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BARREIRAS, TRANSGRESSÕES E INVENÇÕES DE MERCADO: A
INSERÇÃO ECONÔMICA DE JOVENS POBRES1
Jane Souto de Oliveira
I. Introdução
No filme Orfeu2, dois jovens moradores de um morro carioca personificam
distintas esferas de poder e reconhecimento social na favela. Nascidos e criados na
favela, ambos seguiram trilhas inconciliáveis.
Orfeu é músico e compositor inspirado, a alma, sem a qual “a escola de samba
não sai”. Integrado à cultura de seu tempo, maneja computadores e instrumentos
musicais com idêntica habilidade. Seu nome transpôs as fronteiras da favela para ecoar
pela cidade que canta suas músicas, aplaude sua passagem nos desfiles de Carnaval e
contempla sua imagem na telinha da TV. Apesar do sucesso, permanece morando com
os pais no morro, onde é reconhecido por todos. Sua força emana de seu talento e
prestígio profissional. É a força integradora.
Lucinho é o “dono da boca”, o líder do “movimento” que incrementa os
negócios da favela, “movimentando” ali o dinheiro da droga. Sabe que vida de bandido
é vida breve, mas alega ser melhor viver pouco como “bandido” do que muito como
“otário”. É o chefe que se impõe pelo temor. Fere, mata, barbariza, mas também sacia a
“fome de justiça”, fazendo-a com as próprias mãos. Sua força é a força das armas, da
grana, do poder de fogo. É a força desintegradora3.
1 O presente trabalho resume um dos capítulos da tese de doutorado Juventude pobre: o desafio da integração, que apresentei, em outubro de 1999, ao Instituto de Medicina Social da UERJ, sob a orientação da Prof. Alba Zaluar. 2 O filme, uma adaptação da peça Orfeu da Conceicão de Vinicius de Moraes, foi dirigido por Cacá Diegues e estreou em circuito nacional em abril de 1999. De seu roteiro participaram, além do próprio diretor, o antropólogo Hermano Vianna, o dramaturgo Hamilton Vaz Pereira, o roteirista João Emanuel Carneiro (Central do Brasil) e o escritor Paulo Lins, autor de Cidade de Deus. 3 Ao contrário do que sugere o filme, Orfeus tendem a se afastar de seus locais de origem, enquanto Lucinhos ali permanecem até serem presos, expulsos por gangues rivais ou mortos. Orfeus são ex-moradores, Lucinhos, moradores presentes. Se a força integradora dos primeiros se dá no plano simbólico, a força desintegradora dos segundos opera no dia-a-dia, pelo duplo efeito - de atração e de repulsão - que provoca sobre moradores de morros e periferias.
2
Como figuras emblemáticas, Orfeu e Lucinho se incorporam à realidade e ao
imaginário social de jovens pobres, moradores de favelas, tanto quanto suas trajetórias
de vida se inscrevem no campo de possibilidades (Velho,1994) abertas para esses
jovens. As carreiras por eles trilhadas lhes asseguram posições de liderança. Ambas
propiciam acesso a bens simbólicos e materiais altamente valorizados: grana, poder,
prestígio junto às “minas”. Ambas se contrapõem de um trabalho monótono,
desgastante, mal pago. Ambas estabelecem contraste com o anonimato, o marasmo
existencial, a mesmice de uma vida imóvel.
As semelhanças, no entanto, param por aí. Orfeu é o que soma, o mito, a lenda
viva, enquanto Lucinho é o que divide, o que desperta reações antagônicas, o que vira
lenda e notícia de jornal, depois de morto. Se a trajetória de Orfeu é a de quem superou
as barreiras de mercado, se projetou, dentro e fora da favela, e obteve uma inscrição
social valorizada, a de Lucinho é a de quem transgrediu aquelas barreiras.
Embora com sinais distintos, uma e outra carreira não deixam, contudo, de ser
impulsionadas pela lógica do mercado. Ao mesmo tempo, uma e outra se insurgem
contra as barreiras desse mercado: a primeira, por meio de invenções, a segunda, por
meio de transgressões.
É a partir destes três elementos - barreiras, transgressões e invenções de
mercado - que me proponho a analisar a inserção econômica de jovens pobres,
combinando o uso de dados estatísticos com um estudo de caráter antropológico4. Os
dados etnográficos são oriundos de entrevistas e contatos que, ao longo dos últimos
anos, venho realizando em favelas do município do Rio de Janeiro, especialmente
Jacarezinho, Serrinha (Zona Norte) e Chapéu Mangueira (Zona Sul). Os dados
estatísticos, por sua vez, provêm basicamente de duas fontes: (I) Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) – 1997, para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro
e (II) Pesquisa Socioeconômica em Comunidades de Baixa Renda(PCBR)5, aplicada,
4 Ao definir o trabalho de campo e centrar a análise na favela, o faço não por pensar a favela como um espaço ou território social homogêneo, mas como uma alegoria da pobreza urbana. Sobre as razões que me levaram a adotar tal procedimento, ver Souto de Oliveira,1999. 5 A pesquisa, patrocinada pela Secretaria Municipal do Trabalho da Prefeitura do Rio de Janeiro, vem sendo aplicada pela Sociedade Científica da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Science), sob a coordenação do professor José Matias de Lima. As favelas que integraram a pesquisa e cujos dados estavam disponíveis no momento de realização de minha tese foram: Parque Royal, Grotão, Serrinha, Ladeira dos Funcionários, Morro do Escondidinho, Cerro Corá (Vila Cândido), Caminho do Job, Mata Machado, Morro da Fé, Morro dos Prazeres, Três Pontes, Canal das Tachas, Del Castilho, Andaraí,
3
entre 1998 e 1999, em 35 favelas cariocas. Além dessas fontes básicas de informação,
utilizo-me também de notícias e reportagens divulgadas pela mídia e da produção
intelectual que, em período recente, vem abordando a problemática da juventude no
Brasil.
Antes, porém, de empreender a análise da inserção de jovens pobres,
particularizados por moradores de favelas, parecem-me necessários alguns comentários
sobre suas aspirações de carreira e sobre as pressões que os levam a ingressar e a
permanecer no mercado de trabalho. Eles ajudam a entender o descompasso entre os
sonhos de futuro desses jovens e suas possibilidades objetivas de realizá-los.
Se o desejo de ser reconhecido, de ser famoso, de ombrear com os ídolos não é
apanágio dos jovens, certamente é entre esses que ele pulsa mais forte. Não é demais
lembrar aqui a exaltação à juventude na programação da mídia, nas estratégias de
marketing, no mundo da moda, na cobertura de esportes, música, dança e artes.
Tampouco é demais lembrar o poder de influência do rádio e sobretudo da televisão - o
primeiro presente em 97,4% e o segundo em 98,1% dos domicílios da RMRJ (PNAD-
1997) - na construção e na propagação de uma gramática do ser e do ter jovem. Esse
poder tende a ser tanto maior sobre os jovens, quanto menores forem os espaços de
circulação, as redes de sociabilidade, as alternativas de lazer, ocupação e informação
que se abrem para eles.
