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Artigo 3ºSeminário Internacional do Patrimônio Agroindustrial-24 a 27 de Outubro, Régua, Douro, Portugal Patrimônio Agroindustrial e artesanal da uva na região da Bacia do rio Jundiaí- Mirim Evelyn Gregory Moraes 2012 1

Artigo 3º Seminário Agroindustrial

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Artigo 3ºSeminário Internacional do Patrimônio Agroindustrial-24 a 27 de Outubro, Régua, Douro, Portugal

Patrimônio Agroindustrial e artesanal da uva na região da Bacia do rio Jundiaí- Mirim

Evelyn Gregory Moraes

2012

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Artigo 3ºSeminário Internacional do Patrimônio Agroindustrial-24 a 27 de Outubro, Régua, Douro, Portugal

SUMÁRIO

RESUMO

1. Introdução ____________________________________________________4

2. Objetivos______________________________________________________5

3. Justificativa____________________________________________________5

4.Revisão bibliográfica_____________________________________________6

5. Metodologia__________________________________________________19

6.Sítios de Uva e Vinho Artesanal___________________________________20

Referências bibliográficas_________________________________________23

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RESUMO

O artigo se concentra nos modelos de intervenções realizados em espaços com

significados culturais e históricos, e apresenta um exemplo de patrimônio

agroindustrial , envolvendo uva e vinho artesanal da região do circuito das frutas,

próximo ao município de Jundiaí, do estado de São Paulo, Brasil.

O objetivo do artigo é criar uma base de conhecimento para uma reflexão em

áreas com características histórico-culturais relevantes. Será apresentado um

caso na região de Jundiaí-SP. Para tanto, pretende recuperar a história da

formação do referido território, bem como a trajetória das propriedades rurais,

além de investigar seus impactos nas cidades.

Faremos analogia do modelo selecionado com a realidade contemporânea, isto é

a necessidade da geração de um ambiente sustentável representando a inovação

mas tirando lições do passado a partir dos aspectos da cultura e história que se

mantém com a tradição .

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1. INTRODUÇÃO

A caracterização arquitetônica de uma porção territorial leva ao reconhecimento

do patrimônio paisagístico cultural, porventura existente, como um bem de

significativo valor econômico e também educativo, quando integrado a uma

estratégia voltada à valorização da memória e sua importância para a identidade

das comunidades beneficiárias. Patrimônio cultural constitui a designação tanto

de objetos, edifícios, obras-de-arte, monumentos, quanto de documentos e

práticas sociais, como rituais, festas populares e artesanato.(RIBEIRO, 2005).

Apesar dos avanços por que vem passando o patrimônio, na tentativa de firmar

um objetivo e métodos científicos, ainda ele é freqüentemente reduzido a projetos

sem referenciais teóricos, isto é, de soluções simplistas (como pintar as

edificações de caráter histórico de amarelo para representar o passado) ou às

vezes de uma forma generalista, a uma atividade quase que secundária, envolta

naquela aura de romantismo que acompanha a descoberta da novidade histórica

ou de edificações do passado.

A integração entre patrimônio cultural edificado e paisagem é, talvez, um desafio

que apresenta uma enorme complexidade (etimologia: complexus significa juntar,

religar, articular), no momento da elaboração dos estudos iniciais de um projeto.

Coelho (2003) apresenta as etapas do processo de projeto de intervenção de

edifícios, com foco em patrimônio da seguinte forma:

1.Cadastro das informações (pré-inventário) que caracterizam a obra

arquitetônica. O cadastro integra, além das informações que caracterizam a

edificação, o levantamento histórico deste edifício, suas características originais e

as alterações que sofreu ao longo do tempo até atualidade;

2. Levantamento da história dos usos e dos usuários;

3. Representação da relação do edifício com o entorno, levantamento gráfico e

fotográfico arquitetônico,

4. Relatório do estado de conservação, das patologias e dos diagnósticos

Nesse caso, à conservação da paisagem, e à conservação física dos edifícios

soma-se uma gama de fatores que nelas interferem e que determinam suas

diretrizes, a começar pela condição de patrimônio cultural, com presença de

paisagem a ser preservada.

