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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
TRAJETÓRIA DO FUTSAL FEMININO NO BRASIL: UM CAMINHO REPLETO DE
OBSTÁCULOS
Cláudia Moraes e Silva Pereira1
Alfredo Cesar Antunes2
Resumo: O objetivo do presente trabalho é apresentar a trajetória histórica do futsal feminino brasileiro e as
implicações frente às questões de gênero. É perceptível a existência de uma tensão entre futsal e mulher atleta, no que
diz respeito à representação social do futsal como um esporte masculino e a prática realizada por mulheres, em função
das representações existentes em relação à construção da feminilidade. Traçar o percurso histórico da modalidade torna-
se importante para interpretar o sentido da prática das diferentes agentes envolvidas no processo de constituição da
modalidade. A pesquisa é de caráter qualitativo. Utiliza-se como metodologia a pesquisa bibliográfica. São selecionados
artigos de periódicos científicos encontrados Portal Capes que discutem o futsal feminino no país e seus aspectos
históricos. São excluídos artigos que trabalham com aspectos técnicos e de saúde referente ao futsal. Além disso, livros
e outros materiais são elencados para a pesquisa. A história do futsal feminino no Brasil carrega contextos para além da
prática esportiva em si, que podem se colocar como barreiras para a participação da mulher atleta na modalidade.
Contextos estes vinculados a concepção histórica da mulher na sociedade e a construção de uma imagem voltada para a
feminilidade. Assim, buscamos relacionar na história aspectos de gênero que influenciam a consolidação da modalidade
no país.
Palavras-chave: Futsal feminino; História; Gênero.
Introdução
Discutir sociologicamente o esporte moderno é ir além da melhor tática ou estratégica para
se vencer um campeonato. Esporte possui um caráter polissêmico, ou seja, possui vários sentidos e
significados, mediante ao contexto em que está inserido. Wanderley Marchi Jr (2004, p. 5)
conceitua o esporte como “[...] uma atividade física em constante desenvolvimento, construída e
determinada conforme uma perspectiva sociocultural, e em franco processo de profissionalização,
mercantilização e espetacularização”.
Entender o esporte desta maneira permite identificar as relações (internas e externas)
existentes em uma modalidade esportiva e quais os reais interesses que se colocam através da
realização e investimento na modalidade.
Especificamente, a trajetória do futsal feminino possui elementos diferenciados do futsal
masculino no Brasil. A participação feminina passa por inúmeras restrições e complicações em
função do contexto social da mulher esportista no país e pela construção do futebol como esporte
nacional masculino.
Em relação à implementação da modalidade no país, uma das barreiras mais relevantes
ocorreu vinculada à política nacional. Em 1941 foi elaborado o Decreto-Lei 3199 que proibia a
participação das mulheres em esportes que não condiziam com a feminilidade. Em seu artigo 54
está explícito: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições
1 Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Brasil. 2 Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Brasil.
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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias
instruções às entidades desportivas do país” (BRASIL, 1941, p. 1). As mulheres foram proibidas de
participar de esportes como futebol, futsal, hugby, lutas, polo aquático e halterofilismo. Apenas em
1979 o decreto foi revogado.
A participação feminina dentro do campo esportivo emerge de um contexto e social
relacionado a papéis e funções sociais da mulher construídas historicamente. Segundo Rubio e
Simões (1999, p.50) "o papel desempenhado pela mulher no esporte confunde-se e mescla-se com
seu papel social na história da humanidade, história essa escrita e interpretada de um ponto de vista
masculino". A partir disso, mulher e esporte se apresenta como uma relação repleta de nuances.
Ainda assim, como dados relevantes, a seleção brasileira de futsal feminino, desde a sua
consolidação no campo esportivo, conquistou todos os títulos internacionais disputados. No
Campeonato Sul-Americano de Futsal Feminino organizado nos anos de 2005, 2007, 2009 e 2011
as atletas brasileiras saíram vitoriosas, assim como nas cinco edições do Campeonato Mundial
Feminino de Futsal, nos anos de 2010, 2011, 2012, 2013, 2014 (CBFS, 2015).
