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Indisciplina Escolar: Causas, Efeitos e Consequências
Naire Lígia da Silva Machado1
Amanda Micheline Amador de Lucena2
Milane Oliveira de Azevedo1
Valéria Kellen de Souza Silva Galvão1
RESUMO
A Indisciplina escolar é um tema bem recorrente na mídia e em nosso dia a dia
como educadores. Acreditamos que ações de indisciplina e violência podem ser
consideradas um problema crônico nas escolas, onde toda comunidade escolar,
família e sociedade deveriam intervir contribuindo para sanar esse problema que
tem gerado inúmeras consequências. Diante disso objetivou-se analisar a
percepção de estudantes, pais e professores sobre indisciplina que permeia o
ambiente escolar. Para isso uma pesquisa de caráter descritivo com abordagem
qualiquantitativa foi desenvolvida com pais, estudantes do 5º ano e professores
de uma Escola Municipal situada no interior do Rio Grande do Norte. Constatou-
se que os pais desconhecem o comportamento que seus filhos desenvolvem na
escola e poucos tem conhecimento sobre os casos de indisciplina que
acontecem na escola. Contudo, se faz necessário analisar a indisciplina escolar
de uma forma holística, levando em conta não apenas o aluno como único fator
atuante, nem unicamente a instituição e suas regras internas ou as práticas
docentes desenvolvidas, pois a questão da indisciplina é bem mais complexa do
que atribuir determinados atos à uma situação especifica, mas sobretudo deve-
se lembrar que tanto a escola como a família são instituições que podem
influenciar o comportamento que as crianças desenvolvem.
Palavras - chave: Desrespeito, Família, Escola.
ABSTRACT
School indiscipline is a recurring theme in the media and in our daily lives as
educators. We believe that actions of indiscipline and violence can be considered
a chronic problem in schools, where the entire school community, family and
society should intervene contributing to solve this problem that has generated
numerous consequences. Therefore, the objective was to analyze the perception
of students, parents and teachers about indiscipline that permeates the school
1 Doutoranda em Ciências da Educação Veni Creator Chistian University 2 Professora da Veni Creator Chistian University
environment. For this, a descriptive research with a qualitative and quantitative
approach was developed with parents, 5th year students and teachers of a
Municipal School located in the countryside of Rio Grande do Norte. It was found
that parents are unaware of the behavior that their children develop at school and
few are aware of the cases of indiscipline that happen at school. However, it is
necessary to analyze school indiscipline in a holistic way, taking into account not
only the student as the only active factor, nor only the institution and its internal
rules or the developed teaching practices, because the issue of indiscipline is
much more complex than to attribute certain acts to a specific situation, but above
all it must be remembered that both the school and the family are institutions that
can influence the behavior that children develop.
Keywords: Disrespect, Family, School
1 . Introdução
A indisciplina vivenciada nas escolas brasileiras tem aumentado
consideravelmente ao longo dos anos. É raridade se vê predominando nas salas
de aula crianças meigas, doces, que contribuem com o processo de ensino e a
troca de conhecimento, acatando as normas estabelecidas pela escola. É
frequente vivenciar salas de aulas desorganizadas, depredadas e um clima de
pouco respeito ao professor e aos colegas. As formas de desrespeito
desencadeadas na sala de aula são inúmeras e crescentes e além disso
geralmente são divulgadas pelos próprios alunos que através de seus
smartphones gravam atos indisciplinados de colegas para com professores e,
ainda publicam esses atos em redes sociais como se isso fosse um vídeo para
entretenimento que leva a várias visualizações e curtidas.
Para Julio Groppa Aquino (2003). (...) a indisciplina se trata de um
fenômeno escolar que ultrapassa fronteiras socioculturais e também
econômicas. Como bem afirma Aquino, a indisciplina realmente não existe
somente atrás do meio sociocultural, ou econômico, ela nasce também através
da falta de afetividade, do resgate de valores.
No ambiente escolar a violência tem se manifestado violando os direitos
de outros ou os ferindo de diferentes formas, que vai desde a indisciplina e
violência implícita que é mais comum nesse tipo de ambiente até e a própria
violência física, que embora ocorra em menor escala representa sérios e às
vezes irreversíveis danos. Costa e Gomes (1999, p.159) destacam que;
A violência possui uma fecundidade própria, ela se engendra a
si mesma. É preciso então sempre analisá-la em rede, em
entrelaçamento. Suas formas e aparências mais atrozes e às
vezes mais condenáveis frequentemente ocultam, entre outras
situações de violência menos escandalosas, por encontrarem-
se prolongadas no tempo e protegidas, pelas ideologias ou pelas
instituições de aparência respeitável.
