maior parte do foco no consumo de água;
4) Utilizar-se de recursos audiovisuais (som, cartazes, microfone)
O formato do programa facilitou a interação dos colaboradores com
as equipes de Meio Ambiente, trazendo maior comprometimento de todos a
alcançar as metas (figura 10).
O sucesso desse programa atingiu todos os setores (manutenção,
produção, administração, etc.). Devido à sua ótima aceitação, vem sendo
utilizado pela equipe de Saúde e Segurança, inclusive nas comunicações e
instruções de segurança no trabalho.
O investimento inicial foi aproximadamente R$ 15.000,00. Para sua
realização mensal, são disponibilizadas mão-de-obra interna, com custos
apenas de horas extras, se necessário.
Figura 10 - Dia do Meio Ambiente realizado em Setembro/2011 nas Oficinas de Manutenção
Fonte: Pirelli/2012
G) Programa de Educação Sócio Ambiental:
O programa de educação ambiental interno se expandiu para as
escolas públicas e outras entidades localizadas próximo à fábrica.
Seu objetivo foi transmitir informações e conceitos, estimulando a
consciência ambiental de crianças e jovens por meio da educação, com
30
estrutura didática interativa, demonstrando in loco todo o sistema tratamento
de efluentes e reuso de água realizados na fábrica da Pirelli em Campinas.
Vejamos a estrutura do programa:
- Direcionado a escolas públicas de Ensino Fundamental;
- Alunos são recebidos na fábrica em turmas de 30 a 60 crianças e
jovens, por classe de ano escolar;
- Durante o programa os alunos passam o período de aula na Pirelli,
realizando atividades adequadas (figura 11) às necessidades das escolas.
Figura 11 – Quadro de atividades do Programa Sócio Ambiental
Fonte: Pirelli /2012
A disseminação do projeto entre as escolas da região despertou
interesse em participar. Devido a isto, o programa tem se estruturado para
receber de uma a duas escolas/mês, o que representa 60 a 120 alunos/mês.
Em datas específicas voltadas ao meio ambiente, tais como Dia da
Água, Dia da Árvore, Semana do Meio Ambiente, etc., as atividades são
mais densas, com peças de teatro ligadas ao tema em questão,
brinquedoteca de materiais reciclados, entre outras atividades. Nesses
períodos abre-se participação de escolas infantis (figura 12), ensino médio e
técnico. A estrutura inicial deste projeto teve um investimento inicial de
aproximadamente R$ 12.000,00. Para sua manutenção são disponibilizados
cerca de R$ 36.000,00/ano.
31
Figura 12 – Escola EMEF Barraquet na apresentação Viagem ao Mundo da Natureza - Visita á Pirelli - Julho/2011.
Fonte: Pirelli/2012
H) Resultados obtidos:
1) Reuso
De acordo com dados coletados no início da operação do projeto, o
índice específico de consumo de água (m3/TPA) era de 1,87 m3/TPA, o
acompanhamento mensal demonstrou redução média de 11,7% nos três
primeiros meses, conforme o gráfico da figura 13:
Figura 13 – Acompanhamento do consumo de água nos três primeiros meses de implantação do reuso de 50% de
água tratada.
Fonte: Pirelli/2012
32
Durante o segundo semestre de 2010 alguns ajustes foram feitos de
forma a aperfeiçoar a qualidade do efluente tratado, visando o reuso de
100% da água. Para o restante do ano de 2010, a redução manteve-se em
11,7% do consumo específico da água, conforme figura 14. Concluiu-se aqui
que o reuso é viável, pois não altera a qualidade da água no processo
industrial e permite a redução da captação de água. Com uma reutilização
de 100%, que representa eliminação de 300 m3 de descarte de efluentes,
reduzindo ainda mais a água captada no rio Capivari.
Figura 14 – Gráfico da evolução do consumo específico durante o ano de 2010.
Fonte: Pirelli/2012
Nos gráficos das figuras 15 e 16 é possível verificar a evolução
positiva do consumo de água específico durante 2011, cuja evolução deveu-
se à implantação de 100% de reuso e às ações/programas de educação e
conscientização da água.
