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Odisseia em Revista - Centro de Pesquisas Odisseia
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1
Edição de Lançamento - Julho de 2011—Nº 01
www.cpodisseia.com/odisseiaemrevista
2
Direção Geral
Marcelo Lambert
marcelo_lambert@yahoo.com.br
Redação
Raquel Lambert
quellambert@yahoo.com.br
Editorial
Alexandre Abramson
alexandre.abramson@cpodisseia.com
Criação e Diagramador
Leandro Zermiani
leandro@leandrozermiani.com
Web Design
Leandro Zermiani
www.leandrozermiani.com
Colaboradores nesta edição
Audrey Maceá
Flavio Augusto Camilo
Marici Harumi Bando
Otávio Pires
Samuel Candido de Oliveira
Thiago Abramson
Vanilson Fickert
Marketing e Circulação
Leandro Zermiani
Alexandre Abramson
Central de atendimento
odisseiaemrevista@cpodisseia.com
Equipe
Editorial - 5
A Matemática e o
tempo - 06
Uma viagem, quatro
prazeres - 07
Literatura - 08
Alimentos
orgânicos - 10
Propaganda e vida
cotidiana - 11
Filosofia - 12
Sumário
Psicologia - 14
3
Amigos do Odisseia,
É com muita satisfação que estamos publicando este primeiro número da Odisseia
em Revista, que tratará dos mais diversos temas, tais como psicologia, história,
alimentação, filosofia, ciências, tecnologia, enfim, serão muitos assuntos curiosos e interes-
santes, que tenho certeza que atingirá em cheio o público que já nos acompanha nos blogs,
fóruns, redes sociais e também pelo nosso portal.
Lembro-me de quando esse nosso sonho começou: só tínhamos uma filmadora (a nossa
querida 01), um computador e um microfone muito simples. Tínhamos uma vontade em co-
mum: levar o conhecimento a todos e democratizá-lo o máximo possível por todos os meios
que conseguíssemos.
E assim, nasceu o Centro de Pesquisas Odisseia, que agora é um sonho não só de duas
pessoas, e sim de muitos outros que agora compartilham conosco mais essa alegria, de mais
um projeto concretizado.
Não foi fácil chegar até aqui, pois nossos recursos foram quase nulos: tudo foi na von-
tade e na raça, seja desde as pessoas que colaboram com o Odisseia, até a captação de todo
e qualquer tipo de material que chega com muito carinho para vocês.
Claro que tudo isso está sendo gratificante para nós e sabemos que isso significa cres-
cimento e aprendizado, que só nos deixa ainda mais orgulhosos de nosso trabalho.
Enfim, este está sendo mais um importante passo para aqueles que buscam o conhecimento,
livre de preconceitos, rótulos e, acima de tudo, feito por pessoas que podem ser chamadas
de livres, pois fazem tudo por amor e paixão, honrando aquela idéia inicial que nos transfor-
mou em pessoas melhores e mais atentas com o mundo e com o próximo. Apreciem todas
as matérias e não deixem de dar-nos suas opiniões, que sempre são muito importantes para
nós.
A concretização desse projeto veio de um sonho que nasceu há dois anos atrás, e que
ainda nos faz sonhar todos os dias!
Um grande abraço a todos e até a próxima revista!
Alexandre Abramson
Sócio Fundador do Centro de Pesquisas Odisseia
4
CENTRO DE PESQUISAS ODISSEIA
Nossa missão é a democratização do conhecimento e a luta constante
pela emancipação humanas, através da contínua busca de respostas e
construções de questionamentos que levará a humanidade a um equilí-
brio mental, físico e espiritual.
Visite nosso site:
w w w. c p o d i s s e i a . c o m
Conheça nossos projetos
C14 Antares
5
Civilização Maia História e Pensamento
Adquira o livro do Professor Marcelo Lambert pelo site:
www.marcelolambert.com
6
A Matemática e o Tempo
“Na maior parte das ciências, uma geração
põe abaixo o que a outra construiu, e o que a
outra estabeleceu a outra
desfaz. Somente na Mate-
mática é que cada geração
constrói um novo andar
sobre a antiga estrutura”.
