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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Licenciatura em História
Disciplina: História da Idade Média
Docente: Prof. Valentino Viegas
Aluno nº 2002580 – Turma 2P1
Fernando António Paulo Pereira
Trabalho anual subordinado ao tema:“Estratégia e tácticas desenvolvidas nas Cruzadas”
1- Introdução
2- Breve historial das Cruzadas.
3- Estratégia e tácticas desenvolvidas
3.1- pelos cruzados.
3.2- pelos árabes.
4- Conclusão
5- Bibliografia
6- Índice
Classificação obtida: 16 valores.
1- INTRODUÇÃO
Quer sejam consideradas as mais arrojadas e românticas das
aventuras cristãs ou a última das invasões bárbaras, as
Cruzadas são um facto incontornável e central da história
medieval. Antes do seu início, no sec. XI, o centro da
civilização encontrava-se em Bizâncio e nas terras do califado
árabe; pouco antes do seu término, no sec. XIV, tinha-se
deslocado para a Europa ocidental.
Do ponto de vista estritamente militar, tratou-se da primeira
acção de projecção de tropas à distância da História,
utilizando meios nunca vistos para a época, algo que só teria
paralelo nas guerras do sec. XX.
Embora se mantivesse uma estrutura de base, houve necessidade
de adaptar técnicas e tácticas a diferentes circunstâncias
como a morfologia do terreno ou a acção do inimigo. Porém, em
última análise, a campanha estava condenada ao fracasso dadas
as enormes distâncias a vencer pelo apoio logístico, pois não
bastava conquistar o território, havia que mantê-lo, e os 4000
Km de permeio entre os reinos cristãos ocidentais e orientais
constituíam um obstáculo difícil de transpor. Somando o facto
de os cruzados serem estranhos numa terra estranha, dependendo
de aliados – para o reconhecimento do terreno, transporte das
2
tropas ou protecção da retaguarda –, os quais tinham os seus
próprios interesses, não necessariamente coincidentes, estavam
reunidas as condições para a derrota, a prazo, das hostes
ocidentais.
É precisamente o aspecto militar das Cruzadas que se pretende
aqui desenvolver, comparando as tropas ocidentais com as suas
congéneres árabes.
2- BREVE HISTORIAL DAS CRUZADAS1
1ª Cruzada (1096-1099)
Líderes: Godofredo de Bulhão, duque da Baixa Lorena (1082-
1095) e defensor do Santo Sepulcro (1099-1100); Hugo I, conde
de Vermandois (U 1101); Ademar de Monteil, bispo de Puy (U
1098); Raimundo IV de Saint-Gilles, conde de Toulouse (1093-
1105) e de Tripoli (1102-1105); Roberto Courtheuse, duque da
Normandia (1087-1106); Estêvão, conde de Blois; Roberto II,
conde da Flandres (1093-1111); Boemundo I de Tarento, príncipe
de Antioquia (1098-1111).
Através do apelo que dirigiu à Cristandade no final do
Concílio de Clermont, a 27 de Novembro de 1095, o papa Urbano
II tinha dois objectivos: ajudar Bizâncio e os cristãos do
Oriente contra os Turcos e galvanizar os cavaleiros para
efectuarem uma peregrinação a Jerusalém, formando uma
expedição militar dirigida por ele. Porém a resposta
ultrapassou todas as expectativas.
O apelo do papa alcançou não apenas os cavaleiros do Sul de
França, com os quais não se contava à partida, mas também
muitos outros de várias regiões de França, bem como os1 Cfr. AA.VV., As Cruzadas (1096-1270), pp. 20-28.
3
Normandos do Sul de Itália. Todos eles tinham o desejo de
penitência e redenção, mas as riquezas do Oriente e o gosto
pela aventura também lhes conferiram grande entusiasmo.
Por outro lado, ao contrário do que seria habitual, os
pregadores populares espalham o apelo do papa imprimindo-lhe o
seu cunho pessoal, o que leva a partidas maciças entre os
camponeses, por vezes de aldeias inteiras. Pregadores como
Pedro o Eremita proclamam que está próximo o fim dos tempos e
o reino do Anticristo, que a Jerusalém celeste irá descer em
lugar da terrestre e que quem aí se encontrar, vivo ou morto,
sentar-se-á à direita de Cristo no Dia do Juízo Final.
Partindo em Abril de 1096, a cruzada popular de Pedro o
Eremita ficará responsável por numerosos massacres de judeus
na Renânia, aos quais viam não como descendentes dos
“assassinos” de Cristo, mas os seus próprios assassinos.
Indisciplinados chegam a Constantinopla pilhando as regiões
que atravessam. Aí, no inicio de Agosto de 1096, exigem ser
transportados para a outra margem do Bósforo sem esperar pelos
cavaleiros, acabando por ficar à mercê dos Turcos, que os
massacram quase todos. Desta vez, os sobreviventes irão
esperar pelos cavaleiros.
Estes, agrupados em quatro exércitos, chegam entre Outubro de
1096 e Abril de 1097. O imperador bizantino obriga-os a
jurarem-lhe fidelidade e a prometer a restituição ao Império
de Bizâncio os territórios que lhe pertenciam antes da invasão
turca, oferecendo em contrapartida a sua aliança.
