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ANTICORPOS ANTI-Toxoplasma gondii EM OVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO

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ÍNDICE

ANTICORPOS ANTI-Neospora caninum EM FÊMEAS NELORE...................................1

Janaina Bacon Manfio et al.

ANTICORPOS ANTI-Toxoplasma gondii EM OVINOS NO NORTE DE MATO

GROSSO...............................................................................................................................6

Riciely Vanessa Justo et al.

AVALIAÇÃO DO BEM ESTAR EM BOVINOS ATRAVÉS DOS NÍVEIS SÉRICOS

DE CREATINA-FOSFOQUINASE E CORTISOL...........................................................11

Maianne Borges da Silva et al.

CAPACIDADE PREDATÓRIA DE Duddingtonia flagrans APÓS TRÊS ANOS DE

ARMAZENAMENTO........................................................................................................15

Liliani Bandeira de Araújo et al.

CISTICERCOSE BOVINA NA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO........................19

Danielly Cristina Justo Lolatto et al.

COMPACTAÇÃO DO CONTEÚDO RUMINAL POR CORPO ESTRANHO COMO

CAUSA DE MORTALIDADE DE BOVINOS..................................................................24 Leonardo Pintar de Oliveira et al.

DESEMPENHO PRODUTIVO E QUALIDADE DE CARCAÇA DE MESTIÇAS

NELORE X ANGUS...........................................................................................................28

Daniela Reis Krambeck et al.

DOENÇAS DE BOVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO (2009 - 2012).................32

Everson dos Santos Damasceno et al.

DOENÇAS DE OVINOS DA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO...........................38

Kassia Renostro Ducatti et al.

EFEITO DO JEJUM SOBRE A AÇÃO DO ALBENDAZOL EM BOVINOS.................42

Fabiola Francisca Dias Fernandes et al.

EFICIÊNCIA DE INSENSIBILIZAÇÃO DE BOVINOS COM DOIS MODELOS DE

PISTOLA.............................................................................................................................46

Alana Souza de Melo et al.

FASCIOLOSE BOVINA NA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO...........................51

Mauro Sergio Adams et al.

INDUÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE RESISTÊNCIA À INTOXICAÇÃO POR

Amorimia pubiflora (Malpighiaceae) EM OVINOS...........................................................56

Mayara Inacio Vincenzi da Silva et al.

INFECÇÃO POR Escherichia coli EM LEITÕES EM FASE DE CRECHE....................61

Geovanny Bruno Gonçalves Dias et al.

INTOXICAÇÃO POR Palicourea marcgravii EM 48 BOVINOS EM PORTO DOS

GAÚCHOS, MATO GROSSO, BRASIL...........................................................................66

Fernando Henrique Furlan et al.

MÉTODO FAMACHA NO CONTROLE DE HELMINTOSES GASTRINTESTINAIS

EM CAPRINOS..................................................................................................................69

Mylena Ribeiro Pereira et al.

MODELO DE PREDIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE Duddingtonia flagrans........74

Riciely Vanessa Justo et al.

MORTALIDADE DE BOVINOS POR HIPOTERMIA ASSOCIADA À INVERSÃO

TÉRMICA...........................................................................................................................78

Samara Rosolem Lima et al.

OXIURÍASE EM EQUINOS..............................................................................................81

Daniela Reis Krambeck et al.

Paramphistomum spp. EM OVINOS ABATIDOS NA REGIÃO NORTE DO MATO

GROSSO.............................................................................................................................85

Henry Coradi Schlich et al.

RESISTÊNCIA DE Rhipicephalus (Boophilus) microplus À ACARICIDAS

COMERCIAIS NO NORTE DO MATO GROSSO...........................................................89

Camila Eckstein et al.

TRICOSTRONGILÍDEOS EM OVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO..................93

Hildene Andrey Zago Biavatti et al.

TRABALHOS PREMIADOS NO I ENISAP……………………….……………………96

ANTICORPOS ANTI-Neospora caninum EM FÊMEAS NELORE

Janaina Bacon Manfio1

Riciely Vanessa Justo1

Artur Kanadani Campos1

Juliana Arena Galhardo2

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

2 Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil.

ABSTRACT - Antibodies anti-Neospora caninum in Nellore female. The aim of the present study was

to evaluate the occurrence of anti-Neospora caninum in cow Nellore livestock from properties located in

the cities of Sinop, Itaúba, Colíder, Carlinda and Guarantã of Northern, from Mato Grosso, Brazil. To

determine the occurrence blood were collected from 205 animals for serological diagnosis technique by

immunofluorescence assay (IFA) and the history of each property was raised by applying an

epidemiological questionnaire at the time of collection of blood samples. Of the 205 animals sampled, 77

(37.56%) were positive for anti-N. caninum. All five properties studied were positive, ranging from

13.33% to 70% occurrence. Historical and loose dogs that feed on offal was crucial to understand the high

occurrence in Sinop (70%) and Carlinda (50%).The results of the experiment showed that as in other

regions of Brazil, neosporosis occurs and is often misdiagnosed.

INTRODUÇÃO

Historicamente, o protozoário Neospora caninum era confundido com Toxoplasma gondii, o que

impedia o diagnóstico da neosporose [2]. No entanto, essa doença já foi relatada em animais domésticos e

selvagens no mundo todo [7]. No Brasil, N. caninum passou a ser diagnosticado a partir de 1999 em fetos

bovinos abortados e através de levantamentos sorológicos em bovinos e cães de diferentes estados [3].

Os hospedeiros mais susceptíveis à neosporose são os bovinos. Estima-se que 20% de todos os

fetos bovinos abortados são provenientes da infecção por N. caninum [1]. Entretanto, diante da falta de

conhecimento, a neosporose tem sido subdiagnosticada nas propriedades rurais do Brasil [2]. Isso se deve

ao caráter subclínico da doença e da ausência do diagnóstico sorológico em rebanhos com histórico de

aborto.

Para tanto, objetivou-se com o presente trabalho, investigar a ocorrência de anticorpos anti-N.

caninum em fêmeas bovinas da raça Nelore através do emprego do teste sorológico de Reação de

Imunofluorescência Indireta (RIFI) e aplicação de questionário epidemiológico em propriedades da região

norte de Mato Grosso.

METODOLOGIA

Foram coletadas 205 amostras de sangue de fêmeas Nelore, com idade igual ou superior a 24

meses, para determinar a ocorrência de anticorpos anti-N. caninum. Os animais eram provenientes de

cinco rebanhos pertencentes às cidades de Sinop (S11° 13’ 20.5’’ W055° 18’ 06.2’’), Itaúba (S11° 13’

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20.3’’ W055° 18’ 05.4’’), Colíder (S10° 43’ 15.3’’ W055° 31’ 48.3’’), Carlinda (S11° 30’ 24.4’’ W055°

24’ 17.6’’) e Guarantã do Norte (S09° 47’ 24.3’’ W054° 54’ 26.8’’), localizadas na região norte do estado

do Mato Grosso.

Em cada animal, foram coletados 5 ml de sangue através da punção da veia ou artéria coccígea

com o uso de agulha 40 x 12 descartável e sem o uso de anticoagulante. Cada amostra foi identificada

com o número da propriedade e posteriormente, acondicionada em caixa isotérmica contendo gelo

terapêutico. Logo após as coletas, aplicou-se um questionário epidemiológico aos funcionários

responsáveis pelo manejo dos animais a fim de se avaliar os fatores de risco de cada propriedade.

Todas as amostras foram encaminhadas ao Laboratório de Parasitologia Veterinária da

Universidade Federal de Mato Grosso, onde foram refrigeradas e processadas (Fig. 1) dentro de um prazo

máximo de 24 horas.

Figura 1. Obtenção do soro após a centrifugação (A), pipetagem da amostra (B)

para armazenagem em microtubo (C) e encaminhamento com identificação (D)

para a realização da RIFI.

O processamento compreendeu a centrifugação na velocidade de 2.400 rpm durante cinco minutos

para a armazenagem de 1 ml de soro, de cada amostra, em microtubos plásticos estéreis. As alíquotas de

soro foram identificadas, congeladas e enviadas ao Laboratório de Protozoologia da Universidade

Estadual de Londrina para a realização da RIFI. Foram consideradas positivas as reações em que os

taquizoítos apresentaram fluorescência periférica total, sendo no mínimo 50% (Títulos ≥ 1:50).

Com base na frequência de bovinos soropositivos (555/2.253) observada em outros trabalhos

[4,5,6] adotou-se uma frequência esperada de 24,63%. As frequências foram analisadas pelo teste do Qui-

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quadrado (P=0,01) através da equação de Pearson 2= [(o - e)2 /e], onde “o” é a frequência observada e

“e” é a frequência esperada.

RESULTADOS

Todas as propriedades apresentaram animais soropositivos para anticorpos anti-N. caninum. Do

total de 205 amostras enviadas, 77 (37,56%) foram positivas (Tab. 1). Os desvios da frequência observada

(37,56%) foram significativos em relação à frequência esperada (24,63%) no total das amostras. Apenas

os desvios das frequências de Sinop e Carlinda, quando analisados individualmente, apresentaram

diferença não significativa em relação à frequência esperada.

Tabela 1. Ocorrência de anticorpos anti-N. caninum em 205 fêmeas bovinas da raça

Nelore na região norte do Mato Grosso, pela Reação de Imunofluorescência Indireta

(títulos ≥1:50). A análise da frequência observada em relação à esperada pelo teste do

Qui-quadrado (P=0,01) está apresentada para cada cidade.

Cidade Amostra Sorologia Frequência

observada

2 P

+ -

Sinop 60 42 18 70% 0,93* 0,33

Itaúba 30 8 22 26,67% 38,33 <0,01

Colíder 48 10 38 20,83% 76,91 <0,01

Carlinda 22 11 11 50% 7,63 0,06

Guarantã do Norte 45 6 39 13,33% 93,29 <0,01

Total 205 77 128 37,56% 157,86 <0,01

2 = Qui-quadrado calculado.

*H0 = proporção (positivos:negativos) = (24,63:75,37).

Através do questionário epidemiológico observou-se que todas as propriedades avaliadas

apresentaram histórico de aborto. O diagnóstico laboratorial como tentativa de descobrir a causa dos

abortos era realizado em 40% das propriedades. Deste percentual, 50% dos diagnósticos eram realizados

para brucelose e 50% para brucelose, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) e diarreia viral bovina (BVD),

ambos os testes com resultados negativos. Em todas as propriedades ficou evidenciada a desinformação

sobre neosporose, seu diagnóstico e controle.

Todas as propriedades possuíam no mínimo dois cães para trabalho, ou guarda e companhia. Nas

propriedades onde os cães ficavam sempre ou ocasionalmente soltos (60%), foi observado que todos esses

cães tinham livre acesso à mangueira, pastagens ou currais onde permaneciam os bovinos. Em uma

propriedade (20%) os cães ainda tinham acesso aos bebedouros dos bovinos. Para agravar o problema, foi

verificado que 40% das propriedades ainda realizavam matança de bovinos e destinavam as vísceras aos

cães.

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DISCUSSÃO

Diante das limitações inerentes ao tamanho da amostra analisada não foi possível inferir acerca da

prevalência na região estudada. Por outro lado, os resultados obtidos mostraram que a neosporose está

presente em fêmeas bovinas da raça Nelore na região norte de Mato Grosso sendo necessários estudos de

prevalência mais abrangentes na região.

Embora a ocorrência de anticorpos anti-N. caninum tenha sido comprovada em todas as

propriedades o resultado não permitiu confirmar que os abortos ocorridos até a presente data foram

causados por N. caninum. Para que isso fosse possível, seria necessário identificar o agente em tecidos

fetais abortados [2,4] e não foi este o objetivo com este trabalho. Constatou-se que a falta de diagnóstico

diferencial entre BVD, IBR, leptospirose, brucelose e neosporose tem prejudicado o controle sanitário de

rebanhos bovinos no norte de Mato Grosso.

Houve diferença estatística entre a frequência observada e a esperada para a amostra total.

Entretanto, ao avaliar os resultados obtidos com os esperados para cada cidade, os desvios mostraram-se

não significativos para Sinop e Carlinda. Isso significa que as vacas desses municípios apresentaram uma

frequência de anticorpos anti-N. caninum igual à de bovinos de corte e leite de Goiânia e Anápolis [4] e

vacas leiteiras do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São

Paulo [5,6]. Portanto, devido ao caráter subclínico da neosporose, ficou evidenciada a importância de se

acrescentar a sorologia para detecção de anticorpos anti-N. caninum na rotina das fazendas e

consequentemente, evitar o prejuízo inerente aos abortos.

REFERÊNCIAS

1 ANDERSON, M.L.; ANDRIANARIVO, A.G.; CONRAD, P.A. Neosporosis in cattle. Animal

Reproduction Science, (60-61): 417-431, 2000.

2 ANDREOTTI, R. Neosporose: Um possível problema reprodutivo para o rebanho bovino. Campo

Grande: Embrapa Gado de Corte, 2001, p.1-14.

3 LINDSAY, D.S.; DUBEY, J.P.; MCALLISTER, M.M. Neospora caninum and the potential for parasite

transmission. Compendium on continuing education for the practicing veterinarian, 4(21): 317-321,

1999.

4 MELO, D.P.G.; SILVA, A.C. DA; ORTEGA-MORA, L.M.; BASTOS, S.A.; BOAVANTURA, C.M.

Prevalência de anticorpos anti-Neospora caninum em bovinos das microrregiões de Goiânia e Anápolis,

Goiás, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 3(15): 105-109, 2006.

5 RAGOZO, A.M.A.R.; PAULA, V.S.O.; SOUZA, S.L.P.; BERGSMASCHI, D.P.; GENNARI, S.M.

Ocorrência de anticorpos anti-Neospora caninum em soros bovinos procedentes de seis estados

brasileiros. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 1(12): 33-37, 2003.

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5

6 SARTOR, I.F.; HASEGAWA, M.Y.; CANAVESSI, A.M.O.; PINCKNEY, R.D. Ocorrência de

anticorpos de Neospora caninum em vacas leiteiras avaliados pelos métodos ELISA e RIFI no município

de Avaré, SP. Semina: Ciências Agrárias, 1(24): 3-10, 2003.

7 TAYLOR, M.A.; COOP, R.L.; WALL, R.L. Parasitologia veterinária, Rio de Janeiro: Guanabra

Koogan, 2010.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à equipe do Laboratório de Protozoologia da Universidade Estadual de Londrina

que foram imprescindíveis para a realização da RIFI, bem como a todos os funcionários e criadores das

propriedades que participaram desse trabalho.

ANTICORPOS ANTI-Toxoplasma gondii EM

OVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO

Riciely Vanessa Justo

1

Luciana Auxiliadora Viebrantz da Conceição1

Túlio Geraldino Manhezzo1

Mylena Ribeiro Pereira1

Thelma Milhomem Galindo1

Camila Eckstein1

Lucineide da Silva1

Artur Kanadani Campos1

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, Mato Grosso, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT – Antibodies anti-Toxoplasma gondii in sheep from Northern of Mato Grosso. Ovine

toxoplasmosis is a major cause of abortion and placentitis. This study evaluated the occurrence of

antibodies anti-Toxoplasma gondii in 273 sheep from cities Itauba, Santa Carmem, Sinop, Sorriso,

northern of Mato Grosso, Brazil. The technique of Indirect Hemagglutination (IHA) was applied and 84

were seropositive. The proportion of positive females was greater than of males. These animals may

represent sources of transmission of T. gondii for humans.

INTRODUÇÃO

Toxoplasma gondii é um protozoário coccídio intracelular obrigatório, causador da toxoplasmose,

que pode parasitar mais de 200 espécies animais, inclusive o humano [3]. Segundo Medeiros (2010) [5],

no Brasil não há tradição de se vacinar os ovinos contra toxoplasmose, sendo essa espécie naturalmente

susceptível a T. gondii. Com isso a ocorrência da infecção de ovinos geralmente, se encontra elevada [4].

Os ovinos infectam-se ao ingerirem pastagem, água ou outros alimentos contendo oocistos de T.

gondii eliminados pelos gatos através das fezes [8]. A toxoplasmose pode ser assintomática em ovinos,

mas é comum a infecção durante a gestação resultar em aborto [6]. Há relatos da transmissão de T. gondii

ocorrer por contato sexual em ovinos, o que resulta em perdas reprodutivas [1].

Objetivou-se com o presente trabalho, verificar a frequência de animais soropositivos para

anticorpos anti-Toxoplasma gondii em propriedades localizadas nos municípios de Sinop, Santa Carmem,

Sorriso e Itaúba, região norte do Mato Grosso, utilizando-se a técnica de Hemaglutinação Indireta (HAI).

METODOLOGIA

Utilizaram-se amostras de soro de 273 ovinos (52 machos e 221 fêmeas), provenientes de um

estudo anterior, onde amostras de sangue haviam sido coletadas através da punção da veia jugular, direto

em tubo de ensaio, sem anticoagulante, no período de setembro a outubro de 2010. Logo após a coleta,

essas amostras foram centrifugadas à velocidade de 300 rpm por 10 minutos e em seguida, alíquotas de

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1mL de soro foram armazenadas em microtubos estéreis que ficaram armazenados à temperatura de -

20oC, até a realização do presente estudo. Todas as amostras estavam identificadas com o número do

animal e da propriedade de origem.

A técnica sorológica aplicada às amostras foi a Hemaglutinação Indireta (HAI), que se baseia na

aglutinação formada pela equivalência entre antígeno e anticorpo. Essa técnica foi realizada com o

emprego do kit Imuno-HAI, do laboratório WAMA Diagnóstica, composto por um soro controle

negativo, soro controle positivo, suspensão de hemácias sensibilizadas com componentes de Toxoplasma

gondii, solução diluente e placa de microtitulação. Essa placa apresenta 96 cavidades para preencher com

a diluição sorológica, letras de A a H no eixo vertical e números de 1 a 12 no eixo horizontal. Para a

neutralização de forças eletrostáticas, a placa foi utilizada sobre um tecido úmido. Cada amostra de soro

foi diluída na proporção 1:32.

Para o diagnóstico sorológico, as cavidades A1 e A2 da placa de microtitulação foram

completadas com 25 µL de soro controle negativo e 25 µL de soro controle positivo, respectivamente. As

demais cavidades foram preenchidas com 25 µL de soro homogeneizado com a suspensão de hemácias

sensibilizadas com componentes de T. gondii. Em seguida a placa foi agitada por vibração mecânica

durante 3-4 minutos.

Após 2 horas, realizou-se a leitura do resultado positivo, quando a presença de anticorpos contra

T. gondii gerava aglutinação de hemácias na cavidade ou negativo, quando a ausência desses anticorpos

proporcionava a sedimentação de hemácias no fundo da cavidade, formando um botão vermelho (Fig. 1).

As propriedades de origem dos animais foram visitadas e na ocasião foi aplicado um questionário para

avaliar os fatores de risco para toxoplasmose em ovinos.

Figura 1. Microplaca com reações de hemaglutinação. Notar a diferença na imagem ampliada das cavidades, entre o resultado

negativo (botão vermelho) e positivo (aglutinação).

A frequência esperada para anticorpos anti-Toxoplasma gondii foi de 47,98% com base em

pesquisas anteriores que identificaram 167 soropositivos em um total de 348 ovinos utilizando a técnica

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da HAI [2,7]. A frequência aqui observada foi confrontada com a esperada pelo teste do Qui-quadrado

(P=0,01) através da equação de Pearson 2= [(o - e)2 /e], onde “o” é a frequência observada e “e” é a

frequência esperada. Utilizou-se tabela de contingência para verificar a associação com variáveis e a

correção de Yates, quando necessário.

RESULTADOS

Dos 273 animais avaliados, 84 (30,77%) foram soropositivos para anticorpos anti-Toxoplasma

gondii, sendo 12 (14,29%) machos e 72 (85,71%) fêmeas. Em relação ao número de animais da amostra

de fêmeas e machos, a proporção de fêmeas soropositivas foi de 0,3258 e a de machos de 0,2308. Houve

associação estatística entre a presença de anticorpos anti-T. gondii e as variáveis: sexo, gato e fonte de

água (Tab. 1).

Tabela 1. Diagnóstico sorológico de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em ovinos da

região norte de Mato Grosso, no período de setembro a outubro de 2010, pela técnica de

Hemaglutinação Indireta (HAI). A presença de anticorpos anti-T. gondii sofreu influência

do sexo dos animais, da presença ou ausência de gatos nas propriedades e da fonte de água

para os ovinos, segundo o teste do Qui-quadrado.

Sexo

Observado Total

Esperado χ

2 P

+ - + -

Fêmea 72 149 221 68 153 139,36* <0,01

Macho 12 40 52 16 36 51,99 <0,01

Total

Gato

84 189 273 84 189 191,36 <0,01

Presente 70 114 184 57 127 82,57 <0,01

Ausente 14 75 89 27 62 122,47 <0,01

Total

Fonte de água

84 189 273 84 189 205,05 <0,01

Rio 72 129 201 62 139 104,66 <0,01

Poço 12 60 72 22 50 94,49 <0,01

Total 84 189 273 84 189 199,16 <0,01

2 = Qui-quadrado calculado.

* H0 = proporção (+: -).

Os desvios entre a frequência observada (30,77%) e esperada (47,98%) foram significativos para a

amostra total (273). Entretanto, ao avaliar os resultados obtidos em cada propriedade (Tab. 2), os desvios

mostraram-se significativos apenas para duas propriedades de Sinop e as pertencentes à Itaúba e Santa

Carmem.

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Tabela 2. Diagnóstico sorológico de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em ovinos da

região norte de Mato Grosso, no período de setembro a outubro de 2010, pela técnica de

Hemaglutinação Indireta (HAI). São apresentadas as frequências observadas e as

esperadas seguidas nas cidades avaliadas com respectivo Qui-quadrado.

Propriedade

Cidade

N

Sorologia Frequência

Observada

2

P + -

A Itaúba 27 4

23

14,81 14,97* <0.01

B Santa Carmem 33 5 28 15,15 17,97 <0,01

C Sinop 41 23 18 56,09 0,27 0,61

D Sinop 33 10 23 30,30 6,23 0,02

E Sinop 30 4 26 13,33 17,98 <0,01

F Sinop 50 7 43 14 28,95 <0,01

G Sinop 12 3 9 25 3,51 0,07

H Sorriso 47 28 19 59,57 1,07 0,3

Todas Todas 273 84 189 30,77 49,39 <0,01

2 = Qui-quadrado calculado.

* H0 = proporção (+: -) ou (47,98):(52,02).

DISCUSSÃO

Este foi o primeiro relato sobre a ocorrência de anticorpos anti-Toxoplasma gondii na região norte

do Mato Grosso. Entretanto, a sorologia não indica a ocorrência de toxoplasmose, mas sim que os

animais tiveram pelo menos um contato com o agente dessa doença durante a vida, desenvolvendo assim

anticorpos.

Segundo Silva et al. (2003) [8], em ovinos, associações significativas foram encontradas para sexo

e raça, mas não para região, tipo de manejo ou falha reprodutiva. No presente trabalho também houve

associação entre o sexo dos animais, presença ou ausência de gatos nas propriedades e o tipo de fonte de

água para os animais com a existência de anticorpos anti-T. gondii nos ovinos avaliados.

A ocorrência de maior proporção de fêmeas soropositivas em relação a proporção de machos

soropositivos nesse trabalho deve-se às condições fisiológicas inerentes ao sexo que induzem à

imunossupressão no periparto e lactação e também ao tamanho da amostra, que foi maior para fêmeas.

De forma geral, foi possível visualizar uma menor ocorrência de anticorpos anti-T. gondii nos

ovinos das cidades da região norte do Mato Grosso que em cidades como Vitória e Uberlândia [2,7].

Entretanto, ao avaliar os casos positivos em cada propriedade, observou-se que a frequência de 47,98%

(esperada) foi alcançada apenas em dois rebanhos de Sinop e um de Sorriso. Isso indica que nas demais

propriedades, bem como na amostra total, a ocorrência de anticorpos anti-T. gondii foi inferior à

frequência esperada.

A aplicação do questionário foi útil para revelar que as propriedades apresentavam fontes

inapropriadas de água para os ovinos e que gatos domésticos tinham livre acesso à água dos animais de

produção. Essas informações reforçam a associação estatística existente entre as variáveis sexo, gato e

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fonte de água com a soropositividade dos ovinos. Ficou evidenciada a falta de informação das pessoas e a

ausência de medidas de controle adequadas para evitar a toxoplasmose em animais e humanos. Contudo,

os ovinos abatidos nessa região representam risco para a saúde humana, pois a carne de animais

infectados com T. gondii é uma importante fonte de infecção para o homem.

CONCLUSÃO

Os ovinos criados na região norte do Mato Grosso estão expostos à infecção por Toxoplasma

gondii.

REFERÊNCIAS

1 ALBUQUERQUE, P.P.F. Detecção do Toxoplasma gondii no sêmen de reprodutores ovinos criados na

Zona da Mata e Agreste do Estado de Pernambuco. In: X Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Anais... UFRPE: Recife, 2010.

2 BARIONI, G.; TESOLINE, P.; BELTRAME, M. A. V.; PEREIRA, L. V.; GUMIEIRO, M. V.

Soroprevalência da Toxoplasmose em Ovinos da Raça Santa Inês nos Municípios da Grande Vitória –

ES. Ciência Animal Brasileira, 2009. Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/vet/article/

view/7889/5730> Acesso em: 30 ago. 2012.

3 KAWAZOE, U. Toxoplasma gondii. In: Neves, D.P. Parasitologia Humana. São Paulo: Atheneu,

2005, p.163-172.