Hermann Hankel
Quando pensamos em matemática, logo
nos vem livros empoeirados, nas velhas fór-
mulas, nos fantasmas pitagóricos, nas árduas
tarefas de faz e refaz. Será que a matemática
é assim tão previsível, sempre o resultado de
dois mais dois é realmente quatro? A mate-
mática foi desenvolvida como uma filosofia
e como toda boa filosofia tem mais elemen-
tos reflexivos do que racionais. A racionali-
dade é um rótulo que a matemática carrega
até os dias de hoje, muito pelo desconheci-
mento da ciência matemática dando a ela o
caráter de ciência sem alma, que visa apenas
resultados que devem ser rápidos e precisos.
Voltemos a pensar em números, um nú-
mero pode representar o nada e deste nada o
tudo, pode ser o infinito finito. Vamos expli-
car melhor isso, quando temos dois caminhos
na verdade temos infinitas possibilidades de
ir, de voltar, de parar e o quão veloz estiver-
mos podemos sentir o tempo passar ou não,
ou até mesmo fazê-lo parar com matemática
precisão. Somos resultado de números, com-
binação geneticamente perfeita, e com isso
manipulamos estes números para que o tem-
po passe rapidamente ou de forma branda.
Como é possível isto, manipular algo tão ma-
tematicamente preciso que é o tempo, que é
nosso escravo e nos deixamos escravizar por
ele. Podemos subtrair o tempo quando nos
esquecemos de agradecer ao outro, multipli-
camos o tempo de um abraço, dividimos o
tempo quando olhamos para nossas vidas,
potencializamos o tempo quando sorrimos,
equacionamos o tempo ao resolvermos um
problema, decompomos o tempo em peque-
nas frações quando o tempo nos é pequeno,
somos credores e devedores do tempo pode-
mos até mensurar isto em números, às duas
horas perdidas no banco, às oito horas ga-
nhas de sono, construímos e desconstruímos
matematicamente o tempo para tentarmos o
milagre da onipresença, somos um único ser
com inúmeros outros seres que se revezam
nas diferentes situações do dia, o ser que
contempla ser que sorri o ser que entristece o
ser que lê e o ser que escreve.
Professor Flavio Augusto Camilo
Mestre em Ensino de Ciências e Matemática
fcamilo@ig.com.br
7
Olá Caroneiros
Começo esta coluna com um texto que
recebi no meu primeiro ano da faculdade de
Turismo. O texto é de Sólon Borges dos Reis,
segundo a indicação que veio com o texto e
achei interessante começar uma coluna sobre
turismo falando dos prazeres que uma viagem
proporciona. Espero que gostem !
UMA VIAGEM, QUATRO PRAZERES
O prazer de uma viagem não acaba com o retorno. Multiplica-se por quatro. Usufruir-
se em quatro tempos distintos, em quatro fases sucessivas. Todas muito boas. Cada uma,
melhor do que a outra.
Não é a toa que a sabedoria milenar acumulada pela experiência humana opina sem-
pre: o melhor da festa é esperar por ela... Antes de sair para a viagem, ela já nos proporcio-
na o primeiro proveito. Sonhar, projetar, planejar, preparar, preparar-se, antegozar a viagem,
na expectativa da partida. Saborosa expectativa dourada pela magia criativa da imaginação.
O segundo prazer consiste na viagem em si mesma. Desde a partida, durante o trans-
curso, até o fim. A expectativa tornada realidade.
O terceiro prazer é voltar. Reaninhar-se entre as pessoas e as coisas do seu pequeno
mundo, na rotina acolhedora e cômoda do cotidiano, nas simples, mas, por isso mesmo,
inestimável, satisfações do dia-a-dia, às quais
só damos o valor que têm, quando nos encon-
tramos longe delas. Por mais agradável que a
viagem seja, a gente gosta de voltar pra casa...
Quanto ao quarto prazer da viagem, dura
a vida toda. É a lembrança que permanece para
sempre. Quanto mais distante, mais saudosa.
Recordamos o resto da vida. Há cenários; figu-
ras; roteiros; passagens, episódios inesquecí-
veis que ficam retidos na mente e no coração.
E os requentamos, usufruindo-os sempre.
