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A Operação Nó Górdio foi a maior e mais dispendiosa campanha militar portuguesa na província ultramarina de Moçambique, na África Oriental. Decorreu em 1970, durante a Guerra Colonial Portuguesa (1961 - 1974). Os objectivos desta campanha consistiam em erradicar as rotas de infiltração das guerrilhas independentistas ao longo da fronteira com a Tanzânia e destruir as suas bases permanentes em Moçambique.
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Operação Nó Górdio
A Operação Nó Górdio foi a maior e mais dispendiosa campanha militar portuguesa na
província ultramarina de Moçambique, na África Oriental. Decorreu em 1970, durante a
Guerra Colonial Portuguesa (1961 - 1974). Os objectivos desta campanha consistiam em
erradicar as rotas de infiltração das guerrilhas independentistas ao longo da fronteira com a
Tanzânia e destruir as suas bases permanentes em Moçambique. A Nó Górdio durou sete
meses, mobilizou no total trinta e cinco mil militares e foi parcialmente bem-sucedida.
A operação consistia num cerco intenso com vista ao isolamento do núcleo central do Planalto
dos Macondes, onde se encontravam as grandes bases de Gungunhana (objectivo A),
Moçambique (objectivo B) e Nampula (objectivo C). Após conseguido o isolamento, estava
programado o assalto e destruição destes objectivos. Atingindo estes objectivos, esperava-se
uma desarticulação e desmoralização da FRELIMO, embora esta não tenha sido impedida de
actuar em qualquer dos teatros de operações, conforme se verificou posteriormente.
A Nó Górdio foi lançada sob ordens de Kaúlza de Arriaga, entretanto promovido a
comandante-chefe após oito meses de comando de forças terrestres no teatro de operações
moçambicano, e executada pelo Comando Operacional das Forças de Intervenção (COFI). O
início da Operação Nó Górdio foi marcado para 1 de Julho de 1970, com a presença do general
Comandante-Chefe e do seu Estado-Maior em Mueda, prolongando-se até 6 de Agosto, tendo
participado mais de oito mil homens, onde se incluía a totalidade das forças especiais
(Comandos, para-quedistas e Fuzileiros) e dos Grupos Especiais e a quase totalidade da
artilharia de campanha, unidades de reconhecimento e de engenharia.
Esta operação incluía acção psicológica, com uma secção instalada em Mueda, e equipas de
acção psicossocial em Mueda e no Sagal.
Segundo os relatórios em Portugal, terão sido mortos 651 guerrilheiros e 1840 capturados
contra 132 militares portugueses mortos. Kaúlza de Arriaga reivindicou também que as suas
tropas teriam destruído 61 bases e 165 campos, e capturadas 40 toneladas de munição,
apenas nos primeiros dois meses.
Fonte: Wikipedia
Forças armadas - Portugal
Período - 1970
Local - Distrito de Cabo Delgado
Unidades:
Agrupamento de Assalto A
1ª Companhia de Comandos de Moçambique
17ª Companhia de Comandos
18ª Companhia de Comandos
23ª Companhias de Comandos
Companhia de Caçadores nº 2730
Grupo Especial 203
2 x Pelotões de Morteiros de 81 mm
Destacamento de Engenharia
Bataria de Artilharia de 88 mm
Agrupamento de Assalto B
1ª Companhia do Batalhão de Caçadores Paraquedistas nº 31
1ª Companhia do Batalhão de Caçadores Paraquedistas nº 32
2ª Companhia do Batalhão de Caçadores Paraquedistas nº 32
Companhia de Caçadores nº 2468
Companhia de Caçadores nº 2665
Grupo Especial 205
2 x Pelotões de Morteiros de 81 mm
Destacamento de Engenharia
Bataria de Artilharia de 88 mm
Agrupamento de Assalto C
Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 5
Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 11
2ª Companhia do Batalhão de Caçadores Paraquedistas nº 31
21ª Companhia de Comandos
Companhia de Caçadores nº 2666
Grupo Especial 201
Pelotão de Morteiros de 81 mm
Bataria de Artilharia de 88 mm
Força de Cerco Norte
1ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 15
Companhia de Artilharia nº 2718
Companhia de Artilharia nº 2719
Companhia de Cavalaria nº 2399
Companhia de Artilharia nº 2400
Esquadrão de Reconhecimento nº 2
Força de Cerco Sul
Companhia de Caçadores nº 2407
Companhia de Caçadores nº 2408
Companhia de Artilharia nº 2646
Companhia de Artilharia nº 2648
Companhia de Cavalaria nº 2398
Esquadrão de Reconhecimento nº 1
Força de Apoio de Combate
1ª Companhia do Batalhão de Engenharia nº 2
Companhia de Engenharia nº 2736
Apoio Aéreo
Aeródromo de Manobra nº 51 (base operacional)
Aviões Do 27 e T-6 (reconhecimento e apoio de fogo)
Aviões Fiat G-91 (bombardeamento)
Avião Douglas DC-3 (acção psicológica)
Helicópteros Alouette III (transporte de manobra e assalto e evacuação sanitária)
Total de Efectivos: +8000 militares
Missão
Desarticular a acção da FRELIMO em Cabo Delgado, através de uma grande operação de
varredura, cerco e destruição das bases inimigas Moçambique, Gungunhana e Nampula. Esta
foi uma das mais importantes operações militares das Forças Armadas Portuguesas no
decorrer da Guerra contra os Movimentos de libertação existentes nas então Províncias
Ultramarinas.