33
Figura 15 – Gráfico de consumo de água específico (M3/TPA) durante o ano de 2011.
Fonte: Pirelli/2012
Figura 16 – Gráfico demonstrativo da redução do consumo de água desde o início do projeto em 2010.
Fonte: Pirelli/2012
O projeto foi concebido com o objetivo de redução do consumo de
água, justificado na sustentabilidade. O aproveitamento de 100% da água de
reuso redundou numa redução significativa da captação de água do rio
Capivari, cujos dados de monitoramento do volume captado no rio durante o
ano de 2011 encontram-se na figura 17.
34
Figura 17 – Volume captado
Fonte: Pirelli/2012
Estes dados de monitoramento indicam que houve um redução de
35% no volume de água captada, superando os 30% estabelecidos
inicialmente como meta, concluindo-se então que o projeto foi desenvolvido
com eficácia.
2) Programa de Educação Ambiental
Realizados em 2010 e sistematizados em 2011, os programas
internos atingiram mais de 50% da população de fábrica, conforme mostra a
figura 18. Isto se torna mais expressivo se considerarmos que existem,
efetivamente, cerca de 1100 funcionários durante o dia de trabalho, estando
parte em férias ou em esquema de revezamento por turno.
Conclui-se, portanto, que o programa interno de educação ambiental
mostrou-se eficiente na busca por conscientização e compromisso dos
colaboradores com as metas do sistema de gestão ambiental.
35
3) Programa de Educação Socioambiental
O envolvimento das escolas públicas da região próximas da fábrica
aproximou escolas e suas crianças e jovens com sonhos, esperanças e
vontade de vencer, da indústria, com toda sua dinâmica, metas e objetivos.
Aproximadamente 890 crianças entre 7 e 15 anos, além de um grupo de 180
crianças da educação infantil (entre 3 e 5 anos) foram recebidas nas
dependências da fábrica.
Sob influencia das crianças, a população do entorno aproximou-se
também, disseminando com maior eficácia todo o conhecimento disposto.
Todo este sucesso junto à comunidade das imediações teve reflexos
entre as escolas da região metropolitana de Campinas, incentivando escolas
de cidades vizinhas solicitar a participação nesse programa.
2.4.1.2 Aquapolo Ambiental – São Paulo/SP
A) Estação de Tratamento de Esgotos ABC - ETE ABC:
Localizada no município de São Paulo, na divisa entre os municípios
de São Paulo e São Caetano do Sul, a ETE ABC (figura 19) trata 1.800 L/s
de esgoto proveniente dos municípios de Santo André, São Bernardo,
Diadema, São Caetano, Mauá e alguns bairros da cidade de São Paulo
próximos a ela.
O efluente chega à estação por meio de um sistema de esgotamento
constituído por coletores-tronco, interceptores e emissários, totalizando
aproximadamente 161 km de extensão.
Ao chegar, o esgoto dessa região é recalcado por uma estação
elevatória e passa por tratamento convencional em nível secundário,
desenvolvido em três etapas:
1) Tratamento preliminar: remoção de grãos de areia e sólidos
grosseiros maiores que 1 cm;
36
2) Tratamento primário: passagem vagarosa do esgoto por um
tanque de decantação, onde os sólidos suspensos com densidade
maior que a do líquido irão sedimentar-se gradualmente até o
fundo;
Figura 18 – ETE ABC
Fonte: SABESP/2012
3) Tratamento secundário: tanques de aeração onde micro-
organismos do próprio efluente removerão grande parte da matéria
orgânica ainda presente, passando posteriormente por nova
decantação, estando então o efluente pronto para o desague no
córrego dos Meninos, que segue para o rio Tamanduateí,
desaguando no rio Tietê.
A eficiência de remoção de carga orgânica, segundo a SABESP
(2013) é de 90%.
B) Polo Petroquímico do Grande ABC/SP – Situação:
O Polo Petroquímico do Grande ABC é o maior centro econômico
daquela região paulista. São 14 indústrias empregando aproximadamente 25
mil pessoas, direta e indiretamente. Os produtos elaborados nas fábricas –
37
como etileno, propileno, polietileno, entre outros – são matérias-primas para
a fabricação de resinas, borrachas, tintas e plásticos em indústrias de todo o
país.
