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INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DA AMAZÔNIA FACULDADE MARTHA FALCÃO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL NATHANE CHRYSTINE DOVALE CUNHA A PARTICIPAÇÃO PÚBLICA NA IMPRENSA: DA COMUNICAÇÃO EM MASSA À COBERTURA COLABORATIVA

A Participação Pública na Imprensa

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INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DA AMAZÔNIAFACULDADE MARTHA FALCÃO

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

NATHANE CHRYSTINE DOVALE CUNHA

A PARTICIPAÇÃO PÚBLICA NA IMPRENSA: DA COMUNICAÇÃO EM MASSA ÀCOBERTURA COLABORATIVA

MANAUS – 2013NATHANE CHRYSTINE DOVALE CUNHA

A PARTICIPAÇÃO PÚBLICA NA IMPRENSA: DA COMUNICAÇÃO EM MASSA ÀCOBERTURA COLABORATIVA

Trabalho de Conclusão de Cursoapresentado ao Curso de ComunicaçãoSocial da Faculdade Martha Falcão,como requisito parcial à obtenção dograu de Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Prof. MsC. Jimi Aislan Estrázulas

MANAUS – 2013NATHANE CHRYSTINE DOVALE CUNHA

A PARTICIPAÇÃO PÚBLICA NA IMPRENSA: DA COMUNICAÇÃO EM MASSA À

COBERTURA COLABORATIVA

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito

parcial para obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo no Curso

de Comunicação Social, da Faculdade Martha Falcão.

Manaus, _____/_____/_____

Banca Examinadora:

______________________________________

Prof. Msc. Jimi Aislan Estrázulas

(Orientador) – Faculdade Martha Falcão

______________________________________

Prof. Msc. Grace Soares

Faculdade Martha Falcão

______________________________________

Prof. Msc. João Bosco Ferreira

Universidade Federal do Amazonas

A Joana Dovale e Terezinha Do Vale, com muito amor.

AGRADECIMENTOS

Não há dúvidas que sem o carinho, a dedicação e apoio da

minha mãe, Joana Dovale, eu nem estaria escrevendo esses

agradecimentos. Portanto,é a ela a quem em primeiro lugar

agradeço, principalmente pela paciência de ter aguentado meu mau

humor nesse período.

Agradeço a minha avó, Terezinha Dovale, por ter nervos de

aço e com tanta força vencer cada dia mais. Ela, diante de tantas

histórias de superação, é minha maior fonte de inspiração para

continuar lutando pelas coisas que eu sonho e quero.

Ao meu orientador, Jimi Aislan Estrázulas, pela coragem de

ter aceitado meu projeto, após algumas rejeições, pela paciência

demonstrada,por não ter dado confiança aos meus desesperos, pelo

incentivo e pela amizade.

Ao meu grande amigo-irmão, Adonis Perfeito, por diversas

vezes ter me amparado, aturado minhas ansiedades, nas noites não

dormidas e principalmente por saber sorrir comigo.

Agradeço bastante ao Kleiton Renzo, que me abriu os olhos

para coisas que eu não conseguia ver no meu trabalho, por ter

sido tão parceiro e tão fofo.

Agradeço aos colaboradores e parceiros do Coletivo Difusão,

que durante oficinas de cobertura colaborativa contribuíram na

germinação das ideias deste trabalho, em especial Allan Gomes,

pelas conversas, debates e ajuda nas traduções, e ao Thiago

Hermido, grande parceiro de conversas e amadurecimentos.

Agradeço a Andrea Oliveira, minha irmã e melhor amiga, ao

Eddy Fernandes por todo apoio e carinho necessário que me deu, a

Susy Freitas e Aline Fidelix, pelos materiais que ofereceram e

que ajudaram bastante.

Ao Cláudio Pinheiro, Juliana Sá, Rafael Valentim, Lívia

Anselmo e Thalita Beatriz pelas conversas fortificantes.

Aos meus professores, em especial a Lourdes Moraes, que são

colaboradores disso tudo.

A turma talentosa da UEA, que diversas vezes me

amparou:Janaína, Ítalo, Karol, Gleidistone, Eduardo e Jhonatas.

Aos que trabalham no Portal D24AM, principalmente ao meu

editor Dante Graça e Manuella Barros, pela compreensão quando

precisei me ausentar para realizar este trabalho.

Por amor ou por besteira?Chico Science e Nação Zumbi

Só existe imprensa livre quando o povo é livre; imprensa

independente em nação independente - e não há nação

verdadeiramente independente em que o seu povo não seja livre.

Nelson Werneck Sodré

CUNHA, Nathane Chrystine Dovale. A Participação Pública na

Imprensa: Da Comunicação em Massa à Cobertura Colaborativa. 2013.

76 fls. Trabalho de Conclusão de Curso. (Curso de Graduação em

Comunicação Social: habilitação em Jornalismo). Instituto de

Ensino Superior da Amazônia – Faculdade Martha Falcão, Manaus.

2013.

RESUMO

Este trabalho é uma análise histórico-comunicacional da

participação social na produção de notícias e tomada das mídias

como uso pessoal. Através de pesquisa bibliográfica, este

trabalho se propôs a explorar um tema que inicia um processo de

discussão pública, qual seja, a participação social na produção

de conteúdos. Essa participação tem relação direta não só com o

domínio tecnológico dos aparelhos, como a tomada para si do

processo democrático do espaço público. A retomada histórica traz

a noção de que o processo de participação e emancipação social

não é resultado da dominação midiática, sobretudo com os

dispositivos móveis, mas de um amadurecimento político-

democrático caro ao processo de constituição da pós-modernidade,

cujo início data dos anos 1970, mas que continua hoje em franca

metamorfose.

PALAVRAS–CHAVE: Jornalismo colaborativo, Jornalismo comunitário,

Cobertura colaborativa, Jornalismo, Mídias Sociais.

CUNHA, Nathane Chrystine Dovale. The Public Participation in the

Media: From Mass Communication to Cover Collaborative. 2013. 76

fls. Completion Of Course Work. (Social Communication Graduation

Course: Journalism degree). Community College Amazonian - Martha

Falcão College, Manaus. 2013.

ABSTRACT

This work is a communicational historical analysis of social

participation in the production of news and the media outlet as

personal use. Through literature, the study proposes to explore a

theme that begins the process of public discussion that is social

participation in content production. This participation is

directly related not only to the field of technological devices,

like taking for themselves the democratic process of public

space. The historical resume brings the notion that the process

of participation and social emancipation is not the result of

media domination, especially with mobile devices, but a political

and democratic maturity from postmodernity. Process beginning in

the 70s, but which continues today in frank metamorphosis.

KEYWORDS: Collaborative Journalism, Community Journalism,

Collaborative Coverage, Journalism, Social Media.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA

1

Página de notícias do

Portal JusBrasil

5

2

FIGURA

2

Página de notícias do

Portal Estadão

5

2

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................1

1 SOCIEDADE OBSERVA A MÍDIA.....................................3

1.1 Surgimento da Imprensa......................................3

1.2 Espaço Público............................................ 8

1.3 Fortalecimento das mídias................................. 12

1.4 O quarto poder............................................ 19

1.5 Agenda-setting e gatekeeper................................................................................. 22

2 SOCIEDADE COMEÇA A PARTICIPAR DA PRODUÇÃO DA MÍDIA...........26

2.1 Pós-Modernidade e os Novos Movimentos Sociais..............26

2.2 Ciência Pós-Moderna........................................30

2.3 Escolas de Estudo em Comunicação...........................32

2.4 Jornalismo Comunitário.....................................33

2.5 Comunicação Popular Participativa..........................37

3 SOCIEDADE PARTICIPA ATIVAMENTE...............................40

3.1 Digitalização dos Medias...................................41

3.1.1 A Mobilidade das Mídias..................................48

3.2 Usuário como gerador de conteúdo e as Mídias Sociais.......49

3.3 Jornalismo Participativo...................................53

3.4 Cobertura Colaborativa.....................................55

CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................59

REFERÊNCIAS....................................................62

INTRODUÇÃO

Este projeto pretende traçar, em ordem cronológica, como se

desenvolveu a participação do público na imprensa. Para que se

entenda de que forma ocorreu essa emancipação da sociedade frente

aos primeiros moldes das mídias, foi realizado um estudo

bibliográfico da história da imprensa, desde seu surgimento até

os dias atuais. Através desta modalidade de pesquisa,

estabeleceram-se dois momentos que marcam a participação popular

na imprensa: o jornalismo comunitário e a cobertura colaborativa.

O jornalismo comunitário, que foi impulsionado pelos estudos

da Escola Latino-Americana, permite que a comunidade participe

das pautas e apurações de notícias, além de incentivar um debate

acerca do que está sendo noticiado. Neste caso, o jornalismo

comunitário permite que a comunidade seja um agente importante.

Já a cobertura colaborativa valoriza a diversidade de

olhares acerca dos eventos produzidos, a utilização da internet

para difundir produtos comunicacionais e o livre arbítrio na

produção da matéria (que pode ser feita coletiva ou

individualmente).

Assim, como objetivos específicos relacionados ao

planejamento, esta pesquisa buscou: a) observar como a sociedade

percebe a mídia desde o início da imprensa; b) analisar o momento

a partir do qual se pode perceber intervenções de público no

cotidiano de produção de notícias dos jornais; e c) esclarecer

1

de que maneira a sociedade observa a mídia como plataforma

participativa.

Para que sejam sustentadas as discussões do tema e nas

vivências empíricas passadas dentro das redações e em oficinas de

cobertura colaborativa este trabalho apresenta ampla variedade de

referenciais teóricos. Dessa forma, as constatações deste projeto

são de caráter teórico relevante, pois a partir da história da

comunicação, delimitado no surgimento da escrita, até a forma que

atualmente se trabalha a produção de notícia, será traçada uma

ordem cronológica de participação do público na imprensa.

A motivação na escolha deste tema partiu de duas ideias

macro. A primeira surgiu de situações vivenciadas em empresas

jornalísticas aliadas a estudos teóricos sobre jornalismo

comunitário; já a segunda se deu a partir do contato que

estabeleci com a cobertura colaborativa do Festival de Artes

Integradas Até o Tucupi nos anos de 2011 e 2012, na cidade de

Manaus.

A responsabilidade do jornalismo em ser honesto (quanto às

notícias que são veiculadas, e não apenas reproduzir declarações

não apuradas de fontes, diga-se) , dá ao espectador um estado de

confiança nos meios de comunicação. Contudo, por motivos

empresariais, como patrocínios e publicidade, o serviço de

interesse público acaba por ser esquecido.

Através dos avanços tecnológicos e pelo fato de a rede

online agregar cada vez mais público, percebemos que os segmentos

2

sociais demonstram grande interesse em atuar diretamente nas

notícias que são veiculadas.

No primeiro capítulo desta pesquisa, é esmiuçado o

surgimento da imprensa desde o aparecimento da escrita. Nele,

busca-se relatar de que forma a mídia surgiu, bem como as

dificuldades enfrentadas pelos interesses predominantes. Assim,

relacionam-se então estas características à participação do

público, ainda tímida.

O segundo capítulo analisa como a pós-modernidade

influenciou nas ideologias da sociedade a ponto de questioná-las

sobre tudo que antes era apenas obedecido. Expondo os novos

movimentos sociais e o impacto que estes causaram tanto em

comportamentos, quanto nos estudos acerca da comunicação, este

capítulo demonstra o que de fato estimulou o público a olhar a

mídia com outros olhos.

No terceiro capítulo, finalmente, é exposta a maneira pela

qual as novas tecnologias influenciaram a dinâmica dos meios de

comunicação a fim de que estes tornassem o público mais

participativo. A partir daí, fala-se sobre o jornalismo

participativo como forma de familiarizar a sociedade com a

imprensa e sobre a cobertura colaborativa dos festivais de música

e sua influência na participação pública nas mídias.

Ao final desta pesquisa são feitas considerações sobre quais

formas diretas e indiretas contribuíram para uma imprensa local

mais participativa, mesmo que toda essa mudança ainda não seja

tão clara ao público.

3

1 SOCIEDADE OBSERVA A MÍDIA

1.1 Surgimento da Imprensa

Datada em aproximadamente cinco mil anos antes de Cristo, a

escrita é atribuída ao povo de Uruk, ao sul da Mesopotâmia (atual

região ocupada pelo Estado do Iraque). A despeito disso, foi em

idioma sumério que se encontrou monumentos escritos em

pictogramas e ideogramas1, visto que na época não existia o

alfabeto tal como o concebemos atualmente, pois o abecedário

atual só foi sistematizado três mil anos depois pelos fenícios.

A invenção da escrita pelos sumérios partiu de necessidades

de administração diretamente ligadas ao comércio como, por

exemplo, cobrança de impostos, registro de cabeças de gado, etc.

Buggy (2013) declara que primeiro surgiram os pictogramas e

somente quatro mil anos depois estes foram transformados em

ideogramas. Fica claro, portanto, que os eventos anteriores a

esta transformação eram somente registrados pela tradição oral e

esta evolução, por sua vez, permitiu que o homem literalmente

escrevesse a sua história.

Desse modo, percebe-se que a evolução dos símbolos

representantes de objetos para símbolos representantes de ideias

se deu por uma necessidade dos sumérios de cada vez mais

legitimar seus pensamentos e expressões através da escrita.

1 A escrita cuneiforme inventada pelos Sumérios consistia em dois tiposdiferentes de sinais. O de pictogramas era um símbolo que representava umobjeto, como o desenho da palma da mão significava “palma”. Já o ideograma eraum sinal que representava uma ideia, no qual se utilizavam o método de deduçãoe de associação de ideias para formá-los.

4

Provando que a necessidade de expressão através da escrita

não era exclusiva do povo sumério, logo houve a transição do

ideograma para o hieróglifo2, sistema no qual se permitia a

palavras novas ou desconhecidas a possibilidade de serem

pronunciadas conforme seus sons, utilizando sinais gráficos

familiares. Nesta nova fase da história da escrita se admite

outra evolução gradual silábica na qual palavras desconhecidas

poderiam ser escritas, conforme declara Buggy (2013).

Todos os povos que tiveram sua importância na origem da

escrita estavam ligados ao comércio e mantinham negócios com a

China através de intermediários. Deste modo, avalia-se a

possibilidade dos povos Uruk, fenícios e sumérios – que tiveram

grandes influências neste processo- sido a grande inspiração dos

chineses, afinal a técnica de imprimir com caracteres tem origem

asiática no século XI, através de ensaios de impressão por meio

de caracteres móveis, só que de terracota, que tornava o sistema

mais caro.

A grande revolução na difusão da escrita é marcada pela

invenção da imprensa. Na China, a impressão praticada desde o

século VIII (talvez até antes desse período) tinha geralmente

como método utilizado a chamada impressão em blocos, no qual se

usava um bloco de madeira entalhada para imprimir uma única

página de um texto específico.

2 O sistema hieróglifo surgiu por volta de 2.800 a.C. no Egito e consistiaoriginalmente em representar as palavras por meio de figuras que poderiamter dois ou mais significados, como por exemplo as palavras ”laranja”,“manga”, etc.

5

O procedimento era apropriado para culturas queempregavam milhares de ideogramas, e não um alfabetode 20 ou 30 letras. Provavelmente por essa razão tevepoucas consequências à invenção de tipos móveis noséculo XI na China. No entanto, no início do séculoXV, os coreanos criaram uma fôrma de tipos móveis.(BRIGGS; BURKE, 2006, p. 24).

A invenção ocidental – como ficou conhecida a prensa gráfica

criada pelo alemão Johannes Gutenberg (c.1400-68) no século XV–

que imprimiu em papel a Bíblia pode ter sido estimulada pelas

notícias do que acontecia no Oriente.

O mérito da invenção da imprensa fora atribuído a Gutenberg,

por conta da ideia dos tipos móveis – a tipografia – e pelo

aperfeiçoamento da prensa, “que já era conhecida e utilizada para

cunhar moedas, espremer uvas, fazer impressões em tecido e

acetinar papel”, conforme afirma Gaspar (2004, p. 1). O

aprimoramento da prensa teria acontecido em uma casa de moeda, na

cidade alemã de Mogúncia, onde o pai e o tio de Gutenberg eram

funcionários e ali ensinaram a ele a arte da precisão em

trabalhos de metal.

Partindo para Estrasburgo, Gutenberg desenvolveu, no ano

provável de 1442, um pedaço de papel com onze linhas, neste que

seria o primeiro exemplar de sua prensa original. Vinte anos

depois, ele regressou à Mogúncia, fazendo ali empréstimo de 800

ducados com Johann Fust e, em seguida, fundando a Fábrica de

Livros (Das Werk der Buchei). (GASPAR, 2004, p. 2).

Somente no início de 1450, Gutenberg teria iniciado a

impressão da Bíblia em módulo de quarenta e duas linhas, em duas

6

colunas, publicada em 1455. Porém, para Defleur e Ball-Rokeach

(1993), Gutenberg não tinha ideia de que sua invenção (que

precisou de mais de vinte anos de aperfeiçoamento) seria bem-

sucedida.

Segundo Briggs;Burke (2006), Gutenberg teria escolhido a

impressão da bíblia como primeiro trabalho a ser comercializado

para os ricos, pois para ele, o grande público encararia suas

impressões como imitação ordinária e os amantes dos livros iriam

preferir uma cópia à mão.

Defleur e Ball-Rokeach (1993) declaram que Gutenberg não

chegou a desfrutar os resultados da invenção, pois precisou de

pesados empréstimos para aperfeiçoar o sistema. Após terminar a

impressão da bíblia, o advogado que concedeu empréstimos a

Gutenberg o processou , conseguindo, assim, despojá-lo de sua

oficina, de sua invenção por inteiro, dos exemplares da Bíblia e

de tudo que ele tinha. Ao fim desse processo, cerca de dez anos

depois, Gutenberg morreu pobre.

Para Tosseri (2010), porém, Gutenberg não inventou a

imprensa no século XV, mas a reinventou, pois, a invenção do

papel pelos chineses nos anos 105 da era cristã abriu caminho

para uma produção, ainda artesanal, de um maior número de livros.

Além do mais, já existiam a gravura em pedra e a impressão em

blocos, criada pelos chineses.

