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Edição do jornal Questão de Ordem das alunas Michelly Pedrosa, Othacya Lopes e Rafaela Gambarra
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QUESTÃO DE ORDEM Fa
na
tis
mo
Julho | 2010 — Edição 2 — Ano I
A RELIGIÃO MUÇULMANA
RAÍZES DO TERRORISMO
A TRAGÉDIA AMERICANA
EDIÇÃO ESPECIAL DEZ ANOS DO 11 DE SETEMBRO
AO LEITOR
Editorial Blogosfera
Expediente: EDIÇÃO REDAÇÃO Michelly Pedrosa Michelly Pedrosa. O ponto de vista de um muçulmano Othacya Lopes Crônica: Para alguém que não vai voltar Rafaela Gambarra DIAGRAMAÇÃO Othacya Lopes. Fanatismo leva muçulmanos ao terror Michelly Pedrosa Entrevista com a francesa Laura Lahaix Othacya Lopes Rafaela Gambarra Rafaela Gambarra. Anti terrorismo X Direitos Humanos REVISÃO FINAL Perfil: Do topo aos escombros Michelly Pedrosa Othacya Lopes Rafaela Gambarra
2 Julho 2010 | Questão de Ordem
Steve McCurry, o fotógrafo
que capturou os primeiros momen-
tos da tragédia O renomado fotógrafo estadunidense
Steve McCurry coincidentemente estava
no seu escritório a três quarteirões de
distância das Torres Gêmeas no momen-
to do atentado.
O crime artístico do século XX Em 1974, o artista francês Philippe Petit,
um apaixonado pelas artes do malabaris-
mo e do equilibrismo, atravessou oito ve-
zes o espaço entre uma torre e outra a
uma altura 417 metros.
A tragédia também inspirou o
mundo da arte Os atentados do 11 de setembro foram
inspiração para diversos filmes e livros
com abordagens tradicionais e arrojadas acerca da tragédia.
“Loose Change Final Cut” -
Documentário sobre o atentado Documentário que tem como base a i-
deia de que os atentados do 11 de setem-bro não foram orquestrados por mem-
bros da Al-Qaeda, mas por membros do
governo dos EUA.
E muito mais no nosso blog: www.umolharsobreoterror.blogspot.com
Antecipando o aniversário de 10 anos da tragédia que parou o mundo, a segunda edi-ção do jornal ―Questão de Ordem‖ traz novas questões a respeito do 11 de setembro, acrescen-
tando um maior conhecimento sobre o assunto, através de uma abordagem bastante original, que tem como foco as causas e conseqüências do ato terrorista. Diante do desastre ocorrido, nossa redação tentou aproximar as possíveis realidades do fato, respeitando as vítimas da tra-gédia e buscando entender os motivos que levam pessoas a agir de maneira tão violenta.
A partir de uma reflexão sobre as maiores catástrofes sofridas pela humanidade, vimos
o mundo parar para assistir a queda de um dos maiores impérios construídos após a decadên-cia de Roma. Embora tenha surpreendido pela forma devastadora e maquiavélica, o atentado terrorista ao Estados Unidos foi mais um dos desastres provocados por atitudes insensatas, re-velando o potencial humano de destruição em massa. Talvez o 11 de setembro tenha se torna-do inesquecível por representar o fim da invulnerabilidade norte-americana, já que outros a-
tentados terroristas, tão graves quanto este, não tiveram o mesmo destaque na mídia, como o caso ocorrido na Espanha em 2004, quando quatro comboios da rede ferroviária de Madri fo-
ram alvos de explosões, deixando 191 mortos e 1.800 feridos. Embora tenha sido bastante dis-cutido, este último incidente não teve a mesma repercussão exaustiva que o 11 de setembro, deixando, sem dúvida, a imagem das Torres Gêmeas sendo atingidas por aviões para sempre
em nossa memória. Para relembrar o fato, não podemos esquecer das grandes catástrofes que marcaram o
mundo. Os campos de extermínio nazistas, as torturas medievais, a intolerância política. O ser humano, único ser capaz de raciocinar e produzir aquilo que lhe é necessário para viver, é o principal responsável pelas maiores atrocidades cometidas contra a própria humanidade. Des-
sa forma, Stanley Kubrick ilustrou bem a maneira como tudo começou, ao deixar que o maca-co descobrisse o poder de dominação através da força, no filme Uma Odisseia no Espaço.
Em 1945 o Japão foi palco de uma das maiores tragédias da humanidade. A cidade de Hiroshima, com cerca de 250 mil habitantes, foi completamente destruída por uma bomba a-tômica. Três dias depois, era a vez da cidade de Nagasaki sentir a fúria de uma das maiores
potencias mundiais. O bombardeio levou o país a ruína, vendo-se obrigado a se render e, dessa forma, encerrar a Guerra. Mais de 176 mil pessoas foram mortas em decorrências da tragédia.
