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Bíblia e Mistérios
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Catalogação
SOLTYS, Mariano. Bíblia e Mistérios:
comentários bíblicos com chaves místicas. São
Paulo: AG Book, 2013.
Bíblia e Mistérios
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Prefácio
É impressionante como a mesma Bíblia pode se prestar a interpretações várias, desde a literal donde brotam os desafios hermenêuticos pelas contradições, até a mais espraiada cuja meta é redimensionar a contradição para lhe minar a oposição interna. Soltys vai para linhas herméticas e exotéricas de modo que aquilo que é figurado torne-se ainda mais figurado. Uma coisa é certa: na Palavra de Deus a mensagem é tudo. Tudo é pensado e escrito de modo a calcular de antemão a impressão do leitor. Não interessa o que foi ou o que aconteceu, mas como as coisas devem ser moral e espiritualmente concebidas. Os personagens equivalem a conceitos de uma teoria, ou para usar um termo mais genérico, peças de uma metanarrativa. Enquanto que o simbólico tem um significado, Soltys agrega o simbólico ao simbólico, interpretando o símbolo por ele mesmo. Em Soltys interpretações gnósticas e de uma espiritualidade superior são manejadas sem trair a mensagem original do texto bíblico. Cabala, metáfora, códigos e chaves, números e figura, tudo isso aparece em Soltys. Ele é esse filósofo místico que nos brinda com a mensagem do verso e do reverso do texto, mostrando que o texto tem vida própria e sempre diz infinitamente mais do que pretendeu dizer. Obrigado, Mariano, por nos honrar com tamanha comenda. Deus que sempre foi, continue sendo sua força.
Cléverson Israel Minikovsky, autor com a 22 ª obra em curso
Bíblia e Mistérios
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Prefácio do autor
Continuando o trabalho feito em “Bíblia e Misticismo”, essa obra coroa uma série de interpretações avançadas do Evangelho, em especial naquelas passagens que muitas vezes vemos obscuras em outros livros. Muitas vezes falo com as pessoas que trabalham com a Bíblia, seja em sua corrente religiosa, ou por outra obra, e percebo que mesmo elas não compreendem muitas das passagens, em especial aquelas que carregam certa mística. Como esses textos são judaicos, percebi que já muito foi estudado dos mesmos, e que existem escritos místicos como o Zohar, o Sepher Yetzirah, o Tanya, Pistis Sophia e outros, que nos dão a chave de muitos dos mistérios ocultos em passagens como os presentes no livro do Gênese ou mesmo de Ezequiel, bem como de João, que são cheios de simbologias. A teosofia colabora também em algumas descobertas pela interpretação. O livro possui uma linguagem leve, sem defesas teológicas ou críticas científicas, uma vez que aqui respeitamos mais uma vez o livro dos livros, acima de tudo. Esse livro contém também informações de escritos que dão a dimensão histórica e arqueológica de certas passagens, mostrando as obras que resultaram da fé. Outrossim, trago a contribuição dos evangelhos apócrifos, especialmente os descobertos por arqueólogos em Q’unram, no Egito. Descubra os mistérios mais profundos da Bíblia. O livro te deixará estupefato com as interpretações. Boa leitura.
Bíblia e Mistérios
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Sumário
BÍBLIA E MISTÉRIOS ..................................................7
Tempos pré-adâmicos e pré-diluvianos ...................8
Adão criado do pó de Marte .....................................12
Moisés, sua vara, Mar Vermelho e Páscoa ...............15
Interpretação referente a animais na Bíblia .............18
Ciro, arqueologia e messianismo ..............................22
Bíblia e mitologia ......................................................25
A mística da Bíblia segundo Swedenborg ................32
Bíblia e Alcorão .........................................................35
O nome do salvador ..................................................39
O cristianismo mártir e a simulação teológica .........42
Jesus segundo Talmud .............................................46
Multiplicação dos pães e cabala ...............................50
Cristologia alta ..........................................................42
O significado místico da Páscoa ...............................56
Nascimento para o alto .............................................59
Purgatório, testemunho e livro dos Macabeus .........61
Anjos criados, arcanjos, querubins e cabala ............64
Bíblia e Mistérios
6
Templo cristão e comércio ........................................67
Os essênios e conexão José e Asafe ..........................70
Acréscimos no Evangelho .........................................76
COMENTÁRIOS A EZEQUIEL .....................................76
COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DE JOÃO ...........94
BÍBLIA E MISTÉRIOS ..................................................121
TEOSOFIA E EVANGELHO .........................................128
Bíblia e Mistérios
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Tempos préTempos préTempos préTempos pré----adâmicos e préadâmicos e préadâmicos e préadâmicos e pré----diluvianos diluvianos diluvianos diluvianos
“Naqueles dias estavam os nefilins (gigantes) na terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Esses nefilins eram os valentes, os homens de renome, que houve na antigüidade”. (Gen. 6:4)
“Porque se Deus não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo”. (2 Ped. 2:4)
Lendo a Bíblia de Estudo Dake, percebi já de
início bons estudos e comentários, talvez os
melhores, e dando importância ao tema dos
gigantes, de Lúcifer no tempo pré-adâmico e do
dilúvio de Lúcifer (diferente do de Noé...). Assim os
anjos que se rebelaram, gigantes e outros, parece
que receberam seu juízo. Samael (ou Lúcifer) se
opôs as leis cósmicas e naturais, e assim contrariou
a Deus e a Sua providência. Mas com pouca
informação na própria Bíblia, como podemos saber
dessas coisas antes de Adão?
Mesmo na Bíblia há muita informação,
apesar de velada. Em Isaias se fala no rei de Tiro, e
assim vemos lá a figura de Lúcifer. Na serpente, e
mesmo no Apocalipse há muito desses mistérios.
Mas os gigantes viveram até o tempo de Noé, ou
seus descendentes depois, ainda (cananeus,
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filisteus etc). Vemos que além dos livros canônicos,
que alguns apócrifos dão-nos respostas, como o
“livro de Enoc”, que fala das lições a que nos deram
esses anjos ou gigantes. Também a tradição oral
judaica e seus escritos de sábios, como Talmude,
Zohar e Mishnas dão muitas respostas sobre
Samael e os anjos.
Mas sem um estudo maior não se pode ir
além nessa hermenêutica da Bíblia. Vemos assim
em estudo de religiões comparadas às respostas as
lacunas que encontramos sobre esse tempo pré-
adâmico e mesmo pré-diluviano. Várias tradições
falam da “guerra dos gigantes contra os filhos dos
deuses” e isso está quase literal na Bíblia também,
podendo-se traduzir o termo Elohim por deuses.
Também que o mundo ou universo teria sido criado
perfeito, e se tornado imperfeito (queda). Mesmo no
hermetismo se entende que Deus (o Todo) criou
primeiro em Sua mente, para depois manifestar no
material, pois toda a criação é mental. Tais gigantes
também na tradição hindu, védica e purânica, não
são tidos como maus, mas com uma missão no
desenvolvimento do homem, sendo que esses anjos
eram espíritos ainda, e por isso de tamanho
descomunal.
Ademais, além de que os anjos habitavam
outros mundos antes da rebelião de Lúcifer-
Samael, como Marte e Vênus, vemos que o próprio
Bíblia e Mistérios
10
termo Lúcifer se pode traduzir por Vênus, a “estrela
da manhã”. Essa guerra de gigantes e filhos dos
deuses se deu porque os primeiros pecaram por
demasia, e que usavam de magia negra e toda sorte
de confusões e guerras. Assim estes eram os
Atlantes, e por isso ainda do livro do Gênese colocar
em seguida o dilúvio, pois foi por meio deste que se
destruiu a Atlântida, a terra dos gigantes. A relação
das águas com o éter do universo também é feita
por esoteristas e vemos assim que houve um dilúvio
do universo, com destruição de planetas (por
meteoros... Sodoma e Gomorra?) e que ainda houve
um dilúvio no mundo, retratado em mais de 100
culturas, com seus Noés construindo barcos, arcas,
jangadas, cabanas etc.
Vale ressaltar que a tradição bíblica se
assenta em algo que está retratado por outras
religiões, e que representa alguma verdade, senão
literal, por certo cósmica e mística. E tais gigantes
podem ter existido tanto no astral como no real, e
que houve por certo alguma experiência genética
entre homens e anjos, simplificada nas Escrituras
sagradas. Também que outros mundos existiram e
que coisas muito misteriosas mesmo em nosso
mundo existem, como pirâmides e coisas que não
poderiam ser construídas com a tecnologia de
homens do passado. A Bíblia é assim também um
livro de ciência oculta, e vai muito além do mero
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sentido literal, necessitando de diálogo inter-
religioso e de tradições orais para sua
compreensão.
Bíblia e Mistérios
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Adão criado do pó de Marte
“Observei a terra, e eis que era (seria) sem forma e vazia; também os céus, e não tinham a sua luz. Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam. Observei e eis que não havia homem algum, e todas as aves do céu tinham fugido. Vi também que a terra fértil era um deserto, e todas as suas cidades estavam derrubadas diante do Senhor, diante do furor da sua ira.” (Jeremias 4: 23-26)
“A terra era (seria) sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas” (Gênesis: 1:2)
Pesquisando autores judeus e místicos sobre
a Bíblia, eis que encontrei um brasileiro chamado
Misha’El Yehudá, que muito me impressionou com
suas teorias e jogos de palavras feitas na Bíblia,
códigos e descobertas. Sobre essas passagens ele
diz que a Terra não foi criada imperfeita, e que o
verbo está no futuro e não no passado, na
passagem do Gênese. Com base na gematria,
cálculo feito com passagens da Bíblia e mais
comentários de sábios, como o caso do Zohar, ele
desvenda uma série de passagens antes nebulosas.
Primeiro que Adão não era humano, não no
sentido de ser igual a nós corporalmente. Ele tinha
um corpo de queratina, segundo esse autor, e ainda
antes tinha um corpo de espécie de luz, uma veste
bio-luminescente que possibilitava viagens pelo
Bíblia e Mistérios
13
universo, sem necessidade de aviões ou foguetes.
Foi assim Adão o primeiro astronauta. Na queda
teria assim perdido essa vestimenta e se escondido
dentro da Árvore das Vidas, que na verdade era a
Lua (Yesod). Mas esse Adão não foi feito do pó da
Terra, mas sim de marte, pois esse planeta se
chama Adamah.
Sobre a passagem em Jeremias, se fala de um
planeta habitado pelos anjos, pois eles foram
criados no 5° dia e alguns se rebelaram, seguindo
Samael, que não é outro que aquele que nós
cristãos chamamos de Lúcifer. Esse anjo e outros
habitavam planetas, e entre um deles estaria
Astera, e outro Marte, que teria sido este sim
banido e se tornado um deserto, conforme
Jeremias. Pela queda de asteróides assim havia
ocorrido, e apenas restando às pirâmides
construídas pelos anjos, pois são sua marca
arquitetônica (homens não construíram imensas
pirâmides). Alguns desses seres habitam o centro
desses planetas, sendo que o Jardim do Eden
estaria no centro do nosso.
Vemos assim que esse autor segue uma
tendência atual que é usar de misticismo
tradicional, como no caso do Zohar e da Gematria,
bem como a astronomia e astrofísica combinados a
ufologia. E que os anjos são mais reais que muitos
imaginam. Mas Adão teria assim em sua queda
Bíblia e Mistérios
14
habitado o corpo de homens pré-históricos e
comido o pão com suor do seu rosto. Antes dessa
teoria, pra mim parecia estranho um homem de
terra vermelha, uma vez que aqui não vemos muito
desse solo. E de onde teria caído? De Marte parece
ser uma resposta mais recente com nossos
conhecimentos. O que vale é que a Bíblia possui
toda a ciência, inclusive a física quântica, e que as
descobertas humanas apenas vão confirmando os
saberes de místicos judeus e outros, como Einstein.
Bíblia e Mistérios
15
Moisés, sua vara, Mar Vermelho, rocha e
Páscoa
“Falou, pois, o Senhor a Moisés e Arão: Quando Faraó vos disser: Apresentai da vossa parte algum milagre; dirás a Arão: Toma a tua vara, e lança-a diante de Faraó, para que se torne em serpente”. (Ex. 7:8)
“Falou, pois, o Senhor a Moisés e Arão: Quando Faraó vos disser: Apresentai da vossa parte algum milagre; dirás a Arão: Toma a tua vara, e lança-a diante de Faraó, para que se torne em crocodilo” (a Septuaginta e outras traduções falam em monstro de água e terreno, que era tal animal. Por equívoco traduzido por serpente.)
“E tu, levanta a tua vara, e estende a mão sobre o mar e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco”. (Ex. 14:16)
“Então disse o Senhor a Moisés: Passa adiante do povo, e leva contigo alguns dos anciãos de Israel; toma na mão a tua vara, com que feriste o rio, e vai-te”. (Ex. 17:5)
Moisés surgiu de um grande rio, e assim
partilhava de uma Providência que o ligava a esse
elemento água. Teve vários milagres e sinais em seu
ministério. Irmão de Arão, este assim possuía uma
vara ou cajado, de propriedades mágicas. Esse
cajado não é outro que não a Cabala, a tradição
dada nos mistérios hebreus, que começou com
Melki Sedec, ensino relativo à propriedade mágica
das letras hebraicas, através dos 72 Nomes de
Deus.
Bíblia e Mistérios
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A vara mágica simboliza a Vontade do mago.
Moisés praticamente a usou em todos os seus
milagres Também segundo um místico judeu o Mar
Vermelho é o Mar Infinito, e se refere a todas as
águas do mundo, que nesse dia inverteram seu
curso e congelaram. As águas se congelaram e
ficaram em muralhas, não meramente flutuando,
como mostra o cinema. Vale que a criança no útero
materno está nas águas e já recebe os
mandamentos de Deus. Também o sábio recebe já
nas águas a revelação de que veio de um dos
Patriarcas, profetas ou outros, pelo mistério da
reencarnação. Muitos profetas da Bíblia são os
mesmos em pessoas diferentes.
E Moisés veio de um cesto (útero), levado nas
águas. A rocha ferida pelo cajado tinha formato
cúbico, era de granito e media 4,5 metros de
largura por 3,5 de altura. Possuía espécie de
mecanismo e podia fornecer água a 6 milhões de
pessoas. As 10 pragas do Egito se referem a ataque
a seus deuses, também, como a Belzebu das
moscas, Serápis dos gafanhotos e assim por diante.
A Páscoa se refere a esse êxodo, sendo que ainda há
a festividade dos pães sem fermento, por sete dias.
O pão celestial foi usado por 40 anos, tendo
propriedades meio que especiais, como derreter
rápido (se não era congelado ou refrigerado...).
Bíblia e Mistérios
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O mar infinito se dividiu em 12, e assim
vemos as doze tribos de Israel. Aqui o simbolismo
nos leva a 12 constelações e aos 12 apóstolos do
Senhor Yeheshua (Jesus). Todos passamos pelo
Mar do Infinito e encontramos a vida, ainda pelo
cesto que nos leva. Partilhamos do mundo profano
ou de trevas e nos encaminhamos para a terra
prometida, que é o paraíso. Canaã tem leite e mel.
Assim o que é doce nos está reservado e no Messias
ou Yeheshua isso se vê cumprido, pela consciência
messiânica. Os crocodilos dos instintos são
controlados e os inimigos vencidos, pela vara da
Vontade. Moisés nos deu essa lição, sendo a Páscoa
da morte e ressurreição de Jesus a prova final de
tal Providência Divina.
Bíblia e Mistérios
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Interpretação referente aos
animais na Bíblia
“Se a oferta de alguém for sacrifício pacífico: se a fizer de gado vacum, seja macho ou fêmea, oferecê-la-á sem defeito diante do Senhor; porá a mão sobre a cabeça da sua oferta e a imolará à porta da tenda da revelação; e os filhos de Arão, os sacerdotes, espargirão o sangue sobre o altar em redor”. (Lev. 3:1-2)
“E disse Deus: Produzam as águas cardumes de seres viventes; e voem as aves acima da terra no firmamento do céu.” (Gên 1:20)
“Ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela que havia feito na arca; soltou um corvo que, saindo, ia e voltava até que as águas se secaram de sobre a terra. (Gên 8:6-7)
“Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito Santo de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele (Mat. 3:16)
“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. (João 1:29)
Os animais presentes na Bíblia são sinais de
uma grande sabedoria. Sua presença vai muito
além de descrições de fábulas de povos primitivos e
cultura de pastoreio. Também vai muito além da
descrição de costumes hebreus. Também quando se
refere ao sacrifício animal, segundo alguns sábios
de Israel, significa que o sacrifício é do animal que
está dentro do homem, e não fora, se referindo a
sua “alma animalesca” (sefer hará), onde estão as
Bíblia e Mistérios
19
qlifot ou demônios, que se manifestam pela treva,
vícios e coisas que afastam da luz do Criador. Mas
a simbologia vai ainda mais além, sendo mais uma
forma de alegoria astronômica e angelologia.
Muito da chave de interpretações desses
animais sob ponto de vista místico está na cabala,
mais especificamente no seu livro principal, o
Zohar, que é um vasto comentário sobre a Torá ou
Antigo Testamento da Bíblia. Lá se dedica muito ao
livro do Bereshit (Gênesis), e já no presente se trata
os animais como “seres viventes”, que é uma
referência clara aos anjos. Quando se fala em aves
do céu no versículo vinte do primeiro capítulo, em
verdade se fala em anjos, e não pássaros ou aves.
Também em outras passagens referentes a animais,
ou “viventes”, a interpretação é anjos. Esses anjos
são os mesmos que “puxam” o carro de Deus
descrito em Ezequiel (Merkabah), que são bois, ou
melhor, querubs (querubins). E os mesmos que
guardam a entrada do Éden. Estão assim no
firmamento porque são estrelas, astros e corpos
celestes, e têm influência direta em nossa realidade
por sua energia, sendo assim os 12 animais do
zodíaco, ou constelações da astronomia antiga. Daí
que as 12 tribos de Israel é uma referência a todos
os povos da Terra e do universo, não apenas a uma
raça ou povo. A serpente é uma referência a
constelação de escorpião (povos do oriente viam a
semelhança da constelação com forma de
Bíblia e Mistérios
20
serpente...), sendo uma influência negativa do céu,
logo ligada ao mal e ao adversário.
Por outro lado, em relação a Noé, quando vem
aquele corvo, fica clara uma alegoria astronômica
com Saturno, ou aquele que se relaciona a morte,
barreira (Shatan) e toda a simbologia que envolve o
anjo ou deus do tempo. Povos antigos o chamavam
de Cronus. Saturno é um planeta ligado a
capricórnio ou o “bode”, assim a Satã (que foi
representado com chifres e tem características de
dificultar a vida do cristão...). Assim percebemos
que o fim de um tempo ou era anunciava um novo
tempo, de mais justiça e equilíbrio. Noé segundo o
livro de Enoque era um filho de “gigante”, e esses
gigantes não eram outros que os anjos que tiveram
filhos com as mulheres humanas. Então o corvo é
apenas uma barreira momentânea que vem antes
da grande conquista. Antes da bênção acaba vindo
um deserto. O dilúvio é também universal,
ocorrendo nas “águas” do firmamento, ou seja, no
céu e nos astros. O perigo de extinção não era
apenas da Terra, mas do universo todo.
Nesse sentido estão a pomba do Espírito
Santo e o cordeiro de Deus, ou Cristo. No
cristianismo primitivo não existia a figura de um
homem pregado numa cruz, mas sim a de um
cordeiro. Assim vemos uma analogia com o que os
antigos tinham na astronomia como Áries, sendo
que esse símbolo era do Sol crucificado em Áries,
Bíblia e Mistérios
21
por isso da páscoa em março. A pomba do Espírito
Santo é muitas vezes entendida como meramente
paz, porém o animal desde todos os tempos antigos
foi uma referência a Vênus, que rege em grande
parte o sentimento do amor. João disse que Deus é
amor. Então Jesus foi batizado nesse aspecto, e o
fogo do batismo do Espírito Santo pode ser a chama
do fênix, que era uma ave lendária que
ressuscitava.
