View
218
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
1
FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO
PROGRAMA DE MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM ORGANIZAÇÕES E
DESENVOLVIMENTO
MARCUS CESAR FRANZOLIN
PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NO CICLO PRODUTIVO DE
UMA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL NO PARANÁ: UM ESTUDO DE CASO.
CURITIBA
2011
2
MARCUS CESAR FRANZOLIN
PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NO CICLO PRODUTIVO DE
UMA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL NO PARANÁ: UM ESTUDO DE CASO.
Dissertação apresentada à UNIFAE – Centro Universitário Franciscano como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Organizações e Desenvolvimento. Área de concentração: Organizações e Dinâmica Socioeconômica Linha de Pesquisa: Políticas Públicas e Desenvolvimento Orientador Prof. Dr. Antoninho Caron
CURITIBA
ABRIL 2011
3
4
Dedico este trabalho ao meu filho Gian Lucca e a minha esposa Janaína pelo entendimento e colaboração no decorrer da execução desta importante etapa de minha vida. Aos meus pais, Waldir e Batistina (in memorian) por todos os incentivos recebidos em minha formação.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço inicialmente a Deus por esta oportunidade e inspiração para o
desenvolvimento deste trabalho. Ao meu orientador Prof. Dr. Antoninho Caron por
toda sua ajuda e orientação prestada. À banca Prof. Dr.Edmilson de Souza-Lima e
Prof. Dr. Christian Luiz da Silva por seus questionamentos e sugestões ao
enriquecimento deste estudo. Aos profissionais Sr.Flávio Turra e Sr. Robson
Maciolette da OCEPAR pela total colaboração a esta investigação. À cooperativa
que propiciou este estudo, em especial ao Eng. Aparecido Fadoni e a todos que se
dispuseram e contribuíram para esta pesquisa, possibilitando a execução deste
estudo de caso. Por fim a todos que de alguma forma colaboraram e incentivaram
para esta efetivação.
6
RESUMO
Este estudo tem como principal objetivo de observação os aspectos da dimensão ambiental em todo o ciclo produtivo de uma linha agroindustrial, para a transformação de grão de soja em óleo refinado comestível de uma cooperativa do Estado do Paraná. Este trabalho converge com a linha do programa de Mestrado em Organizações e Desenvolvimento por estudar políticas adotadas nesta cooperativa em seu ciclo produtivo. Assim, foi constituído em duas etapas, iniciando com uma pesquisa teórica a respeito de tópicos pertinentes ao tema em estudo, como o desenvolvimento, sustentabilidade e o cooperativismo, bem como de assuntos conexos ao estudo de caso apresentado, o manejo do solo e das águas, fertilidade do solo, agrotóxicos, manejo integrado de pragas, erosão hídrica e a transformação da soja em óleo refinado. Através destas conceituações parte-se para o estudo de caso descritivo de natureza qualitativa exploratória, com a finalidade de aproximar a teoria pesquisada às práticas adotadas pela cooperativa. Através das informações obtidas na etapa empírica, foram levantadas as relações entre a cooperativa e os sojicultores, fornecedores, recepção de soja em grão para a transformação em óleo refinado comestível e, finalizando com a distribuição do produto acabado ao mercado. Também foram vistos as ações que atingem a toda a comunidade, mesmo que ultrapassem os limites ambientais, refletindo no econômico e no social. Como principal resultado deste estudo se percebe que as políticas adotadas pela organização colaboram com a sustentabilidade ambiental e pode interagir entre as dimensões do modelo Triple Botton Line. Palavras chaves: Desenvolvimento sustentável, Cooperativismo, Dimensão ambiental em um ciclo produtivo agroindustrial, Ações para alcançar a sustentabilidade,
7
ABSTRACT
This study is mainly focused on the observation of the aspects of environmental dimension from a general production cycle at an agro industrial cooperative in the State of Parana, in the processing of soybeans into refined edible oil. This investigation converges with the program of Master Degree of Organization and Development from UNIFAE “Centro Universitário”, which took place in two stages, starting with a theoretical research on topics which are relevant to understand the issues related with the study, such as development, sustainability and cooperatives, as well as the topics which increase knowledge about the theme, such as management of soil and water, fertility soil, pesticides, integrated pest management, erosion and the agro industrialization to transform soybean into refined oil. Through these concepts, a qualitative descriptive exploratory investigation has been developed, with the aim of bringing the theory research to compare it with the practices adopted by the cooperative under analysis. With the information obtained, the study then focused on the multiple relationships involving the cooperative, soy farmers as a cooperated supplier, and all the other kind of suppliers until the receipt of soybeans for processing into refined edible oil, finalizing with the distribution of the final product to be introduced to the market. There is also an overview of the actions which affect the community as a whole, even beyond the environmental limits, reflecting in the social and economic profiles. As the main outcome from this study, it enables the understanding that the policies adopted by this organization can collaborate with environmental sustainability and can also interact with the dimensions of the Triple Bottom Line described in this study by Dyllick and Hockerts.
Keyword: Sustainable development, Cooperatives, Environmental dimension and the poduction of refined soybean oil.
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACI Aliança Cooperativa Internacional
ANVS Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ANP Agência Nacional de Petróleo
ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres
APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
ART Anotação de Responsabilidade Técnica
BPF Baixo Ponto de Fluidez
CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e Caribe
CIMA Comissão Internacional para Preparação da Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CTC Capacidade de Troca Catiônica
DAIA Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental
DDT Dicloro-Difenil-Tricloroetano
EMATER Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural
FECOOPAR Federação e Organização das Cooperativas do estado do Paraná
Ha Hectares
IAP Instituto Ambiental do Paraná
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
NC Necessidade de Calagem
MBH Microbacias Hidrográficas
MIP Manejo Integrado de Pragas
MIPGRÃO Manejo Integrado de Pragas de Grãos Armazenados
MO Matéria Orgânica
OCEPAR Organização de Cooperativas do Estado do Paraná
RPM Rotações por Minuto
PCR Polymerase Chain Reaction
PEM Penitenciária Estadual de Maringá
pH Potencial Hidrogeniônico
PIB Produto Interno Bruto
PGAIM Programa de Gestão Ambiental Integrada em Microbacias
PMISA Programa de Manejo Integrado do Solo e da Água
PN Poder de Neutralização
PROICS Programa Integrado de Conservação dos Solos
PRNT Poder Relativo de Neutralização Total
PVT Proteínas Vegetais Texturadas
SEAB Secretaria da Agricultura e do Abastecimento SESCOOP Serviço Nacional de Aprendizagem do cooperativismo do Estado
do Paraná
SINAN Sistema Nacional de Notificação de Agravos
9
SINITOX Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas
SMA Sustainable Management Accounting
UNCED United Nations Conference on Environment and Development
USDA Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1- Síntese das práticas identificadas ............................................................ 23
Figura 1 – A Sustentabilidade e suas dimensões ambientais, sociais e econômico-
financeiras ................................................................................................................. 32
Figura 2 – Três dimensões da Sustentabilidade ....................................................... 34
Figura 3 – A Sustentabilidade corporativa com foco nos negócios ........................... 34
Figura 4 – Sustentabilidade corporativa com foco na natureza (ambiental) .............. 35
Figura 5 - Sustentabilidade corporativa com foco na sociedade ............................... 36
Quadro 2: Níveis de alguns componentes do solo (método Mehlich para P e K) para
efeito da interpretação de resultados de análise química do solo. ............................ 46
Quadro 3 – Quantidade de nutrientes absorvida pela cultura de soja ....................... 47
Quadro 4 - Recomendação de adubação para soja no Estado do Paraná. .............. 47
Figura 6: Tendência da disponibilidade de diversos elementos no solo e a relação
com o pH. .................................................................................................................. 48
Quadro 5 – Infestação para controle para as principais pragas da soja .................... 57
Figura 7 - Prensa contínua “Expeller”: ....................................................................... 62
Figura 8 – Esquema simplificado do processo de extração do óleo bruto e de farelo
desengordurado ........................................................................................................ 65
Figura 9: Esquema simplificado da degomagem ....................................................... 67
Figura 10 – Neutralizador descontínuo...................................................................... 68
Quadro 6 - Concentrações de hidróxido de sódio na neutralização .......................... 68
Figura 11 – Resumo do processo de neutralização do óleo degomado .................... 69
Figura 12 – Esquema simplificado do processo de branqueamento ......................... 70
Figura 13 – Desodorização semicontínua – Equipamento Girdler ............................ 72
Figura 14 (1.7.1) – Esquema para entendimento do estudo de caso ........................ 78
Figura 15 - Visualização das recomendações da Cooperativa para os cooperados . 87
Figura 16 – Relação da Cooperativa com fornecedores de insumos e implementos 89
Quadro 7 - Limites para a padronização da soja em grão. ........................................ 92
Figura 17 - Recepção da soja para armazenagem ................................................... 93
Figura 18 – Subprodutos da produção de óleo encaminhados à outra produção. .... 97
Figura 19 – Cooperativa produtos finais e ligação com o setor de distribuição ....... 101
Figura 20 – Interações entre a cooperativa. associados e comunidade .................. 105
Figura 21 – Entendimento desta organização cooperativa sobre o cooperado ....... 106
Quadro 8 - Papel que os cooperados desempenham ............................................. 106
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
1.1- Contexto ............................................................................................................. 13
1.2 – Problema de pesquisa ...................................................................................... 18
1.3– Objetivo geral .................................................................................................... 19
1.4- Objetivo específicos ........................................................................................... 19
1.5- Pressupostos ..................................................................................................... 20
1.6- Justificativa ......................................................................................................... 20
1.7- Organização do trabalho .................................................................................... 21
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 24
2.1- Desenvolvimento e sustentabilidade .................................................................. 24
2.2- Cooperativismo .................................................................................................. 37
2.3- Expansão da agricultura e da agroindústria no Brasil ........................................ 40
2.4 – Manejo integrado do solo e das águas ............................................................. 41
2.4.1- Fertilidade do solo ......................................................................................... 45
2.4.2 – Agrotóxicos.................................................................................................. 49
2.4.3 – Combate à erosão hídrica ........................................................................... 53
2.4.4 – Manejo integrado de pragas ........................................................................ 53
2.5 – Soja .................................................................................................................. 58
2.6- Processo agroindustrial de transformação da soja em óleo refinado ................. 59
2.6.1- Recepção e armazenamento da soja ............................................................ 60
2.6.2- Preparação para a produção de óleo ............................................................ 60
2.6.3- Extração do óleo bruto .................................................................................. 61
2.6.4- Processo de refinação do óleo bruto ............................................................. 65
2.6.5 – Aproveitamento da “borra”........................................................................... 72
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................... 73
3.1 – Formulação do problema de pesquisa ............................................................. 73
3.2 – Objetivos da pesquisa ...................................................................................... 73
3.3- Conceituação de variáveis ................................................................................. 74
3.4- Delineamento da pesquisa ................................................................................. 75
3.5- População e amostragem .................................................................................. 77
3.6- Fontes de coleta e tratamento de dados ............................................................ 80
4 ESTUDO DE CASO .............................................................................................. 81
12
4.1- Histórico da cooperativa ..................................................................................... 81
4.2 – Constatações das práticas observadas no estudo de caso .............................. 82
4.2.1 – Contato entre cooperativa e cooperados na produção de soja em grão ..... 83
4.2.2- Relação entre Cooperativa e os fornecedores de insumos e implementos .. 87
4.2.3 – Relação entre Cooperativa e sojicultores para recebimento dos grãos ...... 90
4.2.4 – Transformação da soja em óleo refinado comestível .................................. 93
4.2.5 – Relação Cooperativa / produto acabado e sua distribuição ao comércio .... 98
4.2.6 – Outras interações que a cooperativa tem com a comunidade................... 102
4.2.7 – Visão desta cooperativa perante o cooperado .......................................... 105
4.3 – Práticas aplicadas na cooperativa e a teoria .................................................. 107
4.3.1 – Práticas da cooperativa para o desenvolvimento ambiental sustentável .. 107
4.4 – Conclusões do Estudo de Caso ..................................................................... 117
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 125
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 132
ANEXOS ................................................................................................................. 139
APÊNDICE .............................................................................................................. 144
13
1 INTRODUÇÃO
1.1- Contexto
Para melhor entendimento deste estudo é realizado um aprofundamento de
alguns conceitos como o Desenvolvimento, Sustentabilidade e Cooperativismo,
sendo realizando um breve histórico e conceituações de alguns autores.
Assim, o homem começou a revolução da produção com a inovação
tecnológica, aprimorando as vias de transportes e ampliando os empreendimentos
comerciais. Como principal força de toda esta evolução, é possível sintetizar que foi
via a mecanização da indústria e da agricultura. Ainda no conjunto das ações que
levou a esta evolução na produção, destaca-se a aceleração nos transportes e na
comunicação e, conseqüentemente, o aumento do controle capitalista nas atividades
econômicas. Pode-se dizer que esta fase se iniciou antes de 1760 na Revolução
Industrial. Contudo, seu maior ímpeto foi no século XIX. Assim, historiadores
entendem que houve duas Revoluções Industriais, sendo que o ano de 1860 dividiu
a “Primeira” da “Segunda” revolução industrial (BURNS, 1965).
Como destaque da diferenciação destes dois períodos pode-se citar: o
descobrimento de novos processos de produção do aço; a invenção do dínamo; o
motor de combustão interna; a produção em massa e adoção de processos
automatizados da indústria; o domínio crescente da ciência na indústria; o progresso
do setor de metais leves das ligas de ferro; a revolução nos transportes; o
desenvolvimento da aviação e do telégrafo sem fio e, como grande diferencial
menciona-se o domínio da indústria pelas instituições financeiras (BURNS, 1965).
Tratando especificamente sobre a agricultura, destaca-se a introdução de
novas culturas, novas tecnologias de manejo, produção de adubos artificiais,
influência da mecanização nos tratos culturais e, principalmente, a popularização de
equipamentos e máquinas (BURNS, 1965).
Juntamente à Revolução Industrial surge a evolução da administração e da
economia que, segundo Capra (1982, p.182), define como uma “disciplina que se
ocupa da produção, da distribuição e do consumo de riquezas”. Ela tenta determinar
valores relativos a trocas de bens e serviços, destacando dentre os economistas
14
clássico da época, o pensador e Fisiocrata1 Adam Smith. Ele investigou como a
riqueza de uma nação pode aumentar e ser distribuída. Opôs-se à concepção
mercantilista de que a riqueza aumenta somente pelo comércio exterior e pela
reservas de prata e ouro, sustentando que a riqueza depende mesmo da habilidade,
produção e eficiência da nação. Para Adam Smith a divisão do trabalho era de
fundamental importância para o crescimento (CAPRA, 1982).
Também no século XIX, socialistas associacionistas estavam difundindo
princípios cooperativistas, sendo suas principais formas as Cooperativas de
Produção Agrícola ou Agropecuária e as Cooperativas de Produção Industrial
(PINHO, 1966). A primeira cooperativa foi fundada em 1844, na cidade de Rochdale,
Inglaterra, modelo o qual continua sem alterações significativas até os dias de hoje.
Sua constituição foi de vinte e oito (28) artesões que estavam sem poder atuar em
suas áreas devido a Revolução Industrial e a perda de suas funções pela força
motriz. Desta forma resolveram se unir para continuar sobrevivendo de seu trabalho
(QUEIROZ, 1996).
Com a evolução ou avanço que estava ocorrendo desde a segunda metade
do século XVIII, foi necessária uma adequação da palavra desenvolvimento, a qual
passou a considerar a territorialidade como uma “ferramenta” ou um “termômetro” de
medição da dinâmica da economia. Neste período não era considerado como um
crescimento das atividades econômicas, mas passou a ser entendido como quase
sinônimo de crescimento por dois séculos. Após a Segunda Guerra Mundial, foi
necessário fazer a distinção do aumento das atividades econômicas (crescimento) e,
a melhoria das condições de vida de uma população (desenvolvimento). Notou-se
também que, em determinados países havia crescimento econômico sem que fosse
refletida em benefícios a todos os grupos sociais (BURSZTYN, 2006).
Assim, o crescimento econômico deve beneficiar não apenas uma parcela da
sociedade, mas todos os grupos sociais. É necessário pensar como uma economia
social busca melhorar os indicadores de qualidade de vida para todos e, não de
outra forma que não seja global (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006).
Capra (1996) destaca a relação que há com tudo que se refere à vida do
homem, emergindo então o pensamento sistêmico. Esta foi uma profunda revolução
1 Fisiocrata: Economista da escola do Francês Quesnay (1694-1774). Os fisiocratas sustentavam que
a terra é a única e verdadeira fonte de riquezas e que existe uma ordem natural e essencial das sociedades humanas, que é inútil contrariarem com leis regulamentos ou sistemas.
15
nos conceitos humanos, pois a ciência sistêmica2 mostra que os sistemas vivos não
podem ser compreendidos por meio de uma simples análise, ou seja, com
parâmetros fixos sem considerar a interdependência da variação de outros fatores
em seu estado final (CAPRA, 1996).
Assim, o Impacto da ecologia3 “na cultura humana nas diversas áreas da
ciência, nas discussões políticas e no comportamento de vários grupos sociais é
cada vez mais perceptível” (LAGO; PÁDUA, 1989, p.10). Assim, não é possível
categorizar estas divergências de entendimento como uma crise da produção,
consumo, social, ambiental, econômica, política, energética, ou outra qualquer, pois
é global e de todas as dimensões e setores. É o envolvimento do contexto, sem
poder tratar com particularidades (LEFF, 2007). Esta conscientização ecológica se
encontra em grande e acelerada expansão, sendo seu objetivo integrar ao
pensamento dos ecólogos e economistas em uma transdiciplinaridade voltada ao
mundo sustentável (BROWN, 2003).
Para os autores Lopes, Sachs e Dowbor (2010) o uso do Produto Interno
Bruto (PIB) como medição de desenvolvimento é algo incompleto e negligencia a
contabilização da destruição do planeta e da distribuição desigual da renda. Ainda,
esquecem de contabilizar gastos com a recuperação, mitigação e os de
preservação, demandando investimentos e o uso da máquina produtiva. Também,
como o “lucro4” é o principal motivador de aplicações de investimentos privados,
estes autores (2010) dizem que este elemento não age de forma favorável à
democratização da riqueza e do meio ambiente. Através da extração dos recursos
naturais de forma mais eficiente, é possível utilizar externalizações para obtenção de
custos dos capitais naturais:
A financeirização dos processos econômicos vem há décadas se alimentando da apropriação dos ganhos da produtividade que a revolução tecnológica em curso permite, de forma radicalmente desequilibrada. Não é o caso de desenvolver o processo aqui, mas é importante lembrar que a
2 Ciência Sistêmica: Contrapõe-se ao pensamento reducionista. Entende-se que a vida é composta por partes em combinação e inter-relações, causando de alguma forma, influência uma na outra. Tal ciência inclui a interdisciplinaridade. As partes não estão isoladas e a natureza do todo não é simplesmente a soma das partes. 3 Ecologia: Ciência que estuda os ecossistemas, ou seja, o estudo da distribuição e abundância dos seres e das interações que determinam a sua distribuição. Segundo Capra é dividida em ecologia rasa e ecologia profunda, sendo a rasa antropocêntrica, ou centrada no ser humano, colocando-o acima ou fora da natureza. A profunda não separa o homem de qualquer outra coisa do contexto. 4Lucro: Considerado um retorno positivo de um investimento realizado por um indivíduo nos negócios.
16
concentração de renda no planeta está atingindo limites absolutamente obscenos (LOPES; SACHS; DOWBOR, 2010, p.9).
Em um estudo realizado por Dyllick e Hockerts (2002) sobre a
sustentabilidade de uma empresa, destacam a necessidade do provimento da
satisfação das necessidades humanas das pessoas envolvidos com a empresa, ou
seja, de seus stakeholders5. Tais necessidades estão dentro das dimensões
ambientais (naturais), sociais e econômicas para um contínuo provimento. No
debate global de Brundtland6 de 1987, conhecido como “Nosso futuro comum”, foi
escrito a idéia do desenvolvimento sustentável. Fator que contribui ao sucesso deste
objetivo são as políticas convergentes para este fim, com integração das dimensões
para alcance da sustentabilidade7 (DYLLICK; HOCKERTS, 2002).
O reconhecimento da insustentabilidade ou da dúvida sobre o padrão
econômico, social e ambiental contemporâneo, ao menos traz a reflexão da finitude
dos recursos, das injustiças sociais ocasionadas pelo atual modelo adotado pela
humanidade. No relatório de Brundtland, dá a idéia sobre o “Desenvolvimento
Sustentável”, ou seja, aquele “capaz de garantir as necessidades das gerações
futuras” (BECKER et al, 1997, p. 20 e 21).
Na busca da sustentabilidade empresarial, o cooperativismo mostra-se no
mínimo muito afinado com o sentido sustentável através dos princípios e filosofias
do cooperativismo, fato que chamou a atenção para a execução deste estudo.
De forma direta, a palavra cooperativismo é entendida pelo autor Ferreira
(1983) como o princípio de progresso socialista e de decadência do capital.
Para Gal (1981) é um fenômeno composto por: a) uma concepção filosófica
que está refletida da tendência de agregamento do homem, ou seja, da vida em
sociedade, do princípio de ajuda mútua para a luta de conservação da espécie em
contraposição de todos contra todos e de cada um contra o próximo; b) da
5 Stakeholders: qualquer pessoa que tenha alguma relação direta ou indireta com a empresa, como
fornecedores, clientes, acionistas, funcionários, comunidade local e etc. 6 Brundtland: Relatório intitulado como “Nosso Futuro Comum (Our Commom Futuro)” quando foi concebida uma definição de desenvolvimento sustentável: “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. 7 Sustentabilidade: Que atendam as três bases para se chegar ao total equilíbrio: econômico, ambiental e social.
17
intensidade variável de diferentes formas ou meios de se chegar à evolução do
homem como um todo.
Para a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Cattani (2009) diz que a
cooperativa é:
Uma associação autônoma de pessoas unidas voluntariamente para prosseguirem as suas necessidades e aspirações comuns, quer econômicas, quer sociais, quer culturais, através de uma empresa comum democraticamente controlada (ACI apud CATTANI, 2009, p. 96).
Dos Valores Cooperativos destacados na “Declaração sobre a Identidade
Cooperativa”, se define como:
As cooperativas baseiam-se em valores de ajuda e responsabilidade próprias, democracia, igualdade, equidade e solidariedade. Na tradição dos seus fundadores, os membros das cooperativas acreditam nos valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação pelos outros (DIC apud LEITE, 2010).
Segundo a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná
(OCEPAR) estes princípios valorizam a ética, as relações solidárias e a cooperação
mútua para a complementação do atendimento e de seus objetivos. Por sua vez, a
assistência técnica pelo trabalho com relevantes resultados, pode difundir de
maneira concreta, como a colheita de um produto ou como o processamento
agroindustrial. Este resultado tanto pode integrar o mercado interno como o externo
que, dependendo da qualidade do produto, pode difundir sua venda ou levá-lo à
extinção. As cooperativas agropecuárias do Estado do Paraná têm ganhado muitos
mercados e colocado produtos paranaenses em mais de 80 mercados de diferentes
países (OCEPAR, 2009).
O segmento mais representativo do cooperativismo no Brasil é das produções
agropecuárias. O cooperativismo é uma forma de organização humana para gerar
benefícios sociais e econômicos demonstrando um grande potencial ao
desenvolvimento do país (FERREIRA; BETTONI, 1994).
Com respeito aos produtos derivados de soja e sua comercialização pelas
cooperativas do Paraná, cita-se como as mais representativas: soja triturada, óleo
bruto e degomado, tortas e resíduos sólidos da extração do óleo refinado não
quimicamente modificado, proteínas de soja em pó, lecitinas, creme e condensado,
óleo hidrogenado e margarinas, maionese e bebidas proteinadas de soja (OCEPAR,
2009). Muitos outros produtos derivados de diferentes culturas e criações também
são produzidos e comercializados no Paraná pelas cooperativas, porém, não serão
18
utilizados neste estudo especificamente, por se tratar da investigação do ciclo
produtivo da soja em óleo refinado comestível.
1.2 – Problema de pesquisa
A economia capitalista desenvolveu no mundo um argumento para o incentivo
ao consumo através da obsolescência planejada8, obsolescência cultural ou
perceptiva9 (LEONARD, 2008) e o descartável10, a necessidade de geração de
trabalho. Importante lembrar que a obsolescência não é apenas material, pois
envolve também a mão-de-obra no aspecto humano, havendo uma má divisão e
distribuição dos “frutos” gerados por este processo (LAGO; PADUA, 1984). Este fato
vem contribuindo ao desequilíbrio do sistema produtivo e, por conseqüência,
afetando os setores natural, social e econômico.
Os movimentos ambientais dos cidadãos colocam a sociedade frente a ela
mesma para uma autocrítica, sem que a parcela menos favorecida reivindique,
segundo Bauman (2001, p.130), “uma redistribuição de poder nem reclamem melhor
balanço dos custos ecológicos do processo econômico”, porém, propõe a abertura
de “processos políticos e jurídicos para a apropriação social da natureza”.
Para Queiroz (1996) o cooperativismo no aspecto social, pode ser entendido
como uma forma mais equitativa e mesmo democrática. O cooperativismo tem
aceitação em quase todos os países, sofrendo algumas adequações para atender
algumas necessidades e interesses específicos dos trabalhadores envolvidos. Neste
sentido, o cooperativismo torna-se uma alternativa aos trabalhadores que, em casos
extremos, conseguem ocupar novamente sua função perdida dentro de uma
empresa e, com dignidade, retornam ao seu ofício (QUEIROZ, 1996).
O sistema cooperativista pode ser também um caminho para educação
onde as cooperativas possuem uma participação dos ciclos econômicos do Estado
8 Obsolescência planejada: Quando é forçada a troca de um produto de forma planejada, sem que com isso seja perdida a confiança do consumidor do produto e do fabricante. 9 Obsolescência Cultural ou Perceptiva: É a inserida por veículos como propaganda, as quais ditam a moda e costumes, influenciando de forma decisiva o mercado consumidor. 10 Descartável: Seria tudo pela comodidade através do “use e jogue fora”.
19
do Paraná, que formam estruturas em setores específicos da economia rural e
urbana, com maior destaque entre outras áreas a agropecuária (OCEPAR, 2009).
Com a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (OCEPAR) o
cooperativismo se integra na representatividade, fomentação da economia, na
defesa sindical, na capacitação de diversas atividades como a promoção social,
além de atuar em conjunto com: Sindicato; o Serviço Nacional de Aprendizagem do
Cooperativismo (SESCOOP/PR); e, a Federação e Organização das Cooperativas
do Estado do Paraná (FECOOPAR) (OCEPAR, 2009). Este trabalho conjunto entre
entidades busca alcançar o desenvolvimento, não exclusivamente econômico, mas
um completo com valores humanos e ambientais
Assim, considerando os princípios e valores do cooperativismo, pergunta-se:
quais práticas relativas aos aspectos ambientais no ciclo produtivo desta cooperativa
agroindustrial, que dentro da produção do óleo refinado de soja, contribuem para
que esta organização alcance a sustentabilidade ambiental?
1.3– Objetivo geral
Este estudo tem como Objetivo Geral analisar a dimensão ambiental da
sustentabilidade em um ciclo produtivo de uma cooperativa agroindustrial, a qual
transforma soja in natura em óleo refinado comestível.
1.4- Objetivo específicos
Como objetivos específicos da pesquisa, colocam-se os seguintes pontos a
serem pesquisados:
1) Políticas adotadas pela empresa, que possam gerar resultados positivos para
repartição de frutos aos associados, direcionando o foco à preservação ambiental;
2) Ações que influenciam a dimensão ambiental e contribuam para a
sustentabilidade nas outras duas dimensões.
20
1.5- Pressupostos
1) Os resultados positivos para os associados são facilitados pela disciplina de
trabalho desenvolvido dentro dos princípios cooperativistas da associação e da
orientação técnica para a produção;
2) A integração das diferentes áreas do processo produtivo, desde o recebimento de
insumos para a correta aplicação no plantio da cultura, orientada pelas técnicas
administradas pela cooperativa, somam-se ao processo de transformação e
refinação do óleo para a colocação do mesmo no mercado, pode-se deduzir que
todo este processo é beneficiado pela disciplina aplicada em cada uma das fases
desta operação, aproximando assim, esta Cooperativa no caminho de pelo menos
da sustentabilidade ambiental.
1.6- Justificativa
O alinhamento deste estudo com o programa de Mestrado em Organizações
e Desenvolvimento da UNIFAE Centro Universitário está no fato de estudar políticas
adotadas em uma organização cooperativa, voltada a ações que contribuam com a
dimensão ambiental da sustentabilidade, que em geral colaboram não apenas aos
envolvidos com as ações, mas também para a comunidade local como um todo,
geralmente transpassando para as dimensões sociais e financeiras.
Como contribuição deste estudo relativo às cooperativas especificamente,
está que na maioria das pesquisas desenvolvidas, o foco principal é as dimensões
econômicas e sociais, porém, esta releva os aspectos ambientais do ciclo completo
de produção de uma agroindústria para produção de óleo de soja refinado. Embora
fundamentação cooperativa se incline ao lado socioeconômico dos associados, este
estudo dá a principal atenção aos cuidados ambientais em todo o ciclo produtivo da
cooperativa, desde a produção de soja in natura com as considerações técnicas
para a otimização da produção no campo, até a sua transformação agroindustrial
para o óleo e a adição de outros elementos (insumos) no processo para obtenção de
óleo refinado, finalizando o ciclo com a distribuição ao consumidor final. Todo este
processo é observado na ótica ambiental, observando as ações que contribuam para
21
a preservação, manutenção que possam gerar benefícios à própria cooperativa,
como para a comunidade em geral.
Outra contribuição está que na divulgação deste estudo para outras empresas
ou entidades, possa ocorrer um melhor entendimento das vantagens geradoras de
benefícios possíveis às aplicações em outros ciclos produtivos e, de diferentes
comunidades ligadas ou não a ele.
Constituição do Brasil. Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (MANNRICH, 2000, p. 105 e 106).
Por fim, com a atual concentração demográfica nas cidades nos espaços
urbanizados, tem ocorrido um crescimento rápido e desordenado, o que favorece
muitas vezes à invasões e fragilização dos serviços públicos básicos (ex:
saneamento, coleta de lixo e área de zoneamento), contribuindo de forma efetiva na
ocorrência de impactos ambientais. Já a agricultura brasileira tem havido uma
modernização tecnológica, incorporando novos conceitos de manejo e sistemas
produtivos, com o interesse de minimizar ao máximo os impactos no meio ambiente,
direcionando atividades com a expectativa de transformá-las em processo
sustentável, com conciliação da preservação dos recursos naturais e a viabilidade
econômica (OCEPAR, 2009). Assim, técnicas utilizadas nas orientações para a
produção agrícola equilibrada, na maioria das vezes devem ser empregadas não
somente por um agricultor, mas por mais outros que pertençam à mesma microbacia
ou pelos vizinhos imediatos, para que haja os benefícios esperados pela ação da
técnica, como do manejo e da conservação ambiental.
1.7- Organização do trabalho
O trabalho está dividido em cinco capítulos, os quais contextualizam o
entendimento de forma local e global do ambiente do sistema produtivo e de
consumo, destacando o desenvolvimento sustentável, o cooperativismo, a expansão
da agricultura e agroindústria do Brasil, o manejo do solo e das águas, o soja e o
processo de transformação da soja para óleo refinado. O estudo de caso realizado é
um levantamento do processo produtivo da agroindústria da cooperativa, tendo
22
como ênfase à dimensão ambiental da sustentabilidade, destacando os benefícios
recebidos pelos associados da cooperativa em questão. Após o estudo de caso tem
as considerações finais.
A divisão dos capítulos é realizada em cinco partes, sendo que o primeiro se
trata da introdução, a qual é subdividida na contextualização, problema de pesquisa,
objetivos e justificativa. O segundo é a fundamentação teórica que orientam o
entendimento do estudo para a análise do processo agroindustrial da cooperativa,
onde será atentada principalmente a dimensão ambiental. O terceiro descreve todos
os procedimentos metodológicos, a conceituação de variáveis estuda com o
delineamento da pesquisa, amostragem e, a coleta para o tratamento dos dados.
Posteriormente, no quarto capítulo é realizado o Estudo de Caso da
cooperativa partindo do histórico, verificação das práticas realizadas no estudo à
análise de todas as informações conseguidas. Por fim, no quinto capítulo as
Considerações Finais.
1.7.1- Síntese das relações identificadas entre a Cooperativa e os outros sujeitos
Fonte: Elaborado pelo autor
23
Quadro 1- Síntese das práticas identificadas RELAÇÃO A RELAÇÃO B
Recomendações técnicas: - Plantio - Fertilidade (adubação e calagem) - Agrotóxicos - Manejo do solo e das águas - Manejo de pragas - Colheita - Como evitar perdas na safra e melhorar a administração da área
- Atenção com os fornecedores em seu atendimento e profissionalismo. - ISO 9000 – gestão da qualidade. - Trabalho conjunto em projetos diversos iniciados pelos fornecedores: - Educação ambiental - Educação no exercício da cidadania - Informação sobre Agrotóxicos - Cooperativismo e outros temas
RELAÇÃO C RELAÇÃO D Sojicultores: - Cuidados da produção à colheita (Cooperados e cooperantes) - Qualidade dos grãos: umidade, impurezas, quebrados e outros - Transporte da lavoura à Cooperativa Cooperativa: - Recebe grãos nos entrepostos e na central cooperativa - Controle de qualidade segundo Portaria No. 262 padronização, classificação e comercialização da soja em grão. - Cuidados com a manutenção dos armazéns - Conservação da armazenagem (MIPGRÃO) - Identificação do fornecedor se necessário for.
Certificações e licenciamentos: - DAIA (Determinação de Aspectos de Impactos Ambientais) - ISO 14000 – gestão ambiental. - Crédito de carbono Produtos finais: - Farelo de soja para venda - Óleo de soja refinado. Adubos orgânicos: - Cinzas da queima do bagaço de cana para geração de energia. - Lodo do refino do óleo. - Resíduo da terra branqueadora. - Resíduos da filtragem do óleo. Projeto de crédito de carbono: - Substituição do óleo BFP por biomassa. Empresas de saponificação: - Borra do processo de refino. Exportação: - Ácido graxo a 0,4% que é obtido a Vitam. E.
