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Conectivismo: novas tecnologias e os desafios da educação contemporânea João Fernando Tobgyal da Silva Santos Fernando Chade De Grande Marcos Américo “Humanity is acquiring all the right technology for all the wrong reasons” Buckminster Fuller Introdução O modelo econômico iniciado no Século XX se reorganiza para ser constituído por uma onda de produção individualizada, descentralizada e em colaboração com outros “produtores/usuários” de forma que a economia da informação em rede tem que ser fundamentada em processos colaborativos. Para conviver com um sistema de mercado que inclui fatores psicológicos e sociais apartados da lógica de assalariamento e propriedade, a cultura e o conhecimento tem que ser produzidos e intercambiados para afetar, a partir desta nova perspectiva, o modo como a sociedade vê o mundo apoiado nas relações digitais. O atual processo de convergência entre diferentes campos tecnológicos no paradigma da informação resulta de sua lógica compartilhada na geração de informação. Essa lógica é mais aparente no funcionamento do DNA e na evolução natural e é, cada vez mais, reproduzida nos sistemas de informação mais avançados à medida que os chips, computadores e softwares alcançam novas fronteiras de velocidade, de capacidade de armazenamento e de flexibilidade no tratamento da informação oriunda de fontes múltiplas. Embora a reprodução do cérebro humano com seu s bilhões de circuitos e insuperável capacidade de recombinação, a rigor, seja ficção cientifica, os limites da capacidade de informação dos computadores de hoje em dia estão sendo superados a cada mês. (CASTELLS, 2001, p.111).

Conectivismo: novas tecnologias e os desafios da educação contemporânea

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Conectivismo: novas tecnologias e os desafios daeducação contemporânea

João Fernando Tobgyal da Silva Santos Fernando Chade De Grande

Marcos Américo

“Humanity is acquiring all the right technology for all thewrong reasons”

Buckminster FullerIntrodução

O modelo econômico iniciado no Século XX se reorganiza

para ser constituído por uma onda de produção individualizada,

descentralizada e em colaboração com outros

“produtores/usuários” de forma que a economia da informação em

rede tem que ser fundamentada em processos colaborativos.

Para conviver com um sistema de mercado que inclui fatores

psicológicos e sociais apartados da lógica de assalariamento e

propriedade, a cultura e o conhecimento tem que ser produzidos

e intercambiados para afetar, a partir desta nova perspectiva,

o modo como a sociedade vê o mundo apoiado nas relações

digitais.

O atual processo de convergência entre diferentes campostecnológicos no paradigma da informação resulta de sua lógicacompartilhada na geração de informação. Essa lógica é maisaparente no funcionamento do DNA e na evolução natural e é,cada vez mais, reproduzida nos sistemas de informação maisavançados à medida que os chips, computadores e softwares alcançamnovas fronteiras de velocidade, de capacidade de armazenamentoe de flexibilidade no tratamento da informação oriunda defontes múltiplas. Embora a reprodução do cérebro humano com seus bilhões de circuitos e insuperável capacidade derecombinação, a rigor, seja ficção cientifica, os limites dacapacidade de informação dos computadores de hoje em dia estãosendo superados a cada mês. (CASTELLS, 2001, p.111).

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É muito raro vincular estas mudanças a um movimento mais

abrangente, tal como em uma rede. O novo paradigma é o chamado

pelos pesquisadores de “novo olhar”, ou seja, a nova maneira

de olhar a vida em uma sociedade em rede. Destarte, é

necessário deixar de percorrer a ciência como uma estrada no

tempo que caminha da Física Clássica de Newton à Física

Relativista de Einstein

No exemplo da Biologia, um meio é definido como uma

substância dentro da qual uma cultura cresce. Para a Ecologia

Midiática, um meio é a tecnologia, dentro da qual, a cultura

humana cresce e teve seu florescimento a partir do

desenvolvimento de malhas rodoviárias e ferroviárias, sistemas

de energia elétrica, água e esgoto, atendimento à saúde,

comércio, franquias, redes de computadores, internet, entre

outros.Onde quer que encontremos sistemas vivos – organismos, partesde organismos ou comunidades de organismos – podemos observarque seus componentes estão arranjados à maneira de rede. Sempreque olhamos para a vida, olhamos para redes. O padrão da vida,poderíamos dizer, é um padrão de rede capaz de auto-organização. (CAPRA, 1996, p. 77)

Ao reorientar a forma com que olhamos o mundo, sua visão

deve ser fundamentada na sustentabilidade. É imperioso

compreender a interdependência entre a humanidade e natureza e

transformar as atitudes de autoafirmação em integração. Lançar

mão do poder para equilibrar e passar das hierarquias para as

redes, que, para Capra (1996, p. 16) tem como “primeira e mais

óbvia propriedade” a não-linearidade, uma vez que “ela se

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estende em todas as direções. Desse modo, as relações num

padrão de rede são relações não-lineares”.

