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A Arquitectura, no Mito de Prometeu (Esquilo, e Hesíodo), como
Constructo Oposto à Morte, ou Aposta na Construtibilidade do
Mundo e Melhoria das Condições de Vida
J. M. Simões Ferreira
Arquitecto
Doutor em História e Teoria das Ideias, FCSH/UNL
Bolseiro Pós-Doc. da FCT/MCTES, Investigador do IHA/FLUL
Abstract: Investigation of the presence and signification in the Prometeos Myth of the prefigura-
tions of Architectural Theorie as had formulated by Vitruvius, Alberti, and his heir’s.
É pela morte, ou melhor, pela revelação daquilo com que tinha contribuído para libertar
os homens da obsessão da morte (προδέρκεσθαι µόρον), que na tragédia de Esquilo
(525-465/455? a.C.)1, Prometeu agrilhoado2, começa a narrativa do trágico deus
dissidente, quando interrogado pelo Coriféu sobre as razões da sua expulsão do Olim-
po, e do castigo penoso que lhe fora imposto pelos outros deuses. – Ora, veja-se:
PROMETEU: Sim! – libertei os homens (θνητούς) da obsessão da morte.
CORIFÉU: Com que remédio (φάρµακον) tal desígnio alcanças?
PROMETEU: O peito lhes enchi de cegas (τυφλὰς) esperanças (ἐλπίδας). 1 Sobre Esquilo, ver: Lesky, A., Die griechische Tragödie, Leipzig, 1938; id., Geschichte der Grie-
chischen Literatur, München, 1957-58 – (ed. portuguesa, História da Literatura Grega, trad. de M. Losa,
feita da 3. ed. alemã, 1971, Lisboa, 1995); Murray, G., Aeschylus: The Creator of Tragedy, Oxford, 1940;
Hommel, H., Wege zu Aischylos, Darmstadt, 1974, 2 Bde; Wartelle, A., Bibliographie historique et
critique d’Eschyle et de la tragédie grecque 1518-1974, Paris, 1978; Morreau, A. M., Violence et
chaos: le monde d’Eschyle à travers ses mythes et ses métaphores, Paris, 1985; Deforgue, B., Eschyle,
poète cosmique, Paris, 1986; Deforgue, B., Une vie avec Eschyle. Verité des mythes, Paris, 2010. 2 Esquilo, Prometeu Agrilhoado, trad. e pref. por E. Scarlatti, Lisboa, 1942; id., «Prométhée enchainé
(Προµηθεύς δεσµώτης)», in Eschyle, Tragédies, Tome I, texte établi et traduit par P. Mazon, Paris, 2e
ed. 1931, 14e tirage revu et corrigé 2002, p. 149-199. – Servimo-nos essencialmente da tradução de E.
Scarlatti, confrontando-a e cotejando-a com a de P. Mazon, e a de Griffith, M., Aeschylus. Prometheus
Bound, Cambridge, 1983, critical edition edited by…, e ainda: Eschyle, Prométhée enchaîné, trad. par
J. Grosjean, Paris, 2001, a de V. Martinho, Lisboa, 1975, e a espanhola de M. Fernandez e B. Perea,
Madrid, 1987, que se referem na Bibliografia. – Sobre o Mito e a Tragédia de Prometeu, ver: Duchemin,
J., Prométhée: histoire du mythe, de ses origines orientales à ses incarnations modernes, Paris, 1974;
idem, Medrano, G. L., Prometeo: Biografías de un mito, Madrid, 2001.
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CORIFÉU: Pois, aos mortais (βροτοῖς) um grande bem fizeste.
PROMETEU: E – mais – dei-lhes o Fogo (πῦρ): esse fanal celeste!
CORIFÉU: Em mãos mortais (ἐφήµεροι), o fogo aurifulgente?!
PROMETEU: Do segrêdo das artes (ἐκµαθήσονται τέχνας) – sim – lhes fiz presente3.
