View
11
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
O PAPEL DO ENGENHEIRO DE
PRODUÇÃO NA FACILITAÇÃO
ERGONÔMICA DE MOTORISTAS DE
CARGA PERIGOSA: UM ESTUDO DE
CASO DE UMA EMPRESA DE
DISTRIBUIÇÃO DE DERIVADOS DE
PETRÓLEO
Juliana Bonfim Neves da Silva (Faculdade Gama e Souza )
jubonesi@gmail.com
Roberta Silva de Araujo Bastos (Faculdade Gama e Souza )
rob18bastos@gmail.com
Ana Rosa Vieira (Faculdade Gama e Souza )
anarosavoliveira@gmail.com
Margarete Ribeiro Tavares (Faculdade Gama e Souza )
margatavares@yahoo.com.br
Luciangela Mattos Galletti da Costa (Faculdade Gama e Souza )
lucia.galletti@oi.com.br
Este trabalho tem o objetivo de apresentar e analisar as medidas
preventivas e corretivas adotadas por uma empresa de distribuição de
derivados de petróleo a partir das queixas de seus motoristas,
responsáveis pela distribuição dos produtoss derivados de p
Palavras-chave: Ergonomia, Engenharia de Produção, Engenharia do
Trabalho
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
2
1. Introdução
A Ergonomia é uma ciência que, de maneira geral, está relacionada ao conjunto de
conhecimentos relativos ao homem e seu trabalho. No sentido de garantir melhor saúde e
maior conforto aos trabalhadores, os conhecimentos científicos da ergonomia são necessários
na concepção ou modificação de instrumentos, máquinas, dispositivos e locais de trabalho,
para que possam ser utilizados pelo trabalhador com o máximo de conforto e eficácia e
favorecendo seu melhor posicionamento postural.
Orientações ergonômicas adequadas são ações que podem e devem ser realizadas com
qualquer trabalhador, independente de sua ocupação. No entanto, existem algumas funções
ocupacionais que demandam desgaste físico e mental muito maior para os profissionais que a
exercem, seja pelo posicionamento exigido, pela necessidade de grande uso de força muscular
ou pelo estresse provocado. Assim, no que diz respeito às condições ergonômicas, essas
ocupações necessitam de maior atenção e de cuidados mais adequados (DUL;
WEERDMEESTER, 2001).
Entre essas ocupações está a dos motoristas de caminhão, especialmente aqueles que se
dedicam à função de conduzir cargas perigosas, pois, diariamente, têm a necessidade de
adotar posturas muito desconfortáveis, utilizar instrumentos e materiais de trabalho nem
sempre adequados e são expostos a situações de estresse constante. Dessa maneira, esses
profissionais acabam ficando bastante sujeitos a adquirir lesões e doenças ocupacionais,
especialmente aquelas que acometem a coluna vertebral, sendo a região lombar a mais
afetada.
Nesse estudo, será apresentado um estudo de caso que reflete essa situação, no qual estão
destacados os riscos ergonômicos para a coluna lombar de uma população de motoristas de
caminhão e as formas encontradas pela empresa para reduzir esses riscos e favorecer a
garantia da saúde de seus trabalhadores.
2.2 Ergonomia Direcionada Para Motoristas
Nesta etapa, serão ressaltadas as características gerais da ergonomia voltada para os
motoristas, entre elas as principais exigências psicomotoras e os fatores de risco
musculoesqueléticos.
2.2.1 Exigências psicomotoras
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
3
A psicomotricidade é uma ciência que pesquisa e intervém na conexão dos aspectos
emocionais (sentimentos, percepções), cognitivos (processamento das informações) e motores
(movimento corporal) nas diversas etapas da vida do ser humano.
