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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRO PRETO
IMPLANTAO DE UM PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA:
ENFOQUE FONOAUDIOLGICO
ANA LCIA RIOS
RIBEIRO PRETO 2007
ANA LCIA RIOS
IMPLANTAO DE UM PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA:
ENFOQUE FONOAUDIOLGICO
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Doutor em Cincias Mdicas. rea de Concentrao: Clnica Mdica Investigao Biomdica Orientadora: Prof. Dra. Geruza Alves da Silva
Ribeiro Preto 2007
AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
FICHA CATALOGRFICA
Rios, Ana Lcia Implantao de um Programa de Conservao Auditiva: enfoque
fonoaudiolgico. Ribeiro Preto, 2007. 133p.: il.; 30cm
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo. rea de Concentrao: Clnica Mdica Investigao Biomdica.
Orientadora: Silva, Geruza Alves da
1. Preveno & controle. 2. Sade do trabalhador. 3. Perda auditiva provocada por rudo. 4. Programa de sade ocupacional. 5. Rudo ocupacional.
FOLHA DE APROVAO Ana Lcia Rios Implantao de um Programa de Conservao Auditiva: enfoque fonoaudiolgico
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Doutor em Cincias Mdicas rea de Concentrao: Clnica Mdica Investigao Biomdica
Aprovado em: _____ / _____ / _____
BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Geruza Alves da Silva Professora Doutora do Departamento de Clnica Mdica da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo (USP). Orientadora Assinatura: _____________________________ Profa. Dra. Andra Cintra Lopes Professora Doutora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de So Paulo (USP). Assinatura: _____________________________ Prof. Dr. Everardo Andrade da Costa Professor Doutor Colaborador da Disciplina de Otorrinolaringologia, Cabea e Pescoo e da Ps-Graduao em Sade Coletiva, Faculdade de Cincias Mdicas, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Assinatura: _____________________________ Prof. Dr. Jos Antnio Apparecido de Oliveira Professor Titular do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabea e Pescoo da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo (USP). Assinatura: _____________________________ Prof. Dr. Milton Roberto Laprega Professor Doutor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo (USP). Assinatura: _____________________________
DEDICATRIA
A todos aqueles que fazem ou que fizeram algo
para um ambiente de trabalho mais humano.
EM ESPECIAL
A Profa. Dra. Geruza Alves da Silva, pelo exemplo, pela coragem e orientao. Obrigada
pelo crdito, prontido, pacincia e ateno em todo o processo de construo desde estudo.
Meu respeito sempre. Sou muito grata!!!
AGRADECIMENTOS
AGRADEO,
a DEUS, por iluminar sempre os meus caminhos;
aos meus pais Rubens e Aparecida, por mostrarem que na vida tudo tem a sua hora
e que no podemos nos esquecer dos limites de liberdade de cada um;
aos meus irmos Gilsa Elena e Jos Alberto, pelos exemplos de persistncia;
ao meu querido Gustavo, por ter me proporcionado uma nova viso de mundo, alm da
pacincia e apoio a mim dedicados durante essa etapa da minha vida;
aos professores e funcionrios do Programa de Ps-Graduao
em Clnica Mdica, pelo convvio e ensinamentos transmitidos;
a pessoa do Dr. Clsio de Sousa Soares, representando todos os integrantes
do SESMT da empresa, pela confiana depositada,
pela acolhida e pelo acesso aos dados e ambiente estudado;
a chefia e aos funcionrios da Diviso de Nutrio e Diettica da empresa,
que humildemente atenderam s solicitaes e permitiram a execuo do estudo;
a amiga Danielle, pela amizade e disposio sempre constantes.
A todos que contriburam para a construo deste estudo, MUITO OBRIGADA !!!
A coragem de arriscar a metade do sucesso.
IRMOS GRIMM
RESUMO
RIOS, A. L. Implantao de um Programa de Conservao Auditiva: enfoque fonoaudiolgico. 2007. 133f. Tese (Doutorado) Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2007. A tecnologia e a modernidade proporcionam, em alguns casos, a ocorrncia de doenas ocupacionais e consequentemente a queda na qualidade de vida da classe trabalhadora causada, muitas vezes, pelo aumento dos nveis de rudo nas indstrias. Com isso a Perda Auditiva Induzida por Rudo (PAIR) tem ocupado lugar de destaque entre as doenas ocupacionais. A implantao de um Programa de Conservao Auditiva (PCA) necessria em locais de trabalho onde os nveis de exposio ao rudo estejam acima dos limites de tolerncia. O objetivo do estudo foi propor para a direo de uma empresa a implantao de um Programa de Conservao Auditiva na Diviso de Nutrio e Diettica (DND), rea que apresenta nvel de presso sonora elevado, verificando a eficcia do trabalho dos profissionais atualmente envolvidos e enfocando o papel do fonoaudilogo. Foram analisadas as avaliaes auditivas contidas nos pronturios mdicos de todos os funcionrios da DND realizadas durante o perodo de dezembro de 2004 (ano base) a maro de 2006. Por meio de um questionrio, os dados pessoais e referentes histria clnica e ocupacional dos trabalhadores foram colhidos. Paralelamente aos procedimentos j citados, foram realizadas palestras e/ou mini-cursos aos funcionrios da Diviso sobre os cuidados com a audio, a necessidade e importncia do uso do equipamento de proteo individual, a importncia da realizao dos exames auditivos, alm de esclarecimentos relativos s portarias e normas de sade ocupacional. Participaram do estudo 174 funcionrios da DND com idade variando de 23 a 61 anos (mdia de 43 anos) e predomnio do gnero feminino (93,68%). No ambiente de produo da DND o rudo variou entre menos de 60dB(A) a 88,7dB(A) e as reas mais ruidosas respectivamente so: Seo de Preparo e Coco, Seo de Cozinha e Diettica, Lavagem e Esterilizao e Restaurante I. A maioria dos funcionrios faz uso do protetor auricular com freqncia e participam das capacitaes que a empresa proporciona, porm em 2004, 35,29% apresentaram algum tipo da alterao na acuidade auditiva, sendo que, na sua maioria, a configurao audiomtrica sugestiva de PAIR e quando os exames de 2004 foram comparados com os de 2005, o agravamento da perda auditiva foi de 32%, demonstrando que as medidas de preveno adotadas esto pouco eficazes. Com esses dados conclumos que a implantao de um programa de conservao auditiva com aes sincronizadas entre os que realizam as atividades preventivas, na empresa se faz urgente. Palavras-chave: Preveno & controle. Sade do trabalhador. Perda auditiva provocada por rudo. Programa de sade ocupacional. Rudo ocupacional.
ABSTRACT
RIOS, A. L. Implementation of Hearing Conservation Program: focus audiologyst. 2007. 133f. Tese (Doutorado) University of Medicine at Ribeiro Preto, University of So Paulo, Ribeiro Preto, 2007. The technology and the modernity provide, in some cases, the occurrence of occupational diseases and consequently, a decrease in the health quality of live of the workers, due to increase in the level of noise in the industries. Hence, the Noise-Induced Hearing Loss (NIHL) plays a critical role among the occupational diseases. The implementation of a Hearing Conservation Program (HCP) is necessary in work places where the levels of noise are above the tolerance limits. The aim of this study was to propose, to the manage department of an enterprise, a Hearing Conservation Program to be applied in the Department of Nutrition and Dietary (DND). This department presents high levels of sound pressure and the HCP implementation had the objective of reaching the work efficiency of the workers involved in this section, focusing on the role of the audiologyst. The hearing tests described on the medical records of all workers of the DND, during the period of 2004 (year-base), december to 2006, march, were analyzed. Personal data related to the clinical and occupational history of the workers were collected using a questionary. Simultaneously to the procedures already mentioned, talks and small courses were implemented involving the workers, about hearing cares and medical examinations, the individual protection equipment importance and health laws and normatization. One hundred seventy four (174) DND workers answered the quiz, with ages varying between 23 and 61 years old (an average of 43 years old) and almost all women (93,68%). In the DND installations, the noise varied between less than 60dB(A) and 88,7dB(A) and the noisiest areas are, respectively: preparing and cooking, kitchen and dietary, washing and sterilization and restaurant I. Usually, all workers use an protector headphone and also attend the technical courses provided by the enterprise. However, in 2004, 32,29% presented some kind of hearing alteration and, mostly, the audiologic configuration is suggestive of NIHL. Besides, when the exams of the year of 2004 were compared to the exams of 2005, it was possible to note an increase of 32% in the hearing losses of the workers, showing that the adopted prevention actions are not efficient. Using these data, one can conclude that to implement a hearing conservation program and synchronized actions among the ones who develop prevention activities is urgent.
