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Bíblia e Mistérios Comentários bíblicos com chaves místicas Mariano Soltys

Bíblia e Mistérios - Mariano Soltys

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Bíblia e Mistérios Comentários bíblicos com chaves místicas

Mariano Soltys

Bíblia e Mistérios

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Catalogação

SOLTYS, Mariano. Bíblia e Mistérios:

comentários bíblicos com chaves místicas. São

Paulo: AG Book, 2013.

Bíblia e Mistérios

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Prefácio

É impressionante como a mesma Bíblia pode se prestar a interpretações várias, desde a literal donde brotam os desafios hermenêuticos pelas contradições, até a mais espraiada cuja meta é redimensionar a contradição para lhe minar a oposição interna. Soltys vai para linhas herméticas e exotéricas de modo que aquilo que é figurado torne-se ainda mais figurado. Uma coisa é certa: na Palavra de Deus a mensagem é tudo. Tudo é pensado e escrito de modo a calcular de antemão a impressão do leitor. Não interessa o que foi ou o que aconteceu, mas como as coisas devem ser moral e espiritualmente concebidas. Os personagens equivalem a conceitos de uma teoria, ou para usar um termo mais genérico, peças de uma metanarrativa. Enquanto que o simbólico tem um significado, Soltys agrega o simbólico ao simbólico, interpretando o símbolo por ele mesmo. Em Soltys interpretações gnósticas e de uma espiritualidade superior são manejadas sem trair a mensagem original do texto bíblico. Cabala, metáfora, códigos e chaves, números e figura, tudo isso aparece em Soltys. Ele é esse filósofo místico que nos brinda com a mensagem do verso e do reverso do texto, mostrando que o texto tem vida própria e sempre diz infinitamente mais do que pretendeu dizer. Obrigado, Mariano, por nos honrar com tamanha comenda. Deus que sempre foi, continue sendo sua força.

Cléverson Israel Minikovsky, autor com a 22 ª obra em curso

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Prefácio do autor

Continuando o trabalho feito em “Bíblia e Misticismo”, essa obra coroa uma série de interpretações avançadas do Evangelho, em especial naquelas passagens que muitas vezes vemos obscuras em outros livros. Muitas vezes falo com as pessoas que trabalham com a Bíblia, seja em sua corrente religiosa, ou por outra obra, e percebo que mesmo elas não compreendem muitas das passagens, em especial aquelas que carregam certa mística. Como esses textos são judaicos, percebi que já muito foi estudado dos mesmos, e que existem escritos místicos como o Zohar, o Sepher Yetzirah, o Tanya, Pistis Sophia e outros, que nos dão a chave de muitos dos mistérios ocultos em passagens como os presentes no livro do Gênese ou mesmo de Ezequiel, bem como de João, que são cheios de simbologias. A teosofia colabora também em algumas descobertas pela interpretação. O livro possui uma linguagem leve, sem defesas teológicas ou críticas científicas, uma vez que aqui respeitamos mais uma vez o livro dos livros, acima de tudo. Esse livro contém também informações de escritos que dão a dimensão histórica e arqueológica de certas passagens, mostrando as obras que resultaram da fé. Outrossim, trago a contribuição dos evangelhos apócrifos, especialmente os descobertos por arqueólogos em Q’unram, no Egito. Descubra os mistérios mais profundos da Bíblia. O livro te deixará estupefato com as interpretações. Boa leitura.

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Sumário

BÍBLIA E MISTÉRIOS ..................................................7

Tempos pré-adâmicos e pré-diluvianos ...................8

Adão criado do pó de Marte .....................................12

Moisés, sua vara, Mar Vermelho e Páscoa ...............15

Interpretação referente a animais na Bíblia .............18

Ciro, arqueologia e messianismo ..............................22

Bíblia e mitologia ......................................................25

A mística da Bíblia segundo Swedenborg ................32

Bíblia e Alcorão .........................................................35

O nome do salvador ..................................................39

O cristianismo mártir e a simulação teológica .........42

Jesus segundo Talmud .............................................46

Multiplicação dos pães e cabala ...............................50

Cristologia alta ..........................................................42

O significado místico da Páscoa ...............................56

Nascimento para o alto .............................................59

Purgatório, testemunho e livro dos Macabeus .........61

Anjos criados, arcanjos, querubins e cabala ............64

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Templo cristão e comércio ........................................67

Os essênios e conexão José e Asafe ..........................70

Acréscimos no Evangelho .........................................76

COMENTÁRIOS A EZEQUIEL .....................................76

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DE JOÃO ...........94

BÍBLIA E MISTÉRIOS ..................................................121

TEOSOFIA E EVANGELHO .........................................128

Bíblia e Mistérios

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Bíblia e Mistérios

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Tempos préTempos préTempos préTempos pré----adâmicos e préadâmicos e préadâmicos e préadâmicos e pré----diluvianos diluvianos diluvianos diluvianos

“Naqueles dias estavam os nefilins (gigantes) na terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Esses nefilins eram os valentes, os homens de renome, que houve na antigüidade”. (Gen. 6:4)

“Porque se Deus não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo”. (2 Ped. 2:4)

Lendo a Bíblia de Estudo Dake, percebi já de

início bons estudos e comentários, talvez os

melhores, e dando importância ao tema dos

gigantes, de Lúcifer no tempo pré-adâmico e do

dilúvio de Lúcifer (diferente do de Noé...). Assim os

anjos que se rebelaram, gigantes e outros, parece

que receberam seu juízo. Samael (ou Lúcifer) se

opôs as leis cósmicas e naturais, e assim contrariou

a Deus e a Sua providência. Mas com pouca

informação na própria Bíblia, como podemos saber

dessas coisas antes de Adão?

Mesmo na Bíblia há muita informação,

apesar de velada. Em Isaias se fala no rei de Tiro, e

assim vemos lá a figura de Lúcifer. Na serpente, e

mesmo no Apocalipse há muito desses mistérios.

Mas os gigantes viveram até o tempo de Noé, ou

seus descendentes depois, ainda (cananeus,

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filisteus etc). Vemos que além dos livros canônicos,

que alguns apócrifos dão-nos respostas, como o

“livro de Enoc”, que fala das lições a que nos deram

esses anjos ou gigantes. Também a tradição oral

judaica e seus escritos de sábios, como Talmude,

Zohar e Mishnas dão muitas respostas sobre

Samael e os anjos.

Mas sem um estudo maior não se pode ir

além nessa hermenêutica da Bíblia. Vemos assim

em estudo de religiões comparadas às respostas as

lacunas que encontramos sobre esse tempo pré-

adâmico e mesmo pré-diluviano. Várias tradições

falam da “guerra dos gigantes contra os filhos dos

deuses” e isso está quase literal na Bíblia também,

podendo-se traduzir o termo Elohim por deuses.

Também que o mundo ou universo teria sido criado

perfeito, e se tornado imperfeito (queda). Mesmo no

hermetismo se entende que Deus (o Todo) criou

primeiro em Sua mente, para depois manifestar no

material, pois toda a criação é mental. Tais gigantes

também na tradição hindu, védica e purânica, não

são tidos como maus, mas com uma missão no

desenvolvimento do homem, sendo que esses anjos

eram espíritos ainda, e por isso de tamanho

descomunal.

Ademais, além de que os anjos habitavam

outros mundos antes da rebelião de Lúcifer-

Samael, como Marte e Vênus, vemos que o próprio

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termo Lúcifer se pode traduzir por Vênus, a “estrela

da manhã”. Essa guerra de gigantes e filhos dos

deuses se deu porque os primeiros pecaram por

demasia, e que usavam de magia negra e toda sorte

de confusões e guerras. Assim estes eram os

Atlantes, e por isso ainda do livro do Gênese colocar

em seguida o dilúvio, pois foi por meio deste que se

destruiu a Atlântida, a terra dos gigantes. A relação

das águas com o éter do universo também é feita

por esoteristas e vemos assim que houve um dilúvio

do universo, com destruição de planetas (por

meteoros... Sodoma e Gomorra?) e que ainda houve

um dilúvio no mundo, retratado em mais de 100

culturas, com seus Noés construindo barcos, arcas,

jangadas, cabanas etc.

Vale ressaltar que a tradição bíblica se

assenta em algo que está retratado por outras

religiões, e que representa alguma verdade, senão

literal, por certo cósmica e mística. E tais gigantes

podem ter existido tanto no astral como no real, e

que houve por certo alguma experiência genética

entre homens e anjos, simplificada nas Escrituras

sagradas. Também que outros mundos existiram e

que coisas muito misteriosas mesmo em nosso

mundo existem, como pirâmides e coisas que não

poderiam ser construídas com a tecnologia de

homens do passado. A Bíblia é assim também um

livro de ciência oculta, e vai muito além do mero

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sentido literal, necessitando de diálogo inter-

religioso e de tradições orais para sua

compreensão.

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Adão criado do pó de Marte

“Observei a terra, e eis que era (seria) sem forma e vazia; também os céus, e não tinham a sua luz. Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam. Observei e eis que não havia homem algum, e todas as aves do céu tinham fugido. Vi também que a terra fértil era um deserto, e todas as suas cidades estavam derrubadas diante do Senhor, diante do furor da sua ira.” (Jeremias 4: 23-26)

“A terra era (seria) sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas” (Gênesis: 1:2)

Pesquisando autores judeus e místicos sobre

a Bíblia, eis que encontrei um brasileiro chamado

Misha’El Yehudá, que muito me impressionou com

suas teorias e jogos de palavras feitas na Bíblia,

códigos e descobertas. Sobre essas passagens ele

diz que a Terra não foi criada imperfeita, e que o

verbo está no futuro e não no passado, na

passagem do Gênese. Com base na gematria,

cálculo feito com passagens da Bíblia e mais

comentários de sábios, como o caso do Zohar, ele

desvenda uma série de passagens antes nebulosas.

Primeiro que Adão não era humano, não no

sentido de ser igual a nós corporalmente. Ele tinha

um corpo de queratina, segundo esse autor, e ainda

antes tinha um corpo de espécie de luz, uma veste

bio-luminescente que possibilitava viagens pelo

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universo, sem necessidade de aviões ou foguetes.

Foi assim Adão o primeiro astronauta. Na queda

teria assim perdido essa vestimenta e se escondido

dentro da Árvore das Vidas, que na verdade era a

Lua (Yesod). Mas esse Adão não foi feito do pó da

Terra, mas sim de marte, pois esse planeta se

chama Adamah.

Sobre a passagem em Jeremias, se fala de um

planeta habitado pelos anjos, pois eles foram

criados no 5° dia e alguns se rebelaram, seguindo

Samael, que não é outro que aquele que nós

cristãos chamamos de Lúcifer. Esse anjo e outros

habitavam planetas, e entre um deles estaria

Astera, e outro Marte, que teria sido este sim

banido e se tornado um deserto, conforme

Jeremias. Pela queda de asteróides assim havia

ocorrido, e apenas restando às pirâmides

construídas pelos anjos, pois são sua marca

arquitetônica (homens não construíram imensas

pirâmides). Alguns desses seres habitam o centro

desses planetas, sendo que o Jardim do Eden

estaria no centro do nosso.

Vemos assim que esse autor segue uma

tendência atual que é usar de misticismo

tradicional, como no caso do Zohar e da Gematria,

bem como a astronomia e astrofísica combinados a

ufologia. E que os anjos são mais reais que muitos

imaginam. Mas Adão teria assim em sua queda

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habitado o corpo de homens pré-históricos e

comido o pão com suor do seu rosto. Antes dessa

teoria, pra mim parecia estranho um homem de

terra vermelha, uma vez que aqui não vemos muito

desse solo. E de onde teria caído? De Marte parece

ser uma resposta mais recente com nossos

conhecimentos. O que vale é que a Bíblia possui

toda a ciência, inclusive a física quântica, e que as

descobertas humanas apenas vão confirmando os

saberes de místicos judeus e outros, como Einstein.

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Moisés, sua vara, Mar Vermelho, rocha e

Páscoa

“Falou, pois, o Senhor a Moisés e Arão: Quando Faraó vos disser: Apresentai da vossa parte algum milagre; dirás a Arão: Toma a tua vara, e lança-a diante de Faraó, para que se torne em serpente”. (Ex. 7:8)

“Falou, pois, o Senhor a Moisés e Arão: Quando Faraó vos disser: Apresentai da vossa parte algum milagre; dirás a Arão: Toma a tua vara, e lança-a diante de Faraó, para que se torne em crocodilo” (a Septuaginta e outras traduções falam em monstro de água e terreno, que era tal animal. Por equívoco traduzido por serpente.)

“E tu, levanta a tua vara, e estende a mão sobre o mar e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco”. (Ex. 14:16)

“Então disse o Senhor a Moisés: Passa adiante do povo, e leva contigo alguns dos anciãos de Israel; toma na mão a tua vara, com que feriste o rio, e vai-te”. (Ex. 17:5)

Moisés surgiu de um grande rio, e assim

partilhava de uma Providência que o ligava a esse

elemento água. Teve vários milagres e sinais em seu

ministério. Irmão de Arão, este assim possuía uma

vara ou cajado, de propriedades mágicas. Esse

cajado não é outro que não a Cabala, a tradição

dada nos mistérios hebreus, que começou com

Melki Sedec, ensino relativo à propriedade mágica

das letras hebraicas, através dos 72 Nomes de

Deus.

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A vara mágica simboliza a Vontade do mago.

Moisés praticamente a usou em todos os seus

milagres Também segundo um místico judeu o Mar

Vermelho é o Mar Infinito, e se refere a todas as

águas do mundo, que nesse dia inverteram seu

curso e congelaram. As águas se congelaram e

ficaram em muralhas, não meramente flutuando,

como mostra o cinema. Vale que a criança no útero

materno está nas águas e já recebe os

mandamentos de Deus. Também o sábio recebe já

nas águas a revelação de que veio de um dos

Patriarcas, profetas ou outros, pelo mistério da

reencarnação. Muitos profetas da Bíblia são os

mesmos em pessoas diferentes.

E Moisés veio de um cesto (útero), levado nas

águas. A rocha ferida pelo cajado tinha formato

cúbico, era de granito e media 4,5 metros de

largura por 3,5 de altura. Possuía espécie de

mecanismo e podia fornecer água a 6 milhões de

pessoas. As 10 pragas do Egito se referem a ataque

a seus deuses, também, como a Belzebu das

moscas, Serápis dos gafanhotos e assim por diante.

A Páscoa se refere a esse êxodo, sendo que ainda há

a festividade dos pães sem fermento, por sete dias.

O pão celestial foi usado por 40 anos, tendo

propriedades meio que especiais, como derreter

rápido (se não era congelado ou refrigerado...).

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O mar infinito se dividiu em 12, e assim

vemos as doze tribos de Israel. Aqui o simbolismo

nos leva a 12 constelações e aos 12 apóstolos do

Senhor Yeheshua (Jesus). Todos passamos pelo

Mar do Infinito e encontramos a vida, ainda pelo

cesto que nos leva. Partilhamos do mundo profano

ou de trevas e nos encaminhamos para a terra

prometida, que é o paraíso. Canaã tem leite e mel.

Assim o que é doce nos está reservado e no Messias

ou Yeheshua isso se vê cumprido, pela consciência

messiânica. Os crocodilos dos instintos são

controlados e os inimigos vencidos, pela vara da

Vontade. Moisés nos deu essa lição, sendo a Páscoa

da morte e ressurreição de Jesus a prova final de

tal Providência Divina.

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Interpretação referente aos

animais na Bíblia

“Se a oferta de alguém for sacrifício pacífico: se a fizer de gado vacum, seja macho ou fêmea, oferecê-la-á sem defeito diante do Senhor; porá a mão sobre a cabeça da sua oferta e a imolará à porta da tenda da revelação; e os filhos de Arão, os sacerdotes, espargirão o sangue sobre o altar em redor”. (Lev. 3:1-2)

“E disse Deus: Produzam as águas cardumes de seres viventes; e voem as aves acima da terra no firmamento do céu.” (Gên 1:20)

“Ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela que havia feito na arca; soltou um corvo que, saindo, ia e voltava até que as águas se secaram de sobre a terra. (Gên 8:6-7)

“Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito Santo de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele (Mat. 3:16)

“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. (João 1:29)

Os animais presentes na Bíblia são sinais de

uma grande sabedoria. Sua presença vai muito

além de descrições de fábulas de povos primitivos e

cultura de pastoreio. Também vai muito além da

descrição de costumes hebreus. Também quando se

refere ao sacrifício animal, segundo alguns sábios

de Israel, significa que o sacrifício é do animal que

está dentro do homem, e não fora, se referindo a

sua “alma animalesca” (sefer hará), onde estão as

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qlifot ou demônios, que se manifestam pela treva,

vícios e coisas que afastam da luz do Criador. Mas

a simbologia vai ainda mais além, sendo mais uma

forma de alegoria astronômica e angelologia.

Muito da chave de interpretações desses

animais sob ponto de vista místico está na cabala,

mais especificamente no seu livro principal, o

Zohar, que é um vasto comentário sobre a Torá ou

Antigo Testamento da Bíblia. Lá se dedica muito ao

livro do Bereshit (Gênesis), e já no presente se trata

os animais como “seres viventes”, que é uma

referência clara aos anjos. Quando se fala em aves

do céu no versículo vinte do primeiro capítulo, em

verdade se fala em anjos, e não pássaros ou aves.

Também em outras passagens referentes a animais,

ou “viventes”, a interpretação é anjos. Esses anjos

são os mesmos que “puxam” o carro de Deus

descrito em Ezequiel (Merkabah), que são bois, ou

melhor, querubs (querubins). E os mesmos que

guardam a entrada do Éden. Estão assim no

firmamento porque são estrelas, astros e corpos

celestes, e têm influência direta em nossa realidade

por sua energia, sendo assim os 12 animais do

zodíaco, ou constelações da astronomia antiga. Daí

que as 12 tribos de Israel é uma referência a todos

os povos da Terra e do universo, não apenas a uma

raça ou povo. A serpente é uma referência a

constelação de escorpião (povos do oriente viam a

semelhança da constelação com forma de

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serpente...), sendo uma influência negativa do céu,

logo ligada ao mal e ao adversário.

Por outro lado, em relação a Noé, quando vem

aquele corvo, fica clara uma alegoria astronômica

com Saturno, ou aquele que se relaciona a morte,

barreira (Shatan) e toda a simbologia que envolve o

anjo ou deus do tempo. Povos antigos o chamavam

de Cronus. Saturno é um planeta ligado a

capricórnio ou o “bode”, assim a Satã (que foi

representado com chifres e tem características de

dificultar a vida do cristão...). Assim percebemos

que o fim de um tempo ou era anunciava um novo

tempo, de mais justiça e equilíbrio. Noé segundo o

livro de Enoque era um filho de “gigante”, e esses

gigantes não eram outros que os anjos que tiveram

filhos com as mulheres humanas. Então o corvo é

apenas uma barreira momentânea que vem antes

da grande conquista. Antes da bênção acaba vindo

um deserto. O dilúvio é também universal,

ocorrendo nas “águas” do firmamento, ou seja, no

céu e nos astros. O perigo de extinção não era

apenas da Terra, mas do universo todo.

Nesse sentido estão a pomba do Espírito

Santo e o cordeiro de Deus, ou Cristo. No

cristianismo primitivo não existia a figura de um

homem pregado numa cruz, mas sim a de um

cordeiro. Assim vemos uma analogia com o que os

antigos tinham na astronomia como Áries, sendo

que esse símbolo era do Sol crucificado em Áries,

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por isso da páscoa em março. A pomba do Espírito

Santo é muitas vezes entendida como meramente

paz, porém o animal desde todos os tempos antigos

foi uma referência a Vênus, que rege em grande

parte o sentimento do amor. João disse que Deus é

amor. Então Jesus foi batizado nesse aspecto, e o

fogo do batismo do Espírito Santo pode ser a chama

do fênix, que era uma ave lendária que

ressuscitava.