A explosão de um reator nuclear na cidade de Chernobyl, em 1986, deixou cerca de 4.000 mil mortos, vítimas da radioatividade liberada pelo acidente. Vinte anos após o desastre, a região continua desabitada e a população da antiga União Soviética e parte da Europa Ori-
ental ainda sofre as conseqüências provocadas pela explosão. No dia 11 de setembro de 2001 quatro aviões com destinos diferentes foram seqüestra-
dos por 19 integrantes do grupo de terrorismo denominado Al Qaeda. Mais tarde esses quatro aviões se chocaram com os principais prédios das cidades de maior fluxo econômico dos Esta-dos Unidos, destruindo vidas e revelando a fragilidade do império norte-americano.
Usando imagens do instante da colisão entre os aviões e as torres do World Trade Cen-ter, procuramos reconstruir o incidente, apresentando números e dados que marcaram o mo-mento que o mundo jamais irá esquecer devido a brutalidade deste ato. Dessa forma, busca-mos, com esta publicação, apresentar novas maneiras de direcionar o olhar diante do catastró-fico atentado terrorista que acometeu os Estados Unidos.
A Equipe
www.umolharsobreoterror.blogspot.com
Dez anos do 11 de setembro
CAPA
TEMPLO. Condenado pelos atentados do 11 de setembro, este prédio, localizado a dois quarteirões do WTC, pode virar centro islâmico
FANATISMO LEVA MUÇULMANOS AO TERROR Construção de mesquita próxima ao local do atentado ao WTC causa debates junto à população estadunidense
No dia 25 de maio deste ano foi aprovada a obra de uma mesquita islâ-
mica a duas quadras do ―Ground Ze-ro‖, o local onde ficavam as torres gê-
meas, antigos prédios pertencentes ao complexo Word Trade Center e que foram destruídas pelos atentados do 11
de setembro. Os partidários da ideia afirma-
ram que a mesquita ajudará a desfazer os estereótipos negativos sobre o Islã
que prevalecem na cidade desde que extremistas muçulmanos derrubaram as torres gêmeas, matando 3.000 pes-
soas. Grandes protestos estão aconte-cendo na cidade em torno dessa cons-
trução. Os adversários questionam o projeto porque dizem que ele insultará
a memória das vítimas. O ataque de 11 de setembro de
2001 matou 2.752 pessoas no centro
de Nova York e condenou o edifício de cinco andares da empresa, localiza-
do dois quarteirões ao norte do World Trade Center; o prédio está abandona-
do há oito anos. Mas já há alguns meses, longe
dos olhos do público, um portão de
ferro é aberto a cada tarde de sexta-feira e, diante dos ruídos de constru-
ção no local de atentado, centenas de muçulmanos acorrem ao local, se vol-
tam à Meca e oram. Esse modesto co-meço indica ambições muito maiores: um centro islâmico perto do local mais
sagrado da cidade, para servir como um dos mais inesperados e surpreen-
dentes vizinhos do novo World Trade Center.
A localização foi um dos atri-butos decisivos para o grupo de muçul-
manos que adquiriu o edifício. Que acreditaram que dessa forma passari-
am uma mensagem diferente sobre o islã daquela que ficou após o atentado.
"Queremos contragolpear os
fanáticos", disse um dos idealizadores do projeto, Feisal, 61 anos.
Grande ansiedade está presente entre alguns dos envolvidos e outros
observadores do projeto quanto à pos-sibilidade de que ele venha a se tornar
um foco de ataques contra os muçul-manos. Mas, quando entramos em
contato com religiosos e sociólogos a opinião é unânime: construir o centro
tão perto é admitir a parte deles na tra-gédia, e uma forma de dizer que aqui-lo foi realizado por pessoas que se di-
zem muçulmanas, e os demais muçul-manos agora desejam trabalhar para
reparar os danos. "A ideia de um centro cultural
que reforce os elos entre os muçulma-nos e as pessoas de todas as fés e ori-gens é positiva", afirma o estudioso em
ciências das religiões Vicente Gayoso, que diz que não se pode confundir isla-
mismo com terrorismo. ―Essa iniciati-va pode começar a mostrar que o isla-
mismo não prega a guerra, isso é obra dos fanáticos‖, pontua.
Construído em 1923, o edifício de Park Place foi adquirido por Sy
Syms, e por seu sócio Irving Pome-rantz, em 1968, para sediar uma das primeiras lojas de Syms. A loja fechou
em 1990, os sócios se separaram e a família de Pomerantz alugou o local.
Em 11 de setembro, a loja, com 80 funcionários, era uma das 250 uni-
dades da cadeia Burlington nos Esta-dos Unidos. O teto do prédio foi der-rubado por destroços de um dos aviões
que atingiram as torres gêmeas, quer o voo 11 da American Airlines.
"Eu acredito que o objetivo des-te projeto é oferecer um lugar de paz,
de serviços e soluções para a comuni-dade que sempre procura diálogo entre as religiões", diz a socióloga Cristina
Araújo acerca da construção da mes-quita.
"É excelente se pensar na comu-nidade muçulmana buscando compar-
tilhar uma visão de pluralismo e tole-rância", declarou Vicente Gayoso. "O que aconteceu naquele dia", ele diz,
"nada tem a ver com o Islã". Apesar dos pensamentos positi-
vos acerca da visibilidade da religião muçulmana após a construção da mes-
quita, ainda são grandes e prometem continuar por um bom tempo os deba-tes e as polêmicas sobre o tema. Mes-
mo após nove anos, o 11 de setembro ainda possui marcas inesquecíveis.