Keywords: Prevention & control. Occupational health. Hearing loss noise-induced. Occupational health program. Noise occupational.
LISTA DE GRFICOS
GRFICO 1 Representao grfica da percentagem de participantes relacionados s sees em que trabalham .........................................................................
58
GRFICO 2 Representao grfica da percentagem dos indivduos por funo relacionados s sees em que trabalham ................................................
58
GRFICO 3 Representao dos sintomas no auditivos relatados pelos indivduos em percentagem de ocorrncia ................................................................
61
GRFICO 4 Representao das queixas relatadas pelos indivduos e a percentagem de ocorrncia ............................................................................................
62
GRFICO 5 Representao grfica das queixas manifestadas pelos indivduos durante o uso do protetor auricular e a percentagem de ocorrncia ........
64
GRFICO 6 Representao grfica das opinies sobre o questionrio e a percentagem de ocorrncia ......................................................................
68
GRFICO 7 Representao grfica do nmero anual de exames realizados nos ltimos anos .............................................................................................
69
GRFICO 8 Distribuio percentual da situao auditiva unilateral dos funcionrios em 2004 ...................................................................................................
71
GRFICO 9 Distribuio percentual da situao auditiva bilateral dos funcionrios em 2004 ...................................................................................................
71
GRFICO 10 Distribuio percentual da situao auditiva unilateral dos funcionrios em 2005 ...................................................................................................
73
GRFICO 11 Distribuio percentual da situao auditiva bilateral dos funcionrios em 2005 ...................................................................................................
73
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva e idade em levantamento dos dados em 2004 ............................................
55
TABELA 2 Dados referentes as diferentes situaes de contato com rudo ocupacional ou no e a percentagem de ocorrncia ................................
56
TABELA 3 Dados referentes ao emprego atual dos indivduos estudados e a percentagem de ocorrncia ......................................................................
57
TABELA 4 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios por tempo de servio relacionado ao ano de 2004 .......
57
TABELA 5 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios por seo em 2004 ........................................................
59
TABELA 6 Dados referentes aos diferentes tipos e graus de percepes do rudo pelos indivduos e a percentagem de ocorrncia .....................................
60
TABELA 7 Dados referentes ao ambiente de produo e a percentagem de ocorrncia ................................................................................................
63
TABELA 8 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios relacionada ao uso de protetor auricular individual .....
65
TABELA 9 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da freqncia do uso do protetor auricular por seo de trabalho .............................................
66
TABELA 10 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais do uso de protetor auricular individual relacionada informao ........................................
66
TABELA 11 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais do uso de protetor auricular individual relacionada ao mtodo de informao .....................
67
TABELA 12 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais do uso de protetor auricular individual na comparao dos exames de 2004 e 2005 ............
67
TABELA 13 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios quando analisados os exames de 2004 .........................
70
TABELA 14 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios quando analisados os exames de 2005 .........................
72
TABELA 15 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios quando analisados os exames de 2004 e 2005 .............
75
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAOHNS American Academy of Otolaryngology
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
AC Antes de Cristo
ANSI American National Standard Institute
CA Certificado de Aprovao
CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidentes
CLT Consolidao das Leis do Trabalho
dB DeciBel
dB(A) DeciBel na escala de atenuao A
dB(NA) Nvel de audio em deciBel
DND Diviso de Nutrio e Diettica
DP Desvio Padro
EPI Equipamento de Proteo Individual
GHE Grupo Homogneo de Exposio
HCFMRP Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto
Hz Hertz
INSS Instituto Nacional de Seguridade Social
ISO International Standardization Organization
Leq Nvel Equivalente de Rudo
LTCAT Laudo Tcnico das Condies Ambientais de Trabalho
MPL Mudana Permanente de Limiar
MTb Ministrio do Trabalho
MTL Mudana Temporria de Limiar
n Nmero de indivduos
NHO Norma de Higiene Ocupacional
NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health
NPS Nvel de Presso Sonora
NR Norma Regulamentadora
NRR Noise Reduction Rating
NRRsf Nvel de Reduo de Rudo (subject fit)
OS Ordem de Servio
OSHA Occupational Safety and Health Administration
PA Perda Auditiva
PAINPSE Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevados
PAIR Perda Auditiva Induzida por Rudo
PCA Programa de Conservao Auditiva
PCMSO Programa de Controle Mdico em Sade Ocupacional
PPRA Programa de Preveno para Riscos Ambientais
PUC Pontifcia Universidade Catlica
SESMT Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho
SSST Secretaria de Sade e Segurana do Trabalho
USP Universidade de So Paulo
WHO World Health Organization
SUMRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE GRFICOS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APRESENTAO ................................................................................................................
16
1 INTRODUO ................................................................................................................
19
2 OBJETIVOS ....................................................................................................................
42
3 MATERIAL E MTODOS ................................................................................................
43
4 RESULTADOS .................................................................................................................
54
5 DISCUSSO ....................................................................................................................
76
6 CONSIDERAES FINAIS ..............................................................................................
93
REFERNCIAS1 ..................................................................................................................
95
ANEXOS .............................................................................................................................
107
1 *De acordo com a ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS. NBR 6023: informao e documentao/referncias e elaborao. Rio de Janeiro, 2002.
APRESENTAO
APRESENTAO
16
Atualmente podemos encontrar vrios modelos de ambientes laborais que podem ser
desde uma linha de produo moderna, tecnolgica e globalizada at aquela empresa
rudimentar, sem muitos recursos investidos. Mesmo com a evoluo das relaes do
trabalhador com o local de trabalho, no houve mudana significante nesse elo, quanto ao
rudo, que continua sendo um agente fsico muito encontrado nos ambientes de inmeros
processos produtivos.
A tecnologia e a modernidade trouxeram, em muitos casos, o aumento das doenas
ocupacionais e consequentemente a queda na qualidade de vida da classe trabalhadora. Dentre
todos os fatores ou agentes que se caracterizam como risco para a sade do homem no
ambiente ocupacional, o rudo aparece como o mais constante e o mais universalmente
distribudo.
A empresa, em que foi realizado esse estudo, possui servios isolados de
administrao, de medicina, de engenharia do trabalho e de fonoaudiologia, que visam
qualidade de vida do trabalhador, mas essas medidas no so unificadas e ordenadas no
sentido de cumprir um programa com proposta de prevenir acidentes auditivos, dentro das
normas trabalhistas e, com isso os efeitos desejados acabam ocorrendo a muito longo prazo.
O Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho
(SESMT) da empresa composto por: engenheiros e tcnicos de segurana, assistente social,
educador fsico, mdicos, enfermeiros e tcnicos de enfermagem do trabalho. Os profissionais
de segurana so os responsveis pelo levantamento do mapa de risco e confeco do
Programa de Preveno de Riscos Ambientais (PPRA), um programa obrigatrio por lei. O
PPRA um documento constitudo pelos resultados obtidos em todo o processo de
levantamento que identifica por setor/funo o agente encontrado, sua causa/fonte, seus
efeitos sade e as medidas de controle propostas. Por meio da avaliao ambiental pode-se
APRESENTAO
17
constatar que o rudo o agente de risco muito incidente na Diviso de Nutrio e Diettica
(DND) e dessa forma, o controle do rudo torna-se prioridade.
