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A Propósito do V Colóquio sobre Línguas e Culturas Pré-Romanas da Península Ibérica A. Marques de Faria Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico c A recente publicação das Actas do V Coloquio sobre lenguas y culturas prerro- manas de la Penfnsula Ibérica. organizadas pelos professores JÜfgen Untermann e Francisco Villar, numa edição da Universidade de Salamanca, não podia deixar de ser assinalada. Tendo os col6quios ant~riores sido sucessivamente realizados em Salamanca (1974), Tübingen(1976), Lisboa (1980) e em Vitoria (1985), coube a vez à cidade de Col6nia de, em Novembro de 1989, acolher alguns dos mais reputados especialistas nas matérias que têm servido de'tema a estes encontros. À semelhança das actas dos col6quios anteriores, também as que acabam de ser publicadas, e que passaremos a comentar, constituem uma obra de grande qualidade, traduzindo a situaçãoactualdos estudosrespeitantesàs culturase às línguasda Hispâniapré-romana. O primeiro trabalho, da autoria de M. Almagro Gorbea (pp. 21-48), versa sobre o sistema palacial na Península Ibérica, merecendo especial relevo os resultados das escavações realizadas no palácio/santuário de Cancho Roano (Badajoz) ao longo da década de 80. O autor relaciona este tipo de estrutura com a arquitectura oriental e com a ideologia dinástica subjacente, que serviria de inspiração à monarquia here- ditária tartéssica, reflectida em conhecidos relatos míticos. Estranhamos que, sobre esta questão, M. Almagro Gorbea se limite a citar os trabalhos de J. C. Bermejo, L. García Iglesias e de L. García Moreno (p. 38, nota 95), sem que se preocupe em destrinçar as respectivas teses. Aliás, o que separa estes dois últimos autores do primeiro é precisamente a intenção por estes manifestada de questionar a historici- dade de tais mitos, apenas recolhidos nalguma historiografia helenística,que Ber- mejo considera terem tido um fundo real. Ao interpretar o santuárioproto-hist6rico de Alhonoz (Sevilha) - considerado por López Palomo, responsável pelas escavações, um centro de distribuição de cerâ- mica ibérica - como um armazém palacial (p. 40), M. Almagro não teve em conta as incontomáveis semelhanças existentes entre este dep6sito votivoe o de Garvão, que dificilmente admite uma interpretação diversa da que foi propugnadapelos res- pectivos escavadores; ambos devem constituir dep6sitos votivos secundários, insta- lados em santuários dedicados a uma ou a várias divindades femininas. Segue-se um trabalho de F. Chaves e de M. L. de la Bandera, consagrado às pouco conhecidas cerâmicas figurativas orientalizantes (pp. 49-89). Sem pôr em 145

A propósito do V Colóquio sobre Línguas e Culturas Pré-Romanas da Península Ibérica

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A Propósitodo V Colóquio sobre Línguas e CulturasPré-Romanas da Península Ibérica

A. Marques de FariaInstituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológicoc

A recente publicação das Actas do V Coloquiosobre lenguasy culturasprerro-manas de la Penfnsula Ibérica. organizadas pelos professores JÜfgenUntermann eFrancisco Villar, numa edição da Universidade deSalamanca, não podia deixar deser assinalada. Tendo os col6quios ant~riores sido sucessivamente realizados emSalamanca (1974),Tübingen(1976), Lisboa (1980) e em Vitoria (1985), coube a vezà cidade de Col6nia de, em Novembro de 1989, acolher alguns dos mais reputadosespecialistas nas matérias que têm servido de'tema a estes encontros. À semelhançadas actas dos col6quios anteriores, também as que acabam de ser publicadas, e quepassaremos a comentar, constituem uma obra de grande qualidade, traduzindo asituaçãoactualdos estudosrespeitantesàs culturase às línguasda Hispâniapré-romana.

O primeiro trabalho, da autoria de M. Almagro Gorbea (pp. 21-48), versa sobreo sistema palacial na Península Ibérica, merecendo especial relevo os resultados dasescavações realizadas no palácio/santuário de Cancho Roano (Badajoz) ao longo dadécada de 80. O autor relaciona este tipo de estrutura com a arquitectura oriental ecom a ideologia dinástica subjacente, que serviria de inspiração à monarquia here-ditária tartéssica, reflectida em conhecidos relatos míticos. Estranhamos que, sobreesta questão, M. Almagro Gorbea se limite a citar os trabalhos de J. C. Bermejo, L.García Iglesias e de L. García Moreno (p. 38, nota 95), sem que se preocupe emdestrinçar as respectivas teses. Aliás, o que separa estes dois últimos autores doprimeiro é precisamente a intenção por estes manifestada de questionar a historici-dade de tais mitos, apenas recolhidos nalguma historiografia helenística,que Ber-mejo considera terem tido um fundo real.

Ao interpretar o santuárioproto-hist6rico de Alhonoz (Sevilha) - consideradopor López Palomo, responsável pelas escavações, um centro de distribuição de cerâ-mica ibérica - como um armazém palacial (p. 40), M. Almagro não teve em contaas incontomáveis semelhanças existentes entre este dep6sito votivoe o de Garvão,que dificilmente admite uma interpretação diversa da que foi propugnadapelos res-pectivos escavadores; ambos devem constituir dep6sitos votivos secundários, insta-lados em santuários dedicados a uma ou a várias divindades femininas.

Segue-se um trabalho de F. Chaves e de M. L. de la Bandera, consagrado àspouco conhecidas cerâmicas figurativas orientalizantes (pp. 49-89). Sem pôr em

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causa OSevidentes influxos orientais, patentes não só na iconografia utilizada mastambém na tipologia dos suportes cerâmicos, importa assinalar que a respectiva áreade distribuição (p. 51, Fig. 1), correspondente ao vale do Guadalquivir, não se coa-duna com a atribuição às colónias fenícias instaladas no litoral de um papel relevantena divulgação de tais objectos e da temática neles ilustrada. Por outro lado, conti-nuam a faltar as provas arqueológicas que fundamentema colonização do hinterlandmeridional por gentes oriundas do Próximo Oriente.

A Oretânia entre os séculos VIe rn a.c. é o tema tratado por M. P. García-Gela-bert e por J. M. Blázquez (pp. 91-109). A maior parte da comunicação é dedicada àsíntese dos resultados obtidos em diversas intervenções arqueológicas em Cástulo,sob a direcção do segundo signatário. Entre as ideias aqui defendidas, que retomam,grosso modo. muito do que já se conhecia de anteriores escritos dos autores, valeráa pena salientar a que, a propósito do chamado santuário do Cerro de La Muela,postula o carácter nacional da religião oretana (p. 106). Parece-nos, contudo, algoanacrónica a existência de uma consciência nacional em datas tão recuadas, aindaque exteriorizada sob a forma de práticas cultuais. Importa ainda observar que aexistência do templo pré-ibérico de La Muela foi recentemente posta em causal.