[...] O alemão Gutenberg, dito inventor da imprensa,mas na verdade foi um homem que aperfeiçoou de maneiradecisiva a arte asiática. Ele desenvolveu os

7

caracteres móveis de chumbo, que podiam ser utilizadosindefinidamente, além de uma nova tinta de impressão ea prensa de imprimir. Com isso, mudou definitivamenteo mundo, em todas as suas dimensões: política,econômica, social e religiosa. (TOSSERI, 2010, s/p)

Com a diáspora dos impressores germânicos, era produzida uma

média de 500 cópias por edição, equivalendo a 13 milhões de

livros circulando naquela data em uma Europa de cem milhões de

habitantes. Contudo, a revolução da impressão gráfica não foi tão

facilmente aceita em outros lugares.

Na Rússia e no mundo cristão ortodoxo, onde a educação

formal era confinada ao clero, a imprensa gráfica teve

dificuldades para se habitar. Conforme Briggs e Burke (2006), a

revolução da impressão gráfica não era um fator independente de

acontecer e não se ligava somente à tecnologia, pois era preciso

haver condições sociais e culturais favoráveis para se

disseminar.

A impressão gráfica na Rússia só teve seu lugar quando, no

século XVIII, o czar Pedro, o Grande, foi aos poucos fundando

gráficas, com o interesse na educação, para tornar os russos

próximos da ciência e tecnologia modernas, em especial a militar.

A questão religiosa como detentora da educação e opositora à

revolução da imprensa foi bastante forte no mundo muçulmano. A

oposição à gráfica era justificada pelo medo de cometer heresia e

em função de produzir aprendizado sobre o Ocidente. Chegaram-se,

inclusive, a serem criados decretos punindo com morte quem

praticasse a impressão. 8

Este reflexo da revolução da imprensa na sociedade da época

traz consigo a difusão da alfabetização e a forma que ela

reverberou na formação de opiniões. A impressão gráfica foi

dificilmente aceita, não apenas pela novidade, mas pelo medo dos

poderes predominantes de perderem sua autonomia diante do povo,

visto que através destes novos públicos passariam a ter mais

acesso aos livros e, consequentemente, à informação. Havia o uso

desta restrição por parte do clero e do governo, visto que estes

usufruíam do controle absoluto dos canais de informações e

através dele desenvolviam uma modalidade de oratória estratégica

a ponto de manipular o que deveria ser pensado e obedecido.

Oldenburg, o primeiro secretário da Sociedade Real de

Londres, relacionou a ausência da impressão gráfica com o

despotismo. Em uma carta, em 1659, ele observou que:

O Grande Turco é um inimigo da aprendizagem para seussúditos, porque ele acha vantajoso conservar aspessoas na ignorância para poder impor-se. Por issonão tolerará qualquer impresso, sendo da opinião deque a impressão gráfica e o aprendizado, especialmenteaquele encontrado nas universidades, são o combustívelprincipal da divisão entre cristãos (OLDENBURG, 1659,apud BRIGGS; BURKE, 2006, p.25).

O clero considerava a impressão gráfica um problema, pois

esta permitia aos cristãos de baixa posição na hierarquia social

e cultural da época estudar os textos religiosos de maneira

autônoma ao controle da Igreja e, desta forma, tornavam-se

9

independentes quanto às as autoridades que representavam fontes

de in(formação). (BRIGGS; BURKE, 2006).

A impressão gráfica contribuiu sobremaneira para a difusão

da alfabetização. Ainda com todas suas restrições, no início do

século XVI, vários livros estavam sendo produzidos e seus

exemplares impressos em papel. Uma vez publicados em todas as

línguas europeias e acessíveis a qualquer pessoa alfabetizada em

seu idioma, a ampla disponibilidade dos livros despertou

interesse na aprendizagem da leitura.

Condorcet (apud SANTOS, 2009, p. 15) considerou o surgimento

da imprensa, junto com a escrita, um dos marcos do que classifica

como ”progresso da mente humana”, pois, para ele, a imprensa foi

crucial para a divulgação mais corrente do conhecimento, na

medida que destitui grupos poderosos de um controle eficaz sobre

a informação.

Pela primeira vez, as Escrituras estavam acessíveis emoutra língua que não o latim. Não mais podia a IgrejaRomana guardar cautelosamente as escrituras sagradasgraças ao emprego de uma língua antiga. Aacessibilidade das Escrituras pelas pessoas comuns, emsuas próprias línguas, acabou levando a desafios àsautoridades e às interpretações de Roma. Um novoveículo de comunicação, pois, abriu caminho paraprotestos contra a estrutura religiosa e socialexistente (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 39).

Com a impressão e a ideia de se noticiar acontecimentos

através da escrita, os noticiosos surgiram bastante cedo no

continente europeu. Segundo Rudin e Ibbotston (2008), o primeiro

10

período no qual se teve evidências de que uma população de massa

teve acesso a relatos de acontecimentos impressos foi em meados

do século XVII, durante a Guerra Civil Inglesa3. Porém, não se

sabe ao certo quando surgiu a primeira publicação do que poderia

ser chamado de jornal. Alguns historiadores defendem a ideia de

que esta modalidade de informação surgiu por volta de 1620 na

Itália e na Alemanha.

As restrições a publicar qualquer acontecimento se impuseram

como condição para a circulação dos jornais. Na Inglaterra, por

exemplo, até 1694, qualquer pessoa que quisesse publicar algo

deveria solicitar licença do Estado previamente. Outro ponto

destacado pelos autores é quanto às críticas às autoridades.

Ainda que fossem embasadas e justificadas, quem as fizesse

estaria sujeito à prisão. (RUDIN; IBBOTSTON, 2008)

A liberdade de imprensa foi sendo aos poucos conquistada no

século XVII. Um exemplo disso foi a abolição da Star Chamber, na

Inglaterra, em 1641, evento no qual o Rei se via impossibilitado

de censurar ou barrar questões contenciosas, permitindo, assim,

certa liberdade de imprensa.

Porém, a tal liberdade de imprensa conquistada não durou por

muito tempo. Com a vitória dos Parlamentares na Guerra Civil

Inglesa, fato que gerou a necessidade de propagação de

informações e propaganda, Oliver Cromwell instaurou um rigoroso3 A Guerra Civil Inglesa (1642-1649), também chamada de Revolução Inglesa, foium conflito entre os partidários do rei Carlos I da Grã-Bretanha e osparlamentaristas. Por querer unificar religiosamente o país sob a IgrejaAnglicana, Carlos I enfrentou a Escócia, que era quase totalmentepresbiteriana. Carlos I foi derrotado por Oliver Cromwell, que dominava oparlamento, declarado culpado de traição e em seguida foi executado.

11

sistema de autorização para jornais e severos controles de

impressão: “O London Gazette, fundado em fevereiro de 1666,

sobreviveu ao tempo e hoje é o periódico mais antigo do mundo. O

primeiro jornal diário da Inglaterra foi o Daily Courant, que começou

a ser publicado em 1702.” (RUDIN; IBBOTSON, 2008, p. 18).

Para evitar críticas indesejadas nos noticiosos, as

autoridades criavam dificuldades para que estes jornais não

saíssem, como por exemplo, a cobrança abusiva de impostos sobre

o preço dos impressos e na veiculação de propagandas. Conforme

Rudin e Ibbotson (2008), desta forma o Estado acreditava que os

jornais não seriam disponibilizados para a maioria da população e

assim não haveria perigo de as massas serem convencidas por

ideias e informações que as deixassem insatisfeitas e até

revoltosas.

Foi em Nova York, em 1830, que surgiram alternativas para

que as informações circulassem mais através do pennypress, o

“jornal de tostão”. Segundo Defleur e Ball-Rokeach (1993), o

primeiro veículo de massa de fato surgiu depois de se ter

encontrado uma forma de financiamento de um jornal barato para

ampla distribuição, sendo criadas assim técnicas para rápida

impressão e difusão.

Briggs e Burke (2006) observam a impressão gráfica como um

catalisador de mudança, e não como uma revolução. Para eles, dar

ênfase à revolução da impressão é colocá-la como agente de

mudança e exaltá-la ao meio de comunicação em detrimento de

escritores, impressores e leitores que usaram a tecnologia, cada

12

qual segundo seus próprios e diferentes objetivos. Segundo os

autores, é mais realista ver a nova técnica como incentivo que

mais ajudou as mudanças sociais do que as originou.

Já Pena (2005) considera a impressão como a verdadeira

revolução da história do jornalismo. Entretanto, o autor destaca

que não basta que a imprensa não seja constituída pelo calor

industrial dos tipos móveis; é preciso saber que espaço ela vai

ocupar. Afinal, “[...] esse espaço é o público, que também vai

passar por uma série de transformações.” (PENA, 2005, p. 28).

1.2 Espaço Público

Genericamente, os jornais foram um dos meios que

contribuíram na difusão da opinião pública (BRIGGS E BURKE,

2006). Isto foi possível após a publicação do livro de Jürgen

Habermas (nascido em 1929), no qual se permitiu o surgimento do

conceito de “esfera pública”.

Este espaço público, teorizado por Habermas (2003), se trata

de um local onde se formam opiniões e decisões políticas, se dá

legitimidade ao exercício do poder e no qual pessoas privadas

discutem assuntos públicos. Inicialmente estes debates aconteciam

em cafés, clubes e salões inspirados pelo espírito iluminista4 da

época.

4 O Iluminismo foi um movimento filosófico e político que surgiu no final doséculo XVI. Marcado pelo surgimento da filosofia moderna e da ciência, oiluminismo é um conjunto de ideias burguesas contrárias ao absolutismo, aomercantilismo e ao poder do clero.

13

Com o Renascimento, no Ocidente, por exemplo, perdeu-se a

visão teocêntrica para dar lugar a homocêntrica, na qual o homem

era o centro do mundo. Desta maneira, os dogmas e formas

religiosas de conhecimento começaram a ser rejeitadas e,

consequentemente, as pessoas começaram a questionar todos os

pensamentos que a igreja os coagiam a ter.

Segundo Sousa (2006), o espírito renascentista5 do final do

século XIV e meados do século XVI alteraram o clima político e

religioso tanto na Europa quanto na China, contrário à circulação

de informação e à alfabetização de cidadãos. Assim deu-se

andamento às estratégias de dominação sócio-política e religiosa.

Os descobrimentos agudizaram a urgência em conhecer.[...] Pode, assim, dizer-se que o espíritorenascentista, a fome de conhecimento originada pelosdescobrimentos e a tipografia gutenberguiana detonarama explosão da comunicação. (SOUSA, 2006, p.137).

A separação entre Estado e povo se deu a partir da Idade

Moderna. Anterior a isso, na Idade Média, não se considerava os

conceitos de esfera pública e nem privada, visto que uma não era

diferente da outra e não havia a discussão pública. Desta

maneira, ao longo de toda a Idade Média as categorias de público

e privado obedeceram a definições do Direito Romano, tal como, a

esfera pública como res pública. Esta esfera só passa a ter novamente

5 Movimento que sinaliza o final da Idade Média e início da Idade Moderna. ORenascimento foi um movimento artístico e cultural que trazia como proposta aressurreição consciente do passado. Desta forma o que era valorizado agora erao homem (Humanismo) e a natureza, em oposição ao divino e sobrenatural -conceitos que haviam impregnado na cultura da Idade Média.

14

uma aplicação processual jurídica, como era na Grécia e em Roma,

com o surgimento do Estado moderno e com a esfera da sociedade

civil separada dele. Assim sendo, “servem para a evidência

política, bem como para a institucionalização jurídica, em

sentido específico, de uma esfera pública burguesa” (HABERMAS,

2003, p. 16).

Isso não significa que a separação entre as categorias de

público e privado não era visada em período anterior à Idade

Moderna. Habermas (2003) declara que as definições de público e

privado são de origem grega, porém nos foram transmitidas em sua

versão romana, por exemplo: na cidade-estado grega desenvolvida,

a esfera da pólis comum ao cidadão livre (koiné) é rigorosamente

separada da esfera particular a cada indivíduo.

Entre as características da esfera privada grega, Habermas

(2003) destaca a ordenação política baseada na economia

escravagista em forma patrimonial e os cidadãos dispensados

efetivamente do trabalho produtivo. A participação desses

cidadãos na vida pública, entretanto, depende da autonomia

privada deles como senhores de casa; e a não posse de escravos

como empecilho no sentido de poder participar na pólis.

Já a esfera pública grega significava na conversação dos

cidadãos entre si é que as coisas se verbalizam e se configuram.

“Só à luz da esfera pública é que aquilo que é consegue aparecer,

tudo se torna visível a todos” (HABERMAS, 2003, p. 16). Se na

Grécia o que era público era tratado por pessoas públicas, e o

que era privado, por sua vez, era tratado por pessoas privadas,

15

para Habermas (2003, apud GUEDES, 2010, p. 2), o conceito de

representatividade pública vinculada à autoridade estava

relacionado ao cargo, aos atributos da soberania, à

hereditariedade, ao status da pessoa e não a um setor social.

Desta forma arrisca-se dizer que o Renascimento influenciou

as definições de Habermas (2003) sobre o espaço público, visto

que o movimento tinha como uma de suas características reviver a

antiga cultura greco-romana. O autor se apropria primeiramente

das definições de público e privado que surgiram na Grécia e

foram transmitidas em versão romana para, a partir disso,

defender seu conceito de espaço público.

Apesar do modelo de esfera pública helênica, Sousa (2006)

afirma que Habermas (2003) só considera o nascimento do espaço

público moderno (ou esfera pública) e o surgimento dos conceitos

de público (no sentido do que deve ser publicitado, tornado

público) e privado no século XVIII.

Segundo Habermas (2003), o conceito político de esfera

pública surgiu inicialmente na Inglaterra. Desta maneira, forças

que queriam exercer influências nas decisões do poder do Estado

recorreram ao público pensante “a fim de legitimar reivindicações

ante esse novo fórum”.

No contexto dessa práxis, a assembleia dos estados seconstitui num moderno parlamento, processo que seestende ao longo de todo o século. Ainda está para seresclarecido por que, tão mais cedo na Inglaterra doque noutros países, manifestam-se certos conflitos quecontam com a participação do público (HABERMAS, 2003,p.75).

16

Foi em cafés, salões, clubes, etc. que a classe burguesa

emergente deu prova do seu requinte e das suas ambições

intelectuais, em confronto com a velha aristocracia

nobiliárquica. Nos séculos XVIII e XIX, estes locais abrigavam

fregueses que faziam circular notícias, debates políticos e

crítica literária produzidas pelos próprios fregueses que se

apropriavam destes espaços para externar sua opinião pública

(ESTEVES apud SENA, 2007, p. 277).

Para Habermas (apud GUEDES, 2010, p.2), a esfera pública

burguesa podia ser compreendida inicialmente como a esfera das

pessoas privadas reunidas em um espaço público. Desta forma, elas

reivindicavam esta esfera pública regulamentada pela autoridade,

mas diretamente contra a própria autoridade. O objetivo era

discutir com esta autoridade as leis gerais da troca na esfera

fundamentalmente privada, mas publicamente relevante, as leis de

mercadoria e do trabalho social.

Guedes (2010) considera o conceito de esfera pública de

Habermas como excludente, pois, na concepção deste, tratava-se de

um espaço, dito público, mas voltado para os interesses e valores

de uma classe emergente na sociedade.

Com a emergência da imprensa os debates travados foram

transferidos de cafés e salões para jornais e revistas. Com isto,

a imprensa foi a primeira “grande instância mediadora na

configuração do espaço público moderno” (SOUSA, 2006, p. 140).

17

No século XIX a imprensa impulsionava debates, formações de

opiniões e polêmicas foi dando lugar a imprensa comercial com

interesse mercadológico. Conforme demonstra Habermas (2003, apud

GUEDES, 2010, p. 4), “à medida que o setor público se imbricava

com o privado, a esfera pública burguesa deixava de existir”.

Desta maneira, Habermas (2003) acusa a imprensa de prejudicar a

coerência do discurso político, visto que ela permitiu a

integração dos cidadãos menos cultos em espaços públicos, logo,

em discussões políticas.

Os jornais passaram de meras instituições publicadorasde notícias para, além disso, serem porta-vozes econdutores da opinião pública, meios de luta dapolítica partidária. Isso teve, para a organizaçãointerna da empresa jornalística, a consequência deque, entre a coleta de informações e a publicação denotícias, se inseriu um novo membro: a redação. Mas,para o editor de jornal, teve o significado de que elepassou de vendedor de novas notícias a comerciante comopinião pública. (BUCHER apud HABERMAS, 2003, p. 214).

Outra questão problematizada por Habermas (2003) é a

mercantilização da imprensa, a qual interferia diretamente no

nível e na racionalidade do debate tornando os estados

crescentemente intervencionistas, com o objetivo de atenuar ou

eliminar os problemas econômicos, políticos e sociais que

enfrentavam.

Assim sendo, organizações interessadas em se tornar

parceiras dos Estados e também com interesses de seguir com seus

18

objetivos, transformaram a comunicação pública racional dos

tempos iniciais do espaço público em relações públicas,

publicidade e entretenimento, conforme declara Santos (1998).

Estes fatores não apenas atenuaram os limites entre o público e o

privado, como também permitiram a desagregação, desintegração e

feudalização do espaço público (SANTOS, 1998, apud SOUSA, 2006,

p. 141).

Um dos pilares de sustentação da democracia, a capacidade

escrutinadora e crítica do público não esteve mais vivamente

atuante, causando, desta forma, prejuízo ao próprio sistema

democrático. Acresce-se a isso o fato de que com o espaço

público moderno se estabelece, em grande parte, na esfera

mediática, aqueles que são excluídos pelos media massificados,

consequentemente, não participam no espaço público, conforme

declara Sousa (2006).

A concorrência dos interesses privados organizadospenetra na esfera pública. Se, outrora, neutralizados,à base do denominador-comum do interesse de classes,pretendiam possibilitar uma certa racionalidade porqueeram interesses privados isolados, permitindo tambémuma efetiva discussão pública, hoje, no lugar disso,já apareceu a manifestação de interesses concorrentes.(HABERMAS, 2003, p. 211).