Lembrando, lembrando ...Recordar é viver. Re-
vivendo, vivemos...
(Sólon Borges dos Reis – Depois da Volta)
Vanilson Fickert vfickert@yahoo.com.br
8
Literatura
“Arte literária é mimese (imitação); é a arte
que imita pela palavra.”
(Aristóteles, Grécia Clássica)
A literatura é a expressão da arte de es-
crever, é esculpir uma palavra, lapidá-la e
saber coordenar seus pensamentos, ideias na
mais perfeita harmonia.
Numa conversa descontraída, entre
“roda de amigos”, as letras se organizam,
surgem os vocábulos e, rapidamente os
“muros” são construídos, tijolo por tijolo,
operários a favor de sua arte.
Sentimentos, críticas, instruções... O
que seria da vida sem as Letras?
Há quem diga que é “chato” estudar li-
teratura, mas é nela que se encontra escondi-
da a essência do Homem, disseminar senti-
mentos numa tempestade de emoção com a
finalidade de atingir e transformar o íntimo
de quem a lê.
Seja através de sonetos, cantigas ro-
mances ou comédias, a literatura informa e
forma, de maneira criteriosa “mentes bri-
lhantes”, não importa se expressas de manei-
ra conotativa ou denotativa (seu verdadeiro
objetivo é expor opiniões) dentre as quais
caracterizam e marcam uma época.
Quantas personalidades femi-
ninas estão veiculadas nas mu-
lheres de Alencar, tantas incer-
tezas e suspeitas não compro-
vadas fazem de Dom Casmur-
ro o personagem mais polêmi-
co da obra machadiana. Um
cadáver que resolve narrar sua
própria história e um ogro que
revela o caráter de um verda-
deiro príncipe.
Essas sagas não seriam
possíveis se por trás dessas fa-
çanhas não estivesse a pena de
um escritor, uma mente em “frenesi” produ-
zindo e buscando olhares multifacetados vol-
tados a um só foco: o prazer de ler.
A literatura é atemporal. A literatura é
sentimento. A literatura é o agora...
A sociedade busca facilidade, praticida-
de, pois não há tempo para se perder. A
“selva de pedra” devora as pessoas diante a
incessante e cansativa corrida pelo dinheiro.
O cotidiano torna o tempo uma brevidade.
Notícias econômicas, bastidores da drama-
turgia, vidas de estrelas são assuntos discuti-
dos entre um cafezinho ou, até mesmo, no
trajeto de retorno ao lar. A sociedade está
ocupada demais para pensar.
Não temos uma literatura de formação e
sim de especulação. Para que?
É chegada a hora de recuperar os valo-
res que ficaram esquecidos, de dar a devida
importância a verdadeira cultura nacional e a
valorizar o que se tem de mais intrínseco, as
letras, porque...
“No meio do caminho tinha uma pedrati-
nha uma pedra no meio do caminho” (Carlos Drummond de Andrade)
Audrey Macéa
Professora de Gramática e Literatura
e-mail: audreymacea@uol.com.br
9
Expedição Odisseia no Mundo Maia
w w w. m u n d o m a i a . c o m . b r
Expedição Odisseia no Mundo Inca
w w w. m u n d o i n c a . c o m . b r
10
Engenharia
de Al imentos
Prezados leitores,
É com muita alegria que escrevo a pri-
meira matéria desta coluna. Gostaria de agra-
decer imensamente a equipe Odisseia pela
oportunidade, e espero sinceramente que pos-
sa contribuir com informações importantes
sobre o setor.
Escolhi como tema para esta primeira
edição os Alimentos Orgânicos. Muito tem se
falado sobre esta categoria de produtos, que
vem crescendo a cada ano no Brasil.
A denominação mais conhecida para os
alimentos orgânicos é que são livres de agro-
tóxicos e adubos químicos. Contudo, o orgâ-
nico está relacionado a um conceito muito
mais abrangente, que envolve principalmente
uma consciência ecológica e ambiental da
necessidade de preservação dos recursos na-
turais de forma sustentável. A agricultura or-
gânica visa à produção de um alimento vivo
e saudável, em equilíbrio com o meio ambi-
ente e que permita a interação e a harmonia
entre a natureza e o ser humano.
