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I OZ.t'liotor"abelHub 4/20/12 2:15 PM Page 545 A| --Y-
A aceitabilidade de estruturas causativas e anticausativasmarcadas e neo marcadas em portuguds brasileiro
Marcus Maia
r. ApnespNraqAo
O trabalho de investigagao que apresentamos tem por objetivo estudar o proces-
samento de estruturas causativas e anricausativas em Portuguds brasileiro (PB)
atrav6s de um experimento de julgamento imediato da aceitabilidade auditiva
dessas construg6es, comparando construg6es causativas com sujeito animado e
inanimado a construg5es anticausativas ou incoativas marcadas e nio marcadas
pelo clitico SE. Este trabalho se inscreve em um projeto mais abrangente de
estudo comparativo do processamento da estrutura argumental de verbos em
Portuguds brasileiro e europeu, ora em curso nos laborat6rios de Psicolinguistica
da Universidade Federal do Rio deJaneiro e da lJniversidade de Lisboa.
O artigo se organiza da seguinte forma. Na segio 2, apresentamos uma revi-
sio da literatura sobre os aspectos da inacusatividade relevantes per^ e ceracte-
rizagio do experimento, incluindo o estudo seminal de DiSciullo er alli (2007)sobre o processamento de estruturas causativas e anticausarivas em ingl6s, bem
como estudos previamente rcalizados por n6s sobre essas estruturas em portu-gu6s brasileiro, comparativamente a linguas indigenas brasileiras. Na segio 3,
apresentamos o experimento de julgamento auditivo que di titulo ao presente
estudo, Finalmente, na seglo 4, repottamos as conclus6es gerais do artigo e apon-
tamos fucuras diregoes de pesquisa.
z. A rNncusATrvrDADE: REpRESENTACAo E pRocEssAMENTo
Segundo Baker (1983), r"m todos os verbos intransitivos si.o criados iguais'. Os
verbos intransitivos inergativos, como (1), diferem dos intransitivos inacusarivos,
I. Atl seemingly intransitive verbs are not created equal.
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como (2), pois (1) reria uma estrurura argumenral como em (1a), em que o verboinergativo'tantar" seleciona um argumenro externo que, como assumido no qua-dro da Teoria da Regdncia e vinculagio (chomsky, 1981 e ourros trabahoj,Jiviria marcado tematicamente da estrutura profunda como agente, por outrolado, em (2), o verbo inacusarivo "cair" teria esrrurura argumental como repre-sentado em (2a), tomando apenas um argumenro inrerno, no exemplo, o Dpobjeto'a menina", marcado em estrutura profunda como paciente,
(1) A menina canrou.(1a) DP lro V] - esrrurura inetgativa(2) A menina caiu.(2") luo V DPj - esrrurura inacusariva
segundo aGenetalizagio de Burzio (1981), que desenvolve a Hip6rese daInacusatividade de Perlmutter (7978), um verbo que nio tem a opgio de proje-tar um especificador nio 6 capaz de atribuir caso, o Dp gerado em posigao deargumento interno deve, enrio, se mover para posigao em que possa receber caso,a saber, a posigio de especificador de IB q,t" the atribui caso nominativo, dei-xando um vestigio em sua posigio de geragio original. Assim, embora, ranto (1)quanto (2) apresentem ordens semelhantes na superfice , t€m, de fato, hist6riasderivacionais distintas. Enquanto, em (1), o Dp'a menina" seria gerado na baseem posiqio de sujeiro, em (2), o DP ocupa a mesma posigio com-o r"sultad.o d.e
seu movimento da posigio de objeto do verbo inacusativo.Alguns verbos inacusativos admitem a alternincia causativa, tendo uma con-
traparte transitiva, como exemplificado abaixor
(3) O vaso quebrou.(4) A menina quebrou o vaso.
