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Título do artigo: A dimensão cultural da língua: um olhar sobre o ensino de francês língua
estrangeira em Moçambique
Autor: Feliciano José Pedro
Nome da Instituição: UP- Delegação de Nampula, DCLCA – Curso de Francês
Resumo
“A língua é portadora da cultura”. Esta frase tem como implicação didáctica a passagem de uma
Didáctica de Línguas Estrangeiras para uma Didactica de Lingua Cultura Estrangeira segundo defendem
didactas de FLE como: Galisson, Porcher, Puren. Ensinar uma língua é também ensinar a cultura dessa
língua mas a abordagem de aspectos culturais na aula de língua simultaneamente, preparação didáctico-
pedagógica dos professores e principalmente a disponibilidade de material didáctico como documentos
autênticos que podem servir de veículo da cultura estrangeira. Entretanto, em Moçambique faltam esses
materiais didácticos, o ensino e aprendizagem de línguas estrageiras ainda é um desafio e por conseguinte
o ensino e aprendizagem das línguas é feito de maneira rudimentar, com poucos ou sem materiais
didácticos e onde o professor é quase a única referência da língua estrangeira. Com este artigo
pretendíamos perceber como os professores de francês em Moçambique abordam aspectos culturais da
língua nas suas práticas quotidianas e se chegam a desenvolver competência (Inter) Cultural nos seus
alunos. O nosso estudo, em função da abordagem é qualitativo e em função dos objectivos é exploratório-
descritivo. Os dados para este estudo compreenderam: análise de programas de ensino de francês, analise
do manual Le Baobab 1 e análise e interpretação de 5 questões que foram colocadas aos professores de
francês da província de Nampula. Em termos gerais concluímos que os programas não apresentam de
maneira clara, os conteúdos culturais da língua francesa. As respostas dos professores demonstraram uma
certa incoerência na medida em que não conseguiram demonstrar com actividades concretas o que fazem
nas suas aulas para considerarem que abordam aspectos culturais da língua que ensinam.
Palavras-chave: Didáctica de Língua-Cultura, Cultura, Interculturalidade, Competência (Inter)cultural.
Abstract
"The language is the carrier of culture." This phrase has as the didactics implication passage of a Foreign
Languages didactics to Didactics of Culture Foreign Language as advocated by the advocators of
Didactics of FLE like Galisson, Porcher, Puren. Teaching a language is also to teach the culture of that
language but the approach of cultural aspects in foreign language classes needs simultaneously didactics-
pedagogical preparation of teachers and especially the availability of teaching materials as authentic
documents that can serve as a vehicle of foreign culture. However, in Mozambique lacks these teaching
materials, the teaching and learning of foreign languages is still a challenge and therefore the teaching and
learning of languages is done in a rudimentary way, with few or with no teaching materials and where the
teacher is almost the only reference for Foreign Language. With this article we expect to understand how
the French teachers in Mozambique address cultural aspects of the language in their daily practices and if
they manage to develop competence (Inter) Cultural in their students. Our study, based on the approach is
qualitative and with regards to the objectives is exploratory and descriptive. The data for this study will
include: analysis of French educational programs, analyze of LeBaobab Manual 1 and analysis and
interpretation of 5 questions that were addressed to French teachers of Nampula province. Generally we
concluded that the programs do not show clearly, the cultural content of the French language. Teachers'
responses showed some incoherency at extend that they failed to demonstrate with concrete activities
what they do in their classes for them to consider that they approach cultural aspects of the language they
teach.
Keywords: Didactics of Language-Culture, Culture, Intercultural, (Inter) cultural Competence.
Introdução
O financiamento e apoio de programas de ensino de francês em todo mundo pelo governo
francês, faz parte de uma política linguística que tem por objectivo de (i) expandir a língua
francesa no mundo para diminuir a hegemonia da língua inglesa e (ii) difundir a cultura francesa
no mundo. O nosso objectivo principal neste artigo é de avaliar até que ponto o ensino da língua
francesa em Moçambique e porque não no mundo contribui efectivamente para a expansão e a
descoberta da cultura francesa. Pretendemos, igualmente, avaliar o nível de conhecimento e
domínio da componente cultural da língua e o grau de implementação desta componente. E por
fim, queremos identificar as dificuldades que os professores de línguas enfrentam para ensinar a
língua e cultura estrangeiras?