Depois de F. Jordá se debruçar sobre as navegações pré-históricas no Atlântico,que, segundoele, se vêem reflectidas nas gravuras rupestres deLaja Alta (Cádis) (pp.111-126), surge um trabalho de T. Júdice Gamito, no qual é defendida a origem celtade Tartessos(p. 133). Sobressaino referido estudoa publicação de uma série de datas(p. 132) que parecem comprovar a anterioridade dos povoados de Segóvia (Elvas) eBaldio (Arronches) relativamente às necrópoles da Favela Nova e do Pego (Our-ique), ambas pertencentes à chamada Cultura do Sudoeste.Esta caracteriza-se, gros-so modo, pela existência de necrópoles, constituídas por sepulturas de cistas rectan-gulares de pedra, assinaladas por estelas de xisto, gravadas com o recurso a umsistema de escrita oriundo do Mediterrâneo oriental. Aquelas necrópoles encontram--se sobretudo no interior do Algarve e no distrito de Beja, apresentando os objectosnelas recolhidos, também de procedência ou de influência oriental, uma cronologiaque não ultrapassa os finais do século V a.C.

Contra uma origem celta de Tartessos parece colocar-se Ph. Kalb, ao relatar ahistória da utilização do termo «celta» na investigação arqueológica sobre a Penín-sula Ibérica (pp. 143-157).De modo prudente, esta investigadora duvida da validadedo registo arqueológico isoladamente considerado, como meio de identificar a ori-gem étnica dos povos que habitaram as regiões meridionais da Península Ibérica (pp.144, 150), ao mesmo tempo que questiona o valor das fontes escritas a que muitasvezes se recorre no intuito de serem encontradasas provas insofismáveis da presençacelta nas mesmas áreas (p. 154).

A seguir (pp. 159-188), E. Llobregat tece importantes considerações em tomoda arte e da cultura ibéricas, alertando para factores de carácter metodológico, sus-ceptíveis de questionar grande parte do que tem sido escrito a respeito da origem daarte ibérica e das alegadas influências que sobre ela terá exercido a arte grega.

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Reveste-se igualmente de bastante interesse o texto da conferência proferida porM. Pellicer(pp. 189-207), que traça um panorama geral da arqueologia proto-his-t6rica da Andaluzia e do Sul do território português. Várias teorias que estavam emvias de se transformar em dogmas são, neste artigo, objecto de desmontagem, desdea colonização fenícia do interior Sul da Península (pp. 190-191) até à extracção indo--europeia dos habitantes de Tartessos, ideia esta alicerçada na origem indo-europeiado nome Arganthonios, monarca tartéssico dado a conhecer por Heródoto. Aconteceque, assim como o top6nimoTartessos reflecte uma helenização linguística, pelomenos ao nível do sufixo, também Arganthonios deverá ser uma adaptação à fonéticagrega, se não for uma tradução para esta língua de um nome pessoal não indo--europeu (p. 192)2. .

Em relação à Cultura do Sudoeste,não é fácil provar que esta se tenha estendidopara além dos finais do século V a.C. (p. 203).

V. Pingel encerra a secção respeitante à pré-história e à arqueologia com um estudosobre as esteJas decoradas do Sudoeste (pp. 209-231), confrontando-as, sempre quepossível, com os vestígios materiais dos objectos que elas ilustram. A ourivesariaproto-hist6rica decorada com gravuras, alvo recorrente da atenção do autor, é tambémtrazida à colação, na tentativa de identificar a cultura material e a área de influência dopovo gravadordas estelas. .

A introdução e o uso da escrita no vale médio do Ebro é o tema do valioso trabalhoapresentado por F. Beltrán (pp. 235-272). Sendo um dos mais extensos entre os quefiguram nas presentes actas, não é de admirar que algumas das afmnações produzidassejam motivo de controvérsia. Não será certamente o caso da alusão a supostasemissões monetárias bilingues cunhadas em Emporia( e) (p. 245, nota 27), que, afmal,nunca existiram. Já quanto às legendas toponímicas das moedas ibéricas e celtibéri-cas, independentemente de se 'saber se elas eram causa ou reflexo do processo dealfabetização dos indígenas, não noS parece congruente defender, por um lado, quetais legendas constituem o principal factor diferenciador das emissões de cada umadas cecas (p. 259) e, por outro, afumar que o reconhecimento dos poucos signoscomponentes do nome de uma ceca não implica necessariamente saber ler (p. 260).

«Dos de *Seteis», tradução aventada por F. Beltrán para a legenda monetáriaseTeisKen (p. 261), é apenas uma das duaship6teses possíveis, dado que podemosestar perante um nominativo do plural. Além disso, a forma latina Sedetani colocagrandes entraves à leitura daquele top6nirno como *Seteis ou *Sedeis'. O s deverácertamente pertencer ao sufixo ibérico -sKen, testemunhado em diversas legendasmonetárias (uRKesKen, iKalesKen, etc.). A tratar-se de um genitivo, a traduçãomais plausível seria «dos de *Sede».

Ainda a prop6sito de legendas monetárias, convirá esclarecer que, diversamentedos outros exemplos apontados (p. 262, nota 75), que são top6nimos, TiKirsKine éum nome pessoal. '

O texto da conferência de F. Beltrán é seguido de uma curta comunicação de G.Chic sobre as estelas decoradas do Sudoeste (pp. 273-279), assunto que, sob outroprisma, já havia sido abordado por V. Pingel (v. supra). O tema é agora tratado com

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o recurso a conceitos tomados da antropologia cultural e a passagens de textos clás-sicos com algum sabor etnográfico. Tão-pouco são esquecidos os testemunhosarqueol6gicos dos bens de prestígio que as esteJasperpetuaram.

Em relação à cronologia das estelas, assunto que introduzo trabalho em questão(p. 273), importaria saber qual a razão que levou G. Chic a situá-las nos meados doprimeiro milénio a.C., contrariando a tese predominante que lhes atribui uma data-ção nunca posterior ao século VI a.C.

Regressamos à epigrafia com um breve ensaio de J. d'Encarnação (pp. 281-287)sobre a interpretatio religiosa. Nele, o autor alerta para as cautelas de que se devemrodear aqueles que investigam a religião lusitano-romana com base nas inscrições,mostrando, através de alguns exemplos, a variedade de obstáculos que se levantamquer à detecção das influências sofridas pelas populações autóctones ante a intro-dução de deuses e de cultos al6genos, quer à avaliação dos efeitos que a religiosida-de indígenaterá produzido nas crençase nos cultos introduzidospelo invasor romano.

O estudo que se segue, da responsabilidade de G. Fatás, versa sobre a conquistaromana dos Pirenéus Meridionais (pp. 289-315). Ao descrever a actividade deSert6rio naquela região, durante a resistência contra as tropas de Pompeio, Fatásidentifica Calagurris como uma. das bases do exército rebelde, fazendo derivaraquele top6nimo de * KalaKoRiS (p. 300 e nota 26); todavia, tanto quanto sabemos,a documentação conhecida cauciona somente o nome dos respectivos habitantes:KaIaKoRiKoS. Aliás, estamos persuadidos de que a introduçãoda sibilante final emCalagurris é fruto da latinização do top6nimo, com vista a facilitar a respectivadeclinaçã04; refIra-se que as primeiras emissões monetárias latinas desta cecaostentam ainda a forma CALAGVRRI(RPC1431)5.

