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Relações Sociais e o Serviço Social no Brasil
Iamamotto. Marilda Vilella
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“RELAÇÕES SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL” - ESBOÇO DE
UMA INTERPRETAÇÃO HISTÓRICO-METODOLÓGICA.
Autora: IAMAMOTTO, Marilda Vilella.
São Paulo, Ed. Cortez/Celats
Parte I – Proposta de Interpretação histórico metodológica
Cap. 1 - O Serviço Social no processo de Reprodução das relações sociais
Parte II – Aspectos da história do serviço social no Brasil
Capítulo 1. A questão social nas décadas de 20 e 30 e as bases para a
implantação do serviço social
Cap. 2 - Protoformas do serviço social
Cap. 3 - Instituições assistenciais e serviço social
Cap. 4 - Em busca de atualização.
Parte I – Proposta de interpretação histórico-metodológica.
Capítulo 1 – O Serviço Social no processo de reprodução das relações
Sociais.
A autora ressalta que o Serviço Social é um tipo de especialização do trabalho coletivo,
situado no interior da divisão sócio-técnica do trabalho. É portanto, um elemento que participa
da reprodução das relações sociais (relações de classe) E do relacionamento contraditório
entre as classes fundamentais presentes na realidade social (interesses antagônicos entre o
capital e o trabalho).
A reprodução das relações sociais e conseqüentemente do capitalismo, é reprodução da
totalidade do processo social, a reprodução de um determinado modo de vida que envolve o
cotidiano da vida em sociedade; o modo de viver e trabalhar, de forma socialmente
determinada, dos indivíduos em sociedade.
Marilda chama nossa atenção para o fato de que a totalidade concreta em movimento
encontra-se sempre, em processo de estruturação. A reprodução das realidades sociais atinge
a totalidade da vida cotidiana, expressando-se tanto no trabalho, na família, no lazer, na
escola, no poder, como também na profissão.
Relações Sociais e o Serviço Social no Brasil
Iamamotto. Marilda Vilella
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A profissão Serviço Social é constituída a partir de dois ângulos que estão
imbricados entre si, formando uma unidade contraditória:
como realidade vivida e representada na/e pela consciência de seus agentes
profissionais, expressa pelo discurso teórico-ideológico sobre o exercício profissional;
a atuação profissional como atividade socialmente determinada pelas
circunstâncias sociais objetivas que conferem uma direção social à mesma e que condiciona e
mesmo ultrapassa a vontade e/ou consciência de seus agentes individuais.
Ao ressaltamos apenas um ou outro desses ângulos, a autora afirma que estaremos
acentuando de modo excludente, um pólo do movimento contraditório do concreto, sendo
nesse sentido, análises unilaterais (Serviço Social Conservador/Serviço Social Transformador
são afirmativas mecanicistas e voluntaristas).
SERVIÇO SOCIAL TRANSFORMADOR: Ao superestimar a eficácia política da atividade
profissional, subestimamos o lugar das organizações políticas das classes sociais no processo
de transformação da sociedade, enquanto sujeitos da história; por outro lado parece
desconhecermos a realidade do mercado de trabalho e os objetivos do mandato institucional.
O Serviço Social é necessariamente polarizado pelos interesses de tais classes,
tendendo a ser cooptado por aqueles que tem uma aposição dominante. Reproduza também,
pela mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em tensão responde tanto as
demandas do capital como do trabalho e só pode fortalecer um ou outro pólo pela mediação de
seu oposto.
Iamamotto chama nossa atenção para um aspecto da realidade social que é a
CONTRADIÇÃO; esta é o motor da história e é através da consideração de que as relações
sociais se caracterizam pela contraditoriedade, que podemos apontar que os mecanismo de
dominação e as necessidades da classe trabalhadora são duas faces de uma mesma moeda.
É a partir dessa compreensão que se pode estabelecer uma estratégia profissional e política,
para fortalecer as metas do capital ou do trabalho, mas não se pode exclui-las do contexto da
prática profissional, visto que as classes só existem inter relacionadas. É isso inclusive, que
viabiliza a possibilidade de o profissional colocar-se no horizonte dos interesses das classes
trabalhadoras.
O modo pelo qual a clientela do Serviço Social compreende o mundo e as relações a sua
volta, é condicionado pelo lugar social que ocupam no processo de produção. A individualidade
é tida como expressão/manifestação do seu ser social, de sua vida em sociedade.
Por que surgiu essa profissão?
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O desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais engendradas nesse processo
determinam novas necessidades sociais e novos impasses que passam a exigir profissionais
qualificados para o seu atendimento. A intervenção profissional deveria estar pautada nos
parâmetros de “racionalidade” e “eficiência” inerentes à sociedade capitalista.
É portanto, no contexto do desenvolvimento do capitalismo industrial e da expansão
urbana, que se coloca a necessidade do Serviço Social, enquanto mediador das classes
fundamentais de então; burguesia industrial e proletariado fabril.
A questão social – enquanto manifestação no cotidiano da vida social, da contradição
entre essas classes – servirá como base de justificação para a ação do assistente social, para
além da caridade da repressão.
A pauperização absoluta ou relativa gera o fenômeno do lumpen-proletariado, que não
será mais absorvido pelo mercado de trabalho. A socialização dos custos de reprodução desta
força de trabalho exige a presença do Estado no que se refere a constituição de políticas
sociais.
A autora volta a sinalizar que o Serviço Social não tem um caráter de autonomia: não se
pode pensar à profissão no processo de reprodução das relações sociais independente das
organizações institucionais a que se vincula, como se a atividade profissional se encerra em si
mesma e seus efeitos sociais derivassem, exclusivamente, da atuação profissional.
No processo de constituição de sua hegemonia, o Estado não pode desconsiderar por
completo as necessidades/interesses das classes dominadas, como condição mesma de sua
legitimação; a incorporação destas necessidades se dá de forma subordinada, não afetando os
interesses da classe capitalista como um todo.
No ingresso do Serviço Social como profissão, uma das pré-condições é a transformação
de sua força de trabalho em mercadoria e de seu trabalho em atividade subordinada à classe
capitalista. A mesma lógica que preside o trabalho da classe trabalhadora, também preside a
intervenção do Serviço Social.
O Serviço Social não se afirma no mercado como profissional liberal por não dispor de
condições objetivas para esta realização, ele necessita das políticas sociais, de cunho público
ou privado para o exercício profissional se concretizar.