No contexto exolingua como o de Moçambique a descoberta e o conhecimento da cultura
estrangeira pode ser feito por intermédio de objectos culturais tais como: gastronomia, vestuário,
modo de vida, filmes, etc. Estes objectos/conteúdos culturais poderiam ser ensinados através de
manuais e utilizando documentos autênticos. Ora, em Moçambique faltam esses materiais
didácticos, o ensino/aprendizagem da língua francesa é feito, na maior parte dos casos, sem uso
destes materiais didácticos, os professores são as únicas referências da língua e cultura francesas.
E porque faltam materiais didácticos o aluno não tem a possibilidade de verificar aquilo que o
professor disse.
O nosso pressuposto principal para este estudo assenta sobre o facto de que embora, do ponto de
vista teórico, não haja dúvidas quanto a importância da cultura no processo de
ensino/aprendizagem, infelizmente para os professores, os de Moçambique pelo menos, ainda
subsistem dificuldades na materialização desta relação. Ao afirmar que a língua é indissociável
da sua cultura não quer dizer porém que o facto de ensinar uma língua implica necessariamente
abordar aspectos culturais desta língua.
1. Língua, Cultura, Interculturalidade e Competência (Inter) Cultural
Segundo Cuq, J.P. e Grucca, I. (2005: pp 78-79) a língua didacticamente falando “é um objecto
de ensino e aprendizagem”. O segundo, que alarga consideravelmente o objecto, e para
Bakhtine, M. citado por Cuq, J. P. e Grucca, I. (idem) afirma que “não se pode separar o signo
da situação social sem que se altere a sua natureza semiótica”. Partindo desta relação de
implicação reciproca entre a cultura e a lingua, avançada por Bakhtine, Porcher conclui dizendo
que: “toda a língua transporta com ela uma cultura na qual é simultaneamente a produtora e o
produto”. E para Cuq, J. P. e Grucca, I. (op. Cit : 80) do ponto de vista didáctico “a língua pode
ser definida como um objecto de ensino e aprendizagem composto por um idioma e por uma
cultura”
Dito isto, é compreensível que actualmente, ninguém ponha em causa a relação intrínseca
existente entre a cultura e a língua, em outras palavras, ninguém duvida que ensinar uma língua
pressupõe também ensinar a cultura do povo falante dessa língua. Como corolário de todo o
discurso sobre a relação intrínseca e de interdependência entre a língua e a cultura constatamos,
há já algum tempo, a transformação da Didáctica de Línguas Estrangeiras (DLE) em Didáctica
de Língua-Cultura (DLC) como defendem Puren, C. (1997c e 1998f) e Galisson, R. (2002) e
outros.
Para Porcher, L. (1995: 55) a cultura “é um conjunto de práticas comuns, da maneira de ver, de
pensar e de fazer que contribuem para definir a pertença dos indivíduos, isto é, heranças
partilhadas das quais estes são o produto e constituem parte da sua identidade.”
Partindo dessas três definições podemos concluir que a cultura é um conjunto de valores e de
práticas que formam e constituem a identidade de um povo ou de um individuo, esses valores e
essas práticas determinam a maneira como ele representa o mundo.
Segundo Abdallah-Pretceille, M. e Porcher, L. (1986), todo o processo de ensino e aprendizagem
de uma língua estrangeira consiste em situações de comunicação. Para estes dois autores, “um
facto cultural não pode ser separado de uma prática enunciativa que torna as culturas opacas a
elas mesmas”, em outras palavras, é tirando o tecido cultural dos factos linguísticos que
chegamos a ensinar a língua como cultura.
Contudo no seio da didáctica de línguas estrangeiras a noção de cultura conheceu uma certa
evolução e até certo ponto uma adaptação às exigências da área porque segundo abdallah-
Preteceille (n/d) “ o termo Cultura não é adequado para descrever o contexto actual de encontro
e convivência de culturas”. Para esta autora, no contexto actual é mais significativo falar de
interculturalidade e não somente de Cultura, porque, segundo ela, o termo de Interculturalidade
adequa-se melhor a situação de diversidade cultural que caracteriza as sociedades actuais.
Sendo assim, “a concepção do ensino e aprendizagem da cultura deve passar de um modo de
ensino colectivo para um modo de ensino individual. O objectivo não é a aquisição de
conhecimentos objectivos de saberes, categorizados sobre a cultura de outrem, mas a descoberta
pelo aluno da sua própria subjectividade, da sua própria identidade”. Abdallah-Pretceille, M.