Após derrotar os Turcos em Dorileia em Julho de 1097, os
cruzados atravessam a Anatólia em direcção à Síria e, antes
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ainda de chegar a Antioquia, Balduíno de Bolonha faz um desvio
por Edessa, cidade que conquista após uma insurreição popular,
formando o condado de Edessa, primeiro Estado latino do
Oriente, em Março de 1098. O restante dos cruzados pára em
frente a Antioquia em Outubro de 1097, por falta de material
de cerco, conseguindo conquistar a cidade em Junho de 1098,
aproveitando uma traição, e afugentar um exército muçulmano
que vinha em socorro.
A partir da conquista de Antioquia, deixam de contar com a
assistência bizantina, chegando a Jerusalém em 7 de Junho de
1099. Jejuam e fazem procissões em redor da cidade, esperando
deitar abaixo as muralhas com as orações, assim como, na
Bíblia, as trombetas de Josué haviam derrubado as de Jericó.
Valeu a chegada ao porto de Jafa de navios genoveses, pisanos
e venezianos que lhes forneceram carpinteiros e madeira para
construir material de cerco. Jerusalém é finalmente tomada a
15 de Julho de 1099, seguindo-se a pilhagem e o massacre
sistemático de toda a população.
Tendo-se tornado precária a posse da cidade após o regresso
dos cruzados, o novo papa, Pascoal II, faz um novo apelo à
Cruzada com um sucesso tão grande como o anterior. Porém, esta
expedição fracassa sendo dizimada pelos Turcos em 1101.
Seguem-se outras mais modestas, entre 1101 e 1110, que apenas
conseguem o reforço dos domínios francos no Oriente.
2ª Cruzada (1147-1149)
Líderes: Luís VII, rei de França (1137-1180); Conrado III de
Hohenstaufen, imperador da Alemanha (1138-1152).
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A conquista de Edessa pelo aio do príncipe de Mossul em 1144,
teve grande efeito no Ocidente, pois se o Islão vence isso
quer dizer que os cristãos deixaram de merecer a protecção
divina. Assim, o papa Eugénio III decide-se por uma nova
Cruzada e promulga uma Bula que dirige à nobreza francesa e a
Luís VII, especificando os objectivos da Cruzada e os
privilégios de que os cruzados poderão beneficiar. Não se
trata apenas de retomar Edessa, mas também de realizar uma
obra de penitência através da Cruzada, pois os fracassos de
algumas expedições dever-se-ão mais à falta de fé que a uma
insuficiente capacidade militar. A pregação desta nova Cruzada
é levada a cabo por S. Bernardo e tem enorme aceitação em
todas as classes da sociedade, mas o pregador restringe a
participação aos grandes da época. Assim, formam-se dois
exércitos sob o comando do imperador Conrado III e do rei Luís
VII, os quais irão percorrer um itinerário terrestre para
chegar à Terra Santa, o que se revelará uma opção desgastante,
pois o exército do imperador alemão é derrotado pelos Turcos
na Anatólia, sofrendo pesadas baixas, e, embora Luís VII siga
junto à costa do Mar Egeu, ambos os exércitos que chegam à
Terra Santa em 1148, foram bastante enfraquecidos.
Por fim, uma vez no seu destino, os franceses dividem-se
quanto aos objectivos a alcançar. O príncipe de Antioquia
aconselha o ataque à cidade de Alepo e depois a Edessa; o rei
de França prefere seguir directamente para Jerusalém. Chega-se
a uma difícil solução de compromisso: a Cruzada irá cercar
Damasco, aliada dos Francos. O ataque falha e os Francos do
Oriente e os cruzados culpam-se mutuamente pela derrota.
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3ª Cruzada (1189-1192)
Líderes: Frederico I Barba-Ruiva, imperador da Alemanha (1152-
1190) e o seu filho Frederico da Suábia; Filipe II Augusto,
rei de França (1180-1223); Ricardo I Coração de Leão, rei de
Inglaterra (1189-1199).
Após a derrota de Haittin em Julho de 1187, os Estados latinos
são quase completamente recuperados pelos exércitos de
Saladino; Jerusalém e o Santo sepulcro estão perdidos.
Relativamente aos vastos territórios na sua posse no principio
do sec. XII, os Francos apenas conservam Tiro, Tripoli,
Antioquia, e algumas fortalezas isoladas como o Krak dos
Cavaleiros. A derrota produz escândalo e indignação, pelo que
o papa Gregório VIII decide uma nova Cruzada, ao mesmo tempo
que incita os cristãos ao arrependimento.
Mais uma vez tropas tomam a direcção do Oriente. Dos três
exércitos enviados, o primeiro, liderado por Frederico I,
dispersa-se depois de se afogar numa torrente de água junto
das portas cilicianas. Os outros dois, comandados por Ricardo
I e Filipe Augusto, chegam à Terra Santa por mar na Primavera
de 1191. Porém, o rei de França volta a embarcar alguns meses
mais tarde e é apenas Ricardo que fica a dirigir a Cruzada.
Consegue mediar com sucesso os conflitos políticos entre os
Francos da Síria/Palestina, ao reconhecer Henrique de
Champagne como rei de Jerusalém e dar em compensação Chipre ao
pretendente vencido Guy de Lusignan. Os seus sucessos
militares, porém, são limitados, conseguindo reconquistar
quase todo o litoral mas sendo forçado a ceder Jerusalém. É
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assinada uma trégua com Saladino, mas a notícia causa maior
escândalo no Ocidente que a perda da Cidade Santa, alimentando
um movimento de crítica à Cruzada iniciado após o fracasso da
anterior.