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Estes fatores, dotados de significados e representações, passam, no caso das

edificações, por sua utilização - a adequação dos espaços antigos a novos usos -

pela necessidade de atualização ou, muitas vezes, de introdução de novas

instalações prediais que garantam a segurança e a possibilidade de um uso atual.

No caso da paisagem, a complexidade aumenta pela fragmentação deste

patrimônio, que desconsidera a manutenção desta mesma paisagem, como parte

do conjunto. A paisagem referente a este estudo é a relativa a vinhedos ainda

existentes no bairro Caxambu, na região de Jundiaí, SP.

2.OBJETIVO

O objetivo do artigo é criar uma base de conhecimento para uma reflexão em

áreas com características histórico-culturais relevantes. Será apresentado um

caso na região de Jundiaí - São Paulo-Brasil. Para tanto, pretende recuperar a

história da formação do referido território, bem como a trajetória das propriedades

rurais, além de investigar seus impactos nas cidades.

3.JUSTIFICATIVA

A análise histórica visa avaliar o grau de relevância dos ciclos produtivos no

desenvolvimento territorial e industrialização do interior paulista assim gerando o

desenvolvimento das unidades de produção. Em 1890 já se encontra estabelecido

todo o contexto que propiciará a implantação das propriedades rurais produtoras

de uva e vinho no interior do Estado de São Paulo. É óbvia a relevância destas

primeiras produtoras de uva e vinho artesanal como marco para a história da

engenharia mecânica. Para a engenharia civil é de fundamental importância a

implantação dessas pequenas obras pioneiras na obtenção de tecnologia para

que se chegasse às grandes indústrias alimentícias. Do ponto de vista da

arquitetura e do urbanismo, a geração do núcleo de produção de uva e vinho

possibilitou importantes inovações na forma e na vida urbanas: novas máquinas

de produção; , necessidades de novos núcleos habitacionais, de comércio e

educação,;... A disponibilidade deste conhecimento trazido pelos imigrantes

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italianos também impulsionou a indústria nascente e com ela surgem distritos

industriais, vilas operárias e núcleos fabris, difundindo novos padrões de

moradias, novas formas de vida e de relação entre casa e espaços de uso

coletivo.

Como o vasto material de referência sobre a história dessas primeiras

propriedades acha-se disperso, o intuito do trabalho é também levantar este

material, catalogá-lo, e documentá-lo.

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICAPatrimônio Agroindustrial: definições preliminaresO objeto da pesquisa é o estudo do conceito de Patrimônio Agroindustrial com

foco para os aspectos históricos culturais. Apesar de se voltar para o interesse de

pesquisadores em tempo recente, Patrimônio Agroindustrial é de suma

importância pois são áreas que contém representações similares e se conforma

de acordo com as relevâncias culturais de uma região.

O patrimonio industrial (segundo o Comitê Internacional para a Conservação do

Patrimônio Industrial) é constituido dos fragmentos da cultura industrial que

possuem um valor histórico, tecnológico, social, arquitectónico ou científico das

antigas indústrias.

Estes resquicios consistem em sitios onde se desenvolvem as atividades sociais

relacionadas com a indústria, tais como a habitação ou culto religioso.

A agroindustria por sua vez, é a atividade económica que compreende a

produção, industrialização e comercialização de productos agrários, pecuários,

florestais e biológicos.

O patrimonio agroindustrial neste artigo, constitui-se portanto dos fragmentos

deixados pelas atividades agrícolas de produção de uva e vinho relacionadas a

habitação e atividades sociais.

Os espaços rurais ou urbanos depois de identificados podem compor uma área

de grande interesse para pesquisa. Porém, quando se depara com

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denominações como parque industrial de uma cidade ou parque agrícola ou

fluvial? Esses conjuntos foram denominados parque por conformarem uma

paisagem específica. Dessa forma, parque é a expressão de uma paisagem, não

necessariamente contínua e nem com dimensões definidas.

Um conceito que compõem o patrimônio agroindustrial é o de parque patrimonial.

Tendo em vista que paisagem é a leitura que uma determinada cultura faz de um

local e que a cultura é a expressão maior do patrimônio de um povo, definimos

que parque patrimonial é a paisagem que representa uma cultura e todas as

relações que ela estabelece com o meio, configurando o espaço.

