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BÍBLICAADORAÇÃOMisael Nascimento
Centro de Treinamento Presbiteriano (CTP) Rua Prudente de Moraes 2664 Boa Vista - São José do Rio Preto SP 15025-045 Brasil T 3214-1410 contato@ipbriopreto.org.br www.ipbriopreto.org.br/ctp/
Adoração bíblica
Misael Batista do Nascimento 2017
Centro de Treinamento Presbiteriano (CTP) Rua Prudente de Moraes 2664 Boa Vista - São José do Rio Preto SP 15025-045 Brasil T 3214-1410 contato@ipbriopreto.org.br www.ipbriopreto.org.br/ctp/
Copyright©2017MisaelBatistadoNascimento.Permitidaareproduçãodepequenostrechos,parausonãocomercialedesdequeafontesejacitada.
Editor:MisaelBatistadoNascimento
Conversãoparae-Book:MisaelBatistadoNascimento
Websitecomrecursosdidáticosadicionais:
http://www.misaelbn.com/livros/
Dadosparacontato:Fone:55-017-98149-4342
E-mail:misaelbn@me.com
NASCIMENTO,MisaelBatista.
Adoraçãobíblica/MisaelNascimento.SãoJosédoRioPreto:MisaelNascimento,2017.
1.Cristianismo2.Teologiasistemática3.Teologiadoculto4.Adoração5.Músicanaigreja6.Dançalitúrgica7.Liturgia.
Sumário iii
Sumário
Introduçãoaocurso..................................................................................................................1
Aula1:Conceito,arranjopactualeimportânciadaadoração..................................................5Introduçãodaaula1...........................................................................................................................51.1Oconceitobíblicodeadoração.....................................................................................................51.2Aadoraçãobíblicaésemdivisãoesemconfusão........................................................................61.3Oarranjopactualdaadoração......................................................................................................81.4Aimportânciadaadoração.........................................................................................................10Conclusãodaaula1...........................................................................................................................11Atividadesdaaula1..........................................................................................................................11
Aula2:Aadoraçãoantesdaqueda.........................................................................................14Introduçãodaaula2.........................................................................................................................142.1AcriaçãoeorganizaçãodouniversopelaPalavradeDeus.........................................................142.2Aárvoredavidacomodomsacramental....................................................................................152.3Aagendadaadoração.................................................................................................................162.4Aformataçãodivinadosadoradores..........................................................................................16Conclusãodaaula2...........................................................................................................................18Atividadesdaaula2..........................................................................................................................18
Aula3:Aquedaeosadoradoresverdadeirosefalsos...........................................................19Introduçãodaaula3.........................................................................................................................193.1Queda,idolatriaeautoadoração................................................................................................193.2Duaslinhagens:Adoradoresverdadeirosefalsos.......................................................................21Conclusãodaaula3...........................................................................................................................21Atividadesdaaula3..........................................................................................................................21
Aula4:Anecessidadedeumprincípioregulador...................................................................23Introduçãodaaula4.........................................................................................................................234.1Abaseparaocultoeseuprincípioregulador.............................................................................234.2Operigodoprincípionormativodeculto...................................................................................244.3Oselementoseascircunstânciasdocultocristão......................................................................25Conclusãodaaula4...........................................................................................................................26Atividadesdaaula4..........................................................................................................................26
Aula5:AadoraçãodeCaimeAbelatéospatriarcas..............................................................27Introduçãodaaula5.........................................................................................................................275.1OcultodeCaimeAbel................................................................................................................275.2AinvocaçãodonomedoSENHORapartirdeSete.......................................................................285.3Aadoraçãodospatriarcas...........................................................................................................29Conclusãodaaula5...........................................................................................................................29Atividadesdaaula5..........................................................................................................................29
Aula6:Aadoraçãonotabernáculo,notemploenasinagoga................................................30Introduçãodaaula6.........................................................................................................................306.1Aadoraçãonotabernáculo.........................................................................................................30
Sumário iv
6.2Aadoraçãonotemplo.................................................................................................................326.3Aadoraçãonasinagoga...............................................................................................................34Conclusãodaaula6...........................................................................................................................35Atividadesdaaula6..........................................................................................................................35
Aula7:[Parêntese1]Louvai-ocomadufesedanças!.............................................................39Introduçãodaaula7.........................................................................................................................397.1AdançaemIsrael........................................................................................................................397.2Registrosdedançasassociadasaopaganismoealgumasespeculações....................................417.3UmaleituraalternativadeSalmos150.4....................................................................................42Conclusãodaaula7...........................................................................................................................44Atividadesdaaula7..........................................................................................................................44
Aula8:[Parêntese2]Adançacomoarteecelebração...........................................................45Introduçãodaaula8.........................................................................................................................458.1Alegitimidadeelimitaçõesdaarteemsimesma—edadançacomoarte...............................458.2Ocultopúblicofazusodaarte....................................................................................................478.3Aartenocultodevesesujeitaràsprescriçõesdivinas...............................................................48Conclusãodaaula8...........................................................................................................................49Atividadesdaaula8..........................................................................................................................49
Aula9:[Parêntese3]Usosatuaisdadançapelaigreja...........................................................50Introduçãodaaula9.........................................................................................................................509.1Quatrousosdadança..................................................................................................................509.2Judaísmomessiânicoeadoraçãoproféticaouextravagante......................................................519.3Anovidadedadançanocultodaigreja......................................................................................52Conclusãodaaula9...........................................................................................................................55Atividadesdaaula9..........................................................................................................................56
Aula10:AadoraçãodoSenhorJesusCristoedaigrejadoNT...............................................59Introduçãodaaula10.......................................................................................................................5910.1AadoraçãodeesegundoCristo................................................................................................5910.2AadoraçãodaigrejadoNT.......................................................................................................62Conclusãodaaula10.........................................................................................................................63Atividadesdaaula10........................................................................................................................63
Aula11:Recorteshistóricosdaliturgiareformada.................................................................65Introduçãodaaula11.......................................................................................................................6511.1Oevangelhodaestrutura..........................................................................................................6511.2Estratégialitúrgica.....................................................................................................................70Conclusãodaaula11.........................................................................................................................72Atividadesdaaula11........................................................................................................................73
Aula12:Cincoquestõeslitúrgicasatuais................................................................................74Introduçãodaaula12.......................................................................................................................7412.1Sobreolouvorcomsalmos,hinosecânticosespirituais..........................................................7412.2Sobregêneroseestilosmusicaisadequadosparaaadoraçãolitúrgica...................................7612.3Sobreosinstrumentosmusicaisprópriosparaoculto.............................................................78
Sumário v
12.4Sobreocostumedeaplaudir....................................................................................................7812.5Sobreaescolhapastoraldasmúsicasdoculto.........................................................................79Conclusãodaaula12.........................................................................................................................80Atividadesdaaula12........................................................................................................................80
Aula13:Apreparaçãoeconduçãodeumaliturgiabíblica.....................................................81Introduçãodaaula13.......................................................................................................................8113.1Aordemfundamentalealgunsenquadramentosúteis............................................................8113.2Possibilidadesdeliturgiascontemporâneas.............................................................................8413.3Aconduçãodoculto..................................................................................................................89Conclusãodaaula13.........................................................................................................................95Atividadesdaaula13........................................................................................................................95
Apêndice1:Judaísmomessiânico,adoradoresextravagantesepericorese:Comotudoissoafetaaperspectivaatualsobreadançanaigreja...................................................................96
Quemsãoosjudeusmessiânicos......................................................................................................96Quemsãoosadoradoresextravagantes...........................................................................................97Oqueépericorese............................................................................................................................98
Apêndice2:Breveglossárioeexemplosdeelementoslitúrgicos.........................................101A2.1Breveglossário........................................................................................................................101A2.2Exemplosdealgunselementoslitúrgicoscitadosnesteapêndice.........................................102
Referênciasbibliográficas.....................................................................................................103
Sumário vi
Introdução ao curso 1
Introdução ao curso
A primeira edição deste curso foi escrita em 2004, com o objetivo de treinar pessoas ligadas aosministériosdemúsicaedireçãodecultos.Comotempoelesemostrouútilparalíderesquequeriamentenderporqueaigrejaadotadeterminadaspráticasdeculto(diáconos,presbíterosepastorestêmderesponderperguntasrelacionadasàadoração).Porfim,oconteúdofoiconsideradointeressanteporcristãosquedesejamconheceroqueaBíbliaensinasobreaadoraçãocristã.
O interesse é compreensível, pois o que chamamos hoje de “adoração” é cada vezmais umexercício religioso centrado no homem. “Vida” e “espontaneidade” são opostas à “ordem” e“formalidade”.Surgemnovasexpressõesligadasàadoraçãoecaempreconceitosquantoaestiloseinstrumentosmusicais.O“momentode louvor”étanto“preparatório”quantomais importantedoqueaexposiçãobíblica.Falarde“templo”étidocomoanacrônicoeos“lugaresdereuniãocristã”são projetados e equipados como galpões industriais e espaços de entretenimento. Sendo assim,proliferamaplausosedanças litúrgicas.Epopulariza-seocultocomoexperiênciapassiva,algoque“euassisto”enãoqueeu“ofereçoaDeus”.
Há controvérsia por todo lado. Cristãos protestantes e evangélicos afirmam que a Bíblia osdirige,masnaprática,cadadenominação (edentrodasdenominações,cadacongregação)assumeuma formade cultodistinta.Há igrejasquenãoutilizamuma liturgiaouplanode culto. Emesmoentreasqueutilizam,nãoháconsensosobreoformatodaadoração—oqueébíblico?Oquepodeenãopodeserincluído?ComooferecercultosqueagradamaoDeusvivo?”Igrejaslitúrgicasjulgamasinovadoras.Eestasrotulamaslitúrgicascomoformais,obsoletas(isoladasdacultura)emortas.
Atéotermo“bíblico”exigeexplicação.Aqui“bíblico”equivalea“provenientedeinterpretaçãosadia da Bíblia”. Porque um culto pode ser “bíblico” e ainda assim herético; por exemplo, ainstauraçãodearcasdaaliança,shofar,ósculosanto,véu,exorcismos,línguaseprofecias,apesardeutilizarcoisasqueconstamnaBíblia,nãoéadoraçãocristã.
Este curso também analisa, mesmo que introdutoriamente, alguns detalhes históricos econfessionaisdaadoração(ocultoconformeaConfissãodeFéeosCatecismosdeWestminster).
Porfim,proponhoummodelodecultoparaigrejasquelutampelafidelidadeàsEscrituraseboatradição,comumaroupagemcompreensível,pertinenteecontemporânea.
OroparaqueacompreensãodestesconteúdosnosmotiveacultuaraDeusdemodoagradávelaele,“emespíritoeemverdade”(Jo4.23-24).
Oautor.
ParteIDacriaçãoaotemploemJerusalém
Conceito, importância e arranjo pactual da adoração 5
Aula 1: Conceito, arranjo pactual e importância da adoração
Somoscristãosquerdurmamos,comamosoutrabalhemos;qualquercoisaquefizermos,faremoscomofilhosdeDeus.NossoCristianismonãoserve
apenasparaosmomentospiedososouatosreligiosos.HenderikRoelof“Hans”Rookmaaker.1
Introdução da aula 1
Estaaulatemporobjetivoresponderaquatroperguntas:
1. Oqueéadoraçãocristã?2. Tudoéadoraçãonavidadocrente?3. Dequemaneiraaadoraçãoseencaixanospactosdacriaçãoedaredenção?4. QualéolugardaadoraçãonavidadodiscípuloedaigrejadeJesus?
Respostas adequadas a tais questões enriquecem nossa compreensão da adoração bíblica.Olhemosparaaprimeiraquestão.Éhoradeconheceroconceitodeadoração.
1.1 O conceito bíblico de adoração
O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo reivindicam um tronco comum. Todos assumem umaadoraçãomonoteísta—ocultoaoDeusúnicodeAbraão.Noentanto,aadoraçãocristãdiferedajudaicaemuçulmanaporsernãoapenasmonoteísta,mastambémtrinitária(oscristãosadoramaoDeus único que subsiste em três pessoas: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) e, porconseguinte,cristocêntrica(oscristãosadoramaCristocomoDeus).
Considerandoestasparticularidades,oqueéadoraçãocristã?
Adoração”equivalea “admiração”,2maseste conceitoémuitoamploenãonecessariamentecristão—umapessoapode“adorar”outranosentidodegostarmuitodela.Paraospropósitosdestecurso,DonaldHustadforneceumaexplicaçãomaisproveitosa:
AdoraçãoéaatividadebaseadanasexcelênciasinexauríveisdoDeuseterno,eàsnecessidadesinfindáveisdahumanidademortal.ÉorelacionamentoentreDeuseoshomens,umacontínuarelaçãodeautorrevelaçãoereaçãocorrespondente.Éaatividadenormal—orelacionamentonormal—davidacristãeéexpressaemconversacomDeus,adoaçãocompletadoseraDeuseatransformaçãodoadoradoràsemelhançadeDeus,emtodaasuapessoa:Corpo,mente,emoçõesevontade.3
Nestecurso,adoraçãoecultosãosinônimos.Sendoassim,adoraçãoéocultoqueprestamosaDeusemrespostaàsuarevelação—especialmenteseusatosdecriação,redençãoejuízo(Êx34.5-8;Is 6.1-8; Mt 2.9-11; Rm 1.18-21; Ap 4.1-11). Estes dois aspectos — revelação e resposta, “sãonecessáriosàverdadeiraadoração.[...]MartinhoLuteroafirmavaque‘conheceraDeuséadorá-lo’.[...]Insistiatambémemqueaadoraçãonãoéalgoextraeopcionalparaapessoapiedosa,mas,sim,umsintomaouexpressãoessencialdesseconhecimento”.4
ODr.HermistenCostasugereumadefiniçãodecultocristão,comosegue:
1ROOKMAAKER,H.R.AArteNãoPrecisadeJustificativa.Viçosa:EditoraUltimato,2010,p.38.2MANSON,P.D.Adoração.In:FERGUSON,SinclairB.(Ed.).NovoDicionáriodeTeologia.SãoPaulo:Hagnos,2009,p.33.3HUSTAD,Donald.Jubilate!AMúsicanaIgreja.SãoPaulo:VidaNova,1986,p.84.4MANSON,op.cit.,loc.cit.
Conceito, importância e arranjo pactual da adoração 6
OcultocristãoéaexpressãodaalmaqueconheceaDeusequedesejadialogarcomoseuCriador,mesmoqueestediálogo,poralgunsinstantes,consistanummonólogoedificantenoqualDeusnosfalepormeiodaPalavra.5
Issonosconduzàsegundaquestão.
1.2 A adoração bíblica é sem divisão e sem confusão
Tudoéadoraçãonavidadocrente?OconceitofornecidoporHustadnosajudaacompreenderqueadoramossemdivisão,querdizer,semrecortaravidaempedaços.Vidareligiosaesecular,trabalhoevocaçãodivina;taiscoisasnãosãoabsolutamenteseparadas.Tudooquesomos,fazemosetemosé consagrado para a glória de Deus (1Co 10.31). O adoramos lhe dedicando cada pensamento,sentimentoeatodavidacomum,semnegligenciarapráticacotidianadobem(Sl19.14;104.23-35;Fp4.8-9;Cl3.23-24;Hb13.16;Tg1.26-27;1Jo3.16-18).
Alémdisso,nósadoramosaDeusnacultura,6utilizando linguagem,gestosepadrõesmusicaisinfluenciados pelo contexto. Isso quer dizer que igrejas igualmente fieis na adoração podemapresentardiferençasemsuaadoração,decorrentesdesingularidadesculturais(figura01).
Figura01.Aadoraçãoéoferecidaemumaculturaconcreta
Resumindo,vivemosnoâmbitodoreino(Mt6.9-10,33).OdomíniodoSenhorpodeedeveserconfirmadoemtodasasáreasdavida (1Cr29.12;Sl97.1;Ef4.28).Destarte,“adoraçãoéestilodevida.[...]ÉvidaintegralqueabrangediscipuladoecomprometimentocomCristo”.7Nossaexistênciacomoumtodoéculto(figura02).
Poroutrolado,nósadoramossemconfusão,ouseja,distinguindoa“vidacristãcomoculto”do“cultopúblico”.CremosqueDeusnoschamaàvidasóbria(Pv1.1-7).Issoexigequeprocedamosdemaneirasdiferentesemsituaçõesdiferentes.NóscelebramosdiantedeDeusvestidoscomroupasdebanho, óculos escuros e chinelos, sentados sob um guarda-sol, na Praia do Forte, em Cabo Frio.Outrasocasiõesexigemoutraposturaevestuário.“Tudotemoseutempodeterminado,ehátempoparatodopropósitodebaixodocéu”(Ec3.1).
5COSTA,HermistenM.PrincípiosBíblicosdeAdoraçãoCristã.SãoPaulo:CulturaCristã,2009,p.49.6Culturaéo“todocomplexoqueincluiconhecimentos,crenças,arte,moral,leis,costumesouqualqueroutracapacidadeouhábitosadquiridospelohomemcomomembrodeumasociedade”;cf.LARAIA,RoquedeBarros.Cultura:UmConceitoAntropológico.24.ed.RiodeJaneiro:JorgeZahar,2009.eBookKindle,posição250de1462.(ColeçãoAntropologiaSocial).7SOUZAFILHO,JoãoA.de.OLivrodeOurodoMinistériodeLouvor.SantaBárbarad’Oeste:Z3Editora,2010,p.13,14.
Conceito, importância e arranjo pactual da adoração 7
Figura02.AvidacristãcomocultoaDeus
Issonãoétradicionalismo,apenasbomsenso.Ocultocristãoeogovernodaigrejaexigemousoda“luzdanatureza”e“prudênciacristã”,8ouseja,bomsenso iluminadopelaBíblia.Hácoisasquedevemserrevistasnoscultos,porqueindicamfaltadebomsenso.9Ocristãointeligenteentendequenemtudoconvémaocultopúblico.
DiferenciaravidacristãcomocultodocultopúblicoequivaleaorganizaravidanostermosdeDeus.OscrentesdaBíbliaparticipavamdeajuntamentoslitúrgicossolenes.Aadoraçãonosantuárioexigiaumaposturadiferenciada:“GuardaoteupéquandoentraresnaCasadeDeus”(Ec5.1).ParaocrentedoAT,nem tudoqueconstanavida comumécabívelnomomentoda reuniãoda “grandecongregação” (Sl35.18).Aadoraçãocorporativaépontuale localizada.10Ocultopúblicoéumatodistinto11cujoconteúdoeformaobedeceaprescriçõesdivinas.
Dizem que a ideia central da verdadeira adoração é a de intimidade – uma intimidade queproduzextravagância.Destaca-secadavezmaisoaspectonupcialdaadoração,oencontrodanoivaansiosacomoNoivo.C.S.LewisnosadvertedizendoquearelaçãoentreDeuseohomemextrapolaaanalogiadocasamento;existeuma“maiordistânciaentreosparticipantes”.12A“analogiaerótica”sugeridapelosadoradorescontemporâneosprecisadoadendodeApocalipse1.17:“Caíaseuspéscomomorto”.13
Os cristãos doNT distinguiam a vida cristã como culto do culto público. Jesus e os apóstoloscultuaram de acordo com os padrões do AT. Após a ressurreição e a vinda do Espírito, surgiu anovidade.Todasasexpectativase significadosdaadoraçãodoAT se cumprirame culminaramemJesus(Mt12.6;Jo2.19,21;Cl2.9,16-17;Hb7.1–10.39).Sendoassim,mesmoantesdadestruiçãodotemplodeJerusalém,oscristãosjásereuniamparacultuar(At2.42).Aigrejasejuntavanodomingopara “partir o pão” (At 20.7). As reuniões de adoração deviam ser conduzidas com “decência eordem”(1Co11.1-34;14.1-40;1Tm2.1-15).Deusdeviaser louvadocomcânticode“salmos”,além
8ConfissãodeFédeWestminster(CFW),I.VI.In:ASSEMBLEIADEWESTMINSTER.SímbolosdeFé:ContendoaConfissãodeFé,CatecismoMaioreBreve.2.ed.Reimp.2016.SãoPaulo:CulturaCristã,2016,p.25.9Porexemplo,sermõesruins,avisosintermináveis,desorganização,formalidadeouinformalidadeexageradasemúsicainadequada,oucujaletracontradizverdadesbíblicas.10OlugarétãocrucialparaaadoraçãojudaicaqueoCronistadedicatodasuaobraadestacarotemplodeJerusalémcomolocaldivinamenteseparadoparaoculto.Otermohebraicobahar,lit.“elegi”,éusadotantoparaDaviquantoparaJudáeosantuário(1Cr28.4;2Cr7.12).11Otermo“distinto”,aplicadoaocultopúblico,nãosignificaisolado.Ocultopúblicoéseparadodevidoasuapeculiaridade.12LEWIS,C.S.Oração:CartasaMalcolm:ReflexõesSobreoDiálogoÍntimoEntreHomemeDeus.SãoPaulo:Vida,2009,p.17.Faz-secomaanalogiadocasamentoalgosemelhanteàpericorese–aanalogiaéforçadaaumpontoinsustentável.Abordaremosapericorese,seDeuspermitir,naaula7.13LEWIS,op.cit.,loc.cit.
Conceito, importância e arranjo pactual da adoração 8
de“hinosecânticosespirituais”ecom“açõesdegraças”(Ef5.19-20;Cl3.16;Tg5.13).ONTcontémtrechosdehinosqueprovavelmenteeramentoadosnocultopúblico:oMagnificat (Lc1.46-55);oBenedictus(Lc68-79)eNuncDimittis(Lc2.29-32),alémdoshinoscristológicos(Ef5.14;Fp2.6-11;Cl1.15-20;1Tm3.16;Hb1.3-4;1Pe3.18-22).14
Ditodeoutromodo,aigrejadoNTeralitúrgica.Oscristãossereuniamparaumaatividadequepodemos denominar de culto público, regulada por prescrições bíblicas e apostólicas. Os crentesentendiamquealgumascoisaseramconvenientesaocultopúblico;outrasdeviamsertratadas“emcasa”(1Co14.34).Oencontro litúrgico,centroeculminânciadavidacristãcotidiana,eradistinto–fornecia lugareocasiãodiferenciados.15Eestadistinçãonãoretiradocultosuacentralidade.Pelocontrário,aadoraçãoregulaatotalidadedavida.Porumlado,ocultopúblicodominicaléopontoaltodenossacomunhãocomDeusna semanaanterior;poroutro,eleabreanova semana,enospreparaparaela(figura03).
Figura03.Ocultopúblicodistintoenocentrodavidacristãcomoculto
Oqueissosignifica?Quehá“umadiferençafundamentalentrenossavidadiáriacomocultoaDeuseocultoqueaeleprestamospublicamente”.16TantoasEscriturasquantoobomsensoindicamque “atividades que seriam pertinentes à nossa vida como culto não seriam próprias a este cultopúblico”.17
IssoficamaisclaroquandoentendemosqueDeusfirmapactosconosco.Vistaporesseângulo,adoraçãoéarespostarequeridadeDeus,nestarelaçãopactual.
1.3 O arranjo pactual da adoração
Ostermosberîth(hebraico—AT)ediathēkē(grego—NT)transmitemossentidosdepacto,aliançaoutestamento.18NaEscritura,todarelaçãodeamoréexplicadaemtermosdealiança.19Alguémamaeé correspondido; a respostadoamorédeclaradaempalavras e atos (Sl 18.1; 26.8; 116.1; cf. Sl91.14).
14Cf.MARTIN,RalphP.AdoraçãonaIgrejaPrimitiva.2.ed.revisada.SãoPaulo:VidaNova,2012,p.39-70;GUTHRIE,Donald.TeologiadoNovoTestamento.SãoPaulo:CulturaCristã,2011,p.346-369.15ApalavradenossoSenhoràsamaritana(Jo4.21)nãosignificaaaboliçãodeumlugardeadoração.Oqueestásendoensinadoéocontrário:Oscrentes,guiadospeloEspírito,adorarãoondeestiverem.TodolocalondeonomedoSenhorforinvocadoedevidamentecultuadoserásantificadoeconsagrado.16SUPREMOCONCÍLIODAIGREJAPRESBITERIANADOBRASIL(SC/IPB).CartaPastoraleTeológicaSobreLiturgianaIPB.SãoPaulo:CulturaCristã,2010,p.11.17SC/IPB,op.cit.,loc.cit.18VOS,Geerhardus.TeologiaBíblica:AntigoeNovoTestamentos.SãoPaulo:CulturaCristã,2010,p.38-42.19Opactopodeserentendidocomoo“vínculodevidaeamorqueDeusestabeleceuentresimesmoeAdãoeEva”(VANGRONINGEN,Gerard.CriaçãoeConsumação.SãoPaulo:CulturaCristã,2002,p.90.v.1—grifonosso).
Conceito, importância e arranjo pactual da adoração 9
Osatosdoamorsãoautodoaçãoecultivodarelação—oquechamamosdedevoção.Sobesteprisma, e guardadas as devidas proporções, como alertou Lewis, a comunhão entre o Senhor e aigrejaéàsvezesilustradapelovínculodocasamento(Is54.5;Jr3.1,20;Os2.16-23;Ef5.31-32).
IssoquerdizerqueaBíblia inteirapodesercompreendidacomoumchamadoàadoração.Atémesmoomandatomissionáriodevesercompreendidodestemodo(missãoéoprocessodebuscarecongregar“adoradores”;cf.Jo4,23-24).AEscriturarevelasetemomentosdaadoração,da criação até a consumação, todos eles sedesenrolandono contextodospactosda criaçãoeredenção(figura04).
1. Ocultoantesdaqueda.2. OcultodeCaimeAbelatéospatriarcas.3. Ocultonotabernáculo(apartirdeMoisés).4. OcultonotemplodeJerusalém(apartirdeDavieSalomão).5. Ocultonasinagoga(apartirdoperíododadispersãojudaica).6. Ocultocristão(apartirdoSenhorJesusedaigrejaprimitiva)e,porfim...7. Ocultodanovacriaçãoglorificada.
Figura04.Ossetemomentosdaadoração
Olhandopelosângulosdacriação,quedae redenção,ouniverso foi criadoporDeuspara suaglória(Rm11.36;Hb11.3;Ap4.11).Elefirmouopactodacriaçãogarantindoquetodoocosmosserárevestido com o esplendor de sua bondade e beleza (o vocábulo hebraico ṭôbh, traduzido como“boa”ou“bom”,emGênesis1.4,10,12,18,21,25,31,temosentidode“bom”e,aomesmotempo,“belo”).EmGênesis2.15-17ohomemrecebemandatosligadosaoculto(aprenderemosmaissobreissonaseção2.4.2)ecultuarcorrespondeacumpri-los(Gn2.15-17).Porissoohomemdeveadorar
Conceito, importância e arranjo pactual da adoração 10
ao Senhor em todas as etapas da história da salvação— criação, queda e redenção, sendo estaúltimainiciadaeantecipadanahistóriapassadaepresente,econsumadanofuturo.
Por causa da queda, Deus constituiu o pacto da redenção (Gn 3.15). O dever de cumprir osmandatospermanece,sóqueagora,lidamosexternamentecomasoposiçõesdomundoedodiabo(háuma“inimizade”entreduas linhagens,dosverdadeirose falsosadoradores, comoveremosnaaula3).Ademais,lutamoscontranossaprópriadepravação.Issoquerdizerque,paracultuaraDeus,necessitamos de expiação e mediação— daí a obra do Redentor, núcleo do pacto da redenção,anunciadaemGênesis3.15.Ditodeoutromodo,ahistóriaqueconhecemosémarcadaporsinaisdaqueda, e, ao mesmo tempo, pelo desfrute inicial da redenção. Cultuamos a Deus enquantocaminhamoscomele,aguardandoarestauraçãodacriação,naconsumaçãodaredenção.
Olhando pela perspectiva revelacional, como vimos, o culto autêntico é resposta à revelaçãodivina. A fim de agregar adoradores, Deus concedeu uma revelação progressiva, ou seja, ele foirevelando sua verdade aos poucos, de modo que os primeiros adoradores dispunham de menosinformaçãodoqueosderradeiros—entendamos,porém,quearevelaçãoconcedidaaosprimeirosadoradoreserasuficienteparaasalvaçãodeles,eparaarespostadelesaDeusemcultoverdadeiro).NosprimórdiosdarevelaçãoohomemadorounoÉdencomoferendasemaltares,atéotempodospatriarcas.ApartirdeMoiséseDavi, surgiuo cultono tabernáculo,no temploenas sinagogas.Aculminaçãoda revelação,pormeiodeCristoedosapóstolos, incitouoculto sema roupagemdostipos e sombras do AT. No reino consumado receberemos a derradeira revelação, conheceremoscomosomosconhecidos,seremossemelhantesaoSenhoreadoraremoscheiosdejúbilo,nas“bodasdo Cordeiro” (1Co 2.9; 13.12; 1Jo 3.2; Ap 19.6-8). Por fim, a obediência imperfeita dará lugar àobediência completa — o culto aperfeiçoado. Experimentaremos a plenitude das promessas dospactosdacriaçãoeredenção.ComungaremoscomDeuscomovice-gerentesredimidos(Dn7.9;Mt19.27-30;1Co6.2-3;Ap20.4).
A revelação que Deus concedeu é também orgânica, quer dizer, cada parte contribui para otodo, sem rupturas entre o AT e o NT. A partir da queda a adoração era requerida, mas nãoesclarecida;deMoisésatéCristo,aadoraçãofoirequeridaeparcialmenteesclarecida;eapartirdeCristoaadoraçãoé requeridaeesclarecida.Deus reveloucuidadosamenteomodocomodevesercrido e adorado, estabelecendo um princípio regulador. Ao longo da história, a fidelidade daadoraçãoémedidapelaobediênciaaesteprincípio(aprenderemosmaissobreissonaaula4).
1.4 A importância da adoração
Sendoassim,qualéolugardaadoraçãonavidadodiscípuloedaigrejadeJesus?Emprimeirolugar,aadoraçãoéafinalidadeoupropósitoprincipaldenossaexistência.NósfomoscriadosparacultuaraoDeusvivo,demodoquedefinhamosdesviadosdesteobjetivo.ComoorouAgostinho:
“Grandeéstu,Senhor,esumamentelouvável:Grandeatuaforça,eatuasabedorianãotemlimite”.Equerlouvar-teohomem,estaparceladetuacriação;ohomemcarregadocomsuacondiçãomortal,carregadocomotestemunhodeseupecadoecomotestemunhodequeresisteaossoberbos;e,mesmoassim,querlouvar-teohomem,estaparceladetuacriação.Tuoincitasparaquesintaprazeremlouvar-te;fizeste-nosparati,einquietoestáonossocoração,enquantonãorepousaemti.20
OBreveCatecismoensinaamesmaverdade:
20AGOSTINHO.Confissões.20.ed.Reimp.2008.SãoPaulo:Paulus,1984,I.I,p.15.
Conceito, importância e arranjo pactual da adoração 11
Qualéofimprincipaldohomem?OfimprincipaldohomeméglorificaraDeusealegrar-seneleparasempre(Rm11.36;1Co10.31;Is43.7;Ef1.5-6;Sl73.24-26;Rm14.7,8;Is61.3).21
A adoração é central. Queremos cultuar de modo agradável a Deus. Cultuar porque oconhecemoseconhecê-loenquantoocultuamos.Emsuma,queremosnosaproximardeDeuscomaposturaexemplificadaporirmãoMarcosAlmeida.
Querotevercomotués,nãocomoimagino,mascomotuésQueroouvirtuapalavra,nãocomoimagino,masoqueeladizMeuamor,meuamor!22
O que dizemos sobre o cristão individual se estende à igreja como um todo. A igreja,representadanoApocalipsepelos“vinteequatroanciãosvestidosdebranco”,éantesdetudoumcorpodeadoradores(Ap4.4,10;5.6-14).
O ajuntamento de adoração da igreja émissional, ou seja, abre espaço para a pregação doevangelho; épastoral, instrui, santificae consolaos crentes comaPalavraeos Sacramentos (1Co14.24-25;At20.7).
Emsuasfalaseatosocultoétambémescatológico,porqueantecipaaadoraçãoquedaremosaDeusna consumação (Ap15.2-4).Ou aspectodesta faceta escatológica é apontadadiscretamenteem1Coríntios11.10.Asmulheresdaqueletempotinhamdeusarvéu“porcausadosanjos”.Eunãoentrarei em detalhes sobre este texto agora (se Deus permitir nós retornaremos a ele quandoestudarmosocultodoNT).Pororabastacompreenderque,nomomentodaadoração,Deuseseusanjosestãopresentes.Eucreioqueo irmãoMatthewSimpsoncompreendeu issoaoescreverparapregadores,lembrando-lhesdoqueacontecianaocasiãodeumcultopúblico.
Seutronoéopúlpito;elerepresentaCristo,suamensageméapalavradeDeus,emderredordeleháalmasimortais;oSalvador,semservisto,estáaseulado;oEspíritoSantopairasobreacongregação;anjoscontemplamacena,eocéueoinfernoaguardamoresultado.Queassociaçõesequevastaresponsabilidade!23
Issodeverianos fazerquestionar senós valorizamosdevidamentea adoraçãopública. EuoroparaquenosaproximemosdeDeuscomnovadisposiçãoemcadaculto!
Conclusão da aula 1
Nesta aula fornecemos alguns conceitos de adoração. Explicamos tambémque nem tudoo que épertinenteàvidacomoculto,cabenocultopúblicodaigreja.Dividimosahistóriabíblica,dacriaçãoatéaconsumação,emsetemomentosdeadoração.Eafirmamosqueaadoraçãoécentralparaocristão e para a igreja. Ordinariamente, a falha no culto prenuncia um distanciamento de Deus.Somos convocados pela Escritura a adorar ao Senhor, como resposta aos pactos da criação eredenção.
Atividades da aula 1
1.Marqueaúnicarespostacerta:Quaissãoasquatroperguntas,respondidasnestaaula?
___Oqueéadoraçãocristã?Tudoéadoraçãonavidadocrente?Dequemaneiraaadoraçãoseencaixanospactosdacriaçãoedaredenção?QualéolugardaadoraçãonavidadodiscípuloedaigrejadeJesus?
21BreveCatecismo,pergunta1.In:ASSEMBLEIADEWESTMINSTER,op.cit.,p.225.22ALMEIDA,Marcos.Imagino.In:PALAVRANTIGA.EsperaréCaminhar.Produçãoindependente,2010.1CD.23SIMPSON,Matthew.LecturesonPreaching.NewYork:Phillips&Hunt,1879,p.166,apudROBINSON,HaddonW.PregaçãoBíblica:ODesenvolvimentoeaEntregadeSermõesExpositivos.2.ed.SãoPaulo:SheddPublicações,2002,p.16.
Conceito, importância e arranjo pactual da adoração 12
___Oqueéadoraçãocristã?Tudoéadoraçãonaigreja?Dequemaneiraaadoraçãoseencaixanospactosdacriaçãoedaredenção?QualéolugardaadoraçãonavidadodiscípuloedaigrejadeJesus?
___Oqueéadoraçãocristã?Tudoéadoraçãonavidadocrente?Dequemaneiraaadoraçãoseencaixanospactosabraâmicoedavídico?QualéolugardaadoraçãonavidadodiscípuloedaigrejadeJesus?
___Oqueéadoraçãocristã?Tudoéadoraçãonavidadocrente?Dequemaneiraaadoraçãoseencaixanospactosabraâmicoedavídico?QualéolugardaadoraçãonavidaeconômicadaigrejadeJesus?
2.MarqueVerdadeiroouFalso:Aadoraçãocristãéparecidacomajudaicaemuçulmanaporsertrinitária,ouseja,tantojudeus,quantocristãosemuçulmanosadoramaoDeusúnico,quesubsisteemtrêspessoas:DeusPai,DeusFilhoeDeusEspíritoSanto.
___Verdadeiro.
___Falso.
3.Qualpalavracompletaafraseaseguir?AdoraçãoéocultoqueprestamosaDeusemrespostaàsua_______________—especialmenteseusatosdecriação,redençãoejuízo.
4.Marquetodasasrespostascertas:Nossaexistênciacomoumtodoécultoporque...
___Tudooquesomos,fazemosetemoséconsagradoparaaglóriadeDeus.
___Nãohánenhumadiferençaentreoquefazemosnavidaprivadaeoquepodemosfazernocultopúblico.
___NósadoramosaDeusdedicandoaelecadapensamento,sentimentoeatodavidacomum,semnegligenciarapráticadobem.
___EupossopassarodomingocultuandoaDeusemcasa,enquantoassistoepisódiosdeminhassériesprediletas.
___Adoraçãoéestilodevida.
5.Marqueasrespostascertas:Nemtudooquecabeemnossavidacomoculto,épertinenteparaocultopúblicodominical,porque...
___Nósdistinguimosa“vidacristãcomoculto”do“cultopúblico”.
___Vivemosnoâmbitodoreino.
___Ocristãointeligenteentendequenemtudoconvémaocultopúblico.
___Aideiacentraldaverdadeiraadoraçãoéadeintimidade.
6.Marqueaúnicarespostacerta:Quaissãoossetemomentosdeadoração,entreacriaçãoeaconsumação?
___Ocultoantesdaqueda.OcultodeCaimeAbelatéospatriarcas.Ocultonotabernáculo(apartirdeMoisés).OcultonotemplodeJerusalém(apartirdeDavieSalomão).Ocultonasinagoga(apartirdoperíododadispersãojudaica).Ocultocristão(apartirdoSenhorJesusedaigrejaprimitiva)eocultodanovacriaçãoglorificada.
___Ocultoantesdaqueda.Ocultocomadoraçãoextravagante.Ocultonotabernáculo(apartirdeMoisés).OcultonotemplodeJerusalém(apartirdeDavieSalomão).Ocultonasinagoga(apartirdoperíododadispersãojudaica).Ocultocristão(apartirdoSenhorJesusedaigrejaprimitiva)eocultodanovacriaçãoglorificada.
___Oraçãodeconfissão.Saudaçãoinicial.Hinodelouvor.Ofertório.PregaçãofieldaBíbliaeSantaCeiadoSenhor.
7.Quaispalavrascompletamafraseaseguir?Nósfomoscriadospara____________________________,eissodetalformaquedefinhamosdesviadosdesteobjetivo.
Conceito, importância e arranjo pactual da adoração 13
8.MarqueVerdadeiroouFalso:Aadoraçãobíblicaémissional,ouseja,abreespaçoparaapregaçãodoevangelho;eépastoral,poisinstrui,santificaeconsolaoscrentescomaPalavraeosSacramentos.
___Verdadeiro.
___Falso.
9.Marqueaúnicarespostacorreta.Aadoraçãodaigreja,emsuasfalaseatos,antecipaocultoaDeusnaconsumação.Issoquerdizerqueelaé...
___Escatológica.
___Teleológica.
___Farmacológica.
ANOTAÇÕES !
A adoração antes da queda 14
Aula 2: A adoração antes da queda
AdorarédespertaraconsciênciapelasantidadedeDeus,alimentaramentecomaverdadedeDeus,purificaraimaginaçãopelabelezadeDeus,abriro
coraçãoparaoamordeDeus,consagrandoavontadeaospropósitosperfeitosdeDeus.WilliamTemple.24
Introdução da aula 2
AspalavrasdeWilliamTemple,mencionadasno iníciodestetexto,definemumaadoração ideal.ABíblia não menciona nenhum tipo de ritual de culto antes da queda, mas o requerimento destaadoraçãoperfeitaésubentendidoquandoobservamosquatrodetalhesdeGênesis1—2:
1. AcriaçãoeorganizaçãodouniversopelaPalavradeDeus.2. Aárvoredavidacomodomsacramental.3. Aagendadaadoração.4. Aformataçãodivinadosadoradores.
2.1 A criação e organização do universo pela Palavra de Deus
ABíbliainiciacomDeuscriandoeorganizandoouniversoporsuaPalavra.Issoestabeleceoprimeiroaspectodaadoração,mencionadonaaulapassada—tudocomeçacomaPalavradeDeus,ousuarevelação.
EmGênesis1.3—2.3nóspodemosenxergarumpadrãorítmico:
1. OrdemdeDeus.2. Açãocriativaouorganizacionalemcumprimentodaordemdivina.3. Verificaçãoeavaliaçãodoquefoifeito.4. Classificaçãodaobrarealizada.5. Declaraçãodetérminododia.
Opadrão repercutenas palavras do texto: “Disse Deus” (Gn1.3, 6, 9, 14, 20, 24, 26, 29 e asbênçãosdeGn1.22,28);“houveluz”(Gn1.3),“assimsefez”(Gn1.7,9,11,15,24,30);“eviuDeus”(Gn1.4,10,12,18,21,25,31);“eraboa”(Gn1.3),“erabom”(Gn1.10,12,18,21,25),“eramuitobom” (Gn 1.31); “chamou” (Gn 1.5, 8, 10); “houve tarde e manhã” (Gn 1.5, 8, 13, 19, 23, 31) e“havendoDeusterminado”(Gn2.2).25
O cosmos surge em resposta às ordens divinas. Deus cria exercendo autoridade e produzmovimentocomunicando-se.Asexpressões“ehouve”(Gn1.3);“eassimsefez”(Gn1.7,9,11,15,24, 30) demonstram que suas determinações foram cumpridas. O atendimento de sua palavraresultou em coisas boas — na beleza e harmonia do universo, e em todas as esferas da criaçãodizendo“glória!”(Sl29.9).
Tanto a criação quanto a nova criação (a ordem das coisas estabelecida pela redenção) têmligaçãocomaPalavradeDeus.Salvação,queénovacriação;santificação,queéaorganizaçãodaalmaedavidadeacordocomoscomandosdivinoseadoração,arespostadeamoraogovernode24TEMPLE,William.TheHopeofaNewWorld.In:WHALEY,VernonM.UnderstandingMusicandWorshipintheLocalChurch.Wheaton,IL:EvangelicalTrainingAssociation,1995,p.10,apudPLEW,PaulT.DesfrutandoMúsicaeAdoraçãoEspirituais.In:MACARTHURJR.John.(Ed.).PenseBiblicamente:RecuperandoaVisãoCristãdeMundo.SãoPaulo:Hagnos,2005,p.285.25HAMILTON,VictorP.ManualdoPentateuco.RiodeJaneiro:CasaPublicadoradasAssembleiasdeDeus,2006,p.20,sugereumaestruturaalternativa:Introdução(Gn1.1-2),palavracriadora,cumprimentodapalavra,descriçãodoatoemquestão,designaçãooubênção,elogiodivinoeexpressãodeencerramento.
A adoração antes da queda 15
Deus,ocorremnocontextodaaplicaçãoepráticadaPalavra,emnossocaso,dasSagradasEscrituras.Ademais,Gênesis1—2demonstraquecriatividadeevidanãoestãodissociadosdeorganização.Daíapossibilidadeenecessidade,naadoração, tantodebelezae vidaquantode“decênciaeordem”(1Co14.40).
AnalisaremosumapropostadeusodaBíbliano culto contemporâneona12ªaula. É vital, noentanto,quedesdeagorasaibamosqueaadoraçãoantesdaquedaéumarespostadeamoraDeus,providaeconduzidapelaPalavra.
2.2 A árvore da vida como dom sacramental
Deusrevela“oprincípiodavidaemseupotencialmáximo,simbolizadodeformasacramentalpelaárvoredavida”.26Comoentendemosisso?
• Deuséfontedevida(Gn2.7).Comungarcomelegaranteoseudesfrute(Sl36.9).Aseparaçãodeleimplicaemmorte.
• Gênesisligavidaaoprazer.OjardimplantadoporDeuséolugardevida(Gn2.8).UmavezqueotermohebraicoEdenouÉden,temosentidoprovávelde“delícia”ou“prazer”,27aprendemosqueacomunhãocomDeuséprazerosa(Sl16.11).Neleexistemdelíciasverdadeiramentesatisfatórias(Sl36.8).Abuscadeprazerforadeleoucontráriaàsordenançasdeleproduzfrustração(Pv7.18,22-27).OÉdenéchamadoaindade“paraísodeDeus”,oqueindicaseucarátercelestial(Ap2.7).AfelicidadeplenaéumaexperiênciaqueultrapassaasvivênciasterrenaseestádisponívelapenasnaperfeitaedefinitivacomunhãocomoCriador.
• Aárvoredavidasimbolizaumavidaespiritualelevada(Gn2.9).28Elaeraassimchamadaporser“umsacramentoeumsímbolodaimortalidadequeseriaoutorgadaaAdão,seporventuraperseverasseemseuprimeiroestado”.29Issocorrespondeàtransformaçãodohomem,dacondiçãodecriaturaquepodianãopecar(possenonpeccare),ouseja,apossibilidadedenãomorrer,paraaliberdadedaglóriaembem-aventurança,denãopoderpecar(nonpossepeccare),ouseja,aincapacidadedemorrer.30
O adjetivo “sacramental” relaciona-se com o substantivo “sacramento”. Grosso modo,sacramento é uma coisamaterial que aponta para outra espiritual: “Essa é a verdade emistérioprefiguradosnesteantigotipo:Aárvoredavida—nãoterrena,mascelestial;[...]nãosomenteumsinaleselodavida,masrealmenteaoutorgantedela”.31EstaárvoreéCristo:“Eleéaúnicaárvoredavida,porqueninguém,excetoCristo,éoautordavidaeterna[...].Cristoestánomeiodaigreja[...]afimdeviverpertodetodosedifundirseupodervivificadorentretodos”.32
Ditodeoutromodo,aexistênciabem-aventurada,supridaecompletaéencontradanodesfrutedacomunhãoedependênciaplenadeDeus.Aadoraçãoésempreumadeclaraçãodedependência—oreconhecimentodequequemsomos,oquetemosefazemosdebom,decorremdeseuamorebondade.Ofrutodabem-aventurançaeternapodesersaboreadoapenaspelosjustosaperfeiçoados—os“vencedores”justificadosesantificadosporJesusCristo(Ap22.2).26VOS,op.cit.,p.43.27BÍBLIADEESTUDODEGENEBRA.2.ed.RevisadaeAmpliada(BEG2).SãoPaulo;Barueri:CulturaCristã;SociedadeBíblicadoBrasil,2009,nota2.8,p.12-13.28Cf.VOS,op.cit.,p.44-45.29TURRETINI,François.CompêndiodeTeologiaApologética.SãoPaulo:CulturaCristã,2011,p.724.v.1.30TURRETINI,op.cit.,p.713.31Ibid.,p.725-726.32Ibid.,p.726.
