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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PEDRO HENRIQUE BATISTA DE FRANÇA AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA NO DESENVOLVIMENTO DE SÃO MIGUEL DO GOSTOSO/RN: PESQUISA QUALITATIVA DAS ATIVIDADES CULTURAIS E ESPORTIVAS NATAL 2015

As Políticas Públicas de Fomento da Economia Criativa no Desenvolvimento de São Miguel do Gostoso/RN: Pesquisa Qualitativa das Atividades Culturais e Esportivas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

PEDRO HENRIQUE BATISTA DE FRANÇA

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA NO DESENVOLVIMENTO DE SÃO MIGUEL DO GOSTOSO/RN:

PESQUISA QUALITATIVA DAS ATIVIDADES CULTURAIS E ESPORTIVAS

NATAL 2015

PEDRO HENRIQUE BATISTA DE FRANÇA

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA NO DESENVOLVIMENTO DE SÃO MIGUEL DO GOSTOSO/RN:

PESQUISA QUALITATIVA DAS ATIVIDADES CULTURAIS E ESPORTIVAS

Trabalho de conclusão de curso apresentada ao curso superior de Bacharelado em Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento de exigências legais como requisito parcial à obtenção do Título de Bacharel em Gestão de Políticas Públicas. ORIENTADOR: Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz

NATAL 2015

PEDRO HENRIQUE BATISTA DE FRANÇA

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA NO DESENVOLVIMENTO DE SÃO MIGUEL DO GOSTOSO/RN:

PESQUISA QUALITATIVA DAS ATIVIDADES CULTURAIS E ESPORTIVAS

Trabalho de conclusão de curso apresentada ao curso superior de Bacharelado em Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento de exigências legais como requisito parcial à obtenção do Título de Bacharel em Gestão de Políticas Públicas.

Aprovado em: 07 de Dezembro de 2015.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz (DPP/CCHLA/UFRN/Presidente)

Profª. Drª. Zoraide Souza Pessoa (DPP/CCHLA/UFRN/Examinador Interno)

Profª. Drª. Lindijane de Souza Bento Almeida (DPP/CCHLA/UFRN/Examinador Interno)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me conceder dia após dia estar vivo e

abençoar a minha vida para que eu possa seguir os caminhos trilhados por ele.

Aos meus pais Edilene Batista da Silva e Luiz Antônio de França Oliveira, pelo

amor, carinho e que durante toda a minha vida me incentivaram ao estudo, ao meu

irmão e meus avós, que sempre estiveram ao meu lado durante minha graduação, e a

toda família Batista e família França.

A minha namorada que me ajudou muito neste momento de conclusão de

curso, incentivando e apoiando todos os dias, e compreendendo a distância que nos

separa por certas vezes.

Aos todos os meus amigos, que estão ao meu lado desde sempre, me dando

força e incentivando, e também a todas aquelas amizades que fiz durante o curso, e

que permanecerão pra sempre em minha memória.

Agradecer imensamente ao meu orientador Fernando Cruz, que me incentivou

nas escolhas relacionadas a este TCC com muita sabedoria, e que me ajudou durante

toda a graduação, participando da minha trajetória acadêmica.

A todos, o meu muito obrigado.

RESUMO

Neste trabalho procuramos analisar a cultura e o esporte em São Miguel do Gostoso, no

estado do Rio Grande do Norte, cidade essa conhecida pelo seu potencial turístico,

cultural e esportivo, a partir da perspectiva das políticas públicas de fomento da economia

criativa, as quais resultam da triangulação da cultura, economia e gestão. A economia

criativa foi institucionalizada no Brasil em 2012 com a criação da Secretaria de Economia

Criativa, ao nível federal. É objetivo da pesquisa analisar a dinâmica das atividades

culturais e o seu papel no desenvolvimento local. Desse modo, optamos pela metodologia

qualitativa com recurso à observação, aplicação de entrevistas e registro fotográfico.

Dentre as atividades que foram objeto de estudo, estão as atividades esportivas ligadas

ao esporte à vela e as atividades culturais desenvolvidas na cidade pelos grupos

culturais. Essas práticas vêm trazendo resultados práticos para o desenvolvimento do

turismo e para a economia local. Quanto aos movimentos culturais, estes grupos

deparam-se com dificuldades ao nível do apoio das entidades públicas, mas seu espírito

empreendedor tem permitido que dinamizem a cidade em termos culturais e turísticos.

Já as atividades esportivas são exploradas a título privado e devem-se igualmente ao

espírito empreendedor de seus empresários.

Palavras-Chave: Cultura. Economia Criativa. Esporte. São Miguel do Gostoso. Turismo.

ABSTRACT

In this study we sought to analyze the culture and sport in São Miguel do Gostoso, in Rio

Grande do Norte state, which is known for its tourist, cultural and sporting potential, from

the perspective of public policies for the promotion of creative economy, which results

from triangulation of culture, economics and management. The creative economy was

institutionalized in Brazil in 2012 with the creation of the Creative Economy Secretariat, at

federal level. It is the research’s objective to analyze the cultural activities dynamics and

its role in local development. Thus, we chose qualitative methodology with observation,

interviews application and photographic record resources. Among the activities that were

this study’s objective, are the sports activities related to sailing sport and cultural activities

which are developed in the city for cultural groups. These practices have brought practical

results for the tourism development and the local economy. As for cultural movements,

these groups are faced with difficulties in terms of public authorities support, but his

entrepreneurial spirit has allowed to boost the city in cultural and touristic terms. As for

the sports activities these are explored on a private way and are due also to the

entrepreneurial spirit of its businessmen.

