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- 240 - Avaliação de Competências para a Diversidade Individual e Cultural: Desenvolvimento de uma medida comportamental para profissionais de saúde mental 1 Individual and cultural competencies evaluation: Development of a behavioural analogue measure for clinicians Jaclin’ Freire, Carla Moleiro, Diana Farcas, Nuno Pinto, Sandra Roberto, Catarina Pereira e Marta Gonçalves ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa/ CIS (Centro de Investigação e Intervenção Social) (Portugal) Palavras-chave: analogue study, métodos qualitativos, competências individuais e culturais. Key words: analogue study, qualitative methods, multicultural competencies. Os instrumentos de auto-relato tornaram-se num dos principais métodos de recolha de dados no contexto da avaliação das competências dos profissionais de saúde mental no trabalho com os clientes/pacientes de grupos minoritários (Worthington, et al, 2000; Constantine & Ladany, 2001; D’Andrea, Daniels & Noonam, 2003; Ponterotto & Potere, 2003; Hays, 2008). Apesar das inúmeras vantagens destes métodos de avaliação, as suas limitações são também reconhecidas, tais como a ausência de associação entre competências reais e percebidas, e a influência da desejabilidade social no comportamento dos participantes (Neufeldt, Moleiro, Yang, Pinterits, Lee, & Brodie, 2006). Na expectativa de reduzir estas possíveis limitações, este estudo pretende desenvolver uma medida comportamental (vídeos de curta- metragem), utilizando um método qualitativo para avaliar o impacto na relação psicoterapêutica e na conceptualização do caso/tratamento com clientes de grupos minoritários (tais como imigrantes). Pretende-se ainda avaliar a validade concorrente desta medida analógica, examinando a sua relação com um instrumento de auto-relato breve (CIDCI – Versão Psicoterapeutas, CIDCI-T), desenvolvido no contexto do projecto “Saúde Mental, Diversidade e Multiculturalismo”. Até à presente data, o questionário CIDCI-T foi administrado a 80 profissionais de saúde mental (psicólogos e psicoterapeutas) que relataram moderadas competências multiculturais percebidas. Foram exploradas as correlações com variáveis como: o número de anos de experiência clínica, ter tido formação específica no contexto da diversidade cultural e individual, e a própria pertença a grupos minoritários. Os resultados preliminares são discutidos. 1 O presente estudo foi desenvolvido no âmbito do Projecto de Investigação financiado pela FCT: PTDC/PSI/71893/2006 “Saúde Mental, Diversidade e Multiculturalismo: Para a integração de necessidades específicas de grupos minoritários e competências multiculturais dos técnicos”, coordenado pela Professora Doutora Carla Moleiro (CIS/ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa).

Avaliação de Competências para a Diversidade Individual e Cultural: Desenvolvimento de uma medida comportamental para profissionais de saúde mental

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Avaliação de Competências para a Diversidade Individual e

Cultural: Desenvolvimento de uma medida comportamental

para profissionais de saúde mental 1

Individual and cultural competencies evaluation: Development of a behavioural analogue

measure for clinicians

Jaclin’ Freire, Carla Moleiro, Diana Farcas, Nuno Pinto, Sandra Roberto,

Catarina Pereira e Marta Gonçalves

ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa/ CIS (Centro de Investigação e Intervenção Social) (Portugal)

Palavras-chave: analogue study, métodos qualitativos, competências individuais e culturais.

Key words: analogue study, qualitative methods, multicultural competencies.

Os instrumentos de auto-relato tornaram-se num dos principais métodos de recolha de dados no contexto da avaliação das competências dos profissionais de saúde mental no trabalho com os clientes/pacientes de grupos minoritários (Worthington, et al, 2000; Constantine & Ladany, 2001; D’Andrea, Daniels & Noonam, 2003; Ponterotto & Potere, 2003; Hays, 2008). Apesar das inúmeras vantagens destes métodos de avaliação, as suas limitações são também reconhecidas, tais como a ausência de associação entre competências reais e percebidas, e a influência da desejabilidade social no comportamento dos participantes (Neufeldt, Moleiro, Yang, Pinterits, Lee, & Brodie, 2006).

Na expectativa de reduzir estas possíveis limitações, este estudo

pretende desenvolver uma medida comportamental (vídeos de curta-metragem), utilizando um método qualitativo para avaliar o impacto na relação psicoterapêutica e na conceptualização do caso/tratamento com clientes de grupos minoritários (tais como imigrantes). Pretende-se ainda avaliar a validade concorrente desta medida analógica, examinando a sua relação com um instrumento de auto-relato breve (CIDCI – Versão Psicoterapeutas, CIDCI-T), desenvolvido no contexto do projecto “Saúde Mental, Diversidade e Multiculturalismo”. Até à presente data, o questionário CIDCI-T foi administrado a 80 profissionais de saúde mental (psicólogos e psicoterapeutas) que relataram moderadas competências multiculturais percebidas. Foram exploradas as correlações com variáveis como: o número de anos de experiência clínica, ter tido formação específica no contexto da diversidade cultural e individual, e a própria pertença a grupos minoritários. Os resultados preliminares são discutidos.

1 O presente estudo foi desenvolvido no âmbito do Projecto de Investigação financiado pela FCT: PTDC/PSI/71893/2006 “Saúde Mental, Diversidade e Multiculturalismo: Para a integração de necessidades específicas de grupos minoritários e competências multiculturais dos técnicos”, coordenado pela Professora Doutora Carla Moleiro (CIS/ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa).