O único trabalho de natureza numismática, assinado por M. P. García-Bellido,tem por tema a hist6ria monetária da Ibéria durante a Segunda Guerra Púnica. Muitose tem avançado no conhecimento das emissões monetárias daquela época, em boaparte graças aos importantes estudos empreendidos pela autora. No entanto, a recen-te publicação de muito material inédito, integrável nesta conjuntura, aconselha algu-ma prudência nas conclusões a extrair da análise respectiva. Eis algumas obser-vações ao que pode ser lido nestas páginas e que consta de outros trabalhos da autora,quase todos citados nas notas de rodapé:

Sobre o nome da castulonense [milce (p. 323, nota 15), convirá conhecer aposição de J. de HOZ6,com a qual já manifestámos a nossa concordância'. Importaesclarecer, por outro lado, que M. L. Albertos8 qualificou sucessivamente aquelenome pessoal como indo-europeu (p. 268), celta (p. 271) e, por fim, como ibérico (p.289). Em trabalho posterior ao citado por García-Bellido, aquela investigadoraatribuiu-lhe uma origem indo-europeia9.

Do ponto de vista metodol6gico, não se nos afigura pertinente a inclusão dasséries VIIIe ]X de VillarongalOna mesma ceca, pelo simples facto de algumas peçasda série ]X terem sido cunhadas sobre as da VIII (p. 323, nota 16); sem querermosduvidar daquela atribuição, a recunhagem pode, em termos genéricos, constituirmais facilmente um argumento em favor da distinção de cecas.

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A colonia latina de Carteia ostenta nas suas amoedações nomes de magistradosindubitavelmente itálicos, numa confinnação do que se sabe acerca das circunstân-cias da sua fundação. Estranhamos, por isso, que a autora veja nas abreviaturas Q.e AED., correspondentes respectivainente a Quaestor e a Aedilis(les). uma traduçãoromana de cargos públicos de origem púnica (p. 325, nota 20).

Apesar das conjecturas formuladas porGarcía-Bellido, sem bases mais consis-tentes do que alegadas afmidades ao nível do significado das legendas e da orien-tação dos signos que as compõem (pp. 326-327), não vislumbramos qualquer razãopara crer que as moedas n" 1,2,3 e 5 (est. 2) tenham sido cunhadas em Saguntumdurante o domínio púnico da cidade, já que os letreiros estão escritos em ibérico ea tipologia remete preferencialmente para modelos iconográficos romanos. De facto,as cabeças de Marte (ou de Roma?) (n" 1 e 5), os touros androprósopos (n" 1 e 2),a efígie feminina com barrete frígio (n!! 5) e as cabeçaS de cavalo (n" 2, 5 e 6)apontam inquestionavelmente para protótipos romanosl1.

Se a iconografia do reverso da moedan!! 9 (est. 2) deixa supor que a efígie doanverso represente uma divindade púnica aparentemente masculina - Eshmun,segundo García-BelIido -, já não é unânime a aceitação da correspondência entreEshmun e Esculápiol2, sendo ainda mais problemática a equivalência Eshmun--Apolol3;quererá a autora dizer que Asclépio/Esculápio e ApoIo eram confundíveisem termos iconográficos?

RefIra-se ainda que o exemplar ilustrado com o n210 (est. 3) ostenta um pégasono reverso, e não um cavalo (p. 333).

A o.bra«Colonial Elites», de R. Syme, é objecto de análisepor parte de M. Koch(pp. 349-360), sobretudo naparte que se refere aoprotagonismo de algumas famíliasno processo de romanização de diversos centros urbanos da Hispânia no períodorepublicano. É dadoparticular relevo às «grandes famílias» deNoua Karthago. estu-dadas pelo autor noutras ocasiões.

O livro em apreço prossegue com um estudo de A. Lozano (pp. 361-409),consagrado à origem e à transmissão da antroponímia grega no território hispânico,segundo os dados transmitidos por quase trezentas inscrições.

O já célebre pacto de hospitalidade de Montealegre serve de pretexto a G.Pereira Menaut para proceder ao estudo de um tipo de organização suprafamiliar daárea celtibérica, a cognatio (pp. 41'1-424),até há pouco conhecida de modo incorrec-to por gentilitas, ou, de maneira mais prudente, por «genitivo de plural». O excelentetrabalho que entretanto J. Velazal. publicou sobre a mencionada inscrição veiomostrar que as traduções até aí apresentadas - incluindo a de G. Pereira no presenteestudo - enfermavam de várias incorrecções. Ressalta, pela negativa, no texto emquestão, a interpretação de Cabrumuriae de Paligo como nomes de lugar (p. 413)1$.

Assinalem-se ainda mais duas observações a propósito de outras tantas ideiasperfllhadas pelo autor.

Estamos em crer que Magilan(i)cum deriva de um antropónimo *Magilanus<<*Magilanos e não de um Magilus (p. 417).

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Preferimos pensar que as cognationes atestadas em comunidades diferentes mascomo mesmonomeeramgruposdistintos- e não exemplos dispersos da mesmacognatio (p. 421) -, tal como eram vários e de procedências diversas os indivíduosque estavam na origem do nome de cada uma delas.

J. L. Ramírez Sádaba sucede a G. Pereira com a apresentação de alguns nomespessoais e de um teónimorecolhidos em inscrições achadas na província de Badajoz,todos eles pré-romanos, de extracção indo-europeia (pp. 425-444). Pelas caracterís-ticas invulgares de que se reveste, mereceu a especial atenção do autor o te6nimo*Bandus Malunricus.

Embora o estudo de P. Rodríguez tenha por título «Sobre las gentes de Hispa-nia» (pp. 445-460), s6 acessoriamente é que tal tema é tratado em relação à realidadepeninsular; na verdade, é a discussão do pr6prio conceito de gens nas suas diversasacepções que ocupa a maior parte do trabalho.

A. Rodríguez Colmenero debruça-se sobre a epigrafia de Aquae Flauiae e arre-dores (pp. 461-484), numa reflexão sobre o corpus de inscrições daquela área doNoroeste peninsular por ele publicado há poucos anosl6.Muito haveria a dizer sobreas leituras propostas naquela obra e retomadas no texto em causa; fiquemo-nos,porém, por dois reparos:

A expressãoRes Publica Interamnensium (p.469) deverá dar lugar a Respublicalnterámicoruml7.

Prescindimos naturalmente de interpretar as inscrições bilíteras das ests. VIIIeIX; estamos persuadidos, no entanto, de que a inscrição mais extensa, ilustrada nestaúltima estampa, admite com alguma segurança a leitura P. SEVER!.

A terceira e última secção das presentes actas, dedicada à epigrafia indígena elínguas pré-romanas, abre com uma comunicação de J. M. Anderson (pp. 487-498).Nela, o investigador canadiano tenta provar que as semelhanças existentes entre alíngua basca e a língua ibérica não são fruto do acaso, podendo detectar-se entreambas «uma certa congruência» (p. 498).

Prossegue esta secção com um estudo da autoria de P. Campmaj6 e de J. Unter-mann sobre as inscrições rupestres em escrita e em língua ibéricas, identificadas nosPirenéus orientais, na fronteira entre a Espanha e a França. Decerto revestindo umcarácter religioso, os grafitos gravados no xisto são os únicos testemunhos da pre-sença de !beros na região, uma vez que os vestígios arqueol6gicos são até agorainexistentes.