A autora sublinha que o Serviço Social não é função diretamente produtiva, ele participa,
ao lado de outras profissões, da tarefa de implementação de condições necessárias ao
processo de reprodução no seu conjunto, integrada como está a divisão sócio-técnica do
trabalho.
A produção e reprodução capitalista inclui, também, uma gama de atividades, que não
sendo diretamente produtivas, são indispensáveis ou facilitadoras do movimento do capital.
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Embora não sejam geradoras de valor, tornam mais eficiente o trabalho produtivo, reduzem o
limite negativo colocado à valorização do capital, não deixando de ser para ele uma fonte de
lucro.
Marilda situa o Assistente Social na sua condição de intelectual; para tanto se utiliza de
Gramsci para subsidiar sua análise. Cada classe possui seus próprios intelectuais, que tem o
papel de contribuir na luta pela direção sócio-cultural destas classes na sociedade. O
intelectual é o organizador, dirigente e técnico que coloca sua capacidade a serviço da criação
de condições favoráveis à organização da própria classe a que se encontra vinculado.
O Assistente Social na sua qualidade de intelectual, tem como instrumento de trabalho a
linguagem; historicamente, não constitui atividade proeminente para essa categoria profissional
a produção de conhecimento científico. O Serviço Social emerge e se afirma em sua evolução
como uma categoria voltada para a intervenção na sociedade. Marilda sublinha que a cisão
entre trabalho intelectual e manual, que se desenvolve à medida que se aprofunda o
capitalismo.
O SIGNIFICADO DOS SERVIÇOS SOCIAIS
A expansão dos Serviços Sociais, no século XX, está ligada ao desenvolvimento da
noção de CIDADANIA; a luta pelos direitos sociais é perpassada pela luta contra o estigma do
assistencialismo, presente até os nossos dias.
Os Serviços Sociais nada mais são na sua realidade substancial, do que uma forma
transfigurada de parcela do valor criado pelos trabalhadores e apropriado pelos capitalistas e
pelo Estado, que é desenvolvido a toda a sociedade sob a forma de serviços sociais; assim,
aparecem como BENEFÍCIO, expressão humanitária do Estado e/ou da empresa privada.
A generalização dos Serviços Sociais é expressão da vitória da classe operária na luta
pelo reconhecimento de sua cidadania na sociedade burguesa.
O que é direito do trabalhador, reconhecido pelo próprio capital, é manipulado de tal
forma, que se retorna um meio de esforço de visão paternalista do Estado, que recupera nesse
processo o coronelismo presente na história política brasileira, agora instaurado no próprio
aparelho do Estado.
RELAÇÕES SOCIAIS E O SERVIÇO SOCIAL
Considerando a contraditoriedade presente nas relações sociais, Marilda ressalta a
necessidade de uma reflexão sobre o caráter político da prática profissional; essa reflexão é
condição para o estabelecimento de uma estratégia teórico-prática que possibilite, dentro de
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uma perspectiva histórica, a alteração do caráter de classe da legitimidade desse exercício
profissional.
Os múltiplos e complexos problemas com as quais se depara a classe trabalhadora –
fome, desemprego, miséria, doença – são expressão de questão social que por seu turno,
corresponde as desigualdades oriundas de lógica capitalista de produção/reprodução das
mercadorias.
No entanto, as políticas sociais são constituídas a partir de dimensões particulares e
particularizadas da situação de vida dos trabalhadores: saúde, educação, habitação,
alimentação, etc. Dessa forma, a fragmentação não permite ao trabalhador a aquisição de uma
consciência mais coletiva sobre seus problemas.
Na linguagem do poder, os “benefícios” sociais são algumas vezes denominado “salário
indireto”, já que são encarados como uma “complementação salarial” preferível (para os
patrões, é claro!) à elevação real dos salários, à proporção que podem ser descontados total
ou parcialmente dos “beneficiários” ou de impostos governamentais. Os Serviços Sociais
tornam-se, portanto, um meio de reduzir os custos de reprodução da força de trabalho.
A rede de Serviços Sociais viabiliza ao capital uma ampliação de seu campo de
investimentos, subordinando a satisfação das necessidades humanas às necessidades de
reprodução ampliada do capital.
A pauperização acentuada determina um ambiente fértil à demergência de utopias, de
inconformismos que são potencialmente ameaçadores à ordem vigente. Controlar e prever as
ameaças têm sido uma estratégia política do poder. (como o empobrecimento generalizado
não tem solução nos marcos do capitalismo, o que o Estado faz é administrar e controlar a
situação de descontentamento).
Os Serviços Sociais têm significados diferentes a partir da lógica de constituição das
classes; para os capitalistas, representa um caráter complementar à reprodução da força de
trabalho a menor custo; do ponto de vista dos representantes do trabalho, os Serviços Sociais
respondem às necessidades legítimas, à medida que são, muitas vezes, temas de lutas
político-reinvindicatórias da classe trabalhadora, no empenho de terem seus direitos sociais
reconhecidos, como estratégia de defesa de sua própria sobrevivência.
SERVIÇO SOCIAL E REPRODUÇÃO DE CONTROLE E DA IDEOLOGIA DOMINANTE
A autora sublinha que não é para subestimarmos a importância e a força desta profissão,
pois ela é um instrumento auxiliar e subsidiário, ao lado de outros de maior eficácia política e
mais ampla abrangência, na concretização do objeto sinalizado acima.
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Utilizando-se da reflexão tecida por José de Souza Martins, a autora sublinha que, o
modo capitalista de produzir supõe um modo capitalista de pensar, ou seja, não é a forma
como pensa o capitalista, mas antes de tudo, a forma necessária de toda a sociedade pensar e
agir, fundamental à reelaboração das bases de sustentação – ideológicas e sociais – do
capitalismo.
Portanto, o controle social não se reduz ao controle governamental e institucional; é
exercido, também, através de relações diretas, expressando o poder de influência de
determinados agentes sociais sobre o cotidiano de vida dos indivíduos, reforçando a
internalização de normas e comportamentos legitimados socialmente. Entre esses agentes
institucionais encontra-se o profissional do Serviço Social. Importante ressaltar que a ideologia
dominante é um meio de obtenção do consentimento dos dominados e oprimidos socialmente,
adaptando os à ordem vigente. Em outros termos: a difusão e reprodução da ideologia
dominante é uma das formas de exercício do controle social.