O parque patrimonial é a amostragem da representação de uma cultura em um

espaço. O tamanho e a forma não importam, pode ser desde um pequeno parque

urbano em homenagem a um herói nacional ou toda a cultura do café no estado

de São Paulo.

A temática do parque patrimonial é a preservação de um local, de uma história, do

saber fazer, da natureza de um povo. Nessa medida, quase todos os parques

podem ser vistos como patrimoniais.

O patrimonio industrial (segundo o Comitê Internacional para a Conservação do

Patrimônio Industrial ) se compôe dos fragmentos da cultura industrial que

possuem um valor histórico, tecnológico, social, arquitectónico ou científico.

Estes resquícios consistem em sitios onde se desenvolvem as atividades sociais

relacionadas com a indústria, tais como a habitação, ou culto religioso ou a

educação ,

Modelos de Parque Patrimonial Agroindustrial

Dois exemplos de modelos de intervenções em um parque patrimonial industrial

foram elaborados pelo escritório SANAA, escritório de arquitetura do Japão. O

primeiro, um projeto para um centro de arte contemporânea de Roma em 1998 e

outro a Escola de Design e Administração Zolverrein em Essen na Alemanha.

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Em 2001 foi elaborado um plano de estudo, com características de parque

patrimonial, para o Corredor do Rio Cardener Pela “Diputació” de Barcelona,

Universidade Politècnica de Catalunya (UPC), Massachusetts Institute of

Technology (MIT) e Grupo de Pesquisa Designing the Llobregat Corridor.Foi

elaborado um exaustivo trabalho de inventário e análise conduzido pela UPC para

o corredor do Cardener, rio afluente do rio Llobregat sobre os recursos naturais,

físicos e culturais. A proposta foram para quatro municípios e em um deles foi

proposto em uma área de valor histórico de patrimônio industrial, um centro de

pesquisas e de recuperação do rio chamado Antius centro ecológico como

mostrado na figura 1.

Figura 1-Antius Centro ecológicoFonte: PLANNING”study for the Cardener River corridor,2005

Exemplo similar a um parque patrimonial é apresentado por Tartarini como o

processo de constituição do Itinerário histórico turístico denominado “Paseo de la

Patagonia Rebelde” em Santa Cruz na Argentina , em fase de estudo.A proposta

uniria vários sítios e edifícios com um centro de interpretação dentro do Museu

“Facón Grande”, na Argentina (TARTARINI, 2007).

Um outro modelo é o parque urbano com características de preservação do

patrimônio é o parque três Turons , em Barcelona, Espanha, cujo projeto foi

elaborado pela CEPA, uma organização não governamental, criada em 1974 com

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uma visão integradora de enfoque ambiental e sua genuína identidade cultural

para o desenvolvimento de regiões. Na área situada entre o fim da cidade e o

maciço de Colserolla em Barcelona, se encontra uma área de cidade jardim que

se formou ao redor de três pequenas elevações(Turons). Em um dos Turons se

situa o famoso parque Guell e a Gruta de Coll. O objetivo do projeto

encomendado a Ramon Folch e CEPA é de juntar as partes soltas e transformar a

área em um novo marco para a cidade. Para isto se propõe transformar toda a

área em um grande parque de passeio.

Outro exemplo, no Brasil é o Parque Histórico do Mate, ligado ao Museu

Paranaense da Secretaria de Estado da Cultura, está localizado no Município de

Campo Largo, BR 277, Km 17.

Ocupando 31,7 hectares de extensa área verde, com mata nativa, lago, área de

lazer e edificações é a reprodução de um antigo Engenho de Mate da segunda

metade do século XIX, e representa a importância histórica do "Ciclo do Mate" na

formação do Estado do Paraná.

A erva-mate manteve-se como principal produto paranaense durante o período

entre a Emancipação Política do Paraná (1853) e a grande crise de 1929,

chegando a representar 85% da economia paranaense.

Restaurado, o antigo engenho foi tombado pelo Patrimônio Paranaense em 1968

e pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1984. Em janeiro de 1982, foi

transformado em museu.