A adoração antes da queda 16
Posteriormente trataremos dos Sacramentos no culto atual. O que importa neste instante écompreender que no Éden havia uma árvore sacramental que prefigura tanto Cristo quanto osSacramentosdocultocristão.Deuscriouumaárvorenãoapenasparasimbolizar,masparadefatocomunicarvidasuperior—umSacramento.
2.3 A agenda da adoração
Deus separou um dia para descanso e adoração diferenciada. Ele trabalhou seis dias e shābat,“descansou”nosétimo.Porcausadisso,ele“abençoou”(bārak)e“santificou”(qādôsh)osábado(Gn2.1-3). Em uma passagem correlata, lemos que, quando descansou no sétimo dia, Deus “tomoualento”ou“reanimou-se”(nāpash;Êx31.17).33
Sendoassim,destacam-seosseguintespontos:
• Deusestabeleceuperíodosdetrabalho(seisdias)entrecortadosporumdescansonosétimodia.
• Estedescansofoiabençoadoesantificado;nelesomosreanimadosou“tomamosalento”afimdecultuaraDeus.
Aobservânciadeste“sábado”estácontidanaordemdacriação,temrelaçãocomocultoantesdaquedae,portanto,precedealei(Êx20.8-11).Deusnãoapenasprovidenciaumbenefíciofísico,odescanso do corpo,mas também espiritual, umaagenda para o culto, a separação de um dia nasemanaparaodeleitenele.
AsantificaçãodosábadoindicaqueoSenhordacriaçãoestabeleceuomodelopeloqualeledeveserhonradocomoCriador.ÉcertamenteapropriadoqueseseparetempoparaocultoaDeus.Medianteasantificaçãodosábado,Deusindicouqueesperaqueoshomensapresentemregularmenteasimesmos,bemcomoosfrutosdeseutrabalho,paraseremconsagradosdiantedele.34
Amudançadodiadecultodosábadoparaodomingoéexplicadanaaula8.Reconheçamos,porora,queDeusestabeleceuumdiapararepousoeadoração—umdiadoSenhor.
2.4 A formatação divina dos adoradores
OrelatodeGênesiscontémtrêsdetalhesimportantessobreomodocomoDeuspreparouohomemparaadorá-lo:
1. Oserhumanofoiqualificadoparaaadoração.2. OserhumanoadorariaaDeusrealizandoastarefasparaasquaisfoicriado.3. OserhumanoadorariaaDeusobservandoumprincípiodeautoridade.
Entendamoscadaumdessesdetalhes.
2.4.1 Criados por Deus e qualificados para a adoração
O ser humanonão éDeus.Qualquer crença ou formade adoração que almeje ser bíblica temdereconhecer esta separação entre Criador e criatura (a Bíblia rejeita todo tipo de panteísmo).35
33OCriador“nãosecansanemsefatiga”(Is40.28).Sendoassim,temosdecompreenderqueemGênesis2.1-3eÊxodo31.17,eleacomodasualinguagemànossacapacidadedepercepção.Deusfala“conoscocomoqueabalbuciar,comoasamascostumamfazercomascrianças”,descendodesuaalturaafimdenosajudar,emvistada“pobrezadenossacompreensão”(CALVINO,João.AsInstitutas:EdiçãoClássica.2.ed.SãoPaulo:CulturaCristã,2006,I.XIII.1).34ROBERTSON,O.Palmer.OCristodosPactos.2.ed.SãoPaulo:CulturaCristã,2011,p.63.Cf.LONGMANIII,Tremper.EmanuelemNossoLugar.SãoPaulo:CulturaCristã,2016,p.135:“Ofatodequeosábadoestava,numsentido,embutidodentrodacriaçãonosalertaparanãodispensarosábadorapidamentecomoumainstituiçãotemporária”.35Opanteísmoéuma“doutrinafilosóficacaracterizadaporumaextremaaproximaçãoouidentificaçãototalentreDeuseouniverso,concebidoscomorealidadesconexasoucomoumaúnicarealidadeintegrada”(HOUAISS,Antônio;VILLAR,Mauro
A adoração antes da queda 17
Gênesisnoscolocaemnossolugardevido,deseresfinitosedependentes.Aonoscriar“àimagem”e“conforme” a sua “semelhança” (Gn1.26-27), o Senhor nos qualificoupara a adoração. Por causadestaconfiguraçãonóspodemos“conhecereamareadoraraDeus,e,dessaforma,terprazernesserelacionamentoemqueDeuséglorificado”.36
2.4.2 Criados para adorar enquanto obedecemos
Fomos feitosparacumprir trêsmandatos:Espiritual (amareserviraDeuscomtudooquesomos,temosefazemos),social(amaraopróximo)ecultural(administraracriaçãocomovice-gerentesdeDeus).Omodocomotranscorreanarrativadacriaçãodenotaqueoidealdivinoéqueoadoremosenquantooobedecemos;ocumprimentodecadamandatoétantoparanossobem,quantoparaaglóriadeDeus.
LemosemGênesis2.15queohomemdeveria“cultivar”ou“servircomoumadorador”(‘ābad).Estetermoaparece290vezesnoAT.Suaraizaramaicatemosentidode“fazer”eprovémde“umaraizárabe”cujosignificadoé“adorar”ou“obedecer(aDeus)”.37Outrovocábuloimportanteé“guardar”,ouseja,“cuidar”ou“vigiar”ojardim(šāmar).Estapalavraéusadaemconexãocomaobservânciadospreceitosdivinos(Gn18.19;Êx20.6;Lv18.26).
Adão comungava comDeus emamor cumprindo suas ordenanças; essa é a essência do cultoverdadeiro(Dt6.4-5;1Sm15.22-23;Mq6.8;cf.Is1.10-20;Jo14.15,21,23-24).
2.4.3 Criados para adorar exercendo ou nos submetendo à autoridade
Umaúnicavez,emGênesis1—2,éafirmadoquealgonãoébom:Ohomemviversó(Gn2.18).Essaexpressãoabreorelatodacriaçãodamulher,culminandocomaprimeirapalavrahumanaregistradana Bíblia (Gn 2.23). As palavras finais do capítulo (Gn 2.24-25) estabelecem ummotivo e padrãodivinoparaauniãoconjugal,assinalandoomandatosocial.
Nos dois versículos que formam o parêntese aberto entre a declaração sobre a solidão dohomem(Gn2.18)eacriaçãodamulher(apartirdeGn2.21),Deustrazaohomem“todososseresviventes”, paraqueeste lhesdênomes (Gn2.19-20). Issoequivale acolocá-los sobdomínio. Logoadiante,Adãodánomeàsuamulher(Gn3.20).38
deSales.(Ed.).Panteísmo.In:DicionárioEletrônicoHouaissdaLínguaPortuguesa.Versão1.0.EditoraObjetivoLtda.,2009.CD-ROM).
Nopanteísmo,ouniversoéconsiderado“odesenvolvimentodeumasubstânciainteligenteevoluntária,emboraimpessoal,queatingeaconsciênciasónohomem”(STRONG,AugustusHopkins.TeologiaSistemática.SãoPaulo:Hagnos,2003,p.158.v.1).
Opanteísmopodeserencontrado,comênfasesdiferentes,noHinduísmo,noBudismo,naTeosofiaeaindaemalgumasagremiaçõesvoltadasparaabuscadeconhecimentooudesenvolvimentomoraldohomem.Dentreosproblemasencontradosnestesistema,sublinhamososseguintes:Primeiro,opanteísmoensinaqueDeusnãoépessoal,masencontra-sedifusoemtudooqueexiste:Umriachoé“deus”,umafloré“deus”,uminsetoé“deus”e,porconseguinte,cadaserhumanoé“deus”.Segundo,biblicamente,adoraréoatoemqueacriaturatributaglóriasaoCriador.Secadaserhumanoé“deus”,aadoraçãonosmoldesbíblicosnãoénecessária.MeditarafimdecontemplaradivindadeinteriorounascoisasqueexistemsubstituiocultoprescritopelasSagradasEscrituras.36CARSON,D.A.ComoAbordaraBíblia.In:CARSON,D.A.etal.(Ed.).ComentárioBíblicoVidaNova.SãoPaulo:VidaNova,2009,p.16.37KAISER,WalterC.‘ābad.In:HARRIS,R.Laird;ARCHERJR.,GleasonL.;WALTKE,BruceK.(Org.).DicionárioInternacionaldeTeologiadoAntigoTestamento.SãoPaulo:VidaNova,1998.p.1065.38Umestudiosoesclareceque“ele[Deus]frequentementedavanomeàquiloquecriava.[...]Apessoasomentedánomeàquiloquepossuiousobreoqualexercejurisdição”(KAISERJR.,WalterC.OPlanodaPromessadeDeus:TeologiaBíblicadoAntigoeNovoTestamentos.SãoPaulo:VidaNova,2011,p.36;grifonosso).Somosaindainformadosque“noAntigoOrientePróximo,‘darnome’aalgoera‘invocarseunomesobre’determinadapessoaoucoisa,demonstrandoaposseesoberaniasobreaquilo”(KAISERJR.,op.cit.,loc.cit.).ParaKidner,“oatodedarnomesaosanimais[...]retrataohomemcomomonarcasobretudo”—KIDNER,Derek.Gênesis:IntroduçãoeComentário.1.ed.Reimp.1991.SãoPaulo:VidaNova;MundoCristão,1979,p.61.(SérieCulturaBíblica).
A adoração antes da queda 18
Emsuma,opróprioSenhorpodearbitraromodocomocadacriaturaseráchamada,masconfiaatarefaaseuvice-gerente,confirmandoomandatocultural.
Por fim, amulher provémdo homem—este foi criado antes dela (Gn 2.21-22). Estes dadosbíblicosdefinemumpadrão:Tantona relaçãoconjugalquantonogovernoda igreja,a liderançaémasculina; cabe aohomemoexercícioda autoridadeno lar e no culto. Este exercíciode governodecorredaordemdacriação,nãodequestõesculturais(1Co11.8-9;1Tm2.12-13).
Conclusão da aula 2
Gênesis1—2nãocontêmnenhumainstruçãolitúrgicaexplícita.Noentanto,háinformaçõesquenosajudam a deduzir elementos e circunstâncias pertinentes para a adoração: A Palavra de Deus; oSacramento;oDiadoSenhor;ohomemrespondendoaDeuscomobediência(astarefascotidianasrealizadas como atos de adoração); o homem se submetendo e exercendo liderança conforme aordemdacriação.
Atividades da aula 2
1.Marquetodasasrespostascertas.DeacordocomWilliamTemple:
___AdorarédespertaraconsciênciapelasantidadedeDeusealimentaramentecomaverdadedeDeus.
___AdorarédespertaraconsciênciapelasantidadedeDeus,cantarsomentemúsicagospeleabrirocoraçãoparaoamordeDeus,consagrandoavontadeaospropósitosperfeitosdeDeus.
___AdorarépurificaraimaginaçãopelabelezadeDeuseabrirocoraçãoparaoamordeDeus.
___AdorarédespertaraconsciênciapelasantidadedeDeus,alimentaramentecomaverdadedeDeus,purificaraigrejadeinstrumentosmusicaiscontemporâneoseabrirocoraçãoparaoamordeDeus.
___AdoraréconsagraravontadeaospropósitosperfeitosdeDeus.
2.MarqueVerdadeiroouFalso.Asexpressões“ehouve”(Gn1.3);“eassimsefez”(Gn1.7,9,11,15,24,30)demonstramquesuasdeterminaçõesforamcumpridas.
___Verdadeiro.
___Falso.
3.Quaispalavrascompletamafraseaseguir?Aárvoredavidasimbolizauma_____________________________________.Elaeraassimchamadaporser“umsacramentoeumsímbolodaimortalidadequeseriaoutorgadaaAdão,seporventuraperseverasseemseuprimeiroestado”.
4.MarqueVerdadeiroouFalso.Deusnãoapenasprovidenciaumbenefíciofísico,odescansodocorpo,mastambémespiritual,umaagendaparaoculto,aseparaçãodeumdianasemanaparaodeleitenele.
___Verdadeiro.
___Falso.
5.Marqueaúnicarespostacerta.Quaissãoostrêsdetalhesimportantes,quenosinformamqueDeuspreparouohomemparaadorá-lo?
___Oserhumanofoiqualificadoparaaadoração.OserhumanoadorariaaDeusrealizandoastarefasparaasquaisfoicriado.OserhumanoadorariaaDeusobservandoumprincípiodeautoridade.
___Oserhumanofoiqualificadoparaaadoração.OserhumanoadorariaaDeuscumprindoomandatoculturalegravandomúsicagospel.OserhumanoadorariaaDeusobservandoumprincípiodeautoridade.
A queda e os adoradores verdadeiros e falsos 19
Aula 3: A queda e os adoradores verdadeiros e falsos
Aimaginaçãodohomemé,porassimdizer,umaperpétuafábricadeídolos.JoãoCalvino.39
Introdução da aula 3
AspalavrasdeCalvino,citadasacima,resumemsuapercepçãodoimpactodaquedanaadoração.Arelação do homem com Deus sofreu grande prejuízo por causa do pecado. Isso é explicado noterceirocapítulodeGênesis.
3.1 Queda, idolatria e autoadoração
No terceiro capítulo do livro de Gênesis surge um novo personagem, nāḥāsh, “a serpente”. Estevocábulo está ligado a dois outros termos hebraicos, um substantivo ligado à ideia de “algoreluzente”eumverboquedescreveapráticadeadivinhação.40Trata-sedeumanimal“queoSENHORDeustinhafeito”(Gn3.1),ouseja,nãohánocosmosnenhumserquerivalizecomDeus;oopositorque surge é criatura sujeita à soberania divina: “O capítulo fala, não domal invadindo, como setivesse existência própria,masde criaturas entrandoem rebelião”.41A palavra ‘ārōm, “astuta” ou“sagaz” é usada positivamente em Provérbios significando ação inteligente diante do perigo (Pv12.16,23,13.16,14.8,15,18,22.3,27.12;cf.Mt10.16).EmJó,porém,otermodescreveaspessoasabominadasporDeus(Jó5.12,15.5).42
AserpenteinstigaEvaadesobedeceraoCriador.Suapergunta—“éassimqueDeusdisse”?(Gn3.1)—introduzodiálogo,abreespaçoparachecarasegurançadamulheracercadaordemdivinaepreparaoterrenoparaocernedatentaçãoatravésdeumsilogismo:43
Primeirapremissa:44Deusnãoéconfiável—ele“sabequenodiaemquedelecomerdessevosabrirãoosolhos[...]”(Gn3.5).
Segundapremissa:SeDeusnãoéconfiável,oqueelediznãoprecisaserlevadoasério—“écertoquenãomorrereis”(Gn3.4).
Conclusão:Vocêspodemcomerdofrutoe,aofazeremisso,“comoDeus,sereisconhecedoresdobemedomal”(Gn3.5).
Evasevêdiantedapossibilidadedeseestabelecerapartirdeumaordemalternativa.ElanãoprecisaestarmaissobDeusumavezque,aocomerdofruto,será“comoDeus”(Gn3.5).Trata-sedeumapropostadesupostaautonomia.“Quandoelacomeudofruto,a[...]alienaçãofoiconsumada.‘DeuséDeuseeusoueu,eeuestoupreparadaparamevirarsozinha’”.45Amulhercomedofrutoeodáaoseumarido,quetambémcome(Gn3.6).Oproblemaéqueaotentarseestabelecer“como
39CALVINO,op.cit.,I.XI.8.40HAMILTON,op.cit.,p.40.41KIDNER,op.cit.,p.63;cf.HOUSE,PaulR.TeologiadoAntigoTestamento.SãoPaulo:EditoraVida,2005,p.80.42HAMILTON,op.cit.,p.41.43EmLógica,silogismoéuma“deduçãoformaltalque,postasduasproposições,chamadaspremissas,delas,porinferência,setiraumaterceira,chamadaconclusão”(FERREIRA,AurélioBuarquedeHolanda.Silogismo.In:DicionárioAurélioEletrônico7.0.Curitiba:EditoraPositivo,2009.CD-ROM).NocasodatentaçãoemGênesis3.1-7,trata-sedeumsilogismoerístico,ouseja,umenganoou“sofisma”.44Premissaéumaproposição,declaração,fatoouprincípio.45FRANCISCO,CLYDET.Gênesis.In:ALEN,CliftonG.(Ed.).ComentárioBíblicoBroadman:AntigoTestamento.RiodeJaneiro:JUERP,1987,p.184.v.1.Grifonosso.
A queda e os adoradores verdadeiros e falsos 20
Deus”,ohomemseassumecontraDeus.“DaípordianteDeusserátido,conscientementeounão,comorivaleinimigo”.46Porisso,“tudooqueohomemfaz,ofazparaDeusoucontraDeus,redundaemglóriaehonraaDeusouaumídolo”.47
Pior, o que está implícito na oferta da serpente é “não confie emDeus; confie emmim” ─ oopostode João14.1.Apartirdaquele instante, “umreinoparasita”48éestabelecidonocosmos.Aserpenteinstalaumvírusnosistemacósmico,comafinalidadedesublevá-loedestruí-lo.
Ocumprimentodapromessadaserpente“foiumgrotescoanticlímaxdosonhodeiluminação.O homem viu omundo que lhe era familiar, e o contaminou ao vê-lo, projetando omal sobre ainocência [...] e reagindo ao bem com vergonha e fuga”.49 O homem que busca a autonomia sesepara de Deus e se torna subserviente à serpente, “o príncipe da potestade do ar”, e, porconseguinte, aos seus próprios “delitos e pecados” e ao “mundo” (Ef 2.1-3).50 Omundo continuasendodeDeus,noentanto,contémdentrodesievidênciasdarebeldiainstigadapelaserpente.
Comoissoafetaaadoração?Primeirosurgeaidolatria;ohomempassaaadoraracriaturaemlugardoCriador(Rm1.18-23).Umrefinamentodissoéaautoadoração(egolatria).
Nãomexecomigoqueeunãoandosó...EutenhoJesus,MariaeJoséTodosospajésemminhacompanhiaOmenino-DeusbrincaedormenosmeussonhosOpoetamecontou.51
O padrão perfeito de adoração, estabelecido na criação, é desconsiderado. A alma humana,criadaparaDeus,étomadaporumamiscelâneadeídolos.
Aquedaproduzumsegundoresultado.Ohomemdecadenteperdetodaequalquerqualificaçãoespiritual e moral para se apresentar diante de Deus (Sl 14.2-3). A santidade do Criador exige aaplicação da sentença anunciada emGênesis 2.16-17; o pecado trazmorte física e espiritual— aperdadacomunhãonojardimedoacessoàárvoredavida(Gn3.19,22-24;cf.Ez18.20;Rm6.23).Atéaquedaaadoraçãoéumaexperiênciadecomunhãoplena,emqueDeusseagradadasobrasdeAdãoesuamulher.Apósaqueda,atéasboasobrashumanas—eissoincluiosrituaisdareligião—setornamdesagradáveisaDeus(Is64.6-7).Impetra-seaexigênciadeumasatisfaçãodejustiça,umaprovidência para o duplo problemadopecado (singular) enquanto princípio dominante na alma edos pecados (plural) enquanto atos ou omissões contrárias às ordenanças divinas. A ação daserpente exige a promessa do Redentor, ou seja, por causa da queda é impossível cultuar semredenção(cf.apêndice1).AindaqueemGênesis3nãohajainstruçãoexplícitaquantoaossacrifíciosdesangue,acoberturadanudezdoprimeirocasaléprovidenciadapelopróprioDeuse implicanamortedeumanimal(Gn3.21).46KIDNER,op.cit.,p.64.47OLIVEIRA,FabianodeAlmeida.ARelevânciaTranscendentaldoDeumetAnimamScirenoPensamentodeHermanDooyeweerd.SãoPaulo:CentroPresbiterianodePós-GraduaçãoAndrewJumper,2004,p.4.Originalmenteapresentadacomodissertaçãodemestrado,CentroPresbiterianodePós-GraduaçãoAndrewJumper(CPAJ).48VANGRONINGEN,op.cit.,p.127.Ovocábulo“reino”refere-seaum“podercomandante;amanifestaçãodestepoder,olugarondeestepoderémanifestado;eaodomínioqueéinfluenciado”(ibid.,p.127-128).Aexpressão“parasita”denotaqueoreinodaserpenteé“completamentedependentedoreinocósmicodeDeus.Satanás,comoumsercriado,nãoéautônomo;eletiratodososaspectosessenciaisdasuaexistênciaeatividadesdesuafonte,oCriador”(ibid.,p.128-129).49KIDNER,op.cit.,p.65.Cf.Gênesis3.7.50NoNTkosmos,“mundo”éusadoparareferir-seaouniverso(Mt25.34),àterra(Mt4.8),aosomatóriodoseleitosdeDeus(Jo3.16),àsaquisiçõeserealizaçõeshumanas(Mt16.26,1Co7.31)eàculturainfluenciadaporSatanás,opostaehostilaCristoeaoscristãos(Jo7.7,8.23,12.31,16.33,17.25;1Jo2.15-17).51PINHEIRO,PauloCésar.CartadeAmor.In:MARIABETHÂNIA.OásisdeBethânia.BiscoitoFino,2012.1CD.
A queda e os adoradores verdadeiros e falsos 21
Um terceiro resultado precisa ser ainda analisado: Surgem duas linhagens, de verdadeiros efalsosadoradores.
3.2 Duas linhagens: Adoradores verdadeiros e falsos
Deus garante o cumprimento domandato espiritual firmando o pacto da redenção. A serpente ésentenciadaàcompletahumilhaçãoederrota(Gn3.13-15).52ElasofreráumgolpemortaldesferidopeloRedentor—este,mesmoferido,pisaráemsuacabeça(Gn3.15):“Alutaamargaterminarácomavitóriaparaasementedamulher,i.e.,paraoMessias,eparaosregeneradosquetêmfénele”.53
Deus instituiumconflito irreconciliávelnoprotoevangelho.Eleestabelece“dentrodocosmos,entreasementedeSatanáseasementedamulher,uma linhadivisória,umtremendoabismoquesepararia as duas sementes. Essa linha divisória tem sido e deverá continuar a ser chamada aantítese”.54
Apartirdeentão,aformacomooshomensadoramaDeuséconfiguradapelademarcaçãodeduas linhagens,a“descendência”daserpente (os falsosadoradores)eo“descendente”damulher(Cristo e seus servos, a igreja; cf. Ap 12.17).55 O contingente de “verdadeiros adoradores” éconstituídodaquelesqueDeus“procura”esalva(Jo4.23).
Conclusão da aula 3
ComocultuamosaDeus?Porcausadaqueda,nãotemoscomoadorá-lobaseadosemnossopróprioentendimentoouobras;precisamosdeumRedentor.Hásomentedoistiposdeadoradores,falsos—apóstatas ligados à serpente, obstinados de coração e destinados à perdição— e verdadeiros—ligadosaCristo,osservosautênticosdeDeuspertencentesàfamíliadaaliança.
Atividades da aula 3
1.Marqueaúnicarespostacerta.AspalavrasdeCalvino,“aimaginaçãodohomemé,porassimdizer,umaperpétuafábricadeídolos”...
___Resumemsuapercepçãodoimpactodaquedanaadoração.ArelaçãodohomemcomDeussofreugrandeprejuízoporcausadopecado.
___Resumemsuapercepçãodoimpactodaquedanaadoração.ArelaçãodohomemcomDeussofreupoucoprejuízoporcausadopecado.
___Resumemsuapercepçãodoimpactodaquedanaadministraçãodaigreja.ArelaçãodohomemcomDeusnãosofreuqualquerprejuízoporcausadopecado.
2.Marqueaúnicarespostacerta.
___AserpentedeGênesis3.1nãorivalizacomDeus;oopositoréumacriaturasujeitaàsoberaniadivina.
___AserpentedeGênesis3.1lutacontraDeusdeigualparaigual;oopositoréumacriaturaalheiaàsoberaniadivina.
___AserpentedeGênesis3.1éumserinocente;oopositoréumacriaturasujeitaàsoberaniadivina.
3.Marqueaúnicarespostacerta.Aotentarseestabelecer“comoDeus”:
___OhomemsedobradiantedeDeus.
___OhomemseassumecontraDeus.
52KAISERJR.,op.cit.,p.40-41.53VANGRONINGEN,op.cit.,p.155.54Ibid.,p.154.Grifosnossos.55VOS(op.cit.,p.67-72)designaestasduaslinhagensde“cainitasesetitas”.
A queda e os adoradores verdadeiros e falsos 22
4.Marqueaúnicarespostacerta.Deacordocomaapostila,asconsequênciasdaquedaparaaadoraçãosãoasseguintes:
___Idolatria(ohomemadoraacriaturaemlugardoCriador);decadênciaeperdadequalificaçãoespiritualemoral(exigindoredenção);surgemduaslinhagens,deverdadeirosefalsosadoradores.
___Idolatria(ohomemadoraacriaturaemlugardoCriador);desinteresseemcantarlouvoresaDeus;surgemduaslinhagens,adoradorestradicionaiseadoradoresmissionais.
___Idolatria(ohomemadorasomenteaoCriador);decadênciaeperdadequalificaçãoespiritualemoral(exigindoredenção);surgemduaslinhagens,deverdadeirosefalsosadoradores.
ANOTAÇÕES !
A necessidade de um princípio regulador 23
Aula 4: A necessidade de um princípio regulador
SeCristotivesseintroduzidomaiselementosfestivoseagradáveisàsuamissão,eleteriasidomaispopular,quandoaspessoasseafastavamdeleporcausadanaturezaperscrutadoraepenetrantedoseuensino.Maseunãooouçodizendo:“Correatrásdessaspessoas,Pedro,edigaaelasqueteremosumestilodecultodiferenteamanhã,algomaisbreveeatrativo,compouca
pregação”.[...]Jesussecompadeciadospecadores,preocupava-seechoravaporeles,masnuncaprocuroudiverti-los.CharlesH.Spurgeon.56
Introdução da aula 4
TemosaprendidoqueaadoraçãoéumarespostaàrevelaçãodeDeus.Porcausadadepravaçãototalproduzida pela queda, estamos sujeitos aos enganos de nossos corações e de Satanás, mesmoquandoempreendemosuma iniciativareligiosa.Precisamosde instrução infalível,vindadopróprioDeus,paraquesaibamoscomoconhecê-loeadorá-lodemodoagradávelaele.
Visto,porém,serdepravadaanaturezamoraldohomem,bemcomopervertidosseusinstintosreligiososesuasrelaçõescomDeusinterrompidaspelopecado,éporissomesmoevidentequesefaznecessáriaumaexplícitaepositivarevelação[...]paraprescreverosprincípioseosmétodossegundoosquaisessecultoeministériopoderãoserprestados.57
Ondeencontramososprincípiosemétodosconfiáveisparaaadoração?Vejamosaseguir.
4.1 A base para o culto e seu princípio regulador
AúnicabaseadequadaparaocultoéaEscritura.CultuarcorrespondeaaplicaroensinodaBíblia.Todaavida,especialmenteoculto,deveserumapráticadaPalavradeDeus.Umalicerceadequadoparaaadoraçãoexige,antesdetudo,fidelidadeàBíblia.
ABíbliaénossaúnicaregradeféeprática.IssoseaplicaàadoraçãoeéresumidonoPrincípioReguladordoCulto(PRC).58Esteprincípioésimples:SomenteoqueéprescritopelaBíbliapodeserincluídonaadoração.AadoraçãoébíblicanamedidadaaplicaçãodoPRC(figura05);seincluímosnocultocoisasquenãosãoordenadaspelaPalavradeDeus,deixamosdeadorarbiblicamente.
O Segundo Mandamento (Êx 20.4-6) nos proíbe de adorar a Deus orientados por nossasconcepçõesouimaginação.Issoéafirmadodoutrinariamentedaseguinteforma:
OmodoaceitáveldeadoraroverdadeiroDeuséinstituídoporelemesmoeétãolimitadoporsuavontaderevelada,queelenãodeveseradoradosegundoasimaginaçõeseinvençõesdoshomens,ousugestõesdeSatanás,nemsobqualquerrepresentaçãovisíveloudequalqueroutromodonãoprescritonasSantasEscrituras(Rm1.20;Sl119.68;Sl31.23;At.14.17[17.24];Dt12.32;Mt15.9;Mt4.9,10;Jo4.23,24;Êx20.4-6).59
Talposiçãopodeserconferidanaspalavrasdeumirmãoepastor:
AmaioriadoshomenstemalgumaformaprópriadeadoraraDeus,eestátãosatisfeitacomela,quepensaqueDeustambémestá.Poucoshá,entretanto,quedefatosabemoquesignificaadorardemodoaceitávelàsuamajestade.MasvocêssabemquenãoadoraraDeus,ounãoadorá-lodomodo
56SPURGEON,CharlesH.FeedingSheeporAmusingGoats(AlimentandoOvelhasouEntretendoBodes),inTheBannerofTruth,n.302,(nov.1988),p.5-6,apudANGLADA,Paulo.OPrincípioReguladornoCulto.SãoPaulo:PES,[199-?],p.22.57HODGE,ArchibaldA.ConfissãodeFéComentadaporA.A.Hodge.2.ed.SãoPaulo:OsPuritanos,1999,p.369.58Cf.ANGLADA,op.cit.,passim;COSTA,op.cit.,passim;VONALLMEN,J.J.OCultoCristão:TeologiaePrática.2.ed.Reimp.2006.SãoPaulo:ASTE,2005;ALLEN,Ronald;BORROR,Gordon.TeologiadaAdoração.SãoPaulo:EdiçõesVidaNova,2002(especialmenteocapítulo6).59ASSEMBLEIADEWESTMINSTER.CFW,21.1.In:BEG2,p.1797.Grifonosso.
A necessidade de um princípio regulador 24
queelequerseradorado,significaamesmacoisa.Portanto,amaioriadaspessoasnãopassadeautoadoradores,porquenãoagradamaDeuscomseuscultos,masasipróprios.60
Figura05.ABíblia,oPRCeoculto
Os dons criativos concedidos ao homem podem e devem ser utilizados na adoração, massempre sujeitos às ordenanças divinas. Bezalel e Aoliabe, artistas crentes contemporâneos deMoisés,dedicaramseustalentospara“fazertodaobraparaserviçodosantuário,segundotudooqueoSENHORhaviaordenado”(Êx36.1).Ditodeoutromodo:
Acriatividadehumanadeveestarsubmissaàinstituiçãodivina,poisoDeusTrino,queéadorado,estabeleceosprincípioseasnormasparaesteato;portanto,oquedeterminaaformadecultonãopodeserumcritériopuramenteestéticoousentimental,massimespiritual,teológicoeracional,todossubordinadosàrevelação.61
Apráticadoculto—suaordemeefetivatributaçãoaDeus—restringeohomem.Deacordocom Hodge, “não temos, em nenhuma circunstância, qualquer direito, com base nos gostos, naformaouconveniência,deiralémdaclaraautoridadedaEscritura”.62Martin-Achardafirmaque“aDeus,pois,pertence,esomenteaDeus,ofixaremodificarasmodalidadesdoserviçoqueeleexigedoscrentes”.63Outroautorcontrastaessepadrãocomocultocontemporâneo:
Ocultocristãocontemporâneoémotivadoejulgadoporpadrõesdiversos:Seuvalordeentretenimento,seusupostoapeloevangélico,suafascinaçãoestética,atémesmo,talvez,seurendimentoeconômico.[...]ocultodeveservirparaolouvordoDeusvivo.64
Porumlado,ocultoautênticoéoferecidoemliberdadeespiritual(2Co3.13-18).Poroutro,elelimitaas inclinaçõespecaminosasdohomem,protegendo-odasartimanhassatânicas.AssimcomonadaalémdarevelaçãodaEscrituraéconfiávelcomofontedeconhecimentosobreasalvação,nadaalémdeladevenosinstruirquantoàadoração.
4.2 O perigo do princípio normativo de culto
Nem todas as igrejaspraticama adoraçãobíblica. Emalgumasdelas a regra vigenteéo chamadoprincípionormativodeculto(PNC).OqueéoPNC?ÉapressuposiçãoequivocadadequepodeserincluídonocultotudoaquiloquenãoforproibidopelasEscrituras.
60BINNING,Hugh,ministropresbiterianoeprofessordauniversidadedeGlasgownoséculo17,comentandoJoão4.24;apudANGLADA,op.cit.,p.21,grifonosso.61COSTA,HermistenMaiaPereirada.OCultoCristãonaPerspectivadeJoãoCalvino.In:FidesReformata,v.VIII,n.2(2003),p.78.Cf.FRAME,John.EmEspíritoeemVerdade.SãoPaulo:CulturaCristã,2006,p.66-73.62HODGE,op.cit.,loc.cit.Grifonosso.63MARTIN-ACHARD,R.Culto.In:VONALLMEN.J.J.(Org.).VocabulárioBíblico.2.ed.SãoPaulo:ASTE,1972,p.82.64GEORGE,Timothy.TeologiadosReformadores.SãoPaulo:VidaNova,1993,p.317.
A necessidade de um princípio regulador 25
InicialmenteoPNCnãoparecemuitodiferentedoPRC.Paraesclareceradiferença,colocamososdoispostuladosladoalado(tabela01).
Diferençaentreosprincípiosreguladorenormativodeculto
PRINCÍPIOREGULADORDECULTO(PRC) PRINCÍPIONORMATIVODECULTO(PNC)
SomenteoqueéprescritopelaBíbliaéincluídonoculto OquenãoéproibidopelaBíbliaéincluídonoculto
Tabela01.AsdiferençasentreoscultosregidospeloPRCepeloPNC
OPNCéperigosoporquenãolevaemcontaqueaquedadeturpounãoapenasnossosinstintosmorais,mas, também, religiosos. Somos tão inclinadosparaa idolatriaque “não só todooensinohumanoemtermosdedoutrinaedemandamentos,mastambémtodas[as]formasdecultopróprio,deatoseformasdecultoestabelecidospelohomem,sãoabomináveisparaDeus”.65
NóscorrompemosaadoraçãoquandoacolhemoscrençasepráticasqueaBíblianãoprescreve.Aoinserirnocultoqualquercoisautilizandoapenasocritériodaausênciadeproibição,nósabrimosespaçoparanossasinclinaçõesesugestõesdeSatanás.
4.3 Os elementos e as circunstâncias do culto cristão
Mesmoafirmandoqueo cultodeve serprescritopelaBíblia, admitamosquenãohánoATouNTqualquerprescriçãoparaprojetarslidesdasmúsicasduranteocantocongregacional.AEscrituranãoinstruitambémsobrearecepçãodevisitantes,ouseocoraldeveentrarnolugardeadoraçãoemfilaoupermanecerassentadodesdeoprelúdio.Aliás,ondeestáomandamentosobreousodeprelúdioouposlúdio?
Explicamosdizendoque,noculto,háelementosecircunstâncias.
• Elementossãoordenançasbíblicasabsolutas.• Circunstânciasabarcamtudooqueésujeitoamudançasouadaptaçõesdependentesda
culturaoucontexto.
Entendamos que mesmo as circunstâncias devem ser ancoradas em um ou mais princípiosbíblicos(tabela02).
Diferençaentreelementosecircunstânciasdoculto
ELEMENTODECULTO CIRCUNSTÂNCIADECULTO
Oquedeveserincluídoenãopodesermudado—aquiloqueébiblicamenteprescrito
Oquepodeounãoserincluídoepodesermudadoouadaptado—temrelaçãocomocontextoeébiblicamentesugeridooudefensável
Tabela02.Asdiferençasentreelementoecircunstânciadeculto
AquestãodascircunstânciaséesclarecidapelaCFW:
Háalgumascircunstâncias,quantoaocultodeDeuseaogovernodaigreja,comunsàsaçõesesociedadeshumanas,asquaistêmdeserordenadaspelaluzdanaturezaepelaprudênciacristã,segundoasregrasdaPalavra,quesempredevemserobservadas(2Tm3.15-17;Gl1.8;2Ts2.2;Jo6.45;1Co2.9,10,12;1Co11.13,14).66
Sendo assim, as práticas de projetar as letras das músicas ou implementar um serviço derecepção, são sugeridaspelapreocupaçãoapostólica comapráticadahospitalidade,bemcomoo
65HODGE,op.cit.,loc.cit.66ASSEMBLEIADEWESTMINSTER.CFW,1.6.In:BEG2,p.1787.Grifosnossos.
A necessidade de um princípio regulador 26
empenhomissionárioepastoralporconversãoeedificaçãodaspessoaspresentesnoscultos (e.g.,1Co14.15-16,24-25).Procedimentosrelativosadirigenteslitúrgicos,gruposmusicaiseoutrosusosdamúsica,podemserestabelecidosapartirdoprincípiobíblicodecultuarcom“ordemedecência”(1Co14.40).
Oautortemconhecimentodasdiscussõesenvolvendoousodamúsicanaadoraçãoeconsideraolouvorcomsalmos,hinosecânticosespirituaiscomoelementodeculto(cf.aula11);omodocomoeste louvor acontece (se oferecidoa capela, sem acompanhamento de instrumentosmusicais, oupormeiodeumduetoouconjuntocoraletc.)écircunstância.Amaneiracomoascircunstânciassãodefinidasegerenciadaspodemudardeigrejaparaigreja;oimportanteéqueoselementosbíblicosdaadoraçãosejampreservados.
Conclusão da aula 4
Uma vez que o verdadeiro culto é obediência, o PRC é um princípio irredutível que sustenta aformulação e prática litúrgica. Nós temos de compreendê-lo e, em seguida, obedecê-lo. Quandodesconhecemosoudesconsideramosestabase,surgeconfusãoetodotipodedificuldades.Ocultocontémelementos—oqueéclaramenteordenadonaPalavra—ecircunstâncias—oqueéincluídorespondendoaocontexto,deacordocom“asregrasdaPalavra”.
Atividades da aula 4
1.Completeafrase:AúnicabaseadequadaparaocultoéaEscritura.Cultuarcorrespondeaaplicaroensinoda_____________.Todaavida,especialmenteoculto,deveserumapráticadaPalavradeDeus.
2.MarqueVerdadeiroouFalso.ABíbliaénossaúnicaregradeféeprática.IssoseaplicaàadoraçãoeéresumidonoPrincípioReguladordoCulto(PRC).Esteprincípioésimples:SomenteoqueéproibidopelaBíblianãopodeserincluídonaadoração.
___Verdadeiro.
___Falso.
3.MarqueVerdadeiroouFalso.OPrincípioNormativodeCulto(PNC)nãolevaemcontaqueaquedadeturpounãoapenasnossosinstintosmorais,mas,também,religiosos.Somostãoinclinadosparaaidolatriaque“nãosótodooensinohumanoemtermosdedoutrinaedemandamentos,mastambémtodas[as]formasdecultopróprio,deatoseformasdecultoestabelecidospelohomem,sãoabomináveisparaDeus”.
___Verdadeiro.
___Falso.
4.MarqueaÚNICARESPOSTACERTA.
___ Elementos são os indivíduos suspeitos que comparecem aos cultos. Eles podem prejudicar a boaordemdoculto,induzindocircunstânciasinesperadas.
___ Elementos são ordenanças bíblicas absolutas. Circunstâncias abarcam tudo o que é sujeito amudançasouadaptaçõesdependentesdaculturaoucontexto.Mesmoascircunstânciasdevemserancoradasemumoumaisprincípiosbíblicos.
ANOTAÇÕES !
A adoração de Caim e Abel até os patriarcas 27
Aula 5: A adoração de Caim e Abel até os patriarcas
Asportasdaoraçãojamaisseencontramfechadas.DtRabba.67
Introdução da aula 5
Deus garantiu a continuidade de uma descendência redimida ao firmar uma aliança de redenção.Issoassegurouoprosseguimentodomandatoespiritual.
NãoentendamosGênesis3.16comoumamaldição.Apesardapalavradivinaàmulhersignificarquesobreelarecaíramamultiplicaçãodossofrimentosdagravidezeumarelaçãoconflituosacomohomem,68Deusserevelacomograciosoefiel.Eleadiaaaplicaçãodapenalidadepactualeasseguraacontinuidadedaraçahumana.Comissoeleratificaomandatosocial(ahumanidadesemultiplicaráeestabelecerácomunidades).Alémdissoeleconsolidaopactodaredenção,poisaquelequepisaráacabeçadaserpenteseráum“descendente”damulher(Gn2.17;3.15;Rm3.21-26;Gl4.4-5).69
Acriaçãoéamaldiçoada“porcausa”dohomem;osprocessosditosnaturaispassamaexpressarossinaisdaviolaçãodopacto(Gn3.17-18;Rm8.18-21).70Otrabalhosetornadesgastantee,aofinaldesuaexistência sofrida,ohomemvoltaaopó,deondeveio (Gn3.18-19).Comtaisafirmações,mesmoemmeioàsconsequênciasdopecado,Deusconfirmaomandatocultural.
OfavordivinoépercebidoporAdão,quedáàsuamulheronomedeḤawwāh,“Eva”ou“vida”,econfirmadonaprovidênciadivinadas“vestimentasdepeles”(Gn3.20-21).
Resumindo,Deuspoderia com justiça fulminar seusagentespactuaise seafastardouniversorebelado, “masnenhumadasduas coisasaconteceu”.71 Isso significaqueodevereoprivilégiodeadoraraDeus,ligadosaomandatoespiritual,permanecemdepoisdaqueda.
5.1 O culto de Caim e Abel
Gênesis4.3-5 indicaumapráticacomumdosfilhosdeAdãoeEva.OsresultadosdeseustrabalhossãoapresentadosaDeus.Otermohebraicominḥâ, traduzidocomo“oferta” (v.3,4)éusadoparadádivas feitas para homenagens ou para aliança e descreve tanto oferendas de animais como decereais.72AfamíliaadâmicaapresentavaaDeusofertasdegratidão,reconciliaçãoeadoração.73
O Senhor se comunicava com eles demaneira que eles tinham consciência da aprovação oureprovação de suas oferendas. Não há como saber como se dava essa comunicação.74 O ponto adestacaréqueDeusseagradou“deAbeledesuaoferta”erejeitouCaim.
PorqueDeusacolheuaadoraçãodeAbelenãoadeCaim?75SomosajudadospeloNT:“Pelafé,Abel ofereceu a Deusmais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser67DtRabba11,12,apudDISANTE,Carmine.LiturgiaJudaica:Fontes,Estrutura,OraçõeseFestas.SãoPaulo:Paulus,2004,p.7.68OtextodeGênesis3.16serefereadortantofísicaquantomental.Cf.YATES,KyleM.Gênesis.In:PFEIFFER,CharlesF.ComentárioBíblicoMoody:GênesisaMalaquias.2.ed.SãoPaulo:ImprensaBatistaRegular,2010,p.11.v.1.69VANGRONINGEN,op.cit.,p.138-139.70KAISERJR.,op.cit.,p.41.71VANGRONINGEN,op.cit.,p.146.72KIDNER,op.cit.,p.70.YATES,op.cit.,p.12,destacaqueotermodesignaofertasreligiosasdegratidãoereconciliação.WaltkediscordadeKidner,eargumentaqueminḥâseaplicaapenasa“sacrifícioincruento”;cf.WALTKE,BruceK.Gênesis.SãoPaulo:CulturaCristã,2010,p.116.(ComentáriodoAntigoTestamento).73YATES,op.cit.,p.12.v.1.74“Assume-sequeassimcomoDeusfalavadiretamentecomCaim,assimsedirigiaaAbel”;cf.KISTEMAKER,Simon.Hebreus.SãoPaulo:CulturaCristã,2003,p.443.(ComentáriodoNovoTestamento).HenrysugerequeDeus“mostrousuaaceitação”daofertadeAbel“provavelmenteatravésdeumfogodocéu”(HENRY,Matthew.ComentárioBíblico:AntigoTestamento:GênesisaDeuteronômio.EdiçãoCompleta.RiodeJaneiro:CasaPublicadoradasAssembleiasdeDeus,2010,p.34.v.1).Quantoaissonãopodemossenãocogitar;otextobíbliconãonosfornecemaisdetalhes.
A adoração de Caim e Abel até os patriarcas 28
justo,tendoaaprovaçãodeDeusquantoàssuasofertas[...]”(Hb11.4).ÉpossívelafirmarqueDeusaprovouaofertadeAbelporduasrazões:
1. AbelconsagrouomelhoraDeus:“trouxedasprimíciasdoseurebanhoedagorduradeste”(Gn4.4).Osacrifíciodelefoi“maisexcelente”(Hb11.4).“Aoposiçãonãoestáentreoferecervidavegetaleanimal,masentreaofertasemcuidadoeconsideraçãoeaofertaselecionadaegenerosa”.76
2. AbelcultuouaDeusjustificadoporfé:Ele“obtevetestemunhodeserjusto”(Hb11.4).CalvinointerpretacorretamenteapassagemquandodizqueocultodeAbelfoiaceitoemrazãodetersidooferecidocomfé,ouseja,contempladoaCristoesuaobraredentora.77
Gênesis 4.6-24 retrata uma espiral descendente; a humanidade se deteriora a partir de umafalha na adoração. Como consequência da desobediência ao mandado espiritual, surge umacivilizaçãoantropocêntrica.Omandadosocialédistorcidocompoligamiaeassassinatosfortuitos.Omandadoculturalépervertido;aculturapassaarealizarecriarsemdarglóriasaoCriador.