Nesse aspecto, intentamos refletir a trajetória do futsal feminino no Brasil a fim de
observar a existência de possíveis barreiras e limitações mediante resultados positivos em
competições esportivas internacionais. Entendendo o esporte como fenômeno sociocultural, é
possível que as vitórias da Seleção Brasileira não representem as dificuldades enfrentadas pelas
mulheres na prática do futsal feminino, o que nos possibilita aprofundar em questões históricas e
culturais da participação da mulher no esporte.
Reflexões acerca do subcampo esportivo futsal e as implicações na participação feminina
O esporte da atualidade é denominado de esporte moderno, diferente de outros contextos
históricos no qual este esteve presente. Como definição, o esporte é um fenômeno social e
processual presente na sociedade contemporânea, repleto de significados e sentidos que se
entrelaçam no contexto esportivo, vinculados a processos de mercantilização, espetacularização e
profissionalização (MARCHI JUNIOR, 2004; SALVINI, 2012).
Para uma leitura adequada do esporte é possível uma análise relacional baseada na Teoria
Reflexiva de Bourdieu realizada pela “análise da relação entre posições sociais (conceito
relacional), as disposições (ou os habitus) e as tomadas de posição, as ‘escolhas’ que os agentes
sociais fazem nos domínios mais diferentes da prática” (BOURDIEU, 1996, p. 17, grifos do autor).
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O esporte sociologicamente pensado se insere em um campo macrossocial sofrendo influências
internas e externas à sua prática e se consolida como prática social.
A estrutura e o funcionamento do esporte moderno “estão fundamentados em uma lógica
ditada por uma sociedade que tem como referência a produção” (RUBIO, 2011, p. 86), organizado
sobre os pilares da sociedade capitalista. Nesse aspecto, o esporte moderno pode ser considerado
um produto a ser consumido, um espetáculo a ser vendido e uma profissão a ser adquirida.
O futsal, como todo e qualquer esporte, está imerso neste contexto relacional. Originário
nacionalmente da Associação de Moços de São Paulo, em 1940, a modalidade surge das “peladas”
organizadas em quadras e basquete e hóquei como uma adaptação da prática do futebol de campo,
já que havia grandes dificuldades de se encontrar campos livre para a realização do futebol. Surge
primeiramente como futebol de salão3 (CBFS, 2015) e carrega símbolos inerentes ao futebol que se
transferem ao futsal, pela proximidade entre as modalidades e pela grande repercussão nacional.
Entre o futebol e o futsal, o futebol em termos de mercantilização, espetacularização e
profissionalização pode ser considerado o campo de maior destaque no contexto esportivo. Já o
futsal ainda busca o seu espaço.
Considera-se na pesquisa o futsal como subcampo dentro do campo esportivo. De acordo
com a Teoria Reflexiva de Pierre Bourdieu, campo é um espaço social estruturado que ao mesmo
tempo se apresenta como um campo de forças representado pelas necessidades dos agentes
envolvidos e como um campo de lutas, no qual os agentes se enfrentam conforme as posições no
campo de forças. Tais relações podem determinar a conservação ou a transformação da estrutura do
campo (BOURDIEU, 1996).
Pode ser entendido como um espaço de lutas e de disputas entre “o amadorismo e o
profissionalismo, o esporte-prática e o esporte-espetáculo, o esporte distintivo (de elite) e os esporte
popular (de massas)” (BOURDIEU, 1993 apud MARCHI JUNIOR, 2004, p. 55). Repleto de
disputas e competições, o campo esportivo se estrutura mediante interesses de agentes e instituições
participantes desse campo tais como atletas, árbitros, técnicos, gestores como prováveis agentes e
mídia, imprensa, confederações e patrocinadores como possíveis instituições.
