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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
Olávio Pereira Gomes
Carreiras Políticas:
Variáveis de Sucesso Parlamentar
Brasília
2016
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
Olávio Pereira Gomes
Carreiras Políticas:
Variáveis de Sucesso Parlamentar
Monografia apresentada como pré-requisito para
obtenção de título de bacharel em Ciência Política.
Orientador: Prof. Dr. Rafael Silveira e Silva
Examinadora 1: Profa. Dra. Suely Mara Vaz Guimarães de Araújo
Brasília
2016
Dedicatória
Dedico essa monografia a todos os professores que fizeram parte de minha
trajetória enquanto estudante. À professora Ivana, da 4° série, dedico-lhe por ter visto
em mim aquela criança brilhante e sonhadora e ter me ajudado a enxergar isto também.
Você me deu o primeiro livro que li. Jamais me esquecerei de você.
À professora Jane, de filosofia. Sem seu apoio com livros e conteúdos sobre
vestibular eu acredito que não teria conseguido, naquele momento. Você também fez
parte disso.
À professora Raimunda (Ray), do Centro Interescolar de Línguas de Sobradinho.
Contigo aprendi que os versos são a válvula de escape da alma. E foi com eles que segui
e continuo seguindo a caminhada.
À minha mãe que me deu o apoio que precisei para continuar na graduação.
Mesmo quando eu duvidava, você acreditou em mim. Dedico-lhe mais que a gratidão.
Agradecimentos
Agradeço à minha mãe pela mulher guerreira que sempre foi. Por mais que não
nos entendamos em diversas matérias, sou-lhe grato pelo amor, carinho e afeto.
Agradeço, de igual maneira, às mulheres do curso de Ciência Política. Aprendi com o
feminismo que a opressão existe e não devemos nos calar frente a ela. Obrigado pela
lição de vida. Agradeço à minha avó que, sozinha, criou a família. Tenho orgulho de
você, “vó”. Quando penso que caminho só, lembro-me do seu exemplo de vida.
À minha melhor amiga de ensino fundamental e médio, Kelen, que também é
amiga da vida, obrigado pelo apoio. Quantas vezes saímos para ver um filme, fomos ao
Parque ou mesmo a um restaurante e enchi você com esse papo de “monografia” e
planos para o futuro. Mas você sempre me ouviu, mesmo quando eu me contradizia. Às
vezes a gente só quer alguém que nos ouça. Fernandinha Nunes, você também, darling,
obrigado.
À minha amiga de faculdade, Karol. Quantos sonhos já não compartilhamos na
graduação? Enquanto vamos lutando por eles, “vamos fazendo”, como já dizia a nossa
amada filósofa Inês Brasil.
Não poderia deixar de fora Aline, Maíres e Wendy. Grandes amigas de curso,
obrigado pelo que vivemos juntos nestes anos de faculdade. Sinto-me feliz e grato por
ter tido vocês comigo. Vocês me cativaram e serei eternamente grato por isso.
A meus companheiros e companheiras de Politeia. O que dizer de vocês? Cresci
enquanto profissional e pessoa imensuravelmente durante todo o projeto. E cada
lágrima, seja de felicidade ou de tristeza, derramadas ao longo de nossa caminhada, fez-
nos mais fortes. Eu só tenho a agradecer pela oportunidade. Um abraço do fundo do
coração!
Aos colegas da Assessoria Parlamentar do MCID, obrigado. Sem dúvidas vocês
foram a porta de entrada para outras oportunidades que me surgiram posteriormente:
seja na Assessoria Parlamentar da CNM ou da Queiroz Assessoria Parlamentar, onde
hoje atuo. Vocês não foram só uma equipe, vocês foram (são) amigos.
A meus amigos letristas Karla, Mariana, Thaynara, Douglas e Danilo, vocês
marcaram minha vida acadêmica antes de eu me transferir para Ciência Política,
portanto, devo-lhes gratidão. Obrigado.
Agradeço meu orientador, Rafael, por ter aceito o convite de orientação,
obrigado.
Aqueles e aquelas que fizeram parte da minha vida na academia e não citei
nestas linhas, guardo-lhes nas entrelinhas do meu coração.
Obrigado, obrigado, obrigado.
De todas as variáveis de sucesso uma
delas é essencial: a dedicação.
G, Olávio
Resumo
Este trabalho busca investigar a correlação entre as variáveis de sucesso
parlamentar e seus impactos nas carreiras políticas de deputados e senadores.
À luz dos estudos legislativos contemporâneos, no que tange às variantes de
êxito parlamentar, esta pesquisa se deslocará em três eixos: 1) Tratar sobre o poder
legiferante do (a) chefe do Poder Executivo e relacioná-lo com o sucesso parlamentar,
bem como os mecanismos que deputados e senadores de elite utilizam para fugir do
domínio do (a) Presidente da República e líderes; 2) Conexão eleitoral: discutir o que
diz a literatura a respeito do tema, bem como ressaltar as particularidades das arenas
legislativa e eleitoral; 3) Estudos analíticos: mapear os parlamentares de elite do
observatório Político da CNM, Confederação Nacional de Municípios, através de
estudos analíticos, com base nas eleições de 2012 e 2014, ; e os “Cem Cabeças do
Congresso”, publicação anual do DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar, para relacionar as variáveis de êxito ao sucesso dos parlamentares
estudados, com base no ano de 2015, à luz de análise metodológica do DIAP.
Palavras-chaves: variáveis de sucesso parlamentar; estudos legislativos; conexão
eleitoral; CNM; DIAP.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Hibridismo na tramitação da Lei do Pro.........................................................
17
Figura 2. Estrutura da Carreira Política no Brasil..........................................................
23
Figura 3. Sistema Eleitoral vs. Regras Internas do Congresso.......................................
27
Figura 4. Pontuação Adquirida por Votar com a CNM................................................. 28
Figura 5. “Cabeças” do Congresso por Classificação....................................................
40
Figura 6. Os “Cabeças” por Região............................................................................... 41
Figura 7. Profissão por Partido...................................................................................... 41
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Os dez parlamentares que figuram o topo do Ranking do Observatório........
29
Tabela 2. Carreira Política dos Dez Parlamentares Municipalistas................................
31
Tabela 3. Carreira Política dos Dez Senadores Municipalistas......................................
32
Tabela 4. Número de Parlamentares por Mandato.........................................................
44
Tabela 5. Ocupação Institucional no Parlamento...........................................................
45
Sumário
Introdução 13
Capítulo 1 – Chefe do Executivo e sua Relação com o Êxito Parlamentar 16
I. Do Poder de Agenda: Preponderância do Executivo na Arena Legislativa 16
a) Apropriação de Agenda 16
Capítulo 2 – Conexão Eleitoral e Variáveis de Sucesso: arenas Eleitoral e
Legislativa...................................................................................................................... 22
Capítulo 3 – Estudo Analítico 1 (CNM) 28
I. Confederação Nacional de Municípios (CNM) 28
a. Observatório Político 28
b. Metodologia 29
II. Os Parlamentares Municipalistas de Elite (Ranking CNM) 30
III. Accountability Societal e o Sucesso nas Carreiras de Municipalistas 31
IV. Estudo de Analítico: Eleições de 2012/2014 e Carreira dos Municipalistas de
Elite na Câmara dos Deputados 32
V. Estudo Analítico: Eleições de 2012/2014 e Carreira dos Municipalistas de Elite
no Senado Federal 35
Capítulo 4 – Estudo Analítico 2 (DIAP) 38
I) Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) 38
II) Os Cem “Cabeças” do Congresso 39
Metodologia 39
III) Parlamentares de Elite (DIAP/2015) 40
Considerações Finais 48
Referências Bibliográficas 51
14
Introdução
Analisar as variáveis de sucesso parlamentar é nevrálgico para que se
compreenda a dinâmica parlamentar/extraparlamentar e a maneira pela qual o êxito nas
carreiras é consolidado, seja no legislativo ou fora dele. Sabendo disso, galgar níveis
estratégicos na política requer esforços por parte de congressistas, uma vez que estes
almejam obter recursos que serão cruciais para o sucesso na arena legislativa e eleitoral.
Como se sabe, os recursos são escassos e por isso nem todos os parlamentares
chegam a posições de destaque. É neste aspecto que a corrida pela sobrevivência
política e manutenção das carreiras é dada: quem se destaca no legislativo não apenas
eleva suas chances de reeleição como também angaria capital simbólico o suficiente
para alavancar sua carreira para outros escopos da política institucional. Estes são os
parlamentares de elite, deputados e senadores que acumulam reconhecimento (capital
simbólico) dentro do campo político para ocupar cargos cada vez mais elevados na
política – como os de alto escalão do governo e executivo de âmbito municipal, estadual
ou mesmo federal, à guisa de exemplo.
Débora Messemberg (2010), à luz das ideias de Bourdieu, entende que o
campo [político] é um ambiente de conflito entre agentes distintos que ocupam
diferentes posições em volta da apropriação de determinado capital ou pela renovação
da definição deste capital. Isso posto, nesta pesquisa será analisado, através de dois
estudos analíticos, a forma pela qual a capitalização destes recursos pode incidir
positiva ou negativamente nas carreiras, tendo em vista que o campo político é
marcadamente conflituoso e dispõe de recursos assimetricamente distribuídos.
Logo, autores como Miguel (2003) acreditam que há uma estrutura de
Carreiras Políticas no Brasil, ou seja, o Sistema Político Brasileiro é estruturado de
forma a escalonar os cargos políticos. Em outras palavras há cargos de menor a maior
prestígio e conseguir estes últimos torna-se mais difícil, uma vez que as chances de
sucesso são afuniladas, tendo em vista que os recursos para o êxito são escassos. É neste
contexto que entra em cena o poder do acúmulo cruzado das variáveis de sucesso
parlamentar como componente importante para as carreiras políticas.
15
Para melhor situar o debate acerca do impacto das variantes de êxito para a
alavancagem das carreiras, serão discutidas algumas das variáveis de sucesso mais
difundidas dentro da literatura de estudos legislativos.