Assim vemos que os animais presentes na

Bíblia representam grandes verdades, e que sob

aspecto místico nos revelam segredos elevados,

como características de anjos, que ainda se

relacionavam aos planetas e estrelas do céu. Assim

por traz da simbologia mora um aspecto bem

profundo e geralmente não interpretado, vendo

aspectos biológicos e históricos, em um livro que

era escrito em um tempo em que a visão mais

importante era a espiritual, mesmo que por uma

linguagem simples e pastoreia. E os sábios sempre

observaram isso do modo que vemos no Zohar,

sendo que guarda a Bíblia grandes verdades para

todos os tempos.

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Ciro, arqueologia e o

Messianismo

“Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis; para abrir diante dele as portas, e as portas não se

fecharão; eu irei adiante de ti, e tornarei planos os lugares escabrosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro”. (Isa. 45:1)

“Que digo de Ciro: Ele é meu pastor, e cumprira tudo o que me apraz; de modo que ele também diga de Jerusalém: Ela será edificada, e o fundamento do templo será lançado” (Isa. 44:28).

“Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus do céu me deu todos

os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá. Quem há entre vós de todo o seu povo suba, e o Senhor seu Deus seja com ele. (Torá, II Cro. 36:23)

No livro de Isaías vemos a referência e esse

iluminado que venceu o poder de Babilônia, que

havia dominado anteriormente Judá. Esse rei da

Pérsia aparentemente em uma hermenêutica é

muito mais que o mero sujeito que viveu ao seu

tempo, sendo que a compreensão é muito mais que

histórica e moral. Apesar da existência do “Cilindro

de Ciro”, tesouro de arqueologia bíblica, onde se

Bíblia e Mistérios

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fala dessa conquista. Fato é que se revela grande

saber na arte da guerra, e por consequência, na

libertação do povo judeu do jugo babilônico.

Mas o messianismo judeu já é de longa data

uma referência de elevada hermenêutica ou

interpretação das Escrituras. Vemos que com o

cristianismo se dobrou o livro de Isaías para ver em

todas as referências a pessoa de Jesus Cristo,

quando em muitas vezes falava mais em Ciro, ou

em Emmanuel, que era também outro homem.

Apesar que isso nada modifica, porque Cristo é

mais que um homem, sendo Homem-Deus. Já nos

escritos de Saint Martin e Jacob Böehme vemos

bem a dimensão divina do Salvador. Assim o Cristo

pode estar junto a rei Ciro, como a qualquer rei

onde se faça um com o Pai, ou com Jeová (IHVH). O

que revela uma universalidade do messias, é que

Ciro é um gentio. Desta forma, vemos que o “povo

escolhido” também é democrático, e que em Jesus

isso se ampliaria, com auxílio de seu tutor João (o

filósofo), bem como em Pedro, Bartolomeu, Mateus,

Paulo e outros que nem sempre eram

circuncidados. Jesus sendo um cabalista (da ordem

de Melquizedeque e essênio), abria a outras nações

a salvação. Unger fala que Ciro é modelo de

messias. E Ciro estava profetizado em várias

passagens, e teve importância para Jerusalém e o

templo, conforme Josefo. Fala que o templo de

Jerusalém lá era dedicado ao culto ao Sol.

Bíblia e Mistérios

24

Mas Ciro, sendo herdeiro desse reino de

Nabucodonosor, também é suspeito. Também há a

coincidência de vários povos terem cultos parecidos

ao de Israel, como a dualidade entre um deus bom

e outro inimigo, as leis morais (como não matar,

roubar, etc, conforme Livro dos Mortos), mesmo

pelo zoroastrismo e certos nomes. Babilônia não

significa como apenas alguns veem, confusão, terra

de pecado e perdição, mas “cidade de Deus”, e no

mais extremo, portal para o Sol. Em apocalipse

vemos uma analogia com a prostituta ali descrita,

montada na Besta, o que tem bem esse conjunto de

significados. Escavações de Laquis, os manuscritos

do Mar Morto, escavações em Ras Shanra,

cerâmicas descobertas, escritos cuneiformes,

poliedro de Senaqueribe, pedras escritas em

alfabeto aparentemente semítico, e uma série de

descobertas estão revelando fatos históricos que

complementam as Escrituras.

Quando em crônicas se diz que a Ciro, Deus

deu todos os reinos da terra, nos leva mais a

pensar em Satanás, do que em Jesus. Porém a

consciência messiânica acabará por governar todas

as coisas, pelo reino de amor, perdão, e uma

fraternidade real. Isso vem aos poucos sendo

semeado por diversas pessoas que encontram

Deus, em Deus do seu coração. Assim Ciro estava

com Cristo em seu coração, pois cumpria com a

missão de libertar um povo, e bem como de abrir

Bíblia e Mistérios

25

caminho para o ministério de Jesus. Ciro II é

importante para a reconstrução do templo, bem

como com auxílio do general Dario. Especial é Deus

usar de quem não é esperado para a Sua obra.

Vimos também nos evangelhos apócrifos,

descobertos e que vêm com a arqueologia no geral

revelando coisas, que existe sintonia dos povos, e

que o “braço” de Deus está por todos o universo.

Mesmo Ciro prefigurando Cristo, não foi o ideal de

Isaias, e o Mashiah (Messias) teria de assim ser

alguém de uma obra mais espiritual. Outros

escritos, como o Zohar, veem em muito uma

semelhança do Messias com o Anjo da Face,

Metatron.

Assim vemos que a consciência messiânica, e

Cristo mesmo há de governar as nações, não por

uma figura histórica, mas pela presença de seu

Espírito Santo em todos aqueles que buscam a

salvação espiritual. E Ciro em muito revela um

ungido, abençoado a abrir a porta para esse

caminho, justamente em Babilônia (o portal, cidade

de Deus etc), com o desvio do rio Eufrates e a

embriaguês dos inimigos em seu auxílio.

Bíblia e Mistérios

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Bíblia e Mitologia

“Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os calcanhares do cavalo, de modo que caia o seu cavaleiro para trás. (Gên. 49:17)

“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra tu que prostravas as nações!” (Isa. 14:12)

“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco” (Mat. 1:23)

Vemos quase sempre a referência a

mitologias sob um enfoque frio e sem devida

valorização da simbologia. Por outro lado, vemos a

utilidade da mesma pela psicanálise, com

explicação de comportamentos humanos. Também

vemos que o conhecimento antigo de astronomia

estava também nessas mitologias antigas. Porém

percebemos que também na Bíblia há muito de

herança dessas mitologias, e que um Heródoto,

Ovídio e outros também tiveram sua parcela de

inspiração pelo Espírito Santo. Não é necessária

muita reflexão para se ver em vários personagens,

como Prometeus, Démeter, Hércules e tantos

outros, como semelhantes a aqueles que

Bíblia e Mistérios

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presenciamos na Bíblia. Não é difícil ver a

semelhança entre Davi e Golias e Hércules, ou

mesmo entre Lúcifer e o titã Prometeus.

Desde que vi uma passagem em Gênesis com

Jacó e seus doze filhos, já pude notar da alegoria

astronômica e da sabedoria superior que isso

revelava, muito além de mera história de família.

Claro que também podemos ver as 12 tribos de

Israel, mas não é forçoso pensar nas 12

constelações que eram conhecidas dos antigos.

Corine Heline disse: “Mitologicamente, Sagitário se

vê na esquina da corrente de estrelas que aponta,

através de sua névoa de luz, a grande estrela

vermelha Antares, que brilha no coração de

Escorpião. Ovídio disse: 'O arqueiro aponta

escorpião com seu arco'. No Gênesis, 49:17, quando

Jacó está bendizendo a seus doze filhos, diz com

relação a Escorpião: Dã será serpente junto ao

caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os

calcanhares do cavalo, de modo que caia o seu

cavaleiro para trás.” (Mitologia e Bíblia). O cavalo e

o cavaleiro se refere a sagitário, a essa constelação

e a serpente se refere a escorpião. Assim a

referência a serpente é muito o lado do ego que se

afasta da luz do Criador, de modo a ser mal vista

pelos hebreus. Porém também Cristo é prefigurado

na serpente do posto, feita por Moisés para salvar

Bíblia e Mistérios

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os homens do veneno das víboras. Mas a referência

principal é uma alegoria astronômica da Bíblia.

Já Lúcifer foi citado por Isaías, ou pelo menos

uma referência a estrela Vênus ou alguma

assemelhada. Mas vemos nessa Lúcifer descrito

pela tradição cristã como algo muito parecido ao

Prometeus, o titã que teria roubado o fogo dos céus

e dado ao homem, sendo mesmo o “criador” do

homem. A bíblia ainda relaciona, ou alguns de seus

intérpretes, com a serpente, o que nos leva a ideia

de escorpião (no oriente a astrologia assim

representa...), de modo que a analogia vai com o

fruto proibido (fogo dos céus?) e com a árvore

(sagrada?), de cujo se retira o fruto. O pecado seria

dar o conhecimento ou distinção, de modo que o

homem teria alguma parcela divina, o que não

deveria ter, nesse ponto de vista. Em Isaías muitos

falam que o mesmo se referia ao rei Ciro, pesar de

que este tem papel positivo na libertação do povo

hebreu, o que nos leva a certa reflexão. O símbolo

porém atravessa várias religiões e mitologias,

estando presente também na Bíblia. Lúcifer, o

portador de luz, passou a ter assim significado

negativo com a tradição, mas nem sempre foi

assim. Corine Heline disse: “Prometeus o titan,

criador da Humanidade, de acordo com o lado

formal da natureza, é Lúcifer da lenda hebraica.

Vulcano, como Prometeus, um deus de fogo, é outro

Bíblia e Mistérios

29

caído e essa queda representa outra faceta de

Lúcifer, brilhante como una gema. Vulcano era

ferreiro, um trabalhador do metal, um construtor.

Foi sua mão que confeccionou o palácio de Apolo

(...) a amável forma de Pandora sobre o monte

Olimpo, todas las belas e brilhantes moradas de

deuses e deusas. Essas moradas que, em sua

totalidade, constituem o universo visível” (Mitologia

e Bíblia). E “O caído Vulcano é Hiram Abif da lenda

maçônica, que construiu o templo de Salomão (o

sistema solar)” (idem). Assim observamos que o

construtor e o ferreiro ganham grande importância,

uma vez que as artes de ofícios teriam sido

ensinadas pelos anjos, e assim relata ainda o livro

de Enoque. Ademais, as guerras dos céus e dos

gigantes anuncia isso e daí vemos o dilúvio, que

envolveu mais que meramente o pecado humano,

porém algo que também se referia aos “gigantes” ou

anjos. E Cristo é o construtor ou carpinteiro

central na obra do Universo.

Vemos que há muita semelhança entre essas

que vieram da mitologia e Maria, e que tudo sempre

está anunciado a todas as nações. Não se deve por

isso apenas julgar na dicotomia ídolos/Deus

verdadeiro, uma vez que Deus está acima dos ídolos

e esses tiveram ou têm utilidade. Contudo as

grandes verdades estão presentes, e a mitologia não

se afasta na mensagem do Evangelho, partilhando

Bíblia e Mistérios

30

ambos do mesmo mistério. Corine disse sobre

Maria: “Astrea é a Virgem Celestial. A Virgem Mãe

Terrenal é Ceres ou Deméter, e Virgo se identifica

com ela e também com a egípcia Ísis. Os Sábios

compreenderam que a suprema mãe de cada

religião, la Madona o Virgem Mãe do Salvador do

Mundo - Isis, Istar, Ceres, Mirra, Maria - foi

instalada nos Mistérios da Virgem ou Ritos de

Madona, na hierarquia de Virgo. A ascensão de

Maria demonstra esta consecução por ela”(idem).

Para tanto, sabemos que há uma verdade

maior nisso tudo. Quando Annie Besant escreveu

sua obra “Cristianismo esotérico”, donde dedica

capítulo ao Cristo mítico, claro fica que existem

várias dimensões além da histórica e moral nas

escrituras, e que isso faz da Bíblia um livro que

atravessa os tempos e que é tolerada e aceita por

diferentes nações. Muitos céticos e mesmo ateus

usam desse argumento para desvalorizar a Bíblia,

mas se equivocam por não perceber a dimensão

mística, que é aquela que perdura e sustenta algo

maior que a religião social. A espiritualidade é

muito maior do que entendem os cientistas

ortodoxos, céticos e ateus. E tanto nos antigos

mistérios, quanto no atual de Cristo, vemos que a

verdade maior impera, e que isso não deve nunca

ser visto apenas com racionalidade fria a calculista,

mas se deve ver com a intuição maior, que requer a

Bíblia e Mistérios

31

humildade de “lavar os pés” dos outros, antes de

apenas julgar.

Bíblia e Mistérios

32

A mística na Bíblia segundo

Swedenborg

Emanuel Swedenborg foi o primeiro médium

da idade moderna, ficando famoso por prever um

incêndio que ocorreria a 400 km de onde estava.

Também sabia 8 idiomas e era contra a leitura

literal da Bíblia, o que eu também tentei fazer nesse

site que agora divulgo presente artigo. Ele

acreditava que a salvação do homem não vinha por

reencarnação, mas sim por regeneração, e que

Jesus Cristo é Deus. E para a regeneração é

necessário o intelecto. E sua doutrina está em

sintonia com o Verbo, aparentando espécie de

cabala. Afirma que conviveu e dialogou com

espíritos, e os diferencia dos anjos.

Obre interessante desse autor é Arcana

Cælestia, onde comenta o texto do Gênesis. No livro

que pesquisei, há também o Apocalipsis Revelata,

onde comenta o livro da Revelação. Fato é que sua

hermenêutica gira em torno do Verbo e da

regeneração do homem, pelo que ensinou Cristo.

Também o que interessa pra ele é a Igreja Nova, em

contraste a Igreja Antiga, o que seria simbolizado

pela Nova Jerusalém.

Bíblia e Mistérios

33

Sobre o Apocalipse, Swedenborg é claro que

nada tem a ver com coisas e governos do mundo,

mas se refere ao céu e assuntos espirituais. Então

contrasta bem com doutrinas que vemos divulgadas

em igrejas norteamericanas e mesmo com linha

protestante, apesar do autor ser praticamente uma

grande influência junto com Lutero, para essa

linha. Para ele as Bestas não são mais que

doutrinas mal interpretadas do cristianismo, como

as heresias e mesmo seitas. A simbologia toda gira

em torno da velha Igreja e da nova, e do homem

pecador e do regenerado. Seria o que martinistas

chamam de o Novo Homem. Então, após a queda o

homem estaria salvo pela Igreja de Cristo. O dragão

é a Igreja anterior a Cristo.

Já no que se refere ao Gênesis, fica claro que

o autor entende os 6 dias da Criação como uma

regeneração do homem pelo Novo Adão, que é

Jesus, e assim o homem não atingiu ainda esses

seis graus de seu desenvolvimento. Os segredos do

desenvolvimento seriam o amor, a fé e a caridade.

De certo modo traduz bem o modus operandi

cristão. A diferença de espíritos e anjos, é que

espíritos fazem a comunicação com mundo

espiritual, e anjos fazem a comunicação com o céu.

E anjos seguem quase que exclusivamente a

vontade de Deus, através de suas leis.

Cabe por fim observar que esse místico,

teólogo, cientista e inventor, isso sem falar em seus

Bíblia e Mistérios

34

cargos acadêmicos, foi grande expoente do

pensamento e que por algum esquecimento não é

trazido com tanta relevância à história. Lutero ficou

com todo o mérito. Livre pensador e místico da

experiência, se diferencia de meros interpretadores

da Bíblia, uma vez que tinha contato com espíritos

e anjos, isso sem falar na cultura de sua época,

muito mais voltada para a espiritualidade que a

atual. Sua hermenêutica deve ser lembrada, e

parece que em muito influiu no pensamento

cristão, seja de linha protestante, ou até mesmo

diversas outras.

Bíblia e Mistérios

35

Bíblia e Alcorão

Deus é justo e misericordioso. Ao crente Ele

reservará o Paraíso, enquanto que ao incrédulo ele

reserva o Geena ou Inferno, onde haverá fogo ou

água fervente para beber. Isso alguém dirá que está

escrito na Bíblia, mas aqui lembrei de um livro

pouco conhecido entre cristãos e ocidentais, que é o

Alcorão. Mensagem de Deus revelada a Mohamed,

pelo anjo Gabriel (ou Espírito Santo por ele). Há

narrações bíblicas de Adão e Eva, José, Noé, Jesus,

e especialmente Moisés e Abraão. Também, no Livro

se tem a forma de superar erros de judeus e

cristãos, descrenças, e assim reatar a aliança,

buscando-se ser justo e crente em Deus ou Alá. Há

um certo respeito também a esses povos do Livro,

pois sustentam, o mesmo monoteísmo. Assim

algumas citações do Alcorão devem ser lembradas,

onde se fala inclusive de Jesus:

“E Deus é Quem envia os ventos, que movem

as nuvens (que produzem chuva). Nós as

impulsionamos até a uma terra árida e, mediante

elas, reavivamo-la, depois de haver sido inerte;

assim é a ressurreição!” (Alcorão, 35a Surata,

Versículo 9)

Bíblia e Mistérios

36

Aqui nesse se vê a crença na ressurreição.

“As ossaduras secas (Ez 37:1-10) e a

reconstrução do templo (Neemeias 1;12-20) e

muitas outras lendas judaicas, referem-se não só a

ressurreição do indivíduo, mas da nação.

“E ele será um Mensageiro para os israelitas,

(e lhes dirá); Apresento-vos um sinal de vosso

Senhor: plasmarei de barro a figura de um pássaro,

à qual darei vida, e a figura será um pássaro, com

beneplácito de Deus, curarei o cego de nascença e o

leproso; ressussitarei os mortos, com anuência de

Deus, e vos revelarei o que consumis o que

entesourais em vossa casas. Nisso há um sinal

para vós, se sois fiéis”. (Alcorão, 3a Surata,

versículo 49)

Aqui se confirma o evangelho apócrifo onde

Jesus na infância traz vida a pássaros que molda

do barro.

“E quando os anjos disseram: Ó Maria, por

certo que Deus te anuncia o Seu Verbo, cujo nome

será o Messias, Jesus, filho de Maria, nobre neste

mundo e no outro, e que se contará entre os diletos

de Deus” (Alcorão, 3a Surata, Versículo 45)

Aqui falando sobre Jesus, que entendem como

justo profeta.

“E de quando os discípulos disseram: Ó

Jesus, filho de Maria, poderá o teu Senhor fazer-

nos descer do céu uma mesa servida? Disseste:

Temei a Deus, se sois fiéis!

Bíblia e Mistérios

37

“E disse Deus: Fá-la-ei descer; porém, quem

de vós, depois disso, continuar descrendo, saiba

que o castigarei tão severamente como jamais

castiguei ninguém na humanidade”. (Alcorão, 5a

Surata, Versículos 112-115)

“Falará aos homens, ainda no berço, bem

como na maturidade, e se contará entre os

virtuosos” (Alcorão, 3a Surata, Versículo 46)

Aqui também uma relação com evangelho

apócrifo, onde Jesus teria falado desde bebê.

Vemos ao longo do Alcorão uma grande

lembrança entusiasta de eventos vividos por

profetas, por Noé, por Moisés superando

perseguição de Egípcios, bem como regras mais

práticas, como a respeito do divórcio. Então o

Alcorão não apenas tem regras severas contra

mulheres, mas também algumas realistas, como

essa do divórcio:

“Ele foi quem criou os humanos da água,

aproximando-os, através da linhagem e do

casamento” (25ª Surata, verso 54).

“A reconciliação é recomendada, mas se eles

realmente optam pela separação, é injusto mantê-

los ligados indefinidamente. O divórcio é o único

expediente justo e equitativo, embora, como o

mensageiro declarou, de todas as coisas permitidas,

o divórcio seja a coisa mais odiosa aos olhos de

Deus” (114ª Surata, verso 96).

Bíblia e Mistérios

38

E sobre isso, apesar de muitos ocidentais

pensarem em poligamia, e muitas esposas, o

costume islâmico mais atual é de se ter uma esposa

apenas. E segundo ele o casamento é metade da

religião.