3 De acordo com Wilton Carlos de Santana, o futebol de salão é o precursor do futsal. Regido e organizado pela
Federação Internacional de Futebol de Salão (FIFUSA), o futebol de salão surge na década de 30, sendo praticado por
muitos países inclusive o Brasil. Na década de 80, houve um interesse da Federação Internacional de Futebol (FIFA –
Federation Internacionale Football Association) em assumir o futebol de salão. Não obtendo sucesso, a FIFA realiza o
1º campeonato de futebol cinco (futebol de salão com regras alteradas) e obtém uma fusão deste com o futebol de salão,
sem aceitação da FIFUSA. Atualmente o futebol de salão no Brasil aparece como uma modalidade marginalizada,
enquanto o futsal como esporte em ascensão. (SANTANA, 2010).
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As disputas e aproximações que ocorrem dentro do subcampo vão determinar interesses e
ações relacionadas aos processos de profissionalização, mercantilização e espetacularização da
modalidade. Dependendo das relações de poder e das lutas dentro do subcampo do futsal, o espaço
social se organiza e reorganiza na busca de adequações ou transformações da estrutura estabelecida.
As instituições são responsáveis pela distribuição do capital cultural, ou seja, pela
transmissão dos saberes e conhecimentos reconhecidos, podendo ser classificados como
incorporado, objetivado e institucionalizado.
O capital cultural existe sob três formas, a saber: a) no estado incorporado, sob a forma de
disposições duráveis do organismo. Sua acumulação está ligada ao corpo, exigindo
incorporação, demanda tempo, pressupõe um trabalho de inculcação e assimilação. Esse
tempo necessário deve ser investido pessoalmente pelo receptor - "tal como o
bronzeamento, essa incorporação não pode efetuar-se por procuração"; b) no estado
objetivado, sob a forma de bens culturais (quadros, livros, dicionários, instrumentos,
máquinas), transmissíveis de maneira relativamente instantânea quanto à propriedade
jurídica. Todavia, as condições de sua apropriação específica submetem-se às mesmas leis
de transmissão do capital cultural em estado incorporado; c) no estado institucionalizado,
consolidando-se nos títulos e certificados escolares que, da mesma maneira que o dinheiro,
guardam relativa independência em relação ao portador do titulo. (NOGUEIRA; CATANI,
1998, apud MARCHI JUNIOR, 2004, p. 41, grifos do autor).
Pensando no subcampo do futsal, o capital cultural em estado incorporado poderia ser
relacionado com as construções sociais que mantém aspectos tradicionais de se pensar a
modalidade, como no caso de identifica a prática do futsal com uma prática apenas masculina. Em
estado objetivado está relacionado a livros, figuras, imagens que demonstram meninos e homens
realizando a prática, o que dificilmente ocorre com atletas mulheres. E, por fim, no estado
institucionalizado exemplifica-se a formação profissional enquanto técnicos e cientistas da área.
O capital cultural incorporado define o habitus, isto porque relaciona-se diretamente às
experiências individuais e coletivas dos sujeitos e a construção de comportamentos e linguagens
que acompanham-no durante sua trajetória de vida.
A cada classe de posições corresponde uma classe de habitus (ou de gostos) produzidos
pelos condicionamentos sociais associados á condição correspondente e, pela intermediação
desses habitus e de suas capacidades geradoras, um conjunto sistemático de bens e de
propriedades, vinculadas entre si por uma afinidade de estilo. [...] Uma das funções da
noção de habitus é a de dar conta da unidade de estilo que vincula as práticas e os bens de
um agente singular ou de uma classe de agentes [...]. O habitus é esse princípio gerador e
unificador que retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição em um
estilo de vida unívoco, isto é, em um conjunto unívoco de escolhas de pessoas, de bens, de
práticas. (BOURDIEU, 1996, p.21-22).