Não por acaso as carreiras de sucesso disseminadas pela mídia predominam nos
sonhos e aspirações de futuro de grande parte de adolescentes e jovens pobres.
“Quero ser que nem a Xuxa, rica, independente, fazer só o que eu gosto.” “Meu sonho é ser jogador de futebol, ganhar muita grana.” “E adiantou minha mãe estudar tanto, pra ganhar essa mixaria? Bom mesmo é ser modelo, poder viajar.” “Quero ser disc-jockey. Faturar me divertindo, só indo nos bailes.”
Essa linha de desejo, marcada por dois atributos - reconhecimento social e
compensação financeira6 - e extremamente influenciada pela exposição à mídia, não
Morro União, Fernão Cardim, Telégrafos, Vidigal, Morro do Sossego, Floresta da Barra da Tijuca, Parque Candelária, Buriti-Congonhas, Tuiuti, Mato Alto, Vila Sapê, Borel, Salgueiro, Formiga, Nova Aliança, Parque Boa Esperança, Morro do Urubu, Caracol/Morro do Sereno/Caixa D’Água, Quinta do Caju e Parque Vitória, Morro da Bacia Encontro e Jacarezinho. 6 Na mesma direção apontariam os resultados de pesquisas como as de Zaluar e Leal (1997) e Minayo et al. (1999).
4
deixa, por outro lado, de refletir uma certa consciência de seu próprio campo de
possibilidades. Jovens pobres conhecem as histórias de vida dos que, como eles, foram
criados nos morros e periferias das cidades, mas lograram se projetar nacional e
internacionalmente. Sabem que as carreiras bem-sucedidas da maioria desses - Romário,
Ronaldinho, Zeca Pagodinho, Claudinho e Buchecha entre tantos outros - dependeram
menos da competição escolar e da educação formal e mais de seu talento, de sua garra
individual no esporte ou nas artes. E, ao aludirem aos fatores que garantiram a seus
ídolos o sucesso, acrescentam, como que invariavelmente, o componente sorte: a sorte
de terem sido escolhidos por um agente, por um olheiro ou treinador esportivo, por um
produtor de TV ou de bailes. Ora, jogar futebol ou vôlei, fazer música ou dançar são
atividades que desde sempre estiveram integradas à socialização e à cultura de jovens
pobres. Isso os aproxima de seus ídolos e realimenta a idéia de que o sonho é possível,
passando a depender apenas da sorte. Também por isso sonham com aquelas carreiras e
apostam na sorte de serem descobertos.
O repertório das carreiras almejadas não se esgota, contudo, nessas de maior
visibilidade. Ele passa, ainda, pelo diploma da faculdade (prosseguir os estudos e se
formar), pelo desejo de estabilidade (ingressar na carreira militar), pelo fascínio da
microeletrônica ("mexer" com computadores).
Na gramática do ser, as aspirações de jovens pobres combinam prestígio social
e financeiro, distanciam-se das posições ocupadas por seus pais e estão perfeitamente
afinadas com seu próprio tempo. A esse propósito, assinalam Soares e Ventura que “à
disciplina da revolução industrial, eles preferem a sedução da revolução pós-moderna.
Os caminhos que os atraem são os caminhos estéticos, esportivos, da alta tecnologia, da
informática, da televisão e do show business” ( in Ventura:1994:217).
Na gramática do ter, as aspirações de jovens pobres se mostram igualmente
afinadas com seu tempo, respondendo a uma ideologia de consumo que se propaga em
escala mundial e faz da juventude seu alvo principal. É o que, de maneira emblemática,
demonstra uma letra de funk produzida por compositores de uma das favelas do Rio de
Janeiro:
“A onda do funkeiro meu amigo agora é De Nike, ou Reebock ou Puma estão no pé De bermuda da Cyclone ou então da TCK Boné da Hang-Loose, da Chicago ou Quebra-mar Outra novidade é o mizuno que abalou
5
O tênis é responsa, é só andar muda de cor Existem várias marcas, você vai se amarrar By Toko, Alternativa, Arte Local ou TCK Anonimato amigo abala de montão KK é super shock, mas me amarro na Toulon Inventaram o Le Cheval, que atrás tem uma luzinha Chinelo trançado da Reedley, Toper, Rainha Sou o Mc Rogério, Marcelo sangue bom Moramos em Manguinhos E cantamos com emoção”. (Rap das marcas - MC Marcelo e MC Rogério)
Num contexto em que os apelos da moda se multiplicam e se transformam com
uma velocidade sem precedentes, em que a lógica do mercado converte o objeto do
desejo de hoje no descartável de amanhã, em que o delete substitui o deleite, o acesso
aos bens e serviços que compõem a pauta de consumo juvenil torna-se um dos estímulos
decisivos para a entrada os jovens no mercado de trabalho.
A esse estímulo se somam outros: garantir maior autonomia e liberdade; dar
prosseguimento a seus estudos, custeando-os ou, inversamente, abandoná-los sem gerar
conflitos no quadro familiar de origem); ganhar “moral” perante a família e prestígio
pessoal, sobretudo pela possibilidade de gastar e exibir ícones de consumo, perante seus
pares.
Se essas são razões freqüentemente levantadas, há uma outra, entretanto, que é
pouco discutida pelos analistas. De fato, na bibliografia que aborda o trabalho de jovens,
são eles usualmente pensados na condição de filho ou filha e sua atividade econômica é
vista como um esforço complementar ao trabalho dos adultos.
Embora essa seja, efetivamente, a situação majoritária entre os jovens, não se
pode esquecer, contudo, a parcela dos que já constituíram uma nova unidade doméstica,
tornando-se responsáveis por seu próprio sustento e, em alguns casos, o de seus filhos.
Aqui se patenteiam, claramente, as diferenças entre as juventudes: a
responsabilidade com o casamento e com a família de procriação chega quase que
invariavelmente mais cedo para jovens pobres.
É o que atesta o confronto entre os dados da PNAD e os da PCBR. Em todas as
faixas juvenis de sexo masculino, a proporção de chefes é sempre mais elevada para os
jovens oriundos de favelas do que para o conjunto de jovens da RMRJ. Enquanto no
total da RMRJ, aproximadamente 1/5 dos rapazes na faixa de 20 a 24 anos assume a
condição de chefe de família, entre os moradores de favelas, a proporção se eleva para
6
1/3. A situação se diferencia, ainda mais, no caso das mulheres. Já na faixa dos 15 aos
17 anos, a proporção de jovens moradoras de favelas que se vêem incumbidas da
responsabilidade doméstica, como chefes ou cônjuges - 15,4% - é mais do que o dobro -
da proporção para as jovens da RMRJ como um todo - 6,9%. Na de 20 a 24 anos, as
jovens moradoras de favelas que deixaram a família de origem para formar uma nova já
são majoritárias (56,0%), o que não verifica para o conjunto das jovens da RMRJ, que
permanecem, predominantemente, na condição de filhas (48,3%).
