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ÍNDICE
ANTICORPOS ANTI-Neospora caninum EM FÊMEAS NELORE...................................1
Janaina Bacon Manfio et al.
ANTICORPOS ANTI-Toxoplasma gondii EM OVINOS NO NORTE DE MATO
GROSSO...............................................................................................................................6
Riciely Vanessa Justo et al.
AVALIAÇÃO DO BEM ESTAR EM BOVINOS ATRAVÉS DOS NÍVEIS SÉRICOS
DE CREATINA-FOSFOQUINASE E CORTISOL...........................................................11
Maianne Borges da Silva et al.
CAPACIDADE PREDATÓRIA DE Duddingtonia flagrans APÓS TRÊS ANOS DE
ARMAZENAMENTO........................................................................................................15
Liliani Bandeira de Araújo et al.
CISTICERCOSE BOVINA NA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO........................19
Danielly Cristina Justo Lolatto et al.
COMPACTAÇÃO DO CONTEÚDO RUMINAL POR CORPO ESTRANHO COMO
CAUSA DE MORTALIDADE DE BOVINOS..................................................................24 Leonardo Pintar de Oliveira et al.
DESEMPENHO PRODUTIVO E QUALIDADE DE CARCAÇA DE MESTIÇAS
NELORE X ANGUS...........................................................................................................28
Daniela Reis Krambeck et al.
DOENÇAS DE BOVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO (2009 - 2012).................32
Everson dos Santos Damasceno et al.
DOENÇAS DE OVINOS DA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO...........................38
Kassia Renostro Ducatti et al.
EFEITO DO JEJUM SOBRE A AÇÃO DO ALBENDAZOL EM BOVINOS.................42
Fabiola Francisca Dias Fernandes et al.
EFICIÊNCIA DE INSENSIBILIZAÇÃO DE BOVINOS COM DOIS MODELOS DE
PISTOLA.............................................................................................................................46
Alana Souza de Melo et al.
FASCIOLOSE BOVINA NA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO...........................51
Mauro Sergio Adams et al.
INDUÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE RESISTÊNCIA À INTOXICAÇÃO POR
Amorimia pubiflora (Malpighiaceae) EM OVINOS...........................................................56
Mayara Inacio Vincenzi da Silva et al.
INFECÇÃO POR Escherichia coli EM LEITÕES EM FASE DE CRECHE....................61
Geovanny Bruno Gonçalves Dias et al.
INTOXICAÇÃO POR Palicourea marcgravii EM 48 BOVINOS EM PORTO DOS
GAÚCHOS, MATO GROSSO, BRASIL...........................................................................66
Fernando Henrique Furlan et al.
MÉTODO FAMACHA NO CONTROLE DE HELMINTOSES GASTRINTESTINAIS
EM CAPRINOS..................................................................................................................69
Mylena Ribeiro Pereira et al.
MODELO DE PREDIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE Duddingtonia flagrans........74
Riciely Vanessa Justo et al.
MORTALIDADE DE BOVINOS POR HIPOTERMIA ASSOCIADA À INVERSÃO
TÉRMICA...........................................................................................................................78
Samara Rosolem Lima et al.
OXIURÍASE EM EQUINOS..............................................................................................81
Daniela Reis Krambeck et al.
Paramphistomum spp. EM OVINOS ABATIDOS NA REGIÃO NORTE DO MATO
GROSSO.............................................................................................................................85
Henry Coradi Schlich et al.
RESISTÊNCIA DE Rhipicephalus (Boophilus) microplus À ACARICIDAS
COMERCIAIS NO NORTE DO MATO GROSSO...........................................................89
Camila Eckstein et al.
TRICOSTRONGILÍDEOS EM OVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO..................93
Hildene Andrey Zago Biavatti et al.
TRABALHOS PREMIADOS NO I ENISAP……………………….……………………96
ANTICORPOS ANTI-Neospora caninum EM FÊMEAS NELORE
Janaina Bacon Manfio1
Riciely Vanessa Justo1
Artur Kanadani Campos1
Juliana Arena Galhardo2
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
2 Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil.
ABSTRACT - Antibodies anti-Neospora caninum in Nellore female. The aim of the present study was
to evaluate the occurrence of anti-Neospora caninum in cow Nellore livestock from properties located in
the cities of Sinop, Itaúba, Colíder, Carlinda and Guarantã of Northern, from Mato Grosso, Brazil. To
determine the occurrence blood were collected from 205 animals for serological diagnosis technique by
immunofluorescence assay (IFA) and the history of each property was raised by applying an
epidemiological questionnaire at the time of collection of blood samples. Of the 205 animals sampled, 77
(37.56%) were positive for anti-N. caninum. All five properties studied were positive, ranging from
13.33% to 70% occurrence. Historical and loose dogs that feed on offal was crucial to understand the high
occurrence in Sinop (70%) and Carlinda (50%).The results of the experiment showed that as in other
regions of Brazil, neosporosis occurs and is often misdiagnosed.
INTRODUÇÃO
Historicamente, o protozoário Neospora caninum era confundido com Toxoplasma gondii, o que
impedia o diagnóstico da neosporose [2]. No entanto, essa doença já foi relatada em animais domésticos e
selvagens no mundo todo [7]. No Brasil, N. caninum passou a ser diagnosticado a partir de 1999 em fetos
bovinos abortados e através de levantamentos sorológicos em bovinos e cães de diferentes estados [3].
Os hospedeiros mais susceptíveis à neosporose são os bovinos. Estima-se que 20% de todos os
fetos bovinos abortados são provenientes da infecção por N. caninum [1]. Entretanto, diante da falta de
conhecimento, a neosporose tem sido subdiagnosticada nas propriedades rurais do Brasil [2]. Isso se deve
ao caráter subclínico da doença e da ausência do diagnóstico sorológico em rebanhos com histórico de
aborto.
Para tanto, objetivou-se com o presente trabalho, investigar a ocorrência de anticorpos anti-N.
caninum em fêmeas bovinas da raça Nelore através do emprego do teste sorológico de Reação de
Imunofluorescência Indireta (RIFI) e aplicação de questionário epidemiológico em propriedades da região
norte de Mato Grosso.
METODOLOGIA
Foram coletadas 205 amostras de sangue de fêmeas Nelore, com idade igual ou superior a 24
meses, para determinar a ocorrência de anticorpos anti-N. caninum. Os animais eram provenientes de
cinco rebanhos pertencentes às cidades de Sinop (S11° 13’ 20.5’’ W055° 18’ 06.2’’), Itaúba (S11° 13’
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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20.3’’ W055° 18’ 05.4’’), Colíder (S10° 43’ 15.3’’ W055° 31’ 48.3’’), Carlinda (S11° 30’ 24.4’’ W055°
24’ 17.6’’) e Guarantã do Norte (S09° 47’ 24.3’’ W054° 54’ 26.8’’), localizadas na região norte do estado
do Mato Grosso.
Em cada animal, foram coletados 5 ml de sangue através da punção da veia ou artéria coccígea
com o uso de agulha 40 x 12 descartável e sem o uso de anticoagulante. Cada amostra foi identificada
com o número da propriedade e posteriormente, acondicionada em caixa isotérmica contendo gelo
terapêutico. Logo após as coletas, aplicou-se um questionário epidemiológico aos funcionários
responsáveis pelo manejo dos animais a fim de se avaliar os fatores de risco de cada propriedade.
Todas as amostras foram encaminhadas ao Laboratório de Parasitologia Veterinária da
Universidade Federal de Mato Grosso, onde foram refrigeradas e processadas (Fig. 1) dentro de um prazo
máximo de 24 horas.
Figura 1. Obtenção do soro após a centrifugação (A), pipetagem da amostra (B)
para armazenagem em microtubo (C) e encaminhamento com identificação (D)
para a realização da RIFI.
O processamento compreendeu a centrifugação na velocidade de 2.400 rpm durante cinco minutos
para a armazenagem de 1 ml de soro, de cada amostra, em microtubos plásticos estéreis. As alíquotas de
soro foram identificadas, congeladas e enviadas ao Laboratório de Protozoologia da Universidade
Estadual de Londrina para a realização da RIFI. Foram consideradas positivas as reações em que os
taquizoítos apresentaram fluorescência periférica total, sendo no mínimo 50% (Títulos ≥ 1:50).
Com base na frequência de bovinos soropositivos (555/2.253) observada em outros trabalhos
[4,5,6] adotou-se uma frequência esperada de 24,63%. As frequências foram analisadas pelo teste do Qui-
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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quadrado (P=0,01) através da equação de Pearson 2= [(o - e)2 /e], onde “o” é a frequência observada e
“e” é a frequência esperada.
RESULTADOS
Todas as propriedades apresentaram animais soropositivos para anticorpos anti-N. caninum. Do
total de 205 amostras enviadas, 77 (37,56%) foram positivas (Tab. 1). Os desvios da frequência observada
(37,56%) foram significativos em relação à frequência esperada (24,63%) no total das amostras. Apenas
os desvios das frequências de Sinop e Carlinda, quando analisados individualmente, apresentaram
diferença não significativa em relação à frequência esperada.
Tabela 1. Ocorrência de anticorpos anti-N. caninum em 205 fêmeas bovinas da raça
Nelore na região norte do Mato Grosso, pela Reação de Imunofluorescência Indireta
(títulos ≥1:50). A análise da frequência observada em relação à esperada pelo teste do
Qui-quadrado (P=0,01) está apresentada para cada cidade.
Cidade Amostra Sorologia Frequência
observada
2 P
+ -
Sinop 60 42 18 70% 0,93* 0,33
Itaúba 30 8 22 26,67% 38,33 <0,01
Colíder 48 10 38 20,83% 76,91 <0,01
Carlinda 22 11 11 50% 7,63 0,06
Guarantã do Norte 45 6 39 13,33% 93,29 <0,01
Total 205 77 128 37,56% 157,86 <0,01
2 = Qui-quadrado calculado.
*H0 = proporção (positivos:negativos) = (24,63:75,37).
Através do questionário epidemiológico observou-se que todas as propriedades avaliadas
apresentaram histórico de aborto. O diagnóstico laboratorial como tentativa de descobrir a causa dos
abortos era realizado em 40% das propriedades. Deste percentual, 50% dos diagnósticos eram realizados
para brucelose e 50% para brucelose, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) e diarreia viral bovina (BVD),
ambos os testes com resultados negativos. Em todas as propriedades ficou evidenciada a desinformação
sobre neosporose, seu diagnóstico e controle.
Todas as propriedades possuíam no mínimo dois cães para trabalho, ou guarda e companhia. Nas
propriedades onde os cães ficavam sempre ou ocasionalmente soltos (60%), foi observado que todos esses
cães tinham livre acesso à mangueira, pastagens ou currais onde permaneciam os bovinos. Em uma
propriedade (20%) os cães ainda tinham acesso aos bebedouros dos bovinos. Para agravar o problema, foi
verificado que 40% das propriedades ainda realizavam matança de bovinos e destinavam as vísceras aos
cães.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
4
DISCUSSÃO
Diante das limitações inerentes ao tamanho da amostra analisada não foi possível inferir acerca da
prevalência na região estudada. Por outro lado, os resultados obtidos mostraram que a neosporose está
presente em fêmeas bovinas da raça Nelore na região norte de Mato Grosso sendo necessários estudos de
prevalência mais abrangentes na região.
Embora a ocorrência de anticorpos anti-N. caninum tenha sido comprovada em todas as
propriedades o resultado não permitiu confirmar que os abortos ocorridos até a presente data foram
causados por N. caninum. Para que isso fosse possível, seria necessário identificar o agente em tecidos
fetais abortados [2,4] e não foi este o objetivo com este trabalho. Constatou-se que a falta de diagnóstico
diferencial entre BVD, IBR, leptospirose, brucelose e neosporose tem prejudicado o controle sanitário de
rebanhos bovinos no norte de Mato Grosso.
Houve diferença estatística entre a frequência observada e a esperada para a amostra total.
Entretanto, ao avaliar os resultados obtidos com os esperados para cada cidade, os desvios mostraram-se
não significativos para Sinop e Carlinda. Isso significa que as vacas desses municípios apresentaram uma
frequência de anticorpos anti-N. caninum igual à de bovinos de corte e leite de Goiânia e Anápolis [4] e
vacas leiteiras do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São
Paulo [5,6]. Portanto, devido ao caráter subclínico da neosporose, ficou evidenciada a importância de se
acrescentar a sorologia para detecção de anticorpos anti-N. caninum na rotina das fazendas e
consequentemente, evitar o prejuízo inerente aos abortos.
REFERÊNCIAS
1 ANDERSON, M.L.; ANDRIANARIVO, A.G.; CONRAD, P.A. Neosporosis in cattle. Animal
Reproduction Science, (60-61): 417-431, 2000.
2 ANDREOTTI, R. Neosporose: Um possível problema reprodutivo para o rebanho bovino. Campo
Grande: Embrapa Gado de Corte, 2001, p.1-14.
3 LINDSAY, D.S.; DUBEY, J.P.; MCALLISTER, M.M. Neospora caninum and the potential for parasite
transmission. Compendium on continuing education for the practicing veterinarian, 4(21): 317-321,
1999.
4 MELO, D.P.G.; SILVA, A.C. DA; ORTEGA-MORA, L.M.; BASTOS, S.A.; BOAVANTURA, C.M.
Prevalência de anticorpos anti-Neospora caninum em bovinos das microrregiões de Goiânia e Anápolis,
Goiás, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 3(15): 105-109, 2006.
5 RAGOZO, A.M.A.R.; PAULA, V.S.O.; SOUZA, S.L.P.; BERGSMASCHI, D.P.; GENNARI, S.M.
Ocorrência de anticorpos anti-Neospora caninum em soros bovinos procedentes de seis estados
brasileiros. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 1(12): 33-37, 2003.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
5
6 SARTOR, I.F.; HASEGAWA, M.Y.; CANAVESSI, A.M.O.; PINCKNEY, R.D. Ocorrência de
anticorpos de Neospora caninum em vacas leiteiras avaliados pelos métodos ELISA e RIFI no município
de Avaré, SP. Semina: Ciências Agrárias, 1(24): 3-10, 2003.
7 TAYLOR, M.A.; COOP, R.L.; WALL, R.L. Parasitologia veterinária, Rio de Janeiro: Guanabra
Koogan, 2010.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à equipe do Laboratório de Protozoologia da Universidade Estadual de Londrina
que foram imprescindíveis para a realização da RIFI, bem como a todos os funcionários e criadores das
propriedades que participaram desse trabalho.
ANTICORPOS ANTI-Toxoplasma gondii EM
OVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO
Riciely Vanessa Justo
1
Luciana Auxiliadora Viebrantz da Conceição1
Túlio Geraldino Manhezzo1
Mylena Ribeiro Pereira1
Thelma Milhomem Galindo1
Camila Eckstein1
Lucineide da Silva1
Artur Kanadani Campos1
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, Mato Grosso, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT – Antibodies anti-Toxoplasma gondii in sheep from Northern of Mato Grosso. Ovine
toxoplasmosis is a major cause of abortion and placentitis. This study evaluated the occurrence of
antibodies anti-Toxoplasma gondii in 273 sheep from cities Itauba, Santa Carmem, Sinop, Sorriso,
northern of Mato Grosso, Brazil. The technique of Indirect Hemagglutination (IHA) was applied and 84
were seropositive. The proportion of positive females was greater than of males. These animals may
represent sources of transmission of T. gondii for humans.
INTRODUÇÃO
Toxoplasma gondii é um protozoário coccídio intracelular obrigatório, causador da toxoplasmose,
que pode parasitar mais de 200 espécies animais, inclusive o humano [3]. Segundo Medeiros (2010) [5],
no Brasil não há tradição de se vacinar os ovinos contra toxoplasmose, sendo essa espécie naturalmente
susceptível a T. gondii. Com isso a ocorrência da infecção de ovinos geralmente, se encontra elevada [4].
Os ovinos infectam-se ao ingerirem pastagem, água ou outros alimentos contendo oocistos de T.
gondii eliminados pelos gatos através das fezes [8]. A toxoplasmose pode ser assintomática em ovinos,
mas é comum a infecção durante a gestação resultar em aborto [6]. Há relatos da transmissão de T. gondii
ocorrer por contato sexual em ovinos, o que resulta em perdas reprodutivas [1].
Objetivou-se com o presente trabalho, verificar a frequência de animais soropositivos para
anticorpos anti-Toxoplasma gondii em propriedades localizadas nos municípios de Sinop, Santa Carmem,
Sorriso e Itaúba, região norte do Mato Grosso, utilizando-se a técnica de Hemaglutinação Indireta (HAI).
METODOLOGIA
Utilizaram-se amostras de soro de 273 ovinos (52 machos e 221 fêmeas), provenientes de um
estudo anterior, onde amostras de sangue haviam sido coletadas através da punção da veia jugular, direto
em tubo de ensaio, sem anticoagulante, no período de setembro a outubro de 2010. Logo após a coleta,
essas amostras foram centrifugadas à velocidade de 300 rpm por 10 minutos e em seguida, alíquotas de
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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1mL de soro foram armazenadas em microtubos estéreis que ficaram armazenados à temperatura de -
20oC, até a realização do presente estudo. Todas as amostras estavam identificadas com o número do
animal e da propriedade de origem.
A técnica sorológica aplicada às amostras foi a Hemaglutinação Indireta (HAI), que se baseia na
aglutinação formada pela equivalência entre antígeno e anticorpo. Essa técnica foi realizada com o
emprego do kit Imuno-HAI, do laboratório WAMA Diagnóstica, composto por um soro controle
negativo, soro controle positivo, suspensão de hemácias sensibilizadas com componentes de Toxoplasma
gondii, solução diluente e placa de microtitulação. Essa placa apresenta 96 cavidades para preencher com
a diluição sorológica, letras de A a H no eixo vertical e números de 1 a 12 no eixo horizontal. Para a
neutralização de forças eletrostáticas, a placa foi utilizada sobre um tecido úmido. Cada amostra de soro
foi diluída na proporção 1:32.
Para o diagnóstico sorológico, as cavidades A1 e A2 da placa de microtitulação foram
completadas com 25 µL de soro controle negativo e 25 µL de soro controle positivo, respectivamente. As
demais cavidades foram preenchidas com 25 µL de soro homogeneizado com a suspensão de hemácias
sensibilizadas com componentes de T. gondii. Em seguida a placa foi agitada por vibração mecânica
durante 3-4 minutos.
Após 2 horas, realizou-se a leitura do resultado positivo, quando a presença de anticorpos contra
T. gondii gerava aglutinação de hemácias na cavidade ou negativo, quando a ausência desses anticorpos
proporcionava a sedimentação de hemácias no fundo da cavidade, formando um botão vermelho (Fig. 1).
As propriedades de origem dos animais foram visitadas e na ocasião foi aplicado um questionário para
avaliar os fatores de risco para toxoplasmose em ovinos.
Figura 1. Microplaca com reações de hemaglutinação. Notar a diferença na imagem ampliada das cavidades, entre o resultado
negativo (botão vermelho) e positivo (aglutinação).
A frequência esperada para anticorpos anti-Toxoplasma gondii foi de 47,98% com base em
pesquisas anteriores que identificaram 167 soropositivos em um total de 348 ovinos utilizando a técnica
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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da HAI [2,7]. A frequência aqui observada foi confrontada com a esperada pelo teste do Qui-quadrado
(P=0,01) através da equação de Pearson 2= [(o - e)2 /e], onde “o” é a frequência observada e “e” é a
frequência esperada. Utilizou-se tabela de contingência para verificar a associação com variáveis e a
correção de Yates, quando necessário.
RESULTADOS
Dos 273 animais avaliados, 84 (30,77%) foram soropositivos para anticorpos anti-Toxoplasma
gondii, sendo 12 (14,29%) machos e 72 (85,71%) fêmeas. Em relação ao número de animais da amostra
de fêmeas e machos, a proporção de fêmeas soropositivas foi de 0,3258 e a de machos de 0,2308. Houve
associação estatística entre a presença de anticorpos anti-T. gondii e as variáveis: sexo, gato e fonte de
água (Tab. 1).
Tabela 1. Diagnóstico sorológico de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em ovinos da
região norte de Mato Grosso, no período de setembro a outubro de 2010, pela técnica de
Hemaglutinação Indireta (HAI). A presença de anticorpos anti-T. gondii sofreu influência
do sexo dos animais, da presença ou ausência de gatos nas propriedades e da fonte de água
para os ovinos, segundo o teste do Qui-quadrado.
Sexo
Observado Total
Esperado χ
2 P
+ - + -
Fêmea 72 149 221 68 153 139,36* <0,01
Macho 12 40 52 16 36 51,99 <0,01
Total
Gato
84 189 273 84 189 191,36 <0,01
Presente 70 114 184 57 127 82,57 <0,01
Ausente 14 75 89 27 62 122,47 <0,01
Total
Fonte de água
84 189 273 84 189 205,05 <0,01
Rio 72 129 201 62 139 104,66 <0,01
Poço 12 60 72 22 50 94,49 <0,01
Total 84 189 273 84 189 199,16 <0,01
2 = Qui-quadrado calculado.
* H0 = proporção (+: -).
Os desvios entre a frequência observada (30,77%) e esperada (47,98%) foram significativos para a
amostra total (273). Entretanto, ao avaliar os resultados obtidos em cada propriedade (Tab. 2), os desvios
mostraram-se significativos apenas para duas propriedades de Sinop e as pertencentes à Itaúba e Santa
Carmem.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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Tabela 2. Diagnóstico sorológico de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em ovinos da
região norte de Mato Grosso, no período de setembro a outubro de 2010, pela técnica de
Hemaglutinação Indireta (HAI). São apresentadas as frequências observadas e as
esperadas seguidas nas cidades avaliadas com respectivo Qui-quadrado.
Propriedade
Cidade
N
Sorologia Frequência
Observada
2
P + -
A Itaúba 27 4
23
14,81 14,97* <0.01
B Santa Carmem 33 5 28 15,15 17,97 <0,01
C Sinop 41 23 18 56,09 0,27 0,61
D Sinop 33 10 23 30,30 6,23 0,02
E Sinop 30 4 26 13,33 17,98 <0,01
F Sinop 50 7 43 14 28,95 <0,01
G Sinop 12 3 9 25 3,51 0,07
H Sorriso 47 28 19 59,57 1,07 0,3
Todas Todas 273 84 189 30,77 49,39 <0,01
2 = Qui-quadrado calculado.
* H0 = proporção (+: -) ou (47,98):(52,02).
DISCUSSÃO
Este foi o primeiro relato sobre a ocorrência de anticorpos anti-Toxoplasma gondii na região norte
do Mato Grosso. Entretanto, a sorologia não indica a ocorrência de toxoplasmose, mas sim que os
animais tiveram pelo menos um contato com o agente dessa doença durante a vida, desenvolvendo assim
anticorpos.
Segundo Silva et al. (2003) [8], em ovinos, associações significativas foram encontradas para sexo
e raça, mas não para região, tipo de manejo ou falha reprodutiva. No presente trabalho também houve
associação entre o sexo dos animais, presença ou ausência de gatos nas propriedades e o tipo de fonte de
água para os animais com a existência de anticorpos anti-T. gondii nos ovinos avaliados.
A ocorrência de maior proporção de fêmeas soropositivas em relação a proporção de machos
soropositivos nesse trabalho deve-se às condições fisiológicas inerentes ao sexo que induzem à
imunossupressão no periparto e lactação e também ao tamanho da amostra, que foi maior para fêmeas.
De forma geral, foi possível visualizar uma menor ocorrência de anticorpos anti-T. gondii nos
ovinos das cidades da região norte do Mato Grosso que em cidades como Vitória e Uberlândia [2,7].
Entretanto, ao avaliar os casos positivos em cada propriedade, observou-se que a frequência de 47,98%
(esperada) foi alcançada apenas em dois rebanhos de Sinop e um de Sorriso. Isso indica que nas demais
propriedades, bem como na amostra total, a ocorrência de anticorpos anti-T. gondii foi inferior à
frequência esperada.
A aplicação do questionário foi útil para revelar que as propriedades apresentavam fontes
inapropriadas de água para os ovinos e que gatos domésticos tinham livre acesso à água dos animais de
produção. Essas informações reforçam a associação estatística existente entre as variáveis sexo, gato e
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
10
fonte de água com a soropositividade dos ovinos. Ficou evidenciada a falta de informação das pessoas e a
ausência de medidas de controle adequadas para evitar a toxoplasmose em animais e humanos. Contudo,
os ovinos abatidos nessa região representam risco para a saúde humana, pois a carne de animais
infectados com T. gondii é uma importante fonte de infecção para o homem.
CONCLUSÃO
Os ovinos criados na região norte do Mato Grosso estão expostos à infecção por Toxoplasma
gondii.
REFERÊNCIAS
1 ALBUQUERQUE, P.P.F. Detecção do Toxoplasma gondii no sêmen de reprodutores ovinos criados na
Zona da Mata e Agreste do Estado de Pernambuco. In: X Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão.
Anais... UFRPE: Recife, 2010.