Segundo Souza (2013), as mídias estão cada vez presentes em nosso
cotidiano, em tudo que vemos e ouvimos. Se para nós adultos que já temos uma
consciência formada, as influências das mídias (propagandas, vídeos, filmes,
música), são marcantes, imaginemos para uma criança que está em formação
de psíquico. É possível que as mentes mais vulneráveis, como nas crianças
pode ocorrer um mal entendimento entre a vida real e as ações espelhadas nos
jogos, repercutindo talvez em características da personalidade.
É comum constatar dentro das escolas, crianças e adolescentes
cometendo infrações que se caracterizam por agressões verbais, físicas,
pichações, bullying e furtos, sem nenhuma causa aparente que justifique tais
ações ou comportamentos e, de acordo com Souza (2008) estes tipos de
comportamentos inadequados merecem atenção e empenho para se
compreender o fenômeno da violência de forma mais ampla para se encontrar
formas de combater essas manifestações que ocorrem no cotidiano escolar.
Não é novidade que o cotidiano de várias escolas públicas do Brasil inclui-se
diversos atos de indisciplina partindo de professores, alunos e seus pais, além
do mais, contata-se através dos noticiários que a violência e indisciplina tem
aumentado entre os alunos de escolas públicas brasileiras. Neste contexto, o
presente estudo parte da seguinte problemática: “De que forma os professores,
alunos e seus pais percebem a violência vivenciada em uma escola pública do
município de serra do Mel-RN?”.
Quanto às manifestações de violência, Souza (2008) indica que a formas
de violência aparente é de fácil percepção, entretanto as formas psicológicas
que se configuram por ameaças, humilhações, intimidações, rejeição e
desrespeito, nem sempre são percebidas e, muitas vezes, podem ser ainda mais
graves e a invisibilidade desse tipo de agressão contribui para gerar um ambiente
de segregação. Diante disso, objetivou-se com este estudo verificar a percepção
dos professores, alunos e pais sobre o comportamento de alunos do 5º ano e
quais os fatores que podem estimular atos indisciplinados desses alunos.
2. MARCO TEÓRICO
A escola enquanto organização social não pode negligenciar as
mudanças que acontecem na sociedade. E, quanto à essas mudanças que
aconteceram no âmbito educacional, Banaletti e Dameto (2015) afirmam que:
Ao refletir sobre as mudanças que aconteceram na instituição
Escola, pode-se constatar evidentemente que estas vêm
acompanhadas de transformações sociais, econômicas,
políticas e culturais. A escola, assim como a sociedade, sofreu
mudanças quanto a sua legislação, seus valores, sua cultura. As
mudanças no mundo do trabalho e na gestão política, em grande
medida inseridas naquilo que se pensa como “globalização”,
originou novas formas de pensar e fazer a educação, tendo em
vista a constituição de um novo sujeito. (BANALETTI e
DAMETTO 2015, p.5)
As causas que podem estimular ou desencadear comportamentos de
indisciplina e violência são diversos e complexos. Vários estudos tem
identificado que as possíveis causas estão vinculadas a diferentes fontes:
ambiente familiar, interferências das mídias através de programas e aplicativos
que incitam a violência, relacionamentos com amigos ou fontes diversas.
A mídia pode influir nesse fato com a propagação da violência e
de ideias contrárias àquelas que queremos para a formação das
crianças, ensinando e até incentivando comportamentos
indisciplinares, tanto na escola como em casa (BRAGA et. al.,
2006, p. 6)
A facilidade para o acesso a diferentes meios de comunicação tem levado
a criança ainda precoce (e que não tem o nível crítico amadurecido) vários
conteúdos que o desenvolvimento natural não dá conta de compreender para
utilizar essas informações de forma adequada.
A televisão tem exercido uma grande influência para a nova geração e
suas programações muitas vezes incluem violência e desvio de valores os quais
são apresentados como algo normal pelas emissoras, que busca apenas por
uma elevada audiência. Além disso, está cada vez mais acessível o uso de jogos
eletrônicos violentos e quando a criança faz o uso desses jogos com frequência,
podem confundir o mundo real e o mundo virtual de forma que sua imaturidade
poderá o conduzir a cometer os mesmos atos violentos o considerando
inconscientemente como sendo “algo natural”.