4ª Cruzada (1202-1204)
Líderes: Luís, conde de Blois e duque de Niceia; Balduíno IX,
conde da Flandres (1194-1206) e imperador latino do Oriente
(1204-1206); Bonifácio I, marquês de Monferrat (1192-1207) e
rei de Tessalonica (1204-1207); Enrico Dándolo, doge de Veneza
(1192-1205).
O papa Inocêncio III lança novo apelo à Cruzada, em 1198, para
a libertação de Jerusalém, convidando os príncipes do Ocidente
a unirem-se. Pede aos barões, aos condes e às cidades para
fornecerem tropas e ao clero para contribuir com o dinheiro.
Embora nenhum grande rei ou imperador responda, o apelo
encontra grande eco junto dos cavaleiros e do povo. A Cruzada
terá por objectivo o Egipto e será por mar via Veneza, que se
compromete a fornecer os navios necessários para o embarque de
um total de 33 500 homens (entre cavaleiros, escudeiros e
soldados) pela soma de 85 000 marcos de prata. A verdade,
porém, é que os cruzados apenas dispunham de cerca de 11 000
homens, faltando-lhes ainda uma grande parte da verba
prometida a Veneza. Então o doge propõe-lhes ajudar Veneza a
conquistar Zara, cidade rebelde mas cristã da Dalmácia, para
saldar a dívida e, apesar da oposição do clero, é invadida e
pilhada. No entanto, a falta de fundos continua.
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Então, Aleixo Ange, filho de Isaac II, imperador destronado de
Constantinopla, pede aos cruzados para intervir a fim de repor
o seu pai no trono, pela soma de 200 000 marcos de prata mais
a promessa de um exército bizantino de 10 000 homens para
ajudar na recuperação de Jerusalém. Assim, Constantinopla é
tomada uma primeira vez a 17 de Julho de 1203: Isaac II é
reposto no trono, mas não pode cumprir os compromissos
assumidos pelo seu filho. Os dois são novamente vencidos pelo
seu rival Aleixo Doukas, que obriga a cidade a pegar em armas
contra os cruzados. A cidade é tomada pela segunda vez, por
mar, a 12 de Abril de 1204, e desta vez os cruzados pilham-na
e massacram a população.
E é assim que, escândalo dos escândalos, a maior cidade cristã
do mundo é destruída por uma Cruzada.
5ª Cruzada (1217-1221)
Líderes: Pelágio, cardeal embaixador; André II, rei da Hungria
(1205-1235); Leopoldo VI de Babenberg, duque da Áustria; João
de Brienne, rei de Jerusalém (1210-1225) e imperador do
Oriente (1231-1237).
De novo o papa Inocêncio III lança um apelo à Cruzada para
libertar Jerusalém, no sermão de abertura do 4º Concílio de
Latrão em 1215. Desta vez a expedição será comandada por um
embaixador representante do Sumo Pontífice e serão concedidos
privilégios aos que participarem nas operações de guerra ou no
seu financiamento, o qual será, parcialmente, assegurado pela
Igreja graças a um imposto criado sobre os seus ganhos. O
apelo do papa é ouvido em toda a cristandade, mas
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particularmente nas regiões que não participaram nas
expedições anteriores.
Quando os cruzados chegam a S. João de Acre no Outono de 1217,
estão em desacordo com o rei de Jerusalém. Este prevê a
conquista do Egipto para obter, por meio de negociação, a
devolução da cidade de Jerusalém e dos territórios do antigo
reino. Por seu lado, os cruzados preferem provocar os
muçulmanos da Síria/Palestina, que não respondem, aderindo ao
partido do rei, o qual desembarca em Damieta e apodera-se da
Torre da Cadeia que defende a entrada do Nilo. Isolado, o
sultão do Egipto oferece a restituição do antigo reino de
Jerusalém, a troco da evacuação do delta do rio. João de
Brienne é a favor do acordo, mas o cardeal embaixador opõe-se,
tencionando conquistar o Egipto com o auxílio de reforços que
estariam para chegar.
Em Novembro de 1219, Damieta é ocupada e os muçulmanos dão a
Palestina como perdida, desmantelando as fortificações,
incluindo a de Jerusalém. Os Francos aguardam a chegada do
imperador Frederico II da Alemanha, antevendo uma conquista
fácil do Egipto. Todavia, de novo surge a divisão entre eles,
com João de Brienne, cansado da arrogância do cardeal
embaixador, a abandonar Damieta em Março de 1220.
Em Junho de 1221, o cardeal Pelágio ordena o ataque à cidade
do Cairo mas, detidos pela fortaleza de Mansurá, os Francos
são cercados em Agosto do mesmo ano, capitulando e saindo de
Damieta no fim do mês.
Assim acabou, com uma importante derrota, uma guerra levada a
cabo com importantes meios e de prometedores príncipios.
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6ª Cruzada (1228-1229)
Líder: Frederico II de Hohenstaufen, imperador da Alemanha
(1212-1250) e rei de Jerusalém (1225-1250).
Forçado pelo papa a cumprir o voto de Cruzada e já excomungado
em 1227 por a ter adiado por mais de dez anos, o imperador
Frederico II dirige-se, por mar, à Terra Santa e desembarca
em Acre em Setembro de 1227 com 1000 cavaleiros. Por causa da
excomunhão que pesa sobre ele, não pode contar com o auxílio
das instituições religiosas e das ordens militares da
Síria/Palestina. Por outro lado, conhece a língua árabe e a
cultura islâmica e toma conhecimento das divisões entre os
Aiúbidas do Cairo, de Damasco e de Jezirah. Por meio de
negociações, obtém do sultão do Egipto, sobrinho de Saladino,
a restituição de Jerusalém e um vasto território entre o
litoral e o rio Jordão, excepto a esplanada de suporte da
mesquita al-Aqsa e a Cúpula do Rochedo (mesquita de Omar),
lugares santos para o Islão. É ainda assinada uma trégua de
dez anos e o imperador faz-se coroar rei de Jerusalém e do
Santo Sepulcro em Março de 1229.