Há também um misticismo islâmico, que se

chama sufismo, com grandes lições. Sufi significa

lã, e por os seus se vestirem assim, forma de tal

modo chamados. Além de preces, invocações e

meditações, os místicos sufis têm uma dança

especial. A doutrina sufi parece uma gnose

islâmica. Assim pensamento elevado e cheio de

espiritualidade, distante de meras regras de

costumes, que fizeram alguns se afastarem da

religião. E uma conciliação entre sunitas e xiitas.

Mas de todo o modo, vemos que a Bíblia não se

afasta do Alcorão, e que apenas são culturas

diferentes, porém com mesmo Deus. Fato é que já

São Francisco a seu tempo foi contra cruzadas

contra muçulmanos e disse que devemos muito

amar esses nossos irmãos. Um dito sufi diz: “Não

ataques nem judeus, nem cristãos, nem

muçulmanos, mas golpeia a tua própria alma e não

cesse de golpeá-la até que ela morra” (Xeque

Darqawi).

Bíblia e Mistérios

39

O nome do Salvador

Disse João: “Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo” (versão João Ferreira de Almeida).

Transliterado

Em 1 Yaohukhánam (mudado para João) 4:3 diz que: “e todo espírito que não confessa a Yaohúshua não procede de Yáohuh Ul; pelo contrário, este é o espírito do Anti-Mehushkhay (anti-Ungido), a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo.”

Vemos que com o imperador Constantino o nome

Yeoushua foi substituído por Jesus, e assim como outros nomes

divinos e poderosos da Bíblia, houve uma perda de poder e de

autenticidade. Isso foi feito por uma falsa tradução da

septuaginta, usada até hoje, como base a outras

Bíblias. “Logo um cego conduz a outro cego”.

Algumas tradições místicas, como a de Martinistas,

ou mesmo a de judeus messiânicos percebem isso,

ao entrar diretamente com o hebraico. O nome

Jesus tem outro significado, não tanto de ungido,

mas mais de “cavalo” (Ye=Deus, Sus=cavalo),

tristemente. E isso muda totalmente o sentido do

Nome, uma vez que falamos no Filho de Deus, na

parte da Trindade. Fato é que tanto a Igreja

Bíblia e Mistérios

40

romana, hoje passando pela transformação de

procurar um novo Papa, tanto pelas que surgiram

do sistema luterano, se veem com traduções e

traduções do nome “Yesus”, que por si está bem

longe do Yeoushua, original. Ora, se Deus fala que

Ele tem um nome, seria obra de Satã alterar esse

nome. Tal mudança se deu da tradução do grego

para o latin. O nome de Yeshua, por outro lado,

guarda dentro de si o nome de Deus, IHVH, que

resulta em 72. Yesus não é um dos 72, e nem

outros Nomes sagrados presentes na Torá/Bíblia.

Um nome mudado em sua tradução pode ter outro

significado, e em se pensando também em João,

alguns podem refletir no João do pé de feijão e

outros contos profanos. O que é sagrado não pode

ser modificado, e vemos que cada vez mais não

apenas em nomes, mas em traduções se mudam

inclusive dogmas cristãos, a fim de se defender a

visão de determinada seita. O primeiro capítulo de

Yaohukhánam (João) prova isso, onde se fala na

Palavra e acaba-se por modificar a fim de inserir a

figura do homem Jesus dentro dela, o que não

ocorre no original. Querendo se facilitar, faz com

que se perca o sentido original. O mesmo se faz

com verbos que estavam no passado, dizendo

cumpridas as profecias, e os transformar para

futuro, a se cumprir. Assim alguns colocam no livro

de Isaias e em passagens do livro referente a rei de

Tiro, como se fosse Jesus e assim por diante. O

Bíblia e Mistérios

41

sábado mudado para domingo e uma série de

alterações mais grosseiras foram feitas, e vemos

toda a sorte de Bíblias ao gosto de cada um e da

sua seita (a Igreja é uma só...). O noivo é um só e a

esposa é uma só, e quando se coloca muitas

esposas, se cria adultério espiritual. Cuidar dos

nomes sagrados é necessário, e mesmo do sentido

usado ao tempo de Yeoushua. A má tradução pode

não apenas mudar o significado, mas invertê-lo.

Bíblia e Mistérios

42

O cristianismo mártir dos místicos e a

simulação teológica

“Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas”.(Mat. 10:16 e Apócrifo de Tomé, parte 39)

“Na verdade, entre os perfeitos falamos sabedoria, não porém a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que estão sendo reduzidos a nada” (1 Cor 2:6)

Há um lado profundo e místico na Bíblia.

Portanto, esta não deve ser lida do ponto de vista

literal e histórico, mas sim simbólico. Isso parecia

absurdo, mas com a descoberta dos manuscritos do

Mar Morto, vimos que há muito do cristianismo que

foi escondido pelas “igrejas”. O cristianismo original

teria sido gnóstico e simbólico, e estes gnósticos

teriam sido perseguidos e seus escritos destruídos,

os quais teriam a doutrina dos mistérios cristãos,

seu ensinamento filosófico original, adulterado

pelas igrejas ortodoxas, que se fundiram em

concílios. Jesus teria nascido, vivido e morrido no

século 1 antes do início de nosso calendário. Sua

escola era chamada de ofita, e seus discípulos eram

em número controlado, de modo algum se

estendendo a multidão, se assemelhando a escola

Bíblia e Mistérios

43

pitagórica e tantas outras de iniciação, com três

graus, o terceiro citado na Bíblia, chamado “os

perfeitos”. Vivia e ensinava em Qunran, e assim

com relação a essênios e depois resultando em

maniqueus e outros. Seu discípulo principal seria

João (nunca Pedro, que nem estava no círculo

interno de sua escola...), e também Jesus teria

passado pelo Egito, em lugares como Heliópolis,

Alexandria e tantos outros em busca do

conhecimento e na sua difusão. Era um filósofo que

foi transformado em milagreiro, e seu simbolismo e

rito de mistério metafísico foi transformado em

história. Sua “cruz de luz”, simbólica e que se

referia a Espírito Divino, o Logos, foi transformado

em cruz de madeira, a doutrina não se referindo a

cruz de madeira, segundo escritos achados no Mar

Morto ou Nag Hamadi. Logo o cristianismo foi

esotérico para os discípulos, e uma forma de

parábola para a população de círculos externos.

Com as igrejas foi um pouco mantida dessa

dimensão de sua escola ofita, e na maior parte

excluídos os ensinamentos do mistérios, que não se

fundavam em política territorial ou econômica, mas

sim em encontro com Cristos, uma porção interna

desse Logos solar. Pois a escola de Qunran e que se

envolvia Jesus e João, bem como Bartolomeu,

Simão, Felipe, Maria Madalena, Maia mãe de Jesus

e outros discípulos, estudava a filosofia grega. Por

isso do uso de termos como Mônada e Logos por

Bíblia e Mistérios

44

João. Jamais foi seita religiosa ortodoxa em busca

de poder e dominação temporal. Nem foi um centro

de milagres, apesar de que as curas eram

essenciais, haja vista essênios terem hospitais, e

pelo fato de terem continuado através dos

“terapeutas”. Assim eram os discípulos da escola de

Jesus, espécie de grupo interno, “prudentes como

serpentes”, conforme testou Mateus, não porque

seguiam Satanás, mas porque as serpentes dos

antigos eram os sábios iniciados, para tanto, os de

Jesus eram iniciados nesses mistérios. Isso nunca

se referiu ao povo geral, aos de fora, pro-fanos, mas

sim a seus discípulos que se relacionavam com

seus Cristos. Logo após a morte do mestre, os ofitas

e outros gnósticos foram os verdadeiros mártires,

que perseguidos e mortos por guardarem a

doutrina cristã original, e sobrou assim uma

simulação teológica, onde esses ensinamentos de

ritos místicos e metafísicos foram transformados

em história, o que em muito não teria ocorrido. A

própria idade de 33 anos é simbólica, afirmando

Irineu que Jesus teria vivido 45 anos. Jesus era

também nazareno pela sua filosófica, pois não

existia nenhuma região chamada Nazaré. Pois os

Nazarenos se tornaram os Essênios. E a cruz de luz

é referida por Jesus em seu hino, que teria dito

antes da morte e ressurreição. Refere-se a uma

cruz que vai da terra ao céu, sendo a ascensão da

Bíblia e Mistérios

45

alma humana até uma Jerusalém Celestial, onde

não haveria mais o corpo.

Bíblia e Mistérios

46

Jesus segundo as tradições judaicas do

Talmud, Toldoth, Mishna, Gemara,

Tosephta e outros

Quase sempre o que sabemos a respeito de

Jesus é o que está no novo Evangelho, e assim

temos informações limitadas a respeito de sua vida.

Progresso foi o encontro dos manuscritos do Mar

Morto, apesar de que já havia algo judaico antes, no

muitos comentários dos sábios judeus. Fora os

ataques por motivo de competição dogmática e

doutrinária, resta que alguns detalhes e fatos

devem ser verdadeiros, a respeito do Jesus

histórico, que muitas vezes é diferente do Jesus

místico, presente em muitos fatos sobrenaturais e

que envolvem mais fé que ciência. Fato é que lendo

mesmo o Novo Evangelho, percebe-se que Jesus

sabia muito mais que a simples Torá e Profetas,

bem como simples escritos do Antigo Testamento,

mas que era versado nesses estudos e comentários

de sábios rabinos, como os Talmudes e outros

escritos assemelhados. Parece que Jesus teve um

tutor que lhe ensinou a tradição talmúdica.

Vemos que Jesus (Jeschu ben Pandera) teria

nascido por essas tradições como filho ilegítimo de

Mirian (Maria), de Joseph ben Pandera, um vizinho

Bíblia e Mistérios

47

com que teria tido relacionamento, haja vista ser

esposa de Jochanan, e este não estar em casa.

Assim Jesus teria já aos 12 anos sido caluniado

quanto a sua origem (chamado bastardo...) e assim

discutiu conhecimentos talmúdicos com os

doutores da Lei, em específico a distinção entre o

que vem de Moisés e de Jetro, de quem é mais

sábio entre eles e assim por diante. Maria/Mirian

seria uma cabeleireira e sobre ela não muito é dito,

mas que teve filho “em separação” de seu marido.

Outros dizem que ela era um “mulher separada”

quando teve Jesus. Bem diferente que uma mulher

que teve filho ainda casta e de forma milagrosa.

Mas o próprio Jesus desde criança falava que era o

Messias e sua mãe era virgem quando o teve,

mesmo nessas tradições judaicas.

Jesus era tratado como um feiticeiro pelos

romanos, e mesmo muitos judeus de seu tempo o

acusaram de tal arte oculta, haja vista as

maravilhas que operava. Interessante é que essas

curas e milagres não são negados, o que nos leva a

crer na veracidade da tradição cristã e histórica dos

milagres. Há escritos que dizem ter Jesus

aprendido magia no Egito, e utilizado do nome de

Deus (Shem) para operar fatos extraordinários. A

sua técnica seria segundo eles um modo de marcar

a pele, espécie de tatuagem onde essas letras

hebraicas ou hieroglifos teriam sido assim feitos.

Não é de todo impossível, haja vista haver relatos

Bíblia e Mistérios

48

de que Jesus teria passado não apenas no Egito,

mas também na Índia, o que lhe daria possibilidade

de aprender artes extraordinárias de magia e

faquirismo.

Outra comparação que fazem de Jesus é com

Balaão, aquele que era espécie de adivinho e

feiticeiro. A principal comparação é com a idade da

morte, que seria para eles a “metade da vida”, 33

anos, pois escrevem que “os homens sedentos de

sangue e enganosos não deveriam viver a metade

de seus dias”, sendo ele talvez classificado de

enganoso, e assim colocando ele no inferno

(Gehena) mais baixo. Seu crime seria o desprezo

das palavras dos doutores da Lei. Teria também

Balaão feito o mesmo e vivido em torno de 33 anos,

e daí a analogia talmúdica. Também sobre a morte

de Jesus, é dito que ele teria sido “apedrejado”, haja

vista a prática de feitiçaria, e seu corpo exposto

para servir de exemplo.

Fato é que sendo eu místico, não duvido dos

feitos de Jesus, nem me importo muito com o que

teria ocorrido em sua família, uma vez que seres

humanos erram e seria estranho mesmo todos

serem perfeitos. Fato é que seus milagres ou feitos

não são negados, e que divergências de doutrinas

não devem ser grandes crimes, haja vista que entre

próprios sábios judeus e nos Talmudes vemos toda

a sorte de interpretações das Escrituras Sagradas e

da Torá. Das pesquisas que vi, feitas pelo teósofo

Bíblia e Mistérios

49

G.R.S. Mead sobre o cristianismo, concluí que cabe

sempre a distinção feita por Annie Besant entre o

Jesus histórico e o Místico, e que temos fé em algo

maior que um filho de mulher. Ele mesmo teria dito

ser filho de Deus, e mesmo um com o Pai. Então

cabe apenas arrumar lacunas dos Evangelhos, o

que também podemos fazer com os apócrifos, e

assim ampliar nossa compreensão de quem foi

Jesus e quem são as pessoas que conviviam com

ele. Mesmo porque hoje existem Judeus que

aceitam Jesus, e messiânicos, missionários, da

Nova Aliança etc, onde vemos uma síntese muito

positiva na compreensão e tolerância mútua,

mesmo união dessa tradição, que parece ser uma

só. A paz deve por fim reinar, Shalom.

Bíblia e Mistérios

50

Multiplicação dos pães e cabala

“Chegada à tarde, aproximaram-se dele os discípulos,

dizendo: O lugar é deserto, e a hora é já passada; despede as

multidões, para que vão às aldeias, e comprem o que

comer.Jesus, porém, lhes disse: Não precisam ir embora; dai-

lhes vós de comer. Então eles lhe disseram: Não temos aqui

senão cinco pães e dois peixes. E ele disse: trazei-mos aqui.

Tendo mandado às multidões que se reclinassem sobre a

relva, tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os

olhos ao céu, os abençoou; e partindo os pães, deu-os aos

discípulos, e os discípulos às multidões. Todos comeram e se

fartaram; e dos pedaços que sobejaram levantaram doze

cestos cheios.Ora, os que comeram foram cerca de cinco mil

homens, além de mulheres e crianças”. (Mat: 14, 15-20)

Sempre que vemos números nas Escrituras,

sabemos que ali há um ensinamento de tradição

oral, e que a mesma chama-se cabala. Jesus

difundia esse saber porque disse que era sacerdote

segundo a ordem de Melquisedeque, que significa

essa tradição mística dada pelos anjos. Restam

ainda livros específicos sobre essa tradição, como o

Zohar e Sepher Yetsirá, este último falando mais

sobre os números. O setor da cabala que lida com

números se chama gematria, que reflete sobre

soma, redução, símbolos, permutações etc dos

Bíblia e Mistérios

51

mesmos. Mas na passagem referente à

multiplicação dos pães, fora o milagre, e que alguns

autores atribuem ter sido apenas encenação, resta

os números que nos revelam profundos segredos e

mistérios.

Fala-se em 5 pães e 2 peixes. Simples soma

revela o segredo, 5+2=7, e assim temos o número

espiritual por excelência. O número 5000 se refere

aos fariseus e sua hierarquia (50 em 50 e 100 em

100) e os 12 cestos são as tribos de Israel. Vemos

que o 7 é o número de braços da menorá,

candelabro judeu e que isso ainda tem referências

no Apocalipse, nas várias héptadas e bestas que

são lá citadas.

Por outro lado, mesmo outros povos e visões

espirituais sempre olharam o 7 como número de

planetas ou deuses, e resta os nossos dias da

semana com nome e tudo a esse respeito. O 12 é

referido como as constelações do céu, o zodíaco e

também é de grande interesse de cabalistas,

estando no Zohar uma série de analogias com a

ordem do Malaquin, anjos que são as “rodas” e têm

relação com a merkabah, o “trono” de Deus. Talvez

seja a energia dessas estrelas e constelações que

mostrem a glória do Altíssimo. E mesmo o símbolo

do peixe se refere ao tempo que passavam, Era de

peixes.

No Sepher Yetzirah se fala em 7 letras

hebraicas simples e doze duplas. E essas letras são

Bíblia e Mistérios

52

também sons. E Deus grava seu Nome no que é

número, o que numera e o numerado. As 7 duplas

são (b B Beth, - g G Ghimel - d D Daleth - k CH Caph

- p PH Phé - r R Resh - t T Thau) e as 12 simples são

(- h E He- w V Vau- z Z Zain - j H Cheth - f T Teth - y I

Iod - l L Lamed - n N Nun - s S Samech - u GH Hain -

x TS Tsade - q K Cuph). As 12 simples são os

sentidos, mais sono, locomoção, cólera, riso etc. Já

as 7 duplas são relacionadas à vida, paz, ciência,

riqueza etc.

Para tanto, Cristo é o pão da vida e o messias

salvador. Tanto na santa ceia, quanto na

multiplicação dos pães passou o símbolo da vida

eterna, que é de um pão do Seu corpo. Também

mostrou através dessa sabedoria dos anjos que

forças cósmicas participam disso, e que podemos

contemplar esse segredo nos números, que

parecem revelar essências. Jesus teria respeitado

isso na escolha dos 12 seguidores, e também no

livro do Apocalipse/Revelação.

Bíblia e Mistérios

53

Cristologia Alta

“Ao que perguntaram todos: Logo, tu és o Filho de Deus? Respondeu-lhes: Vós dizeis que eu sou”. (Luc 22:70)

Hoje acordei e via na TV o programa no canal

católico Rede Vida, chamado “Páginas difíceis da

Bíblia”, onde se falava de cristologia alta, que se

refere a estudo de títulos, nomes que são dados a

Jesus, ou que ele mesmo se dá, que relacionam

este a Deus, nos levando assim a Trindade. A

cristologia baixa seria um modo de ligar Jesus a

um profeta, mas não necessariamente a sua

divindade.

Na cristologia alta o principal nome ou título

(ou mote) que Yeshuah ou Jesus se dá está em

João e outros evangelistas, que é EU SOU. Isso

ocorre várias vezes, como em frases: “Eu Sou o

caminho, a verdade e a vida”, “Eu Sou a

ressurreição” e assim por diante, nos levando a

sarça ardente de Moisés, onde o Senhor disse “Eu

Sou Aquele que Sou”, ou seja, ao próprio Deus. Já

a cristologia baixa, poderíamos ver Jesus designado

como Filho do Homem, O Profeta, Emanuel, Filho

de Deus, Galileu, Nazareno e assim por diante.

Bíblia e Mistérios

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Esse Eu Sou nada mais é que mistério do

Verbo, ou do Logos/Pneuma, ou Sopro, o que nos

aproxima da presença do próprio Deus, e de Sua

Palavra. Pois Deus se manifestava em coluna de

fumaça, sarça ardente, nuvem, etc, através de Sua

Voz, pois não era dado ao homem vê-Lo face a face.

Logo Jesus nesse seu mote, que é nome iniciático,

assim como o nome Yeshuah, nos mostra aquele

que é o Homem-Deus, já sendo tema dedicado de

Martinistas, entre Willermoz, Saint Martin e

Böehme. Nos leva assim a cristologia alta a uma

mística, onde superamos o homem carnal Jesus,

sem negá-lo, e assim adentramos na esfera do

espírito que vivifica, em níveis superiores de

hermenêutica.

Também nos leva a relação com o Espírito

(Santo), com pneuma. Assim a Trindade pode nos

revelar a lei do triângulo, já presente em outras

visões sobre o divino, ao longo do mundo. O Jesus

Cristo também nos leva a pensar na personalidade

de Deus, como veem os hindus para o seu Krishna.