O sistema político brasileiro passou por mudanças significativas em relação à
legislação eleitoral e distribuição de recursos, como o orçamento que deixa de ser
autorizativo e passa a ser impositivo, a partir da emenda constitucional 86/2015. Além
disso, no que concerne estas e outras questões referentes à dinâmica do sucesso
parlamentar, autores como Araújo e Silva (2012) acreditam que a agenda de pesquisas
precisa ser constantemente revisada por novas perspectivas. Isso posto, este estudo
levará em conta as mudanças que alteram o sistema político e questões mais setoriais do
processo legislativo, apesar de este não ser o objetivo da pesquisa aqui proposta.
Logo, esta pesquisa tem por escopo estudar dois observatórios políticos, suas
metodologias e, através de estudos de caso, traçar hipóteses para explicar o sucesso de
deputados e senadores. Isso posto, serão estudadas as dinâmicas de sucesso nas arenas
legislativas e eleitoral para mostrar as dificuldades e oportunidades de sucesso nestas
arenas e como elas podem contribuir para o êxito parlamentar como um todo.
Para a melhor compreensão das variáveis de sucesso, será feita a abordagem de
questões importantes discutidas nos estudos legislativos, como o status de legislador de
jure e de facto do chefe do poder executivo. Questões como apropriação de agenda –
que é recente na literatura – e prerrogativas constitucionais concedidas ao chefe do
poder executivo serão abordadas de maneira a expor a forma de como o (a) Presidente
da República pode influenciar diretamente o processo legislativo, impactando nas
carreiras. Essa influência pode ser positiva para as carreiras de parlamentares, uma vez
que há a possibilidade de o (a) chefe do executivo distribuir cargos a parlamentares,
indicar lideranças do governo na Câmara e Senado e etc.
Em outro momento, a análise aqui proposta fará um estudo analítico
envolvendo o Observatório Político da CNM – Confederação Nacional de Municípios, a
partir da metodologia de tal observatório. Nesta análise, serão identificados os
parlamentares municipalistas de elite, aqueles que figuram no topo do observatório da
CNM. Serão analisadas as eleições de 2012 e 2014, para mapear as carreiras dos
parlamentares municipalistas de elite, com vistas a observar os tipos de progressão e se
houve ou não regressão nas carreiras, em alguns casos.
16
Em um segundo estudo analítico, será estudado o observatório do DIAP –
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar; e, através dos “Cem Cabeças do
Congresso” será feito um recorte temporal com base nos parlamentares mais influentes
de 2015 em temas que são de afeto a direitos trabalhistas e Seguridade Social. Através
deste estudo serão analisadas as variáveis de sucesso parlamentar abordadas pelo DIAP,
bem como a relação destas condicionantes com o êxito de deputados e senadores.
Sabendo disso, através do estudo das arenas políticas, influência do Executivo
nas carreiras, bem como análises de observatórios políticos (CNM e DIAP), serão feitos
dois estudos de caso para explicar as variáveis de sucesso parlamentar e seus impactos
positivos e/ou negativos para as carreiras.
Por fim, almeja-se compreender a influência das variáveis de sucesso nas
carreiras políticas para demonstrar que o êxito parlamentar não acontece
casuisticamente. Há variantes explicativas, atores, conjunturas políticas que agem de
maneira a facilitar ou dificultar o sucesso político de congressistas brasileiros. É através
do levantamento destas questões que se explicará, neste trabalho, as nuances por trás do
sucesso de deputados e senadores nas arenas eleitoral e legislativa.
17
Capítulo 1 – Chefe do Executivo e sua Relação com o Êxito Parlamentar
I. Do Poder de Agenda: Preponderância do Executivo na Arena Legislativa
Através da Constituição Federal de 1988 é assegurado ao poder Executivo uma
série de prerrogativas constitucionais e institucionais (por parte dos regimentos internos
tanto da Câmara quanto Senado) que afetam direta e indiretamente as carreiras
legislativas, a ressaltar: a edição de Medidas Provisórias, apresentação exclusiva de
Projetos de Lei que versem sobre a organização da administração federal em senso
estrito e orçamento, bem como urgência para matérias de autoria do Planalto. Além
dessas prerrogativas, o constituinte deu margem para o poder Executivo escolher
lideranças de governo nas duas casas do legislativo, o que reforça o poder da chefia do
Executivo na centralização decisória através dos líderes da coalizão majoritária do
Congresso.
Diversos autores reforçam o poder legiferante do Executivo: 80% das leis
federais de autoria deste poder – levando em conta projetos de lei complementar,
medidas provisórias e projetos de lei ordinária – se tornam norma jurídica (Silva e
Araújo, 2013, p. 19; Pereira e Mueller, 2000 p. 65; Figueiredo e Limongi, 2001, p. 50-
51; Pereira, Power e Rennó, 2005, p. 403; Amorim Neto, 2006, p. 30). Por outro lado,
Araújo e Silva (2013) apontam que somente 1,9 % das iniciativas de parlamentares
viraram lei, entre 1990 e 2006, reforçando a preponderância do Executivo na dinâmica
do legislativo e capacidade legiferante deste. Além das prerrogativas constitucionais,
previstas no artigo 84 da Constituição Federal, o executivo possui, ainda, mecanismos
institucionais e regimentais, como as lideranças de governo em cada uma das casas
legislativas e a base governista, o que lhe permite centralizar as decisões políticas e ter
maior controle de agenda e dos partidos políticos, tendo em vista o presidencialismo de
coalizão e os mecanismos para governabilidade. Isso posto, na literatura brasileira é
consenso de que o executivo detém enorme capacidade atípica de legislador de Jure e
de Facto.
a) Apropriação de Agenda
Através da literatura sobre estudos legislativos no Brasil é possível identificar
que o sucesso do Executivo vai além do uso aleatório de suas prerrogativas
constitucionais e institucionais: elas devem ser usadas de maneira estratégica. É neste
18
contexto que entra o uso estratégico das ferramentas as quais dispõe a Presidência da
República para tornar planos de governo em políticas públicas.
Foi visto que o hibridismo é uma das maneiras estratégicas a qual o (a) Chefe
do Executivo de aprovar determinada agenda política. No entanto, a capacidade
estratégica legiferante do Planalto não se dissipa nos mecanismos híbridos de
apresentação de matérias no legislativo.
Sabendo disso, é neste aspecto que entra a apropriação de agenda por parte do
Poder Executivo, na qual este se apropria de ideias de proposições que tramitam no
Congresso, o que pode facilitar, inclusive, a tramitação de matérias de iniciativa do
Executivo e dar ao Planalto mais capital simbólico na aprovação destas matérias.
Araújo e Silva (2010a, 2010b) constataram que além de o (a) Chefe do Executivo
aproveitar a ideia de âmbito legislativo é possível detectar que ele apropria a agenda no
sentido de intervir em matérias de iniciativa legislativa para aprová-las à sua maneira.
Estudos realizados de janeiro de 1995 a 2010 mostram que 672 proposições,
entre MPs e PLs (ordinária e complementar) de iniciativa do Planalto não faziam parte
do rol de matérias exclusivas passíveis de serem apresentadas no Congresso; ou seja,
estas matérias poderiam ser apresentadas tanto pelo Executivo quanto Legislativo e é no
poder de iniciativa concorrente que entra a apropriação de agenda. Deste total de
proposições de iniciativa concorrente, 18,5% eram medidas provisórias e 40% dos
projetos de lei resultados de apropriação da agenda legislativa (Araújo e Silva, 2012, p.
62).
Um exemplo de apropriação de agenda é a que deu origem às regras do
Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), através da MP 459/2009. À época foi
apropriada, por parte do Poder Executivo, o capítulo sobre regularização fundiária da
atual Lei de Responsabilidade Territorial Urbana (LRTU). Por se tratar de uma matéria
que envolvia diversos atores – como o Ministério das Cidades, do Meio Ambiente,
organizações ambientalistas entidades que integram o movimento urbano e etc –
dificilmente a Presidência da República encontraria consenso para a sustentação da
Medida Provisória apresentada (Araújo e Silva, 2013, p. 25).
Há, pois, algo curioso a ser ressaltado no tocante ao fenômeno da apropriação:
a proximidade do (a) Chefe do Executivo com os temas do Congresso Nacional.
Comparando os governos de FHC e Lula, constata-se que houve menos apropriação de
agenda na primeira gestão que na segunda. Vale destacar que a proximidade do ex-
presidente Lula com a agenda social (Seguridade Social, Previdência, etc) bem como as
19
possibilidades de iniciativa concorrente ampliou a margem de apropriação de agenda
pelo então presidente Lula.
Araújo e Silva (2013) constataram que das 205 proposições mapeadas de
iniciativa concorrente nas gestões FHC (20%) e Lula (39,8%), 65 delas partiram
daquele governo e 140 deste. Os autores salientam que isso se deve ao fato de que em
FHC os temas de interesse do executivo eram mais voltados para a reestruturação do
Estado e a consolidação da estabilidade econômica, enquanto em Lula havia um
interesse maior em programas sociais.
Logo, embora o Executivo tenha, de fato, uma série de prerrogativas que lhe
conferem governabilidade, o uso estratégico destes mecanismos no âmbito legislativo,
como aqui foi defendido, faz-se primordial para aprovação de suas matérias.
II. Do Poder de Agenda: O Impacto da Atuação do Executivo para as Carreiras
Como foi visto anteriormente, o Poder Executivo possui uma gama de
mecanismos para garantir a governabilidade. Ter boas relações com o (a) chefe do
Planalto pode ser um bom indicativo de sucesso para as carreiras, uma vez que o
Executivo dispõe de uma série de recursos para distribuir a seus parlamentares “fiéis”.
Há, entretanto, ressalvas na literatura com relação a essa proximidade. Há de se
levar em conta fatores conjunturais, contextos de crise política e econômica, bem como
popularidade e poder de articulação do (a) presidente, já que nem todos os chefes do
Executivo se mostram bons articuladores durante todo o período de mandato.
