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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A Depressão em crianças e adolescente hospitalizados
Por: Maria Leonor Mendes de Lima
Orientador
Prof: Maria Poppe
Niterói
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A depressão em crianças e adolescentes
hospitalizados
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Terapia de família.
Por: Maria Leonor Mendes de Lima
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AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus, por sempre caminhar ao meu lado. Agradeço a toda minha família (pais, marido e filhas) por me incentivarem sempre e não deixarem-me desistir, me dando apoio e o seu amor incondicional. Agradeço as minhas amigas (Édila e Elizabeth) que estiveram sempre presentes nas boas e más horas. Agradeço em especial a Renata Diniz e Tatiana Barros que sem a colaboração das mesmas não seria possível a realização dessa conquista.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a toda minha família e as minhas amigas que me incentivaram e me apoiaram, colaborando sempre para a realização deste.
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RESUMO O tema desse trabalho surgiu a partir do interesse em obter maiores
informações sobre a depressão em crianças e adolescentes durante o período
de internação hospitalar. A depressão é uma doença muito comum, porém
reconhecê-la não é tão simples. Ela pode manifestar-se de diversas maneiras e
não há diferenciação entre idade, gênero, raça ou classe social, podendo
acometer também crianças e adolescentes. As crianças são percebidas pela
sociedade como seres alegres e que não possuem preocupação, e por esse
motivo causa estranheza a ocorrência da depressão infantil. É necessário que
todos tenham conhecimento acerca do aparecimento e sintomas da depressão,
para tornar-se possível o planejamento de ações que possam interferir nesse
quadro. O trabalho ressaltará a existência da depressão em crianças e
adolescentes durante a hospitalização, refletindo sobre as dificuldades,
conflitos e angústias durante o período da hospitalização. E buscará propor
ações que possam atuar no sentido de amenizar os conflitos vivenciados por
eles nesse período. Essas ações propostas terão por finalidade o brincar, e
essas brincadeiras realizadas no ambiente hospitalar constituem-se em uma
forma de promoção da saúde que podem atuar, dentre outras, para evitar o
surgimento da depressão nas crianças e adolescentes durante a internação
hospitalar.
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METODOLOGIA
O presente trabalho foi realizado a partir de pesquisa bibliográfica sobre
o tema. Para isso foram utilizadas diversas bibliografias em relação a
caracterização da depressão, como em Freud (1914) e Bolguese (2006). Para
caracterizar a depressão em crianças e adolescentes algumas das referências
utilizadas foram as de Rappaport (1993), Baptista (1999), Chabrol (1990) e
Ballone (2008). O trabalhou buscou definir também como se dá a reação das
crianças e adolescentes frente a hospitalização, utilizando para isso, Ferro
(2007), Amorim (2007) e Soares (2005). Por fim, propôs ações para amenizar
esse período, conforme discussões de Costa (2008) e D´Alcântara (2008),
dentre outros. As referências bibliográficas utilizadas tiveram como objetivo
expor o tema da monografia de forma mais esclarecedora e eficiente,
contribuindo para compreensão do surgimento da depressão em crianças e
adolescentes durante o período de internação hospitalar e a importância de
existirem propostas eficazes tal como o “brincar” para que os conflitos e
angústias durante a internação possam ser amenizados tentando-se, assim,
evitar a depressão.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Caracterizando a Depressão 10 1.1. As causas da depressão 12 1.2. Os sintomas e tratamento 13 CAPÍTULO II - A Depressão em crianças e adolescentes 17 2.1. A infância, adolescência e a depressão 18 2.2. Caracterização da depressão infanto- juvenil 22 CAPÍTULO III - A criança e o adolescente frente a hospitalização 28 3.1. Proposta de intervenção no tratamento hospitalar de crianças e adolescentes 31 CONCLUSÃO 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ÌNDICE FOLHA DE AVALIAÇÃO
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INTRODUÇÃO
A depressão é definida como um problema psicológico complexo cujas
principais características são o estado de ânimo irritável e/ou disfórico, falta de
motivação e diminuição do comportamento instrumental adaptativo. (Mendez,
2005)
O tema do trabalho surgiu a partir do interesse em entender como as
crianças e adolescentes são acometidas pela depressão e passam a não
desfrutar da vida como em outras circunstâncias seria possível. Neste trabalho
será enfatizado o surgimento da depressão durante o período de hospitalização
de crianças e adolescentes.
As crianças são percebidas pela sociedade como seres alegres e que
não possuem preocupação, por esse motivo, a depressão em crianças causa
estranheza.
É muito importante que todos tenham conhecimento acerca da
ocorrência da depressão, para que possa tornar-se possível o planejamento de
ações que possam interferir nesse quadro.
O trabalho ressaltará as experiências de ações já existentes nesse
sentido, refletindo sobre a importância das brincadeiras como estratégias para
amenizar os conflitos vivenciados pelas crianças e adolescentes durante o
período de internação.
Tais brincadeiras também atuarão, portanto, no sentido de promoção da
saúde, buscando assim, evitar o surgimento da depressão durante a
hospitalização infantil.
O trabalho será dividido em três capítulos:
No capítulo I será definido o conceito de depressão, seu surgimento, a
maneira como se apresenta e como é possível diagnosticá-la.
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No capítulo II refletiremos sobre o surgimento da depressão em crianças
e adolescentes buscando expor as dificuldades, conflitos e angústias que lhe
são acometidos durante o período de hospitalização.
No capítulo III serão discutidas a existência de ações que tenham como
objetivo o brincar, e como estas podem ser estratégias eficientes para evitar o
surgimento da depressão em crianças e adolescentes hospitalizados,
buscando, portanto, propor a realização dessas brincadeiras no ambiente
hospitalar a fim de contribuir para a promoção da saúde.
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CAPÍTULO I – CARACTERIZANDO A DEPRESSÃO
A depressão é uma doença muito comum, porém reconhecê-la não é
simples, pode manifestar-se de muitas maneiras e não há diferenciação entre
idade, gênero, raça ou classe social.
A depressão pode ser desenvolvida por uma série de razões, podendo
atrapalhar seriamente a vida das pessoas. Ela se caracteriza por um estado de
sofrimento psíquico que pode causar desordem no comportamento da pessoa,
afetando de modo negativo seu estilo de vida.
Nos dias de hoje a depressão ou pelo menos esse tema passou a fazer
parte da vida de muitas pessoas, ou melhor quase de todas, pois em toda
família se conhece ao menos uma pessoa que já teve ou tem depressão.
Atualmente a sociedade age como se não houvesse tristeza, ou melhor,
como se esta fosse algo fora do “normal”, as pessoas devem ser alegres,
felizes, sorridentes durante vinte e quatro horas por dia, nos trezentos e
sessenta e cinco dias do ano. Caso contrário, algo está errado, e o que vemos
muitas vezes, são as próprias pessoas se auto diagnosticarem, não dizem
“estou triste”, e sim “estou deprimido”.