2 BARIONI, G.; TESOLINE, P.; BELTRAME, M. A. V.; PEREIRA, L. V.; GUMIEIRO, M. V.
Soroprevalência da Toxoplasmose em Ovinos da Raça Santa Inês nos Municípios da Grande Vitória –
ES. Ciência Animal Brasileira, 2009. Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/vet/article/
view/7889/5730> Acesso em: 30 ago. 2012.
3 KAWAZOE, U. Toxoplasma gondii. In: Neves, D.P. Parasitologia Humana. São Paulo: Atheneu,
2005, p.163-172.
4 LOPES, W.D.Z. Aspectos da infecção toxoplásmica no sistema reprodutor de ovinos (Ovis aries)
machos experimentalmente infectados. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária). Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias: Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, SP, 2007.
5 MEDEIROS, A.D. Ocorrência da Infecção por Toxoplasma gondii e Avaliação da Imunização em
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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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AVALIAÇÃO DO BEM ESTAR EM BOVINOS ATRAVÉS DOS NÍVEIS
SÉRICOS DE CREATINA-FOSFOQUINASE E CORTISOL
Maianne Borges da Silva1
Danielly Cristina Justo Lolatto1
Alessandra Kataoka1
Angelo Polizel Neto1
1 Universidade Federal do Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. Email para correspondência: [email protected]
ABSTRACT. Assessment of welfare through bovine serum creatine phosphokinase and cortisol.
Objective was to assess animal welfare in cattle by serum creatine phosphokinase (CPK) and cortisol, and
if there relate effects of transport distance on these variables and their relationship with the injuries
carcass. The transport time did not influence the level of serum cortisol, although the distance was
different. The distance transportation changed the occurrence of lesions in the carcass and serum CPK.
Animals transported by shortest distance, 93% had at least one lesion housing and 1197.8 U / L of serum
CPK, instead, the animals were transported for 400 km, and 36% had at least one injury and carcass 701.7
U / L of serum CPK. The cortisol may not be a single parameter to assess animal welfare. The dosage of
creatine phosphokinase is a good indicator, being directly related to the occurrence of lesions. However,
more important than the distance covered is how is the handling of the animals during pre-slaughter since
the occurrence of lesions is the result of poor management practices.
INTRODUÇÃO
O bem-estar animal assumiu importância quando se observou que o manejo dos animais ao
frigorífico em condições estressantes provoca perdas tanto aos produtores como à indústria, já que reduz
o peso vivo dos animais, o rendimento de carcaça e qualidade da carne.
As práticas de bem-estar animal são um diferencial na comercialização de carne
internacionalmente, embora não façam parte dos acordos comerciais, há exemplos de experiências do
Chile, Argentina, Brasil e Uruguai e da União Europeia [4].
Desde o embarque até momento de insensibilização no frigorífico os animais passam por momentos
considerados como pontos críticos que dificilmente atendem os preceitos de bem-estar animal.
No Mato Grosso, os animais são transportados por longas distâncias até chegarem ao matadouro e
quase que unicamente por transporte rodoviário. Porém, o transporte rodoviário em condições
desfavoráveis pode provocar a morte dos animais ou levar ao aparecimento de lesões de carcaça, perda de
peso e estresse dos animais [1, 4].
A grande alteração de estímulos externos dificulta à adaptação do animal as condições apresentadas.
De modo que, em condições de estresse ocorre produção do cortisol e sua quantificação no soro
sanguíneo é comumente utilizada para verificar o nível de estresse que o animal foi submetido,
principalmente em situações que antecedem o abate [3].
Além do cortisol, a avaliação de creatina-fosfoquinase (CPK) tem sido utilizada para avaliação de
bem estar animal, uma vez que, esta enzima é notada no soro em consequência da lesão muscular [1], e
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em suínos a avaliação dessa enzima possui alta correlação com a condição de bem-estar animal [7]. A
creatina-fosfoquinase é indicador altamente sensível e específico da lesão muscular em animais
domésticos. O vigoroso exercício ou prolongado embarque podem resultar em modestas elevações, ou em
até quatro vezes os valores em repouso de CPK na circulação [6]. No entanto, no Brasil é restrita a
publicação de artigos sobre a relação da dosagem de creatina-fosfoquinase com o bem-estar de bovinos.
Desse modo, teve como objetivo avaliar o bem-estar animal em bovinos através do nível sérico
creatina-fosfoquinase e cortisol, bem como, relacionar se há efeitos da distância de transporte sobre essas
variáveis e sua relação com as lesões de carcaça.
METODOLOGIA
Acompanhou-se o abate de 185 bovinos machos, da raça Nelore, em novembro de 2011, num
matadouro-frigorífico no município de Sinop-MT, sob Serviço de Inspeção Federal. Desses, 100 animais
foram transportados por 10 km e 85 animais por 400 km, da propriedade até o frigorífico. Os
procedimentos ante mortem, como tempo de descanso e dieta hídrica foram similares entre os lotes, e
seguidos conforme estabelecidos pelo Serviço de Inspeção Oficial. A idade dos animais foi estimada na
linha de abate pela observação e avaliação da dentição permanente.
Foram coletadas amostras de soro sanguíneo de 30 animais transportados por 10 km de distância e
30 animais transportados por 400 km de distância. Após a insensibilização, com pistola de dardo cativo
penetrante, os animais foram içados e imediatamente sangrados pelo funcionário do frigorífico. Esse
procedimento foi realizado com abertura sagital da barbela, seccionando os grandes vasos (veias jugulares
e artérias carótidas), utilizando a faca de sangria previamente esterilizada em temperatura mínima de
82,2ºC.
Imediatamente após o processo de sangria foi realizada a coleta de sangue, utilizando tubos
esterilizados, ausente de anticoagulante e devidamente identificados. Os tubos foram posicionados de
forma a possibilitar a coleta direta do fluxo sanguíneo, sem que houvesse contato com outras partes do
animal. Posteriormente, as amostras foram armazenadas em caixa térmica contendo gelo seco.
Após o término da coleta, os tubos foram encaminhados ao Laboratório de Patologia Clínica da
Universidade Federal de Mato Grosso, campus de Sinop – MT, para a centrifugação e posterior dosagem
da CPK (creatina-fosfoquinase) com o uso do Kit da marca Labtest. As amostras de soro sanguíneo dos
animais foram armazenadas em eppendorff de 1,5mL, congeladas a -18oC, e enviadas para o Laboratório
de Endocrinologia da Universidade Estadual Paulista, campus de Botucatu- SP para dosagem de cortisol
sérico por radioimunoensaio.
As carcaças foram avaliadas na linha de abate, após a remoção da pele, verificando a presença de
lesões na carcaça.
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A avaliação estatística seguiu o delineamento experimental inteiramente casualizado, sendo as
variáveis testadas pelo Proc GLM, com o programa Statistical Analysis System - SAS 9.0 (2002), a 5% de
significância.
RESULTADOS
Dos 30 animais transportados por curta distância, 01 animal apresentou apenas dentes decíduos
(<18 meses), 15 possuíam 2 dentes permanentes (<24 meses) e 14 possuíam 4 dentes permanentes (<30
meses). Já os animais transportados por longa distância, 6 animais apresentaram apenas dentes decíduos
(<18 meses) e 24 possuíam 2 dentes permanentes (<24 meses), na arcada inferior.
Na Tabela 1 são apresentados o peso médio de carcaça quente, os níveis séricos de CPK e cortisol, e
a ocorrência de lesões na carcaça, conforme a distância percorrida, 10 ou 400 km. O peso de carcaça
quente não foi diferente para os lotes transportados por 10 ou 400 km, demonstrando similaridade entre os
lotes tratamento.
A distância de transporte alterou a ocorrência de lesão na carcaça e o nível sérico de CPK. Dos
animais transportados por menor distância, 93% apresentaram pelo menos uma lesão de carcaça e
1197,8U/L de níveis séricos de CPK, ao contrário, dos animais que foram transportados por 400 km, 36%
apresentaram pelo menos uma lesão de carcaça e 701,7U/L de CPK sérico.
Tabela 1. Médias de peso de carcaça quente (PCQ), creatina-fosfoquinase sérica (CPK),
cortisol sérico (CO) e lesões de carcaça, de acordo com distância de transporte.
Variáveis Distância CV1 P
2
10 km 400 km
PCQ (kg) 281,66 278,50 9,37 0,7926
CPK (U/L)* 1197,8a 701,7b 71,07 0,0246
CO (ug/dL) 5,72 5,09 43,45 0,3976
Lesão (n/animal)* 0,9333a 0,3667b 119,2 0,0050 1CV: coeficiente de variação;
2P: significância
*Letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si.
DISCUSSÃO
O tempo de transporte não influenciou no nível sérico de cortisol, embora à distância percorrida
tenha sido diferente. O comportamento de liberação desse hormônio está atribuído aos estímulos
estressantes, sabido que há um aumento sérico de cortisol em momentos de estresse agudo, porém ocorre
um declínio em estresse crônico [4]. Possivelmente, neste estudo os animais estavam em fase crônica de
estresse. Portanto, a dosagem de cortisol não pode ser um parâmetro isolado para avaliação do bem-estar
animal, visto que este hormônio em fase crônica de estresse tem um declínio em sua concentração sérica.
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A distância de transporte alterou a ocorrência de lesão na carcaça e o nível sérico de CPK. Neste
estudo, dos animais transportados por menor distância, 93% apresentaram pelo menos uma lesão de
carcaça e 1197,8U/L de níveis séricos de CPK, ao contrário, dos animais que foram transportados por 400
km, 36% apresentaram pelo menos uma lesão de carcaça e 701,7U/L de CPK sérico. Ou seja, aqui os
animais transportados por uma distância maior apresentaram um número menor de carcaça lesionadas, e
consequentemente, valor de CPK inferior quando comparados com os animais transportados por menor
distância. Ressalvando que a creatina-fosfoquinase está diretamente relacionada com lesões na carcaça,
podendo ser um método eficaz para avaliar lesão muscular e bem-estar animal [1]. Portanto, a dosagem
de creatina-fosfoquinase é um bom indicador para avaliação do bem-estar animal, mostrando-se
diretamente relacionado com a ocorrência de lesões na carcaça.
Do mais, ficou constatado que o importante em todo o período pré-abate manter boas práticas de
manejo com os animais, buscando reduzir as lesões de carcaça já que está esta diretamente relacionada
com os níveis de creatina-fosfoquinase.
CONCLUSÃO
A dosagem de cortisol não pode ser um parâmetro isolado para avaliação do bem-estar animal. A
dosagem de creatina-fosfoquinase é um bom indicador, mostrando-se diretamente relacionado com a
ocorrência de lesões na carcaça. No entanto, mais importante que a distância percorrida é a forma como
ocorre o manejo dos animais no pré-abate, pois a ocorrência de lesões na carcaça é resultante das más
práticas de manejo.
REFERÊNCIAS
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slaughter and meat quality in pigs. Meat Science, 38: 329, 1994.
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CAPACIDADE PREDATÓRIA DE Duddingtonia
flagrans APÓS TRÊS ANOS DE ARMAZENAMENTO
Liliani Bandeira de Araújo1
Riciely Vanessa Justo1
Lucineide da Silva1
Hildene Andrey Zago Biavatti1
Daniela Reis Krambeck1
Larissa Arruda do Amaral1
Artur Kanadani Campos1.
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT – Predation of Duddingtonia flagrans after three years of storage. The gastrointestinal
parasites of goats and sheep, especially Haemonchus contortus, prejudice the production causing many
economic losses in various regions of Brazil. The development of anthelmintic resistance have limited the
success of gastrointestinal parasites control in small ruminant, and thus awakened the interest to study
alternatives methods. Biological control is an alternative method to reduce parasites population by the use
of natural antagonist. In the present study, in vitro efficacy of nematophagous fungus Duddingtonia
flagrans was tested to in vitro control of gastrointestinal nematodes parasites of sheep. Infective larvae of
Haemonchus sp. and Trichostrongylus sp. were inoculated in Petri dishes containing 2% water-agar plates
with fungus and control water-agar 2% without fungus. The predation of D. flagrans was satisfactory
after this time of storage.
INTRODUÇÃO
Haemonchus contortus é o helminto gastrintestinal mais prevalente em caprinos e ovinos e tem
sido o responsável por muitas perdas econômicas nas regiões de clima tropical, subtropical e semiárido do
Brasil [1,7,9].
Diante dessa realidade, pesquisas sobre controle biológico de helmintos têm ganhado
proporção principalmente, com emprego de fungos nematófagos [1]. Os fungos nematófagos
predadores são os mais estudados e atuam em culturas fecais contendo larvas de nematódeos [1,4].
O controle se baseia no aprisionamento da larva pelo fungo, com posterior destruição da mesma, e
tem alcançado 90% de sucesso no combate às larvas infectantes [4,1]. Estudam-se agora, espécies
de fungos que resistam à passagem pelo trato gastrintestinal a fim de garantir a ação na massa fecal
liberada pelo animal após a ingestão de formulações contendo esporos do fungo [1,4]. Entretanto, a
manutenção contínua da capacidade predatória de fungos nematófagos em condições de laboratório é um
dos requisitos básicos para um biocontrole bem sucedido [3].
Duddingtonia flagrans é um fungo predador, ou seja, ele só exerce ação nematófaga sobre larvas
em vida livre [5]. Para que seu efeito seja conhecido em várias condições ambientais, antes é necessário
estudar sua capacidade predatória in vitro. Para tanto, o objetivou-se avaliar a capacidade predatória de D.
flagrans, após 3 anos de armazenamento em Sílica-Gel, sobre larvas infectantes de tricostrongilídeos em
condições laboratoriais.
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METODOLOGIA
Foi utilizado o isolado brasileiro de fungo predador CG 768 que colonizava grãos de arroz
armazenados em tubo de ensaio, contendo sílica, à temperatura entre 4-8o
C, durante 3 anos. Preparou-se
o meio ágar-água 2% (20 g de ágar ágar em 1000 ml de água destilada q.s.p., pH 6,5) em Erlenmayers
que em seguida, foram esterilizados. Em capela de fluxo laminar, o meio foi depositado em placa de Petri
estéril de 6 cm de diâmetro. A placa contendo ágar-água 2% solidificado recebeu um grão de arroz
contendo o isolado CG 768 e foi mantida em estufa à 26o C, ao abrigo da luz, durante 30 dias. Após esse
período, 7 placas contendo ágar-água 2% foram inoculadas com fragmentos de ágar contendo material
fúngico, repicados a partir da placa contendo o fungo crescido, em capela de fluxo laminar.
Utilizaram-se larvas infectantes vivas pertencentes aos gêneros Haemonchus e Trichostrongylus,
armazenadas em tubos tipo Falcon contendo água destilada e mantidas sob refrigeração (4 – 8oC) durante
10 dias. Após a contagem das larvas em 5 alíquotas de 100 µL, obteve-se a média de 217 larvas/100 µL,
ou seja, 2.170 larvas/mL. Com base nessa quantidade, inocularam-se 1000 larvas em cada uma das 7
placas de Petri contendo o isolado CG 768 de Duddingtonia flagrans em meio ágar-água 2%. Outras 7
placas controle, contendo apenas ágar-água 2%, sem a presença de fungo, receberam 1000 larvas cada.
Todas as placas foram mantidas em estufa a 26oC durante 14 dias. Após esse tempo, as larvas foram
resgatadas através da Baermanização das placas.
Se 1 mL equivale a 10.(100 µL), obteve-se o número de larvas de cada placa através da equação N
= X . [v.(10)], onde “N” é o número de larvas existentes na placa, “ X ” é a média das larvas contadas em
5 alíquotas de 100 µL e “v” é o volume total, em mililitros, obtido da placa após a Baermanização. Após
esse cálculo, o número de larvas resgatadas nas placas controles ou tratadas, dividido pelo número de
placas (7) deu origem à média controle ( X controle) ou média tratada ( X tratada). Essas médias foram
aplicadas na equação R = 100. ( X controle - X tratado/ X controle), onde o resultado “R” é o percentual
de redução das larvas submetidas ao tratamento.
Aplicou-se o delineamento inteiramente casualizado e as médias aritméticas, do grupo controle e
tratado, foram submetidas à Análise de Variância e comparadas pelo teste de Tukey (α=0,05) através do
programa Assistat (versão 7.6 beta, 2012).
RESULTADOS
Duddingtonia flagrans reduziu significativamente, 77,11% das larvas dos gêneros
Trichostrongylus e Haemonchus em relação ao grupo controle. Sendo assim, nas placas controles,
23,24% das larvas sobreviveram e 76,76% morreram. Enquanto nas placas tratadas com D. flagrans,
5,32% sobreviveram e 94,65% morreram. A produção de armadilha por D. flagrans foi observada após 43
horas da deposição das larvas na superfície do ágar (Fig. 1).
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Figura 1. Larva de Haemonchus spp. capturada pela armadilha
(seta) do fungo predador Duddingtonia flagrans em meio ágar-
água 2%.
DISCUSSÃO
Mesmo armazenado durante 3 anos, o isolado CG 768 de Duddingtonia flagrans conservou sua
capacidade predatória sobre larvas de tricostrongilídeos, semelhante aos resultados obtidos por Braga et
al. (2011) [3] ao testarem os isolados AC 001 e CG 722 de D. flagrans armazenados em sílica-gel por
pelo menos 7 anos. Sendo assim, além da resistência aos processos digestivos dos ruminantes [5] e da alta
produção de clamidósporos [8], inferiu-se que o isolado CG 768 também apresenta longa viabilidade.
Tais características reforçam D. flagrans como a espécie mais promissora o biocontrole dos helmintos
gastrintestinais.
O percentual de redução obtido (77,11%) foi inferior aos percentuais descritos por outros autores
[6,3,10], pois a utilização de diferentes isolados do mesmo fungo em concentrações diferentes podem ter
diferentes resultados [2]. Isso evidenciada a necessidade de desenvolver trabalhos que mensurem o prazo
de validade ou viabilidade de isolados dessa espécie de fungo para garantir uma eficácia predatória.
A produção de armadilha por D. flagrans foi observada após 43 horas da deposição das larvas na
superfície do ágar pode ser explicada, segundo Araújo et al. (1993) [2] pelas diferenças inter e
intraespecíficas observadas na atividade dos fungos nematófagos predadores.
CONCLUSÃO
O isolado CG 768 de Duddingtonia flagrans apresenta viabilidade predatória após 3 anos de
armazenamento.
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18
REFERÊNCIAS
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19
CISTICERCOSE BOVINA NA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO
Danielly Cristina Justo Lolatto1
Crhistian Marcelo de Oliveira Pachemshy2
Juliana Aparecida de Souza Pachemshy2
Manuel Pedro Figueiró d´Ornellas1
Riciely Vanessa Justo1
Daniela Reis Krambeck1
Artur Kanadani Campos1
Angelo Polizel Neto1.
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
2 Serviço de Inspeção Federal (MAPA), Sinop, MT, Brasil.
ABSTRACT - Bovine cysticercosis in the north of Mato Grosso. This research describes cysticercosis
occurrence in cattle slaughtered with Federal Inspection Service (SIF) supervision, in the north of Mato
Grosso. Were evaluated 656.361 bovines; of these, 429.139 were slaughtered in Sinop city, between 2008
and 2010; and 222.722 were slaughtered in Colider city, between August of 2011 and August of 2012. All
cattle were slaughtered in accordance with beef production and cysticercosis diagnostics were made by
post-mortem founds. Was observed 0.06% of animals as positive for cysticercosis; of these, 17.8% had
live cysticercus and 82.2% had calcified cysticercus. This study showed low cysticercosis occurrence in
cattle slaughtered with SIF supervision in the north of Mato Grosso state, and the calcified cases were
predominant.
INTRODUÇÃO
A cisticercose é uma doença parasitária com importância em saúde pública, causada pelos
cestódeos Taenia solium e Taenia saginata que são responsáveis pela teníase humana. No ciclo evolutivo
desses parasitos dois hospedeiros apresentam importância, sendo que o homem é o hospedeiro definitivo,
o qual alberga a fase adulta do parasito e desenvolve a teníase; e o bovino ou o suíno, o hospedeiro
intermediário, alberga a fase larval do parasito e desenvolvem a cisticercose [7].
O homem, ao ingerir cisticercos contidos em carne bovina ou suína crua ou malpassada,
desenvolverá a teníase e eliminará os ovos desse através de suas fezes, contaminando água e o solo. Os
animais se infectam através da ingestão de água e pastagens contaminadas pelas fezes humanas. No
entanto, o homem também pode contrair a cisticercose pela ingestão de ovos de Taenia sp contidos em
verduras e frutos consumidos crus e mal lavados, ou levados diretamente à boca através de mãos sujas. A
invasão da larva no sistema nervoso central em humanos constitui uma séria complicação [10].
A cisticercose é considerada uma zoonose endêmica, estando distribuída nos países em
desenvolvimento especialmente, nas áreas rurais [10]. No Brasil a média da prevalência estudada dessa
doença é de 2,982% e a metodologia de inspeção de carne por cortes e palpação em órgãos de predileção
tem sido a única medida disponível [1,5,6,8,9,11,12,13]. No entanto, informações acerca da prevalência
da cisticercose bovina nos diferentes municípios do Brasil são incipientes, mesmo se conhecendo que há
grande variação na distribuição da doença.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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Assim, objetivou-se fazer um levantamento da prevalência de cisticercose em bovinos da região
norte de Mato Grosso, abatidos sob Serviço de Inspeção Federal.
METODOLOGIA
Foram avaliados 656.361 bovinos abatidos na região norte do Mato Grosso. Sendo que 429.139
bovinos foram abatidos no município de Sinop, nos anos de 2008, 2009 e 2010 e 222.722 bovinos
abatidos no município de Colíder, de agosto de 2011 a agosto de 2012, ambos sob Serviço de Inspeção
Federal (SIF). Todos os animais foram abatidos conforme os padrões de produção para bovinos e o
diagnóstico para cisticercose, confirmado por exame post-mortem, realizado por Médicos Veterinários do
Serviço de Inspeção Federal.
O exame post-mortem para diagnóstico de cisticercose foi realizado conforme estabelecidos pelo
RIISPOA (Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal) [2], ou seja,
através de incisões nos músculos mastigadores (masséteres e pterigoideos), do diafragma, musculatura
intercostal, no coração, esôfago e língua. Foram quantificados os casos com presença de cisticercos vivos
e calcificados.
Após a tabulação dos dados, a taxa de prevalência da doença na região norte mato-grossense foi
calculada através da quantidade de casos existentes pelo número de animais avaliados.
RESULTADOS
Dos animais avaliados na região norte de Mato Grosso, 0,06% (399/656.361) apresentaram
cisticercose conforme a Tabela 1. Sendo 17,8% (71/399) de cisticercoses vivas e 82,2% (328/399) de
cisticercoses calcificadas.
Dos animais abatidos no munícipio de Sinop 0,079% (339/429.139) apresentaram cisticercose e
no município de Colíder 0,026% (60/222.722). Em Sinop, dos animais com cisticercose, 19,17% (65/339)
apresentaram cisticercos vivos e 80,83% (274/339) cisticercos calcificados. Já em Colíder, dos animais
com cisticercose, 10% (06/60) apresentaram cisticercos vivos e 90% (54/60) cisticercos calcificados.
DISCUSSÃO
Na região estudada é baixa a prevalência de cisticercose (0,06%), visto a variação encontrada na
literatura (Tab. 1) de 0,11% dos animais acometidos, como na região Leste de Mato Grosso [11], 18,75%
dos animais, como no Estado do Mato Grosso do Sul [1].
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
21
Tabela 1. Prevalência de cisticercose bovina e densidade demográfica por região
avaliada, conforme a literatura.
UF Prevalência de
Cisticercose (%)
Densidade demográfica [3]
(hab/km2)
Referência
MT 0,11 3,36 [11]
MT 0,42 3,36 [6]
AL 0,65 112,33 [9]
MS 1,46 6,86 [6]
GO 1,51 17,65 [6]
BA 1,74 24,82 [12]
RS 1,09 39,79 [8]
RJ 1,95 365,23 [14]
PR 1,97 52,4 [6]
MG 2,18 33,41 [6]
SP 2,87 166,25 [6]
SP 3,23 166,25 [5]
PR 3,82 52,7 [13]
MS 18,75 6,86 [1]
Sabendo que os animais se infectam através da ingestão de água e pastagens contaminadas pelas
fezes humanas, vários fatores como a abrangência da coleta de esgoto refletem na prevalência da doença
em todo o país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [4], a abrangência da coleta de
esgoto sanitário está presente em apenas 45,7% dos municípios brasileiros, sendo a Região Sudeste com
maior abrangência (69,8%), a segunda Região a Centro-Oeste (33,7%), seguido pela Região Sul (30,2%),
Regiões Nordeste (29,1%) e Norte (3,5%), porém essa distribuição não é uniforme já que no município de
Colíder e Sinop não há sistema de esgoto.
A baixa prevalência de cisticercose na região norte de Mato Grosso ocorre pela baixa densidade
demográfica associada ao sistema de criação de bovinos, basicamente extensivo, com animais criados a
pasto, porém longe da sede de suas propriedades e distantes dos dejetos humanos o que reduz as fontes de
contaminação. Consequentemente, em regiões com alta densidade demográfica e escassa rede de esgoto,
associados à produção de animais confinados ou com acesso aos dejetos humanos possuem maior
prevalência da cisticercose (Tab. 1).