Há possibilidades de, no espaço da prática profissional, construir-se outras formas de
pensar e agir?
Marilda ressalta que a linguagem é o meio privilegiado através do qual se efetiva a
peculiar ação persuasiva ou de controle por esse profissional. Trata-se de uma ação global de
cunho sócio-educativo ou socializadora, voltada para mudanças na maneira de ser, de sentir,
de ver e agir dos indivíduos, que busca a adesão dos sujeitos não sendo, no interior da
categoria profissional, uniforme e unívoco o direcionamento dessa ação, ele tem sido
orientado, predominantemente, por uma perspectiva de integração à sociedade.
A autora nos alerta que a compreensão do cotidiano não se reduz aos aspectos mais
aparentes, triviais e rotineiros; se eles são parte da vida em sociedade, não a esgotam. O
cotidiano é expressão de um modo de vida, historicamente circunscrito, onde se verifica não só
a reprodução de suas bases, mas onde são, também gestados, os fundamentos de uma
prática inovadora.
Assim, o cotidiano não está apenas mergulhado no falso, mas referido ao possível. A
descoberta do cotidiano é descoberta das possibilidades de transformação da realidade. Por
isso, a reflexão sobre o cotidiano acaba sendo crítica e comprometida com o possível. O
cotidiano é o “solo” da produção e reprodução das relações sociais.
O acesso que temos as histórias de vida dos sujeitos, muitas vezes se caracteriza por ser
uma “invasão” de privacidade da “clientela”; situa-se aqui, a importância do compromisso social
do profissional, orientado no sentido de solidarizar-se como o projeto de vida do trabalhador ou
de usar esse acesso para objetivos que lhes são estranhos.
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Importante considerar que os organismos institucionais dependem da adesão, pelo menos
passiva, de seus agentes, para a consecução das metas e estratégias de classe que
implementam. Se o Assistente social, enquanto trabalhador assalariado, dever responder às
exigências básicas da entidade que contrata seus serviços, ele dispõe de uma RELATIVA
AUTONOMIA no exercício de suas funções institucionais; ele é co-responsável pelo rumo
imprimido às suas atividades pelas formas de conduzi-las. A imprecisão quanto à delimitação
das atribuições desse profissional pode ser um fator de ampliação da margem de possibilidade
de redefinição de suas estratégias de trabalho.
A nova qualidade de preocupação com a prática profissional está dirigida ainda a
resgatar, sistematizar e fortalecer o potencial inovador contido na vivência cotidiana dos
trabalhadores, na criação de alternativas concretas de resistência ao processo de dominação.
Esse projeto traduz-se na confiança que move uma prática, na possibilidade histórica de
criação de novas bases de vida em sociedade, assumido e subvertido em direção a um novo
tempo.
Parte II – Aspectos da história do Serviço Social no Brasil
Capítulos 1, 2, 3, 4 e considerações finais
Um dos aspectos principais dessa obra que deve ser salientado é a preocupação em
resgatar as fontes do pensamento marxiano, objetivando apontar os alicerces da sociedade
capitalista, sua lógica de ordenamento e seu viés de superação, bem como as estratégias do
estado no que se refere ao gerenciamento/administração de suas crises.
A profissão é pensada pela primeira vez em sua história a partir de sua insuprimível
relação com a sociedade/realidade, num movimento sempre constante de verificação de seus
conteúdos internos, seus compromissos político-ideológicos. É desse imbricamento com a
realidade social que o Serviço Social retira sua dinamicidade e contabiliza as possibilidades e
limites para sua intervenção.
Marilda Iamamotto foi a primeira autora a pensar o Serviço Social – sua constituição e
história a partir da relação de classes e sua característica principal que é a contraditoriedade.
A história do Serviço Social é a interpretação histórica das principais forças determinantes
na origem e evolução desta profissão, ou seja, o Serviço Social não pode ser pensado de per
si. Temos de relacioná-lo com os processos sociais e econômicos da realidade brasileira ao
longo de sua história.
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Perspectiva de análise que o livro enseja: o Serviço Social como profissão, no contexto de
aprofundamento do capitalismo na sociedade brasileira no período 30/60. Dessa forma, o
Serviço Social se insere no processo contraditório de reprodução das relações sociais.
Objetivo do estudo: desvendar o significado social dessa instituição e das práticas
desenvolvidas em seu interior.
Surgimento da profissão: a partir da configuração da chamada questão social que assume
essa expressão, a partir do surgimento do proletariado como expressão política própria. A
estratégia utilizada pelas classes dominantes, como meio de exercer sutilmente seu poder na
sociedade e para responder as seqüelas advindas da relação de assalariamento do
proletariado, foi a instituição de políticas sociais.
O Serviço Social surge a partir de uma nova racionalidade que visou superar as ações
caritativas até, muito dispersas, sem um fio condutor que costurasse uma nova lógica de
enfrentamento da questão social.
Capítulo 1 – A Questão Social nas décadas de 20 e 30 e as bases para a
implantação do Serviço Social.
O Trabalho Assalariado: é característica presente no mercado de trabalho nos moldes
capitalistas. A força de trabalho formalmente livre é mais uma mercadoria como qualquer outra.
Na relação estabelecida entre a burguesia e o proletariado convergem interesses
contraditórios que exigirão medidas que visem o controle social da exploração dessa força de
trabalho. A inexistência de uma legislação trabalhista neste início de século tornará ainda mais
visível as seqüelas da questão social. O trabalho infantil, extensas jornadas de trabalho,
superexploração, etc.
O Serviço Social se constituirá através de frações da classe burguesa que agirão por
intermédio da Igreja Católica e posteriormente pelo conjunto das classes dominantes.
Entre os anos de 1917/1920 o ANARQUISMO (tendência política trazida pelo operariado
europeu do Brasil) enquanto força política-ideológica, é presente no cenário brasileiro. A
densidade das manifestações tornou visível para a burguesia, a organização dos trabalhadores
na luta pela melhoria das condições de vida e trabalho.
Importante considerar a incapacidade genética do Estado em gerar políticas sociais que
dêem respostas às seqüelas da superexploração. A utilização da repressão tanto indeológica
quanto física (ambos poderosos instrumentos de manutenção da paz social) sempre estiveram
presentes em nossa realidade.
