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I OZ.t'liotor"abelHub 4/20/12 2:15 PM Page 545 A | --Y- A aceitabilidade de estruturas causativas e anticausativas marcadas e neo marcadas em portuguds brasileiro Marcus Maia r. ApnespNraqAo O trabalho de investigagao que apresentamos tem por objetivo estudar o proces- samento de estruturas causativas e anricausativas em Portuguds brasileiro (PB) atrav6s de um experimento de julgamento imediato da aceitabilidade auditiva dessas construg6es, comparando construg6es causativas com sujeito animado e inanimado a construg5es anticausativas ou incoativas marcadas e nio marcadas pelo clitico SE. Este trabalho se inscreve em um projeto mais abrangente de estudo comparativo do processamento da estrutura argumental de verbos em Portuguds brasileiro e europeu, ora em curso nos laborat6rios de Psicolinguistica da Universidade Federal do Rio deJaneiro e da lJniversidade de Lisboa. O artigo se organiza da seguinte forma. Na segio 2, apresentamos uma revi- sio da literatura sobre os aspectos da inacusatividade relevantes per^ e ceracte- rizagio do experimento, incluindo o estudo seminal de DiSciullo er alli (2007) sobre o processamento de estruturas causativas e anticausarivas em ingl6s, bem como estudos previamente rcalizados por n6s sobre essas estruturas em portu- gu6s brasileiro, comparativamente a linguas indigenas brasileiras. Na segio 3, apresentamos o experimento de julgamento auditivo que di titulo ao presente estudo, Finalmente, na seglo 4, repottamos as conclus6es gerais do artigo e apon- tamos fucuras diregoes de pesquisa. z. A rNncusATrvrDADE: REpRESENTACAo E pRocEssAMENTo Segundo Baker (1983), r"m todos os verbos intransitivos si.o criados iguais'. Os verbos intransitivos inergativos, como (1), diferem dos intransitivos inacusarivos, I. Atl seemingly intransitive verbs are not created equal.

A aceitabilidade de estruturas causativas e anticausativas marcadas e não marcadas em Português brasileiro. In: Armanda Costa; Inês Duarte. (Org.). Nada na linguagem lhe é estranho:

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I OZ.t'liotor"abelHub 4/20/12 2:15 PM Page 545 A| --Y-

A aceitabilidade de estruturas causativas e anticausativasmarcadas e neo marcadas em portuguds brasileiro

Marcus Maia

r. ApnespNraqAo

O trabalho de investigagao que apresentamos tem por objetivo estudar o proces-

samento de estruturas causativas e anricausativas em Portuguds brasileiro (PB)

atrav6s de um experimento de julgamento imediato da aceitabilidade auditiva

dessas construg6es, comparando construg6es causativas com sujeito animado e

inanimado a construg5es anticausativas ou incoativas marcadas e nio marcadas

pelo clitico SE. Este trabalho se inscreve em um projeto mais abrangente de

estudo comparativo do processamento da estrutura argumental de verbos em

Portuguds brasileiro e europeu, ora em curso nos laborat6rios de Psicolinguistica

da Universidade Federal do Rio deJaneiro e da lJniversidade de Lisboa.

O artigo se organiza da seguinte forma. Na segio 2, apresentamos uma revi-

sio da literatura sobre os aspectos da inacusatividade relevantes per^ e ceracte-

rizagio do experimento, incluindo o estudo seminal de DiSciullo er alli (2007)sobre o processamento de estruturas causativas e anticausarivas em ingl6s, bem

como estudos previamente rcalizados por n6s sobre essas estruturas em portu-gu6s brasileiro, comparativamente a linguas indigenas brasileiras. Na segio 3,

apresentamos o experimento de julgamento auditivo que di titulo ao presente

estudo, Finalmente, na seglo 4, repottamos as conclus6es gerais do artigo e apon-

tamos fucuras diregoes de pesquisa.

z. A rNncusATrvrDADE: REpRESENTACAo E pRocEssAMENTo

Segundo Baker (1983), r"m todos os verbos intransitivos si.o criados iguais'. Os

verbos intransitivos inergativos, como (1), diferem dos intransitivos inacusarivos,