Nesta pesquisa ficou evidenciada uma maior ocorrência de cisticercos calcificados do que vivos, o
que é semelhante ao encontrado em levantamentos realizados em outras regiões [5, 9,13], quando foi
observada predominância em cisticercos calcificados.
Já que a verificação das lesões necessita da habilidade dos agentes de inspeção na verificação do
número de cisticercos presentes na carcaça esse procedimento pode não ser suficiente para detecção
efetiva de animais positivos para cisticercose. Além do mais, o abate clandestino é uma realidade em
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
22
vários países, um problema de grande relevância [3]. Medidas preventivas devem ser empregadas, como o
tratamento de pessoas e animais infectados, maior abrangência na rede de esgoto e fornecimento de água
tratada, erradicação de abatedouros clandestinos e proibição da venda de produtos cárneos não
inspecionados a fim de evitar que ocorra o desenvolvimento do parasito, e consequentemente a teníase em
humanos.
CONCLUSÃO
A prevalência de cisticercose bovina em animais abatidos na região norte de Mato Grosso, sob
Serviço de Inspeção Federal é baixa, predominando os casos de cisticercose calcificada.
REFERÊNCIAS
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Brazilian villages. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 19(2): 132-134 2010.
2 BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Regulamento de Inspeção Industrial e
Sanitária de Produtos de Origem Animal. Decreto nº 30.691, de 29 de março de 1952. Diário Oficial da
União, Rio de Janeiro, 07 de Julho de 1952.
3 BRASIL. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2010. Disponível
em: <http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=mt> Acesso em: 17 out. 2012.
4 BRASIL. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Abrangência dos serviços de
saneamento. Atlas de Saneamento 2011. 16p. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica
/populacao/condicaodevida/pnsb2008/default.shtm> Acesso em: 17 out. 2012.
5 COSTA, R.F.R.; SANTOS, I.F.; SANTANA, A.P.; TORTELLY, R.; NASCIMENTO, E.R.; FUKUDA,
R.T.; CARVALHO, E.C.Q.; MENEZES, R.C. Caracterização das lesões por Cysticercus bovis, na
inspeção post mortem de bovinos, pelos exames macroscópico, histopatológico e pela reação em cadeia
da polimerase (PCR). Pesquisa Veterinária Brasileira, 32(6): 477-484 2012.
6 FERNANDES, J.O.M.; SILVA, C.L.S.P. BORGES, J.H.R.; PEGAIANE, J.C.; COELHO, R.V.
Prevalência da cisticercose bovina em animais abatidos em estabelecimento sob-regime de Inspeção
Federal no munícipio de Andradina-SP. Ciência Agronômica e Saúde, 2(1): 14-17, 2002.
7 FORTES, E. Parasitologia Veterinária. São Paulo: Ícone, 2004, p.489-490.
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hidatidose em bovinos abatidos sob inspeção federal no Rio Grande do Sul, Brasil – 2005 a 2010. In: 38ª
Combravet. Anais... SOVERGS: Florianópolis. 2011.
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9 OLIVEIRA, A.W.; OLIVEIRA, J.A.C.; BATISTA, T.G., OLIVEIRA, E.R.A.; CAVALCANTI NETO,
C.C.; ESPÍNDOLA FILHO, A.M. Estudo da prevalência da cisticercose bovina no estado de Alagoas.
Acta Veterinária Brasílica, 5(1): 41-46, 2011.
10 PFUETZENREITER, M.R.; ÁVILA-PIRES, F.D. Epidemiologia da teníase/cisticercose por Taenia
solium e Taenia saginata. Ciência Rural, 30(3): 541-548, 2000.
11 RÖBL, A. A. B, MATOS R.G., KANO, F.S. Frequência da Cisticercose em Bovinos Abatidos sob
Serviço de Inspeção Estadual, Município de Barra do Garças - MT, Brasil. UNOPAR. Cient., Ciência
Biologia e Saúde. 11(3): 33-6, 2009.
12 SANTOS, V.C.R.; RAMOS, E.T.R.; ALMEIDA FILHO, F.S.; PINTO, J.M.S.; MUNHOZ, A.D.
Prevalência da cisticercose em bovinos a batidos sob inspeção federal no município de Jequié, Bahia,
Brasil. Ciência Animal Brasileira, 9(1): 132-139, 2008.
13 SOUZA, V. K.; PESSÔA-SILVA, M.C.; MINOZZO, J.C.; THOMAZ-SOCCOL, V. Regiões
anatômicas de maior ocorrência de cysticercus bovis em bovinos submetidos à inspeção federal em
matadouro-frigorífico no município de São José dos Pinhais, Paraná, de julho a dezembro de 2000.
Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. 16(2): 92-96. 2007.
14 PEREIRA, M.A.V.C.; SCHWANZ, V.S.; BARBOSA, C.G. Prevalência da cisticercose em carcaças
de bovinos abatidos em matadouros-frigoríficos do estado do rio de janeiro, submetidos ao controle do
serviço de inspeção federal (SIF-RJ), no período de 1997 a 2003. Arquivos do Instituto Biológico,
73(1): 83-87, 2006.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
24
COMPACTAÇÃO DO CONTEÚDO RUMINAL POR CORPO
ESTRANHO COMO CAUSA DE MORTALIDADE DE BOVINOS
Leonardo Pintar de Oliveira¹
Flávio Henrique Bravin Caldeira¹
Mayara Inácio Vincenzi da Silva¹
Camila Campos¹
Nadia Aline B. Antoniassi¹
Marcos de Almeida Souza¹
Fernando Henrique Furlan²
Edson Moleta Colodel¹
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
² Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil.
ABSTRACT – Rumen content compaction for foreign body as cause of death of Cattle. This paper
describes an outbreak of mortality in cattle by rumen compaction due to consumption of residues of
environmental rubbish from recyclable garbage dump located in the municipality of Varzea Grande, Mato
Grosso, Brazil. In a herd of 18 cattle, 6 died, showing clinical signs of apathy, weight loss, dehydration,
difficulty getting around, recumbency, and death. Three animals were necropsied and ruminal
compartment was filled with strange objects. The diagnostic of rumen compaction was based on
epidemiological and macroscopic findings.
INTRODUÇÃO
Bovinos não aparentam ter paladar com boa discriminação, têm lábios e línguas que são órgãos de
preensão com pouca sensibilidade e ainda adicionalmente podem estar submetidos a carências ou
privações nutricionais. Isso causa depravação de apetite, facilitando a ingestão de corpos estranhos [6]
que obstruem o tubo esofágico ou entram nos pré-estômagos [1, 8]. Há casos também de ingestão de
corpos estranhos que estão misturados ao alimento incluindo pastagem, silagem e feno, como fragmentos
de arame resultantes dos processos de enfardamento, pregos e grampos principalmente após construção
de cercas, currais e porteiras, que podem ser ingeridos incidentalmente pelos animais. [1].
No entorno de lixões urbanos é comum ocorrer contaminação ambiental, com predomínio de
sacos plástico [7]. O problema da ingestão de corpos estranhos quer acidentalmente, mesmo que por
condição de aberração do apetite, não está restrito aos ruminantes mantidos em condição de
domesticação. Ela pode ocorrer em outras espécies domésticas e selvagens, inclusive em não ruminantes
[1]. Corpos estranhos presentes no aparelho digestivo têm pouca importância clínica, mas assumem
significativo aspecto patológico se obstruir as comunicações entre os compartimentos gástricos [2],
causando impedimento de fluxo do cárdia com consequente bloqueio da eructação normal, acumulando
assim gás no lúmen do órgão, distendendo-o a grandes proporções. Pode também ocorrer obstrução de
outros orifícios compartimentais das câmeras digestivas dos ruminantes com as consequentes
complicações devidas à interrupção dos processos digestivos, levando a desnutrição e a desidratação [4].
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25
Em geral, os corpos estranhos metálicos e pontiagudos são retidos no rumem ou no retículo, mas podem
movimentar-se e perfurar a parede digestiva causando inflamações em órgãos adjacentes [9].
A eficiência na utilização de alimentos pelos pré-estômagos do ruminante depende de uma relação
complexa entre a fermentação microbiana e a motilidade. A motilidade dos pré-estômagos tem fator
primordial na fermentação, através das contrações ocorre mistura das camadas estratificadas dos
conteúdos permitindo acessibilidade dos microorganismos ao alimento [4]. Este processo envolve a
ingestão de quantidades e tipos apropriados de substrato alimentar e água, tamponamento através da
saliva, eructação, coordenação da motilidade retículo-ruminal para propiciar a mistura, ruminação,
manutenção da temperatura e trocas de eletrólitos e ácidos graxos voláteis através da parede ruminal. Esta
digestão alimentar fica comprometida quando há acumulo de alimento (compactação) não digerível nos
pré-estômagos levando assim a quadros de carência nutricional, desidratação e morte [10].
O objetivo deste trabalho é relatar um surto mortalidade de bovinos por compactação do conteúdo
do rumem com resíduo de lixão urbano que contaminava a pastagem o qual ocorreu no município de
Várzea Grande, Estado de Mato Grosso.
RELATO DE CASO
A propriedade possui 6 hectares e está localizada vizinha à área de deposito de lixo reciclável do
Município de Várzea Grande, sendo que essa proximidade o fator determinante à contaminação da
pastagem por resíduos, que incluía sacos de plásticos, tampa de garrafa, rede e chumbada de pesca, prego,
caco de vidro, madeira. Havia 15 bovinos na propriedade sendo que seis vacas morreram.
Clinicamente os animais apresentaram apatia, perda de peso, desidratação, dificuldade de se
locomover, decúbito, e morte. Foram necropsiados três bovinos incluindo um dos bovinos no qual foi
realizado rumenotomia, porém sem evolução clínica favorável.
Os achados de necropsia foram o rumem e retículo repleto com grande quantidade de sacos
plásticos, fragmentos de cordas, barbantes, redes, entremeadas ao conteúdo alimentar. Esse material
pesava aproximadamente 30 kg, adicionalmente havia no retículo prego, chumbada de pesca, tampa de
garrafa, vidro e chave, arames, mas não se notou, nos animais necropsiado, perfuração da parede dos pré-
estômagos (Fig. 1).
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26
Figura 1. Compactação do conteúdo do rúmen de bovinos por corpo estranho. (A). Repleçao
ruminal com lixo ambiental, melhor observado em (B) na qual nota-se um emaranhado contendo
grande quantidade de sacos plásticos, cordas, redes entremeados por escasso conteúdo ruminal.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Nos três casos o diagnóstico de compactação do conteúdo ruminal por lixo ambiental baseou-se
nos achados epidemiológicos, clínicos e macroscópicos. A grande quantidade de plástico encontrado no
rúmen ocupava o espaço da luz ruminal necessária para atividade digestiva alem de impedir a
movimentação ruminal e ainda dificultava a passagem de alimento para os demais compartimentos,
levando em conseqüência ao quadro de desidratação, anorexia e morte dos bovinos.
Neste caso a contaminação ambiental associada a lotação excessiva e falta de pastagem foram
considerados fatores determinantes para desfecho clínico. A presença desses corpos estranhos está ligada
eventualmente a situações acidentais, por habito próprio da espécie ou ainda deficiências nutricionais que
condicionam os animais a essas menor capacidade de seleção de alimentos. Disponibilização de pastagem
e suplementação adequada minimiza a ocorrência desses problemas, e previne o hábito de ingerir corpos
estranhos. [1]
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 CARVALHO, P.R.; MARGHATO, L.F.F.; BALDASSI, L.; HIPOLITO, M.; PORTUGAL, M.A S.C.
Aberração do apetite em bovino. Vet. B. Méd. Vet., 10(2): 26, 1988.
2 COCKRILL, J.M.; BEASKEY, J.N.; SELPH, R.A. Tricnobezoars in four angus cows. Veterinary
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3 EADES, S. Physiology and pathophysiology of the rumen. Proceedings 15 th ACVIM Forum, Lake
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St. Louis: Mosby, 2002, p.722-731.
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7 KOHLY. R.N.; NADDAF, H.; GHADROAN, A. Bovine indigestion due to chronic ruminal
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Journal of Veterinary Surgery, 19(2): 105-106,1998.
8 RADOSTITS, O.T. Clínica Veterinária: Um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos,
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10 VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. Ithaca: Cornell University Press,1994,
p.476.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
28
DESEMPENHO PRODUTIVO E QUALIDADE DE
CARCAÇA DE MESTIÇAS NELORE X ANGUS
Daniela Reis Krambeck
1
Riciely Vanessa Justo1
Danielly Cristina Justo Lolatto1
Fábio José Lourenço1
Paulo Sérgio Andrade Moreira1
Angelo Polizel Neto1
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT – Performance and carcass quality of cross heifers Nellore x Angus. The objective of
the experiment was to compare the genetic groups F1 Nellore x Angus (NAA) and F1 Nellore x Red
Angus (NRA) on the productive performance and carcass characteristics. For this, were used 41 heifers:
20 animals NAA and 21 animals NRA, with average initial weights of 305.25 kg and 274.25 kg
respectively, raised in the super precocious model biological finished in feedlot. The experiment was
done in the north of Mato Grosso state, where there is a warm and humid climate with regularity thermal
and short periods of drought. The animals were evaluated for final weight, gain of weigh daily, hot
carcass weight, dressing percentage, fat distribution and conformation. From the all animals, 20 were
evaluated for cold carcass weight, fat thickness and ribeye area. Through some of these data purchased,
were developed equations´ models to forecast the meat yield. The data were evaluated by analysis of
variance (ANOVA) and the results were compared by Fisher test at 5% of significance, using the software
R Development Core Team 2010. The NAA heifers were statistically superior to the heifers NRA
according to the performance, indicating the superiority of animals with pigmented skin and hair coat in
tropical environments. When compared to carcass characteristics, the NAA heifers were statistically
superior through the evaluations of ribeye area and fat thickness, but in other characteristics it did not
differ.
INTRODUÇÃO
O gado zebuíno está adaptado às condições climáticas brasileiras e, portanto sofre menor estresse
térmico. Como consequência, a maior porcentagem de genes zebuínos leva a menor maciez da carne [5].
Com a intenção de equilibrar a adaptabilidade com a qualidade da carne, existe a necessidade de cruzar
zebuínos com taurinos.
A raça Angus possui as variedades Aberdeen Angus e Red Angus, que possuem pelame de
coloração preta e vermelha, respectivamente. Essa coloração influencia na quantidade de radiação
efetivamente absorvida pelo corpo [4]. Consequentemente, uma maior ou menor radiação influencia no
bem estar e desempenho produtivo do animal.
Epidermes vermelhas apresentam coeficientes de transmissão da radiação ultravioleta mais
elevados que epidermes pretas [4]. Assim, animais de pelame preta são mais vantajosos produtivamente,
que os de pelame vermelha.
Para tanto, objetivou-se com o presente trabalho, comparar o desempenho produtivo e as
características de carcaça de fêmeas bovinas derivadas do cruzamento entre Angus e Nelore.
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METODOLOGIA
O experimento foi realizado em Sinop, norte de Mato Grosso, Brasil. Foram utilizadas 41 fêmeas
bovinas, contemporâneas, mestiças: 20 eram ½ Nelore x ½ Red Angus (NRA) e 21 eram ½ Nelore x ½
Aberdeen Angus (NAA). Essas fêmeas foram identificadas e submetidas ao modelo biológico
superprecoce com semi-confinamento durante 27 dias e confinamento por 80 dias.
No dia anterior ao abate os animais foram pesados. A maturidade dos animais foi avaliada através
da visualização da arcada dentária. Após o abate, as carcaças foram pesadas para a obtenção do peso de
carcaça quente (PCQ) em quilograma (kg).
A meia carcaça de 8 fêmeas NRA e 12 fêmeas NAA foi identificada. Em seguida, cada meia
carcaça foi avaliada segundo as variáveis conformação (cobertura muscular do traseiro) e acabamento
(quantidade de gordura na carcaça), mensuradas de acordo com escores (Tab. 1).
Tabela 1. Escores para avaliação qualitativa da conformação e acabamento da carcaça
de fêmeas bovina Nelore X Red Angus e Nelore X Aberdeen Angus.
Escore Conformação Acabamento
1 Convexo Ausência total de gordura ou magra
2 Sub-convexo Gordura escassa com 1 – 3 mm
3 Retilíneo Gordura mediana com 3 – 6 mm
4 Sub-retilíneo Gordura uniforme com 6 – 10 mm
5 Côncavo Gordura excessiva com mais de 10 mm
Após 24 horas de resfriamento, avaliaram-se a área de olho de lombo (AOL) e a espessura de
gordura subcutânea (EGS) em cada meia carcaça. Essas duas variáveis foram mensuradas sobre a secção
transversal do músculo Longissimus dorsi, entre a 12ª e a 13ª costelas. A EGS foi obtida em milímetro
(mm) com o uso de paquímetro e a AOL, em centímetro quadrado (cm2), com emprego de régua de
quadrante de pontos.
Os valores obtidos com as variáveis PCQ, AOL e EGS foram aplicados nas equações de Felício e
Allen (1982) [1], presentes na Tabela 2, para a obtenção da retalhabilidade (RET), carne aproveitável
total (CAT) e cortes comerciais brasileiros (CCB).
Tabela 2. Equações desenvolvidas por Felício e Allen (1982) para o cálculo da
retalhabilidade, carne aproveitável total e cortes comerciais brasileiros utilizando-se os
valores de peso de carcaça quente (PCQ), espessura de gordura subcutânea (EGS) e área
de olho de lombo (AOL).
Resposta (%) Equação
Retalhabilidade 52,06 – (0,019 . PCQ) – (0,365 . EG) + (0,094 . AOL)
Carne aproveitável total 72,92 – (0,020 . PCQ) – (0,489 . EG) + (0,119 . AOL)
Cortes comerciais brasileiros 60,33 – (0,015 . PCQ) – (0,462 . EG) + (0,110 . AOL)
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30
Os valores das variáveis foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA) e as médias
comparadas pelo teste de Fisher a 5% de significância, utilizando-se o Software R (R Development Core
Team, 2010).
RESULTADOS
Os resultados dos parâmetros de desempenho e de avaliação de carcaça estão apresentados na
Tabela 3.
Tabela 3. Médias seguidas pelo desvio padrão dos parâmetros de desempenho e de
avaliação de carcaça de novilhas Aberdeen Angus e Red Angus submetidas ao
crescimento biológico superprecoce.
Parâmetro Grupo Genético
Aberdeen Angus Red Angus
Peso inicial (kg) 305,25a ± 35,30 274,52
b ± 25,2
Peso final (kg) 418,00a ± 24,10 374,47
b ± 24,6
Ganho médio diário (kg) 1,05a ± 00,29 0,93
b ± 00,21
PCQ (kg) 214,35a ± 12,20 194,82
b ± 11,4
PCF (kg) 210,38a ± 12,80 192,65
b ± 11,5
Rendimento de carcaça (%) 49,66a ± 01,20 50,02
a ± 01,4
EGS (mm) 5,66a ± 01,6 4,09
b ± 01,2
AOL (cm2) 67,50
a ± 05,5 61,87
b ± 04,9
Acabamento (1-5) 2,80a ± 00,52 2,60
a ± 00,48
Conformação (1-5) 4,00a ± 00,0 3,90
a ± 00,3
RET (%) 56,23a ± 01,0 56,20
a ± 00,7
CAT (%) 73,86a ± 01,4 74,38
a ± 00,8
CCB (%) 65,05a ± 01,2 65,17
a ± 00,9
Médias seguidas de letras distintas na mesma linha diferem entre si pelo teste Fisher (P<0,05)
DISCUSSÃO
As fêmeas NAA apresentaram peso inicial, peso final, PCQ, PCF e ganho médio diário superiores
(P<0,05) em comparação com as fêmeas NRA. Considerando que os animais eram contemporâneos, o
maior peso inicial dos animais NAA mostrou-se vantajoso ao grupo ocasionado por maior desempenho na
fase de cria que pode ter sido decorrente do menor estresse ambiental proporcionado pela coloração
escura dos animais. Fêmeas NAA tiveram melhor desempenho que fêmeas NRA, ao contrário de machos
NAA que se igualam a machos NRA [2]. Portanto, o fator sexo influenciou no desempenho produtivo
desses mestiços.
Verificou-se a influência do tipo biológico no rendimento de carcaça (RC) dos animais. Porque
tanto para NAA quanto para NRA o RC foi igual (P>0,05). Da mesma forma, não houve diferença
estatística (P<0,05) entre os grupos genéticos para os critérios visuais de acabamento, conformação, RET,
CAT e CCB.
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31
Todas as fêmeas NAA apresentaram conformação subconvexa e a maioria das carcaças
apresentam cobertura de gordura uniforme. A EGS e a AOL dessas fêmeas foram superiores (P>0,05)
quando comparadas as fêmeas NRA. A AOL superior é decorrente de maiores PCQ e PCF [3].
A coloração da epiderme e da pelagem pode ter influenciado sobre as características de
desempenho superiores dos animais NAA (de coloração preta) com relação aos animais NRA (de
coloração avermelhada). Entretanto, são necessárias pesquisas em bioclimatologia para elucidar
questionamentos sobre o desempenho de bovinos mestiços em ambientes tropicais.
CONCLUSÃO
Fêmeas bovinas derivadas do cruzamento entre Nelore e Aberdeen Angus apresentam melhor
desempenho produtivo que fêmeas bovinas oriundas do cruzamento entre Nelore e Red Angus submetidas
ao modelo biológico superprecoce.
REFERÊNCIAS
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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
32
DOENÇAS DE BOVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO (2009 – 2012)
Everson dos Santos Damasceno1
Evelyn Rezende Sanches Mendes1
Mayda Karine Mendes Cavalcante1
Regina Tose Kemper1
Diego Montagner Schenkel1
Kassia Renostro Ducatti1
Silvio César Soares Torres Junior 1
Fernando Henrique Furlan1
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT - Diseases of cattle in northern Mato Grosso (2009 - 2012). The diseases affecting cattle
in upstate Mato Grosso were analyzed by the staff of the Laboratory of Veterinary Pathology - Lapan
Federal University of Mato Grosso - Sinop UFMT campus between 2009 and 2012. During this period,
573 examinations were performed pets, with 380 necropsies (66.32%) and 193 histopathological
examinations (33.68%). Of these, 69 corresponded to examinations of cattle, 48 necropsies (69.56%) and
21 histopathological examinations (30.44%). The state of autolysis, the lack of history, collection of
samples and improper packing or shipping of insufficient material for analysis were the main causes of
inconclusive diagnoses. Infectious and parasitic diseases were the leading cause of death of cattle
(31.15%) highlighting the cases of malignant catarrhal fever and rabies. Toxiinfecções and toxic diseases
accounted for 27.87% of the diseases, and poisoning by Palicourea marcgravii and Brachiaria spp. major.
The tumoriformes lesions and neoplasms reached 19.67%. The other categories divided - as follows:
disorders caused by physical agents (4.92%), developmental disorders (3.28%), nutritional and metabolic
diseases (8.20%) and other disorders (4.92% ).
INTRODUÇÃO
A bovinocultura é um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial. O
Brasil é dono do segundo maior rebanho efetivo do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças. Além
disso, desde 2004, assumiu a liderança nas exportações, com um quinto da carne comercializada
internacionalmente e vendas em mais de 180 países [6]. O Estado de Mato Grosso possui 90,33 milhões
de ha de extensão, representando 11% da área total do território brasileiro e uma população bovina de
28,72 milhões sendo o maior rebanho do país [4].
Portanto se faz importante o estudo das enfermidades que afetam bovinos na região, para que o
potencial pecuário local seja alcançado. Seguindo essa linha de pesquisa, o Laboratório de Patologia
Animal da Universidade Federal de Mato Grosso campus de Sinop, LAPAN/UFMT - Sinop vem atuando
desde março de 2009 junto a veterinários de campo e produtores rurais no auxílio a diagnósticos, através
de necropsias e exames histopatológicos de bovinos da região norte do estado de Mato Grosso.
O conhecimento das principais doenças que afetam o rebanho bovino de uma região é fundamental
para que os veterinários de campo tenham em mãos uma lista de diagnósticos diferenciais a ser
considerada frente à determinada manifestação clínica, laboratorial ou anatomopatológica [5].
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
33
O objetivo desse estudo é relacionar as principais doenças diagnosticadas em bovinos na região
norte de Mato Grosso entre março de 2009 e agosto de 2012.