Alguns pesquisadores, entretanto, defendem o afastamento de crianças e
adolescentes dos jogos, que simulam ações de guerra, alegando que tais mídias
são irracionais. “[...] Cerca de 95% dos jogos são de ações e reação e sendo
assim o jogador reage sem pensar, como um animal.” (GIL, 2005, citado por
HURTADO e MUNIZ, 2011).
De acordo com Hurtado e Muniz, (2011) os jogos violentos podem influenciar
o comportamento de alguns adolescentes, mas por outro lado também podem
oferecer para outra parcela deles a oportunidade de aprender novas habilidades
e participar em redes sociais, em alguns casos interagindo em equipe. Sendo
assim, a influência entre jogos eletrônicos violentos e o comportamento dos
adolescentes pode ser explicada pela linha mais tênue entre realidade e mundo
virtual, devido ao excesso de realismo dos jogos juntamente com predisposição
a tais atitudes.
Embora não sejam obrigatoriamente violentos, muitos dos jogos
eletrônicos o são, e de forma brutalmente explícita. Estimulam a
cometer atos delinquentes e a “matar” pessoas e animais. O
problema é que, além de ocorrer no jogo, essa violência muitas
vezes aparenta transpor a fronteira virtual e ingressar no mundo
real, na forma de atos violentos cometidos pelos jogadores 188
(FLAUSINO, 2006 citado por RETONDAR e HARRIS, 2013, p.
188)
Os autores acima citados, afirmam que devido à crescente popularidade dos
jogos eletrônicos violentos, surgem algumas preocupações quanto à influência
que esse tipo de jogo pode ter sobre quem os joga. Há também a questão sobre
como o crescente apelo desses jogos modifica o comportamento de crianças e
adolescentes e afetando as aulas. Portanto, não se pode dizer que o conteúdo
dos jogos não penetra e não influencia em alguma medida no comportamento
dos sujeitos. (RETONDAR e HARRIS, 2013).
Vários motivos podem se tornar um estopim para que uma criança
desenvolva em alguma fase de sua vida um comportamento indisciplinado e/ou
violento seja problemas sociais, familiares, culturais e etc. A mudança de
comportamento pode acontecer por um período restrito ou perdurar por tempo
indeterminado. José e Coelho (1999) consideram que os distúrbios de
comportamento servem como fuga ou defesa contra alguns fenômenos como a
ansiedade, depressão etc.
3. MARCO METODOLÓGICO
O presente trabalho configura-se como pesquisa básica de caráter
descritivo que envolve levantamento bibliográfico e pesquisa de campo.
Conforme Triviños (2008), as pesquisas que envolvem os estudos descritivos
são bastante comuns no campo da educação e geralmente objetivam descrever
de forma mais aprofundada as pessoas inseridas em uma determinada
realidade.
A pesquisa de campo foi desenvolvida na Escola Municipal Vila Rio
Grande do Norte, a qual, oferece no ensino regular o Ensino fundamental (I e II),
e fica localizada a Av. Graciliano Ferreira dos Santos, S/N, Centro. O total de
alunos matriculados em 2019 contabilizou 789 alunos, sendo 77 alunos nos 5º
anos, turma que foi selecionada para nosso estudo.
A amostra pesquisada foi representada por sujeitos pertencentes a
comunidade da escola, totalizando 60 alunos do 5º ano, 03 professores e 60 pais
de alunos que participaram do estudo. É importante pontuar que os sujeitos que
participaram do estudo foram previamente orientados quanto aos objetivos da
referida pesquisa. Para preservar a identidade dos respondentes, optou-se por
codificar por letras e número cada sujeito participante.
Os instrumentos de pesquisa utilizados foram, questionários
semiestruturados. Os dados obtidos através dos questionários foram abordados
de forma quali-quantitativa sendo considerada a análise das ações do dia-a-dia
de práticas e concepções pedagógicas, e de relações interativas que envolvem
o âmbito escolar.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Quando se trata de comportamento, a questão de ser adequado ou não
está relacionado a cultura familiar e a forma de percepção do que é considerado
correto ou incorreto, pois para algumas famílias a forma de comportamento dos
filhos é tida como correta (ou normal) enquanto que outras famílias podem
enxergar determinados comportamentos como atos indisciplinados. No que
tange ao comportamento dos alunos do 5º ano, foi direcionado aos sujeitos da
pesquisa uma questão para verificar suas concepções a respeito do
comportamento desses alunos na escola (Gráfico 1).