A perspectiva do patrimônio, descrita por Bustamante e Ponce (2004), torna-

se um recurso estreitamente vinculado com o território. Os projetos de parques

patrimoniais nos mostram como os recursos patrimoniais destes territórios estão

sendo identificados, protegidos, realçados e promovidos para reforçar as

economias locais mediante o turismo patrimonial, criação de empregos em

serviços e o estímulo de sociedades público-privadas para novas oportunidades

de investimento.

Brasil regiões de uva e vinho

RGS

Nordeste

Minas

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Jundiaí, Terra da Uva: significado cultural

Neste aspecto, fica evidente a importância da preservação da região dos

vinhedos do Caxambu e das áreas com significado cultural histórico relacionado a

produção de uva e vinho não somente para a cidade de Jundiaí, mas para toda

região, isto é, na Terra da Uva, tem a intenção de salvaguardar a memória no

contexto contemporâneo.

O termo Terra da Uva caracterizou fortemente a região de Jundiaí por várias

décadas, pela intensa produção de uva e vinho. A partir de 1970, a uva passou a

ser a principal atividade. Segundo o IBGE(1995) a uva (79,6%-1600 ha) o milho

(4,98%), cítricos (5,37%) e feijão (3,98%) são as principais atividades agrícolas do

município. No bairro do Caxambu, a uva possuiu 64,53 % de área plantada com

2003 hectares.

Esta produção de uva iniciou com a vinda dos imigrantes italianos no século XIX e

foi se diluindo com o tempo, devido a diminuição do interesse pela produção

agrícola das gerações seguintes, somadas a especulação do valor das terras. A

proposta de parque patrimonial procuraria resgatar o significado do termo Terra

da Uva e o sentido histórico.

O município de Jundiaí tem o importante papel de região industrial e faz parte do

pólo do circuito das frutas por possuir uma parte do município que produz frutas

inclusive, uvas. Esta característica, somada à de estratégias de preservação do

patrimônio cultural existente, permitiria contar com as melhores possibilidades de

desenvolvimento da região. A evolução dos conceitos de patrimônio e o trabalho

que vem sendo realizado por instituições civis como Soapha e instituições

públicas como Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural da Prefeitura Municipal

de Jundiaí- estado de São Paulo, poderiam constituir-se em valor a partir dos

atrativos culturais (e naturais) existentes ou seja patrimônio edificado existente e a

paisagem como dos vinhedos com finalidades educacionais ou turísticas.

Descrever a história de Jundiaí escapa aos objetivos deste trabalho, contudo

destacam-se, nos levantamentos, alguns pontos que merecem reflexão por

relacionarem-se com a formação do patrimônio cultural no espaço rural do

município:

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• a participação dos ciclos da cana-de-açúcar e café, deixando marcas na

arquitetura da Fazenda Ermida;

• a forte influência da Igreja Católica na composição histórica da cidade, entre

outros fatores, fez com que os italianos provenientes de diversas regiões

da Itália, advindos para trabalharem nas lavouras do café, se instalassem

no município;

• as principais festas promovidas na região possuem características da religião

católica e da cultura italiana ou relacionada à produção agrícola da uva;

• as marcas desta imigração presentes nos elementos culturais como nos

sítios produtores de frutas, particularmente uva e vinho;

• o desenvolvimento histórico e a modificação das atividades no meio rural,

como a preocupação com o meio ambiente.

Pode-se afirmar que o espaço rural de Jundiaí foi configurado a partir de dois

aspectos histórico-culturais e, atualmente, por possuir um aspecto ambiental

preponderante:

• o ciclo econômico do café, verificado pela localização da Fazenda Ermida e

demais propriedades de café situadas no seu entorno;

• a imigração italiana que veio trabalhar nas lavouras de café da região,

instalando-se ao norte do município e trazendo uma cultura agrícola e,

• atualmente, baseia-se fortemente nas características e necessidades de

preservação ambiental, ao sul da Área de Gestão da Serra do Japi.

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Na Figura 2 apresenta-se a identificação das áreas de Patrimônio e Arquitetura

Rural no município de Jundiaí, mostrando propriedades de produção de uva e

vinho artesanal: sítio da Roseira, sítio São Roque, sítio da Represa e sítio São

José.