4 LOPES, W.D.Z. Aspectos da infecção toxoplásmica no sistema reprodutor de ovinos (Ovis aries)

machos experimentalmente infectados. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária). Faculdade de

Ciências Agrárias e Veterinárias: Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, SP, 2007.

5 MEDEIROS, A.D. Ocorrência da Infecção por Toxoplasma gondii e Avaliação da Imunização em

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6 QUEIROLO, M. T. C. Toxoplasmose é assunto sério. O Berro, 119: 120-122, 2009.

7 ROSSI, G.F.; CABRAL, D.D.; CORRÊA, R.R. Soroprevalência de Toxoplasma gondii em ovinos no

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8 SILVA, A.V.; CUNHA, E.L.P.; MEIRELES, L.R.; GOTTSCHALK, S.; MOTA, R.A.; LANGONI, H.

Toxoplasmose em Ovinos e Caprinos: Estudo Soroepidemiológico em Duas Regiões do Estado de

Pernambuco, Brasil. Ciência Rural, 33(1): 115-119, 2003.

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AVALIAÇÃO DO BEM ESTAR EM BOVINOS ATRAVÉS DOS NÍVEIS

SÉRICOS DE CREATINA-FOSFOQUINASE E CORTISOL

Maianne Borges da Silva1

Danielly Cristina Justo Lolatto1

Alessandra Kataoka1

Angelo Polizel Neto1

1 Universidade Federal do Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. Email para correspondência: [email protected]

ABSTRACT. Assessment of welfare through bovine serum creatine phosphokinase and cortisol.

Objective was to assess animal welfare in cattle by serum creatine phosphokinase (CPK) and cortisol, and

if there relate effects of transport distance on these variables and their relationship with the injuries

carcass. The transport time did not influence the level of serum cortisol, although the distance was

different. The distance transportation changed the occurrence of lesions in the carcass and serum CPK.

Animals transported by shortest distance, 93% had at least one lesion housing and 1197.8 U / L of serum

CPK, instead, the animals were transported for 400 km, and 36% had at least one injury and carcass 701.7

U / L of serum CPK. The cortisol may not be a single parameter to assess animal welfare. The dosage of

creatine phosphokinase is a good indicator, being directly related to the occurrence of lesions. However,

more important than the distance covered is how is the handling of the animals during pre-slaughter since

the occurrence of lesions is the result of poor management practices.

INTRODUÇÃO

O bem-estar animal assumiu importância quando se observou que o manejo dos animais ao

frigorífico em condições estressantes provoca perdas tanto aos produtores como à indústria, já que reduz

o peso vivo dos animais, o rendimento de carcaça e qualidade da carne.

As práticas de bem-estar animal são um diferencial na comercialização de carne

internacionalmente, embora não façam parte dos acordos comerciais, há exemplos de experiências do

Chile, Argentina, Brasil e Uruguai e da União Europeia [4].

Desde o embarque até momento de insensibilização no frigorífico os animais passam por momentos

considerados como pontos críticos que dificilmente atendem os preceitos de bem-estar animal.

No Mato Grosso, os animais são transportados por longas distâncias até chegarem ao matadouro e

quase que unicamente por transporte rodoviário. Porém, o transporte rodoviário em condições

desfavoráveis pode provocar a morte dos animais ou levar ao aparecimento de lesões de carcaça, perda de

peso e estresse dos animais [1, 4].

A grande alteração de estímulos externos dificulta à adaptação do animal as condições apresentadas.

De modo que, em condições de estresse ocorre produção do cortisol e sua quantificação no soro

sanguíneo é comumente utilizada para verificar o nível de estresse que o animal foi submetido,

principalmente em situações que antecedem o abate [3].

Além do cortisol, a avaliação de creatina-fosfoquinase (CPK) tem sido utilizada para avaliação de

bem estar animal, uma vez que, esta enzima é notada no soro em consequência da lesão muscular [1], e

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em suínos a avaliação dessa enzima possui alta correlação com a condição de bem-estar animal [7]. A

creatina-fosfoquinase é indicador altamente sensível e específico da lesão muscular em animais

domésticos. O vigoroso exercício ou prolongado embarque podem resultar em modestas elevações, ou em

até quatro vezes os valores em repouso de CPK na circulação [6]. No entanto, no Brasil é restrita a

publicação de artigos sobre a relação da dosagem de creatina-fosfoquinase com o bem-estar de bovinos.

Desse modo, teve como objetivo avaliar o bem-estar animal em bovinos através do nível sérico

creatina-fosfoquinase e cortisol, bem como, relacionar se há efeitos da distância de transporte sobre essas

variáveis e sua relação com as lesões de carcaça.

METODOLOGIA

Acompanhou-se o abate de 185 bovinos machos, da raça Nelore, em novembro de 2011, num

matadouro-frigorífico no município de Sinop-MT, sob Serviço de Inspeção Federal. Desses, 100 animais

foram transportados por 10 km e 85 animais por 400 km, da propriedade até o frigorífico. Os

procedimentos ante mortem, como tempo de descanso e dieta hídrica foram similares entre os lotes, e

seguidos conforme estabelecidos pelo Serviço de Inspeção Oficial. A idade dos animais foi estimada na

linha de abate pela observação e avaliação da dentição permanente.

Foram coletadas amostras de soro sanguíneo de 30 animais transportados por 10 km de distância e

30 animais transportados por 400 km de distância. Após a insensibilização, com pistola de dardo cativo

penetrante, os animais foram içados e imediatamente sangrados pelo funcionário do frigorífico. Esse

procedimento foi realizado com abertura sagital da barbela, seccionando os grandes vasos (veias jugulares

e artérias carótidas), utilizando a faca de sangria previamente esterilizada em temperatura mínima de

82,2ºC.

Imediatamente após o processo de sangria foi realizada a coleta de sangue, utilizando tubos

esterilizados, ausente de anticoagulante e devidamente identificados. Os tubos foram posicionados de

forma a possibilitar a coleta direta do fluxo sanguíneo, sem que houvesse contato com outras partes do

animal. Posteriormente, as amostras foram armazenadas em caixa térmica contendo gelo seco.

Após o término da coleta, os tubos foram encaminhados ao Laboratório de Patologia Clínica da

Universidade Federal de Mato Grosso, campus de Sinop – MT, para a centrifugação e posterior dosagem

da CPK (creatina-fosfoquinase) com o uso do Kit da marca Labtest. As amostras de soro sanguíneo dos

animais foram armazenadas em eppendorff de 1,5mL, congeladas a -18oC, e enviadas para o Laboratório

de Endocrinologia da Universidade Estadual Paulista, campus de Botucatu- SP para dosagem de cortisol

sérico por radioimunoensaio.

As carcaças foram avaliadas na linha de abate, após a remoção da pele, verificando a presença de

lesões na carcaça.

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A avaliação estatística seguiu o delineamento experimental inteiramente casualizado, sendo as

variáveis testadas pelo Proc GLM, com o programa Statistical Analysis System - SAS 9.0 (2002), a 5% de

significância.

RESULTADOS

Dos 30 animais transportados por curta distância, 01 animal apresentou apenas dentes decíduos

(<18 meses), 15 possuíam 2 dentes permanentes (<24 meses) e 14 possuíam 4 dentes permanentes (<30

meses). Já os animais transportados por longa distância, 6 animais apresentaram apenas dentes decíduos

(<18 meses) e 24 possuíam 2 dentes permanentes (<24 meses), na arcada inferior.

Na Tabela 1 são apresentados o peso médio de carcaça quente, os níveis séricos de CPK e cortisol, e

a ocorrência de lesões na carcaça, conforme a distância percorrida, 10 ou 400 km. O peso de carcaça

quente não foi diferente para os lotes transportados por 10 ou 400 km, demonstrando similaridade entre os

lotes tratamento.

A distância de transporte alterou a ocorrência de lesão na carcaça e o nível sérico de CPK. Dos

animais transportados por menor distância, 93% apresentaram pelo menos uma lesão de carcaça e

1197,8U/L de níveis séricos de CPK, ao contrário, dos animais que foram transportados por 400 km, 36%

apresentaram pelo menos uma lesão de carcaça e 701,7U/L de CPK sérico.

Tabela 1. Médias de peso de carcaça quente (PCQ), creatina-fosfoquinase sérica (CPK),

cortisol sérico (CO) e lesões de carcaça, de acordo com distância de transporte.

Variáveis Distância CV1 P

2

10 km 400 km

PCQ (kg) 281,66 278,50 9,37 0,7926

CPK (U/L)* 1197,8a 701,7b 71,07 0,0246

CO (ug/dL) 5,72 5,09 43,45 0,3976

Lesão (n/animal)* 0,9333a 0,3667b 119,2 0,0050 1CV: coeficiente de variação;

2P: significância

*Letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si.

DISCUSSÃO

O tempo de transporte não influenciou no nível sérico de cortisol, embora à distância percorrida

tenha sido diferente. O comportamento de liberação desse hormônio está atribuído aos estímulos

estressantes, sabido que há um aumento sérico de cortisol em momentos de estresse agudo, porém ocorre

um declínio em estresse crônico [4]. Possivelmente, neste estudo os animais estavam em fase crônica de

estresse. Portanto, a dosagem de cortisol não pode ser um parâmetro isolado para avaliação do bem-estar

animal, visto que este hormônio em fase crônica de estresse tem um declínio em sua concentração sérica.

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A distância de transporte alterou a ocorrência de lesão na carcaça e o nível sérico de CPK. Neste

estudo, dos animais transportados por menor distância, 93% apresentaram pelo menos uma lesão de

carcaça e 1197,8U/L de níveis séricos de CPK, ao contrário, dos animais que foram transportados por 400

km, 36% apresentaram pelo menos uma lesão de carcaça e 701,7U/L de CPK sérico. Ou seja, aqui os

animais transportados por uma distância maior apresentaram um número menor de carcaça lesionadas, e

consequentemente, valor de CPK inferior quando comparados com os animais transportados por menor

distância. Ressalvando que a creatina-fosfoquinase está diretamente relacionada com lesões na carcaça,

podendo ser um método eficaz para avaliar lesão muscular e bem-estar animal [1]. Portanto, a dosagem

de creatina-fosfoquinase é um bom indicador para avaliação do bem-estar animal, mostrando-se

diretamente relacionado com a ocorrência de lesões na carcaça.

Do mais, ficou constatado que o importante em todo o período pré-abate manter boas práticas de

manejo com os animais, buscando reduzir as lesões de carcaça já que está esta diretamente relacionada

com os níveis de creatina-fosfoquinase.

CONCLUSÃO

A dosagem de cortisol não pode ser um parâmetro isolado para avaliação do bem-estar animal. A

dosagem de creatina-fosfoquinase é um bom indicador, mostrando-se diretamente relacionado com a

ocorrência de lesões na carcaça. No entanto, mais importante que a distância percorrida é a forma como

ocorre o manejo dos animais no pré-abate, pois a ocorrência de lesões na carcaça é resultante das más

práticas de manejo.

REFERÊNCIAS

1 GRANDIN, T. Assessment of stress during handling and transport. Journal of Animal Science,

75:249-257, 1997.

2 KNOWLES, T.G. A review of the road transport of cattle. Veterinary Record, 144 (8): 197-201, 1999.

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unloading. Veterinary Record, 26: 818-821, 2004.

4 ROMERO, M.P; SÁNCHEZ, J.V. Bienestar animal durante el transporte y su relación con la calidad de

la carne bovina. Revista Medicina Veterinária y Zootecnia Córdoba.17: 1, 2012.

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6 SMITH B.P. Tratado de medicina interna de grandes animais, Editora Manole, 1993, p. 415.

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slaughter and meat quality in pigs. Meat Science, 38: 329, 1994.

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CAPACIDADE PREDATÓRIA DE Duddingtonia

flagrans APÓS TRÊS ANOS DE ARMAZENAMENTO

Liliani Bandeira de Araújo1

Riciely Vanessa Justo1

Lucineide da Silva1

Hildene Andrey Zago Biavatti1

Daniela Reis Krambeck1

Larissa Arruda do Amaral1

Artur Kanadani Campos1.

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT – Predation of Duddingtonia flagrans after three years of storage. The gastrointestinal

parasites of goats and sheep, especially Haemonchus contortus, prejudice the production causing many

economic losses in various regions of Brazil. The development of anthelmintic resistance have limited the

success of gastrointestinal parasites control in small ruminant, and thus awakened the interest to study

alternatives methods. Biological control is an alternative method to reduce parasites population by the use

of natural antagonist. In the present study, in vitro efficacy of nematophagous fungus Duddingtonia

flagrans was tested to in vitro control of gastrointestinal nematodes parasites of sheep. Infective larvae of

Haemonchus sp. and Trichostrongylus sp. were inoculated in Petri dishes containing 2% water-agar plates

with fungus and control water-agar 2% without fungus. The predation of D. flagrans was satisfactory

after this time of storage.

INTRODUÇÃO

Haemonchus contortus é o helminto gastrintestinal mais prevalente em caprinos e ovinos e tem

sido o responsável por muitas perdas econômicas nas regiões de clima tropical, subtropical e semiárido do

Brasil [1,7,9].

Diante dessa realidade, pesquisas sobre controle biológico de helmintos têm ganhado

proporção principalmente, com emprego de fungos nematófagos [1]. Os fungos nematófagos

predadores são os mais estudados e atuam em culturas fecais contendo larvas de nematódeos [1,4].

O controle se baseia no aprisionamento da larva pelo fungo, com posterior destruição da mesma, e

tem alcançado 90% de sucesso no combate às larvas infectantes [4,1]. Estudam-se agora, espécies

de fungos que resistam à passagem pelo trato gastrintestinal a fim de garantir a ação na massa fecal

liberada pelo animal após a ingestão de formulações contendo esporos do fungo [1,4]. Entretanto, a

manutenção contínua da capacidade predatória de fungos nematófagos em condições de laboratório é um

dos requisitos básicos para um biocontrole bem sucedido [3].

Duddingtonia flagrans é um fungo predador, ou seja, ele só exerce ação nematófaga sobre larvas

em vida livre [5]. Para que seu efeito seja conhecido em várias condições ambientais, antes é necessário

estudar sua capacidade predatória in vitro. Para tanto, o objetivou-se avaliar a capacidade predatória de D.

flagrans, após 3 anos de armazenamento em Sílica-Gel, sobre larvas infectantes de tricostrongilídeos em

condições laboratoriais.

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METODOLOGIA

Foi utilizado o isolado brasileiro de fungo predador CG 768 que colonizava grãos de arroz

armazenados em tubo de ensaio, contendo sílica, à temperatura entre 4-8o

C, durante 3 anos. Preparou-se

o meio ágar-água 2% (20 g de ágar ágar em 1000 ml de água destilada q.s.p., pH 6,5) em Erlenmayers

que em seguida, foram esterilizados. Em capela de fluxo laminar, o meio foi depositado em placa de Petri

estéril de 6 cm de diâmetro. A placa contendo ágar-água 2% solidificado recebeu um grão de arroz

contendo o isolado CG 768 e foi mantida em estufa à 26o C, ao abrigo da luz, durante 30 dias. Após esse

período, 7 placas contendo ágar-água 2% foram inoculadas com fragmentos de ágar contendo material

fúngico, repicados a partir da placa contendo o fungo crescido, em capela de fluxo laminar.

Utilizaram-se larvas infectantes vivas pertencentes aos gêneros Haemonchus e Trichostrongylus,

armazenadas em tubos tipo Falcon contendo água destilada e mantidas sob refrigeração (4 – 8oC) durante

10 dias. Após a contagem das larvas em 5 alíquotas de 100 µL, obteve-se a média de 217 larvas/100 µL,

ou seja, 2.170 larvas/mL. Com base nessa quantidade, inocularam-se 1000 larvas em cada uma das 7

placas de Petri contendo o isolado CG 768 de Duddingtonia flagrans em meio ágar-água 2%. Outras 7

placas controle, contendo apenas ágar-água 2%, sem a presença de fungo, receberam 1000 larvas cada.

Todas as placas foram mantidas em estufa a 26oC durante 14 dias. Após esse tempo, as larvas foram

resgatadas através da Baermanização das placas.

Se 1 mL equivale a 10.(100 µL), obteve-se o número de larvas de cada placa através da equação N

= X . [v.(10)], onde “N” é o número de larvas existentes na placa, “ X ” é a média das larvas contadas em

5 alíquotas de 100 µL e “v” é o volume total, em mililitros, obtido da placa após a Baermanização. Após

esse cálculo, o número de larvas resgatadas nas placas controles ou tratadas, dividido pelo número de

placas (7) deu origem à média controle ( X controle) ou média tratada ( X tratada). Essas médias foram

aplicadas na equação R = 100. ( X controle - X tratado/ X controle), onde o resultado “R” é o percentual

de redução das larvas submetidas ao tratamento.

Aplicou-se o delineamento inteiramente casualizado e as médias aritméticas, do grupo controle e

tratado, foram submetidas à Análise de Variância e comparadas pelo teste de Tukey (α=0,05) através do

programa Assistat (versão 7.6 beta, 2012).

RESULTADOS

Duddingtonia flagrans reduziu significativamente, 77,11% das larvas dos gêneros

Trichostrongylus e Haemonchus em relação ao grupo controle. Sendo assim, nas placas controles,

23,24% das larvas sobreviveram e 76,76% morreram. Enquanto nas placas tratadas com D. flagrans,

5,32% sobreviveram e 94,65% morreram. A produção de armadilha por D. flagrans foi observada após 43

horas da deposição das larvas na superfície do ágar (Fig. 1).

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Figura 1. Larva de Haemonchus spp. capturada pela armadilha

(seta) do fungo predador Duddingtonia flagrans em meio ágar-

água 2%.

DISCUSSÃO

Mesmo armazenado durante 3 anos, o isolado CG 768 de Duddingtonia flagrans conservou sua

capacidade predatória sobre larvas de tricostrongilídeos, semelhante aos resultados obtidos por Braga et

al. (2011) [3] ao testarem os isolados AC 001 e CG 722 de D. flagrans armazenados em sílica-gel por

pelo menos 7 anos. Sendo assim, além da resistência aos processos digestivos dos ruminantes [5] e da alta

produção de clamidósporos [8], inferiu-se que o isolado CG 768 também apresenta longa viabilidade.

Tais características reforçam D. flagrans como a espécie mais promissora o biocontrole dos helmintos

gastrintestinais.

O percentual de redução obtido (77,11%) foi inferior aos percentuais descritos por outros autores

[6,3,10], pois a utilização de diferentes isolados do mesmo fungo em concentrações diferentes podem ter

diferentes resultados [2]. Isso evidenciada a necessidade de desenvolver trabalhos que mensurem o prazo

de validade ou viabilidade de isolados dessa espécie de fungo para garantir uma eficácia predatória.

A produção de armadilha por D. flagrans foi observada após 43 horas da deposição das larvas na

superfície do ágar pode ser explicada, segundo Araújo et al. (1993) [2] pelas diferenças inter e

intraespecíficas observadas na atividade dos fungos nematófagos predadores.

CONCLUSÃO

O isolado CG 768 de Duddingtonia flagrans apresenta viabilidade predatória após 3 anos de

armazenamento.

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REFERÊNCIAS

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1993.

3 BRAGA, F.R.; ARAÚJO, J.V.; ARAUJO, J.M.; TAVELA, A.O.; FERREIRA, S.R.; SOARES, F.E.F.;

BENJAMIN, L.A.; FRASSY, L.N. Influence of the preservation period in silica-gel on the predatory

activity of the isolates of Duddingtonia flagrans on infective larvae of cyathostomins (Nematoda:

Cyathostominae). Experimental Parasitology, 128: 460–463, 2011.

4 CAMPOS, A.K.; ARAÚJO, J.V.; GUIMARÃES, M.P. Interaction between the nematophagous fungus

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5 CRUZ, D.G.; CORDEIRO, R.C.; LOPES, A.J.O.; ROCHA, L.V.; SANTOS, C.P. Comparação da

eficácia de diferentes isolados dos fungos nematófagos Arthrobotrys spp. e Duddingtonia flagrans na

redução de larvas infectantes de nematoides após a passagem pelo trato digestivo de ovinos. Revista

Brasileira de Parasitologia Veterinária, 17(1): 133-137, 2008.

6 MACIEL, A.S.; FREITAS, L.G.; CAMPOS, A.K.; LOPES, E.A.; ARAÚJO, J.V. The biological control

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L.M.. Nematódeos resistentes a anti-helmíntica em rebanhos de ovinos e caprinos do estado do Ceará,

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8 MOTA M.A.; CAMPOS A.K.; ARAÚJO J.V. Controle biológico de helmintos parasitos de animais:

estágio atual e perspectivas futuras. Pesquisa Veterinária Brasileira, 23: 93-100, 2003.

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10 VILELA, T.F.F.; BRAGA, F.R.; ARAÚJO, J.V.; SOUTO, D.V.O.; SANTOS, H.E.S.; SILVA, G.L.L.;

ATHAYDE, A.C.R. Biological control of goat gastrointestinal helminthiasis by Duddingtonia flagrans in

a semi-arid region of the northeastern Brazil. Veterinary Parasitology (prelo), 2012.

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

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CISTICERCOSE BOVINA NA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO

Danielly Cristina Justo Lolatto1

Crhistian Marcelo de Oliveira Pachemshy2

Juliana Aparecida de Souza Pachemshy2

Manuel Pedro Figueiró d´Ornellas1

Riciely Vanessa Justo1

Daniela Reis Krambeck1

Artur Kanadani Campos1

Angelo Polizel Neto1.

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

2 Serviço de Inspeção Federal (MAPA), Sinop, MT, Brasil.

ABSTRACT - Bovine cysticercosis in the north of Mato Grosso. This research describes cysticercosis

occurrence in cattle slaughtered with Federal Inspection Service (SIF) supervision, in the north of Mato

Grosso. Were evaluated 656.361 bovines; of these, 429.139 were slaughtered in Sinop city, between 2008

and 2010; and 222.722 were slaughtered in Colider city, between August of 2011 and August of 2012. All

cattle were slaughtered in accordance with beef production and cysticercosis diagnostics were made by

post-mortem founds. Was observed 0.06% of animals as positive for cysticercosis; of these, 17.8% had

live cysticercus and 82.2% had calcified cysticercus. This study showed low cysticercosis occurrence in

cattle slaughtered with SIF supervision in the north of Mato Grosso state, and the calcified cases were

predominant.

INTRODUÇÃO

A cisticercose é uma doença parasitária com importância em saúde pública, causada pelos

cestódeos Taenia solium e Taenia saginata que são responsáveis pela teníase humana. No ciclo evolutivo

desses parasitos dois hospedeiros apresentam importância, sendo que o homem é o hospedeiro definitivo,

o qual alberga a fase adulta do parasito e desenvolve a teníase; e o bovino ou o suíno, o hospedeiro

intermediário, alberga a fase larval do parasito e desenvolvem a cisticercose [7].

O homem, ao ingerir cisticercos contidos em carne bovina ou suína crua ou malpassada,

desenvolverá a teníase e eliminará os ovos desse através de suas fezes, contaminando água e o solo. Os

animais se infectam através da ingestão de água e pastagens contaminadas pelas fezes humanas. No

entanto, o homem também pode contrair a cisticercose pela ingestão de ovos de Taenia sp contidos em

verduras e frutos consumidos crus e mal lavados, ou levados diretamente à boca através de mãos sujas. A

invasão da larva no sistema nervoso central em humanos constitui uma séria complicação [10].

A cisticercose é considerada uma zoonose endêmica, estando distribuída nos países em

desenvolvimento especialmente, nas áreas rurais [10]. No Brasil a média da prevalência estudada dessa

doença é de 2,982% e a metodologia de inspeção de carne por cortes e palpação em órgãos de predileção

tem sido a única medida disponível [1,5,6,8,9,11,12,13]. No entanto, informações acerca da prevalência

da cisticercose bovina nos diferentes municípios do Brasil são incipientes, mesmo se conhecendo que há

grande variação na distribuição da doença.

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20

Assim, objetivou-se fazer um levantamento da prevalência de cisticercose em bovinos da região

norte de Mato Grosso, abatidos sob Serviço de Inspeção Federal.

METODOLOGIA

Foram avaliados 656.361 bovinos abatidos na região norte do Mato Grosso. Sendo que 429.139

bovinos foram abatidos no município de Sinop, nos anos de 2008, 2009 e 2010 e 222.722 bovinos

abatidos no município de Colíder, de agosto de 2011 a agosto de 2012, ambos sob Serviço de Inspeção

Federal (SIF). Todos os animais foram abatidos conforme os padrões de produção para bovinos e o

diagnóstico para cisticercose, confirmado por exame post-mortem, realizado por Médicos Veterinários do

Serviço de Inspeção Federal.

O exame post-mortem para diagnóstico de cisticercose foi realizado conforme estabelecidos pelo

RIISPOA (Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal) [2], ou seja,

através de incisões nos músculos mastigadores (masséteres e pterigoideos), do diafragma, musculatura

intercostal, no coração, esôfago e língua. Foram quantificados os casos com presença de cisticercos vivos

e calcificados.

Após a tabulação dos dados, a taxa de prevalência da doença na região norte mato-grossense foi

calculada através da quantidade de casos existentes pelo número de animais avaliados.

RESULTADOS

Dos animais avaliados na região norte de Mato Grosso, 0,06% (399/656.361) apresentaram

cisticercose conforme a Tabela 1. Sendo 17,8% (71/399) de cisticercoses vivas e 82,2% (328/399) de

cisticercoses calcificadas.