Questão de Ordem | Julho 2010 3
MESQUITA DE OMAR Um dos locais mais importantes para a doutrina muçulmana. Lá ocorreu o encontro de Maomé com Alá.
“O objetivo é
construir um lugar de
paz, de
serviços e soluções
para a comunidade”
Divulgação
Othacya Lopes
Mesquitas são
alvo de polêmicas
A mesquita que será construída
próxima ao Ground Zero não é a pri-
meira a causar polêmicas. Também
em Londres, a construção da maior
mesquita da Europa gera grande deba-
te. Embora o governo tenha sinaliza-
do seu apoio, cresce a resistência ao
edifício, que abrigaria até 12 mil fiéis
ao lado do Parque Olímpico de 2012.
A grande mesquista de Abbey Mills
seria então o maior edifício religioso
do Reino Unido e a maior mesquita
da Europa. Mas o empreendimento
está sendo duramente criticado pelos
moradores da região.
Na Suíssa aconteceu fato seme-
lhante. Lá foram proibidas as constru-
ções de minaretes, que são as torres
das grandes mesquitas. Essa decisão
pode trazer até perdas econômicas co-
mo também causar danos à imagem
do país. A Suíça obtém uns 10 mil mi-
lhões de euros por ano em negócios
com os países muçulmanos. Os líderes
muçulmanos apelam à calma.
Em Volklingen na Alemanha,
congregação muçulmana solicitou a
construção de um minarete e três cú-
pulas douradas no telhado de um anti-
go cinema convertido em mesquita. O
partido de extrema direita do estado
de Saarland, incentivado pela proibi-
ção aos minaretes na Suíça, logo se
manifestou sobre o assunto, chaman-
do a proposta do minarete de 8,5 me-
tros de ―baioneta do islã‖.
Debates e disputas amargas
sobre o islã, especialmente em relação
a manifestações religiosas mais visí-
veis como mulheres usando lenços,
véus e burcas continuam em passo
acelerado. São comuns questões acer-
ca da construção de mesquitas, de mi-
naretes e das manifestações religiosas
ligadas ao islamismo. O preconceito
se mostra como argumento principal
para o ‗medo‘ do avanço da religião,
mas muçulmanos serão muçulmanos
com ou sem aumento de demonstra-ções religiosas.
Othacya Lopes
www.umolharsobreoterror.blogspot.com
TERRORISMO
Rafaela Gambarra A Suprema Corte dos Estados Uni-
dos resolveu manter, sem alterações, a lei federal que proíbe os americanos de da-rem qualquer tipo de apoio a grupos es-
trangeiros considerados organizações terroristas pelo governo americano. A
lei, que vai de encontro àqueles que argu-mentam ser uma medida de violação dos
direitos constitucionais de associação e de liberdade de expressão, foi adotada em 1996 e reforçada pelo Ato Patriota
dos EUA adotado pelo Congresso pouco tempo depois dos atentados de 11 de se-
tembro. Segundo o professor de Direitos
Humanos da Universidade Federal da
Paraíba, José Baptista de Mello Neto, Em uma primeira análise, há violação
local dos direitos humanos. É que a deci-são da Suprema Corte atenta contra as
liberdades civis dos próprios norte-americanos, como a de associação e ma-
nifestação do pensamento. Já no âmbito externo, a decisão, assim como a própria lei, mantém uma política excludente, pri-
vilegiando grupos e países, criando mais um instrumento de seleção de aliados e
fomentando a criação e manutenção de "inimigos".
A lista de Organizações Terroristas designadas pelo Departamento de Esta-do americano a qual se refere a lei teve
sua primeira compilação em 1997 e cons-ta que, até o ano de 2007, a maioria das
organizações consideradas terroristas e-ram ligadas, em primeiro lugar, ao Isla-
mismo, seguido pelos partidos comunis-tas e por grupos nacionalistas / separatis-
tas. Para a identificação dos grupos que foram designados houve um monitora-mento contínuo das atividades dos gru-
pos ativos em torno do mundo. Após es-se processo, observaram-se três critérios
legais: o de ser um grupo estrangeiro; o de acoplar uma atividade terrorista ou
reter a possibilidade e a intenção de ativi-dades terroristas; e, por fim, o que se re-fere à ameaça concreta à segurança dos
Estados Unidos, as suas relações estran-geiras ou a seus interesses econômicos.
Desde o 11 de setembro de 2001, os temas relacionados ao terrorismo e à se-
gurança têm dominado os meios de co-municação - não só nos Estados Unidos, como no mundo inteiro. Considerando
atualmente o terrorismo como um dos cinco principais problemas globais, a Or-
ganização das Nações Unidas, a Onu, desde o ano de 1972, apontou as primei-
ras resoluções da Assembléia Geral e do Conselho de Segurança (CS) referentes ao tema. Após o atentado do 11 de se-
tembro, resolveu-se implementar a reso-lução número 1373 do CS que obriga os
Estados a punirem indivíduos que apói-am atividades terroristas, bem como a
negarem apoio financeiro e logístico aos terroristas e também a comparti-
lharem informações a respeito de gru-pos que estejam planejando os ata-
ques. Um ano após os atentados em
Madrid, capital de Espanha, o Secre-tário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, lançou, na Cúpula Mundial
de 2005, o relatório "Unindo contra o terrorismo: recomendações para uma
estratégia global contra-terrorista‖. Neste relatório, Annan ressalta o fato
de que a defesa aos direitos humanos é um aspecto essencial nesta luta, pos-to que os terroristas ferem, dentre ou-
tros, a dignidade humana de cada u-ma de suas vítimas.
