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LOGÍSTICA REVERSA: UMA ANÁLISE
EM UMA DISTRIBUIDORA DE
BATERIAS AUTOMOTIVAS
Michelle de Castro Carrijo (UFU)
michellecarrijo@yahoo.com.br
Renata Silveira Rollemberg Aragao (UFU)
fabriziofsilva@hotmail.com
Luciana Oranges Cezarino (UFU)
lucianacezarino@fagen.ufu.br
Diante do crescente consumo da população e do excesso de resíduos descartados
inadequadamente na natureza, passou-se a discutir temas como o de logística
reversa, que busca reinserir esses resíduos no processo produtivo das indústrias.
Sendo assim, o presente artigo objetiva compreender como funciona a logística
reversa em uma distribuidora de baterias automotivas localizada na cidade de
Uberlândia (MG), para tanto foi realizada uma pesquisa qualitativa de caráter
exploratório, e por meio de entrevista a um dos sócios proprietário buscou-se
verificar como a empresa tem se inserido no âmbito da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) e como ocorreu a inserção e o desenvolvimento do processo de
logística reversa.Concluiu-seque as informações em relação às leis que regem a
PNRS ainda são muito incipientes, as empresas que realizam a logística reversa não
sabem ao certo quais cuidados devem tomar para estocar e transportar os resíduos e,
tampouco quais as punições existentes. A estes, soma-se o fato de que a população
que utiliza as baterias não sabe do risco existente no incorreto descarte desse tipo de
produto.
Palavras-chave: Logística reversa; baterias automotivas; Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS)
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção” Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
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avançadas de produção” Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
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1. Introdução
Nos últimos anos, tem-se observado um aumento crescente da degradação do meio
ambiente. O consumo da população eleva-se de maneira desenfreada, com a redução do
ciclo de vida dos produtos, o progresso tecnológico, a elevação da renda média, entre outros
fatores que levam, igualmente, a uma elevação da produção. Em conjunto, população e
empresas geram maior quantidade de resíduos, bem como crescem as práticas como o
desmatamento, poluição do ar, do solo e da água, entre outros aspectos. As questões sobre a
preservação, sustentabilidade e reciclagem passam, então, a ser discutidas, de maneira cada
vez mais intensa, pela população, governo e empresas.
As empresas que antes acreditavam que essa questão ambiental deveria ser de total
responsabilidade do governo, passaram a enxergar o seu importante e imprescindível papel
para preservar e evitar maiores danos ao meio ambiente. Isso se deve à expansão da
consciência coletiva da população em relação aos assuntos ambientais e que é repassada
para as organizações, levando a um novo posicionamento dos empresários (TACHIZAWA,
2004). Além disso, o governo tem instituído leis que obrigam as empresas a cumprirem seu
papel na preservação do meio ambiente, como as leis da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) e as do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
Com o tempo, as organizações perceberam que adotar medidas que preservem a
natureza também trazem benefícios econômicos e ainda melhoram a imagem da
empresa diante da sociedade. A otimização dos recursos, a reciclagem e a reutilização, por
exemplo, reduzem o custo de produção das indústrias, aumentando seus ganhos econômicos.
Dento dessa questão de reutilização e/ou reciclagem de produtos na tentativa de
diminuir o impacto que esses dejetos mal descartados causam ao meio ambiente, a logística
reversa surge como uma atividade essencial em que é responsável pelo seu retorno para
as indústrias que os produziram, ou seja, ela é responsável por reintroduzir esses
produtos ao ciclo produtivo.
O estudo de caso abordado neste trabalho mostra a logística reversa realizada por
uma empresa atacadista que distribui baterias automotivas para auto elétricas, autopeças,
lojas de baterias, entre outros. Ela é responsável por coletar as baterias que já tiveram sua
vida útil esgotada e enviá-las para as indústrias, para que o plástico seja reciclado e o
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chumbo que compõe as baterias seja reaproveitado. Em linhas gerais, o presente trabalho
tem como objetivo descrever as ações de logística reversa em uma distribuidora de
baterias automotivas em Uberlândia, Minas Gerais.