Para além destas questões apresentadas, a característica do pleito presidencial
pode ter impacto significativo nas carreiras de deputados e senadores, como foi o que
mostraram Pereira e Rennó (2007) em um estudo comparativo sobre as eleições
presidenciais de 1998 e 2002. Os referidos autores destacam que parlamentares seniors
têm mais capital simbólico para continuar na disputa pela reeleição; além disso, cabe
ressaltar o impacto das relações de congressistas com o executivo e os benefícios
advindos desta união. Sabe-se que esta variável muda quando o chefe do executivo é
candidato à reeleição e quando este está constitucionalmente impedido de se reeleger.
Como se sabe, as eleições presidenciais acontecem na mesma época que as do
legislativo, em âmbito federal. Logo, sabendo dos recursos de que dispõe o poder
executivo, muitos parlamentares tendem a aproximar-se do (a) presidente para angariar
capital político, econômico e midiático.
20
Pereira e Rennó (2007) constatam que em 1998, Fernando Henrique Cardoso
(FHC) – candidato à reeleição – tinha mais apoio de parlamentares, uma vez que a sua
volta significava distribuição de recursos a deputados e senadores (cargos no alto
escalão, lideranças no governo, emendas aprovadas, etc).
Pereira e Rennó destacam, por outro lado, o efeito invertido desta lógica quando
a eleição é open seat, ou seja, quando não há candidatos à reeleição pela presidência: o
executivo tem menos poder de causar efeito sobre o futuro eleitoral de parlamentares
que se candidatam a reeleição, em virtude do fato de ser um lame duck1 (Pereira e
Rennó, 2007, p. 665).
Foi o que aconteceu em 2002. As eleições daquele período eram total open
seat, visto que FHC estava constitucionalmente impedido a candidatar-se. Além da
impossibilidade de reeleição, a influência de FHC nas carreiras de parlamentares
diminuiu ainda mais, uma vez que o nível de popularidade do então presidente estava
muito baixo. Meses antes das eleições de 2002, FHC apresentava popularidade abaixo
de 30%. Serra, político da situação à época, tentou não vincular sua imagem à de FHC,
temendo ser rechaçado nas urnas (Pereira e Rennó, 2007, p. 673).
Isso prova que se aliar ao executivo nem sempre é um bom negócio, apesar de
todos os benefícios que este último possui. Não se defende aqui, contudo, que esta união
deva ser desconsiderada na análise do sucesso parlamentar no legislativo e fora dele.
Por outro lado, há de se analisar o período conjuntural estudado, se há crise, crises, o
nível de capacidade de articulação do (a) presidente, popularidade, fator midiático e etc.
Isso posto, é possível inferir que os impactos resultantes da aliança entre Presidente da
República e parlamentares podem ser positivos ou negativos.
III. Legislativo Submisso e Executivo Forte?
Apesar de o Poder Executivo dispor de capacidade atípica para legislar e agir
como ator legiferante no âmbito do processo decisório, os parlamentares, sobretudo os
de elite, não são meros fantoches da chefia do Planalto.
Em exemplo anterior, foi visto o caso de apropriação de agenda do texto da
LRTU – objeto de apropriação do substitutivo do então Deputado Renato Amary
1 Lame duck: segundo a literatura norte americana, lame duck é aquele (a) presidente que está
constitucionalmente impedido de candidatar-se à reeleição. No Brasil, a CF de 1998 impede que chefes
do executivo, no âmbito dos três entes da federação, se reelejam por mais de uma vez consecutivamente.
21
(PMDB-SP) – que estava pronto para votação em plenário, à época. No caso em
específico, a matéria ficou esvaziada na Câmara, em virtude de parte de seu texto ter
sido apropriado por Medida Provisória.
No entanto, o parlamentar, apesar de ser da oposição e por isso ter perdido a
oportunidade de angariar o crédito de ter uma proposição aprovada, por causa de seu
esvaziamento, mostrou-se habilidoso o bastante para costurar consenso entre os atores
políticos que permeavam a proposição. O Deputado em questão foi um verdadeiro
policy broker, ou seja, com habilidades de articulação política o suficiente para fazer
valer determinada agenda. Só para se ter uma ideia, três relatórios anteriores ao dele não
obtiveram sucesso. Isso demonstra que o Poder Executivo necessita do constante apoio
do legislativo para aprovação de suas políticas.
Outro caso de apropriação de agenda mostra a atuação de deputados e
senadores, mesmo em momentos que o executivo se apropria de determinada agenda
legislativa.
A Deputada Fátima Bezerra (PT-RN), autora do substitutivo do PL 241/1999,
matéria que estabelecia regras sobre controle social, teve seu texto apropriado pelo
executivo. Na Medida Provisória 339/2006, que deu origem à Lei do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização de Profissionais
de Educação (Fundeb), o poder executivo usou parte do substitutivo da referida
deputada. No caso em específico, verificou-se que houve negociação do executivo com
a parlamentar, uma vez que esta foi relatora da Medida Provisória que originou o
Fundeb. Neste exemplo é possível identificar que mesmo na apropriação de agenda o
legislativo demonstra dinamismo institucional e independência, o que vai contra
qualquer corrente que o analisa como agente passivo frente ao Poder Executivo (Araújo
e Silva, 2013, p. 26).
Deputados e senadores podem iniciar proposições, bem como acompanhar
estas matérias em outras comissões e Plenário, além de possuir poder de palavra e voto,
demonstrando que não estão à mercê do Executivo ou líderes para atuar. Sem contar que
quando o executivo envia ao Congresso uma Medida Provisória, qualquer alteração
desta gera um Projeto de Lei de Conversão (PLV), ou seja, parlamentares podem alterar
substancialmente a agenda do executivo através de emendas ao texto original. De igual
maneira, as matérias de autoria do (a) Presidente da República podem ser alteradas
através de emendas ao texto original, o que vai contra a corrente que nega o dinamismo
do legislativo frente a atuação legiferante do poder executivo.
22
Há, ainda, como bem lembram Araújo e Silva (2013) os casos de apensamento
de proposições de iniciativa do executivo a matérias de iniciativa parlamentar. Nestes
casos, geralmente, os parlamentares tendem a construir substitutivos, mudando
substancialmente os textos, inclusive aqueles que foram objeto de apensamento. Isso
posto, reforçando a tese de que parlamentares não são meros agentes passivos no
tocante ao processo decisório, embora o executivo tenha ferramentas estratégicas para
governar e legislar atipicamente.
Apesar de o poder executivo dispor de meios de centralização política através
dos líderes, Araújo e Silva (2015) lembram que há questões que fogem ao domínio das
lideranças, como é o caso da atuação de frentes e bancadas parlamentares, bem como
temáticas que envolvam questões de natureza federativas. Isso posto, há caminhos e
alternativas de atuação parlamentar, o que revela a atuação de um legislativo ativo e
dinâmico o suficiente para fazer valer suas agendas. Dessa maneira, o legislativo é
submisso ao executivo e lideranças do governo ou de líderes aliados ao planalto, como
anteriormente citado.
23
Capítulo 2 – Conexão Eleitoral e Variáveis de Sucesso: arenas Eleitoral e
Legislativa
Angariar postos cada vez mais elevados na arena legislativa e/ou fora dela
requer acúmulo de capital simbólico por parte dos congressistas. Ter noção desta
variável como determinante é essencial no momento de escolha das carreiras a serem
seguidas, uma vez que, segundo Miguel (2003), as chances de sucesso diminuem
conforme vai sendo afunilada a disputa política.
Em outras palavras, as vagas para cargos mais elevados são menores, o que
dificulta a probabilidade de êxito parlamentar. Nestes cargos têm vez aqueles
parlamentares que acumulam o máximo de variáveis que lhes proporcionam capital
simbólico o suficiente para seguir na disputa. Há de se levar em conta, por outro lado, a
possibilidade de outsiders2 no tocante às chances de sucesso eleitoral/legislativo, devido
a questões conjunturais do cenário político, econômico e midiático.
É neste contexto que entra em discussão os esforços praticados nas duas arenas
para o sucesso de congressistas na política. Há cargos que requerem do parlamentar
esforços que demandarão trabalho árduo nas duas arenas (legislativa e eleitoral) para
que este deputado ou senador tenha triunfo em sua carreira. Na figura a seguir, estão
escalonados os cargos do maior ao menor grau de dificuldade eleitoral, o que destaca a
construção de carreiras políticas no Brasil.
2 Outsiders: deputados e senadores que saem à frente no pleito eleitoral – ou mesmo na arena legislativa –
de maneira inesperada, em virtude de eventos conjunturais fortuitos.
24
Figura 2. Estrutura da Carreira Política no Brasil
Fonte: Miguel, 2013, p. 117 (adaptado).
Nota: onde está em cinza representa cargos eleitos pelo voto popular.
No tocante à escolha das carreiras políticas, Leoni, Pereira e Rennó (2003)
apontam a existência de cinco tipos de escolha em que os deputados no âmbito federal
levam em conta: sair do jogo político (aposentar-se), tentar cargos no legislativo da
esfera estadual (ambição regressiva), concorrer à reeleição (ambição estática) ou
pleitear cargos mais altos (ambição progressiva) (Leoni, Pereira e Rennó, 2003, p. 44);
entretanto é importante ressaltar, como lembra Rhode (1979), que a escolha não está
condicionada à “natureza” do cargo, mas com os custos e riscos/benefícios eleitorais
deste. Sabendo disso, há de se ponderar os riscos e oportunidades de cada cargo, tanto
na arena eleitoral quanto na arena legislativa.