1.3 Fortalecimento das mídias

No século XIX, segundo Sousa (2006), o espaço público foi

ganhando outros lugares no campo dos media com o aparecimento de

19

novos meios de comunicação que se juntaram aos anteriores e assim

multiplicaram as formas de interação em sociedade. O resultado

disso foi o impacto tecnológico experimentado pelo jornalismo no

século XIX:

A fotografia nasceu na década de vinte do século XIX,com os inventos de Niépce, embora seja a Daguérre, oinventor do daguerreotipo, que foi dada a honra deprogenitor do médium, devido à sua consagração pelaAssembleia Nacional da França, em 1839. Aeletricidade, descoberta, em 1853, pelo italianoAlessandro Volta (inventor da pilha, justamentechamada pilha de Volta), provoca uma revolução. Otelefone nasce em 1876 (Alexander Graham Bell). Otelégrafo aparece em 1878 (Baudot), no mesmo ano emque surge o fonógrafo de Edison, o inventor da lâmpadaelétrica (igualmente patenteada em 1878). Em 1896,Gublielmo Marconi faz a primeira transmissão rádio. Em1895, os irmãos Lumière inventam o cinema, queadquiriu som e cor já no século XX e que veio aconstituir o primeiro grande responsável pelainternacionalização da cultura de massas. (SOUSA,2006, p. 142).

Este período tecnológico permitiu a difusão mais rápida de

notícias por conta de outras invenções que foram surgindo.

Afinal, embora o jornal de massa chegasse à década de 1830,

segundo declara Defleur e Ball-Rokeach (1993), ele ainda era

limitado em termos de coleta de notícias, tecnologia de

impressão e distribuição. Com as inovações científicas, mecânicas

e técnicas surgidas no século XX, várias possibilidades de

crescimento do jornal de massa foram surgindo.

20

As ferrovias, meio de transporte considerado por Briggs e

Burke (2006) o primeiro dispositivo de comunicação que prepara o

caminho até o transistor, alcançaram distâncias cada vez maiores

no período em questão e permitiu cada vez mais a criação de guias

de viagens e romances sobre países estrangeiros mais visitados –

como na Europa, onde se desenvolveu a literatura ferroviária.

Com o desenvolvimento cada vez maior das ferrovias, o novo

meio de transporte alavancou a demanda de carvão e ferro, baixou

os custos dos negócios, desenvolveu mercados, estimulou o emprego

em várias indústrias e criou outras novas comunidades. Por conta

desta forte industrialização, tornou-se notável as visões

superior e inferior de poder. De um lado, a classe menos

favorecida financeiramente, que agora podia sair de seu local

natal, para outra cidade através das ferrovias. De outro, a

fortuna que os senhores de ferrovia acumulavam. Assim, a mudança

de hábito foi causada na sociedade em geral e refletida na

imprensa da época.

Neste período, todas as novidades que surgiam com as

ferrovias eram noticiadas, inclusive os acidentes ferroviários

que serviam de matéria-prima para revistas e jornais. Segundo

Defleur e Ball-Rokeach (1993), cada vez mais os jornais buscavam

coletar/ produzir notícias exigindo, desta forma, um trabalho

mais complexo e especializado do repórter.

Embora boa parte dessas notícias ainda surgisse como forma

de divulgar as novas descobertas e inovações, os jornais

começavam a adquirir popularidade. Segundo Defleur e Ball-Rokeach

21

(1993), nesta época, com frequência os jornais buscavam produzir

notícias e, deste modo, o papel do repórter tornou-se mais

complexo e especializado, por conta dos jornalistas

correspondentes estrangeiros e colhedores de notícias

especializados em diversas áreas.

Além dos jornais, cooperativas de coleta de notícias eram

formadas, enviando assim informações de diversas partes do país

com os quais se tinham contratos de prestação de serviço. Quanto

à qualidade de impressão, cada vez mais, a tecnologia avançava,

permitindo, assim, uma difusão e automação maior dos jornais.

As agências enviavam estórias para jornais em muitaspartes do país. [...] Graças a estes acordos, a equipede um jornal próxima do acontecimento podia cobrir aestória para muitos jornais de outras partes, assimreduzindo grandemente o custo. Tais progressos levaramo jornal a cidades e vilas menores e até às recém-instaladas cidades do Oeste. A tecnologia de impressãodava grandes passadas, avançando para uma automaçãocada vez maior. Impressoras rotativas, com clichêsfundidos em um estereótipo metálico, tornaram-secapazes de imprimir 10.000 e até 20.000 folhas porhora. (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 70).

Com característica publicitária, as notícias veiculadas

comunicavam a sociedade sobre as inovações. Um exemplo disso está

na a cobertura feita sobre o ocorrido com navio Great Eastern: em

1865, ele ganhou a maior “publicidade que a imprensa já havia

feito” (BRIGGS; BURKE, 2006, p. 132) por ter atravessado o

Oceano Atlântico carregando o primeiro cabo transatlântico já

transportado.

22

Os jornais continuaram a ter popularidade e o ritmo de

crescimento da circulação acelerava constantemente, mas não

espetacularmente, até a década de 1880. Nas décadas seguintes, de

1890 a -1910 mais especificamente, a circulação de jornal por

família cresceu significamente e assim prosseguiu até por volta

do início da Primeira Guerra Mundial6, onde se nivelou durante a

década de 1920 (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993).

Outra novidade na revolução da mídia foi o telégrafo – na

época, o meio mais útil para transmissão rápida de notícias dos

locais de acontecimentos importantes para a redação dos jornais.

Briggs e Burke (2006) associam o desenvolvimento do telégrafo ao

das ferrovias, visto que métodos instantâneos de sinalização eram

necessários, por motivo de segurança, em linhas simples, embora

existissem fios telegráficos que seguiam os trilhos, não das

ferrovias, mas dos canais.

O telégrafo permitiu ligações de mercados nacionais e

internacionais, incluindo bolsa de valores e de mercadorias. Além

de ter aumentado a velocidade de transmissão de informação,

pública e privada, local e regional, nacional e imperial. Com

isso, em longo prazo, o telégrafo foi tendo seu efeito mais

6 A Primeira Guerra Mundial iniciou em julho de 1914 e durou até 1918. Oconflito envolveu potências de todo mundo, que se organizaram em duas aliançasopostas: os Aliados (Reino Unido, França e Império Russo) e os ImpériosCentrais (Império Alemão, Áustria-Hungria e Itália); porém como a Áustria-Hungria tinha tomado a ofensiva contra o acordo, a Itália não entrou emguerra. Estas alianças reorganizaram-se e expandiram-se em mais nações queentraram na guerra. Entre os motivos que causaram a guerra, incluem-se aspolíticas imperialistas estrangeiras das grandes potências da Europa, como oImpério Alemão, Império Austro-Húngaro, Império Otomano, Império Russo,Império Britânico, Terceira República Francesa e a Itália.

23

significativo do que apenas transmitir mensagens de um ponto para

outro.

A ascensão do telégrafo se deu no momento em que a mensagem

conseguiu chegar primeiro que o mensageiro. Para McLuhan (1995),

os meios elétricos, como o telégrafo, iniciaram o processo de

abolição da dimensão espacial. “Graças à eletricidade, em toda a

parte retomamos os contatos pessoa a pessoa como se atuássemos na

escala da menor das aldeias (1995, p. 287)”.

Mesmo que se fale aqui de meios de transporte e de

comunicação, todos estão intrinsicamente ligados ao

fortalecimento da mídia na época. São a partir dessas primeiras

invenções, naturalmente ou não, que se começa a restringir a

participação popular na imprensa. Embora essa participação tenham

promovido notáveis mudanças a toda a sociedade, tendo ela o poder

ou não, foi a partir dessas invenções que as prioridades de ter

um poder comunicando e outro apenas absorvendo foram mantidas por

muito tempo.

Em 1876, o norte-americano Alexander Graham Bell (1847-1922)

inventou o telefone. Graham Bell trabalhava anteriormente

ensinando falas aos surdos, e a partir disso que pensou na ideia

de transmitir sons orais por ondas elétricas, depois, em 1874,

idealizou o aparelho conforme a estrutura do ouvido humano.

Para Rodrigues (2006), foi através de invenções como o

telégrafo e o telefone que o rádio busca a origem de sua

estrutura tecnológica e assim se beneficia para expandir.

Destacando a evolução natural dos seres humanos, que desde as

24

pinturas rupestres nos tempos pré-históricos buscam se comunicar,

uma invenção tecnológica foi desencadeando novas formas de se

comunicar.

Ferraretto (2001) afirma que um dos marcos na história da

comunicação humana é dado pela invenção da radiodifusão. Se o

telefone funcionava a partir de uma comunicação bidirecional e

privada entre duas pessoas, o rádio usou um fluxo unidirecional e

público, no qual se envia a mesma mensagem para várias pessoas.

[...] Pode-se afirmar que a radiodifusão sonoraconstitui-se no resultado do trabalho de váriospesquisadores em diversos países ao longo do tempo,representando o esforço do ser humano para atender auma necessidade histórica: a transmissão de mensagensà distância sem o contato pessoal entre o emissor e oreceptor, origem dos serviços de correio e dosprimitivos sistemas de comunicação por sinais (tochasluminosas, bandeiras, fumaças, tambores...),(FERRARETTO, 2001, p. 80).

Com o tempo o aperfeiçoamento do rádio aumentou e assim a

voz humana passou a ser transmitida em todo mundo. Até sua

estrutura – antes grande e pesada, motivo pelo qual apenas os

navios conseguiam transportá-lo com facilidade – foi sendo

progressivamente reduzida, tornando-o mais leve e portátil.

Defleur e Ball-Rokeach (1993) consideram espantosas as

condições sociais que rodearam o desenvolvimento inicial do

rádio, sendo estas de propriedade privada e a motivação do lucro.

Embora tais condições tivessem facilitado, e até retardado, a

evolução do veículo de comunicação, era quase impossível

25

aperfeiçoar os componentes e comercializar equipamentos melhores

sem envolver tensas disputas judiciais por conta das patentes.

Todos os principais pioneiros do rádio, a partir deMarconi, frequentemente se viram batalhando em juízouns com os outros. Lee De Forest, um dos principaisinventores dos mais importantes componentes do rádio,foi deveras preso e acusado de fraude. O problema,claro, é que havia fortunas a serem conseguidas nosem-fio, e a concorrência para vincular-se aimportantes invenções, a fim de explorá-las, foiintensa (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 113).

Os sistemas de rádio puderam ser aperfeiçoados por conta da

Primeira Guerra Mundial, que impôs demandas militares de

comunicação. Em seus primeiros anos de uso, o rádio era apenas um

sistema de telecomunicações que servia para envio de telegramas,

comunicações militares, comunicações com navios em alto mar,

entre outros (SOUSA apud RODRIGUES, 2006, p. 572). O uso do rádio

para comunicação com o público heterogêneo só surgiu em 1912,

proposto pelo francês Raymond Braillard.

Naquele mesmo ano, o jovem engenheiro de rádio, David

Sarnoff, que trabalhava na Companhia Marconi Americana,

conquistou grande atenção pública durante o naufrágio do navio

transatlântico Titanic7. Sarnoff ficou em seu manipulador

telegráfico, em uma estação de rádio da cidade de Nova York,

7 O navio Titanic, durante sua viagem inaugural entre Southampton, naInglaterra, e Nova York, nos Estados Unidos, chocou-se com um iceberg noOceano Atlântico e afundou duas horas e quarenta minutos depois. Com 2.240pessoas a bordo, o naufrágio resultou na morte de 1.517 pessoas, considerada amaior catástrofe marítima de todos os tempos.

26

decifrando mensagens recebidas do local do desastre e repassando

ao público os detalhes do acontecimento referente ao acidente

(cf. DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993). Logo após o fato, Sarnoff foi

promovido para posições mais importantes na companhia e expediu

um memorando a seus superiores mostrando como o rádio podia ser

usado de uma forma economicamente lucrativa para veicular

informação de massa às famílias comuns.

Tenho em mente um plano de desenvolvimento que fariado rádio um ‘utensílio doméstico’, no mesmo sentidoque o piano ou o fonógrafo. A ideia é levar música àscasas através do fio. [...] O receptor pode ser naforma de uma simples “Caixinha de Música de Rádio” epreparada para diferentes comprimentos de onda. [...]A “Caixinha de Música de Rádio” pode ser acrescida deválvulas amplificadoras e um alto-falante, tudopodendo ser montado elegantemente em uma caixa. Estapode ser instalada em cima duma mesa na sala devisitas ou na sala de estar [...]. O mesmo princípiopode ser ampliado para numerosos outros campos como,por exemplo, ouvir palestras em casa [...]; tambémacontecimentos de importância nacional podem sersimultaneamente anunciados e recebidos. Resultados departidas de beisebol podem ser transmitidos no argraças à utilização de um aparelho instalado noestádio. [...] Esta sugestão seria especialmenteinteressante para fazendeiros e outros moradores delocais afastados das cidades (DEFLEUR; BALL-ROKEACH,apud Sarnoff, 1993, p. 114).

Depois de dez anos, o rádio foi convertido em veículo para

uso doméstico, praticamente com o mesmo esboço proposto por

Sarnoff. Seguido do rádio, outro meio de comunicação que

fortaleceu as mídias foi a televisão. O aparelho surgiu devido ao

27

empenho de pesquisadores e inventores que buscavam construir um

sistema que transmitisse imagem em movimento, com som à

distância. As primeiras emissões públicas regulares iniciaram no

ano de 1929 em Londres (cf. SOUSA, 2006).

Em 1842, Alexander Bain conseguiu transmitir uma imagem

impressa através do telégrafo. Porém, o precursor da invenção

foi o cientista sueco Jakob Berzellus, que em 1817 observou a

foto sensibilidade do selênio ao ser exposto à luz.

Depois de 56 anos, através dos estudos do inglês Willoughby

Smith, a possibilidade de transformar energia luminosa em energia

elétrica, serviu para transmissão de imagens. Assim, após a

descoberta de Berzellus e Alexander Bain, deu-se início assim a

vários estudos e aperfeiçoamento para que a TV chegasse aonde

chegou.

Sousa (2006) declara que em 1929 nos Estados Unidos a

televisão se desenvolveu por conta de investimentos de empresas

comerciais. Já na Europa, foi lançada e controlada pelo Estado.

Defleur e Ball-Rokeach, por sua vez, explicam que desde o

princípio a base financeira da televisão foi clara: “o público

estava completamente acostumado a ‘comerciais’, e a televisão

prometia ser até mais eficaz como veículo para promoção de

vendas.” (1993, p. 127).

Esse contexto provocou que a televisão se tornasse símbolo

de status socioeconômico, chegando até a causar irritação de

pessoas ao ser constatado que algumas eram ajudadas

28

financeiramente pelo governo ou, mediante outras formas de ajuda,

possuíam receptores (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 128).

Defleur e Ball-Rokeach (1993) destacam que a televisão até

poderia ter sido um veículo doméstico desde seu início, porém

dois grandes fatores retardaram isso: a guerra e o congelamento

dos preços imposto pelo governo. Só em 1941, às vésperas da

guerra, a Federal Communication Commission (FCC) dos Estados

Unidos, aprovou a televisão doméstica, permitindo que a indústria

de comunicação iniciasse um plano para a implantação. Além do

mais, já havia cerca de cinco mil televisores em mãos de

particulares, e diversas estações transmitiam programações com

tempo de duração de duas a três horas diárias.

Após 1929, vários países aderiram à TV e grandes

investimentos foram sendo feitos para melhorar as condições de

recepção televisiva. A BBC, por exemplo, emitiu, em 1930, imagem

e som simultaneamente. Mais adiante, em 1936, os Jogos de Berlim

foram transmitidos pela televisão alemã para mais de 150 pessoas.

No ano seguinte, 1937, foi iniciada a transmissão regular na

França (SOUSA, 2006).

O telejornalismo só surgiu no final do século XX nos Estados

Unidos. Até então, as redes de televisão só transmitiam

programas de entretenimento, propagandas e exibições para uso

político. No início, as emissoras encontravam dificuldades na

captação audiovisual e os primeiros telejornais transmitiam

documentários sobre atualidades. Apenas no final dos anos 1960 o

vídeo revolucionou as informações da TV, pois trouxe “mobilidade,

29

atualidade e rapidez ao telejornalismo” (SOUSA, 2006, p. 170-

171).

Com a chegada de cada novo veículo de comunicação, estes

precisavam encontrar seus nichos entre os demais. Defleur e

Ball-Rokeach (1993) indicam que alguns fatores como guerra,

depressão, opulência, imigração, urbanização, a difusão da

educação e a presença de determinados elementos tecnológicos na

cultura da sociedade da informação, podem ter produzido tensões

que facilitaram, inibiram ou de outra forma afetaram o

desenvolvimento e a adoção de cada veículo de massa.

Mostrando a mídia como parte do amplo processoevolutivo de industrialização e urbanização relaciona-os com as duas tendências maiores da sociedademoderna. A ideia mais antiga de serem os veículosforças formando e plasmando a sociedade conformedesejam é simplista e ultrapassada. A mídia formadapelos acontecimentos da sociedade como um todo, e éprofundamente influenciada pelo processo dialético deconflitos entre forças, ideias e acontecimentosopostos no âmbito do sistema da mídia, e entre osveículos e outras instituições da sociedade. Poroutras palavras, há numerosas maneiras difusas pelasquais uma sociedade exerce profunda influência sobreseus veículos de comunicação (DEFLEUR E BALL-ROKEACH,1993, p. 139).

1.4 O quarto poder

Apesar de a sociedade exercer influência sobre seus veículos

de comunicação desde o surgimento da impressão, com o

30

fortalecimento das mídias pode-se notar que o objetivo dos que

controlavam a imprensa e produziam notícias era apenas de

informar o público conforme seus interesses e sem a participação

popular em geral. Portanto, nesta primeira fase o que surgiu foi

uma sociedade que observa o que a mídia produz.

Um dos fatores que possibilitou esta apatia do público

diante da produção de notícias e da construção do discurso

jornalístico pode ser justificado com a própria evolução da

imprensa. Afinal, a história da imprensa é a própria história do

desenvolvimento da sociedade capitalista, como destacou Sodré

(1999).