Na empresa, antes da dcada de 90, no havia muita preocupao com a sade do
trabalhador e se havia no era manifestada. No aspecto mdico de sade do trabalhador havia
uma dinmica de atendimentos aos funcionrios, porm quanto realizao de exames
audiomtricos no havia uma rotina para funcionrios nem para o servio de fonoaudiologia
da empresa. Em 1998, o Setor de Fonoaudiologia da entidade junto com o SESMT e as
chefias de cada seo de trabalho se mobilizaram no sentido de promover a realizao dos
exames auditivos.
Atualmente, h uma enfermeira do trabalho e um tcnico de enfermagem responsvel
pela convocao dos funcionrios indicados de todas as reas da empresa para a realizao
dos exames auditivos peridicos, alm dos admissionais e demissionais, porm ainda h
problemas para a sistematizao e realizao desses exames devido a grande demanda e da
ausncia de um servio estruturado para tal finalidade.
Aps a realizao do exame tambm no h uma sistematizao por parte das
fonoaudilogas em relatar ao funcionrio o resultado do mesmo, o que fica a cargo do mdico
do trabalho, mas muitas vezes, o funcionrio comparece consulta mdica e no fica sabendo
se possui ou no alguma alterao auditiva. O exame anexado ao pronturio do trabalhador
e, na maioria das vezes, a audiometria realizada sem a posse do exame anterior (nos casos
de peridico e demissionais) dificultando uma anlise do caso.
Como ainda no h um Programa de Conservao Auditiva (PCA) institudo na
empresa, o monitoramento audiomtrico tambm no realizado apesar de as atividades
relacionadas medio e controle do rudo e proteo auditiva individual serem executadas.
Para esse monitoramento, os funcionrios devero ter um exame admissional (de referncia) e
APRESENTAO
18
exames seqenciais (peridicos) realizados semestralmente ou anualmente dependendo de
cada caso, possibilitando um acompanhamento efetivo da acuidade auditiva e da evoluo da
alterao auditiva.
Desde 2004, o SESMT comeou a utilizar para organizar, padronizar e gerenciar seus
dados um sistema computadorizado que abrange gestes integradas de sade e segurana do
trabalho. Segundo as especificaes desse sistema, a programao possui vrios dados
padronizados de forma pr-definida o que proporciona um alto nvel de flexibilidade e
adequao ao ambiente do cliente. utilizado para a informatizao do ambulatrio mdico e
da rea de segurana do trabalho, porm no o utilizam para arquivo dos exames nem para o
gerenciamento audiomtrico at o incio desse estudo.
A implantao de uma rotina de preveno de alteraes auditivas e de conservao da
audio de forma permanente e continuada necessria, uma vez que as condies ambientais
de trabalho e os processos produtivos esto em constante mutao. um trabalho dinmico e
contnuo a ser realizado dentro da empresa.
1 INTRODUO
INTRODUO 19
Na maioria dos pases industrializados o rudo , muitas vezes, o agente nocivo mais
presente nos ambientes de trabalho. Sua presena nas atividades de trabalho soma-se sua
intensa disseminao nos ambientes urbanos e sociais, especialmente nas atividades de lazer
(ALBERTI, 1998).
No Brasil, o rudo ocupa a terceira posio entre os agentes causadores de doenas
ocupacionais (GOMES, 1989) e embora dados histricos apontem a preocupao com seus
efeitos desde 47 A.C., nas ltimas dcadas, ele se transformou numa das formas de poluio
que mais atinge a humanidade, trazendo conseqncias muitas vezes irreversveis (MENDES,
1995).
A poluio sonora, considerada pela World Health Organization como uma das trs
prioridades ecolgicas para a prxima dcada, no visvel e a percepo desse problema ,
muitas vezes, demorada. O agravante que os indivduos que esto expostos a essas
intensidades sonoras elevadas so jovens, na maioria, que mesmo antes de iniciarem as fases
produtivas de suas vidas j podem apresentar uma leso auditiva (FRANCO; RUSSO, 2001).
A exposio freqente a rudo de alta intensidade pode levar o indivduo a diversos
problemas de sade, entre eles a perda auditiva conhecida como Perda Auditiva Induzida por
Nveis Elevados de Presso Sonora (PAINPSE) ou popularmente PAIR1 (Perda Auditiva
Induzida por Rudo) que tambm , por vezes, denominada de Mudana Permanente de
Limiar, Disacusia Neurossensorial, Disacusia Neurossensorial Ocupacional por Rudo, Surdez
Ocupacional ou Profissional, Perda Auditiva Profissional ou Ocupacional, Disacusia Auditiva
Crnica Induzida pelo Rudo, entre outras.
1 Embora a Portaria no. 19 do Ministrio do Trabalho (BRASIL, 1998b) utiliza a denominao Perda Auditiva Induzida por Nveis Elevados de Presso Sonora (PAINPSE), nesse estudo optamos em usar Perda Auditiva Induzida por Rudo (PAIR), devido maior popularidade do termo.
INTRODUO 20
Essa patologia tem ocupado lugar de destaque no rol das doenas ocupacionais,
suplantada apenas pelas dermatoses de contato. Est tambm em segundo lugar entre as
doenas mais freqentes do aparelho auditivo, sendo superada apenas pela presbiacusia
(RABINOWITZ, 2000).
No Homem, ao longo dos anos de exposio, os sinais de distrbios fsicos e
psicolgicos vo se instalando mansamente, principalmente naquele exposto a nveis
moderados de rudo. Melnick (1985) descreve os efeitos do rudo sobre a audio dividindo-
os em trs categorias como: trauma acstico, mudana temporria de limiar (MTL) e mudana
permanente de limiar (MPL) tambm denominada perda auditiva induzida pelo rudo.
O termo trauma acstico utilizado para descrever o efeito provocado por uma nica e
sbita exposio a rudo com um pico de energia sonora muito elevada. Nesse caso, o nvel de
presso sonora que atinge as estruturas da orelha interna excede os seus limites fisiolgicos
freqentemente produzindo rompimento das estruturas do rgo de Corti (OLIVEIRA, 1997;
HUNGRIA, 2000).
A MTL um desvio do limiar auditivo aps uma exposio de algumas horas a nveis
elevados de presso sonora e tambm dependente do nvel de presso sonora e da durao
da exposio. Essa queda do limiar tende a retornar gradualmente ao normal depois de
cessada a exposio. Kryter (1985) refere que a ocorrncia de MTL representa um primeiro
indcio de potencial risco para a audio. Quanto maior a MTL de um indivduo exposto a
rudo, maior a sua predisposio em adquirir uma perda auditiva (BURNS; STEAD; PENNY,
1970; CHERMAK; DENGERINK; DENGERINK, 1984; WARD, 1995).
A PAIR ou MPL uma doena decorrente do acmulo de exposies a rudo, que so
repetidas por um perodo de muitos anos. Essa patologia considerada uma perda auditiva
permanente, muitas vezes superior a 20 deciBels (dB) sobre pelo menos uma freqncia
INTRODUO 21
crtica desde que passadas vrias horas dirias em ambientes de mais de 85dB sem proteo
(TAY, 1996).
Seligman et al. (1999) consideram a PAIR a enfermidade profissional de maior
prevalncia em todo o mundo e Almeida et al. (2000) como uma doena ocupacional de alta
prevalncia nos pases industrializados, destacando-se como um dos agravos sade do
trabalhador mais prevalentes nas indstrias brasileiras, embora Ferreira Junior (1998) defenda
que, os dados de incidncia e prevalncia disponveis em publicaes no so fidedignos, por
conta do desconhecimento do total de trabalhadores expostos ao risco e da falta de critrios
adequados ao diagnstico da alterao auditiva. Por outro lado, a ausncia de parmetros para
a definio legal de incapacidade laborativa e a sub-notificao impedem que se tenha uma
noo precisa da dimenso social do problema, suscitando a suspeita de que esses nmeros
possam ser ainda maiores.