Ainda nessa linha de pensamento, Samuels (2000) argumenta que os
legisladores com maior acúmulo de capital político esperam angariar determinado grau
Presidente da República
Governador (a)
Senador (a)
Ministro (a) de Estado
Prefeito (a) (capital/cidade
grande)
Deputado (a) federal
Secretário (a) de governo estadual
Deputado (a) estadual
Prefeito (a) (cidade Média)
Prefeito (a) (cidade Pequena)
Vereador (a)
25
de sucesso eleitoral para alçar novos voos, seja em postos mais altos no legislativo ou
fora dele. Para o referido autor, os mais vulneráveis se preocupam com a progressão
estática (reeleição). Vale considerar, primeiramente, os riscos e benefícios de cada arena
(eleitoral e legislativa) para saber em qual carreira investir.
É preciso recorrer à literatura contemporânea para que se possa compreender
estes dois campos e suas peculiaridades; desta forma, é possível entender onde
parlamentares preferirão investir esforços políticos, na expectativa de obter maior
sucesso.
Mayhew (1974) defende a existência de uma conexão entre as arenas – “two-
arena model” – na qual a primeira, a eleitoral, condiciona o comportamento dos
políticos na arena legislativa. Logo, para acoplar mais chances de sucesso político,
deputados e senadores tenderiam a focar esforços em seus redutos eleitorais, mirando
eleições futuras bem como estabelecendo relações personalistas com seu eleitorado; isso
por questões como a forma federativa de estado, sistema eleitoral brasileiro e o
multipartidarismo, que agem como mecanismos de descentralização política; sendo
assim, à luz das explanações referido autor, é irrisório pensar que só a arena legislativa
seja importante, uma vez que esta não impacta diretamente na reeleição dos
parlamentares.
Bowler (2000), por outro lado, trabalha com a ideia da existência de apenas um
locus vantajoso de atuação parlamentar – “one-arena model” – justamente por acreditar
que os elos entre as arenas eleitoral e legislativa são débeis, já que existem elementos
centralizadores na arena legislativa que colocam partidos em vantagem sobre
parlamentares que atuem de forma individualizada; no caso brasileiro, as prerrogativas
constitucionais atribuídas ao executivo e o controle sobre os partidos através das
lideranças partidárias, à guisa de exemplo.
Contrariamente a esta última corrente e solidários ao pensamento de Mayhew,
Pereira e Mueller (2003) defendem a tese de que as duas arenas não se excluem, mas
que uma está diretamente conectada à outra. Estes autores acreditam que é justamente a
confluência dessas duas maneiras parciais e antagônicas que definem e geram
estabilidade ao sistema político brasileiro. Fica estabelecida, então, a conexão eleitoral:
partidos fortes na arena legislativa e fracos na eleitoral (Pereira e Mueller, 2003, p. 737).
Contudo, como apontam Araújo e Silva (2013) – mesmo os partidos sendo fortes na
arena legislativa – os agenda holders3 (titulares da agenda), através das bancadas e
26
frentes parlamentares (vínculos extrapartidários), conseguem fugir da total dominância
dos líderes partidários. Entendida a conexão eleitoral, o próximo passo é compreender
quais são as variáveis de sucesso parlamentar em destaque pela literatura em cada uma
das arenas.
Pereira e Rennó (2007) reforçam que a arena legislativa não é o locus preferido
de deputados e senadores, pelos motivos de centralização política do executivo e
lideranças partidárias, já citados. Isso ocorre pelo fato de que as variantes da arena
legislativa não têm impacto direto para o sucesso eleitoral. Os autores numeram
algumas variáveis da arena legislativa, a saber:
Posição no partido: variável de destaque, pois dá visibilidade midiática ao
parlamentar, sobretudo aqueles que integram a coalizão de governo, pois
negociam as demandas de seus liderados junto ao executivo;
Posição institucional na casa legislativa (Senado/Câmara): seja na mesa
diretora, comissão permanente, comissão especial ou relatoria de comissão;
Projetos: número de projetos apresentados pelos parlamentares e aprovados;
No que concerne à arena eleitoral, Pereira e Rennó (2007) destacam as seguintes
variáveis:
Quantidade de votos: enquanto maior a quantidade de votos na última eleição, o
parlamentar aumenta suas chances de reeleição, já que este teria um quantitativo
maior de eleitores;
Concentração/dispersão de votos: enquanto maior a concentração de votos em
um só reduto eleitoral, maior a tendência ao insucesso parlamentar, uma vez
que, frente a um candidato forte, o parlamentar pode perder grande quantidade
de votos. Logo, ter uma quantidade dispersa de eleitores pelo distrito eleitoral
aumenta as chances de sucesso eleitoral. Pois, não sendo bem votados em alguns
municípios, estes parlamentares (candidatos) podem suprir o gap de votos em
outras partes do mesmo reduto eleitoral;
3 Agenda Holders: são parlamentares que concentram um número maior de variáveis de sucesso:
deputados e senadores com bastante poder político de articulação.
27
Média de candidatos: enquanto maior for a competição no reduto eleitoral do
parlamentar, mais dificuldade esse terá para se reeleger;
Gasto de campanha: segundo os autores, esta variável possui um impacto
bastante expressivo nas carreiras. De acordo com Samuels (2000), esta variável
é central para explicar o sucesso eleitoral no Brasil.
Estas são algumas das variáveis de impacto difundidas pela literatura. Contudo,
há de se questionar as constantes mudanças no sistema político brasileiro, a ressaltar a
aprovação da Emenda Constitucional 86/2015 – que torna o orçamento impositivo –
bem como ajustes na lei eleitoral, no que concerne ao financiamento de campanhas.
Araújo e Silva (2012) chamam a atenção de cientistas políticos e pesquisadores
para análises mais setoriais, assim como pesquisas mais sistemáticas no tocante às
variáveis de sucesso parlamentar, já que há lacunas a serem preenchidas nos estudos
legislativos (Araújo e Silva, 2012, 58-70). Há questões que desafiam a centralização de
poder político dos líderes (frentes e blocos parlamentares e assuntos de cunho
federativo) e colocam em xeque a disciplina partidária, bem como dão aos
parlamentares titulares da agenda espaço para agir de maneira individual mesmo em um
ambiente no qual os partidos políticos fazem toda a diferença (Coradini, 2010, pp. 245-
250).
Os autores mencionados destacam que se faz necessário um estudo
pormenorizado dos espaços e processos privilegiados dentro da arena legislativa, como
a participação em comissões especiais e em relatorias de medidas provisórias, por
exemplo. Na concepção de Samuels (2000), estas são extensões nas quais melhor se
pode identificar os parlamentares “peso pesado”, uma vez que são locais onde diversos
interesses estão relacionados; logo, são esferas que revelam a atuação tanto de agenda
holders como de policy-brokers. Em poucas palavras, ambientes estratégicos para a
atuação dos parlamentares de elite.
Pereira e Mueller (2003) acreditam que o Sistema Político Brasileiro é
composto por nuances que agem no sentido de centralizar e descentralizar o processo
decisório, tendo em vista o poder de atuação legiferante do Executivo; apesar de este
último centralizar as decisões através de líderes da coalizão majoritária, das regras
internas do Congresso Nacional, bem como os incentivos para votos partidários,
existem mecanismos que descentralizam o sistema político, a saber: a forma federativa
do Estado, as regras eleitorais e o multipartidarismo. Desta maneira, como mostra o
28
gráfico a seguir (figura 3), há incentivos distintos que atuam na centralização (arena
legislativa) e descentralização (arena eleitoral) do sistema político.
29
Figura 3. Sistema Eleitoral vs. Regras Internas do Congresso
Fonte: Pereira e Mueller, 2013, p.739.
Logo, existe a possibilidade de parlamentares atuarem com êxito em ambas as
arenas. No entanto, levar em consideração as variáveis já citadas é fulcral para o êxito
tanto na arena eleitoral quanto na legislativa. Aqui se defende que existe uma conexão
eleitoral no Brasil, ou seja, os dois locus de atuação parlamentar não são dissociados e
precisam ser levados em consideraão no tocante aos estudos legislativos sobre o sucesso
das carreiras.
Diferentes Incentivos do Sistema Político
Brasileiro
Sistema EleitoralRegras Internas do Congresso Poderes
[legislativos] do Presidente Legislar
Controle da Distribuição de Benefícios
Lista Aberta + Representação Proporcional
Centralização da Agenda e do Processo Decisório
Grande Autonomia do Parlamentar Individual
Incentivos para Votos Pessoais
Alto Controle do Executivo e da Coalizão
Majoritária
Incentivos para Votos
Partidários
30
Capítulo 3 – Estudo Analítico 1 (CNM)
I. Confederação Nacional de Municípios (CNM)
A Confederação Nacional de Municípios (CNM) surgiu em 1980, com o
objetivo de fortalecer, consolidar e proporcionar autonomia ao movimento municipalista
no Brasil, bem como tornar a instituição símbolo de referência internacional na defesa
de municípios. A CNM é uma instituição independente, apartidária e sem fins
lucrativos.
A CNM atua de maneira a representar os munícipios de forma político-
institucional junto ao governo e ao Congresso Nacional, com a missão de fortalecer a
gestão municipal no país. No campo institucional, a CNM atua em conselhos, comitês e
órgãos de discussão e acompanhamento de políticas públicas junto ao Planalto.
No âmbito do Poder Legislativo, a CNM intervém através do acompanhamento
de matérias de impacto à pauta municipalista, bem como costura articulações políticas
com deputados e senadores por meio de seminários, audiências públicas, mobilizações e
reuniões. No tocante à atuação internacional, trabalha em cooperação com órgãos como
a Federación Latinoamericana de Ciudades, Municipios y Asociaciones de Gobiernos
Locales (Flacma) e a Organização Mundial de Cidades e Governos Locais Unidos
(CGLU). A CNM também trabalha para representar os municípios brasileiros judicial e
extrajudicialmente, assim como as entidades representativas destes municípios em nível
estadual almejando, sempre, a valorização da autonomia municipal. Logo, a
Confederação Nacional de Municípios age como elo entre os municípios e o governo
com o objetivo de descentralização política e administrativa da União e dos estados, a
favor do municipalismo.
a. Observatório Político
A Confederação Nacional de Municípios, com o objetivo de identificar os
parlamentares municipalistas de eite, ou seja, aqueles que mais se empenham em lutar
em prol da causa dos municípios, criou, em 2015, o Observatório Político da CNM.