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

- 241 -

Self-report methodologies, in particular written self-repport questionnaires, have been the primary method of data collection of clinicians’ competencies in working with individually and culturally different clients (Worthington, et al, 2000; Constantine & Ladany, 2001; D’Andrea, Daniels & Noonam, 2003; Ponterotto & Potere, 2003; Hays, 2008). Despite the main advantages of these assessing methods, their limitations are also recognized, such as the difference between perceived and real competence, and the influence of the social desirability in the participants’ behaviour (Neufeldt, Moleiro, Yang, Pinterits, Lee, & Brodie, 2006). In the expectation of reducing such limitations, we intent to develop an analogue measure (i.e. video presentation of client complaint), using a qualitative method to assess the impacts of cultural characteristics in the therapeutic relationship and interventions with a possible minority client, in a small sample of clinicians participants. We also aim to evaluate the concurrent validity of this analogue measure by examining its correlation with a brief self-report instrument (CIDCI – Psychotherapists Version, CIDCI-T), developed in the context of a larger project on Multicultural Competencies. The data collection of the CIDCI-T is still ongoing at this time. To date, the questionnaire CIDC-T was administered to 80 mental health professionals (i.e. psychologists and psychotherapists) who reported moderate to high multicultural competence. We explored the correlations with some variables (i.e. the number of years of clinical experience; training in cultural and individual diversity; perceive themselves as belonging to minority groups). Preliminary results are discussed.

MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

- 242 -

1 INTRODUÇÃO

À semelhança do que é o panorama Europeu, o fenómeno da imigração portuguesa tem

desempenhado um papel crescente na dinâmica demográfica, quer no contexto do

crescimento populacional, quer na atenuação do ritmo de envelhecimento demográfico

(Rosa, Seabra & Santos, 2004; Coelho, Magalhães, Peixoto & Bravo, 2008).

Até 1980, a imigração nunca atingiu valores superiores a 50 mil residentes. No entanto,

entre 1986 e 1997 o número de estrangeiros duplicou, passando de 87 mil para 175 mil,

segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Mais recentemente, em

2000, os registos referenciavam a existência de mais de 200 mil residentes estrangeiros

em Portugal (Falcão, 2002; Rosa, et al, 2004; INE, 2008). Os dados referentes à última

década, tal como são apresentados na Tabela 1, exemplificam o crescimento contínuo da

população imigrante/estrangeira em Portugal. Actualmente e de acordo com os dados do

INE (2008), o número de imigrantes/estrangeiros com estatuto legal de residente em

Portugal ascende os 435 mil.

Tabela 1. População estrangeira com estatuto legal de residente em Portugal (2000-2008).

Período de referência dos dados (2000-2008)

2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000

436.020 401.612 332.137 274.631 263.322 249.995 238.929 223.997 207.587

(Fonte: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001236&contexto=pi&selTab=tab0,

quadro extraído em 14 de Junho de 2010).

De acordo com os dados actuais, a imigração em Portugal é representada por: (1) uma

parte significativa de estrangeiros originários dos países europeus; (2) a manutenção dos

fluxos migratórios provenientes das antigas colónias portuguesas, nomeadamente dos

PALOP; (3) nos últimos anos, um aumento particularmente expressivo de imigrantes

provenientes da América do Sul, com uma maior representatividade brasileira e (4)

finalmente uma crescente procura de indivíduos provenientes do continente asiático

(Machado, 1997; INE, 2008).

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

- 243 -

Tabela 2. População estrangeira com estatuto legal de residente (local de residência e nacionalidade, 2008).

Local de residência (NUTS - 2002) Europa África América do Norte

América Central e do Sul

Ásia Oceânia Apátrida

Portugal 166025 125671 2944 112605 28425 264 31

Continente 160822 124291 2613 109244 27814 243 31

Região Autónoma dos Açores 1243 796 497 948 245 1 0

Região Autónoma da Madeira 3960 584 70 2177 366 20 0

(Fonte: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001236&contexto=pi&selTab=tab0,

quadro extraído em 14 de Junho de 2010).

No entanto e longe de ser uma questão exclusiva do campo demográfico, a imigração

contribui diariamente para as constantes mudanças ao nível populacional, social, étnico,

cultural e religioso, no seio da sociedade portuguesa. Não surpreende, por isso, que as

perspectivas de abordagem às questões das migrações se tenham multiplicado, sendo

tema de discussão e investigação da sociologia à demografia e à geografia humana, das

ciências políticas à psicologia, da história ao direito (Lages, Policarpo, Marques, et al.,

2006). Esta intensidade e o ritmo com que se diversificou, bem como o impacto que

teve nos diversos domínios da sociedade, atribuem-lhe um relevo que não passa

despercebido ao cidadão, às instituições privadas lucrativas, às instituições públicas, às

instituições privadas não lucrativas e à comunidade científica (Tomás, 2009).

O fenómeno do “multiculturalismo”, tal como referem D'Andreia et al, (2003),

representa, actualmente, uma poderosa força sociopolítica e teórica no seio das

sociedades, em geral, e nos contextos mais específicos como é a saúde, o mercado de

trabalho, a educação, a psicologia e a psicoterapia. Os mesmos autores reforçam que

grande parte do impulso para a emergência do multiculturalismo como uma nova força

sociopolítica e profissional deve-se essencialmente (1) às mudanças demográficas

anteriormente referidas e (2) ao crescimento da consciência de que os profissionais de

saúde física e mental, professores e assistentes sociais devem adquirir novas e melhores

competências, de modo a tornar o seu trabalho mais “cultural e etnicamente eficaz”.

Considerando a natureza essencialmente interpessoal do processo de psicoterapia e a

diversidade cultural os/as psicoterapeutas enfrentam, frequentemente, novos desafios na

gestão das semelhanças e diferenças na relação terapêutica (Moleiro & Pinto, 2009). É

de esperar que, de modo a aumentar a sua actividade profissional futura, relevância e

MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

- 244 -

respeitabilidade, os profissionais de saúde mental, os/as psicoterapeutas em particular,

procurarem tornar-se “culturalmente” mais competentes no seu trabalho com indivíduos

dos diferentes grupos minoritários, quer seja étnico/cultural, sexual, religioso, ou outros

(D'Andreia, et al, 2003).