Quando se fala nos aspectos motores a Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP,
2017) define psicomotricidade como “concepção organizado e integrado, em função das
experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem
e sua socialização”. Assim a psicomotricidade inclui interações cognitivas, sensório-motora e
psíquicas relacionadas as capacidades de ser e de expressar-se capacidades essas individuais,
dentro de um contexto psicossocial em realidade se constitui pelo conjunto de conhecimentos
fisiológicos, antropológicos, psicológicos e relacionais que utilizando o corpo do indivíduo
como mediador permitindo-lhe abordar o ato motor humano, favorecendo a integração deste
indivíduo consigo mesmo e com o mundo de outros sujeitos. Desta forma é possível definir
psicomotricidade como “a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu
corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo” uma vez que é no corpo
que surgem as aquisições afetivas, cognitivas e orgânicas (ABP, 2017).
Na integração social ocorre o processo em que o cérebro organiza as informações que o
indivíduo recebe de maneira a dar uma resposta adaptativa adequada, ou seja, o cérebro
organiza a partir das sensações do próprio corpo e do ambiente – processamento sensorial
para a sua interação social. Na integração sensorial o indivíduo desenvolve habilidades
motoras e de atenção e concentração. Ocorre um fluxo de recepção do estímulo (registro
sensória), transformação do estimulo em impulso neurológico (orientação), a percepção
consciente do estímulo (interpretação), o que permite a construção da ação executiva, ou seja,
a resposta adaptativa adequada (CHATEAU, 2014)
Ao longo da evolução e a construção das características profissionais, os motoristas sempre
apresentaram perfis emocionais, cognitivos e motores com uma expressa diferença se
comparado aos profissionais envolvidos nos outros modais de transporte.
Apesar de exercerem as mesmas atividades que os motoristas comuns, os motoristas de cargas
apresentam outras variações quanto às exigências psicomotoras. Isso acontece devido as
distintas influências ligadas a realizações das tarefas bem como o tipo do caminhão, ano de
fabricação, o tipo do vínculo de trabalho se é à uma empresa, cooperativa ou trabalho por
conta própria, o tipo de carga, o local e o meio onde é desenvolvido o trabalho.
2.2.2 – Fatores De Risco Musculoesqueléticos
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
4
Ter que lidar com a limitação de espaço e a posição, ainda assim estar alerta aos controles de
comando do caminhão, demandando a realização contínua e repetitiva de movimentos simples
de todo o corpo (cabeça, tronco, membros superiores e membros inferiores) para uma direção
ideal do caminhão, fizeram com que as exigências psicomotoras dos motoristas se tornassem
definitivamente característica.
Segundo Kroemer e GrandJean (2011) lombalgia vem de „dor‟ (algia) e „região lombar‟,
atualmente considerada como uma das grandes causas de absenteísmo. A doença acomete, de
alguma maneira algo em torno de 90% da população adulta – em idade produtiva incidindo
mais de uma vez. A lombalgia é considerada a segunda maior causa de consultas médicas
tanto nas áreas de reumatologia como em fisioterapia ou ortopedia. Nos setores de emergência
a lombalgia só perde para as alterações respiratórias.
2.2.3 Orientações Básicas
O conceito de ergonomia para os empresários ainda constitui um desafio pelo fato dele
restringirem como a análise da avaliação postural, quando, na verdade a ergonomia ultrapassa
este conceito abrangendo questões da cadeia produtiva das condições de trabalho, ou seja, o
modo como a atividade profissional é realizada para, ergonomicamente, evitar acidentes na
sua realização. Para Iida (2016) considera ergonomia como a ciência que estuda a adaptação
do trabalho ao homem, envolvendo todas as situações em que haja o relacionamento entre o
homem e uma atividade produtiva, desta forma abrange fatores que influenciam o
desempenho da cadeia produtiva de maneira a reduzir aspectos como fadiga, estresse, erros e
acidentes ocupacionais, favorecendo segurança, satisfação e saúde aos trabalhadores.
SegundoIida (2016) a ergonomia é classificada de acordo com o contexto no qual é aplicada,
ou seja, concepção (nasce durante o planejamento do produto dos equipamentos ou do
ambiente e sistema), correção (visa resolver problemas relacionados a segurança, fadiga
excessiva, doenças do trabalhador ou quantidade/qualidade da produção), conscientização
(capacitando os trabalhadores de maneira que eles identifiquem e corrijam os problemas
cotidianos) e participação busca envolver o trabalhador para a solução de problemas
ergonômicos).