Desse modo, a instituição identifica deputados e senadores com o perfil municipalista
para atuar, através destes, na pauta municipalista do Congresso. Para tanto, a CNM atua
através da Pauta Prioritária (ou Pauta Mínima), elaborada pela própria instituição, na
31
qual a Confederação Nacional Municípios trabalha no sentido de rejeitar as matérias de
impacto negativo bem como aprovar aquelas proposições de interesse municipalista.
b. Metodologia
Com vistas a mapear deputados e senadores municipalistas, o Observatório
Político da Confederação Nacional de Municípios acompanha as matérias de alto e
altíssimo impacto para o municipalismo brasileiro. Neste aspecto, a Confederação
acompanha a votação destas matérias e ações realizadas pelos parlamentares que
impactam negativa ou positivamente os municípios. Além disso o Observatório
acompanha o andamento e resultado dessas votações, com objetivo de evidenciar os
parlamentares que votam a favor ou contra a pauta municipalista traçada pela CNM. A
Confederação Nacional de Municípios destaca que os critérios de metodologia adotados
pelo Observatório são de natureza quantitativa e calcados exclusivamente na maneira
pela qual atuam deputados e senadores no âmbito legislativo. Um dos critérios é a
votação, seja em comissões ou em Plenário que se relacionem ao interesse
municipalista.
Figura 4. Pontuação adquirida por votar com a CNM
Fonte: o autor, 2016.
- 2
0
+ 4
Voto de acordo o movimento
municipalista.
Abstenção do voto
Voto contrário ao movimento
municipalista ou ausência/falta na
votação.
32
II. Os Parlamentares Municipalistas de Elite (Ranking CNM)
Tabela 1. Os dez parlamentares que figuram o topo do Ranking do Observatório4
Deputados (as) 5 Partido Posição no Ranking Pontos
HILDO ROCHA PMDB/MA 1° 50 pts
MOEMA GRAMACHO PT/BA 2° 48 pts
RUBENS PEREIRA JÚNIOR PCdoB/MA 3° 42 pts
CONCEIÇÃO SAMPAIO PP/AM 4° 40 pts
CARLOS GOMES PRB/RS 5° 36 pts
ALCEU MOREIRA PDT/RS 6° 36 pts
JUSCELINO FILHO DEM/MA 7° 36 pts
ELMAR NASCIMENTO DEM/BA 8° 36 pts
GIUSEPPE VECCI PSDB/GO 9° 36 pts
VENEZIANO VITAL DO REGO PMDB/PB 10° 36 pts
Senadores (as)6 Partido Posição no Ranking Pontos
ANA AMÉLIA PP/RS 1° 65 pts
FERNANDO BEZERRA COELHO
PSB/PE 2° 63 pts
EUNÍCIO OLIVEIRA PMDB/CE 3° 60 pts
AÉCIO NEVES PSDB/MG 4° 57 pts
FÁTIMA BEZERRA PT/RN 5° 56 pts
ELMANO FÉRRER PTB/PI 6° 56 pts
HUMBERTO COSTA PT/PE 7° 56 pts
DOUGLAS CINTRA PTB/PE 8° 56 pts
LÍDICE DA MATA PSB/BA 9° 56 pts
LÚCIA VÂNIA PSB/GO 10° 56 pts
4 Por curiosidade, se na composição do Congresso as mulheres representam 10% do total de
parlamentares, observou-se que esta realidade muda quando analisado a participação feminina no âmbito
da defesa dos municípios. Dos 20 parlamentares estudados, 30% é do sexo feminino, o que revela certa
atuação desta bancada no topo do observatório político da CNM.5 Excluídos da tabela os deputados Afonso Motta PDT/RS e Davidson Magalhães PCdoB/BA, em virtude
de assumirem como suplentes.6 Excluído da tabela o senador Dalírio Beber PSDB/SC em virtude de assumir como suplente.
33
Fonte: o autor, 2016.
III.Accountability Societal e o Sucesso nas Carreiras de Municipalistas
A Confederação Nacional de Municípios atua veemente pela causa
municipalista, com reconhecimento dentro e fora do Congresso Nacional, este, um dos
locais de atuação dos parlamentares municipalistas de elite.
Isso posto, a influência da instituição (CNM) nas decisões do Legislativo e
Executivo têm repercussão indireta nas carreiras, uma vez que a própria CNM informa
às prefeituras filiadas (e não filiadas), através de sua plataforma virtual, bem como de
seus colaboradores, a maneira pela qual deputados e senadores se comportam nas
votações.
Logo, o Observatório Político da CNM opera, também, como mecanismo de
accountability societal. Sabe-se que as prefeituras têm enorme poder sobre as carreiras
de deputados e senadores; por esta razão, estar “bem na fita” com a CNM e seu
Observatório Político indica estar bem, de igual maneira, na mídia e prefeituras das
respectivas bases eleitorais de parlamentares, no que concerne à pauta municipalista.
Isso significa dizer que a posição do parlamentar no Ranking do Observatório Político
da CNM é um meio de controle, uma vez que a sociedade civil, as organizações
governamentais e não governamentais, movimentos sociais assim como as prefeituras e
entidades municipalistas utilizam o Observatório como parâmetro para cobrar os votos
de parlamentares de sua região.
A aliança do municipalista com os prefeitos é um grande indicativo de sucesso
e muitos parlamentares, tendo ciência disto, aliam-se à CNM e à pauta prioritária
municipal – em virtude da repercussão negativa em suas bases eleitorais – caso votem
em desacordo com as necessidades dos municípios.
Segundo Catalina Smulovitz y Henrique Peruzotti:
“La accountability societal es un mecanismo no electoral, pero
vertical, de control de autoridades políticas que descansa em las
acciones de un múltiple conjunto de asociaciones y de
movimientos y sobre los medios, acción que tiene como objetivo
exponer los errores gubernamentales, trayendo nuevas
cuestiones a la agenda pública, o de activa el funcionamiento de
agencias horizontales. Emplea herramientas institucionales y no
institucionales. La activación de demandas legales o reclamos
34
ante agencias de control es un ejemplo de recursos
institucionales (cuja efectividad) se basa en sanciones
simbólicas (Smulovitz, Catalina y Enrique Peruzzotti, 2000, pp.
147-158)”.
Logo, à luz do pensamento dos autores supracitados, o Observatório Político é
uma ferramenta de accountability societal, incidindo direta e indiretamente nas carreiras
políticas. Muitos destes parlamentares, por serem conhecidos como municipalistas,
podem angariar relatoria de matérias importantes ou mesmo presidência de comissões
especiais criadas para dar parecer sobre proposições que impactem de maneira
significativa a gestão municipal; neste aspecto, o impacto indireto, na aquisição de
capital simbólico, torna-se interessante para a carreira do parlamentar, uma vez que a
exposição midiática em matérias de alta relevância traz em retorno ao parlamentar
reconhecimento e captação de mais votos em seu reduto eleitoral.
IV. Estudo de Analítico: Eleições de 2012/2014 e Carreira dos Municipalistas de Elite na Câmara dos Deputados
Para efeitos comparativos, foram estudadas as carreiras dos dez deputados
municipalistas que lideram o ranking do Observatório Político da CNM. Apesar de a
amostra ser reduzida, os dados coletados revelaram que o municipalismo tem sido uma
variável de sucesso importante na carreira política de deputados e deputadas. A tabela
(2) a seguir mostra os cargos já ocupados por estes parlamentares, com vista a destacar a
progressão, regressão ou estabilização nas carreiras.
35
Tabela 2. Carreira Política dos Dez Deputados Municipalistas
Câmara dos Deputados
Deputado (a)
Vereador (a)
Deputado (a) Estadual/Federa
l
Prefeito (a)
Governador (a)
Eleição de 2014
Hildo Rocha
Uma vez - Duas vezes
- Eleito (progressão ambiciosa)
Moema Gramacho
Uma vez Duas vezes (estadual)
Duas vezes
- Eleita (progressão ambiciosa)
Rubens Pereira Júnior
- Duas vezes (estadual)
- - Eleito (progressão ambiciosa)
Conceição Sampaio Uma vez Duas vezes
(estadual)- - Eleita
(progressão ambiciosa)
Carlos Gomes - Duas vezes
(estadual)- - Eleito
(progressão ambiciosa)
Alceu Moreira Uma vez Duas vezes
(estadual e federal)
Duas vezes
- Reeleito (progressão
estática)Juscelino
Filho - - - - EleitoElmar
Nascimento
Duas vezes
Três vezes (estadual)
- - Eleito (progressão ambiciosa)
Giuseppe Vecci - - - - Eleito
Veneziano Vital
do RegoDuas vezes
- Duas vezes
- Eleito (regressão)
Fonte: o autor, 2016.
Como visto anteriormente, a variável seniority, ou seja, o tempo na política
institucional (e mesmo não institucional), é fundamental para acúmulo de capital
36
simbólico e político. Analisando os dados da tabela que identifica os dez parlamentares
municipalistas de elite é possível identificar que 80% dos deputados que votam com os
municípios já têm experiência em algum mandato eletivo.
Sabendo disso, a tabela revela outro dado importante: a estruturação de
carreiras políticas no país. Os deputados e deputadas municipalistas de elite
consolidaram uma estrutura de carreira política antes da chegada à Câmara dos
Deputados e isso deixa evidente o porquê de haver apenas 20% de parlamentares
municipalistas outsiders para garantir vaga no pleito legislativo em âmbito federal.
Constatou-se que 60% dos parlamentares já foram vereadores, 60% deputados
(as) estaduais e 40% prefeitos (as) e nenhum (a) governador (a), antes da chegada à
Câmara. Como foi visto anteriormente, no tocante ao que explana Miguel a respeito das
carreiras, a dificuldade de se atingir postos cada vez mais elevados na política
institucional aumenta, de acordo com as características do cargo.
