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1 8 AGROINDÚSTRIA E TURISMO RURAL NOS MUNICÍPIOS DE SÃO JOÃO DO POLÊSINE E DE SILVEIRA MARTINS – QUARTA COLÔNIA DE IMIGRAÇÃO ITALIANA,RS Queila Lüdke; Adriana Pisoni da Silva; Elsbeth Léia Spode Becker 1 Introdução As pessoas que vivem e trabalham nos centros urbanos estão buscando cada vez mais o entretenimento e o lazer no meio rural. Diante dessa demanda crescente, abrem-se nichos de consumo que proporcionam novas oportunidades de renda para as famílias de pequenos produtores rurais. No entanto, para atender às expectativas criadas no imaginário da sociedade pós-industrial e urbana, é necessário estar preparado, cuidando da infraestrutura geral, da divulgação e de outros inúmeros detalhes fundamentais para o desenvolvimento do turismo no meio rural. Para isso, precisa-se de planejamento, a fim de evitar ou reduzir efeitos negativos, bem como reforçar e potencializar os efeitos positivos. O turismo rural, se bem planejado, pode aparecer como uma importante alternativa econômica no meio rural, e as agroindústrias podem compor uma forte oferta turística desse segmento. A atividade agroindustrial caseira é parte integrante do cotidiano dos agricultores familiares, principalmente em

8 AGROINDÚSTRIA E TURISMO RURAL NOS MUNICÍPIOS DE SÃO JOÃO DO POLÊSINE E DE SILVEIRA MARTINS – QUARTA COLÔNIA DE IMIGRAÇÃO ITALIANA,RS

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8AGROINDÚSTRIA E TURISMO RURAL NOS MUNICÍPIOS DE SÃOJOÃO DO POLÊSINE E DE SILVEIRA MARTINS – QUARTA

COLÔNIA DE IMIGRAÇÃO ITALIANA,RS

Queila Lüdke; Adriana Pisoni da Silva; Elsbeth Léia Spode

Becker

1 Introdução

As pessoas que vivem e trabalham nos centros urbanos estão

buscando cada vez mais o entretenimento e o lazer no meio

rural. Diante dessa demanda crescente, abrem-se nichos de

consumo que proporcionam novas oportunidades de renda para as

famílias de pequenos produtores rurais. No entanto, para

atender às expectativas criadas no imaginário da sociedade

pós-industrial e urbana, é necessário estar preparado,

cuidando da infraestrutura geral, da divulgação e de outros

inúmeros detalhes fundamentais para o desenvolvimento do

turismo no meio rural. Para isso, precisa-se de planejamento,

a fim de evitar ou reduzir efeitos negativos, bem como

reforçar e potencializar os efeitos positivos. O turismo

rural, se bem planejado, pode aparecer como uma importante

alternativa econômica no meio rural, e as agroindústrias podem

compor uma forte oferta turística desse segmento.

A atividade agroindustrial caseira é parte integrante do

cotidiano dos agricultores familiares, principalmente em

2

regiões coloniais, e compreende os produtos agropecuários

beneficiados. Apresenta-se como um importante vetor social e

econômico, pois se utiliza de mão de obra familiar, eos

produtos, além de serem consumidos pela família, têm a

possibilidade de gerar ou complementar a renda.

Na Quarta Colônia, situada na Região Central do Rio Grande

do Sul, a produção agroindustrial insere-se como um componente

no modo de vida, eessa realidade constitui-se em uma

importante justificativa para investir na manutenção da

produção colonial local que caracteriza a região.

Diante dos pressupostos mencionados, apresenta-se um

estudo do contexto em que se inserem a produção associada e o

fortalecimento das agroindústrias no cenário do turismo rural

na Quarta Colônia de Imigração Italiana, RS, com recorte

espacial nos municípios de São João do Polêsine e de Silveira

Martins.

O principal objetivo deste trabalho é analisar a

contribuição das agroindústrias no cenário do turismo rural

nos municípios de São João do Polêsine e de Silveira Martins e

sua importância na constituição de um diferencial na oferta

turística disponível.

2 Metodologia

A construção metodológica do presente estudo é uma

abordagem qualitativa, de caráter exploratório e descritivo,

organizadanas seguintes etapas: revisão bibliográfica,

pesquisa de campo e compilação dos dados e análise dos

resultados.

3

A revisão bibliográfica consistiu na consulta a livros,

revistas e sites específicos que correspondem às categorias

teóricas de políticas públicas, turismo rural, agricultura

familiar e agroindústrias.

Na pesquisa de campo, contemplaram-se a observação in loco e

entrevistas aos proprietários de pequenas propriedades rurais

e de agroindústrias e aos gestores públicos municipais. Foram

selecionados 13 proprietários de pequenas propriedades rurais

e de agroindústrias e 4 gestores públicos nos municípios de

São João do Polêsine e de Silveira Martins, na Quarta Colônia

de Imigração Italiana (Figura 1).

A compilação dos dados e a análise dos resultados

compreenderam a ordenação, a mensuração, a interpretação e a

descrição dos resultados.

4

*Se der pra alterar no mapa, melhor: Restinga Seca (sem acento)

Figura 1. Mapa do Rio Grande do Sul, dos municípios da Quarta Colônia deImigração Italiana, destacando São João do Polêsine e Silveira Martins easpectos da ruralidadeda paisagem e dos produtos das agroindústrias.