O desenvolvimento da imprensa, como reflexo do

desenvolvimento capitalista na qual ela está incorporada,

ocasionou em controle dos meios de difusão de ideias e de

informações. Na luta contra esse controle, aparecem pessoas das

mais diversas situações sociais, culturais e políticas,

defendendo e destacando as diferenças de interesses e aspirações

de cada uma delas (SODRÉ, 1999). O segredo da difusão da

imprensa, de acordo com Sodré (1999), consistia na forma como o

capitalismo avançava, na rapidez que chegava aos leitores e na

possibilidade de conta-los aos milhões.

Em nenhuma fase dos primeiros passos da difusão do

jornalismo, o capitalismo se mostrou interessado em tornar a

sociedade como agente da imprensa. Afinal, como as trocas eram de

interesse a elementos de classes e camadas numericamente

reduzidas, “com o desenvolvimento da imprensa sendo mais lento,

31

ela ficou facilmente controlada pela autoridade governamental”

(SODRÉ, 1999, p. 2).

Atualmente, nota-se que a atuação da imprensa tem em termos

democráticos é muito maior do que no seu início, tornando assim

as teorias de imprensa como um “quarto Poder” (ALBUQUERQUE,

2001).

No início do século XIX, o gênero dominante era o da

imprensa opinativa ou ideológica. Apenas por volta dos anos 20 e

30 do século XX que começaram a surgir nos Estados Unidos jornais

com gêneros mais factuais e noticiosos. Por ser um país de

imigrantes, a linguagem desses jornais se adequava a um público

mais amplo e pouco conhecedor da língua (SOUSA, 2006).

Considerados jornais independentes, estes eram vistos como

uma saída para escapar da tirania da época, permitindo assim aos

cidadãos engajarem-se num debate público racional, como um

recurso fundamental, observando a imprensa a partir daí como uma

proteção contra os abusos do Estado (ALBUQUERQUE, 2001).

Designado por Álvarez (apud SOUSA, 1992, p. 150) como

Primeira Geração da Imprensa Popular, alguns dos principais

motivos para o uso mais comum de um gênero factual e noticioso

foram: o aparecimento de empresas jornalísticas devotadas ao

lucro; o aumento do poder de compra; e a concentração de pessoas

em cidades, urbanização e urbanidade.

A Segunda Geração da Imprensa Popular surgiu no final do

século XIX tornando o jornal cada vez mais acessível

economicamente para toda a população americana. Embora os

32

assuntos fossem cada vez mais direcionados ao público, e não

apenas para a elite, o interesse imediato dos donos dos jornais

era obter lucro, fosse com vendas, ou com a publicidade neles

veiculada (SOUSA, 2006, p. 153).

As mudanças nas narrativas jornalísticas possibilitaram a

renovação da área, recebendo o nome de Novo Jornalismo, através

da seleção e síntese da informação e linguagem factual, que,

posteriormente, “foram transmitidas de geração de jornalistas em

geração de jornalistas, configurando-se como traços da cultura

profissional, particularmente, visíveis nas agências noticiosas”

(SOUSA apud SOUSA, 1997, p. 154).

As características apresentadas com estas mudanças

incentivaram e permitiram aos jornais se definirem como

politicamente independentes e interessados na defesa do interesse

público e no comprometimento com os fatos (ALBUQUERQUE, 2001).

A expansão da imprensa, com as suas acrescidasresponsabilidades, surge acompanhada do conceito de“Quarto Poder”, em que a defesa e vigilância da novaforça chamada “opinião pública” é invocada como devere atua como legitimadora da nova força social que é aimprensa. (TRAQUINA apud SOUSA, 2006, p. 154).

Conforme explica Albuquerque (2001), o exercício do chamado

“Quarto Poder” não acontece no âmbito do Estado e muito menos se

confunde com as prerrogativas dos três poderes constitucionais,

quais sejam: judiciário, executivo e legislativo. Antes, ele

acontece no compromisso que a imprensa precisa ter com a

objetividade no tratamento das notícias, com a representação do

33

cidadão comum frente ao Estado e com o funcionamento eficiente do

sistema de divisão de poderes (ALBURQUERQUE, 2001).

Quanto à opinião pública como ingrediente para legitimar a

imprensa, Lippmann (2008) declara que esta se trata de imagens

criadas por grupos de pessoas, ou por indivíduos agindo em nome

dos grupos.

Os jornais são considerados pelos democratas umapanaceia para seus próprios defeitos, enquanto aanálise da natureza das notícias e da base econômicado jornalismo parece mostrar que os jornais necessáriae inevitavelmente refletem, e, portanto, em grande oumenor medida, intensificam a defeituosa organização daopinião pública (LIPPMANN, 2008, p. 42).

A opinião pública não surge naturalmente das pessoas, pois

este é um processo de animação social com interessados no

controle social se envolvendo. Portanto, sugere-se que os donos

de jornais formem equipes multidisciplinares formadas por

cientistas sociais para passar informações relevantes aos

jornalistas (WAINBERG apud LIPPMAN, 2008, p. 15).

Nota-se que à medida que a imprensa ganhava mais autonomia,

o aprimoramento da construção do seu discurso jornalístico se

fazia necessário. Através da criação da agenda-setting e do

gatekeeper se iniciaram mudanças, “não apenas em relação à

linguagem e à sua necessidade de autonomia, mas em relação ao

poder do jornalismo de seleção e produção dos acontecimentos e à

sua repercussão sobre a ordem social.” (MAROCCO, 1997, p. 4-5).

34

Desta maneira, existem dois enunciados, considerados o

espaço privilegiado e o veículo de duas singularidades do poder

do jornalismo e de um efeito de poder do mesmo, “ora situadas na

esfera da produção jornalística, ora deslocadas à esfera da

recepção e da sociedade.” (TRAQUINA apud MAROCCO, 2005, p. 7).

Por efeito de poder vem sendo mencionada, com maior oumenor certeza por diferentes pensadores, apossibilidade de o jornalismo ser um instrumento decontrole social, direta ou indiretamente (two step flow),ou a possibilidade de gerar impacto no cotidiano daspessoas expostas às notícias. (MAROCCO, 2005, p. 8).

Estas se configuram no que é e o que não é notícia e em uma

ordem jornalística da realidade.

1.5 Agenda-setting e gatekeeper

A partir dai, surgem duas definições que mudarão a forma de

se definir o que é notícia e de a imprensa exercer um poder sobre

a sociedade: a Agenda-Setting e o Gatekeeper.

Criada a partir de uma campanha eleitoral, para a

Presidência dos Estados Unidos em 1968 e apresentada por McCombs

e Shaw, a definição de Agenda-Setting considera os meios de

comunicação como definidores dos assuntos discutidos pelas

pessoas. A teoria nada mais é que um grupo definido de temas que

serão debatidos em lugares e tempos particulares. Sendo assim, o

modelo da Agenda-Setting prevê que os temas pautados pelas mídias

serão discutidos pelas pessoas (MARTINO apud OLIVEIRA, 2010).35

Entretanto, a teoria do Agenda-Setting considera que este

agendamento não acontece de forma intencional e nem exclusiva.

Antes da teoria, prevalecia nos Estados Unidos a ideia de que a

comunicação social não atuava diretamente sobre a sociedade e as

pessoas, pois a influência pessoal relativizaria, limitaria e

mediatizaria os efeitos. (SOUSA, 2006).

Após a publicação de The People’s choice: How the Voters Makes His Mind

in a Presidential Campaign, em 1944, por Lazarsfeld, Berelson e Gaudet –

obra resultada de um estudo científico destinado a pesquisar a

influência da rádio e da imprensa sobre a decisão de votos de uma

pequena cidade americana –, concluiu-se que os meios de

comunicação estavam longe de terem um poder quase ilimitado

sobre as pessoas. Considerou-se assim, a existência de um patamar

mediador entre o público em geral e os meios de comunicação

social (two-step).

Após vários outros estudos, Lazarsfeld reconheceu, que , ao

contrário do que argumentava em seu livro, os líderes de opinião

nem sempre se encontram no topo da pirâmide social. Assim sendo,

nasceu um novo modelo, o do “fluxo de comunicação em múltiplas

etapas” (multi-step), que precisamente pretendia relevar a complexa

teia de relações sociais que medeia o efeito dos meios de

comunicação social.

Sousa (2006) destaca alguns fatores que podem contribuir no

sucesso do agendamento, tal como a acumulação, processo no qual

um tema abordado pela mídia tem mais chance de passar para a

agenda pública à medida que o público é exposto mais vezes e

36

sucessivamente às mesmas mensagens. Outro fator é a consonância

em que o tema passará mais facilmente pelo público se as

mensagens transmitidas por diferentes media forem semelhantes.

Um dos pontos mais interessantes da agenda-setting é quepesquisas realizadas no seu âmbito vieram colocar emquestão um dos seus pilares: os media pode influenciaras pessoas não só sobre o que pensar, mas também comose pensar (SOUSA, 2006, p. 505).

Por sua vez, o gatekeeper8 trabalha a seleção das notícias. O

termo foi metaforizado em 1950 por David Manning White em um

artigo. Manning White pretendia escolher apenas os assuntos que

seriam noticiáveis tendo em vista a triagem pela qual as matérias

passariam em vista de serem aceitas ou reprovadas para

publicação. Na metáfora, a decisão seria justamente os portões e

o jornalista seria o porteiro. Na teoria de White, as escolhas

que passariam pelo gatekeeper, seriam subjetivas e condicionadas

por fatores como os deadlines9.

Após a definição da teoria, vários estudos acerca do

gatekeeper foram avançando e colocando em discussão o termo. Como a

subjetividade do jornalista relegada a segundo plano, por conta

das empresas; o gatekeeping usado essencialmente para organização;

o gatekeeping como redutor de notícias e conteúdos; entre outros.

Com a teoria, vários critérios de noticiabilidade ou de

valor de notícia, propostos por Galtung e Ruge (apud Sousa,8 Empréstimo terminológico da língua inglesa que significa “do porteiro” ou“guardião dos portões”. 9 Empréstimo terminológico que significa ”hhorário limite para se fechar umamatéria ou página”.

37

2006), foram sendo discutidos. Entre tantos, os autores destacam:

(1) Momento e frequência do acontecimento: cada vez mais que o

acontecimento for recente e se a cobertura se adequar ao ritmo de

trabalho das empresas jornalísticas, mais ele precisa ser

notícia; (2) Intensidade ou magnitude de um acontecimento: quanto mais

intenso ou crescente for um assunto , ou ainda, quanto mais

pessoas estiverem envolvidas nele, maior é o potencial de

noticiabilidade dele ; (3) Proeminência social de pessoas e nações

envolvidas: quanto maior for a proeminência social das pessoas

envolvidas ou das nações, maior a probabilidade de elas se

tornarem notícia; (4) Desenvolvimento de assuntos anteriores: assuntos já

noticiados, porém com desdobramentos novos capazes de despertar

assuntos antigos, têm maior probabilidade de serem noticiados;

(5) Negatividade: As “más notícias” são “boas notícias”, isto é,

possuem potencial maior de circulação enquanto notícia; (6)

Inesperado: catástrofes naturais têm grande chance de se tornarem

notícias.

Outros autores ampliaram os estudos de critérios de

noticiabilidade. Traquinas (apud SOUSA, 2006) explicitou, por

exemplo, valores-notícias de seleção, como morte, notoriedade,

proximidade, entre outros; valores-notícias de seleção

contextual, como disponibilidade, equilíbrio de noticiário; e

valores-notícias de construção, no qual se mostra de que forma o

acontecimento é/ se torna importante.

Todos esses critérios foram definidos de acordo com as

organizações empresariais a fim de atrair mais leitores. Sousa

38

(2006, p. 262) considera as razões financeiras como um

constrangimento organizacional, por conta das decisões editoriais

que afetam o meio jornalístico. O autor exemplifica citando a

dinâmica corporativa existente entre editor – o qual pode criar

novas delegações no jornal a fim de ampliar a cobertura em uma

comunidade ou país inserida –, e a administração do jornal,

capaz de barrar a veiculação de uma notícia por questões

financeiras.

Para Lippmann (2008), o editor de jornal assume uma posição

estranha nas redações, por depender do arrecadamento de seus

anunciantes por seus leitores.

O Tribunal da Opinião Pública, aberto dia e noite,deve baixar uma lei para tudo o tempo todo. Isso não érealizável. E quando você considera a natureza dasnotícias, isso não é nem pensável. Pois a notícia,como vimos, é precisa na proporção à exatidão com queo evento é registrado. [...] Portanto, ao todo, aqualidade das notícias sobre a sociedade moderna é umindex de sua organização social. Quanto melhor forem asinstituições, quanto mais todos os interessesenvolvidos forem formalmente representados, mais asquestões estão desembaraçadas, mais critériosobjetivos são introduzidos, mais perfeitamente umassunto pode ser apresentado como notícia. E no melhordos casos a imprensa é serva e guardiã dasinstituições. (LIPPMANN, 2008, p. 308).

Desta forma, cada pessoa tende a julgar um jornal pelo

tratamento que ele dá às notícias que as pessoas se sentem

envolvidas. Assim como ele trata com uma multiplicidade de

eventos que estão além das experiências vividas pelos seus39

leitores, há também um tratamento específico mediado para as

experiências vividas por eles. Portanto, Lippmann critica a

maioria dos leitores por entender que estes “demandam do jornal

maior rigor, não como leitores comuns, mas de litigantes em

questões de sua própria existência.” (LIPPMANN, 2008, p. 281-

282).

40

2. SOCIEDADE COMEÇA A PARTICIPAR DA PRODUÇÃO DA MÍDIA

2.1 Pós-Modernidade e os Novos Movimentos Sociais

Prevalecendo sobre os conceitos dominantes à era moderna, a

Pós-modernidade é uma condição sócio cultural e estética que deu

início a um novo tempo, após a consequente desvalorização das

concepções ideológicas predominantes.

A era tem início na década de 50 do século XX, impulsionada

pela crise do capitalismo e socialismo, e com o surgimento de

novas tecnologias e mudanças políticas, sociais e econômicas. Um

grande evento marcado nesta época foi a crise das ideologias que

dominaram o século XX, como a queda do Muro de Berlim, em 1989.

Se anteriormente o indivíduo era visto como sujeito

unificado, através das antigas identidades que estabilizaram o

mundo por tanto tempo, a partir de meados do século XX esse

quadro começou a declinar dando lugar a novas configurações,

permitindo assim uma fragmentação do homem moderno. Esta

desagregação implica em paisagens culturais de classe, gênero,

etnia, sexualidade, raça e nacionalidade, que antes solidificavam

o homem como indivíduo social. Para o teórico da cultura Stuart

Hall,

A sociedade não é como os sociólogos pensaram muitasvezes, um todo unificado e bem delimitado, umatotalidade, produzindo-se através de mudançasrevolucionárias a partir de si mesma, como odesenvolvimento de uma flor a partir do seu bulbo. Ela

41

está constantemente sendo descentrada ou deslocada porforças fora de si mesma. (HALL, 2006, p. 4)

Com esta fragmentação, novos movimentos sociais foram sendo

criados. Se até o início do século XX, segundo Gohn (1997), este

conceito de movimentos sociais era válido apenas para

organizações e ações dos trabalhadores em sindicatos, na pós-

modernidade o conceito de movimento social se amplia abarcando

interesses difusos.

Em termos de efeitos destrutivos do capitalismo e do

industrialismo sobre os modos tradicionais de vida, estes novos

movimentos sociais se alinhavam com os movimentos dos operários.

A este respeito, Giddens declara que

A separação atual entre os dois reflete o aumento daconsciência dos riscos de alta-consequência que odesenvolvimento industrial, organizado ou não sob osauspícios do capitalismo, traz em sua esteira.(GIDDENS, 1991, p. 142)

Estes novos movimentos que marcaram a pós-modernidade iam

contra tanto à política liberal capitalista do Ocidente quanto à

política estalinista do Oriente. Além do mais, estes afirmavam as

dimensões subjetiva e objetiva da política. Traziam como

características em comum, a suspeita de todas as formas

burocrática de organização; favoreciam a espontaneidade;

refletiam o fim da classe política e das organizações políticas

de massa, dentre outras (HALL, 2006). Entre mudanças sociais

42

desta era, destacam-se os movimentos de contracultura, do

feminismo, a revolução sexual e as lutas negras.

O movimento de contracultura usava os meios de comunicação

em massa para se mobilizar e contestar socialmente sobre seus

desassossegos. Ele começa a dar seus passos na década de 1950,

por conta do surgimento da geração Beat, o qual gerou grande

influência em outras manifestações ao longo dos anos 60, 70 e 80.

A geração beat (Beat Generation) foi um movimento literário

norte-americano formado por um grupo de jovens escritores que se

mostravam incomodados com os modelos de conduta e comportamento

estabelecidos nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. O

objetivo da Beat Generation era de se expressar livremente sobre sua

visão do mundo, na maioria das vezes em conjunto compondo e

viajando.

O movimento beat tinha como características: intensidade no

estilo narrativo, nos temas e personagens; escrita compulsiva;

fluxo de pensamento desordenado; linguagem informal; valorização

da transmissão oral; e apoio à igualdade étnica, à miscigenação e

às trocas culturais entre raças. Entre os principais escritores,

destacam Jack Kerouac, Allen Gisberg, William Burroughs, Lawrence

Ferlinghetti e Gregory Corso.

A contracultura se mostrou como uma revolta juvenil por

conta das transformações socioeconômicas provenientes da criação

do Estado do Bem Estar Social10, que indagava a juventude a

10 O Estado de Bem Estar Social é um tipo de organização política econômica queclassifica o Estado como agente da promoção (protetor e defensor) social eorganizador da economia.

43

procurar medidas criativas de não se enquadrar em um sistema

técnico. Daí, a necessidade de se criar uma cultura própria.

Acima de tudo, este movimento tinha como base a própria

juventude unida em protesto. O movimento revolucionário colocava

em questão o respeito às minorias raciais, inclusive foi iniciada

por jovens brancos que se aliaram a negros já descontentes com o

sistema racista norte-americano. Ainda que tomasse como base

ideais de revolta, o movimento de contracultura pregava a paz e

novas visões libertárias para o casamento, famílias e o sexo.

Concretamente, entretanto, as revoltas contraculturais não

alcançaram os objetivos das bandeiras levantadas. A despeito

disso ele se caracterizou como um movimento que transformou

mentalidades.