Esse trabalho se justifica, em especial, por se tratar de um tema relativamente recente
que é o de logística reversa. O estudo buscará elucidar melhor o conceito para que seja
melhor compreendido. Além disso, o setor analisado está intimamente relacionado com o da
indústria automotiva que, no início dos anos 2000 apresentou um crescimento substancial no
Brasil e, portanto, irá gerar para o país uma grande quantidade de baterias automotivas a
serem descartadas. Conhecer o processo de destinação correta desse resíduo poderá
contribuir para o desenvolvimento sustentável do país.
2. Referencial Teórico
A logística reversa é a área da logística responsável por controlar e planejar o
retorno de produtos já utilizados, tornando, assim, os próprios fabricantes, os responsáveis
pelo seu produto, mesmo depois de seu descarte, com o objetivo de recolocar valor ao
produto ou eliminá-lo adequadamente, como citam Rogers e Tibben-Lembke (1999).
Ou seja, ela é considerada um sistema que liga a empresa com as devoluções de
produtos (BOWERSOX,1986).
De acordo com o Council of Logistics Management (CLM), a logística reversa pode
ser definida como um processo de planejamento, implementação e controle do fluxo direto e
reverso de produtos e informações importantes, desde o ponto de origem ao ponto
de consumo, atendendo às necessidades e exigências dos consumidores.
Segundo Leite (2003), a logística reversa é dividida em dois tipos, a de pós-venda
e a de pós-consumo, e dentro de cada tipo de logística existem os canais de
distribuições nos quais acontecem os processos de retorno dos produtos.
A logística reversa de pós-venda se dá por meio de produtos que foram rejeitados
pelo consumidor por algum motivo, mas que não tiveram sua vida útil esgotada, como é o
caso de produtos com defeito, que estão no período de garantia e serão consertados ou
substituídos, ou então, aqueles que estão parados no estoque. Alguns exemplos de canais
que realizam essa distribuição reversa são o e-commerce e as lojas de varejo em geral.
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Já a logística reversa de pós-consumo acontece com aqueles produtos que tiveram
sua vida útil esgotada após o seu consumo, produtos que não podem ser descartados de
qualquer maneira e ainda aqueles que apresentam condições de uso e reutilização. O
objetivo desse tipo de logística é agregar valor ao produto que, anteriormente, seria
descartado. Alguns exemplos desse tipo de distribuição reversa são os leilões que algumas
empresas realizam para comercializar esses produtos já consumidos, e embalagens
descartáveis que serão reutilizadas ou recicladas após o seu uso.
Pode-se perceber que, o ciclo da logística reversa torna todo o processo de
logística em um ciclo infinito, mostrando, assim, que o ciclo logístico não termina quando o
produto chega ao consumidor final, já que, a logística reversa retorna os produtos com vida
útil esgotada, para a indústria e ao utilizar esses produtos como novos insumos o processo
recomeça (LEITE, 2003).
Os produtos que já foram consumidos e, posteriormente, descartados dão início ao
processo de logística reversa e, como, atualmente, a quantidade desses produtos vem
aumentando, devido ao crescimento do consumo e à redução da vida útil dos produtos,
a logística reversa vem ganhando cada vez mais importância, seja econômica, legal
ou socialmente.
Economicamente, as empresas optam por realizar a logística reversa pelo fato de
gerar economia no fluxo industrial, já que reutilizam e/ou reciclam produtos que irão
compor a matéria prima de um novo produto. Legalmente, as empresas se beneficiam por
estarem cumprindo as leis que regulamentam o gerenciamento de resíduos sólidos, como é o
caso do Programa Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Já no âmbito social, a logística
reversa é extremamente importante, já que cumpre seu papel ecológico evitando que
produtos sejam descartados de maneira incorreta e preservando o meio ambiente,
melhorando ainda a imagem da empresa diante de seus clientes.
Esses fatores comprovam o que os autores Rogers e Tibben-Lembke (1999) e Muller
(2005) apontam como os principais fatores que levam as organizações a atuarem ainda
mais na logística reversa. Esses fatores são:
- Legislação ambiental que acaba forçando as empresas a se preocuparem com
o retorno e o tratamento dos produtos;
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- Benefícios econômicos que a reutilização ou reciclagem geram;
- A crescente conscientização ambiental dos consumidores;
- Fatores competitivos, como a diferenciação por preço já que se consegue um custo
menor com a reutilização/reciclagem;
- Limpeza do canal de distribuição;
- Proteção da margem de lucro;
- Recaptura de valor e recuperação de ativos.
