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Editora Conhecimento Livre

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Frederico Celestino Barbosa

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

1ª ed.

Piracanjuba-GOEditora Conhecimento Livre

Piracanjuba-GO

Copyright© 2021 por Editora Conhecimento Livre

1ª ed.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Barbosa, Frederico CelestinoB238C Ciências da Saúde: uma abordagem holística

/ Frederico Celestino Barbosa. – Piracanjuba-GO

Editora Conhecimento Livre, 2021

424 f.: ilDOI: 10.37423/2021.edcl335ISBN: 978-65-89955-77-1

Modo de acesso: World Wide WebIncluir Bibliografia

1. saúde 2. prevenção 3. diagnóstico 4. tratamento 5. equipe I. Barbosa, Frederico Celestino II. Título

CDU: 613

https://doi.org/10.37423/2021.edcl335

O conteúdo dos artigos e sua correção ortográfica são de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.

EDITORA CONHECIMENTO LIVRE

Corpo Editorial

Dr. João Luís Ribeiro Ulhôa

Dra. Eyde Cristianne Saraiva-Bonatto

Dr. Anderson Reis de Sousa

MSc. Frederico Celestino Barbosa

MSc. Carlos Eduardo de Oliveira Gontijo

MSc. Plínio Ferreira Pires

Editora Conhecimento Livre Piracanjuba-GO

2021

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 .......................................................................................................... 9PREVALÊNCIA DOS DISTÚRBIOS OLFATIVO- GUSTATIVOS ENTRE INFECTADOS POR COVID-19 NO BRASIL

Ana Clara dos Santos SouzaPriscila Moraes Henrique PaivaDOI 10.37423/210904714

CAPÍTULO 2 .......................................................................................................... 19PERFURAÇÕES NÃO DETECTADAS EM LUVAS UTILIZADAS NA ROTINA DE LABORATÓRIOS DE ANÁLISES CLÍNICAS

Jadiane Fortunato de OliveiraGuilherme Teles AvelinoPriscila Moraes Henrique PaivaDOI 10.37423/210904717

CAPÍTULO 3 .......................................................................................................... 31PERFIL DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE VÍTIMAS DA COVID19 EM UMA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO DO SUL DO BRASIL

FLÁVIA CAPELASSO BERALDIMURILO DE PAULA CALAÇAPATRÍCIA BOSSOLANI CHARLOGeisa dos Santos LuzMarcos Benatti AntunesDOI 10.37423/210904720

CAPÍTULO 4 .......................................................................................................... 47PERFIL DOS RECÉM-NASCIDOS NA INTERNAÇÃO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

Ana Paula Lobo TrindadeMARINES MATOS DA SILVAMaria Daniele Correa da MotaMônica de Nazaré Monteiro GonçalvesRaquel Inácio Sousa MatosDOI 10.37423/210904722

CAPÍTULO 5 .......................................................................................................... 59INTOLERÂNCIA À LACTOSE: INVESTIGAÇÃO DOS FATORES ALIMENTARES E PATOLOGIAS ASSOCIADAS.

Guilherme Teles AvelinoJadiane Fortunato de OliveiraFranciane Pereira BarrosCarla Maria de Andrade SouzaDOI 10.37423/210904739

SUMÁRIO

CAPÍTULO 6 .......................................................................................................... 75A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA HIPODERMÓCLISE: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Ana Clara Louzada Sant'AnnaCarla Aparecida do Nascimento MozerDOI 10.37423/210904756

CAPÍTULO 7 .......................................................................................................... 96A EPIDEMIOLOGIA DA HANSENÍASE NO ESTADO DE MINAS GERAIS ENTRE OS ANOS DE 2011 E 2020

Daniel Madeira CardosoEnos Pires Cardoso FilhoVitor Oliveira AlvesJoão Victor Martins ReisAriana Pinheiro CaldasPauline Martins LeiteDOI 10.37423/210904758

CAPÍTULO 8 .......................................................................................................... 110PLANEJAMENTO EMPREENDEDOR DE UM FOOD TRUCK ORIENTAL NA PRÁTICA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO.

Maria Lays Fonseca da SilvaKatia Rau de Almeida CallouLudmyla Albuquerque Santos de SouzaFelipe Lima SoaresVanessa Messias Muniz FechineAna Paula Moraes VenturaDOI 10.37423/210904759

CAPÍTULO 9 .......................................................................................................... 126REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL

Cirila Raquel de Araújo MendesJanailson Monteiro ClarindoAlexsandra Maria Sousa SilvaDOI 10.37423/210904760

SUMÁRIO

CAPÍTULO 10 .......................................................................................................... 150AVALIAÇÃO DA PRESENÇA DE LESÕES BUCAIS EM UMA POPULAÇÃO JOVEM COM HÁBITO DE MASCAR FUMO

Isabela Miguel PissioliFernanda Furlan SantoroMaria Paula Jacobucci BotelhoMariana de Souza LessaThayná Fernanda Franco de MouraFábio Vieira de MirandaDOI 10.37423/210904761

CAPÍTULO 11 .......................................................................................................... 162CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO E DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO MONITORAMENTO DE VETORES NUMA COMUNIDADE RURAL – UBERLÂNDIA (MG): POSSIBILIDADES E DESAFIOS

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRADOUGLAS QUEIROZ SANTOSPAULO IRINEU BARRETO FERNANDESARCENIO MENESES DA SILVANEUSA APARECIDA ROCHA CARVALHOBRUNA FERNANDA ANTÔNIO CALDEIRABELIZÁRIO CASTRO DIAS NETORENARA BARISON RIBEIROFERNANDO EURÍPEDES DA SILVADOI 10.37423/210904762

CAPÍTULO 12 .......................................................................................................... 179AVALIAÇÃO DO PERFIL LIPÍDICO EM PACIENTES ATENDIDOS EM UM LABORATÓRIO DE COQUEIRAL-MG.

Franciely Marques LimaFranciane Pereira BarrosAndré Luís Barbosa PereiraDOI 10.37423/210904763

CAPÍTULO 13 .......................................................................................................... 201VARIAÇÕES NA UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA EM PRONTUÁRIOS DE UMA CLÍNICA ESCOLA DE FISIOTERAPIA EM SALVADOR, BAHIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Mateus dos Santos BritoNívea MalafaiaCristiane Cavalcanti MoreiraDOI 10.37423/210904764

SUMÁRIO

CAPÍTULO 14 .......................................................................................................... 212COVID-19: PERSISTÊNCIA DOS SINTOMAS PÓS FASE AGUDA.

Julia de Castro DutraPriscila Moraes Henrique PaivaDOI 10.37423/210904765

CAPÍTULO 15 .......................................................................................................... 227A SEGURANÇA DO PACIENTE NO CENTRO CIRÚRGICO NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19

Juscivania de Jesus SantosFernanda Matheus EstrelaTania Maria de Oliveira MoreiraMarcia Gomes SilvaTerezinha Andrade AlmeidaDeise Alves CairesDaniela Fagundes OliveiraDeliane Souza SantosAmanda Cibele Gaspar dos SantosEmanoelle de Oliveira MoreiraDOI 10.37423/210904766

CAPÍTULO 16 .......................................................................................................... 241HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA: FATORES ASSOCIADOS E PRÁTICAS DE CONTROLE NA POPULAÇÃO DE CARMO DA CACHOEIRA, MINAS GERAIS.

Kathryn Evangelista CarvalhoThiago Franco NasserDOI 10.37423/210904771

CAPÍTULO 17 .......................................................................................................... 262DIAGNÓSTICO DE TUBERCULOSE PULMINAR INFANTIL COM LAVADOGASTRICO: REVISAO DE LITERATURA

Aliandro Willy Duarte MagalhãesAna Angelica de Araújo MedeirosDOI 10.37423/210904781

CAPÍTULO 18 .......................................................................................................... 265O QUE FALAM AS EVIDENCIAS SOBRE O PAPEL DOS GESTORES NOS CUIDADOS DO TRABALHADOR DE SAÚDE

RENNE DE FIGUEIREDO BEZERRA LUCENAJOÃO DE DEUS DE ARAÚJO FILHOREJANE MARIE BARBOSA DAVIMONADJA BENÍCIO RODRIGUESELAINE GILMARA DA ROCHA SANTOSDOI 10.37423/211004785

SUMÁRIO

CAPÍTULO 19 .......................................................................................................... 276PRÁTICAS DE EDUCOMUNICAÇÃO NA PROMOÇÃO DE HORTAS COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL, EM UM NÚCLEO ASSISTENCIAL.

Ágatha Meei Lin ChengAmanda de Farias SantosAna Maria Cervato-MancusoDOI 10.37423/211004788

CAPÍTULO 20 .......................................................................................................... 300PERCEPÇÃO DE SAÚDE EM PARTICIPANTES DO PROJETO DE EXTENSÃO TÊNIS DE CAMPO PARA A COMUNIDADE DA UFPB

Valter Azevedo PereiraRonaldo de Faria FilhoTaciana Luiza de Souza MatosLucas Mendes Martins de LiraEwerton Ribeiro de Queiroz FilhoHorácio da Silva do NascimentoDOI 10.37423/211004795

CAPÍTULO 21 .......................................................................................................... 347O MAL DOS TEMPOS LIQUIDOS E A RESILIÊNCIA DA ENFERMAGEM: UMA REFLEXÃO SOBRE O TRANSTORNO DE ANSIEDADE

Rodrigo Monteiro dos Santos BandeiraDécio Thomas Aparecido Guimarães RochaBrenda Gabriela Costa NevesBruna Costa SilvaAlex mello limaDenize MarroniDOI 10.37423/211004796

CAPÍTULO 22 .......................................................................................................... 359O CUIDADO DE ENFERMAGEM SOB A LÓGICA DO INDÍGENA ENTRE A POPULAÇÃO GUARANI MBYÁ DA TERRA INDÍGENA RIBEIRÃO SILVEIRA (SP)

Priscila Enrique de OliveiraRodrigo Monteiro dos Santos BandeiraDOI 10.37423/211004797

SUMÁRIO

CAPÍTULO 23 .......................................................................................................... 371EDUCAÇÃO PERMANENTE NO SERVIÇO HOSPITALAR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

ANA PATRICIA DE ALENCARLarissa Maria De Oliveira CostaAmanda Alves FeitosaJackson Gomes MendonçaMaria Freitas Lima de Farias PinhoBárbara Jennifer Bezerra de OliveiraFátima Tannara Mariano de LimaCarlla Sueylla Filgueira Ramalho SouzaValeska Gomes de OliveiraThaisa Xavier Teles dos SantosDOI 10.37423/211004798

CAPÍTULO 24 .......................................................................................................... 374A IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO NOS SEIS PRIMEIROS MESES DE VIDA DA CRIANÇA E ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

Larissa Maria de Oliveira CostaAna Patricia de AlencarCarlla Sueylla Filgueira Ramalho SouzaAna Patrícia Sampaio AlvesFátima Tannara Mariano de LimaAmanda Tamires Ferreira AraujoAna Rochele Cruz SampaioFrancisco Aldeci de Franca Sampaio FilhoBárbara Jennifer Bezerra de OliveiraLuciana de Fátima Alexandre Pacifico de AraújoDOI 10.37423/211004800

CAPÍTULO 25 .......................................................................................................... 390DIMENSÕES REPRESENTACIONAIS DA QUALIDADE DE VIDA DE PESSOAS VIVENDO COM HIV EM UMA ANÁLISE ESTRUTURAL

Denize Cristina de OliveiraJuliana Pereira DominguesRenata Lacerda Marques StefaiskSergio Corrêa MarquesRodrigo Leite HipólitoThelma SpindolaTadeu Lessa da CostaYndira Yta MachadoDanielle Pinheiro Elias SilvaDOI 10.37423/211004802

SUMÁRIO

CAPÍTULO 26 .......................................................................................................... 410BIOLOGIA MOLECULAR: PREVALÊNCIA DE HPV DE BAIXO E ALTO RISCO PELA TÉCNICA DE PCR.

Geovana Neves MagagneFranciane Pereira Barros AlvesDOI 10.37423/211004803

CAPÍTULO 27 .......................................................................................................... 423O PAPEL DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA NA OBESIDADE INFANTIL

Maxlânio Azevedo BorgesMilka Azevedo BorgesDOI 10.37423/211004808

SUMÁRIO

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904714

Capítulo 1

PREVALÊNCIA DOS DISTÚRBIOS OLFATIVO- GUSTATIVOS ENTRE INFECTADOS POR COVID-

19 NO BRASIL

Ana Clara dos Santos Souza UNIS- Centro Universitário do Sul de Minas

Priscila Moraes Henrique Paiva UNIS- Centro Universitário do Sul de Minas

Prevalência Dos Distúrbios Olfativo- Gustativos Entre Infectados Por Covid-19 No Brasil

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Resumo: Distúrbios olfativo-gustativos têm sido apontados como sintomas frequentes da COVID-19

e estão associados a forma benigna da doença, entretanto são relatados que estes sintomas podem

persistir pós infecção e também presença da distorção do cheiro, conhecido como parosmia. Este

trabalho analisou esta prevalência de entre voluntários brasileiros infectados por COVID-19 mediante

a questionário Google Forms que foi enviado via redes sociais (WhatsApp, Facebook, Instagram).

Participaram da pesquisa 510 voluntários de diversas regiões brasileiras, previamente testados como

positivo para COVID-19. Destes, 82,8% e 90,4% referiram perda do paladar e olfato, respectivamente.

Quanto a percepção de distorção do paladar ou olfato, 60,1% dos participantes afirmaram ter

apresentado essa alteração, que perdurou por períodos que variariam de 1 semana a mais de 6 meses.

Os relatos sobre as distorções percebidas mais frequentes incluíram alimentos com gosto de ferrugem,

fumaça, carne com gosto de queimado, café com cheiro e gosto de algo podre. Assim, mais estudos

são necessários a fim de compreender o verdadeiro impacto dessa alteração na vida dos acometidos

bem como sua interpretação e critérios de tratamento.

Palavras-chave: COVID-19. Distúrbios olfativo-gustativos. Parosmia

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Prevalência Dos Distúrbios Olfativo- Gustativos Entre Infectados Por Covid-19 No Brasil

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1 INTRODUÇÃO

Em 31 de janeiro de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a infecção pelo novo

coronavírus como emergência global e à nomeou COVID-19. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde

até agosto de 2021, 20.285.067 milhões de cidadãos foram ou estão infectados pelo vírus SARS-CoV2

O agente patogênico da COVID-19, o vírus SARS-CoV-2, utiliza a enzima conversora de angiotensina II

(ECA2) como seu receptor de entrada na célula, por meio da proteína spike (OLIVEIRA et al., 2020). Os

sintomas da COVID-19 são similares à de outras viroses respiratórias, como febre, tosse geralmente

seca, cansaço e, em alguns casos, dispneia, sangramento pulmonar e insuficiência renal (STRABELLI-

UIP, 2020). Os dados clínicos revelam que em casos graves, o vírus infecta o pulmão, levando a um

quadro frequentemente letal de insuficiência respiratória, insuficiência cardiovascular aguda,

hemorragias e problemas de coagulação (OLIVEIRA et al.,2020).

As disfunções olfativas e gustativas são consequências comuns da doença viral e são sintomas comuns

de COVID-19 que podem aparecer e persistir por muito tempo após a infecção inicial (WATSON et al.,

2020). E estão associadas às manifestações menos graves da doença, porém, pacientes anteriormente

relatados com disfunção olfatória que se recuperaram com sucesso da doença, estão sendo afetados

por outra condição temível conhecida como parosmia (SANIASIAYA- NARAYANAN, 2021).

A palavra parosmia vem do grego: pará e osmḗ. (cheiro) que é determinado como uma distorção do

olfato com presença de odorante, enquanto fantosmia é uma condição quando há uma distorção do

cheiro com a ausência de odorante. Anosmia, por outro lado, significa perda completa do olfato

(SANIASIAYA; NARAYANAN, 2021)

Existem algumas hipóteses para explicar a fisiopatologia da disfunção olfatória secundária a COVID-

19, que incluem: (1) Bloqueio mecânico que segue a inflamação ao redor da fenda olfatória, que

impede que os odorantes se liguem aos receptores olfatórios, (2) infecção da célula de suporte que

expressa ECA-2, principalmente a célula sustentacular do epitélio olfatório e (3) invasão direta dos

neurônios olfatórios pelo SARS-CoV-2 (SANIASIAYA- NARAYANAN, 2021).

Carfi e colaboradores (2020) encontraram que 87,4% dos pacientes recuperados de COVID-19

apresentavam pelo menos um sintoma persistente, com a perda do olfato entre eles. No entanto,

relatórios recentes descobriram que vários pacientes que recuperaram o olfato apresentavam cheiro

distorcido. O aroma mágico de café se transformou em um pesadelo quando o café começou a cheirar

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Prevalência Dos Distúrbios Olfativo- Gustativos Entre Infectados Por Covid-19 No Brasil

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a gasolina e os pratos favoritos com odor de comida podre ou lixo, que inadvertidamente afeta o sabor

dos alimentos tornando-os quase intragável.

A parosmia é atribuída à habilidade única de regeneração dos neurônios olfativos, por meio da qual

os novos neurônios olfatórios regenerados surgem e se reconectam ao cérebro, ocasionando em um

processo de tentativa e erro. Como existem aproximadamente 350 tipos de receptores para detectar

odores, o cérebro humano interpreta o cheiro acompanhando uma combinação de diferentes sinais.

É importante que a interrupção ou dano do nervo olfatório é seguido pela regeneração dos neurônios

bipolares do receptor olfatório, em companhia com a reconexão central de seus axônios. No entanto,

parte das regenerações axonais torna-se deslocada, levando a esses axônios em regeneração

"equivocados" para aproximar territórios anormais do cérebro (GRAZIADEI et al.,1979).

Assim, o objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de distúrbios olfativos e degustativos entre

voluntários brasileiros infectados por COVID-19.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Estudo transversal realizado por dados obtidos através de um questionário desenvolvido na

plataforma google forms e enviado a pessoas que foram ou estavam infectados pela COVID-19 ,

através de redes sociais: whatssap, facebook, instagram, de forma aleatória sem a identificação

pessoal, com o objetivo de verificar a prevalência dos distúrbios olfativos e degustativos entre

voluntários .

Foram entrevistados 510 voluntários de diversas regiões brasileiras, previamente testados como

positivo para COVID-19, entre 21 de abril de 2021 à 12 de agosto de 2021, nos quais foram inseridos

em planilhas no Excel para análise e confecção de tabelas e gráficos.

3 RESULTADOS

Participaram da pesquisa 510 voluntários de diversas regiões brasileiras, previamente testados como

positivo para COVID-19; com média de idade de 37,4 anos, 88,4 % pertenciam ao gênero feminino e

11,6% masculino

Destes, 82,8% e 90,4% referiram perda do paladar e olfato, respectivamente durante ou após a

infecção. Sendo que essas alterações apresentaram períodos de durações variáveis como

demonstrado na figura 1.

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Prevalência Dos Distúrbios Olfativo- Gustativos Entre Infectados Por Covid-19 No Brasil

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Figura 1- Gráfico demonstrando o período de duração da perda de olfato ou paladar referido

Fonte: Os autores

Quanto a percepção de distorção do paladar ou olfato, 507 voluntários responderam a essa questão,

sendo que 60,1% afirmaram ter apresentado essa alteração, que perdurou por períodos de tempo

diferentes como apresentados na figura 2.

Figura 2- Gráfico demonstrando o período de duração da distorção de olfato ou paladar referido

Fonte: Os autores

Os relatos sobre as distorções percebidas mais frequentes incluíam alimentos com gosto de ferrugem,

fumaça, carne com gosto de queimado, café com cheiro e gosto de algo podre. A tabela 1 exibe relatos

de distorções apresentadas pelos participantes com mais frequência.

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Prevalência Dos Distúrbios Olfativo- Gustativos Entre Infectados Por Covid-19 No Brasil

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Tabela 1- Principais distorções relatadas pelos participantes

Fonte: Os autores

4 DISCUSSÃO

De acordo com os estudos atuais, células epiteliais alveolares, mucosa da cavidade oral, intestino, rim

e coração expressam ECA2, receptor no qual o SARS-COV2 liga-se para infectar as células humanas. O

ACE2 é mais expresso na língua do que em outros locais das cavidades orais (bucal e gengival),

demonstrando a vulnerabilidade da infecção por COVID-19 na mucosa da cavidade oral (Xu et al.,

2020). Bem como a entrada do vírus através do bulbo olfatório foi reportado em modelo animal

(GIACONMELLI et al., 2020).

Os distúrbios do olfato são induzidos por infecções virais do trato respiratório superior. Estudos

mostram uma relação entre infecção por COVID-19 e distúrbios do olfato (hiposmia, anosmia) e perda

do paladar (ageusia), no entanto, distúrbio olfatório é mais prevalente do que disfunções gustativas.

De acordo com alguns relatos, pacientes com infecção por COVID-19 apresentam perda total ou

pequena do paladar e do olfato, sem rinorréia ou obstrução nasal (LOVATO; DE FILIPPIS; MARIONI ,

2020; RUSSEL et al., 2020;

A COVID-19 foi associado à perda olfatória temporária em uma grande proporção de pacientes

infectados (KLOPFENSTEIN et al., 2020; MOEIN et al., 2020). Um estudo conduzido pelo Consórcio

Global para Pesquisa Quimiosensorial (GCCR) com 4.039 participantes de 41 países diferentes mostrou

que 89% dos pacientes relataram perda do olfato em algum grau (PARMA et al., 2020). Da mesma

Alimentos Distorção

Água Gosto doce, ferrugem, barro

Alimentos salgados Tempero forte, gosto de gasolina

Refrigerantes de cola Gosto de perfume ou desinfetante

Café Gosto e cheiro podre

Carne Queimado e podre

Feijão e peixe Gosto azedo e podre

Ovo Gosto podre

Chocolate e doces Gosto salgado de tempero

Cebola e alho Cheiro desagradável

Perfumes, sabonetes, cremes dentais Cheiro e gosto desagradável

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Prevalência Dos Distúrbios Olfativo- Gustativos Entre Infectados Por Covid-19 No Brasil

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forma, Lechien e colaboradores (2021) demonstraram que 81,6% dos pacientes infectados relataram

perda total do olfato, enquanto 18,4% relataram perda parcial. Além disso, um total de 328 pacientes

(24,5%) ainda não havia recuperado o olfato mesmo 60 dias após o início da disfunção.

Na presente pesquisa observou-se uma alta prevalência desses distúrbios 82,8% e 90,4% referiram a

perda do paladar e olfato, respectivamente durante ou após a infecção. A perda de olfato e paladar

dos entrevistados em sua grande maioria 32% durou o período de uma semana. Segundo Bandeira

(2021) a maioria dos infectados que apresentam esse quadro tem a sua melhora nas primeiras

semanas em torno de 14 há 21 dias sendo que em alguns casos esse sintoma pode persistir por mais

tempo, podendo se estender em até 7 semanas.

Além da perda do olfato e paladar, alguns estudos têm descrito que pacientes recuperaram o olfato,

mas apresentavam o cheiro distorcido “parosmia” (CARFI et al., 2021; WATSON et al., 2021). O

presente estudo identificou que 60,1% dos 510 voluntários afirmaram ter apresentado essa distorção

que perdurou por períodos de tempo diferentes, a maioria em torno de 1 semana a 1 mês. Em uma

pesquisa realizada por Watson e colaboradores em 2020 com 9.000 usuários em um grupo do

Facebook, participantes relataram ter sentindo algumas alterações pós COVID-19, alguns relados de

distorções no cheiro e no paladar como “gosto e cheiro de queimado” “péssimo gosto metálico’’.

Semelhantemente, também observou-se na presente pesquisa na qual os entrevistados relataram

‘gosto de ferrugem, fumaça, carne com gosto de queimado, café com cheiro e gosto de algo podre’

entre outros.

Apesar dessas alterações serem consideradas como benignas e apresentarem pouca importância

clínica, essas disfunções estão associadas a alterações de humor, ao prazer alimentar, a capacidade

reduzida de detectar perigos, influenciando diretamente no estado de saúde e impactando na vida

social dos acometidos (CROY; NORDIN; HUMMEL, 2014). Portanto, mais estudos são relevantes no

intuito de compreender esse impacto social bem como na sua interpretação e critérios de tratamento

(KANJANAUMPORN et al., 2020)

5 CONCLUSÃO

Este estudo demonstrou uma alta prevalência de indivíduos que apresentaram distorções olfativas e

gustativas, mais frequentemente sua perda parcial ou total, porém também foi significante o número

de voluntários que relataram ter percebido alterações ou distorções no cheiro e no paladar (parosmia).

O tempo de persistência desses sintomas em sua maioria variaram de 1 a duas semanas, mas

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Prevalência Dos Distúrbios Olfativo- Gustativos Entre Infectados Por Covid-19 No Brasil

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houveram relatos de 6 meses a 1 ano de duração. Dessa forma, mais estudos são relevante a fim de

compreender o verdadeiro impacto dessa alteração na vida social dos acometidos bem como sua

interpretação e critérios de tratamento.

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Prevalência Dos Distúrbios Olfativo- Gustativos Entre Infectados Por Covid-19 No Brasil

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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARFI, A.; BERNABEI, R.; LANDI, F.; et al. Persistent symptoms in patients after acute COVID-19. JAMA. v. 324, n. 6, p. 603-605, 2020.

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9

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18

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904717

Capítulo 2

PERFURAÇÕES NÃO DETECTADAS EM LUVAS UTILIZADAS NA ROTINA DE LABORATÓRIOS DE

ANÁLISES CLÍNICAS

Jadiane Fortunato de Oliveira Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS

Guilherme Teles Avelino Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS

Priscila Moraes Henrique Paiva Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

1

Resumo: As luvas possuem a função de proteger as mãos e os punhos de agentes que possam causar

danos e seu uso é obrigatório para a manipulação de materiais químicos e biológicos. O laboratório de

Análises Clínicas lida diariamente com amostras infecciosas de procedência desconhecida, expondo

assim os profissionais da saúde a diversos riscos. As consequências de uma contaminação no âmbito

laboratorial, apesar de baixas, existem e são sérias. O vírus da Hepatite B e C, o vírus da

Imunodeficiência Humana (HIV) e o Coronavírus são agentes infecciosos mais importantes quando se

trata de infecções ocupacionais. E, apesar das luvas passarem por um processo de certificação de

qualidade antes de entrarem no mercado nacional, há uma tolerância de furos que são aceitos de

acordo com as normas vigentes. A presente pesquisa contou com a avaliação de 730 luvas usadas em

procedimentos de rotina de seis laboratórios de Análises Clínicas de algumas cidades do sul de Minas

Gerais, tendo a predominância de luvas de látex e, em quantidade mais baixa, as de vinil. Com a

aplicação de um teste de impermeabilidade, observou-se a incidência de 36,5% furos na amostragem

total. Concluiu-se que os equipamentos de proteção individual podem conter falhas, expondo os

profissionais a riscos de contaminação. O uso de duas luvas foi exposto como uma alternativa de

medida de reforço, juntamente com a prática de higienização correta e habitual das mãos.

Palavras-chave: Luvas. Perfurações. Contaminação.

20

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

2

1 INTRODUÇÃO

Biossegurança se dá pelo conjunto de ações que visam garantir e eliminar os riscos das atividades que

possam, de alguma forma, impactar na saúde e no meio ambiente. Essas ações são importantes para

a manutenção e promoção da qualidade de vida das pessoas, além da garantia da sua segurança

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Segundo Koerich e colaboradores (2006), os profissionais de saúde que trabalham no âmbito

laboratorial estão expostos diariamente à riscos químicos, físicos, ergonômicos e biológicos. E é de

suma importância que o laboratório crie um mapeamento sobre os possíveis acidentes, em um

sistema de gestão de saúde e segurança, para que haja assim um ambiente de trabalho seguro

(BENITE, 2004).

As amostras que chegam em um laboratório de Análises Clínicas normalmente são de procedência

infecciosa desconhecida, estando ali justamente para que sejam diagnosticadas. E, apesar do índice

de contaminação em laboratórios ser baixo, o risco existe e pode trazer consequências sérias aos

profissionais. Por isso é de extrema importância que, além do laboratório adotar medidas de

mapeamento de segurança, os funcionários também saibam e coloquem em ação as boas práticas de

laboratório (CIENFUEGOS, 2001).

Como exemplo de riscos físicos, destaca-se ruídos, umidade, radiações, frio e calor. Riscos químicos

envolve o contato com gases, poeiras, vapores e substâncias ou produtos químicos. Já os riscos

ergonômicos estão relacionados com postura irregular, levantamento de peso, esforço físico intenso,

entre outros. E os riscos biológicos se dão pelo contato com vírus, fungos, bactérias e parasitas que

são encontrados em amostras de pacientes e no ambiente laboratorial, podendo gerar contaminações

mediante a algum tipo de contato (NORMA REGULAMENTADORA 9, 2020).

Os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) são equipamentos particulares que estão relacionados

com a minimização dessas contaminações, acidentes e possíveis doenças advindas da rotina do

trabalho. De acordo com a Norma Regulamentadora 6 (NR6) do Ministério do Trabalho e do Emprego,

o uso desses EPI’s é obrigatório, sendo de responsabilidade do empregador a distribuição gratuita, a

fiscalização e a aplicação de medidas que conscientizem os empregados quanto ao seu uso.

Em se tratando de infecções ocupacionais nos serviços de saúde, o vírus da Hepatite B e C e o Vírus da

Imunodeficiência Humana (HIV) são agentes infecciosos muito importantes. Para os profissionais da

área, a contaminação se dá pelo contato do material infectante com mucosas ou pele. O risco de

21

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

3

contaminação acidental pelo HIV é de 0,3%, pela Hepatite B de 30 a 40% e pela Hepatite C de 4 a 10%

(RAPPARINI; VITÓRIA; LARA, 2004).

E, baseando no atual cenário global, a pandemia da COVID-19 também traz muitos riscos aos

profissionais de saúde. Com o alto potencial de disseminação, o contato com o paciente e o manuseio

do material é um desafio para os laboratórios de Análises Clínicas. Assim, os EPIs são fundamentais

como barreira de proteção, por isso qualquer tipo de falha desses materiais podem deixar os

profissionais expostos ao vírus (HUSSAIN; IKRAM, 2020).

Dentre os principais tipos de EPIs encontram-se as luvas. Elas têm como intuito a proteção de mãos e

punhos e são obrigatórias para a manipulação de agentes químicos ou materiais biológicos (ALMEIDA

et al., 2016). A escolha da luva ideal irá depender do tipo de atividade que a pessoa irá realizar. Por

exemplo, luvas de látex, utilizadas em procedimentos laboratoriais, são recomendadas para contato

com mucosas, lesões e manuseio com material biológico em laboratório (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2010).

Quanto à classificação, encontram-se luvas do tipo estéreis e do tipo não estéreis, ambas podendo

serem compostas de borracha natural, sintética ou misturas de borrachas, e também encontram-se as

de policloreto de vinila. Uma está relacionada com procedimentos cirúrgicos e a outra com

procedimentos de assistência à saúde, respectivamente. Podem ser classificadas também quanto ao

tipo de material: borracha ou látex natural, borracha não natural (nitrílica), formada a partir de um

derivado de petróleo, e as de vinil (PVC). E quanto a presença ou não de pó (BRASIL, 2011).

Produtos como luvas, e outros tipos de materiais de uso hospitalar, que estão no mercado brasileiro

precisam garantir sua qualidade para que sejam utilizados pelos consumidores de forma segura e

confiável. Essa garantia se dá pela avaliação de conformidade desses produtos baseados em requisitos

mínimos estipulados por normas e regulamentos técnicos. Os Organismos de Certificação de Produtos

(OCP) são responsáveis pelo sistema e recolha das amostras junto ao fabricante, que serão enviados

à Rede de Brasileira de Laboratórios de Ensaios (RBLE) onde serão feitos os testes (INMETRO, 2016).

De acordo com a Portaria n.º 194 de 20 de abril de 2018, que ajusta os requisitos mínimos

estabelecidos pela Resolução - RDC nº 55, de 4 de novembro de 2011, as luvas de procedimentos

cirúrgicos e não cirúrgicos, dos materiais de borracha sintética, não sintética, mistura de borrachas e

de vinil, devem atender aos requisitos de desempenho dos testes microbiológicos, testes físicos

(largura, espessura, comprimento), teste mecânicos (força) e impermeabilidade (perfurações). Além

de atenderem também aos requisitos de embalagem e rotulagem. Caso haja qualquer não

22

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

4

conformidade, ou seja, se a amostra apresentar qualquer alteração em algum teste, o produto não

estará apto a ser comercializado no mercado nacional.

Dentre os inúmeros ensaios que precisam ser feitos para verificar a qualidade das luvas, o ensaio de

impermeabilidade é um dos mais importantes. Segundo a NBR ISO 11193-1, o procedimento acontece

com a introdução de 1 000 cm3 (± 50 cm3) de água na luva e, posteriormente, observar os possíveis

vazamentos nas amostras ensaiadas. A quantidade de luvas ensaiadas e a tolerância de furos

permitidos dependerá do tamanho do lote e do tipo de luvas (estéril e não estéril).

O objetivo da atual pesquisa foi demonstrar o risco de contaminação de profissionais do âmbito

laboratorial mediante as falhas na qualidade das luvas utilizadas. Baseando-se no fato que o uso de

EPIs é essencial para a diminuição desses riscos, a avaliação da qualidade das luvas torna-se um

assunto importante justamente para verificar se há uma total segurança dos profissionais mediante o

uso desses equipamentos. A justificativa se dá pela relevância do tema, pelo fato de estar analisando

uma questão crucial: a biossegurança.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento do projeto, foram coletadas amostras de luvas usadas em procedimentos de

rotina de 6 laboratórios de Análises Clínicas entre as cidades de Varginha, Campanha, Monsenhor

Paulo, Boa Esperança e Elói Mendes/MG. Ficou disponibilizado em cada laboratório um recipiente

devidamente identificado para o descarte de luvas utilizadas na coleta e um outro recipiente

devidamente identificado para o descarte de luvas utilizadas na parte analítica do laboratório, durante

o mês de maio/2021.

Após o processo de coleta, foi aplicado o teste de impermeabilidade, de acordo com a NBR ISO 11193-

1. As luvas foram passadas por um equipamento utilizado para verificar perfurações em luvas. Foram

então introduzidas 1 litro de água a 36ºC em todas as luvas para verificar a presença de furos,

aguardando 2 minutos, depois de cheias, para confirmar perfurações não evidentes de imediato. Foi

adotado como critério de exclusão luvas com perfurações de até 40mm do punho e luvas com furos

evidentes, pois entende-se que o profissional da saúde descartaria o material por bom senso.

Os resultados foram anotados e, posteriormente, analisados. A discussão se baseou na leitura e

comparação das informações, obtidas através de planilhas e gráficos, com outras pesquisas

relacionadas à literatura.

23

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

5

Os laboratórios participaram voluntariamente da pesquisa, assinando um termo de consentimento

(Apêndice A) e colaborando com a coleta das amostras. As marcas das principais luvas utilizadas foram

disponibilizadas, não podendo ser divulgadas por questões éticas.

3 RESULTADOS

Foram disponibilizadas para o presente estudo 730 amostras de luvas utilizadas na rotina de 6

laboratórios de Análises Clínicas da região do Sul de Minas Gerais, sendo 637 (87,2%) luvas de látex e

93 (12,8%) luvas de vinil. A distribuição dessas amostras por laboratório pode ser observada na Tabela

2.

Do total de luvas testadas, 266 apresentavam furos, sendo 248 (93,2%) luvas de látex e 18 (6,8%) luvas

vinil, conforme a Tabela 3, que mostra a distribuição de furos em luvas por laboratório. No geral, 36,5%

das luvas possuíam furos não perceptíveis ao profissional de saúde (Tabela 4).

Tabela 2 - Relação das luvas disponibilizadas quanto à sua característica: látex ou vinil

Relação luvas disponibilizadas

LAB.1 Luvas Látex % Luvas Vinil % Total amostragem

Coleta 53 6,8% 20 13,9%

144 Analítico 71 9,3% 0 0%

Total 124 6,1% 20 13,9%

LAB.2

Coleta 0 0% 0 0%

114 Analítico 96 4,2% 18 15,8%

Total 96 4,2% 18 15,8%

LAB.3

Coleta 72 58,5% 0 %

123 Analítico 33 26,9% 18 14,6%

Total 105 85,4% 18 14,6%

LAB.4

Coleta 43 37,0% 12 10,3%

Analítico 61 52,6% 0 0%

24

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

6

Total 104 89,6% 12 10,3% 116

LAB.5

Coleta 51 37,0% 25 18,0%

138 Analítico 62 45,0% 0 0%

Total 113 82% 25 18%

LAB.6

Coleta 0 0% 0 0%

95 Analítico 95 0% 0 0%

Total 95 100% 0 0%

Total Geral 637 87,2% 93 12,8% 730

Fonte: OS AUTORES

Tabela 3 - Relação dos furos encontrados na amostragem de luvas disponibilizada

Relação furos

LAB.1 Luvas Látex % Luvas Vinil % Total Furos

Coleta 18 41,0% 5 11,3%

44 Analítico 21 47,7% 0 0%

Total 39 88,6% 5 11,3%

LAB.2

Coleta 0 0% 0 0%

39 Analítico 35 89,7% 4 10,3%

Total 35 89,7% 4 10,3%

LAB.3

Coleta 32 66,6% 0 0%

48 Analítico 12 25,0% 4 8,4%

Total 44 91,6 4 8,4%

LAB.4

Coleta 25 42,4% 1 1,6%

Analítico 33 56,0% 0 0%

25

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

7

Total 58 98,4% 1 1,6% 59

LAB.5

Coleta 17 34,0% 4 8,0%

50 Analítico 29 58,0% 0 0%

Total 46 92,0% 4 8,0%

LAB.6

Coleta 0 0% 0 0%

26 Analítico 26 100% 0 0%

Total 26 100% 0 100%

Total Geral 248 93,2% 18 6,8% 266

Fonte: OS AUTORES

Tabela 4 - Relação total dos furos nas luvas disponibilizadas

Relação Geral

Luvas Látex Furos % Luvas Vinil Furos %

637 248 39% 93 18 19,3%

Total Geral Luvas

730

Furos

266

%

36,5%

Fonte: OS AUTORES

4 DISCUSSÃO

Em se tratando de perfurações não detectadas em luvas, existem vários estudos na literatura sobre o

assunto, nos quais englobam luvas de procedimentos de urgência, procedimentos cirúrgicos e até

odontológicos, que mostram a necessidade de discutir e revelar a importância do índice de furos nesse

equipamento de proteção individual, tanto para os profissionais de saúde, quanto para os pacientes,

relacionando com a biossegurança (SOLDA et al., 2009; NETO et al., 2019).

O uso de luvas é essencial para o serviço de assistência à saúde, a favor da segurança dos envolvidos.

E a escolha do melhor tipo de luva para cada atividade também é de suma importância. A presente

pesquisa nos mostra que 87,2% das luvas utilizadas no estudo foram a de látex. Segundo o Boletim

26

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

8

Informativo de Tecnovigilância (2011), o látex de borracha natural é a melhor escolha para luvas

quando se trabalha com sangue e fluidos corporais, isso porque ela oferece uma maior proteção

contra esses contaminantes, além da flexibilidade, elasticidade e conforto.

As luvas de vinil foram vistas em 12,8% das amostras utilizadas pelos laboratórios, em menor

porcentagem pois, segundo a ANVISA, atividades estressantes e maior tempo de utilização desse tipo

de luva pode diminuir sua integridade como barreira, por isso ela não é recomendada para uso clínico

(BOLETIM DE TECNOVIGILÂNCIA, 2011). Já a borracha nitrílica serve como uma alternativa para a de

látex, sendo feita de um derivado de petróleo. Ao contrário da borracha natural, a nitrílica não é tão

flexível, o que pode explicar o fato de não serem utilizadas por nenhum dos laboratórios participantes

da pesquisa. Elas são ideais para manuseio de produtos químicos (SAÚDE, 2016).

De maneira geral, o índice de perfuração das luvas analisadas nesta pesquisa foi relativamente alto,

chegando a 36,5%. Estas são imperceptíveis podendo ser causadas por erro de fábrica, pelo manuseio

inadequado e até mesmo na hora de colocar esse EPI. Solda e colaboradores (2009) relataram que o

índice de perfurações em luvas pode chegar a 78% e, verificaram um índice de 16,3% de furos em luvas

de procedimento de urgência. Neto e colaboradores (2009), no estudo com luvas de procedimentos

odontológicos, demonstraram um índice de 21,3%, evidenciando a vulnerabilidade que se encontra

os profissionais da saúde.

O uso de duas luvas é citada como uma prática adequada, principalmente em países com alta

prevalência de Hepatites, HIV e em cirurgias longas e de alto risco (FOLHA INFORMATIVA 6). Segundo

o ECRI Institute (2006), o uso de luvas sobrepostas aumenta a integridade da barreira protetora e a

resistência contra pequenos furos. Porém, alguns profissionais relatam uma sensação incômoda,

atrapalhando a sensibilidade e a destreza tátil. Fora a questão econômica, tornando essa prática duas

vezes mais cara (BOLETIM DE TECNOVIGILÂNCIA, 2011).

Um fator que pode aumentar o risco de contaminação é a utilização incorreta das luvas. O profissional

de saúde não deve manusear outros objetos de uso comum, maçanetas ou armários, enquanto estiver

usando luvas e, em qualquer possibilidade de contato com algum material de risco biológico, ele

deverá estar em uso desse EPI (MANUAL DE BIOSSEGURANÇA, 2019). Porém, os Laboratórios 2 e 6 da

atual pesquisa não disponibilizaram nenhuma amostra do setor pré-analítico por não utilizar esse

equipamento na parte da coleta, alegando atrapalhá-los no processo de extração de amostras,

expondo assim os profissionais ao risco de contaminação. Segundo a RDC nº 302, de 13 de outubro de

2005, que dispõe sobre Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos, o

27

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

9

estabelecimento além de disponibilizar os equipamentos de proteção individual, deverá também criar

instruções de uso desses materiais, para garantia da biossegurança dos seus funcionários.

Segundo o Ministério da Saúde (2016), além das luvas, a higienização das mãos é a prática individual

mais simples para evitar a propagação de infecções. E, de acordo a Norma Regulamentadora 32

(NR32), que dispõe sobre a segurança e a saúde no trabalho em serviço de saúde, o uso das luvas não

deve substituir a lavagem das mãos, sendo essa uma prática que deve ser feita antes e depois da

utilização desse EPI, no mínimo, o que muitas vezes não acontece, expondo os profissionais à riscos

de contaminações laboratoriais.

5 CONCLUSÃO

A análise da incidência de furos em luvas em diversos tipos de procedimentos é encontrada facilmente

na literatura, mostrando um interesse e a importância em apresentar os riscos advindos da

contaminação ocupacional por contato e material biológico. O presente artigo trouxe essa análise

voltada para o Laboratório de Análises Clínicas, mostrando também um índice grande de perfurações

que expõe os profissionais de saúde à contaminações.

Diante dos dados obtidos, fica claro que os EPIs podem, de alguma forma, falhar na sua função como

barreira de proteção. O uso de mais de uma luva entrou como uma das estratégias para diminuir os

danos causados por furos imperceptíveis, porém pode limitar a sensibilidade do toque, principalmente

na parte da coleta de sangue. Normas mais rígidas poderiam ser reformuladas com o intuito de

diminuir ainda mais o índice de aceitação de furos por amostragem no processo de certificação da

amostra. No mais, a adoção de boas práticas de laboratório juntamente com o hábito de lavagem das

mãos, antes e depois da utilização das luvas, seria o comportamento ideal para evitar os riscos de

contaminações ocupacionais causadas por perfurações em luvas.

28

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

10

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BENITE, A. G. Sistema de gestão da segurança e saúde do trabalho em empresas da construção. 2004. Dissertação (Mestrado Politécnico) – USP, São Paulo, 2004.

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CIENFUEGOS, F. Segurança no laboratório. Rio de Janeiro: Interciência, 2001.

FOLHA INFORMATIVA 6- O primeiro desafio mundial para a segurança do paciente - Uma Assistência Limpa é Uma Assistência Mais Segura. Disponível em

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KOERICH, M. S. et al. Biossegurança, risco e vulnerabilidade: reflexões para o processo de viver humano dos profissionais de saúde, 2006.

29

Perfurações Não Detectadas Em Luvas Utilizadas Na Rotina De Laboratórios De Análises Clínicas

11

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Higienização das mãos na assistência à saúde. Disponível em <https://bvsms.saude.gov.br/higienizacao-das-maos-na-assistencia-a-saude/>Acesso em 07 de setembro de 2021.

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SOLDÁ, Silvia Cristine et al. Perfurações não detectadas de luvas em procedimentos de urgência. Revista da Associação Médica Brasileira, 2009.

30

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904720

Capítulo 3

PERFIL DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE VÍTIMAS DA COVID19 EM UMA UNIDADE DE PRONTO

ATENDIMENTO DO SUL DO BRASIL

FLÁVIA CAPELASSO BERALDI CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ (UNICESUMAR)

MURILO DE PAULA CALAÇA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ (UNICESUMAR)

PATRÍCIA BOSSOLANI CHARLO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ (UNICESUMAR)

Geisa dos Santos Luz Associação dos Familiares, Amigos e Portadores de Doenças Graves (AFAG)

Marcos Benatti Antunes UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ (UEM)

Perfil De Profissionais De Saúde Vítimas Da Covid19 Em Uma Unidade De Pronto Atendimento Do Sul Do Brasil

1

Resumo: O coronavírus é vírus de RNA envelopado, amplamente distribuídos entre humanos, que

causam doenças respiratórias, entéricas, hepáticas e neurológicas. O objetivo desse estudo foi analisar

o perfil dos profissionais da saúde vítimas da COVID-19 em uma Unidade de Pronto Atendimento

(UPA24h) que atende pacientes suspeitos e confirmados com COVID19. Trata-se de um estudo

epidemiológico descritivo de abordagem quantitativa. A amostra foi constituída por todas as

notificações por COVID19 dos profissionais da saúde da unidade no período de junho de 2020 a abril

de 2021, totalizando 23 casos. A coleta de dados foi realizada em maio de 2021. Conclui-se destacando

que a importância do profissional de saúde nunca se fez tão evidente e, por estar na linha de frente,

expostos a contaminação com o vírus, lidando com perdas de pacientes e de pessoas próximas, com

aumento da demanda da carga horária e condições de trabalho cada vez piores, é preciso deslocar

mais atenção à saúde física e psicológica desse grupo tão vulnerável num momento como esse.

Descritores: Profissionais da Saúde; Epidemiologia; COVID19.

32

Perfil De Profissionais De Saúde Vítimas Da Covid19 Em Uma Unidade De Pronto Atendimento Do Sul Do Brasil

2

INTRODUÇÃO

O coronavírus é vírus de RNA envelopado, amplamente distribuídos entre humanos, que causam

doenças respiratórias, entéricas, hepáticas e neurológicas. Dentro os tipos desse vírus, destacam-se o

SARS-CoV em 2002 e 2003 e MERS-CoV em 2012, agentes responsáveis pelos graves surtos de

síndrome respiratória aguda na província de Guangdong e no Oriente Médio, respectivamente (ZHU

et al., 2020).

Dada a alta prevalência e ampla distribuição do coronavírus, a grande diversidade genética, a

recombinação frequente de seus genomas e o aumento das atividades da interface homem-animal

surgiu o SARS-CoV-2, um vírus de RNA da família dos zacóticos de origem zoonótica, com similaridade

filogenética a outras linhagens como o SARS-CoV, (ZHU et al., 2020) o qual fez a China notificar um

surto de pneumonia de etiologia desconhecida em 31 de dezembro de 2019 em Wuhan, na província

de Hubei, à OMS (LI et al., 2020). Esse mesmo vírus fez com que a OMS, no dia 11 de março de 2020,

declarasse pandemia pelo coronavírus SARS-CoV-2 ou COVID-19.

O trabalho, sendo atividade eminentemente social, exerce papel fundamental nas condições de vida

do homem. É pelo trabalho que o homem transforma a si e à natureza, e, ao transformá-la de acordo

com suas necessidades, imprime em tudo que o cerca a marca de sua humanidade. Em contrapartida,

ao realizá-lo, o homem se torna exposto a constantes riscos presentes no ambiente laboral, os quais

podem interferir diretamente em sua condição de saúde (CANINI, 2002).

Os trabalhadores da área da saúde estão expostos a diferentes tipos de agentes, sejam eles

químicos, físicos, psicossociais, ergonômicos e biológicos, categoria em que o vírus Sars-Cov-2 se

enquadra. Como já elucidado, as principais vias de contágio são o sangue, por manusear perfuro

cortantes tanto para a aplicação da vacina, como para diagnóstico de Covid19, estando sujeitos a

respingos sanguíneos em suas mucosas e vias aéreas, e pela inalação de aerossóis ou partículas

maiores, assim, o profissional da saúde está mais propenso a uma contaminação (TEIXEIRA, 2020).

Um estudo realizado no Hospital Tongji, que contou com 54 profissionais da saúde atingidas pelo vírus,

evidenciou que, desse total, 72,2% atuavam em enfermarias clínicas, 18,5% na área de tecnologia

médica e 3,7% se encontravam na emergência. Também mostrou que, em relação a gravidade da

infecção,11 foram categorizados como tipo comum, 40 como tipo grave e 3 como críticos(CHU et al.,

2020).

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Perfil De Profissionais De Saúde Vítimas Da Covid19 Em Uma Unidade De Pronto Atendimento Do Sul Do Brasil

3

Outro dado que comprova essa suscetibilidade são os números da Itália. Até o dia 22 de março de

2020, foram infectados 4.824 profissionais de saúde, correspondendo a 9% de todos os casos, tratando

de números piores que os observados na China com 3.300 profissionais de saúde infectados. Números

que vieram a diminuir quando a Federação Italiana de Profissionais de Saúde mudou a estratégia de

combate ao surto do vírus SARS-CoV-2, pois passou a considerar a estratégia de vigilância comunitária

bem planejada, com identificação e isolamento dos casos suspeitos ou sintomáticos mais adequada

que um modelo centrado no hospital (ANELLI et al., 2020).

Ademais, no contexto de 2020, entre os fatores relacionados ao alto número de infectados pelo vírus

Sars-Cov-2, enquadra-se o uso inadequado ou resistência no uso de EPI, decorrentes da sobrecarga de

trabalho, da autoconfiança e o descuido próprio, da falta de capacitação e de medidas de prevenção

insuficientes. Embora haja uma consciência entre os trabalhadores acerca do risco biológico envolvido

em suas atividades e da importância do uso de EPI,isso não garante que estes profissionais estejam

tendo uma boa adesão às medidas de proteção (SANTOS, 2012).

Mesmo sabendo da importância do uso de EPI, como demonstrado na UTI de um hospital de

Cingapura, onde 85% dos profissionais de saúde ficaram expostos a contaminação, mas com o uso

correto dos equipamentos de proteção individual, não foi apresentado contaminação (NG et al., 2020),

a frequência de uso, no geral, é baixa, muito por conta do manejo rápido no atendimento, à pressa e

à própria falta de hábito de usar EPI, principalmente nos atendimentos de urgência e emergência

(SANTOS, 2012).

Essa contradição acena para a necessidade do desenvolvimento de estratégias visando à adoção de

práticas mais seguras e redução dos fatores de risco e vulnerabilidade que atingem os profissionais de

saúde nos diferentes contextos de atuação, além de ser um dos grandes motivos para a disseminação

do COVID-19 (TEIXEIRA, 2020).

Nesse contexto, o objetivo desse estudo foi analisar o perfil dos profissionais da saúde vítimas da

COVID-19 em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA24h) que atende pacientes suspeitos e

confirmados com COVID19.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo de abordagem quantitativa, que foi realizado na

Unidade de Pronto Atendimento 24h de Sarandi/PR com a média de atendimentos diários de 240

pacientes, de uma população de aproximadamente 96.688 habitantes.

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A amostra foi constituída por todas as notificações por COVID19dos profissionais da saúde da

unidadeno período de junho de 2020 a abril de 2021, totalizando 23 casos. A coleta de dados foi

realizada em maio de 2021.

Os dados foram digitados e organizados em uma planilha do Microsoft Office Excel 2017®,

posteriormente processamento e analisados com estatística simples.

A pesquisa foi aprovada conforme parecer n.º 4.001.678/2020 do Comitê Permanente de Ética em

Pesquisa com Seres Humanos (COPEP) do Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR).

RESULTADOS

Entre os 23 profissionais de saúde que foram infectados pelo COVID19, a maioria estavam na faixa

etária de 40 à 59 anos (56,5%) e do sexo feminino (78,3%). A maioria dos trabalhadores vive com o(a)

companheiro(a) (65,2%). Em relação a função desempenhada na unidade, 82,7% são profissionais da

enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem), 60,9% relatam ter alguma comorbidade,

destacando a obesidade com 17,4% seguido de tabagismo 13,0% e doença pulmonar com 8,7% (Tabela

1).

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5

Na tabela 2, apresenta os profissionais que adquiriram o vírus antes e após a vacina contra o COVID19.

Dentre os infectados, 65,2% foram infectados antes da vacinação e, após a vacinação com primeira ou

segunda dose totalizou-se 34,7% de infectados pelo COVID19.

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No que se refere ao método de diagnóstico, alguns profissionais de saúde realizaram o Teste rápido

(13,0%), a sorologia IgG/IgM e a tomografia com respectivamente 4,3%, e todos (100%) realizaram

para diagnóstico e/ou confirmação do diagnóstico de COVID19 pelo método RT-PCR (Swab Nasal). Já

em relação ao tratamento, apenas 4,3 foram hospitalizados e a maioria dos trabalhadores (95,7%)

apresentaram casos leves da doença, realizando seu tratamento no próprio domicilio em isolamento

social (Tabela 3).

O gráfico 1 apresenta os sintomas apresentados pelos profissionais de saúde durante o período de

transmissão do COVID19 (3º ao 7º dia da doença) e destacou-se a Perda de Olfato e Cefaléia com

respectivamente 65,3%, seguidos deMialgia/Dor Muscular (60,9%), Coriza e Adinamia/Fraqueza com

respectivamente 56,5%, Tosse (52,2%) e Perda do Paladar e Calafrios com respectivamente 47,8%.

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DISCUSSÃO

O estabelecimento de estratégias para que haja o emprego de práticas mais seguras e diminuição da

vulnerabilidade dos profissionais de saúde é de extrema importância tanto para a segurança desses

profissionais quanto para o controle da disseminação da COVID-19 na sociedade (TEIXEIRA, 2020).

Além da questão de transmissibilidade da doença entres os profissionais que trabalham na linha de

frente, segundo Teixeira et al. (2020), é preciso voltar a atenção para aspectos referentes à saúde

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8

mental desses trabalhadores, uma vez que relato de sintomas de ansiedade, depressão, má qualidade

do sono e medo tem aumentado nesse grupo em questão, o que reafirma a elevada vulnerabilidade

destes.

A predominância do gênero feminino como apresentado nesse estudo, é esperada visto que, segundo

dados do COFEN (Conselho Federal de Enfermagem), no tocante aos profissionais da enfermagem, a

maioria são mulheres, cenário este que vem mudando ao longo dos anos, já que o Conselho afirma

que há um crescimento do contingente masculino na enfermagem. No que se refere aos médicos, os

homens ainda correspondem a maioria no Brasil. Porém, a diferença entre gêneros vem diminuindo,

como expõe Scheffer et al., (2020) em sua pesquisa demográfica, constatando 53,4% dos médicos

eram do gênero masculino e 46,6% do gênero feminino

De acordo com os resultados obtidos, dentre os profissionais infectados na Unidade de Pronto

Atendimento, enfermeiros e técnicos de enfermagem correspondem a ocupação mais acometida,

totalizando 19 do total de 23 infectados. Com isso, é necessário que se reconheça que esses

profissionais correspondem ao grupo de maior número que trabalham na linha de frente, além de

serem os que ficam por mais tempo em contato com os pacientes, o que aumenta a vulnerabilidade

desses profissionais (SOUZA, 2020). Ainda, segundo SOUZA etal. (2020), no Brasil, são mais de 2

milhões de profissionais de enfermagem, e essa maior suscetibilidade à exposição desse grupo ao vírus

Sars-Cov-2 está presente mesmo com o uso dos EPIs, sendo de extrema importância um apoio logístico

e de materiais para dar segurança a esses profissionais.

Ademais, ao falar sobre EPIs, é necessário ressaltar os efeitos adversos do uso desses equipamentos.

Teixeira et al. (2020), revela uma elevada incidência de efeitos cutâneos atrelados a prevenção da

contaminação pelo Sars-Cov-2 por parte dos profissionais de saúde, o que pode resultar em uma não

aderência às medidas necessárias ao controle da transmissão da doença. Ainda referente a esse

estudo, dentre esses efeitos incluem-se lesões cutâneas que afetam as mãos, ponte nasal, bochecha

e testa, além de dermatite na região das mãos pela constante higiene.

Além de toda a consequência do uso dos EPIs e vulnerabilidade emocional que esses profissionais

estão sujeitos, muitas vezes eles ainda podem ter comorbidades, as quais estão relacionadas com um

quadro mais grave da doença como a necessidade de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

e/ou utilização da ventilação mecânica e óbito, colocando-os no grupo de risco (SOUZA E SOUZA,

2020).Compõem o grupo de risco pessoas com idade avançada por ter uma imunidade

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fisiologicamente,e/ou pessoas com as seguintes comorbidades: diabetes mellitus, hipertensão,

doenças cardiovasculares, obesidade, doença pulmonar ou renal crônica e câncer (DAS MERCÊS et al.,

2020).

As doenças crônicas de um modo geral possuem as mesmas características e complicações de

processos infecciosos, como a disfunção endotelial, estado pró-inflamatório e diminuição da resposta

imune inata. Em infecção viral grave há a mudança de resposta Th1 para Th2 que gera uma sobrecarga

de citocinas, e que quando somado ao aumento dessascitocinas causadas por distúrbios metabólicos

como na obesidade e diabetes, pode levar a mais danos ao endotélio gerando inúmeras complicações,

como tromboses e quadros graves de coagulopatias (BADAWI; RYOO, 2016). O presente estudo

revelou que dentre os 23 profissionais da UPA24h, 9 apresentavam comorbidades, sendo 4 obesos, 1

hipertenso, 1 com doença neurológica, 1 com diabetes mellitus e 2 com doença pulmonar.

Segundo DAS MERCÊS et al. (2020), a Diabetes Mellitus e Hipertensão correspondem às comorbidades

que tornam o indivíduo mais susceptível a infecção pela COVID-19, uma vez que é utilizado inibidores

da enzima de conversão da angiotensina (ECA) para tratar essas doenças, e estes inibidores pode

estimular a enzima conversora da angiotensina 2 (ECA-2), o que torna mais fácil o contágio pela COVID-

19, visto que o vírus se liga a essa enzima. Em relação à obesidade, comorbidade mais prevalente entre

os profissionais da saúde da amostra, o autor explica que o excesso de tecido adiposo presente torna

deficiente a imunidade do paciente, já que esse tecido estimula o aumento dos processos

inflamatórios. Ele ainda pontua que o sexo masculino procura menos os serviços de saúde e quando

recebem algum diagnóstico, tem menor aderência ao tratamento, além de ter pré-disposição genética

e hormonal, em que apresentam uma maior quantidade da enzima ECA-2, aumentando sua

vulnerabilidade e diminuindo sua expectativa de vida.

Por fim, o tabagismo corresponde a um fator de risco para a infecção pelo coronavírus, primeiramente

por levar à boca o cigarro tradicional, narguilés ou dispositivos eletrônicos sem a correta higienização

das mãos, e por aumentar as chances de danos pulmonares, estando atrelados à bronqueolite

respiratória, somado a inúmeros tipos de pneumonia (SILVA et al., 2020).Ainda, o tabagismo pode-se

associar a bronquite crônica, enfisema pulmonar, tuberculose e cânceres de pulmão, o que leva a uma

queda da função pulmonar, pois além do tabaco elevar a replicação viral pela atenuação dos

mecanismos antivirais e modificar as citocinas que irão atuar na imunidade inata da mucosa e

aumentar a expressão de ECA-2, receptor do Sars-Cov-2 como já mencionado. Ademais, tabagistas

apresenta, marcadores de trombose como proteína C reativa (PCR) e dímero-D alterados assim como

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10

em pacientes acometidos pelo coronavírus. Níveis mais altos de dímero-D, podendo aumentam em 18

vezes a chance de evolução para óbito. Porém, esse fator de risco relaciona-se com hábitos de vida,

assim como a obesidade, os quais podem ser modificados (SILVA et al., 2020).

No tocante aos métodos de diagnóstico, se tem como padrão ouro para a identificação do vírus SARS-

CoV-2 o RT-PCR, que consiste em técnicas de reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa

com amplificação em tempo real e sequenciamento parcial ou total do genoma viral (NOGUEIRA;

SILVA, 2020).

Na pesquisa, as amostras foram obtidas por meio de swab nasal, mas também pode ser coletada por

meio do aspirado nasofaríngeo (ANF) e pela secreção respiratória do trato inferior. Espera-se que a

coleta seja realizada após o surgimento dos sintomas, entre o terceiro e o quinto dia com limite de 10

dias após o ocorrido, para que, dessa forma, a técnica possa ter boa especificidade e não apresentar

resultados errôneos (CERQUEIRA et al., 2020). A obtenção de um resultado falso negativo pode

ocorrer caso as amostras sejam coletadas de forma precoce ou tardia, ou ocorra esfregaços

insuficientes provenientes da nasofaringe ou caso tenha a contaminação das amostras durante o

processamento (PAVÃO et al., 2020).

Outro método de diagnóstico é o sorológico, dividido em teste rápido e o teste sorológico

propriamente dito. Quando um corpo entra em contato com o vírus, anticorpos IgA, IgM e IgG geram

uma resposta imunológica no indivíduo. Assim, a técnica usada para o diagnóstico no teste sorológico

propriamente dito baseia se na detecção dessas proteínas específicas.Para o teste são coletadas

amostras de sangue, soro ou plasma a partir do oitavo dia do início dos sintomas, pois é o tempo

necessário para que o sistema imunológico de uma pessoa produza anticorpos em valores suficientes

para detecção (NOGUEIRA; SILVA, 2020).

Já o teste rápido, feito preferencialmente através de amostras de soro ou plasma, se baseia na

imunocromatografia para IgM e IgG e deve ser realizado a partir do 10° dia após o início de sintomas.

Apesar de ser um método de fácil execução e resultados rápidos (de 10 a 30 minutos), apresenta alto

risco de falso negativo devido a possibilidade de reação cruzada com anticorpos produzidos por outras

infecções, pelo uso prévio de vacinas, ou até pela coexistência de outras condições clínicas, devendo

ser usados apenas para triagem e para reforçar uma hipótese de diagnóstico(DIAS et al., 2020).

Presume-se que 80% dos casos de Covid-19 tenham manifestações leves ou mesmo sejam

assintomáticos e 15% sejam de gravidade moderada e 5% graves. Portanto como demonstra os

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Perfil De Profissionais De Saúde Vítimas Da Covid19 Em Uma Unidade De Pronto Atendimento Do Sul Do Brasil

11

resultados na tabela 3, o tratamento domiciliar continua sendo predominante. Este deve ser feito

como medida de contenção da pandemia, afinal, apesar de ser um vírus com uma virulência

relativamente baixa, apresenta um alto potencial de contágio (PORTELA et al., 2020).

Até o momento, não há evidencias que comprovem a resolutividade de um medicamento no

tratamento de pacientes com infecção por SARS-CoV-2. Por isso, é preciso que ocorra a monitorização

do quadro de cada indivíduo para que, caso necessário, ocorra a transferência para hospitais ou

centros especializados (DIAS, et al., 2020).

Mesmo não tendo encontrado medicamentos para o combate a este vírus, as vacinas assumiram um

papel de protagonismo no enfrentamento da pandemia gerada pela COVID-19. De acordo com a

Fundação Oswaldo Cruz, estima-se que, no Brasil, já foram evitadas por volta de 55 mil mortes de

idosos e entre 96 e 117 hospitalizações de pessoas com 60 anos ou mais (BRASIL, 2021). Tais dados

reforçam a importância da vacina, especialmente para os profissionais que estão na linha de frente,

devido o contato direto com infectados e também para pessoas mais vulneráveis, como aqueles que

apresentam comorbidades e idosos.

No Brasil, em setembro de 2021, já foram distribuídas mais de 259,3 milhões de doses de vacinas para

os estados de forma proporcional e igualitária sendo que, dessas, mais de 214,1 milhões já foram

aplicadas na população. Até o momento, 139,1milhões de brasileiros já tomaram ao menos a primeira

dose da vacina Covid-19 e 74,9milhões completaram o esquema vacinal com duas doses ou dose

única(BRASIL, 2021).De forma global, já foram administradas 4,21 bilhões de doses e 38,67

milhões agora são administradas a cada dia. Já se tem 1,15 bilhões de pessoas totalmente vacinadas

e 2.22 bilhões com ao menos uma dose, representando 14,8% e 28,6% da população mundial,

respectivamente (HANNAH et al., 2021).

De acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), os sinais e sintomas iniciais mais comuns

assemelham-se a um síndrome gripal, definida como quadro respiratório agudo, caracterizado por um

quadro de febre, de início súbito, mesmoque referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta e

pelo menos um dos sintomas: mialgia, cefaleia ou artralgia (ANDRADE, 2021).Nesse estudo, como

demonstrado no gráfico 1, os sintomas variam de pessoa para pessoa. Sintomas comuns como mialgia

(60,9%), cefaleia (65,3%), e tosse (52,5%) foram observados em alta quantidades, seguindo outros

estudos feitos em Milão, Itália (GIACOMELLIet al., 2020), Seattle, Estados Unidos (BHATRAJU et al.,

2020) e em Wuhan, China (HUANG et al., 2020), ao passo que sintomas também comuns nesses

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Perfil De Profissionais De Saúde Vítimas Da Covid19 Em Uma Unidade De Pronto Atendimento Do Sul Do Brasil

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estudos como dispneia (26,1%) e febre (34,9%), apresentaram valores menores, sob efeito de

comparação. Ademais, sintomas menos comuns ou de difícil quantificação evidenciaram elevadas

porcentagens, a exemplo, perda de olfato (65,3%), coriza (56,5%) e adinamia (56,5%).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pandemia causa pelo vírus Sars-Cov-2 trouxe enormes mudanças econômicas e psicossociais.

Contudo, dentre tantas transformações, a importância do profissional de saúde nunca se fez tão

evidente e, por estar na linha de frente, expostos a contaminação com o vírus, lidando com perdas de

pacientes e de pessoas próximas, com aumento da demanda da carga horária e condições de trabalho

cada vez piores, é preciso deslocar mais atenção à saúde física e psicológica desse grupo tão vulnerável

num momento como esse. Para isso, mais estudos devem ser destinados a esse grupo de profissionais,

a fim de desenvolver intervenções para que haja uma melhora na qualidade de vida dos profissionais

de saúde diminuindo sua vulnerabilidade.

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Perfil De Profissionais De Saúde Vítimas Da Covid19 Em Uma Unidade De Pronto Atendimento Do Sul Do Brasil

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ANDRADE, A. G. M. et al. AVALIAÇÃO DE RETORNO AO TRABALHO DE TRABALHADORES EXPOSTOS AO SARS-COV-2 NO CONTEXTO DA PANDEMIA. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 45, n. Especial_1, p. 140-157, 2021.

46

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904722

Capítulo 4

PERFIL DOS RECÉM-NASCIDOS NA INTERNAÇÃO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

NEONATAL

Ana Paula Lobo Trindade Universidade Federal do Pará

MARINES MATOS DA SILVA Centro Universitário Planalto do Distrito-UNIPLAN CAMPUS BRAGANÇA

Maria Daniele Correa da Mota Centro Universitário Planalto do Distrito-UNIPLAN CAMPUS BRAGANÇA

Mônica de Nazaré Monteiro Gonçalves Centro Universitário Planalto do Distrito-UNIPLAN CAMPUS BRAGANÇA

Raquel Inácio Sousa Matos Centro Universitário Planalto do Distrito-UNIPLAN CAMPUS BRAGANÇA

Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

1

Resumo: Objetivo: Traçar o perfil dos recém-nascidos que são internados na UTI neonatal no período

de janeiro a dezembro de 2017. Metodologia: Este descritivo, observacional, transversal,

retrospectivo. Aprovado com parecer n°2.359.352 e CAAE: 76.101817.7.00005172. A pesquisa utilizou

199 registros de internações na UTI Neonatal descritos no período de janeiro a dezembro de 2017.

Levando em consideração o sexo do RN, o diagnóstico de internação, os pesos de admissão e de alta,

e destinos de alta registrados. Todos os registros de internação foram utilizados Resultados e

Discussão: Dos 199 recém-nascidos internados 115 meninos (57,78%) e 84 meninas (42,21%). O peso

de admissão variou de 472 a 5.306 gramas com média de 2.417gramas com valores que se

assemelham ao estudo que determinou a variação de peso de 570 e 5.085 gramas, com média de peso

de 2.111 gramas. No estudo proposto determinamos que a prematuridade com 78 casos de um total

de 199 internações foi com 39,19% a maior causa das internações corroborando com a pesquisa que

aponta a prematuridade como a principal causa de internação 69,6%. Observamos que 57,14% dos

óbitos registrados no período da pesquisa foi em função da prematuridade dos recém-nascidos,

seguidos de Desconforto Respiratório, Aspiração Meconial e Infecção Neonatal ambos com 11,42%

das causas cada e Anóxia com 8,57% dos óbitos. Conclusão: Os principais diagnósticos de internação

na UTI Neonatal são a prematuridade seguida de desconforto respiratório. A realização desta pesquisa

foi importante para suscitar novas pesquisas na região dentro do ambiente de UTI Neonatal, haja vista

o grande fluxo de atendimentos a recém-nascidos.

Palavras-chaves: prematuridade, recém-nascidos, uti neonatal.

48

Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

2

INTRODUÇÃO

O processo da gestação é um fenômeno fisiológico que deve ser visto pelas gestantes e equipes de

saúde como parte de uma experiência de vida saudável, fenômeno no qual normalmente ocorrem

mudanças dinâmicas do ponto de vista físico, social e emocional. O resultado esperado de uma

gestação é a obtenção de um recém-nascido (RN) sadio sem trauma para a mãe. Entretanto, em

algumas situações isso não é possível devido a complicações durante a evolução da gravidez ou do

parto, ou com o concepto. Essas intercorrências no processo do ciclo gravídico-puerperal geram riscos

à integridade da saúde, tanto da mãe quanto do concepto (Correio R A S, Correio L F, Correio M A

B,2016).

Por causa das intercorrências relacionadas à gravidez e ao momento do parto, muitos recém-nascidos

(RNs) são acometidos de distúrbios metabólicos e respiratórios, acompanhados de dificuldade em

alimentar-se e em regular a temperatura corporal. Tais diagnósticos requerem internação imediata

em unidades de tratamento e recuperação da saúde do neonato (Pimenta WC at al, 2013).

Dessa forma a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) surge como um ambiente onde utilizam

técnicas e procedimentos sofisticados, que podem propiciar condições para a reversão dos distúrbios

que colocam em risco a vida dos recém-nascidos (Pimenta WC at al, 2013).

A UTIN é um termo que carrega uma contradição, ao referir-se ao início da vida e ao risco de morte.

Sobrevivência e desenvolvimento dependem do maquinário, de medicamentos e profissionais

atuantes neste contexto e que se tornam o mundo do prematuro. Diferente do que acontecem com

bebês saudáveis, eles têm seus ciclos regulados por contingências diferentes de suas necessidades.

Dificilmente dormem sem ser acordados, a alimentação segue horários determinados e há

interferências e estímulos constantes. O cuidado necessário à sua sobrevivência e desenvolvimento

exige recursos expressivos com profissionais, instalações, equipamentos e tecnologia (Pimenta WC et

al, 2013).

A classificação do período neonatal pode ser considerada como os primeiros vinte e oito dias de vida

do bebê. No que refere-se à idade gestacional, os RNs (recém-nascidos) podem ser: a termo, aqueles

cuja idade gestacional é de 37 a 42 semanas; pré-termo, aqueles que têm menos de 37 semanas, e

pós-termo, os nascidos a partir da 42 semanas. O RN de risco que necessita de terapia intensiva

independente da idade gestacional ou do peso de nascimento apresenta maiores 5 riscos que a média

de morbidade e mortalidade em decorrência de distúrbios e/ou circunstâncias superpostas ao curso

49

Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

3

normal de eventos associados com o nascimento e ajustamento à existência extrauterina (Rossetto

M, Pinto E C, Silva L A A, 2011). No Brasil segundo fontes do Ministério da Saúde em 2015 o número

de nascidos vivos chegou a 3.017.668 sendo que na região Norte no mesmo ano o valor foi 320.924 e

o número de óbitos infantis na faixa etária que vai de 7 a 27 dias de vida foi de 6.324 e na região norte

do país 734 (Ministério da Saúde, 2017).

A caracterização do perfil neonatal constitui um instrumento para a obtenção de dados que possam

auxiliar no planejamento de ações para proporcionar melhorias na qualidade da atenção destinada a

esse grupo. Diante das inúmeras variáveis que interferem no processo saúde-doença, o entendimento

da epidemiologia de uma população a ser estudada propicia um cuidado integral e eficaz em seu

atendimento (Renner, F et al, 2014).

A disponibilidade de informação epidemiológica adequada permite uma mudança no perfil de ações,

intervindo diretamente junto aos processos assistenciais e atendendo às necessidades atuais dos

serviços de saúde e, em particular, as unidades de tratamento intensivo neonatal, bem como é eficaz

para organizar e avaliar os vários níveis que integram a UTIN (Renner, F et al, 2014). Traçar o perfil dos

recém-nascidos que são internados na UTI neonatal no período de janeiro a dezembro de 2017.

Conhecer o número de óbitos neonatais no período proposto. Estabelecer o perfil dos neonatos de

acordo com: o diagnóstico de internação, o sexo, os pesos de admissão e de alta, e o destino de alta.

METODOLOGIA

O Estudo foi realizado em um hospital filantrópico do nordeste paraense, no Hospital Santo Antônio

Maria Zaccaria-HSAMZ, localizado em Bragança, Pará. Esta Instituição possui alto fluxo de gestantes e

recém-nascidos, pois é referência para parto de alto risco, em virtude de possuir a retaguarda de

assistência neonatal como a UTI Neonatal, segundo a Rede Cegonha. Sendo atendidos em média 159

recém-nascidos por ano.

A pesquisa foi aprovada pelo comitê ética do Núcleo de Medicina Tropical com parecer n°2.359.352

sob CAAE: 76101817700005172.

Este é um estudo do tipo descritivo, observacional, transversal, retrospectivo. Este estudo utilizará as

informações contidas no livro de registro de internações da UTI Neonatal no período de janeiro a

dezembro de 2017. Levando em consideração: o sexo do RN, o diagnóstico de internação, os pesos de

admissão e de alta, e óbitos neonatais registrados. Foram utilizados 199 registros de recém-nascidos

internados na UTI Neonatal. Os dados foram coletados transcrevendo as informações registradas no

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Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

4

livro de internação da UTI Neonatal, separados primeiramente por mês e posteriormente agrupados

por categorias descritas como: o sexo do recém-nascido, o diagnostico de internação, o município de

origem, o local de nascimento, os pesos de admissão e de alta, e o destino após a alta. O item tempo

de internação foi excluído por conta que nem todos estavam com as datas de internação ou de alta

inviabilizando a análise deste tempo de internação. Depois de coletados os dados foram transportados

para tabela pra descrever o perfil do recém-nascido na internação na UTI Neonatal.

Todos os registros de recém-nascidos internados no período de janeiro a dezembro de 2017 foram

utilizados não havendo exclusão de registros.

Os riscos para o desenvolvimento desse estudo foram mínimos, referente à possível falha no sigilo das

informações obtidas no livro de registro de internação, para prevenir essa perda de sigilo utilizaremos

código RN seguido de sequência numérica para identificar os dados coletados, preservando a

identificação do participante. Como benefício da pesquisa os resultados serão divulgados para

comunidade científica e em geral local podendo servir de base para melhoria dos serviços prestados

no setor de saúde do hospital e da região.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir veremos os dados do nascimento como o sexo dos recém-nascidos, o peso de admissão e

alta, e também os diagnósticos de admissão da UTI Neonatal representados numericamente na tabela

1.

51

Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

5

Tabela-1: Dados referente ao sexo dos recém-nascidos, ao peso de admissão e de alta, diagnóstico de

alta no período de janeiro a dezembro de 2017, Bragança, Para, Brasil, 2018.

Fonte: dados da pesquisa

Dos 199 recém-nas11cidos internados 115 meninos (57,78%) e 84 meninas (42,21%). No resultados

da pesquisa encontramos valores semelhantes dos 193 recém-nascidos, 52,85% eram do sexo

masculino e 47,15% do sexo feminino internados em UTI neonatal (Silva, E.J, 2015).

O peso de admissão variou de 472 a 5.306 gramas com média de 2.417gramas com valores que se

assemelham ao estudo que determinou a variação de peso de 570 e 5.085 gramas, com média de peso

de 2.111 gramas (Damian A, Waterkemper R, Paludo C A, 2016).

O peso de alta variou entre 560g a 5.100g com 164 do total de 199 que foram internados.

52

Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

6

A idade gestacional menor de 37 semanas pode suscitar maior risco de vida a recém-nascidos como

demonstra a pesquisa (Granzotto et al, 2012). No estudo em questão tivemos 78 casos 39,19% de

prematuros e 117 casos 58,79% de recémnascidos á-termo e apenas 04 casos de prematuridade

extrema com 2,01%.

A prematuridade como uma das causas de internação em Unidades de Terapia Intensiva figura a nível

internacional e nacional como umas principais causa de mortalidade neonatal (Oliveira CS, Casagrande

GA, Grecco LC, Golin MO, 2015).

No estudo proposto determinamos que a prematuridade com 78 casos de um total de 199 internações

foi com 39,19% a maior causa das internações 8 corroborando com a pesquisa que aponta a

prematuridade como a principal causa de internação 69,6% (Damian A, Waterkemper R, Paludo C A,

2016).

Em outra pesquisa também encontramos valores 21 casos (51,3%) de prematuridade como principal

motivo de internação em UTI Neonatal, assim a pesquisa proposta (PAULA N V K et al, 2017).

Na tabela 2 descrevemos os dados relativos a origem dos recém-nascidos, local do parto e destino de

alta no período proposto na pesquisa de janeiro a dezembro de 2017.

Tabela-2: Dados de origem dos recém-nascidos, local de parto e de destino na alta da UTI Neonatal no

período de janeiro a dezembro de 2017, Braganca, Para, Brasil, 2018.

53

Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

7

Fonte: dados da pesquisa *Unidade de Cuidados Intermediários; ** Unidade de Terapia Intensiva

Pediátrica.

O maior número de recém-nascidos tem origem de Bragança com cerca de 35,17% da ocupação de

leitos no período de janeiro a dezembro de 2017, seguida de Augusto Correa com 12,56% e Tracuateua

com 10,55%. Ambos os municípios fronteiriços o que facilita o acesso a UTI Neonatal, tendo em vista

a entrada pela maternidade de alto risco que é referência na região dos Caetés.

O local de parto com maior registro foi o hospital com 97,48% e restando apenas 2,51% dos partos

descritos em ambientes domiciliares o que demonstra uma crescente pela assistência especializada

obstétrica, mesmo em meios rurais com tradição por partos domiciliares. Em outro estudo

encontramos dados que corroboram com nossa pesquisa apontando 0,2% de partos no domicilio e

99,7% em ambientes hospitalares (Correio R A S, Correio L F, Correio M A B, 2016).

Dentre as altas registradas 50,25% foram com destino para o domicilio dos recém-nascidos, tendo um

pequeno percentual de internações na UTI Pediátrica de 1% e na UCI de cerca e 17,58% das altas por

54

Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

8

óbitos e o mesmo percentual por outras causas. Em outra pesquisa houve discordância nos resultados

encontrados sendo que do total de crianças estudadas, 77% tiveram alta para unidade de internação,

9,5% foram transferidas para outros hospitais e 2,4% foram diretamente para casa (Damian A,

Waterkemper R, Paludo C A, 2016).

Na tabela 3 observamos que 20 dos óbitos registrados no período do estudo foi em função da

prematuridade dos recém-nascidos, seguidos de Desconforto Respiratório, Aspiração Meconial e

Infecção Neonatal ambos com 11,42% das causas cada e Anóxia com 8,57% dos óbitos. Em outro

estudo encontramos semelhanças quanto aos principais causas de óbitos neonatais relacionados a

prematuridade com 27 casos descritos(Silva A P M, Gois R P, 2016).

Tabela-3: Principais causas de óbitos no período de janeiro a dezembro de 2017 na UTI neonatal,

Braganca, Para, Brasil, 2018.

Fonte: dados da pesquisa

CONCLUSÃO

Os principais diagnósticos de internação na UTI Neonatal são a prematuridade seguida de desconforto

respiratório. Porém, a maioria dos recém-nascidos neste período tinha idade gestacional acima de 37

semanas. O local onde ocorreram os partos predominou os hospitais, tendo apenas cinco partos

descritos em domicílio.

Houve uma pequena redução número de óbitos na instituição do ano de 2016 para o ano de 2017,

porem comparados aos números de óbitos de países desenvolvidos, ainda devemos melhorar os

índices e faz-se necessários esforços para qualificar os serviços de assistência neonatal.

55

Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

9

A principal causa de internação em UTI Neonatal foi a prematuridade. Com relação as principais causas

de óbitos encontramos a principalmente a prematuridade seguida por desconforto respiratório,

aspiração Meconial e infecção neonatal. À nível nacional e internacional também encontraram a

mesma realidade sendo um problema de saúde publica que deve ser encarado como um desafio a ser

superado.

A realização desta pesquisa foi importante para suscitar novas pesquisas na região dentro do ambiente

de UTI Neonatal, haja vista o grande fluxo de atendimentos a recém-nascidos. Além de observamos a

grande variedade de municípios que são contemplados com vagas nos serviços de alta complexidade.

A qualificação dos serviços voltados para o componente materno e neonatal são prioridades que

devem ser buscadas pelos gestores e profissionais envolvidos no cuidado ao binômio mãe-filho de

forma a reduzir a mortalidade neonatal que na região norte do país ainda é uma realidade diária.

56

Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

10

REFERÊNCIAS

Correio R A S, Correio L F, Correio M A B. Perfil epidemiológico dos nascidos vivos no município de Chapecó-SC. RECIIS – Rev Eletron Comun Inf Inov Saúde. 2016 abr.-jun.; 10(2) | [www.reciis.icict.fiocruz.br] e-ISSN 1981-6278.

Damian A, Waterkemper R, Paludo C A. Profile of neonates hospitalized at a neonatal intensive care unit: a cross-sectional study. Arq. Ciênc. Saúde. 2016 abrjul; 23(2) 100-105.

Granzotto et al. Análise do perfil epidemiológico das internações em uma unidade de terapia intensiva neonatal. Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 56 (4): 304-307, out.- dez. 2012.

Oliveira CS, Casagrande GA, Grecco LC, Golin MO. Profile of preterm newborn hospitalized in intensive care unit of high complexity hospital. ABCS Health Sci. 2015; 40(1):28-32.

Paula N V K et al. Internações em UTI Neonatal. Revista Espacios. Vol. 38 (Nº 39). 2017. pag. 18.

Pimenta WC at al. Percepção das mães no processo de hospitalização do filho prematuro em unidade de terapia intensiva neonatal. Revista Digital. Buenos Aires, Ano 17, nº178, 2013.

Renner, F et al. Perfil epidemiológico das puérperas e dos recém-nascidos atendidos na maternidade de um hospital de referência do interior do Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2014. Boletim Científico de Pediatria - Vol. 4, N° 2, 2015.

Rossetto M, Pinto E C, Silva L A A. Cuidados ao recém-nascido em terapia intensiva: tendências das publicações na enfermagem. VITTALLE, Rio Grande, 23(1): 45-56, 2011.

Silva, E.J. Perfil Epidemiológico de UTI Neonatal de Maternidade Pública do Interior do RJ.Revista de Pediatria SOPERJ - mar 2015.

Silva A P M, Gois R P. Factors related to death hospital newborn.19 Fatores relacionados ao óbito neonatal. Rev Med UFC. 2016;56(2):16-20.

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Perfil Dos Recém-Nascidos Na Internação Em Uma Unidade De Terapia Intensiva Neonatal

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Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904739

Capítulo 5

INTOLERÂNCIA À LACTOSE: INVESTIGAÇÃO DOS FATORES ALIMENTARES E PATOLOGIAS

ASSOCIADAS.

Guilherme Teles Avelino Centro Universitário do sul de minas - UNIS MG

Jadiane Fortunato de Oliveira Centro Universitário do sul de minas - UNIS MG

Franciane Pereira Barros Centro Universitário do sul de minas - UNIS MG

Carla Maria de Andrade Souza Centro Universitário do sul de minas - UNIS MG

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

1

Resumo: A intolerância à lactose é resultante da ausência ou deficiência da enzima intestinal

denominada lactase. É uma patologia em crescimento no âmbito mundial, sendo a hipolactasia

primária a causa mais comum em adultos. A intensidade dos sintomas de distensão, flatulência, dor

abdominal e diarreia variam dependendo da quantidade de lactose ingerida, e aumentam com o

passar da idade. É observado que os fatores ambientais, alimentares e patológicos correlacionam com

o desenvolvimento e agravamento da intolerância a lactose, tornando-se cada vez mais presente com

base no cenário atual alimentar, econômico e social. O objetivo deste trabalho foi investigar fatores

alimentares e patologias associadas. Foi realizado um estudo em indivíduos com intolerância a lactose,

com aplicação de um questionário em um grupo do Facebook, submetido pelo Comitê de ética e

pesquisa do UNIS. O presente estudo contou com uma amostra de 605 indivíduos, destes a pesquisa

mostrou que a faixa etária com maior índice de intolerantes a lactose é de 30 a 50 anos, com um

porcentual de 56,20% (340). O tempo de diagnosticado da população entrevistada se caracteriza

acima de 5 anos com um percentual de 32,10% (194), com isso, como patologia associada 30,74%

(186) relataram possuir síndrome do intestino irritável. Em relação a sintomas, obteve-se uma

prevalência em dores abdominais, com 26,64% (543) e a partir dos dados analisados sobre eventos

sociais, 25,46% (154) relatam que não vão a eventos sociais e sentem tristeza, sentimento de exclusão

ou até mesmo frustação. Deste modo o estudo traz a importância da realização de estudos envolvendo

este tema, visto que a prevalência de intolerância à lactose tem crescido cada dia mais e sabe-se que

esta é uma patologia que pode acarretar em diversos prejuízos ao desenvolvimento físico e intelectual

de seus portadores.

