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O feijão com arroz da educação
Claudio de Moura Castro
De que falaremos?
• Nossos cacoetes intelectuais reaparecem com todo fulgor na educação
• Complicamos tudo, buscamos sempre soluções barrocas
• Nos países avançados, as soluções são simples, do tipo ‘feijão com arroz’
A doença do subdesenvolvimento intelectual
infecta também a educação
Não nos liberamos do exibicionismo intelectual
• Qual a teoria da moda?– Levy Strauss, Feynman: Brasileiro deslumbrado com a teoria
da moda
• Qual o autor da moda?– Nossos gurus são escravos dos defuntos: Piaget, Vigotsky,
Makarenko, Gramsci, Marx– Mas não sabem ensinar aos professores como levar as boas
teorias para a sala de aula
• O importante é dizer de forma elegante e não fazer acontecer– Somos bons falastrões e maus fazedores
A ciência da educação, ou a “seita da educação”?
• Hoje a medicina é baseada na evidência. • Mas educação está repleta de gurus que
não perguntam como é o mundo real• Não chegamos a Bacon que inventou a
ciência empírica• A educação é baseada na palavra do
defunto que escreveu o livro da moda• Contudo, “Ciência da educação” sem base
empírica é uma contradição lógica
Ideologia: crer na teoria sem examinar friamente o mundo real
• A paixão deve incendiar a ação, mas a compreensão vem antes e deve ser gélida
• Mas para alguns dos nossos educadores, o mundo real é irrelevante, não é o critério de verdade
• Exemplos:– Discute-se método de alfabetização citando os
defuntos e não medindo qual alfabetiza melhor– Discute-se construtivismo sem perguntar como se
aplica no mundo real– Condena-se o livro texto sem perguntar por que todos
os países de sucesso o utilizam
A verbosidade vazia de alguns pedagogos:“ Manifesto a favor dos pedagogos: Consideramos que:
- a pedagogia é legítima;- a pedagogia é um saber legítimo;- a pedagogia produz saberes legítimos e historicamente legitimados;- a pedagogia produz saberes específicos;- a formação pedagógica é legítima;- a formação pedagógica é específica;- a formação pedagógica deve ser construída em torno desses saberes legítimos e específicos;- a formação pedagógica deve ser construída por pedagogos;- os saberes pedagógicos se produzem na articulação de ações realizadas, de concepções científicas e didáticas, de convicções normativas e de intenções filosóficas;- os saberes pedagógicos são produzidos pelos pedagogos;- os saberes pedagógicos se inscrevem numa tradição de pedagogos (...);- os saberes pedagógicos de tal tradição são tão legítimos quanto os saberes produzidos pelos filósofos e pelos cientistas da educação;- os saberes pedagógicos não podem ser confundidos com os saberes disciplinares;- os saberes pedagógicos não podem ser confundidos com os saberes sobre educação, o ensino e a pedagogia;- os saberes pedagógicos não poderiam ser reduzidos aos saberes didáticos, devendo, ao contrário, articular-se sobre eles;- a pedagogia não exclui os outros saberes, ela os articula na formação;- ninguém pode dizer-se pedagogo se não aceitar teorizar suas práticas e submetê-las à discussão;- os saberes pedagógicos, por sua vez, também são capazes de gerar saberes sobre a pedagogia, a educação e a humanidade. A pedagogia é portadora de uma abordagem específica do homem e de seu devir;- na formação pedagógica, somente os pedagogos estão aptos a articular os saberes pedagógicos com os saberes disciplinares e com os saberes sobre a educação, sobre o ensino e sobre a pedagogia;- na formação pedagógica, somente os pedagogos podem assumir a articulação desses saberes, pois é o que comprovam em sua prática profissional;- a formação pedagógica deve ser assumida pelos pedagogos, assim como sua legitimidade de formadores é mantida por sua legitimidade de pedagogos;- a formação pedagógica supõe a instauração, o respeito e o reconhecimento de um espaço institucional autônomo e específico que não seja submetido aos saberes disciplinares ou didáticos, nem aos saberes sobre a educação, o ensino e a pedagogia.”
Onde está dito que os alunos devem aprender? Onde está a boa pedagogia (que existe)?
A teoria“Esse ensino de qualidade é entendido
como um ensino onde ocorre a transmissão/apropriação do conhecimento que tenha a prática social como ponto de partida e de chegada da prática pedagógica, que leve à formação, transformação de conceitos que possibilita a relação entre estes conceitos e a relevância social destes”
[dá para entender?]
A realidade“Sou professora de matemática e física há pouquíssimo
tempo (+/- 1 ano), lecionando como eventual nas escolas estaduais, e tenho grandes dificuldades em preparar minhas aulas.
