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As armas na romanização: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) Teresa Rita Pereira * Resumo: Apresenta-se a totalidade do conjunto de armas datado da IIª Idade do Ferro e de período romano- republicano proveniente das escavações do sítio arqueológico de Cabeça de Vaiamonte, e depositado no Museu Nacional de Arqueologia (MNA). O conjunto sidérico sugere uma forte influência das áreas culturais celtibérica (punhal bidiscoidal, signum eqvitvm) e ibérica (falcata). Não obstante, o armamento do período romano-republicano é aquele que se encontra melhor documentado e evidencia uma inequívoca presença militar romana. Este espólio bélico, datado genericamente dos séculos II e I a.C., engloba: pilum de aba, pontas e contos de lança, pontas de dardo, pontas de seta, dardos incendiários, balas de funda, capacetes e algemas. Apesar da ausência de contexto estratigráfico parece possível aferir a convivência (ou convergência) do mundo indígena e dos elementos da romanização. Abstract: Here we present the full set of weapons, dating from the Second Iron Age and roman republican period, from the excavations on the archaeological site of Cabeça de Vaiamonte, deposited in the National Archaeological Museum (MNA). The Iron Age set suggests a strong influence from Celtiberian (“bidiscoidal” dagger, signvm eqvitvm) and Iberian (falcata) cultural areas. Nevertheless, the arming of Roman Republican period is one that is better documented and expresses unequivocal evidence of a Roman military presence. This war set, generally dated from the 2 nd and 1 st centuries BC, covers: pilum, spearheads and butts, dart points, arrowheads, slingshots, helmets and handcuffs. Despite the lack of stratigraphic context it seems possible to assess the coexistence (or convergence) of the indigenous world and the elements of romanization. * Bolseira de doutoramento FCT Fundação para a Ciência e Tecnologia/ UNIARQ Centro de Arqueologia, Universidade de Lisboa 46 VI ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA DEL SUROESTE PENINSULAR ISBN 978-84-616-6306-4

As armas na romanização: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal)

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As armas na romanização: o exemplo de

Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal)

Teresa Rita Pereira

*

Resumo: Apresenta-se a totalidade do conjunto de armas datado da IIª Idade do Ferro e de período romano-

republicano proveniente das escavações do sítio arqueológico de Cabeça de Vaiamonte, e depositado

no Museu Nacional de Arqueologia (MNA). O conjunto sidérico sugere uma forte influência das áreas

culturais celtibérica (punhal bidiscoidal, signum eqvitvm) e ibérica (falcata). Não obstante, o armamento

do período romano-republicano é aquele que se encontra melhor documentado e evidencia uma

inequívoca presença militar romana. Este espólio bélico, datado genericamente dos séculos II e I a.C.,

engloba: pilum de aba, pontas e contos de lança, pontas de dardo, pontas de seta, dardos incendiários,

balas de funda, capacetes e algemas. Apesar da ausência de contexto estratigráfico parece possível

aferir a convivência (ou convergência) do mundo indígena e dos elementos da romanização.

Abstract: Here we present the full set of weapons, dating from the Second Iron Age and roman republican period,

from the excavations on the archaeological site of Cabeça de Vaiamonte, deposited in the National

Archaeological Museum (MNA). The Iron Age set suggests a strong influence from Celtiberian

(“bidiscoidal” dagger, signvm eqvitvm) and Iberian (falcata) cultural areas. Nevertheless, the arming of

Roman Republican period is one that is better documented and expresses unequivocal evidence of a

Roman military presence. This war set, generally dated from the 2nd

and 1st

centuries BC, covers: pilum,

spearheads and butts, dart points, arrowheads, slingshots, helmets and handcuffs. Despite the lack of

stratigraphic context it seems possible to assess the coexistence (or convergence) of the indigenous

world and the elements of romanization.

* Bolseira de doutoramento FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia/ UNIARQ – Centro de Arqueologia, Universidade de Lisboa

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VI ENCUENTRO

DE ARQUEOLOGÍA

DEL SUROESTE PENINSULAR ISBN 978-84-616-6306-4

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INTRODUÇÃO

O sítio arqueológico de Cabeça de Vaiamonte, localizado no distrito de Porta-

legre, concelho de Monforte (Coordenadas UTM: Lat. 39º 5´ 22”, Long. 7º 38´

35”, C.M.P. 1: 25000, folha 384, Monforte), encontra-se num outeiro isolado que

se destaca claramente na paisagem pela sua implantação a 393 metros de

altitude, enquadrado pelas bacias do Sorraia/Tejo e do Caia/Guadiana (Fig. 1).

Constitui um dos mais paradigmáticos sítios de habitat do nordeste alentejano e

foi alvo de várias campanhas de escavações arqueológicas dirigidas por Manuel

Heleno entre 1951 e 1964 (Fabião 1998: 151-152). Apesar do vasto conjunto

artefactual recuperado e hoje depositado no Museu Nacional de Arqueologia, os

dados de leitura arqueográfica e estratigráfica do sítio apresentam-se de difícil

extrapolação, uma vez que o registo efectuado pelos seus principais interve-

nientes – Manuel Heleno e João Lino da Silva, limita, em muito, a tentativa de

relacionar os materiais e a realidade ocupacional deste espaço. Desconhecem-se

por isso com exactidão quais as zonas intervencionadas, que área abrangiam e se

se terão cingido à encosta Sudeste do cabeço.

Apesar de todas estas dificuldades, e mesmo impossibilidades, a tese de dou-

toramento de Carlos Fabião (1998) propôs o provável faseamento de ocupação

do sítio. Na Idade do Ferro a matriz indígena encontra-se por demais eviden-

ciada, nomeadamente através do conjunto de cerâmica “estampilhada”. Um

momento transitório, de efectiva romanização do território, é igualmente

notória com os dados que a cerâmica campaniense (incluindo as imitações

regionais/locais), os numismas, as fíbulas, o armamento e a militaria transpa-

recem.

Uma das primeiras referências conhecida sobre o sítio arqueológico foi

efectuada por Leite de Vasconcelos (1929: 184), que o designa por “castro” e

publica os materiais provenientes do Poço da Moura, uma nascente de água no

Fig. 1.— Mapa de localização do sítio arqueológico de Cabeça de

Vaiamonte

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sopé da serra: um capacete de bronze e uma ponta de lança de ferro. Foi

somente em 1951 que o Museu iniciou um programa de escavações, delineado

pelo então director, Manuel Heleno. Paralelamente desenvolviam-se escavações

na villa romana de Torre de Palma o que dificulta em muito, a correcta associa-

ção dos materiais a um destes sítios dada a ausência de relatórios detalhados,

mapas ou plantas para a Cabeça de Vaiamonte.

Apesar de algum do espólio ter sido publicado, outra grande parte continua

inédita. A análise de muitos dos artefactos metálicos aponta para a presença de

uma guarnição militar romana. Segundo Carlos Fabião (1996: 60; 2007: 120)

trata-se de uma ocupação datada do 1º quartel do século I a.C. e cujo abandono

se relacionaria com as guerras sertorianas, sendo que o acampamento militar

romano de Cáceres el Viejo é apontado como paralelo para a maior parte do

espólio metálico (Fabião 2007: 113). Não obstante a inequívoca semelhança

entre ambos, é agora possível efectuar uma reinterpretação cronológica à luz de

dados recentes sobre o armamento e militaria de período romano-republicano.

1. AS ARMAS DEFENSIVAS: O CAPACETE E O ESCUDO

Um dos casos de necessária reinterpretação prende-se com o capacete de liga de

cobre (Fig. 3, 1) que havia sido classificado por García-Mauriño (1993: 120, nº 49,

fig. 33) como de tipo Montefortino, C-D de Robinson ou tipo II do próprio autor

que o enquadra na 2ª metade do século I a.C. (Ibidem: 131, fig. 41). Esta

classificação ocorre com algumas imprecisões e erros ortográficos no que diz

respeito à proveniência, que surge como “Cabeza de Vaiamonde”/“Vaiamonde”

(Ibidem: 120-121, 124-125, 132 e 138) onde se deveria ler Cabeça de Vaiamonte/

Vaiamonte; à localização do sítio arqueológico, que de um modo generalista se

refere apenas, e com gralha, a “Alemtejo, Portugal” (Ibidem: 120), onde se

deveria ler Monforte, Portalegre, Portugal; e mesmo ao local de depósito do

achado, que é descrito como “Museo Etnológico de Alemtejo” (?) (Ibidem), onde

se deveria ler Museu Nacional de Arqueologia.