3 Políticas Públicas de Turismo

A política pública de turismo estabelece metas e

diretrizesque orientam o incremento da atividade, ou seja, ela

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contempla ações e opções estratégicas dos governos em prol do

desenvolvimento e do bem comum, em seus respectivos níveis

administrativos, seja em âmbito municipal, regional, nacional

e internacional.

De acordo com Pisoni da Silva (2008), no Brasil, a

construção de iniciativas de políticas públicas na esfera

federal é recente. Destacam-se a PolíticaNacional de Turismo

lançada pela Embratur (InstitutoBrasileiro de Turismo), no ano

de 1995, e a criação do Ministério do Turismo (Mtur), no ano

de 2003, com a constituição do PlanoNacional de Turismo (PNT).

O PNT foi previsto para os anos de 2003-2007 e,

posteriormente, atualizado nas duas gestões federais

seguintes, no período de 2007-2010 (governo Lula) e de 2010-

2014 (governo Dilma). Para implantar o PNT, tem-se a

continuidade de um modelo de gestão compartilhada desde sua

origem, de visão holística e integradora, com os diversos

agentes de desenvolvimento da cadeia produtiva e institucional

do turismo, com a representação do trade na constituição do

Conselho Nacional do Turismo, dos governos estaduais junto ao

Fórum Nacional de Turismo que orientam os gestores do

Ministério na condução do Plano.

Dentre as diversas diretrizes propostas no PNT, há a

proposta de diversificação dos segmentos turísticos planejados

e ofertados no país, como complemento ao segmento de sol e de

praia, o qual prevaleceu como única estratégia por muitas

décadas anteriores. O Ministério do Turismo, por meio da

Secretaria de Políticas Públicas de Turismo, instituiu as

Diretrizespara o Desenvolvimento do TurismoRural no Brasil,

6

tendo porobjetivo a “convergência de políticas e ações no

processo de conhecimento e ordenamento do turismorural no

país”. (BRASIL, 2008, p. 4)

Para Barretto (2003), cabe ao Estadoconstruir a

infraestrutura básica e prover uma superestrutura jurídico-

administrativa do turismo (secretarias e similares), cujopapel

é planejar e controlar os investimentosque serão realizados,

e, ainda, permitir que a iniciativaprivada se encarregue de

fornecer os equipamentos e prestar os serviços turísticos.

Segundo Beni, compreende-se por políticas de turismo “o

conjunto de fatores condicionantes e de diretrizes básicas que

expressam os caminhosparaatingir os objetivosglobaispara o

turismo do país”. (2001, p. 99) Todavia, para Dias, “um

aspecto importante a ser considerado na elaboração de

políticas públicas e (ou ‘é’?) a participação da sociedade”.

(2003, p. 123) Ou seja, as diretrizes só terão validade e

serão éticas se tiverem a aprovação representativa da

sociedade.

Por fim, as políticas de turismo devem contemplar a

sustentabilidade e a análise dos efeitos diversos que a

atividade turística pode provocar sobre os lugares que serão

utilizados como destino, incluindo os aspectos econômicos,

sociais, culturais e ambientais. O desenvolvimento

sustentável, para ser alcançado, necessita de planejamento e

do reconhecimento de que os recursos naturais são esgotáveis.

Em muitas situações, o desenvolvimento é confundido com o

crescimento econômico, porém, este último pode se tornar

insustentável e acarretar o esgotamento dos recursos.

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4 Turismo Rural

O turismo rural é um importante segmento, em expansão, no

turismo e na economia. De acordo com as diretrizes para o

desenvolvimento do turismo rural (2003), as principais razões

dessa expansão são porque ele surge como uma opção para os

proprietários rurais diversificarem as fontes de renda e,

também, como uma forma de agregar valor ao produto já

existente na propriedade. Para o turista citadino,é uma

alternativa para vivenciar a natureza, as tradições, os modos

de vida, os costumes e, além disso, conhecer a forma que os

produtos são elaborados pela comunidade local.

O turismo rural também permite o contato direto entre

turistas e produtores, ou seja, aqueles que consomem e os que

produzem, possibilitando melhoria no preço, melhor qualidade

dos produtos ao visitante e maior retorno financeiro ao

produtor.

Nos aspectos sociológicos e psicológicos, infere-se que a

“busca do campo e o retorno às origens constitui um legítimo

anseio da população concentrada em grandes centros urbanos”.

(ALMEIDA; RIEDL, 2000 p. 8)Uma parcela significativa da

população urbana já possui consciência de que o contato com a

natureza, o modo de vida do campoproporcionam a recuperação

das energias necessárias para o funcionamento da vida moderna.

Diante do novo cenário e da demanda crescente, o

desenvolvimento rural já não pode estar alicerçado apenas

sobre as atividades agrárias tradicionais, permanentemente

submetidas ao risco, à incerteza e à exaustão dos fatores de

8

produção. Pisoni da Silva (2008, p. 38) afirma que o turismo

rural é “o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no

meio rural, inter-relacionado com a produção agropecuária,

agregando valor a seus produtos e serviços e, principalmente,

valorizando o modo de vida rural”.