3. Engenharia de produção na ergonomia de motoristas de caminhões de carga perigosa:
um estudo de caso
3.1 Caracterização da Empresa
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
5
O estudo de caso foi desenvolvido em uma empresa brasileira do setor de transporte
rodoviário de cargas, estabelecida há 15 anos no mercado. Seus principais clientes incluem
fabricantes de automóveis, fabricantes de produtos químicos, estatais, entre outras.
Para a garantia da competitividade e confidencialidade, a empresa será nomeada ficticiamente
de CDP. A CDP - Central de Distribuição de Derivados de Petróleo é uma empresa
especializada no transporte logístico de cargas derivadas de petróleo. Nela os motoristas
possuem o papel de destaque, pois são eles os responsáveis pela principal atividade, que é a
de movimentação e transporte dos produtos e da economia da empresa.
3.2 O setor em estudo
Os profissionais motoristas de caminhões de cargas já estão sujeitos a riscos por conta da
atividade que exercem e, além disso, estão expostos a diversos fatores de risco ergonômicos.
Em função disso, o estudo de caso tem foco na análise dos fatores de risco ergonômicos que
envolveram esses profissionais, que afetam suas integridades físicas e ou mentais, que causam
doenças e que podem levar até a incapacidade. Dentre os fatores de risco ergonômicos
existentes, os apurados foram os fatores de risco musculoesquelético e lombar.
3.3Problemas Encontrados
No desenvolvimento das atividades, os 120 motoristas da amostra estavam sujeitos à ruídos,
vibrações corporais, exposição à altas temperaturas e a uma demanda elevada em relação as
atitudes tomadas como respostas dos aspectos cognitivos e de percepção.
Esses riscos ergonômicos no qual essa população estava exposta, são os principais geradores
dos sérios danos à saúde e a segurança citados pelos motoristas (ilustrada na figura 1), como
as queixas à seguir: dores musculares, doenças cardíacas e/ou hipertensão arterial, doenças no
aparelho digestivo (gastrite e úlcera), doenças nervosas (Acidente Vascular Encefálico -
AVE), além de cansaço físico, elevado nível de estresse (Síndrome de Burnout), problemas
com sono, transtornos de ansiedade e/ou transtornos de depressão etc.
Figura 1 – Problemas encontrados nos motoristas da empresa CDP em 2012
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
6
Fonte: Autor, 2018.
Contudo, de posse dos check-list realizados nos exames periódicos anuais e nas avaliações
semestrais, foi constatado que 61% dos motoristas sofreram, de 2012 à 2014, com problemas
agudos na região lombar (ilustrada na Figura 2), com efeito adverso de irradiações das dores
para os membros inferiores - má circulação por exemplo.
Figura 2 – Dor na Coluna Lombar com Irradiação para Membros Inferiores
Fonte: QuiroVida, 2014.
3.4 Modelo Proposto
Implantada após grande número de queixas e percentuais elevados de motoristas apresentando
queixas na região lombar, o que gerava afastamentos/absenteísmo (resultados apresentados
pelo Comitê de Ergonomia – COERGO da empresa), a Analise Ergonômica do Trabalho –
AET foi a metodologia utilizada pela Empresa CDP que, segundo Iida (2016), consiste na
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
7
análise das demandas ergonômicas, análise das tarefas e análise das atividades, sendo base
para o diagnóstico, com a finalidade de propor melhorias.
O modelo proposto no presente estudo de caso concentrou-se em observar os resultados
obtidos através das análises das demandas ergonômicas, análise das tarefas e análise das
atividades, discorrer as mudanças propostas pela empresa e seus efeitos.
Para tanto, em seguida do gerenciamento das queixas, na análise da demanda foi delimitado o
estudo ergonômico dos 61% dos profissionais que apresentavam queixas de dores na região
lombar, pois estes profissionais eram os que mais geravam custos secundários, definido assim
a missão de redução desse perfil de profissionais no sistema da Empresa CDP.