Para que o produto seja comercializado
como orgânico, é necessário que esteja de
acordo com a lei 10.831 de 23 de dezembro
de 2003, que regulamenta a produção, pro-
cessamento, rotulagem e comercialização dos
produtos orgânicos.
É necessário também que a empresa seja
certificada por uma certificadora acreditada
pelo INMETRO e credenciada pelo Ministé-
rio da Agricultura. O leitor poderá verificar
na embalagem do produto orgânico o selo da
certificadora, que é obrigatório para a comer-
cialização do produto.
Uma grande limitação para o consumo
de orgânicos no Brasil é o seu alto preço, que
é em média pelo menos 30% superior ao do
produto convencional. Isso porque o produto
orgânico exige uma série de cuidados especí-
ficos pertinentes à categoria, tanto no plantio
quanto no beneficiamento. Também existe o
custo para a certificação e auditoria das certi-
ficadoras. Um outro ponto a ser considerado
é que como ainda há pouca procura destes
produtos, a escala de produção é pequena e
consequentemente os custos, elevados. Para
algumas categorias, também é importante
que a embalagem seja diferenciada para me-
lhor conservação das propriedades sensoriais
e nutricionais do produto, por exemplo, para
grãos e farinhas, é interessante que seja pre-
servada em embalagem a vácuo, o que tam-
bém encarece o produto final.
A boa notícia é que existem muitos pro-
jetos de pesquisas que procuram estudar o
plantio orgânico de forma a minimizar os
seus custos, e é possível que no longo prazo,
os preços estejam mais próximos ao do pro-
duto convencional, o que viabilizaria a aqui-
sição de produtos orgânicos por um maior
número de consumidores e possibilitaria a
expansão da categoria no Brasil.
Fico por aqui por hoje, desejo a todos
um ótimo mês, um grande abraço e até a pró-
xima edição!!!
Marici Harumi Bando
Engenheira de Alimentos
maricih@hotmail.com
11
Propaganda e vida cotidiana
Hoje em dia muitos de nós ao deparar-
mos com a propaganda de um determinado
produto ou serviço, conseguimos reconhecer
quase que de forma natural, a relevância da
propaganda dentro de nossa sociedade capi-
talista. O nosso sistema de econômico, base-
ado em produção e consumo, é principal mo-
tivador e formador da publicidade atual.
Cabe lembrar que a comunicação entre
as pessoas é um processo mais antigo do que
podemos imaginar. Antes mesmo de sistema-
tizarmos qualquer tipo de linguagem verbal
ou escrita, os seres humanos já se comunica-
vam através de gestos.
A sistematização da
comunicação através
de diversas formas de
linguagem, fez com
que os processos co-
municacionais se tor-
nassem extremamente
importantes dentro das
sociedades. A publici-
dade atual é somente
uma forma de comuni-
cação entre grupos,
produtores e consumi-
dores.
Dentro desta perspectiva a quem de-
fenda que a publicidade produz efeitos extre-
mamente danosos em nossa sociedade, entre
eles o consumo exacerbado ou que a mídia
determina de forma autoritária aquilo que de-
vemos consumir. Mas seria a mídia capaz de
gerar hábitos de consumo de forma tão efi-
caz? Em minha opinião? Sim. Acredito tam-
bém que a discussão daqui pra frente seria o
porquê as propagandas são tão eficazes ou
porque os efeitos dentro de nossa sociedade
são devastadores. Mas não se engane uma
propaganda sozinha não é capaz de criar um
novo estilo de vida ou um novo hábito de
consumo, cabe a comunicação criar analogi-
as entre os valores de determinado grupo so-
cial com uma marca, por exemplo. A propa-
ganda utiliza os próprios valores que a socie-
dade constrói na comunicação de um deter-
minado produto ou serviço.
Devemos entender a publicidade como
um processo maior e mais complexo do que
anúncios em revistas ou comerciais na televi-
são. A comunicação é estudada principal-
mente como um fenômeno social interdisci-
plinar, portanto somente o estudo de diversas
ciências (entre elas a história, antropologia,
sociologia e psicologia) os processos de co-
municação podem ser entendidos em sua to-
talidade. Toda comunicação é carregada de
conceitos emocionais, psicológicos e sociais.