A cristologia alta então faz do EU SOU uma

personalidade de Deus, o próprio Deus, sem

contudo negar que há distinção entre o Pai e o

Filho. Vemos mesmo que o poder de cura e

transformação é mesmo divino, e que o poder do

Verbo é algo que supera a mera carnalidade,

ligando-se muito a palavras de poder, e

pensamentos, como demonstra o maçon Jorge

Bíblia e Mistérios

55

Adoum em suas obras. E Martinistas veem Jesus

como O Grande Arquiteto. Nesse passo, um místico

Rosacruz chamado Vicente Velado (criador do

quadro acima retratado) diz que Cristo é regente do

sistema solar, chamando-o de Cristus Rex. Por tudo

isso, vemos que a tradição mesmo, e até o Credo

Católico, que soma tradições orais a escritos

evangélicos, afirma que Jesus se trata do homem-

Deus, nos ratificando uma cristologia alta.

Bíblia e Mistérios

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O significado Místico da Páscoa

A ressurreição de Cristo é a manutenção da

vida da Natureza, de forma que anualmente esse

Verbo renova o que parecia morrer, pois tem no

Cósmico sua influência de germinação, que

representamos pelo ovo, origem da vida, pois o

Cristo é a origem da vida, é “O Vivo”. Assim

também o pão do céu e a fuga das trevas do Egito,

da escravidão, nos levam errantes e transeuntes no

rumo à liberdade, que apenas se encontra na “terra

de leite e mel” (no Reino dos Céus). Então esse pão

do céu é na verdade a Torá-Bíblia (Lei), que

entregue pelo Altíssimo encaminha o homem para a

alimentação de seu espírito, verdadeira

alimentação. As 4 letras do Nome Santo assim

estão unidas e o homem santo (tsadik) está na

presença de Deus (Shekinah), e é um Cristo em

formação, para por fim ter se libertado da sua cruz

pessoal (matéria que aprisiona).

Nessa época, no hemisfério norte as sementes

germinam e aparecem também os frutos, e assim a

vida que Cristo Cósmico difunde no mundo, revela

o seu sacrifício, o sacrifício do Logos na matéria,

que assim vive e revive. E o ovo está em várias

Bíblia e Mistérios

57

cosmogonias, desde a escandinava, a hindu, egípcia

e outras, revelando a origem do Universo, que hoje

a ciência coloca sabiamente no ovo anterior ao Big

Bang. Esse ovo é claramente símbolo além da vida,

do ciclo e do retorno a vida após a transformação,

que entendemos por morte. Um ciclo é revelado, e

isso supera a velha linha reta, que apenas está com

relação a ressurreição, mas que antes exige a

reencarnação para sua devida evolução. E o ovo é

chocado pela serpente, não por satanás, mas pela

serpente que está na estaca (ou cruz) de Moisés, na

serpente de bronze, que prefigurava Cristo.

E o homem encontrará esse mistério no

“Juízo Final”, na segunda morte, onde seu veículo

grosseiro e animal é dissolvido para dar lugar ao

santo veículo de consciência, pois assim está

escrito que não “herda o Reino a carne”. Então por

isso “não mais haverá esposos e esposas”, nem

mesmo será necessária a morte. A ressurreição

estará assim presente quando encontradas as “7

igrejas” e também abertos os “7 selos”, pois antes

desse tempo, ou “daquele tempo” não poderá ter

revelado esse mistério. Cristo morreu por todos os

“vivos”, e ressuscita em toda a vida que evolui,

fazendo si mesmo a presença através do Espírito

Santo. E a espada (do Verbo) vem para esse tempo,

somente podendo ouvir quem “tiver ouvidos para

ouvir”, pois do contrário não serão reconhecidos.

Bíblia e Mistérios

58

Morte no plano material é nascimento no plano

espiritual, e vice-versa. Cristo rompeu o ciclo,

quebrou o ovo, e assim teremos nós um dia que

fazer.

Bíblia e Mistérios

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Nascimento para o alto

“E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna”. (João 3: 14-15)

Jesus Cristo provou o nascimento para o alto

a que fala João quando morreu e ressuscitou. O

cristão também trilha esse caminho até Cristo, de

modo que se inicia no batismo e que um dia se

efetiva pelo Espírito Santo. Isso estava prefigurado

na serpente que subia, a que Moisés criou para se

proteger do veneno de cobras, quando no deserto.

Essa serpente é símbolo do fogo serpentino que

sobe na medida em que as pessoas buscam a

castidade, ou pelo menos sacrificam um pouco de

seus instintos, em obra destinada para seu Senhor.

Quando se serve ao demônio, há o serviço a

serpente da tentação e do pecado, por outro lado. E

não apenas o batismo de água garante essa subida,

mas há de ser necessário um batismo de fogo, que é

dado por Cristo e pelo Espírito Santo. Logo, a

semente deve germinar em terra fértil, não em

espinhos ou rocha. Desse modo pode subir até o

Pai, Senhor da Sabedoria (hockmah), provando

fruto maduro da árvore da vida. Esse é o novo

Bíblia e Mistérios

60

nascimento, o que não mais encontra barreira na

carne e nem depende da concupiscência. Só assim

pode conhecer as 7 igrejas a que fala o Apocalipse,

e também abrir os 7 selos, a fim de mostrar a veste

branca com o sangue de Cristo, que partilhou.

Bíblia e Mistérios

61

Purgatório, testemunho e livro dos

Macabeus

“O nobre Judas falou à multidão, exortando-a a evitar qualquer transgressão, vendo diante dos olhos o mal que havia sucedido aos que foram mortos por causa dos pecados. Em seguida fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles”. (Mac II, 12: 42-45)

Recentemente entrei em contato com um livro

de testemunho cristão de uma senhora venezuelana

(Glória Polo), chamado “O Livro da Vida: da ilusão à

verdade”, que é um relato de quem esteve no outro

lado da vida e voltou, tendo ela a experiência do

purgatório, e retornando a vida, após ser atingida

por um raio e estar em coma. Pelos relatos até fiz

uma ponte ao que outras religiões falam, e nos leva

a crer que existe sim no post mortem algo que

evidencie a veracidade de antigas teologias. Mas há

quem diga que o purgatório foi uma invenção,

quando não vê que na sua Bíblia há o livro dos

Macabeus, no seu segundo livro, capítulo XII,

versículos 38-46, e por isso talvez retirado por

reformadores, a gosto de Martinho Lutero (Martin

Bíblia e Mistérios

62

Luther), que nos gera uma lacuna, acusando certos

livros de apócrifos.

Vemos que em outras doutrinas, religiões,

seitas e tudo mais, esse relato de Glória não está

sem sentido, e que sim, os pecados geram efeitos.

Ela arrependeu-se tardiamente, mas entende estar

em missão ao ter retornado do outro lado da vida, e

lá sofreu pelo que cometeu, estando entre almas

igualmente perdidas (a que chamou de demônios), e

buscando auxílio em Deus e em Maria. Ela mesmo

descreve uma vida mundana e cheia de modas que

seguia, além de ter praticado abortos e toda a sorte

de pecados, mas que não se diferencia muito da

vida de qualquer pessoa. Também há o relato da

necessidade da busca e do respeito da doutrina

cristã, no caso dela Católica, mas que podemos

entender e estender a outros segmentos.

Mesmo lendo obras espíritas como “Libertação” e

“Ação e reação”, do Chico, que parecem obras de

cristianismo espírita, vemos que os relatos de

Glória encontram ratificação no que foi descrito

pelo espírito que a ele descreveu esse mundo post

mortem, que antecipa o céu ou o inferno. Também

doutrinas místicas como de Swedemborg e mesmo

Max heindel, relatam o outro lado e até o que vem a

ser o purgatório ou faixas exteriores ao nosso

mundo carnal. Mesmo Dante em sua Divina

Comédia dá informações que não são de todo

inverídicas, e podemos ali encontrar verdades sobre

Bíblia e Mistérios

63

os planos do astral. Sabemos que mesmo Cristo

teria descido ao inferno e voltado.

Todas essas informações nos alertam para

que a Justiça Divina e o Juízo Final não são

invenções, e que mesmo doutrinas como a do

Gehena judaico têm sim uma experiência espiritual

por trás. É a lei da consciência que opera, e

ninguém pode fugir dela. São leis automáticas que

nos levam mesmo na imortalidade a compreender

que sem a conversão real, não estamos livres

daqueles atos ruins ou pecados que cometemos.

Desde já fica seguro o arrependimento e a

conversão, e na imitação de Cristo as pessoas têm

mais segurança que seguindo modas de consumo e

ilusões passageiras. Gloria Polo dá um testemunho

místico moderno sobre isso. E o livro dos Macabeus

guarda sua importância na Bíblia. E também nos

ensina que vale orar pelas almas, para que

encontrem a ressurreição, mesmo que tenham

cometido erros em vida.

Bíblia e Mistérios

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Anjos criados, arcanjos, querubins e

cabala

Pela cabala, os anjos têm estreita relação com

a palavra amém. Assim Malach com Amemn, sendo

o código de número 91. Anjos em seus nomes são

diferentes nomes de Deus, ou aspectos diferentes

da mesma força, sendo essa força única, daí o

monoteísmo. O número 91 se refere a união do

espírito e do físico, tendo assim os anjos certa

realidade, inclusive em nosso mundo (Assiah). De

certo modo, estão muito ligados as emoções, ou as

esferas abaixo da trindade Kether-Hokmá e Biná, de

natureza intelectual. Tais anjos são energias, e

podem inclusive ser criados. Tal criação feita por

seres humanos são criadas pelas ações e também

por formas-pensamento, realizando vontade. Os

Querubins, ou aqueles que guardam o Éden (Gan-

Eden), são semelhantes a esfinges, e a palavra

querub significa boi. Eles guardam a esfera do rosto

de Deus, e assim a centelha de fogo, do elemento

fogo espiritual, e daí de o homem não poder entrar

lá, sem ser consumido (seu veículo não evoluiu

para tanto, a não ser quando encontrar Logos-

Cristo...).

Bíblia e Mistérios

65

Com relação às emoções, também há

demônios, que estão em muito na árvore do

conhecimento do bem e do mal, e daí da esfera que

não é esfera da árvore da vida, Da’at, ser o

“conhecimento”. Esse conhecimento é o fruto

proibido (nenhuma maçã..), e por isso que falei que

o pecado maior foi conhecer e se relacionar com

daimons dessa classe, e não outro pecado.

Cabalistas dizem que temos 4 vidas, porque

vivemos através das encarnações (Gigul) pelas

dimensões através dos 4 mundos ou elementos. Os

anjos e demônios estão nas duas colunas que nos

sugerem pensamentos, e se assemelham a doutrina

de Agostinho dos dois anjos, um bom e outro mau.

Temos assim de encontrar a coluna central da

árvore da vida cabalística, e em especial a esfera

central (Tipharet-Cristo-Sol), para que assim

possamos equilibrar toda a árvore e qualidades

divinas. A alma regressa até em bisneto, e por isso

que em êxodo 20 se fala que os pecados alcançam

até 3ª e 4ª geração. Os anjos têm papel importante

nisso, e mesmo os arcanjos (serpentes de fogo), bem

como outras ordens, são essenciais. Elohim se

refere a anjos, e foi traduzido em Gênesis como

Deus. Podemos assim além de criar anjos, os

julgar, conforme carta aos Coríntios de Paulo.

Ademais, alguns anjos encarnam em seres

humanos. Fato é que quem deve julgar as anjos é

somente o iniciado e mago (um microcosmo

Bíblia e Mistérios

66

controlado), e não qualquer pessoa. E que imagem

e semelhança de Deus se refere a Adao Kadmon, ou

o Universo, com suas esferas, e não a um simples

homem feito de carne e osso. Pois a carne não

herda reino dos céus. Yeshua Jesus é tratado por

certas vertentes como o mesmo de arcanjo Miguel.

Fato é que em cristianismo primitivo se entendia

Jesus como um anjo, e não muito como homem.

Nas a alma está segura e não deve nada temer o

homem. A árvore da vida é a ferramenta para se

salvar em meio a isso tudo, pela meditação (antes

do efeito) e pelo controle (antes do castigo). Pois

assim como se semeia se colhe. E os anjos têm

papel relevante nessa ajuda, sejam os fiéis ou

caídos, pois nada há de inútil no universo. Fato é

que o que se recebe deve se dar e multiplicar, e isso

se faz com a sabedoria dada pelos anjos, a cabala.

Bíblia e Mistérios

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Templo cristão e comércio

“Se vós destruirdes o templo, eu reconstruirei

em três dias”. Aqui Jesus fala do templo cristão,

que é seu corpo, que seria muito mais que um

templo de pedra em Jerusalém. Na ocasião da sua

revolta contra o lucro e o comércio no templo,

templo este que empregava em torno de 20% de

população de Jerusalém, bem como centro da alta

hierarquia sacerdotal judaica, não sem motivo que

o mestre Jesus teria de perturbar e mover

estruturas já edificadas, mesmo que não muito

morais. O Salvador vindo de uma cidade rural, de

Nazaré, e sendo ainda da Galiléia, outra cidade de

campo, talvez tenha se decepcionado com aquele

templo tão sonhado de cidade evoluída e que na

realidade estava sendo usado de forma maldosa

pelos homens, ao invés de destinado ao Senhor

Deus. Não é apenas daquele tempo a decepção com

administradores do culto, e vemos mesmo em dias

presentes o comércio do templo e uma série de

outras intenções sobre à casa do Senhor. Na

verdade o cristão é templo do Espírito Santo, e não

moradas de pedra. Em que pese a Igreja ser

essencial, haja vista propagação do evangelho,

sempre está atual a crítica envolta no comércio a

Bíblia e Mistérios

68

que se exerce nesse meio, com teologias de

prosperidade e venda de milagres, como

presenciamos em segmentos mais recentes. O

comércio tem suas próprias regras, e pelo contrário,

o cristão que mais deve é aquele que se torna mais

amado por Jesus. O lucro é antes espiritual que

material, e buscar ao Senhor em primeiro lugar, e

depois se preocupar com o que vestir ou comer.

Vemos a inversão desses ensinamentos de Jesus

cada vez mais acentuada, e se volta ao bezerro de

ouro, não mais possuindo hoje os raios de Moisés

para tragar essas mazelas. De qualquer forma,

resta o templo espiritual que é reconstruído em 3

dias, e na Trindade vemos ainda esse sinal oculto, e

dar a César o que é de César, e ao Senhor o que é

do Senhor. E o cristão é o verdadeiro templo.

Bíblia e Mistérios

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Os essênios e a conexão José e

Asafe

“Ora, vendo Pedro a este, perguntou a Jesus: Senhor, e deste

que será? Respondeu-lhe Jesus: Se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso? Segue-me tu. Divulgou-

se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não disse que não morreria, mas: se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu

com isso?” (João 21:21-23)

“Tu pois, deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás

domínio sobre nós? Por isso ainda mais o odiavam por causa dos seus sonhos e das suas palavras” (Gen. 37:8)

“E o rei Ezequias e os príncipes ordenaram aos levitas que louvassem ao Senhor com as palavras de Davi, e de Asafe, o

vidente. E eles cantaram louvores com alegria, e se inclinaram e adoraram.” II Cro. 29:30

Com a descoberta dos manuscritos do Mar

Morto, bem como com uma série de escritos de algumas sociedades de estudos místicos, vemos que

os Essênios tomaram um lugar especial, ainda mais por sua doutrina ser bem assemelhada àquela ensinada pelo cristianismo. O fato dos essênios

serem espécie de terapeutas, cuidarem dos

enfermos, se batizarem em água, doar todos os bens aos pobres e ter uma ceia que em muito se

Bíblia e Mistérios

70

assemelha a santa ceia de Jesus, faz desta seita

quase secreta, um ponto focal na vida de dois mestres: o próprio Jesus e o outro, não menos

sábio, João.

Os essênios defendiam um ponto central que

aproxima do cristianismo: que é a vinda do Messias

(Mashiah), do salvador, constituindo verdadeiro messianismo. Também esse herdeiro de Davi

parecia muito com um líder entre os essênios: o Mestre da Retidão. Características do mesmo se

encontraram em vários grandes homens da Bíblia,

como José egípcio, o José pai de Jesus, bem como

em Asafe, cantor de Davi, e, que teria de ser herdeiro da linhagem de Sem, filho de Noé, que

seria a origem da medicina entre eles, um mestre

na arte. Esse Asafe teria escritos os Salmos 50, 73

e 83.

Fato importante na doutrina do messias é que eles são 2: o messias sacerdotal e o messias

real. Um assim seria identificado com João, e outro com Jesus. Jesus teria ficado com a fama e recebido toda a glória, e João teria sido esquecido.

Mas com equívoco. João nasceu e foi já enquanto bebê perseguido de morte por Herodes, e assim sua

mãe Elizabete fugiu para o deserto. Também quem teria nascido na manjedoura teria sido João. Certa tradição teria colocado o nascimento de Jesus em

uma caverna dos essênios, espécie de hospital, de

modo quase todo esperado. Também os três magos

Bíblia e Mistérios

71

teriam visitado João quando de seu nascimento.

Ambos seguiam a linha de um grande mestre essênio, o Mestre da Retidão, que teria vivido 200

anos antes de Cristo.

Jesus teve vários discursos que atestam a

característica de José-Asafe ou do Mestre da

Retidão, como a afirmativa de ser transeunte. O

Mestre da Retidão era um transeunte, ele passava

de cidade a cidade, sem ter local certo de morada. Também Jesus fala que os pássaros têm ninho,

mas o Filho do Homem não tem onde repousar.

Parece que os essênios se infiltraram entre os

judeus e começaram o cristianismo, e que mantiveram suas características. José foi odiado

pelos irmãos e jogado em um poço. Jesus também

se dizia que um profeta é estrangeiro. Várias

passagens do Evangelho começam a mostrar a

linha dessa tradição. E Asafe era uma espécie de sábio, vidente, mago e astrônomo, e aqueles que após curados em Nome de Jesus, eram chamados

de “Asafe”. Um dos construtores do templo de Salomão era de nome Asafe, e o próprio Salomão

usava vestes brancas (semelhante a essênio...), segundo uma obra de Josefo. Também vemos uma certa semelhança entre nazireus e essênios.

Também José de Arimatéria teria cuidado de Jesus no momento da morte deste e ressurreição, e depois viajado muito (um transeunte...), sem nação certa

para ficar, de acordo com tradições islâmicas.

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O que parece muito clara é uma conexão com

tradições islâmicas, e de judeus cristianizados ou não, que vieram do oriente, por contato com os

Cruzados, os quais traziam consigo esses tesouros de sabedoria. José e Asafe eram por lá muito

respeitados, e em muito se assemelhavam ao

comportamento essênio e do Mestre da Retidão.

Alguns se chamavam de Jesus, o que acabou se

tornando boato de Jesus chegando até a Índia e perambulando entre as nações. Fato é que o

conhecimento viajou, e que o nome José é muito

comum, sendo depois provavelmente o de Jesus

Cristo também, de modo que surgindo profetas com o mesmo apelido, acabou-se por ver neles os

originais, conservando tumbas que ainda são

mostradas por arqueólogos.

Em muito parece que os essênios

continuaram numa seita chamada de “terapeutas”, e que depois podem seus ensinamentos terem sido conservados pelos Templários. Por isso de ordens

de cavalaria cristãs terem como patrono João, porque ele era talvez tido secretamente também

como um messias. Também há escritos que falam de um sósia sendo crucificado, e que um desses dois messias teria sobrevivido. Fato é que pelo

ferimento da lança não se sobreviveria a crucifixão, apesar de alguns dizerem que os essênios possuíam alguns remédios milagrosos. Cuidando

medicamente daquele que teria ressuscitado, eles

teriam de fugir, restando em Q’unran aqueles vasos

Bíblia e Mistérios

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que foram achados com pergaminhos e tradições

que viram Jesus em outras nações do oriente, em especial em locais islâmicos, na Caxemira e até na

Índia, após a morte. Muitas vezes, isso ocorreu com o personagem profético se chamando José, ou

mesmo Jesus Cristo ou Asafe, em muito

semelhante ao Mestre da Retidão dos essênios. E

José deveria ficar vivo até o retorno de Jesus,

segundo João 21:21. Assim se tornou o eterno transeunte.