A alrernincia de rransitividade, exemplificada no conrrasre enrre (3) e (a),tem sido produtivamente investigada na literarura linguistica, ranro do ponto devista semintico, quanto do ponto de vista sinti.tico, sendo a terminologia para sereferir a cada membro do par, exrremamen te varilvel. Consrruq6es como (3), queexPressam um evento em que o rinico argumento 6paciente de um processo, t6msido denominadas de anticausativas, incoativas, ergartivas, m6dias, enquanro cons-truq6es como (4), que expressam uma relagio de causalidade, sio denominadascomo causativas, rransirivas, agentivas.
Fundamentados em resultados de estudos de julgamento de aceitabilidadee de leitura e audigao auromoniroradas de estrururas equivalentes em ingl6s,
546 . xsrvvos eu houpNoceu : isessr hug firre
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lingua em nio hi marcagio morfol6gica da alternXncia causativa, Di Sciullo, De
Almeida, Manouilidou & Dwivedi (2007) concluem que as construgoes anticau-
sativas ou m6dias seriam menos aceitas do que as suas contrapartes causativas
porque apresentam maior dificuldade de processamento do gue estas, indepen-
dentemente da animacidade do sujeito, tomada como controle, para garantir que
os resultados obtidos seriam decorrentes da estrutura sintitica mais complexa
da construgio intransitiva e nio de efeito de dpicalidade da posiqio de sujeito.
Di Sciullo et alii (2007) invesrigou, portanto, se a representagio gramatical mais
complexa das construg5es incoativas teria um correlato de processamento que
poderia ser indicado pelas maiores latdncias nos julgamentos dessas frases, com-
parativamente )s construq5es causativas. Os participantes dos experimento de
julgamento imediato de aceitabilidade foram apresentados a construg5es incoa-
tivas como "This book sells well" (este livro vende bem) e a dois tipos de cons-
truq5es transitivas, uma delas com um agente inanimado, como"This store sells
well" (esra loja vende bem) e a outra com um agente animado, como "This clerk
sells well" (este funcionirio vende bem). Os sujeitos viam em uma tela de compu-
tador frases desses tipos, devendojulgar, atrav6s do pressionamento de teclas, se
consideravam as frases aceitiveis. Os resutados obddos indicaram que as estru-
turas incoativas apresentavam maiores indices de rcjeigio e levavam, em mtdia,mais tempo para serem julgadas do que as transirivas. Tamb6m os resultados de
estudo de audigio e leitura automonitoradas desenvolvidos por Di Sciullo et alii(2007) indicaram latdncias maiores para as construg6es incoativas do que para
as transitivas, permitindo que os autores concluissem sobre a exist6ncia de cor-
rcIagio entre a complexidade estrutural e a perceptual, uma vez qrue as operag5es
de movimento requeridas pelas incoativas, mas nio pelas transitivas, parecem
dererminar a maior dificuldade de processamento destas 6ltimas.
Note-se que em ingl6s, bem como em portuguds brasiieiro e em virias outras
linguas, nao hl diferengas entre as duas formas verbais correspondentes, ou seja,
a anticausativa e a causativa, em um padrao que tem sido denominado "llbil" (cf.