O segredo das artes: o fogo celeste transformador da matéria, possibilitador das con-
dições para a realização de artefactos, que autonomizaria os homens, dotando-os das
defesas que lhes faltavam, e os libertaria da sua estreita dependência da natureza, e
do capricho dos deuses, fora roubado a Zeus por Prometeu, que dele faz dádiva aos
homens, por razões e em circunstâncias narradas por Hesíodo (Séc. VIII a.C.)4, quer
na Teogonia5, quer nos Trabalhos e Dias6. Mas na tragédia de Esquilo, a narrativa
dos efeitos dessa dádiva começa pela referência à libertação da obsessão da morte,
de que os homens ficam impedidos de prever a hora certa7, originando-se assim um
3 Esquilo, ob. cit. (1942), p. 60; id., Eschyle, «ob. cit.», 248-254, in Eschyle, ob. cit. (1931), p. 170. 4 Sobre Hesíodo, ver: Burn, A. R., The World of Hesiod: A Study of the Greek Midles Ages, c. 900-
700 b.C., London, 1936; Lesky, A., Geschichte der Griechischen Literatur, München, 1957-58 – (ed.
portuguesa, História da Literatura Grega, trad. de M. Losa, Lisboa, 1995); Steiner, G., Der Sukzes-
sionsmythos in Hesiods Theogonie und ihren orientalischen Parallelen, Hamburg 1958, Dissertation;
Vernant, J.-P., Mythe et pensée chez les grecs: Études de psycologie historique, Paris, 1965; Heitsch,
E. (ed.), Hesiod (Wege der Forschung, Bd. 44), Darmstadt, 1966; Finazzo, G., La realtà di mondo nella
visione cosmogonica esiodea, Roma, 1971; Gayo, G. M., «El mito de la edad de oro en Hesíodo», in
Perficit 4, Madrid, 1973, p. 65-100; Schmit, J. U., «Die Einheit des Prometheus-Mythos in der
Theogonie des Hesiod», in Hermes 116, 1988, p. 129-156; Lamberton, R., Hesiod, New Haven, 1998. 5 Hesiodo, «Teogonía», in Obras y Fragmentos, introd., trad. y notas de A.P. Jiménez y A. M. Diez,
Madrid, 1990, p. 63-113; idem, in Hésiode, Théogonie - Les Travaux et les Jours - Le Bouclier, texte
établi et trad. par P. Mazon, Paris, 1928, 17e tirage 2002, p. 3-68. – Foram estas as edições que serviram
a este estudo, sendo comparadas e cotejadas com as inglesas de G. W. Most, da Loeb Cassical Library,
e a italiana, bilingue, de A. Colonna, Milano, 1964, identificadas e descritas na Bibliografia. 6 Hesiodo, «Trabajos y dias», in ob. cit., p. 115-67; idem, in Hésiode, ob. cit. (1928, 2002), p. 71-116. 7 De acordo com a ed. de J. Grosjean, já referida (tradução para português feita pelo autor deste estudo):
PROMETEU: Impedi os mortais de prever a sua morte.
CORIFEU: Que remédio achaste tu que os curasse?
PROMETEU: Enchi-os de cegas esperanças.
A tradução de Virgílio Martinho, editada em 1974, pela Estampa (que deve ter sido feita a partir do
francês ou do castelhano), e que se refere de memória, é similar, aplicando a palavra incerteza ou impre-
5
princípio de imprevisibilidade8, e mesmo de incerteza ou obscuridade9, que abre
lugar no peito dos homens para a esperança, pois o segredo das artes, e a cultura, de
que proporciona a criação, iriam permitir retardar a morte, já tornado imprevisível o
momento da sua ocorrência, ou mesmo, talvez, outorgando aos homens a ilusão da
imortalidade. – De resto, e regressando a Esquilo, veja-se o que possibilitou a dádiva
do fogo, no que à arte da construção e à sua teoria diz respeito:
PROMETEU: Prefiro descrever misérias dos mortais (βροτοῖς δὲ πήµατα):
como, sendo infantis (νηπίους ὄντας), seu ser tornei pensante (ἔννους ἔθηκα)…
visibilidade, que traduz mais literalmente o termo grego προδέρκεσθαι, forma do verbo προδέρκοµαι,