As diretrizes para o desenvolvimento do turismo rural no

Brasil (2003, p. 2) reconhecem a importância do turismo rural

quando assinala que:

em razão do caráter dinâmico da atividade turística,somado à necessidade de promoção do desenvolvimento,surgem novos segmentos turísticos, dentre os quais vemdespontando, de forma promissora e com incontestávelpotencial em nosso país, o Turismo Rural. É relevante onúmero de propriedades rurais que estão incorporandoatividades turísticas em suas rotinas. Percebe-se que sefazem necessárias a estruturação e a caracterização doturismo desenvolvido nessas propriedades para que essatendência não ocorra desordenadamente. Só assim oTurismo Rural poderá consolidar-se como uma opção delazer para o turista e uma importante e viáveloportunidade de renda para o empreendedor rural.

Zimmermann; Castro (1996) elencaram alguns princípios para

o turismo rural. Para esses autores, em primeiro lugar, essa

atividade deve respeitar o meio ambiente como um todo: a

paisagem, a cultura étnica, as atividades produtivas

desenvolvidas e a arquitetura local; também sendo necessário

que a atividade turística respeite a vocação do local, que

deve ser oferecido na maneira mais natural possível. Em

segundo lugar, o ambiente deve ser cuidado como um todo,

devendo haver um equilíbrio harmônico entre a arquitetura

existente e as alterações necessárias. O terceiro aspecto diz

9

respeito à valorização da cultura local, propiciando aos

visitantes conhecimento sobre a mesma, a fim de que possam

vivenciá-la, seja na gastronomia, no artesanato, na

arquitetura, nas apresentações de grupos folclóricos, na

música, entre outros.

Para que o turismo rural se desenvolva, é preciso

planejar, tendo como meta indiscutível a criação de benefício

socioeconômico para a sociedade e, ao mesmo tempo, a

manutenção da sustentabilidade do setor turístico, através da

conservação do meio ambiente e da cultura local.

5 Agricultura Familiar e Agroindústrias

No cenário acadêmico brasileiro, a questão da temática da

agricultura familiar, segundo Martin (apud PICOLOTTO, 2006, p.

97), “era discutida desde o final dos anos 80”. E, também, é

caracterizada pelo trabalho familiar, ou seja, basicamente são

os próprios componentes da família que desenvolvem todo o

processo, desde a produção até a comercialização. Portanto,

toda a estrutura produtiva da agricultura familiar associa o

aspecto família com a produção e o trabalho, o que gera as

formas como ela age nos fatores econômico e social. Nessa

perspectiva, Wanderley (apud PICOLOTTO, 2006, p. 97) diz que:

“A agricultura familiar deve ser entendida como aquela em que

a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de

produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo”.

Por muito tempo, a agricultura patronal prevaleceu sobre a

agricultura familiar, e as políticas eram definidas em função

da primeira. Na última década do século XX, o Brasil, ao

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redefinir as políticas agrícolas, passa a enfatizar, também, a

agricultura familiar, pressionado pela dívida social e pelo

necessário cuidado com o meio ambiente. Nesse contexto, Zago

(2002, p. 23) afirma que:

No Brasil [...] houve um fortalecimento da agriculturapatronal. Por muitos anos grandes fazendeiros foram osreais definidores das políticas agrícolas no país;somente agora com um século de atraso, a agriculturafamiliar começa a entrar na agenda política do país,mais fazendo resgate da dívida social do que acreditandona agricultura familiar para o desenvolvimento, ao mesmotempo que, estão atentos a uma pressão internacionalrelacionada com a qualidade e o cuidado com o meioambiente.

Através dessas considerações, pode-se afirmar que, no

Brasil, a agricultura familiar tem demonstrado vantagem com

relação à patrimonial, pois não se prende à venda específica

de apenas uma produção e, sim, a uma diversificação dos

produtos oferecidos ao mercado. Outro fator considerável é a

preservação ambiental, uma vez que a terra é um patrimônio que

será deixado aos filhos, proporcionando, assim, maiores

cuidados com o ambiente.

A estrutura social do meio rural brasileiro é heterogênea,

decorrente do processo histórico que ordenou a sua formação.

Sobre isso, Maluf (apud DIESEL et al., 2008, p. 3) defende:

Que políticas públicas em favor do fortalecimento decircuitos locais e regionais de produção, distribuição econsumo poderiam agregar valor às matérias-primasproduzidas na agricultura familiar e assim constituir umeixo estratégico de desenvolvimento, favorecendoprogramas de implantação de agroindústrias familiares.Em áreas de origem colonial há oportunidade de “centrar”

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uma política de desenvolvimento sobre as agroindústriasfamiliares como espaço de produção diferenciada,atendendo as crescentes demandas sobre os produtos“coloniais”, “artesanais” ou “naturais”.

A pequena propriedade é caracterizada pela diversificação

de seus produtos e pela produção agroindustrial desenvolvida

em pequena escala.

Uma estratégia de desenvolvimento da agricultura familiar

é evitar a perda do caráter artesanal de produção, pois é

principalmente o produto diferenciado que pode desenvolver o

turismo. Conforme Silveira; Heinz (2008), quando se fala na

forma artesanal de produzir, é necessário ressaltar que esse

processo significa uma arte e não simplesmente uma técnica. O

diferencial do produto artesanal é a maneira de produção

específica que cada produtor rural possui, o que proporciona a

exclusividade de cada produto, diversamente do que acontece na

produção industrial, em que ocorre a padronização dos produtos

e das técnicas utilizadas.