Guerra et al. (2005) destacam que embora a PAIR tenha atingido propores
praticamente endmicas no meio industrial, estudos cientficos sobre a sua histria natural nos
trabalhadores brasileiros ainda so escassos, alm da grande impreciso na quantificao do
nvel de exposio individual ao rudo, observada nas indstrias brasileiras.
O National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH, 1998) estimou que
em 1992, aproximadamente 30 milhes de trabalhadores americanos estavam expostos a rudo
ocupacional em nveis prejudiciais e que esse nmero aumentou aproximadamente em 30%
desde 1983 (MELNICK, 1985). Na Europa, a situao no diferente e, se mantivermos essa
base para clculos, talvez mais de 600 milhes de pessoas em todo o mundo estejam sob o
risco da perda auditiva por exposio a uma intensidade elevada de presso sonora. Portanto,
a populao mundial sob o risco de PAIR de aproximadamente 12% (ALBERTI, 1998;
PRASHER, 1998).
INTRODUO 22
O rudo atualmente faz parte do cotidiano dos indivduos (rudo de trfego e lazer, em
alguns trabalhos, entre outros) e assim, a PAIR poder ser uma das principais doenas
crnicas no futuro da humanidade (FIORINI, 2000).
Para o Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva (1999a), Hungria (2000),
Morata e Lemasters (1995), Ferreira Jnior (1998), Handar (1998), Brasil, (1998b), Jerger, e
Jerger (1998) e Rabinowitz (2000) perda auditiva induzida pelo rudo so as alteraes dos
limiares auditivos, do tipo sensorioneural, decorrentes da exposio ocupacional sistemtica a
nveis de presso sonora elevada. Essa perda auditiva decorre de leso das clulas sensoriais
do rgo de Corti na orelha interna. Em geral, bilateral, tendo evoluo lenta, insidiosa,
irreversvel, diretamente relacionada ao tempo de exposio, aos nveis de presso sonora e a
suscetibilidade individual. O seu portador geralmente s percebe a dificuldade auditiva
quando a leso j est em estgio avanado (SAVA, 2005).
De acordo com Melnick (1985) a perda auditiva induzida por rudo de forma geral
primeiramente mensurvel na faixa de freqncia de 3000Hz (Hertz) a 6000Hz e a perda
auditiva em 4000Hz tornou-se a caracterstica principal que estabelece vnculo entre uma
leso auditiva do tipo sensorioneural e o rudo, como provvel etiologia. O fato de a PAIR
apresentar configurao semelhante na maioria dos casos, tendo um aspecto de entalhe nas
freqncias de 3000Hz a 6000Hz, despertou o interesse de muitos pesquisadores ao longo dos
anos. Jerger e Jerger (1998) comentam que achados histopatolgicos de ossos temporais
humanos mostram leses situadas a aproximadamente 5 a 15 milmetros da janela oval, o que
coincide com a regio receptora dos estmulos de 4000Hz a 6000Hz e que a maior
vulnerabilidade dessa regio pode estar relacionada a caractersticas de ressonncia das
orelhas externa e mdia, caractersticas mecnicas e anatmicas da cclea ou ao seu
suprimento sangneo. Henderson e Hamernik (1995) explicam tal vulnerabilidade
INTRODUO 23
demonstrando que o rudo industrial possui um amplo espectro de freqncias. Como a
freqncia de ressonncia do conduto auditivo externo situa-se ao redor de 3000Hz, ento h
uma transformao do rudo que entra gerando um reforo nessa freqncia. Como a perda
o resultado de oitava acima da freqncia de maior estimulao da cclea, segundo os
autores, essa seria uma explicao mais lgica do que assumir uma fragilidade inerente da
regio de 4000Hz. Com a evoluo da leso auditiva, o entalhe em 4000Hz tende a
aprofundar-se e alagar-se em direo s freqncias de 2000Hz e 8000Hz, quando comea a
afetar seriamente a discriminao de fala (COMIT NACIONAL DE RUDO E
CONSERVAO AUDITIVA, 1999a; MAY, 2000).
Segundo Luxon (1998) essa alterao auditiva manifesta-se, primeira e
predominantemente, nas freqncias de 4000Hz, 6000Hz e 3000Hz, nessa mesma ordem de
progresso, e com o agravamento da leso estende-se s freqncias de 8000Hz, 2000Hz,
1000Hz, 500Hz e 250Hz. Raramente o rudo leva a perda auditiva profunda, em geral no
ultrapassando os 75dB, nas freqncias altas e 40dB, nas freqncias baixas, atingindo seu
nvel mximo nos primeiros dez a quinze anos de exposio.
As caractersticas fsicas do agente causal (tipo de espectro de freqncia, nvel de
presso sonora), tempo/dose de exposio e susceptibilidade individual tambm interferem na
perda, porm uma vez cessada a exposio ao nvel elevado de presso sonora, no h
progresso da perda (MAYRINK et al.,1993; ABNT, 1996).
Os rudos de baixa freqncia produzem menos nocividade que rudos de alta
freqncia e as alteraes observadas na cclea decorrentes da exposio a rudo so
provavelmente resultado de leso mecnica, estresses metablicos ou da combinao desses
dois fatores, alm de alteraes vasculares e inicas que podem lesar as clulas sensoriais
(WARD, 1973; DUNN, 1987).
INTRODUO 24
Os danos sade dos trabalhadores extrapolam as funes auditivas, atingindo
tambm os sistemas circulatrio, endcrino, nervoso, digestivo e outras atividades fsicas,
mentais e sociais prejudicando o processo de comunicao como um todo e contribuindo para
o aumento do nmero de acidentes de trabalho (COSTA, 1994/1995; SANTOS, 1999;
HUNGRIA, 2000).
A exposio simultnea a vrios agentes situao mais comum de ser encontrada nos
ambientes de trabalho. Morata e Lemasters (1995) afirmam que a mdia de agentes
simultneos gira em torno de 2,7% e que as alteraes auditivas encontradas nos ambientes
ocupacionais so muitas vezes atribudas ao rudo, sem maior cuidado na investigao de
outros fatores.
A Ordem de Servio (OS) no. 608 (BRASIL, 1998a) destaca os principais fatores de
risco para perda auditiva relacionada ao trabalho como sendo os ambientais, os metablicos e
bioqumicos, medicamentosos e genticos. Dentre os fatores ambientais esto os rudos com
nvel de presso sonora acima dos limites de tolerncia, previstos nos anexos I e II da Norma
Regulamentadora (NR) no. 15 da Portaria no. 3.214/78. Nos agentes bioqumicos so
destacados os solventes (tolueno, dissulfeto de carbono), fumos metlicos, gases asfixiantes
(monxido de carbono); outros agentes fsicos (vibraes, radiao e calor) e agentes
biolgicos (vrus e bactrias). Nas alteraes do metabolismo esto: as alteraes renais,
dentre elas a Sndrome de Alport, o Diabetes Mellitus e outras como Sndrome de Alstrom;
insuficincia adreno-cortical; dislipidemias, hiperlipoproteinemias; doenas que impliquem
distrbios no metabolismo do clcio e do fsforo; distrbios no metabolismo das protenas;
hipercoagulao; mucopolissacaridose e disfunes tireoideanas (hiper e hipotireoidismo).
Nos fatores medicamentosos a OS refere-se ao uso constante de salicilatos, aminoglicosideos,
derivados de quinino e outros que podem causar alteraes auditivas por ototoxidade; j as
INTRODUO 25
causas genticas esto associadas a histria familiar de surdez.
O rudo e suas repercusses na sade do homem tm sido objetos de muitos estudos
(KRYTER, 1985; SANTANA; BARBERINO, 1995; GERGES, 1997; SANTOS, 1999;
CORRA FILHO et al., 2002; RIOS; SILVA, 2005) e como esse agente fsico um problema
sentido tanto nos locais de trabalho quanto nas comunidades, necessita-se de uma correta
avaliao e da adoo de programas de controle com medidas eficazes na sua identificao e
no seu controle.