Palavras-chave: Intolerância a lactose. Sintomas. Patologias.

60

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

2

1. INTRODUÇÃO

A lactose, conhecida como o açúcar do leite, é hidrolisada pela enzima intestinal β-galactosidase ou

lactase liberando seus componentes monossacarídeos para absorção na corrente sanguínea. A

galactose, no fígado, é enzimaticamente convertida (isomerizada) em glicose, que é o principal

combustível metabólico de muitos tecidos. Essa enzima está presente na mucosa do intestino dos

mamíferos jovens, principalmente nos lactentes e vai diminuindo após o desmame e o crescimento do

indivíduo (BARBOSA; ANDREAZZI, 2011).

Porto, Thofehrn, Sousa e Cecagno (2005), definem a intolerância à lactose como incapacidade do

organismo de desfrutar e digerir a lactose sendo um dissacarídeo, isto é, um “açúcar” constituído por

duas unidades simples: a glicose e a galactose. A intolerância à lactose é resultante da ausência ou

deficiência da enzima intestinal denominada lactase. A enzima em questão é responsável pela

decomposição da lactose em dois monossacarídeos, as duas unidades básicas já citadas, o que facilita

a absorção desse principal “açúcar” do leite, sendo usada como fonte de energia para o organismo.

Este açúcar está presente em inúmeros tipos de leite e todos os mamíferos, sem exclusão do ser

humano ao nascer estão aptos a digerir a lactose (LOPES, 2008).

Um problema grave quando não se observa os sintomas em uma criança é que ela pode não ganhar

peso enquanto o leite fizer parte de sua alimentação, devido à diarreia frequente. (BACELAR JUNIOR

et al., 2019). Segundo Cidral e colaboradores (2017), dentre alguns sintomas da intolerância à lactose

destacam-se fezes amolecidas, diarreia, flatulências, dor e distensão abdominal e em alguns casos

vômito. Um adulto pode ter distensão e cólicas abdominais, diarreia líquida, flatulência, náusea, ruídos

intestinais tipo bolhas ou roncos (borborigmo) e necessidade urgente de defecar.

A intolerância à lactose pode ser classificada como primária ou secundária, quando há um defeito

intrínseco da enzima, se caracteriza como primária, tendo alguns distúrbios como: deficiência de lacta-

se do prematuro; deficiência de lacta-se congênita; e deficiência de lacta-se do tipo adulto. Secundária

se caracteriza quando ocorre um dano na mucosa intestinal com consequente falta da mesma. Os

distúrbios secundários associam-se com as patologias: doença celíaca; fibrose cística; alergia à

proteína heteróloga; desnutrição; retocolite ulcerativa; síndrome do cólon irritável; giardíase;

utilização de algumas drogas; dentre outras (TEO, 2002).

A intolerância à lactose também se dá por meio de doenças que causam danos na borda em escova

da mucosa do intestino delgado ou que aumentam significativamente o tempo de trânsito intestinal,

61

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

3

como nas enterites infecciosas, giardíase, doença celíaca, doença inflamatória intestinal

(especialmente doença de Crohn), enterites induzidas por drogas ou radiação e doença diverticular do

cólon. (MATTAR, MAZO. 2010). A intolerância à lactose pode se manifestar em decorrência de alguma

anormalidade na fisiologia do trato gastrointestinal, onde o mesmo deixa de produzir adequadamente

a lactase por causa de alguma doença, cirurgia ou injúria, como por exemplo, a doença celíaca

(BULHÕES, A. C. et al. 2007).

Estudos mostram que na Indonésia a população infantil, sendo 21,3% de 3-5 anos, 57,8% entre 6 e 11

anos e 73% em idade de 12 a 14 anos, têm uma má absorção de lactose. No mesmo sentido, no México,

com 41,7% em 3 a 5 anos, 46,4% entre 6 a 12 anos e 40,5% em 13 a 17 anos, mostrando e indicando

que existem variações geográficas. No Brasil um estudo com 567 indivíduos, evidenciou que em a

prevalência da intolerância à lactose em 57% dos indivíduos brancos e mulatos, 80% em negros e 100%

em japoneses (ZAPATA-CASTILLEJA et al., 2017). Em estudos provam a elevada prevalência na

população brasileira, os quais apontam um maior número nas regiões sudeste e sul do país. A

continuidade da lacta-se ou tolerância nas diferentes populações pode estar ligado com a

domesticação de gado leiteiro e com o hábito do consumo de cada região, nesse cenário a prevalência

da intolerância à lactose varia de acordo com a região geográfica e os hábitos da população. (BATISTA

R A B., 2018)

Para se obter o diagnóstico, Bacelar Junior (2019) relata que diante da suspeita de intolerância à

lactose com aparecimento de sintomas após o consumo de laticínios. Exames específicos são

necessários. O profissional da saúde confirma o diagnóstico por meio de exame respiratório do

hidrogênio, teste genético, biópsia jejunal dentre outros. Teste genético de intolerância à lactose é

um exame que analisa o gene MCM6, responsável pela regulação da produção da lacta-se. (HELI et al,

2004), biópsia jejunal, se dá por meio de uma reação colorimétrica, executada quando uma amostra

obtida de uma biópsia endoscópica do duodeno postular é incubada com lactose em uma placa de

testes, sendo um diagnóstico de fácil interpretação visual (BARBOSA et al., (2020).

A presente pesquisa teve como objetivo, investigar o consumo de produtos lácteos por indivíduos

portadores de intolerância à lactose e identificar patologias associadas. Este trabalho justifica-se pela

observação do agravamento dos sintomas em relação a fatores alimentares e patologias que se

correlacionam com o desenvolvimento e agravamento da intolerância à lactose, onde vem se

tornando cada vez mais presente com base no cenário atual alimentar, econômico e social, estudos

mostram que 75 % da população mundial sofre de intolerância à lactose (LOPES, 2008). Ao final do

62

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

4

projeto espera-se poder dar um subsídio para outros trabalhos e pesquisas, contribuir para

profissionais, junto com um embasamento teórico e analítico, além de apresentar resultados que

comprovam a presente pesquisa.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa se trata de um estudo transversal, quantitativa/descritiva submetida ao Comitê de Ética

em Pesquisa do Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS MG e aprovada através do CAAE

44540021.2.0000.5111. O instrumento de pesquisa consistiu em um questionário (Apêndice A)

aplicado em indivíduos participantes de um grupo online para portadores de intolerância à lactose (na

plataforma do Facebook), no segundo semestre do ano de 2021. Sendo critério de inclusão

participantes com idade igual ou superior a 18 anos que aceitaram participar desta pesquisa, conforme

descritos no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (APÊNDICE B), foram excluídos da

pesquisa indivíduos com idade inferior a mencionada anteriormente, não portadores de intolerância

à lactose e que não aceitaram participar de forma voluntária da pesquisa. O tratamento e a análise

estatística dos dados foram realizados através do software Excel, abrangendo em percentual e média

e expostos em gráficos e tabelas.

3. RESULTADOS

Do total de 605 indivíduos que participaram da pesquisa, 92,23% (558) foram do sexo feminino,

enquanto 7,77% (47) do sexo masculino. Em relação à faixa etária, observou-se que 56,20% (340) das

respostas estavam entre 30 a 50 anos, 33,90% (205) na faixa de 18 a 29 anos, 9,90% (60) com idade

51 anos ou mais.

Quando perguntados sobre a escolaridade, os dados exibiram uma concentração de 30,90% (187)

possuíam ensino superior completo, 26,11% (158) pós-graduação, mestrado ou doutorado, enquanto

18,84% (114) ensino médio completo, 17,68% (107) ensino médio completo. Em relação às faixas de

renda, constatou que 30,41% (184) apresentaram renda familiar com 5 ou mais salários mínimos,

22,31% (135) na faixa que recebe 1 a 2 salários mínimos, 22,14% (134) recebem 2 a 3 salários mínimos,

17,85% (108) na faixa que recebe 3 a 4 salário mínimos e 7,27% (44) ganham até 1 salário mínimo.

(Tabela 1)

63

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

5

Tabela 1 – Distribuição dos dados sócio demográfico dos indivíduos.

Variáveis N %

Sexo

Feminino

Masculino

558

47

92,23%

7,77%

Faixa etária

18 a 29

30 a 50

51 ou mais

205

340

60

33,90%

56,20%

9,90%

Escolaridade

Ensino fundamental completo

Ensino fundamental incompleto

Ensino médio completo

Ensino médio incompleto

Ensino superior completo

Ensino superior incompleto

Pós, Mestrado ou doutorado

8

10

107

21

187

114

158

1,32%

1,65%

17,68%

3,47%

30,90%

18,84%

26,11%

Renda

1 salário

1 a 2 salário

2 a 3 salário

3 a 4 salário

5 ou mais

44

135

134

108

184

7,27%

22,31%

22,14%

17,85%

30,41%

Fonte: os autores (2021)

A partir da análise sobre o tempo de diagnóstico, observou-se que a prevalência da população

entrevistada consta acima de 5 anos com um percentual de 32,10% (194), posteriormente com um

tempo de diagnóstico de 2 a 3 anos com 18,50% (112), seguindo os indivíduos com menos de 1 ano

18% (109), e com diagnóstico de 1 a 2 anos 16,70% (101) dos participantes, por fim 3 a 4 anos 14,70%

(89) dos indivíduos entrevistados.

64

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

6

Gráfico 1 - Descritivo sobre patologias associadas.

Fonte: os autores (2021)

Nos dados sobre patologias associadas 56,10% (340) não possuem nenhuma patologia associada a

intolerância à lactose, em contrapartida 30,74% (186) relataram possuir também síndrome do

intestino irritável, assim como 23,60% (143) dos indivíduos relataram intolerância ao glúten,

seguidamente de doença de Crohn com 15,20% (92) dos participantes da pesquisa, por fim 13,22%

(80) indivíduos relataram também possuir retocolite ulcerativa. (Gráfico 1)

Gráfico 2 - Descritivo, se não consome produtos zero lactose, por que?

Fonte: os autores (2021)

A partir dos dados descritivos de consumo de produtos zero lactose, destacam-se que 77,02% (466)

dos indivíduos consomem produtos zero lactose, se contrapondo com 22,97% (139) que afirmam não

consumir. Quando questionados o motivo de não consumir produtos zero lactose, 61,15% (85) relatam

65

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

7

não resolver ou não funcionar, em seguida 28,77% (40), que sentem mal-estar e 8,63% (12) relataram

não consumir por questões financeiras. (Gráfico 2)

Gráfico 3 - Descritivo de sintomas, sobre intolerância à lactose.

Fonte: os autores (2021)

Analisando os dados relatados sobre sintomas, é possível descrever que, de toda a população

entrevistada, 26,64% (543) relataram dores abdominais, enquanto 22,35% (455) inchaço no abdômen.

Seguindo, 19,77% (403) com flatulência e posteriormente com 19,52% (398) relatam diarreia,

finalizando 11,72% (239) náuseas ou vômitos dos indivíduos. (Gráfico 3)

Tabela 2 - Distribuição dos dados de consumo de leite e derivados, ao mês dos indivíduos.

Variáveis N %

Quantas vezes ao mês você consome leite comum?

0 a 3 dias

4 a 7 dias

8 a 10 dias

505

64

36

83,47%

10,57%

5,96%

Quantas vezes ao mês você consome Iogurte comum?

0 a 3 dias

4 a 7 dias

8 a 10 dias

563

30

12

93,10%

4,95%

1,95%

66

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

8

Quantas vezes ao mês você consome queijo comum?

0 a 3 dias

4 a 7 dias

8 a 10 dias

443

108

54

73,25%

17,85%

8,90%

Quantas vezes ao mês você consome Creme de leite comum?

0 a 3 dias

4 a 7 dias

8 a 10 dias

535

50

20

88,42%

8,26%

3,32%

Quantas vezes ao mês você consome sorvetes à base de leite comum?

0 a 3 dias

4 a 7 dias

8 a 10 dias

534

54

17

88,27%

8,92%

2,81%

Quantas vezes ao mês você consome chocolate ao leite comum?

0 a 3 dias

4 a 7 dias

8 a 10 dias

446

93

66

73,72%

15,38%

10,90%

Quantas vezes ao mês você consome Molhos à base de leite comum (Molho branco; molho à base

de iogurte; molho à base de maionese de leite)?

0 a 3 dias

4 a 7 dias

8 a 10 dias

545

46

14

90,10%

7,60%

2,30%

Quantas vezes ao mês você consome Bebidas Lácteas comuns (achocolatados prontos para o

consumo; leites fermentados)?

0 a 3 dias

4 a 7 dias

8 a 10 dias

552

36

17

91,24%

5,95%

2,81%

Fonte: os autores (2021)

Com base nos dados da tabela 2, sobre consumo de leite e derivados, ao mês, dos indivíduos

participantes da pesquisa, observa-se que 83,47% (505) consomem de 0 a 3 dias leite comum, 10,57%

(64) já relatam consumir 4 a 7 dias leite comum e 5,96% (36) consomem de 8 a 10 dias. Questionados

67

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

9

também, quantas vezes, ao mês, faziam consumo de Iogurte comum, 93,105 (563) responderam 0 a 3

dias, 4,95% (30) consumiam 4 a 7 dias iogurte comum e 1,95% (12) fazem uso de 8 a 10 dias.

Respectivamente foram perguntados quantas vezes, ao mês, consumiam queijo comum, 73,25% (443)

responderam comer de 0 a 3 dias, 17,85% (108) consomem 4 a 7 dias e apenas 8,90% (54) relataram

consumir de 8 a 10 dias. Seguidamente abordados, quantas vezes ao mês os indivíduos consumiam

creme de leite comum, 88,42% (535) revelaram consumir de 0 a 3 dias, 8,26% (50) de 4 a 7 dias e

3,32% (20) de 8 a 10 dias.

Continuamente, avançaram nas perguntas, chegando em quantas vezes, ao mês, faziam consumo de

sorvetes à base de leite comum, 88,27% (534) responderam de 0 a 3 dias, 8,92% (54) já dizem consumir

de 4 a 7 dias, por fim 2,81% (17) consomem de 8 a 10 dias. Sucessivamente, foram indagados quantas

vezes, ao mês, consumiam chocolate ao leite comum, 73,72% (446) de 0 a 3 dias, 15,385 (93) falam

consumir de 4 a 7 dias, finalizando com 70,90% (66) consomem de 8 a 10 dias.

Nesta ordem, quantas vezes, ao mês, os indivíduos consumiam Molhos à base de leite comum (Molho

branco; molho à base de iogurte; molho à base de maionese de leite), 91,24% (552) relatam consumir

0 a 3 dias, 7,60% (46) de 4 a 7 dias, seguindo 2,30% (14). E por fim quantas vezes, ao mês, faziam

consumo de bebidas lácteas comuns (achocolatados prontos para o consumo; leites fermentados),

91,24% (552) de 0 a 3 dias, 5,95% (36) de 4 a 7 dias e por último 2,81% (17) de 8 a 10 dias.

Após analisado os dados que se referem a indivíduos que fazem uso da enzima lacta-se via oral, a

prevalência de indivíduos que fazem uso destacou-se, totalizando um percentual de 64,29% (389),

enquanto 35,71% (216) não fazem uso da enzima lacta-se via oral.

68

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

10

Gráfico 5 - Descritivo sobre eventos sociais, se sim porquê?

Fonte: os autores (2021)

A partir dos dados analisados sobre eventos sociais, foi questionado aos indivíduos se restringiam a ir

ou não, 74,54% (451) dos indivíduos afirmam que não se restringem a ir em eventos sociais, já 25,46%

(154) relatam que não vão a eventos sociais. Com base nos 25,46% (154) que dizem não ir a eventos

sociais, 57,15% (88) sentem tristeza, seguindo 27,92% (43) dos indivíduos com sentimento de exclusão

e 14,93% (23) se mostram frustrados por se restringirem a ir em eventos sociais. (Gráfico 5)

Gráfico 6 - Descritivo com relação a eventos sociais.

Fonte: os autores (2021)

Com base no gráfico acima é perceptível que, dos indivíduos entrevistados 59,01% (357) vão e

consomem somente produtos que não possuem lactose. Em contrapartida 22,64% (137) consomem

69

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

11

sem restrição, 7,78 (47) evitam ir por não poder consumir, 5,78% (35) relatam que vão e não

consomem nada e 4,79% (29) vão, porém, levam seu próprio alimento. (Gráfico 6)

4. DISCUSSÃO

Há diversas pesquisas na literatura envolvendo o estudo da intolerância à lactose, seja abordando-a

de maneira geral, expondo métodos de diagnóstico e até mesmo relacionando com outras patologias,

o que demonstra a importância da exposição sobre o assunto (MATTAR; MAZZO, 2010; SOUZA; LEITE;

NEPOMUCENO, 2020; BACELAR JÚNIOR; KASHIWABARA; NAKOAKA, 2013). Em se tratando de gênero,

Lohamann (2020) relata uma maior incidência de mulheres intolerantes na faixa etária de 26 a 50 anos,

o que se correlaciona com a presente pesquisa, na qual houve uma maior participação e incidência de

mulheres e faixa etária geral de 30 a 50 anos.

Quanto ao diagnóstico, a maioria dos entrevistados responderam que diagnosticaram a doença há

mais de 5 anos, o que justifica que a maior parte deles já consomem poucos alimentos à base de leite

comum e que não se restringem à eventos sociais devido a isso, evidenciando uma adaptação na rotina

e na dieta dos entrevistados. Santos et al (2014) menciona que o diagnóstico precoce é fundamental

para evitar consequências no metabolismo dos indivíduos, como deficiência no crescimento e

desenvolvimento e redução da densidade mineral óssea, por exemplo.

Dos que responderam não aderirem ao consumo de produtos zero lactose, 61,15% disseram que a

ingestão desses alimentos não resolve ou não funciona. Existe uma discussão sobre os produtos que

apresentam em sua rotulagem a informação de “zero lactose” e ainda assim causar alguns sintomas

às pessoas intolerantes. Acontece que, a lactase adicionada nos alimentos lácteos pode nem sempre

hidrolisar todas as moléculas de lactose presente no alimento, deixando assim uma concentração

baixa desse açúcar, o que acarreta então, na manifestação dos sintomas às pessoas intolerantes

(HENRIQUE, 2020).

Batista et al (2018), faz uma análise desses alimentos industrializados e mostra a deficiência na

disponibilização de informação nos rótulos desses produtos, que não informam de maneira direta a

concentração de lactose presente nesses alimentos, o que pode ocasionar então na dificuldade

alimentar das pessoas que precisam controlar a ingestão de lactose. Assim, a normatização e a

fiscalização de rótulos seriam essenciais para evitar esse transtorno (BRASIL, 2003).

A remoção da lactose, na dieta das pessoas com intolerância, não é a única forma de tratamento,

podendo os pacientes optarem por terapias de reposição da lactase no organismo. Nessa pesquisa,

70

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

12

64,29% dos participantes relatam fazer o uso dessa enzima em seu dia-a-dia. Feito em laboratório, ela

deve ser ingerida antes do consumo de produtos lácteos. Pesquisas apontam uma eficácia nessa

prática, sendo muito importante para a diminuição dos sintomas, dos parâmetros laboratoriais e no

auxílio da digestão desses derivados nas pessoas que sofrem dessa Síndrome. Houve também uma

melhora na diminuição do hidrogênio (BARRETO et al., 2021).

Em relação aos sintomas, os intolerantes participantes relataram a ocorrência de dores abdominais,

inchaço no abdômen, flatulência, e também episódios de diarreia e vômitos. Mattar e Mazzo (2010)

também cita esses mesmos sintomas típicos, incluindo o borborigmo, o ruído provocado pela presença

de ar e líquidos no intestino, que pode ser notável no exame físico e pelo próprio paciente. Gonçalves

et al (2008) já cita a constipação como sintomas em algumas pessoas com intolerância à lactose,

relacionado com a produção de metano. Sintomas sistêmicos também podem ser notados, como dor

de cabeça, por exemplo, mas deve-se avaliar se isso é mesmo decorrente à intolerância a lactose ou

se trata de uma alergia à proteína derivada do leite (KUOKKANEN et al., 2006).

Em se tratando de patologias associadas, a maioria dos entrevistados relataram não possuir doença

alguma. Em contrapartida, 30,74% apresentam Síndrome do Intestino Irritável (SII). A SII é

caracterizada por um distúrbio gastrointestinal e, se relacionada com a intolerância à lactose, por

apresentarem sintomas em comum como dor abdominal, constipação e diarreia. O tratamento da SII

irá depender da clínica do paciente, porém a medida inicial é voltada para formas não

medicamentosas, como por exemplo, a dieta (ANDRADE et al., 2014). Uma pesquisa realizada na

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que uma dieta com restrição de

lactose reduziu os sintomas da SII de todos os pacientes envolvidos, podendo estar relacionados

também com outros componentes encontrados no leite (MAGALHÃES, 2013).

A Intolerância ao glúten e a Doença de Crohn também foram citadas como patologias associadas, e

estão relacionadas com a intolerância secundária à lactose. Devido à lesão causada em decorrência

dessas patologias, há uma deficiência temporária da ação da lacta-se, voltando ao normal após o

tratamento das patologias primárias (PEDIATRIA, 2017).

5. CONCLUSÃO

A partir dos dados obtidos, nota-se que a prevalência de intolerância à lactose tem crescido cada dia

mais, fazendo – se importante a realização de estudos envolvendo este tema, como mostrado

significativamente em estudos anteriores. Além disso, sabe-se que esta é uma doença que pode

71

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

13

acarretar em diversos prejuízos ao desenvolvimento físico e intelectual de seus portadores. Acredita-

se que os sintomas mais identificados sejam aqueles já descritos na literatura, como diarreia, dores

seguidas de distensão abdominal e flatulência. Entretanto, patologias associadas a portadores de

intolerância a lactose, estão se mostrando bastante comum, como a Síndrome do Intestino Irritável

(SII), Intolerância ao glúten e a Doença de Crohn, pois possuem os mesmos sintomas e se

correlacionam entre si.

Através desta pesquisa, evidenciou-se que muitos não consomem produtos com lactose, com isso

conseguem controlar os sintomas, utilizando-se uma dieta com teor reduzido em lactose; é importante

dizer que a dieta deve suprir as necessidades nutricionais do indivíduo e garantir a manutenção de um

estado nutricional adequado. Espera-se que os resultados apresentados neste trabalho contribuam

para o entendimento da intolerância à lactose, juntamente com possíveis patologias associadas e

evidenciar a importância de estudos sobre políticas de fiscalização de rótulos, uma vez que, produtos

zero lactose funciona, porém, falta clareza nos rótulos, assim os indivíduos vão saber escolher o que

comer.

72

Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

14

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Intolerância À Lactose: Investigação Dos Fatores Alimentares E Patologias Associadas.

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74

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904756

Capítulo 6

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA HIPODERMÓCLISE: REVISÃO INTEGRATIVA DA

LITERATURA

Ana Clara Louzada Sant'Anna Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim

Carla Aparecida do Nascimento Mozer Centro Universitário São Camilo - Espírito Santo

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

1

Resumo: A hipodermóclise é a técnica de administração de medicamentos e fluidos isotônicos na via

subcutânea, considerada segura, eficaz e muito útil. Desde o seu surgimento, foi marginalizada e então

reincorporada à prática clínica, porém poucos estudos foram dedicados a descrever a atuação do

enfermeiro durante a terapia. Dessa forma, o objetivo principal deste trabalho é identificar e analisar

a atuação do enfermeiro na assistência aos pacientes submetidos à hipodermóclise, perpassando por

seus conceitos e características. Para isso, foi realizada revisão integrativa da literatura, utilizando

como recursos informacionais a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), o acervo de dissertações e teses da

Universidade Federal de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), o

portal de periódicos da CAPES e a Biblioteca Virtual da Microsoft. Após aplicação dos critérios de

inclusão e exclusão, foram selecionados 25 artigos em português e inglês, que participaram do

fichamento padronizado de resultados para a elaboração do estudo. Os principais resultados mostram

a atuação do enfermeiro na escolha do local ideal para punção, escolha do cateter, realização da

técnica da punção, monitoramento de complicações, supervisão da equipe técnica e educação da

família e acompanhantes. Contudo, mesmo com a ampla discussão acerca da necessidade de

conhecimento científico e técnico por parte do enfermeiro, pôde-se concluir que poucas publicações

realmente abordam esse conhecimento, na forma de orientações e recomendações específicas sobre

a técnica da hipodermóclise. Somada à falta de consenso entre os autores, essa lacuna dificulta a

utilização dos estudos como embasamento teórico para evidenciar a assistência.

Palavras-chave: Hipodermóclise; Cuidados de Enfermagem; Absorção subcutânea.

76

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

2

INTRODUÇÃO

A hipodermóclise é a técnica de administração de medicamentos e fluidos isotônicos na via

subcutânea, considerada segura, eficaz e muito útil, especialmente em situações em que a punção

venosa é muito difícil e/ou na intolerância de administração por via oral (BARUA; BHOWMICK, 2005;

SBGG, 2016). Pode ser utilizada no âmbito hospitalar ou no domicílio, não causando tantas restrições

e promovendo conforto e menor índice de complicações quando comparada a outras vias de

administração (PONTALTI et al., 2012).

Sua atividade inicial se deu em 1860, por meio de medidas de controle da dor com a infusão de

narcóticos no meio subcutâneo (SBGG, 2016). Há também registros da aplicação da técnica durante a

epidemia de cólera na Itália, em 1865, pela dificuldade de se obter acesso venoso em pessoas

infectadas (SBGG, 2016).

A disseminação do método se manteve até a segunda metade do século XIX, quando a prática foi

marginalizada devido à ocorrência de alguns efeitos adversos graves, que na época foram associados

à via de administração (SBGG, 2016; VERAS et al., 2014). Porém, como estudos atuais demonstram

efeitos adversos de incidência baixa e similar à da técnica endovenosa, pode-se afirmar que estavam

mais relacionados ao tipo de solução infundida e à infusão acidental em tecido muscular do que à

hipodermóclise (BARUA; BHOWMICK, 2005; SBGG, 2016; BRUNO, 2015).

Em 1960, na Inglaterra, com o surgimento do movimento de cuidados paliativos, a hipodermóclise foi

reestabelecida como uma via adequada para a infusão de medicamentos, e na década de 1980 foi

propagada no meio hospitalar (BRUNO, 2015; GOMES et al., 2017; SBGG, 2016).

A absorção das medicações administradas por via subcutânea ocorre por meio de difusão capilar,

sendo semelhante à via intramuscular, porém, com início de ação 40 minutos após a aplicação e efeito

medicamentoso mais duradouro (BRUNO, 2015). É possível a administração de grande quantidade de

fluidos (500 a 2000ml em 24 horas) no espaço subcutâneo, de forma contínua ou intermitente (INCA,

2001).

Visto que o enfermeiro é o profissional que realiza a maior parte dos cuidados diários ao paciente

(GODINHO; SILVEIRA, 2016), é imprescindível que o mesmo possua conhecimento técnico e científico

acerca das terapias de administração medicamentosa, visando a qualidade da assistência (GODINHO;

SILVEIRA, 2016; TAKAKI; KLEIN, 2010; ZIRONDE; MARZENINI; SOLER, 2014).

77

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

3

Entretanto, nota-se que embora a prática da hipodermóclise tenha sido inserida na saúde há décadas,

o conhecimento científico que fundamenta seu uso ainda é escasso, o que acaba por restringir sua

indicação.

Estudo realizado por Takaki e Kein (2010) evidenciou que 71% dos enfermeiros de uma unidade de

internação nunca haviam sequer escutado o termo hipodermóclise, e nenhum dos enfermeiros do

setor possuía conhecimento básico sobre a técnica. Visando preencher essa lacuna, o presente estudo

tem como objetivo principal identificar e analisar a atuação do enfermeiro na assistência aos pacientes

submetidos à hipodermóclise, perpassando por seus conceitos e características.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, realizado por meio de revisão integrativa da

literatura, método que propõe o estabelecimento de critérios bem definidos sobre a coleta de dados,

análise e apresentação dos resultados. Esse tipo de estudo reúne e sintetiza publicações relevantes

sobre determinado tema, viabilizando a análise de pesquisas científicas de modo sistemático e ao

mesmo tempo amplo, favorecendo o aprofundamento do conhecimento sobre o tema investigado e

a divulgação do conhecimento produzido (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).

A elaboração deste estudo foi realizada de acordo com as seis etapas que constituem o processo da

revisão integrativa: elaboração da pergunta norteadora, elaboração dos critérios de busca de dados,

definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados, análise dos estudos incluídos,

interpretação dos resultados e síntese do conhecimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).

Na estratégia de busca, realizada no período de julho a novembro de 2018, foram utilizados como

recursos informacionais a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que abrange 35 outras bases, o acervo

de dissertações e teses da Universidade Federal de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do

Triângulo Mineiro (UFTM), o portal de periódicos da CAPES e a biblioteca virtual Microsoft Academic.

Para satisfazer à questão norteadora, a saber: “Qual a atuação do enfermeiro no cuidado ao paciente

com hipodermóclise?”, foram utilizados os descritores “Hipodermóclise”, “Cuidados de Enfermagem”

e “Assistência de Enfermagem”, segundo os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Os mesmos

foram aplicados combinados ou separadamente para verificar o título, o resumo ou o assunto dos

estudos buscados, atingindo dessa forma o maior número possível de resultados.

Em seguida, realizou-se a seleção dos estudos primários, tendo como critérios de inclusão trabalhos

em português ou inglês com texto completo disponível gratuitamente, sem recorte de tempo de

78

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

4

publicação, que tivessem como tema central a hipodermóclise em pacientes adultos,

preferencialmente abordando a assistência de enfermagem. Foram excluídos trabalhos disponíveis

apenas no formato de resumo, que tratassem sobre a administração de fármacos específicos,que

debatessem a hipodermóclise apenas na população pediátrica ou que não atendessem aos critérios

de inclusão.

A seleção dos trabalhos foi realizada por duas autoras de forma individual, nos mesmos recursos

informacionais e aplicando os mesmos critérios, porém de forma cega, sem que uma pesquisadora

tivesse conhecimento sobre os artigos primariamente selecionados pela outra, visando maior

fidedignidade dos dados. Em caso de discordância, um terceiro revisor seria consultado, o que não foi

necessário. Ao final desse processo, foram reunidos os artigos selecionados pelas autoras e excluídas

as duplicidades para estabelecer a amostra final. Os fluxogramas 01 e 02 ilustram o processo de busca

às cegas pelas autoras.

Fluxograma 01 – Resultados obtidos pela autora 1.

Fonte: As Autoras (2018).

79

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

5

Fluxograma 02 – Resultados obtidos pela autora 2.

Fonte: As Autoras (2018).

Posteriormente, foi realizado o fichamento dos artigos, utilizando um formulário padronizado para a

extração dos conceitos abordados em cada trabalho e de interesse para a pesquisa.O fichamento foi

realizado também de forma cega por duas autoras. Findado este processo, os resultados foram

reunidos em um quadro segundo a sua temática principal, fornecendo subsídio para a elaboração

desta revisão.

Dado o estabelecimento da amostra final, os artigos foram classificados em nível de evidência

científica e grau de recomendação segundo o Oxford Centre for Evidence Based Medicine (PHILIPS et

al., 2009).

RESULTADOS

A amostra final foi composta por 25 trabalhos, que se encontram classificados no quadro a seguir.

Quadro 01 – Classificação dos resultados quanto ao ano de publicação, tipo de estudo, fonte de

publicação, nível de evidência e grau de recomendação

Título Ano de

publicação Tipo de estudo

Fonte de publicação

Nível de evidência (grau de

recomendação)

01

Conhecimento das esquipes de enfermagem e médica da atenção domiciliar em relação à hipodermóclise

2017 Validação de instrumentos

Tese de doutorado

5 (D)

02 Conhecimentos e práticas da enfermagem na administração de fluidos por via subcutânea

2017 Revisão

integrativa da literatura

Periódico 5 (D)

80

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

6

03 Hipodermóclise: uma proposta de protocolo de segurança do paciente em uso de infusão subcutânea

2017 Validação de

protocolo Dissertação de mestrado

5 (D)

04

Proposição de protocolo assistencial para utilização da hipodermóclise para pacientes em cuidados paliativos hospitalizados, uma construção coletiva

2016 Estudo

qualitativo Dissertação de mestrado

5 (D)

05 Estudo observacional do uso da hipodermóclise em cuidados paliativos oncológicos

2016 Estudo

observacional prospectivo

Dissertação de mestrado

2C (B)

06 Hipodermóclise no idoso: uma terapia para a autonomia no cuidado

2016 Estudo de

caso Dissertação de mestrado

4 (C)

07 Hipodermóclise: conhecimento dos enfermeiros em hospital universitário

2016 Estudo

exploratório descritivo

Dissertação de mestrado

5 (D)

08 Efeitos adversos da hipodermóclise em pacientes adultos: revisão integrativa

2016 Revisão

integrativa da literatura

Periódico 5 (D)

09

Terapia subcutânea para pacientes em cuidados paliativos: a experiência de enfermeiras na atenção domiciliar

2016 Relato de

experiência Periódico 4 (C)

10 Hipodermóclise: revisão sistemática da literatura

2015 Revisão

sistemática da literatura

Periódico 3A (B)

11 Hipodermóclise: revisão de literatura para auxiliar a prática clínica

2015 Revisão

narrativa da literatura

Periódico 5 (D)

12 Administração de medicamentos por hipodermóclise: uma revisão da literatura

2015 Revisão

narrativa da literatura

Periódico 5 (D)

13 Evidências clínicas no uso da hipodermóclise em pacientes oncológicos: revisão de literatura

2014 Revisão

integrativa da literatura

Periódico 5 (D)

14 Hipodermóclise: redescoberta da via subcutânea no tratamento de indivíduos vulneráveis

2014 Revisão

integrativa da literatura

Periódico 5 (D)

15 Hipodermóclise em pacientes oncológicos sob cuidados paliativos

2013 Estudo

prospectivo Periódico 2B (B)

16 Vantagens e desvantagens da terapêutica e hidratação subcutânea

2012 Revisão

sistemática da literatura

Dissertação de mestrado

3A (B)

17 Hipodermóclise ou Via Subcutânea 2012 Revisão

narrativa da literatura

Periódico 5 (D)

18 Via subcutânea: segunda opção em cuidados paliativos

2012 Revisão

narrativa da literatura

Periódico 5 (D)

19 Administração de antibióticos por via subcutânea: uma revisão integrativa da literatura

2011 Revisão

integrativa da literatura

Dissertação de mestrado

5 (D)

20 Hipodermóclise: o conhecimento do enfermeiro em unidade de internação

2010 Estudo

descritivo exploratório

Periódico 5 (D)

81

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

7

21 Hidratação subcutânea em pacientes com AIDS no Instituto de Infectologia “Emílio Ribas”

2006 Estudo

retrospectivo Dissertação de mestrado

2B (B)

22

A utilização da via subcutânea como alternativa para o tratamento medicamentoso e hidratação do paciente com câncer

2005 Revisão

narrativa da literatura

Periódico 5 (D)

23 Administração de medicamentos por via subcutânea: convenção ou controvérsia para a enfermagem?

2005 Revisão

narrativa da literatura

Periódico 5 (D)

24 Hypodermoclysis: An Alternative Infusion Technique

2001 Revisão

narrativa da literatura

Periódico 5 (D)

25 Hypodermoclysis in the Care of Older Adults

1992 Estudo de

caso Periódico 4 (C)

Fonte: As Autoras (2018)

Não foi encontrado nenhum trabalho publicado no ano corrente de 2018, ao passo em que o ano de

2016 foi o que apresentou maior número de resultados (24%), e o trabalho mais antigo é datado de

1992.

Quanto à natureza do estudo, 14trabalhos (56%) caracterizam-se como revisão da literatura, o que se

mostrou um fator dificultador, visto que muitos deles baseiam-se na mesma literatura e trazem

informações repetitivas, tornando mais complexo identificar a real origem das informações e buscar

dados novos sobre o tema. Somado a isso, o fato de terem sido encontrados poucos estudos clínicos

e quantitativos culminou em um baixo nível de evidência e grau de recomendação da maioria dos

artigos.

A maioria dos estudos foi publicada em periódicos (64%), seguida por dissertações de mestrado (32%)

e apenas uma tese de doutorado (4%).

DISCUSSÃO

De forma a facilitar a leitura deste trabalho, optou-se por categorizar a discussão dos resultados em

subseções, tendo sido estas definidas de acordo com as informações extraídas dos estudos

selecionados.

ESCOLHA DO LOCAL PARA A PUNÇÃO

Uma vez que o enfermeiro é o principal profissional responsável pela punção da hipodermóclise, cabe

a ele a função de escolha do local para a punção, devendo avaliar, além de condições físicas e

anatômicas do paciente, a preferência deste, tornando-o o protagonista do processo do cuidado

(CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; GOMES et al., 2017; BRITO, 2016; VERAS et al., 2014; TAKAKI;

82

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

8

KLEIN, 2010). Para isso, após avaliação prévia do paciente, o enfermeiro deve informá-lo das regiões

adequadas para a punção, e respeitar a escolha realizada por ele (CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA,

2016).

Há consenso na literatura analisada quanto aos possíveis locais de punção, a saber: face lateral e

anterior da coxa, região escapular, região anterior do tórax (subclavicular), região abdominal emúsculo

deltoide (CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012; ZIRONDE; MARZENINI;

SOLER, 2014; QUAGLIO, 2016; PONTALTI et al., 2012; LOPES; ESTEVES; SAPETA, 2012; BRITO, 2016;

CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; BRUNO, 2015; GOMES et al., 2017). Um estudo evidenciou,

contudo, que a escolha realizada pelos profissionais da enfermagem para o local de punção poderia

ter sido mais adequada, tendo apenas 6,66% deles optado pela região abdominal (JUSTINO et al.,

2013), sendo esta a que suporta maiores quantidades de líquidos, possui maior área de tecido

subcutâneo e maior absorção (JUSTINO et al., 2013; QUAGLIO, 2016; BRITO, 2016; VIDAL et al., 2015).

D’Aquino e Souza (2012) pontuam, ainda, que a região abdominal é uma das preferidas dos pacientes,

pela não restrição de movimentação de membros e fácil visualização, facilitando assim o autocuidado

(D’AQUINO; SOUZA, 2012).

Além disso, deve-se evitar locais com lesões cutâneas, cicatrizes, edema, hiperemia, região mamária

em mulheres, proeminências ósseas, articulações, locais que sofreram radioterapia recente estomas

e áreas ao lado de mastectomia (PONTALTI et al., 2012; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; BRITO,

2016). No paciente com caquexia, espaços intercostais devem ser evitados devido ao risco de

pneumotórax (VIDAL et al., 2015).

Brito (2016) descreve que, além do conforto do paciente, deve-se levar em consideração a quantidade

de tecido adiposo na região a ser puncionada, realizando prega subcutânea, a qual deve possuir uma

dobra de aproximadamente 1 ou 2,5 cm entre o polegar e o indicador, bem como o volume diário total

a ser infundido. Pontua também que a região subescapular é muito útil para pacientes com quadro de

desorientação, pois dificulta a manipulação dos dispositivos pelos mesmos, evitando sua possível

retirada (BRITO, 2016).

ESCOLHA DO CATETER

Há considerável discordância na literatura no que diz respeito à escolha do dispositivo mais adequado

para a punção da hipodermóclise. Alguns autores descrevem a utilização da cateter tipo scalp variando

de 21a 27G (VERAS et al., 2014; JUSTINO et al., 2013), 23 a 25G (MELLO, 2006; TAKAKI; KLEIN, 2010),

83

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

9

21 a 25G (GODINHO; SILVEIRA, 2016; BRITO, 2016) ou 25 a 27G (GIRONDI; WATERKEMPER, 2005;

REICHEMBACH; MEIER; ASCHIDAMINI, 2005), podendo-se também lançar mão do cateter tipo abocath

com calibre 18 a 24G (GODINHO; SILVEIRA, 2016) ou 20 a 24G (BRITO, 2016). Outros estudos

mencionam apenas o termo “cateter agulhado” ou mesmo o cateter tipo abocath, porém sem

especificação de calibre (JUSTINO et al., 2013; D’AQUINO; SOUZA, 2012; GIRONDI; WATERKEMPER,

2005; CARONE, 2016; TAKAKI; KLEIN, 2010; MELLO, 2006; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016;

VERAS et al., 2014; PONTALTI et al., 2012; REICHEMBACH; MEIER; ASCHIDAMINI, 2005).

Quanto à seleção ideal do dispositivo, têm-se que dispositivos do tipo abocath possuem menor risco

de trauma mecânico que leve a complicações, causando maior tolerância local e durabilidade da

punção, ao passo que também apresentam custo elevado e maior grau de dificuldade na punção e

manutenção quando comparados aos cateteres do tipo scalp (JUSTINO et al., 2013; GIRONDI;

WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016). Já Brito (2016) afirma que,

independentemente do tipo do cateter, deve-se optar pelo menor comprimento e calibre, evitando

igualmente a irritação mecânica - exceto em pacientes obesos, caso em que deve-se optar pela agulha

mais longa. Por outro lado, Justino et al. (2013) demonstraram que os pacientes não são capazes de

distinguir os tipos de cateter utilizados nas punções, oferecendo portanto o mesmo grau de conforto

e comodidade.

PUNÇÃO DA HIPODERMÓCLISE

A realização da punção se dá por meio de etapas distintas e igualmente relevantes. Os dados coletados

foram agrupadosconforme os autores em concordância e dispostos em forma dequadro, a fim de

padronizar a sequência utilizada pelo profissional de enfermagem. O Quadro 02 expõe os materiais

necessários para a punção:

84

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

10

Quadro 02 – Materiais necessários para a punção da hipodermóclise

Material necessário Referências

Luva de procedimento GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; BRITO, 2016

Algodão embebido em solução antisséptica

GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; BRITO, 2016

Cateter escolhido para a punção CARONE, 2016; QUAGLIO, 2016; GOMES et al.,2017; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012; GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016

Cobertura para curativo da punção GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012; GIRONDI, WATERKEMPER, 2005

Esparadrapo para identificação do curativo

D’AQUINO; SOUZA, 2012

Tesoura GIRONDI;WATERKEMPER, 2005

Bomba de infusão GIRONDI;WATERKEMPER, 2005

Equipo de macrogotas D’AQUINO; SOUZA, 2012

Solução ou medicação já preparada conforme prescrição

GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; D’AQUINO; SOUZA, 2012; CARONE, 2016

Seringa preenchida com soro fisiológico 0,9%

CARONE, 2016; QUAGLIO, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016

Fonte: As Autoras (2018).

A maior parte dos autores concorda quantos aos elementos elencados como primordiais para a

punção. As divergências encontradas foram percebidas quanto aos insumos utilizados na antissepsia

local, fração de solução fisiológica utilizada no preenchimento das seringas e tipo de cobertura

utilizada no curativo, que será abordada mais à frente.

Godinho e Silveira (2016) mencionam o uso de álcool 70% ou gluconato de clorexedine alcoólica a

0,5% para realizar a antissepsia local; Brito (2016) apresenta como opções de escolha o álcool 70% ou

solução iodada,enquanto os demais autores referem apenas a utilização de álcool 70% (GIRONDI;

WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012 CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA,

2016).

As orientações encontradas a respeito do volume de soro fisiológico 0,9% para preenchimento das

seringas variam de 3ml (GODINHO; SILVEIRA, 2016) a 5ml (CARONE, 2016; QUAGLIO, 2016).

Os dados sobre a realização da técnica da punção encontram-se expostos na tabela abaixo.

85

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

11

Quadro 03 – Técnica para a realização da punção

Descrição da técnica Referências

Lavar as mãos GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012; BRITO, 2016

Orientar paciente/familiares sobre o procedimento

GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012; BRITO, 2016

Acomodar o paciente em posição confortável

REICHEMBACH; MEIER; ASCHIDAMINI, 2005

Eleger a melhor área para realização da punção

GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016;D’AQUINO; SOUZA, 2012; ZIRONDE; MARZENINI; SOLER, 2014

Preencher o interior do dispositivo com a medicação prescrita e/ou soro fisiológico 0,9%

GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016

Realizar antissepsia do local com a solução antisséptica de escolha

GIRONDI, WATERKEMPER, 2005; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; BRITO, 2016

Realizar a prega subcutânea com o dedo polegar e médio, introduzindo a agulha em angulação de 30°a 90°

GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012; ZIRONDE; MARZENINI; SOLER, 2014; QUAGLIO, 2016;CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; REICHEMBACH; MEIER; ASCHIDAMINI, 2005

Realizar a punção com o bisel para cima CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016; QUAGLIO, 2016; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016

Aspirar para verificar a ausência de retorno venoso

CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012; QUAGLIO, 2016; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; REICHEMBACH; MEIER; ASCHIDAMINI, 2005

Girar a agulha em um ângulo de 180° TAKAKI; KLEIN, 2010

Realizar movimentos laterais com o dispositivo para garantir que o mesmo encontre-se livre no tecido subcutâneo

BRITO, 2016

Fixar o dispositivo GIRONDI, WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016;D’AQUINO; SOUZA, 2012;QUAGLIO, 2016;CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016

Administrar a medicação lentamente GIRONDI; WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; REICHEMBACH; MEIER; ASCHIDAMINI, 2005

Identificar a punção com: data, horário, calibre do dispositivo, medicação utilizada e assinatura do responsável pelo procedimento

GIRONDI;WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; D’AQUINO; QUAGLIO, 2016; CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016

Administrar soro fisiológico 0,9% após a punção

CARONE, 2016; ZIRONDE; MARZENINI; SOLER, 2014; QUAGLIO, 2016

Ajustar o fluxo da bomba de infusão GIRONDI;WATERKEMPER, 2005

Fonte: As Autoras (2018).

86

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

12

Recomenda-se higienizar as mãos também antes do manuseio do cateter e do sistema de infusão,com

o intuito de evitar infecção (D’AQUINO; SOUZA, 2012; BRITO, 2016).

Quanto à infusão de solução após a punção, é proposta a utilização de 5ml de soro fisiológico 0,9%, a

fim de verificar extravasamento e assegurar a permeabilidade da via de acesso (CARONE, 2016;

QUAGLIO, 2016). Além disso, Brito (2016) sugere injetar 1ml de solução salina após a administração

de medicamentos para garantir a infusão de todo o conteúdo prescrito.

O ângulo empregado na punção varia de 30º a 45º de acordo com grande parte dos autores, sem citar

divergências de angulação de acordo com o tipo físico do paciente (GIRONDI; WATERKEMPER, 2005;

CARONE, 2016; GODINHO; SILVEIRA, 2016; D’AQUINO; SOUZA, 2012;QUAGLIO, 2016; CARDOSO;

MORTOLA; ARRIEIRA, 2016).

Em contrapartida, outros autores advertem que a escolha da angulação é feita por meio da avaliação

prévia do peso e porcentagem de gordura corporal dos pacientes. Gordura corporal reduzida indica

que a punção seja realizada estritamente a 30º, a fim de evitar que o tecido muscular seja atingido,

enquanto indivíduos obesos demandam uma punção a 90º, devido à presença de maior quantidade

de tecido gorduroso, devendo também o cateter ser mais longo nesse caso; o ângulo de 45º é utilizado

apenas em pessoas com estrutura corporal considerada normalpara o IMC (Índice de Massa Corporal)

(ZIRONDE; MARZENINI; SOLER, 2014; REICHEMBACH; MEIER; ASCHIDAMINI, 2005).

Em relação à prega, em indivíduos não obesos, o profissional deverá fazê-la com a mão não dominante

eem seguida injetar a agulha de maneira rápida e firme; feito isso, deve então soltar a prega da pele

(REICHEMBACH; MEIER; ASCHIDAMINI, 2005). Já no caso de pacientes obesos, o profissional deverá

fazer a prega da mesma forma, porém injetar a agulha abaixo da mesma (REICHEMBACH; MEIER;

ASCHIDAMINI, 2005).

O profissional deve segurar a seringa entre o polegar e o indicador da mão dominante no momento

da inserção do cateter, como se fosse um dardo (REICHEMBACH; MEIER; ASCHIDAMINI, 2005).

Takaki e Klein (2010)ressaltam ainda a necessidade de girar o cateter em 180º após sua inserção,

dispondo o bisel para baixo, a fim de evitar a obstrução do lúmen do dispositivo pelo tecido gorduroso

no ato da instalação do curativo.

87

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

13

REALIZAÇÃO DO CURATIVO

Recomenda-se a utilização de filme transparente para a realização do curativo da punção, devido à

facilidade e rapidez de visualização do sítio de inserção, o que possibilita um monitoramento mais

eficaz do mesmo (GODINHO; SILVEIRA, 2016; BRITO, 2016; TAKAKI; KLEIN, 2010; D’AQUINO; SOUZA,

2012; QUAGLIO, 2016). Apenas um artigo cita a possibilidade de se utilizar esparadrapo para a

realização do curativo, na ausência do filme transparente (D’AQUINO; SOUZA, 2012).

Em relação ao intervalo de troca do curativo, um único artigo sugere um período de 48h (ARAÚJO,

2017), enquanto outroaconselha realizar o curativo junto ao rodízio do local de punção,

apontandoporém a necessidade de troca precoce na presença de sujidade, umidade e danos à

cobertura(BRITO, 2016).

Dois artigos citam a proteção do local da punção com plástico durante o banho,como parte dos

cuidados para garantir que a área do curativo se mantenha seca(D’AQUINO; SOUZA, 2012; BRITO,

2016).

TEMPO DE TROCA DA PUNÇÃO

Hácerta variedade nos resultados quanto ao tempo de rodízio do local de punção da hipodermóclise,

o que reafirma a discordância entre os diferentes autores no que diz respeito a determinações e

orientações específicas em relação à técnica.

De modo geral, recomenda-se tempo de troca no máximo a cada trêsa sete dias (TAKAKI; KLEIN, 2010;

MELLO, 2006; ARAÚJO, 2017; GIRONDI; WATERKEMPER, 2005; GOMES, 2017; QUAGLIO, 2016;

D’AQUINO; SOUZA, 2012; OLIVEIRA et al., 2014; JUSTINO et al., 2013; CARONE, 2016; LOPES; ESTEVES;

SAPETA, 2012; GODINHO; SILVEIRA, 2016; BRITO, 2016), podendo-se estender esse prazo para 11 dias

no caso de punção com abocath(GIRONDI; WATERKEMPER, 2005; GOMES, 2017; QUAGLIO, 2016).

Contudo, o tempo de troca da punção pode ser reduzido em caso de complicações ou de acordo com

a comodidade do paciente (GODINHO; SILVEIRA, 2016; ARAÚJO, 2017; MELLO, 2006; LOPES; ESTEVES;

SAPETA, 2012; QUAGLIO, 2016; TAKAKI; KLEIN, 2010; CARONE, 2016; JUSTINO et al., 2013; BRITO,

2016).

Atenta-se para o fato de que a nova punção deve estar localizada a uma distância mínima de cinco

centímetros do sítio anterior (MELLO, 2006; GIRONDI; WATERKEMPER, 2005).

88

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

14

MONITORAMENTO DE COMPLICAÇÕES

O enfermeiro éo responsável pela manutenção e permeabilidade do acesso subcutâneo, e portanto

cabe a eleo monitoramentode complicações e eventos adversos, especialmente nas primeiras quatro

horas após a punção (TAKAKI; KLEIN, 2010), devendo nesse período ser monitorada a cada hora e,

posteriormente, quando necessário (TAKAKI; KLEIN, 2010; MELLO, 2006; AZEVEDO, 2011; LOPES;

ESTEVES; SAPETA, 2012).

As complicações podem ser locais ou sistêmicas, sendo estas geralmente inerentes à

medicaçãoutilizada (GIRONDI; WATERKEMPER, 2005).O quadro abaixo expõe as complicações mais

comuns encontradas na literatura.

Quadro 04 – Complicações mais comuns na hipodermóclise

Complicações Referências

Edema local SASSON; SCHVARTZMAN, 2001; NUNES; SOUZA, 2016; GIRONDI; WATERKEMPER, 2005; MOLLOY; CUNJE, 1992; GOMES, 2017; CARONE, 2016; AZEVEDO, 2011; LOPES; ESTEVES; SAPETA, 2011; MELO, 2006; BRITO, 2016; VERAS et al., 2014

Dor ou desconforto local SASSON; SCHVARTZMAN, 2001; CARONE, 2016; LOPES; ESTEVES; SAPETA, 2012; MELLO, 2006; BRITO, 2016

Hiperemia GIRONDI; WATERKEMPER, 2005; CARONE, 2016; LOPES; ESTEVES; SAPETA, 2012; ARAÚJO, 2017; NUNES; SOUZA, 2016

Sangramento local e/ou hematoma QUAGLIO, 2016; JUSTINO et al., 2013; GIRONDI; WATERKEMPER, 2005; GOMES, 2017; CARONE, 2016; LOPES; ESTEVES; SAPETA, 2012; MELLO, 2006; BRITO, 2016; NUNES; SOUZA, 2016

Extravasamento GOMES, 2017; CARONE, 2016; MELLO, 2006

Endurecimento local GOMES, 2017; CARONE, 2016

Sobrecarga hídrica GOMES, 2017; CARONE, 2016; MELLO, 2006; NUNES; SOUZA, 2016

Infecção GIRONDI; WATERKEMPER, 2005; MOLLOY; CUNJE, 1992; GOMES, 2017; CARONE, 2016; MELLO, 2006; NUNES; SOUZA, 2016

Alteração na concentração de eletrólitos no sangue

SASSON; SCHVARTZMAN, 2001; NUNES; SOUZA, 2016

Celulite SASSON; SCHVARTZMAN, 2001; CARONE, 2016; AZEVEDO, 2011; BRITO, 2016; NUNES; SOUZA, 2016

Fonte: As Autoras (2018).

Salienta-se que grande parte das reações adversas ocorrem em decorrência do uso inadequado, como

utilização de locais inadequados para a punção, medicação ou diluição inapropriada para a via, falta

89

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

15

de rodízio da punção e a não higienização das mãos antes da punção e/ou manipulação do circuito

(BRUNO, 2015; SASSON; SCHVARTZMAN, 2001).

A complicação mais comum é o edema local, que é esperado nas primeiras duas horas após a punção,

associado ou não a leve eritema (VERAS et al., 2014; AZEVEDO, 2011; BRITO, 2016; ARAÚJO, 2017;

SASSON; SCHVARTZMAN, 2001). Em locais próximos a extremidades, espera-se ainda um discreto

aumento da circunferência dessa área (VERAS et al., 2014).

O edema pode ser gerido por meio de leve massagem local e redução da velocidade de infusão, o que

geralmente permite a absorção do edema e consequentemente a manutenção do acesso (SASSON;

SCHVARTZMAN, 2001; BRITO, 2016; AZEVEDO, 2011; MOLLOY; CUNJE, 1992).

Em caso de persistência do edema e/ou se observados sinais flogísticos na observação da punção,

deve-se interromper a infusão e retirar o acesso imediatamente (MELLO, 2006; BRITO, 2016; ARAÚJO,

2017; GOMES, 2017; MOLLOY; CUNJE, 1992). Se houver indicação, realizar nova punção,

mantendouma distância mínima de cinco centímetros do sítio anterior (AZEVEDO, 2011; MELLO, 2006;

GIRONDI; WATERKEMPER, 2005).

O local que tenha apresentado reações adversas fica contraindicado para nova punção por um período

de 10 dias (CARDOSO; MORTOLA; ARRIEIRA, 2016; VIDAL et al., 2015; AZEVEDO, 2011).

SUPERVISÃO DA EQUIPE TÉCNICA

A realização tanto da punção quanto da administração de medicamentos via hipodermóclise, bem

como a troca de curativo e monitoramento do sítio de inserção, poderá ser delegada pelo enfermeiro

aos membros da equipe técnica de Enfermagem, desde que sejam treinados, habilitados e capacitados

para tal (GOMES et al., 2017; MELLO, 2006). Em concordância, o Conselho Regional de Enfermagem

de São Paulo (Coren/SP) delibera que, por ser um procedimento de baixa complexidade,a

hipodermóclise pode ser delegada a técnicos e auxiliares de enfermagem, e acrescenta que suas

habilidades devem ser validadas por meio da educação permanente, além de que a atribuição conste

nos protocolos institucionais (COREN/SP, 2014).

Nesse contexto, uma das atribuições do enfermeiro égarantir que toda ação direcionada

àhipodermóclise seja realizada de forma correta e precisa, realizando acompanhamento e

monitoramento, já que a administração de medicamentos constitui uma de suas maiores

responsabilidadese é majoritariamente exercida pela equipe técnica (TAKAKI; KLEIN, 2010;

REICHEMBACH; MEIER; ASCHIDAMINI, 2005).

90

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

16

Takaki e Klein (2010) afirmam que a principal função do enfermeiro é buscar que todas as ações

relacionadas à hipodermóclise sejam isentas de erro.

Em todo o processo da hipodermóclise requer-se conhecimento por parte do enfermeiro, bem como uma capacidade de avaliação, observação e de registro dos achados encontrados. (TAKAKI; KLEIN, 2010, p. 489).

Os mesmosautores mostraram, todavia, que em uma unidade de internação apenas 29% dos

enfermeiros já haviam escutado o termo hipodermóclise, sendo que nenhum dos enfermeiros do setor

possuía conhecimento sobre a técnica ou já havia recebido orientações quanto aos cuidados

relacionados (TAKAKI; KLEIN, 2010).

EDUCAÇÃO DA FAMÍLIA E ACOMPANHANTE

Sabe-se que os pacientes e seus familiares devem ser o centro de atenção quando se fala em educação

e saúde, uma vez que influenciam francamente no sucesso ou fracasso de cada procedimento (VERAS

et al., 2014). Levando em consideração que a hipodermóclise é uma técnica de infusão pouco utilizada

na rotina hospitalar e, consequentemente, pouco conhecida pelos pacientes e familiares, é importante

que o enfermeiro realize a educação do paciente e sua família, incluindo-os no processo e estimulando

sua adesão ao tratamento (VERAS et al., 2014; GIRONDI; WATERKEMPER, 2005).

Para isso, é necessário realizar abordagem e avaliação do paciente e familiares ou acompanhantes,

identificando o conhecimento prévio acerca da técnica (GOMES et al., 2017). Deve-se orientá-los sobre

a realização do procedimento, possíveis complicações e eventos adversos, e encorajá-los a participar

ativamente na observação dos mesmos (GIRONDI; WATERKEMPER, 2005). Essa orientação deve ser

realizada de forma individualizada e compreensível, para que seja realmente eficaz (GOMES et al.,

2017).

Girondie Waterkemper (2005) pontuam ainda que:

O vínculo e o acolhimento podem ser utilizados como instrumentos de “porta de entrada”, para a educação, em que o profissional pode passar pequenas orientações aos familiares de maneira adequada e humana. A atuação do enfermeiro neste momento é imprescindível, uma vez que estará interferindo no processo educativo dos profissionais técnicos e para o estímulo do autocuidado do paciente e o cuidado da família (GIRONDI; WATERKEMPER, 2005, p. 350).

Dessa forma, além de ser capaz de realizar um cuidado humanizado, o enfermeiro deve também

possuir conhecimento teórico suficiente sobre a terapia subcutânea como um todo, para que oriente

e acompanhe eficazmente o paciente e seus cuidadores (TAKAKI; KLEIN, 2010).

91

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

17

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A hipodermóclise é atualmente considerada uma via segura para infusão de fluidos e medicamentos,

pois possui grandes vantagens quando comparada a outras vias de administração, e efeitos adversos

semelhantes aos de uma punção endovenosa.

Conclui-se que as principais ações do enfermeiro na assistência ao paciente com hipodermóclise são

a escolha do local da punção, do cateter a ser utilizado, a realização da técnica e do curativo, o

monitoramento de complicações, a supervisão da equipe técnica, devendo buscar a ausência de erros,

e ações educativas para com a família e/ou cuidadores. Perante a isso, reafirma-se a necessidade do

conhecimento teórico do enfermeiro ser suficiente para realizar todas as atribuições que a ele

competem.

Contudo, pôde-se observar difícil utilização da literatura para evidenciar a prática, devido ao baixo

nível de evidência e grau de recomendação dos artigos encontrados, bem como o baixo número de

publicações recentes acerca do tema e considerável falta de consenso entre os diferentes autores. Do

mesmo modo, a maioria dos estudos embasou-se na mesma literatura, tornando complexo identificar

a real origem das informações e buscar dados novos sobre o tema.

Além disso, cuidados de enfermagem foram pouco abordados na literatura consultada, apesar da

ampla discussão acerca da importância do enfermeiro adquirir conhecimento teórico sobre o assunto,

visto que é ele o responsável pela maioria das ações relacionadas à hipodermóclise.

Sugere-se com este estudo a ampliação da discussão sobre a hipodermóclise, tanto no âmbito

hospitalar quanto no meio acadêmico. Recomenda-se,ainda,a realização de estudos controlados sobre

o tema, que originem artigos com forte nível de evidência e grau de recomendação que possam

embasar a assistência do enfermeiro, preenchendo essa lacuna.

92

A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

18

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A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

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A Atuação Do Enfermeiro Na Hipodermóclise: Revisão Integrativa Da Literatura

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95

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904758

Capítulo 7

A EPIDEMIOLOGIA DA HANSENÍASE NO ESTADO DE MINAS GERAIS ENTRE OS ANOS DE 2011 E

2020

Daniel Madeira Cardoso Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares

Enos Pires Cardoso Filho Faminas - BH

Vitor Oliveira Alves Univale

João Victor Martins Reis UNEC - Caratinga

Ariana Pinheiro Caldas Univale

Pauline Martins Leite Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

1

Resumo: A hanseníase é uma doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium leprae, um

bacilo intracelular obrigatório que se aloja principalmente nas células de Schwann, podendo levar a

sequelas neurológicas, oftalmológicas e motoras. Conforme espectro clínico, a classificação de Madri

define: grupos polares tuberculóide e virchowiano; a forma indeterminada, considerada transitória e

inicial; e dimorfa, instável imunologicamente e intermediária. Para implementação da terapêutica, a

Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe que os pacientes sejam classificados em paucibacilares,

quando apresentarem 5 ou menos lesões cutâneas, sem envolvimento nervoso ou apenas 1 nervo

comprometido e baciloscopia negativa; ou multibacilares, quando possuem mais de 5 lesões, mais de

um nervo afetado ou baciloscopia positiva. O objetivo do presente trabalho consiste em estudar os

aspectos epidemiológicos da hanseníase em Minas Gerais, entre os anos de 2011 e 2020. Trata-se de

um estudo ecológico com dados secundários de domínio público, vinculados ao Departamento de

Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e disponíveis no Portal de Vigilância da Secretaria

de Estado de Saúde de Minas Gerais. Para coleta dos dados foram consideradas variáveis operacionais

(macrorregião, município e ano de diagnóstico), sociodemográficas (sexo, faixa etária e escolaridade)

e clínicas (forma clínica, classificação operacional, número de lesões, presença de incapacidade física

e tipo de saída). O número de contatos registrados e examinados também foi obtido do Portal.

Totalizaram-se 14.259 casos em todo o período estudado. Além disso, foram registrados 43.823

contactantes, dos quais 36.951 (84,3%) foram examinados. Considerando a totalidade dos casos, 302

evoluíram para óbito (letalidade de 2,1%) e 11.107 foram curados (percentual de cura igual a 77,9%).

Houve maior concentração de notificações na macrorregião Centro (n=2.122; 14,9%) e nos municípios

Uberlândia (n=899; 6,3%), Governador Valadares (n=844; 5,9%) e Belo Horizonte (n=619; 4,3%). No

que concerne aos dados sociodemográficos, frisa-se sexo masculino (n=8.290; 58,1%); faixas etárias

55 a 64 anos (n=2.983; 20,9%) e 45 a 54 anos (n=2.972; 20,8%); e escolaridade 1ª a 4ª série incompleta

do ensino fundamental (n=3.061; 21,5%). Do ponto de vista clínico, reforça-se: 5 ou mais lesões

cutâneas (n=6.030; 42,3%); formas dimorfa (n=6.278; 44,0%) e virchowiana (n=3.370; 23,6%);

classificação operacional multibacilar (n=10.739; 75,3%); e incapacidade física grau zero tanto

considerando o momento do diagnóstico (n=7.423; 52,1%) quanto da cura (n=5.966; 41,8%).

Interessantemente, os índices de indivíduos acometidos pela incapacidade grau 2 foram menos

expressivos na ocasião da cura em relação ao diagnóstico (p<0,0001). Em se tratando da distribuição

temporal dos quadros, houve o maior número de casos em 2011 (n=1761; 12,3%), com redução até o

ano de 2020 (n=966; 6,7%). Nota-se que a hanseníase é uma doença de impacto para a saúde pública

em Minas Gerais. Logo, torna-se imperativa a continuidade de busca ativa, diagnóstico e tratamento

97

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

2

precoces dos acometidos; além da adoção de intervenções aplicadas a medidas de educação em saúde

com enfoque para as localidades e perfil de pacientes encontrados pelo presente trabalho.

Palavras-chave: Epidemiologia; Hanseníase; Saúde Pública.

98

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

3

INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium leprae, um bacilo

intracelular obrigatório que se aloja principalmente nas células de Schwann, podendo levar a sequelas

neurológicas, oftalmológicas e motoras (LEMES; PESSOLANI; DE MACEDO, 2020). Sabe-se que a

moléstia é altamente contagiosa e apresenta baixa patogenicidade (LEMES; PESSOLANI; DE MACEDO,

2020). A transmissão ocorre diante do contato próximo e prolongado com o portador da hanseníase

na forma infectante e sem tratamento, que elimina o bacilo para o meio externo principalmente pelas

vias aéreas superiores (JARDIM, 2020). O M. leprae é um bacilo álcool-ácido resistente com

crescimento lento, cujo tempo de duplicação é de 14 dias; e período médio de incubação entre três e

dez anos (CARDOSO; GOMIDES, 2020). As células de Schwann são um alvo importante para a infecção

por M. leprae, desencadeando lesão do nervo, desmielinização e perda de condutância axonal

(CARDOSO; GOMIDES, 2020). Assim, a moléstia pode acarretar incapacidade física, a qual é mensurada

entre 0 e 2: para grau 0, incluem-se doentes sem incapacidade funcional; no grau 1, há pacientes com

perda de sensibilidade protetora; enquanto no grau 2 incluem-se complicações como: garras, úlceras

tróficas, reabsorções ósseas ou lesões oftalmológicas (SOUZA; NETO; LISBOA, 2018).

Conforme espectro clínico, a classificação de Madri (BASOMBRIO et al., 1953) define: grupos polares

tuberculóide e virchowiano (lepromatoso); a forma indeterminada, considerada transitória e inicial; e

dimorfa (borderline), instável imunologicamente e intermediária. Nesse contexto, é importante

salientar que a forma tuberculóide ocorre em indivíduos resistentes ao bacilo, considerada mais

benigna e localizada (TARIQUE, 2018). A virchowiana é associada à imunidade celular praticamente

nula, o que viabiliza a multiplicação do patógeno e o estabelecimento de um quadro mais grave

(TARIQUE, 2018). A forma dimorfa caminha entre os polos tuberculóide e virchowiano, com

características de ambos (CARDOSO; GOMIDES, 2020). Para implementação da terapêutica, a

Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe que os pacientes sejam classificados em paucibacilares,

quando apresentarem 5 ou menos lesões cutâneas, sem envolvimento nervoso ou apenas 1 nervo

comprometido e baciloscopia negativa; ou multibacilares, quando possuem mais de 5 lesões, mais de

um nervo afetado ou baciloscopia positiva (BRASIL, 2019). Destaca-se que a baciloscopia positiva

corresponde à classificação multibacilar independentemente da quantidade de lesões ou nervos

envolvidos (BRASIL, 2019). Ridley–Jopling (1966), por sua vez, indica: formas polares tuberculóide-

tuberculóide (TT) e lepromatoso-lepromatoso (LL); e os subgrupos borderline-tuberculóide (BT),

borderline-borderline (BB) e borderline-lepromatoso (BL).

99

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

4

A poliquimioterapia (PQT) é o esquema específico para hanseníase, recomendado tanto pela OMS

quanto pelo Ministério da Saúde do Brasil (GENOVEZ; PEREIRA, 2016). É importante salientar que o

tratamento correto, eminentemente ambulatorial, é a única maneira capaz de interromper a cadeia

de transmissão da doença (GENOVEZ; PEREIRA, 2016). Em casos paucibacilares, a duração é de seis

cartelas completas, sendo que em cada cartela há uma dose supervisionada com duas cápsulas de

rifampicina (300mg) e uma de dapsona (100mg), além de 28 doses diárias autoadministradas de

dapsona (100mg) (PROPÉRCIO et al., 2021). Após seis doses supervisionadas em no máximo nove

meses, o esquema está concluído (PROPÉRCIO et al., 2021). Para casos multibacilares, preconizam-se

12 cartelas completas e em cada uma delas há dose supervisionada mensal com 600 mg de

rifampicina, 100 mg de dapsona e 300mg de clofazimina, além de doses autoadministradas diárias

com 50 mg de clofazimina e 100 mg de dapsona (PROPÉRCIO et al., 2021). Nessa ocasião, a terapêutica

estará concluída na décima segunda dose supervisionada, no máximo em 18 meses (PROPÉRCIO et al.,

2021).

Do ponto de vista epidemiológico, explica-se que a distribuição geográfica da hanseníase não é

uniforme e os maiores coeficientes de prevalência localizam-se nas regiões de baixo desenvolvimento

socioeconômico, como a América Latina, África e Ásia (CARDOSO; GOMIDES, 2020). No mundo, foram

notificados à OMS 208.619 casos novos no ano de 2018, dos quais 30.957 (14,8%) ocorreram nas

Américas e 28.660 (13,7%) no Brasil, o segundo na relação de nações com maior número de casos,

atrás somente da Índia (BRASIL, 2020). Sabe-se que o estado de Minas Gerais é um território com

expressivo número de notificações pela doença nos últimos anos (CARDOSO; GOMIDES, 2020). Nesse

cenário, salienta-se que o estudo do perfil de distribuição de casos de determinado agravo viabiliza o

direcionamento de intervenções (BRASIL, 2019; BRASIL, 2020). Assim, o objetivo do presente trabalho

consiste em estudar os aspectos epidemiológicos da hanseníase em Minas Gerais, entre os anos de

2011 e 2020.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo ecológico com dados secundários de domínio público, vinculados ao

Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e disponíveis no Portal de

Vigilância da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 2021). Incluíram-se casos

de hanseníase confirmados no estado, entre os anos de 2011 e 2020. As informações foram

atualizadas pela última vez no dia 16 de agosto de 2021 e estão sujeitas a alterações.

100

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

5

Para coleta dos dados foram consideradas variáveis operacionais (macrorregião, município e ano de

diagnóstico), sociodemográficas (sexo, faixa etária e escolaridade) e clínicas (forma clínica,

classificação operacional, número de lesões, presença de incapacidade física e tipo de saída). O

número de contatos registrados e examinados também foi obtido do Portal. Os índices de indivíduos

acometidos pela hanseníase com incapacidade grau 2 ao longo da série histórica considerada foram

calculados e comparados entre os momentos de diagnóstico e cura, por intermédio do teste de Mann-

Whitney e do programa estatístico Graphpad Prism 7, fixando-se valores de p<0,05 como

significativos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aspectos espaciais e sociodemográficos dos casos de hanseníase notificados em Minas Gerais, 2011-

2020

Totalizaram-se 14.259 casos de hanseníase em todo o período estudado. Além disso, foram

registrados 43.823 contactantes, dos quais 36.951 (84,3%) foram examinados. Considerando a

totalidade dos casos, 302 evoluíram para óbito (letalidade de 2,1%), 11.107 foram curados (percentual

de cura igual a 77,9%) e os demais apresentaram outros tipos de saída como transferência para outro

estado, país ou abandono do tratamento. Houve maior concentração de notificações nas

macrorregiões Centro (n=2.122; 14,9%), Leste (n=1.878; 13,2%) e Triângulo do Norte (n=1.772; 12,4%);

enquanto a menor quantidade de casos foi registrada no Centro do Sul (n=109; 0,8%). No que se refere

aos municípios, Uberlândia (n=899; 6,3%), Governador Valadares (n=844; 5,9%) e Belo Horizonte

(n=619; 4,3%) chamaram atenção.

Cardoso e Gomides (2020) referem que dados sociodemográficos são essenciais para a permanência

da hanseníase em determinado território. Nesse cenário, a tabela 1 frisa o maior acometimento do

sexo masculino (n=8.290; 58,1%) e das faixas etárias 55 a 64 anos (n=2.983; 20,9%) e 45 a 54 anos

(n=2.972; 20,8%). Ainda é importante salientar a maior parcela de adoecimentos entre indivíduos com

escolaridade 1ª a 4ª série incompleta do ensino fundamental (n=3.061; 21,5%).

101

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

6

Tabela 1: Caracterização sociodemográfica dos casos de hanseníase notificados em Minas Gerais

entre os anos de 2011 e 2020

Critério n %

Total 14259 100

Sexo Masculino 8290 58,1

Feminino 5966 41,8

Faixa etária 1 a 4 anos 30 0,2

5 a 14 anos 536 3,8

15 a 24 anos 985 6,9

25 a 34 anos 1635 11,5

35 a 44 anos 2486 17,4

45 a 54 anos 2972 20,8

55 a 64 anos 2983 20,9

≥65 anos 2632 18,5

Escolaridade Ign/Branco 3650 25,6

Analfabeto 1209 8,5

1ª a 4ª série incompleta do EF 3061 21,5

4ª série completa do EF 1324 9,3

5ª a 8ª série incompleta do EF 1750 12,3

Ensino fundamental completo 720 5,0

Ensino médio incompleto 624 4,4

Ensino médio completo 1305 9,2

Educação superior incompleta 163 1,1

Educação superior completa 381 2,7

Não se aplica 72 0,5

Elaborada pelos autores (2021)

O contexto observado no estado concorda com o cenário brasileiro relacionado à hanseníase, no qual

a maioria dos quadros da doença entre 2014 e 2018 ocorreu em indivíduos do sexo masculino (55,2%)

(BRASIL, 2020). Contudo, o boletim epidemiológico de hanseníase aponta para um maior número de

casos com faixa etária entre 50 a 59 anos (BRASIL, 2020). Com relação ao nível de escolaridade, o

boletim retrata que os casos se concentraram em indivíduos com ensino fundamental incompleto

(43,3%) (BRASIL, 2020).

Junior, Vieira e Caldeira (2012) conduziram um estudo no município de Montes Claros (MG) e também

registraram maior frequência de casos de hanseníase entre os homens (53,2%). De modo semelhante

ao identificado no presente trabalho, Junior, Vieira e Caldeira, (2012) mostraram que 62,3% dos

102

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

7

pacientes não alcançaram o ensino médio. Esse estudo reforça que o número de anos estudados influi

em questões relevantes para controle da doença, como: conhecimento, acesso aos serviços de saúde,

entendimento de instruções sobre medidas profiláticas e terapêuticas e o autocuidado (JUNIOR;

VIEIRA; CALDEIRA, 2012).

Cardoso e Gomides (2020) analisaram as notificações de hanseníase provenientes de Governador

Valadares entre os anos de 2015 e 2019. Reforça-se que tal cidade foi identificada pelo presente

trabalho como a segunda em relação à concentração de casos no estado. Cardoso e Gomides (2020)

mostram que entre os 387 casos registrados, 52,1% eram do sexo masculino, 26,6% apresentavam

idade ≥65 anos e 22,9% possuíam da 1ª a 4ª série do ensino fundamental incompleta.

Interessantemente, para justificar o maior acometimento de homens, Cardoso e Gomides (2020)

citam:

Tomando como base o contexto histórico e cultural, o homem é rotulado como símbolo de força e virilidade. Consequentemente, há maior exposição à moléstia, por exemplo, nas situações: atuação em trabalhos em locais insalubres e propensos a aglomerações, realização de movimentos migratórios em busca de empregos, recusa em se submeter a uma consulta médica ou busca tardia pelos serviços de saúde. Por outro lado, a mulher apresenta menor exposição social e, biologicamente, tem divergências hormonais que podem propiciar certa resistência ao bacilo.

Aspectos clínicos dos casos de hanseníase notificados em Minas Gerais, 2011-2020

Do ponto de vista clínico, a tabela 2 retrata que em Minas Gerais, considerando todo o período

estudado, houve destaque para: ocorrência de 5 ou mais lesões cutâneas (n=6.030; 42,3%); além das

formas dimorfa (n=6.278; 44,0%) e virchowiana (n=3.370; 23,6%); e da classificação operacional

multibacilar (n=10.739; 75,3%). No que diz respeito ao nível de incapacidade física, ressalta-se o grau

zero tanto considerando o momento do diagnóstico (n=7.423; 52,1%) quanto da cura (n=5.966;

41,8%). Houve uma menor parcela de detecção da incapacidade grau 2 no momento da cura (n=972;

6,8%) comparando-se ao do diagnóstico (n=1.791; 12,6%).

Tabela 1: Caracterização clínica dos casos de hanseníase notificados em Minas Gerais entre os anos

de 2011 e 2020

Critério n %

Total 14259 100

Lesões cutâneas Informado 0 ou 99 1831 12,8

Lesão única 2872 20,1

2-5 lesões 3526 24,7

103

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

8

>5 lesões 6030 42,3

Forma Clínica Ign/Branco 390 2,7

Indeterminada 1464 10,3

Tuberculoide 2159 15,1

Dimorfa 6278 44,0

Virchowiana 3370 23,6

Não classificada 598 4,2

Classificação operacional Ign/Branco 5 0,03

Multibacilar 10739 75,3

Paucibacilar 3515 24,6

Avaliação da incapacidade física no

diagnóstico Ign/Branco 518 3,6

Grau zero 7423 52,1

Grau I 3964 27,8

Grau II 1791 12,6

Não avaliado 563 3,9

Avaliação da incapacidade física na cura

Ign/Branco 4744 33,3

Grau zero 5966 41,8

Grau I 1985 13,9

Grau II 972 6,8

Não avaliado 592 4,2

Elaborada pelos autores (2021)

As formas clínicas dimorfa e virchowiana são consideradas multibacilares e se manifestam,

frequentemente, por meio de lesões múltiplas (BRASIL, 2020). Todavia, há exceção da lesão foveolar,

atrelada ao paciente dimórfico, podendo ser única (BOTELHO et al., 2013). A apresentação

tuberculóide, muitas vezes, manifesta-se com apenas uma lesão (BRASIL, 2020).

Em termos de comparação aos resultados obtidos, no município de Governador Valadares, 42,8% dos

casos foram classificados como dimorfos e 56,3% como multibacilares; enquanto a maior parte

apresentava 5 ou mais lesões (43,4%) e grau de incapacidade zero (71,3%) (CARDOSO; GOMIDES,

2020). Um estudo brasileiro realizado em distritos de São Luís (Maranhão), hiperendêmicos, também

encontrou uma maior frequência do grau de incapacidade zero no diagnóstico (65,24%) (SOUSA et al.,

2020). Esses dados podem ser resultantes do esforço dos serviços locais em prestar atendimento

resolutivo, seja por meio de busca ativa de casos nas comunidades, realização de mutirões estratégicos

e diagnósticos precoces (SOUZA; NETO; LISBOA, 2018). É interessante mencionar que, em países

104

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

9

próximos ao Brasil, a proporção de casos novos com incapacidade grau 2 no diagnóstico mostrou-se

alarmante em 2018, principalmente: Peru (29,0%), Guiana (26,0%), Equador (19,0%) e Uruguai (17,0%)

(SCHAUB et al., 2020).

Comparação entre os índices de incapacidade grau 2 no momento do diagnóstico e da cura, Minas

Gerais, 2011-2020

A figura 1 exibe que os índices de indivíduos acometidos pela incapacidade grau 2 atrelada à

hanseníase entre os anos de 2011 e 2020 no estado de Minas Gerais foram menos expressivos no

momento da cura em relação à ocasião do diagnóstico (p<0,0001), o que possivelmente é um reflexo

da qualidade da assistência dos serviços de saúde mineiros com o manejo da doença.

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

Diagnóstico Cura

*

Índ

ice

de

inca

paci

dad

e gra

u I

I

(Caso

s co

m

in

cap

aci

dad

e gra

u I

I/

tota

l d

e ca

sos)

Figura 1: Menores índices de indivíduos acometidos pela incapacidade grau 2 atrelada à hanseníase no momento da cura comparando-se ao do diagnóstico, Minas Gerais, 2011-2020.

*Teste de Mann-Whitney, com valores de p<0,05 fixados como significativos.

Elaborada pelos autores (2021).

Cardoso e Gomides (2020) destacam alguns elementos primordiais para diminuição da incapacidade

grau 2 nos últimos anos em diversas áreas inseridas no território brasileiro, como: a melhoria das

condições de vida, o avanço do conhecimento científico e o acesso a informações, ao diagnóstico e ao

tratamento com poliquimioterapia.

Distribuição temporal dos casos de hanseníase notificados em Minas Gerais, 2011-2020

No que se refere à distribuição dos casos de hanseníase em Minas Gerais ao longo da série histórica

considerada, houve o maior número de casos em 2011 (n=1761; 12,3%), com redução até o ano de

2020 (n=966; 6,7%).

105

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

10

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

0

500

1000

1500

2000

Ano de diagnóstico

Caso

s d

e h

an

sen

íase

em M

inas G

era

is

Figura 2: Distribuição temporal dos casos de hanseníase notificados em Minas Gerais, 2011-2020.

Elaborada pelos autores (2021).

Os dados encontrados no decorrer deste trabalho concordam com o contexto brasileiro. Segundo o

boletim epidemiológico, divulgado pelo Ministério da Saúde, todas as regiões brasileiras apresentaram

redução dos coeficientes de detecção de casos novos no período compreendido entre 2009 e 2018

(BRASIL, 2020). Em contraste, Cardosoo e Gomides (2020) relatam que no ano de 2019, houve um

aumento do número de casos notificados (n=98; 25,3%) no município de Governador Valadares

comparando-se com os dados notificados em 2015 (n=63; 16,2%).

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O presente estudo propôs abordar os aspectos epidemiológicos da hanseníase em Minas Gerais, entre

os anos de 2011 e 2020. Para cumprir tal objetivo, foi idealizado um estudo ecológico com dados

secundários de domínio público, vinculados ao DATASUS. Houve destaque para: macrorregião Centro;

municípios de Uberlândia, Governador Valadares e Belo Horizonte; sexo masculino; adultos; e baixa

escolaridade. Quanto às variáveis clínicas, ressalta-se: ocorrência de 5 ou mais lesões cutâneas; formas

dimorfa e virchowiana; classificação operacional multibacilar; incapacidade física grau zero tanto

considerando o momento do diagnóstico quanto da cura. É importante salientar que os índices de

incapacidade física grau 2 foram menos expressivos no momento da cura em relação ao diagnóstico e

que houve redução no número de adoecimentos ao longo dos anos, pontos que possivelmente

reforçam a qualidade da assistência dos serviços de saúde mineiros. Nota-se que a hanseníase é uma

doença de impacto para a saúde pública em Minas Gerais. Logo, torna-se imperativa a continuidade

de busca ativa, diagnóstico e tratamento precoces dos acometidos; além da adoção de intervenções

106

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

11

aplicadas a medidas de educação em saúde com enfoque para as localidades e perfil de pacientes

encontrados pelo presente trabalho.

107

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

12

REFERÊNCIAS

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BOTELHO, G.I.S. et al. Imunorreatividade das células dendríticas nas lesões foveolares da hanseníase dimorfa. Rev Pan-Amaz Saude, v.4, n.2, p.19-25, 2013.

CARDOSO, D.M.; GOMIDES, T.A.R. Contexto clínico-epidemiológico dos casos de hanseníase notificados em Governador Valadares, Minas Gerais, entre 2015 e 2019. Saúde (Santa Maria), v.26, n.2: e44459, p.1-12, 2020.

GENOVEZ PF, PEREIRA FR. O “drama” da hanseníase: Governador Valadares, as políticas públicas de saúde e suas implicações territoriais na década de 1980. História, Ciências, Saúde. v.23, n.2, p.379-396, 2016.

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108

A Epidemiologia Da Hanseníase No Estado De Minas Gerais Entre Os Anos De 2011 E 2020

13

SOUZA, T.J.; NETO, L.R.C.; LISBOA, H.C.F. Perfil epidemiológico da Hanseníase em Rondonópolis/ MT: 2001 a 2010. Saúde Santa Maria, v.44, n.3, p.1-10, 2018.

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109

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904759

Capítulo 8

PLANEJAMENTO EMPREENDEDOR DE UM FOOD TRUCK ORIENTAL NA PRÁTICA DE

ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO.

Maria Lays Fonseca da Silva Universidade Federal da Paraíba

Katia Rau de Almeida Callou Universidade Federal da Paraíba

Ludmyla Albuquerque Santos de Souza Universidade Federal da Paraíba

Felipe Lima Soares Universidade Federal da Paraíba

Vanessa Messias Muniz Fechine Universidade Federal da Paraíba

Ana Paula Moraes Ventura Universidade Federal da Paraíba

Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

1

Resumo: A disciplina Prática em Unidades de Alimentação e Nutrição é oferecida pelo Departamento

de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba. Visa conduzir a aplicação prática dos conhecimentos

teóricos adquiridos, para o desenvolvimento de um Serviço de Nutrição e Alimentação, de forma a

ampliar a visão dos estudante sobre as possíbilidades de empreender no ramo da nutrição. Com isso,

planejou-se um food truck, modalidade de empreendimento que produz e comercializa gêneros

alimentícios em estrutura limitada de um caminhão ou trailer e de maneira itinerante. Este trabalho

tem como objetivo, através de pesquisa bibliográfica e visitas técnicas, elaborar um planejamento

empreendedor a partir da disciplina de Prática em Unidades de Alimentação e Nutrição para

implementação de um food truck especializado em produção e comercialização de comida japonesa

no município de João Pessoa- PB.O food truck deve estar de acordo com as legislações específicas do

município, assim como os profissionais devem realizar as boas práticas de fabricação de alimentos

através da elaboração de um layout de maneira personalizada, além de serem capacitados para o

preparo correto dos alimentos. Ademais, pelo fato do temaki ser uma preparação rica em proteínas,

em boas gorduras e ser fonte de vitaminas, o seuvalor nutricional torna-se bastante atraente para a

população que busca uma alimentação saudável. Estas qualidades são apresentadas através da gestão

de marketing do food truck que envolverá também a apresentação da identidade visual através da

logomarca. Todas essas etapas apresentam seus custos diretos e indiretos, os quais são levados em

consideração no valor do produto final.

Palavras-chave: food truck, planejamento, valor nutricional.