Keywords: Culture. Creative Economy. Sport. São Miguel do Gostoso. Turism

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Atividades associadas aos Setores Criativos Nucleares baseadas na UNESCO (2009) ------------------------------------------------------------------------------------------ 16

Figura 2: Escopo dos Setores Criativos pelo Ministério da Cultura (2012) ---------------- 18

Figura 3: Localização do município de São Miguel do Gostoso ----------------------------- 21

Figura 4: Área interna do Espaço TEAR ------------------------------------------------------------ 23 Figura 5: Espaço Tear realizando oficinas --------------------------------------------------------- 26 Figura 6: 3ª Mostra de Cinema de Gostoso (2015) ---------------------------------------------- 28 Figura 7: Banca de produtos artesanais na 3ª Mostra de Cinema de Gostoso (2015)- 30

LISTA DE SIGLAS

CDHEC Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

KM Quilômetro

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PIB Produto Interno Bruto

RN Rio Grande do Norte

SEC Secretaria de Economia Criativa

SMG São Miguel do Gostoso

UNCTAD Conferência das Nações Unidas Sobre Comércio de Desenvolvimento

UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9

2. A ECONOMIA CRIATIVA .................................................................................... 13

3. OS GRUPOS CULTURAIS E ESPORTIVOS E SEUS IMPACTOS

SOCIOECONÔMICOS EM SÃO MIGUEL DO GOSTOSO ..................................... 21

3.1 Caracterização de São Miguel do Gostoso ...................... 21

3.2 A dinâmica cultural e esportiva na cidade de São Miguel do Gostoso .......... 22

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 32

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 34 6. APÊNDICES ......................................................................................................... 36

9

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem-se notado uma grande dificuldade dos pequenos

municípios brasileiros em desenvolver atividades econômicas que venham fortalecer a

economia local de forma sustentável. Na cidade de São Miguel do Gostoso, no estado

do Rio Grande do Norte, existem, contudo, várias atividades que ajudam a fortalecer a

economia local, como as inúmeras pousadas de moradores da cidade, as aulas de Wind

e Kitesurf na praia, a mostra de cinema que acontece todos os anos na cidade, além de

uma moeda própria, o “Gostoso”. O turismo gera cerca de 60% da receita da cidade, e

nos últimos anos a arrecadação da cidade mais que triplicou.

A escolha do tema deste Trabalho de Conclusão de Curso se dá pela descoberta

de uma nova forma de elevar os potenciais turísticos/econômicos das pequenas cidades,

sobretudo em São Miguel do Gostoso. O tema é abordado por diversos autores que

relatam a modificação existente no sistema econômico. Além de denominada por muitos

como a “economia do século”, ela traz benefícios, como empregos formais e informais e

vem transformando o sistema econômico local.

A economia criativa abrange inúmeros setores criativos, o que implica excelentes

oportunidades para as micro e pequenas empresas e também para os

microempreendedores individuais. Isso se torna claro nas áreas de moda, dança, música

e artesanato local.

Em 1994, surge o projeto australiano denominado Creative Nation, que tinha

como objetivo promover a cultura do país, sob o viés econômico. A criatividade era o fator

diferencial e ia além da habilidade dos profissionais e das tecnologias usadas para

fabricar um determinado produto. Uma definição mais recente de indústria criativa do

Departamento de Cultura, Mídia e Esportes do governo britânico dá conta de que se

tratam “das indústrias que têm suas origens na criatividade, habilidade e talento

individuais e que têm um potencial de criação de riqueza e empregos por meio da geração

e exploração da propriedade econômica.” (NEWBIGIN, 2010, p. 15)

10

O principal objetivo deste trabalho é analisar as atividades culturais e esportivas

de desenvolvimento da economia local, tendo como base as políticas públicas de fomento

da economia criativa na cidade de São Miguel do Gostoso, no estado do Rio Grande do

Norte. Então, é necessário compreender as políticas públicas de fomento da economia

criativa, levantar as principais atividades culturais e esportivas em São Miguel do

Gostoso/RN, analisar a dinâmica das atividades culturais e o seu papel no

desenvolvimento local, e criticar o modelo de desenvolvimento local de acordo com as

políticas públicas de fomento da economia criativa.

Para a realização da pesquisa, o método utilizado é qualitativo, já que: “Em certa

medida, os métodos qualitativos se assemelham a procedimentos de interpretação, dos

fenômenos que empregamos no nosso dia a dia, que têm a mesma natureza de dados

simbólicos, situados em um determinado contexto” (NEVES, 1996).

O projeto incluirá como principais técnicas de pesquisa, entrevistas

semiestruturadas, a observação participante e não participante e o registro fotográfico. O

registro fotográfico é necessário para o processo de coleta de dados e informações,

permitindo possíveis avaliações posteriores. A desvantagem é de que na fotografia, o

pesquisador terá que selecionar/registrar fatos, podendo deixar de lado informações que

poderiam ser úteis. Além disso, há alguns casos em que a fotografia não pode ser

utilizada por poder afetar o direito à imagem.

As entrevistas podem fornecer informações, opiniões e alguns pontos de vista

individuais. Elas são basicamente uma conversa entre entrevistador e entrevistado, que

tem por finalidade colher informações. Apesar de ser extremamente útil, pelo fato de

poder ser aplicada a todas as camadas da sociedade, por poder responder às dúvidas

do entrevistador, e também pela flexibilidade existente na elaboração do roteiro de

entrevista, bem como na sua aplicação. Apresenta, no entanto a desvantagem quando o

entrevistado entende de forma errada a questão que está a ser realizada, ser induzido a

resposta de acordo com a maneira como o entrevistador faz a pergunta, e por existir

sempre a possibilidade de fatos e/ou dados não serem expostos pelo entrevistado.

(NEVES,1996, p.3)

11

A observação participante faz com que aquele que está observando, faça parte

da situação em que ele observa, facilitando o levantamento de ideias sobre o objeto que

ele investiga. O observador pode apenas observar e até mesmo agir durante essa

observação. Já na observação não participante, que também pode ser tida como simples,

os sujeitos não sabem que alguém os está observando, pois aquele que observa não

está envolvido de forma direta com a situação, nem interage com aqueles que fazem

parte da sua observação. (MOREIRA, 2004, p.16) Algumas das vantagens da

observação participante é a possibilidade de acesso aos dados que a comunidade

considera de domínio privado, e também por permitir coletar esclarecimentos que vêm

junto ao comportamento dos observados. Porém também existem desvantagens nesta

técnica de pesquisa que vai de uma possível visão parcial do objeto, até mesmo a uma

certa desconfiança daqueles que estão sendo observados. Já a observação não

participante tem como vantagem a obtenção de elementos que podem definir o problema

da pesquisa, e como desvantagem, ficar na dependência da memória do observador.