RELAÇÃO E RELAÇÃO F Equipe mista de distribuição: - ISO 9000 – gestão da qualidade. - OHSAS 18000 – gestão da avaliação da saúde e segurança ocupacional. - Representantes Comerciais, Vendedores próprios e distribuidores em locais distintos conforme o produto final em que atuam. - Representantes comerciais para a distribuição específica no mercado de óleo refinado de soja comestível. Mercado externo: - Aproximadamente 1% de toda a produção total final. Reaproveitamento de embalagens: - Garrafas PET de óleo (fios ecológicos). - Cartonados Longa Vida (substituição de telhas de amianto e outros). - Reaproveitamento adequado de embalagens de agroquímicos. - Conscientização da reciclagem de materiais. Acompanhamento pelo COC: - Reclamações, sugestões, esclarecimentos e satisfação cliente
Projeto Cultivar: - Cooperativa, IAP, APAE, PEM , BASF. - Mão-de-obra da APAE e PEM. - Inclusão social. - Remuneração para alunos da APAE. - Produção de mudas de árvores nativas. - Envolvimento com o Programa de Mata Ciliar. Escola no Campo: - Educação, informação, meio ambiente, tecnologia, alimentos e difusão. - Cooperação entre Syngenta e outras instituições governamentais. Integração Agricultura e Pecuária: - Recuperação de terras degradadas. - Benefícios para agricultores, comunidades e municípios. Cooper Jovem: - Integração Cooperativa, OCEPAR e SESCOOP. - Empregos, produção, preservação ambiental, cultural e social, princípios cooperativistas. Núcleo Jovem e Núcleo Feminino: - Cooperativismo, administração propriedade, desenvolvimento do potencial pessoal de profissional.
Fonte: Elaborado pelo autor.
24
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este tópico é uma pesquisa que referência a teoria de diferentes assuntos
que embasam o entendimento para as conclusões do estudo de caso de uma
cooperativa agroindustrial, onde é estudado todo o ciclo produtivo do óleo refinado
de soja produzido por ela, com foco principal na dimensão ambiental da sustentabili-
dade.
Embora sejam tradados alguns assuntos com definições mais polêmicas entre
autores, elas em geral se completam e muito nos ajudam no embasamento das
ações para o estudo de caso, que possibilitam a ajudar na avaliação das ações
sustentáveis. Importante lembrar que este tópico não é um modelo único de ações
pré-definidas para o alcance da sustentabilidade, mas poderá nortear um caminho a
ser seguido no estudo.
Inicia-se com o levantamento sobre desenvolvimento e sustentabilidade,
avançando para o cooperativismo, depois para temas como expansão da agricultura
e da agroindústria no Brasil, manejo do solo e das águas, quando é salientado que a
má administração deste recurso pode resultar em perdas da fertilidade do solo e
conseqüentes gastos financeiros para reposição e manutenção. Este fato afeta
variáveis para a recuperação do solo com necessidade de calagem, adubações e
combustíveis para uso dos implementos. Assim este tópico direciona-se para o uso
de agrotóxicos, mostrando seus riscos de intoxicação na vida em geral quanto de
todo um ecossistema, o manejo integrado de pragas e combate à erosão. Com
informações específicas da soja e todo o seu processo de transformação em óleo
refinado, forma-se a expectativa de entendimento para embasar-se no processo
aplicado pela cooperativa no ciclo produtivo do óleo e seus principais resultados
alcançados.
2.1- Desenvolvimento e sustentabilidade
Com os avanços tecnológicos que resultaram em grandes invenções, em
especial as inovações mecânicas, a exemplo a força hidráulica, avanços nas
fundições do ferro, mecanização da indústria têxtil, maquinaria na indústria, motores
de combustão externa e posteriormente interna, navios motorizados, trens e
25
aberturas das inúmeras estradas de ferros, invenção dos telégrafos e a
mecanização da agricultura e o desenvolvimento dos químicos agrícolas e outros
(BURNS, 1966), movimentaram a Revolução Industrial e a Agricultura Comercial.
Segundo Veiga, para a maioria das pessoas “até hoje não existiu diferença
entre industrialismo e desenvolvimento”. A idéia está sempre associada ao
progresso e industrialização. Esta utopia11 entrou em crise após prestar grandes
serviços nos dois séculos passados. Nos países do norte, ou seja, os
industrializados, a crise da palavra utopia é profunda. “É crucial conhecer as razões
de seu desabamento nos países do chamado núcleo orgânico” (VEIGA, 2005,
p.194). Assim, Veiga (2005, p.196) conclui que: “sejam quais forem os termos desse
compromisso, uma coisa é certa: a velha utopia industrialista não é mais
sustentável”.
Então esta associação de desenvolvimento com industrialização, também
aceita por alguns economistas e autores, não significa o real desenvolvimento
através do crescimento econômico. Países do mundo que almejam a
industrialização pura e simples em seus territórios, criam políticas governamentais
para atrair indústrias pensando que junto virá o desenvolvimento. À luz de países ou
regiões mais industrializadas, os menos providos deste atributo, pensam que
conquistarão o mesmo conforto e a qualidade de vida para seu povo, exatamente
como o do país modelo ou referência. Assim, países subdesenvolvidos pensam que
industrialização seria sinônimo de crescimento econômico e, por fim, significaria
desenvolvimento (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006).
Ainda no período da Revolução Industrial, a expressão “Desenvolvimento”
começou a ser classificada com uma nova conceituação, destacando duas
características marcantes: (1) a referência de uma territorialidade e (2) o uso como
termômetro da dinâmica da economia. Sendo esta palavra entendida como
evolução, avanço, mas não como aumento das atividades econômicas. Quase como
sinônimo de crescimento. Após a II Guerra Mundial houve uma distinção de
conceitos para melhor entender a palavra: a) aumento das atividades econômicas
(crescimento) e, b) melhoria geral das condições de vida das populações (verdadeiro
desenvolvimento). Embora o primeiro seja necessário para se chegar ao segundo,
11
Utopia: Imaginário de uma criação poética do autor inglês Thomas Morus, onde tudo está organizado da melhor forma possível. Fantasia.
26
não significa ser uma condição suficiente que se atingir um pode-se chegar ao outro.
Como exemplo, é possível perceber uma economia crescer no sentido produtivo em
determinado local, porém, sem que haja uma divisão equitativa dos lucros para toda
a nação (BURSTZEN, 2006).
Gal (1981) tem uma imagem concreta do desenvolvimento em que ela tem
necessariamente seus indicadores: a) renda per capta; b) nível de consumo per
capto; c) concentração urbana; d) índice de crescimento demográfico; f) métodos de
produção e sua tecnificação; g) organização sócio-econômica; e h) política e
distribuição de renda. Também, a situação dos países em desenvolvimento é
caracterizada por uma estrutura econômica e social, mesmo que dualista nos
aspectos dos índices: a) renda, demanda, produtividade, desemprego e pobreza; b)
no setor rural emprego e produção; c) tecnologia importada e emprestada, inovação;
d) concentração metropolitana; e) crescimento demográfico, educação e progresso
na medicina; f) institucionalismo; e g) nível de serviços.
Como visto, também para Veiga (2005) existe uma confusão no entendimento
entre desenvolvimento e riqueza. Para muitos economistas convencionais, existe
uma equivalência entre PIB (Produto Interno Bruto) e a renda per-capta, como forma
de raciocínio para se chegar ao desenvolvimento. Na realidade pode-se chegar à
riqueza e, esta, pode ajudar a se obter outros interesses, como o bem estar, poder,
ou uma combinação deles (VEIGA, 2005). Mesmo que o país tenha um acúmulo de
riqueza e ingresse a um contexto orgânico12, a palavra desenvolvimento não pode
ter um parâmetro da definição tão simplória como a divisão per-capta do PIB. Em se
aceitando esta definição como uma possibilidade de alcançar o verdadeiro
desenvolvimento, este processo seria lento (VEIGA, 2005). Por esta razão é muito
comum este meio de avaliação ou de raciocínio para tentar se discutir o
desenvolvimento de determinado local.
Para Gal (1981) o fator essencial do desenvolvimento é a produtividade, a
qual reflete em maior demanda de recursos naturais, mão–de-obra, tecnologia e
maior complexidade administrativa. Já para Dowbor, “a produtividade sempre foi
vista como um conceito positivo” (2009, p.1), ou seja, produzir mais com menos
energia ou ganhar mais com menor investimento, por exemplo. Porém, para este
12 Contexto Orgânico: É um contexto o qual o foco observado sofre influências de diversos fatores e que forma o ambiente que influencia este em questão.
27
autor, há um erro na definição. Pois deixa-se de lado no cálculo da produtividade de
uma propriedade agrícola, as terras que não são plantadas. Também na indústria,
esquece-se dos problemas sociais ou o respeito ao próprio homem, lembrando-se
apenas dos lucros para este cálculo (DOWBOR, 2009).
De acordo com Oliveira (2006) o desenvolvimento pode ser entendido:
Como um complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente, humana social. Desenvolvimento nada mais é que o crescimento – incrementos positivos no produto e na renda – transformado para satisfazer mais diversas necessidades do ser humano, tais como: saúde, educação, habitação, transporte, alimentação, lazer, entre outras” (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006, p.19).
Há evidências hoje que os problemas de pobreza, satisfação das
necessidades básicas (alimentação, saúde e habitação), matriz energética com
fontes renováveis e, inovações tecnológicas, há um estreito relacionamento entre os
problemas ligados ao meio ambiente e o estilo de desenvolvimento aplicado na
esfera local. Não faz sentido opor meio ambiente e desenvolvimento, pois o primeiro
é resultado da dinâmica do segundo. Assim, o livro da Presidência da República do
Brasil do período de Fernando Collor (CIMA, 1991, p.19) afirma: “Os problemas de
preservação do meio ambiente são os problemas do desenvolvimento, os de um
desenvolvimento desigual para as sociedades humanas e nocivo para os sistemas
naturais”.
Assim deve ser melhor avaliado as propostas dos países que buscam a
industrialização:
Nas economias altamente industrializadas os problemas de meio ambiente podem ser, em geral, associados à poluição. Suas políticas ambientais orientam-se, por isso mesmo, a evitar o agravamento da degradação ou, ainda, a restaurar os padrões de qualidade de água, ar e solo anteriores à crise. Nos países subdesenvolvidos, a crise ambiental está claramente associada ao esgotamento de sua base de recursos, e suas políticas deveriam dar prioridade à gestão racional dos recursos naturais (CIMA, 1991, p.16 e 17).
“As crises ambiental, econômica e social colocaram em cheque as noções
generalizadoras e progressivas do desenvolvimento e do progresso” (ALMEIDA,
1997, p.17). Para alguns países do Terceiro Mundo, segundo Becker et al (1997) foi
evidenciado que o progresso não era uma virtude para todos os sistemas
econômicos e, para todas as sociedades e nações. Historicamente esta particular
realidade refletiu para as sociedades industriais. Assim, países pobres que buscam
28
a industrialização usando como modelos os países já industrializados teriam que
enfrentar a dificuldade sobre a virtude do progresso não ser de todos. Esta visão
está centrada na compreensão de que o desenvolvimento sócio-econômico é
resultado de avanços técnico-científicos, o que assegura o crescimento e o
progresso das virtudes humanas e, de suas liberdades e poderes. Assim, sintetiza-
se o desenvolvimento na seguinte visão: desenvolvimento técnico-científico →
desenvolvimento sócio-econômico → progresso e crescimento (BECKER et al,
1997).
Hoje é possível dizer que cresce a consciência de que a natureza não é
apenas uma despensa ou almoxarifado, mas pode ser vista como um quarto de
despejo, ou lata de lixo e esgoto, não apenas da produção, mas também do
consumo. Assim, os refugos do que é considerado o sistema econômico do homem,
é também da sociedade ecumênica (BURSTZEN et al, 1993).
Para o tema desenvolvimento, quase foi colocado à parte o que diz respeito
ao meio ambiente nas discussões. Ambientalistas não se declaram contra a uma
causa tão universal, embora quando as enfrentam, segundo Marcel Burstzen (2006),
há uma constatação que ainda hoje a questão ambiental é vista como “uma
limitação ao desenvolvimento” e não uma condição básica para uma forma durável
de desenvolvimento, ou seja, sustentável (BURSTZEN, 2006).
Em um contexto geral, Becker et al (1997) coloca a possibilidade de outro tipo
de desenvolvimento, com uma organização social desenvolvimentista e
modernizadora, com equilíbrio na base social, econômica, cultural e ambiental, na
busca da sustentabilidade. Com esta visão, pensa-se em um novo projeto para a
sociedade, com o objetivo de garantir a sobrevivência dos grupos sociais e da
natureza para o presente e o futuro. Porém, para garantir este desenvolvimento, é
claro que há necessidade do reconhecimento da insustentabilidade do predominante
modelo econômico mundial, ou no mínimo, o desequilíbrio das dimensões bases e o
quanto é inadequado o atual padrão de desenvolvimento para a sociedade.
Este crescimento extraordinário da economia mundial foi gerado pelas
políticas econômicas de apoio que, do ponto de vista ecológico, podem ser
considerados fracassados, pois são as mesmas que apóiam um manejo inadequado
de florestas, pradarias, pesqueiros e terras agrícolas, destacando assim quatro
ecossistemas fornecedores de alimentos e de toda a matéria-prima para o homem.
Embora muitos vivam numa sociedade urbana e de alta tecnologia, o homem
29
precisa entender e ter a consciência de que ele depende dos sistemas naturais da
Terra exatamente como os seus ancestrais caçador-catadores que dependiam
anteriormente (BROWN, 2003).
Para que haja a sustentabilidade e a preservação ambiental há a necessidade
de garantir às gerações futuras as mesmas condições e recursos naturais que a
atual geração tem à sua disposição. Este assunto foi tratado na segunda metade do
século XX no chamado Clube de Roma em relatório publicado e intitulado como
“The limits to growth” (Limites do crescimento) em 1972. Assim houve uma
preocupação na produção de alimentos e no crescimento linear da população
mundial, a qual o aumento da população tendia a ser maior que a da produção de
alimentos, podendo assim, chegar a um comprometimento para a população
mundial. Ainda, o Clube de Roma (1970) e, Thomas Malthus13 em seu tempo em
1805, preocupou-se com a falta de alimento para a população crescente. Os cinco
temas globais discutidos neste fórum foram: “1) aceleração da industrialização; 2)
aumento dos indicadores de destruição; 3) rápido crescimento populacional; 4)
deploração dos recursos naturais não-renováveis e 5) deterioração do ambiente.”
Sempre se buscou o caráter sustentável e chamando a atenção para a poluição e
degradação ambiental planetária (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006, p. 21 e 22).
A sustentabilidade como novo critério básico e integrador precisa estimular permanentemente as responsabilidades éticas, na medida em que a ênfase nos aspectos extra-econômicos serve para reconsiderar os aspectos relacionados com a eqüidade, a justiça social e a ética dos seres vivos (JACOBI, 2007, p.54).
Segundo Figge e Hahn (2002) o conceito de desenvolvimento sustentável tem
evoluído muito nos últimos vinte e cinco anos, principalmente no sentido
macroeconômico. O conceito central está em estabilizar o bem-estar no mínimo de
forma a não prejudicar ou deixar ainda pior o ambiente para a presente e as futuras
gerações. Economistas utilizam diferentes formas de capital, como por exemplo, os
13
Thomas Maltus: Representa o paradigma de uma visão que ignora ou rebaixa os benefícios da industrialização ou do progresso tecnológico. Para ele a diferença entre as classes sociais era uma conseqüência inevitável. A pobreza e o sofrimento eram o destino para a grande maioria das pessoas. Expôs suas idéias em dois livros: o Primeiro ensaio e o Segundo ensaio. Tanto para Malthus como para seus discípulos, qualquer melhoria no padrão de vida de grande massa é temporária, pois ela ocasiona um inevitável aumento da população, que acaba impedindo qualquer possibilidade de melhoria. Foi um dos primeiros pesquisadores a tentar analisar dados demográficos e econômicos para justificar sua previsão de incompatibilidade entre o crescimento demográfico e à disponibilidade de recursos.
30
produtos manufaturados, capital humano (conhecimentos e habilidades), capital
natural e ainda o capital social (relacionamento entre indivíduos e instituições).
Assim segue as regras do capital, onde o desenvolvimento pode ser chamado
de sustentável se garantir o estoque de capital global ou, pelo menos, do capital de
forma geral ao longo do tempo (FIGGE; HAHN, 2002). Então é diferenciado dois
tipos de capital, que podem ser substituidos por outro mais fraco ou forte no sentido
da sustentabilidade. O de sustentabilidade fraca14 implica que é o capital que pode
ser substituido por outro, porém, perderá em estoque e poderá ser substituido por
uma outra forma de capital. A crença da possibilidade da não-substituição de algum
tipo de capital, força a conservação e a preservação de alguns estoques não
substituíveis. Assumindo que o capital natural está escasso e perto de seus limites
para produção de manufaturados, a imposição de níveis críticos de fortes capitais
sustentáveis, torna-se necessário a conscientização da possibilidade de perdas de
fontes naturais de capital de forma irreversível (FIGGE; HAHN, 2002, p.2).
A maior preocupação das maiores e melhores organizações de todo o mundo
hoje é relativo à sustentabilidade dos seus próprios negócios. A origem deste
movimento se deu por questões ambientais, os quais devem ser vistos de forma
ampliada com a incorporação de temas voltados à qualidade, saúde e segurança do
trabalho, com a própria preservação ambiental e com a preservação de
responsabilidades corporativas (ALLEDI; QUELHAS, 2003). Para um
desenvolvimento sustentável é necessário aquele que satisfaça “as necessidades do
presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas
próprias necessidades” (ALLEDI; QUELHAS, 2003, p. 4).
Segundo Carvalho e Barcellos (2010, p. 100) o que é sustentável é o que
pode ser mantido e, em ecologia, o qual pode ser dito que o ecossistema tem seu
certo grau de sustentabilidade ou resiliência como um todo. Em grosso modo é a
capacidade do ecossistema de enfrentar as dificuldades e perturbações externas
sem comprometer suas funções. Resiliência ecológica é o entendimento da
capacidade de um ecossistema de resistir às perturbações do meio e assim mesmo
manter o seu estado específico. Enfatizando o lado econômico, May et al (2010) diz
14 Sustentabilidade fraca: O capital natural não necessita de um tratamento diferenciado, pois ele é simplesmente considerado outro tipo de capital como qualquer outro. Esta possibilidade de substituição aliada à eficiência produtiva pode permitir a superação de limitações que venham impedir o crescimento econômico devido à escassez de recursos.
31
que a sustentabilidade é o crescer no longo prazo em função da produção além do
capital.
Esta idéia incorpora os recursos naturais e aborda a hipótese da substituição
perfeita entre os fatores produtivos, ou seja, a substituição de uma floresta por uma
indústria não seria um problema, desde que tivessem o mesmo valor, pois nesta
visão estaria substituindo um tipo de capital por outro. Para este princípio estaria
também implícito que não haveria maiores dificuldades em mensurar
monetariamente estoques de diferentes tipos de capital, podendo formar então, a
sustentabilidade fraca da economia ecológica (MAY et al, 2010).
Logicamente coloca-se em contraposição defensores da sustentabilidade
forte15, a qual defende que o capital natural é complementar e não substituível pelo
capital reprodutível. Ainda, segundo May et al (2010) para a economia ecológica o
significado da sustentabilidade do capital natural tem grande importância “pois é ela
que garante a existência de vida humana na Terra” (2010, p.101). A Terra está se
aproximando a um nível crítico em diversos aspectos que podem transformar a
qualidade do ar, das águas e dos gases da atmosfera em condições que afetam as
condições das vidas de todos os ecossistemas do planeta (MAY et al, 2010).
Das incertezas do futuro em relação ao meio ambiente e de suas relações, os
educadores deverão preparar e reelaborar as informações ambientais para a
retransmissão aos interessados com o fim de seu melhor entendimento sobre o
meio. Elas deverão estar inseridas às diversas determinações e intersecções desta
complexa relação, enfatizando a capacitação e percepção das relações entre as
diferentes áreas para formação de um todo, sendo em uma esfera local ou global,
onde explicita a necessidade de enfrentar as exclusões e desigualdades como uma
realidade a se deparar (JACOBI, 2007).
Igualmente como mostrado acima, segundo Alledi e Quelhas (2003), se
pudesse usar uma palavra para representar o centro da sustentabilidade, ou seja, o
local de interseção das suas três dimensões, a palavra seria o respeito. “Respeito ao
meio ambiente, respeito às pessoas e respeito ao capital” (ALLEDI; QUELHAS,
2003, p. 5) buscando assim um equilíbrio. A busca da sustentabilidade empresarial
15 Sustentabilidade forte: Se opõe à sustentabilidade fraca, a qual requer a manutenção dos diferentes tipos de capitais separadamente. Isso significa que a sustentabilidade forte não aceita substituição perfeita ou quase perfeita do capital natural por capital manufaturado. Desta forma, alguns autores acreditam que para a sobrevivência humana são indispensáveis alguns serviços de tipos de ecossistemas e, que não são substituíveis por outros.
32
ou mesmo pessoal exige-se uma conduta adequada com princípios éticos,
responsabilidade social e individual ou mesmo corporativa.
Figura 1 – A Sustentabilidade e suas dimensões ambientais, sociais e econômico-financeiras
Fonte: Adaptado de ALLEDI e QUELHAS (2003, p. 4)
Segundo Romeiro (1999) o termo “Desenvolvimento Sustentável” é oriundo
do nome ecodesenvolvimento16 que surgiu no início da década de 1970. No relatório
do “Clube de Roma” havia uma polarização que opunham duas visões em relação
ao crescimento econômico e meio ambiente. De um lado os que defendiam os
limites ambientais ao crescimento econômico, os chamados tecno-cêntricos radicais,
onde defendiam que são relativos dentro da capacidade inventiva da humanidade e,
que considerando uma força positiva poderia eliminar disparidades sociais com um
custo ecológico inevitável, porém com inúmeros outros benefícios obtidos para o
homem. De outro lado os eco-cêntricos radicais, os quais acreditam que o meio
ambiente tem inúmeros limites ao crescimento econômico, estando a humanidade
próxima de uma catástrofe que pode levar ao esgotamento dos recursos naturais
que são explorados sem critérios para a utilização da capacidade, assim como de
assimilação do meio, ou seja, com conseqüência da poluição (ROMEIRO, 1999).
16 Ecodesenvolvimento: Existe uma concordância de que este termo foi criado por Ignacy Sachs na escola de altos estudos em Ciências Sociais de Paris, surgido nas suas qualificações conceituais.
33
Para Sachs (2000) o assunto com respeito ao meio ambiente, formou duas
opiniões claras e diferentes: 1) da Abundância e; 2) dos Catastrofistas. Pouco tempo
depois as duas posições foram descartadas para o surgimento de uma intermediária
entre o “Economicismo determinista”, ou seja, a prioridade ao crescimento
econômico e, o “Fundamentalismo ecológico”, que significa a inexorabilidade do
crescimento do consumo e esgotamento dos recursos naturais (SACHS, 2000).
Como Desenvolvimento sustentável ou Ecodesenvolvimento não é um caminho para
extremos, mas sim de um desenvolvimento harmonioso com objetivos sociais,
ambientais e econômicos, em curto espaço de tempo este tema toma maiores
proporções para os rumos do desenvolvimento (JACOBI, 2007).
Atualmente, o desafio de fortalecer uma educação para a cidadania ambiental convergente e multirreferencial se coloca como prioridade para viabilizar uma prática educativa que articule de forma incisiva a necessidade de se enfrentar concomitantemente a crise ambiental e os problemas sociais. Assim, o entendimento sobre os problemas ambientais através da visão do meio ambiente como um campo de conhecimento e significados socialmente construídos é perpassado pela diversidade cultural e ideológica e pelos conflitos de interesse (JACOBI, 2007, p.59).
Para Denardin e Sulzbach (2005) o conceito deste novo desenvolvimento é o
utilizado para a formulação de políticas que busquem atingir a mesma
sustentabilidade apresentada na Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. O conceito central desta idéia é de manter o Capital Natural ou
Recursos Naturais, como uma herança que deva ser conservada e usada, de
maneira que possa ser mantida sua capacidade nas suas diferentes funções e
qualidades. Ainda está implícita a equidade intrageracional e intergeracional dando a
oportunidade para gerações futuras de satisfazer suas necessidades igualmente
como a presente geração (DENARDIN; SULZBACH, 2005).
Conforme já mencionado anteriormente, Dyllick e Hockerts (2002) salientam a
importância da busca da sustentabilidade entre as dimensões dos negócios
empresarias, as quais reforçam a necessidade de ações harmônicas entre as
principais dimensões da sustentabilidade (ambiental, social e econômica – figura 2).
34
Figura 2 – Três dimensões da Sustentabilidade
Fonte: Adaptado de DYLLICK; HOCKERTS, 2002, p 132.
Estas ações harmônicas potencializam as tendências entre as dimensões,
como as: (a) Eco-eficiência, (b) Sócio eficiência, (c) Eco-efetividade, (d) Suficiência;
(e) Sócio eficácia e o (f) Patrimônio ecológico:
a) Eco-eficiência – É alcançado pela empresa através de preços competitivos de
bens e serviços e que atendam as necessidades do homem, acrescendo em
qualidade de vida e reduzindo impactos ambientais, respeitando o ciclo natural de
reposição da natureza ao ambiente;
b) Sócio-eficiência: descreve a relação entre valores acrescentados em uma
empresa e o seu impacto social. Para os itens a e b é considerado primariamente
aspectos da sustentabilidade econômica, conforme figura 3;
Figura 3 – A Sustentabilidade corporativa com foco nos negócios
Fonte: Adaptado de DYLLICK; HOCKERTS, 2002, p 136.
35
c) Eco-efetividade: Se, por exemplo, a eco-eficiência para uma empresa é a
produção de veículos com combustíveis alternativos que tenham redução da
emissão de gases (CO2), sua Eco-efetividade seria uma solução definitiva para um
combustível sem emissão de gases, como exemplo o carro com motor elétrico;
d) Suficiência: Seguindo o exemplo anterior, se a sociedade aceita este modelo de
veículo, ele se torna suficiente, ou seja, o consumo deste produto não agride a
natureza quando é usado. Lembrar que para os casos c e d o foco é a
sustentabilidade ecológica, sendo ele o principal objetivo a ser atingido para a
responsabilidade ambiental do produto, conforme figura 4;
Figura 4 – Sustentabilidade corporativa com foco na natureza (ambiental)
Fonte: Adaptado de DYLLICK; HOCKERTS, 2002, p 137.
e) Sócio-eficácia: Embora a sócio-eficiência possa ser um instrumento com um
aumento relativo para se atingir a sustentabilidade social, a sócio-eficácia ajudaria a
não formar ilhas de insatisfação na base da pirâmide de uma parcela da população
mundial. Deveria haver uma estratégia para que todos tivessem a oportunidade de
ter determinado produto e/ou serviço, no mínimo os básicos, de determinados
setores como de alimentos, saúde, financeiros bem como de comunicação. Assim,
uma conduta empresarial pode ser julgada em uma escala relativa, mas em relação
a uma escala social absoluta;
f) Patrimônio ecológico: Faz parte do nexo da relação entre a gestão do Capital
Natural e da Sustentabilidade Social. Enquanto as gerações atuais consomem
capital natural de gerações presentes e futuras sem a chance de escolha delas,
deveria ser encontrada uma solução equitativa dos bens naturais do planeta, sem
36
prejuízo para qualquer um dos envolvidos. Assim, destaca-se como o maior bem
social o Capital Natural, o qual deve ser trabalhado para se atingir a sustentabilidade
(DYLLICK; HOCKERTS, 2002).
Figura 5 - Sustentabilidade corporativa com foco na sociedade
Fonte: Adaptado de DYLLICK; HOCKERTS, 2002, p 138.
Neste contexto, Arroyo (2008) destaca a importância de um bom sistema
contábil que possa proporcionar ao mesmo tempo informações econômicas,
ambientais e sociais. Enfatiza que a contabilidade de gestão sustentável
(Sustainable Management Accounting - SMA) utiliza informações financeiras e não-
financeiras para otimizar e alcançar negócios sustentáveis. Por este meio, o sistema
SMA ajuda a identificar e redistribuir os custos ambientais e sociais para uma melhor
definição das medidas ambientais e sociais, com uma ligação às medidas
financeiras para aplicação desta contabilidade ao orçamento de capital. Importante
notar que existem nos sistemas tradicionais de contabilidade os custos ambientais e
sociais, mas não são relevados, assim, escondem-se com as despesas gerais
(ARROYO, 2008).
Uma forma para avaliar o impacto ambiental dos produtos ou dos processos
no ambiente, bem como a sua melhoria neste aspecto, é a de avaliar seu completo
ciclo de vida para o impacto monetário, identificando assim, custos ambientais
através de todas as fases de sua vida. Outra técnica sugerida por Arroyo (2008) é
custeio baseado em atividades, o que implica alocar os custos ambientais
diretamente às atividades e produtos que causam os custos. A principal vantagem
desta técnica é que os custos ambientais não são contabilizados como despesas
gerais e, portanto, os gestores poderão avaliar o custo real de seus produtos. Este
37
autor também diz que a maioria das empresas não tem seus custos ambientais e
sociais discriminados por atividade, instalação e produtos. Para implantação do MAS
deve-se integrá-los em seus sistemas de custeio, medição de desempenho e
orçamento de capital. É importante notar que a adaptação dos sistemas de
contabilidade de gestão (MAS) é um processo interativo que leva mudanças na
estratégia da empresa, o que significa que o grau de adaptação varia conforme a
empresa muda sua estratégia de sustentabilidade (ARROYO, 2008).
A busca da sustentabilidade ambiental para algumas organizações é de
grande relevância, sendo que em diferentes casos é pensado além, como um maior
equílibrio em diferentes dimensões. É o caso da real sustentabilidade ou o respeito
ao triple bottom line. Destas organizações filosofias diversas podem ajudar resgatar
aspectos importantes, porém, com a necessidade de manter constantes evoluções
para a realidade conjuntural do momento. Pode-se dizer que é o caso de algumas
cooperativas.
2.2- Cooperativismo
A idéia das cooperativas é antiga, mas seus ideais e as posturas estão bem
presentes até hoje. Segundo Pinho (1966) a origem da palavra cooperação tem o
significado de auxílio a um bem comum e, cooperativismo, como a renovação social
pela cooperação, ou seja, uma interação social em que as pessoas se unem para
alcançar um objetivo.
Desta forma, o cooperativismo tem inicialmente uma concepção filosófica que
se baseia e reflete a uma tendência de se aglomerar do ser humano e de viver em
sociedade. Com a idéia da ajuda mútua, Gal (1981) afirma que serve como um
instrumento de sobrevivência da espécie que se contrapõe “à luta de todos contra
todos e cada um contra o próximo” (GAL, 1981, p.13). Desta forma Gal também
lança um segundo raciocínio sobre as práticas de diferentes intensidades em que
variam ao que pode ser chamado de evolução humana.
Podem-se encontrar manifestações e provas de agrupamento humano e cooperativismo desde a época das cavernas até aos nossos dias. Na Pré-História e na Idade Média e na Idade Primitiva, a tribo e o clã; durante a era da escravidão, agrupamentos de seres livres como os essênios; na Idade Média, diversas manifestações que culminaram com as “guildas” como manifestação de agrupamento econômico. Mas, é somente depois da grande mudança estrutural denominada “Revolução Industrial” que o cooperativismo transcende de uma Manifestação esporádica e isolada
38
para tomar a transcendência de “movimento”, adotando certa metodologia e princípios que o transformaram em um sistema (GAL, 1981, p. 13 e 14).
As cooperativas influenciaram a sociedade e sua organização até mesmo nas
motivações econômicas. Iniciou-se no período feudal, quando parte desta sociedade
buscou submeter atividades produtivas em regras que refletira em distribuição justa,
em uma ordem que se pensava ser o ideal, a qual continha a apropriação dos
recursos naturais e até mesmo a especificação da qualidade do que se produzia.
Nesta influência deu-se continuidade na evolução da sociedade moderna, sendo
possível identificar o fim das restrições do caráter religioso, estético, cultural e social,
onde a racionalidade econômica pode se valer. Esta evolução influencia o
dinamismo tecnológico já presente na sociedade feudal. O lado negativo foi a
exploração do trabalho que gerou uma realidade não imaginável para a sociedade
com reações intelectuais e organizacional como os movimentos socialistas e
sindicalistas. Gradativamente houve restrições à exploração do trabalho com
revelações, proibições de trabalho infantil, salário mínimo, férias remuneradas entre
outras. Salienta-se que algumas destas regras se embasaram em princípios
medievais, como o princípio escolástico do preço justo (MAY et al, 2010).
A primeira cooperativa foi fundada em 1844, na cidade de Rochdale,
Inglaterra, modelo que continua sem alterações significativas. Sua formação foi da
união de 28 artesões que estavam sem poder atuar em suas áreas, devido a
Revolução Industrial e a perda de suas funções pela utilização da força motriz.
Assim, uniram-se para sobreviver de seu trabalho. As dificuldades não acabaram,
por isso, organizaram a primeira cooperativa noticiada no mundo. Seu ramo de
atuação era o têxtil e tinha a finalidade de desenvolver o bem comum dos que
haviam perdido o emprego. Esta união resultou na oportunidade de intervir em seus
negócios e em suas ocupações profissionais e serviços por eles desempenhados
(QUEIROZ, 1996).
Dentro de um contexto geral, a cooperativa é uma organização especial,
como um agrupamento diferente da organização social, a qual atribui a formação de
comunidades com um contexto institucional mais amplo, como um grupo íntimo e
informal, como ocorre no caso de uma família. Assim, dando continuidade ao
raciocínio de Gal (1981), esta organização cooperativa pode além de ter uma
finalidade específica de sua organização (consumo, produção, entre outras), um
39
cunho social para uma distribuição equitativa na distribuição de benefícios (lucro),
alcançando uma estrutura interna com bases democráticas.
Havendo uma cooperação de forma organizada com estatuto previamente
estabelecido, surgem grupos sociais, dos quais as cooperativas visam em primeiro
lugar fins econômicos e educativos (PINHO, 1966). Como afirmado por Queiroz
(1996), esta idéia deu tão certo que em apenas trinta e sete anos após a fundação, a
Europa já possuía em torno de mil cooperativas com mais de quinhentos e cinqüenta
mil associados. Nas Américas o cooperativismo chegou dentro das três primeiras
décadas do século XX. No Brasil chegou por volta de 1932 e foi consolidada pelo
Decreto Federal no. 22.232/32.
Rocha et al (2004) diz que desde a criação da primeira cooperativa, seus
princípios sofreram as influências e adaptações da evolução do mercado, sendo que
desta forma puderam se tornar mais competitivas. Ao longo dos trinta e um
congressos realizados pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) desde sua
criação em 1895, os princípios cooperativistas passaram por reformulações, das
quais pode-se compreender a existência de uma dialética entre idéias das práticas
cooperativas. Assim, os princípios cooperativistas possuem uma ordem prática
funcional com o objetivo de se chegar à utopia cooperativa. A discussão de idéias e
práticas cooperativas é o que desencadeia o fenômeno da dialética cooperativista.
Desta forma, o contexto dos princípios cooperativos e as práticas cooperativistas
propiciam às organizações a forma de se utilizar os recursos financeiros, humanos e
tecnológicos, para que o trabalho seja o mais eficiente possível (ROCHA et al,
2004).
Com uma evolução natural nos princípios, chegaram ao Brasil sete princípios
cooperativos, sendo eles adequados e adaptados à legislação local: 1. Adesão livre;
2. Singularidade de voto; 3. Controle democrático: 4. Neutralidade: nenhuma
discriminação política, social, racial é aceita na cooperativa; 5. Retorno das sobras: a
cooperativa não visa lucro, sua missão é o benefício do cooperado; 6. Educação
permanente; 7. Cooperação intercooperativa: a proposta de cooperativismo abrange
a área social, o que é natural e essencial a sua aplicação com outras cooperativas.