Fig. 2.— O sítio arqueológico de Cabeça de Vaiamonte

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Fig. 3.— Armas defensivas: capacete, ponteiras e umbo circular de

escudo; armas ofensivas hasteadas: pontas de seta (A.I-V), pontas

(B.I-II) e contos de lança (C.I-III)

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Para além destas imprecisões, e no que à classificação tipológica diz respeito, a

designação de tipo Montefortino revelou-se incorrecta ao ser revista nos

trabalhos de Michel Feugère (1993; 1994a; 1994b) que considera que esta

designação pressupunha uma origem estrusco-itálica, ao contrário de um novo

tipo identificado e designado de tipo Buggenum. Em contexto peninsular, este

tipo de capacete é finalmente identificado e alvo de publicação por parte de

Fernando Quesada Sanz (1997b) que revê os dados de García-Mauriño (1993),

mantendo no entanto a imprecisão na designação do sítio arqueológico de

proveniência (Quesada 1997b: 158, fig. 7; 159; 162) e no museu de depósito do

achado (Ibidem: 163, table II).

Os capacetes de tipo Buggenum são genericamente caracterizados pela ausência

de motivos decorativos (Quesada 1997b: 159) e encontram-se datados da 2ª

metade do século I a.C. (Ibidem), geralmente associados a contextos cesarianos

(Feugère 1994a). O capacete de Vaiamonte foi assim publicado como perten-

cendo a este tipo (por indicação pessoal de Michel Feugère, vide Quesada 1997b:

164, nota 19), juntamente com outros exemplares do sudoeste peninsular

(Várzea de Aljezur, Mesas do Castelinho, Lacimurga, Alcaracejos) e do vale do

Ebro (Piquete de la Atalaya) (Ibidem: 159).

Este exemplar encontra-se bem conservado, excepção feita à ausência das duas

guardas-laterais, factor comum à totalidade dos exemplares peninsulares deste

tipo (García-Mauriño 1993: 97). Trata-se assim de uma arma efectuada através

do martelamento a frio de uma espessa lâmina de liga de cobre (Ibidem) que

produziu um capacete de forma semiesférica, de bordo inferior espessado,

guarda-nuca curto e plano e cuja ponteira de forma bitroncocónica parece

tratar-se de uma peça independente, fundida ao capacete a posteriori, como

parecem demonstrar os exemplares destacados como o de Mesas do Castelinho

(Fabião 1998: est. 74, nº 3) ou os dois exemplares recuperados em Vaiamonte

(Fig. 3, 2). Com base no diâmetro interno do capacete foi possível calcular o

perímetro interno do mesmo (64,62 cm), que excede entre 5 a 10 cm o períme-

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tro cefálico médio de um adulto. Segundo vários autores, estas dimensões

exageradas deverão pressupor o preenchimento do espaço interior do capacete

com madeira ou couro (García-Mauriño 1993: 97).

Quanto ao contexto do achado, este foi recolhido fortuitamente num contexto

deposicional secundário junto a um ponto de água denominado localmente por

“Fonte da Moura” (Vasconcelos 1929: 184), juntamente com uma ponta de lança

de ferro. Esta deposição poderá ter-se revestido de um carácter intencional e

ritual de “armas nas águas”, à semelhança do achado da Várzea da Misericór-

dia em Aljezur (Fabião 1998: 151). Acerca desta ponta de lança, da qual

conhecemos apenas o desenho publicado (Vasconcellos 1929: 184, fig. 54),

podemos caracterizá-la como uma ponta de lança de ferro cuja lâmina tipo

“folha de loureiro” e respectivo alvado apresentam comprimentos semelhantes,

e que encontra paralelo no tipo B de Rouillard para as pontas de lança de Urso

(Osuna, Sevilha) (Quesada 2008: 15, fig. 5B). Nesse local, palco de vários

confrontos bélicos em período romano-republicano, este tipo de ponta de lança

apresenta comprimentos que variam entre os 15 e os 20 cm (Ibidem: 14), não

obstante no nosso caso a ausência de escala não nos permite aferir se será esse

o caso.

No decorrer das escavações arqueológicas em Cabeça de Vaiamonte foram

recolhidas duas ponteiras de capacete provavelmente atribuíveis ao tipo

Buggenum (Fig. 3, 2). A função destes elementos estaria provavelmente

relacionada com a colocação de um penacho colorido no topo do capacete

(Bishop e Coulston 1993: 61). À semelhança do processo de fabrico do capacete

conservado, também estes dois exemplares parecem reflectir peças indepen-

dentes que seriam fundidas a posteriori ao capacete. Estas duas ponteiras

apresentam formas e dimensões bastante semelhantes – bitronco-cónica com

zona inferior convexa para fundição e união ao capacete, apesar de reflectirem

pesos bem distintos: o nº 2 com 40,29 gr e o nº 3 com 23,18 gr. Esta diferença

poderá indicar distintos processos metalúrgicos. Acrescente-se ainda que estas

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ponteiras foram recolhidas na mesma camada artificial (25-50 cm), não obstante

este dado ser claramente insuficiente para permitir qualquer relação estrati-

gráfica, pois à excepção desta nota não há qualquer indicação ao local exacto do

achado, nomeadamente a qual das sondagens efectuadas.

Foi ainda identificado um fragmento de um umbo circular de escudo com um

diâmetro externo aproximado de 15 cm (Fig. 3, 3). Este umbo poderia pertencer

a um escudo circular pequeno, caetra, ou mais provavelmente a um escudo oval,

scutum. O sítio de Lomba do Canho/Arganil apresenta um exemplar semelhante

(Fabião 2007: 124, fig. 4) com aproximadamente 15 cm de diâmetro externo, e

Tossal de Sant Miquel (García Jiménez 2011: 1032, fig. 336, nº 2041 do tipo I.1) e

Numancia IV (Ibidem: 1033, fig. 337, nº 2055 do tipo I; Luik 2010: 65, fig. I, nº 6)

apresentam escudos de diâmetro ligeiramente superior, entre os 15-20 cm. Este

tipo de umbo circular pequeno aplicado em escudo oval é considerado “tipica-

mente romano”, e é genericamente datado do século I a.C, tendo sido associado

o seu aparecimento às guerras entre César e Pompeu (Feugère 1994a; Quesada

1997a: 539-540).

2. AS ARMAS OFENSIVAS

2.1. Armas ofensivas de haste: pontas de seta, pontas e contos de lança, pontas de dardo e o pilum

Serão consideradas para este estudo as pontas de seta produzidas em ligas de

cobre, apesar de se encontrarem claramente distantes do período cronológico

aqui considerado. Entre elas conta-se a presença de uma ponta tipo Palmela (Fig.

3, 4) já conhecida (Fabião 1996: 40; 1998: 175; Mataloto 2006: 95-96), bem

como cinco exemplares de ponta de seta (Fabião 1998: 175) de pedúnculo e

aletas enquadráveis no tipo C1 (dois exemplares: Fig. 3, 5), C2 (dois exemplares:

Fig. 3, 6) e C3 (Fig. 3, 7) de Ruiz Zapatero (Quesada 1997a: 459). Estes dois tipos

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de armas surgem como indicadores cronológicos para momentos distintos da

ocupação da Cabeça de Vaiamonte: a ponta tipo Palmela para uma fase

calcolítica tardia (Fabião 1998: 174; Mataloto 2006: 96) e as pontas de seta de

pedúnculo e aletas para uma Idade do Bronze Final. Não obstante e tal como

notado por Carlos Fabião (1998: 175) estas apreciações fazem-se, ainda mais

neste caso específico de ausência de contextos estratigráficos, com base no

âmbito tecnológico destes materiais e não num plano cronológico “absoluto”.

Veja-se a título de exemplos os casos de Castelo da Lousa onde surge uma ponta

de seta com pedúnculo de liga de cobre (Ruivo 2010: 516, Est. CLXVII, nº 126); de

Ullastret (Casas et al. 2002: 240-241, fig. 8.5) onde foi recuperada uma ponta

sobre lâmina de sílex retocada; ou o de Castrejon de Capote (Berrocal-Rangel

1989: 250) onde surgem reutilizações em época pré-romana de uma ponta tipo

Palmela, micrólitos de sílex e quartzo e dois machados de pedra polida, tendo

um deles sido recuperado junto a uma mandíbula de ovi-caprino com materiais

in situ enquadráveis no século II a.C. (um as de Sekaisa). O mesmo parece ter

sucedido no depósito votivo de Garvão (Antunes e Cunha 1986: 82-83), onde se

recuperou um machado de pedra polida possivelmente usado em um sacrifício

humano no século III a.C.