Bíblia e Mistérios

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Acréscimos no Evangelho

Teólogos falam sobre certo acréscimo no

Evangelho, em especial uma passagem que me

trouxe a atenção: João 3:3 “Perguntou-lhe

Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo

velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de

sua mãe, e nascer? 5 Jesus respondeu: Em

verdade, em verdade te digo que se alguém não

nascer da água e do Espírito, não pode entrar no

reino de Deus. 6 O que é nascido da carne é carne,

e o que é nascido do Espírito é espírito.”. Aqui fica

claro que a palavra água foi acrescentada. Só resta

saber por quem. Se foram por tradutores

eclesiásticos a fim de defender doutrina de batismo

ou outro motivo. Retirando a palavra água não se

perde, nessa passagem. Há o que nasce pela carne

e há o que nasce pelo espírito, um da Terra e outro

do Céu. A carne não herda o Reino dos Céus. Nessa

alusão sacramentaria a água deve estar em muitas

passagens, e a fim de defender algum dogmatismo

se acrescentou, talvez novamente pelo Espírito

Santo que inspirava. Fato é que nascer pelo

Espírito é diferente do nascimento carnal, e que se

Bíblia e Mistérios

75

tornar criançinha e isso nos leva até uma doutrina

de reencarnação se pensarmos literalmente, sendo

prato cheio a espíritas. Fato que o convertido

renasce em Cristo e isso constitui um nascimento

tanto ou mais importante que aquele provindo da

carne. Os redatores possivelmente tinham a

limitação da língua e uma série de lacunas, uma

vez que a doutrina em grande parte era secreta.

Mas aos poucos tudo vai sendo revelado, e com

água ou sem, percebemos a espada da verdade e da

palavra de Deus.

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Comentários a Ezequiel Comentários com chaves ocultas e cabalísticas

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CAPÍTULO 1

1 Ora aconteceu no trigésimo ano, no quarto mês, no dia

quinto do mês, que estando eu no meio dos cativos, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de Deus.

Comentário: Aconteceu segundo alguns, em um

Shabat, sábado, que é dia especial a estudo da Torá. Abrir os céus é uma experiência mística.

2 No quinto dia do mês, já no quinto ano do cativeiro do rei

Joaquim, 3 veio expressamente a palavra do Senhor a Ezequiel, filho de

Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus, junto ao rio Quebar; e ali esteve sobre ele a mão do Senhor.

Comentário: Joaquim significa, em hebraico, Jeová tem estabelecido ou levantado. Refere-se ao quinto ano, dos trinta de cativeiro. Quebar significa em

hebraico, abundante. Quinto mês é Thamus.

4 Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, uma

grande nuvem, com um fogo que emitia de contínuo labaredas, e um resplendor ao redor dela; e do meio do fogo

saía uma coisa como o brilho de âmbar. 5 E do meio dela saía a semelhança de quatro seres viventes.

E esta era a sua aparência: tinham a semelhança de homem;

Bíblia e Mistérios

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6 cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas.

7 E as suas pernas eram retas; e as plantas dos seus pés como a planta do pé dum bezerro; e luziam como o brilho de

bronze polido. 8 E tinham mãos de homem debaixo das suas asas, aos

quatro lados; e todos quatro tinham seus rostos e suas asas assim:

9 Uniam-se as suas asas uma à outra; eles não se viravam quando andavam; cada qual andava para adiante de si;

10 e a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e à mão direita todos os quatro tinham o rosto de

leão, e à mão esquerda todos os quatro tinham o rosto dé boi; e também tinham todos os quatro o rosto de águia;

11 assim eram os seus rostos. As suas asas estavam estendidas em cima; cada qual tinha duas asas que tocavam

às de outro; e duas cobriam os corpos deles.

Comentário: a experiência mística da carruagem de

Deus, Merkabah, com suas rodas e seres viventes. Refere-se não apenas a qualidades desses animais, como têm interpretado alguns autores, mas a

ordens de anjos. Rodas são da ordem de ofanim, e

“viventes” significa hayot, sendo animais que formam espécie de querub (querubim), ou melhor, uma esfinge. Esses animais sagrados e cósmicos,

místicos, são depois chamados de “bestas”, em Apocalipse. Logo, a chave é cabalística, não meramente moral, na sua significação. Também

não é mero disco voador, como tentam alguns superficialmente interpretar. Essas rodas nos levam a pensar também na “árvore da vida” da cabala,

Bíblia e Mistérios

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que é ao mesmo tempo o homem universal, Adão

Kadmon. Segundo o Zohar, o termo se traduz em anjos, ou shinan, sendo a letra hebraica shin (shor)

o boi, a letra nun (necher) a águia, a letra alef (aryeh) o leão. Já o nun final representa o homem. Tais animais também são uma forma de referência

astrológica, pois os planetas (rodas) se encaixam na

árvore da vida, e assim são os animais que

simbolizam os signos astrológicos. São também os 4 elementos e os 4 pontos cardeais, sendo que em

cada direção está um desses seres angélicos. O

mais importante é que pode esse quaternário se

relacionar ao tetragrama, ou melhor, ao Santo Nome, IHVH, que se traduz para Jeovah ou Javé

habitualmente, mas que entre judeus era Nome

impronunciável, substituído por Adonai. Assim

atesta o Salmo 68:17: “Os carros de Deus são

miríades, milhares de milhares”. Ou melhor traduzido: “no carro de Deus há milhares de

miríades de schinan (anjos)”. Para esses anjos há quatro nomes gravados para sua atividade. O carro

superior está gravado com os quatro nomes, ou quatro letras do tetragrama sagrado. Essa é a semelhança do rosto do homem, pois os animais

sobem para buscar o rosto do homem. Esse homem místico é conhecido como Norá. E os nomes estão gravados no trono, e pensamos assim na “imagem e semelhança” descrita em Gênesis, que é uma

semelhança mental, não corporal, como muitos

traduzem. E as rodas são os “luzeiros” (meerot),

Bíblia e Mistérios

80

descritos também no livro de Gênese, e mais que

astros, são os animais ou bestas, anjos.

12 E cada qual andava para adiante de si; para onde o espírito havia de ir, iam; não se viravam quando andavam.

13 No meio dos seres viventes havia uma coisa semelhante a ardentes brasas de fogo, ou a tochas que se moviam por entre

os seres viventes; e o fogo resplandecia, e do fogo saíam relâmpagos.

14 E os seres viventes corriam, saindo e voltando à semelhança dum raio.

15 Ora, eu olhei para os seres viventes, e vi rodas sobre a terra junto aos seres viventes, uma para cada um dos seus

quatro rostos. 16 O aspecto das rodas, e a obra delas, era como o brilho de

crisólita; e as quatro tinham uma mesma semelhança; e era o seu aspecto, e a sua obra, como se estivera uma roda no meio

de outra roda.

Comentário: O caminho do raio através da árvore da vida cabalística, passando pelas rodas e signos ou planetas, os “animais” ou “bestas”. Diz-se que

essas rodas correm de um lado para o outro, e ninguém as pode seguir. As rodas são as bestas

descobertas. Roda é Metatron, o mais exaltado dos anfitriões, e aquele que está diante da “Face”, o anjo da Face. Outros nem podem “olhar” para a

Face. As não descobertas são as que estão abaixo

de Yod e He. Compreendem o firmamento do céu. Logo, algumas se elevam acima da compreensão do

Bíblia e Mistérios

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homem, e em direção ao Nada Infinito, o En Sof. Como traduz David Cooper, o primeiro versículo:

“Com o princípio, En Sof criou Deus, os céus e a terra” (Gen. 1:1). Sai assim do pensamento, ou na “cabeça” de Deus, pois como ensinam os

hermetistas, a Criação é mental, e tudo está na

mente do Todo.

17 Andando elas, iam em qualquer das quatro direções sem se virarem quando andavam.

18 Estas rodas eram altas e formidáveis; e as quatro tinham as suas cambotas cheias de olhos ao redor.

19 E quando andavam os seres viventes, andavam as rodas ao lado deles; e quando os seres viventes se elevavam da

terra, elevavam-se também as rodas. 20 Para onde o espírito queria ir, iam eles, mesmo para onde

o espírito tinha de ir; e as rodas se elevavam ao lado deles; porque o espírito do ser vivente estava nas rodas.

Comentário: Quatro pontos cardeais, como já tratamos. O brilho se refere à presença divina, ou

Shekinah. As rodas sustentam o firmamento e têm alma. O olho egípcio representava o sol, ou o próprio Hórus. Muitos sóis ou estrelas, muitos olhos. O espírito parece ser uma referência a vida

ou consciência dos corpos celestes, e dos anjos.

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21 Quando aqueles andavam, andavam estas; e quando aqueles paravam, paravam estas; e quando aqueles se

elevavam da terra, elevavam-se também as rodas ao lado deles; porque o espírito do ser vivente estava nas rodas.

22 E por cima das cabeças dos seres viventes havia uma semelhança de firmamento, como o brilho de cristal terrível,

estendido por cima, sobre a sua cabeça. 23 E debaixo do firmamento estavam as suas asas direitas,

uma em direção à outra; cada um tinha duas que lhe cobriam o corpo dum lado, e cada um tinha outras duas que o cobriam

doutro lado.

24 E quando eles andavam, eu ouvia o ruído das suas asas, como o ruído de muitas águas, como a voz do Onipotente, o

ruído de tumulto como o ruído dum exército; e, parando eles, abaixavam as suas asas.

25 E ouvia-se uma voz por cima do firmamento, que estava por cima das suas cabeças; parando eles, abaixavam as suas

asas.

Comentário: A semelhança com o firmamento se refere ao arco-íris, que foi o pacto feito com Noé, após o dilúvio. Também se refere ao pacto de José, porque este se relacionava com ouro fino, firme

perante o arco. As quatro cores do firmamento, os quatro seres viventes, todos formam o conjunto do símbolo aqui descrito. As bestas santas que estão

no firmamento, pois o Senhor é Senhor dos exércitos celestiais. As asas desses animais sagrados fazem ruído, são a voz do Todo Poderoso.

Contêm então todos os matizes e cores, a partir de verde, vermelho, branco e um conjunto de todas. O arco é o arco-íris, que é a semelhança da glória do

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Senhor. O ruído é a música das esferas, descritas

por Pitágoras. E Shekiná contém as cores não reveladas.

26 E sobre o firmamento, que estava por cima das suas cabeças, havia uma semelhança de trono, como a aparência

duma safira; e sobre a semelhança do trono havia como que a semelhança dum homem, no alto, sobre ele.

27 E vi como o brilho de âmbar, como o aspecto do fogo pelo interior dele ao redor desde a semelhança dos seus lombos, e

daí para cima; e, desde a semelhança dos seus lombos, e daí para baixo, vi como a semelhança de fogo, e havia um

resplendor ao redor dele. 28 Como o aspecto do arco que aparece na nuvem no dia da

chuva, assim era o aspecto do resplendor em redor. Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isso, caí

com o rosto em terra, e ouvi uma voz de quem falava

Comentário: O que brilha é a pedra de safira, o centro do universo, a pedra de fundamento, sobre a

qual se apoia o “Santuário dos santuários”. Essa pedra pode ser aquela pedra angular, a que se refere Cristo. Também é a pedra a que se referem os

maçons, tendo grande carga simbólica. Ela se confunde com a divindade, ou Grande Arquiteto. A referência a semelhança de um trono, se refere à lei

oral. Já o homem sobre esse trono é a lei escrita. A lei escrita gera mais segurança, por isso está acima.

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CAPÍTULO 2

5 E eles, quer ouçam quer deixem de ouvir (porque eles são casa rebelde), hão de saber que esteve no meio deles um

profeta. 6 E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas

palavras; ainda que estejam contigo sarças e espinhos, e tu habites entre escorpiões; não temas as suas palavras, nem te

assustes com os seus semblantes, ainda que são casa rebelde. 7 Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer

deixem de ouvir, pois são rebeldes.

Comentário: filho do homem é uma referência ao

homem universal, Adão Kadmon, que se relaciona a

mesma simbologia das rodas. O profeta está

temporariamente com Shekinah, segundo O Tanya.

8 Mas tu, ó filho do homem, ouve o que te digo; não sejas rebelde como a casa rebelde; abre a tua boca, e come o que eu

te dou. 9 E quando olhei, eis que tua mão se estendia para mim, e eis

que nela estava um rolo de livro. 10 E abriu-o diante de mim; e o rolo estava escrito por dentro

e por fora; e nele se achavam escritas lamentações, e suspiros e ais.

Comentário: Não seguir a árvore da morte, ou do conhecimento do bem e do mal, e sim a da vida.

Pois a árvore do “bem e do mal” se forma de cascas

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(qliphot), que são os vícios e defeitos, demônios. Essas envolvem a alma animalesca, como lembra o

escrito hassídico, O Tanya. O justo (tzadik) deve se afastar de se envolver com a alma animalesca, e

sim buscar Shekinah. Rebelde é a alma animalesca. Também os demônios, que são cascas, escondem a

luz. O rebelde surge da “natureza mesclada”, não

de Israel. Ademais, o aqui designado “rebelde’,

parece o rasha (perverso), aquele que acaba sempre descumprindo as mitzvot (mandamentos), e estando

em presença da qlipha demoníaca, a casca que esconde a luz do Criador, bem como estando muito

sujeito a alma animalesca (sepher hara). Explicar a experiência mística para os profanos, ou mesmo a

incrédulos e idólatras, é muito dificultoso. Sarças e

espinhos são as dificuldades no caminho ou senda,

sendo o Senhor do Umbral, que aqui poderíamos

pensar em Satan ou na simbologia cabalística, a Samael. Samael é o rebelde, que apareceu na serpente do Éden, sendo uma serpente sutil, “luz

astral” inferior. Maiores detalhes sobre isso estão em meu livro Bíblia e Misticismo.

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CAPÍTULO 3

1 Depois me disse: Filho do homem, come o que achares; come este rolo, e vai, fala à casa de Israel.

2 Então abri a minha boca, e ele me deu a comer o rolo. 3 E disse-me: Filho do homem, dá de comer ao teu ventre, e

enche as tuas entranhas deste rolo que eu te dou. Então o

comi, e era na minha boca doce como o mel.

Comentário: Comer o livro é absorver sua

sabedoria. O mesmo se diga quanto ao rolo, forma

dos escritos antigos, a semelhança dos manuscritos do Mar Morto. A sabedoria é alimento para a alma.

Uma relação com hockmah e as esferas superiores

na árvore da vida, como o entendimento (binah). Já

Adão e mesmo Noé tinham recebido um livro do Senhor, assim restando que tiveram também de “ingerir” algum rolo, misticamente. Adão recebeu do

anjo Raziel. Mas enquanto os homens escrevem livros, o Senhor escreve a vida, a existência. Por

isso de Yeheshua (Jesus) falar em “água viva”. O mundo foi criado através da Torá. A lei escrita está acima da oral, entronada, porém segundo certa

passagem do Zohar. Comer o rolo é absorver a lei divina, e assim divulgar esses saberes elevados.

Ezequiel tinha grandes conhecimentos místicos, e para os judeus se estudava Ezequiel em idade madura, não em estudos preliminares, assim como

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os Cânticos dos Cânticos. O elevado simbolismo do

livro requer maior avanço na hermenêutica, sob risco de se cair em sensualismo, confusão ou

descrença.

4 Disse-me ainda: Filho do homem, vai, entra na casa de Israel, e dize-lhe as minhas palavras. 5 Pois tu não és enviado

a um povo de estranha fala, nem de língua difícil, mas à casa de Israel;

6 nem a muitos povos de estranha fala, e de língua difícil, cujas palavras não possas entender; se eu aos tais te enviara,

certamente te dariam ouvidos. 7 Mas a casa de Israel não te quererá ouvir; pois eles não me

querem escutar a mim; porque toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração.

Comentário: Filho do Homem é uma expressão

messiânica. Significa mais do que apenas Jesus, que se designava com essa expressão. Leva sim a pensar no Homem Celestial, no Adão Kadmon e ao Novo Adão, que é Cristo. Aqui esse homem como já

falamos, leva as esferas da árvore da vida, ao cumprimento da Criação. Essa designação também se refere ao Mestre da Retidão, entre os essênios, de

onde surgiram João e Jesus. Parece ser uma designação do adepto ou mesmo do iniciado, de alguém que carrega já grande sabedoria e que se

aproxima de ser o Filho de Deus. A tradição judaica messiânica fala em dois messias, um real e outro sacerdotal, sendo então estes João e Jesus. Apesar

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que João é referido por Jesus como Filho de

Mulher.

8 Eis que fiz duro o teu rosto contra os seus rostos, e dura a tua fronte contra a sua fronte.

9 Fiz como esmeril a tua fronte, mais dura do que a pederneira. Não os temas pois, nem te assustes com os seus

semblantes, ainda que são casa rebelde. 10 Disse-me mais: Filho do homem, recebe no teu coração

todas as minhas palavras que te hei de dizer; e ouve-as com os teus ouvidos.

11 E vai ter com os do cativeiro, com os filhos do teu povo, e lhes falarás, e tu dirás: Assim diz o Senhor Deus; quer ouçam

quer deixem de ouvir.

Comentário: A casa rebelde é Judá, que estava

apóstata no exílio.

12 Então o Espírito me levantou, e ouvi por detrás de mim uma voz de grande estrondo, que dizia: Bendita seja a glória

do Senhor, desde o seu lugar. 13 E ouvi o ruído das asas dos seres viventes, ao tocarem

umas nas outras, e o banilho das rodas ao lado deles, e o sonido dum grande estrondo.

14 Então o Espírito me levantou, e me levou; e eu me fui, amargurado, na indignação do meu espírito; e a mão do

Senhor era forte sobre mim.

Comentário: os querubins novamente com o ruído de suas asas. Essa teofania, experiência mística e

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sobre as rodas, já tratamos. A presença divina,

Shekinah, seria a mão do Senhor.

15 E vim ter com os do cativeiro, a Tel-Abibe, que moravam junto ao rio Quebar, e eu morava onde eles moravam; e por

sete dias sentei-me ali, pasmado no meio deles.

Comentário: O número 7 carrega grande

simbolismo. Sempre que aparece nas Escrituras,

está envolto de especial simbolismo. Os 7 espíritos

diante do trono parecem ser aqui o que se encaixa. Em muito são os antigos espíritos planetários, pois

a referência se deve a astrologia, os 7 planetas

mágicos. Também lembrando o Sepher Yetzirah, são

as 7 letras duplas. Deus grava seu Nome pelo

número, pelo que numera e é numerado. Essas letras duplas são importantes por representarem a dualidade, os contrários. Letras são números. Nos

leva assim a ideia de luz e sombra, de yang e yin etc. Parece ser aqui o mal em meio a Israel. O

contrário de sabedoria é tolice, e parece que era esse o momento em que descreve Ezequiel. Assim

se cria através dessas 7 letras duplas, os astros do

mundo e os dias do ano, segundo o Sepher Yezirah. São também sete portas do homem, órgãos dos sentidos.

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16 Ao fim de sete dias, veio a palavra do Senhor a mim,

dizendo: 17 Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de

Israel; quando ouvires uma palavra da minha boca, avisá-los-ás da minha parte.

18 Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; se não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau

caminho, a fim de salvares a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniqüidade; mas o seu sangue, da tua mão o

requererei: 19 Contudo se tu avisares o ímpio, e ele não se converter da

sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua iniqüidade; mas tu livraste a tua alma.

Comentário: Atalaia (sopheh) é espécie de guarda ou vigilante, guardando o cumprimento da lei de

Deus, bem como da aliança. Parece que Ezequiel

tinha essa missão. O ímpio carrega a qlipha, porção demoníaca, por isso de morrer na iniqüidade.

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CAPÍTULO 23

1 Veio mais a mim a palavra do Senhor, dizendo: 2 Filho do homem, houve duas mulheres, filhas da mesma

mãe. 3 Estas se prostituíram no Egito; prostituíram-se na sua

mocidade; ali foram apertados os seus peitos, e ali foram apalpados os seios da sua virgindade.