5.2 A invocação do nome do SENHOR a partir de Sete
AsúltimaspalavrasdeGênesis4sãoalentadoras.EnquantoalinhagemdeCaimseafastadoCriador(v.17-14),DeussuscitaumalinhagemdeadoradorespormeiodeShet,Sete,odesignado.78OsantoebenditonomedoSENHORcomeçaaserinvocadoapartirde ’ĕnôsh,Enos.79Aindaqueaspalavrasdesterelatosejampoucasesimples, trata-sedeumeventodegrande importância:Deusrenovaeassegura a promessa do Mediador — a expectativa da vinda do Redentor e o consequenteesmagamentodacabeçadaserpente,frustradaemCaimenamortedeAbel.
75HáquemsugiraqueoproblemadeCaimfoinãooferecerumsacrifíciodesangue.Naversãoresumidadeseucomentário,Henryafirmaque“apósaqueda,DeusmandouqueAdãoderramasseosanguedeanimaisinocentese,umavezmortos,queimassepartedetodososcorposcomfogo”(HENRY,Matthew.ComentárioBíblicodeMatthewHenry.2.ed.RiodeJaneiro:CasaPublicadoradasAssembleiasdeDeus,2002,p.19).Outroestudiosoargumentaque“osacrifíciodesangueeramaisaprazível”aDeus(RAD,G.von.Genesis.Philadelphia:Westminster,1972,p.104,apudWALTKE,op.cit.,loc.cit.).
Nãofaltamaindaleituraspsicológicasdapassagem,e.g.,Abelinvocouumapromessadegraçaherdadadeseuspais,aopassoqueCaimofertousegundosuasprópriasconcepçõesreligiosas(ARCHER,Gleason.EnciclopédiadeDificuldadesBíblicas.SãoPaulo:Vida,1997,p.82).Ouainda,“CaimagradeceuaDeusporservi-lo.Abelconfessou-seservodeDeus”(FRANCISCO,op.cit.,p.187).Estastentativassãobem-intencionadas,porém,afirmamoquenãoconstaemGênesis4.76BARKER,Kennethetal.(Orgs.).BíbliadeEstudoNVI(BENVI).SãoPaulo:Vida,2003,p.12.77CALVINO,João.ComentárioàSagradaEscritura:ExposiçãodeHebreus.SãoPaulo:EdiçõesParacletos,1997,p.302.ParaCalvino,depoisdaqueda,“sobalei,somenteaopovoeleitoseprometeuoRedentor.DondeseseguequejamaiscultoalgumagradouaDeusanãoseraquelequecontemplasseaCristo”(CALVINO,João.AsInstitutas:EdiçãoClássica.2.ed.SãoPaulo:CulturaCristã,2006,II.VI.1;grifonosso).Entenda-sequeestacontemplaçãodeCristonãoexige,necessariamente,umsacrifíciocruento.NoAT,mesmoasofertasdearomaagradávelaDeus(oferecidassemsacrifíciodesangue),sóeramaceitáveisporqueapontavamparaaobradereconciliaçãoentreDeuseohomem,queseriaconsumadapeloRedentor(cf.seção6.1).
Explicandoosentidodostermos“testemunho”e“aprovação”,emHebreus11.4,anotaderodapédaprimeiraediçãodaBíbliadeEstudodeGenebraafirmaque“apalavragrega,usadaduasvezesnesteversículoseencontratambémnosv.2,5,39.Abeléoprimeiroexemplodealguémquerecebeuestaaprovaçãodivinacomojustoqueviviapelafé”(BÍBLIADEESTUDODEGENEBRA.1.ed.(BEG1).Barueri;SãoPaulo:SociedadeBíblicadoBrasileCulturaCristã,1999,p.1478;grifonosso).Kistemaker(op.cit.,p.441)entendequeAbeleCaimpersonificamocontraste“entreféedescrença”.Abel,comoprimeirorepresentantedalistados“heróisdafédoAT”,é“opaidoscrentesdaeraanterioraAbraão”(ibid.,p.443;grifonosso).78ABEG1,p.16,sugereosentidode“apontado”.ABÍBLIATRADUÇÃOECUMÊNICA(SãoPaulo:Loyola,1994,p.30),sugereumjogodepalavrasentreSheteshat,“suscitou”.79Épossívelentenderestenomecomo“homemmortal,pessoa”.Cf.MCCOMISKEY,ThomasE.’ĕnôsh.In:HARRIS;ARCHERJR.;WALTKE,op.cit.,p.98.
A adoração de Caim e Abel até os patriarcas 29
5.3 A adoração dos patriarcas
Ospatriarcas invocamonomedo SENHORedificandoaltares (Gn12.7-8; 13.4, 18; 26.25; cf. 21.33;33.20; 35.1, 3, 7).80 Não sabemos a compreensão exata que eles têm dos sacrifícios. No entanto,tanto Noé quanto Abraão parecem familiarizados com os holocaustos (Gn 8.20; 22.2). Após umacordodepazcomLabão,Jacóofereceumsacrifício(Gn31.54).EletambémsacrificaaDeusantesdesemudarcomtodaafamíliaparaoEgito(Gn46.1).
Algunsdetalhesdaadoraçãopatriarcalsãorelevantesparanossoestudo.Primeiro,asideiasde“andarcomDeus”—cf.Enoque,NoéaAbraão(Gn5.22,24;6.9;17.1)—e“achargraçadiantedoSENHOR” (Gn 6.8). Ademais, Deus toma a iniciativa de se revelar àqueles homens, chamando-os àcomunhão,apesardesuasmuitasfraquezasepecados(Gn6.13-22;9.8-19;12.1-3;26.2-6,24;32.1-2; 22-31; 35.9). Os patriarcas são recipientes da divina revelação, agentes do pacto e adoradoresverdadeiros.
Conclusão da aula 5
OrelatodaadoraçãodeCaimeAbelpermitetrêsformulaçõesouaplicações:81
1. Aadoraçãonãoéumainvençãonova.2. Ébomensinarosfilhosdesdecedoaparticipardoculto.3. CadaumdevehonraraDeuscomomelhordoqueé,fazetem.
OspatriarcasnosensinamquecultuaréandarcomDeus,eissoépossívelsomentepelagraça.
Atividades da aula 5
1.MarqueaÚNICARESPOSTACERTA.OcultodeAbelfoibem-recebidoporDeuspelasseguintesrazões:
___AbelconsagrouomelhoraDeusecultuouaDeusjustificadoporfé.
___Abelofereceuumsacrifíciodesangue.
2.MarqueaÚNICARESPOSTACERTA.AsúltimaspalavrasdeGênesis4,sobreainvocaçãodonomedoSenhorapartirdonascimentodeSete,indicamque...
___DeusrenovoueassegurouapromessadoMediadoreRedentordepoisdamortedeAbel.
___TodocultodeveseriniciadocomumatodeinvocaçãodoSenhor.
3.Completeafrase:OspatriarcasnosensinamquecultuaréandarcomDeus,eissoépossível*somente*pelagraça.
ANOTAÇÕES !
80AtémesmoAgar,escravadeAbraão,invocouaDeusapósreceberumarevelação(Gn16.13).Taisaltareseraminstânciasdecultosfamiliaresoumarcosdamanifestaçãodivinaemocasiõessingulares.Ocultodospatriarcasnãoera“livre”ou“fácil”,massubmetia-se,também,aordenançasdivinas.Cf.KIDNER,op.cit.,p.162;HOUSE,op.cit.,p.101-102.81EstasaplicaçõessãosugeridasporHENRY,2010,p.33.v.1.
A adoração no tabernáculo, no templo e na sinagoga 30
Aula 6: A adoração no tabernáculo, no templo e na sinagoga
Volta,commisericórdiaaJerusalém,tuacidade;reedifica-acomoedifícioeterno,rapidamente,emnossosdias.Sêbendito,Senhor,quereedificas
Jerusalém.Tefillah,14ªbênção.82
Introdução da aula 6
NestaaulaolharemosparaodesenvolvimentodateologiaepráticadaadoraçãoinstitucionalizadadeIsrael,notabernáculo,notemplodeJerusalémenasinagoga.
6.1 A adoração no tabernáculo
OtabernáculoéatendasagradaqueDeusmandouMoisésconstruirduranteaperegrinaçãodopovonodeserto(Êx25.8-9;Lv26.11-12).DeusédestacadonocentrodavidadeIsrael,ministrandograça(Êx25.8;29.43-46).
Apesar de ser construído com materiais nobres, comparado com os templos de Salomão eHerodes,otabernáculoésimples.Alémdisso,eleémóvel(Nm9.15-23).Otrabalhodotabernáculoémantidopelos levitase sacerdotes.83Osprimeirossão“ministrosdo tabernáculo”84 incumbidosde“desmanchar,transportareerigirotabernáculo”,ouseja,auxiliamaossacerdotes(Nm3.5-7).85Estesúltimos,separadosdentreosfilhosdeArão(Nm3.10),sededicamprimariamenteaossacrifíciosdotabernáculoeagiamcomomediadoreseministrosdaPalavra(cf.Os4.6).86
A adoração no tabernáculo destaca a comunhão com Deus restabelecida pela expiação.87 Osanimaissacrificadossubstituemopecador—recebemsobresiocastigodevidopelastransgressões.O livro de Levítico (1—7) detalha como deve ser essa punição substitutiva, bem como as demaisofertas(tabela03).88
Internamenteatendasagradaédivididaemduaspartesseparadasporumvéu,quaissejam,olugarsantoeosantodossantos(Êx26.33).Naprimeiraficamamesacomospãesdaproposição,ocandelabroeoaltardeincenso(Êx25.23-30,27.20-21e30.1-10).Nosantodossantosficaaarcadaaliançacobertapelopropiciatório(Êx25.10-22).
82DISANTE,op.cit.,p.111.83Oslevitaseram“sustentadospelosdízimos”entreguespelopovoeossacerdotes“recebiamasporçõesdasofertasnãoconsumidaspelossacrifíciosdorebanhovacumeovino,eodízimolevítico”(COATES,R.J.SacerdoteseLevitas.In:DOUGLAS,J.D.(Ed.).ONovoDicionáriodaBíblia.1.ed.Reimp.1986.SãoPaulo:VidaNova,1962,p.1427.v.2.).84COATES,op.cit.,p.1426.85AstrêsdivisõesdatribodeLeviforamresponsabilizadaspelascortinas,móveisearmaçãodotabernáculo(Nm3.21-26,29-37;4.29-33).Ademais,oslevitasrepresentavamopovoemalguns“rituaisdepurificaçãoededicação”(COATES,op.cit.,loc.cit.;cf.Nm8.5-6).EsseaspectorepresentativoérealçadopeloprópriomodocomoelesmontavamsuastendasnoacampamentodeIsrael—emtornodotabernáculo(ibid.,loc.cit.;cf.BEG2,p.185).86Haviamainda“sacerdoteslevitas”.Cf.Deuteronômio32.9naBÍBLIADEESTUDONOVATRADUÇÃONALINGUAGEMDEHOJE.Barueri:SociedadeBíbliadoBrasil,2005,p.193;COATES,op.cit.,loc.cit.87Expiaçãoé“oatopeloqualDeusrestauraorelacionamentodeharmoniaeunidadeentreeleeossereshumanos”(YOUNGBLOOD,RonaldF.(Ed.).DicionárioIlustradodaBíblia.SãoPaulo:VidaNova,2004,p.535).Trata-sedopagamentoexigidopelopecado,uma“satisfaçãoousubstituiçãopenal”(BERKHOF,Louis.TeologiaSistemática.4.ed.Reimp.2015.SãoPaulo:CulturaCristã,2012,p.343).Morrisafirmaque“anecessidadedeexpiaçãosetornaevidenteportrêscoisas:auniversalidadedopecado,aseriedadedopecado,eaincapacidadedohomemresolveroproblemadopecado”(MORRIS,Leon.Expiação.In:DOUGLAS,J.D.(Org.).ONovoDicionáriodaBíblia.SãoPaulo:VidaNova,1986,p.578.v.1).88Observe-sequenãohaviaexpiaçãoparaoschamadospecadosdeliberados,cometidosemdesafioàsleisdeDeus(cf.Nm15.30-31—lit.“depunhoerguido”).UmaexcelenteexplicaçãosobrecadaofertaéfornecidaporLONGMANIII,op.cit.,p.67-85.Cf.SANTOS,JonathanF.OCultonoAntigoTestamento.SãoPaulo:VidaNova,1986,p.133;TURNBULL,M.Ryerson.EstudandooLivrodeLevíticoeaEpístolaaosHebreus.SãoPaulo:CasaEditoraPresbiteriana,1981,p.18-44.
A adoração no tabernáculo, no templo e na sinagoga 31
Osacerdoteentranosantodossantosapenasumavezporano,nodiadaexpiação(YomKipur),que acontece no décimo dia do sétimomês (Lv 16.1-34). Tal cerimônia deve ser guardada como“estatuto perpétuo” (v. 34). A ocasião é para solenidade, “aflição de alma” (v. 29) e contriçãoagradecida.
Ossacrifícioseasofertasdotabernáculo
HolocaustoDearomaagradável(Lv1,especialmentev.3-5).Oanimalécortadoempedaçoseinteiramentequeimado(Lv1.6-9).Tudoocorreforadatenda.SignificaaapresentaçãovoluntáriadavidacompletaaDeus(Lv1.3,5,8,11-13,15-17;cf.Rm12.1-2).
Ofertademanjares
Dearomaagradável,representagratidãopelosustento(Lv2).Oferece-seflordefarinha(a“melhorfarinha”;NVI)ebolosassadossemfermentooumel(Lv2.1-2,4,11-12).Saleazeitesãocolocadossobretudo(Lv2.6-7,13).Umaporçãomemorialéqueimadaeorestantepertenceaosacerdote(Lv2.9-10).
SacrifíciospacíficosDearomaagradável,representacomunhãodecorrentedapropiciação(Lv3).Umbovino,ovinooucaprinoémorto,eseusangue,aspergidosobreoaltar(Lv3.1-2).Partedoanimaléqueimada(v.3-5);éaúnicaofertaqueoadoradorpodecomer(Lv7.15-16).
Ofertapelopecado
Expiaçãopelospecadoscometidosporignorância(fraquezaouinconstância).Nãoéde“aromaagradável”,umavezqueapontaparaamortedeCristosobairadeDeus(Lv4.1—5.13;cf.Mt27.46;Gl3.13).Umnovilhoéimoladoeseusangueécolocadonoschifresdoaltardoincenso,derramadoàbasedoaltardoholocaustoeaspergidosetevezesdiantedovéudosantuário.Emseguida,suacarcaçaéqueimadaforadoacampamento(cf.Hb13.10-13).
Ofertapelaculpa
Expiaçãopelospecadosdeusurpação,inconscientesecontraopróximo.Nãoéde“aromaagradável”,pelamesmarazãodaofertaanterior(Lv5.14—6.7).Alémdaimolaçãodeumcarneirosemdefeito,exige-searestituiçãocomjurosde20%(Lv5.15-16;6.2-5).Tratadaexpiaçãopelospecadosdeusurpaçãodascoisassagradas(deixardepagarodízimo,comerpartesdosacrifíciodestinadasaossacerdotesoudeixarderesgataroprimogênito—v.15-16),pelospecadosinconscientes(v.17)edeofensacontraopróximo(atosdedesonestidade—v.2-5).OadoradorreconhecequeDeusexigeretidãonospequenosdetalhes.
Tabela03.Ossacrifícioseofertasdocultonotabernáculo
Otabernáculoforneceummodelodecultocelestial.Noquedizrespeitoàsuaforma,ocultonotabernáculoperdeusuavalidade (éobsoleto):Ascerimônias judaicas,emsimesmas,são ineficazes“para aperfeiçoar aquele que presta culto” (Hb 9.9-10); são um preparativo para a vinda doRedentor.Poroutrolado,quantoaoconteúdo,otabernáculoreveladoaMoisésérelevante.OautordacartaaosHebreusdizqueomesmoésombrae figuradas“coisascelestes” (Hb8.5).Emoutrolugar, lemosqueatendamosaicaéchamadade“primeirotabernáculo”,comoa indicarqueexisteumsegundo,queéocelestial,ondeCristopenetrouparaofereceroseuprópriosangueaoPai,comoSumoSacerdote(Hb9.6-8,11,23-24;cf.Ap7.15;8.3-4;11.19;14.15,17;15.5,6,8;16.1,17).
Trêselementossedestacamnaadoraçãodotabernáculo:
1. Instrução (os cerimoniais doutrinavam sobre a justiça e graça de Deus, o modo desalvaçãomedianteCristoeanecessidadedesantidadedoadorador).
2. Oração (praticada pelos sacerdotes em favor do povo, e pelos adoradores queconsagravamsuasofertaseapreendiam,porfé,osbenefíciosdaexpiação).
3. Consagração(efetivadaespecialmentenosholocaustos,sacrifícioseofertaspacíficas).
Sendoassim,o cultoensinadoaMoiséspossui umcaráter imutável.Aindaquea liturgia sejaadaptável a cada cultura e geração, é imprescindível que reflita o tabernáculo destacando acentralidadedeDeusnavida,acomunhãocombasenaobraexpiatóriadoRedentor,aexaltaçãodeDeus e o homem em seu lugar devido (humilhação e dependência) e o aprendizado da vontadedivina. Aspectos fundamentais decorrentes dessas realidades espirituais devem ser enfatizados: A
A adoração no tabernáculo, no templo e na sinagoga 32
referência ao Calvário, o chamado ao arrependimento e confissão, a declaração do perdão depecados,oreconhecimentodeDeuscomoCriadorSoberano,JuizeRedentorearespostadocrentecom gratidão e consagração. Ademais, o culto prestado pela igreja deve sempre espelhar o cultoperfeitoaDeusnocéu.
Acompreensãodocultonotabernáculonosauxiliaacorrigiralgumasideiasequivocadassobreadoração.Sesomosinclinadosàsofisticação,otabernáculonosapontaasimplicidade.Entendemosquenósmesmospodemosdefinirosparâmetrosparaaadoração,masDeusnosensinaquetemosdedependerdele—serinstruídosemcadapassodoplanejamentodoculto(Êx25.1—31.18;35.4—40.38).Queremosdestacarohomem?OtabernáculoproclamaemaltoebomsomqueDeuséquemdeve estar no centro e que tudo no culto deve redundar— unicamente— em glória ao Senhor.PrecisamosdoMediador;precisamosserhumilhadoseaprenderaouvir,obedecerehonraraonossoCriador.Temosaindadenosenvolvermaterialmentecomosustentoemanutençãodocultodivino.
Épossívelaindasugerirque,nostermosdarevelaçãobíblicadotabernáculo,ofatodocultoserdirigidoporDeusnãodispensaoplanejamentoeaexecuçãocuidadosos.Porfim,oidealéquecadaatodaliturgiasejapedagógico,ouseja,contribuaparaaedificação.
6.2 A adoração no templo
O templo é a segunda instância do culto institucionalizado na Bíblia. Historicamente foramconstruídosdoistemplosemJerusalém.OsegundotemplofoiconstruídoporZorobabelereformado(naverdade,completamenteremodelado)porHerodes.
6.2.1 O templo de Salomão
Davi transfereaarcadaaliançapara Jerusalém (1Cr13.1-4).89Apósse instalaremseupalácio,eledemonstraa intençãodeedificarumabrigoadequadoparaaarca,masé informadoporDeusquequemconstruiráosantuárionãoseráele,esimseudescendente(1Cr17.1-6,11-14).Oreiacolheapalavraprofética,incumbeSalomãodeempreenderaobra,levantarecursoseestabeleceestruturaeparâmetrosparaaadoração(1Cr22.1-5,17-19;23.1—26.28;28.1-21).
Salomãofinalizaoempreendimento,inaugurando-oemumacerimôniagrandiosa,cujoclímaxéa manifestação da glória divina (2Cr 2.17—4.22; 5.1-3, 6.1-42; 7.1-3). Nesta mesma noite Deusrenovaaaliança(2Cr7.11-22).
A estrutura interna do templo segue as divisões do tabernáculo, com o diferencial dasdimensõesmais amplas e acabamentomais luxuoso. O templo de Salomão foi considerado comoumadas“maravilhasdomundoantigo”easpalavrasdarainhadeSabánosajudamacompreendersuabelezaemagnificência.
4Vendo,pois,arainhadeSabátodaasabedoriadeSalomão,eacasaqueedificara,5eacomidadasuamesa,eolugardosseusoficiais,eoserviçodosseuscriados,eostrajesdeles,eseuscopeiros,eoholocaustoqueoferecianaCasadoSENHOR,ficoucomoforadesi6edisseaorei:Foiverdadeapalavraqueateurespeitoouvinaminhaterraearespeitodatuasabedoria.7Eu,contudo,nãocrianaquelaspalavras,atéquevimevicomosmeusprópriosolhos.Eisquenãomecontaramametade:sobrepujasemsabedoriaeprosperidadeafamaqueouvi.8Felizesosteushomens,felizesestesteusservos,que
89Issoéfeitoemduasetapas.NaprimeiraaarcaédeixadanacasadeObede-EdomporcausadamortedeUzá(1Cr13.5-14).Compreendendoqueseutransportedeveatenderàsprescriçõesmosaicas,Daviarregimentalevitasparaatarefa(1Cr15.1-15).AarcaécolocadasobumatendaemJerusalémeemsuachegadasãooferecidos“holocaustoseofertaspacíficas”(1Cr15.25-28;29.1).Observe-sequeotabernáculomosaicosefixaemSiló(1Sm1.3,9,19,24;2.11;3.3),depoisemNobe(1Sm21.1-6)e,porfim,emGibeão.Nestemomentodahistóriaháduastendas,amosaica,comoaltardesacrifício,emGibeão(1Cr16.39;21.29)eaconstruídaporDavi,emJerusalém,comaarcadaaliança(1Cr15.1;16.1).
A adoração no tabernáculo, no templo e na sinagoga 33
estãosemprediantedetiequeouvematuasabedoria!9BenditosejaoSENHOR,teuDeus,queseagradoudetiparatecolocarnotronodeIsrael;éporqueoSENHORamaaIsraelparasempre,queteconstituiurei,paraexecutaresjuízoejustiça(1Rs10.4-9).
OtemplodeSalomãoéchamadodeprimeirotemploesubsistede966até586a.C.90
6.2.2 O templo de Zorobabel
Nabucodonosor,reidaBabilônia,invadeJerusalémedestróioedifíciosalomônicoduranteoreinadodeZedequias(2Cr36.11-21).OdeslocamentodopoderdaBabilôniaparaaMédia-Pérsiapossibilitaaconstruçãodosegundotemplo,umaestruturabemmaissimplesdoqueaanterior(Ed3.12-13).
DiferentementedoPrimeiroTemplo,estetemplonãotinhaaArcadaAliança,oUrimeTumim,oóleosagrado,ofogosagrado,astábuasdosDezMandamentos,osvasoscomManánemocajadodeAarão.Anovidadedestetemploéquehavia,nasuacorteexterior,umaáreaparaprosélitosqueeramadoradoresdeDeus,massemsesubmeteràsleisdoJudaísmo.91
Talempreendido,realizadosobZorobabel,éutilizadode516até169a.C.92
6.2.3 O templo de Herodes
OtemplodaépocadeJesuséchamadodeSegundoTemplo,apesardeserumaterceiraversãodosantuáriodeJerusalém.Aobraépublicadacomoumareforma,mas,naverdade,HerodesoGrandereconstróieremodelacompletamenteotempodaépocadeZorobabel.93Aobrajádurava46anosquandooFilhodeDeusrealizousua“purificação”(Jo2.13-20).Foi inauguradanoano65e,noano70, a estrutura foi destruída pelos soldados romanos e nuncamais foi reconstruída. Hoje em seulugar,háumsantuáriomuçulmano.94
6.2.4 A música nas épocas do primeiro e do segundo templo
Além de compor Salmos, Davi contribui com o culto judaico e cristão regulamentando o uso delouvoresnaadoraçãodo templo.Ele revitalizaealteraoministério levítico (tabela04).95Antesdesua morte existem 38 mil levitas, homens maiores de trinta anos; quatro mil designadosespecialmenteparaolouvor(1Cr23.1-23;cf.v.5;1Cr9.33).96
LevitasatéDavi Ligadosaotabernáculo
LevitasapartirdeDavi Ligadosaotemploeresponsáveispelamúsica
Tabela04.AmudançadoministériolevíticoapartirdeDavi
90NELSON,Thomas.ManualBíblicodeMapaseGráficos.SãoPaulo:CulturaCristã,2003,p.132.91WIKIPÉDIA.TemplodeJerusalém.Disponívelem:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Jerusalém>.Acessoem:31jan.2017.92NELSON,op.cit.,loc.cit.93Algunsodenominamsegundotemplo,apenas“reformadoporHerodes,comafinalidadede“fornecerumalembrançaeternadeseunomeentreosjudeus”.Cf.STIGERS,H.G.TemplodeJerusalém.In:TENNEY,MerrillC.(Org.).EnciclopédiadaBíbliaCulturaCristã.SãoPaulo:CulturaCristã,2008,p.803.v.5.94DeacordocomoIslã,Maomésubiuaoscéusdolugarondehojeseencontraareferidamesquita.Cf.PACOMIO,Luciano;VANETTI,Pietro.(Org.).PequenosAtlasBíblico:História,Geografia,ArqueologiadaBíblia.Aparecida,SP:EditoraSantuário,1996,p.59.95Davidesobrigaoslevitasdetransportarositensdotabernáculo;todasassuasresponsabilidadespassamaestarligadasaoserviçodotemplo(1Cr23.25-32).AconsolidaçãodaadoraçãonotemploequivaleàpráticadasinstruçõesdeixadasporDavi(2Cr8.14-15).Sãoestabelecidososlevitasmúsicosecantores(1Cr15.16).Oslouvorespassamaserentoados“comcímbalosdebronze”(1Cr15.19),“emvozdesoprano”(1Cr15.20)e“emvozdebaixo”(1Cr15.21)eadireçãodocantodeveserfeitaporperitos(1Cr15.22).96Oscantoressevestemdelinhofinoelouvamaosomdosinstrumentos,acompanhadosde120sacerdotes(2Cr5.12-13).SoboscuidadosdeAsafe,HemãeJedutum,amúsicasedestinaàedificaçãodafé(1Cr15.16,25.1,16.41-42).
A adoração no tabernáculo, no templo e na sinagoga 34
OhinárioutilizadoéolivrodosSalmos(Sl9.11;47.6;68.4,32-34;81.1-2;96.1-2;105.2;135.3;147.7).ComoPalavrainspirada,osSalmosestabelecemumaprescrição:Oslouvoresdevemconstarnaadoração.97
Quanto aos instrumentos musicais do primeiro templo, “o toque da trombeta de chifre decarneiro,[é]seguidopelosomdosaltérioedaharpa(1Cr25.1),bemcomoosonidodoscímbalosdecobre (1Cr 15.19)”.98 Os “címbalos sonoros” e “retumbantes”, citados em Salmos 150.5, antesimportantes“nahistóriahebraicaprimitiva,[são]gradualmenteeliminadosdousoduranteoperíododosegundotemplo”.99
Quantoaoestilodamúsica, épossívelque,naépocado segundo templo, sejaexecutadoumpadrãomarcadoportrêscentrostonais,correspondentesaosmodosdório,frígioelídiodosgregosantigos.100 Sendo assim, a música cantada no templo é pertinente para os atos de adoração:Reverente,profundaeadequadaparaaelevaçãodaalma(Sl25.1).
6.3 A adoração na sinagoga
Otermogregosynagōgē,“sinagoga”significa“reunião”101—umajuntamentodecrentescentradoem “estudo e aprendizagem”.102 Suas raízes são encontradas nos grupos que se congregam paraouviroslevitasouprofetas,noperíodopré-exílico103enasreuniõesemlaresduranteoexílio(Ez8.1).Asinagogaéimportanteparapreservarafédosjudeus,estabelecendoumamalhadecomunhãoedevoçãodentroeforadoterritóriopalestino.104
97EmSalmos40.3,shîr,“cântico”éusadocomosinônimodetehillâ,“hinodelouvor”.Emoutroslugaresháumchamadoparaqueentoemosum“novocântico”(Sl33.3;96.1-2;98.1-2;144.9-11;149.1-2)oquenãosignifica,necessariamente,adoraraDeuscomcançõesnovas,masconsiderarnossaprópriaexperiênciadesalvaçãonocontextodolouvorjáconhecido—cf.WEISER,Artur.OsSalmos.SãoPaulo:Paulus,1994,p.247.(ColeçãoGrandeComentárioBíblico).ParaCalvino,aexpressãodosalmistasimplesmentedescreveolivramentoqueestereceberadeDeus(CALVINO,João.ComentárioàSagradaEscritura:OLivrodosSalmos.SãoPaulo:Paracletos,1999,p.216.v.2).EsteentendimentoécompartilhadoporHARMAN,Allan.Salmos.SãoPaulo:CulturaCristã,2011,p.185.(ComentáriodoAntigoTestamento).98M’CAW,LeslieS.Salmos.In:DAVIDSON,F.(Ed.).ONovoComentáriodaBíblia.1.ed.1963.Reimpressão1985.SãoPaulo:VidaNova,1985,p.626.v.1.99HUSTAD,op.cit.,p.57.Grifonosso.Issoocorreuporqueeles“estavamproeminentementeassociadoscomapráticadaidolatriadaMesopotâmia,emesmocomasseitasjudaicasheréticas,e,portanto,foramconsiderados‘impuros’”(ibid.,loc.cit.).Emsuma,Israel,escaldadopeloexílioetomandocuidadoparanãocairnovamentenopecadodaidolatria,preferiunãoutilizardeterminadosinstrumentosnaadoração.IssosignificaquedevemostercuidadoaotentaraplicarversículosdeSalmos150àadoraçãoatual;omelhorafazeréenfatizarsomenteoselementosratificadosnomodelodecultodoNT.100AbrahamZviIdelsohn(1882-1938),considerado“opaidamusicologiamoderna”,pesquisoumelodiastradicionaisdamúsicahebraicaemtodoomundoeencontrou“motivosrecorrenteseprogressões”distintasde“qualqueroutramúsicanacional”.Elesugeriu,apartirdisso,“umaorigemcomumparaessasfrasesmusicaisqueremontaaIsraelouàPalestinado1ºséculocristão,antesdadestruiçãodosegundotemplopelosromanosedoexíliojudaico”.Olhandomaisdeperto,Idelsohndistinguiutrêscentrostonais,comosegue:“Trêsdiferentescentrostonais,quecorrespondiamaosmodosdório,frígioelídiodosgregosantigos.[...]Omododóriotetracordefoiutilizadoparatextosdenaturezaelevadaeinspirada,ofrígioparatextossentimentais—ossurtoshumanosdemuitosentimento,tantodealegriaedeluto,eolídio,emcomposiçõesparaostextosdelamentaçõeseconfissõesdospecados”(SANANTONIOVOCALARTSENSEMBLE—SAVAE.RediscoveringMusic&ChantofMiddleEasternSpirituality[RedescobrindoaMúsicaeoCantodaEspiritualidadedaIdadeMédia].Disponívelem:<http://www.savae.org/echoes1.html>.Acessoem:4abr.2012).OresultadointeressantedoestudodeIdelsohn,convertidoemmúsica,podeserconferidoemSAVAE.AncientEchoes:MusicFromTheTimeofJesusandJerusalem’sSecondTemple.WorldLibraryPublication,2002.1CD.101HURTADO,LarryW.AsOrigensdaAdoraçãoCristã.OCaráterdaAdoraçãonoAmbientedaIgrejaPrimitiva.SãoPaulo:VidaNova,2011,p.47.102DISANTE,op.cit.,p.23.103BRIGHT,apudTASSIN,Claude.OJudaísmodoExílioaoTempodeJesus.SãoPaulo:Paulinas,1988,p.48-49.(SérieCadernosBíblicos—46).104HURTADO,op.cit.,p.46:“Paraamaiorpartedosjudeus,aexpressãoeapráticacoletivasdareligião,maiscomunsparaeles,ocorriamemsuassinagogasefamílias”.Osjudeusespalhados,denominados“daDiáspora”,precisavampreservarsuaidentidadereligiosaecultural.ParaissoproduziramaSeptuaginta(LXX),umatraduçãodoATparaoidiomagrego(iniciadano2ºséculoa.C.).
A adoração no tabernáculo, no templo e na sinagoga 35
Suaformataçãodefinitivasedánoperíodointerbíblico(entreMalaquiaseMateus).NoNTelaédescritacomolugardeadoraçãosabatina,frequentadopeloSenhorJesus(Mc1.21-28;3.1-6;6.2-3;Mt4.23;Lc4.15;16.30-31,44;6.6;13.10;Jo6.59;18.20)epeloapóstoloPaulo(At13.5;14.1;17.1,10,17;18.4,19).105Nãoháevidênciadequalquermanuallitúrgicoparasuasreuniões.Aadoraçãoédespojada,constituindo-sedeoração(especialmenteasDezoitoBênçãos),confissãodefé(oShemá),louvor (cânticose recitaçãodesalmos)e instruçãobíblica (leitura,explicaçãoeaplicaçãodaTorá),seguidosdeumabênção.106Umaordemprováveléaseguinte:
Leiturabíblica(Torá;osProfetas).Homilia[explicaçãoeaplicaçãodaToráouProfetas],seguidadediscussão.CânticodeSalmos.AKedusha,“Santo,Santo,Santo”(Is6.3).Orações(AYotzereaAhabah,enfatizandoosatoscriadoresdeDeuseseuamorpeloseupovo,terminandocomoShemá—“Ouve,Israel,oSenhornossoDeuséoúnicoSenhor”etc.,umadeclaraçãodeféeumabênçãoalegre,deDt6.4-9;11.13-21;Nm15.37-41).AsDezoitoBênçãos(expressõesdelouvor,petiçõesdebênçãosmateriaiseespirituaiseintercessõespormuitaspessoas,encerradacomum“amém”emconjunto).107
Sabe-seque“pelofatodeossacrifíciostradicionaissópoderemserfeitosnotemplo,asofertasdeanimaisedecereais[são]substituídaspor‘sacrifíciosdelouvoreoração’”.108
A adoração da sinagoga é uma “liturgia da Palavra”.109 Nela surge o rabi oumestre. Quandopossível,“apenasumoudoiscantoressolistascantavamemumareunião”110e“podeserqueoestilomusicalserelacionassecomodaadoraçãonotemplo,emborapossivelmentenãoseusassenenhuminstrumento,vistoqueelesestavamassociadosapenascomossacrifíciosdeanimais”.111Mesmonaadoraçãojudaicamoderna,“ocânticoéaindaemgrandepartevocal,semacompanhamento”.112
Conclusão da aula 6
Os cristãos iniciaram sua prática de adoração sob os costumes judaicos. Se Deus permitir,aprenderemossobreocultodaigrejadoNTnaaula8.
Atividades da aula 6
1.MarqueVerdadeiroouFalso.Otrabalhodotabernáculoémantidopeloslevitasesacerdotes.Osprimeirossão“ministrosdotabernáculo”incumbidosde“desmanchar,transportareerigirotabernáculo”,ouseja,auxiliamaossacerdotes.
___Verdadeiro.
___Falso.
2.MarqueaÚNICARESPOSTACERTA.Asofertasprescritasdotabernáculo,deacordocomolivrodeLevítico,sãoasseguintes:
___Holocausto;ofertamatutina;sacrifíciospacíficos;ofertapelopecado;ofertapelaculpa.
___Holocausto;ofertademanjares;sacrifíciospacíficos;dízimos;ofertapelaculpa.
ALXX“foiumdosprincipaisveículosdesuapropagandareligiosa”(GONZALEZ,JustoL.EAtéosConfinsdaTerra:UmaHistóriaIlustradadoCristianismo:AEradosMártires.3.ed.Reimp.1991.SãoPaulo:VidaNova,1986,p.20.v.1).105MARTIN,op.cit.,p.34-35.106Ibid.,p.35-38;HURTADO,op.cit.,p.47-49.OtextocompletodasDezoitoBênçãosoutefillahpodeserconferidoemDISANTE,op.cit.,p.99-122.107HUSTAD,op.cit.,p.92.Cf.MARTIN,op.cit.,loc.cit.,aAhabahseocupadaadoraçãoaDeusporseusatosdebenignidade;oShemáéumaconfissãodeféeumabênçãoalegreaomesmotempo.108HUSTAD,op.cit.,loc.cit.109KIRST,Nelson.NossaLiturgia:DasOrigensAtéHoje.3.ed.RevistaeAtualizada.SãoLeopoldo:Sinodal,2003,p.24-25.(SérieColmeia).110HUSTAD,op.cit.,loc.cit.111Ibid.,loc.cit.112Ibid.,p.93.
A adoração no tabernáculo, no templo e na sinagoga 36
___Holocausto;ofertademanjares;sacrifíciospacíficos;ofertapelopecado;ofertapelaculpa.
3.MarqueVerdadeiroouFalso.Apósinstalar-seemseupalácio,DavidemonstraaintençãodeedificarumabrigoadequadoparaaarcaeéautorizadoporDeusparaconstruirotemploemJerusalém.
___Verdadeiro.
___Falso.
4.MarqueasRESPOSTASCERTAS(hámaisdeumaafirmaçãocorreta).PensandonotemploemJerusalém:
___SalomãoconstruiuoPrimeiroTemplo,ZorobabelconstruiuoSegundoTemploeHerodesreformoueremodeloutotalmenteesteSegundoTemplo.
___SalomãoconstruiuoPrimeiroTemplo,ZorobabelconstruiuoSegundoTemplo,HerodesconstruiuoTerceiroTemploeMaoméconstruiuaPrimeiraMesquita.
___Naliturgiadotemplo,osSalmosestabeleceramaprescriçãodecantarlouvoresnaadoração.
___Os“címbalossonoros”e“retumbantes”,citadosemSalmos150.5,foramgradualmenteabandonadosnoperíododoSegundoTemplo,porcausadesuaassociaçãocomaidolatria.
___AmúsicacantadanoSegundoTemploerareverente,profundaeadequadaparaaelevaçãodaalma.
5.Completeafrase:Aadoração[nasinagoga]édespojada,constituindo-sedeoração(especialmenteasDezoitoBênçãos),confissãodefé(oShemá),louvor(cânticoserecitaçãodesalmos)einstrução*bíblica*(leitura,explicaçãoeaplicaçãodaTorá),seguidosdeumabênção.
ParteIIA[estranha]propostadedançalitúrgicapretensamentebaseadanocultodoAT
Louvai com adufes e danças! 39
Aula 7: [Parêntese 1] Louvai-o com adufes e danças!
Adançaéalinguagemescondidadaalma.MarthaGraham.
Introdução da aula 7
Depoisdeestudarocultonotabernáculo,temploesinagoga,abrimosumparênteseparafalarsobreumfenômenorecente:Háministériosqueevangelizamcomcoreografiaseigrejasqueincluemdançalitúrgicacomopartedaadoração.Argumenta-sequeissotemrelaçãocomaadoraçãodosjudeusnaépocadoATedeveserassumidopelaigrejacontemporânea.
Percebe-seuma tensão crescenteentreosque concordameosquenão concordamcom taisproposições.Pastoresdesejososdeconectara igrejaà culturaabremespaçoparaadança.Outrosabominamasimplesmençãodadançanavidacristãenocultopúblico.
7.1 A dança em Israel
Nas culturas de modo geral, “a dança e a pantomima [...] floresceram como parte de ritos ecelebrações religiosos”.113 Inicialmente a dança não era desenvolvida com finalidades puramenteartísticas,masfazia“partedavidasignificativadecomunidadesorganizadas”.114
Dopontodevistaantropológicoesociológico,adançapossuiaindaafunçãodepreservaremanifestar as raízes históricas e culturais de um povo. Há etnias em que a história émantidapela repetição oral, pela música e dança. Ali a dança apela para a participação popular noresguardodeimportantestradições:“Nãofossemosrituaisecerimônias,apantomima,adançaeodrama desenvolvidos a partir deles, [...] os acontecimentos do passado longínquo estariam agoramergulhadosnoesquecimento”.115
7.1.1 O povo de Israel nos tempos bíblicos dançava
TambémemIsraelamúsicaeadançacontribuíramparaconsolidartradiçõesreligiosaseidentidadecultural.Noquedizrespeitoaousodadançacomomeiodeexpressãocultural,oIsraeldostemposbíblicosésemelhanteaosdemaispovos.“Tudoserevelanadançadecadapovo,emsuamúsica,emsua canção. Israel não é uma exceção”.116 Praticamente “todas as festas familiares se faziamacompanharpormúsica”117 (cf.Lc15.25). Jesussereferiuadançasembrincadeirasdecriançasnapraça(Lc7.32).Avidasocialisraelitacomportava,alémdasfestasfamiliaresebodas,umcalendárionacionalereligiosofestivo.
Umadespedidapodiadurarváriosdias,duranteosquaisocanto,adançaeosinstrumentosquemarcavamseusritmos,ocupavamoprimeirolugar.[...]Eramfestasnasquaisnãofaltavamaflauta,otamborimeadança[...].118
OsservosdeDeusdostemposbíblicosnãoeramavessosaoregozijodavidacomum.Elesnãoseportavamcomoreligiososcontráriosatodotipodedança.“Oshebreusantigosnãoeramascetas.As
113DEWEY,John.ArteComoExperiência.SãoPaulo:MartinsFontes,2010,p.65.(ColeçãoTodasasArtes).114DEWEY,op.cit.,loc.cit.115Ibid.,p.553.116MONRABAL,MariaVictoriaTriviño.Música,DançaePoesianaBíblia.SãoPaulo:Paulus,2006,p.48.(ColeçãoLiturgiaeMúsica).117Cf.DANIEL-ROPS,Henri.AVidaDiárianosTemposdeJesus.3.ed.SãoPaulo:VidaNova,2008,p.330.118MONRABAL,op.cit.,p.49.
Louvai com adufes e danças! 40
festas frequentemente não exigiam ocasião festiva a não ser alegria”.119 O profeta Jeremias falasobre danças, informando-nos que o exílio interrompeu a normalidade social; as celebraçõescotidianasforamsubstituídasportristeza(Lm5.15-18;cf.Jr7.34;16.9).EleanunciouumdiaemqueoSenhorconverteriaanação,eoprantodarialugaraoregozijo(Jr31.1-40).120AEscrituramencionainclusiveadançanaprivacidadedarelaçãoconjugal:Asulamitaconquistaseuesposocoma“dançadeMaanaim”(Ct6.13—7.1).
Observe-se, no entanto, que não havia em Israel o conceito de dança como divertimentodissociadodafé.Israeltinhaconvicçãode“queavozqueomoviaeraadoCriador”.121Sendoassim,éimpossível“separaramotivaçãoreligiosadasgrandesepequenascelebraçõesdeIsrael,porcausada teocracia que imprimia em todos os eventos um sentido sacral”.122 Na dança os judeus sealegravamemDeus;adançaisraelitarefletiagratidãoporbênçãosrecebidasediferiadasdançasdesalãoatuais,motivadaspelabuscaderecreação:“[...]homensemulheresnãodançavamjuntos[...].Diversãosocialnãopareciaseromotivoprincipaldasdanças,eosmétodosmodernosdedançadecasaisnãoeramconhecidos”.123Alémdisso,osprofetascoibiamosabusos(Is5.11-12).
7.1.2 As danças de Miriã e Davi
BastainiciarmosaconversasobredançanaBíbliaparaouvirmososnomesdeMiriãeDavi.Miriãeoutrasmulheres festejaramatravessiadoMarVermelhocomtamborins (toph,“adufes”)edanças(meḥôlâ—Êx15.20-21).A filhadeJefté fezomesmo,apósotriunfomilitarsobreosamonitas (Jz11.34).Depoisdeumembatebem-sucedidocontraosfilisteus,“asmulheresdetodasascidadesdeIsrael saíram ao encontro do rei Saul, cantando e dançando com tambores, com júbilo e cominstrumentosdemúsica”(1Sm18.6).
Davidançou “com todasas suas forçasdiantedoSENHOR”vestidodeuma“estola sacerdotal”(2Sm 6.14).124 Salmos 68.24-25 define esta entrada de Davi em Jerusalém como “cortejo domeuDeus, domeuRei, no santuário” (Sl 68.24). Este “santuário”nãoéo tabernáculo,masuma tendaarmadaporDaviemJerusalém(1Cr15.1;16.1).Diantedamultidãoestavamos“cantores”seguidosdos“tocadoresdeinstrumentosdecordasemmeioàsdonzelascomadufes”(Sl68.25).AesposadeDavi(Mical)nãoseagradoudevê-loalie“odesprezounoseucoração”(2Sm6.16).