(1986)
Para reforçar esta ideia podemos trazer Galisson, R. (1995: 89)1 que diz:
Na abordagem comunicativa a cultura é um meio. Um meio para produzir sentido e ter acesso a
competência de comunicação. Na perspectiva intercultural, a cultura é também um meio. Não um meio
funcional mas um meio educativo. Ela serve para melhor conhecer o outro e para melhor conhecer a si
próprio, pondo em relação e comparando culturas que se esclarecem e se explicam mutuamente.
Conceito relativamente novo nas ciências humanas, a interculturalidade permite perspectivar
entre dois indivíduos socioculturalmente diferentes, a possibilidade de se abrir aos outros mas
conservando a sua identidade de origem. Integrar uma dimensão intercultural na sala de aula de
línguas constitui um desafio importante para todo o processo de ensino aprendizagem de línguas
estrangeiras.
Competência (Inter) Cultural
Segundo Porcher (1988:32) a competência cultural “é a capacidade de perceber sistemas de
classificação através dos quais funciona uma comunidade social e, por conseguinte, a
1Extraido do artigo de EISL, Margit. La perspective interculturelle en FLE : des principes didactologiques aux
activités de classe (enseignement secondaire autrichien) In : Travaux de didactique du français langue étrangère 54,
IEFE, Montpellier III.
capacidade para um estrangeiro de antecipar, numa determinada situação aquilo que vai
acontecer (isto significa também saber que comportamentos adoptar para manter uma boa
relação com os protagonistas da situação) ”.
Numa das passagens intitulada, crítica a interculturalidade, Puren (2015b) afirma que é
surpreendente que a definição da competência cultural tenha sido feita (…) sob forma de uma
oposição binaria entre competência cultural e competência intercultural.
Segundo, Puren (idem) para que exista um contacto intercultural é preciso que haja culturas
diferentes, isto é o multiculturalismo, e para que este contacto se mantenha no tempo, é
necessário que exista um interesse comum conducente forçosamente a um mínimo de valores
partilhados tais como a abertura ao outro e o enriquecimento pela descoberta do outro, isto é,
uma componente transcultural.
Mais adiante, Puren (idem) afirma que só se pode apreciar as diferenças (nos dois sentidos desse
verbo reconhece-las e valoriza-las), objectivo da interculturalidade, somente e somente se
reconhecemos no outro um ser humano como nós próprios, o que é da ordem do transcultural, e
somente se reconhecemos a este outro o direito de manter diferenças em relação a nossa própria
cultural, o que é da ordem do multicultural.
Para Puren, a competência intercultural não pode ser oposta a competência cultural mas ela deve
ser considerada como uma das componentes desta última, e ela existe em relação necessária com
outras duas componentes: a transcultural e a multicultural.
Enfim para este autor, a competência intercultural “é a capacidade de detectar incompreensões
que aparecem nos contactos iniciais e pontuais com pessoas de outras culturais em função das
representações anteriores e das interpretações ligadas ao seu próprio referencial cultural”.
2. A dimensão cultural da língua francesa no processo de ensino e aprendizagem em
Moçambique
2.1. Analise dos programas de francês e do manual “Le Baobal 1”
Depois de uma análise cuidadosa dos programas de francês do I e II ciclos, constatamos que a
componente cultural da língua é evocada de maneira superficial e não é claro de que cultura se
trata, se é da cultura do aluno ou da cultura da língua estrangeira.
Nestes programas a componente cultural aparece referenciada de maneira tímida sob forma de
visão geral e de objectivos, como ilustra o trecho abaixo:
O conhecimento de si próprio e da sua cultura, pressupõem uma troca de informação e escuta reciproca. Por
esta razão, este programa dá grande importância aos conteúdos culturais que vão permitir a aquisição do
saber fazer, indispensável à comunicação intercultural. Os aspectos culturais vão desde o domínio dos usos
e costumes, passando pela compreensão das mentalidades dos outros países, até a valorização da cultura
moçambicana. (in programa de francês 1° ciclo, pp 9 – 10).
Na citação acima, estão patentes duas noções fundamentais que defendemos neste artigo, a
importância da cultura no ensino da língua e a necessidade de desenvolver uma comunicação
intercultural que pressupõe a aquisição de uma competência intercultural.