O corpo é a objetivação do habitus no qual está sujeito a um processo de socialização. “O
habitus engendra práticas ajustadas ao princípio de visão e divisão de um campo e ajusta esta
construção de ordem social, àqueles que também as reconhecem e apreciam” (SALVINI, 2012, p.
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50). Nesse sentido, aproximações de comportamentos, gostos e estilos de vida das atletas de futsal
feminino podem se aproximar ao masculino, pela consolidação do habitus existente no subcampo
do futsal já estabelecido. Assumir este habitus pode estar relacionado a uma estratégia para maior
aceitação em um campo que historicamente se construiu como masculino.
Por outro lado, ocorre uma dinâmica de tentar feminizar os corpos das mulheres
futebolísticas, feminizando a aparência de seus corpos, na tentativa de construir uma identidade do
futsal feminino mais próxima aos ideais sociais esperados pela mulher atleta (GOELLNER, 2006).
Reforça-se assim o habitus referente a feminilidade da atleta relacionada ao “belo sexo”, ao corpo
dócil e delicado, longe de processos de masculinização que possam surgir com a prática do futsal.
Estabelece, portanto, a sociedade que Bourdieu (2010) denomina de androcêntrica4 em que
se constituem esquemas classificatórios que revelam os modelos que devem ser seguidos e que são
absorvidos a partir do que se denomina de dominação masculina, através da violência simbólica. O
autor nomeia de ‘poder simbólico’ a relação de poder estabelecida na sociedade sem uso de força
física, mas um poder invisível, que coloca todos os seres humanos submetidos à ordem
androcêntrica.
Sendo campo esportivo um espaço amplo, de intensas negociações e conflitos, composto
por diferentes estruturas e agentes que possuem um capital cultural e um habitus construído, a
inserção das mulheres no esporte passa por “batalhas” e disputas enfrentadas para se inserirem neste
espaço social (BOURDIEU, 1996).
Aspectos Metodológicos
A fim de sustentar a pesquisa com artigos e discussões atuais sobre a temática pesquisada,
buscamos artigos científicos que, em seu desenvolvimento, explanassem sobre a trajetória do futsal
feminino no Brasil. Optamos em trabalhar com o Portal Capes, por ser uma base de dados acessível
e disponível facilmente.
Em primeira busca obtivemos 410 artigos que levantamos com a palavra-chave futsal
feminino. Quando refinamos a busca por artigos analisados por pares, obtivemos um total de 117
artigos publicados entre os anos de 2007 e 2016. Não restringimos a análise em base a um critério
4 Na lógica androcêntrica, Bourdieu (2010) desenvolve o conceito de que o homem situa-se como o centro da sociedade
e todos os outros elementos constituintes desta se colocam na lógica de satisfação ao modelo masculino. Nesse sentido,
constituem-se esquemas classificatórios que revelam os modelos que devem ser seguidos e que são absorvidos a partir
do que se denomina de dominação masculina.
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temporal, já que estamos buscando aspectos históricos do desenvolvimento da modalidade e,
portanto, mantemos todos os artigos encontrados.
Dos 117 trabalhos que aparecem no Portal Capes, 23 destes são indicados mais do que uma
vez no levantamento. Nesse aspecto o total de artigos para a análise da pesquisa se estabelece em
um número de 94 trabalhos válidos para a primeira análise.