Como já analisado, as carreiras são escolhidas pelos riscos e benefícios do
cargo em disputa. Fica em evidência que, devido as características do sistema político
brasileiro, as chances de se conseguir uma vaga no Senado ou Câmara mudam, no que
concerne ao grau de dificuldade. Logo, como lembra Rhode (1979), e já dito
anteriormente, a escolha não está ligada à natureza do cargo, mas tem relação com as
facilidades e/ou dificuldades para consegui-lo.
Isso posto, no estudo de caso aqui proposto observou-se que 70% dos
parlamentares no pleito de 2014 obtiveram progressão ambiciosa; em outras palavras,
parlamentares antigos sabem que tem “mais peso” na disputa, e esta é uma das razões
pelas quais se candidatam a cargos mais elevados. Apenas 10% de regressão e
progressão estática (reeleição). O que se pode tirar desta análise é a relação das
variáveis de sucesso para o crescimento político dos (as) deputados (as) e o sucesso na
conquista de uma vaga para a 54ª legislatura, como a experiência em cargos anteriores
bem como o fato de ser municipalista consolidaram as carreiras dos deputados e
deputadas estudados. O objetivo aqui não é realizar uma análise exaustiva das variáveis
de sucesso e sua relação com as carreiras, mas a relação de algumas destas para o
sucesso das carreiras.
37
V. Estudo Analítico: Eleições de 2012/2014 e Carreira dos Municipalistas de Elite no Senado Federal
Tabela 3. Carreira Política dos Dez Senadores Municipalistas
Senado Federal
Senador (a)
Vereador (a)
Deputado Estadual/Federal
Prefeito (a)
Governador (a)
Eleição de 2011/20147
Ana Amélia
- - - - Eleita
Fernando Bezerra Coelho
-Três vezes
(duas federal e uma estadual)
Uma vez - Eleito
(Progressão
ambiciosa)
Eunício Oliveira
-Três vezes (federal)
- - Eleito (Progressã
o ambiciosa)
Aécio Neves
-Quatro vezes
(federal) -Duasvezes
Eleito (regressão)
Fátima Bezerra
-Quatro vezes (estaduais)
--
Eleita (Progressã
o ambiciosa)
Elmano Férrer
- - Uma vez -Eleito
(Progressão
ambiciosa)
Humberto Costa
-Uma vez
(estadual e federal)
- - Eleito (Progressã
o ambiciosa)
Douglas Cintra
- - - - Reeleito no Senado
(Progressão estática)
Lídice da Mata
Uma vezDuas vezes (estadual e
federal)Uma vez - Eleita
(Progressão
ambiciosa)
Lúcia Vânia
- Duas vezes (federal)
- - Reeleita no Senado
(progressão
7 Foi adicionado o pleito de 2012, uma vez que a renovação de parlamentares no Senado Federal não se dá
totalmente, findada a legislatura, como acontece na Câmara dos Deputados.
38
estática)Fonte: o autor, 2016.
Foi visto, em análise feita com parlamentares municipalistas de elite da Câmara
que votar com os municípios, bem como seguir carreira partindo de cargos menos
concorridos, foi fundamental para o sucesso de deputados e deputadas.
No Senado Federal, por outro lado, o cenário não foi diferente. Observou-se
que possuir uma carreira pregressa é nevrálgico para o acúmulo de capital simbólico. Há
muitas variáveis de sucesso que permeiam o êxito de senadores e senadoras, como
capital econômico, político, midiático, simbólico e etc. Obter cargos no legislativo cuja
posição é de destaque dá a candidatos maiores chances de sucesso na arena eleitoral,
reconhecimento que eventualmente traz retornos na arena legislativa, sabendo que no
Sistema Político Brasileiro há conexão entre as arenas eleitoral e legislativa.
Entretanto, percebeu-se que quase não houve senadores que tenham exercido
mandato como vereador, apenas 10% (na Câmara este número cresce para 60%). Já em
cargos como os de deputado estadual e federal os números chegam a 40% e 60%,
respectivamente, o que revela um apreço maior por cargos de maior “prestígio”, por
parte de candidatos ao Senado.
Isso se deve pelo fato de o pleito no Senado ser mais árduo, uma vez que as
eleições para a casa são majoritárias: o candidato com maior número de votos tem êxito
eleitoral. Isso leva a inferir que, apesar de haver relevante importância do cargo de
vereador, no âmbito municipal, candidatos ao Senado têm preferência por cargos de
mais destaque (o que sustenta a tese da construção de carreiras políticas no Brasil).
Não houve grandes alterações nos números para o cargo de chefe do executivo
municipal, tendo como base a análise feita com senadores nas eleições de 2012 e 2014.
Enquanto na Câmara 40% dos parlamentares em algum momento tenham sido
prefeitos, no Senado este número é de 30%. No entanto, há algo que chama a atenção na
análise do estudo feito com os senadores municipalistas de elite, no tocante às eleições
de 2012 e 2014. Na Câmara 60% dos parlamentares obtiveram progressão ambiciosa e
este número se repete nos pleitos do Senado. Os números quase não mudam
significativamente quando se analisa os índices de progressão estática: 10 % na Câmara
e 20% no Senado; nos períodos analisados com os parlamentares municipalistas da
Câmara e Senado, existe a representação de um índice de apenas 10% de regressão, em
ambas as casas.
39
A dinâmica nas eleições para as duas casas revela apreço por cargos de maior
destaque por parte de senadores, como ressaltado anteriormente tendo em vista as
dificuldades do sistema majoritário. Logo, se na arena eleitoral possuir a carreira
política consolidada aumenta as chances de progressão ambiciosa ou estática, votar com
os municípios, nos termos do observatório político da CNM, dá aos parlamentares
municipalistas reconhecimento nas prefeituras de suas bases eleitorais. Isso posto, os
congressistas que se atentam à dualidade das arenas que regem o sistema político
brasileiro obtêm mais sucesso tanto nas urnas quanto em Brasília.
40
Capítulo 4 – Estudo Analítico 2 (DIAP)
I) Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP)
O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) foi criado em
1983, idealizado inicialmente pelo advogado trabalhista Ulisses Riedel de Rezendo,
atual Diretor-Técnico da instituição. A entidade foi criada com o objetivo de atuar nos
três Poderes da República, com foco no Legislativo. O DIAP atua de forma excepcional
em assembleias legislativas e câmaras de vereadores, no âmbito estadual e municipal.
O foco da instituição é assegurar a representação da reivindicação de
trabalhadores e trabalhadoras do país. Atualmente o DIAP é composto por
aproximadamente 900 entidades de trabalhadores centrais, bem como confederações,
federações, sindicatos e associações distribuídas em todos os estados do País, das quais
90 são de Brasília, de acordo com a instituição.
O DIAP, assim como as instituições que lutam pela defesa institucional de
categorias integrantes da sociedade civil, preza por princípios fundamentais que o
norteiam, a destacar: democracia nas decisões, atuação [pluri][supra]apartidária;
conhecimento técnico; defesa da classe trabalhadora, respeito ao consenso do
movimento sindical e etc.
A comunicação da entidade envia correspondência a seus filiados e edita com
frequência boletim informativo compartilhado com instituições filiadas. Além disso, o
DIAP mantém lançamento periódico de livros bem como o perfil, todos os anos, de
parlamentares que votam com o movimento sindical.
A instituição age na defesa de trabalhadores e entidades sindicais com o
objetivo de atuar como órgão de pressão na proteção e garantia dos diretos de
trabalhadores brasileiros. Neste sentido, o Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar age como órgão de pressão, tendo como eixo básico o respeito de todos os
posicionamentos em questão bem como a defesa da causa pública.
O DIAP prioriza seus filiados na distribuição de seus produtos, através da
Agência DIAP de notícias e a publicação anual dos Cem Cabeças do Congresso, assim
como a agenda de interlocução com os três poderes. Além disso, a entidade permite que
as instituições filiadas possuam acesso a informações sobre legislação trabalhista do
banco de dados e/ou que sejam de interesse do movimento sindical. O DIAP mapeia os
41
100 parlamentares mais influentes do Congresso, com vistas a auxiliar os movimentos
sindicais e trabalhistas na articulação com o Poder Legislativo.
II) Os Cem “Cabeças” do Congresso
Anualmente, o DIAP mapeia os cem parlamentares que se destacam no âmbito
do Poder Legislativo, os “Cabeças” do Congresso. Partindo do pressuposto que a
disputa política é assimétrica, ou seja, de que não haverá recursos o suficiente para que
todos os parlamentares estejam em posição de destaque. Dessa forma, os parlamentares
titulares da agenda (ou agenda holders) angariam mais recursos – sejam estes políticos,
econômicos, organizacionais, materiais, técnicos, etc – para investir em suas carreiras.
Isso posto, o DIAP, há 22 anos, mapeia aqueles parlamentares que são “peça-chave”
para o movimento trabalhista, sobretudo ao movimento sindical e entidades que
trabalham em prol do direito trabalhista e previdenciário.
Metodologia
O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) tem por meta,
dentre seus objetivos, mapear congressistas de elite; e para isso adota métodos
qualitativos e quantitativos para garantir a objetividade da pesquisa.
Há variáveis de sucesso parlamentar que, de acordo com o DIAP, impulsionam
as carreiras de deputados e senadores, o que torna alguns congressistas mais habilidosos
que outros. Aspectos institucionais, posicionais, como o trabalho em relatorias
importantes, cooperação como membro titular de comissões especiais de grande
visibilidade midiática e comoção social são exemplos de variantes que colocam
parlamentares em posição de destaque.