Três esclarecimentos são necessários. Primeiro, a dança de Davi ocorreu “diante do SENHOR”assimcomotodososatosdavidacomumdoscrentesdaBíblia.Segundo,esteepisódionãofornecebaseparaaafirmaçãodequeDaviusavaadançaparatreinamentomilitarou“guerraespiritual”.125
119LEWIS,J.P.Festas.In:TENNEY,MerrillC.(Org.).EnciclopédiadaBíbliaCulturaCristã.SãoPaulo:CulturaCristã,2008,p.809.v.2.120Otermohebraicoutilizadonestesversículos(māḥôl)permitequetraduzamososdoisprimeiroscomo“alegria”ou“folguedos”(cf.Sl30.11).EmJeremias31.13,māḥôlpodesertraduzidocomo“flauta”semprejuízodosentidodapassagem.Parasabermaissobreestapalavrahebraica,cf.seção7.1.4.121MONRABAL,op.cit.,p.48.122Ibid.,p.53.123WOLF,H.H.Danças.In:TENNEY,op.cit.,p.25.124Overbotraduzidocomo“dançava”,meḵarkēr,“éumparticípioquetemosentidode‘rodopiar’eocorresomentenestapassagem(v.14,16)”.BALDWIN,JoyceG.1e2Samuel:IntroduçãoeComentário.SãoPaulo:VidaNova,1997,p.237.(SérieCulturaBíblica).125Umestudiosorelacionaadançadavídicacomas“dançasdeguerrausadaspelosespartanosdeTirteos.[...]DamesmaformaqueDaviutilizoupoesiaparainspirareensinarsuastropas[...],eletambémpodeteraproveitadoadança”(WOLF,op.cit.,p.25).Paraoutroautor,“osucessomilitardeDavifoiatribuídoàcoordenaçãodossoldadoseaoespíritodecorporaçãomantidopormeiodotreinamentoedadança”(ADAMS,Doug.CongregationalDancinginChristianWorship.NorthAurora:TheSharingCo.,[198-?],p.6.ApudSILBERLING,Murray.DançardeAlegria:UmaAbordagemBíblicaSobreoLouvoreAdoração.SãoPaulo:Vida,2009,p.18).Tudoissonãopassadecogitação.SILBERLING(op.cit.,p.70)sugereesseuso“libertador”dadançaapontandopara2Crônicas20.20-23como“umdosexemplosmaisclarosdecomoDeususaa
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Porúltimo,ascelebraçõesdançantesdasmulheresdeIsraeledeDavinãoocorreramdentrodotabernáculo ou templo. Como aprendemos, tanto no tabernáculo quanto no templo, só entravamsacerdotes e levitas (Êx 38.21; Nm 1.50-53; Dt 10.8; 1Rs 8.6; 1Cr 16.4-5; Hb 9.2-7). Dito de outromodo,nosmoldesdocultohebraico,dançasnãoerampermitidasdentrodotabernáculooutemplo.
7.2 Registros de danças associadas ao paganismo e algumas especulações
Hápelomenosdoisregistrosdeusodedançasemcultos,associadosapráticaspagãs.Dançasforamusadas pelos adoradores do bezerro de ouro (Êx 32.19). E jovens dançaram em rodas em uma“solenidade do SENHOR em Siló” (Jz 21.19,21).126 O fato é que aquela ocasião foi marcada pordistanciamentodospadrõesdecultoaDeus.ABíbliadeEstudosdeGenebraregistraque“operíododos juízes ficou muito conhecido pelo público original como um tempo de instabilidade eapostasia”.127 A festa em Siló “era provavelmente uma forma distorcida e semipagã dostabernáculos, que ocorria na época da colheita das uvas”.128Waltke descreve a época dos juízescomo “a hora mais sombria de Israel”.129 E prossegue afirmando que o último capítulo de Juízes(ondeconstaadança)é “repugnante”.130Asúltimaspalavrasdo livrode Juízes (Jz21.25) repetemcomoumlamento:Naquelesdias,nãohaviareiemIsrael;cadaumfaziaoqueachavamaisreto”.
Aindacomoexemplodedançapagã,lemossobreadançada“filhadeHerodias”,noepisódiodaexecuçãodeJoãoBatista(Mt14.6-8).
A partir deste ponto, lidamos apenas com especulações. É possível que houvesse dança nasprocissões,porocasiãodascelebraçõesdocalendárioreligioso?Mesmoqueissoacontecesse,nadasobreissoconstanaBíbliacomoprescrição.Umestudiososugerequehaviadançaentreosprofetascitados em 1Samuel 10.5.131 A questão é que tal passagem menciona “saltérios, e tambores, eflautas, e harpas”, mas não a dança. Aliás, este é um perigo que se corre, quando se lê a Bíbliadesejandoencontrarreferênciasàdançanasentrelinhas.UmaautoraentusiasmadacitaRute4.11-12esugere(extrabiblicamente):“Adivinha-seadança”.132
dançasacracomométododebatalhaespiritual”(grifonosso).Oproblemaéquenãoháalusãoadançanapassagemde2Crônicas.126Mesmoestaspassagens,porém,podemserlidascomofestejodestituídodecaráterlitúrgico.Cf.DOUGLAS,J.D.Dança.In:DOUGLAS,v.1,p.386.127BEG2,p.341.128WEBB,BarryG.Juízes.In:CARSON,D.A.etal.(Ed.),op.cit.,p.437.129WALTKE,BruceK.TeologiadoAntigoTestamento:UmaAbordagemExegética,CanônicaeTemática.SãoPaulo:VidaNova,2015,p.947.130WALTKE,op.cit.,p.948.131DANIEL-ROPS,op.cit.,loc.cit.132MONRABAL,op.cit.,p.49,55.Grifonosso.OmesmomauhábitoéverificadoemSILBERLING,op.cit.,passim.Naliturgiadafestadascabanasconstava“alibaçãodaáguasobreoaltar[...],talvezparapediroretornodaschuvas,aprocissãoemtornodoaltareoacenderquatrocandelabrosdeouronopátiodasmulheres[...]queiluminavamacidadeinteira”(SAULNIER,Christiane;ROLLAND,Bernard.APalestinanoTempodeJesus.3.ed.SãoPaulo:Paulinas,1983,p.51.[SérieCadernosBíblicos]).Silberlingsugerequehomensconduziamumadançacomtochasnaprocissãoemredordoaltar(op.cit.,p.17,57-58).ParaprovarestepontoelecitaFALLON,J.;WOLBERS,MaryJane.FocusOnDance:ReligionandDance.Virginia:AmericanAllianceforHealth,PhysicalEducation,RecreationandDance,1982,p.41.FalloneWolbers,porsuavez,citamSCHAUSS,H.TheJewishFestivals.Cincinnati:UnionofAmericanHebrewCongregations,1938.Afonteprimária—qualescritojudaicoorientaoudescreveousodedançanafestadostabernáculos?—nãoécitada.Aindaqueseadmitaaexistênciadetalprática,sabe-sequealiturgiadafestadascabanasmotivousériascontendasentrefariseusesaduceus,exatamenteporcausadainclusãodeelementosnãoprescritospelalei(cf.JEREMIAS,J.JerusalémnoTempodeJesus:PesquisasdeHistóriaEconômico-SocialdoPeríodoNeotestamentário.SãoPaulo:Paulinas,1983,p.225.(NovaColeçãoBíblica).HáumaanotaçãohistóricadehomensdançandoemumbanquetefestivonostemposdeJesus—adança“nasrondasdehomens”eo“baterdasmãos”dos“‘grandes’deJerusalémporocasiãodafestadacircuncisãodeElishaBenAbuya,cujopaipertenciaàaltasociedade”(JEREMIAS,op.cit.,p.135).
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Resumindo,osjudeusdançavamemcelebraçõesnacionaisefamiliares.Elesseregozijavamcomdançanaprivacidadeconjugal.EtudoissoemumestilodevidaquereconheciaDeusemcadatrilhadaexistência(Pv3.6).Masissonãoquerdizerqueelesmisturavamadançaaocultopúblico.
7.3 Uma leitura alternativa de Salmos 150.4
NaBíbliaAlmeidaRevistaeAtualizada,oúnicoimperativoparaolouvoraDeuscom“danças”estáem Salmos 150.4. As outras referências a danças constam em textos descritivos; aqui o verbohebraicohalal,traduzidocomo“louvai-o”,estánoimperativo.
ObservemosaestruturadoSalmo.Cincoparalelismosfalamsobreoobjetodolouvor—aquemdevemosadorar(v.1),amotivaçãoparaolouvor—porquedevemosadorar(v.2)eosinstrumentosdolouvor—comoquedevemosadorar.Oúltimoversorevelaquemdevelouvar.133
1Aleluia!LouvaiaDeusnoseusantuário;louvai-onofirmamento,obradoseupoder.
2Louvai-opelosseuspoderososfeitos;louvai-oconsoanteasuamuitagrandeza.
3Louvai-oaosomdatrombeta;louvai-ocomsaltérioecomharpa.
4Louvai-ocomadufesedanças;louvai-ocominstrumentosdecordasecomflautas.
5Louvai-ocomcímbalossonoros;louvai-ocomcímbalosretumbantes.
6TodoserquerespiralouveaoSENHOR.Aleluia!
Noprimeiroparalelismo(v.1),“santuário”correspondea“firmamento”. IssoquerdizerqueapassagemnãoserefereaotabernáculooutemplodeJerusalém,esimàhabitaçãodeDeusnocéu.134Estedadobíblicofragilizaoargumentodosque imaginamqueosalmistaestejaprescrevendoumaordemlitúrgicaparaocultopúblicodeIsrael.
Todososdemaisparalelismos(v.2-5)mencionaminstrumentosmusicais.Nov.3,“trombeta”éparalelo de “saltério” e “harpa”. No v. 5, “címbalos sonoros” formam paralelo com “címbalosretumbantes”.Aúnicaexceçãoaparenteéov.4.Nesteversículo,“adufes”éumparaleloadequadopara “instrumentos de cordas”, mas “danças” (algo que não é instrumento musical) forma umparaleloestranhocom“flautas”(instrumentomusical).
Oelementocomplicadoréovocábulomāḥôl,traduzidocomo“danças”,masquepodetambémser entendido como “flauta”.135 Amesma palavra é traduzida como “flauta” (na ARA) em Salmos133KIDNER,Derek.Salmos73—150:IntroduçãoeComentário.1.ed.Reimp.1987.SãoPaulo:VidaNova;MundoCristão,1981,p.495-496.(SérieCulturaBíblica).134OutrosparalelismossemelhantessãoencontradosemSalmos11.4e102.20.Cf.ibid.,p.26;LOPES,AugustusNicodemus.Salmo150:DançandonoSantuário?In:OTemporaOMores.Disponívelem:<http://tempora-mores.blogspot.com/2009/08/salmo-150-dancando-no-santuario.html>.Acessoem:03jun.2011.Cf.COMISSÃOESPECIALSOBRELITURGIA,op.cit.,p.27.135Ovocábuloétraduzidocomo“folguedos”emSalmos30.11.Apalavraempregadapelosalmistatemcomoraizoverboḥûl,“voltear”,quepossibilitaosentidodeuminstrumentoelaboradocomumfuroouabertura.Cf.BOWLING,Andrew.Ḥûl.In:HARRIS;ARCHERJR.;WALTKE,op.cit.,[623]p.440;PARKHURST,apudCALVINO,João.SalmosVolume4.SãoJosédosCampos:EditoraFiel,2009,p.592.(SérieComentáriosBíblicos).
Lê-seemSCHÖKEL,LuísAlonso;CARNITI,Cecília.SalmosII:Salmos73-150.SãoPaulo:Paulus,1998,p.1664.(SérieGrandeComentárioBíblico):“Costuma-setraduzirmāḥôlpordança;outrosotraduzemporflauta”.
Aindaqueadmitindoquemāḥôlé“otermomaisusadopara‘dança’noHB”,Dockeryexplicaqueapalavraéusada“comosinédoqueemSalmos149.3e150.4,paraindicarinstrumentosmusicais”;cf.DOCKERY,DavidS.#2565.In:
Louvai com adufes e danças! 43
149.3. De fato, em Salmos 150.4,māḥôl é traduzido como “danças” em versões excelentes daBíblia.136Outrasversõestraduzemigual,emambasaspassagens;éocasodaNVI (“danças”,emSl149.3 e 150.4) e a ARC (“flauta”, em Sl 149.3 e 150.4). Agostinho é confundido pelo texto daSeptuaginta,quetraduzmāḥôlcomo“coros”ou“cantoresquecantamaumasóvoz”.137
É provável que māḥôl seja traduzido como “danças”, em Salmos 150.4, por causa de suaproximidade do vocábulo toph, “adufes”. Pode ser inferido que a passagem reflete as dançasregistradasemÊxodo15.20-21;Juízes11.34e1Samuel18.6.
Ou quem sabe os tradutores (da ARA e demais similares) tenham tomado uma decisãoestilística,tentandoevitarumaredundância,pois“flautas”(aoinvésde“danças”),naprimeiralinhado paralelo do v. 4, equivaleria a “flautas”, na segunda linha; o que não faz muito sentido emportuguês.Masemhebraicofaz,umavezquenaprimeiralinhatemosmāḥôle,nasegunda,‘ûgāb,umtipodiferentedeflauta(órgão,gaita,“syrinxouflautadepan”).138Por issoJoãoCalvinotraduzmāḥôlcomo“flauta”,nosdoissalmos.EletraduzSalmos150.4comosegue:“Louvai-ocomadufeseflautas;louvai-ocomcordaseórgão”.139
Se compreendermos“flauta” comoo sentidodemāḥôl, emSalmos150.4, teremosa ideiadeuma profusão de instrumentosmusicais.140 Um comentarista cuidadoso sugere: “De quemaneiraessetributodeviaserfeito?Comtodosostiposdeinstrumentosmusicaisusados,naépoca”.141
Exatamenteporisso,Calvinoafirmaoseguinte:
Nãoinsistoquantoàspalavrashebraicasqueexpressaminstrumentosmusicais.Permita-meoleitorapenaslembrarqueestesalmomencionadiferentesevariadostiposdeinstrumentos,utilizadossobaadministraçãodalei.142
AinterpretaçãodeCalvinoéconsistentecomoparalelismodotextobíblico.
Conclui-se que a tradução de Salmos 150.4 exige uma decisão teológica e não meramentefilológica. Os intérpretes favoráveis à dança litúrgica desconsideram o sentido do primeiroparalelismo (v. 1), insistindo que este Salmo contém prescrições para o culto no tabernáculo outemplo. Edizemaindaqueo v. 4 temde ser assumido comoumaordempara louvaraDeuscom“danças”(tabela05).VANGEMEREN,WillemA.(Org.).NovoDicionárioInternacionaldeTeologiaeExegesedoAntigoTestamento.SãoPaulo:CulturaCristã,2011,p.46.v.2.Grifonosso.136ÉoquelemosemalgumasediçõesdatraduçãodeJoãoFerreiradeAlmeida(EdiçãoRevistaeAtualizada—ARA,daSociedadeBíblicadoBrasil—SBB;EdiçãoCorrigidaeRevisadaFielaoTextoOriginal,daSociedadeBíblicaTrinitarianadoBrasil;VersãoRevisadadeAcordocomosMelhoresTextosemHebraicoeGrego,daHagnoseJUERPeBíbliaSagradaAlmeidaSéculo21,EdiçõesVidaNova).“Danças”tambéméosentidoatribuídoamāḥôlpelaNovaTraduçãonaLinguagemdeHoje,daSBB,nasBíbliasCatólicas(ABíbliadeJerusalém,BíbliaPastoral,BíbliadoPeregrinoeTraduçãoEcumênicadaBíblia)eemversõesnalínguainglesa,taiscomoaGoodNewsBibleeNewInternationalVersion.137AGOSTINHO.ComentárioaosSalmos:Salmos101-150.SãoPaulo:Paulus,1998.p.1151-1152.v.3.(SériePatrística).138CALVINO,op.cit.,p.601;BEST,H.M.;HUTTAR,D.Música:InstrumentosMusicais.In:TENNEY,MerrillC.(Org.).EnciclopédiadaBíbliaCulturaCristã.SãoPaulo:CulturaCristã,2008,p.420.v.4;STRADLING,D.G.MúsicaeInstrumentosMusicais.In:DOUGLAS,v.2,p.1082.139CALVINO,op.cit.,p.600-601.140Éinteressanteobservarqueatéametadedoséculopassado,oscomentaristasbíblicosentendiamqueSalmos150.4faladeinstrumentosmusicais.Deláparacáocorreuumamudança,abrindo-secadavezmaisespaçoparainterpretaçõesquesugeremapossibilidadedadançalitúrgica.141HENRY,Matthew.ComentárioBíblicoAntigoTestamento—JóaCantaresdeSalomão—EdiçãoCompleta.RiodeJaneiro:CasaPublicadoradasAssembleiasdeDeus,2010,p.715.ÉsuperficialelamentávelainterpretaçãosugeridaporHarman(op.cit.,p.478):“Faz-semençãodedança,oqueemoutroslugarescaracterizaajubilosarespostaaopodersalvíficodeDeus(Jr31.4,13)”.142Op.cit.,p.602-603.Grifosnossos.Demodosemelhante,lemosemHENRY(op.cit.,loc.cit.):“Ébomquenãoestejamosinteressadoseminquirirquetiposdeinstrumentoseramesses;ésuficientesaberqueerambemconhecidosnaépoca”.
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Leiturafavorávelàdançalitúrgica LeituraconsistentecomocultodoAT
Instrumentosmusicaisedançacomoexpressãodeadoração
Somenteinstrumentosmusicais—nãohádançanosantuário
Harmoniaparalelística
Louvai-ocomadufeseflautas—instrumentosmusicaisLouvai-ocominstrumentosdecordasecomórgão—instrumentosmusicais.
Tabela05.PossíveisleiturasdeSalmos150.4
Omais sensato é sustentar que Salmos 150não é prescriçãopara a liturgia do culto público,muitomenosparaousocontemporâneodadançalitúrgica.
Conclusão da aula 7
OsjudeusnãoviamproblemanousodadançacomoarteecelebraçãodavidadiantedeDeus.Noentanto, a maioria esmagadora dos textos do AT que mencionam danças são descritivos e nãoprescritivos.Aúnicaexceção,Salmos150.4,éumabasefrágil,primeiroporquenãomencionaocultono tabernáculo, nemno templo de Jerusalém, e sim no templo celestial ou cósmico deDeus. Emsegundolugar,porqueapalavratraduzidacomo“danças”,emSalmos150.4,tambémpodetraduzidacomo“flautas”.
Atividades da aula 7
1.Completeafrase:Praticamentetodasasfestasfamiliares[emIsrael]sefaziamacompanharpormúsica(cf.Lc15.25).Jesussereferiua________________embrincadeirasdecriançasnapraça(Lc7.32).
2.Completeafrase:OsservosdeDeusdostemposbíblicosnãoeramavessosaoregozijodavidacomum.Elesnãoseportavamcomoreligiosos___________________atodotipodedança.
3.Completeafrase:Miriãeoutrasmulheres____________________atravessiadoMarVermelhocomtamborins(“adufes”)edanças(Êx15.20-21).
4.Completeafrase:Nosmoldesdocultohebraico,danças___________________permitidasdentrodotabernáculooutemplo.
5.MarqueVerdadeiroouFalso:Salmos150nãoéprescriçãoparaaliturgiadocultopúblico,muitomenosparaousocontemporâneodadançalitúrgica.
___Verdadeiro.
___Falso.
ANOTAÇÕES !
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Aula 8: [Parêntese 2] A dança como arte e celebração
Oprédiovelhotinhaumalocalizaçãohorrorosa,eficavaescondidonumbairroantigo,muitodistantedequalquerrodoviaprincipal,oqueotornava
tãodifícildeacharquantoencontrarumfundamentalistasedivertindo.MarkDriscoll.
Introdução da aula 8
Enquantoalgunsentendamque ser cristãoequivaleanão sedivertir comdanças, artistas cristãossériosepreocupadosempraticarafébíblicapropõemqueaigrejaabraespaçoparaousoartísticoda dança. Depois de relatar uma experiência desconfortável em uma “oficina de dança”, CarolinaGualbertodesabafa:“Apartirdaímeusolhos,quejáviamcrescernaigrejaumadançaequivocada,nãosuportaramtamanhafaltadeluz.Desdeentão,prossigorefletindoseriamentesobreadançanaigrejaevangélicabrasileira[...]”.143
Naproposiçãoemquestão,Gualberto repudia atéousodos rótulos “dançade adoração”ou“dançalitúrgica”:
Dançasdeadoração!Queequívocofazeressadistinção!Nãoexisteumadançaespecíficaquepossaserchamadadedançadeadoração.ExistemdançaspormeiodasquaispodemosadoraraDeus.144
Percebe-seuma intençãodestaautoradeconsideraradançanocontextodavidacristãcomoculto,sendoadoraçãooestilodevidadaquelequeamaaDeus.145Comovimosantes,nósadoramossemdivisão,ouseja,consideramosquetudonavidaéparaoagradoeglóriadeDeus.
8.1 A legitimidade e limitações da arte em si mesma — e da dança como arte
Gualberto nos apresenta as diferentes “ramificações” da “árvore da dança”146 (lazer, etnia, saúde,expressão e espetáculo — figura 06). Ela sugere que a dança seja legitimada enquanto arte etambémcomocelebraçãodavidaperanteeparaglóriadeDeus.Vimosqueos israelitasnãoviamproblemaemcelebraravidadiantedoCriadordançando.Pensemosagoranadançacomoarte.
A arte tem seu lugar na experiência humana e cristã, porqueDeus criou a beleza e dotou ohomem de capacidade criativa (Gn 1.26-28).147 Por isso “o instinto artístico é um fenômenouniversal”148 ou, como diz outro autor, “a arte desempenha um importante papel na liturgia davida”.149Criareapreciaraarteéconsequênciadiretadomandatocultural.
Sendo assim, domesmomodo como falamos em “vocaçãomissionária”, ou “vocação para aesfera da ciência”, temos de falar sobre uma “vocação para a arte”. E assim como uma pessoa
143GUALBERTO,CarolinaLage.Dança:OQueEstamosDançando?PorUmaNovaDançanaIgreja.SãoPaulo:Hagnos,2007,p.19.Grifosnossos.144GUALBERTO,op.cit.,p.112.145Ibid.,loc.cit.Grifonosso.146GUALBERTO,op.cit.,p.22-23.Esta“árvore”éumaadaptaçãodoesquemasugeridooriginalmenteporROBINSON,Jacqueline.LeLangageChorégraphique.Paris:Vigot,1978.AautoraencontrouoreferidoesquemaemSTRAZZACAPPA,Márcia.AEducaçãoeaFábricadeCorpos:ADançadaEscola.Cad.CEDES[online].2001,vol.21,n.53,p.69-83.ISSN0101-3262.doi:10.1590/S0101-32622001000100005.Disponívelem:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622001000100005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt#nt03>.Acessoem:31mai.2011.147UmamaneirafilosóficadedizerissoéafirmarqueDeuscriouaEstética.Cf.CARVALHO,GuilhermeVilelaRibeirode.Sociedade,JustiçaePolíticanaFilosofiadeCosmovisãoCristã:UmaIntroduçãoaoPensamentoSocialdeHermanDooyeweerd.In:LEITE,CláudioAntônioCardoso;CARVALHO,GuilhermeVilelaRibeirode;CUNHA,MaurícioJoséSilva.CosmovisãoCristãeTransformação.Viçosa:EditoraUltimato,2006,p.195-196.148KUYPER,Abraham.Calvinismo.SãoPaulo:CulturaCristã,2003,p.152.Grifodoautor.149ROOKMAAKER,op.cit.,p.54.
A dança como arte e celebração 46
vocacionadaparaolaborjurídicosemisturacomseutrabalho,aexpressãoartísticapodeocorrerdetalmodoqueolimiteentreoartistaeaartequasequedeixadeexistir—oartistaproduzarteeaartemoldaoartista.150
A admissão do mandato cultural nos força a concordar com Rookmaaker; a arte éintrinsecamente necessária. “Os artistas não precisamde justificativa. Deus os chamou e lhes deutalentos.Nãopodemosprosseguirsemeles”.151Econtinua:
Aartetemumafunçãoimportanteemnossavida,aocriaraatmosferanaqualvivemos,aonosdaraspalavrasparafalareaonosofereceraestrutura(umapaisagem,porexemplo)naqualpodemosabsorverascoisassemsequernotarmos.Aarteraramenteéumapropaganda,mastemsidomuitoinfluenteemmoldarasformasdepensamentodenossostempos,osvaloresquetemos.Porisso,amentalidadetransmitidapelaarteéimportante.152
Figura06:Aárvoredadança
Opontoadestacaréqueaarteétantolimitada,quantodegradadapelaqueda.AlinhagemdaserpentefazusodaarteperanteDeusemrebeldiaaele(Gn4.21).Opagãoconsagrasuacriatividadeaopecado(Is40.19-20;Rm1.18-32).
Issonãosignificaqueocristãodevarejeitaraarte,poisCristoreconciliaconsigomesmo“todasascoisas,quersobreaterra,quernoscéus”(Cl1.20).Issopossibilitaoretornoaoprojetodacriação—osdonserealizaçõesartísticasdahumanidadededicadosàglóriadivina.
Cristonãoveioapenasparanostornarcristãosousalvarnossaalma;eleveioparanosredimir,deformaquepudéssemosserhumanosnosentidomaisamplodapalavra.Sernovaspessoassignifica
150“Oquesignifica,emgeral,“expressão”?Aideiadeexpressãoestáintimamenteligadaaumnexoquesepressupõeexistirentreumafontedeenergiaeumsignoqueaveiculaouaencerra.Umaforçaqueseexprimeeumaformaqueaexprime.Forçaeformaremetem-seecompreendem-semutuamente”;BOSI,Alfredo.ReflexõesSobreaArte.7.ed.SãoPaulo;Ática,2000,p.50.(SérieFundamentos);cf.DEWEY,op.cit.,p.147-178.Wilde,porsuavez,consideraque“revelaraarte,esconderoartista,éametadaarte”—WILDE,Oscar.ORetratodeDorianGray.SãoPaulo:Abril,2010,p.9.(ClássicosAbrilColeções,v.4).151ROOKMAAKER,op.cit.,p.36.152Ibid.,p.38.
A dança como arte e celebração 47
quepodemosusarnossacapacidadehumanadeformaplenaelivreemtodasasfacetasdavida.Portanto,sercristãosignificaquetemoshumanidade—aliberdadedetrabalharnacriaçãodeDeuseusarostalentosqueeledeuacadaumdenósparasuaglóriaeparaobenefíciodopróximo.Assim,setivermostalentosartísticos,elesdevemserusados.153
Apartirdaquiépossívelafirmarduascoisas,quaissejam,ocultopúblicofazusodaarte,masaartenocultotemdeserviràsprescriçõesdivinas.
8.2 O culto público faz uso da arte
A arte afeta a forma do culto e a pessoa que cultua. O culto público é também emocional.“Emocional não quer dizer anti-intelectual. Émais que intelectual”.154 A adoração integra a razão(compreensãodeconteúdos),asemoções (apreensãodeconteúdos)eocorpo (respostadoscincosentidos—audição,olfato,paladar,tatoevisão—aosconteúdos).
Somostocadosporboamúsicacristã.Aexperiênciaopostaétambémfrequente.Amaisbem-intencionadainiciativadeevangelizaçãoecultopodetropeçarnodescuidocomaarte.
Talvezelesarranjemumatendaeumótimopregador.Maseamúsicaqueserátocadaantesdeopregadorfalar?Ounãohaverámúsica?Esehouver,dequetiposerá?Ouissonãodeveserconsiderado?Ouseráquenãoimporta?Músicatambémécomunicação.Eseessacomunicaçãocontradisserodiscursodopregador?Omesmoseaplicaaospanfletosdistribuídoseaoscartazesconfeccionados.Elesdevemserbemdesenhadosedebomgosto,poisgeralmentesãooprimeirocontatoqueaspessoasdeforatêmcomoscristãose,decertaforma,sãonossafaceeaparênciaexternas.Assimcomoaspessoasmostramquemsãopormeiodesuasroupasemovimentos,essascoisas(música,cartazesou,emumapalavra,arte)sãooselementosqueformamnossaprimeira—emuitasvezesdefinitiva—comunicação.Seformosresponsáveispelaconstruçãodeumaigreja,seráqueeladeveráterumaaparênciatotalmentedespojada?[...]Contudo,[...]esebuscarmosumadecoraçãoapropriada(umvitral,porexemplo),seráquenãoprecisaremosencontrarumbomartista?[...]CommuitafrequênciacriamosbarreirasàcomunicaçãodoevangelhoporquepregamosquenosimportamoscomaspessoasequeestemundoédeDeus,masnãoagimosporessesprincípios.155
ORedentorsefezcarne;oDeusinvisívelsetornouvisívele“palpável”(Jo1.14;1Jo1.1-3).Issolegitimaaestruturaeconcretudedaliturgiaeousodaarteparafacilitaresteprocesso.Desenhistasgráficos aprimoram os leiautes de Bíblias e hinários; arquitetos e especialistas em decoração eiluminaçãohumanizamoslugaresdeadoração;carpinteiroseartesãostornamomobiliáriousáveleesteticamenteagradável.Atéapregaçãoutilizaaarte—peritosemsonorizaçãoemídia tornamapalavra faladaaudível aosadoradoreseospregadoresutilizama linguagemcorrente,métodosdecomunicaçãoeoutrastécnicasetecnologias,afimdetransmitiramensagemdoevangelho.
Quandoentendemosumpoucodearte,sabemosqueastécnicas,osmateriais,otamanho—todosesseselementostécnicos—sãoescolhidosparaajudaraexpressaroquesequer.Então,oespiritualeomaterialestãonecessariamenteinterconectados.156
Outroautorcolocaaquestãodaseguinteforma:
Háduasatividadesdistintasenraizadasnareligião:Cultoecultura,adoraçãoetrabalho,oraetlabora,aspiraçãoetranspiração.EnãosónossaaspiraçãodeveestarsobainspiraçãodoEspírito,comotambémnossatranspiração;cadapartículadeenergiagasta,físicaoumentaldeveestarnoserviçode
153Ibid.,p.27.154Ibid.,p.52.155Ibid.,p.25.Grifosnossos.156Ibid.,p.39.
A dança como arte e celebração 48
Deus,portantoinspirado.Essaéaessênciadareligiãoverdadeira;afédeveinformaroseremsuaintegralidade.RestringirareligiãotantoaoaspectodaadoraçãoquantoaodoserviçoéquebraraquiloqueDeuscolocoujunto,poisDeus,oSenhor,exigeambos,adoraçãoetrabalho;religiãoconsisteemcultoecultura.157
Énessesentidoqueocultocristãofazusodaarte.Ninguémdebomsensopodenegarisso.
8.3 A arte no culto deve se sujeitar às prescrições divinas
Aartenocultonãopossuiautonomia.VimosqueosartíficesdotabernáculofizeramtudooqueDeushavia“ordenado”(Êx31.6,11).AartenaadoraçãofornecesuporteparafazeroqueDeusprescreveu(PRC). A arte não é usada no culto para “expressar criatividade” ou “inovar”,muitomenos comosubstitutadapregação.
Aartenãodeveserusadaparapregação,mesmoqueissosejaútil.[...]Aartecomfrequênciatem-setornadoinsinceraeinferioremseuesforçodefalaràspessoasecomunicarumamensagemquenãolhecompete.[...]Narealidade,pediraoartistaquesetorneumevangelistarefleteatotalconfusãosobreosignificadodaartee,consequentemente,deoutrasatividadeshumanas.[...]Eopropósitodavidanãoéoevangelismo;éabuscadoreinodeDeus.[...]Parautilizarumametáfora,aartenãodevesercomparadaàpregação.Mesmoamelhorobradearteaindaseriaumapregaçãoruim.158
Aqui se encaixa nossa compreensão da dança. Enquanto arte ela possui legitimidade e nãoprecisaserjustificada.Elapropiciaumaexperiênciaestética—oenlevonaalmadecorrentedeumabelezaqueconfirmaabondadedacriaçãoreafirmadaemCristo.
Nesses termos a arte, e em especial a dança, não podem ser demonizadas. Como cristãos,admitimosaspossibilidadesdadançaemtodasas“ramificações”da“árvoredadança”apresentadaporGualberto.Poroutro lado,porcausadaqueda,assumimos tambémque“aartenãoéneutra.Podemosedevemosjulgarseuconteúdo,seusignificadoeaqualidadedoentendimentoacercadarealidade que está incorporada nela”.159 Cabe a nós discernir a propriedade de cada uso da arte,reconhecendoqueestaesferaofereceperigosaodiscipulado(Ap18.21-22).Talvezporisso,naigrejaantiga,osqueganhavamavidanoteatrotinhamdemudardeprofissãoantesdeserembatizados.160
Outraquestãoéapreocupaçãocomo testemunho.Aindaqueo cristãopossa celebrara vidadiantedeDeuscomdanças,énecessárioevitartodoescândalo—nemtudoqueélícitoconvém(Rm14.13-23;1Co9.19-27;10.23).
Porfim,temosdeserhonestosemconcluirque,tudooqueapresentamossobraadançacomoarte,aindanãoaqualificacomoelementoprescritopelaBíbliacomopartedocultopúblico.
157VANTIL,HenryR.OConceitoCalvinistadeCultura.SãoPaulo:CulturaCristã,2010,p.45.158ROOKMAAKER,op.cit.,p.37,38.Grifosnossos.159ROOKMAAKER,op.cit.,p.51.160HIPÓLITODEROMA.TradiçãoApostólicadeHipólitodeRoma:LiturgiaeCatequeseemRomanoSéculoIII.2.ed.Petrópolis,EditoraVozes,1981,3.2.Paraumaversãoonlinedotexto,cf.ARQUIDIOCESEORTODOXAGREGADEBUENOSAIRESEAMÉRICADOSUL.PatrísticaeFontesCristãsPrimitivas:TradiçãoApostólicadeHipólitodeRoma.BuenosAires:Ecclesia,[20--?].Disponívelem:<http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/tradicao_apostolica_hipolito_roma.html#3.5-OBatismo>.Acessoem:26mai.2011.Talvezporcausadaproximidadeentreoteatroeopaganismo.Alémdosligadosaoteatro,aigrejadoséculo3nãorecebiadonosdeprostíbulos,escultoresoupintoresqueproduzissemídolos,cocheiroscompetidoresefrequentadoresdeespetáculosdeluta,gladiadoresouempresáriosdelutasgladiatórias,sacerdotesouguardiõesdeídolos,soldadosqueprestassemjuramentoaCésar,magistrados,prostitutas,pervertidos,homossexuais,mágicos,feiticeiros,astrólogos,adivinhos,intérpretesdesonhos,charlatães,ilusionistasefabricantesdeamuletos(ibid.loc.cit.).
A dança como arte e celebração 49
Conclusão da aula 8
Aboateologiabíblicanãovêproblemanousodadançacomoarteecelebração.Noentanto,ousoda arte na evangelizaçãodeve ser comedido, sem jamais ocupar o espaçodapregação. E nãohá,apenassoboângulodadançacomoarte,umlinkválidocomqualquerprescriçãobíblica,quevalideapropostadadançalitúrgica.
Atividades da aula 8
1.Completeafrase:Enquantoalgunsentendemquesercristãoequivaleanãosedivertircomdanças,artistascristãossériosepreocupadosempraticarafébíblicapropõemqueaigrejaabraespaçoparaouso______________________dadança.
2.Completeafrase:Gualbertonosapresentaasdiferentesramificaçõesdaárvoredadança;Lazer,etnia,saúde,______________________eespetáculo.
3.MarqueVerdadeiroouFalso:Criareapreciaraarteéconsequênciadiretadomandatocultural.
___Verdadeiro.
___Falso.
4.Completeafrase:Opontoadestacaréqueaarteétantolimitada,quanto_____________________pelaqueda.
5.MarqueVerdadeiroouFalso.Nocultocristão,aarteéusadapara“expressarcriatividade”ou“inovar”,ecomosubstitutadapregação.
___Verdadeiro.
___Falso.
Usos atuais da dança pela igreja 50
Aula 9: [Parêntese 3] Usos atuais da dança pela igreja
Defato,umpapelcaracterísticodocultopúblicodiminuiuquandomuitosenfatizaramquetodaavidaeraumculto,equeocultopoderiaassumirmuitasoutrasformasquenãoessadocultodopovodeDeusreunido.
W.RobertGodfrey.
Introdução da aula 9
Adiversidadedeopiniõesentreevangélicossobredançaésignificativa.Hácrentesquediscordamdadança litúrgica, mas não veem problema em matricular seus filhos em aulas de balé ou dançacontemporânea. Para outros, toda dança fora da jurisdição da igreja é pecado, enquanto usamcoreografiasna“evangelização”eadançalitúrgicanoscultospúblicos.
9.1 Quatro usos da dança
Aigrejabrasileirausaadançaparaadoração,missão,expressãoediversão(figura07).
Figura07.Quatrousosdadançapelaigreja
Osquedançamnocontextodaadoração,dizemseguirumadireçãodoEspíritoSanto.Pessoasdançamenquantoaigrejacanta,ouemoutrosmomentos.EacongregaçãodançaenquantolouvaaDeuscomcânticos.
A dança é usada também comométodo evangelístico agregada ao drama (coreografias). Háquemconsidereesteprocedimentoeficazenecessário.
Outrospropõemadançacomoexpressão(usoreligiosodaarte).Háosquetrabalhamemprolde uma arte cristã, sugerindo que as igrejas devem promover a dança como expressão artísticasantificada(cf.Gualberto,naaulaanterior).Eháosqueseesforçamparaqueosusosanteriores—dadançacomoadoraçãooumeiodeevangelização—sejamaprimoradospelatécnicaartística.
Por fim,a subculturagospelpropiciaentretenimentocristão (temosde“atrair”e “segurar”osadolescentesejovensnaigreja;paraqueelesnãobusquemas“baladasmundanas”,implementemosdiversão “evangélica”). Bandas lançam versões “evangélicas” de estilos musicais populares epromovem“shows”.Eoscrentesseentretêmpulandoedançando. Igrejascriamespaçosparaqueseusmembrosdancem—aschamadas“arenas”ou“boatesgospel”.
Estesquatrousosdadançasãotentativasdecolocaraarte(nocaso,adança)soba jurisdiçãodaesferareligiosa.
Usos atuais da dança pela igreja 51
9.2 Judaísmo messiânico e adoração profética ou extravagante
Igrejasevangélicasabremespaçoparaadançalitúrgicainfluenciadasporcincocoisas,quaissejam,ojudaísmomessiânico,aadoraçãoproféticaouextravagante,umaaplicaçãoesquisitadapericorese,asugestãodenecessidadedeumaartecristãe,porfim,umamotivaçãosincera,maspoucorefletida,derelevânciaculturalevangélica.
Ojudaísmomessiânicofoiiniciadoem1968eseexpandiualémdesuasprópriasfronteiras.EleacolheJesusCristocomoMessiasprometidonoAT,masinsisteem leroNTsobumaóticajudaica,comoobjetivodealcançarosjudeus.EntreelesJesuséchamadodeYeshua,asfestasreligiosasdoAT são celebradas e as liturgias diferem das praticadas pelas igrejas ocidentais. Os judeusmessiânicosacreditamqueoEspíritoSantoestápromovendoumavivamentodadança.
Figura08.Cincoinfluênciasdadançanaigrejacontemporânea
Em sua versãobrasileira, a “adoraçãoextravagante”161 consiste em louvarprofetizando—oucriandoumaatmosferapropíciaparaaprofecia—eobedeceraosimpulsosdoEspírito,oferecendo-seaDeus inteiramenteesemlimitesoupreocupaçõescomoqueosoutrospensemoudigam.Háuma ligaçãoconceitualemetodológicaentreosadoradoresextravaganteseos judeusmessiânicos(cf.Apêndice01).
Em terceiro lugar, cada vez mais pessoas aceitam a ideia de um “Deus dançarino”. Se Deusdança, nós não apenas podemos, mas também devemos dançar. A base para este ensino é umaaplicaçãomuitoestranhadeexposiçãodadoutrinadaTrindade,propostapelo teólogogrego JoãoDamasceno,queviveunoséculo8.
DamascenoentendeuquearelaçãoentreaspessoasdaTrindadeédinâmicaequeaaçãodecadapessoa—comexceçãodaencarnação—nãopodeserabsolutamenteseparadadasdemais.
Elenãopensavanadança litúrgica,mas,para ilustraraaçãosublimedasPessoasBenditasdaTrindade,elepropôsumailustração:Assimcomoascriançasdeseutempodançavamemroda,demodo que, ao fim da brincadeira, todas haviam ocupado as diversas posições no círculo, as trêspessoas da Trindade também “trocam de lugar” enquanto atuam universo, de modo que cada
161BESSA,AnaPaulaValadão.AdoraçãoDiantedoTrono.[BeloHorizonte]:EditoraDiantedoTrono,2003,p.255-317;ZSCHECH,Darlene.AdoraçãoExtravagante.SãoPaulo:EditoraAtos,2003.
Usos atuais da dança pela igreja 52
detalhe da criação e nova criação é marcado pela ação do Pai, do Filho e do Espírito Santo.Damascenochamou issodepericorese.Ossimpatizantesdadança litúrgicadãoaestaanalogiaumsentidocompatívelcomsuateologiapró-dança(cf.Apêndice01).
Em quarto lugar, abre-se espaço para a dança na igreja com o fim de construir uma pontecultural,a“aplicaçãodaarteaserviçodoreino”eo“resgatedaculturabrasileira”,162mencionadosnaseção8.1.
Alémdasinfluênciasanteriores,dizemque“aigrejatradicionaleinstitucionalestádefinhando,eseunichodemercadoestásendoesvaziado”.163Oscrenteseaspessoasinteressadasnoevangelhosãohojeorientadasmaispelaimagemdoquepelapalavra.164Igrejasapegadasaformastradicionaissão como “um jumentinho puxando uma carroça em uma grande avenida”.165 Isso “exige” uma“atualização”daigrejaetalvezadançalitúrgicadevaconstarnestapautade“contextualização”—especialmentesequisermosalcançaranovageração.Seprecisamosdeengajamentonabuscadosperdidosefalaralinguagematual,porquenãofazerusodadançalitúrgica?
A igreja precisamesmo refletir, se comprometer e agir para cumprir amissão.No entanto, ésimplistaimaginarqueosdesafiosdacontextualizaçãoerelevânciasãoresolvidoscomaadoçãodadançacomomídiadeevangelização,ounocultopúblico,comoelementodaadoração.
9.3 A novidade da dança no culto da igreja
Comovimos,nãoháprescriçãodadançalitúrgicanoAT.ONTsequermencionaestapossibilidade.ÉcuriosonãoencontrarmosdançasnasliturgiasdoApocalipsequeilustramocultocelestial,ouseja,aBíblianãomencionadançasnocéu(Ap4.1—5.14;7.9-17;11.15-19;15.2-4;19.1-8).166
Pensandoespecificamentenocultopúblico,adançalitúrgicaéumainovação:
Observamosumatendênciacadavezmaiorentreoslíderescristãosdedesprezaremvinteséculosdehistóriaeclesiásticaedeexperimentaremnovosmétodos,procedimentoseinovaçõessemoapoiodasEscrituras,numatentativadeedificarassuasigrejaserealizaraobradeDeus.Essasmudançase
162VEIGA,Carlinhos.Prefácio.In:GUALBERTO,op.cit.,p.15.163DRISCOLL,Mark.ConfissõesdeUmPastordaReformissão:DurasLiçõesdeUmaIgrejaEmergenteMissional.Niterói:TempodeColheita,2009,p.21.Grifonosso.164Cf.SWEET,Leonard.PeregrinosdoNovoSéculo:APaixãodoPrimeiroSéculoParaoMundoContemporâneo.SãoPaulo:GarimpoEditorial,2010,p.103.Osdesafiosapresentadospelasnovasmídiastêmsidodebatidospordiversosteóricos.Cf.THOMPSON,JohnB.AMídiaeaModernidade:UmaTeoriaSocialdaMídia.2.ed.Petrópolis:Vozes,1998;JOHNSON,Steven.CulturadaInterface:ComooComputadorTransformaNossaManeiradeCriareComunicar.RiodeJaneiro:JorgeZaharEd.,2001;LÉVY,Pierre.Cibercultura.SãoPaulo:Ed.34,1999;VEEN,Wim;VRAKKING,Ben.HomoZappiens:EducandonaEraDigital.PortoAlegre:Artmed,2009;REYNOLDS,Garr.ApresentaçãoZen:IdeiasSimplesdeComoCriareExecutarApresentaçõesVencedoras.2.ed.RiodeJaneiro:AltaBooks,2010;DUARTE;Nancy.Slide:ology.SãoPaulo:UniversodosLivros,2010;HESSELGRAVE,DavidJ.AComunicaçãoTransculturaldoEvangelho:Comunicação,EstruturasSociais,MídiaeMotivação.SãoPaulo:VidaNova,1996.v.3;KRAFT,CharlesH.Cultura,CosmovisãoeContextualização.In:WINTER,RalphD.;HAWTHORNE,StevenC.;BRADFORD,KevinD.(Ed.).PerspectivasnoMovimentoCristãoMundial.SãoPaulo:VidaNova,2009,p.392-400.Nacontramãodestaargumentação,lemosque“comaInternet,voltamosàeraalfabética.Seumdiaacreditamosterentradonacivilizaçãodasimagens,eisqueocomputadornosreintroduznagaláxiadeGutenberg,edoravantetodomundovê-seobrigadoaler”(ECO,Umberto;CARRIÈRE,Jean-Claude.NãoContemComoFimdoLivro.RiodeJaneiro:Record,2010,p.16;grifosnossos).165MONTEIRO,MarcosAdoniram.UmJumentinhonaAvenida:AMissãodaIgrejanaÓticadeumPastorUrbano.In:STEUERNAGEL,ValdirR.(Org.).AMissãodaIgreja:UmaVisãoPanorâmicaSobreosDesafiosePropostasdeMissãoParaaIgrejanaAntevésperadoTerceiroMilênio.BeloHorizonte:MissãoEditora,1994,p.165-178.166Silberling(op.cit.,p.28-29)insisteemafirmar“oconceitodadançacomocultoespiritualecópiadocultocelestial”(grifonosso).ElereferendaissocitandoumtrechodolivroapócrifodeAtosdeJoão,masnãoforneceumasóevidênciasólidadasSagradasEscrituras.