Hays (2008) refere que se torna imperativo que os clínicos explorem a maneira como a

diversidade afecta todo o processo psicoterapêutico, minorando o impacto que as

realidades sociopolíticas têm sobre o desenvolvimento identitário das minorias (ex.

experiências de opressão), que frequentemente são reflectidas e perpetuadas na relação

psicoterapêutica.

É de salientar que, de acordo com a Organização Internacional para a Migração, da

Organização Mundial de Saúde (IOM, 2009) e autores em vários países (Canadá -

Gushulak, Pottie, Roberts, et al, 2010; E.U.A - Alegria et al, 2009; Portugal - Moleiro,

Silva, Rodrigues & Borges, 2009), as pessoas de grupos minoritários enfrentam maiores

dificuldades no acesso aos serviços de saúde em geral, não sendo a saúde mental uma

excepção. A par das dificuldades no acesso, os serviços prestados são inadequados, a

procura é menor, mesmo admitindo que são um grupo com uma exposição elevada a

factores de risco no desenvolvimento de problemas de saúde, quer ao nível físico, quer

psicológico (como experiências de discriminação e preconceito; Zane, Hall, Sue, Young

& Nunez, 2004).

Cresce, deste modo, a necessidade de compreender, eficazmente, o que significa ser

“culturalmente competente” em termos clínicos, como avaliar as “competências

multiculturais” dos profissionais, como adquiri-las ou planear formação, e por último,

aplicá-las no contexto clínico. Tal como Sue (1998) refere, as diferenças “culturais”

existentes entre os psicoterapeutas e os seus clientes de grupos minoritários podem

afectar o processo terapêutico de diversas formas, desde a validade e fiabilidade dos

instrumentos de avaliação psicológica, à confiança na relação terapêutica e eficácia do

tratamento/intervenção.

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

- 245 -

2 COMPETÊNCIAS MULTICULTURAIS

Ao longo das últimas décadas, o interesse pela compreensão das competências

multiculturais tornou-se um tema central e constante nas investigações e estudos

desenvolvidos no âmbito do apoio clínico nos Estados Unidos da América (Sue, 1998;

Constantine & Ladany, 2001; Sue, Zane, Hall & Berger, 2009). Esses trabalhos têm

abrangido essencialmente a definição/conceptualização, operacionalização e avaliação

do constructo (D'Andreia, et al, 2003).

Em primeiro lugar, convém salientar, que o termo “cultura” representado no conceito

multicultural foi, inicialmente, utilizado com referência às questões étnicas e raciais do

contexto americano, tendo sido posteriormente alargado e associado ao termo

diversidade, de modo a abranger outros grupos minoritários e discriminados, tendo em

conta características como a religião, género, deficiência, orientação sexual (Arredondo,

Toporek, Brown, Jones, Locke, Sanchez & Stadler, 1996; Constantine & Ladany, 2001;

Sommers-Flanagan & Sommers-Flanagan, 2004; Gonçalves & Moleiro, submetido).

Apesar dos inúmeros estudos, investigações e orientações da APA (1993; 2000; 2002;

2003) publicados em resultado do crescente interesse pela diversidade cultural na

prática clínica da psicoterapia nos E.U.A., esta área é relativamente nova, tendo sido

necessário a estruturação de todo um corpo teórico, que abrange questões como a

conceptualização, operacionalização e avaliação do constructo (D'Andreia, et al,

2003).

2.1 CONCEPTUALIZAÇÃO

Os primeiros passos para a conceptualização das competências multiculturais foram

dados pela AMCD-ACA2, bem como na diferenciação de outros conceitos como

“transculturalidade”, e “interculturalidade” (Sommers-Flanagan & Sommers-Flanagan,

2004). Por agora, o nosso principal foco reside na compreensão e conceptualização das

“competências multiculturais”.

2Association for Multicultural Counseling and Development – American Counseling Association

MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

- 246 -

Em relação ao constructo em si, convém referir que este pode ser definido tendo em

conta três níveis de análise (Sue, et al, 2009): (1) relação “profissional/cliente” e do

tratamento/intervenção; (2) institucional/serviços; (3) ao nível sistémico ou comunitário.

É de salientar, igualmente, que o desenvolvimento conceptual deste conceito ainda se

encontra em expansão, acompanhando o curso dos resultados obtidos em diversos

estudos e investigações levados a cabo no âmbito da saúde mental (D'Andreia, et al,

2003; Hays, 2008; La Roche & Christopher, 2010, citados por Gonçalves & Moleiro,

submetido).

No entanto, e apesar dos inúmeros esforços, nenhuma das definições de competência

multicultural apresentadas até agora é universalmente aceite (Johnson, Saha, Arbelaez,

Beach & Cooper, 2004). Não obstante, e tendo em conta as diversas definições em uso

actualmente, parece ser comum que o ponto fulcral para a conceptualização do termo

reside na capacidade dos profissionais de saúde (física e mental) (1) compreenderem e

reconhecerem a sua própria cultura, examinar as suas crenças e atitudes em relação às

outras culturas, (2) entender como as diversas formas de opressão influenciam a relação

terapêutica, (3) compreender e aceitar genuinamente outras normas culturais e sistemas

de valores, e (4) habilmente utilizar competências para proceder a avaliações e

intervenções culturalmente apropriadas (Constantine & Ladany, 2001; Burckhardt &

Sánchez, 2006; Hays, 2008; Sue, et al, 2009). Desta forma, tal como Sue e Sue (2003,

citado por Hays, 2008) referem, “psicoterapeutas culturalmente competentes são

aqueles que têm consciência dos seus valores e preconceitos, compreendem e aceitam

genuinamente as perspectivas dos clientes e intervêm de uma maneira culturalmente

apropriada” (p. 95).