Em relação às inscrições propriamente ditas, gostaríamos de deixar registadosalguns comentários, não sem referirmos que os c6digos alíanuméricos entre parên-teses identificam as inscrições nos Monumenta Linguarum Hispanicaruml8.

Inscrição nQ2 (p. 506): estamos convencidos de que KeBeITeR(e), KeBelKa eKeBelsilun(in) são nomes pessoais; neste último, é not6ria a presença do elemento*iITun, seguido do sufiXofeminino -inI9.

Inscrição nQ3 (p. 506): parece-nos admissível isolar um antrop6nimo TerKa se-guido do sufixo -is20;para o primeiro elemento existe um paralelo em TeRKeKiner(F.20.1).

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B IBLIOTE CA

Inscrição n°5 (p. 506):BeKeraeKiTe pode ser um antrop6nimo;v. aBaRieKiTe(F.13.4), aBaRieiKiTe (F.6.1) e SalKiTei (B.7.36).

Inscrição n° 7 (p. 510): julgamos preferível isolar TiKi-Belsir como nomepessoal. Aos exemplos da utilização do componente onomástico TiKi há que juntarBoToTiKi (F.9.5) e, talvez, TiKiTeKeR (G.16.1).

Inscrição n° 11(p. 514): aTinBoBeS é certamente um nome pessoal trimembre;na nota 49 (p. 515): o antrop6nimo de Enguera (F.21.1) deve ser interpretado daseguinte maneira: TueiT(u)- iKe-ilTun.

Inscrição n° 19 (p. 518): não é de descartar a eventualidade de estarmos peranteo antrop6nimo TaKaR(aR?)Bi no fIm da inscrição.

O signário de Espanca volta a servir de mote a J. A. Corres para uma interes-sante exposição acerca da escrita do So e de questões correlativas(pp. 521-562).Conquanto não se prendam directamente com o tema central do trabalho, pensamosserem pertinentes.as seguintes observações:

É hoje indiscutível que, no sistemado SE,o signo 14corresponde a Be (p. 535),o signo 16. a Te (p. 537) e o signo 47, a e (p. 548).

À luz de uma inscrição recentemente descoberta, ainda inédita (Bastida VI),'eque chegou ao nosso conhecimento graças à amabilidade de D. Domingo FletcherValIs21.é provável que o hom6grafo do signo 18 no sistema do SE tenha, ao menosna dita inscrição, o valor deKu, se for o conhecido elemento lexical KuTuR22 aencerrar a seguinte trnse: SnTaRlaBiTan: KoSBiTeRTuan: KoiKaKis(Ku?)TuR.Dado que o mesmo signo serviu noutros documentos para representar tanto jkjf-/gi/(em G.7.2, G.12.1, G.16.3. G.16.1, G.16.4 e num grafito cerâmico de Baeza23)como/kJ-/g/ (A.l00-13; G.15.1;H.5.1), para além de abreviar um valormetrol6gico (G.O.le G.7.2), a fixação definitiva do grafema que, no sistema do SE,devia representar asílaba ibérica /ku!-/gu/ deve ter sido algo problemática. Este facto vem ajudar ademonstrar a neutralização, na fonética turdetana, da oposição o/u, preconizada porCorres no presente texto. Repare-se que, na já citada inscrição ibérica de Mogente(G.7.2), a sílaba /ku/, presente no nome pessoal Ku)eSTauTin24,é veiculada por umsigno criado ad hoc a partir de Ko.

A Ategua e a Munigua. top6nimos turdetanos onde é manifesta a sequência -gu-(p. 557), podemos juntar Isurgutes e Chilasurgun2J,nomes que designam duas orga-nizações suprafamiliares (ou centúrias?) turdetanas. Talvez Curiga (plínio, NH ill.13)possa constituir um exemplo do emprego de velar surda seguida de lu/; contudo.a origem turdetana deste top6nimo carece de confumação.

Entre os testemunhos da utilização do sufixo toponírnico, -oba conta-seOs(s)onoba. grafia conhecida através das fontes clássicas e da epigrafia (p. 552).Contudo. também neste top6nimo se verifica o fecho do segundo o em u, já queOsunuba é a forma atestada em moedas romanas de bronze cunhadas na cidade ondehoje se localiza Faro.

Continuando a demonstrar a ausência de oposição o/u na língua turdetana,Corres argumenta a dado passo que o sufixo toponímico -turgi surge com o em

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Conistorgis, por esta cidade se situar no actual territ6rio português, onde se falariauma língua diferente daquela (p. 552). Porém, se em Apiano encontramos a formaConistorgis, nos Fragmentos de Salústio pode ler-se Conisturgis26;mesmo que fosseConistorgis a única grafia conhecida, estaríamos, do nosso ponto de vista, peranteum caso de deturpação provocada pela transmissão greco-Iatina, corroborada peloacrescento do s final, que nada teria de indígena. Ambas as alterações são detectáveisem Amtorgis (Tito Lívio, XXV, 32), top6nimo que não se relaciona com o Sul doterrit6rio português e com a língua que aí se falaria há 2500 anos.

D. E. Evans sucede a J. Correa com uma conferência sobre o celta continental,e, em especial, sobre o celtibérico (pp. 563-608), chamando a atenção para os diver-sos problemas de ordem morfol6gica e sintáctica que impedem uma cabal compreen-são da língua em apreço.Evans aproveitou ainda a oportunidade para tratar de algunsmistérios que envolvem a chamada língua lusitana, chegando a atribuir-lhe umaorigem não celta e mesmo não indo-europeia (p. 598).

Igualmente de grande interesse é o trabalho de J. Gorrochategui (pp. 609-634),que analisa as relações entre a onomástica euscárica - documentada apenas emescrita latina - e a ibérica, retomando um tema que já havia ocupado parte da suatese de doutorament027.

Passando a comentar alguns casos concretos, afigura-se-nos legítimo compararo nome pessoal aquitano (ou ibérico?) ~atinizado Borsus com Bors(Te)aBaRKeBors(Te) (C.2.3) (pp. 610-611); se este último vocábulo (ou conjunto devocábulos?) não for um antrop6nimo ibérico, poder-se-á relacioná-lo, com as neces-sárias reservas, com o numeral basco hamabortz<*hamar-borse«<quinze»)(p. 611),correspondendo Bors a «cinco».

Embora o autor perfilhe a ideia de que o sufixo ocoacompanha sempre a baseantroponímica Tals- (p. 613), o nome pessoal Tautindals (Turma Salluitana) parececontrariá-la.

Um dos factores que, de acordo com Gorrochategui, distinguem a onomásticaeuscárica da ibérica reside na existência de aspiração, anotada mediante h (p. 616).No entanto, se, por hip6tese, a língua euscárica fosse exclusivamente perpetuadaatravés da escrita ibérica, poderia a aspiração ser detectada?

Por outro lado, será que na língua ibérica não existia aspiração, ou, simples-mente, não havia sido criado qualquer signo no semi-silabário levantino que aanotasse? É que, se, de facto, a aspiração tivesse existido - ao menoscomo umfen6meno dialectal -, não vislumbramos de que maneira seria ela identificada noreferido signário.