I. Atl seemingly intransitive verbs are not created equal.

I OZ.uioror=abetHub 4/20/12 2:15 pM page 546 A| --Y-

como (2), pois (1) reria uma estrurura argumenral como em (1a), em que o verboinergativo'tantar" seleciona um argumenro externo que, como assumido no qua-dro da Teoria da Regdncia e vinculagio (chomsky, 1981 e ourros trabahoj,Jiviria marcado tematicamente da estrutura profunda como agente, por outrolado, em (2), o verbo inacusarivo "cair" teria esrrurura argumental como repre-sentado em (2a), tomando apenas um argumenro inrerno, no exemplo, o Dpobjeto'a menina", marcado em estrutura profunda como paciente,

(1) A menina canrou.(1a) DP lro V] - esrrurura inetgativa(2) A menina caiu.(2") luo V DPj - esrrurura inacusariva

segundo aGenetalizagio de Burzio (1981), que desenvolve a Hip6rese daInacusatividade de Perlmutter (7978), um verbo que nio tem a opgio de proje-tar um especificador nio 6 capaz de atribuir caso, o Dp gerado em posigao deargumento interno deve, enrio, se mover para posigao em que possa receber caso,a saber, a posigio de especificador de IB q,t" the atribui caso nominativo, dei-xando um vestigio em sua posigio de geragio original. Assim, embora, ranto (1)quanto (2) apresentem ordens semelhantes na superfice , t€m, de fato, hist6riasderivacionais distintas. Enquanto, em (1), o Dp'a menina" seria gerado na baseem posiqio de sujeiro, em (2), o DP ocupa a mesma posigio com-o r"sultad.o d.e

seu movimento da posigio de objeto do verbo inacusativo.Alguns verbos inacusativos admitem a alternincia causativa, tendo uma con-

traparte transitiva, como exemplificado abaixor

(3) O vaso quebrou.(4) A menina quebrou o vaso.

A alrernincia de rransitividade, exemplificada no conrrasre enrre (3) e (a),tem sido produtivamente investigada na literarura linguistica, ranro do ponto devista semintico, quanto do ponto de vista sinti.tico, sendo a terminologia para sereferir a cada membro do par, exrremamen te varilvel. Consrruq6es como (3), queexPressam um evento em que o rinico argumento 6paciente de um processo, t6msido denominadas de anticausativas, incoativas, ergartivas, m6dias, enquanro cons-truq6es como (4), que expressam uma relagio de causalidade, sio denominadascomo causativas, rransirivas, agentivas.

Fundamentados em resultados de estudos de julgamento de aceitabilidadee de leitura e audigao auromoniroradas de estrururas equivalentes em ingl6s,

546 . xsrvvos eu houpNoceu : isessr hug firre

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lingua em nio hi marcagio morfol6gica da alternXncia causativa, Di Sciullo, De

Almeida, Manouilidou & Dwivedi (2007) concluem que as construgoes anticau-

sativas ou m6dias seriam menos aceitas do que as suas contrapartes causativas

porque apresentam maior dificuldade de processamento do gue estas, indepen-

dentemente da animacidade do sujeito, tomada como controle, para garantir que

os resultados obtidos seriam decorrentes da estrutura sintitica mais complexa

da construgio intransitiva e nio de efeito de dpicalidade da posiqio de sujeito.

Di Sciullo et alii (2007) invesrigou, portanto, se a representagio gramatical mais

complexa das construg5es incoativas teria um correlato de processamento que

poderia ser indicado pelas maiores latdncias nos julgamentos dessas frases, com-

parativamente )s construq5es causativas. Os participantes dos experimento de

julgamento imediato de aceitabilidade foram apresentados a construg5es incoa-

tivas como "This book sells well" (este livro vende bem) e a dois tipos de cons-

truq5es transitivas, uma delas com um agente inanimado, como"This store sells

well" (esra loja vende bem) e a outra com um agente animado, como "This clerk

sells well" (este funcionirio vende bem). Os sujeitos viam em uma tela de compu-

tador frases desses tipos, devendojulgar, atrav6s do pressionamento de teclas, se

consideravam as frases aceitiveis. Os resutados obddos indicaram que as estru-

turas incoativas apresentavam maiores indices de rcjeigio e levavam, em mtdia,mais tempo para serem julgadas do que as transirivas. Tamb6m os resultados de

estudo de audigio e leitura automonitoradas desenvolvidos por Di Sciullo et alii(2007) indicaram latdncias maiores para as construg6es incoativas do que para

as transitivas, permitindo que os autores concluissem sobre a exist6ncia de cor-

rcIagio entre a complexidade estrutural e a perceptual, uma vez qrue as operag5es

de movimento requeridas pelas incoativas, mas nio pelas transitivas, parecem

dererminar a maior dificuldade de processamento destas 6ltimas.