O desenvolvimento da agricultura familiar pode ser

impulsionado pelo turismo rural e pelas agroindústrias, os

quais valorizam os recursos naturais, as riquezas étnicas e

culturais e as potencialidades locais, além de influenciarem

fortemente a geração de trabalho e de rendas.

A tendência é que aumente cada vez mais o número depropriedades rurais com algum membro da famíliaempregado em atividade não agrícola ou se dedicando boaparte em uma atividade não agrícola, como o turismo, oartesanato, a prestação de serviços. Essa pluralidadeviabiliza e mantém a população no campo e protagonizapara aumentar a renda agrícola. (SCHNEIDER, 2009, p.186)

12

Para os agricultores, a produção na agroindústria não é

uma novidade, pois constitui parte da sua história e da sua

cultura, bem como pertence ao mercado local, na produção em

menor escala. Segundo Mior (apud DIESEL, 2008, p. 2), “a

agroindústria familiar rural é uma forma de organização em que

a família rural produz, processa e/ou transforma parte de sua

produção agrícola e/ou pecuária, visando, sobretudo, à

produção de valor de troca que se realiza na comercialização”.

As agroindústrias surgem como uma forma de incrementar a

renda familiar dos indivíduos que residem em áreas rurais.

Para muitos proprietários, as atividades turísticas, incluindo

as agroindústrias, oferecem oportunidades de aumento de renda

e de postos de trabalho e, além disso, promovem a valorização

do campo, através do uso dos recursos humanos e culturais e

das potencialidades ali existentes.

As agroindústrias constituem, então, uma alternativa para

os pequenos produtores, e muitas delas fazem parte da tradição

das famílias. De acordo com Diesel et al. (2008, p. 9):Alguns autores pensam que, por si, a produçãoagroindustrial “colonial”, já tem conquistado um mercadosignificativo junto aos consumidores (passando a imagemde produtos naturais, sem conservantes, ou seja, desaúde) e que não precisa de outro tipo de expansão nessesegmento. Ou seja, entendem que as pequenasagroindústrias coloniais não teriam dificuldades de seconsolidar. Outros autores entendem que a formação deuma agroindústria implica ter que enfrentar as grandesempresas que têm uma escala de produção milhares devezes maior e que o sistema legal sempre tende abeneficiar esse tipo de empresas. Por outro lado, aagroindustrialização implica uma especialização relativa(e consequentemente maiores riscos) para sistemas deprodução atualmente diversificados. Ou seja, énecessário reconhecer que os altos investimentos

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propostos representam aos agricultores familiares em seuprojeto de implantação de agroindústrias familiares, umconjunto de fatores que desagregam seu sistema deprodução.

Há, portanto, a necessidade de uma política pública que

estimule e viabilize a inserção das indústrias agrícolas no

mercado, pois o turismo rural e a agricultura familiar,

através do desenvolvimento das agroindústrias, estabelecem uma

sinergia muito intensa, uma vez que o produto artesanal agrega

valor ao turismo local. Sendo assim, as indústrias agrícolas

são capazes de oferecer produtos diferenciados dos da grande

indústria.

6 Resultadose Discussões

6.1. As agroindústrias em São João do Polêsine e Silveira

Martins

O turismo rural em pequenas propriedades inscreve-se

dentro das possibilidades de expansão econômica, social,

cultural e psicológica das comunidades locais, que contam, em

geral, com excedentes de tempo e diversidades de produtos

agroindustriais. Desse modo, relacionado ao desencadeamento do

turismo na Quarta Colônia de Imigração Italiana, surgem as

agroindústrias de produtos diversificados, mas atrelados à

cultura e ao saber-fazer já existente nas propriedades rurais.

Conforme a Tabela 1 observa-se que a maioria das

agroindústrias surgiu na década de 1990 e a partir do ano

2000. Portanto, são atividades que já são conhecidas e que

atribuem uma identidade aos municípios.

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Tabela 1: Período de início das agroindústrias.

Empreendimento Início das atividades MunicípioLoro Produtos Coloniais 1993 Silveira MartinsAgroindústria PileccoDotto

1995 São João do Polêsine

Agroindústria Pivetta 1996 São João do PolêsineCantina Visentini 1998 Silveira MartinsAgroindústria Michelin 1998 Silveira MartinsGiacomini ProdutosColoniais

1998 São João do Polêsine

Agroindústria Massas doVale

2000 Silveira Martins

Cantina Torri 2003 Silveira MartinsLaticínios Nilma 2005 Silveira MartinsAgroindústria Moro 2007 Silveira MartinsDelícias da Terra 2007 São João do PolêsineCantina Salla Não soube informar Silveira MartinsFonte: Pesquisa de campo.

Além do fator financeiro, as agroindústrias proporcionam

oportunidades de postos de trabalho e, também, valorizam o

campo com a utilização dos recursos humanos e culturais e suas

potencialidades.

A partir da perspectiva de buscar novas oportunidades no

campo, é preciso sublinhar o papel desempenhado por

associações que tornaram possível a formação de uma

“mentalidade coletiva”. A Associação Rio-grandense de

Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural

(EMATER) (essa é a definição de EMATER??) teve uma

participação importante na criação de algumas agroindústrias

de Silveira Martins e São João do Polêsine, como é o caso da

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Agroindústria Moro, cujo espaço onde está localizada era uma

casa antiga e, segundo a entrevistada,

Fui ver para fazer o Pronaf e não tinha ideia deconstruir a agroindústria, então a EMATER me disse: porque você não faz para uma agroindústria? Assim fiz,primeiro com o incentivo da EMATER e depois dasecretaria [...], para o festival da uva inauguramos[...], colocamos a réplica do moinho que ainda fabricacachaça e farinha que utilizo na produção dos produtosque vendo aqui.