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Entre as décadas de 1910/1920, o proletariado (predominantemente de origem européia;
italianos, alemãs, portugueses...) encontra-se ainda numericamente fragilizado; em sua grande
maioria, é o trabalhador uriundo do campo que vem “engrossar” essa nascente classe; o perfil
ideológico desses ex-campesinos – agora trabalhador urbano – em nada lembra a identidade
dos trabalhadores imigrantes no que se refere a sua história de lutas na Europa.
A Burguesia (sua fração industrial) utilizava a estratégia de negar as reivindicações do
proletariado; desrespeitando os acordos e utilizando o aparato policial no enfrentamento das
manifestações dos trabalhadores.
A tática de alguns empresários apontou para a construção de uma política
assistencialista: as vilas operárias, as creches, as escolas, no entanto, havia rebaixamento
salarial, controle de tempo “livre” do trabalhador e um condicionamento do bom comportamento
para acesso à esses salários indiretos. O objetivo dessas estratégias era o de aliar o controle
sócio-político ao incremento da produtividade, através do aumento da taxa de exploração. Não
há nenhum sentido de redistribuição nessa política e sim, o intuito de melhorar as condições
gerais de acumulação capitalista.
Onde a Igreja Católica entra nesses processos históricos? É importante considerar a
estreita relação existente entre a hierarquia católica com Roma (Papa) e a influência dos
E.U.A. com essa hierarquia central. Alguns aspectos podem ser apontados como
condicionadores do movimento de reação da igreja católica:
A reforma protestante nos países da Europa;
a perda de sua hegemonia no que se refere a visão de mundo;
preocupação com a ideologia anarquista/comunista que se propagava no meio
operário;
Será a partir destes aspectos que se dará o movimento de “recatolização da nação”: a
Igreja começa a ter uma preocupação em assumir uma intervenção face à questão social; vale
a pena ressaltar o estreito colaboracionaismo entre Igreja Católica brasileira e as autoridades
constituídas. As formas de enfrentamento da questão social pela Igreja em nenhum momento
irão colidir com os interesses do Estado brasileiro.
No decorrer da década de 20, perante a movimentação da classe operária, a igreja
reforça o apelo à manutenção da ordem e o respeito à hierarquia.
No transcorrer da década de 30 o proletariado já se apresenta com um maior peso
numérico e organizativo, desenvolvimento esse que ocorre concomitante ao crescimento da
indústria na economia brasileira. No início dessa década e a partir da crise mundial de 1929,
começa a ocorrer uma nova configuração política onde a burguesia agrária – apesar de
continuar a ter o peso na economia, começa a perder poder político-econômico para a
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burguesia industrial. A conjuntura política e social presente nesse momento – a crise de
hegemonia entre as frações burguesas e a movimentação das classes subalternas. Abrirá à
Igreja um enorme campo de intervenção na vida social (movimento político-militar que pôs fim a
República Velha – ver página 152).
O novo bloco no poder buscará o apoio da hierarquia da Igreja (visto seu compromisso
com as forças anteriores) oferecendo em troca o ensino religioso nas escolas. Esse período
corresponderá a uma situação de ambigüidade, onde ambos – Igreja e Estado – unidos pela
preocupação comum de resguardar e consolidar a ordem e a disciplina social, se mobilizarão
para estabelecer mecanismos de influência e controle. A igreja se lançará à mobilização da
opinião pública católica e à reorganização em escala ampliada do movimento católico leigo.
A partir de 1932 dá-se a ampliação da intervenção do movimento católico laico, via:
Ação universitária católica;
Instituto de estudos superiores;
Associação da bibliotecas católicas;
Liga eleitoral católica.
Como se dá a resposta da Igreja aos problemas sociais? Através da formulação
de uma via cristã corporativa para a harmonia e progresso da sociedade: Deus é fonte de toda
justiça, e apenas uma sociedade baseada nos princípios da cristandade pode realizar a justiça
social.
A visão de sociedade que a Igreja assume, sofre influência direta da perspectiva
positivista, ou seja, é visualizada enquanto um todo unificado através das conexões através
das tradições, dogmas e princípios morais de que ela é depositária. Indivíduos e fenômenos
sociais coexistem. Em coesão orgânica com a sociedade em sua totalidade.
Relações entre Igreja e Estado: À Igreja cabe a tarefa de reunificação e recristianização
da sociedade burguesa... concluindo pelo alinhamento doutrinário do Estado laico ao direito
natural, orientado por suas normas transcendentes.
Objetivo da Igreja: recuperar o proletariado da influência de ideologias exóticas (postura
anticomunista); ordenar as relações de produção e harmonizar as classes em conflito.
Eixos da ação política: a mobilização do eleitorado católico e o postulado social, a eficácia
de sua ação pedagógica e política pode ser visualizada na eleição de extensa bancada católica
na Assembléia Constituinte de 1933. Esses representantes estariam, no espaço de construção
das leis, defendendo os interesses da hierarquia católica.
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RETOMANDO: A estratégia da Igreja é o de investir no desenvolvimento do movimento laico,
visando fortalecer sua linha de Ação Católica (Apostulado Social). Para tanto aposta na
organização da juventude católica para atuar junto à classe operária:
JOC (Juventude Operária Católica);
JUC (Juventude Universitária Católica);
JEC (Juventude Estudantil Católica);
JIC (Juventude Ind. Católica);
JFC (Juventude Feminina Católica);
O CEAS de São Paulo (Centro de Estudos e Ação Social), foi a manifestação original do
Serviço Social no Brasil, no ano de 1932. Seu objetivo foi o de capacitar tecnicamente a
prestação de assistência, seu público seria de jovens católicos que compunham as diferentes
frações das classes emergentes.
Em 1936 dá-se o surgimento da primeira escola de Serviço Social de São Paulo e em
1935 é criado o Departamento de Assistência Social do Estado (primeira iniciativa no Brasil).
O Estado começa a legitimar esses quadro técnico que vai sendo formado e, ao mesmo
tempo, passará a regulamentar essa profissão nascente, incentivando e institucionalizando sua
progressiva transformação em profissão legitimada dentro da divisão sócio-técnica do trabalho.
Nesse movimento de alargamento da demanda por assistentes sociais, ocorre um
processo de mercantilização desta força de trabalho.
O número de profissionais era inferior a necessidade daquele mercado crescente.
OBS: a Igreja recomenda a tutela estatal para a classe operária, ao mesmo tempo em que
reclama liberdade de ação para o desenvolvimento de sua ação e o subsídio do estado para
ela.