São Miguel do Gostoso será o palco único da pesquisa, pois assim, teremos uma

visão melhor sobre vários estratos sócio profissionais, como gestores, empresários

esportivos e empreendedores culturais.

As entrevistas a serem realizadas servirão de base para a compreensão do

objeto de pesquisa. Além disso, um levantamento fotográfico será realizado nos pontos

turísticos da cidade, dos eventos que acontecerão na cidade (como a Mostra de Cinema),

para além, das pousadas e lojas de artesanato existentes.

Além destas técnicas de pesquisa, há lugar a uma revisão bibliográfica sobre a

temática da pesquisa. Serão ainda analisados documentos que estejam ligados à

economia e à cultura da cidade, bem como as leis e planos que direcionam o andamento

da economia criativa em São Miguel do Gostoso.

O trabalho será dividido em uma introdução, um capítulo teórico trazendo os

principais conceitos sobre economia criativa e suas políticas de incentivo, um capítulo

sobre os dados colhidos em campo, bem como uma análise sócio-demográfica da cidade.

12

Finalmente, a conclusão permitirá refletir sobre a economia criativa em São Miguel do

Gostoso e apresentar propostas críticas para o fomento desta política em termos locais.

2. A Economia Criativa

13

A economia criativa abrange diversos setores criativos, o que implica excelentes

oportunidades para as micro e pequenas empresas e também para os

microempreendedores individuais. Isso se torna claro nas áreas de moda, dança, música,

artesanato local.

Atualmente, os modelos de economia criativa requerem um olhar voltado para o

âmbito local, e não só mundial, pois cada contexto tem sua especificidade. Um dos

conceitos sobre criatividade é que ela remete para a capacidade de não apenas criar o

novo, mas de reinventar, unindo pontos que estão aparentemente desconexos e, com

isso, adquirir soluções para novos e velhos problemas. Em outras palavras, a criatividade

é o uso de ideias para produzir novas ideias (UNCTAD, 2010). De acordo com a UNCTAD

(2010, p. 8), são quatro as categorias dos setores criativos: Patrimônio, Artes, Mídia e

Criações funcionais. Dentre essas categorias existem várias subcategorias. Na categoria

Patrimônio, os setores se dividem entre locais culturais e expressões culturais

tradicionais (aqui está inserido o artesanato). Na categoria de Artes, o setor se distingue

em artes visuais e artes cênicas. Nas Criações Funcionais, as categorias identificadas

são design, novas mídias e também os serviços criativos. Na categoria de mídia, a divisão

ocorre entre os setores de editoriais, mídia impressa e audiovisuais. Alguns dos fatores

que permitem impulsionar a economia criativa são a tecnologia e o turismo. (HANSON,

2012, p. 224)

A conceituação de economia criativa passa também pelas atividades econômicas

que visam tanto a cultura como a arte, elencando outros setores artísticos e culturais e

assim favorecendo o lucro dos bens e serviços que venham a ser prestados pelas

diferentes atividades realizadas. (CRUZ, 2014b, p.3)

Na visão de Miguez (2007, p. 96-97) economia criativa é “ o conjunto distinto de

atividades assentadas na criatividade, no talento ou na habilidade individual, cujos

produtos incorporam propriedade intelectual”. Porém, para CRUZ (2014b, p.3) o conceito

de economia criativa não deve ser baseado de forma direta na criatividade, mas, nos

14

elementos culturais e na arte envolvidos no processo de criação dos bens e serviços que

são oferecidos.

A economia criativa tem despertado um grande interesse e, cada vez mais, o

governo federal tem estimulado iniciativas que possam favorecer o crescimento da área.

Nos últimos anos, o debate sobre essa vertente econômica se expandiu muito, tanto no

Brasil como no mundo, tanto de forma coletiva como individual, e com essa maior

visibilidade, o Ministério da Cultura acabou por criar a Secretaria da Economia Criativa,

criada pelo Decreto 7743, de 1º de junho de 2012 e que tem como função monitorar e

formular políticas que favoreçam e priorizem o desenvolvimento de micro e pequenos

empreendimentos criativos brasileiros. Assim que foi instituída a Secretaria, foi levado

em conta que a economia criativa deveria ser uma proposta de política cultural, que

fizesse a interseção entre a economia, a gestão e a cultura (CRUZ, 2014a). Com o plano

da SEC criado no ano de 2012, foram definidos princípios que norteariam a Economia

Criativa no Brasil. Esses princípios foram definidos através de uma compreensão e

percepção da realidade nacional, esses princípios são: inovação, sustentabilidade,

diversidade cultural e a inclusão social. A inovação como princípio norteador, se deu pelo

fato da inovação ser “como um vetor de desenvolvimento da cultura e das expressões de

vanguarda”, da sustentabilidade “como fator de desenvolvimento local e regional”, a

inclusão social como uma “ base de economia cooperativa e solidária”, e por fim, a

diversidade cultural que define que “a criatividade brasileira, é um produto e processo

que tem como base, a ambiência e a riqueza da diversidade cultural”. (BRASIL, 2012)

A classificação dos setores criativos pela SEC, que tem como base as políticas

públicas de natureza cultural (Patrimônio, Artes, Mídias), sofreu uma alteração no ano de

2012, onde os setores de base cultural, ou seja, as Criações funcionais (moda, design,

artesanato e arquitetura) também entraram na classificação. (BRASIL, 2012).

“Os setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social.”