O Sr. General, Comandante das
Forças Portuguesas dirigiu-se a estas
identificando a operação como: ”…a
mais importante de todas quantas,
até hoje, se realizaram em
Moçambique. Importante, quanto ao
potencial de combate empregado e
importante quanto ao objectivo a
atingir.” Zona de actuação:
Moçambique, Planalto de Mueda
Período: 1 de Maio de 1970 e 6 de
Agosto de 1970 Objectivos da
Operação: - Destroçar o inimigo que, armado, pretende dominar a região; - Libertar as
populações escravizadas; - Restabelecer a ordem e a Paz.
Composição das Forças Portuguesas: - 7 Comandos Operacionais; - 7 Companhias de
Caçadores; - 4 Companhias de Artilharia; - 3 Companhias de Cavalaria; - 2 Destacamentos de
Fuzileiros; - 5 Companhias de Comandos; - 4 Companhias de Para-quedistas; - 3 Grupos
Especiais; - 2 Esquadrões de reconhecimentos; - 1 Companhia de Morteiros médios; - 3
Baterias de Artilharia de Campanha; - 2 Companhias de Engenharia. A Força Aérea colaborou
na Operação com ataques ao solo e bombardeamentos (que também ocorreram no decorrer
da Operação) no exterior do núcleo central para confundir o inimigo e ainda efectuou missões
de: - Reconhecimento aéreo; - Ligação e controlo; - Transporte táctico; - Apoio de fogo; -
Evacuação e reabastecimentos. As transmissões foram asseguradas por: - Centro de
mensagens junto do COFI; - Centro de cripto; - Central de Rádio; - Redes de comando em HF; -
Redes de VHF; - Rede VHF de emergência; - Rede de ligação para apoio aéreo; - Destacamento
avançado de manutenção e reabastecimento.
As acções preparatórias da Operação “Nó Górdio” foram executadas durante os meses de
Maio e Junho de 1970.
Durante a preparação e
no decorrer da operação
morreram do lado
Português 42 pessoas (4
Civis, 1 Capitão, 1 Alferes,
1 Furriel Miliciano, 7 1.ºs
Cabos e 28 Soldados) e
registaram-se 35 feridos
com gravidade. Foram
identificadas as seguintes
baixas nas forças
oponentes, 104 Mortos e
20 Feridos confirmados.
As Forças Portuguesas
efectuaram cerca de 100 prisões. Foram destruídas 16 viaturas Portuguesas, sendo que 4 eram
blindadas. Do material apreendido às forças oponentes, destacam-se 82 granadas de morteiro
e diversas minas anti-carro e anti-pessoal. Foram destruídas cerca 10.000 palhotas que
constituíam o interior do núcleo central. Apreenderam-se diversos documentos de
importância político/militar dos quais se destaca um “processo de averiguações das causas da
morte de Mondlane e um projecto para assassinar Lázaro Kavandame. Curiosidade: Alguns
aspectos da operação “Nó Górdio” foram acompanhados por uma equipa de televisão alemã.