Haspelmath,1993). Em Portuguds Europeu, bem como em outras linguas romn-
nicas, no entanto, ao contririo do Porruguds brasileiro, o membro intransitivo do
par costuma ser marcado pelo clitico"sd', como exemplificado em (5):
(5) O copo partiu-se"The glass broke"
Em Maia, Oliveira & Santos (2009 I a aparecer), compara-se a aceitabilidade
de construqoes causativas e anticausativas em portuguds brasileiro e em duas lin-guas indigenas, o Xavante e oKaraji (tronco Macro-J6). Enquanto o Xavante e
a ;cEITABILIDADg de esrnurunes cAUSATIVAs {: eNTrcAUsATIV"s t 547
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o Portugu6s brasileiro apresentam sistemas do tipo llbil, em que nio hi diferenqa
morfol6gica entre os dois membros da alternincia causativa, o Karaji, por outro
lado, apresenta um sistema'equipolente" (cf. Haspelmath, 1993), em que as
formas da alternincia diferem, mas uma nio 6 mais complexa do que a outra. O
exemplo (6) ilustra a contraparte rransitiva, emKaraji, marcada pelo morfema
-i-, enquanto que o exemplo (7) iiustra e contraparte incoativa, identificada pelo
morfema -a-,
Karirama kua heto r-i-so-raKarirama aquela casa 3-TRANS-queimar-PASS"Karirama queimou aquela casa'
Kua heto r-a-s6-ra
aquela casa 3-IN-queimar-PASS'Aquela casa queimou"
A anilise dessa variabilidade de val6ncia verbal tem sido uma questeo funda-
mentalparaas teorias sobre a interface entre o l6xico e a sintaxe, dividindo essas
teorias entre lexicalistas e construtivistas. Do lado lexicalista, Levin & Rappaport-
-Hovav (1995), por exemplo, advogam que o fato de que hi uma tenddncia nas
linguas para os argumentos com certos pap6is remiticos ocorrerem semPre nas
mesmas posig5es sintiticas seria uma indicagao de que'bs propriedades sintlti-cas dos verbos sejam determinadas pelos seus significados"'.
Do ponto de vista nao lexicalista ou construtivista, por outro lado, nio seria
a estrutura lexical de um verbo que determinaria a sua sintaxe, mas as posiqoes
sintiticas em que os argumentos sio realizados 6 que determinariam a sua inter-
pretaqio. Hale & Keyser (1993) propuseram que rodos os verbos rransitivos,
mesmo os morfologicamente simples sejam constimidos por dois nricleos sepa-
rados, a sabet um V' que introduz os argumentos internos do verbo e se projeca
para VB sendo o argumento externo introduzido na posigio de especificador de
um verbo leve ou vezinho vo, que toma o VP como seu complemento' Harley
(L995) e Marantz (1997) estendem a proposta do vezinho para as estruturas
incoativas, propondo que, nesse caso, o vezinho nio projetaria argumento externo.
Maia et ahi(2009/aaparecer), apresentaram resultados de experimentos psi-
colinguisticos de julgamento imediato de aceitabilidade de estruturas incoativas
e transitivas, em pares de alternincia causativa, realizados com falantes narivos
da lingua indigena brasileira Karajl, comparando-os com resuitados obtidos em
2. "... syntactic properties of verbs are determined by their meaning". (Levin & Rappaport-Hovav, 1995: 1)
548 ' esruoos eu hovBNocsu a jsessr !rue ienll
(6)
(7)
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testes similares em portuguds brasileiro e na lingua indigena brasileira Xavante.
O experimento obteve os indices e tempos de julgamento de 15 triades de frases
da lingua Karaj6,, como as exemplificadas abaixo:
(8) Tyky rasunyra (voz m6dia - VM)roupa sujou'A roupa sujou"
(9) Hirari tyky risunyra (transitiva animada - TA)menina roupa sujou'A menina sujou a roupa'
(10) Beu tyky risunyra (transitiva inanimada - TI)lama roupa sujou'A iama sujou a roupa'
O dado (8) instancia uma construglo intransitiva que a literatura tem deno-
minado de m6dia, incoativa ou anticausativa e que tem sido analisada como tendo
seu sujeito derivado por movimento da posiqao de argumento interno com papel
de tema ou paciente do verbo. Os dados (9) e (10) instanciam a contraperte tr^n-