No entanto, o DIAP acredita que a posição institucional não é variável única
para a inclusão de parlamentar nos “Cabeças” ou para que estes congressistas tenham
grandes influências na esfera legislativa; já que os parlamentares de elite são aqueles
que exercem papel decisivo no processo da Policy-Making bem como sobre os atores
nela envolvidos (mesmo parlamentares fora destas condições podem se destacar no
cenário político); e há outras maneiras de se destacar no Congresso. No tocante à forma
a qual se faz a seleção dos parlamentares de elite do Congresso Nacional, o
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar trabalha com os seguintes
parâmetros: 1) bons debatedores; 2) articuladores/organizadores; 3) formuladores; 4)
negociadores; e 5) formadores de opinião.
42
Os parlamentares intitulados “debatedores” são aqueles cuja retórica política e
bom conhecimento do regimento interno lhes capacitam de habilidades para angariar
destaque no Congresso. Estes deputados e senadores, através de seus debates e de
questões de ordem por eles levantadas, bem como na discussão de matérias, contribuem
para a boa dinâmica congressual. Os deputados e senadores articuladores (e
organizadores) são aqueles que têm características de policy-brokers. São congressistas
que agem no sentido de articular, de maneira habilidosa, os interesses de atores que
circundam as decisões do processo decisório em matérias que relatam ou que têm algum
interesse na tramitação. Não necessariamente são parlamentares eruditos e intelectuais,
mas deputados e senadores que possuem capacidade interlocutória pela experiência,
habilidade política para articular consenso em proposições de interesse pessoal e/ou da
base parlamentar (governista ou oposicionista) a qual pertence.
Os formuladores são aqueles deputados e senadores que atuam na elaboração
de textos a serem deliberados pelo poder legislativo. Geralmente, são deputados e
senadores especialistas em alguma área, seja no âmbito jurídico, econômico e etc; são,
em razão disto, congressistas produtivos, apesar de normalmente terem menos
visibilidade que os parlamentares intitulados de bons debatedores. Apesar de não ser
algo exclusivo, a variável “especialização” é fundamental para que se consolide
enquanto “formulador”.
Os negociadores são, assim como os articuladores, bons policy-brokers. No
entanto, estes se destacam por terem exercido posições de destaque dentro do Congresso
e em geral são líderes ou vice-líderes e têm bastante experiência.Por último e não menos
importante, os formuladores de opinião. Estes também são parlamentares experientes e
caracterizados pela credibilidade e respeitabilidade entre seus pares. Pela discrição, são
parlamentares que atuam nos bastidores, não se expondo em questões menores do
Legislativo. Fazem parte da estrutura de elite do Congresso; no entanto, não
necessariamente estão em posições institucionais “chave” do processo legislativo (como
lideranças e presidência de alguma das casas do Congresso).
O DIAP pontua que estas variáveis não são observadas de maneira isolada para
analisar quais são os parlamentares de elite no ano estudado. Estas variáveis são
cruzadas, ou seja, relacionam-se, uma vez que as mesmas não se excluem. Este estudo
analítico leva em conta os parlamentares de elite levantados pelo DIAP, em “Os Cem
Cabeças do Congresso”.
43
III) Parlamentares de Elite (DIAP/2015)
No âmbito da esfera legislativa, acoplar as variáveis preestabelecidas pelo
DIAP indica progressão das carreiras no legislativo, uma vez que a confluência destas
variáveis possibilita que deputados e senadores angariem mais capital simbólico para
fazer frente a suas pautas políticas. O reconhecimento pelo esforço dentro do Congresso
é algo construído; tendo isto em vista, congressistas que optam pela progressão estática
e/ou ambiciosa trabalham para conseguir capital político para suas carreiras. Por mais
que o legislativo não seja o locus favorito de muitos parlamentares, principalmente
aqueles que procuram a reeleição, a atenção à arena legislativa é crucial.
Como visto anteriormente, a disputa política é assimétrica. Isso posto, no
tocante à conexão eleitoral em contexto brasileiro, aqueles que conquistam espaços
privilegiados na esfera legislativa tendem a conseguir, de igual maneira, recursos que
lhes servirão de apoio para investir na arena eleitoral. O estudo feito pelo DIAP
evidencia as variáveis de sucesso na arena legislativa, o que destaca congressistas de
elite.
Os “Cabeças” de 2015, com base na metodologia já discutida, traça o perfil de
congressistas por classificação, estado/região, profissão, especialização, número de
mandatos bem como gênero (esta última que não será aqui discutida, embora seja
relevante para o estudo das carreiras). Estas variáveis, juntas, revelam as figuras
políticas que dominam o cenário congressual pela habilidade, discurso e experiência.Na
pesquisa, o DIAP selecionou 38 senadores e 62 deputados como de elite; o Senado,
apesar ser constituído de menos parlamentares que a Câmara dos Deputados, encontra-
se hiper-representado, com 38% da representação de parlamentares de elite no
Congresso. Isso se explica pela variável seniority, uma vez que a chegada ao senado
requer uma carreira consolidada prévia: muitos dos senadores analisados já foram
prefeitos, governadores, ministros, deputados ou exerceram algum cargo público que
lhes imputaram posição de destaque. Além disso, pelo fato de a idade mínima para
Senado ser de 35 anos, senadores acumulam experiência em áreas que lhes asseguram
especialização em temas de relevância, no legislativo; logo, os frutos dos esforços feitos
no legislativo são colhidos na arena eleitoral.
Figura 5. “Cabeças” do Congresso por Classificação
Fonte: DIAP, 2015, p. 19 (adaptado)
Debatedor Articulador Formulador Negociador Formador de Opinião
26%
19%
11%
6%
14%
9%
3%2%
"Cabeças" por Classificação
Deputados (as) Senadores (as) Total
44
Há algo curioso no que concerne os parlamentares de elite por região, de
acordo com a pesquisa do DIAP. O Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar constatou que existem mais parlamentares de elite em regiões com mais
recursos financeiros, ou seja, as regiões brasileiras mais ricas, industrializadas e mais
urbanizadas.
Logo, enquanto no atual quadro político do Congresso as regiões mais pobres
detêm o maior número de parlamentares, esta situação muda quando analisado a
quantidade de congressistas de elite para estas regiões. É detectado que há menos
parlamentares de elite representando as regiões mais economicamente desfavorecidas.
De acordo com o DIAP, além de a distorção acontecer em proporções de
representação destas regiões – no tocante ao quadro representativo dos variados
segmentos da sociedade no legislativo – a representação é economicamente
desproporcional, uma vez que 25% do PIB elegeu o Congresso Nacional, o que é
curioso, uma vez que um quarto do PIB nacional foi para as campanhas do legislativo
federal, em 2014. Isso demonstra que a variável capital econômico têm bastante
relevância nas carreiras; apesar de esta não ser decisiva, dá a parlamentares condições
de sucesso na arena eleitoral (principalmente), já que é essencial para o sucesso nas
campanhas. Isso, claro, deve mudar em eleições vindouras em virtude da recente
reforma política que impede o financiamento por parte pessoas jurídicas.
Figura 6. Os “Cabeças” por Região
Fonte: DIAP, 2015, p. 19 (adaptado)
Outro dado bastante relevante para as carreiras, segundo o DIAP, é a variável
“profissão”. O DIAP detectou que quase metade dos parlamentares de elite (40%) está
vinculada a algum tipo de profissão liberal: empresários, advogados, professores,
médicos, economistas, engenheiros, metalúrgicos, bancários e jornalistas. Isso faz com
que estes parlamentares consigam, através da especialização profissional, mais capital
simbólico para operar em comissões importantes, seja na relatoria ou articulação de
matérias de afeto a área que exerciam antes do ingresso no legislativo.
Norte Nordeste Centro-este Sudeste Sul0
5
10
15
20
25
30
35
40
2
20
4
27
98
13
5
7
5
"Cabeças" por Região
Deputados Senadores Colunas1
45
Figura 7. Profissão por Partido
Fonte: DIAP, 2016, p. 18 (adaptado).
Dos cem parlamentares de elite mapeados pelo DIAP, vinte e um são
empresários, o que demonstra a expressividade da bancada empresária como estratégica
no Congresso Nacional; segundo o Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar, o que explica a teoria de que os agentes econômicos talvez estejam
mudando no tocante à representação, optando pela representação descritiva à simbólica.
Outra variável que o DIAP considera de extrema relevância para as carreiras é
a “especialização temática”. Segundo a entidade, a habilidade de parlamentares, no
tocante à especialização, é algo que tem grande impacto em suas carreiras, mesmo que
de maneira indireta, uma vez que são estes parlamentares aqueles que são convidados
para tratar de assuntos de sua área temática. Um bom exemplo é o senador Paulo Paim
(PT/RS), que tem excelente diálogo com o movimento sindical e trabalhista; o senador
em questão, dada a experiência e especialização no tema, é sempre convidado a
participar de audiências públicas que envolvam direitos trabalhistas e previdenciários
bem como têm extenso histórico em relatorias de matérias importantes sobre a temática.
Especializar-se em alguma área é componente-chave para o sucesso das carreiras no
âmbito legislativo e, embora indiretamente, na arena eleitoral.
Isso posto, o DIAP acredita que parlamentares com este perfil são sempre fonte
de consulta por seus colegas e referência no Congresso dentro do tema em que é
24
14
12
8765433
33221111Profissão por Partido
PTPSDBPMDBPSBDEMPCdoBPPPTBPDTPRPSOLSDPSCPPSPSDPROSPVPRB
46
especialista. Tendo isto em vista, muitos especialistas são bons negociadores, já que
conseguem articular as negociações no Congresso da temática que dominam.
O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, com o objetivo de
traçar o perfil dos parlamentares especialistas, ordenou-os em categorias temáticas, a
saber: Economia e Desenvolvimento Regional; Infraestrutura; Orçamento, Tributos e
Finanças; Ciência, Tecnologia e Comunicação; Agricultura, Questões Fundiárias e
Agrárias; Educação; Trabalho Sindical e Previdência; Direitos Humanos e Minorias;
Saúde e Assistência Social; Justiça, Segurança e Cidadania; Amazônia e Meio
Ambiente.