Observa-se, porém, que a medi-da estabelecida pela lei mantida pela Suprema Corte dos Estados Unidos
criminaliza toda e qualquer forma de
auxílio aos grupos considerados terro-
ristas, seja na forma de "treinamento", de envio de "pessoal" ou de
"aconselhamento", mesmo que seja com fins pacíficos e humanitários em caso de tragédias. Para alguns críti-
cos, defensores dos direitos humanos, essa seria, portanto uma lei que fere
direitos inalienáveis dos cidadãos. "Acredito que a possibilidade de
determinar a finalidade da ajuda, por exemplo, construção de casas, esco-
las, pontes, e promover um efetivo controle da utilização desse auxílio
seria uma forma de atender aos inte-resses da lei norte-americana e, a um só tempo, as necessidades de milhares
de seres humanos", afirma o professor José Neto.
O centro de detenção militar americano de Guantánamo, em Cu-ba, que abrigava, desde o 11 de setem-
bro, prisioneiros acusados de ligação aos grupos Talibã e Al-Qaeda, tam-
bém já fora motivo de indignação in-ternacional e alvo de duras críticas.
Os direitos reconhecidos pela Con-venção de Genebra (série de tratados que definem as normas para as leis
internacionais relativas ao Direito Humanitário Internacional) aos prisi-
oneiros de guerra, entretanto, não são aplicados aos prisioneiros de Guantá-
namo desde a criação desta prisão, pois, segundo o governo americano, eles são "combatentes inimigos".
Dessa forma, durante muitos
anos, os indivíduos que eram vistos
como sendo um perigo para os Esta-dos Unidos eram presos sem serem
submetidos a julgamento ou até mes-mo a uma acusação formal, ferindo o hoje consagrado principio jurídico do
devido processo legal. Submetidos à tortura, violência e humilhação, so-
mente no ano de 2008 foi decidido, através do caso Boumendiene versus
Bush, que os presos, nacionais ou es-trangeiros, detidos por atos de terro-
rismo pelo Governo dos EUA poderi-am ter a legalidade de suas prisões
contestadas em Tribunais americanos. Segundo matéria publicada no jornal norte-americano The Washing-
ton Post, os Estados Unidos já gasta-ram meio bilhão de dólares em obras
e manutenção das instalações da base naval do país, situada na baia de
Guantánamo. Ao invés de o governo americano utilizar-se do dinheiro pú-blico que gerencia, tornando acessível
a todos o seu sistema de saúde, por exemplo, que é o mais caro entre os
grandes países industrializados, prefe-riu-se utilizar os recursos na manuten-
ção da prisão, que chegou a manter sob custódia 680 prisioneiros em mai-o de 2003, número que foi sendo re-
duzido até chegar aos atuais 181. O atual presidente dos Estados
Unidos, Barack Obana, logo que che-gou à Casa Branca em janeiro de
2009 assinou a ordem de fechamento da penitenciária às margens do Cari-be, no entanto até hoje não houve ne-
nhuma medida concreta ou foi marca-
da nenhuma data, de fato, para que
ocorra o fechamento de Guantánamo. Apesar das promessas — hoje em dia
são proibidos, ao menos oficialmente, qualquer tipo de tortura aos presos - os direitos humanos continuam sem
configurar como prioridade na luta contra o terrorismo.
4 Julho 2010 | Questão de Ordem
ANTI TERRORISMO X DIREITOS HUMANOS Medidas tomadas após o 11 de setembro na guerra contra o terror desrespeitam os direitos básicos dos cidadãos
GUANTÁNAMO Os atuais 181 prisioneiros - considerados ‘”combatentes inimigos” - ainda continuam sendo vítimas das torturas
No Afeganistão, há uma outra prisão americana acusada de violar os direitos humanos: o Centro de Detenção de Parwan. SAIBA +
Divulgação
“O governo norte
americano não vê
que desrespeitar os
direitos humanos
também é terrível”
GUANTÁNAMO
www.umolharsobreoterror.blogspot.com
GENTE
Assalam waleikum‖, assim
começa minha conversa com Ahmed
Andrade Al Falluji – nome adotado
por Antônio Andrade dos Santos Jú-
nior ao se converter ao islamismo –
depois de alguns minutos de apresen-
tações. Em seguida ele me revela o
significado das palavras anteriores:
―Que a paz esteja contigo‖ e então
me sinto mais a vontade para iniciar
nossa entrevista. Filho dos paraiba-
nos Ivonete Gomes e Antônio An-
drade, Ahmed se reverteu para a reli-
gião muçulmana em 2007, após co-
nhecer a comunidade islâmica de
João Pessoa e se identificar com a
religião, que segundo ele, está cada
dia mais evidente, especialmente de-
pois do atentado do 11 de setembro e
do conflito com a Palestina. Aos 24
anos, Ahmed se formou em Publici-
dade e Propaganda e trabalha hoje
na sua própria empresa, enquanto
cursa, paralelamente, Marketing A-
vançado, pretendendo torna-se um
consultor autônomo.