A totalidade do conjunto de armas ofensivas de haste aqui considerado encontra

no ferro a sua matéria-prima. As pontas de seta (A) apontam claramente para

uma cronologia de período romano-republicano, e formam cinco tipos distintos:

as pontas de seta de lâmina piramidal (A.I), as pontas de seta com espessamento

central (A.II), as pontas de seta de lâmina curta e plana cujo encabamento varia

entre o espigão (A.III) e o alvado (A.IV) e as pontas de seta com arpão lateral e

sistema misto de encabamento (A.V). Estão totalmente ausentes do espólio de

Vaiamonte: as pontas de seta de bronze ditas fóssil guia do orientalizante

(Quesada 1997a: 448) com nervura central espessada e arpão lateral, datadas

entre o século VII-V a.C.; bem como as pontas de seta de secção trilobada que

são comuns em período romano-republicano, surgindo por exemplo em

Numancia (Bishop e Coulston 1993: 55).

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As pontas de seta de tipo A.I (Fig. 3, 8), num total de cinco exemplares,

caracterizam-se pela lâmina piramidal maciça claramente destacada da zona de

encabamento por espigão. A relação de dimensão entre a lâmina e o espigão é

bastante variável, bem como o peso desta arma, que neste conjunto apresenta

variações entre os 10 e os 37 gr. Este tipo é coincidente com o tipo E de Urso

(Quesada 2008: 15-16, fig. 8.E) que é considerada a ponta de seta mais eficaz na

perfuração de cotas de malha. Encontra também paralelo em Numancia III e IV

(Luik 2002: abb. 190, nº 210 e abb. 90, nº 194; 2010: 69-70, fig. 4, nº 14-15) com

cronologias da 2ª metade so século II a.C. ao 1º quartel do século I a.C., no

Monte Bernorio (Torres-Martínez et al. 2012: 532, fig. 5, nº 12, 14) onde surgem

em contextos do século I a.C, e em Conímbriga (Alarcão et al. 1979: pl. XIX, nº 36

e 38). Maior variabilidade de peso apresenta o tipo A.II (Fig. 3, nº 9 e Fig. 4),

cujos pesos dos quatro exemplares identificados oscilam entre os 7 e os 51 gr.

Neste caso, as pontas de seta caracterizam-se pela simplicidade de produção,

trata-se de uma haste com espessamento central e comprimento variável entre

8 e 16 cm, cujas extremidades se encontram aguçadas: quer a proximal que seria

encabada, quer a distal que actuaria como perfurante. No Museu de Évora

encontram-se depositados dois exemplares deste tipo, provenientes do Castelo

da Lousa (Galamba 2008: 24, ME8927 e ME8928). Esta ponta de seta também se

encontra representada em Conímbriga (Alarcão et al. 1979: pl. XIX, nº 31-35),

nos acampamentos de Numancia III (Luik 2002: abb. 90, nº 190; 2010: 69-70, fig.

4, nº 16), no Monte Bernorio (Torres-Martínez 2012: 532, fig. 5, nº 1,7-8, 17-18)

onde os exemplares de maior comprimento se encontram descritos como pila

catapultaria. Já o tipo A.III (Fig. 3, nº 10) surge representado apenas por dois

exemplares e encontra paralelo nas pontas de tipo 8.B de Urso (Quesada 2008:

15-16) cuja morfologia é considerada pelo autor como adequada para a caça ou

contra inimigos desprovidos de protecção, uma vez que a sua lâmina plana e leve

não deveria obter grande qualidade perfurante. Também se encontra entre o

espólio de Conímbriga (Alarcão et al. 1979: pl. XIX, nº 41-42) e Castelo da Lousa

(Ruivo 2010: 514, est. CLXV, nº 67). O tipo A.IV (Fig. 3, 11) é muito semelhante a Fig. 4.— Ponta de seta de ferro (38) de tipo A.I.

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este último tipo, apesar de apresentar uma lâmina de secção lenticular e o

encabamento ser efectuado em alvado. Trata-se de um tipo comum em período

romano-republicano, sendo que algumas destas pontas recebem barbelas

laterais (Bishop e Coulston 1993: 55), como no nosso tipo A.V (Fig. 3, 12) que

encontra paralelo nas pontas de tipo 8.A de Urso (Quesada 2008: 15-16), e em

Conímbriga (Alarcão et al. 1979: pl. XVIII, nº 9).

As pontas de lança classificáveis (B) surgem igualmente de dois tipos: o de lâmina

com nervura central circular ou em diamante, mais ou menos destacada (tipo I) e

o de lâmina em forma de folha de loureiro de secção lenticular ou em diamante

(tipo II). As quatro pontas de lança de tipo B.I (Fig. 3, 13) conservam

características pré-romanas quer pela sua dimensão, quer pela aresta central

que conserva e que virá a ser menos pronunciada. No caso de Cáceres el Viejo,

Günter Ulbert (1984: 105, taf. 24, nº 184) classifica-as mesmo como de tipo

Alcácer inserindo-as na Tajo-Kultur A2 de Schule. A continuidade na sua utiliza-

ção é notória: ocorre tanto em contextos republicanos do século I a.C.: Cáceres

el Viejo (Ibidem), Numancia IV (Bishop e Coulston 1993: 52, fig. 22.2; Luik 2002:

abb.180, nº 132; 2010: 66, fig. 2, nº 4), Castelo da Lousa (Galamba 2008: 26,

ME8971), Mesas do Castelinho (Fabião 1998: est. 74, nº 2); como continua a ser

utilizada em contextos do século II d.C. como o exemplar recuperado na Muralha

de Adriano bem demonstra (Bishop e Coulston 1993: 110, fig. 68.1). O tipo B.II

(Fig. 3, nº 14), representado por 13 exemplares, transparece já uma preferência

claramente romana: a lâmina leve de secção lenticular ou em diamante. Estas

pontas de lança são muito comuns em contextos do século I a.C. como Cáceres el

Viejo (Ulbert 1984: Tafel 24, nº 181-183), Conímbriga (Alarcão et al. 1979: pl.

XVII, nº 2), e também em Urso (Quesada 2008: 15, fig. 5B), Numancia e Alesia

onde surgem em contextos cesarianos (Ulbert 1984: 105).

A partir do período da guerra civil cesariana (meados do século I a.C.) o pilum

começa a ser a arma de haste utilizada por todos os legionários, uma vez que é

extinta a terceira linha de triarii que levariam essas lanças pesadas (Quesada

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2008: 14). No entanto, as tropas auxiliares de infantaria iriam armadas, sobre-

tudo, com pontas de lança leves e curtas (Ibidem), sendo este dado confirmado a

partir do reinado de Trajano (finais do século I d.C.) com inúmeras evidências

arqueológicas da utilização da lança/contus (Bishop e Coulston 1993: 109).

Como vemos, a utilização da ponta de lança por parte do exército romano é

contínua, apesar de ter sofrido algumas alterações, tal como já aqui exposto: a

dimensão é reduzida, bem como o peso; a aresta deixa de ser tão pronunciada

ou mesmo chega a ser inexistente, dando lugar a lâminas de secção lenticular e,

acima de tudo, em muitos casos deixam de necessitar do contrapeso promovido

pelos contos.

São exactamente os contos de lança que se afiguram como o maior conjunto

dentro do armamento de Cabeça de Vaiamonte, com um total de 37 exemplares.

Uma vez que a maioria surge sem qualquer indicação estratigráfica teremos que

nos basear em alguns aspectos tipológicos para distinguirmos uma provável

diacronia. Um dos principais critérios de antiguidade é o da dimensão, uma vez

que nos séculos VI e V a.n.e. facilmente atingem um comprimento superior a 25

cm (Quesada 1997: 427-429). Com base no comprimento, no diâmetro do alvado

e na secção maciça do conto foi possível efectuar uma tentativa de diferenciação

tipológica. Desta tentativa resultam três tipos diferenciados. O tipo C.I (Fig. 3, 15)

caracterizado pelo perfil cónico e por isso de secção circular é o tipo melhor

representado neste conjunto, com um total de 33 exemplares, dos quais 23 se

encontram fragmentados, três pertencem ao subgrupo C.I.a (com um peso

médio de 55 gr e comprimento médio de 12 cm) e sete ao subgrupo C.I.b (com

um peso médio de 41 gr e comprimento médio de 9,2 cm). Este tipo encontra-se

bem representado em Cáceres el Viejo (Bishop e Coulston 1993: 52, fig. 22, nº 7,

9-10), Numancia (Ibidem: nº 8, 11-12). Já o tipo C.II (Fig. 3, 16) caracteriza-se pelo

seu aspecto piramidal e de secção maciça quadrangular e encontra-se

representado por dois exemplares, um dos quais enquadrável no subgrupo C.II.b.