(BRASIL, 2012)

15

O crescimento desses setores no Brasil chega a se tornar algo espantoso por se

tratar de áreas com predominância de pequenas e microempresas. Segundo dados do

Ministério da Cultura, os setores criativos movimentaram no Brasil, algo próximo a R$

105 Bilhões, correspondendo a 2,84% do PIB. Além disso, a porcentagem de crescimento

da área se deu em torno de uma média de 6,3% nos últimos 5 anos, e que se comparado

ao PIB, teve um crescimento mais elevado, já que a média de crescimento do PIB se deu

na média de 4,3%. Lembrando que esses números podem ser ainda maiores, já que

estão computadas apenas as empresas formais. (BRASIL, 2012)

Figura 1 - Atividades associadas aos Setores Criativos Nucleares baseadas na UNESCO (2009)

16

Fonte: Brasil (2012)

Um dos principais incrementadores da economia criativa é o turismo, que tem

como principais consumidores dos serviços culturais e criativos o turista, que surge

consumindo uma variedade de produtos, seja na arte, artesanato, cinema, música. Os

negócios criativos devem ter uma base sólida para serem capazes de ofertar produtos e

serviços de qualidade e quantidade desejada pelos turistas para que assim seja dada

uma resposta positiva à demanda do setor turístico. Pode-se dizer que qualquer

17

município, hotel, artesão, pode ser beneficiado através dos projetos criativos que venham

a desenvolver o setor, gerar cada vez mais renda e também atrair cada vez mais turistas.

(BRASIL, 2010)

“Uma das carências mais debilitantes para o reconhecimento da importância da economia criativa no país é a de estatísticas e pesquisas. Cultura e economia criativa se apoiam em processos de transformação da realidade. Para transformar a realidade é preciso, antes de qualquer coisa, conhecê-la. Os números expressam essa figura de fundo, mostram a distância a que se está do objetivo e permitem balizar a eficácia das ações e políticas públicas para transformar o quadro ideal em real. O que encontramos são dados isolados de setores específicos, como moda e software, consolidados por associações do setor privado.” (REIS, 2008)

A economia criativa advém de uma criatividade que deve se apresentar de

inúmeras formas, para que assim possa se tornar uniforme e fortalecer a base

econômica. Hoje em dia é contínuo e generalizado o papel da criatividade sobre a

economia, tendo em vista que a cada dia, novas ideias são lançadas no mercado, seja

ele formal ou informal, e que a cada passo, se torna mais uniforme e aprimorando os

serviços. O diálogo existente entre a base criativa econômica e tecnológica ganha espaço

com a criatividade cultural. O que existe hoje é que o sistema corporativo que antes

visava as empresas de maior investimento, hoje está olhando com outros olhos para o

sistema voltado para o indivíduo. (FLORIDA, 2011, p. 6)

18

Figura 2: Escopo dos Setores Criativos pelo Ministério da Cultura (2012)

Fonte: Brasil (2012)

Um caminho que os empreendedores dos setores criativos tendem a seguir para

almejar o sucesso é o de tentar mostrar novos modelos de negócios em outras áreas,

isso se faz necessário graças à aparição de novas chances em realizar ideias fora do

lugar comum. A partir daí, esses novos processos acabam valorizando cada vez mais o

setor criativo. E na cidade em questão deste trabalho (São Miguel do Gostoso/RN), a

partir das novas políticas implantadas pelos gestores (como a Lei Geral da Micro e

Pequena Empresa no ano de 2010), que buscam estimular e fortalecer os pequenos e

19

médios negócios resulta numa expansão do setor gerando mais emprego e

movimentando a economia local. Em comparativo do ano de 2009 com o ano de 2014,

houve um salto de 52 para 340 empresas formais, mostrando uma evolução da economia

da cidade, que tem como base o turismo e o artesanato. (TRIBUNA DO NORTE, 2014b)

O que é notório na cidade é que a economia gira bastante em torno do turismo,

onde ela chega a receber na época de alta temporada (meses de dezembro a fevereiro

e junho a julho) em torno de 4 mil turistas. O turismo gera cerca de 60% da receita

municipal, o que com as novas políticas, fez aumentar de R$ 890 mil para R$ 2,9 milhões

a arrecadação própria em apenas 5 anos, mostrando como o incentivo é importante para

estimular os pequenos negócios. Com suas belas praias, clima agradável, ventos

favoráveis à prática de esportes aquáticos, a cidade conta com 29 pousadas que

proporciona algo em torno de mil leitos. (PRAIA DO GOSTOSO, 2015).

Cruz (2014b) refere que “As artes e a cultura sempre foram vistas pela sua

dependência dos subsídios estatais e pelo seu fraco impacto na economia”. Uma das

principais barreiras enfrentadas pelos setores criativos é a ausência de um órgão

especializado para que possa fornecer a assistência necessária aos micro e pequenos

empreendedores, para que possam usufruir cada vez mais do trabalho formal. Na cidade

de São Miguel do Gostoso, apesar de haver o apoio do poder público, ainda existe o

receio em entrar no ramo, devido à falta de experiência na área ou até desconhecimento

sobre tal, e assim acaba se perdendo uma enorme chance de alavancar ainda mais a

economia local, usando como ferramenta as atrações turísticas. A cidade realiza ainda

durante o mês de novembro, uma combinação de praia, sol, ar fresco e cinema. Como

na cidade não existe nenhum cinema, uma ideia do cineasta Eugênio Puppo, foi de

promover todo ano a Mostra de Cinema de São Miguel do Gostoso, onde são oferecidas

exibições gratuitas para a população e visitantes à beira mar e também no centro cultural

da cidade. No período que antecede a mostra, há uma formação audiovisual de alguns

jovens moradores da região, para que além deles se aperfeiçoarem na área, mostrem o

que produzem com o conhecimento adquirido através de um curta-metragem a ser

exibido na mostra. (TRIBUNA DO NORTE, 2014a)

Através de uma observação in loco, pode-se perceber que a cidade é bastante

pequena e os polos comerciais se concentraram próximo ao centro da cidade, fazendo

20

com que os turistas beneficiem de uma vasta oferta de comércio, como também

favorecendo aos empreendedores locais, que veem cada vez mais a demanda turística

aumentar e consequentemente a de gerar mais lucros. O que pode ser pensado é como

expandir essa área comercial além do centro, o que hoje em dia ocorre apenas com as

aulas de Windsurf e Kitesurf, que são ofertadas na praia, mas que mesmo assim não fica

distante das pousadas que ali estão instaladas.