111

Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

2

1. INTRODUÇÃO

A disciplina Prática de Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) é uma disciplina oferecida pelo

Departameno de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) aos dicentes do curso de

Nutrição. Caracteriza-se como uma forma específica de ensinar e transferir conhecimentos, com uma

carga horaria de 60 horas. As atividades desta cadeira acadêmica são desempenhadas semanalmente

pelos discentes junto com o professor orientador.

As atividades desenvolvidas contam com a execução de técnicas a cerca da disciplina, planejamento e

análises de cardápios, programação e previsão de compras, controle na recepção e no

armazenamento dos gêneros alimentícios, acompanhamento de ações de pré-preparo, cocção,

acompanhamento da distribuição das refeições, análises e avaliação da refeição oferecida, cálculo das

necessidades calóricas da coletividade, treinamento ou reciclagem para capacitação dos Recursos

Humanos da Unidade de Alimentação e Nutrição, planejamento, elaboração e fornecimento de dietas,

participação no planejamento da estrutura física da UAN, Segurança e Medicina do Trabalho (SMT),

controle de custo e atividades educacionais (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2009).

Além disso, o conhecimento sobre as legislações se fazem necessários, alguns regulamentos estudados

ao decorrer da discplina foram A Lei n. 8.234, de 17 de setembro de 1991, que regulamenta a profissão

do Nutricionista e indica que planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de serviços

de alimentação e nutrição são atribuições exclusivas do Nutricionista. Outro documento utilizado foi

a Resolução CFN Nº 600/2018 que trata sobre as atribuições do nutricionista por área de atuação que

informa que compete ao nutricionista, no exercício de suas atribuições em Unidades de Alimentação

e Nutrição (UAN), planejar, organizar, dirigir, supervisionar e avaliar os serviços de alimentação e

nutrição, bem como realizar assistência e educação nutricional a coletividade ou indivíduos sadios ou

enfermos em instituições públicas e privadas.

A disciplina visa conduzir a aplicação prática dos conhecimentos teóricos adquiridos durante o curso,

especialmente na disciplina Administração em Unidades de Alimentação e Nutrição para o

desenvolvimento de um Serviço de Nutrição e Alimentação, de forma a ampliar a visão dos estudante

sobre as possíbilidades de empreender no ramo da nutrição.

Com isso, analizou-se a implantação de um food truck que trata-se de uma modalidade de

empreendimento que produz e comercializa gêneros alimentícios em estrutura limitada de um

caminhão ou trailer, por exemplo, e de maneira itinerante. No Brasil, a alimentação de rua, vista

112

Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

3

muitas vezes como de baixa qualidade, adquiriu um novo conceito gourmet com a chegada dos food

trucks, os quais têm adquirido cada vez mais adeptos (ALMEIDA, 2017).

O food truck possui aspectos característicos de nicho, oferecem refeições rápidas, diferenciadas e

muitas vezes mais elaboradas e de menor custo do que as refeições de rua tradicionais (ALMEIDA,

2017). Apesar da popularidade, ainda não existem no Brasil especificações técnicas padronizadas para

a implementação do modelo de serviço tipo food trucks, sendo encontradas exigências diferentes

entre os estados do país (ABNT, 2016). Essas exigências tornam-se ainda maiores para a culinária

japonesa devido a possibilidade de consumo de matéria-prima crua, com ênfase nos pescados.

Sendo assim, foi planejado a implantação de um Food Trucks especializado em comida japonesa, tendo

em vista as mudanças ocorridas nas práticas alimentares, na rotina familiar onde muitas vezes a

preparação da refeições é inviável devido a correria do dia-dia e as adaptações presentes nos hábitos

alimentares (CARVALHO; BASTOS; GIMENESMINASSE, 2017).

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Elaborar um planejamento empreendedor a partir da disciplina de Prática em Unidades de

Alimentação e Nutrição para implementação de um food truck especializado em produção e

comercialização de comida japonesa no município de João Pessoa- PB.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar a importância da disciplina Prática em Unidades de Alimentação e Nutrição para

desemvolvimento de características empreendedoras no campo da Nutrição;

Analizar as legislações necessárias para o planejamento e implantação do projeto

estabelecido;

Obter os requisitos mínimos para implementação de um food truck por meio de pesquisas

bibliográficas, de normas técnicas e de visitas em estabelecimentos desse nicho;

Elaborar um layout para o estabelecimento tipo food truck que comporte as necessidades de

produção, armazenamento dos insumos utilizados e comercialização de temakis;

Informar os projetos de lei que regulamentam a comercialização de alimentos em food trucks

e veículos automotores de pequeno, médio e grande portes;

113

Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

4

Calcular o valor nutricional de 3 temakis oferecidos em food truck;

Criar a logomarca do estabelecimento com base na cultura nipônica;

Identificar os fatores que influenciam para a determinação do custo final dos temakis

oferecidos.

3. METODOLOGIA

O presente estudo foi desenvolvido durante o decorrer da disciplina obrigatória intitulada Prática de

Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN), no período 2017.2, do Curso de Nutrição da Universidade

Federal da Paraíba. Este trabalho aborda a ação e implementação de um food truck especializado em

produção e comercialização de temakis com o objetivo de conduzir a aplicação prática dos

conhecimentos teóricos adquiridos pelos alunos, no intuito de proporcionar habilidades e

competências práticas relacionadas ao gerenciamento de Serviços de Alimentação, incluindo

ferramentas de gestão e controle de qualidade, de custos, de pessoas e de processos.

Para a obtenção dos requisitos mínimos para implementação de um food truck especializado em

temakis, foram realizados levantamentos bibliográficos em bases de dados científicas, consultas online

das leis vigentes, além da realização de visitas técnicas, entre os meses de fevereiro à abril de 2018,

nos três principais food trucks de João Pessoa - PB . Já para a elaboração do Layout do estabelecimento,

foi utilizado como referência a Lei municipal nº 15.947, de 26 de dezembro de 2013 que dispõe sobre

as regras para comercialização de alimentos em vias e áreas públicas na cidade de São Paulo, pioneira

no ramo de food trucks do país. Foi realizado também o cálculo do valor nutricional de 3 temakis por

meio do Programa Diet Box, plataforma disponível online na qual são usadas tabelas de composição

de alimentos como ferramenta para a obtenção dos valores referentes aos macronutrientes e valor

calórico total da receita. As receitas dos 3 temakis foram desdobradas, sendo inseridos no programa

os ingredientes e seus pesos em gramas. Os ingredientes e seus respectivos pesos foram determinados

através de visitas técnicas em três estabelecimentos tipo food truck na cidade de João Pessoa-PB. Em

seguida, criou-se a logomarca e Menu do estabelecimento utilizando as paletas de cores que

referenciam a cultura nipônica e a identificação dos fatores que influenciam o preço final dos temakis

foi realizada por meio dos custos diretos e indiretos.

114

Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

5

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 REQUISITOS MÍNIMOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE UM FOOD TRUCK

Os food trucks representam Unidades de Alimentação e Nutrição em crescente expansão no Brasil, a

exemplo dos especializados em culinária japonesa. Por se tratar de uma modalidade de serviço de rua

bastante nova, ainda não existe uma regulamentação específica e padronizada para todo o Brasil e

que direcione todos os procedimentos administrativos, operacionais, de ambientação, layout e de

recursos humanos para esse tipo de estabelecimento. Desse modo, serão utilizadas para este trabalho

informações contidas na Lei nº 13445, de 14 de setembro de 2017; bem como informações do projeto

de lei municipal de autoria do vereador Marmuthe Cavalcanti, a lei nº 8.900 de 03 de setembro de

2015, vigente no município de Salvador/BA; a Portaria Nº 38, de 29 de janeiro de 2019; a Portaria nº

31, de 22 de janeiro de 2004; a Lei Complementar nº 128, de 19 de dezembro de 2008 da Micro e

Pequena Empresa; a Portaria SVS/MS nº 326 de 1997, da Secretaria de Vigilância Sanitária; a Resolução

RDC 216, de 15 de setembro de 2004, que dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para

Serviços de Alimentação; e a RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002.

No município de João Pessoa/PB, a lei nº 13445, de 14 de setembro de 2017 cria o selo de qualidade

de atendimento e de alimentos na comercialização da comida de rua, nos quais se inserem os trailers,

as barracas, os food trucks e os carrinhos gourmet e assemelhados. Entretanto, já existe a, Portaria Nº

38, de 29 de janeiro de 2019 a qual define os critérios para credenciamento e autorização de uso de

área para o desenvolvimneto de atividade de comercialização de alimentos diretamente ao

consumidor, de modo itinerante, veículo automotor ou rebocável adaptado, denominado food truck,

ou em veículo sobre roda não motorizado.

Esta resolução propõe que as atividades desenvolvidas no estabelecimento sejam somente em dias,

horários e locais permitidos.Visa que as normas de postura, higiene, limpeza, saúde pública, segurança

pública, trânsito, meio ambiente e outras estipuladas para o exercício estejam adequadas. Além disso,

é necesário que estas unidades descartem de forma adequada o lixo gerado, para os fins de coleta,

nos termos da legislação vigente; Estas devem dispor de lixeiras para separação de resíduos, em

tamanho compatível com a quantidade de resíduos gerados; Implantar boas práticas na

comercialização dos produtos, por meio da utilização de materiais biodegradáveis, preferencialmente;

da prática do consumo consciente; do incentivo aos consumidores para a redução do uso de

115

Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

6

descartáveis e para procederem com a correta destinação do lixo nos recipientes apropriados (BRASIL,

2019).

A lei nº 8.900, de 03 de setembro de 2015, vigente no município de Salvador/BA, define alguns critérios

para o estabelecimento de um food truck tais como: a distância mínima de 5 metros de cruzamentos

de vias, de faixas de pedestres, de rebaixamento para pessoas com deficiência, de pontos de táxis e

equipamentos públicos, bem como de hidrantes e tampas de limpeza de bueiros; distância mínima de

20 metros de entradas e saídas de rodoviárias e aeroportos, monumentos e bens tombados, hospitais

e ginásios esportivos; e distância mínima de 25 metros de estabelecimentos de comércio varejista de

alimentos. Há também a proibição de o mesmo não se localizar à frente de guias rebaixadas ou portões

de acesso de estabelecimentos de ensino, farmácias, edifícios e repartições públicas.

Esse projeto de lei tem como objetivo regulamentar não apenas os food trucks, mas veículos

automotores de pequeno, médio e grande porte que atuem na comercialização de alimentos. Estes

são divididos em categoria A, sendo os veículos automotores com comprimento máximo de 6m,

largura de 2,5m e altura máxima de 3m, e categoria B, onde estão inseridos as bicicletas, triciclos e

carrinhos com área máxima de 2m². Para a formalização do pedido de permissão de uso devem ser

informados a categoria do equipamento (A ou B), os tipos de alimentos comercializados e os dias de

funcionamento, que devem ser superiores a 4 horas e inferiores a 12 horas por dia.

Outra informação importante relaciona-se à adaptação do veículo para atender as exigências junto ao

Departamento Nacional de Trânsito. Inicialmente, a empresa contratada para realizar as modificações

deverá deter o Certificado de Adequação à Legislação de Trânsito (CAT) e o Comprovante de

Capacidade Técnica Operacional do Inmetro (CCT), de acordo com a Portaria nº 31, de 22 de janeiro

de 2004. parágrafo.

A Lei Complementar nº 128, de 19 de dezembro de 2008 alterou a Lei Geral da Micro e Pequena

Empresa (Lei Complementar nº 123/2006), que criou a figura do Microempreendedor Individual (MEI),

que, segundo o portal, deve atender às seguintes condições: faturamento limitado a R$ 81.000 por

ano, que não participe como sócio, administrador ou titular em outra empresa, além da contratação

de um empregado no máximo, entre outros. O MEI será enquadrado no Simples Nacional e ficará

isento dos tributos federais (Imposto de Renda, PIS, Confins, IPI e CSLL). Devido essas exigências, o

setor de Recursos Humanos não se configura igual às demais empresas de médio e grande porte. Para

isso existe o Super MEI, um programa desenvolvido pelo Sebrae que atua no aperfeiçoamento e

116

Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

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aquisição de conhecimentos técnicos através de cursos presenciais, desde controle de caixa, a

marketing, segmentos e componentes de vendas e plano estratégico (MOBI, 2018).

Conforme a Portaria SVS/MS nº 326 de 1997, da Secretaria de Vigilância Sanitária, o item 7.2 normatiza

que os funcionários que têm contatos com alimentos devem se submeter aos exames médicos e

laboratoriais para avaliação da saúde antes do início de sua função e ou periodicamente, após o início

da mesma. Já a RDC nº 216 de 2004, afirma que deve-se especificar os exames aos quais os

manipuladores de alimentos serão sujeitos, além de sua frequência.

As atividades de boas práticas de manipulação de alimentos e as condições higiênico-sanitárias

necessárias no estabelecimento, ficam a critério da Vigilância Sanitária, através das Resoluções RDC

216, de 15 de setembro de 2004, que dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para

Serviços de Alimentação; e a RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002, que dispõe sobre o Regulamento

Técnico dos Procedimentos Operacionais Padronizados e a Lista de Verificação das Boas Práticas de

Fabricação em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. As resoluções que

norteiam o setor de comida de rua, incluindo as vendas em trucks são as mesmas que regem o setor

com estrutura física fixa, como bares e restaurantes.

É necessário que os profissionais sejam capacitados para o preparo correto dos alimentos, para que

exerçam as boas práticas de fabricação, além da higiene pessoal e do ambiente (devidamente trajados

com os EPIs fornecidos pelo proprietário) e que tenham conhecimento sobre preparo ou

caracteristicas peculiares de cada produto.

A documentação para o funcionamento do estabelecimento deve constar de cópia do contrato social

ou certificado do Microempreendedor Individual (MEI), identidade e CPF dos sócios, comprovante de

residência, CNPJ, comprovante de inscrição no Cadastro de Contribuintes Mobiliários (CCM) e do

Cadastro Informativo Municipal (CADIN), entre outras informações. Esse pedido será avaliado

mediante a viabilidade de sua execução, obedecendo à compatibilidade dos equipamentos, qualidade

técnica e normas sanitárias.

4.2 LAYOUT

O layout de um food truck deve ser estruturado de maneira personalizada, a fim de atender as

necessidades do serviço (ALMEIDA, 2017) e, já que a cidade de João Pessoa não possui legislação

específica, tomou-se como referência a Lei municipal nº 15.947, de 26 de dezembro de 2013 que

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Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

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dispõe sobre as regras para comercialização de alimentos em vias e áreas públicas na cidade de São

Paulo, pioneira no ramo de food trucks do país.

Quanto aos equipamentos dos food trucks, estes devem pertencer à categoria A, além de seu espaço

interno ser projetado para evitar intercorrências durante o recebimento, pré-preparo e preparo dos

alimentos. Nesse caso, segundo Ferreira, D. S. (2021), os estabelecimentos devem apresentar

barreiras técnicas ou físicas na área de pré-preparo e preparo, desta forma as bancadas devem ser

separadas para o manuseio dos alimentos, de acordo com o gênero alimentício utilizado. No caso do

food truck especializado em temakis, a barreira utilizada foi a técnica, devido o espaço limitado, obtida

através da localização estratégica dos balcões, em lados opostos. Além disso, devido a maior parte dos

insumos para a preparação do temaki ser preparado em cozinha externa, a área de pré-preparo no

food truck pode ser limitada para o devido fim.

O recebimento das mercadorias deve ser realizado através de uma plataforma de descarga em área

externa, localizada na porta traseira do baú do caminhão, visto que é o acesso mais viável de entrada.

A área de higienização das mercadorias, a exemplo das bebidas comercializadas no local (remoção de

poeiras e sujidades nos recipientes) deve constituir um prolongamento da plataforma de descarga,

evitando áreas de circulação (TEIXEIRA et al., 2010). Já a área de pré- preparo localiza-se entre o

refrigerador de bebidas e o fogão de duas bocas, enquanto a das preparações é feita diretamente na

bancada, visto que no food truck o cliente vai diretamente pegar seu pedido, sem ser necessário o

serviço de mesa. A área para cocção está destinada para a preparação de alimentos quando ocorrer

uma demanda maior que o usual e para a fritura dos temakis, quando necessário. Por fim, a área de

higienização de utensílios deve ser separada da área de manipulação dos alimentos e deve entrar na

fase do processamento, de maneira que auxilie na racionalização do fluxo, evitando acúmulo de

utensílios sujos (TEIXEIRA, 2010).

A parte interna do Food Truck deve ser composta por uma área de preparo dos alimentos com

equipamentos como fogão com instalação de gás, geladeira, pia em inox, coifa, fritadeira elétrica ou a

gás industrial, balcões térmicos frio com bancada de mármore para preparo dos temakis, armários

para armazenamento dos utensílios de cozinha (panelas, talheres, tabuleiros, pratos, copos em

diferentes formatos, toalhas, porta guardanapos e facas especiais para corte de peixe e algas), um

balcão de atendimento e serviço e área de caixa com máquina registradora, emissor de cupom fiscal,

material de escritório em geral, telefone, computador.

118

Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

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4.3 MARKETING

Com o crescimento do número de marcas, muitas empresas não conseguem competir com as

concorrentes líderes ou dialogar com o consumidor em razão de falhas na percepção das identidades

visuais. Ao planejar uma identidade visual para o estabelcimento é necessário desenvolver o logotipo

e todos os componentes gráficos, bem como as cores adaptadas ao serviço (FIGUEREDO; RODRÍGUES;

BARROS, 2017). A logomarca elaborada para a marca detém as cores preta, vermelha e branca. O

vermelho e o branco, antes de tudo, fazem alusão às cores da bandeira do Japão. O vermelho é

considerado uma cor quente e estimulante, capaz de aumentar o metabolismo e estimular o apetite,

além de auxiliar a visualização do estabelecimento por aumentar a atenção e se destacar no campo

visual; o preto é uma cor normalmente utilizada em combinação com outras devido seu perfil sério e

comedido, além de criar a ilusão de diminuição de volume; já o branco deve ser escolhido em menor

proporção com o intuito de evitar forçar a vista e promover cansaço (GADELHA, 2007).

A figura 1 representa a identidade visual elaborada para a temakeria e além da paleta de cores

utilizadas fazer referência à cultura nipônica, nela é possível identificar que a fonte utilizada no nome

do local faz alusão à grafia do alfabeto japonês, assemelhando-se aos dialetos do país.

Figura 1 - Identidade visual do empreendimento

4.4 VALOR NUTRICIONAL E CUSTOS

A cuninária japonesa no Brasil está conquistando espaços e se tornarando cada vez mais comuns.

Desde então vem ganhando vários adeptos, apesar das diferenças alimentares e culturais existentes

(NASCIMENTO et al, 2019). Dentre os alimentos comercializados nos food trucks, os temakis são

atrativos ao consumidor principalmente pelo custo mais acessível se comparado às demais

preparações oferecidas.

Para a identificação da composição centesimal das preparações, utilizou-se o programa online Diet

Box. Os ingredientes foram listados de acordo com a preparação e equivalem à porção de 1 temaki. O

quadro 1 mostra em detalhes os ingredientes dos temakis e sua distribuição em termos de

macronutrientes, valor energético e a porcentagem do valor diário de referência.

119

Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

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Quadro 1. Composição do valor nutricional e calórico dos Temakis: Ebi, Naguro e Philadelphia.

Devido a ampla riqueza nutricional advinda de vitaminas, minerais, aminoácidos e ácidos graxos, o

temaki se configura como uma completa opção de refeição. Além de agradável ao paladar, ele pode

fazer parte de uma dieta equilibrada por seu excelente valor calórico agregado e um significativo

aporte de nutrientes.

As preparações possuem, em média, 238,39 Kcal e seu aporte de carboidratos, proteínas e lipídios

compreende os valores médios de 16, 17 e 12 gramas, respectivamente.

Os ingredientes utilizados nas preparações dos temakis são ricos em vitaminas, minerais e apresentam

uma boa composição de macronutrientes. Além disso, os alimentos que compõem essas preparações

têm componentes que previnem e auxiliam na cura de enfermidades.

4.5 CUSTOS

|Os fatores que influenciam o preço final dos temakis incluem os custos diretos, representados por

despesas com mão de obra e materiais de consumo e custos indiretos, tais como depreciação e

manutenção de equipamentos e utensílios; itens básicos de higiene; marketing, entre outros.

Este trabalho limitou-se à determinação do custo primário do temaki o qual incluiu os valores

referentes aos insumos adquiridos nos principais fornecedores especializados e a despesa com mão-

de-obra calculada por meio da consulta de salário-base no site do Ministério de Trabalho e Emprego,

segundo o Decreto de Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Sendo assim, o custo aproximado foi de R$

10,36; 10,57 e 10, 33 referentes aos Temakis Philadelphia, Naguro e Ebi, respectivamente.

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Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

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4.6 IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA PRÁTICA EM UAN

Observa-se que os profissionais da nutrição se concentram de maneira significativa na área clínica.

Entretanto, com o passar dos anos, houve uma nova configuração do mercado de trabalho do

nutricionista se convertendo de profissional liberal, focado na área clínica, mas também na área

organizacional, necessitando de conhecimentos específicos da área de gestão, devendo possuir uma

série de competências tanto do ponto de vista pessoal quanto do ponto de vista gerencial (LUMERTZ

;VENZKE, 2017).

Desta forma, a disciplina teve com propósito resaltar a importância do empreender, abrindo os olhos

dos futuros profionais da nutrição para as possibilidades no ramo. Os estudantes ao termino da

cadeira curricular possuem conhecimento sobre as atepas necessarias para abrir o próprio negócio,

assim como conduzir a aplicação prática sobre o gerenciamento de Serviços de Alimentação, incluindo

ferramentas de gestão e controle de qualidade, de custos, de pessoas e de processos.

5. CONCLUSÃO

A execução da disciplina, assim como o projeto desenvolvido foram de grande valia para os alunos,

pois proporcionaram uma visão mais ampliada sobre a atuação do nutricionista, bem como as

possibilidades no campo do empreendedorismo e nutrição.

Sendo assim, os dados da presente pesquisa permitem concluir que, devido a expansão da

comercialização de temakis, o investimento em food trucks desse gênero torna-se uma atraente

alternativa no meio empreendedor. Além disso, implanta-se uma opção de estabelecimento que

ofereça alimentos nutritivos e saudáveis de forma prática e rápida.

Ressalta-se ainda a importância de mais estudos sobre a produção e comercialização de temakis em

food trucks, o que possibilitaria explorar particularidades locais, sejam elas legislativas, funcionais,

financeiras, nutricionais etc.

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Planejamento Empreendedor De Um Food Truck Oriental Na Prática De Alimentação E Nutrição.

12

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125

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904760

Capítulo 9

REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA HISTÓRICO-

CULTURAL

Cirila Raquel de Araújo Mendes Faculdade Luciano Feijão (FLF)

Janailson Monteiro Clarindo Faculdade Luciano Feijão (FLF)

Alexsandra Maria Sousa Silva Faculdade Luciano Feijão (FLF)

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

1

Resumo: O presente trabalho discute o conceito de saúde mental a partir de uma orientação histórico-

cultural e, diante desse conceito, reflete sobre a atuação do psicólogo dentro da complexidade que é

a grande área da saúde. Tem como principal objetivo refletir sobre as práticas de atenção à saúde

mental, a partir da Psicologia histórico-cultural. Sendo assim, foi realizada uma pesquisa bibliográfica

que se configura como possuindo uma abordagem qualitativa de natureza explicativa, baseada nos

dados encontrados no Google Acadêmico e Scientific Electronic Library Online – Scielo. A partir de

critérios de análise, tendo como orientação a Análise de Conteúdo, foram selecionados 27 artigos que

contribuíram com a temática desta pesquisa. A base teórica deste estudo é a Psicologia Histórico-

Cultural, que tem em Vygotsky seu maior proponente. Foram utilizados como conceitos centrais da

teoria na análise dos dados coletados, como zona de desenvolvimento proximal e mediação. Foi feita

uma discussão sobre a visão da Psicologia Histórico-Cultural perante a saúde em geral e,

especificamente, a saúde mental. Foram destacadas possíveis estratégias que o psicólogo pode utilizar

diante dos sujeitos que sofrem, bem como a importância dos processos mediacionais entre usuários

e psicólogos em busca de um desenvolvimento pessoal. Por fim, as reflexões apontam para a

necessidade de esse profissional estar junto ao sujeito adoecido, criando ambientes de interações e

discussões, afim de criar Zonas de Desenvolvimento Proximal (ZDPs), ressignificando os sentidos

pessoais e tornando-os mais saudáveis, permitindo ao usuário lidar com os problemas psíquicos e

entender sua historicidade, suas potencialidades.

Palavras-chave:Saúde Mental; Psicologia Histórico-Cultural; Ressignificação; Zona de

Desenvolvimento Proximal.

127

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

2

INTRODUÇÃO

O conceito de saúde no cenário da psicologia é um assunto que surgiu não muito recentemente como

psicologia da saúde. Está ligado não à doença em si, mas ao desenvolvimento da saúde humana, ou

seja, o psicólogo trabalha com o objetivo de prevenir e promover saúde, assim como scontribui na

interação em trabalhos com equipes multiprofissionais em instituições de saúde e na atuação com

trabalhos comunitários.

Nos dias atuais, quando falamos em saúde, podemos pensar também em como o sujeito organiza sua

vida, pois, cada vez mais, nos deparamos com pessoas adoecidas, seja psiquicamente, seja

fisicamente, e um dos motivos pelos quais isso ocorre, são as inúmeras atividades que são atribuídas

às pessoas no dia a dia. Com isso, o indivíduo passa a não se alimentar adequadamente, a convivência

com seus familiares fica cada vez mais falha. Isso não se refere apenas a como o indivíduo se comporta

em seu trabalho, mas também em seu momento de descanso, de lazer, de convivência com a família,

em seus momentos de afeto, entre outros ambientes. Isso nos faz refletir a respeito de uma recriação

de uma vida com menos tribulações, uma vida mais saudável.

Tudo isso, culturalmente falando, podemos pensar que já vem de nossas gerações passadas, pois,

passamos toda nossa vida estudantil escutando nossos pais dizendo que precisamos estudar, para

possuirmos um emprego bom, que ganhe dinheiro, por esse motivo é comum vermos as pessoas

atribuindo um valor maior no seu trabalho e consequentemente carregando-se de estresse,

preocupação, ou virando noites para finalizar algum projeto de sua responsabilidade.

E a partir disso apresenta-se à psicologia a necessidade de buscar soluções para ajudar o sujeito a

enfrentar e/ou minimizar esse problema ou sintoma, buscando a subjetividade de cada indivíduo,

como afirma González (1997),

A saúde como eixo para a construção teórica da subjetividade social é um dos desafios essenciais que tem pela frente a psicologia, diante do qual está o pressuposto de um trabalho muito mais integrado e holístico entre as diversas esferas aplicadas, que apenas poderá ser o resultado de uma profunda transformação teórica e metodológica que deixe para trás as sequelas do positivismo, que seguem manifestando um extraordinário peso, de forma direta ou indireta, sobre a construção do pensamento psicológico (p.8).

A psicologia previne e promove saúde, sendo que, antes de qualquer fator, procura maneiras de

educar o indivíduo de um modo diferente, gerando atividades para serem desenvolvidas pelo sujeito,

buscando seu desenvolvimento e comprometimento com seu próprio bem estar e qualidade de vida,

pois, esses dois conceitos, bem estar e saúde, estão bastante ligados entre si.

128

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

3

A partir da Psicologia Histórico-Cultural, a qual iremos abordar em todo o decorrer desse texto,

partimos de antemão da personalidade do sujeito construída social e culturalmente, enfatizando o

modo de vida do indivíduo, haja visto que é necessário que resgatemos as emoções, organizando-as

em símbolos a partir da vivência de cada sujeito, ou seja, de suas experiências, do seu modo de viver,

das relações com familiares, amigos e a sociedade em geral. As reflexões aqui apresentadas são

baseadas nas obras de alguns autores que defendem essa mesma linha de pesquisa, como afirma

Zanella et al. (2007) que,

[...] Vigotski traz como um dos principais alicerces a compreensão de ser humano como ser fundamentalmente histórico e cultural, manifestação singular de um amplo conjunto de relações sociais, indo na contramão de perspectivas que isolam o sujeito de seu contexto, pois o próprio psiquismo é constituído historicamente na complexa e indissociável relação sujeito e sociedade (p. 28).

Nesse sentido a Psicologia Histórico cultural é caracterizada pelas relações constituídas entre o sujeito

e a sociedade, pelo resgate do contexto cultural ao qual aquele está inserido em toda sua

complexidade, isso se dá em meio a historicidade de cada indivíduo, constituída através das práticas

sociais.

Abordaremos algumas ideias no processo de desenvolvimento desta pesquisa, dentre as quais os

princípios do método de Vygotsky, principal autor da teoria. Diante de todas as discussões realizadas

a partir de leituras de autores que defendem essa linha de pesquisa e das experiências de ensino e

pesquisa na Faculdade Luciano Feijão, surgiu o interesse a respeito do tema deste trabalho. No

entanto, de certa forma, a Psicologia Histórico-Cultural ainda está em processo de descoberta quando

nos referimos a sua relação com a área da saúde, sendo esta uma área de bastante amplitude. E dentro

desta vastidão de conhecimentos entre a Psicologia Histórico-Cultural e Saúde, buscaremos nos

aprofundar no fazer do psicólogo na linha de pesquisa histórico-cultural diante do sujeito e seus

processos psíquicos.

A Psicologia Histórico Cultural classicamente não se insere no campo da saúde, como outras teorias,

como por exemplo, na linha de pesquisa em Análise do Comportamento, Kerbauy (1999, p. 20, apud.

KERBAUY, 2002, p. 14) afirma que, “para estudar saúde e doença, é necessário detalhar o processo

para avaliar os resultados: como processo é necessário especificar as variáveis biológicas do organismo

e como estas são afetadas pelas contingências ambientais". No campo da Psicologia Histórico Cultural

os trabalhos sobre saúde são bem mais escassos do que em outros campos da psicologia, essa sendo

uma área na qual a psicologia é extremamente indispensável e é uma área em que pretendemos

129

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

4

aprofundar no decorrer desta pesquisa. Diante do exposto, o objetivo deste artigo é refletir sobre as

práticas de atenção à saúde mental, a partir da Psicologia histórico-cultural.

ORIENTAÇÃO TEÓRICA

A psicologia teve como pesquisadores iniciais alguns graduados e pós graduados que tiveram interesse

em aprofundar sobre essa área, entre as décadas de 1960 e 1970 na perspectiva de pesquisa sócio-

histórica, introduzida no Brasil e na América Latina. Segundo Ana Bock (2001) “a psicologia sócio

histórica chegou ao Brasil nos anos 80, através da psicologia social e psicologia da educação, ganhando

rapidamente importância e espaço no meio acadêmico”. (p. 114)

Na década de 1980 a professora Silvia Lane começou a fazer pesquisas a partir dessa perspectiva,

introduzindo a teoria dentro da pesquisa sócio-histórica dando importância, tanto para a teoria

quanto para a prática. Essa abordagem foi formulada tendo como objetivo construir uma psicologia

que estudasse o ser humano em seu meio social, cultural e tivesse uma visão de seu mundo psíquico,

onde esse mundo psíquico está ligado a tudo que vem sendo construído e vivido pelos seres humanos.

Podemos destacar dentro dessa linha de pesquisa a ideia que afirma que o sujeito tem se constituído

ao longo de sua própria vida, ou seja, a partir do relacionamento com outros indivíduos, da interação

com o meio em que vive, com a natureza, com os instrumentos que são criados pelos mesmos, e as

significações que são atribuídas. Existe uma relação dentro dessa perspectiva entre mundo, homem e

conhecimento, e a afinidade desses elementos chamamos de tríade, que forma o estudo da psicologia.

A perspectiva histórica cultural desenvolveu-se a partir da perspectiva crítica, com a finalidade de

reforçar o individualismo, compreendendo os significados do sujeito dentro do contexto social e

cultural de cada indivíduo com o meio ambiente.

O ser humano é capaz de construir sua própria existência, pois, é através das ações humanas e de

acordo com a realidade que cada um dos indivíduos buscam maneiras para suprirem suas

necessidades, sendo que segundo Bock (2001), “essas ações e essas necessidades têm uma

característica fundamental: são sociais e produzidas historicamente em sociedade”. (p.116) Esse

processo de construção da historicidade na sociedade é constituído pelo homem, ao mesmo tempo

em que o homem se constitui, se desenvolve, e se transforma, diante do contato com a cultura, com

as atividades que são realizadas, criadas no meio social. Ana Bock(2001) afirma que,

130

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

5

A psicologia deve buscar compreender o indivíduo como ser determinado, histórica e socialmente.

Esse indivíduo jamais poderá ser compreendido senão por suas relações e vínculos sociais, pela sua

inserção em uma determinada sociedade, em um momento histórico específico. O homem existe, age

e pensa de certa maneira porque existe em um dado momento e local, vivendo determinadas relações.

(p.119-120).

Essa relação se dá exatamente dentro da sociedade, na interação com outras pessoas, com o meio

ambiente, a cultura, ou seja, pelas mediações. Estas se dão por meio de atividades, pelas relações

sociais e pelos significados que são impostos diante da realidade que os seres humanos vivem. Assim,

para entender o ser humano dentro da abordagem histórico-cultural é preciso primeiramente

entender sua história de vida, sua totalidade diante da sociedade para então partirmos para suas

particularidades, compreendendo o geral, mas também sua singularidade. Podemos enfatizar o

trabalho do psicólogo histórico-cultural que, antes de tudo, deve conhecer em qual contexto histórico-

cultural o sujeito está inserido, quais suas relações com seus familiares ou com outras pessoas,

compreender o que ele sente, pensa e age buscando no interior a sua subjetividade.

Segundo Silva (2011) temos como referencial e colaboradores dessa linha de pesquisa os autores

Vygotsky, Luria e Leontiev os quais defenderam a partir de meados do século XX, na Rússia, as suas

ideias com embasamento no materialismo histórico e dialético de Marx e Engels. Segundo suas bases

teóricas a historicidade da sociedade está imbricado o desenvolvimento humano, pois todo ser

humano é considerado um ser social e seu desenvolvimento é dependente da atividade que está ligada

à natureza. Podemos concretizar esta afirmação quando Silva (2011) afirma a partir das ideias de

Vygotsky (1996a) e Leontiev (2004):

A realidade concreta é formada pelos homens em sua convivência social, que muda de acordo com o período histórico e com as transformações que ocorrem nas formas de produção; tais aspectos constituem os elementos formadores do homem, de seu trabalho e de sua consciência. (p.131)

Considerando os pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural podemos destacar que para conhecer

o desenvolvimento psíquico dos seres humanos, é preciso buscar conhecê-los em sua totalidade, ou

seja, resgatar seus sentimentos, seu caminho traçado durante seu percurso desde o alicerce de seu

desenvolvimento, considerando seu modo de vida, suas atividades, suas relações sociais,

pensamentos e emoções. Tanamachi, (1997 apud Dias, s/d, p. 4) afirma que “A Psicologia Sócio

Histórica, a partir da concepção marxista de Homem e de mundo, estudada por Vygotsky, e seus

131

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

6

companheiros Luria e Leontiev, busca redefinir o método de compreensão do fenômeno humano a

ser pesquisado pela psicologia”.

Acreditamos que a partir dessa linha de pesquisa da Psicologia Histórico-Cultural, a qual estamos

discutindo, podemos conhecer melhor o desenvolvimento psíquico do ser humano e entender melhor

as diferenças significativas de tais comportamentos, tendo como apoio embasamentos de autores que

defendem e acreditam nessa abordagem. Comportamentos esses que podemos chamar de aspectos

biológicos e que estão ligados a natureza, contudo, o ser humano utiliza o seu trabalho para se

adaptar, ou seja, o ambiente é transformado pelo mesmo, com o objetivo de suprir suas necessidades,

seus desejos e suas vontades. E diante desse percurso são produzidos, signos, desenvolvimento da

linguagem e da consciência humana, enquanto que o animal busca somente o necessário para a

sobrevivência de sua espécie e para sua própria satisfação imediata. Silva (2011) traz questões

discutidas por alguns autores:

Assim como Engels, Luria (1991) e Leontiev (2004) discutiram a base do

comportamento humano como sendo fundamentada nas estruturas biológicas,

mas que, a partir da atividade do homem para a satisfação de suas necessidades

de sobrevivência, começou a adquirir diferenças significativas em relação aos

animais. (p. 133)

Vigotski sempre defendeu a ideia de que a relação dos seres humanos com a sociedade, ou melhor,

com o mundo, se dá através da mediação do outro. Essa mediação é necessária para se compreender

a importância de vivermos em sociedade, dos significados que os signos representam para cada

indivíduo. Nessa concepção o ser humano se constitui, ou seja, se desenvolve desde a infância com a

ajuda, ou melhor, através da mediação do outro, que mostra e adquire os conhecimentos a respeito

do mundo que está inserida, dando nomes a objetos, diz como se comportar diante da sociedade e

qual cultura seguir.

Esse processo é bastante complexo, pois, se dá no dia a dia de cada indivíduo, nas relações com a

sociedade, ou seja, no contexto em que cada um vive e de acordo com essas relações estão sujeitos

às transformações sociais, construindo sua própria história. E tudo isso vem de um processo de

desenvolvimento conceitual, e esse conceito, segundo Vigotski é ligado à palavra, haja visto, que é

necessário ter uma relação, ou seja, ser mediado com o outro. Goés e Cruz (2006) em seus estudos

com base nas obras de Vigotski, afirma que,

132

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

7

O conceito tem uma origem social e sua formação envolve antes a relação com os outros, passando posteriormente a ser de domínio da própria criança. Primeiro, a criança é guiada pela palavra do outro e,depois, ela própria utiliza as palavras para orientar o seu pensamento. (p. 33)

Diante dessas reflexões podemos destacar como é constituído o processo de desenvolvimento do

sujeito, desde sempre escutamos que o exemplo está em casa, quando criança, somos movidos pelas

ações dos adultos, porém isso se dá através da mediação do outro, os nomes são dados aos objetos

através do outro, onde esse outro é o adulto. No decorrer dos anos a criança passa a elaborar seus

próprios pensamentos, dando significado aos objetos através das suas próprias palavras, sendo que

essa significação é apenas nominativa, pois, é o início de seu processo de desenvolvimento. Outro

fator importante para a Psicologia Histórico-Cultural é quando nos referimos a Zona de

Desenvolvimento Proximal e o Nível de Desenvolvimento Real, métodos estudados e utilizados por

Vygotsky e seus defensores.

O trabalho do psicólogo é extremamente importante, especificamente falando na área da saúde, a

mediação se dá por meio da interação entre psicoterapeuta e paciente, o primeiro passa a ser um

sujeito dinâmico, que orienta, destaca, guia, analisa e armazena todo o processo de

desenvolvimento, ajudando o indivíduo a entender sua história de vida e buscar novas formas de

pensar, superando os problemas, reorganizando, reconstruindo e resinificando suas experiências.

Souza e Rosso (2011) enfatizam sobre a teoria histórico-cultural quando nos referimos ao

desenvolvimento humano e a Zona de desenvolvimento Proximal:

A teoria histórico-cultural de Vygotsky foi uma dentre tantas teorias que se propuseram a estudar, entender e explicar a complexidade do desenvolvimento humano e, ao fazê-lo, partiu do princípio de que o homem é um ser racional, que busca a todo momento compreender os elementos que constituem sua realidade objetiva, atribuindo-lhes sentidos e significados construídos a partir da vida em sociedade. Para Vygotsky, desde o instante em que o sujeito nasce, passa a fazer parte de um mundo que foi histórica e culturalmente construído e organizado pelas gerações que o precederam e, assim, partilha e incorpora modos de agir, sentir e pensar próprios desta cultura. (p. 5896)

A interação com o outro e com a sociedade ao qual o sujeito está inserido é um fator importante para

o desenvolvimento de novas aprendizagens e conhecimentos. A Zona de Desenvolvimento Proximal –

ZDP é utilizada como um método com o objetivo de traçar maneiras de superar os conflitos vividos

pelo paciente.

133

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

8

METODOLOGIA

Este trabalho configura-se como uma pesquisa bibliográfica, de natureza explicativa, pois,

analisaremos os dados acerca da pesquisa realizada, na qual Lima e Mioto (2007, p. 38) discorrem que

“[...] a pesquisa bibliográfica implica em um conjunto ordenado de procedimentos de busca por

soluções, atento ao objeto de estudo, e que, por isso, não pode ser aleatório”. A pesquisa também é

caracterizada enquanto um estudo explicativo, contudo, foram abordados alguns descritores e diante

disso foram colhidos dados a partir de buscas feitas através de vários artigos e obras literárias que

tratam a respeito do tema da pesquisa, e com base nos dados analisados daremos nossa contribuição

crítica.

Nesta pesquisa, trataremos de um estudo de abordagem qualitativa, em que a mesma é justificada

pelo fato desse trabalho possuir um caráter mais subjetivo e interpretativo, fornecendo uma base

relevante para um levantamento de informações que está sendo proposto a realizar-se. Minayo (2001)

relata sobre a significância que nos traz uma pesquisa qualitativa,

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (p. 21-22)

Diante do procedimento da coleta de dados, podemos destacar as pesquisas realizadas em

plataformas digitais como, por exemplo, o Google acadêmico e Scielo, com base nos seguintes

descritores: Psicologia Histórico-Cultural, Saúde Mental e práticas do Psicólogo.

As Tabela 1 e 2 apontam os resultados encontros, bem como o quantitativo de artigos excluídos e

selecionados. Nesse processo foram utilizados como critérios de inclusão os artigos que contribuem

com a teoria abordada diante de todo o processo de desenvolvimento deste trabalho, trazendo

assuntos que estão relacionados a Psicologia Histórico-Cultural e Saúde Mental e como critério de

exclusão, utilizamos os artigos que não apresentem assuntos relevantes com o que está sendo tratado.

134

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

9

Tabela 1- Descritores do indexador Google Acadêmico

Descritores Resultados Selecionados Descartados

Psicologia Histórico-Cultural e Saúde

11 4 7

Saúde Mental e Psicologia Histórico-

Cultural

9 6 4

Vigotski e Saúde Mental

11 3 8

Vigotski e Psicologia Histórico-

Cultural

18 3 16

Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 2 - Descritores do indexador Scielo

Descritores Resultados Selecionados Descartados

Psicologia Histórico-Cultural e Saúde

6 4 2

Saúde Mental e Psicologia Histórico-

Cultural

4 3 2

Vigotski e Saúde Mental

5 2 3

Vigotski e Psicologia Histórico-

Cultural

10 2 8

Fonte: Dados da pesquisa

A análise de dados foi realizada a partir de embasamentos teóricos e de análise de conteúdo e

interpretativa seguindo de Bardin (1977). Para tanto, criamos algumas categorias centrais para

discussão dos dados: Psicologia e Saúde, Saúde Mental, Vygotsky, Psicologia Histórico-Cultural,

Subjetividade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

CONCEITO DE SAÚDE MENTAL DENTRO DA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL

Deparamo-nos com muitas desigualdades sociais no contexto brasileiro, mas a reforma psiquiátrica

nos trouxe muitas mudanças e desafios no modelo de saúde pública, como afirma Tavares e Sousa

(2009),

135

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

10

A Reforma Psiquiátrica, baseada na desinstitucionalização do adoecimento psíquico, busca uma inversão do modelo assistencial, passando de uma atenção direcionada ao modelo hospitalar e/ou asilar para uma atenção de viés psicossocial, que privilegia a reocupação do espaço social pelo sujeito que sofre. (p. 253)

Ballarin, Carvalho e Ferigato (2010), também trazem algumas contribuições sobre essas mudanças,

quando afirmam que,

Este arcabouço de mudanças conceitual e de práticas tem criado novas formas de pensar, tratar e cuidar em saúde mental que envolve a estruturação de uma rede de serviços e cuidados que envolve usuários, familiares, os trabalhadores gestores e comunidade”. (p.445)

A partir da Reforma Psiquiátrica surge os Centros de Atenção Psicossocial –CAPS que tem todo esse

cuidado com o indivíduo que sofre de maus tratos, seja familiar, ou desrespeito ao sujeito em

sofrimento psíquico, garantindo seus direitos ao tratamento e a valorização da subjetividade junto a

uma equipe multidisciplinar.

Muitos profissionais da saúde trabalham de forma desumana, pois não consideram o contexto

histórico do paciente, sua subjetividade, sabendo que o paciente possui uma história de vida, não

possuem o cuidado de profissional-paciente necessário, não conseguem compreender o que o

paciente necessita, transformando essa comunicação insatisfatória. Isso vem sendo mudado ao longo

dos anos, pois, não somente os médicos são considerados cuidadores da saúde, de pessoas adoecidas,

das doenças, mas também outros profissionais vêm sendo inseridos quando nos referimos aos

cuidados à saúde.

Yépez (2001, p. 52-53) traz sua contribuição quando afirma que, “quanto mais o médico enfatiza o

órgão doente e não a pessoa, menos chance terá de entender os sintomas na fase inicial da consulta,

justificando assim a necessidade do profissional ter uma adequada formação psicoterapêutica”.

De acordo com a perspectiva histórico-cultural, o sujeito adoecido tem todo um contexto social e

cultural e diante disso podemos afirmar que não existe comportamentos e ações apartadas das

relações de existência do sujeito. Acreditamos que a partir do resgate das significações de sua

personalidade e através da mediação entre profissional-paciente podemos enxergar de forma

diferente o problema que gera o adoecimento, levando em consideração o caráter histórico do

indivíduo.Yépez (2001) afirma que,

136

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

11

A própria doença pode ser uma expressão de problemas subjacentes. As pessoas, portanto, muitas vezes procuram o serviço médico até por problemas de saúde menores, mas com evidentes sintomas de estarem necessitando falar sobre seus problemas pessoais. Em contraste, a maioria dos profissionais, formados apenas com essa visão fragmentada e organicista do modelo biomédico, e até por limitações estruturais de tempo e espaço, estão apenas preocupados em definir, na maior brevidade de tempo, o diagnóstico de uma patologia física que dê conta dos sintomas do paciente, deixando de lado os problemas psicológicos e sociais dessas pessoas. São relativamente poucos os casos em que o médico reconhece as necessidades de escuta dos pacientes, atividade que faria parte de práticas de prevenção e promoção da saúde. De fato, isso implicaria o reconhecimento da necessidade da participação dos outros profissionais da saúde, como psicólogo e assistente social mais preparados para esse tipo de atendimento, sendo esse um dos principais empecilhos para um verdadeiro trabalho interdisciplinar e práticas mais humanizadas de saúde. (p. 53)

Estar saudável implica em o indivíduo estar bem consigo mesmo, necessário que haja satisfação no

trabalho, conviver bem com a família, amigos e a sociedade em geral, reservar um tempo para passear

com a família, ter lazer, respeitar as pessoas com igualdade, usar as redes sociais para crescimento

pessoal ou profissional, entre outros fatores que incluam uma boa qualidade de vida. Filho, Coelho e

Peres (1999) trazem um pouco sobre o conceito de saúde,

A saúde deve ser tomada como um conceito aberto, no sentido de que os signos, significados e práticas mostram grande variação, pois não é possível um padrão unificado de normalidade para a saúde. A saúde não se reduz a um único modelo explanatório na medida em que diversas formas de viver, sejam histórica, cultural ou individualmente determinadas, apresentam-se como possibilidades distintas de normalidade. (p. 119)

Muitas doenças são descobertas através do acúmulo de trabalho, ou melhor o acarretamento de

muitos afazeres para apenas uma pessoa, como por exemplo, o estresse que está ligado aos

experimentos do dia a dia do sujeito, um quadro de depressão, que pode ser a mais agravante, entre

outras que causam o adoecimento psíquico comprometendo a saúde do sujeito, e isso tem que ser

repensado, pois, é diante desse adoecimento que o indivíduo procura uma ajuda e muitas vezes são

propostos tratamento com medicalização. Jacques (2003, p. 101) diz que, “Tal popularização, por um

lado, desvelou o vínculo entre trabalho e saúde/ doença mental, vínculo este nem sempre reconhecido

visto a prevalência concedida aos fatores hereditários e as relações familiares na etiologia do

adoecimento mental [...]”.

Atualmente a nova compreensão de saúde perante a sociedade está voltada para a criatividade, para

os inúmeros modos de viver bem e com qualidade, dentre estes inclui a prática de algum esporte,

alguma atividade física, a substituição de medicalização por ervas caseiras. Em relação à saúde mental,

137

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

12

Almeida e Trevisan (2011, p. 301) afirmam que, “A Saúde Mental passa a ser compreendida como uma

questão complexa que envolve fatores psicológicos, culturais, históricos, econômicos e sociais”.Silva

e Tuleski (2015) discorrem que,

“A partir da Psicologia Histórico-Cultural, as funções psíquicas são entendidas não como funções inatas, mas sim como produto das atividades desenvolvidas ao longo da vida, o que faz com que as alterações psíquicas sejam compreendidas e investigadas como resultantes das alterações da atividade”.(p. 212)

Diante do que os autores trazem, podemos afirmar que os sujeitos constroem seus pensamentos e

linguagens a partir das atividades que são realizadas e vividas no dia a dia de cada indivíduo, portanto

o psicólogo histórico-cultural contribui na construção de signos, juntamente com a pessoa que sofre

transtornos psíquicos, para a compreensão dessas atividades, e consequentemente ressignificar

aquele sentido pessoal do sujeito.

VISÃO DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL NA SAÚDE E DA PSICOPATOLOGIA

São inúmeras as dificuldades enfrentadas no cotidiano de trabalho das equipes de saúde, são muitos

os desafios que precisam ser analisados e melhorados, pois existem vários profissionais que não

possuem capacitação para lidar com as famílias e os sujeitos adoecidos. Outro ponto que podemos

destacar é a falta de um ambiente propício para a realização de encontros e discussões entre

profissionais que lidam com essas pessoas que sofrem adoecimento psíquico, um momento em que

haja reflexões destes profissionais sobre como esses indivíduos podem dar um sentido pessoal

diferente àquele problema enfrentado a partir dos signos compartilhados. Delfini e Reis (2012) sobre

os desafios enfrentados pelos profissionais na grande área da saúde, afirmam que,

[...] para além dos já conhecidos cursos de capacitação em saúde mental, o trabalho conjunto entre equipes de saúde mental e saúde da família, discutindo casos, compartilhando conhecimento, elaborando estratégias, pensando coletivamente em caminhos, realizando visitas domiciliares conjuntas ajudam os profissionais a se sentirem mais seguros e a perceberem que não estão sozinhos para “resolver” os casos. Podem, consequentemente, compartilhar responsabilidades e se fortalecer para lidar melhor com situações complexas, sem almejarem a rápida solução ou a cura daquele usuário, mas a ampliação de suas possibilidades de vida. (p. 363)

É diante desta afirmação que destacamos a importância do trabalho multiprofissional, de vários

profissionais da área da saúde engajados em um mesmo problema, compartilhando as

responsabilidades com um mesmo objetivo na tentativa de construir junto aos sujeitos adoecidos

caminhos para lidar com as situações e problemas que prejudicam a saúde mental. Podemos afirmar

138

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

13

também que, partindo das concepções médicas, o método para tratar a saúde mental, o adoecimento

psíquico, é através, principalmente, do uso de medicações, tornando-se esse meio como prioridade.

A Psicologia Histórico-Cultural, alinhada com essa ideia, pode trazer importantes ferramentas para o

profissional da saúde mental, onde possa trabalhar com o sujeito de maneira mais ampla, levando em

consideração suas relações sociais, historicidade e potencialidades, sem necessariamente se restringir

ao uso de medicamentos no tratamento do sofrimento psíquico.

Existem vários tipos de profissionais, os humanizados e os não humanizados, contudo trabalhar na

área da saúde requer que o profissional, seja ele qual for, busque conhecimentos acerca de como lidar

com os conflitos inerentes às relações intersubjetivas, principalmente quando tratamos da saúde

mental. Carvalho, Bosi e Freire (2008, p. 701) discorrem que, “Saúde não mais pode ser concebida de

forma isolada ou estanque, tendo em vista o reconhecimento de sua estreita vinculação com o

contexto social, tanto no que concerne ao plano simbólico como à materialidade da vida de cada um”.

Especificamente falando do psicólogo na grande área da saúde, o profissional se depara com

demandas complexas e cabe a ele criar junto com o usuário estratégias mais saudáveis a partir das

histórias que causam o sofrimento mental no sujeito, contribuir para que o sujeito adoecido tenha

uma qualidade de vida melhor.

Partindo das contribuições de Zeigarnik (1962/1965 apud. SILVA e TULESKI, 2015), onde ele afirma

preferir o uso do termo patopsicologia, ao invés de psicopatologia, dando ênfase ao aspecto do

sofrimento psíquico, e não da doença mental, pois, a palavra Pattos significa sofrimento, portanto,

patopsicologia significa sofrimento psíquico. Isso não restringe o sujeito à doença, mas é dito apenas

que é um sujeito em sofrimento.

A ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL (ZDP) NA SAÚDE

O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) foi criado por Vygotsky, uma das maiores

contribuições do autor para a Psicologia e Educação com o intuito de entender o desenvolvimento e

a aprendizagem da criança. Zanella (1994) discorre sobre o assunto abordado,

[...] o materialismo histórico e dialético, considera que, ao produzir o meio em que vive, o homem se produz; ou seja, o homem é determinado historicamente, mas é, simultaneamente, determinante da história. Neste sentido, Vygotsky considera que o desenvolvimento e a aprendizagem interrelacionam-se desde o nascimento da criança, isto é, a constituição do sujeito é um movimento dialético entre aprendizagem e desenvolvimento. (p. 97-98)

139

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

14

Diante disso podemos afirmar que os sujeitos são influenciados pelo próprio meio em que vivem, ou seja, pelo

processo de interação com a sociedade, portanto através dessa vivência criam suas próprias histórias. Há uma

distância entre as duas zonas de desenvolvimento, essa distância Vygotsky (1984, p. 97 apud. ZANELLA, 1994,

p. 98) caracterizou de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), ao afirmar que “A Zona de Desenvolvimento

Proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação,

funções que amadurecerão, mas que estão, presentemente, em estado embrionário”. Considerando que

vivemos em um mundo onde nos encontramos constantemente socializando uns com os outros e essa interação

é relevante, pois permite o crescimento de nosso desenvolvimento e aprendizagem entre os sujeitos. Frade e

Meira (2012) afirmam,

Em muitas dessas interações, mudamos nossa maneira de pensar e/ ou agir em relação ao que pensávamos e/ ou agíamos antes. Ora, se somos capazes de pensar e/ ou agir de forma diferente do que fazíamos antes, é porque nos tornamos uma pessoa diferente, no sentido de que aprendemos e desenvolvemos em certo domínio. E se isso acontece não é porque interagimos pelo mero ato de interagir, mas, sim, porque nos deixamos envolver e envolvemos outros em atos comunicativos. (p. 374)

Assim, ao analisar o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal dentro do contexto da saúde,

podemos afirmar que a psicologia através desse conceito tem muito a contribuir com os sujeitos que

sofrem com transtornos mentais, de maneira que os profissionais dentro dessa área promovem ZDP’s,

com o objetivo de contribuir com as pessoas no sentido de alcançar seu potencial, ou seja, conseguir

criar estratégias adaptadas a cada indivíduo ajudando-os a lidar com a dor. Martins e Moser (2012)

afirmam que,

A mente forma os conceitos pela mediação de signos, e a linguagem passa a ser o meio ou o modo mais importante que os seres humanos possuem para formar conceitos e para aprender, mas sempre no contexto da interação social. Merece destaque o papel da função semiótica para a estruturação da vida mental ou, em outros termos, para a construção do conhecimento. (p.14)

Diante da Psicologia Histórico-Cultural, os profissionais ao criar espaços de interação no contexto da

saúde, consequentemente criam ZDPs, pois essa interação uns com os outros permite a socialização

de experiências, signos, ou seja, as histórias de cada indivíduo que está em sofrimento. As ZDPs

ocorrem quando os sujeitos atingem seus potenciais a partir dessa interação com outros sujeitos,

inclusive com o próprio psicólogo, todavia, ao interagirem em grupo os sujeitos têm a possibilidade de

resinificar suas experiências de sofrimento e dor.

140

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

15

PRÁTICAS DO PSICÓLOGO HISTÓRICO-CULTURAL NA SAÚDE MENTAL

Diante de alguns conceitos vistos no decorrer das leituras realizadas para a produção desta pesquisa,

podemos afirmar que a Psicologia Histórico-Cultural dentro da complexa área da saúde é um assunto

muito recente, sendo mais comum nas áreas social, educacional e do desenvolvimento.

No geral, o olhar que as pessoas têm perante a atuação do psicólogo se dá através dos atendimentos

psicoterápicos clínicos particulares, aqueles profissionais que escutam, acolhem e que ajudam as

pessoas a lidarem com os problemas. A nosso ver, essa prática do psicólogo, especialmente, o

psicólogo histórico-cultural, está além do que escutamos, pois, o profissional assume um papel muito

importante na vida de seus pacientes, procura caminhar junto ao paciente, contudo, a perspectiva da

saúde é muito maior do que apenas a clínica e a Psicologia Histórico-Cultural, e esta teoria de uma

maneira geral tem muito a contribuir com o sujeito adoecido. São vários os campos de atuação do

psicólogo, sendo uma das principais funções do psicólogo histórico-cultural conhecer a história de vida

do sujeito com o qual se trabalha, o contexto o qual está inserido. Dessa maneira se faz necessário,

independente do contexto de atuação da grande área de saúde, escutar e em seguida elaborar

perguntas problematizadoras, ou seja, perguntas que deixem os pacientes refletindo sobre o que foi

discutido naquele momento, e se necessário fazer uma breve conclusão em relação ao que foi ouvido.

A atuação dos profissionais de psicologia dentro da área da saúde é de extrema importância, pois, está

além do cuidado com a saúde, como afirma Teixeira (2004, apud. APA, 2004a),

A intervenção de psicólogos na saúde, para além de contribuir para a melhoria do bem-estar psicológico e da qualidade de vida dos pacientes dos serviços de saúde, pode também contribuir para a redução de internamentos hospitalares, diminuição da utilização de medicamentos e utilização mais adequada dos serviços e recursos de saúde. (p.442)

O cuidado com a saúde deve perpassar diferentes ambientes, não deve se ater apenas a instituições

de saúde, como hospitais ou postos de saúde, o ambiente laboral, por exemplo, também deve ser foco

do psicólogo em relação ao cuidado com a saúde. As pessoas vêem as atividades realizadas no trabalho

como uma alienação, pois, hoje nos deparamos com um mercado de trabalho altamente competitivo,

dessa forma a personalidade do indivíduo é prejudicada, tornando-se, de certa forma, alienado,

comprometendo, portanto,sua saúde mental. Silva e Tuleski (2015) discorrem que,

141

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

16

[...]o adoecimento psíquico é tomado como constituído histórica e socialmente [...] Se o ser humano se humaniza no interior das relações sociais por meio de sua atividade vital e metabólica com a natureza – o trabalho –, quando esta forma de atividade encontra-se alienada e precarizada, as possibilidades para o desenvolvimento pleno da personalidade humana encontra-se obstaculizadas. (p. 209)

A partir desse contexto, podemos afirmar que a discussão sobre saúde abrange várias áreas distintas na

Psicologia, dentre elas a Psicologia Comunitária, pois com o surgimento da necessidade do profissional em

psicologia atuar na área da saúde, destacamos a importância da inclusão da família, da comunidade, ou seja,

de todo o contexto que aquele indivíduo se encontra, com o intuito de promover os cuidados necessários aquele

sujeito que sofre com transtornos mentais. Ballarin, Carvalho e Ferigato (2010) afirmam que,

A politicidade do cuidado traduz-se como direito de cidadania, em contraposição ao cuidado como submissão e se expressa no triedro: conhecer para cuidar melhor – o que implica na compreensão do contexto sócio-histórico onde são geradas as relações de ajuda-poder na política de saúde, cuidar para confrontar – relaciona-se ao gerenciamento de forças que efetivem controle democrático e re-ordenamento de poderes e cuidar para emancipar – implica na perspectiva de constituição de cenários propícios a desconstrução progressiva de assimetrias de poder. (p. 448)

Os profissionais em saúde, especificamente aos cuidados da saúde mental, confrontam-se com muitas situações

de emergência, como por exemplo, quando os usuários se apresentam em crise, aparecem altamente

agressivos, ao ponto de se auto mutilarem, com o sofrimento psíquico bastante alterado. Diante dessas

situações angustiantes é necessário que nós profissionais tenhamos a sensatez de compreender dentro de um

ponto de vista ético, sobretudo, tenhamos disponibilidade para dobrarmos a atenção e um cuidado abrangente

aqueles indivíduos que se encontram naquela situação.

As práticas de cuidado em saúde mental abrangem não somente o psicólogo, mas também vários outros

profissionais que têm a contribuir com os sujeitos que buscam este cuidado, ou melhor, é um conjunto de

condições que vai do sistema de atenção à saúde a acessibilidade dos equipamentos necessários para garantir

uma qualidade de atendimento e cuidado com os indivíduos. Carvalho, Bosi e Freire (2008), afirmam que a

atuação do psicólogo,

[...] requer, portanto, uma revisão de modo de estar a serviço do outro: pôr em xeque os pressupostos tradicionais; abertura ética, que implique nova atitude para com o usuário que busca ajuda; e assumir-se como um ator crítico no desenvolvimento e “criação” de práticas mais condizentes com o acolhimento e a produção do cuidado. (p. 702)

Além de acolher e produzir o cuidado a partir do método da escuta é extremamente importante

também um trabalho com a família do sujeito com transtornos mentais, pois, muitas vezes membros

da própria família não entende, se tornando impaciente e acaba acarretando um problema maior

naquele indivíduo, ou acontece também muitas vezes da família adoecer juntamente com aquele

142

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

17

sujeito, por não saber lidar, ou seja, não estão preparados para o enfrentamento daquele sintoma do

transtorno mental e acaba trazendo para si uma carga bastante pesada em relação as necessidades

de cuidado. O apoio da família na maioria dos casos é essencial para mostrar para aquele sujeito

adoecido que ele pode contar com a ajuda, o incentivo daquelas pessoas, lembrarem do horário dos

atendimentos, entre outros fatores que façam com que aquele sujeito se sinta seguro.

Para Vecchia e Martins (2009, p. 192) “[...] os cuidados em saúde mental requerem uma abordagem

ampliada, sendo significados na mediação de condições sociais, como o trabalho, as relações intra-

familiares e o apoio social e comunitário”. Sentimos a necessidade de estar próximo ao paciente,

pondo em prática uma escuta atenta, ter a disponibilidade de ouvir, sempre nos propondo a estar no

lugar do sujeito e claro tratar o indivíduo em adoecimento psíquico como uma pessoa como qualquer

outra, ou melhor, com equidade, com isso podemos conseguir a confiança e conseqüentemente criar

um vínculo. Nesse sentido, Dimenstein (2004), discorre sobre o significado de equidade,

[...] um dos princípios mais importantes que norteiam os sistema de saúde brasileiro relacionado à qualidade de assistência. Significa que a rede de serviços deve estar atenta para as desigualdades existente entre as pessoas com o objetivo de ajustar suas ações às necessidades específicas de cada parcela da população. Equidade, portanto, diferencia-se de igualdade. Todos têm o direito de serem bem atendidos, mas não podem receber o mesmo atendimento, pois são diferentes, vivem em condições desiguais e suas necessidades são diversas. (p. 114)

Partindo da Psicologia Histórico-Cultural, podemos usar recursos teóricos que nos ajudem nesse

processo de escuta atenta, de construção de uma relação saudável e potente com o sujeito com o qual

se trabalha. Uma das ideias que podemos utilizar da teoria para compreender melhor a situação

psíquica desse sujeito é a de núcleos de significação, ou núcleos de sentido (VECCHIA; MARTINS, 2009).

Significam a ideia que as pessoas criam a respeito de determinada situação e isso se dá através da

relação que as pessoas têm com outras, essa relação dentro da abordagem histórico-cultural surge

diante da interação do pensamento e linguagem dos indivíduos.

Na prática, podemos afirmar que nós psicólogos temos muito a contribuir com os sujeitos com

transtornos mentais, pois somos capazes de proporcionar os sujeitos a ressignificar aquele sentido

específico da doença, podendo ser transformado a partir do discurso que a pessoa tem sobre a

enfermidade. Devemos trabalhar juntamente com o paciente com intuito de criar novas ideias a

respeito daquele processo que o mesmo esteja passando, sendo que na Psicologia Histórico-Cultural

chamamos essa contribuição de processo de ressignificação, ou seja, o sentido pessoal que o indivíduo

dá aquela doença pode ser transformado, e quando nos referimos à saúde, procuramos sempre criar

143

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

18

um sentido construtivo, juntamente com o sujeito, ajudando-o a sentir-se mais saudável,

proporcionando uma qualidade de vida melhor.

Outra possibilidade de intervenção psicológica dentro da perspectiva histórico-cultural é através da

mediação, entretanto essa mediação se dá através dos signos, ou seja, uma ideia ou estratégia que

será mediada por meio de uma ação no mundo, na sociedade. O psicólogo Histórico-Cultural tem

muito a colaborar com o sujeito adoecido utilizando dessa estratégia de mediação, pois, a partir do

problema que este indivíduo traz para o profissional, o mesmo procura inserir naquele processo uma

palavra, um código lingüístico que poderá ser mediado para conseguir junto com o paciente chegar a

um resultado diferente, ou seja, um resultado que ajudará aquele sujeito a lidar com problema

identificado, reorganizando seu pensamento e linguagem.

Ainda sobre o conceito de mediação Aguiar e Ozella (2006, p. 225) afirmam que, “Ao utilizarmos a

categoria mediação, possibilitamos a utilização, a intervenção de um elemento/ um processo, em uma

relação que antes era vista como direta, permitindo-nos pensar em objetos/ processos ausentes até

então”. Acrescentam, além disso, Aguiar e Ozella (2006),

Assim, os signos, instrumentos psicológicos, são constitutivos do pensamento não só para comunicação, mas também como meio de atividade interna. A palavra, signo por excelência, representa o objeto na consciência. Podemos, desse modo, afirmar que os signos representam uma forma privilegiada de apreensão do ser, pensar e agir do sujeito. (p. 225)

São várias as estratégias, que o psicólogo histórico-cultural pode intervir junto ao sujeito com

adoecimento psíquico, dentre elas podemos destacar: a Intervenção pessoal ou individual, através da

psicoterapia breve, na criação de grupos de discussão, rodas de conversas, proporcionando as pessoas

compartilharem suas histórias, ideias, problemas, dores, entre outros assuntos que se sintam a

vontade de partilharem aos demais.

Em relação às estratégias realizadas pelo profissional, destacando aqui as rodas de conversas, grupos

de discussões com os sujeitos e a comunidade, integralizando uns com os outros, vale ressaltar que

procuramos compreender esse processo grupal a partir da historicidade, da relação que cada indivíduo

tem com a sociedade, portanto esse processo visa construir suas próprias experiências históricas,

compartilhando suas próprias dores e queixas que causam sofrimento psíquico. Sobre essa estratégia

de grupos de discussão envolvendo a comunidade, Pinheiro, Barros e Colaço (2012) afirmam que,

144

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

19

Ora,esse entendimento permite ao psicólogo comunitário uma ação diferenciada diante dos grupos existentes nas comunidades, operando na fronteira entre “individual” e “coletivo”, de forma a considerar os atravessamentos entre ambos. Assim, o fortalecimento de grupos e de suas possibilidades de ação em um contexto comunitário passa a ser vinculado à compreensão dos processos de produção, negociação e transformação de “significados” e “sentidos” pelos moradores. (p. 195)

É valido destacar que os signos, as histórias e as ideias compartilhados entre os moradores de

determinada comunidade possuem uma relevância muito grande diante do trabalho e da prática do

psicólogo histórico-cultural, pois é diante desses relatos que o psicólogo juntamente com o sujeito ou

grupo criarão estratégias de ressignificações daquilo que está afetando o pensamento do indivíduo

adoecido. Essa possibilidade de estratégia de trabalho em grupo proporciona ao sujeito e ao grupo

refletir sobre suas condições históricas, sobre suas queixas psíquicas, transtornos e dores, estimulando

aos sujeitos participantes ressignificar suas relações e situações do dia a dia transformando os

problemas, fortalecendo os pontos positivos e dando sentido aos signos. Há várias outras

possibilidades de intervenção, mas é extremamente importante que elas proporcionem a criação de

Zonas de Desenvolvimento Proximal (ZDPs) e por consequência, de novas estratégias para lidar com o

sofrimento psíquico do sujeito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo foi discutido, a partir da perspectiva histórico-cultural, dois aspectos importantes que

consideramos centrais para o desenvolvimento desta pesquisa bibliográfica: o conceito de saúde

mental e as práticas e estratégias do psicólogo na área da saúde mental.

A partir da visão que a Psicologia Histórico-Cultural tem sobre a Saúde Mental, foi enfatizada a

importância do psicólogo nessa área, pois são vários os fatores que o profissional pode contribuir com

o sujeito que se encontra em sofrimento psíquico. Quando falamos em saúde envolvemos todo um

aparato, que vai da organização da vida do sujeito, da convivência com os familiares, com a sociedade

em geral até as atividades realizadas no cotidiano de cada indivíduo. E é diante dessas relações que

surgem os sujeitos adoecidos psiquicamente, já que essas pessoas se carreguem de stress,

preocupações, ansiedade etc. É nessa perspectiva que o psicólogo dentro do campo da saúde

encontrará subsídios para ajudar esses sujeitos adoecidos psiquicamente, traçando estratégias com o

objetivo de ajudar os indivíduos a lidar com o sofrimento e a dor, considerando a historicidade e

potencialidade de cada usuário.

145

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

20

Também podemos destacar sobre as dificuldades que o psicólogo enfrenta quando nos referimos à

saúde, pois existem profissionais incapazes de lidar com pessoas, de saber tratar os sujeitos que já

passam por problemas psíquicos e isso acarreta em um grande problema, sem falar na falta de

materiais e espaços necessários para realizações de encontros entre profissionais e usuários. Em

relação às práticas do psicólogo histórico-cultural podemos afirmar que são várias as estratégias que

os profissionais podem utilizar dentro da área da saúde, algumas foram relatadas neste trabalho, como

estratégias embasadas na ideia de Zona de Desenvolvimento Profissional – ZDP, as quais possibilitam

ao sujeito atingir seu potencial através da mediação do psicólogo, pois a partir do momento que os

sujeitos interagem uns com os outros, é proporcionado à socialização das experiências de sofrimento

e dor e consequentemente essas experiências são ressignificadas.

Ainda se tratando das estratégias que o psicólogo utiliza na área da saúde mental, entendemos que

os profissionais proporcionam aos sujeitos, a partir da criação de espaços de discussão, a

ressignificação do sentido, transformando esse sentido pessoal em um sentido mais saudável a

respeito da doença. É a partir desses espaços que os sujeitos são capazes de construir novos signos

para mediar suas ações, ou seja, novas ideias, estratégias que serão usadas para uma ação no mundo,

em meio à sociedade. Essa mediação social proporciona, portanto, a criação de grupos de

compartilhamento de experiências. Podemos assegurar que o psicólogo, através dessas interações e

experiências, passa a assumir um papel significante na vida desses sujeitos, pois é juntamente com o

usuário que o profissional caminha para chegar ao potencial de cada um, passando a conhecer suas

histórias e suas experiências que levaram a esse adoecimento psíquico. Portanto é diante dessa

relação de acolher e produzir o cuidado mediante o método da escuta, que nos colocamos sempre no

lugar do outro.

Considerando que esse campo da Psicologia Histórico-Cultural na Saúde Mental é um assunto recente

e tem muito a ser discutido sobre as práticas e estratégias do profissional nessa área, cabe ressaltar

que o intuito deste trabalho é instigar pesquisadores no aprofundamento dessa temática e promover

uma discussão significativa entre os profissionais da área da saúde.

146

Reflexões Sobre Práticas De Atenção À Saúde Mental E Psicologia Histórico-Cultural

21

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149

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904761

Capítulo 10

AVALIAÇÃO DA PRESENÇA DE LESÕES BUCAIS EM UMA POPULAÇÃO JOVEM COM HÁBITO DE

MASCAR FUMO

Isabela Miguel Pissioli Universidade da Região de Joinville, UNIVILLE, Brasil.

Fernanda Furlan Santoro Secretaria Municipal de Saúde de Maringá

Maria Paula Jacobucci Botelho Secretaria Municipal de Saúde Maringá

Mariana de Souza Lessa UNICESUMAR

Thayná Fernanda Franco de Moura UNICESUMAR

Fábio Vieira de Miranda UNICESUMAR

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

1

Resumo: O consumo de formas alternativas de uso do tabaco vem aumentando entre os jovens e,

principalmente, entre os universitários. Por desconhecimento dos malefícios que essas formas

alternativas de consumo do tabaco oferecem, alguns jovens vêm trocando o cigarro convencional por

narguilé e, também, pelo hábito de mascar fumo. Vale ressaltar ainda, que alem dos males físico o

tabaco pode predispor as doenças mentais. Esses alunos relatam desconhecer os riscos que esta

prática pode trazer a sua saúde, problemas que podem variar de doenças periodontais até o câncer

bucal. Desta forma, o objetivo da pesquisa é de conscientização para essa população sobre os riscos e

avaliar a presença de lesões bucais. O projeto obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do

UniCesumar, (91283118.2.0000.5539). Foram selecionados alunos de graduação em agronomia e

medicina veterinária (1º ao 5º ano) para coleta. Previamente ao exame físico, foi realizada uma

palestra para que os alunos soubessem dos objetivos do projeto e os alunos que se interessaram em

participar responderam a um questionário rápido e específico. Obtivemos 2 grupos, os que mascam o

fumo e o grupo controle. Cada um dos grupos teve 25 componentes e os componentes dos dois grupos

foram pareados e relação ao gênero e à idade. Os dados colhidos foram enviados para análise

estatística, não identificando associação estatística significativa dos parâmetros em nenhum dos

quesitos, mas o principal objetivo do trabalho foi alcançado, onde todas as pessoas que participaram

do estudo foram informadas dos riscos relacionados a este hábito.

Palavras-chave: Tabaco sem fumaça, Recessão gengival, Carcinoma.

151

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

2

1 INTRODUÇÃO

Consumidores de tabaco sem fumaça estão mais expostos à nicotina e a substâncias cancerígenas do

que os dependentes do cigarro comum. É o que afirmam os cientistas do Centro de Produtos de

Tabaco para o Food and Drug Administration (FDA) dos EUA, em uma pesquisa realizada com mais de

23 mil adultos. O uso do tabaco vem sendo um problema de saúde pública desde quando começou a

ser comercializado de forma acessível, o tabaco sem fumaça foi lançado inicialmente como uma forma

de “substituir” o cigarro tradicional, como uma novidade onde se desconhecia os seus malefícios. O

consumo do tabaco sem fumaça do tipo betelque é difundido em todo o mundo, leva à fibrose

submucosa oral (OSMF), que é uma condição duradoura e devastadora da cavidade bucal com

potencial para malignidade (KAMAL et al. 2017). Os usuários colocam uma porção do produto entre o

lábio e gengiva até que forme um suco e assim vão cuspindo até perder o sabor, esse contato do

tabaco e seus produtos diretamente com a mucosa é motivo de muitos questionamentos e

preocupações.

Não só o tabaco sem fumaça, mas também existem outros hábitos que estão em alta como o narguilé

e cigarro eletrônico. São costumes na maioria das vezes culturais, que se estendem a outras regiões

como forma de lazer onde não se aborda como deveria os riscos dos mesmos. Há algumas mensagens

das autoridades de saúde fazendo referência contra tais vícios, mas dessa forma acabam criando

magnitudes de risco. Essa abordagem, embora bem-intencionada, pode ser percebida como uma

credibilidade científica alarmista, prejudicial e dando impressão não intencional de que um produto

do tabaco é menos nocivo do que o outro (MOHAMMED ALI et al., 2017).

Sendo assim, um maior questionamento sobre as formas alternativas de fumo e suas consequências

é essencial para que seja descartada ou confirmada a presença de riscos associado ao hábito e assim

ser instituída uma forma de mais precisa de conscientização e também terapêutica apropriada.

Em 2011 com a Lei Antifumo n. 12.546/2011 nota-se que os usuários de cigarros tradicionais estão

diminuindo seu uso em população jovem. O que podemos observar é que o consumo de nicotina vem

aumentando nesta população através de formas alternativas, que mascaram seus efeitos maléficos,

como por exemplo, o fumo de mascar, narguilé e cigarros eletrônicos. Cabe ressaltar ainda que desde

2002, o Ministério da Saúde vem publicando e atualizando portarias que incluem o tratamento do

tabagismo na rede SUS.O tratamento inclui avaliação clínica, com abordagem da equipe

multiprofissional que pode ser individual ou em grupo e, se necessário, terapia medicamentosa

juntamente com a abordagem intensiva (MS 2013).

152

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

3

O ambiente universitário pode ser uma porta de entrada para novos vícios, como observado em alunos

de agronomia e medicina veterinária, que no seu dia a dia, foi constado que muitos possuem o hábito

de mascar fumo. Na sua grande maioria estes jovens desconhecem os riscos que está prática pode

trazer a sua saúde, problemas que podem variar de doenças periodontais até o câncer bucal.

O uso do tabaco é considerado a maior causa de morbi-mortalidade evitável (Drope et al, 2018), sendo

a elaboração de estratégias para a interrupção de seu consumo passivo/ativo, quando bem

estruturada, causa um grande impacto do ponto de vista financeiro e epidemiológico para o setor

saúde. A necessidade de uma equipe multiprofissional sobre os efeitos negativos que o uso do tabaco

oferece, comprometendo seriamente a saúde, com diversas doença, sendo um dos principais fatores

de risco para o desenvolvimento de alguns tipos câncer, doenças pulmonares e cardiovasculares.

Sendo assim, os objetivos deste trabalho foram:

Identificar lesões bucais em população acadêmica específica que fazem o uso do fumo de

mascar.

Sensibilizar o usuário de tabaco quanto importância da cessação e os benefícios em longo prazo

na saúde das pessoas.

Informar sobre que os produtos de tabaco que não produzem fumaça também estão

associados ou são fator de risco para o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, assim como

para muitas patologias buco-dentais.

Objetivos específicos: aplicação de um questionário para traçar o perfil do usuário, realizar

análise bioquímica da saliva.

2 DESENVOLVIMENTO

Antes da realização de qualquer procedimento, este projeto passou por apreciação pelo Comitê de

Ética em Pesquisa do Centro universitário de Maringá (UniCesumar), recebendo aprovação sob o

número CAAE 91283118.2.0000.5539.

Para realização da pesquisa foram coletados dados de alunos de agronomia e medicina veterinária, do

primeiro ao último ano, que aceitaram participar e que assinaram ao Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido.

Primeiramente foi realizado um questionário com os alunos que mascam e não mascam fumo, com

um número de identificação e as questões feitas com alternativas (Quadro 01).

153

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

4

Tabela 01: Questionário aplicado

Gênero F ( ) M ( )

Idade ( ) anos

Etnia ( ) branco ( ) negro ( ) indígena Você tem o hábito de mascar fumo? ( ) sim ( ) não

Começou mascar após a faculdade? ( ) sim ( ) não

Quando começou mascar? ( ) 6 meses ou menos ( ) entre 6 – 12 meses ( ) entre 1 – 5 anos ( ) mais que 5 anos Quantas vezes por dia você costuma mascar? ( ) 1 a 3 ( ) 4 a 6 ( ) 7 a 9 ( ) mais de 10

Tem algo que estimule a mascar fumo? ( ) Algum hábito. Se sim, qual: ( )bebidas ( ) comidas

Tem alguém da família que tem o hábito? ( ) avós ( )irmãos ou primos ( ) pais ou tios

Qual a marca do fumo e sabor? Você conhece os riscos de mascar fumo?

( ) sim ( ) não

Cite os riscos que você conhece: Sente alguma alteração bucal?

( ) região avermelhada ( ) região esbranquiçada ( ) ardência ( ) pouca salivação ( ) outros. Se sim, qual:

Você já observou exposição de alguma raiz do dente após iniciar esse hábito? ( ) sim ( ) não

Qual região você costuma deixar o fumo?

Qual curso você faz? ( ) medicina veterinária

154

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

5

( ) agronomia

Qual ano? ( ) 1º

( ) 2º

( ) 3º

( ) 4º

( ) 5º

Qual turno? ( ) manhã

( ) noite

Quantas latas de fumo você usa na semana?

Quantas dias dura a lata?

Você tem algum outro hábito quando masca o fumo? ( ) cigarro. Se sim, quantos por dia:

( ) Drogas

( ) Álcool destilado

( ) Álcool fermentado (cerveja)

Qual é o tipo da sua alimentação? ( ) Ácida

( ) Condimentada

( ) Apimentada

Toma tereré com limão constantemente? ( ) sim

( ) não

Toma chimarrão constantemente? ( ) sim

( ) não

Os dados colhidos foram colocados em uma planilha que foi dividida em três partes: a primeira é o

questionário a segunda é o exame físico do grupo controle e a terceira parte exame físico do grupo

com o hábito relacionado.

Após o questionário foi realizada uma palestra para esclarecer sobre os riscos a que estão expostos

todos os que têm o hábito de mascar fumo (Figura 1).

155

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

6

Figura 01: Orientações passadas durante a palestra

Em seguida foi realizado um exame físico tanto em alunos que têm o hábito de mascar fumo como

nos que não possuem esse hábito (grupo controle). Nesse exame foi observado: recessão gengival,

lesão cervical não cariosa, presença de região esbranquiçada e presença de região avermelhada. Os

resultados obtidos ainda serão submetidos à análise estatística.

Os dados foram colhidos através do preenchimento de um exame físico extra e intrabucal, onde o (N)

é indicado para normal e o (A) para alterado. (Quadro 2)

EXTRABUCAL

I - Cadeias ganglionares

Gânglios occipital

(N) (A) Gânglios auriculares

posteriores

(N) (A) Gânglios auriculares anteriores

(N) (A) Gânglios submandibulares

(N) (A) Gânglios submentonianos

(N) (A) Gânglios cervicais profundos

posteriores

(N) (A) Gânglios cervicais superficiais

(N) (A)

156

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

7

II – Glândulas salivares

Glândula submandibular

(N) (A) Glândula lingual

(N) (A) Glândula parótida

(N) (A)

INTRABUCAL

Lábios

(N) (A) Comissura labial

(N) (A) Mucosa labial interna

(N) (A) Mucosa alveolar

(N) (A) Gengiva/ rebordo

(N) (A) Mucosa jugal

(N) (A) Palato duro

(N) (A) Palato mole

(N) (A) Orofaringe/úvula

(N) (A) Área retromolar

(N) (A) Língua dorso

(N) (A) Língua borda lateral

(N) (A) Língua ventre

(N) (A) Soalho bucal

(N) (A)

Quadro 2: exame físico, extra e intrabucal

2.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA

O resultado do projeto foi analisado através da análise estatística de amostragem onde o pesquisador

busca generalizar conclusões referentes à amostra, estendendo-as para toda a população da qual essa

amostra foi extraída. Esse método é denominado probabilístico. Quando se pesquisa um número

reduzido de elementos, pode-se dar mais atenção aos casos individuais garantindo confiabilidade dos

dados.

157

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

8

n= N. z².P (1 - P)

d². (N -1 ) + z².P (1 – P)

2.2 RESULTADOS

Foi realizado o pareamento de 25 alunos com hábito e 25 alunos sem o hábito, de acordo com o gênero

e idade (Quadro 3).

Com hábito Sem hábito

N. amostra 25 25

Média de idade 18 26

Homens 24 24

Mulheres 1 1

Quadro 3: pareamento da população com hábito e sem hábito

GRUPO COM HÁBITO

Recessão gengival, LNC, Região esbranquiçada Região avermelhada em função do: gênero, etnia e

faixa etária não foi observado nenhuma associação estatisticamente significativa a partir dos

parâmetros de significância tomados (todos os p-valores são maiores que 0.05).

GRUPO CONTROLE (SEM O HÁBITO)

Recessão gengival, LNC, Região esbranquiçada Região avermelhada em função do: gênero, etnia e

faixa etária não foi observada nenhuma associação estatisticamente significativa a partir dos

parâmetros de significância tomados (todos os p-valores são maiores que 0.05).

Frequência diária em função das lesões de: recessão gengival, lesão não cariosa, região esbranquiçada

e região muito avermelhada. (Tabela 1)

Recessão LNC Esbranquiçada Avermelhada

Frequência Diária 0,4752 0,9056 0,1762 0,5322

Tabela 1: frequência em função da lesão

A partir do teste Qui-quadrado para independência verificamos o indício de associação em relação à

Recessão, LNC, região esbranquiçada e região avermelhada com a frequência diária. Não foi observada

nenhuma associação estatisticamente significativa a partir dos parâmetros de significância tomados

158

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

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(todos os p-valores são maiores que 0.05). Avaliando uma possível associação entre os quesitos

(Gênero, Etnia, Faixa etária x Recessão gengival, Lesão Não Cariosa, Região esbranquiçada e Região

Avermelhada), para os grupos controle (sem hábito) e grupo com hábito, utilizando o teste Exato de

Fisher e o teste Qui-quadrado para independência, com uma significância de 5% e 95% de confiança.

Todas as análises foram feitas no software estatístico R (R Core Team), versão 3.5.1(2018-07-02).

Não foi possível identificar associação estatística significativa a partir dos parâmetros de significância

tomadas em nenhum dos quesitos.

2.3 DISCUSSÃO

As alterações foram encontradas principalmente em usuários crônicos, sendo uma das alterações

locais mais comuns a recessão gengival na área de contato do tabaco. Vários perigos à saúde podem

estar associados ao uso do TSF a absorção da nicotina e de outras moléculas através da mucosa. Cáries

dentárias também têm sido relatadas como mais prevalentes em usuários do tabaco sem fumaça

talvez pelo alto conteúdo de açúcar de algumas marcas.

Uma pigmentação extrínseca escurecida pelo tabaco é tipicamente encontrada nas superfícies dos

dentes onde é colocado o tabaco. Além disso, a halitose é um achado frequente entre os usuários.

Uma lesão de placa branca denominada de ceratose, com características bem distintas e com potencial

de transformação maligna bem baixo, de modo que a biópsia é necessária apenas para as lesões mais

graves.

Além disso, o carcinoma de células escamosas é a malignidade mais comum resultante desse hábito,

porém raro, o carcinoma verrucoso pode também estar associado ao TSF. Segundo ZOHAIB KHAN et

al. (2017) há uma forte associação de transtornos orais potencialmente malignos e o uso do TSF, com

altas estimativas de risco independentemente do controle de fatores de confusão, como tabagismo e

álcool, ou estratificação por sexo, país ou fonte de controle.

Evidenciou-se também a falta de conhecimento de outros agravos de sáude além de estar associado

às doenças crônicas não transmissíveis, tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal,

impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras.(INCA)

A prevalência do habito é maior nos homens, apresentam consumo excessivo de álcool.