Se bem que inesperado, o sucesso desta Cruzada também causa
escândalo no Ocidente, por ter sido conseguido por um
excomungado e através da negociação com um infiel. Toda a
ideia de Cruzada sofre um profundo golpe, além de que a
grandeza do sucesso obtido não dá lugar a grandes ilusões. Os
Francos não conseguem utilizar em seu proveito as divisões do
Islão e o território obtido é dificilmente defensável, por não
estar protegido por qualquer fortaleza.
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Assim, em Agosto de 1244, os árabes, convocados pelo sultão do
Egipto, apoderam-se de Jerusalém e pilham o Santo Sepulcro.
7ª (1248-1254) e 8ª Cruzadas (1270)
Líder: Luís IX, rei de França (1226-1270).
Comparativamente à maioria dos seus contemporâneos, Luís IX
adere ao espírito de Cruzada com o mesmo fervor dos primeiros
cruzados. Para ele não se trata apenas de reconquistar os
lugares santos, é também necessário combater os infiéis; daí a
sua recusa de massacres. Muito depois os Francos compreenderam
ser impossível apoderarem-se de Jerusalém directamente pela
força, considerando a cidade do Cairo como um melhor
objectivo, por ser a capital de um Estado rico e poderoso onde
se encontra a verdadeira força do Islão.
O rei de França parte assim numa Cruzada em que é o chefe e em
que nada é deixado ao acaso no financiamento, abastecimento,
equipamento e armamento. Essencialmente francês, este exército
conta com um total de 25 000 homens embarcados em navios
genoveses.
Em Junho de 1249, o desembarque em Damieta é um sucesso e o
rei francês recusa qualquer negociação. Contudo, o exército é
detido em Dezembro defronte da fortaleza de Mansurá, que já
tinha parado a 5ª Cruzada, guardando o acesso ao Cairo.
Fragilizado por permanentes dificuldades, o rei é forçado a
uma retirada difícil, acabando por ser capturado junto com os
seus próximos. Serão libertados ao fim de um mês, mediante o
pagamento de pesado resgate e o abandono de Damieta. É
assinada uma trégua com os Mamelucos que acabam de tomar o
poder.
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Apesar da dimensão do desastre, Luís IX prolonga a Cruzada por
mais quatro anos na Síria e na Palestina. Repara as fortalezas
dos Francos e constrói outras. Não se conforma com a derrota e
volta a empunhar a cruz reagindo ao ataque vitorioso do sultão
mameluco. Em 1270, dirige-se para o Norte de África, sem um
propósito definido, possivelmente para efectuar um vasto
movimento de cerco, acabando por morrer de peste diante de
Tunes.
3 – ESTRATÉGIA E TÁCTICAS DESENVOLVIDAS
De um modo geral, tanto os cruzados como os árabes utilizavam
basicamente a mesma estratégia de guerra: o cerco às cidades.
Montava-se um exército tão numeroso quanto possível e tentava-
se isolar uma cidade para que esta capitulasse pela fome.
Naturalmente, isto não era exactamente fácil. Não apenas havia
que contar com a guarnição do castelo ou da fortificação, como
também tinha de haver precaução contra um possível exército de
socorro à cidade sitiada que surgisse na retaguarda do
exército sitiante.
Era sempre mais difícil ao exército atacante promover um
assalto bem sucedido ou isolar a cidade, pois embora qualquer
fortificação pudesse ser bloqueada da ajuda exterior e
acabasse por capitular pela fome, os sitiantes também não
podiam suportar um cerco prolongado sem terem meios de
subsistência, além de que estavam mais expostos ao mau tempo e
à doença e ao provável ataque de um exército de socorro.
Foi assim que, no cerco à cidade de Acre, na 5ª Cruzada,
Ricardo I “Coração de Leão” argumentou contra um ataque a
13
Jerusalém em 1192, por receio que Saladino lhe cortasse a
comunicação com a costa, deixando-o isolado de reforços.
Por outro lado, todos estes problemas eram agravados pela
falta de disciplina nos exércitos medievais, compostos por
elementos das mais diversas proveniências. No cerco a Ascalon,
em 1153, os Templários comseguiram abrir uma brecha nas
muralhas da cidade, mas recusaram que outros pudessem tirar
proveito dela, o que teve resultados desastrosos.
Além disso, outro problema em impor um cerco a uma grande
cidade era a capacidade de resistência desta. O combate rua a
rua era tão penoso e dispendioso em vidas na Idade Média como
o foi na Segunda Guerra Mundial e mesmo uma pequena guarnição
tinha vantagem, atrás das muralhas, contra um exército
atacante muito mais numeroso.
Era também necessário, para impor o cerco, um comando forte e
competente, equipamento e pessoal especializado, persistência
e, acima de tudo, organização para manter as tropas unidas,
qualidades que nem sempre surgiam combinadas nos exércitos
medievais, pelo que, na verdade, muitos cercos eram mal
sucedidos.