METODOLOGIA
Foram pesquisados os arquivos do LAPAN/UFMT - Sinop e examinados todos os laudos de
necropsia e exames histopatológicos de bovinos realizados entre março de 2009 e agosto de 2012. Esse
material era oriundo de necropsias realizadas pela equipe do LAPAN/UFMT - Sinop ou de materiais
enviados por veterinários a campo para realização de exame histopatológico. Casos experimentais foram
excluídos. Foram coletados os dados clínico-patológicos desses laudos. Estes exames foram classificados
em conclusivos, que apresentam diagnóstico definitivo; e inconclusivos, cujo diagnóstico não foi
concluído, sendo os casos com diagnóstico conclusivos classificados de acordo com a etiologia das
doenças em: distúrbios causados por agentes físicos; distúrbios circulatórios; distúrbios do crescimento;
doenças infecciosas e parasitárias; doenças metabólicas e nutricionais; doenças tóxicas e toxiinfecções e
neoplasias e lesões tumoriformes. As doenças que não se enquadraram nessas condições foram
classificadas como outros distúrbios.
RESULTADOS
Durante o período estudado, foram realizados 573 exames de animais domésticos, sendo 380
necropsias (66,32%) e 193 exames histopatológicos (33,68%). Destes, 69 corresponderam a exames de
bovinos, sendo 48 necropsias (69,56%) e 21 exames histopatológicos (30,44%). Sessenta e um casos
(88,41%) foram considerados conclusivos, sendo 42 necropsias (68,85%) e 19 exames histopatológicos
(31,15%); e inconclusivos em oito casos (11,59%), sendo seis necropsias (75%) e dois exames
histopatológicos (25%). Do total de 61 exames conclusivos, destacam-se principalmente casos de
botulismo, raiva, febre catarral maligna, intoxicação por Brachiaria sp. e intoxicação por Palicourea
marcgravii;
Os diagnósticos conclusivos foram classificados de acordo com a etiologia da doença, sendo três
distúrbios causados por agentes físicos (4,92%), dois distúrbios do desenvolvimento (3,28%), 19 doenças
infecciosas e parasitárias (31,15%), 5 doenças metabólicas e nutricionais (8,20%), 17 doenças tóxicas e
toxiinfecções (27,87%) e 12 neoplasmas e lesões tumoriformes (19,67%). Outros distúrbios totalizaram
três casos (4,92%) (Tab. 1).
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
34
Tabela1. Classificação das doenças diagnosticadas em bovinos no LAPAN/UFMT de
2009 - 2012 de acordo com sua etiologia.
Categoria da doença n %
Distúrbios causados por agentes físicos Distocia (33,33%) Politraumatismo (66,67%)
3
4,92
Distúrbios do desenvolvimento Artrogripose e anidroencefalia (50%) Osteocondrose (50%)
2 3,28
Doenças infecciosas e parasitárias Artrite bacteriana (10,53%) Broncopneumonia (5,26%) Broncopneumonia aspirativa (5,26%) Broncopneumonia gangrenosa (5,26%) Cervicite (5,26%) Dermatite (5,26%) Febre catarral maligna (5,26%) Hemoncose (10,53%) Linfadenite granulomatosa (5,26%) Manhemiose (5,26%) Miocardite linfocitária (5,26%) Miosite traumática crônica (5,26%) Peritonite sem causa definida (5,26%) Pneumonia viral sem causa definida (5,26%) Raiva (15,79%)
19 31,15
Doenças metabólicas e nutricionais Deficiência de vitamina E e selênio (20%) Divertículo esofágico (20%) Doença metabólica sem causa definida (20%) Hipocalcemia pós-parto (20%) Ruminite necrosante (20%)
5 8,20
Doenças tóxicas e toxiinfecções Botulismo (58,82%) Fotossensibilização hepatógena de causa desconhecida (29,41%) Intoxicação por Brachiaria decumbens ou B. brizantha (5,88%) Intoxicação por Palicourea marcgravii
17 27,87
Neoplasmas e lesões tumoriformes Carcinoma de células escamosas (16,67%) Carcinoma de glândula salivar (8,33%) Cistoadenoma biliar (8,33%) Colangiocarcinoma (8,33%) Feocromocitoma maligno com metástase pulmonar (8,33%) Hiperplasia bronquioalveolar e cirrose (8,33%) Melanoma (25%) Mixossarcoma (8,33%) Timoma (8,33%)
12 19,67
Outros distúrbios Estresse pós-traumático (33,33%) Hemorragia subepicárdica de causa desconhecida (33,33%) Paresia espástica (33,33%)
3 4,92
Total 61 100
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
35
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Neste estudo, as doenças infecciosas e parasitárias foram a maior causa de morte de bovinos,
dados que estão em acordo com estudo semelhante realizado em bovinos na região Sul do Brasil [5],
sendo a raiva, uma enfermidade neurológica viral, invariavelmente fatal [6] e de caráter zoonótico; e a
febre catarral maligna, doença infecciosa, viral, pansistêmica, com distribuição geográfica ampla e
altamente fatal que pode ocorrer de forma esporádica, afetando poucos animais ou em forma de surtos
epizoóticos afetando vários bovinos em um mesmo rebanho [3].
Dentre as doenças toxicas e toxiinfecções, destacam se o número de casos de botulismo, uma
toxiinfecção causada pela toxina da bactéria anaeróbica Clostridium botulinum, que leva o animal a
paralisia progressiva motora e é uma das mais importantes enfermidades que acometem bovinos criados
principalmente de forma extensiva, geralmente está associada à osteofagia ou a intoxicação por
veiculação hídrica [2]; seguido da fotossensibilização hepatógena de causa desconhecida, doença que
acomete ruminantes e que se dá pela deficiência hepática de metabolizar subprodutos da clorofila,
principalmente a filoeritrina, substância fotodinâmica que ao se acumular nos tecidos provoca necrose de
hepatócitos periportais resultando em icterícia, fotossensibilização e hepatite, e geralmente está associada
a ingestão de Brachiaria spp. [8]. A intoxicação por Palicourea marcgravii ocorreu em forma de surto,
aonde aproximadamente 48 animais entre adultos e jovens vieram a óbito. A P. marcgravii também
conhecida como “cafezinho”, “café-bravo”, “erva-café”, “vick”, entre outras, é uma planta de ampla
distribuição nacional, de boa palatabilidade, dotada de elevada toxidez e que possui efeito acumulativo
[10]. É uma das plantas tóxicas de maior importância no Brasil, pertence ao grupo de plantas que causam
“morte súbita”, ou seja, intoxicações que se caracterizam por evolução geralmente superaguda, e os
sintomas podem ser provocados ou precipitados pela movimentação dos animais [11].
Os neoplasmas e lesões tumoriformes tiveram estatística considerável e com grande variedade de
diagnósticos, sendo a terceira maior causa de morte de bovinos neste estudo, destacando os casos de
carcinoma de células escamosas, que se caracteriza por ser um tumor maligno de queratinócitos que pode
ocorrer em todas as espécies e em diferentes áreas do corpo e podem estar associados a vários fatores,
como exposição prolongada a luz ultravioleta, falta de pigmento na epiderme, perda de pêlos ou cobertura
de pêlos muito esparsa nos locais afetados [9].
As outras doenças diagnosticadas nas demais categorias foram consideradas como casos
esporádicos geralmente associados a características individuais de cada animal ou lesões secundárias em
que não foi possível encontrar a causa primária.
Os principais fatores atribuídos ao número de diagnósticos inconclusivos foram o estado de
autólise em que se encontravam os animais no momento da necropsia devido a demora no acionamento
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
36
da equipe do laboratório, a falta de histórico, coleta e acondicionamento indevido das amostras ou envio
de material insuficiente para análise [1].
Estudos desse tipo são importantes em medicina veterinária, uma vez que possibilitam agrupar
dados clínicos, laboratoriais ou patológicos sobre determinada doença e assim determinar a prevalência
de uma enfermidade na região [1], podendo assim estabelecer medidas profiláticas com o intuito de
minimizar os prejuízos causados por essas enfermidades.
REFERÊNCIAS
1 DAMASCENO, E.S.; MENDES, E.R.S.; CAVALCANTE, M.K.M.; BALBINOT, M.; SCHENKEL,
D.M.; DUCATTI, K.R.; PADILHA, V.H.T.; FURLAN, F.H. Doenças em animais de produção no norte
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frango. Pesquisa Veterinária Brasileira, 25(2): 115-119, 2005.
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6 MARCOLONGO-PEREIRA, C.; SALLIS, E.S.V.; GRECCO, F.B.; RAFFI, M.B.; SOARES, M.P.;
SCHILD, A.L. Raiva em bovinos na Região Sul do Rio Grande do Sul: epidemiologia e diagnóstico
imuno-histoquímico. Pesquisa Veterinária Brasileira, 31(4): 331-335, 2011.
7 MAPA. Portal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Animal/Bovinos e Bubalinos.
Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/animal/especies/bovinos-e-bubalinos> Acesso em: 15 out.
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Veterinária: Universidade de Brasília.
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bovinos, ovinos e eqüinos: estudo de 50 casos no sul do Rio Grande do Sul. Brazilian Journal
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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
37
10 TOKARNIA, C.H.; DÖBEREINER, J. Intoxicação por Palicourea marcgravii em (Rubiaceae) em
bovinos no Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, 6(3): 73-92, 1986.
11 TOKARNIA, C.H.; PEIXOTO, P.V.; DÖBEREINER, J. Intoxicação experimental por Palicourea
marcgravii em (Rubiaceae) em ovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, 6(4): 121-131, 1986.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
38
DOENÇAS DE OVINOS DA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO
Kassia Renostro Ducatti1
Diego Montagner Schenkel1
Everson dos Santos Damasceno1
Mayda Karine Mendes Cavalcante1
Evelyn Rezende Sanches Mendes1
Carina Zanatta1
Henry Coradi Schlich1
Fernando Henrique Furlan1.
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT - Diseases of sheep in northern Mato Grosso, Brazil. By searching the files of the
Laboratory of Animal Pathology (Lapan) from University of Mato Grosso (UFMT) and revised diagnoses
of sheep diseases occurred between 2009 and 2012. Were performed 36 autopsies and only one
histopathological examination. The cases were divided according to their etiology: 33 cases (89.19%) of
inflammatory diseases and parasitic diseases, 03 cases (8.11%) of nutritional and metabolic diseases, 01
case (2.70%) of toxic diseases and poisoning.
INTRODUÇÃO
Apesar de pouco expressiva, a ovinocultura no estado de Mato Grosso tem se tornado uma fonte
de renda alternativa para os pequenos produtores e também para os pecuaristas, uma vez que criam os
ovinos associados aos bovinos.
O objetivo do estudo foi relatar a freqüência das doenças de ovinos da Região Norte de Mato
Grosso. Para isso foram consultados os arquivos da LAPAN/UFMT em Sinop e compiladas as
informações referentes aos casos de doenças de ovinos entre 2009 e 2012.
METODOLOGIA
Foram pesquisados os arquivos do LAPAN/UFMT em Sinop e examinados os laudos de necropsia
e exames histopatológicos realizados entre 2009 e 2012. O material era oriundo de amostras enviadas por
veterinários que realizaram necropsia a campo para a realização do exame histopatológico ou de
necropsia feitas pela equipe do LAPAN/UFMT de Sinop. Os casos foram divididos segundo sua
etiologia: doenças inflamatórias e parasitárias; doenças metabólicas e nutricionais; doenças tóxicas e
toxiinfecções.
RESULTADOS
De todos os 573 exames realizados no LAPAN/UFMT de Sinop, 284 corresponderam a animais
de produção, do total de 235 diagnósticos conclusivos, 37 foram de ovinos (15,74%) destacando-se
hemoncose, pneumonias e colibacilose neonatal. Dentre os 37 casos, 33 (89,19%) eram de doenças
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
39
inflamatórias e parasitárias; 03 casos (8,11%) de doenças metabólicas e nutricionais; 01 caso (2,70%) de
doenças tóxicas ou toxiinfecções, apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Doenças de Ovinos diagnosticados no LAPAN-Sinop,
Universidade Federal de Mato Grosso, em 2009-2012.
Doenças Inflamatórias e Parasitárias Casos Percentual
Broncopneumonia aspirativa 2 5,41
Broncopneumonia fibrinosa 2 5,41
Broncopneumonia por Mycoplasma 1 2,70
Broncopneumonia supurativa 2 5,41
Ceratoconjuntivite 1 2,70
Colibacilose Neonatal 6 16,22
Colite leve 1 2,70
Ectima contagioso 1 2,70
Enterite sem causa definida 1 2,70
Hemoncose 12 32,43
Linfadenite caseosa 1 2,70
Pneumonia Enzoótica Ovina 2 5,41
Pneumonia enzoótica por Mycoplasma 1 2,70
Subtotal 33 89,19
Doenças Metabólicas e Nutricionais - -
Acidose Láctica 1 2,70
Hipotermia e Hipoglicemia 1 2,70
Polioencefalomalácia 1 2,70
Subtotal 3 8,11
Doenças Tóxicas e Toxiinfecções - -
Tétano 1 2,70
Subtotal 1 2,70
Total 37 100
A hemoncose (12 casos) e a colibacilose neonatal (06 casos) foram às doenças diagnosticadas com
maior freqüência na região norte de Mato Grosso durante o período estudado. Os casos de hemoncose
correspondem a 32,43% dos casos de doenças inflamatórias e parasitárias.
Os casos de colibacilose neonatal diagnosticados pelo LAPAN/UFMT -Sinop representaram
16,22% dos casos de doenças inflamatórias e parasitárias, tendo a segunda maior ocorrência de morte em
ovinos.
Como terceira maior ocorrência foram identificados 07 casos de broncopneumonia, cada uma
representada por dois casos de broncopneumonia aspirativa, broncopneumonia fibrinosa e
broncopneumonia supurativa (representando cada uma por 5,41 % de doenças inflamatórias e
parasitárias) e apenas uma (2,70%) de broncopneumonia por Mycoplasma.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
40
Houve surto de ceratoconjuntivite (2,70%), pneumonia enzoótica por Mycoplasmpa (2,70%),
ectima contagioso dos ovinos (2,70%) e pneumonia enzoótica ovina (5,41%). Para colite leve, enterite
sem causa definida e linfadenite caseosa, houveram apenas casos isolados, cada um representando 2,70%.
No grupo de doenças tóxicas e toxiinfecções ocorreu apenas um caso de tétano, representando
2,70%.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
As doenças infecciosas e parasitárias foram a maior causa de morte nos ovinos da Região Norte de
Mato Grosso, estando de acordo quando comparados a outros trabalhos desenvolvidos na região Sul do
Brasil [7].
As doenças parasitárias, em especial a hemoncose, têm grande importância por causar um alto
número de perda de animais de produção e redução no potencial produtivo. Causada pelo nematóide do
gênero Haemonchus que se localiza no abomaso dos ovinos, a hemoncose tem como sinal cardeal a
palidez das mucosas e da pele [2].
A colibacilose neonatal, causada pela Escherichia coli, foi a segunda doença de maior ocorrência
na categoria de doenças inflamatórias e parasitárias. A infecção neonatal está associada a transtornos
nutricionais, por exemplo, a baixa ingestão de colostro [5].
Dentre as doenças metabólicas e nutricionais, foram identificados um caso (2,70%) de hipotermia
e hipoglicemia, um caso (2,70%) de polioencefalomalácia e um caso (2,70%) de acidose láctica. Devido
ao baixo peso no nascimento e condições adversas de temperatura há maior perda de calor e menores
reservas energéticas, levando a morte por hipotermia e hipoglicemia [5]. A polioencefalomalácia ou
necrose cerebrocortical é uma doença neurológica, não infecciosa que pode ser causada por alteração no
metabolismo da tiamina dentre outras causas. Os principais sinais clínicos são incoordenação, andar em
círculos, depressão, cegueira e opistótono [6]. A acidose láctica rumenal é um distúrbio metabólico grave
causado pela ingestão excessiva de carboidratos de fermentação rápida sem uma prévia adaptação dos
microorganismos [1].
Foi encontrado 01 caso (2,70%) de tétano, doença de ocorrência cosmopolita e acomete diversas
espécies, sendo caracterizada pela entrada da toxina do clostridium tetani presente no solo e nas fezes, se
beneficiando do ambiente anaeróbico de feridas profundas [4].
Estudos retrospectivos são importantes em medicina veterinária, pois possibilitam agrupar dados
clínicos, laboratoriais ou patológicos sobre determinada doença podendo assim determinar a prevalência
de uma enfermidade na região.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
41
REFERÊNCIAS
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7 RISSI, D.R.; PIEREZAN, F.; OLIVEIRA FILHO, J.C.; FIGHERA, R.A.; IRIGOYEN, L.F.;
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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
42
EFEITO DO JEJUM SOBRE A AÇÃO DO ALBENDAZOL EM BOVINOS
Fabiola Francisca Dias Fernandes1
Riciely Vanessa Justo1
Franciny Dias Fernandes2
Geferson Antonio Fernandes1
Suelen de Queiroz Neves1
Artur Kanadani Campos1.
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
2 Zootecnista autônoma.
ABSTRACT - Fastting effective about action albendazol in cattle. Were used twenty-four Nellore
crossbreed steers naturally infected for helminthes from Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, Brazil.
Twelve steers were submitted twelve hours fasting and others twelve were without fasting. Fecal samples
were collected in administration day albendazol and again in fourteenth day after administration. A statistical
difference observed among animals that have completed fasting relative animals without fasting. Evidenced
twelve hours fasting before administration albendazol promoted better action anthelmintic at steers.
INTRODUÇÃO
As endoparasitoses estão entre as principais causas de perda econômica na bovinocultura mundial,
prejudicando a eficiência produtiva dos animais [1]. O controle destes parasitos é basicamente,
fundamentado no uso de produtos químicos, sendo o uso equivocado, um dos principais deflagradores da
resistência aos mais variados grupos químicos [3,5]. Bem como a falta de orientação técnica e o fácil
acesso aos antiparasitários [4]. Portanto, o emprego do jejum para aumentar o período de ação do anti-
helmíntico, em concentração adequada para eliminar os endoparasitas, é uma estratégia farmacológica
aplicável [6].
Quando se utiliza determinado principio ativo a ocorrência da resistência é esperada, visto que se
inicia um processo de seleção nos organismos alvo os quais após exposições repetidas se tornam aptos a
resistir à ação do princípio ativo passando esta capacidade aos seus descendentes [5,1]. Estes fatores
associados culminam na redução da eficiência do tratamento e trazem como consequência o baixo retorno
econômico ao produtor [2]. Dessa forma, o jejum atua aumentando a biodisponibilidade do antiparasitário
para que menos parasitos portadores de genes para resistência possam sobreviver ao tratamento anti-
helmíntico [6]. Para tanto, objetivou-se avaliar o efeito do jejum sobre a ação anti-helmíntica do
albendazol contra endoparasitos em novilhos mestiços Nelore criados a pasto.
METODOLOGIA
Utilizaram-se 24 novilhos mestiços Nelore com idade média de 15 meses infectados naturalmente
por helmintos, oriundos de propriedades rurais de Chapada dos Guimarães, Mato Grosso. A distribuição
do tratamento foi inteiramente o acaso e os animais foram divididos em 2 grupos: 12 com jejum (AC) e
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43
12 sem jejum (AS). Antes de receber o anti-helmíntico, os animais do AC cumpriram um jejum de 12
horas. Após esse tempo, assim como os animais do AS, eles foram pesados. Durante a pesagem, coletou-
se uma amostra fecal diretamente da ampola retal, de cada animal para compor o grupo controle e logo
em seguida, cada animal recebeu albendazol (1mL/20kg) por via oral (Fig. 1). Na sequência, os 24
animais foram liberados para um piquete, onde permaneceram sob pastejo durante 14 dias. No último dia
(14o) no piquete, repetiram-se as coletas de fezes em cada animal para compor o grupo dos 12 animais
que cumpriram jejum (DC) e dos 12 sem jejum (DS).
Figura 1. Momento da administração de albendazol pela via oral.
Realizou-se a contagem de ovos por gramas de fezes (OPG) nas amostras de fezes obtidas antes
(dia zero) e depois (dia 14) da desverminação, segundo a técnica de Gordon e Whitlock (1939) [7], onde
cada ovo contado correspondeu a 100 ovos por grama de fezes e a técnica de coprocultura descrita por
Roberts e O´Sullivan (1950) [8]. A identificação das larvas foi feita seguindo os padrões estabelecidos
por Keith (1953).
A análise estatística foi realizada pelo programa Assistat (versão 7.6 beta, 2012). Realizou-se o
teste de Mann-Whitney (α=0,05) com correção de Zcalc no caso de dados iguais ou em uma ou nas duas
amostras, quando n2>20.
RESULTADOS
Não houve diferença significativa entre o OPG dos animais do AC e AS e entre o OPG do AS e
DS. Entretanto, houve diferença estatística entre o OPG dos animais do grupo DC em relação ao grupo
DS e, entre o OPG dos animais do grupo DC com AC (Tab. 1).
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44
Tabela 1. Valores (em OPG) obtidos pelo exame de Mac Master em 24 novilhos
mestiços na primeira contagem, antes do tratamento com albendazol
(1mL/20kg/via oral), no grupo controle AC (cumpriu jejum de 12 horas) e AS
(sem jejum) e, após 14 dias do tratamento, no grupo DC (com jejum) e DS (sem
jejum).
Repetições Grupos
AS DS AC DC
1 300 100 a
100 c 100
b d
2 0 100 a 1600
c 200
b d
3 16900 1300 a 300
c 100
b d
4 600 0 a 300
c 100
b d
5 0 300 a 100
c 0
b d
6 600 200 a 500
c 0
b d
7 100 300 a 1500
c 100
d b
8 1800 300 a 100
c 100
b d
9 100 200 a 300
c 0
b d
10 100 0 a 1000
c 0
b d
11 100 100 a 600
c 0
b d
12 100 200 a 200
c 0
b d
Números seguidos de letras diferentes na mesma linha (a ≠ b; c ≠ d) diferem estatisticamente entre
si segundo o teste de Mann-Whitney (α=0,05).
A coprocultura das amostras fecais controles revelaram a presença de Cooperia sp (65,22%),
Haemonchus sp (21,74%) e Tricostrongylus sp (13,04%). Já a coprocultura das amostras coletadas no 14o
dia após a administração de albendazol apresentaram Cooperia sp (35,82%), Haemonchus sp (35,82%) e
Trichostrongylus sp (28,36%).
DISCUSSÃO
As diferenças entre o grupo AC com o grupo DC e entre o DC em relação ao DS evidenciaram o
efeito significativo do jejum na redução do OPG. Isso sugere que o jejum de 12 horas promoveu
mudanças na farmacocinética do albendazol, aumentando sua biodisponibilidade e garantindo um efeito
melhor do que o observado quando não se cumpre o jejum antes da administração do anti-helmíntico pela
via oral. Sendo assim, o jejum de 12 horas representa uma ferramenta útil para favorecer a ação anti-
helmíntica do albendazol em bovinos, o que pode ser relevante quando se pensa no constante avanço da
resistência parasitária e na falta de perspectivas para o desenvolvimento de novas moléculas.
O correto seria aliar diversas formas de controle alternativo com a utilização dos produtos
químicos disponíveis [3] de forma a otimizar e reduzir ao máximo a utilização do anti-helmíntico
prevenindo o uso indiscriminado [4] e, consequentemente minimizando o problema da resistência. Frente
a esta situação e vislumbrando o possível desenvolvimento da resistência a diversas outras bases
químicas, a utilização do jejum pode ser aplicada como uma tática com ação positiva sobre a redução da
parasitose e retardo da resistência [6]. Entretanto, são necessárias novas pesquisas a fim de testar tempos
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diferentes de jejum aplicados à bases farmacológicas diferentes e o efeito desses resultados no
desenvolvimento da resistência parasitária nos rebanhos.
CONCLUSÃO
O jejum de 12 horas empregado antes da administração do albendazol promove melhor ação anti-
helmíntica em bovinos.
REFERÊNCIAS
1 FONSECA, A. H. 2006. Helmintoses Gastrointestinais dos ruminantes. Disponível em:
http://www.adivaldofonseca.vet.br. Acesso em: 26 out. 2012.
2 CEZAR, A.S. Alternativas farmacológicas para a resistência parasitária múltipla em rebanhos de
ruminantes: Uma nova abordagem. Santa Maria, RS, 2010. Dissertação (Mestrado em Medicina
Veterinária). Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária: Universidade Federal de Santa Maria.
3 BIANCHIN, I.; CATTO, J.B. 2008. Epidemiologia e alternativas de controle de helmintos em
bovinos de corte na Região Central do Brasil. Disponível em: <http://cnia.inta.gov.ar/helminto/Cong>
Acesso em: 15 out. 2012.
4 SOUZA, A.P. Resistência de helmintos gastrintestinais de bovinos a anti-helmínticos no Planalto
Catarinense. Ciência Rural, 38(5): 1363-1367, 2008.
5 LIMA, W.S. Controle das helmintoses dos bovinos. In: BRESSAN, M. Práticas de manejo sanitário
em bovinos de leite. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2000, p.65.
6 LANUSSE, C.E. Bases Farmacológicas da Resistência anti-helmíntica. Anais... 428p., 2006.
7 GORDON, H.M.; WHITLOCK, H.V. A new technique for counting nematode eggs in sheep faeces.
Journal Council Science Industry Research of Austrália, 12: 50- 52, 1939.
8 ROBERTS, F.H.S.; O´SULLIVAN, J.P. Methods for egg counts and larval cultures for strongyles
infesting the gastro-intestinal tract of cattle. Australian Journal of Agriculture Research. 1: 99-102,
1950.