Desde as suas origens a internet compartilha dados e

softwares entre pesquisadores nos ambientes estratégicos

militares e vem se tornando imprescindível para compreender as

inter-relações mundiais contemporâneas ao se expandir

exponencialmente mesmo nos países onde há parcos índices de

desenvolvimento social e econômico como comprova a Tabela 1

que demonstra a distribuição da internet ao redor do mundo.

Enormes diferenças persistem e as mais impressionantes são as

elevadas taxas de penetração da Internet na América do Norte,

Europa e Austrália. Oriente Médio e África, apresentam os

maiores crescimentos no número de usuários no período 2000-

2013 e na Ásia está o maior número de pessoas conectadas à

Internet. Pesquisas relacionam o uso da Internet,

oportunidades educacionais e comerciais ao demonstrarem que no

hemisfério Norte e na Austrália são os locais onde esta

plataforma global mais se desenvolve. E mesmo com o incremento

nos intercâmbios e partilha de recursos ainda estamos

limitados pelas restrições linguísticas e socioculturais.

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Tabela 1- Estatísticas de uso da Internet, 2013 1

É inegável que o poder de comunicação digital, que por sua

rapidez e características substituem, com vantagens, as mídias

ditas analógicas, uma vez que este novo meio nos oferece um

largo espectro de possibilidades inovadoras em seu seio.

A ideia de “mundo pequeno” toma corpo, embora seja ainda

mal compreendida e carecer de substância empírica. Nas redes

sociais reais, todos nós dispomos de informações limitadas e

locais, porém sobre a rede social de sua forma global,

verificamos uma proximidade. As pesquisas apresentadas por

Jeffrey Travers e Stanley Milgram (1969) em “An Experimental Study

of the Small World Problem”, demosntraram o que Duncan Watts, também

comprovou mais tarde em 2003 quando aplicou uma pesquisa

ampliada para comprovar a existência das redes e de sua

consequente interligação na condução de instruções. No1 Do sitio: http://www.internetworldstats.com/stats.htm - Internet World Stats – acesso em 12.11.2014

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experimento, diversos participantes se inscreveram on-line,

tendo-lhes sido atribuída, aleatoriamente, uma das 18 pessoas-

alvo residentes em 13 países. Foram ainda informados de que

sua tarefa seria ajudar a retransmitir uma mensagem a uma das

pessoas-alvo que lhes havia sido atribuída, enviando a

mensagem a um contato social que considerassem mais próximo do

alvo do que eles próprios. Ao enviar as mensagens, os

remetentes geralmente recorreram a amizades em detrimento de

laços profissionais ou familiares. Aos remetentes também foram

solicitados indicar o motivo pelo qual consideravam o

conhecido escolhido um destinatário adequado. Os participantes

raramente indicaram uma pessoa conhecida pelo fato de esta ter

muitos amigos, e os indivíduos de correntes bem sucedidas

apresentaram uma probabilidade infinitamente menor de enviar

mensagens a pessoas com muitos contatos. A pesquisa concluiu

que a busca social parece ser um exercício geralmente

igualitário, cujo sucesso não depende de uma pequena minoria

de indivíduos excepcionais.

Conectivismo como nova teria da aprendizagem

“A simples introdução dos meios e das tecnologias naescola pode ser a forma mais enganosa de ocultar seusproblemas de fundo sob a égide da modernizaçãotecnológica. O desafio é como inserir na escola umecossistema comunicativo que contemple ao mesmo tempo:experiências culturais heterogêneas, o entorno das novastecnologias da informação e da comunicação, além deconfigurar o espaço educacional como um lugar onde oprocesso de aprendizagem conserve seu encanto”. (BARBERO,1996, documento eletrônico)

Há pouco tempo, no máximo 40 anos, podíamos concluir umaformação profissional e iniciar uma carreira, que tinha grande