Para que a logística reversa se torne eficiente, Lacerda (2009) acredita que é preciso
levar em conta alguns fatores que são considerados críticos para a aplicação do
conceito. Esses fatores são: bons controles de entrada; processos padronizados e
mapeados; tempo de ciclo reduzido; sistemas de informação; rede logística planejada;
relações colaborativas entre clientes e fornecedores.
3. A logística reversa no Brasil
Diante da situação de crescimento do consumo e descarte de produtos, o governo
brasileiro criou a Lei nº 12.305/10 referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) que,além de outros aspectos, regulamenta a logística reversa como um
instrumento de controle de resíduos sólidos, com o objetivo de diminuir os impactos
sociais, legais e ambientais que os resíduos sólidos causam no país (MINISTÉRIO DO
MEIO AMBIENTE, [2010]).
A PNRS começou a ser elaborada em 2004, quando o Ministério do Meio Ambiente
criou um grupo para discussão sobre o tema de resíduos sólidos e, a partir daí, surgiu a
proposta de anteprojeto de lei da Política. Desde então, o anteprojeto foi sendo debatido
entre sociedade e governo até que, em 02/08/2010, o projeto foi aprovado e sancionado.
Essa política estimula a prática de reciclagem e reutilização dos produtos, quando
possível, e quando não é possível, ela determina os locais corretos para o descarte dos
dejetos. Para que os objetivos sejam alcançados, o projeto apresenta metas e medidas que
controlam todo o processo de descarte ou reciclagem/reutilização das organizações que são
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responsáveis por esses resíduos, como as indústrias, os comerciantes e os distribuidores
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, [2010]).
O artigo 33 da lei 12.305/10 determina quais indústrias, comerciantes e
distribuidores devem se adequar a essas exigências, ou seja, devem estruturar a logística
reversa para que os produtos retornem obrigatoriamente independentemente do serviço de
limpeza pública. Entre elas estão as empresas que produzem, comercializam ou distribuem:
agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após
o uso constitua resíduo perigoso; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e
embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; produtos
eletroeletrônicos e seus componentes.
Também são obrigados a seguirem a norma aqueles que comercializam produtos em
embalagens de plástico, vidro ou metal e outros produtos, levando em conta o grau e
extensão do impacto à saúde pública e ao meio ambiente.
As medidas adotadas com o intuito de conscientizar toda a cadeia que produz
e consome esses produtos acabam impactando a sociedade de modo geral e trazendo
inúmeros benefícios para o ambiente, a sociedade e a economia. É possível citar
como alguns benefícios: a redução de dejetos jogados em aterros sanitários, a redução da
poluição causada, a redução dos custos das organizações gerada pela reciclagem ou
reutilização de materiais, os empregos que são gerados e a inclusão de catadores de lixo e de
cooperativas no ciclo, que podem ser contratadas pelas prefeituras para fazerem parte do
programa de gerenciamento (SOARES; RODRIGUES; GOLÇALVES, 2012).
Mesmo com esses benefícios apresentados, a grande maioria dos profissionais
da área, acredita que a logística reversa ainda é pouco utilizada pelas organizações no Brasil
(BARBOSA, et al, 2006). Um dos principais motivos, talvez seja a falta de incentivos do
governo e conhecimento, por parte das organizações, pois como cita o mesmo autor, as
empresas não sabem da importância da logística reversa e acabam interpretando-a como
um aumento em seus custos operacionais. Esse mesmo estudo, também mostra que, nas
empresas em que a logística reversa é aplicada, a maioria delas, é de grande porte, e que, o
principal motivo para sua implementação são as exigências legais e as devoluções de
produtos com problemas de qualidade.
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4. Metodologia
Quanto à forma de abordagem, este trabalho tem caráter qualitativo, pelo fato de
que, de acordo com esse tipo de abordagem, demonstra uma relação entre o mundo real e
o sujeito e ainda existe uma interdependência entre o sujeito e o objeto (CHITOZZI,
1991). Ou seja, ela busca entender sobre determinado assunto, sem quantificar valores ou
acontecimentos como acontece na pesquisa quantitativa em que unidades são numeradas ou
medidas (GIL, 2008).