Fato semelhante aconteceu com a Agroindústria de Massas do

Vale, também no município de Silveira Martins, pois o

incentivo da EMATER proporcionou o surgimento desse

empreendimento. A entrevistada afirma que:

A ideia nossa foi lá no fundo de quintal da casa do tio,um dia falamos assim, vamos começar fazer alguma coisa,conversamos numa reunião com a EMATER, ela disse olhaque bom que vocês fizessem, então começamos, pensa bemnós não tínhamos nada [...], a minha tia tinha umagaragem enorme lá atrás, pensamos quem sabe começamosaqui, mas sem freezer, sem máquina sem nada [...].

Portanto, as informações indicam que as agroindústrias em

Silveira Martins e São João do Polêsine constituem uma fonte

de renda e trabalho para pequenos agricultores/proprietários

desses municípios. Muitos iniciaram as suas atividades sem

orientação específica, mas com apoio do PRONAF (Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e com

sugestões da EMATER. No entanto, a principal alavanca foi por

iniciativa própria, ou seja, a partir do conhecimento

empírico, experimentar e observar os resultados.

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6.2. Produtos comercializados e oferta agregada

A atividade agroindustrial caseira é parte integrante do

cotidiano dos agricultores familiares, principalmente em

regiões coloniais, e compreende todos os produtos

agropecuários beneficiados, como os derivados do leite e da

carne, além das compotas, doces de frutas e produtos feitos

com farinha, como massas, pães, bolachas, entre outros. A

Tabela 2 apresenta os produtos elaborados pelas agroindústrias

pesquisadas nos dois municípios:

Tabela 2: Produtos comercializados pelas agroindústriasEmpreendimento Farináce

osEmbutido

sOutros

Agroindústria Massasdo Vale

X

Agroindústria Michelin

X

Agroindústria Moro X X LicoresAgroindústria Pilecco Dotto

X X Geleias e chimia

Agroindústria Pivetta

X

Cantina Salla Vinho, uva in natura,mel, suco e geleia deuva, vinagre

Cantina Torri Vinho, uva in natura,suco de uva

Cantina Visentini Uva in natura, licores,vinho, suco e geleiade uva, vinagre

Delícias da Terra Produtos com banana efrutas tropicais

Giacomini Produtos Coloniais

X X

Laticínios Nilma Três tipos de queijo,ricota e doce de leite

Loro Produtos Coloniais

X X

Fonte: Pesquisa de campo.

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Conforme observado na Tabela 2, a maioria das

agroindústrias comercializa produtos da mesma linha, como

farináceos e embutidos. Porém, algumas se diferem, como, por

exemplo, com a venda da uva in natura, com a produção de vinho e

sucos. Outras duas que fogem à regra são a Laticínios Nilma,

com a produção de queijo, ricota e doce de leite, e a

Agroindústria Delícias da Terra, que utiliza banana orgânica e

frutas tropicais na fabricação dos produtos.

Em ambos os municípios, principalmente nas agroindústrias

que trabalham com farináceos, não há um produto considerado

como diferencial, e a oferta é semelhante, sem que um seja

característica específica de algum estabelecimento. As

agroindústrias estão presentes no turismo rural da Quarta

Colônia e, também, elas estão inseridas em diversos roteiros.

No entanto, a sua exploração tem sido feita de forma

questionável, ou seja, os mesmos produtos agroindustriais

estão expostos à venda em mais de um estabelecimento, sem

apresentarem um diferencial.

Os visitantes buscam, além dos produtos comercializados, a

história do local, o ambiente, elementos diferentes

específicos daquele lugar. Por isso, é necessário trabalhar o

ambiente das agroindústrias, a criação de atrações para o

visitante, turista ou população local. Esse objetivo pode ser

alcançado com a valorização da história da família,

acompanhamento das formas de produção, através da recuperação

do caráter artesanal e histórico do produto agroindustrial,

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exploração do cenário rural, a fim de constituir um

diferencial e uma imagem identitária específica de cada uma.

A imagem construída para a venda conjunta do turismo na

Quarta Colônia de Imigração Italiana está definida na produção

familiar e na cultura de influência italiana. Essa imagem, no

entanto, poderia ser reforçada por: a) uma política conjunta e

com a participação colaborativa de todos ou parte dos

envolvidos na configuração desta imagem (atores diretos no

destino como os proprietários das agroindústrias e das

propriedades rurais), na seleção de atributos, na conjunção de

produtos em suas referências físicas e emocionais sobre a

identidade do destino; b) uma seleção relativamente

interessada, realizada em torno dos produtos e atividades

disponíveis na área, agrupados por blocos temáticos ou

subáreas territoriais; e c) uma indicação específica e

diferenciada de um produto ou de uma atividade em cada

agroindústria ou propriedade. O exemplo disso são as

agroindústrias Moro e Loro Produtos Coloniais, as únicas que

disponibilizam um atrativo diferenciado ao visitante, além da

venda de produtos.