O cerco era assim um teste de vontade política e de recursos
para ambos os lados. Os defensores precisavam de arranjar
comida e manter a esperança de sucesso, tarefa idêntica à dos
atacantes, mas complicada pela necessidade de montar abrigos e
uma infraestrura de apoio.
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3.1 – Pelos cruzados2 3 4
A 1ª Cruzada, assim como as posteriores, teve aliados. O Papa
Urbano II, impulsionador da Cruzada, orientou os cruzados para
se encontrarem em Constantinopla, capital do Império
Bizantino. Aí foi-lhes oferecido um tipo de auxílio que se
revelaria de vital importância. As tropas imperiais tomariam a
seu cargo o território capturado, libertando os cruzados da
necessidade de deixar guarnições, e o império providenciaria
guias e apoio diplomático para lidar com grupos como os
Arménios, e, sobretudo, apoio logístico durante o longo cerco
a Antioquia. No entanto, apesar de os Estados cristãos na
Terra Santa terem desenvolvido estreitas relações com
Bizâncio, por altura da 3ª Cruzada um abismo havia sido cavado
entre os bizantinos e os ocidentais devido à luta pela
supremacia religiosa e política entre o Papa e o Patriarca de
Constantinopla. Assim, Bizâncio aliar-se-ia a Saladino e faria
tudo ao seu alcance para frustrar o ataque de Frederico I
“Barbaruiva” na sequência da queda de Jerusalém em 1187.
Falharia, o que conduziria a um mais profundo distanciamento
com o Ocidente, resultando em graves consequências
estratégicas, pois impediu Bizâncio de reconquistar a Ásia
Menor e assim proporcionar uma ligação terrestre com a Terra
Santa, que traria peregrinos em massa, os quais poderiam ter
fornecido reforços para os cruzados no Oriente, além do que,
os Estados cristãos aí criados passaram a depender
inteiramente das comunicações por mar.
2 Cfr. John France, Western Warfare In The Age Of The Crusades 1000-1300.3 Cfr. AA.VV., O Tempo Dos Cavaleiros.4 Cfr. Amin Maalouf, The Crusades Trough Arab Eyes.
15
Aliás, desde o princípio que as Cruzadas estiveram dependentes
do poder marítimo. Urbano II apelaria pessoalmente aos
Genoveses para providenciarem uma frota para transportar a 1ª
Cruzada, o que, juntamente com navios italianos, ingleses e –
sobretudo – bizantinos, foi indispensável para o seu sucesso.
Depois, as frotas foram vitais para as comunicações com o
Ocidente; a 2ª Cruzada ficou depauperada porque a sua frota
ficou absorvida no cerco a Lisboa. O exército de Barbaruiva,
na 3ª Cruzada, foi o último a forçar a sua passagem por terra;
as tropas de Ricardo I de Inglaterra e de Filipe de França
chegaram por mar, tal como todas as das Cruzadas posteriores.
Os marinheiros e o material que traziam, tiveram papel
importante nos cercos da 1ª Cruzada e foi com a sua ajuda que
as cidades do litoral da Palestina – sem as quais as testas-
de-ponte estabelecidas pelos cruzados em 1099 não teriam sido
viáveis – foram capturadas. Foi também a chegada inesperada de
uma frota de peregrinos que salvou Balduíno I de Jerusalém
após a sua derrota em Ramla em 1102; as frotas de peregrinos
que chegavam duas vezes por ano eram a linha vital do reino,
pois traziam peregrinos que podiam ser recrutados em alturas
de emergência, assim como os artigos de luxo cujo comércio era
vital para os rendimentos dos reis.
As Cruzadas tornaram-se uma instituição no Ocidente Medieval,
na sequência do triunfo da Primeira. Porém, para a manutenção
do domíno Latino na Terra Santa, este era um instrumento
demasiado imperfeito, sofrendo de longos intervalos entre cada
uma que proporcionavam às potências islâmicas a recuperação
dos ataques. Todos os que empunhavam a cruz faziam-no como
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indivíduos e eram, teoricamente, iguais, mas a verdade é que a
estrutura social da Europa persistia nos exércitos dos
cruzados, agravando o já de si delicado problema do comando. A
1ª Cruzada era liderada por um comité de príncipes e somente
em circunstâncias extremas é que os líderes concordavam na
nomeação de um único comandante e apenas por um curto período
de tempo. Sérias divergências surgiram após a queda de
Antioquia em 1098 e tomaram tal proporção que o cerco a
Jerusalém foi levado a cabo por aquilo que eram, na prática,
dois exércitos antagónicos. A Cruzada de 1101, proclamada pelo
Papa Pascoal II após o sucesso da Primeira, envolveu grande
número de tropas que lutaram em contingentes separados,
acabando por ser derrotadas por um pequeno número de Turcos na
Ásia Menor. Semelhante destino teve a Segunda Cruzada, porque
Luís VII de França e Conrado III da Alemanha não conseguiram
actuar em conjunto. As questões entre Ricardo I de Inglaterra
e Filipe Augusto atrasaram a sua partida para a 3ª Cruzada e,
uma vez lá chegados, não conseguiram cooperar; depois da
partida de Filipe, Ricardo foi um brilhante comandante, mas
teve de enfrentar graves tensões entre Ingleses, Franceses e
Alemães e as opiniões prevalecentes no exército levaram-no a
enveredar pelo ataque a Jerusalém, quando teria preferido
atacar o Egipto. No fim, foi forçado a retirar de Jerusalém
devido ao risco de levar a cabo um cerco na vizinhança de um
exército hostil e às dificuldades de o aguentar depois que os
cruzados tivessem partido.