(QUEIROZ, 1996).
Ainda no Brasil, o cooperativismo foi uma alternativa encontrada para
combater a precarização das condições de trabalho das últimas décadas, quando
houve um considerável aumento dos socialmente excluídos, os quais sobrevivem no
40
mercado informal de trabalho. Desta alternativa, com o intuito de encontrar uma
possibilidade de geração de renda à população afetada pela dificuldade de trabalho.
Busca-se então uma mudança de mentalidade para preparar e assumir uma postura
para uma nova perspectiva, direcionando para a coletividade em detrimento à
individualidade (ROCHA et al, 2004).
As cooperativas são organizações com característica de atuação local e que possuem pessoas cooperadas da própria comunidade. No Brasil e principalmente no Estado do Paraná, este tipo de organização é muito comum no meio rural através das cooperativas de produção agropecuárias (SILVA; ALVES; SALANEK, 2008, p, 2).
No Estado do Paraná as cooperativas não tiveram seus objetivos
direcionados apenas na produção de alimentos, mas de inserção na industrialização
de produtos, que buscassem agregar mais valores através de serviços
transformações em prol de seus cooperados. Cooperativas tiveram a união de seus
produtores somados para melhor produzir criar uma maior força de atuação em cima
de um mesmo interesse produtivo (SILVA; ALVES; SALANEK, 2008). No Paraná há
duzentos e trinta e oito cooperativas registradas na OCEPAR sendo que oitenta e
uma são agropecuárias e que parte delas possuem o processo de industrialização
(OCEPAR, 2009).
2.3- Expansão da agricultura e da agroindústria no Brasil
Esta expansão também se deveu pelo avanço contínuo de tecnologias para
produção mais intensiva que culminaram no avanço de novas áreas e capacidade
de produção. Concentração de terra e desigualdades são problemas que estão na
raiz dos problemas econômicos, sociais e ambientais no Brasil. Para a
modernização da agricultura houve desigualdades na distribuição de terras e como
das culturas a serem exploradas. Começou de forma mais intensa nas regiões
Sudeste e Sul, especialmente São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, com maiores
espaços agrícolas para as lavouras de exportação. Posteriormente encaminhou-se
para as regiões Centro-Oeste e Zona da Mata nordestina. O modelo de estratégia de
modernização foi através da afirmação dos complexos agroindustriais, combinando
a ciência à agricultura, com o setor produtivo e a supressão do distanciamento entre
41
a agricultura e a indústria de transformação para a realidade de sua região (CIMA,
1991).
A utilização de tratores na agricultura ilustra uma desigualdade no processo
de modernização da agricultura. Embora tenha havido um crescimento enorme das
quantidades de equipamentos utilizados nos últimos anos, no final da década de
1980 a região Sul contava com quarenta e quatro por cento do total agrícola, onde
havia a maior concentração de estabelecimentos rurais equipados com tratores. A
adubação química reforça estes dados de desigualdades na utilização e distribuição
perante o público produtor. Com o rápido crescimento da agricultura, veio junto o
agravamento social, problemas ecológicos e ambientais que, através do uso muitas
vezes excessivo e sem critérios de químicos (fertilizantes a agrotóxicos) coloca
também a intensa mecanização de algumas áreas como agentes de degradação
(CIMA, 1991).
2.4 – Manejo integrado do solo e das águas
O solo é um dos recursos naturais de maior disponibilidade na superfície
terrestre, sendo ele essencial nas atividades humanas como na produção de
alimentos e para moradia. Assim o homem usa tecnologias para transformar terras
em espaços produtivos, porém, nem sempre é considerando as limitações de seu
uso. A mecanização atual além de ser algo essencial para a produção em massa, ou
em grandes proporções, geralmente é traduzida como desastrosas e geradoras de
conseqüências que ajudam na deterioração das terras agricultáveis, aumentando o
potencial de erosão e de outras conseqüentes perdas. Países da América Latina
devido à disponibilidade de terras para a implantação da agricultura e pecuária
ajudaram a atender a demanda, até então, sem grande preocupação na degradação
das áreas utilizadas (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2010).
Segundo Costa et al (2006), o princípio da utilização do solo paranaense foi
caracterizado como um sistema agrícola não conservacionista, alimentado por
estímulos econômico facilitadores da exploração cíclica e migratória, fato que
contribuiu na degradação ambiental. A erosão hídrica e suas conseqüências
tornaram-se visíveis pela prática dos sistemas de produção. A mudança do
comportamento começou a ocorrer, de acordo com Costa et al (2006), no primeiro
42
programa de combate a erosão do Paraná, no ano de 1960, conhecido como Projeto
Noroeste devido a localização de sua implantação no Estado, o qual buscava o
combate da erosão nos núcleos urbanos por motivo da má ocupação do solo, o qual
evoluiu posteriormente para a zona rural daquelas regiões, havendo o conseqüente
combate à erodibilidade nas terras.
Assim, os programas do Paraná continuaram a evoluir e foram lançados
outros com este mesmo fim, como o Programa Integrado de Conservação dos Solos
(PROICS) em 1975, com o objetivo de combate à erosão hídrica pela conservação
do solo e da água, manejo da fertilidade do solo com incentivos para aquisição de
calcário, e a correta utilização de implementos para se obter técnicas
conservacionistas. Este programa também incentivava técnicas de manejo bio-
cultural do solo, como os preparos reduzidos, cultivo mínimo17, plantio direto18, e a
rotação de culturas com plantas para a adubação verde19, visando assim, aumentar
a cobertura vegetal e reciclar a fertilidade das terras sob uso agrícola intensivo.
Posteriormente (1984) o governo Estadual lançou o Programa de Manejo Integrado
do Solo e da Água (PMISA), no qual incluía terraceamento e adequação de
estradas, a correção da acidez e o reflorestamento conservacionista. Com este
programa havia a necessidade de uma maior integração entre produtores rurais,
associações comunitárias organizadas pelos municípios e, por fim, a toda as
propriedades que pertenciam às microbacias20 trabalhadas na região, momento em
17 Cultivo mínimo: Sistema de cultivo que se situa entre o sistema de cultivo convencional e o sistema de plantio direto. O trânsito de máquinas agrícolas neste solo é mínimo. 18 Plantio direto: Sistema de manejo do solo onde a palha e os restos vegetais são deixados na superfície do solo. Revolvimento da terra é apenas no sulco onde são depositadas sementes e fertilizantes. As plantas infestantes são controladas por herbicidas. Não há preparo do solo, apenas é feito o sulco de plantio. 19 Adubação verde: Prática de plantar outras culturas além das que usualmente são cultivadas nesta área, para melhorar das condições físicas, químicas e biológicas do solo. A intenção é de enriquecê-lo nutricionalmente pelo plantio de leguminosas, as quais se associam com bactérias fixadoras de nitrogênio do ar e a transfere para as plantas. Também estimulam a população de fungos micorrízicos, microorganismos que aumentam a absorção de água e nutrientes pelas raízes. Também os restos orgânicos favorecem o aumento da biomassa vegetal, como podem contribuir para o controle de ervas daninhas pela cobertura morta sobre o solo, como pela liberação de substâncias vindas da raíz, inibidoras da germinação de outras ervas (alelopatia). 20 Microbacia: Do ponto de vista físico é uma unidade geográfica delimitada por uma rede de drenagem (córregos) que deságua em um rio principal. Se ficarmos restrito apenas ao aspecto geográfico, a microbacia não se diferencia da definição de bacia hidrográfica, podendo até ser classificada como uma pequena bacia. Ela está associada à realização de programas de desenvolvimento sustentável, tendo como beneficiários diretos comunidades rurais.
43
que aumentou a credibilidade do programa nas práticas conservacionistas (COSTA
et al, 2006).
Com respeito à erosão hídrica do solo, pode ser potencializada em
conseqüência da topografia, da cobertura vegetal e de sua origem. Obviamente,
além desta natural pré-disposição, o seu manejo e a forma de utilização e
exploração (comercial ou agrícola), exige práticas adequadas de conservação e
manutenção. Neste sentido, o momento de implantação de uma cultura, por
exemplo, é o momento de maior vulnerabilidade da terra de uma propriedade,
principalmente na ocorrência de chuvas (COGO et al, 2003).
Assim, para inicio de um trabalho voltado à preservação de uma área, é
essencial o conhecimento topográfico, com as marcações das curvas de nível21
como de toda a área da microbacia que a envolve. Aqui deverão ser consideradas
também as áreas a serem cobertas permanentemente, como as matas ciliares22,
topo de morros e assim por diante (GOMES, 1987).
Com os preparos reduzidos e especificamente o plantio direto, elimina-se a
mobilização superficial dos solos e o mantém coberto pelos restos de culturas,
ocasionando uma conseqüente proteção da erosão e aumento do teor da matéria
orgânica. Também há uma economia relativa às operações convencionais para o
preparo agrícola do solo. Dentro do preparo convencional, o desenvolvimento
radicular das culturas é prejudicado devido à compactação logo abaixo à
profundidade de operação dos implementos conhecidos como pé-de-grade ou de
arado23, compactação que dificulta o desenvolvimento radicular e a absorção de
nutrientes (TAVARES FILHO et al, 2001).
21 Curvas de nível: Linhas que ligam quotas que possuem a mesma altitude em um levantamento topográfico. 22 Matas ciliares: Matas que possuem uma determinada largura ao longo de um rio determinado pela legislação, para assegurar a proteção do rio e do solo deste local. 23 Pé-de-grade ou pé-de-arado: Forma de compactação do solo agricultável prejudicial ao desenvolvimento da cultura instalada na área, sendo a conseqüência do trânsito de máquinas e dos equipamentos para a execução do serviço de aração e gradagem. Esta ação é devido ao peso do trator e dos implementos da camada logo abaixo ao solo trabalhado, ou seja, da terra revolvida na aração e ou da gradeação no decorrer dos anos e de forma constante. Esta compactação é prejudicial ao desenvolvimento do sistema radicular da cultura pela dificuldade de liberação de nutrientes às raízes, aeração da terra próxima ao sistema radicular e, a percolação da água. O uso de forma inadequada dos referidos implementos agrícolas, acaba favorecendo a perda de solo e, conseqüentemente da produtividade, uma vez que a disponibilização dos nutrientes é afetada em razão do aumento do potencial erodível do solo.
44
Para implantar este sistema de plantio é recomendado práticas corretivas de
forma que seja precedido na instalação, como: eliminação de sulcos de erosão,
correção e manutenção do sistema de terraceamento, eliminação da acidez e
correção da fertilidade do solo, descompactação, uso de colhedeiras com picador de
palha, uso de semeadeiras especiais para plantio-direto, não utilização de áreas
infestadas de plantas daninhas de difícil controle, e condução de rotação de culturas
que possibilitem uma boa cobertura do solo, com diversificação do sistema radicular.
Este sistema não pode ser visto como uma prática a ser usada em solos
degradados, compactados e infetados por plantas daninhas
(OCEPAR/EMBRAPA,1989).
O uso da agricultura convencional tem ajudado em alguns casos a aceleração
da degradação do solo, causando desequilíbrio nas características física, químicas e
biológicas, o que pode afetar de forma direta no potencial produtivo. Assim,
destacam-se como os maiores problemas da degradação: a compactação, ausência
de cobertura vegetal, erosão hídrica e, a utilização de áreas inapropriadas para
cultivo anual. Outro manejo que de certa forma é tradicional, porém não adequado, é
a queima dos resíduos da cultura anterior, o que ocasiona a redução da infiltração
de água, contribuindo à erosão e a diminuição do teor de matéria orgânica,
influenciando o teor de “Ca” e a capacidade de reter cátions trocáveis do solo. Na
queima ainda pode ser convertido alguns nutrientes da matéria orgânica em
inorgânica, volatilizar nutrientes como: nitrogênio, enxofre, fósforo, potássio, cálcio e
magnésio. Os nutrientes também podem ser perdidos pela lixiviação24. No momento
entre um plantio e outro, o chamado “pousio”, recomenda-se movimentar o solo
somente para o plantio da próxima safra (OCEPAR /EMBRAPA,1989).
Dos programas desenvolvidos no Paraná relacionados às microbacias, o
Programa de Manejo Integrado do Solo e das Águas (PMISA), do PARANÁ RURAL,
diagnosticava as realidades encontradas no meio rural nas microbacias,
estabelecendo ações agro-ecológicas e sócio-econômicas nas comunidades
(COSTA et al, 2006) e, o atual Programa de Gestão Ambiental em Microbacias
24 Lixiviação: Processo de extração de uma substância presente em componentes sólidos pela sua dissoluçção em um líquido. É um termo utilizado em vários campos da ciência, tal como a geologia, ciência do solo, metralugia e química. Nas regiões equatoriais, e nas áreas de clima úmido, com abundantes precipitações sazonais, verifica-se, com maior facilidade, os efeitos da lixiviação do solo. Dentre os componentes que são extraídos estão os minerais solúveis, como fósforo, cálcio, nitrogênio, etc.
45
(PGAIM), o qual apresenta como estratégia principal a ”Melhoria da qualidade e
aumento da disponibilidade de água; recuperação de áreas de preservação
permanente; prevenção e fiscalização e educação socioambiental” (PGAIM, 2009,
p.1). Das ações de planejamento e gestão deste programa, destaca-se: integração
continuada para o meio ambienta como as ações nas Bacias hidrográficas/
microbacias; integração entre sujeitos e instituições; condutas que contribuam para a
sustentabilidade; proteção, recuperação e preservação do solo, florestas e águas em
ambientes rurais e urbanos; mobilização para a participação da sociedade havendo
um controle social; reconhecimento e fortalecimento de lideranças socioambientais;
trabalho na multiplicação de agentes para a expansão desta idéia; conversão aos
programas globais como a Carta da Terra, Agenda 21; entre outros (PGAIM, 2009).
2.4.1- Fertilidade do solo
Um solo fértil é um solo vivo, um complexo ecossistema com ciclo de plantas,
bactérias, pequenos animais e reações químicas. Carbono e nitrogênio são dois
elementos químicos básicos aos ciclos ecológicos, além de muitos outros nutrientes
químicos e minerais necessários para os ciclos que equilibram o ecossistema
(CAPRA, 1982).
Com grande variabilidade de suas características físicas, químicas e
mineralógicas, as espécies vegetais diferem na capacidade de absorção e utilização
dos nutrientes, sendo que a partir destas diferenças são determinadas técnicas de
adubação, a qual deve ser considerada como base o resultado da análise de solo,
informações sobre o tipo do solo e as informações de tratos culturais anteriores,
como calagem, adubação, culturas implantadas, os rendimentos obtidos e outras
informações possíveis de se levantar. Assim a recomendação para adubação deve
ser orientada ao que se encontra no solo, interpretando os três níveis: alto, médio e
baixo, conforme mostrado na tabela abaixo (OCEPAR/EMBRAPA, 1989):
46
Quadro 2: Níveis de alguns componentes do solo (método Mehlich para P e K) para efeito da interpretação de resultados de análise química do solo.
meq/100 cm3 solo ppm %
Al +++ K+ Ca++ Mg++ P K+ Saturação C M.O.
Al+++
Muito baixo – – – – – – ‹ 5 – –
Baixo ‹ 0,50 ‹ 0,10 ‹ 2 ‹ 0,4 ‹ 3 ‹ 40 5-10 ‹ 0,80 ‹ 1,50
Médio 0,50-1,50 0,10-0,30 2-4 0,4-0,8 3-6 40-120 10-20 0,80-1,40 1,50-2,50
Alto › 1,50 0,30-0,40 › 4 › 0,8 › 5 120-160 20-45 › 1,40 › 2,50
Muito alto – › 0,40 – – – › 160 › 160 – – Fonte: OCEPAR/EMBRAPA, 1989, p. 13.
Conforme Gomes (1985, p. 85) classifica, “terra ácida é sinônimo de terra
ruim”. Em locais com estas características nascem plantas de pouca exigência
quanto à fertilidade do solo, pois a acidez impede a absorção de muitos nutrientes,
algo que exige uma correção de seu pH25 através da utilização de calcário,
geralmente aplicado de forma mecânica por esparramadeiras (GOMES, 1985).
Terras com solo levemente acidificado se dão melhor para a produção
agrícola, pois diminuindo a acidez para concentrações adequadas à vida das
plantas, há uma elevação da produção da cultura, pois há: a) Diminuição de
elementos tóxicos às plantas que são favorecidos pela terra ácida (Al3+); b)
Aumento da disponibilidade do nitrogênio, enxofre, fósforo entre outros; c)
Disponibilização de cálcio e magnésio, os quais são essenciais às plantas e podem
corrigir possíveis deficiências; d) Melhora as propriedades físicas do solo,
contribuindo ao arejamento, absorção de água e liberação de íons e cátions na
solução do solo (GOMES, 1985).
Das exigências minerais, no que diz respeito à disponibilização dos nutrientes
para as espécies ou determinadas espécies vegetais, são influenciadas por muitos
fatores, como condições climáticas, chuvas, e temperatura, assim como genética
das cultivares de uma mesma espécie, o teor de nutrientes do solo e dos tratos
culturais. Para tanto, alguns trabalhos desenvolvidos possuem quantidades médias
de nutrientes em mil quilogramas de restos culturais de soja, em mil quilogramas de
grãos de soja como mostrado no quadro 2 abaixo (OCEPAR/EMBRAPA, 1989):
25
pH: Refere-se a uma medida que indica se uma solução líquida é ácida (pH < 7, a 25 °C), neutra (pH = 7, a 25 °C), ou básica/alcalina (pH > 7, a 25º C). Uma solução neutra só tem o valor de pH = 7 a 2 °C, o que implica variações do valor medido conforme a temperatura.
47
Quadro 3 – Quantidade de nutrientes absorvida pela cultura de soja
(Kg/ha) Kg/ha g/ha
N P2O5 K2O S Ca Mg B Cl Mo Cu Fe Mn Zn Co Al
Grãos 1.000 51 10 20 5,4 3,0 2,0 200 237 5 100 700 300 400 – 15
Restos 1.000 32 5,4 18,0 10,0 9,2 4,7 – 23 2 – – – – – 172
culturais
Fonte: OCEPAR/EMBRAPA, 1989, p. 16.
Para cálculo do custo para aplicar adubos organo-minerais, deve ser com
base nos teores de P2O5 e K2O, baseados pelas análises existentes na legislação
regulamentadora do comércio destes produtos. O quadro 3 associa a análise do solo
e o conhecimento técnico da área a ser utilizada, indicando a necessária da
diversificação de fórmulas dos adubos, conforme ao que seja necessário. Desta
forma a aplicação dos três nutrientes de grande importância (N, P, K) poderão ser
realizados de acordo com o referido quadro:
Quadro 4 - Recomendação de adubação para soja no Estado do Paraná.
Análise do solo Solos cultivados No.1 Solos de uso recente No.2
P K N P2O5 K2O N P2O5 K2O
Baixo 0 40 - 50 60 0 90 - 100 45 Baixo Médio 0 40 - 50 45 0 90 - 100 35 Alto 0 40 - 50 30 0 90 - 100 15 Muito Alto 0 40 - 50 0 0 90 - 100 0
Baixo 0 30 - 40 60 0 60 - 70 45 Médio Médio 0 30 - 40 45 0 60 - 70 30 Alto 0 30 - 40 30 0 60 - 70 15 Muito Alto 0 30 - 40 0 0 60 - 70 0
Baixo 0 20 - 30 60 0 40 - 50 45 Alto Médio 0 20 - 30 45 0 40 - 50 30 Alto 0 20 - 30 30 0 40 - 50 15 Muito Alto 0 20 - 30 0 0 40 - 50 0
Fonte: Adaptado de OCEPAR/EMBRAPA, 1989, p. 18.
Vários fatores determinam a disponibilidade de nutrientes para as plantas no
solo, entre eles está o valor do pH da solução, a qual mostra a concentração de íons
de hidrogênio na solução. Desta forma, a figura 6 mostra a disponibilidade de
nutrientes em solos excessivamente ácidos em que ocorre a diminuição da
disponibilidade de fósforo, cálcio, magnésio, potássio e molibdênio, havendo, no
48
entanto, o aumento da solubilização de íons como, zinco, cobre, ferro, manganês, e
alumínio, que dependendo do manejo usado no solo e da adubação, chegam a
níveis de toxidez às plantas (OCEPAR/EMBRAPA, 1989).
Figura 6: Tendência da disponibilidade de diversos elementos no solo e a relação com o pH.
Fonte: Adaptado de OCEPAR/EMBRAPA, 1989, p. 13.
2.4.1.1 – Necessidade de calagem
A Necessidade de Calagem (NC) é na realidade uma relação entre saturação
de bases do solo, a capacidade de troca catiônica26 (CTC) e, o poder relativo de
neutralização total (PRNT) do calcário. Assim é importante notar que ela (NC) não
explicada diretamente o baixo pH do solo, mas as conseqüências negativas que ele
pode causar ao sistema radicular da planta cultivada, como a liberação de
elementos tóxicos na solução do solo e, que são trocados por outros necessários
para a planta, podendo intoxicá-la ou impedindo o seu desenvolvimento normal
26 Capacidade Total Catiônica: É a quantidade total de cátions que um solo, ou algum de seus constituintes, pode adsorver e trocar a um pH específico. No solo, a CTC é devida à superfície específica e às cargas inerentes ou acidentais de colóides eletronegativos, como os minerais de argila, a sílica coloidal e o húmus.
49
(EMBRAPA, 2003). Em geral, valores de pH (em H2O) do solo abaixo de 5,5 podem
condicionar graves problemas de toxicidade de alumínio para as plantas. O “efeito
concentrador” de carga negativa, que pode tomar lugar tanto na parede celular como
na membrana plasmática, é maior para cátions mais carregados, como o Al3+
(MACHADO, 1997, p. 4).
Há mais de uma forma para determinar a quantidade de calcário a ser
aplicada ao solo, como exemplo os métodos da Neutralização do Al3+ e suprimento
de Ca2+ e Mg2+ e da Saturação de bases do solo.
Para o cálculo do PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total),
principalmente nos Estados do sul do Brasil, utiliza-se o método o qual mede a
eficiência de calcários conjugando o poder de neutralização total com a eficiência
relativa de partículas de diferentes tamanhos, reconhecendo a granulometria como
fundamental na ação dos calcários. Ela é facilitadora da reação corretiva da acidez.
Os cálculos da eficiência em geral limitam-se a considerar a composição química
(RAIJ,1977).
Assim a qualidade dos calcários agrícolas depende fundamentalmente das
características do teor de neutralizantes e granulometria. Esses parâmetros são
possíveis de serem determinados, porém, separadamente e sem avaliar
seguramente a qualidade dos calcários agrícolas, dificultando um uso totalmente
racional considerando a sua qualidade nas recomendações de calagem
(BELLINGIERI; ALCARDE; SOUZA, 1988).
De acordo com Raij (1977) a classificação do pior calcário, o PRNT é de 52,3
% e, do melhor, PRNT de 93,8%. Assim, a ação dele no solo deverá ser bem diverso
sobre a acidez, sendo que se para o primeiro fosse necessário 1,8 ton./ha, o
segundo seria necessário 1 ton./ha para o mesmo efeito corretivo no solo.
2.4.2 – Agrotóxicos
O conceito de agrotóxico na legislação brasileira está descrito no artigo 1o,
inciso IV do Decreto n. 4.074 de 2002 que regulamenta a Lei n. 7.802 de 1989:
Art. 1o . Para os efeitos deste Decreto, entende -se por: IV - agrotóxicos e afins - produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens,
50
na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores decrescimento.
Quando se iniciou a revolução verde27, ocorreram diversas e profundas
mudanças no trabalho tradicional da agricultura, momento em que tecnologias
baseadas no uso extensivo de agentes químicos começavam a ser adotados. Então
começaram a aparecer os impactos no ambiente e na própria saúde humana. Estes
agroquímicos objetivavam a proteção das lavouras contra doenças e pragas para
melhorar a produção. Porém, foi esquecida qualificação da força de trabalho nos
países que os manuseavam, ocorrendo contaminação nas zonas rurais que
passaram para as urbanas, podendo atingir a massa da população por
determinantes culturais, sociais e econômicos (MOREIRA et al, 2002).
No princípio de seu uso, um pequeno número de compostos inorgânicos
envolvendo os elementos químicos como o cobre e o arsênio, visava aumentar a
provisão de alimentos após a Segunda Guerra Mundial e a explosão demográfica
mundial. Com a procura de produtos mais “eficientes” para o aumento produtivo de
alimentos, foram introduzidos os primeiros produtos orgânicos para agir como
agrotóxico, destacando a ação do dicloro-difenil-tricloroetano (DDT). Mais tarde
conheceu-se melhor a atuação dos químicos organoclorados no meio ambiente e
junto à saúde do homem, o que motivou a mudança para agrotóxicos inibidores da
acetilcolinesterase. Assim, os organoclorados, até aquele momento, cumpriam o
papel de controle de pragas, sendo substituídos por agrotóxicos organofosforados e
carbamatos 2,3 (VEIGA, M. M. et al, 2006).
De acordo com Capra (1982, p. 246) “o uso maciço de fertilizantes e
pesticidas químicos mudou toda a estrutura básica da agricultura e da lavoura”.
Ainda a indústria investiu na persuasão dos agricultores para lucrar nos campos com
o argumento de controle de parasitas e pragas com produtos químicos e aumento de
27
Revolução verde: É a criação e disseminação de novas tecnologias para o aumento da produção agricola como: sementes, práticas que permitem aumento na produção em países menos desenvolvidos, principalmente nas décadas de 1960 e 1970. Este é um amplo programa idealizado para aumentar a produção agrícola no mundo por meio do 'melhoramento genético de sementes, tecnologia de plantio, de colheita, uso intensivo de insumos industriais, irrigação, mecanização e redução do custo de manejo através do gerenciamento da produção.
51
produção. Assim, como fez a indústria farmacêutica junto aos médicos e pacientes,
Capra (1982) diz que a indústria petroquímica também vem trabalhando junto aos
agricultores e profissionais da área, para que periodicamente sejam adicionados
químicos no solo para manter sua produção.
Polemicamente colocado por Almeida (2002), este modelo de produção pode
gerar tanto impactos negativos à saúde dos homens, quanto problemas ao meio
ambiente quando comparados aos benefícios de aumento de produção nas lavouras
(VEIGA, M.M et al, 2006). O mais difundido na população mundial foi o DDT
(diclorodifeniltricloroetano), sendo este inseticida responsável por disfunções
reprodutivas em animais superiores. Assim, a intensa atividade da indústria
agricultura no século XX, começou a contaminar o ar, água e solos através dos
resíduos químicos (ALMEIDA, 2002).
O Brasil é hoje um dos maiores mercados mundiais de uso de agrotóxicos.
Em pesquisa desenvolvida por Farial, Rosal e Facchinill (2009, p.336) “noventa e
cinco por cento de estabelecimentos rurais usavam agrotóxicos com freqüência” na
Serra Gaúcha devido à agricultura familiar. Mesmo com o uso intensivo destes
produtos, oficialmente os registros de intoxicações de casos agudos são limitados e
quase inexistentes para os casos crônicos. O órgão oficial e responsável para
notificação de intoxicações por agrotóxicos é o Sistema Nacional de Notificação de
Agravos (SINAN), porém na prática, o mais utilizado é o Sistema Nacional de
Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), o qual registra principalmente os
casos mais graves, com uma relação de oito casos anuais/cem mil habitantes, com
uma predominância de tentativas de suicídio (FARIAL; ROSAL; FACCHINILL, 2009).
Segundo Veiga, M.M et al (2006), já existe uma relação direta entre
produtividade agrícola e degradação ambiental, com danos à saúde humana pelo
uso excessivo de agrotóxicos. Há uma dificuldade de prever com exatidão os efeitos
adversos deste produto ao meio ambiente, pois depende das características
químicas do produto, da quantidade absorvida ou ingerida e exposta ao ambiente ou
indivíduo, como da saúde, resistência e constituição física e da saúde geral.
A avaliação dos riscos de contaminação do meio ambiente por via dos
agrotóxicos apresenta certa dificuldade de identificação, pois podem ser
persistentes, móveis e tóxicos ao solo, água e ar. Tendem a acumular no solo, na
52
biota28, podendo chegar aos sistemas superficiais por deflúvio superficial pelo
runoff,29 como no subterrâneo por lixiviação. A contaminação indireta do meio
ambiente também está presente, com a eliminação de predadores naturais e
microorganismos que potencializam a ação biocida dos produtos. Os efeitos podem
ser crônicos e interferir na expectativa de vida de animais, insetos e
microorganismos, afetando o crescimento, a fisiologia e a reprodução dos mesmos e
afetar até mesmo a alimentação, o habitat e conseqüentemente a biodiversidade.
Com o uso constante destes produtos, ocorre uma resistência dos insetos alvos,
havendo a necessidade do acréscimo das doses, para que cumpram os mesmos
objetivos anteriores (VEIGA, M.M; SILVA, D. M.; VEIGA, L. B. E, 2005).
É sabido que os agrotóxicos afetam a dinâmica dos ecossistemas como o
processo de quebra da MO, respiração do solo, ciclo de nutrientes e eutrofização30
de águas. No entanto pouco se sabem do processo de degradação destes produtos
no meio ambiente, por isso a preocupação da forma de aplicação, transporte,
armazenagem e descarte dos agrotóxicos, para evitar a contaminação de
mananciais e águas e, por conseqüência, a contaminações em massa. (VEIGA,
M.M; SILVA, D. M.; VEIGA, L. B. E, 2005).
28 Biota: conjunto de seres vivos de um ecossistema, o que inclui a flora a fauna, fungos e outros grupos de organismos. 29 Runoff: É o escoamento da água ou de uma mistura que esteja na superfície do solo em excesso, ou mesmo no subsolo, a qual será deslocada de acordo com a gravidade local como córregos, rios ou lençóis de água. 30
Eutrofização: O termo vem do grego "eu", que significa “bom, verdadeiro” e "trophein", “nutrir”. Assim, “eutrófico” significa "bem nutrido" e opõe-se a oligotrófico, a situação contrária em que existem poucos nutrientes na água, como acontece em geral, nas águas oceânicas. Este fenômeno é causado pelo excesso de nutrientes (compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio) numa massa de água, provocando um aumento excessivo de algas. Por sua vez, estas aumentam o desenvolvimento do consumo primário e, eventualmente, de outros elementos da cadeia alimentar desse ecossistema. Este crescimento de microorganismos geralmente diminui a quantidade de oxigênio no ambiente desta água, Provocando morte e decomposição de muitos microorganismos, afetando de forma negativa a qualidade da água e alterando este ecossistema. É comum a ocorrência deste fenônemo em atividades humanas como as industriais, domésticas e agrícolas. Exemplo: contaminação por fertilizantes, agrotóxicos, etc.
53
2.4.3 – Combate à erosão hídrica
Com tudo que foi visto acima, o combate à erosão é algo essencial para
conservação ambiental, diminuição de perdas econômicas e combate a problemas
na saúde animal e principalmente do homem. Com respeito às perdas podem ser de
solo, nutrientes, corretivos, fertilizantes, sementes, das condições naturais,
produção, combustível, equipamentos e de sua manutenção. Ainda há os riscos de
assoreamento de rios, contaminações do solo, água, animais e do próprio homem
pelo transporte de materiais pela erosão.
O processo erosivo causado pelas chuvas atinge praticamente toda a
superfície da terra, principalmente nas áreas de clima tropical em decorrência ao
elevado índice pluviométrico nestas regiões. Em locais desmatados para exploração
de madeira ou agrícola, os solos desprotegidos de cobertura vegetal, potencializam
à susceptibilidade à erosão. Para combater de forma eficaz e eficiente, Guerra
(2010) recomenda conhecer bem as práticas conservacionistas do solo, bem como o
desenvolvimento do processo erosivo nos diferentes tipos de solo e seus estágios
de formação desde o princípio das chuvas (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2010).
Guerra propõe que áreas de risco quando devidamente identificadas sejam
apoiadas pela legislação de proteção ambiental, com o objetivo de prevenir e
controlar erosão por ravinas e/ou voçorocas. Ravinas são incisões de menos de
cinqüenta centímetros e voçorocas com mais de cinqüenta. Assim, somando a ação
das águas superficiais e subsuperficiais, com o aprofundamento dos sulcos até
atingir o lençol freático, forma-se a voçoroca diferindo da chamada ravina apenas
pela profundidade menor (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2010).
2.4.4 – Manejo integrado de pragas
Para que se tenha uma menor contaminação ambiental pelo consumo de
agrotóxicos e, de seus efeitos negativos contra os ecossistemas, o manejo integrado
de pragas é um grande aliado, pois como é sabido, a planta tem uma capacidade de
suportar o ataque de determinado número de insetos sem que este dano venha
prejudicar a sua produção de forma definitiva. Se há um ataque no começo do
desenvolvimento da planta, ou seja, antes do florescimento, a soja, por ser o
54
exemplo estudado, sabe-se que suportará mais pela razão de possuir nesta fase
muita energia para soltar mais folhas. Assim pode ser feito um levantamento em
campo para saber como está a desfolha da lavoura, e a quantidade de lagartas e
percevejos recolhido em uma batida-de-pano31 (EMATER, 1988). Desta forma, o
Manejo Integrado de Pragas sugere o momento de aplicação de defensivos, quando
o dano ou a número de pragas está no limite para que seus inimigos naturais não
consigam controlá-los. Para este controle é necessário conhecer primeiramente as
pragas, os inimigos naturais, o momento em que as pragas podem prejudicar a
lavoura e, avaliar quantas pragas está atacando e seu volume de dano para o
controle dela (EMATER, 1988).
Assim, segue um resumo das principais pragas para a cultura da soja:
a) Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), com falsas pernas vestigiais no abdômen
e se locomovem medindo palmos. Não confundir com as falsas-medideiras.
Coloração geral é verde, com estrias longitudinais brancas no dorso. Em alta
população ou escassez de alimento torna-se escura, podendo atingir quarenta
milímetros (40mm) de comprimento.
b) Percevejo verde (Nezara viridula): Devido à temperatura adaptou-se melhor na
região sul. Adulto com cor verde e tamanho de até quinze milímetros (15mm). Seu
prejuízo às plantas começa no terceiro ao quinto instar larval32, quando sugam os
grãos de soja.
c) Percevejo pequeno (Piezodorus guildinii): Ampla distribuição geográfica chegando
ao norte e nordeste do Brasil. Adulto com aproximadamente dez milímetros (10mm)
de comprimento e cor verde amarelada. Apresenta uma listra transversal marrom
avermelhada na parte dorsal do tórax próximo à cabeça. É no terceiro ao quinto
31
Batida-de-pano: Método de vistoria para verificar o ataque de pragas na lavoura de soja para o seu manejo integrado. É um artefato constituído de um metro de pano por 80 centímetros de largura, com duas varas de um metro e meio para poder suportar o pano e colocá-lo na rua da plantação. Cobre-se bem o chão entre as duas fileiras de soja e, abaixam-se as plantas de fora para dentro em cima do pano e bate-se nas plantas de forma firme para derrubar todas as pragas no pano. Depois se contam as pragas e anota-se em uma ficha de controle. No mesmo local da batida-de-pano é avaliado quantos por cento das folhas foram danificadas pelas lagartas. Verifica-se também o quanto os ponteiros foram atacados em 2 metros em linha da plantação, quantas plantas foram atacadas nestes dois metros e, posteriormente faz-se a porcentagem das plantas atacadas. Para saber quantas batidas é necessário dar na área, uma lavoura de até 10 ha é feito 6 pontos, 10 a 30 ha em 8 pontos, 30 e 100 ha 10 pontos, mais de 100 ha divide-se em talhões de 100 ha. 32
Ínsteres-larvais: Estágio de desenvolvimento dos insetos.