Sublinhe-se que a aspiração detectável em Vrchatetelli (gen.) (CILTI2967)28,Vrchail (CILTI1087), Vrhela (Hispania Epigraphica 2, 1990, nQ336) e Sisucurhil(A.I03-4) era, em escrita meridional, representada por Ka; é o que se depreende dosantropónimosuRKaU(A. 100-2)e uRKaUBi(A.l00-8,-9)(v. infra), certamenterelacionados com aqueles. Falta ainda saber se Ka representava lha! ou apenas /h/;Vrchail abona a primeira hipótese, enquanto Vrhela e, sobretudo, Sisucurhil susten-

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tam a segunda. Em reforço desta última possibilidade, importa ainda ter presente queKa poderia ter o valor de /kI_/gf9.

Não é fácil provar que a aspiração, igualmente evidente em Chadar (TurmaSalluitana) e em {L?]eihar (Tabula Contrebiensis), se tenha generalizado a toda alíngua ibérica3°. De qualquer modo, não é de excluir que a representação defh(a)/porKa tenha ocorrido não apenas no signário meridional mas também no levantino,sendo igualmente possível que os outros silabogramas de base consonântica velartenham, em qualquer dos signários, servido para veicular a aspiração. É certo que aaspiração em Vrchatetelli. em Chadar e em {L?]eihar pode ser justificada pelasinfluências fonéticas exercidas peloeuscáric031; no entanto, esta mesma causa já nãoserve para fundamentar a existência de aspiradas nos restantes antrop6nimos,por-quanto eles encontram-se atestados no Sul e no SO da Península, longe dos domínioslinguísticos do euscárico, mas também fora das áreas onde se falava o ibérico. Sãoduas as explicações passíveis de serem fornecidas para explicar este facto: ou aquelesnomes pessoais são total ou parcialmente alheios à onomástica ibérica32, ou entãoestam os perante um fen6meno análogo ao evocado anteriormente para explicar o hde Vrchatetelli: a presença de antrop6nimos ibéricos. num territ6rio marcadolinguisticamente pela aspiração. Neste caso, uRKailBi seria decomponível emuRKa-iIBi, identificando-se o primeiro elemento com o que encontramos, u. g., emVrchatetelli e em urkabolo33, correspondendo ilBi ao primeiro componente deilBiKon (C.2.8) (v., no entanto, infra). Seja qual for a hip6tese correcta, é inques-tionável a existência de uma área linguística meridional onde a aspiração ocorre comalguma frequência. Para além dos casos supracitados, ela encontra-se atestada emChilasurgun e 19a1chis. nomes presumivelmente turdetanos, e também em lnsgha-na34, sendo este talvez um representante da onomástica pessoal ibérica, caso oparalelo com lnsilur (C/L TI 5923) (= *ins-ilTur?) não se restrinja à fonética. SeKanan (H.5.l) tiver a mesma origem do segundo componente do nome pessoal emapreço, estaremos perante um bin6ri1io semelhante a urKaiIJVrchail, com a aspira-ção, evidente em latim, a passar completamente despercebida no antrop6nimo grava-do em caracteres meridionais. Este facto é ainda passível de reequacionar o problemaque se prende com a representação dá aspiração no signário do SO, podendo aquelaestar representada neste último através do signo 14 (p. 535 destas actas). .

Voltemos a {L?]eihar (Tabula Contrebiensis), tido como um antrop6nimo eus-cárico pela generalidade dos investigadores, para justificar a nossa proposta dereconstituição da letra sumida no início. Partindo do pressuposto de que {L?]eiharé um nome pessoal ibérico, em caracteres levantinos corresponderia a *leiKaR oua leKaR, nome repetido em B.7.35, e base de leKaRKo (F.13.3) e de leKaRSoR(B.7.36). Porém, considerando que ei tanto pode estar por e como por i (v. infra), onome pessoal em questão também poderia ser lido como *{L?]ihar, tanto mais quea mesma Tabula Contrebiensis exibe vários vocábulos que apresentam ei por i: quei,ceiuitas. ele. Se assim for, será possível relacionar *{L?]ihar com liKor (E.l.396)e com liKine, atestado em E.7.l, num grafito sobre campaniense B35e numa inscri-ção em opus Signinum. análoga a E.7.l, de Andelos (Andi6n, Navarra) (v. infra).

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PENáoPE-FAZER E DESFAZER A HISTóRIA

Sobre o emprego de nes e de baS, elementos que entram na formação de nomespessoais e que Gorrochategui considera apenas como sufixos (p. 622), vale a penarecordar que o primeiro está presente em neselTuKo (A.100.8,-9) e emNesille (Tur-ma Salluitana). e o segundo em BaSBin (B.7.34), BaO1:yeppoçe BaO'1tE5- (v. p.658 destas actas), exemplos a juntar aos três que são fornecidos por Untermann36.

Ao contrário do que sustenta o autor (p. 623), a sibilante S regista-se tambémem começo de palavra; comprovam-no os nomes pessoais SaniBeiR (F.9.7),SaniBar (B.7.36), SaIBiTas (G.15.l), SaIBiBi [... (F.9.2), SaIBiRiar37, SalKiTei(B.7.36) e SiBiBolai (A.lOO.2).

Se BelenKu (Osséja 2) (v. pp. 508-509 destas actas) for efectivamente umantrop6nimo, a geminada de Belennes (Turma Salluitana) explica-se facilmente porBelen-nes e não, como advoga Gorrochategui, por *beleS-nes (p. 624).

Aos nomes pessoais ibéricosreferenciados pelo autor, que contêm o componen-te BeR (i) (p. 627), importaacrescentarBeRiKaRs (D.3.l; F.6.l) e SaniBeiR (F.9.7).

leKaRKo (F.13.3,7), neselTuKo (A.100.8,-9),BolsKo (CA.l), BonKo (C.4.l)e *eteko38são mais cinco antrop6nimos a acrescentar aos que, de acordo com Gorro-chategui, levam o sufixo -to (p. 628).

Uma última observaçãoa este importanteartigo(p. 634): aunin- não iaunin-, éa forma correcta do componente onomástico ibérico feminino, já que a segmentaçãodos nomes pessoais onde aquele elemento está indubitavelmente documentad039seprocessa do seguinte modo: Bastog-aunin. Unin-aunin. Galdur-i-aunin e Soced-ei--aunin, curiosamente, todos os quatro exemplos atestados em inscrições em alfabetolatino.

Segue-se o texto da conferência de J. de Hoz, subordinada ao título «La lenguay Ia escritura ibéricas, y las lenguas dos meros». Neste trabalho, J. de Hoz analisa,com a erudição que se lhe reconhece, a situação linguística da área ibérica daPenínsula, dentro das limitações estabelecidas pelos dados actualmente disponíveis.Entre os assuntos discutidos conta-se o do lugar de origem da escrita levantina,inclinando-se o autor para apontar a Contestania como berço daquela inovação (p.662). Também é devidamente evidenciada a função de linguafranca desempenhadapelo ibérico nas relações comerciais entabuladas entre mercadores das mais diversasetnias que exerciam a sua actividade entre Massalia e Saguntum (pp. 656-657).