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chance de durar pela vida toda. Antes o acesso às informaçõesera restrito, difícil e a evolução tecnológica era mais lenta.Um saber era medido em décadas. Hoje, o conhecimento cresceexponencialmente, enquanto que o melhor uso destas novastecnologias cresce aritmeticamente. Em algumas áreas, anovidade dura muito pouco e pode ser medida em meses. CathyGonzalez, em “The role of blended learning in the world of technology” afirmaque

Um dos fatores mais persuasivos é o encolhimento da duração doconhecimento para metade. A “meia-duração do conhecimento” é otempo de duração desde que se obtém o conhecimento até que elese torne obsoleto. Metade do que é conhecido hoje não eraconhecido há 10 anos atrás. A quantidade de conhecimento nomundo dobrou nos últimos 10 anos e está dobrando a cada 18meses, de acordo com a Sociedade Americana para Treinamento eDesenvolvimento (ASTD). Para combater o encolhimento para ametade da duração do conhecimento, as organizações tem sidoforçadas a desenvolver métodos para disseminar a instrução.(GONZALEZ, 2004, documento eletrônico)

As mais variadas abordagens teórico-metodológicas tomaram

lugar nas salas de aula e nas práticas do binômio ensino-

aprendizagem como naquelas pregadas pelo Behaviorismo,

Construtivismo e Objetivismo, teorias do aprendizado mais

frequentemente encontradas nos ambientes instrucionais. Porém,

nos últimos vinte anos, diversas tecnologias tem reorganizado

nosso modus vivendi, a forma com que nos comunicamos e até mesmo

como aprendemos.

Os princípios postulados por Siemens (2004) sobre o

Conectivismo, que na atualidade representam uma nova visão do

conhecimento que não ocorre mais apenas com os alunos sentados

nos bancos escolares. O aprendizado acontece no cotidiano,

seguindo modelos formais, informais e não-formais, pressupondo

uma aprendizagem contínua. Para Siemens, a tecnologia

redefiniu a forma que vivemos. Impôs novos hábitos, e até

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mesmo novos conceitos para comportamentos, até então imutáveis

ao longo dos séculos da espécie humana.

Embora as estruturas de redes sejam empregadas na aprendizagem

humana muito antes do desenvolvimento das tecnologias da

informação e comunicação foi somente a partir da integração

destas tecnologias que elas passaram ser alvo de reflexão de

educadores, pesquisadores e estudiosos.

O Conectivismo tem sido criticado por alguns pensadores

contemporâneos por ser entendido como uma teoria que se

sobrepõe às anteriores. Para Kop e Hill (2008, p.11)

certamente ocorre uma mudança de paradigma nas teorias da

aprendizagem e “uma nova epistemologia deve emergir”,

entretanto as contribuições do Conectivismo para este novo

paradigma não devem ser entendidas como uma teoria à parte com

direitos próprios. Os mesmos autores afirmam que o

Conectivismo tem um papel importante e emergente nas novas

pedagogias “onde o controle está se deslocando do tutor para

um aluno cada vez mais autônomo”.

Parte da novidade e da atração para os profissionais é que

o Conectivismo aborda questões além das teorias da

aprendizagem tradicionais, como o behaviorismo e cognitivismo.

Os princípios do Conectivismo, para Siemens, são que o

aprendizado e o conhecimento residem na diversidade de

opiniões. O aprendizado é um processo de conexão entre nós

(elos de uma corrente) especializados ou fontes de informação

e pode acontecer em aplicações não-humanas. O saber crítico

que evolui constantemente e as conexões precisam ser nutridos

e mantidos para preservar a aprendizagem, assim como a

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habilidade em reconhecer conexões entre campos, ideias e

conceitos, a precisão na atualização do conhecimento e, por

fim, a tomada de decisões.

Desta forma, o Conectivismo se propõe, conforme Siemens, a

redefinir a aprendizagem inserida nos diversos contextos

identificados na Introdução deste trabalho para se configurar

como uma teoria da aprendizagem para a era digital. Esta é uma

tarefa difícil para uma teoria recém-chegada, ainda não

testada o suficiente e por isto pode-se justificar certa falta

de rigor.

Com o incremento da aplicabilidade proporcionada pelo

desenvolvimento tecnológico, a aprendizagem e o conhecimento,

germinam na multiplicidade de opiniões e é um processo que

conecta diferentes fontes de informação. O aprendizado pode

acontecer até em dispositivos não-humanos e quanto maior a

intensidade do conhecimento, maior é a crítica ao que é

conhecido atualmente. Assim, as condições contemporâneas de

aprendizagem precisam refletir o tecido social.