Gráfico 1. Percepção dos pais e alunos sobre o seu comportamento na escola e
indicação dos professores a respeito do comportamento da maioria de seus
alunos na Escola Vila Rio Grande do Norte. Serra do Mel-RN, 2019.
Fonte: Dados da Pesquisa de Campo (2019)
Pode-se constatar no Gráfico 1 que 100% dos pais dos alunos da escola
VRN indicaram que seus filhos apresentam comportamento disciplinar na
referida escola. Por outro lado, os próprios filhos (os alunos) ao fazerem uma
auto avaliação de seu comportamento foram menos otimista (ou mais realistas)
quando apenas 76% dos respondentes afirmaram ter comportamento
disciplinado, ou seja se comportam conforme as normas de bom convívio social
e regras estabelecidas pela instituição de ensino.
Constata-se nas respostas de 66% dos professores das Escolas Vila Rio
Grande do Norte que a maioria de seus alunos tem comportamento disciplinar.
Neste sentido foi perguntado aos sujeitos respondentes quais seriam os fatores
que contribuem para a indisciplina dos alunos e as respostas constam no Gráfico
2.
Gráfico 2. Percepção dos alunos, seus pais e professores a respeito dos fatores
que contribuem para a indisciplina na Escola Vila Rio Grande do Norte em Serra
do Mel-RN, 2019.
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2019).
Na questão que relaciona os diversos fatores as causas de indisciplina do
aluno, o respondente teve o livre arbítrio para assinalar mais que uma das
alternativas apresentadas, se assim fosse sua percepção e, neste sentido os
percentuais apresentados no Gráfico 2 representam o quantitativo (%) que tal
fator foi indicado entre os sujeitos respondentes.
82%
71%
53%
35%
71%
12%
12%
94%
76%
56%
57%
65%
78%
52%
51%
11%
84%
33%
67%
33%
67%
33%
33%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Jogos eletrônicos violentos
Família desestruturada
Escola que não impõem regras
Influência das mídias
Falta de regras no ambiente familiar
Professores permissíveis
Prátricas pedagógicas inadequadas
Outros
Amizades erradas
Fatores que contribuem para indisciplina
Profs. EVRN Alunos Pais
Constata-se no Gráfico 2 que os professores da escola pesquisada
indicaram que a Falta de regras no ambiente familiar e a Família desestruturada
são fatores que exercem influência sobre o comportamento do aluno na escola.
Merece destaque os fatores: Família desestruturada e Amizades erradas,
apontados por 67% dos professores como fatores que contribuem para a
indisciplina.
De acordo com Estrela (1992) os atos que envolvem a indisciplina do
aluno no ambiente escolar geralmente não podem ser atribuído a um fator
isolado uma vez que decorre da interação entre a escola e o meio social e além
disso deve-se considerar os diversos tipos de violência que estes alunos em
algum momento tenha vivenciado e por isso os atos indisciplinados vistos na
escola podem ser reflexos de ações da própria sociedade. Considerando a ideia
da autora, pode-se afirmar que os professores compartilham dessa ideia quando
indicam que jogos eletrônicos violentos, familiar desestruturada e falta de regras
no ambiente familiar podem contribuir e refletir no comportamento dos alunos.
Na visão do aluno, por vezes o protagonista de indisciplina, os fatores que
mais foram apontados como contribuintes para um comportamento
indisciplinado foram: Falta de regras no ambiente familiar indicado por 78%,
Jogos eletrônicos violentos indicado por 76%, e Amizades erradas indicado 84%.
Semelhante a ideia de seu filhos, a maioria dos pais dos alunos da Escola
Vila Rio Grande do Norte apontaram que os fatores: Falta de regras no ambiente
familiar; Família desestruturada; Jogos eletrônicos violentos e Amizades erradas
foram os fatores indicados por mais de 70% dos pais que participaram da
pesquisa, sendo que o fator: amizades erradas foi a alternativa mais apontada
pelos pais dos alunos com 94%.
