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Universidade de Lisboa/Faculdade de Letras. Cadeira: História Medieval (Política e Cultura). TP1. Curso: História. Ano Letivo: 2014/2015. Ataques dos vikings em França. Narrativa dos monges de Noirmoutier (Análise do texto 23, b)

Ataques dos vikings em França. Narrativa dos monges de Noirmoutier

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Universidade de Lisboa/Faculdade de

Letras.

Cadeira: História Medieval (Política

e Cultura).

TP1.

Curso: História.

Ano Letivo: 2014/2015.

Ataques dos vikings emFrança. Narrativa dos monges

de Noirmoutier(Análise do texto 23, b)

Docente: Prof.ª Doutora Margarida Garcez. Discente:Mário Oliveira N.º 50366.

Introdução:

Ao que tudo indica o texto alvo deste trabalho é uma

narrativa dos monges de Noirmoutier. Poucos são os peritos

nesta área e como tal e com carência informativa sendo que

normalmente a vasta bibliografia refere os mesmos aspetos,

é impossível com exatidão saber a data e o lugar onde foi

redigido assim como também saber em que circunstâncias o

contexto histórico pode ter exercido alguma influência

sobre a sua redação ou sobre a implicação e a ação das

personagens expostas no texto. É de referir que este texto

está bem estruturado e mantêm-se fiel a apenas um assunto

facilitando a sua abordagem, mas a nível espacial, a nível

de enquadramento no tempo é um pouco confuso obrigando a

problematizar este aspeto. Os Vikings são guerreiros e

praticantes de pirataria1. Originários da Escandinávia

invadiram e pilharam grandes áreas da Europa desde o século

VIII até meados do século IX. Três grandes povos que

habitam a região da península da Escandinávia: os

1 Pirataria é um termo usado por vários historiadores mas não é umtermo correto para classificar os vikings.

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Noruegueses, os Suecos, os Dinamarqueses sendo que eles

próprios estavam organizados em múltiplas populações, não

eram apenas um povo grande e unido. Há quem defenda que

estes povos não tinham práticas agrícolas mas segundo

Pierre Riché os escandinavos são agricultores e normalmente

os operários agrícolas são escravos ou libertos. São uma

comunidade organizada, sendo que a sociedade revela ser

tripartida: aristocracia, homens livres e escravos. Os

vikings tinham já tentado entrar em espaço franco em pleno

início da dinastia Carolíngia mas o Carlos Magno tinha

conseguido travar esta expansão. Foi devido às rivalidades

entre os sucessores de Carlos Magno que os Escandinavos

retomaram a rota do sul. Fizeram-se aproveitar da sua má

imagem e do seu domínio do ferro, superior ao do reino

franco. Na primeira metade do século IX os dinamarqueses,

especialmente eles, fizeram vários ataques á costa norte da

europa (França). Penetraram no Elba, Sena, Loire e no

Tamisa. Criaram bases nas Ilhas da Mancha onde começaram a

estabelecer-se. A comunidade viking era extremamente

agressiva e pilhava e massacrava quase tudo o que

encontrava. Foi na segunda década do século IX que os

ataques dos vikings começaram a ameaçar a calma e as terras

prósperas do enorme Império Franco preocupando Luís, o

Piedoso do perigo do norte. Um dos casos mais conhecidos

foi o da ilha de Noirmoutier2, que a meu ver é o ponto-

chave do texto.

Desenvolvimento:2 Vide, infra anexos, p. 9 figura 1 e 3.

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O início do texto aborda as invasões vikings. Este