Por isso, novas formas de incentivo à economia através de novas políticas

públicas, se fazem necessárias no local, para que a cidade se desenvolva mais e que

seus moradores e os micro e pequenos empreendedores beneficiem disso. A aposta é

que o retorno dos clientes promova uma diferença do ambiente e da autoestima, que já

vem crescendo a cada dia, mas que pode crescer ainda mais e assim promover ainda

mais a cidade de São Miguel do Gostoso.

A sustentabilidade surge como uma nova forma de tentar alavancar a economia

de um certo local, sem comprometer, dentre outras coisas, a condição de vida da

população, sem utilizar as novas tecnologias que trazem poluição para o mundo, e que

ainda hoje, existem e estão espalhadas por todo o mundo, e, para garantir um futuro com

sustentabilidade social, cultural, ambiental e econômica, se faz necessário seguir esse

caminho. (BRASIL, 2012)

Como disse Landry, o lugar onde os artistas possuem uma ação relevante e onde

a criatividade se destaca de tal modo que caracterize o espírito da cidade (LANDRY,

2011, p. 10). A cidade de Gostoso tende a se tornar uma cidade criativa, usufruindo das

características locais e pessoais e do compartilhamento de conhecimentos que são

transmitidos de geração em geração, e que assim tornam a cidade em um grande

atrativo.

3. OS GRUPOS CULTURAIS E ESPORTIVOS E SEUS IMPACTOS

SOCIOECONÔMICOS EM SÃO MIGUEL DO GOSTOSO

21

3.1 Caracterização de São Miguel do Gostoso

A cidade de São Miguel do Gostoso está localizada no litoral norte do estado do

Rio Grande do Norte, na região do Mato Grande, e possui uma população de 8.670

habitantes distribuídos em 343,546 km², ficando distante da capital do estado (Natal) em

108 km ao norte. Seu IDHM é de 0,591 segundo dados do censo (IBGE, 2010).

Figura 3 - Localização do município de São Miguel do Gostoso

Localização da cidade em contorno vermelho

Fonte: Google Maps (2015)

São Miguel do Gostoso é bastante conhecida pela sua cultura que

transpassa de geração em geração, apesar de a cidade ter sua emancipação datada

apenas em 1993. As estórias e tradições não se perdem com o passar dos anos. Ano

após ano, inúmeros eventos são realizados através das ONGs que atuam na cidade, com

um olhar voltado para a cultura e o lazer da comunidade. A principal ONG é a CDHEC,

22

que foi criada no ano de 2003, na cidade de Natal, e que posteriormente se deslocou

para São Miguel do Gostoso. Com esse deslocamento, foi criada uma parceria com o

espaço TEAR, e também com a igreja católica da cidade a fim de oferecer cursos,

desenvolver e manter as tradições e culturas locais.

Atualmente, os grupos que atuam na cidade, realizam inúmeros projetos e ações,

dentre elas estão a biblioteca montada por elas mesmas, o grupo de teatro “Nois na rua”,

a oficina de Boi de Reis, o pastoril infantil, o grupo de idosos e também a criação de textos

literários e jornalísticos, além das oficinas montadas para o evento da mostra de cinema

que acontece anualmente na cidade.

3.2 A dinâmica cultural e esportiva na cidade de São Miguel do Gostoso

Sendo a cidade de São Miguel do Gostoso bastante conhecida pelo seu forte

apelo turístico e cultural, o turismo é bastante alavancado pela prática de esporte,

podendo-se perceber um crescimento econômico nos últimos anos na localidade. Tendo

por base o plano formulado pela Secretaria de Economia Criativa e a divisão dos setores

criativos, podemos perceber que o esporte não se enquadra de forma direta em nenhum

dos setores ou segmentos criativos, e mesmo sem essa ligação, se percebe que as

atividades locais estão bastante unidas.

Dentre os grupos que realizam as atividades culturais e esportivas na cidade,

estão o CDHEC, onde dentro dessa ONG, localizado no espaço TEAR, estão

“associados” o grupo de teatro “Nois na Rua”, o grupo de Boi de Reis, o grupo do pastoril,

dentre outros, e voltado para o lado esportivo temos o clube Kauli Seadi. Diante de tantos

grupos culturais, ficou decidido que as entrevistas seriam feitas com representantes

desses grupos, com isso, foram escolhidos os representantes dos grupos “Nois na Rua”

Cinthia Monayra, do “Espaço TEAR” Fernando Miranda, do Centro de Cultura da cidade

de São Miguel do Gostoso, Alessandro Amaral, e do grupo esportivo “Clube Kauli Seadi”

com Cláudia Seadi. Dentre os eventos culturais realizados na cidade, estão a mostra de

cinema que ocorre todos os anos desde 2011, no mês de novembro, o festival Bossa e

Jazz, que acontece simultaneamente nas cidades de Natal e Pipa, bem como os eventos

23

esportivos realizados nas praias da cidade, com ênfase voltada para os esportes de vela,

como windsurf e kitesurf.

Figura 4: Área interna do Espaço TEAR

A área interna do espaço TEAR é utilizada para fazer ensaios das peças, para realizar cursos e minicursos, para realização de reuniões e encontros, além de retratar em pinturas um pouco da cultura local. Fonte: Espaço Tear / CDHEC (2015).