Assim vemos que os animais presentes na
Bíblia representam grandes verdades, e que sob
aspecto místico nos revelam segredos elevados,
como características de anjos, que ainda se
relacionavam aos planetas e estrelas do céu. Assim
por traz da simbologia mora um aspecto bem
profundo e geralmente não interpretado, vendo
aspectos biológicos e históricos, em um livro que
era escrito em um tempo em que a visão mais
importante era a espiritual, mesmo que por uma
linguagem simples e pastoreia. E os sábios sempre
observaram isso do modo que vemos no Zohar,
sendo que guarda a Bíblia grandes verdades para
todos os tempos.
Bíblia e Mistérios
22
Ciro, arqueologia e o
Messianismo
“Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis; para abrir diante dele as portas, e as portas não se
fecharão; eu irei adiante de ti, e tornarei planos os lugares escabrosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro”. (Isa. 45:1)
“Que digo de Ciro: Ele é meu pastor, e cumprira tudo o que me apraz; de modo que ele também diga de Jerusalém: Ela será edificada, e o fundamento do templo será lançado” (Isa. 44:28).
“Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus do céu me deu todos
os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá. Quem há entre vós de todo o seu povo suba, e o Senhor seu Deus seja com ele. (Torá, II Cro. 36:23)
No livro de Isaías vemos a referência e esse
iluminado que venceu o poder de Babilônia, que
havia dominado anteriormente Judá. Esse rei da
Pérsia aparentemente em uma hermenêutica é
muito mais que o mero sujeito que viveu ao seu
tempo, sendo que a compreensão é muito mais que
histórica e moral. Apesar da existência do “Cilindro
de Ciro”, tesouro de arqueologia bíblica, onde se
Bíblia e Mistérios
23
fala dessa conquista. Fato é que se revela grande
saber na arte da guerra, e por consequência, na
libertação do povo judeu do jugo babilônico.
Mas o messianismo judeu já é de longa data
uma referência de elevada hermenêutica ou
interpretação das Escrituras. Vemos que com o
cristianismo se dobrou o livro de Isaías para ver em
todas as referências a pessoa de Jesus Cristo,
quando em muitas vezes falava mais em Ciro, ou
em Emmanuel, que era também outro homem.
Apesar que isso nada modifica, porque Cristo é
mais que um homem, sendo Homem-Deus. Já nos
escritos de Saint Martin e Jacob Böehme vemos
bem a dimensão divina do Salvador. Assim o Cristo
pode estar junto a rei Ciro, como a qualquer rei
onde se faça um com o Pai, ou com Jeová (IHVH). O
que revela uma universalidade do messias, é que
Ciro é um gentio. Desta forma, vemos que o “povo
escolhido” também é democrático, e que em Jesus
isso se ampliaria, com auxílio de seu tutor João (o
filósofo), bem como em Pedro, Bartolomeu, Mateus,
Paulo e outros que nem sempre eram
circuncidados. Jesus sendo um cabalista (da ordem
de Melquizedeque e essênio), abria a outras nações
a salvação. Unger fala que Ciro é modelo de
messias. E Ciro estava profetizado em várias
passagens, e teve importância para Jerusalém e o
templo, conforme Josefo. Fala que o templo de
Jerusalém lá era dedicado ao culto ao Sol.
Bíblia e Mistérios
24
Mas Ciro, sendo herdeiro desse reino de
Nabucodonosor, também é suspeito. Também há a
coincidência de vários povos terem cultos parecidos
ao de Israel, como a dualidade entre um deus bom
e outro inimigo, as leis morais (como não matar,
roubar, etc, conforme Livro dos Mortos), mesmo
pelo zoroastrismo e certos nomes. Babilônia não
significa como apenas alguns veem, confusão, terra
de pecado e perdição, mas “cidade de Deus”, e no
mais extremo, portal para o Sol. Em apocalipse
vemos uma analogia com a prostituta ali descrita,
montada na Besta, o que tem bem esse conjunto de
significados. Escavações de Laquis, os manuscritos
do Mar Morto, escavações em Ras Shanra,
cerâmicas descobertas, escritos cuneiformes,
poliedro de Senaqueribe, pedras escritas em
alfabeto aparentemente semítico, e uma série de
descobertas estão revelando fatos históricos que
complementam as Escrituras.
Quando em crônicas se diz que a Ciro, Deus
deu todos os reinos da terra, nos leva mais a
pensar em Satanás, do que em Jesus. Porém a
consciência messiânica acabará por governar todas
as coisas, pelo reino de amor, perdão, e uma
fraternidade real. Isso vem aos poucos sendo
semeado por diversas pessoas que encontram
Deus, em Deus do seu coração. Assim Ciro estava
com Cristo em seu coração, pois cumpria com a
missão de libertar um povo, e bem como de abrir
Bíblia e Mistérios
25
caminho para o ministério de Jesus. Ciro II é
importante para a reconstrução do templo, bem
como com auxílio do general Dario. Especial é Deus
usar de quem não é esperado para a Sua obra.
Vimos também nos evangelhos apócrifos,
descobertos e que vêm com a arqueologia no geral
revelando coisas, que existe sintonia dos povos, e
que o “braço” de Deus está por todos o universo.
Mesmo Ciro prefigurando Cristo, não foi o ideal de
Isaias, e o Mashiah (Messias) teria de assim ser
alguém de uma obra mais espiritual. Outros
escritos, como o Zohar, veem em muito uma
semelhança do Messias com o Anjo da Face,
Metatron.
Assim vemos que a consciência messiânica, e
Cristo mesmo há de governar as nações, não por
uma figura histórica, mas pela presença de seu
Espírito Santo em todos aqueles que buscam a
salvação espiritual. E Ciro em muito revela um
ungido, abençoado a abrir a porta para esse
caminho, justamente em Babilônia (o portal, cidade
de Deus etc), com o desvio do rio Eufrates e a
embriaguês dos inimigos em seu auxílio.
Bíblia e Mistérios
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Bíblia e Mitologia
“Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os calcanhares do cavalo, de modo que caia o seu cavaleiro para trás. (Gên. 49:17)
“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra tu que prostravas as nações!” (Isa. 14:12)
“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco” (Mat. 1:23)
Vemos quase sempre a referência a
mitologias sob um enfoque frio e sem devida
valorização da simbologia. Por outro lado, vemos a
utilidade da mesma pela psicanálise, com
explicação de comportamentos humanos. Também
vemos que o conhecimento antigo de astronomia
estava também nessas mitologias antigas. Porém
percebemos que também na Bíblia há muito de
herança dessas mitologias, e que um Heródoto,
Ovídio e outros também tiveram sua parcela de
inspiração pelo Espírito Santo. Não é necessária
muita reflexão para se ver em vários personagens,
como Prometeus, Démeter, Hércules e tantos
outros, como semelhantes a aqueles que
Bíblia e Mistérios
27
presenciamos na Bíblia. Não é difícil ver a
semelhança entre Davi e Golias e Hércules, ou
mesmo entre Lúcifer e o titã Prometeus.
Desde que vi uma passagem em Gênesis com
Jacó e seus doze filhos, já pude notar da alegoria
astronômica e da sabedoria superior que isso
revelava, muito além de mera história de família.
Claro que também podemos ver as 12 tribos de
Israel, mas não é forçoso pensar nas 12
constelações que eram conhecidas dos antigos.
Corine Heline disse: “Mitologicamente, Sagitário se
vê na esquina da corrente de estrelas que aponta,
através de sua névoa de luz, a grande estrela
vermelha Antares, que brilha no coração de
Escorpião. Ovídio disse: 'O arqueiro aponta
escorpião com seu arco'. No Gênesis, 49:17, quando
Jacó está bendizendo a seus doze filhos, diz com
relação a Escorpião: Dã será serpente junto ao
caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os
calcanhares do cavalo, de modo que caia o seu
cavaleiro para trás.” (Mitologia e Bíblia). O cavalo e
o cavaleiro se refere a sagitário, a essa constelação
e a serpente se refere a escorpião. Assim a
referência a serpente é muito o lado do ego que se
afasta da luz do Criador, de modo a ser mal vista
pelos hebreus. Porém também Cristo é prefigurado
na serpente do posto, feita por Moisés para salvar
Bíblia e Mistérios
28
os homens do veneno das víboras. Mas a referência
principal é uma alegoria astronômica da Bíblia.
Já Lúcifer foi citado por Isaías, ou pelo menos
uma referência a estrela Vênus ou alguma
assemelhada. Mas vemos nessa Lúcifer descrito
pela tradição cristã como algo muito parecido ao
Prometeus, o titã que teria roubado o fogo dos céus
e dado ao homem, sendo mesmo o “criador” do
homem. A bíblia ainda relaciona, ou alguns de seus
intérpretes, com a serpente, o que nos leva a ideia
de escorpião (no oriente a astrologia assim
representa...), de modo que a analogia vai com o
fruto proibido (fogo dos céus?) e com a árvore
(sagrada?), de cujo se retira o fruto. O pecado seria
dar o conhecimento ou distinção, de modo que o
homem teria alguma parcela divina, o que não
deveria ter, nesse ponto de vista. Em Isaías muitos
falam que o mesmo se referia ao rei Ciro, pesar de
que este tem papel positivo na libertação do povo
hebreu, o que nos leva a certa reflexão. O símbolo
porém atravessa várias religiões e mitologias,
estando presente também na Bíblia. Lúcifer, o
portador de luz, passou a ter assim significado
negativo com a tradição, mas nem sempre foi
assim. Corine Heline disse: “Prometeus o titan,
criador da Humanidade, de acordo com o lado
formal da natureza, é Lúcifer da lenda hebraica.
Vulcano, como Prometeus, um deus de fogo, é outro
Bíblia e Mistérios
29
caído e essa queda representa outra faceta de
Lúcifer, brilhante como una gema. Vulcano era
ferreiro, um trabalhador do metal, um construtor.
Foi sua mão que confeccionou o palácio de Apolo
(...) a amável forma de Pandora sobre o monte
Olimpo, todas las belas e brilhantes moradas de
deuses e deusas. Essas moradas que, em sua
totalidade, constituem o universo visível” (Mitologia
e Bíblia). E “O caído Vulcano é Hiram Abif da lenda
maçônica, que construiu o templo de Salomão (o
sistema solar)” (idem). Assim observamos que o
construtor e o ferreiro ganham grande importância,
uma vez que as artes de ofícios teriam sido
ensinadas pelos anjos, e assim relata ainda o livro
de Enoque. Ademais, as guerras dos céus e dos
gigantes anuncia isso e daí vemos o dilúvio, que
envolveu mais que meramente o pecado humano,
porém algo que também se referia aos “gigantes” ou
anjos. E Cristo é o construtor ou carpinteiro
central na obra do Universo.
Vemos que há muita semelhança entre essas
que vieram da mitologia e Maria, e que tudo sempre
está anunciado a todas as nações. Não se deve por
isso apenas julgar na dicotomia ídolos/Deus
verdadeiro, uma vez que Deus está acima dos ídolos
e esses tiveram ou têm utilidade. Contudo as
grandes verdades estão presentes, e a mitologia não
se afasta na mensagem do Evangelho, partilhando
Bíblia e Mistérios
30
ambos do mesmo mistério. Corine disse sobre
Maria: “Astrea é a Virgem Celestial. A Virgem Mãe
Terrenal é Ceres ou Deméter, e Virgo se identifica
com ela e também com a egípcia Ísis. Os Sábios
compreenderam que a suprema mãe de cada
religião, la Madona o Virgem Mãe do Salvador do
Mundo - Isis, Istar, Ceres, Mirra, Maria - foi
instalada nos Mistérios da Virgem ou Ritos de
Madona, na hierarquia de Virgo. A ascensão de
Maria demonstra esta consecução por ela”(idem).
Para tanto, sabemos que há uma verdade
maior nisso tudo. Quando Annie Besant escreveu
sua obra “Cristianismo esotérico”, donde dedica
capítulo ao Cristo mítico, claro fica que existem
várias dimensões além da histórica e moral nas
escrituras, e que isso faz da Bíblia um livro que
atravessa os tempos e que é tolerada e aceita por
diferentes nações. Muitos céticos e mesmo ateus
usam desse argumento para desvalorizar a Bíblia,
mas se equivocam por não perceber a dimensão
mística, que é aquela que perdura e sustenta algo
maior que a religião social. A espiritualidade é
muito maior do que entendem os cientistas
ortodoxos, céticos e ateus. E tanto nos antigos
mistérios, quanto no atual de Cristo, vemos que a
verdade maior impera, e que isso não deve nunca
ser visto apenas com racionalidade fria a calculista,
mas se deve ver com a intuição maior, que requer a
Bíblia e Mistérios
32
A mística na Bíblia segundo
Swedenborg
Emanuel Swedenborg foi o primeiro médium
da idade moderna, ficando famoso por prever um
incêndio que ocorreria a 400 km de onde estava.
Também sabia 8 idiomas e era contra a leitura
literal da Bíblia, o que eu também tentei fazer nesse
site que agora divulgo presente artigo. Ele
acreditava que a salvação do homem não vinha por
reencarnação, mas sim por regeneração, e que
Jesus Cristo é Deus. E para a regeneração é
necessário o intelecto. E sua doutrina está em
sintonia com o Verbo, aparentando espécie de
cabala. Afirma que conviveu e dialogou com
espíritos, e os diferencia dos anjos.
Obre interessante desse autor é Arcana
Cælestia, onde comenta o texto do Gênesis. No livro
que pesquisei, há também o Apocalipsis Revelata,
onde comenta o livro da Revelação. Fato é que sua
hermenêutica gira em torno do Verbo e da
regeneração do homem, pelo que ensinou Cristo.
Também o que interessa pra ele é a Igreja Nova, em
contraste a Igreja Antiga, o que seria simbolizado
pela Nova Jerusalém.
Bíblia e Mistérios
33
Sobre o Apocalipse, Swedenborg é claro que
nada tem a ver com coisas e governos do mundo,
mas se refere ao céu e assuntos espirituais. Então
contrasta bem com doutrinas que vemos divulgadas
em igrejas norteamericanas e mesmo com linha
protestante, apesar do autor ser praticamente uma
grande influência junto com Lutero, para essa
linha. Para ele as Bestas não são mais que
doutrinas mal interpretadas do cristianismo, como
as heresias e mesmo seitas. A simbologia toda gira
em torno da velha Igreja e da nova, e do homem
pecador e do regenerado. Seria o que martinistas
chamam de o Novo Homem. Então, após a queda o
homem estaria salvo pela Igreja de Cristo. O dragão
é a Igreja anterior a Cristo.
Já no que se refere ao Gênesis, fica claro que
o autor entende os 6 dias da Criação como uma
regeneração do homem pelo Novo Adão, que é
Jesus, e assim o homem não atingiu ainda esses
seis graus de seu desenvolvimento. Os segredos do
desenvolvimento seriam o amor, a fé e a caridade.
De certo modo traduz bem o modus operandi
cristão. A diferença de espíritos e anjos, é que
espíritos fazem a comunicação com mundo
espiritual, e anjos fazem a comunicação com o céu.
E anjos seguem quase que exclusivamente a
vontade de Deus, através de suas leis.
Cabe por fim observar que esse místico,
teólogo, cientista e inventor, isso sem falar em seus
Bíblia e Mistérios
34
cargos acadêmicos, foi grande expoente do
pensamento e que por algum esquecimento não é
trazido com tanta relevância à história. Lutero ficou
com todo o mérito. Livre pensador e místico da
experiência, se diferencia de meros interpretadores
da Bíblia, uma vez que tinha contato com espíritos
e anjos, isso sem falar na cultura de sua época,
muito mais voltada para a espiritualidade que a
atual. Sua hermenêutica deve ser lembrada, e
parece que em muito influiu no pensamento
cristão, seja de linha protestante, ou até mesmo
diversas outras.
Bíblia e Mistérios
35
Bíblia e Alcorão
Deus é justo e misericordioso. Ao crente Ele
reservará o Paraíso, enquanto que ao incrédulo ele
reserva o Geena ou Inferno, onde haverá fogo ou
água fervente para beber. Isso alguém dirá que está
escrito na Bíblia, mas aqui lembrei de um livro
pouco conhecido entre cristãos e ocidentais, que é o
Alcorão. Mensagem de Deus revelada a Mohamed,
pelo anjo Gabriel (ou Espírito Santo por ele). Há
narrações bíblicas de Adão e Eva, José, Noé, Jesus,
e especialmente Moisés e Abraão. Também, no Livro
se tem a forma de superar erros de judeus e
cristãos, descrenças, e assim reatar a aliança,
buscando-se ser justo e crente em Deus ou Alá. Há
um certo respeito também a esses povos do Livro,
pois sustentam, o mesmo monoteísmo. Assim
algumas citações do Alcorão devem ser lembradas,
onde se fala inclusive de Jesus:
“E Deus é Quem envia os ventos, que movem
as nuvens (que produzem chuva). Nós as
impulsionamos até a uma terra árida e, mediante
elas, reavivamo-la, depois de haver sido inerte;
assim é a ressurreição!” (Alcorão, 35a Surata,
Versículo 9)
Bíblia e Mistérios
36
Aqui nesse se vê a crença na ressurreição.
“As ossaduras secas (Ez 37:1-10) e a
reconstrução do templo (Neemeias 1;12-20) e
muitas outras lendas judaicas, referem-se não só a
ressurreição do indivíduo, mas da nação.
“E ele será um Mensageiro para os israelitas,
(e lhes dirá); Apresento-vos um sinal de vosso
Senhor: plasmarei de barro a figura de um pássaro,
à qual darei vida, e a figura será um pássaro, com
beneplácito de Deus, curarei o cego de nascença e o
leproso; ressussitarei os mortos, com anuência de
Deus, e vos revelarei o que consumis o que
entesourais em vossa casas. Nisso há um sinal
para vós, se sois fiéis”. (Alcorão, 3a Surata,
versículo 49)
Aqui se confirma o evangelho apócrifo onde
Jesus na infância traz vida a pássaros que molda
do barro.
“E quando os anjos disseram: Ó Maria, por
certo que Deus te anuncia o Seu Verbo, cujo nome
será o Messias, Jesus, filho de Maria, nobre neste
mundo e no outro, e que se contará entre os diletos
de Deus” (Alcorão, 3a Surata, Versículo 45)
Aqui falando sobre Jesus, que entendem como
justo profeta.
“E de quando os discípulos disseram: Ó
Jesus, filho de Maria, poderá o teu Senhor fazer-
nos descer do céu uma mesa servida? Disseste:
Temei a Deus, se sois fiéis!
Bíblia e Mistérios
37
“E disse Deus: Fá-la-ei descer; porém, quem
de vós, depois disso, continuar descrendo, saiba
que o castigarei tão severamente como jamais
castiguei ninguém na humanidade”. (Alcorão, 5a
Surata, Versículos 112-115)
“Falará aos homens, ainda no berço, bem
como na maturidade, e se contará entre os
virtuosos” (Alcorão, 3a Surata, Versículo 46)
Aqui também uma relação com evangelho
apócrifo, onde Jesus teria falado desde bebê.
Vemos ao longo do Alcorão uma grande
lembrança entusiasta de eventos vividos por
profetas, por Noé, por Moisés superando
perseguição de Egípcios, bem como regras mais
práticas, como a respeito do divórcio. Então o
Alcorão não apenas tem regras severas contra
mulheres, mas também algumas realistas, como
essa do divórcio:
“Ele foi quem criou os humanos da água,
aproximando-os, através da linhagem e do
casamento” (25ª Surata, verso 54).
“A reconciliação é recomendada, mas se eles
realmente optam pela separação, é injusto mantê-
los ligados indefinidamente. O divórcio é o único
expediente justo e equitativo, embora, como o
mensageiro declarou, de todas as coisas permitidas,
o divórcio seja a coisa mais odiosa aos olhos de
Deus” (114ª Surata, verso 96).