Outro novo movimento que se potencializou na pós-modernidade

foi o feminista, que surgiu quando as mulheres tiveram a

percepção de que eram oprimidas e buscaram a igualdade na

sociedade. A luta feminina existia desde a antiguidade, porém

somente nos dois últimos séculos ela se fortaleceu.

No século XIX e início do século XX, no Reino Unido e

Estados Unidos, as mulheres foram às ruas exigir o direito de

voto. A conquista foi alcançada e em 1919, com a 19ª. Emenda à

Constituição dos Estados Unidos a qual concedia em todos os

estados o direito à mulher de votar. Porém, diante de uma

sociedade patriarcal, esta foi apenas uma das conquistas. Com

discussões que envolviam casamentos, abortos e métodos

44

contraceptivos, as mulheres foram aos poucos conquistando seus

espaços.

Em 1966, nos Estados Unidos, o termo Women’s Liberation

(Liberação das Mulheres) deu nome ao movimento feminista, que

liderou à época uma série de protestos – dentre eles, o

conhecido como Bra-Burning, o termo popularizado pela mídia como

“Queima dos Sutiãs”. O motivo da revolta era a exploração

comercial dos concursos de beleza.

No dia 7 de setembro de 1968, durante a realização do

concurso de Miss América, em Atlantic City, nos Estados Unidos,

cerca de 400 ativistas deste movimento jogaram sutiãs,

espartilhos, sapatos de salto alto, maquiagens, entre outros, no

espaço do concurso, que era visto como opressivo em relação às

mulheres.

Hall (2006) destaca como grandes características do

movimento feminista: (1) a contestação política: a família, a

sexualidade, a divisão doméstica do trabalho, o cuidado com as

crianças, entre outros; (2) a subjetividade, a identidade e o

processo de identificação (como homens/mulheres, mães/pais,

filhos/filhas); como uma questão política e social (3) O que

começou como um movimento dirigido à contestação da posição

social das mulheres se expandiu para incluir a formação das

identidades sexuais e de gênero.

O feminismo desencadeou o movimento de liberação sexual,

marcado na década de 1960 pela criação da pílula

anticoncepcional. Uma das lutas do movimento feminista, o método

45

contraceptivo – muito usada para justificar a repressão sexual

feminina, a gravidez indesejada – começava a sair de moda. O

movimento defendia que a mulher pudesse exercer mais liberdade

de escolha de seus parceiros afetivos e o sexo deixasse de ter

apenas o objetivo da reprodução. O prazer, portanto, passa a ser

importante.

No movimento pela luta contra o racismo e pelo direito dos

negros, na década de 1960, nos Estados Unidos, foi criado o grupo

revolucionário “Os Panteras Negras”. Em sua criação, o grupo

visava patrulhar os bairros para proteger os moradores contra a

resistência policial. Eram fornecidas armas a todos do movimento,

e alguns militantes pediam a liberação de todos os negros das

penitenciárias americanas e o pagamento de indenizações às

famílias negras pelo período da escravidão.

Chegando a dois mil membros e com representações nas

principais cidades do país, os Panteras Negras tiveram seu

movimento enfraquecido. Isso se deu em função da resistência

armada que resultou em longos conflitos urbanos entre policiais e

panteras. O grupo chegou a renunciar às ações violentas e apenas

prestar serviços de assistência social em comunidades negras

pobres, mas logo se dissolveu.

Outro movimento pela luta racial de grande destaque foi

pelos direitos civis, liderado pelo pastor Martin Luther King Jr.

Sua corrente pacífica defendia a obtenção da igualdade racial e a

extensão do direito ao voto a todos os negros. Embora Luther King

46

tenha sido assassinado, a Lei dos Direitos Civis foi aprovada,

garantindo alguns direitos básicos para minorias raciais.

Para Giddens (1991), os movimentos sociais proporcionam

conjecturas de futuros factíveis e são em parte veículos para sua

realização. Entretanto, é preciso reconhecer, da perspectiva do

realismo utópico, que elas são as únicas bases de mudança que

podem conduzir a um mundo mais seguro e mais humano.

Junto a essas conjecturas são necessárias influências da

opinião pública, de políticas das corporações de negócios, dos

governos nacionais e de atividades de organizações

internacionais, para que se obtenham reformas básicas. Linhas de

pensamento que confluem para a humanização e subjetividade

social, como fala Duriguetto:

Assim, trabalha-se agora com a perspectiva de umapluralidade de ‘sujeitos sociais’ importantes, queindependente da classe social a que pertencem podemagora desenvolver mudanças viáveis, ainda que nolimite da sociedade capitalista. Em decorrência, tem-se a substituição dos conceitos de revolução e deemancipação pela ‘micropolítica’, ou seja, pelaspequenas lutas, sem centro e sem coordenação(DURIGUETTO, 2009, p. 7).

Após as ações históricas dos movimentos sociais, e inclusive

da Guerra do Vietnã, aos poucos a sociedade pós-moderna é vista

como se estivesse perdendo o sentimento de pertencimento e se

fragmentando, o que é percebido como consequência do modernismo.

(BAUMGARTEN, 2005).

47

2.2 Ciência Pós-Moderna

Por conta das mudanças nas formas de produção e acumulação

capitalista, o conhecimento se tornou uma mercadoria de

informação indispensável ao predomínio produtivo, em que este

“cada vez mais significava uma competição pelo poder”. (LYOTARD,

2009, p. 5)

A condição pós-moderna é a forma própria de conhecer uma

sociedade pós-industrial. Portanto, as teorias totais, conhecidas

como metarrelatos, não dão mais conta de uma sociedade que tem

uma rede de jogos de linguagem: econômica, política, cultural,

estética. Sendo assim, a ciência perde na pós-modernidade o

caráter de sistema absoluto e total de explicações da realidade e

os pensadores pós-modernos começam a ver a História como uma

troca constante de metanarrativas (sobre isso, ver LYOTARD, 2009;

NOVAES, 2006).

Se na era medieval o conceito de Providência fundamentava

que Deus determinava o destino e a compreensão da realidade, na

modernidade esta Providência era substituída pelo Progresso, por

conta dos sentidos terem superado a crença na divindade. Novaes

entretanto, destaca que “as contradições e decepções da

modernidade fazem com que o divino retorne ao centro das

atenções, fazendo com que o conceito medieval da Providência

volte à tona.” (2006, p.15),.

Conforme Dorneles (apud NOVAES, 2006), foi repassada à

geração pós-moderna um pessimismo e decepção com a ciência. Esta

decepção ocorreu por conta da tentativa de aniquilar o sagrado da48

sociedade moderna, trazendo assim alguns efeitos negativos do

progresso científico-tecnológico, tais como uma urbanização

desumana, desigualdade social, indústria de morte de armas e da

droga, entre outros.

Desta forma, as promessas da era da razão e da ciência

ficaram desiludidas pela sociedade. Foi nesta desilusão deixada

pela pretensão científica que ressurgiu todo o tipo de crença e a

recorrente busca pela sobrenatural da pós-modernidade. Assim

Na pós-modernidade, a inimizade de séculos e séculosentre ciência e religião abre espaço para umacooperação, na qual ambas procuram um diálogo muitomais amistoso e solidário entre as partes. No entanto,o retorno do sobrenatural na pós-modernidade não trataapenas de corrigir o enfoque antimetafísico ou anti-sobrenatural da ciência, mas também renovar suaepistemologia – dar-lhe um novo conceito, uma novaroupagem (NOVAES, 2006, p. 16).

Agora havia um desejo do sistema em investir na promoção

profissional, visto que a difusão dos novos saberes tinha um

interesse da própria nação em conquistar sua liberdade. Cada vez

mais investigações e pesquisas no campo da linguagem foram sendo

feitas, com o objetivo de conhecer a mecânica da produção e assim

se estabelecer compatibilidades entre as linguagens e a máquina

informática. (LYOTARD, 2009).

As pesquisas das universidades cada vez mais foram sendo

financiadas pelo Estado como uma instituição importante no

49

cálculo estratégico-político destes, visto que na condição pós-

moderna mostrou-se que sem o saber científico e técnico não se

tem riqueza (BARBOSA, apud LYOTARD, 2009).

Com investimentos no saber científico, despertado na era

pós-moderna, descobriu-se que a ciência era um modo de organizar,

guardar e depois distribuir certas informações. A ciência então é

vista como um conjunto de mensagens possíveis de serem traduzidas

em quantidade de informação. Para Lyotard,

Esta relação entre fornecedores e usuários doconhecimento e o próprio conhecimento tende e tenderáa assumir a forma que os produtores e os consumidoresde mercadorias têm com estas últimas, ou seja, a formavalor. O saber é e será produzido para ser vendido, eele é e será consumido para ser valorizado numa novaprodução: nos dois casos, para ser trocado. Ele deixade ser para si mesmo seu próprio fim; perde o seuvalor de uso. (LYOTARD, 2009, p. 4-5)

Na pós-modernidade cada vez mais as funções de poder são

retiradas do domínio de administradores e confiadas a autômatos.

Isto se deu por conta da mudança econômica no capitalismo,

auxiliado pela mudança das técnicas e das tecnologias seguindo em

paralelo, com a mutação de função dos Estados. Desta maneira,

forma-se uma imagem da sociedade que obriga a revisar com

seriedade o que estava sendo colocado anteriormente como

alternativa. Na visão de Lyotard, “a grande questão vem a ser e

será a de dispor das informações que estes deverão ter na memória

a fim de que boas decisões sejam tomadas.” (2009, p. 27).

50

A pós-modernidade está a par do binômio sujeito/instituição,

realizando assim relações como comunicações. Assim se desenvolve

a percepção de uma sociedade baseada em múltiplas relações,

percebendo-se dessa forma novas características e tendências em

maneiras de se socializar, permitindo assim aos indivíduos e

grupos se expressarem e se constituírem. (ALMEIDA, 2010, p. 5).

Este período vem positivamente envolvendo as pessoas no que

está sendo produzido na imprensa. Esse avanço ainda é tímido, mas

após a era moderna, no qual conceitos ideais e ditatoriais eram

plantados na cabeça da sociedade, aos poucos o público começa a

ter consciência que pode, de alguma forma, contribuir com ações

na sociedade. O povo sai da apatia e total poder do Estado e

começa a caminhar pelos próprios meios.

Constituída como uma sociedade da comunicação globalizada, a

sociedade dos mass media é caracterizada, conforme Vattimo (apud

ALMEIDA, 2010), pela importância capital dos meios de

comunicação. Com estes meios, em vez de desenharem uma sociedade

mais ilustrada e consciente de si, a desenham como uma sociedade

mais complexa e até caótica. Neste relativo caos, existe uma

esperança de emancipação.

A pós-modernidade foi essencial para que a sociedade desse

um primeiro passo na construção de uma imprensa mais

participativa. Este poder que o povo começava a ter nas mãos foi

despertado pelo conceito ideológico da pós-modernidade, pelas

características que o conceito traz, visto que o jornalismo se

tratava de uma profissão social. Como ressalta Amaral (2001), os

51

veículos de comunicação são instituições sociais, segundo as

quais sua destinação é a sociedade – embora os interesses nem

sempre coincidam com esta.

2.3 Escolas de Estudo em Comunicação

Os estudos nos aspectos econômicos e tecnológicos destes

meios de comunicação começaram através da Escola de Chicago, nos

Estados Unidos no final do ano de 1920 e início de 1930, também

conhecida como Escola Funcionalista. Nos estudos pesquisavam-se

os efeitos que os meios de comunicação causavam na sociedade.

Iniciada pelos sociólogos Lazarfeld, Lasswell e Merton, a

Escola de Chicago abordava que a comunicação tem como papel

principal a organização social. Dentre outras funções, estariam a

vigilância, a integração, a educação, o entretenimento e a

normalização.

De acordo com o funcionalismo, a sociedade deve serconsiderada como um organismo, um sistema articulado einterrelacionado, formado por partes, sendo que cadauma delas desempenha função de integração e manutençãodo próprio sistema. Afirma que os meios decomunicação, compreendidos como emissores deinformação, têm sempre a intenção de persuadir aosreceptores. (ALMEIDA, 2010, p. 2)

Se para os funcionalistas esse organismo social se

influencia mutuamente, ainda que o grau de influencia varie o

sociólogo funcionalista Charles Cooley destacou que todas as

partes ajudam a dar sentido a este organismo e a constituí-lo. Um52

exemplo disso é a opinião pública, no qual o indivíduo não existe

isolado do contexto social nem a sociedade é alheia a estes e

suas particularidades (SOUSA, 2006).

Outros estudos no campo da comunicação foram avançando pelo

mundo após a Escola de Chicago iniciar suas pesquisas. Na América

Latina, estes estudos deram seus primeiros passos, em 1959, após

o Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para

a América Latina (Ciespal), fundado em Quito, pela Organização

das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco),

Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelo Governo do

Equador trazerem para o Brasil os estudos comunicacionais que

estava sendo desenvolvidos nos continentes Americanos e Europeus.

Mais do que inquietações científicas, foram demandas

políticas e sociais que impulsionaram a Escola Latino-Americana.

Afinal, este continente era marcado por dependência estrutural,

relembrando uma cultura do silêncio e da submissão, assim,

impulsionou a busca para compreender o que, nas palavras de

Berguer (2201, p. 241), “acontecia com a comunicação e demarca as

fronteiras do emergente campo de estudo”.

Inicialmente, as pesquisas Latino-Americanas, por conta da

influência das pesquisas desenvolvidas na Europa, traziam

características pessimistas, sombrias e conspiratórias, de forma

que quase todos seus produtos culturais eram a serviço da

dominação e hegemonia dos Estados Unidos. Em resposta a isso, a

partir da década de 1970 os pesquisadores latino-americanos

começaram a estudar políticas públicas de comunicação,

53

considerando a comunicação popular e o media alternativos (SOUSA,

2006).

2.4 Jornalismo Comunitário

Com as pesquisas em comunicação na América-Latina voltada

para as comunidades – por conta da realidade sócio-política,

econômica e cultural na região, onde havia uma carência de defesa

dos direitos dos cidadãos – foi desenvolvido o estudo da

comunicação popular, também chamado de jornalismo comunitário.

Segundo Pena (2005, p. 187), o objetivo do jornalismo

comunitário é atender às demandas da cidadania, de forma que

sirva como ferramenta de mobilização social. Além do mais, é

preciso que o jornalista que exerce a função comunitária,

enxergue esta comunidade como se fizesse parte dela, para que

haja uma “real apropriação dos processos de mediação pelo grupo”.

A importância de se aprofundar as investigações do meio

comunicativo em si mesmo e do jornalismo comunitário se dá em

função dos significados que este tem que dar à população.

Portanto, esta nova forma estabelecida de jornalismo nasceu como

um protesto expandido em pequenos jornais, rádio, vídeos, teatro,

entre outros.

Numa conjuntura em que vinha à tona a insatisfaçãodecorrente das precárias condições de existência deuma grande maioria e das restrições à liberdade deexpressão pelos meios massivos, criaram-seinstrumentos ‘alternativos’ dos setores populares, nãosujeitos ao controle governamental ou empresarialdireto. Era uma comunicação vinculada à prática de

54

movimentos coletivos, retratando momentos de umprocesso democrático inerente aos tipos, às formas eaos conteúdos dos veículos, diferentes daqueles daestrutura então dominante da chamada ”grandeimprensa”. (PERUZZO, 1998, p. 114-115).

Visando substituir a fragmentação noticiosa, o jornalismo

comunitário propõe um envolvimento com a comunidade que ofereça

atenção a cada tema. Para isso, no contexto deste fazer

jornalístico é preciso haver sondagem direcionada ao povo a fim

de reconhecer suas prioridades e necessidades (SOUSA, 2006).

Assim, é proposto um confronto com políticos, jornalistas e

representantes da comunidade para que existam resultados

palpáveis.

Peruzzo (1998) utiliza a expressão “comunicação popular”

como sinônimo de “jornalismo comunitário”. Embora haja diferença

nos termos11, a autora explica que quando se fala de uma

comunicação popular se trata de uma comunicação do povo. Ainda

que outros significados sejam dados, é consensual apenas o que

tem a ver com povo12. Portanto, é a partir da definição do que é

”povo” que se define o que é comunicação ”popular” – “embora essa

categoria encerre a mesma problemática, podendo ser compreendida

de várias maneiras.” (PERUZZO, 1998, p. 116).

11 Conforme o dicionário Aurélio, popular significa: do, ou próprio do povo, oufeito por ele; simpático ao povo; vulgar, trivial. Já comunitário, significa:relativo à comunidade, sendo Comunidade a qualidade de comum; corpo social;grupo de pessoas submetidas a uma mesma regra religiosa.12 Povo, segundo definições do dicionário Aurélio, é um conjunto de indivíduosque falam a mesma língua, têm os mesmos costumes e hábitos idênticos, umahistória e tradições comuns.

55

Por ser a comunicação popular resultado de um processo no

qual grupos de camponeses ou trabalhadores discutiam entre si ou

com grupos similares, esta tinha características essenciais de

questão participativa voltada para a mudança social (PERUZZO,

1998). Percebe-se, assim, que os movimentos sociais tomam a

frente destas discussões mais participativas da sociedade,

inclusive trazendo-as para o jornalismo. Verificar que a apatia

popular estava sendo deixada de lado e a própria voz do povo

começava a incomodar, é arriscar dizer que o jornalismo, de fato,

começava a ter a autonomia e praticar sua grande função social

que é atender às necessidades da sociedade.

Conforme Sequeira e Bicudo (2006), o local é quem dá as

pautas ao jornalismo comunitário, assumindo e dando conta de uma

área restrita e, que comparada com a grande mídia, não se importa

em ser pequeno, em conversar com grupos limitados, em termos

quantitativos.

O fato de aproximar-se de seu público permite quedialogue com ele mais com profundidade e intensidade.Essa relação de proximidade, embora se manifesteessencialmente no plano geográfico - assuntos queestão mais perto da região onde vive a comunidadetendem a ter prioridade no noticiário -,pode também serevelar por meio daquilo que chamamos de ‘proximidadepor demandas ou expectativas’. Exemplificando:projetos culturais e sociais desenvolvidos nacomunidade terão destaque nos veículos por elaproduzidos; o mesmo raciocínio vale para cenários deviolência e exclusão, para problemas como o desempregoe a falta de escolas ou de postos de saúde. (SEQUEIRA;BICUDO, 2006, s/p.).