Abordada por mais de uma vez no presente texto, é a questão relativa à exis-tência de várias nasais na língua ibérica e à sua representação no signário meridional(pp. 639, 643, 661). Já em anteriores trabalhos defendemos a existência neste signá-rio de um signo correspondente à nasal labial que está presente em diversostop6nimos de provável origem turdetana, sem, contudo, termos referido que o únicoexemplo, em língua ibérica, da utilização do signo meridional correspondente a mparece encontrar-se na mais problemática das inscrições recolhidas em El Amarejo40:]KeeTen:uRKeTeKem:.

Continuamos a colocar algumas reservas à origem ibérica de Vrchail (CILII1087) (p. 646 e nota 28); uma tal atribuição é contrariada não s6 pelos outros dados

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que o identificam na inscrição supracitada-Attitaf. Chilasurgun-como tambémpela procedência meridional- alheia à área ibérica - dos paralelos gráfica e fone-ticamente mais pr6ximos: Vrhela (HispaniaEpigraphica 2, 1990,n°336), Sisucurhil(A.I03-4), uRKaiJ (A.1O0-2)e uRKaiJBi (A.1O0-8,-9).Este último, segmentávelem uRKaiJ-Bi (v. sis-Bi (B.1.373) e Sis-be41),tem sido lido por diversos autorescomo urKailTu42;no entanto, neselTuKo, o nome do outro magistrado obulconenseque partilha com uRKailBi a responsabilidade da emissão monetária A.100-8,-9,ostenta o silabograma Tu, inquestionavelmente semelhante a Bi, mas gravado demaneira a impedir qualquer confusão com este signo. Podemos apresentar aindaoutras razões - de menor peso, é certo -, que dificultam a leitura daquele nomepessoal como *uRKailTu: a primeira prende-se com-aausência de exemplos de ilTucomo elemento fmal de nomes pessoais ibéricos, conhecendo-se tão-somente ilTune ilTur/ilTuR43; a segunda tem a ver com o ineditismo que revestiria a abreviaçãode *Vrchail(l)u e *Sisucurhil(l)u em Vrchail e em Sisucurhil, respectivamente; aterceira diz respeito à extensão de SiBiBolai, o nome do magistrado que acompanhauRKail na emissão A.100~2. Se o antrop6nimo em questão fosse efectivamente*uRKailTu. mesmo não sendo abreviado, ocuparia, com seis signos. menos espaçoque SiBiBolai. De tudo isto se pode inferir que VrchailluRKail constitui um nomepessoal completo. dificilmente integrável na onomástica ibérica. Seja como for, assemelhanças detectáveis entre este nome pr6prio e os vários antrop6nimos ibéricoscomeçados por uRK-44 servem para avaliar o grau de influência exercida pelaonomástica ibérica sobre a turdetana.

Mudando de assunto. é para n6s claro que J. Untermann tinha razão quandoidentificou o signo 15do signário meridional (Fig. I, p. 637) com a segunda vibranteibérica. apesar de J. de Roz continuar a duvidar de tal identificação (p. 648).

Em relação aos antrop6nimos detectados em Ullastret e em Azaila, que o autor,na sequência de Untermann, considera seremnão ibéricos (p. 654). ocorre-nos obser-var o seguinte: não sendo certo que todos os vocábulos aduzidos correspondam aantrop6nimos, cabe a possibilidade de que BaRToin, BoBoRBa, TiBaRSar, anTu.aBoKi, aTiKis, BarTar, BarBor, BaTeBa, BoKau, TiKaYe e euKin (prov. deBarcelona) pertençam à antroponímia ibérica. Quase todos encontram paralelos noreport6rio antroponímico de Untermann45;os restantes, apesar de serem compostospor elementos que não integram tal report6rio, não serão, ipso facto, excluíveis daonomástica pessoal ibérica.

No que toca ao trabalho deMoMayer e J. Velaza, que recolhe aepigrafia ibéricasobre suportes tipicamente romanos, parece-nos oportuno registar a seguinte obser-vação, . respeitante à inscrição n° 11 (p, 675): na segunda linha, preferimos lerKoRneli em vez de KoRnele por duas razões: a primeira é de ordem paleográficae prende-se com a forma pontiaguda que apresenta o limite superior do último signo.em tudo semelhante aos Üe aos no gravados na mesma epígrafe, e bem diversa daforma rectangular que ostenta o mesmo limite no único e que faz parte do mesmonomen; a segunda baseia-se na terminação em -i, que invariavelmente levam osantrop6nimos latinos terminados em -jus, grafàdos em caracteres ibéricos: Kai=

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PENÉLOPE -FAZER E DESFAZER A HISTÓRIA

=Caius. luKi =Luciuse TiBeRi =Tiberius"6.Se houver que identificar o vocábuloque antecede KoRneli com opraenomen respectivo, preferimos, pelas razões acimaenunciadas, ver nele um ma]RKe (Marcus) em lugar de um l]uKe (Lucius), comopropõe Untermann47.

C. Beirão trouxe ao colóquio de Colónia alguns dados respeitantes à escavaçãoda necrópole do Pardieiro (Odemira) (pp. 683-696), integrável na Cultura do Sudo-este. Três lápides epigrafadas e dezenas de contas de pasta vítrea contam-se entre oespólio mais significativo recolhido neste importante sítio arqueológico.

F. Motta incide a sua atenção sobre as fórmulas onomásticas celtas na Anti-guidade (pp. 697-718), catalogando-as de acordo com tipos previamente estabele-cidos. Como não podia deixar de ser, as inscrições celtibéricas fornecem a maiorparte do material analisado, a par das inscrições em alfabeto grego que contêmantropónimos gauleses.

M. l. Panosa estuda o papel da escrita nas relações sócio-económicas e culturaisvigentes na sociedade ibérica do NE da Península (pp. 719-725). A natureza prag-mática e objectiva dos documentos conhecidos é um facto a realçar, demonstrando--se assim a importância da escrita na normalização e na institucionalização de deter-minadas relações comerciais, detectáveis sobretudo em povoados situados no litoralou com fácil acesso a cursos de água.

O vocalismo na língua ibérica é o assunto tratado num trabalho assinado por A.Quintanilla (pp. 727-737).

Entrando já na discussão deste tema, podemos dar por assente que nas legendasmonetárias não se verifica qualquer variação no vocalismo dos topónimos gravados,porquanto os testemunhos fornecidos pelo autor (p. 729) pertencem a cecas diversas.

Aos exemplos de legendas monetárias ibéricas que sofrem uma mutação vocá-lica de i, o para e, u, quando transcritas para latim, Quintanilla junta o exemplo deiBolKa (A.l00) (p. 730). Estamos, porém, convencidos de que o fenómeno demutação fonética é, neste caso, mais complexo, não só porque afecta todas as vogaisdo topónimo mas também porque estamos perante um nome não ibéric048.

O autor fornece um exemplo da utilização em nomes pessoais da sequênciavocálica ei em substituição de i (p. 734), mas outros podiam ser aduzidos, tais comoKolBeiTor (B.1.373), laBeisiR (F.20.1), laBeisilTuniR (F.20.1), laKeReiarTuR(C.1.5) e lueiKa~9; lembremos, como afins deste último, os dois problemáticosnomes próprios começados por lui-, recolhidos por Silesso.Por outro lado, eTeiTor(F.20.2), SalKiTei (B .7.3 6), KiTeiBors (F.20.1), aBaRieiKiTe (F.6.1), SaniBeiR(F.9.7) e sorseiTeR (C.1.8) testemunham o emprego de ei por e, a par dos doisantropónimos arroladospor Quintanilla. Documentado numa inscrição recentementepublicada, recolhida em Castellet de Banyoles (Tivissa)SI,o nome pessoal ulTiBeireflecte igualmente o mesmo fenómeno.