Somente conseguindo agregar estes valores
se torna efetiva.
As diversas formas de co-
municação são o reflexo de
nossa sociedade e como o
grande pensador da comuni-
cação moderna Marshall
Mcluhan defendia, “O meio
é a mensagem”, devemos
ter claramente o que os mei-
os de comunicação signifi-
cam em nossas vidas. Nossa
postura frente a qualquer
comunicação que induza ao
consumo de algum produto
deve ser sempre crítica, pois
afinal de contas grande par-
te dos argumentos de uma propaganda são
emocionais e tem intenção de estimular o
consumo.
A propaganda tem grande importância
em nossa vida cotidiana, para ser discutida
somente entre os intervalos da programação
de TV. Diariamente somos literalmente bom-
bardeados com propagandas de todos os ti-
pos, e se nossa posição não for crítica, com-
praremos produtos que não nos servem e ser-
viços que não precisamos.
Otávio Pires
12
Filosof ia
“Conhece-te a ti mesmo”, é assim
que Sócrates coloca como meta ao
homem o exercício da Filosofia.
E é esse chamamento que eu faço
a todos os leitores.
Sem dúvida, os gregos possuíam motivos de sobra para ter na filosofia uma forma de
resistência ao modelo político e social instaurado na Grécia Antiga, uma civilização profun-
damente mergulhada na crença do mito, nos deuses da criação que justificavam o poder dos
homens, os tendo como escolhidos. Sócrates, sendo considerado uma ameaça à toda Grécia,
foi condenado a morte, forçado a beber cicuta... Era visto como aquele que desviaria a ju-
ventude grega de seus valores.
A Filosofia seria à seu tempo a forma racional de compreender primeiro a natureza, de-
pois o próprio homem como ser pensante e parte dessa complexa teia que nos envolve.
Entendo o mundo hoje e a busca humana como algo desesperador rumo ao preenchimento
de sentido à vida, no entanto este sentido nunca é alcançado ou definido, a força e o poder
do consumo levam o homem ao distanciamento de si mesmo, a uma profunda e coletiva an-
gústia.
Não é a finalidade dessa coluna buscar a cada texto uma definição para o que é a Filo-
sofia, mas sim, elucidar e elevar os leitores a uma interpretação mais profunda da vida e de
si mesmos.
Professor Thiago Abramson
thiagoabram@hotmail.com
13
Com apresentação do Professor
Marcelo Lambert, sempre com
muitas novidades com uma
programação diversificada!
Todos os domingos, às 17h.
Acesse o site
www.cpodisseia.com
no Canal Odisseia.
Confira as entrevistas visitando o Arquivo do Programa Conexão Odisseia
14
PSICOLOGIA
Dificuldade da expressão
criativa do ser humano
Queridos leitores sou Psicólogo e tam-
bém Teólogo, nesta reflexão estarei fazendo
uso destas duas formações para entendermos
algumas das dificuldades que o homem en-
frenta como para se expressar criativamente
em todas as áreas de sua existência.
O modelo clássico de fazer ciência se-
rá visto como um dos fatores inibidores da
criatividade. Falaremos a seguir da religiosi-
dade como outro fator e encontraremos atra-
vés da visão de um poeta outro fator inibidor.
Na última parte trataremos dos para-
digmas e alguns de seus desdobramentos.
Razões provenientes
de postulados científicos
A sociedade se organizava de forma
diferente anteriormente, as comunidades
eram pequenas e coesas, a interdependência
dos fenômenos materiais e espirituais tam-
bém tinham outra característica, sempre su-
bordinados às necessidades individuais e da
comunidade local, a teologia e a ética cristã
estabeleceu a estrutura conceitual durante a
Idade Média, a ciência neste período era ba-
seada na razão e na fé, em outras palavras, a
ciência estava atrelada e dependente da reli-
gião.
A perspectiva mundial mudou nos sé-
culos XVI e XVII, motivadas pôr mudanças
revolucionárias na física e na astronomia,
tendo em Copérnico, Galilei e Newton seus
maiores representantes. Descartes no século
XVII formalizou o método analítico de racio-
cínio.