56

O jornalismo comunitário traz cinco características que

garantem personalidade, autenticidade e registros muito nítidos

de uma carga genética exclusiva, segundo Sequeira e Bicudo

(2006):

1. Valorização da realidade local;

2. Participação da comunidade durante todo o processo de

produção;

3. Consagração das ideias da mobilização e da transformação;

4. Resgate de um viés pedagógico e educativo;

5. Articulação com a produção independente e de resistência.

A participação do público na apuração dos problemas, para

possíveis exigências de soluções, foram essenciais no

fortalecimento da comunicação popular. Conforme Peruzzo (1998),

na comunicação popular os protagonistas são compostos por

representantes do povo ou as organizações a eles ligada

organicamente, quebrando assim a lógica da dominação,

compartilhando dentro do possível seus próprios códigos.

Neste caso, o jornalismo passa a ser visto como um

patrimônio da comunidade, pois a participação de pessoas comuns

está garantida. Conforme Sequeira e Bicudo (2006), esta prática

não é uma maneira sectária e seduzida por palanques e holofotes,

mas uma forma de se despertar a reflexão crítica de diversos

assuntos, através dos discursos e narrativas produzidas dentro

desta comunidade.

57

O jornalismo comunitário é acima de tudo um exercício de

democracia, pois permite aos comunitários a participação em

assuntos que não são mais ditados pela grande mídia, mas

construídos após debates e diálogos, inclusive tornando estes

conscientes de seus direitos e participantes da construção destas

notícias.

Para Peruzzo (2002), as pessoas que participam dos processos

comunicacionais firmados nas comunidades, tendem a mudar a

maneira de observar o mundo e se relacionar com ele, agregando

assim novos elementos à sua cultura. Isto acontece, porque a

participação neste processo é uma forma facilitadora de se

ampliar a cidadania, afinal, possibilita-se a transformação em

seres de atividades nas ações comunitárias e nos meios de

comunicação inventado, resultando em um processo educativo.

Apesar de toda militância, o jornalismo comunitário não

chega a se colocar como força superadora dos meios de comunicação

de massa, pois os dois são complementares e não excludentes. A

grande mídia não consegue suprir necessidades em nível de

comunidade e movimentos sociais organizados, mas se faz

necessária e importante quando o assunto é entretenimento e

informação (PERUZZO, 1998).

Uma das hipóteses para a grande imprensa não conseguir

alcançar as necessidades das comunidades, além da óbvia máquina

capitalista que impera por trás dela, pode ser visualizado em

Bauman (2001).

58

O autor fala que, quanto mais a comunidade precisa ser

defendida e apelar para seus próprios membros para que suas

escolhas individuais sejam protegidas, elas são demandadas de

outras questões. Seriam essas questões mais projetos que

realidades, ou algo que vem depois e não antes da escolha

individual.

Esse é o paradoxo interno do comunitarismo. Dizer “ébom ser parte de uma comunidade” é um testemunhooblíquo de não fazer parte por muito tempo, a menosque os músculos e mentes dos indivíduos sejamexercitados e expandidos. Para realizar o projetocomunitário, é preciso apelar às mesmíssimas (edesimpedidas) escolhas individuais cuja possibilidadehavia sido negada. Não se pode ser um comunitário bonafide sem acender uma vela para o diabo: sem admitir numaocasião a liberdade da escolha individual que se negaem outra (BAUMAN, 2001, p. 195).

Por isso é necessário cautela na edificação da identidade do

veículo comunitário, para que o cidadão se sinta como parte desta

construção. Pois grande parte dos meios de comunicação

comunitários têm o potencial de organização popular e trazer

conteúdos informacionais e culturais, e também podem possibilitar

a prática da participação direta neste processo. (PERUZZO, 2002).

Para Sequeira e Bicudo (2006), o jornalismo comunitário é

uma prática alternativa que trata de assuntos não tratados de

forma costumeira pela grande imprensa, a qual possui outra agenda

pública de discussões. Isso significa que, ainda que os assuntos

sejam abordados na grande mídia, certamente receberão dos

59

veículos comunitários, outros enfoques e tratamentos, voltados

para as demandas e realidades das populações menos favorecidas.

A importância desta forma de se fazer jornalismo é de fato

dar a função de agente social ao jornalista, e principalmente ao

povo, de forma que se provoque a participação deste.

2.5 Comunicação Popular Participativa

O conceito de comunicação participativa começou a ser

desenvolvido a partir de um paradigma que contém princípios do

marxismo com o do cristianismo, através da Igreja Católica, e

cuja metodologia de trabalho é inspirada em Paulo Freire13. A

comunicação participativa inclui: noções de luta de classes; a

existência da relação dominante/dominado na sociedade; a crença

na necessidade de transformação radical para construção de uma

sociedade igualitária. (TAUK SANTOS, 2002).

O diálogo, como forma de interação, na comunicação

participativa é visto como fator capaz de desenvolver a

consciência crítica das classes mais baixas através da

valorização do saber dessas na transformação da realidade.

No caso, a diferenciação da comunicação participativa para a

comunicação se dá em observar na informação um processo

unidirecional, cujo objetivo é a transmissão verbal e

13 Paulo Freire foi um educador e filósofo que defendia a PedagogiaLibertadora, relacionada à visão marxista do Terceiro Mundo e das consideradasclasses oprimidas, com a tentativa de esclarecê-las e conscientizá-laspoliticamente. As suas maiores contribuições foram no campo da educaçãopopular para a alfabetização e conscientização política de jovens e adultosoperários.

60

conhecimento. Portanto, “o diálogo passa a ser considerado a

comunicação soberana por excelência. [...] Só no autêntico

diálogo se dão as condições de uma verdadeira democracia.”

(PASQUALI apud TAUK SANTOS, 2002, p. 258).

Peruzzo levanta a questão dos meios populares serem ocupados

por poucos e estes fazerem interpretações das necessidades de

informações e de outras mensagens dos receptores. “Por isso,

convém não esquecer, como já dissemos, que tanto ‘participativo’

como ‘popular’ não qualificam necessária e automaticamente o

substantivo democracia.” (1998, p. 141).

Esse período caracterizado como participativo vivido a

partir da pós-modernidade operou levantamentos de quais tipos de

cidadãos ativos estavam sendo formados. Assim, em uma perspectiva

mais ampla de ação coletiva, Peruzzo (1998) destaca três

modalidades de participação popular:

1. Participação Passiva: Ainda que não se envolva em processos

decisórios – seja por censura ou por não acatar o que é

defendido e aceitar o que foi decidido – a pessoa desenvolve

um tipo de participação. “Ela consente, se objetiva, se

submete e simplesmente delega o poder da outra.” (PERUZZO,

1998, p. 78);

2. Participação Controlada: Esta pode ser manipulada, pois

inicia em uma pressão da própria base. “Assim, conquista-se

ou se ganha a possibilidade de fazer um ‘planejamento

61

participativo’ ou de ter parte nos lucros da empresa.”

(PERUZZO, 1998, p. 78-79);

3. Participação-Poder: Apesar de ser limitada, por nem sempre

se conseguir alcançar todas as decisões e atingir todas as

instâncias da estrutura política, a Participação-Poder tem

processos que favorecem a participação democrática, ativa e

autônoma.

Assim sendo, a comunicação participativa se torna

importante, porque ajudou a elevar o conceito de mudança social

ao patamar de transformação social, conforme ia se constituindo

em instrumento para viabilização de um conceito de

desenvolvimento criado, como processo de transformação estrutural

com grande participação popular (TAUK SANTOS, 2002).

Essa participação popular não se limitava à criação de

consciência política e social da situação, mas envolvimento em

produção, planejamento e na gestão da comunicação comunitária.

Nas mensagens enviadas à população – em forma de

entrevistas, depoimentos, denúncias e outros – a participação era

mais simples e pura. Porém, diversas vezes essa população

comunitária participava da produção destes produtos, mediante a

aplicação de conhecimentos aprendidos e qualificações técnicas.

A participação no planejamento dos meios era mais usual,

afinal estes viviam de fato os acontecimentos da comunidade, logo

havia comunicação nas reuniões de política editorial, objetivo,

formatação de programas, entre outros. Na gestão desses veículos,

62

por se tratar de um exercício de poder, há critérios de

representatividade e corresponsabilidade, pois se trata de uma

democracia. A esse respeito, Peruzzo declara que

Em todos esses níveis, a participação popular requer aexistência de canais de participação abertos edesobstruídos. Porém, não lhe basta isso. Há que seincentivá-la e facilitá-la mediante uma metodologiaque a privilegie enquanto processo que vai crescendoem qualidade. (PERUZZO, 1998, p. 145).

Esta bandeira levantada pela comunicação participativa não visa destruir outras formas de comunicação, mas democratizar o acesso a ela.

63

3 SOCIEDADE PARTICIPA ATIVAMENTE

As mudanças na era pós-moderna se estendiam também aos modos

comunicacionais, que iam da apuração de notícias até a forma de

distribuição destas. A sociedade como participante ativa da

comunicação foi influenciada por características da

globalização14.

De acordo com Thompson (2008), este modo de se comunicar

passa a acontecer em uma escala cada vez mais global, de forma

que informações são acessadas e mensagens são recebidas de fontes

distantes. Isso se dá por conta da separação entre o espaço e o

tempo, cisão operada pelos meios eletrônicos, tornando assim o

acesso às mensagens mais instantâneo ou virtualmente instantâneo.

Sobre isso, Thompson declara que:

Distâncias foram eclipsadas pela proliferação de redesde comunicação eletrônica. Indivíduos podem interagiruns com os outros, ou podem agir dentro de estruturasde quase-interação mediada, mesmo que estejamsituados, em termos de contextos práticos da vidacotidiana, em diferentes partes do mundo. (THOMPSON,2008, p. 135)

Processos simbólicos vão sendo alterados e novos modos de

relação vão surgindo por conta da revolução tecnológica. São

essas as formas de produzir notícias, alterando o modo de

14 Termo que se refere à crescente interconexão entre as partes do mundo,originando várias formas de interação e interdependência.

64

comunicar - e a transformando do conhecimento em uma força

produtiva direta (MOZZINI, 2010).

O avanço da globalização na comunicação foi impulsionado

pelo desenvolvimento de tecnologias capazes de transmitir

mensagens por ondas eletromagnéticas, criando assim uma

emergência das organizações nacionais e internacionais de

administrar este espaço. Estas mensagens eram cada vez mais

acessíveis, ainda que de forma heterogênea, a qualquer um que

estivesse ao alcance de sinal e com equipamentos para interceptá-

lo (THOMPSON, 2010).

Porém, este avanço só foi possível por conta de três

desenvolvimentos intrinsicamente interligados no século XX.

Primeiro, o uso mais frequente e melhor aplicado do sistema de

cabos que fornecia uma capacidade maior de transmissão de

informações eletronicamente codificadas. Segundo, o constante uso

de satélites para a comunicação a longa distância. Terceiro, o

crescente uso de métodos digitais para o processamento,

armazenamento e recuperação da informação.

De acordo com Thompson,

A digitalização da informação, combinada com odesenvolvimento de tecnologias eletrônicasrelacionadas (microprocessadores, etc.), aumentougrandemente a capacidade de armazenar e transmitirinformações e criou a base para a convergência dastecnologias de informação e comunicação, permitindoque a informação seja convertida facilmente paradiferentes meios de comunicação. (THOMPSON, 2010, p.145).

65

Compreende-se, então, que a técnica e a tecnologia se

apresentam como um espinho para o relacionamento entre o sujeito

e o meio. Afinal, conforme surge necessidade de produção de

conhecimento, para assim se desenvolver objetos técnicos e

artificiais, existe a necessidade de objetos e processos que

permitam mediações da relação de produção de conhecimento.

(XAVIER; SILVA, 2005).

3.1 Digitalização dos Medias

A mediação da produção de conhecimento começa a tomar forma

quando surge o computador e em seguida a internet15. Em 1946, nos

Estados Unidos, em plena Guerra Fria, surgiu o primeiro

computador chamado de Eniac (sigla de “Integrador e Computador

Numérico Eletrônico”). Como havia interesses bélicos, buscou-se a

partir daí criar a rede mundial de computadores. A internet foi

criada com o objetivo de se estabelecer comunicação caso houvesse

ataques inimigos e destruição dos meios convencionais de

telecomunicação.

Logo após a invenção, a empresa americana Bell Company cria o

Dataphone, que permitia que dois computadores se comunicassem

usando linhas telefônicas tradicionais. A partir daí, várias

atualizações foram feitas permitindo facilidade nesta comunicação

digital e ampliando as vendas desses computadores. Entre tais

atualizações estão: a invenção do microcomputador; a transmissão

15 Uma rede de computadores conectados que trocam informações.

66

de sinais de telecomunicação entre Estados Unidos e Europa;

surgimento do vídeo-disco; a operação do Ministério da Defesa dos

EUA criando a primeira rede da internet e, então, o surgimento do

microprocessador.

Por meio dos computadores foi possível desenvolver a

convergência midiática, inclusive esta foi iniciada em um projeto

militar norte-americano com a intenção de simular ambientes e

distribuir pessoal no espaço. Esta transferência à realidade,

permitiu, com a computação gráfica, a multimídia possível ao meio

digital.

Na história da mídia, o computador é o grande ponto chave da

evolução tecnológica, pois ele deixa de ser usado apenas como

máquina de calcular e como objeto de escritório, para executar

vários serviços no campo da comunicação (e também em outros

campos). Os novos serviços foram sendo convergidos e, para que

eles fossem melhor difundidos, foi necessário baratear o preço de

forma que estes tivessem mais fácil acesso.

Apesar das vendas dos computadores terem aumentado, o acesso

à internet só foi facilitado em 1989, quando as empresas Time

Inc. e Warner Bros se juntaram e criaram a teia global World Wide

Web16. Conforme nos explica Estrázulas, “no princípio, as ligações

da rede utilizavam o sistema da telefonia fixa com fios de cobre.

Depois surgiram os cabos de fibra óptica que melhoraram a

qualidade e a largura de banda de transmissão.” (2010, p. 56).

16 Um modo de acesso à informação através da internet usando o hypertexttranfer protocol (http) e os navegadores da web.

67

Castells (2003) afirma que o uso da Internet como sistema de

comunicação e forma de organização foi tão grande no segundo

milênio que, em 1995, primeiro ano de uso da World Wide Web, o

número de acessos chegava à aproximadamente 16 milhões de

usuários por computador no mundo. Este defende que

A influência das redes baseada na Internet vai além donúmero de seus usuários: diz respeito também àqualidade do uso. Atividades econômicas, sociais,políticas, e culturais essenciais por todo o planetaestão sendo estruturadas pela Internet e em tornodela, como por outras redes de computadores. De fato,ser excluído dessas redes é sofrer uma das formas maisdanosas de exclusão em nossa economia e em nossacultura. (CASTELLS, 2003, p. 8)

Desta forma, a internet permitiu uma nova maneira de

interação social. Trata-se de uma apropriação de invenções pelo

próprio tempo no qual estas surgem. Se com o surgimento da

imprensa de Gutenberg, alternativas para a expansão da

comunicação – como a tradução de conhecimento do espaço privado

para o espaço público – foram criadas, o meio digital foi sendo

apropriado e modificado para que esta comunicação se propagasse

também. Neste meio digital, um novo valor foi dado às

informações. Embora se tratasse de tecnologias, valores foram

dados aos princípios físicos destes – este foi o caso do

princípio físico do meio digital: o bit.

Conforme Negroponte (1995), esse bit sofreu uma

ressignificação socioeconômica-cultural possibilitada pelo meio

68

digital de forma que o bit não tem cor, tamanho ou peso e ainda

tem a capacidade de viajar à velocidade da luz.

A partir daí, o bit começa a armazenar informações que têm

valores muitas vezes imensuráveis dependendo de quem as

pertencem. Levy defende que quando a subjetividade, a pertinência

e a significação entram no jogo “não se pode mais considerar uma

única extensão ou uma cronologia uniforme, mas uma quantidade de

tipos de espacialidades e de duração.” (1996, p. 22).

O cenário criado com a digitalização dos medias se

potencializou por conta da circulação de informações das

estruturas labirínticas de redes, bem como a multiplicação de

mídias fundamentada em uma única plataforma de linguagem, a

digital. Entretanto, mais do que dilatar as possibilidades de

emissão e recepção de informações, através da plataforma digital

se iniciou uma conversa global que influenciou as relações

sociais e as áreas do conhecimento. (CARNIELLO e ZULIETTI, 2007).

No princípio, a multimídia era usada para migrar músicas ao

sistema binário. Nesse período se criou o CD-ROM (Compact Disc - Road

Only Memory). Esta criação foi vista como um ótimo potencial para

se alavancar as indústrias capitalistas, que passaram a explorar

o mercado consumidor e a investir em tecnologia digital.

Esse investimento teve grande importância para que outros

meios aderissem ao campo da digitalização. Em 1978, o Laboratório

de Media do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)

desenvolveu um projeto que convertia as gravações analógicas das

69

ruas da cidade de Aspen em vetores digitais, permitindo assim

interação dos usuários com o sistema.

O projeto permitiu que os meios de comunicação e a indústria

de cultura notassem o rumo digital que o novo mundo tomava. Essa

convergência digital dava mais qualidade aos meios, tanto no

sentido técnico quanto nas formas de atrair consumidores para

estes. Segundo Briggs e Burke (2006), as novas tecnologias

permitiriam opções mais ricas no que se refere a ver e ouvir e de

quando ver e ouvir, tornando, mais do que nunca, os espectadores

e ouvintes em “clientes”.

Mesmo que as tecnologias dessem passos colossais na produção

da notícia, naquele contexto o trabalho do jornalista ainda era

segmentado. Ainda existiam funções específicas, pois havia um

profissional para cada trabalho exercido. Por exemplo, no

jornalismo televisivo, cinegrafista e fotógrafo para captura de

imagens, produtor para auxiliar o repórter na elaboração de

matérias e repórter para única e exclusivamente realizar a

matéria.