Dos animais abatidos no munícipio de Sinop 0,079% (339/429.139) apresentaram cisticercose e

no município de Colíder 0,026% (60/222.722). Em Sinop, dos animais com cisticercose, 19,17% (65/339)

apresentaram cisticercos vivos e 80,83% (274/339) cisticercos calcificados. Já em Colíder, dos animais

com cisticercose, 10% (06/60) apresentaram cisticercos vivos e 90% (54/60) cisticercos calcificados.

DISCUSSÃO

Na região estudada é baixa a prevalência de cisticercose (0,06%), visto a variação encontrada na

literatura (Tab. 1) de 0,11% dos animais acometidos, como na região Leste de Mato Grosso [11], 18,75%

dos animais, como no Estado do Mato Grosso do Sul [1].

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21

Tabela 1. Prevalência de cisticercose bovina e densidade demográfica por região

avaliada, conforme a literatura.

UF Prevalência de

Cisticercose (%)

Densidade demográfica [3]

(hab/km2)

Referência

MT 0,11 3,36 [11]

MT 0,42 3,36 [6]

AL 0,65 112,33 [9]

MS 1,46 6,86 [6]

GO 1,51 17,65 [6]

BA 1,74 24,82 [12]

RS 1,09 39,79 [8]

RJ 1,95 365,23 [14]

PR 1,97 52,4 [6]

MG 2,18 33,41 [6]

SP 2,87 166,25 [6]

SP 3,23 166,25 [5]

PR 3,82 52,7 [13]

MS 18,75 6,86 [1]

Sabendo que os animais se infectam através da ingestão de água e pastagens contaminadas pelas

fezes humanas, vários fatores como a abrangência da coleta de esgoto refletem na prevalência da doença

em todo o país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [4], a abrangência da coleta de

esgoto sanitário está presente em apenas 45,7% dos municípios brasileiros, sendo a Região Sudeste com

maior abrangência (69,8%), a segunda Região a Centro-Oeste (33,7%), seguido pela Região Sul (30,2%),

Regiões Nordeste (29,1%) e Norte (3,5%), porém essa distribuição não é uniforme já que no município de

Colíder e Sinop não há sistema de esgoto.

A baixa prevalência de cisticercose na região norte de Mato Grosso ocorre pela baixa densidade

demográfica associada ao sistema de criação de bovinos, basicamente extensivo, com animais criados a

pasto, porém longe da sede de suas propriedades e distantes dos dejetos humanos o que reduz as fontes de

contaminação. Consequentemente, em regiões com alta densidade demográfica e escassa rede de esgoto,

associados à produção de animais confinados ou com acesso aos dejetos humanos possuem maior

prevalência da cisticercose (Tab. 1).

Nesta pesquisa ficou evidenciada uma maior ocorrência de cisticercos calcificados do que vivos, o

que é semelhante ao encontrado em levantamentos realizados em outras regiões [5, 9,13], quando foi

observada predominância em cisticercos calcificados.

Já que a verificação das lesões necessita da habilidade dos agentes de inspeção na verificação do

número de cisticercos presentes na carcaça esse procedimento pode não ser suficiente para detecção

efetiva de animais positivos para cisticercose. Além do mais, o abate clandestino é uma realidade em

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22

vários países, um problema de grande relevância [3]. Medidas preventivas devem ser empregadas, como o

tratamento de pessoas e animais infectados, maior abrangência na rede de esgoto e fornecimento de água

tratada, erradicação de abatedouros clandestinos e proibição da venda de produtos cárneos não

inspecionados a fim de evitar que ocorra o desenvolvimento do parasito, e consequentemente a teníase em

humanos.

CONCLUSÃO

A prevalência de cisticercose bovina em animais abatidos na região norte de Mato Grosso, sob

Serviço de Inspeção Federal é baixa, predominando os casos de cisticercose calcificada.

REFERÊNCIAS

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2 BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Regulamento de Inspeção Industrial e

Sanitária de Produtos de Origem Animal. Decreto nº 30.691, de 29 de março de 1952. Diário Oficial da

União, Rio de Janeiro, 07 de Julho de 1952.

3 BRASIL. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2010. Disponível

em: <http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=mt> Acesso em: 17 out. 2012.

4 BRASIL. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Abrangência dos serviços de

saneamento. Atlas de Saneamento 2011. 16p. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica

/populacao/condicaodevida/pnsb2008/default.shtm> Acesso em: 17 out. 2012.

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R.T.; CARVALHO, E.C.Q.; MENEZES, R.C. Caracterização das lesões por Cysticercus bovis, na

inspeção post mortem de bovinos, pelos exames macroscópico, histopatológico e pela reação em cadeia

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6 FERNANDES, J.O.M.; SILVA, C.L.S.P. BORGES, J.H.R.; PEGAIANE, J.C.; COELHO, R.V.

Prevalência da cisticercose bovina em animais abatidos em estabelecimento sob-regime de Inspeção

Federal no munícipio de Andradina-SP. Ciência Agronômica e Saúde, 2(1): 14-17, 2002.

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9 OLIVEIRA, A.W.; OLIVEIRA, J.A.C.; BATISTA, T.G., OLIVEIRA, E.R.A.; CAVALCANTI NETO,

C.C.; ESPÍNDOLA FILHO, A.M. Estudo da prevalência da cisticercose bovina no estado de Alagoas.

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10 PFUETZENREITER, M.R.; ÁVILA-PIRES, F.D. Epidemiologia da teníase/cisticercose por Taenia

solium e Taenia saginata. Ciência Rural, 30(3): 541-548, 2000.

11 RÖBL, A. A. B, MATOS R.G., KANO, F.S. Frequência da Cisticercose em Bovinos Abatidos sob

Serviço de Inspeção Estadual, Município de Barra do Garças - MT, Brasil. UNOPAR. Cient., Ciência

Biologia e Saúde. 11(3): 33-6, 2009.

12 SANTOS, V.C.R.; RAMOS, E.T.R.; ALMEIDA FILHO, F.S.; PINTO, J.M.S.; MUNHOZ, A.D.

Prevalência da cisticercose em bovinos a batidos sob inspeção federal no município de Jequié, Bahia,

Brasil. Ciência Animal Brasileira, 9(1): 132-139, 2008.

13 SOUZA, V. K.; PESSÔA-SILVA, M.C.; MINOZZO, J.C.; THOMAZ-SOCCOL, V. Regiões

anatômicas de maior ocorrência de cysticercus bovis em bovinos submetidos à inspeção federal em

matadouro-frigorífico no município de São José dos Pinhais, Paraná, de julho a dezembro de 2000.

Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. 16(2): 92-96. 2007.

14 PEREIRA, M.A.V.C.; SCHWANZ, V.S.; BARBOSA, C.G. Prevalência da cisticercose em carcaças

de bovinos abatidos em matadouros-frigoríficos do estado do rio de janeiro, submetidos ao controle do

serviço de inspeção federal (SIF-RJ), no período de 1997 a 2003. Arquivos do Instituto Biológico,

73(1): 83-87, 2006.

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24

COMPACTAÇÃO DO CONTEÚDO RUMINAL POR CORPO

ESTRANHO COMO CAUSA DE MORTALIDADE DE BOVINOS

Leonardo Pintar de Oliveira¹

Flávio Henrique Bravin Caldeira¹

Mayara Inácio Vincenzi da Silva¹

Camila Campos¹

Nadia Aline B. Antoniassi¹

Marcos de Almeida Souza¹

Fernando Henrique Furlan²

Edson Moleta Colodel¹

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

² Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil.

ABSTRACT – Rumen content compaction for foreign body as cause of death of Cattle. This paper

describes an outbreak of mortality in cattle by rumen compaction due to consumption of residues of

environmental rubbish from recyclable garbage dump located in the municipality of Varzea Grande, Mato

Grosso, Brazil. In a herd of 18 cattle, 6 died, showing clinical signs of apathy, weight loss, dehydration,

difficulty getting around, recumbency, and death. Three animals were necropsied and ruminal

compartment was filled with strange objects. The diagnostic of rumen compaction was based on

epidemiological and macroscopic findings.

INTRODUÇÃO

Bovinos não aparentam ter paladar com boa discriminação, têm lábios e línguas que são órgãos de

preensão com pouca sensibilidade e ainda adicionalmente podem estar submetidos a carências ou

privações nutricionais. Isso causa depravação de apetite, facilitando a ingestão de corpos estranhos [6]

que obstruem o tubo esofágico ou entram nos pré-estômagos [1, 8]. Há casos também de ingestão de

corpos estranhos que estão misturados ao alimento incluindo pastagem, silagem e feno, como fragmentos

de arame resultantes dos processos de enfardamento, pregos e grampos principalmente após construção

de cercas, currais e porteiras, que podem ser ingeridos incidentalmente pelos animais. [1].

No entorno de lixões urbanos é comum ocorrer contaminação ambiental, com predomínio de

sacos plástico [7]. O problema da ingestão de corpos estranhos quer acidentalmente, mesmo que por

condição de aberração do apetite, não está restrito aos ruminantes mantidos em condição de

domesticação. Ela pode ocorrer em outras espécies domésticas e selvagens, inclusive em não ruminantes

[1]. Corpos estranhos presentes no aparelho digestivo têm pouca importância clínica, mas assumem

significativo aspecto patológico se obstruir as comunicações entre os compartimentos gástricos [2],

causando impedimento de fluxo do cárdia com consequente bloqueio da eructação normal, acumulando

assim gás no lúmen do órgão, distendendo-o a grandes proporções. Pode também ocorrer obstrução de

outros orifícios compartimentais das câmeras digestivas dos ruminantes com as consequentes

complicações devidas à interrupção dos processos digestivos, levando a desnutrição e a desidratação [4].

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25

Em geral, os corpos estranhos metálicos e pontiagudos são retidos no rumem ou no retículo, mas podem

movimentar-se e perfurar a parede digestiva causando inflamações em órgãos adjacentes [9].

A eficiência na utilização de alimentos pelos pré-estômagos do ruminante depende de uma relação

complexa entre a fermentação microbiana e a motilidade. A motilidade dos pré-estômagos tem fator

primordial na fermentação, através das contrações ocorre mistura das camadas estratificadas dos

conteúdos permitindo acessibilidade dos microorganismos ao alimento [4]. Este processo envolve a

ingestão de quantidades e tipos apropriados de substrato alimentar e água, tamponamento através da

saliva, eructação, coordenação da motilidade retículo-ruminal para propiciar a mistura, ruminação,

manutenção da temperatura e trocas de eletrólitos e ácidos graxos voláteis através da parede ruminal. Esta

digestão alimentar fica comprometida quando há acumulo de alimento (compactação) não digerível nos

pré-estômagos levando assim a quadros de carência nutricional, desidratação e morte [10].

O objetivo deste trabalho é relatar um surto mortalidade de bovinos por compactação do conteúdo

do rumem com resíduo de lixão urbano que contaminava a pastagem o qual ocorreu no município de

Várzea Grande, Estado de Mato Grosso.

RELATO DE CASO

A propriedade possui 6 hectares e está localizada vizinha à área de deposito de lixo reciclável do

Município de Várzea Grande, sendo que essa proximidade o fator determinante à contaminação da

pastagem por resíduos, que incluía sacos de plásticos, tampa de garrafa, rede e chumbada de pesca, prego,

caco de vidro, madeira. Havia 15 bovinos na propriedade sendo que seis vacas morreram.

Clinicamente os animais apresentaram apatia, perda de peso, desidratação, dificuldade de se

locomover, decúbito, e morte. Foram necropsiados três bovinos incluindo um dos bovinos no qual foi

realizado rumenotomia, porém sem evolução clínica favorável.

Os achados de necropsia foram o rumem e retículo repleto com grande quantidade de sacos

plásticos, fragmentos de cordas, barbantes, redes, entremeadas ao conteúdo alimentar. Esse material

pesava aproximadamente 30 kg, adicionalmente havia no retículo prego, chumbada de pesca, tampa de

garrafa, vidro e chave, arames, mas não se notou, nos animais necropsiado, perfuração da parede dos pré-

estômagos (Fig. 1).

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26

Figura 1. Compactação do conteúdo do rúmen de bovinos por corpo estranho. (A). Repleçao

ruminal com lixo ambiental, melhor observado em (B) na qual nota-se um emaranhado contendo

grande quantidade de sacos plásticos, cordas, redes entremeados por escasso conteúdo ruminal.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Nos três casos o diagnóstico de compactação do conteúdo ruminal por lixo ambiental baseou-se

nos achados epidemiológicos, clínicos e macroscópicos. A grande quantidade de plástico encontrado no

rúmen ocupava o espaço da luz ruminal necessária para atividade digestiva alem de impedir a

movimentação ruminal e ainda dificultava a passagem de alimento para os demais compartimentos,

levando em conseqüência ao quadro de desidratação, anorexia e morte dos bovinos.

Neste caso a contaminação ambiental associada a lotação excessiva e falta de pastagem foram

considerados fatores determinantes para desfecho clínico. A presença desses corpos estranhos está ligada

eventualmente a situações acidentais, por habito próprio da espécie ou ainda deficiências nutricionais que

condicionam os animais a essas menor capacidade de seleção de alimentos. Disponibilização de pastagem

e suplementação adequada minimiza a ocorrência desses problemas, e previne o hábito de ingerir corpos

estranhos. [1]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 CARVALHO, P.R.; MARGHATO, L.F.F.; BALDASSI, L.; HIPOLITO, M.; PORTUGAL, M.A S.C.

Aberração do apetite em bovino. Vet. B. Méd. Vet., 10(2): 26, 1988.

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Buena Vista, Flórida, 1997, p.443-444.

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7 KOHLY. R.N.; NADDAF, H.; GHADROAN, A. Bovine indigestion due to chronic ruminal

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10 VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. Ithaca: Cornell University Press,1994,

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28

DESEMPENHO PRODUTIVO E QUALIDADE DE

CARCAÇA DE MESTIÇAS NELORE X ANGUS

Daniela Reis Krambeck

1

Riciely Vanessa Justo1

Danielly Cristina Justo Lolatto1

Fábio José Lourenço1

Paulo Sérgio Andrade Moreira1

Angelo Polizel Neto1

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT – Performance and carcass quality of cross heifers Nellore x Angus. The objective of

the experiment was to compare the genetic groups F1 Nellore x Angus (NAA) and F1 Nellore x Red

Angus (NRA) on the productive performance and carcass characteristics. For this, were used 41 heifers:

20 animals NAA and 21 animals NRA, with average initial weights of 305.25 kg and 274.25 kg

respectively, raised in the super precocious model biological finished in feedlot. The experiment was

done in the north of Mato Grosso state, where there is a warm and humid climate with regularity thermal

and short periods of drought. The animals were evaluated for final weight, gain of weigh daily, hot

carcass weight, dressing percentage, fat distribution and conformation. From the all animals, 20 were

evaluated for cold carcass weight, fat thickness and ribeye area. Through some of these data purchased,

were developed equations´ models to forecast the meat yield. The data were evaluated by analysis of

variance (ANOVA) and the results were compared by Fisher test at 5% of significance, using the software

R Development Core Team 2010. The NAA heifers were statistically superior to the heifers NRA

according to the performance, indicating the superiority of animals with pigmented skin and hair coat in

tropical environments. When compared to carcass characteristics, the NAA heifers were statistically

superior through the evaluations of ribeye area and fat thickness, but in other characteristics it did not

differ.

INTRODUÇÃO

O gado zebuíno está adaptado às condições climáticas brasileiras e, portanto sofre menor estresse

térmico. Como consequência, a maior porcentagem de genes zebuínos leva a menor maciez da carne [5].

Com a intenção de equilibrar a adaptabilidade com a qualidade da carne, existe a necessidade de cruzar

zebuínos com taurinos.

A raça Angus possui as variedades Aberdeen Angus e Red Angus, que possuem pelame de

coloração preta e vermelha, respectivamente. Essa coloração influencia na quantidade de radiação

efetivamente absorvida pelo corpo [4]. Consequentemente, uma maior ou menor radiação influencia no

bem estar e desempenho produtivo do animal.

Epidermes vermelhas apresentam coeficientes de transmissão da radiação ultravioleta mais

elevados que epidermes pretas [4]. Assim, animais de pelame preta são mais vantajosos produtivamente,

que os de pelame vermelha.

Para tanto, objetivou-se com o presente trabalho, comparar o desempenho produtivo e as

características de carcaça de fêmeas bovinas derivadas do cruzamento entre Angus e Nelore.

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29

METODOLOGIA

O experimento foi realizado em Sinop, norte de Mato Grosso, Brasil. Foram utilizadas 41 fêmeas

bovinas, contemporâneas, mestiças: 20 eram ½ Nelore x ½ Red Angus (NRA) e 21 eram ½ Nelore x ½

Aberdeen Angus (NAA). Essas fêmeas foram identificadas e submetidas ao modelo biológico

superprecoce com semi-confinamento durante 27 dias e confinamento por 80 dias.

No dia anterior ao abate os animais foram pesados. A maturidade dos animais foi avaliada através

da visualização da arcada dentária. Após o abate, as carcaças foram pesadas para a obtenção do peso de

carcaça quente (PCQ) em quilograma (kg).

A meia carcaça de 8 fêmeas NRA e 12 fêmeas NAA foi identificada. Em seguida, cada meia

carcaça foi avaliada segundo as variáveis conformação (cobertura muscular do traseiro) e acabamento

(quantidade de gordura na carcaça), mensuradas de acordo com escores (Tab. 1).

Tabela 1. Escores para avaliação qualitativa da conformação e acabamento da carcaça

de fêmeas bovina Nelore X Red Angus e Nelore X Aberdeen Angus.

Escore Conformação Acabamento

1 Convexo Ausência total de gordura ou magra

2 Sub-convexo Gordura escassa com 1 – 3 mm

3 Retilíneo Gordura mediana com 3 – 6 mm

4 Sub-retilíneo Gordura uniforme com 6 – 10 mm

5 Côncavo Gordura excessiva com mais de 10 mm

Após 24 horas de resfriamento, avaliaram-se a área de olho de lombo (AOL) e a espessura de

gordura subcutânea (EGS) em cada meia carcaça. Essas duas variáveis foram mensuradas sobre a secção

transversal do músculo Longissimus dorsi, entre a 12ª e a 13ª costelas. A EGS foi obtida em milímetro

(mm) com o uso de paquímetro e a AOL, em centímetro quadrado (cm2), com emprego de régua de

quadrante de pontos.

Os valores obtidos com as variáveis PCQ, AOL e EGS foram aplicados nas equações de Felício e

Allen (1982) [1], presentes na Tabela 2, para a obtenção da retalhabilidade (RET), carne aproveitável

total (CAT) e cortes comerciais brasileiros (CCB).

Tabela 2. Equações desenvolvidas por Felício e Allen (1982) para o cálculo da

retalhabilidade, carne aproveitável total e cortes comerciais brasileiros utilizando-se os

valores de peso de carcaça quente (PCQ), espessura de gordura subcutânea (EGS) e área

de olho de lombo (AOL).

Resposta (%) Equação

Retalhabilidade 52,06 – (0,019 . PCQ) – (0,365 . EG) + (0,094 . AOL)

Carne aproveitável total 72,92 – (0,020 . PCQ) – (0,489 . EG) + (0,119 . AOL)

Cortes comerciais brasileiros 60,33 – (0,015 . PCQ) – (0,462 . EG) + (0,110 . AOL)

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30

Os valores das variáveis foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA) e as médias

comparadas pelo teste de Fisher a 5% de significância, utilizando-se o Software R (R Development Core

Team, 2010).

RESULTADOS

Os resultados dos parâmetros de desempenho e de avaliação de carcaça estão apresentados na

Tabela 3.

Tabela 3. Médias seguidas pelo desvio padrão dos parâmetros de desempenho e de

avaliação de carcaça de novilhas Aberdeen Angus e Red Angus submetidas ao

crescimento biológico superprecoce.

Parâmetro Grupo Genético

Aberdeen Angus Red Angus

Peso inicial (kg) 305,25a ± 35,30 274,52

b ± 25,2

Peso final (kg) 418,00a ± 24,10 374,47

b ± 24,6

Ganho médio diário (kg) 1,05a ± 00,29 0,93

b ± 00,21

PCQ (kg) 214,35a ± 12,20 194,82

b ± 11,4

PCF (kg) 210,38a ± 12,80 192,65

b ± 11,5

Rendimento de carcaça (%) 49,66a ± 01,20 50,02

a ± 01,4

EGS (mm) 5,66a ± 01,6 4,09

b ± 01,2

AOL (cm2) 67,50

a ± 05,5 61,87

b ± 04,9

Acabamento (1-5) 2,80a ± 00,52 2,60

a ± 00,48

Conformação (1-5) 4,00a ± 00,0 3,90

a ± 00,3

RET (%) 56,23a ± 01,0 56,20

a ± 00,7

CAT (%) 73,86a ± 01,4 74,38

a ± 00,8

CCB (%) 65,05a ± 01,2 65,17

a ± 00,9

Médias seguidas de letras distintas na mesma linha diferem entre si pelo teste Fisher (P<0,05)

DISCUSSÃO

As fêmeas NAA apresentaram peso inicial, peso final, PCQ, PCF e ganho médio diário superiores

(P<0,05) em comparação com as fêmeas NRA. Considerando que os animais eram contemporâneos, o

maior peso inicial dos animais NAA mostrou-se vantajoso ao grupo ocasionado por maior desempenho na

fase de cria que pode ter sido decorrente do menor estresse ambiental proporcionado pela coloração

escura dos animais. Fêmeas NAA tiveram melhor desempenho que fêmeas NRA, ao contrário de machos

NAA que se igualam a machos NRA [2]. Portanto, o fator sexo influenciou no desempenho produtivo

desses mestiços.

Verificou-se a influência do tipo biológico no rendimento de carcaça (RC) dos animais. Porque

tanto para NAA quanto para NRA o RC foi igual (P>0,05). Da mesma forma, não houve diferença

estatística (P<0,05) entre os grupos genéticos para os critérios visuais de acabamento, conformação, RET,

CAT e CCB.

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31

Todas as fêmeas NAA apresentaram conformação subconvexa e a maioria das carcaças

apresentam cobertura de gordura uniforme. A EGS e a AOL dessas fêmeas foram superiores (P>0,05)

quando comparadas as fêmeas NRA. A AOL superior é decorrente de maiores PCQ e PCF [3].

A coloração da epiderme e da pelagem pode ter influenciado sobre as características de

desempenho superiores dos animais NAA (de coloração preta) com relação aos animais NRA (de

coloração avermelhada). Entretanto, são necessárias pesquisas em bioclimatologia para elucidar

questionamentos sobre o desempenho de bovinos mestiços em ambientes tropicais.

CONCLUSÃO

Fêmeas bovinas derivadas do cruzamento entre Nelore e Aberdeen Angus apresentam melhor

desempenho produtivo que fêmeas bovinas oriundas do cruzamento entre Nelore e Red Angus submetidas

ao modelo biológico superprecoce.

REFERÊNCIAS

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2000, p.134.

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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

32

DOENÇAS DE BOVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO (2009 – 2012)

Everson dos Santos Damasceno1

Evelyn Rezende Sanches Mendes1

Mayda Karine Mendes Cavalcante1

Regina Tose Kemper1

Diego Montagner Schenkel1

Kassia Renostro Ducatti1

Silvio César Soares Torres Junior 1

Fernando Henrique Furlan1

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT - Diseases of cattle in northern Mato Grosso (2009 - 2012). The diseases affecting cattle

in upstate Mato Grosso were analyzed by the staff of the Laboratory of Veterinary Pathology - Lapan

Federal University of Mato Grosso - Sinop UFMT campus between 2009 and 2012. During this period,

573 examinations were performed pets, with 380 necropsies (66.32%) and 193 histopathological

examinations (33.68%). Of these, 69 corresponded to examinations of cattle, 48 necropsies (69.56%) and

21 histopathological examinations (30.44%). The state of autolysis, the lack of history, collection of

samples and improper packing or shipping of insufficient material for analysis were the main causes of

inconclusive diagnoses. Infectious and parasitic diseases were the leading cause of death of cattle

(31.15%) highlighting the cases of malignant catarrhal fever and rabies. Toxiinfecções and toxic diseases

accounted for 27.87% of the diseases, and poisoning by Palicourea marcgravii and Brachiaria spp. major.

The tumoriformes lesions and neoplasms reached 19.67%. The other categories divided - as follows:

disorders caused by physical agents (4.92%), developmental disorders (3.28%), nutritional and metabolic

diseases (8.20%) and other disorders (4.92% ).

INTRODUÇÃO

A bovinocultura é um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial. O

Brasil é dono do segundo maior rebanho efetivo do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças. Além

disso, desde 2004, assumiu a liderança nas exportações, com um quinto da carne comercializada

internacionalmente e vendas em mais de 180 países [6]. O Estado de Mato Grosso possui 90,33 milhões

de ha de extensão, representando 11% da área total do território brasileiro e uma população bovina de

28,72 milhões sendo o maior rebanho do país [4].

Portanto se faz importante o estudo das enfermidades que afetam bovinos na região, para que o

potencial pecuário local seja alcançado. Seguindo essa linha de pesquisa, o Laboratório de Patologia

Animal da Universidade Federal de Mato Grosso campus de Sinop, LAPAN/UFMT - Sinop vem atuando

desde março de 2009 junto a veterinários de campo e produtores rurais no auxílio a diagnósticos, através

de necropsias e exames histopatológicos de bovinos da região norte do estado de Mato Grosso.

O conhecimento das principais doenças que afetam o rebanho bovino de uma região é fundamental

para que os veterinários de campo tenham em mãos uma lista de diagnósticos diferenciais a ser

considerada frente à determinada manifestação clínica, laboratorial ou anatomopatológica [5].