Note-se que em ingl6s, bem como em portuguds brasiieiro e em virias outras

linguas, nao hl diferengas entre as duas formas verbais correspondentes, ou seja,

a anticausativa e a causativa, em um padrao que tem sido denominado "llbil" (cf.

Haspelmath,1993). Em Portuguds Europeu, bem como em outras linguas romn-

nicas, no entanto, ao contririo do Porruguds brasileiro, o membro intransitivo do

par costuma ser marcado pelo clitico"sd', como exemplificado em (5):

(5) O copo partiu-se"The glass broke"

Em Maia, Oliveira & Santos (2009 I a aparecer), compara-se a aceitabilidade

de construqoes causativas e anticausativas em portuguds brasileiro e em duas lin-guas indigenas, o Xavante e oKaraji (tronco Macro-J6). Enquanto o Xavante e

a ;cEITABILIDADg de esrnurunes cAUSATIVAs {: eNTrcAUsATIV"s t 547

I OZ.tniotor=abelHub 4/20/L2 2:15 PM Page 548 A| --r-

o Portugu6s brasileiro apresentam sistemas do tipo llbil, em que nio hi diferenqa

morfol6gica entre os dois membros da alternincia causativa, o Karaji, por outro

lado, apresenta um sistema'equipolente" (cf. Haspelmath, 1993), em que as

formas da alternincia diferem, mas uma nio 6 mais complexa do que a outra. O

exemplo (6) ilustra a contraparte rransitiva, emKaraji, marcada pelo morfema

-i-, enquanto que o exemplo (7) iiustra e contraparte incoativa, identificada pelo

morfema -a-,

Karirama kua heto r-i-so-raKarirama aquela casa 3-TRANS-queimar-PASS"Karirama queimou aquela casa'

Kua heto r-a-s6-ra

aquela casa 3-IN-queimar-PASS'Aquela casa queimou"

A anilise dessa variabilidade de val6ncia verbal tem sido uma questeo funda-

mentalparaas teorias sobre a interface entre o l6xico e a sintaxe, dividindo essas

teorias entre lexicalistas e construtivistas. Do lado lexicalista, Levin & Rappaport-

-Hovav (1995), por exemplo, advogam que o fato de que hi uma tenddncia nas

linguas para os argumentos com certos pap6is remiticos ocorrerem semPre nas

mesmas posig5es sintiticas seria uma indicagao de que'bs propriedades sintlti-cas dos verbos sejam determinadas pelos seus significados"'.

Do ponto de vista nao lexicalista ou construtivista, por outro lado, nio seria

a estrutura lexical de um verbo que determinaria a sua sintaxe, mas as posiqoes

sintiticas em que os argumentos sio realizados 6 que determinariam a sua inter-

pretaqio. Hale & Keyser (1993) propuseram que rodos os verbos rransitivos,

mesmo os morfologicamente simples sejam constimidos por dois nricleos sepa-

rados, a sabet um V' que introduz os argumentos internos do verbo e se projeca

para VB sendo o argumento externo introduzido na posigio de especificador de

um verbo leve ou vezinho vo, que toma o VP como seu complemento' Harley

(L995) e Marantz (1997) estendem a proposta do vezinho para as estruturas

incoativas, propondo que, nesse caso, o vezinho nio projetaria argumento externo.

Maia et ahi(2009/aaparecer), apresentaram resultados de experimentos psi-

colinguisticos de julgamento imediato de aceitabilidade de estruturas incoativas

e transitivas, em pares de alternincia causativa, realizados com falantes narivos

da lingua indigena brasileira Karajl, comparando-os com resuitados obtidos em

2. "... syntactic properties of verbs are determined by their meaning". (Levin & Rappaport-Hovav, 1995: 1)

548 ' esruoos eu hovBNocsu a jsessr !rue ienll

(6)

(7)

I oz.lo:-otor"abelHub 4/20/t2 2:15 pM page 549 AI ---V--

testes similares em portuguds brasileiro e na lingua indigena brasileira Xavante.