Quem lê a citação supra, espera em seguida ver que conteúdos culturais são propostos no
programa, que sugestões metodológicas são avançadas e que materiais didácticos serão usados
em sala de aula para permitir a tal “troca de informação reciproca” e consequente “comunicação
intercultural”.
Infelizmente o programa não responde a essas espectativas, na tabela de conteúdos não existem
temas que, a primeira vista, nos façam perceber que visam a abordagem de conteúdos culturais e
nem existem sugestões metodológicas que expliquem aos professores como abordar as questões
culturais e de que materiais eles devem se socorrer.
Uma vez que no programa não existem estratégias claras sobre a abordagem de aspectos
culturais falta-nos de seguida ver os manuais usados para o ensino de francês e também saber o
que os professores fazem para ir de encontro a esse objectivo fundamental de dar importância a
conteúdos culturais.
No processo de ensino e aprendizagem do francês em Moçambique são usados dois manuais O
Nouvel espaces 1 usado para o 2° ciclo (11ª e 12ª classes) e o Le Baobab 1 usado para o 1° ciclo
(9ª e 10ª classes). O Nouvel espaces foi editado na França e foi elaborado numa perspectiva de
ser útil em múltiplos contextos enquanto Le Baobab 1 é um manual elaborado por professores de
francês moçambicanos para ser utilizado no contexto Moçambicano. Neste artigo vamos apenas
analisar o manual Le baobab 1.
Le Baobab 1 foi concebido por um grupo de professores moçambicanos supervisionados pelo
Instituto de Desenvolvimento da Educação (INDE) e pela Direcção Nacional do Ensino Geral
(DINEG) e financiado pela Organização Internacional da Francofonia. No prefácio deste manual,
os autores apresentam-no como “um método comunicativo de ensino de francês língua
estrangeira concebido a partir do contexto e da realidade sociocultural moçambicana e que
permite desenvolver competências linguísticas e comunicativas em francês”.
Em outras palavras o Baobab 1 é um método de ensino de francês baseado em aspectos culturais
moçambicanos, esse facto é mesmo notório por exemplo nos nomes de personagens dos textos
ou diálogos deste manual. Já não se trata de Jean nem de Christine mas sim de João e Cristina,
os nomes das ruas ou avenidas passaram de Arago ou Victor Hugo para Eduardo Mondlane ou
rua das acácias. Numa unidade sobre os transportes constatamos que o Metro, o TGV e o RER
não fazem parte da lista dos meios de transporte.
Ao conceber um método de francês baseando-se em factos socioculturais de Moçambique, a
língua francesa estaria mesmo a transportar consigo a cultura francesa? Enquanto os autores
preconizam partir da cultura estrangeira para de seguida redescobrir a cultura do aluno, neste
manual o caminho é inverso. Que consequências isso traz? Até que ponto os professores poderão
abordar assuntos referentes a cultura francesa?
2.2. Ponto de vista dos professores sobre a componente (Inter) Cultural na sala de aulas
Para conhecer o ponto de vista dos professores de francês sobre a relação entre a língua e a
cultura e o desenvolvimento da competência intercultural na sala de aulas, elaboramos um
questionário composto por 5 questões abertas. Optamos por questões abertas porque queríamos
que os professores descrevessem com suas próprias palavras seu entendimento e suas actividades
sobre a matéria em análise. Tínhamos previsto inquerir 15 professores mas infelizmente
recebemos de volta apenas 10 questionários. Não nos parece ser um número representativo mas é
com estes dez questionários que em seguida passamos a analisar e interpretar as respostas dos
professores.
Questão 1 - No seu entender qual é o papel da cultura no processo de ensino e
aprendizagem da língua estrangeira, francesa neste caso?
Com esta questão, pretendíamos saber de que forma os professores descrevem a relação existente
entre a língua e a cultura. Em reacção a esta pergunta todos os professores responderam sem
hesitar afirmando que a língua e a cultura tem uma relação de interdependência e disseram ainda
que o ensino e aprendizagem de uma língua é indissociável do ensino da cultura. As respostas
dos professores vão de encontro as ideias dos autores como Cuq e Grucca (2005) que definem “a
língua como um objecto de aprendizagem composto por um idioma e uma cultura”.
Questão 2 – O programa de ensino de francês em Moçambique, prevê a componente
cultural? Dê algum exemplo!