A assunção de uma identidade social como a de chefe, cônjuge, pai ou mãe de
família, pai ou mãe solteiros leva jovens a se confrontarem com desafios, situações e
escolhas que podem, muitas vezes, ser difíceis e danosos7. O certo, porém, é que
mudanças dessa natureza aumentam os encargos econômicos e, em associação com os
fatores já mencionados, ajudariam a explicar a pressão mais forte de jovens pobres
sobre o mercado de trabalho.
Diante destes constrangimentos, que até certo ponto lhes são comuns, jovens
pobres responderão, entretanto, de modo diverso, submetendo-se às barreiras
estabelecidas pelo mercado, superando-as, por meio de invenções, ou transgredindo-as.
Vários deles, ainda, recorrerão a arranjos múltiplos, combinando estas distintas formas
de inserção ou alternando-as em suas trajetórias econômicas. É o que exploro, a seguir.
II. Barreiras, transgressões e invenções de mercado: a inserção econômica de
jovens pobres
Barreiras de mercado
Ao tratar das mudanças que se vêm processando nos mercados de trabalho no
Brasil e no exterior, a bibliografia especializada aponta para o fato de serem jovens e,
em especial, jovens pobres os mais afetados pela novas e mais complexas exigências
que acompanham a oferta de empregos, chamando a atenção para a alta taxa de
desemprego que incide sobre eles.
7 Face, por exemplo, a uma gravidez na adolescência – que a literatura descreve como fenômeno que se vincula principalmente a meninas oriundas de estratos sociais de baixa renda (Camarano, 1998) - relações podem ser desfeitas, conflitos familiares exacerbados, projetos de estudos abandonados, vindo a acentuar o grau de vulnerabilidade dos jovens (Berquó, 1998).
7
A situação do Rio de Janeiro não escapa a essa regra geral que faz do
desemprego a primeira barreira com que se defrontam os jovens. Na RMRJ, a taxa
média anual de desemprego, em 1998, foi de 5,4% para o conjunto da População
Economicamente Ativa (PEA), mas entre os jovens ela atingiu 13,2% na faixa de 15 a
17 anos e 11,4% na de 18 a 24 anos8. A tendência se acentua entre os moradores de
favelas. De acordo com os dados da PCBR, coletados no período 1998-9, a proporção
de desempregados correspondeu a 12,3% do total da PEA, mas alcançou 16,5% na faixa
etária de 15 a 17 anos, 24,2% na de 18 e 19 anos e 18,0% na de 20 a 24 anos.
Que as taxas de desemprego sejam mais altas para os jovens do que para a PEA
como um todo não é nenhuma novidade, mesmo porque sempre o foram. Se algo mudou
foi a magnitude das taxas de desemprego, esse sim, o fenômeno novo e dramático
trazido sobretudo pelos anos de 1990.
Para explicar a mudança haveria que remeter, no plano macroeconômico, aos
efeitos da abertura do mercado e da política de ajuste recessivo que, pontuando toda a
década de 1990 no Brasil, gerariam um processo de substituição de produção nacional
por produção importada e provocariam o desmantelamento de numerosos segmentos
produtivos (Tavares, 1999:248). Haveria que lembrar, também, terem sido os anos de
1990 especialmente duros para o Rio de Janeiro. Como assinala Salm, “o Estado perdeu
espaço no total do emprego formal do país, diminuindo não só em termos relativos mas
também em termos absolutos, com subtração de quase 180 mil postos de trabalho
formais entre 1991 e 1996” (Salm, 1998:174).
No plano micro, é o que se explicita no discurso de lideranças da favela de
Jacarezinho ao descreverem a crise de emprego para a população ali residente:
“A gente vê: o Jacarezinho era o primeiro parque industrial, se transformou em segundo e agora acho que não é nem mais o quinto... A juventude antigamente tinha perspectiva. A juventude no Jacarezinho tinha um objetivo e tinha uma resposta. Ele [o jovem] sabia que ele ia estudar, não estudava muito, concluía o primário ou o ginásio, mas ele sabia: se fizesse um curso profissionalizante tinha trabalho. Mesmo as mulheres que não tinham essa oportunidade de um curso profissionalizante, mas elas também tinham trabalho. Então sabia: acabava o primário ou o ginásio, tinha o pai ou a mãe, o vizinho, o irmão [na fábrica]. Ou ia sozinho. Entrava em qualquer fábrica aqui em volta. Não tinha essa dificuldade de emprego. Ou dentro das fábricas
8 Sendo a taxa de desemprego bastante sensível a variações sazonais, utilizo aqui o valor médio anual da taxa de desemprego para 1998, extraído da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE e reproduzido in Síntese de Indicadores Sociais,1999.
8
do próprio Jacaré ou nos bairros da periferia. Então havia um caminho. E o que que você tem hoje? Hoje a juventude não tem escola, não tem objetivo...”
A par desse declínio nos postos formais de trabalho – elemento chave para a
compreensão do desemprego, quer de jovens, quer de adultos – algumas hipóteses
poderiam ser levantadas para dar conta do desemprego juvenil, propriamente dito.
A primeira é, sem dúvida, a falta de experiência profissional que atinge os
jovens como um todo, independentemente de sua origem social.
É possível também que, em suas primeiras investidas no mercado, tentem
encontrar algo mais próximo de suas aspirações e do perfil econômico que almejam
para si próprios, o que contribuiria para dilatar seu tempo de procura de trabalho ou os
faria flutuar entre situações de desemprego, ocupações intermitentes e inatividade.
Tampouco se pode descartar a hipótese de que a procura de trabalho esteja
servindo, de fato, para eufemizar, sobretudo no discurso de pais e mães de família, que
são geralmente os informantes de pesquisas domiciliares, como a PCBR, a condição de
inatividade de jovens ou seu envolvimento com atividades ilícitas.
No que diz respeito especificamente a jovens pobres, haveria que acrescentar o
baixo nível de escolarização formal que apresentam frente aos novos e maiores
requerimentos educacionais das empresas. Enquanto grande parte destas passa a exigir
uma escolaridade mínima de 8 anos como condição de admissão do trabalhador, jovens
moradores de favela teriam apenas 6,0 anos médios de estudo na faixa de 15 a 17 anos,
6,6 na de 18 e 19 anos e 6,5 na de 20 a 24 anos.
Por último e tomando por base o depoimento de vários informantes da pesquisa,
caberia lembrar que a própria condição de moradores de favela pode dificultar-lhes o
acesso ao emprego ou torná-los mais vulneráveis a demissões. Em poucas palavras, o
estigma que associa a favela à delinqüência e em particular à delinqüência juvenil faria
com que, pelas regras de admissão e demissão de determinadas firmas ou unidades
familiares, jovens moradores de favela fossem "os últimos a entrar" e os "primeiros a
sair" do emprego.