Encontra paralelo em alguns exemplares de Cáceres el Viejo (Ibidem: nº 10) e em

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contextos mais antigos, em Grad near Smihel na Eslovénia todos os contos de

lança recuperados e datados dos séculos III-II a.C. pertencem a este tipo. O tipo

C.III (Fig. 3, 17 e Fig. 5) destaca-se pelo seu formato cónico com botão terminal e

alvado estreito. Neste conjunto apresenta-se com apenas dois exemplares

conservados, um dos quais integrável no subgrupo C.III.b. Este tipo particular de

conto de lança encontra paralelo em Conimbriga (Alarcão et al. 1979: pl. XVIII, nº

16), em Rheingönheim, onde se encontra datado dos inícios do principado de

Augusto (Bishop e Coulston 1993: 68, fig. 35, nº 17 e 18) e na batalha de Kalke-

riese datada de 9 d.C. (Rost et al. 2010: 125, fig. 8, nº 15).

Cada um dos tipos foi subdividido com base num índice morfológico criado para

o efeito e que tem por base a relação do comprimento máximo com o diâmetro

interno do alvado. Este índice só foi aplicado aos exemplares que conservam o

comprimento integral da peça. Este critério teve por base o “Índice 1” criado por

Quesada Sanz (1997: 357) para a caracterização das pontas de lança. No caso dos

contos de lança a fórmula aqui criada, (comprimento máximo/diâmetro interno

máximo do alvado), criou os subgrupos a, quando o índice resultante é superior

a 10, e b, quando se situa entre 5 a 10. Quanto maior o índice, mais comprido,

estreito e pontiagudo será o conto, à semelhança do que sucede nas pontas de

lança (Ibidem).

Geralmente a distribuição destas peças é escassa, pois as pontas de lança surgem

em maior número (Ibidem: 427-429), não obstante neste caso suceder

exactamente o oposto. À medida que nos aproximamos da romanização, os

contos diminuem de tamanho e transformam-se numa arma. Segundo Fernando

Quesada (Ibidem: 431) a utilização dos contos tem algumas vantagens: podem

fixar-se ao solo quando não estão a ser usados, utilizam-se em combate depois

do inimigo estar caído para desferir o golpe fatal e penetrar a couraça e fazem de

contrapeso na haste da ponta de lança que deve pesar pouco mais do que o

conto. Guillermo Kurtz (1987) e Luis Berrocal-Rangel (1992) defendem mesmo

que poderia ser usada sozinha como ponta de arma de haste pela infantaria

Fig. 5.— Conto de lança de ferro com botão terminal

(17) de tipo C.III.

VI ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA DEL SUROESTE PENINSULAR

As armas na romanizaçÃo: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) - TERESA RITA PEREIRA 1339

Fig. 6.— Armas ofensivas hasteadas: pontas de dardo (D.I-II),

dardos incendiários (D.III), pila (E.) e pila catapultaria (?) (17) de

tipo C.III.

VI ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA DEL SUROESTE PENINSULAR

As armas na romanizaçÃo: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) - TERESA RITA PEREIRA 1340

ligeira (Ibidem). Esta hipótese parece bastante apropriada ao conjunto recu-

perado em Vaiamonte, tanto pelas suas características perfurantes (excepção

efectuada para o tipo C.III) como pelo facto das pontas de lança representarem

pouco menos de metade dos contos de lança recuperados neste sítio

arqueológico.

Prova desta teoria será uma provável evolução destes contos de lança que

originaram pontas de dardo ligeiras, como é o caso dos dois exemplares do nosso

tipo D.I (Fig. 6, 18 e Fig. 7), em tudo semelhante ao conto, excepto na secção em

diamante bastante mais efectiva na perfuração do alvo. Surgem alguns

exemplares deste tipo em Numancia (Bishop e Coulston et al. 1993: 52, fig. 22,

nº 1 e 6) e em Urso (Quesada 2008: 14-15, fig. 5.C). Trata-se de um tipo de dardo

semelhante aos dardos de balista e muito típico de contextos do século II e I a.C.

(Ibidem: 14). O tipo D.II (Fig. 6, 19) é caracterizado por uma ponta de dardo

muito espessa e pesada, em tudo semelhante às pontas de pilum, somente

distinguível pelo remate em pequeno espigão que seria colocado na haste do

projéctil. Encontra paralelo no acampamento de Numancia IV datado de finais do

século II – inícios do século I a.C. (Luik 2010: 63) onde surge descrito como

“objecto de função indeterminada” (Luik 2002: 237, abb. 203, nº 317), em

Andagoste com uma datação da 2ª metade do século I a.C. (Ocharan Larrondo et

al. 2002: 315, fig. 2, nº 2-3) e em Monte dos Castelinhos onde surge num

contexto de destruição datado entre os anos 50 e 40 a.C. (Pimenta e Mendes no

prelo).

Nas legiões pré-reformas marianas os veteranos iam equipados com pontas de

lança e dardos, formando a linha dos triarii (Bishop e Coulston 1993: 52). Não

obstante, a partir das reformas marianas do século II a.C., as legiões romanas

utilizam dois tipos de pilum: um mais ligeiro, com ou sem alvado, que deveria ser

utilizado por tropas auxiliares e o pilum mais pesado, de aba. Em Cabeça de

Vaiamonte foram identificados cinco fragmentos de extremidades proximais e

hastes deste tipo de pilum de aba, aqui designado por E.I (Fig. 6, 25 e Fig. 8).

Fig. 7.— Ponta de dardo ligeiro de ferro (18) de tipo D.I.

VI ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA DEL SUROESTE PENINSULAR

As armas na romanizaçÃo: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) - TERESA RITA PEREIRA 1341

Ambos os tipos encontram-se documentados no século II a.C. em Numancia

(Bishop e Coulston 1993: 51, fig. 21, 1 e 6), no contexto das guerras sertorianas

em Valentia (Quesada 2008: 14) e Cáceres el Viejo (Ulbert 1984: Tafel 24, nº 187-

194), e no primeiro terço do século I a.C. em La Caridad de Caminreal (Álvarez

Arza e Cubero 1999: 137). Já em Urso (Quesada 2008: 14, fig. 4), surgem apenas

os modelos mais ligeiros com e sem alvado. No entanto e como frisado por

Quesada Sanz para este caso, poderão tratar-se de armas fragmentadas, das

quais não se recuperou a extremidade proximal de fixação à haste de madeira

(Ibidem).

Mesmo entre estes cinco exemplares de placas de pilum de aba encontramos

diferenças morfológicas significativas. O exemplar mais completo apresenta

somente uma das placas de fixação de cariz rectangular com pequenas abas

laterais, os dois rebites de secção circular e parte da haste de secção circular e

cuja extremidade se encontra fragmentada e dobrada – talvez devido ao impacto

que fez com que a ponta se destacasse. Outro exemplar bastante semelhante

apresenta uma haste de secção rectangular e quadrangular, com paralelo nos

exemplares de Peñaredonda (Álvarez Arza et al. 1999: 136). Uma última peça

apresenta as duas placas de fixação, uma das quais com abas laterais, que ainda

se encontram ligadas pelos dois rebites de secção circular.

Foram ainda identificados três fragmentos de pontas de pilum que não podemos

precisar se pertencem ao tipo mais ligeiro ou pesado de aba. Não obstante, e

mesmo que pertençam ao tipo de pilum mais pesado, diferem em muito dos

exemplares mais antigos, com cronologias até finais do século II a.C. em

Castellruf (Álvarez Arza et al. 1999: 139, fig. 5), Kranj (Bishop e Coulston 1993:

fig. 21, 3), Entremont (Feugére 1993: 120) ou Ephyra (Feugére 1993: 102) e com

cronologia provavelmente mais recente no Castelo da Lousa (Galamba 2008: 27,

ME8972), onde se apresentam na sua totalidade como pontas de tipo triangular

e com aletas ou barbelas. No caso dos nossos exemplares, efectuámos uma

divisão morfológica: três deles são integráveis na forma E.1 (Fig. 6, 26) e Fig. 8.— Fragmento de pilum de aba de ferro de tipo E.I

VI ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA DEL SUROESTE PENINSULAR

As armas na romanizaçÃo: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) - TERESA RITA PEREIRA 1342

apresentam extremidades piramidais, apesar de terem diferentes secções de

haste, sendo uma circular e outra rectangular. Um outro exemplar de tipo E.2

(Fig. 6, 27) apresenta extremidade cónica e haste mais fina de secção qua-

drangular.