A depressão é um tema antigo, porém ainda atual, Freud (1914) já
falava sobre ela e hoje vive-se em um caos onde ter depressão é “normal”,
pode-se dizer que é quase uma “moda”.
“Hoje em dia, quase tudo é depressão. A síndrome foi
convertida em uma maneira de explicar o homem moderno.
Confunde-se, porém, o quadro depressivo clinicamente
verificável com manifestações isoladas que podem ser apenas
reações comuns de qualquer sujeito diante de situações
adversas. Essa indiscriminação acaba por encobrir sintomas de
pessoas infelizes, incapazes de se beneficiar da “felicidade
total” prometida pela sociedade industrial, com seus
11
monumentais progressos tecnológicos e ofertas fáceis de
alegria que podem ser compradas a crédito.”
(Bolguese, 2006. p 59)
A depressão representa alteração de humor e da forma como se
interage com as pessoas, este estado pode ser induzido por fatores biológicos,
sociais e psicológicos.
Em relação ao aspecto bioquímico pode-se relacionar o desânimo que
esta doença aparenta e que não é a falta de atitude no comportamento de
reação, mas sim, um mau funcionamento cerebral. O que ocorre é um
desequilíbrio bioquímico dos neurotransmissores (mensageiros químicos do
impulso nervoso) que são responsavéis pelo controle do estado de humor.
A dopamina e a serotonina são neurotransmissores que estão muito
associados ao estado afetivo das pessoas. A serotonina está ligada aos
sentimentos de bem estar ou mal estar, ela regula o controle de movimento, da
percepção e da motivação.
Na depressão a dopamina, serotonina e outras substancias químicas
como noradrenalina, ácido gama-aminobutírico e acetilcolina ficam alteradas
desorganizando o estado de humor, as emoções, capacidade mental e o bem
estar geral do organismo.
A etiologia da depressão é usualmente associada com algumas perdas,
e estas perdas são normalmente numerosas e duradouras para quem sofre da
doença. Dados divulgados pela organização mundial de saúde apontam que
nos próximos vinte anos a depressão deve torna-se a doença mais comum do
mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde,
incluindo o câncer e doenças cardíacas. Desta forma, essa doença será a
maior causa de perdas (para a população) entre todos os problemas de saúde.
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1.1. Causas da depressão:
A classe médica acredita que os fatores desencadeantes da depressão
referem-se à genética, pois aparece em membros de algumas famílias e em
gêmeos também. Por isso é importante investigar se há casos de depressão na
família do doente, pois as chances genéticas são grandes.
A depressão também pode ocorrer depois de uma situação estressante
ou de perda. É comum sentir-se triste e desesperado durante uma crise
financeira, separação ou morte de um ente querido. Também é esperado
sentir-se fragilizado após uma situação estressante como um assalto, estupro,
e seqüestro. Esta tristeza e medo tendem a passar depois de um período de
duas semanas a seis semanas e, após esse período a vida vai entrando nos
eixos.
Alguns indivíduos não conseguem reagir e esta tristeza se transforma
em depressão, principalmente em pessoas com pré-disposição a doença.
Temos varias doenças que podem ser todas como resposta ao ambiente
social que vivemos hoje, porém a que encontra-se com mais freqüência como
“sintoma dessa sociedade” é a depressão. O sujeito acaba se sentindo na
“obrigação” de responder essa demanda, talvez, mas que uma obrigação, seja
para ele uma necessidade, e por não conseguir corresponder todas as
expectativas sociais, por uma questão financeira ou não. Ele se sinta excluído,
rejeitado, humilhado, “o diferente”, e por não saber lidar com esse sentimento
que surge acaba guardando-o para si, e com o tempo transforma-se em um
sofrimento crescente.
Soares nos chama atenção para essa realidade de nossa sociedade
atual, onde existem instrumentos de controle que funcionam como um super
ego, forte e desumano. Deve-se tomar cuidado com esse “instrumento” para
não deixá-los guiar totalmente nossas vidas, pois a partir dessa “pressão” da
sociedade acaba-se adoecendo.
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Há três formas em que a depressão se apresenta:
Depressão reativa: é reativa a alguma situação vivencial traumática
Depressão Secundaria: é secundaria a alguma condição orgânica do individuo.
Depressão endógena: é endógena por ser constitucional, ou seja, ela é
atrelada a personalidade do individuo.
Hoje é possível constatar que a sociedade vive em uma incessante
busca pela satisfação plena, se percebe através da mídia, televisão, outdoor,
que devemos consumir para nos sentirmos felizes, completos e para
suprimirmos nossa falta. Mas não nota-se que todos acabam se tornando
escravos do consumo da mídia, pois o que é consumido hoje amanhã já esta
ultrapassada, e novas propagandas virão.
O desejo de suprir a falta é momentâneo, não se consegue ter
satisfação plena, somos sujeitos castrados, temos um “buraco”, a falta faz parte
de nós. Atualmente pessoas (a maioria, porem não todas) de classe média
baixa, deixam de suprir sua necessidades básicas, como comida (arroz, feijão),
para se “alimentarem” de supérfluos, que acreditam poder comprar o que lhe
falta, adquirir um status.
Essas pessoas se enganadas achando que pode se sentirão completos,
tendo o celular da moda, o carro do ano, roupas de marcas, e acabam
esquecendo que essas coisas alem de não fazerem parte de sua
realidade financeira não vão lhe proporcionar tudo que prometem. No entanto,
a falta sempre vai existir. Soares nos fala da busca do homem pela
globalização, do desejo não dito pelo poder.
1.2 – Sintomas e tratamentos:
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Sintomas:
Os sintomas de depressão podem diferir bastante. Em geral pessoas
com depressão sofrem com o baixo humor, perda de interesse e prazer em
alguns aspectos de vida.
Após um período de tristeza a pessoa esmorece e fica “isolada do
mundo”, não sente vontade de reagir, não acha graça em nada, sente-se
angustiada, sem energia, chora sem motivo, apresenta persistência de
pensamentos negativos e um mal estar generalizado tais como indisposição,
dores pelo corpo, insônia ou sonolência, alterações no apetite, falta de
memória, falta de concentração, vulnerabilidade, fraqueza, taquicardia, dores
de cabeça, sudorese, perda de interesse sexual, irritabilidade, mudança de
peso. A apatia que acompanha a depressão geralmente impede os que sofrem
com a doença de procurarem ajuda.
Tratamento:
A depressão pode na maioria das vezes ser tratada com sucesso,
utilizando-se medicamentos antidepressivos e psicoterapia, acompanhado de
terapia familiar.