Em 1954, a Petrobras inaugurou a maior refinaria do Brasil (até
então), em Capuava, bairro do município de Mauá (figura 20), dando início
assim ao Polo Petroquímico do ABC.
Figura 19 – Refinaria Petrobras – Capuava/ABC
Fonte: PETROBRAS/2013
Posteriormente outras empresas vieram juntar-se à Petrobras no
Polo, como a Braskem (figura 21), primeira e principal cliente da Aquapolo,
como veremos mais à frente.
As plantas das dez maiores empresas do Polo consomem juntas 380
L/s de água do rio Tamanduateí e fontes complementares, e 191 L/s de água
potável da Sabesp, acumulando portanto uma demanda de 571 L/s.
38
Figura 20 – Braskem ABC
Fonte: Aquapolo/2013
O Polo Petroquímico do ABC está Localizado em região pertencente
à sub-bacia do Alto-Tietê, a segunda mais precária do mundo em termos de
qualidade da água para consumo, e onde a disponibilidade hídrica per capita
da região é muito baixa, semelhante à do semiárido brasileiro, decorrente da
poluição originada na ocupação irregular nos arredores dos mananciais.
C) Aquapolo Ambiental:
O quadro de escassez hídrica da região do Grande ABC exigia
ações emergenciais. A manutenção daquela situação fatalmente levaria
empresas e população à completa falta d‟água.
Diante desta previsão surgiu, em 2009, uma Sociedade de Propósito
Específico (SPE) entre SABESP (49%) e Foz do Brasil (51%), esta última
pertencente ao grupo Odebrecht, cuja finalidade era suprir a necessidade de
consumo de água pelo Polo Petroquímico.
Por meio de um contrato firmado entre a Aquapolo e a Braskem,
com vigência por 43 anos, sendo 2 anos de obras e 41 anos de operação
visando o fornecimento de 85% de toda a produção de Água Industrial da
estação, foi possível viabilizar um empréstimo de R$ 327,6 milhões junto à
Caixa Econômica Federal para a construção da Estação Produtora de Água
39
Industrial – EPAI e de 17km de adutora. Outros R$ 36,4 milhões foram
aportados na empresa pelos sócios (SABESP e Foz) conforme a proporção
das ações. Portanto, a Braskem comprometeu-se a consumir até 650 mil L/s
de água de reuso em 41 anos. Atualmente, outras empresas do Polo, tais
como White Martins, Oxiteno, Cabot e Oxicap já possuem contrato com a
Aquapolo e são abastecidos com sua água de reuso.
A capacidade total de produção da EPAI é 1000 L/s; isto é mais do
que o Polo Petroquímico pode consumir. Portanto há potencial excedente
para a venda de água a outras indústrias localizadas ao longo dos 17 km de
adutora construída.
Dentro das atribuições contratuais dos sócios, a construção da
infraestrutura ficou a cargo da Odebrecht Infraestrutura, cujo terreno – uma
área não utilizada de 15 mil m2 – localiza-se dentro da ETE ABC, de
propriedade da SABESP. A Aquapolo paga os aluguéis e os impostos da
área que ocupa.
2.4.1.1.1 Processo Industrial
Constituída por uma planta de tratamento terciário, atualmente a EPAI
da Aquapolo trata 650 L/s do esgoto tratado em nível secundário advindo da
ETE ABC, mas possui capacidade para 1000 L/s.
O sistema de lodo ativado da ETE ABC foi projetado apenas para
remoção carbonácea. Na Aquapolo, o tratamento terciário é realizado por
membrana submersa em escala pioneira no Hemisfério Sul, de acordo com
a própria Aquapolo, removendo, além de matéria orgânica residual,
nutrientes como fósforo e nitrogênio e inorgânicos como sílica, cuja remoção
não ocorre em tratamentos convencionais.
Este processo produz água com qualidade industrial, possibilitando
sua aplicação como matéria-prima para produção de vapor e em torres de
resfriamento, substituindo a água potável antes utilizada, conforme
demonstra a tabela 1.