Do ponto de vista dos objetivos, a pesquisa tem caráter exploratório pelo fato de que
pretende explorar mais sobre determinado assunto que ainda é pouco difundido, sem
descrever características ou explicar fatores. Assim como Gil (2008) aborda, geralmente,
esse tipo de pesquisa assume a forma de um estudo de caso que depende de uma pesquisa
bibliográfica para ser realizada.
Quanto aos procedimentos, ela é considerada uma pesquisa bibliográfica, pois, foi
realizada com base em materiais já divulgados como livros, periódicos, entre outros. A
pesquisa também utilizou-se de um estudo de caso, que foi realizado por meio de um roteiro
de entrevista semiestruturado aplicado a uma empresa distribuidora de baterias automotivas,
que realiza atividades de logística reversa. O questionário foi respondido pelo proprietário
da empresa e foi composto por perguntas que buscavam a compreensão de como acontece a
logística reversa dentro da organização, quais são as dificuldades, os benefícios, incentivos,
regras e custos. Segundo Yin (2001), o estudo de caso é um estudo da vida real em que se
pretende responder questões do tipo “como” e “por quê”.
5. Estudo de caso: resultados
No Brasil, o tipo mais comum de bateria produzida e utilizada é a de chumbo-ácido
(PbA), e apesar de algumas indústrias utilizarem tecnologias mais avançadas, ainda não é
produzida no país, baterias de níquel-metal hidreto ou de íon-lítio (BARROS; CASTRO;
VEIGAS, 2003).
Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o chumbo-ácido é um dos
componentes mais perigosos presentes em uma bateria automotiva, o qual pode causar
sérios danos caso o seu descarte não seja realizado de maneira correta. No caso da bateria
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ser amassada ou estourada, o ácido presente em seu interior pode vazar e contaminar o solo,
além de causar ferimentos e doenças caso haja contato dessa substância com a pele humana.
A empresa, objeto de pesquisa desse trabalho, que será denominada de Empresa Alfa
para manter seu anonimato, foi inaugurada em 1999 em Uberlândia, Minas Gerais, para ser
uma empresa distribuidora exclusiva da marca de baterias Ajax, uma das marcas de
baterias mais conhecidas do Brasil naquela época. Porém, depois de um tempo, a
empresa passou a distribuir baterias de outras marcas como estratégia de ampliar mercado.
A bateria automotiva é o único produto distribuído pela empresa, e atualmente as
marcas distribuídas são produzidas por três fornecedores, sendo eles a Baterias Pioneiro, a
ACDelco Freedom, produzida pela Johnson Controls e a Baterias Cral. Cada marca possui
um posicionamento diferente e, consequentemente, faixas de preços diferentes. A escolha
desses três fornecedores ocorreu devido à busca de produtos que pudessem atingir a tipos
distintos de consumidores.
Os principais clientes da distribuidora são oficinas e auto elétricas, que realizam a
manutenção e a troca de baterias em veículos, além das lojas que apenas vendem a
bateria, mas não realizam serviços elétricos. São atendidas também empresas que
possuem uma grande frota de veículos e, consequentemente, compram baterias em grande
quantidade como as transportadoras e empresas de logística. A empresa Alfa é
autorizada a vender apenas em atacado e para clientes de pessoa jurídica dentro da
área do Triangulo Mineiro e Alto Paranaíba. Em média, são vendidas por mês, 3000
baterias automotivas (carros, caminhões, ônibus e tratores) e 750 baterias de moto.
Os principais concorrentes da distribuidora são as empresas que distribuem outras
marcas de baterias concorrentes. Existem cerca de oito distribuidores concorrentes em
Uberlândia.
Na empresa, também é feito testes em baterias que, por algum motivo, apresentaram
defeito. Quando a bateria apresenta defeito o seu cliente vai até o depósito para que ela seja
analisada e, caso o defeito já seja detectado na hora e a bateria ainda esteja dentro do
prazo de garantia, uma nova bateria é dada ao cliente e assim ela é repassada para o
consumidor final.