A ciência que anteriormente estava
atrelada à fé e à religião, ou seja, à subjetivi-
dade, a partir deste momento tem como pre-
missa básica, para a produção científica, o
objetivo, o palpável, o mensurável e se assim
não for não será científico.
O mundo deveria ser compreendido
matematicamente, poderíamos dizer equacio-
nável, para poder obter o status ciência.
O método analítico de pensamento,
que consiste em decompor o pensamento e/
ou problema em pequenas partes lógicas con-
tribuiu muito para o progresso científico,
bem como o desejo de dominar e controlar
fenômenos e a repetição constante do experi-
mento, chegando sempre a mesma conclu-
são.
Com este tipo de raciocínio o homem
desenvolveu a medicina, teve condições de
prever chuvas e secas, chegou à lua. Pôr ou-
tro lado, a ênfase acentuada neste método le-
vou a fragmentação do pensamento, em dis-
ciplinas e uma atitude reducionista quanto à
postura científica.
Olhando o processo histórico, pode-
mos afirmar que os idealizadores, os pensa-
dores, eram homens criativos e inovadores,
que encontraram saídas para seus questiona-
mentos e dúvidas, que são válidas para mui-
tas coisas até hoje, porém, nós que procura-
mos desenvolver este tipo de raciocínio, esta
esquematização não percebemos que acabou
por reduzir drasticamente o espaço da criati-
vidade.
15
A criatividade precisa de liberdade, de
espaço para ser profícua, mas com este tipo
de postura, a criação, a inovação existe, po-
rém, seu espaço está cerceado, pois dentro do
“universo” científico, ela (a criatividade) de-
ve seguir uma ordem, um preceito estabeleci-
do: o da comunidade científica.
Não sou contra a comunidade científi-
ca ou seus preceitos, até porque sou um pes-
quisador do comportamento humano, mas
imaginar que só é científico se estiver dentro
de um determinado padrão e modelo é pre-
sunção.
Religião como fator restritivo
Há um romance escrito pôr Fiodor M.
Dostoievski – Os Irmãos Caramazov, que
servirá de auxílio neste momento de nossa
reflexão.
A cena construída por Dostoievski, se
passa no século XVI, momento que o poder
da igreja era muito grande e a chamada Santa
Inquisição tinha o poder de decidir sobre a
vida e a morte de qualquer pessoa.
Nesta época Jesus resolve voltar à terra, se
mostrando ao povo sofredor e miserável na
Espanha, em Sevilha.
Ele aparece e procura não ser notado
pelo povo, mas estranhamente o reconhecem,
todos o rodeiam, ele caminha em meio a
multidão, cura pessoas, expulsa demônios,
ressuscita uma jovem, o povo grita e chora
quase não se contendo. Neste momento passa
pela praça o cardeal, o grande inquisidor. Um
velho de quase noventa anos, que presenciou
toda a cena.
O grande inquisidor manda prender
Jesus, o povo não faz qualquer tipo de questi-
onamento ou manifestação em relação a esta
atitude, por estarem acostumados a obedecê-
lo sem questionar.
O prisioneiro passa o dia no cárcere e
boa parte da noite. Subitamente abre-se a
porta e entra o grande inquisidor, e faz uma
pergunta:
“- Es tu? Tu?-... Não respondas, man-
têm-te calado. Sei tudo isto muito bem. Tu
não tens o direito de acrescentar cousa algu-
ma ao que já disseste outrora. Pôr que vieste
incomodar-nos? Sabia que tua presença nos
estorvaria e, no entanto, vieste. Mas tu sabes
também o que vai suceder manhã? Não sei,
nem quero saber se é mesmo Ele ou apenas
sua aparência, mas amanhã mesmo Te julga-
rei e será queimado como o pior dos hereges
(sic).
...O velho observa-lhe que Ele não tem
direito de acrescentar cousa alguma ao que
já foi dito outrora... –„Tens, acaso, o direito
de nos revelar ao menos um dos mistérios do
mundo de onde vistes? - ele próprio respon-
de: - Não. Tu não tens êste (sic) direito, Isto
seria tirar aos homens aquela liberdade que
tanto defendeste sobre a terra (Dastoievski,
1968, 195).