No dia 11 de setembro de
2001, Ahmed, que na época ainda se
chamava Antônio, se acordou mais
tarde que o de costume, já que não
freqüentava mais a escola e estudava
em casa para o vestibular daquele
mesmo ano. Sua mãe fazia pintura
em tecido enquanto o almoço cozi-
nhava e seu pai dava banho no dál-
mata da família, se molhando mais
que o próprio cachorro. ―Liguei a
TV e tinha um prédio em chamas em
todos os canais. Fiquei eufórico
quando ouvi falar do atentado terro-
rista e comemorei efusivamente‖,
relembra Ahmed. Aos 18 anos, o jo-
vem garoto de olhos azuis não tinha
bem a noção do estrago ocorrido,
mas gritava e pulava como se come-
morasse um gol da seleção na final
da Copa do Mundo. Para ele tudo
que estava acontecendo era conse-
qüência das ações praticadas anteri-
ormente pelos Estados Unidos e,
dessa forma, o atentado representava
uma lição para o país americano.
―Fiquei muito agitado e só
pensava em ir para a casa de um a-
migo que também devia estar come-
morando‖, afirma. Enquanto se ves-
tia para sair, Ahmed ouvia atenta-
mente as notícias da CBN pelo rá-
dio, e então descobriu que as torres
gêmeas do World Trade Center havi-
am sido derrubadas, matando mais
de mil pessoas inocentes, que saíram
de casa para trabalhar e nunca mais
voltaram. Como qualquer outro jo-
vem dominado pelo sentimento anti-
americano, Ahmed pôs a bandeira
do Brasil nas costas e saiu na rua em
busca do companheiro com quem
dividiu a euforia e frustração de ter
que justificar a alegria naquela hora.
―Tentávamos nos convencer que a-
quilo era uma espécie de lição que os
Estados Unidos merecia‖, declara
meio sem graça ao imaginar o que se
passava pela minha cabeça diante
daquelas palavras.
Após discutirem as causas e
conseqüências daquele ato de atroci-
dade, Ahmed e seu amigo, Daniel
Gomes de Almeida, foram para fren-
te da TV assistir as últimas notícias
do caso até anoitecer. Em casa, ao
deitar a cabeça no travesseiro, pen-
sou em tudo que tinha acontecido
naquele dia e, percebendo a gravida-
de do atentado, se arrependeu de su-
as atitudes. ―Apesar de ter ficado
chocado, eu queria acreditar que era
algo justo, porém por volta de três
dias depois de passada a euforia, a
ficha caiu para mim. Foi um atenta-
do! Absolutamente injustificável e
sem propósito‖, ressalta Ahmed.
Quase três mil pessoas foram
mortas no 11 de setembro, deixando
para trás filhos, maridos e esposas,
que acreditavam num futuro melhor
ao lado daqueles que se foram. Mui-
tos, provavelmente, esqueceram de
dar ―bom dia‖ antes de sair de casa
para trabalhar, ou até mesmo de co-
locar o lixo para fora. Outros saíram
atrasados devido aos problemas com
a mãe que estava sempre cobrando
algo e se arrependeram no meio do
caminho pelas duras palavras pro-
nunciadas. Depois, tantos anos após
a tragédia nada disso mais importa,
apenas a lembrança da última vez
que foram vistas sem imaginar que
suas vidas seriam interrompidas exa-
tamente no lugar onde buscavam
melhores condições de sobrevivên-
cia.
Na mesma época, numa cida-
de vizinha, um pastor evangélico as-
sistia àquela cena apavorado com
tamanha desgraça. ―Em voz baixa,
pedi a Deus que tivesse piedade das
pobres almas que haviam sido usa-
das pela força do mal para destruir
vidas inocentes‖, relata o ex-pastor,
convertido para o islamismo, João
de Deus. Mal sabia ele que dali há
alguns anos se tornaria muçulmano,
vindo a descobrir os motivos que im-
pulsionaram fanáticos religiosos a
adotarem uma postura tão violenta.
Cinco anos mais tarde, João
de Deus viajou em destino a Jordâ-
nia para estudar a doutrina islâmica,
abandonando definitivamente o cris-
tianismo. Em 2007, cruzou o cami-
nho de Ahmed numa das primeiras
reuniões do jovem iniciante e incen-
tivou a permanência do mesmo na
religião. Sem o apoio dos pais, Ah-
med buscou nos livros e na internet
teorias que dessem suporte ao seu
conhecimento sobre o islamismo e
assim, começou a freqüentar a Co-
munidade Islâmica de João Pessoa.
Ahmed acredita que a mídia
foi a principal responsável pela difu-
são da cultura islâmica, gerando po-
lêmicas e atraindo os curiosos para
conhecer a religião. Foi exatamente
após o atentado terrorista que as
questões muçulmanas passaram a ser
mais discutidas, tornando-se uma
das religiões que mais cresce no
mundo. ―O 11 de setembro não foi o
motivo, nem teve peso algum na mi-
nha conversão, foi apenas o que tor-
nou o islã mais visível para mim‖,
afirma Ahmed.