O experimento obteve os indices e tempos de julgamento de 15 triades de frases

da lingua Karaj6,, como as exemplificadas abaixo:

(8) Tyky rasunyra (voz m6dia - VM)roupa sujou'A roupa sujou"

(9) Hirari tyky risunyra (transitiva animada - TA)menina roupa sujou'A menina sujou a roupa'

(10) Beu tyky risunyra (transitiva inanimada - TI)lama roupa sujou'A iama sujou a roupa'

O dado (8) instancia uma construglo intransitiva que a literatura tem deno-

minado de m6dia, incoativa ou anticausativa e que tem sido analisada como tendo

seu sujeito derivado por movimento da posiqao de argumento interno com papel

de tema ou paciente do verbo. Os dados (9) e (10) instanciam a contraperte tr^n-

sitiva causativa que seria o ponto de partida da derivagSo da estrutura intransi-tiva exemplificada em (8) q"", por envolver movimento, seria estruturalmente mais

complexa do que as transitivas. A diferenga entre (9) e (10) nio 6 sintj.tica, mas

apenas semnntica, visto que t6m estruturas iddnticas, variando apenas em fungio

danatareza [+animada] (l) ou [-animada] (10) do sujeito das construgoes tran-

sitivas. Em contraste com o obtido par^ o Xavante e para o Porruguds em que os

niveis de aceitabilidade da construglo anticausativa nlo marcada morfologica-

mente 6 menor do que suas contrapartes transitivas animada ou nio, a pesquisa

encontrou resultados que indicam niveis de aceitabilidade semelhantes para cons-

trug6es na lingua Karaji como as tr6s frases exemplificadas acima. Apresentaram-

-se a 18 falantes nativos deKaraji 15 triades com as condiqoes VM (voz m6dia),

TA (ransitiva animada) e TI (transitiva inanimada) em um design experimen-

tal em quadrado latino, de modo que todas as condigoes experimentais fossem

vistas por todos os sujeitos, comparando-se as vers6es de um mesmo verbo entre

sujeitos. As quinze frases experimentais de cada uma das trds vers5es do experi-

mento foram apresentadas randomicamente entre trinta frases distrativas que

continham, al6m de estruturas bem formadas, construq5es mal formadas sinti-tica e semanticamente. O experimento foi implementado atrav6s do programaPsyscope, solicitando-se aos sujeitos, como tarefa, que pressionassem uma tecla

verde se considerassem que a frase lida na tela fosse uma frase aceitivel na lingua

Karaia ou uma tecla vermelha se considerassem a frase inaceitivel nesta lingua,

a acErrABrLrDADe de esrnururas cAUsATrvAs {: aNTrcAUsATIv"s , 549

I oz.ruiotor"abelHub 4/20/12 2:1,5 PM Page 550 AI ---V-

registrando-se como varii.veis dependentes do experimento os indices de julga-mento e os tempos de decisao. Os resultados neo apontaram indices de rejeiqiosignificativamente diferenciados entre VM eTA (X2=I,2, p=0,27), nem entre

VM e TI (X2=0,28, p=0,59) e nem entre TA e TI (X2=0,3I, p=Q,J7).9^mesma forma, os tempos m6dios de rejeiqio nlo indicam diferengas significati-vas entre VM e TA (t(a6)=0,58, p=Q,J5), nem entre VM eTI (r(44)=0,67,p=0,50) e nem entre TA e TI (t(50)=0,98, p=0,)2).

Argumenta-se que os resultados indiferenciados entre os indices e tempos de

rejeigio obtidos neste experimento, que contrastam com os resultados obtidos em

ingl6s, portugu6s e Xavante, podem ser compreendidos como efeito da codifica-g5o morfol6gica da alternincia causativa, como pode-se observar pela alternXn-

ciavocllica (i/a) nas formas verbais do exemplo acima. Enguanto que em ingl6s,

portuguds e Xavante as formas verbais da alternincia causativa nio apresentam

quaisquer diferenqas morfol6gicas, emKaraji., o acesso i informaEio morfol6gicano processamento dessas construqoes permitiu a equalizaqio de sua aceitabilidade,

independentemente de sua complexidade sintitica diferenciada. Argumenta-se,

ainda, que a realidade psicologica desses morfemas, patente na comparaqSo rrans-

linguistica, aporta eviddncias de processamento em favor da adogao de uma ani.-

lise da representagio estrutural da alterni.ncia causativa, que leve em conta a

computagio morfol6gica, na linha do que 6 proposto por Hale & Keyser (1993)eHarley (2006), no quadro da Teoria da Morfologia Distribuida, podendo-seconsiderar os morfemas -a- e -i- emKaraj|. como verbos leves (vezinhos) com dife-rentes propriedades semnncico-sintiticas. O vezinho -e- tem valor"BECOME" e

nlo introduz argumento externo, enquanto que o vezinho -i- tem valor CAUSA,podendo projetar argumento externo.