4 E os seus nomes eram: Aolá, a mais velha, e Aolibá, sua irmã; e foram minhas, e tiveram filhos e filhas; e, quanto aos

seus nomes, Samária é Aolá, e Jerusalém é Aolibá. 5 Ora prostituiu-se Aolá, sendo minha; e enamorou-se dos

seus amantes, dos assírios, seus vizinhos, 6 que se vestiam de azul, governadores e magistrados, todos

mancebos cobiçáveis, cavaleiros montados a cavalo.

Comentário: Essas duas mulheres são alegorias e

símbolos. Antes que se pense em erotismo e sensualismo, há de se verificar o contexto dessa passagem. Oolá significa “aquela que possui uma tenda” e Oolibá (Oholiybah - אהליבה) significa “minha

tenda está nela”. Oolá é Samaria e Oolibá é Jerusalém. Essa tenda se refere e tabernáculo, tenda sagrada de culto. O problema parece ter sido

uma prostituição espiritual com nações vizinhas. Já vimos que isso é a “natureza mesclada”, o que se

refere a qlipha, demônios etc. A questão não é meramente racial ou nacional, mas espiritual. E se refere ao corpo. O corpo é o templo ou tabernáculo

do Espírito Santo. Uma vez maculado um desses

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veículos, como a alma, ruach ou sopro, nefesh e

neshamá, perde assim o homem a presença divina (Shekiná) pelo pecado, pelo descumprimento das

mitzvot (mandamentos). Essas duas mulheres parecem ser uma versão feminina de perversa

(rasha). O problema é deixar da alma do justo para

servir a alma animalesca (sepher hará), todos esses ensinamentos do Tanya que aqui se encaixam.

Também o tom sexual da passagem nos faz pensar em aspecto da castidade, em oposição à fornicação.

Volta à serpente (nahash), que se pode traduzir como fornicação, e que se refere em misticismo a

“luz astral” inferior, aquela que macula o templo dos corpos do homem. Leva-se a pensar na relação

com demônios, que são assim criados por essa

fornicação, e com Lilith, um demônio, que foi a esposa de Adão antes de Eva, segundo tradição de

Zohar e Talmudes. Essa Lilith é espécie de mulher vampiro, e com ela que Adão (a humanidade) criou muitos seres e monstros. As duas moças parecem

fazer lembrar esses ensinamentos, o que leva a “árvore da morte” ou do conhecimento, o “outro

lado”, que retira a veste de luz de Adão, seu

verdadeiro corpo ou templo. Perdida essa “tenda” para nações pagãs ou idólatras (que representam o

ego profano...), acaba-se por levar consigo a espiritualidade. Citar o capítulo todo literalmente levaria a trazer certa censura a meu livro. Fato é

que esse mistério, a criação de súcubos e íncubos, haja vista fornicação e abuso da “luz astral”, é a

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pior forma de prostituição espiritual, ainda mais

que feita por pessoas sem preparo ou qualquer controle. A alma animalesca assim supera a do

justo (benoni), e assim corrompe sua tenda ou tabernáculo, local de culto e do Espírito Santo.

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Comentários ao Evangelho

de João Comentários com chaves ocultas, gnósticas e teosóficas

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CAPÍTULO 1

1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

2 Ele estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele

nada do que foi feito se fez. 4 Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;

5 a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.

6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. 7 Este veio como testemunha, a fim de dar testemunho da

luz, para que todos cressem por meio dele. 8 Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

9 Pois a verdadeira há consentido no conselho e nos atos dos chegando ao mundo.

10 Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu.

Comentário: a Palavra (Logos) é a espada de Cristo,

por onde as coisas surgiram em emanação

primeira. Assim todo o átomo e mesmo desde a

mônada, houve a penetração dessa vitalidade. Esse

Logos é um Espírito, que é o Cristo Cósmico e

Místico, e encarna através da Virgem (a matéria),

assim que vem como Espírito Santo. Ademais, o

Logos-Solar ou Cristo-Solar se encarna na

constelação de Virgem, e por isso a criança é para

ser degolada por Herodes (o Logos ser degolado pela

matéria). O Logos é assim crucificado na cruz da

matéria, ou seja, nos quatro elementos. Também é

Bíblia e Mistérios

96

ao mesmo tempo o homem celeste, o Novo Adão,

que está crucificado no Universo. Já tratamos dele

como as esferas da Árvore da Vida, e assim guarda

as emanações de Deus, do Altíssimo, Grande Rosto.

Essa encarnação não pode ser conhecida sem a

iluminação, segundo Jacob Böehme, não bastando

mero estudo das Escrituras. É o Homem-Deus,

como se referem os Martinistas. A árvore é Cristo e

o ramo é Jesus. Volta à lição de Angelus Silésius.

Essa palavra também nos leva ao mundo da

Imagem Verdadeira, ao paraíso, segundo Taniguchi.

Pelo Logos solar que as coisas foram feitas e

existem, e do Sol (Universal) que veem e para onde

retornam. Aqui se incluem a Criação dos anjos e

hierarquias celestes, pois o Adão antes da queda

possuía a “vestidura de luz”, era um com Cristo, e

assim ordenava e dominava os animais (seres

viventes, aves do céu, anjos, hayot etc). O Novo

Adão ou Cristo é o Salvador, que livra da escravidão

do materialismo e ago (Diabo). Deus tornou-se

homem para restaurá-lo, segundo Böehme. E os

anjos caídos e Lúcifer teriam um papel de fogo,

sendo tal fogo uma relação com a serpente astral,

luz astral inferior. A falta de castidade levando a se

perder na nona esfera da árvore da vida,

encontrando assim a árvore da morte, demoníaca.

A queda é uma queda dimensional, e o Verbo

lembra que as coisas foram feitas perfeitas. O

testemunho da luz é de Cristo, de sua vestidura de

Bíblia e Mistérios

97

luz, aquele “corpo glorioso” a que ainda teremos.

Como já falei em livro “Bíblia e Misticismo”, o Verbo

é muito um som, um mantra primordial. E cada

Era ou Aeon tem sua “Palavra”.

11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.

12 Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus;

13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.

14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito

do Pai. 15 João deu testemunho dele, e clamou, dizendo: Este é

aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim, passou adiante de mim; porque antes de mim ele já existia.

16 Pois todos nós recebemos da sua plenitude, e graça sobre graça.

Comentário: o nome é Yeheshua, que é uma

referência ao nome divino de Jesus. É o nome de

Deus, o tetragrama, adicionado da letra Shim, que

significa a descida do Espírito Santo. João é a porta

estreita, é um dos messias, dos dois a que a

tradição dos essênios e as messiânicas já

esperavam. Uma porta triangular para a iniciação.

João é ao mesmo tempo o passado e o futuro, e

assim também um João escreveu o livro do

Apocalipse ou Revelação. Um dos dois messias teve

Bíblia e Mistérios

98

sua vida mais exposta, e entre eles trocavam

ensinamentos e acabou o Verbo se fazendo carne,

na forma de Cristo Interno, naquele batismo de

fogo. A pessoa de João fez o batismo de água, que

era a iniciação. João é também o João interno,

segundo Pistis Sophia, e assim é a reencarnação do

Elias. João sendo o precursor, aquele que prepara o

caminho do Cristo Íntimo, segundo Samael Aun

Weor. O iniciado desce assim ao inferno,

semelhante a o que fez o Cristo, antes de encontrar

o Reino. Sobre o Verbo se fazer carne, disse

Böehme: “Quando o Verbo se colocou em movimento

para a revelação da vida, ele se revelou na

essencialidade divina, na água da vida eterna; ele a

penetrou e se tornou súlfur, ou seja, carne e sangue;

produziu a tintura celestial, que envolve e preenche a

Divindade, onde a sabedoria de Deus permanece

eternamente com a magia divina. Compreenda

corretamente: A Divindade desejou tornar-se carne e

sangue; embora o puro e imaculado Deus permanece

espírito, tornou-se o espírito e a vida da carne,

operando na carne; assim, quando penetramos,

através de nosso desejo, em Deus, nos doando

totalmente a ele, podemos dizer que penetramos a

carne e sangue de Deus, vivemos em Deus, pois o

Verbo se fez homem e Deus é o Verbo” (A Encarnação

de Jesus Cristo). Portanto, necessária se faça a

“reintegração” a Cristo, que esteve também no ramo

do adepto Jesus, para nos mostrar o caminho e

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revelar a verdade. Carne não significa apenas o

corpo, mas a dimensão da matéria como um todo.

17 Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.

18 Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer.

19 E este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe

perguntassem: Quem és tu? 20 Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não

sou o Cristo. 21 Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias?

Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não. 22 Disseram-lhe, pois: Quem és? para podermos dar resposta

aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? 23 Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto:

Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.

Comentário: Não se pode ver a Face senão através

de seu anjo, Metraton, que em muito se identifica

com o Cristo. Esse é o Grande Rosto, onde está o

Pai, o Ancião dos Dias, e que está acessível através

da esfera da árvore da vida de tipharet, ou Cristo. O

Cristo que existe em cada um de nós pode por fim

revelar o Pai, e esse encarna, ressuscita e sobe ao

céu. Perguntar pelo seu paradeiro é uma forma

profana de reagir, uma vez que renascemos em

Cristo. Não se trata apenas de um homem como

insistimos em refletir nessa obra. Cristo é Heli, o

homem primordial, segundo Pasqually. Entende

Bíblia e Mistérios

100

Vicente Velado: “Não se pode confundir o veículo

físico chamado Jesus com o Cristo Cósmico nele

manifestado”.

24 E os que tinham sido enviados eram dos fariseus. 25 Então lhe perguntaram: Por que batizas, pois, se tu não és

o Cristo, nem Elias, nem o profeta? 26 Respondeu-lhes João: Eu batizo em água; no meio de vós

está um a quem vós não conheceis. 27 aquele que vem depois de mim, de quem eu não sou digno

de desatar a correia da alparca. 28 Estas coisas aconteceram em Betânia, além do Jordão,

onde João estava batizando.

Comentário: O João era o próprio messias, um dos

dois, e assim oculto, uma porta ou portal. O

batismo é uma purificação, exigência de iniciação.

29 No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e

disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. 30 este é aquele de quem eu disse: Depois de mim vem um

varão que passou adiante de mim, porque antes de mim ele já existia.

Comentário: Uma simbologia messiânica. O Cristo é

sacrificado na semelhança do cordeiro, pois em

toda a páscoa o Logos-Solar se sacrifica pela

Bíblia e Mistérios

101

natureza, que depois se renova nos 4 elementos. A

palavra INRI se refere à renovação pelo fogo e aos 4

elementos. A Era ou Aeon de Áries, o “cordeiro”.

Também vemos noutros evangelhos o relato da

pescaria, de peixes, que se refere à Era de Peixes. O

Cristo-Solar passando pelas constelações e tendo a

experiência do Cósmico, bem como em todos nós.

Tira o pecado porque o mundo evolui através Dele.

O sacrifício de Deus é limitar os Seus poderes no

plano material, encarnar. É a Lei do Sacrifício. O

mineral se sacrifica pelo vegetal, o vegetal pelo

animal, e ambos pelo homem. O homem sacrifica

seus animais internos, impulsos, por Deus. E

Maimônides fala de cordeiros como vestimentas,

que ocultam a sabedoria.

31 Eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, é que vim batizando em água.

32 E João deu testemunho, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele.

33 Eu não o conhecia; mas o que me enviou a batizar em água, esse me disse: Aquele sobre quem vires descer o

Espírito, e sobre ele permanecer, esse é o que batiza no Espírito Santo.

34 Eu mesmo vi e já vos dei testemunho de que este é o Filho de Deus.

Comentário: O batismo é a iniciação nos mistérios

de Cristo. Não se refere a uma religião, mas a uma

Bíblia e Mistérios

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vivência interna e cósmica, pessoal (pegar a cruz e

segui-lo...). O batismo da água é um grau inicial, já

o batismo de fogo é grau avançado. O batismo de

fogo é o do Espírito Santo, que dá as 12 faculdades

e que possibilita vestir a vestimenta, para assim

adentrar nos aeones. A pomba é um animal de

Vênus, logo nos leva a pensar na doutrina do amor.

Também reflete a paz. Outro símbolo parecido é a

fênix, que assim ressuscita de si mesma pelo fogo.

O pio pelicano que sustenta seus filhotes com o

sangue do peito. O caminho do coração. Bricaud

ainda fala no batismo de ar, que estaria junto ao de

fogo, chamado consamentum, e pelo qual se torna o

homem “filho de Deus”. Sem esse batismo de fogo e

ar não se pode entrar no Pleroma. O batismo de

fogo e ar se dava na idade mínima de 20 anos.

35 No dia seguinte João estava outra vez ali, com dois dos seus discípulos

36 e, olhando para Jesus, que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus!

37 Aqueles dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.

38 Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que buscais? Disseram-lhe eles: rabi (que, traduzido, quer

dizer Mestre), onde pousas? 39 Respondeu-lhes: Vinde, e vereis. Foram, pois, e viram onde

pousava; e passaram o dia com ele; era cerca da hora décima. 40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que

ouviram João falar, e que seguiram a Jesus. 41 Ele achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe:

Bíblia e Mistérios

103

Havemos achado o Messias (que, traduzido, quer dizer Cristo). 42 E o levou a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és

Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).

Comentário: Hora décima devia ser umas 4 da tarde. Messias é aquele que é ungido. A unção se

dava com óleo santo. Pedro é a pedra fundamental

do “templo”, e a pedra de tropeço. Refere-se muito a

castidade, quando vemos a trajetória dele. O Cordeiro de Deus está sacrificado desde a fundação

do mundo.

43 No dia seguinte Jesus resolveu partir para a Galiléia, e

achando a Felipe disse-lhe: Segue-me.

44 Ora, Felipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.

45 Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar

aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus

de Nazaré, filho de José.

46 Perguntou-lhe Natanael: Pode haver coisa bem vinda de

Nazaré? Disse-lhe Felipe: Vem e vê.

47 Jesus, vendo Natanael aproximar-se dele, disse a seu

respeito: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!

48 Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-

lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando

estavas debaixo da figueira.

49 Respondeu-lhe Natanael: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és

rei de Israel.

50 Ao que lhe disse Jesus: Porque te disse: Vi-te debaixo da

Bíblia e Mistérios

104

figueira, crês? coisas maiores do que estas verás.

51 E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que

vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo

sobre o Filho do homem.

Comentário: Os 12 Apóstolos são as 12 potestades,

que também são interiores ao homem. Eles levam

aos 12 aeones e podemos pensar nos mesmos como

representantes das 12 tribos de Israel. Outrossim,

vemos aqui mais uma vez as 12 constelações do

céu, uma referência aos animais sagrados (seres

viventes ou hayot), que são descritos em Gênese,

Ezequiel e Apocalipse. A relação com os anjos se vê

estreita e os poderes celestes e divinos aparecem no

Cristo Místico e Mítico. A visão do filho do homem é

usar de todas as vestimentas e trafegar pelas

dimensões, a “Escada de Jacó”, onde anjos sobem e

descem. O Filho do Homem é o homem celeste,

Adão Kadmon, que partilha do mesmo símbolo das

esferas ou sephirot da árvore da vida. Refere-se ao

Cristo Cósmico e Interno, e por isso do céu se abrir,

esse que vem na experiência mística da teofania.

Bíblia e Mistérios

105

CAPÍTULO 3

1 Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.

2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes

sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. 3 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que

se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. 4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer,

sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?

5 Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no

reino de Deus. 6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do

Espírito é espírito. 7 Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer

de novo. 8 O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes

donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

9 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode ser isto?

Comentário: Da água do firmamento, do éter e seu conhecimento (iniciação) e do Espírito do Verbo, o

Cristo Interno e Cósmico. Pois esse Cristo não nasce da carne. Uma vez na senda, não se sabe mais para onde vai, mas se é veículo de forças

superiores e se cumpre uma missão cósmica. E sobre a ressurreição, como disse Felipe, primeiro vem à ressurreição, depois à morte.

Bíblia e Mistérios

106

11 Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testemunhamos o que temos visto; e não aceitais o

nosso testemunho! 12 Se vos falei de coisas terrestres, e não credes, como

crereis, se vos falar das celestiais? 13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o

Filho do homem. 14 E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim

importa que o Filho do homem seja levantado; 15 para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna.

16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça,

mas tenha a vida eterna. 17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que

julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.

Comentário: Mais uma vez falando do Homem

Celestial, o Filho do Homem, que serve de escada

para os anjos, descendo e subindo ao céu. A

serpente de Moisés é kundalini, a serpente de fogo,

e essa sobe quando se encontra Cristo Interno.

Aqui já não é mais a luz astral inferior, mas aquele

metal gerado pela alquimia, pelo trabalho da nona

esfera, a Grande Obra. Nada mais que é que a

energia que sobe através da coluna cervical e abre

os chacras, mostrando os 7 espíritos diante do

trono e as 7 igrejas do Apocalipse. A iluminação

decorrente disso é a salvação. Todas as referências

a Cristo Cósmico e Interno, bem entendidas pelos

Bíblia e Mistérios

107

gnósticos e místicos. Cristo, no dizer de Saint

Martim, é o “Reparador dos Mundos”. E salvos são

144.000, ou seja, aqueles que passam por João ou

o portal da iniciação, porta que tem 144° de ângulo

em sua parte superior. Também o intervalo entre

nascimentos se dá em 144 anos.

18 Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de

Deus. 19 E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens

amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.

20 Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.

21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus.

22 Depois disto foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia, onde se demorou com eles e batizava.

Comentário: a luz é da vestimenta. A luz de Cristo é

desse veículo, que somente podemos ter Nele. Diz o

Pistis Sophia: “Tu que saíste dos espaços da Altura

com os Mistérios do Reino da Luz e Tu que desceste

nessa Veste de Luz, que recebeste das mãos de

Barbelo, a (Vestimenta) que é Jesus, nosso Salvador

e na qual desceste sobre Ele como uma Pomba”.

Estar sem isso nos deixa escravos ou julgados.

Possuir Cristo consigo leva a liberação, a superação

Bíblia e Mistérios

108

da roda de sânsara e mesmo do karma. Quem está

na grande obra não mais terá porque pecar, pois vê

a verdade em muitos planos ou dimensões. Está

assim cristificado. As trevas são a do materialismo

e a dos profanos. Tem de se estar preparado para

usar os veículos superiores, a fim de entrar no céu.

Ter a vestimenta de luz leva a não julgamento, mas

sim a merecimento de bênçãos e alegrias.

23 Ora, João também estava batizando em Enom, perto de

Salim, porque havia ali muitas águas; e o povo ía e se batizava.

24 Pois João ainda não fora lançado no cárcere. 25 Surgiu então uma contenda entre os discípulos de João e

um judeu acerca da purificação. 26 E foram ter com João e disseram-lhe: Rabi, aquele que

estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, eis que está batizando, e todos vão ter com ele.

27 Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu. 28 Vós mesmos me sois testemunhas de que eu disse: Não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele. 29 Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que está presente e o ouve, regozija-se muito com a voz do noivo. Assim, pois, este meu gozo está completo. 30 É necessário que ele cresça e que eu diminua.

Comentário: Que Cristo interno cresça e que o ego

diminua. O noivo e a noiva são expressões

cabalísticas, referentes a esferas. O Elias que é

João preparou as coisas para Cristo íntimo. Assim

ele é água, ou a Stella Maris, a Virgem de Luz ou a

Bíblia e Mistérios

109

divina kundalini (segundo Weor). Ele é o IAO menor

que prepara para o IAO maior. João é o homem, ou

filho de mulher, e Cristo é o Filho do Homem.

Diminuir é aniquilar as imperfeições psicológicas, o

ego. 31 Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra, e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos. 32 Aquilo que ele tem visto e ouvido, isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho. 33 Mas o que aceitar o seu testemunho, esse confirma que Deus é verdadeiro. 34 Pois aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; porque Deus não dá o Espírito por medida. 35 O Pai ama ao Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos. 36 Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.