Sicae (CILTI169), considerado pelo autor como um componente onomásticoibérico (p. 734), não passa do genitivo de SiGa.nome pessoal feminino inscrito numaestela funerária achada na ermida de S. Pedro, Alter Pedroso, Alter do Chão (enão

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em Portoalegre (SiC»S2.Contra uma origem ibérica de SiGapoderemos aduzir opatronímico Maelo, claramente lusitano, e ainda o local de achamento - termo dePalência - da outra inscrição que, a par desta, documenta o nome pessoal SiGa.

V. Valeri, na sua abordagem ao complexo problema das nasais ibéricas (pp.739-746), afmna, em determinada altura (p. 741, nota 16), serem muito escassas aspalavras ibéricas começadas por n. Entre os oito testemunhos por ele arrolados, doisnão são ibéricos: neronKen e nerToBiS. Porém, no precioso índice de palavras emescrita levantina dos MLHm, 1 (p. 284), conseguimos recolher mais cinco, além deRigoR(B.7.35), nisoRBar (F.9.6) e noroBoR (B.7.34). Palavras igualmente ibéri-cas, ainda que escritas em caracteres meridionais, são nanBan (G.7.2) e neselTuKo(A.100.8,-9). .

Os nove exemplosde utilizaçãode m em posiçãofinal, recolhidosporUntermann no já mencionado índice dos MLHm, 1 (p. 307), parecem contradizer aafmnação de Valeri, que sustenta não existir tal signo naquela posição (p. 742).

O penúltimo trabalho a surgir nas actas em análise diz respeito às inscrições da«Casa de LIKINE»(Caminreal, Teruel) e é subscrito por J. Vicente, M. P. Punter, C.Escriche e A. I. Herce (pp. 747-772). A mais importante das inscrições é, sem dúvi-da, a que figura num pavimento de opus Signinum. Trata-se de um texto em línguae em caracteres ibéricos: IiKineTe.eKiar.useKeRTeKu. Entretanto, foi publicadauma inscrição muito semelhante a esta, também gravada num pavimento de opusSigninum descoberto em escavações arqueol6gicas realizadas no sítio de Andelos(Andi6n, Navarra) e que se transcreve da seguinte maneira: liKine.aBuloRaune.eKien.BilBiliaRsS3. liKine, antrop6nimo registado em ambas as inscrições, nãoparece ser uma adaptação à escrita ibérica do nomenromano Licinius, porquanto osantrop6nimos com aquela origem terminados em -ius ostentam em ibérico o signoi em posição final (v. supra). Também o nome pessoal gaulês Catulatios. documen-tado em caracteres ibéricos num chumbo exumado em Ampurias, surge sob a formaKaTulaTi, seguido do morfema -en (v. p. 652 destas actas). Ora, se Catulatioscorresponde a KaTulaTi, ou a KaTulaTie, como prefere J. de Hoz (p. 652),Liciniusdaria, em ibérico, *IiKini ou *liKinie; no entanto, nenhuma destas formas seencontra atestada até agora neste signário. Julgamos, por conseguinte, ser lícitoanalisar liKine no contexto da onomástica pessoal ibérica. Assim, o elemento li podeencontrar paralelos em leisir (B.7.34), liKor (E.1.396) e leitiR (G.9.5). O compo-nente Kine, por seu turno, integra os antrop6nimos ibéricos BeKonKine (F.20.1),BeTuKine (F.17.2), TiKirsKine (A.6.13) e *korokine54,sem esquecer o já referidoliKinc, documentado num grafitosobre um fragmento de campaniense Bss.

A respeito da inscrição de Andelos, divergimos da interpretação dada até agoraa aBuloRauneS6;o facto de cada uma das palavras que compõem a frase estar devi-damente individualizada mediante a aplicação de vários pontos verticais leva-nos aadmitir que aBuloRaun é um antrop6nimo ibérico que ostenta o sufixo -c, conhe-cendo-se outros casos em que este surge posposto a nomes pessoaisS7;aquele devesegmentar-se do seguinte modo: aBu-IoR-aun. aBu encontra-se documentado em

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PENá..OPE - FAZER E DESFAZER A HISTÓRIA

aBulTum (D.3.1) e deve ser variante de aBa, presente em aBoBaKer (C.2.3),aBoKi (E.1.20-.23), aBoKo (B.1.21), aBoKers (v. pp. 514-515) e, talvez, emBiKelaBo (F.9.2). laR figura nos seguintes antrop6nimos: BarTaSTolor (C.17.1),10RsuR (B.7.35), laRgar (B.7.36), aiBeloR (G.16.l) e 10rTiKirs (F.1UO). Por fim,auo surge em auoTiKi (AA). Entre as restantes inscrições publicadas no presentetrabalho, permitimo-nos salientar as que figuram em duas marcas impressas numtijolo, uma em caracteres ibéricos e a outra em caracteres latinos (pp. 760-765). Aprimeira apresenta a seguinte transcrição: BilaKeaiunaTineo.aBiner; a segundaenvolve alguns problemas de leitura, sendo apenas certo que principia do seguintemodo: FL(aeeus).A[...]. Temos algumas dúvidas quanto à interpretação que destamarca fazem os autores: FL(aeeus) ATILI/L(uel) S(eruus). Não é de rejeitar ahip6tese de o selo ibérico ser uma tradução do selo latino (p. 764), mas não há dadosconcretos que o comprovem.

As actas ora comentadas encerram com um extenso e importante estudo de F.Villar, consagrado às sibilantes em celtibérico (pp. 773-811). Sem querermos ques-tionar as ideias que estruturam este trabalho, não podemos deixar de colocar duasobjecções:

A primeira prende-se com a correspondência, presumida por Villar, entreiKesanKom eleositani (plínio, NHill, 19) (p. 804). Sucede que a legenda monetáriaiKesaoKom remete naturalmente para uma cidade celtibérica ou povoada porCeltiberos, enquanto os leositani são os habitantes de leosium. cidade situada nolitoral da Mauretania.

A segunda tem a ver com a asserção de que a sibilante final presente naslegendas monetárias BilBilis e oRoSis é herdada de uma sibilante indo-europeia,tendo, por conseguinte, nestes dois top6nimos, um fundamento etimol6gico (p. 792).No entanto, para além de não haver a certeza de BilBilis e oRoSis serem nomes deorigem celta ou mesmo indo-europeia (v. infra), em algumas moedas onde figuramaqueles top6nimos, a sibilante final encontra-se ausente. Este fen6meno regista-seem caracteres ibéricos nas emissões de oRoSiss8e apenas em caracteres latinos nosnumismas bilbilitanos (RPCI 388). Todavia, esta razão não é suficiente para deixar-mos de ver no emprego do s final na maior parte dos cunhos monetários de oRoSise de BilBilis uma influência da língua latina, até porque, importa não esquecê-lo, asemissões monetárias em questão contaram com a supervisão das autoridades roma-nas. Há um outro argumento que pode ser esgrimido no sentido de demonstrar quepelo menos o s de BilBilis - à imagem dos ss finais de Calagurri(s). Astigi(s).Baesuri(s) e Murtili(s) - não passa de um -i latinizado em -is a fim de facilitar arespectiva declinaçã059:trata-se de BilBiliars, palavra que fecha a supracitadainscrição de Andelos; também aqui o s, que lemos em quase todas as legendasmonetárias bilbilitanas, se encontra ausente.