Durante todo o ano, o calendário é preenchido com diversas ações que são

realizadas pelos grupos buscando sempre desenvolver o protagonismo juvenil, com o

intuito de manter viva a história e a cultura local, que é bastante forte, e também resgatar

toda essa história e evidência nos dias atuais. Existem ainda cursos que são

disponibilizados para a população gostosense, com um apelo maior aos jovens, para

cursos de fotografia, de direitos humanos e o mais conhecido de todos, a oficina de

jornalismo, onde a partir dela é elaborada a revista Guajirú. Esta revista, que já tem quatro

edições, é elaborada por jovens que participam desse curso, e colocam em prática todo

esse aprendizado através desse meio de divulgação. Nos trabalhos, como não poderia

deixar de ser, são evidenciadas as tradições, os costumes e as histórias da cidade. As

24

atividades esportivas que são ofertadas na cidade, atraem praticantes de esportes de

todo o mundo, e dentre essas atividades que são ofertadas, estão as mais famosas, o

Windsurf e o Kitesurf.

Pode-se perceber que os grupos ligados ao esporte, não têm uma ligação muito

forte com os grupos culturais, o que dificulta a realização de ações que possam favorecer

ambos os segmentos. Os grupos esportivos, pelo fato de em sua maioria serem de

propriedade privada, e com isso, terem uma autonomia maior na questão financeira, não

dependem de adoção a redes tanto locais, como estaduais, regionais ou federais. Em

contrapartida, os grupos culturais dependem bastante dessas redes, sejam elas redes

locais, estaduais, regionais ou federais. Em sua maioria, os grupos estão integrados na

rede do projeto Cultura Viva, que é o projeto dos pontos de cultura, onde no Brasil, já

existem mais de três mil pontos de cultura. Os grupos também têm uma parceria com as

escolas do município, onde buscam sempre levar as suas atividades para que as crianças

possam conviver ainda mais com as histórias e cultura locais.

“Ele (grupo “Nois na Rua”) tá dentro do ponto de cultura, e tá dentro da ONG, do CDHEC, que é a ONG que promove o ponto de cultura em SMG e ele trabalha muito em escolas, tendo essa parceria, trabalhando mais nas escolas municipais. Já houveram eventos na escola estadual, mas as municipais têm uma participação maior.”

(Cinthia Monayra, Grupo Cultural “Nois na Rua”)

Em sua maioria, a principal fonte de renda dos grupos culturais, é oriundo do

repasse concedido pelo Governo Federal, que de forma constante, atrasa esses

pagamentos. Esse repasse é destinado à ONG CDHEC, a qual “distribui” pelos grupos

culturais de acordo com a demanda. Os repasses do governo ocorrem desde o ano de

2008, e a partir daí, o ponto de cultura de São Miguel do Gostoso, tem como objetivo

desenvolver as atividades em um período de três anos, porém, já se vão oito anos, e os

projetos continuam a se desenvolver. Isso acontece pelo fato dos repasses atrasarem

muito. A última parcela, por exemplo, deveria ter sido repassada em 2013, o que até

agora (novembro de 2015) não aconteceu. Com esses problemas financeiros, os grupos

ainda sobrevivem de apoios simbólicos, doações e eventos beneficentes para

arrecadação de dinheiro. Com esse déficit financeiro, uma saída para os grupos, é o

apoio municipal ou até estadual, tendo em vista que o Ponto de Cultura da cidade é o

25

único localizado na região do Mato Grande. Porém, a nível estadual, o apoio que os

grupos recebem, é apenas para a Mostra de Cinema, que é um repasse da Lei Câmara

Cascudo, e apenas após sua aprovação via edital. No âmbito municipal, o apoio dado é

o mais básico possível. Quando os grupos precisam se locomover para outras cidades,

a prefeitura cede um incentivo para alimentação e também para transporte. Já em relação

aos grupos esportivos, a principal fonte de renda, é o aluguel dos seus equipamentos

para a prática do esporte, sem ajuda do setor público.

Figura 5: Espaço Tear realizando oficinas

26

A área interna do espaço TEAR também é utilizada para realizar as oficinas de jornalismo, a partir dessas oficinas, são preparados os jovens que confeccionam a Revista Guajirú. Fonte: Espaço Tear / CDHEC (2015).

A cidade de São Miguel do Gostoso é conhecida pelos seus excelentes ventos,

sendo considerados como o segundo melhor do mundo para a prática desses esportes e

os esportes à vela. Essas condições atraem turistas, nacionais e internacionais, que vêm

à cidade apenas para a prática do esporte, seja para diversão, para treinamento ou para

competição. A cidade ainda não está na rota das grandes competições, mas o que se

espera é que muito brevemente, a cidade receba competições a nível mundial. No quesito

cultural, um grande destaque pode ser dado para os jovens da cidade que são muito

engajados na questão cultural, e buscam cada vez mais através dos grupos, difundir a

cultura local. Para os grupos, isso é muito importante, tanto fazer essa difusão da cultura

através dos jovens da própria localidade, como para mostrar e promover os direitos

humanos.

“Uma ligação bem forte, porque eu como cidadão, tenho que o grupo TEAR foi e é ainda muito importante para preservar a cultura local. E aqui no espaço TEAR, nós sempre incentivamos isso, preservar a cultura, os direitos humanos e outras

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coisas mais. É muito importante para preservar a cultura da cidade e ao mesmo tempo promover os direitos humanos.”

(Fernando Miranda, Espaço TEAR)

A cultura local é muito forte, e graças a isso, se torna possível manter e

desenvolver as atividades que já existem lá, aliado ao interesse da participação dos

jovens. Com todo esse lado cultural a ser aproveitado, tornou-se possível a realização da

Mostra de Cinema de Gostoso, que esse ano vai para a sua terceira edição. Neste

evento, são realizadas diversas oficinas com os jovens da cidade a fim de ensiná-los a

criar roteiros, desenvolver vídeos e consequentemente filmes, sobre a cidade de São

Miguel do Gostoso, tendo por base a cultura local.

As políticas públicas de apoio ao esporte e à cultura na cidade são praticamente

nulas. O que ainda existe é a política dos Pontos de Cultura, e também a do Mais

Educação. Porém, a primeira não realiza um pagamento de forma estável, e a segunda

enfrenta dificuldades na contratação de professores que possam dar as oficinas para os

alunos. E apesar disso, as ações ainda conseguem ser realizadas nas escolas, mas

acabam privando a população em geral das atividades ofertadas. A cidade ainda abrange

distritos na zona rural, e se na sede da cidade, já há dificuldade de implementar essas

políticas, na zona rural isso se torna praticamente impossível, onde este assunto já foi

tratado inclusive na conferência municipal de juventude.