Comentário: O testemunho é interno e uma

experiência. O Filho interno dá a vida eterna,

porque leva a Consciência Cósmica e a superação

da escravidão dos planos inferiores. A maior morte

é a falta de vida espiritual, de cristificação. Jesus

disse: “Deixe que os mortos sepultem os seus

mortos”. Também faz lembrar os ensinamentos

conservados por Felipe a respeito da morte. E a ira

de Deus é o karma, que é ao mesmo tempo a

severidade ou justiça, geburah da cabala.

Bíblia e Mistérios

110

CAPÍTULO 7 33 Disse, pois, Jesus: Ainda um pouco de tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou. 34 Vós me buscareis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir. 35 Disseram, pois, os judeus uns aos outros: Para onde irá ele, que não o acharemos? Irá, porventura, à Dispersão entre os gregos, e ensinará os gregos? 36 Que palavra é esta que disse: Buscar-me-eis, e não me achareis; e, Onde eu estou, vós não podeis vir? 37 Ora, no seu último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. 38 Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva 39 Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.

Comentário: Achar o Cristo Cósmico. As águas

eternas que se encontram no abismo, entre as

esferas de Chesed e Biná. Os rios de água viva

estão explicados em Pistis Sophia. Maria ou Marah

é esse grande oceano. Ele ensina no Cómico e

interiormente, então de lugares longínquos. O

espírito é descrito no Gênesis, quando o Senhor

planava sobre as águas. Refere-se também ao Éter

primordial, o caos antes da Criação. O Pai é alfa e

ômega (alef e tau), o primeiro e o último. Cristo

retornou ao Pai, que é o Ancião dos Dias. O Espírito

se refere novamente à vestidura de luz, e pelos

fariseus não a terem, não podem assim ir ao “lugar”

Bíblia e Mistérios

111

onde foi o Cristo. Também uma alusão as águas e a

nova castidade, do casamento, presente nas duas

testemunhas do Apocalipse. CAPÍTULO 8 12 Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida. 13 Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro. 14 Respondeu-lhes Jesus: Ainda que eu dou testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro; porque sei donde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou. 15 Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo. 16 E, mesmo que eu julgue, o meu juízo é verdadeiro; porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou. 17 Ora, na vossa lei está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro. 18 Sou eu que dou testemunho de mim mesmo, e o Pai que me enviou, também dá testemunho de mim.

Comentário: O testemunho era do Cristo interno, e

é tanto de “si mesmo” quanto da verdade de Deus.

O Pai é novamente o Ancião, aquele que está no

Grande Rosto, Deus em emanações de sabedoria e

entendimento (Hokmah e Biná), e mesmo em coroa

(kether), todos dando testemunhos da luz. A luz

passa pelas emanações, de modo que adquire

várias tonalidades. Mas alguns vasos se romperam,

ocultando a luz. Alguns fariseus mostravam essa

Bíblia e Mistérios

112

dimensão de ocultamento da luz. As duas

testemunhas do Apocalipse, que é tanto o

andrógino (união de yin e yang, levando ao Tao),

como a união de ida e pingala, na serpente que

sobe através da lança. A lança e o graal, ou o cálice.

A dualidade testemunhando a Unidade. 19 Perguntavam-lhe, pois: Onde está teu pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai. 20 Essas palavras proferiu Jesus no lugar do tesouro, quando ensinava no templo; e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora. 21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu me retiro; buscar-me- eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir. 22 Então diziam os judeus: Será que ele vai suicidar-se, pois diz: Para onde eu vou, vós não podeis ir? 23 Disse-lhes ele: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. 24 Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.

Comentário: Ambos são internos. O microcosmo

refletindo e manifestando o macrocosmo. Morrer no

pecado é em dimensão inferior, no purgatório ou

plano astral baixo. Onde ele vai é a plano elevado,

para o qual os ditos fariseus não tinham elevação

espiritual para adentrar. A vibração e sua lei

revelam o enigma do capítulo. A morte antes da

ressurreição, uma purificação e sacrifico do

animalesco, uma limitação da ação da alma

Bíblia e Mistérios

113

animalesca (sepher hará). O morto se harmoniza a

sua egrégora. 28 Prosseguiu, pois, Jesus: Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então conhecereis que EU SOU, e que nada faço de mim mesmo; mas como o Pai me ensinou, assim falo. 29 E aquele que me enviou está comigo; não me tem deixado só; porque faço sempre o que é do seu agrado.

Comentário: O Pai é alfa e ômega, o primeiro e o

último, e assim enviou. E Ele faz através de Jesus,

e por isso do termo Eu Sou. Jorge Adoum fala

bastante no tema, e mesmo Saint Germain

também, demonstrando a dimensão do Cristo

interno. Aqui já vemos o ego dissolvido e o Pai

agindo em Jesus. A missão cósmica assim convida

para a superação de interesses mundanos, sendo

instrumento de forças divinas. O Cristo precisa

salvar para que também possa retornar ao Pai.

Porque mesmo ele é Uno com o Pai. Em Pistis

Sophia: “E Amén vos digo: esse Homem, ao

dissolver-se o Mundo, será Rei sobre todas as

Ordens da Herança da Luz e o que recebe esse

Mistério do Inefável o qual «Eu Sou»”. Esse é o Filho

do Homem, que dissolve suas imperfeições e sua

velha natureza de pecado, de queda, dando lugar ao

Novo Homem, cristificado. Assim disse também

Jorge Adoum: “Deveis saber que - EU SOU - é A

PRESENÇA DE DEUS EM CADA SER HUMANO.

Nunca se deve esquecer isto. EU SOU (é) A VIDA, A

Bíblia e Mistérios

114

LUZ, ASUBSTÂNCIA, A INTELIGÊNCIA E A

ATIVIDADE (Nele vivemos, nos movemos e temos o

ser), de uma maneira inconsciente. O objetivo destas

práticas é prepararmo-nos para sentir

conscientemente nossa união com o PAI - EU SOU - o

DEUS INTIMO” (Eu Sou). Portanto, a presença

Divina é Shekinah, é também Cristo, e deste modo

os milagres são realizados. A cura maior acaba se

realizando na presença do Eu Sou. 31 Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; 32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. 33 Responderam-lhe: Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes tu: Sereis livres? 34 Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35 Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre. 36 Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.

Comentário: Jesus era judeu e pregava

especialmente a estes. A verdade que liberta é a

iluminação que se encontra após iniciação e

adeptado. Quem comete pecado é aquele que

muitas vezes não tem consciência de sua

consequência. Um karma severo leva ao inferno. Já

seguir a Cristo leva ao perdão dos pecados, a

possibilidade de “negociação”, segundo Weor. O

escravo é também aquele que não tem domínio da

Bíblia e Mistérios

115

vida, e deste modo se vê um joguete de modas, de

apegos e tristezas que vêm mais de sua ignorância,

que das vicissitudes naturais da vida. 44 Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira. 45 Mas porque eu digo a verdade, não me credes. 46 Quem dentre vós me convence de pecado? Se digo a verdade, por que não me credes? 47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso vós não as ouvis, porque não sois de Deus

Comentário: Aqui há uma passagem polêmica.

Alguns dizem que se faz uma distinção e que os

judeus antes de Cristo não acreditavam em Deus,

mas em outro, no Diabo. Entre gnósticos se tenta

em certas vertentes defender esse argumento, uma

vez que o Deus do antigo Testamento seria severo,

cruel, estimulador de sacrifícios de animais e

genocida. Seria assim Ildabaoth. Porém, sobre isso

discorda Gerson Sholem, bom estudioso da tradição

judaica mística que se misturou a gnose. Vejo que

Jesus falou antes do “ego”, que é em sua forma

inferior o Diabo, e cria entidades desse naipe,

elementais. Mas pela cabala já falamos, o Senhor

dos Exércitos é uma face de geburah, uma das

emanações de Deus, não Ele na totalidade. Assim

podemos ver em Seu arrependimento em gênese e

Bíblia e Mistérios

116

outras passagens. Também parece que as funções

demiúrgicas, muitas vezes colocadas nos anjos

elohim, confundem os atos com o do Altíssimo.

Ademais, a beleza e mesmo a reprodução são

emanações de Deus, que nem sempre será visto

apenas como sabedoria. Claro que ter uma visão

superior Dele acaba por afastar tais aspectos, mas

não se deve julgar de Diabo aquele que inspirou

homens sábios e uma tradição de leis morais

avançadas, em grande sintonia com leis como as 42

de Ma’at, de Manu, 12 Tábuas e outras. O aspecto

de que o ego afasta a presença de Deus, pois

carrega muitos defeitos psicológicos e interesses

pouco espirituais ou em sintonia com o Cósmico.

Vemos mesmo hoje interesses financeiros e de

poder no lugar de espiritualidade cristã, e isso em

muito se deve ao egoísmo de sacerdores ou

ministros, ou ao seu Diabo. O que Yeheshua queria

mostrar era um caminho em sintonia com a Grande

Fraternidade Branca, com a ordem de Melkisedech

e para o Pai, ou seja, o Grande Rosto de sabedoria e

entendimento (Hokmah e Biná), bem como até a

coroa (Kether) da árvore da vida, expressões

superiores do mesmo Deus e suas emanações, que

é por onde podemos entendê-Lo. Normalmente se

interpreta essa passagem como falsos Cristos que

vieram antes de Jesus, o que também é possível.

Bíblia e Mistérios

117

48 Responderam-lhe os judeus: Não dizemos com razão que és samaritano, e que tens demônio? 49 Jesus respondeu: Eu não tenho demônio; antes honro a meu Pai, e vós me desonrais. 50 Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue. 51 Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.

Comentário: Há o preconceito contra o samaritano.

Contudo, há ainda doutrinas raciais a respeito do

cristianismo. Dize-se que Jesus é o salvador que

veio para a raça branca ou ariana, e que as outras

já tiveram sua trajetória evolutiva. Também se fala

muito em um Deus nacional de Israel, o que

também não combina muito com antigo evangelho,

haja vista a mistura de costumes que se vê por lá.

Mesmo no cristianismo existem muitas coisas de

outros cultos e culturas, e seus atos e ritos de

essênios em muito mostram essa influência. Fato é

que Jesus pregava a romanos, a gentios etc, e o fato

de ser tido por samaritano, pouco ou nada altera. A

palavra referida é o Verbo, que é o “sopro”, e por

isso da relação com a vida. O adepto não tem

demônio, pois suas camadas psicológicas inferiores,

seu corpo astral inferior praticamente não existe,

não entrando no umbral ou inferno, a não ser se

para alguma missão ou no caminho. Já falamos

que o demônio é muito um Elemental criado pelo

“ego” materialista e mundano, e que assim nada

partilha com Cristo. Por isso desse ego oferecer

todos os reinos do mundo e pedir a demonstração

Bíblia e Mistérios

118

de poderes, porque ele era adversário de Cristo, e

ao mesmo tempo uma barreira interna ao iniciado,

o Senhor do Umbral. O agregado de personalidades

inferiores, formando um monstro ou dragão. Com o

Pai se exorciza os demônios. CAPÍTULO 10 7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. 8 Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. 9 Eu sou a porta; se alguém entrar a casa; o filho fica entrará e sairá, e achará pastagens. 10 O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. 11 Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.

Comentário: A porta da iniciação, o Cristo Cósmico

leva aqueles que são guiados por mestres cósmicos,

que seguem seu pastor, na senda. É a porta cujo

ângulo superior tem 144°, e que são os salvos,

144000, que soma 9, sendo assim a esfera do

“fundamento” da árvore da vida, yesod. As ovelhas

são brancas e representam a castidade, sendo

assim a pureza e o material do qual é feito o avental

em sociedades de iniciação. Com a castidade se une

em núpcia alquímica as 2 testemunhas do

Apocalipse, e assim abrem os 7 selos e adentram

Bíblia e Mistérios

119

nas portas das 7 igrejas. O ladrão é o ego e o

profano, aquele que está fora. O ladrão não sabe a

batida da porta, e assim a porta não é aberta até

que aceite o batismo santo nas águas. O pastor que

se sacrifica, repetindo assim a Lei do Sacrifício. E

aquele que mata, rouba e destrói é o ego-Satã, que

corre atrás de poder do mundo, dinheiro, prazeres e

toda a sorte de eventos que se distanciam da

espiritualidade e de vibrações superiores. O ladrão

se apega, não sendo apenas caminho não ter bens,

mas sim o desapego. Pode-se ser rico e encontrar

Cristo, mas quando se encontra, se abandona tudo

e pega a cruz. Porque os metais enferrujam. O

iniciado abandona as joias e metais, ao adentrar no

templo. CAPÍTULO 13 20 Em verdade, em verdade vos digo: Quem receber aquele que eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.

Comentário: O Espírito Santo é em muito também

interno. É aquele fogo que dá sabedoria. Uma

chama sempre era deixada ardendo em antigos

templos. Recebendo a Trindade se recebe ao Verbo.

Uma vez com as polaridades e o neutro, se

compreende o cainho, a verdade e a vida.

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“Por isso daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne; e, ainda que tenhamos conhecido Cristo segundo a

carne, contudo agora já não o conhecemos desse modo. Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas

velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. (II Cor. 5:17-17)

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a

na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. (Gal. 2:20)

“Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos

revestistes de Cristo. Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois

um em Cristo Jesus” (Gal. 3:27).

Muitas vezes ouvimos alguém falar sobre

determinada passagem bíblica difícil de interpretar:

“isso é um mistério”. Porém a palavra mistérios se

relaciona muito as antigas escolas iniciáticas, a

exemplo dos mistérios de Ísis, os órficos, mitraicos

etc. Uma escola de mistérios, de sabedoria e

ensinamentos quase ocultos, que se relacionavam a

vida após a morte, principalmente. Mas o

cristianismo também tem seus mistérios. Os

mistérios de Cristo são quase que constantemente

referidos por Paulo, e isso se caracteriza por um

conhecimento que pareceu de início ser reservado

apenas aos seguidores mais próximos de Jesus, em

especial os apóstolos. Clemente e Orígenes citam

que essa era a forma de mistério do Reino, e que

não era um ensinamento que seria dado a todos, a

Bíblia e Mistérios

122

não ser que estivessem preparados ou purificados.

Por isso de se falar em “não jogar pérolas aos

porcos” e outras expressões assemelhadas, que não

se referem a ofensas de judeus, mas sim apenas a

pessoas que ainda não estavam no grupo de

iniciados.

Assim, os mistérios ficavam muitas vezes

velados em ensinamentos semelhantes aos das

parábolas, que segundo Orígenes eram explicados

“em particular” aos discípulos iniciados. Isso se

dava através de uma tradição oral, apesar de que

nos Evangelhos há em certas passagens certa

revelação para quem tem “olhos para ver”, ou a

percepção de inspiração mística. As expressões

usadas no Evangelho para designar iniciados e

mistérios cristãos são tais como: as criançinhas,

porta estreita, montanha, perfeitos, o Reino, Reino

de Deus, novo nascimento, vida eterna, a Vida,

salvos e outras. Essas expressões são dadas muitas

vezes com objetivos de afastar o Reino para outro

mundo, ou mesmo apenas após a morte ou

ressurreição. Contudo, vemos uma constância no

uso dos termos pelos apóstolos, que de longe revela

a sua vivência e que as coisas estavam na presença

deles, e não em futuro distante ou outro mundo. A

expressão “se tornar crianças de novo”, ou “novo

nascimento”, é de longe claramente iniciática. Nas

antigas escolas de iniciação, fato claro que ocorria

era uma morte e uma ressurreição simbólicas, e

Bíblia e Mistérios

123

isso se fazia por determinado rito ou encenação. No

cristianismo está claro que a eucaristia e o batismo

são formas que guardam uma ritualística, e isso

depende da vontade da pessoa e de determinada

preparação ou purificação.

Outro detalhe é que Cristo não mais estando

presente fisicamente, acabou por revelar o

significado maior do termo e da sua presença.

Cristo é muito mais que um homem, e não está

apenas externamente. Várias passagens de Paulo e

suas cartas, bem como em outros evangelhos,

revelam que o Cristo é um Cristo Interno, e que

está além das barreiras espaços-temporais. Assim é

também um Cristo Cósmico, sendo esses

ensinamentos muito divulgados pelos gnósticos,

apesar da má fama que ficaram. Algumas seitas

gnósticas macularam a gnose original, que estava

bem presente em cristianismo primitivo, e que eram

sim a verdadeira doutrina, sendo substituída por

aquela dos concílios e de interesses dogmáticos,

onde muitas vezes já se viam afastados do mistério

de Cristo. O conceito de corpo de Cristo revela bem

essa dimensão do mistério, e em muito vai além da

figura do homem da Galiléia. Também o

cristianismo não era uma doutrina para crianças,

mas sim chamados de “criançinhas” aqueles que se

iniciavam em seu mistério, que eram homens feitos

ou até mesmo maduros.

Bíblia e Mistérios

124

Também os “mistérios da ressurreição” são

diferentes do que se comumente se designa por

ressurreição. Orígenes faz essas e muitas

considerações, como a questão desses mistérios e

da iniciação ser dada a Timóteo por Paulo, e assim

seguindo uma tradição oral, pois os mistérios

sempre foram protegidos contra a forma escrita.

Apesar da tradição de iniciadores não ter

continuado, houve sim quem tivesse acesso ao

mistério de Cristo por experiências místicas, e

revelando as doutrinas de forma parcial ou

simbólica, como Mestre Eckhart, Ruysbroeck, São

João da Cruz, Jacob Böehme, Robert Fludd,

Paracelso, Saint Martin e outros. Também a seita

dos Quakers e outras continuaram, ainda que

veladamente, a propagação do mistério de Cristo ou

do Reino de Deus.

A expressão do “Reino de Deus” nos leva a

pensar numa hierarquia celeste. E é isso mesmo.

Os mistérios em muito tratam e sempre trataram

da relação de forças dessas hierarquias, como o

papel dos anjos e seu estudo minucioso, bem como

a vida após a morte, ou após a ressurreição. E isso

é uma vivência, não mera doutrina de igreja x ou

épsilon com sua teologia e achismos. E a porta é

estreita, não comportando a entrada até o preparo

inicial. Se deve assim ter a purificação, ou seja, não

mais pecar. Então, voto de pobreza, obediência e

castidade. Se observarmos aqueles do compasso e

Bíblia e Mistérios

125

esquadro, percebemos que a castidade está no

avental branco e luvas da mesma cor, a pobreza

naquele desapego ao ser iniciado, isento dos

metais, e a obediência no juramento ou aceitação

da fraternidade. A ordem dos Templários também

tinha voto de pobreza e castidade, e mesmo os

franciscanos e beneditinos mantêm a regra. Jesus

dizia para largar dos bens e deixar aos pobres e

segui-lo. Mas isso não se refere a abandonar a

família e virar mendigo, mas sim ao desapego

necessário para a ressurreição espiritual, ou a

liberação que leva a iluminação.

Por isso, o caminho é de procurar esse Cristo

íntimo, se cristificar. Claro que o modelo de Jesus e

do Evangelho é indispensável, e é através dele que

muitas coisas estão disponíveis para esses

mistérios. Nascendo o Cristo na pessoa, ela pode

assim esperar as 12 potências, que são os 12

Apóstolos, faculdades de contato com os 12 Aeons.

Há assim uma libertação cristã, uma iluminação, a

que já falaram veladamente os gnósticos. A alma é

crucificada na matéria, por já não partilhar a

natureza da treva, e por encontrar a vestidura,

como se fala em Pistis Sophia. Essa vestidura é o

Cristo, e é o Pai, e é o Espírito Santo internos, que

assim levam o Novo Homem a comungar com as

inteligências angélicas, de modo ativo e sob

domínio. Dizem que Adão mandava nos anjos antes

da queda. A queda foi justamente a nudez dessa

Bíblia e Mistérios

126

“vestidura”, que é o “corpo glorioso”, parecendo ser

aquele que se usa no Reino. O Reino não herda a

carne. Também João é João interno, uma vez que

se é decapitado em relação à natureza inferior, ao

ego (Diabo) e as idiossincrasias psicológicas, que

afastam o homem ou mulher da iluminação, da sua

salvação. Assim, daqui em diante não se conhece

Cristo segundo a carne.