159

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

10

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Corroborando estudos anteriores, esta pesquisa também encontrou lesões bucais relacionadas ao

hábito e localizadas no sítio em que o tabaco é habitualmente colocado. A análise estatística não

conseguiu identificar associação devido ao baixo número de amostras, razão pela qual a pesquisa terá

continuidade, para aumentar o rastreamento iremos sugerir a participação dos odontólogos como

parte da equipe multiprofissional dentro dos grupos de tabagismo, onde poderemos identificar lesões

precoces na cavidade oral.

Porém, o principal objetivo do trabalho foi alcançado, já que todas as pessoas que participaram do

estudo foram informadas dos riscos relacionados a este hábito.

160

Avaliação Da Presença De Lesões Bucais Em Uma População Jovem Com Hábito De Mascar Fumo

11

REFERÊNCIAS

ALI, M. et al, Health Effects of Waterpipe Tobacco Use: Getting the Public Health Message Just Right. Tobacco Use Insights. v. 10, p. 1-8, 2017.

AWAN, K.H. et al, Assessing the Effect of Waterpipe Smoking on Cancer Outcome - a Systematic Review of Current Evidence. Waterpipe Smoking and Cancer. v. 18, n. 2, p. 495-502, 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS Nº 571 de 05 de abril de 2013. Diário Oficial da União de 08 de abril de 2013, p. 56 e 57. Brasília, Distrito Federal.

CONSUMIDORES DE CIGARRO SEM FUMAÇA ESTÃO MAIS PROPENSOS A DESENVOLVEREM DOENÇAS CRÔNICAS. Disponível em:

http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/agencianoticias/site/home/noticias/2015/consumidores_de_cigarro_sem_fumaca_estao_mais_propensos_a_desenvolverem_doencas_cronicas.

GOYAL, G. et al, Knowledge, Attitude and Practice of Chewing Gutka, Areca Nut, Snuff and Tobacco Smoking Among the Young Population in the Northern India Population. Asian Pac J Cancer Prev. v. 17, n. 11, p. 4813-4818, 2016.

DROPE, J. et al. The Tobacco Atlas. Atlanta: American Cancer Society and Vital Strategies, 2018. Disponível em:< https://pt.tobaccoatlas.org/ >. Acesso em: 24 set 2021.

NEVILLE, B. Patologia Oral e Maxilofacial. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

NIAZ, K. et al, Smokeless tobacco (paan and gutkha) consumption, prevalence, and contribution to oral cancer. Epidemiol Health. v. 39, p. 1-11, 2017.

SABNIS, R. et al, Urban and rural disparity in tobacco use and knowledge about oral cancer among adolescents: An epidemiological survey on 12 and 15 year school going students. Journal of International Society of Preventive and Community Dentistry. V.6, p- 226-231, 2016.

ZOHAIB KHAN, M.P.H. et al, Smokeless Tobacco and Oral Potentially Malignant Disorders in South Asia: A Systematic Review and Meta-analysis. Nicotine & Tobacco Research. v. 00, p. 1-11, 2017.

ROMERO, L. C. ; COSTA e SILVA, V. L. 23 anos de Controle do Tabaco no Brasil: a atualidade de Programa Nacional de Combate ao Fumo de 1988. Revista Brasileira de Cancerologia, 2011; 57(3): 305-314.

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Silva. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O controle do tabaco no Brasil: uma trajetória. Rio de Janeiro: INCA, 2012.

INCA

161

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904762

Capítulo 11

CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO E DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO MONITORAMENTO DE

VETORES NUMA COMUNIDADE RURAL – UBERLÂNDIA (MG): POSSIBILIDADES E

DESAFIOS

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA ESCOLA TÉCNICA DE SAÚDE - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

DOUGLAS QUEIROZ SANTOS ESCOLA TÉCNICA DE SAÚDE - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

PAULO IRINEU BARRETO FERNANDES INSTITUTO FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO (IFTM – Campus Uberlândia - MG)

ARCENIO MENESES DA SILVA INSTITUTO FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO (IFTM – Campus Uberlândia - MG)

NEUSA APARECIDA ROCHA CARVALHO ESCOLA MUNICIPAL “SOBRADINHO”

BRUNA FERNANDA ANTÔNIO CALDEIRA Curso GESTÃO EM SAÚDE AMBIENTAL INSTITUTO DE GEOGRAFIA Universidade Federal de Uberlândia

BELIZÁRIO CASTRO DIAS NETO Curso de Biologia Universidade Federal de Uberlândia

RENARA BARISON RIBEIRO Curso de Biologia Universidade Federal de Uberlândia

FERNANDO EURÍPEDES DA SILVA CURSO TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE Educação de Jovens e Adultos Profissionalizante (PROEJA) ESTES/UFU

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

1

Resumo: Este trabalho representa resultados do monitoramento de vetores utilizando ovitrampas e

modelos estatísticos na comunidade rural “Sobradinho”, Uberlândia (MG), coordenado pelos Cursos

Técnicos Controle Ambiental e Meio Ambiente (ESTES/UFU), Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia (IFTM) e a Escola Municipal “Sobradinho”. As epidemias de dengue são problemas de saúde

pública em função das multicausalidades ambientais. No Brasil, não se pode imputar ao clima, nem ao

Aedes aegypti, como as únicas causas da doença, pois ela está mais relacionada com aos hábitos e

comportamentos da população. Foram instaladas 18 ovitrampas e monitoradas, semanalmente, entre

2013/2014/2015, nas residências dos moradores do IFTM. Foram 112 coletas, detectando em

estereomioscopia 15672 ovos (12325 viáveis, 2341 eclodidos e 1006 danificados). As palhetas com

ovos viáveis foram colocadas em copos plásticos com água, dentro de um mosquitário, para

acompanhamento dos ciclos biológicos dos vetores. Os resultados indicaram um perfil epidemiológico

multicausal influenciado pelos vetores e comportamento da população. Isso mostra que os programas

governamentais com ênfase na erradicação química dos mosquitos (Fumacê) não são suficientes para

reduzir as epidemias. Dessa forma, realizamos atividades de educação em saúde, mobilizando a

comunidade, enquanto estratégias de Promoção da Saúde, onde cada sujeito constrói seu

conhecimento a partir do que é feito in loco.

Palavras-chave: Dengue; Educação Ambiental; Ovitrampa; Promoção da Saúde.

163

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

2

INTRODUÇÃO

Este trabalho foi desenvolvido em parcerias tendo como público alvo estudantes, professores e seus

arredores1 , localizadas na zona rural de Uberlândia (MG), aproximadamente, a 20 km, em direção ao

Distrito Cruzeiro dos Peixotos (Mapa 1).

Segundo o IBGE (2010), o município de Uberlândia possuía 604.013 habitantes, 587.266 na área

urbana e 16.747 na área rural. Para Brito; Lima (2011) o município de Uberlândia está na intersecção

de 18º30’Sul e de 45º50’Oeste de Greenwich, ocupando uma extensão de 4.116 Km2, 219 Km2 área

urbana e 3.897 Km2 área rural (Mapa 1).

Mapa 1 - Município de Uberlândia e os Distritos Rurais.

Fonte: Brito; Lima (2011, p. 25)

Adaptação: João Carlos de Oliveira.

O município de Uberlândia está assentado nos Planaltos das Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná,

com relevo plano, intensamente dissecado e com altitude média de 850m (BACCARO, 1989). A

vegetação predominante é o Cerrado e suas formações fitosionômicas. O clima é tropical semiúmido

de altitude com duas estações, inverno seco e frio de abril a setembro, respectivamente, com

temperaturas e precipitações médias mensais de 18ºC e 12,87 mm; o verão quente e chuvoso de

dezembro a fevereiro, respectivamente, com temperaturas e precipitações médias mensais de 23ºC e

150 mm (LIMA; ROSA; FELTRAN FILHO, 1989).

164

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

3

A Humanidade, nestes últimos anos, passou a vivenciar melhores condições ambientais2 de forma

contínua e sistemática, não para todos/as, graças a um conjunto de fatores associados aos avanços

técnicos na área da Saúde Pública/Coletiva, das infraestruturas promovidas pelas indústrias das

engenharias, agroalimentar3 e da medicina.

A dengue é uma das principais arboviroses de impactos significativos nas regiões tropicais, em função

das condições ambientais (ºC e mm) e dos comportamentos das pessoas em manter, de forma

inadequada, em seus ambientes criadouros e água parada.

Nas áreas urbanas, ressalta-se a importância da espécie reintroduzida, o Aedes aegypti, que além da

dengue e da Febre Amarela Silvestre, também é responsável pela Febre Chikungunya. Além de seu

potencial na veiculação do vírus da febre amarela no ambiente urbano, essa espécie, a partir dos anos

80 do século XX, passou a veicular os vírus da dengue no Brasil. É sem dúvida o mosquito mais

combatido no país e aquele no qual se disponibiliza maiores recursos. Entretanto, a dengue tornou-se

endêmica, fato que demonstra o fracasso no combate (URBINATTI; NATAL, 2009, p. 280).

Também merece atenção a dois vetores predominantes na área de estudo, o Aedes albopictus, que

tem uma correlação com o Vírus do Nilo Ocidental (VNO) e outras arboviroses, provocando riscos de

encefalite. E o Culex quinquefasciatus4 que de acordo com Urbinatti; Natal (2009, p. 279), “Culicíneos

– do gênero Culex, no Brasil destaca-se a espécie Culex quinquefasciatus por transmitir a Wuchereria

bancrofti, agente da filariose em cidades do norte e nordeste. Essa espécie, sinantrópica, de elevada

antropofilia, devido à sua atividade hematofágica está geralmente associada a coleções aquáticas

estagnadas e poluídas por efluentes de esgoto domésticos ou industriais”.

Analisando estas informações, segundo Brassolatti; Andrade (2002) o PEAa5 implantado pelas

autoridades governamentais, não deu ênfase à educação e à participação da comunidade na

eliminação de criadouros, mas sim à erradicação do mosquito vetor em um sistema instituído “de cima

para baixo”, priorizando ações de controle químico, que têm problemas com a resistência do

mosquito, agressão ao ambiente e à saúde da população.

As soluções mais imediatas em áreas urbanas, e até rurais, são as aplicações de inseticidas, por meio

de Ultra Baixa Volume (UBV/Fumacê6 ), são procedimentos efêmeros, pouca eficiência e eficácia,

matando na maioria das vezes apenas os alados - mosquitos adultos (Figura 1).

De um lado estes criam resistências aos inseticidas; do outro não eliminam os ovos (que duram

aproximadamente mais de um ano) e nem as larvas que, muitas vezes, estão em criadouros que estão

165

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Possibilidades E Desafios

4

protegidos dentro de casas ou nos peridomicílios, o que permite a continuidade do ciclo: ovos-larvas-

pupas-alados.

Figura 1 - O uso do “Fumacê” num Bairro de Uberlândia (MG), maio de 2010

Foto: João Carlos de Oliveira

De acordo com os estudos de Campos; Andrade (2002); Braga; Valle (2007) e Pereira (2008)

corroboram com o qu foi dito sobre as aplicações de inseticidas, por meio de Ultra Baixa Volume

(UBV/Fumacê), onde verificaram pouca eficência e eficácia de determinados productos, tais como:

Diflubenzuron, Malation, Temephos, o que nos faz dizer que são práticas, ainda, dentro do modelo

biomédico/hospitalocêntrico de vigilância em saúde, Sobre este modelo existem vários estudos, aqui

aportamos aos de Pagliosa; Ros (2008) e Almeida Filho (2010).

Para Pagliosa; Ros (2008)

Mesmo que consideremos muito importantes suas contribuições para a educação médica, a ênfase no modelo biomédico, centrado na doença e no hospital, conduziu os programas educacionais médicos a uma visão reducionista. Ao adotar o modelo de saúde-doença unicausal, biologicista, a proposta de Flexner reserva pequeno espaço, se algum, para as dimensões social, psicológica e econômica da saúde e para a inclusão do amplo espectro da saúde, que vai muito além da medicina e seus médicos. Mesmo que, na retórica e tangencialmente, ele aborde questões mais amplas em alguns momentos de sua vida e obra, elas jamais constituíram parte importante de suas propostas. As críticas recorrentes ao setor da saúde, que aconteceram com maior intensidade e frequência a partir da década de 1960 em todo o mundo, pelo que se denominou a “crise da medicina”, evidenciaram o descompromisso com a realidade e as necessidades da população (PAGLIOSA; ROS, 2008, p. 496).

Ainda para Almeida Filho (2010)

Aparentemente, o construto doutrinário que viria a ser conhecido como modelo biomédico de educação médica foi em princípio delineado por Eugênio

166

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Possibilidades E Desafios

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Vilaça Mendes, odontólogo, consultor da OPAS, membro atuante do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foco nacional do movimento da Integração Docente-Assistencial e das propostas de reforma curricular promovidas pela Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM). (...). Num par de textos, complementados posteriormente por um livro de síntese doutrinária intitulado Uma Agenda para a Saúde (1996), Mendes explicita os elementos estruturais do modelo biomédico suposto como flexneriano: mecanicismo, biologismo, individualismo, especialização, exclusão de práticas alternativas, tecnificação do cuidado à saúde, ênfase na prática curativa (ALMEIDA FILHO, 2010, p. 2239-2240).

Do outro, propomos outros modelos, dentro de dois contextos. Um deles, da Promoção da Saúde,

baseado nas propostas da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS, 2005) e Carta de Ottawa

(1986), defendido por Buss (2000): o estabelecimento de políticas públicas saudáveis; criação de

ambientes e entornos saudáveis; empoderamento e ação comunitária; desenvolvimento de

habilidades pessoais e reorientação dos serviços de saúde. O outro, nos contextos da Educação

Popular em Saúde, que de acordo com BRASIL (2013), ao instituir a Política Nacional de Educação

Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (PNEPS-SUS), propõe quatro eixos

estratégicos: Participação, controle social e gestão participativa; Formação, comunicação e produção

de conhecimento; Cuidado em saúde; Intersetorialidade e diálogos multiculturais (BRASIL, 2013).

Desta forma, os nossos estudos e pesquisas ocorreram em duas frentes. Uma delas, a educação em

saúde com a comunidade por meio da mobilização comunitária. A outra, a instalação e o

monitoramento semanal de ovitrampas (Figura 2), para mapeamento de vetores, enquanto

estratégias de Promoção da Saúde.

Figura 2 – Modelo de ovitrampa instaladas no IFTM, março de 2013.

Fotos: João Carlos de Oliveira

167

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6

De acordo com BRASIL (2001), as ovitrampas:

São depósitos de plástico preto com capacidade de 500 ml, com água e uma palheta de eucatex, onde serão depositados os ovos do mosquito. A inspeção das ovitrampas é semanal, quando então as palhetas serão encaminhadas para exames em laboratório e substituídas por outras. As ovitrampas constituem método sensível e econômico na detecção da presença de Aedes aegypti, principalmente quando a infestação é baixa e quando os levantamentos de índices larvários são pouco produtivos. São especialmente úteis na detecção precoce de novas infestações em áreas onde o mosquito foi eliminado ou em áreas que ainda pouco se conhece a presença dos vetores (BRASIL, 2001, p. 49).

Historicamente, a Epidemiologia, considerada a ciência básica da Saúde Pública, investiga as causas e

os processos de adoecimento e evolução das doenças, a seleção e o aperfeiçoamento das ferramentas

para melhorar a saúde e amenizar o sofrimento das populações humanas.

O estudo dos padrões de distribuição geográfica das doenças e suas relações com fatores ambientais

constituem-se hoje num campo de aplicação e desenvolvimento de novos métodos estatísticos. O uso

de dados e desenvolvimento de sistemas de análises estatísticas desses dados espaciais em saúde

constitui em possibilidades de técnicas que podem se adequar às necessidades dos estudos ecológicos

de vetores e suas doenças, que utilizam áreas geográficas como unidade usual de observação.

As técnicas estatísticas podem, possibilitam e ampliam as análises de modo a permitir, na medida do

possivel, a realização de inferências e de testes de hipóteses geradas pelos profissionais de saúde

pública/coletiva, em especial na epidemiologia e vigilância em saúde para responder algumas

questões sobre saúde ambiental, aqui no caso da utilização gaussiana, também denominada de Teoria

da distribuição normal, uma das mais importantes distribuições da estatística, que pode descrever

uma série de fenômenos e possui um grande uso na estatística inferencial, ao descrever parâmetros

de média e desvio padrão.

De acordo com Costa Neto (2002), a Teoria da distribuição normal pode descrever uma série de

fenômenos e possui na estatística a utilização gaussiana (parâmetros de média e desvio padrão), com

realização de inferências, testes e hipóteses geradas pelos profissionais de saúde

pública/coletiva/epidemiologia para responder questões sobre vigilância em saúde ambiental.

Diante destas proposições de Costa Neto (2002), muito importante dizer que estes indicadores

constituem uma demonstração a mais sobre a infestação de uma localidade para arbovirus, mas para

entender melhor o grau de infestação e na interpretação de ambos resultados, será necessário saber

o local onde a armadilha foi exposta e se persistiram as condições de oviposições nas palhetas.

168

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

7

Desta forma, o estudo dos padrões de distribuição geográfica das doenças e suas correlações com

fatores ambientais constituem-se um campo de aplicação e desenvolvimento de novos métodos

estatísticos. O uso de dados e desenvolvimento de sistemas de análises estatísticas desses dados

espaciais em saúde são possibilidades no uso de técnicas que podem se adequar às necessidades dos

estudos ecológicos de vetores e suas doenças, que utilizam áreas geográficas como unidade usual de

observação.

Nestas proposições aplicamos modelos estatísticos para avaliação da presença de vetores numa

comunidade rural de Uberlândia (MG), utilizando a metodologia da ovitrampa, enquanto estratégia

Promoção da Saúde.

No caso da instalação e monitoramento de ovitrampas, multiplicação da metodologia desenvolvida

por Oliveira (2006; 2012), com atenção especial à presença de vetores, para identificar

estatisticamente a oviposição poderá constituir em novas possibilidades de vigilância em saúde,

enquanto estratégias de Promoção da Saúde.

Este trabalho tem como objetivos apresentar e discutir resultados da aplicação de modelos

estatísticos para avaliação da presença de vetores numa comunidade rural de Uberlândia (MG),

utilizando a metodologia da ovitrampa, enquanto estratégia Promoção da Saúde, além de comparar

os dados dos anos 2013/2014 com os dados dos anos 2014/2015.

PROCEDIMENTOS EXECUTADOS

O nosso “problema” são os modelos de Vigilância em Saúde, sem uma maior visibilidade e

contextualização dos dados. Desta forma, Minayo (1994), nos diz que “A realidade social é o próprio

dinamismo da vida individual e coletiva com toda riqueza de significados dela transbordante. Essa

mesma realidade é mais rica que qualquer teoria, qualquer pensamento e qualquer discurso que

possamos elaborar sobre ela.” (Minayo, 1994, p. 15).

Desta forma, umas das primeiras atividades realizadas foram às reuniões com os moradores do IFTM

para a instalação e o monitoramento das ovitrampas, realizado semanalmente desde 2013, por meio

de 18 ovitrampas como forma de mapeamento dos vetores.

As palhetas foram coletadas, depois os ovos foram quantificados e classificados em viáveis, eclodidos

e danificados, sob estereomicroscópio em laboratório, posteriormente as que continham ovos viáveis

169

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

8

foram colocadas em copos plásticos com água, dentro de um mosquitário (ESTES/UFU) para

acompanhamento dos estágios - larvas, pupas e alados (Figuras 3 e 4).

Figura 3 – Detalhes da palheta, palheta com ovos e mosquitário, utilizados nas coletas

Fotos: João Carlos de Oliveira

Figura 4 – Detalhes do ciclo biológico dos vetores e mosquitário

Fotos: João Carlos de Oliveira

Os dados foram organizados em forma de tabelas e gráficos, permitindo, assim, a comparação dos

dados obtidos em 2013/2014 com os dados obtidos em 2014/2015.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Entre fevereiro de 2013 e março de 2014 foram realizadas 55 coletas, cujas palhetas detectaram em

estereomioscopia 8880 ovos (7408 viáveis, 1084 eclodidos e 388 danificados). Já entre abril de 2014 a

abril de 2015, foram realizadas 57 coletas, identificando, posteriormente em laboratório, um total de

6792, sendo 4917 viáveis, 1257 eclodidos e 618 danificados.

170

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

9

As ovitrampas foram eficientes e permitiram uma rápida visibilidade da presença dos vetores em

diferentes períodos sazonais e ambientes. Os moradores e as comunidades escolares entenderam da

importância dos cuidados ambientais para se evitar a presença de criadouros nos diferentes

ambientes e riscos da dengue.

Por isso, uma maior visibilidade dos resultados, por meio de modelos estatísticos para avaliação do

comportamento da presença dos vetores, nos indica um perfil epidemiológico intimamente

relacionado às características ambientais (rurais e do comportamento da população).

Um dos indicadores da presença dos vetores é as médias, mensais, de ºC e mm (Tabela 1). Apesar de

que cabe um esclarecimento que em 2014/2015 as médias de ºC e mm em Uberlândia foram atípicas

e não representando os dados esperados, mas não podemos esquecer que registramos a presença de

ovos em todos os períodos sazonais (Figuras 5 e 6).

Tabela 1 – Médias, mensais, de Temperatura e Pluviosidade de Uberlândia (MG), 2013/2014/2015.

ANO 2013 2014 2015

MÊS ºC mm ºC mm ºC mm

Janeiro 23,5 350,2 23,6 102,2 26,5 135,6

Fevereiro 24,2 238,2 24,2 104,6 23,9 197.4

Março 24,6 205,8 24,0 117,8 22,9 131,0

Abril 22,1 131,2 23,1 181,8 23,5 140,6

Maio 12,0 155,4 21,8 14,6 26 35

Junho 21,4 9,6 19,9 0,4 26 13

Julho 21,2 0,0 22,0 74,8 26 13

Agosto 21,5 7,0 22,1 2,0 28 15

Setembro 23,5 28,8 24,8 19,0 29 57

Outubro 24,0 152,6 23,8 353,8 29 119

Novembro 24,0 124,6 26,0 55,2 28 191

Dezembro 23,9 372,2 23,3 155,4 27 272

Média 22,15 147,96 23,2 98,46 24,2 102

Total ---- 1.775,6 ---- 1.181,6 ---- 1.122,2

Fonte: Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos (IG/UFU).

Organização: OS AUTORES

O percentual de ovos viáveis, eclodidos e danificados, no período de fevereiro/2013 a março/2014,

são resultados dos monitoramentos de vetores, semanalmente, por meio de ovitrampas nas

residências dos moradores do IFTM (Figura 5).

171

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

10

Figura 5 - Percentual de ovos viáveis, eclodidos e danificados nas residências do IFTM, fev/2013 a

mar/2014

Organização: OS AUTORES

Em comparação, temos os dados obtidos nas coletas semanais dos ovos feitos nas residências do IFTM

no período de abril/2014 a abril/2015 (Figura 6).

Figura 6 - Percentual de ovos viáveis, eclodidos e danificados nas residências do IFTM, abr/2014 a

abr/2015.

Organização: OS AUTORES

É facilmente observável, comparando ambos os gráficos (Figuras 5 e 6) juntamente com a tabela

climatológica (Tabela 1), que os meses com maior incidência de ovos viáveis podem ser relacionados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

DANIFICADOS

de

ovo

s

172

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

11

com o clima no período em questão. Os meses com menores incidências de ovos viáveis estão, em

maior parte, relacionados a uma menor temperatura e quase sempre uma menor incidência de

chuvas. Já os meses com uma maior incidência de ovos viáveis, possuem, frequentemente, uma maior

temperatura e um nível maior de chuvas.

Pode-se também observar que o ano de 2013, início da aplicação do projeto, obteve um número

elevado de ovos viáveis identificados. Nos períodos seguintes (2014/2015), esse número foi reduzido.

Infere-se que o decaimento desses dados está relacionado com a aplicação da vigilância contra a

Dengue na comunidade do IFTM, alertando sobre os riscos da doença e orientando sobre medidas

para a prevenção da proliferação do mosquito Aedes. Durante a realização do projeto, não foram

notificados, no IFTM, casos de Dengue, em função das características rurais, mas ao mesmo tempo

não nos descuidamos com as atividades de mobilização social, levando em consideração os principios

da Educação Popular em Saúde, por meio de desenhos e e/ou escritas (Figuras 07 a 09), sempre a

partir do que sabe, depois as demonstrações (o que é e precisa saber), sobre o monitoramento, as

doenças (modo de transmissão, quadro clínico e tratamento), o vetor (hábitos e criadouros) e

importância dos cuidados com a saúde ambiental.

Figuras 07 a 09 – Atividades de Educação Popular em Saúde - desenhos e/ou escritas

Fonte/Fotos: João Carlos de Oliveira, 2015.

A realização dos desenhos e/ou escritas não foram construídos/as de forma mecânica, automática

muito menos analisados se estavam certos ou errados, tinham alguns diálogos e contextos, estavam

embasados nos estudos e pesquisas de Oliveira (2006; 2012).

Mas, para melhor conduzir o processo pedagógico/educativo, nos reportamos ao que disse Iavelberg

(2008, p. 11) “Para não estagnar o desenvolvimento desenhista é necessário que se trabalhe, nos

diferentes contextos educativos, de acordo com as investigações da arte e da educação

contemporânea, desenhar não é uma questão de dom, restrita a poucos, precisamos conhecer o que

se passa na dinâmica invisível desta ação criativa.”

173

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

12

Segundo Oliveira (2012, p. 175), citando Iavelberg (2008),

Hoje sabemos que não se pode generalizar aquilo que se passa nos desenhos infantis em termos de fases. As variáveis culturais geram modos de pensar o desenho, as quais transcendem um único sistema explicativo que dê conta da produção de todas as crianças. Os estudos antropológicos e interculturais apontam diferenças nos desenhos de crianças de países ou regiões diferentes, seja no modo de usar o papel ou nos símbolos eleitos, denotando influência da cultura visual, educacional e do meio ambiente dos desenhistas (IAVELBERG, 2008, p. 28).

Ainda para Oliveira (2012, p. 179), citando Iavelberg (2008), respeitar a liberdade de expressão nas

escritas e/ou nos desenhos foi um enorme desafio, mas conforme disse Iavelberg (2008),

A epistemologia de Piaget, relida contemporaneamente, pode ser um leme neste contexto de variâncias, por colaborar na elucidação das tendências das estruturas cognitivas humanas, aquilo que nos faz iguais e diferentes ao mesmo tempo, pelas marcas culturais. Assim sendo, no plano subjacente das gêneses singulares do desenho, age uma base cognitiva. Esta dupla existência guiou nossa investigação sobre o desenho cultivado da criança até aqui (IAVELBERG, 2008, p. 28).

As atividades, por si só, não resolveram (e muitas vezes não resolvem) certas contradições

relacionadas aos arbovírus, mas as mesmas apontaram novos rumos, o que comungamos com o que

disse Fernández (2001b, p. 35), nos diz que Intervir (vir entre). Interferir (ferir entre), ‘ferir’, herir em

castelhano antigo e em português. Mesmo que, às vezes, necessitamos interferir, tenderemos a que

nossa intervenção seja da ordem de uma ‘inter-versão’ (incluir outra versão), sem anular as outras

possibilidades”.

Desta forma destacamos as reflexões apontadas por Martinho; Talamoni (2007), nas investigações

sobre as representações sociais sobre meio ambiente de estudantes de quartas séries do Ensino

Fundamental em duas escolas públicas das zonas rural e urbana de um município do interior paulista,

cujas representações foram categorizadas como naturalistas e antropocêntricas associadas às

influências da mídia, família e religião, o que pudemos perceber durante as escritas e/ou desenhos,

enquanto contextos da/na mobilização social em relação ao monitoramento de vetores.

Dentro do que foi feito, e é possível fazer, o contexto do monitoramento (dados das ovitrampas) e a

mobilização social (desenhos e/ou escritas), permitiram entender que, ainda, temos uma longa

caminhada, pois, em alguns momentos, ficou evidente “certa” dependência e centralidade no que

fazer e quem tem que fazer, mas rompemos com este modelo no como fazer, tendo a (in)formação e

a comunicação como focos do locus do saber fazer.

174

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

13

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil ainda que entre os fatores dominantes da dengue sejam de natureza climática, de modo que

a maioria dos casos ocorra durante o verão, não se pode imputar ao clima como sendo a única causa

da doença, nem mesmo aos vetores, como aparecem nas campanhas de prevenção veiculadas nas

mídias, as determinações de epidemias. Todo processo saúde-doença é multicausado.

Sabemos que existem diversos estudos sobre infestação por mosquitos no Brasil, que monitorados

por ovitrampas, mesmo com grandes polêmicas sobre a validade destas medidas de infestação,

acreditamos que, por meio deste trabalho, nos ajudam a entender porque não há casos de dengue,

mesmo com “alta” quantidade de oviposição.

As ovitrampas foram eficientes e permitiram uma maior visibilidade ambiental, mapeando a presença

dos Aedes (aegypti e albopictus) e Culex em diferentes períodos sazonais.

As vigilâncias em saúde, enquanto estratégias da Promoção da Saúde são realizadas a partir da

mobilização comunitária, considerando quatro categorias: (1) atividades de (re)conhecimento das

realidades vividas pelos sujeitos, (2) atividades de educação e saúde, (3) atividades de mobilização

comunitária e (4) práticas de vigilância ambiental e epidemiológica.

Entendemos que as técnicas de análise espacial se adequam às necessidades dos estudos ecológicos,

que utilizam áreas geográficas como unidade usual de observação, em especial nos estudos da

presença de vetores, deve-se dar atenção especial aos indicadores epidemiológicos de uma doença,

aqui da dengue, como entendimento da variação do risco de adoecer entre diferentes grupos

populacionais, mesmo que sejam em áreas rurais – IFTM, pois há uma circulação intensa de pessoas

entre Uberlândia e o IFTM.

Essa abordagem possibilita não só a vigilância em saúde, evitando riscos aos indivíduos e sues grupos

sociais, mas também antecipa uma visão de risco coletivo, coerentemente com os entendimentos

sobre as consequências dos processos endêmicos e dos impactos, normalmente por intervenções

químicas, de saúde pública nos vários grupos sociais, com vistas a suprir as necessidades de um

Sistema de Vigilância em Saúde.

Como parte do projeto, realizamos um trabalho de Educação Ambiental, aplicando oficinas e palestras

relacionadas ao tema para pequenas comunidades e grupos profissionais. Realizamos uma aula prática

com alunos do curso técnico de enfermagem, o ponto principal dessa aula, foi apresentar para os

175

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

14

estudantes como questões como a dengue vão estar presentes em seu dia a dia de trabalho. É uma

forma de como esses enfermeiros vão abordar seus pacientes, a ideia é que antes de tratar o doente,

o profissional possa realizar perguntas simples que ajude a identificar a doença (por exemplo: onde a

pessoa mora, se ele esteve em algum local com infestação de alguma doença).

Entendemos que este trabalho apresenta relevância pela possibilidade de implantação em outras

comunidades, pelo baixo custo e boa eficiência, enquanto estratégia da Promoção da Saúde. Dada a

efetividade desta pesquisa-ação, mobilizando a comunidade para o monitoramento dos vetores, a

partir da escola, com a participação dos diferentes segmentos, sugere-se a replicação desta

experiência nas demais escolas de Uberlândia, quem sabe, na medida do possível, e do Brasil.

176

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

Possibilidades E Desafios

15

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177

Contribuições Da Educação E Da Vigilância Em Saúde No Monitoramento De Vetores Numa Comunidade Rural – Uberlândia (MG):

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178

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904763

Capítulo 12

AVALIAÇÃO DO PERFIL LIPÍDICO EM PACIENTES ATENDIDOS EM UM LABORATÓRIO DE

COQUEIRAL-MG.

Franciely Marques Lima Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS

Franciane Pereira Barros Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS

André Luís Barbosa Pereira Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

1

Resumo: As avaliações dos níveis de perfil lipídico têm sua importância em diversos fatores do

organismo humano. Sabe-se que quando há um excesso de gordura no organismo, há uma chance

maior de se aderir outras patologias correlacionadas, como as doenças cardiovasculares, por exemplo.

Diante disso, o presente estudo teve como objetivo principal avaliar o perfil lipídico de pacientes

atendidos em um laboratório particular de análises clínicas situado no município de Coqueiral - Minas

Gerais, no período de agosto a outubro de 2020 e assim correlacionar com as possíveis patologias que

um paciente pode ter ou adquirir quando se tem o perfil lipídico com valores alterados. O projeto foi

devidamente submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa do UNIS e, após a aprovação, foram

selecionadas as amostras dos pacientes atendidos nesse período através de um sistema laboratorial

chamado PLERES cuja finalidade é investigar os pacientes que tiveram o perfil lipídico alterado, e assim

verificar se os casos foram incluídos na classificação das dislipidemias, que são divididas em:

hiperlipidemias (níveis elevados de lipoproteínas) e hipolipidemias (baixos níveis plasmáticos de

lipoproteínas). Dentre os 574 prontuários analisados, verificou-se prevalência expressiva do sexo

feminino e idade entre 41 e 60 anos, os dados mostraram que houve poucos pacientes com alteração

significativa no perfil lipídico.

Palavras-chave: Perfil Lipídico. Laboratório Particular. Coqueiral-MG.

180

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

2

1 INTRODUÇÃO

Os lipídeos são partes integrantes da vida, pois são deles que se obtém fonte de energia, síntese de

vitaminas e hormônios, ajudam na composição da membrana, cofatores enzimáticos, transporte de

elétrons, dentre várias outras funções bioquímicas. Os lipídeos possuem baixa solubilidade em água,

ou seja, são gorduras com dificuldade de dissolver no meio líquido (FROSSARD, 2017).

Muitos estudos mostram que o estresse causa danos nos lipídeos, nas vitaminas B e C, zinco, magnésio

entre vários outros minerais, porque o estresse age na alimentação alterando o metabolismo desses

nutrientes e, com isso contribuem para alterações hormonais e bioquímicas, inibindo o funcionamento

do sistema cardiovascular (COMBS, 1998; ROCHA, 1996; RONSEIN et al., 2004).

As avaliações dos níveis do perfil lipídico têm sua importância em diversos fatores, visto que, quando

se tem excesso de gordura no organismo, há uma chance maior de aderir patologias correlacionadas,

por exemplo, as doenças cardiovasculares, alterações patológicas que afetam o coração e, também,

os vasos sanguíneos. Entretanto, observando a epidemiologia das doenças cardiovasculares, em uma

análise comparativa dos séculos passados com atualmente, nota-se uma grande semelhança entre

suas epidemias, na qual tem-se a afirmação da Organização Mundial de Saúde (OMS) referente a essa

afirmativa, mostrando que das 50 milhões de mortes nas últimas décadas, 30% foram causadas por

doenças cardiovasculares, ou seja, 17 milhões de pessoas (SOARES et al., 2013; CARVALHO, 2015).

O exame de lipidograma, perfil lipídico, são as dosagens do colesterol, suas frações (LDL- Low Density

Lipoprotein, HDL- High Density Lipoprotein, VLDL- Very Low Density lipoprotein e triglicérides). O

colesterol é produzido constantemente no organismo, caracterizado como uma molécula

extremamente essencial na composição da membrana das células e lipoproteínas, ajudando na

produção de hormônios esteroides e ácidos biliares. As frações também desempenham funções

importantes no organismo. A LDL realiza o transporte de colesterol para os tecidos, por ter essa

função, é conhecida popularmente como colesterol ruim. A HDL é tida como colesterol bom, uma vez

que realiza o transporte reverso do colesterol, removendo dos tecidos e levando para o fígado para

ser metabolizado, consequentemente é uma lipoproteína que deve estar aumentada no organismo. A

VLDL é sintetizada no fígado a partir de colesterol e apolipoproteínas, quando adentra a corrente

sanguínea o VLDL é convertido em LDL.

E, por fim, a dosagem de triglicérides, que tem como objetivo auxiliar e classificar as várias desordens

lipoproteicas genéticas e metabólicas. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) estima- se que 40%

181

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

3

da população adulta tenha colesterol elevado (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2017;

DIAGNÓSTICO DO BRASIL, 2020).

A dislipidemia é uma patologia recorrente da elevação do colesterol total, LDL e triglicérides, e

diminuição do HDL, podendo ser aderida com o hábito de vida ou genético. Com essas alterações, as

prevalências de outras patologias também surgem durante o ciclo da vida como, por exemplo, Doença

Arterial Coronariana (DAC), Aterosclerose, Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Obesidade Infantil

que pode agravar com o tempo conforme for o hábito alimentar, genético e estilo de vida (SOUZA et

al., 2019).

As causas desencadeadoras das dislipidemias primárias ou de origem genética são as alterações

neuroendócrinas e distúrbios metabólicos, enquanto dislipidemias secundárias são obtidas por outras

doenças como: Hipotireoidismo e Diabetes Mellitus ou pelo uso indiscriminado de medicamentos.

Ademais, o desequilíbrio entre a ingestão alimentar e o gasto calórico, juntamente com o

sedentarismo, os quais favorecem a obesidade, bem como o consumo de álcool e cigarro em excesso,

são fatores que contribuem para o desenvolvimento das dislipidemias (CAMBRI et al., 2006; BRITO et

al., 2011).

As alterações de maior impacto na aterogênese, uma patologia causada pelo acúmulo de gorduras nas

artérias, são os valores aumentados do colesterol, que maximizam de duas a três vezes o risco de

insuficiência coronariana (BRITO et al., 2011).

O processo aterosclerótico tem seu início antes das manifestações clínicas. As estrias gordurosas

formam as placas ateroscleróticas e surgem na aorta aos três anos de idade e, aos 15 comprometem

15% dessa artéria. Nas coronárias, elas surgem a partir dos 15 anos de idade. Evidências

anatomopatológicas mostram que apesar das estrias serem reversíveis, estas podem evoluírem para

placas ateroscleróticas envolvendo a luz coronariana e acometendo eventos isquêmicos variantes na

intensidade e evolução temporal. Hodiernamente, a dosagem no perfil lipídico em crianças é

recomendada para aquelas que têm histórico familiar de hipercolesterolemia ou doença coronariana

precoce (ARAKI; BARROS; SANTOS, 2010).

O Programa Nacional de Educação do Colesterol (2001) indica o seguinte percentual de ingestão de

energia: 25 a 35% de gorduras, até 10% de ácidos graxos poli-insaturados, até 20% de

monoinsaturados, no máximo 7% de ácidos graxos saturados, até 200mg de colesterol/dia e a ingestão

mínima de ácidos graxos trans.

182

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

4

Para Mcardle (2002) a perda de peso, em conjunto com a redução de gordura corporal, ajuda regular

o nível de lipidograma. A obesidade, por excesso de gordura, acompanha outros fatores como

hipertensão e elevação dos lipídios séricos e a chance de mortes para homens que pesam 30% a mais

que o peso ideal, ultrapassa 70% o risco, se comparado com indivíduos com o peso normal (BERTONI;

ZANARDO; CENI, 2011).

Com isso, o presente estudo busca avaliar o perfil lipídico dos pacientes atendidos em um laboratório

particular de análises clínicas, na cidade de Coqueiral/MG. Nesse sentido, faz-se imperiosa a

correlação desse perfil lipídico com possíveis existências de patologias nos pacientes que possuírem

valores clínicos alterados.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal e retrospectivo com análise de prontuários de um laboratório

particular de análises clínicas de Coqueiral/ MG no período de agosto à outubro de 2020, na qual

realizado mediante aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário do Sul de Minas

(UNIS), sob o protocolo CAAE 44539921.3.000.511.

O tratamento dos dados foi realizado por meio de um sistema laboratorial chamado PLERES, sendo a

faixa etária de todos os pacientes com idade igual ou superior a 20 anos que realizaram o exame do

perfil lipídico no laboratório em questão durante o período do estudo. No total foram analisados 574

prontuários de pacientes de ambos os sexos e com idade entre 20 e 100 anos. O exame do perfil

lipídico (colesterol total, HDL, LDL, VLDL e triglicérides) foi realizado com auxílio de um aparelho

automatizado chamado A15 da marca Biosystem. Os pacientes que tiveram o perfil lipídico alterado

foram incluídos na classificação das dislipidemias.

Para a análise do perfil lipídico e posterior classificação das dislipidemias dos pacientes que

apresentaram alterações, foram considerados os valores de referência da Diretriz Brasileira de

Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose (2017). Os resultados foram analisados no software Excel

através do qual foram computados os gráficos que compõe os resultados abaixo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme a análise efetuada ao longo do presente estudo, o lipidograma completo trata-se de um

exame clínico detalhado que tem como finalidade traçar o perfil lipídico do indivíduo e, sempre que

solicitado, deve ser criteriosamente realizado. Em situações que não há demonstração visível de

183

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

5

nenhum tipo de sintoma, sua realização periódica é importante, bem como a análise minuciosa,

sobretudo para alguns grupos específicos listados a seguir e o fato de usufruir de conhecimentos sobre

os índices de colesterol e suas frações e triglicérides, é uma estratégia que pode ajudar a prevenir e

quando possível tomar a medicação a tempo certas doenças cardiovasculares que costumam ser

silenciosas, podendo, entretanto, gerar uma série de agravantes (SEKI, 2001).

Considerando os dados de modo geral, foram analisados um total de 574 prontuários com relação ao

perfil lipídico dos pacientes atendidos no laboratório em questão. Desses, 64% (368) foram mulheres

e 36% (205) foram homens.

Gráfico 1- Relação da quantidade de prontuários.

Fonte: Os autores.

Quanto ao nível de colesterol total nos homens e mulheres, foi detectado que 49% (181) das mulheres

apresentaram colesterol total acima de 190 mg/dL e 51% (187) têm o colesterol menor que 190 mg/dL.

Já nos homens, 47% (97) apresentaram colesterol total acima de 190 mg/dL e 53% (108) com colesterol

total inferior a 190 mg/dL.

184

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

6

Gráfico 2- Mulheres com o colesterol total (CT) abaixo e acima de 190 mg/dL.

Fonte: Os autores.

Gráfico 3 - Homens com o colesterol total (CT) abaixo e acima de 190 mg/dL.

Fonte: Os autores.

Em um exercício de comparação entre ambos os sexos, percebe-se que as mulheres consideradas no

estudo apresentaram certa prevalência do colesterol alto (acima de 190 mg/dL) e os homens, por sua

vez, a maioria encontra-se abaixo de 190 mg/dL como é possível visualizar nos gráficos.

185

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

7

Gráfico 4- Associação homem/mulher colesterol total (CT).

Fonte: Os autores.

Em seu estudo, Araki e colaboradores (2010) obteve predominância do colesterol total acima de 190

mg/dL no sexo feminino, o que condiz com o presente estudo.

Quanto ao nível do colesterol HDL em homens e mulheres, foi constatado que nas mulheres 86% (318)

tem o HDL acima de 40 mg/dL e 14% (50) tem o HDL abaixo de 40 mg /dL. Nos homens, 68% (140) tem

o HDL acima de 40 mg/dL e 32% (65) tem o HDL abaixo de 40 mg/dL.

Gráfico 5- Mulheres com o HDL abaixo e acima de 40 mg/dL.

Fonte: Os autores.

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Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

8

Gráfico 6- Homens com o HDL abaixo e acima de 40 mg/dL.

Fonte: Os autores.

Verificando ambos os sexos, nota-se que as mulheres em primazia têm o HDL acima de 40 mg/dL e os

homens abaixo de 40 mg/dL.

Gráfico 7- Associação homem/mulher colesterol HDL.

Fonte: Os autores.

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Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

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Analisando o colesterol LDL, nas mulheres 67% (246) tem o LDL abaixo de 130 mg/dL e 33% (122) tem

o LDL acima de 130 mg/dL. Já com relação aos homens, sabe-se que 66% (136) tem o LDL abaixo de

130 mg/dL e 34% (69) tem o LDL acima de 130 mg/dL.

Gráfico 8- Mulheres com o colesterol LDL abaixo a acima de 130 mg/dL.

Fonte: Os autores.

Gráfico 9- Homens com o colesterol LDL abaixo e acima de 130 mg/dL.

Fonte: Os autores.

188

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

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Essas informações evidenciam que os homens analisados neste estudo possuem prevalência do LDL

acima de 130 mg/dL e as mulheres abaixo de 40 mg/dL.

Gráfico 10- Associação homem/mulher colesterol LDL.

Fonte: Os autores.

Analisando o colesterol VLDL nas mulheres e nos homens, os dados apontam que nas mulheres 94%

(345) tem o VLDL abaixo de 40 mg/dL e 6% (23) tem o VLDL acima de 40 mg/dL. Nos homens, 53%

(109) tem o VLDL abaixo de 40 mg/dL e 47% (96) tem o VLDL acima de 40 mg/dL.

Gráfico 11- Mulheres com o VLDL abaixo e acima de 40 mg/dL.

Fonte: Os autores.

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Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

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Gráfico 12- Homens com o VLDL abaixo e acima de 40 mg/dL.

Fonte: Os autores.

Comparando ambos os sexos, sabe-se que os homens demonstraram possuir prevalência no VLDL

acima de 40 mg/dL e as mulheres no VLDL abaixo de 40 mg/dL.

Gráfico 13- Associação homem/mulher colesterol VLDL.

Fonte: Os autores.

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Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

12

Quanto ao nível de triglicérides em homens e mulheres, foi constatado que nas mulheres 29% (107)

possui triglicérides maior que 150 mg/dL e 71% (261) apresenta triglicérides menor que 150 mg/dL.

Nos homens, 29% (59) apresenta triglicérides maior que 150 mg/dL e 71% (146) triglicérides menor

que 150 mg/dL.

Gráfico 14- Mulheres com o triglicérides abaixo e acima de 150 mg/dL.

Fonte: Os autores.

Gráfico 15- Homens com o triglicérides abaixo e acima de 150 mg/dL.

Fonte: Os autores.

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Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

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Comparando ambos os sexos, demonstra-se que os homens apresentam prevalência de triglicérides

abaixo de 150 mg/dL e as mulheres de triglicérides acima de 150 mg/dL.

Gráfico 16- Associação homem/mulher triglicérides.

Fonte: Os autores.

Quanto ao nível do colesterol total dos 574 prontuários, foi observado que, na faixa etária de 20 a 40

anos, 49,40% têm colesterol maior que 190 mg/dL e 50,60% têm o colesterol menor que 190 mg/dL.

Na faixa etária de 41 a 60 anos 42,20% tem o colesterol maior que 190 mg/dL e 57,80% têm o

colesterol menor que 190 mg/dL. De 61 a 80 anos 54,10% tem o colesterol maior que 190 mg/dL e

45,90% têm o colesterol menor que 190 mg/dL. De 81 a 100 anos 55% tem o colesterol maior que 190

mg/dL e 45% têm o colesterol menor que 190 mg/dL.

Gráfico 17- Associação das idades com o colesterol total.

Fonte: Os autores.

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Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

14

Analisando o nível do colesterol HDL nas idades consideradas, temos que na faixa etária de 20 a 40

anos 76,60% tem HDL maior que 40 mg/dL e 23,40% têm o HDL menor que 40 mg/dL. De 41 a 60 anos,

74,80% têm o HDL maior que 40 mg/dL e 25,20% têm o HDL menor que 40 mg/dL. Na faixa etária de

61 a 80 anos, 80% têm o HDL maior que 40 mg/dL e 20% têm o HDL menor que 40 mg/dL. De 81 a 100

anos, 78% têm o HDL maior que 40 mg/dL e 23% têm o HDL menor que 40 mg/dL.

Gráfico 18- Associação das idades com o colesterol HDL.

Fonte: Os autores.

Quanto ao nível do colesterol LDL nas idades apresentadas, conclui-se que na faixa etária de 20 a 40

anos 36,70% tem LDL maior que 130 mg/dL e 63,30% têm o LDL menor que 130 mg/dL. De 41 a 60

anos, 28,60% têm o LDL maior que 130 mg/dL e 71,40% têm o LDL menor que 130 mg/dL. Na faixa

etária de 61 a 80 anos, 34,70% apresentam o LDL maior que 130 mg/dL e 65,30% têm o LDL menor

que 130 mg/dL. De 81 a 100 anos, 38% apresentam o LDL acima de 130 mg/dL e 62% têm o LDL menor

que 130 mg/dL.

193

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

15

Gráfico 19- Associação das idades com o colesterol LDL.

FONTE: Os autores.

O presente estudo houve um predomínio com valores altos do colesterol total e colesterol LDL na faixa

etária de 81 a 100 anos (gráficos 17e 19). Em contraparte um estudo feito por Ribeiro e colaboradores

(2016), realizado com uma faixa etária de 20 a 59 anos obteve valores altos do colesterol total (80,9%)

e do colesterol LDL (79%) a partir de 40 anos de idade.

Verificando o nível do colesterol VLDL nas idades apresentadas, entende-se que na faixa etária de 20

a 40 anos 7,60% tem VLDL maior que 40 mg/dL e 92,40% têm o VLDL menor que 40 mg/dL. De 41 a 60

anos, sabe-se que 6,80% têm o VLDL maior que 40 mg/dL e 93,20% têm o VLDL menor que 40 mg/dL.

De 61 a 80 anos, 5,90% têm o VLDL maior que 40 mg/dL e 94,10% têm o VLDL menor que 40 mg/dL.

Na faixa etária de 81 a 100 anos, 8% têm o VLDL maior que 40 mg/dL e 92% têm o VLDL menor que 40

mg/dL.

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Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

16

Gráfico 20- Associação das idades com o colesterol VLDL.

Fonte: Os autores.

Comparando o nível de triglicérides entre as idades consideradas no estudo, observa-se que na faixa

etária entre 20 e 40 anos 28,50% apresentam triglicérides maior que 150 mg/dL e 71,50% apresentam

triglicérides menor que 150 mg/dL. De 41 a 60 anos, 30,60% apresentam triglicérides maior que 150

mg/dL e 69,40% triglicérides menor que 150 mg/dL. Na faixa etária de 61 a 80 anos, 27,10% têm

triglicérides maior que 150 mg/dL e 72,90% apresentam triglicérides menor que 150 mg/dL. De 81 a

100, anos 35% apresentam triglicérides maior que 150 mg/dL e 65% têm triglicérides menor que 150

mg/dL.

195

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

17

Gráfico 21- Associação das idades com o triglicérides.

Fonte: Os autores.

No presente estudo observou-se que a faixa etária entre 61 à 80 anos tem o colesterol total maior que

190 mg/dL e o triglicérides acima de 150 mg/dL (gráfico 17 e 21) e em um estudo realizado por Sousa

(2012) obteve a prevalência do colesterol total e do triglicérides na faixa etária entre 60 e 69 anos.

Em um estudo realizado por Bertoni e colaboradores (2011) dispuseram uma prevalência do colesterol

HDL menor que 40 mg/dL (29,41%) seguindo uma idade igual ou superior a 45 anos para as mulheres

e 55 anos para os homens e no presente estudo também obteve a prevalência do colesterol HDL maior

que 40 mg/dL (gráfico 7) mas, em contrapartida, houve predomínio na faixa etária entre 61 à 80 anos

com o colesterol HDL maior que 40 mg/dL (gráfico 18).

Essa recomendação ganha força, sobretudo para pessoas que contam com o fator genético, ou seja,

que têm histórico familiar de doenças associadas ao perfil lipídico e que devem redobrar a atenção

principalmente no que se refere à hipercolesterolemia e doença coronariana precoce que são

distúrbios que tem se mostrado cada vez mais frequentes, inclusive em crianças e jovens. Sobre a

questão do fator genético, Grillo e colaboradores (2005) afirmam que “a herança genética também é

um determinante dos níveis de colesterol em crianças. Todo o espectro das doenças cardiovasculares

envolve fatores genéticos que podem contribuir significativamente para sua ocorrência de maneira

causal ou na sua patogênese”.

Quando a obesidade inicia nas primeiras fases da vida, ela tende a perdurar ou aumentar durante o

crescimento. Estudos do lipidograma realizados em crianças e adolescentes mostram que o nível do

196

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

18

colesterol na infância prediz na vida adulta. A prevenção se faz necessária desde a infância e a

adolescência, para que não se agrave ao longo da idade (CARVALHO et al., 2007).

Dentro dessa faixa etária da infância e adolescência, alguns levantamentos de abrangência nacional

têm colocado em evidência uma preocupante elevação de dislipidemias em sujeitos de até doze anos

de idade, que terá relação com a obesidade infantil. Esse aumento precisa ser encarado seriamente

pelos especialistas como um desafio de saúde pública a ser superado no Brasil, tendo em vista o

compromisso social com a infância de modo geral. Dados apontam que em meados de 2010 cerca de

27,5% desse público contava com colesterol total acima do nível desejável, além de 19,3%

considerando a fração LDL e 13% apresentando triglicerídeos acima do normal (MALHEIROS, et al.,

2007).

As dislipidemias devem ser tratadas com cautela justamente por serem elementos sinalizadores de

fatores de risco para doenças cardiovasculares e outras associadas. Em um estudo realizado por

Moreira (2006) explanam que a diminuição dos níveis do colesterol total e do colesterol LDL está

correlacionada a uma menor ocorrência de doenças cardiovascular, como por exemplo, Infarto Agudo

do Miocárdio e Acidente Vascular Cerebral.

No que se refere aos fatores sedentarismo e obesidade, existem pesquisas de relevância internacional

que já comprovaram uma relação direta existente entre a diminuição das dislipidemias e a prática

constante de atividade física. Um estudo desenvolvido por Kraus e colaboradores (2002) teve como

objetivo randomizar sujeitos sedentários portadores de sobrepeso ou obesidade e acometidos por

alguma dislipidemia em diferentes regimes de exercício físico para mensurar os efeitos desses regimes

na melhoria do perfil lipídico. Os regimes de treinos variaram tanto em intensidade (40% a 80% de

volume de oxigênio máximo) quanto em volume (19,2 km a 32,0 km por semana). Os resultados deste

levantamento sugerem uma significativa associação entre o volume da atividade física desenvolvida e

a melhoria dos índices que compõe o perfil lipídico do sujeito. Constatou ainda que o fator intensidade

(que também variou no estudo, juntamente com o volume) tende a apresentar uma influência menor

no ajuste lipídico, haja vista que os regimes de treinamento com baixo volume e moderada intensidade

e os regimes com baixo volume e alta intensidade demonstram melhoria semelhante, uma vez

despendido o mesmo gasto energético. Já no programa de treinamento envolvendo alto volume e alta

intensidade, as alterações foram superiores (KRAUS, 2002).

Por fim, tendo em vista a quantidade cada vez maior de pessoas que têm apresentado risco de doenças

cardiovasculares precoces ou hiperlipidemias associadas, reforça-se a necessidade da disseminação

197

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

19

de estudos como este que tenham como compromisso discutir de que forma uma mudança nos

hábitos de vida podem ser importantes para regular os índices lipídicos do nosso organismo,

abrangendo assim o fenômeno educativo propriamente dito como sendo a prática do cuidado de si e

o exercício do cuidado com o outro. Outro fator que não poderia deixar de ser citado é a questão

social, já existem também uma série de estudos elencando alguns tipos de dislipidemias que têm

aparecido com preponderância maior nas esferas sociais mais baixas, refletindo uma forte assimetria

de classe que infelizmente é uma ferida histórica do nosso país contra a qual precisamos atuar (CHOR,

1995).

4 CONCLUSÃO

Em linhas gerais, o trabalho que aqui se encerra buscou colocar em evidência a importância da

manutenção de um perfil lipídico saudável para diversos fatores de funcionamento do nosso

organismo. Sabe-se que quando há um excesso de gordura no organismo existe também uma maior

probabilidade de se aderir outras patologias correlacionadas, como as doenças cardiovasculares, por

exemplo, que apresentam uma taxa de mortalidade muito alta no Brasil.

Em conseguinte, objetivou-se avaliar o perfil lipídico de pacientes atendidos em um laboratório

particular de análises clínicas situado no município de Coqueiral - Minas Gerais, no período de agosto

a outubro de 2020, com a devida aprovação do comitê de ética no qual este estudo foi submetido.

Dentre 574 prontuários considerados, foi notada uma prevalência expressiva do sexo feminino no

desenvolvimento de dislipidemias principalmente na faixa etária compreendida entre 41 e 60 anos.

Em geral os dados mostraram que houve poucos pacientes com alteração significativa no perfil

lipídico.

Espera-se que a pesquisa possa contribuir de alguma forma para a disseminação das informações e

conhecimentos associados à prevenção das dislipidemias que, se forem devidamente identificadas no

momento certo, podem ser tratadas e remediadas tendo em vista uma qualidade de vida superior.

Existem muitas pessoas que têm encontrado na prática de exercícios físicos e na alimentação

balanceada grandes aliadas de um estilo de vida mais ativo e saudável, repercutindo

consequentemente nas quantidades de gordura, e esse é o melhor caminho para se evitar problemas

maiores, sobretudo para quem já apresenta algum histórico familiar.

198

Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Avaliação Do Perfil Lipídico Em Pacientes Atendidos Em Um Laboratório De Coqueiral-MG.

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200

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904764

Capítulo 13

VARIAÇÕES NA UTILIZAÇÃO DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA EM PRONTUÁRIOS DE UMA CLÍNICA

ESCOLA DE FISIOTERAPIA EM SALVADOR, BAHIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Mateus dos Santos Brito Universidade de Pernambuco

Nívea Malafaia Centro Universitário FTC

Cristiane Cavalcanti Moreira Universidade do Estado da Bahia

Variações Na Utilização Da Terminologia Anatômica Em Prontuários De Uma Clínica Escola De Fisioterapia Em Salvador, Bahia: Um

Relato De Experiência

1

Resumo:

Introdução: A anatomia humana é a ciência encarregada de estudar e nomear as estruturas que

compõem o corpo humano. Na formação em saúde, o domínio da nomenclatura anatômica é base

importante para compreensão de problemas clínicos. Os termos anatômicos utilizados em publicações

sofrem variações quando são observados os diferentes autores, o que pode prejudicar o processo

formativo de profissionais de saúde, repercutindo em sua prática clínica. Objetivo: Analisar a

terminologia anatômica musculoesquelética utilizada em prontuários de uma Clínica Escola de

Fisioterapia de Salvador, Bahia em comparação a Terminologia Anatômica Internacional.

Metodologia: Trata-se de um Relato de Experiência realizado no âmbito do programa Institucional de

Monitoria na disciplina de Anatomia de Órgãos e Sistemas, ministrada aos cursos de Fisioterapia e

Bacharelado em Educação Física nos semestres letivos de 2015 e 2016. A análise documental se deu a

partir de dados secundários em uma Clínica Escola de Fisioterapia de uma instituição de ensino

superior privada, localizada em Salvador- Bahia. Foram observados todos os prontuários de pacientes

com comprometimentos ortopédicos admitidos no serviço entre os meses de fevereiro e dezembro

2015. Os dados foram coletados através de um formulário elaborado pelos autores deste estudo. A

terminologia anatômica foi examinada a partir das descrições presentes nestes prontuários e então

realizada a comparação com a Terminologia Anatômica Internacional publicada em 2011 pela

Sociedade Brasileira de Anatomia. Resultados e Discussão: Este estudo analisou ao todo 39

prontuários, destes, foram colhidos 57 termos anatômicos nos itens: queixa principal; doença

pregressa; outras patologias; história familiar; exames complementares; local da dor; mecanismos do

trauma; diagnóstico fisioterapêuticos; objetivos terapêuticos e conduta fisioterapêutica. Foram

identificados 32 de 37 termos divergentes referentes a anatomia musculoesquelética do esqueleto

apendicular e 10 de 20 termos divergentes referentes a anatomia musculoesquelética do esqueleto

axial. Conclusão: Os resultados obtidos neste estudo, contribuem para o entendimento da

importância do preenchimento correto de prontuários clínicos por estudantes e sua compreensão dos

desdobramentos nos processos de ensino e aprendizagem, bem como nas condutas diagnósticas e

terapêuticas a partir da utilização incorreta de termos anatômicos.

Palavras Chave: Anatomia; Terminologia; Prontuários.

202

Variações Na Utilização Da Terminologia Anatômica Em Prontuários De Uma Clínica Escola De Fisioterapia Em Salvador, Bahia: Um

Relato De Experiência

2

1 INTRODUÇÃO

Segundo Dangelo e Fattini, 2007 a anatomia humana é a ciência que se debruça na matéria

morfológica do corpo humano, com foco na descrição e nomeação de suas estruturas macro e

microscópicas. Para isso, se faz necessária a padronização da nomeação destas estruturas, com este

intuito a primeira versão da Terminologia Anatômica, denominada Basle Nomina Anatômica (BNA), foi

oficialmente constituída em 1895 por cerca de trinta mil nomes. Inicialmente proposta por estudiosos

italianos, norte-americanos, latino-americanos e por anatomistas que dominavam a língua alemã, e,

posteriormente atualizada devido à influência das publicações francesas e inglesas. (NOVAK; GIOSTRI;

NAGAI, 2008).

No ano de 1989 vários anatomistas de diferentes nacionalidades criaram a Federative International

Committee on Anatomical Terminology (FICAT), sendo em 1997 elaborada a versão final da

Terminologia Anatômica, composta por cerca de cinco mil termos. Neste sentido a Sociedade

Brasileira de Anatomia (SBA), filiada à FICAT, traduziu, quatro anos após a publicação inicial, a versão

nacional que permanece como referência até os dias atuais. Após isso, a cada quatro anos anatomistas

do Brasil promovem encontros oficiais para revisão e atualização dos termos anatômicos (JOSÉ E

MARLENE BUSETTI, 2005).

Os termos anatômicos utilizados em publicações científicas sofrem variações quando são observados

os diferentes autores. Essa heterogeneidade pode contribuir para prejudicar o acesso às pesquisas por

inadequação da palavra-chave. Estas variações também podem ser observadas em prontuários

clínicos, por se tratar de um documento constituído por registro escrito, no qual constam informações

importantes para equipe de saúde, no que diz respeito as condutas diagnósticas e terapêuticas

envolvidas nos diferentes tratamentos. (GONÇALVES; CABRAL; GRECCO, 2020)

Durante a formação acadêmica a terminologia anatômica é trabalhada em disciplinas específicas com

o objetivo de facilitar o processo de aprendizagem em saúde, através da utilização adequada das

palavras e seus significados. O domínio da nomenclatura anatômica favorece a disseminação do

conhecimento desenvolvido e previne falhas na comunicação científica e clínica. Assim, este estudo

teve como objetivo analisar a terminologia anatômica musculoesquelética utilizada em prontuários de

uma Clínica Escola de Fisioterapia de Salvador, Bahia em comparação a Terminologia Anatômica.

203

Variações Na Utilização Da Terminologia Anatômica Em Prontuários De Uma Clínica Escola De Fisioterapia Em Salvador, Bahia: Um

Relato De Experiência

3

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo Relato de Experiência ocorrido a partir de análise documental,

utilizando-se de dados secundários coletados em uma Clínica Escola de Fisioterapia de uma Instituição

de Ensino Superior Privada (IES), localizada em Salvador, Bahia, entre 2015 e 2016. A experiência

relatada foi realizada no âmbito do Programa Institucional de Monitoria dentro da disciplina de

Anatomia de Órgãos e Sistemas, ministrada aos cursos de Fisioterapia e Bacharelado em Educação

Física nos semestres letivos do ano de 2015 e 2016.

O estudante monitor e pesquisador principal deste estudo, obtinha o vínculo neste programa como

voluntário, mesclando atividades entre sala de aula e laboratórios de anatomia humana da IES. No

decorrer do processo de monitoria, emergiu das discussões em sala de aula, a importância do

conhecimento e reprodução da padronização de termos anatômicos para uma efetiva comunicação

entre profissionais e estudantes da área da saúde. Como produtos finais da experiência de monitoria,

foram elaborados: um relatório institucional de monitoria, este estudo de relato de experiência além

de um resumo científico publicado nos anais do XXVII Congresso Brasileiro de Anatomia, XXIX

Congresso Chileno de Anatomia, IV Encontro de Ligas Acadêmicas de Morfologia publicado pela

Sociedade Brasileira de Anatomia em 2018, João Pessoa – Paraíba.

Foram observados prontuários de pacientes com comprometimentos ortopédicos admitidos no

serviço entre os meses de fevereiro e dezembro 2015. Sendo considerados como critérios de inclusão

todos os prontuários de pacientes com comprometimento de ordem ortopédica admitidos no ano de

2015 no serviço escola de fisioterapia. Sendo excluídos os prontuários que não estivessem

completamente preenchidos.

Os dados foram coletados pelo monitor e pesquisador principal através de um formulário elaborado

pelos autores, contendo dez questões estruturadas a partir dos prontuários fisioterapêuticos

ortopédicos utilizado na clínica escola estudada: 1 - Termos Anatômicos encontrados em “Queixa

Principal”; 2 - Termos Anatômicos encontrados em “História da Doença Pregressa”; 3 - Termos

Anatômicos encontrados em “Outras Patologias”; 4 – Termos Anatômicos encontrados em “Histórico

Familiar”; 5 - Termos Anatômicos encontrados em “Exames Complementares”; 6 - Termos Anatômicos

encontrados em “Local da Dor”; 7 - Termos Anatômicos encontrados em “Mecanismo do Trauma”; 8

- Termos Anatômicos encontrados em “Diagnóstico Fisioterapêutico”; 9 - Termos Anatômicos

encontrados em “Objetivos Terapêuticos”; 10 - Termos Anatômicos encontrados em “Conduta

Fisioterapêutica”.

204

Variações Na Utilização Da Terminologia Anatômica Em Prontuários De Uma Clínica Escola De Fisioterapia Em Salvador, Bahia: Um

Relato De Experiência

4

Foram considerados apenas a terminologia utilizada para descrição do sistema musculoesquelético e

realizada comparação do termo encontrado com a Terminologia Anatômica Internacional publicada

pela Sociedade Brasileira de Anatomia em 2011. Respeitando os termos éticos em pesquisas com seres

humanos segundo a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, a identificação da instituição

cujo a clínica escola está vinculada, bem como informações de identificação pessoal do paciente e

estagiário responsável pelas descrições dos prontuários foram preservados, sendo analisado apenas a

nomenclatura anatômica presente no prontuário de atendimento. Para a realização desta pesquisa, a

instituição de ensino superior cujo alberga a clínica escola de fisioterapia estudada bem como o

Programa Institucional de Monitoria, forneceu sua anuência.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este estudo foi realizado com todos os prontuários disponíveis em uma clínica escola de fisioterapia

de Salvador, Bahia. Totalizando 39 prontuários, destes, foram colhidos 57 termos anatômicos nos

itens: queixa principal; doença pregressa; outras patologias; história familiar; exames

complementares; local da dor; mecanismos do trauma; diagnóstico fisioterapêuticos; objetivos

terapêuticos e conduta fisioterapêutica. Foram identificados 32 de 37 termos divergentes referentes

a anatomia musculoesquelética do esqueleto apendicular e 10 de 20 termos divergentes referentes a

anatomia musculoesquelética do esqueleto axial.

205

Variações Na Utilização Da Terminologia Anatômica Em Prontuários De Uma Clínica Escola De Fisioterapia Em Salvador, Bahia: Um

Relato De Experiência

5

Quadro 1. Terminologia da anatomia musculoesquelética do esqueleto apendicular presente em

prontuários e sua respectiva terminologia anatômica publicada pela Sociedade Brasileira de Anatomia

(SBA).

Legenda: SBA = Sociedade Brasileira de Anatomia.

Fonte: Elaborado pelos autores.

206

Variações Na Utilização Da Terminologia Anatômica Em Prontuários De Uma Clínica Escola De Fisioterapia Em Salvador, Bahia: Um

Relato De Experiência

6

Quadro 2. Terminologia da anatomia musculoesquelética do esqueleto axial presente em

prontuários e sua respectiva terminologia anatômica publicada pela Sociedade Brasileira de

Anatomia (SBA).

Legenda: SBA = Sociedade Brasileira de Anatomia.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Sendo assim, é importante delinear alguns pontos da análise dos dados coletados, como os critérios

utilizados para considerar como divergente um termo anatômico identificado nos prontuários clínicos

estudados. Os critérios foram: o termo anatômico deveria estar escrito da mesma forma no prontuário

e no documento da Terminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA) em 2011.

Aqueles termos que estivessem com divergências ortográficas como acentuação e pontuação, escrita

abreviada ou escrita divergente, foram classificados como termos divergentes quando comparados a

Terminologia Anatômica da SBA. Exceto, aqueles termos presentes nos prontuários referentes a

músculos do corpo humano que não constavam em seu início o termo “m.” (referente à palavra

músculo), por exemplo: Serrátil Anterior (escrita do prontuário) e m. Serrátil Anterior (escrita da

Terminologia Anatômica). Ou ainda aqueles termos referentes a estruturas anatômicas com o mesmo

nome em mais de uma localização do corpo e que estivessem escritas nos prontuários no plural,

207

Variações Na Utilização Da Terminologia Anatômica Em Prontuários De Uma Clínica Escola De Fisioterapia Em Salvador, Bahia: Um

Relato De Experiência

7

exemplo: Eminências Intercondilares (escrita do prontuário) e Eminência Intercondilar esquerda ou

Eminência intercondilar direita (escrita da Terminologia Anatômica).

Além disso, é importante destacar que, os termos escritos nos prontuários: em uma linguagem leiga

(“Bacia”), referentes a grupos musculares ou ósseos (“Quadríceps”), estruturas descritas a partir de

alguma de suas funções (“Rotador Ex da Coxa”) que não constam na Terminologia Anatômica da SBA,

foram considerados como termos divergentes. Dito isto, é importante destacar que: a análise descrita

neste estudo, diz respeito ao uso correto da escrita dos termos anatômicos em prontuários clínicos

em comparação a Terminologia Anatômica da SBA. Portanto, variações quanto a cultura e região

geográfica do estudo, bem como época de realização do estudo e curso de ensino superior estudado

podem interferir quanto ao resultado.

Os documentos utilizados para as análises e estudo neste relato de experiências, podem ser divididos

em dois tipos: 1 - Terminologia Anatômica; 2 - Prontuários fisioterapêuticos. Contudo, este não parece

ser o primeiro ou único trabalho com este arranjo, em 2010, Novak, Gostri e Nagai identificaram

grandes variações entre termos utilizados na prática clínica em ortopedia. Observando a necessidade

da utilização da terminologia anatômica adequada e reafirmando o que é defendido por José e

Marlene Busetti (2005), que destacam a terminologia anatômica como recurso importante por

universalizar os termos que referenciam as estruturas que compõe o corpo humano. Afirmam ainda

que deve ser valorizada e empregada, pois os estudos anatômicos apresentaram, ao longo dos anos,

muitos progressos, entre eles a criação da terminologia anatômica vigente. (COTTA E FLOR, 2017)

Neste sentido, parece relevante o estudo de terminologias anatômicas em prontuários clínicos.

Contudo, parece importante a compreensão do que são estes documentos: de acordo com a

Resolução no 1.638/021 do Conselho Federal de Medicina, os prontuários são definidos como

documentos únicos, constituídos por um conjunto de informações registradas, geradas a partir de

fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada. É de cunho

legal, sigiloso e científico. As informações são obtidas a partir do relato e da observação técnica do

paciente e devem ser organizadas de maneira sistemática, permitindo que sejam utilizadas pela

equipe. (TONELLO, NUNES e PANARO, 2013)

O registro nos prontuários permite a comunicação escrita de informações referentes às condições de

saúde-doença e dos cuidados que são necessários, com a finalidade de garantir a continuidade da

assistência. São muito importantes para a identificação de novas alterações, avaliação e

acompanhamento dos resultados do tratamento. Esta comunicação ocorre diariamente, de forma

208

Variações Na Utilização Da Terminologia Anatômica Em Prontuários De Uma Clínica Escola De Fisioterapia Em Salvador, Bahia: Um

Relato De Experiência

8

verbal e não verbal, nos diálogos entre os profissionais e nos relatórios e evoluções registrados. Os

prontuários tornam-se instrumentos importantes para a realização de pesquisa na área de saúde ao

reunirem informações sobre alterações da normalidade, seu desenvolvimento e tratamento

(MENESES et. al, 2015).

O que melhor poderia facilitar esta comunicação entre leitores de prontuários clínicos (profissionais

ou estudantes da área da saúde) do que a padronização na escrita? Com esse enfoque, a Terminologia

Anatômica surge no âmbito da Federative International Committee on Anatomical Terminology

(FICAT), comitê da International Federation of Associations o Fanatomists (IFAA). Órgão responsável

por dar nome a todas as estruturas do corpo humano, criado em 1989, por anatomistas de onze países,

incluindo o Brasil. A criação da FICAT se deu enquanto desdobramento de um longo processo iniciado

a partir do Século XIX. O principal objetivo era a uniformização da nomenclatura, inicialmente

consolidada a partir da publicação da Basle Nomina Anatomica (BNA). A FICAT elaborou a versão final

da Nomina Anatomica em 1997, sendo posteriormente traduzida em diversos idiomas, inclusive em

português. Contudo, a Comissão de Terminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia

(SBA), filiada à FICAT, publicou apenas em 2001 a versão final da Terminologia Anatômica em língua

portuguesa (JOSÉ E MARLENE BUSETTI, 2005).

O uso adequado da Terminologia facilita a comunicação e a pesquisa entre profissionais e estudantes

área de saúde. A falta de uniformidade pode comprometer a reprodução de certos termos e impactar

no acesso às publicações científicas por variações na descrição de palavras-chave. Além disso, a

correta utilização de termos anatômicos em prontuários clínicos, torna-se importante pois pode

prevenir eventuais erros de interpretação diagnóstica e de construção de planos terapêuticos.

(NOVAK; GIOSTRI; NAGAI, 2008).

Alguns trabalhos relatam a utilização correta da terminologia anatômica na formação e atuação de

profissionais de saúde. Caiaffo, Alves e Ribeiro, 2011, avaliaram o emprego da terminologia em livros

didáticos do ensino fundamental, foram analisados termos anatômicos a partir de leituras críticas

confrontando a nomenclatura anatômica adotada com a terminologia anatômica atual. Os livros

apresentaram divergências entre vários sistemas. Os erros foram encontrados nas imagens e textos,

revelando a presença de termos incorretos e/ou ultrapassados. (PARRAL, RÍOS, GARCIA, 2019)

Outro estudo, desta vez de Coimbra, Carrara e Santin, em 2015, analisaram a importância da utilização

homogênea da terminologia anatômica no ensino/aprendizagem dos alunos do ensino superior. Os

autores realizaram uma revisão sistemática em três livros de Fisiologia do Exercício visando identificar

209

Variações Na Utilização Da Terminologia Anatômica Em Prontuários De Uma Clínica Escola De Fisioterapia Em Salvador, Bahia: Um

Relato De Experiência

9

os termos anatômicos incorretos ou desatualizados. Registraram que em todos os livros analisados

existiam erros ou desatualizações da nomenclatura anatômica, o que pode dificultar a aprendizagem

acadêmica e gerar questionamentos sobre o termo adequado. (PANES, NICHOLSON, DEL SOL, 2020)

O presente estudo teve o objetivo de analisar a terminologia anatômica empregada em prontuários

de uma Clínica Escola de Fisioterapia. Os prontuários foram escolhidos como objeto de estudo por se

tratar de um documento no qual constam informações sobre pacientes, tais como história da doença,

diagnósticos e resultados dos exames. Trata-se de um registro escrito que contém informações

importantes para o paciente e para a equipe de saúde (TONELLO et. al, 2013), dessa forma, permite a

verificação do emprego da nomenclatura anatômica durante o exercício da prática profissional através

dos estágios supervisionados obrigatórios. Os prontuários estudados nesta pesquisa foram

preenchidos por estudantes dos últimos semestres do curso de fisioterapia e a incidência de termos

incorretos pode estar atrelada ao fato, de em alguns casos, livros didáticos trazerem a nomenclatura

anatômica desatualizada ou incorreta.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos neste estudo, contribuem para o entendimento de que a correta utilização da

terminologia anatômica durante a graduação na área de saúde é determinada por uma série de

fatores, dentre eles os principais são: utilização de materiais didáticos para o estudo em anatomia

atualizados e com a nomenclatura correta segundo a Terminologia Internacional mais recente à época;

compreensão da importância do preenchimento correto de prontuários fisioterapêuticos por

estudantes, com foco na contribuição para uma comunicação mais assertiva entre estudantes, além

de profissionais de saúde tanto no âmbito educacional como no clinico-prático incluindo entre equipes

multiprofissionais; entendimento pelos estudantes, acerca dos desdobramentos nas condutas

diagnósticas e terapêuticas a partir da utilização incorreta de termos anatômicos em prontuários; e

investimento em atividades que fomentem o estudo a profundado em anatomia, no âmbito do ensino,

pesquisa, extensão e monitoria.

210

Variações Na Utilização Da Terminologia Anatômica Em Prontuários De Uma Clínica Escola De Fisioterapia Em Salvador, Bahia: Um

Relato De Experiência

10

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BACELARI, Simônides. GALVÃO, Carmem. ALVES, Elaine. TUBINO, Paulo. Expressões Médicas errôneas. Erros e acertos. Acta. Cir. Bras. V. 19, p. 5. São Paulo, 2004.

2. BRITO, Vitor. DOS SANTOS, Ardilles. DE OLIVEIRA, Belisa. Análise da nomenclatura anatômica adotada nos livros de ciências e biologia. Instituto de educação, Universidade Federal do Rio Grande. Natal, RN. 2011.

3. BUSETTI, José. BUSETTI, Marlene. A nomenclatura anatômica e sua importância. Arq. Med. ABC. v. 20, n. 2, p. 119-120. Faculdade de medicina do ABC, São Paulo. 2005.

4. COTTA, Flávia Dutra da Silveira Magalhães. FLOR, Isa Helena Gomes. A variação da terminologia anatômica na educação física: elaboração de um glossário. Rev. Trabalhos acadêmicos – Universo Belo Horizonte, vol. 1, no 2 (2017).

5. DANGELO, José. FATTINI, Carlos AMÉRICO. Anatomia humana sistêmica e segmentar. Editora Atheneu, 2007.

6. GONÇALVES, Giuliano Roberto. CABRAL, Richard Halti. GRECCO, Leandro Henrique. A importância do emprego da Terminologia Anatômica nas Ciências da Saúde. Revista Braisleira de Educação Médica. Ed. 44, V. 4. 2020.

7. LAMY, Ricardo. DANTAS, Adalmir. Nomenclatura anatômica em oftalmologia. Arquivo Brasileira de Oftalmologia. Cap. 2, p. 446-458. São Paulo, 2008.

8. MENESES, Lenilma. BEZERRA, Alyne. TRAJANO, Flávia. SOARES, Maria. Prontuário do paciente: qualidade dos registros na perspectiva da equipe multiprofissional. Rev. Enfermagem, v. 9, p. 10. Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015.

9. NOVAK, Eduardo. GIOSTRI, Giana. NAGAI, Alencar. Terminologia anatômica em ortopedia. Revista Brasileira de Ortopedia. V. 43, n. 4, p. 103-107. São Paulo. 2008.

10. PANES, Camila. NICHOLSON, Christopher. DEL SOL, Mariano. Esmalte en Terminología: Concordancia y Propuesta para Terminologia Anatomica, Histologica y Embryologica. Rev. Int. J. Morphol, V. 38, N° 3. 2020.

11. PARRAL, Jorge Eduardo Duque. RÍOS, John Barco. GARCIA, Juan Fernando Vélez. Inconsistencias de la Terminologia Anatomica: La vértebra cervical 1 nombrada con el epónimo Atlas. Rev. Int. J. Morphol., V. 37, N° 2, 2019.

12. SANTIN, Alessandra. COIMBRA, Cláudia. CARRARA, Marcia Aparecida. Revisão Sistemática de termos anatômicos presentes em livros didáticos. Revista Uningá. Maringá. V. 24, n. 2, p. 21-25. 2015.

13. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. A Sociedade Brasileira de Anatomia. Disponível em: http://www.sbanatomia.org.br/origem.php. Data de acesso, 29 de abril de 2016.

14. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Terminologia Anatômica. Vol. 02. Editora Manole, 2011.

15. TONELLO, Izângela. NUNES, Risia. PANARO, Aline. Prontuário do paciente: a questão do sigilo e a lei de acesso á informação. V.18, n. 2, p. 193 – 210. Londrina, 2013.

211

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904765

Capítulo 14

COVID-19: PERSISTÊNCIA DOS SINTOMAS PÓS FASE AGUDA.

Julia de Castro Dutra Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS/MG

Priscila Moraes Henrique Paiva Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS/MG

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

1

Resumo: A prevalência e o padrão de sintomas persistentes após COVID-19 é contestado e muito

discutido. A opinião médica convencional considera-os mais comuns em pessoas com doenças como

asma, diabetes e doenças autoimunes embora também sejam conhecidos por ocorrerem naqueles

sem condição pré-existentes e que não eram internados no hospital. Este estudo constituiu-se de uma

pesquisa descritiva realizada por meio de entrevistas on-line via Google forms, incluindo indivíduos

maiores de 18 anos, de todo Brasil que testaram positivo para COVID-19 previamente. O objetivo foi

realizar um levantamento dos sintomas e persistência dos mesmos pós a fase aguda doença.

Participaram da pesquisa 838 voluntários, sendo 86,8% do sexo feminino e 13,2% do sexo masculino,

com média de idade de 36,94 anos. Sendo que 6,7% apresentaram a forma grave da doença, 44,3%

moderada, 45,8% leve e 3,2% assintomática, dos quais 69,7% alegaram não portar comorbidades.

Necessitaram de internação hospitalar 11% dos entrevistados, destes 28,3% e 3,1% (26) do total

receberam atendimento em Unidade de Terapia Intensiva e 27%, 0,8% (7), precisaram ser entubados.

Destes, 83,7% (77) relataram que os sintomas permaneceram por mais de 2 semanas após alta

hospitalar sendo os mais frequentes a fadiga (93,5%), ansiedade (65,2%), alopécia (64,1%), polipneia

após atividade (62%), falta de memória (60,9%), perda do olfato e/ou paladar (53,1%), alteração do

paladar e olfato (44,6%), distúrbios da circulação (17,4%). Dentre os indivíduos que não foram

internados 89% (746), 59,1% reportaram que os sintomas duraram mais de 2 semanas, 30,6% entre

uma e duas semanas e 10,6% menos de uma semana. Os sintomas mais citados foram fadiga 78,1%,

perda do olfato e paladar 51,3%, polipneia pós atividade 45,5%, artralgia e mialgia 41,9%, alopecia

31,1% e falta de ar 26,5%. Assim, nota-se a importância desses estudos no intuito de subsidiar a

responsabilidade clínica na continuidade de cuidados e reabilitação multidisciplinar, assim como

compreender a fisiopatologia da COVID de longa duração para o melhor manejo clínico e prevenção.

Palavras-chave: COVID-19. Sintomas persistentes. COVID de longo prazo.

213

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

2

1 INTRODUÇÃO

A COVID-19 teve seus primeiros casos em dezembro de 2019, em Wuhan, capital da província de Hubei

na China, em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou situação de

emergência de saúde pública e global, denominando então, a pandemia (HCFMUSP, 2020; FORMIGA

et al., 2020). É uma patologia cujo agente etiológico é o SARS-CoV-2, um vírus com material genético

de fita simples de RNA (+), 29000 nucleotídeos, da ordem Nidovirales, família Coronaviridae

(DEPARTAMENTO CIENTÍFICO INFECTOLOGIA, 2020).

Segundo os dados do Painel Coronavírus (2021), atualizado no dia 14 de setembro de 2021,

atualmente no Brasil obtêm-se desde o início da pandemia 21.019.830 casos, onde destes 20.108.417

estão recuperados, 323.616 estão em investigação e 587.797 são óbitos. O índice de letalidade da

doença é caracterizado por 2,8%. Entretanto, de acordo com as Secretárias Estaduais de Saúde (2020),

o Sudeste é a região com maior número de casos registrados, cujo total estabelece 8.133.096 casos,

logo em seguida está a região Nordeste (4.764.426), Sul (4.069.563), Centro-Oeste (2.217.064) e, por

fim, Norte (1.835.681).

O SARS-CoV-2 ao adentrar o organismo humano atinge os receptores da Enzima Conversora da

Angiotensina 2 (ECA2), encontrada na superfície das membranas das células do trato respiratório

baixo, cuja a ligação entre o vírus e o receptor ocorre por meio da glicoproteína S, encontrada na

superfície do vírus. Assim sendo, esta glicoproteína S, também chamada de Spike, possui duas

subunidades que demonstram grande importância quanto ao mecanismo de patogenicidade viral,

onde a S1, determina o alcance do hospedeiro e o tropismo celular pelo domínio de ligação ao

receptor, enquanto a S2 faz a mediação da fusão vírus-célula pelas proteínas de membrana HR1 e HR2.

Consequentemente, após este processo, o vírus já dentro das células humanas começa a liberar RNA

viral no citoplasma e há a tradução das poliproteínas que são responsáveis por codificar proteínas não

estruturais formando o complexo transcrição e replicação viral. Após o RNA formado, juntamente com

as proteínas nucleocapsídeas e glicoproteínas do envelope, montam partículas virais, cuja finalidade

é se unir a membrana plasmática para que, por fim, sejam liberadas na célula hospedeira, de modo, a

expandir a infecção viral, ou seja, provocando a infecção de outras células (SCHNEIDER, 2020).

Diante dos fatos expostos acima, o SARS-CoV-2 ao adentrar o organismo humano, começa a se

desenvolver, multiplicando-se de maneira exacerbada seu material genético e consequentemente a

aparição dos sintomas, dito então período de incubação que, segundo o Departamento Científico de

Infectologia (2020) é caracterizado por aproximadamente 5 dias, desde a infecção e início de sintomas.

214

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

3

Também há relatos, segundo Ávila (2020) que os sintomas podem manifestar de 1 a 14 dias. Os

sintomas variam, são diversos, porém como os mais comuns são descritos a febre (40 a 98%), tosse

(76%), fadiga (44%) e perda do olfato e paladar em 68% dos indivíduos infectados. Na diversidade de

sintomas se encaixam também: cefaleia (8%), congestão nasal, odinofagia, tosse produtiva (28%),

dispneia, mialgia e/ou artralgia, calafrios, náuseas e vômitos e, por fim, diarreia. Em casos na qual a

doença apresenta-se em quadro grave pode haver manifestações clínicas, como: febre alta,

sangramento pulmonar, linfopenia – diminuição na quantidade de linfócitos, e insuficiência renal, ou

seja, há um quadro de insuficiência respiratória muito significativa o que, consequentemente pode

levar o paciente a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) ou até a morte (DEPARTAMENTO CIENTÍFICO

DE INFECTOLOGIA, 2020; HCFMUSP, 2020; ÁVILA et al., 2020).