O tratamento depende de uma serie de fatores como gravidade, tipos e
sintomas, estilo de vida e medicação. Assim como a terapia
convencional,existe uma variedade de outras terapias complementares que
podem também colaborar com o sucesso do tratamento.
Como qualquer outra doença física o tratamento de depressão será feito
após uma avaliação física e psíquica por um medico psiquiatra. Às vezes a
medicação necessita de ajustes, pois pode apresentar um efeito colateral
incomodo, e por isso é importante a visita periódica para avaliação medica e o
ajuste ou troca do medicamento.
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Os antidepressivos demoram de duas a quatro semanas para atuarem
efetivamente. Uma vez restaurada a química cerebral a depressão tende a
melhorar, a partir daí torna-se mais fácil convencer o enfermo a buscar a
psicoterapia e também a terapia familiar.
Os sintomas de depressão se desenvolvem no decorrer de dias ou
semanas, e se não forem tratados, podem durar de seis meses a dois anos.
Após esse período, a maioria dos pacientes retorna a vida normal, no entanto,
vinte e cinco por cento dos casos a doença se torna crônica.
A psicoterapia oferece a vantagem de o paciente refletir a cerca da
doença e ajuda a lidar com os problemas que conduzem ao aparecimento da
depressão.
O plano terapêutico deve compreender três fases:
1-Fase aguda: dura de seis a doze semanas e tem objetivo de fazer regredir
os sinais sintomas da doença. Cerca de 70% dos pacientes respondem a esta
fase. Quando não ocorre resposta o tratamento devera ser modificado.
2- Fase de continuidade: Nesta fase a medicação deve ser mantida por
quatro a nove meses contados a partir do desaparecimento dos sintomas, com
objetivo de evitar reincidivas.
3- Fase de manutenção: Não tem tempo de duração definida, ou seja, pode
ser mantida por muitos anos. Indicado apenas nos casos de depressão grave,
com alto risco de reincididas ou idéias dominantes de suicídio. Deve-se ser
considerado para as pessoas que tiveram três ou mais episódios de depressão,
ou dois episódios ou mais historia na família de depressão com surgimento
antes dos vinte anos de idade.
Alguns fatores de risco para a depressão podem ser:
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I- Historia familiar de depressão.
II- Sexo feminino.
III- Idade mais avançada.
IV- Episódios anteriores de depressão.
V- Parto recente.
VI- Acontecimentos estressantes.
VII- Dependência de drogas.
Após tal exposição pode-se perceber, portanto, que todos devem estar
sempre atentos aos indivíduos que apresentam esses fatores de risco, para
que seja possível a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da
depressão.
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CAPÍTULO II – A DEPRESSÃO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Neste capítulo será realizada a caracterização da depressão em
crianças e adolescentes.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA 1990) define-se
no segundo artigo que: “considera criança, para os efeitos dessa lei, a pessoa
ate doze anos de idade incompleta e adolescente aquele entre doze e dezoito
anos de idade”.
Crianças e adolescentes com depressão sofrem de quatro classes
principais de distúrbios: problemas relacionados ao pensamento, como
dificuldade de concentração, indecisão, pensamentos mórbidos, sensação de
inutilidade, e culpa excessiva; emocionais: que inclui abatimento, irritabilidade,
interesse ou prazer reduzido nas atividades e uma falta de expressão ou
variação emocional; comportamentais: seriam agitação ou letargia; ou
processos psicológicos, que abrangem muito ou pouco sono, falta ou
excesso de apetite, fadiga e falta de energia (Muller, 2003).
Segundo Rappaport (1993), historicamente a adolescência é um
conceito determinado, um fenômeno que vem se tornando cada vez mais
“normal” na modernidade, que atinge vários jovens, de diversas formas
principalmente os jovens do ocidente, por ocasião da eclosão da puberdade. À
passagem da criança ao jovem adulto se tornou problemática devida à falta de
dispositivos encontrados atualmente.
São cobradas varias mudanças subjetivas ao individuo, e ele deve
passar por essas “transformações” corporais e sociais como um estalar de
dedos, não é dado ao adolescente um período de adaptação, ele além de estar
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tendo o seu corpo transformado abruptamente, ainda deve se preocupar em
corresponder as expectativas da sociedade.
2.1- A infância, adolescência e a depressão
A adolescência é uma fase de grande aprendizagem. Não é regra que
todo adolescente passe por um período turbulento, a sociedade espera que o
adolescente seja revoltado, não goste de cumprir regras, o adolescente
“bonzinho” muitas vezes é taxado de problemático, o que nem sempre é
verdade, não estar condicionado o comportamento ao adolescente
problemático, pode acontecer de coincidir ou não.
Durante a fase de adolescência é necessário grande apoio da família. É
importante que se tenha sensibilidade para poder acompanhar esta fase sem
causar maiores danos ao adolescente. Muitas vezes o desenvolvimento físico
acontece, porém o comportamento ainda é infantil. Vemos meninos com
barbas, altos, com físico já de homens, mas ao conversarmos com eles
notamos que ainda não se desenvolveram psiquicamente, neste caso, ainda se
portam como crianças. Atualmente se tratando das meninas o que temos visto
é a gravidez precoce, o que ilustra muito bem essa realidade. Seus corpos são
de mulher, está preparado para gerar uma criança, porém esta futura mãe
adolescente, ainda ver seu filho como um boneco, alguém com quem brincar.
Em casos como esses, ocorre na maioria das vezes, uma pressão da
família, ela vê um adulto e cobra do adolescente infantilizado, uma postura
madura, que corresponda com o que seus olhos estão vendo. Devemos ter
bem clara a idéia de que cada um é único e reage de uma forma singular ao
meio externo que lhe atravessa. Mas não podemos negar que principalmente
na infância e grande parte da adolescência, esta pessoa sofreu grande
influencia de sua família. Foram passadas regras, costumes, diferentes formas
de recompensas e punições, assim, tentando direcionar a formação da criança
19
e do adolescente, mas cada um absorve esses atravessamentos de maneira
diferente.
A depressão na infância e adolescência começou a ser mais estudada a
partir da década de 60, porém não se pode afirmar que este transtorno não
ocorresse na população antes disto. Hoje não há mais dúvida de que a
depressão atinge esta faixa etária, além de adultos e mesmo uma parcela
razoável da população considerada de terceira idade.
Um fator importante no surgimento e no desenrolar da depressão é a
família, peça fundamental na vida da criança e do adolescente. Atualmente não
temos mais a idéia de família ideal, como pai, mãe e filhos, morando juntos e
“vivendo felizes”. Para Baptista e Assumpção (1999, p.24) a família pode ser
vista como uma junção de crenças nucleares, que auxilia ma formação de
premissas e diretrizes na gênese de regras que guiam o desenvolvimento do
sujeito, delineando sua gama de comportamento e favorecendo um padrão de
avaliação das situações com as quais o individuo se depara em sua vida.