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

33

O objetivo desse estudo é relacionar as principais doenças diagnosticadas em bovinos na região

norte de Mato Grosso entre março de 2009 e agosto de 2012.

METODOLOGIA

Foram pesquisados os arquivos do LAPAN/UFMT - Sinop e examinados todos os laudos de

necropsia e exames histopatológicos de bovinos realizados entre março de 2009 e agosto de 2012. Esse

material era oriundo de necropsias realizadas pela equipe do LAPAN/UFMT - Sinop ou de materiais

enviados por veterinários a campo para realização de exame histopatológico. Casos experimentais foram

excluídos. Foram coletados os dados clínico-patológicos desses laudos. Estes exames foram classificados

em conclusivos, que apresentam diagnóstico definitivo; e inconclusivos, cujo diagnóstico não foi

concluído, sendo os casos com diagnóstico conclusivos classificados de acordo com a etiologia das

doenças em: distúrbios causados por agentes físicos; distúrbios circulatórios; distúrbios do crescimento;

doenças infecciosas e parasitárias; doenças metabólicas e nutricionais; doenças tóxicas e toxiinfecções e

neoplasias e lesões tumoriformes. As doenças que não se enquadraram nessas condições foram

classificadas como outros distúrbios.

RESULTADOS

Durante o período estudado, foram realizados 573 exames de animais domésticos, sendo 380

necropsias (66,32%) e 193 exames histopatológicos (33,68%). Destes, 69 corresponderam a exames de

bovinos, sendo 48 necropsias (69,56%) e 21 exames histopatológicos (30,44%). Sessenta e um casos

(88,41%) foram considerados conclusivos, sendo 42 necropsias (68,85%) e 19 exames histopatológicos

(31,15%); e inconclusivos em oito casos (11,59%), sendo seis necropsias (75%) e dois exames

histopatológicos (25%). Do total de 61 exames conclusivos, destacam-se principalmente casos de

botulismo, raiva, febre catarral maligna, intoxicação por Brachiaria sp. e intoxicação por Palicourea

marcgravii;

Os diagnósticos conclusivos foram classificados de acordo com a etiologia da doença, sendo três

distúrbios causados por agentes físicos (4,92%), dois distúrbios do desenvolvimento (3,28%), 19 doenças

infecciosas e parasitárias (31,15%), 5 doenças metabólicas e nutricionais (8,20%), 17 doenças tóxicas e

toxiinfecções (27,87%) e 12 neoplasmas e lesões tumoriformes (19,67%). Outros distúrbios totalizaram

três casos (4,92%) (Tab. 1).

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

34

Tabela1. Classificação das doenças diagnosticadas em bovinos no LAPAN/UFMT de

2009 - 2012 de acordo com sua etiologia.

Categoria da doença n %

Distúrbios causados por agentes físicos Distocia (33,33%) Politraumatismo (66,67%)

3

4,92

Distúrbios do desenvolvimento Artrogripose e anidroencefalia (50%) Osteocondrose (50%)

2 3,28

Doenças infecciosas e parasitárias Artrite bacteriana (10,53%) Broncopneumonia (5,26%) Broncopneumonia aspirativa (5,26%) Broncopneumonia gangrenosa (5,26%) Cervicite (5,26%) Dermatite (5,26%) Febre catarral maligna (5,26%) Hemoncose (10,53%) Linfadenite granulomatosa (5,26%) Manhemiose (5,26%) Miocardite linfocitária (5,26%) Miosite traumática crônica (5,26%) Peritonite sem causa definida (5,26%) Pneumonia viral sem causa definida (5,26%) Raiva (15,79%)

19 31,15

Doenças metabólicas e nutricionais Deficiência de vitamina E e selênio (20%) Divertículo esofágico (20%) Doença metabólica sem causa definida (20%) Hipocalcemia pós-parto (20%) Ruminite necrosante (20%)

5 8,20

Doenças tóxicas e toxiinfecções Botulismo (58,82%) Fotossensibilização hepatógena de causa desconhecida (29,41%) Intoxicação por Brachiaria decumbens ou B. brizantha (5,88%) Intoxicação por Palicourea marcgravii

17 27,87

Neoplasmas e lesões tumoriformes Carcinoma de células escamosas (16,67%) Carcinoma de glândula salivar (8,33%) Cistoadenoma biliar (8,33%) Colangiocarcinoma (8,33%) Feocromocitoma maligno com metástase pulmonar (8,33%) Hiperplasia bronquioalveolar e cirrose (8,33%) Melanoma (25%) Mixossarcoma (8,33%) Timoma (8,33%)

12 19,67

Outros distúrbios Estresse pós-traumático (33,33%) Hemorragia subepicárdica de causa desconhecida (33,33%) Paresia espástica (33,33%)

3 4,92

Total 61 100

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35

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Neste estudo, as doenças infecciosas e parasitárias foram a maior causa de morte de bovinos,

dados que estão em acordo com estudo semelhante realizado em bovinos na região Sul do Brasil [5],

sendo a raiva, uma enfermidade neurológica viral, invariavelmente fatal [6] e de caráter zoonótico; e a

febre catarral maligna, doença infecciosa, viral, pansistêmica, com distribuição geográfica ampla e

altamente fatal que pode ocorrer de forma esporádica, afetando poucos animais ou em forma de surtos

epizoóticos afetando vários bovinos em um mesmo rebanho [3].

Dentre as doenças toxicas e toxiinfecções, destacam se o número de casos de botulismo, uma

toxiinfecção causada pela toxina da bactéria anaeróbica Clostridium botulinum, que leva o animal a

paralisia progressiva motora e é uma das mais importantes enfermidades que acometem bovinos criados

principalmente de forma extensiva, geralmente está associada à osteofagia ou a intoxicação por

veiculação hídrica [2]; seguido da fotossensibilização hepatógena de causa desconhecida, doença que

acomete ruminantes e que se dá pela deficiência hepática de metabolizar subprodutos da clorofila,

principalmente a filoeritrina, substância fotodinâmica que ao se acumular nos tecidos provoca necrose de

hepatócitos periportais resultando em icterícia, fotossensibilização e hepatite, e geralmente está associada

a ingestão de Brachiaria spp. [8]. A intoxicação por Palicourea marcgravii ocorreu em forma de surto,

aonde aproximadamente 48 animais entre adultos e jovens vieram a óbito. A P. marcgravii também

conhecida como “cafezinho”, “café-bravo”, “erva-café”, “vick”, entre outras, é uma planta de ampla

distribuição nacional, de boa palatabilidade, dotada de elevada toxidez e que possui efeito acumulativo

[10]. É uma das plantas tóxicas de maior importância no Brasil, pertence ao grupo de plantas que causam

“morte súbita”, ou seja, intoxicações que se caracterizam por evolução geralmente superaguda, e os

sintomas podem ser provocados ou precipitados pela movimentação dos animais [11].

Os neoplasmas e lesões tumoriformes tiveram estatística considerável e com grande variedade de

diagnósticos, sendo a terceira maior causa de morte de bovinos neste estudo, destacando os casos de

carcinoma de células escamosas, que se caracteriza por ser um tumor maligno de queratinócitos que pode

ocorrer em todas as espécies e em diferentes áreas do corpo e podem estar associados a vários fatores,

como exposição prolongada a luz ultravioleta, falta de pigmento na epiderme, perda de pêlos ou cobertura

de pêlos muito esparsa nos locais afetados [9].

As outras doenças diagnosticadas nas demais categorias foram consideradas como casos

esporádicos geralmente associados a características individuais de cada animal ou lesões secundárias em

que não foi possível encontrar a causa primária.

Os principais fatores atribuídos ao número de diagnósticos inconclusivos foram o estado de

autólise em que se encontravam os animais no momento da necropsia devido a demora no acionamento

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

36

da equipe do laboratório, a falta de histórico, coleta e acondicionamento indevido das amostras ou envio

de material insuficiente para análise [1].

Estudos desse tipo são importantes em medicina veterinária, uma vez que possibilitam agrupar

dados clínicos, laboratoriais ou patológicos sobre determinada doença e assim determinar a prevalência

de uma enfermidade na região [1], podendo assim estabelecer medidas profiláticas com o intuito de

minimizar os prejuízos causados por essas enfermidades.

REFERÊNCIAS

1 DAMASCENO, E.S.; MENDES, E.R.S.; CAVALCANTE, M.K.M.; BALBINOT, M.; SCHENKEL,

D.M.; DUCATTI, K.R.; PADILHA, V.H.T.; FURLAN, F.H. Doenças em animais de produção no norte

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2010.

6 MARCOLONGO-PEREIRA, C.; SALLIS, E.S.V.; GRECCO, F.B.; RAFFI, M.B.; SOARES, M.P.;

SCHILD, A.L. Raiva em bovinos na Região Sul do Rio Grande do Sul: epidemiologia e diagnóstico

imuno-histoquímico. Pesquisa Veterinária Brasileira, 31(4): 331-335, 2011.

7 MAPA. Portal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Animal/Bovinos e Bubalinos.

Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/animal/especies/bovinos-e-bubalinos> Acesso em: 15 out.

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8 PORTO, M.R. Influência da exposição solar na intoxicação pó Brachiaria spp. em ovinos. Brasília,

GO, 2012. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias). Faculdade de Agronomia e Medicina

Veterinária: Universidade de Brasília.

9 RAMOS, A. T.; NORTE, D. M.; ELIAS, F.; FERNANDES, C.G. Carcinoma de células escamosas em

bovinos, ovinos e eqüinos: estudo de 50 casos no sul do Rio Grande do Sul. Brazilian Journal

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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

37

10 TOKARNIA, C.H.; DÖBEREINER, J. Intoxicação por Palicourea marcgravii em (Rubiaceae) em

bovinos no Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, 6(3): 73-92, 1986.

11 TOKARNIA, C.H.; PEIXOTO, P.V.; DÖBEREINER, J. Intoxicação experimental por Palicourea

marcgravii em (Rubiaceae) em ovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, 6(4): 121-131, 1986.

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

38

DOENÇAS DE OVINOS DA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO

Kassia Renostro Ducatti1

Diego Montagner Schenkel1

Everson dos Santos Damasceno1

Mayda Karine Mendes Cavalcante1

Evelyn Rezende Sanches Mendes1

Carina Zanatta1

Henry Coradi Schlich1

Fernando Henrique Furlan1.

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT - Diseases of sheep in northern Mato Grosso, Brazil. By searching the files of the

Laboratory of Animal Pathology (Lapan) from University of Mato Grosso (UFMT) and revised diagnoses

of sheep diseases occurred between 2009 and 2012. Were performed 36 autopsies and only one

histopathological examination. The cases were divided according to their etiology: 33 cases (89.19%) of

inflammatory diseases and parasitic diseases, 03 cases (8.11%) of nutritional and metabolic diseases, 01

case (2.70%) of toxic diseases and poisoning.

INTRODUÇÃO

Apesar de pouco expressiva, a ovinocultura no estado de Mato Grosso tem se tornado uma fonte

de renda alternativa para os pequenos produtores e também para os pecuaristas, uma vez que criam os

ovinos associados aos bovinos.

O objetivo do estudo foi relatar a freqüência das doenças de ovinos da Região Norte de Mato

Grosso. Para isso foram consultados os arquivos da LAPAN/UFMT em Sinop e compiladas as

informações referentes aos casos de doenças de ovinos entre 2009 e 2012.

METODOLOGIA

Foram pesquisados os arquivos do LAPAN/UFMT em Sinop e examinados os laudos de necropsia

e exames histopatológicos realizados entre 2009 e 2012. O material era oriundo de amostras enviadas por

veterinários que realizaram necropsia a campo para a realização do exame histopatológico ou de

necropsia feitas pela equipe do LAPAN/UFMT de Sinop. Os casos foram divididos segundo sua

etiologia: doenças inflamatórias e parasitárias; doenças metabólicas e nutricionais; doenças tóxicas e

toxiinfecções.

RESULTADOS

De todos os 573 exames realizados no LAPAN/UFMT de Sinop, 284 corresponderam a animais

de produção, do total de 235 diagnósticos conclusivos, 37 foram de ovinos (15,74%) destacando-se

hemoncose, pneumonias e colibacilose neonatal. Dentre os 37 casos, 33 (89,19%) eram de doenças

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

39

inflamatórias e parasitárias; 03 casos (8,11%) de doenças metabólicas e nutricionais; 01 caso (2,70%) de

doenças tóxicas ou toxiinfecções, apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Doenças de Ovinos diagnosticados no LAPAN-Sinop,

Universidade Federal de Mato Grosso, em 2009-2012.

Doenças Inflamatórias e Parasitárias Casos Percentual

Broncopneumonia aspirativa 2 5,41

Broncopneumonia fibrinosa 2 5,41

Broncopneumonia por Mycoplasma 1 2,70

Broncopneumonia supurativa 2 5,41

Ceratoconjuntivite 1 2,70

Colibacilose Neonatal 6 16,22

Colite leve 1 2,70

Ectima contagioso 1 2,70

Enterite sem causa definida 1 2,70

Hemoncose 12 32,43

Linfadenite caseosa 1 2,70

Pneumonia Enzoótica Ovina 2 5,41

Pneumonia enzoótica por Mycoplasma 1 2,70

Subtotal 33 89,19

Doenças Metabólicas e Nutricionais - -

Acidose Láctica 1 2,70

Hipotermia e Hipoglicemia 1 2,70

Polioencefalomalácia 1 2,70

Subtotal 3 8,11

Doenças Tóxicas e Toxiinfecções - -

Tétano 1 2,70

Subtotal 1 2,70

Total 37 100

A hemoncose (12 casos) e a colibacilose neonatal (06 casos) foram às doenças diagnosticadas com

maior freqüência na região norte de Mato Grosso durante o período estudado. Os casos de hemoncose

correspondem a 32,43% dos casos de doenças inflamatórias e parasitárias.

Os casos de colibacilose neonatal diagnosticados pelo LAPAN/UFMT -Sinop representaram

16,22% dos casos de doenças inflamatórias e parasitárias, tendo a segunda maior ocorrência de morte em

ovinos.

Como terceira maior ocorrência foram identificados 07 casos de broncopneumonia, cada uma

representada por dois casos de broncopneumonia aspirativa, broncopneumonia fibrinosa e

broncopneumonia supurativa (representando cada uma por 5,41 % de doenças inflamatórias e

parasitárias) e apenas uma (2,70%) de broncopneumonia por Mycoplasma.

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

40

Houve surto de ceratoconjuntivite (2,70%), pneumonia enzoótica por Mycoplasmpa (2,70%),

ectima contagioso dos ovinos (2,70%) e pneumonia enzoótica ovina (5,41%). Para colite leve, enterite

sem causa definida e linfadenite caseosa, houveram apenas casos isolados, cada um representando 2,70%.

No grupo de doenças tóxicas e toxiinfecções ocorreu apenas um caso de tétano, representando

2,70%.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

As doenças infecciosas e parasitárias foram a maior causa de morte nos ovinos da Região Norte de

Mato Grosso, estando de acordo quando comparados a outros trabalhos desenvolvidos na região Sul do

Brasil [7].

As doenças parasitárias, em especial a hemoncose, têm grande importância por causar um alto

número de perda de animais de produção e redução no potencial produtivo. Causada pelo nematóide do

gênero Haemonchus que se localiza no abomaso dos ovinos, a hemoncose tem como sinal cardeal a

palidez das mucosas e da pele [2].

A colibacilose neonatal, causada pela Escherichia coli, foi a segunda doença de maior ocorrência

na categoria de doenças inflamatórias e parasitárias. A infecção neonatal está associada a transtornos

nutricionais, por exemplo, a baixa ingestão de colostro [5].

Dentre as doenças metabólicas e nutricionais, foram identificados um caso (2,70%) de hipotermia

e hipoglicemia, um caso (2,70%) de polioencefalomalácia e um caso (2,70%) de acidose láctica. Devido

ao baixo peso no nascimento e condições adversas de temperatura há maior perda de calor e menores

reservas energéticas, levando a morte por hipotermia e hipoglicemia [5]. A polioencefalomalácia ou

necrose cerebrocortical é uma doença neurológica, não infecciosa que pode ser causada por alteração no

metabolismo da tiamina dentre outras causas. Os principais sinais clínicos são incoordenação, andar em

círculos, depressão, cegueira e opistótono [6]. A acidose láctica rumenal é um distúrbio metabólico grave

causado pela ingestão excessiva de carboidratos de fermentação rápida sem uma prévia adaptação dos

microorganismos [1].

Foi encontrado 01 caso (2,70%) de tétano, doença de ocorrência cosmopolita e acomete diversas

espécies, sendo caracterizada pela entrada da toxina do clostridium tetani presente no solo e nas fezes, se

beneficiando do ambiente anaeróbico de feridas profundas [4].

Estudos retrospectivos são importantes em medicina veterinária, pois possibilitam agrupar dados

clínicos, laboratoriais ou patológicos sobre determinada doença podendo assim determinar a prevalência

de uma enfermidade na região.

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

41

REFERÊNCIAS

1 AFONSO, J.A.B.; CIARLINI, P.C.; KUCHEMBUCK, M.R.G.; KOHAYAGAWA, A.; FELTRIN,

L.P.Z.; PINOTI CIARLINI, L.D.R.; LAPOSY, C.B.; MENDONÇA, C.L.; TAKAHIRA, R.K.

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7 RISSI, D.R.; PIEREZAN, F.; OLIVEIRA FILHO, J.C.; FIGHERA, R.A.; IRIGOYEN, L.F.;

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42

EFEITO DO JEJUM SOBRE A AÇÃO DO ALBENDAZOL EM BOVINOS

Fabiola Francisca Dias Fernandes1

Riciely Vanessa Justo1

Franciny Dias Fernandes2

Geferson Antonio Fernandes1

Suelen de Queiroz Neves1

Artur Kanadani Campos1.

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

2 Zootecnista autônoma.

ABSTRACT - Fastting effective about action albendazol in cattle. Were used twenty-four Nellore

crossbreed steers naturally infected for helminthes from Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, Brazil.

Twelve steers were submitted twelve hours fasting and others twelve were without fasting. Fecal samples

were collected in administration day albendazol and again in fourteenth day after administration. A statistical

difference observed among animals that have completed fasting relative animals without fasting. Evidenced

twelve hours fasting before administration albendazol promoted better action anthelmintic at steers.

INTRODUÇÃO

As endoparasitoses estão entre as principais causas de perda econômica na bovinocultura mundial,

prejudicando a eficiência produtiva dos animais [1]. O controle destes parasitos é basicamente,

fundamentado no uso de produtos químicos, sendo o uso equivocado, um dos principais deflagradores da

resistência aos mais variados grupos químicos [3,5]. Bem como a falta de orientação técnica e o fácil

acesso aos antiparasitários [4]. Portanto, o emprego do jejum para aumentar o período de ação do anti-

helmíntico, em concentração adequada para eliminar os endoparasitas, é uma estratégia farmacológica

aplicável [6].

Quando se utiliza determinado principio ativo a ocorrência da resistência é esperada, visto que se

inicia um processo de seleção nos organismos alvo os quais após exposições repetidas se tornam aptos a

resistir à ação do princípio ativo passando esta capacidade aos seus descendentes [5,1]. Estes fatores

associados culminam na redução da eficiência do tratamento e trazem como consequência o baixo retorno

econômico ao produtor [2]. Dessa forma, o jejum atua aumentando a biodisponibilidade do antiparasitário

para que menos parasitos portadores de genes para resistência possam sobreviver ao tratamento anti-

helmíntico [6]. Para tanto, objetivou-se avaliar o efeito do jejum sobre a ação anti-helmíntica do

albendazol contra endoparasitos em novilhos mestiços Nelore criados a pasto.

METODOLOGIA

Utilizaram-se 24 novilhos mestiços Nelore com idade média de 15 meses infectados naturalmente

por helmintos, oriundos de propriedades rurais de Chapada dos Guimarães, Mato Grosso. A distribuição

do tratamento foi inteiramente o acaso e os animais foram divididos em 2 grupos: 12 com jejum (AC) e

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43

12 sem jejum (AS). Antes de receber o anti-helmíntico, os animais do AC cumpriram um jejum de 12

horas. Após esse tempo, assim como os animais do AS, eles foram pesados. Durante a pesagem, coletou-

se uma amostra fecal diretamente da ampola retal, de cada animal para compor o grupo controle e logo

em seguida, cada animal recebeu albendazol (1mL/20kg) por via oral (Fig. 1). Na sequência, os 24

animais foram liberados para um piquete, onde permaneceram sob pastejo durante 14 dias. No último dia

(14o) no piquete, repetiram-se as coletas de fezes em cada animal para compor o grupo dos 12 animais

que cumpriram jejum (DC) e dos 12 sem jejum (DS).

Figura 1. Momento da administração de albendazol pela via oral.

Realizou-se a contagem de ovos por gramas de fezes (OPG) nas amostras de fezes obtidas antes

(dia zero) e depois (dia 14) da desverminação, segundo a técnica de Gordon e Whitlock (1939) [7], onde

cada ovo contado correspondeu a 100 ovos por grama de fezes e a técnica de coprocultura descrita por

Roberts e O´Sullivan (1950) [8]. A identificação das larvas foi feita seguindo os padrões estabelecidos

por Keith (1953).

A análise estatística foi realizada pelo programa Assistat (versão 7.6 beta, 2012). Realizou-se o

teste de Mann-Whitney (α=0,05) com correção de Zcalc no caso de dados iguais ou em uma ou nas duas

amostras, quando n2>20.

RESULTADOS

Não houve diferença significativa entre o OPG dos animais do AC e AS e entre o OPG do AS e

DS. Entretanto, houve diferença estatística entre o OPG dos animais do grupo DC em relação ao grupo

DS e, entre o OPG dos animais do grupo DC com AC (Tab. 1).

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44

Tabela 1. Valores (em OPG) obtidos pelo exame de Mac Master em 24 novilhos

mestiços na primeira contagem, antes do tratamento com albendazol

(1mL/20kg/via oral), no grupo controle AC (cumpriu jejum de 12 horas) e AS

(sem jejum) e, após 14 dias do tratamento, no grupo DC (com jejum) e DS (sem

jejum).

Repetições Grupos

AS DS AC DC

1 300 100 a

100 c 100

b d

2 0 100 a 1600

c 200

b d

3 16900 1300 a 300

c 100

b d

4 600 0 a 300

c 100

b d

5 0 300 a 100

c 0

b d

6 600 200 a 500

c 0

b d

7 100 300 a 1500

c 100

d b

8 1800 300 a 100

c 100

b d

9 100 200 a 300

c 0

b d

10 100 0 a 1000

c 0

b d

11 100 100 a 600

c 0

b d

12 100 200 a 200

c 0

b d

Números seguidos de letras diferentes na mesma linha (a ≠ b; c ≠ d) diferem estatisticamente entre

si segundo o teste de Mann-Whitney (α=0,05).

A coprocultura das amostras fecais controles revelaram a presença de Cooperia sp (65,22%),

Haemonchus sp (21,74%) e Tricostrongylus sp (13,04%). Já a coprocultura das amostras coletadas no 14o

dia após a administração de albendazol apresentaram Cooperia sp (35,82%), Haemonchus sp (35,82%) e

Trichostrongylus sp (28,36%).

DISCUSSÃO

As diferenças entre o grupo AC com o grupo DC e entre o DC em relação ao DS evidenciaram o

efeito significativo do jejum na redução do OPG. Isso sugere que o jejum de 12 horas promoveu

mudanças na farmacocinética do albendazol, aumentando sua biodisponibilidade e garantindo um efeito

melhor do que o observado quando não se cumpre o jejum antes da administração do anti-helmíntico pela

via oral. Sendo assim, o jejum de 12 horas representa uma ferramenta útil para favorecer a ação anti-

helmíntica do albendazol em bovinos, o que pode ser relevante quando se pensa no constante avanço da

resistência parasitária e na falta de perspectivas para o desenvolvimento de novas moléculas.

O correto seria aliar diversas formas de controle alternativo com a utilização dos produtos

químicos disponíveis [3] de forma a otimizar e reduzir ao máximo a utilização do anti-helmíntico

prevenindo o uso indiscriminado [4] e, consequentemente minimizando o problema da resistência. Frente

a esta situação e vislumbrando o possível desenvolvimento da resistência a diversas outras bases

químicas, a utilização do jejum pode ser aplicada como uma tática com ação positiva sobre a redução da

parasitose e retardo da resistência [6]. Entretanto, são necessárias novas pesquisas a fim de testar tempos

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diferentes de jejum aplicados à bases farmacológicas diferentes e o efeito desses resultados no

desenvolvimento da resistência parasitária nos rebanhos.

CONCLUSÃO

O jejum de 12 horas empregado antes da administração do albendazol promove melhor ação anti-

helmíntica em bovinos.

REFERÊNCIAS

1 FONSECA, A. H. 2006. Helmintoses Gastrointestinais dos ruminantes. Disponível em:

http://www.adivaldofonseca.vet.br. Acesso em: 26 out. 2012.

2 CEZAR, A.S. Alternativas farmacológicas para a resistência parasitária múltipla em rebanhos de

ruminantes: Uma nova abordagem. Santa Maria, RS, 2010. Dissertação (Mestrado em Medicina

Veterinária). Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária: Universidade Federal de Santa Maria.

3 BIANCHIN, I.; CATTO, J.B. 2008. Epidemiologia e alternativas de controle de helmintos em

bovinos de corte na Região Central do Brasil. Disponível em: <http://cnia.inta.gov.ar/helminto/Cong>

Acesso em: 15 out. 2012.

4 SOUZA, A.P. Resistência de helmintos gastrintestinais de bovinos a anti-helmínticos no Planalto

Catarinense. Ciência Rural, 38(5): 1363-1367, 2008.