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46
EFICIÊNCIA DE INSENSIBILIZAÇÃO DE
BOVINOS COM DOIS MODELOS DE PISTOLA
Alana Souza de Melo1
Nayara Nadja Souza Guimarães1
Manuel Pedro Figueiró d'Ornellas1
Danielly Cristina Justo Lolatto1
Fábio José Lourenço1
Angelo Polizel Neto1
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT – Stunning efficiency of beef cattle with two models of pistol. The aim of this study was
to evaluate the effect of two methods of slaughter stunning of cattle through penetrating captive bolt
pistol and captive bolt pistol no penetrating. The stunning efficiency was evaluated by the percentage of
animals desensitized with only one shot. And the sensitivity of animals after stunning was assessed basing
on the parameters for a good desensitization, among them are tongue protrusion, the absence of rhythmic
breathing, lack of eye reflexes eyelid and corneal and righting reflex. Were evaluated 200 females Rubia
Gallega, 100 of them stunned by penetrating pistol and 100 non-penetrating gun. During slaughter the
kind of gun did not affect the number of shots required for effective stunning, however the desensitization
using the piercing gun is more effective when compared to the use of non-penetrating gun.
INTRODUÇÃO
O Estado de Mato Grosso possui o maior rebanho bovino do Brasil, em 2011, nesse Estado foram
abatidos 4,3 milhões de cabeças, representando 20% do abate nacional, de tal modo contribuindo com a
eficácia da cadeia pecuária nacional [6].
Para garantir a presença no mercado é necessário seguir as exigências sanitárias nacionais e
internacionais, uma vez que os países importadores de carne bovina mato-grossense, e, sobretudo
brasileira, selecionam indústrias que se comprometem em produzir um produto de qualidade associado a
práticas de bem-estar animal.
O abate humanitário é caracterizado por um conjunto de técnicas e diretrizes que garantem o bem-
estar dos animais desde a recepção dos animais no abatedouro até a operação de sangria [1]. A
insensibilização é considerada a operação mais crítica durante o abate de bovinos, pois o animal deve
permanecer em estado de inconsciência até o final da sangria [9].
Quando ocorre uma efetiva insensibilização o animal sem consciência apresentará sinais, como
queda imediata, membros flexionados, ausência de respiração rítmica, leves espasmos musculares nos
membros, ausência de reflexo do globo ocular e nenhuma vocalização [4].
Os métodos de insensibilização para o abate humanitário são regulamentados pela Instrução
Normativa nº 3 [1], porém para insensibilização de bovinos o uso de pistola de dardo cativo penetrante e
não penetrante é comumente o mais utilizado.
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47
Assim, objetivou-se com esse trabalho avaliar a eficiência do processo de insensibilização de
bovinos com o uso de pistola de dardo cativo penetrante e não penetrante.
METODOLOGIA
No intuito de avaliar os procedimentos de insensibilização de bovinos, foi acompanhado o abate
de 200 fêmeas bovinas da raça Rúbia Gallega, com idade aproximada de 18 meses em um matadouro-
frigorífico no município de Colíder, Mato Grosso, sob Serviço de Inspeção Federal.
Os animais originários do município de São José do Xingú Mato Grosso, distante
aproximadamente 410 quilômetros da indústria, foram manejados e inspecionados nos procedimentos
ante mortem conforme estabelecidos pelo Serviço de Inspeção Oficial. Dos animais, 100 animais foram
insensibilizados com pistola de dardo cativo penetrante (USSS-1, JARVIS®), ajustada a uma pressão de
170psi; e 100 animais com pistola de dardo cativo não penetrante (USSS-2, 2ª, JARVIS®) a uma pressão
de 180psi.
Na contenção dos animais foi utilizado box de contenção metálico pneumático
(BEACKHAUSER®), dotado de parede lateral e piso móvel, guilhotina e elevador de cabeça, ajustável ao
corpo do animal, facilitando o posicionamento correto das pistolas de insensibilização utilizadas. O
disparo de atordoamento foi feito na região frontal do animal, no cruzamento entre as linhas imaginárias
formadas entre os olhos e inserção dos chifres.
De forma, a evitar diferenças operacionais, todos os animais pertenciam ao mesmo lote e foram
insensibilizados no mesmo dia, pelo mesmo operário treinado pela indústria. Após a insensibilização, os
animais foram içados e mantidos em trilho aéreo, para início do processo de sangria, conforme legislação
vigente.
Para classificação da eficiência da insensibilização, foi quantificada a porcentagem de animais
atordoados com apenas um único disparo e, considerado como Excelente, Aceitável, Não Aceitável e
Problemático, quando 99%, 95%, menos que 95% e menos que 90% dos animais foram insensibilizados,
respectivamente [5].
Para avaliação da eficiência de insensibilização foi observado na praia de vômito a presença ou
ausência dos seguintes sinais: reflexo ocular ao toque, reflexo de endireitamento - observando as
tentativas do animal de levantar o pescoço ou de readquirir sua posição de estação, respiração rítmica e
vocalização, adaptado de Grandin [5].
Para análise estatística foram produzidas tabelas de contingência 2x2 e os dados analisados
utilizando-se o Teste do Qui-Quadrado, pelo programa estatístico R Core Team (2012) [9] ao nível de 5%
de significância.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
48
RESULTADOS
Dos animais avaliados com o uso da pistola de dardo cativo penetrante 96% dos não apresentaram
sinais de consciência, já dos animais avaliados com o uso da pistola de dardo cativo não penetrante 87%
apresentaram sinais de consciência (Tab. 1).
Os parâmetros avaliados após o primeiro disparo com os dois modelos de pistolas estão
evidenciados na Tabela 1, de modo que, o tipo de pistola não interferiu no número de disparos necessários
para insensibilização (P>0,05), em que o uso de múltiplos disparos foi em 3% e 5% dos animais
insensibilizados com pistola de dardo penetrante e não penetrante, respectivamente.
Tabela 1. Avaliação dos parâmetros após o primeiro disparo com os dois modelos
de pistolas e eficácia da insensibilização
Parâmetros Modelo da Pistola de Insensibilização
Penetrante Não penetrante
Vocalização Ausente Ausente
Reflexo ocular Ausente Ausente
Reflexo de endireitamento Ausente 11
Respiração rítmica 4 2
Animais Insensibilizados (%)* 96a 87b
Animais Não Insensibilizados (%) 4 13
Uso de 2 ou mais disparos 3 5 *Letras minúsculas diferentes, na mesma linha, diferem estatisticamente em si (P<0,05).
DISCUSSÃO
A insensibilização de bovinos com o uso da pistola de dardo penetrante é mais efetiva quando
comparada ao uso da pistola de dardo não penetrante (P<0,05). Na utilização da pistola de dardo cativo
penetrante 97% dos animais receberam um único disparo o que representa uma boa insensibilização, e
conforme Grandin (2003) [5] é aceitável. Logo, Braga (2010) [2] obteve 77,5% de eficácia ao primeiro
disparo. Na insensibilização feita com uso da pistola de dardo cativo não penetrante 95% dos animais
receberam apenas um único disparo. Semelhante ao obtido por Santos (2009) [11], onde a avaliação da
eficácia ao primeiro disparo foi de 92,7%, porém Neves (2008) [8] observou resultados inferiores com
apenas 53,73%.
A baixa eficácia da insensibilização pode ser influenciada pela falta de manutenção dos
equipamentos, falta de treinamento dos funcionários e de supervisão do trabalho, além do o uso
inadequado do box de contenção [3].
Na avaliação da sensibilidade dos animais os resultados não foram satisfatórios, visto que dos
animais insensibilizados com pistola não penetrante, 13% apresentaram sinais de consciência na praia de
vômito. Já Santos (2009) [10], observou que 6% dos animais apresentaram algum sinal de consciência e o
resultado obtido nesta pesquisa apresentou-se duas vezes maior. Essa alta porcentagem pode estar
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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relacionada ao despreparo do funcionário em realizar a insensibilização de modo correto, aliado a baixa
manutenção do Box de Contenção e das pistolas utilizadas.
Já o uso da pistola de dardo cativo penetrante mostrou- se mais eficiente, pois apenas 4% dos
animais apresentaram sinais de sensibilidade. Concordando com Gomide et al (2006) [4], que afirmaram
que o método de dardo cativo penetrante é considerado mais eficiente, porque leva o animal a
inconsciência imediata devido à concussão cerebral e quando o dardo atravessa o crânio do animal em
alta velocidade e força, provoca injúrias no sistema nervoso central devido ao efeito dilacerante e ao
aumento da pressão interna.
Entretanto, na comparação dos números de animais que receberam múltiplos disparos com a
quantidade de animais consciente na praia de vômito, foi observada uma não conformidade com as
diretrizes, pois foram reconhecidos 4 animais com sensibilidade com o uso de pistola de dardo penetrante
e 13 animais com uso de pistola de dardo não penetrante, porém, foram observados apenas 3 e 5 animais,
respectivamente, insensibilizados com múltiplos disparos, demonstrando a necessidade de maior
treinamento dos funcionários para o reconhecimento de animais mal insensibilizados.
CONCLUSÃO
A insensibilização de bovinos com o uso da pistola de dardo penetrante é mais efetiva quando
comparada ao uso da pistola de dardo não penetrante.
REFERÊNCIAS
1 BRASIL. Instrução Normativa Nº. 03/00. Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização
para o Abate Humanitário de Animais de Açougue. 2000. Disponível em: <http://extranet.agricul
tura.gov.br/silegisconsulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=1793> Acesso em: 12
set. 2012.
2 BRAGA, J.S.; Diagnóstico do grau de bem-estar de bovinos em abatedouros municipais e
estaduais no Brasil. Curitiba, PR, 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias). Setor de
Ciências Agrárias: Universidade Federal do Paraná.
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de bovinos con pistola pneumática neumática de proyectil retenido trás câmbios de equipamiento y
capacitacion del personal. Archivos de Medicina Veterinária, 35(2): 159-170, 2003.
4 GOMIDE, L.A.D.M.; RAMOS, E.M.; FONTES, P.R. Tecnologia de Abate e Tipificação de
Carcaças. Viçosa: UFV, 2006, p.51-54.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
50
5 GRANDIN, T. Recommended Animal Handling Guidelines & Audit Guide:A Systematic
Approach to Animal Welfare. Disponível em: <http://www.animalhandling.org/ht/a/GetDocument
Action/i/80011 > Acesso em: 21 set. 2012.
6 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Resultados do 4º trimestre e acumulado no ano
de 2011 das Pesquisas Trimestrais do Abate de Animais e Produção de Leite, Couro e Ovos.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=
2107&id_pagina=1> Acesso em: 09 maio. 2012.
7 MORAES, L.S. Bem Estar Animal Aplicado a bovinocultura de Corte. Monografia. Universidade
de Castelo Branco, Fátima do Sul, 2008.
8 NEVES, J.E.G. Influências de métodos de abate no bem-estar e na qualidade da carne de bovinos.
Jaboticabal, SP, 2008. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinária: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho.
9 R Core Team (2012). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for
Statistical Computing, Vienna, Austria. ISBN 3-900051-07-0.
10 ROÇA, R.O. Abate humanitário de bovinos. I Conferência Virtual Global sobre produção Orgânica
de Bovinos de Corte, 2002. Disponível em: <http://www.cpap.embrapa.br/agencia/congressovirtual/
pdf/portugues/02pt03.pdf> Acesso em: 12 set. 2012.
11 SANTOS, E.M. Abate Humanitário. Monografia. Instituto Quallitas, Cuiabá, Mato Grosso, 2009.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
51
FASCIOLOSE BOVINA NA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO
Mauro Sergio Adams1
Crhistian Marcelo de Oliveira Pamcheshy2
Juliana Aparecida de Souza Pamcheshy2
Danielly Cristina Justo Lolatto1
Daniela Reis Krambeck1
Riciely Vanessa Justo1
Artur Kanadani Campos1
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
2 Serviço de Inspeção Federal (MAPA), Sinop, MT, Brasil.
ABSTRACT – Fascioliasis in cattle slaughtered in slaugterhouse at Sinop, Brazil. This research
describe fascioliasis first occurrence in cattle slaughtered in Sinop-MT in the period between January of
2009 and May of 2012 in a slaughterhouse. The data provided by the Federal Inspection Service (SIF).
The fascioliasis diagnostics were made by necropsy, corresponding to the presence of parasites (Fasciola
hepatica) in the liver of animals. Although climatic conditions are not favorable for the development of
the parasite, was evidenced the presence of the parasite in animals of Mato Grosso state, more exactly in
the city of Juara, showing the precarious diagnosis ante mortem and the not importance given or
published about the incidence of parasite in the state. Thus, the real importance of fascioliasis in the
region should be studied.
INTRODUÇÃO
A fasciolose é uma zoonose que acomete os animais domésticos e silvestres, dentre esses os
bovinos, podendo causar grandes perdas na produtividade e na qualidade da carne [1]. A doença possui
caráter cosmopolita, mas, no Brasil, sua maior importância é relatada na região sul e sudeste, devido às
condições edafoclimáticas favoráveis [2]. A proliferação da doença é favorecida em áreas alagadas, pois
os parasitas têm como hospedeiros intermediários os moluscos ou caramujos do gênero Lymnaea. O
excesso de umidade é favorável para o crescimento dos moluscos, bem como as temperaturas entre 10°C
e 15°C [8].
Com o presente trabalho, objetivou-se avaliar a frequência de Fasciola hepatica em bovinos
abatidos em um matadouro-frigorífico sob o Serviço de Inspeção Federal (SIF), localizado em Sinop,
Mato Grosso, Brasil.
METODOLOGIA
Os dados foram coletados através da consulta ao Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de
Inspeção Federal (SIGSIF) conciliado com os dados arquivados pelo SIF 3348. Consideraram-se os
abates ocorridos em um matadouro-frigorífico (SIF 3348), localizado em Sinop, durante o período de
janeiro de 2009 a março de 2012.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
52
Os dados contabilizados correspondiam aos achados macroscópicos correspondentes à presença de
Fasciola hepatica no fígado dos animais através da inspeção pelo médico veterinário responsável no
Departamento de Inspeção Final (DIF).
Com base em levantamentos de 2002 a 2011 em outras regiões, onde em 234.566 bovinos
abatidos condenaram-se 28.234 fígados com F. hepatica [2,3,6,12], adotou-se a frequência esperada de
12,04%. Os desvios entre as frequências esperada e observada foram testados por Qui-quadrado (P=0,01)
através da equação de Pearson 2= [(o - e)
2 /e], onde “o” é a frequência observada e “e” é a frequência
esperada, através do programa SAS (versão 9.0).
RESULTADOS
O ano de 2010 não foi considerado para os cálculos, por não apresentar casos positivos. Os
desvios da frequência observada em 2009, 2011 e 2012 foram significativos em relação à frequência
esperada, portanto a frequência observada em cada ano avaliado não atingiu a frequência esperada (Tab.
1).
Tabela 1. Frequência de formas adultas de Fasciola hepatica, registrada pelo Serviço de
Inspeção Federal entre Janeiro de 2009 e 31 de março de 2012 em 423.200 bovinos procedentes
de diferentes municípios do Mato Grosso. O ano de 2010 não foi considerado para os cálculos,
por não apresentar casos positivos.
Ano Animais
abatidos
Sorologia Frequência
observada
2 P
+ -
2009 162.526 1 162.525 0,0007903 1.187.341,11* <0,0001
2011 190.205 23 190.182 0,0120922 1.389.188,71 <0,0001
2012 70.469 2 70.467 0,0028381 514.788,47 <0,0001
Total 423.200 26 423.200 0,00614 3.091.318,29 <0,0001 * H0 = proporção (+:-) = (12,04:87,96).
Com base nos dados do SIF, foi possível observar que todos os casos positivos envolveram
bovinos provenientes do município de Juara, localizado a uma latitude 11º15'18" sul e a uma longitude
57º31'11" oeste, no Mato Grosso. Os 26 casos positivos apresentaram exemplares adultos de F. hepatica
parasitando o fígado dos bovinos (Fig. 1).
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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Figura 1. A) Fígado condenado em frigorífico com ducto biliar espessado devido à presença da Fasciola hepatica
adulta. B) Fígado condenado apresentando vários exemplares de F. hepatica em estágio adulto. Fotografias de
PACHEMSHY e PACHEMSHY (2011).
DISCUSSÃO
Esse foi o primeiro relato de fasciolose em bovinos na região de Sinop, norte do Mato Grosso.
Aproximadamente, 87 anos após o primeiro relato de fasciolose bovina no Brasil em 1925, no Rio Grande
do Sul [11]. Isso revela o atraso científico existente em algumas regiões do Brasil em relação aos grandes
centros. O emprego apenas do exame macroscópico para a detecção de F. hepatica, a investigação apenas
em necropsias dentro de frigoríficos e a ausência de exames laboratoriais contribuem para esse atraso no
diagnóstico da fasciolose.
A prevalência observada em bovinos oriundos de Juara evidenciou que essa área geográfica
apresenta condições favoráveis ao desenvolvimento e multiplicação dos caramujos e dos parasitos
trematódeos em vários estágios de desenvolvimento. Entretanto, a baixa prevalência em relação ao
descrito por outros autores [2,3,6,12] permite considerar o fato desses casos serem alóctones. Isso
significa que seriam animais comprados, provenientes de zonas endêmicas e que a posteriori foram
abatidos. Porém, a Guia de Trânsito Animal não possibilita levantar a exata procedência desses animais.
Como recomendação deve-se adquirir animais provenientes de áreas endêmicas somente com
laudo negativo para fasciolose, a fim de evitar o desenvolvimento da doença no Mato Grosso e uma
possível adaptação por seletividade. É importante notificar os pecuaristas proprietários de animais com
fasciolose para controlar e prevenir a doença.
Diante deste relato, fica evidenciada a importância de se realizar estudos epidemiológicos no
município de Juara, a fim de impedir a disseminação do caramujo e a evolução da doença.
CONCLUSÃO
A fasciolose ocorre em bovinos oriundos de Juara e medidas de controle devem ser tomadas para
evitar a evolução dessa doença no estado de Mato Grosso.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
54
REFERÊNCIAS
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56
INDUÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE RESISTÊNCIA À
INTOXICAÇÃO POR Amorimia pubiflora (Malpighiaceae) EM OVINOS
Mayara Inacio Vincenzi da Silva
1
Marciel Becker1
Leonardo Pintar de Oliveira1
Flávio Bravin Caldeira1
Edson Moleta Colodel1
1Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT - Induction and transfer of resistance by intoxication Amorimia pubiflora
(Malpighiaceae) in sheep. Amorinia pubiflora popularly known as “suma” is most important poising
plants in the Midwest of Mato Grosso State, Brazil, causing “sudden death” in cattle due to the presence
of monofluoracetate. The objective of this work was inducing the resistance to poising Amorimia
pubiflora through oral daily administration of plant subdoses for a group of sheep and from tranfaunation
of ruminal fluid of this group, transfer rumen microorganisms with capacity to cause resistance in sheep
that did not have previous contact with the plant comparing the results to a control group that receive
toxic dose without previous adaptation or resistance transference. Sheep were moved 6-8 hours after plant
administration, for 10 minutes, and subsequently evaluated clinical picture, based on cardiac and
respiratory frequency. The results obtained confirm that sheep have the capacity to develop resistance to
consumption of Amorinia pubiflora, believing that the selection of the rumen microorganisms that
degrade the acid monofluoracetate is the cause this resistance, evidencing by transfaunation of rumen
contents from resistant to susceptible sheep.
INTRODUÇÃO
As plantas tóxicas podem ser classificadas de acordo com a botânica, princípios tóxicos e quadro
clínico e patológico que provocam. Levando-se em conta as alterações clínicas e lesionais destacam-se no
Brasil plantas tóxicas de interesse pecuário que causam “mortes-súbitas”, ou seja, causam morte
superaguda de animais de interesse pecuário, sem que se notem alterações morfológicas significativas [8-
10], sendo as famílias Rubiaceae, Bignoniaceae e Malpighiceae as mais conhecidas, nesta última, destaca-
se o gênero Amorimia, tendo cinco espécies comprovadamente tóxicas, a A. rigida, A. septentrionalis, A.
pubiflora, A. exotropica e A. amazonica. A Amorimia pubiflora, (anteriormente Mascagnia pubiflora) é
uma das plantas tóxicas mais importantes nas regiões Centro-oeste, Sudeste (Minas Gerais, São Paulo,
Goiás e Rio de Janeiro) [10] e Nordeste (Bahia) [4] e apresenta duas variedades conhecidas, uma que tem
folhas glabras e outra que são pilosas causando nesta, aspecto prateado à brotação, usando-se o termo
cipó-prata para designação popular da planta [10-11-12]. Na Região norte de Mato Grosso ocorre a forma
lisa, a qual é conhecida como ”suma”. Sob condições naturais a única espécie animal em que se constatou
a intoxicação por A. pubiflora foi a bovina [5-11]. No Mato Grosso do Sul, A. pubiflora é responsável por
surtos de morte súbita durante o período de janeiro, março, maio, novembro e dezembro (período
chuvoso), porém a toxidez tem-se mostrado maior entre setembro e novembro, quando a planta está em
brotação. A dose letal das folhas frescas é de aproximadamente 5g/kg/PV e no final da época de chuva,
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com as folhas maduras, a dose é de 20 g/kg/PV. Em nossos estudos (dados não publicados) constatamos
que a dose tóxica para ovinos, foi de 3g/kg/PV. A planta tem efeito cumulativo sabendo-se que o
consumo da dose tóxica em 5 repetições com intervalo diário, causa morte dos ovinos. O quadro clínico
da intoxicação cursa com taquicardia, cansaço, ingurgitamento da veia jugular, tremores musculares,
contrações bruscas, decúbito esternal que evolui para lateral, além de quedas súbitas [5-7], sendo causado
pelo ácido monofluoracético, que por meio da técnica de cromatografia liquida foi confirmado presente
nessa planta [4]. A movimentação dos animais é um fator importante para desencadeamento de sinais
clínicos [3]. O objetivo deste trabalho foi induzir a resistência ao consumo de Amorimia pubiflora através
da administração oral diária da dose tóxica da planta (0,5g/kg/PV) e transferir resistência pela
transfaunação de líquido ruminal proveniente de ovelhas resistentes a outras que não consumiram
previamente essa planta.
METODOLOGIA
Amorimia pubiflora foi coletada no município de Colniza-MT nos meses de outubro e dezembro,
sendo armazenada sob refrigeração (4-8°C) por um período máximo de 30 dias. Foram utilizados 12
ovinos da raça Santa Inês, fêmeas com idade entre 1 e 2 anos. Formou-se três grupos, Grupo 1 (n=4),
Grupo 2 (n=5) e o Grupo Controle (n=3). Durante o experimento receberam adicionalmente feno de
alfafa, ração comercial e água ad libitum. Os ovinos foram pesados antes de cada fase do experimento
para o cálculo de dose de planta a ser administrada. Realizaram-se exames clínicos diários em todos os
ovinos, avaliando-se frequência cardíaca, respiratória e ruminal duas vezes ao dia, para acompanhamento
clínico e para obtenção de dados comparativos antes e durante a fase de indução/transferência de
resistência e desafio. Os ovinos foram movimentados diariamente por 10 minutos, 6 a 8 horas após a
administração de planta. Para os animais do Grupo 1 foram administradas por via oral, 0,5g/Kg/PV de
folhas de Amorimia pubiflora durante 20 dias, o que correspondeu a fase de indução à resistência, seguido
de um intervalo de descanso de 15 dias e a fase de desafio recebendo 1g/Kg/PV da planta durante 3 dias
consecutivos. Posteriormente liquido ruminal dos Ovinos do Grupo 1 foi coletado por sonda esofágica,
para realizar transfaunação em ovinos do Grupo 2. Cada ovino do Grupo 2 recebeu diariamente 100 ml de
liquido ruminal recém coletado, durante 15 dias. Posteriormente esse Grupo foi submetido ao desafio
recebendo 1g/kg/PV de folhas de Amorimia pubiflora por três dias consecutivos, seguido de um intervalo
de três dias e novo desafio com 3g/Kg/PV da planta em uma única administração. O Grupo Controle
recebeu a dose de 3g/kg/PV de folhas frescas de Amorimia pubiflora por via oral em uma única dose.
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58
RESULTADOS
Dois dos quatro ovinos do Grupo 1 apresentaram sinais de intoxicação (arritmia cardíaca,
ingurgitamento da veia jugular, cifose e andar rígido), sendo interrompido o fornecimento da planta por 2
dias para um e o outro não recebeu a planta por sete dias não consecutivos, onde a administração da dose
era suspensa até a estabilização do quadro clínico deste ovino e em seguida retomava-se a fase de
indução. Durante o desafio do Grupo 1 dois ovinos apresentaram sinais de intoxicação (os mesmos que
apresentaram sinais clínicos na fase de indução), mas todos sobreviveram ao desafio. Os ovinos do Grupo
2 após a fase de transfaunação, passaram pelo desafio (1g/kg/PV por 3 dias e 3g/kg/PV em dose única)
sem demonstrar sinais clínicos de intoxicação e não apresentaram diferenças significativas de frequência
cardíaca entre o primeiro e o segundo desafio (Tab. 1). Todos os ovinos do Grupo Controle morreram
após a administração de 3g/kg/PV.