A extração de classes dos profissionais somada à ideologia religiosa conformavam um
perfil de assistente social que desconsiderava as condições concreta de vida do proletariado.
A neutralidade sempre inexistiu no meio profissional, pois era bastante claro o conteúdo político
que atravessava a prática desenvolvida. Ocorria um processo de “culpabilização” do proletário
por sua situação: ele era considerado portador de uma “ignorância natural”, baixo nível cultural,
fraca formação moral, insuficiente em recursos econômicos, enfim, era presa fácil da “fanfarra
subversiva”.
O Discurso caracterizava-se por ser doutrinário e moralista, ou seja, os profissionais
assumiam uma outra postura de conhecimento e decisão sobre o que era melhor para o outro;
o julgamento moral tem por base o esquecimento das bases materiais das relações sociais.
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O autoritarismo, o paternalismo, o doutrinarismo e ausência de base técnica (influência do
Serviço Social Europeu) vão encontrar bases sólidas para sua implementação dos interesses
da classe da burguesia industrial nascente.
A influência do Serviço Social europeu aqui no Brasil vai até o final dos anos 30; em 1941
ocorre o Congresso Interamericano de Serviço Social em Atlantic City e aí se amarram laços
sobre programas de formação e técnicas de intervenção.
Capítulo II. Protoformas do Serviço Social
1. Grupos Pioneiros e as Primeiras Escolas de Serviço Social
A participação do clero no controle direto do operariado industrial remonta do surgimento
das primeiras grandes unidades industriais, em fins do século passado (XIX). É viva a presença
de religiosos no próprio interior dessas unidades, que muitas vezes possuíam capelas próprias,
onde diariamente os trabalhadores eram obrigados a assistir a missa e outras liturgias. No
plano sindical, com o apoio patronal, desenvolvem iniciativas assistenciais e organizacionais
visando contrapor-se ao sindicalismo autônomo de inspiração anarco-sindicalista.
No contexto internacional, o surgimento da primeira nação socialista ( antiga União
Soviética – URSS) e a efervescência do movimento popular operário em toda a Europa
caracterizam o contexto de surgimento das primeiras escolas de serviço social naquele
continente. A questão social vinha à tona e com ela a necessidade de procurar soluções para
resolvê-la, senão minorá-la.
As instituições assistenciais que surgem nesse momento, como a Associação das
Senhoras Brasileiras (1920) no Rio de Janeiro, e a Liga das Senhoras Católicas (1923), em
São Paulo, possuem já – não apenas ao nível da retórica – uma diferenciação face às
atividades tradicionais de caridade. Possuem um aporte de recursos e potencial de contatos no
âmbito do Estado que lhes possibilita o planejamento de obras assistenciais de maior
envergadura e eficiência técnica.
O surgimento dessas instituições dá-se dentro da primeira fase do movimento de “reação
católica”, da divulgação do pensamento social da Igreja e da formação das bases
organizacionais e doutrinárias do apostolado laico. Tem em vista não o socorro aos indigentes,
mas já dentro de uma perspectiva embrionária de assistência preventiva, de apostolado social,
atender e atenuar determinadas seqüelas do desenvolvimento capitalista, principalmente no
que se refere a menores e mulheres. É nesse período, também que a incorporação da mulher
à força de trabalho urbana deixa de ser “privilégio” das famílias operárias, passando a atingir
também a parcelas da pequena burguesia.
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Em 1922 é fundada a Confederação Católica – precursora da Ação Católica – que
objetiva centralizar politicamente e dinamizar esses primeiros embriões de apostolado laico.
1.1 O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo e a Necessidade de
uma Formação Técnica Especializada para a Prestação da Assistência.
O CEAS – considerado manifestação original do serviço social no Brasil, surge em 1932,
com o incentivo e sob o controle da Igreja Católica.
Surge a partir da necessidade de dar maior rendimento às iniciativas e obras promovidas
pela filantropia das classes dominantes paulistas sob o patrocínio da Igreja e de dinamizar a
mobilização do laicado.
O objetivo central do CEAS será o de promover a formação de seus membros pelo
estudo da doutrina social da igreja e fundamentar a sua ação nessa formação doutrinária e no
conhecimento aprofundado dos problemas sociais.
Há também uma clareza quanto ao sentido novo dessa ação social, se tratará de intervir
diretamente junto ao proletariado para afastá-lo de influências subversivas.
Até dezembro de 1932, o CEAS fundou quatro centros operários onde suas
propagandistas, por meio de aulas de tricô e trabalhos manuais, conferência, conselhos sobre
higiene, etc, procuraram interessar e atrair as operárias e entrar assim em contato com as
classes trabalhadoras, estudar-lhes o ambiente e necessidades.
Aceitando a uma idealização de sua classe sobre a vocação natural da mulher para as
tarefas educativas e caridosas, essa intervenção assumia, aos olhos dessas ativistas, a
consciência do posto que cabe a mulher na preservação da ordem moral e social e o dever de
tornarem-se aptas para agir de acordo com suas convicções e suas responsabilidades.
Paralelamente, sua posição de classe lhes faculta um sentimento de superioridade e
tutela em relação ao proletariado, que legitima a intervenção.
Mas, por que uma associação que reúne moças da sociedade se ocuparia de problemas
da classe operária ? Essa iniciativa é também legitimada e é explicável – ela se baseia num
sentimento profundo de justiça social e de caridade cristã, que leva aquelas que dispõem de
tempo e de meios a auxiliarem as classes sociais mais fracas a formar suas elites, para que
estas também possam cumprir eficientemente o seu dever. Elas mostram a essas elites como
deverão se organizar para defender a família e a classe operária contra os ambiciosos e os
agitadores que exploram seu trabalho ou a sua ignorância.
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Em 1936 é fundada a Escola de Serviço Social de São Paulo, a primeira desse gênero a
existir no Brasil. A partir daí, inicia-se uma demanda por quadros habilitados por essa formação
técnica especializada, partindo de determinadas instituições estatais.
Através da lei 2497 de 24/12/1935 foi criado o Departamento de Assistência Social do
Estado, primeira iniciativa desse gênero no Brasil. Nesse sentido, quando em 1936 é fundada
pelo CEAS a primeira escola de serviço social, esta não pode ser considerada como fruto de
uma iniciativa exclusiva do movimento católico laico, pois já existe presente uma demanda –
real ou potencial – a partir do Estado, que assimilará a formação doutrinária própria do
apostolado social.