5 LIMA, W.S. Controle das helmintoses dos bovinos. In: BRESSAN, M. Práticas de manejo sanitário

em bovinos de leite. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2000, p.65.

6 LANUSSE, C.E. Bases Farmacológicas da Resistência anti-helmíntica. Anais... 428p., 2006.

7 GORDON, H.M.; WHITLOCK, H.V. A new technique for counting nematode eggs in sheep faeces.

Journal Council Science Industry Research of Austrália, 12: 50- 52, 1939.

8 ROBERTS, F.H.S.; O´SULLIVAN, J.P. Methods for egg counts and larval cultures for strongyles

infesting the gastro-intestinal tract of cattle. Australian Journal of Agriculture Research. 1: 99-102,

1950.

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EFICIÊNCIA DE INSENSIBILIZAÇÃO DE

BOVINOS COM DOIS MODELOS DE PISTOLA

Alana Souza de Melo1

Nayara Nadja Souza Guimarães1

Manuel Pedro Figueiró d'Ornellas1

Danielly Cristina Justo Lolatto1

Fábio José Lourenço1

Angelo Polizel Neto1

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT – Stunning efficiency of beef cattle with two models of pistol. The aim of this study was

to evaluate the effect of two methods of slaughter stunning of cattle through penetrating captive bolt

pistol and captive bolt pistol no penetrating. The stunning efficiency was evaluated by the percentage of

animals desensitized with only one shot. And the sensitivity of animals after stunning was assessed basing

on the parameters for a good desensitization, among them are tongue protrusion, the absence of rhythmic

breathing, lack of eye reflexes eyelid and corneal and righting reflex. Were evaluated 200 females Rubia

Gallega, 100 of them stunned by penetrating pistol and 100 non-penetrating gun. During slaughter the

kind of gun did not affect the number of shots required for effective stunning, however the desensitization

using the piercing gun is more effective when compared to the use of non-penetrating gun.

INTRODUÇÃO

O Estado de Mato Grosso possui o maior rebanho bovino do Brasil, em 2011, nesse Estado foram

abatidos 4,3 milhões de cabeças, representando 20% do abate nacional, de tal modo contribuindo com a

eficácia da cadeia pecuária nacional [6].

Para garantir a presença no mercado é necessário seguir as exigências sanitárias nacionais e

internacionais, uma vez que os países importadores de carne bovina mato-grossense, e, sobretudo

brasileira, selecionam indústrias que se comprometem em produzir um produto de qualidade associado a

práticas de bem-estar animal.

O abate humanitário é caracterizado por um conjunto de técnicas e diretrizes que garantem o bem-

estar dos animais desde a recepção dos animais no abatedouro até a operação de sangria [1]. A

insensibilização é considerada a operação mais crítica durante o abate de bovinos, pois o animal deve

permanecer em estado de inconsciência até o final da sangria [9].

Quando ocorre uma efetiva insensibilização o animal sem consciência apresentará sinais, como

queda imediata, membros flexionados, ausência de respiração rítmica, leves espasmos musculares nos

membros, ausência de reflexo do globo ocular e nenhuma vocalização [4].

Os métodos de insensibilização para o abate humanitário são regulamentados pela Instrução

Normativa nº 3 [1], porém para insensibilização de bovinos o uso de pistola de dardo cativo penetrante e

não penetrante é comumente o mais utilizado.

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47

Assim, objetivou-se com esse trabalho avaliar a eficiência do processo de insensibilização de

bovinos com o uso de pistola de dardo cativo penetrante e não penetrante.

METODOLOGIA

No intuito de avaliar os procedimentos de insensibilização de bovinos, foi acompanhado o abate

de 200 fêmeas bovinas da raça Rúbia Gallega, com idade aproximada de 18 meses em um matadouro-

frigorífico no município de Colíder, Mato Grosso, sob Serviço de Inspeção Federal.

Os animais originários do município de São José do Xingú Mato Grosso, distante

aproximadamente 410 quilômetros da indústria, foram manejados e inspecionados nos procedimentos

ante mortem conforme estabelecidos pelo Serviço de Inspeção Oficial. Dos animais, 100 animais foram

insensibilizados com pistola de dardo cativo penetrante (USSS-1, JARVIS®), ajustada a uma pressão de

170psi; e 100 animais com pistola de dardo cativo não penetrante (USSS-2, 2ª, JARVIS®) a uma pressão

de 180psi.

Na contenção dos animais foi utilizado box de contenção metálico pneumático

(BEACKHAUSER®), dotado de parede lateral e piso móvel, guilhotina e elevador de cabeça, ajustável ao

corpo do animal, facilitando o posicionamento correto das pistolas de insensibilização utilizadas. O

disparo de atordoamento foi feito na região frontal do animal, no cruzamento entre as linhas imaginárias

formadas entre os olhos e inserção dos chifres.

De forma, a evitar diferenças operacionais, todos os animais pertenciam ao mesmo lote e foram

insensibilizados no mesmo dia, pelo mesmo operário treinado pela indústria. Após a insensibilização, os

animais foram içados e mantidos em trilho aéreo, para início do processo de sangria, conforme legislação

vigente.

Para classificação da eficiência da insensibilização, foi quantificada a porcentagem de animais

atordoados com apenas um único disparo e, considerado como Excelente, Aceitável, Não Aceitável e

Problemático, quando 99%, 95%, menos que 95% e menos que 90% dos animais foram insensibilizados,

respectivamente [5].

Para avaliação da eficiência de insensibilização foi observado na praia de vômito a presença ou

ausência dos seguintes sinais: reflexo ocular ao toque, reflexo de endireitamento - observando as

tentativas do animal de levantar o pescoço ou de readquirir sua posição de estação, respiração rítmica e

vocalização, adaptado de Grandin [5].

Para análise estatística foram produzidas tabelas de contingência 2x2 e os dados analisados

utilizando-se o Teste do Qui-Quadrado, pelo programa estatístico R Core Team (2012) [9] ao nível de 5%

de significância.

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48

RESULTADOS

Dos animais avaliados com o uso da pistola de dardo cativo penetrante 96% dos não apresentaram

sinais de consciência, já dos animais avaliados com o uso da pistola de dardo cativo não penetrante 87%

apresentaram sinais de consciência (Tab. 1).

Os parâmetros avaliados após o primeiro disparo com os dois modelos de pistolas estão

evidenciados na Tabela 1, de modo que, o tipo de pistola não interferiu no número de disparos necessários

para insensibilização (P>0,05), em que o uso de múltiplos disparos foi em 3% e 5% dos animais

insensibilizados com pistola de dardo penetrante e não penetrante, respectivamente.

Tabela 1. Avaliação dos parâmetros após o primeiro disparo com os dois modelos

de pistolas e eficácia da insensibilização

Parâmetros Modelo da Pistola de Insensibilização

Penetrante Não penetrante

Vocalização Ausente Ausente

Reflexo ocular Ausente Ausente

Reflexo de endireitamento Ausente 11

Respiração rítmica 4 2

Animais Insensibilizados (%)* 96a 87b

Animais Não Insensibilizados (%) 4 13

Uso de 2 ou mais disparos 3 5 *Letras minúsculas diferentes, na mesma linha, diferem estatisticamente em si (P<0,05).

DISCUSSÃO

A insensibilização de bovinos com o uso da pistola de dardo penetrante é mais efetiva quando

comparada ao uso da pistola de dardo não penetrante (P<0,05). Na utilização da pistola de dardo cativo

penetrante 97% dos animais receberam um único disparo o que representa uma boa insensibilização, e

conforme Grandin (2003) [5] é aceitável. Logo, Braga (2010) [2] obteve 77,5% de eficácia ao primeiro

disparo. Na insensibilização feita com uso da pistola de dardo cativo não penetrante 95% dos animais

receberam apenas um único disparo. Semelhante ao obtido por Santos (2009) [11], onde a avaliação da

eficácia ao primeiro disparo foi de 92,7%, porém Neves (2008) [8] observou resultados inferiores com

apenas 53,73%.

A baixa eficácia da insensibilização pode ser influenciada pela falta de manutenção dos

equipamentos, falta de treinamento dos funcionários e de supervisão do trabalho, além do o uso

inadequado do box de contenção [3].

Na avaliação da sensibilidade dos animais os resultados não foram satisfatórios, visto que dos

animais insensibilizados com pistola não penetrante, 13% apresentaram sinais de consciência na praia de

vômito. Já Santos (2009) [10], observou que 6% dos animais apresentaram algum sinal de consciência e o

resultado obtido nesta pesquisa apresentou-se duas vezes maior. Essa alta porcentagem pode estar

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relacionada ao despreparo do funcionário em realizar a insensibilização de modo correto, aliado a baixa

manutenção do Box de Contenção e das pistolas utilizadas.

Já o uso da pistola de dardo cativo penetrante mostrou- se mais eficiente, pois apenas 4% dos

animais apresentaram sinais de sensibilidade. Concordando com Gomide et al (2006) [4], que afirmaram

que o método de dardo cativo penetrante é considerado mais eficiente, porque leva o animal a

inconsciência imediata devido à concussão cerebral e quando o dardo atravessa o crânio do animal em

alta velocidade e força, provoca injúrias no sistema nervoso central devido ao efeito dilacerante e ao

aumento da pressão interna.

Entretanto, na comparação dos números de animais que receberam múltiplos disparos com a

quantidade de animais consciente na praia de vômito, foi observada uma não conformidade com as

diretrizes, pois foram reconhecidos 4 animais com sensibilidade com o uso de pistola de dardo penetrante

e 13 animais com uso de pistola de dardo não penetrante, porém, foram observados apenas 3 e 5 animais,

respectivamente, insensibilizados com múltiplos disparos, demonstrando a necessidade de maior

treinamento dos funcionários para o reconhecimento de animais mal insensibilizados.

CONCLUSÃO

A insensibilização de bovinos com o uso da pistola de dardo penetrante é mais efetiva quando

comparada ao uso da pistola de dardo não penetrante.

REFERÊNCIAS

1 BRASIL. Instrução Normativa Nº. 03/00. Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização

para o Abate Humanitário de Animais de Açougue. 2000. Disponível em: <http://extranet.agricul

tura.gov.br/silegisconsulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=1793> Acesso em: 12

set. 2012.

2 BRAGA, J.S.; Diagnóstico do grau de bem-estar de bovinos em abatedouros municipais e

estaduais no Brasil. Curitiba, PR, 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias). Setor de

Ciências Agrárias: Universidade Federal do Paraná.

3 GALLO, C.; TEUBER, C.; CARTES, M.; URIBE, H.; GRANDIN, T.; Mejoras em La insensibilizacion

de bovinos con pistola pneumática neumática de proyectil retenido trás câmbios de equipamiento y

capacitacion del personal. Archivos de Medicina Veterinária, 35(2): 159-170, 2003.

4 GOMIDE, L.A.D.M.; RAMOS, E.M.; FONTES, P.R. Tecnologia de Abate e Tipificação de

Carcaças. Viçosa: UFV, 2006, p.51-54.

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5 GRANDIN, T. Recommended Animal Handling Guidelines & Audit Guide:A Systematic

Approach to Animal Welfare. Disponível em: <http://www.animalhandling.org/ht/a/GetDocument

Action/i/80011 > Acesso em: 21 set. 2012.

6 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Resultados do 4º trimestre e acumulado no ano

de 2011 das Pesquisas Trimestrais do Abate de Animais e Produção de Leite, Couro e Ovos.

Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=

2107&id_pagina=1> Acesso em: 09 maio. 2012.

7 MORAES, L.S. Bem Estar Animal Aplicado a bovinocultura de Corte. Monografia. Universidade

de Castelo Branco, Fátima do Sul, 2008.

8 NEVES, J.E.G. Influências de métodos de abate no bem-estar e na qualidade da carne de bovinos.

Jaboticabal, SP, 2008. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Faculdade de Ciências Agrárias e

Veterinária: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho.

9 R Core Team (2012). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for

Statistical Computing, Vienna, Austria. ISBN 3-900051-07-0.

10 ROÇA, R.O. Abate humanitário de bovinos. I Conferência Virtual Global sobre produção Orgânica

de Bovinos de Corte, 2002. Disponível em: <http://www.cpap.embrapa.br/agencia/congressovirtual/

pdf/portugues/02pt03.pdf> Acesso em: 12 set. 2012.

11 SANTOS, E.M. Abate Humanitário. Monografia. Instituto Quallitas, Cuiabá, Mato Grosso, 2009.

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51

FASCIOLOSE BOVINA NA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO

Mauro Sergio Adams1

Crhistian Marcelo de Oliveira Pamcheshy2

Juliana Aparecida de Souza Pamcheshy2

Danielly Cristina Justo Lolatto1

Daniela Reis Krambeck1

Riciely Vanessa Justo1

Artur Kanadani Campos1

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

2 Serviço de Inspeção Federal (MAPA), Sinop, MT, Brasil.

ABSTRACT – Fascioliasis in cattle slaughtered in slaugterhouse at Sinop, Brazil. This research

describe fascioliasis first occurrence in cattle slaughtered in Sinop-MT in the period between January of

2009 and May of 2012 in a slaughterhouse. The data provided by the Federal Inspection Service (SIF).

The fascioliasis diagnostics were made by necropsy, corresponding to the presence of parasites (Fasciola

hepatica) in the liver of animals. Although climatic conditions are not favorable for the development of

the parasite, was evidenced the presence of the parasite in animals of Mato Grosso state, more exactly in

the city of Juara, showing the precarious diagnosis ante mortem and the not importance given or

published about the incidence of parasite in the state. Thus, the real importance of fascioliasis in the

region should be studied.

INTRODUÇÃO

A fasciolose é uma zoonose que acomete os animais domésticos e silvestres, dentre esses os

bovinos, podendo causar grandes perdas na produtividade e na qualidade da carne [1]. A doença possui

caráter cosmopolita, mas, no Brasil, sua maior importância é relatada na região sul e sudeste, devido às

condições edafoclimáticas favoráveis [2]. A proliferação da doença é favorecida em áreas alagadas, pois

os parasitas têm como hospedeiros intermediários os moluscos ou caramujos do gênero Lymnaea. O

excesso de umidade é favorável para o crescimento dos moluscos, bem como as temperaturas entre 10°C

e 15°C [8].

Com o presente trabalho, objetivou-se avaliar a frequência de Fasciola hepatica em bovinos

abatidos em um matadouro-frigorífico sob o Serviço de Inspeção Federal (SIF), localizado em Sinop,

Mato Grosso, Brasil.

METODOLOGIA

Os dados foram coletados através da consulta ao Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de

Inspeção Federal (SIGSIF) conciliado com os dados arquivados pelo SIF 3348. Consideraram-se os

abates ocorridos em um matadouro-frigorífico (SIF 3348), localizado em Sinop, durante o período de

janeiro de 2009 a março de 2012.

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52

Os dados contabilizados correspondiam aos achados macroscópicos correspondentes à presença de

Fasciola hepatica no fígado dos animais através da inspeção pelo médico veterinário responsável no

Departamento de Inspeção Final (DIF).

Com base em levantamentos de 2002 a 2011 em outras regiões, onde em 234.566 bovinos

abatidos condenaram-se 28.234 fígados com F. hepatica [2,3,6,12], adotou-se a frequência esperada de

12,04%. Os desvios entre as frequências esperada e observada foram testados por Qui-quadrado (P=0,01)

através da equação de Pearson 2= [(o - e)

2 /e], onde “o” é a frequência observada e “e” é a frequência

esperada, através do programa SAS (versão 9.0).

RESULTADOS

O ano de 2010 não foi considerado para os cálculos, por não apresentar casos positivos. Os

desvios da frequência observada em 2009, 2011 e 2012 foram significativos em relação à frequência

esperada, portanto a frequência observada em cada ano avaliado não atingiu a frequência esperada (Tab.

1).

Tabela 1. Frequência de formas adultas de Fasciola hepatica, registrada pelo Serviço de

Inspeção Federal entre Janeiro de 2009 e 31 de março de 2012 em 423.200 bovinos procedentes

de diferentes municípios do Mato Grosso. O ano de 2010 não foi considerado para os cálculos,

por não apresentar casos positivos.

Ano Animais

abatidos

Sorologia Frequência

observada

2 P

+ -

2009 162.526 1 162.525 0,0007903 1.187.341,11* <0,0001

2011 190.205 23 190.182 0,0120922 1.389.188,71 <0,0001

2012 70.469 2 70.467 0,0028381 514.788,47 <0,0001

Total 423.200 26 423.200 0,00614 3.091.318,29 <0,0001 * H0 = proporção (+:-) = (12,04:87,96).

Com base nos dados do SIF, foi possível observar que todos os casos positivos envolveram

bovinos provenientes do município de Juara, localizado a uma latitude 11º15'18" sul e a uma longitude

57º31'11" oeste, no Mato Grosso. Os 26 casos positivos apresentaram exemplares adultos de F. hepatica

parasitando o fígado dos bovinos (Fig. 1).

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

53

Figura 1. A) Fígado condenado em frigorífico com ducto biliar espessado devido à presença da Fasciola hepatica

adulta. B) Fígado condenado apresentando vários exemplares de F. hepatica em estágio adulto. Fotografias de

PACHEMSHY e PACHEMSHY (2011).

DISCUSSÃO

Esse foi o primeiro relato de fasciolose em bovinos na região de Sinop, norte do Mato Grosso.

Aproximadamente, 87 anos após o primeiro relato de fasciolose bovina no Brasil em 1925, no Rio Grande

do Sul [11]. Isso revela o atraso científico existente em algumas regiões do Brasil em relação aos grandes

centros. O emprego apenas do exame macroscópico para a detecção de F. hepatica, a investigação apenas

em necropsias dentro de frigoríficos e a ausência de exames laboratoriais contribuem para esse atraso no

diagnóstico da fasciolose.

A prevalência observada em bovinos oriundos de Juara evidenciou que essa área geográfica

apresenta condições favoráveis ao desenvolvimento e multiplicação dos caramujos e dos parasitos

trematódeos em vários estágios de desenvolvimento. Entretanto, a baixa prevalência em relação ao

descrito por outros autores [2,3,6,12] permite considerar o fato desses casos serem alóctones. Isso

significa que seriam animais comprados, provenientes de zonas endêmicas e que a posteriori foram

abatidos. Porém, a Guia de Trânsito Animal não possibilita levantar a exata procedência desses animais.

Como recomendação deve-se adquirir animais provenientes de áreas endêmicas somente com

laudo negativo para fasciolose, a fim de evitar o desenvolvimento da doença no Mato Grosso e uma

possível adaptação por seletividade. É importante notificar os pecuaristas proprietários de animais com

fasciolose para controlar e prevenir a doença.

Diante deste relato, fica evidenciada a importância de se realizar estudos epidemiológicos no

município de Juara, a fim de impedir a disseminação do caramujo e a evolução da doença.

CONCLUSÃO

A fasciolose ocorre em bovinos oriundos de Juara e medidas de controle devem ser tomadas para

evitar a evolução dessa doença no estado de Mato Grosso.

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54

REFERÊNCIAS

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56

INDUÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE RESISTÊNCIA À

INTOXICAÇÃO POR Amorimia pubiflora (Malpighiaceae) EM OVINOS

Mayara Inacio Vincenzi da Silva

1

Marciel Becker1

Leonardo Pintar de Oliveira1

Flávio Bravin Caldeira1

Edson Moleta Colodel1

1Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT - Induction and transfer of resistance by intoxication Amorimia pubiflora

(Malpighiaceae) in sheep. Amorinia pubiflora popularly known as “suma” is most important poising

plants in the Midwest of Mato Grosso State, Brazil, causing “sudden death” in cattle due to the presence

of monofluoracetate. The objective of this work was inducing the resistance to poising Amorimia

pubiflora through oral daily administration of plant subdoses for a group of sheep and from tranfaunation

of ruminal fluid of this group, transfer rumen microorganisms with capacity to cause resistance in sheep

that did not have previous contact with the plant comparing the results to a control group that receive

toxic dose without previous adaptation or resistance transference. Sheep were moved 6-8 hours after plant

administration, for 10 minutes, and subsequently evaluated clinical picture, based on cardiac and

respiratory frequency. The results obtained confirm that sheep have the capacity to develop resistance to

consumption of Amorinia pubiflora, believing that the selection of the rumen microorganisms that

degrade the acid monofluoracetate is the cause this resistance, evidencing by transfaunation of rumen

contents from resistant to susceptible sheep.

INTRODUÇÃO

As plantas tóxicas podem ser classificadas de acordo com a botânica, princípios tóxicos e quadro

clínico e patológico que provocam. Levando-se em conta as alterações clínicas e lesionais destacam-se no

Brasil plantas tóxicas de interesse pecuário que causam “mortes-súbitas”, ou seja, causam morte

superaguda de animais de interesse pecuário, sem que se notem alterações morfológicas significativas [8-

10], sendo as famílias Rubiaceae, Bignoniaceae e Malpighiceae as mais conhecidas, nesta última, destaca-

se o gênero Amorimia, tendo cinco espécies comprovadamente tóxicas, a A. rigida, A. septentrionalis, A.

pubiflora, A. exotropica e A. amazonica. A Amorimia pubiflora, (anteriormente Mascagnia pubiflora) é

uma das plantas tóxicas mais importantes nas regiões Centro-oeste, Sudeste (Minas Gerais, São Paulo,

Goiás e Rio de Janeiro) [10] e Nordeste (Bahia) [4] e apresenta duas variedades conhecidas, uma que tem

folhas glabras e outra que são pilosas causando nesta, aspecto prateado à brotação, usando-se o termo

cipó-prata para designação popular da planta [10-11-12]. Na Região norte de Mato Grosso ocorre a forma

lisa, a qual é conhecida como ”suma”. Sob condições naturais a única espécie animal em que se constatou

a intoxicação por A. pubiflora foi a bovina [5-11]. No Mato Grosso do Sul, A. pubiflora é responsável por

surtos de morte súbita durante o período de janeiro, março, maio, novembro e dezembro (período

chuvoso), porém a toxidez tem-se mostrado maior entre setembro e novembro, quando a planta está em

brotação. A dose letal das folhas frescas é de aproximadamente 5g/kg/PV e no final da época de chuva,

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com as folhas maduras, a dose é de 20 g/kg/PV. Em nossos estudos (dados não publicados) constatamos

que a dose tóxica para ovinos, foi de 3g/kg/PV. A planta tem efeito cumulativo sabendo-se que o

consumo da dose tóxica em 5 repetições com intervalo diário, causa morte dos ovinos. O quadro clínico

da intoxicação cursa com taquicardia, cansaço, ingurgitamento da veia jugular, tremores musculares,

contrações bruscas, decúbito esternal que evolui para lateral, além de quedas súbitas [5-7], sendo causado

pelo ácido monofluoracético, que por meio da técnica de cromatografia liquida foi confirmado presente

nessa planta [4]. A movimentação dos animais é um fator importante para desencadeamento de sinais

clínicos [3]. O objetivo deste trabalho foi induzir a resistência ao consumo de Amorimia pubiflora através

da administração oral diária da dose tóxica da planta (0,5g/kg/PV) e transferir resistência pela

transfaunação de líquido ruminal proveniente de ovelhas resistentes a outras que não consumiram

previamente essa planta.

METODOLOGIA

Amorimia pubiflora foi coletada no município de Colniza-MT nos meses de outubro e dezembro,

sendo armazenada sob refrigeração (4-8°C) por um período máximo de 30 dias. Foram utilizados 12

ovinos da raça Santa Inês, fêmeas com idade entre 1 e 2 anos. Formou-se três grupos, Grupo 1 (n=4),

Grupo 2 (n=5) e o Grupo Controle (n=3). Durante o experimento receberam adicionalmente feno de

alfafa, ração comercial e água ad libitum. Os ovinos foram pesados antes de cada fase do experimento

para o cálculo de dose de planta a ser administrada. Realizaram-se exames clínicos diários em todos os

ovinos, avaliando-se frequência cardíaca, respiratória e ruminal duas vezes ao dia, para acompanhamento

clínico e para obtenção de dados comparativos antes e durante a fase de indução/transferência de

resistência e desafio. Os ovinos foram movimentados diariamente por 10 minutos, 6 a 8 horas após a

administração de planta. Para os animais do Grupo 1 foram administradas por via oral, 0,5g/Kg/PV de

folhas de Amorimia pubiflora durante 20 dias, o que correspondeu a fase de indução à resistência, seguido

de um intervalo de descanso de 15 dias e a fase de desafio recebendo 1g/Kg/PV da planta durante 3 dias

consecutivos. Posteriormente liquido ruminal dos Ovinos do Grupo 1 foi coletado por sonda esofágica,

para realizar transfaunação em ovinos do Grupo 2. Cada ovino do Grupo 2 recebeu diariamente 100 ml de

liquido ruminal recém coletado, durante 15 dias. Posteriormente esse Grupo foi submetido ao desafio

recebendo 1g/kg/PV de folhas de Amorimia pubiflora por três dias consecutivos, seguido de um intervalo

de três dias e novo desafio com 3g/Kg/PV da planta em uma única administração. O Grupo Controle

recebeu a dose de 3g/kg/PV de folhas frescas de Amorimia pubiflora por via oral em uma única dose.