55
instar larval prejudicial à soja. Prejudica qualidade das sementes e causa retenção
foliar à cultura da soja.
d) Percevejo marrom (Euschistus heros): Adaptado para climas mais quentes (norte
do Paraná ao Centro Oeste do Brasil). Coloração marrom-escura, com
prolongamentos laterais em forma de espinhos na parte da frente de seu corpo.
Danos às sementes entre o terceiro e o quinto instar, quando atingem de cinco a dez
(5 a 10mm) milímetros.
Observação: Esclarece-se que há outras pragas que podem infestar a cultura da
soja, mas são classificadas como secundários e/ou esporádica (HOFFMANN-
CAMPO et al, 2000).
O manejo integrado reduz o uso de inseticidas e mantém no campo os
inimigos naturais para combater os insetos predadores. Abaixo segue os principais
inimigos naturais das pragas citadas acima citadas (EMATER, 1988; HOFFMANN-
CAMPO et al, 2000):
a) Fungos: atacam diversas espécies de pragas, sendo o mais conhecido o
Nomuraea rileyi que ataca as lagartas de várias espécies e causa a Doença Branca,
quando há alta umidade do ambiente (> 80%). Pode dizimar as populações de
lagartas. Seus esporos se espalham com o vento e infectam outros insetos. Além
das lagartas podem infectar os percevejos, por exemplo;
b) Vírus: Baculovírus da lagarta-da-soja Baculovirus anticarsia, é mortal para as
larvas de A. gemmatalis, morrendo cerca de sete dias após a infecção. Fica presa
ao substrato apenas pelas falsas pernas. O seu corpo se rompe e libera grande
quantidade do vírus na cultura em poços dias, contaminando as populações
subseqüentes;
c) Predadores: podem ser de duas ordens: Hemípteros e Coleópteros, os quais se
alimentam de diversas pragas;
d) Parasitas: mais comuns das ordens Diptera e Hymenoptera. Ovoposição nos ovos
ou nas formas jovens ou adultas. Alimenta-se dos tecidos internos do hospedeiro
sem causar sua morte imediata.
Para o controle das principais pragas da soja são recomendados alguns
procedimentos (HOFFMANN-CAMPO et al, 2000; EMATER, 1988):
1) Lagartas-da-soja (Anticarsia gemmatalis) Controle:
a) Antes da floração – Trinta por cento (30%) das folhas destruídas e mais de
quarenta (40) lagartas na média dos pontos de amostragem;
56
b) Depois da floração – quinze por cento (15%) das folhas destruídas ou mais de
quarenta lagartas na média dos pontos de amostragem. Observação: para os dois
casos acima, considerar apenas lagartas com mais de um e meio (1,5 cm)
centímetros, ou seja, lagartas grandes.
Controle biológico por baculovírus: Cinqüenta (50) lagartas grandes doentes
aplicam-se em um (1) ha ou meio (0,5) alqueire de soja. Coletam-se lagartas mortas
(cor amarelada) para o controle biológico. Lagarta morta na cor preta, o vírus não
funcionará mais. O modo de preparo para 1ha: a) Cinqüentas lagartas grandes
infectadas (mais de 3 cm), ou vinte (20g) gramas; b) bater no liquidificador com água
e coar com gaze; c) aplicação de vinte gramas por ha (20 g/ha). Como pó
molhável: vinte gramas de lagarta mortas e infectadas com no mínimo quinze (15
l/ha) litros de água, ou cinco (5 l/ha) litros de óleo não refinado de soja. Geralmente
a aplicação do baculovírus controla a lagarta por toda a safra.
Controle biológico pela bactéria Bacillus thuringiensis: possui toxinas que paralisam
o intestino do inseto. As lagartas contaminadas param de se alimentar, algumas
horas após a ingestão do produto, e morrem poucos dias depois (HOFFMANN-
CAMPO et al, 2000).
2) Broca-dos-ponteiros: controle após encontrar trinta por cento (30%) ou mais de
plantas com o ponteiro atacado. Lagartinha que fica escondida dentro dos brotos,
Não cai na batida-de-pano. Examina-se a parte superior das plantas para ver se tem
ataque. Contar o número de ponteiros atacados em dois metros de linha, depois
contar o número de plantas nestes dois metros de linha para tirar a porcentagem.
3) Percevejos – prejuízo à soja quando atacam na formação das vagens ou na
formação dos grãos. Se os galhos da soja já estiverem amarelos, sua presença já
não causa mais prejuízo. Controle somente quando encontrar quatro (4) percevejos
na média dos pontos amostrados nas batidas (HOFFMANN-CAMPO et al, 2000).
O controle químico deve ser realizado somente se os inimigos naturais não
estiverem conseguindo cumprir o seu papel sozinho, ou seja, quando for observado
um aumento do número de pragas ou de desfolhamento no limite em que as plantas
não possam suportar (EMATER, 1988). O quadro 4 resume os índices de infestação
no controle das principais pragas da lavoura de soja no campo.
57
Quadro 5 – Infestação para controle para as principais pragas da soja
Fonte: EMBRAPA soja
Além do manejo integrado de pragas existe o Manejo Integrado de Pragas do
Grão, conhecido como MIPGRÃO33. Alguns dos problemas que podem ser gerados
por tais pragas é a presença de fragmentos de insetos, deterioração da massa de
grãos, contaminação fúngica, presença de micotoxinas, efeitos na saúde humana e
animal, dificuldades para a exportação dos produtos e dos subprodutos devido aos
riscos que possam causar, resultando em perdas quantitativas e qualitativas do que
foi colhido. Estes problemas podem seguir em toda a cadeia do grão, finalizando na
mesa do consumidor (DE MORI; LORINI, 2007).
De acordo com De Mori e Lorini (2007), além dos impactos na cadeia
produtiva, o MIPGRÃO gera impactos econômicos positivos como a valoração do
produto ofertado, a racionalização de uso de inseticidas, o aumento da duração do
33
MIPGRÃO: Manejo Integrado de Pragas do Grão Armazenado que consiste em tratamento preventivo, com base no preparo dos armazéns para receber os grãos. Há pragas que se reproduzem na poeira e em resíduos de grãos, que podem ser evitado pela higienização do local. Este manejo consiste em (a) mudança no comportamento dos armazenadores na fase inicial e um acompanhamento responsável durante o período; (b) conhecer a unidade armazenadora dos grãos, com acompanhamento da chegada à expedição; (c) limpeza e higienização da unidade armazenadora; (d) identificação de pragas; (e) potencializar a destruição de cada espécie de praga; (f) proteção do grão com inseticida; (g) tratamento curativo sempre que houver presença de pragas e, (h) constante monitoramento da massa de grãos.
58
período entre tratamentos preventivos e curativos, obtendo uma conseqüente
manutenção da imagem do produto e da organização. Sabe-se também que pode
resultar a redução de custos em até 60%, como foi constado em estudos.
No aspecto ambiental esta tecnologia tem grande alteração na redução na
emissão de material particulado e odores na atmosfera, sendo que com a diminuição
de transilagens e de tratamentos químicos, há uma redução de uso de produtos
químicos e emissão de partículas de pó. Com a implantação do MIPGRÃO a
manutenção da limpeza descartou o uso de túneis e galerias de tratamento (DE
MORI; LORINI, 2007).
2.5 – Soja
Uma leguminosa34 herbácea anual com alto teor protéico em seus grãos
(trinta e oito por cento) com fácil adaptação climática e de fotoperíodo. Seu nome
científico é Glycine max (L.) Merril, ou ainda Glycine hispida com inúmeras
variedades e cultivares. Classificada como uma das principais oleaginosas do
mundo. Foi introduzida no Brasil no ano de 1908 por imigrantes japoneses nos
Estados da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) (BARRETO,
2004).
[...] apenas a partir da década de 1970 observou-se o crescimento da sua produção no país. De 1970 a 1979 a sojicultura se expandiu na região tradicional, isto é, onde se iniciou sua cultura (Região Sul e São Paulo), devido a fatores como: condições edafo-climáticas favoráveis, boa infra-estrutura (sistema viário, portuário, comunicações), o estabelecimento de uma articulada rede de pesquisa de soja (BARRETO, 2004, p2).
A Revolução Verde contribuiu muito na produção e desenvolveu práticas
culturais específicas, as quais podem minimizar impactos gerados pela sojicultura e
no meio ambiente, de onde podemos destacar o Plantio Direto e a Rotação de
Culturas. Quando realizado o Plantio Direto sem o uso de herbicidas, considera-se
uma prática realmente conservacionista, conforme citado por Barreto (2004).
34
Leguminosas: São plantas que produzem as suas sementes em vagens e que realizam simbiose com as bactérias do gênero Rhizobium, produzindo nódulos nas raízes destas plantas e, estas bactérias possuem grande importância no ciclo do nitrogênio, convertendo o nitrogênio atmosférico em amônia é liberando ao solo para aproveitamento de outras plantas.
59
2.6- Processo agroindustrial de transformação da soja em óleo refinado
Inicialmente é muito importante destacar que para a instalação de uma
agroindústria é necessário satisfazer algumas exigências legais, como o caso da
Resolução CONAMA 237/97, a qual reza sobre o seguinte conceito do licenciamento
(TCU, 2007):
Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras; ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (TCU, 2007, p.10).
Abaixo segue o rol de algumas atividades e de empreendimentos que
necessitam de licenciamento ambiental para seu funcionamento. É lembrado que
todos os custos relativos a esta licença correm por conta do empreendedor (TCU,
2007)
Indústria de produtos alimentares e bebidas: [...] beneficiamento, moagem, torrefação e fabricação de produtos alimentares; refino/preparação de óleo e gorduras vegetais; fabricação de bebidas não alcoólicas, bem como engarrafamento e gaseificação de águas minerai; [...] (TCU, 2007, p.49).
Na agroindustrialização do grão de soja há as resultantes desta
transformação industrial, gerados através da trituração dos grãos em óleo bruto, a
torta e a farinha, que a partir destes é produzida a lecitina de soja, óleo alimentício,
margarina, gorduras emulsionadas, leite de soja, queijo de soja, molho de soja e as
Proteínas Vegetais Texturadas (PVT), das quais são utilizadas com o fim de
substituir a carne animal (BARRETO, 2004).
O óleo de soja é o tipo de óleo mais consumido no mundo, sendo o seu
concorrente direto o óleo de palma. No Brasil há diversos incentivos para a produção
e comercialização deste óleo. Aqui são produzidas as seguintes qualidades: bruto,
refinado comestível, refinado industrial e lecitina. O Refinado apresenta-se com cor
levemente amarelado, límpido com odor e sabor suave característico. Sua utilização
é alimentício como óleo de cozinha, tempero de saladas, produção de margarinas,
gordura vegetal, maionese, entre outras. Sua grande vantagem sobre os outros
60
óleos é devida seu baixo preço aliado com sua qualidade alimentícia. Como
comparação de sua qualidade, a carne de vaca e de peixe fornece dezoito por cento
de proteína, enquanto que as sementes de soja contêm quarenta por cento
(Campestre, 2010).
A aplicação do óleo de soja além da alimentação humana pode ser aplicada
na indústria cosmética, farmacêutica, veterinária, ração animal, industrial na
produção de vernizes, tintas, plásticos, lubrificantes e outros (Campestre, 2010).
2.6.1- Recepção e armazenamento da soja
Os grãos recebidos pela agroindústria são avaliados por amostragem nos
aspectos umidade, pureza (materiais estranhos à soja), grãos quebrados, avariados
e ardidos. Antes da armazenagem é realizada a Pré-Limpeza.
A condição da armazenagem da soja é de fundamental importância, pois
afetam diretamente na qualidade do produto final. Quando armazenadas em más
condições, podem ocorrer problemas como o aquecimento da semente por
fermentação e podem chegar até mesmo à carbonização caso esteja com umidade
acima da crítica (13%), podendo ocasionar o aumento da acidez, com
escurecimento do óleo da semente e dificultando o refino e clarificação. Tais
modificações afetam o sabor e o aroma dos farelos e óleos, modificações estruturais
com diminuição do índice de iodo depois da armazenagem prolongada da semente
(MANDARINO; ROESSING, 2001).
2.6.2- Preparação para a produção de óleo
Depois de limpar e separar as polpas ou cotilédones dos tegumentos ou
cascas ocorre o descascamento, sem que aí, os grãos sofram pressão para não
haver perda de parte do óleo por migração da polpa para a casca. Esta casca, no
geral, é queimada para a geração de calor pelas caldeiras. Os descascadores são
batedores ou facas giratórias com peneiras vibratórias e insuflação de ar. Os
cotilédones ou poupas após estarem separadas e descascadas, sofrem um
aquecimento entre cinqüenta e cinco e sessenta graus Celsius (50 e 60º C).
61
A trituração e a laminação diminuem o volume do grão, momento que começa
a extrair o óleo. Podem-se utilizar rolos de aço inoxidável horizontais e oblíquos,
para o esmagamento. Com posterior desidratação para ativação das enzimas
celulares, como a lípase e a peroxidase, geram efeitos negativos à qualidade do
óleo e da torta, devendo ser efetuado o mais rápido possível.
O seu posterior cozimento facilita a saída do óleo nas bandejas sobrepostas e
aquecidas (4 a 5 unidades), utilizando vapor direto com rápida elevação da
temperatura ou, indiretamente, quando o aquecimento é realizado por vapor na
camisa do cozedor. Em temperaturas e a umidade que chegam aos flocos de
setenta a cento e cinco graus e vinte por cento de umidade. Este processo aumenta
a permeabilidade das membranas celulares e facilita a saída do óleo com a
diminuição de sua viscosidade e da tensão superficial. O cozimento ainda coagula e
desnatura parcialmente as proteínas, fazendo inativação das enzimas lipolíticas,
diminuindo a produção de ácidos graxos livres e o conteúdo de composto de enxofre
(MANDARINO; ROESSING, 2001).
2.6.3- Extração do óleo bruto
Nas antigas plantas de extração de óleo, prensas contínuas ou “expelers”
(figura 7) é seguida a extração por meio de solventes orgânicos. Este método
dissolve o óleo residual e deixa a torta que saiu da prensa praticamente sem óleo.
Depois o solvente é separado do óleo e, este último, é colocado junto ao óleo bruto
que foi extraído da prensagem. Este óleo é filtrado para retirar impurezas mecânicas
arrastadas pelas partículas de grãos. A torta final (farelo) extraída contém menos de
um por cento (1%) de óleo, que é novamente submetido a uma moagem ou
armazenado em sacos ou silos. Nos processos mais modernos são utilizados flocos
colocados diretamente em extratores onde o óleo extraído é diretamente realizado
por força do solvente orgânico (MANDARINO; ROESSING, 2001).
Na prensagem mecânica os grãos entram na prensa ou “expeler” (figura 7)
por um eixo alimentador, formado por barras de aço regulares e distanciado por
lâminas. Este distanciamento permite que o óleo possa sair enquanto é triturado e
filtrada as partículas do resíduo da prensagem. No centro há um “tipo” de cesto em
62
forma de rosca que movimenta e comprime o material para frente ao mesmo tempo,
podendo alcançar uma pressão de duzentas atmosferas por cm2.
Figura 7 - Prensa contínua “Expeller”: 1- Motor elétrico/ 2- Redutor/ 3- Entrada dos grãos condicionados/, 4- Rosca helicoidal/ 5- Cesto/ 6- Cone de saída/ 7- Saída do farelo ou torta.
Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.15.
A extração pelo uso de solvente orgânico utiliza atualmente o hexano com
ponto de ebulição aproximado de setenta graus Celsius (70º C). Os flocos laminados
após passar pelo extrator são submetidos a duas formas para a retirada do óleo: 1)
Dissolução: rápido e fácil; 2) Difusão: mais demorada, por depender da mistura do
óleo e do solvente através da parede celular semi-permiável. O subseqüente
desengorduramento dos grãos laminados na parte inicial é muito rápido,
decrescendo no decurso do processo. A quantidade de óleo no farelo após a
extração é em torno de zero vírgula cinco a zero vírgula seis por cento (0,5% a
0,6%) (MANDARINO; ROESSING, 2001).
A solução do óleo com o solvente é chamado de miscela e, o fator que define
a velocidade da extração no processo é a obtenção do equilíbrio entre óleo-miscela-
solvente. A escolha do hexano como solvente satisfaz uma série de exigências
como dissolver o óleo com facilidade sem que venha agir com outros compostos dos
grãos, possuir composição homogenia na faixa da temperatura de ebulição, não se
63
misturar com água com a qual não forma azeótropos35, ter baixo calor latente de
ebulição, porém, apresentam desvantagens como alta inflamabilidade e alto custo.
Para um futuro, pensa-se na possibilidade da utilização industrial do etanol
(MANDARINO; ROESSING, 2001).
Na extração semi-contínua geralmente utiliza-se uma seqüência de três a seis
extratores com tanques para coleta do óleo. O solvente se movimenta no fluxo
contrário do material trabalhado. Neste sistema o rendimento é relativamente baixo e
é exigido mais mão-de-obra.
A extração contínua é da década de 1950 no Brasil e com “know how”
estrangeiro. A exceção é o sistema “CODIC” que contém roscas em posições
inclinadas com seu início alargadas e vão afinando, sendo que a torta proveniente
da pré-prensagem mergulhada em solvente ou miscela que é encaminhada por
movimento espiral para o extrator seguinte. É de montagem fácil e custo
relativamente baixo e a mão-de-obra empregada é menor que na extração semi-
contínua. Problemas identificados: presença de impurezas em quantidade
excessiva.
Sistema “LURGI” utiliza uma esteira horizontal munida de “semicanecas” que
se movimentam independente por uma tela ou chapa perfurada. No fim do percurso
omaterial cai e retorna ao início. O solvente e a miscela são injetados na esteira
superior e à tela inferior, extraindo por completo ao final do curso. Posteriormente
são transportados para secadores ou dessolvedores. Já o extrator “MIAG” é muito
semelhante a este, porém são utilizadas canecas inteiras.
O sistema “SMET” utiliza esteira também e baseia-se em chuva de solvente.
Método muito utilizado no Brasil. Por esteira o material é levado para extração por 35 Azeótropos: Mistura de duas ou mais substâncias que, em certa composição, possui um ponto de ebulição constante e fixo, como se fosse uma substância pura, não podendo, com isso, seus componentes serem separados por processo de destilação simples. Misturas comuns não têm ponto de ebulição constante mas sim uma faixa de temperaturas na qual ocorre a mudança de fase, e nesse sentido, o azeótropo é diferente, pois seu ponto de ebulição é fixo. Um azeótropo pode ferver a uma temperatura inferior, intermediária ou superior às temperaturas dos componentes da mistura quando puros. Quando é inferior, chama-se azeótropo de mínimo ponto de ebulição ou azeótropo negativo. Quando é superior, azeótropo de máximo ponto de ebulição ou azeótropo positivo. Outra característica de um azeótropo é que a composição do líquido azeótropo e do vapor em equilíbrio com tal líquido é a mesma. Por exemplo, se um azeótropo é composto de duas substâncias, A e B, com proporções respectivas de 60% e 40%, quando vaporizado resulta em um vapor com os mesmos 60% de A e 40% de B. 35 Terra diatomácea: Utilizado em um método de filtração para clarificar produtos. Normalmente, a filtração é procedente da filtração grosseira por meio de separadores, decantadores, ou tanques de repouso, para o polimento final por terra diatomácea (DE) ou inserção de outros meios filtrantes. Terra branqueadora. Também é utilizada em armazenagem de grãos com efeito inseticida.
64
diversos atomizadores de solvente. Abaixo da esteira há os receptáculos de miscela,
que é centrifugado e alimenta o atomizador, quando ocorre a seção de escorrimento
de miscela. Ao sair o material, a esteira é limpa continuamente por meio de uma
escova cilíndrica e rotatória. A miscela sai praticamente livre de finos e pode ser
dispensada a filtração deste material.
O último é o sistema “ROTOCEL” que constitui um cilindro dividido em
setores, onde é coloca a matéria-prima (os flocos), mantendo-a em baixa rotação. A
miscela mais concentrada está no início e, posteriormente, vêm as mais diluídas até
a entrada do solvente puro, quando cai a torta e o farelo em uma tela para ser
transferido para o dessolventizador. Este modelo ocupa menor espaço que outros
extratores contínuos. Neste processo a miscela é filtrada para a retirada de finos e
encaminhar ao destilador contínuo, onde o óleo separado do solvente é aquecido a
setenta a noventa graus Celsius (70 a 90º C) sob vácuo, reduzindo o solvente do
óleo à aproximadamente cinco por cento (5%). O hexano é destilado por meio de um
“evaporador de filme com insuflação de vapor direto”. Ainda, para retirar algum sabor
indesejável do farelo de soja, ele sofre a dessolventização, processo térmico que
pode utilizar uma secadora de rosca horizontal, ou dessolventizador-tostador que
realiza uma cocção úmida, para uma evaporação do solvente (MANDARINO;
ROESSING, 2001).
Para a recuperação do solvente, a dessolventização da miscela e do farelo
praticamente o remove todo. O motivo da perda do hexano é da mistura
incondensável formada entre seus vapores e o ar. Esta remoção do solvente da
mistura utiliza compressores a frio nas instalações através de colunas de absorção
com óleo mineral. Isto é possível devido à maior solubilidade do hexano em óleo
mineral do que no ar. Os gases incondensáveis entram na colona pela parte inferior
e, o solvente é absorvido por um óleo mineral (MANDARINO; ROESSING, 2001).
Figura 8 esquematiza a extração do óleo.
65
Figura 8 – Esquema simplificado do processo de extração do óleo bruto e de farelo desengordurado
Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.19.
2.6.4- Processo de refinação do óleo bruto
Este procedimento melhora a aparência, odor e sabor, removendo os
componentes abaixo citados (MANDARINO: ROESSING, 2001, p. 20):
a) substâncias coloidais, proteínas, fosfatídeos e produtos de sua decomposição; b) ácidos graxos livres e seus sais, ácidos graxos oxidados, lactonas, acetais e polímeros; c) substâncias coloridas como clorofila, xantofila, carotenóides, incluindo-se neste caso o caroteno ou pró-vitamina A; d) substâncias voláteis como hidrocarbonetos, álcoois, aldeídos, cetonas e ésteres de baixo peso molecular; e) substâncias inorgânicas como os sais de cálcio e de outros metais, silicatos, fosfatos, dentre outros minerais; f) umidade.
Suas etapas são:
1) Degomagem ou hidratação; 2) Neutralização ou desacidificação; 3) Branqueamento ou clarificação; 4) Desodorização.
66
2.6.4.1 – Degomagem ou hidratação
Este processo remove do óleo bruto os fosfatídeos36 que podem alcançar em
torno de três por cento, a lecitina que possui valor comercial, as proteínas e as
substâncias coloidais. Esta etapa reduz a quantidade de álcali a ser utilizado durante
a subseqüente neutralização. As substâncias chamadas “gomas” são facilmente
hidratáveis na presença de água, mas insolúveis no óleo e possibilitam sua remoção
(MANDARINO; ROESSING).
O método mais utilizado para a degomagem é a adição de um a três por
cento (1% a 3%) de água no óleo bruto aquecido a sessenta a setenta graus Celsius
(60º a 70º C) e agitação durante vinte a trinta minutos, formando um precipitado que
é centrifugado e removido a cinco ou seis (5 a 6) mil rotações por minuto (rpm).
Neste processo se extrai a lecitina comercial, que é formada por volta de sessenta
por cento (60%) da mistura de fosfatídeos (lecitina, cefalina e fosfatidilinositol) e
trinta e oito (38%) por cento de óleo a dois por cento (2%) de umidade
(MANDARINO; ROESSING, 2001).
Outra opção para a degomagem é a injeção continuada de óleo aquecido a
sessenta graus Celsius (60º C), com tempo de hidratação reduzida para alguns
minutos. Ainda há outro método que pode ser utilizado, que é variando a
porcentagem de ácido fosfórico de zero vírgula um a zero vírgula quatro por cento
(0,1% a 0,4%), com uma concentração de oitenta e cinco por cento (85%),
misturando a ele óleo bruto a sessenta e sessenta e cinco graus (60º e 65ºC)
Célsius, com posterior adição de terra diatomácea37 na concentração de zero vírgula
dois por cento (0,2%) com o fim de branquear o óleo. A separação da goma é
realizada por filtração ou centrifugação. A figura 9 é um esquema simplificado da
degomagem (MANDARINO; ROESSING, 2001).
36 Fosfatídeos: Substâncias que são constituídas por uma mistura de ésteres de ácidos graxos, ácido fosfórico e aminoglicol. São glicerídeos complexos que contém duas moléculas de ácidos graxos e uma de ácido fosfórico e, no radical fosfato, liga-se radicais de outros compostos. Variam a composição de acordo com os tipos de ácidos graxos ligados ao glicerol. Frequentemente um ácido graxo é saturado e outro é insaturado. Fosfatídeos são encontrados em membranas celulares do cérebro, tecidos nervosos e fígado. Estão presentes nas gemas de ovos na medula ócea e em sementes de vegetais.
67
Figura 9: Esquema simplificado da degomagem
Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.22.
2.6.4.2 – Neutralização ou desacidificação
Com adição de hidróxido de sódio ou, às vezes carbonato de sódio em
solução aquosa, elimina-se do óleo de soja degomado, ácidos graxos livres e outros
componentes considerados impurezas (proteínas, ácidos graxos oxidados e
produtos resultantes da decomposição de glicerídeos), ocasionando o
branqueamento parcial do óleo. Métodos de neutralização:
a) Neutralização descontínuo: Em “tacho” de óleo com capacidade de seis a quinze
toneladas com agitador mecânico, adiciona-se a solução alcalina e a água. Através
de uma “camisa” para o vapor indireto e, um chuveirinho ou atomizador com
aplicação direta da solução. Em óleo de baixa acidez é adicionado de vez em
quando, solução aquosa e quente (90 a 95º C) de hidróxido de sódio sem agitar.
Solução alcalina com maior concentração é adicionada aos óleos com acidez
elevada sob intensa agitação à temperatura ambiente, facilitando o contato com as
duas fases. Depois de quinze a vinte minutos aquece-se à temperatura de cinqüenta
a setenta graus Célsius (50º a 70º C), que é a temperatura apropriada para quebrar
esta emulsão, com uma velocidade reduzida do agitador. Depois do repouso da
mistura por algumas horas é separado o sabão da “borra” formada, retirando pelo
fundo do tacho (torneira) e, lava-se o óleo com água fervendo três a quatro vezes
em porções de dez a vinte por cento (10% a 20%) em relação a quantidade de óleo,
deixando o composto em repouso por mais ou menos trinta minutos entre as lavadas
(MANDARINO; ROESSING, 2001).
68
Figura 10 – Neutralizador descontínuo
Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.23.
As concentrações de hidróxido de sódio para aplicação, em relação a outros
parâmetros da neutralização, são apresentadas conforme quadro 5.
Quadro 6 - Concentrações de hidróxido de sódio na neutralização
Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.23.
b) Neutralização contínua: Método muito utilizado nas indústrias de óleo devido à
economia de tempo e menor perda no processo. Há a adição de solução de
hidróxido de sódio ao óleo depois de aquecido a sessenta e cinco graus a noventa
graus Célsius (65 a 90º C) de temperatura. Depois, separa-se o óleo neutralizado
da “borra” através de centrifugação. Ainda como opção, é possível substituir o
69
hidróxido de sódio por carbonato de sódio ou a mistura de ambos os reagentes, a
qual afeta a eliminação de fosfatídeos, corantes e outras impurezas. Este processo
reduz a saponificação ao mínimo do óleo neutro (MANDARINO; ROESSING, 2001).
c) Neutralização pelo método Zenith: No Brasil é usado por apenas uma empresa
atualmente.
A figura 11 esquematiza a neutralização do óleo degomado.
Figura 11 – Resumo do processo de neutralização do óleo degomado
Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.26.
2.6.4.3- Branqueamento ou clarificação
A degomagem e a neutralização por álcalis têm um efeito branqueador devido
à remoção de pigmentos presentes no óleo de soja, como também da coagulação e
a ação química. No entanto, como é uma exigência dos consumidores, geralmente
querem óleo quase incolor, o que é possível somente com a adsorção de pigmentos
com terra clareadoras, ativadas ou naturais, podendo ser algumas vezes misturadas
com carvão ativado na proporção que varia de 10:1 à 20:1. As terras ativadas
podem ser preparadas quimicamente com silicato de alumínio, enquanto que as
terras naturais clareiam bem menos que as terras ativadas, com menor custo
(MANDARINO; ROESSING, 2001).
A secagem é a primeira etapa do branqueamento do óleo neutralizado,
sendo efetuada continuamente. A eficiência das terras clarificantes, é maior no meio
anidro, sendo que alternativamente o óleo passa no processo de secagem com o
70
branqueador sob vácuo por trinta minutos, à temperatura de oitenta a noventa graus
Célsius (80º a 90º C). Assim, o clarificante é adicionado por sucção e o óleo é
misturado com a terra clarificante com agitação na temperatura de oitenta a noventa
e cinco graus Celsius (80 a 95ºC) por vinte a trinta minutos (20 a 30 min.). Depois o
óleo é esfriado a sessenta ou setenta graus Celsius (60 a 70º C) e passado em
filtros prensa.
Embora indústrias esmagadoras utilizem o processo contínuo com terra
clarificante ao óleo aquecido em uma suspensão a dez por cento, aqui no Brasil o
método branqueador é realizado de maneira descontínua. No processo contínuo a
mistura de óleo e de terra passa pelo branqueador por vinte minutos e depois passa
pelo filtro prensa. Ambos os processos colaboram para o branqueamento térmico,
reduzindo a terra clarificante para obtenção da cor desejada no produto acabado.
(0,1% a 0,2%) por cento (MANDARINO; ROESSING, 2001).
Após a filtração fica retido perto de cinqüenta por cento (50%) de óleo que é
utilizado ar comprimido e insuflação de vapor direto, caindo este percentual para
quarenta e pouco por cento. O restante retido é geralmente desprezado. A figura 12
mostra o esquema do processo de branqueamento do óleo neutro seco.
Figura 12 – Esquema simplificado do processo de branqueamento
Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.26.
71
2.6.4.4- Desodorização
Nesta última etapa do refino do óleo de soja são removidos sabores e odores
indesejáveis, sendo que geralmente são voláteis, com sua pressão de vapor
superior ao dos ácidos oléicos ou esteáricos. São estes produtos:
a) Compostos adquiridos na armazenagem e processados pelos grãos e, pelo
próprio óleo como aldeídos, cetonas, ácidos graxos oxidados, produtos de
decomposição de proteínas, carotenóides, esteróis, fosfatídeos e outros;
b) Substâncias naturais do óleo, tais como hidrocarbonetos insaturados e ácidos
graxos de cadeia curta e média; e
c) Ácidos graxos livres e peróxidos.
Com uma pressão mantida constante em dois milímetros de mercúrio a oito
milímetros de mercúrio (2 mm Hg a 8 mm Hg) e temperatura de vinte a vinte e cinco
graus Célsius (20º a 25ºC), faz-se uma insuflação direta com vapor remoção
completa dos ácidos graxos livres residuais. Este processo pode ser executado de
três formas (MANDARINO; ROESSING, 2001):
1) Descontínua: Através de um tacho vertical com capacidade de seis mil a quinze
mil litros, e uma serpentina para vapor com disposição para insuflação indireta,
mesmo mantendo uma pressão absoluta na superfície de óleo baixa em mm de Hg,
há um aumento na pressão de forma progressiva, devido à crescente coluna de
óleo, levando o tempo de seis a oito horas para a desodorização;
2) Contínua: Com o alto vácuo que vai de 2 a 6 mm e, temperatura de duzentos e
quarenta a duzentos e sessenta graus Celsius (240º C a 260º C) o tempo para a
desodorização passa de uma hora e meia a duas horas e meia, reduzindo
consideravelmente do tempo em relação ao primeiro processo;
3) Semicontínua: O aparelho mais usado na indústria de médio e grande porte é o
semicontínuo Girdler, figura 13, o qual possui um corpo de aço e com cinco ou mais
bandejas de aço inoxidável. Nas primeiras bandejas o óleo é pré-aquecido e, nas
intermediárias o aquecimento chega à temperatura de duzentos e trinta a duzentos e
quarenta graus Celsius (230º C a 240º C), o qual faz por vapor direto a insuflação.
Na última bandeja há um resfriamento a quarenta e quarenta e cinco graus Célsius
(40º e 45ºC). No aquecimento é realizada uma reação química (difenila e óxido de
difenila) mais o óleo térmico ou, o vapor indireto de alta pressão, conhecido como
72
“dow-therm”. Por mais ou menos trinta minutos o óleo permanece em cada uma das
bandejas e, efetua a troca automaticamente. A principal vantagem deste processo
está no caso de algum escape de ar e algum vazamento, não atingindo o óleo. Em
acréscimo, este aparelho semicontínuo realiza o resfriamento do óleo nele mesmo.
Figura 13 – Desodorização semicontínua – Equipamento Girdler
Fonte: MANDARINO; ROESSING, 2001, p.29.
2.6.5 – Aproveitamento da “borra”
A borra é o resíduo de todo o processo, composto por uma mistura de sabão,
óleo arrastado, substâncias insaponificáveis e impurezas, tais como gomas e
fosfatídeos, que podem ser utilizada na fabricação de sabão (em pó ou em barra).
Esta borra contém cerca de cinqüenta por cento (50%) de água e, às vezes, a
matéria graxa é recuperada por acidificação com ácido sulfúrico, com o fim de
reduzir o custo do transporte, em tachos de madeira revestidos por chumbo e aço
inoxidável, que são resistentes a ácidos minerais. A borra final contém geralmente
mais de sessenta por cento (60%) de ácidos graxos livres sendo todo o resto
glicerídeos e substâncias não graxas (MANDARINO; ROESSING, 2001).
73
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo é mostrado mais uma vez o problema e os objetivos gerais e
específicos da pesquisa. Em seguida é detalhado o porquê da escolha desta
cooperativa e como são tratadas as categorias analíticas, isto é, as definições
constitutivas que permearão todo o estudo, assim como o delineamento, a amostra,
a população, os instrumentos de coleta de dados e o método de análise, buscando
trabalhar no entendimento de como foi realizado o estudo de caso e os resultados
obtidos.