Tabela 1. Indução e transferência de resistência à intoxicação por Amorimia pubiflora
(Malpighiaceae) em ovinos. Comparativo das médias de frequência cardíaca dos ovinos
do Grupo 2 durante a fase de transferência de resistência a intoxicação por Amorimia
pubiflora (transfaunação de líquido ruminal) e 6h após o segundo desafio (3g/kg/PV
em dose única) com as médias de frequência cardíaca do Grupo Controle antes do
desafio e 6h após a administração de 3g/kg/PV em dose única.
Ovino
Grupo 2 Frequência Cardíaca (batimentos por minuto)
Média FC durante o período
de transferência de resistência
(transfaunação ruminal)
FC após 6h da administração de
3g/kg/PV em dose única (segundo
desafio)
1 98 140
2 73 128
3 73 184
4 74 190
5 68 180
Ovino
Controle Média FC antes do desafio
FC após 6h da administração de
3g/kg/PV em dose única
1c 88 208
2c 84 244
3c 80 248
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
O resultado obtido neste experimento demonstra que a dose única de 3g/kg/PV de folhas de A.
pubiflora causa a morte de ovinos, que a ingestão repetida de doses não tóxicas de A. pubiflora aumenta a
resistência de ovinos à intoxicação por essa planta e que esta resistência pode ser transferida por
transfaunação de fluido ruminal coletado de ovinos resistentes. O princípio tóxico de A. pubiflora é o
ácido monofluoracético [2], acreditando-se que essa resistência ocorra devido a aumento da microflora
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bacteriana do rúmen que degrada o MFA. Trabalhos demonstram que há bactérias isoladas do rúmen de
animais criados em lugares sem plantas que contenham MFA, o que sugere que as mesmas ocorrem
naturalmente no rúmen dos animais e a administração de subdoses de A. pubiflora favorece o crescimento
e multiplicação, aumentando a resistência dos animais à intoxicação [9]. Demonstrou-se que estas
bactérias podem ser transferidas por transfaunação do conteúdo ruminal, de um animal resistente para um
susceptível [1-6].
Em conclusão, este estudo sugere que é possível aumentar a resistência de ruminantes à
intoxicação por espécies de Amorimia sp quando esses animais consomem doses que não são letais e que
essa resistência pode ser transferida, por transfaunação de líquido ruminal de animais resistentes para os
não resistentes, possibilitando desenvolver alternativas para reduzir perdas por intoxicação A. pubiflora
em animais de interesse pecuário.
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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
61
INFECÇÃO POR Escherichia coli EM LEITÕES EM FASE DE CRECHE
Geovanny Bruno Gonçalves Dias1
Raquel Aparecida Sales da Cruz1
Leticya Lerner Lopes1
Flavio Henrique Bravim Caldeira1
Marcos de Almeida Souza1
Caroline Argenta Pescador1
Edson Moleta Colodel1
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT – Escherichia coli infection in piglets in the nursery phase. Six swine were necropsied in
a property in the Region of Mato Grosso. Tissue fragments were collected and fixed with buffered
formalin 10% and the hematoxylin-eosin sections were submitted to histopathology examination. Swine
DNA samples were extracted from tissue fragments and submitted to nested PCR detection of
Brachyspira sp. and Lawsonia intracellularis. The Escherichia coli infection is a disease that usually
occurs in young pigs, transmission occurs by ingestion of bacteria and environmental maternal origin,
symptoms are yellowish watery diarrhea and your course is fast, dehydration and death usually occurs
within 4 to 24 hours. The Escherichia coli infection affected six swine, that became clinically sick in
September 2012 and expressed signs as severe dehydration and yellowish watery diarrhea, containing
food remains undigested. Two animals showed no significant lesions in any system. Four animals showed
lesions, and the lesions were concentrated mainly in the large intestine: multifocal mononuclear
inflammatory infiltrate in the lamina propria associated with multifocal mild dilatation of crypts.
INTRODUÇÃO
As infecções entéricas de origem bacteriana em suínos têm importância crescente e são
freqüentemente observadas em diferentes faixas etárias. Essas infecções podem levar a altas taxas de
morbidade e de mortalidade, entretanto, as maiores perdas estão relacionadas a seqüelas no trato
gastrintestinal [1]. Essas lesões podem ser permanentes ou transitórias, resultando em expressivo atraso
no crescimento, na redução da eficiência alimentar e no custo com tratamentos e alimentação adicionais.
Essa enfermidade é responsável por um grande impacto na produção de suínos em todo o mundo [2],
respondendo por 60% dos gastos com antimicrobianos na suinocultura atual [2;3] e aproximadamente
30% das perdas econômicas na suinocultura atual [4].
A Escherichia coli é um constituinte normal da flora intestinal de suínos, sendo que algumas cepas
possuem maior ou menor patogenicidade para os suínos [5;6]. Doenças associadas à infecções por E. coli
incluem diarreia e toxemia causada por cepas toxigênicas e colibacilose causada por cepas invasivas [7].
As lesões características se apresentam com um incremento no número de leucócitos na lâmina própria. E
em alguns casos pode ser vista necrose com marcada infiltração de neutrófilos. Pode ser aparente
hemorragia ocasional na lâmina própria da mucosa intestinal [8;9]. Outros agentes bacterianos, em menor
prevalência também têm sido envolvidos em casos de enteropatias, tais como a Brachyspira (B.)
hyodysenteriae, B. pilosicoli e Salmonella sp.[10].
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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A Lawsonia intracellularis é uma bactéria obrigatoriamente intracelular que mais comumente está
associado a uma doença denominada enteropatia proliferativa em suínos. É uma doença que afeta porções
do íleo e em alguns casos o intestino grosso. A L. intracellularis afeta as células da mucosa
gastrointestinal, especificamente as células da cripta, resultando em perda da estrutura vilosa normal das
áreas afetadas, o que resulta em má-absorção [11].
Bactérias do gênero Brachyspira são comensais do intestino grosso de várias espécies animais e
do homem. Em suínos, duas espécies são consideradas patogênicas: Brachyspira hyodysenteriae, que
causa uma diarreia muco-hemorrágica severa conhecida como “Disenteria suína”; e Brachyspira
pilosicoli, que causa uma diarreia mucoide de baixa gravidade, não hemorrágica, conhecida como “Colite
espiroquetal suína”. As lesões causadas por B. hyodysenteriae e B. pilosicoli são limitadas ao ceco e cólon
[12;13;14]. Estas eventualmente podem ultrapassar a barreira epitelial pelo espaço intercelular e, nas
camadas da submucosa, serem visualizadas fora das células, dentro de macrófagos ou de capilares [15].
Com o passar do tempo, persistem no lúmen das criptas do cólon, que se mostra dilatado e cheio de muco
[16,17]. O reparo do dano superficial ao epitélio é caracterizado por hiperplasia das células das criptas
com concomitante depleção de células caliciformes, alongamento da coluna das criptas e aumento no
número de células mononucleares na lâmina própria [15,16,17].
O objetivo deste trabalho foi relatar e descrever os aspectos epidemiológicos, clínicos e
patológicos da infecção por Escherichia coli em leitões na fase de creche e ressaltar a importância do
diagnóstico histopatológico para casos assim em relação aos testes moleculares e isolamento de agente
etiológico.
RELATO DE CASO
No dia 15 de setembro de 2012 foi realizada uma visita técnica e monitoria patológica em uma
granja comercial localizada na região norte do Estado de Mato Grosso. Nesta, havia um quadro clínico-
patológico de diarreia e mortalidade na fase de creche. A taxa de mortalidade por galpão foi de 111 suínos
(4.62%), de um lote de 2400 com aproximadamente 85 dias de idade. Os suínos apresentavam quadro de
acentuada desidratação e diarreia líquida amarelada contendo restos da dieta não digeridos. Durante a fase
em que os animais apresentaram os primeiros sinais, estes foram medicados via ração com amoxicilina, e
durante o surto, com o acréscimo de colistina. Durante a monitoria patológica foram necropsiados 6
animais, sendo 4 encontrados mortos e 2 eutanasiados.
Na necropsia verificou-se durante o exame externo que todos os suínos tinham bom estado
corporal, mas aparentavam desidratação e com volume abdominal diminuído. O conteúdo do intestino
delgado e grosso (IG) era líquido, amarelado, e continha restos da ração mal digeridos.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
63
Foram coletadas amostras de encéfalo, pulmão, coração, fígado, rim, estômago, intestino delgado,
intestino grosso e baço em formalina tamponada a 10% para exame histopatológico (Hematoxilina/eosina
e coloração de prata) e encaminhadas ao Laboratório de Patologia Veterinária/UFMT. Amostras de
intestino delgado e grosso também foram coletadas sob refrigeração para isolamento microbiológico e
identificação molecular (reação de cadeia polimerase – PCR para Lawsonia sp. ou Brachyspira sp.) nos
Laboratórios de Microbiologia/UFMT e Biologia molecular/UFMT, respectivamente.
No exame microscópico observou-se que 4/6 suínos apresentaram lesões predominantemente no
intestino grosso, e nenhuma outra lesão significativa foi verificada. E em 2/6 suínos não se observou
nenhuma lesão.
As alterações microscópicas no inestino grosso consistiram em infiltrado inflamatório
mononuclear multifocal na lâmina própria associada à dilatação multifocal das criptas, com agregados
basofílicos semelhantes a bastonetes sobre o epitélio de revestimento, deposição de material amorfo-
eosinofílico na luz das criptas e células caliciformes tumefeitas. Não houve marcação na coloração de
prata.
Em 2/6 amostras refrigeradas de IG isolaram-se colônias puras de Escherichia coli. E 3/6 amostras
avaliadas nos testes moleculares comprovou a presença de Lawsonia intracellularis e de Brachyspira sp.
Baseado nos achados epidemiológicos, clínico-patologicos, microbiológicos e moleculares dos
animais necropsiados pode-se concluir tratar-se de uma infecção de Escherichia coli pós-desmame.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
O quadro clínico-patológico de diarreia na fase de creche na suinocultura é bastante comum e
pode ser desencadeado por diversos agentes patológicos [20], e os múltiplos fatores de risco
desencadeantes [21, 22].
No presente relato verificaram-se as condições mencionadas acima. Estas favoreceram a
ocorrência do surto de infecção por E. coli. Foram identificados três fatores decisivos, que,
provavelmente tenham causado distress nos animais e assim desencadeado o surto: mudança na estratégia
de uso dos promotores de crescimento (colistina), granulometria dos grãos e a formulação da dieta.
O diagnóstico de infecção por E. coli foi baseado na lesão microscópica e no isolamento
bacteriológico. A detecção molecular de Lawsonia intracellularis e de Brachyspira sp. por PCR foi um
resultado importante, no entanto, não houve lesões microscópicas que determinassem sua ação patológica,
e não houve marcação na coloração de prata que seriam resultados esperados destes agentes. Portanto, os
animais são portadores e fontes de infecção de Lawsonia intracellularis e de Brachyspira sp nesta granja.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
64
Outro suporte importante para o diagnóstico foi o efeito obtido com o retorno e acréscimo da dose
de colistina durante o surto. Com isso houve a remissão dos sinais clínicos e uma melhora significativa
nos animais.
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11 LAWSON, G.H.K.; GEBHART, C.J. Proliferative enteropathy: review. Journal of Comparative
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12 ANDREWS, J.J.; HOFFMAN, L.J. A porcine colitis caused by a weakly beta hemolytic treponeme.
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13 JACQUES, M.; GIRARD, C.; HIGGINS, R.; GOYETTE, G. Extensive colonization of the porcine
colonic epithelium by a spirochete similar to Treponema innocens. Journal of Clinical Microbiology,
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14 TAYLOR, D.J. Spirochetal diarrhea. In: LEMAN, A.D.; STRAW, B.E.; MENGELING, L.;
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15 DUHAMEL, G.E. Colonic spirochetosis caused by Serpulina pilosicoli. Large Animal Practice, 19:
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16 THOMSON, J.R.; SMITH, W.J.; MURRAY, B.P. Investigations into field cases of porcine colitis
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17 THOMSON, J.R.; SMITH, W.J.; MURRAY, B.P.; MCORIST, S. Pathogenicity of three strains of
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18 FAIRBROTHER, J.M.; GYLES, C.L. Postweaning Escherichia coli Diarrhea and Edema Disease. In:
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20 MORÉS, N. et al. Fatores de risco associados aos problemas dos leitões na fase de creche em rebanhos
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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
66
INTOXICAÇÃO POR Palicourea marcgravii EM 48 BOVINOS
EM PORTO DOS GAÚCHOS, MATO GROSSO, BRASIL
Fernando Henrique Furlan
1
Evelyn Rezende Sanches Mendes1
Everson dos Santos Damasceno1
Mayda Karine Mendes Cavalcante1
Diego Montagner Schenkel1
Silvio César Soares Torres Junior1
Regina Tose Kemper1
Kassia Renostro Ducatti1
¹ Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT - Poisoning Palicourea marcgravii in 48 cattle in Porto dos Gauchos, Mato Grosso,
Brazil. We describe an outbreak of poisoning by natural Palicourea marcgravii in 33 cattle and 15 calves
on a farm in the municipality of Porto dos Gauchos, northern Mato Grosso, Brazil. The animals showed
the same clinical and pathology of sudden death without previous signs of illness. At necropsy there was
no significant macroscopic findings. Histologically, was identified vacuolation of epithelial cells of the
kidney tubules. These results associated with the finding of the plant with signs of consumption show that
the deaths in the property located in the municipality of Porto dos Gauchos, Mato Grosso, were caused by
poisoning Palicourea marcgravii.
INTRODUÇÃO
Palicourea marcgravii (Rubiaceae) é a planta tóxica mais importante para bovinos no Brasil
devido a sua extensa distribuição, boa palatabilidade, alta toxidez e efeito acumulativo [1]. Esta é
reconhecida comunmente por nomes populares de “erva-de-rato”, “cafezinho” e “roxa”. Anualmente
morre, estimativamente, um milhão de bovinos por ação de plantas tóxicas no Brasil [4]. Na região
amazônica, onde morre a metade dos bovinos vitimados por plantas tóxicas no Brasil, ela é responsável
por aproximadamente 80% de todas as mortes causadas por intoxicações por plantas. Convém ressaltar
que as plantas tóxicas são a causa mais importante de mortes de bovinos adultos nessa extensa região [1].
A Palicourea marcgravii, é amplamente distribuída, encontrada em quase todo o Brasil. Outras
plantas e grupo têm distribuição geográfica bem limitada [2]. Sobrevive em áreas com sombra,
portanto, em pastagens limpas dificilmente é encontrada. Normalmente habita áreas de sombra, pastos
recém-formados e beiras de mata. Os animais ingerem a planta de forma espontânea, mesmo quando tem
acesso ao pasto indicando que é altamente palatável.
O objetivo deste trabalho foi descrever um surto de intoxicação espontânea por Palicourea
marcgravii em Porto dos Gaúchos no Norte de Mato Grosso, Brasil.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
67
RELATO DE CASO
Em março de 2012 foi realizada visita a uma propriedade rural com criação extensiva de bovinos
de corte localizada no município de Porto dos Gaúchos, no estado do Mato Grosso, Brasil. A anamnese
e o histórico foram obtidos de relatos dos funcionários e proprietário da fazenda. Nesta havia oitocentos
animais onde aproximadamente 33 bovinos adultos e 15 bezerros morreram de forma ‘’súbita’’ após
serem movimentados. O laboratório de patologia animal da UFMT, campus Sinop, (LAPAN) durante a
visita observou que as pastagens onde esses estavam inseridos permaneciam com grande quantidade da
planta e sinais de consumo.
RESULTADOS
Clinicamente, após serem movimentados e estressados parte dos animais do rebanho
apresentavam tremores musculares e incoordenação. Foi realizada a eutanásia de um animal que
apresentava os sinais mais evidenciados. À necropsia não foram observados achados macroscópicos
significativos. O exame microscópico revelou áreas multifocais de vacuolização no epitélio tubular renal.
O miocárdio apresentava áreas multifocais de necrose de coagulação associado à infiltrado leve de
macrófagos.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de intoxicação por Palicourea marcgravii nos bovinos se baseou nos achados
epidemiológicos, ocorrência de “morte súbita”, bovinos que estavam em pastagens com grande
quantidade de P. marcgravii com sinais de consumo e na ausência de outras plantas na propriedade
capazes de causar o mesmo quadro clínico, sinais clínicos e alterações patológicas encontradas [2].
As mortes dos bovinos ocorreram de forma esporádica, no período de um mês após o proprietário
ter mudado os animais de pasto onde tinha sombra, a beira da mata [2].
Os achados macroscópicos ausentes ou pouco visíveis são comunmente relatados [2].
Histologicamente os sinais observados nestes casos foram semelhantes aos descritos nas intoxicações por
outras plantas que causam “morte súbita” [2] e por monofluoroacetato [3,5]. A vacuolização dos túbulos
renais deste bovino corrobora com dados que diz sobre degeneração hidrópico-vacuolar das células
epiteliais, em especial, dos túbulos contorcidos distais, com evidente picnose nuclear na maioria dos
bovinos estudados [2].
O miocárdio apresentava áreas multifocais de necrose de coagulação associado à infiltrado leve de
macrófagos indicando infarto do miocárdio agudo, citados em diversas literaturas como mecanismo
compensatório para gerar energia visto que o ciclo de Krebs foi interrompido devido ao princípio tóxico
da Palicourea marcgravii, o ácido monofluoracético. Uma vez ingerido, o composto é convertido em
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fluorocitrato, que inibe a aconitase, enzima responsável pelo desdobramento do citrato, do que resulta a
interrupção [2].
O método mais eficaz para evitar a intoxicação por Palicourea marcgravii é o estabelecimento de
um diagnóstico preciso dos casos, identificação a campo da planta com indícios de consumo e dos sinais
clínicos relatados pelo proprietário na região.
REFERÊNCIAS
1 TOKARNIA, C.H.; DÖBEREINER, J.; SILVA, M.F. Plantas tóxicas da Amazônia a bovinos e
outros herbívoros. Manaus: INPA, 1979, 95 p.
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3 NOGUEIRA, V.A. et al. Intoxicação experimental por monofluoroacetato de sódio em bovinos:
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Brasileira, 21(1): 38-42, 2001.
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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
69
MÉTODO FAMACHA NO CONTROLE DE
HELMINTOSES GASTRINTESTINAIS EM CAPRINOS
Mylena Ribeiro Pereira1
Antônio Marcos Guimarães2
Maria da Graças Carvalho Moura e Silva2
Marcos Ferrazani Pedroza2
Fábio José Lourenço1
Artur Kanadani Campos1
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
2 Universidade Federal de Lavras.
ABSTRACT- This study was carried out in Lavras, Minas Gerais State, Brazil to evaluate the Famacha
method as an auxiliary strategy for the control of the parasite Haemonchus contortus in goats. A total of
12 female goats infected by parasites were assessed. Haematocrit and Famacha score were measure in 14
days intervals and fecal egg count (FEC) were applied in 30 days intervals. During the experiment the
efficiency of the active principles levamisol hidrochloride, abamectina, levamisol fosfate and doramectina
were evaluated. There was parasite resistance to all tested anthelmintic. The main genus identified in the
coprocultures was Haemonchus (80%) followed by Trichosrongylus (15%) and Cooperia (5%).
Sensitivity of Famacha method for detecting anemic animals was 91.38%.
INTRODUÇÃO
As helmintoses constituem um dos principais fatores sanitários limitantes ao desenvolvimento da
caprinocultura. Tradicionalmente, o controle destas enfermidades é realizado com a utilização de
fármacos anti-helmínticos. A utilização destes produtos de forma indiscriminada e sem critérios resultou
no surgimento de cepas de parasitos resistentes a grande parte dos princípios ativos disponíveis [1].
Neste sentido, estudos têm sido realizados em busca de alternativas para a manutenção da eficácia dos
fármacos antiparasitários [2].
O método Famacha©
foi desenvolvido na África do Sul [7], e constitui uma importante alternativa
de controle a ser integrada ao controle de parasitos em pequenos ruminantes.
Este método permite identificar, por meio da coloração da mucosa, animais que apresentem
diferentes graus de anemia, frente à infecção por Haemonchus contortus, o que possibilita o tratamento de
forma seletiva, sem a necessidade de recorrer a exames laboratoriais. Desta forma, a medicação é
administrada apenas àqueles indivíduos que apresentarem sinais clínicos da hemoncose [3]. Este
procedimento mantém uma população sensível no ambiente denominada refugia, mantendo a eficácia dos
anti-helmínticos por um período maior e retardando o aparecimento de resistência parasitária [4].
Objetivou-se com este estudo avaliar a viabilidade do método Famacha©
na detecção e controle do
parasitismo por Haemonchus contortus e verificar a eficácia de abamectina, doramectina, cloridrato e
fosfato de levamisol no controle de endoparasitoses em caprinos.
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70
METODOLOGIA
Foram utilizadas doze cabras mestiças Saanen X Boer X Mambrina, em diferentes faixas etárias,
naturalmente infectadas por parasitas gastrintestinais e mantidas em regime semi-intensivo e alimentadas
no cocho com capim-napier (Pennisetum purpureum) picado, além de sal mineral e água ad libitum.
No início do experimento (dia -1), antes da aplicação de anti-helmíntico, foram coletadas amostras
de fezes das cabras dos grupos I (Famacha©
) e II (Tradicional), para determinação da contagem de ovos
por grama de fezes (OPG). Posteriormente, as amostras de fezes para o OPG foram coletadas diretamente
da ampola retal das cabras a cada 30 dias.
As amostras positivas eram submetidas à coprocultura e as larvas, recuperadas pelo método de
Baermann, foram identificadas seguindo chaves específicas.
No dia do experimento, todas as cabras receberam tratamento a base de Doramectina 1%. Ao
longo do período experimental foram utilizados também Abamectina, Cloridrato e Fosfato de levamisol.
O percentual de eficácia dos anti-helmínticos foi avaliado pela seguinte fórmula:
% Eficácia = OPG (antes do tratamento) – OPG (após o tratamento) x 100
OPG (antes do tratamento)
Baseado no resultado do teste, o anti-helmíntico foi considerado como eficiente quando reduziu a
contagem de OPG em mais de 95%.
Para a realização do hematócrito, a cada 14 dias, amostras de sangue das cabras foram coletadas
por meio da punção da veia jugular em tubos de vidro de 10 mL contendo anticoagulante e o volume
globular (VG) foi determinado por meio da técnica de micro-hematócrito.
As análises dos valores do hematócrito e do OPG em função dos tratamentos foram realizadas por
meio de comparações Bayesianas.
Os valores de sensibilidade e especificidade do Famacha® foram obtidos em uma tabela de
contingência.
RESULTADOS
Na Figura 1, estão representados os resultados das médias mensais de OPG.
Nas coproculturas, Haemonchus spp (80%) foi o nematódeo mais frequente entre os caprinos,
seguido de Trichostrongylus spp. (15%) e Cooperia spp. (5%), observados durante os seis meses de
duração do período experimental.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
71
Figura 1. Médias mensais de OPG ao longo dos meses de experimento
O resultado dos testes de eficácia de anti-helmínticos está descrito na Tabela 1.
Tabela 1. Resultado da eficácia (%) de anti-helmínticos utilizados ao
longo do período experimental.
Anti-helmínticos Eficácia (%) Erro Padrão (%)
Fosfato de Levamisol 46,28 8,48
Doramectina 45,52 11,13
Abamectina 40,09 9,27
Cloridrato de
Levamisol
24,14 8,76
Usando o critério estabelecido pelo cartão Famacha em que Ht≤22% (animais de escore 3, 4 e 5),
foi obtido um resultado de 90 observações realizadas sendo verdadeiro positivo e 8 observações se
apresentando como falso negativo, obtendo um valor de sensibilidade de 91,83% e especificidade
(valores de Ht>22% com escore 1 e 2) de 67,31%, ocorrendo 35 verdadeiro positivo e 17 falso positivo,
como mostra a Tabela 2.
Tabela 2. Determinação do acerto ou erro do Método FAMACHA®
em
função do valor do Hematócrito
Valor do
Hematócrito
Resultado do FAMACHA®
1 ou 2 3 ou 4 ou 5
≥ 23% 35 (67,31%) 17
< 23% 8 90 (91,83%)
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
72
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A sensibilidade obtida para o método Famacha® neste estudo foi superior às observadas em outros
trabalhos com caprinos. Estudos utilizando os mesmos critérios mostram resultados de sensibilidade para
caprinos variando de 57,6% a 89% [1,5].
No tocante a resistência, considerando-se como eficaz o fármaco capaz de reduzir em 95% o valor
do OPG, nenhum dos anti-helmínticos avaliados apresentou eficácia satisfatória. A resistência anti-
helmíntica a grande parte dos fármacos disponíveis está amplamente disseminada entre parasitos de
pequenos ruminantes [4,8], demonstrando assim a importância da aplicação de métodos alternativos com
o objetivo de minimizar os problemas gerados pelo fenômeno da resistência.