Como critério para seleção, realizamos a leitura de todos os resumos dos 94 artigos a fim
de encontrar relações com a história do futsal feminino e aspectos históricos que contribuíram com
o desenvolvimento da modalidade esportiva. Foram excluídos artigos com as seguintes temáticas
encontradas: futsal e pedagogia do esporte, treinamento e alto rendimento no futsal, motivação e
aspectos da aprendizagem motora pelo futsal, temas que não envolvesse diretamente o futsal
feminino como aspectos nutricionais de atletas da modalidade, todos os quais não apresentavam
nenhum aspecto referente a história do futsal feminino. A partir disso delimitamos 11 artigos que
compõe a análise da pesquisa, como observamos no organograma abaixo:
Figura 1 - Organograma representativo da seleção dos artigos analisados para a pesquisa
Fonte: Os autores
Os 11 artigos que selecionamos estão representados em uma tabela a qual delimita os
autores, o título, as palavras-chave e o objetivo. Percebemos que nenhum artigo trata
exclusivamente sobre a trajetória do futsal feminino, contudo são trabalhos que apresentam em seu
desenvolvimento aspectos históricos da modalidade, vezes de forma menos frequente, vezes de
forma mais profunda.
Tabela 1 - Relação dos artigos selecionados para análise
Autor Título Palavras-chave Objetivo
BASTOS, P.V.;
NAVARRO, A.C.
O futsal feminino escolar Futsal; Futsal
feminino; Prática
escolar.
Realizar levantamento e quantificar os dados
primários sobre a prática do futsal feminino
escolar.
ROSA, C.F.,
COSTA, N.G.R;
NAVARRO, A.C.
A prática do futsal
feminino na formação
das jogadoras brasileiras
de futebol.
Futsal; Formação;
Futebol;
Feminino;
Contribuição.
O objetivo foi investigar a presença do futsal
no histórico de formação de jogadoras da elite
do futebol.
FELTRIN, M.B.
LOPES, C.H.;
NAVARRO, A.C.
PELLEGRINOTTI;
I. .L.; DELAFIORI,
Caracterização de
praticantes de futebol
feminino no Brasil.
Futebol Feminino;
Atletas;
Treinamento;
Caracterização.
Quantificar o total de estudos na literatura
brasileira que buscaram investigar e
caracterizar as praticantes de futebol feminino
do país.
410293
11794
83
1123
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R.
MARTINS, L.N Futsal feminino: perfil
das atletas nos jogos de
Minas Gerais 2012
e implicações
pedagógicas
Futsal feminino;
Prática
sistemática;
Iniciação
esportiva.
Identificar o perfil das atletas de futsal
feminino da categoria adulta da região central
do estado de Minas Gerais e discutir possíveis
implicações para a modalidade.
LISBÔA,I. ;
MEDEIROS, W.;
ROBERTO, J.;
SALES, R.P.
Análise dos índices de
massa corpórea nas
categorias de base do
futebol feminino de São
José dos Campos-SP
Índice de Massa
Corpórea, Futebol
Feminino,
Categorias de
Base.
Analisar os Índices de Massa Corpórea de
jovens atletas de futebol do gênero feminino
de um programa de treinamento esportivo da
cidade de São José dos Campos nas suas
categorias de base.
CUSIN, M.A.
NAVARRO, A.C
Perfil psicológico das
atletas femininas da
federação paulista de
futsal
Futsal; Futsal
Feminino; Perfil
Psicológico; Alto
Rendimento
Investigar o perfil psicológico das atletas
femininas da federação paulista de futsal
ROCHA; R.E.R.
WALTRICK, T.;
VENERA, G.D.
Composição corporal,
qualidades físicas e
características
dermatoglíficas das
atletas da seleção
brasileira de futsal
feminino por posição de
jogo.
Futsal.
Composição,
Corporal.
Qualidades
Físicas.
Predisposição
Genética.
Avaliar a composição corporal, qualidades
físicas e características dermatoglíficas das
atletas da Seleção Brasileira de futsal
feminino por posição de jogo.
MÉDICI, B.M.;
CAPARROS, D.R.;
NACIF, M.
Perfil nutricional de
jogadores profissionais
de futsal
Composição
corporal;
Comportamento
alimentar;
Hidratação
Avaliar o perfil nutricional de jogadores
profissionais de futsal
MOREIRA, M.A.
NAVARRO, A.C.;
ZANETTI, M.C.