O Chefe dessa equipa entregou ao Comandante do COFI um relógio para entregar ao Militar
indígena que mais se destacasse na operação. Foram identificados 26 militares com essas
características, mas por ser impossível determinar qual se tinha destacado, o relógio não foi
entregue a nenhum soldado, mas sim no Quartel-general da Região Militar de Moçambique. A
sua entrega ao militar que mais se destacou, ficou a aguardar uma identificação mais precisa.
Este texto elaborado por Júlio Santos em Jan2008, em memória de todos os que morreram e
em homenagem aos que combateram. Por razões de confidencialidade não faz referência à
forma “como” decorreu a Operação. Bibliografia: Relatório da “Operação Nó Górdio”
Fonte: Wikipedia
Operação
A situação em Cabo Delgado, em finais de 1969, era de acentuada pressão sobre os
aquartelamentos militares portugueses, com a minagem dos itinerários e ataques às colunas
tácticas e logísticas, tentando a Frelimo expandir as suas acções para sul do rio Messalo.
Espalhava-se a ideia de que o Planalto Central era zona inacessível às tropas portuguesas
depois de, no final desse ano, unidades de para-quedistas e comandos não terem conseguido
alcançar as grandes bases da guerrilha - Gungunhana e Moçambique. Em Dezembro, dois
terços das acções da Frelimo estavam concentrados em Cabo Delgado, servindo o triângulo
serra do Mapé-Macomia-Chai como apoio dos guerrilheiros, no seu avanço para sul. No
primeiro trimestre de 1970, verificou-se a intensificação da guerra, com a Frelimo a ultrapassar
o rio Messalo, em direcção ao rio Lúrio, e a confirmação de acções em Tete/Cabora Bassa. A
actividade da guerrilha aumentou mais de 40 por cento, continuando a caber a maior
percentagem ao emprego de minas. A Frelimo demonstrava um maior interesse pelo sector de
Tete, onde se instalavam os grandes empreendimentos económicos de Cabora Bassa. O
contínuo agravamento da situação militar e a impossibilidade de aumentar o esforço de
guerra, quer em efectivos metropolitanos quer em material de combate, levaram o general
Kaúlza de Arriaga, ainda como comandante do Exército, a intensificar a formação de unidades
de recrutamento local, que utilizaria intensamente como comandante-chefe. Nos finais de
1969, foi criado o Batalhão de Comandos e formada a 1.ª Companhia de Comandos de
Moçambique. Logo em Janeiro de 1970, a Região Militar anunciou a formação dos primeiros
seis grupos especiais (GE) de milícias, com o total de quinhentos e cinquenta homens.
Em Abril de 1970, foi referenciada a presença de Samora Machel em Cabo Delgado, para
apresentar os planos de uma grande ofensiva a executar em Junho e Julho. Esta visita fez
aumentar a actividade militar da Frelimo a nível nunca igualado. De facto, enquanto no
segundo trimestre de 1969 o movimento realizou 154 acções, das quais 98 foram minas, no
primeiro trimestre de 1970 essas acções subiram para 685 (646 eram minas) e no segundo
para 759 (652 eram minas). Com este cenário por pano de fundo, o general Kaúlza de Arriaga,
já comandante-chefe, decide lançar a Operação Nó Górdio, atribuindo a sua execução ao
Comando Operacional das Forças de Intervenção (COFI), criado em Novembro de 1969 para o
emprego conjunto de forças do Exército, Marinha e Força Aérea em missões de grande
envergadura, em situações de emergência e em operações especiais. A preparação pode dizer-
se que foi iniciada com a primeira experiência do COFI, em Maio de 1970, na condução de uma
operação ao longo da estrada Mueda-Mocímboa da Praia, envolvendo unidades de comandos,
para-quedistas e fuzileiros, apoiadas por artilharia e aviação, a qual serviu de treino ao estado-
maior do COFI e permitiu aliviar a pressão sobre um itinerário fundamental para o apoio
logístico à grande operação que se preparava.
Entretanto, desde a tomada de posse do general Kaúlza de Arriaga que o seu Quartel-General
em Nampula trabalhava nos preparativos que iriam concretizar o seu conceito de manobra em
acções de contraguerrilha: executar operações de grande envergadura sobre objectivos
materializados no terreno, com o máximo de forças.