Ao questionar seu sentimento
de culpa por comemorar a morte de
tantas pessoas inocentes, Ahmed
pensa um pouco, enquanto olha o
vazio. Depois pousa suavemente
seus grandes olhos sobre mim procu-
rando as palavras certas para me
convencer. ―Na hora eu me entorpe-
ci. Não lembrei das vítimas, pois só
conseguia pensar que era o começo
de uma reação dos oprimidos contra
os opressores‖, revela.
No final da entrevista, ele me
oferece um chá e se concentra para
lembrar as ervas que possui em casa.
Agradeço, educadamente, e peço pa-
ra não se incomodar, o que é rebati-
do de imediato. De perto, até mesmo
um mulçumano paraibano não pare-
ce tão estranho assim.
O PONTO DE VISTA DE UM MUÇULMANO
“Grande parte dos muçulmanos, atualmente, acreditam que os atentados não foram praticados por fanáticos religiosos”
Como a tragédia do 11 de setembro afetou a vida de pessoas de todas as classes e religiões do mundo inteiro
SAIBA +
MULÇUMANOS Ahmed faz parte da Comunidade Islâmica de João Pessoa desde 2007
Michelly Pedrosa
www.umolharsobreoterror.blogspot.com Questão de Ordem | Julho 2010 5
Arquivo Pessoal
ENTREVISTA
6 Julho 2010 | Questão de Ordem
Laura Lahaix nasceu e sempre viveu em Lyon. Em 2010 ela veio para o Brasil passar seis
meses para estagiar e concluir seu mestrado
em literatura francesa. Em meio às
aulas ela me concedeu uma entrevista na qual
especificou algumas lembranças do dia 11 de
setembro, os sentimentos dos
Franceses acerca do atentado e como ele
repercutiu na Europa.
Questão de ordem: O que você se
lembra do dia do atentado?
Laura Lahaix: Eu tinha quatorze a-
nos, e lembro que fui à escola, normal-
mente. Na verdade eu estava lá quan-do aconteceram os atentados às torres
gêmeas e os professores organizaram uma série de debates acerca do tema. Lembro-me também que no dia se-
guinte nós já tivemos aulas preparadas sobre os atentados do onze de setem-
bro com debates, discussões e tudo mais.
QO: Como ficou o clima na Euro-
pa frente aos ataques?
LL: A tensão era evidente na face de
cada francês. Na escola fazíamos um minuto de silêncio todos os dias, lem-
bro-me com se fosse hoje, em respeito às mortes ocorridas durante os atenta-
dos. Ficamos todos muito contidos com a tragédia, sem saber bem o que
fazer, como reagir. Sei que a coisa que nós mais te-míamos era a reação dos Estados Uni-
dos após o atentado, eu, particular-
mente, mas a maioria dos debates e-ram sobre a política dos Estados Uni-dos após os ataques.
QO: E os debates acerca do terro-
rismo, dos muçulmanos, das ra-
zões religiosas dos ataques, tam-
bém foram presentes nas discus-
sões européias?
LL: Não. Eu me lembro especifica-
mente de não termos comentado mui-to sobre as atitudes muçulmanas ou sobre os debates devido ao terrorismo.
Nossa maior preocupação, desde o início, foi a reação dos Estados Uni-
dos, pensamos que eles poderiam ver a
todos como possíveis ameaças, lembro
que não tivemos debates sobre o terro-rismo nas escolas nessa época.
QO: O que você achou da reação
dos Estados Unidos pós-atentado?
LL: Eu acredito que guerra não se re-
solve com guerra, então não posso te dizer que estou de acordo com a políti-
ca dos Estados Unidos. Se eu te disse que nosso maior medo era a reação
dos Estados Unidos é porque ele expri-miu um terror demasiadamente exa-cerbado, dessa forma o mundo inteiro
ficou em dúvida em relação ao que eles iriam fazer, principalmente por se
tratar de uma potência mundial que possui grande poder bélico.
Q.O: Por falar em guerra, a
“guerra ao terror”, contra o Afe-
ganistão e o Iraque durou mais de
oito anos, você acha que os Esta-
dos Unidos utilizaram a caça a Bin
Laden como um mero pretexto?
LL: Com certeza, acho que o mundo
inteiro foi movido por uma polêmica que ainda está à tona. De vez em
quando aparecem nos noticiários mo-vimentos que reivindicam explicações
para o 11 de setembro, mas se formos avaliar bem, realmente não houve mesmo uma explicação plausível. A
guerra durou mais de oito anos como você mesma falou, e foi uma guerra
em um país que não se rendeu até o fim, foi uma guerra por um motivo
que, inicialmente, foi o atentado, mas que depois não teve mais motivo.
Q.O: E o que você pensa a respei-
to das teorias conspirativas do 11
de setembro?
LL: Quanto às teorias conspirativas eu
acredito que essas dúvidas que acabei de falar já levam a essas teorias conspi-
rativas. Se não se tem uma explicação
exata, então se especulam novas expli-
cações, é assim que a sociedade fun-ciona.