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RESULTADOS

Dois dos quatro ovinos do Grupo 1 apresentaram sinais de intoxicação (arritmia cardíaca,

ingurgitamento da veia jugular, cifose e andar rígido), sendo interrompido o fornecimento da planta por 2

dias para um e o outro não recebeu a planta por sete dias não consecutivos, onde a administração da dose

era suspensa até a estabilização do quadro clínico deste ovino e em seguida retomava-se a fase de

indução. Durante o desafio do Grupo 1 dois ovinos apresentaram sinais de intoxicação (os mesmos que

apresentaram sinais clínicos na fase de indução), mas todos sobreviveram ao desafio. Os ovinos do Grupo

2 após a fase de transfaunação, passaram pelo desafio (1g/kg/PV por 3 dias e 3g/kg/PV em dose única)

sem demonstrar sinais clínicos de intoxicação e não apresentaram diferenças significativas de frequência

cardíaca entre o primeiro e o segundo desafio (Tab. 1). Todos os ovinos do Grupo Controle morreram

após a administração de 3g/kg/PV.

Tabela 1. Indução e transferência de resistência à intoxicação por Amorimia pubiflora

(Malpighiaceae) em ovinos. Comparativo das médias de frequência cardíaca dos ovinos

do Grupo 2 durante a fase de transferência de resistência a intoxicação por Amorimia

pubiflora (transfaunação de líquido ruminal) e 6h após o segundo desafio (3g/kg/PV

em dose única) com as médias de frequência cardíaca do Grupo Controle antes do

desafio e 6h após a administração de 3g/kg/PV em dose única.

Ovino

Grupo 2 Frequência Cardíaca (batimentos por minuto)

Média FC durante o período

de transferência de resistência

(transfaunação ruminal)

FC após 6h da administração de

3g/kg/PV em dose única (segundo

desafio)

1 98 140

2 73 128

3 73 184

4 74 190

5 68 180

Ovino

Controle Média FC antes do desafio

FC após 6h da administração de

3g/kg/PV em dose única

1c 88 208

2c 84 244

3c 80 248

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

O resultado obtido neste experimento demonstra que a dose única de 3g/kg/PV de folhas de A.

pubiflora causa a morte de ovinos, que a ingestão repetida de doses não tóxicas de A. pubiflora aumenta a

resistência de ovinos à intoxicação por essa planta e que esta resistência pode ser transferida por

transfaunação de fluido ruminal coletado de ovinos resistentes. O princípio tóxico de A. pubiflora é o

ácido monofluoracético [2], acreditando-se que essa resistência ocorra devido a aumento da microflora

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bacteriana do rúmen que degrada o MFA. Trabalhos demonstram que há bactérias isoladas do rúmen de

animais criados em lugares sem plantas que contenham MFA, o que sugere que as mesmas ocorrem

naturalmente no rúmen dos animais e a administração de subdoses de A. pubiflora favorece o crescimento

e multiplicação, aumentando a resistência dos animais à intoxicação [9]. Demonstrou-se que estas

bactérias podem ser transferidas por transfaunação do conteúdo ruminal, de um animal resistente para um

susceptível [1-6].

Em conclusão, este estudo sugere que é possível aumentar a resistência de ruminantes à

intoxicação por espécies de Amorimia sp quando esses animais consomem doses que não são letais e que

essa resistência pode ser transferida, por transfaunação de líquido ruminal de animais resistentes para os

não resistentes, possibilitando desenvolver alternativas para reduzir perdas por intoxicação A. pubiflora

em animais de interesse pecuário.

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61

INFECÇÃO POR Escherichia coli EM LEITÕES EM FASE DE CRECHE

Geovanny Bruno Gonçalves Dias1

Raquel Aparecida Sales da Cruz1

Leticya Lerner Lopes1

Flavio Henrique Bravim Caldeira1

Marcos de Almeida Souza1

Caroline Argenta Pescador1

Edson Moleta Colodel1

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT – Escherichia coli infection in piglets in the nursery phase. Six swine were necropsied in

a property in the Region of Mato Grosso. Tissue fragments were collected and fixed with buffered

formalin 10% and the hematoxylin-eosin sections were submitted to histopathology examination. Swine

DNA samples were extracted from tissue fragments and submitted to nested PCR detection of

Brachyspira sp. and Lawsonia intracellularis. The Escherichia coli infection is a disease that usually

occurs in young pigs, transmission occurs by ingestion of bacteria and environmental maternal origin,

symptoms are yellowish watery diarrhea and your course is fast, dehydration and death usually occurs

within 4 to 24 hours. The Escherichia coli infection affected six swine, that became clinically sick in

September 2012 and expressed signs as severe dehydration and yellowish watery diarrhea, containing

food remains undigested. Two animals showed no significant lesions in any system. Four animals showed

lesions, and the lesions were concentrated mainly in the large intestine: multifocal mononuclear

inflammatory infiltrate in the lamina propria associated with multifocal mild dilatation of crypts.

INTRODUÇÃO

As infecções entéricas de origem bacteriana em suínos têm importância crescente e são

freqüentemente observadas em diferentes faixas etárias. Essas infecções podem levar a altas taxas de

morbidade e de mortalidade, entretanto, as maiores perdas estão relacionadas a seqüelas no trato

gastrintestinal [1]. Essas lesões podem ser permanentes ou transitórias, resultando em expressivo atraso

no crescimento, na redução da eficiência alimentar e no custo com tratamentos e alimentação adicionais.

Essa enfermidade é responsável por um grande impacto na produção de suínos em todo o mundo [2],

respondendo por 60% dos gastos com antimicrobianos na suinocultura atual [2;3] e aproximadamente

30% das perdas econômicas na suinocultura atual [4].

A Escherichia coli é um constituinte normal da flora intestinal de suínos, sendo que algumas cepas

possuem maior ou menor patogenicidade para os suínos [5;6]. Doenças associadas à infecções por E. coli

incluem diarreia e toxemia causada por cepas toxigênicas e colibacilose causada por cepas invasivas [7].

As lesões características se apresentam com um incremento no número de leucócitos na lâmina própria. E

em alguns casos pode ser vista necrose com marcada infiltração de neutrófilos. Pode ser aparente

hemorragia ocasional na lâmina própria da mucosa intestinal [8;9]. Outros agentes bacterianos, em menor

prevalência também têm sido envolvidos em casos de enteropatias, tais como a Brachyspira (B.)

hyodysenteriae, B. pilosicoli e Salmonella sp.[10].

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A Lawsonia intracellularis é uma bactéria obrigatoriamente intracelular que mais comumente está

associado a uma doença denominada enteropatia proliferativa em suínos. É uma doença que afeta porções

do íleo e em alguns casos o intestino grosso. A L. intracellularis afeta as células da mucosa

gastrointestinal, especificamente as células da cripta, resultando em perda da estrutura vilosa normal das

áreas afetadas, o que resulta em má-absorção [11].

Bactérias do gênero Brachyspira são comensais do intestino grosso de várias espécies animais e

do homem. Em suínos, duas espécies são consideradas patogênicas: Brachyspira hyodysenteriae, que

causa uma diarreia muco-hemorrágica severa conhecida como “Disenteria suína”; e Brachyspira

pilosicoli, que causa uma diarreia mucoide de baixa gravidade, não hemorrágica, conhecida como “Colite

espiroquetal suína”. As lesões causadas por B. hyodysenteriae e B. pilosicoli são limitadas ao ceco e cólon

[12;13;14]. Estas eventualmente podem ultrapassar a barreira epitelial pelo espaço intercelular e, nas

camadas da submucosa, serem visualizadas fora das células, dentro de macrófagos ou de capilares [15].

Com o passar do tempo, persistem no lúmen das criptas do cólon, que se mostra dilatado e cheio de muco

[16,17]. O reparo do dano superficial ao epitélio é caracterizado por hiperplasia das células das criptas

com concomitante depleção de células caliciformes, alongamento da coluna das criptas e aumento no

número de células mononucleares na lâmina própria [15,16,17].

O objetivo deste trabalho foi relatar e descrever os aspectos epidemiológicos, clínicos e

patológicos da infecção por Escherichia coli em leitões na fase de creche e ressaltar a importância do

diagnóstico histopatológico para casos assim em relação aos testes moleculares e isolamento de agente

etiológico.

RELATO DE CASO

No dia 15 de setembro de 2012 foi realizada uma visita técnica e monitoria patológica em uma

granja comercial localizada na região norte do Estado de Mato Grosso. Nesta, havia um quadro clínico-

patológico de diarreia e mortalidade na fase de creche. A taxa de mortalidade por galpão foi de 111 suínos

(4.62%), de um lote de 2400 com aproximadamente 85 dias de idade. Os suínos apresentavam quadro de

acentuada desidratação e diarreia líquida amarelada contendo restos da dieta não digeridos. Durante a fase

em que os animais apresentaram os primeiros sinais, estes foram medicados via ração com amoxicilina, e

durante o surto, com o acréscimo de colistina. Durante a monitoria patológica foram necropsiados 6

animais, sendo 4 encontrados mortos e 2 eutanasiados.

Na necropsia verificou-se durante o exame externo que todos os suínos tinham bom estado

corporal, mas aparentavam desidratação e com volume abdominal diminuído. O conteúdo do intestino

delgado e grosso (IG) era líquido, amarelado, e continha restos da ração mal digeridos.

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Foram coletadas amostras de encéfalo, pulmão, coração, fígado, rim, estômago, intestino delgado,

intestino grosso e baço em formalina tamponada a 10% para exame histopatológico (Hematoxilina/eosina

e coloração de prata) e encaminhadas ao Laboratório de Patologia Veterinária/UFMT. Amostras de

intestino delgado e grosso também foram coletadas sob refrigeração para isolamento microbiológico e

identificação molecular (reação de cadeia polimerase – PCR para Lawsonia sp. ou Brachyspira sp.) nos

Laboratórios de Microbiologia/UFMT e Biologia molecular/UFMT, respectivamente.

No exame microscópico observou-se que 4/6 suínos apresentaram lesões predominantemente no

intestino grosso, e nenhuma outra lesão significativa foi verificada. E em 2/6 suínos não se observou

nenhuma lesão.

As alterações microscópicas no inestino grosso consistiram em infiltrado inflamatório

mononuclear multifocal na lâmina própria associada à dilatação multifocal das criptas, com agregados

basofílicos semelhantes a bastonetes sobre o epitélio de revestimento, deposição de material amorfo-

eosinofílico na luz das criptas e células caliciformes tumefeitas. Não houve marcação na coloração de

prata.

Em 2/6 amostras refrigeradas de IG isolaram-se colônias puras de Escherichia coli. E 3/6 amostras

avaliadas nos testes moleculares comprovou a presença de Lawsonia intracellularis e de Brachyspira sp.

Baseado nos achados epidemiológicos, clínico-patologicos, microbiológicos e moleculares dos

animais necropsiados pode-se concluir tratar-se de uma infecção de Escherichia coli pós-desmame.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

O quadro clínico-patológico de diarreia na fase de creche na suinocultura é bastante comum e

pode ser desencadeado por diversos agentes patológicos [20], e os múltiplos fatores de risco

desencadeantes [21, 22].

No presente relato verificaram-se as condições mencionadas acima. Estas favoreceram a

ocorrência do surto de infecção por E. coli. Foram identificados três fatores decisivos, que,

provavelmente tenham causado distress nos animais e assim desencadeado o surto: mudança na estratégia

de uso dos promotores de crescimento (colistina), granulometria dos grãos e a formulação da dieta.

O diagnóstico de infecção por E. coli foi baseado na lesão microscópica e no isolamento

bacteriológico. A detecção molecular de Lawsonia intracellularis e de Brachyspira sp. por PCR foi um

resultado importante, no entanto, não houve lesões microscópicas que determinassem sua ação patológica,

e não houve marcação na coloração de prata que seriam resultados esperados destes agentes. Portanto, os

animais são portadores e fontes de infecção de Lawsonia intracellularis e de Brachyspira sp nesta granja.

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64

Outro suporte importante para o diagnóstico foi o efeito obtido com o retorno e acréscimo da dose

de colistina durante o surto. Com isso houve a remissão dos sinais clínicos e uma melhora significativa

nos animais.

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2010. Tese (Doutorado em Ciência Animal). Pós-Graduação em Ciência Animal: Universidade Federal

de Minas Gerais.

11 LAWSON, G.H.K.; GEBHART, C.J. Proliferative enteropathy: review. Journal of Comparative

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12 ANDREWS, J.J.; HOFFMAN, L.J. A porcine colitis caused by a weakly beta hemolytic treponeme.

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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

65

13 JACQUES, M.; GIRARD, C.; HIGGINS, R.; GOYETTE, G. Extensive colonization of the porcine

colonic epithelium by a spirochete similar to Treponema innocens. Journal of Clinical Microbiology,

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14 TAYLOR, D.J. Spirochetal diarrhea. In: LEMAN, A.D.; STRAW, B.E.; MENGELING, L.;

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15 DUHAMEL, G.E. Colonic spirochetosis caused by Serpulina pilosicoli. Large Animal Practice, 19:

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16 THOMSON, J.R.; SMITH, W.J.; MURRAY, B.P. Investigations into field cases of porcine colitis

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17 THOMSON, J.R.; SMITH, W.J.; MURRAY, B.P.; MCORIST, S. Pathogenicity of three strains of

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3700, 1997.

18 FAIRBROTHER, J.M.; GYLES, C.L. Postweaning Escherichia coli Diarrhea and Edema Disease. In:

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20 MORÉS, N. et al. Fatores de risco associados aos problemas dos leitões na fase de creche em rebanhos

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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

66

INTOXICAÇÃO POR Palicourea marcgravii EM 48 BOVINOS

EM PORTO DOS GAÚCHOS, MATO GROSSO, BRASIL

Fernando Henrique Furlan

1

Evelyn Rezende Sanches Mendes1

Everson dos Santos Damasceno1

Mayda Karine Mendes Cavalcante1

Diego Montagner Schenkel1

Silvio César Soares Torres Junior1

Regina Tose Kemper1

Kassia Renostro Ducatti1

¹ Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT - Poisoning Palicourea marcgravii in 48 cattle in Porto dos Gauchos, Mato Grosso,

Brazil. We describe an outbreak of poisoning by natural Palicourea marcgravii in 33 cattle and 15 calves

on a farm in the municipality of Porto dos Gauchos, northern Mato Grosso, Brazil. The animals showed

the same clinical and pathology of sudden death without previous signs of illness. At necropsy there was

no significant macroscopic findings. Histologically, was identified vacuolation of epithelial cells of the

kidney tubules. These results associated with the finding of the plant with signs of consumption show that

the deaths in the property located in the municipality of Porto dos Gauchos, Mato Grosso, were caused by

poisoning Palicourea marcgravii.

INTRODUÇÃO

Palicourea marcgravii (Rubiaceae) é a planta tóxica mais importante para bovinos no Brasil

devido a sua extensa distribuição, boa palatabilidade, alta toxidez e efeito acumulativo [1]. Esta é

reconhecida comunmente por nomes populares de “erva-de-rato”, “cafezinho” e “roxa”. Anualmente

morre, estimativamente, um milhão de bovinos por ação de plantas tóxicas no Brasil [4]. Na região

amazônica, onde morre a metade dos bovinos vitimados por plantas tóxicas no Brasil, ela é responsável

por aproximadamente 80% de todas as mortes causadas por intoxicações por plantas. Convém ressaltar

que as plantas tóxicas são a causa mais importante de mortes de bovinos adultos nessa extensa região [1].

A Palicourea marcgravii, é amplamente distribuída, encontrada em quase todo o Brasil. Outras

plantas e grupo têm distribuição geográfica bem limitada [2]. Sobrevive em áreas com sombra,

portanto, em pastagens limpas dificilmente é encontrada. Normalmente habita áreas de sombra, pastos

recém-formados e beiras de mata. Os animais ingerem a planta de forma espontânea, mesmo quando tem

acesso ao pasto indicando que é altamente palatável.

O objetivo deste trabalho foi descrever um surto de intoxicação espontânea por Palicourea

marcgravii em Porto dos Gaúchos no Norte de Mato Grosso, Brasil.

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67

RELATO DE CASO

Em março de 2012 foi realizada visita a uma propriedade rural com criação extensiva de bovinos

de corte localizada no município de Porto dos Gaúchos, no estado do Mato Grosso, Brasil. A anamnese

e o histórico foram obtidos de relatos dos funcionários e proprietário da fazenda. Nesta havia oitocentos

animais onde aproximadamente 33 bovinos adultos e 15 bezerros morreram de forma ‘’súbita’’ após

serem movimentados. O laboratório de patologia animal da UFMT, campus Sinop, (LAPAN) durante a

visita observou que as pastagens onde esses estavam inseridos permaneciam com grande quantidade da

planta e sinais de consumo.

RESULTADOS

Clinicamente, após serem movimentados e estressados parte dos animais do rebanho

apresentavam tremores musculares e incoordenação. Foi realizada a eutanásia de um animal que

apresentava os sinais mais evidenciados. À necropsia não foram observados achados macroscópicos

significativos. O exame microscópico revelou áreas multifocais de vacuolização no epitélio tubular renal.

O miocárdio apresentava áreas multifocais de necrose de coagulação associado à infiltrado leve de

macrófagos.

DISCUSSÃO

O diagnóstico de intoxicação por Palicourea marcgravii nos bovinos se baseou nos achados

epidemiológicos, ocorrência de “morte súbita”, bovinos que estavam em pastagens com grande

quantidade de P. marcgravii com sinais de consumo e na ausência de outras plantas na propriedade

capazes de causar o mesmo quadro clínico, sinais clínicos e alterações patológicas encontradas [2].

As mortes dos bovinos ocorreram de forma esporádica, no período de um mês após o proprietário

ter mudado os animais de pasto onde tinha sombra, a beira da mata [2].

Os achados macroscópicos ausentes ou pouco visíveis são comunmente relatados [2].

Histologicamente os sinais observados nestes casos foram semelhantes aos descritos nas intoxicações por

outras plantas que causam “morte súbita” [2] e por monofluoroacetato [3,5]. A vacuolização dos túbulos

renais deste bovino corrobora com dados que diz sobre degeneração hidrópico-vacuolar das células

epiteliais, em especial, dos túbulos contorcidos distais, com evidente picnose nuclear na maioria dos

bovinos estudados [2].

O miocárdio apresentava áreas multifocais de necrose de coagulação associado à infiltrado leve de

macrófagos indicando infarto do miocárdio agudo, citados em diversas literaturas como mecanismo

compensatório para gerar energia visto que o ciclo de Krebs foi interrompido devido ao princípio tóxico

da Palicourea marcgravii, o ácido monofluoracético. Uma vez ingerido, o composto é convertido em

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68

fluorocitrato, que inibe a aconitase, enzima responsável pelo desdobramento do citrato, do que resulta a

interrupção [2].

O método mais eficaz para evitar a intoxicação por Palicourea marcgravii é o estabelecimento de

um diagnóstico preciso dos casos, identificação a campo da planta com indícios de consumo e dos sinais

clínicos relatados pelo proprietário na região.

REFERÊNCIAS

1 TOKARNIA, C.H.; DÖBEREINER, J.; SILVA, M.F. Plantas tóxicas da Amazônia a bovinos e

outros herbívoros. Manaus: INPA, 1979, 95 p.

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Helianthus, 2012, 586p.

3 NOGUEIRA, V.A. et al. Intoxicação experimental por monofluoroacetato de sódio em bovinos:

aspectos clínicos e patológicos. Pesquisa Veterinária Brasileira, 30(7): 533-540, 2010.

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Uruguai: importância econômica, controle e riscos para a saúde pública. Pesquisa Veterinária

Brasileira, 21(1): 38-42, 2001.

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monofluoroacetato de sódio em ovinos. Pesquisa Veterinária. Brasileira, 30(12): 1021-1030, 2010.

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69

MÉTODO FAMACHA NO CONTROLE DE

HELMINTOSES GASTRINTESTINAIS EM CAPRINOS

Mylena Ribeiro Pereira1

Antônio Marcos Guimarães2

Maria da Graças Carvalho Moura e Silva2

Marcos Ferrazani Pedroza2

Fábio José Lourenço1

Artur Kanadani Campos1

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

2 Universidade Federal de Lavras.

ABSTRACT- This study was carried out in Lavras, Minas Gerais State, Brazil to evaluate the Famacha

method as an auxiliary strategy for the control of the parasite Haemonchus contortus in goats. A total of

12 female goats infected by parasites were assessed. Haematocrit and Famacha score were measure in 14

days intervals and fecal egg count (FEC) were applied in 30 days intervals. During the experiment the

efficiency of the active principles levamisol hidrochloride, abamectina, levamisol fosfate and doramectina

were evaluated. There was parasite resistance to all tested anthelmintic. The main genus identified in the

coprocultures was Haemonchus (80%) followed by Trichosrongylus (15%) and Cooperia (5%).

Sensitivity of Famacha method for detecting anemic animals was 91.38%.

INTRODUÇÃO

As helmintoses constituem um dos principais fatores sanitários limitantes ao desenvolvimento da

caprinocultura. Tradicionalmente, o controle destas enfermidades é realizado com a utilização de

fármacos anti-helmínticos. A utilização destes produtos de forma indiscriminada e sem critérios resultou

no surgimento de cepas de parasitos resistentes a grande parte dos princípios ativos disponíveis [1].

Neste sentido, estudos têm sido realizados em busca de alternativas para a manutenção da eficácia dos

fármacos antiparasitários [2].

O método Famacha©

foi desenvolvido na África do Sul [7], e constitui uma importante alternativa

de controle a ser integrada ao controle de parasitos em pequenos ruminantes.

Este método permite identificar, por meio da coloração da mucosa, animais que apresentem

diferentes graus de anemia, frente à infecção por Haemonchus contortus, o que possibilita o tratamento de

forma seletiva, sem a necessidade de recorrer a exames laboratoriais. Desta forma, a medicação é

administrada apenas àqueles indivíduos que apresentarem sinais clínicos da hemoncose [3]. Este

procedimento mantém uma população sensível no ambiente denominada refugia, mantendo a eficácia dos

anti-helmínticos por um período maior e retardando o aparecimento de resistência parasitária [4].

Objetivou-se com este estudo avaliar a viabilidade do método Famacha©

na detecção e controle do

parasitismo por Haemonchus contortus e verificar a eficácia de abamectina, doramectina, cloridrato e

fosfato de levamisol no controle de endoparasitoses em caprinos.

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70

METODOLOGIA

Foram utilizadas doze cabras mestiças Saanen X Boer X Mambrina, em diferentes faixas etárias,

naturalmente infectadas por parasitas gastrintestinais e mantidas em regime semi-intensivo e alimentadas

no cocho com capim-napier (Pennisetum purpureum) picado, além de sal mineral e água ad libitum.

No início do experimento (dia -1), antes da aplicação de anti-helmíntico, foram coletadas amostras

de fezes das cabras dos grupos I (Famacha©

) e II (Tradicional), para determinação da contagem de ovos

por grama de fezes (OPG). Posteriormente, as amostras de fezes para o OPG foram coletadas diretamente

da ampola retal das cabras a cada 30 dias.

As amostras positivas eram submetidas à coprocultura e as larvas, recuperadas pelo método de

Baermann, foram identificadas seguindo chaves específicas.

No dia do experimento, todas as cabras receberam tratamento a base de Doramectina 1%. Ao

longo do período experimental foram utilizados também Abamectina, Cloridrato e Fosfato de levamisol.

O percentual de eficácia dos anti-helmínticos foi avaliado pela seguinte fórmula:

% Eficácia = OPG (antes do tratamento) – OPG (após o tratamento) x 100

OPG (antes do tratamento)

Baseado no resultado do teste, o anti-helmíntico foi considerado como eficiente quando reduziu a

contagem de OPG em mais de 95%.

Para a realização do hematócrito, a cada 14 dias, amostras de sangue das cabras foram coletadas

por meio da punção da veia jugular em tubos de vidro de 10 mL contendo anticoagulante e o volume

globular (VG) foi determinado por meio da técnica de micro-hematócrito.

As análises dos valores do hematócrito e do OPG em função dos tratamentos foram realizadas por

meio de comparações Bayesianas.

Os valores de sensibilidade e especificidade do Famacha® foram obtidos em uma tabela de

contingência.

RESULTADOS

Na Figura 1, estão representados os resultados das médias mensais de OPG.

Nas coproculturas, Haemonchus spp (80%) foi o nematódeo mais frequente entre os caprinos,

seguido de Trichostrongylus spp. (15%) e Cooperia spp. (5%), observados durante os seis meses de

duração do período experimental.

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71

Figura 1. Médias mensais de OPG ao longo dos meses de experimento

O resultado dos testes de eficácia de anti-helmínticos está descrito na Tabela 1.

Tabela 1. Resultado da eficácia (%) de anti-helmínticos utilizados ao

longo do período experimental.

Anti-helmínticos Eficácia (%) Erro Padrão (%)

Fosfato de Levamisol 46,28 8,48

Doramectina 45,52 11,13

Abamectina 40,09 9,27

Cloridrato de

Levamisol

24,14 8,76

Usando o critério estabelecido pelo cartão Famacha em que Ht≤22% (animais de escore 3, 4 e 5),

foi obtido um resultado de 90 observações realizadas sendo verdadeiro positivo e 8 observações se

apresentando como falso negativo, obtendo um valor de sensibilidade de 91,83% e especificidade

(valores de Ht>22% com escore 1 e 2) de 67,31%, ocorrendo 35 verdadeiro positivo e 17 falso positivo,

como mostra a Tabela 2.

Tabela 2. Determinação do acerto ou erro do Método FAMACHA®

em

função do valor do Hematócrito

Valor do

Hematócrito

Resultado do FAMACHA®

1 ou 2 3 ou 4 ou 5

≥ 23% 35 (67,31%) 17

< 23% 8 90 (91,83%)

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

72

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A sensibilidade obtida para o método Famacha® neste estudo foi superior às observadas em outros

trabalhos com caprinos. Estudos utilizando os mesmos critérios mostram resultados de sensibilidade para

caprinos variando de 57,6% a 89% [1,5].