Na 4ª Cruzada, os nobres elegeram Bonifácio de Montferrat como
seu líder, mas ele teve que repartir a autoridade com Balduíno
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da Flandres e com os Venezianos, que controlavam a frota; como
resultado, a Cruzada foi dirigida mais por acidente e
circunstância que por decisão. Na 5ª Cruzada, a sucessão de
líderes e contingentes foi tal que a liderança ficou investida
em Pelagio, o enviado do Papa. Embora na 1ª Cruzada o enviado
do Papa, Adhemar, tenha exercido grande influência até sobre
as decisões militares, ele tinha, contrariamente ao habitual,
experiência militar; Pelagio, por seu lado, subiu a uma
posição de comando por acaso e tomou uma série de decisões
erradas que contribuíram para o fracasso da expedição.
Frederico II tinha apenas um pequeno exército, sendo
desprezado pelas forças em Jerusalém por ter sido excomungado,
mas libertou Jerusalém através de uma hábil diplomacia,
mostrando o que uma pequena força, cuidadosamente aplicada,
poderia fazer. Outras Cruzadas redundaram em completos
desastres devido à falta de liderança ou liderança
militarmente incompetente.
Além dos problemas de comando, as Cruzadas, dado o seu apelo
internacional, juntavam diversificados e pobremente
organizados exércitos, podendo até recrutar contingentes de
povos mutuamente hostis, não apresentando qualquer clara
vantagem técnica ou táctica sobre o inimigo. Assim, a
diversidade, o largo espectro do apelo papal e os diferentes
tipos de contingentes recrutados, adicionados à ausência de um
comando central unificado, tornavam estas tropas ainda mais
ocasionais que a maioria dos exércitos medievais.
A guerra no Médio Oriente, era grandemente condicionada por
factores geográficos e climáticos; a água era vital nestas
18
terras áridas e qualquer exército sem ela pereceria. De um
modo geral, a paisagem era muito mais vazia que no Ocidente,
existindo grandes porções de deserto e semi-deserto, o que
colocava grande ênfase na guerra montada, por ser necessário
cobrir grandes distâncias entre os principais centros
populacionais. Nas terras abertas do Norte da Síria, nos
montes Golan, na Galileia e no deserto entre Gaza e o Egipto,
a infantaria estava em enorme desvantagem.
É aqui que entra o contributo das ordens religiosas militares,
como os Templários e os Hospitalários; inicialmente criadas
para proteger os peregrinos, rapidamente a sua função foi
reajustada para o combate directo aos muçulmanos. Extremamente
disciplinados, estes corpos de tropas eram temíveis pela sua
competência e empenho em combate, sendo por isso muito
utilizados, fornecendo frequentemente, no seu conjunto, metade
ou mais de metade das forças combatentes. Templários e
Hospitalários, eram quase sempre colocados na vanguarda e na
retaguarda do exército, precisamente as zonas que sofriam todo
o impacto do ataque inimigo ou o aguentavam e repeliam. Conta-
se que, na 5ª Cruzada, no acampamento dos cruzados frente a
Damieta, uma incursão nocturna dos muçulmanos foi repelida
pelos Templários que na altura rezavam as matinas na tenda-
capela da Ordem. Pela sua ferocidade e dedicação em destruir o
inimigo, eram por este particularmente odiados.5
O pesado equipamento dos cavaleiros – armadura 25 kg, elmo 5
kg, armas 5 kg –, tornava-os praticamente invencíveis no
combate próximo, em que formavam um bloco compacto de lanças.
Porém, se o cavalo fosse morto, o cavaleiro atirado ao chão5 Amin Maalouf, The Crusades Trough Arab Eyes, pp. 193, 194.
19
ficava indefeso, pois teria muita dificuldade em levantar-se
sozinho, pelo que o escudeiro o seguia de perto, pronto para o
auxiliar. Isto era um problema nos amplos espaços abertos do
Médio Oriente, em que os cruzados podiam ser facilmente
flanqueados pela cavalaria ligeira muçulmana especializada em
disparar o arco a galope e em que a importância da cavalaria
provinha da obrigatoriedade do combate em amplos espaços
abertos; a táctica da carga em massa era a resposta necessária
à maior variedade de expedientes tácticos à disposição dos
muçulmanos. No entanto, os arqueiros montados acabariam por
infligir pesadas baixas até na mais unida das formações de
cavalaria se esta não fosse protegida, sendo necessária a
infantaria composta de frecheiros, para aguentarem o inimigo a
uma distância segura, e de homens de espada, para protegerem
os frecheiros e evitar que a sua relativamente baixa cadência
de disparo os colocasse à mercê da cavalaria inimiga. Isto
exigia um elevado grau de disciplina da parte de todos, mas,
em particular, dos cavaleiros que tinham de calcular a sua
carga para o momento em que o inimigo oferecesse um bom alvo,
ao mesmo tempo que deviam ser capazes de efectuar pequenos
ataques para contrariar a movimentação inimiga, sem alterar a
sua formação base. Uma condição fundamental deste tipo de
guerra era que os exércitos Francos deviam manter-se unidos
mesmo quando cercados e uma adaptação às condições de batalha
das Cruzadas, foi a utilização dos Turcópolos, uma força de
cavalaria ligeira baseada em cristãos-turcos ou nativos
recrutados, apelidados pelos muçulmanos de “archeiros dos
Francos”
20
Esta guerra de rápidas movimentações era muito diferente das
guerras europeias e representou um impressionante
desenvolvimento das tácticas ocidentais, em que a tradição de
ordem unida e ataque em massa conjugando cavalaria e
infantaria, dependia de disciplina e coordenação a níveis
verdadeiramente excepcionais, de tal forma que a agressividade
dos exércitos ocidentais granjeou o respeito dos seus
oponentes, os quais, mesmo em número superior – como em 1182
com Saladino –, hesitavam em arriscar a confrontação, temendo
o combate corpo-a-corpo.