Estima-se que cerca de 80% das pessoas infectadas com COVID-19 apresentam a forma leve da

doença, cerca de 20% do restante dos pacientes precisam de hospitalização para tratar pneumonia e

pode precisar de assistência terapêutica com oxigênio. Em cerca de 5% dos casos, a pneumonia se

torna tão grave que os pacientes podem precisar ser admitidos em Unidade de Tratamento Intensivo

para suporte ventilatório. Atualmente, a maior atenção tem sido focada na gestão de casos críticos,

no entanto, tornou-se cada vez mais frequente um terceiro grupo considerável de pessoas que

parecem estar demonstrando sintomas contínuos pertencente ao COVID-19 muito mais do que o

esperado para o padrão da doença. Isso levantou preocupação entre a comunidade de saúde devido

ao efeito de longo prazo previsto nos sistemas de saúde (IYENGAR, VAISHYA, ISH, 2021).

A lista de sintomas novos e persistentes relatados pelos pacientes é extensa, incluindo tosse crônica,

falta de ar, aperto no peito, disfunção cognitiva e fadiga extrema. Denominado COVID longo ou

síndrome pós-COVID-19, as implicações e consequências de tais manifestações clínicas em curso são

uma preocupação crescente para a saúde (VENKATESAN, 2021). Sendo assim, esse trabalho teve por

objetivo avaliar a prevalência dos mesmos em indivíduos brasileiros.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um trabalho descritivo, transversal realizado mediante a aplicação de um questionário

semiestruturado online, google forms, enviado a grupos ou plataformas de redes sociais (WhatsApp,

Facebook), cujo critério de inclusão era ser maior de 18 anos e ter sido diagnosticado por COVID-19

previamente.

215

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

4

O questionário continha perguntas para análise dos sintomas persistentes após a infecção aguda.

Posteriormente, os dados foram armazenados em planilhas Excel e demonstrados através de gráficos

e tabelas. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário do

Sul de Minas sob o protocolo: 43864621.5.0000.5111.

3 RESULTADOS

Foram entrevistados 838 indivíduos, maiores de 18 anos, sem restrição de gênero e raça, estes tendo

sido positivados pela COVID-19 em alguma data desde o início da pandemia. A prevalência de

indivíduos entrevistados foi do sexo feminino, totalizando um percentual de 86,75% (727), enquanto

13,25% (111) do sexo masculino. Houve uma prevalência dos indivíduos entre 21 a 40 anos, com um

percentual de 60,97% (511) e média de idade de 31,7 anos.

Em relação as formas clínicas da doença autorrelatadas pelos participantes, prevaleceram as formas

leves e moderadas conforme apresentado na Figura 1. 5

Figura 1 - Gráfico descritivo sobre a forma da doença.

Fonte: os autores.

Quando observado a quantidade de indivíduos com a presença de comorbidade houve um percentual

de 32,58% (273), sendo as mesmas autorrelatadas descritas na tabela 1.

216

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

5

Tabela 1- Descrição das comorbidades pré-existentes nos entrevistados.

Comorbidades pré-existentes Nº %

Hipertiroidismo 1 0,31%

Lúpus Eritematoso Sistêmico 1 0,31%

Psoríase 2 0,61%

Endometriose 2 0,61%

Doença Renal Crônica 2 0,61%

Alergias do trato respiratório 2 0,61%

Talassemia 3 0,92%

Artrite reumatoide 3 0,92%

Trombose 3 0,92%

Bronquite 4 1,22%

Gastrite 4 1,22%

Carcinoma 4 1,22%

Depressão 4 1,22%

Fibromialgia 5 1,53%

Ansiedade 6 1,83%

Hipotireoidismo 10 3,06%

Asma 12 3,67%

Cardiopatias 20 6,12%

Obesidade 32 9,79%

Doença pulmonar 38 11,62%

Diabetes 43 13,15%

Hipertensão Arterial Sistêmica 126 38,53%

Fonte: os autores.

Ao associar a forma da doença com a presença de comorbidade, observou-se que a maior

porcentagem dos entrevistados apresentava a forma moderada da doença como mostrado na figura

2. Em contrapartida, os indivíduos sem comorbidade apresentaram maior prevalências da forma leve

(Figura 3).

217

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

6

Fonte: os autores.

Analisando o período de duração dos sintomas dos entrevistados totais, 52,63% (441) relataram a

presença dos sintomas cujo duração se estendeu por mais de duas semanas, 26,96% (226)

apresentaram sintomas dentre uma e duas semanas, enquanto 20,41% (171) afirmaram a presença

dos sintomas em menos de uma semana. A prevalência dos sintomas relatados pelos entrevistados

que permaneceram por mais de duas semanas estão listados na tabela 2.

218

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

7

Tabela 2- Descrição dos sintomas que perduram por mais de duas semanas.

Fonte: os autores.

Sobre a necessidade de internação hospitalar, observou-se um percentual de 10,98% (92), destes,

44,57% (41) estiveram internados por uma a duas semanas, 38,04% (35) por menos de uma semana e

17,39% (16) por mais de duas semanas, 10% (26) necessitaram de terapia intensiva e 7,61% (7) foram

entubados.

Ao comparar os grupos que necessitaram de internação hospitalar e não necessitaram e o tempo de

duração de sintomas, observou-se que os não internados apresentaram maior prevalência de duração

dos sintomas (figura 4).

219

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

8

Figura 4 - Gráfico descritivo do tempo de sintomas em entrevistados que necessitaram de internação

hospitalar e, também, dos que não necessitaram.

Fonte: os autores.

4 DISCUSSÃO

Em uma análise de dados oficiais das infecções por SARS-CoV-2 na China, 80,9% dos infectados

apresentaram a forma leve da doença, sem presença de pneumonia ou com uma pneumonia branda,

por outro lado, 4,7% manifestaram a forma grave (casos críticos) da doença, e ainda com relatos de

óbitos neste percentual, dos quais os sintomas mencionados eram insuficiência respiratória, choque

séptico e falência múltiplas de órgãos. A percentualidade da forma moderada (casos severos)

representou 13,8% dos casos com a existência de falta de ar, mudança de frequência respiratória e

SRA, porém sem registros de mortes. Na presente pesquisa, os entrevistados relataram

principalmente terem manifestado as formas leves e moderadas da doença, no entanto estas

prevalências deram-se pela própria percepção dos mesmos, não por laudo médico como na pesquisa

chinesa. Porém, pode-se observar que a manifestação da forma grave apresentou muita similaridade.

Em relação a presença de comorbidade 32,58% dos entrevistados relataram apresentar alguma, sendo

que nesse grupo a prevalência da forma grave foi maior do que naqueles que não possuíam

comorbidade. Teich e Colaboradores (2020) afirmaram em seu estudo, no qual o objetivo foi descrever

as características epidemiológicas e clínicas dos pacientes com COVID-19 tratados no Hospital Israelita

Albert Einstein que 20,2%, dos 510 pacientes confirmados pela SARS-CoV-2 apresentavam uma

patologia pré-existente, porém esse percentual demostrou maior relevância quando comparado com

220

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

9

indivíduos que necessitaram de hospitalização e obtinham patologias associadas (50%). As

comorbidades mais citadas a foram a Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes, o que também foi

apresentado nos dados do presente estudo, no qual 38,53% dos entrevistados possuem o diagnóstico

de HAS e 13,15% descreveram ser portadores de Diabetes.

Em um estudo realizado por Moura e colaboradores (2021) sobre as ondas de COVID-19 relataram

que a partir da segunda onda (08/11/2021 até 17/04/2021) houve um grande aumento dos casos com

comorbidade o que provocou maior ocorrência de hospitalização, no qual o tempo médio de

hospitalização foi de 18,6 dias na primeira onda e 18,4 dias na segunda. No estudo presente, observou-

se que a maior parte dos entrevistados que foram internados mencionaram que o período de

internação se compreendeu de uma a duas semanas.

Novamente, em estudos de Teich e Colaboradores (2020), demonstraram que em indivíduos que não

necessitaram de internação hospitalar o prazo de duração médio de sintomas estabeleceu-se em 2,6

dias com desvio padrão de 2,1 dias, porém, nos pacientes com a necessidade de internação hospitalar,

obteve-se uma média de 3,9 dias de duração dos sintomas com desvio padrão de 2,7 dias. No presente

estudo, não foi possível observar essa diferença uma vez que a análise foi realizada a partir de mais de

2 semanas do diagnóstico.

Em um estudo realizado por Silva e Colaboradores (2021) com 888 pacientes, no qual avaliaram os

sintomas após um mês de contágio pelo SARS-CoV-2 mencionaram que, os sintomas iniciais quando

estavam na fase aguda caracterizavam como cefaleia, perda do olfato e paladar, dores no corpo, fadiga

e tosse, entretanto, quando reanalisados após um mês de contágio 26% dos participantes

mencionaram ainda apresentar fadiga, 20,3% perda do olfato, 16,7% dor de cabeça, 15% perda do

paladar, 14,6% dores no corpo e 11,1% tosse, deste modo, quando correlacionado estes dados com

os obtidos no presente estudo pode-se observar uma similaridade com os sintomas persistentes pós

fase aguda.

Peres (2020) em uma análise de sintomas persistentes relacionados a síndrome pós-COVID, relatou

que entre os sintomas mais comuns mencionados em análises clínicas e relatos de pacientes foram a

perda do olfato e paladar, fadiga, dores nas articulações e musculares, taquicardia, hipertensão ou

hipotensão sem causa determinada e dispneia o que também, na maioria, é condizente com os dados

obtidos, além disso, foi citado a presença de alterações no comprometimento cognitivo com

evidências de perda de memória e dificuldades de concentração.

221

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

10

Wu (2021) em uma análise de síndrome pós COVID-19 relatou que, diversos indivíduos recuperados

ainda vivem com sequelas oriundas da infecção em diversos sistemas, sejam eles problemas

respiratórios, dores nas articulações, palpitações cardíacas, quedas dos cabelos, depressão e

ansiedade, dificuldades de raciocínio, linguagem e memória, além de propiciar um agravamento

perceptível de doenças já preexistentes nos indivíduos.

Salamanna e Colaboradores (2021) realizaram uma revisão bibliográfica cujo objetivo foi coletar

evidências sobre os sintomas de longo prazo após COVID-19, após uma análise de 145 publicações

sobre o assunto consideraram a partir dos mesmos que destacaram uma proporção notável de

pacientes que apresentaram a "síndrome pós-COVID", cujas sequelas podem durar 6 meses ou mais,

além do que, estes sintomas não estão presentes apenas em casos graves de COVID-19, mas também

em pacientes leves e moderados. Além disso, dados preliminares recentes também sublinharam a

presença de sintomas de COVID-19 de longa duração em crianças e adolescentes e risco potencial em

até duas vezes mais em mulheres com idade entre 40 e 50 anos e após os 60 anos o nível de risco é

semelhante entre os gêneros. No entanto, atualmente, ainda não se tem o espectro completo da

duração e gravidade dos sintomas de longo prazo nesses pacientes.

Essa revisão também relata que os sintomas mais comuns são as funções pulmonares anormais

prevalentemente com dispneia persistente, decadência neurológica geral, alterações do olfato e

paladar e fadiga crônica. Outros sintomas comuns incluem dores nas articulações e no peito. Esses

sintomas podem demorar ou recorrer por semanas ou meses após a inicial recuperação. Para

pacientes com COVID-19 leve a moderado, os sintomas de longo prazo mais comuns são fadiga

crônica, anosmia / ageusia, dispneia, mas também dificuldade de concentração, perda de memória e

confusão. Esses sintomas parecem estar presentes em uma porcentagem maior de pacientes que

estavam inicialmente mais doentes. Em pacientes com COVID-19 críticos a graves, os sintomas

suplementares de longo prazo são alterações pulmonares semelhantes à fibrose por até 6 meses após

a infecção e uma grande redução na capacidade de difusão do pulmão para DLCO que frequentemente

requer uso de oxigênio também após alta hospitalar. Da mesma forma, a decadência cognitiva geral,

apesar de também estando presente em pacientes com COVID-19 leve a moderado, parece estar mais

relacionado a formas críticas a graves de COVID-19. Sendo importante destacar a fadiga crônica como

o sintoma mais prevalente em pacientes com COVID-19 tanto na forma leve como grave (SALAMANNA

et al., 2021).

222

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

11

Atualmente, ainda não está claro porque complicações de longo prazo persistem em alguns pacientes

com COVID-19. No entanto, sugere-se que estão associados à capacidade do coronavírus de

desencadear uma enorme resposta inflamatória, porém outros aspectos ainda necessitam ser

avaliados como viremia, eliminação do vírus, tratamento, entre outros (IWU; WIYSONGE, 2021;

NASSERIE; HITTLE; GOODMAN, 2021).

Claramente, um grande número de recursos tem sido dispensado na recuperação de pacientes com

sequelas de COVID-19 de longo prazo. No Reino Unido, 68 clínicas foram criadas até agora pelo Serviço

Nacional de Saúde para avaliar os efeitos pós-COVID-19. Além disso, em dezembro de 2020, o Instituto

Nacional para Excelência em Saúde e Cuidados (NICE) em parceria com o escocês Rede de Diretrizes

Intercolegiais e o Royal College of General publicaram uma diretriz de gestão clínica nos cuidados dos

efeitos do COVID-19 longo. Nesta, duas definições de COVID-19 pós-agudo são dados: (1) COVID-19

sintomático contínuo para pessoas que ainda apresentam sintomas entre 4 e 12 semanas após o início

dos sintomas agudos; e (2) síndrome pós-COVID-19 para pessoas que ainda apresentam sintomas de

mais de 12 semanas após o início de sintomas agudos. A diretriz também faz recomendações para

clínicas de investigações de pacientes apresentando sintomas novos ou em curso de 4 semanas, ou

mais tarde após a infecção aguda. As investigações recomendadas incluem um hemograma completo,

rim e testes de função hepática, um PCR-reativo e teste de tolerância ao exercício (nível de registro de

falta de ar, frequência cardíaca e saturação de O2). Elas também recomendam que uma radiografia de

tórax deve ser oferecida a todos os pacientes por 12 semanas após a infecção aguda (VENKATESAN,

2021).

Por fim, é importante ressaltar que os sintomas persistentes geram implicações para o funcionamento

associado à saúde e a qualidade de vida dos indivíduos acometidos e mais estudos são necessários

visando um acompanhamento mais longo dos pacientes, com caracterização mais consistente dos

riscos e impacto.

4 CONCLUSÃO

Fica evidente a importância das sequelas geradas pela COVID-19, seu impacto no sistema de saúde e

socialmente, sendo crucial as bases científicas que investigam esses efeitos e a compreensão da

fisiopatologia da COVID de longo prazo, para melhor manejo clínico e prevenção.

223

COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

12

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

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COVID-19: Persistência Dos Sintomas Pós Fase Aguda.

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226

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904766

Capítulo 15

A SEGURANÇA DO PACIENTE NO CENTRO CIRÚRGICO NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA

COVID-19

Juscivania de Jesus Santos Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Bahia, Brasil.

Fernanda Matheus Estrela Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Bahia, Brasil.

Tania Maria de Oliveira Moreira Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Bahia, Brasil.

Marcia Gomes Silva Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Bahia, Brasil.

Terezinha Andrade Almeida Universidade Estadual da Bahia, Salvador, Ba

Deise Alves Caires Maternidade Climério de Oliveira

Daniela Fagundes Oliveira Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil.

Deliane Souza Santos Maternidade Climério de Oliveira

Amanda Cibele Gaspar dos Santos Universidade Federal da Bahia

Emanoelle de Oliveira Moreira UNIFTC

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

1

INTRODUÇÃO

A atuação da enfermagem é fundamental para a eficiência dos procedimentos realizados no centro

cirúrgico, promovendo uma assistência contínua e segura ao paciente (GONÇALVES SOUZA et al.,

2020), através de instrumentos e metodologias que operacionalizam essa assistência, como a Lista de

Verificação de Segurança Cirúrgica (LVSC) e a Sistematização da Assistência de Enfermagem

Perioperatória (SAEP). A segurança do paciente recebeu destaque na pandemia de COVID-19.

O contexto da pandemia de COVID-19 impulsionou alterações na dinâmica dos setores da saúde,

inclusive no Centro Cirúrgico, onde houve a priorização das cirurgias de urgência e emergência em

detrimento das eletivas (ANVISA, 2020). A retomada dos procedimentos cirúrgicos na íntegra deve se

fundamentar em novos protocolos voltados para prevenção e controle da transmissão do novo

coronavírus –SARS-CoV-2 (ANVISA, 2020).

A transmissão direta ocorre através de gotículas respiratórias e aerossóis resultantes da manipulação

das vias aéreas (LIMA et al., 2020), infere-se que o manejo dessas vias nos procedimentos anestésicos

e a dificuldade de comunicação entre a equipe que ocorrem no centro cirúrgico aumentam o risco de

contágio paciente-paciente e paciente-profissional. (OLIVEIRA; GONÇALVES; DA COSTA LIMA, 2020)

Dados mundiais revelam a alta frequência de eventos adversos no centro cirúrgico. Anualmente, já

são registradas sete milhões de complicações decorrentes de intervenções cirúrgicas no mundo e, ao

menos, um milhão desses pacientes evoluem com óbito (DE ARAÚJO; CARVALHO, 2018). Dessa forma,

faz-se necessário que medidas de prevenção e controle sejam realizadas de modo a conferir uma

segurança para os profissionais e pacientes.

Cabe destacar que durante a pandemia, a evolução da infecção pelo Sars-Cov-2 pode ser caracterizada

como um evento adverso relacionado à cirurgia. Estudo realizado por profissionais de saúde chineses

evidenciou que os procedimentos cirúrgicos estão relacionados com a progressão da COVID-19 nos

pacientes que tiveram exposição viral prévia. A pesquisa demonstrou que 44,1% dos pacientes em

pós-cirúrgico precisam ser admitidos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) onde a taxa de mortalidade

desses pacientes é elevada (20,5%). (LEI et al., 2020).

No Brasil, a reorganização de prioridades cirúrgicas foi uma das medidas de enfretamento da

pandemia. Entretanto, considera-se que os possíveis impactos da suspensão inconsequente de

cirurgias eletivas podem ser mais exorbitantes que a morbimortalidade causada pela COVID-19

228

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

2

(ANVISA, 2020). Sendo assim, deve-se analisar a necessidade do tratamento e o risco potencial

resultante da exposição ao vírus.

Durante a pandemia, os cuidados no ambiente cirúrgico precisaram ser reavaliados. Questões

referentes à segurança do paciente se intensificaram, principalmente quando relacionadas à

prevenção e controle de infecções, com destaque para a COVID-19. (OLIVEIRA; GONÇALVES; DA COSTA

LIMA, 2020). Urge salientar que evitar agravos à saúde é dever de todos os profissionais de saúde.

As funções desempenhadas pela equipe de enfermagem são essenciais para garantir a segurança do

paciente cirúrgico. A atuação do enfermeiro contribui com o desenvolvimento de tecnologias e

quando aplicadas de forma correta proporcionam segurança e qualidade à assistência prestada (SILVA

et al., 2019). Para tanto, é necessário que essa assistência seja feita de forma sistematizada.

A sistematização da assistência de enfermagem perioperatória (SAEP) é fundamental para estabelecer

a segurança do paciente, visto que promove uma assistência continuada, participativa, individualizada

e documentada. (JOST; VIEGAS; CAREGNATO, 2018). Além da SAEP, o enfermeiro pode utilizar

instrumentos que verifiquem a seguridade do procedimento cirúrgico.

Um dos instrumentos que favorecem a segurança do paciente é a Lista de Verificação de Segurança

Cirúrgica (LVSC), a qual melhora o trabalho em equipe, a comunicação e a segurança do paciente.

(PRADO TOSTES; GALVÃO, 2020). O aumento da vulnerabilidade a erros cirúrgicos com a pandemia

impulsionou discussões sobre adaptações do checklist para abranger as intervenções cirúrgicas em

pessoas sob isolamento respiratório. (OLIVEIRA; GONÇALVES; DA COSTA LIMA, 2020).

Portanto, o estudo é motivado pela necessidade de garantir uma assistência segura ao paciente em

perioperatório a fim de evitar o contágio e o agravamento da COVID-19. Contribuindo com a prática

acadêmica ao reforçar a importância da aplicação de instrumentos que contemplem a segurança do

paciente, sobretudo na conjuntura atual.

O presente estudo objetiva refletir sobre a contribuição da Sistematização da Assistência de

Enfermagem Perioperatóira (SAEP) e da Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica (LVSC) para a

segurança do paciente no contexto da pandemia de COVID-19.

METODOLOGIA

Trata-se de revisão narrativa, desenvolvida com base em artigos publicados em periódicos e

documentos de órgãos oficiais. Este método permite descrever o estado da arte, de modo a sintetizar

229

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

3

o conhecimento já exposto na literatura, somado às reflexões propostas pelos autores. Tal

metodologia contribui para a discussão sobre um tema e é indicada para temáticas que necessitam de

maiores aprofundamentos, que embase a prática e sirva de subsídio para olhar para Sistematização

da Assistência de Enfermagem Perioperatóira (SAEP) e da Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica

(LVSC) para a segurança do paciente no contexto da pandemia de COVID-19.

Visando um melhor entendimento do presente estudo, os resultados foram organizados em quatro

capítulos. O primeiro deles, abordou-se “segurança do paciente”, no segundo, a “efeitos adversos as

práticas cirúrgicas”, abordando o histórico, conceito e análises. Em seguida foram discutidos: “Lvsc e

saep: estratégias para melhorar a segurança do paciente cirúrgico” ”, e por último foi abordado “a

segurança do paciente cirúrgico durante a pandemia de covid-19” sendo esta essencial para a

enfermagem, como estratégia que contribuindo com a prática acadêmica ao reforçar a importância

da aplicação de instrumentos que contemplem a segurança do paciente, sobretudo na conjuntura

atual.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

SEGURANÇA DO PACIENTE

A Segurança do Paciente é definida como a redução de danos evitáveis a um valor mínimo aceitável.

(BRASIL, 2013). Esse princípio fundamental da prestação de cuidados, vem se tornando preocupação

constante na saúde, visto que falhas assistenciais podem causar danos irreparáveis ao paciente e

impactam negativamente os sistemas de saúde (DE ARAÚJO; CARVALHO, 2018).

Questões referentes à temática receberam destaque a partir do relatório To Err is Human divulgado

pelo Institute of Medicine (IOM) nos Estados Unidos, onde os eventos adversos eram responsáveis por

aproximadamente 100 mil óbitos por ano e elevavam os gastos do serviço (BRASIL, 2014). As

informações obtidas na pesquisa revelaram a importância do debate global acerca da segurança do

paciente.

A partir do século XXI, a segurança do paciente torna-se preocupação mundial e recebe o caráter de

indicador fundamental da qualidade em saúde. Novas associações e organizações relacionadas à

segurança do paciente foram instituídas em países com diferentes sistemas de saúde além dos Estados

Unidos, dentre eles estão a Inglaterra, Irlanda, Austrália, Canadá, Espanha, França, Nova Zelândia e

Suécia. (REIS; MARTINS; LAGUARDIA, 2013)

230

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

4

Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) institui a Aliança Mundial para Segurança do

Paciente em 2004, com a finalidade de subsidiar a adoção da cultura de segurança do paciente em

áreas-chaves da prestação da assistência, nas políticas baseadas em evidência e nas pesquisas

mundiais.(MAGALHÃES COSTA et al., 2020). Foram propostos, então, três desafios globais em

contextos específicos que necessitavam reforçar a segurança assistencial.

O primeiro desafio global, lançado em 2005, focou na prevenção das IRAS (infecções relacionadas à

assistência à saúde); o segundo, em 2008, direcionou-se à segurança cirúrgica; o terceiro, por sua vez,

foi divulgado em 2017, com o intuito de reduzir os danos desnecessários associados à terapia

medicamentosa. (MAGALHÃES COSTA et al., 2020). Observa-se que a segurança cirúrgica é prioridade

central no segundo desafio apontado pela OMS.

Conforme o segundo Desafio Global para a Segurança do Paciente, prevenir infecções de sítio

cirúrgico, realizar anestesia segura, estabelecer equipes cirúrgicas seguras e utilizar indicadores da

assistência cirúrgica se constituíram como medidas para aumentar a qualidade em serviços de saúde

ao redor do mundo (OMS, 2009). Sendo assim, estratégias para atender a esse desafio têm sido criadas

em diversos países, inclusive no Brasil.

No Brasil, desde 1990, já havia sido proposto a aplicação o processo de enfermagem (PE) para

respaldar o cuidado de pacientes cirúrgicos nos períodos pré, trans e pós-operatório imediato (POI), a

saber:

O período pré-operatório divide-se em mediato e imediato, sendo o pré-operatório mediato desde o momento que se decide pela cirurgia até um dia antes do procedimento. O pré-operatório imediato acontece nas 24 horas anteriores ao ato anestésico-cirúrgico [...]. O transoperatório compreende desde a entrada do paciente no centro cirúrgico (CC) até sua saída da sala de cirurgia, após o término do procedimento anestésico-cirúrgico. O período pós-operatório imediato abrange as primeiras 24 horas após a cirurgia e inclui o tempo em que o paciente permanece na sala de recuperação pós-anestésica (SRPA). (DOS SANTOS LUCIANO et al., 2019, p.201).

Entretanto, somente após o segundo desafio global, questões referentes a segurança cirúrgica se

intensificaram. Em 2009, o Ministério da Saúde (MS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)

publicam a versão traduzida para o português do manual Cirurgias Seguras Salvam Vidas que

fundamenta a implementação de medidas acerca da segurança do paciente. (SILVA et al., 2019). A

temática também é reforçada em publicações posteriores.

Em 2013, o Ministério da Saúde através da Portaria nº 529/2013 e institui o Programa Nacional de

Segurança do Paciente (PNSP), visando garantir uma assistência prestada de qualidade em todas as

231

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

5

instituições brasileiras de saúde (BRASIL, 2013), ratificando a elaboração de normas e protocolos

referentes a segurança em diversos setores de assistência à saúde.

Após sete anos, devido à pandemia de COVID-19, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

publica uma nota técnica de orientações para os serviços de saúde enfatizando a prevenção o controle

de infecções pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) em procedimentos cirúrgicos. (ANVISA, 2020), visto

que o risco de danos ao paciente é inerente ao ambiente cirúrgico.

O centro cirúrgico (CC) é uma unidade de grande complexidade dentro do ambiente hospitalar. A

equipe de trabalhadores desse setor, os recursos materiais e as tecnologias utilizadas enfocam a

assistência perioperatória ao paciente, com o objetivo de garantir o êxito do tratamento (JOST;

VIEGAS; CAREGNATO, 2018). Os procedimentos cirúrgicos são responsáveis por tratar inúmeras

patologias.

Apesar dessas intervenções serem fundamentais para o tratamento de diversas incapacidades e

redução de óbitos secundários a enfermidades, a falta de qualidade na assistência ainda se configura

como problema mundial (DE ARAÚJO; CARVALHO, 2018), evidenciado por fatores que propiciam a

ocorrência de danos ao paciente perioperatório.

O alto risco de incidentes cirúrgicos pode estar relacionado a fatores individuais ou coletivos, com

destaque para o elevado nível de tensão dos profissionais, comunicação ineficaz da equipe, alta carga

de trabalho e outros vínculos empregatícios (JÚNIOR et al., 2020). Sendo assim, tanto a equipe

multiprofissional quanto os gestores do serviço devem estar envolvidos na construção de uma cultura

de segurança do paciente.

A cultura de segurança do paciente se constitui como pilar estrutural dos serviços de saúde, sua

incorporação na assistência é responsável por contribuir com o desenvolvimento de práticas seguras.

Desse modo, os processos organizacionais são aprimorados, reduzindo a incidência de efeitos

adversos e por consequência, melhorando gradualmente a qualidade assistencial, (MAGALHÃES

COSTA et al., 2020), sobretudo na assistência cirúrgica.

A segurança cirúrgica abrange todos os períodos do perioperatório, no intuito de reduzir as

complicações secundárias aos procedimentos cirúrgicos. (GONÇALVES SOUZA et al., 2020). Infecções

no sítio cirúrgico e os óbitos secundários a complicações anestésicas, por exemplo, destacam-se

dentre as complicações graves. (OMS, 2009). Desse modo, os eventos adversos no CC precisam ser

minimizados.

232

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

6

EVENTOS ADVERSOS E AS PRÁTICAS CIRÚRGICAS

Compreende-se por eventos adversos todo dano desnecessário causado ao paciente que resultam em

efeitos ou comprometem estruturas e funções do organismo, dentre as causas estão doenças, lesões,

incapacidades e óbitos, sendo classificados como físico, social ou psicológico (BRASIL, 2013). Os

eventos adversos também podem variar de acordo com a gravidade.

Eventos adversos graves secundários às intervenções cirúrgicas estão relacionados à assistência

prestada ao paciente, prolongando sua internação, elevando os custos e o risco de óbito. As falhas na

assistência podem ser observadas em procedimentos realizados nos sítios incorretos, nas infecções de

sítio cirúrgico, quando há equívocos no posicionamento do paciente, na administração

medicamentosa e na indução anestésica. (DE ARAÚJO; CARVALHO, 2018)

Dentre os eventos adversos cirúrgicos, as infecções e outros problemas envolvendo a ferida cirúrgica

foram mais recorrentes, seguidos de infecções não relacionadas à ferida cirúrgica e hemorragias. (SELL

et al., 2016) Sendo necessário reforçar a importância da prevenção dessas complicações durante o

trabalho da equipe.

Vale salientar que erros de medicações, queimaduras durante o procedimento, quedas dos pacientes,

hemorragias por desconexão de drenos são exemplos de eventos adversos mais frequentes no

cuidado de enfermagem (SILVA et al., 2015). Todavia, os eventos adversos devem ser evitados por

todos os profissionais envolvidos no processo, uma vez que o acontecimento dos mesmos não se

restrinja à atuação do enfermeiro.

Nesse sentido, investir na qualidade da assistência é importante para estabelecer a segurança do

paciente, principalmente no CC, onde os eventos adversos acontecem com maior frequência. Pode-se

destacar que 50% dos eventos adversos graves estão associados à prática cirúrgica e foram

classificados como evitáveis (DE ARAÚJO; CARVALHO, 2018).

Dados da OMS revelaram que os procedimentos cirúrgicos, em países industrializados, foram

responsáveis por 3-16% das complicações relevantes e cerca de 0,4-0,8% das taxas de incapacidade

permanente ou óbito. Nos países em desenvolvimento, as cirurgias extensas apresentam uma taxa de

mortalidade equivalente a 5-10%. Na África subsaariana, os óbitos secundários à anestesia geral

acontecem em um a cada 150 indivíduos (OMS, 2009).

Ademais, estatísticas mundiais revelaram que 234 milhões de cirurgias foram realizadas em 2008, o

valor equivale em proporção a uma cirurgia para cada 25 pessoas vivas. Dentre esses procedimentos,

233

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

7

dois milhões resultaram em óbitos e aproximadamente sete milhões causaram complicações

preveníveis (SILVA et al., 2015). As informações obtidas nas pesquisas justificaram a urgência da

campanha do segundo desafio global proposto pela OMS.

Desde o Segundo Desafio Global para a Segurança do Paciente, o Brasil vem assumindo o compromisso

de reforçar medidas referentes à segurança do paciente. Contudo, nos hospitais brasileiros, uma

elevada incidência de eventos adversos continua sendo observada, dentre os quais 20,0%

correspondem a complicações cirúrgicas e anestésicas.(SIMAN; BRITO, 2017)

Estudo realizado nos dois anos consecutivos à divulgação do segundo desafio proposto pela OMS,

mostrou que 36% das complicações e 47% da mortalidade em pacientes cirúrgicos foram reduzidas

após a implantação da cirurgia segura. (SILVA et al., 2019). Contudo, no Brasil, uma pesquisa revelou

que dentre eventos adversos cirúrgicos mais frequentes estão a retenção inadvertida de itens

cirúrgicos em cavidades do paciente, cirurgias equivocadas e lado errado. (TADA et al., 2021).

A retenção pós-operatória de corpos estranhos recebe destaque, principalmente em cirurgias

abdominais com incidência entre 0,15% e 0,2%, podendo gerar complicações graves ao paciente, pois

corroboram uma taxa de mortalidade entre 10% e 18%. (AMARAL et al., 2014). É perceptível que a

taxa de incidência dos eventos adversos cirúrgicos ainda é significativa, ratificando a necessidade da

adoção de estratégias que reforcem a segurança no serviço.

LVSC E SAEP: ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR A SEGURANÇA DO PACIENTE CIRÚRGICO

Uma das alternativas encontradas pela OMS, foi elaboração da Lista de Verificação de Segurança

Cirúrgica (LVSC) apresentada na forma de checklist para reforçar práticas de segurança e melhorar a

comunicação e trabalho de equipe entre as áreas da saúde, o intuito central era auxiliar os

profissionais, principalmente do CC, na redução de danos causados ao paciente. (OMS, 2009).

Trata-se de um checklist padrão cuja participação deve ser de todos os profissionais da equipe

cirúrgica. Envolve três momentos diferentes de aplicação: antes da indução anestésica (Sign In), antes

da incisão cirúrgica (Time Out) e antes que o paciente deixe a sala de cirurgia (Sign Out). (SOUZA et al.,

2016).

A LVSC aborda momentos chaves para verificar os riscos à segurança do paciente cirúrgico, totalizando

20 itens. A primeira checagem ocorre antes da indução anestésica, onde são abordados os seguintes

pontos:

234

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

8

[...] (1) identificação de dados e consentimento do paciente, (2) demarcação do sítio cirúrgico, (3) verificação do funcionamento de equipamentos de anestesiologia e medicamentos, (4) funcionamento do oxímetro de pulso, (5) investigação e registros sobre alergias, (6) avaliação pelo anestesista quanto a risco de via aérea difícil para intubação e (7) risco de perda sanguínea. (SANTOS; DOMINGUES; APPOLONI EDUARDO, 2019, n.p.)

Após a indução anestésica e antes da incisão cirúrgica, sucedem as verificações da equipe, confirmação

de informações a respeito do procedimento e detalhamento de possíveis eventos críticos:

[...] (8) apresentação dos membros da equipe conforme nome e função, (9) confirmação da identificação do paciente e (10) da localização onde será realizada a incisão, descrição de possíveis eventos críticos considerados pelo (11) cirurgião, (12) anestesiologista, (13) equipe de enfermagem; (14) certificação de realização da profilaxia antibiótica nos últimos 60 minutos e (15) acessos aos exames de imagem. (SANTOS; DOMINGUES; APPOLONI EDUARDO, 2019, n.p.)

Finalmente, após o término do procedimento, antes que o paciente seja removido da sala cirúrgica,

confirma-se o procedimento, contabilizam-se os insumos utilizados, bem como, defeitos dos mesmos,

recolhe-se para investigação histopatológica e realiza-se a avaliação dos profissionais sobre a evolução

do tratamento:

[...] (16) o tipo do procedimento, (17) resultados da contagem de instrumentais, compressas e agulhas, (18) identificação de amostras e (19) problemas com equipamentos, (20) toda a equipe cirúrgica (Enfermagem, Anestesiologista e Cirurgião) descrevem suas preocupações quanto ao cuidado para a recuperação e manejo do paciente. (SANTOS; DOMINGUES; APPOLONI EDUARDO, 2019, n.p.)

A LVSC fundamenta-se em três princípios: Simplicidade, ampla aplicabilidade e possibilidade de mensuração do

impacto. O propósito é facilitar a aplicação, abordar todos os contextos, identificar e quantificar os dados

significativos. (OMS, 2009). O checklist também apresenta alta viabilidade por se tratar de um instrumento de

rápida aplicação e de baixo custo(SOUZA et al., 2016)b.

Após a implantação do checklist, observou-se melhorias cirúrgicas significativas. Especialistas da OMS

realizaram uma pesquisa em oito países (Canadá, Índia, Jordânia, Filipinas, Nova Zelândia, Tanzânia, Inglaterra

e EUA), que revelou uma diminuição de 36% nas complicações cirúrgicas, 47% da taxa de mortalidade, 50% nas

infecções e 25% de chance de outra intervenção cirúrgica. (ALPENDRE et al., 2017)

Além disso, o trabalho em equipe, a comunicação e a segurança do paciente também melhoraram

consideravelmente após o uso da LVSC desde a sua implementação nos hospitais.(PRADO TOSTES; GALVÃO,

2020). Entretanto, a restrição do uso ao transoperatório se constitui como uma limitação do instrumento.

Apesar da eficiência da LVSC, aplicar os cuidados de enfermagem de forma sistematizada, organizada e

sequencial no pré, no trans e no pós-operatório corroboram a segurança do paciente submetido ao ato cirúrgico

235

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

9

(DOS SANTOS LUCIANO et al., 2019). Sendo assim, há também a necessidade de sistematizar assistência de

enfermagem, para que as questões de segurança sejam efetivadas em todo o perioperatório.

A Sistematização da Assistência de Enfermagem Perioperatória (SAEP) possibilita o planejamento e o controle

da assistência no pré, trans e pós-operatório, fundamenta a atuação do enfermeiro no CC na promoção de uma

assistência integral e de qualidade, permite uma intervenção adequada, planejada, individual além da avaliação

dos resultados (FENGLER; MEDEIROS, 2020). Conhecer as etapas da SAEP é imprescindível para colocá-la em

prática.

A sistematização inicia com a visita pré-operatória para a avaliação de enfermagem, a partir dessa avaliação, a

assistência pré-operatória é planejada e implementada. Após a implementação, avalia-se a assistência na visita

pós-operatória de enfermagem, verificando a necessidade de reformular a assistência de acordo com os

resultados obtidos.(DOS SANTOS LUCIANO et al., 2019)

A SAEP, para a maioria dos profissionais, é essencial para estabelecer a qualidade da assistência. Contudo, a

falta de tempo, a sobrecarga de trabalho e a falta de compreensão acerca das atribuições do enfermeiro no CC

são fatores que dificultam a sua implantação pelos profissionais. (FENGLER; MEDEIROS, 2020)b. Desse modo,

entender a importância da atuação da enfermagem também é fundamental para o processo de cirurgia segura.

O enfermeiro que atua no centro cirúrgico é considerado como profissional indispensável para promover a

segurança tanto de pacientes, quanto de profissionais, ao auxiliar na organização a assistência perioperatória,

principalmente no contexto de emergência pública ocasionada pela pandemia de COVID-19. (TREVILATO et al.,

2020).

A SEGURANÇA DO PACIENTE CIRÚRGICO DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19

A doença do coronavírus 2019 (COVID-19) se caracteriza como uma síndrome respiratória aguda grave causada

pelo vírus SARS-CoV-2. Os primeiros casos da infecção ocorreram em dezembro de 2019, na China,

manifestando-se através de uma pneumonia de origem, até o momento, desconhecida. Em março de 2020, a

OMS então declara a COVID-19 como pandêmica (CAMPOS; LEITÃO, 2021).

Diversas pesquisas têm sido realizadas para definir as características dessa infecção, a exemplo da

transmissibilidade. A principal via de transmissão é a respiratória, por meio da inalação de gotículas e aerossóis

expelidos ao tossir ou espirrar. A aerossolização de substâncias corpóreas também ocorre durante o manejo de

vias aéreas em procedimentos como a intubação, extubação e ventilação, realizados com frequência no centro

cirúrgico (SOBECC, 2020). Aumentando o risco de contaminação dos pacientes.

Apesar do risco de infecção pelo Sars-Cov-2 associado ao procedimento cirúrgico ainda ser desconhecido

(MOORE-PEREA; MOORE-CANADAS, 2020), estudos apontam a possível relação entre a intervenção cirúrgica e

a evolução rápida dos sintomas da COVID-19 em pacientes previamente expostos ao vírus (LEI et al., 2020).

236

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

10

Nota-se a importância de estabelecer orientações para a realização de procedimentos cirúrgicos na conjuntura

atual.

Recomendações da ANVISA para segurança no CC, propõem a priorização de cirurgias de urgência e

emergência, suspensão de cirurgias eletivas, presença apenas de profissionais indispensáveis na sala cirúrgica

e afastamento daqueles que apresentarem sintomas da COVID-19, triagem pré-operatória para detecção dos

portadores, capacitação da equipe acerca dos sinais e sintomas, higiene das mãos e manejo de equipamentos

de proteção individual (EPIs) (ANVISA, 2020).

Contudo, é preciso atentar-se para os problemas de segurança secundários às medidas de prevenção e controle

da COVID-19 adotadas no CC. Estudo realizado na Colômbia, revelou que os EPIs utilizados durante a pandemia

interferiam na comunicação da equipe cirúrgica, o que prolonga a permanência na sala, os tempos cirúrgicos,

e por consequência, aumenta os riscos de segurança do paciente. (SANCHEZ-HERNANDEZ; CABRERA-VARGAS;

VILLARREAL-VIANA, 2020).

As repercussões causadas pela suspensão de procedimentos cirúrgicos também precisam ser analisados, pois a

maioria dos pacientes que dependem de cirurgias eletivas possuem doença progressiva e devido à incerteza do

desenvolvimento da COVID-19 nos meses seguintes, adiar essas cirurgias pode resultar em emergências no

futuro.(AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS, 2020). Logo, o paciente ficará mais suscetível aos eventos

adversos.

É notório que a pandemia impactou a dinâmica do centro cirúrgico, impulsionando alterações no fluxo de

atendimento e questões referentes à segurança do paciente, que por sua vez, precisa estar interligada ao

cuidado cirúrgico, à prevenção e ao controle de infecções, com destaque para a COVID-19, no contexto de risco

instaurado (OLIVEIRA; GONÇALVES; DA COSTA LIMA, 2020). Nesse sentido, a atuação do enfermeiro é essencial

para reorganizar a assistência.

O enfermeiro no centro cirúrgico consegue identificar problemas, possíveis erros, dificuldades e fragilidades

que podem interferir na segurança do paciente em perioperatório. (SILVA et al., 2019). Portanto, o enfermeiro,

ao utilizar ferramentas como a LVSC e a SAEP, que abordam a segurança da assistência prestada, pode contribuir

com a minimização dos danos causados ao paciente, sobretudo na pandemia de COVID-19 que potencializa o

risco de eventos adversos.

CONCLUSÃO

A SAEP e a LVSC são ferramentas inerentes à atuação da enfermagem cirúrgica. O caráter emergencial na saúde

pública revelou a importância do enfermeiro na reorganização da assistência perioperatória, para atender as

novas demandas desse período crítico e garantir a segurança de profissionais e pacientes.

237

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

11

As atividades desenvolvidas pela enfermagem no centro cirúrgico são indispensáveis na prevenção de agravos

à saúde sobretudo na perspectiva atual, quando se observou alta morbimortalidade em pacientes com COVID-

19 no pós-operatório.

238

A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

12

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A Segurança Do Paciente No Centro Cirúrgico No Contexto Da Pandemia Da COVID-19

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240

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904771

Capítulo 16

HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA: FATORES ASSOCIADOS E PRÁTICAS DE CONTROLE NA

POPULAÇÃO DE CARMO DA CACHOEIRA, MINAS GERAIS.

Kathryn Evangelista Carvalho Centro Universitário do Sul de Minas

Thiago Franco Nasser Centro Universitário do Sul de Minas

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

1

Resumo: A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é conhecida popularmente como pressão alta, se

caracteriza como uma doença crônica, de identidade silenciosa cujo desenvolvimento é longo e

persistente, sendo uma condição clínica multifatorial. É denominada pela alta pressão sanguínea sob

as artérias, ultrapassando os limites de 140/90 mmHg. O trabalho busca então identificar em

indivíduos habitantes de Carmo da Cachoeira, Minas Gerais, portadores da HAS, os fatores associados

e as práticas de controle. Dessa forma, o estudo se mostra relevante visto que a Hipertensão Arterial

Sistêmica, doença na qual atinge grande parte da população brasileira, em média, 33% dos adultos e

mais de 60% dos idosos, o que, consequentemente contribui com pelo menos 50% das mortes por

doenças cardiovasculares. Para tanto, busca-se avaliar indivíduos com presença de hipertensão –

através de um questionário semiestruturado que abrange questões como: auto relato de patologias

interligadas à hipertensão, questões comportamentais, sociodemográficas, socioeconômicas e, por

fim, questões que abrangem a promoção de melhorias com aplicação de projetos de intervenção,

como: estimular a práticas de exercícios físicos e boa alimentação, acompanhamento médico

frequente – na população relatada hipertensa.

Palavras-chave: Hipertensão Arterial Sistêmica. Fatores associados. Práticas de controle.

242

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

2

1 INTRODUÇÃO

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é conhecida popularmente como pressão alta, se caracteriza

como uma doença crônica, de identidade silenciosa e desenvolvimento longo e persistente, sendo

uma condição clínica multifatorial - complexas interações. Denominada pelos níveis elevados da

pressão sanguínea nas artérias, ou seja, valores iguais ou superiores a 140/90 mmHg, visto que, o valor

dito fisiológico, dentro dos padrões são 120/80 mmHg. Assim sendo, há fatores estressantes gerados

pela alta pressão sob as artérias, já que, esse elevado nível faz com que o coração comece a exercer

um esforço exacerbado, maior que quando comparado ao normal. Entretanto, a HAS é um dos

principais fatores desencadeantes do Acidente Vascular Cerebral (AVC), morte súbita, Acidente

Vascular Encefálico (AVE), Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), aneurisma arterial e insuficiência renal

e cardíaca (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019; LESSA, 2001; DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO

ARTERIAL, 2017).

Segundo dados do Ministério da Saúde (2019), eventualmente 57,4 milhões, em média, de indivíduos

possuem ao menos uma Doença Crônica Não Transmissível (DCNT) no país, característica que a HAS

(Hipertensão Arterial Sistêmica) se enquadra, desta população, segundo dados Boing (2007),

aproximadamente, 35 milhões de pessoas morreram em 2005, o que demonstra que os impactos das

DCNT são crescentes no país. Consequentemente os portadores, na maioria das vezes, apresentam

fatores que possivelmente favorecem o aparecimento da patologia, ou seja, dito fatores preexistentes,

como: fatores genéticos - alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo (rins e coração) e

distúrbios metabólicos, sexo biológico e idade, hábitos e comportamentos de risco com inatividade

física, alimentação inadequada, obesidade abdominal - IMC acima de 30 kg/m2, dislipidemias,

Diabetes Mellitus (DM) e intolerância à glicose, tabagismo e o abuso de bebidas alcoólicas

(SECRETÁRIA DE SAÚDE DE TOCANTINS, 2017; BOING, 2007).

Assim sendo, no Brasil, segundo os dados da Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2017), a

Hipertensão Arterial Sistêmica atinge em média, cerca de 32,5% de indivíduos adultos e, mais de 60%

nos idosos, porcentagem esta considerável alta, visto que, esta população idosa está mais predisposta

a outras patologias – devido tanto a idade, fatores nutricionais e possivelmente com a junção de

possíveis doenças já existentes nestes indivíduos, o que, de certa forma pode estar contribuindo direta

ou indiretamente por uma grande quantidade, direta ou indiretamente de óbitos.

Em consequência dos elevados níveis de prevalência da HAS já apresentado desde anos anteriores,

em 2000, elaborou-se o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial Sistêmica e ao

243

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

3

Diabetes mellitus no Brasil, com o intuito de minimizar tais números de incidência, visto que, como

mencionado anteriormente por Boing (2007), há uma grande parte da população que chega a óbito

devido a própria HAS e seus fatores associados, além de, a probabilidade de um indivíduo se tornar

hipertenso é de 90%, segundo Boll (2012), também menciona que, ao menos 30% da população

brasileira que apresentam 40 anos ou mais possa ter inícios de pressão alta.

De acordo com o Ministério da Saúde (2015), a única maneira de diagnosticar a hipertensão é a aferir

a pressão regularmente. Para pessoas acima de 20 anos idade, é importante medir a pressão ao menos

uma vez no ano e, para aqueles que possuem hipertensos na família, no mínimo duas vezes durante

o ano. A hipertensão não tem cura, porém possui tratamento e pode ser controlada, já que, apresenta

fatores modificáveis, além dos medicamentos, é essencial que os pacientes adotem um estilo de vida

saudável.

É fundamental que pessoas hipertensas façam o uso correto e regular da medicação orientada pelo

médico. Um problema comum, é a pessoa descuidar do uso da medicação pela melhora dos sintomas

ou outros fatores. O esquecimento ou interrupção do medicamento, faz com que a pressão volte a

subir, além de aumentar o risco de complicações. Segundo o Caderno de Atenção Básica (2006), o

objetivo primordial do tratamento da hipertensão arterial é a redução da morbidade e da mortalidade

cardiovascular do paciente hipertenso, aumentadas em decorrência dos altos níveis tensionais e de

outros fatores agravantes.

Para o tratamento não farmacológico da HAS, dentre as principais estratégias, está o controle de peso,

todos os hipertensos com excesso de peso devem ser incluídos em programas de redução. A meta é

alcançar um índice de massa corporal (IMC) inferior a 25kg/m2 (CADERNO DE ATENÇÃO BÁSICA, 2006).

Um dos fatores que favorecem ou agravam essa patologia, é o consumo excessivo de sal e alimentos

ultra processados, como: salgadinhos, enlatados e embutidos, visto que, são ricos em sódio, cujo é o

principal componente do sal. Dantas e Roncalli (2019) concluíram que, o controle dos níveis

pressóricos é um fator indispensável para melhora nos indicadores de saúde referente a ocorrência

de complicações resultantes da hipertensão e exige cada vez mais a adoção de estratégias para este

fim.

Contudo, sabe-se a importância de auxiliar indivíduos diagnosticados com a Hipertensão Arterial

Sistêmica com o intuito de prevenir possíveis agravos, portanto, têm-se como objetivo identificar tais

portadores, os fatores associados e as práticas de controle, além de propor ideias que os próprios

hipertensos gostariam de participar para obter melhor controle da doença.

244

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

4

2 MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizado um questionário semiestruturado em indivíduos habitantes da cidade de Carmo da

Cachoeira, Minas Gerais, sem restrição de gênero e raça, cujo os participantes deveriam obter idade

igual ou superior a 18 anos. O questionário foi inicialmente aplicado por meio presencial na Secretária

Municipal de Saúde, porém devido a evolução dos casos de COVID-19 o mesmo foi transferido para

plataforma Google Forms e divulgado em redes sociais (WhatsApp e Facebook) onde houve o

preenchimento de maneira online.

O questionário continha perguntas que abrangem questões sócio-demográficas, socioeconômicas e

comportamentais, auto relato sobre a hipertensão e, por fim, perguntas destinadas apenas aos

hipertensos, perguntas estas que buscam entender e promover métodos que os próprios portadores

de HAS gostariam de participar para obter melhor controle da doença, como: prática de exercícios

físicos e boa alimentação – estimulados por profissionais: educador físico e nutricionista da rede

pública de saúde, acompanhamento frequente ao médico – para aqueles que não possuem tanto

contato, orientação domiciliar sobre a doença com intuito de informar o portador. Inicialmente o

trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário do Sul de Minas,

pelo seguinte protocolo: 42919621.9.0000.5111.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistados 121 participantes da cidade de Carmo da Cachoeira-MG, cujo os mesmos

apresentavam idade igual a 18 anos ou mais, onde destes, 81 (66,9%) pertenciam ao sexo feminino e

40 (33,1%) do sexo masculino (figura 1).

245

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

5

Figura 1: Gráfico descritivo do percentual de entrevistados por gênero biológico.

Fonte: os autores.

Analisando o percentual total de portadores de HAS obteve-se 28,93%, enquanto 71,07% não

mencionaram obter o diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica. Assim sendo, a partir da análise

de gênero biológico e a presença de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), 30,90% são do sexo

feminino, enquanto apenas 25% dos homens relataram a presença da comorbidade. Por outro lado,

quando analisado a não presença de HAS nota-se, também, a prevalência no sexo masculino (75%)

(figura 2).

Figura 2: Gráfico descritivo do percentual de entrevistados por gênero e presença ou não de

Hipertensão Arterial Sistêmica.

Fonte: Os autores.

246

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

6

De acordo com Costa et. al (2006) em uma pesquisa sobre a determinação da prevalência de HAS e

seus fatores associados, relatou que em uma população de 1.968 participantes 23,6% eram

hipertensos, também, Schmidt et. al (2006) em uma análise da prevalência de DM e HAS no Brasil

mencionou que 21,6% da amostra total dos entrevistados auto relataram serem diagnosticados com

a Hipertensão Arterial Sistêmica o que nos evidencia um percentual relativamente similar de ambas

literaturas com o presente estudo. Quando observado por Lessa et. al (2006) a prevalência por gênero

em uma pesquisa de HAS na população adulta de Salvador, analisou que de 1.439 entrevistados, 57,7%

enquadravam-se no sexo feminino enquanto 42,3% caracterizavam-se como homens o que nos

mostra uma coerência com nossos achados, na qual grande parte dos participantes são mulheres,

entretanto, quando analisado a prevalência de gênero em relação aos portadores de Hipertensão

Arterial Sistêmica obteve também um percentual maior no grupo feminino o que nos mostra uma

simetria com o presente estudo.

Olhando a análise de raça dos indivíduos é perceptível a observação que, na amostra de entrevistados

a prevalência (51,4%) relataram ser da raça branca, 25,7% descreveram ser negros e 22,9%

mencionaram identificar-se como pardos. Os entrevistados que não possuem a comorbidade é

relatado que, 45,3%, 41,9% e 12,8%, são, respectivamente, brancos, pardos e negros (figura 3).

Figura 3: Gráfico descritivo do percentual de entrevistados que possuem ou não HAS com a raça.

Fonte: os autores.

Em estudos de Costa et. al (2006) sobre a prevalência de HAS em adultos e fatores associados observou

que 83% dos indivíduos eram da raça branca e 17% mencionaram ser negros, destes percentuais 22,6%

247

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

7

e 28,1% auto relataram ser hipertensos, respectivamente. Porém, quando observado os achados de

Silva et. al (2016) em uma população hipertensa de 1296 entrevistados, destes 54,0% mencionaram

ser pardos, 38,7% brancos. Contudo, quando correlacionado tais achados das literaturas de Costa e

Silva com os presentes dados da pesquisa pode-se observar que a população de raça que apresentou

maior prevalência foram os brancos, independentemente de serem ou não hipertensos, porém, em

contrapartida com os estudos a raça branca também manifestou maior percentual de hipertensos o

que não é condizente com os dados das literaturas, visto que, 54% eram pardos, 28,1% negros e 22,6%

brancos o que evidencia a discrepância.

Quando analisado o percentual de níveis escolares entre os participantes é possível, através da análise

gráfica a percepção de que, em modo geral, a população estudada demostra maior prevalência por

obterem o ensino médio completo (78,3%). Portanto, quando observado individualmente os

participantes da amostra, que possuem

HAS, é possível dizer que, 40% (14) possuem ensino médio completo, 20% (7) são pós-graduados,

14,3% (5) possuem ensino fundamental incompleto, 11,4% (4) relataram obter graduação, enquanto,

em baixas porcentagens obtêm-se 5,70% (2) analfabetos e 5,70% (2) ensino fundamental completo e,

por fim, 2,90% (1) mencionaram possuir o ensino médio incompleto. Por outro lado, os entrevistados

sem a comorbidade possuem também a prevalência de ensino médio completo (38,37%) (33) e, em

seguida, 27,9% são pós-graduados, 22,10% possuem o ensino superior, 4,65% relatam possuir ensino

fundamental completo, 3,49% obtêm ensino médio incompleto, 2,33% ensino fundamental

incompleto e, por fim, 1,16% caracterizam-se como analfabetos, menor nível educacional (figura 4).

248

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

8

Figura 4: Gráfico descritivo do percentual de escolaridade dos entrevistados.

Fonte: os autores.

Em estudos de Carlos e Colaboradores (2008) em uma análise do perfil de hipertensos de um núcleo

de saúde da família, observou que de 188 indivíduos hipertensos participantes do estudo, 7,44% se

declararam como analfabetos, 65,42% obtêm o primeiro grau de escolaridade completo, 15,95%

possuem o segundo grau de ensino completo e apenas 5,31% obtiveram a oportunidade de ingressar

em um nível de educação superior, entretanto, quando comparado tais dados com o do presente

estudo podemos observar uma diferença dos níveis de escolaridade, no qual grande parte dos

entrevistados obtêm o segundo grau de escolaridade completo (40%), logo 20% são pós graduados e

11,40% possui ensino superior – graduação. Ainda, de acordo com Carlos et. al (2020), os baixos níveis

de instrução e escolaridade estão associados com os altos níveis de pressóricos, visto que, a baixa

instrução e entendimento prejudica o conhecimento e adesão aos tratamentos o que pode ocasionar

o aumento da hipertensão.

Observando o gráfico referente a renda per capita dos indivíduos (figura 5) é possível descrever que,

de modo geral, a prevalência de renda dos entrevistados é de menor ou igual a um salário mínimo, ou

seja, abrange, respectivamente 1.100,00 reais, o que, possivelmente pode interferir na qualidade de

vida dos portadores de HAS. Sendo assim, quando analisado separadamente a população que possui

249

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

9

Hipertensão Arterial Sistêmica é evidente que, as rendas de um a dois salários e meio e, menor ou

igual a um salário mínimo se equivalem, obtendo um percentual de 42,85% (15), logo em seguida,

obtêm-se 8,59% (3) daqueles em que a renda é superior a quatro salários e, por fim, em menor

percentual, estabelecendo 5,71% (2) estão os que possuem renda entre dois e meio a quatro salários

mínimos. Por fim, analisando o público sem a presença da HAS podemos destacar a prevalência da

renda de menor ou igual a um salário mínimo, cujo percentual estabelece em 37,21% (32), logo,

36,05% (31) são aqueles que possuem de um a dois e meio salários mínimos, 20,93% (18) dentre dois

e meio a quatro salários mínimos e, por fim, 5,81% (5) estão aqueles que possuem renda per capita

superior a quatro salários mínimos.

Figura 5: Gráfico descritivo da renda per capita dos indivíduos entrevistados.

Fonte: os autores.

Em uma análise de Lessa et. al (2006) na qual foi avaliado a população hipertensa adulta de Salvador

observou que 59,3% obtinham uma renda considerada baixa, 34,5% relataram obterem uma renda

média, enquanto 6,2% declararam uma renda alta, desde modo, observando os dados obtidos nesta

pesquisa podemos identificar em uma análise total dos entrevistados que a renda superior a quatro

salários mínimos também foi mencionada em menores percentuais, por outro lado, indivíduos com

salário igual ou inferior a um obtinham maior prevalência e, por fim, em média 26,39% obtêm rendas

entre um salário e meio a quatro salários mínimos o que nos evidencia uma similaridade com os dados

da literatura estudada. Além disso, Duncan (1991) e Lolio (1990) ao citarem a renda familiar e a

250

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

10

escolaridade como parâmetros de classe social, asseguram que a hipertensão em trabalhadores de

classes com baixa renda e menor grau de escolaridade são mais recorrentes.

Quanto ao hábito de fumar é possível descrever que, grande parte desta população, em específico,

51,42% (18) não possuem o hábito de fumar, relatam nunca terem fumado, 40% (14) mencionaram

não fumar mais atualmente, porém, já obteve o hábito no passado, contudo, 5,71% (2) afirmam fumar

diariamente e, por fim, 2,90% (1) mencionou ter o hábito de fumar, mas, em menor frequência, dentre

uma a três vezes na semana, apenas. Por outro lado, observando a amostra de entrevistados que

relataram não serem portadores de HAS, obtêm em maior prevalência indivíduos que nunca fumaram,

sendo um percentual de 68,60% (59), logo em seguida têm-se 15,12% (13) que mencionaram não

fumar mais atualmente, porém, já obteve o hábito, 10,47% (9) que possuem o hábito diário e

constante de fumar, considerando-os fumantes e, por fim, 5,81% (5) que afirmaram possuir o hábito

de fumar, porém, em frequência de uma a três vezes, durante a semana (figura 6).

Figura 6: Gráfico descritivo sobre o percentual de indivíduos que fumam e já fumaram.

Fonte: os autores.

Em uma abordagem sobre o perfil de tabagismo e a Hipertensão Arterial Sistêmica, de acordo com

Journath et. al (2005) em análise de fumantes hipertensos e os riscos cardiovasculares evidencia que

este público de pressóricos que possuem o hábito de fumar têm-se um perfil de riscos cardiovasculares

superiores à aqueles que não fumam. Assim sendo, quando analisado os estudos de Chor (1998)

observou que o percentual de tabagismo variou de acordo com os níveis das idades, na qual entre os

251

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

11

mais jovens (menores de 35 anos) obteve um percentual de 34,1% e na população dita mais velha

(maiores de 35 anos) obteve 35,8%, entretanto, quando observado aqueles, de modo geral, que não

obtinham mais o habito de fumar, dito ex-fumantes, obteve um percentual total de 47,70% (<35:

20,5% / >35:27,2%), por lado, 82,50% (<35: 45,5% / >35: 37,0%) nunca fumaram. Contudo,

correlacionando tais dados com os do presente estudo pode-se dizer que houve uma pequena

discordância em relação aos ativos e ex fumantes, visto que, têm-se de forma crescente na pesquisa

8,61% de fumantes ativos, 40% ex fumantes e 51,42% não fumantes o que, em contrapartida na

literatura nos mostra 47,70% ex fumantes, 69,9% ativos e 82,50% nunca fumaram, mostrando-nos em

menor prevalência na literatura aqueles em que se auto relataram como ex fumantes o que, por sinal,

é estipulado pelo autor que o diagnóstico da HAS pode estar associado ao abandono do hábito de

fumar.

Observando o contexto de prática de exercícios físicos mencionados pelos participantes, é possível

descrever que na população hipertensa a prevalência é de entrevistados que não possuem o hábito

da prática de atividade física, obtêm-se um percentual de 71,43% (25) dos hipertensos, logo, 25,71%

(9) mencionaram praticar até

três dias por semana e, por fim, um baixo percentual de 2,86% (1) relatou fazer exercícios físicos

diariamente. Analisando então a população não hipertensa, ou seja, sem a presença de Hipertensão

Arterial Sistêmica, têm-se 54,65% (47) da amostra que não pratica atividades e/ou exercícios físicos,

39,53% (34) relataram praticar no máximo por três dias na semana e 5,82% (5) mencionaram a pratica

diariamente (figura 7).

252

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

12

Figura 7: Gráfico descritivo sobre a prevalência da prática de exercícios físicos dos entrevistados.

Fonte: os autores.

Em estudos relacionados ao exercício físico regular e o controle de Hipertensão Arterial Sistêmica, de

acordo com Laterza e Colaboradores (2008), dentre as condutas não medicamentosas recomendadas

para o controle da HAS está a prática de exercícios físicos, que por sinal vem sendo recomendada

diariamente por profissionais de saúde a estes portadores, visto que, no entanto, evidências clínicas e

literaturas citam constantemente que o treinamento físico aeróbico, com baixa a moderada

intensidade, em uma média de realização de três a cinco dias na semana tem auxiliado na redução dos

níveis de pressão arterial dos pacientes com a presença da comorbidade. Além disso, de acordo com

Costa et. al (2007) em uma análise sobre a prática de atividade física entre os participantes hipertensos

ou não, observou-se que apenas 19,4% da população total estudada praticava exercícios físicos em

quantidades suficientes e recomendadas para a obtenção de benefícios a saúde, destes 21,3%

correspondiam a participantes hipertensos, enquanto 80,6% praticavam atividades físicas em

quantidades insuficientes, sendo destes 24,2% hipertensos. Correlacionando os dados das literaturas

com os do presente estudo pode-se observar que houve prevalência de ambos grupos (hipertensos

ou não) para aqueles que não possui o habito de praticar exercícios físicos (71,43% e 54,65%), em

nenhuma quantidade semanal ou diária, por outro lado, 25,71% dos hipertensos praticam pelo menos

três vezes na semana e 2,86% diariamente o que, consequentemente se mostra condizente com os

estudos de Costa, visto que, têm-se maior prevalência de atividades físicas em quantidades

insuficientes.

253

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

13

Analisando o consumo de bebidas alcoólicas entre os entrevistados, na população hipertensa, é

evidente que grande parte do percentual 54,29% (19) não fazem o consumo de bebidas alcoólicas, em

nenhum momento, enquanto, 31,43% (11) mencionam fazer o consumo menos de duas vezes na

semana e, por outro lado, 14,28% (5) relataram fazer o consumo mais de duas vezes na semana. Em

contrapartida, observando os percentuais da população sem Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), a

prevalência deste público é aqueles que fazem o consumo menos de duas vezes na semana,

apresentando um percentual de 44,19% (38), logo, 37,21% (32) não fazem o uso de bebidas alcoólicas

e, por fim, 18,60% (16) afirmaram fazer o consumo de bebidas alcoólicas mais de duas vezes durante

a semana (figura 8).

Figura 8: Gráfico descritivo do percentual de entrevistados que fazem o consumo de bebidas

alcóolicas durante a semana.

Fonte: os autores.

Em estudos com relação ao etilismo e a Hipertensão Arterial Sistêmica, sabe-se que o excessivo

consumo de álcool está totalmente associado como um fator do aumento da pressão arterial, sendo

então um fator de risco ou pré-existente para o desenvolver da HAS, entretanto, de acordo com

Almeida et. al (2016) em seus estudos envolvendo 615 participantes evidenciou que o consumo da

ingestão de bebidas alcoólicas não só está associado a elevação da pressão arterial sistólica como

também com o aumento da pressão arterial diastólica.

254

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

14

3.2 TABELAS E GRÁFICOS RELACIONADOS, ESPECIFICAMENTE, À POPULAÇÃO HIPERTENSA.

Descrevendo a presença de dados específicos de portadores de HAS, é possível relatar que, grande

parte da população entrevistada adere à prática do acompanhamento médico, onde 62,86% (22) dos

hipertensos fazem consultas médicas e buscam auxílio em relação a doença, por outro lado, 37,14%

(13) afirmaram não buscar por acompanhamento e ajuda médica. Quando analisado esta amostra de

62,86% de entrevistados que fazem acompanhamento médico para monitorização da Hipertensão

Arterial Sistêmica, temos que, 63,64% (14) aderem convênios de tratamento e auxílio médico através

de meios públicos (SUS), 22,73% (5) mencionam usar meios privados e, por fim, apenas 14% (3) usam

meios públicos e privados.

Analisando o uso de medicações terapêuticas para a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) entre os

entrevistados portadores, é possível destacar os indivíduos que fazem o uso, sendo 82,86% (29), logo,

apenas 17,14% (6) não relataram fazer o uso de medicamentos destinados à HAS. Novamente,

observando especificamente a amostra hipertensa do estudo obtêm-se uma prevalência notória de

um percentual de 62,86% (22) entrevistados que não aderem à uma dieta com restrição ao sal, por

outro lado, 37,14% (13) relataram seguir uma dieta dentro das normalidades, propostas a portadores

de HAS, ou seja, uma dieta equilibrada nas quantidades de sal.

Contudo, quando mencionado sobre a prevalência de ingestão de produtos industrializados, 74,29%

(26) dos hipertensos afirmaram fazer o consumo destes produtos por mais de duas vezes na semana,

enquanto 17,14% (6) relataram consumir quantidades pequenas, ou seja, menos de duas vezes por

semana e, por fim, apenas 8,57% (3) relataram não fazer nenhum tipo de consumo relacionado a

industrializados.

Tabela 1: Descrição sobre a frequência em que os portadores de HAS buscam auxílio médico e qual

tipo de convênio para tratamento, e especificidade de dietas ricas em sal e industrializados.

255

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

15

Fonte: os autores.

Analisando o perfil de alimentação dos pacientes hipertensos, sabe-se que um padrão alimentar em

que esteja equilibrado e saudável é extremamente importante para a manutenção de níveis

pressóricos adequados e consequentemente o controle da doença, entretanto, em relação aos

alimentos industrializados e dietas ricas em sal, segundo Teixeira et. al (2016), em uma pesquisa

envolvendo 221 pacientes avaliou que 62% utilizam-se de temperos prontos industrializados para a

realização de suas refeições e 94,1% mencionaram não adicionar sal à refeições prontas, deste modo,

quando comparado tais achados literários com os presentes dados da pesquisa é possível descrever

similaridade quanto ao consumo de produtos industrializados, no qual houve um percentual de mais

da metade dos hipertensos utilizando tais produtos. Em relação a dieta de sal, houve uma discrepância

onde no estudo grande parte (62,86%) afirmaram não fazerem dietas restritivas ao sal, ou seja, o

consumo do mesmo é dito indiferente para esta amostra.

Em relação a aceitação e a adesão ao tratamento para a Hipertensão Arterial Sistêmica, Reiners et. al

(2012) mencionam que em uma população de 54 indivíduos hipertensos 50% da amostra aderem

parcialmente e 50% não aderem aos tratamentos disponíveis para a HAS, porém, em estudos de

Mascarenhas et. al (2006) em uma análise de 35 hipertensos, 58,7% acompanham e aceitaram o

tratamento, enquanto 41,3% não aderem ao mesmo, desta forma quando comparado com o presente

estudo observa-se uma semelhança, visto que, grande parte dos hipertensos estão em linhas de

tratamento para a comorbidade.

256

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

16

Observando a tabela sobre a presença ou não de outras patologias, presença de familiares com

Hipertensão Arterial Sistêmica e doenças que surgiram após o diagnóstico de HAS, podemos descrever

que, 85,71% (30) dos indivíduos possuem em seu âmbito familiar pelo menos um portador de HAS,

enquanto 14,29% (5) afirmam não ter familiares com tal patologia. Quando interrogados a respeito de

patologias juntamente com a hipertensão, 51,43% (18) relataram não obter outras doenças, apenas

são hipertensos, enquanto, 48,57% (17) obtêm se outras patologias, dentre as mais citadas: doenças

cardiovasculares (29,41%), diabetes (29,41%), doenças reumatológicas – artrite e artrose (29,41%) e

doença autoimune – psoríase (11,77%).

Por fim, obteve-se o discernimento de avaliar qual e quais patologias surgiram, de forma secundária,

após o diagnóstico clínico de HAS e, teve-se um percentual de 22,86% (8) de indivíduos que relatam o

surgimento de doenças como problemas cardíacos (71,42%), renais (14,29%) e diabetes (14,29%),

enquanto 77,14% (27) afirmaram não ter obtido novos diagnósticos.

Tabela 2: Descrição sobre a presença de casos de HAS na família, presença de outras patologias e

patologias secundárias, após diagnóstico de hipertensão.

Fonte: os autores.

Avaliando as questões sobre a presença de patologias interligadas ou o desenvolvimento de novas

após o diagnóstico de HAS, Abreu et. al (2016) em um estudo relatou que 72 participantes de uma

amostra que continha 200 indivíduos apresentam alguma patologia concomitante com a hipertensão,

sendo que destes 61,1% afirmaram ter Diabetes tipo 1 ou 2, enquanto 38,9% mencionaram obter

patologias associadas relacionadas a dislipidemias, hipercolesterolemia e osteoporose, além disso, de

257

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

17

acordo com Ramos (2013), em uma pesquisa desenvolvida na cidade de Caxias-MA com a população

hipertensa idosa demonstrou que 76,9% dos participantes informaram obter outros problemas de

saúde. Sendo assim, comparando os dados mencionados pelas literaturas anteriores podemos dizer

que não foram condizentes em relação a prevalência em possuir uma patologias pré-existente ou em

desenvolvimento.

Analisando a prevalência de indivíduos que obtêm familiares com a presença da hipertensão, segundo

Costa et. al (2007) 40,2% mencionaram não ter nenhum familiar com quadros de pressão arterial

elevada, porém 46,3% informaram que o pai ou a mãe possuem a HAS e, por fim, 13,5% afirmaram

que pai e mãe, ambos possuem o diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica, assim sendo, quando

correlacionado tais informações com o respectivo estudo mostra-se condizente já que um grande

percentual dos entrevistados (85,71%) possuem familiares, sem restrição de grau, com a HAS.

Observando o percentual de idade de diagnóstico de HAS entre os entrevistados, é possível,

notoriamente, perceber que, a certeza média mais prevalente para diagnósticos foi entre 21 a 30 anos,

com 48,57% (17), logo, 31,43% (11) receberam o diagnóstico entre 31 a 40 anos e, por fim, apenas

20% (7) descobriram ser portadores de HAS entre 10 e 20 anos.

Figura 9: Gráfico descritivo sobre em que idade, em média, houve o diagnóstico de HAS.

Fonte: os autores.

Sobre as medidas que poderiam auxiliar os entrevistados de alguma forma na qualidade de vida foi

mencionado por 62,86% (22) dos participantes hipertensos que gostariam de serem ajudados ou

orientados com maior frequência sobre o assunto da HAS, dos quais 45,45% (10) afirmaram que

campanhas de auxílio com exercícios físicos e orientações de boa alimentação lhes trariam benefícios,

31,82% (7) mencionaram que seria interessante a maior frequência de aferição de pressão sanguínea

258

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

18

em postos públicos de saúde e, por fim, 22,73% (5) relataram a promoção de acompanhamentos

médicos frequentes em pontos públicos destinados especialmente a HAS.

Tabela 3: Descrição sobre o questionamento de melhorias em auxílio, em relação a HAS.

Fonte: os autores.

5 CONCLUSÃO

Contudo, a pesquisa evidenciou claramente que existe uma parte considerável da população adulta

com quadro de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), especialmente do sexo feminino. Deste modo,

nos revelou que de fato a HAS se agrava com o avançar da idade, bem como de acordo com os fatores

associados, sendo eles: raça, hábitos alimentares, tabagismo, consumo excessivo de bebidas

alcoólicas, níveis de escolaridade e renda, já que, sabemos que quando associados tais parâmetros

incidem diretamente em todos os ademais aspectos da saúde. Além disso, vale relembrar a

importância da participação dos entrevistados em relação a possíveis medidas que visam as melhorias

da saúde dos hipertensos, visto que, os baixos níveis de entendimento e cuidado sobre a patologia,

estão relacionados com menores meios de prevenção, compreensão e necessidade dos tratamentos

prescritos, o que prejudica a busca e aceitação do tratamento, logo na cura da mesma.

Vale ressaltar, no entanto, que devido a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), que ainda se

faz presente em nossa realidade, essa pesquisa não foi realizada totalmente de forma presencial, o

que nos impediu de aprofundarmos pois, poderíamos aferir a pressão arterial dos entrevistados, o que

nos daria um requisito mais fidedigno para ser verificado e analisado.

259

Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

19

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Hipertensão Arterial Sistêmica: Fatores Associados E Práticas De Controle Na População De Carmo Da Cachoeira, Minas Gerais.

20

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261

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/210904781

Capítulo 17

DIAGNÓSTICO DE TUBERCULOSE PULMINAR INFANTIL COM LAVADOGASTRICO: REVISAO DE

LITERATURA

Aliandro Willy Duarte Magalhães Hospital Porto Dias

Ana Angelica de Araújo Medeiros Hospital Porto Dias

Diagnostico De Tuberculose Pulmonar Infantil Com Lavado Gástrico: Revisão De Literatura.

1

Resumo: Estudo de revisão de literatura, tendo como objetivo analisar a padronização da coleta do

lavado gástrico como método de diagnóstico de tuberculose em crianças, observando o grau de

sensibilidade com critérios analíticos de inclusão com utilização do lavado gástrico, lavado brônquio –

alveolar no diagnostico bacteriológico para tuberculose, assim como a comparação entre o lavado

gástrico e o lavado bronquíolo-alveolar em relação ao grau de acurácia para diagnostico de

tuberculose. A maior parte dos estudos era do tipo prospectivo. Concluiu-se que a demanda de artigos

com a descrição detalhada de como foi utilizada a técnica de lavado gástrico é escassa,

comprometendo o grau de sensibilidade.

Palavras-chave: Tuberculose, Técnicas de Diagnostico do Sistema Respiratório; crianças.

263

Diagnostico De Tuberculose Pulmonar Infantil Com Lavado Gástrico: Revisão De Literatura.

2

INTRODUÇAO:

Nos países em desenvolvimento estima-se que existam em torno de 1.300.000 casos de tuberculose

(TB) na faixa etária abaixo de 15 anos, resultando em aproximadamente 450.000 mortes anuais. No

Brasil, 15% dos casos notificados de TB ocorrem em pacientes menores de 15 anos.

OBJETIVOS:

Analisar a padronização da coleta do lavado gástrico para diagnostico de tuberculose em crianças.

METODOLOGIA OU DESCRIÇAO DA EXPERIENCIA:

Realizou-se levantamento de artigos científicos na base de dados Medline, SciElo e Lilacs, referente

aos anos de 1990 a 2008. Os critérios de inclusão foram: artigos que fizessem referencia a coleta de

lavado gástrico (LG) e publicados nos idiomas espanhol, inglês e português. Os critérios para analise

dos artigos foram: utilização do lavado gástrico e o lavado brônquio- alveolar (LBA) no diagnostico

bacteriológico para TB, comparação entre o LG e o lavado bronquíolo-alveolar (LBA) no diagnostico

bacteriológico para TB, e comparação da acurácia do LG para diagnostico de TB feito em ambiente

intra e extra- hospitalar.

RESULTADOS:

A maioria dos artigos foram publicados de 2000 a 2005. A maior parte dos estudos era do tipo

prospectivo. Os métodos diagnósticos mais utilizados nos estudos selecionados foram exames físicos,

radiológicos, história clínica, teste tuberculínico e lavado gástrico. A maioria dos estudos selecionados

não descreve a técnica do LG de forma completa; somente 14 artigos foram obtidos por pelo menos

três dos critérios estabelecidos para completude. Os estudos que descreveram a técnica do LG

apresentaram discordâncias em aspectos importantes, como: preparo da criança e horas de jejum,

horário da coleta, aspiração do resíduo gástrico e introdução da solução tampão.

CONCLUSAO OU HIPOTESES:

A produção de artigos com a descrição suficientemente detalhada de como foi utilizada a técnica de

Lavado gástrico é escassa. Apenas dois estudos avaliaram a confirmação cientifica de que o

procedimento tem a mesma sensibilidade. Um sistema de pontuação foi proposto pelo Ministério da

Saúde (2002), apresentando sensibilidade acima de 80% para identificação de crianças com

Tuberculose.

264

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/211004785

Capítulo 18

O QUE FALAM AS EVIDENCIAS SOBRE O PAPEL DOS GESTORES NOS CUIDADOS DO

TRABALHADOR DE SAÚDE

RENNE DE FIGUEIREDO BEZERRA LUCENA FACULDADE DO TRAIRI-UFRN

JOÃO DE DEUS DE ARAÚJO FILHO FACULDADE DO TRAIRI-UFRN

REJANE MARIE BARBOSA DAVIM UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ONADJA BENÍCIO RODRIGUES UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

ELAINE GILMARA DA ROCHA SANTOS FACULDADE DO TRAIRI-UFRN

O Que Falam As Evidencias Sobre O Papel Dos Gestores Nos Cuidados Do Trabalhador De Saúde

1

INTRODUÇÃO

A maioria dos serviços de saúde no Brasil e no mundo, enfrentam desafios para uma efetiva

implantação da saúde do trabalhador. Um dos impasses é essência das relações sociais de produção,

conflitos de classe e, também, hegemonia do poder político-econômico na condução das políticas

públicas existentes. Na gestão, isso ocorre por meio da perda da saúde como resultado da exploração

do trabalho pelo capital onde os governantes, no sentido quantitativo, reiteram o descaso e

naturalizam às más condições de trabalho por questões econômicas (VASCONCELLOS; AGUIAR, 2017).

As ações na saúde do trabalhador objetivam favorecer uma dimensão de proteção, promoção,

recuperação e reabilitação para os trabalhadores por meio de múltiplas ações, para aqueles

submetidos a riscos relacionados às atividades laborais. De caráter intersetorial, a saúde do

trabalhador tem um campo de práticas e saber complexo desafiador, apresentando dimensões

multifatoriais (LANCMAN et al, 2020).

Esta área deve receber atenção prioritária para que às relações de trabalho sejam regulamentadas, os

problemas relativos à gestão dos serviços de saúde superados, principalmente no sistema público,

considerando às singularidades de cada esfera de governo com vistas a uma efetiva reforma do estado

brasileiro (VIANA; MARTINS; FRAZÃO, 2017).

No cenário científico, existe carência de publicações que transmitem uma visão geral sobre o papel

dos gestores nos cuidados com a saúde do trabalhador. Portanto, prevalece a importância de

investigar e elencar os principais cuidados a estes profissionais, para garantir assistência mais segura

e exercerem um trabalho digno e de qualidade.

A sistematização dos cuidados a esse público justifica-se pelo intuito de auxiliar no desenvolvimento

de estratégias efetivas de prevenção e promoção de saúde nos três níveis de atenção, fortalecendo o

trabalho das equipes de saúde e gestão municipal, estadual e federal para orientação sobre os

principais problemas enfrentados. Diante disso, às informações colhidas pela revisão irão auxiliar às

equipes dos serviços para um maior preparo logístico e educacional dos profissionais e gestores que

os compõem.

Diuturnamente, às equipes de saúde apresentam-se como lócus do atendimento em saúde ao

paciente, profissionais de enfermagem e medicina, por exemplo, que estão prestando assistência 24

horas a do beira-leito ao paciente que necessite de cuidados. Esses apresentam maior nível de estresse

e têm a qualidade de vida comprometida. Faz-se necessário, portanto, que a gestão dos serviços

266

O Que Falam As Evidencias Sobre O Papel Dos Gestores Nos Cuidados Do Trabalhador De Saúde

2

promovam mudanças no estilo de vida, nas condições de trabalho, ações de ambiência e qualidade de

vida nos serviços desses profissionais, objetivando à redução do estresse, a sindrome de Burnout e,

consequentemente, uma melhora na qualidade de vida (SILVA et al, 2018).

Para tanto, é observado vários fatores que desencadeiam o despreparo da gestão ao lidar com a

qualidade de vida no trabalho e saúde do trabalhador, entre eles déficit na formação profissional,

ausência de capacitação profissional e sistematização da assistência inoperante. Diante disso e

escassez de literatura que norteie às ações da gestão em saúde do trabalhador, surge à questão de

pesquisa: Quais os cuidados que os gestores dos serviços de saúde promovem para à saúde do

trabalhador?

Neste sentido, objetiva-se sintetizar na literatura científica quais os cuidados que os gestores de

serviços de saúde promovem para à saúde do trabalhador.

MÉTODO

Trata-se de um estudo de revisão integrativa (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011), que teve como

objetivo identificar evidências científicas nacionais e internacionais que tratassem sobre cuidados que

os gestores dos serviços de saúde promovem para a saúde do trabalhador. A revisão integrativa da

literatura colabora para o procedimento de sistematização, seleção e análise dos resultados, buscando

compreensão mais abrangente de um determinado tema a partir de outros estudos publicados. O

estudo encontra-se no formato recomendado pelo PRISMA (Statement for Reporting Systematic

Reviews and Meta Analyses of Studies), que norteia trabalhos para apresentação de estudos que

tratem sobre revisão (GALVÃO; PANSANI; HARRAD, 2015).

Teve-se como critérios de inclusão para a pesquisa, artigos que estivessem disponíveis na íntegra; nos

idiomas português, inglês e espanhol; publicados nos últimos cinco anos e que abordassem o cuidado

que os gestores dos serviços promoviam para à saúde do trabalhador. Os de exclusão, artigos com

opinião de especialistas, bem como revisões integrativas.

Seguiu-se às bases de dados PubMed, Scopus, BDENF e Cinahl. Tendo em vista a particularidade de

cada base, às estratégias de busca foram adaptadas de acordo com cada uma, tendo como eixo

norteador à questão de pesquisa e os critérios de inclusão adotados pelos pesquisadores.

267

O Que Falam As Evidencias Sobre O Papel Dos Gestores Nos Cuidados Do Trabalhador De Saúde

3

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após aplicação dos critérios de inclusão, na base de dados PUBMED obteve-se 8005 resultados a

priore. Na Scopus surgiram 7382 resultados, Cinahl 37 e nenhum na BDENF, ambos os resultados

foram antes da aplicação dos filtros NCBI. Os acessos nas bases de dados ocorreram por meio do

acesso cafe, vinculados aos periódicos CAPES. O levantamento de dados dos artigos ocorreu nos mêses

de setembro e outubro de 2020.

As evidências dos estudos foram pautadas nas recomendações do Instituto Joana Briggs (PEARSON;

SOARES, 2013), sendo composto por sete níveis, sendo: o nível I - evidências oriundas de revisões

sistemáticas ou meta-análise de relevantes ensaios clínicos; nível II - evidências derivadas de pelo

menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado; nível III - ensaios clínicos bem

delineados sem randomização; nível IV - estudos de coorte e de caso-controle bem delineados; nível

V -revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos; nível VI - evidências derivadas de um único

estudo descritivo ou qualitativo e nível VII - opinião de autoridades ou relatório de comitês de

especialistas. Neste sentido, às evidências pertencem a três graus diferentes, sendo I e II consideradas

evidências fortes, III a V evidências moderadas, VI e VII evidências fracas.

Os artigos selecionados foram publicados no período de 2016 a 2020 em diversos periódicos

internacionais. Observou-se que os estudos selecionados foram desenvolvidos por meio de estudos

clínicos randomizados (n= 10), Meta análise (n=3) e revisão sistemática da literatura (n= 1). Foram

selecionados também nos seguintes países: Estados Unidos (n= 4), Austrália (n= 1), Inglaterra (n= 3),

Suíça (n= 2), Japão (n= 1), Canadá (n= 1), Finlândia (n= 1) e Espanha (n= 1).

Os resultados foram apresentados em duas categorias sendo, práticas desenvolvidas pelos gestores

em saúde do trabalhador que tratam de aspectos relacionados a saúde física e saúde mental.

Tabela 1 - Artigos selecionados para síntese segundo autores, título e resultados.

Autores Título Resultados

CAROLAN, Stephany; HARRIS, Peter R; CAVANAGH, Kate.

Improving Employee Well-Being and Effectiveness: systematic review and meta-analysis of web-based psychological interventions delivered in the workplace.

No total, 21 ensaios clínicos randomizados preencheram os critérios de pesquisa. As intervenções ocupacionais de saúde mental digital tiveram um efeito estatisticamente significativo após a intervenção no bem-estar psicológico (g = 0,37, IC 95% 0,23-0,50) e na eficácia do trabalho (g = 0,25, IC 95% 0,09-0,41) em comparação com a condição de controle . Não foram

268

O Que Falam As Evidencias Sobre O Papel Dos Gestores Nos Cuidados Do Trabalhador De Saúde

4

encontradas diferenças estatisticamente significativas em nenhum dos resultados entre os estudos que usam abordagens de terapia cognitivo-comportamental (TCC) (conforme definido pelos autores) em comparação com outras abordagens psicológicas, oferecendo orientação em comparação com auto-orientação ou recrutamento de uma população de local de trabalho-alvo em comparação com um população universal de trabalho.

JIRATHANANUWAT, Areeya; PONGPIRUL, Krit

Promoting physical activity in the workplace: a

systematic meta⠰review.