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Por meio de entrevista realizada com o proprietário e administrador da empresa, foi
possível entender que ele, apesar de realizar atividades de logística reversa, não sabe
exatamente no que consiste esse processo, quais são as leis envolvidas e porque é exigida
determinadas atividades. Ele mesmo diz que apenas passou a ter conhecimento da lei PNRS,
quando a prefeitura de Uberlândia enviou para a empresa uma notificação exigindo o
preenchimento de um relatório que constasse informações sobre o armazenamento das
baterias usadas e que esse relatório fosse entregue semestralmente na Secretaria de Serviços
Urbanos da Prefeitura.
O entrevistado não soube informar se a não entrega desse relatório gera algum tipo
de multa ou interrupção nas atividades da empresa, mas diz que já atrasou a entrega desse
relatório algumas vezes e que isso, até então, não gerou nenhuma penalidade.
O entrevistado informou que a reciclagem de baterias já esgotadas é realizada
há muito tempo, antes mesmo desse processo de retorno ser denominado logística reversa.
Há alguns anos atrás o envio da sucata era pago, ou seja, os fornecedores pagavam pelo
quilograma de sucata enviada e isso gerava um lucro para o distribuidor que vendia a sucata
e uma economia para as indústrias, que teriam que investir menos em matéria-prima. Porém,
depois de um tempo, o envio da sucata passou a ser condicionado à venda, ou seja, se o
distribuidor quiser comprar 10.000kg de baterias novas, seria necessário enviar de volta para
a fábrica 10.000kg de sucata.
Quando perguntado sobre quais foram as adaptações necessárias para a empresa se
adequar ao programa de logística reversa, ele cita que, primeiramente, foi necessário
realizar
parcerias com os clientes. Os varejistas recolhem as baterias já esgotadas dos consumidores
finais agrupando-as em uma quantidade mínima de 500 kg e posteriormente revendem para
a empresa Alfa, sendo que esta envia à indústria em um momento futuro. Deste modo, tem-
se que a logística reversa, neste caso, é de pós consumo.
O administrador nos informou que essas parcerias são realizadas com qualquer
cliente que tenha acumulado a quantidade de sucata, ou seja, não existem clientes
específicos que sempre disponibilizam as baterias esgotadas, e também não existe qualquer
tipo de contrato que formalize essa relação entre o cliente e a distribuidora.
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Quando perguntado se não seria interessante a formalização dessa parceria em que o
cliente se comprometa em comprar uma certa quantidade de baterias enquanto a empresa
Alfa se compromete em comprar a sucata, o administrador explica que não seria interessante
para os clientes que tem a sucata para vender. Ele explica que os clientes sempre cotam os
distribuidores que estão pagando um maior valor pelo quilograma da bateria antes de
realizar a venda, ou seja, se a Dismax se oferecer a pagar R$2,80 pelo quilo da sucata e
outro distribuidor oferecer R$2,90, o cliente irá optar pelo que ofereceu maior valor,
independente de qualquer acordo firmado.
Não foi necessário investir em veículos para o transporte da sucata, pois já existiam
veículos de grande porte que eram utilizados para a entrega de baterias novas e que já
suportavam o peso do produto, que são as pick-ups e os caminhões. Os entregadores também
são encarregados de buscar, organizar e embalar as sucatas e, para isso, foi realizado um
pequeno treinamento para que eles manuseiem corretamente os resíduos.
Contudo, foi necessário fazer algumas adaptações na infraestrutura do galpão de
estoque, pois o que antes era projetado para estocar apenas baterias novas, necessitou
abrigar as sucatas até que estas sejam enviadas para as indústrias. Foi necessário comprar
estantes resistentes para comportar as sucatas já paletizadas, material para embalar os pallets
e balança digital para pesar a sucata e manter um controle do estoque.
Além disso, foi necessário deixar o ambiente mais arejado para que a ventilação
fosse suficiente para que o cheiro do ácido das baterias não prejudique as pessoas que
trabalham no local. Também foram feitos investimentos em equipamentos de proteção
individual (EPI) para os funcionários que manuseiam as sucatas, como luvas, óculos e
botas.