40
Tabela 1 – Características da água industrial já tratada na EPAI Aquapolo.
Fonte: Projeto – Aquapolo/2013
O Sistema Aquapolo é composto por quatro etapas principais e uma
de apoio, conforme passamos a descrever:
1) Preliminar: O esgoto recebido é recalcado por uma estação
elevatória, transportado por uma tubulação verde e filtrado por uma espinha
com filtros-disco (figura 22) que impedem a passagem de partículas maiores
que 400 mícron. O sólido retido é coletado pela tubulação marrom e enviado à
Sabesp para tratamento do lodo. O efluente segue por outra tubulação verde
para a segunda etapa.
2) Terciário: depois de filtrado, o esgoto é encaminhado para o
tanque biológico com câmara anóxica e aeróbia, adicionando soda cáustica
para que a ação biológica aconteça, controlando o pH entre 6,5 e 7,5 (figura
23). O esgoto permanece neste tanque por 15 minutos para que ocorra a
desnitrificação, transformando nitrito e nitrato em nitrogênio gasoso. Além do
nitrogênio, são removidos fósforo e matéria orgânica. O volume deste tanque
é de 5.350 m3.
41
Figura 21 – Filtros-disco que impedem a passagem de partículas maiores que 400 mícron
Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013
Após o tratamento biológico, o líquido é bombeado para os tanques
de ultrafiltração (figuras 24 e 25), constituídos por 63 módulos de
membranas de polissulfona, distribuídos em 9 tanques com 256 m3 cada. A
produção é de até 30 L/s de água por tanque. As membranas ficam em
suspensão dentro dos tanques, e seus poros impedem a passagem de
sólidos e bactérias superiores a 0,05 mícron.
Figura 22 – Tanque de tratamento biológico.
Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013
42
Figura 23 – Membranas de polissulfona.
Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013
Figura 24 – Sistema de ultrafiltragem com membranas submersas
Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013
Caso a água resultante nesta etapa tenha condutividade inferior a
720 μS/cm, é fornecida diretamente para o uso industrial, transportada por
tubulação de aço de cor fúcsia (figura 26), padrão internacional para água de
reuso. Caso a qualidade da água ultrafiltrada nesta etapa não atender o
43
parâmetro exigido, passará à etapa de Osmose Reversa para remoção de
sais e partículas maiores ou iguais a 0,05 mícron.
Figura 25 – Água de reuso produzida na Aquapolo Ambiental
Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013
A etapa de Osmose Reversa é composta por dois conjuntos de
membranas (figura 27) que, juntos, são capazes de produzir até 150 L/s de
permeado. A água aqui filtrada é então encaminhada para outro reservatório
com volume de 35 mil m3. Tanto na entrada do reservatório quanto no
fornecimento ao cliente é adicionada uma solução de dióxido de cloro,
evitando assim uma possível contaminação da água quando da adução.
Figura 26 – Etapa de filtragem por osmose reversa onde são utilizadas membranas em espiral na remoção de sais.
Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013
3) Adução: para o transporte da água de reuso da EPAI até o
Polo Petroquímico foram construídas:
44
a) uma estação elevatória de alta carga com 3 conjuntos de
moto-bombas centrífugas horizontais (figura 28), com capacidade
máxima para 1.350 m3/h por conjunto;
b) adutora em aço carbono com 17 km de extensão e 900 mm
de diâmetro, cujo percurso abrange os municípios de São Paulo,
São Caetano, Santo André e Mauá.
c) tanques de reservação com capacidade para 70 mil m3,
evitando assim interrupções no abastecimento, fornecendo o produto
ao cliente inclusive em situações contingenciais;
d) rede de distribuição interna de água de reuso dentro do Polo
Petroquímico, composta por tubulações que variam entre 100 e 900
mm, interligando a torre de equilíbrio às indústrias em uma extensão
de 4.250 m.
Figura 27 – Adição de uma solução de dióxido de cloro.
Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013
4) Apoio: construção de um Centro de Controle Operacional, com
implantação de um sistema de supervisão e controle baseado no software
supervisório SCADA, além de Controladores Lógicos Programáveis (CLP‟S).
2.4.1.1.2 Monitoramento da qualidade
45
Foram instalados analisadores on line na Aquapolo e no próprio
cliente, visando o controle de qualidade de quatro parâmetros da água
industrial produzida, conforme contrato firmado. Para outros parâmetros
onde o monitoramento não é on line, amostras são coletadas diariamente
por meio de amostradores automáticos. As análises destes são realizadas
em freqüências diárias, semanais, três vezes por semana e/ou mensais, de
acordo com o parâmetro em questão. A tabela 2 descreve a freqüência do
monitoramento e seus limites contratuais a serem respeitados.
Tabela 2 – Adição Monitoramento de qualidade da água de reuso.
Fonte: Projeto Aquapolo – Aquapolo/2013
2.4.1.1.3 Resultados
1) Para os clientes:
Fim da dependência de outorga;
Redução no consumo de água potável;
Redução de aplicação de produtos químicos. Somente na
Braskem gerou uma economia de R$ 155.000,00 por mês;
46
Economia por volta de R$ 1,86 milhões por ano devido à
redução de manutenção de trocadores de calor em virtude da melhor
qualidade da água de reuso.
2) Para a Bacia e População:
Aumento da disponibilidade hídrica na região do ABC Paulista,
uma das mais críticas da Grande São Paulo, uma vez que o fornecimento de
água de reuso poderá chegar a 1000 L/s, vazão equivalente ao
abastecimento da cidade de Santos com 500 mil habitantes;
A ETE ABC deixou de lançar no Córrego dos Meninos e
consequentemente no Rio Tietê, água de esgotos com tratamento
secundário, retirando mais de 584 kg por ano de amônia e 31.390 kg por ano
de fósforo;
Integração da prática do reuso ao Plano de Recursos Hídricos;
Uso racional da água, uma vez que para cada litro de água
potável não consumido economiza-se 1,26 litros de água potável produzida
na RMSP;
Geração de 800 novos postos de trabalho durante as obras e
outros 50 durante a operação. Se considerarmos que o crescimento dos
clientes está assegurado (do ponto de vista do fornecimento de recursos
hídricos) haverá geração de novos e manutenção dos atuais postos de
trabalho;
No município de Santo André a Aquapolo realizou a
recuperação da área afetada pela obra. Além disso, em comum acordo com
a prefeitura, recapeou 77,3 mil m2 da Avenida do Estado e construiu um
Centro de Referência do Idoso – CRAS, totalizando uma área de 1.003,64
m2, em troca da realização das obras do Projeto Aquapolo nas vias públicas;
Aumento da arrecadação de ISS – Imposto Sobre Serviços. Em
Santo André, houve um montante arrecadado de R$ 2,5 milhões somente
pela obra da Aquapolo.
No município de São Caetano do Sul, a contrapartida pela
execução das obras foi a reforma do Centro de Oncologia e Hemoterapia
47
Luiz Rodrigues Neves, inclusive com o refazimento das partes elétricas e
hidráulicas do prédio. Medidas principais: instalação de um gerador próprio,
revisão do sistema de ar comprimido e de gases, adaptação da
infraestrutura ao padrão da Associação Brasileira de Normas Técnicas
voltadas aos deficientes físicos, além de pintura, piso, paisagismo, revisão
da cobertura e do sistema de drenagem de águas pluviais.
2.4.2 Cetesb
A CETESB há algum tempo vem estimulando o meio empresarial
através de documentos e publicações, educando e divulgando conceitos de
racionalização e de gestão ambiental, entre eles a P+L e a Produção e
Consumo Sustentáveis (PCS).
Em 1996, a empresa criou um espaço de divulgação de suas
propostas e de casos de sucesso (cases) de ações a que várias empresas
se auto submeteram.
Inicialmente, esta divulgação era realizada por meio de publicações
esporádicas impressas. Hoje, o órgão disponibiliza este e outros materiais
de forma eletrônica em sua Home Page. Citamos abaixo um desses cases:
2.4.2.1 Case JBS Couros S/A - Grupo Friboi (resumido)
A JBS Couros é uma empresa do Grupo Friboi, cuja atividade
principal desta unidade, localizada em Lins/SP, é o curtimento e a produção
de couros de peles bovinas.