Por outro lado, se para oRoSi não é fácil encontrar paralelos na toponímia ibé-rica, a terminação de BilBili recorda vários nomes de cidades não indo-europeus, e.g.. Gili, Tagili. Saeili e Murtili, presumíveis possuidores do sufIXoibérico -ili<*-ilTi

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(=«cidade»), sendo Bilbao (Bilb + suf. -ao) o paralelo mais pr6ximo da basetoponímica. Contudo, ainda mais forte é a possibilidade de este nome se relacionarcom Bilibil(ea), top6nimo basco atestado num documento do Cartulário de Leire(pamplona) datado do século XI60.Também aqui se verifica o redobro do elementobil-, fen6meno que confere a tal vocábulo o significado de «redondo» (=biribil).Nãopode ser descurada aideia de que aquele elemento, igualmente presente em Intibili,nome de uma cidade a localizar nas proximidades de Caste1l6nde la Plana, a sul dafoz do Ebro61,tivesse em ibérico o mesmo valor semântico. Em qualquer dos casos,seja qual for a origem do top6nimo em apreço, ela será sempre não indo-europeia,constituindo o s final um acrescento de origem latina.

Terminados estes nossos comentários, s6 podemos fazer votos para que o VICol6quio sobre Lfuguas e Culturas Pré-romanas da Península Ibérica, uealizar emCoimbra em 1994, culmine com a publicação de umas actas tão interessantes comoas que tivemos oportunidade de apreciar.

1 L. Sll..OOGAUCHE, «Sobre un Inexistente Templo Preibérico de Cástulo», Arse, Sagunto,24, 1989, pp. 825-831.

2 J. UN1ERMANN,«Lenguasy UnidadesPolíticas deI Suroeste Hispânicoen ÉpocaPrerromana», Sep. de De Tartessos a Cervantes, K6ln-Wien, Bohlau Verlag, 1985, p. 18.

3 L.PÉREZVILA1ELA,«llercavones, Celtíberos y Cartagineses en 218-217 a.C.», Caesarau-gusta, Zaragoza, 68, 1991, p.218.

4 P.JACOB,«A propos des toponymes Callet, Ceret, Osset», Emerita, Madrid, 54, 1986, p.278, nota 27.

5 RPC1=A.BURNETI,M.AMANDRYe P.P.RIPOLLEs,Roman Provincial Coinage. V01.I:From the Death of Caesar tothe Death ofVitellius (44 BC-AD69), London-Paris, BritishMuseum-Bibliotheque Nationale, 1992.

6 J. de HOZ,«La Epigrafía Meridional Prelatina en Hispania», in Actas del I Coloquio sobreLenguas y Culturas Prerromanasde la Pen{nsulaIbérica (Salamanca, 27-31 mayo 1974),Salamanca, Universidad, 1986, pp. 227-317.

7 A.M.de FARIA,«Ainda sobre o Nome Pré-romano de Alcácer do Sal», Vipasca, Aljustrel,1, 1992,p. 43.

8 M.L. ALBERTOS,La Onomástica Personal Primitiva de Hispania Tarraconense y Bética,Salamanca, Universidad, 1966.

9 M.L. ALBERTOSFIRMAT,«Onomastique Personnelle Indigene de la Péninsule Ibériquesous la Domination Romaine», in Aufstieg uM Niedergangder Rõmischen Welt, 11.29.2,Berlin-New York, Walterde Gruyter, 1983, p. 880.

10 L. VILLARONGA,Las Monedas Hispano-Cartaginesas, Barcelona, Asociación Numis-mática Espaiiola, 1973.

11 A.M.BURNETI,«The Iconography of Roman Coin Types in the Third CenturyBC», TheNumismatic Chronicle, London, 146, 1986, pp. 67-75.

12 J.FERRON,«La Religion Punique de.Carthage», Studi Sardi, Sassari, 29, 1991, pp. 246--247; F. O. HVIDBERG-HANSEN,«Osservazioni su Sardus Pater in Sardegna», AnalectaRomana Instituti Danici, Roma, 20, 1992, p. 12.

13 J.1EIXIDOR,«L'Interprétation Phénicienne d'Héracles et d'Apollon», Revue del'Histoirefies Religions, Paris, 100, 1983, pp. 243-255; S.LANCEL,Carthage, Paris, Fayard, 1992,pp. 228,232.

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PENáOPE -FAZER E DESFAZER A HISTóRIA

14 1.VELAZAFR.ÍAS,«Aportaciones a la Interpretación deI Bronce de Montealegre (Vallado-lid»>, Faventia, Barcelona, lI, 2, 1989, pp. 105-120.

IS F. BELTRÁN, «Parentesco y Ciudad en la Céltica Hispana», Dialogues d'H istoire Ancienne,Besançon, 18,2,1992, p. 202, nota 37.

16 A. RODRfGUEZCOLMENERO,Aquae Flaviae I. Fontes epigráficas, 2 vols., Chaves,Câmara Municipal, 1987.

17 P.LEROUX,«Aux Frontieres de l'Epigraphie Juridique: l'Inscription d'Asadur, Orense (AE1973,317=1974,394»>, inActas dei Coloquio InternacionalAI E.GL. sobre Novedades deEpigrafla Jurídica Romana en el Último Decenio, Pamplona, Universidad de Navarra,1989, p. 341.

18 MUl III =1.UNlERMANN, Monumenta Linguarum Hispanicarum. Band III, Die IberischenInschriften aus Spanien, Wiesbaden, Dr. Ludwig Re1chertVerlag, 1990.

19 MUlIII, I, p. 205.20 MUlIII, I, p. 166.21 D.FLETCHERVALLSe H.BONET,«Bastida VI. Un Nuevo Plomo Escrito de la Bastida de

les Alcuses» (no prelo).22 MUl III, I, p. 190.23 1. A. CORREA,«Inscripción Vascular Indígena Hallada en Baeza (Jaén»>, Archivo de

Prehistoria Levantina, Valencia, 19, 1989, pp. 183-189.24 A. M.de FARIA,«Antropónimosem InscriçõesHispânicasMeridionais»,Portugalia,

Porto, 11-12,1990191,pp. 77, 78.2S A. M. de FARIA (v. nota 7), p. 44.26 I.L. de VASCONCELLOS,Religiões da Lusitania, m, Lisboa, Imprensa Nacional, 1913, p.

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Bilbao, Universidad deI País Vasco, 1984. ,28 C/LII= E. HúBNER,Corpus Inscriptionum Latinarum, lI, Berlin, Georg Reimer, 1869.29 1.A. CORREA,«Ibérico: CaSt(i)lo, Ibolc(a), latín: Castulo, Obulco», Habis, Sevilla, 14,

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