Bíblia e Mistérios
38
E sobre isso, apesar de muitos ocidentais
pensarem em poligamia, e muitas esposas, o
costume islâmico mais atual é de se ter uma esposa
apenas. E segundo ele o casamento é metade da
religião.
Há também um misticismo islâmico, que se
chama sufismo, com grandes lições. Sufi significa
lã, e por os seus se vestirem assim, forma de tal
modo chamados. Além de preces, invocações e
meditações, os místicos sufis têm uma dança
especial. A doutrina sufi parece uma gnose
islâmica. Assim pensamento elevado e cheio de
espiritualidade, distante de meras regras de
costumes, que fizeram alguns se afastarem da
religião. E uma conciliação entre sunitas e xiitas.
Mas de todo o modo, vemos que a Bíblia não se
afasta do Alcorão, e que apenas são culturas
diferentes, porém com mesmo Deus. Fato é que já
São Francisco a seu tempo foi contra cruzadas
contra muçulmanos e disse que devemos muito
amar esses nossos irmãos. Um dito sufi diz: “Não
ataques nem judeus, nem cristãos, nem
muçulmanos, mas golpeia a tua própria alma e não
cesse de golpeá-la até que ela morra” (Xeque
Darqawi).
Bíblia e Mistérios
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O nome do Salvador
Disse João: “Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo” (versão João Ferreira de Almeida).
Transliterado
Em 1 Yaohukhánam (mudado para João) 4:3 diz que: “e todo espírito que não confessa a Yaohúshua não procede de Yáohuh Ul; pelo contrário, este é o espírito do Anti-Mehushkhay (anti-Ungido), a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo.”
Vemos que com o imperador Constantino o nome
Yeoushua foi substituído por Jesus, e assim como outros nomes
divinos e poderosos da Bíblia, houve uma perda de poder e de
autenticidade. Isso foi feito por uma falsa tradução da
septuaginta, usada até hoje, como base a outras
Bíblias. “Logo um cego conduz a outro cego”.
Algumas tradições místicas, como a de Martinistas,
ou mesmo a de judeus messiânicos percebem isso,
ao entrar diretamente com o hebraico. O nome
Jesus tem outro significado, não tanto de ungido,
mas mais de “cavalo” (Ye=Deus, Sus=cavalo),
tristemente. E isso muda totalmente o sentido do
Nome, uma vez que falamos no Filho de Deus, na
parte da Trindade. Fato é que tanto a Igreja
Bíblia e Mistérios
40
romana, hoje passando pela transformação de
procurar um novo Papa, tanto pelas que surgiram
do sistema luterano, se veem com traduções e
traduções do nome “Yesus”, que por si está bem
longe do Yeoushua, original. Ora, se Deus fala que
Ele tem um nome, seria obra de Satã alterar esse
nome. Tal mudança se deu da tradução do grego
para o latin. O nome de Yeshua, por outro lado,
guarda dentro de si o nome de Deus, IHVH, que
resulta em 72. Yesus não é um dos 72, e nem
outros Nomes sagrados presentes na Torá/Bíblia.
Um nome mudado em sua tradução pode ter outro
significado, e em se pensando também em João,
alguns podem refletir no João do pé de feijão e
outros contos profanos. O que é sagrado não pode
ser modificado, e vemos que cada vez mais não
apenas em nomes, mas em traduções se mudam
inclusive dogmas cristãos, a fim de se defender a
visão de determinada seita. O primeiro capítulo de
Yaohukhánam (João) prova isso, onde se fala na
Palavra e acaba-se por modificar a fim de inserir a
figura do homem Jesus dentro dela, o que não
ocorre no original. Querendo se facilitar, faz com
que se perca o sentido original. O mesmo se faz
com verbos que estavam no passado, dizendo
cumpridas as profecias, e os transformar para
futuro, a se cumprir. Assim alguns colocam no livro
de Isaias e em passagens do livro referente a rei de
Tiro, como se fosse Jesus e assim por diante. O
Bíblia e Mistérios
41
sábado mudado para domingo e uma série de
alterações mais grosseiras foram feitas, e vemos
toda a sorte de Bíblias ao gosto de cada um e da
sua seita (a Igreja é uma só...). O noivo é um só e a
esposa é uma só, e quando se coloca muitas
esposas, se cria adultério espiritual. Cuidar dos
nomes sagrados é necessário, e mesmo do sentido
usado ao tempo de Yeoushua. A má tradução pode
não apenas mudar o significado, mas invertê-lo.
Bíblia e Mistérios
42
O cristianismo mártir dos místicos e a
simulação teológica
“Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas”.(Mat. 10:16 e Apócrifo de Tomé, parte 39)
“Na verdade, entre os perfeitos falamos sabedoria, não porém a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que estão sendo reduzidos a nada” (1 Cor 2:6)
Há um lado profundo e místico na Bíblia.
Portanto, esta não deve ser lida do ponto de vista
literal e histórico, mas sim simbólico. Isso parecia
absurdo, mas com a descoberta dos manuscritos do
Mar Morto, vimos que há muito do cristianismo que
foi escondido pelas “igrejas”. O cristianismo original
teria sido gnóstico e simbólico, e estes gnósticos
teriam sido perseguidos e seus escritos destruídos,
os quais teriam a doutrina dos mistérios cristãos,
seu ensinamento filosófico original, adulterado
pelas igrejas ortodoxas, que se fundiram em
concílios. Jesus teria nascido, vivido e morrido no
século 1 antes do início de nosso calendário. Sua
escola era chamada de ofita, e seus discípulos eram
em número controlado, de modo algum se
estendendo a multidão, se assemelhando a escola
Bíblia e Mistérios
43
pitagórica e tantas outras de iniciação, com três
graus, o terceiro citado na Bíblia, chamado “os
perfeitos”. Vivia e ensinava em Qunran, e assim
com relação a essênios e depois resultando em
maniqueus e outros. Seu discípulo principal seria
João (nunca Pedro, que nem estava no círculo
interno de sua escola...), e também Jesus teria
passado pelo Egito, em lugares como Heliópolis,
Alexandria e tantos outros em busca do
conhecimento e na sua difusão. Era um filósofo que
foi transformado em milagreiro, e seu simbolismo e
rito de mistério metafísico foi transformado em
história. Sua “cruz de luz”, simbólica e que se
referia a Espírito Divino, o Logos, foi transformado
em cruz de madeira, a doutrina não se referindo a
cruz de madeira, segundo escritos achados no Mar
Morto ou Nag Hamadi. Logo o cristianismo foi
esotérico para os discípulos, e uma forma de
parábola para a população de círculos externos.
Com as igrejas foi um pouco mantida dessa
dimensão de sua escola ofita, e na maior parte
excluídos os ensinamentos do mistérios, que não se
fundavam em política territorial ou econômica, mas
sim em encontro com Cristos, uma porção interna
desse Logos solar. Pois a escola de Qunran e que se
envolvia Jesus e João, bem como Bartolomeu,
Simão, Felipe, Maria Madalena, Maia mãe de Jesus
e outros discípulos, estudava a filosofia grega. Por
isso do uso de termos como Mônada e Logos por
Bíblia e Mistérios
44
João. Jamais foi seita religiosa ortodoxa em busca
de poder e dominação temporal. Nem foi um centro
de milagres, apesar de que as curas eram
essenciais, haja vista essênios terem hospitais, e
pelo fato de terem continuado através dos
“terapeutas”. Assim eram os discípulos da escola de
Jesus, espécie de grupo interno, “prudentes como
serpentes”, conforme testou Mateus, não porque
seguiam Satanás, mas porque as serpentes dos
antigos eram os sábios iniciados, para tanto, os de
Jesus eram iniciados nesses mistérios. Isso nunca
se referiu ao povo geral, aos de fora, pro-fanos, mas
sim a seus discípulos que se relacionavam com
seus Cristos. Logo após a morte do mestre, os ofitas
e outros gnósticos foram os verdadeiros mártires,
que perseguidos e mortos por guardarem a
doutrina cristã original, e sobrou assim uma
simulação teológica, onde esses ensinamentos de
ritos místicos e metafísicos foram transformados
em história, o que em muito não teria ocorrido. A
própria idade de 33 anos é simbólica, afirmando
Irineu que Jesus teria vivido 45 anos. Jesus era
também nazareno pela sua filosófica, pois não
existia nenhuma região chamada Nazaré. Pois os
Nazarenos se tornaram os Essênios. E a cruz de luz
é referida por Jesus em seu hino, que teria dito
antes da morte e ressurreição. Refere-se a uma
cruz que vai da terra ao céu, sendo a ascensão da
Bíblia e Mistérios
46
Jesus segundo as tradições judaicas do
Talmud, Toldoth, Mishna, Gemara,
Tosephta e outros
Quase sempre o que sabemos a respeito de
Jesus é o que está no novo Evangelho, e assim
temos informações limitadas a respeito de sua vida.
Progresso foi o encontro dos manuscritos do Mar
Morto, apesar de que já havia algo judaico antes, no
muitos comentários dos sábios judeus. Fora os
ataques por motivo de competição dogmática e
doutrinária, resta que alguns detalhes e fatos
devem ser verdadeiros, a respeito do Jesus
histórico, que muitas vezes é diferente do Jesus
místico, presente em muitos fatos sobrenaturais e
que envolvem mais fé que ciência. Fato é que lendo
mesmo o Novo Evangelho, percebe-se que Jesus
sabia muito mais que a simples Torá e Profetas,
bem como simples escritos do Antigo Testamento,
mas que era versado nesses estudos e comentários
de sábios rabinos, como os Talmudes e outros
escritos assemelhados. Parece que Jesus teve um
tutor que lhe ensinou a tradição talmúdica.
Vemos que Jesus (Jeschu ben Pandera) teria
nascido por essas tradições como filho ilegítimo de
Mirian (Maria), de Joseph ben Pandera, um vizinho
Bíblia e Mistérios
47
com que teria tido relacionamento, haja vista ser
esposa de Jochanan, e este não estar em casa.
Assim Jesus teria já aos 12 anos sido caluniado
quanto a sua origem (chamado bastardo...) e assim
discutiu conhecimentos talmúdicos com os
doutores da Lei, em específico a distinção entre o
que vem de Moisés e de Jetro, de quem é mais
sábio entre eles e assim por diante. Maria/Mirian
seria uma cabeleireira e sobre ela não muito é dito,
mas que teve filho “em separação” de seu marido.
Outros dizem que ela era um “mulher separada”
quando teve Jesus. Bem diferente que uma mulher
que teve filho ainda casta e de forma milagrosa.
Mas o próprio Jesus desde criança falava que era o
Messias e sua mãe era virgem quando o teve,
mesmo nessas tradições judaicas.
Jesus era tratado como um feiticeiro pelos
romanos, e mesmo muitos judeus de seu tempo o
acusaram de tal arte oculta, haja vista as
maravilhas que operava. Interessante é que essas
curas e milagres não são negados, o que nos leva a
crer na veracidade da tradição cristã e histórica dos
milagres. Há escritos que dizem ter Jesus
aprendido magia no Egito, e utilizado do nome de
Deus (Shem) para operar fatos extraordinários. A
sua técnica seria segundo eles um modo de marcar
a pele, espécie de tatuagem onde essas letras
hebraicas ou hieroglifos teriam sido assim feitos.
Não é de todo impossível, haja vista haver relatos
Bíblia e Mistérios
48
de que Jesus teria passado não apenas no Egito,
mas também na Índia, o que lhe daria possibilidade
de aprender artes extraordinárias de magia e
faquirismo.
Outra comparação que fazem de Jesus é com
Balaão, aquele que era espécie de adivinho e
feiticeiro. A principal comparação é com a idade da
morte, que seria para eles a “metade da vida”, 33
anos, pois escrevem que “os homens sedentos de
sangue e enganosos não deveriam viver a metade
de seus dias”, sendo ele talvez classificado de
enganoso, e assim colocando ele no inferno
(Gehena) mais baixo. Seu crime seria o desprezo
das palavras dos doutores da Lei. Teria também
Balaão feito o mesmo e vivido em torno de 33 anos,
e daí a analogia talmúdica. Também sobre a morte
de Jesus, é dito que ele teria sido “apedrejado”, haja
vista a prática de feitiçaria, e seu corpo exposto
para servir de exemplo.
Fato é que sendo eu místico, não duvido dos
feitos de Jesus, nem me importo muito com o que
teria ocorrido em sua família, uma vez que seres
humanos erram e seria estranho mesmo todos
serem perfeitos. Fato é que seus milagres ou feitos
não são negados, e que divergências de doutrinas
não devem ser grandes crimes, haja vista que entre
próprios sábios judeus e nos Talmudes vemos toda
a sorte de interpretações das Escrituras Sagradas e
da Torá. Das pesquisas que vi, feitas pelo teósofo
Bíblia e Mistérios
49
G.R.S. Mead sobre o cristianismo, concluí que cabe
sempre a distinção feita por Annie Besant entre o
Jesus histórico e o Místico, e que temos fé em algo
maior que um filho de mulher. Ele mesmo teria dito
ser filho de Deus, e mesmo um com o Pai. Então
cabe apenas arrumar lacunas dos Evangelhos, o
que também podemos fazer com os apócrifos, e
assim ampliar nossa compreensão de quem foi
Jesus e quem são as pessoas que conviviam com
ele. Mesmo porque hoje existem Judeus que
aceitam Jesus, e messiânicos, missionários, da
Nova Aliança etc, onde vemos uma síntese muito
positiva na compreensão e tolerância mútua,
mesmo união dessa tradição, que parece ser uma
só. A paz deve por fim reinar, Shalom.
Bíblia e Mistérios
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Multiplicação dos pães e cabala
“Chegada à tarde, aproximaram-se dele os discípulos,
dizendo: O lugar é deserto, e a hora é já passada; despede as
multidões, para que vão às aldeias, e comprem o que
comer.Jesus, porém, lhes disse: Não precisam ir embora; dai-
lhes vós de comer. Então eles lhe disseram: Não temos aqui
senão cinco pães e dois peixes. E ele disse: trazei-mos aqui.
Tendo mandado às multidões que se reclinassem sobre a
relva, tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os
olhos ao céu, os abençoou; e partindo os pães, deu-os aos
discípulos, e os discípulos às multidões. Todos comeram e se
fartaram; e dos pedaços que sobejaram levantaram doze
cestos cheios.Ora, os que comeram foram cerca de cinco mil
homens, além de mulheres e crianças”. (Mat: 14, 15-20)
Sempre que vemos números nas Escrituras,
sabemos que ali há um ensinamento de tradição
oral, e que a mesma chama-se cabala. Jesus
difundia esse saber porque disse que era sacerdote
segundo a ordem de Melquisedeque, que significa
essa tradição mística dada pelos anjos. Restam
ainda livros específicos sobre essa tradição, como o
Zohar e Sepher Yetsirá, este último falando mais
sobre os números. O setor da cabala que lida com
números se chama gematria, que reflete sobre
soma, redução, símbolos, permutações etc dos
Bíblia e Mistérios
51
mesmos. Mas na passagem referente à
multiplicação dos pães, fora o milagre, e que alguns
autores atribuem ter sido apenas encenação, resta
os números que nos revelam profundos segredos e
mistérios.
Fala-se em 5 pães e 2 peixes. Simples soma
revela o segredo, 5+2=7, e assim temos o número
espiritual por excelência. O número 5000 se refere
aos fariseus e sua hierarquia (50 em 50 e 100 em
100) e os 12 cestos são as tribos de Israel. Vemos
que o 7 é o número de braços da menorá,
candelabro judeu e que isso ainda tem referências
no Apocalipse, nas várias héptadas e bestas que
são lá citadas.
Por outro lado, mesmo outros povos e visões
espirituais sempre olharam o 7 como número de
planetas ou deuses, e resta os nossos dias da
semana com nome e tudo a esse respeito. O 12 é
referido como as constelações do céu, o zodíaco e
também é de grande interesse de cabalistas,
estando no Zohar uma série de analogias com a
ordem do Malaquin, anjos que são as “rodas” e têm
relação com a merkabah, o “trono” de Deus. Talvez
seja a energia dessas estrelas e constelações que
mostrem a glória do Altíssimo. E mesmo o símbolo
do peixe se refere ao tempo que passavam, Era de
peixes.
No Sepher Yetzirah se fala em 7 letras
hebraicas simples e doze duplas. E essas letras são
Bíblia e Mistérios
52
também sons. E Deus grava seu Nome no que é
número, o que numera e o numerado. As 7 duplas
são (b B Beth, - g G Ghimel - d D Daleth - k CH Caph
- p PH Phé - r R Resh - t T Thau) e as 12 simples são
(- h E He- w V Vau- z Z Zain - j H Cheth - f T Teth - y I
Iod - l L Lamed - n N Nun - s S Samech - u GH Hain -
x TS Tsade - q K Cuph). As 12 simples são os
sentidos, mais sono, locomoção, cólera, riso etc. Já
as 7 duplas são relacionadas à vida, paz, ciência,
riqueza etc.
Para tanto, Cristo é o pão da vida e o messias
salvador. Tanto na santa ceia, quanto na
multiplicação dos pães passou o símbolo da vida
eterna, que é de um pão do Seu corpo. Também
mostrou através dessa sabedoria dos anjos que
forças cósmicas participam disso, e que podemos
contemplar esse segredo nos números, que
parecem revelar essências. Jesus teria respeitado
isso na escolha dos 12 seguidores, e também no
livro do Apocalipse/Revelação.
Bíblia e Mistérios
53
Cristologia Alta
“Ao que perguntaram todos: Logo, tu és o Filho de Deus? Respondeu-lhes: Vós dizeis que eu sou”. (Luc 22:70)
Hoje acordei e via na TV o programa no canal
católico Rede Vida, chamado “Páginas difíceis da
Bíblia”, onde se falava de cristologia alta, que se
refere a estudo de títulos, nomes que são dados a
Jesus, ou que ele mesmo se dá, que relacionam
este a Deus, nos levando assim a Trindade. A
cristologia baixa seria um modo de ligar Jesus a
um profeta, mas não necessariamente a sua
divindade.
Na cristologia alta o principal nome ou título
(ou mote) que Yeshuah ou Jesus se dá está em
João e outros evangelistas, que é EU SOU. Isso
ocorre várias vezes, como em frases: “Eu Sou o
caminho, a verdade e a vida”, “Eu Sou a
ressurreição” e assim por diante, nos levando a
sarça ardente de Moisés, onde o Senhor disse “Eu
Sou Aquele que Sou”, ou seja, ao próprio Deus. Já
a cristologia baixa, poderíamos ver Jesus designado
como Filho do Homem, O Profeta, Emanuel, Filho
de Deus, Galileu, Nazareno e assim por diante.
Bíblia e Mistérios
54
Esse Eu Sou nada mais é que mistério do
Verbo, ou do Logos/Pneuma, ou Sopro, o que nos
aproxima da presença do próprio Deus, e de Sua
Palavra. Pois Deus se manifestava em coluna de
fumaça, sarça ardente, nuvem, etc, através de Sua
Voz, pois não era dado ao homem vê-Lo face a face.
Logo Jesus nesse seu mote, que é nome iniciático,
assim como o nome Yeshuah, nos mostra aquele
que é o Homem-Deus, já sendo tema dedicado de
Martinistas, entre Willermoz, Saint Martin e
Böehme. Nos leva assim a cristologia alta a uma
mística, onde superamos o homem carnal Jesus,
sem negá-lo, e assim adentramos na esfera do
espírito que vivifica, em níveis superiores de
hermenêutica.
Também nos leva a relação com o Espírito
(Santo), com pneuma. Assim a Trindade pode nos
revelar a lei do triângulo, já presente em outras
visões sobre o divino, ao longo do mundo. O Jesus
Cristo também nos leva a pensar na personalidade
de Deus, como veem os hindus para o seu Krishna.