Em uma pesquisa citada por Baptista e Assumpção (1999 p.35), temos
os seguintes dados: “24% de adolescentes que viveram a experiência de um
divórcio antes da idade escolar, tiveram depressão, 9% que experimentaram o
divórcio no período de 7 a 12 anos e 6% quando tinham de 13 a 16 anos.”
De acordo com os mesmo autores, são vários os fatores
desencadeadores da depressão:
• Prévio histórico de depressão; quando já existe um quadro
prévio de depressão na vida do indivíduo, facilita a
recorrência.
20
• Gênero; os episódios depressivos acontecem duas vezes
mais em mulheres, do que em homens.
• Viver em família disfuncional; quando a família não consegue
suprir as necessidades básicas como carinho, amor, entre
outras variáveis.
• Baixa educação dos pais; é levantada a hipótese de quão
menor for o nível de instrução dos pais, fica mais difícil para
estes perceberem e analisarem o que esta acontecendo com
seu filho.
• Grande número de eventos estressantes e pouco suporte
social; quando nos deparamos com várias mudanças, novas
situações, e precisamos de repente, nos adaptarmos à nova
realidade.
• Baixa auto-estima; a depressão está relacionada a uma visão
negativa de si próprio, a auto-estima está relacionada com a
avaliação das qualidades que cada um possui.
• Problemas na escola e competência intelectual; a escola é
vista como segundo lar, e se não se encontra a possibilidade
se ser bem sucedido neste ambiente, pode acarretar a
depressão.
• Técnicas de enfrentamento reduzidas; quando o adolescente
não sabe identificar a hora e a maneira certa de enfrente a
situação.
• Problemas de saúde; problemas de saúde como doenças
respiratórias, coronárias, endócrinas, e outras, podem ser um
fator colaborador para o desencadeamento da depressão.
• Excessiva interdependência pessoal; pode evitar que o
adolescente conquiste seu espaço com o próprio esforço e
acredite em si mesmo. Quanto mais ele for poupado dos
problemas da vida maior será a possibilidade de aumentar
sua ineficiência em enfrentá-los no futuro.
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• Morte prematura de um dos pais; pode ocasionar uma falta
de modelo, atenção, amor, e outros fatores importantes no
desenvolvimento psicológico do ser em formação.
• Fatores genéticos; são três tipos de estudos de fatores
genéticos que podem acarretar depressão: família, estudos
com gêmeos e adotivos.
É fundamental estudar a depressão na criança e no adolescente
devido a possibilidade de evitar o desenvolvimento de maiores problemas ou
transtornos futuros em fases posteriores, incluindo o suicídio.
Podemos relacionar a depressão com o suicídio na adolescência.
Segundo Chabrol (1990), o suicídio é a segunda causa de morte na
adolescência, sendo que aparecem com freqüência idéias suicidas em
adolescentes com depressão. São muitos os estudos que comprovam a
relação do suicídio com a depressão. De 92 adolescentes portadores de
depressão grave (Ryan e Colab, 1987,citados por Chabrol,1990), 34% tinham
feito uma ou duas tentativas no decurso do episódio depressivo atual.
As relações entre depressão e suicídio na adolescência são complexas,
ao mesmo tempo os comportamentos suicidas podem representar uma defesa
contra depressão, evitando um confronto com o sofrimento. Perante a morte, o
adolescente sente-se dono de si mesmo, alcança uma ilusão de onipotência;
como ao contrário, a depressão pode aparecer em forma de defesa contra o
suicídio, neste caso, a depressão aparece com a função de prolongar o laço
mortificante para os pais, protegê-los de sua violência e evitar as possibilidades
de excitação e de prazer.
Um adolescente que tentou suicidar-se crê, inconscientemente, que
matou uma parte de si mesmo: “tentar matar-se significa que,
22
fantasmaticamente, uma parte de si mesmo foi morta e que ele mantém
relação com ela”. (Laufer e Laufer, 1984, citados por Chabrol, 1990)
Estudos recentes mostram que até 2,5% das crianças e 8,5% dos
adolescentes passam por depressão em algum momento, por mais que os
sinais sejam quase imperceptíveis em alguns casos.
2.2 – Caracterização da depressão infanto-juvenil
Antes da década de 60, acreditava-se que a criança não apresentava
um quadro depressivo, pois eram consideradas portadoras de “estrutura de
personalidades imaturas”, sendo assim, não poderiam ser adeptas deste
transtorno de humor (Scandler e Jofe, 1995, em Baptista e Golfeto, 2000).
Pesquisas sobre depressão infantil não eram comuns até o fim da
década de 1970. Grande parte da “falta de investimento” nas pesquisas sobre
depressão infantil, se deu pelos estudos de Freud pois desde 1917 quando ele
diz acreditar que a depressão inclui, entre outras coisas, a “diminuição do
sentimento da auto-estima” e “ expectativas ilusórias de punição”; ele exclui a
possibilidade da criança ter depressão, pois para ele, as crianças não possuem
a capacidade da auto-estima ( função do super ego) ou habilidade de
vislumbrar suficientemente o futuro para ter sentimentos de desesperança,
sendo assim não ficavam deprimidas .( Miller, 2003)
Hoje, há uma tendência em concordar com a existência desta patologia
em todas as idades, como esta passou a fazer parte do cotidiano, começou a
se prestar atenção também em sinais de seu aparecimento em adolescentes,
crianças, e até mesmo em bebês, o que antes não acontecia.
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Atualmente, muitos estudos e pesquisas referentes a depressão em
adolescentes, crianças e bebês, estão sendo produzidos; na literatura
estrangeira ainda encontra-se um maior número de pesquisadores
interessados neste tema, do que no Brasil. Aqui os estudos ainda estão
escassos.
A discussão acerca das possíveis causas para a depressão infantil,
levou-nos a reportagem do jornal “O estado do Maranhão, galera 2002” ( em
Ballone 2003), onde foi publicado que os fatores de risco da depressão
aumentam a cada geração desde 1940. Os principais fatores que a
desencadeiam são: violência urbana, excesso de atividades na agenda
diária e falta de espaço para o lazer.
Hoje em cada cem, a depressão atinge de 4 a 8 adolescentes. Segundo
a noticia divulgada por Cable News Network ( CNN)- Saúde ( em Ballone
2003), as crianças que condicionam a felicidade a coisas materiais como
dinheiro, beleza, fama, tem mais probabilidade a sofrer de depressão do que as
crianças que não valorizam tanto a riqueza e a aparência ( estudo realizado na
Austrália). A felicidade associada a riqueza pode ser notada até em crianças
de 4 anos, o que em uma idade tão precoce, pode ser um indicio de sua
vulnerabilidade a depressão. Estas crianças de 4 anos que fazem ligação de
sua felicidade com o dinheiro, até 20% correm o risco de sofrer de doença no
futuro (Street apud Ballone 2003).