Onze SR / MA incluiu 220 estudos primários, dos quais 139 (63%) eram ensaios clínicos randomizados. Das 48 intervenções identificadas, 22 (46%) e 17 (35%) tiveram como foco predispor ou capacitar os funcionários a terem mais insight, respectivamente. Dos 22 fatores predisponentes, 6 eram entrega de informação, 5 eram automotivação e 11 eram treinamento do programa. As abordagens facilitadoras foram 12 recursos de instrumentos e 5 unidades de serviços de saúde. As abordagens de reforço foram 4 incentivos e 3 apoios sociais. As demais intervenções enfocaram o desenvolvimento ambiental e a regulamentação de políticas.

SONG, Zirui; BAICKER, Katherine

Effect of a Workplace

Wellness Program on

Employee Health and

Economic Outcomes:

A Randomized

Clinical Trial

Quatro domínios de resultados foram avaliados. Saúde auto-relatada e comportamentos por meio de pesquisas (29 desfechos) e medidas clínicas de saúde por meio de exames (10 desfechos) foram comparados entre 20 locais de intervenção e 20 locais de controle primário; gastos e utilização de cuidados de saúde (38 resultados) e resultados de emprego (3 resultados) de dados administrativos foram comparados entre 20 intervenções e 140 locais de controle.

NOOIJEN, Carla F. J. et al

Improving office workers’ mental health and cognition: a 3-arm cluster randomized controlled trial targeting physical activity and sedentary behavior in multi-component interventions.

Os principais resultados proximais são a atividade física medida com acelerômetros e o comportamento sedentário com inclinômetros. Os resultados distais são saúde mental auto-relatada e uma bateria de testes de cognição. Os resultados adicionais incluirão aptidão cardiovascular, composição corporal, sono, atividade física autorrelatada e comportamento sedentário, outros hábitos de saúde, saúde física e mecanismos de trabalho a partir de amostras de sangue e questionários. Os resultados distais são saúde mental auto-

269

O Que Falam As Evidencias Sobre O Papel Dos Gestores Nos Cuidados Do Trabalhador De Saúde

5

relatada e uma bateria de testes de cognição.

GINOUX,Clément; ISOARD-GAUTHEUR, Sandrine;SARRAZIN, Philippe

“Workplace Physical Activity Program” (WOPAP) study protocol: a four-arm randomized controlled trial on preventing burnout and promoting vigor.

Se for eficaz, este estudo fornecerá evidências para a promoção de intervenções de atividade física no local de trabalho, incluindo um clima de apoio à necessidade para melhorar o bem-estar dos funcionários. Os resultados podem ser usados para projetar novos protocolos de pesquisa, mas também para implementar programas mais eficientes no local de trabalho.

CHALÁET-VALAYER, Emmanuelle et al.

Long-term effectiveness of an educational and physical intervention for preventing low-back pain recurrence: a randomized controlled trial.

No seguimento de dois anos, 35 trabalhadores (24%) no grupo de intervenção e 31 trabalhadores (21%) no grupo de controle tiveram pelo menos uma recorrência de lombalgia com licença médica. Nenhum efeito foi observado entre os grupos [odds ratio (OR) 1,22, intervalo de confiança de 95% (IC 95%) 0,67-2,23, P = 0,516]. A intervenção foi eficaz na redução da evitação do medo com uma redução média de -3,6 (IC 95% -4,8-2,4) pontos no escore do questionário de crenças de evitação do medo para atividade física (FABQ-P) no grupo de intervenção em comparação com -1,3 (IC 95% -2,2- -0,3) pontos no grupo controle (P <0,05). Também foi eficaz na melhoria da resistência muscular com um aumento médio de 13,9 (IC 95% 3,3-24,5) minutos no teste de Sorensen no grupo de intervenção em comparação com -8,3 (IC 95%-17,5-0,9) minutos no grupo de controle ( P <0,05).

ANDERSEN, Lars L. et al.

Psychosocial effects of workplace physical exercise among workers with chronic pain.

Em conclusão, a prática de exercícios físicos no local de trabalho em conjunto com os colegas melhora o clima social e a vitalidade de trabalhadores com dores musculoesqueléticas crônicas. A saúde mental permaneceu inalterada.

MATSUGAKI, Ryutaro et al

Effectiveness of workplace exercise supervised by a physical therapist among nurses conducting shift work: a randomized controlled trial.

A aptidão aeróbia aumentou no GE e diminuiu no GV, mas essas alterações não foram estatisticamente significativas (p = 0,053 e 0,073, respectivamente). No entanto, a diferença entre os grupos foi significativa no efeito da intervenção (p = 0,010). A força muscular, o colesterol da lipoproteína de alta densidade e o perfil metabólico (adiponectina de alto peso molecular) e o sintoma depressivo

270

O Que Falam As Evidencias Sobre O Papel Dos Gestores Nos Cuidados Do Trabalhador De Saúde

6

melhoraram significativamente no GS ao longo do tempo, embora o GS se exercitasse menos em comparação com o VG. Além disso, diferenças significativas na força muscular e nos níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade e metabólito reativo de oxigênio foram observadas entre os dois grupos, e esses parâmetros foram melhores no GS do que no GV.

BUENO, Rubén López; MALLÉN, José Antonio Casajús; VALLEJO, Nuria Garatachea.

Physical activity as a tool to reduce disease-related work absenteeism in sedentary employees: A systematic review.

Um total de 10 estudos publicados entre 1981 e 2017 preencheram os critérios de inclusão. As evidências da revisão sugeriram que o PA é eficaz na redução da ausência relacionada à doença. A probabilidade de afastamento do local de trabalho relatada com trabalhadores sedentários atinge mais probabilidades quando comparados com praticantes de exercícios.

DAS, Sai Krupa et al.

Effectiveness of an Energy Management Training Course on Employee Well-Being: a randomized controlled trial.

Em comparação com o GC, o GI teve uma mudança média de 6 meses significativamente maior na escala de vitalidade SF-36 (P = 0,003) e pontuou nas categorias mais altas para 5 dos 7 domínios restantes do SF-36: saúde geral ( P = 0,014), saúde mental (P = 0,027), ausência de limitações de papéis devido a problemas físicos (P = 0,026) e funcionamento social (P = 0,007). O IG também teve maiores melhorias no propósito de vida (P <0,001) e na qualidade do sono (índice I, P = 0,024; índice II, P = 0,021). Não foram observadas alterações estatisticamente significativas para peso, dieta, atividade física ou fatores de risco cardiometabólico.

DEFORCHE, Benedicte et al.

Evaluation of a Brief Intervention for Promoting Mental Health among Employees in Social Enterprises: a cluster randomized controlled trial.

Além disso, a intervenção foi bem recebida pelos colaboradores. Esta breve intervenção pode ser um primeiro passo promissor para melhorar a saúde mental de pessoas com deficiência que trabalham em empresas sociais. No entanto, o monitoramento adicional por profissionais e gestores que trabalham nas organizações pode ser necessário para manter esses efeitos, mas efeitos desfavoráveis foram encontrados em preocupações injustificadas. Além disso, a intervenção foi bem recebida pelos colaboradores. Esta breve intervenção pode ser um primeiro passo promissor para melhorar a saúde mental de pessoas com deficiência que

271

O Que Falam As Evidencias Sobre O Papel Dos Gestores Nos Cuidados Do Trabalhador De Saúde

7

trabalham em empresas sociais. No entanto, o monitoramento adicional por profissionais e gestores que trabalham nas organizações pode ser necessário para manter esses efeitos.

VIESTER, Laura et al.

Effectiveness of a Worksite Intervention for Male Construction Workers on Dietary and Physical Activity Behaviors, Body Mass Index, and Health Outcomes: results of a randomized controlled trial.

Após 6 meses, um efeito de intervenção estatisticamente significativo foi encontrado no peso corporal (B = -1,06, P = 0,010), IMC (B = -0,32, P = 0,010) e circunferência da cintura (B = -1,38, P = 0,032). Aos 6 meses, a porcentagem daqueles que atendem às diretrizes de saúde pública para AF aumentou significativamente no grupo de intervenção em comparação com o grupo de controle (B = 2,06, P = 0,032), e para bebidas adoçadas com açúcar, um efeito de intervenção foi encontrado em 6 meses também (B = -2,82, P = 0,003). Aos 12 meses, para resultados relacionados ao peso, essas diferenças foram ligeiramente menores e não mais estatisticamente significativas. A intervenção não foi eficaz na quantidade total de AF moderada a vigorosa e outros resultados dietéticos e de saúde.

FRAMKE, Elisabeth et al.

Effect of a participatory organizational-level occupational health intervention on job satisfaction, exhaustion and sleep disturbances: results of a cluster randomized controlled trial.

As análises dentro do grupo mostraram que a exaustão diminuiu estatisticamente de forma significativa tanto no grupo intervenção quanto no grupo controle. Não houve mudanças estatisticamente significativas na satisfação no trabalho e distúrbios do sono. As análises entre os grupos mostraram que não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos para mudanças em qualquer uma das variáveis de resultado, nem nas análises não ajustadas ou ajustadas

TARRO, Lucia et al.

Effectiveness of Workplace Interventions for Improving Absenteeism, Productivity, and Work Ability of Employees: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials.

Um total de 47 RCTs foram incluídos na revisão sistemática, e 19 RCTs (11 absenteísmo, 7 produtividade e 5 capacidade para o trabalho) foram incluídos na meta-análise. A meta-análise mostrou que a eficácia das intervenções no local de trabalho para o absenteísmo foi -1,56 (IC 95%, -2,67 a -0,44) e -2,65 (IC 95%, -4,49 a -0. 81) considerando apenas RCTs de qualidade moderada. Em contraste, apenas alguns estudos de intervenções no local de trabalho para produtividade e capacidade para o trabalho foram incluídos, o que foi insuficiente para determinar a eficácia e o melhor design para melhorar esses

272

O Que Falam As Evidencias Sobre O Papel Dos Gestores Nos Cuidados Do Trabalhador De Saúde

8

resultados de trabalho.

Fonte: Dados da Pesquisa.

Torna-se de suma importância e relevância esta pesquisa no Brasil que trata de informações precisas

sobre a atividade laboral com dados e subsídios robustos, tornando mais evidente o que se passa

dentro dos locais de trabalho. Sendo assim, tornaria um espaço de reflexão e construção

multidisciplinar entre os envolvidos nos processos de discussão do trabalho como determinante no

processo saúde-doença (CARDOSO; MORGADO, 2019).

Os estudos apresentam evidências fortes para estabelecer um fluxo sistematizado dos cuidados que

os gestores dos serviços de saúde devem implementar com seus funcionários. As medidas

implementadas são descritas de forma robusta, o que facilitou a análise dos dados e,

consequentemente, os resultados desta revisão integrativa.

A principal limitação do estudo foi a ausência de estudos nacionais nas bases de dados e que possam

compreender às peculiaridades locais, regionais e nacionais. A necessidade de estudos que tragam os

cuidados dos gestores para saúde do trabalhador são fundamentais na sistematização da assistência,

principalmente no cuidado à saúde do trabalhador de forma geral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta revisão integrativa da literatura apresentou a produção científica disponível sobre os cuidados

implementados pelos gestores para/com a saúde do trabalhador. Evidenciou-se potencialidade de

estudos internacionais com boa evidência científica que fortificavam cuidados concretos para a saúde

do trabalhador e, diante dos resultados, apresentam evidências fortes.

Considera-se como possível limitação desta revisão ausência de estudos nacionais de grande porte,

com níveis de evidência científica forte, que tratem especificamente dos cuidados dos gestores com a

saúde do trabalhador dos serviços de saúde, não sendo possível avaliar o panorama geral dos cuidados

ofertados a esse público. No entanto, este fato justifica-se pelos modelos díspares de assistência em

saúde ao trabalhador prestada em âmbito mundial. Boa parte dos estudos selecionados para leitura

eram opiniões de especialistas e estudos de casos, sendo considerado critério de exclusão da pesquisa

e evidência científica fraca para acréscimo no estudo.

Os resultados encontrados valorizam a necessidade de maior intervenção dos gestores em prol da

produção científica de trabalhos que tratem dos cuidados de seus trabalhadores, propiciando melhor

conhecimento acerca dessa temática. Assim, tornam-se relevantes estudos pautados na valorização

273

O Que Falam As Evidencias Sobre O Papel Dos Gestores Nos Cuidados Do Trabalhador De Saúde

9

das singularidades e subjetividades dos cuidados em saúde do trabalhador, a fim de que seja possível

traçar condutas para o manejo mais efetivo desses cuidados propostos pelas gestões em saúde.

274

O Que Falam As Evidencias Sobre O Papel Dos Gestores Nos Cuidados Do Trabalhador De Saúde

10

REFERÊNCIAS

BOTELHO, L.L.R.; CUNHA, C. C. A.; MACEDO, M. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gest Soc., v. 5, n. 11, p. 121-36, 2011.

BUENO, R. L.; MALLÉN, J. A. C.; VALLEJO, N. G. Physical activity as a tool to reduce disease-related work absenteeism in sedentary employees: A systematic review. Rev Esp Salud Pública, v. 92, p. 1-12, 2018.

CARDOSO, A. C.; MORGADO, L. Trabalho e saúde do trabalhador no contexto atual: ensinamentos da Enquete Europeia sobre Condições de Trabalho. Saúde Soc. São Paulo, v.28, n.1, p.169-81, 2019.

GALVÃO, T. F.; PANSANI, T. S. A.; HARRAD, D. Principais itens para relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises: A recomendação PRISMA. Epidemiol. Serv. Saúde., v. 24, n. 2, p. 335-42, 2015.

LANCMAN, S. et al. Intersetorialidade na saúde do trabalhador: velhas questões, novas perspectivas? Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 10, p. 4033-44, 2020.

PEARSON, A.; SOARES, C. B. Centro Brasileiro para o Cuidado à Saúde Baseado em Evidências: Centro Afiliado do Instituto Joanna Briggs. Rev. esc. enferm. USP, v. 47, n.2, 2013.

SILVA, R. F. et al. Nível de percepção de estresse e qualidade de vida entre os técnicos de enfermagem das unidades de pronto atendimento de Palmas - TO. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 22, n. 3, p. 261-6, 2018.

VASCONCELLOS, L. C. F.; AGUIAR, L. Saúde do Trabalhador: necessidades desconsideradas pela gestão do Sistema Único de Saúde. Saúde em Debate, v. 41, n. 113, p. 605-17, 2017.

VIANA, D. L.; MARTINS, C. L.; FRAZÃO, P. Gestão do trabalho em saúde: sentidos e usos da expressão no contexto histórico brasileiro. Trabalho, Educação e Saúde, v. 16, n. 1, p. 57-78, 2017.

275

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/211004788

Capítulo 19

PRÁTICAS DE EDUCOMUNICAÇÃO NA PROMOÇÃO DE HORTAS COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL, EM UM

NÚCLEO ASSISTENCIAL.

Ágatha Meei Lin Cheng Universidade de São Paulo

Amanda de Farias Santos Universidade de São Paulo

Ana Maria Cervato-Mancuso Universidade de São Paulo

Práticas De Educomunicação Na Promoção De Hortas Como Estratégia De Educação Alimentar E Nutricional Em Um Núcleo

Assistencial De Desenvolvimento Integral.

1

Resumo: Pretende-se relatar a experiência vivenciada a partir do planejamento e execução de uma

intervenção educativa, utilizando as práticas de educomunicação na promoção de atividades

pedagógicas, como a horta em um Núcleo Assistencial de Desenvolvimento Integral para Crianças e

Adolescentes (NADI-CCA). As atividades tiveram como objetivo promover a educação, a reflexão, a

autonomia, o diálogo e o pensamento humanista e crítico por meio de ações e práticas de

educomunicação e educação alimentar e nutricional (EAN). O projeto desenvolveu-se em três

momentos: Planejamento do projeto, apresentação para a equipe da instituição e a intervenção

educativa. A análise crítica foi baseada nas áreas de educomunicação e nos princípios do Marco de

Referência de EAN, no qual foi possível identificar os facilitadores e dificultadores das ações

educativas. Entre outros aspectos, concluiu-se que, as ações de EAN com as práticas de

educomunicação podem ser consideradas uma estratégia para promoção de uma alimentação

adequada e saudável. As atividades pedagógicas do projeto, como a horta, a oficina sensorial e a

oficina culinária, ampliam o interesse sobre alimentação, uma vez que, gera uma reflexão sobre as

etapas do sistema alimentar de forma integral.

Descritores: Educação alimentar e nutricional; Horta; Educomunicação; Intervenção Educativa

277

Práticas De Educomunicação Na Promoção De Hortas Como Estratégia De Educação Alimentar E Nutricional Em Um Núcleo

Assistencial De Desenvolvimento Integral.

2

INTRODUÇÃO

Na infância, ocorre a construção e consolidação dos hábitos alimentares que influenciarão em todas

as fases do curso da vida. Segundo Koivisto e Rozin (citado por RAMOS e STEIN, 2008), estes são

determinados primeiramente pela família e, secundariamente, pelas outras interações psicossociais e

locais de convívio da criança, como a escola (GUELFI, 2013).

A escola é um espaço para construção coletiva, que possibilita desenvolver valores, crenças, princípios

e interesses desde a primeira infância (BEZERRA, 2009). Essas instituições têm papel fundamental na

construção de hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis que perpassam a fase de descobertas na

qual as crianças estão inseridas (MATIAS, 2019). Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB), a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na

convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e

organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996).

A LDB estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, organiza e regulamenta a estrutura e o

funcionamento do sistema educacional público e privado. Entre os avanços da atual LDB na estrutura

do sistema educacional, estão a implementação do conceito de educação básica, que consiste na

educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. A divisão das competências entre as esferas

governamentais, assim, compete aos municípios atuar no ensino fundamental e na educação infantil,

já aos Estados e o Distrito Federal, no ensino fundamental e médio. Cabe ao governo federal organizar

o sistema de educação superior, além disso, tem função redistributiva e supletiva na educação,

devendo prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios

(BRASIL, 1996). Também determinou que os currículos da educação básica tivessem uma base nacional

comum, respeitando as diversidades de cada região, estimulou novas 11 modalidades como a

educação a distância e determinou a elaboração de um novo Plano Nacional de Educação (BRASIL,

1996).

A Lei 13.666/2018 altera a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e estabelece que o tema

educação alimentar e nutricional (EAN) deve ser incluído no currículo escolar, de forma transversal,

nas disciplinas de ciências e biologia. Essa Lei amplia a atuação do nutricionista em EAN, ainda que o

nutricionista não seja necessariamente o responsável de forma direta, pelas ações de EAN, deve

acompanhar todas as fases de planejamento, desenvolvimento, monitoramento e avaliação da

implementação de atividades de EAN nas disciplinas do plano pedagógico das escolas (BRASIL, 2018).

Essa iniciativa já vinha sendo defendida em diversos trabalhos, como em Greenwood e Fonseca (2018),

278

Práticas De Educomunicação Na Promoção De Hortas Como Estratégia De Educação Alimentar E Nutricional Em Um Núcleo

Assistencial De Desenvolvimento Integral.

3

que apresentaram a importância da inclusão da EAN no livro didático do programa nacional de livro

didático como ferramenta para ampliação da EAN nas escolas públicas (GREENWOOD e FONSECA,

2018). Outro exemplo de ação em EAN foi a impressão de imagens contendo mensagens sobre

alimentação saudável na quarta capa do livro didático, em substituição ao Hino Nacional (FUNDO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO, 2019).

Historicamente, a EAN tem sido incluída políticas públicas, está inserida no Plano Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan); no Plano Plurianual do governo (PPA 2016-2019); na

Política Nacional de Alimentação e Nutrição (Pnan); na Política Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional (PNSAN); na Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS); na Lei nº 11.947/09 (BRASIL,

2009); na Resolução FNDE nº 26/2013 (FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO,

2013) ; bem como no Plano de Ações Estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não

transmissíveis, no Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas

e no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL

E COMBATE A FOME, 2012).

O PNAE é um dos maiores programas na área de alimentação escolar atualmente, com atendimento

universalizado, gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ele tem por

objetivo “contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o

rendimento 12 escolar e a formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações

de educação alimentar e nutricional (EAN) e da oferta de refeições que supram as necessidades

nutricionais durante o período letivo”. Assim, para alcançar esse objetivo tem como uma de suas

diretrizes a EAN (FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO, 2019).

A educação alimentar e nutricional (EAN) se contextualiza na realização do Direito Humano à

Alimentação Adequada (DHAA) e na garantia da Segurança Alimentar e Nutricional. De acordo com o

Marco de referência de EAN para políticas públicas, a EAN é um campo de “conhecimento e de prática

contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover a prática

autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis” (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO

SOCIAL E COMBATE À FOME, 2012). Além disso, inclui os ideais do Sistema Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional (SISAN), que para educação, somam-se aos princípios do Programa Nacional

de Alimentação Escolar (PNAE) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).

As ações de EAN vêm passando por mudanças, de uma estrutura informativa, com difusão de

informações sobre benefícios e malefícios de alimentos e nutrientes, desconsiderando os

279

Práticas De Educomunicação Na Promoção De Hortas Como Estratégia De Educação Alimentar E Nutricional Em Um Núcleo

Assistencial De Desenvolvimento Integral.

4

determinantes do processo saúde-doença e o saber popular, para uma abordagem problematizadora

e integral (COELHO e BÓGUS, 2016), considerando todas as fases do curso da vida, as interações e

significados que compõem o comportamento alimentar e as etapas do sistema alimentar (MINISTÉRIO

DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2012). Um dos princípios da EAN é a

integralidade da abordagem do sistema alimentar, ou seja, incluindo desde o acesso à terra, até a

destinação de resíduos.

Nesse contexto, as oficinas de hortas escolares podem ser consideradas uma importante estratégia

pedagógica, por integrar essas dimensões, ampliando os conhecimentos sobre as etapas do sistema

alimentar, contribuindo para que os indivíduos façam escolhas conscientes (MINISTÉRIO DO

DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2012). De acordo com CAPRA (2005), a horta escolar

é um espaço propício para conectar as crianças com a origem da comida e ao mesmo tempo possibilita

uma integração com outras atividades escolares. (CRIBB, 2007). Dessa forma, por meio da construção

da horta escolar, o professor pode colocar a interdisciplinaridade em prática, como por exemplo, com

a análise das diferentes formas dos alimentos cultivados, pode se ensinar matemática (RECINE e IRALA,

2001).

A implantação de horta em escolas é relevante para incentivar o respeito ao meio ambiente, além

disso, quando a criança se envolve no processo, passa por uma experiência de responsabilização e

orgulho, por conseguir executar as etapas para obtenção do alimento, além da transmissão de valores

de educação, cooperação e responsabilidade com a comunidade na qual estão inseridos (BOHM et al.,

2017). Construir uma horta na escola também contribui para o maior conhecimento das variedades

de alimentos e consequentemente maior consumo de frutas e hortaliças (MATIAS, 2019).

As oficinas culinárias também são estratégias pedagógicas, para valorização da culinária, reflexão,

ampliação da autonomia nas escolhas alimentares, exercício das dimensões sensoriais, cognitivas e

simbólicas da alimentação (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2012).

O preparo de receitas culinárias saudáveis melhora a aceitação de alimentos das crianças. Além de ser

um instrumento de ligação entre as crianças e as famílias para tratarem de alimentação saudável

(REZENDE e NEGRI, 2015).

O desenvolvimento de hortas e de oficinas culinárias está de acordo com o novo Guia Alimentar para

a População Brasileira, no qual destaca a valorização dos aspectos sociais e culturais da alimentação,

fornecendo fundamento para práticas educativas que buscam novos sentidos e significados para a

comida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

280

Práticas De Educomunicação Na Promoção De Hortas Como Estratégia De Educação Alimentar E Nutricional Em Um Núcleo

Assistencial De Desenvolvimento Integral.

5

Quando se interliga o campo da educação com os meios de comunicação, consegue-se emergir uma

nova área de intervenção social: a educomunicação. Este campo, segundo JAWSNICKER (2011),

evidencia-se por atividades de intervenção política e social fundamentadas no propósito de análise

crítica dos meios de comunicação que atuam tanto no âmbito do ensino formal e informal. A

educomunicação faz parte do campo teórico-prático que integra a educação e comunicação, ela é um

conjunto de ações interdiscursivas e interdisciplinares, que consistem em promover a educação, a

reflexão, o pensamento humanista e crítico por estudos e produção de meios de comunicação para

educar e construir uma sociedade mais crítica e humanizadora.

Existem algumas direções que a educomunicação pode tomar e estas são identificadas pelo Núcleo de

Comunicação e Educação da ECA/USP: [...] b) a área da expressão comunicativa através das artes,

representada pelos esforços de arte-educadores no sentido de garantir espaços de fala e de

visibilidade para cada um dos sujeitos sociais; c) a área da mediação tecnológica nos espaços

educativos, constituída pelos esforços no sentido de identificar a natureza da interatividade propiciada

pelos novos instrumentos da comunicação, e de democratizar o acesso às tecnologias,

desmistificando-a e colocando-a a serviço de toda a sociedade [...] (SOARES, 2009, p. 4).

O uso das tecnologias, segundo CORTELAZZO (2005), possibilita a elaboração e o manuseio de

conceitos e ideias por parte do emissor (professor/aluno) e do receptor (aluno/professor), que

codificam e decodificam perspectivas conforme a sua história de vida e a cultura em que estão

inseridos. Permitindo uma comunicação mais dinâmica, onde os papéis de educador e de aprendiz são

alternados e todos são coprotagonistas e colaboradores da ação educativa. Dessa forma, se os

professores e alunos conhecem e possuem acesso às redes de mídias, poderão juntos trabalhar com

esses meios com o objetivo de desmistificar seu uso e desenvolver habilidades para utilizá-las na teoria

e prática como forma de educação.

Segundo CAVALCANTI (2005, p. 2), os professores: 15 [...] não devem substituir as “velhas tecnologias”

pelas novas, devem, antes, se apropriar das novas para aquilo que elas são únicas e resgatar os usos

das velhas em rede com as novas, ou seja, usar cada uma naquilo que ela tem de específico e, portanto,

melhor do que a outra. Quando a comunicação começa a ser vista como ferramenta para integração

social e integrante do cotidiano, ela passa também a ser considerada com mais naturalidade. Assim,

passa a ser usada para a disseminação de informações para todos os setores da sociedade, sem

excluídos e sem excludentes (MICHALSKI et al., 2011).

281

Práticas De Educomunicação Na Promoção De Hortas Como Estratégia De Educação Alimentar E Nutricional Em Um Núcleo

Assistencial De Desenvolvimento Integral.

6

Para Martín-Barbero (1997), a educação para mídia é definida como um processo educativo que

concede autonomia aos alunos para se apropriarem criativamente dos meios de comunicação. No

qual, oferece voz aos estudantes e aperfeiçoa a gestão do ambiente escolar com a participação dos

educandos para assim fortalecer o ecossistema comunicativo da escola.

Ao realizar oficinas educativas inserindo as ferramentas de comunicação, é possível promover

interação e diálogo sobre a temática e pensamento crítico sobre o que está sendo desenvolvido no

projeto por meio da Educomunicação. Nesse sentido, é importante reconhecer as práticas

educomunicativas como meio de promover diálogos coletivos em prol de um bem comum, melhorar

os processos educativos, formar cidadãos críticos e conscientizados e se conectar com outros discursos

utilizando os meios de comunicação (PATUSSE et al., 2018).

Com o passar dos anos, a formação e a atuação do nutricionista foram se modificando. Centravam-se

em dois aspectos: na nutrição clínica, conduzida para ações de caráter individual e centrada no

alimento como agente de tratamento; e na alimentação coletiva, direcionada para ações coletivas e

relacionada à produção e ao consumo de alimentos pela população (VASCONCELOS e CALADO, 2011;

VASCONCELOS, 2002). Atualmente, a atuação foi ampliada pelas recentes modificações nas políticas

de saúde e o nutricionista atuante na Nutrição em saúde Coletiva deve ser um profissional generalista,

crítico, criativo, integrador e com habilidade de trabalhar em equipe. (PINHEIRO et al., 2012). 16 A

Área de Nutrição em Saúde Coletiva está inserida na resolução 600/2018, publicada pelo Conselho

Federal de Nutricionistas – CFN, cuja competência do profissional nutricionista que atua nessa área é

referida: Compete ao nutricionista, no exercício de suas atribuições na área de Nutrição em Saúde

Pública: organizar, coordenar, supervisionar e avaliar os serviços de nutrição; prestar assistência

dietoterápica e promover a educação alimentar e nutricional a coletividades ou indivíduos, sadios ou

enfermos, em instituições públicas ou privadas, e em consultório de nutrição e dietética; atuar no

controle de qualidade de gêneros e produtos alimentícios; participar de inspeções sanitárias

(CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS, 2018). Segundo o Consenso sobre Habilidades e

Competências do Nutricionista no Âmbito da Saúde Coletiva, elaborado pela OPSAN, espera-se do

nutricionista na área de saúde coletiva algumas competências, como por exemplo: Promoção da

alimentação e nutrição adequada e saudável ao longo da vida, planejamento de programas e ações de

alimentação e nutrição com base nas necessidades das comunidades/população, aconselhamento

nutricional para indivíduos e grupos, desenvolvimento de habilidades, atitudes e conhecimento de

nutrição dos indivíduos e comunidades, desenvolvimento de estratégias que ampliem o

282

Práticas De Educomunicação Na Promoção De Hortas Como Estratégia De Educação Alimentar E Nutricional Em Um Núcleo

Assistencial De Desenvolvimento Integral.

7

reconhecimento e a valorização dos problemas e temas de alimentação e nutrição por parte da

população, entre outros. (RECINE e MORTOZA, 2013) Uma prática de cuidado inserida nessa área é a

intervenção em educação alimentar e nutricional. Desse modo, o nutricionista tem o papel de refletir

sobre as escolhas alimentares individuais e coletivas, incentivar a pensar a respeito da alimentação

cotidiana e fortalecer a autonomia em saúde dos indivíduos (SANTOS et al., 2006). Assim, a Educação

Alimentar e Nutricional (EAN) é uma disciplina obrigatória dos cursos de graduação em Nutrição

(MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2012).

As intervenções em EAN devem apresentar um diagnóstico educativo, para desenvolver um

planejamento com objetivos considerando os recursos, atividades, efeitos e contexto da intervenção

com público-alvo definido. Dessa forma, têm uma estrutura teórico-metodológica de planejamento,

composta pelas fases de concepção, formulação, implementação e avaliação. Na fase de avaliação,

deve-se fazer uma análise crítica, sistemática e objetiva das realizações e resultados. Quanto mais

detalhada a descrição do planejamento para a compreensão do processo educativo, maior a

possibilidade de a intervenção ser replicada em outros espaços (CERVATO-MANCUSO et al., 2016).

A EAN tem fragilidades metodológicas, sendo uma das razões a escassez de publicações como a de

relatos de experiências quanto à formação e à atuação (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL

E COMBATE À FOME, 2012). Nessa perspectiva, o relato de experiência tem sido utilizado para

fortalecer o conhecimento, favorecendo a troca de conhecimentos e vivências entre os diferentes

profissionais. Esse método apresenta informações detalhadas sobre a experiência do autor (PROJETO

ACADÊMICO, 2019). Assim, pretende-se descrever e analisar uma intervenção educativa, utilizando as

práticas de educomunicação.

2.PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Trata-se de um relato de experiência a partir do uso da mídia na educação e na produção de conteúdos

educativos, na promoção de atividades pedagógicas, como a horta, realizada com crianças em idade

escolar da região do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, que frequentam o NADI-CCA: Espaço Com

Viver.

As atividades aqui descritas tiveram o intuito de promover a educação, a reflexão, a autonomia, o

diálogo e o pensamento humanista e crítico por meio de ações e práticas de educação alimentar e

nutricional e educomunicação. Os conteúdos desenvolvidos durante as atividades com as crianças

foram: a importância de hábitos alimentares, proteção do meio ambiente, reaproveitamento de

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Práticas De Educomunicação Na Promoção De Hortas Como Estratégia De Educação Alimentar E Nutricional Em Um Núcleo

Assistencial De Desenvolvimento Integral.

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materiais, produção midiática, uso crítico dos meios de comunicação e propor experiências no

desenvolvimento das hortas no espaço de convívio.

A experiência aqui relatada teve como contexto o Núcleo Assistencial de Desenvolvimento Integral:

Centro para Crianças e Adolescentes (NADI-CCA), que é uma organização não governamental, criada

em fevereiro de 2014, por Paulo Gomes e Ibrahim Adel Zaidan, com o objetivo de atuar com atividades

educacionais baseadas no diálogo, na experiência, na solução de problemas e no desenvolvimento de

competências práticas para a vida. A proposta do programa NADI-CCA segue de acordo com as

diretrizes da Secretaria de Assistência Social e Prefeitura de São Paulo, oferecendo atividades

socioeducativas para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos, no horário oposto ao período escolar

para contribuir com a transformação da comunidade local.

As atividades aconteceram no NADI-CCA: Espaço Com Viver, localizado na Zona Sul de São Paulo, no

bairro Dom José – Capão Redondo. A unidade é um espaço de referência para o desenvolvimento de

ações socioeducativas, em que as crianças desenvolvem projetos em diversas áreas de atuação, como

por exemplo, artes, oficinas culinárias, leitura, esportes, raciocínio lógico e rodas de discussões. A

instituição funciona nas dependências da Igreja Cristã da Família Capão, atendendo aproximadamente

200 crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, no período integral de segunda a sexta-feira, das 8h00 às

17h30, com a proposta de contraturno escolar. Para dar suporte ao programa, o NADI-CCA conta com

uma equipe composta por um presidente, três orientadoras socioeducativas, uma gerente, uma

assistente social, uma psicóloga, quatro pedagogas e mais de 15 voluntários atuando diretamente e

indiretamente no projeto.

Em relação à localização, o Capão Redondo é um distrito que pertence à subprefeitura do Campo

Limpo. Segundo o IBGE (2017), os dados mostram que o distrito tem uma população estimada de

11,217 habitantes, com renda média de 1,9 salários-mínimos. O território apresenta 43,5% de

domicílios com saneamento básico adequado, 56,1% de domicílios urbanos em vias públicas com

arborização e 1,2% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de

bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). Em contrapartida, o NADI-CCA: Espaço Com Viver não está

inserido em áreas com arborização.

Desse modo, as atividades foram voltadas para horta, uma vez que o resgate do vínculo da

alimentação com a natureza gera uma reflexão sobre a responsabilidade social, econômica e

ambiental em todas as etapas do sistema alimentar de forma integral.

284

Práticas De Educomunicação Na Promoção De Hortas Como Estratégia De Educação Alimentar E Nutricional Em Um Núcleo

Assistencial De Desenvolvimento Integral.

9

3. RESULTADOS

O projeto em três momentos: Planejamento do projeto, apresentação para a equipe da instituição e

a intervenção educativa. No primeiro momento, realizou-se o planejamento da intervenção educativa,

que teve como base a proposta de CERVATO-MANCUSO (2011). Em seu estudo, a construção do

planejamento de educação nutricional é dividida em 4 fases: concepção, formulação, implementação

e avaliação. Assim, para elaboração do plano, identificou-se o público-alvo, a principal problemática

que iria ser abordada, objetivos, meios e materiais de apoio, etapas de implementação e avaliação da

intervenção. Com isso, delinearam-se as etapas dos projetos conforme a figura abaixo:

Figura 1 - Construção do planejamento de educação nutricional para elaboração do projeto

No segundo momento, efetuou-se a apresentação do projeto para a equipe do NADI-CCA: Espaço Com

Viver, realizada em um encontro para explanação do objetivo e apresentação das etapas de realização

do projeto. Conversou-se com as coordenadoras e a professora responsável pela sala, para entender

o perfil das 20 crianças, explicar os objetivos das atividades e realizar as adaptações necessárias para

assim tentar atingir as necessidades reais das crianças.

No terceiro momento, implementou-se a intervenção educativa composta de diversas atividades,

tendo como estratégia principal a horta, que foi desenvolvida ao longo de 6 encontros semanais com

duração de 1 hora e em sete etapas. Foram incluídas no projeto todas as crianças de 6 a 8 anos do

período da manhã, que tiveram sua participação previamente autorizada pelos responsáveis,

mediante a assinatura do Termo de Consentimento. Em todos os encontros, chegava-se com

aproximadamente uma hora de antecedência para poder organizar o roteiro do dia, repassar as

atividades que seriam desenvolvidas e conversar com a professora responsável da sala.

O primeiro encontro aconteceu com uma hora de duração em sala de aula para conhecer melhor as

crianças e nos aproximar delas. Para isso, realizou-se uma breve apresentação para os alunos sobre

“quem somos” e uma rápida explicação sobre os futuros encontros e atividades. Após essa conversa,

pediu-se para os alunos se apresentarem falando “nome, idade e o que mais gosta de fazer no tempo

livre”. Em seguida, iniciou-se a confecção dos crachás, sendo distribuído para cada criança um cartão

em branco para escrever seu nome e decorar de acordo com sua preferência. Na terceira etapa,

realizou-se uma roda de conversa para discutir sobre “O que é horta?”, com o objetivo de conhecer

os anseios e necessidades das crianças diante dos assuntos a serem abordados nos próximos

encontros, para isso, foram feitas três perguntas norteadoras: “Vocês sabem de onde vêm os

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Práticas De Educomunicação Na Promoção De Hortas Como Estratégia De Educação Alimentar E Nutricional Em Um Núcleo

Assistencial De Desenvolvimento Integral.

10

alimentos e como são feitos?”, “Sua família planta alguma coisa no quintal de casa? Folhinhas, flores

ou alimentos?”, “Querem fazer parte da construção da nossa horta?”. Dando ênfase à participação,

envolvimento e voz para todos os presentes na atividade. Em seguida, as crianças foram levadas para

a sala ao lado, onde foi apresentado o vídeo do “Senhor Lobato” (A TURMA DO SEU LOBATO, 2017),

um clipe lúdico sobre horta, com o objetivo de identificar se as crianças conheciam os alimentos

citados no vídeo. Na primeira vez que foi passado o videoclipe, todos prestaram bastante atenção,

porém quando se repassou pela segunda vez, algumas crianças se dispersaram da atividade. Mesmo

com a distração, observou-se que todos conheciam e sabiam os alimentos que estavam sendo

apresentados no vídeo. A quinta etapa constituiu em demonstrar para as crianças 21 como usarem os

tablets. Ensinou-se como desbloquear o aparelho, entrar na opção de câmera e trocar para os modos

de filmagem e foto. Explicou-se que deveriam gravar as atividades educativas com o tablet na

horizontal e elucidou-se que esses vídeos gravados virariam conteúdos educativos produzidos por eles

para a instituição. Ainda, em roda passavam-se os tablets para que cada aluno pudesse mexer um

pouco e aprender como gravar e tirar foto. Em seguida, foram pedidas duas tarefas para casa. A

primeira era pensar em um nome para a futura horta e a segunda era desenhar hortaliças que eles

gostariam de plantar. Para finalizar o encontro, foi tirada uma foto de todos juntos, que fez parte do

mural no fim das atividades.

Na semana do segundo dia de intervenção, buscaram-se os paletes doados pela mercearia, localizada

na região da instituição, para lixar e retirar os pregos restantes, com a finalidade de evitar farpas e

possíveis ferimentos. Assim, o segundo dia de intervenção aconteceu na semana seguinte, com

duração de uma hora. Esse encontro foi realizado em dois cenários distintos: sala de aula e quadra. O

objetivo principal era fazer com que as crianças reconhecessem os possíveis lugares da instituição que

poderiam ser ocupados para personalização dos paletes e construção da horta vertical. Iniciou-se a

primeira etapa entregando os crachás confeccionados pelas crianças no último encontro. Para os

alunos que haviam faltado era entregue um crachá com o nome para que fosse personalizado com a

professora ao fim do dia. Na segunda etapa, realizou-se um sorteio para decidir quem seria o

responsável por filmar as atividades do dia, como havia apenas dois tablets, cada criança sorteada

ficava com o aparelho por 15/20 minutos, para possibilitar que todos tivessem a oportunidade de usar

essa ferramenta até o fim do projeto. Na terceira etapa, foi feita uma roda de conversa para relembrar

das tarefas do encontro anterior, iniciou-se o diálogo perguntando se haviam pensado em um nome

para a horta. Para a surpresa, todos interagiram e sugeriram diversos nomes. Para facilitar o processo

de decisão foi feita uma votação entre os nomes mais mencionados: “Horteiros” e “Horta Feliz”. A

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maioria da sala optou por “Horta Feliz”, sendo, portanto, o nome oficial. Os alunos também trouxeram

os desenhos solicitados como “tarefa de casa” e explicaram o que haviam desenhado e quais eram as

expectativas com a horta. Após esse momento, na etapa quatro, houve o reconhecimento do

território, perguntou-se para os alunos quais seriam os melhores lugares dentro da instituição em que

se poderia construir a horta. Explicou-se a importância de ser um lugar aberto e iluminado, pois as

plantas necessitam de luz solar e água para crescerem. Realizou-se uma breve “charada” para que eles

pensassem em locais dentro do NADI-CCA, que poderia desenvolver a horta, somente duas crianças

adivinharam o local. Em seguida, foi-se da sala em rumo à quadra, para que as crianças pudessem

realizar a personalização dos paletes (material usado para a construção da horta vertical). Como havia

quatro paletes para customização, as crianças foram divididas em quatro grupos para que cada equipe

decorasse com o seu grupo o palete. Para personalização, foram utilizados tinta, pincéis e spray. Todas

as crianças participaram ativamente da atividade. Para encerrar o segundo encontro, todos se

juntaram para tirar a foto final. Figura 2 - Personalização dos paletes

O terceiro dia de intervenção precisou ser alterado, pois as etapas previamente planejadas não

aconteceram por conta do tempo nublado e chuvoso. Nesse dia, realizaram-se apenas quatro etapas:

entrega do crachá, sorteio dos alunos que ficariam com o tablet, roda de conversa e foto final da

atividade. Como a quadra em que seria realizada e a atividades eram abertas, e a proposta da dinâmica

era iniciar o preparo da horta vertical, conversou-se com a diretora da instituição e em conjunto

decidiu-se cancelar a atividade por conta do frio e da garoa forte. Remarcou-se a atividade para a

semana seguinte, para que todas as crianças pudessem participar com segurança, sem causar nenhum

problema à saúde.

Dessa forma, o terceiro dia de intervenção aconteceu efetivamente após duas semanas com uma hora

de duração, foram dois cenários distintos: sala de aula e quadra. O objetivo principal do encontro era

iniciar o preparo da horta vertical para mostrar todas as etapas de produção e consumo dos alimentos.

Começou-se a atividade com a entrega dos crachás. Nesse dia todas as crianças presentes já haviam

personalizado o seu respectivo crachá. Em seguida, foi realizado o sorteio dos alunos que ficariam com

o tablet, foram 6 crianças sorteadas no total. Na quarta etapa, iniciou-se uma roda de conversa para

discutir sobre a atividade do dia e o que se plantaria na “Horta Feliz”, falou-se sobre o local da

semeadura e o tempo para colheita. Posteriormente, as crianças foram divididas em quatro grupos

com sete crianças, sendo cada grupo responsável por um palete para o plantio. Logo em seguida, foi-

se para a quadra para iniciar o preparo da horta vertical. Para isso, sacos de terras, pá, palitos de

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sorvete e sementes foram distribuídas entre os grupos. Realizou-se uma breve explicação e foram

mostrados o passo a passo de como plantar. Explicou-se para as crianças como colocar o saco plástico

para forrar os paletes, acrescentar a terra, com o auxílio de palitos de sorvete, cavar para plantar as

sementes e, em seguida, regar todas as plantações. Em todos os processos da construção da horta, as

crianças que apresentavam dificuldade ou pediam ajuda durante a atividade foram auxiliadas. Foram

12 tipos de sementes diferentes, entre elas: morango, pimenta, couve, cebolinha, feijão, vagem,

hortelã, coentro, salsinha, tomate, orégano e manjericão. Para encerrar o encontro, tirou-se uma foto

da turma.

Figura 3 - Atividade de preparo da Horta Feliz

O quarto dia de intervenção aconteceu em dois cenários: sala de aula e quadra. A proposta da

atividade era realizar a manutenção da horta e uma oficina sensorial com os alunos para estimular

alguns sentidos e permitir que as crianças conhecessem de forma lúdica as hortaliças que estavam

sendo plantadas na horta. Iniciou-se a atividade com a entrega dos crachás decorados para os

respectivos alunos, havia apenas uma aluna que não tinha participação em nenhuma das etapas

anteriores. Explicou-se rapidamente para ela as últimas dinâmicas que foram feitas em sala e foi

entregue um crachá em branco para que ela colocasse o nome e decorasse posteriormente. Nesse

encontro não se realizou o sorteio, a professora pediu para que se seguisse a ordem da lista dela de

“ajudante do dia” e, por isso, somente quatro alunos utilizaram o tablet para gravar as atividades do

dia. Em seguida, explicou-se como funcionaria a oficina sensorial e as regras. Dividiu-se a turma em 6

grupos de 4 a 5 crianças, dessa maneira, foram vendadas e recebiam um alimento para que pudessem

cheirar, experimentar, sentir e adivinhar qual a fruta, verdura e folha em questão. Foram levados para

a dinâmica os seguintes alimentos: mamão, tomate-cereja, morango, couve, cebolinha, coentro,

hortelã e vagem. Todas as crianças participaram efetivamente da brincadeira. Após a dinâmica, na

etapa cinco, os alunos foram levados para realizar a manutenção da horta, isto é, colocar mais terra

na plantação e regar. Para encerrar o econtro, todos se juntaram para tirar a foto final.

O último dia de intervenção aconteceu também com duração de uma hora e meia em três cenários

diferentes: sala de aula, cozinha e quadra. A proposta do último encontro foi realizar a colheita de

algumas hortaliças, oficina culinária, manutenção da horta, entrega do sal de ervas e do livro de

receitas. Os objetivos dessas atividades eram desenvolver e incentivar as habilidades culinárias,

exercitar o trabalho em equipe, a capacidade de organização e de seguir orientações, além de

entender o processo de preparação e valorizar o ato de preparar os alimentos. Iniciou-se a atividade

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do dia com a entrega dos crachás e dos tablets. Nesse encontro também se seguiu a lista sugerida pela

professora no último encontro, ou seja, somente quatro alunos utilizaram a ferramenta para filmar

todas as atividades. Em seguida, realizou-se uma roda de conversa e informou-se que a preparação

escolhida para oficina seria o “suco de morango”, explicando os benefícios da fruta, quais são as

vitaminas/minerais na composição, perguntando se as crianças sabiam outras receitas/preparações

com o morango. Após a conversa, separados os alunos foram separados em dois grupos para iniciar a

oficina, levando um grupo de cada vez para o banheiro, para lavar as mãos e colocar a touca

descartável. Na cozinha, foi conversado e mostrado passo a passo como preparar um suco de morango

e quais são os ingredientes necessários. Todos os alunos higienizaram os morangos, colocaram dentro

do liquidificador, adicionaram água e açúcar. Depois de pronto, serviu-se o suco pronto em copinhos

para todos degustarem. Ao finalizar a oficina, as crianças foram levadas para a quadra para realizar a

penúltima etapa do encontro: a manutenção da horta. Ao chegar na quadra, todos os grupos regaram

as mudas. Em seguida, voltaram-se para sala para etapa final do trabalho. Realizou-se novamente uma

roda de conversa para saber se gostaram de todas as atividades de todos os encontros. Foram

entregues para os alunos o “sal de ervas” e o “livro de receitas” previamente produzidos pela equipe

como lembrança da atividade (anexo 2). Por fim, mostrou-se o mural com os desenhos realizados por

alguns alunos no primeiro encontro, com a linha do tempo com todas as fotos do grupo. Conversou-

se mais um pouco com eles sobre esses encontros, explicando como foi importante fazer parte da

construção da horta e escutaram-se algumas avaliações realizadas por eles sobre as atividades. Para

finalizar essa etapa, foi tirada a última foto com a turma (foto 3)

Figura 4 - Foto final do último dia de encontro

Para a realização dos encontros, contamos com o apoio da ONG, com o nosso próprio patrocínio, com

materiais da FSP e com as doações do marceneiro. Os recursos para desenvolvimento das atividades

estão apresentados no Quadro 1.

Quadro 1 - Recursos para o desenvolvimento da atividade Local Itens do planejamento Papelaria 30

crachás para os nomes, cartolina, papel tipo e.v.a, cola e durex, caderno, tinta guache e pincéis Loja

de utensílios Palitos de sorvete, regadores, 5 pacotes de terra, pendrive, 5 sprays, bastão de cola,

plástico Feira 8 caixas de morango, açúcar, tomate cereja, morango, mamão, vagem, cebolinha,

hortelã e coentro Materiais da FSP Tablets, folhas sulfite, impressão de fotos (5 fotos), impressão de

livros de receitas (30 livros). Materiais da ONG Folhas sulfite, canetas, canetinhas, giz de cera, lápis de

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cor Floricultura Sementes (hortelã, cebolinha, coentro, manjericão, feijão, tomate, pimenta,

morango); Mudas (pimenta, coentro e morango) Marcenaria 4 paletes

ANÁLISE CRÍTICA

A primeira análise a ser realizada é verificar se princípios do Marco de Referência de Educação

Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas publicado, em 2012, pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome estiveram presentes nas atividades relatadas. O Quadro 2

apresenta os nove princípios do Marco de Referência de EAN .

Quadro 2 - Princípios do Marco de Referência de EAN para as políticas públicas I Sustentabilidade

social, ambiental e econômica II Abordagem do sistema alimentar, na sua integralidade III Valorização

da cultura alimentar local e respeito à diversidade de opiniões e perspectivas, considerando a

legitimidade dos saberes de diferentes naturezas IV A comida e o alimento como referências;

Valorização da culinária enquanto prática emancipatória V A Promoção do autocuidado e da

autonomia VI A Educação enquanto processo permanente e gerador de autonomia e participação

ativa e informada dos sujeitos VII A diversidade nos cenários de prática VIII Intersetorialidade IX

Planejamento, avaliação e monitoramento das ações

O desenvolvimento da “Horta Feliz” promoveu a implantação de atividades sustentáveis, gerando uma

reflexão sobre a responsabilidade social, econômica e ambiental em todas as etapas do sistema

alimentar de forma integral. Considerando desde o acesso à terra, à água, a escolha e consumo dos

alimentos. Nesse sentido, verifica-se que a atividade respondeu ao primeiro e segundo princípio do

marco. Tanto a sustentabilidade como a abordagem do sistema alimentar de forma integral fazem

parte dos princípios que orientaram a elaboração do Guia Alimentar para População Brasileira, que

reforça a importância das recomendações para uma alimentação adequada e saudável, considerando

o impacto das formas de produção e distribuição dos alimentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

Na dinâmica da oficina sensorial, as crianças falavam se conheciam as hortaliças apresentadas e como

sua família as preparava em casa. Nessa atividade, foi possível identificar diferentes culturas, pois as

crianças relataram diferentes formas de preparo para o mesmo alimento. No entanto, para que o

terceiro princípio do marco de referência de EAN fosse contemplado, poder-se-ia ter feito uma roda

de conversa com a temática da valorização da cultura alimentar. Quanto à oficina culinária realizada

no último dia de intervenção, foi feita uma preparação com o alimento preferido das crianças: o

morango, pois, esta fruta despertava maior curiosidade e interesse das crianças. Foi possível perceber,

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mesmo com uma preparação culinária simples, que a alimentação envolve aspectos culturais, sociais,

afetivos e sensoriais. Assim, a oficina culinária amplia a reflexão e o exercício das dimensões sensoriais,

simbólicas e cognitivas da alimentação. Além de gerar autonomia, visto que, saber preparar o próprio

alimento amplia o conjunto de possibilidades dos indivíduos. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO

SOCIAL E COMBATE A FOME, 2009). Nesse contexto, essa atividade contemplou o quarto e o quinto

princípio, que trazem como temática a importância da valorização da prática culinária e da promoção

do autocuidado e da autonomia nas ações de EAN. Esses princípios foram identificados nas falas das

crianças durante a oficina, por exemplo: “Eu adoro suco de morango, sempre tomo na casa da minha

vó”, “Eu não gosto de suco natural, só de caixinha, igual o que minha mãe compra”, “Minha mãe

sempre coa o suco de morango”, “Meu irmão ama suco de morango”. Além disso, na experiência

apresentada, outras ações atenderam a esses princípios ao longo dos encontros de forma direta e

indireta. Como na construção e manutenção da horta, em que todos os alunos queriam plantar a

semente, regar e cuidar do morango. No livro de receitas da “Horta Feliz”, um exemplar produzido

para as crianças com preparações práticas, com pelo menos um ingrediente por receita, que havia sido

plantado na horta e com atividades lúdicas, como: cruzadinha, caça palavras e atividades para

desenhar seu legume, fruta e verdura favorita. Essa atividade vai ao encontro das recomendações do

guia alimentar para a população brasileira, que utiliza a valorização das habilidades culinárias como

uma estratégia para superar os obstáculos para alcançar uma alimentação adequada e saudável

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

Ao longo dos encontros foi possível perceber uma boa aceitação entre as crianças, pois elas

participavam ativamente das atividades. Os tablets tiveram grande importância nessa receptividade,

fortalecendo a participação efetiva. Isso foi perceptível mediante a motivação que os alunos

apresentavam para usar a ferramenta, muitas vezes causando até um conflito para decidir quem

utilizaria o equipamento, mesmo com a realização do sorteio. Essa ferramenta também contribuiu

para ampliação da autonomia, aumento da capacidade de interpretação e análise das crianças, uma

vez que elas tinham liberdade para filmar o que consideravam interessante durante as atividades que

estavam desenvolvendo e também relatar o que consideravam importante. Nessa perspectiva,

verifica-se que as intervenções atenderam ao sexto princípio do marco de referência em EAN, que

aborda a educação como processo gerador de autonomia e participação ativa e informada dos

sujeitos. Essa constatação assemelha-se aos achados de CRUZ et al. (2018), que refere que o uso de

tablet auxilia na aprendizagem, potencializa o desenvolvimento de atividades dentro e fora da sala de

aula e aumenta a motivação dos alunos. Nesse sentido, contribui para novas possibilidades de práticas

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educativas que estejam de acordo com suas vivências (CRUZ et al., 2018). A elaboração e planejamento

das intervenções foram desenvolvidos respeitando o espaço e limitações da instituição, uma vez que

foi considerada a disponibilidade de espaço, materiais e recursos, sendo necessário o

desenvolvimento da horta vertical com paletes. Ou seja, contemplando o sétimo princípio, que levanta

como tema central a diversidade nos cenários de prática das ações de EAN. A intersetorialidade

protagonizou todas as atividades no decorrer dos encontros, pois houve uma articulação entre os

setores de educação, tecnologia e saúde. Essa articulação possibilita a troca e construção coletiva de

saberes, linguagens e práticas. Ocorreu também a construção de um canal de comunicação entre as

professoras da instituição e as estudantes de nutrição, em que eram discutidos antes e ao longo dos

encontros quais seriam as melhores abordagens para ser aplicadas nas atividades, levando em

consideração as perspectivas de cada setor. Assim, verifica-se que as intervenções responderam ao

oitavo princípio para as ações de EAN. Em relação ao planejamento das atividades, identificou-se o

público-alvo, objetivos, meios e materiais de apoio, etapas de implementação e avaliação da

intervenção. Posteriormente, apresentou-se para as coordenadoras e professores da ONG e

modificou-se o planejamento, para que este fosse elaborado com objetivos delineados, a partir das

necessidades reais das crianças, em conjunto com o cronograma de atividades mensais da instituição.

No entanto, semanalmente, o planejamento era modificado novamente com o objetivo de melhorar

a efetividade da intervenção. O processo de elaboração das atividades era participativo, desse modo,

30 essas modificações consideravam as perspectivas das crianças, das professoras, das coordenadoras

e das estudantes de nutrição. Quanto à avaliação, foi realizada durante os encontros, por meio de uma

avaliação formativa, com as seguintes perguntas norteadoras: “As intervenções estão atingindo os

objetivos?” “É necessário reformular algum conteúdo, recurso ou técnica?”, “Quais são as dificuldades

e como melhorá-las”. Além de levar em consideração a aceitação, presença dos alunos e cumprimento

das atividades. Esse aspecto foi perceptível na lista de presença e na fala de algumas crianças, como:

“Vai ser toda quarta? Então não vou faltar nenhuma quarta”, “Não queria que vocês fossem embora!”.

Desse modo, contemplando o último princípio do Marco, que traz como temática o planejamento,

avaliação e monitoramento das ações de EAN. Consoante com esse princípio, outro aspecto que

influencia o processo de planejamento e implementação é o grau de envolvimento e compromisso

dos participantes da intervenção (CERVATO, 2016).

Em uma segunda perspectiva de análise, no decorrer da intervenção, foi possível identificar

facilitadores e dificultadores das ações educativas. O primeiro obstáculo identificado foi pensar em

materiais para construção da horta vertical, pois a horta foi planejada para ser montada em garrafas

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pet, mas na reunião de planejamento com as coordenadoras, foi informado que já haviam tentado

implantar essa atividade com garrafas pet e não obtiveram bons resultados, por conta do peso da terra

que não era sustentado pela garrafa e pela dificuldade de suspender as embalagens na parede da

quadra. Por isso, foi utilizado o palete de madeira. Outra dificuldade apresentada nos encontros foi

conquistar a atenção das crianças e ao mesmo tempo conseguir observá-las. Por exemplo, no primeiro

dia de intervenção, durante o vídeo “do senhor Lobato”, uma das alunas estava comendo o cordão do

crachá, enquanto a outra mexia no cabelo das colegas e alguns ficavam conversando em paralelo sobre

outros assuntos. Nos demais encontros, outras atitudes que acabaram distraindo do objetivo das

atividades, eram as brincadeiras de lutinha, brigas e empurrões. Por essa razão, em algumas dinâmicas

dividiu-se a sala em dois grupos, para facilitar a execução das atividades. No terceiro encontro, a chuva

foi um obstáculo para o estudo, uma vez que a horta estava sendo desenvolvida em um espaço aberto.

Devido a esse imprevisto, as atividades desse dia foram remarcadas. Para que não ocorressem

possíveis cancelamentos por conta do tempo chuvoso, foram providenciadas capas de chuva para as

semanas seguintes. Percebeu-se que em alguns momentos a professora responsável pela sala era um

obstáculo para o estudo. Durante algumas atividades, foram notadas algumas falas, como: “Se vocês

não ficarem quietos, vão sair do projeto”, “Quem não se comportar, não vai receber o livro de receita”,

“Qual é o problema de vocês?”, “Com essa atitude vocês me deixam com vergonha”. Acredita-se que

falas como essas provocam certo constrangimento aos alunos e nos coadunam com os princípios

educativos do próprio Marco. Outra ação tomada pela professora foi no penúltimo encontro. Ela

solicitou para que se mudasse o processo de escolha de quem ficaria com o tablet e seguisse a lista de

“líder da semana”. Com isso, tiveram alunos que utilizaram a ferramenta mais de duas vezes. Para

contornar essas adversidades, reduziu-se o tempo das crianças que já haviam utilizado o tablet, dando

um maior espaço para aqueles que ainda não haviam manipulado o instrumento. MAGALHÃES (2019)

refere que os educadores infantis consideram a EAN importante para a promoção da alimentação

saudável. No entanto, possuem uma perspectiva da alimentação limitada aos aspectos biológicos,

enquanto os aspectos sociais, culturais e psicológicos não são reconhecidos. Por isso, é necessário

trabalhar as outras dimensões da EAN para incentivar a valorização da cultura alimentar e do sistema

de produção de forma integral e, assim, aumentar a efetividade das ações de EAN em escolas

(MAGALHÃES e PORTE, 2019). A terceira análise a ser realizada é verificar se as áreas de

educomunicação estiveram presentes no desenvolvimento das atividades com as crianças escolares

do NADI-CCA: Espaço Com Viver. O projeto utilizou-se de duas “áreas de intervenção” como portas de

ingresso às práticas educomunicativas: a área da mediação tecnológica na educação e a área da gestão

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da comunicação. Esses dois âmbitos educomunicativos são reconhecidos por Ismar de Oliveira Soares

como linhas da educomunicação (SOARES, 2011). No que se refere à primeira área educomunicativa,

destaca-se o “uso de ferramentas da informação nos processos educativos”, considerando assim a

“incidência das inovações tecnológicas no cotidiano das pessoas” e as “influências sociais e

comportamentais das mídias”. Dessa maneira, o uso dos tablets para gravar e tirar fotos das atividades

foi importante para que os alunos participassem de um processo de aprendizagem que visava não

somente a aquisição de competências técnicas, mas também uma ciência própria, de

autoconhecimento. Possibilitando, assim, o auxílio no processo de empoderamento das crianças nas

atividades. Já a outra linha de educomunicação abordada, a área da gestão comunicativa, caracteriza-

se pela busca da ampliação de espaços para expressão por meio do desenvolvimento do “coeficiente

comunicativo das ações humanas”. Isto é, por meio dos ensinamentos sobre audiovisual (mini

workshop), são expostos novos meios expressivos para as crianças que utilizaram o tablet nas

atividades, permitindo assim que tenham um novo ambiente para fala, no qual sua visibilidade é

garantida. Nesse sentido, os conteúdos gravados pelo tablet têm como fundamento principal a

representação dos alunos por meio de suas próprias visões e experiências em todas as etapas da

intervenção. As práticas de educomunicação se manifestam quando os processos educacionais, como

a participação, a construção de saberes, o diálogo ativo e a relação de todos os envolvidos nas

atividades são exaltados. Assim, as práticas educomunicativas são tão importantes quanto a

finalização (resultado) de todas as etapas do projeto. Possibilitando a formação de cidadãos críticos,

que não estão atrelados somente aos muros das escolas, mas que por meio do diálogo buscam a

interação com outros sujeito. (MACHADO et al., 2010). CONCLUSÕES Diante da experiência

apresentada e das três perspectivas de análise percebeu-se que as ações de EAN com as práticas de

educomunicação podem ser consideradas uma estratégia para promoção de uma alimentação

adequada e saudável, pois as atividades pedagógicas do projeto, como: hortas, oficina sensorial e

oficina culinária, ampliam o interesse sobre alimentação, uma vez que geram uma reflexão sobre a

responsabilidade social, econômica e ambiental em todas as etapas do sistema alimentar de forma

integral. 33 De modo geral, a experiência educativa se aproxima dos referenciais do marco de

referência em EAN, ao se apropriar de indicadores qualitativos. Como a criação do vínculo, que

permitiu uma maior aceitação das intervenções educativas utilizadas. Também se verificou a

importância das abordagens pedagógicas ativas, como as atividades lúdicas e manuais, por

proporcionarem maior interação entre as crianças e adesão das atividades desenvolvidas. Além disso,

essa experiência foi significativa para esta formação, pois permitiu uma aproximação da prática do

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nutricionista em saúde coletiva e contribuiu para ampliação do conhecimento acerca de atividades de

educação em saúde e de educomunicação. Possibilitou o desenvolvimento do senso crítico para

elaboração/reelaboração de ideias e conceitos referentes à prática de EAN como geradora de

aprendizagem. Além de aprimoramento das competências e habilidades de comunicação,

desenvolvimento e execução de técnicas de ensino. Dessa forma, as expectativas foram superadas,

pois inicialmente havia um pouco de apreensão com alguns obstáculos que surgiram no planejamento

do projeto, no entanto, as reuniões com a orientadora do trabalho foram uma motivação para

enfrentar os desafios no desenvolvimento das atividades, além de proporcionar uma troca de

conhecimento. Decidiu-se por realizar esse projeto como trabalho de conclusão de curso, pois se

queria vivenciar todas etapas de um projeto educativo, desde o planejamento à execução e à avaliação

da intervenção. Também havia como propósito trabalhar com a educomunicação, como estratégia

para educação em saúde, para entender a relação entre os três campos: nutrição, comunicação e

educação. Outro elemento pensado para o projeto foi a localização e a disposição da instituição para

o trabalho, optando-se em desenvolver as atividades em uma região de fácil acesso e em um espaço,

com pouca ou nenhuma ação de educação alimentar e nutricional, em que se poderia trabalhar com

um grupo menor, utilizar ferramentas como o tablet e gravar todas as etapas do trabalho.

IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA NO CAMPO DE ATUAÇÃO

Os resultados da experiência analisada contribuem para a prática do nutricionista na área de saúde

coletiva, a partir de algumas competências, como por exemplo, planejamento de programas e ações

com base nas necessidades dos 34 membros da comunidade, desenvolvimento de habilidades em

aconselhamento nutricional e promoção de estratégias que ampliem o reconhecimento e a

valorização dos problemas e temas de alimentação e nutrição, assim possibilitando ampliar a

formação de futuros nutricionistas. O projeto relatado proporciona que estudantes de nutrição

reflitam sobre a prática na perspectiva de educadores e estimula a busca por teorias e

aperfeiçoamento de práticas educativas de maneira crítica e construtiva. Demonstra a importância do

planejamento com base nas necessidades da comunidade para que as ações de alimentação e nutrição

sejam efetivas. Relata estratégias para superação dos obstáculos, que podem auxiliar no planejamento

de futuras intervenções, evitando que os mesmos erros se repitam. Além disso, contribui para que o

nutricionista em saúde coletiva execute ações intersetoriais, utilizando uma nova área de intervenção

social, a educomunicação. Outras ações são necessárias, para estender o alcance e tempo do projeto,

por meio de atividades que incluam também coordenadores, professores, voluntários, merendeiras,

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familiares dos alunos e a comunidade. Continuar com o projeto com outras turmas para que elas

possam também participar dos processos educativos e construir conteúdos promovendo a educação,

a reflexão, o pensamento humanista e crítico pelo estudo e pela produção de meios de comunicação.

Também seria interessante utilizar o vídeo produzido pelas crianças, para divulgar na comunidade,

com o objetivo de propagar o conhecimento a partir de projetos desenvolvidos na instituição, com a

finalidade de transformar grupos de pessoas em propagadores de conhecimento, para assim gerar

troca de conhecimento entre professores, alunos e membros da comunidade, de maneira horizontal.

Visto que a escola é um lugar propício para o desenvolvimento de atividades de EAN, pois nesse

cenário as crianças estão expostas cotidianamente ao aprendizado. Recomenda-se que essas ações

integrem o currículo das atividades da ONG em questão e sejam planejadas por uma equipe

multiprofissional, incluindo o nutricionista. Espera-se que a experiência relatada amplie a discussão

sobre as estratégias adotadas em ações de educação em saúde com escolares e a realização de

intervenções futuras.

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REFERÊNCIAS

A Turma do Seu Lobato. A horta do seu Lobato [Video]. São Paulo: Universal Music Brasil; 2017. [acesso em 5 nov 2019]. Disponível em: https://bit.ly/2Ommpbf

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Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/211004795

Capítulo 20

PERCEPÇÃO DE SAÚDE EM PARTICIPANTES DO PROJETO DE EXTENSÃO TÊNIS DE CAMPO

PARA A COMUNIDADE DA UFPB

Valter Azevedo Pereira Universidade Federal da Paraíba

Ronaldo de Faria Filho Universidade Federal da Paraíba

Taciana Luiza de Souza Matos Universidade Federal da Paraíba

Lucas Mendes Martins de Lira Universidade Federal da Paraíba

Ewerton Ribeiro de Queiroz Filho Universidade Federal da Paraíba

Horácio da Silva do Nascimento Universidade Federal da Paraíba

Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

1

Resumo: O presente estudo abordou a percepção de saúde nos participantes do projeto de tênis da

UFPB. Que tem como objetivo geral, compreender a influência da prática do tênis na percepção de

saúde dos participantes do projeto de extensão tênis de campo para a comunidade da UFPB. Os

objetivos específicos do trabalho são: identificar a influência do tênis na rotina dos participantes do

projeto, constatar as possíveis motivações dos participantes em realizar a atividade de tênis de campo

na UFPB, verificar o estado de saúde dos participantes do projeto de tênis. O estudo possui natureza

qualitativa, com a tipologia do tipo descritiva, com corte transversal e é fundamental na abordagem

da análise do discurso. Os sujeitos da pesquisa são os participantes do projeto de tênis para a

comunidade da UFPB. O desing de análise foi dividido em categorias para um melhor esclarecimento

dos dados coletados. A técnica foi a análise do discurso. O instrumento escolhido para a coleta dos

dados foi um questionário semiestruturado, a pesquisa priorizou a segurança dos sujeitos em primeiro

lugar. Os cuidados éticos foram observados respeitando dos as normas do Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP), logo após os tramites foi encaminhado on-line à Plataforma Brasil. O questionário foi

submetido a um pré-teste, corrigido e depois aplicado com todos os envolvidos na pesquisa. Com o

realização desse pesquisa ficou comprovado que a qualidade de vida dos sujeitos melhorou, em

virtude de 88% dos sujeitos terem respondido relatado uma melhora na sua qualidade de vida.

Palavras-chaves: Educação Física. Qualidade de vida. Tênis

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Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

2

1. INTRODUÇÃO

A prática do tênis de campo envolve uma série de aspectos, e o ensino do esporte vai muito além de

uma aula, na qual o praticante possui um espaço para desfrutar sobre o esporte escolhido.

O corpo humano é algo único que possui suas próprias características e cada um tem a sua forma de

levar a vida, alguns tendem a se dedicar mais no cuidado com o corpo seja por estética, moda ou

saúde. O esporte, principalmente o tênis, pode e deve ser um grande aliado visando a saúde tanto

física quanto mental.

O departamento de educação física da UFPB, possui iniciativa de mostrar aos alunos que iniciam o

curso algumas modalidades, as quais, normalmente os cidadãos não tem o hábito muito menos a

oportunidade de usufruir de novas experiências, por conta das desigualdades do país no qual vivemos.

O evento organizado pelo curso, mais especificamente pelo curso de educação física bacharelado

possibilita e amplia a área de atuação e é capaz de mostrar novos caminhos e oportunidades ao

profissional da área. O Festival de Movimentos, Corpo, Sabores e Sons (FEMOCS) é um evento que os

próprios alunos do curso devem organizar, fazer o planejamento, convidar os professores que vão

ministrar os minicursos oferecidos durante o decorrer do acontecimento, no qual, serão realizadas

todas as atividades propostas.

De acordo com Gonçalves, Assmann, Ginciene, Balbinotti e Mazo, (2018). O tênis de campo chegou ao

Brasil no final do século XIX, junto com o futebol, e os responsáveis por trazer essa modalidade ao

nosso território foram os ingleses, pois eles não desembarcaram apenas com as bolas de futebol na

bagagem, trouxeram também nessa viagem algumas raquetes o que abriu uma possibilidade para que

iniciasse o desenvolvimento do tênis que era um esporte praticado apenas pela alta sociedade inglesa

da época.

O Brasil já ocupou um grande espaço de destaque no cenário internacional de tênis, devido a presença

de dois jogadores acima da média cada um no seu tempo. Primeiramente, a paulistana, Maria Esther

Bueno, sendo uma das raras tenistas que conquistaram títulos em três décadas distintas.

Internacionalmente Maria Bueno como era conhecida tinha um apelido nas quadras por qual passava

que era o de a bailarina do tênis. Este termo foi cunhado devido a forma suave como executava os

movimentos e sua exatidão.

302

Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

3

Outro nome de destaque é o do catarinense Gustavo Kuerten, mais conhecido como Guga. Dentre

todos os títulos conquistados em sua carreira os mais importantes foram os 3 títulos de Grand Slam

de Roland Garros. Tendo em vista que esse torneio é um dos quatro mais importantes torneios que

acontecem durante a temporada regular da Associationof TennisProfessionals(ATP).

A Universidade Federal da Paraíba dispõe em um de seus campus, mais especificamente o campus I,

localizado em João Pessoa, uma quadra de tênis onde ocorrem as aulas práticas da disciplina, tênis de

campo e possibilita aos estudantes terem uma vivencia maior com essa modalidade.

Os participantes do projeto de tênis, que tiverem interesse em participar da pesquisa serão convidados

a responder um questionário, produzido pelo pesquisador, que tem interesse em compreender a

influência da prática do tênis na percepção de saúde dos participantes do projeto de extensão tênis

de campo para a comunidade da UFPB.

Durante a realização, do trabalho, os participantes deverão ser avaliados e posteriormente analisados,

com relação ao estado de saúde dos envolvidos no projeto para que se possa averiguar se ocorreu

alguma alteração na saúde dos participantes do projeto.

A modalidade em questão possui inúmeros campeonatos que ocorrem em todos os locais do mundo,

porém dentre tantos torneios que são disputados durante a temporada, existem 4 que são os mais

importantes no calendário do tênis mundial mais conhecidos com Grand Slam. Eles são disputados na

Austrália (Australian Open), na França (Roland Garros), na Inglaterra (Wimbledon) e nos Estados

Unidos da América o (US Open), seguindo essa ordem, onde os melhores tenistas do mundo se

encontram em um torneio que possuem tempo médio de 15 dias de duração.

Já com relação ao continente sul-americano o torneio mais importe ocorre em terras brasileiras, mais

especificamente na cidade do Rio de Janeiro. Esse evento é para os tenistas que possuem uma maior

capacidade técnica e consequentemente mais bem colocados no ranking da ATP, ele serve como um

aquecimento para a temporada, pelo fato de ocorrer no final do mês de fevereiro.

Esse torneio RIO Open é classificado como ATP 500, pelo fato de distribuir 500 pontos para o vencedor

do torneio.

Um ponto que se deve levar em consideração principalmente como cidadão e que não pode ser

ignorado na realização desse evento é o fato dele ter um custo de 14 milhões aos cofres públicos,

somando o que o estado do Rio contribuiu, o que foi desembolsado pela cidade do Rio de Janeiro e

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Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

4

pelo governo federal através da Lei de Incentivo ao Esporte, deste montante 8 milhões foram de

isenção fiscal do governo do estado.

A CBT (Confederação Brasileira de Tênis) fazia parte da então Confederação Brasileira de Desportos,

porem em 8 de março de 1956 ocorreu a desvinculação, por meio de um decreto presidencial, o

primeiro a assumir a condição de presidente da confederação foi Paulo da Silva Costa. (TENISBRASIL,

2000).

Este trabalho tem como interesse obter dados para que se possa responder com o máximo de clareza

o seguinte questionamento: De que maneira a intensidade das aulas de tênis podem ser um fator de

influência no desenvolvimento da percepção da saúde nos participantes do projeto de extensão Tênis

de Campo para a comunidade da UFPB?

2. PROBLEMA DA PESQUISA

De que maneira e frequência, as aulas de tênis podem ser um fator de influência no desenvolvimento

da percepção da saúde nos participantes do projeto de extensão tênis de campo para a comunidade

da UFPB.

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Compreender a influência da prática do tênis na percepção de saúde dos participantes do projeto de

extensão tênis de campo para a comunidade da UFPB.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar a influência do tênis na rotina dos participantes do projeto;

Constatar as possíveis motivações dos participantes em realizar a atividade de tênis de campo na UFPB;

Verificar o estado de saúde dos participantes do projeto de tênis;

4. MARCO TEÓRICO

4.1TÊNIS DE CAMPO

Durante a execução na pratica do Tênis os atletas devem tomar diferentes decisões, isso faz com que

o esporte tenha uma enorme imprevisibilidade de movimentos e variabilidade nas ações que devem

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Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

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ser tomadas, de forma a parecerem aleatórias durante o jogo. Exigindo dos jogadores uma atitude que

consiga contemplar a questão da estratégia juntamente com o lado técnico do jogo. (ABURACHID et

al.,2014 apud TENENBAUM et al., 1996).

A modalidade tênis de campo possui algumas circunstâncias que devem ser levadas em conta, como

por exemplo, o fato do seu início ser associado a Inglaterra. Os ingleses foram os responsáveis por

instituir as regras do esporte, mas não pela sua criação, os ingleses possuem o torneio mais antigo do

mundo para a modalidade que é o de Wimbledon, que acontece em Londres desde 1877.

Em 1990 foi criada a Taça Davis, uma espécie de campeonato mundial do tênis, subdividindo o mundo

em três regiões: Americana, Europeia e Oriental. O tênis atualmente é disputado em três quadras a de

concreto, grama e saibro, os torneios mais importantes do ano são Australian Open, US Open, Roland

Garros e Wimbledon.

O tênis revelou durante a sua história diversos grandes jogadores que conquistaram os torneios mais

importantes do mundo, dentre tantos o suíço Roger Federer é o jogador mais vitorioso desse esporte,

ele possui em sua coleção até o Australian Open de 2019 e 20 títulos de Grand Slam, sendo seis na

Austrália, um na França, oito na Inglaterra e cinco nos Estados Unidos.

Logo em seguida com relação ao número de conquistas individuais, vem um espanhol, de Madrid,

chamado de Rafael Nadal, mais conhecido com Touro Miura, isso é uma referência as suas origens

madrilenhas. Rafael Nadal conquistou até o presente momento dezessete títulos de Grand Slam

durante sua carreira um título na Austrália, onze na França, dois na Inglaterra e três nos Estados

Unidos.

Segundo CORTELA, 2012, no Brasil há aproximadamente um milhão e meio de praticantes do tênis, o

que em números absolutos coloca o Brasil na frente de potências mundiais da modalidade como

Argentina e Espanha.

O tenista mais importante, no Brasil, em termos de conquista foi Gustavo Kuerten (Guga), sua carreira

conta com diversos títulos dentre os mais importantes estão os dos Grand Slam, nos anos de 1997,

2000 e 2001, todos conquistados em Paris na França

No Brasil, a primeira quadra de tênis foi construída no município de Niterói - RJ, em 1889. No Rio de

Janeiro os clubes possuem nomenclaturas tradicionais que são o Clube de Regatas Icaraí e o mais

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Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

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famoso Clube de Regatas Flamengo, ocorrendo pelo fato do esporte principal dos clubes serem o remo

e não o tênis de campo ou o futebol.

Todavia, o primeiro clube brasileiro fundado exclusivamente para a prática do tênis foi o Club Walhalla, em 1896, localizado na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (Mazo&Balbinotti, 2009). Diferentemente dos primeiros clubes fundados nas grandes cidades do país na época, o Club Walhalla foi fundado por imigrantes alemães estabelecidos em Porto Alegre. Conhecidos como teuto-brasileiros, era expressivo o número de descendentes e imigrantes de alemães no sul do país, os quais foram responsáveis pela introdução e disseminação de muitas práticas esportivas no Rio Grande do Sul, assim como o tênis (Pereira, Mazo, &Balbinotti, 2010; Assmann, Mazo, & Silva, 2017, p.4).

A Região Nordeste também deve ser representada e o estado com maior relevância no tênis é o estado

da Bahia:

O tênis também conquistou praticantes no estado da Bahia. Na cidade de Jequié, em 1932 foi fundado o BahianoTenis Club de Jequié por jovens pertencentes a elite da cidade. O clube, fundado especificamente para a prática do tênis, aderiu também a outros esportes como o basquetebol e o futebol de salão. Para além de uma entidade com motivações esportivas, promovia-se momentos de sociabilidade e lazer aos associados (Pires, Dias, & Leite, 2014, p.5).

De acordo com Carnevale (2000) a modalidade tênis de campo é uma atividade esportiva que utiliza

muito a explosão muscular durante a prática da atividade. O treino de velocidade em conjunto com o

treino de força muscular, vem ganhando, paulatinamente, um enorme destaque e atenção dos

estudiosos do treinamento esportivo e dos treinadores que atuam no campo, facilitando com que o

atleta compreenda a importância da velocidade no tênis (SOARES, 2019).

A velocidade é de suma importância no desempenho das capacidades físicas e varia

consideravelmente dependendo do esporte e do campo de aplicação, isso ocorre, pois deve-se levar

em consideração a capacidade de cada pessoa para a execução de determinada atividade visando a

melhoria da saúde e do condicionamento físico (SOARES, 2019).

De acordo com Martin, Carl e Lehnertz (2008) a velocidade de aceleração é a reação da alteração de

velocidade e do tempo utilizado. Assim a velocidade de aceleração se define da seguinte maneira, a

aceleração só é produzida, se existir modificação na velocidade, numa velocidade constante não existe

aceleração.

A definição de exercícios de força segundo Pallock e Wilmore (1993) caracteriza-se por exercícios de

força, que são realizados regularmente, tornando-se adequados para a manutenção de uma função

musculoesquelética.

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Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

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Os efeitos de uma boa postura agem diretamente na eficiência do aparelho locomotor. A força é a

integração neuromuscular, ou seja, a capacidade do músculo produzir tensão e a habilidade do sistema

nervoso em ativá-lo (TALES & SALVE, 2004).

Todos os movimentos do esporte dependem de uma boa execução levando em consideração a parte

de desenvolvimento das habilidades motoras dos praticantes. Quanto mais cedo o jogador tiver

contato com a modalidade com maior eficiência ele poderá efetuar os golpes do esporte, e

consequentemente sua técnica irá evoluir obtendo qualidade e um ganho nas suas performances

(MORAES, 2009).

De acordo com Quinn (1989) quanto melhor for a resistência cardiovascular mais eficiente é a

alimentação dos músculos com o oxigênio, por consequência, mais rápido será sua recuperação, não

sendo tão decisiva o tipo de atividade realizada.

A atividade física é um componente de proteção estrutural para o ser humano, tornando-se necessária

nas diversas faixas etárias. Com isso, para manter-se na ativa, há que se ter um bom condicionamento

físico, flexibilidade, agilidade, controle emocional componentes essenciais no que tange a aptidão

física que, associada a níveis adequados de força, melhora o rendimento do jogador (HAMILL &

KNUTZEN, 2012).

Para Talles e Salve (2004) a flexibilidade possui algumas limitações e eles a definiram da seguinte

maneira:

A flexibilidade é limitada em algumas articulações tanto pela estrutura óssea como pela massa de músculos circunjacentes, ou por ambos. Para a maioria das articulações, a limitação da amplitude de movimento é imposta pelos tecidos moles, pela musculatura e seus envoltórios, pelo tecido conjuntivo (tendões, ligamentos e cápsula articulares) e pela pele (Pollock & Wilmore, 1993). (TALLES e SALVE 2004, p.37)

De acordo com Talles e Salve (2004), a maioria dos jogos de tênis ocorre em uma disputa de 3 sets. O

que faz com que cada atleta, durante uma partida de tênis, percorra em média uma distância de

aproximadamente 2550 metros por jogo. Desta metragem 40% é realizada caminhando, durante o

intervalo entre os pontos da partida em disputa.

O condicionamento físico como fator gerador na promoção da saúde é caracterizado da seguinte

maneira:

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Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

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Apesar de a “saúde” e a “aptidão física” não terem definições universalmente aceitas, sabemos que alguns componentes da aptidão física ajudam na promoção da saúde. Os cientistas são praticamente unânimes em apontar o consumo máximo de oxigênio (VO2 Máx.), a força muscular e a flexibilidade como os componentes mais importantes para a promoção da saúde. (TALLES e SALVE 2004, p.7).

Para Monteiro (1996), pensando com relação a intensidade do esforço durante a execução das

atividade que devem ser trabalhada de forma que o Steady-State é conservado, ou seja, mantido em

que as fibras musculares sejam capazes de metabolizar o ácido láctico produzido sem que este seja

jogado na corrente sanguínea em grande quantidade.

4.2 PERCEPÇÃO DA SAÚDE

A saúde é o resultado de associações de inúmeras condições de vida, dentre elas podemos destacar a

renda, meio ambiente, alimentação, moradia, trabalho, lazer, religiosidade dentre outros meios de

conjuntura social. Tornando possível uma articulação dos meios de organização social e fugindo da

perspectiva estritamente biológica do ser (TEIXEIRA et al. 2016 apud MINAYO, 1992).

A saúde é algo que apesar de estar garantida na constituição, não é oferecida de forma satisfatória

aos cidadãos e de acordo com SCILAR a definição de ações de saúde são as seguintes:

As ações de saúde devem ser práticas, exequíveis e socialmente aceitáveis; devem estar ao alcance de todos, pessoas e famílias - portanto, disponíveis em locais acessíveis à comunidade; a comunidade deve participar ativamente na implantação e na atuação do sistema de saúde; o custo dos serviços deve ser compatível com a situação econômica da região e do país (SCILAR, 2007, p.38).

Art. 1o O caput do art. 3o da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, passa a vigorar com a seguinte

redação:

Art. 3o Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais (BRASIL, 2013, p.1)

De acordo com Balbinotti (2004), à prática de atividades físicas está relacionada com dimensões do

ser humano, podendo estas serem elencadas em seis grupos: 1) Competitividade; 2) Controle do

estresse; 3) Estética; 4) Saúde; 5) Sociabilidade e 6) Prazer.

De acordo com Moraes (2009) a parte psicológica na preparação do tênis tem uma relevância

significativa e evoluiu consideravelmente, ajudando tanto treinadores, quanto professores e os

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Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

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praticantes que são a parte que mais interessa e onde toda a teoria estudada por especialistas é de

fato colocada em ação, a questão psicológica é caracterizada da seguinte maneira:

De acordo com Becker Júnior e Samulski (1998), a evolução da preparação psicológica mostra que existe uma série de possibilidades, em termos de estratégias e técnicas, cuja finalidade é preparar o ser humano para enfrentar uma enorme pressão e render o máximo do seu potencial psicofísico na hora da competição (MORAES, 2009, p.2).

A motivação é uma questão que deve ser considerada pelo praticante do esporte, seja ele um jogador

com pouca experiência ou um jogador que já tem suas técnicas aprimorada sendo este capaz de

realizar com maior precisão os movimentos que o esporte exige.

A motivação é algo que contribui para a permanência e interesse dos atletas profissionais em

continuarem no circuito da ATP, apesar de já terem alcançado o auge de suas carreiras. No que diz

respeito a psicológica e sua influência, alguns atletas são capazes de continuar em competições do

mais alto nível, simplesmente pelo fato de terem em seu interior a fonte de querer fazer o que mais

gostam (COSTA et al. 2011)

A qualidade de vida é algo que os praticantes independentemente da idade buscam quando iniciam a

prática desse esporte e segundo (PEREIRA; TEIXEIRA; SANTOS, 2012) a qualidade de vida é definida da

seguinte maneira:

O termo qualidade de vida, neste contexto, se popularizou por volta de 1960 quando políticos norte-americanos o usaram como plataforma política. Falar de qualidade de vida naquele momento seria como uma recomendação para o sucesso administrativo. Há registros de que o presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, utilizou-se do termo em um discurso em 1964 na Universidade de Michigan que abordava o interesse das pessoas por uma “vida boa” ou “vida de qualidade”. Além disso, os discursos da época abordavam o compromisso da sociedade em assegurar às pessoas, estruturas sociais mínimas que lhes permitissem perseguir sua felicidade (DAY & JANKEY, 1996, p.2)

A percepção de saúde tem sido associada a diversos fatores externos e internos do ser humano, os

mais citados na literatura incluem as condições de vida de um modo geral, trabalho e comportamentos

relacionados à saúde (REIME et al. 2000; MONDEN et al. 2003; WARREN et al. 2004)

A predominância da percepção negativa de saúde está em indivíduos que não tem uma rotina de

práticas de atividades físicas, baixa escolarização, idade elevada, altos níveis de estresse, pouco tempo

de sono, obesidade e fumantes (FONSECA et al. 2008).