É importante situar que ocorre um processo de “mercantilização” dos portadores daquela
formação técnica especializada que se traduz na sua transformação em força de trabalho que
pode ser comprada. O portador dessa qualificação não mais necessariamente será uma moça
de sociedade devotada ao apostolado social. Progressivamente se transformará num
componente de força de trabalho, possuindo uma determinada qualificação, englobada na
diferença social e técnica do trabalho.
1.2 O Serviço Social e a Sistematização da Atividade Social.
Naquele momento histórico, a cidade do Rio de Janeiro, além de ser o mais antigo polo
industrial da região sudeste – tendo perdido há pouco para São Paulo a condição de principal
conglomerado industrial – é o grande centro de serviços, contando com numeroso proletariado.
É ainda, a maior cidade do país, capital federal onde se concentra a administração federal e os
principais aparatos da igreja católica, os grandes bancos. Por essas condições é a cidade onde
mais se desenvolveu a infra estrutura de serviços básicos, inclusive serviços assistenciais com
forte participação do Estado. A diferença de São Paulo, verifica-se uma participação mais
intensa das instituições públicas e o apoio ainda mais explícito da alta administração federal e
da cúpula hierárquica da igreja católica e do movimento católico laico.
A primeira semana de ação social do Rio de Janeiro (1936) é considerado um marco para
a introdução do serviço social na capital da república. Naquele momento a Igreja recomenda a
tutela estatal para a classe operária, ao mesmo tempo em que reclama liberdade de ação para
o desenvolvimento de sua ação social e o subsídio do Estado para ela.
A necessidade de formação técnica especializada para a prática de assistência é vista
não apenas como uma necessidade particular ao movimento católico. Tem-se presente essa
necessidade, enquanto necessidade social que não apenas envolve o aparato religioso, mas
também o Estado e o empresariado. A visão da possibilidade de profissionalização do
apostolado social é dada de forma sutil, na medida em que se encarece a necessidade de
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colaboradores para as obras particulares e se prevê a demanda de pessoal permanente para
as instituições oficiais e patronais, reconhecendo nessas duas instâncias socialmente
habilitadas a possibilitar esse empreendimento.
No ano de 1936 é realizado o primeiro curso “intensivo de serviço social”, com a duração
de três meses constando de uma série de palestras sobre temas sociais, legais, educacionais e
médicos, com ênfase para o problema da “infância abandonada”. Paralelamente, realizou-se
um curso prático de serviço social, para cuja realização foram requisitadas as duas primeiras
assistentes sociais paulistas recém-formadas na Bélgica. Em 1938, começa a funcionar sob
orientação leiga o curso regular da Escola Técnica de Serviço Social, que diploma sua primeira
turma em 1941.
No decorrer da década de 40 surgem várias escolas de serviço social nas capitais dos
estados, sendo que quatorze delas enviam representação ao I Congresso Brasileiro de Serviço
Social, realizado em 1947.
A existência de assistentes sociais diplomados se limitará por um longo período quase
apenas ao RJ e SP, sendo que mesmo aí, seu número é pouco significativo. (a demanda por
assistentes sociais era maior do que o número de profissionais disponíveis).
2. Campos de Ação e Prática dos Primeiros Assistentes Sociais
Começa a ser notado um certo alargamento da base de recrutamento das alunas das
escolas; deixa assim de ser um privilégio das classes médias, para abarcar crescentemente
parcelas da pequena burguesia urbana. Vão se colocar para as assistentes sociais desta
época o problema do mercado de trabalho mas, de luta pelo reconhecimento da profissão e
pela exclusividade, pelos diplomados, de inúmeras vagas que foram se abrindo no serviço
público ou instituições para-estatais e autarquias, no campo dos serviços sociais.
Os centros familiares organizados pelo CEAS, a partir do convênio com o departamento
de serviço social do Estado, começaram a funcionar a partir de 1940 nos bairros operários;
estes centros deveriam se constituir como modelos de prática do serviço social. Sua finalidade
seria a de “separar as famílias das classes proletárias, prevenindo sua desorganização e
decadência e procurando elevar seu nível econômico e cultural por meio de serviços de
assistência e educação” (atividades desempenhadas: plantão, visitas domiciliares, bibliotecas
infantis, reuniões educativas, curso primário, curso de formação familiar, restaurante para os
operários).
Enquanto pesquisadores sociais se dedicarão através de inquéritos familiares, a diversos
levantamentos nos bairros operários, pesquisando as condições de moradia, situação sanitária
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econômica e moral (situação civil, promiscuidade, alcoolismo, desocupação, etc) do
proletariado.
Nas primeiras experiências em serviço social de empresa, os profissionais atuarão, em
geral, na racionalização dos serviços assistenciais ou na sua implantação, assim como em
atividades de cooperativismo, ajuda mútua e organização de lazeres educativos.
Paralelamente, interferirão crescentemente nos encaminhamentos necessários a obtenção dos
benefícios da legislação social junto aos órgãos de previdência.
No campo do serviço social médico, as iniciativas são ainda extremamente embrionárias.
Estarão ligadas inicialmente à puericultura e à profilaxia de doenças transmissivas e
hereditárias.
A atuação prática desenvolvida pelos primeiros profissionais estará, assim, voltada
essencialmente para a organização da assistência, para a educação popular e para a pesquisa
social.
3. Elementos do Discurso do Serviço Social
Durante essa fase a produção específica sobre a matéria do serviço social, como hoje é
correntemente entendida, é bastante limitada. Constitui-se no essencial, em veículo de
doutrinação e propaganda do pensamento social da igreja, propondo-se a mobilização da
opinião católica para o apostolado social.
O serviço social tem por objeto remediar as deficiências dos indivíduos e das
coletividades; quando se dirige ao ajustamento de um determinado quadro, ele o faz para
sanar deficiências acidentais, decorrentes de certas circunstâncias, e não de um defeito
estrutural.
No que tange a um entendimento mais amplo da sociedade, o discurso é essencialmente
doutrinário e apologético. Tendo por base o pensamento católico europeu – em sua vertente
mais direitista – e, principalmente, as encíclicas papais, esse discurso se antepõe ao
comunismo totalitário e à ordenação social do liberalismo, incapaz de resolver o problema das
classes subalternas.