Perfil de IMC,
somatotipo, agilidade e
resistência anaeróbica
láctica de atletas de
futsal feminino das
categorias sub 15, 17, 19
e adulto.
Futsal feminino;
Categoria; IMC;
Somatotipo;
Testes físicos.
O objetivo desse estudo foi de verificar e
comparar às possíveis diferenças do índice de
massa corporal (IMC), somatotipo, agilidade
e resistência anaeróbica láctica de atletas de
futsal feminino das categorias sub 15, 17, 19 e
adultos do município de São José do Rio
Pardo.
MENEZES, R.V.;
LOPES, A.G.
Influência de um período
de preparação física na
capacidade de resistência
aeróbia em universitárias
praticantes de futsal
Futebol;
Resistência física;
Aptidão física.
O objetivo deste estudo foi verificar avaliar e
analisar alterações na resistência aeróbia em
universitárias praticantes de futsal.
SILVA; F.M.;
SILVA; J.A.M.D.;
ALMEIDA NETO,
A.F.; SALATE,
A.C.B.
Perfil de lesões
desportivas em atletas de
futsal feminino de
Marília
Fisioterapia;
Futebol;
Traumatismos em
atletas.
Neste estudo, objetivou-se caracterizar os
tipos de lesões em atletas do sexo feminino,
praticantes de futsal
Fonte: Os autores
Os artigos foram lidos na íntegra e os elementos históricos sobre a trajetória do futsal
feminino no Brasil são apresentados nos resultados da pesquisa.
Resultados
Como resultado do levantamento das fontes o primeiro tópico que sistematizamos foi a
cronologia dos acontecimentos em relação à modalidade no país. Bastos e Navarro (2009), ao
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estudar sobre o futsal feminino escolar, trazem a tona alguns aspectos do caminho traçado pelo
futsal feminino no país. Das informações obtidas por esta pesquisa em conjunto com os artigos de
Martins (2013), Lisboa, Medeiros e Sales (2014), Rocha, Waltrick e Venera (2013), Medici,
Caparros e Nacif (2012), Moreira, Navarro e Zanetti (2014), construímos a cronologia abaixo:
Tabela 2 - Trajetória Cronológica do Futsal Feminino
Ano Acontecimento
1928 Primeira participação das mulheres nos esportes nas Olimpíadas de Amsterdã
1930 O Futsal ou “Futebol de salão” teve origem na América do Sul, mais especificamente em Montevidéu
(Uruguai), na década de 30, através do professor Juan Carlos Ceriani. Na mesma época o esporte chegou ao
Brasil.
1941 Proibição das mulheres em participar de modalidades esportivas pelo Decreto Lei 3199
1965 Deliberação do Conselho Nacional de Desportos nº 7/65: proibição de práticas esportivas pelas mulheres tais
como: lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, pólo aquático, pólo, rugby,
halterofilismo e baseball.
1979 Revogação do Decreto Lei e da Deliberação do Conselho Nacional de Desportos
1982 Primeiro Campeonato Mundial de Futsal
1983 A prática do futsal feminino foi autorizada pela FIFUSA (Federação Internacional de Futebol de Salão). O
Conselho Nacional de Desportos liberou a prática do Futebol e Futsal para as mulheres e a prática do futsal
feminino se oficializou.
1986 Resolução nº2: o Conselho Nacional de Desporto baixou a Recomendação nº2 que reconheceu a necessidade
de estimular a participação da mulher nas diversas modalidades desportivas no país, mas nenhuma prática
estava oficializada pela CBFS.
1987 A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já havia cadastrado quarenta mil jogadoras e dois mil clubes de
futebol.
1992 Foi organizado o primeiro campeonato oficial pena CBFS: I Taça Brasil de Clubes com 10 equipes
participantes indicadas pelas Federações. Foram organizados campeonatos estaduais em quase todos os estados
que garantiriam vagas para as próximas edições da Taça Brasil.