Neste momento o grande inquisidor,
relembra uma das passagens da Bíblia, onde
Satanás, ou como diz o texto o “grande espí-
rito” faz três perguntas a Jesus, este texto bí-
blico é conhecido como “A Tentação de Cris-
to”. (continua na próxima página)
16
“Lembra-te da primeira pergunta, se-
não das palavras pelo menos do seu sentido
geral: „Quereis ir para o mundo e vais com
as mãos vazias, regando uma liberdade que
eles, em sua tolice e maldade natas, não po-
dem compreender e que tendem, pois não há
mais insuportável para o homem que a liber-
dade. Vês estas pedras no deserto árido?
Transforma-as em pães e toda a humanidade
te seguirá...‟ Tu não quiseste retirar dos ho-
mens a liberdade e recusaste o oferecimen-
to...respondeste „ Não só de pão vive o ho-
mem‟...Sabes tu, que depois de séculos, a hu-
manidade dirá pela voz da ciência que não
há crime nem pecado, mas apenas seres (sic)
famintos... Nenhuma ciência lhes dará o
pão , enquanto forem livres, mas por fim, vão
depor a sua liberdade aos nosso pés e nos
dirão. „ Fazei-nos escravos, mas alimentai-
nos”. Compreenderão, afinal, que a liberda-
de é incompatível com a abundância de pão,
porque eles nunca saberão reparti-los entre
si... Hão de nos venerar como deuses...Nós
diremos que te obedecemos e reinamos em
teu nome. Enganá-los-emos e não permitire-
mos que te aproximes de nós (Dostoievski,
1968, 196, 198).
A fé e a expressão espiritual são coisas
que fazem parte do mais íntimo do ser huma-
no, independentemente de ser uma cultura
chamada primitiva ou moderna e dos avan-
ços técnicos científicos, esta necessidade
existe.
As manifestações existentes deste as-
pecto religioso da humanidade são expres-
sões criativas, que surgiram se desenvolve-
ram e se sofisticaram sempre movidas por
uma necessidade social e ética.
Com as descobertas científicas e o de-
senvolvimento do método cartesiano de pen-
samento, o desejo de dominar e controlar to-
dos os fenômenos se tornaram quase uma ob-
sessão.
A igreja que lida com fenômenos sub-
jetivos, não ficou alheia; foi seduzida pelo
desejo de controlar e dominar os fenômenos
que passavam em seu meio.
No ocidente a igreja tornou-se uma es-
trutura enorme, em número de fiéis e líderes.
Não podemos esquecer que financeira e poli-
ticamente tornou-se uma instituição extrema-
mente poderosa.
Dostoievski nos mostra, em seu texto,
que as premissas da igreja com o passar dos
anos também mudou: o Cristo que veio tra-
zer a liberdade, que mostrou o caminho, foi
ludibriado por seus seguidores. Após algum
tempo o mais importante passou a ser: redu-
zir a liberdade dos fiéis para que a estrutura
pudesse ser mantida.
Como poderiam convencer os fiéis a
entregar sua liberdade de bom grado aos lí-
deres religiosos?
A solução foi criar regras, normas e
dogmas, para padronizar o comportamento
deste grupo, e consequentemente reduzindo
o espaço para a manifestação criativa da ex-
pressão de sua espiritualidade.
Quanto mais padronizado e normatiza-
do o comportamento do grupo, mais fácil se-
rá a condução do mesmo.
O mais importante era manter a ordem
vigente independente das pessoas, objetivos
e desejos do idealizador.
Todas as coisas mudam, todas as coi-
sas evoluem, mas o cerne deve ser conserva-
do para que o princípio gerador não seja de-
turpado, não foi o que ocorreu com a igreja.
A igreja abandonou o princípio da liberdade
tornando-se ditadora e despótica, tudo para
manter a ordem vigente. Consequência desta
decisão, limitação da expressão pessoal e
criativa da espiritualidade.
Samuel Candido de Oliveira
Psicólogo e Teólogo
samuelpsicologia@yahoo.com.br
17
18
Uma produção do
Centro de Pesquisas Odisseia
www.cpodisseia.com
Edição número 1 - Julho de 2011
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