O experimento relatado na pr6xima seg5.o procura explorar a aceitabilidade

auditiva das condiqoes VM, TA e TI, jl testadas em portuguds brasileiro em

relagio i sua aceitabilidade na escrita, conforme relatado acima, acrescentando,

no entanto, uma nova condigeo ao estudo, a saber, a condigio em que a constru-gio anticaus ativa 6 marcada pelo clitico SE.

3. A acerrABrLrDADE AUDrrrvA DE coNSTRUq6ES cAUSATTvASE ANTICAUSATIVAS MARCADAS E NAO MARCADAS EM PORTUGUiSBRASILEIRO

Diversos estudos tdm descrito e analisado a perda de cliticos no portuguds bra-

sileiro, com atengio especial para o SE. D'Albuquerque (7984), Tarallo (1,993)

55O . esruDos .:u Itoueueceu r iseger l-,ug fenra

] 0z.lliotor=abelHub 4/20/12 2:15 PM Page 551 AI --Y-

Nunes (1,997,1,993,1,995), enrre ourros, descrevem e analisam de diferentes pers-

pectivas te6ricas a perda do SE. Note-se, no entanto, que a literatura enfoca, espe-

cialmente, a perda do SE indeterminador, passivo, reflexivo ou reciproco, pouco

dizendo sobre a perda do SE anticausativo que tamb6m parece ocorrer em PB.

O experimento reportado nesta segio prevd que as sentengas incoativas (IN)exibam niveis de aceitabilidade significativamente menores do que as sentenqas

transitivas animadas (TA) e do que as sentengas transitivas inanimadas (TI),pois, como revisado acima, hl um deslocamento do SN da posigao de objeto

direto - movimento de NP ou movimento A (argumental) -, na qual o SNrecebe papel temitico de paciente, para a posiglo de sujeito, onde recebe caso

nominativo. A maior complexidade estrutural da construqio incoativa deveda

traduzir-se em menores indices de aceitagio dessa construglo em teste dejulga-mento imediato de aceitabilidade do que de suas contrapartes rransitivas. Quanto)s incoativas marcadas com o clitico (SE), a previsio 6 a de que sejam ainda mais

rejeitadas do que as demais condig5es, em funglo da perda do SE anticausativo

no portuguds brasileiro oral.

3.r. Mfrooo

Penrtctpartrns

Os sujeitos foram trinta e duas aiunas do curso de graduaqio em Fonoaudiologia

da UFRJ, com idade m6dia de 22 anos, que receberam um ponto por sua par-ticipagio no experimento. Todas eram falantes nativas de portuguds brasi-

leiro, havendo reportado em entrevista posterior ao teste, ter sido aarefarelati-vamente ficil.

Mt rerunts E PRocEDIMENTos

Foram construidos 16 conjuntos de frases, como exemplificado abaixo, contendo

cada conjunto uma construgio incoativa (IN), uma construqio transiciva com

sujeito [+animado] (TA), uma construgio transitiva com sujeito [-animado](TI), uma construglo incoativa marcada com o clitico se (SE), al6m de 16 sen-

tengas distratoras. As frases experimentais foram distribuidas em um tipo de

design conhecido como quadrado latino, em que todos os participanres viramtodas as condigoes experimentais, mas nio a mesmaftase em cada condiqao.

Ao pressiona r a rccla amarela em um Macb o ok Air, uma frase era ouvida, sendo

seguida imediatamente de uma tela com tr6s pontos de interrogaqio. Nesse

; icEITABILIDADE !lE r:STRUTURAS cAUsATrvAs e iNTrcAUsATIvAs 551

I OZ.tiofot"abefHub 4/20/12 2:15 PM Page 552 A| --F

momento, o sujeito decidia sobre a boa formagao da frase, apertando a tecla verde

se a decisio fosse positiva ou a tecla vermeiha, caso fosse negativa. Ap6s cada deci-

sio, os pontos de interrogagio eram substituidos por uma tela branca, devendo

o sujeito apertar uma tecla amarela para que nova frase fosse ouvida. As frases

foram previamente gravadas emgravador digital profissional por falante do gdnero

feminino, com boa dicgao. O experimento era sempre precedido por uma sessio

depritica, durante a qual o experimentador observava se o sujeito havia enten-

dido corretamente as instrugoes e realizava a tarefe sem problemas. As duas medi-

das obtidas foram os indices de respostas e os tempos de reagio. O experimento

foi implementado e aplicado a partir do programa Psyscope (Buitd 53) pan plata-forma Macintosh, no Laborat6rio de Psicolinguistica Experimental (LAPEX)da Faculdade de Letras da UFRT.

