A côr de São Paulo - Guilherme de Almeida

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““A CÔR DE SÃO PAULO”A CÔR DE SÃO PAULO”

Texto escrito por

Guilherme de Almeida:(com a ortografia da época)

para a

REVISTA “O CRUZEIRO”“O CRUZEIRO”10 de novembro de 1928

Poetas estrábicos - um olho em Londres, outro em São Paulo - têm cantado esta cidade em toda a gamma do cinzento. Vêem cinza neste céo de redoma que guarda a fuligem dos bairros trabalhadores, cinza nesta garôa bohemia, cinza nestes asphaltos e nestas pedras, cinza nestes telhados de ardosia, cinza nestes cerebros tristes.

O FAMOSO BONDE “CAMARÃO”

Cinza: côr do tédio, côr do spleen. E concluem: São Paulo é melancólico. É Bugres, em cujos canaes de nenuphares doentes Rodembach cantou e morreu como um cysne...

TRIANON - 1930

Mas - ah! - o ponto de vista desses Jeremias daltonicos do Parnaso é baixo demais para estas colinas historicas espetadas de fura-céos. Pégaso, que elles cavalgam quando querem descortinar, julgar e lamentar, está velho e pesado: o seu vôo parnasiano não passa da primeira cornija de granito da cathedral gothica...

Fotos do Concurso de Beleza

Patrocinado pelos Irmãos Lever (hoje Unilever) – em 1930

Se, em vez do cansado Bucephalo alado, tivessem a coragem e o espirito de domar um avião, e, principalmente, se não fossem assim tão vesgos, ao olharem, lá de cima, de uma altura sufficientemente moderna, a sua cidade cá embaixo, de certo mudariam de opinião.

Rua Líbero Badaró

E se possível a um sêr timido e rachitico ficar alegre a 800 metros de altura, teriam os bons hypocondriacos um sorriso claro de satisfação. Curados do seu daltonismo e da sua neurasthenia, ficariam sabendo que São Paulo não é cinzento: São Paulo é vermelho. De um vermelho fôsco de tijôlo.

Cartaz

Revolução Constitucionalista

A cidade que constróe uma casa de duas em duas horas, a cidade que se estende e se avoluma e sóbe, num record assombros, a capital da terra rôxa, veste, para os olhos limpos e entendidos que sabem vêr, uma “toilette” que Lanvin ou Vionnet descreveriam assim: “Vestido de esporte em Jersey ‘brique dégradé’, cinco tons...”

Bomba de incêndio Hatfield 1930

“Brique” - côr de construcção. Côr dos cubos de terra cosida que se apinham, das telhas acolhedoras que se imbricam, dos vergões que o progresso abre nas glébas uteis, da poeira que erguem na estrada as modernas bandeiras de tractores e caminhões... Côr activa do trabalho, côr alegre de construcção. Côr com que o sol edifica o dia e fabrica a noite. Tijôlo - côr de São Paulo...

Perspectiva artística do

EDIFÍCIO MARTINELLI

CORINTHIANSCORINTHIANS – Campeão Paulista – 1930Em pé:

Tuffy. Nerino. Grané. Guimarães. Del Debbio e Munhoz.Agachados:

Filó. Neco. Peres. Rato e De Maria.

GUILHERME DE ALMEIDA

“O Príncipe dos Poetas”Nasceu em Campinas/SP em 24 de julho de 1890.

Advogado, jornalista, crítico de cinema; redator de diversos jornais, entre eles “O Estado de São Paulo”.

Escritor, poeta, ensaista.

Membro da Academia Brasileira de Letras.

Faleceu em São Paulo em 11 de julho de 1969.

FORMATAÇÃO: Mima (Wilma) Badan

mimabadan@hotmail.com

(Texto do site da revista “O Cruzeiro” digitalizada)

MÚSICA: Rapaziada do Brás

Composta por Alberto Marino em 1927, quando tinha 15 anos

IMAGENS: pesquisas no Google

(Repasse com os devidos créditos)

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