sitiva causativa que seria o ponto de partida da derivagSo da estrutura intransi-tiva exemplificada em (8) q"", por envolver movimento, seria estruturalmente mais
complexa do que as transitivas. A diferenga entre (9) e (10) nio 6 sintj.tica, mas
apenas semnntica, visto que t6m estruturas iddnticas, variando apenas em fungio
danatareza [+animada] (l) ou [-animada] (10) do sujeito das construgoes tran-
sitivas. Em contraste com o obtido par^ o Xavante e para o Porruguds em que os
niveis de aceitabilidade da construglo anticausativa nlo marcada morfologica-
mente 6 menor do que suas contrapartes transitivas animada ou nio, a pesquisa
encontrou resultados que indicam niveis de aceitabilidade semelhantes para cons-
trug6es na lingua Karaji como as tr6s frases exemplificadas acima. Apresentaram-
-se a 18 falantes nativos deKaraji 15 triades com as condiqoes VM (voz m6dia),
TA (ransitiva animada) e TI (transitiva inanimada) em um design experimen-
tal em quadrado latino, de modo que todas as condigoes experimentais fossem
vistas por todos os sujeitos, comparando-se as vers6es de um mesmo verbo entre
sujeitos. As quinze frases experimentais de cada uma das trds vers5es do experi-
mento foram apresentadas randomicamente entre trinta frases distrativas que
continham, al6m de estruturas bem formadas, construq5es mal formadas sinti-tica e semanticamente. O experimento foi implementado atrav6s do programaPsyscope, solicitando-se aos sujeitos, como tarefa, que pressionassem uma tecla
verde se considerassem que a frase lida na tela fosse uma frase aceitivel na lingua
Karaia ou uma tecla vermelha se considerassem a frase inaceitivel nesta lingua,
a acErrABrLrDADe de esrnururas cAUsATrvAs {: aNTrcAUsATIv"s , 549
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registrando-se como varii.veis dependentes do experimento os indices de julga-mento e os tempos de decisao. Os resultados neo apontaram indices de rejeiqiosignificativamente diferenciados entre VM eTA (X2=I,2, p=0,27), nem entre
VM e TI (X2=0,28, p=0,59) e nem entre TA e TI (X2=0,3I, p=Q,J7).9^mesma forma, os tempos m6dios de rejeiqio nlo indicam diferengas significati-vas entre VM e TA (t(a6)=0,58, p=Q,J5), nem entre VM eTI (r(44)=0,67,p=0,50) e nem entre TA e TI (t(50)=0,98, p=0,)2).
Argumenta-se que os resultados indiferenciados entre os indices e tempos de
rejeigio obtidos neste experimento, que contrastam com os resultados obtidos em
ingl6s, portugu6s e Xavante, podem ser compreendidos como efeito da codifica-g5o morfol6gica da alternincia causativa, como pode-se observar pela alternXn-
ciavocllica (i/a) nas formas verbais do exemplo acima. Enguanto que em ingl6s,
portuguds e Xavante as formas verbais da alternincia causativa nio apresentam
quaisquer diferenqas morfol6gicas, emKaraji., o acesso i informaEio morfol6gicano processamento dessas construqoes permitiu a equalizaqio de sua aceitabilidade,
independentemente de sua complexidade sintitica diferenciada. Argumenta-se,
ainda, que a realidade psicologica desses morfemas, patente na comparaqSo rrans-
linguistica, aporta eviddncias de processamento em favor da adogao de uma ani.-
lise da representagio estrutural da alterni.ncia causativa, que leve em conta a
computagio morfol6gica, na linha do que 6 proposto por Hale & Keyser (1993)eHarley (2006), no quadro da Teoria da Morfologia Distribuida, podendo-seconsiderar os morfemas -a- e -i- emKaraj|. como verbos leves (vezinhos) com dife-rentes propriedades semnncico-sintiticas. O vezinho -e- tem valor"BECOME" e
nlo introduz argumento externo, enquanto que o vezinho -i- tem valor CAUSA,podendo projetar argumento externo.
O experimento relatado na pr6xima seg5.o procura explorar a aceitabilidade
auditiva das condiqoes VM, TA e TI, jl testadas em portuguds brasileiro em
relagio i sua aceitabilidade na escrita, conforme relatado acima, acrescentando,
no entanto, uma nova condigeo ao estudo, a saber, a condigio em que a constru-gio anticaus ativa 6 marcada pelo clitico SE.