309

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10

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

O presente estudo se classifica como uma pesquisa de natureza qualitativa, com a tipologia do tipo

estudo descritivo, com corte transversal e é fundamentada na abordagem de análise de discurso,

como técnica de análise. Com relação a natureza qualitativa da pesquisa FERREIRA tem a seguinte

definição:

A abordagem qualitativa na pesquisa possui algumas características básicas, comentadas por GODOY (1995, p. 62-63), tais como: o estudo empírico é realizado no seu ambiente natural, pois os fatos sociais têm que ser observados e analisados inseridos no contexto ao qual pertencem, através de contato direto, desempenhando o pesquisador um papel fundamental na observação, seleção, consolidação e análise dos dados gerados; como os diferentes tipos de dados existentes na realidade são considerados importantes para a compreensão do fenômeno social em estudo, o pesquisador realiza entrevistas, reúne fotografias, desenhos e depoimentos e outros dados que ajudam na descrição do fato; o trabalho é realizado com base na perspectiva que as pessoas pesquisadas têm sobre o objeto de estudo, devendo-se primar pela fidedignidade desses dados obtidos; a análise dos dados computados é feita de forma indutiva e, ao longo dela, dá-se a construção paulatina do quadro teórico, sem a formulação de uma hipótese anterior que precisa ser testada com a pesquisa. (FERREIRA. 2015, p.4).

A pesquisa, executada, possui dentre outras características o fato de ser caracterizada com um corte

transversal que para Bordalo (2006) tem a seguinte definição:

A pesquisa transversal pode ser de incidência e prevalência. A 1ª investiga determinada doença em grupos de casos novos. É dinâmica, pois oscila ao decorrer do tempo e em diferentes espaços. A de prevalência estuda casos antigos e novos de uma nosologia num determinado local e tempo; é estática e, essencialmente, transversal. ROUQUAYROL, 1994, assim define a pesquisa transversal: é o estudo epidemiológico no qual fator e efeito são observados num mesmo momento histórico e, atualmente, tem sido o mais empregado. (BORDALO, 2006, p.1)

Os estudos transversais já têm as suas populações muito bem definidas, os dados que serão coletados

têm uma característica bem peculiar, que é o fato dos dados serem coletados individualmente para

esse tipo de pesquisa. Esses dados devem constar informações sobre os sujeitos que irão fazer parte

da pesquisa em questão, o local onde ocorrerá a pesquisa deve ser bem caracterizado, onde vivem os

sujeitos quais são condições que eles possuem em diversos aspectos, dentre eles a caracterização de

suas moradias e estrutura urbana que os rodeiam diariamente podem ser citadas para dar mais

credibilidade e veracidade ao estudo.

310

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11

Em alguns momentos dessa pesquisa ela possui algumas características também de uma pesquisa de

caráter descritivo que para Pedroso (2017) é definido da seguinte maneira:

A pesquisa descritiva tem como objetivo descrever um fenômeno ou situação em detalhe, permitindo abranger com clareza as características de um indivíduo, um grupo ou uma situação, bem como desvendar a relação entre os eventos. Tem por finalidade observar, registrar os fenômenos sem se aprofundar. Neste caso a pesquisa deverá apenas descobrir a frequência que funciona o sistema, método, processo ou realidade operacional. Este modelo de pesquisa é usado quando a intenção do pesquisador é conhecer a comunidade, suas características, valores ou problemas relacionados a cultura. Neste contexto de pesquisa descritiva se destaca algumas como: a espontaneidade que possui bases concretas no positivismo de Auguste Comte, é quando o pesquisador não interfere na realidade, apenas observa as variáveis que espontaneamente estão vinculadas ao fenômeno; naturalidade: quando os fatos são estudados no seu habitat natural; amplo grau de generalização: quando as conclusões levam ao conjunto de variáveis correlacionadas com o objeto da investigação. (PEDROSO. 2017, p.1)

5.2 UNIVERSO E SUJEITOS

Os participantes dessa pesquisa foram os alunos que fazem parte do projeto de extensão Tênis de

campo para a comunidade: vivencia pratica para o aluno da disciplina. Esse projeto que já faz parte da

UFPB vem mostrando sua importância, pois a cada ano que passa vem aumentando o número de

participantes do mesmo.

Os alunos possuem idades entre 14 e 60 anos, de ambos os sexos e a extensão de Tênis de Campo

para a comunidade da UFPB conta atualmente com 30 alunos devidamente matriculados e que foram

convidados, seguindo os critérios de inclusão e exclusão, a participar desta pesquisa, podendo a

qualquer tempo desistir de participar da mesma sem nenhum tipo de prejuízo ou penalidade

5.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Inclusão:

Fazer parte do projeto de extensão a pelo menos um semestre;

Ter idade entre 14 e 60 anos;

Ter 70% de presença na extensão;

Ter o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) assinado;

Termo de assentimento assinado.

Exclusão:

311

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12

Não fazer parte do projeto de extensão a pelo menos um semestre;

Não ter idade entre 14 e 60 anos;

Não ter 70% de presença na extensão;

Não ter o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) assinado;

Não ter o termo de assentimento assinado.

5.4 DESIGN / TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS

DESIGN DE ANALISE

Com relação aos aspectos qualitativos elencaram-se categorias a serem pesquisadas através da análise

do discurso dos sujeitos. As categorias balizadoras do instrumento estão abaixo relacionadas:

DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS (SOCIOECONÔMICOS): idade, sexo extrato social, espaço físicos, quantidades de aulas semanais, escolaridade, (IBGE, FGV), raça, casa própria, transporte próprio.

CONDIÇÕES MATERIAIS DO TREINO/AULA: materiais disponíveis, banheiro, cobertura, tipo de quadra, conforto, segurança, quantidade e frequência

FORMAÇÃO DISCENTE: Tipo de formação, origem, cronologia da formação e Pós-graduação.

CATEGORIA DE SATISFAÇÃO: satisfação e insatisfação com relação ao projeto.

QUALIDADES FÍSICAS/CAPACIDADES FÍSICA: força, agilidade, equilíbrio e resistência.

CATEGORIA MOTIVAÇÃO: intrínseca e extrínseca relacionada a participação do projeto.

TÉCNICA DE ANÁLISE

A técnica a ser utilizada será a análise do discurso (AD). Nesta técnica buscaremos encontrar as

categorias, códigos e subcódigos de recorrência nos discursos dos sujeitos analisados. Nesse sentido

para Sousa (2014) a análise do discurso possui a seguinte definição:

A Análise de Discurso, quando ela não é praticada por um especialista, é uma atividade cotidiana inseparável do exercício da linguagem. Todo indivíduo “analisa” seu jornal, a carta que acaba de receber, a conversa à mesa vizinha, o que escuta no rádio, etc. Esta análise, o mais das vezes, praticada inconscientemente, pode demandar um esforço mais considerável, às vezes percebido como tal, no momento em que palavras e textos parecem esconder um sentido não imediatamente acessível e se dirigem a pessoas difíceis de identificar. Toda leitura e toda escuta é portanto Análise de Discurso (SOUSA, 2014, p 4).

Porém de acordo com os estudos de Caregnato & Mutti (2006) a análise do discurso possui a seguinte definição:

312

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13

A AD não é uma metodologia, é uma disciplina de interpretação fundada pela intersecção de epistemologias distintas, pertencentes a áreas da linguística, do materialismo histórico e da psicanálise.3-4 Essa contribuição ocorreu da seguinte forma: da linguística deslocou-se a noção de fala para discurso; do materialismo histórico emergiu a teoria da ideologia; e finalmente da psicanálise veio a noção de inconsciente que a AD trabalha com o de-centramento do sujeito. (CAREGNATO & MUTTI, 2006, p.2)

5.5 MATERIAIS / INSTRUMENTOS

Para a coleta de dados dessa pesquisa será utilizado a entrevista semiestruturada, que deve seguir

algumas diretrizes:

Contato inicial: clima amistoso, com objetivos;

Formulação das perguntas: de acordo com o tipo, no caso da estruturada: seguir o roteiro; a não estruturada; deve-se deixar o entrevistado bem à vontade;

No registro das respostas as anotações devem ser simultâneas, caso o entrevistado concorde, deve-se utilizar um gravador para que as respostas fiquem registradas;

No final desse processo o clima de cordialidade deve prevalecer;

Porém quando se escolhe essa forma de coletar dados para a pesquisa também deve-se observar os

pontos negativos, que podem vir a surgir durante o processo como por exemplo a incompreensão por

parte do informante, a possibilidade do avaliado ser influenciado, a retenção de alguns dados

importantes, ocupa-se muito tempo para que se possa responder todas as questões e o tamanho da

amostra também preocupa, porém não pode de forma alguma ser um especifica desta para a

pesquisa.

Nessa pesquisa, os participantes selecionados serão submetidos a um questionário semiestruturado

elaborado pelo pesquisador para a coleta de dados.

5.6 AUTORIZAÇÃO E EXPLICAÇÃO DA FINALIDADE DA PESQUISA

Para que se possa iniciar uma pesquisa cientifica, se faz necessário algumas exigências formais, como

informar aos órgãos competentes dentro da universidade, sobre a intenção de realizar determinada

pesquisa, isso inclui as coordenações (Educação Física – Licenciatura) dos cursos e dos centros

(Ciências da Saúde). Isso acontece, pois, todas as pesquisas que serão realizadas no âmbito da

Universidade Federal Paraíba necessitam de prévia autorização.

313

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14

5.7 METODOLOGIAS DA PESQUISA DE CAMPO

Antes de se iniciar a pesquisa, coube ao pesquisador, conhecer quem são os sujeitos que fizeram parte

do estudo, pois com esses dados em mãos foi possível planejar melhor cada passo da pesquisa.

O pesquisador foi responsável por elaborar um questionário, que foi respondido pelos participantes

do projeto, tendo todo o cuidado com a montagem das perguntas, pois durante a abordagem o

pesquisador não teve a intenção de gerar nenhum tipo de constrangimento durante o momento da

aplicação do questionário.

Em determinado momento dessa pesquisa (calendário anexo) os participantes foram submetidos ao

questionário elaborado pelo pesquisador para ajudar na coleta de dados referentes a quem são os

sujeitos que participaram da pesquisa, algo de extrema importância para nortear a continuidade da

pesquisa, fazendo com que o pesquisador tenha em mãos um diagnóstico mais completo das pessoas

e do local onde ocorrerá a pesquisa.

O pesquisador teve como missão desvendar dentre outros objetivos, como a prática do tênis tem

alterado a qualidade de vida dos praticantes desse projeto.

Um fato de muita relevância para o pesquisador é a questão dos familiares dos praticantes do projeto

de tênis, pois a sociedade tem consciência de que a prática de esportes gera um retorno positivo ao

praticante, não se limitando apenas ao tênis de campo.

Apesar de ter esse conhecimento mesmo de forma empírica, ou seja, sem comprovação cientifica.

Como será que os familiares, dos participantes do projeto, enxergam e percebem esse hábito de jogar

tênis.

O fato dos praticantes receberem, ou não, apoio de seus familiares para a pratica de uma atividade

física dentro do campus da universidade, pode ser um fator primordial para que as pessoas continuem

cuidando de sua saúde, por meio do esporte seja ele qual for.

5.8 SEGURANÇA DA PESQUISA

Os participantes da pesquisa não foram submetidos a riscos, porém prezando pela segurança de todos

envolvidos na pesquisa, no local externo foi disponibilizado um kit de primeiros socorros, por questão

de segurança. A coleta dos dados ocorreu em uma sala devidamente climatizada com ar condicionado,

água e tempo de intervalo, prezando sempre pela segurança de todos os envolvidos.

314

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15

5.9 CUIDADOS ÉTICOS

O estudo respeitou as seguintes diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres

humanos, contida na Resolução de nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Sendo assim o

trabalho de conclusão de curso foi submetido a um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), e encaminhado

de forma on-line à Plataforma Brasil. Posteriormente após a sua aprovação foi gerado um número de

protocolo da pesquisa, que com esse número em mãos se pode iniciar a pesquisa da forma mais

correta possível. Todos os envolvidos no estudo tinham o direito de desistir de participar da mesma,

sem nenhum tipo de prejuízo

5.10 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados coletados na pesquisa formam divididos em 3 categorias no questionário onde a categoria I

era a responsável pela categorização do atleta, ou seja, sua intenção era a de identificar o sujeito

participante da pesquisa. Os critérios de identificação foram o sexo, a idade, altura, peso, nível de

escolaridade e as possíveis doença dos sujeitos.

A categoria II priorizou os motivos, o tempo de prática, a frequência, o interesse dos sujeitos no

esporte, possíveis dificuldades encontradas, benefícios e maléficos do esporte.

A categoria III teve como prioridade detectar a influência do tênis de campo no participante do projeto

de extensão, detectando sua qualidade do sono, sua disposição, seu bem estar físico e mental, se

ocorreu uma diminuição do peso e se a sua qualidade de vida melhorou com a prática da modalidade

através do projeto.

6. RESULTADO

I CATEGORIA – CARACTERIZAÇÃO DO ATLETA.

A categoria I é a responsável pela identificação e caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa

com as seguintes variáveis: sexo, idade, altura, peso e nível de escolaridade.

Nessa categoria ficou constatado a maioria dos participantes são do sexo masculino, pois neste

contexto encontramos n=13 (72%) e as representantes do sexo feminino encontramos n=5 (28%) da

amostra pesquisada.

315

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16

A média das idades dos participantes da pesquisa ficou em na faixa dos 32 anos. Levando em

consideração apenas os representantes do sexo masculino n=13 a idade média encontrada foi de 35,4

anos, já a média das representantes do sexo feminino contanto com n=5 ficou em 30,75 anos.

O peso médio encontrado nos participantes da pesquisa foi de 68 kg, entre as representantes do sexo

feminino a média foi de 61,87kg entre os representantes do sexo masculino a média foi de 75kg.

O nível de escolaridade é composto por sujeitos que possuem desde o ensino fundamental completo,

passado por todos os níveis seguintes chegando até o pós doutorado.

Fonte: Questionário da Pesquisa

EFC (Ensino fundamental completo), EMI (Ensino médio incompleto), EMC (Ensino médio completo),

ESI (Ensino superior incompleto), ESC (Ensino superior completo), ESP (Especialização) e PD (Pós-

Doutorado)

316

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17

1.7 Você tem ou já teve alguma dessas doenças?

Sujeito Ansie dade

Bronquit e

Depres são

Diabe tes

Nenhu ma

Obesi dade

Menis co

Coles terol alto

Hepat ite

Pneum onia

Glauc oma

1 - - - - Sim - - - - - -

2 - - - - Sim - - - - - -

3 - - - - Sim - - - - - -

4 - - - - - Sim - - - - -

5 - - - - Sim - - - - - -

6 - - - - - - Sim - - - -

7 - - - - Sim - - - - - -

8 - - - - Sim - - - - - -

9 - - - - Sim - - - - - -

10 Sim - Sim - - - - Sim - - -

11 Sim - - - - - - - - - -

12 - - - - - - - Sim - -

13 - - Sim - - - - - Sim -

14 - Sim - - - - - - - - -

15 - - - - Sim - - - - - -

16 - - - - - - - - - - Sim

17 Sim -

18 Sim Sim -

-

Fonte: Questionário da pesquisa

317

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18

Gráficos em barras com percentis

Fonte: Questionário da pesquisa

Cada sujeito poderia marcar quantas enfermidades foram acometidos. Neste contexto encontramos

n=4 (22,22%) de ansiedade, com bronquite n=2 (11,11%), colesterol alto n=1 (5,55%), com depressão

n=1 (5,55%), com diabetes n=1 (5,55%), com glaucoma n=1 (5,55%), com hepatite n=1 (5,55%), com

dor no menisco n=1 (5,55%), com obesidade n=1 (5,55%), com pneumonia n=1 (5,55%) e nenhuma

doença n=9 (50%)

Neste sentido identificamos dois grupos de sujeitos que se destacam mais, são eles os que não

possuem nenhuma doença com n=9 (50%), e um segundo grupo com ansiedade que possui um n=4

(22,22%).

Este gráfico traz as respostas presentes na questão 2.3 do questionário aplicado. O que o motivou a

participar do projeto de extensão de tênis da UFPB? neste sentido encontramos a influência de

amigos com n=2 correspondendo a 10% das respostas, encontramos a influência familiar com n=2

correspondendo a 10%, socialização n=2 correspondendo a 10%, melhoria da saúde com n=5

correspondendo a 25%. E categoria outros n=12 correspondendo a 52% dos sujeitos que fazem parte

da pesquisa.

318

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19

II CATEGORIA – O TREINO DO TENIS – Item 2.1 e 2.2

Fonte: Questionário da pesquisa

319

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20

Com relação aos exercícios de alongamento realizados antes de se iniciar a atividade foi constatado

n=9 o que representa 50% dos participantes. Já se tratando dos exercícios de mobilidades articulares

foi constato um n=4 o que mostra um percentual de 22% dentre os pesquisados.

No final da atividade apenas 11% dos participantes realizam algum tipo de alongamento ou

relaxamento para soltar a musculatura, sendo esse um percentual muito baixo, podendo ocasionar

alguma espécie de lesão para os participantes e consequentemente o afastar das quadras por um

período sem um prazo pré-determinado para a volta às quadras.

2.4 A QUANTO TEMPO VOCÊ PRATICA O TÊNIS?

Com relação ao tempo de pratica dos participantes foi encontrado um grupo de sujeitos com n=3 que

representa 16% da amostra pesquisada que faz parte do projeto a menos de 6 messes.

O grupo de sujeitos que se encontram na faixa de 6 messes a 12 meses no projeto correspondem a

22,22% da amostra com n=4. Os participantes que estão no projeto na faixa de 13 a 18 messes são

11,11% da pesquisa. Temos n=1 que representa 5,55% da amostra participando do projeto na faixa de

19 a 24 messes.

Porém o número que mais se destaca são os dos participante que estão no projeto a mais de 24 messes

pois n=8 o que nos leve a uma porcentagem de 44% dos sujeitos participantes da pesquisa, algo que

deve ser levando em consideração na análise, pois mostra a importância desse projeto para a

comunidade que frequenta a quadra de tênis da UFPB.

E os dados estão expostos na tabela abaixo e posteriormente no gráfico que seguinte.

Sujeito 0 a 6 meses

7 a 12 meses

13 a 18 meses

19 a 24 meses

+ de 24 meses

1 - - - - Sim

2 - Sim - - -

3 - - - - Sim

4 Sim - - - -

5 - Sim - - -

6 - Sim - - -

7 - - - - Sim

8 - - - - Sim

9 - - Sim - -

10 - - - - Sim

11 - - Sim - -

12 - - - Sim -

13 - - - - Sim

320

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21

14 Sim - - -

15 - Sim - - -

16 - - - - Sim

17 - - - - Sim

18 Sim - - - -

Fonte: Questionário da pesquisa

2.5 COM QUE FREQUÊNCIA VOCÊ JOGA TÊNIS?

A relação dos participantes da pesquisa com a UFPB, mais especificamente com o hábito de vida

saudável proporcionado pela prática regular do tênis. Dentre os sujeitos pesquisado foi encontrado

n=9 o que representa 50% da pesquisa que praticam a modalidade duas vezes na semana.

O número de sujeito que pratica o tênis uma vezes na semana é n=4 o que representa 22,22% da

participantes. Já os que participam três vezes na semana, possuem o n=3 o que nos leva a uma

porcentagem de 16,66%. E formam encontrados n=2 o que representa 11,11% dos sujeitos

pesquisados que praticam o tênis quatro vezes na semana.

Os dados estão descritos na tabela abaixo e posteriormente no gráfico subsequente.

321

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22

Fonte: Questionário da pesquisa

322

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23

2.6 ONDE FOI SEU PRIMEIRO CONTATO COM A PRÁTICA DO TÊNIS DE CAMPO?

A importância do projeto de tênis da UFPB poderá ser constatado na tabela que e no gráfico que

seguem.

Muitos participantes desse projeto conheceram a modalidade nessa instituição, o que como pode ser

constado facilmente levando em consideração que n=13 representa (72%) o número de pessoas que

tiverem a chance de conhecer esse esporte através da UFPB.

Os clubes também são locais onde os participantes tiveram a oportunidade de jogar tênis pela primeira

vez, pois n=4 o que representa 22% dos participantes. Na amostra também tivemos um n=1 que

representa 5% dos sujeitos que relatou que o seu primeiro contado com o esporte tênis de campo foi

no seu bairro.

Porém não são todas as pessoas que possuem condições de frequentar um clube que consiga oferecer

uma estrutura para o desenvolvimento do jogo de tênis. O que fica evidenciado nessa pesquisa é a

oportunidade que é oferecida aos participantes do projeto de vivenciarem um esporte que não é

muito popular no nosso país, mostrando para os mesmos o poder de transformação nas suas vidas e

proporcionando uma melhora na qualidade da saúde dos sujeitos.

Sujeito Clube Universidade Bairro

1 - Sim -

2 - Sim -

3 Sim - -

4 - Sim -

5 - Sim -

6 - Sim -

7 - Sim -

8 - Sim -

9 - Sim -

10 Sim - -

11 - Sim -

12 - Sim -

13 - Sim -

14 - - Sim

15 Sim - -

16 Sim - -

17 - Sim -

18 - Sim -

Fonte: Questionário da pesquisa

323

Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

24

2.7 PORQUE VOCÊ SENTIU INTERESSE NA PRÁTICA DO TÊNIS DE CAMPO?

O item 2.7 foi responsável por identificar motivo pelo qual os sujeitos participantes do projeto de tênis

da UFPB, sentiram interesse na pratica do esporte. Nessa questão foi encontrado n=17 (94%) que

assinalaram que fazem a pratica da modalidade por gostar da mesma.

Levando em consideração o lazer, como forma de demostrar o interesse na modalidade, encontramos

n=3 (16%), visando a melhoria da saúde foi detectado n=2 (11%). Por tanto para o sujeitos que fizeram

parte da pesquisa a saúde não foi um item primordial para que eles se envolverem com o tênis.

Sujeito Gosta do esporte

Lazer Saúde

1 Sim - Sim

2 - Sim -

3 Sim Sim Sim

4 Sim - -

5 Sim - -

6 Sim - -

7 Sim - -

8 Sim - -

9 Sim - -

10 Sim Sim -

11 Sim - -

12 Sim - -

13 Sim - -

324

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25

14 Sim - -

15 Sim - -

16 Sim - -

17 Sim - -

18 Sim - -

Fonte: Questionário da pesquisa

III CATEGORIA – INFLUÊNCIA DO TÊNIS DE CAMPO NO PARTICIPANTE DO PROJETO DE EXTENSÂO

Com relação a influência do tênis na qualidade de vida e na saúde dos participantes foi identificado

que no item 3.1 do questionário aplicado. Você percebeu alguma alteração na sua disposição depois

que começou a praticar o tênis de campo? Neste sentido encontramos a resposta sim presente em

um n=15 de sujeitos o que significa 83% dos participantes da pesquisa.

O item 3.2 do questionário buscou responder se ocorreu alguma melhora na qualidade do sono com

o seguinte questionamento: Na sua percepção, sua qualidade de vida do sono melhorou? Foi

detectado na pesquisa com um n=9, representando 50% dos sujeitos uma melhora na qualidade do

sono dos sujeitos entrevistados.

O item 3.3 foi responsável por fazer a seguinte indagação aos sujeitos dessa pesquisa: Sua disposição

para atividades do cotidiano melhorou após a sua entrada no tênis? Neste sentido foi encontrado

325

Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

26

n=12, o que representa 66% dos sujeitos da pesquisa que confirmaram que após a entrada no tênis a

sua disposição nas atividades do cotidiano obtiveram uma melhora.

O item 3.4 questionou os entrevistados com relação ao sem bem estar físico com o seguinte

questionamento: Seu bem estar físico melhorou? Ao responder a essa pergunta ficou evidente que o

tênis colaborou para o bem estar físico dos sujeitos pois 15 deles responderem positivamente a

pergunta do item em questão, o que significa uma melhora de em 83,3% dos sujeitos envolvidos na

pesquisa.

Visando responder ao item 3.5 que questionou os sujeitos com relação a melhora da sua saúde mental,

através da pergunta: Sua saúde mental melhorou? Foi verificado que ocorreu uma melhora na

percepção da saúde em um n=12, o que representa uma evolução em 66% dos sujeitos entrevistados

na pesquisa.

Com relação ao item 3.6 que trata da diminuição do peso dos sujeitos responderam a seguinte

pergunta: Você constatou que o seu peso diminuiu desde que entrou no projeto? O n=6 foi o número

de sujeitos que relataram que o seu peso corporal diminui após o seu início no projeto de extensão,

isso representa que 33% dos participantes envolvidos na pesquisa.

Para responder ao item 3.7 da pesquisa que tem como questionamento a seguinte pergunta: Sua

qualidade de vida melhorou? Para um n=16, o que representa 88,8% da amostra pesquisada, a

qualidade de vida melhorou, o que enfatiza ainda mais a importância desse projeto para a vida das

pessoas que fazem parte do mesmo.

326

Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

27

Fonte: questionário da pesquisa

7. CONCLUSÃO

Levando em consideração a percepção de saúde dos participantes do projeto de tênis da UFPB, foi

possível verificar que os sujeitos são pessoas que priorizam a melhoria e a manutenção da sua saúde,

pois 50% da amostra da pesquisa não possui nenhuma doença. E mesmo não possuindo nenhuma

doença foi encontrado na pesquisa uma número de sujeitos que correspondem a 27% da amostra que

esse preocupam com a melhoria da saúde e ao mesmo tempo em sair do sedentarismo.

O grupo de sujeitos que pratica o tênis de campo a mais de 24 messes foi de 44%, o que nos faz chegar

à seguinte conclusão, a UFPB tem cumprido o seu papel muito bem, pois a universidade possui 3

pilares básicos que norteiam o funcionamento dessa instituição que são o ensino, a pesquisa e a

extensão. Onde cada parte tem a sua importância e que devem funcionar em harmonia e em sintonia

com a sociedade tanto de dentro da universidade como alunos, professores e funcionários, quanto as

pessoas que não pertencem a instituição e que também tem o direito constitucional de se beneficiar

de todos os projetos e ações promovidas pela universidade.

327

Percepção De Saúde Em Participantes Do Projeto De Extensão Tênis De Campo Para A Comunidade Da UFPB

28

O esporte é capaz de muda a vida das pessoas e mostrar para elas um novo caminho que pode ser

seguido. A universidade foi responsável por proporcionar a 72% dos sujeitos da pesquisa o seu

primeiro contato com o tênis, algo que deve ser valorizado pois com esse primeiro contato foi

responsável pela melhoria do bem estar físico de 83% dos participantes dessa pesquisa.

O peso corporal de 33% dos sujeitos diminuiu, por conta da prática do tênis de campo, com isso é

possível concluir que se esse projeto tivesse a oportunidade de se expandir para fora dos muros da

UFPB o número de sujeitos que poderiam ser beneficiados seria um número, sem dúvida muito maior,

ocasionando um possível efeito na redução dos gastos públicos que pessoas com doenças que

poderiam ser evitadas ou ao menos serem descobertas um pouco mais tarde.

Os sujeitos ao responderem o item 3.7 da pesquisa que tem como pergunta chave o seguinte

questionamento: Sua qualidade de vida melhorou? afirmaram que sim, ocorreu uma melhora na sua

qualidade de vida com n=16 o que representa 88,8% dos sujeitos.

Com isso fica evidente e fundamentado cientificamente a importância, tanto do lado social do projeto,

quanto para o lado que prioriza a melhoria da saúde de cada sujeito que participa desse projeto,

independentemente da frequência semanal de cada sujeito.

Esse espaço extremamente democrático, UFPB, no qual são oferecidas diferentes formas de

experiências para quem tem a oportunidade de frequentar o ambiente universitário a possibilidade

de um sujeito ter contato e poder praticar um esporte elitizado é algo que deve ser divulgado tanto

internamente na UFPB nos mais diferentes centros da instituição. Porém com a quantidade de

benefícios expostas nessa pesquisa o ideal é que ocorresse uma divulgação mais ampla do projeto,

pois muitas vezes até mesmo os sujeitos que tem interesse em iniciar na prática do esporte não ficam

sabendo que a própria instituição que frequentam é capaz de oferecer uma atividade tao benéfica

quanto essa.

Um número de muita relevância para essa pesquisa foi o encontrado no item 2.7 que trata do seguinte

questionamento: Porque você sentiu interesse na prática do tênis de campo? O número de sujeitos

que responderam que fazem o esporte por gostar da modalidade é de 94%, por conta desse dado

pode-se concluir que para os participantes gostam do que é para eles oferecido e proporcionado na

extensão.

Quando um sujeito possui uma melhora na sua saúde toda a sociedade é beneficiada, tanto

diretamente quanto indiretamente, pois quando um familiar ou amigo se encontra sem nenhum

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problema que pode afetar a vida, todos os que convivem com esse sujeito ficam, relativamente, mais

tranquilos, pelo menos com relação a saúde.

8. CRONOGRAMA

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9. ORÇAMENTO

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10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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11. APÊNDICES

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12.ANEXO

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Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/211004796

Capítulo 21

O MAL DOS TEMPOS LIQUIDOS E A RESILIÊNCIA DA ENFERMAGEM: UMA REFLEXÃO SOBRE O

TRANSTORNO DE ANSIEDADE

Rodrigo Monteiro dos Santos Bandeira Faculdade São Sebastião

Décio Thomas Aparecido Guimarães Rocha Faculdade São Sebastião

Brenda Gabriela Costa Neves Faculdade São Sebastião

Bruna Costa Silva Faculdade São Sebastião

Alex mello lima Faculdade São Sebastião

Denize Marroni Faculdade São Sebastião

O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

1

Resumo: O presente trabalho visa apresentar a importância de se compreender o transtorno da

ansiedade e de como o indivíduo portador se expressa em meio a sociedade envolvente. Através de

uma revisão literária, descritiva e exploratória, compreender como as relações na atualidade são

estabelecidas e refletir como elas conversam com o estado de equilíbrio mental incidente. Deste modo

objetiva-se entender a liquidez e a volatilidade substancial das expressões humanas em Tempos

Líquidos, a fim de embasar a prática profissional do enfermeiro como um prisma adaptativo, que deve

correlacionar as mudanças com a resiliência e a busca por ferramentas como educação em saúde e

terapias complementares e integrativas, que aprimorarem sua atuação. Propor ao profissional

enfermeiro um olhar humanizado e introspectivo de si e do outro de modo que essa visão se espelhe

em sua atividade profissional na atenção à saúde mental e em todos demais ramificações da

assistência de saúde.

Palavras-chave: ansiedade; tempos líquidos; transtornos mentais.

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O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

2

INTRODUÇÃO

Uma nova era se fez anunciada e com o passar dos movimentos planetários um novo tempo se

instaurou, em meio a sociedade modernizada e globalizada diversas relações foram ressignificadas, na

tentativa dos atores dessas relações de encontrarem respostas para as questões cotidianas. Uma era

fluída, liquida assemelhando a um rio que corre e se relaciona em seu refratário, que de nada

permanece igual. Assim fazemos alusão ao conceito de TEMPOS LIQUÍDOS difundido por Zygmunt

Baumam, professor universitário, teve sua vida moldada ás consequências do holocausto nazista,

natural da Polonia, imigrou para antiga União Soviética e posteriormente para o Reino Unido de

acordo com Tester Apoud Baumam (2011).

O autor ainda coloca Baumam como um crítico do mundo contemporâneo, denota que o sociólogo

refletiu suas experiencias pessoais, familiares privadas e públicas em suas obras, e ainda que,

abordaram desde o totalitarismo, comunismo e capitalismo até as relações interpessoais e afetivas do

indivíduo inserido na sociedade atual e que lhe convém a capacidade de “ Promover o pensamento

sobre as relações, situações e forças vivenciadas e confrontadas por homens e mulheres , e , o que é

importante, vivenciadas como reais” (TESTER APOUD, BAUMAM, 2011).

Nascimento (2018) ao explanar acerca do conceito difundido por Bauam, refere que houve um tempo

que a solidez se fazia presente, que as relações, ideias e pensamentos se davam de forma imutável

embasada nas tradições culturais e religiosas, e que o rompimento com essa forma de perceber o

universo ao redor se modificou com o avanço que a sociedade teve a partir do século XX, a autora

ainda cita movimentos libertários como a Reforma Protestante, o Iluminismo, o Humanismo

Renascentistas e Revoluções Cientificas, como exemplos de momentos que agiram moldando o novo

individuo para uma sociedade pós moderna, a modernidade fluida, que ignora barreiras, divisões,

dissolvendo práticas e certezas de modo a se opor a tudo que é estático, estável como demonstra a

autora a seguir:

A fluidez é vista como algo que nos faz lembrar leveza, e leveza nos direciona a mobilidade, é a “qualidade de líquidos e gases, o que os distingue dos sólidos é que eles não podem suportar uma força tangencial ou deformante quando imóveis, e assim, sofrem uma constante mudança de forma quando submetidos a tal tensão”4 Portanto, essas são as razões para considerar fluidez ou liquidez como metáforas ideais quando queremos captar a natureza da presente fase, nova de muitas maneiras, na história da modernidade.

(NASCIMENTO, 2018. Pág. 229)

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O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

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A autora ainda refere que a liquides dos tempos modernos levam ao indivíduo a necessidade de

classificar tudo a sua volta e com isso lhe coloca frente a necessidade de rotular o que lhe convém

segurança e o que acredita ser como perigoso, desta forma este novo individuo busca se afastar do

que não conhece, o que serve de pano de fundo para inúmeros conflitos fundamentalistas embasado

em etnia, classe, gênero, sexualidade e religião.

Outro ponto conflitante para a sociedade seria característica de efemeridade, que os tempos líquidos

trazem, ou seja, a inconstância presente em todos os âmbitos do humano atual, seja no meio político,

social, familiar e afetivo, seja em suas relações, pensamentos, ideias até suas propriedades. O mundo

se faz volátil e o para sempre dos contos de fadas já não fazem sentido e tudo se faz as margens da

pouca duração.

A Volatilidade se potencializa quando a autora aponta ainda que o conceito de Baumam remete para

uma característica individualista deste momento social. O desprendimento de uma cosmovisão

arraigada em costumes, objetivou o antropocentrismo e deu margem para o etnocentrismo e o

fundamentalismo e isso se faz como consequência do medo do outro.

Deste modo, observamos que nos tempos atuais temos o humano no centro de si. E o que no centro

do humano? A solidez que havia em tempos passados traziam para o homem, códigos de éticas e

costumes pré-definidos e dispostos ou impostos socialmente, hoje fluídico e livre esse humano

necessita de auto gestão, de construir seus próprios códigos de éticas e condutas e de entender como

esse excesso de informações, decisões e conflitos, interagem com seu “eu“ interior e como isso tudo

serve como agente lesivos, amplificadores de transtornos mentais e como a ansiedade se faz presente

no novo ser pós moderno fluídico. É o que se percebe quando Carvalho, Mazullo e Soeiro (2019)

exemplificam em sua pesquisa sobre a população no município de Teresina:

Outro aspecto relevante a se debater seria a influência que a contemporaneidade tem nas escolhas e na vida dos indivíduos, uma vez que o urbanismo é uma disciplina em constante transformação e evolui ao passo que evoluem os estudos sociais, expandindo cada vez mais os limites do planejamento coletivo. Por fim, conclui-se que o estresse causado pela soma dos fatores citados, como o trânsito caótico, o calor extremo e a precariedade nos serviços públicos, apresenta-se como a provável causa do índice elevado de suicídios em Teresina.

(CARVALHO, 2019. Pág 18)

Compreender melhor acerca dos transtornos mentais é fundamental para o profissional de saúde, em

suma importância para o profissional enfermeiro, pois sua atuação se dá direta no atendimento à

saúde, e o seu período prolongado de contato com o indivíduo assistido exige que um tato direcionado

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O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

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e integralizado seja recorrente nessa assistência, tendo em vista que de acordo com Cruz At All (2011),

os transtornos mentais causam frequente demanda de procura por assistência de saúde, internações

e afastamentos laborais na atualidade .

Contudo, Hyane At All (2018), aponta que os transtornos mentais correspondem a 12% das doenças

no mundo e que 40% dos países ainda não possuem políticas públicas de saúde e que 90% dos

transtornos mentais envolvem sintomas de depressão, ansiedade, insônia, fadiga, irritabilidade,

disfunção de memória e de concentração. A autora ainda aponta uma definição para o termo

“Transtorno Mental” como vimos a seguir:

Os transtornos mentais, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) identificam-se como doenças com manifestações psicológicas, associadas ao comprometimento funcional devido a perturbações biológicas, sociais, psicológicas, genéticas, físicas ou químicas. Podem ocasionar modificações no modo de pensar ou até mesmo no humor, provocando alterações no desempenho global do indivíduo, isto é, no âmbito pessoal, social, ocupacional ou familiar.

(HYANE at ALL, 2018)

Ao se referir aos transtornos mentais e em busca de correlacioná-los com o mundo líquido ao qual a

sociedade encontra se envolvida, não há como não fazer referência aos efeitos da Pandemia de Covid

19, que ocorreu em um período da humanidade globalizada, encharca de informações voláteis e em

um “auge” do que Baumam poderia se referir como a vitrine dos tempos líquidos. Entre os estudos

mais recentes, as claras dos transtornos mentais, um dos tópicos mais citados na atualidade se faz

quanto aos transtornos de Ansiedade, vale ressaltar que Ramos e Furtado (2015) afirma que os

transtornos de ansiedade são os mais comuns entre os transtornos mentais

Silva (2020), afirma que a pandemia de Covid 19, promoveu além do luto, incertezas, inseguranças, o

que gerou em grande escala aumento na incidência de transtornos de ansiedade e agravamento nos

quadros de transtornos mentais.

MÉTODOLOGIA

A metodologia escolhida para esta pesquisa se deu ao modo de revisão literatura cientifica disponível

em bibliotecas virtuais como o “Google acadêmico” e a “SciELO”, Munindo – se de um caráter

exploratório, reflexivo e descritivo, a fim de compreender como o transtorno de ansiedade conversa

com a sociedade envolvente. Compreender melhor o processo de desequilíbrio e transtorno mental

da ansiedade, como as relações se dispõem a seu favorecer, e tem como objetivo proporcionar o

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O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

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entendimento de como o indivíduo se expressa em meio a esta sociedade e apontar um caminho para

que o profissional enfermeiro possa melhor conduzir suas intervenções não somente no cuidado com

este indivíduo, mas também na tratativa do problema.

A DIFERENÇA ENTRE O REMEDIO E O VENENO, É A DOSE: QUANDO A ANSIEDADE VIRA UM

TRANSTORNO.

Experimentar o medo e a ansiedade é algo comum, e serve como mecanismo de defesa do humano,

frente a uma situação estressante. O medo se faz como uma resposta emocional, física e que ocorre

quando temos uma ameaça externa reconhecível. Já a Ansiedade o Barnhill (2020), ainda elucida que

é um estado emocional perturbador e desconfortável onde a predominância é do nervosismo e

desconforto, e que sua ligação com a ameaça é mais frágil, tendo em vista que pode começar com

antecedência e perdurar a momentos posteriores a sua causa.

O Autor explica que a ansiedade em níveis aceitáveis, no ponto de vista que o indivíduo consegue

manter o controle, é benéfica, pois o tornará mais cauteloso frente ao dia a dia. Porém quando o limiar

de controle é extrapolado pode gerar transtornos para o indivíduo, transtornos estes que Barnhill 2020

corrobora que apesar de ser o mais frequente entre os transtornos mentais, ainda muito pouco

reconhecidos e por isso não encabeçam os rankings de transtornos mentais tratados.

Bezerra, Brandão e Carvalho (2019), corroboram que sua base está na hiperatividade do Sistema

Nervoso Autônomo, o que acarreta uma sintomatologia somática, trazendo prejuízo para a cognição

e culminando com distorções de percepção, o que os autores ainda afirmam abrir portas para outras

patologias e problemas oportunistas.

Barnhill (2020), diz quanto a etiologia da ansiedade, que ainda não se está de fato definida, todavia, o

autor aponta para fatores ambientais estressantes, como problemas sociais e emocionais que podem

ou não estar associados a alguns fatores de pré-disposição como algumas comorbidades de exemplo

o hipertireoidismo, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a insuficiência cardíaca. Outro

fator de pré-disposição é o uso e a abstinência de alguns fármacos, como corticoides, cafeína, cocaína

e sedativos.

Os sinais e os sintomas da ansiedade podem acontecer de forma esporádica e espontânea, surgindo

subitamente, como um pânico e sua duração pode ser de segundos a anos, ainda de acordo com o

autor e sua intensidade pode ser desde imperceptível até um extremo pânico e o prognostico é de

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O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

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possível evolução em sua sintomática para outros transtornos psiquiátricos como transtorno

depressivo ou até mesmo coexistir de forma alternada ou concomitante.

Ramos e Furtado (2009), elucidam quanto os sintomas somáticos e suas apresentações como dispõe

a seguir:

A ansiedade é um sentimento desagradável, vago, indefinido, que pode vir acompanhado de sensações como frio no estômago (Wei), aperto no peito, coração acelerado, tremores e podendo haver também sensação de falta de ar. É um sinal de alerta, que faz com que a pessoa possa se defender e proteger de ameaças, sendo uma reação natural e necessária para a autopreservação. Não é um estado normal, mas é uma reação normal, esperada em determinadas situações. As reações de ansiedade normais não precisam ser tratadas por serem naturais, esperadas e autolimitadas. A ansiedade patológica, por outro lado caracteriza-se por ter uma duração e intensidade maior que o esperado pra a situação, e além de não ajudar a enfrentar um fator estressor, ela dificulta e atrapalha a reação.

(RAMOS E FURTADO, 2009)

O tratamento dos transtornos de ansiedade de acordo com Barnhill (2020), é feito por meio de

exclusão e da qualificação da gravidade dos efeitos do transtorno sobre o indivíduo. Assim o

enfermeiro ou o profissional de saúde deve se atentar, através do histórico e exame físico se esse

quadro se fez a partir do uso de alguma substância química ou farmacológica, se está associada a

algum distúrbio clínico que essa pessoa já venha a apresentar, seja físico ou psiquiátrico e a partir

desse ponto definir se as causas de fato não foram identificadas, se é muito perturbadora, se a

ansiedade interfere no tratamento e ou haverá cessamento espontâneo em curto prazo. Deste modo,

pode ser realizado com uso de medicações benzodiazepínicos e inibidores seletivos de recaptação de

serotonina, preferencialmente associado a psicoterapia específica para cada transtorno. Já Bezerra,

Brandão e Carvalho (2019), apontam associação de terapias complementares e integrativas.

AS DIFERENTES EXPRESSÕES DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Ao definir a expressões do fenômeno da Baptista, Carvalho e Loroy (2005) refere a um misto de

emoções como citar os autores, “a ansiedade pode incluir a tristeza, a vergonha e a culpa, como

pode, igualmente, ser composta por cólera, curiosidade, interesse ou excitação” (BAPTISTA,

CARVALHO E LOROY, 2005. Pág.268).

Com abrangente apresentação e com aspectos específicos de conotações diferenciadas, se faz

necessário para melhor compreensão, explanar acerca dos tipos de transtornos que envolvem a

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O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

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ansiedade assim Ramos e Furtado (2009), discorre a cercas das singularidades de destas expressões

como explanado a seguir:

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), segundo o autor acomete o indivíduo com frequência

diária e perdura por prazo superior a 6 meses, trazendo sentimentos desagradáveis, onde se

caracteriza como uma reação exacerbada da somatização da ansiedade não patológica, porém em

níveis que podem perdurar por muitos anos e que acarreta prejuízo comportamental e social do

indivíduo, além de sintomas como tremor, cefaleia, dispneia, inquietação, insônia, esgotamento físico

e sofrimento.

A Síndrome do Pânico, ainda segundo o autor essa síndrome se caracteriza ocorrência espontânea de

episódios de ansiedade exacerbada e medo, descrito pelo mesmo, como ataques de pânico com

aumento de sintomas graduais a partir dos primeiros 10 minutos com duração de normalmente

inferior a uma hora, com média entre 20 á 30 minutos, sendo relativo a ocorrência de múltiplos

ataques diários ou ataques esporádicos ao longo do ano. O autor ainda aponta para uma correlação

dos ataques de pânico com gatilhos derivados de traumas emocionais, excitação, prática sexual e

esforços físicos e que o medo sentido normalmente não possui fonte definida e os sintomas podem

incluir desde dificuldade de concentração, taquicardia, dispneia, desorientação auto e

alopsiquicamente e disartria, além do medo já citado anteriormente.

O mesmo ainda mantém que o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), se apresenta no individuo

através de obsessões e compulsões, por comportamentos incontroláveis, mesmo que pareçam em sua

natureza ridicularizado por um observador. Ainda refere que o indivíduo é tomado por pensamentos

sexuais, religiosos ou agressivos. O que os levam muitas vezes ao sofrimento, sem menos prezar gasto

de tempo e desgaste da perda de controle. Esses pensamentos formam as obsessões que devido a

ansiedade que os acompanham, podem formar secundariamente as compulsões como atitudes,

rituais e gestos, que acontecem repetidas vezes, como uma tentativa de neutralizar os pensamentos,

porém quase sempre o indivíduo não sabe entender o que está acontecendo, por vezes devido a

gravidade pode ser confundido com transtornos psicóticos. Estas pessoas sofrem com a solidão e com

o próprio julgamento, normalmente escondendo da comunidade seus pensamentos por medo da má

interpretação dos demais tanto quando as obsessões quanto as compulsões o que acarreta menor

procura por assistência de saúde.

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O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

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Caracterizado por recordações frequentes que incluem extrema aflição o Transtorno de Estresse Pós-

Traumático, correlaciona com a vivencia do individuo em eventos adversos como estupro, catástrofes

naturais, acidentes, agressão física ou qualquer situação que o coloque de frente a uma ameaça a sua

integridade, física ou psicológica. O autor ainda aponta que este indivíduo pode utilizar de seus

pensamentos para reviver o trauma e por consequência tende a tentar excluir esses pensamentos

através de se afastar de tudo o que pode remeter a situação, por medo de recidiva e que deste modo

pode passar a somatizar sintomas de ansiedade. Sua apresentação pode ocorrer a partir de uma

semana o trauma e até 30 anos após, e o maior grupo de risco são crianças e idosos devido a fragilidade

física e emocional.

O medo quando ultrapassado o limiar de controle também se torna um transtorno, do qual está

associado aos distúrbios da ansiedade. Assim esses transtornos são agrupados em Fobias que se

classificam em Fobia Simples ou Especifica, Fobia Social e Agorafobia. O autor ainda relata que quando

o transtorno do medo exagerado ocorre de modo ser personificado em objetos e ou situações de

modo a se evitar de forma consciente o agente causal, temos o Transtorno de Fobia Específica. Deste

modo o indivíduo pode experimentar aversão, como exemplo à animais, estar em alturas, ver sangue,

seringas e outros. Essa experimentação pode gerar desde quadros ansiosos com sudorese, taquicardia,

dispneia, e desconforto abdominal, até ataques de pânico de alta intensidade.

Já a Fobia Social ou o Transtorno de Ansiedade Social, o autor categoriza como uma acentuação de

uma timidez exagerada que acarreta um medo descontrolado de se sentir envergonhado ou

intimidade e pode ser expressado com o desconforto de realizar qualquer atitude ou atividade em

público, o que pode englobar, comer, praticar esporte, até mesmo falar. Esse transtorno acarreta para

o indivíduo dificuldade inclusive de se relacionar afetivamente, por medo de ser rejeitado ou

ridicularizado. Este indivíduo se fecha para as relações e acredita que está sempre sendo julgado.

Quando exposto ao contato social o indivíduo pode experimentar taquicardia, dispneia, tremores e

desconforto abdominal.

Agora quando o desconforto não se prende somente nas relações mas em tudo que estiver fora do

seu lar, o autor correlaciona sua pesquisa com os diferentes conceitos do Transtorno de Agorafobia

descrito na literatura e aponta para um medo de locais abertos ou públicos que imputa ao mesmo

medo exagerado de estar fora de seu local de segurança e que quando em ruas ou multidões, parques

ou em uma condução é acometido por ideias de que desgraças o acometeram o que pode lhe causar

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O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

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ataques de somatizações de ansiedade até crises graves de pânico. O autor ainda lista que um terço

de pessoas com transtorno do Pânico evoluem para transtorno de Agorafobia.

O PAPEL DA ENFERMAGEM NO CUIDADO E NA TRATATIVA DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Durante a atuação do profissional enfermeiro, em diversos momentos será necessário um tato para

com o seu cliente quanto a ansiedade demonstrada pelo mesmo ou até mesmo em situações em que

quadros ansiosos poderão ser previstos, é de suma importância que este profissional saiba discernir

se esses quadros são atípicos e embasados em situações sazonais que incluem por exemplo o

diagnostico de uma condição física ou necessidade de um procedimento arriscado ou se este

profissional está diante de um quadro patológico de um dos transtornos de ansiedade.

Para Gonçalves, Cerejo e Martins (2017), o enfermeiro enquanto profissional que deve ser

desenvolvido em termos de comunicação e relação e ainda mais quanto a educação e informação,

aponta para este profissional o seu papel de educador o que lhe confere segundo o autor a

necessidade do manejo do cuidado na redução do nível de ansiedade do cliente através da escuta

ativa e da orientação, utilizando de estratégias que englobam a percepção.

Diante da observação de uma situação crônica e como já exposto anteriormente neste artigo, umas

das tratativas para os transtornos de ansiedade consiste na implementação de práticas integrativas e

complementares, algo que Brandão e Carvalho (2019) elucidam a seguir:

A Organização Mundial da Saúde reconhece e incorpora as Medicinas Tradicionais e Complementares nos sistemas nacionais de saúde, que de acordo com a nomenclatura do Ministério da Saúde do Brasil, são Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde (SUS) e incluem, por exemplo, a arteterapia, ayurveda, biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala, terapia comunitária integrativa, yoga e outros (BRASIL, 2017). O Ministério da Saúde já recomenda o uso das Práticas Integrativas e Complementares (PIC) o que tem levado o público-alvo a conhecê-las (GOYATÁ et al., 2016 APOUD BRANDÃO E CARVALHO, 2019. Pág.11).

Os autores ainda complementam que o Conselho Federal de enfermagem (COFEM), o Código de Ética

da Enfermagem e por intermédio da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), garantem

garante o papel de enfermeiro capacitado além de lhe conferir ampla autonomia ao que diz respeito

a essas atividades e tratamento, sem a necessidade de prescrição médica. Os autores ainda afirmam

que esses são os profissionais que passam maior parte do tempo em contato com o cliente, o que lhe

confere uma maior percepção e cuidado holístico e que inclusive as Terapias Complementares e

356

O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

10

Integrativas (TCI) foram incluídas no Sistema único de Saúde (SUS) e que ele assegura sua prática

principalmente na Atenção Básica.

Brandão e Carvalho (2019), ainda aclaram que só em 2017 foram incluídas mais de 30 práticas de (TCI),

“As práticas complementares mais conhecidas de acordo com o Ministério da Saúde são por exemplo,

a arteterapia, ayurveda, biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia,

quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala, yoga, acupuntura, terapia comunitária integrativa e outros

(BRASIL, 2017 APOUD BRANDÃO E CARVALHO, 2019. PÁG.17).

As TCI’s servem como complementação do tratamento médico, não excluem a abordagem psiquiátrica

ou psicológica, porém atua como um grande facilitador, através de práticas pisicocorporais, que

estimulam a busca do equilíbrio e o autocontrole do indivíduo, melhorando sua qualidade de vida e

seu entendimento auto e alopsiquicamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fluídico, inconstante, antropocêntrico e repleto de situações que geram desconcordo e alimentam a

sensação de medo e ansiedade, são os Tempos Líquidos, ao qual, o mundo se faz imergido. Perceber

os mecanismos que favorecem estados de desequilíbrios e associá-los aos transtornos de ansiedade,

se faz peça fundamental para que o indivíduo possibilite mecanismos de adaptação às mudanças.

A mudança é a mola que sustenta o mundo de hoje, para se equilibrar é fundamental se perceber e

aderir a uma constante busca por resiliência e ressignificação.

A enfermagem enquanto ciência que objetiva um cuidado humanizado, holístico e integralizado, deve

propor que o profissional enfermeiro obtenha o conhecimento necessário para interpretar a fluidez

das relações, promovendo um olhar adaptativo e resiliente de si e do outro como base teórica e

profissional. Deste modo imergir em uma procura constante por ferramentas que possibilite

compreender a si mesmo enquanto indivíduo e de igual em sua prática e exercício profissional, pois

lidar com outras vidas requer tanto cuidado quanto lidar com sua própria vida, e vice e verso.

357

O Mal Dos Tempos Líquidos E A Resiliência Da Enfermagem: Uma Reflexão Sobre O Transtorno De Ansiedade

11

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/211004797

Capítulo 22

O CUIDADO DE ENFERMAGEM SOB A LÓGICA DO INDÍGENA ENTRE A POPULAÇÃO GUARANI

MBYÁ DA TERRA INDÍGENA RIBEIRÃO SILVEIRA (SP)

Priscila Enrique de Oliveira Universidade Cruzeiro do Sul - FASS

Rodrigo Monteiro dos Santos Bandeira Universidade Cruzeiro do Sul - FASS

O Cuidado De Enfermagem Sob A Lógica Do Indígena Entre A População Guarani MBYÁ Da Terra Indígena Ribeirão Silveira (SP)

1

Resumo: O percurso histórico dos indígenas no Brasil, nos mostra o esforço de manter a memória de

seu povo e do processo de empoderamento para garantir o futuro de sua trajetória. Uma práxis de

saúde que vincule o cuidado teórico - científico da enfermagem com a concepção e os saberes

tradicionais indígenas se faz necessário tanto quanto a participação ativa dos assistidos no

atendimento e na manutenção da saúde. Apresentar propostas que sejam propensas a se obter uma

continuidade pode estar concatenada ao estímulo do protagonismo do indígena no autocuidado tanto

como pessoa quanto comunidade. Este artigo trata de um relato de experiência de iniciação científica

elaborado por meio da percepção de um graduando de enfermagem ao participar da confecção de

uma intervenção por meio de um modelo de assistência voluntariada e em conjunto, que resultou não

observância de um Cuidado de Enfermagem Tradicional Indígena (CETI) e percepção da necessidade

do reconhecimento e valorização do Cuidado Tradicional Indígena (CTI) como ferramenta para

diagnosticar problemas e promover a saúde indígena.

Palavras-chave: Guarani Mbyá, educação em saúde, saúde indígena, enfermagem transcultural,

antropologia da saúde.

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O Cuidado De Enfermagem Sob A Lógica Do Indígena Entre A População Guarani MBYÁ Da Terra Indígena Ribeirão Silveira (SP)

2

INTRODUÇÃO

Em relação ao atendimento à saúde indígena não há como analisar e contextualizar o cenário de hoje

sem a prevalência de um levantamento do histórico das políticas de saúde públicas que permearam o

universo dessas pessoas e dar um enfoque principal ao filtro com o qual eles perceberam e interagiram

com o mundo e a comunidade, seja ela integrante ou envolvente. Desta forma, pode se evitar a

continuidade e a permanência de equívocos do passado e busca-se a discussão para que políticas

efetivas e eficazes possam existir.

Ao revisar a literatura cientifica disponível nos dias atuais, percebe se que é comum o entendimento

entre De Macedo e Fernandes (2011), Gesteira (2006) e Rodrigues (2005), os quais, orientam que

desde o início, a assistência de saúde aos indígenas no Brasil possuiu um caráter civilizatório,

objetivando-se a impor ao indígena costumes e ressignificações com base no entendimento da

sociedade envolvente colonizadora, excluindo a devida relevância de suas percepções, costumes e

crenças, reflexo do universo político e filosófico da sociedade envolvente em suas respectivas épocas.

Concomitantemente observamos a resistência e o processo de mediação dos povos originários que

culminaram com a conquista de políticas mais efetivas a partir da promulgação da Constituição de

1988.

Em 1910, foi criado o Serviço de Proteção ao Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais, com

caráter positivista, eugênico, etnocêntrico com políticas de atendimento à saúde baseada nos

preceitos sanitaristas da época, que objetivavam integrar o indígena na sociedade envolvente

reafirmando-os como mão de obra agrícola e impondo uma transformação de seus hábitos em

detrimento de seus idiomas e saberes tradicionais, o que foi marcado pela tensão, aceite, mediação

ou repulsa como denota Oliveira (2011).

Pós a extinção do SPI segundo Rodrigues (2005) a assistência de saúde dos povos indígenas no período

militar, ficou sob a responsabilidade da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A Constituição de 1988,

garantiu os direitos da pessoa indígena e reconheceu suas práticas tradicionais de cura. De certa forma

a nova Constituição propiciou criação do Sistema Único de Saúde (SUS) baseado em princípios como

a Equidade, Universalidade e Integralidade e em 1991, o Ministério da Saúde assumiu o atendimento

à saúde indígena e a colocou a cargo da então criada Fundação Nacional do Saúde (FUNASA)

Contudo Moreira (2018) e Chaves, Cardoso e Almeida (2006) demonstram disputas internas entre a

FUNAI e a FUNASA e problemas de gestões e recursos que culminaram com intervenções do Ministério

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O Cuidado De Enfermagem Sob A Lógica Do Indígena Entre A População Guarani MBYÁ Da Terra Indígena Ribeirão Silveira (SP)

3

Público, o que foi pano de fundo para a reorganização da saúde indígenas em subdistritos sanitários e

a implementação dos Subdistritos Especais de Saúde Indígena (DSEI). Em 1999, por intermédio da Lei

Arouca Lei n.9836/1999 foi criado o Subsistema Especial de Saúde Indígena atrelado a FUNASA até

2010 quando um decreto presidencial possibilitou a inserção da saúde indígena diretamente ao

Ministério da Saúde por meio de uma Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), em atividade até

os dias atuais, articulando-se com Organizações Não Governamentais (ONGs) a fim de garantir a

assistência de Saúde aos povos originários.

A EXPERIÊNCIA COM OS GUARANI MBYA DE BORACÉIA- SÃO SEBASTIÃO

O grupo Guarani Mbya reside na Terra Indígena do Ribeirão Silveira, área de fronteira entre os

municípios de Bertioga e São Sebastião (litoral Norte de São Paulo -SP). Não se trata de um grupo

autóctone, mas sim um território habitado por estes indígenas desde meados dos anos 1940 quando

ali se estabeleceram após longos anos de migração (Ladeira, 2006). Hoje residem na área de 8500 ha,

de acordo com o Instituto Socioambiental (ISA) uma população de aproximadamente 474 indígenas.

A terra indígena conta com um posto de saúde e uma escola (ensino infantil ao médio).

Uma vez que os Guarani Mbya estão em uma área relativamente próxima aos não indígenas, mantém

contato constante e estas relações envolvem processos contínuos de traduções, ressignificações e

mediações. O grupo recebe com frequência a visitação de escolas e turistas. Há festas abertas para

visitantes e convidados, apresentações culturais fora da aldeia e muitas pessoas permanecem alguns

dias no centro da cidade para vender artesanato, palmito pupunha, flores e plantas ornamentais.

Na Terra Indígena do Ribeirão Silveira o atendimento à saúde está vinculado à SESAI cuja sede, para

esta região, localiza-se em Curitiba -PR. Em 2018, quando iniciamos a pesquisa, o posto (pólo base) de

Saúde contava com o atendimento de 3 médicos, um dentista, uma enfermeira, dois técnicos de

enfermagem e 4 agentes de saúde indígena (AIS), um auxiliar de saúde bucal e dois agentes sanitários

indígenas (AISAN). Todos possuíam vínculo empregatício com a SESAI, exceto os dois médicos: Dr

Kauan Simões Val e

Camila de Aguiar Bernardo, que eram contratados pela Fundação de Saúde do município de São

Sebastião. O pólo contava com 2 carros e 5 motoristas (4 não indígenas e 1 indígena). Parte dos

medicamentos eram disponibilizados pela da Fundação e outra parte pela SESAI.

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O Cuidado De Enfermagem Sob A Lógica Do Indígena Entre A População Guarani MBYÁ Da Terra Indígena Ribeirão Silveira (SP)

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A infraestrutura do pólo é bastante precária. No local existem 7 salas, três para atendimento, uma

para vacinação, inalação e outros procedimentos, dois escritórios, um almoxarifado, uma cozinha e

um banheiro.

Por ocasião do Programa de Iniciação Científica em 2018 e a partir das reflexões propostas pela

disciplina saberes socioantropológicos da saúde realizamos visitas e entrevistas na Terra Indígena

Ribeirão Silveira ao longo de dez meses, interrompidos pela pandemia do COVID 19. Pretendíamos a

elaboração de um protocolo de cuidado que envolvesse uma metodologia ativa e que fosse eficaz e

eficiente na transposição do conhecimento em educação em saúde, concomitante com a relevância

do conceito de saúde e doença permeado pelos Guarani Mbya .

Para a elaboração do presente artigo a metodologia escolhida foi à metodologia ativa, por meio da

qual, o foco do estudo está na percepção do discente frente à interação obtida com a experiência.

Para garantia da prevalência da ética, optamos por descrever de forma indireta a maioria das falas das

lideranças Guarani Mbyá e preservar seus nomes.

UM OLHAR PARA NHADEREKO

Ao ampliar o conhecimento quanto às questões que preocupam os Guarani Mbyá da Terra Indígena

Ribeirão Silveira, os acadêmicos avaliaram alguns problemas recorrentes encontrados entre os

moradores da comunidade. Para compreender as causas e ter base para diagnosticar problemas que

demandam cuidados, cabe um olhar integralizado, abrangente e compatível com sua cosmovisão.

Algumas palavras possuem um significado muito mais vasto do que sua simples fonética pode

expressar, para tal entendimento é necessário um tato, uma percepção as claras de todo um contexto

sociocultural e mitológico.

Nhandereko retrata todo o estilo de vida dos Guarani Mbyá, envolvendo suas crenças, motivações,

medos, percepções e atitudes e projeções.1

De acordo com Ladeira (2007) esse povo vem ressignificando e mediando as investidas de

integralização com detrimento de seus costumes, algo que evidência diferentes concepções e

necessidades de diálogo. A autora ainda explica que o povo Guarani Mbyá possui uma intima ligação

com suas as noções de fé e percepção do sagrado, com seu mito de criação e a sua busca pela terra

sagrada prometida por seu Criador, NHANDERU. Para a autora os Guarani Mbya veem suas almas

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O Cuidado De Enfermagem Sob A Lógica Do Indígena Entre A População Guarani MBYÁ Da Terra Indígena Ribeirão Silveira (SP)

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como oriundas de uma região de cunho celestial, o que justifica sua característica nômade e uma busca

incansável para a terra que segundo os guaranis, seria uma terra sem males e sem doenças.

Compreender a visão de mundo desses povos se faz fundamental na assistência de saúde, pois

Langdom (2015) e Oliveira (2016) esclarecem que as concepções de um grupo étnico são permeadas

pela cultura, representações e cosmologias. Desta forma, relações com o próprio corpo e

representações de equilíbrio dadas a ele, são oriundas de concepções específicas e historicamente

produzidas, como afirma Oliveira (2016) a seguir sobre o conceito de doença:

Para os indígenas a doença está associada à feitiçaria, maus presságios, influências de espíritos e estas interpretações são historicamente construídas. Os sintomas podem ter significados distintos agregados ao universo simbólico do grupo, e o mal estar do corpo geralmente está associado à sociedade como um todo e por isto não pode ser tratado individualmente. A experiência do corpo é mediada pela cultura. (OLIVEIRA, 2016, p. 142)

Essas percepções devem ser respeitadas e pautadas quando temos uma assistência de saúde

principalmente para que seja efetiva e eficaz. A enfermagem enquanto ciência possui suas bases

teóricas, dentre elas temos a teoria de Madeleine Leininger (1985) apud George (2000) que

apresentou pressupostos em que o cuidado é percebido e ressignificado de forma diferente, de uma

cultura para cultura, porém existem pontos de congruência e esses devem servir de base para a

universalização do cuidado, respeitando o atendimento à saúde a partir de uma observação

transcultural, uma visão holística, valorizando os conceitos como idioma, religião, espiritualidade,

memória, visão política, hábitos cotidianos e demais contextos.

Para Leininger (1985), A enfermagem transcultural atenta para os cuidados a partir do respeito à

diversidade cultural e os conceitos relativos à saúde e doença de cada população atendida. Segundo

a autora apud Gualda e Hoga (1992) o objetivo desta abordagem é:

é desenvolver um corpo de conhecimento científico e humanizado, capaz de possibilitar a prática do cuidado de enfermagem universal e culturalmente específico; afirma, ainda, que o objetivo da enfermagem transcultural vai além da apreciação de culturas diferentes, mas de tomar o conhecimento e a prática profissional culturalmente embasada, conceituada, planejada e operacionalizada.

Leininger (1978) define ainda que sua teoria é:

o conjunto inter-relacionado de conceitos e hipóteses de enfermagem fundamentados nas necessidades culturais de indivíduos e grupos; estes conceitos incluem manifestações de comportamento relativos ao cuidado, crenças e valores, com a finalidade de que seja prestado um

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O Cuidado De Enfermagem Sob A Lógica Do Indígena Entre A População Guarani MBYÁ Da Terra Indígena Ribeirão Silveira (SP)

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cuidado de enfermagem efetivo e satisfatório. Se aqueles que praticam a enfermagem não considerarem os aspectos culturais da necessidade humana, suas ações poderão ser ineficazes, e trazer consequências desfavoráveis para os assistidos.

Desta forma, a enfermagem pode e deve ter um papel fundamental no atendimento aos povos

originários desde que esteja concatenada com as perspectivas culturais de cada grupo étnico

diferenciado.

A PERCEPÇÃO DAS INSEGURANÇAS E OS PROBLEMAS DE SAÚDE NO LOCAL

A Terra Indígena Ribeirão Silveira possui cinco núcleos familiares constituídos com suas respectivas

lideranças e seus respectivos pajés que prestam o cuidado a partir de seus conhecimentos e saberes

tradicionais de cura, baseados em tratamentos por meios de medicamentos confeccionados

artesanalmente com plantas e rituais de pajelança. As articulações políticas internas se debruçam

constantemente ao diagnóstico, planejamento e intervenções de problemas. Vale ressaltar que aldeia

ainda conta com um núcleo subdistrital constituído pelo posto de saúde como mencionamos acima.

O estudo Oliveira (2020), evidencia o Posto como um campo de mediação conflitos políticos locais,

disputas de prioridades, espaço para negociações, palco de ressignificações. Trata-se de um local em

que estão em constante diálogo a intepretação das condutas propostas pela equipe médica e as

traduções dos Guarani Mbyá a partir de suas visões de mundo.

Diante das demandas dos Guarani Mbya observados pela orientadora deste trabalho, decidimos

realizar uma pesquisa sobre as demandas da população, relatadas por suas principais lideranças

políticas e espirituais e criar uma proposta de intervenção que de fato fosse eficaz, e levasse em

consideração a realidade dos guarani, buscando seu protagonismo diante do atendimento à saúde

indígena prestado dos não indígenas.

Desde 2018 até o final do primeiro semestre de 2020 foram organizadas diversas visitas à aldeia,

sempre aos finais de semanas, promovendo conversas com lideranças e membros da comunidade,

tomando conhecimento de suas formas de conceber a saúde, as doenças e registrando suas

dificuldades recorrentes, estados nutricionais para que pudéssemos criar uma proposta de

intervenção que possibilitasse um diálogo mais eficiente e respeitoso entre os agentes das políticas

públicas de atendimento à saúde e os Guarani.

Alguns pontos nos pareceram de suma importância para que possamos refletir sobre as dificuldades

deste diálogo entre indígenas e atendimento oficial de saúde. O Cacique (principal liderança) afirmou

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O Cuidado De Enfermagem Sob A Lógica Do Indígena Entre A População Guarani MBYÁ Da Terra Indígena Ribeirão Silveira (SP)

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que diversos aspectos precisam ser trabalhados dentro da comunidade integrante, que apesar de

contarem com um sistema de saúde que envolve uma equipe multidisciplinar, ele aponta que há uma

demanda de auxílio a partir de uma conscientização dos envolvidos neste trabalho, sobre o

entendimento de saúde que possuem os Guarani Mbyá.

Podemos exemplificar a partir do artigo Oliveira (2020):

Manter o corpo leve demanda práticas alimentares, rituais e o cultivo da tranquilidade e alegria e ainda o petyngua (o caximbo), que em geral é censurado pelos médicos que veem esta prática como uma das causadoras do agravamento das doenças pulmonares. Inúmeros estudos sobre a cultura guarani revelam que o petynguá (cachimbo) está intimamente ligado à construção da pessoa (Testa,2014), aos rituais de cura e à sabedoria dos pajés. A fumaça está ligada à interlocução com as divindades, com a produção de “discursos sábios” e reproduz a formação do mundo por Nhanderu, a principal divindade Guarani, a névoa primordial gerada com a criação do mundo e de todos os seres. A utilização do cachimbo, sua confecção e sua propriedade refletem sociabilidades e subjetividades que constituem a cosmologia Guarani. No entanto, um corpo leve excessivamente pode gerar distúrbios da mente, e estes são encarados pelos médicos como transtornos mentais e são medicalizados, o que lideranças espirituais geralmente condenam por interromper um processo importante de comunicação entre um indivíduo e as divindades.

Estas mesmas interpretações da medicina oficial em relação à práticas culturais Guarani foram

percebidas nos contextos referentes às doenças parasitarias, provenientes da contaminação de

alimentos, e a problemas relativos a nutrição.

As lideranças também apontaram a a necessidade da comunidade ter um bem concreto, algo que

resultasse em um benéfico progressivo e duradouro para a todos os moradores, e que não ficassem

restritos ao atendimento oferecido pela política de saúde pública, mas sim ampliado Organizações

Não Governamentais e universidades, por meio da realização de trabalhos e palestras de prevenção.

Segundo as lideranças, quando estas instituições realizam palestras, todos participam, mas não há um

trabalho de continuidade restringindo ações de maneira pontual e espaçadas.

Uma das demandas mais mencionadas pelas lideranças foi a necessidade de políticas de prevenção as

infecções sexualmente transmissíveis (IST’S), educação sexual e doenças ginecológicas. Os líderes

mencionam que as mulheres têm receio de questionar os médicos e que preferiam ter contato com

médicas e enfermeiras mulheres. Outro ponto importante é que nem sempre as mulheres

compreendem o discurso e as orientações médicas, que segundo os Guarani Mbyá deveriam ser

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O Cuidado De Enfermagem Sob A Lógica Do Indígena Entre A População Guarani MBYÁ Da Terra Indígena Ribeirão Silveira (SP)

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traduzidas para a língua indígena, além disso defendem a urgência no diálogo entre os profissionais

da saúde e as lideranças espirituais para que possam compreender, respeitar e trabalhar a partir do

conhecimento das restrições alimentares e prescrições ligadas ao mundo espiritual.

Segundo o cacique há uma herança assistencialista do SPI que precisa ser transposta. Ele afirma que

“a doença de branco, branco deve curar” e por isto as lideranças devem “lutar por um atendimento

público que respeite suas necessidades, cosmologias e realidades. Para ele, “ficar parados não é bom

para a saúde” , é preciso estar sempre em luta. Afirma ainda que “ se engana quem acha que o índio

é entregue ao ostracismo”, é preciso diálogo e políticas públicas que sejam criadas a partir de

negociações e conhecimento acerca da realidade e visão de mundo dos povos originários.

A falta de atenção tem gerado, segundo as lideranças, casos de depressão ou ainda situações mais

graves como o suicídio visto em outras aldeias. Por isso, “é preciso que os Guarani Mbyá tenham

condições para realizar suas atividades regulares como as mulheres cuidando da alimentação e das

crianças, homens cuidando do solo, realizando danças e jogos esportivos e dessa forma, viver em bem

estar mental e social”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As rodas de conversa realizadas com os Guarani Mbyá da Terra Indígena Ribeirão Silveira

demonstraram que as ações prestadas aos Mbyá no âmbito do atendimento à saúde tem sido em

geral, realizadas de forma verticalizada sem atrelar uma metodologia ativa a essa perspectiva, que

valorize o modo de vida das populações indígenas e seus costumes. É necessário entender que os

povos originários possuem um conhecimento milenar que foi reelaborado historicamente em função

de suas experiências e cosmologias.

O debate acerca dessa medicina tradicional indígena é amplamente discutido e segundo Ferreira

(2013), há bancos de dados nacionais e internacionais, que podem embasar formulações de políticas

públicas, afirma ainda que a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) estimula a regulamentação

e a práxis da medicina tradicional indígena (MTI).

Segundo Oliveira (2020):

No âmbito internacional, instituições como a UNESCO, OIT e ONU reforçaram a necessidade de que os indígenas fortalecessem suas próprias instituições e que a partir delas participassem efetivamente das decisões que envolvam suas comunidades. Em 2007, a ONU elaborou a Declaração das Nações Unidas sobre o Direito dos Povos Indígenas que além de reforçar estes princípios declarou no

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O Cuidado De Enfermagem Sob A Lógica Do Indígena Entre A População Guarani MBYÁ Da Terra Indígena Ribeirão Silveira (SP)

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artigo 19, que o Estado deve consultar os povos indígenas por meio de suas instituições e representantes, e adotar medidas em conjunto “reconhecendo e protegendo o exercício de seus direitos”.

Diante destas perspectivas os profissionais da saúde devem se conscientizar da necessidade do

reconhecimento do cuidado tradicional indígena em seus processos de atendimento. É preciso

reconhecer que há pontos de congruência do cuidado transcultural no que tange aos diagnósticos de

problemas e educação em saúde para os indígenas, e que a assistência de saúde oficializada pelo

Estado deve perceber que há um cuidado pré-existente, elaborado nos moldes dos saberes

tradicionais.

O intuito destas observações e rodas de conversa é que possamos elaborar em uma outra uma

proposta de intervenção que favoreça a continuidade das ações e a participação ativa dos membros

da comunidade, de modo a promover o protagonismo dos indígenas para lidarem com os seus

problemas reconhecendo e alicerçando o cuidado tradicional indígena em congruência com a

enfermagem. A ideia é elaborar cartilhas em conjunto os Guarani Mbyá a partir do diálogo do

conhecimento científico e dos saberes tradicionais, como defende a teoria da congruência

transcultural. Pretendemos criar uma estratégia que faça uma interação da educação em saúde

promovida pelos acadêmicos diálogo com os métodos de vida tradicionais dos Guarani Mbyá. A ideia

é que sejam abordados temas de acordo com a necessidade da população. O material de apoio

pretendido deve oferecer uma linguagem acessível tanto para o indígena, quanto para o profissional

da saúde.

O conteúdo será uma sistematização do que for discutido e mediado pelos indígenas unindo seus

saberes tradicionais aos cuidados de enfermagem. Assim, teremos uma de fato uma proposta para a

efetiva continuidade das ações e que possa motivar o indígena na sua busca por um atendimento à

saúde concatenado aos princípios da enfermagem transcultural indígena (CETI).

Desse modo, conclui se que o Cuidado de Enfermagem Transcultural Indígena (CETI) pode ser descrito

uma prática de grande valia para o atendimento á saúde indígena pois propõe a necessidade de

conhecimento do universo dos povos originários, do diálogo respeitando suas necessidades e visões

de mundo. Esta prática deve valorizar os saberes tradicionais e agregá-los às suas forma de cuidado,

somente assim poderemos avançar para uma proposta que de fato rompa com perspectivas

integracionistas e etnocêntricas e almejar um futuro mais respeitoso, ético e humanizado.

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11

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370

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/211004798

Capítulo 23

EDUCAÇÃO PERMANENTE NO SERVIÇO HOSPITALAR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

ANA PATRICIA DE ALENCAR Centro Universitário Leão Sampaio

Larissa Maria De Oliveira Costa Centro Universitário Leão Sampaio

Amanda Alves Feitosa Faculdade de Juazeiro do Norte

Jackson Gomes Mendonça Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte

Maria Freitas Lima de Farias Pinho Centro Universitário Leão Sampaio

Bárbara Jennifer Bezerra de Oliveira Centro Universitário Leão Sampaio

Fátima Tannara Mariano de Lima Centro Universitário Leão Sampaio

Carlla Sueylla Filgueira Ramalho Souza Centro Universitário Leão Sampaio

Valeska Gomes de Oliveira Centro Universitário Leão Sampaio

Thaisa Xavier Teles dos Santos Faculdade de Juazeiro do Norte

Educação Permanente No Serviço Hospitalar: Um Relato De Experiência

1

INTRODUÇÃO: No ambiente hospitalar a Educação Permanente é primordial para assegurar a prática

profissional, possibilitando a reciclagem de práticas ultrapassadas, a renovação de conhecimentos já

obtidos, bem como, conhecimento de inovações na área da saúde, garantindo dessa forma segurança

tanto para o usuário assistido, quanto para o profissional envolvido, todavia, durante os plantões da

equipe de Residentes Multiprofissionais em Saúde em um Hospital Municipal de pequeno porte, foi

observada a ausência do processo de educação permanente para os funcionários do local, notada

através de relatos dos funcionários, os quais deixaram evidente em suas falas à necessidade e o desejo

pela mesma. A educação permanente no local se apresentou como um desafio para gestão se tratando

de recursos humanos e uma grande lacuna para os profissionais, desencadeando uma inquietação

entre os residentes e justificando dessa maneira a criação e promoção de momentos de educação

permanente pela equipe, de forma a contemplar os profissionais do hospital. OBJETIVO: O presente

trabalho teve como objetivo principal Implantar a Educação Permanente e melhorar a prática

profissional no hospital pesquisado. MÉTODO: Relato de Experiência decorrente da atuação da Equipe

de Residentes em saúde da Família e Comunidade no Município de Porteiras – CE, durante plantões

no Hospital Municipal Manoel Tavares Rosendo, no período de Novembro de 2017 a Agosto de 2018.

Com o intuito de suprir a necessidade de educação permanente na instituição de saúde, foi idealizado

e proposto pelos residentes, à inserção da Educação Permanente no local, após solicitação e aceitação

da direção da instituição, a partir de então, iniciou-se o processo de Educação Permanente no local,

conduzido pelos profissionais residentes, uma vez por mês, ressaltando-se que participam do

momento todos os funcionários plantonistas, exceto os médicos, nos finais de semana nos quais os

Profissionais Residentes se encontram de plantão, sendo um tema por mês, inicialmente para escolha

dos temas, foi realizada uma votação, na qual os próprios funcionários sugeriram e escolheram os

temas nos quais tinham maior carência, o tema pioneiro eleito foi Biossegurança, ressalta-se ainda

que, os momentos educativos aconteciam em regime de rodízio de funcionários, para que o serviço

não fosse prejudicado. RESULTADOS: O presente relato teve como principal resultado a implantação

da Educação Permanente no Hospital Municipal a ser conduzido pelos Residentes em Saúde do

Município. CONCLUSÕES: É notória a necessidade e a importância da educação permanente na saúde,

sobretudo na área hospitalar, proporcionando a atualização e obtenção de conhecimentos, além de

uma prática profissional mais segura e eficiente, fazendo com que o serviço melhore em qualidade.

Diante do exposto a educação permanente desempenha um papel crucial na área da saúde e a sua

realização pelos profissionais residentes no ambiente em questão foi de grande valia, o que deveria

ser um hábito frequente em todas as instituições de saúde.

372

Educação Permanente No Serviço Hospitalar: Um Relato De Experiência

2

Palavras-chave: Educação Permanente; Prática profissional; Residência Multiprofissional.

373

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/211004800

Capítulo 24

A IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO NOS SEIS PRIMEIROS MESES DE VIDA DA

CRIANÇA E ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

Larissa Maria de Oliveira Costa Centro Universitário Leão Sampaio – Unileão

Ana Patricia de Alencar Centro Universitário Leão Sampaio – Unileão

Carlla Sueylla Filgueira Ramalho Souza Centro Universitário Leão Sampaio – Unileão

Ana Patrícia Sampaio Alves Fundação Universidade Pernambucana

Fátima Tannara Mariano de Lima Centro Universitário Leão Sampaio – Unileão

Amanda Tamires Ferreira Araujo Centro Universitário Leão Sampaio – Unileão

Ana Rochele Cruz Sampaio Centro Universitário Leão Sampaio – Unileão

Francisco Aldeci de Franca Sampaio Filho Centro Universitário Leão Sampaio – Unileão

Bárbara Jennifer Bezerra de Oliveira Centro Universitário Leão Sampaio – Unileão

Luciana de Fátima Alexandre Pacifico de Araújo Faculdade do Juazeiro do Norte - FJN

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

1

Resumo: A nutrição da criança começa após o nascimento, e o aleitamento materno é eficaz até os

seis primeiros meses de vida, onde ele isoladamente é capaz de nutrir adequadamente a criança.

Amamentação é um ato natural e fisiológico adequado para o crescimento saudável. O aleitamento

artificial só é recomendado caso a mãe possua alguma patologia que não possa amamentar, nesse

sentido deve ser suspenso em situações que podem causar danos materno e/ou neonatal, como:

câncer de mama que foi tratado ou está em tratamento de antineoplásicos e radioterápicos, mulheres

portadoras do vírus HIV, HTLV1 E HTLV2, já nas condições neonatais são: Galactosemia – totalmente

contraindicado. Fenilcetonúria – necessita de monitoramento. Síndrome da urina de xarope do bordo

(leucinose) – necessita de monitoramento. Esta pesquisa tem como objetivo entender a importância

do aleitamento materno nos seis primeiros meses de vida da criança. Trata-se de uma revisão de

literatura, com intuito de acrescentar no processo de ensino e aprendizagem das mães sobre o

aleitamento materno durante o período de seis meses, trazendo como proposta para o público em

geral informações sobre a amamentação. Este estudo vem a contribuir para as puérperas, familiares,

a sociedade, acadêmicos de enfermagem e profissionais da área de saúde, por meio de orientações

sobre a importância da amamentação e seus benefícios. Está pesquisa torna-se relevante, porque é

favorável para as gestoras conhecer a forma correta da amamentação. Concluímos que os

conhecimentos das mães sobre aleitamento materno ainda são escassos, precisa se aprimora mais o

conhecimento sobre amamentação, proporcionando assim, redução nos índices de morbidade e

mortalidade infantil.

Palavra-chave: Aleitamento materno, amamentação.

375

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

2

1. INTRODUÇÃO

A nutrição da criança começa após o nascimento, o aleitamento materno (AM) e eficaz até os seis

primeiro meses de vida, nutrindo adequadamente a criança, depois dos seis de vida, já começar a

introdução alimentar. O leite materno é dessemelhante do leite artificial, pois o leite humano contém

todas as proteínas necessárias para nutrição da criança. Além disso, contém determinados elementos

que o leite artificial não contém, tais como anticorpos e glóbulos brancos. No entanto que o leite

materno protege a criança de certas enfermidades e infecções. A amamentação consiste em um ato

fisiológico natural mais precisa ser aprendido, embora algumas mulheres não apresentam dificuldade

ao amamentar, outras já não tem tanta destreza, no entanto essas gestoras devem ser orientadas

durante as consultas de pré-natal até o nascimento da criança.

Segundo Costa (2007) a alimentação saudável tem início com o incentivo do aleitamento exclusivo até

os seis meses de vida, após adicionar alimentos complementares nutritivos, complementado com o

leite materno, até, pelo menos a idade de dois anos, com quantidades crescentes de alimentos

complementares e líquidos, pois amplia a disponibilidade de energia e de nutrientes da alimentação,

especialmente proteína, gordura, e a maioria das vitaminas.

De acordo Trindade; Linhares; Araújo (2008) relata que mãe mesmo sabendo que o leite materno é o

alimento ideal para o bebê, sendo de grande importância e fundamental para a saúde e o

desenvolvimento da criança, devido suas propriedades nutricionais, psicológicas, imunológicas, além

de trazer importantes vantagens para as mães, muitas acabam abandonando o ato de amamentar por

não encontrar apoio, no momento em que surge alguma dificuldade, não ter o conhecimento

adequado, por falta de orientações e de tempo. O presente estudo tem uma grande relevância para

as puérperas, familiares, a sociedade e os profissionais da área de saúde, com a finalidade de mostra

os benefícios da amamentação durante os seis primeiros meses de vida.

2. METODOLOGIA

A presente pesquisa tem como proposta uma revisão bibliográfica, uma pesquisa de natureza

descritiva, com abordagem qualitativa, assegurando assim a importância do aleitamento materno nos

seis primeiros meses de vida. Essa pesquisa é caracterizada como revisão bibliográfica assim sendo

por informações e conhecimento publicados sendo de livros, artigos, dissertações e monografias.

(MARQUE; PECCIN, 2005).

376

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

3

“A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,

descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornecem analisar mais detalhada sobre

as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento.” (Marconi; Lakatos, 2010, p.269).

“A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlacionam fatos ou fenômenos variáveis sem

manipulá-los. Busca conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política,

econômica e demais aspectos do comportamento humano.” (Cervo; Bervian, 2002, p. 66).

Foram obtidas informações sobre o determinado assunto. Os dados colhidos foram de artigos

científicos e livros. Sendo da parte cientifica foram usados MARCONI, LAKATOS e CERVO, BERVIAN.

Esses autores foram escolhidos por serem mais complexos e fácil o manuseio pelo pesquisador. Foram

incluídos conteúdo com o ano de publicação considerados recentes, na última década (de 2005 à

2010), sendo nacionais que deram enriquecimento ao tema proposto, com a pesquisa de livros

clássicos, que possuam o ano de edição inferior a data indicada. Foram excluídos que não abordassem

a temática, que possuíam ano de publicação fora dos padrões descritos nos critérios de inclusão.

3. RESULTADOS

3.1 ALEITAMENTO MATERNO

Segundo Brasil (2007) amamentação é um ato natural e fisiológico adequado para o crescimento

saudável da criança. Na fase inicial da vida, o leite humano é indiscutivelmente o alimento essencial

até os seis meses de idade o leite materno é o alimento completo até a idade certa, por que ele contém

vitaminas, minerais, gorduras, açúcares, proteínas, possuem substancias nutritivas e de defesa como

anticorpos, é limpo e pronto é ideal para o bebê, não existe leite fraco. O leite humano da proteção

contra doenças como diarreia que podem causar desidratação e desnutrição, pneumonia, infecções

de ouvido e outras patologias.