que significa prever (Isidro Pereira, S. J., Dicionário Grego-Português e Português-Grego, Braga, 1990,
p. 481: Προδέρκοµαι, prever). – Usou-se a versão de E. Scarlatti, por se considerar a expressão, obsessão
da morte, um verdadeiro achado, ou seja, uma interpretação criativa, e por ser concordante, nesta passa-
gem, com a versão de P. Mazon (obsession de la mort). De resto, toda a tradução de Eduardo Scarlatti
(oficial da Armada e dramaturgo), em verso, parece ser de grande qualidade, e beleza. 8 O princípio da imprevisibilidade dos fenómenos, tal como se define na Teoria do Caos, parece estar
na origem de um análogo princípio na filosofia crítica de Peter Sloterdjick, para o qual, as coisas nunca
acontecem nem se desenvolvem como era previsto, e ambos tem grande similarididade com o princípio
da indeterminação, de Werner Heisenberg (em inglês Uncertainty Principle, ou seja, Princípio da
Incerteza que pôs em causa os princípios da causalidade, da previsibilidade e da certeza, mesmo no
domínio dos fenómenos físicos e ocorrências da Natureza. – De resto, na Filosofia, David Hume, em
meados do Séc. XVIII, já tinha questionado esses princípios, por razões derivadas da pura gnoseologia,
daí o seu cepticismo. – Note-se, porém, que o termo usado por Werner Heisenberg, expressa-se, origi-
nalmente, numa palavra alemã, Unschärferelation, de difícil tradução, mas que exprime a ideia de
não-nitidez ou obscuridade; enfim, traduzível por relação de indeterminação ou de incerteza. 9 A ideia de que a Cultura Humana tenha, na sua origem, e como factor dela determinante, uma relação
de não-nitidez ou obscuridade, um princípio de incerteza ou de imprevisibilidade, parece-nos como
algo radicalmente diferente dos princípios da Cultura Moderna, instaurados por Descartes, com a sua
exigência de certeza(s), para a busca (ou criação) das quais a «dúvida metódica» mais não seria do que
um meio processual. A incerteza ou imprevisibilidade em relação à mais determinante das condições de
existência do homem, a morte, que é certa, mas cuja hora é incerta – como o diz certo porvérbio – põe
em causa a importância da certeza, mesmo para a acção ou decisão, por muito que isso desagrade
ao(s) filósofo(s) do(s) Poder(es) estabelecido(s), que tanta preocupação aparentam com as questões
relativas à certeza, e à necessidade de determinar as suas condições de possibilidade. – Mas, realmente,
o Poder precisa de ter certezas, ou da ficção que as pode criar e impor, legitimando assim as suas, por
vezes, bem dúbias, incertas e, quase sempre, obscuras acções.
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A construção de casas em tejolo (πλινθυφεῖς δόµους), à luz do sol abertas (προσείλους),
e as obras em madeira (ξυλουργίαν), nem sequer pensavam
E, quais formigas ágeis (µύρµιχες ἄντρων), grutas encobertas (µυχοῖς ἀνηλίοις)
ao sol e sob a terra (κατώρυχες), como abrigo, usavam (ἔναιον ὤστ’ ἀήσυροι).
Indício (τέκµαρ) não guardavam da estação do frio (χείµατος),
da primavera em flor (ανθεµώδους), ou do feraz estio (καρπίµου θέρους):
tudo era sem razão (ἀλλ’ ἄτερ γνώµης); era um viver de rastros (ἔπρασσον);
até que lhes fiz ver como, no além, despontam (ἔστε δὴ σφιν ἀντολὰς),
e – o que é mais difícil (δυσκρίτους δύσεις) – adormecem astros (ἄστρων ἔδειξα).
E descobri, depois, os números (ἀριθµόν) que contam,
para lhes ensinar a mais formosa ciência (ἔξοχον σοφισµάτων);
e as letras associei (γραµµάτων τε συνθέσεις) – para encofrar memória (µνήµην),
cujo labor febril às artes (µουσοµήτορ’ ἐργάνην) dá sequência10.