Oliveira (1996) afirma que devemos pensar a sade como um processo dinmico de
relao do ser humano com o meio social, capaz de permitir uma integrao satisfatria entre
os indivduos, alm da simples ausncia de doenas ou enfermidades. A autora relata ainda
que, como fenmeno social, sade o reflexo direto das condies de vida de uma
sociedade. Para a promoo e manuteno da sade assim entendida, esto envolvidas as
estruturas poltico-sociais determinantes desse modo de vida.
Ferreira (2005) em seu estudo mostra que a relao estabelecida entre o meio e a sade
do trabalhador vem merecendo destaque das mais variadas comunidades cientficas. Esse fato
pode ser percebido por meio da interseo entre as reas da fonoaudiologia e do direito,
promovida pela ocorrncia da perda auditiva induzida por rudo em trabalhadores, associada
s condies insalubres dos ambientes laborais. Aps a dcada de 1940 a perda auditiva e o
trauma acstico causados por rudo ocupacional passaram a ser conhecidos como doenas
adquiridas no ambiente ou por um mtodo especfico de trabalho, caractersticas de certas
categorias profissionais, portanto passveis de compensaes pelo dano sofrido. O acidente de
trabalho passou a ser reconhecido a partir da Revoluo Industrial, por conta do aumento da
produo, do surgimento da mquina e da concentrao dos trabalhadores nas fbricas.
Salrios, jornadas, condies e ritmo de trabalho foram aumentando por causa da imposio
INTRODUO 26
patronal. Com o desenvolvimento das indstrias aumentou tambm os servios, os acidentes,
o nmero de pessoas com seqelas, vivas e rfos. Quando o trabalhador era lesionado no
trabalho ou em outra atividade, perdendo ou reduzindo sua capacidade de produo, ficava
excludo da sociedade produtiva, sem remunerao, pois no havia proteo do Estado ou
muturia que garantisse sua sobrevivncia.
Ainda segundo Ferreira (2005) molstias ocupacionais so doenas de evoluo lenta e
progressiva, relacionadas ao trabalho, dividindo-se em tecnopatias e mesopatias. As
tecnopatias (tambm chamadas de doenas profissionais) so inerentes a determinados tipos
de atividades, estando o seu nexo causal, diretamente relacionado s profisses exercidas e
previstas em lei. As mesopatias (doenas profissionais atpicas) so causadas pelas condies
agressivas do ambiente de trabalho, que contriburam para acelerar, deflagrar ou agravar o seu
estado.
A Diviso de Preveno da Surdez e Deficincia Auditiva da World Health
Organization (1980) indica que a perda auditiva ocupacional decorrente da exposio ao
rudo excessivo o maior problema passvel de preveno da sade pblica do mundo e
recomenda a execuo de programas governamentais de preveno da perda auditiva induzida
pelo rudo.
At a dcada de 90, no Brasil, a sade era um benefcio previdencirio ou um bem de
servio comprado na forma de assistncia mdica ou, por fim, uma ao de misericrdia
oferecida aos que no tinha acesso previdncia e nem recursos para pagar assistncia
privada, prestada por hospitais filantrpicos. As aes de carter coletivo, as ento chamadas
aes de sade pblica, eram executadas pelo Ministrio da Sade e completamente
dissociadas da ateno individual, aes essas resumidas a campanhas e programas de carter
INTRODUO 27
predominantemente preventivos, tais como as campanhas de vacinao e os programas sobre
doenas especficas (BERNARDI; SALDANHA JUNIOR, 2003).
Nesse contexto, em que as aes individuais de ateno sade eram totalmente
dissociadas das aes coletivas, o modelo de ateno integral sade do trabalhador inexistia
como poltica pblica de sade e a nica forma de controle que o Estado exercia sobre as
empresas era por meio do Ministrio do Trabalho e suas Delegacias Regionais cuja funo era
de fiscalizao s empresas.
A sade do trabalhador no Brasil tomou novo rumo, pois, para a compreenso do
processo sade-doena de um indivduo que anteriormente era includo nos programas de
ateno sade com uma viso limitada daquele indivduo, passa a ser necessria uma viso
mais ampla e integral desse processo, considerando-se as questes incidentes sobre o trabalho.
Paralelamente, a reformulao de algumas legislaes trabalhistas e previdencirias
geraram a necessidade das empresas investirem mais fortemente no setor sade e segurana a
partir da segunda metade da dcada de 1990. A entrada da Fonoaudiologia nas empresas e no
setor pblico de sade nesse momento histrico deu-se pela necessidade que a lei preconizava
de se testar a audio de todos os trabalhadores expostos a nveis de presso sonora acima dos
limites de tolerncia, e de novas experincias do setor de sade na vigilncia sanitria e
epidemiolgica s empresas.
At os anos 1980 a atuao de fonoaudilogos na rea de sade no trabalho era muito
limitada. Seu trabalho era caracterizado exclusivamente pela execuo de audiometrias
(admissionais, peridicas e demissionais), solicitadas pelo mdico do trabalho nas indstrias.
Os fonoaudilogos no tinham nenhum tipo de vnculo com as indstrias, simplesmente
transferiam sua vivncia em audiologia clnica, adquirida em seus locais de trabalho, para o
desenvolvimento dessa nova atividade. A partir de 1986 com a Pontifcia Universidade
INTRODUO 28
Catlica (PUC) e o Programa de Sade do Trabalhador da Zona Norte de So Paulo
(SANTOS et al., 1989) comeou a insero da Fonoaudiologia em empresas e associaes de
classe. Foram o pioneirismo e a determinao de alguns profissionais, no momento poltico
propcio, que possibilitaram a atuao dos fonoaudilogos na rea da sade do trabalhador,
bem como o estabelecimento e a consolidao desse mercado de trabalho (MORATA;
CARNICELLI, 1988).
de especial interesse do direito previdencirio e da Fonoaudiologia buscar meios
para estabelecer uma ao preventiva que garante condies favorveis de trabalho. A
promoo da sade nos locais de trabalho evitar nus para empresas, para a Previdncia
Social e para a sociedade em geral. Faz-se necessrio que o fonoaudilogo atue como
profissional preventivo, indo alm da mera administrao dos casos de perda auditiva,
execuo de audiometrias e indicao de aparelhos de amplificao sonora individual. Ele
deve alargar seus horizontes por meio do conhecimento das leis, ampliando sua direo e sua
base de atuao para um maior e melhor desempenho profissional (FERREIRA, 2005).
Com a regulamentao da Portaria no. 19 houve uma contextualizao dos exames
audiomtricos. Esses passaram a servir como indicadores de sade para medidas preventivas.
Dessa forma, a demanda do trabalho fonoaudiolgico nas empresas cresceu e assumiu grande
importncia, pois no bastava mais a realizao pura e simples dos exames. A partir de 1998
passou a ser necessria a anlise individual e coletiva da situao auditiva dos trabalhadores
elencando os setores de maior risco para o desenvolvimento de aes que visem reduo dos
riscos.
Por ser um profissional com conhecimentos especficos, na rea de audiologia, fsica
acstica, fisiologia da audio e educao em sade, o fonoaudilogo um profissional que
tem competncia tcnica para coordenar um Programa de Conservao Auditiva (PCA).
INTRODUO 29
Nesse sentido, h que se abandonar a cultura imposta pela antiga NR-7, de execuo de
exames desvinculada de qualquer outro objetivo, para um trabalho de consultoria onde as
aes so articuladas entre si (BERNARDI; SALDANHA JUNIOR, 2003).
Os audiologistas so profissionais altamente qualificados para assumir posies de
responsabilidade nos programas de preveno de perda auditiva ocupacional. A superviso
profissional dos programas de avaliao audiolgica necessria para garantir dados
confiveis e vlidos para a identificao e interveno precoces. Os programas de avaliao
auditiva executados indiferentemente, com freqncia no fazem mais do que documentar a
progresso da perda auditiva induzida por rudo (SIMPSON, 2001).