Quanto ao papel do público, ele passava a receber uma

qualidade melhor nas imagens e sons de suas televisões e rádios,

mas ainda era constituído de meros espectadores. Mais à frente,

com a popularização de meios de produção de notícias, estes o

público passará passarão a utilizar estes meios digitalizados

como forma de contribuir na produção da mídia.

No final da década de 1980, surgiram os primeiros

equipamentos transformadores de dados magnéticos de imagem e

70

áudio em digital, conhecidos como placas de captura. Em paralelo

a essas placas, foram desenvolvidos softwares de edição digital

usados para imagem e áudio. Nesta edição, as imagens não eram

rodadas em modo cronológico, sendo o processo então classificado

de de edição não linear. Após essas atualizações digitais foram

inventados aparelhos que dispensassem o uso da placa de captura e

fossem autossuficientes em sua existência de forma digital. Assim

foram criados os gravadores de voz, câmeras fotográficas e

câmeras de vídeos.

Com a digitalização destes processos as novidades pareciam

sempre mais atraentes para o público, então se exigiu uma

reinvenção do que já tinha sido descoberto. Quanto a isso,

Estrázulas (2010) declara que

O jornal se reinventou com o aparecimento do rádio. Jánão bastava dar a notícia, porque isso o rádio faziainstantaneamente. Era necessário o aprofundamento, umaanálise, a adição de mais imagens e outras conexões.Com o surgimento da televisão, o rádio se reinventa ebusca na qualidade das FM o meio ideal para transmitirentretenimento musical; e no alcance das AM atransmissão de informações às populações maisdistantes. (ESTRÁZULAS, 2010, p. 59)

A evolução das tecnologias e a digitalização dos processos

influenciam diretamente no jornalismo e nos seus profissionais.

Com a popularização da internet essas mudanças foram mais

significativas. Assim, o repórter que antes saia para as pautas

com um fotógrafo, um produtor e um cinegrafista nos tempos

71

atuais, na maioria das vezes, sai apenas com outro profissional

apenas e seu celular a tiracolo.

Um exemplo são os portais de notícias online que exploram

bastante essas multitarefas do repórter. Se antes cinco

profissionais de jornalismo eram necessários em uma pauta,

atualmente, na maioria das vezes, apenas o repórter dá conta de

apurar os fatos, registrar o áudio e as imagens e ainda enviar

para o editor na redação, através do celular.

É o que acontece, por exemplo, no Portal D24AM17 onde o

repórter, na maioria das vezes, inicia sua apuração entrevistando

ou registrando através de imagem e áudio o fato, passando, em

seguida, o material para o editor através de mensagem de celular

e, na redação, o editor trabalha a matéria e a publica.

Mas essa característica não é exclusiva dos portais de

notícias online. Com a digitalização dos aparelhos, é possível

que essa urgência também aconteça no jornalismo televisivo. Isso

acontece, por exemplo, na emissora Record News18, na qual o

repórter, junto do seu cinegrafista, apura e registra a notícia

e, em seguida, envia um motoboy da empresa até o local da

apuração em busca do microchip da câmera, levando-o até a ilha de

edição do jornal, para que a notícia entre a tempo no ar.

Ainda há casos nos quais as funções são mais reduzidas, como

os portais G119 e UOL20, veículos nos quais os próprios repórteres

17 Portal de notícias de Manaus: www.d24am.com 18 Empresa jornalística televisiva. 19 Portal de notícias nacional: www.g1.com 20 Portal de notícias nacional: www.uol.com.br

72

são responsáveis pela redação e edição do texto, a fim de

agilizar o processo e não “levar furo” dos concorrentes.

Esse acúmulo de funções de repórter, editor e revisor,

fotógrafo e videorrepórter se caracteriza como uma urgência das

empresas pela notícia, e claro, o mais importante, a diminuição

dos custos para estas. Mas não são apenas essas mudanças

estruturais que o jornalismo vem sofrendo por conta da urgência e

pelo consumo de notícias, característica de uma sociedade pós-

moderna.

Bauman declara que

O consumismo de hoje [...] não diz mais respeito àsatisfação das necessidades – nem mesmo as maissublimes, distantes (alguns diriam, não muitocorretamente, ‘artificiais’, ‘inventadas’,‘derivativas’) necessidades de identificação ou aauto-segurança quanto à ‘adequação’. Já foi dito que ospiritus movens da atividade consumista não é mais oconjunto mensurável de necessidades articuladas, mas odesejo - entidade muito mais volátil e efêmera, evasivae caprichosa, e essencialmente não-referencial que as‘necessidades’, um motivo autogerado e autopropelidoque não precisa de outra justificação ou ‘causa’(BAUMAN, 2010, p. 88).

Nesta fase de digitalização dos meios de produção da

notícia, o público começa a participar mais ativamente através

dos feedbacks que dão às emissoras pelo telefone ou e-mail da

redação, que passam a ser divulgados nos programas ou páginas.

Com a integração dessas diferentes ferramentas de interatividade,

o público ganha um espaço para dar palpites e sugestões.

73

Esta participação do público no jornalismo ocorreu

justamente por conta das transformações no uso da internet. Aos

poucos o público vai se percebendo como parte da construção

dessas notícias, principalmente pelo interesse desses meios em se

tornar interativo. Neste momento, a sociedade tem a possibilidade

de se informar, tecer comentários sobre o que assistiu e ainda

interagir com a produção das empresas de comunicação através da

internet e/ou do telefone sugerindo pautas ou direcionamentos

para as matérias.

Como ressalta Guzzi (2006), por conta da emergência da

Internet e da Web em 1994, elementos totalmente inéditos foram

introduzidos na sociedade, promovendo assim uma revolução do

espaço público caracterizada pela possibilidade da interconexão

geral, a desintermediação e a comunicação de todos com todos.

Com a chegada da Internet, e a conseqüentedisponibilização de informações online, pode-se dizerque uma experiência em democracia mais abrangente,globalizada, vai sendo compreendida. Com isso,estudiosos no mundo todo discutem o aperfeiçoamentodos mecanismos democráticos. Cada vez mais aparticipação pública em tomadas de decisão no âmbitogovernamental é considerada parte de uma definição quevem sendo necessariamente vinculada à democracia.Sendo assim, é possível que a própria democraciaesteja se aperfeiçoando, como tantos pesquisadoresafirmam, na medida em que novas tecnologias deinformação e comunicação vão sendo criadas (GUZZI,2006, p. 31).

Vacas (2010) encara esta evolução digital como um incentivo

a mais para o público que sente a necessidade de transmitir,

74

compartilhar com alguém e até debater com os outros variados

assuntos divulgados na mídia, assumindo assim a axioma de que é

impossível não se comunicar. O autor observa ainda que não foi só

a potencialidade tecnológica do novo tempo que atraiu o público,

mas o custo menor se comparado a ferramentas tecnológicas

anteriores.

Com todas essas mudanças, a digitalização dos espaços também

foi alcançada promovendo que meios clássicos convergissem para a

internet. Os jornais impressos mudaram sua diagramação para algo

que imitasse a navegação na web, inclusive com mosaicos e

gráficos; os rádios alcançam seu formato digital, no qual o

ouvinte, além de ouvir a música, pode acompanhar a letra, caso

tenha um aparelho decodificador; e com as televisões novos

padrões de transmissão foram criados para suportar a TV digital,

melhor em imagem, som e interação.

Sobre isso, Estrázulas ressalta que:

O meio digital se apropriou das formas perceptivas ese transformou num meio sinestésico, mas que a desejodo consumidor pode alcançar profundidade em qualquernível de informação. Tudo isso graças ao emaranhado deuma rede que liga interlocutores digitais. Há, em todoesse universo digital, um representante perfeito dessaconvergência. (ESTRÁZULAS, 2010, p. 61).

As novas funções das mídias digitais (internet e suas

diversas ferramentas como blogs, podcasts, wikis e telefones

celulares com múltiplas funções) são chamadas por Lemos (2007) de

pós-massivas. Estas funcionam a partir de redes telemáticas em

75

que qualquer pessoa pode produzir informação independente de

manter relações diretas com empresas ou conglomerados econômicos.

As redes massivas tem um fluxo centralizado de informação pelas

empresas que competem entre si e são dirigidas às pessoas que não

se conhecem e possuem limitada possibilidade de interação.

Lemos (2007) destaca as funções massivas e pós-massivas que

existem tanto na mídia analógica quanto na digital. De acordo com

o autor, não existe uma dualidade simples, mas uma reconfiguração

do sistema. Isto se dá em virtude de existir na internet funções

massivas – como a TV pela Web, os grandes portais ou máquinas de

busca – e pós-massiva, com os blogs e podcasts. Lemos (2007)

destaca em seu artigo as mudanças socioculturais alcançadas na

cultura pós-massiva das tecnologias digitais. Segundo o autor,

tais mudanças provocaram uma:

Estrutura midiática ímpar (com funções massivas e pós-massivas) na história da humanidade onde, pelaprimeira vez qualquer indivíduo pode produzir epublicar informação em tempo real, sob diversosformatos e modulações. (LEMOS, 2007, p. 126)

Isso tudo além de poder construir pontes em rede com outros

conectados.

Hoje percebemos que vários portais de notícias mesclam suas

funções massivas com as pós-massivas. A maioria deles, além das

notícias publicadas, realizam chat’s com convidados especiais com

os quais o público pode interagir, disponibilizam blogs com

76

assuntos variados bem como divulgam podcasts com entrevistas,

entre outras formas de interação.

Desta forma, são criadas nas cidades contemporâneas “zonas

de controle de emissão e recepção de informação digital do

indivíduo, em mobilidade e no espaço público, potencializando

novas práticas sociais” (LEMOS, 2007, p. 128). A rotina do

jornalista, neste novo processo, é de conectar-se a seus chefes e

fontes por intermédio de smartphones, além da mudança em seus

múltiplos horários de carga de trabalho. Dessa forma, a linguagem

digital concentrada em uma plataforma única permitiu que as

mídias se complementassem por parte dos comunicadores e

contribuíssem cada vez mais para a construção de locais

comunicacionais mais democráticos.

3.1.1 A Mobilidade das Mídias

Um dos ingredientes fundamentais para o desenvolvimento das

redes digitais foi a telefonia móvel, que teve suas conexões

intensificadas. Em destaque as conexões de tecnologias sem fio

foram responsáveis por esse avanço, pois permitiram uma interação

maior do público com os processos de comunicação.

Os celulares com tecnologia avançada obtiveram novas

funções além de ligação, mensagem de texto e mensagem de voz. A

distância entre as pessoas foi se tornando cada vez mais

reduzida, pois as novas tecnologias permitiam captura de fotos e

vídeos e através do acesso à internet o compartilhamento de

músicas e documentos, console de jogos e acesso ao correio

77

eletrônico. Dessa forma, essas mudanças se mostravam como

extensões de funções que apenas os computadores desempenhavam.

Ao final as imagens, antes espaçadas na tela datelevisão, juntam-se e tomam a forma do aparelho. Soba inscrição: Seu mundo num único lugar. Mais do queexplicar os motivos que a convergência apresenta paraeleger o telefone móvel como signo dessa revolução, apropaganda elenca dezenas de atividades que podem serrealizadas com um único aparelho tecnológico. [...]Quando a indústria telefônica condensa todas essaspossibilidades ao aparelho móvel, torna-seirresistível ao multiconsumo não se digitalizar também.(ESTRÁZULAS, 2010, p. 61)

Esta crescente digitalização dos meios, principalmente da

telefonia móvel, permitiu um barateamento dos aparelhos digitais,

de forma que eles se tornaram mais acessíveis, crescendo, assim,

o número de usuários. Um exemplo disso no Brasil é que até o mês

de outubro de 2013, conforme dados da Agência Nacional de

Telecomunicações21, havia 269,9 milhões de celulares. Sendo assim,

fica claro que o país tem mais celulares do que habitantes,

conforme registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), em agosto de 2013, com um pouco mais do que

201 milhões de pessoas.

3.2 Usuário como gerador de conteúdo e as Mídias Sociais

21 Dados retirados do site Teleco. Disponível em: <http://www.teleco.com.br/ncel.asp>. Acesso em: 12 out. 2013.

78

Com todas as tecnologias voltadas para os dispositivos, o

que se tem atualmente é um usuário gerador de conteúdo (UCG22).

Ser gerador de conteúdo, conforme Vacas (2010), consiste em

pensar teoricamente que todos os bits são tratados sem

privilégios. Assim sendo, os conteúdos passam a ser produzidos

por usuários, porém não são classificados conforme os critérios

da mídia tradicional (séries, filmes, notícias, jornais, livros,

etc), os diferenciando então da produção mainstream.

Conforme Vacas (2010), apesar de todos poderem criar

conteúdos o que define como UCG é a vontade de seu criador em

publicar, de fato, sua publicação, tornando possível o acesso

público. Outra definição dada pelo autor é a diferenciação dos

conteúdos. Por exemplo: uma mesma notícia dada por vários canais,

produzidas, na maioria das vezes, segundo interesses da empresa

impõem cerceamento nas informações, impedindo que estas sejam

publicadas. O mesmo fato, com acréscimo desta informação cerceada

por algum usuário na rede, agrega um novo valor à informação,

criando-se um novo produto.

A terceira característica do UGC, defendido por Vacas

(2010), diz respeito à existência de um trabalho criativo e com

nenhuma fonte de circuito profissional. Assim sendo, tanto os

profissionais de comunicação podem ser considerados UGC quanto

usuários esporádicos com poucos conhecimentos práticos que usam a

internet para publicar material não comercial.

O UGC encontra em blogs e redes sociais, tais como Facebook,

Twitter e YouTube, uma forma de publicar seu material. Segundo22 Contenidos Generados por Usuário (UGC).

79

Carvalho in Brambilla (2011), as possibilidades da era digital

tornaram o público fonte de informação, permitindo, inclusive,

que em algumas vezes seja noticiado o ocorrido antes dos veículos

de referência.

Outra mudança é destacada por Ricordi (2012), que atribui

significação na convergência dos veículos e dos meios para as

reportagens multimídias, surgidas com o avanço da tecnologia na

informática e no uso da rede mundial de computadores. Por conta

disso, o público começa a ser tratado como colaborador.

Um exemplo são as sessões oferecidas nos portais de

notícias, como na ‘Vc no G1’do G123. Ao explicar como participar,

o portal coloca como condições e dicas:

1. O envio de um vídeo e até seis fotos por vez, porém o

usuário pode participar quantas vezes quiser;

2. Estado, cidade e data de quando o vídeo foi gravado ou a

foto tirada;

3. O conteúdo pode ser usado na Globo e na Internet. Na web, o

vídeo ficará publicado durante seis meses; suas fotos e

texto podem ficar disponíveis por tempo indeterminado;

4. Fornecimento de detalhes, para que se entenda melhor o

conteúdo colaborativo;

5. O que você está falando, o assunto que está abordando, onde

isso está ocorrendo, o porquê e como (o famoso lead);

23 Site de notícias do Grupo de Comunicações Globo. Disponível em:<http://g1.globo.com/>. Acesso em: 22 nov. 2013.

80

6. Descrição no texto das cenas que aparecem nas imagens, caso

elas também sejam enviadas;

7. Ser direto e simples ao contar a história. Realizar um

roteiro antes da gravação de um vídeo pode ajudar;

8. Verificar a nitidez do áudio e imagem do seu vídeo. Uma boa

iluminação é importante para a qualidade da imagem.

Percebe-se que as condições e orientações da participação do

usuário no portal é uma aula sucinta de técnicas do texto

jornalístico. Conforme Carvalho (in BRAMBILLA 2011), a adoção na

produção dos conteúdos e de inclusão do público em coberturas de

notícias foi um dos métodos encontrados pelas empresas

jornalísticas. Sobre essa questão, Vacas defende que

Os UGC se movimentam consideravelmente melhor que osconteúdos majoritários no novo mercado hipersegmentadosurgido da digitalização das antigas redes dedistribuição, já que sua essência é o nicho. Oparadoxo atual é que, embora esta premissa sejaverdadeira, também ocorre que só têm inserçõessignificativas os produtos mais reconhecidos pelosusuários, ou seja, aqueles provenientes dos antigosmeios. A atuação situação descreve perfeitamente umponto sem retorno já que é difícil imaginar uma redesem UGC, ainda que às vezes pareça improvável quedesapareçam os conteúdos clássicos. É por isso que osgrandes editores de conteúdo na Internet oferecem umamescla rentável entre uns e outros com maiorporcentagem de conteúdos produzidos por usuários jáque estes são gratuitos. (VACAS, 2010, p. 51-52,tradução nossa).

81

Se antes a participação do público se limitava a sessões dos

vários meios de comunicação, com as mídias sociais foram

potencializados a produção, distribuição e compartilhamento

dessas mídias. Assim, as redes sociais conseguiram atingir mais

pessoas de forma mais rápida, pois criaram redes que estão

permanentemente conectadas e por onde circulam informações de

forma síncrona (como nas conversações, por exemplo) e assíncrona

(como no envio de mensagens). (RECUERO in BRAMBRILLA, 2011)

Com as redes sociais e o advento das tecnologias houve uma

revolução na forma de circulação da informação, pois antes ela

era filtrada e repassada. A que era repassada, era conectada à

conversação, no qual era debatida, discutida e, assim, gerava a

possibilidade de novas formas de organização social baseadas em

interesses coletivos. (RECUERO in BRAMBRILLA, 2011)

Essa revolução permitiu avanços nas discussões de assuntos

públicos. Se o conceito de espaço público elitista, conforme

Habermas (2003), considerava apenas para cafés e bares a

importância de se discutir assuntos que também tinham a ver com a

sociedade em geral, o espaço público na era digital ainda era

elitista, afinal o acesso, apesar de ter agora grandes

proporções, de longe chegava às minorias.

Mas de fato, se tratava de um novo comportamento antes

cerceado pelos próprios meios de comunicação e pelo Estado. Um

exemplo desse comportamento foi observado no ano de 2009, na

cidade de Manaus, período no qual grupos formados no microblog

Twitter se mobilizaram para discutir leis que eram aprovadas na

82

Câmara Municipal e manifestaram péssimas impressões ao prefeito

da época, Amazonino Mendes, e aos vereadores que teriam aprovado

a lei da Taxa do Lixo.