3.2 – Pelos árabes6 7
Os exércitos islâmicos, tal como os Ocidentais, eram
maioritariamente corpos ocasionais. O governante de uma
determinada região mantinha uma pequena força e formava o
exército à volta deste núcleo quando tinha necessidade. No
coração do sistema islâmico, estava o Diwan, o ministro
responsável pelas tropas e pelo seu financiamento, o que, no
Egipto dos Fatimidas, englobava arsenais, quartéis e um
exército pago baseado em 4000 a 5000 cavaleiros e a infantaria
pesada africana. Isto poderia ser aumentado com forças
recrutadas em povos especializados em determinados tipos de
guerra, como, por exemplo, a cavalaria ligeira Berber, Beduína
e Norte Africana. Nas terras dominadas pela dinastia Seljuk, o
núcleo podia ser acrescentado com cavalaria pesada assim como
cavalaria ligeira e archeiros do Irão, archeiros da Arménia e
da Síria e infantaria da região do mar Cáspio. O núcleo,
6 Cfr. John France, Western Warfare In The Age Of The Crusades 1000-1300.7 Cfr. Amin Maalouf, The Crusades Trough Arab Eyes.
21
porém, era composto de Mamelucos, soldados escravos,
cavaleiros turcos especializados em disparar o arco a cavalo.
A composição dos exércitos islâmicos era substancialmente
diferente daquela dos ocidentais. A infantaria tinha um papel
limitado e eram predominantes cavaleiros de todos os tipos
sempre pesadamente equipados: agulani cujos cavalos eram
protegidos com placas de ferro foram vistos na 1ª Cruzada,
sendo também o núcleo do exército Fatimida. A tendência dos
muçulmanos era de usar cada vez mais cavalaria pesada: um
ghulãm do sec. XII não era muito diferente de um cavaleiro
ocidental. Porém, a diferença mais marcante era que os
exércitos islâmicos usavam enxames de cavalaria ligeira e de
arqueiros a cavalo, o que levava à implementação de tácticas
diferentes.
Havia muito maior insistência na emboscada, em parte por ser
uma táctica óbvia da cavalaria ligeira, em parte tirando
partido do melhor conhecimento do terreno. Todavia, o maior
contraste entre Oriente e Ocidente era no engajamento na
batalha. Em todo o lado, o combate próximo, corpo-a-corpo, era
decisivo e a tradição ocidental era provocá-lo tão rápido
quanto possível; no Oriente, a cavalaria ligeira podia
flanquear e confundir as formações graças à rápida
movimentação.
Mas, ainda mais determinante, era o uso táctico de grandes
grupos de arqueiros-cavaleiros que disparavam da sela; os seus
arcos tinham um alcance de 50 a 80 metros, o que lhes permitia
abater cavalos e homens a uma certa distância. Podiam decidir
uma batalha se a moral do inimigo quebrasse ou enervar as
22
formações inimigas – pois era necessária uma grande disciplina
para aguentar uma chuva de flechas sem debandar –, obrigando-
as a abrir brechas nas quais as cavalarias ligeira e pesada
podiam penetrar. Estes enxames de arqueiros a cavalo tiveram
um enorme impacto psicológico nos cavaleiros da 1ª Cruzada,
que não tinham meios de responder a este tipo de
bombardeamento.
A defesa contra este tipo de ataque traduziu-se na
intensificação da tradição ocidental da ordem unida, na qual
os cavaleiros em formação cerrada podiam proteger-se uns aos
outros da nuvem de flechas e, simultaneamente, ameaçar uma
carga que iria dispersar os arqueiros levemente armados que se
haviam aproximado para obterem um bom disparo.
Outra diferença substancial residia nas comunicações.8 Cada
exército muçulmano em marcha trazia consigo pombos que haviam
sido criados em várias cidades e fortificações e treinados
para regressar aos seus ninhos de origem. Era assim suficiente
escrever uma mensagem, enrolá-la e atá-la à perna de um pombo
e libertar a ave que voaria muito mais depressa que o mais
rápido cavaleiro, para anunciar a morte de um príncipe, a
vitória ou a derrota, pedir auxílio ou encorajar a resistência
de uma guarnição cercada. À medida que a mobilização árabe
contra os cruzados se organizava melhor, um serviço regular de
pombos-correio era estabelecido entre as cidades de Damasco,
Cairo, Aleppo e outras, chegando o Estado a pagar salários às
pessoas encarregues de criar e treinar estas aves. Quando em
Junho de 1137 o rei de Jerusalém, ido em auxílio dos
cavaleiros de Tripoli, acabou com o seu exército dizimado e8 Amin Maalouf, The Crusades Trough Arab Eyes, pp. 123, 124.