Até agora, tratei apenas do desemprego aberto ou visível, que, no entanto, não
parece ser a única manifestação do fenômeno. Os dados estatísticos demonstram ser alta
na RMRJ e principalmente entre as favelas selecionadas a proporção de jovens
apartados da escola e do mercado de trabalho, o que levanta a hipótese de ocorrência de
desemprego oculto entre eles. Não teriam vários deles desistido de procurar trabalho,
9
por não vislumbrarem chances de colocação no mercado, ou seja, por já estarem
desalentados?
A interpretação dos dados deve, contudo, ser feita com cautela de vez que aí se
cruzam experiências e momentos de vida diferenciados. No caso de jovens de sexo
feminino, é preciso considerar que, além dos afazeres domésticos, o casamento e a
gravidez podem postergar seu ingresso ou interromper sua permanência no mercado de
trabalho.
Assim, o dado realmente alarmante é o que concerne a jovens de sexo
masculino: na RMRJ, 8,3% de rapazes na faixa de 15 a 17 anos; 10,7% na de 18 e 19
anos e 6,8% na de 20 a 24 anos estavam fora da escola e da PEA (PNAD-1997),
proporções que para o conjunto de favelas alcançavam, respectivamente, 14,8%, 18,3%
e 8,8% (PCBR-1998/9), configurando o que se poderia chamar de juventude do nada
faz9.
Mesmo sendo numerosa essa juventude do nada faz, as evidências estatísticas
demonstram que o peso dos jovens de 15 a 24 anos na População Economicamente
Ativa (20,4% para a RMRJ e 22,7% para o conjunto de favelas) é maior do que seu peso
demográfico (17,5% para a RMRJ e 19,8% para o conjunto de favelas), o que comprova
a pressão, por eles exercida, sobre o mercado de trabalho.
Que lugar reserva esse mercado para jovens pobres? Que carreiras e formas de
ocupação econômica lhes são abertas? Buscando responder a estas questões, analiso,
com base nos dados da PCBR, o elenco de ocupações juvenis mais representativas nas
favelas (Tabela 1).
Observadas em conjunto, as principais ocupações de jovens do sexo masculino
sugerem que seus requisitos básicos são a força, o preparo físico e a destreza: braços
fortes para as lides na construção civil, para o trabalho militar, para os serviços de carga
e descarga, para as oficinas mecânicas; pernas ágeis para despachar a correspondência
dos escritórios, enfrentar filas e atender aos clientes nos balcões de comércio, enfim,
para todo o tipo de atividades manuais onde, se inscrevem como ajudantes, auxiliares ou
aprendizes, sobretudo na faixa de 15 aos 19 anos.
9 Ao conceituar o nada faz por uma apartação tanto da escola quanto do mercado de trabalho, empresto-lhe um sentido mais amplo do que o utilizado nas pesquisas domiciliares. Nessas, a expressão refere-se apenas à condição de atividade do indivíduo, servindo para caracterizar aquele que, na semana de referência, não teria trabalhado nem tomado qualquer providência para obter trabalho.
10
Das jovens mulheres, por sua vez, exigem-se, fundamentalmente, habilidades
que marcam e se confundem com sua responsabilidade futura de donas-de-casa e mães
de família: excetuando-se as atividades de comércio, suas ocupações se concentram nas
lides domésticas, tarefas administrativas, guarda das crianças, costura e confecção e
ensino básico.
Tabela 1 - Ocupações juvenis mais representativas, por sexo
Favelas selecionadas da Cidade do Rio de Janeiro - 1998
a) Homens
Homens de 15 a 19 anos % Homens de 20 a 24anos %
Total
Em serviços administrativos
Vendedores e balconistas
Construção civil
Militares, bombeiros e policiais
Conservação e limpeza
Motoristas
Mecânicos
Cozinheiros e garçons
Ocupações do transporte de carga
Ocupações da agropecuária
Outras
100,0
23,7
20,8
10,7
5,5
4,6
4,2
4,1
3,6
2,7
2,3
17,8
Total
Em serviços administrativos
Vendedores e balconistas
Construção civil
Conservação e limpeza
Militares, bombeiros e policiais
Cozinheiros e garçons
Motoristas
Mecânicos
Proteção e segurança
Gerentes
Outras
100,0
17,8
14,8
13,2
8,5
7,1
5,3
4,8
4,0
3,0
2,3
19,2
b) Mulheres
Mulheres de 15 a 19 anos % Mulheres de 20 a 24 anos %
Total
Vendedoras e balconistas
Empregadas domésticas
Em serviços administrativos
Costureiras e estofadoras
Secretárias e datilógrafas
Conservação e limpeza
Contabilidade
100,0
27,4
20,2
11,3
6,6
5,8
4,6
4,1
Total
Vendedoras e balconistas
Empregadas domésticas
Em serviços administrativos
Conservação e limpeza
Contabilidade
Costureiras e estofadoras
Operadoras de máquina
100,0
24,1
19,5
10,8
7,0
6,0
5,3
4,4
11
Operadoras de máquina
Coordenadoras
Cozinheiras e garçonetes
Outras
4,0
3,3
3,3
9,4
Secretárias e datilógrafas
Coordenadoras
Cozinheiras e garçonetes
Outras
3,7
3,5
3,4
12,3
Fonte: PCBR/Secretaria Municipal de Trabalho do Rio de Janeiro e Science
Salvo, portanto, algumas categorias – como, por exemplo, secretárias,
coordenadores e gerentes – que, embora vagas e imprecisas, demandariam maior
preparo intelectual e poderiam propiciar maiores oportunidades de mobilidade
ocupacional, o espaço econômico aberto a jovens pobres corresponde a uma sucessão de
tarefas manuais, por vezes árduas e arriscadas e quase sempre monótonas e repetitivas.
Se essas são características recorrentes do trabalho de jovens pobres, é evidente
que ele pouco se coaduna com o sentido de aprendizado e com o direito à
profissionalização, previstos na Constituição Federal de 1988. É evidente também que
dificilmente seu exercício garantirá aos jovens trabalhadores de hoje condições de
melhor inserção profissional no futuro.
Restaria por analisar a contrapartida financeira deste trabalho. Embora entre
jovens moradores de favela também se observe uma diferenciação de rendimento por
sexo e por faixas etárias, o que efetivamente chama a atenção é o nivelamento, pela
base, de seus rendimentos. De acordo com a PCBR, 50,9% do total de homens e 68,6%
do total de mulheres na faixa de 20 a 24 anos auferiam rendimentos de até 2 salários
mínimos mensais, proporções que na faixa dos 18 e 19 anos alcançavam,
respectivamente, 73,8% e 79,8% daqueles totais e, na faixa de 15 a 17 anos, eram
superiores a 90% para ambos os sexos.