3.1 – Formulação do problema de pesquisa
Para a consecução dos objetivos da pesquisa proposta, faz-se necessário
expor o seguinte problema de pesquisa, a qual servirá de guia para a coleta e a
análise dos dados:
Quais práticas relativas aos aspectos ambientais no ciclo produtivo desta
cooperativa agroindustrial, que dentro da produção do óleo refinado de soja,
contribuem para que esta organização alcance a sustentabilidade ambiental?
3.2 – Objetivos da pesquisa
Conforme Richardson (2007), os objetivos da pesquisa, subdivididos em geral
e específicos, foram extraídos do problema de pesquisa e são utilizados na
condução da investigação. Assim, apresentam-se os seguintes objetivos:
Objetivo Geral é analisar a dimensão ambiental da sustentabilidade em um
ciclo produtivo de uma cooperativa agroindustrial, a qual transforma soja in natura
em óleo refinado comestível. .
Como Objetivos Específicos formulou-se os seguintes:
1) Políticas adotadas pela empresa, que possam gerar resultados positivos para
repartição de frutos aos associados, direcionando o foco à preservação ambiental;
2) Ações que influenciam a dimensão ambiental e contribuam para a
sustentabilidade nas outras duas dimensões.
74
3.3- Conceituação de variáveis
Neste item há conceituações de alguns termos de forma mais literal, sem
maiores aprofundamentos, devido à importância destes termos no decorrer do
estudo realizado. Dentro do referencial teórico há um maior detalhamento com mais
profundidade por diferentes autores, havendo maior enriquecimento nas definições:
a) Agrotóxicos: Produtos físicos, químicos, biológicos com fins de melhoria na
produção, armazenagem e beneficiamento na agropecuária. Pode causar danos aos
seres vivos.
b) Calagem: É a aplicação de calcário em uma área específica. Influencia o pH e a
disponibilidade de micro e macronutrientes,
c) Controle integrado de pragas: Controle que se baseia no conhecimento de
organismos nocivos e benéficos para uma população dentro de um ecossistema
(BRECHELT, 2004, p.12).
d) Cooperativismo: É a doutrina que visa à renovação social através da cooperação
para atingir um objetivo comum (PINHO, 1966, p.7).
e) Desenvolvimento: Crescimento econômico com melhoria na qualidade de vida de
uma população em determinada região (BURTZEN, 2006).
f) Desenvolvimento sustentável: Preocupa-se com o uso dos recursos naturais para
as atuais e futuras gerações, dando igual oportunidade na qualidade de vida para
eles (MONTIBELLER FILHO, 1993, p.133 e 135).
g) Ecodesenvolvimento: Significa o desenvolvimento endógeno de determinado local
dependendo exclusivamente de suas próprias forças com harmonia nos objetivos
sociais e econômicos (MONTIBELLER FILHO, 1993, p.132 e 133).
h) Erosão hídrica: Processo erosivo causado pelas chuvas, atingindo praticamente
toda a superfície da terra (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2010, p. 17).
i) Expansão da agricultura: Avanço contínuo de tecnologias para produção intensiva
nas áreas produtivas. Aproxima-se da agroindústria de transformação, ciência e a
agricultura (CIMA, 1991, p. 31 e 32).
j) Fertilidade do solo: Relação que altera a capacidade de absorção e utilização dos
nutrientes da cultura implantada em uma área (OCEPAR/EMBRAPA, 1989, p. 12).
k) Manejo dos solos e das águas: Técnicas utilizadas para combater a erosão,
manter a fertilidade do solo e a qualidade das águas (COSTA, 2006, p. 5 e 6).
75
l) Soja: Leguminosa herbácea anual com alto teor protéico em seus grãos. Seu
nome científico é Glycine max (L.) Merril, ou ainda Glycine hispida..
m) Sustentabilidade: Respeito ao meio ambiente, respeito às pessoas, respeito ao
capital (ALLADI; QUELLAS, 2003, p.5).
3.4- Delineamento da pesquisa
Optou-se pela perspectiva qualitativa para que houvesse maior oportunidade
de abranger diferentes formas que ajudam a compreender e explicar fenômenos
sociais com pouco afastamento do ambiente original e, ainda, de ouvir sujeitos
dentro de uma lógica e exposição de razões que ajudem a compreender o contexto
da realidade local (GODOI; BALSINI). Também, uma investigação que lança
diferentes problemas ou limitações do ponto de vista da pesquisa social, a pesquisa
qualitativa tem a expectativa de colocar condutas às pessoas entrevistadas em um
contexto o qual não tenta explicar como foi desenvolvido o seu senso de consciência
para o assunto abordado (RICHARDSON, 2008). Este autor também explica:
A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos (RICHARDSON, 2008, p. 90).
Para um trabalho Descritivo, segundo Godoi e Balsini (2007), além de ser um
dos métodos mais utilizados em pesquisas, também é um dos mais abrangentes em
análise de estudos, é um dos modelos que melhor se enquadra quando há riquezas
de materialismos e melhor detalha as pessoas, situações e acontecimentos que
ajuda o pesquisador a obter as informações necessárias a ele. Porém, todas estas
informações contribuem para transcrição da construção do objeto para a pesquisa
Qualitativa – Exploratória.
Para uma descrição holística e intensiva, o Estudo de Caso é entendido como
uma forma bastante adequada para a pesquisa, pois ajuda na revelação e
compreensão de determinado contexto das relações estabelecidas entre as
variáveis em questão da pesquisa. Em resumo Yin (2005) interpreta que este
modelo de estudo permite uma investigação que preserva as características das
inter-relações significativas da vida real, como ciclos de vida individuais, processos
76
organizacionais e administrativos, contextualização urbana e local, como as relações
internacionais dos setores econômicos.
O Estudo de Caso é avaliado por Godoy (2007) como adequado para o
enfoque dos problemas práticos ocorridos em situações sociais presentes em
atividades de procedimentos do cotidiano. Deve ser visto de forma abrangente
dentro do contexto para interpretação não somente das pessoas envolvidas, mas
também nos impactos de suas crenças e as decisões e interações de seu entorno.
Ainda, a autora deixa claro que o pesquisador deve estar atento a insights para
novos significados, que levem a novos pensamentos e a repensar o fenômeno em
que leva à investigação (GODOY, 2007).
Esta pesquisa será um Estudo de Caso Descritivo por ser uma pesquisa que
detalha a estrutura das atividades e das transformações no tempo, podendo ser
relacionado com diferentes fenômenos, tais como as relações de produção e de seu
pessoal envolvido (colaboradores e associados, cotistas, técnicos, diretores e da
própria comunidade local em que a cooperativa está inserida). Importante lembrar
que para este estudo, a teoria não ficará marcada fortemente com proposições e
conceitos abstratos, mas ajudará a formação de uma proposta que integra a
realidade teórica dentro de informações empíricas abstraídas em campo (GODOY,
2007).
A temporalidade desta pesquisa se adéqua mais a uma linha transversal com
aproximação longitudinal. Richardson (2008) justifica que a coleta de dados é
realizada em um determinado ponto do tempo, com uma amostra selecionada para
que seja descrita a população neste período ou realidade do momento. Com isso, a
adequação desta temporalidade junto à pesquisa na cooperativa é justificada pela
realização em dado momento do tempo, com a contextualização do ambiente para a
realidade daquele momento, com uma sociedade que vivencia aos apelos do
capitalismo, mas com que a abordagem se aproxime desta empresa, com total
atendimento aos objetivos e à resposta da questão de pesquisa dentro deste
contexto.
77
3.5- População e amostragem
A escolha desta Cooperativa específica no Estado do Paraná foi motivada por
pretender estudar uma agroindústria paranaense e, que pudesse ser avaliado o ciclo
completo do processo produtivo do óleo de soja refinado comestível, desde a
produção primária à secundária, dentro da dimensão ambiental. A idealização deste
estudo junto a uma cooperativa foi devido à possibilidade de verificar a
sustentabilidade na dimensão ambiental, mas sendo possível a identificação de
forma mais clara das outras dimensões (social e a econômica).
A razão da escolha do embasamento ambiental da sustentabilidade é pela
razão deste pesquisador não ter encontrado estudo em cooperativas agroindustriais,
voltados para esta dimensão. Em geral foi observados estudos em cooperativas
ligados aos aspectos socioeconômicos e aos princípios e fundamentos
cooperativistas. Já a escolha específica desta cooperativa foi devido à
representatividade no mercado paranaense e nacional, participando com diversos
produtos industrializados no Estado do Paraná e no contexto Brasil.
O primeiro passo se deu contatando por telefone a OCEPAR para explicar o
estudo e verificar a possibilidade de ajuda para a execução do projeto. Prontamente
aceitaram e se propuseram a ajudar, quando foi marcado um encontro na própria
sede da instituição em Curitiba. Com as devidas explicações e uma carta de
apresentação da FAE Centro Universitário – Curitiba, qualificaram-me para esta
pesquisa, quando me foi sugerido o contato com quatro cooperativas. Duas delas
não possuíam o ciclo completo da produção do óleo refinado, outra não nos foi dado
abertura para execução do estudo, porém a última foi tão receptiva quanto à própria
OCEPAR, dispondo-se a ajudar em tudo que fosse possível.
Desta forma concretizou-se este projeto de estudo. Buscou-se obter as
impressões da relação entre cooperativa e cooperados em cada fase produtiva do
grão de soja, como as orientações técnicas, plantio da cultura, entrega dos grãos à
cooperativa e transformação agroindustrial. Posteriormente a relação entre
cooperativa e seus fornecedores, tanto para a produção agrícola como para a fase
industrial. Por fim, a preparação para distribuição do produto final (óleo de soja
refinado comestível) para o mercado. Em todas estas fases é entendido por este
pesquisador que, se mal administrados, podem tornar-se produtos de alto potencial
de contaminação ambiental.
78
Importante destacar que este estudo acompanhará todo o ciclo produtivo do
óleo refinado de soja, obtendo apenas uma ótica no acompanhamento,
exclusivamente da cooperativa em torno das relações com cooperados,
fornecedores e colaboradores. Aspectos socioeconômicos são secundários, porém
serão observados. O levantamento deste estudo será realizado nos setores
correspondentes da cooperativa como:
a) Assistência técnica aos produtores agrícolas e fornecimentos de insumos;
b) Recebimento dos grãos para a transformação;
c) Produção de óleo de soja refinado comestível;
d) Distribuição do produto acabado aos consumidores finais.
Como possível dificuldade encontrada no estudo está nas informações
obtidas, que são de uma única fonte ou perspectiva (cooperativa), o qual pode
influenciar nos resultados finais obtidos, devido à natural empolgação de toda a
equipe disposta à colaborar.
Abaixo segue a figura 14 com o esquema para melhor entendimento do
estudo junto à cooperativa.
Figura 14 (1.7.1) – Esquema para entendimento do estudo de caso
Fonte: Elaborado pelo auto
79
A amostra é Não Probabilística Intencional, ou seja, é não probabilística
porque os entrevistados são escolhidos com critérios para melhor colaborar nas
necessidades das informações, buscando atingir os objetivos das entrevistas. Na
maioria das vezes é necessário assegurar a presença do “sujeito-tipo”, para garantir
melhor qualidade de resposta para as questões formuladas. Já para a classificação
Intencional é devido à racionalidade ou pelo julgamento estabelecido no plano pré-
formulado pelo pesquisador. Este plano possui características que definem as
populações de acordo com as necessidades da pesquisa (RICHARDSON, 2008).
a) População: Cooperativa específica:
A escolha dos entrevistados nos respectivos setores: (1) Gerente comercial de
insumos; (2) Gerente industrial; (3) Gerente de produção; (4) Coordenador ambiental
e (5) Gerente Comercial. Programado conversar também com outros colaboradores
e pessoas da população local, a fim de sentir a impressão que tinham da
cooperativa, mesmo não sendo foco de estudo no momento, com o fim de agregar
valor nas informações obtidas.
b) Amostragem:
Cooperativa Agroindustrial no setor de transformação de soja in natura em óleo
refinado comestível, onde haja a transformação dos grãos entregues pelos
cooperados ou cooperantes. Deve ser uma cooperativa consolidada no mercado
para a economia local, brasileira e mesmo com contribuição global.
O instrumento de coleta desta entrevista é utilizado um roteiro Não Diretivo
Semi-estruturado, ou seja, não são utilizadas perguntas pré-formuladas e em ordem
pré-estabelecida. O entrevistador apenas sugere o tema em estudo, para que o
entrevistado tenha liberdade para colocar e contribuir para a pesquisa os seus
pontos de vista. Desta forma é descrito o processo agroindustrial e a aplicação dos
princípios cooperativistas em pró desta produção. Também pode ser melhor
avaliado se há a preocupação na busca da sustentabilidade, principalmente a
ambiental, no processo produtivo perante a sociedade e à comunidade local. Da
mesma forma, segundo Richardson (2008), a entrevista semi-estruturada também
ajudará para um maior detalhamento por parte do entrevistador, para que possa
realizar uma avaliação na análise qualitativa com maior pormenorização da
realidade vivida pelo entrevistado.
80
3.6- Fontes de coleta e tratamento de dados
Primeira etapa: Contato com a OCEPAR para solicitar ajuda para realizar o
estudo com a cooperativa. Envia-se carta de apresentação da UNIFAE – Curitiba
para qualificar este pesquisador para o estudo. Definida a cooperativa, inicia-se
contato com responsáveis das respectivas áreas internas e a coleta de dados
secundários (levantamento do perfil por sites da internet e documentos possíveis
para pesquisa).
Segunda etapa: Foi realizada a coleta de dados primários com a utilização de
instrumentos de coleta: roteiro, técnica de entrevista em profundidade. Instrumento
de coleta com roteiro não-diretivo semi-estruturado, para o aprofundamento de
acordo com a necessidade, focando sempre os objetivos para alcançar a resposta
da pesquisa.
Terceira etapa: Transcrição das entrevistas para análise das informações
para se cumprir o que este estudo está determinado a realizar.
81
4 ESTUDO DE CASO
4.1- Histórico da cooperativa
A história desta Cooperativa foi iniciada por Cafeicultores no dia 27 de março
de 1963, em uma ação de quarenta e seis produtores com o fim de organizar os
interesses de produção e venda sem intermediários de seus negócios. Começou
com apenas uma máquina de café e instalações cedidas em favor da cooperativa
por dois anos pelo cooperado número dois, Joaquim Romero Fuentes. Em 1965
quase fechou, porém, devido à diretoria indicada na época para liquidá-la, começou
a receber algodão para seu beneficiamento e, em 1967 comprou uma máquina para
tal. Seu resultado foi uma surpreendente reabilitação aponto de 1969 adquirir uma
segunda máquina para beneficiamento de algodão.
No ano de 1971 começou a seqüência de crescimentos com a construção de
um armazém graneleiro, sendo este o primeiro do Estado do Paraná, com a
finalidade de atender às culturas de trigo e milho. Também colaborou na chegada da
soja, a qual acabou assumindo o lugar do café que atravessava crises constantes e
desestimuladoras para seus produtores. Quando ocorreu a grande geada em 1975,
ocorreu o golpe de misericórdia aos cafeicultores, estimulando de forma
considerável o recebimento da soja. Este momento gerou também uma frustração
aos sojicultores que, na época, simplesmente vendiam a matéria-prima a grandes
grupos industriais, os quais agregavam valores ao produto para eles ganharem uma
fatia bem maior nos preços que esta cooperativa recebia.
Desta forma a diretoria da cooperativa optou na industrialização do grão de
soja através da instalação da primeira unidade de extração de óleo e farelo de uma
cooperativa do Estado do Paraná. Entre 1975 a 1982, a cooperativa já contava com
mais de vinte e cinco mil cooperados e muitos entrepostos para recebimento em
diversos municípios da região. Já na década de 1980 até 1982 diversificou com a
incorporação na indústria da soja com a desodorização e refino, obtendo uma
unidade de envasamento de óleos vegetais e, também, com a chegada aos
supermercados de óleo refinado de soja. No segmento têxtil houve a melhoria dos
fios de algodões e de sua qualidade.
No entanto, no ano de 1990 a economia do Brasil quase a obrigou a uma
reestruturação administrativa, fato que fez com que a cooperativa começasse a
trabalhar na otimização de custos e na profissionalização das diferentes áreas para
82
a valorização da participação dos produtores. Com isso houve a introdução da
tecnologia do café adensado em 1992 resgatando esta cultura novamente e, o
cultivo e a industrialização da canola. Neste período dos anos de 1990, fase em que
o país estava sofrendo com a desorganização econômica, bancos de grande porte
estavam quebrando, exigindo um grande esforço com alianças de cooperativas para
se unirem em estratégias e acabar com a ociosidade do parque industrial. Assim
diversificou sua capacidade industrial.
Em 2003 inaugurou-se um novo conjunto de indústrias de bebidas à base de
soja, néctar de frutas, maionese, catchup e mostarda, momento que se iniciou uma
nova fase da cooperativa. No noroeste do Paraná foi investido em um projeto
econômico-social, o qual apostava na integração da agricultura com a pecuária, com
a reutilização de pastagens degradadas para o plantio de grãos. Também houve o
plantio de laranja em um local com forte expansão de pomares, onde ocorria o
incremento da renda de produtores e dos municípios, quando se originou a marca
PURITY na esfera nacional e, de outras indústrias menores para atender mercado.
Neste momento a cooperativa já trabalhava na capacitação de seus
cooperados, como forma de melhorar a produtividade e o aumento de seu
faturamento. Em 2008 foi de um vírgula quatro bilhão (R$ 1,4 bilhão) de reais, sendo
atualmente considerada, segundo seu site, “uma das cooperativas mais modernas e
bem administradas do Brasil, além de modelo em responsabilidade social e
ambiental”.
4.2 – Constatações das práticas observadas no estudo de caso
Neste tópico será examinada cada uma das conexões existentes entre esta
cooperativa e as respectivas relações com cada setor da produção primária ou
secundária, descrevendo as informações recebidas pelos colaboradores contatados
(Figura 13 – Esquema para entendimento do estudo de caso). Ressaltam-se aqui os
aspectos da base ambiental da sustentabilidade e alguns reflexos positivos para as
outras duas que formam o triple botton line.
Importante destacar também, que as informações que constam neste tópico
do estudo foram adquiridas pelos métodos de entrevista em profundidade semi-
estruturada, conforme descrito na metodologia, como também, por meio de
83
informações dos sites abertos ao público. Lembrando ainda, que as informações
coletadas não são uma opinião por parte deste pesquisador, podendo concordar ou
não com a teoria pesquisada.
4.2.1 – Contato entre cooperativa e cooperados na produção de soja em grão
A relação da cooperativa com os fornecedores de grãos e cooperados (A)
mostra-se tranqüila e com relacionamento respeitoso entre as partes. Esta
informação pode ser notada pela presença de alguns cooperados no momento da
entrevista, que estavam se atualizando e trocando informações sobre a colheita no
mesmo momento em que o gerente de produção daquela unidade dava sua
contribuição ao estudo, com a apresentação de como era desenvolvido o trabalho da
cooperativa no setor de assistência técnica e venda de insumos para a produção
primária. Com os poucos contatos com os cooperados que lá estavam, foram
trocadas algumas palavras sobre o atendimento, mesmo não fazendo parte do que
estava previsto.
Notou-se a existência de uma atenção da cooperativa aos cooperados
sojicultores no que tange a expansão da agricultura e do atendimento à
agroindústria. Esta atenção se serve da modernização da produção pela utilização
de máquinas e implementos, adubação química, utilização de agrotóxicos, sementes
apropriadas, combate à erosão e manejo adequado com novas tecnologias. As
recomendações técnicas podem evitar ações inadequadas que possam contribuir
para o enfraquecimento das áreas agrícolas, como a eliminação de matas-ciliares e
nativas e das várzeas. No manejo integrado dos solos e das águas envolvem
assuntos como plantio-direto e convencional, adubação verde, trabalhos em
microbacias, tratos culturais e a correta utilização de maquinários. Desta forma
subentendem-se também os assuntos relacionados à fertilidade do solo e sua
relação com as características físicas, químicas e mineralógicas. Ainda atentam-se
aos riscos do uso dos agrotóxicos e do controle de pragas e infestações, bem como
de seu controle.
De acordo com as informações recebidas na entrevista deste tópico (A), a
cooperativa realiza um levantamento na propriedade quando é iniciada a
participação de algum novo cooperado, para que possa desta forma, receber as
84
orientações necessárias de acordo com as necessidades e da capacidade de
execução do agricultor. Tais orientações vão desde análises de solo para verificar a
necessidade de calagem para a realização de reações químicas no solo,
implantação da cultura e seu manejo, momento adequado para colheita e até
instruções para a administração da propriedade.
Com respeito à predominância do tipo de plantio e manejo encontrado nas
áreas de soja dos associados na região, na sua grande maioria é o plantio direto que
predomina, sendo que este método atinge mais de noventa (90%) por cento de toda
a área plantada. Com este método de plantio as vantagens conservacionistas são
muitas, como manter coberta por vegetação a área plantada, protegendo-a contra
erosão e evitando diversos danos ao solo como a manutenção de matéria orgânica,
umidade local e as propriedades estruturais. Também ajuda no combate à
compactação pelo menor trânsito de máquinas e implementos na terra, menor
incidência de ervas daninhas e, maior conservação do micro-ecossistema local. Este
método requer o uso de um dissecante foliar antes do plantio e, no caso do uso de
um herbicida, utiliza-se um pós-emergente de acordo com a infestação identificada.
É importante também a informação de que os sojicultores hoje preferem
utilizar sementes geneticamente modificadas (transgênicas) a utilizar as
convencionais. Esta nova tecnologia possui esmagadora maioria, com uns noventa e
oito por cento de adeptos. Embora tenha que se pagar royalties às empresas
produtoras multinacionais, são sementes que não sofrem com tantos ataques de
insetos.
Já para o Manejo Integrado de Pragas, ou seja, usando o conhecimento da
existência de uma capacidade de resistência a uma determinada quantidade de
ataque de insetos, há diferentes resistências dependendo da fase em que a planta
se encontra e, sem que sofra significativa alteração na sua produção. Com este
manejo é possível haver uma diminuição do uso de agrotóxicos, o que pode
significar em redução de custos com o trânsito de maquinários na lavoura,
diminuição da compactação e gastos com combustível e menor risco de
contaminação. Porém, mesmo com tais argumentações, existe uma maior
dificuldade de aceitação deste manejo pelo agricultor, principalmente pelos maiores
produtores, devido ao seu maior trabalho que possa gerar.
A erosão hídrica, como é um tema de grande importância que afeta também a
preservação ambiental, é descrito informações relacionadas às microbacias e alguns
85
procedimentos para evitá-la, na qual é trabalhado no programa PGAIM do Estado do
Paraná em parceria com outros órgãos e instituições do Estado. Muitas vezes estas
ações de combate vão além das recomendações técnicas direcionadas a apenas
uma propriedade, sendo que neste trabalho, geralmente exige-se uma ação conjunta
com os agricultores vizinhos. Neste programa que desenvolve um trabalho com toda
a microbacia em diversos âmbitos da comunidade, ajudam o combate à erosão na
execução de curvas de nível, terraceamentos, reimplantação de matas-ciliares e etc.
No geral, como os cooperados da cooperativa já são agricultores mais experientes e
instruídos, não é necessário iniciar desde esta fase a orientação, sendo que a
participação da cooperativa está mais relacionada a passar índices ao governo, do
que recomendar a execução destas benfeitorias.
A erosão em áreas agrícolas, geralmente causa prejuízos maiores aos que
são vistos pelos “olhos do agricultor”. Além da perda do solo mais rico para a cultura,
muitas vezes é perdido sementes, adubos, nutrientes naturais do próprio solo e o
investimento do calcário lançado para correção e para as troca catiônicas. De
grande relevância ainda, está o risco de contaminação do meio ambiente através de
transporte de materiais pulverizados por agroquímicos (herbicidas, inseticidas e
fungicidas), podendo ainda ser lavado e transportado pelo solo ou, mesmo lixiviado
aos lençóis freáticos, rios, córregos e nascentes. Ainda existe o risco de fixação de
venenos nos colóides do solo contaminando o ambiente.
O deslocamento de terras ocasionado pela erosão, como sabido, pode
provocar e contribuir para o assoreamento de rios e, até mesmo pode mudar
percursos e afetar a vegetação e o solo deste local. Assim, a necessidade da mata-
ciliar influencia a qualidade da água e mesmo ajuda para evitar o assoreamento dos
rios, preservando e mantendo a reserva das águas, do micro clima e da
biodiversidade local (Lei n.° 4.771/65).
Como já mencionado, as recomendações técnicas que envolvem estes
cuidados são realizadas pela cooperativa e feita de acordo com a necessidade com
referência ao levantamento prévio da propriedade. No entanto, a cooperativa não
tem como cobrar a realização das recomendações ao agricultor, sendo de inteira
responsabilidade e interesse do cooperado, refletindo a não execução da
recomendação em perdas de produtividade, podendo ocasionar perdas financeiras
decorrente de investimentos mal realizados, ou mesmo, em determinadas situações,
86
podendo chegar a receber multas por infração à legislação ou algum órgão com este
poder.
Com respeito às embalagens de agrotóxicos, embora seja regulamentado
pela Lei Federal No. 9.974 de 6 de junho de 2000, a qual altera a Lei no 7.802, de 11
de julho de 1989, que regulamenta sobre pesquisas, produção, embalagens e
rotulações, transportes, armazenagem, comercialização, propaganda comercial,
utilização, importação, exportação, destinos dos resíduos e embalagens, registros,
classificação, controle, inspeção e fiscalização de agrotóxicos, como de todos os
seus componentes e afins, para que possam ser tomadas outras providências sobre
o assunto (Lei No. 9.974/2000). Nesta lei é definida a obrigatoriedade do retorno da
embalagem, para o estabelecimento que comercializou o produto no prazo de um
ano a contar da data de compra, com uma política de recebimento destas
embalagens pelo fabricante:
"§ 2o Os usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins deverão efetuar a devolução das embalagens vazias dos produtos aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos, de acordo com as instruções previstas nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, contado da data de compra, ou prazo superior, se autorizado pelo órgão registrante, podendo a devolução ser intermediada por postos ou centros de recolhimento, desde que autorizados e fiscalizados pelo órgão competente (Lei No. 9.974/2000).
De acordo com esta política de entrega das embalagens após a tríplice
lavagem dos respectivos recipientes, a cooperativa conta com o apoio de trinta
locais de recebimento, com uma aceitação para o retorno das embalagens de
aproximadamente cento e cinqüenta toneladas, o que representa mais de seiscentas
mil embalagens entregues, para que seja redirecionada a uma reciclagem e
recolocação de novas mercadorias no mercado.
Esta ação é considerada como referência para o Estado do Paraná e Brasil,
atingindo em média novena e nove por cento (99 %) de entrega de embalagens
limpas com efetuação da tríplice lavagem pelos associados. Para as embalagens
que não é possível a execução desta lavagem e que não podem ser reaproveitadas,
como as embaladas em sacos plásticos, são encaminhadas pela cooperativa a um
incinerador no Estado de São Paulo. O processo de reciclagem atinge seis vírgula
um (6,1) mil cooperados, sendo que tem como participante em sua maioria,
agricultores de pequeno porte. Este trabalho correspondeu em 2009 produtores de
87
soja e milho, que gerou o faturando de um vírgula quatro bilhões de reais (R$ 1,4
bilhões).
Figura 15 - Visualização das recomendações da Cooperativa para os cooperados
Relação A: Recomendações técnicas:
- Plantio - Fertilidade (adubação e calagem) - Agrotóxicos - Manejo do solo e das águas - Manejo de pragas - Colheita - Como evitar perdas na safra e melhorar a administração da área
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2.2- Relação entre Cooperativa e os fornecedores de insumos e implementos
Com respeito ao contato e a relação entre Fornecedores de Insumos e
Implementos com a Cooperativa (B), também foi informado que há uma boa relação
comercial entre fornecedores, cooperativa, cooperados e cooperantes. O grande
respeito informado pela cooperativa está na forma em que tratam os fornecedores,
sendo mencionados como parceiros. Das boas relações pode ser citadas as
parecerias entre eles e Semeato, Pirelli, Shell, Texaco, Cordetec, Embrapa,
Brasmac, Syngenta, Bayer, Basf, Monsanto, Iara, Bungüe, Cargill, Fertipar, entre
outras. Das parecerias encontradas de alguns fornecedores, mencionou-se a
possibilidade de adquirir plantadeiras, pneus e combustível (diesel), por exemplo,
com pagamento a ser realizado após a colheita, com acréscimo de alguns juros
previamente acordado.
É possível ocorrer o rompimento do contrato ou descredenciamento de algum
destes fornecedores, embora seja muito difícil e não souberam informar se já
ocorreu alguma vez este fato até hoje. Conforme relatado, estas empresas são
88
renomadas no mercado e sempre respeitaram e cumpriram os seus objetivos e
contratos. Com a maioria dos fornecedores existem financiamentos próprios com os
cooperados interessados, havendo tido até hoje atenção e respeito na negociação.
Algumas destas empresas desenvolvem projetos próprios paralelos aos seus
principais objetivos de negócios com a comunidade, sendo muitas delas
consideradas também exemplares, com apoio de outras instituições e órgãos
governamentais, como ocorre com a Syngenta. Esta possui um projeto junto a
algumas comunidades, envolvendo órgãos governamentais (prefeituras) e
instituições como universidades e a própria cooperativa, como também outras
organizações. Este projeto chama-se “Escola no Campo”.
Projeto que foi criado em 1991 no Estado de São Paulo, com apoio da
“Secretaria da Educação daquele Estado” com o fim de formar novas gerações de
agricultores conscientes para a preservação ambiental e uso de tecnologias de
produção de alimentos. Assim migrou para outras localidades, quando obteve
também apoio desta cooperativa (SYNGENTA, 2011).
Com esta cooperativa em específico, o projeto começou com a parceria em
2005, com a intenção de levar aos participantes os conhecimentos básicos e as
informações sobre meio ambiente e cooperativismo. Este projeto também prevê a
realização de palestras para que os professores de escolas locais possam replicar
as informações de forma adequada, incluindo assuntos como plantio de árvores e
outros cuidados essenciais para uma vida saudável e com qualidade. Seu público
alvo na realidade são crianças do ensino fundamental da zona rural para que
aprendam basicamente sobre as relações que envolvem o ambiente e sua
preservação, esclarecimentos sobre agrotóxicos, e mesmo sobre a globalização da
economia mundial e as influencias que esta realidade traz ao campo. Assim, a
cooperativa está exercendo também seus princípios cooperativistas, destacando o
terceiro e o sexto, ou seja, a democratização de poderes e a educação permanente.
Também, outro princípio fundamental do cooperativismo bastante salientado e
respeitado por eles é o sétimo, a Cooperação Intercooperativa. A informação
recebida foi que recentemente outra organização cooperativa, que no entendimento
deste pesquisador seria uma concorrente desta, solicitou e recebeu o fornecimento
de algumas toneladas de soja convencional (sem transgenia) para a efetivação de
um negócio comercial. Também é possível através da “Cooperação
89
Intercooperativa” o fornecimento para alguma outra cooperativa de algum produto
que tenha em estoque, porém que esteja faltando no mercado.
Outro ponto a ser salientado é que esta cooperativa atualmente possui um
controle dos fornecedores e prestadores de serviços, que é realizado através de
uma planilha. Esta se refere ao projeto da certificação da ISO 900038 (gestão da
qualidade), sendo esta responsável por algumas políticas adotadas no controle e
avaliação dos fornecedores e prestadores de serviços. Assim, idealizou-se o
“Sistema Integrado da Gestão da Qualidade” (Anexo), destacando os Serviços e os
Requisitos Mínimos para a execução do trabalho e, o acompanhamento dos
prestadores se está apto para desempenhá-lo. Este critério ou política adotada pela
cooperativa ajuda em muito na avaliação do desempenho de quem está mais
alinhado com ela e, colabora na obtenção de informações que mostrem os pontos
fortes da relação, como também identifica os pontos fracos.
Com respeito à relação entre a Cooperativa e fornecedores de insumos e
implementos (B), é possível identificar alguns aspectos que envolvam o meio
ambiente com ações relacionadas a outras dimensões. Na figura 16 destacam-se as
mais evidentes:
Figura 16 – Relação da Cooperativa com fornecedores de insumos e implementos
Relação B: - Atenção com os fornecedores em seu atendimento e profissionalismo. - ISO 9000 – gestão da qualidade.
- Trabalho conjunto em projetos diversos iniciados pelos fornecedores: - Educação ambiental - Educação no exercício da cidadania - Informação sobre Agrotóxicos - Cooperativismo e outros temas
Fonte: Elaborado pelo autor.
38
ISO 9000: International Organization for Standardization - normas técnicas internacionais que estabelecem modelos de gestao de qualidade para qualquer tipo de organizações. Esta organização elabora seu próprio projeto para execução, sendo ele fiscalizado em sua elaboração, execução e manutenção por um órgão certificador.
90
4.2.3 – Relação entre Cooperativa e sojicultores para recebimento dos grãos
Não é recebida soja somente por cooperados, sendo possível que
cooperantes também entreguem. Assim, os lotes de grãos a receber podem ser
colocados nos entrepostos da região mais próxima da área da lavoura, sendo de
inteira responsabilidade do produtor da colheita ao transporte até o destino final (C).
Quando há necessidade de movimentação pela cooperativa para outro local após a
entrega pelo sojicultor, a responsabilidade passa a ser da cooperativa. Assim,
depois de acertado e entregue no valor já definido, incluindo os respectivos
descontes por falhas da qualidade no lote carregado, se houver algum problema
posterior de estoque ou qualidade, o sojicultor não terá envolvimento na
responsabilidade.
Também é importante destacar, que os cooperados não são obrigados a
entregar suas safras para a cooperativa, deixando-os à vontade para a escolha da
melhor oportunidade e preço, embora geralmente entreguem para ela devido as
vantagens da participação de lucros no balanço de final de ano. Esta proposição
condiz com a liberdade de livre escolha do cooperado para a entrega ou mesmo a
liberdade de entrar e sair da cooperativa de acordo com seus interesses, conforme
os princípios cooperativistas.Da mesma forma, se um cooperante se interessar em
ingressar como associado, também é possível. No entanto é necessário realizar um
levantamento da propriedade referente aos últimos cinco anos, para saber a forma
de condução das culturas, quantidade média produzida, investimentos realizados,
qualidade da produção, as vendas e assim por diante. Também é verificada toda a
área disponível para produção, com o fim de melhor orientação e recomendações
técnicas para execução de benfeitorias, se necessárias. Anotam-se também
deficiências e pontos favoráveis para a produção das safras.
Na associação de um novo cooperado é necessário ainda, o pagamento de
uma jóia para integralizar à cooperativa, sendo que o valor é geralmente por volta de
vinte reais por hectare (R$ 20,00/ha) e que deve ser realizado em dinheiro, podendo
ser dividida em três vezes e/ou alguma outra negociação que seja interessante para
as partes com base neste valor. Ainda é exigida a participação do agricultor em um
curso sobre cooperativismo, esclarecendo os princípios, direitos e deveres, sendo
que este esclarecimento é ministrado pela própria cooperativa, previamente
agendado.