Figura 2-Prorpiedades rurais com aspectos históricos-culturaisFonte:Gregory Moraes, 2006

A entrada da parreira em terras de Jundiaí está descrita no inventário e

testamento de Rafael de Oliveira lavrado em 1648, que possuía parreiras em um

sítio descrito no documento.

Após esta citação não há mais referências por dois séculos. Já em 31 de

dezembro de 1887, o relatório da Comissão Central de Estatística apresenta ao

presidente da província a situação da lavoura principal de café, o

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desenvolvimento da cultura da vinha e um ensaio da produção de vinho (SOUSA,

1955).

Jundiaí, com o advento da indústria açucareira e o destaque da industria têxtil,

estabelece um comércio com São Paulo, o qual aumentou com a exportação

cafeeira, desde 1867, a partir da ferrovia para São Paulo e Santos.

Por esta época, segundo a tradição oral, iniciou-se a produção da variedade de

uva Isabel, provavelmente em 1880, no atual bairro da Malota, região indicada

como o primeiro local em terras jundiaienses, que as recebeu e cultivou.

A viticultura surge em Jundiaí, com produções de destaque, em 1887, no Núcleo

Colonial Barão de Jundiaí, instalado em 515 hectares das terras da “Fazendinha”,

a 3 km da cidade. No ano da inauguração, recebeu o núcleo 24 imigrantes

italianos e, no ano seguinte 163.

Filippini e Pereira (1988) analisaram as etapas de planejamento, implantação e

povoamento do Núcleo Barão de Jundiaí, mostrando as construções rurais dos

italianos, as quais tinham como principal característica uma planta com quatro

quartos voltados para uma sala retangular e cozinha aos fundos. Os materiais

construtivos eram tijolos de barro, por vezes produzidos em olarias dos próprios

imigrantes e telhas cerâmicas.

Aspectos culturais : festas e espaços de religiosidade As marcas da religiosidade na região, em função da cultura italiana, são

percebidas nas festas realizadas na comunidade, As festividades desenvolvem-se

em locais singulares relacionados aos espaços de igrejas católicas locais, devido

a esta cultura. Sabaté (2004), resulta que estas discussões poderiam focar a

comunicação, uma narrativa ou festas e locais memoráveis; entretanto, estes

espaços transmitem informações da História da região, do entorno ou de uma

determinada tradição.

a) Igreja Senhor Bom Jesus do Caxambu (bairro do Caxambu)

A igreja é a sede principal da paróquia Senhor Bom Jesus do Caxambu (no bairro

do Caxambu) e promove duas festas religiosas por ano, a festa do padroeiro São

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Vicente Mártir, em janeiro; também iniciou, há seis anos, no mês de agosto, a

festa do vinho artesanal.

b) Capela São Sebastião (bairro da Roseira)

A primeira capela de São Sebastião foi construída no mesmo local onde está a

capela atual, no bairro da Roseira em 1918. Sua planta media 2 m x 2,5 m, tendo

sido ampliada para 3 m x 5 m, para finalmente ser demolida e substituída, em

1959 pela igreja no local.

c) Capela São Roque (bairro da Toca)

A Capela São Roque está localizada em frente ao sítio São Roque, no Bairro da

Toca, em Jundiaí.

Aspectos produtivos: etapas do processo de produção de vinho artesanal e edificações: produção e habitação

A compreensão das etapas de processo produtivo de vinho artesanal,

correspondente ao patrimônio de produção, implica o conhecimento das

variedades de uva e da sua constituição, bem como da compreensão do conceito

de vinho artesanal, além do processo produtivo propriamente dito.

O vinho é uma bebida alcoólica feita, tradicionalmente, da fermentação do mosto

da uva; depois de pronto, pode passar por um amadurecimento em barricas de

carvalho ou outras, sendo depois engarrafado e ficando em repouso em adegas.

Além dos componentes da uva, ele agrega à sua composição substâncias

formadas durante a fermentação, bem como as originadas no período da madeira

(reações de oxidação), e no envelhecimento da garrafa (reações de redução).

Portanto, trata-se de uma bebida de estrutura complexa, “viva”, em constante

evolução, segundo Hernandez (2006). Embora alguns enólogos rejeitem esta

denominação, existem outras bebidas denominadas vinho, feitas de outros frutos,

flores ou outros ingredientes, que são seguidas de qualitativos como vinho de

amoras, vinho de jabuticaba, entre outros.