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Figura 6: 3ª Mostra de Cinema de Gostoso (2015)

Sala de cinema ao ar livre durante e 3ª Mostra de Cinema na cidade de São Miguel do Gostoso, público espera ansioso pela exibição do filme enquanto são mostrados os diretores dos curtas que serão exibidos. Fonte: Autoria própria (2015).

O ponto de cultura também não deixa de ser uma política pública, porém o

espaço não consegue ser utilizado com frequência pelos grupos locais, tendo em vista

que sua maior utilidade é para a Mostra de Cinema e suas oficinas. Uma das reclamações

é de que o poder público municipal, espera por ações de pessoas isoladas para que os

eventos aconteçam, e não toma iniciativas de apoio aos grupos. Em tramite na Câmara

de Vereadores, está o Plano de Cultura Municipal, que criaria um fundo de cultura para a

cidade, porém, enfrenta dificuldades para a sua aprovação, expondo também uma falta

de comunicação entre os grupos culturais e a prefeitura.

“A gente percebe que falta um diálogo maior entre os grupos que trabalham isso e a própria prefeitura, para descobrir as necessidades as demandas da cidade e

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tentar supri-las, uma forma de resolver esse problema seria criar o fórum municipal de cultura, que é justamente essa reunião das pessoas que trabalham nessa área das ONGs, do pessoal que trabalha na prefeitura, das entidades e esse fórum debateria sobre essa demanda que acabei de falar, das necessidades que a cidade apresenta e como a gente poderia suprir essas necessidades e a partir daí, destinar algum fundo pra cultura municipal e a partir daí desenvolver e tentar preservar ainda mais a cultura que já existe aqui”

(Alessandro Amaral, Centro de Cultura da cidade)

Além dessa falta de um apoio através de políticas públicas na cidade, existem

outros fatores que acabam prejudicando o desenvolvimento das atividades. Um grande

problema enfrentado pela cultura local é a cultura de massa, que apesar dos jovens da

cidade serem bastante motivados a participar dos eventos, muitas das vezes essa cultura

de massa acaba passando por cima das tradições locais, dos costumes. Pode-se

perceber que hoje, as jovens da cidade preferem frequentar locais que passem ou

apresentem músicas da “moda”, ao invés de participarem do grupo de pastoril ou de

aprender a fazer labirinto, por exemplo. Na cidade também praticamente não existe uma

capacitação de profissionais para trabalhar com a cultura, e em sua maioria, os que

desenvolvem esses projetos hoje, são voluntários e que muito provavelmente, foram

membros dos grupos quando criança. Vale ressaltar que esse problema é enfrentando

em São Miguel, mas não somente lá. A cultura local passa por uma desvalorização que

de certa forma desestimula os jovens a continuarem desenvolvendo os projetos. A prática

dos esportes de vela enfrenta nos altos valores econômicos dos equipamentos, um

entrave para uma maior participação popular, tendo em vista que na cidade, a maioria da

população vive da pesca e da agricultura, o que afasta o interesse dos nativos por esses

esportes.

30

Figura 7: Banca de produtos artesanais na 3ª Mostra de Cinema de Gostoso (2015)

Vendedores ambulantes aproveitam o grande movimento da Mostra de Cinema para comercializar seus produtos artesanais. Fonte: Autoria própria (2015).

O esporte também dá um retorno tanto econômico como social para a cidade.

Observando-se os períodos de alta temporada, isto é, a temporada dos melhores ventos,

a cidade fica lotada de turistas praticantes dos esportes, que lotam as pousadas, os

restaurantes e dinamizam a economia local. Quando os ventos baixam, o movimento

turístico também diminui. Em termos culturais, durante a semana da Mostra de Cinema,

a cidade registra um enorme movimento.

“Trouxemos emprego para a cidade, qualificação, muitos velejadores do mundo todo que acabam ocupando outras pousadas, indo aos restaurantes e fazendo compras em lojinhas. Acreditamos que colaboramos com um impacto positivo para a cidade, socialmente e economicamente.”

(Cláudia Seadi, Clube Kauli Seadi)

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Por fim, essas atividades trazem uma repercussão social muito grande para a

cidade, além de conseguir com o passar dos anos, manter as tradições e a cultura local,

ele também promove o protagonismo juvenil, com jovens que pensam numa

transformação social para a cidade. Outro fator importante, é que algumas crianças

descobrem seus interesses através dos cursos ofertados pelos grupos culturais, como

crianças que se interessam pela produção de filmes, e cada vez mais estudam para

desenvolver as habilidades no curso de audiovisual.

32

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da economia criativa ser um conceito recente, não só no Brasil, mas em

todo o mundo, ela vem explicando a dinamização da economia em torno dos setores

criativos. Toda a criatividade existente no processo formador dos elementos culturais,

vem sendo muito bem aproveitado por todos aqueles que vivem em torno dos setores

criativos e culturais. No Brasil, essa forma de gerar dinheiro através da produção

intelectual em união com a cultura, tem como foco principal a cultura, tendo em vista que

a cultura brasileira é muito forte e diversificada.

A cidade de São Miguel do Gostoso tem como maior impulsionador econômico o

turismo, o qual é atraído pela cultura local, pelos ventos que propiciam a prática do

esporte à vela, e também pelos inúmeros eventos que são organizados pelos grupos

culturais da cidade, tendo maior visibilidade a Mostra de Cinema que atrais turistas das

regiões próximas, cidades vizinha e até outros estados. De acordo com a definição dos

setores culturais pelo Plano da Secretaria de Economia Criativa (BRASIL, 2012), os

eventos que ocorrem na cidade de forma frequente, e também os produtos que são

vendidos na cidade, se encaixam no campo das expressões culturais (o artesanato e as

culturas populares), no campo das artes de espetáculo (o grupo de teatro) e no campo

do audiovisual/do livro, da leitura e da literatura (Cinema e vídeo). O esporte que é

praticado na cidade não está englobado diretamente em nenhum setor criativo, porém,

pode ser levado em conta que muitos dos turistas que vem usufruir dos serviços

esportivos oferecidos, ficam na cidade também para desfrutar dos eventos culturais e

também para a compra de artigos artesanais, para além da vivência e gastronomia locais.