91
Há situações curiosas para a entrega das safras, pois existem cooperados
que também são cooperados de outras cooperativas. Desta forma este associado
pode avaliar a forma mais adequada a ele e de seus interesses, para onde entregar
sua produção. Esta atitude não é vista de forma negativa para a imagem do
cooperado, pois não são poucos que possuem esta vantagem e a cooperativa
assim, mantêm-se normalmente dentro do mercado.
Outro aspecto relevante na relação entre cooperativa, cooperado e
cooperante é que não há diferenciação de preços entre eles. No caso de venda e/ou
compra de produtos por estes sujeitos, a diferença está apenas nas vantagens em
favor dos cooperados, no que diz respeito às somas dos valores investidos que
colaboram no aumento de faturamento na divisão dos lucros no fim do balanço
anual. Desta forma, destaca-se a maior atenção dos cooperados pela cooperativa,
quando desperta a visão do cooperado como proprietário do negócio. Tais atitudes
podem influenciar na maior integração entre cooperados, favorecendo
confraternizações através da realização de torneios diversos, participação de
palestras de interesse comum, dias-de-campo e outras atividades.
Para o recebimento da produção dos grãos, não existe exatamente uma
exigência impeditiva de entrega, mas uma avaliação na qualidade do lote a ser
entregue. Nesta avaliação podem ocorrer descontos nos valores a pagar aos
produtores, respeitando a “Portaria de Classificação de Soja”, ou seja, como descrito
na PORTARIA nº 262, de 23 de Novembro de 1983 que normatiza a qualidade para
a classificação e comercialização da soja em grão, com o objetivo de definir as
características de identidade, qualidade, apresentação, embalagem e as medidas
correlatas para soja Glycine max (L) Merril destinada à comercialização (PORTARIA
No. 262, 1984). Assim, definiram-se limites máximos de umidade e impurezas ou
avariados.
Para tal avaliação há outro quadro que mostram os valores dos descontos,
porém, não foi possível ser repassado por eles. Como outra observação, o uso de
defensivos não limita os preços de venda do produto e nem de seu recebimento pela
cooperativa. Segue quadro 6 com alguns limitantes da qualidade e as porcentagens
máximas permitidas:
92
Quadro 7 - Limites para a padronização da soja em grão. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Umidade Aceito até 30%. Tolerado até 14% antes que comecem a efetuar
os descontos.
Impurezas Tolerado até 1%, quando começa a ser efetuado os descontos;
Avariados Tolerado até 8%, quando começam os descontos;
Queimados Tolerado até 1%, quando começam a ter descontos;
Quebrados Tolerado até 30%, quando começam a ter descontos.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Fonte: Informações obtidas na própria cooperativa
O soja é classificado como convencional e transgênico dependendo apenas
das sementes utilizadas. Estes dois tipos de soja in natura são separados pela
cooperativa apenas para se ter um histórico de sua origem, caso haja algum
comprador que exija alguma que não tenha transgenia. Para tanto, no embarque ou
no desembarque são retiradas amostragens de tempos em tempos para realizar
análises que confirmem se são ou não transgênicas. O teste é o Polymerase Chain
Reaction (PCR)39.
Na armazenagem dos grãos que antecedem a transformação ou sua venda
para outra finalidade, há tratamentos que eliminam o uso de defensivos, conhecido
como MIPGRÃO. O expurgo dos grãos é de grande importância para eliminar
perdas por insetos, os quais podem ser efetuados por gás, utilizando basicamente a
FOSFINA (fosfeto de alumínio) realizado em câmaras de expurgo ou, outros locais
com vedação total, por um período mínimo de exposição de quatro dias de forma
intensa, a qual procede a eliminação dos insetos. Uma vez aplicado este produto,
deve-se aguardar pelo menos trinta dias para a utilização dos grãos, inclusive para a
indústria. Também é necessário cuidados para se evitar explosões devido à poeira
e a baixa umidade do ambiente em que se encontram os grãos armazenados. Para
estes locais são utilizados recursos de exaustão e sucção do ar, o qual descarta-se
esta possibilidade.
39
PCR: Reação em cadeia da polimerase ou Polymerase Chain Reaction que se resume em um método de aplificação de DNA sem o uso de um organismo vivo. Técnica comum em utilização laboratorial em pesquisas médicas e biológicas para diversas tarefas como o sequenciamento de genses, diagnosticos de doenças e criação de organismos transgêncicos. Com alteração do código genético foi criado plantas e animais com as características desejadas por milhares de anos, como plantas resistentes às doenças, secas, ataques de pragas, necessitando assim, menos recursos ambientais (água, fertilizante, etc.).
93
Para o ano de 2011 estima-se uma produção de soja na Região 1 da desta
cooperativa, ou seja, a região da matriz, de quinhentos e setenta a seiscentos e
setenta milhões de toneladas (570 a 670 milhões/ton.), ou aproximadamente
cinqüenta (50) sacas/ha de soja entregue por cooperados da região, o que
representaria três mil toneladas/dia de óleo e farelo produzidos pela indústria de
transformação. Assim dá para se ter uma idéia estimada da quantidade de armazéns
necessários para armazenagem dos grãos. A figura 17 ressalta especificamente a
relação de recebimento do grão pela cooperativa para a armazenagem.
Figura 17 - Recepção da soja para armazenagem
Relação C: Sojicultores:
- Cuidados da produção à colheita (Cooperados e cooperantes) - Qualidade dos grãos: umidade, impurezas, quebrados e outros - Transporte da lavoura à transformação Cooperativa: - Recebe grãos nos entrepostos e na central cooperativa - Controle de qualidade segundo Portaria No. 262 – padronização, classificação e comercialização da soja em grão. - Cuidados com a manutenção dos armazéns - Conservação da armazenagem (MIPGRÃO) - Identificação do fornecedor se necessário for.
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2.4 – Transformação da soja em óleo refinado comestível
O processo de transformação do grão de soja in natura para outros produtos
derivados após o esmagamento é sintetizado na proporção de setenta e cinco por
cento (75%) em farelo de soja, vinte por cento (20%) em óleo e, os outros cinco por
cento (5%) em rejeitos.
94
O cumprimento da legislação na obtenção do Licenciamento Ambiental para
manter uma Agroindústria em funcionamento tem o objetivo de agir preventivamente
no que diz respeito à proteção do bem comum do povo, o meio ambiente, assim
como compatibilizar em sua preservação com o desenvolvimento econômico-social:
“Ambos, essenciais para a sociedade, são direitos constitucionais. A meta é cuidar
para que o exercício de um direito não comprometa outro igualmente importante”
(TCU, 2007, p.9).
Assim, esta agroindústria segue as Determinações de Avaliação de Impactos
Ambientais, o DAIA. Este órgão analisa estudos ambientais de empreendimentos
que possam estar sob avaliação de impactos ambientais para o licenciamento. Tudo
em conformidade com o CONAMA nas Resoluções 01/86 e 237/97, que também
analisa o licenciamento dos empreendimentos de pequeno impacto de forma
suplementar, para os que não constituam fontes de poluição, localizados nos
municípios que não tenham os recursos necessários para a efetivação deste
licenciamento ambiental. Desta forma o DAIA emite parecer técnico que possa
subsidiar o licenciamento ambiental pela Secretaria do Meio Ambiente (SMA), órgão
responsável para a produção do Termo de Referência o qual elaborará o Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto do Meio Ambiente (RIMA). Com
estes se obtêm o Licenciamento Ambiental que são diretrizes para a recuperação de
áreas degradadas. Para as informações técnicas as consultas devem ser feitas aos
órgãos do sistema.
Com a preocupação com o meio ambiente, desenvolveu-se o projeto para a
certificação ISO 1400040, que envolve a gestão ambiental. Esta já foi aprovada para
certificação e estão trabalhando no envolvimento e na incorporação de todos os
colaboradores no projeto, para que assim possam alcançar o êxito desta
empreitada. Com esta intenção, também foi desenvolvido um quadro que descreve a
disposição de todos os resíduos na cooperativa em seus devidos processos de
transformações. Este quadro não identifica apenas os resíduos de transformação do
grão de soja em óleo e de seu refino, mas de qualquer atividade que resulte em
qualquer resíduo, ou que possam aproveitá-lo em outro processo produtivo,
40
ISO 14000: International Organization for Standardization - reúne normas que estabelecem diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro de empresas. Assim, estas empresas elaboram o seu próprio projeto para execução, sendo ele fiscalizado em sua elaboração, execução e manutenção por órgãos certificadores.
95
quantificando o quanto é gasto em seu transporte, como o valor de sua venda se for
o caso. No final é gerado um balanço total do que é gasto e do que é faturado.
Especificamente na produção de óleo de soja refinado é descrito por eles o
seguinte método de produção:
a) Preparação: Forma convencional utilizada.
1- Pré-limpeza;
2- Descascamento;
3- Condicionamento;
4- Trituração e laminação;
5- Cozimento.
Nesta seqüência que envolve o esmagamento do grão de soja para a
produção do óleo como também do farelo, há a necessidade de energia, que
anteriormente era produzida por um óleo derivado do petróleo e bastante pesado de
baixa fluidez, óleo BPF41 (Baixo Ponto de Fluidez). Este combustível foi substituído
pelo bagaço de cana-de-açúcar oriundo de sua própria produção de álcool, o qual
emite menor quantidade de gás carbônico para a atmosfera que o combustível
anterior, sendo ele ainda renovável. Deste processo gerador de energia para o
esmagamento da soja, como também o calor utilizado para o processo, obtém-se
um resíduo resultante da queima do bagaço, que são as cinzas desta combustão.
Para que este resíduo não seja um poluente sem destino certo, a cooperativa o
transporta e o entrega a uma empresa de adubos orgânicos, situada no Estado do
Paraná. Este produto não é vendido, mas simplesmente entregue para esta empresa
com transporte por conta da cooperativa, o qual é citado e descrito na planilha de
“Disposição dos Resíduos” (anexo), destacando o “Balanço Geral de Custos” onde é
demonstrado o que foi faturado ou quanto se gastou com a destinação dos resíduos.
Como nesta ação é utilizada biomassa para geração de energia pela
cooperativa, está sendo montado um projeto que gera Crédito de Carbono pela
substituição do óleo BPF por este combustível menos poluente e renovável. O que
41 Óleo BPF: Óleo combustível derivado de petróleo, também chamado óleo combustível pesado ou óleo combustível residual, é a parte remanescente da destiliação das frações do petróleo, designadas de modo geral como frações pesadas, obtidas em vários processos de refino. Largamente utilizados na indústria moderna para aquecimento de fornos e caldeiras, ou em motores de combustão interna para geração de calor, o óleo BPF é utilizado em equipamentos destinados à geração de energia térmica. Riscos à saúde trazidos pela queima para aquecimento das caldeiras pode acometer o sistema respiratório.
96
no começo era uma ação de finalidade de apenas ocasionar redução de custos,
transformou-se em uma ação que afetou de maneira positiva na questão ambiental.
b) Extração do óleo Bruto: São destacadas em cada fase do processo, algumas
especificidades desta agroindústria:
1- Extração com solvente orgânico: Neste processo é utilizado o solvente Hexano42;
2- Extração contínua em sistema “ROTOCEL”, sendo este processo composto por
um cilindro dividido em setores, que em baixa rotação é inserido flocos de soja e, a
massa inicial percola pela miscela e depois com ela mais diluída é dada a entrada
do solvente puro, quando uma tela se abre e deixa cair a torta ou o farelo,
transferindo-o ao dessolventizador.
3- Destilação da Miscela: O óleo é separado do solvente por aquecimento (70º a
90ºC) sob vácuo. Aqui o conteúdo de solvente pode ser reduzido até cerca de cinco
por cento (5%) e, o hexano residual é destilado em um evaporador com insuflação
de vapor direto.
4- Dessolventilação e tostagem do farelo: Processamento térmico que inativam
fatores antinutricionais e de substâncias que causam sabores indesejáveis.
5- Recuperação do solvente: É removido praticamente todo o solvente utilizado na
extração do óleo através de compressores e ar frio;
Devido a necessidade de gerar calor dentro deste processo, a queima do
bagaço da cana também é utilizado para este fim.
c) Processo de refinação do óleo bruto: São destacadas em cada fase do processo,
algumas especificidades da agroindústria da cooperativa.
1- Degomagem: Nesta etapa são retirados os fosfatídeos (lecitinas) hidratáveis com
a utilização de água (2 a 4%) separando-a do óleo por centrifugação;
2- Neutralização contínua: Nesta etapa é utilizada o ácido fosfórico para retirar os
fosfatídeos não hidratáveis e soda cáustica líquida para neutralizar a acidez do óleo,
que é expressa em ácido oléico;
3- Branqueamento: Nesta etapa é adicionada ao óleo argila ativada com ácido
sulfúrico, para que seja realizada a adsorção de pigmentos que conferem coloração
acentuada ao óleo [clorofila (verde), xantofila (amarelo) e caroteno (vermelho)], além
42
Hexano: Hidrocarboneto alcano com a fórmula química CH3(CH2)4CH3. O prefixo "hex" refere-se aos seus seis atómos de carbono, já a terminação "ano" indica que os carbonos possuem ligações simples. O hexano é irreactivos, e frequentemente são usados como solvente inerte em reacções orgânicas. São também componentes comuns da gasolina.
97
de remoção de metais pesados como ferro e chumbo. A argila ativada ou terra
branqueadora depois de usada também é encaminhada para a produção de adubo
orgânico, juntamente com as cinzas do bagaço de cana.
4- Desodorização: É a última etapa do refino do óleo. O óleo branqueado é
submetido a uma destilação numa temperatura de 245º C com agitação através da
injeção de vapor direto numa atmosfera mantida sob alto vácuo. O produto oriundo
desta etapa é o óleo refinado (triglicérides) 99,6% e o ácido graxo 0,4%. Este ácido
graxo é rico em tocoferol, de onde pode ser obtida a Vitamina E, sendo esta vendida
e exportada para o Japão.
5- Borra: Como são misturas de sabão, óleos arrastados, impurezas (gomas,
excesso de soda e fosfatídeos), ou seja, subprodutos da etapa de neutralização,
elas são vendidas para utilização nas indústrias de saponificação.
Ainda com respeito aos resíduos deste ciclo de produção há a água da
lavagem do processo e os resíduos das filtragens, sendo eles formadores do lodo da
produção de óleo refinado que também são transportados para a empresa que
produz os adubos orgânicos.
Assim, como complemento das informações acima, o volume diário de óleo
refinado é de quatrocentas e oitenta (480) ton./dia, gerando assim uma grande
quantidade de resíduos e subprodutos, os quais podem ser redirecionados a outro
processo industrial e/ou entregues para a produção de adubos orgânicos (D). A
figura 18 mostra de forma sintética os principais produtos e seus resíduos no
processo produtivo e seu encaminhamento para outros setores de produção.
Figura 18 – Subprodutos da produção de óleo encaminhados à outra produção.
Relação D: Certificações e licenciamentos: - DAIA (Determinação de Aspectos de Impactos Ambientais) - ISO 14000 – gestão ambiental. - Crédito de carbono (continua)
98
(continuação) Produtos finais: - Farelo de soja para venda - Óleo de soja refinado. Adubos orgânicos: - Cinzas da queima do bagaço de cana para geração de energia - Lodo do refino do óleo - Resíduo da terra branqueadora - Resíduos da filtragem do óleo Projeto de crédito de carbono: - Substituição do óleo BFP por biomassa Empresas de saponificação: - Borra do processo de refino.
Exportação: - Ácido graxo a 0,4% que é obtido a Vitamina E.
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2.5 – Relação Cooperativa / produto acabado e sua distribuição ao comércio
Na relação entre a Cooperativa Agroindustrial e a distribuição do óleo refinado
comestível até chegar aos consumidores finais (E), trabalha-se com uma equipe
mista de Representantes Comerciais, Vendedores próprios e Distribuidores. A
atuação da equipe de venda depende do canal em que atuam, locais de venda e
quanto de público atingem, sendo que para o caso específico do óleo refinado, os
Representantes Comerciais é a principal forma de distribuição. No caso dos
produtos que compõem o mix destinado ao varejo como sucos, bebidas à base de
soja, maioneses e molhos, são os Distribuidores o foco de atendimento. Assim, para
a definição desta equipe de vendas, a cooperativa é quem determina o perfil que os
Representantes, Distribuidores e Vendedores devem possuir e a forma de
negociação dos contratos desta distribuição.
Com o trabalho distribuído em regiões para que seja atendida de forma mais
eficiente possível e de acordo com a necessidade e interesse da cooperativa, este
setor tem grande abrangência na cobertura para a colocação e distribuição no
mercado e, de certa maneira, entendem que esta forma que gera uma maior
economia de atuação.
A respeito da produção total de óleo refinado, praticamente é toda colocada
no mercado brasileiro, com mais de noventa e nove por cento (99%) e, apenas
menos de um por cento (1%) destinado ao mercado externo, tendo como principais
destinos a América do Sul e a África.
99
Importante destacar que a cooperativa dispõe de um número 0800 para dar
esclarecimentos, receber sugestões, críticas e reclamações, sendo esta central de
atendimento a responsável pelo COC (Centro de Orientação ao Consumidor).
Também este COC recebe o feedback da satisfação dos consumidores, assim como
a necessidade de alguma modificação do produto através de pesquisas específicas
e exclusivas realizada pelo departamento de marketing.
Como ação específica realizada nesta interação entre produção e a
distribuição aos consumidores finais, destaca-se o programa iniciado por este
departamento há pouco tempo, que orienta os consumidores a retornar as garrafas
PET de óleo refinado, com o fim de reutilização do polímero que o compõe, para
transformá-lo em fios ecológicos sintéticos.
Esta ação possui grande repercussão e interação que atinge as dimensões
ambiental, social e econômica. A ambiental por estar retirando da natureza um
grande número de garrafas PET que potencializa a poluição do ambiente. A
econômica por gerar oportunidade de renda e dividendos para os cooperados e, por
fim, social por poder gerar mais trabalho e empregos na transformação em fios
sintéticos e na fabricação das camisetas ecológicas, podendo gerar contribuições
que melhorem a qualidade de vida das pessoas incluídas neste meio, por exemplo.
Existe também um projeto para reciclagem das embalagens Cartonadas
Longa Vida, as utilizadas nas embalagens de sucos, divisão de sucos da
cooperativa. Com parceria de outras empresas, está sendo estudado e desenvolvido
um material duro e resistente o suficiente, para que possa substituir telhas de
amianto, podendo ser o amianto tóxico e fazer mal à saúde do homem. Além desta
substituição, podem ser produzidos outros produtos como o que foi apresentada no
dia da visita em Maringá, como pranchetas. Com este projeto é pretendido divulgar a
reciclagem de materiais, gerando benefícios ambientais, econômicos e sociais.
Em paralelo à ação anterior, pode ser citado também o retorno a esta
organização e o encaminhamento das embalagens dos agroquímicos para a
transformação em outros produtos e a devolução ao mercado sob outra
configuração não tóxica. Desta transformação são produzidos conduítes corrugados
para construção civil, caixas de baterias automotivas, tampas de produtos químicos
e de agroquímicos, cordas, tubulação para esgoto, entre outros. Da mesma forma
que a ação da transformação de garrafas PET em fios sintéticos para produção de
camisetas, esta reutilização das embalagens também contribuem para a retirada das
100
embalagens do meio ambiente, gerando recursos em favor dos cooperados e
colaborar com a sociedade com menos poluição, geração de empregos e salários.
Assim, para se ter idéia do montante faturado por eles em 2009 com esta ação, foi
de um vírgula quatro bilhão de reais (R$ 1,4 bilhão).
Esta cooperativa desde 2001 desenvolve projetos com a finalidade de realizar
concursos e gincanas para a conscientização de cooperados e de seus filhos e,
mesmo da comunidade em geral, para o recolhimento de lixo e a conseqüente
contribuição para a reciclagem de materiais que permaneceriam poluindo o meio
ambiente local. Porém, com esta atitude foi mostrado a possibilidade de reversão
desta realidade que, se somada à recuperação das embalagens conforme exposto
acima, podem somar um grande benefício à toda a sociedade.
Como já expressado anteriormente sobre a relação existente entre
cooperativa e fornecedores de insumos e implementos (B), item 4.2.2, informou-se
também sobre a certificação ISO 9000, da qual foi montada uma planilha do Sistema
de Gestão da Qualidade, onde foi colocado como variáveis o tipo de serviço
prestado pelos fornecedores e, os requisitos necessários para desempenhar estes
trabalhos. Com tais informações é possível chegar pela cooperativa, a uma melhor
avaliação da qualidade destes serviços.
Também há a certificação OHSAS 1800043, que assim como a ISO 9000 e a
ISO 14000 é uma certificação voltada agora para a área da saúde e da segurança
ocupacional. Este sistema de gestão formaliza nas políticas, programas,
procedimentos e processos de negócios da organização e, o cumprimento das
exigências legais das partes interessadas. Esta condução deve ser seguida de
forma ética e socialmente responsável. Com grande dinamismo, este sistema de
gestão deve agir de acordo com a movimentação e cumprimento de seus objetivos e
propósitos, visando uma contínua melhoria para as partes (ARAÚJO; SANTOS;
MAFRA, 2006).
43
OHSAS 18000: Occupational Health and Safety Assessment Series. Série de Avaliação de Saúde e Segurança Ocupacional a qual retrata a preocupação da empresa com a integridade física de seus colaboradores e parceiros. Esta certificação do Sistema de Gestão de Responsabilidade Social demonstrará ao mercado que a empresa não existe apenas para explorar os recursos econômicos e humanos, mas também para contribuir com o desenvolvimento social, por meio da realização profissional de seus colaboradores e da promoção de benefícios ao meio ambiente e às partes interessadas. Acidentes, incidentes constituem, muitas vezes, em eventos que devem ser controlados de maneira preventiva através do planejamento, organização e avaliação do desempenho dos meios de controles implementados.
101
Assim a cooperativa, conforme exposto nas entrevistas, vem demonstrando
interesse em atender as exigências necessárias para o melhor relacionamento
possível entre esta organização, colaboradores, fornecedores e prestadores de
serviços, buscando mais do que uma simples relação comercial, mas um trabalho
que desperte um envolvimento maior e, como muitas vezes expressado pelos
gerentes e colaboradores, um sentimento maior de parcerias.
Por fim, salientam-se mais uma vez a forma em que é realizada a distribuição
dos produtos da cooperativa, oportunidade em que foi enfatizada sua melhor
eficiência na distribuição e venda, através da utilização mista de Representantes
Comerciais, Distribuidores e Vendedores nas regiões pré-estabelecidas. Para a
distribuição específica do óleo de soja refinado, opera-se somente com
Representantes Comerciais, dos se esperam os melhores resultados no aspecto da
economia (combustível, manutenção de veículos e maior alcance ao consumidor),
cumprindo assim, mais uma etapa do ciclo produtivo. A figura 19 mostra a interação
entre a Cooperativa no setor de transformação do óleo refinado e da distribuição do
produto final para o mercado.
Figura 19 – Cooperativa produtos finais e ligação com o setor de distribuição
Relação E: Equipe mista de distribuição: - ISO 9000 – gestão da qualidade. - OHSAS 18000 – gestão da avaliação da saúde e segurança
ocupacional. - Representantes Comerciais, Vendedores próprios e distribuidores em locais distintos conforme o produto final em que atuam. - Representantes comerciais para a distribuição específica no mercado de óleo refinado de soja comestível. Mercado externo: - Aproximadamente 1% de toda a produção total final. Reaproveitamento de embalagens: - Garrafas PET de óleo (fios ecológicos). - Cartonados Longa Vida (substituição de telhas de amianto e outros). - Reaproveitamento adequado de embalagens de agroquímicos. - Conscientização da reciclagem de materiais (continua)
102
(continuação) Acompanhamento pelo COC: - Reclamações, sugestões, esclarecimentos e satisfação cliente.
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2.6 – Outras interações que a cooperativa tem com a comunidade
Este tópico considera os trabalhos realizados pela cooperativa, que com suas
ações não envolvam diretamente o ciclo produtivo do óleo refinado de soja, nem
mesmo os aspectos diretamente relacionados ao ambiental desta agroindústria (F).
Contudo, estas ações podem contribuir indiretamente nesta dimensão e somar com
ações que reflitam de forma positiva para a comunidade.
Destas ações pode ser citado, mais uma vez a parcerias para a execução de
algumas ações, como o “Projeto Cultivar”, o qual foi iniciado em 2006 com a
participação desta organização, IAP (Instituto Ambiental do Paraná), APAE
(Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e da PEM (Penitenciária Estadual),
a qual tem como objetivo atender a algumas necessidades ambientais, como
produção de mudas nativas de árvores e, a inclusão social de pessoas especiais e
da comunidade carcerária. As mudas produzidas são para atender aos cooperados
através da distribuição para reposição de matas ciliares e em outros locais,
utilizando a mão-de-obra da APAE e da PEM. Assim, houve a recuperação e
melhora do viveiro situado na área da penitenciária e, o acompanhamento do projeto
pelo Ministério do Trabalho, Conselho Municipal dos direitos das pessoas
Deficientes de Maringá e também da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da
Pessoa com Deficiência, para instrução e acolhimento das necessidades para o
trabalho dentro da legalidade.
Como informação adicional, este projeto faz parte do Programa de Mata Ciliar
da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos iniciado em 2003. Ainda esta
cooperativa conta com importante parceria da empresa BASF fabricante de
defensivos agrícolas, a qual apóia as ações de sustentabilidade da cooperativa
(COOPERATIVA, 2011).
Outro trabalho que envolve parcerias com outras empresas é o projeto
“Escola no Campo”. Esta ação quer educar crianças da zona rural ajudando a
esclarecer temas como cooperativismo e seus princípios, informações sobre
103
agrotóxicos, meio ambiente, inserção do campo na globalização da economia e
outros assuntos relativos à vida no campo, ressaltando ainda a importância do uso
da tecnologia para a produção de alimentos saudáveis. Com a participação da
empresa SYNGENTA, parceira e fornecedora desta cooperativa, desenvolvem aqui
um programa de esclarecimentos sobre agrotóxicos, preservação do meio ambiente,
informações sobre globalização da economia e assuntos pertinentes à vida no
campo (COOPERATIVA, 2011).
Ainda é desenvolvido por esta organização o “Projeto de Integração da
Agricultura e Pecuária” que procura recuperar solos degradados devido à pecuária
intensiva e a baixa potenciabilidade produtiva nas respectivas áreas. O Paraná
representa aproximadamente vinte e um por cento (21%) da produção agrícola de
soja no Brasil e, estas terras degradadas, uns dezesseis por cento (16%) das terras
agricultáveis do Paraná. Desta forma, a recuperação destas áreas degradas traz
muitos benefícios para o solo do agricultor através da recuperação de nutrientes
pela implantação de plantio direto do soja, aumento da renda em relação à
pastagem e plantio do soja, como da geração de emprego no campo nestas áreas.
Este projeto beneficia cento e oito (108) municípios da região noroeste do Estado do
Paraná e há uma reversão do empobrecimento regional através do aumento de
trabalho remunerado e fortalecimento do comércio e dos municípios através dos
tributos arrecadados pelos impostos (COOPERATIVA, 2011).
Esta Cooperativa possui outro programa direcionado ao público jovem dos
cooperados, o chamado “Programa Cooperjovem”, que em parceria com OCEPAR e
a SESCOOP (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do
Paraná) trabalham em conjunto para que sejam divulgadas em escolas as práticas
cooperativistas que ajudem a ampliar o cooperativismo e o empreendedorismo na
comunidade cooperativa, tendo como grande contribuição da cooperativa o
desenvolvimento da comunidade na geração de empregos, produção e serviços que
alcançam a preservação ambiental, contribuição cultural e social com o atendimento
não apenas dos cooperados, embora seja o principal foco. (COOPERATIVA, 2011).
Dos objetivos principais que se destacam deste programa está o ensinamento
dos princípios fundamentais e da filosofia cooperativista, a inter-relação entre o
desenvolvimento da cooperação e da solidariedade humana, iniciando na sala de
aula e passando posteriormente para toda a escola e finalizando na família. De
acordo com o entendimento desta cooperativa, este trabalho reflete na
104
sensibilização de toda a comunidade local através das ações que influenciam
positivamente a vida de todos, na busca do melhoramento de condição de vida e, na
aproximação da instituição escola às pessoas do local. Assim, este projeto envolve
professores da sexta à oitava série do ensino fundamental, com atuação na região
onde vivem os associados que, em parceria com o SESCOOP, os professores são
capacitados para a multiplicação destes conhecimentos, com disponibilização do
material didático às escolas, orientação aos professores regentes, manual do
professor e, por fim, o material em três volumes da “Turma da Cooperação”. Este
último é um material lúdico para as crianças sobre o tema Cooperativismo
(COOPERATIVA, 2011).
Ainda há o projeto “Núcleo Jovem” que atua junto a filhos de cooperados.
Algumas unidades de atuação são na localidade de Cianorte, Japurá, Jussara e
Maringá. Tem a intenção de oferecer maiores informações sobre o cooperativismo,
como administrar a propriedade do pai e, assim por diante. Assim a cooperativa
resolveu criar este projeto com apoio das unidades acima citadas, para o
desenvolvimento do potencial profissional e pessoal, onde está por começar na
relação familiar e na transação da empresa rural familiar. Como resultado deste
projeto há encontros com jovens de diversas regiões que buscam os mesmos
objetivos, como capacidade de liderança, ampliação e percepção do conhecimento
do cooperativismo, ética e valores como a valorização feminina da mulher e do
homem no campo (COOPERATIVA, 2011).
Por fim, atendendo a uma grande demanda feminina na cooperativa em
diferentes unidades locais, solicitaram mais informações a respeito do
cooperativismo e da administração da propriedade rural da sua família, quando com
o apoio das unidades acima citadas, criaram os “Núcleos Femininos”, formadas por
cooperadas, esposas e filhas de cooperados. Elas também buscavam o
desenvolvimento profissional e pessoal para contribuir no desempenho social e
econômico. Com objetivos similares aos dos projetos acima explicados, o Núcleo
Jovem e o Núcleo Feminino queriam multiplicar e divulgar o cooperativismo,
apresentar as atividades por elas desenvolvidas, sugerindo um maior envolvimento
da mulher dentro da cooperativa e a atenção em preocupar-se nos assuntos
correlatos a elas (COOPERATIVA, 2011).
105
A figura 20 sintetiza os trabalhos desenvolvidos pela cooperativa e parceiras,
que resultam no fortalecimento do cidadão como pessoa e profissionalmente, sua
participação no envolvimento ao cooperativismo, ética e valores.
Figura 20 – Interações entre a cooperativa. associados e comunidade
Relação F: Projeto Cultivar:
- Cooperativa, IAP, APAE, PEM , BASF. - Mão-de-obra da APAE e PEM. - Inclusão social. - Remuneração para alunos da APAE. - Produção de mudas de árvores nativas. - Envolvimento com o Programa de Mata Ciliar. Escola no Campo: - Educação, informação, meio ambiente, tecnologia, alimentos e difusão. - Cooperação entre Syngenta e outras instituições governamentais. Integração Agricultura e Pecuária: - Recuperação de terras degradadas. - Benefícios para agricultores, comunidades e municípios. Cooper Jovem: - Integração Cooperativa, OCEPAR e SESCOOP. - Empregos, produção, preservação ambiental, cultural e social, princípios cooperativistas. Núcleo Jovem e Núcleo Feminino: - Cooperativismo, administração propriedade, desenvolvimento do potencial pessoal de profissional.
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2.7 – Visão desta cooperativa perante o cooperado
Em termos gerais, esta Cooperativa Agroindustrial entende que seu
cooperado tem especial participação com três papeis diferentes: a) de fornecedor de
produtos primários, momento em que busca o melhor preço de venda de seu
produto; b) de cliente, quando compra produtos e busca o melhor preço e facilidades
para seu pagamento e aquisição, por fim, c) de proprietário, quando procura adquirir
na divisão com os outros cooperados, o maior lucro acumulado no exercício anual.
106
A figura 21 representa o círculo em que o cooperado se enquadra dentro da
visão cooperativa. Segundo os gerentes locais, este pensamento exige-se especial
atenção e sensibilidade pelos colaboradores, para que possam realizar um
atendimento que satisfaça as três posições em que ocupam.
Figura 21 – Entendimento desta organização cooperativa sobre o cooperado
Fonte: Elaborado pelo autor.
O quadro 7 identifica os mesmos papéis que o cooperado desempenha dentro
da cooperativa, segundo a mesma visão e entendimento no trabalho desenvolvido
pelos colaboradores.
Quadro 8 - Papel que os cooperados desempenham -------------------------------------------------------------------------------------------------- 1º - Fornecedores querem melhores preços e vantagens na venda;
2º - Clientes querem o melhor atendimento e preços para compra;
3º - Donos exige melhores rendimentos para divisão do lucro.
-------------------------------------------------------------------------------------------------- Fonte: Elaborado pelo autor
Salienta-se que sobre este entendimento é ressaltada a palavra respeito.
Busca-se com isso especial atenção aos Princípios Cooperativistas e, colaborar em
sua divulgação mostrando condições para que todos usufruam os seus direitos e
cumpram seus deveres.
Fornecedores
Donos
Clientes
107
4.3 – Práticas aplicadas na cooperativa e a teoria
Este tópico é uma comparação das ações desenvolvidas pela cooperativa e a
teoria que foi pesquisada, com colocações e algumas considerações do pesquisador
com uma visão mais crítica nas informações colhidas em campo, considerando-as
como verdadeiras e colocadas realmente em prática segundo ao que foi repassado
nas entrevistas.
4.3.1 – Práticas da cooperativa para o desenvolvimento ambiental sustentável
Conforme visto, industrialização para muitas pessoas tem o significado de
desenvolvimento, fato que representaria apenas o crescimento econômico da
população (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006). Porém esta definição está incompleta e
necessita de uma complementação, como a melhoria da qualidade de vida das
pessoas que vivem em uma região. Assim, segundo CIMA (1991), mantendo este
raciocínio, os países altamente industrializados geralmente degradam o meio
ambiente, poluem, afetam a quantidade dos recursos naturais, trazendo
consideráveis prejuízos à natureza e ao homem, o que não significaria
desenvolvimento. Para Burns (1966) o começo destes acontecimentos foi intitulado
como Revolução Econômica que evoluiu para a Revolução Industrial e se estendeu
a todos os domínios da produção.
Na evolução da palavra desenvolvimento, houve em determinado momento, a
distinção de “territorialidade”, como se fosse um instrumento de medição da
economia. Desta forma era possível realizar uma avaliação de uma região e ver se
obteve crescimento. Posteriormente, após a II Guerra Mundial, segundo Burstzen
(2006), a palavra desenvolvimento foi dividida em dois conceitos para interpretação:
(a) Crescimento das atividades econômicas e (b) Melhoria da condição e qualidade
de vida da população.
A equivalência entre o PIB e a renda per capta para verificação do
desenvolvimento é uma medida incompleta. A riqueza pode ajudar a chegar ao bem
estar da pessoa, mas é complementar. Desenvolvimento não pode ter uma
conceituação tão simplória como foi colocada anteriormente (VEIGA, 2005).