A primeira possui o “Moinho Moro”, que remete à forma de

fabricação da cachaça dos antepassados, e a segunda

disponibiliza um café colonial que surgiu como forma de

agregar valor ao produto que já era vendido na agroindústria,

ou seja, oferece aos turistas e à população local diversas

opções de bolos, pães, salames, queijos, bolachas, entre

outros. Em ambos, é necessário reservar com antecedência.

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Outra estratégia interessante é criar nichos gastronômicos

ou roteiros especializados para grupos específicos, como, por

exemplo, para turistas da terceira idade. Nesse aspecto, a

responsável pela agroindústria Delícias da Terra afirma que

sempre recebe excursões:

Eu faço uma degustação, um coquetelzinho. Geralmente osgrupos me avisam [...], a terceira idade quando está poraqui sempre me visita, preparo suco ou chá e procuroreceber a todos muito bem, graças a Deus, explico sobrea banana, a sua importância na alimentação, desde ascrianças até os idosos, que doenças hoje estão sendotratadas com a banana.

Contribui para essa estratégiaa criação de ambientes

lúdicos diferenciados nos estabelecimentos ou em torno deles,

com o intuito de fazer com que os visitantes queiram conhecer

mais de uma das agroindústrias durante o passeio.

6.3 As maneiras de saber-fazer os produtos

Segundo Silveira; Heinz (2008), quando se fala na forma

artesanal de produzir, é necessário ressaltar que esse

processo significa uma arte e não simplesmente uma técnica. O

diferencial do produto artesanal é a maneira de produção

específica que cada produtor rural possui, o que proporciona a

exclusividade de cada produto, diferentemente do que acontece

na produção industrial, em que ocorre a padronização dos

produtos e das técnicas utilizadas. Essa especificidade é um

fator de atratividade para os turistas, uma vez que as

agroindústrias agregam valor ao turismo rural da região.

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Nos municípios de Silveira Martins e São João do Polêsine,

existe uma cultura italiana muito forte, a produção

agroindustrial faz parte do modo de vida local. Essa questão

cultural se materializa com a venda de produtos considerados

típicos de uma cultura, em que muitos utilizam técnicas de

produção aprendidas com os antepassados.

A entrevistada da Cantina Visentini responde: “O jeito de

fazer veio da tradição da família, o pai aprendeu com o avô e

veio vindo! Lá da Itália”. Observe, também, a resposta da

entrevistada na Agroindústria Michelin:

[...] Isso é coisa que eu aprendi ainda com a minha mãe,quando era solteira, até fizemos uns cursos, mas não foipara aprender, são aqueles de qualidade no atendimentoturístico e para manipular os alimentos [...]. Utilizoreceitas da minha mãe, tudo o que eu faço eu aprendi comela.

Embora a maioria dos empreendimentos ainda use formas de

produção aprendidas com seus pais e avós, ou seja, com seus

antepassados, há aqueles que aprenderam a fabricar seus

produtos através de cursos. Como exemplo disso, podemos citar

o LaticíniosNilma, em que a entrevistada lembra: “O marido fez

um curso em São Vicente [...]. O que produzimos foi o que ele

aprendeu lá”.

Portanto, pode-se concluir que a maioria das

agroindústrias ainda utiliza alguma forma ou método de

produção aprendidos com familiares de origem italiana. Embora

não originais, tais alterações devem seguir as exigências

legais para melhor apresentação e paladar dos produtos,

aspectos importantes, pois, com isso, tornam-se ainda mais

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atrativos aos turistas que buscam, nessa região, o retorno às

suas raízes ou até mesmo apreciarem produtos dessa cultura.

6.4 As agroindústrias e o governo municipal

De acordo com os pressupostos teóricos, as agroindústrias

possuem muitas potencialidades, mas também limites, ficando

claro que há necessidade de uma política pública que fomente e

viabilize sua inserção no mercado. Os gestores públicos

municipais devem auxiliar esses estabelecimentos a explorar as

possibilidades de desenvolvimento, uma vez que a maioria dos

proprietários não sabe como proceder para que o seu

empreendimento agregue valor a um produto turístico.

Os proprietários das agroindústrias entrevistados

mencionaram que o principal auxílio oferecido pelo governo

municipal foram os cursos de capacitação, além do material de

divulgação. O responsável pela Agroindústria Loro diz:

A Secretaria de Turismo dá um apoio muito bom, hoje nãomais tanto, mas em anos atrás auxiliou bastante comcursos, material de propaganda, também eles aparecemsempre para ver como estamos! Ofereceram todos os cursosdo SENAI, SENAC, SENAR, gestão de cozinha rural,marketing para restaurantes, fiz tantos que agora nemlembro todos.

A proprietária da Cantina Visentini também cita a

importância da EMATER e ressalta que ela oferece assistência

técnica sempre que necessitam, auxiliando com propagandas,

organização e incentivos nos eventos promovidos. Nesse mesmo

aspecto, a entrevistada afirma ainda que a prefeitura promove

22

o Festival da Uva e das Águas, que atrai muitas pessoas e

ajuda melhorando o acesso.

Na Cantina Torri, o responsável destaca que os órgãos

públicos – a Prefeitura Municipal e a EMATER – oferecem

oportunidades de capacitação para o setor das agroindústrias.

No entanto, infere que falta interesse dos proprietários das

agroindústrias, pois eles não participam dos cursos

oferecidos, até mesmo daqueles gratuitos: “Aqui na nossa

propriedade em Val Veltrina, eles apoiaram bastante o turismo,

incentivam, o pessoal dá muito para trás, mas com o tempo vai

indo. A prefeitura investiu bem nessa área com cursos do

SENAC.Na Festa da Uva eles apoiam bastante”.