3. A acerrABrLrDADE AUDrrrvA DE coNSTRUq6ES cAUSATTvASE ANTICAUSATIVAS MARCADAS E NAO MARCADAS EM PORTUGUiSBRASILEIRO
Diversos estudos tdm descrito e analisado a perda de cliticos no portuguds bra-
sileiro, com atengio especial para o SE. D'Albuquerque (7984), Tarallo (1,993)
55O . esruDos .:u Itoueueceu r iseger l-,ug fenra
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Nunes (1,997,1,993,1,995), enrre ourros, descrevem e analisam de diferentes pers-
pectivas te6ricas a perda do SE. Note-se, no entanto, que a literatura enfoca, espe-
cialmente, a perda do SE indeterminador, passivo, reflexivo ou reciproco, pouco
dizendo sobre a perda do SE anticausativo que tamb6m parece ocorrer em PB.
O experimento reportado nesta segio prevd que as sentengas incoativas (IN)exibam niveis de aceitabilidade significativamente menores do que as sentenqas
transitivas animadas (TA) e do que as sentengas transitivas inanimadas (TI),pois, como revisado acima, hl um deslocamento do SN da posigao de objeto
direto - movimento de NP ou movimento A (argumental) -, na qual o SNrecebe papel temitico de paciente, para a posiglo de sujeito, onde recebe caso
nominativo. A maior complexidade estrutural da construqio incoativa deveda
traduzir-se em menores indices de aceitagio dessa construglo em teste dejulga-mento imediato de aceitabilidade do que de suas contrapartes rransitivas. Quanto)s incoativas marcadas com o clitico (SE), a previsio 6 a de que sejam ainda mais
rejeitadas do que as demais condig5es, em funglo da perda do SE anticausativo
no portuguds brasileiro oral.
3.r. Mfrooo
Penrtctpartrns
Os sujeitos foram trinta e duas aiunas do curso de graduaqio em Fonoaudiologia
da UFRJ, com idade m6dia de 22 anos, que receberam um ponto por sua par-ticipagio no experimento. Todas eram falantes nativas de portuguds brasi-
leiro, havendo reportado em entrevista posterior ao teste, ter sido aarefarelati-vamente ficil.
Mt rerunts E PRocEDIMENTos
Foram construidos 16 conjuntos de frases, como exemplificado abaixo, contendo
cada conjunto uma construgio incoativa (IN), uma construqio transiciva com
sujeito [+animado] (TA), uma construgio transitiva com sujeito [-animado](TI), uma construglo incoativa marcada com o clitico se (SE), al6m de 16 sen-
tengas distratoras. As frases experimentais foram distribuidas em um tipo de
design conhecido como quadrado latino, em que todos os participanres viramtodas as condigoes experimentais, mas nio a mesmaftase em cada condiqao.
Ao pressiona r a rccla amarela em um Macb o ok Air, uma frase era ouvida, sendo
seguida imediatamente de uma tela com tr6s pontos de interrogaqio. Nesse
; icEITABILIDADE !lE r:STRUTURAS cAUsATrvAs e iNTrcAUsATIvAs 551
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momento, o sujeito decidia sobre a boa formagao da frase, apertando a tecla verde
se a decisio fosse positiva ou a tecla vermeiha, caso fosse negativa. Ap6s cada deci-
sio, os pontos de interrogagio eram substituidos por uma tela branca, devendo
o sujeito apertar uma tecla amarela para que nova frase fosse ouvida. As frases
foram previamente gravadas emgravador digital profissional por falante do gdnero
feminino, com boa dicgao. O experimento era sempre precedido por uma sessio
depritica, durante a qual o experimentador observava se o sujeito havia enten-
dido corretamente as instrugoes e realizava a tarefe sem problemas. As duas medi-
das obtidas foram os indices de respostas e os tempos de reagio. O experimento
foi implementado e aplicado a partir do programa Psyscope (Buitd 53) pan plata-forma Macintosh, no Laborat6rio de Psicolinguistica Experimental (LAPEX)da Faculdade de Letras da UFRT.