Tampouco, segundo Becker et al (1997), não é compatível o raciocínio de que
108
desenvolvimento pode ser comparado ao meio biológico, ou seja, uma repetição de
outro indivíduo já desenvolvido e geneticamente exposto. Neste raciocínio
necessariamente haveria um retorno ao modelo passado, repetindo variações do
ambiente naquele entorno, sem uma nova construção para este novo ambiente e
realidade, mas como se fosse repetitivo ou apenas uma cópia de ambientes
diferentes para este futuro. Esta idéia não pactua com o desenvolvimento voltado ao
lado sócio-econômico, pois há inúmeras variáveis na construção ambiental, o que
traz ao homem casos diferentes e inéditos para a construção de uma realidade do
momento (BECKER et al, 1997).
O trabalho que esta cooperativa desempenha na geração de renda, com foco
principal aos seus cooperados, atinge também cooperantes, colaboradores,
fornecedores e a própria comunidade local, o que leva ao encontro aos autores
citados e que trata sobre o tema desenvolvimento sustentável, somando ao aspecto
do crescimento econômico, benefício à sociedade e ao meio ambiente. Também
esta cooperativa contribui em seu trabalho no desenvolvido em sua região, ajudando
a manter a ocupação profissional de indivíduos na agroindústria e no campo, como
ocorreu no período da Revolução Industrial, quando se buscava dar novamente
trabalho às pessoas deixadas à margem, devido à aplicação da força motriz na
indústria. Desta forma, o cooperativismo através de objetivos comuns, resgata o
desempenho de ocupações profissionais e conquistas que ajudam a estabelecer e a
fortalecer o respeito próprio destes trabalhadores (QUEIROZ, 1996).
Esta Cooperativa Agroindustrial, conforme pesquisado e nos relatos obtidos,
foi iniciada através da dificuldade de cafeicultores da região do norte do Paraná, que
estavam buscando melhores preços e condições de vendas sem a atuação de
intermediários, que se iniciou através de quarenta e seis produtores para obtenção
de um espaço dentro do mercado. Porém, as adversidades transformaram a idéia
inicial em muitas outras possibilidades, como o beneficiamento de algodão,
armazenamento de cereais e o trabalho com outros produtos. O crescimento
econômico desta cooperativa mostrou-se incontestável, com aumento de rendas e
diversificação dos produtos.
Assim foi possível comparar com a teoria pesquisada os acontecimentos
descritos no estudo. O desenvolvimento industrial não ficou apenas no crescimento
físico da cooperativa, mas demonstrou-se mais aprofundado no respeito e ao meio
ambiente, seja no aspecto social (comunidades) com participação econômica da
109
vida da comunidade ou no mínimo, dos stakeholders. Não ficou focado somente à
agroindústria ou no faturamento para divisão dos lucros entre cooperados, embora
muito bem atentado neste aspecto. Assim, colaborou a ligação a uma
contextualização local às práticas tecnológicas, como o caso da produção de fios
ecológicos derivados das garrafas PET e produção de camisetas com estes fios
sintéticos. Como já trabalhavam na produção de fios de algodão, adaptaram-se para
os fios sintéticos também.
A sustentabilidade precisa ser estimulada para as responsabilidades dentro
da ética, com ênfase no que não envolve somente a economia, mas que considere a
justiça social, maior equidade na divisão dos frutos produzidos e do bom senso do
homem pelos outros seres vivos do planeta (JACOBI, 2007). Usando uma só palavra
que represente de forma mais adequada e direta a sustentabilidade, novamente é
citada a palavra respeito. “Respeito o meio ambiente, respeitando às pessoas e
respeito ao capital” (ALLADI; QUELHAS, 2003, p.5). Assim, ao que foi recebida de
informações deste estudo, a palavra que complementa a anterior seria Integração
entre cooperados e de suas famílias aos seus negócios. Desta forma não pode ser
excluído o trabalho junto à comunidade da região.
Como já mencionado anteriormente, o cooperativismo no Brasil foi uma das
alternativas que muito ajudou ao combate da precarização das condições de
trabalho nas décadas passadas recentes, principalmente quando houve um
considerável aumento dos socialmente excluídos, os quais sobrevivem no mercado
informal de trabalho, tanto no campo quanto na zona urbana. Com a dificuldade de
obter renda, a população ligada a um determinado produto ou atividade, unem-se
para obter uma maior força de negociação e buscar realizar uma mudança de
mentalidade para assumir uma postura com uma nova perspectiva, direcionando
para a coletividade em detrimento à individualidade (ROCHA et al, 2004). A
cooperação presta um auxílio para ser alcançado um mesmo objetivo e,
cooperativismo é a doutrina que muda a sociedade através da cooperação, podendo
ser por um ponto de vista sociólogo ou por uma interação entre indivíduos (PINHO,
1966). Em um contexto geral, a cooperativa é uma organização especial, diferente e
poderia ter o simbolismo como ocorre em uma família, com distribuição de
benefícios alcançados, sendo tudo ligado às bases democráticas (GAL et al, 1981).
Dos textos abordados nas idéias básicas do cooperativismo acima, esta cooperativa
110
mostra-se bem alinhada e adaptada às circunstâncias do momento, com projetos
associados ao seu constante crescimento.
Em uma reflexão sobre o cooperativismo, esta cooperativa mostrou-se com
um grande respeito aos Princípios Cooperativistas, enfatizando muito bem o sexto
(educação permanente), com trabalhos constantes entre cooperados e parte da
comunidade, aprimorando a educação sobre cooperativismo, integração e atividades
conjuntas através de projetos diversos com outras entidades parceiras e órgãos
como prefeitura municipais e do próprio Estado. Também, com o despertar das
atividades que relevam o conhecimento ambiental, com ações preservacionistas ou
de conscientização de problemas causados pela má exploração e condução
ambiental, aplicam-se então manejos que evitam a potencialização de problemas
que possam prejudicar a vida e os ecossistemas. Como exemplo, pode ser citado às
ações de informações sobre o cooperativismo, agrotóxicos, replantio de árvores para
recuperação de matas ciliares e conservação ambiental, reciclagem, educação e
influências na vida das pessoas. Estas ações podem ser tidas através da execução
de alguns programas como o Projeto Cultivar, Escola no Campo, Cooper Jovem,
Núcleo Jovem e Núcleo Feminino conforme informado anteriormente e, mesmo de
outras ações relacionadas aos processos do ciclo produtivo do óleo refinado de soja.
Como conseqüências finais destas ações para a cooperativa, podem ser
sintetizadas o crescimento econômico e aumento na divisão de benefícios aos
cooperados. Desta forma, no ano de 2011 foi projetado alcançar um e meio (1,5)
bilhão de reais a dois (2) bilhões de reais em todas as suas atividades produtivas.
Como pontos favoráveis a esta conquista estão os princípios fundamentais do
cooperativismo, dos quais é destacado o terceiro (Controle Democrático), o quarto
(Neutralidade) e o quinto (divisão das sobras), dá-se direitos e autonomia para o
cumprimento das obrigações com todos da comunidade associada e com reflexos
aos não associados. Como se observou na visita in loco a cidade, com alguns
poucos contatos obtidos com cooperados, lembrando novamente que este não era o
foco do estudo a ser observado, demonstravam-se satisfeitos e motivadas às
discussões dos assuntos tratados com a gerência que os atendiam.
É possível dizer que hoje cresce a consciência de que a natureza não é
apenas uma despensa ou almoxarifado, mas que muitas vezes é tratada desta
forma (BURSTZEN et al, 1993). Com algumas ações da cooperativa pode-se dizer
que esta interpretação expressada por Burstzen et al (1993) está sendo trabalhada
111
para combatê-la. Pode ser citado inicialmente sobre o trabalho desenvolvido junto
aos agricultores com respeito às recomendações técnicas para a aplicação de
agroquímicos nas lavouras, instruindo-os sobre a tríplice lavagem das embalagens e
sua devolução nos postos de recolhimento. Também no novo trabalho que está
sendo iniciada para as embalagens PET e as cartonadas longa vida no caso dos
sucos. Ainda no encaminhamento dos resíduos da transformação da soja in natura
em óleo refinado para a fabricação de adubos orgânicos, na utilização da biomassa
para produção de energia e calor para o processo de produção, nos trabalhos de
conscientização junto aos cooperados e comunidade sobre reciclagem, relevando os
males que os resíduos podem causar e, nos trabalhos conjuntos com o Estado,
prefeituras e outros órgãos e instituições a respeito das ações junto às microbacias,
bem como dos projetos apoiados pela cooperativa para a constante informação e
formação do público participante.
Ajudando na contribuição para também melhorar o desempenho dos
agricultores no crescimento econômico, podem ser lembradas as orientações
técnicas para a produção do grão de soja na transformação em óleo, orientações e
recomendações que vão do método de plantio, adubação, sementes, combate a
infestações de pragas, combate à erosão, colheitas, manejo do solo e, como evitar
perdas econômicas na safra e na propriedade, fato que geralmente colaboram para
a melhoria da produção e aumento da produtividade, podendo haver o crescimento
financeiro junto aos sojicultores e melhorando a condição financeira individual e da
comunidade.
As atitudes no presente que ajudam a preservar para o futuro mostram-se
de fundamental importância na preservação e manutenção do solo. Assim, com a
necessidade de produzir permanentemente em suas terras e de forma mais eficiente
possível, os sojicultores cooperados estão trabalhando com uma maioria absoluta,
com cultivos de menor movimentação do solo possível, como o plantio direto,
mantendo assim, na maior parte do tempo, as terras cobertas com palhas e matéria
orgânica, preservando a umidade no solo, o que colabora em muito no combate da
erosão e perdas causadas por ela, não perdendo a fertilidade e ocasionando a
manutenção das características necessárias para a longa vida no solo. Segundo foi
informado, as recomendações técnica por parte da cooperativa são realizadas, mas
algumas vezes podem não ser cumpridas pelo produtor. Assim, os trabalhos como o
manejo das microbacias são repassados pela cooperativa e, ainda, podem ajudar
112
em seu desenvolvimento se seguidas às orientações. A sua divulgação não é o foco
das atenções dela, mas apóiam este trabalho e ajudam a outros órgãos do Estado
com as informações apresentadas.
Como seqüência de programas de Conservação dos Solos, o Paraná vem
aplicando desde a década de 1970 o combate à erosão através do manejo do solo e
das águas. No manejo da fertilidade do solo deu incentivos para aquisição de
calcário e a correta utilização de implementos para aplicar as técnicas
conservacionistas. Por fim, este programa também incentiva técnicas de manejo bio-
cultural do solo, como o preparo reduzido com o cultivo mínimo, plantio direto, e a
rotação de culturas com plantas para a adubação verde para manter ou aumentar a
cobertura vegetal, colaborando então, na fertilidade. Para o programa de
microbacias o Estado tem realizado incentivos que incluem terraceamentos,
adequação de estradas para escoamento das safras, a correção da acidez do solo,
o reflorestamento conservacionista entre outros. Com este programa há a integração
entre produtores rurais, associações comunitárias organizadas pelos municípios,
entidades e/ou associações em todas as propriedades que pertençam às
microbacias (COSTA et al, 2006). Por esta infra-instrutora formada no Estado do
Paraná, a cooperativa não necessita iniciá-la, apenas dar o suporte aos órgãos
competentes e a seus cooperados.
Uma exploração agrícola sem importar-se com a manutenção e preservação
do solo e do meio ambiente, pode-se deparar de forma rápida com uma degradação,
com desequilíbrio nas propriedades física, químicas e biológicas do solo, fator que
afeta direta e indireta no potencial produtivo. Assim, destacam-se como principais
causas da degradação, a compactação. Este envolve ausência de cobertura vegetal,
erosão hídrica, utilização de áreas inapropriadas e mal conduzidas para o cultivo
anual, com ausência de técnicas específicas. Conforme Guerra, Silva e Botelho
(2010) salientam, nas terras tropicais que normalmente apresentam alto índice
pluviométrico, em áreas desmatadas e com solos desprotegidos de cobertura
vegetal, potencializam sua susceptibilidade erosiva, recomendando-se práticas
conservacionistas neste solo, procurando evitar formação da erosão e suas
conseqüentes perdas.
Uma das primeiras ações da cooperativa junto aos cooperados seria um
levantamento da propriedade, podendo assim, realizar uma avaliação mais
detalhada para as recomendações técnicas, a exemplo a identificação das medidas
113
mais urgentes e, das possíveis a serem executadas na atual condição da
propriedade e da capacidade técnica e financeira do produtor, bem como das que
requerem outro momento ou etapa.
Aqui novamente se destaca o combate à erosão. Sua importância é enorme,
evitam-se perdas de investimentos realizados na terra, como curvas de
nível/terraceamentos, calagem, adubos, sementes, matéria orgânica e do solo
propriamente dito (GOMES, 1985). Áreas com acidez elevada e Al3+ tóxicos
necessitam de calcário, fato que pode acarretar em maiores perdas após aplicação
em áreas mais propensas. Pode ainda afetar a fertilidade da terra e afetar e seu
potencial produtivo, podendo favorecer a terra ácida, a intensidade do alumínio e
afetando a disponibilidade de nitrogênio, enxofre, fósforo, cálcio e magnésio, entre
outros (OCEPAR/EMBRAPA, 1989). Assim, de forma prática, dá-se para imaginar
que perdas com erosão podem significar mais que perdas de investimentos, mas
redução de potencial produtivo e perdas ambientais.
A orientação técnica sobre os agrotóxicos é também de grande importância,
como os esclarecimentos nos projetos desenvolvidos e/ou apoiados por esta
cooperativa. Se perguntado a um agricultor o que fazer se aparecer uma praga em
sua lavoura, o mais fácil a se escutar, segundo a EMATER (1988) é: realizar uma
aplicação de veneno. No entanto, segundo recomendações técnicas, não é a melhor
resposta, pois o veneno mata a praga e também o inimigo natural. Assim, no geral, o
retorno da praga é mais intenso por não ter por quem ser combatida. Por este
motivo, na próxima aplicação será necessário o uso de mais veneno contra a
mesma praga. Desta forma, com as recomendações técnicas, a aplicação de
produtos químicos podem se tornar mais adequados para a conservação ambiental.
Desta forma as informações são passadas aos agricultores, informando-os sobre o
produto e os riscos de seu uso, podendo ser uma maneira, até de inibir o seu uso.
Assim o controle integrado de pragas ganha maiores dimensões quando
esclarecido aos agricultores que há uma capacidade da planta de suportar o ataque
de determinada quantidade da praga, sem que o dano causado na planta venha
prejudicar a sua produção. Desta forma, este manejo sugere o momento correto de
aplicação de defensivos, quando o dano ou a número de pragas está no limite para
que seus inimigos naturais consigam controlá-las (EMATER, 1988). Este método
diminui sensivelmente o uso de inseticida e os gastos financeiros com a aplicação.
Embora nem sempre este manejo seja praticado pelos cooperados quando
114
recomendado pelos técnicos, os proprietários de áreas maiores fecham-se ainda
mais para a adoção e o acompanhamento para o manejo integrado.
O controle natural das pragas é de grande valia para proteção do meio
ambiente, pois existem diferentes meios naturais de combate, como a competição
no caso de ervas daninha, utilizando o sufocamento através da cultura (luz e
nutrientes), bem como de insetos nocivos às pragas ou doenças que as
enfraquecem e geralmente as levam à morte. Assim, o plantio-direto também
colabora para diminuir aplicações. Ainda, como outra medida de controle há a
utilização da batida-de-pano, a qual levanta como está a infestação na lavoura e o
estágio de vida em que se encontra a planta. Também ajudam a constatar os danos
causados nas plantas da lavoura e a fase em que se encontram as pragas. Também
a identificação da praga e de seu inimigo natural, como os estragos já realizados.
As pragas da soja podem ser controladas através de doenças naturais, como
exemplo o Baculovírus, o qual ataca as lagartas-da-soja (Anticarsia gemmatalis), ou
ainda a doença branca, a qual ataca as lagartas e as deixam preguiçosas até matá-
las e as tornando brancas pelo fungo Nomuraea (EMATER,1988). No caso dos
percevejos realiza-se controle químico após comprovação de seu ataque na
formação das vagens ou dos grãos. Se encontrado apenas nas bordas da plantação,
realizar a aplicação apenas nestes locais. Estas recomendações são realizadas pela
cooperativa aos sojicultores que desejem fazer o controle integrado de pragas,
podendo assim reduzir em muito a utilização de venenos e ajudando na preservação
do micro ecossistema local.
Com respeito às infestações nos grãos armazenados, também pode ser
utilizado o controle integrado, deste que não haja perdas tanto qualitativas quanto
quantitativa para os grãos armazenados. Neste caso são recursos utilizados
principalmente pela cooperativa, quando recebida a safra para o armazenamento do
grão até sua utilização. Este processo é o conhecido como MIPGRÃO, o qual
identifica a infestação dos insetos da armazenagem, contaminação fúngica com
toxinas com efeitos negativos para a saúde do homem e animais, dificuldades para
exportação e outros subprodutos que possam ter um potencial risco para outras
utilizações. Assim há necessidade de realizar expurgos para evitar tais problemas
indesejados.
Conforme exposto na visita in loco, o procedimento de armazenagem da
cooperativa começa não pelo recebimento da safra, mas pelos cuidados com a
115
limpeza das áreas reservadas para a armazenagem, como da verificação da
qualidade dos grãos (limpeza e umidade). Posteriormente é realizado o expurgo com
fosfina com gás e o líquido, deixando por pelo menos quatro dias em exposição
intensa com o composto químico. Somente depois de trinta dias poderá ser utilizado
o grão para qualquer fim. Periodicamente após a carência do prazo exigido pelo
produto, é realizado um acompanhamento de como está o processo da
armazenagem.
Já no processo agroindustrial referente ao ciclo de transformação da soja in
natura em óleo refinado comestível, a cooperativa informou todo o processo utilizado
em sua industrialização. Em algumas fases foram ressaltadas algumas informações
conforme já exposto no item 4.2.4, principalmente quando havia uma exposição que
compatibilizava com a teoria pesquisada (item 2.6), destacando assim, alguma
diferença no método realizado por eles, ou mesmo que apresentavam diferenças
positivas nos aspectos ambientais.
Desta forma falou-se sobre o processo que envolve a geração de energia
para esmagamento da soja na produção de farelo e óleo, como do calor necessário
para a refinação, utilizando a biomassa proveniente da queima do bagaço da cana-
de-açúcar, sendo que os resíduos desta combustão são utilizados para a produção
de adubo orgânico. Também a terra-clarificante utilizada no processo de
branqueamento do óleo refinado, após seu uso, é também redirecionada para
fabricação de adubo orgânico. Na produção do óleo bruto, uma vez extraída por
meio de solvente orgânico, o Hexano, utiliza-se o ROTOCEL, ou seja, equipamento
em forma de cilindro para extração do óleo via solvente orgânico, que aproveita ao
máximo a matéria-prima (flocos de soja), a qual através de uma rotação baixa forma
a miscela que gradativamente torna-se mais diluída em um fluxo contrário entre a
miscela e a entrada do solvente puro. Na parte inferior do cilindro separa-se a torta
ou o farelo, transferido-o para o dessolventizador para um processamento térmico
com o fim de inativar elementos antinutricionais que afetam o sabor. A recuperação
do solvente é praticamente total devido à utilização de um compressor e ar frio.
O processo de refinação do óleo bruto é para melhorar a aparência, o odor e
o sabor. Neste foi visto que a teoria não difere muito da prática utilizada, havendo
apenas algumas particularidades do processo, como os detalhes com o intuito de
maior aproveitamento dos resíduos, exemplificado na venda da borra para
fabricação de sabão, o ácido graxo a 0,4% para a obtenção da Vitamina C e
116
exportação ao Japão. Por fim, os resíduos de filtragem do óleo e o lodo do refino,
todos provenientes da água da lavação da produção do óleo refinado, a qual e
entregue para a produção de adubo orgânico.
Devido à substituição do Óleo BFP pala a biomassa na geração de energia no
processo de produção e refinação do óleo, a cooperativa está elaborando um projeto
para que possa receber em seu benefício créditos de carbono.
Com a soma dos resultados obtidos pela cooperativa nos processos
produtivos e nos projetos em que estão executando, mostram-se bem positivos nos
aspectos ambientais. Como a redução ou quase eliminação de resíduos deixados ou
lançados no meio ambiente, a venda de subprodutos para outras cadeias produtivas
desta transformação, o reaproveitamento de embalagens para produção de outros
produtos e mais os aspectos educacionais transmitidos para a comunidade local, os
quais ajudam a explicitar e divulgar algumas destas práticas.
Como exemplo mais direto, pode-se exemplificar o aproveitamento dos
recipientes PET utilizado no envasamento de óleo refinado, o qual está sendo
estudado a viabilização do reaproveitamento para a transformação em fios
ecológicos. Aproveitando este rumo, embora não seja relativo ao processo do óleo
refinado, também há o estudo do reaproveitamento das embalagens longa vida de
sucos, transformando-os em material duro que possam substituir o amianto na
fabricação de telhas, como também de outros objetos.
Assim, praticamente toda a teoria pesquisada neste estudo foi utilizada por
esta cooperativa, mostrando-se dentro de um caminho com inclinação ao
desenvolvimento ambiental. As certificações ISO 9000 (Qualidade), a ISO 14000
(Ambiental), a OHSAS 18000 (Segurança e saúde do trabalho) também ajudaram a
impactar positivamente a agro-industrialização nos aspectos ambientais, com ações
favoráveis ao meio ambiente e nas outras duas dimensões do triple bottom line.
Ainda há o respeito à legislação e à legalidade deste processo produtivo, sobretudo
o respeito ao meio ambiente, aos cooperados e ao próprio homem.
117
4.4 – Conclusões do Estudo de Caso
Das informações coletadas para este estudo, diversas ações desempenhadas
pela cooperativa mostram-se direcionadas para um crescimento que respeita e
propaga a fundamentação cooperativista, contribuindo também a uma formação
educacional com consciência à dimensão ambiental da sustentabilidade, alastrando-
se também às bases socioeconômicas da comunidade.
O alvo principal desta cooperativa está ligado mais aos cooperados, que
muitas vezes, beneficiam nas ações que envolvem toda a comunidade em que estão
inseridos. Como exemplo cita-se os métodos de condução das lavouras no campo,
os programas conjuntos aos fornecedores parceiros que abrangem a inclusão social,
educação ambiental, auxílio à formação profissional e pessoal, envolvimento do
jovem e da mulher nos interesses culturais, sociais e rurais. Também auxilia na
recuperação social e educacional, podendo orientar na manutenção e nos
investimentos ambientais, objetivando assim, a permanência das famílias nas
propriedades rurais. Ainda pode ser citada a reutilização de produtos que, se
ignorados, estariam contribuindo com a poluição ambiental, como os de reciclagem
de embalagens de óleo e, das embalagens de agrotóxicos, os quais geram novas
oportunidades de trabalho, fonte de renda e reutilização de material potencial
gerador de resíduos tóxicos.
Como ressalva aos procedimentos para a eliminação das embalagens de
defensivos agrícolas, cita-se a entrega para queima dos saches não possíveis a
realização da tríplice lavagem. Estas entregas são para a realização da queima dos
mesmos, por uma indústria no Estado de São Paulo, procedimento este, que por
falta de conhecimento por parte deste pesquisador, não saberia se há isenção de
danos ambientais neste método, devido à emissão de gases tóxicos à atmosfera.
Voltando aos aspectos positivos relacionados ao meio ambiente, o
reaproveitamento e o redirecionamento do material do ciclo de transformação da
soja in natura em óleo, são praticamente reutilizados todos os subprodutos deste
processo agroindustrial. Como exemplo, tem-se a venda dos subprodutos que
resultam na borra e nos ácidos graxos 0,4%, contribuindo na geração de renda e,
ainda, no redirecionamento de outros resíduos para a transformação em adubos
orgânicos (cinzas da queima da biomassa, lodo de refino, resíduos da filtragem do
óleo e a água da lavagem do processo de transformação). Observa-se que estes
118
últimos resíduos não são geradores de renda, mas, contudo são retirados do meio
ambiente. Constatando estas ações e os benefícios gerados à natureza, não trazem
somente benefícios para a cooperativa, mas a todos os cooperados e à sociedade.
Por imposição da legislação, esta agroindústria precisa atender as
Determinações dos Aspectos Ambientais (DAIA), o que inclui as Resoluções
CONAMA 01/86, 237/97 e 357. Também o projeto próprio desta organização para a
Certificação ISO 9000 (Gestão da Qualidade) e a Certificação ISO 14000 (Gestão
Ambiental), estando este aprovado e aguardando a visita da empresa certificadora
para o recebimento da mesma. Por serem projetos basicamente novos, foi
repassada a informação de que, principalmente os projetos ISO, há um trabalho
constante de formação dos colaboradores, ocasionando maior envolvimento,
participação e aceitação. Complementando, a cooperativa também está se
enquadrando na OHSAS 18000 (sistema de gestão com foco à Saúde e Segurança
Ocupacional).
Novamente são enfatizados pela cooperativa os princípios fundamentais do
cooperativismo, quando em diversos momentos é demonstrado pelos entrevistados
o grau de fortalecimento e envolvimento devido à democratização na educação dos
cooperados e cidadãos, como ocorre nos programas do Projeto Cultivar, Escola no
Campo, Integração Agricultura e Pecuária, Cooper Jovem, Núcleo Jovem e Núcleo
Feminino. Existem ainda programas que envolvem toda a comunidade, como
instituições governamentais e não-governamentais que geram trocas de informações
entre indivíduos e incentivam a inter e transdisciplinaridade na interação entre
sujeitos e instituições.
Este Estudo de Caso vem mostrando algumas atitudes da cooperativa de
superação e empreendedorismo, como a ampliação de negócios mesmo em
momentos de dificuldade da economia brasileira, com implantação de novas culturas
agrícolas, novos processos agroindustriais que contribuem à diversificação e até
mesmo ao pioneirismo de algumas ações, colaborando a concretizar o respeito aos
princípios cooperativistas e, de forma quase indireta, à fundamentação ao triple
botton line da sustentabilidade (ambiental, social e econômica) - ver figura 2.
Das informações coletadas e desempenhadas nas ações desta cooperativa,
sobressai-se o principal foco deste estudo, a dimensão ambiental. Conforme
demonstrado por Dyllick e Hockerts (2002), exemplificado pelas Figuras 3, 4 e 5, são
evidenciados também aspectos nas dimensões Financeiras ou do Negócio (a
119
Cooperativa em si), Ambiental ou Natural e da Sociedade ou Social, formando desta
forma, as interfaces Eco-eficiência, Eco-efetividade, Suficiência e o Patrimônio
Ecológico. Das diferentes interpretações possíveis na relação das interfaces aqui
destacadas, é possível obter diferentes interpretações complementares às inter-
relações. Desta forma, coloca-se uma interpretação nas Relações destacadas no
modelo das práticas identificadas entre cooperativa e os agentes participantes
dentro do ciclo produtivo do óleo. Têm-se o que segue:
Na Relação A, que diz respeito ao comportamento entre a cooperativa e os
cooperados na produção dos grãos de soja, através da ótica da própria cooperativa
e com uma visão exclusivamente ambiental, forma-se a interface da Eco-eficiência.
Nesta é possível destacar as ações que ajudam a reduzir impactos ambientais e,
que respeitam o ciclo natural de reposição da natureza. As recomendações técnicas
de preservação e manejo são de grande importância e destaque para melhorar e
manter a conservação e o desempenho da produção sem impactos negativos à
natureza.
Para a interface que forma a Eco-efetividade, ou seja, as orientações por
parte da cooperativa que não permitam impactos negativos ao meio ambiente na
produção agrícola. Das informações obtidas está sendo trabalhado de forma intensa
o uso das melhores tecnologias e informações sobre como utilizar os agrotóxicos,
fertilizantes químicos, manejos do solo, entre outros.
Para que nesta Relação A haja a Suficiência, ou seja, a inter-relação entre a
dimensão Ambiental e a Sociedade sem haver agressão ao meio ambiente pela
produção de soja, as orientações técnicas são, mais uma vez, de fundamental
importância, como o combate das perdas por erosão, combate ao desmatamento
pela informação e adequação das áreas plantadas, à intoxicação do solo por
químicos e mau uso dos insumos, e assim por diante.
Por fim estas orientações técnicas ajudam também na manutenção do
Patrimônio ecológico, o qual as gerações atuais, mostram-se com um consumo
exagerado deste capital, consumindo também o correspondente das futuras
gerações. Como exemplo desta destruição pode-se citar do solo, a contaminação
das águas, das vegetações pela falta de cuidados à preservação e manutenção,
mostrando um conseqüente efeito ao maior bem social da comunidade, o próprio
Capital Natural.
120
Na Relação B, a qual norteia o relacionamento entre a cooperativa e seus
fornecedores de insumos e implementos, destaca-se inicialmente a Eco-eficiência.
Além da parceria profissional informado pela cooperativa nas ações descritas
anteriormente, como o desenvolvimento de projetos com o fim de educar e colocar
em prática ações ambientais, que respeitem o ciclo natural da natureza sem
ultrapassar os limites de uso e produção, dentro dos interesses produtivos do
homem. Desta forma são exemplificados a utilização de agroquímicos e o corte de
matas ciliares para aumento da área plantada.
A Eco-efetividade é conquistada nesta relação, através da melhoria da
produção e mesmo da real produtividade, sem que haja qualquer agressão ao
ambiente, como o uso de implementos sem causar danos por compactação que
possam gerar erosão, intoxicação pelo o uso de agrotóxicos, como também, da
reciclagem das embalagens, iniciado pela orientação do uso, lavação e devolução,
como ainda, a utilização de sementes sem que haja degradação ambiental, animal,
etc.. Do mesmo modo a educação e a informação também ajudam na Suficiência,
havendo um maior entendimento por parte da sociedade, para um consumo
inteligente na produção dos insumos, incluindo a reciclagem de produtos,
protegendo assim, o Patrimônio Ecológico de toda a sociedade.
Na Relação C, a qual trata o relacionamento entre a cooperativa e os
sojicultores que entregam os grãos de soja para transformação em óleo refinado,
destaca-se o entendimento da interface da Eco-eficiência. Aqui alguns cuidados
são necessários para que não haja perda na qualidade, primariamente na produção
do campo, onde os problemas resultados do excesso de umidade, impurezas,
quebrados entre outros, não se tornem obstáculo para a boa qualidade. Tais fatores
podem afetar além da aparência do grão, na qualidade final do fruto e produto (óleo
refinado), na conseqüentemente diminuição do preço na venda final do grão do
sojicultor.
Para a Eco-efetividade seriam necessários cuidados por parte do sojicultor,
como um manejo adequado da cultura, com maior controle dos desempenhos dos
equipamentos utilizados e, controle de todo o desenvolvimento da soja. Assim,
poderia se evitar os problemas negativos já mencionados anteriormente. Em todo
este processo é importante que os efeitos negativos ao meio ambiente sejam
combatidos e buscado alternativas mais eficientes com menor degradação. Desta
forma, é possível chegar também à Suficiência através da sustentabilidade
121
ecológica, com trabalhos que visem não ultrapassar os limites da natureza, como o
desenvolvimento da cultura em questão, bem como do solo e de seu substrato
natural (nutrientes, M.O., sementes, etc.). Assim, destaca-se de forma bastante
explícita, a necessidade de trabalho na terra para que se possa atingir a
sustentabilidade e preservação do Patrimônio Ecológico (capital natural) da
sociedade.
Ainda, com a higienização por parte da cooperativa nos locais de
armazenagem dos grãos, evita-se a infestação de insetos nos grãos e ajudam ao
MIPGRÃO, evitando mais uma vez, a utilização mais acentuada de inseticidas em
combate às pragas.
A Relação D, a qual é caracterizada dentro da própria cooperativa e o setor
agroindustrial que transforma o grão de soja em óleo refinado, iniciando-se com os
licenciamentos e certificações relativos ao meio ambiente, como a DAIA (Resoluções
CONAMA) e a ISO 14000. Assim, para se alcançar a Eco-eficiência, pode ser
citada a substituição do óleo mineral BFP pela biomassa oriunda do bagaço de
cana-de-açúcar, vinda da produção de álcool da própria cooperativa, para a geração
de energia no processo de amassamento do grão de soja, como de calor para os
processos seguintes. Do amassamento do grão obtêm-se farelo e óleo de soja,
aproveitando o primeiro para venda e, o segundo, para refino. Desta forma
contribuem para a Eco-eficiência e, a Eco-efetividade com o aproveitamento dos
resíduos para outras cadeias produtivas, como a venda da borra da destilação do
óleo de soja para a indústria de saponificação. Também destaca-se a venda para
exportação do Ácido graxo a 0,4%, de onde pode ser obtida a Vitamina E. Por fim, a
destinação de resíduos para a indústria de adubos orgânicos, como as cinzas da
queima do bagaço de cana, o lodo do refino do óleo, os resíduos da terra
branqueadora e as impurezas da filtragem do óleo refinado.
Os aproveitamentos de resíduos contribuem também para a Suficiência e o
Patrimônio Ecológico, pois a suficiência é a aceitação pela sociedade de um
produto que não consome e nem utiliza de forma exaustiva o meio ambiente e, o
Patrimônio Ecológico. Mantendo o Capital Natural pela preservação, haverá uma
contribuição para a sustentabilidade ambiental.
Na Relação E que enquadra a cooperativa e o setor de distribuição dos
produtos finais, pode-se destacar que na distribuição específica do óleo de soja
refinado, realizado por Representantes Comerciais ao mercado, este sistema se
122
mostra com boa afinidade ao rendimento na interface da Eco-eficiência, com menor
manutenção da estrutura já existente de outros produtos, como a economia de
combustíveis e lubrificantes dos veículos utilizados nesta venda. Na Eco-
efetividade utiliza-se novos materiais, originados na reciclagem das garrafas PET
para o óleo comestível de soja. Esta equipe trabalha na divulgação deste
reaproveitamento das garrafas para a produção de fios ecológicos para a confecção
de camisetas, bem como, de forma paralela à produção de óleo comestível, há a
reciclagem das embalagens longa vida de sucos de frutas PURITY, ou seja, de outro
segmento da cooperativa a qual também é divulgado a reciclagem do material.
Esta reciclagem entra no aspecto da Suficiência e do Patrimônio
Ecológico, pois é uma ação que favorece ao meio ambiente na utilização de novos
recursos para a fabricação de produtos (camisetas e das telhas, por exemplo), sem
que sejam extraídos da natureza e/ou de materiais tóxicos. Por fim, a ação que
talvez esteja mais aproximada à Relação A que esta, pois é o reaproveitamento
oportuno das embalagens de agrotóxicos utilizados e levados pelos produtores
cooperados ou não, para a fabricação de outros produtos sem consumo do capital
natural.