No mundo da sade e do trabalho, as coisas so mais complexas. Apesar da crescente
demanda e necessidade por parte das empresas de possurem consultoria especializada de
fonoaudilogos para o desenvolvimento de aes de promoo da sade auditiva de seus
trabalhadores, na prtica o quadro no muito satisfatrio.
Nos dias de hoje, no h razo tcnica para que a perda auditiva seja o resultado do
trabalho em ambiente ruidoso, tendo em vista que os programas de preveno da perda
auditiva so exigidos por lei.
Existe uma enorme variedade de alternativas tcnicas e/ou cientficas que podem ser
adotadas a fim de reduzir o rudo. Tecnicamente, a primeira medida de controle definitivo o
controle na fonte. No sendo possvel, a segunda o controle na trajetria, que implica em
fazer adaptaes e/ou modificaes no ambiente de trabalho e/ou maquinrio e como terceira
opo tm o uso do protetor auricular. Esse deve ser usado quando no existem solues
tcnicas viveis para o controle do rudo na fonte ou na trajetria, situao na qual, o
equipamento de proteo individual (EPI) do tipo auricular aceito como soluo definitiva,
de acordo com Giampaoli (2000).
INTRODUO 30
O processo de execuo de qualquer programa parte da realidade de cada empresa, que
leva em considerao a situao auditiva dos trabalhadores, a equipe tcnica disponvel e o
recurso financeiro a ser disponibilizado. Enquanto existirem riscos para a audio presentes
nos processos produtivos, h a necessidade de se buscar sua reduo ou eliminao.
No Brasil, o trabalho de preveno das doenas ocupacionais e dos acidentes de
trabalho teve incio em 1943, com a Consolidao das Leis do Trabalho (CLT) (BRASIL,
1943) e desde ento os cuidados com a audio do trabalhador que atua em ambientes
ruidosos, intensificado por meio das Normas Regulamentadoras editadas pelo Ministrio do
Trabalho.
Com a promulgao da Portaria no. 3.214/78, houve um importante avano no mbito
da conservao auditiva ocupacional. Essa portaria, por meio da NR-7, torna obrigatria a
realizao de exames auditivos vinculados aos exames mdicos em trabalhadores cujo
ambiente de trabalho apresente nveis de presso sonora superiores a 85dB por oito horas de
exposio. Nessa mesma portaria, a NR-15, nos anexos I e II, estabelece os limites de
tolerncia para o rudo no pas, definindo critrios para caracterizao da insalubridade por
exposio a esse agente (BRASIL, 1978a).
Em dezembro de 1994, o Ministrio do Trabalho publicou a Portaria no. 24 que aprova
a nova NR-7, que determina a obrigatoriedade de implantao de um Programa de Controle
Mdico em Sade Ocupacional (PCMSO). Os objetivos desse programa so prevenir, rastrear
e diagnosticar precocemente os agravos sade relacionados ao trabalho, baseando-se nos
riscos existentes no ambiente. A nova NR-7 no mais menciona os limites de tolerncia
previstos pela NR-15 em seus anexos I e II, exclui a tabela de Fowler, mas no estabelece
nenhum outro critrio para interpretao das audiometrias (BRASIL, 1994a).
INTRODUO 31
Ainda em dezembro de 1994, o Ministrio do Trabalho publica a Portaria no. 25 da
Secretaria de Sade e Segurana do Trabalho do Ministrio do Trabalho (SSST/MTb), que
aprova a NR-9. Essa NR trata das atividades voltadas ao controle de agentes agressivos e da
obrigatoriedade de implantao do Programa de Preveno para Riscos Ambientais (PPRA)
nas empresas. O objetivo do PPRA a preservao da sade e da integridade dos
trabalhadores, por meio da antecipao, avaliao e controles dos riscos ambientais (agentes
fsicos, qumicos e biolgicos) existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho
(BRASIL, 1994b).
Em abril de 1998, instituda a Portaria no. 19 que altera o Quadro II da NR-7, com a
incluso do Anexo I e determina os parmetros mnimos para a avaliao e o
acompanhamento da audio de trabalhadores expostos a nveis elevados de rudo atravs de
exame audiomtrico. Esses parmetros foram regulamentados somente para a exposio
ocupacional ao rudo, no havendo ainda legislao prpria para a monitorao da audio de
trabalhadores expostos a rudo e outros agentes agressivos simultaneamente, nem mesmo para
a exposio isolada aos demais agentes. Alm de definir e caracterizar a PAIR; a portaria
define tambm os procedimentos bsicos para a realizao dos exames audiomtricos e
determina que as audiometrias devem estar atreladas ao exame mdico e ser realizadas em
cabina acstica e audimetro calibrado pela ISO 8253.1/1989, mediante a realizao de
meatoscopia e do repouso acstico (do trabalhador) superior a 14 horas. Orienta tambm
quanto interpretao dos resultados dos exames audiomtricos; define critrios para anlise
de mudana significativa dos limiares auditivos; fornece subsdios que auxiliam no
diagnstico da perda auditiva induzida por rudo e finalmente, orienta condutas preventivas no
manejo dos trabalhadores expostos (BRASIL, 1998b).
INTRODUO 32
A Ordem de Servio no. 608 (BRASIL, 1998a) do Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS) fortaleceu a exigncia legal das empresas conduzirem um programa de
conservao auditiva parte, integrado como outros programas de gesto de riscos. Essa OS
composta por duas partes: a Seo I que apresenta contedo relacionado atualizao clnica
da Perda Auditiva Induzida por Rudo Ocupacional (PAIR Ocupacional) e conta com mais
dois anexos, o primeiro apresenta o texto do boletim nmero um, do Comit Nacional de
Rudo e Conservao Auditiva e o anexo II traz as diretrizes bsicas para elaborao de um
PCA. A Seo II constitui-se da Norma Tcnica propriamente dita, refere-se aos
procedimentos, metodologia e atribuies para fins de avaliao pericial e concesso de
benefcios previdencirios por incapacidade, o que compreende as repercusses da doena na
capacidade laborativa (BRASIL, 1998a).
Ibaez (1997) e Ferreira Junior (1998) referem que PCA um programa
interdisciplinar, de carter estritamente de preveno e caracteriza-se como um conjunto de
medidas coordenadas que tem por objetivo impedir que determinadas condies de trabalho
provoquem a deteriorao dos limiares auditivos de um grupo de trabalhadores ou estabilize
as perdas auditivas daqueles trabalhadores que j as possuem.
Esse programa legalmente exigido em todos os locais de trabalho onde os nveis de
presso sonora excedam os limites de tolerncia previstos pela NR-15 (BRASIL, 1978b). de
responsabilidade da empresa e dos profissionais das reas de sade e segurana, executar e
gerenciar programas que visem no s prevenir, como tambm evitar a progresso da perda
auditiva do trabalhador exposto a nveis elevados de presso sonora, conforme preconizam as
normas do Ministrio do Trabalho.
Melnick (1999) observa que a necessidade de um Programa de Conservao Auditiva
pode ser determinada pela simples observao do meio ambiente onde os trabalhadores esto
INTRODUO 33
inseridos. O autor cita o Guide for Conservation of Hearing in Noise, uma reviso americana
realizada em 1988, pelo Subcommittee on Medical Aspects of Noise of the Committee on
Hearing and Equilibrium of the American Academy of Otolaryngology - Head and Neck
Surgery, que orienta para as trs condies que indicam a necessidade da instituio do PCA
em um ambiente:
- Rudo em intensidade que dificulte a comunicao oral;
- Presena de efeitos auditivos, como "barulho" na cabea ou nas orelhas, aps a jornada de
trabalho;
- Presena de perda auditiva temporria, manifestada pela sensao plenitude auricular,
aps diversas horas de exposio ao rudo.