23
cercado pelas tropas de Zangï, o líder muçulmano, teve apenas
tempo de enviar uma mensagem a Jerusalém pedindo reforços,
antes de as comunicações serem completamente cortadas. O rei
cercado deixou de receber notícias sobre o que se passava no
seu reino, tal era o controle apertado nas estradas. O chefe
muçulmano tirou o melhor proveito da situação, aumentando a
pressão sobre os ocidentais, prometendo poupar-lhes a vida em
troca da rendição; estes não tiveram alternativa senão
aceitar, porém, quando galopavam dali para fora, encontraram,
a poucos quilómetros, os reforços vindos em seu auxílio, mas
então já era tarde. Foi efectivamente durante a sua
permanência no Médio Oriente que os ocidentais seriam
iniciados na arte de criar e treinar pombos-correio, o que,
mais tarde, se tornaria uma moda nos seus países de origem.
Por fim, uma diferença fundamental existia entre os dois
campos: o facto de os muçulmanos lutarem na sua terra. Em
Agosto de 1192, Ricardo I de Inglaterra estava numa situação
desesperada e desmoralizante. Seriamente doente, abandonado
por muitos cavaleiros que o acusavam de não ter tentado
reconquistar Jerusalém e alertado pelos seus amigos para os
problemas em manter o trono de Inglaterra, não consegue
desalojar Saladino da cidade de Ascalon. Envia mensagens ao
seu inimigo, praticamente implorando-lhe que deixe a cidade,
pedindo um acordo de paz a curto prazo para que não seja
forçado a passar ali o Inverno. Saladino responde que não
deixará a cidade e que, por outro lado, não vê outra solução
que não seja o rei inglês ali passar o Inverno, lembrando-lhe
que o território conquistado lhe será retirado assim que ele o
24
abandone. Pergunta-lhe ainda se realmente deseja ali passar o
Inverno, mais dois meses longe da sua família e da sua terra,
enquanto ainda é novo e forte para gozar os prazeres da vida;
quanto a ele, Saladino, poderá passar o Inverno, o Verão,
outros Invernos e outros Verões, pois está na sua terra entre
a sua família e amigos, podendo dispor de um exército para o
Verão e outro para o Inverno. Bastar-lhe-á apenas esperar até
que a vitória lhe venha cair nas mãos. 9
4 – CONCLUSÃO
Em última análise, como anteriormente referido, os cruzados
eram estranhos numa terra estranha. As Cruzadas foram uma
experiência horrível: a distância, a fome, a doença e combates
brutais cobraram uma pesada factura em vidas. Ir em Cruzada
era sofrer uma particularmente intensa experiência de guerra;
viver na Terra Santa, era estar constantemente em guerra e
entendê-la como um modo de vida.
Se numa primeira fase os cruzados conseguiram vitórias
fulgurantes e estrondosas frente a um inimigo desorganizado –
preso em infindáveis rivalidades internas e com líderes
prontos a cedências que preservassem os seus privilégios e a
manutenção de uma vida faustosa –, a médio prazo os custos de
manter territórios tão longínquos tornaram-se avassaladores.
Enquanto os muçulmanos, apanhados de surpresa pela
agressividade e tácticas de guerra diferentes dos cruzados, se
foram submetendo e deixando o tempo passar à sombra das
glórias passadas, optando por tirar o melhor proveito desta
nova força político-militar na região para resolver as suas9 Amin Maalouf, The Crusades Trough Arab Eyes, p. 214.
25
disputas internas, os ocidentais foram expandindo o seu
território, impondo as suas condições, acumulando riqueza.
Quando finalmente a sua presença se tornou por demais
opressiva, a vantagem militar de lutar na sua terra dos
árabes, sobrepôs-se aos cruzados; enquanto os primeiros
conheciam o território, estavam habituados ao clima e podiam
recompor-se com relativa facilidade das baixas, os segundos
estavam longe da sua pátria, davam-se mal com o clima agreste
e, nas grandes batalhas que marcaram o princípio do fim dos
Estados Cristãos do Oriente, foram completamente esmagados,
sofrendo pesadíssimas baixas impossíveis de colmatar.
A condição básica que permitiu o sucesso da 1ª Cruzada – a
desunião entre as forças árabes – deixou progressivamente de
se verificar e uma aliança de potências islâmicas derrotou a
Cruzada de 1101, intermédia entre a 1ª e a 2ª Cruzadas, após o
que líderes carismáticos foram emergindo: Zangï, em Mosul e
Aleppo, Nur-ad-Din, que conquistou Damasco, e Saladino, que
unificou a Síria e o Egipto.
Ironicamente, nenhum deles era árabe: Zangï e Nur-ad-Din eram
Turcos e Saladino era Curdo.
5 – BIBLIOGRAFIA
AA.VV., As Cruzadas (1096-1270), Cascais, Editora Pergaminho, 2001.
AA.VV., O Tempo dos Cavaleiros, Cascais, Editora Pergaminho, 2001.
FRANCE, John, Western Warfare in the Age of the Crusades - 1000-1300, New
York, Cornell University Press, 1999.
MAALOUF, Amin, The Crusades Trough Arab Eyes, trad. Jon Rothschild,
New York, Shocken Books, 1985.
26
RUNCIMAN, Steven, História das Cruzadas, Lisboa, Livros Horizonte,
1992, vol. I.
6 – ÍNDICE
1 – Introduçãopág.
02
2 – Breve historial das Cruzadaspág.
02
3 – Estratégia e tácticas desenvolvidaspág.
08
3.1 – Pelos cruzadospág.
09
3.2 – Pelos árabespág.
13
4 – Conclusãopág.
15
5 – Bibliografiapág.
16
27