2001 Realização de campeonatos com participantes juvenis. Convocação da primeira seleção brasileira de futsal
feminino para um desafio internacional contra o Paraguai.
2002 Realização do primeiro Campeonato Brasileiro de Seleções Femininas na cidade de São Paulo
2003 Surgiram as competições de categorias de base (sb-15, sub- 17, sub-20 e adulto). A CBFS organiza a primeira
competição Taça Brasil de Clubes para categoria sub-20.
2004 Acontece a primeira Taça Brasil sub-15
2005 Acontece os Jogos Abertos Brasileiros onde participaram os campeões dos estados do Paraná, Santa Catarina,
Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo. Ainda foi convocada mais uma vez a
seleção brasileira para fazer amistosos na Espanha, cuja equipe foi considerada uma das melhores do mundo.
Disputou o I Campeonato Sul Americano na cidade de Barueri contra as equipes do Paraguai, Uruguai,
Argentina, Peru e Equador. Ainda em 2005, a CBFS criou a I Liga Futsal Feminino com 10 equipes divididas
em 3 grupos, com lançamento oficial na cidade de Londrina. Criação das Taças Brasil do Sub-15, 17, 20 e do
campeonato brasileiro de seleções
2006 II Liga de Futsal feminina com 12 equipes e a seleção brasileira é convocada para mais amistosos na Espanha.
2007 A Fédération Internationale de Footbal Association (FIFA, 2007) oficializa 175 mil mulheres registradas,
sendo estas participantes regulares de competições de Futsal, em todo o mundo.
2008 Realização do primeiro Campeonato Mundial de Futsal Feminino.
2012 21ª edição da Taça Brasil de Clubes. No Paraná acontece a Taça Paraná e o Paranaense feminino nas categorias
mirim (sub 13), infantil (sub15) Infanto (sub17) Juvenil (sub20) e adulto. Em Minas Gerais estão sendo
realizados o campeonato Metropolitano Adulto Feminino e o Estadual sub 15, 17, 20 e adulto.
Fonte: Os autores
Para além dos dados cronológicos, outros elementos aparecem nos artigos que corroboram
com a fundamentação teórica com a qual iniciamos o presente trabalho. O primeiro aspecto que
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encontramos foi a relação existente entre a trajetória da modalidade e a história da educação física
no Brasil. A fragmentação da prática esportiva em nível educacional se apresenta na discussão de
Bastos e Navarro (2009) onde afirmam que a história da educação física contribuiu para a
caracterização dos comportamentos femininos e masculinos, mantendo papéis sexuais distintos e
determinados pelo sexo. Quando a educação física é introduzida nas escolas, a participação das
meninas nas práticas esportivas foi restrita.
Bastos e Navarro (2009) também chamam a atenção para comparação na educação de
meninos e meninas, onde aqueles são livres e libertos, jogam bola na rua e desenvolvem atividades
relacionadas a motricidade ampla. Enquanto que as meninas cabem o desencorajamento e a
proibição de brincadeiras e atividades amplas em detrimento de atividades que desenvolvam a
motricidade fina.
No mesmo sentido, Cusin e Navarro (2013) e Menezes e Lopes (2015) relacionam a
trajetória do futsal feminino com aspectos históricos e culturais do desenvolvimento do esporte na
sociedade, e as influências dos valores de gênero neste processo. Com base das discussões de
Kinijnik, os autores ressaltam o fortalecimento da presença feminina no mercado de trabalho nas
décadas de 60 e 70 que interferiu na inserção das mesmas no esporte, já que este é entendido como
fenômeno cultural e social. Com o desenvolvimento do esporte moderno, a mulher passa a
contribuir nas funções de treinadora, dirigente, árbitra, repórter, apresentadora de programas
esportivos, dentre outros. Ainda, destacam a existência de diferenças na frequência de participantes
mulheres em atividades físico-esportivas e no esporte de rendimento, que se estabelecem em ideias
do senso comum a partir de estereótipos que ainda inibem a participação feminina.