Na concepção deste modelo de escola que se apropria

integralmente de novas tecnologias educacionais o aluno é o

centro do processo de aprendizagem. Os principais pilares são

ensino personalizado, projetos transdisciplinares, avaliação

baseada em competências, uso de tecnologia digital e um

currículo expandido para a criação do eu e do meio através de

habilidades cognitivas e não-cognitivas.

Um exemplo de aplicação do Conectivismo é implementado no

Rio de Janeiro, o Projeto GENTE – Ginásio Experimental de

Novas Tecnologias Educacionais, propõe mudanças no conteúdo,

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no método e na gestão. Não há turmas, anos ou salas de aula, o

uso dos tablets e smartphones compõem o material escolar dos

alunos e professores. O conteúdo, habilidades e competências

são desenvolvidos nas aulas digitais da Educopédia2 (plataforma

que inclui material de suporte para professores, como

sequências didáticas com jogos digitais, vídeos e testes). As

avaliações do aprendizado são aplicadas por meio de um sistema

avaliativo denominado “Máquina de Testes”3, com correção

automática e resultados imediatos.A finalidade de implementar as novas tecnologias em conjuntocom esta nova metodologia de ensino é tornar os alunos cidadãosautônomos, solidários e competentes que desenvolverãohabilidades essenciais para um mundo em constantetransformação, tais como: buscar, analisar e avaliarinformações e fontes; solucionar problemas e tomar decisões; eutilizar de forma criativa as ferramentas de produtividade.(RATTO, 2013, documento eletrônico)

O projeto tem início quando o aluno passa por uma

avaliação onde serão identificadas as deficiências de

aprendizagem, níveis e diferentes estilos. Um itinerário

formativo é estabelecido, um mapa é produzido contendo as

2 A Educopédia é uma plataforma colaborativa de aulas digitais online, contendoatividades autoexplicativas que de forma lúdica e prática de qualquer lugar e aqualquer hora. A Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, criou estaplataforma para tornar o ensino mais atraente e mobilizador, não somente para osalunos, adolescentes, para também instrumentalizar o professor. É mais umaalternativa de reforço escolar, favorecendo aos alunos que faltaram às aulas ou quenão compreenderam o conteúdo. A Educopédia foi criada com base nas orientaçõescurriculares da Secretaria Municipal de Educação e estruturada para cada dia deaula. As aulas digitais possuem atividades que incluem vídeos, animações, textos,podcasts, quizes, jogos e seguirão uma metodologia pré-definida. 3 A Máquina de Testes é um sistema de avaliação dos alunos que cobrirá, a médioprazo, todas as disciplinas, de 1º a 9º ano. Em fevereiro de 2013, o sistema játerá provas de Português, Matemática e Ciências, do 5º ao 9º anos. Por meio de umbanco de questões, preparadas por cerca de 100 professores da rede municipal, osalunos farão provas em ambiente digital. Todas as questões aplicadas pelocomputador serão de múltipla escolha, gerando um resultado imediato. O sistema seráusado para as avaliações bimestrais, que servem como base para o acompanhamento dodesempenho das escolas municipais. Os alunos do GENTE usarão a Máquina de Testesfrequentemente, ao final de cada aula da Educopédia.

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competências e habilidades anteriores e as que ainda precisam

desenvolver. Com o apoio do professor mentor todos os alunos

são orientados a participar de atividades que os auxiliem a

prosseguir em seu projeto. As disciplinas eletivas têm

objetivos pedagógicos, conceituadas de forma a realizar

qualquer sonho os alunos aspiram e fornecer a formação básica

sólida. Estas disciplinas são de livre escolha e também

relacionadas a seus projetos de vida. Diversas disciplinas

eletivas são oferecidas: robótica, mecatrônica, construção de

blogs como portfólios; Inteligência Artificial (curso da

Universidade de Stanford); programação básica; webdesign. Os

alunos ainda têm acesso aos livros de Shakespeare, em inglês

em curso oferecido pela Universidade de Harvard.

Semestralmente, a partir de uma situação-problema ou uma

pergunta para elaboração e aplicação do conhecimento, os

projetos serão desenvolvidos pelos alunos, com uma forma de

educação "hands on" relacionada a áreas diversas. Os alunos são

instados a analisar dados reais, trabalhar em grupos pré-

definidos e atuar como agentes transformadores de suas

realidades.