Isso mostra que há, cada vez mais, um crescente interesse de parlamentares em
se especializar em algum tema, uma vez que a variável “especialização temática” é de
extrema para o sucesso das carreiras de deputados e senadores. Esta é uma das variáveis
que chamam a atenção das lideranças, mídia e inclusive do (a) chefe do Planalto o que
pode trazer bons retornos políticos ao parlamentar especialista.
Já a variável “número de mandatos” revela o que tem sido constatado na
pesquisa até o momento com relação à variável seniority. O Departamento Intersindical
de Assessoria Parlamentar constata, através da pesquisa com os cem parlamentares de
elite do Congresso Nacional, que apenas vinte e seis (26%) destes congressistas são
deputados e senadores de primeiro mandato; ou seja, 74% dos parlamentares de elite já
obtiveram algum mandato, o que indica o relevante impacto da variável “número de
mandatos” para o crescimento e manutenção das carreiras. Conforme a tabela a seguir, é
possível perceber que há um constante afunilamento na quantidade de parlamentares na
medida em que aumenta o número de mandatos:
Tabela 4. Número de Parlamentares por Mandato
Mandato 1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 11° Total
Deputados
(as)
3 13 14 12 8 7 2 1 1 - 62
Senadores
(as)
23 10 4 1 - - - - - - 38
Total 26 23 18 13 8 7 2 1 1 1 100
Fonte: DIAP, 2016, p. 23.
47
A tabela demonstra algo já abordado anteriormente nesta pesquisa. Através do
estudo analítico, percebeu-se que a tese de alguns autores, a de que há, no Brasil,
estrutura de carreiras políticas, reflete de fato a realidade do Congresso brasileiro.
Quando analisado os mandatos dos parlamentares de elite, a quantidade decresce
conforme o número de mandatos; em outras palavras, o número de parlamentares cai
com o aumento do número de mandatos. Apesar de a hipótese não ter sido testada,
acredita-se que muitos destes parlamentares invistam em outros cargos, como os de
chefe de executivo municipal/estadual, ou regridem nas carreiras por “n” razões, como a
proximidade da família e reduto eleitoral ou por acreditarem que os custos da disputa de
um cargo mais venerado serão maiores que os benefícios do mesmo.
Além disso, após o segundo mandato em algum cargo, o parlamentar, em tese,
tem mais capital simbólico, político e econômico para galgar cargos mais disputados.
No primeiro mandato, 26% dos parlamentares figuram no topo dos parlamentares de
elite; 23% no segundo mandato, 18% no terceiro, 13% no quarto, 8% no quinto e o
número de parlamentares decresce enquanto maior a quantidade de mandatos. A
variável “cabeças por critério de influência determinante” é outro tipo de variável
levada em conta pelo DIAP para fazer a escolha dos cem parlamentares de elite.
Segundo a entidade, é através de critérios institucionais, reputacionais e decisionais que
se determina quais são os parlamentares de elite. Isso posto, há algo importante a ser
destacado a respeito destes parlamentares, conforme a tabela a seguir. Estes
parlamentares já ocuparam cargos estratégicos no legislativo, o que lhes deu destaque
para a atuação individualizada.
Tabela 5. Ocupação Institucional no Parlamento
Ocupação Institucional no Parlamento Quantidade
Líderes 32
Vice-líderes 24
Operadores temáticos 16
Presidentes e vices de comissão 11
Presidentes e vices de partido 9
Membro das Mesas Diretoras da CD e SF 6
Coordenadores de grupo de trabalho 2
48
Fonte: DIAP, 2016, p. 24.
Fica evidente que ocupar um cargo institucional pode alavancar as chances de
sucesso de congressistas no legislativo. Não se defende aqui, entretanto, que esta
variável é fator único para o sucesso nas carreiras; entretanto, através deste estudo, fica
comprovado que cargos de destaque, como as lideranças e vice-lideranças, por exemplo,
dão destaque a deputados e senadores no legislativo e fora dele. As lideranças
predispõem de tempo especial para se pronunciar a respeito de proposições legislativas,
podem encaminhar a bancada, fazer destaque, escolher membros do partido/bloco para
compor comissões especiais e permanentes, o que lhes proporcionam posição destacada
no Congresso.
Grosso modo, a confluência dessas variáveis são peças fundamentais para o
sucesso parlamentar. Os parlamentares que almejam alcançar posições destacadas na
política institucional devem atentar-se às variantes de êxito parlamentar. Logo, saber da
conexão eleitoral presente no sistema político-eleitoral brasileiro – bem como as
variáveis de sucesso em ambas arenas (legislativa/eleitoral) – é o primeiro passo para
que o êxito nas carreiras políticas de deputados e senadores seja estabelecido.
49
Considerações Finais
Nos últimos anos, uma onda crescente de trabalhos acerca dos estudos
legislativos tem focado na questão das carreiras políticas e as variáveis que possam
incidir positiva e/ou negativamente nas carreiras de deputados e senadores.
Foi defendido neste estudo que no Brasil existe uma estrutura de carreiras
políticas, já que parlamentares optam por cargos de menor ao maior grau de dificuldade
na obtenção dos recursos necessários para a ascensão política. Além disso, através da
literatura, defendeu-se que congressistas escolhem suas carreiras baseando-se não pela
natureza dos cargos, mas pelo grau de dificuldade e o custo de oportunidade de
aquisição de determinado cargo. Foi visto que no Brasil há regras no sistema político
bem como variáveis que podem dificultar o êxito de candidatos à Câmara dos
Deputados ou ao Senado Federal, como as distorções do sistema proporcional, as
dificuldades de maioria absoluta no sistema majoritário bem como a assimetria de
recursos políticos, econômicos, midiáticos e simbólicos.
Sabendo disso, esta pesquisa deu enfoque às variáveis de sucesso parlamentar
para explicar como é estabelecido o êxito de deputados e senadores. Para isso, foi
defendido que no Brasil existe uma conexão eleitoral, ou seja, há duas arenas
interdependentes e conexas que não se excluem. A primeira, a eleitoral, é aquela que se
restringe ao pleito eleitoral para conseguir mandatos eletivos; a segunda arena, a
legislativa, é o trabalho desenvolvido por congressistas em Brasília.
Saber da existência desta conexão é fulcral para a compreensão do sucesso
parlamentar, assim como as variáveis de sucesso que a circundam. Só assim é possível
identificar as particularidades das arenas e a forma pela qual o sucesso se dá em ambas;
sabendo disso, a pesquisa tomou como eixo a questão da conexão eleitoral no Brasil –
arenas eleitoral e legislativa unidas de maneira interdependente – para explicar como
acontece o êxito de deputados e senadores.
50
Enquanto na primeira arena, a eleitoral, parlamentares se preocupam com a
reeleição ou progressão de suas carreiras, na segunda, a legislativa, deputados e
senadores estão preocupados em angariar recursos – sejam estes políticos, econômicos,
simbólicos e etc – para investir em seus redutos eleitorais, aumentando suas chances de
vitória em eleições ulteriores.
Logo, foi possível identificar a complexidade destes dois campos que, juntos,
são locus de extrema importância para as carreiras, apesar de a arena legislativa não ser
a preferida dentre os parlamentares, o que não exclui sua importância, uma vez que há
recursos que se pode obter nela para investir na arena eleitoral; sendo assim, foram
analisadas algumas das peculiaridades destes dois campos, bem como as variáveis de
êxito parlamentar presente em ambos.
Isso posto, em primeiro momento foi analisado o Observatório Político da
Confederação Nacional de Municípios (CNM) para mapear os vinte congressistas
municipalistas de elite, de acordo com os parâmetros da instituição e de seu
observatório político. Feito isto, a presente pesquisa trabalhou no sentido de relacionar
as variáveis de sucesso com o êxito destes parlamentares – como a variável seniority,
sistema político, a questão da accountability societal e etc. –, para relacionar ao sucesso
dos municipalistas de elite.
Em um segundo momento, analisou-se os “Cabeças do Congresso”, estudo
anual do Departamento Intersindical de Assessoria Paramentar que indica os cem
parlamentares mais influentes do Congresso Nacional.
Neste segundo estudo de analítico, foram analisadas variáveis da arena
legislativa que são essenciais para o sucesso de deputados e senadores neste espaço de
recursos escassos e disputadíssimos. Variáveis como o número de mandatos, ocupação
institucional (lideranças, vice-lideranças, membro da Mesa de uma das casas e etc) bem
como a especialização, são variáveis que conferem a estes parlamentares capital político
e simbólico o suficiente para que estes congressistas sejam bons debatedores,
articuladores, formuladores, negociadores e formadores de opinião. Sabendo disso,
ficou evidente que o acúmulo destas variáveis faz com que parlamentares tenham mais
chances de se manter ou ascender em suas carreiras.
Em síntese, através da literatura de apoio e dos estudos analíticos utilizados na
pesquisa, concluiu-se que lutar pelas carreiras no âmbito legislativo é não somente
conseguir recursos para investir no campo eleitoral com o objetivo de progredir de
forma estática (reeleição) ou ambiciosa (ascensão de cargo), mas lograr reconhecimento
51
pelo trabalho e pelos pares. Algumas variáveis de sucesso se encontram vencidas devido
a alterações no Sistema Político Brasileiro e Legislação Eleitoral, como a questão do
fim do financiamento privado de campanhas e a mudança no tocante ao orçamento
impositivo, que passa a ser autorizativo. Em virtude destas alterações, há uma gama de
variáveis passivas de novas análises por cientistas políticos e pesquisadores no âmbito
dos estudos legislativos. Tendo isso em vista, a pesquisa tentou trabalhar algumas das
variáveis difundidas na literatura e sua aplicabilidade em estudos analíticos, sem
desconsiderar as recentes mudanças que só terão reflexos futuros, tanto na arena
eleitoral quanto na legislativa. De momento, saber que existem variantes decisivas no
sucesso das carreiras políticas é o passo necessário para se estudar os impactos positivos
e/ou negativos futuros para as carreiras políticas, mesmo com as constantes mudanças
destas variáveis.
52
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