Para tal, processou-se intensa
acção de reparação e reunião
de materiais, sobretudo
artilharia e auto-
metralhadoras; transferiram-se
depósitos de munições,
combustíveis e víveres para o
Norte; prolongou-se a pista de
Mueda, de modo a nela
poderem operar aviões Fiat G-
91, e a de Nangololo, para
receber Nord-Atlas de
transporte; deslocaram-se efectivos do Sul para o Norte, incluindo algumas unidades em fim
de comissão; receberam-se novos materiais, especialmente alguns detectores de minas e
rádios; e preparou-se, finalmente, um plano de acção psicológica destinado às populações e
forças portuguesas. A maioria destes meios foi reunido em Mueda, que se transformou em
enorme base de operações. O início da Operação Nó Górdio foi marcado para 1 de Julho de
1970, com a presença do general Comandante-Chefe e do seu Estado-Maior em Mueda,
prolongando-se até 6 de Agosto. Nela participaram mais de oito mil homens, que
representavam cerca de 40 por cento dos efectivos das tropas de combate no território (vinte
e dois mil), uma concentração que esgotou as reservas disponíveis, pois empenhou a
totalidade das unidades de forças especiais
(comandos, para-quedistas e fuzileiros) e os
grupos especiais (GE), recém-criados, mais a
quase totalidade da artilharia de campanha,
unidades de reconhecimento e de
engenharia. O conceito da operação
assentava num cerco e batida com grandes
meios, prevendo o isolamento da área do
núcleo central do Planalto dos Macondes,
onde se encontravam as grandes bases
Gungunhana, Moçambique e Nampula, através de um cerco ao longo dos itinerários Mueda-
Sagal-Muidumbe-Nangolo-Miteda-Mueda, com a extensão de 140 quilómetros e, após
conseguido o isolamento da área, o assalto e destruição dos principais objectivos do núcleo
central:
objectivo A base de artilharia Gungunhana;
objectivo B base provincial Moçambique;
objectivo C base Nampula.
A manobra seria apoiada no terreno com fogos de artilharia e de aviação, em acções de
flagelação e de concentração sobre os objectivos.
Para criar condições de aproximação a estes e
actuar sobre eles, seriam organizados
agrupamentos de forças para procederem à
abertura simultânea de picadas em direcção aos
objectivos A e B, o mesmo sucedendo
posteriormente para atingir o objectivo C, e, por
fim, previa-se manter o cerco e continuar a bater
e a eliminar todas as organizações referenciadas
ou a referenciar. As acções militares deveriam ser
conjugadas com intensa campanha de acção
psicológica, para provocar a rendição e a
desmoralização do inimigo. Os agrupamentos de
cerco seriam constituídos por unidades de
caçadores e por unidades de reconhecimento,
realizando as primeiras emboscadas em
permanência, enquanto as segundas
patrulhariam os itinerários. Os agrupamentos de
assalto disporiam de uma composição inter
armas, do tipo task force, incluindo unidades de
forças especiais, forças regulares, de apoio de fogos (artilharia e morteiros) e de engenharia. A
esta cabia papel de grande sacrifício e risco na abertura das picadas tácticas desde as estradas
Mueda-Miteda e Miteda-Nangololo até à proximidade dos objectivos, onde seriam criadas as
bases de ataque para as forças de assalto. A operação era concebida como manobra do tipo
convencional, em que se pretendia alcançar com um ataque em força o que do antecedente
não fora conseguido, empregando a surpresa.
Execução da Operação
Para cumprimento deste plano foram constituídos sete agrupamentos: dois para o cerco
(Norte e Sul) e quatro de intervenção, um para cada objectivo e um para reserva.
- 1 Julho - Início. Os agrupamentos de cerco começaram a sua instalação. Os agrupamentos de
assalto A e B principiaram o movimento para os objectivos.
- 3 Julho - O agrupamento de assalto B (para-quedistas) iniciou a progressão de Nangololo para
o objectivo B - base Moçambique - , com o apoio da engenharia na abertura da picada desde
Capoca até Gole.
- 4 Julho - O agrupamento de assalto A (comandos) chegou à base de ataque, a dois
quilómetros do objectivo – base Gungunhana.
- 5 Julho - Realizou-se a primeira tentativa de assalto à base Gungunhana, que não se
encontrava na localização prevista.
- 6 Julho - Foi localizada e assaltada a base Gungunhana, que fora abandonada recentemente.
Estava localizada na encosta de uma pequena colina, no interior de mata densa, ocupava a
área de 100x500 metros, dispunha de mais de cem palhotas, era circundada por uma vala e
tinha abrigos contra morteiros e ataques aéreos.