A cristologia alta então faz do EU SOU uma
personalidade de Deus, o próprio Deus, sem
contudo negar que há distinção entre o Pai e o
Filho. Vemos mesmo que o poder de cura e
transformação é mesmo divino, e que o poder do
Verbo é algo que supera a mera carnalidade,
ligando-se muito a palavras de poder, e
pensamentos, como demonstra o maçon Jorge
Bíblia e Mistérios
55
Adoum em suas obras. E Martinistas veem Jesus
como O Grande Arquiteto. Nesse passo, um místico
Rosacruz chamado Vicente Velado (criador do
quadro acima retratado) diz que Cristo é regente do
sistema solar, chamando-o de Cristus Rex. Por tudo
isso, vemos que a tradição mesmo, e até o Credo
Católico, que soma tradições orais a escritos
evangélicos, afirma que Jesus se trata do homem-
Deus, nos ratificando uma cristologia alta.
Bíblia e Mistérios
56
O significado Místico da Páscoa
A ressurreição de Cristo é a manutenção da
vida da Natureza, de forma que anualmente esse
Verbo renova o que parecia morrer, pois tem no
Cósmico sua influência de germinação, que
representamos pelo ovo, origem da vida, pois o
Cristo é a origem da vida, é “O Vivo”. Assim
também o pão do céu e a fuga das trevas do Egito,
da escravidão, nos levam errantes e transeuntes no
rumo à liberdade, que apenas se encontra na “terra
de leite e mel” (no Reino dos Céus). Então esse pão
do céu é na verdade a Torá-Bíblia (Lei), que
entregue pelo Altíssimo encaminha o homem para a
alimentação de seu espírito, verdadeira
alimentação. As 4 letras do Nome Santo assim
estão unidas e o homem santo (tsadik) está na
presença de Deus (Shekinah), e é um Cristo em
formação, para por fim ter se libertado da sua cruz
pessoal (matéria que aprisiona).
Nessa época, no hemisfério norte as sementes
germinam e aparecem também os frutos, e assim a
vida que Cristo Cósmico difunde no mundo, revela
o seu sacrifício, o sacrifício do Logos na matéria,
que assim vive e revive. E o ovo está em várias
Bíblia e Mistérios
57
cosmogonias, desde a escandinava, a hindu, egípcia
e outras, revelando a origem do Universo, que hoje
a ciência coloca sabiamente no ovo anterior ao Big
Bang. Esse ovo é claramente símbolo além da vida,
do ciclo e do retorno a vida após a transformação,
que entendemos por morte. Um ciclo é revelado, e
isso supera a velha linha reta, que apenas está com
relação a ressurreição, mas que antes exige a
reencarnação para sua devida evolução. E o ovo é
chocado pela serpente, não por satanás, mas pela
serpente que está na estaca (ou cruz) de Moisés, na
serpente de bronze, que prefigurava Cristo.
E o homem encontrará esse mistério no
“Juízo Final”, na segunda morte, onde seu veículo
grosseiro e animal é dissolvido para dar lugar ao
santo veículo de consciência, pois assim está
escrito que não “herda o Reino a carne”. Então por
isso “não mais haverá esposos e esposas”, nem
mesmo será necessária a morte. A ressurreição
estará assim presente quando encontradas as “7
igrejas” e também abertos os “7 selos”, pois antes
desse tempo, ou “daquele tempo” não poderá ter
revelado esse mistério. Cristo morreu por todos os
“vivos”, e ressuscita em toda a vida que evolui,
fazendo si mesmo a presença através do Espírito
Santo. E a espada (do Verbo) vem para esse tempo,
somente podendo ouvir quem “tiver ouvidos para
ouvir”, pois do contrário não serão reconhecidos.
Bíblia e Mistérios
58
Morte no plano material é nascimento no plano
espiritual, e vice-versa. Cristo rompeu o ciclo,
quebrou o ovo, e assim teremos nós um dia que
fazer.
Bíblia e Mistérios
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Nascimento para o alto
“E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna”. (João 3: 14-15)
Jesus Cristo provou o nascimento para o alto
a que fala João quando morreu e ressuscitou. O
cristão também trilha esse caminho até Cristo, de
modo que se inicia no batismo e que um dia se
efetiva pelo Espírito Santo. Isso estava prefigurado
na serpente que subia, a que Moisés criou para se
proteger do veneno de cobras, quando no deserto.
Essa serpente é símbolo do fogo serpentino que
sobe na medida em que as pessoas buscam a
castidade, ou pelo menos sacrificam um pouco de
seus instintos, em obra destinada para seu Senhor.
Quando se serve ao demônio, há o serviço a
serpente da tentação e do pecado, por outro lado. E
não apenas o batismo de água garante essa subida,
mas há de ser necessário um batismo de fogo, que é
dado por Cristo e pelo Espírito Santo. Logo, a
semente deve germinar em terra fértil, não em
espinhos ou rocha. Desse modo pode subir até o
Pai, Senhor da Sabedoria (hockmah), provando
fruto maduro da árvore da vida. Esse é o novo
Bíblia e Mistérios
60
nascimento, o que não mais encontra barreira na
carne e nem depende da concupiscência. Só assim
pode conhecer as 7 igrejas a que fala o Apocalipse,
e também abrir os 7 selos, a fim de mostrar a veste
branca com o sangue de Cristo, que partilhou.
Bíblia e Mistérios
61
Purgatório, testemunho e livro dos
Macabeus
“O nobre Judas falou à multidão, exortando-a a evitar qualquer transgressão, vendo diante dos olhos o mal que havia sucedido aos que foram mortos por causa dos pecados. Em seguida fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles”. (Mac II, 12: 42-45)
Recentemente entrei em contato com um livro
de testemunho cristão de uma senhora venezuelana
(Glória Polo), chamado “O Livro da Vida: da ilusão à
verdade”, que é um relato de quem esteve no outro
lado da vida e voltou, tendo ela a experiência do
purgatório, e retornando a vida, após ser atingida
por um raio e estar em coma. Pelos relatos até fiz
uma ponte ao que outras religiões falam, e nos leva
a crer que existe sim no post mortem algo que
evidencie a veracidade de antigas teologias. Mas há
quem diga que o purgatório foi uma invenção,
quando não vê que na sua Bíblia há o livro dos
Macabeus, no seu segundo livro, capítulo XII,
versículos 38-46, e por isso talvez retirado por
reformadores, a gosto de Martinho Lutero (Martin
Bíblia e Mistérios
62
Luther), que nos gera uma lacuna, acusando certos
livros de apócrifos.
Vemos que em outras doutrinas, religiões,
seitas e tudo mais, esse relato de Glória não está
sem sentido, e que sim, os pecados geram efeitos.
Ela arrependeu-se tardiamente, mas entende estar
em missão ao ter retornado do outro lado da vida, e
lá sofreu pelo que cometeu, estando entre almas
igualmente perdidas (a que chamou de demônios), e
buscando auxílio em Deus e em Maria. Ela mesmo
descreve uma vida mundana e cheia de modas que
seguia, além de ter praticado abortos e toda a sorte
de pecados, mas que não se diferencia muito da
vida de qualquer pessoa. Também há o relato da
necessidade da busca e do respeito da doutrina
cristã, no caso dela Católica, mas que podemos
entender e estender a outros segmentos.
Mesmo lendo obras espíritas como “Libertação” e
“Ação e reação”, do Chico, que parecem obras de
cristianismo espírita, vemos que os relatos de
Glória encontram ratificação no que foi descrito
pelo espírito que a ele descreveu esse mundo post
mortem, que antecipa o céu ou o inferno. Também
doutrinas místicas como de Swedemborg e mesmo
Max heindel, relatam o outro lado e até o que vem a
ser o purgatório ou faixas exteriores ao nosso
mundo carnal. Mesmo Dante em sua Divina
Comédia dá informações que não são de todo
inverídicas, e podemos ali encontrar verdades sobre
Bíblia e Mistérios
63
os planos do astral. Sabemos que mesmo Cristo
teria descido ao inferno e voltado.
Todas essas informações nos alertam para
que a Justiça Divina e o Juízo Final não são
invenções, e que mesmo doutrinas como a do
Gehena judaico têm sim uma experiência espiritual
por trás. É a lei da consciência que opera, e
ninguém pode fugir dela. São leis automáticas que
nos levam mesmo na imortalidade a compreender
que sem a conversão real, não estamos livres
daqueles atos ruins ou pecados que cometemos.
Desde já fica seguro o arrependimento e a
conversão, e na imitação de Cristo as pessoas têm
mais segurança que seguindo modas de consumo e
ilusões passageiras. Gloria Polo dá um testemunho
místico moderno sobre isso. E o livro dos Macabeus
guarda sua importância na Bíblia. E também nos
ensina que vale orar pelas almas, para que
encontrem a ressurreição, mesmo que tenham
cometido erros em vida.
Bíblia e Mistérios
64
Anjos criados, arcanjos, querubins e
cabala
Pela cabala, os anjos têm estreita relação com
a palavra amém. Assim Malach com Amemn, sendo
o código de número 91. Anjos em seus nomes são
diferentes nomes de Deus, ou aspectos diferentes
da mesma força, sendo essa força única, daí o
monoteísmo. O número 91 se refere a união do
espírito e do físico, tendo assim os anjos certa
realidade, inclusive em nosso mundo (Assiah). De
certo modo, estão muito ligados as emoções, ou as
esferas abaixo da trindade Kether-Hokmá e Biná, de
natureza intelectual. Tais anjos são energias, e
podem inclusive ser criados. Tal criação feita por
seres humanos são criadas pelas ações e também
por formas-pensamento, realizando vontade. Os
Querubins, ou aqueles que guardam o Éden (Gan-
Eden), são semelhantes a esfinges, e a palavra
querub significa boi. Eles guardam a esfera do rosto
de Deus, e assim a centelha de fogo, do elemento
fogo espiritual, e daí de o homem não poder entrar
lá, sem ser consumido (seu veículo não evoluiu
para tanto, a não ser quando encontrar Logos-
Cristo...).
Bíblia e Mistérios
65
Com relação às emoções, também há
demônios, que estão em muito na árvore do
conhecimento do bem e do mal, e daí da esfera que
não é esfera da árvore da vida, Da’at, ser o
“conhecimento”. Esse conhecimento é o fruto
proibido (nenhuma maçã..), e por isso que falei que
o pecado maior foi conhecer e se relacionar com
daimons dessa classe, e não outro pecado.
Cabalistas dizem que temos 4 vidas, porque
vivemos através das encarnações (Gigul) pelas
dimensões através dos 4 mundos ou elementos. Os
anjos e demônios estão nas duas colunas que nos
sugerem pensamentos, e se assemelham a doutrina
de Agostinho dos dois anjos, um bom e outro mau.
Temos assim de encontrar a coluna central da
árvore da vida cabalística, e em especial a esfera
central (Tipharet-Cristo-Sol), para que assim
possamos equilibrar toda a árvore e qualidades
divinas. A alma regressa até em bisneto, e por isso
que em êxodo 20 se fala que os pecados alcançam
até 3ª e 4ª geração. Os anjos têm papel importante
nisso, e mesmo os arcanjos (serpentes de fogo), bem
como outras ordens, são essenciais. Elohim se
refere a anjos, e foi traduzido em Gênesis como
Deus. Podemos assim além de criar anjos, os
julgar, conforme carta aos Coríntios de Paulo.
Ademais, alguns anjos encarnam em seres
humanos. Fato é que quem deve julgar as anjos é
somente o iniciado e mago (um microcosmo
Bíblia e Mistérios
66
controlado), e não qualquer pessoa. E que imagem
e semelhança de Deus se refere a Adao Kadmon, ou
o Universo, com suas esferas, e não a um simples
homem feito de carne e osso. Pois a carne não
herda reino dos céus. Yeshua Jesus é tratado por
certas vertentes como o mesmo de arcanjo Miguel.
Fato é que em cristianismo primitivo se entendia
Jesus como um anjo, e não muito como homem.
Nas a alma está segura e não deve nada temer o
homem. A árvore da vida é a ferramenta para se
salvar em meio a isso tudo, pela meditação (antes
do efeito) e pelo controle (antes do castigo). Pois
assim como se semeia se colhe. E os anjos têm
papel relevante nessa ajuda, sejam os fiéis ou
caídos, pois nada há de inútil no universo. Fato é
que o que se recebe deve se dar e multiplicar, e isso
se faz com a sabedoria dada pelos anjos, a cabala.
Bíblia e Mistérios
67
Templo cristão e comércio
“Se vós destruirdes o templo, eu reconstruirei
em três dias”. Aqui Jesus fala do templo cristão,
que é seu corpo, que seria muito mais que um
templo de pedra em Jerusalém. Na ocasião da sua
revolta contra o lucro e o comércio no templo,
templo este que empregava em torno de 20% de
população de Jerusalém, bem como centro da alta
hierarquia sacerdotal judaica, não sem motivo que
o mestre Jesus teria de perturbar e mover
estruturas já edificadas, mesmo que não muito
morais. O Salvador vindo de uma cidade rural, de
Nazaré, e sendo ainda da Galiléia, outra cidade de
campo, talvez tenha se decepcionado com aquele
templo tão sonhado de cidade evoluída e que na
realidade estava sendo usado de forma maldosa
pelos homens, ao invés de destinado ao Senhor
Deus. Não é apenas daquele tempo a decepção com
administradores do culto, e vemos mesmo em dias
presentes o comércio do templo e uma série de
outras intenções sobre à casa do Senhor. Na
verdade o cristão é templo do Espírito Santo, e não
moradas de pedra. Em que pese a Igreja ser
essencial, haja vista propagação do evangelho,
sempre está atual a crítica envolta no comércio a
Bíblia e Mistérios
68
que se exerce nesse meio, com teologias de
prosperidade e venda de milagres, como
presenciamos em segmentos mais recentes. O
comércio tem suas próprias regras, e pelo contrário,
o cristão que mais deve é aquele que se torna mais
amado por Jesus. O lucro é antes espiritual que
material, e buscar ao Senhor em primeiro lugar, e
depois se preocupar com o que vestir ou comer.
Vemos a inversão desses ensinamentos de Jesus
cada vez mais acentuada, e se volta ao bezerro de
ouro, não mais possuindo hoje os raios de Moisés
para tragar essas mazelas. De qualquer forma,
resta o templo espiritual que é reconstruído em 3
dias, e na Trindade vemos ainda esse sinal oculto, e
dar a César o que é de César, e ao Senhor o que é
do Senhor. E o cristão é o verdadeiro templo.
Bíblia e Mistérios
69
Os essênios e a conexão José e
Asafe
“Ora, vendo Pedro a este, perguntou a Jesus: Senhor, e deste
que será? Respondeu-lhe Jesus: Se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso? Segue-me tu. Divulgou-
se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não disse que não morreria, mas: se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu
com isso?” (João 21:21-23)
“Tu pois, deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás
domínio sobre nós? Por isso ainda mais o odiavam por causa dos seus sonhos e das suas palavras” (Gen. 37:8)
“E o rei Ezequias e os príncipes ordenaram aos levitas que louvassem ao Senhor com as palavras de Davi, e de Asafe, o
vidente. E eles cantaram louvores com alegria, e se inclinaram e adoraram.” II Cro. 29:30
Com a descoberta dos manuscritos do Mar
Morto, bem como com uma série de escritos de algumas sociedades de estudos místicos, vemos que
os Essênios tomaram um lugar especial, ainda mais por sua doutrina ser bem assemelhada àquela ensinada pelo cristianismo. O fato dos essênios
serem espécie de terapeutas, cuidarem dos
enfermos, se batizarem em água, doar todos os bens aos pobres e ter uma ceia que em muito se
Bíblia e Mistérios
70
assemelha a santa ceia de Jesus, faz desta seita
quase secreta, um ponto focal na vida de dois mestres: o próprio Jesus e o outro, não menos
sábio, João.
Os essênios defendiam um ponto central que
aproxima do cristianismo: que é a vinda do Messias
(Mashiah), do salvador, constituindo verdadeiro messianismo. Também esse herdeiro de Davi
parecia muito com um líder entre os essênios: o Mestre da Retidão. Características do mesmo se
encontraram em vários grandes homens da Bíblia,
como José egípcio, o José pai de Jesus, bem como
em Asafe, cantor de Davi, e, que teria de ser herdeiro da linhagem de Sem, filho de Noé, que
seria a origem da medicina entre eles, um mestre
na arte. Esse Asafe teria escritos os Salmos 50, 73
e 83.
Fato importante na doutrina do messias é que eles são 2: o messias sacerdotal e o messias
real. Um assim seria identificado com João, e outro com Jesus. Jesus teria ficado com a fama e recebido toda a glória, e João teria sido esquecido.
Mas com equívoco. João nasceu e foi já enquanto bebê perseguido de morte por Herodes, e assim sua
mãe Elizabete fugiu para o deserto. Também quem teria nascido na manjedoura teria sido João. Certa tradição teria colocado o nascimento de Jesus em
uma caverna dos essênios, espécie de hospital, de
modo quase todo esperado. Também os três magos
Bíblia e Mistérios
71
teriam visitado João quando de seu nascimento.
Ambos seguiam a linha de um grande mestre essênio, o Mestre da Retidão, que teria vivido 200
anos antes de Cristo.
Jesus teve vários discursos que atestam a
característica de José-Asafe ou do Mestre da
Retidão, como a afirmativa de ser transeunte. O
Mestre da Retidão era um transeunte, ele passava
de cidade a cidade, sem ter local certo de morada. Também Jesus fala que os pássaros têm ninho,
mas o Filho do Homem não tem onde repousar.
Parece que os essênios se infiltraram entre os
judeus e começaram o cristianismo, e que mantiveram suas características. José foi odiado
pelos irmãos e jogado em um poço. Jesus também
se dizia que um profeta é estrangeiro. Várias
passagens do Evangelho começam a mostrar a
linha dessa tradição. E Asafe era uma espécie de sábio, vidente, mago e astrônomo, e aqueles que após curados em Nome de Jesus, eram chamados
de “Asafe”. Um dos construtores do templo de Salomão era de nome Asafe, e o próprio Salomão
usava vestes brancas (semelhante a essênio...), segundo uma obra de Josefo. Também vemos uma certa semelhança entre nazireus e essênios.
Também José de Arimatéria teria cuidado de Jesus no momento da morte deste e ressurreição, e depois viajado muito (um transeunte...), sem nação certa
para ficar, de acordo com tradições islâmicas.
Bíblia e Mistérios
72
O que parece muito clara é uma conexão com
tradições islâmicas, e de judeus cristianizados ou não, que vieram do oriente, por contato com os
Cruzados, os quais traziam consigo esses tesouros de sabedoria. José e Asafe eram por lá muito
respeitados, e em muito se assemelhavam ao
comportamento essênio e do Mestre da Retidão.
Alguns se chamavam de Jesus, o que acabou se
tornando boato de Jesus chegando até a Índia e perambulando entre as nações. Fato é que o
conhecimento viajou, e que o nome José é muito
comum, sendo depois provavelmente o de Jesus
Cristo também, de modo que surgindo profetas com o mesmo apelido, acabou-se por ver neles os
originais, conservando tumbas que ainda são
mostradas por arqueólogos.
Em muito parece que os essênios
continuaram numa seita chamada de “terapeutas”, e que depois podem seus ensinamentos terem sido conservados pelos Templários. Por isso de ordens
de cavalaria cristãs terem como patrono João, porque ele era talvez tido secretamente também
como um messias. Também há escritos que falam de um sósia sendo crucificado, e que um desses dois messias teria sobrevivido. Fato é que pelo
ferimento da lança não se sobreviveria a crucifixão, apesar de alguns dizerem que os essênios possuíam alguns remédios milagrosos. Cuidando
medicamente daquele que teria ressuscitado, eles
teriam de fugir, restando em Q’unran aqueles vasos
Bíblia e Mistérios
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que foram achados com pergaminhos e tradições
que viram Jesus em outras nações do oriente, em especial em locais islâmicos, na Caxemira e até na
Índia, após a morte. Muitas vezes, isso ocorreu com o personagem profético se chamando José, ou
mesmo Jesus Cristo ou Asafe, em muito
semelhante ao Mestre da Retidão dos essênios. E
José deveria ficar vivo até o retorno de Jesus,
segundo João 21:21. Assim se tornou o eterno transeunte.