Em síntese, o lugar reservado a jovens pobres na divisão de trabalho se
caracteriza pelo predomínio de ocupações manuais de baixa qualificação e por
reduzidos níveis de remuneração, quando não pelo desemprego propriamente dito. Não
é de estranhar, pois, que face à “droga da economia”, uma parcela crescente de jovens
pobres se sinta atraída e acabe por se enredar na “economia da droga”.
12
Transgressões
A economia da droga aumentou significativamente nas duas últimas décadas, a
partir sobretudo da difusão do consumo de maconha e cocaína nos diversos segmentos
sociais. No Rio, pontos de venda se espalham por toda a parte, invadindo escolas e
universidades públicas e privadas, praias, bares, boates, discotecas, shoppings e
condomínios fechados de classe média, o que demonstra a facilidade de acesso às
drogas e a transversalidade de seu consumo.
Mas se isso é verdade, é verdade também que no Rio o crescimento da economia
da droga ganhou um componente trágico, a saber, um contorno, uma delimitação
espacial que acabaria por reacender velhos estigmas e práticas de criminalização dos
pobres como classes perigosas10. Refiro-me ao fato de o comércio de drogas ter vindo a
concentrar seus pontos de distribuição e venda a varejo em favelas da cidade.
Assim, quando se supunha que a condição de insegurança social que sempre
acompanhou os moradores de favelas, em decorrência da irregularidade da posse da
terra, pudesse ser revertida pelos projetos de urbanização e pelas iniciativas de titulação
de posse que, desde o início dos anos 1980, passavam a orientar a política urbana em
relação às favelas, um novo e violento processo de ocupação viria a convulsioná-las,
subjugando muitas ao domínio territorial de quadrilhas do narcotráfico.
Sem dúvida, são diferentes a extensão e a intensidade com que esse domínio se
exerce nas favelas. Compare-se, por exemplo, a visibilidade e o poder do narcotráfico
em três delas: Jacarezinho, Serrinha e Chapéu Mangueira. Durante minha pesquisa de
campo, líderes e moradores do Chapéu Mangueira e da Serrinha recorrentemente
aludiam à "tranqüilidade", ao fato de que "aqui não tem a violência que tem em outras
favelas" como uma das grandes vantagens de seus locais de moradia. Ainda que
presentes nas duas áreas, o consumo e o tráfico de drogas se faziam de forma discreta,
não ostensiva, representando mais uma ameaça do que uma interferência direta na vida
dos moradores.
10 Nesse sentido, assinala Misse (1997:95) que “a extrema visibilidade do problema do tráfico de drogas no Rio de Janeiro decorre exatamente de sua reificação comunitária abrangente numa grande metrópole. O caráter territorial-político-militar do comércio de drogas no Rio de Janeiro, que praticamente se confunde com os limites de centenas de comunidades urbanas pobres da cidade, transforma esse mercado ilícito e seus efeitos de violência em ponto de convergência seja do sentimento público de 'insegurança', seja em foco privilegiado das políticas de criminalização.”
13
O quadro delineado nessas favelas é radicalmente diverso do que se apresenta na
de Jacarezinho. Nessa, uma particular conjugação de fatores – entre os quais sobressaem
os impactos da crise industrial, já discutida antes, o fato de ali ter sido implantada uma
das mais antigas organizações do narcotráfico, o próprio tamanho da favela e sua
localização estratégica – vem impulsionando as redes do “crime-negócio” (Zaluar,1998)
e a adesão de jovens à economia das drogas ilícitas e das armas. Além disso, a imagem
pública do Jacarezinho como a favela mais armada, a que tem o maior exército e a que
oferece o melhor tóxico, constantemente refletida no noticiário da imprensa, também
contribui para reforçar o mesmo círculo vicioso. É o que se espelha no depoimento de
alguns de seus líderes:
“As oportunidades de trabalho diminuíram muito e a população, a juventude sem opção caiu na droga. Vende, vende muito, ele [o traficante] não sai da favela pra vender, o viciado vem aqui pra comprar. Então eu acho que esse lance do Jacaré, essa crise... Tem outra coisa também. Jacarezinho, o histórico industrial dela morreu e o Jacarezinho é conhecido como a favela do tráfico e das armas. A segunda maior favela do Rio. E quais as outras referências que você vê na imprensa? O melhor tóxico do Rio, a mais armada e o maior exército. O que dá subsídio a outras favelas. Então, hoje em dia, o Jacarezinho tem essa identificação: se o tráfico tem um exército, o Jacarezinho seria, se a gente fosse comparar com o exército, o CPOR. É aquela força pra reserva. Na hora que precisa são eles que vão. Não é pra toda hora, mas é o reforço.”
Não cabe, nos propósitos dessa análise, discutir as razões que explicam o
domínio do narcotráfico, suas formas de estruturação e aliciamento, bem como a
escalada de violência que daí resulta para o conjunto de moradores de favelas e
periferias. Tais aspectos, focalizados de modo pioneiro por Zaluar desde o início dos
anos 1980, foram, ao longo dos anos 1990, ampla e exaustivamente estudados nos
trabalhos desta (Zaluar 1994a,1994b,1998) e de outros pesquisadores (Soares
1993,1996; Ventura, 1994; Leeds,1998; Velho e Alvito,1996 e Alvito,1998).
Aqui gostaria apenas de me deter em dois pontos enfatizados por esses autores.
O primeiro é o de que o crescimento e a consolidação do poder do narcotráfico em
favelas e periferias só se tornaram possíveis por um quadro de condições
socioeconômicas, vivido e representado - principal-mente por jovens - sob a marca da
exclusão, ao qual se combina a fraca presença do poder público. Ou, o que é mais grave,
a um poder público que se inscreve pelo braço armado da polícia, vista o mais das vezes
como corrupta, conivente com os bandidos e tão violenta quanto estes. O segundo é o de
que são adolescentes e jovens, com idades que variam entre 10 e 25 anos, que formam,
14
em grande parte, o exército ativo ou de reserva do narcotráfico em favelas e periferias.
São eles, também, suas principais vítimas, ceifados nas constantes guerras entre gangues
rivais ou nos confrontos com a polícia.