Depois de sabermos como os professores descrevem a relação entre a língua e a cultura, na
segunda questão, pretendíamos saber qual é o lugar da componente cultural nos programas de
francês.
Em resposta a esta questão sobressaíram dois grupos. Mais que a metade dos professores
afirmaram que o programa de francês prevê a componente cultural e um dos professores foi mais
adiante citando mesmo o objectivo de que fizemos menção quando analisávamos os programas
de ensino. Um outro grupo de professores afirmou que o programa não prevê aspectos culturais
mas a posição desses últimos é em certa medida contraditória porque eles justificam-se dizendo
que o programa traz apenas aspectos culturais europeus.
Para esses professores só se pode dizer que o programa prevê a componente cultural somente se
traz aspectos da cultura moçambicana. Este ponto de vista é preocupante no nosso entender
porque não condiz com aquilo que são os programas de francês. Da análise que fizemos,
descobrimos que os dois programas não fazem menção de forma explícita a aspectos da cultura
europeia, este posicionamento monstra um fraco domínio do programa de francês monstra
igualmente uma falta de clareza, nos professores, sobre que cultura é indissociável da língua, a
cultura do povo falante dessa língua ou a cultura do aluno?
Questão 3 – Na sua prática docente tem tido em conta a componente cultural da língua
francesa? O que tem feito e como ?
Em resposta a esta questão todos os professores responderam, sem hesitar, que na sua prática
quotidiana abordam questões culturais. Mas infelizmente, os professores, não foram
convincentes na descrição das actividades ou em dizer o que têm feito e como têm feito. A
palavra comparação é muito recorrente nas respostas dos professores, afirmam eles que têm feito
comparações entre aspectos culturais de Moçambique e aspectos culturais da França ou da
Europa.
Alguns professores voltaram a dizer que partem dos factos culturais da comunidade local para
em seguida falar de aspectos da cultura estrangeira. As respostas a esta pergunta mostraram-nos
que os professores têm noção da importância da cultura no processo de ensino e aprendizagem
das línguas estrangeiras mas ainda faltam-lhes ferramentas e detalhes metodológicos para que
materializem essa relação reciproca na sala de aulas.
Questão 4 – Já ouviu falar de interculturalidade (interculturel en français)? O que ela
pressupõe no seu entender?
Todos os professores inqueridos responderam que sim, um dos professores referiu ter ouvido
falar da interculturalidade em seminários de capacitação e em conferências mas ainda não
podemos perceber se tais seminários ou conferências foram realizadas em Moçambique. Quando
questionados sobre o sentido do termo interculturalidade os professores definiram-na “como uma
interacção entre culturas diferentes, afirmaram eles que numa abordagem intercultural o
professor deve despertar no aluno a existência de outras culturas e ensina-los a vê-las como
semelhantes a sua própria cultura e não como uma cultura superior”.
Alguns professores usaram o termo respeito mútuo para explicar o significado da
interculturalidade. As reacções a esta questão vão de encontro a definição de interculturalidade
proposta por Blanchet (2005) segundo a qual “a ideia fundamental da abordagem intercultural é
de analisar o que acontece na interacção entre dois interlocutores pertencentes a culturas
diferentes e com práticas culturais diferentes mesmo quando comunicam usando mesma língua”.
Embora os professores tenham definido bem o que é a interculturalidade é importante salientar
no entanto que a visão deles ainda é incompleta, porque segundo afirma Blanchet (2005) a
interculturalidade pressupõe além da simples interacção de culturas, segundo ele na
interculturalidade “Trata-se então de prevenir, de identificar, de regular os mal-entendidos, as
dificuldades de comunicação devidas à diferença de modelos de interpretação ou mesmo de
preconceitos ou estereótipos”.
Nas explicações dadas pelos professores estão totalmente ausentes os termos de prevenir,
identificar e regular mal entendidos decorrentes da diferença de culturas, da diferença de
modelos de interpretação ou de estereótipos como afirma o autor acima citado.
A semelhança da terceira questão, as respostas dos professores demonstram que eles conhecem
ou têm noção do tema em análise mas o domínio que têm é incompleto e limitado, e carece ainda
de aperfeiçoamento e aprofundamento através de seminários de capacitação, isto é , deve-se
investir na formação contínua de professores.
Questão 5 - Quais são as dificuldades que tem tido para abordar aspectos da cultura
francesa? Que propostas avança para a melhoria desta situação?