FIGURA I EXEMPLO DE CONIUNTO EXPERIMENTAL
(11) IN - A porta abriu de repente.
(12) TA - Meu pai abriu a porta.(13) Tf - O vento abriu a porta.(14) SE - A porta se abriu de repente.
Rs,surrt oos
Os indices de rejeiqio3 das quatro condigoes experimentais sio apresentados no
grifico e na tabela abaixo. Observe-se que o indice de rejeigio de TA foi de 25
observaq5es em um total de I28 (4 itens por experimento, rodado com 32 sujei-
tos), perfazendo 79 ,5%. A rejeigao de TI foi de 36 / 728, totalizando 2B%. A rejer-
gio de IN foi de 43/128,34%.FinaImente a reieigio de SE fot de 62/728, oa
seia, 48o/o.
l. Os tempos de decisio, como nao 6 incomun em testes of{-line de jrlganento de aceitabilidade, nio
xpresentaram diferenqas significativas e nio serio reportados.
552 " csruDas eu horrnocsu a isasrr irus ianre
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45
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30
25
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I)
10
5
0
FIGURA 2 TNDTCES DE REJETqAO
z5/ rz8: tg,5o/o 36/ rz8: z8%o +3/ tz8:. 34o/o 6z/ rz8:. 48%o
A rejeigio das incoativas sem merce gr^meticel 6 significativamente maior
do que a rejeigio das transitivas animadas (XZ (t1=7,25,p=0,007** ). A rejeiqio
das incoativas marcadas com SE 6 significativamente maior do que a das incoa-
tivas sem marca gramatical (X'z (1)= 4,78, p=Q,Q)x).
4. CoNcrusAo
Embora os tempos de julgamento nio tenham apresentado diferengas significa-
tivas entre as condig6es, o que nio 6 incomum nesse tipo de experimento off-line,
o indice de rejeigio das construq5es incoativas foi significativamente maior do
que o indice da transitiva animada (TA). Crucialmente, o indice de rejeigio das
anticausativas marcadas com SE foi ainda mais alto do que o das incoativas sem
marca gramatical, refletindo a estranh eze que esta constru gio ji causa nos falan-
tes de PB. Como previsto, os indices mais altos de rejeigio das incoativas seriam
SEIN
a acEITAaTLIDADe .Je .:sraururos i:AUsATIVAs c iNTIcAUsATIvts , 553
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provocados pela maior complexidade estrutural dessas construg5es que, como
analisadas acima, apresentam movimento sintj.tico da posigao de objeto pre ^
posiqio de sujeito, enquanto as rransitivas tem seu sujeito ji gerado na base.
Pode-se concluir, porranto, que as construg5es anticausativas seriam menos acei-
ras do que as suas contrapartes causativas porque apresentam maior carga de pro-cessamento do que estas. Em Portuguds brasileiro, ao contrlrio, por exemplo, do
Karaja, que diferencia morfologicamente a anticausativa da causativa, o padriolibil da alternincia causativa, estabelecido na lingua pelo desuso progressivo do
clitico SE, nio permite o efeito de facilitagio do processamento da anricausativa,
capturado emKaraji. Ao contririo, o clitico SE dificulta ainda mais o processa-
mento da anticausativa, pelo estranhamento que seu uso ji provoca nos falantes
de PB. A previslo que se pode fazer, a seguir, 6 que este padrio de processamento
nio deveria se instanciar em Portugu6s Europeu onde o SE anticausativo conti-nua a ser :udlrzado, devendo, portanto, o SE anticausativo, nesta variante do Por-
tuguds, facilitar o processamento dessas estruturas, i semelhanga do que Maia ec
alli (2009 /a aparecer) obtiveram para o vezinho anticausativo do Kanj|' A rea-
lidade psicol6gica do SE deveria facilftar a aceitabllidade da construqio anticau-
sativa marcada, independentemente de sua maior complexidade sintitica, quando
comparada ) construgio causativa. Com a palavra, o laborat6rio de psicolingiiis-
dca da Universidade de Lisboa.
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