O projeto da empresa JBS S/A desdobra-se em dois objetivos
diferentes:
1) Redução do Consumo de Água Limpa na Preparação de
Insumos: A empresa já possuía uma ETE para o tratamento de seus
efluentes (figura 29), onde utilizava 180m³/dia de água limpa para diluição de
cal hidratada, visando elevação do pH, o que garantiria a eficiência das
48
etapas de coagulação e floculação, fundamentais para a remoção eficaz de
poluentes.
2) A redução do consumo de água foi identificada como uma
possibilidade de reduzir gastos, contanto que isto não viesse a
afetar a qualidade do efluente tratado, mantendo a eficiência dos
processos da ETE.
Figura 28 - Estação de Tratamento de Efluentes - Friboi / Lins
Fonte: JBS/2010
Como solução, sua equipe ambiental avaliou que havia a
possibilidade de reutilizar o próprio efluente tratado após a saída do
decantador secundário. Para isso, houve várias experimentações na
preparação da cal com esta água de reuso, e os resultados foram positivos.
O sistema foi alterado e as diluições da cal passaram a ser feitas com o
reuso do efluente da saída da ETE.
Os investimentos necessários foram a aquisição de um conjunto de
bomba centrífuga de 3 cavalos-vapor (CV), no valor de R$ 3.000,00.
Como mencionado acima, utilizava-se 180 m³/dia de água limpa
para a diluição da cal. Com a implantação da ação, esta quantidade de água
foi economizada, resultando em uma redução de aproximadamente 5.000
m³/mês.
49
3) Redução do Consumo de Água e Redução de Impactos na
ETE: Existem várias etapas, mecânicas e químicas, no curtimento das peles
utilizadas no processo de produção do couro, e uma delas é o “caleiro”.
Nesta etapa, a epiderme, camada superficial onde ficam os pêlos, é
separada da derme, sendo tratadas com sulfeto e hidróxido de cálcio (cal). A
eliminação destes resíduos ainda remanescentes na matéria-prima,
utilizando-se água como veículo, é chamada de “desencalagem”, ou 1ª
lavagem. Este banho da primeira etapa é descartado para a ETE
(mencionada no caso anterior), com alto teor de sulfeto (em torno de 350
mg/L); a matéria-prima segue para a 2ª lavagem, onde é introduzido
peróxido de hidrogênio como oxidante.
O procedimento deste processo foi reavaliado, visando à redução do
teor de sulfeto da 1ª lavagem, bem como redução do consumo de água
limpa e verificou-se serem possíveis.
A ideia das equipes técnica e ambiental da empresa foi não
descartar a água utilizada na 1ª lavagem, utilizando-a na etapa seguinte. Na
2ª etapa, o peróxido de hidrogênio, em contato com o sulfeto advindo com a
primeira água passa para sulfato, minimizando os maus odores que aquele
primeiro causa. Além disso, com o aproveitamento da água do primeiro
banho, deixa-se de utilizar 25 m³ de água, que seria utilizada como veículo
na 2ª etapa. Para esta alteração no processo de caleiração da matéria-
prima, não houve investimento e os resultados foram excelentes:
Resultados Ambientais: redução de 1.500 m³/mês no consumo
de água limpa; diminuição do sulfeto no efluente, de 350 mg/L para 10mg/L,
o que possibilitou seu maior controle e performance de remoção; e a
redução dos maus odores;
Resultados Econômicos: redução da adição de produtos
químicos para tratamento do sulfeto, reduzindo custos; eliminação de
dosagem de peróxido de hidrogênio em canaletas, uma redução de 500
L/dia, equivalente a R$ 13.440,00/mês.
50
3. CONCLUSÃO
O presente estudo buscou analisar a complexa situação de estresse
hídrico que se vislumbra no futuro próximo e quais alternativas estão à
disposição para reverter esta previsão.