Quanto aos alunos e seus pais terem recebido reclamação sobre o
comportamento indisciplinado do aluno, observa-se no Gráfico 3 que os alunos
apresentam respostas que divergem de seus pais, pois apenas 18% dos pais
indicaram que já receberam reclamação sobre a indisciplina de seu filho,
entretanto 44% dos alunos indicaram já ter recebido reclamação sobre seu
comportamento. Isto nos remete a duas hipóteses: a primeira seria que o aluno
recebeu a reclamação (ou advertência) e essa não chegou ao conhecimento de
seus pais ou responsáveis, ou na segunda hipótese considera-se que os alunos
receberam advertências, seus pais tomaram conhecimento, mas optaram por
não confirmar no referido questionário, contudo optamos por considerar a
primeira hipótese para esse caso.
Gráfico 3. Indicação dos alunos e seus pais que já receberam reclamação a
respeito a indisciplina desse aluno e professores que informaram à gestão sobre
a indisciplina de alunos na Escola Vila Rio Grande do Norte. Serra do Mel-RN,
2019.
Fonte: Dados da Pesquisa de Campo (2019)
Quanto aos pais e alunos da escola Vila Rio Grande do Norte é possível
constatar no Gráfico 3 que houve divergência nas respostas apresentadas por
esses sujeitos, uma vez que 82% dos pais como também 56% dos alunos
afirmaram não ter recebido alguma reclamação sobre o mau comportamento,
verifica-se também que 100% dos professores que participaram da pesquisa
indicaram que já emitiram alguma reclamação sobre atos de indisciplina de
alunos e destacamos duas respostas:
Prof.2 – “Por desobedecer ao professor quando saímos para um
ambiente externo, fora da escola”
-Prof.1 – “Estava com xingamento em sala de aula. Informei ao
pai”.
Nas justificativas apresentadas pelos professores, percebe-se que os atos
de indisciplina remetem a desobediência ou descumprimento de regras e
desrespeito sinalizado em forma de xingamento. Não foi detalhado pelo(a)
responde se o xingamento foi direcionado ao professor ou outro aluno, colega
de classe, mas independentemente de quem era o alvo, essa situação tem que
ser combatida, uma vez que xingamentos geralmente estão atrelados a:
preconceito, racismo, bullying e demais atos que devem ser trabalhados para
que não se repitam e nem se repliquem.
De acordo com Amorim (2012) a escola deve trabalhar a formação do
aluno em vários aspectos e entre as dificuldades a serem superadas no ambiente
escolar estão as violências, incluídas aí a violência entre pares, como por
exemplo o que denominamos de bullying. O bullying tem sido confundido com
brincadeira de mau gosto, porém se trata de uma prática de intimidação,
crueldade, envolvendo diferenças de forças física ou psicológica, com o intuito
de magoar e ferir o outro concebido como mais fraco. Enquanto o professor (e
agentes da comunidade escolar) não lançar um olhar atento sobre esses atos e
negligenciar a busca de alternativas para combatê-los, certamente ocorrerão
repetidas vezes, aumentando a estatística de vítimas com problemas de ordem
psicossociais.
Gráfico 4. Indicação dos alunos, seus pais e professores a respeito de terem
conhecimento sobre casos de indisciplina na Escola Vila Rio Grande do Norte.
Serra do Mel-RN, 2019.
Fonte: Dados da Pesquisa de Campo (2019)
Constata-se no Gráfico 4 que 35% dos pais dos alunos indicaram que não
sabem informar se existem casos de indisciplina na escola de seus filhos e, isso
nos leva a acreditar que esses pais não têm uma forte ligação com a vida escolar
de seus filhos e por isso pouco sabe informar sobre aspectos ligados a escola.
Por outro lado, 96% dos próprios filhos (os alunos), foram mais realistas,
Pais Alunos Profs. EVRN
47%
96% 100%
18%2% 0
35%
2% 0
Conhecimento sobre casos de indisciplina na Escola
SIM Não Não sei informar
informam que existem casos de indisciplina na Escola, compartilhando a mesma
informação 100% dos professores afirmam ter conhecimento de casos de
indisciplina na Escola Vila Rio Grande do Norte.
Sabe-se que atos de indisciplinas podem ser cultivados ou “cortados” no
ambiente familiar e/ou no ambiente escolar, e por isso foi perguntado aos alunos
e seus pais, como é o comportamento desse aluno no âmbito familiar e suas
respostas estão apresentadas no Gráfico 5.
Gráfico 5. Indicação pais e dos alunos da Escola Vila Rio Grande do Norte no
que se refere ao comportamento desse aluno em seu núcleo familiar. Serra do
Mel-RN, 2019.
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2019).