A depressão infantil é um transtorno complexo que apresentam
alterações cognitivas, psicofisiologicas e motoras (Carmenros, 2005). Nas
crianças o transtorno depressivo maior não apresenta diferença entre ambos
os sexos, mas após a puberdade acontece com maior incidência ( duas vezes
mais) nas mulheres do que nos homens ( Manual Diagnostico Estatísticos de
Transtornos Mentais DSM – IV 1995).
24
Para detectarmos a depressão em crianças é necessário estarmos
atentos as suas pequenas mudanças e na soma, repetição e permanência dos
sintomas da depressão. Quanto mais cedo for diagnosticada, a criança passará
menos tempo sofrendo e mais rápido poderá ser ajudada, tanto por
acompanhamento psicológico, quanto por medicamentos que se fizerem
necessários.
No DSM – IV (1995), os sintomas de depressão infantil podem ser
diagnosticados pelos mesmos sintomas da depressão no adulto, ou seja:
humor deprimido na maior parte do dia,, falta de interesse nas atividades
diárias, alteração de sono e apetite, falta de energia, alteração nas atitudes
motoras, sentimento de irritabilidade, dificuldade para se concentrar,
pensamentos ou tentativas de suicídio. Para ser diagnosticado um quadro de
episodio depressivo maior, o individuo deve apresentar pelo menos 5 dos
sintomas citados, incluindo o humor depressivo, ou falta de interesse que
devem permanecer durante pelo menos durante 2 semanas.
A idéia de que os sintomas das depressões infantil e adulto possam ser
os mesmo é sustentada ainda hoje, sendo que a forma de se manifestar é que
será distinta. Como diz Cruvinel e Miller (2003/2004), a criança pode
apresentar um humor irritável em vez de tristezas e melancolia. Um
adolescente pode sentir tédio e sensação de vazio, em vez de humor
deprimido.
Existem também diferenças relevantes entre a depressão infantil e de
um adulto, pois como as crianças têm muito cedo a experiência de episódios
depressivos, a probabilidade de sofrerem outros é alta; porém a recorrência é
menor em crianças do que em adultos. Pesquisas mostram que 70% das
crianças que tiveram um episódio depressivo sofrerão de episódios
recorrentes. Já os adultos terão episódios recorrentes em até 90% dos casos.
Vale a pena retificar que a recorrência está relacionada com as falhas no
tratamento (Miller, 2004).
25
As crianças podem apresentar dois grupos de sintomas para a
depressão. Existem os que apresentam a depressão clássica e as que
apresentam na sua maioria sintomatologias de depressão atípicas. Segundo
Ballone (2003), na depressão clássica, os principais sintomas são tristeza,
ansiedade, expectativa pessimista, mudança alimentar e no sono, podendo
ocorrer problemas físicos, como dores inespecíficas, fraqueza, tonturas, mal-
estar em geral que não respondem ao tratamento médico usado. Já na
depressão atípica, são camuflados verdadeiros sentimentos depressivos sobre
uma máscara de irritabilidade, agressividade, hiperatividade e rebeldia.
Segundo Fortuna (2004), há três tipos de depressão na infância: a
criança escolar, a criança hospitalizada e a criança e a família. As causas para
a depressão infantil são orgânicas ou psicológicas; estas são rejeição, carência
afetiva, super proteção, fator socioeconômico, e outros fatores como: morte,
falência, desemprego família e doenças graves na família.
Para a autora a depressão traz para uma criança conseqüências
individuais, tais como, alteração do comportamento e auto agressividade, baixo
nível de tolerância à frustração e a dor, desenvolvimento escolar prejudicado,
procura de grupos em que possa ser aceito, e conseqüências sociais, como
droga, roubos, marginalização e exclusão do grupo social.
Na pesquisa publicada no jornal “Estado de Minas”/ Especial, ( 7 de abril
de 1998), realizada por José Ferreira Belizário no Centro Geral de Pediatria
(CGP) em Minas Gerais, foram revelados dois dados significativos: “crianças
com menos de 9 anos apresentam chances maiores de alta sintomatologia
depressiva, principalmente decorrente da angústia pela hospitalização”; e o
segundo é que “crianças com família de renda inferior a R$ 200,00 por mês
estão mais expostas a essa sintomatologia depressiva.”
26
A dificuldade das famílias de baixa renda em tratar suas “crianças
depressivas”, foi constatada na pesquisa por Eunice Nakamura (citada por
Souza 2005) com médicos e familiares de crianças com depressão. Constatou-
se que os médicos vêem a doença como um mau funcionamento orgânico, e
por conseqüência, a necessidade de ajuste das crianças; mas em função da
realidade vivida pelas famílias, essa intervenção é quase sempre restrita.
Já as famílias mais carentes tendem a inserir a depressão infantil em
seu conjunto de problemas financeiros e sociais, confundem muitas vezes os
sintomas de depressão com comportamentos ditos como “manha” ou “birra”.
São famílias que muitas vezes mesmo com a criança diagnosticada, devido à
sua condição financeira, não é submetida a psicoterapia.
Observando esta pesquisa, vimos que os mais necessitados são os mais
desamparados pela sociedade em geral.
O tratamento para depressão infantil deve ser feito de variadas formas:
• Através de uma avaliação clinica detalhada com recolha de
dados, não só através da criança, mas também da família e
escola (Pena, 2003);
• O manejo da criança deve ser o mais precoce possível, com
avaliações e definições do tipo de tratamento (Lima, 2004);
• Estabelecimento de uma aliança terapêutica com a família (
é fundamental para o êxito do tratamento) (Pena,2003);
• Avaliação criteriosa na utilização de psicofármacos, em
especial os antidepressivos (Pena, 2003).
A criança projeta o medo e a impotência, mas pode ir mais longe e
representar através do jogo e do desenho o irrepresentável de um vazio
interior. O Eu poderá se ver de forma diferente, com novos créditos de
27
confiança e de desejo de investir na vida. Curar a criança é acompanhá-la na
travessia da própria crise e não abafar o luto. (Pena, 2003).
Tanto na criança quanto no adolescente, a depressão é um
acontecimento inesperado por eles e por suas famílias. Na maior parte das
vezes, quem adoece não sabe que adoece e os que estão a sua volta também
não percebem os sinais que indicam algo errado, sinais estes que são
claramente identificados aos olhos de um “desconhecido”, porém suplicam para
serem “enxergados” e percebidos pela família.
A depressão é uma patologia que deve ser encarada em “equipe”,
(doente, família e terapeuta), quanto mais rápida for detectada, e maior for o
empenho do doente e de sua família para alcançar a cura, com um trabalho em
“equipe”, será mais fácil da criança e do adolescente desejarem esta
“mudança” e mais rápido verão os resultados.