A maior prevalência de Haemonchus nas coproculturas está de acordo com dados da literatura [2]
e provavelmente influenciou na sensibilidade do método obtida neste trabalho.
CONCLUSÃO
As cepas de Haemonchus, Cooperia e Trichostrongylus observadas parasitando caprinos no
presente estudo são resistentes aos princípios ativos: abamectina, cloridrato e fosfato de levamisol e
doramectina.
Nas condições avaliadas, o método Famacha se mostrou eficiente na detecção do parasitismo por
Haemonchus de caprinos.
REFERÊNCIAS
1 BURKE, J.M.; KAPLAN, R.M.; MILLER, J.E.; TERRILL, T.H.; GETZ, W.R.; MOBINI,
S.;VALENCIA, E.; WILLIAMS, M.J.; WILLIAMSON, L.;VATTA, A.F. Accuracy of the FAMACHA
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3 KAPLAN, R. M.;BURKE, J. M.; TERRILL, T. H.; MILLER, J. E.; GETZ, W. R.;MOBINI, S.;
VALENCIA, E.; WILLIAMS, M. J.; WILLIAMSON, L. H.; LARSEN, M.; VATTA, A. F. Validation of
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5 MOLENTO, M.B.; TASCA, C.; GALLO, A.; FERREIRA, M.; BONONI, R.; STECCA, E. Método
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6 RAMOS, C. I.; BELLATO, V.; SOUZA, A. P.; AVILA, V. S.; COUTINHO, G. C.; DALAGNOL, C.
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7 VAN WYK, J. A.; BATH, G. F. The FAMACHA© system for managing haemonchosis in sheep
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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
74
MODELO DE PREDIÇÃO PARA O
CRESCIMENTO DE Duddingtonia flagrans
Riciely Vanessa Justo1
Daniela Reis Krambeck1
Artur Kanadani Campos1
Douglas dos Santos Pina1.
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT – Prediction model for growth of Duddingtonia flagrans. Biological control using
nematophagous fungi is a promising alternative against animal parasites. However, in vitro tests are
important for the selection of promising isolates of nematophagous fungi that have potential for use as
biocontrol agents against parasitic nematodes. In this study the growth curve of Duddingtonia
flagrans fungus to fit a prediction model to the laboratory conditions was studied.Within specific criteria,
the not linear model of logistic regression was the best fit to explain the fungal growth.
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, o controle dos parasitas de animais de produção tem sido realizado quase que
exclusivamente, a base de formulações químicas [5]. O uso indiscriminado dos antiparasitários antecipou
a instalação da resistência dos parasitas aos grupos químicos e hoje, o controle das parasitoses tem sido o
principal gargalo da sanidade animal [1]. Como não existe uma solução imediata para conter a resistência
parasitária e a formulação de novas moléculas torna-se inviável para as indústrias farmacêuticas devido
ao investimento expressivo necessário, algumas pesquisas têm sido desenvolvidas para viabilizar o uso de
métodos alternativos de controle [2].
O controle biológico é um método alternativo de controle. Inúmeras pesquisas já revelaram o
potencial de fungos nematófagos, como por exemplo, os da espécie Duddingtonia flagrans [3] no
controle de nematódeos, entretanto, ainda são escassos os estudos a campo [5]. Para que trabalhos
laboratoriais ou a campo sejam possíveis, a priori é necessário entender o comportamento in vitro desses
fungos. Portanto, objetivou-se com o presente trabalho, estudar a curva de crescimento do fungo D.
flagrans em ambiente controlado para definir um modelo que permita a predição destes valores.
METODOLOGIA
Foi utilizado o isolado brasileiro de fungo predador CG 768 previamente obtido pelo método do
espalhamento do solo de Duddington (1955) [4], modificado por Santos et al. (1991). Esse isolado
colonizava grãos de arroz armazenados em tubo de ensaio, contendo sílica à temperatura entre 4-8o
C,
durante 3 anos.
O meio ágar-água 2% (20 g de ágar ágar em 1000 ml de água destilada q.s.p., pH 6,5) foi
preparado, acondicionado em Erlenmayers e em seguida, esterilizados. Em capela de fluxo laminar, o
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
75
meio foi depositado em placas de Petri estéreis de 5,4 cm de diâmetro. Em seguida, duas placas contendo
ágar-água 2% receberam um grão de arroz, cada, contendo o isolado CG 768. Ambas foram mantidas em
estufa à 26o C, ao abrigo da luz, durante 30 dias.
Após esse período, 12 placas numeradas contendo ágar-água 2% foram inoculadas com
fragmentos de ágar contendo material fúngico, repicados a partir das duas primeiras placas contendo o
fungo crescido, em capela de fluxo laminar (Figura 1). O fundo de cada uma das 12 placas foi
previamente, marcado com caneta indicando o ponto central. Cada fragmento foi acomodado no centro de
cada placa a fim de facilitar a mensuração do raio de crescimento do fungo em ágar-água. Essas placas
foram mantidas em estufa à 26o C, ao abrigo da luz e a mensuração dos raios foi realizada com régua
transparente, a partir das 24 horas posteriores à repicagem (momento zero) até completar 144 horas.
Figura 1. Repicagem de Duddingtonia flagrans em placas
contendo meio ágar-água 2% estéril.
Modelos de regressão não lineares foram ajustados aos dados observados e os parâmetros foram
estimados por intermédio do procedimento de Gauss Newton. Os critérios para a escolha do modelo
foram baseados na observação de que os parâmetros estimados não violaram nenhuma das pressuposições
do modelo, na significância dos parâmetros estimados em relação à hipótese de nulidade, no número de
interações para atingir a convergência e no valor da soma de quadrado residual [6].
RESULTADOS
Os valores reais do crescimento radial de Duddingtonia flagrans (Tab. 1) deram origem a uma
curva de crescimento (Fig. 2) a qual foi melhor explicada pelo modelo logístico de regressão não linear,
definido pela equação R = a/1+(b.exp-ct
), onde “R” é o raio de crescimento, “a” é o crescimento máximo,
“a/1+b” é o crescimento inicial (momento zero), “c” é a taxa de crescimento e “t” é o tempo (em horas).
Assim, o modelo de predição ficou definido como R = 2,6533/1+(38,6103.exp-0,0686.t
). O intervalo de
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
76
confiança (α=95%) estabelecido para o crescimento máximo foi de 2,5784 - 2,7282 e para a taxa de
crescimento foi de 0,0596 – 0,0776.
Tabela 1. Crescimento radial do fungo Duddingtonia flagrans (isolado CG 768) em
placas de Petri de 5,4 cm de diâmetro, contendo meio ágar-água 2%, mantidas à
temperatura de 26oC. A mensuração dos raios foi realizada com intervalos de 24 horas a
partir da repicagem (momento zero).
Placa Crescimento do raio (cm) em intervalos de tempo (horas-h)
0h 24h 48h 72h 96h 120h 144h
1 0 0 1 1,8 2,6 2,7* 2,7*
2 0 0,1 1,3 2 2,7* 2,7* 2,7*
3 0 0 1,4 1,9 2,5 2,7* 2,7*
4 0 0 1,5 2 2,2 2,7* 2,7*
5 0 0,2 1,2 1,7 2,5 2,7* 2,7*
6 0 0,1 1,3 2 2,2 2,7* 2,7*
7 0 0,2 1,4 2 2,7* 2,7* 2,7*
8 0 0 1,3 2 2,3 2,6 2,7*
9 0 0,1 1,5 2 2,5 2,7* 2,7*
10 0 0 1,2 2 2,3 2,6 2,7*
11 0 0,1 1 1,6 2,2 2,7* 2,7*
12 0 0,2 1,5 2,4 2,5 2,7* 2,7*
Média 0 0,0833 1,300 1,9500 2,4333 2,6853 2,700 * Crescimento completo da colônia.
Figura 2. Curva exponencial do crescimento (cm) do fungo Duddingtonia flagrans em função de 7
intervalos de tempo (0, 24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas) após a repicagem em meio ágar-água 2%,
mantido à 26oC e ao abrigo da luz.
Série1; 1; 0,0833
Série1; 2; 1,3
Série1; 3; 1,95
Série1; 4; 2,4333
Série1; 5; 2,6853
Série1; 6; 2,7
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
77
CONCLUSÃO
O modelo logístico de regressão não linear explica de forma satisfatória o crescimento do isolado
CG 768 de Duddingtonia flagrans, nas condições estudadas, em função dos tempos de avaliação
utilizados.
REFERÊNCIAS
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Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 20: 263-268, 2011.
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Journal of Helmintology, 82: 337-341, 2008.
3 CRUZ, D.G.; CORDEIRO, R.C.; LOPES, A.J.O.; ROCHA, L.V.; SANTOS, C.P. Comparação da
eficácia de diferentes isolados dos fungos nematófagos Arthrobotrys spp. e Duddingtonia flagrans na
redução de larvas infectantes de nematoides após a passagem pelo trato digestivo de ovinos. Revista
Brasileira de Parasitologia Veterinária, 17(1): 133-137, 2008.
4 DUDDINGTON, C.L. Notes on the thecnique of handling predaceous fungi. Transactions of British
Mycology Society, 38: 97-103, 1955.
5 MOTA, M.A.; CAMPOS, A.K.; ARAÚJO, J.V. Controle biológico de helmintos parasitos de animais:
estágio atual e perspectivas futuras. Pesquisa Veterinária Brasileira. 23: 93-100, 2003.
6 VIEIRA, R.A.M.; TEDESCHI, L.O.; CANNAS, A. A generalized compartmental model to estimate the
fiber mass in the ruminoreticulum: 1. Estimating parameters of digestion. Journal of Theoretical
Biology, 255: 345-356, 2008.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
78
MORTALIDADE DE BOVINOS POR
HIPOTERMIA ASSOCIADA À INVERSÃO TÉRMICA
Samara Rosolem Lima1
Leonardo Pintar de Oliveira1
Flávio Henrique Bravim Caldeira1
Marconni Victor da Costa Lana1
Fernando Henrique Furlan2
Nadia Aline Bobbi Antoniassi1
Caroline Argenta Pescador1
Edson Moleta Colodel1
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
2 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil.
ABSTRACT - Mortality in cattle due to hypothermia associated with thermal inversion.
Hypothermia associated with thermal inversion is a pathological clinical condition characterized by body
temperature that dropped below normal as the result of sudden environmental change in temperature due
to rain and wind. This condition often occurs in animals with poor body condition and exposed to these
natural meteorological variations living without a natural or artificial shelter. The affected animals show
weakness, muscle tremors, cold extremities, decreased activity, and varying degrees of shock. Significant
alterations are not observed during necropsy and histopathological analysis. Twelve cattle died after
strong winds and rain and a sharp drop in temperature in a farm in the municipality of Sapezal, MT.
Macroscopic and histopathological alterations were not visualized. The deaths of these cattle were
associated with hypothermia by thermal inversion and established based on epidemiological
characteristics observed as sudden temperature change due to rain and winds, lack of shelter, and low
body score; pathological changes were not observed.
INTRODUÇÃO
O termo inversão térmica se refere a mudanças bruscas na temperatura e pode acarretar na morte
de animais devido à hipotermia, por perda excessiva ou produção insuficiente de calor corporal [3]. A
inversão térmica ocorre principalmente em animais a pasto que, sem terem onde se proteger permanecem
molhados durante longos períodos chuvosos, ocorrendo perda brusca de temperatura corpórea [1, 4].
Apesar dos ruminantes possuírem uma boa capacidade adaptativa a baixas temperaturas [1] quando
expostos a temperaturas excessivamente baixas, ocorre à perda brusca de calor, abaixo de 37 graus,
caracterizando a hipotermia [3]. Animais com baixo escore corporal são os mais sensíveis à variação
térmica [4]. Isso porque animais subnutridos ou com fome por períodos prolongados apresentam
temperatura corporal abaixo do normal, além de apresentarem menor quantidade de gordura corporal, não
promovendo o isolamento térmico adequado e não fornecendo recursos energéticos suficientes para que o
organismo produza calor [1].
Alguns sinais clínicos encontrados em bovinos com hipotermia são fraqueza, tremores
musculares, extremidades frias, diminuição da atividade, alteração de comportamento, graus variados de
choque e vasoconstrição periférica, e agrupamento dos animais do lote [3].
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
79
O objetivo deste trabalho é descrever os aspectos epidemiológicos e clínico patológicos de morte
por hipotermia associada à inversão térmica em bovinos no Estado de Mato Grosso.
RELATO DE CASO
Os casos ocorreram em uma propriedade de confinamento no município de Sapezal, MT. Um lote
de 72 bovinos machos (Fig. 1), zebuínos, com idade aproximada de 3 anos, apresentado escore corporal
ruim, provenientes de um município vizinho, foi transportado até a propriedade durante o período
vespertino. Nos dias anteriores a chegada dos animais à propriedade a temperatura ambiente estava alta e
no momento do desembarque dos bovinos, uma queda brusca da temperatura acompanhada de chuvas e
ventos fortes foram observadas e persistiram por alguns dias. Nos piquetes de confinamento,
anteriormente utilizados para lavoura, não havia qualquer tipo de abrigo aos animais. Na manhã do
segundo dia após a chegada do lote à propriedade um bovino morreu após apresentar tremores
musculares, pêlos arrepiados, apatia, prostração e decúbito esternal. No terceiro dia outros 12 animais
apresentaram a mesma sintomatologia e, destes 10 morreram. Na visita a propriedade realizada no quarto
dia, dois animais ainda apresentavam sinais clínicos, um deles foi submetido à eutanásia e necropsiado.
Durante a necropsia não foram observadas alterações significativas, assim como no exame
histopatológico.
Figura 1. Agrupamento de um lote de bovinos devido ao
tempo nublado e frio. Note a ausência de abrigo natural no
piquete.
DISCUSSÃO
A morte de bovinos associada à hipotermia por inversão térmica foi estabelecida baseada nas
características epidemiológicas observadas, como mudança brusca de temperatura, com chuva e ventos,
ausência de abrigos aos animais às variações meteriológicas, baixo escore corporal e ausência de
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
80
alterações patológicas no bovino necropsiado. Em um trabalho realizado foi relatado 16 surtos de
mortalidade de bovinos zebuínos ocorridas no Estado de Mato Grosso do Sul entre os anos de 2000 a
2010, todos com histórico semelhante ao observado no presente caso [4].
Manifestações clínicas caracterizadas por pelos arrepiados, prostração, tremores musculares,
apatia e decúbito, observadas nesses casos, são frequentemente observados em animais em hipotermia [3,
1, 4]. Não foram encontradas alterações macroscópicas ou microscópicas significativas como em outro
trabalho publicado [4], esta ausência de lesão esta associada ao rápido curso clínico da doença [3].
Para um diagnóstico definitivo de inversão térmica é necessário excluir outras enfermidades que
afetam bovinos e que cursam com sinais clínicos semelhantes dentre elas, botulismo, raiva [2] e
eletrocussão [5] aliado a fatores epidemiológicos e patológicos acima expostos.
REFERÊNCIAS:
1 GURTLER, H.; KETZ, H.A.; SCHRODER, L.; SEDEL, H. Fisiologia Veterinária. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1980, p.363-369.
2 MCGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Bases da Patologia em Veterinária. Rio de Janeiro: Ltda, 2007,
p.1476.
3 RADOSTITS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD, D.C.; HINCHCLIFF, K.W. Clínica Veterinária. Um
tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e eqüinos. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2002, p.45–56.
4 SANTOS, B.S.; PINTO, A.P.; ANIZ, A.C.M.; ALMEIDA, A.P.M.G.; FRANCO, G.L.; GUIMARAES,
E.B.; LEMOS, R.A.A. Mortalidade de bovinos zebuínos por hipotermia em Mato Grosso do Sul.
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5 WATANABE, T.T.N.; FERREIRA, H.H.; GOMES, D.C.; PEDROSO, P.M.O.; OLIVEIRA, L.G.S.;
BANDARRA, P.M.; ANTONIASSI N.A.B.; DRIEMEIER, D. Fulguração como causa de morte em
bovinos no estado do Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, 30:243-245.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
81
OXIURÍASE EM EQUINOS
Daniela Reis Krambeck1
Daniella de Mello1
Riciely Vanessa Justo1
Artur Kanadani Campos1.
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT - Oxyruris in equine. The objective was to evidence the prevalence of infection with O.
equi in horses from Sinop, comparing the sensibility of Graham´s diagnostic methods and sedimentation
in water (Hoffmann, 1987) [3]. Fecal samples were collected in 32 females, 18 castrated males and 30
intact males. The samples were tested in the same day´s collection for the both two methods and for it
being considered “positive”, there had to be found at least one egg in the examined sample. The
frequency of positives animals was 33.75% according Graham´s method; 40% according sedimentation in
water´s method and 18.75% were considered positive for the both two methods. In total, was there 55%
infected animals. Thus, the sedimentation´s method was considered more accurate to detect the eggs than
the Graham´s method. Considering the high prevalence of oxyuriasis and as none of the owners had
adopted the prophylactics measures, was evidenced the absence of information about the disease by the
farmers.
INTRODUÇÃO
Os equinos estão sujeitos a uma grande diversidade de infecções parasitárias [2]. Qualquer
infecção parasitária pode prejudicar o rendimento dos cavalos visto que os parasitas competem pelo
alimento além de causar irritação, hemorragias intestinais, quadros anêmicos, pois mesmo infecções leves
podem afetar o desenvolvimento e desempenho dos cavalos [5].
A maioria dos proprietários de equinos não sabe responder a respeito do tratamento antiparasitário
de seus animais e essa desinformação indica a necessidade de um acompanhamento parasitológico
constante [2].
A oxiuríase é uma infecção parasitária por nematódeos (Filo Nemathelmintes, Classe Nematoda)
da ordem Oxyurida, existindo apenas uma espécie de real importância na medicina veterinária: Oxyuris
equi [1]. Oxyuris equi aparece como o parasita do intestino grosso dos equinos, sendo que o principal
sintoma apresentado pela infecção é o intenso prurido anal no hospedeiro [4, 1, 7].
Objetivou-se com este trabalho descrever a prevalência da infecção por O. equi em equinos do
município de Sinop, comparando-se a sensibilidade de duas técnicas diagnósticas.
METODOLOGIA
Coletaram-se amostras fecais de oitenta equinos, com idade entre 18 meses e quinze anos,
provenientes de seis haras pertencentes geograficamente, ao município de Sinop, Mato Grosso. A
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
82
população de equinos era composta por trinta e duas fêmeas, dezoito machos castrados e trinta machos
inteiros.
Todas as amostras foram testadas, no mesmo dia da coleta, pelos métodos de Graham e
sedimentação espontânea em água, ambos descritos por Hoffmann (1987) [3]. As fezes foram coletadas
no início ou no final do dia, após a alimentação dos animais. Cada amostra recebeu uma identificação
correspondente ao animal doador. Todas as coletas foram realizadas na primeira quinzena do mês de
dezembro de 2010.
As lâminas de vidro e as amostras fecais destinadas ao Graham foram mantidas em geladeira.
Enquanto esse material era refrigerado, realizou-se o método da sedimentação.
Aproximadamente, 100 g de fezes frescas coletadas da superfície do bolo fecal depositado no
chão, deram origem a 5 g da amostra destinada ao método da sedimentação. Esse método sofreu algumas
modificações. A pequena amostra foi diluída em 100 ml de água destilada e peneirada em cálice de
sedimentação. Após 12 horas, desprezou-se o sobrenadante do cálice e reservou-se o sedimento. O cálice
recebeu mais 100 ml de água destilada e repousou por mais 12 horas. Novamente, após esse tempo,
desprezou-se o sobrenadante e pipetou-se uma gota do sedimento para leitura em lâmina ao microscópio.
Para o método de Graham adotaram-se algumas modificações que facilitassem a obtenção da
amostra. Sendo assim, o contato com a fita com a região perineal ou perianal dos animais foi facilitada
com o uso de um quadrado de isopor (80 mm x 25 mm de espessura) como suporte para a fita adesiva,
fixada com liga de látex. Essa modificação possibilitou uma melhor coleta de material e o uso da própria
fita adesiva para fixação em lâmina de vidro para visualização ao microscópio.
Para o diagnóstico ser considerado “positivo” era necessário haver pelo menos um ovo na amostra
examinada, tanto pelo Graham quanto pela sedimentação. As análises onde o diagnóstico foi “negativo”
pela sedimentação foram replicadas, a fim de confirmar o resultado.
RESULTADOS
Houve diferença entre os métodos de diagnóstico testados. A frequência de animais positivos,
tanto pelo método de Graham quanto pela sedimentação espontânea, foi de 18,75% (15/80). Entretanto, o
método de Graham mostrou-se sensível para mais 12 casos, totalizando 27 diagnósticos positivos
(33,75%). E, o método de sedimentação espontânea foi sensível para mais 17, totalizando 32 positivos
(40%).
Os 12 casos positivos detectados pelo Graham não foram acusados pela sedimentação espontânea
e os 17 casos positivos detectados pela sedimentação mostraram-se negativos por Graham.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
83
Os resultados obtidos tanto pelo Graham quanto pela sedimentação totalizaram 44 positivos e 36
negativos. Esses valores geram uma proporção de animais infectados por O. equi de 0,55, ou seja, uma
frequência observada de 55% de oxiuríase na população testada.
DISCUSSÃO
Esse foi o primeiro relato de oxiuríase em equinos na região em estudo. E, dentre os métodos
diagnósticos, o método da sedimentação, com modificações, mostrou-se mais sensível para a detecção de
ovos de O. equi que o método de Graham, com modificações.
Resultados diferentes por diferentes métodos diagnósticos já foram descritos na literatura [4,6].
Por isso, assim como nesse trabalho, outros estudos, comparando a contagem de ovos por grama de fezes
com o método da flutuação [6] e o diagnóstico de O. equi adulto através de necropsia [4] revelaram a
importância de se realizar vários testes na rotina laboratorial para assegurar o diagnostico de
endoparasitas em equinos.
Sendo assim, existe a necessidade urgente de se realizar novas pesquisas para comparar todos os
testes diagnósticos comuns à rotina laboratorial no diagnóstico de endorapasitos. É necessário saber a
amplitude de confiança dos testes para assegurar a confiabilidade dos mesmos frente a outros métodos em
uma mesma população.
Em nenhum dos haras eram adotadas medidas profiláticas e preventivas contra doenças
parasitárias. O tratamento antiparasitário era realizado sem atender um padrão sintomático ou diagnóstico
da carga parasitária. Nesse trabalho, ficou evidenciada a ausência de informações sobre a oxiuríase por
parte dos funcionários e proprietários dos haras.
A falta de medidas de controle e a desinformação sobre a doença foram factíveis para a
prevalência constatada nesse estudo. Para tanto, também ficou evidenciada a necessidade de haver
medidas preventivas e de controle contra a oxiuríase em equinos e a realização de pesquisas que
comparem outros métodos diagnósticos.
CONCLUSÃO
Há ocorrência de oxiuríase em equinos da região norte do Mato Grosso e o método da
sedimentação mostrou-se mais adequado para a detecção de ovos de O. equi.
REFERÊNCIAS
1 BARRIGA, O.O. Las Enfermidades Parasitaria de Los Animales Domesticos. Santiago: Germinal,
2001.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
84
2 FERRARO, C.C.; KLOSS, A.B.; SOUZA, D.F. DE; DECONTO, I.; BIONDO, A.W.; MOLENTO,
M.B. Prevalência parasitológica de cavalos de carroceiros em Curitiba, Paraná. Revista Brasileira de
Parasitologia Veterinária, 17 (1): 175-177, 2008.
3 HOFFMANN, R.P. Diagnóstico de Parasitismo Veterinário. Porto Alegre: Sulina, 1987.
4 MARTINS, I.V.F.; CORREIA, T.R.; SOUZA, C.P.; FERNANDO, J.L.; SANT’ANNA, F.B.; SCOTT,
F.B. Frequência de nematoides intestinais de equinos oriundos de apreensão no Estado do Rio de Janeiro.
Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 10: 37–40, 2001.
5 OGBOURNE, CP. Pathogenesis of cyathostome infection of the horse. A review. England:
Commomwealth Agricultural Bureax, 1978, 25p.
6 REGO, D.X.; SCHMEIL, B.R.P.; SCHILLER, J.W.; SILVA, M.M.; RAMOS, C.G.; MICHELOTTO
JÚNIOR, P.V. Incidência de endoparasitas e ectoparasitas em equinos do município de Curitiba – PR.
Revista Acadêmica: Ciências Agrárias e Ambientais, 3 (7): 281-287, 2009.
7 URQUHART, G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J.L.; DUNN, A.M.; JENNINGS, F.W. Veterinary
Parasitology. London: Blackwell Sciences, 2ed., 1996, 307p.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
85
Paramphistomum spp. EM OVINOS ABATIDOS
NA REGIÃO NORTE DO MATO GROSSO
Henry Coradi Schlich1
Riciely Vanessa Justo1
Pedro Souza Azevedo Junior1
Daniela Reis Krambeck1
Diego Montagner Schenkel1
Artur Kanadani Campos1.