Poderão também pertencer a este grupo duas armas de arremesso de ferro, às

quais não sabemos se devemos atribuir a designação de pilum, dado não termos

encontrado qualquer paralelo morfológico para as mesmas. Neste caso, tratam-

se de armas relativamente curtas com extremidade distal piramidal maciça (Fig.

6, 29) e triangular lenticular (Fig. 6, 28) em que a extremidade proximal não se

encontra fragmentada e por isso não apresenta nem placas de fixação, como nos

exemplares mais pesados; nem alvado, como nos mais ligeiros; nem tão pouco

um botão terminal como nos exemplares de Numancia IV (Luik 2010: 67-68, fig.

3,3-4) ou de Cáceres el Viejo (Ulbert 1984: 107, tabla 24, 187), que para além do

mais apresentam comprimentos consideráveis, ao contrário dos de Vaiamonte

com dimensões relativamente reduzidas (20 e 25 cm respectivamente). Podemos

sugerir que se trate de pila catapultaria, apesar de a forma de encabamento

diferir da maioria dos exemplares de alvado. O único exemplar desta categoria

de armas de artilharia de torção que se assemelha vagamente ao nosso exemplar

de ponta piramidal sem alvado foi recuperado em Numancia IV (Luik 2002: 354,

Abb.188, nº 182; 2010: 70, fig. 4, nº 4) onde se encontra datado de finais do

século II a inícios do I a.C.

2.2. Para uma identificação dos dardos incendiários

O tipo de dardo D.III é genericamente designado por “dardo incendiário”, trata-

se de uma arma de ferro construída com um propósito específico: ser lançada

com material em combustão. Em Urso foram recolhidos 83 exemplares, sendo

que alguns destes ainda conservavam restos de tecido a envolver a ponta e

muitos deles se apresentavam queimados (Quesada 2008: 16). O tipo D.III.1 (Fig.

6, 20) apresenta semelhanças com os projécteis de ballista, sendo que não

VI ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA DEL SUROESTE PENINSULAR

As armas na romanizaçÃo: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) - TERESA RITA PEREIRA 1343

parece ter o peso típico desses exemplares. Trata-se de um dardo ligeiro, com

alvado, lâmina pouco perfurante de secção rectangular e arpão lateral que

receberia o material inflamável. Apesar de não serem idênticos, aproximam-se

de alguns dos exemplares de Grad near Smihel na Eslovénia (Horvat 2002: 186,

pl. 16, nº 26-27).

O tipo D.III.2 recebia esse material incendiário na extremidade triangular, sendo

que não apresenta alvado nem arpão lateral. A forma poderá variar no que diz

respeito às distintas dimensões da lâmina e do espigão, tendo sido criadas três

variantes. O subtipo D.III.2/1 (Fig. 6, 21) apresenta-se como o maior conjunto, e é

formado por hastes longas de secção quadrangular ou rectangular em que o

espessamento triangular na extremidade distal é mais evidenciado. O peso

apresenta uma variabilidade entre os 27 (três exemplares), 47 e 97 gr. A maioria

(quatro exemplares) apresenta virote ou virote duplo, que facilitaria o seu

encabamento em hastes de madeira (Quesada 2008: 16). Para além de Urso,

onde estão relacionados com os ataques cesarianos à muralha, este subtipo de

dardo incendiário encontra paralelo no Castelo da Lousa (Galamba 2008: 24,

ME8936) e em Cáceres el Viejo (Ulbert 1984: tafel 37, nº 376 e 377). O estado de

conservação e a difícil distinção entre este último tipo de dardo incendiário e

uma simples haste indeterminada de ferro faz com que as referências a este tipo

de arma sejam muito escassas, ou que em alguns casos sejam publicadas como

pontas de seta (no caso do Castelo da Lousa) ou como grampos (em Cáceres el

Viejo).

Os dois exemplares do subtipo D.III.2/2 (Fig. 6, 22-23) apresenta uma

extremidade distal triangular longa e em forma de lâmina de secção triangular,

desproporcional face ao espigão de encabamento curto e fino. Em um destes

exemplares (Fig. 6, 23 e Fig. 9), surge ainda uma pequena reentrância triangular,

que funcionaria provavelmente como base de sustentação do material

incendiário. No entanto, existe ainda a hipótese de se tratar de uma ponta e

encaixe de ferro para um arco composto. As semelhanças com os exemplares

Fig. 9.— Dardo incendiário de ferro (23) de tipo D.III.2/2

VI ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA DEL SUROESTE PENINSULAR

As armas na romanizaçÃo: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) - TERESA RITA PEREIRA 1344

produzidos em osso e sobejamente conhecidos no mundo romano são evidentes

(Bishop e Coulston 1993: 79, fig. 43, nº 1-4). O arco composto terá sido utilizado

nos séculos II e I a.C., quando reaparecem as pontas de seta de ferro, algumas

com pedúnculo e aletas, como em Numancia, Urso ou Azaila (Quesada 1997:

464). Já o subtipo D.III.2/3 (Fig. 6, 24) apresenta uma homogeneidade de

espessura entre a extremidade triangular e o espigão. Em ambos os casos

encontram-se semelhanças com alguns dos exemplares de Grad near Smihel na

Eslovénia (Horvat 2002: 187, pl. 17, nº 23-28 e 9/21-22).

Como vimos, no caso dos dardos incendiários mais comuns de tipo D.III.2 é da

maior importância que estas aparentes “hastes” de ferro comecem a ser

identificadas e publicadas no âmbito dos contextos de arqueologia militar

romana republicana. Apesar de algumas destas “hastes” serem facilmente

reconhecíveis como dardos incendiários, nomeadamente pelo espessamento

característico de forma triangular de uma das extremidades, ou pelo virote de

encabamento, a verdade é que muitas delas – provavelmente devido à acção

directa do calor, encontram-se fragilizadas e fragmentadas, o que dificulta ainda

mais a sua correcta identificação.

2.3. O aspecto extra-peninsular da funda

A presença dos dardos incendiários é – à semelhança dos projécteis de funda,

um dos exemplos de elemento extra-peninsular, ou seja, de tropas romanas ou

auxiliares não hispanas (Quesada 2008: 17). No caso da utilização da funda, um

bom fundeiro tinha de aprender a arte desde muito novo e os melhores eram

recrutados sob a figura de mercenários nas ilhas Baleares e em Rodes (Quesada

1997: 475). Estão identificados três momentos da sua utilização na Península

Ibérica: na conquista (século II a.C.), como em Numancia (Luik 2010: 70, fig. 4, nº

17-18); no período sertoriano (cerca de 75 a.C.), como Azaila, La Caridad de

Camino Real e Fosos de Bayona; ou no período cesariano, como em Urso

(meados do século I a.C.) (Quesada 1997: 476).

VI ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA DEL SUROESTE PENINSULAR

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O conjunto de cinco glandes plumbeae (Fig. 6, 30-34) afigura-se interessante,

nomeadamente pela presença de dois exemplares decorados: um deles

apresenta aquilo que parece ser um phallus em baixo-relevo (Fig. 6, 30), já

conhecido em contexto itálico – Perugia, onde se encontra datado cerca de 40

a.C. (Keppie 1984: 124, fig. 36, nº 11); e o outro apresenta uma cartela

quadrangular, centrada na peça, com um “X” em baixo-relevo (Fig. 6, nº 32).

Duas das glandes aqui apresentadas foram alvo de uma acção de conservação e

restauro que alterou notoriamente a superfície da peça, e que neste último caso,

parece ter afectado a inscrição (Fig. 6, 32-33). No conjunto de projécteis de

funda recuperados no Cerro de las Balas conhece-se um exemplar semelhante

com cartela subquadrangular centrada com “LXIII” em baixo-relevo (Pina Polo et

al. 2006: fig. 2, nº 14) a que se atribui a Legio XIII, fundada em 57 a.C. por Júlio

César. Podemos assim, e de forma cautelosa, avançar com a proposta de este “X”

inscrito ser referente à Legio X Equestris, também fundada por César em 62 a.C.

A título de exemplo, afigura-se interessante a comparação do “X” produzido

nesta glans, e aquele que surge nos denários de Marco António, em cujo anverso

se alude à Legio X.