Na análise da tarefa foram investigadas as condições organizacionais nos postos de trabalho –
nas bases e as condições ambientais - circunstâncias dos veículos além das circunstâncias
climáticas nesse ambiente, através de entrevistas com todos os profissionais atuantes e visitas
esporádicas.
Por sua vez, a análise das atividades foi caracterizada por evidenciar as técnicas do trabalho,
as funções, ações, condições posturais e comportamentais e características de cada motorista.
3.5 – Discussão dos Resultados
Com base no contexto do estudo abordado, a coleta e o processamento de dados da primeira
parte da análise, que consiste das informações de 2012 a 2014, foi verificada a necessidade de
grandes mudanças para início do tratamento do ambiente organizacional e o tratamento de
saúde da população-alvo. Iida (2016) relata que a descrição da tarefa envolve aspectos
relacionados ao objetivo da mesma, o operador, além das características técnicas, aplicações,
assim como das condições operacionais e ambientais.
As primeiras medidas formuladas foram a mudança da frota antiga (Figuras 3 e 4) de veículos
do tipo Mercedes Benz MB 1620, de ano de fabricação 2007 e modelo 2008, para veículos do
tipo Volvo FH 540, mais atualizados tecnológica e ergonomicamente, de ano de fabricação
2014 e modelo 2015 que já apresentam a cabine com o maior número de metros cúbicos se
comparado à outras do mercado e cama planejada (Figuras 5 e 6), junto com a implantação
dos serviços de um psicólogo e um fisioterapeuta agregados ao já estabelecido serviço médico
do trabalho, para melhorar a realização dos exames periódicos anuais e as avaliações
semestrais, ajudar na constatação precoce de doenças, bem como no tratamento e prevenção
desses fatores de risco. Isso vai de encontro ao estabelecido pela NR 7, em relação à
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
8
obrigatoriedade da empresa pela elaboração e implementação do Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) cuja a finalidade é promover e preservar a saúde dos
seus trabalhadores estabelecendo parâmetros mínimos e diretrizes gerais como parte
integrante das iniciativas voltadas ao campo de saúde dos trabalhadores. Com relação à
mudança de frota, Iida (2016) destaca que o motorista trabalha numa área limitada, na qual
realiza diversas manobras simultaneamente, envolvendo membros inferiores e superiores,
além de pequenas torções de pescoço, na posição sentada, o que exige (e já é disponibilizado
pelos novos modelos de caminhão), poltronas anatômicas, reguláveis, acolchoadas, com
suspenção e amortecimento hidráulico, posicionadas de acordo com o volante, pedais, painéis
e para-brisas. Essas características, associadas aos vícios posturais comuns dos motoristas,
favorecem amplamente o surgimento de dores e outras afecções, especialmente na coluna
vertebral, com destaque para a região lombar (BARBOSA, 2009).
Figura 3 – Exterior da frota antiga de caminhões utilizada pela empresa CDP.
Fonte: CDP, 2009.
Figura 4 – Interior da frota antiga de caminhões utilizada pela empresa CDP
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
9
Fonte: CDP, 2009.
Figura 5 – Exterior frota nova de caminhões utilizada pela empresa CDP
Fonte: CDP, 2015.
Figura 6 – Interior frota nova de caminhões utilizada pela empresa CDP
Fonte: Caminhões e Carretas, 2017.
Se não bastasse o que destacam esses autores, o trânsito também expõe os motoristas a uma
série de condições adversas, incluindo receio de assaltos, acidentes de trânsito, condições
estas que contribuem para o agravamento ou o desenvolvimento de condições clínicas como
os cardiovasculares, musculoesqueléticos, gastrointestinais, respiratórios, emocionais – aqui
incluindo o estresse ocupacional, conforme o Ministério da Saúde (2001) e Brasil (2012). A
Figura 7, a seguir, ilustra a posição incorreta geralmente adotada pelos motoristas, incluindo
os motoristas de caminhão.