Como material de apoio didático-pedagógico, a biblioteca

digital da Educopédia, disponibiliza livros interativos. Esta

biblioteca é composta por um acervo atraente para cada faixa

etária, contendo desde material de pesquisa de profissões até

grandes clássicos da literatura, e que podem ser acessados por

diversos meios (digitais ou não).

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Críticas apresentadas ao conectivismo por outras linhas

pedagógicas

As definições tradicionais das teorias pedagógicas

englobam muitas características e estas estão associadas às

três principais e mais conhecidas abordagens pedagógicas

(Behaviorismo, Construtivismo e Objetivismo) e em outras

palavras, ainda consideram que o processo da aprendizagem é

uma conquista duradoura, seja ela emocional, mental ou de

habilidades e que surgem como resultado de experiências e

interações com conteúdo ou outras pessoas.

O conceito de aprendizagem em um primeiro momento está

apoiado no reconhecimento de fontes válidas de conhecimento e,

a partir disto, há uma redução no tempo que seria consumido

por meio de experiências. Em tese, podemos adquirir

conhecimentos por meio do pensar e raciocinar. Mas como

aprofundar o conteúdo do conhecimento, para que seja possível

ser, realmente, conhecido?

Se voltarmos nossos olhos para as teorias relativas à

aprendizagem, e há uma variação de abordagens do Behaviorismo,

tal como o Objetivismo, que considera que a realidade é

externa e é objetiva, e o conhecimento é obtido por meio de

experiências. Por outro lado, o Pragmatismo, à semelhança do

cognitivismo, tem como entendimento que a realidade é

interpretada e o conhecimento é conquistado por meio da

experiência e raciocínio. O Interpretivismo, variante do

construtivismo, onde a realidade é interna, e o conhecimento é

construído. No quadro 1 é apresentado um quadro comparativo

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entre teorias da aprendizagem, a forma como são aplicadas e

seus resultados.Behaviorismo Cognitivismo Construtivismo Conectivismo

O processoda aprendizagem

Pode incluir redes virtuaisou não. Apoiado em leis associativas de proximidade, similitude, etc. Comportamentosobserváveis.

Estrutura da aprendizagem se apoia em conhecimentose experiências prévias. Organizado por redes semânticas. Permite resíduos cognitivos transferíveis. Estilos cognitivos. “Cultura de pensamento”, Inteligênciasmúltiplas. Visualização do pensamento. Educação paraa compreensão.

Criação de significados por ressemantização de sentidos pessoais, grupais, contextuado comuns, etc. Pode incluir redes virtuais. Relacionado com o enfoque histórico sócio cultural.

Por conexão de entidadesdiversas crescem e sedistribuem dentro de uma rede social, tecnologicamente forte onde seus componentes se reconhecem.

Fatores que influenciam na aprendizagem

Natureza do estudante, estimulo externo, ensaio e erro,repetição e reforço, castigos, leisde contiguidade, semelhança, etc.

Esquemas existentes reelaborados por previas experiências e saberes. Motivação intrínseca e orientação docente.

Situações desenhadas para desenvolver comprometimento, participação, inserção útil na sociedade, grupo social, etc. recreaçãocultural.

Diversidade de redes e pontos de vista dos participantes.

Abrangência da memória

É muito importante e existe e se reforça por conexões semelhantes e repetições na experiência e

Serve para codificar mensagens, armazenar, revisá-los para aplicação. Relação com o

Recordar e ancorar o conhecimento anterior, se relaciona significativamente dentro deum contexto

Reconhecer padrões adaptativos que representem estruturas de rede.

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pressões externas.

processamentoda informaçãocom memória de curto e longo prazos.

para criar saber.

Transferência da aprendizagem

Por estímulo a resposta certa onde se penaliza o erro.

Duplicando o conhecimento construído pelo estudante.

Aplicado em uma situação onde a socialização das redes aumentem com aintersubjetividade.

Por conexão dos pontos da rede (nós) e aplicação a outros.

Tipo de aprendizagem que melhor explique ateoria

As tarefas baseadas em conexões em redes reais e virtuais, que crescem e se desenvolvem infinitamente.

Raciocínio segundo claros objetivos, solução de problemas,elaboração deprojetos. Estudo de casos.

Atividades geradoras do desenvolvimento da compreensão com a utilização de desenhos educativos (formais e nãoformais, presenciais e à distância) de contextos interativos e inteligentes.