Bíblia e Mistérios
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Acréscimos no Evangelho
Teólogos falam sobre certo acréscimo no
Evangelho, em especial uma passagem que me
trouxe a atenção: João 3:3 “Perguntou-lhe
Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo
velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de
sua mãe, e nascer? 5 Jesus respondeu: Em
verdade, em verdade te digo que se alguém não
nascer da água e do Espírito, não pode entrar no
reino de Deus. 6 O que é nascido da carne é carne,
e o que é nascido do Espírito é espírito.”. Aqui fica
claro que a palavra água foi acrescentada. Só resta
saber por quem. Se foram por tradutores
eclesiásticos a fim de defender doutrina de batismo
ou outro motivo. Retirando a palavra água não se
perde, nessa passagem. Há o que nasce pela carne
e há o que nasce pelo espírito, um da Terra e outro
do Céu. A carne não herda o Reino dos Céus. Nessa
alusão sacramentaria a água deve estar em muitas
passagens, e a fim de defender algum dogmatismo
se acrescentou, talvez novamente pelo Espírito
Santo que inspirava. Fato é que nascer pelo
Espírito é diferente do nascimento carnal, e que se
Bíblia e Mistérios
75
tornar criançinha e isso nos leva até uma doutrina
de reencarnação se pensarmos literalmente, sendo
prato cheio a espíritas. Fato que o convertido
renasce em Cristo e isso constitui um nascimento
tanto ou mais importante que aquele provindo da
carne. Os redatores possivelmente tinham a
limitação da língua e uma série de lacunas, uma
vez que a doutrina em grande parte era secreta.
Mas aos poucos tudo vai sendo revelado, e com
água ou sem, percebemos a espada da verdade e da
palavra de Deus.
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CAPÍTULO 1
1 Ora aconteceu no trigésimo ano, no quarto mês, no dia
quinto do mês, que estando eu no meio dos cativos, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de Deus.
Comentário: Aconteceu segundo alguns, em um
Shabat, sábado, que é dia especial a estudo da Torá. Abrir os céus é uma experiência mística.
2 No quinto dia do mês, já no quinto ano do cativeiro do rei
Joaquim, 3 veio expressamente a palavra do Senhor a Ezequiel, filho de
Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus, junto ao rio Quebar; e ali esteve sobre ele a mão do Senhor.
Comentário: Joaquim significa, em hebraico, Jeová tem estabelecido ou levantado. Refere-se ao quinto ano, dos trinta de cativeiro. Quebar significa em
hebraico, abundante. Quinto mês é Thamus.
4 Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, uma
grande nuvem, com um fogo que emitia de contínuo labaredas, e um resplendor ao redor dela; e do meio do fogo
saía uma coisa como o brilho de âmbar. 5 E do meio dela saía a semelhança de quatro seres viventes.
E esta era a sua aparência: tinham a semelhança de homem;
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78
6 cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas.
7 E as suas pernas eram retas; e as plantas dos seus pés como a planta do pé dum bezerro; e luziam como o brilho de
bronze polido. 8 E tinham mãos de homem debaixo das suas asas, aos
quatro lados; e todos quatro tinham seus rostos e suas asas assim:
9 Uniam-se as suas asas uma à outra; eles não se viravam quando andavam; cada qual andava para adiante de si;
10 e a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e à mão direita todos os quatro tinham o rosto de
leão, e à mão esquerda todos os quatro tinham o rosto dé boi; e também tinham todos os quatro o rosto de águia;
11 assim eram os seus rostos. As suas asas estavam estendidas em cima; cada qual tinha duas asas que tocavam
às de outro; e duas cobriam os corpos deles.
Comentário: a experiência mística da carruagem de
Deus, Merkabah, com suas rodas e seres viventes. Refere-se não apenas a qualidades desses animais, como têm interpretado alguns autores, mas a
ordens de anjos. Rodas são da ordem de ofanim, e
“viventes” significa hayot, sendo animais que formam espécie de querub (querubim), ou melhor, uma esfinge. Esses animais sagrados e cósmicos,
místicos, são depois chamados de “bestas”, em Apocalipse. Logo, a chave é cabalística, não meramente moral, na sua significação. Também
não é mero disco voador, como tentam alguns superficialmente interpretar. Essas rodas nos levam a pensar também na “árvore da vida” da cabala,
Bíblia e Mistérios
79
que é ao mesmo tempo o homem universal, Adão
Kadmon. Segundo o Zohar, o termo se traduz em anjos, ou shinan, sendo a letra hebraica shin (shor)
o boi, a letra nun (necher) a águia, a letra alef (aryeh) o leão. Já o nun final representa o homem. Tais animais também são uma forma de referência
astrológica, pois os planetas (rodas) se encaixam na
árvore da vida, e assim são os animais que
simbolizam os signos astrológicos. São também os 4 elementos e os 4 pontos cardeais, sendo que em
cada direção está um desses seres angélicos. O
mais importante é que pode esse quaternário se
relacionar ao tetragrama, ou melhor, ao Santo Nome, IHVH, que se traduz para Jeovah ou Javé
habitualmente, mas que entre judeus era Nome
impronunciável, substituído por Adonai. Assim
atesta o Salmo 68:17: “Os carros de Deus são
miríades, milhares de milhares”. Ou melhor traduzido: “no carro de Deus há milhares de
miríades de schinan (anjos)”. Para esses anjos há quatro nomes gravados para sua atividade. O carro
superior está gravado com os quatro nomes, ou quatro letras do tetragrama sagrado. Essa é a semelhança do rosto do homem, pois os animais
sobem para buscar o rosto do homem. Esse homem místico é conhecido como Norá. E os nomes estão gravados no trono, e pensamos assim na “imagem e semelhança” descrita em Gênesis, que é uma
semelhança mental, não corporal, como muitos
traduzem. E as rodas são os “luzeiros” (meerot),
Bíblia e Mistérios
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descritos também no livro de Gênese, e mais que
astros, são os animais ou bestas, anjos.
12 E cada qual andava para adiante de si; para onde o espírito havia de ir, iam; não se viravam quando andavam.
13 No meio dos seres viventes havia uma coisa semelhante a ardentes brasas de fogo, ou a tochas que se moviam por entre
os seres viventes; e o fogo resplandecia, e do fogo saíam relâmpagos.
14 E os seres viventes corriam, saindo e voltando à semelhança dum raio.
15 Ora, eu olhei para os seres viventes, e vi rodas sobre a terra junto aos seres viventes, uma para cada um dos seus
quatro rostos. 16 O aspecto das rodas, e a obra delas, era como o brilho de
crisólita; e as quatro tinham uma mesma semelhança; e era o seu aspecto, e a sua obra, como se estivera uma roda no meio
de outra roda.
Comentário: O caminho do raio através da árvore da vida cabalística, passando pelas rodas e signos ou planetas, os “animais” ou “bestas”. Diz-se que
essas rodas correm de um lado para o outro, e ninguém as pode seguir. As rodas são as bestas
descobertas. Roda é Metatron, o mais exaltado dos anfitriões, e aquele que está diante da “Face”, o anjo da Face. Outros nem podem “olhar” para a
Face. As não descobertas são as que estão abaixo
de Yod e He. Compreendem o firmamento do céu. Logo, algumas se elevam acima da compreensão do
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homem, e em direção ao Nada Infinito, o En Sof. Como traduz David Cooper, o primeiro versículo:
“Com o princípio, En Sof criou Deus, os céus e a terra” (Gen. 1:1). Sai assim do pensamento, ou na “cabeça” de Deus, pois como ensinam os
hermetistas, a Criação é mental, e tudo está na
mente do Todo.
17 Andando elas, iam em qualquer das quatro direções sem se virarem quando andavam.
18 Estas rodas eram altas e formidáveis; e as quatro tinham as suas cambotas cheias de olhos ao redor.
19 E quando andavam os seres viventes, andavam as rodas ao lado deles; e quando os seres viventes se elevavam da
terra, elevavam-se também as rodas. 20 Para onde o espírito queria ir, iam eles, mesmo para onde
o espírito tinha de ir; e as rodas se elevavam ao lado deles; porque o espírito do ser vivente estava nas rodas.
Comentário: Quatro pontos cardeais, como já tratamos. O brilho se refere à presença divina, ou
Shekinah. As rodas sustentam o firmamento e têm alma. O olho egípcio representava o sol, ou o próprio Hórus. Muitos sóis ou estrelas, muitos olhos. O espírito parece ser uma referência a vida
ou consciência dos corpos celestes, e dos anjos.
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21 Quando aqueles andavam, andavam estas; e quando aqueles paravam, paravam estas; e quando aqueles se
elevavam da terra, elevavam-se também as rodas ao lado deles; porque o espírito do ser vivente estava nas rodas.
22 E por cima das cabeças dos seres viventes havia uma semelhança de firmamento, como o brilho de cristal terrível,
estendido por cima, sobre a sua cabeça. 23 E debaixo do firmamento estavam as suas asas direitas,
uma em direção à outra; cada um tinha duas que lhe cobriam o corpo dum lado, e cada um tinha outras duas que o cobriam
doutro lado.
24 E quando eles andavam, eu ouvia o ruído das suas asas, como o ruído de muitas águas, como a voz do Onipotente, o
ruído de tumulto como o ruído dum exército; e, parando eles, abaixavam as suas asas.
25 E ouvia-se uma voz por cima do firmamento, que estava por cima das suas cabeças; parando eles, abaixavam as suas
asas.
Comentário: A semelhança com o firmamento se refere ao arco-íris, que foi o pacto feito com Noé, após o dilúvio. Também se refere ao pacto de José, porque este se relacionava com ouro fino, firme
perante o arco. As quatro cores do firmamento, os quatro seres viventes, todos formam o conjunto do símbolo aqui descrito. As bestas santas que estão
no firmamento, pois o Senhor é Senhor dos exércitos celestiais. As asas desses animais sagrados fazem ruído, são a voz do Todo Poderoso.
Contêm então todos os matizes e cores, a partir de verde, vermelho, branco e um conjunto de todas. O arco é o arco-íris, que é a semelhança da glória do
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Senhor. O ruído é a música das esferas, descritas
por Pitágoras. E Shekiná contém as cores não reveladas.
26 E sobre o firmamento, que estava por cima das suas cabeças, havia uma semelhança de trono, como a aparência
duma safira; e sobre a semelhança do trono havia como que a semelhança dum homem, no alto, sobre ele.
27 E vi como o brilho de âmbar, como o aspecto do fogo pelo interior dele ao redor desde a semelhança dos seus lombos, e
daí para cima; e, desde a semelhança dos seus lombos, e daí para baixo, vi como a semelhança de fogo, e havia um
resplendor ao redor dele. 28 Como o aspecto do arco que aparece na nuvem no dia da
chuva, assim era o aspecto do resplendor em redor. Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isso, caí
com o rosto em terra, e ouvi uma voz de quem falava
Comentário: O que brilha é a pedra de safira, o centro do universo, a pedra de fundamento, sobre a
qual se apoia o “Santuário dos santuários”. Essa pedra pode ser aquela pedra angular, a que se refere Cristo. Também é a pedra a que se referem os
maçons, tendo grande carga simbólica. Ela se confunde com a divindade, ou Grande Arquiteto. A referência a semelhança de um trono, se refere à lei
oral. Já o homem sobre esse trono é a lei escrita. A lei escrita gera mais segurança, por isso está acima.
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CAPÍTULO 2
5 E eles, quer ouçam quer deixem de ouvir (porque eles são casa rebelde), hão de saber que esteve no meio deles um
profeta. 6 E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas
palavras; ainda que estejam contigo sarças e espinhos, e tu habites entre escorpiões; não temas as suas palavras, nem te
assustes com os seus semblantes, ainda que são casa rebelde. 7 Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer
deixem de ouvir, pois são rebeldes.
Comentário: filho do homem é uma referência ao
homem universal, Adão Kadmon, que se relaciona a
mesma simbologia das rodas. O profeta está
temporariamente com Shekinah, segundo O Tanya.
8 Mas tu, ó filho do homem, ouve o que te digo; não sejas rebelde como a casa rebelde; abre a tua boca, e come o que eu
te dou. 9 E quando olhei, eis que tua mão se estendia para mim, e eis
que nela estava um rolo de livro. 10 E abriu-o diante de mim; e o rolo estava escrito por dentro
e por fora; e nele se achavam escritas lamentações, e suspiros e ais.
Comentário: Não seguir a árvore da morte, ou do conhecimento do bem e do mal, e sim a da vida.
Pois a árvore do “bem e do mal” se forma de cascas
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(qliphot), que são os vícios e defeitos, demônios. Essas envolvem a alma animalesca, como lembra o
escrito hassídico, O Tanya. O justo (tzadik) deve se afastar de se envolver com a alma animalesca, e
sim buscar Shekinah. Rebelde é a alma animalesca. Também os demônios, que são cascas, escondem a
luz. O rebelde surge da “natureza mesclada”, não
de Israel. Ademais, o aqui designado “rebelde’,
parece o rasha (perverso), aquele que acaba sempre descumprindo as mitzvot (mandamentos), e estando
em presença da qlipha demoníaca, a casca que esconde a luz do Criador, bem como estando muito
sujeito a alma animalesca (sepher hara). Explicar a experiência mística para os profanos, ou mesmo a
incrédulos e idólatras, é muito dificultoso. Sarças e
espinhos são as dificuldades no caminho ou senda,
sendo o Senhor do Umbral, que aqui poderíamos
pensar em Satan ou na simbologia cabalística, a Samael. Samael é o rebelde, que apareceu na serpente do Éden, sendo uma serpente sutil, “luz
astral” inferior. Maiores detalhes sobre isso estão em meu livro Bíblia e Misticismo.
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CAPÍTULO 3
1 Depois me disse: Filho do homem, come o que achares; come este rolo, e vai, fala à casa de Israel.
2 Então abri a minha boca, e ele me deu a comer o rolo. 3 E disse-me: Filho do homem, dá de comer ao teu ventre, e
enche as tuas entranhas deste rolo que eu te dou. Então o
comi, e era na minha boca doce como o mel.
Comentário: Comer o livro é absorver sua
sabedoria. O mesmo se diga quanto ao rolo, forma
dos escritos antigos, a semelhança dos manuscritos do Mar Morto. A sabedoria é alimento para a alma.
Uma relação com hockmah e as esferas superiores
na árvore da vida, como o entendimento (binah). Já
Adão e mesmo Noé tinham recebido um livro do Senhor, assim restando que tiveram também de “ingerir” algum rolo, misticamente. Adão recebeu do
anjo Raziel. Mas enquanto os homens escrevem livros, o Senhor escreve a vida, a existência. Por
isso de Yeheshua (Jesus) falar em “água viva”. O mundo foi criado através da Torá. A lei escrita está acima da oral, entronada, porém segundo certa
passagem do Zohar. Comer o rolo é absorver a lei divina, e assim divulgar esses saberes elevados.
Ezequiel tinha grandes conhecimentos místicos, e para os judeus se estudava Ezequiel em idade madura, não em estudos preliminares, assim como
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os Cânticos dos Cânticos. O elevado simbolismo do
livro requer maior avanço na hermenêutica, sob risco de se cair em sensualismo, confusão ou
descrença.
4 Disse-me ainda: Filho do homem, vai, entra na casa de Israel, e dize-lhe as minhas palavras. 5 Pois tu não és enviado
a um povo de estranha fala, nem de língua difícil, mas à casa de Israel;
6 nem a muitos povos de estranha fala, e de língua difícil, cujas palavras não possas entender; se eu aos tais te enviara,
certamente te dariam ouvidos. 7 Mas a casa de Israel não te quererá ouvir; pois eles não me
querem escutar a mim; porque toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração.
Comentário: Filho do Homem é uma expressão
messiânica. Significa mais do que apenas Jesus, que se designava com essa expressão. Leva sim a pensar no Homem Celestial, no Adão Kadmon e ao Novo Adão, que é Cristo. Aqui esse homem como já
falamos, leva as esferas da árvore da vida, ao cumprimento da Criação. Essa designação também se refere ao Mestre da Retidão, entre os essênios, de
onde surgiram João e Jesus. Parece ser uma designação do adepto ou mesmo do iniciado, de alguém que carrega já grande sabedoria e que se
aproxima de ser o Filho de Deus. A tradição judaica messiânica fala em dois messias, um real e outro sacerdotal, sendo então estes João e Jesus. Apesar
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que João é referido por Jesus como Filho de
Mulher.
8 Eis que fiz duro o teu rosto contra os seus rostos, e dura a tua fronte contra a sua fronte.
9 Fiz como esmeril a tua fronte, mais dura do que a pederneira. Não os temas pois, nem te assustes com os seus
semblantes, ainda que são casa rebelde. 10 Disse-me mais: Filho do homem, recebe no teu coração
todas as minhas palavras que te hei de dizer; e ouve-as com os teus ouvidos.
11 E vai ter com os do cativeiro, com os filhos do teu povo, e lhes falarás, e tu dirás: Assim diz o Senhor Deus; quer ouçam
quer deixem de ouvir.
Comentário: A casa rebelde é Judá, que estava
apóstata no exílio.
12 Então o Espírito me levantou, e ouvi por detrás de mim uma voz de grande estrondo, que dizia: Bendita seja a glória
do Senhor, desde o seu lugar. 13 E ouvi o ruído das asas dos seres viventes, ao tocarem
umas nas outras, e o banilho das rodas ao lado deles, e o sonido dum grande estrondo.
14 Então o Espírito me levantou, e me levou; e eu me fui, amargurado, na indignação do meu espírito; e a mão do
Senhor era forte sobre mim.
Comentário: os querubins novamente com o ruído de suas asas. Essa teofania, experiência mística e
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sobre as rodas, já tratamos. A presença divina,
Shekinah, seria a mão do Senhor.
15 E vim ter com os do cativeiro, a Tel-Abibe, que moravam junto ao rio Quebar, e eu morava onde eles moravam; e por
sete dias sentei-me ali, pasmado no meio deles.
Comentário: O número 7 carrega grande
simbolismo. Sempre que aparece nas Escrituras,
está envolto de especial simbolismo. Os 7 espíritos
diante do trono parecem ser aqui o que se encaixa. Em muito são os antigos espíritos planetários, pois
a referência se deve a astrologia, os 7 planetas
mágicos. Também lembrando o Sepher Yetzirah, são
as 7 letras duplas. Deus grava seu Nome pelo
número, pelo que numera e é numerado. Essas letras duplas são importantes por representarem a dualidade, os contrários. Letras são números. Nos
leva assim a ideia de luz e sombra, de yang e yin etc. Parece ser aqui o mal em meio a Israel. O
contrário de sabedoria é tolice, e parece que era esse o momento em que descreve Ezequiel. Assim
se cria através dessas 7 letras duplas, os astros do
mundo e os dias do ano, segundo o Sepher Yezirah. São também sete portas do homem, órgãos dos sentidos.
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16 Ao fim de sete dias, veio a palavra do Senhor a mim,
dizendo: 17 Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de
Israel; quando ouvires uma palavra da minha boca, avisá-los-ás da minha parte.
18 Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; se não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau
caminho, a fim de salvares a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniqüidade; mas o seu sangue, da tua mão o
requererei: 19 Contudo se tu avisares o ímpio, e ele não se converter da
sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua iniqüidade; mas tu livraste a tua alma.
Comentário: Atalaia (sopheh) é espécie de guarda ou vigilante, guardando o cumprimento da lei de
Deus, bem como da aliança. Parece que Ezequiel
tinha essa missão. O ímpio carrega a qlipha, porção demoníaca, por isso de morrer na iniqüidade.
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CAPÍTULO 23
1 Veio mais a mim a palavra do Senhor, dizendo: 2 Filho do homem, houve duas mulheres, filhas da mesma
mãe. 3 Estas se prostituíram no Egito; prostituíram-se na sua
mocidade; ali foram apertados os seus peitos, e ali foram apalpados os seios da sua virgindade.