A partir daí, gostaria de ressaltar algumas dimensões dessa participação de
jovens na economia ilegal, com base nos trabalhos acadêmicos que tratam do tema, no
acompanhamento de notícias publicadas na imprensa e em minha própria pesquisa de
campo:
(I) o recrutamento para as hostes do narcotráfico –“olheiros”, “aviõezinhos”,
“soldados”, “gerentes” e, inclusive, “donos do negócio” - vem se dando em faixas
etárias cada vez mais jovens. A rotatividade dos chefes, quase sempre determinada por
morte ou prisão, é cada vez maior, contribuindo para o fracionamento de quadrilhas e
comandos (Comando Vermelho, Comando Jovem, Terceiro Comando, Amigos dos
Amigos) e acirrando as disputas e guerras pelo controle do território;
(II) aumentando o consumo tanto da maconha, quanto da cocaína, por parte de
crianças e adolescentes, aumenta também o engajamento destes no tráfico de drogas
ilícitas, por meio de sua submissão ao vício;
(III) no recrutamento de “soldados” um dos fatores fundamentais é a disposição
para matar. Seu simétrico inverso é a disposição para morrer alimentada por assertivas
do tipo é "melhor viver pouco, mas viver bem" e que encontra sua tradução na
espantosa escalada de homicídios de jovens do sexo masculino: entre 1980 e 1995, no
Rio de Janeiro, os coeficientes de homicídios (por 100.000 habitantes) passaram de 58,8
para 183,2 – na faixa de 15 a 19 anos - e de 112,4 para 272,6 – na faixa de 20 a 24 anos
(Mello Jorge, 1998);
(IV) se a contigüidade espacial nas favelas e periferias obriga a uma convivência
diária entre trabalhadores e bandidos, relações de vizinhança, parentesco, conhecimento
ou clientela concorrem para que as fronteiras da economia ilegal se cruzem com ou
tenham uma interface na economia legal. Daí deriva um intrincado feixe de relações
econômicas que se articulam e, em certa medida, passam a depender da atividade do
narcotráfico, sem, entretanto, serem parte da economia da droga, propriamente dita;
(V) por outro lado, expressões como "trabalha na boca", ou "trabalha no
movimento" e o uso de termos como "gerente" e "dono do negócio", recorrentes na fala
15
dos moradores tendem a naturalizar o crime-negócio como negócio. No mesmo sentido,
operariam também os diferentes graus de envolvimento com a rede do narcotráfico;
(VI) múltiplos fatores são acionados para explicar a não entrada do jovens na
economia ilegal: a moral da família, a religião, a participação política. Mas a ameaça de
o crime-negócio vir a seduzi-los está sempre presente;
(VII) várias são as portas de entrada para a economia ilegal: a opção pelo poder
e a glória, mesmo que efêmeros, fortalecida por uma cultura de machismo e por um
ethos guerreiro; o vício; um ato movido pelo desespero; uma briga com um bandido que
desencadeia um processo de vingança; uma batida policial que pega o jovem e o
humilha, sob suspeita de vadiagem, despertando nele a revolta contra o arbítrio policial.
Com freqüência, ainda, o ingresso no mundo do crime se dá sob o impulso do consumo,
como "uma maneira fácil de comprar" e ostentar os ícones da moda;
(VIII) embora o crime-negócio permaneça como um domínio
preponderantemente viril, cresce a presença de mulheres, já detectada por Zaluar
(1994a) como tendo origem basicamente no amor ao bandido e no vício. Com a prisão
ou o afastamento forçado de um grande número de bandidos, amplia-se o poder que, em
seu nome, passa a ser exercido por suas "mulheres de confiança" (cônjuges, irmãs,
namoradas) na organização e sustentação das antigas redes 11;
(IX) se o caminho do crime é o mais da vezes um caminho sem volta, há,
contudo, saídas. Desde que não esteja em dívida com o chefe do tráfico, que não seja
visto como "vacilão", isto é, como alguém que venha a se transformar em "X-9"
(alcagüete) e denunciar o esquema, saídas do mundo do crime podem ocorrer por
pressão de familiares e amigos e por meio de conversões - religiosa, política ou artística
-, capazes de reintegrar o jovem à vida social.
É nesse contexto que as teias de relação social e as invenções de mercado, além
de serem um antídoto contra o crime, assumem uma função salvadora.
11 Investigações sobre a quadrilha de Fernandinho Beira Mar, tido como o responsável pelo abastecimento de drogas em várias favelas do Rio e na região dos Lagos, apontam para o papel de relevo de mulheres no esquema operacional da quadrilha, especialmente nos contatos funcionais e na gestão de recursos financeiros. Cf O Globo, 2/11/99; 5/11/99; 10/12/99; 11/12/99 e Jornal do Brasil, 6/11/99; 9/11/99 e 11/12/99.
16
Invenções de mercado
O que são “as invenções de mercado”? São profissões e carreiras que oferecem a
jovens pobres condições de desenvolverem e aprimorarem seus talentos, reforçando sua
auto-estima, e fazendo com que se sintam socialmente úteis e reconhecidos. São
profissões e carreiras que inserem o jovem na zona de coesão social, por uma inscrição
de trabalho valorizada e pela ampliação de seus circuitos de trocas.
Ao contrário das oportunidades usualmente oferecidas no mercado e
representadas como cativeiro, tais profissões e carreiras imprimem ao trabalho de
jovens o sentido do lúdico, do hedonismo grupal, do resgate de sua própria cultura,
sendo vistas e vividas como uma afirmação de autonomia.
Como indiquei antes, práticas esportivas e artísticas fazem parte da socialização,
da cultura de jovens pobres e encontram apoio na visão dos adultos que acham “que
jovens precisam se divertir”.
Uma coisa, no entanto, é diversão e outra profissionalização. Assim, é
exatamente na passagem da diversão para a profissionalização, que dificuldades e
resistências começam a aparecer. Por dependerem da “sorte”, carreiras esportivas e
artísticas são vistas como um vôo no escuro. Contrapõem-se a um modo de vida que,
frente às incertezas econômicas e sociais, tende a privilegiar a estabilidade do emprego
e a regularidade dos rendimentos. As resistências tendem a ser mais acentuadas no caso
das carreiras artísticas, que trazem o medo dos perigos associados à noite, à boêmia, à
malandragem, aos vícios.
Aqui, novamente, diferenciações entre favelas podem ser percebidas. A situação
da Mangueira, berço e palácio do samba, que hoje dispõe inclusive de um espaço para a
memória cultural, é até certo ponto singular. Mas para que pudesse ali chegar, para que
a cultura do samba viesse a ser socialmente reconhecida e legitimada, foram necessários
anos de luta contra o estigma da marginalidade. E foram necessários também o concurso
e a adesão de músicos, jornalistas e intelectuais das classes médias.
No Jacarezinho, ouço dizer, não sem uma ponta de inveja, que “a Mangueira foi
adotada por tudo que é intelectual da Zona Sul, por tudo que é artista famoso”. Ouço
dizer, também, que ali o samba não vingou, por causa da fábrica, da identificação do
17
trabalho com a condição operária. Ser artista seria, portanto, particularmente difícil no
Jacarezinho:
“E o sambista sempre foi um marginal. Qual a relação que você tinha? Que o
sambista não trabalha. Que o sambista é um boêmio que passa a noite inteira
curtindo a vida e de dia dorme.. Eu me lembro que a gente morava em frente
ao bloco ali. Me lembro de uma pessoa, o L., que se dedicava 24 horas por
dia ao samba. Um batalhador aqui dentro, compositor do Mosquito, do
Jacaré. Mas eu não conseguia enxergar o L. como trabalhando, no sentido da
palavra, na fábrica. A gente não tinha essa visão que o samba era trabalho.