Produzir conexões de mudanças rápidas recorrendo avariadas fontes de informação, segundo objetivos.

Quadro 1 - comparativo entre teorias de aprendizagem e oConectivismo (Adaptado do Comparativo em Curso de Formação deProfessores)

Siemens e Downes despertaram enorme atenção do mundo

quando na blogosfera em 2005, discutiram suas ideias sobre o

conhecimento distribuído na rede. No entanto, para Rita Kop e

Adrian Hill4 importantes questões acerca da “recém-criada”

teoria da aprendizagem, o Conectivismo, como por exemplo, um

possível vínculo com outras teorias não está muito definido.

Uma enorme discussão seguiu-se em torno do Conectivismo como

4 Rita Kop (University of Wales Swansea) e Adrian Hill (Open School BC, Canada), “Connectivism: Learning theory of the future or vestige of the past?”, artigo publicado na International Review of Research in Open and Distance Learning, volume 9, número 3. Outubro 2008.

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teoria da aprendizagem para a era digital e isto levou a

inúmeros questionamentos em relação às teorias de aprendizagem

reconhecidas, tais como: será que elas ainda satisfazem às

necessidades dos alunos de hoje e antecipam suas necessidades

futuras? Será que uma nova teoria que englobe novos

desenvolvimentos em tecnologias digitais seja mais apropriada,

e esteja em consonância aos outros aspectos da aprendizagem,

incluindo na sala de aula tradicional, a educação a distância

e o e-learning?

Kerr (2007) identifica dois propósitos para o

desenvolvimento de uma nova teoria: o primeiro é que a nova

teoria substitui teorias mais antigas pois estas se tornaram

insuficientes ou que esta nova teoria baseia-se em teorias

anteriores, sem descartá-las. A nova teoria ocorre em

atendimento daquilo que as mais antigas já não explicam mais.

Se as teorias mais antigas são substituídas pelo

Conectivismo, então quais são as suas bases de sustentação? Se

o Conectivismo é construído por teorias anteriores, como é sua

integração com as antigas e a nova teoria para ser conduzida?

A teoria do Conectivismo é uma estrutura teórica para a

compreensão do processo da aprendizagem e o ponto de partida

acontece quando o conhecimento é acionado ao longo da

aprendizagem, quando houver a conexão e a alimentação de

informações de um aluno em uma comunidade de aprendizagem.

Considerações finais

A Educação precisa olhar para além das fronteiras e das

formas tradicionais de ensino. A presença de outros valores

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introduzidos pelas novas tecnologias e sua interatividade com

o comportamento humano contemporâneo, apresenta novos rumos,

opiniões e pensares para a comunidade científica da Educação

Tradicional. A identidade tem que ser revisada e como tal,

reconstituída para conquistar de vez o efeito colateral de uma

nova espécie de ser humano, resultante da nova ecologia criada

pelas tecnologias.

A velocidade da criação (ou invenção) das tecnologias é

maior do que a capacidade humana de absorvê-las, otimizá-las e

em seguida disponibilizá-las à sociedade. Os softwares

disponíveis ainda não abrangem, em sua totalidade, a

multiplicidade tecnológica e suas interligações com os

equipamentos disponíveis ao público escolar. O alunado, por

sua vez, e com muita frequência, chega aos bancos escolares

portadores de tablets, smartphones e netbooks, sem que o seu

professor, conheça e domine com maestria uma metodologia que

se aproprie destes mesmos equipamentos, em prol do crescimento

e desenvolvimento dos conteúdos educativos aplicáveis à sua

clientela.

Um conflito teórico-metodológico se instalou ao considerar

o Conectivismo uma metodologia educativa. Enquanto que o aluno

(conhecedor de muitas destas novas tecnologias e dispositivos)

as utiliza em seu cotidiano, sem que seja estimulado a pensar

sua vida ou seus objetivos profissionais. Há um mercado

consumidor de Games, de Gadgets e aplicativos. Existem

aplicativos disponíveis para tudo que imaginarmos, desde

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receitas das mais diversas gastronomias, até a chamada de um

taxi na porta de nossas casas.

E porque não encontramos aplicativos, que possam ser

instalados nestes mesmos tablets ou smartphones, fazendo com que

nossos jovens aprendam a decidir ou incluir em seu cotidiano

uma compreensão da vida, de seus relacionamentos e de seus

propósitos futuros? Este é um dos desafios que será,

certamente, enfrentado pelo Conectivismo.

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