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Encurtar a infância é o fim do mundo!
Maria Helena Masquetti
Pensando nos abusos da comunicação mercadológica dirigida às crianças, veio-me
à lembrança o epílogo do filme “A história sem fim
2”, baseado no romance homônimo de Michel End:
Xayide, uma sedutora feiticeira, quer destruir Fantasia, um planeta
constituído pelo imaginário infantil.
Bastian é um garoto dotado do poder de desejar e realizar
o que sonha e, com isso, tenta salvar Fantasia.
Porém, em troca de cada pedido que faz, é forçado a
ceder à feiticeira uma de suas lembranças.
Resta-lhe apenas um pedido e, assim que o fizer, será o fim do mundo encantado.
Porém, movido por uma ideia luminosa, o último pedido
brota de sua boca:
“Xayide, eu desejo que você tenha um coração!”
O desejo se cumpre e, dos olhos irredutíveis da mulher, as lágrimas começam a rolar
enquanto a destruição começa a se reverter.
Talvez por razão semelhante, tanto se tem apostado na
educação das crianças para a salvação do nosso planeta.
A esperança é que, pela sensibilidade natural que elas têm de atribuir sentimento até
mesmo a uma pedra, possam reverter os estragos e tocar o progresso de forma mais
consciente.
Para que isso dê certo, o
mundo criativo da infância precisa ser
preservado da compulsão consumista.
Valendo-se da ingenuidade e da capacidade natural das crianças de alternar entre fantasia e realidade, a publicidade fala direto
com elas, convencendo-as a entregar sua força criativa em troca de brinquedos, alimentos pouco saudáveis e produtos que
falsamente prometem torná-las famosas ou superpoderosas.
Entre efeitos e frases nocivas à formação dos pequenos, comerciais
que deseducam, programas de conteúdo
impróprio e apresentadores
inescrupulosos convidam as crianças a abandonar
a infância a fim de ingressarem mais cedo
no mundo da compulsão por comprar.
Antes que essa sedução insensata transforme
nossas crianças em meros fabricadores de tantas
montanhas de lixo, precisamos afastá-las da devastação de seus sonhos, protegendo-as do
consumismo voraz, da erotização
precoce, da obesidade infantil, da delinquência e
da sobreposição da importância do ter sobre
a beleza de ser.
Ao dizermos “não” aos pedidos descartáveis de nossos filhos e substituirmos os objetos que lhes damos por nossa presença e
afeto, não só nos aliviaremos da obrigação de tanto mais trabalhar para mais produtos comprar, como enviaremos ao futuro os heróis
com os quais contamos para a salvação do planeta.
Segurando firme as rédeas da educação de nossas crianças, estaremos unindo nossas vozes às de tantos outros pais e
educadores para apelarmos ao marketing infantil que deixe as crianças brincarem em paz no mundo rico de sua imaginação, onde a criação de brinquedos e de satisfações genuínas é uma história
sem-fim.
A autora, Maria Helena Masquetti, é Psicóloga Clínica atuante no Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana.
FORMATAÇÃO; Mima (Wilma) Badan
MÚSICA: Tema do filme “A história sem fim”
IMAGENS: Internet
(Repasse com os devidos créditos)
www.mimabadan.blogspot.com
www.slideshare.net/mimabadan