No entanto, alguns autores (como Neufeldt et al, 2006) salientam que o interesse pelas

questões multiculturais não significa que “os psicoterapeutas devam prestar tanta

atenção às questões da diversidade, ao ponto de perderem de vista as questões

essenciais da prática clínica” (p. 465). Pelo contrário, o papel das competências

multiculturais, que pode ser conceptualizado em termos organizacionais, estruturais

e/ou clínicos (Johnson, et al, 2004) deve ser visto como um “meio para ultrapassar as

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

- 247 -

barreiras que impedem o acesso aos serviços de saúde pública” (Burckhardt &

Sánchez, 2006, p. 52), sem prejuízo da qualidade clínica.

2.2 MODELO TRIDIMENSIONAL

A par dos esforços para a conceptualização das competências multiculturais, foram

dados também os primeiros passos para a operacionalização deste constructo. Sue,

Arredondo e McDavis em 1992, propuseram as 10 competências transculturais,

recomendadas pela APA como critérios para a acreditação dos programas de formação

de psicólogos, em 31 competências multiculturais, que se traduzem na capacidade dos

psicoterapeutas para trabalharem com clientes culturalmente diferentes, sustentada num

modelo tridimensional: (1) Consciência; (2) Conhecimento; (3) Competências

específicas, apresentada a seguir na Tabela 3:

Tabela 3. Modelo Tridimensional das Competências Multiculturais (Sue, Arredondo & McDavis, 1992)

Consciência Conhecimento Competências específicas

Esta primeira dimensão faz

referência à auto e hetero-

consciência que o profissional de

saúde tem das suas próprias

atitudes, comportamentos, crenças,

valores e preconceitos. Isto é, “ter

esta consciência” significa e

implica explorar o self enquanto

ser cultural e avaliar o impacto que

os seus próprios valores e

preconceitos podem ter na relação

terapêutica com clientes

culturalmente diferentes.

A dimensão “Conhecimento” retrata

a informação e compreensão que o

profissional tem acerca dos grupos

minoritários (a sua historia, valores,

práticas, processos de discriminação

e estigmatização, bem como dos

modelos de aculturação e/ou

desenvolvimento da identidade,

entre outros) e o impacto destas

variáveis no bem-estar físico e

psicológico dos mesmos. No que se

refere à saúde mental, torna-se

também importante ter

conhecimento sobre possíveis

síndromes e intervenções específicos

da cultura de origem dos clientes.

Por último, a terceira dimensão

refere-se à capacidade de um

profissional (de saúde) em traduzir a

sua consciência e o conhecimento

cultural adquirido em intervenções

sensíveis à diversidade, com a qual

se depara em contexto clínico.

Significa, em termos práticos,

avaliar e intervir ética e eficazmente

com clientes minoritários, tendo

presente os possíveis efeitos das

características “culturalmente”

diferentes, nos processos de

diagnóstico e elaboração de um

plano terapêutico.

Fontes: Sue, et al, (1992); Arredondo, et al, (1996); Arredondo (1999); Worthington, Mobley, Franks e Tan (2000); Sue (2001); D'Andreia, et al, (2003); Ponterotto e Potere (2003). Sommers-Flanagan e Sommers-Flanagan (2004); Burckhardt e Sánchez (2006); Maxie, Arnold & Stephenson (2006); Neufeldt, et al, (2006); Hays (2008); Moleiro, et al, (2009); Sue, et al, (2009).

MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

- 248 -

Figura 1: Modelo Multi-dimensional das competências culturais.

Fonte: Sue (2001:792).

Posteriormente, considerou-se importante desenvolver um quadro conceptual mais

amplo destas competências, com objectivo de se fornecer orientação para à prática,

educação, formação e investigação. Neste sentido, Sue (2001) expandiu este modelo,

organizando-o da seguinte forma:

• Dimensão 1 – Características raciais e culturais específicas dos grupos

minoritários.

• Dimensão 2 – Componentes da competência cultural;

• Dimensão 3 – Níveis da competência cultural.

Com base num design 3x4x5, o modelo (Figura 1) permite a identificação sistemática

de competência cultural numa série de combinações, sendo que cada célula representa

uma confluência das três principais dimensões.

Por outro lado, mas no mesmo ano, Trujillo (2001, citado por Gonçalves & Moleiro,

submetido) complementou o modelo original, ao propor a extensão da perspectiva

individual do modelo tridimensional para um nível mais organizacional (serviços de

saúde, e em particular os de saúde mental e suas equipas). De acordo com este modelo

os serviços de saúde ou organizações podem ser caracterizados tendo em conta 4

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

- 249 -

estádios de desenvolvimento de competências interculturais, apresentados a seguir na

Tabela 4:

Tabela 4. Competências Interculturais em Serviços de Saúde Mental (Trujllo, 2001).