No tocante a resistência, considerando-se como eficaz o fármaco capaz de reduzir em 95% o valor

do OPG, nenhum dos anti-helmínticos avaliados apresentou eficácia satisfatória. A resistência anti-

helmíntica a grande parte dos fármacos disponíveis está amplamente disseminada entre parasitos de

pequenos ruminantes [4,8], demonstrando assim a importância da aplicação de métodos alternativos com

o objetivo de minimizar os problemas gerados pelo fenômeno da resistência.

A maior prevalência de Haemonchus nas coproculturas está de acordo com dados da literatura [2]

e provavelmente influenciou na sensibilidade do método obtida neste trabalho.

CONCLUSÃO

As cepas de Haemonchus, Cooperia e Trichostrongylus observadas parasitando caprinos no

presente estudo são resistentes aos princípios ativos: abamectina, cloridrato e fosfato de levamisol e

doramectina.

Nas condições avaliadas, o método Famacha se mostrou eficiente na detecção do parasitismo por

Haemonchus de caprinos.

REFERÊNCIAS

1 BURKE, J.M.; KAPLAN, R.M.; MILLER, J.E.; TERRILL, T.H.; GETZ, W.R.; MOBINI,

S.;VALENCIA, E.; WILLIAMS, M.J.; WILLIAMSON, L.;VATTA, A.F. Accuracy of the FAMACHA

system for on-farm use by sheep and goat producers in the southeastern U.S. Veterinary Parasitology

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2 GUIMARÃES, M.P.; LIMA, W.S. Helmintos Parasitos de caprinos do Estado de Minas Gerais.

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3 KAPLAN, R. M.;BURKE, J. M.; TERRILL, T. H.; MILLER, J. E.; GETZ, W. R.;MOBINI, S.;

VALENCIA, E.; WILLIAMS, M. J.; WILLIAMSON, L. H.; LARSEN, M.; VATTA, A. F. Validation of

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Units States. Veterinary Parasitology, 123: 105-120, 2004.

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Veterinária, 13:82-85, 2004.

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

73

5 MOLENTO, M.B.; TASCA, C.; GALLO, A.; FERREIRA, M.; BONONI, R.; STECCA, E. Método

Famacha como parâmetro clínico individual de infecção por Haemonchus contortus em pequenos

ruminantes. Ciência Rural, 34 (4): 1139-1145, 2004.

6 RAMOS, C. I.; BELLATO, V.; SOUZA, A. P.; AVILA, V. S.; COUTINHO, G. C.; DALAGNOL, C.

A. Epidemiologia das helmintoses gastrintestinais de ovinos no Planalto Catarinense. Ciência Rural, 34

(6), p. 1889-1895, 2004.

7 VAN WYK, J. A.; BATH, G. F. The FAMACHA© system for managing haemonchosis in sheep

and goats by clinically identifying individual animals for treatment. Veterinary Research, 33: 509-

529, 2002.

8 VIEIRA, L.S. Métodos alternativos de controle de nematóides gastrintestinais em caprinos e ovinos.

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I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

74

MODELO DE PREDIÇÃO PARA O

CRESCIMENTO DE Duddingtonia flagrans

Riciely Vanessa Justo1

Daniela Reis Krambeck1

Artur Kanadani Campos1

Douglas dos Santos Pina1.

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT – Prediction model for growth of Duddingtonia flagrans. Biological control using

nematophagous fungi is a promising alternative against animal parasites. However, in vitro tests are

important for the selection of promising isolates of nematophagous fungi that have potential for use as

biocontrol agents against parasitic nematodes. In this study the growth curve of Duddingtonia

flagrans fungus to fit a prediction model to the laboratory conditions was studied.Within specific criteria,

the not linear model of logistic regression was the best fit to explain the fungal growth.

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, o controle dos parasitas de animais de produção tem sido realizado quase que

exclusivamente, a base de formulações químicas [5]. O uso indiscriminado dos antiparasitários antecipou

a instalação da resistência dos parasitas aos grupos químicos e hoje, o controle das parasitoses tem sido o

principal gargalo da sanidade animal [1]. Como não existe uma solução imediata para conter a resistência

parasitária e a formulação de novas moléculas torna-se inviável para as indústrias farmacêuticas devido

ao investimento expressivo necessário, algumas pesquisas têm sido desenvolvidas para viabilizar o uso de

métodos alternativos de controle [2].

O controle biológico é um método alternativo de controle. Inúmeras pesquisas já revelaram o

potencial de fungos nematófagos, como por exemplo, os da espécie Duddingtonia flagrans [3] no

controle de nematódeos, entretanto, ainda são escassos os estudos a campo [5]. Para que trabalhos

laboratoriais ou a campo sejam possíveis, a priori é necessário entender o comportamento in vitro desses

fungos. Portanto, objetivou-se com o presente trabalho, estudar a curva de crescimento do fungo D.

flagrans em ambiente controlado para definir um modelo que permita a predição destes valores.

METODOLOGIA

Foi utilizado o isolado brasileiro de fungo predador CG 768 previamente obtido pelo método do

espalhamento do solo de Duddington (1955) [4], modificado por Santos et al. (1991). Esse isolado

colonizava grãos de arroz armazenados em tubo de ensaio, contendo sílica à temperatura entre 4-8o

C,

durante 3 anos.

O meio ágar-água 2% (20 g de ágar ágar em 1000 ml de água destilada q.s.p., pH 6,5) foi

preparado, acondicionado em Erlenmayers e em seguida, esterilizados. Em capela de fluxo laminar, o

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

75

meio foi depositado em placas de Petri estéreis de 5,4 cm de diâmetro. Em seguida, duas placas contendo

ágar-água 2% receberam um grão de arroz, cada, contendo o isolado CG 768. Ambas foram mantidas em

estufa à 26o C, ao abrigo da luz, durante 30 dias.

Após esse período, 12 placas numeradas contendo ágar-água 2% foram inoculadas com

fragmentos de ágar contendo material fúngico, repicados a partir das duas primeiras placas contendo o

fungo crescido, em capela de fluxo laminar (Figura 1). O fundo de cada uma das 12 placas foi

previamente, marcado com caneta indicando o ponto central. Cada fragmento foi acomodado no centro de

cada placa a fim de facilitar a mensuração do raio de crescimento do fungo em ágar-água. Essas placas

foram mantidas em estufa à 26o C, ao abrigo da luz e a mensuração dos raios foi realizada com régua

transparente, a partir das 24 horas posteriores à repicagem (momento zero) até completar 144 horas.

Figura 1. Repicagem de Duddingtonia flagrans em placas

contendo meio ágar-água 2% estéril.

Modelos de regressão não lineares foram ajustados aos dados observados e os parâmetros foram

estimados por intermédio do procedimento de Gauss Newton. Os critérios para a escolha do modelo

foram baseados na observação de que os parâmetros estimados não violaram nenhuma das pressuposições

do modelo, na significância dos parâmetros estimados em relação à hipótese de nulidade, no número de

interações para atingir a convergência e no valor da soma de quadrado residual [6].

RESULTADOS

Os valores reais do crescimento radial de Duddingtonia flagrans (Tab. 1) deram origem a uma

curva de crescimento (Fig. 2) a qual foi melhor explicada pelo modelo logístico de regressão não linear,

definido pela equação R = a/1+(b.exp-ct

), onde “R” é o raio de crescimento, “a” é o crescimento máximo,

“a/1+b” é o crescimento inicial (momento zero), “c” é a taxa de crescimento e “t” é o tempo (em horas).

Assim, o modelo de predição ficou definido como R = 2,6533/1+(38,6103.exp-0,0686.t

). O intervalo de

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

76

confiança (α=95%) estabelecido para o crescimento máximo foi de 2,5784 - 2,7282 e para a taxa de

crescimento foi de 0,0596 – 0,0776.

Tabela 1. Crescimento radial do fungo Duddingtonia flagrans (isolado CG 768) em

placas de Petri de 5,4 cm de diâmetro, contendo meio ágar-água 2%, mantidas à

temperatura de 26oC. A mensuração dos raios foi realizada com intervalos de 24 horas a

partir da repicagem (momento zero).

Placa Crescimento do raio (cm) em intervalos de tempo (horas-h)

0h 24h 48h 72h 96h 120h 144h

1 0 0 1 1,8 2,6 2,7* 2,7*

2 0 0,1 1,3 2 2,7* 2,7* 2,7*

3 0 0 1,4 1,9 2,5 2,7* 2,7*

4 0 0 1,5 2 2,2 2,7* 2,7*

5 0 0,2 1,2 1,7 2,5 2,7* 2,7*

6 0 0,1 1,3 2 2,2 2,7* 2,7*

7 0 0,2 1,4 2 2,7* 2,7* 2,7*

8 0 0 1,3 2 2,3 2,6 2,7*

9 0 0,1 1,5 2 2,5 2,7* 2,7*

10 0 0 1,2 2 2,3 2,6 2,7*

11 0 0,1 1 1,6 2,2 2,7* 2,7*

12 0 0,2 1,5 2,4 2,5 2,7* 2,7*

Média 0 0,0833 1,300 1,9500 2,4333 2,6853 2,700 * Crescimento completo da colônia.

Figura 2. Curva exponencial do crescimento (cm) do fungo Duddingtonia flagrans em função de 7

intervalos de tempo (0, 24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas) após a repicagem em meio ágar-água 2%,

mantido à 26oC e ao abrigo da luz.

Série1; 1; 0,0833

Série1; 2; 1,3

Série1; 3; 1,95

Série1; 4; 2,4333

Série1; 5; 2,6853

Série1; 6; 2,7

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

77

CONCLUSÃO

O modelo logístico de regressão não linear explica de forma satisfatória o crescimento do isolado

CG 768 de Duddingtonia flagrans, nas condições estudadas, em função dos tempos de avaliação

utilizados.

REFERÊNCIAS

1 AMARANTE, A.F.T. Por que é importante a identificação correta das espécies de Haemonchus?

Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 20: 263-268, 2011.

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3 CRUZ, D.G.; CORDEIRO, R.C.; LOPES, A.J.O.; ROCHA, L.V.; SANTOS, C.P. Comparação da

eficácia de diferentes isolados dos fungos nematófagos Arthrobotrys spp. e Duddingtonia flagrans na

redução de larvas infectantes de nematoides após a passagem pelo trato digestivo de ovinos. Revista

Brasileira de Parasitologia Veterinária, 17(1): 133-137, 2008.

4 DUDDINGTON, C.L. Notes on the thecnique of handling predaceous fungi. Transactions of British

Mycology Society, 38: 97-103, 1955.

5 MOTA, M.A.; CAMPOS, A.K.; ARAÚJO, J.V. Controle biológico de helmintos parasitos de animais:

estágio atual e perspectivas futuras. Pesquisa Veterinária Brasileira. 23: 93-100, 2003.

6 VIEIRA, R.A.M.; TEDESCHI, L.O.; CANNAS, A. A generalized compartmental model to estimate the

fiber mass in the ruminoreticulum: 1. Estimating parameters of digestion. Journal of Theoretical

Biology, 255: 345-356, 2008.

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

78

MORTALIDADE DE BOVINOS POR

HIPOTERMIA ASSOCIADA À INVERSÃO TÉRMICA

Samara Rosolem Lima1

Leonardo Pintar de Oliveira1

Flávio Henrique Bravim Caldeira1

Marconni Victor da Costa Lana1

Fernando Henrique Furlan2

Nadia Aline Bobbi Antoniassi1

Caroline Argenta Pescador1

Edson Moleta Colodel1

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

2 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil.

ABSTRACT - Mortality in cattle due to hypothermia associated with thermal inversion.

Hypothermia associated with thermal inversion is a pathological clinical condition characterized by body

temperature that dropped below normal as the result of sudden environmental change in temperature due

to rain and wind. This condition often occurs in animals with poor body condition and exposed to these

natural meteorological variations living without a natural or artificial shelter. The affected animals show

weakness, muscle tremors, cold extremities, decreased activity, and varying degrees of shock. Significant

alterations are not observed during necropsy and histopathological analysis. Twelve cattle died after

strong winds and rain and a sharp drop in temperature in a farm in the municipality of Sapezal, MT.

Macroscopic and histopathological alterations were not visualized. The deaths of these cattle were

associated with hypothermia by thermal inversion and established based on epidemiological

characteristics observed as sudden temperature change due to rain and winds, lack of shelter, and low

body score; pathological changes were not observed.

INTRODUÇÃO

O termo inversão térmica se refere a mudanças bruscas na temperatura e pode acarretar na morte

de animais devido à hipotermia, por perda excessiva ou produção insuficiente de calor corporal [3]. A

inversão térmica ocorre principalmente em animais a pasto que, sem terem onde se proteger permanecem

molhados durante longos períodos chuvosos, ocorrendo perda brusca de temperatura corpórea [1, 4].

Apesar dos ruminantes possuírem uma boa capacidade adaptativa a baixas temperaturas [1] quando

expostos a temperaturas excessivamente baixas, ocorre à perda brusca de calor, abaixo de 37 graus,

caracterizando a hipotermia [3]. Animais com baixo escore corporal são os mais sensíveis à variação

térmica [4]. Isso porque animais subnutridos ou com fome por períodos prolongados apresentam

temperatura corporal abaixo do normal, além de apresentarem menor quantidade de gordura corporal, não

promovendo o isolamento térmico adequado e não fornecendo recursos energéticos suficientes para que o

organismo produza calor [1].

Alguns sinais clínicos encontrados em bovinos com hipotermia são fraqueza, tremores

musculares, extremidades frias, diminuição da atividade, alteração de comportamento, graus variados de

choque e vasoconstrição periférica, e agrupamento dos animais do lote [3].

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79

O objetivo deste trabalho é descrever os aspectos epidemiológicos e clínico patológicos de morte

por hipotermia associada à inversão térmica em bovinos no Estado de Mato Grosso.

RELATO DE CASO

Os casos ocorreram em uma propriedade de confinamento no município de Sapezal, MT. Um lote

de 72 bovinos machos (Fig. 1), zebuínos, com idade aproximada de 3 anos, apresentado escore corporal

ruim, provenientes de um município vizinho, foi transportado até a propriedade durante o período

vespertino. Nos dias anteriores a chegada dos animais à propriedade a temperatura ambiente estava alta e

no momento do desembarque dos bovinos, uma queda brusca da temperatura acompanhada de chuvas e

ventos fortes foram observadas e persistiram por alguns dias. Nos piquetes de confinamento,

anteriormente utilizados para lavoura, não havia qualquer tipo de abrigo aos animais. Na manhã do

segundo dia após a chegada do lote à propriedade um bovino morreu após apresentar tremores

musculares, pêlos arrepiados, apatia, prostração e decúbito esternal. No terceiro dia outros 12 animais

apresentaram a mesma sintomatologia e, destes 10 morreram. Na visita a propriedade realizada no quarto

dia, dois animais ainda apresentavam sinais clínicos, um deles foi submetido à eutanásia e necropsiado.

Durante a necropsia não foram observadas alterações significativas, assim como no exame

histopatológico.

Figura 1. Agrupamento de um lote de bovinos devido ao

tempo nublado e frio. Note a ausência de abrigo natural no

piquete.

DISCUSSÃO

A morte de bovinos associada à hipotermia por inversão térmica foi estabelecida baseada nas

características epidemiológicas observadas, como mudança brusca de temperatura, com chuva e ventos,

ausência de abrigos aos animais às variações meteriológicas, baixo escore corporal e ausência de

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80

alterações patológicas no bovino necropsiado. Em um trabalho realizado foi relatado 16 surtos de

mortalidade de bovinos zebuínos ocorridas no Estado de Mato Grosso do Sul entre os anos de 2000 a

2010, todos com histórico semelhante ao observado no presente caso [4].

Manifestações clínicas caracterizadas por pelos arrepiados, prostração, tremores musculares,

apatia e decúbito, observadas nesses casos, são frequentemente observados em animais em hipotermia [3,

1, 4]. Não foram encontradas alterações macroscópicas ou microscópicas significativas como em outro

trabalho publicado [4], esta ausência de lesão esta associada ao rápido curso clínico da doença [3].

Para um diagnóstico definitivo de inversão térmica é necessário excluir outras enfermidades que

afetam bovinos e que cursam com sinais clínicos semelhantes dentre elas, botulismo, raiva [2] e

eletrocussão [5] aliado a fatores epidemiológicos e patológicos acima expostos.

REFERÊNCIAS:

1 GURTLER, H.; KETZ, H.A.; SCHRODER, L.; SEDEL, H. Fisiologia Veterinária. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1980, p.363-369.

2 MCGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Bases da Patologia em Veterinária. Rio de Janeiro: Ltda, 2007,

p.1476.

3 RADOSTITS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD, D.C.; HINCHCLIFF, K.W. Clínica Veterinária. Um

tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e eqüinos. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2002, p.45–56.

4 SANTOS, B.S.; PINTO, A.P.; ANIZ, A.C.M.; ALMEIDA, A.P.M.G.; FRANCO, G.L.; GUIMARAES,

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5 WATANABE, T.T.N.; FERREIRA, H.H.; GOMES, D.C.; PEDROSO, P.M.O.; OLIVEIRA, L.G.S.;

BANDARRA, P.M.; ANTONIASSI N.A.B.; DRIEMEIER, D. Fulguração como causa de morte em

bovinos no estado do Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, 30:243-245.

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81

OXIURÍASE EM EQUINOS

Daniela Reis Krambeck1

Daniella de Mello1

Riciely Vanessa Justo1

Artur Kanadani Campos1.

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT - Oxyruris in equine. The objective was to evidence the prevalence of infection with O.

equi in horses from Sinop, comparing the sensibility of Graham´s diagnostic methods and sedimentation

in water (Hoffmann, 1987) [3]. Fecal samples were collected in 32 females, 18 castrated males and 30

intact males. The samples were tested in the same day´s collection for the both two methods and for it

being considered “positive”, there had to be found at least one egg in the examined sample. The

frequency of positives animals was 33.75% according Graham´s method; 40% according sedimentation in

water´s method and 18.75% were considered positive for the both two methods. In total, was there 55%

infected animals. Thus, the sedimentation´s method was considered more accurate to detect the eggs than

the Graham´s method. Considering the high prevalence of oxyuriasis and as none of the owners had

adopted the prophylactics measures, was evidenced the absence of information about the disease by the

farmers.

INTRODUÇÃO

Os equinos estão sujeitos a uma grande diversidade de infecções parasitárias [2]. Qualquer

infecção parasitária pode prejudicar o rendimento dos cavalos visto que os parasitas competem pelo

alimento além de causar irritação, hemorragias intestinais, quadros anêmicos, pois mesmo infecções leves

podem afetar o desenvolvimento e desempenho dos cavalos [5].

A maioria dos proprietários de equinos não sabe responder a respeito do tratamento antiparasitário

de seus animais e essa desinformação indica a necessidade de um acompanhamento parasitológico

constante [2].

A oxiuríase é uma infecção parasitária por nematódeos (Filo Nemathelmintes, Classe Nematoda)

da ordem Oxyurida, existindo apenas uma espécie de real importância na medicina veterinária: Oxyuris

equi [1]. Oxyuris equi aparece como o parasita do intestino grosso dos equinos, sendo que o principal

sintoma apresentado pela infecção é o intenso prurido anal no hospedeiro [4, 1, 7].

Objetivou-se com este trabalho descrever a prevalência da infecção por O. equi em equinos do

município de Sinop, comparando-se a sensibilidade de duas técnicas diagnósticas.

METODOLOGIA

Coletaram-se amostras fecais de oitenta equinos, com idade entre 18 meses e quinze anos,

provenientes de seis haras pertencentes geograficamente, ao município de Sinop, Mato Grosso. A

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população de equinos era composta por trinta e duas fêmeas, dezoito machos castrados e trinta machos

inteiros.

Todas as amostras foram testadas, no mesmo dia da coleta, pelos métodos de Graham e

sedimentação espontânea em água, ambos descritos por Hoffmann (1987) [3]. As fezes foram coletadas

no início ou no final do dia, após a alimentação dos animais. Cada amostra recebeu uma identificação

correspondente ao animal doador. Todas as coletas foram realizadas na primeira quinzena do mês de

dezembro de 2010.

As lâminas de vidro e as amostras fecais destinadas ao Graham foram mantidas em geladeira.

Enquanto esse material era refrigerado, realizou-se o método da sedimentação.

Aproximadamente, 100 g de fezes frescas coletadas da superfície do bolo fecal depositado no

chão, deram origem a 5 g da amostra destinada ao método da sedimentação. Esse método sofreu algumas

modificações. A pequena amostra foi diluída em 100 ml de água destilada e peneirada em cálice de

sedimentação. Após 12 horas, desprezou-se o sobrenadante do cálice e reservou-se o sedimento. O cálice

recebeu mais 100 ml de água destilada e repousou por mais 12 horas. Novamente, após esse tempo,

desprezou-se o sobrenadante e pipetou-se uma gota do sedimento para leitura em lâmina ao microscópio.

Para o método de Graham adotaram-se algumas modificações que facilitassem a obtenção da

amostra. Sendo assim, o contato com a fita com a região perineal ou perianal dos animais foi facilitada

com o uso de um quadrado de isopor (80 mm x 25 mm de espessura) como suporte para a fita adesiva,

fixada com liga de látex. Essa modificação possibilitou uma melhor coleta de material e o uso da própria

fita adesiva para fixação em lâmina de vidro para visualização ao microscópio.

Para o diagnóstico ser considerado “positivo” era necessário haver pelo menos um ovo na amostra

examinada, tanto pelo Graham quanto pela sedimentação. As análises onde o diagnóstico foi “negativo”

pela sedimentação foram replicadas, a fim de confirmar o resultado.

RESULTADOS

Houve diferença entre os métodos de diagnóstico testados. A frequência de animais positivos,

tanto pelo método de Graham quanto pela sedimentação espontânea, foi de 18,75% (15/80). Entretanto, o

método de Graham mostrou-se sensível para mais 12 casos, totalizando 27 diagnósticos positivos

(33,75%). E, o método de sedimentação espontânea foi sensível para mais 17, totalizando 32 positivos

(40%).

Os 12 casos positivos detectados pelo Graham não foram acusados pela sedimentação espontânea

e os 17 casos positivos detectados pela sedimentação mostraram-se negativos por Graham.

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83

Os resultados obtidos tanto pelo Graham quanto pela sedimentação totalizaram 44 positivos e 36

negativos. Esses valores geram uma proporção de animais infectados por O. equi de 0,55, ou seja, uma

frequência observada de 55% de oxiuríase na população testada.

DISCUSSÃO

Esse foi o primeiro relato de oxiuríase em equinos na região em estudo. E, dentre os métodos

diagnósticos, o método da sedimentação, com modificações, mostrou-se mais sensível para a detecção de

ovos de O. equi que o método de Graham, com modificações.

Resultados diferentes por diferentes métodos diagnósticos já foram descritos na literatura [4,6].

Por isso, assim como nesse trabalho, outros estudos, comparando a contagem de ovos por grama de fezes

com o método da flutuação [6] e o diagnóstico de O. equi adulto através de necropsia [4] revelaram a

importância de se realizar vários testes na rotina laboratorial para assegurar o diagnostico de

endoparasitas em equinos.

Sendo assim, existe a necessidade urgente de se realizar novas pesquisas para comparar todos os

testes diagnósticos comuns à rotina laboratorial no diagnóstico de endorapasitos. É necessário saber a

amplitude de confiança dos testes para assegurar a confiabilidade dos mesmos frente a outros métodos em

uma mesma população.

Em nenhum dos haras eram adotadas medidas profiláticas e preventivas contra doenças

parasitárias. O tratamento antiparasitário era realizado sem atender um padrão sintomático ou diagnóstico

da carga parasitária. Nesse trabalho, ficou evidenciada a ausência de informações sobre a oxiuríase por

parte dos funcionários e proprietários dos haras.

A falta de medidas de controle e a desinformação sobre a doença foram factíveis para a

prevalência constatada nesse estudo. Para tanto, também ficou evidenciada a necessidade de haver

medidas preventivas e de controle contra a oxiuríase em equinos e a realização de pesquisas que

comparem outros métodos diagnósticos.

CONCLUSÃO

Há ocorrência de oxiuríase em equinos da região norte do Mato Grosso e o método da

sedimentação mostrou-se mais adequado para a detecção de ovos de O. equi.

REFERÊNCIAS

1 BARRIGA, O.O. Las Enfermidades Parasitaria de Los Animales Domesticos. Santiago: Germinal,

2001.

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2 FERRARO, C.C.; KLOSS, A.B.; SOUZA, D.F. DE; DECONTO, I.; BIONDO, A.W.; MOLENTO,

M.B. Prevalência parasitológica de cavalos de carroceiros em Curitiba, Paraná. Revista Brasileira de

Parasitologia Veterinária, 17 (1): 175-177, 2008.

3 HOFFMANN, R.P. Diagnóstico de Parasitismo Veterinário. Porto Alegre: Sulina, 1987.

4 MARTINS, I.V.F.; CORREIA, T.R.; SOUZA, C.P.; FERNANDO, J.L.; SANT’ANNA, F.B.; SCOTT,

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Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 10: 37–40, 2001.

5 OGBOURNE, CP. Pathogenesis of cyathostome infection of the horse. A review. England:

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6 REGO, D.X.; SCHMEIL, B.R.P.; SCHILLER, J.W.; SILVA, M.M.; RAMOS, C.G.; MICHELOTTO

JÚNIOR, P.V. Incidência de endoparasitas e ectoparasitas em equinos do município de Curitiba – PR.

Revista Acadêmica: Ciências Agrárias e Ambientais, 3 (7): 281-287, 2009.