Para Kwitko (1997), Bernardi e Saldanha Junior (2003) os objetivos do PCA so:
- Melhorar a qualidade de vida do trabalhador evitando a surdez e reduzindo os efeitos
extra-auditivos causados pela exposio a nveis elevados de presso sonora e outros
agentes de risco para a audio. Esse objetivo resume todo o carter preventivo que um
PCA eficaz deve conter. As avaliaes audiolgicas da populao so indicadores
importantes de sade auditiva, mas s fazem sentido quando so direcionadas para aes
preventivas;
- Identificar empregados com patologias de orelhas e audio no relacionadas ao trabalho,
encaminhando-os para tratamento adequado;
- Diagnosticar precocemente os casos de perda auditiva ocupacional, estabelecendo
medidas eficazes, preservando a sade dos trabalhadores;
- Adequar a empresa s exigncias legais;
- Reduo do custo de insalubridade com comprovao cientfica;
INTRODUO 34
- Reduo do custo com reclamatrias trabalhistas impetradas por empregados, devido a
perda auditiva;
- Reduzir o absentesmo, elevar a moral do empregado e reduzir os efeitos extra-auditivos
relacionados exposio a elevados nveis de rudo ocupacional.
As principais atividades desse programa incluem medidas de monitorao do agente e
da audio. Atividades de apoio: medidas administrativas, de educao e de informao e de
avaliao de eficcia do programa. Deve ser desenvolvido dentro da empresa por profissionais
que estejam capacitados e envolvidos com a preveno e a reduo dos acidentes de trabalho.
O apoio conservao auditiva ajuda na manuteno do estado auditivo do sujeito seja
ele normal ou portador de uma deficincia dessa funo fisiolgica, que possa ter se iniciado a
partir da primeira exposio do indivduo a agentes ocupacionais de risco.
O NIOSH (1996, 1998) trabalha com a definio de Programa de Preveno da Perda
Auditiva Ocupacional diferenciando os conceitos de conservao e preveno. Conservao
indicaria a idia de manuteno do padro auditivo a partir da primeira exposio ocupacional
ao agente agressivo, enquanto preveno implica na adoo de medidas anteriores primeira
exposio.
O Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva (1999c) rgo interdisciplinar
constitudo pela Associao Nacional de Medicina do Trabalho, bem como as Sociedades
Brasileiras de Acstica, de Fonoaudiologia, de Otologia e de Otorrinolaringologia elaborou
seu boletim nmero seis, que sugere as seguintes diretrizes bsicas para a elaborao de um
Programa de Conservao Auditiva:
1. Reconhecimento e avaliao de riscos para a audio.
2. Gerenciamento audiomtrico.
3. Medidas de proteo coletiva (de engenharia, administrativas).
INTRODUO 35
4. Medidas de proteo individual.
5. Educao e motivao.
6. Gerenciamento dos dados.
7. Avaliao do programa.
Fiorini e Nascimento (2001) afirmam que apesar da existncia de vasta literatura
acerca das principais etapas a serem adotadas e institudas, o PCA deve ser desenvolvido de
acordo com as caractersticas de cada empresa, considerando-se prioritariamente: a situao
auditiva dos trabalhadores, a equipe tcnica e recurso financeiro disponveis.
A implantao de um PCA exige aes interligadas e, dependendo da medida a ser
implantada, uma maior complexidade da atividade exigida por parte da equipe, um
cronograma a curto, mdio e longo prazo. Os ajustes e melhorias fazem parte de um processo
contnuo ao longo do tempo.
Num PCA o fluxo de informaes deve ser multidirecional entre os profissionais da
rea mdica e os da rea de engenharia. A interdependncia das atividades implantadas real
e sua correta valorizao determina o sucesso ou o fracasso do programa (IBAEZ, 1997).
As medidas devem ser coordenadas, pois isoladamente no apresentam efetividade.
um programa que previne no s problemas auditivos, mas tambm aqueles de outra natureza.
Envolve a atuao de uma equipe multidisciplinar (medicina, engenharia do trabalho,
fonoaudiologia, tcnicos e administrao).
Segundo Bernardi e Saldanha Junior (2003) o trabalho do fonoaudilogo dentro da
equipe de sade da empresa :
- Organizar os exames para subsidiar o diagnstico mdico;
- Analisar o panorama epidemiolgico de perdas auditivas e estabelecer prioridades para
projetos de melhorias ambientais;
INTRODUO 36
- Elaborar tabelas de indicao de protetores e controlar o seu uso por parte dos
trabalhadores;
- Elaborar campanha de sade auditiva, palestras e treinamentos peridicos para a correta
utilizao dos protetores e sensibilizao dos trabalhadores para a preveno dos riscos
para a audio;
- Veicular constantemente a informao relacionada s aes de preveno das perdas
auditivas por meio de todos os recursos de mdia disponveis na empresa;
- Participar juntamente em conjunto com a equipe de engenharia de segurana da
elaborao de propostas e desenvolvimento de projetos de melhorias ambientais e medidas
administrativas para a reduo da exposio;
- Adequar o PCA da empresa a todas as exigncias legais por meio da documentao e
registro adequado de todas as aes realizadas.
A equipe multidisciplinar dever identificar e avaliar os locais de riscos atravs do
mapeamento do rudo, da vibrao, dos agentes qumicos e de outros. Observar a interao
desses vrios agentes no mesmo local de trabalho.
A partir do momento em que os agentes de riscos ocupacionais (rudos, produtos
qumicos, radiaes ionizantes, acidentes como traumatismo cranioenceflico, barotraumas e
outros) forem avaliados e identificados, os profissionais devero realizar um estudo de
medidas para o controle dos mesmos e propiciar proteo coletiva ou individual, oferecendo
acompanhamento e treinamento da utilizao dos equipamentos de segurana (RIBEIRO et
al., 2002).
A proteo coletiva a melhor forma de prevenir a perda auditiva induzida por rudo
(FERREIRA JNIOR, 1998). Porm, segundo o autor, a adequao das doses de exposio
ao rudo para nveis ideais, requer elaborao de projetos de engenharia acstica, na maioria
INTRODUO 37
das vezes dispendiosa, com impacto evidente na economia da empresa, alm do que podem
ser complexos e demorados. Sendo assim, o autor desvincula as medidas de proteo coletiva
do Programa de Conservao Auditiva, que define como uma srie de medidas intermedirias
que visam prevenir a perda auditiva induzida por rudo, e que so aplicadas enquanto as
medidas de engenharia esto em curso. Ainda segundo o autor, Programa de Conservao
Auditiva e proteo coletiva devem seguir paralelamente, at que uma soluo definitiva seja
adotada. A partir de ento alguns dos procedimentos abaixo descritos, podem ser suspensos
ou flexibilizados:
- Reconhecimento do ambiente e descrio da atividade;
- Quantificao da exposio ao rudo;
- Adoo de medidas corretivas simples: tcnicas e organizacionais;
- Seleo de equipamentos de proteo individual: protetor auditivo;
- Formao e informao dos trabalhadores;
- Rastreamento audiomtrico peridico;
- Realocao interna de portadores de PAIR.
O Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva (1999b) em seu boletim nmero
dois traz os requisitos bsicos para a padronizao da avaliao audiolgica do trabalhador
exposto ao rudo:
- Repouso auditivo pelo menos de 14 horas;
- O exame ser realizado por profissional habilitado, fonoaudilogo ou mdico;
- Para a identificao necessrio um documento com foto do trabalhador;
- Realizao do histrico clnico-ocupacional;
- Inspeo do meato acstico externo, antes de se iniciar o exame;
- Ambiente para a realizao do exame, de acordo com a norma ISO 8253-1;
INTRODUO 38
- Calibrao acstica do audimetro anual;
- Verificao subjetiva do audimetro, antes da realizao do exame audiomtrico;
- Instruo do trabalhador acerca dos mtodos adotados e dos objetivos a serem alcanados
com o exame;
- Pesquisa dos limiares auditivos nas freqncias de 250Hz, 500Hz, 1000Hz, 2000Hz,
3000Hz, 4000Hz, 6000Hz e 8000Hz (via area); e de via ssea as freqncias de 500Hz,
1000Hz, 2000Hz, 3000Hz e 4000Hz, quando necessrio;
- Pesquisa do limiar de reconhecimento de fala e imitanciometria, conforme o julgamento
do examinador;
- A periodicidade dos exames deve ser no mnimo: pr-admissional, seis meses aps, a
partir de ento anual e no exame demissional;
- A ficha de registro deve conter, no mnimo: nome, idade, registro geral, a data em que foi
realizado o exame, nome, assinatura e registro profissional, equipamento utilizado, data da
ltima calibrao acstica do audimetro, o traado audiomtrico, o tempo de repouso
auditivo e achados da inspeo visual dos meatos acsticos externos.