Crença de

Base

Atitude &

Consciência

Conhecimento

Básico

Competências

Clínicas

Equipas e

Recursos

Humanos

Cegueira

Cultural

Inexistência

de diferenças

Universalidade

da intervenção

generalista

Modelos de

intervenção

generalista

Competências de

intervenção

generalista

Generalistas

Pré-

Competênci

a Cultural

Reconhecime

nto de

diferenças

Curiosidades e

experiencia de

diferenças

Conhecimento

cultural básico

Atenção mínima

a aspectos

diagnósticos e

clínicos

Manifestação de

esforços para

treinar a equipa

Competênci

a Cultural

Reconhecime

nto de

diferenças

Expansão da

consciência da

diversidade

Adaptação a

necessidades

específicas

Desenvolvimento

contínuo de

competências

Integração de

membros

minoritários e

bilingues

Nív

el d

e D

esen

volv

imen

to d

e C

ompe

tênc

ias

Inte

rcul

tura

is

Proficiência

Cultural

Reconhecime

nto de

diferenças

Procura de

novas

contribuições

à literatura

Desenvolvimento

de novo

conhecimento

Desenvolvimento

de novas

competências

Participação no

desenvolviment

o de políticas

sensíveis à

diversidade

(Adaptado de Gonçalves & Moleiro, submetido).

Resumidamente, o autor explica o desenvolvimento das competências interculturais nos

serviços de saúde da seguinte forma:

(1) “Cegueira cultural”: este estádio é caracterizado pela crença básica de que

a cultura não tem qualquer importância nos processos de estabelecimento da

relação terapêutica, avaliação, diagnóstico e intervenção com clientes de

grupos minoritários;

(2) “Pré-competência cultural”: neste estádio começam a ser reconhecidas as

diferenças culturais, procura-se conhecer a cultura dos clientes que utilizam

os serviços e desenvolvem-se competências básicas dirigidas a essas

MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

- 250 -

populações, através de formações, muitas vezes denominadas de “acções de

sensibilização”;

(3) “Competência cultural”: há um maior envolvimento na formação contínua

sobre diversidade cultural neste estádio, em que as intervenções são

adaptadas às necessidades e especificidades dos grupos minoritários e em

que os próprios serviços são constituídos por indivíduos pertencentes aos

grupos minoritários, mediadores culturais ou interpretes;

(4) “Proficiência cultural”: os serviços neste estádio são caracterizados pela

constante procura e motivação para o desenvolvimento de conhecimento,

práticas e políticas que sejam sensíveis à diversidade cultural, bem como

investem na promoção e divulgação de boas práticas para outros serviços e

comunidades abrangentes (adaptado de Gonçalves & Moleiro, submetido).

Finalmente, convém referir que, apesar de o modelo ter sido desenvolvido

especificamente para serviços de saúde mental, este poderá ser também útil a qualquer

serviço/instituição que trabalhe em contexto de diversidade cultural e individual

Gonçalves & Moleiro, submetido).

2.3 AVALIAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS MULTICULTURAIS

Tendo, sumariamente, abordado às questões “o que significa competência

multicultural?” e “o que significa ser culturalmente competente”, torna-se necessário

avançar para questões relacionadas com a avaliação dessas mesmas competências.

Tal como salientado anteriormente, perante um crescimento tão rápido da diversidade

individual e cultural no contexto clínico da psicoterapia, os profissionais necessitam

adquirir novas e melhores competências para trabalhar ética e eficazmente com grupos

minoritários, tornando-se igualmente importante compreender: (1) como avaliar a

competência multicultural (avaliação qualitativa ou quantitativa; individual ou em

grupo; instrumentos de auto-relato ou observação); (2) quais os instrumentos

disponíveis para avaliar este constructo e, mais importante, (3) conhecer e confiar nas

características dos instrumentos (adaptabilidade; precisão ou fidedignidade nos valores

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

- 251 -

quanto à homogeneidade e estabilidade dos resultados; validade) (Dunn, Smith &

Montoya, 2006).

Pelas razões acima descritas compreende-se a razão pela qual a pesquisa no âmbito da

avaliação de competências multiculturais se tornou num “marco da literatura de

aconselhamento multicultural” (Reynolds 2001, citado por Dunn, et al, 2006;

Worthington, et al, 2000; Constantine & Ladany, 2001; Ponterotto & Potere, 2003;

Hays, 2008).

Sendo assim, e no seguimento do crescente interesse pela avaliação das competências

multiculturais, vários investigadores desenvolveram um conjunto de instrumentos com

o propósito de avaliar a competência multicultural, quer dos profissionais de saúde

mental em prática clínica, quer dos que ainda se encontram em formação (D'Andreia, et

al, 2003).

Dentre os instrumentos desenvolvidos, incluem-se metodologias de auto-relato que, ao

longo das últimas décadas, se tornaram no principal método para avaliar a competência

multicultural (Constantine & Ladany, 2001; Neufeldt et al, 2006; Hays, 2008), muito

por causa das suas inúmeras vantagens (ex. facilidade na administração; baixo custo;

rapidez; possibilidade de quantificação relativamente precisa; acesso à perspectiva do

próprio participante; utilização em situações em que a observação não é possível)

(Barker, Pistrang & Elliott, 2002).

No entanto, e apesar das inúmeras vantagens destes métodos de avaliação, as suas

limitações também são reconhecidas (D'Andrea, Daniels & Noon, 2003, Ponterotto &

Potere, 2003; Hays, 2008), tais como a falta de informações referentes às propriedades

psicométricas dos questionários; a influência da desejabilidade social no

comportamento dos participantes, facto destas medidas de auto-relato poderem reflectir

o comportamento “ideal/antecipado” ao invés de comportamentos e atitudes reais.

(Worthington, et al, 2000; Constantine & Ladany, 2001; Neufeldt et al, 2006).

MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

- 252 -

3 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E OBJECTIVOS DO ESTUDO

De um modo global, pretende-se com o presente estudo contribuir para a discussão

sobre a psicoterapia com clientes de grupos minoritários em Portugal, na tentativa de

estimular uma linha de investigação, que esperamos, vir a resultar em práticas mais

sensíveis à diversidade individual e cultural. No que se refere aos objectivos específicos

pretende-se:

Estudo 1: Desenvolver uma primeira versão de um instrumento de auto-relato (CIDCI-

T), explorar as suas propriedades psicométricas e avaliar preliminarmente as suas

dimensões e sensibilidade.