7 URQUHART, G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J.L.; DUNN, A.M.; JENNINGS, F.W. Veterinary

Parasitology. London: Blackwell Sciences, 2ed., 1996, 307p.

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Paramphistomum spp. EM OVINOS ABATIDOS

NA REGIÃO NORTE DO MATO GROSSO

Henry Coradi Schlich1

Riciely Vanessa Justo1

Pedro Souza Azevedo Junior1

Daniela Reis Krambeck1

Diego Montagner Schenkel1

Artur Kanadani Campos1.

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT – Paramphistomum spp. in sheep from Northern of Mato Grosso, Brazil. This study

was first work about Paramphistomum in sheep from eight cities in the northern of Mato Grosso. Ninety-

five animals were observed and 71.58% were positive in all properties evaluated. The prevalence of

positive females (87.93%) was major in relation males (45.94%). However, are necessities more studies

about prevalence in this region for establish effective control program.

INTRODUÇÃO

Paramphistomum spp. é um trematódeo digenético pertencente a superfamília Paramphistomoidea

que foi relatado em regiões tropicais ou subtropicais [1,2,3]. Na fase madura, Paramphistomum é parasita

do rúmen e do retículo e na fase imatura, parasita o duodeno dos ruminantes [3]. A forma imatura tende a

gerar maiores perdas produtivas ao passo que a forma madura pode reduzir a conversão alimentar dos

ruminantes [4]. Entretanto, os bovinos são mais resistentes à infecção por Paramphistomum, ao contrário

dos caprinos e ovinos que se mostram susceptíveis em todas as fases da vida [3].

Para infectar os animais é necessário que ocorram moluscos no ambiente, pois através desse

hospedeiro intermediário, Paramphistomum pode evoluir à metacercária e ser ingerido na pastagem pelo

hospedeiro ruminante, a fim de completar o ciclo. Os moluscos ocorrem somente em regiões alagadiças

ou em zonas temporariamente, inundadas devido à alta pluviosidade sazonal [1,3]. Sendo assim, a

existência de pastagem naturalmente inundada ou alagada devido à irrigação são favoráveis para a

paranfistomatose [5].

No Brasil os poucos relatos sobre Paramphistomum foram em bovinos [1] e, por isso, há uma

grande carência de informações sobre esse parasita em pequenos ruminantes. Sendo assim, objetivou-se

descrever a ocorrênia de Paramphistomum spp. em ovinos abatidos na região norte do Mato Grosso.

METODOLOGIA

O estudo verificou a ocorrência de Paramphistomum spp. em ovinos, no período de julho à

setembro de 2012, na região norte do Mato Grosso, Brasil. Para tanto, coletou-se o rúmen, retículo e

duodeno de 95 ovinos, 37 machos e 58 fêmeas, da raça Santa Inês, abatidos em Sinop e Terra Nova,

I ENISAP– Encontro Internacional de Sanidade de Animais de Produção 08 e 09 de Novembro de 2012 em Sinop, Mato Grosso, Brasil

86

provenientes das cidades de Sinop, Terra Nova, Nova Guarita, Peixoto de Azevedo, Novo Mundo,

Carlinda, Guarantã do Norte e Colíder.

Os animais de cada lote receberam uma numeração. Durante o abate, em cada animal, realizou-se

uma secção no esôfago próximo ao cárdia e outra secção entre o rúmen e o omaso para a coleta do

retículo e rúmen. Para coletar o duodeno seccionou-se entre a porção final do abomaso e o término do

duodeno.

Logo após a secção e coleta dos órgãos, os mesmos foram distendidos e seccionados sobre uma

mesa para a identificação de exemplares de Paramphistomum spp (Fig. 1). Na sequência, cada animal foi

classificado como “positivo” ou “negativo” para paranfistomatose.

Figura 1. Presença de Paramphistomum em rúmen e retículo de ovino.

Foram coletadas de 2 a 4 amostras dos rúmens e retículos mais infectados. Essas amostras foram

fixadas em formalina tamponada a 10% e encaminhadas ao Laboratório de Patologia da Universidade

Federal de Mato Grosso, em Sinop, para um futuro diagnóstico microscópico.

RESULTADOS

Dos 95 ovinos avaliados, 68 (71,58%) apresentaram Paramphistomum spp. com relação à amostra

de fêmeas e machos, houve maior ocorrência do parasita em fêmeas (87,93%) do que em machos

(45,94%), sendo que o número de machos negativos (20) superou o número de machos positivos (17).

Todas as oito cidades de origem apresentaram animais positivos. Entretanto, as cidades que mais

apresentaram ovinos positivos (100%) em relação à amostra (Tab. 1) foram Novo Mundo e Carlinda.

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Tabela 1. Ocorrência de Paramphistomum spp. em rúmen e retículo de ovinos Santa

Inês abatidos na região norte do Mato Grosso.

Cidade Amostra Positivos Negativos Prevalência (%)

Carlinda 1 1 0 100

Sinop 5 3 2 60

Peixoto de Azevedo 10 8 2 80

Colíder 12 10 2 83,33

Novo Mundo 15 15 0 100

Guarantã do Norte 17 13 4 76,47

Nova Guarita 18 16 2 88,89

Terra Nova 17 2 15 11,76

DISCUSSÃO

Esse foi o primeiro relato de paranfistomatose em ovinos na região em estudo. A ocorrência

observada revelou que as condições epidemiológicas da região são favoráveis para essa doença.

Entretanto, o período de realização do estudo (julho a setembro) é caracterizado por ausência de chuva,

baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas nessa região, o que são incompatíveis com as condições

necessárias à sobrevivência do hospedeiro intermediário de Paramphistomum segundo a literatura

[1,2,3,4].

Ficou evidenciada a necessidade de se investigar a existência de reservatórios naturais de água e

pastagens alagadas, bem como a existência de hospedeiros intermediários nas cidades avaliadas. Da

mesma forma, somente um levantamento de dados de prevalência de Paramphistomum spp. ao longo do

ano, semelhante ao realizado em outros países [1,2], pode assegurar o estabelecimento de um programa

de controle eficiente para a paranfistomatose em ruminantes.

Particularidades inerentes ao sexo favoreceram a maior ocorrência de Paramphistomum em

fêmeas, entretanto, o número de machos amostrados foi inferior a número de fêmeas, o que pode ter

interferido no resultado. Diante disso, é importante estudar a influência do sexo na frequência de animais

infectados por Paramphistomum spp.

CONCLUSÃO

Paramphistomum spp. parasita ovinos criados no norte do Mato Grosso. Entretanto, são

necessários estudos epidemiológicos mais amplos que possibilitem estabelecer a real importância

econômica e patogênica desse parasito na região.

REFERÊNCIAS

1 GUPTA, B.C.; PARSHAD, V.R.; GURAYA, S.S. Maturation of Paramphistomurn cervi in sheep in

India. Veterinary Parasitology, 15: 239-245 1984.

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2 MATTOS, M.J.T.; UENO, H. Prevalência de Paramphistomum no rúmen e retículo de bovinos no

estado do Rio Grande do Sul – Brasil. Ciência Rural, 26(2): 273-276, 1996.

3 OZDAL, N.; GUL, A.; ILHAN, F.; DEGER, S. Prevalence of Paramphistomum infection in cattle in

sheep in Van Province, Turkey. Parasitological Institute of SAS, 47(1): 20-24, 2010.

4 ROLFE, P.F.; BORAY, J.C.; COLLINS, G.H. Pathology of infection with Paramphistomum ichikawai

in sheep. International Journal for Parasitology, 24(7): 995-1004, 1994.

5 TAYLOR, M.A. Emerging parasitic diseases of sheep. Veterinary Parasitology, 189: 2-7, 2012.

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89

RESISTÊNCIA DE Rhipicephalus (Boophilus) microplus À

ACARICIDAS COMERCIAIS NO NORTE DO MATO GROSSO

Camila Eckstein

1

Riciely Vanessa Justo1

Jamile Martins Maluf1

Edésio José Soares1

Junior Barbosa Kachiyama1

Lucineide da Silva1

Artur Kanadani Campos1.

¹Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

ABSTRACT – Rhipicephalus (Boophilus) microplus resistence to acaricides from northen Mato

Grosso, Brazil. This study aimed to know the status of cattle tick resistance to acaricides in rural

properties of the municipality of Sinop, state of Mato Grosso. Acaricide bioassays were conducted on

cattle ticks from 5 rural properties. Adult immersion tests using regular commercial products and neem

oil according to label recommendations were followed by the evaluation of biological parameters. Four

commercial acaricide products containing one or more of seven active ingredients, from three chemical

classes: amidine (amitraz), synthetic pyrethroid (cypermethrin), organophosphates (trichlorfon), mixture

(cypermetrina, citronella and chorpyrifos) and neem oil were test. Low tick susceptibility to

cypermethrin was observed. Despite the great variation of susceptibility shown by the populations to each

acaricide, a gradient of efficacy of these products was observed. Regardless of the acaricide class, the

average efficacy of products containing a single active ingredient was 2.1- 100% and in mixture (99.16-

100%).

INTRODUÇÃO

As perdas causadas pelo carrapato bovino Rhipicephalus (Boophilus) microplus são de grande

importância na bovinocultura de leite, sendo que em trabalhos já descritos animais infestados produziram

2,86 litros de leite por dia a menos [2]. O principal controle desse parasita é realizado através do uso de

acaricidas e geralmente a metodologia criada pelos produtores para definir o melhor momento de

aplicação do produto se mostra inadequado [4] favorecendo o aparecimento da resistência aos produtos.

A resistência é definida como uma mudança na frequência de genes em uma população,

promovida pela seleção natural [3]. O teste de biocarrapaticidograma deve ser recomendado pelos

médicos veterinários, visto que se constitui num eficiente e preciso medidor da sensibilidade de R.(B).

microplus frente aos acaricidas comerciais de contato. Além de indicar o produto mais eficaz para cada

população pesquisada, auxilia na descrição do perfil regional dos níveis de sensibilidade e resistência dos

carrapatos às bases químicas disponíveis no mercado [1].

Sendo assim, objetivou-se testar a sensibilidade da população de carrapatos coletados em vacas

leiteiras criadas no norte do Mato Grosso.

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90

METODOLOGIA

Coletaram-se fêmeas ingurgitadas em vacas leiteiras oriundas de duas propriedades de Juara, uma

de Santa Carmem e duas de Santa Helena, região norte do Mato Grosso. Foram coletadas em média 100

teleóginas de cada propriedade e encaminhadas ao Laboratório de Parasitologia e Doenças parasitárias do

Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso, em Sinop.

No laboratório as teleóginas foram lavadas, selecionadas e divididas em grupos de 10 fêmeas para

cada principio a ser testado. Posteriormente foram pesadas em balança analítica e imersas no produto já

diluído de acordo com a indicação do fabricante. Os produtos testados foram: cipermetrina;

organofosforado; associação cipermetrina, citronelal e clorpirifós; amitraz e óleo de neem (Azadirachta

indica).

As teleóginas permaneceram imersas por 5 minutos nas diluições e posteriormente colocadas em

placas de Petri e identificadas por produto testado, propriedade e data da realização do teste. As placas

foram mantidas por 15 dias em estufa, com temperatura média de 27ºC e umidade relativa próxima a 80%

ate a ovipostura. Ao final dos 15 dias foi pesada a massa de ovos que foi armazenada em seringas de 10

mL adaptadas e fechadas com algodão hidrofílico.

As seringas com os ovos permaneceram na estufa sob as mesmas condições por mais 28 dias (pico

da eclosão dos ovos). As seringas foram abertas e seu conteúdo foi mantido em congelador para

imobilizar as larvas e facilitar sua visualização em microscópio estereoscópico e estimar a eclodibilidade

dos ovos.

Utilizando o peso inicial das teleóginas e o peso da massa de ovos foi estimada a Eficiência

Reprodutiva (ER) das fêmeas :

Posteriormente, utilizando o valor obtido da ER foi possível estimar a Eficácia do Produto (EP),

obtendo um resultado em percentagem:

( ) ( )

( )

A análise estatística foi realizada pelo programa Assistat (versão 7.6 beta, 2012). Realizou-se o

teste de Kruskal-Wallis (α=0,05) com correção de H para dados iguais nos tratamentos.

RESULTADOS

Comparando-se a ER entre os tratamentos, a cipermetrina apresentou diferença significativa em

comparação aos demais, exceto quando comparado ao controle (sem tratamento). O produto a base de

amitraz apresentou diferença significativa em comparação aos demais, exceto com o óleo de neem. Já o

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produto a base de organofosforado e a associação cipermetrina + citronela1 + clorpirifós apresentaram

diferença estatística entre si e os demais tratamentos (Tab. 1).

Tabela 1. Eficiência reprodutiva (número de larvas por grama de ovos) obtida após a

imersão de 10 teleóginas por 5 minutos em acaricidas e em um grupo controle (sem

tratamento). As teleóginas foram coletadas em fêmeas bovinas criadas no norte de Mato

Grosso.

Propriedade Controle

Acaricidas (%)

Cipermetrina Amitraz Triclorfon Associação Óleo de

Neem

1 902052,2 a

796153,8 a 0

b 0 0 231694

b

2 960219,5 a

769115,4 a

640268 b 223008,8 8053,3 113957,9

b

3 882420,1 a

807747,4 a

902447 b 671076,2 0 475882,9

b

4 824003,6 a

841350,2 a

0 b 0 0 0

b

5 648037,3 a 35198,1

a 0

b 0 0 553767,6

b

Números seguidos de letras iguais na mesma linha não apresentam diferença significativa pelo teste de

Kruskal-Wallis (α=0,05).

Não houve diferença significativa (P>0,05) entre os percentuais de EP nas cinco propriedades

analisadas. A eficácia dos acaricidas foi estatisticamente, diferente entre todos os princípios ativos (Tab.

2). O produto a base de cipermetrina + citronelal + clorpirifós apresentou maior percentual de eficácia,

seguido por triclorfon, óleo de neem e amitraz e por último cipermetrina.

Tabela 2. Percentuais de eficácia in vitro de 5 acaricidas testados em teleóginas coletadas

em fêmeas bovinas na região norte do Mato Grosso. Todos os princípios ativos

apresentaram diferença significativa (p<0,05) entre si segundo o teste de Kruskal-Wallis.

Amostra Acaricidas

Cipermetrina Amitraz Triclorfon Associação Óleo de Neem

1 11,73

100

100

100 74,31

2 19,90

33,32

76,77 99,16 88,13

3 8,46

2,26

23,95 100 46,07

4 2,1

100

100 100 100

5 94,56

100

100 100 14,54

DISCUSSÃO

De acordo com Grilo Torrado (1974) [3] quando um acaricida não atingir 99,9% de eficácia em

testes in vitro, este não obterá sucesso no controle dos carrapatos a campo. Desta forma, ficou

evidenciada a resistência das teleóginas à cipermetrina, amitraz, triclorfon e óleo de neem, pois a ER das

teleóginas apresentou-se igual quando tratadas por estes princípios ou sem tratamento. Tanto a

associação quanto os produtos amitraz, triclorfon e óleo de neem apresentaram 100% de eficácia em

algumas propriedades.

Considerando que a eficácia ideal seria de 99,9% [3] pode-se inferir que os carrapatos apresentam

resistência aos princípios utilizados, entretanto, mostram-se mais sensíveis à associação cipermetrina +

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citronelal + clorpirifós e triclorfon do que para óleo de neem, amitraz e cipermetrina. Isso revela a

necessidade de inserir o teste do biocarrapaticidograma na rotina das fazendas [1] e a necessidade de se

realizar novas pesquisas nesta área, a fim de garantir a produtividade na bovinocultura leiteira nas

propriedades da região.

REFERÊNCIAS

1 CAMPOS JÚNIOR, D.A.; OLIVEIRA, P.R.; Avaliação in vitro da eficácia de acaricidas sobre

Boophilus microplus (Canestrini, 1887) (Acari: Ixodidae) de bovinos no município de Ilhéus, Bahia,

Brasil. Ciência Rural, 35(6): 1386-1392, 2005.

2 JONSSON, N.N.; MAYER, D.G.; MATSCHOSS, A.L.; GREEN, P.E.; ANSELL, J. Production effects

of cattle tick (Boophilus microplus) infestation of high yielding dairy cows. Veterinary Parasitology.

65-77, 1998.

3 GRILLO TORRADO, J.M. Pruebla de laboratorio para determinar la actividad y estabilidad de los

garrapaticidas en sus diluciones de uso. Exigencias mínimas. Índice “S”. Revista de Medicina

Veterinaria, 55(3): 191-196, 1974.

4 PEREIRA, M.C.; LABRUNA, M.B.; SZABÓ, M.P.J.; KLAFKE, G.M. Rhipicephalus (Boophilus)

microplus. In: Biologia, Controle e Resistência. São Paulo: Med Vet, 2008.

5 SANTOS, T.R.B.; FARIAS, N.A.R.; CUNHA FILHO, N.A.; PAPPEN, F.G.; VAZ JUNIOR, I.S.

Abordagem sobre o controle do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus no sul do Rio Grande do

Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, 65-70, 2009.

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TRICOSTRONGILÍDEOS EM OVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO

Hildene Andrey Zago Biavatti1

Riciely Vanessa Justo1

Lucineide da Silva1

Manuel Pedro Figueiró d´Ornellas1

Liliani Bandeira de Araújo1

Mylena Ribeiro Pereira1

Artur Kanadani Campos1

Flávio Lisboa da Costa2.

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected]

2 Prefeitura Municipal, Sinop, MT, Brasil.

ABSTRACT – Trichostrongylids in sheep from Mato Grosso. The present study investigated the

occurrence of gastrointestinal helminth parasites in sheep (Ovis aires) Santa Ines and Suffolk, at Sinop

and Santa Carmen, Mato Grosso. The gastrointestinal helminth infection in sheep is considered the main

cause of reduced productivity, morbidity and mortality in the herd. During the months of August and

September were collected stool samples from 52 animals, all had a history of worming recent (<60 days).

Fecal egg counts were performed from these samples. For the development of eggs to larvae stage, we

used the technique of coproculture where waste from the same batch of sheep were homogenized and

received vermiculite, kept in glass cup for 10 days at room temperature. By using the technique

Baermann was possible to obtain larvae, identification was made by a drop of each cup sediment after 18

hours from coprocultures of baermanization, using glass slide stained with Lugol 1% covered by an

optical microscope coverslip in 40x and 100x objective. The genera identified in the faeces of sheep

donors were Haemonchus sp and Trichostrongylus sp. Due historical worming, Haemonchus spp. and

Trichostrongylus spp. showed signs of resistance to the active principles of the drugs administered. Based

on these results, we conclude that Haemonchus sp and Trichostrongylus sp infect sheep and Suffolk Santa

Ines in northern Mato Grosso.

INTRODUÇÃO

A infecção de helmintos gastrintestinais em ovinos é considerada a principal causa de redução de

produtividade, morbidade e mortalidade no rebanho [3]. A resistência às drogas anti-helmínticas foi

relatada em muitos gêneros de helmintos de várias partes do mundo, tornando-se um grave problema em

países onde os pequenos ruminantes tem importância a nível industrial [3]. É importante conhecer o

gênero dos helmintos para determinar o risco da infecção com base na patogenicidade do parasita [1].

Portanto, objetivou-se com o presente estudo, identificar os gêneros de nematódeos gastrintestinais de

ocorrência em ovinos da região norte de Mato Grosso.

METODOLOGIA

Coletaram-se amostras de fezes de 52 ovinos criados em propriedades rurais pertencentes aos

municípios de Santa Carmem e Sinop, cidade polo da região, durante os meses de agosto e setembro de

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2012. Os rebanhos eram compostos por ovinos machos e fêmeas da raça Santa Inês e Suffolk. Todos os

animais apresentaram histórico de desverminação recente (<60 dias).

Em cada propriedade, as fezes foram coletadas diretamente da ampola retal dos animais e em

seguida a amostra era armazenada em caixa de isopor contendo gelo terapêutico. No laboratório, as

amostras foram submetidas ao teste de OPG segundo a técnica de Gordon e Whitlock (1939) [2]

modificada, onde cada ovo contado correspondeu a 100 ovos por grama de fezes.

Para a obtenção de larvas infectantes, utilizou-se a técnica de coprocultura descrita por Roberts e

O´Sullivan (1950) [5] modificada, onde as fezes de um mesmo lote de ovinos eram homogeneizadas e

recebiam vermiculita. A coprocultura foi montada em copos de vidro e mantida em temperatura ambiente

(26-34oC) durante 10 dias. Após esse período, foi realizada a técnica de Baerman para a obtenção das

larvas das coproculturas. As larvas recuperadas foram identificadas ao nível do gênero de acordo com

uma chave de identificação.

A identificação do gênero das larvas foi realizada em uma gota do sedimento de cada cálice após

18 horas da Baermanização das coproculturas. A gota foi examinada em lâmina de vidro corada com

lugol 1% coberta por lamínula em microscópio óptico, nas objetivas de 40x e 100x. Ao final do

diagnóstico, o sedimento restante nos cálices foi transportado para tubos tipo Falcon e esses foram

centrifugados em uma velocidade de 2.400 rpm durante 5 minutos. Esse processo foi repetido três vezes a

fim de prolongar o tempo de sobrevivência das larvas em ambiente refrigerado.

RESULTADOS

Os gêneros identificados nas fezes dos ovinos doadores foram Haemonchus sp (Fig. 1) e

Trichostrongylus sp na proporção 0,8 e 0,2 respectivamente e as amostras apresentaram de 0-2.300 ovos

por grama de fezes.

Figura 1. Larva de Haemonchus spp. (Objetiva 40x).

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DISCUSSÃO

Foi a primeira vez que um estudo dessa natureza foi realizado nessa região. Entretanto, os gêneros

identificados nesse trabalho já foram identificados em outras regiões do Brasil [3,4,6,7]. A ausência do

diagnóstico de outros gêneros pode indicar a susceptibilidade desses gêneros às bases farmacológicas

empregadas em associação com a raça resistente [1].

Devido ao histórico de desverminação recente, Haemonchus spp. e Trichostrongylus spp.

manifestaram sinais de resistência aos princípios ativos dos fármacos administrados a esses rebanhos. Por

isso, o estudo revelou a necessidade de se estudar o grau de resistência dos helmintos gastrintestinais e

empregar o controle integrado nos rebanhos ovinos provenientes da região em estudo.

CONCLUSÃO

Haemonchus e Trichostrongylus infectam ovinos Santa Inês e Suffolk na região norte de Mato

Grosso. Porém, essa evidência não exclui a possibilidade da ocorrência de outros gêneros de nematoides

gastrintestinais.

REFERÊNCIAS

1 AMARANTE, A.F.T.; BRICARELLO, P.A.; ROCHA, R.A.; GENNARI, S.M. Resistance of Santa

Ines, Suffolk and Ile de France lambs to naturally acquired gastrointestinal nematode infections.

Veterinary Parasitology, 120: 91-106, 2004.

2 Gordon H.M.L.; Whitlock, H.N. A new technique for counting nematode egg in sheep faeces. Journal

Commonw. Science Ind. Organ, 12(1):50-52, 1939.

3 PEREIRA, R.C.F.; TOSCAN, G.; VOGEL, F.S.F.; SANGIONI, L.A. Resistência múltipla de helmintos

gastrointestinais em ovinos de Rosário do Sul, RS, Brasil. In: 35ᵒ Combravet. Anais... 2008.

4 RAMALHO, L.; PAVOSKI, C.; BOSO, A.L.R.; LOURENÇO, F.J.; SIMONELLI, S.M.; CAVALIERI,

F.L.B. Resistência do Haemonchus contortus e outros parasitas gastrintestinais ao levaminsol, closantel e

moxidectina em um rebanho ovino no noroeste do Paraná, Brasil. In: 35ᵒ Combravet. Anais… 2008.

5 ROBERTS, F.H.S.; O’SULLIVAN, J.P. Methods for egg counts and larval cultures for strongyles

infesting the gastrointestinal tract of cattle. Australian Journal Agriculture Research, 1:99-102, 1950.

6 SCZESNY-MORAES, E.A.; BIANCHIN, I.; SILVA, K.F.; CATTO, J.B.; HONER, M.R.; PAIVA, F.

Resistência anti-helmíntica de nematóides gastrintestinais em ovinos, Mato Grosso do Sul. Pesquisa

Veterinária Brasileira, 30: 229-236, 2010.

7 XAVIER, C.P.; QUADROS, D.G.; RODRIGUES, L.R.A.; CUNHA, L.M.C.S.; PEREIRA, D.C.S.;

CUNHA NETO, W.C. Epidemiologia de helmintos gastrintestinais em caprinos e ovinos pastejando

capim-mombaça. In: Jornada de Iniciação Científica Uneb. Anais... 2004.

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TRABALHOS PREMIADOS NO I ENISAP

PRIMEIRO LUGAR

CAPACIDADE PREDATÓRIA DE Duddingtonia flagrans APÓS TRÊS ANOS DE

ARMAZENAMENTO

Liliani Bandeira de Araújo et al.

SEGUNDO LUGAR

DOENÇAS DE BOVINOS NO NORTE DE MATO GROSSO (2009 - 2012)

Everson dos Santos Damasceno et al.

&

MÉTODO FAMACHA NO CONTROLE DE HELMINTOSES GASTRINTESTINAIS EM CAPRINOS.

Mylena Ribeiro Pereira et al.

TERCEIRO LUGAR

DESEMPENHO PRODUTIVO E QUALIDADE DE CARCAÇA DE MESTIÇAS NELORE X ANGUS

Daniela Reis Krambeck et al.

QUARTO LUGAR

CISTICERCOSE BOVINA NA REGIÃO NORTE DE MATO GROSSO

Danielly Cristina Justo Lolatto et al.