Usos atuais da dança pela igreja 53
inovaçõesincluemcoisastaiscomodançarinos,dramatizaçãooupeçasdeteatroeatividadespentecostais,quevariamentreo“serderrubadopeloEspírito”eo“risosanto”.167
Adançalitúrgicanãoémencionadanosregistroslitúrgicosdosprimeiroscristãos.SeoscrentesdeorigemgentílicadançavamapósseconverteremaoSenhor,éumaquestãoaindaemaberto.168
A Apologia de Justino Mártir (c. 100 — c. 165), nos fornece “a primeira liturgia de relativaprecisão”.169Taldocumentonãoregistraadançalitúrgica:
Nodiaquesechamadosol,reúnem-setodososquemoramnascidadesounoscampos,eentãoseleem,enquantootempoopermite,asmemóriasdosapóstolosouosescritosdosprofetas.Quandooleitortermina,opresidentefazumaexortaçãoeumconviteparaimitarmosessesensinamentosnavida.Emseguida,levantamo-nostodosjuntoseelevamospreces.Depoisdeterminadasaspreces,comojádissemos,oferecem-sepão,vinhoeágua,eopresidente,conformesuasforças,fazigualmentesubiraDeuspreceseaçõesdegraçasetodoopovoconsente,dizendo“Amém”.Segueadistribuiçãoacadaum,dosalimentossobreosquaissepronunciouaaçãodegraçaseseuenvioaosausentespelosdiáconos.Aliás,osquepossuemalgumacoisa,casoqueiram,dãoconformesualivrevontade,oquebemlhesparece,eoquefoirecolhidoéentregueaopresidente,paraquepossasocorreraosórfãoseviúvas.170
Outro documento fundamental para a compreensão do culto na igreja antiga é a TradiçãoApostólica,deHipólitodeRoma(3ºséculo).Nelelemossobreaeleiçãodepresbíteroseainiciaçãodas pessoas interessadas em ingressar na igreja. Há instruções sobre a condução e batismo doscatecúmenoseacelebraçãodaceiaecultodominical.171Nestetextoricoemdetalhes litúrgicos,adançanãoémencionada.
MartinhoLutero“nãoviarazãoparaousodadançanocultoeclesiástico”.172Éprovávelqueissodecorra de sua ênfase na centralidade da pregação.173 Como vimos, os protestantes de linhaCalvinista forammais longe, insistindoqueoselementosda liturgiadocultodeviamserprescritospelaEscritura(PRC).167DICKIE,RobertL.OQueaBíbliaEnsinaSobreAdoração.SãoJosédosCampos:EditoraFiel,2007,p.60.Grifosnossos.168Estaéumaáreadepesquisaqueprecisaserescavada.Atépoucotempo,talassuntonãoeratidocomoimportante.169HINSON,Glenn.E.;SIEPIERSKI,Paulo.VozesdoCristianismoPrimitivo.SãoPaulo:TemáticaPublicações;EditoraSEPAL,[198-?],p.35.170JUSTINOMÁRTIR.1ªApologia,67,apudJUNGMANN,JosefA.MissarumSollemnia:Origens,Liturgia,HistóriaeTeologiaaMissaRomana.5.ed.SãoPaulo:Paulus,2008,p.40.171Cf.HIPÓLITODEROMA,op.cit.,passim.SilberlingafirmaquetantoJustinoMártirquantoHipólitoescreveramsobre“círculosfestivosdedançacomopartedaordemdoculto”(op.cit.,p.28,grifonosso).Talinformação,comovimos,nãocorrespondeàsevidências.NenhumafonteéfornecidaparaaafirmaçãosobreJustinoMártir.SobreHipólito,afontesecundáriaéBACKMAN,LouisE.ReligiousDancesintheChristianChurchandinPopularMedicine.London:GeorgeAllen&UnwinLtd.,1952,p.27(cf.SILBERLING,op.cit.,p.57).Elesugereainda(ibid.,p.29),quenaobradeHermas“adançafoiconcebidacomopartedabem-aventurançadocéu”.Oconteúdodafonteindicadapermiteinterpretaçõesdiferentes—cf.OPastor,9ªParábola,88.In:PADRESAPOSTÓLICOS.SãoPaulo:Paulus,1995,p.254.(SériePatrística).AafirmaçãofeitasobreJoãoCrisóstomoeAgostinho(ibid.,p.30)nãocontémindicaçãodefonte.TambéméditoqueJerônimoconsiderouadança“boaeessencialmentealegrecomoexpressãodelouvor”(ibid.,p.45,apudBACKMAN,op.cit.,p.47).Maisumavez,somenteafontesecundáriaémencionada.172SILBERLING,op.cit.,p.32.Oreferidoautorseequivocaaosugerirqueaposturadoreformadoreraconsequênciadonovofoconapalavraescrita,decorrentedainvençãodaimprensa,eda“admissãodoracionalismocomsuaconceituaçãomaiscríticadasartes”(ibid.,p.31-32;grifonosso).Luterodestacouafalamuitomaisdoqueaescrita:“OpróprioCristonãoescreveunada,nemordenouquenadafosseescrito,massimquesepregassepelapalavrafalada”(WA10/1,p.48,apudGEORGE,op.cit.,p.91).Ofatoéque“osprimeirosreformadoresreagiramcontraateologiaescolástica,comsuaênfasenarazão”(cf.COSTA,HermistenM.FundamentosdaTeologiaReformada.SãoPaulo:MundoCristão,[201?],p.175).Averdadehistóricaindicaque“Luterodistanciou-semuitodeserracionalista”(GONZALEZ,JustoL.EAtéosConfinsdaTerra:UmaHistóriaIlustradadoCristianismo.AEradosReformadores.SãoPaulo:VidaNova,1983,p.69.v.6).Constata-seque“osepítetosdadosporLuteroàrazãoeramtãoseveros—aMeretrizdoDiabo,abesta,ainimigadeDeus,FrauHulda—queseuscríticosmuitasvezesorotulamdeirracionalista”(GEORGE,op.cit.,p.59).173Ibid.,p.91-93.
Usos atuais da dança pela igreja 54
Adançanoculto foipraticadano século18pelos shakers,umgrupoheterodoxoprovenientedosquacres, fundado “pelaMãeAnn Lee”.174 Tambémpelos “mongesbeneditinosdoPrioradodeWeston”175apartirde1953.Efoirelida,atualizadaeadotadapelosjudeusmessiânicos.176
Pelomenosatéametadedoséculopassado,osevangélicosnãomencionavamapossibilidadede incluir danças no culto público.177 Uma obra clássica sobre o culto cristão sequermenciona oassunto.178Emduasoutrasreferências importantes,adançanãoéconsiderada.179Umlivroescritoquasequatrodécadasatrás,comumexcelentecapítulosobre“ocorpodocristãonoculto”,tambémnão fala sobre dança litúrgica.180 A convicção deste autor é que o judaísmomessiânico afetou oentendimento evangélico sobre dança litúrgica. Surgiram livros propondo seu uso na adoração.181Umaobraatualsugereatéumexercíciodedança,comosegue:
Continuecaminhandoenquantoamúsicaestátocando.Tenteadaptaroseupassoaoritmodamúsica.AdançapodeserummeiomuitosignificativodeexpressarosseussentimentosemrelaçãoaDeus.SabemosqueoreiDavidançoudiantedaarcadaaliança(2Sm6.14ss).Vamosimitá-lo.Vamosdançarcomocrianças,dojeitoqueder,masvamoslevaremconsideraçãooqueaprendemosatéagorasobreasexpressõescorporaisnaoração.Enquantovocêouveamúsica,tenteexpressardeformadançadaosgestosdeoraçãoquevocêaprendeuatéagora.Nãoolheparaoqueosoutrosestãofazendo.Permitaserconduzidonaadoraçãoaofazeroseucorpoexpressaramúsicaquevocêestáouvindo.182
Emsuma,aigrejabíblicaépressionadaporumaculturateológicaeministerialquenãoapenasaceita,masinsisteemrecomendaradançalitúrgica.Adançalitúrgicanuncafoilargamenteusadanaigrejacristã.Osregistrosdeseuuso,apartirdoséculo18,apontamparagruposcristãosminoritárioseheterodoxos.Ademais,aliteraturafavorávelatalpráticaérecenteeproduzidaporsimpatizantesdevertentesteológicaseministeriaisafastadasdaortodoxiabíblicacalvinistaereformada.
Trocando emmiúdos, os adeptos da dança litúrgica desconsideram o PRC. A dança deve serincluída no culto da igreja? Eles lidam com a pergunta assumindo o princípio normativo (PNC):
174SILBERLING,op.cit.,p.33.175Ibid.,p.34.176Ibid.,p.35-36.177Oautorreconheceoslimitesestritosdesteestudo(igrejasprotestanteseevangélicasfortementeinfluenciadaspelomodelolitúrgicotradicionaleconservador).Nãoconstamnestelevantamento:(a)IgrejasdoContinenteAfricano;(b)asigrejasevangélicasnorte-americanasinfluenciadaspelamúsicaspiritualsounegrospirituals;(c)igrejaspentecostaiseneopentecostais,queassociamadançaaosêxtasespretensamenteprovenientesdaaçãodoEspíritoSanto.Estesúltimosgruposabremumespaçoconvidativoparanovaspesquisas.178ALLMEN,2005,publicadaoriginalmenteem1965.179MARTIN,op.cit.,passim,publicadooriginalmenteem1964;SHEDD,RusselP.AdoraçãoBíblica.1.Ed.Reimp.1991.SãoPaulo:VidaNova,1987.AindaqueoDr.Sheddafirmequeamúsicanaadoração“envolveossentidos,ocorpoeacriatividadedosadoradores”(op.cit.,p.90),nãoésugeridoquedançasdevamserincluídasnocultopúblico.180ALLEN;BORROR,op.cit.,passim.Publicadooriginalmenteem1982.181Cf.GAGNE,Ronald;KANE,Thomas;VEREECKE,Robert.IntroducingDanceinWorship.RevisedEdition.Portland:PastoralPress,2000.(Primeiraediçãoem1984);WAGNER,Ann.AdversariesofDance:FromthePuritanstothePresent.Baltimore:UniversityofIllinoisPress,1997;STEVENSON,Ann.Dance!God'sHolyPurpose.Shippensburg,PA:DestinyImagePublishers,Inc.,1998;CURRY,op.cit.,passim.182DOUGLASS,Klaus.CelebrandooAmordeDeus:ODespertarParaUmNovoCulto.Curitiba:EditoraEvangélicaEsperança,2000,p.114.(SérieODesenvolvimentoNaturaldaIgreja).Grifosnossos.Observeatônica;ocultonãoéentendidocomoadoraçãonostermosprescritosesimcomoexpressãodenossossentimentos.OincentivoàdançasacrapodeserencontradotambémemalgumasBíbliasdeestudo.DentreasBíbliasevangélicas,e.g.,acercadeSalmos150.4:“ComoDeusdeveserlouvado—[...]comasdançascolocadas,demodoapropriado,nomeio”;cf.BARKER,BENVI,p.1048.DentreasBíbliascatólicas,acercadamesmapassagem,cf.SCHÖKEL,LuísAlonso(Ed.).BíbliadoPeregrino.SãoPaulo:Paulus,2002,p.1409:“Comoamúsicainstrumentalestilizasons,assimadançaestilizamovimentoshumanos,osordenaemritmos,oscombinaemfiguras.Etudoéoferecidoàdivindadecomoespetáculoemsuahonra”.Essaideiade“espetáculoemhonradeDeus”nãoencontrasustentaçãonoATouNT.
Usos atuais da dança pela igreja 55
“Inexistem proibições relativas à dança na Bíblia. Deus jamais a denunciou como prática a serresistidaouevitada”.183SeaBíblianãoproíbeadançalitúrgica,nãoháproblemaemadicioná-la.
Repetindo,aTeologiadoCulto184dosproponentesdadançalitúrgicaéconfiguradacomosegue:PrimeirosãocompiladasaspassagensbíblicasquemostramdançasnoAT(semnenhumatentativadeinterpretá-lascuidadosamente).Segundo,afirma-se,semexplicaçãodoqueissosignifica,queosmúsicosedançarinosdesempenhamalgumtipodeministério levíticoe sacerdotal, semelhanteaodo tabernáculo e do templo. Terceiro, sugere-se o uso cristão da arte (a dança devidamenteincluída).Quarto, tudo isso émisturado semmuito critério e o resultado, dizem, deve ser o cultopúblicodaigreja(figura09).
Figura09.OmétodoatualdaTeologiadoCulto
Tal abordagem produz confusão. Mais do que meramente normatizar, a Bíblia regula aadoração.AlistadoselementosbíblicosprescritosparaaadoraçãoéfornecidapelaCFW:
AleituradasEscrituras,comsantotemor;asãpregaçãodaPalavraeaconscienteatençãoaela,emobediênciaaDeus,cominteligência,féereverência;ocânticodesalmos,comgratidãonocoração,bemcomoadevidaadministraçãoeadignarecepçãodossacramentosinstituídosporCristo—sãopartesdocultocomumoferecidoaDeus,alémdosjuramentosreligiosos,votos,jejunssoleneseaçõesdegraçaemocasiõesespeciais,osquais,emseusváriostemposeocasiõespróprias,devemserusadosdeummodosantoereligioso.185
Observemos que a dança litúrgica não consta entre os elementos do culto na Bíblia, nemnaCFW,nememqualqueroutrodocumento litúrgicode igrejasbíblicascalvinistase reformadas.Nósassumimos o princípio regulador: A Bíblia não ordena a dança no culto público; portanto, nãopodemosincluí-la.
Conclusão da aula 9
Admite-sequeaigrejabrasileiratemabertomaisespaçoparaousodadançaparaadoração,missão,expressãoediversão.Quantooprimeirouso,insistimosemquenãohábasebíblicaparatal.Quanto
183SILBERLING,op.cit.,p.20.184TeologiadoCultoéadisciplinadaTeologiaSistemáticaqueestudaaadoraçãocristã.185CFW,21.5.
Usos atuais da dança pela igreja 56
ao segundo uso, repetimos que o uso da arte na evangelização deve ser comedido, sem jamaisocupar o espaço da pregação. Quanto ao terceiro e quarto usos, a boa teologia bíblica não vêproblemanadançacomoarteecelebraçãodiantedeDeus,evitando-seabusosesemprelevandoemcontaobomtestemunhocristão.
Atividades da aula 9
1.Completeafrase:Aigrejabrasileirausaadançaparaadoração,missão,______________ediversão.
2.MarqueVerdadeiroouFalso:Asubculturagospelpropiciaentretenimentocristão(temosde“atrair”e“segurar”osadolescentesejovensnaigreja;paraqueelesnãobusquemas“baladasmundanas”,implementemosdiversão“evangélica”).
___Verdadeiro.
___Falso.
3.Marqueaúnicarespostacorreta:Igrejasevangélicasabremespaçoparaadançalitúrgicainfluenciadasporcincocoisas,quaissejam:
___Ojudaísmomessiânico,aadoraçãoproféticaouextravagante,umaaplicaçãoesquisitadoanabatismo,asugestãodenecessidadedeumaartecristãe,porfim,umamotivaçãosincera,maspoucorefletida,derelevânciaculturalevangélica.
___Ojudaísmomessiânico,aadoraçãoproféticaouextravagante,umaaplicaçãoesquisitadapericorese,asugestãodenecessidadedeumaartecristãe,porfim,umamotivaçãosincera,maspoucorefletida,derelevânciaculturalevangélica.
___Ojudaísmomessiânico,aadoraçãoproféticaouextravagante,umaaplicaçãoesquisitadapericorese,asugestãodenecessidadedeumaartecontemporâneae,porfim,umamotivaçãosincera,maspoucorefletida,derelevânciaculturalevangélica.
4.AideiadequeasigrejasdevemimplementaradançalitúrgicaporqueDeuséum“DeusDançarino”(pericorese?)épropostapor:
___PeloTeólogogregoJoãoDamasceno.
___PeloMinistérioDiantedoTrono.
___Pelossimpatizantesdadançalitúrgica.
5.Marqueaalternativacorreta:Igrejasquepraticamadançalitúrgicasebaseiamno:
___PrincípioNormativodeCulto(PNC).
___PrincípioReguladordoCulto(PRC).
ANOTAÇÕES !
ParteIIIOcultonoNT,atradiçãoreformadaeumapropostacontemporânea
A adoração do Senhor Jesus Cristo e da igreja do NT 59
Aula 10: A adoração do Senhor Jesus Cristo e da igreja do NT
Meufilho,lembre-sediaenoitedaquelequeanunciaapalavradeDeusparavocêehonre-ocomosefosseopróprioSenhor,poisoSenhorestápresente
ondeéanunciadaasoberaniadoSenhor.Procureestartodososdiasnacompanhiadosfiéis,paraencontrarapoionaspalavrasdeles.
Didaquê4.1-2.186
Introdução da aula 10
Otemapropostopoderiaserexploradoemumamatériaespecífica.Esperamos,noentanto,pontuaralgumasinformaçõesfundamentais,afimdeconsolidarumentendimentointrodutório.
10.1 A adoração de e segundo Cristo
JesusCristoadoravaaDeus?Arespostaaestaperguntaécercadadeduasdificuldades:
1. ComooRedentorpoderiaprestarcultosendo,elemesmo,Deus?2. ConsiderandoaopiniãoaparentementenegativadoSenhorJesussobreotemplode
Jerusalém,eleseopunhaaocultojudaico?
10.1.1 A adoração de Cristo
Eleéchamadodekyrios,“Senhor”,porqueéverdadeiroDeus.187Dopontodevistadesuadivindade,Jesus Cristo é cultuado (Fp 2.9-11; Ap 5.6-14). “A adoração ao Filho encarnado significa que elepossuiamesmaidentidadeessencialdoseuPai.TudooqueéatribuídoaoPaiétambématribuídoao Filho”.188 Contudo, ele participou de atos do culto israelita. Não podemos desconsiderar sua“espiritualidadejudaica”comoverdadeirohomem.189
AlgunsditosdeJesuspodemserinterpretadoscomocontráriosaotemplo.Issonãosignificaqueeleseopunhaaocultonotemploemsi.190UmacomparaçãoentreMateus12.6;Marcos14.58eJoão2.19,21,permiteconcluirqueelenãoapenas“anunciavaodesaparecimentodotemplo”,masdiziaser “aquele que substitui o templo. [...] como sua vinda inaugurava o fim dos tempos,o culto dotemplonãopodiapermanecercomoantes”.191Elecombateuahipocrisiareligiosa,censurando“umaatitudeideológicaemqueapráticanãocoincidiacomateoria”.192
Cristoexemplificoue incentivouaadoração.Seaessênciadadevoçãoéobediência,elecumpriuplenamente osmandatos criacionais (Rm 5.19; Fp 2.8; Hb 5.8). Se o centro dos rituais do AT era osacrifício,eleofereceusuaprópriavidanacruz,nocontextodopactodaredenção(Hb7.26-27).
186PADRESAPOSTÓLICOS,op.cit.,p.348.187HURTADO,op.cit.,p.95-100,analisaosdiversosusosdekyriosechamaaatençãoparaocaráterbinitário.Nocultodosprimeiroscristãos,aadoraçãoaoDeusúnicoeratambémaadoraçãoaCristo.188CAMPOS,HeberCarlosde.AUniãodasNaturezasdoRedentor.SãoPaulo:CulturaCristã,2004,p.541.(ColeçãoFéEvangélica.APessoadeCristo).ÉdignodenotaqueJesusCristorecebeuadoraçãoantesmesmodaressurreição(Mt8.2;9.18;15.25;Mc5.6;Jo9.38;20.28).189SCHILLEBEECKX,Edward.Jesus:AHistóriadeUmVivente.SãoPaulo:Paulus,2008,p.249.(ColeçãoTeologiaSistemática).190CULLMANN,Oscar.CristologiadoNovoTestamento.SãoPaulo:Hagnos,2008,p.118.191CULLMANN,op.cit.,p.118-119.AspalavrasdoSenhor,acercadadestruiçãoiminentedotemplo,podemserconferidasemMateus24.2;Marcos13.2eLucas21.6.Grifonosso.ExcelentesexposiçõesdeCristocomalvo,focoecumprimentodecadacerimôniadecultodoATsãofornecidasporLONGMANIII,op.cit.,p.27-63,86-95,122-128;SANTOS,op.cit.,p.152-174eTURNBULL,op.cit.,p.114-173.192SCHILLEBEECKX,op.cit.loc.cit.UmaexpressãobastanteutilizadapornossoSenhor,hypokritai,“hipócritas”ou“atores”(e.g.Mt6.2;7.6;15.7;22.18;23.13;24.51;Lc12.56;13.15)provinhadoteatrogrego.Cf.THIEDE,CarstenPeter;DANCONA,Matthew.TestemunhaOculardeJesus:NovasProvasemManuscritoSobreaOrigemdosEvangelhos.RiodeJaneiro:Imago,1996,p.185.
A adoração do Senhor Jesus Cristo e da igreja do NT 60
Seu nascimento foi cercado por louvor, e aindamenino e pré-adolescente, ele foi levado aotemplo(Lc1.46-55;68-79;2.13-14,21-24,41-52).193Adulto,participoudasinagogadeNazaréedasassembleiassolenesemJerusalém(Lc4.16;Jo2.13;5.1;6.4;7.2,10;10.22-23).
Quanto à devoção particular, ele encarnou o que lemos na oração judaica de Ne’ilah: “Tuescolhesteohomemdesdeoprincípio,destinando-oaestardiantedeti”.194OsEvangelhosdestacamsua vida de oração (Mt 14.23;Mc 1.35; 6.46; Lc 3.21; 5.16; 6.12; 9.18, 28-29; 11.1; Jo 17.1-26). Ossinóticosregistramsuaposturadeadorador,“prostrando-se”ou“ajoelhando-se”submissoaoPai,nasúplica do Getsêmani (Mt 26.39; Mc 14.35; Lc 22.41). Como afirmou Lloyd-Jones: “Observem afrequênciacomquenossoSenhororava [...].Anecessidadedeoraçãoéumaprovaabsolutadesuagenuínahumanidade”.195TantoMateusquantoMarcosnosinformamque,apósaceiadaPáscoa,elecantouumhino(Mt26.30;Mc14.26).Finalmente,aderradeiratarefamessiânica,apontadapeloNT,seráocultodo“últimoAdão”,entregandoouniversoaoPai(1Co15.28,45).
10.1.2 A adoração segundo Cristo
TrêspontosdevemsersublinhadosquandopensamosnaadoraçãoinstituídapornossoSenhorJesusCristo. Primeiro, ele estabeleceu elementos para o culto, ordenando a pregação e instituindo oBatismoeaCeia—PalavraeSacramento(Mt26.26-39;28.18-20;Mc16.15;Lc24.46-48).
Segundo, igualmente importante foi o seu diálogo com a mulher samaritana (Jo 4.20-26). Aexpressão“vemahoraejáchegou”(Jo4.23)temsidoentendidacomoumadeclaraçãodeque,pormeiodeseuministério,aadoraçãoseriaradicalmentetransformada.196Essa“transformação”é,decertamaneira,umaretomada.Jesusatualizouopadrãodeadoraçãodotabernáculo,comosegue:
• Aadoraçãonãoémaisrestritaalugaresespeciais(Jo4.20-21):Nós“temosopreceitodeinvocaroSenhor[...]semdistinçãodelugar”.197Esteéumretornoàmobilidadeesimplicidadedotabernáculo,comumdiferencial:OcultonotabernáculoenotemplodeJerusalémdiziarespeitoàverdade“velada”e“representadasobsombras”.198Agoraconhecemosaverdade“expressaaovivo,oquenãoadmitequenosapeguemosaalgumtemplomaterial”.199Estepostuladoinvalidouasdisputasreligiosasentrejudeusesamaritanos.200“Oadventomessiânicodáumgolpemortalaospreconceitosraciais”.201
• Assimcomonaépocadotabernáculo,ocultopropostopeloRedentoréapegadoàsprescriçõesdivinas;adoraçãodevecorresponderàrevelaçãodadaaosjudeus(Jo4.22).202
193Anoçãodepré-adolescênciaéumfatonovodaculturaocidental;nojudaísmodo1ºséculo,amaioridadeeraatingidacedo.Schillebeeckx(ibid.,p.255)nosinformaque“depoisdamaioridade(13anos),orespeitopelopaicontinuavasendoobrigadoatéamorte”(grifonosso).194DISANTE,op.cit.,p.9.195LLOYD-JONES,D.Martin.GrandesDoutrinasBíblicas:DeusoPai,DeusoFilho.SãoPaulo:PublicaçõesEvangélicasSelecionadas,1997,p.349.v.1.196GUTHRIE,Donald.João.In:CARSON,D.A.etal.(Ed.),op.cit.,p.1555.Grifosdoautor.197CALVINO,João.AsInstitutas:EdiçãoClássica.2.ed.SãoPaulo:CulturaCristã,2006,III.XX.30.Grifonosso.198CALVINO,op.cit.,loc.cit.199Ibid.,loc.cit.200Quantoaosconflitosentrejudeusesamaritanos,acercadolocalapropriadoparaoculto,cf.DANIEL-ROPS,op.cit.,p.52-54;JEREMIAS,op.cit.,p.464-472.OsentimentodosjudeuspelossamaritanoséexpressadonotextoapócrifodeEclesiástico50.25-26:“Háduasnaçõesqueminhaalmadetestaeterceiraquenemsequerénação:OshabitantesdamontanhadeSeir,osfilisteuseopovoestúpidoquehabitaemSiquém”(BÍBLIADEJERUSALÉM:NOVAEDIÇÃO,REVISTAEAMPLIADA.SãoPaulo:Paulus,2002,p.1226.Grifonosso).201MACLEOD,A.J.João.In:DAVIDSON,F.(Ed.).ONovoComentáriodaBíblia.Reimp.1985.SãoPaulo:VidaNova,1963,p.1071.v.2.202Ossamaritanosadoravamnoescuro,“semqualquerautoridaderevelada”.Osjudeussabiamoquefaziam.Issoeraassim“porqueasalvaçãovemdosjudeus”,ouseja,asalvaçãonãopodiaseralcançadaporqualquerumqueadesejassevagamentedeumDeusdemisericórdia.Algotinhadeserrevelado,preparado,depositadocomumpovoemparticular,e
A adoração do Senhor Jesus Cristo e da igreja do NT 61
• AnovidadetrazidapelarevelaçãoprogressivaeorgânicadasEscrituraséqueanaturezaeobjetodaadoraçãosãoclarificadosnapessoaeobradeCristo(Jo4.23-26).Ocultodeveser“emespírito”;se“Deuséespírito”,aadoraçãodeveseroferecidaaeleespiritualmente(Jo4.23-24).203Talsignificadoéreforçadopelousodealētheia,“verdade”.“Emverdade”querdizercorrespondenteàrealidadecelestial,nãomaisfixadonostiposesombrasdopassado.AindaqueasinceridadenaadoraçãosejaexigidadesdeoAT,emJoão4.23-24,“verdade”nãoequivalea“sinceridade”,esimàqualidadedoquepertenceà“esferasuperiorcelestial”.204Ditodeoutromodo:
Em4.23,aadoraçãodoPai“emespíritoeemverdade”nãotraznenhumareferênciaimediataàsinceridadepertencenteàadoração,poisJesusprovavelmentenãonegaria[isso]quantoàadoraçãosejadojudeuoudosamaritano.Elaserelacionaàadoraçãonãomaispresaaformastípicas,quantoaolugar,tempoecerimonial.Nolugardesses,viráumaadoraçãooriginalcelestialaDeus,queéEspírito.205
O que significa adorar a Deus em espírito e em verdade? Simplesmente adorar “com amor,espiritualmente”,206nãomaispresoàssombrasetiposdoAT,masdeacordocomoqueéreveladopelapessoaeobradoRedentor(Jo4.25-26;cf.Cl2.8,16-19;Hb1.1-4;7.1—10.25;12.18-29).207Emsuma,nossoSenhor JesusCristonãoapenas foiumadoradoreéobjetodeadoração;ele tambémconfirmouGênesis3.15aodesignaraigrejacomoumalinhagemdeadoradoresverdadeiros.
Emterceirolugar,aadoraçãofoienriquecidapelacelebraçãodapessoaeobradeCristocomoprofeta, aqueleque traza revelaçãodefinitiva (Jo1.1;At3.22-23;7.37;Hb1.1-4);sumosacerdotesegundoa“ordemdeMelquisedeque”,aquelequesobrepujaasrealizaçõesdosacerdóciodeAarãocomoMediadorentreDeuseseupovo(Hb7.11-28;cf.1Tm2.5)erei,oSenhordaigrejae“soberanodosreisdaterra”(Ap1.5).
deviaserprocuradoemconexãocomaquelepovo—“osjudeus”.BROWN,D.João.In:JAMIESON,R.;FAUSSET,A.R.;BROWN,D.ACommentary,CriticalAndExplanatory,onTheOldandNewTestaments.OakHarbor,WA:LogosResearchSystems,Inc.,1997.203Algunscomentaristassugeremqueotermo“espírito”serefereaoEspíritoSanto,ligandoestesversículosàpromessaprecedentede“águaviva”eaoconvitedeJesusnafestadostabernáculos,paraquebebamosdele(Jo4.10,13-14;7.37-39).Adorar“emespírito”,dizem,correspondeaadorarsobadireçãoenopoderdoEspíritodeDeus.Cf.SCHWERTLEY,Brian.TheTeachingofJesusonWorship.Disponívelem:<http://www.reformedonline.com/view/reformedonline/The%20Teaching%20of%20Jesus%20on%20Worship.htm>.Acessoem:10abr.2012.
AlgosemelhanteésinalizadoporGUTHRIE,2011,p.533:“aênfaseprincipalaquiestánoEspírito”(comletramaiúscula).Eainda:“Ocultodevesermeespíritoeemverdade,eissodificilmentepodeserinteligívelseessanãoforumaalusãoindiretaaoEspíritodaverdade,queconduzoscrentesemCristoemverdadeiraadoração”(ibid.,loc.cit.,grifonosso).AindaMACLEOD,op.cit.,loc.cit.:“Ocultodeveserpessoaleespiritual,oferecidoaDeuspelainspiraçãodoEspírito”(grifonosso);nesteúltimocasoocorreousoinexato—teologicamentefalando—dotermo“inspiração”.204VOS,op.cit.,p.428.Édifícil,àluzdaexcelenteexegesedeVos,concordarcomaleituradeBruce,queentendeotextocomoaludindoa“umadevoçãosincera,decoração”;cf.BRUCE,F.F.João:IntroduçãoeComentário.SãoPaulo:VidaNova;MundoCristão,1987,p.105.(SérieCulturaBíblica).Grifonosso.205VOS,op.cit.,p.429.Vosdemonstra(ibid.,p.428-430)queousodealētheia,“verdade”,bemcomodoadjetivoalethinos,“verdadeiro”,especificamentenoQuartoEvangelho,carregaosentidode“aquiloquecorrespondeàrealidadecelestial”.Poroutrolado,sãopertinentesaspalavrasdeMatthewHenry:“OscristãosadorarãoaDeus,nãonaspráticascerimoniaisdainstituiçãomosaica,masnaspráticasespirituais,consistindomenosnoexercíciocorporal,emaisnaquelequeéreavivadoerevigoradopelaforçaepelaenergiadivina.AmaneiradeadorarqueCristoinstituiuéracionaleintelectual,eumaprimoramentodaquelesritosexterioresecerimôniascomosquaisaadoraçãodoATeratantoobscurecidaquantoobstruída”(HENRY,Matthew.ComentárioBíblico:NovoTestamento:MateusaJoão.EdiçãoCompleta.RiodeJaneiro:CasaPublicadoradasAssembleiasdeDeus,2010,p.795-796.v.5.Grifosnossos).206Cf.ROCHA,J.G.Hino4.CultoàTrindade.In:MARRA,Cláudio.(Ed.).NovoCântico.16.ed.Reimp.2015.SãoPaulo:CulturaCristã,2013,p.10.207Aadoraçãoespiritualnãoédestituídadecorporeidade.Nela“todooserentraemação”;cf.HENDRIKSEN,William.João.SãoPaulo:CulturaCristã,2004,p.225.(ComentáriodoNovoTestamento).
A adoração do Senhor Jesus Cristo e da igreja do NT 62
Emresumo,JesustrazdevoltatantoamobilidadequantoasimplicidadedaadoraçãoprescritaporDeusparao tabernáculo, comasdevidasatualizaçõese releiturasnecessárias, considerandoaprópriapessoaeministériodeCristo(figura10).
Figura10.Aadoraçãocristãretomaamobilidadeesimplicidadedocultonotabernáculo,relidoeaplicadoaCristo
IssoératificadopelaadoraçãodosapóstoloseprimeiroscristãosdoNT.
10.2 A adoração da igreja do NT
A adoração cristã preservou elementos do culto do AT e da sinagoga, aomesmo tempo em queincorporounovidadesdecorrentesdoeventodaredençãopersonificadaerealizadaemJesusCristo.“Oscristãospodemterviradoomundodecabeçaparabaixo,masnaformaenoconteúdodoseuculto ainda era reconhecidamente um mundo judaico”.208 O NT mostra os crentes após oPentecostesparticipandodasorações,notemplodeJerusalémenoslares(At2.46;3.1;5.42;12.12;16.40;18.7-11;20.20).Pelomenosatéametadedo2ºséculo,“residênciasparticularescontinuaramservindocomolugardereuniãoparaascomunidadesdascidades”.209
Talarranjofezcomqueoscristãosadaptassemoestilodocultodassinagogascomosseguinteselementos:Leitura,pregaçãoeensinodaPalavra,BatismoeCeia,orações,ofertório,louvorcomhinosecânticosespirituaisebênçãoapostólica(At2.38,42-47;1Co11.17-34;2Co13.6;Ef5.19-20;Cl3.16;1Tm2.1-6;4.13).210VestígiosdesuasliturgiaspodemserencontradosnasepístolasdePaulo;trechosdehinos(Fp2.6-11;Cl1.15-20;1Tm3.16),louvoresbreves(1Co1.20-21;Ef4.4-6)epreces(aexpressãoMaranatá,“Maranata”,significando“nossoSenhorvem”,em1Co16.22).211
PormeiodeCristo, os crentes foram feitos reinode sacerdotes e santuáriodoEspírito Santo(1Pe2.9;Ap1.6; Jo7.38-39;Rm8.9-11;1Co3.16;6.19;2Co6.16;Gl3.2;Ef1.13-14).Sendoassim,elespodiamcontemplar,“comoporespelho,aglóriadoSenhor”eser“transformados,deglóriaemglória,nasuaprópriaimagem,comopeloSenhor,oEspírito”(2Co3.18).Ademais,tornou-sepossívelservir na adoração com os dons espirituais, de maneira amorosa, organizada e sob liderançamasculina,retomandoaordemdacriação(1Pe4.10;1Co12.1—14.40;1Tm2.8-15).
Quanto ao dia separado para a adoração, “os cristãos da igreja de Jerusalém continuavamguardandoosábado[...].Mas,umavezqueoprimeirodiadasemanaeraodiadaressurreiçãodoSenhor, reuniam-se nesse dia para “partir o pão” em comemoração a essa ressurreição”.212
208WHITE,JamesF.ABriefHistoryofChristianWorship.Nashville:AbingdonPress,1993,p.16.209BRANICK,Vincent.AIgrejaDomésticanosEscritosdePaulo.SãoPaulo:Paulus,1994,p.131.(ColeçãoTemasBíblicos).210Em1Coríntios14.26,“salmo”correspondeaolouvorcantado;“doutrina”,“revelação”,“língua”e“interpretação”correspondemaoministériodaPalavra,atualmenteexercidonapregaçãoeensinodoevangelho.211Sobreoindíciodeformasediscursocultuaisnascartaspaulinas,cf.MARTIN,RalphP.Culto,Adoração.In:HAWTHORNE,GeraldF.;MARTIN,RalphP.;REID,DanielG.DicionáriodePauloeSuasCartas.SãoPaulo:VidaNova,Paulus,Loyola,2008,p.367-369.212GONZALEZ,op.cit.,34.
A adoração do Senhor Jesus Cristo e da igreja do NT 63
Gradativamente a igreja compreendeuo sábado como figuradodescansoobtido emCristo, atéopontoemqueoprimeirodiadasemanapassouaserconsideradoo“diadoSenhor”(Hb4.1-13;cf.Cl2.16;At20.7;Ap1.10).
Porfim,oApocalipsemostraaigrejaetodoocosmosadorando,diantedotronodeDeus(Ap4.1-11). No universo redimido, adoraremos ao Senhor tendo livre acesso à arvore da vida, ereinaremoscomele“pelosséculosdosséculos”(Ap22.1-5).
Conclusão da aula 10
O modo como nosso Senhor Jesus Cristo lidou com as práticas religiosas de seu tempo revela,simultaneamente, integração à forma de adoração judaica e consignação de uma transformaçãoradical.OcultodoATfoisubstituídopelaadoraçãocristã,demodoque,deixandoparatrásostiposesombras,podemoscultuaraDeusoPai,nopoderdoEspíritoSanto,porintermédiodeDeusFilho.
Porqueeemquesentido,éaadoraçãodeDeuschamadaespiritual?Paracompreenderisso,devemosatentarparaocontrasteentreoespíritoeosemblemasexteriores,entreassombraseaverdade.AadoraçãodeDeusemespíritonadamaisédoqueafédentrodocoraçãoqueproduzaoração,e,emseguida,purezadeconsciênciaeautonegação;assim,podemosnosdedicaràobediênciaaDeuscomoumsacrifíciosagrado.213
Comoosprimeiros cristãos,atinemosparaaadoração segundoCristo.AdoremosaDeus “emespíritoeemverdade”.
Atividades da aula 10
1.MarqueVerdadeiroouFalso:Cristoparticipavadaespiritualidadejudaica,comoverdadeirohomem.
___Verdadeiro.
___Falso.
2.Completeafrase:Jesusnãoapenasanunciavaodesaparecimentodotemplo,masdiziaseraqueleque_____________________otemplo.Comosuavindainauguravaofimdostempos,ocultodotemplonãopodiapermanecercomoantes.
3.Completeafrase:Cristoexemplificoueincentivouaadoração.Seaessênciadadevoçãoé__________________,elecumpriuplenamenteosmandatoscriacionais(Rm5.19;Fp2.8;Hb5.8).
4.MarqueVerdadeiroouFalso:Quantoàdevoçãoparticular,JesusnãoencarnouoquelemosnaoraçãojudaicadeNe’ilah:“Tuescolhesteohomemdesdeoprincípio,destinando-oaestardiantedeti”.
___Verdadeiro.
___Falso.
5.Marqueaúnicarespostacorreta:TrêspontosdevemsersublinhadosquandopensamosnaadoraçãoinstituídapornossoSenhorJesusCristo.
___Primeiro,eleestabeleceuelementosparaoculto,ordenandoapregaçãoeinstituindooBatismoeaCeia.Segundo,seudiálogocomamulhersamaritanarevelouqueDeusrecebetodoculto,desdequesejasincero.Terceiro,aadoraçãofoienriquecidapelacelebraçãodapessoaeobradeCristocomoprofeta,sumosacerdoteerei.
___Primeiro,elepurificouotemploemJerusalém,demonstrandoquenãopodehavercomércionolugardeadoração.Segundo,emseudiálogocomamulhersamaritana,Jesusretomoueatualizouopadrãodeadoraçãodotabernáculo,reafirmandoqueocultonãoérestritoalugaresedevecorresponderàrevelaçãobíblica;aomesmotempo,anaturezadocultoeoobjetodeadoraçãosãoclarificadosnopróprioJesus.Terceiro,aadoraçãofoienriquecidapelacelebraçãodapessoaeobradeCristocomoprofeta,sumosacerdoteerei.
213CALVINO,João.CommentaryOnTheGospelAccordingToJohn.In:TheAgesDigitalLibrary.Albany:AGESSoftware,1998.(BooksForTheAges).
A adoração do Senhor Jesus Cristo e da igreja do NT 64
___Primeiro,eleestabeleceuelementosparaoculto,ordenandoapregaçãoeinstituindooBatismoeaCeia.Segundo,emseudiálogocomamulhersamaritana,Jesusretomoueatualizouopadrãodeadoraçãodotabernáculo,reafirmandoqueocultonãoérestritoalugaresespeciaisedevecorresponderàrevelaçãobíblica;aomesmotempo,anaturezadocultoeoobjetodeadoraçãosãoclarificadosnopróprioJesus.Terceiro,aadoraçãofoienriquecidapelacelebraçãodapessoaeobradeCristocomoprofeta,sumosacerdoteerei.
ANOTAÇÕES !
Recortes históricos da liturgia reformada 65
Aula 11: Recortes históricos da liturgia reformada
OcânticoconciliadignidadeegraçaaosatossagradosenosestimulaàbuscafervorosadeDeus.Noentanto,éprecisotercuidadoparaquenãoestejamos
maisapegadosàmelodiadoqueaosentidoespiritualdaspalavras.Seformoscuidadososnessesentido,nãohádúvidadequecantarlouvoressejaumapráticamuitosanta.Saibamos,porém,queasmúsicascriadasapenas
paraoprazerhumanonãosãocompatíveiscomamajestadedaIgrejaedesagradamprofundamenteaDeus.JoãoCalvino.
Introdução da aula 11
EstaaulatranscreveumcapítulodolivroAdoraçãoCristocêntrica:DeixandooEvangelhoMoldarNossaPrática,deBryanChapell.214
11.1 O evangelho da estrutura
Estruturas contam histórias.Martinho Lutero sabia disso quando projetou a primeira igreja protestante emTorgau,naAlemanha.AntesdaconstruçãodaquelacapelaparaocastelodoprotetordeLutero,oEleitorJoãoFrederico I, os cultos protestantes eram realizados principalmente em igrejas que antes eram católicasromanas.Aprincipalmudançaarquitetônicaqueocorreuquandoosprotestantestomaramocontroledetaisigrejasfoiasubstituiçãodeumacruznatorredaigrejaporumgalo,símbolodanovaeradaReforma.Enãoeramraras,nasmarésconcorrentesdaReforma,asvezesemque, seas forçascatólicasvoltavamaopoder,substituíamogaloporoutracruz.
Cadamovimentodefésinalizouseucontrolepelamudançado“símboloouornamento”maisóbvioparatodos na cidade ou região, mas a arquitetura básica da igreja mudou pouco. Assim, quando Lutero teve aoportunidade de projetar uma igreja que refletisse as novas perspectivas da Reforma, ele garantiu que aestrutura básica da igreja iria transmitir a história do evangelho que ele queria dizer. Nenhuma mudançaestruturalteriasidomaisóbviaparaosadoradoresdoséculo16doquealocalizaçãodopúlpito.Emcontrastedeliberadocomapráticacatólicaromanadecolocaropúlpitoàfrentedacongregação,Luteroarranjouparaque o pastor pregasse entre as pessoas. O púlpito foi posto no centro da longa parede do santuário deadoração.Alémdisso,oaltar,mesmolocalizadoaindanafrentedaigreja,nãoestavamaisseparadodopovoportelasqueanteriormentedesignavamoespaçosagradoparausoexclusivodoclero.
Luteropregou“osacerdóciodoscrentes”,esuaestruturatransmitiuamesmamensagem.Alocalizaçãodopúlpitosilenciosamenteexplicouqueopregadornãoeramaissantodoqueaspessoas.Eleministrouentreeles,porque todosestavamcumprindo chamados santospara serviremaDeusnasocupaçõesparaasquaishaviam sido por ele dotados. A arquitetura do altar “disse” que não havia necessidade de intercessãosacerdotalouseparação,jáquetodostinhamacessoigualeimediatoaDeus.AsprimeirasigrejascalvinistasdaReformafrancesalevaramaideiaadiante,colocandoopúlpitonocentrodecongregaçãocircular.215Estaestrutura não só simbolizava o sacerdócio dos crentes,mas também afirmou a centralidade da Palavra nocultocristão.
11.1.1 Informados, não dirigidos
Eunãomencioneiestesdetalhesarquitetônicos,afimdenormatizarosprojetosarquitetônicosda igreja.Naverdade, as várias maneiras como os reformadores expressaram suas opiniões permitem defender asliberdadesnaarquiteturadaigrejaqueoscristãosmodernostêm,obviamente,exercitado.Masessaliberdade
214Traduçãonossa.CHAPELL,Bryan.Christ-CenteredWorship:LettingTheGospelShapeOurPractice.GrandRapids:BakerAcademic,2009,p.15-25.215[Anumeraçãodasnotasderodapésegueaordemdaapostiladocurso.Nolivro,estaéaprimeiranota.Optou-seaindapelamanutençãodasreferênciasbibliográficasnoformatooriginal,semadequaçãoaopadrãoABNT—notadoTradutor]GeoffreyBarraclough,ed.,“Calvinism:TheMajestyofGod,”inTheChristianWorld:ASocialandCulturalHistory(NewYork:HarryN.Abrams,Inc.,1981):178—79.OsgrifosemitálicossãodeChapel;osgrifosemnegritosãonossos.
Recortes históricos da liturgia reformada 66
émelhor aplicada quando temos algumanoção da história que estamos tentando contar, e isso requer umentendimento de nosso lugar no desdobramento do planodeDeus para sua igreja.Nãodevemos ignorar asabedoria dos pais da igreja somente porque são antigos, ou automaticamente rejeitá-la porque nuncapensamos antes nisso.Nós consideramos a história, porqueDeus não concede toda a sua sabedoria parasomenteummomento,ouumgruporestritodepessoas.Lealdadeservilàstradiçõesnosimpededeministrareficazmenteparaanossageração,masdestruiropassadonegatotalmenteospropósitosdeDeusparaaigrejaque estamos construindo. Se não aprendermos com o passado, perderemos percepções de como DeusorientououtraspessoasainteragircomsuaPalavraeumascomasoutras.
Somos sempre informadospela tradição,nuncagovernadospor ela.APalavradeDeuséanossaúnicaregra infalível de fé e prática, mas uma falta de vontade de considerar o que as gerações anterioresaprenderamsobrecomoaplicaraPalavradeDeus revelaou ingenuidadeouarrogância.Deusquerquenosposicionemos nos ombros dos fiéis diante de nós. Ele nos dá umamissão para o nosso tempo, mas eletambém nos dá uma história para nos preparar para nosso chamado presente. Sem crítica construtiva eanálisedestafundação,estamosmalequipadosparaaedificaçãodaigrejaqueDeusquerhoje.Istoéverdadenãoapenasquantoàsestruturasarquitetônicas,mastambémparaasestruturasdeadoraçãodaigreja.