Todos os projécteis de funda de Cabeça de Vaiamonte apresentam uma forma

oliviforme e foram produzidos em molde bivalve, apresentando em todos os

casos as marcas transversais da junção das duas metades – como no caso dos

exemplares de Mértola (Guerra 1987: 166, 175, fig. 2, 1), tendo sido por esse

motivo que todos foram integrados no tipo F.I. O peso médio deste conjunto é

de 64 gr, muito semelhante à média do conjunto do Castelo da Lousa com 60 gr

e próximo da média de 56 gr de Mértola (Ibidem: 170, quadro 2).

2.4. A prevalência das criações peninsulares: o punhal bidiscoidal e a falcata

Os punhais bidiscoidais (G.) apresentam-se como um dos grupos melhor

representado, com um total de 10 fragmentos (quatro de empunhadura, cinco

de lâmina e um de talão). Sabemos da ligação destes punhais ao mundo

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As armas na romanizaçÃo: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) - TERESA RITA PEREIRA 1346

(*) segundo Kavanagh de Prado (2008)

Tipo

Matéria

Empunhadura

(*)

Decoraçao

Rebites

(*)

Lâmina

(*)

Secçao da

lâmina (*)

Guarda de mao

(*)

Peso

Comp.

Máx.

Comp. máx.

lâmina

Largura

da lâmina

Contexto

Cronologia

(*)

Paralelos (*)

35 G.I. Ferro e prata

globular Damasquinada

(F.) X X X X

23,59 gr

9,15 cm

X X X

III e II a.C. /finais do IV a.C. ao III d.C. (?)

Quintanas de Gormaz, Mas de Barbarán, Numancia, Puig de Agua (SP) / Las Cogotas, La Osera (SP) e

dois exemplares descontextualizados / Alleriot (FR), Mali Drinic (CR), Maguncia (DE), Utrecht (NL)

X G.I Ferro globular X 1/2/3/6 A;

4C/D/E X X X

14,49 gr

4,6 cm

X X X III e II a.C.

Quintanas de Gormaz, Mas de Barbarán, Numancia, Puig de Agua (SP)

36 G.II Ferro e liga

de cobre arestas radial (B.) 7A X X abatido

96,20 gr

10,5 cm

X X Sonda XIX, camada A,

0,27-0,75 m

125 a.C. a 5 d.C.

Carratiermes, El Raso., Osma, Cáceres el Viejo, Monte Cildá, El Molón (SP), Oberaden (DE)

X G.II Ferro arestas X 1A X X X 12,48

gr 7,85 cm

X X 50-75 cm 125 a.C. a

5 d.C.

Carratiermes, El Raso., Osma, Cáceres el Viejo, Monte Cildá, El Molón (SP), Oberaden (DE)

37 G.III Ferro X X 4/AC pistiliforme esteliforme

(B.) X

98,86 gr

27,9 cm

24 cm 4,8 cm

Sonda X, camada B,

2,20 m

Inícios III a.C. ao I d.C.

Ucero, Osma, Quintanas de Gormaz, Castillejo, El Raso, Palencia, Julióbriga, Arcóbriga (SP)

38 G.IV Ferro X X 4/6/7A base

alargada esteliforme

(B.) X

70,61 gr

20,6 cm

17 cm 4,55 cm

75-100 cm Século II e

I a.C.

Numancia, La Osera, Osma, Ucero, Punto de Agua, Carratiermes, Cáceres el Viejo, El Raso, Arcóbriga, Pinilla

del Toro (SP), Torre de Palma (PT)

X G.IV Ferro X X X base

alargada Plana (D.) X

53,15 gr

13,75 cm

12 cm 3,5 cm

X Século II e

I a.C

Numancia, La Osera, Osma, Ucero, Punto de Agua, Carratiermes, Cáceres el Viejo, El Raso, Arcóbriga, Pinilla

de Toro (SP), Torre de Palma (PT)

X G.V. Ferro X X 4A; 4C; 6A;

7A gumes

paralelos esteliforme

(B.) X

65,55 gr

19,8 cm 18,6 cm 4,5 cm

1 m. Meados III

a.C. a inícios I a.C.

Uxama, Numancia, Carratiermes, La Azucarera, Quintanas de Gormaz (SP)

39 G.V. Ferro X X 4/6/7A; 4C gumes

paralelos lenticular X

107,01 gr

17,4 cm 16,3 cm 4,15 cm

X Meados III

a.C. a inícios I a.C.

Uxama, Numancia, Carratiermes, La Azucarera, Quintanas de Gormaz (SP)

X G. Ferro X X X X X X 7,39 gr 5,8 cm X X Sonda 25-50

cm X X

Tabela 1.— Quadro tipológico dos punhais bidiscoidais

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celtibérico (Kavanagh 2008: 8) e da sua adopção pelos romanos, dando mais

tarde origem ao pugio (Fernández et al. 2012: 203). De acordo com a tipologia

apresentada por Eduardo Kavanagh de Prado (2008), a maioria do nosso conjun-

to (ver Tabela 1) oferece uma datação entre os séculos II e I a.C., à excepção de

dois fragmentos de empunhaduras globulares de ferro, um dos quais decorado

com prováveis damasquinados de prata e/ou ouro, e que deverão situar-se entre

os séculos III e II a.C.

Estes dois fragmentos de ferro de empunhadura globular (Ibidem: 23) serão

enquadrados no nosso tipo G.I. Já aqui foi referido que um dos exemplares

apresenta uma profusa decoração damasquinada de prata ao longo da

empunhadura. Se por um lado a forma da empunhadura parece aludir aos

exemplares mais antigos, a verdade é que a técnica decorativa utilizada associa-

se aos punhais bidiscoidais no século III a.C. e é recuperada, sendo utilizada

profusamente em exemplares romanos encontrados em contextos peninsulares

e extrapeninsulares (Ibidem: 46). No caso do exemplar de Vaiamonte (Fig. 10, 35)

o motivo reproduzido é bastante semelhante aos óvulos que surgem em várias

formas decoradas de terra sigillata. Trata-se de um exemplar de difícil enqua-

dramento tipológico, quer pela própria ausência de contexto estratigráfico, quer

pelo seu estado de conservação e escassez de paralelos contextualizados.

Com base no tipo de empunhadura temos os paralelos contextualizados de

Quintanas de Gormaz, Mas de Barberán, Numancia e Puig de Agua com

cronologias entre a 2ª metade do século III e finais do II a.C. (Ibidem: 23). Se

tivermos por base a técnica decorativa aplicada, apenas os exemplares de La

Osera e Las Cogotas com cronologias do século IV-III a.C (Ibidem: 46) se

encontram contextualizados.

O tipo G.II representa o tipo de empunhadura que surge como “ponte” entre os

modelos peninsulares e romanos: a empunhadura de arestas (Ibidem: 25). O

exemplar melhor conservado (Fig. 11 e Fig. 10, 36) apresenta uma empunhadura

de arestas de liga de cobre, com guarda-de-mão abatido e decoração

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Fig. 10.— Armas ofensivas: punhais bidiscoidais (G.I-V) e falcata

(H.1). Equipamento militar: baínha e elemento de baínha;

algemas ou grilhões (J.I-II)

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radial incisa junto aos orifícios circulares dos rebites e decoração ziguezagueante

obtida em molde aplicada em anel no topo do pomo. Esta empunhadura

conserva ainda no interior das duas placas de liga de cobre, que formam o

exterior, um fragmento de talão e duas placas interiores de ferro. Todos estes

elementos encontram-se ligados por seis rebites de secção circular de ferro e

possuem um peso aproximado de 100 gr. Apesar da ausência de contextos

estratigráficos fidedignos, é importante salientar que este punhal bidiscoidal

surge em associação directa (Sonda XIX, camada A, 0,27 m) a uma “fíbula de

disco” que poderá ser enquadrada no século I a.C. (Fabião 1998: 118) e que

encontra paralelo em um exemplar da Lomba do Canho. Foi ainda possível

identificar outro fragmento de empunhadura de arestas de ferro, cujos nós

apresentam dimensões bastante reduzidas, especialmente quando comparadas

com os exemplares de tipo globular. A ausência deste tipo em Numancia sugere

uma data post quem de 133 a.C. para o seu aparecimento, sendo que o mesmo

já foi utilizado em acampamentos peninsulares romanos como o de Cáceres el

Viejo (cerca de 80 a.C.) e Monte Cildá (26 a.C.-50 d.C.) ou no acampamento

romano extra-peninsular de Oberaden (11-7 a.C.) que parece documentar uma

adopção romana do modelo (Kavanagh 2008: 27).