No plano da metodologia e técnicas, também não se observa por parte dos profissionais,
um trabalho de teorização e adaptação à realidade brasileira. A tônica será a do serviço social
de casos individuais; só muito mais tarde se começará a pensar na organização e
desenvolvimento de comunidade, e isto também a partir de influência externa.
Verifica-se a partir do discurso dos assistentes sociais, a existência de um projeto teórico
de intervenção nos diversos aspectos da vida do proletariado, tendo em vista a reordenação do
conjunto da vida social.
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A incorporação da força de trabalho feminina e infantil, as migrações ocasionadas pela
transformação da agricultura, as transformações técnicas da produção industrial, tem por
conseqüência a existência de um imenso exército industrial de reserva – vivendo em
condições sub-humanas – e permitindo que o preço da força de trabalho possa ser depreciado
de seu valor. Neste quadro, a reprodução da força de trabalho ativa – da mesma forma que a
daqueles, total ou parcialmente ocupados, componentes do exército industrial de reserva – só
pode realizar-se parcialmente sob a forma valor. Torna-se necessária a complementação de
sua subsistência.
O componente da formação religiosa dos profissionais e de sua vocação mística de um
apostolado social constitui, por sua vez, elemento essencial de legitimação de seu projeto.
Recristianizar a sociedade ameaçada pela crise, recuperar o homem, significam, mais
concretamente recristianizar e recuperar o proletariado.
Freqüentemente se tem atribuído à influência européia determinadas características
assumidas pelos processos de implantação do serviço social entre nós. O autoritarismo,
paternalismo, doutrinarismo e a ausência de base técnica, que marcariam a atuação dos
primeiros núcleos que se formariam no Rio e São Paulo, seriam típicos do serviço social
europeu.
O perfil exigido do assistente social era: ser uma pessoa da mais íntegra formação moral,
que a um sólido preparo técnico alie o desinteresse pessoal, uma grande capacidade de
devotamento e sentimento de amor ao próximo; deve ser realmente solicitado pela situação
penosa de seus irmãos, pelas injustiças sociais, pela ignorância, pela miséria, e a esta
solicitação devem corresponder a qualidades pessoais de inteligência e vontade.
Como marca da influência norte-americana no ensino especializado no Brasil, situa-se o
Congresso Interamericano de Serviço Social realizado em 1941 em Atlantic City, EUA. A partir
desse evento se amarram os laços que irão relacionar estreitamente as principais escolas de
serviço social brasileiras com as grandes instituições e escolas norte-americanas e os
programas continentais de bem-estar social.
Ainda em relação à ideologia religiosa, fenômenos como a miséria, o pauperismo do
proletariado urbano, aparecerão como situação patológica, como anomia, cuja origem é
encontrada na crise de formação moral deste mesmo proletariado. O julgamento moral do
proletariado se sobrepõe às constatações sobre as causas da miséria e do pauperismo. Desta
forma, esse julgamento tem por base o esquecimento das bases materiais das relações
sociais. (As ações não atacam sobre as causas e sim sobre os efeitos produzidos na vida e na
família operária). A ação destes profissionais é caracterizada como o de modernos agentes da
caridade e da justiça social.
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Essa caracterização contribui para obscurecer e dar aparência de qualidades
profissionais, neutras e caridosas, a um projeto de classe.
A apreensão da realidade a partir dessa referência obscurece o sentido e os efeitos
políticos e econômicos das práticas de inculcação ideológica desenvolvidas pelos assistentes
sociais.
Capítulo III - Instituições Assistenciais e Serviço Social
1. O Estado Novo e o desenvolvimento das grandes instituições sociais
Em 1937, ocorre o golpe de estado por Getúlio Vargas; sua política econômica estava
voltada ao incentivo da industrialização, apoio à capitalização e a acumulação deste setor. O
estado volta-se ao incremento da infra estrutura básico à implantação do parque industrial.
Em termos políticos ocorre uma aliança dos burgueses industriais com os grandes
proprietários rurais, o que denota uma preocupação comum que é a manutenção do status
quo; o pólo industrial passa a ser o centro motor da acumulação capitalista.
O crescimento do proletariado urbano se dá via mão-de-obra liberada pela capitalização
interna da agricultura; entretanto, não estavam adaptadas à lógica do trabalho urbano-industrial
e o regime tentará canalizar para o fortalecimento do seu projeto, neutralizando os
componentes autônomos e revolucionários dos trabalhadores mais politizados.
A legislação trabalhista assume a condução de integradora, legitimadora do regime; é a
forma social de exploração da força de trabalho.
A repressão física (violência) se fazia acompanhar de uma política de massa (populismo
de Getúlio Vargas); a legislação sindical dava fecho ao círculo de ataque às fomas autônomas
de organização da classe trabalhadora. Os dissídios tiveram que ser autorizados pelo governo;
cria-se o imposto sindical que possibilita o esquecimento do trabalho de base por parte dos
dirigentes sindicais; atrela-se o viés assistencialista ao aparelho sindical; são criados os
sindicatos amarelos, simpáticos ao governo.
O objetivo desta legislação sindical visou fundamentalmente o enquadramento da força de
trabalho garantindo assim a acumulação do capital. Ideologicamente, a figura de Getúlio
Vargas foi passada para a história, de forma bastante competente, como o pai dos “pobres”.
Contexto sócio-político dos anos 40:
O governo brasileiro usa um discurso para mobilizar a população quanto ao esforço
requerido pela guerra; apesar da expansão industrial, decresce o salário real; pioram as
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condições de vida, aumenta-se o ritmo do trabalho e intensifica-se a exploração; exarceba-se a
impopularidade do governo, ocorrendo o fortalecimento da oposição e o reaparecimento do
movimento operário.
Getúlio Vargas ao considerar a conjuntura internacional e nacional busca adesão do
movimento popular democrático e antifascista, objetivando manter em sua essência, o modelo
de dominação. Estrategicamente afrouxa os mecanismos de controle social (ele é deposto em
1945).
A implantação e desenvolvimento das grandes instituições sociais e assistenciais (que se
dá na década de 40) criarão as condições para a existência de um crescente mercado de
trabalho,... permitindo um desenvolvimento rápido de ensino especializado do Serviço Social.
Nesse processo ocorre a legitimação e a institucionalização da profissão.
- LBA (1942 – Engajamento do Brasil na 2ª Guerra Mundial): rentabilidade política para o
governo diante do que o “ esforço de guerra” iria propiciar.