parágrafo retrata não só estas invasões como também a

tentativa, especialmente do abade Hilbodus de arranjar uma

solução face a este problema. A ilha de Noirmoutier situada

no sul da foz do Loire foi fortemente atacada pelos vikings

inclusive o mosteiro de São Filiberto, não que este

mosteiro representasse uma instituição de grande riqueza,

mas estava inserido num local de prospeção económica na

medida em que a ilha era um porto de escala do comércio de

sal por via marítima, bastante conhecido na indústria dos

países do norte.3 Tanto reconhecimento pode ter chamado a

atenção dos piratas normandos que fizeram desta ilha o

primeiro ataque em águas do atlântico norte. Se foram os

vikings dinamarqueses ou os vikings noruegueses os

primeiros a chegar à ilha não se sabe ao certo nem a

narrativa dos monges (texto) fazem referência mas tudo

indica que tenham sido os noruegueses que se tinham afixado

na Irlanda os primeiros a chegar.4 Esta abordagem inicial

serve para tentar explicar o início do texto, visto que os

monges começam por abordar os ataques dos normandos a

Noirmoutier. As investidas regulares destes povos do norte

obrigaram a que o abade Hilbodus construísse um castelo

como forma de se defenderem destes ataques. As investidas

regulares que são evocadas podem muito provavelmente ser as

3 Vide http://thewildpeak.wordpress.com/2014/05/02/salty-vikings-salt-and-the-early-scandinavian-raids-in-france-799-843/ [Consultado: 10-10-2014].4 Vide, PREVITÉ-ORTON, C.W, História da Idade Média, Vol. III, Lisboa,Editorial Presença, 1973, pp. 67- 75.

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de 834 a 838 (o rei Pepino morre a 838, sendo que foi este

que esteve reunido com o monge Hilbodus para discutir o

futuro de Noirmoutier, por isso, o primeiro paragrafo do

texto encontra-se entre esse período de tempo). Estas

investidas começaram com os dinamarqueses em Frísia, uma

província comercial que já tinha sido atacada no tempo de

Carlos Magno por volta de 820. Durante anos houve ataques

em várias cidades do império franco, Irlanda e em outros

países. Ataques que o imperador dos francos, Luís tentou

resolver diplomaticamente em especial com o rei dos

dinamarqueses, aparentemente sem grande sucesso. Em 838 uma

tempestade destruiu a frota dinamarquesa instalada em

Frísia e o rei franco como forma de prevenir outro ataque

ordenou a construção de barcos para vigiarem a costa para

que novos ataques não passassem despercebidos. No período

em que este texto se insere as devastações eram maiores,

mais cidades queimadas, mais mortes, mais prisioneiros.

Segundo a narrativa dos monges de Noirmoutier nem já tendo

pedido ajuda ao rei Pepino arranjaram solução para impedir

os piratas, sendo que o acesso à ilha era complicado e os

vikings dominavam o mar e tinham muito mais facilidade em

chegar à ilha, por isso num consenso comum entre o rei,

nobres e bispos e abades decidiu-se declarar de certo modo

a ilha como causa perdida e foi mandado retirar o corpo de

São Filiberto. O castelo que se tinha construído na ilha

era impotente para salvaguardar a terra

Seguindo para o segundo parágrafo, este faz referência

à evolução das invasões normandas. As pilhagens, mortes,

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incêndios, entre outras catástrofes continuam a cresce.

Isto pode mostrar a debilidade da defesa franca. Juntamente

com estas referências os monges falam da tomada de várias

cidades, da profanação dos seus defuntos, especialmente das

cinzas dos seus santos e das relíquias roubadas. Falam da

sua própria fuga e da concretização da escritura de

Jeremias (capítulo I, versículo XIV). Estas abordagens são

muito sucintas e por isso é necessário desenvolver. Este

parágrafo pelo seu conteúdo não é um seguimento do

primeiro. A altura é diferente. Situa-se por volta de 838

(morte de Pepino) e tem seguimento durante o reinado de

Carlos II, o Calvo que subiu ao poder após o tratado de

Verdun em 843. Este tratado veio pôr fim a uma crise de

sucessão, a um conflito interno que permitiu a progressão

dos vikings.5 Esta crise foi gerada em particular em 840

quando Luís, o Piedoso morre, ficando três filhos que

lutavam pelo poder.6 Com o Tratado de Verdun os três irmãos

fizeram a repartição do império. Lothar ficou com o título

imperial, recebendo o reino do meio, que é a Itália e a

longa extensão de terra atingindo desde os Alpes até o Mar

do Norte entre o Reno e o Escalda; Luís, o Alemão teve as

terras a leste exceto Frísia, que foi atribuído a Lothar, e

por isso possuía uma costa marítima do Weser ao Eider;

Carlos tinha França do Meuse para o Loire, juntamente com

Toulouse.7 Com esta divisão os dinamarqueses aproveitaram e

5 Vide: BRONDSTED, Johannes, Os vikings Johannes; trad. H. Silva Horta,Lisboa, Ulisseia, 1963, pág. 49-50.6 Vide: HEERS, Jacques, O mundo medieval, Lisboa, Edições Ática, 1976,pág. 46.7 Vide: infra anexos, p. 9 figura 2.