Foi assaltada a base Moçambique pelas forças para-quedistas. Era constituída por cerca de
duzentas palhotas e encontrava-se abandonada havia cerca de dois meses.
- 12 Julho - O agrupamento de assalto C (fuzileiros) iniciou o deslocamento de Mueda para o
objectivo C – base Nampula.
- 15 Julho - Foi atingido o objectivo C. A base Nampula era constituída por cerca de cinquenta
palhotas e encontrava-se abandonada há dois meses.
- 16 Julho a 6 Agosto – Realizaram-se acções de permanência.
Após os ataques aos objectivos A, B e C, foram organizadas bases temporárias nas suas
proximidades e atribuídas áreas de responsabilidade aos agrupamentos de ataque, com a
finalidade de eliminar da
zona as unidades de
guerrilha ainda activas.
As forças de cerco
mantiveram-se em
posição até 2 de Agosto,
realizando emboscadas e
implantando armadilhas,
para completar e
melhorar a manobra.
Em coordenação com as
acções militares foram
realizadas operações
psicológicas com a
finalidade de separar as populações dos guerrilheiros, desmoralizar os combatentes e
fomentar as apresentações, considerando-se que
a Frelimo controlava cerca de sessenta mil
pessoas na zona do planalto.
Para este efeito, foi instalada em Mueda uma
secção de acção psicológica, constituídas equipas
de recepção de refugiados em Sagal, Diaca,
Miteda e Muidumbe e equipas de acção
psicossocial em Mueda e no Sagal. Também as
autoridades administrativas receberam instruções
para armazenar reservas de víveres, a fim de
fazerem face às necessidades imediatas de apresentados e capturados.
Contudo, «não obstante a acção psicológica realizada pelas forças nacionais, as populações
não se apresentaram. De forma geral, afastaram-se para fora do alcance das forças militares e
construíram novas palhotas, ou então regressaram para a proximidade das antigas, logo que
lhes foi possível» (extracto do relatório de operação).
Apreciação final da situação pelo comando português:
«Em relação ao inimigo ele foi:
- Desarticulado, em consequência da destruição das suas organizações;
- Atemorizado, pelo potencial e espírito das NT, em que não acreditava;
- Desmoralizado, elas carências de toda a ordem;
- Desprestigiado perante as populações.
As populações, cansadas de luta tão prolongada, apresentavam acentuado desequilíbrio
psicológico. Chegou a "sentir-se" claramente que a população vacilava entre continuar a
resistência ou entregar-se.
As forças nacionais, em resultado da consumação, com
êxito, de uma operação duríssima e da sua superioridade
sobre o inimigo, mostravam-se confiantes em si próprias e
nos seus chefes e compreendiam a necessidade de
continuar a luta até à vitória final.
Com a destruição do "mito" do núcleo central, toda a
iniciativa no distrito de Cabo Delgado passou, sem qualquer
dúvida, para as forças nacionais» (extracto do relatório da
operação).
A Frelimo, apesar da Operação Nó Górdio, não foi impedida
de actuar em qualquer dos teatros de operações. A sua
actividade no terceiro trimestre de 1970 provocou as
seguintes baixas e destruições às forças portuguesas, nas zonas não abrangidas pela operação:
Mortos Feridos Graves Viaturas destruídas
Niassa 17 77 14
Cabo Delgado 25 70 33
Tete 9 45 13
Total 51 192 60
RESULTADOS
Frelimo
Guerrilheiros mortos (em acção directa de combate) 67
Capturados (homens) 31 (mulheres) 42 (crianças) 28
Forças Portuguesas
Mortos (militares) 22 *(15)
(civis) 4
Feridos graves 27 *(27)
Feridos ligeiros 55 *(31)
Viaturas destruídas e danificadas 15
Minas detectadas 155
*( ) Devido a minas
De facto, só em Cabo Delgado, onde se desenrolou a Operação Nó Górdio, as forças da Frelimo
realizaram, durante o período em que ela durou (Julho) e depois de anunciada a vitória
portuguesa (Agosto e Setembro), as seguintes acções fora da zona de operações:
- 12 de Julho - Ataque a Miteda com um grupo de cerca de cem guerrilheiros, que só se
retiraram após as forças portuguesas terem utilizado helicópteros armados e canhão sem
recuo;
- 15 Julho – Colocação de 73 minas na estrada Montepuez-Nancatari-Mueda;
- 15 e 16 Julho - Colocação de engenhos explosivos perto de Omar (a norte do núcleo central);
- 21 de Julho - Emboscada na estrada Muaguide-Meluco, a sul do rio Messalo, na região de
Macomia;
- 28 e 29 de Julho e 17, 27 e 29 de Agosto - Ataques ao aquartelamento de Omar, sempre com
forte potencial de fogo (canhões sem recuo e metralhadoras pesadas) e muito próximo do
aquartelamento.