A Relação F é a interface entre a comunidade local e a cooperativa como um
todo, ou seja, como os reflexos da produção em prol da comunidade com uma visão
enfatizando os aspectos ambientais. Como exemplo, cita-se o Projeto Cultivar,
produzindo mudas de árvores nativas que ajudam o Programa de Mata Ciliar, com
produção focando os cooperados com o propósito de reposição e formação das
matas, como de topo de morros ou incremento de reservas permanentes das
propriedades. O Projeto Escola no Campo que através de parcerias com outras
empresas desenvolvem a educação e informação sobre o meio ambiente,
tecnologias, alimentos e a propagação das informações estudadas. O Projeto
Integração Agricultura e Pecuária que ajudam na recuperação de terras improdutivas
devido ao uso intensivo da pecuária, para a reintrodução da agricultura e a
recuperação do potencial produtivo. Também a introdução de outros projetos como o
Cooper jovem e os núcleos Jovens e os Femininos, que também trabalham nas
informações de preservação ambiental e das propriedades de sua família. Estes
projetos trilham o caminho da Eco-eficiência através da educação para produzir e,
para atender às necessidades das propriedades de suas famílias, ajudando a reduzir
os impactos ambientais, respeitando o ciclo natural da natureza.
123
Também a interface que relaciona a Eco-efetividade é ajudada com a
educação, que possibilitam o fim do consumo de determinados produtos que
possam proporcionar consumos alternativos, como o aceite do manejo integrado de
pragas pela comunidade, não prejudicando e nem mesmo consumindo o capital
natural, ocasionando a Suficiência e, conseqüentemente, gerando a conservação e
a manutenção do Patrimônio Ecológico da comunidade, atuando assim, para as
presentes e futuras gerações.
Dentro das ponderações realizadas acima, a cooperativa parece buscar de
forma constante o caminho para a sustentabilidade ambiental e, quiçá, das outras
duas bases sustentáveis. Para a sustentabilidade ambiental, conforme salientado
por Dyllick e Hockerts (2002), o uso dos recursos naturais precisa respeitar o tempo
natural de reprodução ou, encontrar alternativas que possam substituir o produto em
questão. Para tanto, não é desejável acúmulo de emissões à atmosfera, mas sim
condições para a absorção ou assimilação da poluição pelo meio. Desta forma esta
organização parece se mostrar disposta a criar e divulgar soluções que somem na
preservação dos ecossistemas que a envolve.
Também, conforme já colocado anteriormente em outros itens, este estudo,
embora tenha sido focado nos aspectos ambientais, invariavelmente transpassam
para a dimensão Social, interagindo nas interfaces da Sócio-Eficiência e Sócio-
Eficácia. Assim, a Sócio-Eficiência é o que a sociedade tem capacidade de
consumir de forma adequada, ou seja, bom preço, produtos de boa qualidade e
acessíveis a eles, sem formar ilhas de acesso. Já a Sócio-Eficácia seria a solução
da cooperativa de não formar estas ilhas de consumo ou de excluídos para algum
produto disponível por eles.
Desta forma seria possível destacar na Relação F. Aqui a Sócio-Eficiência
são as respostas que a sociedade leva para a cooperativa em relação a alguns
produtos, como a acessibilidade, qualidade e o desempenho deste. Em
contrapartida, a Sócio-Eficácia tem a capacidade de responder à sociedade uma
relação com os produtos acessíveis a eles. Este trabalho pode ser realizado pela
cooperativa com a intenção de receber respostas pelo fornecimento de preços
acessíveis, maiores informações do produto como sobre os aspectos
conservacionistas, reciclagens e etc.. No mínimo utilizar esta oportunidade de
esclarecimento sobre sua produção, o seu processamento, vantagens utilizadas do
método produtivo e, o que pode ser melhorado ainda mais.
124
Para tanto, embora não se tenha estudado com profundidade como o COC
atua, esta unidade trabalha executando parte deste serviço com esclarecimentos
sobre os produtos e atendendo as reclamações, sugestões e divulgam os trabalhos
de reciclagem. Desta forma, já realizam parte do que foi informado nas entrevistas.
Encontraram-se aqui diversas ações relativas à dimensão ambiental dentro do
ciclo produtivo do óleo refinado de soja. Em atenção à produção primária e em sua
transformação, criou-se diferentes segmentos produtivos, desencadeando outras
redes trans e multidisciplinares com segmentos agronômicos, mecânicos, químicos,
administrativos e legislativos, aproximando assim as diferentes áreas técnicas e
profissionais, porém, mantendo suas identidades dentro das disciplinas e funções.
Desta forma, parece ter sido identificado na aplicação deste estudo, a confirmação
do que disse Capra (1996), em que a soma das partes não é apenas o simples
resultado deste, mas um algo maior que se incorpora nas interações existentes das
relações, formando uma sinergia ampla e mais abrangente.
125
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em todo o processo de produção esta cooperativa mostrou-se preocupada
com o enfoque ambiental, desde a produção primária da soja, ou seja, da aplicação
de tecnologias pelas recomendações técnicas e a implantação pelos cooperados.
Com uma avaliação prévia da propriedade para verificar pontos fortes e fracos para
sua capacidade de produção, bem como a capacidade de absorção das informações
pelo agricultor e, o estágio em que a propriedade se encontra. Também se considera
a capacidade monetária do agricultor cooperado, com o fim de verificar a
aplicabilidade das recomendações técnicas sugeridas. Este trabalho geralmente é
iniciado por uma análise química do solo, para a verificação sobre a fertilidade,
planejamento das culturas a serem implantadas, sementes, manejo e condução. A
recomendação do momento mais adequado para a colheita também faz parte do
processo e, por fim, as orientações para a administração da propriedade como um
todo.
A preocupação para não perder os investimentos no solo da propriedade do
cooperado, com adequações para a realidade de cada local, faz parte das
recomendações para a diminuição de riscos contra o meio ambiente. A erosão
hídrica, neste Estudo de Caso, tem grande ênfase no manejo de solo. Ações que a
evitam diminuem gastos e perdas, mas, sobretudo, colaboram na manutenção da
terra para sua aptidão à produção, contribuindo no equilíbrio do potencial produtivo.
Estas ações podem reduzir custos de produção e favorecer ao equilíbrio ecológico,
podendo ajudar à defesa de ataques de pragas e melhorar a qualidade dos grãos
produzidos.
Há décadas o Estado do Paraná vem desenvolvendo políticas públicas
voltadas à comunidade, com trabalhos focados nas microbacias. Nestas ações, a
participação de cada agricultor tem especial importância para a maior eficácia dos
programas. O PGAIM contribui na execução de melhorias técnicas nas áreas
envolvidas, com trabalhos na conservação dos solos e das águas e, conseqüentes
ganhos monetários e qualidade de vida aos agricultores participantes. Assim, a
integração social das famílias torna-se um importante resultado, salientando então, a
necessidade da participação da cooperativa junto aos cooperados. Mesmo que a
atuação neste programa não seja de forma direta, a cooperativa ajuda em muitos
126
casos na implantação de melhorias e fornecimento de informações aos órgãos
responsáveis do Estado.
Com relação ao uso de agroquímicos, os agricultores recebem da cooperativa
recomendações e informações sobre a tríplice lavagem e a aplicação dos
respectivos produtos. Complementar a estas, as recomendações sobre a adequada
armazenagem e o retorno dos recipientes aos pontos de coleta no prazo máximo de
um ano. Deste local é encaminhado para reciclagem, de maneira que possam ser
recolocados no mercado como novos produtos.
Ainda, com referência ao encaminhamento das embalagens de defensivos
para se evitar poluição por contaminação, sugere-se uma melhor avaliação sobre a
incineração das embalagens do estilo “sache”, ou daquelas que não possibilitem a
tríplice lavagem. A dúvida manifestada é se tal procedimento não causa liberação de
gases e elementos tóxicos à atmosfera.
Respeitando os interesses do agricultor, a cooperativa não obriga a entrega
da produção de um cooperado. Também aceitam a produção de um cooperante com
os mesmos critérios de preços e qualidade que de um cooperado. Para tanto, a
grande diferença entre estes indivíduos é que os cooperados ganham também na
divisão dos ganhos no balanço geral no fim de cada período, após a apuração dos
lucros. De forma imediata, o valor das vendas respeita os preços vigentes pelo
mercado pela classificação geral da produção de soja, tabela de classificação do
Ministério da Agricultura.
Na produção agroindustrial, o esmagamento da soja e a refinação do óleo
bruto se traduzem na redução de perdas de insumos e maior rendimento dos
resultados. Também a cooperativa procura vender além de seu produto alvo, óleo
refinado de soja, encaminhar subprodutos de seu ciclo para outras cadeias
produtivas. Esta contribuição ajuda na geração de novas rendas, ganhos ambientais
com diminuição ou eliminação da degradação por contaminação do meio e, ainda,
menor exploração na natureza para obtenção de novos recursos.
Na produção de energia e calor a substituição do óleo mineral BPF pela
biomassa (bagaço de cana-de-açúcar), advinda das usinas de álcool desta
cooperativa, faz deste combustível alternativo uma grande opção ecológica, com
menor potencial poluidor e renovável. Dos resíduos as cinzas oriundas da queima
são utilizadas como subproduto para mistura em adubos orgânicos.
127
Do grão de soja além da produção do óleo, retira-se o farelo que é vendido
para utilização como alimento, a borra originada na refinação do óleo bruto é
vendida para a indústria de saponificação, os ácidos graxos a 0,4% (Vitamina E) é
utilizado para exportação ao Japão. O transporte de resíduos de todo o processo de
transformação do óleo para a indústria de adubos orgânicos. Também a reciclagem
das garrafas PET de óleo em fios sintéticos, para a produção de camisetas e, o
reaproveitamento das embalagens plásticas dos agroquímicos, para produção de
outros produtos possíveis de serem colocados no mercado sem risco de
contaminação. Por fim, paralelamente a este ciclo, a reutilização das embalagens
cartonadas longa vida de sucos de fruta, para o reaproveitamento para fabricação de
materiais duros.
Neste processo produtivo estudado, a utilização dos subprodutos para outros
ciclos produtivos além de gerar benefícios aos seus cooperados, contribui na
geração de oportunidades de geração de novos empregos, renda das vendas para a
cooperativa e, situações que envolvem outras dimensões da sustentabilidade, não
havendo uma limitação apenas nos aspectos ambientais, mas abrangendo também
o socioeconômico.
Ainda há a preocupação do cumprimento da legislação referente às
particularidades desta agroindústria, respeitando diretrizes da Determinação de
Aspectos Ambientais (DAIA), as Resoluções CONAMA 001/86 (Estudo de Impactos
Ambientais – EIA - e do Relatório de Impactos Ambientais – RIMA), 237
(licenciamentos ambientais) e 357 (águas e efluentes) da agroindústria.
Posteriormente há as certificações que envolvem os compromissos da cooperativa
ISO 9000 (gestão da qualidade), ISO 14000 (gestão ambiental) e a OHSAS 18000
(gestão da saúde e da segurança ocupacional).
Partindo desta idéia, há um acompanhamento mais compromissado da
cooperativa junto aos seus fornecedores e prestadores de serviços, para que
atendam as exigências mostrando a capacitação da execução, respeitando a
legislação Federal, Estadual e Municipal e o seu comprometimento com a
cooperativa e cooperados.
Com este fim foram desenvolvidas duas tabelas de controle pela cooperativa,
sendo que a primeira controla as exigências para os serviços dos fornecedores e
prestadores de serviços, classificando as especificidades exigidas para seu cada
desempenho. A outra tabela controla todos os resíduos gerados, identificando onde
128
é produzido e para onde será encaminhada, destacando o custo do transporte, a
destinação ou, o valor da venda, se houver. Estas tabelas tornaram-se uma
ferramenta de grande importância para acompanhamento do outro ciclo produtivo,
controle da gestão da qualidade e da gestão ambiental.
Dos compromissos acima citados há o comprometimento de ordem legal da
organização para adequação das gestões, principalmente a ambiental. O PGAIM é
um programa de grande envergadura para o Estado do Paraná, que complementam
os trabalhos das comunidades em que atuam. Também os programas executados
em parcerias com a cooperativa, como o “Projeto Cultivar”, que exalta o trabalho
junto aos alunos da APAE, a socialização de detentos da PEM, o “Escola no Campo”
com educação das crianças sobre meio ambiente, cooperativismo, reciclagem entre
outros. O programa de “Integração da Agricultura e Pecuária”, recuperando áreas
degradadas plantio e pecuária. Por fim, os que visam à educação ambiental,
cooperativismo, social, profissional e de cidadania, para jovens filhos de cooperados
e, os núcleos femininos, através do “Cooper Jovem”, “Núcleo Jovem” e “Núcleo
Feminino”.
Por fim, a distribuição do produto acabado para consumo final, havendo para
o caso do óleo “Representantes Comerciais”. A cooperativa no geral trabalha com
uma equipe mista com Representantes Comerciais, Vendedores próprios e
Distribuidores, com atuação em seu canal específico de distribuição. Conforme
informação recebida, este sistema propicia uma maior economia de custos por
manutenção (combustíveis e manutenção) para a cooperativa. Outra ação que o
canal de distribuição também opera, é a divulgação dos programas de reciclagem.
Das Políticas geradoras de resultados positivos para os associados no
aspecto ambiental, iniciam-se desde a produção primária à secundária do óleo
refinado. As orientações técnicas aos cooperados em sua lavoura oferecem o que a
avaliação técnica entende como necessária e dentro da capacidade que cada um.
Também a divulgação para a devolução das embalagens de agrotóxicos vazios e
lavados (tríplice lavagem) e, o encaminhamento para o seu reaproveitamento. Ainda
a reciclagem das garrafinhas PET de óleo em fios ecológicos e, a produção paralela
das embalagens longa vida de sucos.
A política produtiva do óleo em seu processo agroindustrial colabora no
aproveitamento de resíduos, com retirada de embalagens do meio ambiente para
um novo processamento e de despoluição ambiental, podendo beneficiar na geração
129
de nova linha produtiva, com uma motivação socioeconômica. Ainda a implantação
dos projetos ISO 9000, 14000 e o OHSAS 18000 que despertam maior envolvimento
dos colaboradores e, a vantagem do controle dos materiais e serviços. Com respeito
às normas da legislação, há o cumprimento do DAIA e as Resoluções CONAMA
001/86, 237 e 357 da agroindústria. Por fim, os projetos diversos (“Projeto Cultivar”,
“Escola no Campo”, ”Integração Agricultura e Pecuária”, “Cooper Jovem” e o “Núcleo
Jovem” e “Núcleo Feminino”) que contribuem no geral, para a profissionalização, o
cooperativismo e a administração da propriedade.
Ainda há o trabalho desenvolvido pelo COC, entre outras coisas, divulga a
reciclagem de material como das garrafas PET, as cartonadas longa vida e outras
promoções que possam ser realizadas pela cooperativa, colaborando desta forma,
na geração de benefícios financeiros à cooperativa como os ambientais.
Ressaltam-se aqui as ações que influenciam os aspectos ambientais, mas
que refletem em outras dimensões por estarem interligadas ou seqüenciadas, como
citado por Capra (1996, p.46): “as propriedades das partes não são propriedades
intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo maior”. Assim,
muitas das ações adotadas e que estão ligadas ao aspecto ambiental, normalmente
geram influências econômicas positivas aos associados e à comunidade. Com esta
constatação, geralmente afetam os aspectos sociais e que podem contribuir para
melhorias na qualidade de vida desta população. Como exemplo, o acesso à
tecnologia pelos sojicultores, colabora para a diminuição de desperdícios, contribui
para conservação do solo, na qualidade das águas, com menor intoxicação por
defensivos e, menor uso de agentes compactadores do solo, como tratores e
equipamentos. Com tais economias o agricultor pode melhorar seus ganhos da
produção e desencadear alterações em todo seu sistema produtivo.
Das políticas referentes aos projetos desenvolvidos em parcerias, o “Cultivar”
incluem crianças especiais da APAE e detentos da PEM, produzindo mudas nativas
para a preservação ambiental e inclusão social, com renda e motivação pessoal. O
projeto “Escola no Campo” gera educação referente o cooperativismo, saúde, meio
ambiente e qualidade de vida às crianças envolvidas. A “Integração Agricultura e
Pecuária” gera melhorias nas propriedades desgastadas pela pastagem, com efeitos
na renda, diversificação de culturas, qualidade de vida dos envolvidos e arrecadação
para os municípios. Por fim as “Cooper Jovem” e o “Núcleo Jovem” e “Núcleo
Feminino”, oferecendo educação, informações a respeito sobre o cooperativismo e
130
orientações sobre a administração da terra (sua propriedade), meio ambiente e
envolvimento do meio rural ao contexto atual.
Ficou claro o respeito aos cooperados e aos princípios cooperativistas por
esta organização, com comprometimento às assistências aos associados pelos
técnicos envolvidos. A disciplina das implementações das recomendações é
ordenada e dentro da capacidade do cooperado e da propriedade, sobretudo com
respeito ambiental. Estas recomendações complementam a melhoria das
propriedades e da preservação do potencial produtivo.
A avaliação prévia da propriedade e o reconhecimento do que existe,
possibilita a primeira e as subseqüentes recomendações, para que o planejamento
adequado dentro da realidade da área e do proprietário. Assim a relação existente
entre cooperativa e cooperado se estreita e é formado encima da confiança e nos
bons princípios, inclusive os cooperativistas.
Nas etapas do ciclo produtivo do óleo refinado, esta cooperativa desempenha
de forma intensa, parecendo comportem-se como se cada uma delas fosse a mais
importante de toda a produção. Este fato resulta em melhorias de cada setor, com
acréscimo de uma sinergia entre as fases. As respostas são ações de preservação e
ganhos ambientais, que resultam em melhorias financeiras e afinidade com a
relação social, incrementando a possibilidade de atender as bases sustentáveis.
Neste programa de Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da
UNIFAE – Curitiba, na linha de pesquisa de Políticas Públicas e
Desenvolvimento, as ações adotadas e empenhadas neste estudo junto a esta
organização cooperativa, alinham-se ao programa dando atenção à dimensão
ambiental da sustentabilidade, sendo que chegaram a transpassar para as outras
duas dimensões, enfatizando a concepção da idéia do “triple botton line”. Algumas
vezes na inter-relação destas três bases, resultaram em um engrandecimento nos
resultados alcançados, ajudando e corroborando no entendimento de um
desenvolvimento sustentável para esta organização.
Relevante informar que as pesquisas referentes às cooperativas, conforme
observado por este pesquisador, na grande maioria dos trabalhos escritos que
envolvem cooperativas agropecuárias, relacionam-se com os aspectos
socioeconômicos, sendo que este estudo focou a fundamentação ambiental e, que
em alguns momentos, a transdiciplinaridade do tema sugeriu algumas
considerações dentro do campo dos alicerces da sustentabilidade.
131
Das contribuições realizadas por este estudo, acredita-se que este trabalho
em alguns pontos inovador no ciclo produtivo estudado, possa contribuir para outras
organizações com atitudes mais convencionais e, ao mesmo tempo, que possa
gerar frutos de forma coletiva. Nesta direção é possível a geração de oportunidades
às pessoas, para obtenção de melhor qualidade de vida de forma mais justa e com
respeito ao meio ambiente.
Como possível problema nas informações adquiridas neste estudo, está que
foi realizada observando apenas a perspectiva da cooperativa em seu ciclo
produtivo, podendo passar a falsa impressão aos observadores, que as informações
obtidas correspondem a uma visão unânime, tanto dos diretores da cooperativa
quanto dos cooperados, fornecedores, colaboradores, prestadores de serviços e da
própria comunidade. Embora seja possível obter este mesmo resultado, sugere-se
como estudo complementar a este, um com maior aprofundamento das informações
obtidas, entrevistando agora os stakeholders e a comunidade local, captando assim,
as suas impressões. Ainda, realizar o mesmo trabalho junto a outras cooperativas e
com ampliação da pesquisa para análise também quantitativa, para verificar se este
perfil se repete em todas cooperativas agropecuárias.
132
REFERÊNCIAS
ALLEDI, C.; QUELHAS, O. A Sustentabilidade das Organizações e a Gestão da Ética, Transparência e Responsabilidade Social Corporativa. Anais I Congresso Nacional de Excelência em Gestão, 2003. Niterói: Universidade Federal Fluminense ALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. ALMEIDA, J. Da ideologia do progresso à idéia de desenvolvimento (rural) sustentável. Educação Agrícola Superior, Brasília, v. 15, n. Especial, p. 51-85, 1997. ARAÚJO, R., P.; SANTOS, N. de; MAFRA, W. J. Gestão da segurança e saúde do trabalho. III SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia: Rio de Janeiro, 2006. ARROYO, P. The three dimensions of a sustainable management accounting system. Halifax, Nova Scotia. ASAC 2008. BARRETO, C. A.. Os impactos socioambientais da soja no Brasil. In: - II Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, 2004, Indaiatuba. II Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, 2004. BAUMAN, Z. Vida para consumo. Tradução por Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. BECKER, D. F. et al. Desenvolvimento Sustentável: necessidade e/ou Possibilidade? Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1997. BELLINGIERI, P. A.; ALCARDE, J.C.; SOUSA, E.C.A. Avaliação da qualidade de calcários agrícolas através do PRNT. An,Esalq., Piracicaba, 45 (parte 2): 579-588, 1988. BRECHELT, A. O Manejo Ecológico de Pragas e Doenças. Tradução de Hildegard Susana Jung: RAP-AL, Santiago do Chile, 2004. BROWN, L. R. Eco – Economia: construindo uma economia para a terra. Tradução de Henry J. Mallet e Célia Mallet. Salvador: UMA – Universidade Livre da Mata Atlântica, 2003. BURNS, Edward Mc.Nall. História da Civilização Ocidental Volume II. Tradução de Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado. 2ª ed. Rio de Janeiro: Porto Alegre: São Paulo: Editora Globo, 1965.
133
BURSZTYN, M. Desenvolvimento com Sustentabilidade. Brasília:IHU on-line. 06/nov/2006. Disponível em:?option= comeventos& ltemid=26& task=evento&id=39&id_edicao=222. Acessado em 11/07/2009. BURSZTYN, M. at AL. Para Pensar o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1993. CAMPESTRE IND. E COM.DE ÓLEOS VEGETAIS LTDA. Óleo de soja. São Bernardo do Campo, SP. Disponível em: http://www.campestre.com.br/oleo-de-soja.shtml. Acessado em: 30/11/2010. CAPRA, Fritjof. A teia da vida. Tradução por Newton Roberval Eichemberg. 9. ed. São Paulo: Editora Pensamento-Cultrix, 1996. _______. Ponto de Mutação. Tradução de Newton Roberval Eichemberg.. 22ª ed. São Paulo: Editora Cultrix Ltda, 1982. CARVALHO, P. G.; BARCELLOS, F. C. Mensurando a sustentabilidade. In: MAY, P.H. Economia do Meio Ambiente: teoria e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. CATTANI, A.D et al. Dicionário internacional da outra economia. Coimbra: Editora Almedina Brasil Ltda, 2009. COGO, N. P. et al. Perdas de solo e água por erosão hídrica influenciadas por métodos de preparo, classes de declive e níveis de fertilidade do solo. Revista Bras.Ci.Solo, 27:743-753, 2003. COCAMAR. Programa Cooperjovem. Disponível em: http://www.cocamar.com.br/ver_projeto2.php?id=11. Visitado em 10/01/2011. COCAMAR. Núcleo Jovem. Disponível em: http://www.cocamar.com.br/ver_projeto2.php?id=8. Visitado em 10/01/2011. COCAMAR. Núcleo Feminino. Disponível em: http://www.cocamar.com.br/ver_projeto2.php?id=9. Visitado em 10/01/2011. COCAMAR. Programa de Integração Agricultura e Pecuária. Disponível em: http://www.cocamar.com.br/ver_projeto2.php?id=7. Visitado em: 10/01/2011. COCAMAR. Projeto Escola no Campo. Disponível em: http://www.cocamar.com.br/ver_projeto2.php?id=10. Visitado em: 10/01/2011. CONCEIÇÃO, P. C. et al. Qualidade do solo em sistemas de manejo avaliada pela dinâmica da matéria orgânica e atributos relacionados. Revista Brasileira de Ciências do Solo, v. 29, p. 777-788, 2005. COSTA, A. et al. Programas de conservação do solo e da água em microbacias: o caso do Paraná, resultados obtidos e novos desafios.. II Simpósio Nacional Sobre o Uso da Água Na Agricultura, Passo Fundo- RS, 2006.
134
DAIA. Departamento de avaliação de impacto ambiental. Disponível em: http://homologa.ambiente.sp.gov.br/cprn/sobre_daia.htm. Visitado em: 18/02/2011. DECRETO Nº 4.074, DE 4 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em http://www.iedaconsultoria.com.br/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=10. Visitado em 10/02/2011. DENARDIN, V.F; SULZBACH, M.T. Os possíveis caminhos da sustentabilidade para a agropecuária da região oeste de Santa Catarina. Desenvolvimento em Questão. Ano 3, n. 6, jul/dez, p. 87-115, 2005. DOWBOR, Ladislau. Produtividade sistêmica do território: um conceito essencial. Ladislau Dowbor Artigos On line 2009. Disponível em http://dowbor.org/artigos.asp. Acessado em 03/06/2010. DYLLICK, T; HOCKERTS, K. Beyond the business case for corporate sustainability. Business Strategy and the Environment, v. 11, p. 130-141, 2002. EMPRESA PARANAENSE DE ASSISTENCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL. Manejo integrado de pragas da soja. Curitiba, EMATER-PR, 1988. EMBRAPA. Correção e Manutenção da Fertilidade do Solo. Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Soja/SojaCentralBrasil2003/fertilidade.htm. Acesso em 14/12/2010. FERREIRA, Mara Sâmia; BETTONI, Clóvis. Como constituir alianças estratégicas e associativismo econômico. Curitiba: FAE/CDE, 1994. FERREIRA, A. B. H. Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa. 11ª ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1983. FIGGE, Frank; HAHN, Tobias. Sustainable value added. Grening of the Industry Network Conference. Gothenburg- Sweden, 2002. FURTADO, N. O mito do desenvolvimento econômico. São Paulo: Terra e Paz, 1974. GAL, Naphtali. A organização cooperativa e o desenvolvimento rural. Traduzido por José Walder Leitão. Fortaleza: BNB. ETENE, 1981. GODOY, C. K.; BALSINI, C. P. A Pesquisa Qualitativa nos estudos organizacionais brasileiros: uma análise blibliométrica. In: GODOI, C. K. et al. Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. 1ª ed., 2ª tiragem. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. GODOY, A. Estudo de caso qualitativo. In: GODOI, C. K. et al. Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. 1ª ed., 2ª tiragem. São Paulo: Editora Saraiva, 2007.
135
GOMES, Fernando Martins. A infra-estrutura da propriedade rural. 3ª ed. – São Paulo: Nobel, 1985. GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. Termo de referência da educação socioambiental do PGAIM - versão12/2009. Disponível em: http://www.pgaim.pr.gov.br/arquivos/File/edu_amb/TREdSocioambPGAIMVFinal.pdf Visitado em: 15/01/2011. GUERRA, A. J. T; SILVA, A. S. da; BOTELHO, R. G. M. Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. 5ª ed. – Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2010. HOFFMANN-CAMPO, Clara Beatriz ET AL. Pragas da soja no Brasil e seu manejo integrado. Londrina: Embrapa Soja, 2000. JACOBI, Pedro Roberto. Educar na sociedade de risco: o desafio de construir alternativas. Pesquisa em Educação Ambiental, v.2, n.2, p. 49-65, 2007. LAGO, Antonio; PÁDUA, J. A. O que é ecologia. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992. LEITE, João Salazar. Princípios cooperativos. Santarém (Pt), 2010. Disponível em: http://www.inscoop.pt/Inscoop/actividades/publicacoes/docs/princ%C3%ADpios_cooperativos_-_de_Jo%C3%A3o_Salazar_Leite.pdf Visitado em 16/09/2010. LEI N.° 4.771/65 Código Florestal. Área de preservação permanente obrigatória. Disponível em: http://www.mataciliar.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=13. Acesso em 10/01/2011.
LEI No. 9.974 DE 6 DE JULHO DE 2000. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9974.htm. Acessado em 10/01/2011.
LEFF, E. Saber Ambiental. Tradução: Lúcia Mathilde Endlich Orth. 5. ed. Petrópolis:Terra e Paz, 2007. LOPES, C; SACHS, I.; DOWBOR, L. Crises e oportunidades em tempos de mudanças. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2010. Disponível em: http://dowbor.org/. Acesso em 20/08/2010. MACHADO, Pedro Luiz Oliveira de Almeida. Considerações Gerais sobre a Toxicidade do Alumínio nas Plantas. Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1997. MANDARINO, J. M.G.; ROESSING, A. C. Tecnologia para produção do óleo de soja: descrição das etapas, equipamentos, produtos e subprodutos. Londrina: EMBRAPA Soja, 2001 MANNRICH, Nelson. Constituição Federal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.
136
MAY, P.H. Economia do Meio Ambiente: teoria e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. MENDES, A. D., Breve itinerário dos ecossistemas à ecopoesia. In: BURSZTYN, Marcel et al. Para pensar o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Editora Brasiliense, 1993. MOREIRA, J. C. et al. Avaliação integrada do impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana em uma comunidade agrícola de Nova Friburgo, RJ. Ciências e Saúde Coletiva v.7, n. 2, 2002. MORI, C. D.; LORINI, I.. Manejo Integrado de Pragas de Grãos Armazenados (MIPGRÃOS). EMBRAPA. Disponível em: http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do90_6.htm. Acessado em 03/03/2011. Organizações das cooperativas do Estado do Paraná. Programa de Pesquisa. Recomendações técnicas para a cultura da soja no Paraná 1989/90. Cascavel, OCEPAR/EMBRAPA-CNPSo, 1989. OLIVEIRA, Gilson B. de; SOUSA-LIMA, José Edmilson de. O desenvolvimento sustentável em foco: uma contribuição multidisciplinar. Curitiba: São Paulo: Annablume, 2006. PINHO, Diva Benevides. A Doutrina Cooperativa nos Regimes Capitalista e Socialista: suas modificações e sua utilidade. 2ª edição. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1966. PORTARIA nº 262. Normas de qualidade para classificação e comercialização da soja em grão. Ministro de Estado da Agricultura, disposto na Lei nº 6.305, de 15 de dezembro de 1975, regulamentada no Decreto nº 82.110, de 14 de agosto de 1978 e entra em vigor em 1/01/1984. Disponível em: http://www.engetecno.com.br/port/legislacao/geral_soja_grao.htm. Acessado em: 12/02/201. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA - Comissão Interministerial para Preparação da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CIMA). O desafio do desenvolvimento sustentável. Brasília: Presidente F. Collor, CIMA, 1991. QUEIROZ, C. A. R. Soares de. Manual da cooperativa de serviços e trabalho. São Paulo: Editora STS, 1996. RAIJ, B. Van. Estudo de materiais calcários usados como corretivos do solo no Estado de São Paulo – O poder relativo de neutralização total. BRAGANTIA Revista Científica do Instituto Agronômico do Estado de São Paulo, v. 32, n. 12, 1977. RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2008.
137
ROCHA, Elize R. B [et al]. Cooperativismo e associativismo – proposta alternativa de geração de trabalho e renda no município de Marilena, PR. Belo Horizonte: Anais do 2º Congresso brasileiro de Extensão Universitária, 2004. ROMEIRO, A.R. Desenvolvimento sustentável e mudança institucional: notas preliminares. Texto para Discussão, IE/UNICAMP, Campinas, n. 68, abr . 1999. SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2000. ________. Ecodesenvolvimento: Crescer sem destruir. Tradução: Eneida Araújo. São Paulo: Editora Vértice, 1986. ________.; LOPES, Carlos; DOWBOR, Ladislau. Crises e oportunidades em tempos de mudança. Documento de referência para as atividades do núcleo Crises e Oportunidades no Fórum Social Mundial Temático – Bahia 2010. Ladislau Dowbor. Artigos On Line. Disponível em http://dowbor.org/artigos.asp. Acessado em 03/06/2010. SILVA, C. L.; ALVES, A; SALANEK, P. Cooperativismo avícola e o desenvolvimento sustentável local na região oeste paranaense. V Encontro de pesquisadores Latino- americanos de cooperativismo. Ribeirão Preto: 2008. SYNGENTA. Projeto Escola no Campo. Disponível em: http://www.syntinela.com.br/website/responsabilidade-corporativa/projetos-socioambientais/projeto-escola-no-campo/. Visitado em 10/01/2011. SISTEMA OCEPAR. Cooperativas agropecuárias do Paraná: produtos e serviços. 2. ed. Curitiba, 2009. Encontrado no site www.ocepar.org.br.Visitado em 20/08/10. SISTEMA OCEPAR. Proposta para aperfeiçoamento da legislação ambiental brasileira. Curitiba, 2009. Encontrado no site www.ocepar.org.br.Visitado em 20/08/10. TAVARES FILHO, J. et al. Resistência do solo à penetração e desenvolvimento do sistema radicular do milho (Zea mays) sob diferentes sistemas de manejo em um latossolo roxo. Revista Brasileira de Ciências do Solo, v. 25:725-730, 2001. TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Cartilha de licenciamento ambiental. Colaboração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 2.ed. Brasília : TCU, 4ª Secretaria de Controle Externo, 2007. VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. VEIGA, M.M et al. Análise da contaminação dos sistemas hídricos por agrotóxicos numa pequena comunidade rural do Sudeste do Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2006.
138
_________.; SILVA, D. M.; VEIGA, L. B. E. Análise do Risco de Contaminação Ambiental por Agrotóxicos nos Sistemas Hídricos do Município de Paty do Alferes, RJ. XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, 2005. VELLOSO, J. P. R. ; MARTINS, L. A nova ordem internacional e a terceira revolução industrial. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1992. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução por Daniel Grassi. 3ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
139
ANEXOS
140
Continuação p. 172
141
142
143
144
APÊNDICE
Carta de Apresentação à OCEPAR
145
ROTEIRO DE PESQUISA NA COOPERATIVA 1) Departamento comercial e técnico: a) Procedimentos adotados pela cooperativa com os cooperados sojicultores; b) Principais recomendações técnicas aos cooperados; c) Insumos utilizados (adubos, sementes, agrotóxicos, equipamentos) e acompanha-mento dos fornecedores; d) Se há alguma relação ou interatividade entre cooperativas, instituições com preocupações conservacionistas ou de manejo. 2) COOPERATIVA e os fornecedores e sua relação: a) Insumos agrícolas; b) Insumos industriais; c) Embalagens dos produtos acabados; d) Atenções ao aspecto ambiental destes fornecedores. 3) Recepção da soja pelos produtores agrícolas: a) Quem são os fornecedores; b) Exigências ou especificações técnicas para entrega dos grãos à cooperativa; c) Aspectos ambientais desta fase (utilização de produtos de conservação dos grãos, riscos de explosão dos grãos, outros). 4) Processo de transformação da soja em grão para óleo refinado: a) Método de industrialização; b) Produtos químicos utilizados; c) Cuidados ambientais; d) Atenção aos fornecedores. 5) Distribuição e atendimento ao público: a) Estratégias adotadas; b) Atendimentos aos distribuidores; c) Atenção ao público consumidor; d) Preocupações aos aspectos ambientais; e) Outras atenções adotadas no processo. 6) Contribuição da cooperativa em geral: a) Forma de contribuição para a sustentabilidade de cooperados e comunidade; b) Principais políticas internas e ações voltadas à dimensão ambiental; c) Ações que afetam positivamente a cooperados, colaboradores e à comunidade.
Recommended