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voltaram a atacar em peso. Em 841 os vikings apareceram de

repente no Sena e foram até Rouen sempre a pilhar até

chegarem ao mar e terem desaparecido cheio de riquezas e

oferendas.8 Os ataques realizados a Rouen e Quentovic foram

eclipsados pelo ataque a Nantes em 843. Desta vez não foram

os dinamarqueses mas sim noruegueses com uma frota de cerca

de sessenta e sete navios vindos de Vestfold (Noruega),

conseguiram devastar uma cidade muito bem equipada

defensivamente em pleno dia festivo, dia de São João. A

cidade estava superlotada e sem quaisquer avisos os vikings

mataram todos os que encontraram e só ao anoitecer se foram

embora com uma enorme quantidade de espólio, retomando a

Noirmoutier. Estava revelada uma fase mais brava dos

vikings, que monstra a total falta de respeito perante a

comunidade do império carolíngio. Foi possivelmente durante

estas novas vagas de invasões que as cidades explícitas

neste parágrafo foram tomadas. Nesta altura já a Europa era

maioritariamente cristã. Tinham esta crença fortemente

enraizada no quotidiano. Não é difícil de acreditar,

especialmente vindo de um texto de homens da igreja que

tivesse explicito que estas invasões vikings fossem a

concretização de uma passagem bíblica.

Referente ao terceiro parágrafo a narrativa dos monges

de Noirmoutier mostra que a atenção deles não está só

voltada para dentro das limitações do império carolíngio

como também estão atentos aos problemas externos cuja

entidade problemática é a mesma. Estes monges relatam

8 Vide: ARBMAN, Holger, Os vikings, Lisboa, Verbo, 1967, pág. 83-86.Página | 7

ataques em território da Península Ibérica e Itálica por

isso torna-se essencial falar um pouco dessas incursões ao

redor do mediterrâneo. Fora estas incursões este excerto

textual fala também da mudança das cinzas de São Filiberto.

A linguagem usada e a cronologia a que o texto se refere,

indica que o texto também não é seguimento dos anteriores,

ou pelo menos não é do mesmo autor. Faz referência a datas

a partir de 857. Primeiro foram os dinamarqueses a chegar

ao solo espanhol seguindo-se os noruegueses. Em Espanha

ainda se travou alguns combates onde se distinguem dois

chefes dinamarqueses – Bjorn Jernside e Hastings. Segundo

os registos árabes sabe-se que houve duas penetrações

vikings: uma a 844 dentro da Península Ibérica e outra de

859 a 862, estas já voltadas mais para as costas de Espanha

e restante interior do mediterrâneo ocidental. Em 844 os

normandos seguiram por Galiza até a Corunha onde foram

expulsos. Perseguiram ao longo da costa portuguesa até à

região de Lisboa e capturaram não só esta praça fortificada

mas como juntaram também às suas conquistas Cádis e

Sevilha. Os vikings tinham o costume de trocar prisioneiros

por alimentos e elementos de vestuário. A incursão de 859 a

862 foi das mais bem preparadas dos normandos. Com uma

frota perto dos sessenta e dois navios e partindo da

Bretanha conseguiram chegar às costas de Espanha passando

pelo estreito de Gibraltar chegando a Algeciras.

Posteriormente chegaram a Nekor, em Marrocos, seguindo-se

as ilhas Baleares, continuando para a costa sul de França

onde se fixaram durante algum tempo na ilha de La Camargue,

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no delta do Ródano onde prejudicaram a economia da zona. Em

860 os vikings partiram para leste chegando ao norte de

Itália onde pilharam Pisa. Em 862 a expedição regressou à

Bretanha pelo estreito de Gibraltar.

Recuando para finalizar, em 836 os monges foram

forçados a cavar e remover para um lugar seguro (Cunault)

os ossos do bem-aventurado, São Filiberto (expressão

utilizada pelo texto), futuramente mudaram-no para Messay.