11.1.2 Projetada para comunicar
Assimcomooslíderesdaigrejaatravésdostemposestruturamseusedifíciospararefletirsuacompreensãodoevangelho,elestambémestruturamoqueacontecedentrodessesprédiosafazeremomesmo.Jávimoscomoacolocaçãodealtar,púlpitoebancopoderiatransmitirumamensagem.Oquefoifeitonopúlpito,noaltar,enobancotambémfoiestruturadoparacomunicar.Porexemplo,namissacatólicaromana,osacerdoteempéentreoaltareopovonomomentodedispensaçãodoselementos216 simbolizaoseupapel intercessor.Poroutrolado,muitosreformadoresprotestantesintencionalmentesecolocamatrásdamesadacomunhão,naadministração da Ceia do Senhor, demonstrando o acesso imediato das pessoas a Cristo.217 Oposicionamentofísicodomobiliário,pastoreaspessoasfoiprojetadoparacomunicarumamensagemclaradoevangelho:“NadaouninguémentreCristoeocrente”.
Podemos pensar que “o meio é a mensagem” é uma visão moderna, mas a igreja antiga praticavaprincípios de comunicação muito antes de Marshall McLuhan cunhar esta frase. Os líderes da igrejaentenderamqueamensagempodia facilmenteseperder, se fosse incompatívelcomomeiopeloqualeracomunicada. Assim, eles retrataram a mensagem do evangelho utilizando todas as estruturas decomunicaçãodisponíveis:Arquitetura,decoração,desenhodopúlpito,colocaçãodemobiliário,aposiçãodelíderesdelouvoreatémesmoolugardosparticipantesnoculto.
Nuncahouveapenasumaestruturaadequadaparacomunicaroevangelhoemtodasasregiões,culturaseépocas.Enemsempreasabedoriaadequadafoiaplicada.Àsvezes,averdadedamensagemseperdeunadecoração, outras vezes a beleza do evangelho foi velada na aridez reacionária.Mas em todas as épocas,inclusive a nossa, aqueles que edificam igrejas foram obrigados a considerar como sua compreensão doevangelhoécomunicadapelasestruturasemqueesteéapresentado.
11.1.3 A adoração evangélica
A compreensão do evangelho não só é incorporada nas estruturas físicas, mas também é comunicada nospadrõesdecultodaigreja.218Aestruturadecultodeumaigrejaéchamadadeliturgia.219Muitosprotestantespensam que “liturgia” apenas descreve o culto altamente cerimonial nas igrejas Católica, Ortodoxa ouAnglicana. Nós normalmente falamos sobre adoração em termos de “culto dominical” ou o “momento de
216[Otermoinglêsaspectséaquitraduzidocomo“elementos”,maiscondizentecomaterminologiausadanestecurso—notadoTradutor].217K.Deddens,“AMissingLinkinReformedLiturgy,”Clarion37,nos.15—19(1998):6,http://www.spindleworks.com/library/deddens/missing.htm.218RobertE.Webber,Ancient-FutureWorship:ProclaimingandEnactingGod’sNarrative.(GrandRapids:BakerBooks,2008),110.219PeterLeithart,“ForWhomIsWorship?”NewHorizons23,no.4(April2002):5.
Recortes históricos da liturgia reformada 67
adoração”. As atividades que cercam a pregação são descritas como “ministério demúsica”, “ministério deoração”ou, simplesmente, como“oculto”.Noentanto,apalavrabíblicapara tudooqueestá incluídoemnossa adoração é “liturgia” (latreia, cf. Rm 12.1), e simplesmente descreveomodo público de uma igrejahonrar a Deus em seusmomentos de louvor, oração, instrução e consagração.220 Todas as igrejas que sereúnemparaadorartêmumaliturgia,mesmoquesejaumaliturgiamuitosimples.
Osmodosusuaiscomoumaigrejaorganizaoselementosecomponentesdeseucultopúblicoformamsuatradição litúrgica. Semelhantemente à arquitetura, as práticas de culto de uma igreja tradicional (às vezeschamadalitúrgica)podemsermuitoelaboradasousimples(emigrejasnão-litúrgicas).Asdiferençasentreoscultospodemsersignificativas,levandomuitosapensarquenãoháconcordânciaourazãoparaasdiferentesabordagenslitúrgicas.Nestaépocacadavezmaissecularizada,oslíderesdeigrejapodemnãosaberporqueosdiferenteselementosdeseuscultosestãopresentesouorganizadosdaformaatual[...].
Mas, análogo à arquitetura da igreja, a ordem de adoração (outra maneira de descrever a liturgia)transmiteumacompreensãodoevangelho.Seépretendidoounão,osnossospadrõesdeadoraçãosemprecomunicamalgo.Mesmo se apessoa simplesmente segueoqueéouhistoricamente aceitoouatualmentepreferido,umacompreensãodoevangelho, inevitavelmente,sedesenrola.SeumlíderreservatempoparaaConfissãodePecados221(sejapelaoração,pelamúsicaoupelaleituradasEscrituras),algosobreoevangelhoécomunicado.SenãohouvernenhumaConfissãonodecursodoculto,umaoutracoisaécomunicada—mesmoqueamensagemtransmitidanãotenhasidopretendida.
Semelhanteàarquiteturadasigrejas,diferentestradiçõesdaigrejaedoscontextosculturaisresultamemgrande variação na estrutura da Liturgia Cristã. Semelhantemente às estruturas físicas da igreja, onde asverdadesdoevangelhosãomantidas,continuamaexistirestruturascomunsdeadoraçãoquetranscendemacultura.Apesardagrandevariedadearquitetônica,igrejascristãstêmdenominadorescomuns:UmlugarparaanunciaraPalavra;umlugarparaoração,louvorerecepçãodaPalavra;umlugarparaadministrarereceberossacramentos; eoutros.Ninguém impôsessas características arquitetônicas às igrejas,masanossa formadeministrar, recebere responderaoevangelhoemumambientecorporativoexigiuessasestruturas familiares.Porrazõessimilares,estruturaslitúrgicascomunstranscendemcontextosindividuaisetradições.
11.1.4 Continuidade evangélica
A liturgia conta uma história. Nós dizemos o evangelho pela maneira como adoramos. Uma igreja quesustenta as verdades do evangelho, inevitavelmente descobre elementos de sua adoração que estão emharmoniacomoutrasigrejasfiéis.Naverdade,cultuarcomesteselementoséumaformaimportantedeumaigrejasemanterfielaoevangelho.
Porqueentenderamaimportânciadaadoração,ospaisdaigrejaprimitivaprojetaramumaarquiteturaparaocultoqueaindaserefletenamaioriadasigrejasdehoje.Jánosegundoséculo,222registrosindicamqueaigrejadividiusuaadoraçãoemdoissegmentosprincipais:aLiturgiadaPalavra(cf.tabela06)eaLiturgiadoCenáculo (cf. tabela 07).223 Hoje pensamos da Liturgia da Palavra como a parte do culto de adoração queculminanapregação.Nóspensamosda LiturgiadoCenáculo, comopartedo cultodeadoraçãoque inclui aCeiadoSenhorouComunhão.Mesmoquenossas igrejasnãopratiquemaComunhãoacadasemana,elasaindatipicamentedividemocultoemdoissegmentosnasocasiõesemqueestaordenançaéobservada.Ao
220JohnW.deGruchy,“AestheticCreativity,EucharisticCelebrationandLiturgicalRenewal:WithSpecialReferencetotheReformedTradition”(paperfortheBuvtonConference,Stellenbosch,SouthAfrica,September1,2003),1.221Aquieemoutraspartesdestelivro,termostaiscomoconfissãodepecado,quepodemterumsignificadocomumegenériconadevoçãocristã,sãoescritosemmaiúscula,quandosereferemaumcomponentedistintoouformaldeumcultodeadoração.222DeGruchy,“AestheticCreativity,”278.223JohnM.Barkley,WorshipoftheReformedChurch(Richmond,VA:JohnKnox,1967),41.[Notadotradutor:Osnúmerosepaginaçãodastabelasforamalterados].
Recortes históricos da liturgia reformada 68
semoverdaProclamaçãoparaaComunhão,as igrejasatravésdostemposrecontamahistória:AquelesquerealmenteouvemaPalavradeDeuscompartilhamdeseuamor.224
Romaantesde1570
Luterocercade1526
Calvinocercade1542
Westminstercercade1645
Rayburncercade1980
LiturgiadaPalavra LiturgiadaPalavra LiturgiadaPalavra LiturgiadaPalavra LiturgiadaPalavra
Coral(introito)* HinodeentradaIntroito*
SentençadaEscritura(e.g.,Salmos121.2)
Chamadoàadoraçãoeoraçãoinicial•Adoração
•Súplicaporgraça•Súplicaporiluminação
ChamadoàadoraçãoeHinodeadoração
Invocação(ouoraçãodeadoração)
Kyrie*(OSenhorémisericordioso) Kyrie*
Confissãodepecados(comdeclaraçãode
perdãodeEstrasburgo
ConfissãodepecadosOraçãoporperdão
Gloria*Saudação(“OSenhor
estejacontigo”)
Gloria*Saudação
CânticodeumSalmo Garantiadegraça
Hinodegratidão
Ofertório
Coleta* Coleta* Oraçãodeintercessão(aoraçãodoSenhoré
opcional)
LeituradoATCânticodeantífona*
OsDezMandamentos(cânticocomKyries*deEstrasburgo)
LeituradoATCânticodeumSalmo
LeituradoATHinooucântico
litúrgico
LeituradasEpístolasGradual*(cânticode
umSalmo)
LeituradasEpístolasGradual*
LeituradoNT
CânticodeumSalmoLeituradoNT
ConfissãoouIntercessão
Alleluia*
Oraçãopor
iluminação(comaoraçãodoSenhor)
Oraçãoporiluminação
Oraçãoporiluminação
LeituradosEvangelhos
LeituradosEvangelhos
CredoApostólicoHinodoSermão
LeituradaEscritura LeituradaEscritura LeituradotextodoSermão
Sermão Sermão Sermão Sermão Sermão
Oraçãodegratidãoe
adoraçãoOraçãodoSenhor
Oraçãodeadoração
CredoNicenocantado(ouGloria*)
HinorelacionadoaoSermão CânticodeumSalmo HinoouResponsório*
Despedidadosnãocomungantes
Exortação Despedidadosnãocomungantes
Despedidaebênção
Tabela06.Estruturasgeraisdaliturgiahistórica:AliturgiadaPalavra
224MarkL.Dalbey,“ABiblical,Historical,andContemporaryLookattheRegulativePrincipleofWorship”(D.Mindiss.,CovenantTheologicalSeminary,1999),p.37.OssignificadosdostermoslitúrgicospodemserconsultadosnoApêndice2.
Recortes históricos da liturgia reformada 69
Romaantesde1570
Luterocercade1526
Calvinocercade1542
Westminstercercade1645
Rayburncercade1980
LiturgiadoCenáculo(sempre)
LiturgiadoCenáculo(sempre)
LiturgiadoCenáculo(trimestral)
LiturgiadoCenáculo(opcional)
LiturgiadoCenáculo(opcional)
Ofertório Coleta*dasalmas Ofertório
OraçãopelaigrejaIntercessões
OraçãodoSenhor
Convite;recepção Convite;Hinoderecepção
PreparaçãodosElementos Hinodepreparação
CredoApostólico(cantadocomelementospreparados)
CredoApostólico(recitadoportodos)
SaudaçãoSursumCorda*
Sanctus*Benedictus*
SursumCorda*Sanctus*
Oraçãoeucarística:•Recordação(Anamnesis*)
•Oferecimentodoselementosparausosanto(oblação)
Preparação:•InvocaçãodoSantoEspírito(Epiclesis*)•Consagraçãodos
Elementos•Recordação(Anamnesis*)
Preparação:•Exortação
Preparação:•Exortação
•PalavrasdaInstituição(Verba*)•InvocaçãodoSanto
Espíritoparatransformaçãodos
Elementos(Epiclesis*)•Amen*
•PalavrasdaInstituição(Verba*)
•PalavrasdaInstituição•Exortação
•PalavrasdaInstituição
•PalavrasdaInstituição
OraçãodoSenhor OraçãodoSenhor Oraçãodeconsagração
Oraçãodeconsagração(dosparticipantesedos
elementos)
Oraçãodeconsagração
BeijodaPaz*
Fração* Fração* Fração* Fração*
AgnusDei* AgnusDei*
Comunhão Comunhão(comcânticodeumSalmo)
Comunhão(comleituradaEscritura)
Comunhão Comunhão
ExortaçãoOração
Coleta* Coleta* CânticodeumSalmo CânticodeumSalmo Hinodeadoração
Açãodegraças Oraçãodeaçãodegraças
DespedidaebênçãoBênçãoAarônica
HinofinalBênçãoAarônica Açãodegraças Açãodegraças
Tabela07.Estruturasgeraisdaliturgiahistórica:AliturgiadoCenáculo
Recortes históricos da liturgia reformada 70
Minhaesperança[...]équeos leitoresquetiveramummomento“oh!”,noparágrafoanterior—quandodescobriramque o padrão de sua adoração os une com cristãos de diversos séculos que cultuavamdemodosemelhante—tambémsintamoprazerdedescobrircomoasuaadoraçãopodeuni-losemmissãocomosirmãosnafé.Emcadaépoca,adoramosaDeusparapromoveracausadoevangelho.Sabemosquea“boanotícia”doevangelhonosfazreconhecerasantidadedenossoCriador,confessarosnossospecados,buscarsuagraçacertosdesuamisericórdia,dar-lhegraças,pedirsuaajuda,procurarsua instrução,e,emrespostadeamoratodasassuasmisericórdias,viverporele.[...]Diferentestradiçõeseclesiaistentamexpressaressasverdadesdoevangelhoatravésdaestruturadesuasliturgias.
11.2 Estratégia litúrgica
Oque aparecemais, à primeira vista, é a diferença entre as liturgias.Olhar para elas equivale a observar ohorizonte de uma cidade moderna. Tudo o que vemos inicialmente são as diferentes formas, tamanhos ecomplexidades das estruturas. Mas, quanto mais observamos, e quanto mais a arquitetura é explicada,compreendemos que cada um dos arquitetos construiu com os mesmos materiais e princípios básicos deprojeto.Asformasvariamdeacordocomfunçõesespecíficaseintençõesdedesign,mascadaarquitetotevedefazerparedescapazesdesuportaropesoadequadoetetosdecertaaltura,sobrefundamentoslançadosemprofundidade suficiente. Após um estudo mais detalhado, concluiremos que alguns talvez não tenhamprojetadoouconstruídotãobemquantooutros,masveremostambémqueosmaisbem-sucedidostiveramdeaprendercomaquelesqueosprecederam.Ninguémconstróisemconsideraroqueosoutrosjáaprenderam.
Talvezamaneiramaissimplesparaenxergarpadrõescomunsénotarqueatémesmoasduasdivisõesbásicas da liturgia têm movimentos distintos. A Liturgia da Palavra, em cada uma das cinco tradiçõesmencionadas,possuielementosquelevamàpregaçãodaPalavra.ApregaçãonãoéaúnicacoisanaLiturgiadaPalavra.Estaé“Preparação”antesde“Proclamação”.Esta“Preparação”, comoveremos,nãoéaleatóriaouarbitrária.Oscomponentesdocultodeadoração,antesedepoisdosermão,conduzemocoraçãoporváriasfasesdereverência,humildade,segurançaeaçãodegraçasparanosfazerreceptivosesensíveisàinstruçãodaPalavra.225Háumaestratégiaparaaliturgia.
11.2.1 O conteúdo da abertura
[...]Quãotristeéoequívococomumnaquiloqueaconteceantesdosermão,emmuitasigrejasprotestantes.Euouviissomuitasvezesaoserconvidadoparapregarduranteaausênciadopastordeumaigrejalocal.Umlíderleigo,muitasvezesmeorientoucompalavrassemelhantesaestas:“Eucuidodaabertura,demodoquevocêpodefazerapregação”.
Essa“coisadeabertura”é,namentedamaioriadaspessoas,avariedadedehinoseoraçõescomoquefazemosbarulhoantesda“coisareal”—aPregação.O“conteúdo”quepreencheotemponoiníciodocultoéconsideradoapenasoprelúdioparaaPregação,oatodeaberturaparaoeventoprincipal,ouasamabilidadespelas quais precisamos passar antes que cheguemos ao “cerne da questão”. Normalmente, ninguém pensamuitosobreo“conteúdodaabertura”,eninguémvaireclamarsealguémnãoalteraaordemtradicional,mudaumamelodiafamiliar,ouesqueceaoferta.
Sesurgeumaqueixa,dificilmenteébaseadaemumalógicaenraizadanasprioridadesdoevangelho.Aspessoasfalamsobresuafaltadeconfortocomoqueépessoalmentedesconhecidoounãoinspirador,ousobrea falta de respeito por aquilo que é tradicional.Porque não foram ensinadas a pensar na adoração comoaplicação do evangelho, as pessoas instintivamente pensam em seus elementos apenas em termos depreferênciapessoal:Oquemefazsentirbem,confortávelourespeitoso.
225Notadotradutor:Oautordestaapostilarejeitavaaideiade“criarumambiente”paraaadoração,entendendoquea“sensibilização”ou“preparação”paraaPalavraérealizadapeloEspíritoSantosoberanamente,semqualquermanipulaçãohumana.AgoraeleentendequeasinstruçõesdeÊxodoeLevítico,bemcomoasdeliberaçõesdeDavi,paraoscultosnotabernáculoenotemplo,demonstramumapreocupaçãolegítimaemconfigurarum“ambiente”propícioàadoração.Algunspaisreformadoreslegitimaramuma“músicasacra”eorganizaramaordemdoselementosdecultocomestaintenção—dequeoadoradorfosseconduzidoemumprocessode“elevaçãodaalma”emcadapartedaliturgia.
Recortes históricos da liturgia reformada 71
11.2.2 Metas do evangelho
Umagrandevantagememolharparaasdiferentes liturgiasdeadoraçãoéverqueosseuscriadores tinhamobjetivosmais elevados do que satisfazer suas preferências pessoais.Os líderes da igreja projetaram suasordens de culto para comunicar as verdades da Escritura, tocar os corações dos fiéis com as implicaçõesdessas verdades, e depois equipar os crentes a viver fielmente no mundo como testemunhas de taisverdades. Podemosnão concordar coma formacomoestas liturgiasenquadramas verdadesdoevangelho,masédifícilculparoimpulsomissionárioatrásdetaisprojetos.Nossoobjetivo,portanto,nãodeveserimitaras liturgias que se seguem,mas aprender como a igreja tem usado o culto para cumprir os propósitos doevangelhoatravésdostempos,demodoquepossamosprojetaraadoraçãodeformainteligente,atendendoàsnecessidadesatuaisdoevangelho.
Para pensar na adoração evangélica, precisamos ter cuidado para não pensar somente em termos deevangelização.EnquantooevangelhoincluiaboanotíciadagraçadeDeusparaaquelesquesevoltamparaelecom fé, o evangelho não é apenas para pessoas de fora ou descrentes. Um grande poder reside no ditopopularentreosjovenscristãosdehoje:“Nósdevemospregaroevangelhoaosnossoscoraçõesacadadia”.226Essaéticanãoconsisteapenasemrepetiraquelasporçõesdoevangelhoquelevamanovasconversões.Trata-sedopoderdaboanotícia queDeus concede graçapara salvar, santificar, e para equiparo seupovohoje,todos os dias e para sempre. Precisamos do evangelho para entrar no reino de Cristo, e também paracaminhar com ele em nossos desafios e necessidades diárias. Este é o evangelho que as antigas liturgiasensinarameasmelhoresliturgiasatuaisaindaecoam.Exemplossãoagrupados[...]aseguir,paraquevejamospadrõescomunsantesdeanalisarasdiferençasimportantese,finalmente,descobrircomoelesseunemparainformarnossospropósitosevangélicoshoje.
11.2.3 Roma
A liturgia católica romana teve uma influência penetrante e profunda sobre as liturgias posteriores da culturaocidental. Minha descrição desta ordem de adoração é intencionalmente escassa, refletindo o culto católicoantesdoConselhodeTrento,noséculo16,quandomuitacomplexidadefoiagregadaafimdeadicionarênfasessacramentaisà tradição.Adivisãoda liturgia romanaemdoisprincipaismovimentos relativosàPalavraeossacramentosfoifundamentalparatodasasliturgiassubsequentes.Estasdivisõesdecultosãoevidenteslogono2ºséculo.227OreformadorprotestanteJoãoCalvino,emseulivroAFormadasOraçõeseCançõesEclesiásticas,tambémespecificouessesdoismovimentoscomoaLiturgiadaPalavraeaLiturgiadoCenáculo.
Estas divisões básicas na ordem de culto são provavelmente ainda mais velhas do que as liturgiaslistadas aqui. Barkley diz que essas divisões se refletiam no culto da sinagoga, onde a declaração dos atospoderososdeDeusera seguidadeuma respostadopovo.Eleainda subdivideosdois grandesmovimentos,dizendoqueaLiturgiadaPalavra“[...]sedivideemduasseçõesqueconsistemnaAntigaLiturgiadaPalavraderivadadasinagoga,basicamenteaproclamaçãodosatospoderososdeDeus,e[...]introdução,queconsisteempreparaçãoparareceberaPalavra”.228Assim,nósseguimosumapráticaantiga,quandoorganizamososcultos na ordem Preparação para a Palavra e Proclamação da Palavra. Como resultado de séculos decontinuidadeemrelaçãoaessasdivisõesbásicasdeculto,houveumasemelhançasignificativaentrepadrõesde várias tradições de culto em geral, apesar das grandes diferenças nos elementos individuais de suasliturgias.
11.2.4 Os reformadores
AsliturgiasdosprincipaisinfluenciadoresdaReforma(Lutero,Calvino,eaassembleiadeWestminster)foramesquematizadasebaseadasemdocumentos-chavequedefiniramocenárioparadesenvolvimentosposterioresemcadatradição.Porexemplo,LuterodeuinstruçãolitúrgicainicialemsuaMissaAlemãeOrdemdeServiço
226BobKauflin,WorshipMatters:LeadingOtherstoEncountertheGreatnessofGod(Wheaton,IL:Crossway,2008),135.227NicholasWolterstorff,“TheReformedLiturgy,”inMajorThemesintheReformedTradition,ed.DonaldK.McKim(GrandRapids:Eerdmans,1992),278.228Barkley,WorshipoftheReformedChurch,41.
Recortes históricos da liturgia reformada 72
deDeus (1526);Calvinoutilizouas ideiasdeLuteroeacrescentouassuasprópriasnoque ficouconhecidocomoaliturgiadeGenebra,descritaemAFormadasOraçõeseCançõesEclesiásticas(1542)eosteólogosdeWestminster anexaram os princípios daConfissão de Fé deWestminster em seuDiretório Para a AdoraçãoPública(1645).
11.2.5 Rayburn
Robert G. Rayburn procurou descrever uma adoração bem organizada para as congregações evangélicas daAméricadoNortenofinaldoséculo20,emseulivroOCome,LetUsWorship(1980).OtrabalhodeRayburnnão influenciou expressivamente as práticas posteriores, mas astutamente reflete, combina, e antecipavárias tradições. Suacontribuiçãoéparticularmenteútilparaexaminar liturgiasmodernas,poisnospermiterefletir sobre como as adaptações, intencionalmente ou não, evoluíram para uma prática comum. Nós nãovamosassumirque“comum”significauniversal.Mesmodentrodamaioriadasdenominações,oqueécomumhojeemdiaéumagrandevariedadedepráticasdeadoraçãoeestilos.Algumasigrejassedistanciamdocultotradicional, enquanto outras deliberadamente caminham na direção de retomar modelos antigos. AperspectivadeRayburnnosajudaráaexaminarcada tendência.Noentanto,oqueseevidenciará [...]équeondeoevangelhoéhonrado,elemoldaaadoração.Nenhuma igreja fiel aoevangelhodeixarádeecoarasliturgiashistóricas.
Estas liturgias representam movimentos que tiveram influência significativa na América do Norte [etambémnoBrasil].A listadeelementosemcada tradiçãonãopretende serexaustiva [...] tampouco sugereque todososcultosemcada tradiçãocontinhamtodososelementoscitados.Oselementossãoorganizadosem padrões típicos, de modo que aqueles não familiarizados com as diversas tradições podem ver o“esqueleto”decada liturgia,emborareconhecendoquecadaumapodevariaresermelhordefinida.Muitasoutrastradiçõespoderiamsermostradas,masminhaintençãoédemonstrarpadrõespresentesnessasliturgiasmaisrepresentativasouinfluentesparaevangélicosprotestantesfiéisnaAméricadoNorte(tabela08).
Lutero Zwinglio Bucer Calvino
Confiraastabelas06e07
•Leiturabíblica(EpístolaeEvangelho)•Pregação•Oraçãolonga
»Amúsicafoieliminadaem1525»Salmosecânticoseramrecitados
»ACeiaerarealizadaquatrovezesporanoenelaconstavam:•Exortação•Cercodamesa•OraçãodoSenhor•Oraçãodehumilde
acesso•PalavrasdaInstituição•Comunhãodosministros•Comunhãodopovo•Salmo
•Coleta*•Despedida
»CombinouoselementosdeLuteroeZwinglio
»ConservouosKyries*opcionaiseoGloriainexcelsis*
»NaCeiaerafeitaumaoraçãodeconsagração
Confiraastabelas06
e07
Tabela08.AsliturgiasdeLutero,Zwinglio,BucereCalvino
Conclusão da aula 11
Ao longo dos séculos, igrejas tradicionais (incluindo as igrejas do tronco da Reforma Protestante)configuramsuasliturgiasseguindoadivisãoclássicadeLiturgiadaPalavraeLiturgiadoCenáculo.Oidealéqueaordemdoculto,emsimesma,ajudeacomunicareaplicaroevangelho.
Recortes históricos da liturgia reformada 73
Atividades da aula 11
1.Marqueasrespostascorretas:Dentreasmudançasqueosreformadoresimplementaramnaarquiteturaecostumesdasigrejas,afimdeadequá-lasaoevangelho,podemosdestacarasseguintes:
___Nastorresdasantigasigrejascatólicas,osprotestantessubstituíramacruzporumgalo,símbolodaauroradaReforma.
___AsigrejasforamdecoradascomosselosdeLuteroeCalvino.
___Luteromudouaposiçãodopúlpito,easprimeirasigrejascalvinistasdaFrançacolocaramopúlpitonocentrodacongregaçãocircular.Comisso,elescomunicaramduascoisas:Queopregadornãoémaissantodoqueasoutraspessoas;equeaPalavradeDeuséocentrodocultocristão.
___Luteroretirouatelaquedivideosespaçosondeficamoaltareopovo,informandoquenãohámaisseparaçãoentreosleigos(opovo)eoclero(osacerdote).
___Aposiçãodosacerdoteempé,entreoaltarepovo,foisubstituídapelopastoratrásdamesadacomunhão,simbolizandoquenãoexistenenhumabarreiraentreCristoeocrente.
___Aposiçãodoaltarfoimodificada,dandoaentenderqueoverdadeiroaltarespiritualéocoraçãodocrentebatizadonaságuas.
2.MarqueVerdadeiroouFalso:Apalavrabíblicaparatudooqueestáincluídoemnossaadoraçãoé“liturgia”(latreia,cf.Rm12.1),esimplesmentedescreveomodopúblicodeumaigrejahonraraDeusemseusmomentosdelouvor,oração,instruçãoeconsagração.
___Verdadeiro.
___Falso.
3.Completeafrase:Jánosegundoséculo,registrosindicamqueaigrejadividiusuaadoraçãoemdoissegmentosprincipais:aLiturgiada_________________eaLiturgiadoCenáculo.
4.Completeafrase:Oscomponentesdocultodeadoração,antesedepoisdosermão,conduzemocoraçãoporváriasfasesdereverência,humildade,segurançaeaçãodegraçasparanosfazerreceptivosesensíveisàinstruçãodaPalavra.Háuma___________________paraaliturgia.
Cinco questões litúrgicas atuais 74
Aula 12: Cinco questões litúrgicas atuais
Observe-sesemprequeamúsicadoshinosnãosejaleveesaltitante,masseja,aocontrário,datadadepesoemajestade.JoãoCalvino.229
Introdução da aula 12
Algumasperguntassempresãofeitas,quandofalamossobreocultocristão.
1. Qualéadiferençaentresalmos,hinosecânticosespirituais?2. Qualquergêneroeestilomusicaléadequadoparaaadoraçãolitúrgica?3. QuaisinstrumentosmusicaisaBíbliaprescreveoupermite,paraaadoração?4. Podemostambémbaterpalmasenquantocantamos?Devemosaplaudirapósum
cânticoouapresentaçãodeumcoralougrupomusical?5. Opastordeveinterferirnaescolhadasmúsicasdoculto?
Oobjetivodestaaulaéabordarestasquestões,dentrodeumamoldurabíblica.
12.1 Sobre o louvor com salmos, hinos e cânticos espirituais
Primeirapergunta:Comoentenderadiferençaentresalmos,hinosecânticosespirituais?
EstasexpressõesconstamemEfésios5.19eColossenses3.16abordandoavidaagradecida,cheiadoEspíritoSantoedaPalavradeDeus.“Salmos”,“hinos”e“cânticosespirituais”podemtersignificadossobrepostos,indicandoqueDeusdevesercultuadocommúsica.ComentandoEfésios5.19,MartinBucerafirmaque“comonãohánadaerradocomamúsica,oapóstolodefineoqueéum cantar santo e qual é o uso correto da música, porque somos ensinados pela natureza aexpressarumavariedadedesentimentospelamúsica”.230
OautordestesestudosrejeitarespeitosamenteasinterpretaçõesdeBullingereZwinglio,dasreferidaspassagens.Bullinger,porexemplo,entendiaque“salmos,hinosecânticosespirituais”(Ef 5.19), não têm relação com a “música eclesiástica”, e sim com “o que deve acontecer nasreuniões sociais cristãs”.231 Pode parecer estranho para nós,mas os pais reformadores tinhamopiniões diferentes sobre a inserção de música no culto. Mesmo assim, Bullinger demonstraespíritocristãoaoafirmar:
Éclaroquenãoestamoscondenandooritosagradodecertasigrejas,celebradonalínguavernáculaesemordem,nemogrupodecantodaquelasqueentoamsalmosehinospiedososnasigrejas.Tambémnãocondenamosasigrejasquenãocantamnada.Ésuficiente,paraelas,teroraçõessantasejustas,mastodostêmliberdadedecantaroudenãocantar,conformeopadrãoeaordemdasigrejas.232
Zwinglio,porsuavez,sugerequeColossenses3.16“nãoensinaagritarouamurmurarnostemplos.Emvezdisso,elemostraa verdadeira cançãoqueéagradávelaDeusequedevemosentoar para louvar a Deus não com a voz, como os cantores entre os judeus, mas com ocoração”.233Pareceque,paraZwinglio,ocultocristãorompecomapráticadocantolitúrgicodotemplodoAT;melhordoquecantarosSalmos,é“explicá-los”.234
229VONALLMEN,2005,p.197.230BUCER,Martin.PreleçõesSobreEfésios.In:BRAY,GeraldL.(Org.).ComentárioBíblicodaReforma:GálataseEfésios.SãoPaulo:CulturaCristã,2013,p.398.Grifosnossos.231BULLINGER,Heinrich.ComentárioSobreEfésios.In:BRAY,op.cit.,loc.cit.Grifonosso.232BULLINGER,op.cit.,loc.cit.233ZWINGLIO,Ulrich.ExposiçãodoArtigoQuarentaeCinco.In:TOMLIN,Graham.(Org.).ComentárioBíblicodaReforma:FilipenseseColossenses.SãoPaulo:CulturaCristã,2015,p.267.234ZWINGLIO,op.cit.,loc.cit.
Cinco questões litúrgicas atuais 75
Bucer e Calvino são exemplos de pais reformados que se esforçaram para inserir o cantocongregacionalnaliturgiacristã.
[Calvino]examinoucuidadosamenteaordemdecultousadaporBucer,aqualtinhaorigensluteranas.Oqueoagradouespecialmentefoiofatodequeosrefugiadosfrancesesjávinhamcantandosalmosemfrancêshámaisdedezanos.Cantavamcomentusiasmo.Davagostoouvi-los.
Em1539,CalvinopublicouumhináriocommúsicasparadezoitoSalmoseoCredodosApóstolos.AlgumasletrasforamescritasporCalino.AsoutraseramdaautoriadeClementMariot,opoetaqueCalvinoconheceranacortedeFerrara,naItália,noano1536.235
VoltandoaEfésios5.19eColossenses3.16,nooriginal,psalmospodereferir-seaosSalmosdoAT,maspodetambémindicarumcânticodeadoraçãonovo236(pelomenosem1Co14.26).237
Demodoabrangente,“hinos”(hymnos)significaumacançãodeconteúdoreligioso.238Podeincluir os Salmos (hymneō, emMt 26.30),mas no âmbito cristão inclui expressões de louvor aDeusPai, aCristoe aoEspírito Santo,porexemplo,oCânticodeMaria (Magnificat), emLucas1.46-55,ouoCânticodeZacarias(Benedictus),emLucas1.67-79.OuaindaohinodaHumilhaçãoeExaltação,emFilipenses2.5-11etc.239Agostinhoentendiaqueumhinodevecontertrêscoisas:“Deve sercantado; deve ser louvor; deve serparaDeus”.240Nas igrejas tradicionais, umhinoéuma música que: (a) Possui estilo e doutrina aprovados pela denominação; (b) resiste aosmodismos dos tempos. Tais hinos são revistos e atualizados por Comissões de Hinologia, etambémorganizadosepublicadosemvolumesdenominadoshinários.
Ovocábulo“cântico”(ōdē)querdizer“padrãomelódicoparticularcomconteúdoverbal”.241Ode é um “poema para ser cantado”242 e, nesses termos, equivale a “canção”. O adjetivopneumatikos, “espiritual” é visto por Martin como “inspirado pelo Espírito Santo”,243 mas omelhorécompreendê-locomoqualificativo:CançõesdedicadasparaolouvoraDeus.244
Calvinojuntatudoissocomosegue:
235VANHALSEMA,TheaB.JoãoCalvinoEraAssim.SãoPaulo:OsPuritanos,2009,p.92.236LOUW,JohannesP.;NIDA,EugeneAlbert.Greek-EnglishLexiconoftheNewTestament:BasedonSemanticDomains.NewYork:UnitedBibleSocieties,1996,#33.112,ψαλμός,p.401.237Martininformaque1Coríntios14.26é“aalusãomaisantigaahinoscristãosprimitivos”.MARTIN,Ralph.P.ColossenseseFilemom:IntroduçãoeComentário.Reimp.2011.SãoPaulo:VidaNova,1984,p.126.(SérieCulturaBíblica).Grifodoautor.Eledizainda(op.cit.,loc.cit.)que“háevidênciaparademonstrarqueo‘salmo’[...]tinhaanaturezadeumhinodeaçõesdegraçasaDeus,extaticamenteinspirado,enquantooadoradoreraarrebatadonumaemoçãodeêxtaseederramavaseulouvoremaçõesdegraças.Nada,porém,sesabedoconteúdooudaformadastaiscriaçõesespontâneas”.OentendimentodeCarson,sobre1Coríntios14.26,parecemaisacertado:“Nãopodemostercertezaquantoànaturezadecadadommencionadoaqui.Seráqueapessoaquetemum‘hino’,porexemplo,simplesmenteapresentaumacomposiçãoconhecidaparatodoscantarem?Seráquesignificaalgototalmentenovo,comomuitosjásugeriram?Arespostamaisdiretaéquetemosinformaçõesinsuficientesparagarantirumafirmeconclusão.ÉcertoqueocultoemCorintonãoeraentediante!”(CARSON,D.A.AManifestaçãodoEspírito:AContemporaneidadedosDonsàLuzde1Coríntiosde12—14.SãoPaulo:VidaNova,2013,p.120.Grifonosso).238LOUW;NIDA,op.cit.,#33.113—33.116,ὑμνέω[Mt26.30.23],ὕμνος[Ef5.19],θρηνέωb[Lc7.32],θρῆνος[Mt2.18],p.401.239Cf.HENDRIKSEN,William.ColossenseseFilemom.SãoPaulo:CasaEditoraPresbiteriana,1993,p.203.(ComentáriodoNovoTestamento).Martin(1984,loc.cit.)afirmaque“otermo[hinos]égeralnaliteraturabíblicaeéempregadoparaqualquerhinofestivodelouvor(Is42.10LXX;[...]At16.25;Hb2.12”.Grifonosso.240MencionadosemendereçamentodefonteprimáriaporHENDRIKSEN,1993,loc.cit.241LOUW;NIDA,op.cit.,#33.110,ᾠδή,p.400-401.242HENDRIKSEN,1993,loc.cit.243MARTIN,1984,loc.cit.Oproblemaaquiécomumanoçãoequivocadade“inspiração”.Aindaassimeleadmiteque“émuitoduvidososeestasdistinçõesfirmespodemsertiradas,enenhumaclassificaçãoexatadoshinosneotestamentáriosparecepossívelnabasedaspalavrasdiferentes”(ibid.,p.127).Grifosnossos.Eleconclui“queéoEspíritoquemdespertaoadoradoredirigeseupensamentoesuaemoçãoemlouvorlírico,sejaqualforaformamusicalexata”(ibid.,loc.cit.)244HENDRIKSEN,1993,p.204.
Cinco questões litúrgicas atuais 76
[...]Sobestestrêstermoseleincluitodosostiposdecânticos.Elessãocomumentedistinguidosdestamaneira:Salmoéaqueleque,aoserentoado,sefazusodealguminstrumentomusicaljuntamentecomalíngua;hinoépropriamenteumcânticodelouvor,sejaentoadosimplesmentecomavoz,oudeoutraforma;enquantoqueumaodenãocontémmeroslouvores,mastambémexortaçõeseoutrasmatérias.Noentanto,elequerqueoscânticosdoscristãossejamespirituais,nãoformadodefrivolidadesepalavreadossemvalor.245
Apartirdestestextos,osantigosdesenvolveramamúsicasacra.ElescompreenderamqueoapóstoloPaulofalademúsicas“espirituais”,apropriadasparaoculto.
Issonosconduzàsegundapergunta.
12.2 Sobre gêneros e estilos musicais adequados para a adoração litúrgica
Segundapergunta:Épossívelusarqualquergêneroeestilomusicalnaadoraçãolitúrgica?
Evangélicosnascidosnadécadade1960selembramdeumtempoemquenãoerapossíveltocarviolão,guitarraoubaterianaigreja.NãofoimuitodiferentenoâmbitodoCatolicismo:
AIgrejaCatólicaproibiutodamúsicaquecontivessepolifonia(maisdeumalinhamusicalemexecuçãosimultânea),temendoqueaspessoasfossemlevadasaduvidardaunidadedeDeus.AIgrejaproibiutambémointervalodaquartaaumentada,adistânciaentreanotadóeofásustenido,tambémconhecidacomotrítono(ointervaloemqueTonycantaonomedeMariaemWestSideStory[Amor,SublimeAmor],deLeonardBernstein).EsseintervaloeraconsideradotãodissonantequesópodiaserobradeLúcifer,tendosidodesignado,porissoDiabolusinmusica.FoiaalturadasnotasquedeixouaIgrejaempolvorosa.246
DeacordocomoHouaiss,“música”(dogregomusikētēchne,a“artedasmusas”)247éuma“combinaçãoharmoniosaeexpressivadesons;aartedeseexprimirpormeiodesons,seguindoregras variáveis conforme a época, a civilização etc.” ou ainda o “conjunto de sons vocais,instrumentaisoumecânicoscomritmo,harmoniaemelodia”.248LevitincitaEdgardVarése—“amúsica é o som organizado”249 — e prossegue informando que “quando ouvimos música,estamos,narealidade,percebendomúltiplosatributosou‘dimensões’”,250quaissejam,tom(ounota),altura,ritmo,andamento,contorno,timbre,intensidade,localizaçãoereverberação.251Éamaneira como estes atributos fundamentais são combinados que distingue música de “umconjuntodesonsaleatóriosoudesordenados”.252
Hustad diz que “Calvino enveredou pelo caminho dos ‘salmos metrificados’ na línguavernácula,cantadoscommúsicasqueeramchamadasdepreciativamentede‘GingasdeGenebra’.[...]Agorapareceóbvioquemuitasdelasforamadaptadasdemúsicasfolclóricasdeorigemalemãoufrancesa”.253Mesmoassim,Calvinonãoconsideravaqualquermúsicaadequadaparaoculto.VonAllmenparececompreendereatualizarmuitobemaposiçãodeCalvino:
Nãosedevetratardeatenderapequeninosdesejoscircunstanciaisdaalma,massimdelouvaraoSenhorejuntar-seaoscorosdeanjos.RecomendaCalvino:“Observe-sesemprequeamúsicados
245CALVINO,João.Gálatas,Efésios,FilipenseseColossenses.SãoJosédosCampos:EditoraFiel,2010.eBookKindle2013,posição10542de12639.(SérieComentáriosBíblicos).246LEVITIN,DanielJ.AMúsicanoSeuCérebro:ACiênciadeUmaObsessãoHumana.RiodeJaneiro:CivilizaçãoBrasileira,2010,p.23.247Cf.LIDDELL,HenryGeorge;SCOTT,Robert.AGreek-EnglishLexicon.Disponívelem:<http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0057%3Aentry%3D%2368891&redirect=true>.Acessoem:16abr.2012.248HOUAISS;VILLAR.(Ed.).Música.In:Op.cit.,loc.cit.249LEVITIN,op.cit.,p.24.250Ibid.,loc.cit.251Ibid.,p.24-25.252Ibid.,p.25-26.253HUSTAD,op.cit.,p.126.
Cinco questões litúrgicas atuais 77
hinosnãosejaleveesaltitante,masseja,aocontrário,datadadepesoemajestade.Devehaver,porconseguinte,umaclaradiferençaentreamúsicaqueétocadaparaentreterohomemàmesaenolar,e,deoutrolado,adossalmoscantadosnaigreja,napresençadeDeuseseusanjos”.
Algumascontrovérsiascarecemdeapoiobíblicoe são improdutivas.Defensoresdamúsicacontemporânea aplaudem Lutero, que compôs hinos com melodias populares. Advogados docantoacapela,bemcomooscontráriosaosgruposcorais,saúdamaliturgiadasinagogaoudasigrejaspuritanas.Estasabordagenspecamaopropora“canonização”depráticasdopresenteoudopassado.OmelhorafazeréretornaraofundamentodaBíblia.
Efésios5.19eColossenses3.16nosajudamdequatroformas:
1. Reafirmamamúsicacomoelementodoculto.2. Abremespaçoparaadiversidademusical(“salmos”,“hinos”e“cânticos”ouodes).3. Qualificamamúsicacomo“espiritual”,ouseja,adequadaparaaadoração.4. Permitemamplaadaptação.Crentesdetodosostemposeetniaspodempraticarestas
prescriçõesapostólicasdentrodeseuprópriobackgroundcultural.
Imagine que você foi incumbido de escolher as músicas que serão cantadas no culto dopróximo domingo. O que define a espiritualidade e adequação de uma música? Não há umarespostaquesatisfaçaatodos,masseguemalgunscritérios.
1. Ébomquandooscânticossealinhamaotemadoculto,especialmenteaosermão.2. AmúsicaprópriaparaaliturgiaécentradaemDeus,aindaqueseuformatosejade
testemunho(e.g.,Hino250,“AVozdeJesus”,254ouoHino334,“Conversão”).255PodesercompostacomoumafaladeDeusconosco(Hino270,“Desafio”).256Oucomooraçãoouensino(e.g.,Hino298,“APedraFundamental”).257
3. Sendoassim,quesejadoutrinariamentesadia(comuniqueverdadesbíblicas).Nãoésábioescolherumamúsicaparaocultosempreocupaçãocomseuconteúdo,apenasporqueelatocaossentimentos.258Procura-seumamúsicacomteologiaexata.
4. Quantoaoestilo,aboamúsicalitúrgicaelevaaalmaecontribuicomaespiritualidadedoculto(evocatranscendência;cf.Sl25.1;86.4;123.1;143.8).Emsuma,nãodeveproduzirposturasousentimentosbaixos.
5. Amúsicaparaadoraçãodevesernoidiomalocal,compreensível(cf.1Co14.23).a. Éútilexplicaraspalavrasdesconhecidasdasmúsicas,antesdecantá-las
(e.g.,“LeãodeJudá”,“RosadeSarom”etc.).b. Éproveitosoforneceraletradasmúsicasimpressasouemslides,paraque
atéosvisitantespossamcantá-las.6. Aletradamúsicanãopodecontererrosdegrafiaougramática.7. Éótimoquandoamúsicaexplicaeaplicaoevangelho,desafiaparaumavidadeamor
eserviçoaDeuseaopróximonocumprimentodamissão,equandoconfirmaacomunhãocristãformatandoumaidentidadecoletiva,unindopessoasdiferentesemumsóatoamorosoerespeitosodeculto.Issosignificaqueeladevepodersercantadaporpessoasdetodasasidadesegerações.
254MARRA,op.cit.,p.194.255Ibid.,p.262.256Ibid.,p.208-209.257Ibid.,p.232.258Acercadamúsica—especialmentedoCoralGregoriano—como“impressão”,cf.MÓDOLO,Parcival.“Impressão”ou“Expressão”:OPapeldaMúsicaNaMissaRomanaMedievalenoCultoReformado.In:TeologiaParaVida,v.I,n.1(jan./jun.2005),p.109-128.
Cinco questões litúrgicas atuais 78
Maisquestõessobreousodamúsicanocultosãoabordadasnapróximaaula.