Bíblia e Mistérios

127

Teosofia e Evangelho

Bíblia e Mistérios

128

Introdução

Devemos aqui falar da doutrina que se

difundiu com Blavatsky, apesar de já existir no

próprio cristianismo. A teosofia é cristã, e o que

vemos em muito é um teosofismo. Porém ambas as

vertentes são auxiliares a clarear nossa visão da

Bíblia. Teosofia cristã foi em grande parte o

ensinamento de Jacob Böehme, e depois na linha

martinista. É mais que mero estudo, sendo sim de

origem na experiência. Ao longo da obra já falei no

Martinismo, e mesmo em “Bíblia e misticismo” já

comentei as Escrituras com base nessa vertente

iluminada. A teosofia também tem importância pelo

estudo de religião comparada, e pela observância

da origem do cristianismo e da Bíblia, sem a

desfiguração teológica operada por igrejas e por

interesses dogmáticos, de interesse no poder

temporal. O mais importante é que faz o

comparativo dos mistérios iniciáticos de outras

culturas, sendo de grande importância aqui. Há

também a linha de Max Heindel, que dá uma

explicação cristã a teosofia, absorvendo essa

sabedoria e a incorporando. Assim vai em sintonia

com o que trato nesse livro, que é o puramente

espiritual, sem materialismo ou bezerro de ouro,

como ocorre com uma grande quantidade de seitas

contemporâneas.

Bíblia e Mistérios

129

Teosofia e Evangelho

A teosofia tem uma complexa filosofia, que

alguns julgaram de espécie de budismo esotérico.

Contudo, vemos uma variada gama de estudos

sobre religiões comparadas, sendo forma elevada de

busca da verdade, tendo como lema: “Não existe

religião superior a verdade”. Vemos assim que a

Bíblia tem grande afinidade com outros livros

sagrados, como com Baghavad Gita, Puranas, Rig

Veda, Upanishades, Mahabarata e outros da linha

hindu. Isso cria uma ponte mística que une as

tradições, de modo diferente a ciência ou mesmo as

religiões, que desejam a separação dos cultos e

visões de Deus. No caso de Blavatsky, ela utiliza

um livro secreto chamado de Livro de Dzian, que

parece reservar forte tendência hermética. Vemos

assim uma forma de yoga do cristo, lembrando obra

de Ravi Ravindra. E Jesus é um grande yogi, como

descreve esse autor.

Já vi até outros autores compararem o Cristo ao

Atman, uma forma de eu superior que se funde

mesmo com Deus, já sendo forma de grande razão,

Logos. Lembrando também a forma amorosa do

Cristo, em muito parece uma dimensão do que eles

têm por Budhi, que compreende forma ou veículo

Bíblia e Mistérios

130

emocional, mais evoluído que o meramente carnal,

que a “carne”. Também em Mahabarata se descreve

Krishna com eventos em sua vida que assemelham

ao Cristo, como se fosse uma pré-figuração do

mesmo, onde nasce de uma virgem no dia 25 de

Dezembro, morre e ressuscita etc. Ao se ver Krishna

falando no Gita, também temos forte impulso em

ver Cristo ali, que o Senhor está presente. A

onipotência, a sabedoria e a busca de uma forma

de evoluir a humanidade, tudo isso em muito se

assemelha a Bíblia, apesar da valorização das

castas, o que em Cristo já se vê um pouco

superado, quando esse apoia o samaritano e

desvaloriza o fariseu. A teosofia, porém, parece uma

linguagem que sistematiza aquele esoterismo hindu

e budista, enquanto na Bíblia vemos as coisas mais

veladas e próximas da realidade, confundindo

muitas vezes muitos, que veem apenas história de

um povo no livro sagrado judaico-cristão. Já no Rig

Veda, por exemplo, a simbologia é tanta que se

sabe que lá estão forças, aspectos, analogia e

metáforas, enquanto aos leitores religiosos da

Bíblia, no máximo se tiram lições morais de

histórias que muitas vezes são apenas herança de

tradições e mitos muito mais distantes, vindos de

Babilônia, Suméria ou Egito. Tanto é que a

arqueologia bíblica vem procurando coisas que

muitas vezes foram tratadas pela Igreja de Roma,

que eram mais lendas e tradições adaptadas de

Bíblia e Mistérios

131

outros povos, de tradições solares etc, do que

eventos históricos. Então, Krisha-Cristo, a Suprema

Personalidade de Deus, pode mesmo ser Deus, não

havendo problema em se acreditar nisso. Pois

Cristo é mais que um homem como falamos aqui

nessa obra, e também Krishna supera em muito

qualquer noção de “humano”, uma vez que

sobreviveu as águas do Dilúvio Universal e fim do

mundo, flutuando ainda bebê nessas “águas” de

éter.

Na teosofia tudo isso é tratado de forma

filosófica e científica, sem fanatismos e sem grande

protecionismo. Não que Blavatsky seja anticristã,

mas talvez que via as coisas sobre outro foco. Para

tanto, escreveu algo que parecia revolucionário em

Ísis sem véu, e apoiou seu assistente, Mead, a que

fizesse um estudo aprofundado até as origens do

cristianismo. Também em Besant e mesmo em

Krishanamurti percebemos a preocupação deles

com o credo cristão, e assim levando-nos a grandes

reflexões, a detalhes que antes não percebíamos na

letra. A letra mata e o espírito vivifica. E isso se

refletiu muito em sociedades iniciáticas e no mundo

esotérico. Fato é que esse cristianismo esotérico nos

mostra a amplitude e dimensão extra que se faz o

Evangelho, e que Cristo é muito maior que um

homem que fazia milagres e curas, e que hoje se

usa para ganhar dinheiro. Havia uma dimensão

espiritual e de elevada filosofia em tudo o que o

Bíblia e Mistérios

132

mestre dizia, e assim as parábolas se traduzem,

apesar da linguagem pastoreia ou agrícola, em algo

de metafísica digna de Platão ou Aristóteles. Vemos

que isso foi bem aceito, porque sábios como

Agostinho de Hipona e mesmo Tomás de Aquino

não separavam a filosofia grega do cristianismo.

Surge então a teologia. Vemos assim existe forte

relação entre as religiões, e que o Espírito Santo

não está preso a certa raça, povo ou região do

mundo.

Mesmo que a visão sobre as coisas não seja a

mesma, a teosofia pode nos auxiliar em muito

numa elevada hermenêutica bíblica, em especial a

trechos do Gênese, onde há a referência do início e

do fim do mundo, da Criação e do auxílio dos dian

choans ou anjos nessa tarefa. O próprio termo

Elohim ou mesmo Jeovah, não seria mais que a

nomeação de um desses 7 anjos especiais da

Criação. Também isso se referindo aos “gigantes”, a

Noé o dilúvio e presente tais aspectos na literatura

purânica e hindu. Isso também nos leva a pensar

na cabala e em seu principal livro, no Zohar, onde

detalhes presentes na tradição oral judaica

transparecem, o que na Bíblia se vê exterior, pela

extensão que tomaria um rolo, fosse tudo tratado.

Uma noção cabalística importante é o tzim tzum,

que seria o que a nossa ciência chama de “Big

bang”, essa explosão do início do Universo. Porém a

noção filosófica e cabalística é de que isso é

Bíblia e Mistérios

133

periódico, que vai e volta, não uma coisa única.

Uma pulsação. Isso nos leva a ideia de ciclo. Na

Teosofia Blavatsky fala em “pralaya”, que seria essa

grande noite cósmica, mas não um fim total, mas

recomeço. Se não me engano, até Brahma não

passaria a esse fim do mundo, ou Apocalipse.

Então vemos a relação entre a Bíblia, a ciência e as

ciências ocultas, em grande parte presentes na

teosofia. Isso sem falar de Martinismo, nessa

teosofia estritamente cristã, que nos leva a

compreensão da queda e do Novo Homem, que

encontra em Jesus Cristo seu salvador.

Então, se pensarmos em Besant, na sua obra

Cristianismo Esotérico, vemos que existe uma

dimensão mítica e uma mística na vida de Jesus.

Pensando na mítica, em muito reflete o mito solar e

seu drama, sua passagem pelos 12 signos, ou sua

relação com os doze apóstolos. Também nos mostra

na tradição de outros cultos, como a de Mithra,

fatos iguais ao que ocorrem na vida do mestre

Galileu. Porque o culto supera em muito a vida de

um homem, e Cristo é mais e se relaciona conosco

toda a vida, e mesmo com todo o universo. No

Evangelho de Tomé, o Dídimo, se fala que ele

estaria até em uma madeira, numa pedra etc. Não

longe a noção de Osíris, sua morte e ressurreição

também revelam aquele mistério que seria depois

vivido por Jesus. Apesar de que se fala em um

Jesus egípcio vivendo 100 anos antes, fato é que o

Bíblia e Mistérios

134

saber a que tinha o rabi era em muito superior a

fundamentalismo religioso ou conhecimento

talmúdico. Existe uma busca dele sempre de

revelar a ratio legis, a razão da lei, sua intenção,

não a mera escravidão dos homens a regras, como

se fossem robôs. Jesus foi esse guru, e deste modo

ensinava uma espécie de elevada yoga. Percebemos

isso principalmente na sua transfiguração, que

mostra a dimensão do Homem Celeste (Filho de

Deus), e mesmo quando falava “Eu Sou” para seus

iniciados, os Filhos do Homem, e isso sem falar nos

ensinamentos cósmicos e angélicos presentes nas

parábolas, muitas vezes vistas apenas sob foco

moral. O comportamento dos cristãos se

assemelhava muito a ética oriental e indiana, e

assim estava longe de ser uma busca de poder

temporal ou mero enriquecimento. Porém a

sabedoria era elevada, e em grande escala Jesus

era um cabalista, ou sacerdote segundo a ordem de

Melquisedek. Além de que a doutrina gnóstica fazia

um intercâmbio de filosofia, herdando aspectos de

pitagorismo e neoplatonismo, claramente de

influência egípcia e indiana. A Teosofia viu em meio

a isso tudo o cerne da doutrina de Cristo, e o

aspecto que foi esquecido ou mesmo velado pelas

igrejas institucionalizadas.

Dois “lugares” que na leitura são melhores

definidos lá são o Céu e o Inferno. Em muito

nenhum destes de morada eterna do homem. O

Bíblia e Mistérios

135

inferno seria o kâmâ-lóca, espécie de purgatório ou

astral inferior onde o homem apegado a desejos e

com pesado karma iria purgar essas imperfeições,

iria vivenciar excessos de desejos. Lá habitariam os

demônios e seres responsáveis por essa obra, e que

em muito já não tentariam os sábios ou

iluminados, os quais não entrariam nessa região.

Uma hierarquia natural ou espiritual levaria o

homem para não cair nesse inferno, e preparo, não

a mera conversão ou arrependimento do pecado.

Apesar de que Cristo quando acessado já é em um

nível em que se pode interpretar como esse perdão.

Mas uma existência única não possibilita isso, de

forma alguma. Necessárias se fazem muitas

existências ou encarnações. A doutrina da

reencarnação foi “apagada” em um Concílio por

volta de ano 400, e assim restou que essa palavra

foi adulterada e substituída para ressurreição.

Apesar de que a ressurreição cristã original se devia

a iniciação, como falamos nos capítulos anteriores.

A doutrina da reencarnação é ainda aceita por

judeus, e assim nos mostra que tem tradição, não

sendo mera importação do oriente “pagão”. Para

judeus chama gilgul, apesar de ser vista de forma

diferente. O mesmo se diga de Céu. Esse Céu

espiritual é para teosofistas o Devakan, e assim

algo que é conquistado por merecimento e evolução,

não mero estado instantâneo ou automático,

também se exigindo vidas para tal e encarnações

Bíblia e Mistérios

136

múltiplas. Chamam esse Devakan ainda de “Céu

inferior”, um lugar ou estado de consciência onde

se tem descanso, alegria, amor, felicidade etc, o que

foi idealizado em vida. Quando Jesus desce ao

inferno, claro fica que ele passou por algo não feito

para a eternidade dos seres, mas uma fase e

dimensão compatível com cada um, um local

adaptado ao veículo astral, um plano. Já o céu

superior é encontro com as crenças religiosas

puras, e com o Egrégora, o que se acreditou, de

modo que se passa pouco tempo nesse estado, a

não ser que se seja muito evoluído. A maior parte

das pessoas passa pouco tempo em Devakan, e

nada em céu superior, podendo-se dizer que eles

vão para o inferno. Mas sempre voltam e tem a

oportunidade de evoluírem, como fizeram os

grandes mestres e iluminados. O astral inferior ou

inferno é descrito em filmes e livros espíritas, e

também outros descrevem o além túmulo como

Swedenborg, mesmo antes. Já Sócrates falava que

se devia evoluir pelas encarnações e rememorar as

anteriores, a fim de se encontrar a sabedoria. A

Bíblia em diferentes passagens parece aderir à

crença, mesmo em transfiguração de Cristo, ou em

semelhanças entre patriarcas, ou mesmo quando

vemos a evolução de um Eliseu e Elias. Não se deve

exigir o Céu de uma pessoa de alma jovem, como se

faz de uma que já viveu em muitas oportunidades.

Bíblia e Mistérios

137

Outro autor que se deve menção é Max Heindel,

que em grande parte concilia a visão teosófica a

cristã. A possibilidade do homem ter passado por

evolução diversa daquela descrita por Darwin, e

mesmo as raças que evoluem, o aspecto do “corpo”

que usou Cristo após a ressurreição, o mito solar e

muitas coisas são ali descritas em sua obra. Que

teria existido um homem vegetal e mineral, está

bem centrado numa ciência oculta, e isso justifica a

“solidão” de Adão no início do livro de Gênese.

Também a androgenia, bem como uma série de

detalhes que já falei na obra Bíblia e Misticismo,

estão claramente descritas na obra do autor. O

corpo astral a que me referi em capítulo anterior

eles chamam de “corpo de desejo”, o que parece

muito semelhante ao perispírito dos espíritas. Vale

ressaltar que Jesus teria usado um veículo astral

superior, o “corpo vital”, na ocasião de andar sobre

as águas, e na ocasião após sua ressurreição e

aparição aos discípulos, a Maria etc. Alguém pode

falar que ele ingeriu carne de peixe e abraçou,

mostrou feridas etc. Mas sabemos que os veículos

superiores podem muitas coisas, inclusive se

materializarem. Uma doutrina esotérica e de várias

vertentes, é a memória da natureza, ou akásica, e

essa também se fala na teosofia, sendo espécie de

“nuvem” virtual onde os mestres acessam a história

do mundo, da Criação etc. Também o homem

através de suas encarnações, 777, teria uma

Bíblia e Mistérios

138

memória permanente que não morre, que estaria no

átomo-semente do coração. Isso tudo leva a um

cristianismo teosófico superior, a uma

característica pouco notada e estudada, mas que

em muito revela os mistérios a que estamos

descrevendo nesse livro. Também Heindel fala que

os órgãos sexuais não terão mais função quando o

homem evoluir e usar apenas esse “corpo vital”, e

assim daria significado literal aquela passagem que

diz que no Reino não haverá mais esposos e

esposas. Apesar de que o mundo espiritual já não

necessita de reprodução sexuada. A teosofia fala

também da raça atlante, e aqui em Heindel se fala

em Noé como o sobrevivente de lá, sendo que o

homem teria outra constituição, e espécie de

guelras, a fim de viver em um vapor muito forte,

impedindo outros de respirar. Uma classificação de

7 raças e da evolução através das mesmas, em

rondas, faz da doutrina algo bem teosófica. Ocorreu

uma involução (queda) e assim ocorre uma

evolução (salvação). Põe papel central na evolução

da humanidade feita pelo cristianismo. Porque

defende a Nova Era e essa é de amor e unificação

de religiões, estando Cristo acima de religião racial,

nacional etc. Devemos para tudo isso então

trabalhar nosso corpo vital e assim estarmos ao

lado de Jesus Cristo e podermos o ver, ou ele nos

ver, senão alguém dirá: Senhor, Senhor... sem que

seja reconhecido, Naquele Dia. Os períodos

Bíblia e Mistérios

139

evolutivos seriam 7 até Deus, um caminho da

iniciação. Vai da inconsciência a super-consciência.

O interessante na doutrina teosófica ou

rosacruz de Heindel, esse teósofo cristão, é que

após a morte do corpo físico devemos rememorar

toda a vida, como um filme que se repete, e

chamando isso de Purgatório. Rompe-se o cordão

de prata, esse feixe energético a que possuímos

para o corpo vital, e assim o mesmo se solta do

corpo físico, na transição. Há o exercício da

memória, que seria todos os dias, antes de dormir,

rever o que ocorreu no dia, a fim de superar essa

fase de purgatório, e assim economizar tempo na

caminhada evolutiva. E há a tríplice alma, que deve

ser assim desenvolvida. A evolução é da alma.

Também os anjos seriam seres de uma ronda

anterior de evolução, que teriam falhado no papel

(por isso caído..), e para tanto ainda agora

colaborando conosco para que não façamos o

mesmo erro. E esses anjos agora cuidam

especialmente do reino vegetal, e os animais são

mais evoluídos no presente do que quando nós

fomos animais. Na próxima fase evolutiva seremos

anjos. Fato é que em muito Cristo no começo do

cristianismo era tido como um anjo. O auxílio de

Gabriel, Miguel, Rafael e tantos outros é

inquestionável na Bíblia. Vemos sempre sua

presença em colunas de fogo, de fumaça, em

proteção dos homens de Deus etc. As doutrinas

Bíblia e Mistérios

140

mais avançadas em estudos se referem aos anjos. A

Merkabah ou o estudo da roda de Ezequiel, a que

tentei dar pincelada em meu comentário, bem como

os animais ou bestas do Apocalipse, e tantas

passagens da Bíblia, referem-se a esse complexo

tema angelical. Os cabalistas falavam que estudar

essa roda era apenas para anciãos ou homens de

muita sabedoria, sendo temerário se falar no tema.

Mas a escada de Jacó nos mostra que essa

hierarquia celeste deve ser vista ou conhecida no

fim dos tempos, e que para alguns já estaríamos

neles. Não se refere a centenas de anos, e nem a

milhares, mas a milhões de milhões, pela teosofia

(4.320.000.000.000), ou mais. Por isso de se falar

no dia do Juízo como algo que nem o filho sabe. Os

cataclismos se dariam nas mudanças de eras, ou

das rondas, os “dias da Criação” descritos no

“Conceito Rosacruz do Cosmo”, e assim em Pralaya,

nessa noite de Brahma. Mesmo a ciência coloca a

origem do universo em 13 bilhões de anos, o que

parece ser também um equívoco, pois o tempo

parece variar e isso parece apenas sob nosso ponto

de vista. O espaço-tempo é relativo, e nem

precisamos lembrar-nos de Einstein para

pensarmos que esse tempo tem de ser mais

estudado. Então os veículos que desenvolvemos

permite superar e evoluir nessas rondas,

acompanhando o Senhor que nos mostra o

caminho, Deus encarnado, a fim de nos salvarmos

Bíblia e Mistérios

141

da destruição. Noé foi um exemplo, esse Manu que

era ao mesmo tempo filho de Titãs ou gigantes,

sendo esses gigantes descritos na Bíblia. E todo o

esforço, por menor que seja, como a misericórdia,

compaixão, caridade, em uma palavra, amor, faz de

nós cristãos melhores, podendo conhecer mais, o

que não significa a árvore da morte (que seria o

“outro lado”), uma vez que assim afastamos os

demônios. A teosofia é de todo útil, e nos leva

àquelas dimensões a que perdemos, de

hermenêutica avançada e simbólica, mais fiel ao

original, ao que formularam essênios, gnósticos e

cabalistas. A Bíblia é assim entendida, fazendo com

que tenhamos mais sua letra em nosso coração, e

sua sabedoria sempre viva em nossas vidas. Saber

respeitar as outras religiões e raças, faz de nós

melhores pessoas, e assim a Teosofia nos leva a

repensar o cristianismo sob um enfoque mais

cósmico, e ao mesmo tempo de uma elevada yoga

interior.

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