No caso ilustrado, o usuário participa de parte da produção

destas notícias, não somente por pautar notícias através das

redes sociais, mas também por registrá-las até antes da

imprensa. Sem contar que o comportamento dos usuários na rede

começou a servir de tema para pesquisas de pautas, no qual se

filtrava o assunto mais comentado. Um exemplo é o microblog

Twitter, no qual muitas vezes o Trending Topics (assuntos mais

comentados do dia) é transformado em pauta (a respeito disso,

confira Figura 1 e Figura 2).

Figura 1 - Página de notícias do portal JusBrasil.

83

Fonte: Disponível em:<http://mpf.jusbrasil.com.br/noticias/100563230/mobilizacao-no-twitter-contra-pec-37-esteve-entre-os-trending-topics-nesta-terca-feira >.Acesso em:

Figura 2 - Página de notícias do portal Estadão

Fonte: Disponível em:<http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,ministro-celso-de-mello-vira-trending-topic-no-twitter,1074067,0.htm >. Acesso em: 13 deset. 2013

O que se percebe com as novas mídias é que muitas vezes,

dependendo do assunto que é pautado no Trending Topics, as pautas

diárias são elaboradas por usuários e não pela imprensa. Isso não

significa apenas um lado otimista de toda essa revolução digital.

Ferramentas, como o YouTube24, segundo Burgess e Green (2009),

possuem fraquezas em seus modelos, pois as pessoas não aprendem

24 Rede social que permite que usuários carreguem e compartilhem vídeos.

84

necessariamente o que precisam para expressar o que querem. Mas

isso requereria estudos, discussões e ações para o futuro, pois o

momento agora é perceber e avaliar de que forma a revolução

digital contribuiu para a participação pública na imprensa.

3.3 Jornalismo Participativo

Cada vez mais que as redes se tornavam interativas e

incentivavam o público a fazer parte delas, surgia uma mídia mais

participativa. Conforme Savi (2007), esta mídia bidirecional

permitiu a abertura de um espaço para o público participar

ativamente de processos de produção e disseminação de informações

e notícias, criando-se assim termos como jornalismo open source,

jornalismo cidadão e jornalismo participativo.

O termo jornalismo open source foi empregado, em uma de suas

primeiras vezes, no site Slashdot525, uma comunidade online com

interessados em informática que discutiam, em forma de fóruns e

websites, as notícias e acontecimentos sobre tecnologias da

informação. Esse modelo de jornalismo foi classificado como open

source por conta de agrupar amantes da informática, sendo então

comparado com o processo open source de desenvolvimento de

software, nos quais programas de computadores eram

disponibilizados com o código-fonte aberto, para possibilitar que

comunidades de usuários avançados analisassem as linhas do

programa, corrigissem falhas e implementassem melhorias (SAVI,

2007).

25 Disponível em: <http://www.slashdot.org >. Acesso em: 19 nov. 2013.

85

Só depois o termo jornalismo open source foi usado como

descrição de novas formas de publicação online, que surgiam e

garantiam formas mais acessíveis ao público em geral. Os blogs e

wikis26, sendo usados por pessoas que não tinham conhecimentos

específicos de informática ou programação, permitiam que mesmo

assim elas pudessem publicar informações na internet. “O termo

open source não estava se referindo ao ‘código fonte’ de uma

matéria ou notícia, mas ao livre acesso às ferramentas de

publicação.” (SAVI, 2007, p. 29).

O termo jornalismo open source era bastante relacionado à

informática. Por isso, vários autores preferem usar jornalismo

cidadão (citizen journalism) ou jornalismo participativo (participatory

journalism) quando o assunto se refere à publicação de notícias,

conteúdos e informações realizada por pessoas que não eram

jornalistas profissionais.

Por um lado o termo jornalismo open source parece tersido adotado primeiro, contando com a ajuda tanto dosite Slashdot quanto dos entusiastas por tecnologia esoftware de código aberto. Por outro lado os termosjornalismo participativo e jornalismo cidadão acabaramtendo maior disseminação e hoje são mais adotados,talvez porque, diferentemente da palavra open source,originária de um campo bastante especializado como odesenvolvimento de software, sejam conceitos decompreensão mais fácil e intuitiva para a maioria daspessoas. (SAVI, 2007, p. 30).

26 Vocábulo de origem havaiana traduzido como comunidade, social, utilizadodentro das mídias sócias para construção coletiva.

86

O termo jornalismo cidadão foi validado por players – dentro

da mídia de massa – após a criação do jornal sul-coreano

OhmyNews. Em várias partes do mundo o público era visto também

como um repórter, de forma a despertar assim um olhar seletivo

diante da realidade. Posteriormente, a consciência dos cidadãos

de usarem seus celulares para registrar os fatos e depois passá-

los aos canais com sessões colaborativas de sites jornalísticos,

foi amadurecida com a popularização das iniciativas dos veículos

em tornarem-se abertos às contribuições do público. (BRAMBRILLA,

2011).

Entre os anos de 2006 e 2008, a sessão disponível para

participação do público deixou de ser um diferencial e passou à

obviedade. Por isso que as redes sociais nesta época passaram a

ser muito mais utilizadas, acessadas e focadas para produção de

conteúdo. Por exemplo, os conteúdos produzidos no YouTube,

Twitter, Flirck e Picasa iam além dos sites de relacionamento

Orkut e Facebook, fazendo com que os usuários agreguem valor ao

conteúdo, que estes estão disponibilizando, e circulando na rede

na forma de capital social. (BRAMBRILLA, 2011).

Percebe-se na forma que o público se comporta nas redes

sociais quando agrega valor às suas publicações tipo de

comportamento estimulado pelas próprias redes de comunicação.

Sobre isto Brambrilla (2011) diz que

Se até então o usuário batia na porta de um veículooferecendo o seu conteúdo para publicação, agora é oveículo que deve correr atrás do usuário em busca deum conteúdo diferenciado e com alto teor de

87

noticiabilidade. [...] Além da busca de pautas epersonagens, o jornalismo nas mídias sociais aproximaainda mais o jornalista do seu público, tornando ocontato humano tão possível quanto necessário.(BRAMBRILLA, 2011, p. 99)

Além de ser impulsionado pela curiosidade, tragédias e

grandes acontecimentos, o público também se sente motivado a

participar da produção da mídia quando insatisfeitos com os

conteúdos publicados na mídia tradicional, queixando-se de falta

de aprofundamento, imprecisão e/ou erros nas matérias (PRIMO e

TRÄSEL, 2006).

Embora o público tente preencher a mídia tradicional com

questões que muitas vezes não são pautadas, e quando são os

interesses empresariais prevalecem, para Brambrilla (apud MÉDOLA

e GRZESIUK, 2010) é necessário que se tenha um profissional

mediador e uma autoridade para dar credibilidade aos assuntos

debatidos pelo público. É necessária cuidar da edição do

conteúdo gerado pelo público, de forma que se valide a

intervenção do público e ainda se garanta a credibilidade das

notícias, observando-se a veracidade dos fatos passados pelo

público.

Isso tudo se faz necessário por conta da forma que o público

foi sendo tratado desde o surgimento da imprensa. Afinal, o

Estado usava esta como forma de cercear algumas informações e até

manipulando-as a seu favor. Ignorando que a participação pública

na divulgação de notícias, informações, de forma que contribuísse

88

com a imprensa, teria que desde o seu início existir como um

exercício de cidadania.

3.4 Cobertura Colaborativa

Com a característica do jornalismo participativo, no qual o

cidadão contribui com a produção de notícias, a cobertura

colaborativa, além da cooperação entre profissionais e amadores

apresenta, conforme Quadros (2010), as seguintes

particularidades:

1. Utilizando a internet para divulgar as informações, é

realizada através do coletivo, dando valor aos diversos

olhares acerca de um único evento;

2. Os participantes de uma cobertura colaborativa têm liberdade

para produção de materiais conforme seu domínio e utilizando

as ferramentas de sua preferência. Porém, é necessário que

haja possibilidades de trabalho em grupo, experimentando e

aprendendo novas formas. “O conhecimento individual quando

somado aos demais conhecimentos permite que, em uma

cobertura colaborativa, as informações sejam divulgadas de

maneira variada”. (QUADROS, 2010, p. 23);

3. Por serem os conteúdos reflexo de carga de experiências e

criatividade de quem os produz, a autoria das produções são

preservadas. A ideia é de que o cidadão deva desenvolver o

trabalho participativo, de forma que possa utilizá-lo em seu

89

aprendizado ou como forma de divulgação na internet de suas

produções, como em portfólios;

4. Os formatos de mídias são variados (texto, fotografia, vídeo

e áudio) para transmitir as informações. Todas estas podem

ser desenvolvidas isoladamente (utilização apenas de vídeos

para cobrir um show, por exemplo) ou em convergência, por

muitos suportes midiáticos;

A definição de cobertura começa a ser bastante usada após

ser firmada a Associação Brasileira de Festivais Independentes

(ABRAFIN)27. Isso porque foi considerada uma estratégia para

ganhar espaço na internet. Para isso contou com o início da

estruturação de uma rede de festivais independentes no Brasil,

após em 2005, no Festival Abril pro Rock na cidade de Fortaleza,

Ceará, e com a própria sistematização da ABRAFIN.

Com o crescimento dos blogs e microblogs, as coberturas

colaborativas ganharam uma nova ferramenta para suprir o problema

da falta de divulgação ou melhorá-las. Conforme Ricordi (2012, p.

9), “tais festivais agora contam com coberturas colaborativas em

que voluntários pré-cadastrados e/ou público, escrevem e

registram os eventos dos festivais em blogs por meio de

coberturas estruturadas”.

Os voluntários de uma cobertura colaborativa são orientados

e muitas vezes têm seu material editado por equipes de

comunicação. O trabalho dos colaboradores é somar com suas visões

27 Instituição sem fim lucrativo para auxiliar e orientar os produtores defestivais independentes de música.

90

e sensibilidades, de forma que possam influenciar nas fotos, no

texto, no vídeo, passando, assim, de um jornalismo mainstream para

uma difusão em rede.

Para que esta divulgação chegue até o público, Quadros

(2010) diz que é necessário criar estratégias de divulgação que

despertem o interesse das pessoas em acompanhar a cobertura e

também atuar como colaboradores. Assim sendo, as redes sociais de

relacionamento, Facebook, Twitter e Google+, são usadas

juntamente com as versões Beta desenvolvidas com softwares

livres.

Segundo Ricordi (2012), esta variedade de plataformas

disponível para a cobertura dos festivais desperta a vontade de

pesquisar, observar e analisar a estruturação e o cruzamento de

mídias no conteúdo dos blogs de cobertura. Um exemplo disso foi a

organização de mídia do Festival de Artes Integradas “Até o

Tucupi”, ocorrido em Manaus, nos anos de 2011 e 2012, no qual se

desenvolveram novos métodos comunicacionais na distribuição e

veiculação de conteúdos, mas também na forma de captação e

construção social dessas notícias relacionadas ao festival.

Geralmente, um mês antes do festival, a organização do

festival Até o Tucupi abre seleção para interessados em

participar da cobertura colaborativa do evento. As exigências são

mínimas, sendo o principal critério a vontade de contribuir com a

divulgação do evento de maneiras criativas.

Quadros (2010) atenta que é necessário divulgar produções

quase em tempo real e se possível, fazer transmissões ao vivo,

91

para que se consiga prender constantemente a atenção do público

sobre o que se quer mostrar. Assim, muitas vezes a divulgação

ocorre antes do evento e durantes os dias de realização dele,

monitorando em tempo real o ritmo das atividades. Este conteúdo

produzido possibilitou o encontro de vários pontos de vistas

diferentes, de forma que contribui para uma visão própria e

entendimento de um determinado assunto.

Conforme Quadros (2010), com o usuário gerando conteúdo se

verifica uma maneira de organização na rede na qual vários

conhecimentos vão sendo desenvolvidos tanto para quem participa

de geração de conteúdo, quanto para quem tem acesso às produções.

As distinções de status entre produtores,consumidores, críticos, editores e gestores damidiateca se apagam em proveito de uma série continuade intervenções onde cada um pode desempenhar o papelque desejar. [...] Na era da computação social, osconteúdos são criados e organizados pelos própriosorganizadores (LEMOS; LEVY, apud QUADROS, 2010, p.14).

É importante destacar que a cobertura colaborativa não tem o

interesse de competir com o jornalismo, pois ambos podem conviver

de maneira paralela, afinal, se propõem a diferentes formas de

transmissão de informações. Na cobertura colaborativa, a linha

editorial se mostra bastante flexível, mudando de acordo com o

evento e de acordo com os interesses de quem dela participa.

Nesse contexto, são os participantes que contribuem para formar a

maneira de transmitir informações e decidir sobre quais mídias

serão usadas na cobertura do evento (QUADROS, 2010).92

Apesar de ser uma forma de cobertura ainda pouco usada e

estudada, a cobertura colaborativa se mostra com grande potencial

de garantir o exercício da democracia aos cidadãos em termos

comunicacionais. Isso se dá em virtude de esta funcionar, assim

como o jornalismo comunitário, incentivando seus colaboradores a

produzirem notícias, informações e conhecimento pelas próprias

mãos dos cidadãos.

93

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar do volume de informações reunidas neste trabalho,

consideramos que esta pesquisa se trata de uma obra aberta, pois

a cada dia novas tecnologias vão modificando as formas de

comunicação e principalmente de participação pública nos veículos

de comunicação em massa.

Cada vez mais se nota um cenário das projeções sociais no

qual o cidadão é democraticamente participante dos meios de

comunicação. Embora a concentração democrática ainda seja

heterogênea e excludente, principalmente no Brasil por conta do

acesso à internet ainda ser desigual, o que se conclui é que os

primeiros passos de uma democracia digital foram dados.

Dessa forma, é cediço que as intervenções, lutas e bandeiras

levantadas de um público que deseja participar de fato da

construção de uma sociedade não são ainda prioritárias em grandes

empresas de comunicação. Porém, é importante que se atente a

outros tipos de manifestações para que de fato esse público seja

ouvido e os direitos que se relacionam à comunicação sejam

ampliados.

É possível exemplificar com casos internacionais, nacionais

e locais que frequentemente se sucedem, a exemplo dos casos nos

quais minorias pautam a imprensa através de revoltas populares.

Na cidade de Manaus, podemos ilustrar com o caso de moradores do

bairro Cidade de Deus, localizado na zona Leste de Manaus, que em

outubro de 2013 protestaram contra a suspensão do serviço de

94

energia elétrica, bloqueando as vias da Avenida Camapuã. Por ser

esta uma ocorrência comum naquele bairro, na maioria das vezes as

notícias dadas são mais informativas do que de fato

questionadoras e investigativas sobre as concessionárias de

fornecimento. Mas, após os moradores armarem fogueiras,

bloquearem o trânsito de carros e ônibus, e percebendo a imprensa

nesse episódio que, de fato, o caso ali era de revolta popular,

as notícias no outros dias deixaram de ser apenas informativas

para serem investigativas. Alguns veículos de imprensa

questionaram os motivos das frequentes interrupções de energia

enfrentadas pelos moradores daquele bairro. Não que seja

responsabilidade da imprensa resolver problemas como este, mas

esta é uma função social muitas vezes negligenciada.

Através deste episódio relatado, concluímos que quando o

povo observa que, de fato, as grandes empresas só falam do que as

interessa, ele passa a usar as plataformas das redes sociais,

seja de uma lan house ou do trabalho, ao menos para desabafar

sobre ocorridos diários que ameaçam o exercício pleno da

cidadania. O tipo de manifestação popular relatado começa a se

expandir, porém o que se questiona é sobre as mudanças reais que

estas promovem, pois, embora atualmente existam muitas

informações disponíveis, cada vez mais poucos grupos econômicos e

políticos a controlam.

Ações do jornalismo comunitário são contribuições que podem

estimular a todos, e não apenas às minorias, a

repensarem mudanças que precisam ser promovidas na sociedade,

95

pois mobiliza setores que podem ajudar – o presidente do bairro,

o vereador, o deputado, um cientista social, um psicólogo – para

debater e desenvolver/ aguçar o senso crítico de todos.

A participação pública na imprensa não é a única responsável

pela construção de uma sociedade mais justa e democrática, mas

sem dúvida, pelos seus grandes poderes de alcance, são

fundamentais, sendo comparáveis a megafones gigantes que podem

atrair atores sociais para mudanças.

O intuito de ter exposto neste trabalho a cobertura

colaborativa, embora esta seja usada em sua maioria para

festivais de artes, é entender que tanto o seu funcionamento

quanto suas ferramentas podem contribuir para a democrática

comunicação. Afinal, imaginar amadores trabalhando com

jornalistas interessados em debater, em instigar e estimular

pensamentos, de forma que se ensine ou aprimore formas natas de

produção de notícias, em uma nação que de fato precisa de um

trabalho coletivo para se regenerar é somar esforços e ideais

para um mundo mais justo.

Claro, que essa utopia toda não exime alguns monstros que

foram criados com essa participação pública, como mais uma

plataforma para os "grandes poderes" manipularem a minoria. Por

isso, faz-se necessário o estimulo ao debate, à educação e cada

vez mais um senso crítico do que é apresentado, pois o momento em

que vivemos mostra que ao tempo em que alguns direitos civis são

ampliados, outros são cerceados.

96

Coloca-se em evidência cada vez mais o aperfeiçoamento dos

mecanismos democráticos de participação nos meios de comunicação,

de forma que haja mudanças não apenas na imprensa, mas na

educação pública.

O que mais instiga um olhar especial para essa

democratização é perceber que embora exista demanda de cultura de

massa, essa não é mais o único mercado. E, diante de tantas

manifestações organizadas pela rede, arrisca-se o prognóstico de

que, no futuro, a participação pública se ampliará nas mídias.

Cabe ressaltar, entretanto, que para que de fato ocorram mudanças

positivas, ainda é necessário estudos e conscientização de todas

as partes de que este caminhar precisa ser construído

coletivamente, somando o que cabe a cada um contribuir para

assim se planejar e se ampliar debates construtores da

comunicação. Para isso é necessário um longo caminho de mudanças,

afinal embora atualmente mais pessoas tenham condições de serem

ouvidas, nem todos os direitos estão sendo ampliados.

97

98

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