Até ele mesmo não tinha essa visão de que o que ele fazia era trabalho. O
trabalhador, o operário não via o sambista como um outro trabalhador. Via
como um marginal. Só quando o cara estoura, só quando o cara estoura que
deixa de ser um marginal. Um nome. Enquanto isso, ninguém respeita,
ninguém acredita...”
Essa não é uma visão exclusiva de moradores de Jacarezinho. Masters of
ceremony (MC's), Disc-Jockeys (DJ's) e outros jovens artistas pontuam,
recorrentemente em suas falas, as resistências de seus pais ou responsáveis a seus
projetos artísticos. Muitos narram também como estiveram na corda bamba entre o legal
e o ilegal, como cruzaram estas fronteiras e foram salvos pela arte. Reproduzo, a seguir,
um depoimento exemplar. Ele parte de G., integrante das atividades circenses do
Projeto Se essa rua fosse minha. Hoje, aos 19 anos, G. dá aulas no Circo Social, é
instrutor de capoeira em uma academia e trabalha no Teatro do Anônimo.
“Quando entrei pro circo, minha mãe começou a pressionar: 'que fazer circo o quê? Você não ganha nada com isso!' Acabei me envolvendo com o tráfico no morro onde morava. Não sou uma cara mau. Foi um momento de necessidade. Fiquei dois anos. Depois morei no Espírito Santo, morei em Niterói. O dono da boca me deixou ir embora porque viu que eu não tinha vacilação nenhuma. Daí voltei pro Projeto. A essa altura já me davam como morto.” (In Jornal do Brasil 10/6/99)
Ressalve-se, porém, não serem apenas resistências culturais que dificultam a
profissionalização de jovens pobres pela arte ou pelo esporte. É também, e talvez
principalmente, a falta de apoio e incentivo por parte dos órgãos públicos. Como, por
exemplo, desenvolver a prática do esporte, se uma favela do porte de Jacarezinho - a
segunda do município - não dispõe sequer de um campo de futebol?
18
“Os terrenos baldios que antes eram usados como área de lazer, hoje são ocupados por favelas. Aqui no Jacarezinho, tinha esses campinhos de pelada. Tinha 5 ou seis campos...Agora só temos dois – um soçaite e um campo grande - nem dois, por que um é fora. Aí é o que eu digo. Culpa de quem? Do governo. Do descaso do governo. Não tem parque, não tem mais nada disso. Não sobra nada pra garotada. Só sobra baile funk. Afora isso fica difícil.”
É, portanto, vencendo resistências, inventando seu próprio mercado e contando
com a sorte que jovens pobres conseguem realizar suas carreiras nas artes e no esporte.
A trilha aberta pela música – o samba, o pagode, o funk, e o hip hop – é
impressionante. E essa trilha percorre o Brasil todo, como atestam movimentos
musicais, como o Olodum da Bahia ou o Movimento Mangue de Pernambuco. Ao
mesmo tempo em que partem e vão ao encontro sobretudo de jovens pobres,
transmitindo na linguagem que lhes é própria a visão que têm da sociedade e do lugar
que nela ocupam, seus medos e frustrações, suas esperanças e projetos de futuro, tais
movimentos rompem fronteiras de classe e de cor, ganham visibilidade e prestígio
social e criam alternativas a um trabalho monótono, árduo e mal remunerado, por um
lado, e à sedução do mundo do crime, por outro.
E se a música abre possibilidades para que esses jovens conquistem e reforcem
sua auto-estima, a própria identidade destes com seus locais de origem, acaba por
imprimir também um novo olhar e por despertar uma nova atenção sobre as favelas :
“Eu só quero é ser feliz Andar tranqüilamente na favela onde eu nasci E poder me orgulhar E ter a consciência de que o pobre tem seu lugar.”
“Favela não é só crime Favela também é arte Isto está provado Ouvimos em toda parte.” (Favela também é arte, de Mr Catra)
(Rap da Felicidade, de Katia, Cidinho e Doca)
“Se acha que estou de baboseira ou caô Veja a diferença do Japeri pro Metro Olha a praia de Ramos e a praia do Arpoador Olha a Linha Vermelha encostada nas favelas Asfalto sofisticado, moderna, coisa tão bela Passarela, telefone, gringos passando nela Foi feita pra presidente, prefeito e seus sentinelas Enquanto o povo se equilibra em banguela
Pisa nas ruas de barro, sem luz ou faixa amarela Nas vielas da favela não existem nem calçadas Muita gente brutalmente na mesma foi massacrada E fica por isso mesmo, a justiça não faz nada.” (Prisão de Cristal, de Leo e Xhacal, compositores da Maré)
Na mesma sintonia, operam o teatro, a dança e o cinema12. Músicos,
compositores, dançarinos e atores são o elo mais visível dessa cadeia artística, que
incorpora ainda de uma enorme legião de instaladores e operadores de som, técnicos
de iluminação e carpintaria, de produção e divulgação de eventos, quase sempre
recrutados entre jovens oriundos de comunidades de baixa renda.
Em paralelo às carreiras artísticas e esportivas ou por vezes cruzando-se com
elas, outras invenções de mercado vêm criando oportunidades ocupacionais,
sobretudo para jovens pobres.
Entre essas estariam incluídas as rádios comunitárias que funcionam
informalmente como uma espécie de Internet dos morros e das periferias13. Montadas
com pouco recursos e operando com receitas de anúncios de comerciantes da própria
localidade, tais rádios têm uma programação diária que se baseia numa forte interação
com seus ouvintes. Elas divulgam serviços de utilidade pública, concursos e ofertas de
emprego, eventos da comunidade e, acima de tudo, muita música. Tornam-se, desse
modo, responsáveis pelo sucesso de vendas de cantores e compositores invisíveis para
o grande mercado, promovendo um circuito alternativo de produção e
comercialização de discos e fitas.
Outra invenção de mercado corresponde à 2a ou 3a geração de ONGs
comunitárias - feitas por jovens ou a eles direcionadas - com o apoio ou a parceria de
outras ONGs, empresas e agências públicas. Ligadas à cultura, à preservação da
memória das favelas, a trabalhos comunitários nas áreas da saúde ou da educação, elas
representam um fenômeno importante de apropriação, por parte dos moradores de
favelas e periferias, de mecanismos e circuitos de profissionalização, geração de
rendimentos e construção de cidadania trazidos pelo chamado “terceiro setor”14.
Deixei, propositalmente para o final o tratamento das carreiras universitárias.
Até que ponto podem elas ser vistas e interpretadas como uma invenção de mercado
para jovens pobres?
12 Como exemplificam, entre outros, o grupo de teatro e cinema Nós do Morro da favela do Vidigal, o Grupo Afroreggae da favela de Vigário Geral e a escola de street dance da favela da Rocinha. 13 Segundo estimativas, haveria cerca de 300 rádios comunitárias funcionando na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (O Globo 23/5/99). 14 Sobre ONGs voltadas para jovens, seus objetivos, área de atuação e parcerias ver o mapeamento feito por Novaes e Mafra (1998), englobando 22 organizações deste tipo.