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Entretanto, do ponto de vista técnico, é interessante que a palavra vinho seja

utilizada exclusivamente para referir-se ao fermentado de uvas, ficando para as

demais bebidas a designação de fermentado alcoólico.

Processo produtivo e as edificaçõesCom base na relação entre processo produtivo de vinho artesanal e

arquitetura tendo em vista a evolução das edificações, podem-se definir duas

construções típicas, relevantes na implantação dos sítios de uva : a cantina e as

habitações de dois tipos , conjuntas a adegas e independentes.

Espaço para produção do vinho: CantinaA qualidade do vinho recebe influência da técnica na manipulação da uva e

do edifício em que estes trabalhos se processam. Este edifício denomina-se

cantina, podendo ser desde o local em que o pequeno vitivinicultor transforma a

uva em vinho, até o estabelecimento enológico da indústria. Gobbatto (1942)

apresenta um antigo projeto de arquitetura para cantinas modelo de grande porte

segundo extraído de seu manual de vitivinicultura.

Casa típica dos colonos italianos da bacia do rio Jundiaí-MirimA habitação geralmente encontra-se localizada próximo à adega, com pátio

central. A maioria dos sítios utiliza água de mina, sendo servidos por redes de

esgoto ou fossa séptica e eletricidade. As propriedades possuem antena

parabólica e acesso à Internet. Construções simples, sem sofisticação. As

residências, assim como os galpões de produção e comercialização de vinho, e

as demais construções complementares existentes na maioria dos sítios da

região, possuem telhado duas águas (alguns em quatro águas), estruturado em

madeira e coberto de telhas cerâmicas. As aberturas em geral não possuem

molduras; as paredes estruturam-se em alvenaria de tijolos com revestimento

externo argamassado e pintura.

Foi possível apurar na casa sede do sítio Santa Adélia, e também por meio

de diversas entrevistas e levantamentos de campo, que a organização da planta

dessas casas dava-se em volta de uma grande sala retangular (4x8 m), onde

ficava a mesa de refeições, que reunia a família nos quase sagrados horários do

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café, almoço e, principalmente, jantar. Para esta sala davam quatro quartos

quadrados (4x4 m cada um), de modo que a planta da casa assumia a forma

retangular (12x8 m). A porta da frente da casa voltava-se diretamente para a

grande sala de refeições. Do lado oposto desta mesma sala havia uma outra

porta que se abria para a cozinha, algumas vezes sem parede; e a área de

serviços. O banheiro normalmente ficava fora do conjunto principal da casa.

O pé direito utilizado era em média de quatro a cinco metros; e o caimento

do telhado duas águas com enormes tesouras, como verificado no galpão do sítio

Mazziero, era utilizado para a residência dos familiares.

Sítio Santa Adélia/ Família FontebassoO sítio de uva aberto pelo “nono” Fontebasso, no final do século XIX,

permanece com a família até os dias de hoje. Obviamente, as divisas originais da

propriedade sofreram modificações, em função da fragmentação ocasionada

pelas sucessivas distribuições entre os herdeiros.

A propriedade foi adquirida em 1892 por Santo Fontebasso, proveniente de

Veneza, bisavô do proprietário atual. Santo chegou ao Brasil em 1887 e se

instalou em Itatiba, comprando o sítio de dez alqueires. A casa de Santo

Fontebasso, (Fig. 5.43), construída em 1920, era de dois andares, e o que existe

hoje é uma construção típica que foi alterada, com a demolição do andar superior,

tendo preservada a fachada. O primo do proprietário está atualmente morando na

residência.

A casa-sede do sítio é original, embora tenha passado por diversas reformas. A

planta parece seguir uma distribuição típica adotada pela grande maioria dos

italianos que se instalaram na região, no final do século XIX e início do século XX.

Trata-se de uma planta simétrica, retangular e modulada.

As edificações foram modificadas com o decorrer do tempo, como se pode

perceber pelas fotos, e a casa sede possui características originais como os

detalhes das janelas, telhas e tijolos. A maioria das construções possuem o tipo

de cobertura de quatro águas, com inclinação de 30% e telha capa e canal. As

paredes são de tijolo cerâmico. Não existem molduras de arremate no telhado. As

fachadas têm varandas que são utilizadas como garagem, e o acabamento

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externo é reboco e pintura. Os elementos externos são: um paiol para produção

de fubá, um galpão para produção de vinho e outro para comercialização dos

vinhos artesanais.