Na agroindústria Delícias da Terra, a entrevistada fala da

necessidade de se ter um profissional com conhecimento técnico

ou acadêmico sobre turismo frente a esse processo de

desenvolvimento das agroindústrias na Quarta Colônia de

Imigração Italiana, e diz: “Em termos financeiros e de apoio

material não, a única coisa que o poder público fez foi abrir

um espaço na Expocolônia no estande da prefeitura para expor

meus produtos sem custos, e a prefeita leva sempre os

presentes daqui para Brasília. Então,é uma forma de valorizar

o trabalho que está sendo realizado [...]”.

Portanto, percebe-se, por meio dos discursos dos

entrevistados, que o poder público está presente nos

interesses e nas motivações existentes dos entrevistados.

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6.5 Principais roteiros turísticos institucionais

Em São João do Polêsine, não há uma secretaria específica

para o Turismo, as ações para o desenvolvimento desse setor

partem da Secretaria de Agricultura. A entrevista foi

realizada com o secretário dessa área e com a agrônoma. Já em

Silveira Martins, o entrevistado foi o secretário de Turismo.

No decorrer das respostas, revelaram-se as estratégias e ações

que cada município está realizando em prol do desenvolvimento

do setor turístico e, também, os incentivos oferecidos às

agroindústrias.

Com relação aos principais roteiros desenvolvidos, o

secretário de Agricultura de São João do Polêsine afirma:

Tem aquela agência ali de Polêsine, quando faz excursõessempre passa por aqui, que funciona assim: pelo quetenho conhecimento, cada excursão tem um direcionamento[...], dependendo do que pedem, ela monta a rota dentroda Quarta Colônia, artesanato e agroindústrias sempresão incluídos, dependendo do rumo da excursão, optam poruma ou outra agroindústria [...].

O secretário de Turismo de Silveira Martins relata a

importância da Rota Turística e Gastronômica Santa Maria e

Silveira Martins e as dificuldades encontradas ao trabalhar

com as agroindústrias:

O mais importante é a Rota Turística e GastronômicaSanta Maria e Silveira e através desse projeto nósmontamos a primeira associação Rota Gastronômica queestá crescendo bastante, é um trabalho em conjunto, comparceria das duas prefeituras de Santa Maria e Silveira.A participação das agroindústrias é boa, eles são umpouco resistentes porque é uma novidade e como envolvedinheiro, mensalidades, existe muita insegurança [...],acham que não vale a pena, mas estão cedendo aos poucos,estamos mostrando que é um trabalho sério e vai trazer

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resultados, que já está trazendo recursos para eles,porque final de semana essa rota é o trajeto SantaMaria, Silveira. Então,todo mundo acaba que passa porali e consome os produtos, o pessoal já está ganhandodinheiro, faltava visibilidade que nós estamos dando.Outro roteiro formatado não tem, mas anunciamos asagroindústrias através dos folders [...].

Em ambos os municípios, não existe uma média mensal de

turistas que cada um recebe. O secretário de Agricultura de

São João do Polêsine diz que “muitas excursões não passam por

nós [...], giram pela Quarta Colônia e normalmente quando vão

embora, fazem a compra dos produtos [...]”.

A agrônoma complementa também que o itinerário da visita,

muitas vezes, “depende do motorista e do guia, eles direcionam

para onde vão [...], até acho que isso é um pouco negativo,

pois acaba excluindo algumas agroindústrias”.

Com relação a essa média de visitantes, o secretário de

Turismo de Silveira Martins afirma que “nunca conseguimos

registrar, mas tem bastante gente, muito mais do que quando

nós começamos [...], fizemos um mailing list de pessoas que vêm

visitar e estamos sempre mandando as programações, isso é um

trabalho muito bom [...]”.

Em São João do Polêsine, a agrônoma diz que o município

recebe muitas excursões com guias locais ou de Santa Maria,

mas também recebe muitas famílias nos finais de semana que vêm

passear com seu próprio automóvel.

Já em Silveira Martins, o principal roteiro desenvolvido é

a Rota Turística e Gastronômica que, além desse município,

contempla também Santa Maria, cujo folder mostra o itinerário

a ser seguido, bem como a indicação dos atrativos que o

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compõem. Embora ainda com alguns problemas de sinalização, já

é muito conhecido graças ao trabalho de divulgação feito em

parceria entre esses dois municípios.

6.6 Desenvolvimento do turismo rural e incentivos para as

agroindústrias

Referente ao desenvolvimento do turismo rural e aos

incentivos oferecidos às agroindústrias em São João do

Polêsine, o secretário da Agricultura relata:

Aqui foi feito primeiro um levantamento geral do que temno município, das potencialidades, das belezas naturais,das agroindústrias, tudo o que estava começando, muitasaconteceram no período que o SEBRAE estava trabalhando,porque a fabricação era caseira, de fundo de quintal,mas que já tinham certo comércio e certa qualidade.Então, trabalhamos para melhorá-la.Em cima disso optamospor cursos de atendimento para aqueles que tinhamdificuldade em receber o turista, as boas práticas defabricação, a parte da fabricação de geleias, conservas,embutidos, enfim, vários cursos[...].Com base nolevantamento, fomos vendo o que cada agroindústriapoderia melhorar, eu acho que tem muita coisa a sertrabalhada e como agora nós estamos sem o trabalho doSEBRAE [...], começamos com a ACISA, ela está fazendomuitos cursos nessa parte[...].Uma coisa que deu umsalto na gastronomia foi a amostra gastronômica, isso euacho que para crescer, é preciso aprender a trabalharjunto, com o município inteiro porque não vem umaexcursão para ver uma única coisa [...].