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
10
Figura 7 – Posicionamento Incorreto do Motorista na Cabine
Fonte: Carcheck, 2015.
Com a finalidade de aprimorar os processos internos, a telemetria da empresa também foi
modernizada a fim de colaborar não só para o acompanhamento das viagens, mas também
para ajudar no controle da qualidade de vida e segurança dos motoristas e ajudar na
diminuição do percentual das queixas gerais e problemas de saúde. Isso se tornou possível
com o acompanhamento e avaliação dos ruídos nas cabines, pois estes interferem
consideravelmente no grau de estresse dos motoristas, e com o monitoramento das paradas
obrigatórias de descanso, ambos controlados através de equipamentos via satélite. De acordo
com Kardec e Nascif (2012), sistemas de monitoramento contínuo como a telemetria possuem
a capacidade de enviar dados em tempo real para computadores com programas de controle
em que especialistas verificam o sistema e realizam detecções de falhas ocultas.
Com base no cenário gerado após as implantações das primeiras medidas (mudança da frota,
renovação da telemetria e a inclusão de novos profissionais de saúde no PCSMO – psicólogo
e fisioterapeuta), uma segunda análise foi realizada através dos dados fornecidos pelo
feedback da primeira análise, junto com os novos dados do período de 2015 a 2016. Essa
nova análise possibilitou constatar que somente com a alteração da frota já houve diminuição
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
11
de 30% do percentual de motoristas com problemas na região lombar. E os últimos dados
analisados até a data do desenvolvimento deste estudo Agosto/2017, com o acompanhamento
do trabalho dos profissionais de saúde incorporados ao já estabelecido médico do trabalho e a
modernização da Telemetria aumentando em mais 9% a redução do quadro anterior. A Figura
8 a seguir destaca a redução total alcançada no percentual de motoristas da Empresa CDP com
dor lombar entre os anos de 2012 e 2017.
Figura 8 – Percentual de motoristas da empresa CDP com dor lombar, entre 2012 e 2017
Fonte: Autor, 2018
Esse resultado corrobora as diretrizes da NR 17 (GUIA TRABALHISTA, [2007]) relacionada
à Ergonomia, a qual retrata a orientação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) de que
toda empresa deve implantar uma análise ergonômica do trabalho, a partir da qual são
indicadas as melhorias a serem implantadas no local com a finalidade de atender as condições
mínimas de ergonomia, podendo incluir estratégias como ginástica laboral, orientações
posturais, intervalos regulares de trabalho, rotatividade de tarefas, assim como a adaptação do
ambiente de trabalho de acordo com a função de carga horária do trabalhador. Aqui se inclui
também a disposição adequada dos utensílios e equipamentos que compõem o posto de
trabalho. A Figura 9 a seguir ilustra a postura corporal adequada do profissional motorista,
inclusive de caminhão, em sua atividade.
Figura 9 – Posicionamento Correto do Motorista na Cabine
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
12
Fonte: Carcheck, 2015.
Dentre os principais benefícios de se investir em ergonomia, é possível destacar os seguintes:
a) redução dos custos – ao reduzir os fatores de risco ergonômicos, consequentemente evita-
se as ocorrências de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho, que geram ônus
dispendiosos e que poderiam ser evitados, tais como o pagamento de tributos e remuneração
nos dias em que o trabalhador encontra-se afastado, além de minimizar a sobrecarga de suas
tarefas sobre o resto da equipe. Desta maneira reduz-se custos diretos ou indiretos (OLLAY;
KANAZAWA, 2016).
b) melhoria da produtividade – cabendo a empresa a responsabilidade pela saúde e bem
estar de seus trabalhadores, as técnicas ergonômicas contribuem para a redução do
desperdício de matéria-prima, evitando o retrabalho. Ao projetar adequamento o posto do
trabalho como, por exemplo, o assento e painel dos caminhões de maneira a reduzir a
demanda de esforços e movimentos, previne-se o desenvolvimento de diversos desconfortos
que podem gerar doenças ocupacionais ou estresse. Desta forma aumentasse a qualidade da
produtividade. A despeito de um posto de trabalho ser considerado como adequado a AET
favorece identificar melhorias no processo de trabalho, de maneira a otimizar as atividades
profissionais (OLLAY; KANAZAWA, 2016).