28
CAPÍTULO III – A CRIANÇA E O ADOLESCENTE
FRENTE A HOSPITALIZAÇÃO
A hospitalização é um processo para o qual não estamos preparados,
até porque não faria sentido preparar-se para ela. Trata-se de um
acontecimento inesperado, e mesmo que se buscasse prevê-lo, o que seria
impossível, não existiria uma preparação no decorrer da vida para a
hospitalização.
Quando falamos na hospitalização de crianças o assunto se torna mais
delicado, pois um adulto hospitalizado sofre modificações em seu dia-a-dia,
passa por processos invasivos, porém sabe do que se trata, sabe o que
perguntar quando tiver dúvidas sobre algum procedimento.
Se tratando de crianças tudo se torna mais delicado, pois o ambiente
hospitalar é para a criança um sofrimento físico e emocional, além de alterar
toda sua rotina, passar por procedimentos que lhe causam dor sem entender o
porquê, ainda a “retiram” da sua família (algumas vezes tem a presença da
mãe ou do pai), do núcleo que ela tinha como base sólida, o que a dava
segurança, portanto, lhe restam sensações e sentimentos desagradáveis.
Vulneráveis só conseguem sentir medo, angústia, sensação de abandono em
um ambiente estranho, com pessoas estranhas tocando-as, “machucando-as”,
e elas quanto menores, mais imponentes se sentem; um bebê só consegue
reagir chorando.
Ao ser internada, a criança muitas vezes não consegue associar os
remédios e os exames à sua cura. É freqüente acontecer de ela pensar que é
um castigo, por algo ruim que haveria feito, esta seria uma forma de estar
sendo punida.
29
Podemos observar a sensação de abandono, por exemplo, em uma
criança que precisa passar por uma cirurgia e sua mãe retorna para casa,
quando ela acorda, não vê ninguém do seu lado, se sente abandonada,
desamparada. Caso a mãe não apareça nos próximos dias, essa criança
poderá ter danos não só físicos, mas emocionais, intelectuais e sociais. Este
pode ser um caso que resulte em depressão infantil, pois a sensação de
abandono familiar, a perda deste “chão” para esta criança, no caso a figura que
representa esta segurança é a materna; esta situação é uma das causas da
depressão infantil.
Devemos nos preocupar com o estado físico, mas também emocional da
criança. Os profissionais devem conversar com a criança e com a família sobre
todo o procedimento que será feito, porque diminuindo a ansiedade dos
familiares, estes poderão ficar mais “fortes” e seguros para ajudar a esclarecer
para a criança o que está acontecendo com ela, tudo o que será feito e para
que será feito. Se não houver uma boa interação da equipe entre si, com os
familiares, e com os pacientes, a comunicação será falha, a informação não
chegará ou chegará deturpada, o nível de ansiedade será maior de todos os
lados. A criança que deveria ser beneficiada sofrerá mais danos do que já
possui pois seus sofrimentos e angústias só aumentarão.
Ao chegar ao hospital, a criança tem a sensação de ter perdido sua
liberdade, é para ela um local com novas regras e proibições, um ambiente
novo, com pessoas novas, com as quais ainda não possui nenhum tipo de
vínculo.
Freqüentemente as crianças quando se encontram nessas condições,
lançam mão de seus mecanismos de defesa que segundo Amorim e Ferro
(2007), são “manobras inconscientes que o ego utiliza para afastar a ansiedade, falsificando
ou distorcendo a realidade”. A criança hospitalizada utiliza-se da mãe como um
mecanismo adaptativo. Com a mãe por perto, a criança se sente mais segura e
tranqüila para passar por todos os procedimentos necessários.
30
Soares e Vieira (2004) afirmam que exames como eletro-encefalograma,
eletrocardiograma, raio-X e a ultra-sonografia fazem com que as crianças
fiquem mais vulneráveis, associando-os a dor. Na pesquisa por eles realizada,
constataram que isto ocorre por serem ambientes frios, com barulhos
estranhos e com muitos fios. Talvez o medo diminuísse se elas tivessem sido
informadas e preparadas corretamente e com antecedência sobre o “passo a
passo” de seus exames.
Neste ambiente frio e hostil, a criança pode enfrentar grandes
sofrimentos, a dor pode ser física ou não, pode ser aguda, crônica, ou
recorrente, porém no momento da internação ela pode estar presente, ou
digamos, caso a dor não esteja presente, com certeza o sofrimento estará.
Algumas crianças podem sentir-se mais preparadas para este momento que as
outras.
Segundo Guimarães (1999 apud Amorim e Ferro 2007):
“O conceito, a percepção, a resistência e a forma de
expressão de dor da criança variam de acordo com sua fase
de desenvolvimento. Uma criança recém-nascida, por
exemplo, responde ao estimulo doloso de uma injeção com
expressões faciais típicas, movimentos corporais e choro.
Aos dez meses, manifesta respostas motoras semelhantes,
olha em direção ao local da injeção, busca aconchego no
colo da mãe e toca no local dolorido. Aos quatro anos, evita
ou foge da situação que provoca dor, expõe sua rejeição,
conceitua dor a partir de exemplos de dores comuns em sua
experiência, e associa essa sensação a causas internas ou
externas. Aos nove anos a criança inclui a dimensão
emocional no conceito de dor. Apesar da variação de
resposta a dor ser relativa ao desenvolvimento da pessoa,
as expressões como franzir sobrancelhas, apertar os olhos e
lábios, tendem a permanecer até a idade adulta.”
31
3.1 – Proposta de intervenção no tratamento hospitalar de crianças e
adolescentes.
Como foi possível observar durante o trabalho a criança sofre com todo
o processo de internação e pode apresentar um comportamento agressivo,
depressivo, o que não irá colaborar para a melhoria de seu quadro clínico.
Para tentar amenizar os danos causados às crianças pela
hospitalização, principalmente para diminuir a sensação de abandono e tentar
tornar possível um trabalho em equipe, incluindo médicos e familiares. Amorim
e Ferro (2007), citam uma parceria que tem tudo para dar certo:
“A parceria formada entre a fundação Abrinque, o
Hospital Pequeno Príncipe (SP), implantou o programa
Família Participante, e constatou-se que a presença da
família junto à criança hospitalizada minimiza o sofrimento
psíquico, fortalece a capacidade de reação ao tratamento
e facilita a recuperação da saúde da criança. Muda
também o papel da família, que deixa de ser espectadora
passiva e dependente, para se tornar coadjuvante e
integrada no tratamento hospitalar. A família recebe
orientação quanto ao processo do tratamento, tem acesso
e é treinada através de ações de apoio ai tratamento no
hospital e em casa, contribuindo inclusive para diminuir o
índice de infecção hospitalar. Essa família participante
torna-se também agente “ativo, responsável e crítico
quanto a qualidade do atendimento, e para identificar
novos desafios para a equipe de saúde e para a
instituição”, contribuindo para humanizar o hospital”
Realmente a maioria de nossos hospitais hoje encontram-se
desumanizados, embora hajam mobilizações nesse sentindo, como preconiza
o Sistema Único de Saúde. A parceria citada pelos autores seria a princípio
32
uma ótima solução para humanizarmos não só os hospitais de São Paulo,
como os do Rio de Janeiro e de muitos outros estados.