Em relação ao processo de logística reversa executado na empresa, foi possível
identificar que ele funciona como um ciclo infinito. O primeiro passo ocorre na venda da
bateria nova para os clientes (varejo), e assim, quando um consumidor final chega no
estabelecimento do cliente, a bateria velha é guardada e substituída pela nova que foi
entregue anteriormente. Quando o cliente acumula uma certa quantidade de baterias
esgotadas, ele comunica à empresa Alfa para que ela se direcione até o cliente e possa
coletar a sucata.
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A empresa Alfa, geralmente, paga um valor que varia de R$2,50 a R$3,00/kg,
dependendo da oferta e da procura pela sucata. Apesar da indústria não bancar a compra
dessa sucata, a empresa ainda assim não sai prejudicada pois esse custo é incluído no preço
de venda das baterias. Sendo assim ao invés da indústria arcar com a compra da sucata e
colocar esse custo no preço de venda das baterias que ela produz, a própria Empresa Alfa
arca primeiramente com a compra da sucata e depois repassa para o preço das baterias
vendidas.
Assim que a sucata chega ao depósito da empresa Alfa, ela é colocada em
pallets de madeira, pesada, embalada e estocada nas estantes porta-pallets até que,
um dos três fornecedores busque e leve até a indústria - dois dos fornecedores buscam
a sucata a cada vinte dias, já o outro, coleta semanalmente. Essa coleta é feita
totalmente por conta da indústria, o distribuidor não é responsável pelo pagamento de
nenhuma despesa relacionada a essa coleta, apenas pelas despesas que envolvem a gestão e
a estocagem dos resíduos. Na indústria, o plástico e o chumbo das baterias são reutilizados
na fabricação de novas baterias que serão enviadas para os distribuidores, inclusive à
empresa Alfa, e novamente serão vendidas aos clientes.
Em relação à existência de algum incentivo financeiro sobre a logística reversa e a
reciclagem de baterias, foi informado que, no período em que as indústrias pagavam pela
sucata enviada, existia incentivo, já que o distribuidor lucrava com a venda. Porém, agora
que a sucata não é comprada e sim enviada por exigência da indústria, o único incentivo
existente é o desconto de 3% concedido por um dos três fornecedores caso seja enviada a
quantidade de sucata exigida.
Mesmo possuindo alguns custos e dificuldades para a realização da logística reversa,
o administrador acredita que o programa traz vários benefícios ligados ao meio ambiente, já
que evita que as baterias, que contém produtos tóxicos, sejam descartadas em
locais inapropriados, podendo contaminar o solo e a água, além de poder causar ferimentos
em pessoas que entram em contato com o seu material. Além disso, o fato da reciclagem
reduzir o custo de produção e, consequentemente, o valor final da bateria, possibilitam
maiores margens de negociação para os vendedores.
Quanto à fiscalização referente ao cumprimento do Programa Nacional de Resíduos
Sólidos, o PNRS, o entrevistado informou que nunca houve nenhum tipo de
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fiscalização dentro da empresa. Na verdade, apenas é exigido pela Secretaria do Meio
Ambiente de Uberlândia, o preenchimento e a apresentação de uma planilha de
monitoramento dos resíduos sólidos, no qual deve constar dados como a descrição do
material, a sua origem, a quantidade, destino, como ela é armazenada, a destinação e qual
empresa irá transportar o produto até o destino final.
6. Considerações Finais
Diante do exposto, acredita-se que ainda faltam muitos incentivos e instruções
principalmente, por parte dos governos, federal, estadual e municipal, para que as empresas
e toda a população se conscientizem da importância de descartar corretamente determinados
produto, como as baterias. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) deveria ser
levada de forma mais séria pelo poder público que deveria realizar as fiscalizações
necessárias e determinar punições àqueles que descumprissem as normas.
Nota-se, portanto, que o processo de logística reversa, embora, muito importante,
ainda é um desafio a ser superado por empresas, governo e população para que ela
funcione efetivamente, uma vez que, ainda se identifica uma ausência muito forte de
informações a respeito, de padronização de processos e pessoal qualificado seja para colocar
em prática o processo seja para sua fiscalização.
Referências
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