O Mito de Prometeu, seguramente o mais ocidental de todos os mitos gregos, aquele em
que mais se anuncia o afã construtivista da nossa cultura11, é um mito de aposta na
possibilidade da construção do mundo, e onde a arquitectura ou arte da construção
tinha um lugar destacado. Não é por acaso que, Prometeu, quando descreve as aplica-
ções do segredo das artes (o fogo aurifulgente, de que fizera presente aos homens),
especificando-as, a primeira arte a ser mencionada é a da construção / de casas em
tejolo (πλινθυφεῖς δόµους), à luz do sol abertas (προσείλους), / e as obras em madeira
(ξυλουργίαν), que lhes tornara possível o abandono das grutas encobertas (µυχοῖς
ἀνηλίοις) / ao sol e sob a terra (κατώρυχες) [que, até aí], como abrigo, usavam. Na
sequência, é lembrada a descoberta da matemática, os números (ἀριθµόν) que con-
tam… a mais formosa ciência (ἔξοχον σοφισµάτων12), e da escrita (γραµµάτων), cujo
labor febril às artes (µουσοµήτορ᾿ ἐργάνην) dá sequência, ou seja, que as codifica e 10 Esquilo, ob. cit. (1942), p. 74; id. Eschyle, «ob. cit.», 450-461, in Eschyle, ob. cit. (1931), p. 177. 11
Wittgenstein, L., Culture and Value, transl. of German by P. Winch, ed. by G. H. von Wright in collab.
with H. Nyman, Chicago – (ed. portuguesa, Cultura e Valor, trad. de J. Mendes, revisão de A. Mourão,
Lisboa, 1996, p. 21): A nossa civilização é caracterizada pela palavra “progresso”. Fazer progressos
não é uma das suas características, o progresso é, mais propriamente, a sua forma. Ela é tipicamente
construtora. Ocupa-se em construir uma estrutura cada vez mais complicada. E até mesmo a claridade
é desejada apenas como um meio para atingir este fim, nunca como um fim em si mesma. 12 ἔξοχον σοφισµάτων, à letra, deve-se entender como excelente ciência, ou ciência superior.
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descodifica (o quod significatur et quod significat13, como formulará depois Vitrúvio),
e assim permite a sua fundamentação e explicitação, passos prévios para a sua trans-
missão, mudança e transformação ou, se se quizer, desenvolvimento, o que é uma
maneira nítida de aludir à matemática, magister das artes, e à reflexão sobre a arte, ou
seja, a teoria da arte, uma actividade escrita, no essencial.
É de lembrar que o Mito de Prometeu, por vezes apresentado como narrativa da inven-
ção ou descoberta do fogo (Figs. 34, 35), é constantemente referido por quase todos
os tratadistas clássicos da arquitectura, que na descoberta do fogo vêem a origem da
sociedade, da linguagem e da actividade edificatória, prolongando uma tradição instau-
rada por Vitrúvio, que a ele recorre no Cap. 1, do Livro II, para explicar as origens,
senão da arquitectura, ao menos, das construções14, embora dando dele uma visão
«laica» e «pragmática», ou, se se quizer, na versão epicúrea de Lucrécio15.
É também o Mito que ressoa na utopia edificatória de Alberti16 – que chega a postular
a arquitectura, ou melhor, a res aedificatoria17, como estando na origem da sociedade 13 Vitruve, De l’architecture (De architectura), Livre I, 1, 3, texte établi e trad. par Ph. Fleury, Paris,
1990, p. 4: Cum in omnibus enim rebus tum maxime etiam in architectura haec duo insunt: quod signi-
ficatur et quod significat. Significatur proposita res de qua dicitur; hanc autem significat demonstratio
rationibus doctrinarum explicata. 14
Vitruve, De l’architecture (De architectura), Livre II, 1, 8, texte établi et trad. par L. Callebat, introd.