Sua criação se deu a partir da iniciativa privada, sendo posteriormente, encampada pelo
governo.
Organizada em todo o território nacional. Essa instituição passou a ser responsável por
toda estrutura assistencial do governo (programas de creche, para idosos, gestante, etc).
- SENAI (1942 - empreendimento que visava a necessidade crescente de qualificação
da mão-de-obra exigida pela industria. A formação anteriormente dava-se no interior das
empresas ou através da importação de mão-de-obra. É aqui que podemos situar a iniciativa da
atuação coletiva do empresariado, a estratégia aqui utilizada consistia em articular a violência
simbólica do sistema escolar e a coerção e autoritarismo das unidades de produção.
As atividades desenvolvidas eram: saúde bucal e geral, alimentação, asseio corporal,
fornecimento de sopa, leite, organização de colônia de férias, dentistas, mediadas assistenciais
e educativas.
- SESI (1946) – objetivos: estudar, planejar e executar medidas que contribuam para o
bem estar do trabalhador na indústria, “visando a valorização do homem e os incentivos à
atividade produtora” (bem estar voltado ao incremento da produtividade). Sendo assim,
extrapola-se o controle interno que ocorre nas unidades fabris para o cotidiano da vida dos
proletários.
FUNDAÇÃO LEÃO XIII (1946 – através do decreto lei): atuação focalizada nos habitantes
favelados (fenômeno crescente a partir do êxodo rural).
Âmbito de ação: favelas da cidade do Rio de Janeiro, que era à época, capital federal.
A extrema precariedade material e moral dessa população, expunha à influência do
comunismo, segundo avaliação das autoridades.
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Serviço Social na Fundação: o “problema da favela” é o problema da educação/casos
individuais, lazer educativo, educação popular e formal.
Pág. 294 – o empreendimento de educação e lazer para favelados visa ocupar o seu
tempo livre (resgatado do capitalismo) para ocupá-lo de forma que neutralizasse seu possível
conteúdo de autonomia e relativa liberdade.
PREVIDÊNCIA SOCIAL: A primeira experiência oficial da implantação do Serviço Social
na estrutura burocrática do seguro social foi 1942 no IPAC (Instituição de Pensões e
Aposentadoria dos Comerciários).
O assistente social passou a ser elemento que esclareceria sobre o seguro social; é ele
quem oferecia uma face humana à burocracia do órgão e passa a incentivar o pagamento das
prestações, sublinhando as vantagens para o trabalhador. A ideologia do assistente social
acentuava que o espírito de imprevidência e insegurança das camadas pobres derivava de sua
ignorância acerca das finalidades do seguro social. Seria preciso investir na educação social do
segurado.
Institucionalização da prática profissional dos assistentes sociais
Serviço Social: mandato institucional profundamente vinculado a uma demanda,
objetivamente determinada pela relação de força entre as classes fundamentais da sociedade.
O rompimento da profissão com sua origem católica se dá via o surgimento e
consolidação do mercado de trabalho (grandes instituições/influência do Serviço Social Norte
Americano) e o assalariamento da força de trabalho ( não eram mais moças de família, mas
camadas médias que tiveram que vender sua força de trabalho).
O significado social da profissão encontra-se estreitamente vinculado às políticas sociais
do Estado, via instituições ( de saúde, educação, etc).
O processo de institucionalização e de profissionalização do Serviço Social ocorre de
forma simultânea no processo histórico; por isso não dá para pensar o desenvolvimento e até a
renovação do social sem vincula-la aos movimentos da sociedade brasileira.
As instituições tem uma incapacidade genética de resolver os problemas dos sujeitos.
Essa fragilidade pode ser visualizada no fenômeno de setorização das políticas sociais e na
manutenção da exclusão enquanto aspecto fundamental dessas políticas (a demanda
crescente e o caráter seletivo e limitado do acesso).
Dessa forma, assistimos o fenômeno de canalização para as instituições assistenciais e
previdenciárias, de uma série de contradições que se originam no nível das relações sociais de
produção.
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O Serviço Social se constitui como instrumento de esclarecimento e conscientização
sobre os direitos, os serviços, os benefícios da instituição e forma de acesso a ela; a profissão
utiliza em seu cotidiano, a ação ideológica dos aconselhamentos. O Serviço Social está situado
entre a demanda institucional (e a sua incapacidade em resolver as problemáticas dos
indivíduos) e diante da revolta e inconformismo da população.
Capítulo IV – Em busca de atualização:
O primeiro Congresso Brasileiro de Serviço Social ocorrido em 1947 foi promovido pelo
CEAS/SP (Centro de Estudos e Ação Social). Nesse evento fica patente o apoio às entidades e
programas pan-americanos e interamericanos relacionados à assistência (a influência do
serviço Social Norte Americano já se fazia sentir).
A pauta do encontro indicava: a discussão de normas para funcionamento das escolas de
Serviço Social; a regulamentação do ensino e a luta pelo reconhecimento profissional
(influência no surgimento da Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social – ABESS e
da Associação Brasileira de Assistentes Sociais – ABAS).
A expansão da profissão e a ideologia desenvolvimentista
Década de 60 – expansionismo no Serviço Social/ideologia desenvolvimentista (JK: 50
anos em 5 – expansão econômica e internacionalização da economia); alargamento das
funções exercidas pelo assistente social (coordenação e planejamento); modernização do
corpo teórico/métodos (Serviço Social de grupo e comunidade) e técnicas.
A partir dessa ideologia desenvolvimentista, o problema central a atacar era o ATRASO,
do qual decorre a posição secundária ou marginal ocupada pelo Brasil dentro do mundo
capitalista. O subdesenvolvimento era justificado por conta do predomínio do modelo agrário –
exportador e ao, ainda fraco, desenvolvimento industrial do país.
A miséria e a pobreza devem ser superadas tendo em vista a possibilidade de construção
de focos de descontentamento social (fácil presa para o comunismo). A concepção de
desenvolvimento coadunava ordem e segurança num clima de paz social.
O II Congresso Brasileiro de Serviço Social ocorreu em 1961 (estratégia de atualização
em relação às idéias que agitam os setores dominantes e as demandas objetivas que fazem à
instituição Serviço Social), a profissão nesse momento histórico necessita rearrumar seus
pressupostos interventivos face às novas exigências que a realidade vem colocando.