Estas acções da Frelimo, fora da
área em que se desenrolou a
Operação Nó Górdio,
demonstram que o movimento
manteve operacionais as suas
estruturas em todos os sectores.
No Niassa, durante este período,
realizou 142 acções, mais 23 do
que no trimestre anterior e mais
34 do que em igual período do
ano de 1969. Em Tete, efectuou
neste trimestre 239 acções, mais
100 do que nos três meses anteriores e mais 141 do que em igual período do ano de 1969.
Em resumo, na zona de Cabo Delgado a Operação Nó Górdio não fez diminuir as acções
militares da Frelimo nas
áreas exteriores ao núcleo
central, onde as forças
portuguesas concentraram o
seu esforço. Nas frentes do
Niassa e de Tete, o
movimento aumentou
significativamente o número
das suas acções.
Em 3 de Agosto, ainda antes
do final oficial da Operação
Nó Górdio, em ofício
enviado pelo Comando-Chefe de Moçambique ao Secretariado-Geral da Defesa Nacional
(SGDN), Kaúlza de Arriaga transmitia a opinião de que «vencida e ultrapassada esta fase da
guerra em Moçambique, outra poderá ter lugar na qual o inimigo disporá de meios mais
evoluídos, como carros de combate, foguetões terra-terra e aviões de combate».
Em Dezembro de 1970, também em ofício para o SGDN, o comandante-chefe de Moçambique
afirmava: «Não é possível garantir o sucesso em Moçambique com efectivos actuando em
terra inferiores a 105 companhias de caçadores, nove companhias de comandos e quatro
companhias de para-quedistas.»
Em Outubro de 1970, dois meses após o final da operação, o Comando-Chefe de Moçambique
considerava como possibilidade mais perigosa que a Frelimo afectasse gravemente o distrito
de Tete pelo incremento das acções de guerrilha e pelo seu alastramento à Angónia e a Tete, o
que, de facto, veio a verificar-se.
Na sequência da Operação Nó Górdio, as forças portuguesas planearam a Operação Fronteira,
canalizando o seu esforço para Norte, enquanto a Frelimo reorientava a sua prioridade para
Tete e para o Sul, mantendo contudo pressão suficiente no Norte, para não permitir que as
forças portuguesas deslocassem efectivos.
Em contraguerrilha, as operações de grande envergadura ficam, de modo geral, aquém dos
resultados esperados, mas a verdade é que surgem sempre comandantes tentados a lançá-Ias.
A Frelimo seguiu as máximas de Sun Tsu, de retirar quando o inimigo ataca e de o atacar
quando ele se movimenta. Não admira, por isso, que se verificasse reacção violenta dos
guerrilheiros à movimentação das forças portuguesas, em especial na abertura das picadas
tácticas, quando estas se encontravam mais vulneráveis; que não defendessem as suas bases,
porque o terreno não é importante na guerra de guerrilha; e que o cerco das forças
portuguesas não produzisse os resultados desejáveis, pois era muito extenso, os guerrilheiros
e as populações conheciam o terreno e a localização das emboscadas, os efectivos disponíveis
eram escassos em relação às missões e constituídos ou por unidades recém-chegadas ou que
já tinham terminado as suas comissões.
Mesmo o objectivo de conquistar as populações ficou longe de ser alcançado, pois a área era
demasiado extensa para as possibilidades de exploração das forças de assalto aos objectivos, o
que deu às populações a possibilidade de aguardar o resultado dos acontecimentos em
relativa segurança, fora do alcance das forças de cerco. Não admira, por isso, que não se
tivesse verificado o êxodo das populações com as consequentes capturas. Acresce que as
intensas campanhas de acção psicológica, utilizando meios aéreos de difusão de mensagens,
também não motivaram apresentações.
Fonte: RTP1
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