12.3 Sobre os instrumentos musicais próprios para o culto
Terceirapergunta:QuaisinstrumentosmusicaisaBíbliaprescreveoupermite,paraaadoração?
Éprecisoevitartrêserroscomuns:Oprimeiroéusaras listasde instrumentosdoATcomoprescritivas,e.g.,afirmarquetodasasigrejasdaatualidadedevemadoraraDeuscom“címbalossonoros”.
OsegundoerroécompreenderosilênciodoNTsobreinstrumentosmusicaiscomoproibitivo(nãopodemosusar instrumentosmusicaisporqueoNTnãoosprescreve). IssoseparececomoPRC,masnãoé,especialmentequandolevamosSalmos150asério(cf.seção7.3).
O terceiro erro, não apenas quanto aos instrumentos,mas também a outros aspectos daliturgiaevidadaigreja,éestabelecerpráticasantigascomonormativas.Somosenriquecidospelaperspectivahistórica,masnemtudooquefoipertinentenopassadodeveserpraticadohoje.
A Bíblia é nossa única regra de fé e prática. Temos demergulhar nas Escrituras, a fim dediscerniroquepodeedeveserpreservadodatradição.OmelhoréaplicaroPRCcomsabedoria.
Oautordestesestudosentendequeo louvor cantadoéelemento de culto;omodocomoeste é executado, com ou sem instrumentos, por um solista, grupo ou congregação, écircunstância.259Dizerqueocoraldeveentraremfilaapósopregador,ouquedevemoscantarexatamente dois hinos antes do ofertório, porque o fundador da igreja fazia assim não é umargumentoreformado.Asigrejascristãssãolivres,noâmbitodoPRC,paradecidirsobreoespaçodeconjuntosmusicaisegruposcoraisnoculto.
12.4 Sobre o costume de aplaudir
Quartapergunta:Écorretobaterpalmasenquantoentoamosumcânticodelouvor?
Nãoháproblemaembaterpalmasenquantocantamos,pelaseguinterazão:O louvorcomcânticos(commúsica)éelementodeculto.Tecnicamente,oritmoéumdosatributosdamúsicae“diz respeito à duração de uma série de notas, assim como à maneira como se agrupam emunidades”.260 Quando batemos palmas acompanhando o ritmo, as palmas passam a integrar aexecuçãomusical,ouseja,asprópriaspalmassetornampartedamúsica.Quandoissoaconteceos instrumentos,asvozeseaspalmasseunememumsóatoeevento.Não incluímosnenhumnovo elemento à adoração, apenas enriquecemos a interpretação do elemento bíblico de cultolouvor-música.
O importante é não considerar bater palmas como uma prescrição bíblica para a liturgia.Nem como evidência de maior fervor ou espiritualidade. Como lemos na Carta Pastoral eTeológicaSobreLiturgianaIPB,publicadaem2010:
Aexpressão“baterpalmas”ocorreapenasnoAT.Paraosjudeus,baterpalmaspodiaexpressarira(Nm24.10;Ez21.17;22.13)edesprezo(Jó34.37;Lm2.15;Na3.19).NoAntigoOriente,aspalmaseramusadasparamanifestaraprovaçãopelaquedadosinimigos(Jó27.23;Ez6.11;25.6),pelaprosperidadedojusto(Is55.12)ecomoaplausoemcerimôniasdeaclamaçãodosreis(2Rs11.12).NenhumadasocorrênciassobrepalmasnoATserefereàmarcaçãorítmicadecânticosreligiosos,quernotemploouemoutrolugar.
Estefatodeimediatonoslevaàconclusãoquebaterpalmasduranteoscânticos,oudeixardefazê-lo,nãotornataiscânticosmaisoumenosaceitáveisdiantedeDeus.Também,queaspalmas
259Oautorestáabertoaodiálogosobreestaquestão;dispostoamudardeposiçãodiantedeumargumentobaseadoeminterpretaçãosólidadasEscrituras.260LEVITIN,op.cit.,p.25.
Cinco questões litúrgicas atuais 79
nãodevemserusadasparaaferiraespiritualidadeeofervordoscultosdeumaigrejaedeseusparticipantesequejamaisdevemservistascomoexpressãodeespiritualidade.261
Surgeumaquestãoadicional.Oquedizerdocostumedeaplaudirdepoisdasmúsicas?
Esteautornãoécontrárioaaplaudircriançasemapresentaçõesespeciais(comoincentivoereforçopedagógico).Masreconhece-sequeestasocasiõesnãosão,strictosensu,cultopúblico.
Esteautorvisitou igrejaspresbiterianasnaCoreiadoSul,comcultosbemorganizados,nosquaisoscrentesaplaudemapósoshinosecânticos,semprejuízoàreverência.Tambémvisitouigrejasbrasileirasque,nomomentodosaplausos,tiveramaatmosferadeadoraçãotransformadaem ambiente de auditório, especialmente quando são enfatizadas as chamadas “palmas paraJesus”.262
Aqueles que defendem os aplausos citam Salmos 47.1 (“batei palmas, todos os povos;celebraiaDeuscomvozesdejúbilo”)e98.8(“osriosbatampalmas,ejuntoscantemdejúbiloosmontes”). EmSalmos 47.1 o poeta descreve a entronização cósmica e escatológica deDeus:OSENHORseráexaltadogloriosamentediantedouniverso,easnaçõesserãosubmetidasaIsrael(Sl47.19).263OmesmotomescatológicoéencontradoemSalmos98 (cf. v.9).Sendoassim,comoesclarecenossaCartaPastoral:
AlinguagemdestesSalmosétiradadacerimôniadecoroaçãodosreisdeIsraeleusadaparasereferiraDeuscomoosupremoreisobretodaaterra.EstaspassagensnãoprovamqueaplaudiraDeuseraumadaspartesdocultopúblicoaeleprestadoemIsrael.Alémdisso,nãoháqualquerreferênciaaistonoNT.Destaforma,carecedefundamentaçãoapráticade“palmasparaJesus!”equivocadamenteintroduzidaemmuitasigrejasevangélicashoje.
OaplausoahomensduranteocultoseconstituinumaviolaçãodeumdosprincípioscentraisdocultoaDeus,queéasuateocentricidade.“Nãoanós,SENHOR,nãoanós,masaoteunomedáglória,poramordatuamisericórdiaedatuafidelidade”(Sl115.1).Aplaudircorais,corosegruposapósteremparticipadodaliturgiatornataisparticipaçõesemespetáculo,showeapresentações,tornandoestascircunstânciasemfinsemsimesmas,desvirtuandooseucarátersecundárioetornandoocultoaDeusemcultocentradonohomem.264
12.5 Sobre a escolha pastoral das músicas do culto
Quintapergunta:Opastordeveinterferirnaescolhadasmúsicasdoculto?
Arespostaésim,portrêsrazões:
1. Comoministro da Palavra e dos Sacramentos, o pastor é ordenadopara “orientar esupervisionaraliturgia”daigreja.265
2. Como responsável pela doutrinação, o pastor deve avaliar e aprovar as músicascantadaspelaigreja.Amúsicanãopodecontradizerateologiadaigreja.
261SC/IPB,2010,p.29.Lopesafirmaque“nãodevemosescravizaropovodeDeusuniformizandocertaspráticaslitúrgicasesacramentalizando-ascomosefossemmaissantasdoqueoutras,comoporexemplo:Levantarmãos,dançar,baterpalmasecairnoEspírito”;cf.LOPES,AugustusNicodemus.OCultoEspiritual.SãoPaulo:CulturaCristã,1999,p.179.262Issoésintomático,especialmentequandolugaresdereuniãocristãsãoconstruídoseequipadoscomosefossemcasasdeshows.Emumtemploevangélicovisitadorecentementeporesteautor,ogabinetedopastorédenominado“camarimpastoral”.263Cf.WEISER,op.cit.,p.277:“Ainterpretaçãoescatológica[...]vênocânticoaglorificaçãopoéticadaconsumaçãodoreinodeDeusnofimdostempos”.Grifonosso.264SC/IPB,2010,p.30.265ConstituiçãoInternadaIgrejaPresbiterianadoBrasil,CapítuloIV,Art.31,alínea“d”.In:SUPREMOCONCÍLIODAIGREJAPRESBITERIANADOBRASIL(SC/IPB).ManualPresbiterianodaIgrejaPresbiterianadoBrasil.3ªReimp.2015.SãoPaulo:CulturaCristã,2013,p.22.
Cinco questões litúrgicas atuais 80
3. Comopregador,opastorpodeedeveorganizaramúsica,demodoqueestaauxilieoserviçodapregação.Amúsicanãopodecontradizerosermão.
O ideal é que o pastor defina uma lista aprovada de hinos e cânticos espirituais, abrindoespaçoparaqueosmúsicosescolhamoqueserácantado,apartirdestalista.
Conclusão da aula 12
Os cristãos se esforçam para compreender o que o apóstolo Paulo quer dizer com “salmos”,“hinos”e“cânticos”espirituais,emEfésios5.19eColossenses3.16.Paraisso,issoquerdizerqueaigrejahojepodeedeveadoraraDeuscommúsicaadequada.Sendoassim,hácritériosparaaescolhadamúsicaparaoculto,eestapodesertocadacominstrumentosvariados.
Aindaquepalmaspossamserusadascomorecursorítmico, issonãodefineumcultocomomaisfervorosoouespiritual.Eocostumedeaplaudirapósumcântico,aindaquenãoprejudiqueareverênciaemigrejascoreanasvisitadaspeloautor,abreespaçoparaacriaçãodeumambientedeentretenimento,especialmenteemigrejasqueassumemaschamadas“palmasparaJesus”.
Paramanterabiblicidadeeoequilíbriodetudoisso,omelhoréqueamúsicadaigrejasejaconhecidaeaprovadapelopastor.
Atividades da aula 12
1.MarqueVerdadeiroouFalso:“Salmos”podereferir-seaosSalmosdoAT,maspodetambémindicarumcânticodeadoraçãonovo(pelomenosem1Co14.26).“Hinos”significaumacançãodeconteúdoreligioso.PodeincluirosSalmos,masnoâmbitocristãoincluiexpressõesdelouvoraDeusPai,aCristoeaoEspíritoSanto.Omelhorécompreender“cântico”comoumacançãodedicadaparaolouvoraDeus.
___Verdadeiro.
___Falso.
2.Marqueaúnicarespostacorreta:Ossetecritériosparaescolhadeumamúsicaparaocultosãoosseguintes:
___Devesealinharaotemadoculto,especialmenteaosermão.SercentradaemDeus.Terdoutrinasadia.Fazerchorarousaltardealegria.Sernoidiomalocal.Nãopodecontererrosdegrafiaougramática.Explicaeaplicaroevangelhoesercantadaporpessoasdetodasasidadesegerações.
___Devesealinharaotemadoculto,especialmenteaosermão.SercentradaemDeus.Terdoutrinasadia.Elevaraalma(nãoproduzirposturasousentimentosbaixos).Sernoidiomalocal.Nãopodecontererrosdegrafiaougramática.Explicaeaplicaroevangelhoesercantadaporpessoasdetodasasidadesegerações.
___Devesealinharaotemadoculto,especialmenteaosermão.Animarohomem.Terdoutrinasadia.Elevaraalma(nãoproduzirposturasousentimentosbaixos).Sernoidiomalocal.Sersincera,mesmocontendoerros.Explicaeaplicaroevangelhoesercantadaporpessoasdetodasasidadesegerações.
3.Completeafrase:Olouvorcantadoé_____________________deculto;omodocomoesteéexecutado,comouseminstrumentos,porumsolista,grupooucongregação,écircunstância.
4.MarqueVerdadeiroouFalso:Nocultobíblico,calvinistaereformado,nãosepodebaterpalmasritmandoacanção.Poroutrolado,osadoradoressãoincentivadosabaterpalmasparaJesus.
___Verdadeiro.
___Falso.
5.MarqueVerdadeiroouFalso:NasigrejasguiadaspeloEspíritoSanto,osmúsicosrecebeminstruçãodiretamentedeDeus,sobreasmúsicasqueserãocantadasnoscultos.Opastornãoprecisaserconsultado,pois“antes,importaobedeceraDeusdoqueaoshomens”(At5.29).
___Verdadeiro.
___Falso.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 81
Aula 13: A preparação e condução de uma liturgia bíblica
Aênfaseprincipaldaadoração,conformeaBíblia,éconferiraDeusovalorqueeletempornatureza.LawrenceO.Richards.266
Introdução da aula 13
Depoisderesponderacincoperguntasfrequentes,chegouomomentodejuntartudoissoemumapropostacontemporâneadeadoração.
Este capítulo propõe a ordem fundamental do culto, seguida de dez enquadramentos úteis.Esboça-se uma liturgia simples, aplicável hoje. Conclui-se com a apresentação e atribuições dosagentesdaadoração.
13.1 A ordem fundamental e alguns enquadramentos úteis
Como vimos, nossos irmãos do passado dividiram a liturgia cristã em duas partes, quais sejam,PalavraeSacramento.Aprendemostambémqueestadivisãorefletetantooevangelhoquantoaboaordem da criação. A liturgia da Palavra privilegia o anúncio do evangelho; a liturgia do cenáculoconvidaàcomunhãocomDeus(figura11).
Figura11.PalavraeSacramento
Podeparecerestranhofalarsobrecultocontemporâneomencionandoestaorganização[antiga]dePalavraeSacramento.Podemosser iludidoscoma ideia imatura,dequeacontemporaneidadeexige “começar do zero”; romper com todopadrão ou história pregressa. Bob Kauflin admite quecometeuesseerro:
Duranteanospenseiqueastradiçõesreligiosaseramumobstáculoàespiritualidadebíblica.Paramim,oraçõesrepetidas,recitaçãocomunitáriadecredos,confissãopúblicadepecado,leiturasbíblicas,calendárioeclesiásticoeordensdecultoestavamassociadasalegalismoeescravidão.Ameuver,eutinhaamissãodecomeçardozerotudoquesabiasobreadoraçãocomunitária.EumevoltariasomenteparaasEscriturasenãodependeriadenadaquealguémtivessefeitonosséculosanteriores.Queriaseroriginal.Maseuestavamesmoésendoignorante—earrogante.267
AReformapreservouaordemPalavra e Sacramento, aomesmo tempoemqueabriu espaçoparadiferentesarranjose formulações.Apesarde lutarcontraa interpretaçãosacerdotaldamissacatólica,MartinhoLuteronãofezgrandesalteraçõeslitúrgicas.268UlrichZwinglioadotouumaliturgiadidática.269MartinBucermisturouelementosdasliturgiasdeLuteroeZwinglio.270CalvinoformulouoritodeGenebrade1542,baseparaaadoraçãocalvinistanaEuropa.271
266RICHARDS,LawrenceO.TeologiadaEducaçãoCristã.3.ed.Reimp.2008.SãoPaulo:VidaNova,1996,p.227.267KAUFLIN,Bob.CursoVidaNovadeTeologiaBásica:LouvoreAdoração.SãoPaulo:VidaNova,2011,p.233.Grifosnossos(apartirdestanota,retoma-seametodologiapadrãodesteautortupiniquim).268HUSTAD,op.cit.,p.112.Paracompreenderasmudançasocorridasnocultoluterano,deMartinhoLuteroatéhoje,cf.KIRST,op.cit.,passim.269Ibid.,p.117.270Ibid.,p.118.271Ibid.,loc.cit.Paracompreenderasmudançasocorridasnocultoluterano,deMartinhoLuteroatéhoje,cf.KIRST,op.cit.,passim.UlrichZwinglio(1484—1531),líderdaReformaemZurique,adotouumaliturgiadidática(HUSTAD,op.cit.,p.117).MartinBucer(1491—1551),seuseguidorereformadoremEstrasburgo,misturouelementosdasliturgiasdeLuteroe
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 82
EspecialmenteotroncocalvinistadaReforma, lutouparaestabelecerumadoutrinamaispura,umavidamaispuraeumcultomaispuro(figura12).
Figura12.TrêsênfasesdaReforma:Doutrina,vidaecultomaispuros
Esta herança abre espaço para dez enquadramentos. A adoração bíblica deve ser bíblica,confessional, simples, organizada, participativa, musical e artística, temporal e transcendente,edificante,evangelísticaemissionáriae,porfim,teocêntrica(figura13).
Figura13.Dezenquadramentosparaaadoraçãobíblicacontemporânea
Oaspectobíblicofoiabordadonaaula4;adoramosorientadospelasprescriçõesdaBíblia(PRC).SugestõesdeaplicaçõesdoPRCsãofornecidasnaaula12.
Quantoàconfessionalidade,cultuamosconsonantescomosensinamentosdaBíbliadestiladosnossímbolosdefédeWestminster.
Issoimplicaemsimplicidade,nostermosdaSegundaConfissãoHelvética:
Todoaparato,orgulhoetudooquesejaimpróprioàhumildade,àdisciplinaeàmodéstiacristãs,deveserbanidodossantuárioselugaresdeoraçãodoscristãos,poisaverdadeiraornamentaçãodasigrejasnãoconsisteemmarfim,ouroepedraspreciosas,masnasobriedade,napiedadeenasvirtudesdaquelesqueestãonaigreja.272
Noquediz respeitoàorganização, aplica-sea instruçãoapostólicade1Coríntios14.40.Comoafirma o Dr. Augustus Nicodemus, “um culto onde o Espírito de Deus está verdadeiramente nocontrolehaverádeproduzirordemedecência”.273Oplanejamentonãosubstitui“adependênciadoEspíritoSanto”274,nemgarante“quetudodarácerto”,275masentendamosque:
Nãoéfaltadeespiritualidadedeterminarcomantecedênciaquandocadacoisavaiacontecer,emquemomentoastransiçõesdevemserexplicadas,quantasmúsicascantar,quaiselementoscriativos
Zwinglio(ibid.,p.118).JoãoCalvino(1509—1564)foiinfluenciadopelomodelodeBucereformulouoritodeGenebrade1542,baseparaaadoraçãocalvinistanaEuropa(ibid.,loc.cit.).272SegundaConfissãoHelvética22.2,in:BEEKE,JoelR.;FERGUSON,SinclairB.HarmoniadasConfissõesdeFéReformadas.SãoPaulo:CulturaCristã,2006,p.203.273LOPES,1999,p.107.274KAUFLIN,2011,p.225.275Ibid.,loc.cit.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 83
incluiroucomoocultoterminará.TemosvistoqueaorientaçãodoEspíritoSantonormalmentecomeçaantesmesmodeocultoterinício.276
SendoassimconcordamoscomNicodemus:
NãovejocontradiçãoentreaatuaçãolivredoEspíritoeumcultobemordenadoeconduzido[...]Acreditoqueocultodevaserparticipativoequedevahavervariedadedepartes,mascreioquetambémdevehaverordem,sequêncialógicaesentidonessaspartes.Nãocreioemformalismo,mascreioemordem.Parece-mequeéafaltadeordemquePaulorepreendeaqui[em1Co14.26].277
Aparticipaçãodoscrentesémencionadanaseção10.2.OpovodeDeuspodeedeveparticipardo culto como reino sacerdotal, contribuindo com seus dons dentro dos limites da sã doutrina. AReforma preconizou uma adoração emque toda a igreja participa com espontaneidade, alegria efervor,semasamarrasdosacerdotalismocatólico-romano.
Somentequandooúltimoresquíciodofermentosacerdotaltiversidoeliminado,poderáaigrejasobreaterranovamentetornar-seopátioexterior,doqualoscrentespoderãoolharparacimaeparafrente,paraoverdadeirosantuáriodoDeusvivonocéu.278
Paraqueissoaconteça,oscrentesprecisamsedispor,emprimeirolugar,paracongregar-se(cf.Hb 10.25). Richards afirma que “o Corpo precisa se reunir como comunidade local para louvar,adorareouvir”.279
Em segundo lugar, “o povo não deve, por indolência, por falsa humildade ou por recusa aenvolver-se,deixarderesponsabilizar-sepelasuapróprialiturgia”.280Eprossegue:
Oministériolitúrgicodosfiéiscompõe-senormalmentedosseguinteselementos(quepodemserampliadosemmaioroumenorgrau):OouvirrespeitosodaPalavradeDeus,acomunhãoeucarística,oassociar-seàsoraçõesporintermédiodoamém,arecitaçãodaconfissãodefé,aapresentaçãodasoferendas,ocantodoshinoseaparticipaçãonoquechamamosdemanifestaçõeslitúrgicasdavidacomunitária(antífonas,sursumcorda,saudação,confiteor(oclero,aliás,participatambémdessa“liturgia”emqueopovodeDeuscomoumtodosemanifestacomopovosacerdotal.281
OsdocumentosdeWestminsterdestacamaparticipaçãoativadocrentenaliturgia.Aoraçãoéfeitaeacompanhada“cominteligência,reverência,humildade,fervor,fé,amoreperseverança”.282Apregaçãoéouvidacom“conscienteatenção,emobediênciaaDeus”.283Issoexigeconexãodocrentecomoqueacontecenoculto.
Quanto à musicalidade e arte, os exemplos do culto do AT apontam para uma “verdade”reconfiguradaemCristo.Nele(Cristo)céuseterra,Édenenovaterra,seencontram;neleeporelenenhuma esfera da criação é excluída da adoração. Se na consumação o cosmos entoará louvor,nadamaispertinentedoquelouvarmosaelehojecomtudooquesomosetemos—eissoincluiosdonsetalentosmusicaiseartísticos.Comovimosnaaula4,oimportanteéqueessacriatividadesejasubordinadaàsSagradasEscrituras.Quantoàmúsicaadequadaparaaadoração,cf.aseção12.2.
É assimque o culto é, simultaneamente, temporal e transcendente. Ele é temporal enquantoenraizadoemumlugareumacultura;étranscendenteporqueelevaeantecipaogrande“aleluia”
276Ibidem.277LOPES,1999,p.224.278KUYPER,op.cit.,p.70.279RICHARDS,op.cit.,p.229.280VONALLMEN,2005,p.192.Grifonosso.281Ibid.,p.192-193.282CFW,XXI.III.In:ASSEMBLEIADEWESTMINSTER,op.cit.,p.76.283Ibid.,XXI.V,p.77.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 84
queseráentoadonoúltimodiaeparasempre.NoencontrodoscrentesDeusage;oEternotocaofinitocomgraçaepoder(Sl133.1-3;Gl3.5).ComoafirmaVonAllmen:
Ocultoéomomentodoencontroentreoséculovindouroeopresente,omomentosituadoentreasduasvindasdeCristonoqualasimultaneidadedosdoiséonssemanifestademodomaiscristalino.[...]OcultoéomomentodoencontroedaunidadeentreoSenhoreoseupovo,osquais,naliberdadeenaalegriadacomunhão,sedãoerecebemmutuamente.284
Daí edificação de todo o corpo, indistintamente. A igreja adora em unidade, como família; aedificaçãoexigeinteraçãoentreasgerações(Êx12.25-27;Sl71.18).OsjovenslouvamaoSenhorcomhinoseosadultos,commúsicacontemporânea.PaisefilhosadoramaDeusjuntos,porqueaobradoRedentorpromoveaconversãodeunsaosoutros(Ml4.6).Porfim,seaadoraçãoatualantecipaocultocelestial,oApocalipseretrataumsócultonocéu(Ap19.1-8).
Ademais,emcadacultooevangelhoproclamadoecomunicadonãoapenasnapregação,mastambémemcadadetalhedoambiente,doatodeadoraçãoedosadoradores(cf.seção11.2).
Por fimemais importante,umaadoraçãocentradaemDeus.OcultoéemfunçãodeDeus;ofocodoverdadeirolouvoréoSenhorquedirigetodasasdimensõesdaexistência.Emboraaaçãodedivinaemfavordoadoradorsejaevidente,aênfasemaioréaglóriadeDeus.
13.2 Possibilidades de liturgias contemporâneas
Seguemduaspropostasde liturgias. Cabe ao leitor verificar a pertinência e aplicabilidadede cadaumaaoseulugarecontexto.
13.2.1 Uma adaptação calvinista
SugerimosumaliturgiainspiradanoritodeGenebra.285Adivisãoemduaspartes(liturgiasdaPalavraedocenáculo)acolheumcultocomintrodução,contrição,edificação,sacramentos,consagraçãoeconclusão,emolduradosmusicalmenteporumprelúdioeumposlúdio(figura14).
Figura14.Umaestruturadecultobíblicocontemporâneo
Noprelúdioé tocadaumamúsicaquepropiciea leituradaEscritura,meditaçãoeoração.Naintrodução, as pessoas são cumprimentadas e convidadas a adorar a Deus. Na contrição pedimosperdão pelos pecados e invocamos a direção de Deus. Lemos a Bíblia, seguida de um cântico
284VONALLMEN,2005,p.181.285Umaadaptação.Eisoritooriginal:“LiturgiadaPalavra:SentençadaEscritura:Salmo124.8.Confissãodepecados:Oraçãopedindoperdão.Salmometrificado.Oraçãopedindoiluminação.Sermão.LiturgiadoCenáculo:Coleta.Intercessões.Oraçãodominical,emlongaparáfrase.CredoApostólico(oselementossãopreparados).Palavrasdeinstituição.Exortação.Oraçãodeconsagração.Comunhão(canta-seumsalmoouleem-sepassagensbíblicas).Oraçãopós-comunhão.Bênção(Aarônica)”;cf.HUSTAD,op.cit.,p.118.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 85
congregacionalouparticipaçãomusical.Segue-seumasúplicaporiluminaçãoeosermão,finalizandoaLiturgiadaPalavra.
NosSacramentos,administramosoBatismoeaCeiaorando,cantandoelendooCredo.Depoisrespondemosaosermãodedicandonossavidaebens(ofertório,oraçãodiaconalecânticos).286Naconclusão,opastororaeimpetraabênção.Aigrejapodecantaro“amém”,finalizandoaLiturgiadoCenáculo.
Noposlúdio,umamúsicapermitemaisoração.Odirigenteeopregadorvãoatéaportaparacumprimentarosirmãos.Todossaememsilêncio,permitindoaosqueficampermanecerorando.
13.2.2 Uma adaptação luterana
OutrapossibilidadelitúrgicaésugeridaporKlausDouglass.287Adivisãoemduaspartes(liturgiasdaPalavraedocenáculo)acolheumcultocomadoração,pregação,comunhãoeenvio,emolduradosporumamúsicasuavenoinícioeumainstrumentaloucântico,seguidodaregradostrêsminutos,nofinal(figura15).
Figura15.Umasegundapossibilidadedeorganizaçãolitúrgica
Esta proposta remete a outro autor (Von Allmen), quemenciona um culto com saudação dacomunidadeemnomedoSenhor,anúnciodaPalavra,celebraçãodaCeia,consagraçãodaoferendaeenviodaassembleiaaomundo.288Umarranjobíblicoe interessante.ParaDouglass,apropostaéancoradanofatodequeDeusnosabençoadequatromaneiras:
Elenospreparainteriormenteparaasuapresença;ElenosedificaporintermédiodesuaPalavra;Elenosuneemumacomunidadedeirmãseirmãos;e...Elenosconvocaenosenviadevoltaparaodiaadia.289
Naoraçãodepreparo,ocrentecarregadocomseusfardos,pedeaDeuscalmaeconcentraçãoparaoculto.290
O Salmo introdutório dá o tom e tem relação com o tema do culto. Douglass, de tradiçãoluterana, sugere que o Salmo seja seguida por uma resposta: “Glória seja ao Pai e ao Filho e aoEspíritoSanto.Comoeranoprincípio,éhojeeparasempre.Amém”.291
286NocultodanoitedaIPBRioPreto,oofertórioéinseridoantesdapregação,porumaquestãoadministrativa(sedeixamosparaofinal,osdiáconostêmdeficaratétardeapósoculto,afimdefecharacontabilidade).287DOUGLASS,op.cit.,p.31-42,249,274,279.288VONALLMEN,op.cit.,p.192.289DOUGLASS,op.cit.,p.31.290Ibid.,p.33.291Ibid.,loc.cit.Cf.oHino5,“TrindadeAdorada”.In:MARRA,op.cit.,p.11.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 86
Opróximopassoéumpedidodeperdãopessoal,encerradopelasúplicacomunitária:“Senhor,temcompaixãodenós” [Kyrie],292acompanhadadeumapalavrabíblicadeconsolo,assegurandoareconciliaçãodosarrependidos(eaigrejarespondecom“glóriaaDeusnasalturas;somenteaDeusnasalturassejaaglória”).293Aoraçãoconclusivaéumabênçãodopastor:“OSenhorvosabençoe—eaoteuespírito”.
Nasegundaparte,pregação,lê-seotextoqueservirádebaseparaosermão.Antesdepregar,abre-seespaçoparaa leituradeumaconfissãodefé.A igrejaexpressasuascrençasfundamentais,diante de Deus e dos que a visitam. Douglass demonstra pouco apreço pelos credos e confissõeshistóricos294emotivacadaigrejaaescreversuaprópriaconfissão.295Mesmoassim,elesugere“dezvariaçõesdaconfissãodefé”.296Apósestadeclaração,temososermão.
Naterceiraparte,comunhão,temoscomunhãocomoSenhor(nodesfrutedaCeia)e,porcausadesta,comunhãounscomosoutros.297Liturgicamente,aCeiaseencerraapósocânticoeaoração,masacomunhãocontinuanocultododiaadia.“Nodomingonosabastecemosaagoracomeçaoculto do dia a dia, quando nos envolvemos nos diferentesministérios da igreja, quando vivemos,falamoseagimoscomocristãosnafamília,nocolégio,nolazerenotrabalho”.298Aindaqueissosejaconfirmadoformalmentenaquartaparte,acontececomoresultadodacomunhãopessoaldocrentecomDeus,experimentadanaCeia.Oresultadoimediatoéoqueacontecedepoisdoculto.
Aquartaparte,envio,autoexplicativa,terminacomabênçãoaarônica(Nm6.24-26)eoamémtríplice.299 Após a bênção e o amém é tocada umamúsica de encerramento. Logo após o amém,antesdamúsicafinal,odirigenteconvidatodosaduascoisas:
Primeiro,praticararegradostrêsminutos:
Estaregradeterminaquenosprimeirostrêsminutosapósoculto,nenhummembrocomeceumaconversacomumapessoaquejáconheçaecomquemtenhacomunhãoemoutrassituações.Équeestestrêsminutossãoexatamenteotempoqueosvisitantesquevêmpelaprimeiravezeosmembrosqueestãoàbeiradocaminholevam,emmédia,parairembora,seatéentãoninguémfaloucomeles.300
O convite final é para todos desfrutarem de um chá, café e suco para as crianças em umambienteinformale,sepossível,comacessoàlivrariadaigreja.301
Notemosque, emambososmodelos sugeridos, o sermãoé colocado logono iníciodo culto,aproveitandooperíododemaioratençãodospresentes.
13.2.3 A duração do culto
Aquestãodaduraçãodocultoécultural.Paranós, trêshorasdeduraçãoé tempodemais;paracristãosdeAngolaouMoçambique,umcultode180minutosécurto.Alémdisso,entendemosqueDeuspodeconceder
292Ibid.,p.33-34.293Ibid.,p.34.294Ibid.,p.175-180.295Ibid.,p.181-183.OautordestesestudoslamentaprofundamenteoafastamentoconfessionaldeDouglass.Oschamadoscredosecumênicos(apostólicoeniceno)devemserconhecidoselidosliteralmente,poissãobíblicos,formativosepertinentesparaaigrejaatual.296DOUGLASS,op.cit.,p.184-187.297Ibid.,p.36.298Ibid.,loc.cit.299Ibid.,p.37.300Ibid.,p.274.301Ibid.,p.274-277.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 87
umaexperiência de avivamento à igreja, extrapolandoqualquer planejamento.Mesmo assim, o Senhor nosconvocaasermosbonsgestoresdotempo(Sl90.12;Ef5.15-16).
Saibamosque“osoficiantesdocultosãoDeuseosfiéis,comsuasdiferentesatribuiçõeslitúrgicas.Masdesseencontroparticipamaindaoutrosatores:Deumlado,osanjos,e,deoutro,omundoqueanseiaporserreorientado emdireção ao louvor e à glorificação do Senhor”302 (os visitantes e frequentadores).Deus e osanjosnãosãoguiadosporumrelógioeumaagenda.Masmesmoosfiéissecansam,quandoocultosearrastaalémdamedida,eosvisitantespodemnãoretornar,sepercebemqueocultoélongo(emaçante)demais.
Quandohádoiscultosnodomingo,oidealéqueomatutinodureentre50e60minutos,eodanoite,até90minutos.Otempopodeseralongadoemocasiõesespeciais.Mesmoassimocorretoéqueapossibilidadededistensãodetemposejaprevistaealiturgiapasseporumarevisãoprévia,evitandoreuniõesmuitolongas.
13.2.4 A unidade e o fluxo do culto
Aliturgianãodeveserumacolchaderetalhos.Aspartestêmdesecomunicar,seminterrupçõesoutransiçõesbruscas.Aadoraçãodevefluirsuavemente,deumaseçãoparaoutra.
Paraqueissoaconteça,sãonecessáriasquatrocoisas:
1. Tudoéprovidenciadocomantecedência.2. Ocultopossuiunidadetemática.3. Atransiçãoentreaspartesdaliturgiaérápidaefluida.4. Osavisossãoevitadosoureduzidos.
Quanto ao item 1, o preparo prévio exige um esforço conjunto do pastor e equipe (cf. apertinência da organização, na seção 13.1). De acordo comDouglass, quando as pessoas chegampara cultuaraDeus,desdeopátioatéo lugardeadoração— tudodeveestar limpo, arrumadoeatraente.303ParaSpurgeon,o“lugar”ea“atmosfera”contribuemparaadispersãodosadoradores:
Seolugarécomoestasalanestemomento,seladacontraoarpuro,comtodasasjanelasfechadas,elestêmbastantedificuldadepararespirar,enãopodempensaremmaisnada.Quandoaspessoasinalamrepetidamenteoarquejáestevenospulmõesdosoutros,todaamaquinariadavidasedesengrena,eelasficammaispropensasaterdordecabeçadoquedordecoração.AsegundamelhorcoisadagraçadeDeusparaopregadoréooxigênio.Oreparaqueseabramasjanelasdocéu,mascomeceabrindoasjanelasdoseusalãodecultos.304
Osalãodeveestarsuficientementeiluminadoecomsonorizaçãoadequada.305Alémdisso,bemantes do culto começar, os agentes da adoração (diáconos, recepcionistas, dirigente da liturgia,pregador,músicoseequipedesomemultimídia)devemestarprontoseapostos.
Quanto ao pregador, o ideal é chegue cedo, mas nem sempre isso é possível. Conheço umpregadorquesemprechegaaoscultoscompelomenos30minutosdeantecedência,masnãoéomeu caso. Eu “luto” emmeditação e oração, todas asmadrugadas e tardes de domingo antes depregar,mesmo que o sermão tenha sido finalizado na semana anterior. E há situações em que aigrejarecebeumpreletorconvidado,quenãoconseguechegaratempo.
Sendo assim, o dirigente do culto deve iniciar pontual, alegre e serenamente,mesmo sem apresençadopregador.Evice-versa(seopregadorverificarqueodirigentedocultonãochegou,que
302VONALLMEN,2005,p.183.303DOUGLASS,op.cit.,p.240,241.304SPURGEON,C.H.LiçõesaosMeusAlunos.2.ed.Reimp.2002.SãoPaulo:PES—PublicaçõesEvangélicasSelecionadas,1990,p.195.v.2.305DOUGLASS,op.cit.,p.242.
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inicienahoraetransfiraaliderançadocultoparaodirigentedepoisqueestechegar,semchamaraatençãodaigrejaparaisso).
De fato, oplanejamento começadias antesdo culto.Opastor306 preparaedistribui a liturgiacomantecedência.Douglass, propõequeo textoe temado sermão sejamdivulgadospelomenosumasemanaantes.307Osmúsicostambémsãobeneficiadosaosaberdeantemãooshinosecânticosque precisamensaiar.O dirigente da liturgia pode repassar as partes da liturgia diante deDeus edirimirdúvidascomopastor,bemantesdoculto.
Osmúsicos precisampoder tocar o prelúdio entre vinte e quinzeminutos antes da saudaçãoinicial.Issoexigequetodososensaiossejamfinalizadosantesdisso.
Quantoaosomemultimídia,todososequipamentos(microfones,projetoresetc.)têmdeestarligados, instaladosetestadosantesdetudoomaisacontecer.Osrecursosdeáudioevídeodevemserdeixadosprontos,nopúlpito,todososdomingos,paraocasodopregadornecessitarutilizá-los.
E se uma pessoa escalada tiver de faltar é importante avisar com prazo, para que se possareorganizaregarantirumaboaexecuçãodoplanejamento.Senão forpossívelavisar,comovimosacima,osagentesdaliturgiadevemterflexibilidade,competênciaedisposiçãodeservosparafazerosajustesnecessários,“semmurmuraçõesecontendas”(Fp2.14-15).
Quantoaoitem2,érecomendávelqueocultotenhaumtema.ComoafirmaDouglass:
Todocultodeveriaserumaobradearteunificadaetrabalhadaemtodososseusdetalhes,demodoquetodososelementosesímbolossecomplementemeseinterpretem.Osalmo,aapresentação,osermão,abênção,ohinodocoral—tudoistodeveriaterumacoerênciaeapontarnamesmadireção.Geralmenteotemadosermãoéoquedefineotemadoculto,masalgumasvezesasfestasespeciais(inauguração,[...]diasespeciaisdocalendárioeclesiásticoetc.)podemdeterminarotema.308
ParecequeéissoqueJowettchamade“propósitodoofício”:309
Apanhemosumacanetae,afimdequepossamosbanirparamaislongeaindaoperigodavacuidade,passemosparaopapelonossopropósitoeanossaaspiraçãoparaodia.Vamoslhedaraobjetividadedeumacartamarítima;examinemosarotaefitemos,firmes,oportodonossodestino.Se,aosubirmososdegrausparaopúlpito,algumanjonosdesafiasseaexpormosanossamissão,deveríamossercapazesdedarumarespostaimediata[...].Umafinalidadesublime,singelaesoberanaentrelaçaoselementosisoladosdoculto,faztudofuncionarcooperativamenteepromoveorelacionamentoeavitalizaçãodetodasaspartes,medianteainfluênciapenetrantedopropósitoquelhesécomum.310
Richardsmencionacultos“coordenadosparaagruparoselementosdaadoraçãoaoredordeumatributo de Deus que combina com a verdade bíblica principal que será transmitida pelapregação”.311Daverdadeprincipaldosermão(e.g.,aintençãodeDeusemsalvarNínive,nolivrodeJonas)setraçaumalinhaparaumatributodeDeus(nocaso,seuamorcompassivo).OtemadocultoseriaOAmorCompassivodeDeusetodasasleituras,oraçõesemúsicasdeveriamdestacarisso.312
Pensandonoitem3,édesagradávelquandoatransiçãoentreaspartesdaliturgiaétruncada.Talvezoleitorselembredeumaoumaisocasiões,visitandoigrejas,emqueodirigenteanunciaum306Ouumacomissão,comitêouequipedeliturgia.307DOUGLASS,op.cit.,p.254.Esteautorjáfaziaassimduasdécadasatrás,bemantesdelerDouglass.308Ibid.,loc.cit.Grifonosso.309JOWETT,JohnHenry.OPregador:SuaVidaeObra.SãoPaulo:PES—PublicaçõesEvangélicasSelecionadas,2015,p.88.310JOWETT,op.cit.,p.89.311RICHARDS,op.cit.,p.227.312RichardsmencionaosegundopassodoFingertipConsultant,deDavidMains;cf.ibid.,p.228.
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cântico,eosmúsicosdemoramdoisminutosparacaminhardofundoparaafrentedaigreja,eoutrominutopara“testar”microfoneseinstrumentos.Estestrêsminutosparecemintermináveis!
Éagradávelquandoaspartesda liturgianãosãoanunciadas (háocasiõesemqueoanúncioénecessário,masmesmoassim,que seja rápido).Cadaparticipante sabeomomentode contribuir.Resultado:Aliturgiaflui.Paraissoosdetalhesdasparticipações,movimentaçõeseposicionamentodos participantes são planejados (e.g., os músicos se sentam nos primeiros lugares). Até osmomentosempéeassentados,sãopensadospreviamente.Issoérepassadopelasequipesantesdocultoiniciar.
Quantoaoitem4,omelhoréqueslidesmostremosavisosmaisimportantes,nosmomentosdeprelúdioeposlúdio.
13.3 A condução do culto
Oqueacontecenocultoédirigidopelopastor(quepodeounãoseropregador),pelodirigentedaliturgiaepelosmúsicos.Mesmoumcultobempreparadopodeserprejudicadosemboadireção.Éclaroque“nãoéaformadocultoqueédeimportânciaprincipal,masapresençadoEspíritoSantonaplenitudedeseupoder;istoéoquetornaqualquercultovivo”.313Sendoassim,osdirigentes(doculto,damúsicaeopregador)devemsuplicaraDeusqueosabençoeespiritualmente.
13.3.1 A direção da liturgia
Aquemouaquepodemoscompararumdirigentedeliturgia?Emprimeirolugaréumadorador,ouseja,tudooqueelepensa,dizefazduranteoculto,énacondiçãodecrentequeoferecesuavidaedonsaoSenhor.Sendoassim,seuinteressemaioréemglorificaraDeus.
Apessoaquedirigealiturgia—homemoumulherdeDeus—devefazerissoconscientedeseupapelefunção.AquisãototalmenteaplicáveisaspalavrasdeJohnHenryJowett:
Énossoencargo,dadoporDeus,deguiarhomensemulherescansadosourebeldes,exultantesoudeprimidos,ardorososouindiferentes,parao“abrigodoAltíssimo”(Sl91.1).Devemosauxiliarosqueestãocarregadosdepecadosaalcançaremafontedepurificação,osescravosaalcançaremoscânticosdelibertação.Cumpre-nosajudarocoxoeoparalíticoarecuperaremaagilidadeperdida.Cabe-nossocorrerasasaspartidas,encaminhando-asàluzcurativadas“regiõescelestiaisemCristo”(Ef1.3).Compete-nosenviaroscoraçõessombriosaocalordagraça.Devemosauxiliaroslevianosasevestiremcomo“mantodelouvor”(Is61.3).Cumpre-nosajudaralivrarosfortesdoateísmodoorgulho,eosfracosdoateísmododesespero.Cabe-nosauxiliarascriançasaveremagloriosaatraçãodeDeus,eauxiliarosidososaperceberemoenvolventecuidadodoPaieacertezadolareterno.Issoéumpoucodoquesignificaanossavocação,quandoocupamosopúlpitonosantuário.314
Estaconsciência,assimcomooapreçopelaglóriadeDeus,nostornatransparentes:
SenósmesmosestivermosadmirandoaglóriadoSenhor,seremosapagadosemnossatransparência.SeprocurarmosaglóriadoSenhor,seremoscercadospelapureza,simplicidadeesingelezanadevoção,queseprestarãoamostraroRei;eoshomensnãoverão“maisninguémanãoserJesus”(Mt17.8).Tudonocultoserásignificativoenadaseráimportuno.TudocairábrandamentenolugarcertoecontribuiráparaaarmaçãodeumcenárioreverenteesóbrioemquenossoSenhorserárevelado,“cheiodegraçaedeverdade”(Jo1.14).315
313STILL,W.CartaPastoral,apudWHITE,Peter.OPastorMestre.SãoPaulo:CulturaCristã,2003,p.95.Grifonosso.314JOWETT,op.cit.,p.87.315Ibid,p.90-91.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 90
Emsegundolugar,odirigentedaliturgiaéumanfitrião.Vistoporesseângulo,ocultoédirigidocomoserecebêssemospessoasemnossacasa(defato,somosanfitriõesdaCasadeDeus).Opapeldodirigenteéreceberbem,sendobem-educado,amáveleacolhedor.
Emterceirolugar,eleéoguiaqueconduzopovonatrilhalitúrgica.Algumasvezeseleinvestirátempoexplicandodeterminadopasso,semnuncaparardemasiadamente,paraqueoscaminhantesnãopercamopique.Outrasvezeseleseguirácomobjetividadeefirmeza,assegurandoobomritmodacaminhada.
Douglassadverte:
[Corremosoriscode]perderestageração,secontinuarmosoferecendocultostãomonótonosesemgraçacomotemosfeitoatéaqui.Comtantos“intervalos”queexistememnossoscultos,emcasaaspessoasjáteriammudadodecanalváriasvezes.Onossocultonãoprecisaseragitado;podeatétermomentosdesilêncio[...],masprecisamosevitaros“pontosmortos”.Ocultoprecisadeumcertoritmoparaenvolveraspessoas.316
Ditodeoutromodo,àsvezescom“santosempurrões”,odirigentedocultomoveosadoradoresdeumaparteparaoutra,atéoamémfinal.
Éporissoque,emquartolugar,odirigentedaliturgiaéummotivador.Eleajudaaspessoasaentenderqueoquevemaseguirvaleapena.Issoexigeserenidadepositiva.Ditodeoutromodo,eleevitadarênfaseaospedregulhosdocaminho.Opovonãoprecisasaber,porexemplo,que“estavaplanejadocantaroHino32,mascomoopianistafaltoumaisumavezsemavisar,passaremosparaaoraçãofinal”.Essetipodeinformaçãonãoajudaemnadaoadoradorouvisitante.Omelhorédizer:“CantemosoHino32detodoocoração.Emseguida,oremosaoSenhor!”