Estudo 2: Desenvolver uma medida comportamental (analogue study), através da

utilização de um método qualitativo (apresentação de vídeos) para avaliar os possíveis

impactos das características culturais na relação e intervenção psicoterapêuticas com um

possível cliente e avaliar a validade concorrente desta medida, examinando a sua

relação com um instrumento de auto-relato breve (CIDCI-T), desenvolvido no contexto

do Projecto: “Saúde Mental, Diversidade e Multiculturalismo”.

4 METODOLOGIA

Tal como foi referido no ponto anterior, este estudo apresenta o desenvolvimento de 2

investigações diferentes, sendo a metodologia respectiva a cada uma apresentada

separadamente e de seguida:

4.1 ESTUDO 1: ESTUDO PILOTO DO CIDCI (VERSÃO

PSICOTERAPEUTAS)

Participantes: No presente estudo participaram 80 profissionais de saúde mental (entre

eles psicólogos e psicoterapeutas) caracterizados por serem maioritariamente do sexo

feminino (85%), com idades compreendidas entre os 23 e os 58 anos (idade média de

30.95 anos, dp = 6.99). Quando questionados acerca da sua prática de trabalho em

psicologia/psicoterapia (anos de experiência clínica), os resultados variaram desde os 0

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

- 253 -

aos 29 anos, com uma média de 4.45 anos (dp = 4.87), sendo que 80% dos inquiridos

revelam não ter tido qualquer formação específica sobre a diversidade cultural e

individual ao longo da sua carreira académica e ou profissional, tal como indicado na

Tabela 5.

Tabela 5: Dados Demográficos da amostra (N =80).

Total % Total %

Idade Sexo 23-32 anos 56 70% Masculino 11 14%

33-42 anos 17 21% Feminino 68 85%

43-52 anos 6 8% Não identificado 1 1%

<53 anos 1 1% Total 80 100%

Total 80 100%

Estado civil ou relacional Nível de escolaridade obtido Solteiro(a) 48 60% Licenciatura Pré-Bolonha 32 40%

União de Facto 14 18% Mestrado Pós-Bolonha 30 38%

Casado(a) 15 19% Mestrado Pré-Bolonha 11 14%

Divorciado(a) 2 3% Doutoramento 4 5%

Não identificado 1 1% Pós-graduação em Psicoterapia 3 4%

Total 80 100% Total 80 100%

País de origem Nacionalidade Portugal 73 91% Portuguesa 78 98%

África do Sul 1 1% Suíça 1 1%

Angola 1 1% Não identificado 1 1%

Brasil 1 1% Total 80 100%

Moçambique 3 4% Anos de experiência clínica Não identificado 1 1% 0-3 anos 43 54%

Total 80 100% 4-7 anos 20 25%

Orientação teórica 8-11 anos 7 9%

Cognitivo Comportamental 26 33% 12-15 anos 6 8%

Dinâmica e Psicanálise 22 28% (+) de 16 anos 1 1%

Integrativa 9 11% Não identificado 3 4%

Outras 8 10% Total 80 100%

2 ou mais orientações 7 9% Orientação Sexual Sistémica 3 4% Heterossexual 70 88%

Não identificado 5 6% LGBT

Total 80 100% Lésbica 1 1%

Formação específica sobre DCI*

Gay 2 3%

Nunca teve formação 64 80% Bissexual 1 1%

Teve formação 16 20% Não identificado 6 8%

Total 80 100% Total 80 100%

Identificação Religiosa Identificação Étnica Agnóstico/Ateísta 20 25% Caucasiano 42 53%

Budismo 1 1% Branca 3 4%

MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

- 254 -

Católico 26 33% Europeu 3 4%

Católico (não praticante) 4 5% Africana e Caucasiana 1 1%

Cristão 4 5% Latina 1 1%

Espiritismo 2 3% Mestiça 1 1%

Espiritual 2 3% Nenhuma/Não tem 2 3%

Sem religião 12 15% Não sei 1 1%

Não identificado 9 11% Não identificado 26 33%

Total 80 100% Total 80 100%

*Diversidade Cultural e Individual

Instrumento: O questionário utilizado neste estudo, CIDCI-T (versão papel e online),

em desenvolvimento no Projecto “Saúde Mental, Diversidade e Multiculturalismo”, é

uma medida de auto-relato elaborado com o principal objectivo de avaliar a

competência multicultural percebida dos clínicos da saúde mental (em especial

psicólogos clínicos, psicoterapeutas e psiquiatras), bem como para aceder às suas

experiências e práticas. Trata-se de um inventário constituído por 48 itens pontuados

numa escala tipo Likert de 5 pontos, que varia desde 1 (“Discordo Totalmente”) a 5

(“Concordo Totalmente”).

Os itens que constituem este instrumento foram organizados (recolhidos e traduzidos) a

partir de um conjunto de outros questionários e inventários, específicos para a avaliação

das competências multiculturais, desenvolvidos sobretudo nos EUA, tais como: Cross-

Cultural Counseling Inventory – Revised (CCCI – R, LaFromboise et al, 1991); Multicultural

Awareness – Knowledge – Skills Survey (MAKSS, D’Andrea et al, 1991); Multicultural

Counseling Inventory (MCI, Sodowsky et al, 1994); Multicultural Counseling Knowledge and

Awareness Scale (MCKAS, Ponterotto, et al, 2000); The California Brief Multicultural

Competence Scale (CBMCS, Gamst et al, 2004).