4 E os seus nomes eram: Aolá, a mais velha, e Aolibá, sua irmã; e foram minhas, e tiveram filhos e filhas; e, quanto aos
seus nomes, Samária é Aolá, e Jerusalém é Aolibá. 5 Ora prostituiu-se Aolá, sendo minha; e enamorou-se dos
seus amantes, dos assírios, seus vizinhos, 6 que se vestiam de azul, governadores e magistrados, todos
mancebos cobiçáveis, cavaleiros montados a cavalo.
Comentário: Essas duas mulheres são alegorias e
símbolos. Antes que se pense em erotismo e sensualismo, há de se verificar o contexto dessa passagem. Oolá significa “aquela que possui uma tenda” e Oolibá (Oholiybah - אהליבה) significa “minha
tenda está nela”. Oolá é Samaria e Oolibá é Jerusalém. Essa tenda se refere e tabernáculo, tenda sagrada de culto. O problema parece ter sido
uma prostituição espiritual com nações vizinhas. Já vimos que isso é a “natureza mesclada”, o que se
refere a qlipha, demônios etc. A questão não é meramente racial ou nacional, mas espiritual. E se refere ao corpo. O corpo é o templo ou tabernáculo
do Espírito Santo. Uma vez maculado um desses
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veículos, como a alma, ruach ou sopro, nefesh e
neshamá, perde assim o homem a presença divina (Shekiná) pelo pecado, pelo descumprimento das
mitzvot (mandamentos). Essas duas mulheres parecem ser uma versão feminina de perversa
(rasha). O problema é deixar da alma do justo para
servir a alma animalesca (sepher hará), todos esses ensinamentos do Tanya que aqui se encaixam.
Também o tom sexual da passagem nos faz pensar em aspecto da castidade, em oposição à fornicação.
Volta à serpente (nahash), que se pode traduzir como fornicação, e que se refere em misticismo a
“luz astral” inferior, aquela que macula o templo dos corpos do homem. Leva-se a pensar na relação
com demônios, que são assim criados por essa
fornicação, e com Lilith, um demônio, que foi a esposa de Adão antes de Eva, segundo tradição de
Zohar e Talmudes. Essa Lilith é espécie de mulher vampiro, e com ela que Adão (a humanidade) criou muitos seres e monstros. As duas moças parecem
fazer lembrar esses ensinamentos, o que leva a “árvore da morte” ou do conhecimento, o “outro
lado”, que retira a veste de luz de Adão, seu
verdadeiro corpo ou templo. Perdida essa “tenda” para nações pagãs ou idólatras (que representam o
ego profano...), acaba-se por levar consigo a espiritualidade. Citar o capítulo todo literalmente levaria a trazer certa censura a meu livro. Fato é
que esse mistério, a criação de súcubos e íncubos, haja vista fornicação e abuso da “luz astral”, é a
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pior forma de prostituição espiritual, ainda mais
que feita por pessoas sem preparo ou qualquer controle. A alma animalesca assim supera a do
justo (benoni), e assim corrompe sua tenda ou tabernáculo, local de culto e do Espírito Santo.
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Comentários ao Evangelho
de João Comentários com chaves ocultas, gnósticas e teosóficas
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CAPÍTULO 1
1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele
nada do que foi feito se fez. 4 Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
5 a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.
6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. 7 Este veio como testemunha, a fim de dar testemunho da
luz, para que todos cressem por meio dele. 8 Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
9 Pois a verdadeira há consentido no conselho e nos atos dos chegando ao mundo.
10 Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu.
Comentário: a Palavra (Logos) é a espada de Cristo,
por onde as coisas surgiram em emanação
primeira. Assim todo o átomo e mesmo desde a
mônada, houve a penetração dessa vitalidade. Esse
Logos é um Espírito, que é o Cristo Cósmico e
Místico, e encarna através da Virgem (a matéria),
assim que vem como Espírito Santo. Ademais, o
Logos-Solar ou Cristo-Solar se encarna na
constelação de Virgem, e por isso a criança é para
ser degolada por Herodes (o Logos ser degolado pela
matéria). O Logos é assim crucificado na cruz da
matéria, ou seja, nos quatro elementos. Também é
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ao mesmo tempo o homem celeste, o Novo Adão,
que está crucificado no Universo. Já tratamos dele
como as esferas da Árvore da Vida, e assim guarda
as emanações de Deus, do Altíssimo, Grande Rosto.
Essa encarnação não pode ser conhecida sem a
iluminação, segundo Jacob Böehme, não bastando
mero estudo das Escrituras. É o Homem-Deus,
como se referem os Martinistas. A árvore é Cristo e
o ramo é Jesus. Volta à lição de Angelus Silésius.
Essa palavra também nos leva ao mundo da
Imagem Verdadeira, ao paraíso, segundo Taniguchi.
Pelo Logos solar que as coisas foram feitas e
existem, e do Sol (Universal) que veem e para onde
retornam. Aqui se incluem a Criação dos anjos e
hierarquias celestes, pois o Adão antes da queda
possuía a “vestidura de luz”, era um com Cristo, e
assim ordenava e dominava os animais (seres
viventes, aves do céu, anjos, hayot etc). O Novo
Adão ou Cristo é o Salvador, que livra da escravidão
do materialismo e ago (Diabo). Deus tornou-se
homem para restaurá-lo, segundo Böehme. E os
anjos caídos e Lúcifer teriam um papel de fogo,
sendo tal fogo uma relação com a serpente astral,
luz astral inferior. A falta de castidade levando a se
perder na nona esfera da árvore da vida,
encontrando assim a árvore da morte, demoníaca.
A queda é uma queda dimensional, e o Verbo
lembra que as coisas foram feitas perfeitas. O
testemunho da luz é de Cristo, de sua vestidura de
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luz, aquele “corpo glorioso” a que ainda teremos.
Como já falei em livro “Bíblia e Misticismo”, o Verbo
é muito um som, um mantra primordial. E cada
Era ou Aeon tem sua “Palavra”.
11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12 Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus;
13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.
14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito
do Pai. 15 João deu testemunho dele, e clamou, dizendo: Este é
aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim, passou adiante de mim; porque antes de mim ele já existia.
16 Pois todos nós recebemos da sua plenitude, e graça sobre graça.
Comentário: o nome é Yeheshua, que é uma
referência ao nome divino de Jesus. É o nome de
Deus, o tetragrama, adicionado da letra Shim, que
significa a descida do Espírito Santo. João é a porta
estreita, é um dos messias, dos dois a que a
tradição dos essênios e as messiânicas já
esperavam. Uma porta triangular para a iniciação.
João é ao mesmo tempo o passado e o futuro, e
assim também um João escreveu o livro do
Apocalipse ou Revelação. Um dos dois messias teve
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sua vida mais exposta, e entre eles trocavam
ensinamentos e acabou o Verbo se fazendo carne,
na forma de Cristo Interno, naquele batismo de
fogo. A pessoa de João fez o batismo de água, que
era a iniciação. João é também o João interno,
segundo Pistis Sophia, e assim é a reencarnação do
Elias. João sendo o precursor, aquele que prepara o
caminho do Cristo Íntimo, segundo Samael Aun
Weor. O iniciado desce assim ao inferno,
semelhante a o que fez o Cristo, antes de encontrar
o Reino. Sobre o Verbo se fazer carne, disse
Böehme: “Quando o Verbo se colocou em movimento
para a revelação da vida, ele se revelou na
essencialidade divina, na água da vida eterna; ele a
penetrou e se tornou súlfur, ou seja, carne e sangue;
produziu a tintura celestial, que envolve e preenche a
Divindade, onde a sabedoria de Deus permanece
eternamente com a magia divina. Compreenda
corretamente: A Divindade desejou tornar-se carne e
sangue; embora o puro e imaculado Deus permanece
espírito, tornou-se o espírito e a vida da carne,
operando na carne; assim, quando penetramos,
através de nosso desejo, em Deus, nos doando
totalmente a ele, podemos dizer que penetramos a
carne e sangue de Deus, vivemos em Deus, pois o
Verbo se fez homem e Deus é o Verbo” (A Encarnação
de Jesus Cristo). Portanto, necessária se faça a
“reintegração” a Cristo, que esteve também no ramo
do adepto Jesus, para nos mostrar o caminho e
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revelar a verdade. Carne não significa apenas o
corpo, mas a dimensão da matéria como um todo.
17 Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.
18 Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer.
19 E este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe
perguntassem: Quem és tu? 20 Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não
sou o Cristo. 21 Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias?
Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não. 22 Disseram-lhe, pois: Quem és? para podermos dar resposta
aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? 23 Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto:
Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.
Comentário: Não se pode ver a Face senão através
de seu anjo, Metraton, que em muito se identifica
com o Cristo. Esse é o Grande Rosto, onde está o
Pai, o Ancião dos Dias, e que está acessível através
da esfera da árvore da vida de tipharet, ou Cristo. O
Cristo que existe em cada um de nós pode por fim
revelar o Pai, e esse encarna, ressuscita e sobe ao
céu. Perguntar pelo seu paradeiro é uma forma
profana de reagir, uma vez que renascemos em
Cristo. Não se trata apenas de um homem como
insistimos em refletir nessa obra. Cristo é Heli, o
homem primordial, segundo Pasqually. Entende
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Vicente Velado: “Não se pode confundir o veículo
físico chamado Jesus com o Cristo Cósmico nele
manifestado”.
24 E os que tinham sido enviados eram dos fariseus. 25 Então lhe perguntaram: Por que batizas, pois, se tu não és
o Cristo, nem Elias, nem o profeta? 26 Respondeu-lhes João: Eu batizo em água; no meio de vós
está um a quem vós não conheceis. 27 aquele que vem depois de mim, de quem eu não sou digno
de desatar a correia da alparca. 28 Estas coisas aconteceram em Betânia, além do Jordão,
onde João estava batizando.
Comentário: O João era o próprio messias, um dos
dois, e assim oculto, uma porta ou portal. O
batismo é uma purificação, exigência de iniciação.
29 No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e
disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. 30 este é aquele de quem eu disse: Depois de mim vem um
varão que passou adiante de mim, porque antes de mim ele já existia.
Comentário: Uma simbologia messiânica. O Cristo é
sacrificado na semelhança do cordeiro, pois em
toda a páscoa o Logos-Solar se sacrifica pela
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natureza, que depois se renova nos 4 elementos. A
palavra INRI se refere à renovação pelo fogo e aos 4
elementos. A Era ou Aeon de Áries, o “cordeiro”.
Também vemos noutros evangelhos o relato da
pescaria, de peixes, que se refere à Era de Peixes. O
Cristo-Solar passando pelas constelações e tendo a
experiência do Cósmico, bem como em todos nós.
Tira o pecado porque o mundo evolui através Dele.
O sacrifício de Deus é limitar os Seus poderes no
plano material, encarnar. É a Lei do Sacrifício. O
mineral se sacrifica pelo vegetal, o vegetal pelo
animal, e ambos pelo homem. O homem sacrifica
seus animais internos, impulsos, por Deus. E
Maimônides fala de cordeiros como vestimentas,
que ocultam a sabedoria.
31 Eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, é que vim batizando em água.
32 E João deu testemunho, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele.
33 Eu não o conhecia; mas o que me enviou a batizar em água, esse me disse: Aquele sobre quem vires descer o
Espírito, e sobre ele permanecer, esse é o que batiza no Espírito Santo.
34 Eu mesmo vi e já vos dei testemunho de que este é o Filho de Deus.
Comentário: O batismo é a iniciação nos mistérios
de Cristo. Não se refere a uma religião, mas a uma
Bíblia e Mistérios
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vivência interna e cósmica, pessoal (pegar a cruz e
segui-lo...). O batismo da água é um grau inicial, já
o batismo de fogo é grau avançado. O batismo de
fogo é o do Espírito Santo, que dá as 12 faculdades
e que possibilita vestir a vestimenta, para assim
adentrar nos aeones. A pomba é um animal de
Vênus, logo nos leva a pensar na doutrina do amor.
Também reflete a paz. Outro símbolo parecido é a
fênix, que assim ressuscita de si mesma pelo fogo.
O pio pelicano que sustenta seus filhotes com o
sangue do peito. O caminho do coração. Bricaud
ainda fala no batismo de ar, que estaria junto ao de
fogo, chamado consamentum, e pelo qual se torna o
homem “filho de Deus”. Sem esse batismo de fogo e
ar não se pode entrar no Pleroma. O batismo de
fogo e ar se dava na idade mínima de 20 anos.
35 No dia seguinte João estava outra vez ali, com dois dos seus discípulos
36 e, olhando para Jesus, que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus!
37 Aqueles dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.
38 Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que buscais? Disseram-lhe eles: rabi (que, traduzido, quer
dizer Mestre), onde pousas? 39 Respondeu-lhes: Vinde, e vereis. Foram, pois, e viram onde
pousava; e passaram o dia com ele; era cerca da hora décima. 40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que
ouviram João falar, e que seguiram a Jesus. 41 Ele achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe:
Bíblia e Mistérios
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Havemos achado o Messias (que, traduzido, quer dizer Cristo). 42 E o levou a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és
Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).
Comentário: Hora décima devia ser umas 4 da tarde. Messias é aquele que é ungido. A unção se
dava com óleo santo. Pedro é a pedra fundamental
do “templo”, e a pedra de tropeço. Refere-se muito a
castidade, quando vemos a trajetória dele. O Cordeiro de Deus está sacrificado desde a fundação
do mundo.
43 No dia seguinte Jesus resolveu partir para a Galiléia, e
achando a Felipe disse-lhe: Segue-me.
44 Ora, Felipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.
45 Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar
aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus
de Nazaré, filho de José.
46 Perguntou-lhe Natanael: Pode haver coisa bem vinda de
Nazaré? Disse-lhe Felipe: Vem e vê.
47 Jesus, vendo Natanael aproximar-se dele, disse a seu
respeito: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!
48 Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-
lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando
estavas debaixo da figueira.
49 Respondeu-lhe Natanael: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és
rei de Israel.
50 Ao que lhe disse Jesus: Porque te disse: Vi-te debaixo da
Bíblia e Mistérios
104
figueira, crês? coisas maiores do que estas verás.
51 E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que
vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo
sobre o Filho do homem.
Comentário: Os 12 Apóstolos são as 12 potestades,
que também são interiores ao homem. Eles levam
aos 12 aeones e podemos pensar nos mesmos como
representantes das 12 tribos de Israel. Outrossim,
vemos aqui mais uma vez as 12 constelações do
céu, uma referência aos animais sagrados (seres
viventes ou hayot), que são descritos em Gênese,
Ezequiel e Apocalipse. A relação com os anjos se vê
estreita e os poderes celestes e divinos aparecem no
Cristo Místico e Mítico. A visão do filho do homem é
usar de todas as vestimentas e trafegar pelas
dimensões, a “Escada de Jacó”, onde anjos sobem e
descem. O Filho do Homem é o homem celeste,
Adão Kadmon, que partilha do mesmo símbolo das
esferas ou sephirot da árvore da vida. Refere-se ao
Cristo Cósmico e Interno, e por isso do céu se abrir,
esse que vem na experiência mística da teofania.
Bíblia e Mistérios
105
CAPÍTULO 3
1 Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.
2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes
sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. 3 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que
se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. 4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer,
sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no
reino de Deus. 6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do
Espírito é espírito. 7 Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer
de novo. 8 O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes
donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode ser isto?
Comentário: Da água do firmamento, do éter e seu conhecimento (iniciação) e do Espírito do Verbo, o
Cristo Interno e Cósmico. Pois esse Cristo não nasce da carne. Uma vez na senda, não se sabe mais para onde vai, mas se é veículo de forças
superiores e se cumpre uma missão cósmica. E sobre a ressurreição, como disse Felipe, primeiro vem à ressurreição, depois à morte.
Bíblia e Mistérios
106
11 Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testemunhamos o que temos visto; e não aceitais o
nosso testemunho! 12 Se vos falei de coisas terrestres, e não credes, como
crereis, se vos falar das celestiais? 13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o
Filho do homem. 14 E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importa que o Filho do homem seja levantado; 15 para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna.
16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna. 17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que
julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
Comentário: Mais uma vez falando do Homem
Celestial, o Filho do Homem, que serve de escada
para os anjos, descendo e subindo ao céu. A
serpente de Moisés é kundalini, a serpente de fogo,
e essa sobe quando se encontra Cristo Interno.
Aqui já não é mais a luz astral inferior, mas aquele
metal gerado pela alquimia, pelo trabalho da nona
esfera, a Grande Obra. Nada mais que é que a
energia que sobe através da coluna cervical e abre
os chacras, mostrando os 7 espíritos diante do
trono e as 7 igrejas do Apocalipse. A iluminação
decorrente disso é a salvação. Todas as referências
a Cristo Cósmico e Interno, bem entendidas pelos
Bíblia e Mistérios
107
gnósticos e místicos. Cristo, no dizer de Saint
Martim, é o “Reparador dos Mundos”. E salvos são
144.000, ou seja, aqueles que passam por João ou
o portal da iniciação, porta que tem 144° de ângulo
em sua parte superior. Também o intervalo entre
nascimentos se dá em 144 anos.
18 Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de
Deus. 19 E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens
amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.
20 Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus.
22 Depois disto foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia, onde se demorou com eles e batizava.
Comentário: a luz é da vestimenta. A luz de Cristo é
desse veículo, que somente podemos ter Nele. Diz o
Pistis Sophia: “Tu que saíste dos espaços da Altura
com os Mistérios do Reino da Luz e Tu que desceste
nessa Veste de Luz, que recebeste das mãos de
Barbelo, a (Vestimenta) que é Jesus, nosso Salvador
e na qual desceste sobre Ele como uma Pomba”.
Estar sem isso nos deixa escravos ou julgados.
Possuir Cristo consigo leva a liberação, a superação
Bíblia e Mistérios
108
da roda de sânsara e mesmo do karma. Quem está
na grande obra não mais terá porque pecar, pois vê
a verdade em muitos planos ou dimensões. Está
assim cristificado. As trevas são a do materialismo
e a dos profanos. Tem de se estar preparado para
usar os veículos superiores, a fim de entrar no céu.
Ter a vestimenta de luz leva a não julgamento, mas
sim a merecimento de bênçãos e alegrias.
23 Ora, João também estava batizando em Enom, perto de
Salim, porque havia ali muitas águas; e o povo ía e se batizava.
24 Pois João ainda não fora lançado no cárcere. 25 Surgiu então uma contenda entre os discípulos de João e
um judeu acerca da purificação. 26 E foram ter com João e disseram-lhe: Rabi, aquele que
estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, eis que está batizando, e todos vão ter com ele.
27 Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu. 28 Vós mesmos me sois testemunhas de que eu disse: Não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele. 29 Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que está presente e o ouve, regozija-se muito com a voz do noivo. Assim, pois, este meu gozo está completo. 30 É necessário que ele cresça e que eu diminua.
Comentário: Que Cristo interno cresça e que o ego
diminua. O noivo e a noiva são expressões
cabalísticas, referentes a esferas. O Elias que é
João preparou as coisas para Cristo íntimo. Assim
ele é água, ou a Stella Maris, a Virgem de Luz ou a
Bíblia e Mistérios
109
divina kundalini (segundo Weor). Ele é o IAO menor
que prepara para o IAO maior. João é o homem, ou
filho de mulher, e Cristo é o Filho do Homem.
Diminuir é aniquilar as imperfeições psicológicas, o
ego. 31 Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra, e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos. 32 Aquilo que ele tem visto e ouvido, isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho. 33 Mas o que aceitar o seu testemunho, esse confirma que Deus é verdadeiro. 34 Pois aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; porque Deus não dá o Espírito por medida. 35 O Pai ama ao Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos. 36 Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.
Comentário: O testemunho é interno e uma
experiência. O Filho interno dá a vida eterna,
porque leva a Consciência Cósmica e a superação
da escravidão dos planos inferiores. A maior morte
é a falta de vida espiritual, de cristificação. Jesus
disse: “Deixe que os mortos sepultem os seus
mortos”. Também faz lembrar os ensinamentos
conservados por Felipe a respeito da morte. E a ira
de Deus é o karma, que é ao mesmo tempo a
severidade ou justiça, geburah da cabala.