Em resposta a esta pergunta, quase todos os professores reconheceram que as dificuldades são
várias mas eles destacam mais a falta de material didáctico principalmente manuais de ensino e
quando algum manual aparece não vem acompanhado de respectivo disco para a prática da
Compreensão oral. Alguns professores apontaram o facto dos manuais que utilizam trazer apenas
aspectos da cultura francesa como uma dificuldade. Referiram também que por não terem tido
alguma experiencia na França ou em algum país francófono tem dificultado abordar aspectos
inerentes a uma cultura da qual pouco ou nada sabem.
Alguns professores apontaram a não aplicação do caracter “opcional” do francês no 1° ciclo
como um dos elementos que contribui para a existência de dificuldades visto que os alunos se
vêm obrigados a aprender uma língua sobre a qual ainda não nutrem nenhuma simpatia.
Ao analisarmos as respostas dos professores constatamos que, alguns, se contradizem porque
afirmam que o facto de os manuais apresentarem apenas cultura francesa é uma dificuldade
entretanto apontam a falta de conhecimento ou de experiencia de vida num contexto francófono
também como uma dificuldade.
Todos os professores disseram que há falta ou insuficiência de material didáctico como manuais,
discos audiovisuais e aparelhos de som que possibilitariam o desenvolvimento das quatro
habilidades: Falar, Ouvir, Ler e Escrever. Estes pronunciamentos enfatizam de certa forma o
que dissemos na introdução deste artigo quando afirmamos que o ensino e aprendizagem da
língua francesa em Moçambique era feito de maneira rudimentar, os alunos não tinham acesso as
fontes para verificarem as informações dadas pelo professor e por conseguinte o professor, que
infelizmente pouco ou nada sabe da cultura francesa, constitui a única referência da língua e
cultura francesas.
Como propostas para a melhoria desta situação os professores disseram que é indispensável a
alocação de manuais e dos seus respectivos discos e a alocação de aparelhos de som. Disseram
ser necessário criar-se uma plataforma de intercâmbio entre professores de francês para a troca
de experiencia, discussão dos problemas que lhes apoquentam e definição de estratégias
metodológicas com vista na melhorar o processo de ensino e aprendizagem da língua. Um dos
professores disse ser necessário que os professores tenham estágios linguísticos na França ou em
países francófonos para melhorar não só as suas competências linguísticas mas também o seu
conhecimento da cultura francesa e francófona.
Conclusão
Para a realização deste trabalho partimos do pressuposto segundo o qual os professores de língua
estrangeira, no caso particular os de francês língua estrangeira em Moçambique, têm consciência
da indissociabilidade entre a língua e a cultura mas eles enfrentam dificuldades de como
materializar esta relação intrínseca durante o processo de ensino e aprendizagem.
Analisando as respostas ao questionário que endereçamos aos professores chegamos a concluir
que o nosso pressuposto é valido porque os professores afirmam tomar em consideração aspectos
culturais durante as suas praticas docentes mas quando questionados sobre como e o que fazem,
as suas respostas são de certa forma contraditórias ao que afirmam. Os professores não
descreveram de forma clara as actividades que têm levado a cabo como forma de integrar nas
suas aulas a componente cultural da língua francesa.
As respostas dos professores às questões por nós colocadas demonstram que eles conhecem ou
têm noção do tema em análise mas o domínio que têm é incompleto e limitado. Para colmatar tal
situação é necessário desencadear acções de capacitação e de formação contínua dos professores.
Os programas de ensino do francês no ensino secundário não apresenta conteúdos que permitam
aos professores abordarem aspectos da cultura da língua que ensinam e muito menos apresenta
estratégias metodológicas que possam guiar os professores no seu dia-a-dia. Esta situação pode
gerar uma diferenciação nos conteúdos culturais abordados na mesma classe, na mesma escola
uma vez que cada professor usará da sua competência e da sua criatividade para trazer tais
conteúdos para a sua sala de aulas.
Defendemos uma uniformização ou uma definição clara dos conteúdos e das estratégias em
programas e manuais porque temos consciência de que nem todos os professores têm domínio ou
conhecimento de aspectos culturais da língua que ensinam, a formação inicial que tiveram nem
sempre dotou-lhes de conhecimentos suficientes sobre a matéria, os professores não têm acesso
aos mesmos materiais didácticos e na maior parte dos casos mesmo o manual de referência pelo
ministério não esta disponível nas escolas.
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