Procedimentos: Os dados obtidos foram recolhidos em 2 momentos: (1) através da

participação de 20 psicoterapeutas em formação pós-graduada, tendo o questionário

sido administrado em grupo; (2) após a adaptação do questionário a um formato online,

este foi enviado a cerca de 400 psicólogos e psicoterapeutas, por correio electrónico,

sendo que, até ao momento, foram recolhidos 59 questionários-resposta. É de referir

ainda, que esta primeira fase de recolha de dados continuará, dando continuidade ao

processo de desenvolvimento e validação do CIDCI à população portuguesa (estudo

piloto).

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

- 255 -

4.2 ESTUDO 2: ANALOGUE STUDY

Participantes: Para este estudo foram recrutados, através de LAPSO (Laboratório de

Psicologia Social e Organizacional), 8 (oito) participantes, caracterizados por ser todos

do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 20-25 anos, alunas do 3 º ano de

Psicologia no ISCTE-IUL e oriundas de quatro países diferentes (Brasil, Cabo Verde,

Portugal e São Tomé e Príncipe).

Instrumento: Nesta 1ª fase de elaboração deste estudo, foram gravados 20 vídeos, à

qual se seguirá uma 2 ª fase (avaliação de conteúdo), em que os vídeos serão avaliados

tendo em conta critérios como a credibilidade da representação do cliente, apresentação

realista dos sintomas, qualidade dos vídeos (som e imagem). De referir que os vídeos

têm uma duração que varia entre 2 a 5 minutos.

As clientes representadas nos vídeos descrevem um conjunto idêntico de sintomas (ex.

problemas de ansiedade, dificuldades de adaptação ao ambiente universitário), mas

apresentam características individuais diferentes como: etnia/raça (ex. cor da pele),

língua (ex. Português, Brasileiro ou Português com sotaque são-tomense), orientação

sexual (heterossexual ou homossexual), religião (católicos, muçulmanos ou

protestantes) e incapacidade física (deficiência visual).

Ilustração 1 – Exemplos de vídeos gravados (Analogue Study).

Personagem 2: “Letícia” (Cliente brasileira, Igreja Evangélica Cristã. (00:03:42)

Personagem 4: “Sofia” (Cliente portuguesa, lésbica. (00:03:25)

Personagem 5: “Andreia” (Cliente Angolana, lésbica. (00:03:25)

MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

- 256 -

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO3

Em primeiro lugar, importa enfatizar que os resultados recolhidos e a seguir

apresentados são preliminares, dado que o processo de recolha de dados ainda se

encontra em desenvolvimento. Nesse sentido, os resultados devem ser considerados

com precaução. É de salientar, ainda, que para a análise dos dados foi utilizado o

programa SPSS Statistics 17.0 (Statistical Package for Social Science, 2008), sendo que

o nível de significância foi estabelecido em 0.05 (sempre que oportuno será apresentado

o valor p). Os resultados serão apresentados tendo em conta a análise psicométrica do

instrumento (1) análise da fiabilidade; (2) análise das categorias do instrumento; (3)

análise dos valores da escala e (4) diferenças estatísticas entre grupos.

ANÁLISE PSICOMÉTRICA DO CIDCI – VERSÃO PSICOTERAPEUTAS

Fiabilidade: para medir a fiabilidade do CIDCI-T foi utilizado o coeficiente Alfa de

Cronbach. De acordo com os dados recolhidos, o coeficiente Alfa de Cronbach geral foi

de 0.89, valor que varia apenas de 0.89 a 0.90, com a eliminação de alguns dos itens.

Esses valores indicam uma elevada consistência interna do CIDCI-T e a similaridade

entre os coeficientes mostra a sua estabilidade com relação à contribuição dos itens.

Ao assumir-se o modelo tridimensional das competências multiculturais de Sue,

Arredondo e McDavis (1992), verificou-se que as dimensões representadas no CIDCI-T

(Conhecimento/Consciência/Competências) revelam igualmente uma boa consistência

interna (Tabela 6).

Tabela 6. Valores do Alfa de Cronbach das 3 dimensões e as respectivas correlações.

Conhecimento Consciência Competências Total

Conhecimento α .72 .55** .70** .83**

Consciência α .77 .75** .87**

Competências α .80 .94**

Total α .89

**p < .01

3 Os resultados do estudo 2 não se encontram ainda disponíveis, tendo sido apenas construído o material para a recolha de entrevistas com clínicos. Deste modo, não é possível apresentar neste artigo a análise convergente.

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

- 257 -

Análise dos valores da escala: A média dos valores do CICDI-T foi de 3.9 numa

escala de 1-5, demonstrando que os participantes tenderam a situar-se entre os valores 3

(Não concordo, nem discordo) e 4 (Concordo). Esta tendência manteve-se na

comparação entre os grupos, destacando-se as comparações quanto ao género (em que a

média dos participantes do sexo masculino é 4.04), à escolaridade obtida (média dos

participantes doutorados é 4.17) e à experiência de formação específica anterior (o

grupo que respondeu “Sim” apresenta uma média de 4.01).

Tabela 7: Média total dos resultados do questionário.

Média N dp Mínimo Máximo

Sexo • Masculino 4.04 9 .44 3.35 4.71

• Feminino 3.88 62 .33 3.00 4.69

Escolaridade

• Licenciatura Pré-B. 3.87 27 .29 3.19 4.40

• Mestrado Pós-B. 3.88 28 .38 3.00 4.69

• Mestrado Pré-B. 3.92 10 .34 3.50 4.71

• Doutoramento 4.17 4 .43 3.54 4.48

• Pós-graduação

Formação específica

• Não teve. 3.87 56 .33 3.00 4.56

• Teve. 4.01 16 .37 3.35 4.71

Minoria

• Não pertence 3.80 20 .29 3.19 4.56

• Pertence 3.93 33 .38 3.00 4.71

Diferenças estatísticas entre grupos (test t student): A comparação da média total dos

resultados obtidos no CIDCI-T para as seguintes variáveis indica não existirem

diferenças estatisticamente significativas nesta amostra: “Teve/não formação” (t = -

1.473, ns), “Pertença/não a uma minoria” (t = -1.266, ns). Foi possível verificar ainda,

que ao correlacionar a média total dos resultados obtidos no CIDCI-T e a variável

“Anos de experiência clínica”, os resultados não apresentam diferenças estatisticamente

significativas, (r =. 040, ns), não havendo, portanto, uma relação linear entre as duas

variáveis.

MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

- 258 -

Ao efectuarem-se as comparações para cada uma das dimensões do CIDCI-T e a

variável “Teve/não formação específica” verifica-se que não existem diferenças

estatisticamente significativas para as dimensões Consciência e Competências,

denotando-se no entanto que a dimensão Conhecimento apresenta valores que indicam

uma ligeira diferença estatisticamente significativa (t = -1.266, p < .05).

Tabela 8: Média e dp da comparação entre *Dimensões do CIDCI e “Teve ou não formação específica?”

Teve formação Não teve formação

Média dp Média dp T

Conhecimento 3.96 .38 3.70 .47 -1.99*

Consciência 4.14 .45 4.01 .35 -1.25

Competências 3.96 .35 3.88 .36 -.84

Total 4.01 .09 3.87 .04 -1.47

*p < .05

É de referir ainda que, quando analisamos a variável “Pertencer/não a uma minoria” os

resultados indicam não existir diferenças estatisticamente significativas.

Tabela 9: Média e dp da comparação entre *Dimensões do CIDCI e “Pertencer a um grupo minoritário”.

Não pertence. Pertence.

Média dp Média dp T

Conhecimento 3.60 .47 3.77 .46 -1.32 Consciência 3.97 .31 4.08 .44 -1.03

Competências 3.79 .30 3.92 .38 -1.27

Total 3.80 .29 3.93 .93 -1.27

6 CONCLUSÕES

Pretendeu-se com este estudo contribuir para o desenvolvimento de dois instrumentos –

um quantitativo de auto-relato e um qualitativo de resposta a casos apresentados em

vídeo – para a avaliação de competências multiculturais de clínicos (psicólogos e

psicoterapeutas). Estas medidas surgem em resposta à necessidade actual de avaliar as

competências multiculturais recorrendo à utilização de instrumentos psicométricos

adicionais às ferramentas de avaliação já existentes (Hays, 2008). Foi possível

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

- 259 -

apresentar, ao longo do estudo, os procedimentos para o desenvolvimento de um novo

questionário de auto-relato para a avaliação das competências multiculturais, bem como

de uma medida comportamental de validação dos resultados obtidos através deste

instrumento.

Através da análise preliminar dos resultados deste estudo pode-se verificar que, em

geral, os psicólogos e psicoterapeutas percepcionam-se como tendo um bom nível de

competências culturais e individuais para trabalhar com populações minoritárias, apesar

de a maioria não ter tido qualquer formação específica neste sentido. Estes resultados

são consistentes com a literatura, no quanto podem reflectir o facto de as medidas de

auto-relato poderem ser indicadores pouco fiáveis da real competência dos profissionais

(Worthington, et al, 2000; Constantine & Ladany, 2001; D'Andrea, et al, 2003;

Ponterotto & Potere, 2003; Neufeldt et al, 2006; Hays, 2008). Tendo em conta as

limitações dos instrumentos de auto-relato acima referidos, pensamos que a ausência de

consciência poderá ser também um factor limitador para a auto-avaliação. Sugerimos,

assim, que a utilização das medidas de auto-relato poderá ser mais útil e eficaz nos

profissionais que já têm alguma consciência e formação iniciais, mas não o serão para

aqueles com nenhuma ou pouca. Isto reforça a necessidade de desenvolver medidas para

validar questionários de auto-relatos e minimizar o impacto das limitações dos mesmos

nos resultados.

É importante salientar também, que a literatura reconhece que, no que toca à formação

dos profissionais de saúde mental, as instituições não se têm mostrado eficazes na

abordagem das relações entre a cultura, questões sociopolíticas e prática clínica da

psicoterapia (Sue, et al, 1992; Arredondo, 1999; Hays, 2008), sendo essa também uma

realidade em Portugal, em que a oferta para a formação específica sobre a diversidade

cultural e individual é ainda é reduzida. Este facto foi evidente na nossa amostra, em

que a maioria revela não ter tido qualquer formação sobre a diversidade, podendo ser

essa uma das explicações para as diferenças encontradas ao nível da dimensão

“conhecimento” do CIDCI-T. Convém referir ainda que a mera acumulação de anos de

experiência clínica não parece ser suficiente para a promoção das competências

MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

- 260 -

multiculturais, sendo esse facto consistente com os nossos resultados, que demonstram

uma ausência de correlações significativas com o nº de anos de experiência clínica.

Outra questão pertinente a salientar, prende-se com o facto de, na nossa amostra, os

resultados apontarem para a não existência de diferenças significativas entre pertencer

ou não a um grupo minoritário e competências multiculturais, o que pode ser explicado

pela dimensão da amostra, podendo ser um factor limitante dos resultados. Sendo assim,

reconhecemos algumas limitações no presente estudo, principalmente, no que se refere à

dimensão da amostra e ao facto de ainda estar em curso, o que limita a apresentação dos

resultados disponíveis. Ainda assim, esperamos ter contribuído para a reflexão sobre a

importância das competências multiculturais e dos esforços para a sua conceptualização,

operacionalização e avaliação.

AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:

DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

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