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CAPÍTULO 7 33 Disse, pois, Jesus: Ainda um pouco de tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou. 34 Vós me buscareis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir. 35 Disseram, pois, os judeus uns aos outros: Para onde irá ele, que não o acharemos? Irá, porventura, à Dispersão entre os gregos, e ensinará os gregos? 36 Que palavra é esta que disse: Buscar-me-eis, e não me achareis; e, Onde eu estou, vós não podeis vir? 37 Ora, no seu último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. 38 Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva 39 Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.
Comentário: Achar o Cristo Cósmico. As águas
eternas que se encontram no abismo, entre as
esferas de Chesed e Biná. Os rios de água viva
estão explicados em Pistis Sophia. Maria ou Marah
é esse grande oceano. Ele ensina no Cómico e
interiormente, então de lugares longínquos. O
espírito é descrito no Gênesis, quando o Senhor
planava sobre as águas. Refere-se também ao Éter
primordial, o caos antes da Criação. O Pai é alfa e
ômega (alef e tau), o primeiro e o último. Cristo
retornou ao Pai, que é o Ancião dos Dias. O Espírito
se refere novamente à vestidura de luz, e pelos
fariseus não a terem, não podem assim ir ao “lugar”
Bíblia e Mistérios
111
onde foi o Cristo. Também uma alusão as águas e a
nova castidade, do casamento, presente nas duas
testemunhas do Apocalipse. CAPÍTULO 8 12 Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida. 13 Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro. 14 Respondeu-lhes Jesus: Ainda que eu dou testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro; porque sei donde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou. 15 Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo. 16 E, mesmo que eu julgue, o meu juízo é verdadeiro; porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou. 17 Ora, na vossa lei está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro. 18 Sou eu que dou testemunho de mim mesmo, e o Pai que me enviou, também dá testemunho de mim.
Comentário: O testemunho era do Cristo interno, e
é tanto de “si mesmo” quanto da verdade de Deus.
O Pai é novamente o Ancião, aquele que está no
Grande Rosto, Deus em emanações de sabedoria e
entendimento (Hokmah e Biná), e mesmo em coroa
(kether), todos dando testemunhos da luz. A luz
passa pelas emanações, de modo que adquire
várias tonalidades. Mas alguns vasos se romperam,
ocultando a luz. Alguns fariseus mostravam essa
Bíblia e Mistérios
112
dimensão de ocultamento da luz. As duas
testemunhas do Apocalipse, que é tanto o
andrógino (união de yin e yang, levando ao Tao),
como a união de ida e pingala, na serpente que
sobe através da lança. A lança e o graal, ou o cálice.
A dualidade testemunhando a Unidade. 19 Perguntavam-lhe, pois: Onde está teu pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai. 20 Essas palavras proferiu Jesus no lugar do tesouro, quando ensinava no templo; e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora. 21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu me retiro; buscar-me- eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir. 22 Então diziam os judeus: Será que ele vai suicidar-se, pois diz: Para onde eu vou, vós não podeis ir? 23 Disse-lhes ele: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. 24 Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.
Comentário: Ambos são internos. O microcosmo
refletindo e manifestando o macrocosmo. Morrer no
pecado é em dimensão inferior, no purgatório ou
plano astral baixo. Onde ele vai é a plano elevado,
para o qual os ditos fariseus não tinham elevação
espiritual para adentrar. A vibração e sua lei
revelam o enigma do capítulo. A morte antes da
ressurreição, uma purificação e sacrifico do
animalesco, uma limitação da ação da alma
Bíblia e Mistérios
113
animalesca (sepher hará). O morto se harmoniza a
sua egrégora. 28 Prosseguiu, pois, Jesus: Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então conhecereis que EU SOU, e que nada faço de mim mesmo; mas como o Pai me ensinou, assim falo. 29 E aquele que me enviou está comigo; não me tem deixado só; porque faço sempre o que é do seu agrado.
Comentário: O Pai é alfa e ômega, o primeiro e o
último, e assim enviou. E Ele faz através de Jesus,
e por isso do termo Eu Sou. Jorge Adoum fala
bastante no tema, e mesmo Saint Germain
também, demonstrando a dimensão do Cristo
interno. Aqui já vemos o ego dissolvido e o Pai
agindo em Jesus. A missão cósmica assim convida
para a superação de interesses mundanos, sendo
instrumento de forças divinas. O Cristo precisa
salvar para que também possa retornar ao Pai.
Porque mesmo ele é Uno com o Pai. Em Pistis
Sophia: “E Amén vos digo: esse Homem, ao
dissolver-se o Mundo, será Rei sobre todas as
Ordens da Herança da Luz e o que recebe esse
Mistério do Inefável o qual «Eu Sou»”. Esse é o Filho
do Homem, que dissolve suas imperfeições e sua
velha natureza de pecado, de queda, dando lugar ao
Novo Homem, cristificado. Assim disse também
Jorge Adoum: “Deveis saber que - EU SOU - é A
PRESENÇA DE DEUS EM CADA SER HUMANO.
Nunca se deve esquecer isto. EU SOU (é) A VIDA, A
Bíblia e Mistérios
114
LUZ, ASUBSTÂNCIA, A INTELIGÊNCIA E A
ATIVIDADE (Nele vivemos, nos movemos e temos o
ser), de uma maneira inconsciente. O objetivo destas
práticas é prepararmo-nos para sentir
conscientemente nossa união com o PAI - EU SOU - o
DEUS INTIMO” (Eu Sou). Portanto, a presença
Divina é Shekinah, é também Cristo, e deste modo
os milagres são realizados. A cura maior acaba se
realizando na presença do Eu Sou. 31 Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; 32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. 33 Responderam-lhe: Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes tu: Sereis livres? 34 Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35 Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre. 36 Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
Comentário: Jesus era judeu e pregava
especialmente a estes. A verdade que liberta é a
iluminação que se encontra após iniciação e
adeptado. Quem comete pecado é aquele que
muitas vezes não tem consciência de sua
consequência. Um karma severo leva ao inferno. Já
seguir a Cristo leva ao perdão dos pecados, a
possibilidade de “negociação”, segundo Weor. O
escravo é também aquele que não tem domínio da
Bíblia e Mistérios
115
vida, e deste modo se vê um joguete de modas, de
apegos e tristezas que vêm mais de sua ignorância,
que das vicissitudes naturais da vida. 44 Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira. 45 Mas porque eu digo a verdade, não me credes. 46 Quem dentre vós me convence de pecado? Se digo a verdade, por que não me credes? 47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso vós não as ouvis, porque não sois de Deus
Comentário: Aqui há uma passagem polêmica.
Alguns dizem que se faz uma distinção e que os
judeus antes de Cristo não acreditavam em Deus,
mas em outro, no Diabo. Entre gnósticos se tenta
em certas vertentes defender esse argumento, uma
vez que o Deus do antigo Testamento seria severo,
cruel, estimulador de sacrifícios de animais e
genocida. Seria assim Ildabaoth. Porém, sobre isso
discorda Gerson Sholem, bom estudioso da tradição
judaica mística que se misturou a gnose. Vejo que
Jesus falou antes do “ego”, que é em sua forma
inferior o Diabo, e cria entidades desse naipe,
elementais. Mas pela cabala já falamos, o Senhor
dos Exércitos é uma face de geburah, uma das
emanações de Deus, não Ele na totalidade. Assim
podemos ver em Seu arrependimento em gênese e
Bíblia e Mistérios
116
outras passagens. Também parece que as funções
demiúrgicas, muitas vezes colocadas nos anjos
elohim, confundem os atos com o do Altíssimo.
Ademais, a beleza e mesmo a reprodução são
emanações de Deus, que nem sempre será visto
apenas como sabedoria. Claro que ter uma visão
superior Dele acaba por afastar tais aspectos, mas
não se deve julgar de Diabo aquele que inspirou
homens sábios e uma tradição de leis morais
avançadas, em grande sintonia com leis como as 42
de Ma’at, de Manu, 12 Tábuas e outras. O aspecto
de que o ego afasta a presença de Deus, pois
carrega muitos defeitos psicológicos e interesses
pouco espirituais ou em sintonia com o Cósmico.
Vemos mesmo hoje interesses financeiros e de
poder no lugar de espiritualidade cristã, e isso em
muito se deve ao egoísmo de sacerdores ou
ministros, ou ao seu Diabo. O que Yeheshua queria
mostrar era um caminho em sintonia com a Grande
Fraternidade Branca, com a ordem de Melkisedech
e para o Pai, ou seja, o Grande Rosto de sabedoria e
entendimento (Hokmah e Biná), bem como até a
coroa (Kether) da árvore da vida, expressões
superiores do mesmo Deus e suas emanações, que
é por onde podemos entendê-Lo. Normalmente se
interpreta essa passagem como falsos Cristos que
vieram antes de Jesus, o que também é possível.
Bíblia e Mistérios
117
48 Responderam-lhe os judeus: Não dizemos com razão que és samaritano, e que tens demônio? 49 Jesus respondeu: Eu não tenho demônio; antes honro a meu Pai, e vós me desonrais. 50 Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue. 51 Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.
Comentário: Há o preconceito contra o samaritano.
Contudo, há ainda doutrinas raciais a respeito do
cristianismo. Dize-se que Jesus é o salvador que
veio para a raça branca ou ariana, e que as outras
já tiveram sua trajetória evolutiva. Também se fala
muito em um Deus nacional de Israel, o que
também não combina muito com antigo evangelho,
haja vista a mistura de costumes que se vê por lá.
Mesmo no cristianismo existem muitas coisas de
outros cultos e culturas, e seus atos e ritos de
essênios em muito mostram essa influência. Fato é
que Jesus pregava a romanos, a gentios etc, e o fato
de ser tido por samaritano, pouco ou nada altera. A
palavra referida é o Verbo, que é o “sopro”, e por
isso da relação com a vida. O adepto não tem
demônio, pois suas camadas psicológicas inferiores,
seu corpo astral inferior praticamente não existe,
não entrando no umbral ou inferno, a não ser se
para alguma missão ou no caminho. Já falamos
que o demônio é muito um Elemental criado pelo
“ego” materialista e mundano, e que assim nada
partilha com Cristo. Por isso desse ego oferecer
todos os reinos do mundo e pedir a demonstração
Bíblia e Mistérios
118
de poderes, porque ele era adversário de Cristo, e
ao mesmo tempo uma barreira interna ao iniciado,
o Senhor do Umbral. O agregado de personalidades
inferiores, formando um monstro ou dragão. Com o
Pai se exorciza os demônios. CAPÍTULO 10 7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. 8 Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. 9 Eu sou a porta; se alguém entrar a casa; o filho fica entrará e sairá, e achará pastagens. 10 O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. 11 Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
Comentário: A porta da iniciação, o Cristo Cósmico
leva aqueles que são guiados por mestres cósmicos,
que seguem seu pastor, na senda. É a porta cujo
ângulo superior tem 144°, e que são os salvos,
144000, que soma 9, sendo assim a esfera do
“fundamento” da árvore da vida, yesod. As ovelhas
são brancas e representam a castidade, sendo
assim a pureza e o material do qual é feito o avental
em sociedades de iniciação. Com a castidade se une
em núpcia alquímica as 2 testemunhas do
Apocalipse, e assim abrem os 7 selos e adentram
Bíblia e Mistérios
119
nas portas das 7 igrejas. O ladrão é o ego e o
profano, aquele que está fora. O ladrão não sabe a
batida da porta, e assim a porta não é aberta até
que aceite o batismo santo nas águas. O pastor que
se sacrifica, repetindo assim a Lei do Sacrifício. E
aquele que mata, rouba e destrói é o ego-Satã, que
corre atrás de poder do mundo, dinheiro, prazeres e
toda a sorte de eventos que se distanciam da
espiritualidade e de vibrações superiores. O ladrão
se apega, não sendo apenas caminho não ter bens,
mas sim o desapego. Pode-se ser rico e encontrar
Cristo, mas quando se encontra, se abandona tudo
e pega a cruz. Porque os metais enferrujam. O
iniciado abandona as joias e metais, ao adentrar no
templo. CAPÍTULO 13 20 Em verdade, em verdade vos digo: Quem receber aquele que eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
Comentário: O Espírito Santo é em muito também
interno. É aquele fogo que dá sabedoria. Uma
chama sempre era deixada ardendo em antigos
templos. Recebendo a Trindade se recebe ao Verbo.
Uma vez com as polaridades e o neutro, se
compreende o cainho, a verdade e a vida.
Bíblia e Mistérios
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“Por isso daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne; e, ainda que tenhamos conhecido Cristo segundo a
carne, contudo agora já não o conhecemos desse modo. Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas
velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. (II Cor. 5:17-17)
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a
na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. (Gal. 2:20)
“Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos
revestistes de Cristo. Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois
um em Cristo Jesus” (Gal. 3:27).
Muitas vezes ouvimos alguém falar sobre
determinada passagem bíblica difícil de interpretar:
“isso é um mistério”. Porém a palavra mistérios se
relaciona muito as antigas escolas iniciáticas, a
exemplo dos mistérios de Ísis, os órficos, mitraicos
etc. Uma escola de mistérios, de sabedoria e
ensinamentos quase ocultos, que se relacionavam a
vida após a morte, principalmente. Mas o
cristianismo também tem seus mistérios. Os
mistérios de Cristo são quase que constantemente
referidos por Paulo, e isso se caracteriza por um
conhecimento que pareceu de início ser reservado
apenas aos seguidores mais próximos de Jesus, em
especial os apóstolos. Clemente e Orígenes citam
que essa era a forma de mistério do Reino, e que
não era um ensinamento que seria dado a todos, a
Bíblia e Mistérios
122
não ser que estivessem preparados ou purificados.
Por isso de se falar em “não jogar pérolas aos
porcos” e outras expressões assemelhadas, que não
se referem a ofensas de judeus, mas sim apenas a
pessoas que ainda não estavam no grupo de
iniciados.
Assim, os mistérios ficavam muitas vezes
velados em ensinamentos semelhantes aos das
parábolas, que segundo Orígenes eram explicados
“em particular” aos discípulos iniciados. Isso se
dava através de uma tradição oral, apesar de que
nos Evangelhos há em certas passagens certa
revelação para quem tem “olhos para ver”, ou a
percepção de inspiração mística. As expressões
usadas no Evangelho para designar iniciados e
mistérios cristãos são tais como: as criançinhas,
porta estreita, montanha, perfeitos, o Reino, Reino
de Deus, novo nascimento, vida eterna, a Vida,
salvos e outras. Essas expressões são dadas muitas
vezes com objetivos de afastar o Reino para outro
mundo, ou mesmo apenas após a morte ou
ressurreição. Contudo, vemos uma constância no
uso dos termos pelos apóstolos, que de longe revela
a sua vivência e que as coisas estavam na presença
deles, e não em futuro distante ou outro mundo. A
expressão “se tornar crianças de novo”, ou “novo
nascimento”, é de longe claramente iniciática. Nas
antigas escolas de iniciação, fato claro que ocorria
era uma morte e uma ressurreição simbólicas, e
Bíblia e Mistérios
123
isso se fazia por determinado rito ou encenação. No
cristianismo está claro que a eucaristia e o batismo
são formas que guardam uma ritualística, e isso
depende da vontade da pessoa e de determinada
preparação ou purificação.
Outro detalhe é que Cristo não mais estando
presente fisicamente, acabou por revelar o
significado maior do termo e da sua presença.
Cristo é muito mais que um homem, e não está
apenas externamente. Várias passagens de Paulo e
suas cartas, bem como em outros evangelhos,
revelam que o Cristo é um Cristo Interno, e que
está além das barreiras espaços-temporais. Assim é
também um Cristo Cósmico, sendo esses
ensinamentos muito divulgados pelos gnósticos,
apesar da má fama que ficaram. Algumas seitas
gnósticas macularam a gnose original, que estava
bem presente em cristianismo primitivo, e que eram
sim a verdadeira doutrina, sendo substituída por
aquela dos concílios e de interesses dogmáticos,
onde muitas vezes já se viam afastados do mistério
de Cristo. O conceito de corpo de Cristo revela bem
essa dimensão do mistério, e em muito vai além da
figura do homem da Galiléia. Também o
cristianismo não era uma doutrina para crianças,
mas sim chamados de “criançinhas” aqueles que se
iniciavam em seu mistério, que eram homens feitos
ou até mesmo maduros.
Bíblia e Mistérios
124
Também os “mistérios da ressurreição” são
diferentes do que se comumente se designa por
ressurreição. Orígenes faz essas e muitas
considerações, como a questão desses mistérios e
da iniciação ser dada a Timóteo por Paulo, e assim
seguindo uma tradição oral, pois os mistérios
sempre foram protegidos contra a forma escrita.
Apesar da tradição de iniciadores não ter
continuado, houve sim quem tivesse acesso ao
mistério de Cristo por experiências místicas, e
revelando as doutrinas de forma parcial ou
simbólica, como Mestre Eckhart, Ruysbroeck, São
João da Cruz, Jacob Böehme, Robert Fludd,
Paracelso, Saint Martin e outros. Também a seita
dos Quakers e outras continuaram, ainda que
veladamente, a propagação do mistério de Cristo ou
do Reino de Deus.
A expressão do “Reino de Deus” nos leva a
pensar numa hierarquia celeste. E é isso mesmo.
Os mistérios em muito tratam e sempre trataram
da relação de forças dessas hierarquias, como o
papel dos anjos e seu estudo minucioso, bem como
a vida após a morte, ou após a ressurreição. E isso
é uma vivência, não mera doutrina de igreja x ou
épsilon com sua teologia e achismos. E a porta é
estreita, não comportando a entrada até o preparo
inicial. Se deve assim ter a purificação, ou seja, não
mais pecar. Então, voto de pobreza, obediência e
castidade. Se observarmos aqueles do compasso e
Bíblia e Mistérios
125
esquadro, percebemos que a castidade está no
avental branco e luvas da mesma cor, a pobreza
naquele desapego ao ser iniciado, isento dos
metais, e a obediência no juramento ou aceitação
da fraternidade. A ordem dos Templários também
tinha voto de pobreza e castidade, e mesmo os
franciscanos e beneditinos mantêm a regra. Jesus
dizia para largar dos bens e deixar aos pobres e
segui-lo. Mas isso não se refere a abandonar a
família e virar mendigo, mas sim ao desapego
necessário para a ressurreição espiritual, ou a
liberação que leva a iluminação.
Por isso, o caminho é de procurar esse Cristo
íntimo, se cristificar. Claro que o modelo de Jesus e
do Evangelho é indispensável, e é através dele que
muitas coisas estão disponíveis para esses
mistérios. Nascendo o Cristo na pessoa, ela pode
assim esperar as 12 potências, que são os 12
Apóstolos, faculdades de contato com os 12 Aeons.
Há assim uma libertação cristã, uma iluminação, a
que já falaram veladamente os gnósticos. A alma é
crucificada na matéria, por já não partilhar a
natureza da treva, e por encontrar a vestidura,
como se fala em Pistis Sophia. Essa vestidura é o
Cristo, e é o Pai, e é o Espírito Santo internos, que
assim levam o Novo Homem a comungar com as
inteligências angélicas, de modo ativo e sob
domínio. Dizem que Adão mandava nos anjos antes
da queda. A queda foi justamente a nudez dessa
Bíblia e Mistérios
126
“vestidura”, que é o “corpo glorioso”, parecendo ser
aquele que se usa no Reino. O Reino não herda a
carne. Também João é João interno, uma vez que
se é decapitado em relação à natureza inferior, ao
ego (Diabo) e as idiossincrasias psicológicas, que
afastam o homem ou mulher da iluminação, da sua
salvação. Assim, daqui em diante não se conhece
Cristo segundo a carne.