FIGURA I EXEMPLO DE CONIUNTO EXPERIMENTAL

(11) IN - A porta abriu de repente.

(12) TA - Meu pai abriu a porta.(13) Tf - O vento abriu a porta.(14) SE - A porta se abriu de repente.

Rs,surrt oos

Os indices de rejeiqio3 das quatro condigoes experimentais sio apresentados no

grifico e na tabela abaixo. Observe-se que o indice de rejeigio de TA foi de 25

observaq5es em um total de I28 (4 itens por experimento, rodado com 32 sujei-

tos), perfazendo 79 ,5%. A rejeigao de TI foi de 36 / 728, totalizando 2B%. A rejer-

gio de IN foi de 43/128,34%.FinaImente a reieigio de SE fot de 62/728, oa

seia, 48o/o.

l. Os tempos de decisio, como nao 6 incomun em testes of{-line de jrlganento de aceitabilidade, nio

xpresentaram diferenqas significativas e nio serio reportados.

552 " csruDas eu horrnocsu a isasrr irus ianre

I OZ.tiofot=abe]Hub 4/20/12 2:15 PM Page 553 A| --F

50

45

40

35

30

25

20

I)

10

5

0

FIGURA 2 TNDTCES DE REJETqAO

z5/ rz8: tg,5o/o 36/ rz8: z8%o +3/ tz8:. 34o/o 6z/ rz8:. 48%o

A rejeigio das incoativas sem merce gr^meticel 6 significativamente maior

do que a rejeigio das transitivas animadas (XZ (t1=7,25,p=0,007** ). A rejeiqio

das incoativas marcadas com SE 6 significativamente maior do que a das incoa-

tivas sem marca gramatical (X'z (1)= 4,78, p=Q,Q)x).

4. CoNcrusAo

Embora os tempos de julgamento nio tenham apresentado diferengas significa-

tivas entre as condig6es, o que nio 6 incomum nesse tipo de experimento off-line,

o indice de rejeigio das construq5es incoativas foi significativamente maior do

que o indice da transitiva animada (TA). Crucialmente, o indice de rejeigio das

anticausativas marcadas com SE foi ainda mais alto do que o das incoativas sem

marca gramatical, refletindo a estranh eze que esta constru gio ji causa nos falan-

tes de PB. Como previsto, os indices mais altos de rejeigio das incoativas seriam

SEIN

a acEITAaTLIDADe .Je .:sraururos i:AUsATIVAs c iNTIcAUsATIvts , 553

I oz.tiotot=abelHub 4/20/L2 2:15 PM Page 554 A| --F

provocados pela maior complexidade estrutural dessas construg5es que, como

analisadas acima, apresentam movimento sintj.tico da posigao de objeto pre ^

posiqio de sujeito, enquanto as rransitivas tem seu sujeito ji gerado na base.

Pode-se concluir, porranto, que as construg5es anticausativas seriam menos acei-

ras do que as suas contrapartes causativas porque apresentam maior carga de pro-cessamento do que estas. Em Portuguds brasileiro, ao contrlrio, por exemplo, do

Karaja, que diferencia morfologicamente a anticausativa da causativa, o padriolibil da alternincia causativa, estabelecido na lingua pelo desuso progressivo do

clitico SE, nio permite o efeito de facilitagio do processamento da anricausativa,

capturado emKaraji. Ao contririo, o clitico SE dificulta ainda mais o processa-

mento da anticausativa, pelo estranhamento que seu uso ji provoca nos falantes

de PB. A previslo que se pode fazer, a seguir, 6 que este padrio de processamento

nio deveria se instanciar em Portugu6s Europeu onde o SE anticausativo conti-nua a ser :udlrzado, devendo, portanto, o SE anticausativo, nesta variante do Por-

tuguds, facilitar o processamento dessas estruturas, i semelhanga do que Maia ec

alli (2009 /a aparecer) obtiveram para o vezinho anticausativo do Kanj|' A rea-

lidade psicol6gica do SE deveria facilftar a aceitabllidade da construqio anticau-

sativa marcada, independentemente de sua maior complexidade sintitica, quando

comparada ) construgio causativa. Com a palavra, o laborat6rio de psicolingiiis-

dca da Universidade de Lisboa.

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554 csruDos cu ltovcuocr" a isaeer hue fente

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22nd CUNY Human Sentence Processing Conference, UC Davis, March 2009. A,

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