Estes monges estiveram em constante mudança, seguiram para

Saint-Pourçain-sur-Sioul mais para centro e por fim

terminam em Tournus.9

Conclusão:O texto alvo deste trabalho como está explícito na

análise anterior é muito provável que seja uma aglomeração

de vários excertos de autores diferentes e de alturas

diferentes. Isto deve-se à linguagem usada ser diferente

assim como existir nomes escritos de maneira diferente. É

um texto que remete-nos essencialmente para uma vertente

política e que obriga-nos a problematizar as problemáticas

tendo em conta a dispersão temporal que existe. Só após a

investigação feita através das bibliografias que constam

neste trabalho e após a análise/debate elaborado com

terceiros se conseguiu chegar a conclusões sobre os

períodos de tempos que os excertos textuais retratam.

9 Vide: BLOCH, Marc, A Sociedade Feudal, Lisboa, Edições 70, 1979, pp.37-49.

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Pode-se concluir que os vikings marcaram sobretudo o

século IX principalmente os territórios da atual França e

Reino Unido. Estes povos escandinávicos apresentavam uma

maneira de viver totalmente oposta à realidade europeia o

que permitiu ter um impacto tão grande como tiveram.

A análise destas incursões só é possível devido aos

estudos feitos até ao momentos mas sobretudo aos relatos

deixados pelos monges da época.

O conteúdo da análise está dentro dos limites impostos

pela professora (5 páginas, excluindo capa, bibliografia e

anexos). Toda a bibliografia expressa no trabalho foi

consultada durante o processo de investigação que permitiu

esta análise.

O texto alvo da análise consta na obra: Ermentaire,

Miracles de Saint Philibert, Paris, 1905.

Bibliografia:2. Bibliografia Geral:

2.1 Obras de Referência:

ARBMAN, Holger, Os Vikings, Lisboa, Verbo, 1967.

BRONDSTED, Johannes, Os Vikings, trad. Horta, H. Silva,

Lisboa, Ulisseia, 1963.

2.2 Obras Gerais:

Página | 10

BALLARD, Michel, GENET, Jean-Philippe, ROUCHE, Michel, A

Idade Média no Ocidente, dos Bárbaros ao Renascimento, Lisboa,

Edições Dom Quixote, 1994, pp. 102-103.

BLOCH, Marc, A Sociedade Feudal, Lisboa, Edições 70, 1979, pp.

37-49.

DELORME, Jean, Chronologie des civilizations, Paris, Presses

Universitaires de France, 1949.

DIOGO, António Dias, XAVIER, Ângela Maria Barreto, SANTOS,

Maria Catarina Madeira Henriques dos, et. al. História da Vida

Quotidiana, Lisboa, Selecções do Reader’s Digest, 1993.

GIORDANI, Mário Curtis, História do mundo feudal I, Petrópolis,

Vozes, 1982.

HEERS, Jacques, História Universal, O Mundo Medieval, [s.l],

Circulo de Litores, 1977, pp.50-89.

PREVITÉ-ORTON, C.W, História da Idade Média, Vol. III, Lisboa,

Editorial Presença, 1973, pp. 67- 75.

REIS, António, MACEDO, Jorge Borges de, História Universal,

Vol. I,[s.l], Circulo de Leitores – Selecções do Reader’s

Digest, [s.d].

RICHÉ, Pierre, Grandes Invasões e Impérios: séculos v a x, Lisboa,

Publicações Dom Quixote,1980, pp. 200-211.

RINGLER, Richard N (consultor), Vida e Sociedade no tempo dos

vikings, trad. PIRES, Paulo Emílio, Lisboa, Editorial Verbo,

2002.

2.3 Obras Especificas:

Página | 11

HALPHEN, Louis, Carlos Magno – O Império Carolíngio, Lisboa,

Editorial Início, 1970, pp. 294-306.

PIRENNE, Henri, Maomé e Carlos Magno; trad. Manuel Vitorino

Dias Duarte, Lisboa, Dom Quixote, 1970.

2.4 Sitiografia:

http://deremilitari.org/wp-content/uploads/2013/07/

price03.pdf [Consultado: 04-10-2014].

http://www.northvegr.org/secondary%20sources/germanic

%20studies/a%20history%20of%20the%20vikings/044.html

[Consultado: 04-10-2014].

http://thewildpeak.wordpress.com/2014/05/02/salty-vikings-

salt-and-the-early scandinavian-raids-in-france-799-843/

[Consultado: 10-10-2014].

Página | 12

Anexos: 10

10 Imagens retiradas da Internet [Google imagens (10-10-2014)].Página | 13

Figura 1

Figura 3 Figura 4

Figura 2