As lâminas de punhais bidiscoidais foram agrupadas por tipos: o tipo G.III é

correspondente à lâmina pistiliforme (Ibidem: 50), o G.IV à lâmina de base

alargada (Ibidem: 51) e o tipo G.V à lâmina de gumes paralelos (Ibidem). O tipo

G.III (Fig. 10, 37) encontra-se representado apenas por um exemplar cuja lâmina

apresenta um comprimento máximo de cerca de 24 cm, uma largura máxima de

4,8 cm e uma secção esteliforme. Este tipo de lâmina está documentado desde o

século III a.C. até contextos imperiais romanos (Ibidem: 50) o que não oferece

grande interpretação cronológica. No caso do exemplar de Vaiamonte, e se nos

socorrermos de outros artefactos metálicos recolhidos no mesmo contexto

estratigráfico (Sonda X, camada B, 2,20 m) encontramos um fragmento de fecho

de cinturão com decoração em opus interrasile (a mesma técnica utilizada numa

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presilha de junção de arreios de cavalo achada no Castelo da Lousa; Ruivo 2010:

501) que parece ser semelhante a alguns recuperados em um dos acampa-

mentos do cerco de Numancia III (Luik 2002: 55, abb. 79, C 59-61; Bishop 1993:

62, 31-3).

Os dois exemplares de lâminas de base alargada (Kavanagh 2008: 51), tipo G.IV

(Fig. 10, 38) apresentam um comprimento máximo de lâmina de 17 cm e 12 cm

(no caso do exemplar fragmentado), largura máxima de 4,55 e 3,5 cm e secções

esteliforme e plana. Curioso será notar que este tipo de lâmina é geralmente

associada a empunhaduras de arestas e surge intimamente relacionada à área

celtibérica com cronologias do século II e I a.C. (Ibidem). O último tipo de lâmina,

G.V encontra-se representado por dois fragmentos (Fig. 10, 39) de lâminas de

gumes paralelos (Ibidem). Estas lâminas são as menos documentadas nos

punhais bidiscoidais e no caso dos exemplares apresentam um comprimento

máximo de lâmina de 18,6 (no caso do exemplar fragmentado) e 16,3 cm, largura

máxima de 4,5 e 4,15 cm e secções esteliforme e lenticular. Este tipo de lâmina

não aparece em contextos extrapeninsulares e encontra-se datada de meados do

século III a inícios do I a.C. (Ibidem: 52).

Foram ainda recuperados em Cabeça de Vaiamonte 15 fragmentos de baínhas de

liga de cobre que poderiam pertencer aos punhais bidiscoidais, bem como

elementos decorativos de baínha. As baínhas de liga de cobre correspondem aos

modelos ditos “celtibéricos” de “vaina de cañas” (Ibidem: 61, fig. 17). A baínha

era então composta por laterais em liga de cobre de secção em “U” que seriam

rebitadas ao elemento perecível (provavelmente couro) e contavam com duas

placas rectangulares (pontes) na zona superior que funcionariam como agarra-

dores e também para fixação de argolas (no nosso caso de ferro) para suspensão

da arma no cingulum. Com alguns fragmentos provenientes do mesmo contexto

estratigráfico foi possível efectuar uma reconstituição da baínha, tendo por base

a placa rectangular (ponte) que apresenta nas suas dimensões, a largura máxima

da lâmina (Fig. 10, 40). Entre as argolas de suspensão e o cingulum poderiam

Fig. 11.— Fragmento de empunhadura de arestas de punhal

bidiscoidal (36) de tipo G.II

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As armas na romanizaçÃo: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) - TERESA RITA PEREIRA 1351

recorrer a elementos decorativos de baínha. Foram assim identificados seis

elementos de liga de cobre (Fig. 10, 41), volutados, muito semelhantes aos do

exemplar de Velsen (Bishop e Coulston 1993: 76, fig. 40, nº 2c).

A associação do punhal bidiscoidal à falcata, arma ibérica por excelência, surge

em alguns contextos das guerras sertorianas como em Cáceres el Viejo (Ulbert

1984: tafel 25, 195-199, 201) ou La Caridad (Quesada 1997: 82). Tal como

observado por María Paz García-Gelabert (2002: 508), as armas iberas e

celtibéricas surgem representadas na plástica não só na época de esplendor

ibérica, mas também na romanização. Nos relevos de Osuna vêm-se soldados,

infantes, provavelmente auxilia a empunharem a falcata e pelas descrições de

Séneca sabemos que esta continua a ser utilizada pelo menos até meados do

século I a.C. (Quesada 2008: 18). Em Cabeça de Vaiamonte foi possível identificar

um fragmento de guarda-de-mão lateral de uma falcata (Fig. 10, 42) que aqui

designaremos de tipo H. Trata-se de uma placa de ferro curva de perfil em “L”

com dois orifícios para rebites circulares em que uma das extremidades

conservadas apresenta um aplique decorativo/agarrador de secção ovalada oca

que rodeia a guarda. No espaço oco entre estes elementos é visível a existência

de vestígios de material perecível (madeira ou material osteológico). A ausência

de contexto estratigráfico não auxilia a correcta interpretação cronológica, no

entanto, e tendo por base os mapas de dispersão dos achados de falcatas em

território peninsular (Quesada 1997: 77-78, fig. 16-17) podemos aferir que é

mais provável que este se trate de um exemplar mais tardio, enquadrável entre

250 e 50 a.C. como os exemplares recuperados em Alto Chacón, S. Antonio de

Calaceite, Azaila, Osma, Tesoro de Carabias, Dehesa del Rosarito, Castrejon de

Capote, La Caridad (Teruel) e Cáceres el Viejo (Ibidem: 82).

Foram ainda identificados inúmeros fragmentos de lâminas de secção lenticular

e outras nervuradas que pelo seu estado de conservação não permitem uma

correcta categorização. Um dos exemplares de interpretação duvidosa, que em

muito se deve ao seu estado de conservação, trata-se de um fragmento de

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As armas na romanizaçÃo: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) - TERESA RITA PEREIRA 1352

lâmina de perfil triangular e de secção lenticular engrossada que se encontra

conservada no seu comprimento máximo (27 cm), com espigão para

encabamento de empunhadura de secção quadrangular (Fig. 10, 43). Apesar de

ser semelhante aos famosos gladius hispaniensis (ombros ligeiramente descaídos

e espigão) – veja-se a título de exemplo o de Urso (Quesada 2008: 15), a verdade

é que não oferece nem o perfil, nem o comprimento necessário para integrar a

sub-categoria das espadas. Para além disto também se afasta de todos os tipos

de punhais conhecidos em território peninsular (Quesada 1997: 280, fig. 164),

apesar de semelhante a um exemplar augustano recuperado no forte britânico

de Kingsholm (Bishop e Coulston 1993: 75, fig. 39, nº 6). A julgar pelas suas

características é bastante plausível que se trate de um punhal, apesar de um

exemplar semelhante recuperado em Numancia IV (Luik 2010: 235, abb. 198, nº

271) ter sido descrito como utensílio de carpinteiro (lima paralela).

3. OUTRO EQUIPAMENTO MILITAR

Dentro da panóplia de instrumentos que um legionário do exército romano

transportava às costas na sua sarcina, e que se calcula que tivesse um peso

superior a 40 kg, encontra-se um variado conjunto de elementos, desde a baixela

metálica aos utilitários agro-florestais como a dolabra. Outros elementos bem

conhecidos em contextos militares/“militarizados” romano-republicanos são as

estacas de ferro associadas às tendas de campanha, veja-se os casos de Lomba

do Canho (Fabião 2007: 124, fig. 4), Castelo da Lousa (Ruivo 2010: 515, est.

CLXVI, nº 106), Numancia e Cáceres el Viejo (Bishop e Coulstom 1993: 63, fig. 32,

nº 5-9). No caso de Cabeça de Vaiamonte foram identificadas 96 estacas de

forma bastante variada (tipo I.A-F): tanto nas secções de haste e terminal como

na forma do olhal (Fig. 12). Alguns exemplares conservam as argolas de suspen-

são no interior dos olhais e a forma das hastes varia essencialmente entre as

estacas direitas e as de virote. O peso médio das estacas que apresentam perfil

completo situa-se nos 77 gr e o comprimento máximo varia entre 15 e 16 cm.