E elemotiva comamaneira como adora (o povo observa isso). Sua oração deve ser bíblica,sincerae fervorosa.Odirigente temdeacompanharasoraçõesdosdemais comatenção,dizendoaméns.Edeveusaraoraçãopara falarcomDeus,nãoparapregar.317Precisa tambémcantarcomsegurançaedetodoocoração;oidealéqueouçaascançõesemcasaouasrepasseemseucoração,afimdenãoparecer,diantedaigreja,queelenãoasconhece.EasEscriturasdevemserlidascomdevoção.318Mesmoprimandopelaagilidadedoculto,elenãopodeprocedermecanicamente.Aplica-se aos dirigentes de liturgia as palavras de PeterWhite: “Tenhamos paixão!”.319 Ou de Douglass:“Vocênãodevesermonótono!”320
Por fim, em quinto lugar, o dirigente de liturgia é um comunicador. Ele precisa ser visto eouvido.ComosugereDouglass,“àcredibilidadedaPalavraprecisaseracrescentadaacredibilidadedaquelequeaanuncia. Istosignifica:Queroverasualinguagemcorporal,suamímica,seusgestos,seusorrisoesuaseriedade”.321Sendoassim,eiscincorecomendações:
1. Estejapresente.2. Comuniquecomsuapostura,aparência,rosto,gestosevoz.3. Certifique-sedequetodosentendamoquevocêdiz.4. Falepoucoebem.5. Nãomanipule.
316DOUGLASS,op.cit.,p.254.317Ibid.,p.96.318RecomendofirmementealeituradasinstruçõesdeJowett;ibid.,p.88-103.319WHITE,2003,loc.cit.320DOUGLAS,op.cit.,p.249.321Ibid.,p.253.Cf.REYNOLDS,op.cit.,p.209:“Asaudiênciasirãoentendermelhoramensagemdoapresentadorquandoelespuderemvê-loeouvi-lo”(grifonosso).
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 91
Quantoaoitem1,estarpresentesignificaterfoco;saber lidarcomdistraçõesepreocupações.Estarmergulhado,menteecoração,noatodaconduçãodaadoração.Reynoldsnoslembradeque:
Preocupaçõessãoaspiorescoisasdetodasporqueelassempresãosobreopassadoousobreofuturo,duascoisasquenemsequerexistemnopresente.Nanossavidadiária[...],incluindoapresentar-se,nóstemosdelimparnossasmenteseestaremumlugar,bemaqui.322
Nessecaso,aquiloseéditosobreoartista,podeseraplicadoaodirigentedoculto:“Vocêtemde acreditar na suamensagem completamente ou ninguémmais irá. Você deve acreditar na suahistóriaeestar‘perdidonomomento’emqueenvolveaaudiência”.323
Quantoao item2,é importantecolocar-sedepé,“defrenteenocentro”.324Porestarazão,éruimquandoopúlpitoé colocadonocanto.Odirigentedeveassumirestavisibilidadeporque “ossereshumanossãomaispropensosasugarmuitomaissignificadodaspessoasdoquedainformaçãoqueelasapresentam”.325
Sendo assim, a aparência do dirigente é importante. Ele deve estar limpo, bem apresentado,comum“trajeadequadoà[...]circunstância”.326
E ele comunica com seu rosto e gestos. Ele pode e deve cumprimentar as pessoas com umsorrisodizendo“bomdia”ou“boanoite”,ou“graçaepazdoSenhorJesus”;ou“apazdoSenhorsejacom todos”. E as pessoas podem responder espontaneamente, sem afetação.327 Além disso, suaexpressão facial, gestose corpodevemcombinar comomomento litúrgico—éestranhoquando,comafacecarrancudaeosombroscaídos,odirigenteentoa:“Cantai!Exultai!OMessiaschegou!”328
Quantoaousodavoz,odirigentedevefalardemodonatural.Spurgeonmencionaum“ministromuiestimado,masquezumbiatristemente,como‘umahumildeabelhanumjarro’”.329Eledenunciaosquefalamcom“linguagemfictíciaeartificial,etonsfalsos”.330Afalsidadeaparececomosegue:
Amaioriadosnossospregadorestemumtomdevozsantoparaosdomingos.Elestêmumavozparaasaladevisitaseparaoquartodedormir,eoutrotomcompletamentediversoparaopúlpito[...].Nomomentoemquealgunshomenscerramaportadopúlpito,deixamparatrásasuavaronilidadepessoal[...].Deixamdesercarneeosso,jánãofalamcomohomens,masadotamumganido,umrotogaguejar[...],tudoissoparaimpedirtodasuspeitadequenãoestãosendonaturais[...].Quandoépostaavestesacral,quantasvezesficapatentequeelaéamortalhadoverdadeirohomem,eoefeminadoemblemadoformalismo!331
Spurgeon identifica três modos esquisitos de falar. Primeiro ele menciona “aquele estiloengrandecido, doutoral, inflado, bombástico”, ou, em outras palavras, a fala com “voz grandiosa,ondulanteeempolada”.332Elecontaahistóriadedoishomensouvindoumpregadorque,aofalar,
322REYNOLDS,op.cit.,p.186.Grifonosso.323Ibid.,p.189.324Ibid.,p.207.325Ibid.,p.208.Grifonosso.326POLITO,Reinaldo.SuperdicasParaFalarBememConversaseApresentações.SãoPaulo:Saraiva,2005,p.63.327Cf.DOUGLASS,op.cit.p.250.Quemmeconhecesabequeeuapreciooscumprimentosbíblicos,masnãoosconsideronormativos.Maisimportantedoqueaformataçãodocumprimentoésuasinceridadeerespeito.328Hino54,“AChegadadoMessias”.In:MARRA,op.cit.,p.48.329SPURGEON,op.cit.,p.167.330Ibid.,p.168.331Ibid.,p.169.332Ibid.,loc.cit.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 92
parecia soprar vapor. O primeiro “disse que pensava que o pregador ‘tinha engolido um bolinhoquente’,masooutrocochichou:‘NãoJack,nãofoiisso:Eletragouumdiabinho’”.333
O segundo modo de falar é “o método de enunciação que se diz ser muito [...] elegante,adocicado, delicado [...] fútil. Opaco e enfadonho”.334 Spurgeon diz que a “ordem de registrogenealógico” desta oratória é o seguinte: “Soquinho, que era filho de Gaguejo, que era filho deSorrizinho, que era filho de Dândi, que era filho de Maneirismo; ou Rebolante, que era filho dePomposo,queerafilhodeOstentação—demuitosfilhosopaieraomesmo”.335Econtinua:
Estoupersuadidodequeessestons,semitonse“monotons”sãobabilônicos,eabsolutamentenãopertencemaodialetodeJerusalém,poisodialetodeJerusalémtemasuacaracterísticadistintiva,queéomododefalarprópriodohomem,eessemodoéomesmo,foradopúlpitoedentrodele.336
Porfim,Spurgeonmencionaas“idiossincrasiasnofalar,desagradáveisaoouvido”,337epodemsercorrigidascomtreinoeprática(retornaremosaesteassuntonoitem4).EmtudoissoSpurgeonseidentificacomWesleyquedizia:“Cuidadocomqualquercoisaquesejagrosseiraousofisticada,nagesticulação,nasfrasesounapronúncia”.338
Resumindo, que sejamos naturais. “Boas apresentações [e direções de culto] baseiam-se emconversar,compartilhareseconectar,numnívelintelectualeemocional,deumamaneirasinceraehonesta”.339Istoposto:
• Falecomvozfirme,animada,pausada(calma)esemafetação.• Nãouseavozdemaneiraartificialou forçada.Éesquisitoquandoapessoaabandona
seufalarconhecidoemudaotom,volumeouvelocidadedevoz(comoumlocutordejogodefutebol).
Isso nos conduz ao item 3: Certificar-se de que todos entendam. Isso é conseguido (1) pelovolumecorretodavoz;(2)pelomodocomoarticulamosaspalavrasefrasese(3)pelarepetição.
Ovolumedevesersuficienteparaaspessoasouçamcomosevocêestivesseemfrentedecadauma,falandoagradavelmente,semgritar.
Aspalavrasefrasesdevemserditascomclareza,demodoqueaspessoasentendamadiferençaentre“aspargo”e“estrago”.
Aoindicarumhinooupassagembíblica,oudizeralgoimportante,repitaonúmero,referênciaou informação algumas vezes, para que as pessoas tenham tempo de localizar as referências ougravaracomunicação.
Echegamosaoitem4.Falarbemnãoequivaleafalarmuito.
Primeiro quer dizer falar com domínio mínimo do idioma, pois erros de português causamdesconfortoeatédistanciamentodosouvintes.
Masmesmoasderrapagensna língua sãomenos incômodasdoquealgunsmaneirismos, taiscomorepetiçõesde“né”,“ãããã”eoutras.Politodizqueo“né”temumafamíliagrande,“queinclui
333Ibid.,p.169-170.334Ibid.,p.170.335Ibid.,loc.cit.Otermo“dândi”éusadoparadescreverumapessoaquesevestecomcuidadoexcessivo.Emoutrostempos,odândierachamadotambémde“janota”ou“almofadinha”.336Ibid.,p.171.337Ibid.,p.171-173.338Afontenãoémencionada;citadoemnotaderodapédoeditoremibid.,p.171.339REYNOLDS,op.cit.,p.201.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 93
‘tá?’, ‘ok?’, ‘entende?’, ‘percebe?’, ‘táentendendo?’eoutrosagregadosnãomenosvotados,como‘não é verdade?’, ‘fui claro?’”.340 Outro vício, o “ãããã”, é às vezes acompanhado do “éééé” e“huumm”,341aténamesmasentença—“Euseioquequerodizer,éééé,ãããã”.342Temosdetomarconsciências de tais vícios, que são identificados de duasmaneiras:Quandoumapessoa conversaconoscosobreeles,ouquandonósgravamoseavaliamosoquedizemos.343
AlgumasdicasdeAdlerparaaboainteração,sãotambémúteisparaafaladodirigentedoculto:“Nãodivague[...];nãotagarelesemparar[...];nãodiga‘Veja’quando,naverdade,vocêquerdizer‘Por favor, escute’”.344 E Reynolds complementa: A boa fala exige saber “quando parar”.345 Odirigentelitúrgicodevedizeroessencial,conduziropovorapidamentepela liturgia,nãoinvestindotempoexcessivoemdeterminadaparteoutransições.
Quantoaoitem5,elenãodeveforçaraspessoasalevantarasmãos,oubaterpalmas,oudizeraleluiasouaméns,ouacumprimentarquemestáaoladoetc.Douglassacertaquandosugerequeosparticipantes“devemsentirquenãoserãocolocadossobpressão,masserãoaceitoseedificados”.346Temosdeevitartodamanipulação.
Porfim,éimportantesaberoqueodirigentedeliturgianãoé(eissoseaplicaaosmúsicos):
• O dirigente de liturgia não é um profeta exortador. Não é sua função denunciar ospecadosdeIsraeleasfalhasdaigrejalocal.Sealiturgiaequivale,guardadasasdevidasproporções,areceberpessoas,umvisitantenãoprecisasaberdosproblemas internosdenossolar.Odirigentedaliturgianãodeveusaropúlpitoparacriticar,darbroncasoupublicarosdefeitosdaigreja.
• Odirigentedeliturgianãoéopregador.Mesmoqueapessoaquedirigeocultosejaamesmaquepregaráosermão,eledevesaberdiscernir“otempoeomodo”(Ec8.5-6),cuidandoparaquehajaapenasummomentodeexplicaçãoeaplicaçãobíblica.
Nestaseçãoaprendemossobreaimportânciadodirigentedaliturgia.Seudesempenhoafetaaduraçãoequalidadefinaldoculto.Pensemosagoranaconduçãodamúsica.
13.3.2 A direção da música
Ocânticotemdeserreverentemesmoquandoalegre;evivomesmoquandosolene.NãoécorretoconfundiralegriacomfaltadereverênciaeomeroformalismonãoagradaaoSenhor.
Cantarafeta a pessoa inteira (mente, emoções e corpo). Levantar asmãos, se prostrar ou secolocardepé, são respostasbíblicasdo corpoaDeus (Sl 28.2; 63.4; 5.7; 95.6;Ap7.9-12).Nãohánadapecaminosonamúsicatocaraalmaeproduzirtantoregozijoquantochoro,despertamentodossentidos e retorno do homem inteiro para o Deus vivo (Ed 3.13; Sl 9.2 — quanto às palmas eaplausos,cf.seção12.4;quantoàdançalitúrgica,cf.aulas7-9).
Considerandoomandatocultural,umsoloinstrumentalpodeserlegítimoenquantodedicaçãodeumtalentomusical—comoaspectodacriação—aDeus.Osadoradorespodemconsideraresteatocomoantecipaçãodoreinoconsumado,quandotodasasartesrefletirãoperfeitamenteaglóriadoCriador.OcrentepodeouvirumaperformancemusicallouvandoaoSenhorporconcederdonse
340POLITO,op.cit.,p.21.341Ibid.,p.23.342Ibid.,loc.cit.343Ibid.,p.22.344ADLER,MortimerJ.ComoFalar,ComoOuvir.2ªimpressão.SãoPaulo:ÉRealizaçõesEditora,2014,p.132.345REYNOLDS,op.cit.,p.193.346DOUGLASS,op.cit.,p.251.Grifonosso.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 94
talentosaseusservos.Éclaroqueaquelesqueescolhemasmúsicasparaaliturgiadevem,combomsenso,favoreceraquelasquepermitammaiorparticipaçãocongregacional.
Assim como o dirigente da liturgia, omúsico deve ser umadorador, ou seja, tudo o que elepensa, diz e fazduranteo culto, éna condiçãode crentequeoferece sua vidaedons ao Senhor.Sendoassim,seuinteressemaioréemglorificaraDeus.
Apessoaquedirigeamúsicadevefazerissoconscientedaimportânciadolouvor.Olouvornoslembra“dequeméDeusedoqueele faz”.347 “O louvorpurificaapessoaqueora”, “dáalegria”e“nadamaisédoquesaúdeinteriorvisíveleaudível”.348“Olouvortempodertransformadorsobreavida”e“éaatitudeprincipaldoshabitantesdocéu”.349Nessestermos,aspalavrasdeJowett,sobreopapeldodirigentedaliturgia(noiníciodaseção13.3.1),sãoaplicáveisaodirigentedamúsica.Eestetambém,guardadasasdevidasproporções,éumtipodeanfitrião,guia,motivadorecomunicador.
Indonacontramãodatendênciadominante,entendemosqueestesestudospermitemconcluirquenãoébíblicaaideiadeum“momentodelouvor”destacadodorestantedaliturgia.HámúsicatantonaliturgiadaPalavraquantonadocenáculo.Osagentesdamúsica(regentes,corais,cantoresemúsicosemgeral)seprontificamacantaretocar—hinosecânticoscontemporâneos—conformerequeridonaliturgia.
Afirmamos que nem sempre as práticas antigas devem ser normativas (seção 12.3). Sendoassim, a ideia de que cânticos contemporâneos não devem ser cantados em cultos de Santa Ceiadecorredetradição,nãodeprescriçãobíblica.Quempreparaaliturgia(opastorouumacomissão)dispõedeliberdade,logicamente,respeitando-seoPRC,paradefinirque,emumcultodeCeia,serãocantadasapenasmúsicascontemporâneas,ousomentemúsicasdoHinário,ouumpoucodeambas.Entenda-se que tanto o cântico novo quanto o do hinário (quando são atendidos os requisitosmencionadosnasseções12.1e12.2)são,tecnicamente,músicasacra.
Especialmente os regentes e cantores assumem o papel de comunicadores. Nesses termos,aquiloquefoiditoaosdirigentesde liturgia (itens1a5daseção13.3.1)concernetambémaeles.Ainda assim, propomos uma aplicação específica das recomendações “fale pouco e bem” e “nãomanipule”:Nósnão concordamos coma leitura doutrinária da “adoraçãoprofética extravagante”.Trocandoemmiúdos,osqueconduzemamúsicanão têma funçãodeexortar,admoestar,pregarou,comodizem,“ministrar”.Issonãoanulaosdirigentes,impedindo-osdefalar.Podeserquefalarseja necessário, especialmente quando é ensinada umamúsica nova. No entanto, em igrejas quedisponham de projetor, é possível até passar de uma música para outra utilizando “pontesinstrumentais”,350 semnecessidadede anunciá-las (o povo é “situado”pelos slides). Resumindo, afunçãodocantorécantar;afunçãodomúsicoinstrumentistaétocar.Simplesassim.
Quaseterminando,nãoénecessárioquetodamúsicasejacantadadepé.Acongregaçãopodecantarassentada,anãosernoofertório(quandosentaratrapalhadosqueprecisamselevantarparaentregar seu dízimo ou oferta), ou se amúsica exigir que o povo cante de pé (um hino que nosconvoquea“marchar”,porexemplo,nãopodesercantadosentado).
Outro detalhe: As músicas não devem reproduzir, exatamente, os formatos ou arranjosoriginais. Longos solos instrumentais ou repetições desnecessárias devem ser eliminados. Novosarranjosdevemprimarpelaconcisãoesimplicidadedocantocongregacional.
347Ibid.,p.125.348Ibid.,p.126,127.349Ibid.,p.127.350Ibid.,p.137.
A preparação e condução de uma liturgia bíblica 95
Aoensinarumnovocântico:
• Odirigentedevecantarumavezcomaigrejaassentada,e,casosejanecessário,umasegundavezcomaigrejaempé.
• Naprimeiraexecução,enfatizaraletraemelodia(nãoéprecisotocaramúsicainteira).
Concluindo,anãoserapedidodopastor,deveserevitadocantaramúsicainteiraduasvezesnomesmoculto.13.3.3 Sobre os avisos
OsdepartamentosdevemenviarseusavisosparapublicaçãonoBoletim.Odepartamentoquequiserreforçar seuavisonoscultosdeve solicitaràequipedemultimídiaqueprepareumaapresentação(PowerPoint),queseráprojetadanoinícioefimdoculto.
Odepartamentoquedesejarqueseuavisosejareforçadodopúlpitodevesolicitaraodirigentedaliturgia,quepoderádeferirounãoopedido.
Conclusão da aula 13
Épossívelformularumaliturgiabíblica,fielaoPRC,eaomesmotempocontemporânea.
A implementação do culto exige dedicação de inteligência (iluminada pelo Espírito Santo),tempoeenergia.Éimportantequehajacooperaçãoentreopregador,osdirigentesdaliturgiaedamúsica,eaequipedesomemultimídia.
Atividades da aula 13
1.MarqueVerdadeiroouFalso:Aherançareformadaabreespaçoparadezenquadramentos.Aadoraçãodeveserbíblica,confessional,simples,organizada,participativa,musicaleartística,temporaletranscendente,edificante,evangelísticaemissionáriae,porfim,teocêntrica.
___*Verdadeiro.
___Falso.
2.Marqueaúnicarespostacorreta:Aprimeirapropostacontemporâneadeliturgia,sugeridanestecapítuloéinspirada...
___NoritoValeriano.
___NoritodeMadagascar.
___*NoritodeGenebra.
3.Completeoparágrafo:Aliturgianãodeveserumacolchade________________.Aspartestêmdesecomunicar,seminterrupçõesoutransiçõesbruscas.Aadoraçãodevefluirsuavemente,deumaseçãoparaoutra.
4.Completeoparágrafo:Mesmoumcultobempreparadopodeserprejudicadosemboadireção.Éclaroquenãoéaformadocultoqueédeimportânciaprincipal,masapresençado___________________________naplenitudedeseupoder;istoéoquetornaqualquercultovivo.
5.Completeoparágrafo:HámúsicatantonaliturgiadaPalavraquantonadocenáculo.Osagentesdamúsica(regentes,corais,cantoresemúsicosemgeral)seprontificamacantaretocar—hinosecânticoscontemporâneos—conforme__________________naliturgia.
Apêndice 1: Judaísmo messiânico, adoradores extravagantes e pericorese [...] 96
Apêndice 1: Judaísmo messiânico, adoradores extravagantes e pericorese: Como tudo isso afeta a perspectiva atual sobre a dança na igreja
Seacolhoumamigoàminhamesa,peçoqueseassentee,seécoxo,nãopeçoquecomeceadançar.
AntoinedeSaint-Exupéry.
Naaula9afirmamosqueaaberturadaigrejaparaadançadecorre—dentreoutrosfatores—dasinfluênciasdomovimentodosjudeusmessiânicosedosditosadoradoresextravagantes.Alémdisso,argumentosfavoráveisàdançasacramencionamumaexplicaçãoorientaldadoutrinadaTrindade—apericorese.Conheçamosmelhorcadaumadestasinfluências.
Quem são os judeus messiânicos
Omovimentodosjudeusmessiânicossurgiunofinaldadécadade60.Umdeseusproponentesmaisilustres é Murray Silberling, um rabino messiânico que pastoreia a Beth Emunah MessianicSynagogue, em Agoura Hills, Califórnia.351 Silberling afirma que a dança sacra surge na igreja emtemposde renovaçãodesuaherança judaica.“Àmedidaqueváriosgruposda igreja redescobremsuas raízes históricas e teológicas no povo judeu, a dança sacra reaparece como forma de cultoreligioso”.352Ainterrupçãodadançanaadoraçãoocorreemperíodosdedeclíniodafé.353Poroutrolado,ousocontemporâneodedançacorrespondeaumavivamento:“Osavivamentosreligiosossãoacompanhados muitas vezes da restauração de formas antigas de adoração. Essas formas sãomodificadasparaexpressaraculturaeoconsensodostempos.Existehojeumavivamentodadançanomovimentojudeumessiânico”.354
Oreferidoautorafirmaque“emtodaahistóriadaadoraçãojudaicaatéoprincípiodoPeríodoMishnaico [...], opovodeDeuso festejavapormeiodadança”.355Ocorreuumdeclíniodousodadança como prática religiosa “após a destruição do segundo templo e o fim da autoridade doSinédrionoano70[...].Adançasacra,decaráterreligioso,sófoiretomadaapartirdoséculo18.”356Talretomadaocorreucomohassidismo,ummovimentoderenovaçãofundadoporBaalShemTov(SenhordoBomNome)entrejudeuspoloneses.357DeacordocomSilberling:
Ohassidismoreintroduziuaalegria,simchah,nocultoreligioso.BaalShemTovpassouautilizaroutravezadançacomoexperiênciadorelacionamentomaisíntimocomDeus.EleensinouqueadinâmicadadançaseriacapazdefazeraspessoastransbordaremdealegrianoSenhor.[...]Adançaéumdospontoscentraisdocultoreligiosodoscírculoshassídicos.358
Omovimentomessiânico absorveue adaptouapráticadohassidismo. Em seguida,mediouadançaparaasigrejasevangélicas:
UmadasprimeirascongregaçõesadesenvolveradançasacrafoiaBethYeshua,naFiladélfia.ApartirdeBethYeshua,muitasoutrascongregaçõespassaramaincorporaradançaisraelenseemessiânica
351SILBERLING,op.cit.,p.23-36.ParamaisinformaçõessobreaBethEmunahMessianicSynagogue,cf.olinkaseguir:(http://www.bethemunah.org/).352Ibid.,p.34.353“EmLamentações5.15,JeremiasafirmaqueumsinaldapobrezaespiritualdeIsraeleraacessaçãodadançanacomunidade”(ibid.,p.19).TalleituradeLamentações5.15éincorretaporduasrazões:Primeiro,apalavramāḥôl,traduzidacomo“dança”podeserentendidacomo“alegria”(cf.seção7.3).Segundo,mesmoquetraduzamosotermohebraicocomo“dança”,Jeremiasnãoestásereferindoàcessaçãodadançalitúrgicaesimaofimdascelebraçõesdavidacomunitária,emdecorrênciadoexílio.354Ibid.,p.13.Grifonosso.355Ibid.,p.23.356Ibid.,p.24.357Ibid.,p.24-25.358Ibid.,p.25.
Apêndice 1: Judaísmo messiânico, adoradores extravagantes e pericorese [...] 97
nocultocomunitário.Atualmentequasetodasascongregaçõesmessiânicasincluemalgumaformadedançacomopartedoculto.Diversascongregaçõesmessiânicasmantêmaulasdedançaouworkshopsabertosàcomunidade.Nosúltimosanos,cadavezmaisrepresentantesdaigrejavêmàscomunidadesmessiânicascomoobjetivodeaprenderedesenvolveroministériodedançaemsuasigrejas.359
Falandodocrescimentodomovimentode judeusmessiânicos,naépocaemqueescreveuseulivro Silberling relatou a existência de “mais de 150 congregações espalhadas só nos EstadosUnidos”.360HáatualmentesinagogasnoBrasilnasquaispráticasjudaicas,taiscomoousodoshofareacelebraçãodasfestasdoATsãoincorporadasaocalendáriolitúrgicoeaoculto.361
Quem são os adoradores extravagantes
A expressão “adoração extravagante”, ao que parece, foi cunhada porDarlene Joyce Zschech, ex-líderdelouvordaHilsongChurch,Austrália,cujopropósitopareceserodevivenciar“umaadoraçãomaisprofundadentrodeumanovadeclaraçãodeféouumanovabandeiraparaoprimeiroanodonovomilênio”.362DeacordocomNelsonBomilcar:
[Darlene]afirmaqueouviuoSenhorlhedizercombranduraemmomentosdebuscaeoração:“Filha,vocêaindanãoéumaadoradoraextravagante”.Emsuaexplanação,definiuextravagantecomo“aquelequeesbanja”,queexcede,queéultrageneroso,quevaialémdelimitesrazoáveis.Emsuamenteecoração,relacionouestaideiacomalgunsrelatosbíblicosdeadoração.363
ParaAnaPaulaValadão,adançaocorrenoscontextosdo“ambienteprofético”eda“adoraçãoextravagante”.364Quandoaoprimeiro,“averdadeiraadoraçãotrazumambienteprofético.Deussemove ali, revelando seus segredos aos seus profetas. Em meio aos verdadeiros adoradores,encontramososprofetasdoAltíssimo”.365AsaphBorbaentendeque“Deusestá restaurandoasuaigrejaemtodasasáreas,etambémnaadoração.EstátrazendoummovernaáreaproféticaatravésdeumamúsicaproduzidanocéuporgentequeestáouvindodeDeusoquefalar,oquecantareoquefazer”.366
MikeSheaexplicaaadoraçãoproféticanosseguintestermos:Oproféticotrazàterraoqueestánocéu.OpropósitodeDeusnoproféticoédeproporumavisão,gerarumaexpectativa,erevelaroseucoração.Em(sic)falarsobre“adoraçãoprofética”,eucreioqueDeusestágerandonaigrejaumavisãoeumaexpectativadealgoqueeledesejavernaterra:queaadoraçãodaterraentreemconcordânciacomaadoraçãodocéu.QueadoremosaDeusnaterracomoeleéadoradonocéu.Quesejamosarrebatadospeloseuamor,suasantidade,suabondadecomoosquatroseresviventes,osvinteequatroanciãosetodososadoradorescelestiais.QuesejamosapaixonadoscomoumanoivaqueanseiaodiadoseucasamentocomseuNoivo.Queos
359Ibid.,p.36.Eainda:“Omovimentomessiânicoéavanguardadarestauraçãodadança,maselanãoobjetivaapenasoscrentesmessiânicos.Váriascongregaçõescristãsusamoconhecimento,asexperiênciaseosrecursosdascongregaçõesmessiânicasparadesenvolveradança”(ibid.,p.22).360Ibid.,p.35.361Dentreasdiversascongregações,podesercitadaaSinagogaMessiânicaBeitMashiach,filiadaàUniãodasCongregaçõesJudaicoMessiânicas(UMJC)esituadaemSãoPaulo.Cf.SINAGOGAMESSIÂNICABEITMASHIACH.SãoPaulo:SMBM,2011.Disponívelem:<http://www.beitmashiach.org.br/index.html>.Acessoem:31mai.2011.362BOMILCAR,Nelson.AdoraçãoExtravagante,SegundoDarleneZschech.In:CaminhosdoCoração.Blogdoautor.Disponívelem:<http://www.nelsonbomilcar.com.br/artigos/adoracao-extravagante-segundo-darlene-zschech/>.Acessoem:05Jul2011.Cf.ZSCHECH,op.cit.,passim.363BOMILCAR,op.cit.,loc.cit.364BESSA,op.cit.,p.255-317.365Ibid.,p.255.Grifosnossos.Outrosdefensoresdadançalitúrgicacompreendemqueestáocorrendo,noâmbitodaadoração,oestabelecimentodo“tabernáculocaídodeDavi”(At15.16-18).Cf.CURRY,KarenM.DancingIntheSpirit:AScripturalStudyofLiturgicalDance.Bloomington,Indiana:FirstPublishedbyAuthorHouse,2004,p.3-10.366BORBA,Asaph.AdoraçãoProfética.Vivos!OSitedaFéCristã.Disponívelem:<http://www.vivos.com.br/229.htm>.Acessoem:31mai2011.
Apêndice 1: Judaísmo messiânico, adoradores extravagantes e pericorese [...] 98
nossos“cultos”setornememmomentosdeencontroíntimoentreoPaieseusfilhos,entreoNoivoeasuanoiva.367
Trata-se,dizem,deumaatualizaçãodoministérioproféticodostemposdeSamueleSaul:OsprofetasusamadançaparasetornaremvasosdaPalavradoSenhor,deixando-sedominarpeloEspíritodeDeusdetalmodoqueoSenhorpudessefalarpormeiodeles.AdançaeraummeiodeosprofetasseprepararemparaorecebimentodoEspíritodoSenhor,concentrandotodoocorpo,amenteeoespíritonaPalavradeDeus.ComoaconteceucomSaul,umatransformaçãodinâmicaocorreuquandoesseshomensdançaramperanteoSenhor.368
Emtalambienteocorremos“atosproféticos”quesão“símbolos,sinais,mímicas[...]desenhosedemonstraçõespormeiodegestos,deobjetosedeatosquetraduzemamensagemdoSenhor”.369Discorrendo sobre uma de suas experiências em uma cidade do interior do Brasil, Bessa relata oseguinte:
TiveaimpressãodequedeveríamoscelebraraDeuspulando,correndoegritando,sobreosnossosinimigos.Algumaspessoasnãoentendiamaquiloeatélevantavamospés,massemintensidade.Foiquando,então,Deusmetrouxeadireçãodefazeraquelascoisasprofeticamenteporeles.Eudisse:“Sevocênãodança,eudançoporvocê!”—ecomeceiaagirprofeticamentenopalco.370
A “extravagância” da adoração consiste exatamente nisso. Adoradores extravagantesprofetizameadoramobedecendoaosimpulsosdoEspírito,sempreocupar-secomoqueosoutrospensam,oferecem-seaDeussem limitese inteiramente,deummodoque“oscarnaisnãopodementender”.371
Em decorrência do conceito de adoração profética, o ato de cantar nos cultos se torna“profetizar”ou“ministrar”.Olouvordeixadeseroração,testemunhoetributodegratidãooferecidoaDeuseobtémstatusdenovomeiodegraça.372Osque“ministram”sãolevitas,servos-profetasdeDeus.373
O que é pericorese
Alguns afirmam ainda que a base para dança na igreja é encontrada no próprio ser de Deus. DeacordocomSilberling,ovocábulohebraicotraduzidocomo“regozijar-se-á”,emSofonias3.17,podeserentendidocomo“dançará”.
AtraduçãoliteralseriaentãoqueDeusdançarádealegriapornossacausa!VocêconsegueimaginarDeusdançandoporcausadeseupovo?SeDeuspodedançardealegria,quantomaisdevemosnósdançardealegriaporeleestaremnossomeio?374
367SHEA,Mike.AdoraçãoProfética!OQueéIsso?BlogKolShofar:ClamandoPeloReino.Disponívelem:<http://kolshofar.wordpress.com/2008/04/05/adoracao-profetica-o-que-e-isso/>.Acessoem:31mai.2011.368SILBERLING,op.cit.,p.18,comentando1Samuel10.6.Oreferidoautorcrênadançacomomeiodetransformaçãoespiritual.369BESSA,op.cit.,p.258.370Ibid.,p.263-264.Grifosnossos.371Ibid.,p.302-307.Grifonosso.372“AprofecianaIgrejadevesemprepromoveraglóriadeDeusedificando,exortandoeconsolando(1Co14.3).Demodoqueavisãoprofética,aadoraçãoproféticaeoministérioproféticotêmquepromoveressasênfasesparaestardeacordocomaPalavra”(BORBA,op.cit.,loc.cit.).Grifonosso.373Anomenclaturadasfunçõesligadasàadoração—levitaetc.—evocaaterminologiadocultonoAT,talvezmaisumaevidênciadainfluênciadojudaísmomessiânico.Aênfaseàsministrações—palavrascomvistasàedificaçãodaigreja—,nosmomentosdecânticos,emdetrimentodaPalavrapregada,nãodecorredemeromodismo.Tambémnãosetrataapenasdousodamúsicacomoimpressãoemlugardamúsicacomoexpressão,comoargumentaMÓDOLO,op.cit.,p.109-128.Oqueocorreéaaplicaçãodocorpusdoutrinário—aindaquenãoconscientementearticulado—daadoraçãoprofética.374Op.cit.,p.15.Grifosnossos.OmesmoautormencionaumtextoapócrifodoséculoII,noqualoSenhorJesus(Yeshua)édescritocomo“olíderdadança”(ibid.,p.29).AlgosemelhanteéconcluídoapartirdeLucas15.10:“Euvosafirmoque,deigualmodo,hájúbilodiantedosanjosdeDeusporumpecadorquesearrepende”.Jáouvimosaargumentaçãodequea
Apêndice 1: Judaísmo messiânico, adoradores extravagantes e pericorese [...] 99
Indomais longe, argumenta-se que a dança está presente na íntima relação entre Deus Pai,Filho e Espírito Santo. Para isso evoca-se apericorese, um detalhamento da doutrina da Trindadeelaboradoporalgunsteólogosgregos.375Afirmou-se—bíblicae,portanto,acertadamente—queaTrindadepodesercompreendidacomo“‘umacomunidadedoser’,naqualcadapessoa,apesardemanter sua identidadedistinta,abrangeasoutras,assimcomoéporelasabrangida”.376O teólogoJoãoDamasceno(c.675—c.749)ilustrouestamútuarelaçãoentreaspessoasdaTrindadepormeiodeumaanalogia.Paraissoeleutilizouotermopericorese(perichoresisemgrego;circumincessioemlatim).
Apalavragregasecompõedetrêsradicais:Periquerdizer“aoredor”,comoperiferiaouperímetro.Apalavracoram[...]significa“estardefrente”ou“emfacede”,comoocorodecantoresqueficadefrenteparaaplateia.E,finalmente,aúltimaparte—esis—significa“decorrência”,algoquejorradeumafonte.377
Damascenoexplicouarelaçãotrinitáriautilizandoafiguradeumadançainfantil.Aideiadepericorese[...]vemdeumabrincadeiraderoda,enestabrincadeira,umacriançaficavanomeioeasoutrasdançavamaoseuredor,sóqueaquelaqueestavanomeionãoestavaexcluídadabrincadeira,elafaziapartedela;entãoporescolhaouversorecitado,aqueestavanocentrosaía,eoutraqueestavanarodaemredordelaiaparaseulugareaquelaqueestavanocentroiaparaaroda.378
O que aqueles teólogos gregos queriam dizer? Na divindade “tudo é compartilhado emutuamente trocado. Pai, Filho e Espírito não representam três compartimentos isolados edivergentes”.379TodasaspessoasdaTrindadecompartilhamdaessênciadadivindadeeenvolvem-secomacriação.Issoépericorese.
Como os reformadores entenderam a Trindade? Lutero evitou qualquer cogitação que fossealémdoqueéafirmadopelasEscrituras:“Devemos,comofazemascriancinhas,gaguejaroqueasEscrituras ensinam: que Cristo é verdadeiramente Deus; que o Espírito Santo é verdadeiramenteDeus;etodavia,nãohátrêsDeuses”.380CalvinonãoutilizouapericoreseparaensinaradoutrinadaTrindade. Ele preferiu a ideia de apropriação sugerida por Agostinho.381 Os teólogos da ReformaProtestante do século 16 explicaram a Trindade sem usar analogias. Precisa ser verificado sequalquerdelesassumiuapericoresecomoargumentopertinenteparaarelaçãotrinitária.382
Ditodeoutromodo,os reformadoresaceitaramasafirmações trinitáriasdoCredoApostólico,do Credo Niceno e do Credo Atanasiano. Para eles tais documentos ajudavam os cristãos nainterpretaçãodasverdadesbíblicasepossuíamumaautoridade“comoaluzdaluacomparadaàdosol — glória refletida”.383 A dificuldade surge quando a analogia sugerida por Damasceno éextrapolada:
ideiabíblicade“júbilo”exigeadança,permitindoafirmar-sequeDeusdançadiantedosanjos.Silberling(ibid.,p.16)parececoncordarque,pelomenosnoAT,ostextosquemencionamregozijonocultoimplicamnousodadança.375AsideiasquelevaramàorganizaçãodestadoutrinasãoencontradasnosescritosdeTertuliano(c.160—c.225)eGregóriodeNissa(c.330—c.395).Cf.MCGRATH,AlisterE.UmaIntroduçãoàEspiritualidadeCristã.SãoPaulo:Vida,2008,p.97.376MCGRATH,op.cit.,p.98.377IPCBPAULISTA.AComunhãoTrinitáriaeSeuRelacionamentoComaIgrejaeasDemaisCriaturas.Disponívelem:<http://ipcbpaulista.blogspot.com/2010/05/comunhao-trinitaria-e-seu.html>.Acessoem:31mai.2011.McGrath(op.cit.,p.97)sugere,parapericorese,osentidodecoinerência.378IPCBPAULISTA,op.cit.,loc.cit.379MCGRATH,op.cit.,loc.cit.380LUTERO,Martinho.Walch,13,p.1510.DieDrittePredigta.Taged.heil.Dreifaltig.5,apudHODGE,Charles.TeologiaSistemática.SãoPaulo:Hagnos,2001,p.350.381Cf.CALVINO,João.AsInstitutas,I.XIII.19;MCGRATH,op.cit.,loc.cit.382Demodogeralosteólogoscalvinistasnãocostumamassumirapericoresecomoargumentotrinitário,pelomenosnãocomoargumentocentralouúnico.383OLSON,Roger.HistóriadasControvérsiasnaTeologiaCristã:2000AnosdeUnidadeeDiversidade.SãoPaulo:Vida,2004,p.77.
Apêndice 1: Judaísmo messiânico, adoradores extravagantes e pericorese [...] 100
AprendiqueoslídereseclesiásticosprimitivosdescreviamaTrindadeusandootermoperichorese(peri—círculo,chorese—dança):aTrindadeeraumadançaeternadoPai,doFilhoedoEspíritocompartilhandoamor,honra,felicidade,alegriaerespeitomútuos.Contraessepanodefundo,oatodecriaçãodivinosignificaqueeleestáconvidandomaisemaisseresparaaeternadançadaalegria.Pecadosignificaqueaspessoasestãodeixandoadança,corrompendosuabelezaeritmo,esmagando,chutandoepisoteandoemvezdesemoveremcomgraça,ritmoereverência.EmJesus,então,Deusentranacriaçãopararestaurarnovamenteoritmoeabeleza.384
Sugere-se que a igreja deve abrir-se para o uso da dança litúrgica porque, nos termos dadoutrina trinitária oriental, Deus dança. Observe-se, no entanto, que em nenhum lugar JoãoDamasceno afirmou que Deus dança e sim que a relação entre as pessoas da Trindade podia sercompreendidaapartirdeumaanalogia.Defato,aBíblianãofalasobreumaTrindadedançante.385
384MCLAREN,Brian.UmaOrtodoxiaGenerosa:AIgrejaemTemposdePós-Modernidade.Brasília:Palavra,2007,p.65-66.Issosoapoético,criativoeinteressante;oproblemaéquenadadissoconstanaBíblia.Adançaderodainfantildeixadeseratentativadeilustraçãodeumadoutrinaepassaaserconsideradaatodivinoeparadigmaparaaigreja.385Se,paraumcalvinista,étemerárioassumirapericoresecomoargumentotrinitárioúnico,asituaçãoficapiorquandoissoéfeitoemfavordadançalitúrgica.NenhumdospaisreformadoresutilizouapericoresecomobaseparaaTeologiadoCulto.
Apêndice 2: Breve glossário e exemplos de elementos litúrgicos 101
Apêndice 2: Breve glossário e exemplos de elementos litúrgicos
A2.1 Breve glossário
AgnusDei—Louvorintroduzidonoséculo7“comocantodafração”(JUNGMANN,JosefAndreas.MissarumSollemnia:Origens,Liturgia,HistóriaeTeologiadaMissaRomana.5.ed.corr.SãoPaulo:Paulus,2008,p.101).Cf.osignificadodefraçãoaseguir.
Alleluia—Umaantífonadeexaltação;aexclamaçãoalleluia(Latim)oualeluia(Português)vemdohebraicoַהְללּויָּה,hǎl·lû·yāh,quejuntaoverboָהַלל,hā·lǎl,“louvai”,ayāh,YHWHouoSENHOR.Oalleluiaeraarespostadacomunidadeàleiturabíblica(KIRST,op.cit.,p.30).Cf.osignificadodeantífonaaseguir.
Amen;amém—Expressãodeconcordânciadopovoàepiclese(JUNGMANN,op.cit.,p.49).Cf.osignificadodeepicleseaseguir.
Anamnese;anamnesis—ArecordaçãodainstituiçãodaCeiaedeseusignificadoredentivo(JUNGMANN,op.cit.,p.33-34).
Antífona—Oestribilhodeumsalmo;apartecantadapelaigreja,emrespostaaumaestrofeentoadapelolíderdocantooucorodesacerdotes,ascholacantorum(KIRST,op.cit.,p.30;HUSTAD,op.cit.,p.109).
BeijodaPaz—TambémchamadoPaxDomini,“PazdoSenhor”.Práticainspiradanasinstruçõesapostólicas(2Co13.12;1Pe5.14).NomomentodaCeiaoslíderessaudavam-secomo“ósculosanto”;emseguida,issoerafeitopelosmembrosdacomunidade(JUNGMANN,op.cit.,p.89;HURTADO,op.cit.,p.59-60).
Benedictus—Bênçãodamesa,pronunciadapelosacerdoteromano,iniciadaporBenedictusDeusindonissuis,“BenditosejaDeusporseusdons”(JUNGMANN,op.cit.,p.36).
Coleta;coletadasalmas—Nãotemqualquerrelaçãocomoofertóriocontemporâneo(entregadedízimoseofertas).Trata-sede“umaoumaisoraçõesbreves[...]expressando,geralmente,aênfasedaqueledianocalendáriolitúrgico.Diz-sequeamesmareúne(ou‘coleta’)asoraçõesdacongregaçãoparaseremexpressaspelodirigentedaadoração”(HUSTAD,op.cit.,p.
296).KIRST(op.cit.,p.31)nosinformaquetalvocábulofoiutilizadoporqueareferidaoração“eraproferidasobreacomunidadereunida,‘coletada’,ouporqueseimaginavaqueelareunia,encerrava,‘coletava’asoraçõesdacomunidade”.
Epiclese;epiclesis—Oraçãoestabelecidanoséculo4,decorrentedacompreensãodeque“aordemdasalvaçãooperadaporCristo,[...]écontinuadaatéseuplenocumprimentonaatuaçãodoEspíritoSanto”(JUNGMANN,op.cit.,p.49).
Fração—Distribuiçãodopão(dahóstia,nocasodocatolicismoromano)aoscomungantes.
Gloria;GloriainexcelsisDeo;“glóriaaDeusnasalturas”—Cânticofestivoinseridonaliturgianoséculo5“comopartedaoraçãomatutina”e,apartirdoséculoseguinte,“noscultosprincipais”(KIRST,op.cit.,p.34).
Gradual—Mododecantonoqualaparteindividualeracantadapelocantorpostadoemumtablado,enquantoopovorespondiacomversosbreves(JUNGMANN,op.cit.,p.80-81).
Introito;introitus—Um“salmodeentrada,cantadopelocoro,eaoqualopovorespondiacomantífonas”(KIRST,op.cit.,p.35).Cf.osignificadodeantífonaacima.
Kyrie;Kyries—UmaabreviaçãodeKyrieeleison,“Senhor,temcompaixão”—uma“exclamaçãodeveneraçãoesúplica”,cantadanoOcidente“pelocoroecomunidade.OcorocantavaassúplicaseacomunidaderespondiacomKyrieeleison”(KIRST,op.cit.,p.33).UmaversãodoKyriefoidesenvolvidaeutilizadoporBucer,naigrejadeEstrasburgo.
Responsório—Mododeinteraçãoentreolíderdamúsicaoudacerimôniaeacongregação.Ocondutoriniciaeacomunidaderespondecomfalaoucanto.
Sanctus;“Santo”—HinocantadoemcantochãogregorianoantesdaCeia,adaptadodeIsaías6.3,introduzidoapartirdoShemájudaico(JUNGMANN,op.cit.,p.35;HUSTAD,op.cit.,p.109).
Apêndice 2: Breve glossário e exemplos de elementos litúrgicos 102
SursumCorda;“levantaiosvossoscorações”—Versículoeresponsoentreoministroeacongregação.
Verba—AspalavrasdeinstituiçãodaCeiadoSenhor.
A2.2 Exemplos de alguns elementos litúrgicos citados neste apêndice
Epiclese(MúsicadeTaizé,França):386
ÓSantoEspírito,vemsobrenós.Preenche-noscomodomdatuagraça.
GloriainexcelsisDeo!(MúsicadeTaizé,França):387
Kyrie.(D—dirigente);(C—congregação)
D:ParaquesejamoscapacitadosaconservaraunidadedoEspíritopelovínculodapazeareconhecerjuntosquenãohámaisqueumcorpoeumEspírito,umsóSenhor,umasófé,umsóBatismo,roguemosaoSenhor.C:Senhor,tempiedadedenós.388
SursumCorda.(V—versículo);(R—responsocongregacional)V:Levantaiosvossoscorações(emLatim,Sursumcorda).R:NósoslevantamosparaoSenhor.V:DemosgraçasaoSenhor.R:Éadequadoeapropriadofazê-lo.389
386KIRST,op.cit.,p.63.387Ibid.,p.53.388Ibid.,p.51-52.389Ibid.,p.301.
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