Q.O: Atualmente está havendo
um debate ferrenho devido à cons-
trução de uma mesquita islâmica
próxima ao local onde se encon-
travam as torres, o que você pensa
a respeito?
LL: Na França, o sentimento sobre o
atentado foi muito forte, eu não con-cordo com a construção dessa mesqui-ta. Lá não se pode ter nenhuma mani-
festação religiosa, eu não tenho pre-conceitos, mas para mim construir u-
ma mesquita próximo ao local dos a-tentados chega a ser desrespeito com
as famílias das vítimas.
LAURA volta para a França no mês que vem, mas diz que sentirá muita saudade do Brasil
“sentimos medo da reação dos EUA” A francesa Laura Lahaix conta como ficou o clima de tensão na Europa após os atentados do 11 de setembro
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Othacya Lopes
Arquivo Pessoal
RETRATANDO
4 aviões sequestrados
25 prédios danificados em Manhattan
44 mortos na Pensilvânia
125 mortos no Pentágono
242 bombeiros mortos ou desaparecidos
265 mortos nos quatro aviões
2.654 mortos no WTC
Os números
Questão de Ordem | Julho 2010 7
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8 Julho 2010 | Questão de Ordem
DIÁLOGOS
8 Julho 2010 | Questão de Ordem
Querido David, Se aproxima mais um aniversário da sua morte e nesta data sempre penso em como estaríamos se eu não tivesse te deixado sair de casa naquela manhã fria de setembro. Tentei te avisar para levar o casaco, mas você não quis me escutar. Saiu de casa, mais uma vez, com raiva dessa minha mania de horários. Preparei o seu café, como de costume, com ovos e torradas, as quais você nem sequer olhou, pois estava novamente atrasado. Você sempre perdia a hora, e isso muitas vezes me tirava do sério, mas como era bom perder um pouco a noção do tempo ao
seu lado! Como era bom perder a cabeça e algumas peças de roupas enquanto as ho-ras passavam correndo pela janela do quarto! Hoje eu gostaria de te pedir pra ficar e aproveitar um pouco mais a cama que estava tão quente até bem pouco tem-po antes de você partir. Se eu soubesse o que ia acontecer, teria retribuído aquele beijo que duramente desprezei, imaginan-do o que viria depois.
Não pude nem me despedir de você com um olhar mais sincero e menos
furioso. Deixei que você partisse sem ao menos dizer o quanto sua existência foi importante pra mim, sem saber que, da-quele dia em diante, você não estaria mais presente na mi-nha vida. Quan-do a porta bateu, esperei por al-gum tempo que você retornasse com aquele sor-riso largo no rosto para me abraçar e mos-trar que tudo ficaria bem. Mas você não voltou. Depois de caminhar um pouco
pela casa, liguei a TV e coloquei o arroz no fogo para cozinhar. Enquanto isso, passava os olhos sobre os móveis intoca-velmente limpos, brilhando de tão novos. O noticiário interrompeu meu sono, afas-tando os pensamentos anteriores e cobran-do insistentemente a minha atenção. Foi quando soube da tragédia que havia te levado para sempre de mim, destruindo todos os nossos sonhos e arrancando to-
das as esperanças de te ver novamente. Naquele instante senti o chão sumir debai-xo dos meus pés e parecia que o mundo havia caído sobre minha cabeça. Todos os nossos planos e promessas foram desfeitos numa atitude impensada de pessoas que sequer havíamos visto antes.
Quando
viemos morar
aqui, você chora-
va de saudade dos
seus pais que fica-
ram no Brasil,
mas logo nos a-
daptamos a essa
correria incessante de Nova Iorque. Cons-
truímos tudo que um dia pudemos sonhar,
e então você foi embora, deixando uma
pequena parte de si, que nunca veio ao
mundo. Devido as emoções sofridas pelo
desastre, tive problemas com a gestação e
perdi o filho que esperava. Passei a tomar
grandes quantidades de remédios e sentia
cada dia mais a sua falta. Não queria falar
com ninguém, larguei o emprego, joguei
fora todos os possíveis contatos que pu-
dessem querer me tirar dessa solidão. Não
tinha mais sentido viver num mundo do
qual você não fizesse mais parte. E eu não
pude nem ao menos me despedir. Minha
mãe veio passar dois meses aqui, você a-
credita? Ela, que nunca teve coragem de
sair do Rio de Janeiro, pegou o primeiro
avião com destino a Nova Iorque e ficou
comigo durante um bom tempo. Tentou
me convencer a voltar para casa, mas re-
sisti bravamente. Ela nunca aceitou que
viéssemos morar tão longe. Não havia te
contado antes, pois sabia que isso te abor-
receria.
Mandei consertar aquele mural de
fotos que a faxineira havia derrubado e o
coloquei de volta na parede. Achei melhor
não derrubar a parede da cozinha que re-
clamávamos tanto e comecei a gostar da
cor do piso que você escolheu. A casa está
da mesma forma que você deixou, mas já
não sinto a sua presença aqui. Procuro de
todas as formas usar o mesmo perfume,
mas aos poucos o seu cheiro está indo em-
bora. De repente, percebo que você não
vai voltar e isso, de alguma maneira, ain-
da soa estranho para mim.