Denota-se que ao responder a questão sobre o comportamento do aluno
no ambiente familiar, alguns dos respondentes (pais e alunos) assumiram que o
aluno em algum momento apresenta um determinado comportamento e em outro
momento apresenta outro comportamento e, isso fez com que alguns dos
respondentes assinalassem mais que uma das alternativas apresentadas e por
isso os percentuais representam a quantidade (em %) que a alternativa foi
indicada.
Diante de tantas transformações e (re)configurações que as famílias
passaram e vem passando na contemporaneidade, Pereira e Schimanski (2013)
destacam que mesmo com a atual diversidade na formação familiar, as normas
e regras estipuladas não deixaram de existir e quando as famílias não
conseguem encontrar o equilíbrio entre as normas “ideais” e a flexibilidade e
mudança, geralmente o que prevalece é a o modelo hegemônico e tradicional de
família considerada “ideal”. Contudo, as relações que envolvem os pais e os
filhos configuram-se conforme a cultura estabelecida em cada família.
Gráfico 6. Indicação dos alunos e seus pais e a concepção de professores da
Escola Vila Rio Grande do Norte a respeito da relação dos alunos com seus
familiares. Serra do Mel-RN, 2019.
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2019)
Pode-se inferir no Gráfico 6 que a maioria dos professores, pais e alunos
sinalizaram que as relações do aluno com seus familiares são consideradas
boas. Neste sentido, Ferrari e Kaliustian descrevem a função familiar
considerando a educação formal e informal:
“É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo
materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus
componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação
formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos valores
éticos e humanitários, e onde se aprofundam os aços de
solidariedade” (FERRARI; KALOUSTIAN, 2002, p.12).
As relações interpessoais podem sofrer transformações quando há
mudanças de atores e ao longo tempo, entretanto enquanto algumas relações
melhoram com o passar o tempo, outras podem piorar com os anos,
principalmente as relações que não tem como base o respeito. De acordo com
Pereira Neto, Ramos e Silveira (2016) é na família que a criança encontra o
principal espaço de socialização, influenciando na aquisição de habilidades,
comportamentos e valores contextualizados culturalmente.
5. CONCLUSÕES
A indisciplina não é recente no universo escolar, ela vem afetando escolas
públicas, com comportamentos caracterizados por conversas, desrespeito,
brigas e algazarras dos alunos que tornam-se entraves tanto para o processo de
ensino como também para a aprendizagem. Os casos extremos de indisciplina,
pode exigir da instituição/educadores a permuta de função, que deixa de priorizar
a construção e socialização de conhecimentos para se tornar um espaço
disciplinador.
A partir dos dados coletados observou-se que os professores tem uma
visão melhor sobre comportamento e (in)disciplina do estudantes do que os pais
e eles mesmos. Fato que nos chamou atenção foi que apenas 18% dos pais
indicaram que já recebeu alguma reclamação sobre seu filho, entretanto 44%
dos filhos informaram que seus pais já recebem reclamação sobre seu
comportamento da escola e além disso todos os pais indicaram que seus filhos
têm comportamento disciplinado na escola. Quanto aos fatores que tem
contribuído para “fomentar” a indisciplina no ambiente escolar, os sujeitos que
participaram da pesquisa apontaram inúmeros fatores, mas destacou-se:
amizades erradas, jogos com cenas violentas e falta de regras no ambiente
familiar.
Embora a maioria dos professores, pais e alunos sinalizaram que as
relações do aluno com seus familiares são consideradas boas. Sabe-se que a
indisciplina gerada na escola pode ter suas raízes no âmbito familiar pois, devido
a negligencia da família quanto a estabelecer limites na educação de seus filhos
e, além disso a forma que muitos membros familiares se destratam onde
prevalece o desrespeito mútuo, pode ser para a criança um “aprendizado de
comportamento”, fazendo-a replicar determinadas atitudes desrespeitosas que
são presenciadas no seu âmbito escolar.
Com isso, se faz necessário analisar a indisciplina escolar de uma forma
holística, levando em conta não apenas o aluno como único fator atuante, nem
unicamente a instituição e suas regras internas ou as práticas docentes
desenvolvidas, pois a questão da indisciplina é bem mais complexa do que
atribuir determinados atos à uma situação especifica, mas sobretudo deve-se
lembrar que tanto a escola como a família são instituições que podem influenciar
o comportamento que as crianças desenvolvem.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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fevereiro de 2019.
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pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2008.
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