A cidade de São Miguel do Gostoso, começou a se desenvolver graças ao

turismo que vem crescendo nos últimos anos, quando antes era um distrito da cidade de

Touros, para se revelar hoje como uma cidade com elevado potencial turístico e cultural.

Porém, as políticas públicas existentes para o apoio e crescimento econômico da cidade,

não são eficazes e praticamente não existem, no que tange as políticas de incentivo tanto

para a cultura, como para o esporte. Estas políticas poderiam trazer uma independência

aos grupos (principalmente culturais) na questão dos apoios financeiros. Tanto as

políticas públicas federais, como as estaduais e municipais, são deficitárias no

33

atendimento à demanda local, apesar dos editais que são disponibilizados pela Lei

Câmara Cascudo, e também pelo apoio mínimo dado pela Prefeitura Municipal.

Apenas essas ações não são o bastante para alimentar e difundir a cultura local.

São necessárias políticas que abranjam todo o processo econômico da venda dos

produtos e eventos, que passam pela criação, pela produção, distribuição e finalmente

ao consumo, e que a partir dessa abrangência, as atividades se tornariam mais visíveis,

mais atrativas para os que produzem e também para os que consomem, favorecendo um

fluxo maior dos produtos culturais.

As práticas culturais existentes na cidade, conseguem ser mantidas devido ao

voluntarismo e empreendedorismo dos grupos culturais que trabalham buscando levar a

toda a população os costumes e histórias locais. A impulsão de visibilidade desta

categoria está ligada com o potencial turístico da cidade, assim como o esporte. Hoje,

muitos jovens estão empenhados nessa valorização da cultura local buscando um futuro

melhor para a cidade, e para que isso ocorra de forma mais clara e rápida. Contudo, se

faz necessário o apoio das políticas definidas no plano da secretaria de economia criativa,

levando-se em conta a realidade local e suas necessidades. Para que isso ocorra, é

importante conhecer de perto a história local, e conhecer detalhadamente os anseios que

passam os grupos locais, descobrir por onde esses setores podem se desenvolver e

assim criar políticas essenciais para o crescimento econômico, ainda maior da cidade de

São Miguel do Gostoso.

Desse modo, se o esporte é uma prática que visa o lucro em São Miguel do

Gostoso, são necessárias políticas públicas locais que apoiem essa dinamização

econômica da cultura, uma vez que não faltam empreendedores culturais, nem

consumidores, sobretudo ao nível do turismo. Só assim, é que se estará cumprindo o

preceito da economia criativa promovendo o aparecimento de profissionais ligados a todo

o ciclo econômico da cultura.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

34

BRASIL. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011- 2014. Brasília: Ministério da Cultura. 2012.

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35

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NEVES, José Luis. Pesquisa qualitativa – Características, usos e possibilidades. Caderno de pesquisas em administração, São Paulo, 1996.

NEWBIGIN, John. A Economia Criativa: Um guia introdutório. Londres: British Council. 2010. Disponível em: <http://creativeconomy.britishcouncil.org/media/uploads/files/Intro_guide_-_Portuguese.pdf>. Acesso em: 04 Set 2015

REIS, Ana Carla Fonseca. Economia Criativa como estratégia de desenvolvimento: uma visão dos países em desenvolvimento. Itaú Cultural, São Paulo, 2008.

TRIBUNA DO NORTE. Cinema a favor dos ventos. 2014a. Disponível em: <http://tribunadonorte.com.br/noticia/cinema-a-favor-dos-ventos/297111>. Acesso em: 15 set. 2015.

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UNCTAD. Relatório de economia criativa 2010: economia criativa uma, opção de desenvolvimento. – Brasília: Secretaria da Economia Criativa/Minc; São Paulo: Itaú Cultural, 2012.

6. APÊNDICES

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Grupos culturais

NOME:

GRUPO:

TEMPO DE ATIVIDADE NO GRUPO:

1. Que atividades são desenvolvidas no Grupo Cultural/Grupo Esportivo?

2. O Grupo Cultural/Grupo Esportivo integra alguma rede local/estadual/regional ou

nacional?

3. Que ligação tem o grupo cultural/esportivo com a cidade de São Miguel do

Gostoso?

4. Quais são as principais fontes de renda do Grupo Cultural/Grupo Esportivo?

5. Como são divulgadas as atividades do Grupo cultural/esportivo?

6. Que fatores positivos encontra em São Miguel do Gostoso para o desenvolvimento

da atividade cultural/esportiva?

7. Que fatores negativos encontra em São Miguel do Gostoso para o

desenvolvimento da atividade cultural/esportiva?

8. Quais as repercussões sociais e econômicas da atividade cultural/esportiva para

São Miguel do Gostoso?

9. Que medidas ou políticas públicas favorecem ou poderiam favorecer o desenvolvimento da atividade cultural e esportiva em São Miguel do Gostoso?

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Gestor

NOME:

CARGO:

1. Qual a relevância das atividades culturais e esportivas na cidade de São Miguel

do Gostoso?

2. Que apoios são ofertados aos Grupos culturais e esportivos pela Prefeitura?

3. Que fatores positivos encontra em São Miguel do Gostoso para o desenvolvimento

da atividade cultural e esportiva?

4. Que fatores negativos encontra em São Miguel do Gostoso para o

desenvolvimento da atividade cultural e esportiva?

5. Quais as repercussões sociais e econômicas das atividades culturais e esportivas

para São Miguel do Gostoso?

6. Que medidas ou políticas públicas favorecem ou poderiam favorecer o desenvolvimento da atividade cultural e esportiva em São Miguel do Gostoso?