c) melhoria da qualidade – como foi dito anteriormente os motoristas de carga perigosas,
tendo como locus as vias públicas, realizam suas atividades sob tensão e riscos como assaltos,
acidentes de trabalho, acidentes de trânsito, aspectos que podem gerar estresse, o que quando
não valorizados pela empresa que pode levá-los a frustação com as condições de trabalho
desconfortáveis, aqui incluindo também exigências posturais e emocionais. Esse processo
pode desmotivá-los e aumentar o absenteísmo. Investimentos como exercícios e técnicas de
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
13
relaxamento contribuem para o equilíbrio da homeostase (IIDA, 2016). Segundo Ollay e
Kanazawa (2016) quando o trabalhador percebe os benefícios da ergonomia ele desenvolve
um sentimento de valorização profissional da empresa com sua contribuição, gerando um
sentimento de reconhecimento que vai motivá-lo e influenciá-lo a produzir com qualidade,
engajando-se às metas das empresas.
d) valorização da cultura de segurança – num ambiente organizacional a cultura de
prevenção implica na valorização da saúde e da segurança do trabalhador uma vez que o
trabalho consiste no local em que as pessoas passam grande parte do seu dia. Favorecer a
cultura de segurança implica em disseminar a cultura do cuidado, da atenção para que o
exercício da atividade profissional não seja nocivo a segurança do trabalhador. No âmbito das
organizações o conceito de cultura de prevenção tem sido difundido aos cuidados
relacionados a doenças ocupacionais, desgastes físicos e mentais e acidentes de trabalho. Ao
sentir-se valorizado o trabalhador desenvolve maior comprometimento com o trabalho, o que
resulta em fatores positivos para a organização e para a qualidade da saúde do trabalhador
(OLLAY; KANAZAWA, 2016).
Ao cumprir as recomendações da NR 17 as empresas dão o primeiro passo para o cuidado
preventivo com segurança e saúde dos trabalhadores, tendo estes elementos como valor
central de melhoria da qualidade de seus serviços. Assim os efeitos cumulativos destes quatro
benefícios acima descritos compõem a importância da ergonomia como aliada ao engenheiro
de produção no sentido de colocar a cultura de segurança como eixo da empresa (GUIA
TRABALHISTA, [2007]).
Da análise destes resultados sobressai o entendimento de que ao priorizar a ação ergonômica
que é possível pela AET ao profissional que projeta a produção que além da construção
técnica busque uma construção social, ou seja, estimule a participação e envolvimento dos
trabalhadores que são, na verdade, os responsáveis pela qualidade da produção. Desta forma
busca-se romper com a divisão social do trabalho defendida por Taylor (1995), envolvendo
projetistas e operadores. Assim as empresas redescobrem a importância dos seus recursos
humanos como instrumentos para a melhoria da sua competitividade.
A prioridade da engenharia de produção deve sempre se basear em orientações que
compartilhem a importância da ergonomia dos fatores humanos e da ergonomia da atividade.
A gestão moderna pauta suas estratégias na melhoria do posto de trabalho, valorizando seus
recursos humanos por entender que a empresa é tão somente uma ficção jurídica, pois quem
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
14
operacionaliza o planejamento e a missão da empresa são seus funcionários que, para o
teórico devem ser percebidos como colaboradores e não limitados a recursos humanos. Daí a
importância de mantê-los em boas condições físicas e mentais e a engenharia de produção,
associada à ergonomia, tem a capacidade de favorecer amplamente a otimização do processo
produtivo (CHIAVENATO, 2014).
4Considerações finais
O presente estudo buscou fazer uma reflexão sobre as medidas preventivas e corretivas
adotadas por uma empresa de distribuição de derivados de petróleo no sentido de melhorar as
condições de saúde de seus funcionários motoristas de caminhão, que apresentavam muitas
queixas, especialmente de dores na coluna lombar.