Por fim, dois artigos se preocuparam em refletir algumas barreiras contemporâneas que as
atletas encontram por treinarem futsal. Silva, Silva, Almeida Neto e Salade (2011) já apontavam
para a crescente popularidade da modalidade tanto nas categorias masculinas como femininas,
indicando a existência de altos níveis de habilidade técnica, tática e demanda por desempenho
individual, que precisam cada vez mais de incentivo e divulgação da atividade esportiva.
Feltrin, Lopes, Navarro, Pellegrinotti e Delafiori (2012) sugerem que os aspectos que
bloqueiam a divulgação do futsal feminino relaciona-se a falta de tradição, cultura brasileira,
estrutura tecnológica, omissão da mídia, falta de patrocinadores e, contrariando a ideia do artigo
anterior, a baixa popularidade. Assim apontam como saída a adoção de um mecanismo de incentivo
por parte das federações e confederações, além de capacitação dos profissionais que trabalham
como o futsal feminino.
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Percebemos que três aspectos predominam nos artigos quando se trata de trajetória do
futsal feminino no Brasil. O primeiro é a cronologia que nos passa a visão de como o futsal se
estabelece concretamente nos espaços esportivos, principalmente no que diz respeito ao alto
rendimento. O segundo aspecto foca nas discussões de gênero que influenciam tal prática, como
sugerimos na fundamentação teórica da presente pesquisa. Ao compreender historicamente o
esporte, é necessário observar que possui uma função social vinculada a elementos macrossociais,
que auxiliam na construção de valores e condutas. Nesse aspecto, a trajetória do futsal feminino
acompanha construções históricas e culturais de gênero, principalmente em relação a mulher em
sociedade.
Por fim, o terceiro ponto aparece na extensão do anterior, onde, a partir das reflexões sobre
a mulher e o esporte, observamos barreiras e limitações acerca do investimento à modalidade em
função dos aspectos culturais que perpassam o futsal feminino. Invisibilidade e falta de patrocínio
aparecem como principais elementos concretos.
Isto posto, concluímos que, para observar a trajetória do futsal feminino no Brasil
precisamos nos aprofundar em aspectos históricos e culturais que atravessam o gênero, o esporte e a
modalidade esportiva citada. Além disso, os estudos atuais pouco abordam tais aspectos, o que pode
dificultar reflexões nesse sentido e a superação de barreiras apresentadas pelas pesquisas. Portanto,
apontamos para a atenção para tais aspectos a fim de contribuir com uma análise mais ampla e
completa sobre a trajetória do futsal feminino no país.
Referências
BASTOS, Paula Viotti; NAVARRO, Antonio Coppi. O futsal feminino escolar. Revista Brasileira
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TRAJECTORY OF THE FEMALE FUTSAL IN BRAZIL: A REPLY PATH OF
OBSTACLES
Abstract: The objective of this work is to present the historical trajectory of Brazilian women futsal
and the implications for gender issues. The existence of a tension between futsal and female athlete
is perceptible, about the social representation, as a masculine sport, and the practice performed by
women, in function of representations existing in relation to the construction of femininity. Tracing
the historical course of the modality becomes important to interpret the meaning of the practice of
the different agents involved in the process of constitution of the modality. This research is
qualitative. Bibliographic research is used as methodology. Articles from Portal Capes are selected
from periodical portals that discuss women's futsal in the country and its historical aspects. Articles
dealing with technical and health aspects of futsal are excluded. In addition, books and other
materials are listed for research. History of women's futsal in Brazil carries contexts beyond the
sports practice itself, which can be placed as barriers to the participation of female athletes in the
sport. These contexts are linked to the historical conception of women in society and the
construction of an image focused on femininity. Therefore, we seek to relate in history aspects of
gender that influence the consolidation of the modality in the country.
Key-words: Woman futsal; History; Gender.
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