Os materiais empregados no galpão de comercialização são: nas paredes, tijolos

cerâmicos; no teto, telhas cerâmicas aparentes com estrutura de madeira; e o

piso é cimentado. As esquadrias são de aço e de madeira. Os materiais de

construção da residência principal eram fabricados por Santo Fontebasso, como

se nota nas iniciais verificadas nos tijolos.

Componentes do Parque Patrimonial em Jundiaí A primeira proposta de um parque agroindustrial patrimonial vista na figura 3 para

o município abrangeria três pontos fundamentais do patrimônio composto das

seguintes áreas:

1-Centro histórico da cidade e edificações históricas tombadas

2-Bairros com valor histórico- Caxambu entre outros

3-Parque da Uva

4-Propriedades rurais com café na Serra do Japi- Fazenda Ermida

À luz das iniciativas estudadas, a investigação resumiu e propôs, como um

dos seus primeiros resultados, algumas características do que se entende por

parque patrimonial:

Entendemos parque patrimonial como um lugar ou território onde se privilegia

a memória e a tradição local; onde moradores e visitantes tendem a encontrar

recursos (edifícios e eventos comuns) culturalmente significativos em equilíbrio

com os recursos naturais.

Nesse aspecto, cabe fazer menção que a gestão do uso recreativo tem sido

uma ferramenta para a promoção econômica de áreas vazias de um município.

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5.METODOLOGIA

A metodologia de trabalho deste artigo envolveu pesquisa bibliográfica sobre o

tema abordado, levantamentos e sistematização das informações obtidas através

de pesquisa em arquivos e órgãos públicos, em documentos e periódicos, de

material iconográfico e fonográfico e de entrevistas. A pesquisa bibliográfica

fornecereu o instrumento teórico para as investigações dos dados específicos

sobre o objeto de estudo. O trabalho está estruturado em três grandes temas: a

história das propriedades rurais marcantes e de seus levantamentos in loco.

O critério para a seleção de quais propriedades fariam parte da pesquisa foi suas

características histórico-culturais relevantes a saber: dez propriedades existentes

na região do Caxambu relacionadas com a vinda dos imigrantes italianos e

produção de uva e vinho artesanal. Concomitantemente aos estudos teóricos, foi

realizado o andamento o levantamento de informações sobre o objeto de estudo.

Tais levantamentos incluem documentos referentes as propriedades rurais e às

cidades envolvidas, mapas e levantamentos aerofotogramétricos, entrevistas com

proprietários e funcionários, visitas aos locais, artigos em jornais, documentos e

obras de memorialistas e obras sobre a história das cidades envolvidas.

Foram elaborados critérios para as pesquisas em campo, bem como para as

bases dos procedimentos, visitas, levantamentos métricos e fotográficos. Visitas e

levantamentos terão seus parâmetros definidos antecipadamente com a finalidade

de orientar a obtenção de dados úteis para a pesquisa.

A intenção foi executar um trabalho de levantamento histórico de forma crítica e

analítica, pautando documentar e registrar o patrimônio e avaliar o impacto inicial

da implantação das propriedades na forma e vida das cidades.

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6.SÍTIOS DE UVA E VINHO ARTESANAL

BUSTAMANTE, Leonel Pérez; PONCE, Claudia Parra. Paisajes Culturales: El Parque Patrimonial Como Instrumento De Revalorización Y Revitalización Del Territorio. Theoria, Vol. 13: 9-24.Departamento de Planificación y Diseño Urbano, Facultad de Arquitectura, Construcción y Diseño, Universidad del Bío-Bío, Concepción, Chile: 2004

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Artigo 3ºSeminário Internacional do Patrimônio Agroindustrial-24 a 27 de Outubro, Régua, Douro, Portugal

como museo "Facón grande". “Quinto Coloquio Latinoamericano e Internacional sobre Rescate y Preservación del Patrimonio Industrial”Buenos Aires – 18 al 20 de Setembro de 2007

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