Primeiro: pela falta de experiência e confiança total no “meu taco” ainda (uma de minhas reivindicações na faculdade era a inclusão na grade curricular de matérias que me ensinassem o que eu ia ensinar quando me tornasse professora)
Segundo: porque as escolas deixam ao meu cargo essa função, sem me dar diretrizes claras do conteúdo a ser ministrado. Essa situação, por vezes, me deixa em apuros, visto que muitas vezes “crio” minhas aulas.”
Os resultados [lamentáveis ]
• Educação pior do que em países com mesmo nível de renda per capita
• SAEB: 56% são ainda analfabetos na 4ª série
• IBOP: ¾ dos adultos são analfabetos funcionais
• PISA: último lugar para o Brasil• Ricos se saem mal! Problema não é
econômico
O feijão com arrozda educação
[a receita que deu certo nos países bem sucedidos]
Boas escolas têm metas• Boas escolas têm uma clara percepção
dos rumos em que navegam, isto é, têm metas.
• São poucas metas• Não mudam de uma hora para outra• São compartilhadas por todos• As metas são quantificadas (exemplo: em
dois anos ganhar tantos pontos nos testes).
[Maioria das escolas privadas entendeu isso]
A escola tem a cara do diretor
• Há forte liderança do diretor • As autoridades dão às escolas muita
autonomia para operar• Diretor manda. É um real gerente, estando
livre para se mover. Mas deve atingir as metas estabelecidas
• Nem a sua indicação é moeda de troca na política e nem é eleito pelos seus pares.
Escola: ambiente saudável
• Os fluidos são bons• Os professores estão satisfeitos• A boa atmosfera da escola é pelo menos
tão importante quanto o salário [privados entenderam que criando bom ambiente, conseguem os melhores professores e só pagam 10% a mais]
• A sociedade valoriza e prestigia os professores.
Sem gestão não há resultados• Públicas ou privadas, boas escolas são
administradas como as boas empresas• Há cobrança de resultados e vantagens
para quem desempenha bem o seu papel• Os melhores mestres são colocados nas
turmas mais difíceis• Os malandros e incompetentes ganham
puxões de orelha. [Escolas privadas sem bons diretores foram varridas pela
concorrência]
Professores são preparados
• Conhecem bem os assuntos que ensinam e aprenderam a ensinar
• Pedagogia para eles significa saber ensinar cada ponto da matéria.
• Não são escravos nem dos autores e nem das teorias da moda.
Currículos explícitos
• Os currículos oficiais são claros e precisos, dizendo exatamente o que é para ser ensinado e aprendido.
• Na Finlândia: ‘nosso currículo prescreve, nossos professores ensinam e nossos alunos aprendem as mesmas competências e conhecimentos que são avaliadas no PISA’.
Prioridade: Ler, escrever, usar números e pensar
• Aprender a ler é uma atividade para toda vida
• Ênfase na aplicação das teorias em problemas da vida real – em vez de decorar fatos, fórmulas e definições
Bom ensino requer livro detalhado
• Livros de boa qualidade, universalmente usados e detalhados no passo a passo
• Professor sabe usar o livro• Os professores não precisam ‘criar’ aula,
há retaguarda de planejamento e explicitação de tudo que acontece na aula
• Evidência: ensino estruturado é superior (Acelera Brasil, Escuela Nueva, SENAI, Success for All, Direct Instruction)
Escola que não ensina a ler não conseguirá ensinar
cidadania• O ensino de cidadania começa com uma
escola que ensina o básico corretamente.• Uma escola que não ensina a ler, é
desonesta. Se é desonesta, não ensina cidadania
A sala de aula é convencional
• Os alunos precisam estudar bastante• Há avaliações freqüentes e os alunos são
seriamente cobrados • Muito ‘para casa’ e feedback para o aluno. • A disciplina é ‘careta’ (por exemplo, não
se pode conversar na aula)
A primeira lei da pedagogia: A = F(b/c/h)
• A jornada de trabalho é longa (pelo menos cinco horas)
• Quanto mais se estuda, mais se aprende• Bom ensino requer bom uso do tempo• Erros: Copiar do quadro, parar a aula para
atender um aluno, faltar, jornada curta demais
O compromisso da família
• A família acompanha de perto a vida escolar do aluno
• Vigia para assegurar que fez o ‘para casa’• Conversa muito com ele• Garante um ambiente físico e psicológico
que favorece o estudo e aprendizado. • Televisão berrando desvia o aluno do seu
maior projeto de vida que é a educação.
Funciona para os outros países• Há muito mais a fazer, mas só depois de
assegurar o feijão com arroz • Não podemos confundir escolas
experimentais com as que matricularão 40 milhões de alunos
• Se o feijão com arroz é melhor para países de educação superlativa, por que não nos servirá também?
• Nossas escolas com melhores resultados praticam o feijão com arroz
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