Bíblia e Mistérios
128
Introdução
Devemos aqui falar da doutrina que se
difundiu com Blavatsky, apesar de já existir no
próprio cristianismo. A teosofia é cristã, e o que
vemos em muito é um teosofismo. Porém ambas as
vertentes são auxiliares a clarear nossa visão da
Bíblia. Teosofia cristã foi em grande parte o
ensinamento de Jacob Böehme, e depois na linha
martinista. É mais que mero estudo, sendo sim de
origem na experiência. Ao longo da obra já falei no
Martinismo, e mesmo em “Bíblia e misticismo” já
comentei as Escrituras com base nessa vertente
iluminada. A teosofia também tem importância pelo
estudo de religião comparada, e pela observância
da origem do cristianismo e da Bíblia, sem a
desfiguração teológica operada por igrejas e por
interesses dogmáticos, de interesse no poder
temporal. O mais importante é que faz o
comparativo dos mistérios iniciáticos de outras
culturas, sendo de grande importância aqui. Há
também a linha de Max Heindel, que dá uma
explicação cristã a teosofia, absorvendo essa
sabedoria e a incorporando. Assim vai em sintonia
com o que trato nesse livro, que é o puramente
espiritual, sem materialismo ou bezerro de ouro,
como ocorre com uma grande quantidade de seitas
contemporâneas.
Bíblia e Mistérios
129
Teosofia e Evangelho
A teosofia tem uma complexa filosofia, que
alguns julgaram de espécie de budismo esotérico.
Contudo, vemos uma variada gama de estudos
sobre religiões comparadas, sendo forma elevada de
busca da verdade, tendo como lema: “Não existe
religião superior a verdade”. Vemos assim que a
Bíblia tem grande afinidade com outros livros
sagrados, como com Baghavad Gita, Puranas, Rig
Veda, Upanishades, Mahabarata e outros da linha
hindu. Isso cria uma ponte mística que une as
tradições, de modo diferente a ciência ou mesmo as
religiões, que desejam a separação dos cultos e
visões de Deus. No caso de Blavatsky, ela utiliza
um livro secreto chamado de Livro de Dzian, que
parece reservar forte tendência hermética. Vemos
assim uma forma de yoga do cristo, lembrando obra
de Ravi Ravindra. E Jesus é um grande yogi, como
descreve esse autor.
Já vi até outros autores compararem o Cristo ao
Atman, uma forma de eu superior que se funde
mesmo com Deus, já sendo forma de grande razão,
Logos. Lembrando também a forma amorosa do
Cristo, em muito parece uma dimensão do que eles
têm por Budhi, que compreende forma ou veículo
Bíblia e Mistérios
130
emocional, mais evoluído que o meramente carnal,
que a “carne”. Também em Mahabarata se descreve
Krishna com eventos em sua vida que assemelham
ao Cristo, como se fosse uma pré-figuração do
mesmo, onde nasce de uma virgem no dia 25 de
Dezembro, morre e ressuscita etc. Ao se ver Krishna
falando no Gita, também temos forte impulso em
ver Cristo ali, que o Senhor está presente. A
onipotência, a sabedoria e a busca de uma forma
de evoluir a humanidade, tudo isso em muito se
assemelha a Bíblia, apesar da valorização das
castas, o que em Cristo já se vê um pouco
superado, quando esse apoia o samaritano e
desvaloriza o fariseu. A teosofia, porém, parece uma
linguagem que sistematiza aquele esoterismo hindu
e budista, enquanto na Bíblia vemos as coisas mais
veladas e próximas da realidade, confundindo
muitas vezes muitos, que veem apenas história de
um povo no livro sagrado judaico-cristão. Já no Rig
Veda, por exemplo, a simbologia é tanta que se
sabe que lá estão forças, aspectos, analogia e
metáforas, enquanto aos leitores religiosos da
Bíblia, no máximo se tiram lições morais de
histórias que muitas vezes são apenas herança de
tradições e mitos muito mais distantes, vindos de
Babilônia, Suméria ou Egito. Tanto é que a
arqueologia bíblica vem procurando coisas que
muitas vezes foram tratadas pela Igreja de Roma,
que eram mais lendas e tradições adaptadas de
Bíblia e Mistérios
131
outros povos, de tradições solares etc, do que
eventos históricos. Então, Krisha-Cristo, a Suprema
Personalidade de Deus, pode mesmo ser Deus, não
havendo problema em se acreditar nisso. Pois
Cristo é mais que um homem como falamos aqui
nessa obra, e também Krishna supera em muito
qualquer noção de “humano”, uma vez que
sobreviveu as águas do Dilúvio Universal e fim do
mundo, flutuando ainda bebê nessas “águas” de
éter.
Na teosofia tudo isso é tratado de forma
filosófica e científica, sem fanatismos e sem grande
protecionismo. Não que Blavatsky seja anticristã,
mas talvez que via as coisas sobre outro foco. Para
tanto, escreveu algo que parecia revolucionário em
Ísis sem véu, e apoiou seu assistente, Mead, a que
fizesse um estudo aprofundado até as origens do
cristianismo. Também em Besant e mesmo em
Krishanamurti percebemos a preocupação deles
com o credo cristão, e assim levando-nos a grandes
reflexões, a detalhes que antes não percebíamos na
letra. A letra mata e o espírito vivifica. E isso se
refletiu muito em sociedades iniciáticas e no mundo
esotérico. Fato é que esse cristianismo esotérico nos
mostra a amplitude e dimensão extra que se faz o
Evangelho, e que Cristo é muito maior que um
homem que fazia milagres e curas, e que hoje se
usa para ganhar dinheiro. Havia uma dimensão
espiritual e de elevada filosofia em tudo o que o
Bíblia e Mistérios
132
mestre dizia, e assim as parábolas se traduzem,
apesar da linguagem pastoreia ou agrícola, em algo
de metafísica digna de Platão ou Aristóteles. Vemos
que isso foi bem aceito, porque sábios como
Agostinho de Hipona e mesmo Tomás de Aquino
não separavam a filosofia grega do cristianismo.
Surge então a teologia. Vemos assim existe forte
relação entre as religiões, e que o Espírito Santo
não está preso a certa raça, povo ou região do
mundo.
Mesmo que a visão sobre as coisas não seja a
mesma, a teosofia pode nos auxiliar em muito
numa elevada hermenêutica bíblica, em especial a
trechos do Gênese, onde há a referência do início e
do fim do mundo, da Criação e do auxílio dos dian
choans ou anjos nessa tarefa. O próprio termo
Elohim ou mesmo Jeovah, não seria mais que a
nomeação de um desses 7 anjos especiais da
Criação. Também isso se referindo aos “gigantes”, a
Noé o dilúvio e presente tais aspectos na literatura
purânica e hindu. Isso também nos leva a pensar
na cabala e em seu principal livro, no Zohar, onde
detalhes presentes na tradição oral judaica
transparecem, o que na Bíblia se vê exterior, pela
extensão que tomaria um rolo, fosse tudo tratado.
Uma noção cabalística importante é o tzim tzum,
que seria o que a nossa ciência chama de “Big
bang”, essa explosão do início do Universo. Porém a
noção filosófica e cabalística é de que isso é
Bíblia e Mistérios
133
periódico, que vai e volta, não uma coisa única.
Uma pulsação. Isso nos leva a ideia de ciclo. Na
Teosofia Blavatsky fala em “pralaya”, que seria essa
grande noite cósmica, mas não um fim total, mas
recomeço. Se não me engano, até Brahma não
passaria a esse fim do mundo, ou Apocalipse.
Então vemos a relação entre a Bíblia, a ciência e as
ciências ocultas, em grande parte presentes na
teosofia. Isso sem falar de Martinismo, nessa
teosofia estritamente cristã, que nos leva a
compreensão da queda e do Novo Homem, que
encontra em Jesus Cristo seu salvador.
Então, se pensarmos em Besant, na sua obra
Cristianismo Esotérico, vemos que existe uma
dimensão mítica e uma mística na vida de Jesus.
Pensando na mítica, em muito reflete o mito solar e
seu drama, sua passagem pelos 12 signos, ou sua
relação com os doze apóstolos. Também nos mostra
na tradição de outros cultos, como a de Mithra,
fatos iguais ao que ocorrem na vida do mestre
Galileu. Porque o culto supera em muito a vida de
um homem, e Cristo é mais e se relaciona conosco
toda a vida, e mesmo com todo o universo. No
Evangelho de Tomé, o Dídimo, se fala que ele
estaria até em uma madeira, numa pedra etc. Não
longe a noção de Osíris, sua morte e ressurreição
também revelam aquele mistério que seria depois
vivido por Jesus. Apesar de que se fala em um
Jesus egípcio vivendo 100 anos antes, fato é que o
Bíblia e Mistérios
134
saber a que tinha o rabi era em muito superior a
fundamentalismo religioso ou conhecimento
talmúdico. Existe uma busca dele sempre de
revelar a ratio legis, a razão da lei, sua intenção,
não a mera escravidão dos homens a regras, como
se fossem robôs. Jesus foi esse guru, e deste modo
ensinava uma espécie de elevada yoga. Percebemos
isso principalmente na sua transfiguração, que
mostra a dimensão do Homem Celeste (Filho de
Deus), e mesmo quando falava “Eu Sou” para seus
iniciados, os Filhos do Homem, e isso sem falar nos
ensinamentos cósmicos e angélicos presentes nas
parábolas, muitas vezes vistas apenas sob foco
moral. O comportamento dos cristãos se
assemelhava muito a ética oriental e indiana, e
assim estava longe de ser uma busca de poder
temporal ou mero enriquecimento. Porém a
sabedoria era elevada, e em grande escala Jesus
era um cabalista, ou sacerdote segundo a ordem de
Melquisedek. Além de que a doutrina gnóstica fazia
um intercâmbio de filosofia, herdando aspectos de
pitagorismo e neoplatonismo, claramente de
influência egípcia e indiana. A Teosofia viu em meio
a isso tudo o cerne da doutrina de Cristo, e o
aspecto que foi esquecido ou mesmo velado pelas
igrejas institucionalizadas.
Dois “lugares” que na leitura são melhores
definidos lá são o Céu e o Inferno. Em muito
nenhum destes de morada eterna do homem. O
Bíblia e Mistérios
135
inferno seria o kâmâ-lóca, espécie de purgatório ou
astral inferior onde o homem apegado a desejos e
com pesado karma iria purgar essas imperfeições,
iria vivenciar excessos de desejos. Lá habitariam os
demônios e seres responsáveis por essa obra, e que
em muito já não tentariam os sábios ou
iluminados, os quais não entrariam nessa região.
Uma hierarquia natural ou espiritual levaria o
homem para não cair nesse inferno, e preparo, não
a mera conversão ou arrependimento do pecado.
Apesar de que Cristo quando acessado já é em um
nível em que se pode interpretar como esse perdão.
Mas uma existência única não possibilita isso, de
forma alguma. Necessárias se fazem muitas
existências ou encarnações. A doutrina da
reencarnação foi “apagada” em um Concílio por
volta de ano 400, e assim restou que essa palavra
foi adulterada e substituída para ressurreição.
Apesar de que a ressurreição cristã original se devia
a iniciação, como falamos nos capítulos anteriores.
A doutrina da reencarnação é ainda aceita por
judeus, e assim nos mostra que tem tradição, não
sendo mera importação do oriente “pagão”. Para
judeus chama gilgul, apesar de ser vista de forma
diferente. O mesmo se diga de Céu. Esse Céu
espiritual é para teosofistas o Devakan, e assim
algo que é conquistado por merecimento e evolução,
não mero estado instantâneo ou automático,
também se exigindo vidas para tal e encarnações
Bíblia e Mistérios
136
múltiplas. Chamam esse Devakan ainda de “Céu
inferior”, um lugar ou estado de consciência onde
se tem descanso, alegria, amor, felicidade etc, o que
foi idealizado em vida. Quando Jesus desce ao
inferno, claro fica que ele passou por algo não feito
para a eternidade dos seres, mas uma fase e
dimensão compatível com cada um, um local
adaptado ao veículo astral, um plano. Já o céu
superior é encontro com as crenças religiosas
puras, e com o Egrégora, o que se acreditou, de
modo que se passa pouco tempo nesse estado, a
não ser que se seja muito evoluído. A maior parte
das pessoas passa pouco tempo em Devakan, e
nada em céu superior, podendo-se dizer que eles
vão para o inferno. Mas sempre voltam e tem a
oportunidade de evoluírem, como fizeram os
grandes mestres e iluminados. O astral inferior ou
inferno é descrito em filmes e livros espíritas, e
também outros descrevem o além túmulo como
Swedenborg, mesmo antes. Já Sócrates falava que
se devia evoluir pelas encarnações e rememorar as
anteriores, a fim de se encontrar a sabedoria. A
Bíblia em diferentes passagens parece aderir à
crença, mesmo em transfiguração de Cristo, ou em
semelhanças entre patriarcas, ou mesmo quando
vemos a evolução de um Eliseu e Elias. Não se deve
exigir o Céu de uma pessoa de alma jovem, como se
faz de uma que já viveu em muitas oportunidades.
Bíblia e Mistérios
137
Outro autor que se deve menção é Max Heindel,
que em grande parte concilia a visão teosófica a
cristã. A possibilidade do homem ter passado por
evolução diversa daquela descrita por Darwin, e
mesmo as raças que evoluem, o aspecto do “corpo”
que usou Cristo após a ressurreição, o mito solar e
muitas coisas são ali descritas em sua obra. Que
teria existido um homem vegetal e mineral, está
bem centrado numa ciência oculta, e isso justifica a
“solidão” de Adão no início do livro de Gênese.
Também a androgenia, bem como uma série de
detalhes que já falei na obra Bíblia e Misticismo,
estão claramente descritas na obra do autor. O
corpo astral a que me referi em capítulo anterior
eles chamam de “corpo de desejo”, o que parece
muito semelhante ao perispírito dos espíritas. Vale
ressaltar que Jesus teria usado um veículo astral
superior, o “corpo vital”, na ocasião de andar sobre
as águas, e na ocasião após sua ressurreição e
aparição aos discípulos, a Maria etc. Alguém pode
falar que ele ingeriu carne de peixe e abraçou,
mostrou feridas etc. Mas sabemos que os veículos
superiores podem muitas coisas, inclusive se
materializarem. Uma doutrina esotérica e de várias
vertentes, é a memória da natureza, ou akásica, e
essa também se fala na teosofia, sendo espécie de
“nuvem” virtual onde os mestres acessam a história
do mundo, da Criação etc. Também o homem
através de suas encarnações, 777, teria uma
Bíblia e Mistérios
138
memória permanente que não morre, que estaria no
átomo-semente do coração. Isso tudo leva a um
cristianismo teosófico superior, a uma
característica pouco notada e estudada, mas que
em muito revela os mistérios a que estamos
descrevendo nesse livro. Também Heindel fala que
os órgãos sexuais não terão mais função quando o
homem evoluir e usar apenas esse “corpo vital”, e
assim daria significado literal aquela passagem que
diz que no Reino não haverá mais esposos e
esposas. Apesar de que o mundo espiritual já não
necessita de reprodução sexuada. A teosofia fala
também da raça atlante, e aqui em Heindel se fala
em Noé como o sobrevivente de lá, sendo que o
homem teria outra constituição, e espécie de
guelras, a fim de viver em um vapor muito forte,
impedindo outros de respirar. Uma classificação de
7 raças e da evolução através das mesmas, em
rondas, faz da doutrina algo bem teosófica. Ocorreu
uma involução (queda) e assim ocorre uma
evolução (salvação). Põe papel central na evolução
da humanidade feita pelo cristianismo. Porque
defende a Nova Era e essa é de amor e unificação
de religiões, estando Cristo acima de religião racial,
nacional etc. Devemos para tudo isso então
trabalhar nosso corpo vital e assim estarmos ao
lado de Jesus Cristo e podermos o ver, ou ele nos
ver, senão alguém dirá: Senhor, Senhor... sem que
seja reconhecido, Naquele Dia. Os períodos
Bíblia e Mistérios
139
evolutivos seriam 7 até Deus, um caminho da
iniciação. Vai da inconsciência a super-consciência.
O interessante na doutrina teosófica ou
rosacruz de Heindel, esse teósofo cristão, é que
após a morte do corpo físico devemos rememorar
toda a vida, como um filme que se repete, e
chamando isso de Purgatório. Rompe-se o cordão
de prata, esse feixe energético a que possuímos
para o corpo vital, e assim o mesmo se solta do
corpo físico, na transição. Há o exercício da
memória, que seria todos os dias, antes de dormir,
rever o que ocorreu no dia, a fim de superar essa
fase de purgatório, e assim economizar tempo na
caminhada evolutiva. E há a tríplice alma, que deve
ser assim desenvolvida. A evolução é da alma.
Também os anjos seriam seres de uma ronda
anterior de evolução, que teriam falhado no papel
(por isso caído..), e para tanto ainda agora
colaborando conosco para que não façamos o
mesmo erro. E esses anjos agora cuidam
especialmente do reino vegetal, e os animais são
mais evoluídos no presente do que quando nós
fomos animais. Na próxima fase evolutiva seremos
anjos. Fato é que em muito Cristo no começo do
cristianismo era tido como um anjo. O auxílio de
Gabriel, Miguel, Rafael e tantos outros é
inquestionável na Bíblia. Vemos sempre sua
presença em colunas de fogo, de fumaça, em
proteção dos homens de Deus etc. As doutrinas
Bíblia e Mistérios
140
mais avançadas em estudos se referem aos anjos. A
Merkabah ou o estudo da roda de Ezequiel, a que
tentei dar pincelada em meu comentário, bem como
os animais ou bestas do Apocalipse, e tantas
passagens da Bíblia, referem-se a esse complexo
tema angelical. Os cabalistas falavam que estudar
essa roda era apenas para anciãos ou homens de
muita sabedoria, sendo temerário se falar no tema.
Mas a escada de Jacó nos mostra que essa
hierarquia celeste deve ser vista ou conhecida no
fim dos tempos, e que para alguns já estaríamos
neles. Não se refere a centenas de anos, e nem a
milhares, mas a milhões de milhões, pela teosofia
(4.320.000.000.000), ou mais. Por isso de se falar
no dia do Juízo como algo que nem o filho sabe. Os
cataclismos se dariam nas mudanças de eras, ou
das rondas, os “dias da Criação” descritos no
“Conceito Rosacruz do Cosmo”, e assim em Pralaya,
nessa noite de Brahma. Mesmo a ciência coloca a
origem do universo em 13 bilhões de anos, o que
parece ser também um equívoco, pois o tempo
parece variar e isso parece apenas sob nosso ponto
de vista. O espaço-tempo é relativo, e nem
precisamos lembrar-nos de Einstein para
pensarmos que esse tempo tem de ser mais
estudado. Então os veículos que desenvolvemos
permite superar e evoluir nessas rondas,
acompanhando o Senhor que nos mostra o
caminho, Deus encarnado, a fim de nos salvarmos
Bíblia e Mistérios
141
da destruição. Noé foi um exemplo, esse Manu que
era ao mesmo tempo filho de Titãs ou gigantes,
sendo esses gigantes descritos na Bíblia. E todo o
esforço, por menor que seja, como a misericórdia,
compaixão, caridade, em uma palavra, amor, faz de
nós cristãos melhores, podendo conhecer mais, o
que não significa a árvore da morte (que seria o
“outro lado”), uma vez que assim afastamos os
demônios. A teosofia é de todo útil, e nos leva
àquelas dimensões a que perdemos, de
hermenêutica avançada e simbólica, mais fiel ao
original, ao que formularam essênios, gnósticos e
cabalistas. A Bíblia é assim entendida, fazendo com
que tenhamos mais sua letra em nosso coração, e
sua sabedoria sempre viva em nossas vidas. Saber
respeitar as outras religiões e raças, faz de nós
melhores pessoas, e assim a Teosofia nos leva a
repensar o cristianismo sob um enfoque mais
cósmico, e ao mesmo tempo de uma elevada yoga
interior.
Bíblia e Mistérios
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