De acordo Ramos; Ramos (2007) os conhecimentos das mães sobre questões fundamentais da

amamentação são insuficientes como tempo e hora da mamada, composição do leite, seus benefícios,

uso de chupetas e etc, não permitem o sucesso pleno do aleitamento materno e, consequentemente,

há o desmame. De acordo com autor citado, a amamentação é indiado como fator de proteção contra

cólicas nos primeiros meses de vida, sendo mais frequente em crianças desmamadas, proteção contra

doença infecciosa, e o leite materno promove seu desenvolvimento sensor cognitivo.

377

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

4

Segundo Brasil (2007) sendo a amamentação um ato natural, mais que precisa ser apreendido, não é

toda mãe que consegue amamentar, pois a mãe deve ser orientada a partir do seu pré-natal, as mães

precisam de apoio emocional, e de informações corretas, completas e atualizadas para uma melhor

alimentação e um estilo de vida. Quando o bebê suga adequadamente a mãe produz dois tipos de

substâncias a prolactina que faz os seios produzir o leite e ocitocina que libera o leite e faz o útero se

contrair fazendo diminuir o sangramento, portanto logo após do nascimento é importante colocar a

criança para mamar.

De acordo Bértolo; Levy (2008) a ocitocina é produzida mais rapidamente que a prolactina. Ela faz com

que o leite que já está na mama flua através dos ductos até o mamilo. A ocitocina pode começar a

atuar antes que o bebê sugue, quando a mãe está preparada para amamentar. A prolactina é

produzida a noite, pois quanto mais amamentar a noite maior é a produção de leite, ela também faz

que a mãe sinta relaxada e sonolenta.

De acordo com Brasil (2007) para melhor desenvolvimento e crescimento de uma criança RN, é o leite

materno e principalmente o primeiro leite que sai do peito que é produzido após o parto chamado de

colostro que pode ser claro ou amarelo, grosso ou ralo, que a mãe deve dar de mamar logo após o seu

nascimento, ele é o alimento que defende o bebê de várias doenças, por isso é comparado como uma

vacina. Ele tem o efeito laxativo que vai ajudar o bebê a expulsar as suas primeiras fezes.

De acordo com Cimini (2010) o profissional de saúde além de orientar a paciente sobre a

amamentação, se necessário ensinar a técnica correta da amamentação para a puérpera, é

fundamental o acompanhamento da mãe durante as duas primeiras semanas, pois e nesse período

que se intensificam o processo de produção e descida do leite.

De acordo com o autor citado, são várias as vantagens do AM para o bebê e para a mãe sendo que a

criança vai ter um alimento completo, proteção contra infecções e alergias, sempre pronto e na

temperatura certa, bom pra a dentição, fala e desenvolvimento infantil e aumenta o afeto entre mãe

e filho. As vantagens para mãe evitam o risco de hemorragias, ajuda o útero a voltar o tamanho normal

mais rápido, é um método de planejamento familiar, diminui o risco de câncer de mama e ovário e é

econômico e prático.

3.2 ALEITAMENTO ARTIFICIAL

De acordo com Albuquerque, et al. (2011) o aleitamento artificial exclusivo é quando a criança se

alimentava apenas através do uso de mamadeira contendo leite artificial. O tempo de aleitamento

378

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

5

natural foi considerado exclusivo, ou seja, até quando a criança não fez uso de alimentação

complementar.

Segundo Brasil (2007) o aleitamento artificial não é recomendado antes dos seis meses de idade, o

uso de mamadeiras, chucas, chupetas, bicos intermediários podem desencadear o desmame precoce,

ocasionando maiores risco de contaminação do leite e provocando doenças por objetos maus lavados,

atrapalhar o aleitamento materno por causa da forma de sugar o peito, pois a criança vai se confundir

por causa dos bicos diferentes e passar a mamar errado, pode modificar a fala, a dentição e a

respiração, diminuindo o afeto mãe e filho, gastando mais tempo e dinheiro.

De acordo Assumpção (2005) a amamentação artificial é, sobretudo, indicada em duas situações. Por

um lado, deve-se recorrer a este método quando a mulher se encontra afetada por algum problema

que a impeça ou em que não seja aconselhável a amamentação natural. Os motivos mais frequentes

desta contraindicação são o padecimento, por parte da mãe, de doenças que se poderiam agravar

com a amamentação ou de infecções que poderiam ser transmitidas ao filho, tratamentos com

medicamentos, eliminados através do leite, prejudiciais para o bebê, hipogalactia e alguns processos

infecciosos e complicações nos próprios seios como mastite com abscesso, fissuras e o leite

empedrado.

Segundo Bértolo; Levy (2008) as contra indicações temporárias do AM são mãe com alguma doença

infecciosa como a varicela, e herpes com lesões mamárias, tuberculose não tratada, ou que tenha de

efetuar uma medicação imprescindível. As contra indicação definidas são mães com patologias graves,

crônicas ou debilitando, infectado pelo HIV (vírus da imune deficiência humana), uso de

medicamentos nocivos para os bebês, e bebês com doenças metabólicas como a fenilcetonúria e a

galactosemia.

De acordo Cavalcante; Bezerra; Moura (2007) o desmame precoce é uma complicação do aleitamento

artificial pode levar à ruptura do desenvolvimento motor-oral adequado, provocando alterações na

postura e força dos órgãos, fonoarticulatórios. A falta da sucção fisiológica ao peito pode interferir no

desenvolvimento motor-oral, possibilitando a instalação de má oclusão, respiração oral e alteração

motor-oral. Quando as crianças são alimentadas por mamadeiras, é minimizado o trabalho da

musculatura perioral.

De acordo com Ferelle; et al. (2008) não é recomendado o uso de mamadeiras, sempre que for

necessário usar um copinho para dar alimento a criança, se não for possível aí sim vai utilizar a

379

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

6

mamadeira mais com uso limitada apenas para o uso do leite artificial pelo menos no primeiro ano de

vida, não dando outros líquidos como água, chá, sucos.

3.3 VANTAGENS DO ALEITAMENTO MATERNO

De acordo Bértolo; Levy, (2008) leite materno é um alimento vivo, completo, natural e essencial com

muitas vantagens, adequado para quase todos os recém-nascidos, com algumas exceções.

De acordo Bértolo; Levy (2008) o aleitamento materno tem vantagens tanto para a mãe quanto para

o bebê, o leite materno previne infecções gastrintestinais, respiratórias e urinárias. Tem um efeito

protetor contra alergias, e infecções, o leite materno faz com que os bebês tenham uma melhor

adaptação a outros alimentos. Em longo prazo, podemos referir também a importância do

aleitamento materno na prevenção da diabetes e de linfomas.

De acordo com Cimini (2010) o leite materno vai proporcionar uma boa saúde e um bem estar para a

criança, diminuindo assim o número de internações hospitalares, a incidência de doenças crônicas, vai

melhorar o desenvolvimento neuropsicomotor, proteger contra problema de oclusão dentária,

favorecendo a economia familiar, e a sociedade como um todo, pois a criança vai adoecer menos,

diminuindo gastos com hospitalizações.

Segundo Bértolo; Levy (2008) as vantagens para a mãe do aleitamento materno facilitam o útero a

voltar a seu tamanho mais rápido, pois aumenta as contrações uterinas, e associa-se a uma menor

probabilidade de ter câncer de mama de ovário entre outros. Sobretudo, vai permite que a mãe sinta

o prazer único de amamentar. Além de todas estas vantagens, o leite materno constitui o método mais

barato e seguro de alimentar os bebês e, na maioria das situações, protege as mães de uma nova

gravidez, pois serve como planejamento familiar.

De acordo Cimini (2010) umas das vantagens do leite materno é proporcionar um crescimento e

desenvolvimento adequado a criança, por reunir as características nutricionais adequadas para ela,

além de desenvolver vantagens imunológicas e psicológicas importantes, diminuindo assim a

morbidade e mortalidade infantil.Estima-se que o leite materno pode prevenir de 13% a 15% todas as

mortes abaixo de cinco anos em todo mundo, incluindo redução de 50% das mortes por doenças

respiratórias e 66% daquelas causadas por diarréia (CIMINI, 2010).

380

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

7

3.4 COMPOSIÇÕES DO LEITE MATERNO

De acordo com Brasil (2007) o leite materno supre todas as necessidades durante um período, pois

ele contém vitaminas, minerais, gorduras, açúcares, proteínas, todos apropriados para o organismo

do bebê, possui muitas substâncias nutritivas e de defesa, contra doenças como diarréia que pode

causar desidratação, desnutrição e morte, pneumonias, infecção de ouvido, alergias e muitas outras

doenças, o bebê que mama no peito poderá evacuar toda vez que mamar, ou passar até uma semana

sem evacuar. O leite da mãe é adequado, completo, equilibrado e suficiente para o seu filho. Ele é um

alimento ideal.

De acordo com Conde (2005) o leite materno é constituído principalmente de água, proteínas,

carboidratos, vitaminas, lipídios, íons e os anticorpos (imunoglobulinas). Alguns hormônios são

produzidos durante a gravidez e a amamentação, como a prolactina e a ocitocina.

Segundo Conde (2005) o leite materno além de ser o alimento mais complexo para o bebê, o leite

materno atua como agente imunizador, pois possuem anticorpos para sua proteção, possui

características bioquímicas ideais para o crescimento e desenvolvimento, tem substâncias ideais e

apropriadas para melhor digestibilidade, vai proporcionar uma ausência de fatores alergênicos, e uma

presença de agentes de defesa contra infecções.

O leite materno das mães de prematuros possui uma quantidade de vitaminas (A, D e E), cálcio,

energia, proteínas, lipídios totais, ácidos graxos, nitrogênio, proteínas que atuam no sistema

imunológico, mais alto do que o leite de mães de bebês nascidos a termo. Desta forma, os prematuros

devem preferencialmente receber o leite humano. Mães de bebês prematuros podem apresentar

disfunções psicológicas e emocionais, o que faz com que possa haver dificuldade para iniciar e para

manter o aleitamento (ANDRADE, VIEIRA, e VARGAS; 2008).

De acordo com o autor citado o leite materno é o único alimento energético, nutricional e imunológico

consumido em quantidades suficientes pelos recém-nascidos, que vai lhe trazer grandes benefícios. O

aleitamento materno fortalece a imunidade, mantém o crescimento e desenvolvimento normais,

melhora o processo digestivo no sistema gastrointestinal, favorece o vínculo mãe-filho e facilita o

desenvolvimento emocional, cognitivo e do sistema nervoso, fazendo com que a criança cresça com

mais saúde, disposição e aumentando assim o seu grau de inteligência.

381

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

8

3.5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM PUÉRPERAS

De acordo Gomes, Neves, (2011) com a gravidez é um período de intensas mudanças para a mulher,

com mudanças físicas, psicológicas e hormonais no corpo da gestante para acomodar o feto. Com tais

mudanças, a mulher pode apresentar alterações de sentimentos como dúvidas, insegurança,

fragilidade, ansiedade e também o medo da mudança da imagem corporal e de a criança não ser

saudável, pois podem nascer com alguma sequela ou patologia. Após o diagnóstico de gravidez, a

mulher deve ser orientada a começar o quanto antes o acompanhamento ao pré-natal, no qual tanto

o enfermeiro quanto o profissional médico irão orientar a mulher quanto aos cuidados que ela deverá

tomar durante toda a gravidez, tendo em vista os remédios a serem tomados assim como exames

realizados durante toda a gravidez.

Segundo Barros (2006) tendo em vista que do período gestacional até o pós-parto a mulher passa por

grandes modificações em todo seu organismo e que muitas vezes estas podem provocar algumas

intercorrências clínicas que resultam em danos à saúde e à vida tanto da gestante, como a do feto,

que quanto o feto é que se pretende abordar neste estudo alguns elementos desse saber específicos

necessários ao desenvolvimento de uma assistência fundamentada cientificamente e alicerçada na

assistência e no processo de enfermagem. Neste período a mulher necessita de orientação, apoio

afetivo e atenção, sendo assim a enfermagem são de estrema importância já que estes profissionais

têm preparo técnico e científico para desenvolver todos os cuidados necessários para proporcionar

uma melhor recuperação, prevenção de possíveis complicações e fornecer informações a respeito das

mudanças ocorridas durante esta fase, tendo também o apoio principalmente da família, na fase de

recuperação e adaptação da mulher.

Segundo Soares; Varela, (2007) o período puerperal é o período em que se inicia logo após o parto e

termina quando as modificações locais em gerais determinadas pela gestação no organismo materno

retornam às condições normais. Neste período ocorrem adaptações fisiológicas e comportamentais

complexas nas mulheres caracterizadas pelos fenômenos evolutivos, pelo estabelecimento da

lactação, pela adaptação, avaliação do estado de saúde da mulher (e do recém-nascido) e retorno às

condições.

A gravidez é um período de intensas mudanças para a mulher, com mudanças físicas e hormonais no

corpo da gestante para acomodar o feto. Com tais mudanças, a mulher pode apresentar alterações de

sentimentos como dúvidas, insegurança, fragilidade, ansiedade e também o medo da mudança da

382

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

9

imagem corporal e de a criança não ser saudável. Após o diagnóstico de gravidez, a mulher deve ser

orientada a começar o quanto antes o acompanhamento denominado pré-natal, no qual tanto o

enfermeiro quanto o profissional médico irão orientar a mulher quanto aos cuidados que ela deverá

tomar durante toda a gravidez. (Gomes; Neves, 2011).

De acordo com Barros (2006) as principais mudanças ocorridas no organismo feminino no pós-parto

podem ser listadas de seguinte forma: o útero irá diminuir de volume, a região do períneo ficará

edemaciada e cianosada, o que irá desaparecer até o final do puerpério e as mamas estarão aptas para

amamentar. Neste período é provável que ocorra mudanças psicológicas como medo e depressão,

podendo ocorrer também mudanças na pressão artéria e batimentos cardíacos, normalizando após

alguns dias.

Segundo o autor citado, os cuidados oferecidos à puérpera têm como finalidade analisar a situação de

saúde da mulher e do recém-nascido, no período puerperal os cuidados estão mais voltados para o

recém-nascido. Porém, é importante que a mulher conheça e desenvolva diversas ações de

autocuidado com a finalidade de manter-se saudável e prevenir complicações puerperais, que podem

causar em casos extremos a mortalidade materna. Voltados a mãe tem o intuito de instruir sobre o

planejamento familiar, orientar sobre a importância do aleitamento materno, identificar estados de

intercorrências ou risco à mulher e/ou recém-nascido e que são cuidados com a higiene, é importante

orientar sobre cuidados com as mamas, de odo prevenir fissuras, ingurgitamento mamário e, em casos

mais avançados, a mastite, que são as principais causas de desistência da amamentação.

4. DISCUSSÕES

Para presente pesquisa foi caracterizado como uma revisão bibliográfica, que foram estudados 22

artigos sobre o assunto proposto. Dados foram analisados a partir de inferências e interpretados

conforme as literaturas vigentes, os fatores que interferem no aleitamento materno constituíram o

foco principal deste estudo. Na busca da compreensão de elementos importantes sobre aos

problemas relacionados à amamentação, encontramos as seguintes categorias: Pratica na

amamentação; Fatores que levam ao desmame precoce; O alimento como complemento.

4.1 PRÁTICA NA AMAMENTAÇÃO

De acordo com Grando (2011) amamentar é um ato que se aprende. Muitos fatores podem contribuir

para que a amamentação se torne efetiva ou não. Experiências negativas, o desconhecimento ou ainda

383

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

10

a falta de apoio são alguns desses fatores. Deste modo, é essencial que haja esclarecimentos a respeito

da amamentação e seus benefícios, já que se trata de um momento onde há muitas dúvidas,

preocupações e ansiedade.

Segundo o autor citado, sabe-se que muitas são as dúvidas das mulheres no que diz respeito à

amamentação e seus benefícios. Por isso, é de extrema importância que o profissional que presta

atendimento a esse grupo de pacientes, disponha de informações úteis referentes à amamentação,

bem como dicas para que as mesmas enfrentem o período pós-parto de maneira tranquila para que

possam melhor cuidar de seus bebês.

Segundo Costa, et. al (2010) as mães são conscientes das vantagens do aleitamento materno, seja em

relação à nutrição ou à proteção contra diversas patologias, tendo o leite materno um alimento

completo para o RN. Foram observados sentimentos prazerosos no ato de amamentar o filho e o

posicionamento favorável a essa prática. Não precisando dar nenhum outro alimento até os seis meses

de idade, depois desse período podendo continuar, mais com alimentação complementar.

De acordo com Santana (2013) a pratica de amamentar é importante tanto para a criança como pra

própria mãe trazendo assim vários benefícios sendo eles proteções conta o câncer de mama e atuação

com o método concepcional, porém, para que a mulher utilize a amamentação como contraceptivo e

preciso estar nos seis primeiros meses pós parto, não ter menstruado e amamentar exclusivamente

contribuindo para perda gradual do peso, involução uterina.

De acordo Ramos; Ramos (2007) não se deve generalizar a capacidade de amamentar, sem que antes

se considerem os sentimentos positivos ou negativos vivenciados pelas mães. Quando a mulher é

assistida nas dúvidas e dificuldades, o papel de mãe é assumido com segurança, cabendo aos

enfermeiros a tarefa de garantir uma escuta ativa, ou seja, saber ouvi-la, entendê-la e esclarecê-la

sobre crenças e tabus, de modo a tornar a amamentação um ato de prazer e não o contrário.

4.2 FATORES QUE LEVAM AO DESMAME PRECOCE

Segundo Conde (2005) os fatores determinantes do desmame precoce, notou-se: referência ao choro

e à fome da criança; insuficiência do leite materno; trabalho das mães fora de casa; problemas

relacionados às mamas e recusa ao seio, por parte da criança, como opções para a introdução de

outros alimentos precocemente, ou a má posição na hora da mamada. A composição do leite materno

é ideal para alimentar e nutrir exclusivamente a criança até os 6 meses de vida, sem qualquer outro

alimento, a maioria dos lactentes cresce dentro dos padrões de normalidade e são saudáveis.

384

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

11

De acordo Andrade, Vieira e Vargas (2008) há vários fatores que interferem na amamentação como

posicionamento incorreto da pega da aureola, a eficácia e a frequência da sucção do bebê, horários

fixos, limitação do tempo da mamada, fornecimento de líquidos como água, suco ou chás e uso de

outros leites, causando assim a rejeição do leite materno pela criança.

Segundo Conde (2005) as puérperas relatam quem a rejeição do leite e as manifestações de

insatisfação da criança com o choro frequente põem em dúvida a condição ideal do leite materno.

Fazendo que se perceba que leite materno não está a satisfazendo, associando-os que a composição

e a quantidade do leite são insatisfatórias às necessidades da criança, fazendo com que a mãe

interromper o aleitamento materno ou oferecer outro leite e alimentos.

De acordo Ramos; Ramos (2007) o leite fraco é uma das elaborações sociais utilizadas para explicar o

abandono da amamentação. Nessa perspectiva, mulheres de várias culturas verbalizam o leite fraco

como razão para o desmame. Do ponto de vista biológico, o leite materno é ideal, sendo raras as

intercorrências que impossibilitam a amamentação. Refere-se também como influenciadores na

prática da amamentação o fato de as mães terem que trabalhar fora de casa. As necessidades

familiares e segurança financeira são motivos para o trabalho fora de casa, sendo considerados fatores

de risco para o desmame.

De acordo Bértolo; Levy (2008) o aleitamento materno não deve produzir dor, principal causa da

maioria dos problemas na amamentação, pois interfere no reflexo da ejeção do leite. Em consequência

da criança não conseguir mamar, a mãe revela o sentimento de angustiada, inibindo a ejeção láctea,

podendo conduzir ao fracasso da amamentação. Quando são apresentadas dificuldades do tipo

ingurgitamento mamário, fissuras, problemas com o mamilo e mastite nos primeiros dias, há um risco

maior para o desmame precoce. Os motivos que dificultam a amamentação podem ser preveníveis,

desde que exista a orientação da mulher. Portanto, os enfermeiros devem estar atentos a quaisquer

fatores e ações nas práticas, reforçando o período ideal em oferecer a alimentação complementar.

4.3 ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

Segundo Brasil (2007) sabe-se que os benefícios do leite materno e a amamentação exclusiva sob livre

demanda são determinantes para o crescimento e o desenvolvimento infantil nos primeiros seis meses

de vida. As necessidades nutricionais durante o primeiro ano de vida da criança variam de acordo com

os padrões individuais, sendo que até os 6 meses o leite materno que é essencial para a nutrição

infantil podendo ir até os 2 anos com outros alimentos. Deste modo a alimentação complementar

385

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

12

entende-se qualquer alimento sólido ou líquido, diferente do leite humano oferecido à criança no

segundo semestre de vida. Quando precocemente introduzida, sob o ponto de vista nutricional, pode

ser prejudicial à saúde da criança, agindo como fonte de contaminação, aumentando

substancialmente o risco por diarreia e outras doenças infecciosas. Além disso, a frequência da

amamentação é diminuída e, consequentemente, a criança recebe fatores de proteção e nutrientes

em menores quantidades. (Assumpção; 2005).

Segundo Martins e Haack 2012 após o sexto meses de vida da criança, as necessidades fisiológicas já

não são mais as mesmas com o leite materno, sendo assim a introdução da alimentação

complementar, a partir desse período a criança têm capacidades neurológica e fisiológica a receber

outros alimentos. O alimento complementar vai ser qualquer outro alimento solido ou liquido q não

seja o leite materno. Mas sendo ainda introduzido o leite materno até os dois anos de vida.

De acordo com Barros (2008) a educação alimentar inicia-se nos primeiros meses de vida, quando são

construídos os alicerces dos hábitos alimentares. E a influência mais marcante na formação dos

hábitos alimentares é o produto das interações da criança com a própria mãe. Crenças e tabus

maternos trazem prejuízo às crianças, por limitar o uso de alimentos importantes para o se

crescimento e desenvolvimento, apesar de esses alimentos estarem localmente disponíveis e serem

consumidos por outros membros da família, fazendo assim o uso do alimento complementar mais fácil

e prático para o uso da criança e dos familiares.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O aleitamento materno envolve questões biológicas, psicológicas e imunológicas. Esta prática é

delineada por diversos âmbitos como o social, econômico e cultural. Acredito que as gestoras têm

conhecimento dos benefícios do leite materno para seus filhos e que o correto é amamentá-los

exclusivamente durante os seis meses de vida. Algumas mães vivenciam alguns obstáculos, nos quais

se percebem contradições entre posicionamentos favoráveis e desfavoráveis, dúvidas e dificuldades à

prática do aleitamento materno, buscando a melhorar os seus hábitos pra a melhor amamentação.

Com relação à má interpretação do choro do lactente, relacionando-o a fome, insuficiência do leite

materno, necessidade dessas mães trabalharem fora para ajudar nas despesas de casa, patologias

relacionadas às mamas e a recusa ao seio por parte da criança, constataram como causas principais

referentes à interrupção da amamentação. A falta de orientação e informação, por sua vez, faz com

386

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

13

que essas gestoras introduzam precocemente outros alimentos, interferindo negativamente no

aleitamento materno exclusivo.

A presente pesquisa se explanou numa experiência positiva, pois além de mostrar o grande benefício

do aleitamento materno as mães, este estudo vai contribuir para profissionais da saúde, para os

acadêmicos de enfermagem e para os população em geral.

Está pesquisa torna-se relevante, porque, é favorável para puérperas conhecer a forma correta da

amamentação.

Nós, profissionais de saúde, desempenhamos um papel de extrema relevância na assistência à mulher-

mãe-nutriz. Dessa maneira, estaremos cumprindo com o nosso papel de profissional de saúde e de

cidadão, ao contribuir o direito da criança de ser amamentada, conforme o estatuto da criança e do

adolescente, passando todas as orientações necessárias para um bom desenvolvimento.

Isso representa que as equipes de saúde, principalmente o enfermeiro, busquem razões em caso de

insucesso da amamentação, refletindo sobre o que poderia ser feito para reverter ou então melhorar

a situação, garantindo esclarecimentos às mães, inclusive sobre crenças e tabus.

Nesse sentido, sugerimos a atuação do profissional de saúde na assistência, ultrapassando as

fronteiras do biológico, compreendendo a nutriz nas dimensões, engajando-se na realização de

educação em saúde, mostrando as mães os benefícios do leite para criança, visando a potencializar o

desempenho da amamentação a fim de promover os vínculos afetivos entre o binômio mãe-filho.

387

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

14

6. REFERÊNCIAS

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388

A Importância Do Aleitamento Materno Nos Seis Primeiros Meses De Vida Da Criança E Alimentação Complementar

15

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389

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/211004802

Capítulo 25

DIMENSÕES REPRESENTACIONAIS DA QUALIDADE DE VIDA DE PESSOAS VIVENDO

COM HIV EM UMA ANÁLISE ESTRUTURAL

Denize Cristina de Oliveira Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Juliana Pereira Domingues Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Renata Lacerda Marques Stefaisk Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Sergio Corrêa Marques Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Rodrigo Leite Hipólito Universidade Federal Fluminense

Thelma Spindola Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Tadeu Lessa da Costa Universidade Federal do Rio de Janeiro

Yndira Yta Machado Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Danielle Pinheiro Elias Silva Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

1

Resumo:

Objetivo: analisar as representações sociais da qualidade de vida de pessoas vivendo com HIV/aids na

cidade do Rio de Janeiro. Método: estudo descritivo, exploratório, com abordagem qualitativa,

fundamentado na Teoria das Representações Sociais, utilizando a abordagem estrutural. Foi

desenvolvido em três Serviços de Assistência Especializada em HIV/aids localizados no município do

Rio de Janeiro. Participaram 180 pessoas vivendo com HIV em acompanhamento terapêutico nos SAE.

Foram aplicados questionários socioeconômico e de coleta de Evocações Livres de Palavras ao termo

indutor “qualidade de vida”. A análise dos dados foi realizada através da construção do quadro de

quatro casas, sendo instrumentalizada pelo software EVOC 2005. Resultados: na análise da estrutura

da representação da qualidade de vida identificou-se, no possível núcleo central, os elementos

positivos boa, boa-alimentação, cuidados-saúde e saúde, que sugerem que a qualidade de vida das

pessoas vivendo com HIV está associada a alimentação adequada, a qual está inserida no contexto dos

cuidados de saúde, indicando a preocupação dos entrevistados com a própria saúde. Conclusão: As

representações sociais da qualidade de vida estão pautadas na adoção de cuidados de saúde

relacionados ao cuidado de si próprio e à promoção da saúde.

Descritores: Qualidade de Vida; HIV; Representações Sociais.

391

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

2

INTRODUÇÃO

A infecção causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) ultrapassa o contexto biológico e

atinge a qualidade de vida (QV) das pessoas vivendo com HIV. A infecção causada pelo HIV acomete

aproximadamente 37,6 milhões de pessoas no mundo e é responsável pela Síndrome da

Imunodeficiência Adquirida (AIDS), doença crônica que ultrapassa o contexto biológico e atinge as

relações sociais, a saúde mental, os aspectos econômicos e a qualidade de vida.1,2

No Brasil, foram registrados 1.011.617 casos de aids desde 1980 até junho de 2020, destes 664.721

(65,7%) foram casos em homens e 346.791 (34,3%) em mulheres. Em relação aos casos de infecção

pelo HIV, no período de 2007 a 2019, foram notificados no Sinan 237.551 (69,4%) casos em homens e

104.824 (30,6%) casos em mulheres. Segundo a categoria de exposição, neste mesmo período, entre

os homens, verificou-se que 51,6% dos casos foram devido à exposição homossexual ou bissexual e

31,3% heterossexual, e 1,9% foram entre usuários de drogas injetáveis (UDI). Entre as mulheres, 86,6%

dos casos se inserem na categoria de exposição heterossexual e 1,3% na de UDI3

A aids é geradora crônica de stress e viver com essa patologia representa o enfrentamento de diversas

situações, tais como rompimento nas relações afetivas e sociais, ser alvo de exclusão e estigma, entre

outras. Dessa maneira, a manutenção da saúde física e mental passa a ser profundamente impactada,

dentre outros fatores em decorrência dos transtornos psicológicos advindos do diagnóstico, além da

ocorrência de impactos psicossociais importantes. Tais aspectos concorrem para o comprometimento

da saúde física e mental, do bem-estar e, também, da QV.4-5

A partir de 1996, com a política pública brasileira de acesso universal à terapia antirretroviral (TARV),

houve redução da morbidade e da mortalidade pelo HIV aumentando a sobrevida e conferindo à

doença um caráter crônico6. A partir de 2013 foi instituído o início imediato da TARV para todas as

pessoas vivendo com HIV, após a confirmação do diagnóstico, independentemente da contagem de

CD4.7 Esta medida teve como consequências a melhora da QV das pessoas diagnosticadas e a redução

da probabilidade de transmissão do vírus.8

Para a Organização Mundial da Saúde, a QV é considerada como “a percepção do indivíduo sobre a

sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores em que se encontra inserido e em

relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito de amplo espectro,

que incorpora de modo complexo a saúde física, o estado psicológico, o nível de independência e as

392

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

3

relações sociais das pessoas, bem como suas interfaces com importantes características de seu

meio”.9:43

A QV está relacionada ao cotidiano das pessoas, considerando a subjetividade expressa na percepção

e expectativa sobre a vida, além das questões relacionadas às atitudes frente a enfermidades e

doenças,10 apoiando-se na compreensão das necessidades humanas essenciais, espirituais, materiais

e, principalmente, na promoção da saúde.5

Atualmente, a maior preocupação das pessoas vivendo com HIV é aumentar ou melhorar a QV, não

relacionada apenas à eficácia de tratamentos que prolonguem a vida11, mas também influenciada

pelas esferas pessoais e sociais que promovem o isolamento social e a baixa autoestima prejudicando

as relações interpessoais. Além disso, a promoção da qualidade de vida exige mudanças no estilo de

vida, para melhor adequação do tratamento com as rotinas do cotidiano.12

Nesse sentido, nos últimos anos, o interesse no desenvolvimento de pesquisas para avaliar a QV dos

indivíduos com HIV/aids, embasado nas necessidades humanas, vem crescendo, visto que estas são

afetadas pelo caráter crônico da doença, prolongando-se desde os resultados clínico-laboratoriais até

as dimensões socioculturais e bioéticas. 13

Assim, é essencial a compreensão da QV das pessoas vivendo com HIV, visto que a aids é uma infecção

crônica, com possibilidade de tratamento e maior sobrevida, estigmatizada, transmissível e incurável,

que gera diversas consequências biopsicossociais que impactam na QV.14

O construto da QV tem um potencial importante de contribuição para a compreensão e

desenvolvimento das práticas de cuidados em saúde para as pessoas vivendo com HIV e, ao mesmo

tempo, para o planejamento de políticas públicas nesta área.15 Assim, é importante acentuar que no

acompanhamento clínico e físico desse grupo, a avaliação da QV deve ser realizada, pois os

profissionais precisam considerar os fatores que afetam a QV desse grupo par ao planejamento das

ações de intervenção.16 A identificação dos fatores da QV que podem ser modificados é fundamental

para a tomada de decisão em saúde, para a efetivação de estratégias de cuidado de saúde e para a

otimização do uso dos recursos provenientes dos serviços de saúde, com o objetivo de melhorar o

bem-estar das pessoas vivendo com HIV.17

Por sua vez, consideradas como modalidades de representação, as necessidades de saúde e a própria

qualidade de vida, implicam em um processo simbólico que permite ressignificar o real. Uma das

definições de representação social afirma que se refere a “[...] um conjunto de conceitos, proposições

393

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

4

e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. [...] são o

equivalente, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem

também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum”18:181 O autor sublinha a função

de conhecimento construído das representações sociais e sua aproximação ao senso comum e às

experiências vivenciais e social.

Para a compreensão da qualidade de vida e do processo de cuidar em saúde é necessário “reconhecer

a maneira como os agentes definem os contornos e a dimensão das demandas por cuidar na mediação

sociedade e saúde, despertando nos sujeitos e nos profissionais de saúde a consciência de sua

responsabilidade dentro dessa totalidade, possibilitando o acesso ao espaço das representações, dos

significados, de novas possibilidades de interação interpessoais e de reconhecimento do mundo19:615

A partir do exposto, este estudo tem como objetivo analisar as representações sociais da qualidade

de vida de pessoas vivendo com HIV/aids na cidade do Rio de Janeiro.

Este estudo faz parte do projeto integrado intitulado: “Qualidade de vida e construções simbólicas de

pessoas que vivem com HIV/aids no Rio de Janeiro”, sendo relevante devido ao impacto da pandemia

do HIV/aids na QV das pessoas vivendo com HIV, nos diferentes contextos sociais, influenciado pelas

transformações das características da doença ao longo dos anos.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, com abordagem qualitativa, fundamentado na Teoria

das Representações Sociais, utilizando a abordagem estrutural. Foi realizado em três Serviços de

Atendimento Especializado em HIV/aids (SAE), localizados em três Centros Municipais de Saúde

situados no município do Rio de Janeiro.

Participaram 180 pessoas vivendo com HIV, sendo 60 de cada serviço. A coleta de dados ocorreu em

2016 com a autoaplicação do instrumento de coleta de dados socioeconômicos e clínicos pelos

participantes e a aplicação pela pesquisadora do formulário de coleta de evocações livres ao termo

indutor “qualidade de vida”. As análises dos dados socioeconômicos e clínicos e da estrutura da

representação da QV foram realizadas, respectivamente, através de estatística descritiva, com o

auxílio dos softwares Excel e SPSS; e com a técnica de análise prototípica, com o apoio do software

EVOC.

Os critérios de inclusão dos participantes foram: estar em acompanhamento terapêutico nos SAE´S

participantes do estudo; estar no SAE no momento da coleta de dados aguardando consulta,

394

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

5

informações ou exames, durante o período de coleta de dados; ter idade maior ou igual a 18 anos;

estar em condições mentais que viabilizassem a participação no estudo e ter sorologia positiva para

HIV.

A análise da estrutura da representação da QV a partir das evocações livres foi realizada com o auxílio

do software EVOC (Ensemble de Programmes Permettant L’analyse des Evocations) – versão 2005 que

resultou na construção do quadro de quatro casas a partir da frequência e da ordem dos termos

evocados20. Para isso, foram respeitados os seguintes passos: todas as evocações foram digitadas da

maneira e na ordem em que foram evocadas, em formato Word. Após essa etapa, foi realizada a

correção ortográfica das palavras e dos termos evocados, reduzindo-os ao núcleo da frase para serem

processados pelo software. Em seguida, realizou-se a padronização das palavras e dos termos

evocados, garantindo a manutenção do sentido final expresso por eles e que, simultaneamente,

pudessem ser identificados pelo software como sinônimos. Ao final, foi elaborado um dicionário de

padronização das evocações, com a finalidade de manter o conteúdo semântico expresso pelos

sujeitos reduzindo sua dispersão. Assim, obteve-se, então, um corpus referente ao termo indutor que

foi processado pelo software. Em seguida, a partir do cruzamento da frequência e da ordem das

evocações, foi gerado o quadro de quatro casas, formado por quatro quadrantes, que expressa os

conteúdos e a estrutura das representações sociais acerca de um determinado objeto20-21.

Assim, o quadrante superior esquerdo é formado pelos elementos do provável núcleo central da

representação, que são os elementos com menor valor de ordem média de evocação e os elementos

com frequência maior ou igual à frequência média estabelecida pelo pesquisador. O quadrante

superior direito (primeira periferia) é formado pelos elementos periféricos mais importantes e com

altas frequências, podendo ser, eventualmente, centrais na representação. Já o quadrante inferior

direito (segunda periferia) engloba os elementos menos frequentes e menos importantes, pois é

constituído por elementos evocados mais tardiamente, porém com papel predominante na relação da

da representação com as práticas do cotidiano. O quadrante inferior esquerdo engloba elementos

pouco evocados, ou seja, com baixa frequência, mas considerados importantes para os participantes

pela ordem de evocação, constituindo, assim, uma zona de contraste que pode indicar a existência de

um subgrupo que mantém uma representação diferente do grupo geral analisado ou, ainda,

elementos que reforçam as cognições presentes na periferia ou no núcleo central. 20-21

Os participantes foram convidados a participar da pesquisa de forma voluntária, conforme a presença

no SAE e a disponibilidade dos mesmos, sendo respeitados os aspectos éticos e legais conforme a

395

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

6

Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, com parecer nº 1.441.788.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A caracterização sociodemográfica e clínica dos participantes revelou que houve um predomínio do

sexo masculino, abrangendo 147 (81,7%) indivíduos, e apenas 33 (18,3%) mulheres. A faixa etária

predominante foi de 30-39 anos correspondendo a 51 (28,3%) participantes. Quanto à escolaridade,

80 (44%) relataram possuir ensino médio completo ou superior incompleto. No que diz respeito ao

estado marital, 91 (50,6%) não tinham namorado ou companheiro fixo e 107 (59,5%) indivíduos

moravam com a família. No que concerne à renda pessoal em reais, esta se concentrou na faixa entre

R$ 1.000,00 – 3.000,00 abarcando 85 (47,2%) participantes. Ao mesmo tempo, majoritariamente, 129

(71,7%) indivíduos revelaram que estavam empregados ou trabalhando.

Quanto a caracterização clínica e de práticas de saúde, 90 (50%) participantes afirmaram ser

homossexuais. Em relação ao estágio atual da infecção, 169 (93,9%) participantes declararam estar

sem sintomas. Quanto ao uso de TARV, quase a totalidade declarou que fazia uso de medicação o que

corresponde a 171 (95%) participantes. Em relação à avaliação da própria saúde, 84 (46,7%)

entrevistados consideraram sua saúde como boa, assim como 98 (54,4%) indivíduos avaliaram sua QV

como boa.

O resultado da análise das evocações livres, o software utilizado no tratamento dos dados identificou

no corpus 802 palavras ou expressões evocadas, sendo 137 diferentes. Para processar o conteúdo foi

necessário previamente estabelecer: a frequência mínima de palavras, sendo definida em 14, havendo

a exclusão dos termos que foram evocados abaixo desta frequência; cálculo da frequência média de

evocação, que correspondeu a 29. A partir dessas frequências o programa calculou a média das ordens

médias de evocação (OME), que correspondeu a 2,83, sendo ajustada para 2,8.

A partir dos parâmetros definidos e com o apoio do software EVOC, foi elaborado o Quadro de Quatro

Casas apresentado no Quadro 1:

396

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

7

Quadro 1 - Quadro de Quatro Casas ao termo indutor qualidade de vida para pessoas vivendo com

HIV. Rio de Janeiro, 2016. (n=180)

Os elementos que constituem o provável núcleo central da representação, definidos como os mais

importantes pelo seu papel de estruturadores da mesma, foram: boa, boa-alimentação, cuidados-

saúde e saúde. Todos expressam significados positivos, sendo boa uma dimensão avaliativa relativa à

QV, boa-alimentação uma dimensão físico-corporal, e cuidados-saúde e saúde uma dimensão do

cuidado de saúde. Essas dimensões organizam termos diferentes que expressam uma mesma noção

da QV.

O termo mais frequente, ou seja, o mais evocado pelos participantes, foi boa-alimentação,

apresentando frequência 55. Concomitantemente, foi o termo que apresentou a maior ordem média

de evocação (OME), que foi 2,655, indicando que foi o elemento mais tardiamente evocado entre os

demais que compõem o núcleo central. A presença deste termo no provável núcleo central da

representação social da QV reflete a importância dada pelos participantes a uma alimentação

adequada e saudável para a promoção da saúde, e, consequentemente, para a manutenção da própria

saúde. Nesse sentido, a alimentação é considerada como parte do autocuidado de saúde, sendo um

elemento definidor da QV dos participantes.

O elemento mais prontamente evocado, ou seja, lembrado primeiramente com mais espontaneidade

pelos participantes, foi boa, apresentando, portanto, a menor OME que foi 1,722. Tal termo expressa

uma dimensão atitudinal positiva da QV pelos participantes. O termo saúde apresentou frequência 49,

destacando-se como o segundo mais importante para os participantes, indicando que a saúde é um

2,8 2,8

Freq

Med

Termo evocado Freq O.M.E. Termo evocado Freq O.M.E.

29

boa-alimentação

saúde

boa

cuidados-saúde

55

49

36

32

2,655

2,531

1,722

2,375

atividade-física

lazer

60

39

3,050

3,128

29

Trabalho

viver-bem

medicações

vida-normal

tratamento

26

25

23

18

17

2,385

2,240

2,174

2,500

2,588

alegria

família

dormir-bem

prevenção

solidariedade

22

22

15

14

14

3,273

3,091

3,867

3,429

3,429

397

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

8

elemento fundamental para a preservação da QV, sendo esta avaliada como boa e manifestada pelas

condições de saúde e pelos aspectos que a cercam, como bem-estar e ausência de sintomas e doenças

oportunistas.

A expressão cuidados-saúde apresenta elevada frequência e a segunda menor OME (2,375). A

presença desta palavra no possível núcleo central parece demonstrar a conscientização dos

entrevistados quanto à importância do autocuidado no cotidiano das pessoas vivendo com HIV,

indicando ainda que o cuidado de saúde é essencial para a obtenção da QV.

Diante do exposto, observa-se que o conjunto de termos constitutivo do possível núcleo central estão

sugerem que a construção psicossocial da QV das pessoas vivendo com HIV é considerada positiva e

está associada a uma alimentação adequada, a qual está inserida no contexto do autocuidado e do

cuidado de saúde, indicando a preocupação dos entrevistados com a própria saúde.

Os trechos das entrevistas abaixo exemplificam tal proposição:

“Se a gente quiser dar espaço à doença, é só não se alimentar bem, não tomar os remédios [...]. A qualidade de vida, quando vem na minha cabeça, é: você ter uma condição para você ter uma boa alimentação [...] se você se alimenta bem, você vai ter uma boa qualidade de vida. Você vai estar imune às doenças aí, que possa surgir. É isso, é ter o meio de sustento para você, uma boa alimentação”. (Ent 014; Sexo masculino; Idade 42; tempo TARV 7 anos).

“Agora já faz alguns anos, eu vivo melhor. Mas eu procuro ter muito mais cuidados com a saúde e presto mais atenção do que antes. Antes eu não tinha tantos cuidados com a saúde”. (Ent 66; Sexo masculino; Idade 37; tempo TARV 4 anos).

Em síntese, no possível núcleo central da representação social da QV encontram-se conteúdos

representacionais relativos à avaliação positiva, a alimentação, aos cuidados de saúde e à saúde. Tais

elementos se colocam como condições para uma boa QV, e consistem na realização de cuidados de

saúde, com destaque para uma alimentação saudável, que contribui para a manutenção de um estado

de saúde equilibrado. Isso fica evidente nos resultados do presente estudo, uma vez que a maioria das

pessoas vivendo com HIV avaliaram a própria QV e a saúde de maneira positiva, como boa e muito

boa, conforme pontuado na caracterização do grupo estudado.

O núcleo central é formado por elementos normativos e funcionais,23 assim, considera-se que os

conteúdos boa alimentação e cuidados de saúde são funcionais, uma vez que apresentam uma

finalidade operatória, relacionados às práticas sociais. Os elementos boa e saúde são normativos, visto

que estão relacionados ao sistema de valores do grupo social estudado, estabelecendo as tomadas de

posição e o julgamento frente um objeto.

398

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

9

No que se refere ao elemento atitudinal presente no núcleo central, a QV é associada a uma avaliação

positiva, mesmo em presença do vírus e da doença. Essa avaliação perpassa todos os elementos

representacionais, permitindo afirmar tratar-se de uma representação positiva. A avaliação positiva

da QV pelas pessoas vivendo com HIV também é corroborada em estudos desta temática.11,24

No que se refere a alimentação, a adoção de uma alimentação equilibrada e saudável é considerada

um cuidado de si, que contribui para a promoção da saúde e para a prevenção de doenças,

favorecendo a melhoria da QV.25 Nesse contexto, uma alimentação saudável contribui para melhorar

a QV das pessoas vivendo com HIV, devido ao estímulo para o aumento dos linfócitos T CD4, melhora

da absorção intestinal, diminuindo os agravos decorrentes da diarreia e, também, da síndrome da

lipodistrofia. Além disso, a preocupação com a alimentação é importante devido à interação dos

antirretrovirais (ARV) com alguns alimentos, exigindo recomendações específicas que devem ser

seguidas.26

Tal resultado é semelhante ao encontrado em outro estudo27 em relação à presença do termo boa-

alimentação no possível núcleo central, e, também, à maior frequência no quadrante superior

esquerdo.

O cuidado de saúde em situação de adoecimento reflete, simultaneamente, o cuidado com a doença,

ou as estratégias necessárias para evitar o agravamento da doença, e o autocuidado para a

manutenção da saúde. Dessa forma, o cuidado de saúde é compreendido como um conjunto de

conhecimentos e de atitudes que levam a mudanças de hábitos de vida implicando em melhoria de

sua saúde, daí a sua forte associação à QV.

Acerca desse aspecto, um estudo sobre a QV de pessoas vivendo com HIV28 observou que o cuidado

de saúde está relacionado ao cuidar da alimentação, visto que uma alimentação saudável incide

diretamente no tratamento, sendo essencial para os indivíduos terem ou melhorarem a sua QV. Além

disso, foi destacado que os clientes se preocupam com hábitos de vida mais saudáveis, através de

mudanças de comportamentos, atitudes e estilo de vida, associado à utilização adequada dos ARV

visando viver melhor com o vírus.

É no próprio ato de cuidar que pode residir a cura, como é o caso da aids. Na ausência de alguma

enfermidade e no cotidiano dos seres humanos, o cuidado humano também é imprescindível, tanto

como uma forma de viver como de se relacionar.29

399

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

10

Compondo o sistema periférico (primeira e segunda periferias), encontram-se os seguintes elementos:

primeira periferia - atividade-física, lazer; segunda periferia - alegria, família, dormir-bem, prevenção

e solidariedade. Todos os elementos possuem significados positivos, reforçando a atitude positiva

evidenciada no núcleo central frente a QV. Os elementos atividade-física e dormir-bem expressam

uma dimensão do cuidado físico-corporal, os elementos lazer e alegria uma dimensão do cuidado de

si, o elemento prevenção uma dimensão do cuidado preventivo e o elemento solidariedade e família

uma dimensão relacional e de cuidado do outro.

Avaliando-se a primeira periferia, o termo atividade-física destaca-se pela alta frequência (60) em

relação aos demais do sistema periférico, apresentando a frequência mais elevada de todos os

quadrantes. Os termos atividade-física e lazer são os mais importantes do sistema periférico, sendo

que o contexto semântico do lazer inclui atividades como viagens, ir à praia, ao teatro e ao cinema.

Além disso, ambos reforçam os elementos presentes no quadrante superior esquerdo, pois além de

serem positivos, estão relacionados aos cuidados de saúde no contexto das ações de promoção da

saúde.

Na segunda periferia os elementos com maior destaque foram alegria e família devido às maiores

frequências e às menores OME deste quadrante. Tais elementos estão direcionados para o cuidado

afetivo e relacional de si, vinculados à satisfação das necessidades individuais relacionadas com o

repouso, o sono, as atividades físicas e de lazer, bem como as relações afetivas provenientes do

convívio social, com amigos, familiares e colegas de trabalho.22

Os termos solidariedade e prevenção foram os elementos com as menores frequências de todo o

quadro de quatro casas da representação social em tela, sendo menos expressivos. O termo

solidariedade indica a preocupação dos entrevistados com o próximo em uma visão coletiva e de

empatia com o sofrimento do outro, além de expressar a necessidade de empatia para enfrentar a

doença. Já o termo prevenção sugere, além da preocupação de não transmitir o HIV ao parceiro, a

preocupação com si próprio, a fim de evitar doenças oportunistas. O termo família indica a

importância do suporte social e relacional familiar como elemento facilitador no cotidiano das pessoas

que vivem com HIV/Aids frente as dificuldades colocadas pela doença. O termo dormir-bem tem a

maior OME de todo o quadro de quatro casas, indicando que foi o elemento mais tardiamente evocado

pelos participantes, ou seja, o menos importante. Este elemento expressa uma necessidade fisiológica,

sendo um cuidado físico-corporal que contribui para a promoção do bem-estar e, consequentemente,

para uma boa QV.

400

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

11

Observa-se que no sistema periférico da representação social analisada as práticas e hábitos de

promoção da saúde são destacados como definidores da QV. Essas práticas são, num primeiro grupo,

a atividade física, o lazer, dormir bem, alegria, como estratégias de busca de um corpo e de uma mente

saudáveis. Em um segundo grupo destacam-se a família e a solidariedade enquanto estratégias de

inserção social e preditoras de melhor QV proporcionando bem-estar psicológico.30

Assim, os trechos das entrevistas abaixo abarcam os conteúdos presentes no sistema periférico

focados, principalmente, no cuidado de si:

“eu adoro dormir, não tira meu sono a doença, eu malho, eu corro, eu ando de skate, eu vou à praia, eu fico exposto ao sol , eu bebo, eu fumo, eu jogo peteca. [...] Eu procuro dormir oito horas por dia ou mais porque eu adoro dormir”. (Ent 127; Sexo masculino; Idade 55; tempo TARV 23).

“Qualidade de vida é alegria, poder trabalhar, poder andar, poder sorrir, morar bem, não na rua, não jogado, não passar fome, ter uma estrutura de vida”. (Ent 019; Sexo feminino; Idade50; tempoTARV 6).

A atividade física, o lazer, dormir bem e a alegria no contexto da aids, são percebidas como práticas

que promovem benefícios para o estado clínico geral, para a capacidade funcional e para a aptidão

física relacionada à saúde, como a melhora da força e da resistência muscular, assim como sobre

diversos aspectos psicológicos, como a diminuição da depressão e da ansiedade. Além disso, servem

de estímulos para adquirir hábitos de vida saudáveis.31 Tal assertiva é condizente com os resultados

obtidos em estudo sobre nível de atividade física em pessoas vivendo com HIV32 os quais evidenciaram

que os indivíduos ativos, ou seja, que realizavam atividade física, apresentaram maiores escores nos

domínios da QV das pessoas vivendo com HIV do que os indivíduos que tinham uma vida sedentária.

Por sua vez, a família, a solidariedade e o trabalho expressam os suportes sociais e morais para uma

boa QV. O trabalho representa um alicerce na vida dos indivíduos, sendo uma razão para a própria

existência, pois, através deste os indivíduos sentem-se produtivos perante a sociedade. Nesse sentido,

em dois estudos27-30,27 o elemento trabalho apareceu no provável núcleo central da representação

social da QV.

Os elementos presentes na zona de contraste são termos com baixa frequência e baixa OME, ou seja,

aqueles menos mencionados e mais prontamente evocados pelos participantes, portanto,

considerados importantes para os poucos que os evocaram. São eles: trabalho, viver-bem,

medicações, vida-normal e tratamento. Considerando os elementos presentes nos demais

quadrantes, os termos trabalho, medicações, tratamento e vida-normal expressam conteúdos

representacionais distintos, não destacados na estrutura representacional do grupo geral.

401

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

12

Os elementos trabalho e vida-normal apontam para a regularidade da vida, mesmo em presença do

HIV e da aids, podendo apontar para um processo de naturalização do vírus e da doença. O termo

trabalho foi o mais expressivo da zona de contraste, devido à maior frequência entre os elementos

deste quadrante, apontando para a importância da atividade produtiva e inserção social para a

obtenção de uma QV satisfatória.

Os termos medicações e tratamento, por sua vez, expressam o destaque do cuidado clínico-biomédico

para a manutenção da QV das pessoas vivendo com HIV. O termo medicações foi o mais prontamente

evocado deste quadrante, apresentando OME de 2,174, sendo a segunda menor OME de todo o

quadro de quatro casas. A baixa OME desse elemento indica a importância dada pelos sujeitos que o

evocaram ao processo de tratamento medicamentoso. Tal espontaneidade reflete que as medicações

estão inseridas no cotidiano dessas pessoas vivendo com HIV, fazendo parte da vida diária, de tal modo

que participam das condições necessárias para uma boa QV, colocando-se como um elemento central

para sub-grupo de sujeitos participantes do estudo.

Nesse contexto, pode-se propor a existência de uma representação alternativa para um subgrupo do

grupo geral analisado. Em contrapartida, a posição relativa dos termos tratamento e medicações indica

a baixa importância do enfrentamento da doença para os sujeitos. Isso parece sugerir que o termo

medicações está mais presente na linguagem cotidiana dos participantes, visto que é direcionado ao

uso da TARV, sendo essencial para a manutenção da saúde das pessoas vivendo com HIV,

relacionando-se diretamente à boa QV destas. Já o termo tratamento parece ser um elemento

secundário para os participantes na dimensão do cuidado medicamentoso.

Destacam-se os extratos das entrevistas abaixo com elementos da zona de contraste:

“Nada mudou, tudo igual. Minha vida normal, tudo igual, trabalho, minha autoestima sempre lá em cima, isso não me abala em nada, não vejo isso como um problema pra prosseguir a vida. [...] não usar droga, não ficar bebendo bebida alcoólica, ter qualidade de vida, tomar a medicação certinha. [...] Existe dois caminhos, ou você toma a medicação pra ter a qualidade de vida e viver por longo tempo, ou você acelera sua morte, não toma nada e pronto, você está assinando seu atestado de óbito”. (Ent 012; Sexo masculino; Idade 49; tempoTARV 16).

“Estou há mais de 20 anos com o vírus do HIV, hoje eu nem lembro às vezes que eu tenho o vírus do HIV, eu só lembro porque eu tenho que tomar o remédio todos os dias, de manhã e à noite, mas eu tenho uma vida normal como qualquer outra pessoa. [...] Eu trabalho, limpo casa, varro o quintal, subo em árvore, malho, nado, vou à praia, bebo, fumo”. (Ent 127; Sexo masculino; Idade 55; tempoTARV 23).

402

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

13

Na zona de contraste podem ser encontrados os conteúdos representacionais dissonantes da

representação analisada, ou seja, aqueles que expressam diferenças com o núcleo central dominante

na representação analisada, demonstrando a existência de um subgrupo com possível representação

distinta do grupo geral.23

Como traço geral da representação analisada, a condição de viver bem e de ter uma vida normal

expressam a naturalização do cotidiano das pessoas vivendo com HIV, mesmo em presença do HIV e,

eventualmente, da aids, sendo ambas condições necessárias para a promoção da QV. Esse resultado

apresenta semelhança com outro estudo24 no qual a expressão viver bem aponta para a valorização

da própria vida, após a descoberta do diagnóstico positivo para o HIV, já que antes não tinham a

preocupação com cuidados de saúde para a manutenção da vida. Com isso, passaram a valorizar os

hábitos de vida saudáveis, como uma alimentação adequada e a prática de atividades físicas. Essas

práticas devem possibilitar um viver melhor do que antes do diagnóstico, permitindo o

aproveitamento dos momentos de vida com qualidade, valorizando a saúde e o bem-estar.

E, finalmente, a prevenção, o tratamento e as medicações se apresentam como estratégias clínicas de

enfrentamento do HIV/aids, sendo a prevenção a estratégia principal para o controle da transmissão

das IST'/aids, podendo ser observada tanto em práticas individuais e coletivas, quanto em práticas

institucionais. A prevenção na perspectiva institucional deve priorizar informações permanentes

dirigidas a população em geral, por meio de atividades educativas que objetivem, tanto mudanças das

práticas sexuais, quanto a adoção de medidas que enfatizem a utilização adequada de preservativo.33

No Brasil, desde o início das políticas relativas à aids, a camisinha vem sendo a principal aposta no

campo da prevenção.34

O acesso ao tratamento e o controle clínico trouxeram benefícios e esperança de vida as pessoas, num

contexto de uma patologia com impacto social importante.35 Conforme a avaliação dos participantes,

o tratamento inclui consultas e acompanhamento médico, exames, o uso regular e contínuo das

medicações, a prevenção em relação ao sexo seguro com o uso de preservativos, e a prevenção em

relação às doenças oportunistas. As medicações expressam um cuidado de saúde necessário para a

sobrevivência e para uma melhor QV das pessoas vivendo com HIV. Os medicamentos antirretrovirais

são vistos como estratégia para suscitar a esperança de sobrevivência e de retorno à vida. O uso do

medicamento gera concepções ambivalentes, ora representados como uma tortura, ora como a real

possibilidade de obtenção de melhores resultados e da melhoria da vida. O papel do serviço de saúde,

403

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

14

principalmente pela capacidade de diálogo e de negociação, é extremamente importante na

superação das dificuldades relacionadas ao tratamento.36

A representação social da QV, portanto, é estruturada por significados que expressam práticas de

promoção da saúde, voltadas ao cuidado físico-corporal, ao cuidado medicamentoso e ao cuidado

psicossocial e relacional, ampliando a percepção da qualidade dominante na literatura, em uma

perspectiva multidimensional.

CONCLUSÃO

A construção psicossocial da QV das pessoas vivendo com HIV é considerada positiva e está associada

a uma alimentação adequada e a prática de atividade física, ambas inseridas no contexto do cuidado

de saúde, focado na promoção da saúde. No contexto das implicações para a enfermagem, destaca-

se que o conhecimento das representações sociais desse grupo possibilita ao enfermeiro o

entendimento do pensamento social desses indivíduos, implicando em novas estratégias de cuidado

e contribuindo para a melhoria da QV.

O HIV/aids é uma doença que, ao longo de quase 40 anos de epidemia, passou a se configurar como

uma doença crônica. A possibilidade de tratamento, a partir de 1996 com a distribuição gratuita da

TARV para todas as pessoas vivendo com HIV, causou um impacto de grande relevância nos

indicadores de saúde no Brasil, diminuindo a taxa de mortalidade, aumentando a sobrevida e

propiciando melhora da QV das pessoas que vivem com HIV/aids.

Nesse cenário, a aproximação e a melhor compreensão das representações sociais da QV desse grupo

colocam-se como objeto de estudo relevante para a área da saúde, uma vez sua potencialidade de

contribuir para os cuidados de saúde e de enfermagem direcionados às pessoas vivendo com HIV,

através da identificação das necessidades de saúde.

Nessa perspectiva, a representação social da QV de pessoas vivendo com HIV consiste na realização

de cuidados de saúde direcionados, sobretudo para a promoção da saúde, especialmente a

manutenção de uma alimentação saudável e a prática de atividade física. Acredita-se que o fato de a

maioria dos participantes declararem a ausência de sintomas em relação ao estágio atual da doença

influencia na representação construída da QV, já que a ausência de sintomas pode representar a

ausência da doença, além de permitir a realização das atividades cotidianas, propiciando bem-estar.

404

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

15

A saúde é um bem inestimável e de caráter valorativo para o grupo estudado, haja vista que é uma

condição de vida que os integrantes perderam e que, ao mesmo tempo, precisam recuperar e manter

sob controle para continuarem vivendo.

405

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

16

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408

Dimensões Representacionais Da Qualidade De Vida De Pessoas Vivendo Com HIV Em Uma Análise Estrutural

19

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409

Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/211004803

Capítulo 26

BIOLOGIA MOLECULAR: PREVALÊNCIA DE HPV DE BAIXO E ALTO RISCO PELA TÉCNICA DE PCR.

Geovana Neves Magagne Centro Universitário do Sul de Minas

Franciane Pereira Barros Alves Centro Universitário do Sul de Minas

Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

1

Resumo: O PapilomaVírus humano (HPV) engloba mais de 200 tipos virais diferentes, podendo

acarretar a formação de verrugas na pele e nas regiões oral, anal, genital e da uretra. Esses vírus foram

identificados por meio de análises de sequências de DNA. Cerca de 40 tipos de HPV infectam o trato

genital, e pelo menos 20 estão associados ao câncer de colo de útero. Os HPVs são classificados de

acordo com seu potencial oncogênico, o HPV 6,11,42 são considerados de baixo risco, ou seja, lesões

benignas, já o HPVs 16,18,31,33 são de alto risco, associados ao câncer cervical. Para ter a confirmação

da infecção pelo HPV é necessário fazer o exame através da reação em cadeia da polimerase (PCR).

Contudo, é de suma importância a prevenção de HPV através de exames citológicos, exames

moleculares, como também por vacina em adolescentes, podendo assim, evitar o risco de infecção e

até mesmo o câncer.

Palavras-chave: Câncer cervical. Infecção. Papiloma vírus. Vírus

411

Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

2

INTRODUÇÃO

Este trabalho está pautado em uma revisão integrativa de literatura, que tem como objetivo pensar a

prevalência do papilomavírus humano (HPV) de baixo e alto risco pela técnica de Reação de Polimerase

em Cadeia (PCR).

A finalidade é que o mesmo se torne um material de apoio para novas pesquisas, além de proporcionar

informação, instigar questionamentos e esclarecer dúvidas perante a temática.

O papilomavírus humano (HPV) tem uma relação com o desenvolvimento de câncer de colo do útero,

importante causa de morte de mulheres, entretanto o exame molecular (PCR) permite detectar

grande variedade de genótipos de HPV.

Diante disso, é essencial responder como e o porque o teste molecular (PCR) é de suma importância

no diagnóstico de HPV.

Indica-se que os exames moleculares apresentam alta sensibilidade e vem sendo muito utilizado no

rastreamento do câncer cervical nos casos de citologias com resultados indeterminados, além da

avaliação dos tipos de HPV de alto risco.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Ministério da Saúde, 75% das brasileiras

sexualmente ativas entrarão em contato com o HPV ao longo da vida, sendo que o ápice da

transmissão do vírus ocorre na faixa dos 25 anos.

Como importante infecção sexualmente transmissível em todo o mundo, o vírus HPV atinge de forma

massiva as mulheres, sendo que o câncer do colo do útero é causado por infecção sexualmente

adquirida com certos tipos de HPV.

Grande parte da população não tem recurso financeiro para fazer o exame molecular, que é de suma

importância para classificar o tipo de HPV que contém, mas por se tratar de um diagnóstico de grande

importância social, mesmo o Sistema Único de Saúde (SUS) não disponibilizando, este exame vem se

tornando bastante importante, pois consegue verificar se o vírus já iniciou a ação de bloqueio do

sistema de defesa, indicando, assim, se há maior chance de ocorrência de alguns tipos de câncer.

2 HPV - PAPILOMAVÍRUS HUMANO

O HPV (papilomavírus humano), nome de um grupo de vírus que engloba mais de duzentos tipos

diferentes, pode acarretar a formação de verrugas na pele e nas regiões oral (lábios, boca, cordas

vocais etc.), anal, genital e da uretra (VARELLA, 2011).

412

Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

3

O vírus HPV pode infectar as células do epitélio basal da pele ou dos tecidos e são divididos como

cutâneos ou mucos (MUGER, 2002). Os cutâneos são epidermotrópicos e infectam principalmente a

pele das mãos e dos pés e se manifestam formando as verrugas. O tipo mucoso infecta o revestimento

da boca, garganta, trato respiratório ou epitélio ano-genital e manifesta-se através de condilomas

planos e acuminados (BURD, 2003).

A maior parte das infecções por HPV são benignas e elas desaparecem espontaneamente dentro de

1 a 5 anos (BURD, 2003).

O HPV tornou-se um problema de saúde pública na década de 80 diante do reconhecimento de sua

associação com o câncer de colo uterino (NAGAKAWA et al., 2010) – o segundo tumor mais comum e

a quarta causa de morte por câncer na população feminina do Brasil (FRIGATO; HOGA, 2003).

Mais de 200 tipos de HPV foram identificados por meio de análises das sequências de DNA. Os

diferentes tipos virais variam no seu tropismo tecidual, nas associações com diferentes lesões e no seu

potencial oncogênico (MUNOZ, 2005).

Cerca de 40 tipos de HPV infectam o trato genital, e destes pelo menos 20 estão associados ao câncer

de colo do útero (SILVA, 2006). Os HPVs são classificados de acordo com seu potencial oncogênico,

HPVs 6, 11, 42, 43 e 44 são considerados de baixo risco quando associados a lesões benignas, enquanto

HPVs 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 66, 68 e 70 são de alto risco quando associados ao

câncer cervical (BOSCH, 2004).

Os papilomavírus humanos (HPV) são vírus pertencentes à família Papovaviridae, constituídos por uma

única molécula de ácido desoxirribonucleico (DNA) circular duplo, contendo aproximadamente 7.900

pares de base (BURD, 2009).

O genoma do HPV é organizado em três regiões: região precoce (E), região tardia (L) e região

reguladora (URR). Os genes L1 e L2 codificam as proteínas do capsídeo viral e os genes E codificam as

proteínas envolvidas na replicação viral e na transformação celular. Os genes E1 e E2 estão envolvidos

na replicação viral. Os genes E5, E6 e E7 codificam proteínas responsáveis pela transformação celular

(STOLER, 2003).

A Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (2002), em um estudo mostrou

que o risco de mulher desenvolver o câncer de colo uterino aumenta 19 vezes quando a mesma é

infectada pelo HPV.

413

Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

4

Segundo o Instituto Nacional de Câncer -INCA (2008) A prevalência do HPV na população é alta. As

estimativas globais indicam que aproximadamente 20% dos indivíduos estão infectados por algum tipo

de HPV. A expectativa é que 75% a 80% da população será infectada durante sua vida. Um aumento

nesses números tem sido observado desde 1960, como consequência da prática do uso de

contraceptivos orais.

A transmissão do HPV dá-se nas formas sexual, por contato e pela via materno fetal (gravidez, intra e

periparto) (QUEIROZ et al., 2007). O HPV acomete homens e mulheres afetando tanto a região genital

como a extragenital. A infecção pode manifestar-se nas formas clínica, subclínica e latente (CARVALHO

et al., 2007).

A forma mais prevalente da infecção, entre as mulheres, é subclínica e clínica, e mais de 90,0% das

infecções regridem espontaneamente (EINSTEIN et al., 2009). Fatores como estado imunológico,

tabagismo, herança genética, hábitos sexuais e uso prolongado do contraceptivo oral contribuem para

a persistência da infecção e a progressão para lesões intraepiteliais (CASTELLSAGUÉ, 2008).

O diagnóstico molecular da infecção pelo HPV é importante para a triagem do vírus e baseia-se,

principalmente, em métodos como: captura híbrida (CH), southern blot, hibridização in situ,

hibridização em fase sólida (microarrays) e reação em cadeia da polimerase (PCR) (RAMA, 2006).

O exame citopatológico é o principal método utilizado para a detecção do câncer do colo uterino e das

lesões precursoras. É indicado na rotina como um método de triagem (screening) para diagnosticar

neoplasia intra-epitelial ou câncer invasivo associado. Este exame não detecta o vírus HPV, mas as

alterações celulares causadas pelo HPV (WRIGHT, 2005).

2.1 HPV DE ALTO E BAIXO RISCO

As alterações citológicas no epitélio escamoso, segundo Bethesda (2001), são classificadas como LSIL

(lesão intraepitelial escamosa de baixo grau), HSIL (lesão intraepitelial escamosa de alto grau), ASC-US

(células escamosas atípicas de significado indeterminado), ASC-H (células escamosas atípicas, não é

possível excluir HSIL), e carcinoma de células escamosas (SOLOMON, 2008).

A PCR (reação em cadeia da polimerase) é um teste de alta sensibilidade, utilizado, principalmente,

em pesquisas para comprovar a existência ou não do DNA do HPV (NONNENMACHER, 2003).

A reação de PCR consiste na amplificação do DNA viral (HPV) utilizando-se, como iniciadores (primers),

sequências conservadas da região L do HPV. E, nas amostras com DNA detectado, possibilita a

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Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

5

identificação do genótipo do HPV por meio da amplificação de regiões específicas para cada um dos

vírus de alto ou baixo grau, geralmente sequências dos genes E6 e E7 dos subtipos de HPV (TANG,

2002).

A pesquisa do DNA do Papilomavírus, utilizada em associação à citologia, é considerada muito eficaz,

principalmente para o diagnóstico precoce, uma vez que é possível fazer acompanhamento clínico

e/ou terapêutico para o seguimento das pacientes que apresentam DNA de HPV de alto grau, e evitar

a evolução para o câncer.

A captura híbrida é um método de amplificação de sinal que usa sondas de RNA marcadas para

hibridização ao DNA-alvo do HPV (TANG, 2003). A segunda geração desta técnica, a versão captura

híbrida II, está sendo utilizada nos laboratórios de diagnóstico, em complemento à citologia. Este

método detecta o DNA viral em materiais cérvico-vaginais, por meio de sondas de RNA capazes de

reconhecer sequências de HPV de baixo e de alto risco (BURD, 2002).

Os tipos de HPV de baixo risco são testados como sonda A e os tipos de HPV de alto risco são testados

como sonda B. Estas sondas não distinguem os tipos de HPV dentro destes grupos. A sensibilidade

desta técnica é comparável à da PCR, em particular para detectar lesões de alto grau. Este método é

útil para determinar a carga viral (PARASKEVAIDIS, 2007).

2.2 CÂNCER DE COLO DE ÚTERO

O câncer de colo uterino é uma das doenças que mais afetas as mulheres no Brasil, desse modo, pensar

tal patologia, exige pensarmos também as políticas de integrais de atenção à saúde da mulher.

Quando se pensa a saúde da mulher, além de doenças, existe também a violência, que é responsável

por grande número de mortes entre as mesmas. No entanto, neste momento, nos deteremos a

destacar as doenças que com maior frequência as atingem. De acordo com o Ministério da Saúde.

As mulheres são a maioria da população brasileira (50,77%) e as principais usuárias do Sistema Único

de Saúde (SUS). Frequentam os serviços de saúde para o seu próprio atendimento, mas, sobretudo,

acompanhando crianças e outros familiares, pessoas idosas, com deficiência, vizinhos, amigos. São

também cuidadoras, não só das crianças ou outros membros da família, mas também de pessoas da

vizinhança e da comunidade. A situação de saúde envolve diversos aspectos da vida, como a relação

com o meio ambiente, o lazer, a alimentação e as condições de trabalho, moradia e renda. No caso

das mulheres, os problemas são agravados pela discriminação nas relações de trabalho e a sobrecarga

com as responsabilidades com o trabalho doméstico. Outras variáveis como raça, etnia e situação de

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Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

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pobreza realçam ainda mais as desigualdades. As mulheres vivem mais do que os homens, porém

adoecem mais frequentemente.

A vulnerabilidade feminina frente a certas doenças e causas de morte está mais relacionada com a

situação de discriminação na sociedade do que com fatores biológicos. Os indicadores epidemiológicos

do Brasil mostram uma realidade na qual convivem doenças dos países desenvolvidos

(cardiovasculares e crônico-degenerativas) com aquelas típicas do mundo subdesenvolvido

(mortalidade materna e desnutrição). Os padrões de morbimortalidade encontrados nas mulheres

revelam também essa mistura de doenças, que seguem as diferenças de desenvolvimento regional e

de classe social. (Ministério da Saúde).

Como indicado acima, as mulheres formam a maior parte da população brasileira, e a maioria das

vezes, são responsáveis pela saúde de outras pessoas, sendo que frequentam o atendimento de saúde

pública com frequência, mas procurando atendimento para filhos, pais e até mesmo o parceiro,

esquecendo por vezes do cuidado com si próprio.

Diante disso, as doenças com maior incidência em mulheres no Brasil são a AIDS, doenças do aparelho

circulatório, neoplasias, câncer de mama e câncer uterino, além de acidentes e violências.

Isso demonstra a necessidade de medidas que visem a proteção, informação e o acolhimento das

mulheres em nível nacional, e estes são alguns dos objetivos das políticas públicas integrais a mulher.

Excetuando-se o câncer de pele não melanoma, é o terceiro tumor maligno mais frequente na

população feminina (atrás do câncer de mama e do colorretal), e a quarta causa de morte de mulheres

por câncer no Brasil. Diante disso, indica-se que:

O câncer do colo do útero, também chamado de câncer cervical, é causado pela infecção persistente

por alguns tipos do Papilomavírus Humano - HPV (chamados de tipos oncogênicos). A infecção genital

por esse vírus é muito frequente e na maioria das vezes não causa doença. Em alguns casos, ocorrem

alterações celulares que podem evoluir para o câncer. Essas alterações são descobertas facilmente no

exame preventivo (conhecido também como Papanicolau), e são curáveis na quase totalidade dos

casos. Por isso, é importante a realização periódica do exame preventivo. (Ministério da Saúde).

As indicações acima, destacam o processo de infecção por alguns tipos de Papilomavírus humano, e a

partir disso, indicam também a necessidade de que as mulheres façam com frequência o exame

Papanicolau, visto que o câncer uterino é curável em grande parte dos casos, mas para que isso

aconteça é necessário que o diagnóstico não seja tardio.

416

Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

7

Salienta-se que existem fatores que aumentam o risco do desenvolvimento do câncer uterino, são eles

a prática sexual com múltiplos parceiros, o tabagismo e o uso prolongado de pílulas anticoncepcionais.

Assim, como existem fatores que aumentam o risco do desenvolvimento do câncer uterino, existem

também formas de prevenção, de acordo com as informações presentes no site do Ministério

Brasileiro de Saúde

A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à diminuição do risco de contágio

pelo Papilomavírus Humano (HPV). A transmissão da infecção ocorre por via sexual, presumidamente

por meio de abrasões (desgaste por atrito ou fricção) microscópicas na mucosa ou na pele da região

peri vaginal. Consequentemente, o uso de preservativos (camisinha masculina ou feminina) durante a

relação sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV, que também pode ocorrer

pelo contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal. Podendo ressaltar também

a vacinação contra o HPV, onde o Ministério da Saúde implementou no calendário vacinal, em 2014,

a vacina tetravalente contra o HPV para meninas de 9 a 13 anos. A partir de 2017, o Ministério

estendeu a vacina para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Essa vacina protege contra

os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois primeiros causam verrugas genitais e os dois últimos são

responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero.

A vacinação e a realização do exame preventivo (Papanicolau) se complementam como ações de

prevenção desse tipo de câncer. Mesmo as mulheres vacinadas, quando alcançarem a idade

preconizada (a partir dos 25 anos), deverão fazer o exame preventivo periodicamente, pois a vacina

não protege contra todos os tipos oncogênicos do HPV. Para mulheres com imunossupressão

(diminuição de resposta imunológica), vivendo com HIV/Aids, transplantadas e portadoras de

cânceres, a vacina é indicada até 45 anos de idade. (Ministério Da Saúde).

Uma das formas mais efetivas de prevenção do câncer do colo de útero é uso de preservativos em

todas as relações sexuais, mesmo que a mulher tenha relações somente com um parceiro.

Destaca-se que além de prevenir o desenvolvimento do câncer, o uso de preservativos protege ambos

os parceiros de diversas outras doenças sexualmente transmissíveis.

Além disso, a vacinação contra o câncer uterino, disponível para meninas a partir dos 9 anos, é outro

método seguro e eficaz de proteção e vem sendo praticada desde o ano de 2017.

Mulheres que tem a imunidade comprometida devido a outras patologias, devem se vacinar contra o

câncer do colo uterino até os 45 anos de idade.

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Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

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Assim, o uso de preservativo e a vacinação constituem-se em formas válidas e significativas no qual se

refere a prevenção de uma doença que tira a vida de muitas mulheres, que por vezes por falta de

informação tornam-se resistente a tais métodos e até mesmo resistem a consultas médicas periódicas

que poderiam ser a chave para a cura do mesmo.

O câncer do colo uterino é uma doença de desenvolvimento lento, porém ao longo do tempo é

possível perceber alguns sintomas que lhe são característicos.

Ainda que possa não apresentar sintomas em fase inicial, nos casos mais avançados, pode evoluir para

sangramento vaginal intermitente (que vai e volta) ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal

e dor abdominal associada a queixas urinárias ou intestinais. (Ministério da Saúde). Por isso, é de suma

importância que ele seja detectado precocemente.

A detecção precoce do câncer é uma estratégia para encontrar um tumor numa fase inicial e, assim,

possibilitar maior chance de tratamento. Ela pode ser feita por meio da investigação com exames

clínicos, laboratoriais ou radiológicos, de pessoas com sinais e sintomas sugestivos da doença

(diagnóstico precoce), ou com o uso de exames periódicos em pessoas sem sinais ou sintomas

(rastreamento) pertencentes a grupos com maior chance de ter a doença. Existe uma fase pré-clínica

(sem sintomas) do câncer do colo do útero, em que a detecção de lesões precursoras (que antecedem

o aparecimento da doença) pode ser feita através do exame preventivo (Papanicolau).

Quando diagnosticado na fase inicial, as chances de cura do câncer cervical são de 100%. A doença é

silenciosa em seu início e sinais e sintomas como sangramento vaginal, corrimento e dor aparecem

em fases mais avançadas da doença. Já o exame preventivo do câncer do colo do útero (Papanicolau)

é a principal estratégia para detectar lesões precursoras e fazer o diagnóstico precoce da doença. O

exame pode ser feito em postos ou unidades de saúde da rede pública e sua realização periódica

permite reduzir a ocorrência e a mortalidade pela doença. É um exame simples e rápido, podendo, no

máximo, causar um pequeno desconforto.

Devido à longa evolução da doença, o exame pode ser realizado a cada três anos. Para maior

segurança do diagnóstico, os dois primeiros exames devem ser anuais. Se os resultados estiverem

normais, sua repetição só será necessária após três anos.

Como explicitado acima, quando descoberto em sua fase inicial, as chances de cura do câncer de colo

uterino são de 100%. Por isso é tão importante que o exame preventivo seja feito seguindo as

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Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

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indicações de temporariedade e faixa etária expostas acima. Frisamos que o exame preventivo é

disponibilizado pelo SUS Sistema Único de Saúde.

Descoberto o câncer uterino, o tratamento o tratamento para cada caso deve ser avaliado e orientado

por um médico. Entre os tratamentos para o câncer do colo do útero estão a cirurgia, a quimioterapia

e a radioterapia. (Ministério da Saúde)

O tipo de tratamento dependerá do estadiamento (estágio de evolução) da doença, tamanho do

tumor e fatores pessoais, como idade da paciente e desejo de ter filhos. Se confirmada a presença de

lesão precursora, ela poderá ser tratada a nível ambulatorial, por meio de uma eletro-cirurgia.

(Ministério da Saúde).

3 BIOLOGIA MOLECULAR

Os exames de Biologia Molecular, tem se firmado como um importante aliado no mapeamento

genético, existem três tipos de testes moleculares, tais como a captura híbrida, hibridização “in situ”

e a técnica de PCR.

Esses exames estão alcançando espaço crescente nas especialidades médicas, oferecendo ampla gama

de exames que auxiliam a prever, predizer, triar, diagnosticar e no prognóstico de diversas doenças.

Por sua rapidez e eficácia, esse exame tem sido cada vez mais procurado por médicos e pacientes que

buscam garantir o melhor cuidado com a saúde. Os testes moleculares têm sido utilizados como uma

das opções de mapear doenças de natureza genética, tal como o câncer; na triagem pré-natal ou Teste

Pré-Natal Não Invasivo (NIPT) que detecta, além do sexo do bebê, possíveis alterações cromossômicas

e as trissomias mais comuns nos bebês. Outra aplicação é no diagnóstico e prognóstico de doenças

infecciosas e mais recentemente na medicina de precisão, fruto da análise individualizada e que vem

contribuindo para tratamentos personalizados e mais eficazes para diversas patologias. A demanda

por tais exames se dá pela precisão, sensibilidade e especificidade de seus resultados, quando

comparados aos exames laboratoriais convencionais.

O diagnóstico molecular pode ser utilizado para diversos objetivos, tais como, identificação de doenças

hematológicas, identificação de mutações relacionadas à leucemia, característica da Leucemia

Mieloide Crônica (LMC); Alterações moleculares que indiquem a ocorrência de câncer, como o de

mama, o de pulmão, colo de útero e o colorretal; Nas doenças genéticas raras, cardiovasculares.

Determinação do sexo do bebê através do exame de sangue. Identificação e diagnóstico de doenças

infecciosas, tais como hepatites, HIV e outras; Identificação de infecções respiratórias e identificação

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Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

10

de agentes, como Influenza A, B e C, Coronavírus, Parainfluenza ou Metapneumovírus. Na medicina

personalizada em testes genéticos como Intolerância à lactose e ao glúten.

As técnicas moleculares também são utilizadas para avaliar as respostas aos tratamentos oferecidos,

principalmente em pacientes com câncer, sendo um dos métodos mais eficazes para a indicação de

evolução ou remissão da doença. (DB Molecular).

São várias as tecnologias utilizadas para a detecção do HPV, as quais incluem os imunoensaios e os

testes moleculares. As técnicas moleculares contribuem para o diagnóstico de patologias substituindo

os métodos indiretos de detecção (pesquisa de anticorpos específicos) ou até mesmo os diretos como

o cultivo e isolamento de microrganismos, (que apresentam baixa sensibilidade e longos períodos para

sua proliferação in vitro (CARVALHO, et al.,).

A técnica denominada PCR, é executada inteiramente in vitro sem o uso de células, possibilitando a

síntese de fragmentos de DNA, no qual usa a enzima Taq DNA polimerase. Onde um par de

oligonucleotídeos (iniciadores) se liga ao DNA alvo, a enzima Taq DNA polimerase sintetiza uma

sequência complementar de DNA, a partir da extremidade 3’ OH livre do primer. Os iniciadores

definem em que sequência deverá ser replicada e o resultado obtido é a amplificação de uma

determinada sequência de DNA com bilhões de cópias (NOVAIS, et al.,).

O ensaio da PCR é uma técnica utilizada em testes clínicos para detecção de alterações genéticas ou

infecções por diferentes agentes etiológicos (KOMPALIC-CRIST et.al.,), podendo ser considerada a mais

sensível na identificação do DNA do HPV .

Entretanto o exame de PCR tem a possibilidade de detectar e identificar o material genômico dos

HPVs, o que permite saber se o vírus é de alto ou baixo risco oncogênico. Assim, o diagnóstico por esse

exame representa um complemento bastante importante aos diagnósticos cito-histopatológicos e

colposcópicos .

Atualmente existem várias modificações da técnica de PCR convencional, sendo as principais a PCR em

Tempo Real ou Q-PCR (PCR quantitativa), RT-PCR (PCR por Transcrição Reversa, para se amplificar

amostras de RNA) e a PCR Multiplex, a qual pode ser aplicada para a amplificação de vários na mesma

reação.

Existe também a possibilidade de fazer a captura híbrida através do exame histopatológico, onde será

feito a biópsia e analisará o tipo de HPV através do bloco de parafina, podendo assim ter melhor

avaliação e diagnóstico.

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Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

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Como destacado acima, os exames de Biologia Molecular são dotados de eficácia, segurança e rapidez,

sendo a exame de PCR a mais sensível.

Eles possibilitam o mapeamento genético, além de serem utilizados para detectar qual tipo de HPV o

paciente poderá ter, se será de alto ou baixo risco.

As tecnologias empregadas vão desde uma simples reação em cadeia da polimerase (PCR), até o

sequenciamento de nova geração (NGS).

Os apontamentos acima destacam a significância dos exames moleculares. Explicitam também, a

necessidade de investimentos pesados na área da saúde, educação e tecnologia para melhor avaliação

e diagnóstico.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar a prevalência do papilomavírus humano (HPV) de baixo e alto risco pela técnica de Reação de

Polimerase em Cadeia (PCR), exige uma avaliação os meandros pelos quais se fazem diversos ramos

sociais. A medicina, como também, área científica, química, tecnológica, faz refletirmos pelos quais se

fazem a sociedade atual.

De acordo com vários estudos, mulheres com infecção cervical por HPV podem desenvolver neoplasia,

assim torna-se importante a precocidade diagnóstica, Desse modo, é preciso também pensar que

patologias que podem ser 100% curadas, como o câncer de colo uterino, por vezes fazem vítimas, pois

as mesmas não tem acesso à informação, pois vivem em condições extremas de vulnerabilidade social,

e por vezes deixam o cuidado com a saúde em último plano, não por escolha, mas por necessidade.

Para diminuir os índices de mortalidade em ambos é necessário que os programas de saúde estejam

voltados para a atenção primaria, é necessário trabalhar as bases da saúde pública em nível nacional

e nesse sentido também, valorizar o trabalho dos profissionais da saúde que tem papel fundamental

no tratamento e prevenção das doenças envolvidas nesse trabalho.

421

Biologia Molecular: Prevalência De HPV De Baixo E Alto Risco Pela Técnica De PCR.

12

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ciências da Saúde: uma abordagem holística

10.37423/211004808

Capítulo 27

O PAPEL DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA NA OBESIDADE INFANTIL

Maxlânio Azevedo Borges Universidade José do Rosário Vellano

Milka Azevedo Borges Faculdade de Medicina do Vale do Aço

O Papel Da Equipe De Saúde Da Família Na Obesidade Infantil

1

Introdução: A obesidade é uma doença crônica, multifatorial, caracterizada pelo acúmulo de tecido

adiposo. Trata-se de um problema de saúde pública, com implicações na promoção da saúde física,

social e emocional das crianças e potenciais efeitos adversos na vida adulta. Devido ao aumento de

sua incidência, estudos aprofundados têm sido feitos acerca do assunto a fim de promover a saúde

desta população.

Objetivos: Apresentar o tema Obesidade Infantil às mães e cuidadoras de crianças que apresentam

obesidade na área de abrangência do Centro de Saúde São Bernardo.

Metodologia ou Descrição da Experiência: Foram identificadas pela ACS e pelo médico da

comunidade crianças acima do peso, para participar da oficina de intervenção que será realizada no

Centro Recreativo da área de abrangência do centro de saúde São Bernardo.

Os alunos foram distribuídos da seguinte maneira: 1º Grupo: Responsável pelos adultos e dinâmica

dividida em dois momentos: 1) Dinâmica de introdução: Alimentação saudável X não saudável 2) Tema

principal e fechamento: Importância da alimentação saudável e da prática de exercícios físicos. 2º

grupo: Elaborou um livro com modelos de receitas fáceis, baratas, gostosas e nutritivas. 3º grupo:

Confeccionou e entregou convites à população escolhida para participarem do evento.

Resultados: Compareceram à Oficina duas crianças acompanhadas de cuidadores. Após medição dos

dados antropométricos observou-se valores de IMC entre 29 e 31, sendo classificadas como sobrepeso

e obesidade. As crianças envolveram nas brincadeiras e relataram que não as praticava, já que

passavam a maior parte do tempo brincando com videogames. Foram distribuídos brindes e as

crianças entusiasmadas garantiram que agora poderiam se divertir e emagrecer brincando. Na

dinâmica realizada com os cuidadores, eles se mostraram preparados acertando quais alimentos eram

saudáveis e não saudáveis. Ficaram surpresas ao tomar conhecimento a respeito do valor financeiro

dos alimentos saudáveis, que são mais acessíveis.

Conclusão ou Hipóteses: Os cuidadores apesar de apresentarem conhecimento a cerca do assunto,

justificaram o peso elevado das crianças, devido a comodidade e falta de tempo que as leva a comprar

alimentos práticos (menos nutritivos e mais calóricos). Após a oficina, os cuidadores se

comprometeram a ter mais compromisso com a alimentação das crianças, ao perceber o quão danoso

é a alimentação incorreta para as mesmas.

Palavras-chave: Obesidade. Infantil. Alimentação.

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