A profissão de motorista de caminhão está entre aquelas que geram mais fadiga corporal e
mental, especialmente devido às posições exigidas para a prática de trabalho e também devido
ao estresse diário. Dessa maneira, as lesões e as doenças ocupacionais são constantes e
acabam afastando os indivíduos de seu trabalho muito mais cedo do que seria desejado ou
necessário.
Através de suas técnicas, especialmente da AET, a Ergonomia é capaz de minimizar este
quadro, favorecendo a garantia de materiais, equipamentos, mobiliário e locais de trabalho
muito mais adequados para as atividades dos motoristas de caminhão, facilitando o correto
posicionamento corporal.
Com a análise do estudo de caso, é possível considerar que as empresas que investem de
forma ampla nas atualizações e adaptações referentes a novos sistemas ergonômicos têm, de
modo geral, conseguido alcançar resultados muito positivos no que se refere à melhor saúde,
conforto e segurança de seus colaboradores. Tais resultados podem, inclusive, se refletir no
próprio desempenho das empresas, que acabam alcançando maior crescimento.
Nesse sentido, os engenheiros de produção podem e devem ser grandes aliados das empresas,
a partir de análises, indicações e realização de técnicas e orientações ergonômicas que
favoreçam a garantia da melhor saúde e conforto para os trabalhadores, favorecendo,
consequentemente, o melhor desempenho empresarial.
É de grande relevância que cada vez mais estudos e técnicas sejam desenvolvidas para que os
profissionais motoristas de caminhão possam ter a garantia de melhor saúde, segurança e
qualidade de vida na prática de seu trabalho.
REFERÊNCIAS
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações” Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
15
ABP - Associação Brasileira de Psicomotricidade. O que é psicomotricidade. 2017. Disponível em:
<https://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade/>. Acesso em: 24 nov. 2017.
BARBOSA, L. G. Fisioterapia preventiva nos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho:Dorts. 2
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde
Ambiental e Saúde do Trabalhador. Dor relacionada ao trabalho: lesões por esforços repetitivos (LER) distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort). Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dor_relacionada_trabalho_ler_dort.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2018.
Carcheck. Disponível em: <http://blog.carcheck.com.br/carcheck/ergonomia-no-volante-como-a-posicao-que-
voce-dirige-afeta-sua-saude>. Acesso em: 24 ago. 2018.
CHATEAU, L. Integração sensorial. Fisioterapia e psicomotricidade. out. 2014. Disponível em:
<lilianpsicomotricista.blogspot.com.br/2014/10/integracao-sensorial.html>. Acesso em: 24 nov. 2017.
CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas. 4 ed. São Paulo: Manole, 2014.
DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.
GUIA TRABALHISTA. NR 17 - Ergonomia. [2007]. Disponível em:
http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr17.htm>. Acesso em: 12 dez. 2017.
IIDA, I. Ergonomia, projeto e produção. 3 ed. São Paulo: Blucher, 2016.
LITTIG, L. H. M. G. Distúrbios psicomotores como sintoma de transtorno emocional. Portal de educação.
Online. [200-?]. Disponível em: <https://www.portaldeeducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/disturbios-
psicomotores-como-sintoma-de-transtorno-emocional-/29949>. Acesso em: 24 nov. 2017.
KARDEC, A.; NASCIF, J. A manutenção: função estratégica. 4 ed. Rio de Janeiro: Qualitymark: Petrobras,
2012.
KROEMER, K. H. E.; GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 6 ed. São
Paulo: ArtMed, 2011.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Organização Pan - Americana da Saúde no Brasil. Doenças relacionadas ao
trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde do Brasil,
2001. (Série A. Normas e Manuais Técnicos; n. 114). Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_relacionadas_trabalho1.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2018.
OLLAY, C. D.; KANAZAWA, F. K. Análise ergonômica do trabalho: Prática de transformação das
situações. São Paulo: Andreoli, 2016.
Recommended