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT – Paramphistomum spp. in sheep from Northern of Mato Grosso, Brazil. This study
was first work about Paramphistomum in sheep from eight cities in the northern of Mato Grosso. Ninety-
five animals were observed and 71.58% were positive in all properties evaluated. The prevalence of
positive females (87.93%) was major in relation males (45.94%). However, are necessities more studies
about prevalence in this region for establish effective control program.
INTRODUÇÃO
Paramphistomum spp. é um trematódeo digenético pertencente a superfamília Paramphistomoidea
que foi relatado em regiões tropicais ou subtropicais [1,2,3]. Na fase madura, Paramphistomum é parasita
do rúmen e do retículo e na fase imatura, parasita o duodeno dos ruminantes [3]. A forma imatura tende a
gerar maiores perdas produtivas ao passo que a forma madura pode reduzir a conversão alimentar dos
ruminantes [4]. Entretanto, os bovinos são mais resistentes à infecção por Paramphistomum, ao contrário
dos caprinos e ovinos que se mostram susceptíveis em todas as fases da vida [3].
Para infectar os animais é necessário que ocorram moluscos no ambiente, pois através desse
hospedeiro intermediário, Paramphistomum pode evoluir à metacercária e ser ingerido na pastagem pelo
hospedeiro ruminante, a fim de completar o ciclo. Os moluscos ocorrem somente em regiões alagadiças
ou em zonas temporariamente, inundadas devido à alta pluviosidade sazonal [1,3]. Sendo assim, a
existência de pastagem naturalmente inundada ou alagada devido à irrigação são favoráveis para a
paranfistomatose [5].
No Brasil os poucos relatos sobre Paramphistomum foram em bovinos [1] e, por isso, há uma
grande carência de informações sobre esse parasita em pequenos ruminantes. Sendo assim, objetivou-se
descrever a ocorrênia de Paramphistomum spp. em ovinos abatidos na região norte do Mato Grosso.
METODOLOGIA
O estudo verificou a ocorrência de Paramphistomum spp. em ovinos, no período de julho à
setembro de 2012, na região norte do Mato Grosso, Brasil. Para tanto, coletou-se o rúmen, retículo e
duodeno de 95 ovinos, 37 machos e 58 fêmeas, da raça Santa Inês, abatidos em Sinop e Terra Nova,
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
86
provenientes das cidades de Sinop, Terra Nova, Nova Guarita, Peixoto de Azevedo, Novo Mundo,
Carlinda, Guarantã do Norte e Colíder.
Os animais de cada lote receberam uma numeração. Durante o abate, em cada animal, realizou-se
uma secção no esôfago próximo ao cárdia e outra secção entre o rúmen e o omaso para a coleta do
retículo e rúmen. Para coletar o duodeno seccionou-se entre a porção final do abomaso e o término do
duodeno.
Logo após a secção e coleta dos órgãos, os mesmos foram distendidos e seccionados sobre uma
mesa para a identificação de exemplares de Paramphistomum spp (Fig. 1). Na sequência, cada animal foi
classificado como “positivo” ou “negativo” para paranfistomatose.
Figura 1. Presença de Paramphistomum em rúmen e retículo de ovino.
Foram coletadas de 2 a 4 amostras dos rúmens e retículos mais infectados. Essas amostras foram
fixadas em formalina tamponada a 10% e encaminhadas ao Laboratório de Patologia da Universidade
Federal de Mato Grosso, em Sinop, para um futuro diagnóstico microscópico.
RESULTADOS
Dos 95 ovinos avaliados, 68 (71,58%) apresentaram Paramphistomum spp. com relação à amostra
de fêmeas e machos, houve maior ocorrência do parasita em fêmeas (87,93%) do que em machos
(45,94%), sendo que o número de machos negativos (20) superou o número de machos positivos (17).
Todas as oito cidades de origem apresentaram animais positivos. Entretanto, as cidades que mais
apresentaram ovinos positivos (100%) em relação à amostra (Tab. 1) foram Novo Mundo e Carlinda.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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Tabela 1. Ocorrência de Paramphistomum spp. em rúmen e retículo de ovinos Santa
Inês abatidos na região norte do Mato Grosso.
Cidade Amostra Positivos Negativos Prevalência (%)
Carlinda 1 1 0 100
Sinop 5 3 2 60
Peixoto de Azevedo 10 8 2 80
Colíder 12 10 2 83,33
Novo Mundo 15 15 0 100
Guarantã do Norte 17 13 4 76,47
Nova Guarita 18 16 2 88,89
Terra Nova 17 2 15 11,76
DISCUSSÃO
Esse foi o primeiro relato de paranfistomatose em ovinos na região em estudo. A ocorrência
observada revelou que as condições epidemiológicas da região são favoráveis para essa doença.
Entretanto, o período de realização do estudo (julho a setembro) é caracterizado por ausência de chuva,
baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas nessa região, o que são incompatíveis com as condições
necessárias à sobrevivência do hospedeiro intermediário de Paramphistomum segundo a literatura
[1,2,3,4].
Ficou evidenciada a necessidade de se investigar a existência de reservatórios naturais de água e
pastagens alagadas, bem como a existência de hospedeiros intermediários nas cidades avaliadas. Da
mesma forma, somente um levantamento de dados de prevalência de Paramphistomum spp. ao longo do
ano, semelhante ao realizado em outros países [1,2], pode assegurar o estabelecimento de um programa
de controle eficiente para a paranfistomatose em ruminantes.
Particularidades inerentes ao sexo favoreceram a maior ocorrência de Paramphistomum em
fêmeas, entretanto, o número de machos amostrados foi inferior a número de fêmeas, o que pode ter
interferido no resultado. Diante disso, é importante estudar a influência do sexo na frequência de animais
infectados por Paramphistomum spp.
CONCLUSÃO
Paramphistomum spp. parasita ovinos criados no norte do Mato Grosso. Entretanto, são
necessários estudos epidemiológicos mais amplos que possibilitem estabelecer a real importância
econômica e patogênica desse parasito na região.
REFERÊNCIAS
1 GUPTA, B.C.; PARSHAD, V.R.; GURAYA, S.S. Maturation of Paramphistomurn cervi in sheep in
India. Veterinary Parasitology, 15: 239-245 1984.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
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2 MATTOS, M.J.T.; UENO, H. Prevalência de Paramphistomum no rúmen e retículo de bovinos no
estado do Rio Grande do Sul – Brasil. Ciência Rural, 26(2): 273-276, 1996.
3 OZDAL, N.; GUL, A.; ILHAN, F.; DEGER, S. Prevalence of Paramphistomum infection in cattle in
sheep in Van Province, Turkey. Parasitological Institute of SAS, 47(1): 20-24, 2010.
4 ROLFE, P.F.; BORAY, J.C.; COLLINS, G.H. Pathology of infection with Paramphistomum ichikawai
in sheep. International Journal for Parasitology, 24(7): 995-1004, 1994.
5 TAYLOR, M.A. Emerging parasitic diseases of sheep. Veterinary Parasitology, 189: 2-7, 2012.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
89
RESISTÊNCIA DE Rhipicephalus (Boophilus) microplus À
ACARICIDAS COMERCIAIS NO NORTE DO MATO GROSSO
Camila Eckstein
1
Riciely Vanessa Justo1
Jamile Martins Maluf1
Edésio José Soares1
Junior Barbosa Kachiyama1
Lucineide da Silva1
Artur Kanadani Campos1.
¹Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
ABSTRACT – Rhipicephalus (Boophilus) microplus resistence to acaricides from northen Mato
Grosso, Brazil. This study aimed to know the status of cattle tick resistance to acaricides in rural
properties of the municipality of Sinop, state of Mato Grosso. Acaricide bioassays were conducted on
cattle ticks from 5 rural properties. Adult immersion tests using regular commercial products and neem
oil according to label recommendations were followed by the evaluation of biological parameters. Four
commercial acaricide products containing one or more of seven active ingredients, from three chemical
classes: amidine (amitraz), synthetic pyrethroid (cypermethrin), organophosphates (trichlorfon), mixture
(cypermetrina, citronella and chorpyrifos) and neem oil were test. Low tick susceptibility to
cypermethrin was observed. Despite the great variation of susceptibility shown by the populations to each
acaricide, a gradient of efficacy of these products was observed. Regardless of the acaricide class, the
average efficacy of products containing a single active ingredient was 2.1- 100% and in mixture (99.16-
100%).
INTRODUÇÃO
As perdas causadas pelo carrapato bovino Rhipicephalus (Boophilus) microplus são de grande
importância na bovinocultura de leite, sendo que em trabalhos já descritos animais infestados produziram
2,86 litros de leite por dia a menos [2]. O principal controle desse parasita é realizado através do uso de
acaricidas e geralmente a metodologia criada pelos produtores para definir o melhor momento de
aplicação do produto se mostra inadequado [4] favorecendo o aparecimento da resistência aos produtos.
A resistência é definida como uma mudança na frequência de genes em uma população,
promovida pela seleção natural [3]. O teste de biocarrapaticidograma deve ser recomendado pelos
médicos veterinários, visto que se constitui num eficiente e preciso medidor da sensibilidade de R.(B).
microplus frente aos acaricidas comerciais de contato. Além de indicar o produto mais eficaz para cada
população pesquisada, auxilia na descrição do perfil regional dos níveis de sensibilidade e resistência dos
carrapatos às bases químicas disponíveis no mercado [1].
Sendo assim, objetivou-se testar a sensibilidade da população de carrapatos coletados em vacas
leiteiras criadas no norte do Mato Grosso.
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
90
METODOLOGIA
Coletaram-se fêmeas ingurgitadas em vacas leiteiras oriundas de duas propriedades de Juara, uma
de Santa Carmem e duas de Santa Helena, região norte do Mato Grosso. Foram coletadas em média 100
teleóginas de cada propriedade e encaminhadas ao Laboratório de Parasitologia e Doenças parasitárias do
Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso, em Sinop.
No laboratório as teleóginas foram lavadas, selecionadas e divididas em grupos de 10 fêmeas para
cada principio a ser testado. Posteriormente foram pesadas em balança analítica e imersas no produto já
diluído de acordo com a indicação do fabricante. Os produtos testados foram: cipermetrina;
organofosforado; associação cipermetrina, citronelal e clorpirifós; amitraz e óleo de neem (Azadirachta
indica).
As teleóginas permaneceram imersas por 5 minutos nas diluições e posteriormente colocadas em
placas de Petri e identificadas por produto testado, propriedade e data da realização do teste. As placas
foram mantidas por 15 dias em estufa, com temperatura média de 27ºC e umidade relativa próxima a 80%
ate a ovipostura. Ao final dos 15 dias foi pesada a massa de ovos que foi armazenada em seringas de 10
mL adaptadas e fechadas com algodão hidrofílico.
As seringas com os ovos permaneceram na estufa sob as mesmas condições por mais 28 dias (pico
da eclosão dos ovos). As seringas foram abertas e seu conteúdo foi mantido em congelador para
imobilizar as larvas e facilitar sua visualização em microscópio estereoscópico e estimar a eclodibilidade
dos ovos.
Utilizando o peso inicial das teleóginas e o peso da massa de ovos foi estimada a Eficiência
Reprodutiva (ER) das fêmeas :
Posteriormente, utilizando o valor obtido da ER foi possível estimar a Eficácia do Produto (EP),
obtendo um resultado em percentagem:
( ) ( )
( )
A análise estatística foi realizada pelo programa Assistat (versão 7.6 beta, 2012). Realizou-se o
teste de Kruskal-Wallis (α=0,05) com correção de H para dados iguais nos tratamentos.
RESULTADOS
Comparando-se a ER entre os tratamentos, a cipermetrina apresentou diferença significativa em
comparação aos demais, exceto quando comparado ao controle (sem tratamento). O produto a base de
amitraz apresentou diferença significativa em comparação aos demais, exceto com o óleo de neem. Já o
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produto a base de organofosforado e a associação cipermetrina + citronela1 + clorpirifós apresentaram
diferença estatística entre si e os demais tratamentos (Tab. 1).
Tabela 1. Eficiência reprodutiva (número de larvas por grama de ovos) obtida após a
imersão de 10 teleóginas por 5 minutos em acaricidas e em um grupo controle (sem
tratamento). As teleóginas foram coletadas em fêmeas bovinas criadas no norte de Mato
Grosso.
Propriedade Controle
Acaricidas (%)
Cipermetrina Amitraz Triclorfon Associação Óleo de
Neem
1 902052,2 a
796153,8 a 0
b 0 0 231694
b
2 960219,5 a
769115,4 a
640268 b 223008,8 8053,3 113957,9
b
3 882420,1 a
807747,4 a
902447 b 671076,2 0 475882,9
b
4 824003,6 a
841350,2 a
0 b 0 0 0
b
5 648037,3 a 35198,1
a 0
b 0 0 553767,6
b
Números seguidos de letras iguais na mesma linha não apresentam diferença significativa pelo teste de
Kruskal-Wallis (α=0,05).
Não houve diferença significativa (P>0,05) entre os percentuais de EP nas cinco propriedades
analisadas. A eficácia dos acaricidas foi estatisticamente, diferente entre todos os princípios ativos (Tab.
2). O produto a base de cipermetrina + citronelal + clorpirifós apresentou maior percentual de eficácia,
seguido por triclorfon, óleo de neem e amitraz e por último cipermetrina.
Tabela 2. Percentuais de eficácia in vitro de 5 acaricidas testados em teleóginas coletadas
em fêmeas bovinas na região norte do Mato Grosso. Todos os princípios ativos
apresentaram diferença significativa (p<0,05) entre si segundo o teste de Kruskal-Wallis.
Amostra Acaricidas
Cipermetrina Amitraz Triclorfon Associação Óleo de Neem
1 11,73
100
100
100 74,31
2 19,90
33,32
76,77 99,16 88,13
3 8,46
2,26
23,95 100 46,07
4 2,1
100
100 100 100
5 94,56
100
100 100 14,54
DISCUSSÃO
De acordo com Grilo Torrado (1974) [3] quando um acaricida não atingir 99,9% de eficácia em
testes in vitro, este não obterá sucesso no controle dos carrapatos a campo. Desta forma, ficou
evidenciada a resistência das teleóginas à cipermetrina, amitraz, triclorfon e óleo de neem, pois a ER das
teleóginas apresentou-se igual quando tratadas por estes princípios ou sem tratamento. Tanto a
associação quanto os produtos amitraz, triclorfon e óleo de neem apresentaram 100% de eficácia em
algumas propriedades.
Considerando que a eficácia ideal seria de 99,9% [3] pode-se inferir que os carrapatos apresentam
resistência aos princípios utilizados, entretanto, mostram-se mais sensíveis à associação cipermetrina +
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citronelal + clorpirifós e triclorfon do que para óleo de neem, amitraz e cipermetrina. Isso revela a
necessidade de inserir o teste do biocarrapaticidograma na rotina das fazendas [1] e a necessidade de se
realizar novas pesquisas nesta área, a fim de garantir a produtividade na bovinocultura leiteira nas
propriedades da região.
REFERÊNCIAS
1 CAMPOS JÚNIOR, D.A.; OLIVEIRA, P.R.; Avaliação in vitro da eficácia de acaricidas sobre
Boophilus microplus (Canestrini, 1887) (Acari: Ixodidae) de bovinos no município de Ilhéus, Bahia,
Brasil. Ciência Rural, 35(6): 1386-1392, 2005.
2 JONSSON, N.N.; MAYER, D.G.; MATSCHOSS, A.L.; GREEN, P.E.; ANSELL, J. Production effects
of cattle tick (Boophilus microplus) infestation of high yielding dairy cows. Veterinary Parasitology.
65-77, 1998.
3 GRILLO TORRADO, J.M. Pruebla de laboratorio para determinar la actividad y estabilidad de los
garrapaticidas en sus diluciones de uso. Exigencias mínimas. Índice “S”. Revista de Medicina
Veterinaria, 55(3): 191-196, 1974.
4 PEREIRA, M.C.; LABRUNA, M.B.; SZABÓ, M.P.J.; KLAFKE, G.M. Rhipicephalus (Boophilus)
microplus. In: Biologia, Controle e Resistência. São Paulo: Med Vet, 2008.
5 SANTOS, T.R.B.; FARIAS, N.A.R.; CUNHA FILHO, N.A.; PAPPEN, F.G.; VAZ JUNIOR, I.S.
Abordagem sobre o controle do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus no sul do Rio Grande do
Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, 65-70, 2009.
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TRICOSTRONGILÍDEOS EM OVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO
Hildene Andrey Zago Biavatti1
Riciely Vanessa Justo1
Lucineide da Silva1
Manuel Pedro Figueiró d´Ornellas1
Liliani Bandeira de Araújo1
Mylena Ribeiro Pereira1
Artur Kanadani Campos1
Flávio Lisboa da Costa2.
1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]
2 Prefeitura Municipal, Sinop, MT, Brasil.
ABSTRACT – Trichostrongylids in sheep from Mato Grosso. The present study investigated the
occurrence of gastrointestinal helminth parasites in sheep (Ovis aires) Santa Ines and Suffolk, at Sinop
and Santa Carmen, Mato Grosso. The gastrointestinal helminth infection in sheep is considered the main
cause of reduced productivity, morbidity and mortality in the herd. During the months of August and
September were collected stool samples from 52 animals, all had a history of worming recent (<60 days).
Fecal egg counts were performed from these samples. For the development of eggs to larvae stage, we
used the technique of coproculture where waste from the same batch of sheep were homogenized and
received vermiculite, kept in glass cup for 10 days at room temperature. By using the technique
Baermann was possible to obtain larvae, identification was made by a drop of each cup sediment after 18
hours from coprocultures of baermanization, using glass slide stained with Lugol 1% covered by an
optical microscope coverslip in 40x and 100x objective. The genera identified in the faeces of sheep
donors were Haemonchus sp and Trichostrongylus sp. Due historical worming, Haemonchus spp. and
Trichostrongylus spp. showed signs of resistance to the active principles of the drugs administered. Based
on these results, we conclude that Haemonchus sp and Trichostrongylus sp infect sheep and Suffolk Santa
Ines in northern Mato Grosso.
INTRODUÇÃO
A infecção de helmintos gastrintestinais em ovinos é considerada a principal causa de redução de
produtividade, morbidade e mortalidade no rebanho [3]. A resistência às drogas anti-helmínticas foi
relatada em muitos gêneros de helmintos de várias partes do mundo, tornando-se um grave problema em
países onde os pequenos ruminantes tem importância a nível industrial [3]. É importante conhecer o
gênero dos helmintos para determinar o risco da infecção com base na patogenicidade do parasita [1].
Portanto, objetivou-se com o presente estudo, identificar os gêneros de nematódeos gastrintestinais de
ocorrência em ovinos da região norte de Mato Grosso.
METODOLOGIA
Coletaram-se amostras de fezes de 52 ovinos criados em propriedades rurais pertencentes aos
municípios de Santa Carmem e Sinop, cidade polo da região, durante os meses de agosto e setembro de
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2012. Os rebanhos eram compostos por ovinos machos e fêmeas da raça Santa Inês e Suffolk. Todos os
animais apresentaram histórico de desverminação recente (<60 dias).
Em cada propriedade, as fezes foram coletadas diretamente da ampola retal dos animais e em
seguida a amostra era armazenada em caixa de isopor contendo gelo terapêutico. No laboratório, as
amostras foram submetidas ao teste de OPG segundo a técnica de Gordon e Whitlock (1939) [2]
modificada, onde cada ovo contado correspondeu a 100 ovos por grama de fezes.
Para a obtenção de larvas infectantes, utilizou-se a técnica de coprocultura descrita por Roberts e
O´Sullivan (1950) [5] modificada, onde as fezes de um mesmo lote de ovinos eram homogeneizadas e
recebiam vermiculita. A coprocultura foi montada em copos de vidro e mantida em temperatura ambiente
(26-34oC) durante 10 dias. Após esse período, foi realizada a técnica de Baerman para a obtenção das
larvas das coproculturas. As larvas recuperadas foram identificadas ao nível do gênero de acordo com
uma chave de identificação.
A identificação do gênero das larvas foi realizada em uma gota do sedimento de cada cálice após
18 horas da Baermanização das coproculturas. A gota foi examinada em lâmina de vidro corada com
lugol 1% coberta por lamínula em microscópio óptico, nas objetivas de 40x e 100x. Ao final do
diagnóstico, o sedimento restante nos cálices foi transportado para tubos tipo Falcon e esses foram
centrifugados em uma velocidade de 2.400 rpm durante 5 minutos. Esse processo foi repetido três vezes a
fim de prolongar o tempo de sobrevivência das larvas em ambiente refrigerado.
RESULTADOS
Os gêneros identificados nas fezes dos ovinos doadores foram Haemonchus sp (Fig. 1) e
Trichostrongylus sp na proporção 0,8 e 0,2 respectivamente e as amostras apresentaram de 0-2.300 ovos
por grama de fezes.
Figura 1. Larva de Haemonchus spp. (Objetiva 40x).
I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil
95
DISCUSSÃO
Foi a primeira vez que um estudo dessa natureza foi realizado nessa região. Entretanto, os gêneros
identificados nesse trabalho já foram identificados em outras regiões do Brasil [3,4,6,7]. A ausência do
diagnóstico de outros gêneros pode indicar a susceptibilidade desses gêneros às bases farmacológicas
empregadas em associação com a raça resistente [1].
Devido ao histórico de desverminação recente, Haemonchus spp. e Trichostrongylus spp.
manifestaram sinais de resistência aos princípios ativos dos fármacos administrados a esses rebanhos. Por
isso, o estudo revelou a necessidade de se estudar o grau de resistência dos helmintos gastrintestinais e
empregar o controle integrado nos rebanhos ovinos provenientes da região em estudo.
CONCLUSÃO
Haemonchus e Trichostrongylus infectam ovinos Santa Inês e Suffolk na região norte de Mato
Grosso. Porém, essa evidência não exclui a possibilidade da ocorrência de outros gêneros de nematoides
gastrintestinais.
REFERÊNCIAS
1 AMARANTE, A.F.T.; BRICARELLO, P.A.; ROCHA, R.A.; GENNARI, S.M. Resistance of Santa
Ines, Suffolk and Ile de France lambs to naturally acquired gastrointestinal nematode infections.
Veterinary Parasitology, 120: 91-106, 2004.
2 Gordon H.M.L.; Whitlock, H.N. A new technique for counting nematode egg in sheep faeces. Journal
Commonw. Science Ind. Organ, 12(1):50-52, 1939.
3 PEREIRA, R.C.F.; TOSCAN, G.; VOGEL, F.S.F.; SANGIONI, L.A. Resistência múltipla de helmintos
gastrointestinais em ovinos de Rosário do Sul, RS, Brasil. In: 35ᵒ Combravet. Anais... 2008.
4 RAMALHO, L.; PAVOSKI, C.; BOSO, A.L.R.; LOURENÇO, F.J.; SIMONELLI, S.M.; CAVALIERI,
F.L.B. Resistência do Haemonchus contortus e outros parasitas gastrintestinais ao levaminsol, closantel e
moxidectina em um rebanho ovino no noroeste do Paraná, Brasil. In: 35ᵒ Combravet. Anais… 2008.
5 ROBERTS, F.H.S.; O’SULLIVAN, J.P. Methods for egg counts and larval cultures for strongyles
infesting the gastrointestinal tract of cattle. Australian Journal Agriculture Research, 1:99-102, 1950.
6 SCZESNY-MORAES, E.A.; BIANCHIN, I.; SILVA, K.F.; CATTO, J.B.; HONER, M.R.; PAIVA, F.
Resistência anti-helmíntica de nematóides gastrintestinais em ovinos, Mato Grosso do Sul. Pesquisa
Veterinária Brasileira, 30: 229-236, 2010.
7 XAVIER, C.P.; QUADROS, D.G.; RODRIGUES, L.R.A.; CUNHA, L.M.C.S.; PEREIRA, D.C.S.;
CUNHA NETO, W.C. Epidemiologia de helmintos gastrintestinais em caprinos e ovinos pastejando
capim-mombaça. In: Jornada de Iniciação Científica Uneb. Anais... 2004.
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TRABALHOS PREMIADOS NO I ENISAP
PRIMEIRO LUGAR
CAPACIDADE PREDATÓRIA DE Duddingtonia flagrans APÓS TRÊS ANOS DE
ARMAZENAMENTO
Liliani Bandeira de Araújo et al.
SEGUNDO LUGAR
DOENÇAS DE BOVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO (2009 - 2012)
Everson dos Santos Damasceno et al.
&
MÉTODO FAMACHA NO CONTROLE DE HELMINTOSES GASTRINTESTINAIS EM CAPRINOS.
Mylena Ribeiro Pereira et al.
TERCEIRO LUGAR
DESEMPENHO PRODUTIVO E QUALIDADE DE CARCAÇA DE MESTIÇAS NELORE X ANGUS
Daniela Reis Krambeck et al.
QUARTO LUGAR
CISTICERCOSE BOVINA NA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO
Danielly Cristina Justo Lolatto et al.