Concluímos que a possibilidade de uma crise em torno da água é
motivo de preocupação por parte dos principais pesquisadores de todo o
mundo na área de recursos hídricos. Paralelamente, pesquisadores,
organizações e grupos de comunicação de relevância e influência mundiais,
como a ONU e a BBC, têm veiculado com grande frequência a morte como
resultado de conflitos armados, inanição ou enfermidades, seja pela
quantidade, seja pela qualidade da água.
Mas estes mesmos grupos veiculam também vários estudos sobre
as formas de evitarmos esta situação caótica, como fizeram o Professor
Tony Allen e sua Água Virtual e os pesquisadores Hoekstra e Mekonnen
com a Pegada Hídrica, mostrando-nos o verdadeiro consumo hídrico e a
valorização econômica da água. Ainda que o foco do presente trabalho seja
o uso e o reuso da água na indústria, tais estudos nos fizeram concluir que
nossos recordes na produção de grãos podem trazer bilhões de dólares em
divisas, mas que em contrapartida podem estar exaurindo nossos próprios
recursos hídricos ao exportarmos nossas safras àqueles países que já
sofrem com o estresse hídrico e que, portanto, não conseguem produzir
eficientemente.
Pudemos conhecer aqui os motivadores que impulsionam as
atitudes, principalmente dos Empresários. Sabemos da existência dessas
forças motivadoras, mas para nós, estudantes e professores, como
propagadores de seu uso racional e eficiente, quaisquer formas de
racionalização do consumo de água serão bem vindas.
Focalizando os processos de produção como fator preponderante
para equalizarmos o problema da água, conhecemos o conceito de
51
Produção Mais Limpa criado pelo PNUMA/ONU, que estabeleceu na década
de 1990 procedimentos sustentáveis para a produção industrial.
Verificamos que, no âmbito do Brasil, a criação da Política Nacional
de Resíduos Sólidos, claramente inspirada na Produção Mais Limpa, trouxe
uma das mais avançadas normatizações já feitas no planeta. A PNRS
envolve todos os atores do contexto “lixo urbano” em um só objetivo:
desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista legal, a minimização da
produção e a maximização dos recursos ambientais, entre eles os recursos
hídricos, serão obrigatórias entre governos e empresas. O ponto crítico é a
conscientização da população em fazer sua parte, procedendo a separação
de seu lixo e, o ponto considerado utópico: Reduzir o consumismo
desenfreado e desnecessário. Aqui acreditamos que o empresariado
industrial também terá uma grande parcela de responsabilidade, deixando
de incentivar este consumismo.
Todos os processos industriais que conhecemos utilizam água como
insumo, desde o resfriamento de uma caldeira até a fabricação de alimentos.
Como mostrado no presente trabalho, reciclar ou reusar significa reduzir o
uso de recursos hídricos naturais nestes processos. É neste momento que o
reuso de água industrial torna-se uma das melhores opções de
racionalização.
Os exemplos de reuso aqui expostos deixam claro que adotar tais
iniciativas e investir na preservação e conservação ambiental pode trazer,
não apenas a garantia de perpetuar o mais precioso bem da humanidade, a
água, mas também obter o retorno do valor investido, multiplicado diversas
vezes. A visibilidade de uma marca atrelada à racionalização ambiental,
ainda que o real intuito seja o lucro, é um dos melhores e maiores filões de
propaganda e marketing explorados atualmente.
Há todo um sistema que deve ser profundamente modificado, e todo
sistema é composto por partes menores, subsistemas chamados de
governo, economia e sociedade. Para evitarmos esta crise devemos esperar
que os governantes tenham nobres atitudes, modificando uma política
baseada nos investimentos em obras imediatistas que lhes dão maior
52
visibilidade em detrimento às obras com resultados em longo prazo;
esperarmos que os empresários resolvam reduzir seus lucros; e
acreditarmos que toda uma sociedade saia de sua zona de conforto e de
consumismos efêmeros.
Talvez se propagarmos a gravidade da realidade e os exemplos de
sucesso, como o fazem tão bem Fiesp e Cetesb, consigamos modificar todo
o sistema.
53
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