Nesse mesmo contexto, o secretário de Turismo de Silveira

Martins diz:

[...] aqui o que mais acontece são trilhas. [...]Outracoisa que eu falo para eles é que a única saída para omunicípio é o turismo, eles não entendem isso, porque apropriedade rural, além de ser pequena, ela tem umlimite imposto pela própria natureza, então se vocêplanta aqui, ali você já não planta porque tem pedra.

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[...]O potencial da propriedade já foi explorado, pormais que você use insumos e estimule, ela não vaiadiante, então é preciso encontrar novas maneiras degerar renda.Qual é a alternativa, por exemplo?Fortalecer essa rota turística e gastronômica, criardentro da propriedade produção de produtos para altagastronomia, por exemplo, cogumelos.

O entrevistado ainda relata a importância das parcerias,

principalmente com a EMATER, como isso se organiza e ainda há

a preocupação com a questão social, proporcionando, também,

acesso à população mais carente aos cursos, oferecendo-lhe

capacitação profissional:

Nós tínhamos essa parceria com o SEBRAE e por ordens derecursos não aconteceu mais, mas trabalhamos muito com aEMATER, que tem sido uma excelente parceira conosco.Organizamos, por exemplo, concursos gastronômicos, teveum sobre pratos salgados e doces de batata [...]. Oscursos da EMATER,em sua maioria, são na área daculinária. [...]No ano passado, nós fizemos o primeiroFestival da Primavera de Artes Visuais e ArtesCênicas.Trouxemos um grupo daqui da universidade quetrabalha com artesanato, com identidade para buscaralguma coisa no município.Então,nós envolvemos acomunidade, especialmente a carente, porque tem umafaixa que acha que não precisa disso, então é mais fáciltrabalhar com os pobres e eles estão ganhando com oturista, eles estão vendendo xale, echarpe, coisasassim. E este da batata deu certo também porque muitagente começou a produzir para vender a partir doconcurso [...].

Portanto, observa-se que o desenvolvimento do turismo

rural nos municípios de Silveira Martins e São João do

Polêsine se dá basicamente através de parcerias, primeiramente

com o SEBRAE, com a EMATER, no primeiro município, e com a

ACISA, no segundo, através da oferta de diversos cursos,

incluindo, também, a comunidade carente. Os incentivos dados

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aos proprietários das agroindústrias beneficiam direta e

indiretamente o turista.

7 Considerações finais

Os dados obtidos durante este estudo possibilitaram uma

leitura analítica de algumas das agroindústrias da

microrregião da Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio

Grande do Sul, especificamente nos municípios de Silveira

Martins e de São João do Polêsine, e a contribuição de tais

empreendimentos na composição da oferta do turismo rural da

região.

Percebe-se que a produção associada agrega valor a esse

segmento de turismo rural, no qual a produção e venda dos

produtos coloniais representam uma forma de diversificação ou

criação de renda. As agroindústrias incrementam a renda

familiar dos indivíduos que residem em áreas rurais destes

municípios e também proporcionam oportunidades de trabalho.

A atividade turística contribuiu para impulsionar o

comércio de produtos consumidos que antes eram consumidos

apenas pelas famílias, e que agora são comercializados . As

agroindústrias surgiram por iniciativa dos proprietários, de

forma empírica, na experimentação e observação, sem

acompanhamento e planejamento das atividades. São de pequeno

porte e utilizam mão de obra familiar, embora algumas delas

possuam capacidade de gerar postos de trabalho.

Quanto aos produtos comercializados, os proprietários das

agroindústrias afirmam que quase a sua totalidade sofre

influência da colonização italiana e utiliza “formas de fazer”

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aprendidas com descendentes imigrantes dessa cultura. Apesar

disso, não há resistência à qualificação, uma vez que os

proprietários, em sua maioria, participam de cursos oferecidos

pelo poder púbico municipal, a fim de melhorar cada vez mais

em todos os aspectos o que comercializam. No entanto, as

agroindústrias não possuem um produto característico próprio,

também é preciso aproveitar o entorno desses estabelecimentos,

em um sentido lúdico, ou seja, criar condições para que se

torne conhecido por peculiaridades específicas, por meio da

valorização da história da família, acompanhamento das formas

de produção, explorando o cenário rural.

No campo das políticas e de um planejamento integrado, um

dos grandes problemas é a troca da gestão pública municipal,

e, ainda, se esta for de coligação partidária contrária,

normalmente todas as ações desenvolvidas pela gestão anterior

não têm continuação, tornando o processo de desenvolvimento

inacabado, prejudicando diretamente a comunidade local.

Infere-se que, neste estudo, as agroindústrias constituem

um diferencial na oferta regional e que a sua expansão e

fortalecimento contribuíram e ainda contribuem para o

desenvolvimento do turismo rural dos municípios estudados.

Todavia, precisam de um contínuo fomento de políticas públicas

para o desenvolvimento integrado, refletindo-se na valorização

do ambiente rural.

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