Deixei que você
partisse sem ao menos
dizer o quanto sua
existência foi importante
pra mim
DO TOPO AOS ESCOMBROS
A história das torres que foram construídas como símbolo da civilização
industrial e acabaram sendo destruídas pelo fanatismo religioso
As Colunas de Hércules, simboliza-das por duas torres e situadas no Estreito de Gilbratar, muito se comparam às Torres Gêmeas do World Trade Center. Elas eram um elemento legendário de origem mitoló-gica que marcavam os limites entre o uni-verso civilizado, conhecido e controlado e os perigos e incertezas do mundo além do Mediterrâneo. Como que por ironia, acredi-ta-se que o símbolo das torres foi usado nas primeiras cunhagens da moeda americana, como marca da ousadia da coragem e do orgulho dos homens que atravessaram os portões de Gibraltar para conquistar o mun-do.
Em setembro de 2001, outras duas torres marcaram os limites entre o conheci-do e as incertezas: as Torres Gêmeas do complexo World Trade Center. O complexo
contava com sete torres — das quais se des-tacavam as duas enormes Torres Gêmeas –. ocupava um espaço de 1,24 milhão de me-tros quadrados e apesar de ter, durante a-nos, simbolizado a hegemonia que foi sendo adquirida pelos Estados Unidos no período pós-Segunda Guerra Mundial, acabou des-troçado pelo atentado terrorista do grupo al-Qaeda no tão lembrado 11 de setembro de 2001. No local onde antes havia as Torres Gêmeas, conhecidas em todo o mundo de-vido a suas aparições em filmes e programas de TV, hoje se reconstroem cinco novos ar-ranha-céus e um memorial em homenagem às vítimas do atentado.
Segundo a mitologia grega, Hércu-
les, para se apurar da loucura de ter matado seus 12 filhos, teve que ficar a serviço do rei de Tirinto, Euristio, durante 12 anos. Em um dos trabalhos exigidos pelo rei, ele teve que transpor um estreito marítimo e, para isso, separou as duas rochas para abrir o caminho ao Oceano Atlántico, o que deu origem as chamadas ―Colunas de Hércu-les‖. Já o complexo do WTC ficava no co-ração do centro financeiro de Nova Iorque, a ilha de Manhattan, e foi construído para estimular a renovação urbana da área. Ape-sar do período de intenso desenvolvimento em que se encontravam os EUA, a área bai-xa da ilha de Manhattan estava relegada a segundo plano e, por isso, o presidente do Banco Chase Manhattan, David Rockefel-ler, e seu irmão, o então governador de No-va Iorque, Nelson Rockefeller, deram iní-cio, na década de 1960, a empreitada de construir aquilo que deveria ser um ―centro
de comércio mundial‖ tendo como finalida-de o estímulo econômico daquela região.
Como toda atitude ousada, a cons-trução do Complexo atraiu inúmeras críti-cas. Alguns afirmavam que ele seria muito desproporcional aos outros prédios próxi-mos, o que acabaria por desfigurar a homo-geneidade da baixa Manhattan; já o então governador de Nova Jersey, Robert Mey-ner, afirmava que era injusto o estado de Nova Iorque receber US$ 335 milhões para o projeto. Mesmo assim, em 1970, a cons-trução do WTC foi finalizada, simbolizan-do a supremacia econômica dos Estados Unidos na era da globalização. Os sete edifícios que formavam o
complexo eram: as Torres Gêmeas, com-postas pela Torre Norte, na qual havia no seu 107º andar o restaurante chamado Win-dows on the World e pela Torre Sul que, também em seu 107º andar, tinha um posto de observação denominado Top of the Wor-ld Trade Center Observatories; o Hotel Marriot; e mais quatro torres onde havia escritórios de grandes empresas e órgãos do governo. Além disso, por baixo das Torres Gêmeas existia um terminal de metrô que continuou operando mesmo após o atenta-do. Hoje, no local onde antes havia as Torres, está sendo construído um novo complexo, de mesmo nome. O projeto do complexo prevê que uma das cinco novas torres, a Freedom Tower, terá 541 metros de altura, 124 metros a mais que as Torres Gêmeas. Aqueles que trabalharam nos es-combros do WTC finalmente ganharam na
Justiça o direito à indenização. Bombeiros e policiais que tiveram sua saúde lesada devi-do aos danos causados pela atividade rece-berão indenizações de até um milhão de dólares. O que antes foi motivo de orgulho, hoje é novamente fonte de incertezas e polê-micas. As Colunas de Hércules, em Gibral-tar, são envolvidas por uma fita onde há os dizeres ―NON PLUS ULTRA‖ (Não ultra-passarás). Aqueles que as ultrapassaram deram início à quebra das fronteiras entre os oceanos e países, mudando o cenário inter-nacional para sempre. Teriam sido os aten-tados também responsáveis pela chegada de uma nova – e melhor – era? Isso, só o tem-po vai dizer...
PARA ALGUÉM QUE NÃO VAI VOLTAR
Michelly Pedrosa
Rafaela Gambarra
CRÔNICA
Divulgação
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