A desumanização em hospitais está cada vez maior, não há mais
preocupação com o doente, seu bem estar; e sim em encontrar algo para saná-
la. O paciente fica em segundo plano, como se fosse um mero “condutor de
doenças”, contribuindo assim para o avanço da medicina.
Percebe-se ainda hoje que os “pacientes” são denominados pelo
número de seu leito, a maioria dos profissionais não interagem com eles, não
querem saber do que eles gostam ou desgostam, se preferem o travesseiro
reclinado ou deitado, se sentem frio ou calor, fome ou sede. Só estão
interessados em saber se a febre regrediu com tal remédio, se o “incômodo”
passou, se vão ter que tentar com outro medicamento.
Costa (2002, p.1) acredita que a hospitalização infantil é:
“um momento bastante delicado, pois além das alterações
inerentes ao adoecimento, - como as mudanças corporais, o
desconforto, o medo da morte, as limitações físicas que a
própria doença impõe e que por si só, já impossibilitam a
criança de reagir normalmente às demandas do ambiente
hospitalar- com a hospitalização a criança se depara com
uma série de outras mudanças decorrentes do ambiente
hospitalar o que a leva a vivenciar muito intensamente
sentimentos de separação,isolamento, culpa e morte. Nesse
sentido, a hospitalização pode vir a se configurar como um
evento traumático, implicando na possibilidade do
agravamento e surgimento de novos sintomas.”
D’ Alcântara (2008), falando de despersonalização, nos diz que a criança
quando hospitalizada sofre perdas em relação a sua identidade e a si própria.
Perde o vínculo social que tinha antes, se afasta de seu “mundinho” e algumas
33
vezes é proibida de ter visita de seus parentes, e em troca, recebe várias
regras a serem seguidas, um novo padrão ao qual é esperado que ela se
enquadre sem período de adaptação.
Para auxiliar a adaptação da criança a este novo ambiente, para
fortalecer os antigos e novos vínculos desta, e para que possa facilitar o
entendimento do processo de sua doença, o que está acontecendo com seu
corpo, a criança deve brincar.
A brincadeira no hospital é muito mais do que algo para “ocupar “ o
tempo livre da criança, vai além de deixá-la “quietinha” na salinha brincando.
Quando a criança brinca, ela pode expressar seus medos, angústias,
pode reproduzir na brincadeira procedimentos que a equipe vem realizando
com ela, assim, pode-se notar o grau de clareza, de entendimento que ela tem
do que está acontecendo com o seu corpinho “dodói”.
Muitas vezes pode-se utilizar da brincadeira para explicar para a criança
um procedimento cirúrgico, um exame que será necessário transformando as
palavras em ações, algo mais concreto, isso pode traduzir para o mundo infantil
a linguagem dos médicos, enfermeiros, ou seja de quem estiver lidando com a
criança.
A brincadeira fortalece os laços. A palavra brincar vem do latim
vinculum, que quer dizer laço, união. Sendo assim, ao mesmo tempo pode-se
ocupar o tempo da criança hospitalizada, tornado acessível uma informação
que a principio seria bem complexa para crianças e ainda fortalecer o vínculo
dela com pessoas com as quais ela ainda não tem confiança, segurança.
Tais fatores são de suma importância, principalmente em casos de
descaso da família, pois a dificuldade em criar laços com uma criança que
34
sente-se abandonada é maior, ela tem receio de que todas as pessoas possam
abandoná-la.
Com mais clareza do que será feito, e com um melhor vínculo com a
equipe, é mais provável que diminua a ansiedade, o medo e a insegurança
existentes em quase todas as crianças que se encontram neste estado,
podendo assim tornar mais fácil o dia-a-dia da equipe, no lidar com elas, e
menos misteriosa, meticulosa a rotina para essas crianças.
Com brincadeiras, sorrisos e gargalhadas a enfermaria pediátrica torna-
se para as crianças, um ambiente menos frio, impessoal e distante da realidade
antes vivida. E para a equipe um clima mais ameno, mais descontraído, mas
esclarecido, proporcionam uma maior agilidade, facilidade e certa recompensa
emocional após um dia de trabalho.
Temos como exemplo de formas bem sucedidas de brincadeiras em
hospitais o caso de Path Adams, que se tornou até um filme, onde no decorrer
de sua formação em medicina começou a questionar a forma de “cuidar” dentro
do hospital e a conduta dos próprios médicos que não conheciam
verdadeiramente seus pacientes, muitas vezes, mal os visitava em seus leitos,
só olhavam os prontuários e por lá mesmo medicavam.
Adams resolve, então, curar não só com remédios, e sim com a ajuda do
riso, da brincadeira, da fantasia. Ele conhece a fundo cada paciente e leva vida
ao hospital, o que antes era um ambiente triste, rígido, monótono e desumano,
passa a ser alegre, descontraído, movimentado e novamente humanizado.
Path salva muitas pessoas não da morte, mas da morte em vida. Ele
as dá vida enquanto seu corpo está debilitado e é neste momento que ele as
enxerga únicas como realmente são, especiais, dá valor as suas mentes, as
suas lembranças e memórias.
35
Temos também os conhecidos doutores da alegria, que realizam
atividades em hospitais vestidos de palhaço, levam músicas, alegria,
brincadeiras e muita diversão para pacientes internados, onde muitos já haviam
esquecido até o som da sua risada.
No caso das crianças alegra não só a vida delas, mas de seus pais que
por minutos conseguem esquecer da doença e se divertir, achar graça em
alguma coisa, ser felizes novamente.
Os “doutores da alegria” são um ótimo exemplo de como podemos
ajudar a levar alegria à quem está sem esperança, sem uma solução, à quem
não vê mais o colorido da vida e tudo havia tornado-se preto e branco. Estas
pessoas devolvem as cores da vida de quem está internado.
A brincadeira, o riso, a diversão no hospital podem ser vistas como
uma devolução da saúde emocional do paciente para que as crianças e
adolescentes possam não se entregar a doença, e com sua mente saudável,
sentir-se fortalecido para lutar pela melhora de seu corpo.
36
CONCLUSÃO
Esta monografia teve como objetivo analisar e conceituar a depressão,
enfatizando, sobretudo as questões referidas à depressão na infância ou
adolescência e a conduta hospitalar em casos de internações infantis.