Fig. 12.— Equipamento militar: estacas (I.A-F)

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Outros elementos relacionáveis com a acção militar são as algemas (manicae) ou

grilhões. Admitindo que algumas peças poderão ter servido como grilhões para

gado, a verdade é que as algemas e os grilhões são comuns em contextos

romanos e em Renieblas a sua função é mesmo associada aos prisioneiros de

guerra (Luik 2002: 103). O mesmo poderá ter sucedido em Cabeça de Vaiamonte

onde foram recuperados cinco fragmentos de algemas/grilhões e 14 fragmentos

de correntes de ferro. No caso das algemas/grilhões propriamente ditos pode-

mos distinguir dois tipos distintos: o de argola móvel com dois braços sujeitos

por rebite com corrente associada (J.I) e o de argola fixa com olhais nas

extremidades com cadeado associado (tipo J.II). Entre os romanos estes objectos

não estão somente relacionados com a escravatura pois também foram usados

como método disciplinador.

As algemas/grilhões de tipo J.I (Fig. 10, 44-45) são compostas por argola de dois

braços ligados pelos olhais (que poderão ou não ser rebitados) e que nos outros

olhais estariam em conexão com uma corrente de dimensão variável, formada

por elementos idênticos de perfil em “8”. Estas algemas são relativamente

comuns em contextos romanos peninsulares, com dois exemplares identificados

em Numancia IV/Renieblas (Luik 2002: 237, abb. 202, nº 312-313), onde pode-

rão datar de finais do século II- inícios do I a.C.; com um fragmento em Coním-

briga (Alarcão et al. 1979: pl. XLVII, 175) e com outro possível exemplar em Mon-

te Molião (Sousa et al. 2012: no prelo) possivelmente datado do último quartel

do século II a.C.

O tipo J.II encontra-se representado em Vaiamonte apenas por um exemplar

(Fig. 10, 46) composto por argola sub-circular com extremidades aplanadas com

olhais circulares no centro das mesmas. Conserva-se ainda parte doselementos

de travão que provavelmente se relacionariam com uma argola giratória (foram

identificadas três argolas deste tipo) e um cadeado, que não se conservou. Este

tipo surge não só em contextos romanos como em alguns espaços com influência

de La Tène, como Bibracte, onde dá origem a um tipo específico galo-romano

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As armas na romanizaçÃo: o exemplo de Cabeça de Vaiamonte (Monforte, Portugal) - TERESA RITA PEREIRA 1354

(tipo Bavay). Também surge em contextos mais tardios (século I-III d.C.) na

Bretanha (Thompson 1993: 117) e na Germânia, como o exemplar do depósito

de Neupotz.

Entre o espólio artefactual metálico surge ainda um fragmento de um possível

signum equitum (Fig. 13) semelhante aos exemplares de Arcóbriga, Quintanas de

Gormaz ou Osma-11 (Lorrio 2010: 446). Trata-se de um exemplar simples, de

ferro, sem decoração, com extremidade distal bifurcada com terminações em

voluta e de reduzida dimensão, o que torna difícil a sua interpretação. Este

estandarte celtibérico encontra-se genericamente datado entre 250 a.C. até às

guerras sertorianas, como o exemplar de Cáceres el Viejo (Ibidem: 442). No

Fig. 13.— Equipamento militar: signum eqvitvm (?) e reconstituição

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entanto, este modelo mais simples parece ser característico dos exemplares mais

antigos, datados entre 250 e 200 a.C, com paralelo em Arcóbriga, Quintanas de

Gormaz e Osma, embora a dimensão seja bastante superior à desses exemplares

e mais próxima do exemplar de Cáceres el Viejo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS PARA UMA LEITURA DE CONJUNTO: AS ARMAS NO SUDOESTE PENINSULAR ENTRE DUAS GUERRAS CIVIS ROMANAS

O conjunto de armas provenientes de Cabeça de Vaiamonte enquadráveis no

período romano-republicano ilustra a esmagadora utilização do ferro como

matéria-prima (93%), bem como a supremacia dos achados de armas ofensivas

(96%) face às defensivas (Fig. 14). Os contos e pontas de lança oferecem o maior

conjunto, seguidos dos punhais bidiscoidais, pontas de seta, pila e dardos.

Para além das evidentes semelhanças do conjunto com o armamento

recuperado em Cáceres el Viejo (Ulbert 1984) e datado do período das guerras

sertorianas, também o armamento de Castelo da Lousa (Galamba 2008; Ruivo

2010) oferece algumas semelhanças. Não obstante, neste último não terem sido

recuperados quer falcatas quer punhais bidiscoidais (que são as principais

ausências em contextos cesarianos), a verdade é que o carácter militar/

“militarizado” em período tardo-republicano parece evidenciado tanto pelo

espólio depositado no Museu de Évora (Galamba 2008: 24-27) como naquele

que foi exumado nas escavações mais recentes (Ruivo 2010), o qual integra:

pontas de seta com espessamento central, ponta de lança com aresta, contos de

lança, pontas de seta de espessamento central, dardo incendiário, glandes

plumbeae, um pilum e um projéctil de artilharia de torsão. Tanto este projéctil de

artilharia de torsão, que foi erroneamente descrito como “ponta de lança”

(Galamba 2008: 27) como o pilum, o dardo incendiário ou o conjunto de projéc-

teis de funda favorece a hipótese da presença de um contingente militar romano

extra-peninsular (vide supra 2.3). A presença deste armamento, em especial do

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projéctil de artilharia de torsão, do dardo incendiário e das glandes plumbeae,

contraria a teoria de que estas armas “não sejam necessariamente de uso

militar” (Ruivo 2010: 481) uma vez que este tipo de armamento é reconhecido

como indicador da presença de tropas romanas ou auliares não-hispanas

(Quesada 2008: 17). A recolha de um denário de César e de um asse de Lépida/

Celsa no interior do edifício central do Castelo da Lousa poderá apontar para um

momento contemporâneo, ou ligeiramente posterior à guerra civil cesariana,

uma vez que o abandono do local ocorre entre o último quartel do século I a.C. e

o período augustano (Fabião 2007: 121).

Cabeça de Vaiamonte deverá ser, como descrito por Carlos Fabião, um exemplo

da utilização dos aglomerados indígenas pelos destacamentos militares romanos

(Ibidem: 128). Sendo que, muitas das armas que aqui foram descritas (como a

Fig. 14.— Gráfico quantitativo dos diferentes tipos de armas e equipamento militar recuperados em Cabeça de Vaiamonte e considerados neste artigo

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falcata ou o punhal bidiscoidal) podem ser uma prova da existência de indígenas

nas tropas auxiliares. Desde o início da romanização, existem hispanos nos

exércitos, bem como mercenários e auxilia, voluntários ou forçados (García-

Gelabert 2002: 505).

O conjunto de armamento aqui recuperado parece enquadrar-se na proposta de

uma ocupação militar no 1º quartel do século I a.C., e por esse motivo enqua-

drável no período das guerras sertorianas, encontrando notórias semelhanças

com as armas de Cáceres el Viejo (Fabião 2007: 130). Não obstante, esta nova

análise parece revelar algum espólio, se bem que de expressão diminuta,

atribuível a meados – 3º quartel do século I a.C. e com o qual se poderia

extrapolar uma continuidade na ocupação militar/“militarizada” deste local por

altura das guerras entre César e Pompeu (c. 49-45 a.C.). Esta hipótese surge

sustentada pela presença do capacete de tipo Buggenum, datado genericamente

de meados do século I a.C., e que havia sido recolhido fortuitamente no sopé do

cabeço. Se bem que este capacete aparece num provável contexto ritual junto a

um curso de água, a verdade é que no contexto das escavações foram

recuperadas duas ponteiras de capacete atribuíveis a esta mesma tipologia. Para

além destes dados há ainda que considerar: a possível inscrição no projéctil de

funda associada à Legio X Equestris (61-45 a.C.), algumas fíbulas de tipo Nauheim

de produção gálica entre 75 e 10 a.C., os dois asses de Cneus Magnus Imperator

e outros dois asses de Lépida Celsa em cunhagem bilingue atribuída aos

pompeianos.

Desejo expressar o meu profundo agradecimento ao Museu Nacional de Arqueologia que viabilizou este projecto de estudo; à orientação do Prof. Dr. Carlos Fabião; ao Prof. Dr. Michel Feugère pela bibliografia facultada; à partilha de informação do Dr. João Pimenta e Dr. Henrique Mendes; ao Dr. João Almeida por ter realizado todas as fotografias aqui apresen-tadas.

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