20
Por todas as razões já discutidas antes, são esses que enfrentam maiores
dificuldades de superar o funil educacional. Assim, o acesso ao diploma de 3o Grau já
representaria, em si, uma prova de êxito pessoal, uma afirmação de que o jovem
logrou ultrapassar as barreiras que lhe são impostas. Mas, na verdade, outros fatores
se acoplam a este para atribuir a carreiras universitárias, exercidas por jovens pobres,
a característica de invenção de mercado. Nesse sentido, três traços devem ser
destacados:
A carreira universitária – uma situação que, de acordo com o dados da PCBR,
era vivida apenas por 0,5% dos residentes em favela– é uma opção que vai exigir de
jovens pobres uma grande dose de perseverança, esforço e sacrifício individuais
(Teixeira,1998; Mariz et al., 1998). O esforço de concentração requerido pelos
estudos os leva a se distanciarem e se isolarem de seus pares:
“Minhas irmãs eram populares, tinham muitos amigos. Eu era considerada antipática. Não tinha grupo.” (C. moradora da favela Baixa do Sapateiro, graduada em História pela UERJ, in Souza e Silva, 1999 reproduzida in Veja Rio, ano 9, n.41, outubro de 1999).
Ao mesmo tempo, a entrada na Universidade e o convívio com alunos e
professores oriundos de outros estratos sociais e com outra bagagem cultural tendem a
acentuar a sensação de deslocamento, de estranheza:
“Quem não tinha conhecimentos ficava fora do assunto. Aí eu falava comigo mesma: eu gosto de participar, sempre liderei os assuntos. Agora estou me vendo, me sentindo pequena, entendeu? Não consigo participar, não consigo fazer perguntas.” (L., moradora da favela da Rocinha, estudante de Serviço Social na PUC/RJ, in Mariz et al, 1998:330). “E de uma hora para a outra eu era aluno da UFRJ, olhava as pessoas e pensava: o que estou fazendo aqui? Como se não bastasse, descobri minha grande deficiência. Não sabia de fato ler. O que é fichamento? O que é discutir?” (M., morador da favela Nova Holanda, graduado em História pela UFRJ, in Souza e Silva, 1999 reproduzida in Veja Rio, ano 9, n.41, outubro de 1999).
O segundo traço é a importância de redes capazes de despertar em jovens
pobres o interesse em prosseguir seus estudos e de lhes dar o suporte necessário para
fazê-lo. Este suporte pode vir da família, de mediadores externos tais como
professores, patrões ou colegas de trabalho, de redes religiosas, como as Pastorais
Católicas de movimentos musicais e sociais ou de partidos políticos. Mais
recentemente um novo e forte incentivo às carreiras universitárias viria por meio dos
21
cursos de Pré-vestibular dirigidos a jovens negros e carentes (Novaes e Mafra,1998;
Mariz et al. 1998).
O terceiro traço é o de que se o sacrifício implícito na obtenção do diploma é
maior para jovens pobres, maior é também o reconhecimento a eles prestado, quando
atingem aquele objetivo. A percepção das dificuldades e obstáculos que se interpõem
ao êxito escolar faz com que o diploma seja altamente valorizado e o jovem
universitário se transforme em modelo para crianças e jovens e motivo de orgulho na
comunidade.
“Eu acho que é importante também a gente poder dizer: 'olha tem gente aqui que estuda, que está fazendo faculdade'. Pobre, sem dinheiro, sem nenhum apoio, nenhum estímulo, se esforça tanto que consegue. E o pessoal gosta, admira...”(A., morador da favela do Timbau e graduado em Direito, in Mariz et al.:1998, 331).
É nesse contexto que as carreiras universitárias passam, em muitos casos, a ser
impulsionadas não apenas pelo desejo de ascensão individual, mas também por um
projeto de mudança social.
Por meio dessas carreiras um número crescente de jovens, nascidos e criados
na favela, ali permanece e tenta viabilizar propostas e dinâmicas de integração15.
Longe de negarem sua origem social, é pela afirmação desta origem, por seu
conhecimento da geografia, da história e da sociologia do local e pela aplicação de seu
saber acadêmico a uma dinâmica de transformação social, que esses jovens se
inscrevem na vida produtiva – ocupando o mais das vezes postos no serviço público,
em ONGs ou na hierarquia política das próprias favelas. Doutores da e em favela,
participam eles de diversos foros de debate e planejamento, têm acesso à mídia e se
contrapõem ao estigma lançado sobre a favela como um exemplo que suscita
admiração e respeito. Essa, sua invenção de mercado.
15 Com isso não estou afirmando que todos os jovens universitários oriundos de favela exerçam ali algum tipo de trabalho social, nem tampouco que a moradia no local seja condição sine qua non para a realização daquele trabalho. Há jovens que alcançando o diploma - ou tendo outras oportunidades de ascensão - procuram exatamente cortar seus vínculos com a favela. Outros, mesmo tendo se mudado, ali desenvolvem projetos de cunho social e há, ainda, os que, em decorrência de seu próprio trabalho, receberam ameaças e foram obrigados a se afastar.
22
IV. Conclusão
Ao longo deste trabalho mostrei que jovens pobres detêm hoje, no Rio de
Janeiro, como no Brasil, um peso preponderante na estrutura demográfica e
apresentam um alto grau de vulnerabilidade, por enfrentarem maiores dificuldades na
escola e no mercado de trabalho e por serem os mais atingidos pela violência urbana.
Mostrei, também, que os jovens de hoje estão muito mais expostos às mensagens da
mídia, com seu poder de informação e sua influência na criação e difusão de novas
necessidades. O contexto daí resultante - em que se generalizam sonhos e aspirações
de consumo, aumenta a distância entre os que podem ou não realizá-los e se aguça a
percepção da desigualdade social – tem dado margem a atitudes de descontentamento
e revolta entre jovens pobres. Crescem entre eles a impaciência em relação à política e
o sentimento de injustiça. E cresce sua adesão às redes do crime-negócio.
Tal situação não é específica do Rio de Janeiro, nem tampouco das grandes
cidades brasileiras, configurando-se, mais propriamente, como um problema de
simultaneidade internacional.
É inegável, porém, que entre nós o desafio de integração social da juventude
pobre adquire contornos particularmente dramáticos. Seu enfrentamento passa pela
interseção, necessária e urgente, de políticas nas áreas da educação, cultura, saúde,
trabalho, profissionalização e segurança. E passa também pelo reconhecimento de que
políticas dessa natureza devem ser implementadas não apenas com o intuito de
prevenir a delinqüência juvenil, mas também e principalmente por serem exigências
básicas de qualquer sociedade com pretensão de justiça social.
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