Destacou-se durante o trabalho o despreparo com que o hospital se
depara com a entrada da criança, desde o local físico, até a equipe que lida
com esta e a família. Foi possível traçar um estudo que mapeou parcialmente
algumas questões referidas à depressão na atualidade, e sinalizar a
importância da família no processo da depressão e hospitalização.
Constatou-se que, para a psicanálise, não existe o que se chama de
depressão na infância, só seria possível, a partir desse referencial teórico,
afirmar a presença da depressão a partir da adolescência, quando há um
superego atuando, podendo então, ser acometido por esse mal. Porém, para
outros autores, é possível que uma criança tenha depressão, apesar dos
sintomas não se manifestarem da mesma maneira que nos adultos. Para estes,
elas também sofreriam de depressão. Importante ressaltar, que na criança
hospitalizada a percepção, a resistência e a forma de expressão de dor variam
de acordo com sua fase de desenvolvimento.
Verificamos que crianças hospitalizadas passam por várias perdas,
sofrem com a nova rotina, com sentimentos novos como o medo, ansiedade,
angústia e oscilação de humor que acabam por desenvolver um quadro
depressivo.
A Terapia de família é uma proposta de trabalho terapêutico, e tem como
principal objetivo reunir o núcleo familiar para que questões relacionadas à
família possam ser tratadas com a participação de todos. Dessa forma, o grupo
37
familiar tem a possibilidade de atuar em conjunto na busca pela solução de
uma dificuldade, seja de ordem coletiva ou individual. A Terapia Familiar
propicia espaço para conversa e entendimento e concede a todos a
possibilidade de ouvir e ser ouvido.
O terapeuta familiar atua com toda a família buscando apoio para os
momentos de crise e mudanças, como por exemplo, durante a internação
hospitalar de um de seus membros.
Sendo assim, acreditamos que a ação dos profissionais de saúde seria
bem vinda a este ambiente hospitalar, como o terapeuta familiar, pois além de
ajudar a própria criança a passar com menos dificuldade o sofrimento neste
momento, poderia fornecer um apoio maior aos pais para que com a pressão
não “fujam” e “abandonem” seus filhos no hospital, ao contrário, que possam
ter mais segurança para saber como auxiliar seus filhos no processo de
tratamento.
Segundo a Organização Mundial de Saúde a depressão é atualmente a
doença psiquiátrica mais diagnosticada e o quarto maior problema de saúde no
ocidente. (Maldonato, 2006, p. 41)
É preocupante o aumento dos diagnósticos, chamando a atenção para
os reais sintomas da depressão e sua ocorrência. É importante também que
haja discussões sobre as possíveis causas e tratamentos para crianças e
adolescentes.
O trabalho trouxe uma perspectiva de tratamento tendo o brincar como
sua principal característica, como foi explicitado no capítulo III, utilizando o
exemplo bem sucedido dos Doutores da Alegria. Acredita-se que com essa
ferramenta consiga-se alcançar as crianças em seu mundo, fazendo-as
38
entender a hospitalização e diminuindo suas angústias e medos. Dessa forma,
contribui-se para amenizar as tensões decorrentes da internação hospitalar,
bem como atuar preventivamente no surgimento da depressão. O Terapeuta
familiar constitui-se em um profissional que pode colaborar com essa prática
proposta, atuando com a criança, o adolescente e sua família durante a
hospitalização.
A terapia familiar propicia que os membros das famílias possam se
conhecer e se entender melhor, gerando possibilidades de transformação e
libertação de paralisações no crescimento pessoal, como a depressão,
construindo assim relações mais satisfatórias.
No Brasil ainda não se tem muitos estudos sobre a depressão na
infância, portanto, é necessário que comecemos a olhar para nossas crianças e
em que mundo elas estão imersas, pois sofremos muitas influências do meio,
somos produção do meio no qual vivemos. É importante agirmos de forma
preventiva na tentativa de evitar o surgimento da depressão, principalmente na
infância e adolescência, e a família desempenha um importante papel nessa
prevenção.
39
BIBLIOGRAFIA AMORIM, V. C. O; FERRO, F. O. As emoções emergentes na hospitalização infantil. Revista Eletrônica. Ano 1, Número 1. Julho de 2007. Revista Científica de Psicologia – Coordenação Pedagógica do Curso de Psicologia do CESMAC – Maceió – Alagoas – Brasil BALLONE,G.J.DepressãoInfantil.<www.psiqweb.meb.br/infantil/depinfantil/htm> 20/04/2008 BAPTISTA C. A; GOLFETO, J. H. Prevalência da depressão em escolares de 7 a 14 anos. Revista de Psiquiatria Clínica, maio, 2000. BAPTISTA, M.N. Depressão na adolescência. São Paulo, Ed. EPU, 1999. BELIZÁRIO, J.F. A precoce dor das crianças. <www.sosdepressão.com.br> 14/04/2008. BOLGUESE, M. S. Sociedade de consumo e bem estar. Revista Viver Mente e Cérebro, Maio de 2006. CARNEIRO, Terezinha F. Família: Diagnóstico e Terapia. Rio de Janeiro, Zahar Ed. 1983. CHABROL, H. A depressão do adolescente. Campinas, SP, Ed. Papirus, 1990. COSTA, E; MELLO, H.S; LOVISARIO, M; MARTINS, M. R. Brincar é viver – transdisciplinaridade e hospitalização na infância.l <http://susanaalamy.sites.uol.com.br/psicopio_n6_38.pdf > 18/11/2008. D’ALCANTARA, E. B. Criança hospitalizada: O impacto do ambiente hospitalar no seu equilíbrio emocional. <http//susanaalamy.sites.uol.com.br/psicopio_n6_38.pd>16/10/2008. DSM – IV – 4ª edição – Ed. Artes Médica, 1995. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8069 de 13 de julho de 1990. FORTUNA, V. Depressão infantil. Doença que ninguém vê! <www.uraonline.coml.br> 14/04/2007. FREUD S. Luto e Melancolia. Vol. XIV, 1914. LIMA, D. Depressão e doença bipolar na infância e adolescência. Jornal de Pediatria, vol.80, nº 2 (supl), 2004.
40
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41
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Caracterizando a Depressão 10 1.3. As causas da depressão 12 1.4. Os sintomas e tratamento 13 CAPÍTULO II - A Depressão em crianças e adolescentes 17 2.3. A infância, adolescência e a depressão 18 2.4. Caracterização da depressão infanto- juvenil 22 CAPÍTULO III - A criança e o adolescente frente a hospitalização 28 3.1. Proposta de intervenção no tratamento hospitalar de crianças e adolescentes 31 CONCLUSÃO 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ÌNDICE FOLHA DE AVALIAÇÃO
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
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