et commenté par P. Gros, recherches sur les manuscrits et apparat critique par C. Jacquemard, p. 9: Ce
que décrit en effet ce livre, ce ne sont pas les composantes de l’architecture, mais quels ont été à l’origine
les premiers éléments de constructions (Namque hic liber non profitur unde architectura nascatur, sed
unde origines aedificiorium sunt institutae). 15
Lucréce, De la nature (De rerum natura), Livre V, 925ss., texte établi, trad. et annoté par A. Ernout,
Paris, 1921, 2e. ed. 1964, 8e. tirage 2003, Tome II, p. 84ss.. 16 Alberti, L. B., L’archittetura (De re aedificatoria, 1485), Prologo, 2v, ed. 1966, Vol. I, p. 8-11; tam-
bém, Simões Ferreira, J. M., «A “Utopia Edificatória”, em Alberti», Lisboa, 2007. 17
Embora arquitectura seja a tradução mais usual, nas línguas modernas, do termo aedificatoria ou res
aedificatoria – o que se comprova historicamente pelas traduções, desde a de Pietro Lauro Modenese,
1546, a de Cosimo Bartoli, 1550, e 1565, a francesa de Jean Martin*, 1553, a espanhola de Francisco
Lozano, 1582, ou a inglesa, de James [Giacomo] Leoni, 1715, todas elas traduzindo aedificatoria por
l’architettura, l’architecture, Architectura, Architecture. – Contudo, aquilo a que Alberti se refere no seu
tratado parece realmente abarcar um domínio mais lauto que o da arquitectura, soi-disant, abrangendo
8
e o que mais contribuia para a manter coesa18 – e em todas as utopias de construção,
ou reconstrução19, dadas à celebração da crença na possibilidade de construir uma
sociedade perfeitamente organizada ou um povo bem ordenado20, ou seja, é um mito
utópico, na sua essência, em que os homens, incertos em relação à morte (livres dessa
obsessão, e impedidos de a prever, προδέρκεσθαι µόρον), cheios de expectativas, ou
com o peito insuflado de cegas esperanças (τυφλὰς ἐλπίδας), e libertados da asfixiante
tutela dos deuses, se dedicam à edificação de um futuro radioso. – E, nesse futuro, a
arquitectura, arte da edificação, e a sua teoria, teriam um papel decisivo.
toda a actividade edificatória do homem. Daí, as modernas traduções, com excepção da edição crítica
italiana de 1966, usarem como tradução o termo édifier, building, edificatória, ou não traduzirem
sequer, como fez Fresnillo Nuñez, na edição espanhola de 1991. – Note-se todavia que o termo aedifi-
catoria, como significando arquitectura, no sentido mais genuíno, já se apresenta, e com relevo, no tra-
tado de Vitrúvio, onde aedificatio é uma das três partes em que se divide a arquitectura: Partes ipsius
architecturae sunt tres: aedificatio, gnomonice, machinatio (De arch., I, 3, 1, ed. 1990, p. 19), e a que
mais tem a ver com o que hoje, consensualmente, se considera arquitectura, pois as outras duas partes,
a gnomonice e a machinatio foram retiradas do domínio da arquitectura.
* Jean Martin terá sido primeiro a intuír a singularidade do termo aedificatoria, e sua relação com a
actividade edificatória em geral, assim optando por uma espécie de título duplo: L’Architecture et ART
DE BIEN BASTIR, sendo esta a expressão mais saliente, graficamente. – E é claro que ao Movimento
Moderno o termo aedificatoria como não significando estritamente arquitectura, essa coisa do passado,
que havia de subordinar às necessidades produtivas modernas, dava muito jeito... 18 Alberti, ob. cit. (1485, ed. 1966), Prologo, 2v, Vol. 1, p. 8: È stato affermato da alcuni che furono
l’acqua o il fuoco le cause originarie onde gli uomini si riunirono in comunità; ma noi, considerando
quanto un tetto e delle pareti siano convenienti, anzi indispensabili, ci convinceremo che queste ultime
cause ebbero indubbiamente maggiore efficacia a riunire e mantenere insieme degli esseri umani. – É
de notar que Alberti se demarca de Vitrúvio, invertendo o nexo causal: para ele, não seria o fogo a
origem da sociedade, e a sociedade a origem da arquitectura, mas sim, a edificação, ou seja, a arquitec-
tura, é que estaria na origem da sociedade; pois seriam o tecto e as paredes que propiciavam a reunião
dos homens e os mantinham unidos, e assim, dando origem à sociedade e cimentando-a. 19 Mumford, L., The Story of Utopias, New York, 1922, new ed., New York, 1962. 20 Morus, T., Utopia, trad. de J. Marinho, notas e posf. de P. Gomes, Lisboa, 12.ª ed. 2000, p. 65: uma
sociedade perfeitamente organizada. – Id., Utopia, ed. with introd. and notes by E. Surtz, S. J., New
Haven / London, 1964, p. 55: a well-ordered people, é a expressão usada.
9
34 – A descoberta do fogo, origem da arquitectura, in Fra Giocondo, M. Vitruvius per Iocundum solito
castigatior…, Venetiis, 1511, Liv. II, I, 1, f. 13.
10
35 – Idem, in Vitruve, Architecture ou Art de bien bastir, de Marc Vitruve Pollion… mis de Latin en
François par Ian Martin, Paris, 1547, Liv. II, I, 1, f. 15.
11
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