Para o Melnick (1985), NIOSH (1996), Ordem de Servio no. 608 (BRASIL, 1998a) e
Kwitko (1998) a audiometria o nico meio de identificar a evoluo na audio dos
trabalhadores expostos ao rudo. Sendo assim instrumento de fundamental importncia para
a avaliao da eficcia do PCA.
De acordo com Merluzzi (1981) a recuperao dos limiares auditivos depois de
cessada a exposio mais rpida nas primeiras horas subseqentes seguindo um andamento
proporcional ao logaritmo do tempo. Cerca de 50% da recuperao ocorre nas primeiras duas
horas. A partir de ento, a recuperao segue um padro linear e a melhora de todo o limiar
perdido pode ocorrer em um tempo to longo quanto catorze horas. Da a importncia de que
INTRODUO 39
a determinao dos limiares audiomtricos de trabalhadores expostos a rudo seja feita no
mnimo aps catorze horas de repouso auditivo para impedir que tal efeito interfira no
resultado do exame.
O acompanhamento da audio dos trabalhadores expostos ao rudo por meio de
exames audiomtricos um procedimento essencial dentro do PCA. A realizao do teste
audiomtrico, porm, s assume razo de ser, se for feita a anlise seqencial desses exames,
ano a ano. Um nico teste, isolado, restringe sua eficincia quele momento especfico.
Somente o acompanhamento seqencial fornece indicadores precoces de perdas auditivas e
torna possvel determinar se um trabalhador mantm audio normal, ou se desenvolve ou
agrava uma perda auditiva. Para Alves (2004) o monitoramento da audio instrumento
fundamental na anlise da eficcia das aes realizadas dentro do PCA.
De acordo com Fiorini (1994b) necessrio o estabelecimento de critrios com
absoluto rigor cientfico para garantir a fidedignidade das avaliaes audiomtricas e o
controle audiomtrico do trabalhador tem o objetivo de acompanhar a evoluo dos limiares
auditivos, partindo de uma avaliao audiolgica de referncia. Os propsitos do
monitoramento auditivo so:
- Estabelecer o audiograma de referncia de todos os trabalhadores, servindo de base para a
comparao com exames peridicos;
- Identificar o quadro audiolgico de todos os trabalhadores, fazendo acompanhamento
peridico;
- Identificar os trabalhadores que necessitam de encaminhamento para o mdico
otorrinolaringologista, a fim de se realizar o diagnstico diferencial ou tratamento de
problemas de orelha mdia;
- Conscientizar e alertar os trabalhadores sobre os efeitos do rudo;
INTRODUO 40
- Fornecer o resultado de cada exame ao trabalhador;
- Contribuir para a implantao e efetividade do PCA.
Simpson (2001) descreve as condutas a serem adotadas para realizao do
monitoramento audiomtrico de trabalhadores expostos a rudo ocupacional, principalmente
na mudana significativa persistente no exame audiomtrico de reteste em 30 dias como:
- Notificao por escrito ao empregado em 21 dias;
- O empregado que no utiliza protetor auditivo deve ser adaptado e treinado quanto a
utilizao e manuteno desse equipamento;
- O empregado que j utiliza protetor auditivo deve ser treinado novamente quanto a
utilizao e manuteno desse equipamento, e se necessrio deve ser readaptado a outro
protetor que lhe oferea maior atenuao;
- No caso em que se verifique persistncia da mudana significativa dos limiares auditivos
no reteste, esse audiograma passa a ser considerado de Referncia com o qual os testes
futuros sero comparados;
- Os empregados com suspeita de patologia auditiva causada ou agravada pelo uso do
protetor auditivo devem ser encaminhados para avaliao mdica custa do empregador;
aqueles com suspeita de patologia auditiva no relacionada com o uso de protetor auditivo
devem ser informados da necessidade do encaminhamento, mas o empregador no ser
responsvel pelo custeio desse procedimento.
Aps todos os levantamentos dos dados, devem ser iniciadas as atividades educativas
que forneam informaes sobre o funcionamento da audio e as suas patologias, visando
dar nfase para as perdas auditivas induzidas pelo rudo ocupacional e a importncia do uso
dos equipamentos de segurana para todos os trabalhadores que esto expostos a rudos
intensos. Essas informaes podero ser feitas por meio de publicaes (folhetos, revistas,
INTRODUO 41
etc.) e palestras, sempre com uma linguagem simples e objetiva, visando propiciar uma
melhor conscientizao e educao do trabalhador.
Inmeros autores concordam que, para preveno de perdas auditivas no trabalho, o
controle da exposio deve ser sempre a primeira alternativa a ser considerada (NIOSH,
1996). Entretanto, por dificuldades tcnicas e econmicas, o uso de protetores auriculares
tornou-se uma medida mundialmente adotada e difundida por ser pouco dispendiosa e de fcil
acesso (GERGES, 1997; CORREIA, 2000). Muita nfase tem sido dada atenuao que o
protetor oferece. Contudo, outras qualidades necessrias sua efetividade tm sido
negligenciadas. Deve-se considerar o tipo de rudo existente, a compatibilidade entre o tipo de
protetor auricular e demais equipamentos de proteo, conforto e as condies do local de
trabalho, como temperatura, umidade e presso atmosfrica como refora Fernandes (2005).
Os profissionais envolvidos devero avaliar a eficcia do programa desenvolvido, a
partir dos resultados obtidos e da opinio dos trabalhadores. importante ressaltar a grande
responsabilidade dos profissionais que trabalham com sade e segurana do trabalho na
implantao de medidas que diminuam as perdas auditivas e que auxiliem as empresas a
alcanarem esses objetivos, implantando a cultura da preveno e da conservao.
Este estudo visa a propor para a direo de uma empresa o incio da prtica efetiva da
conservao auditiva dos funcionrios da Diviso de Nutrio e Diettica (DND) de um
hospital universitrio de Ribeiro Preto/SP, rea que apresenta nvel de presso sonora
elevada, verificando a eficcia do trabalho dos profissionais atualmente envolvidos e
enfocando o papel do fonoaudilogo por meio de um trabalho sintonizado com os recursos
tcnico e humano disponveis, a fim de produzir conhecimentos interdisciplinares e subsdios
para reorganizao da assistncia rumo melhoria da qualidade e humanizao do cuidado
com a sade do trabalhador na empresa.
2 OBJETIVOS
OBJETIVOS
42
- Levantar, por meio da medio das intensidades em dB, os locais e os momentos de maior
gerao de rudo elevado dentro da DND;
- Identificar, por meio do levantamento dos exames audiomtricos realizados nos
funcionrios, os locais de trabalho, dentro da DND, de maior incidncia de alterao
auditiva;
- Caracterizar o perfil audiolgico de funcionrios em funo do nmero de horas de
exposio e da intensidade do rudo, atividade exercida e uso de equipamento de proteo
individual do tipo auricular;
- Diagnosticar as aes hoje executadas pela administrao, servio especializado em
engenharia de segurana e medicina do trabalho e fonoaudiologia no local estudado;
- Informar, orientar e alertar a populao estudada, por meio de trabalhos educativos,
quanto aos malefcios do trabalho sob rudo excessivo e elevado, quanto aos cuidados
auditivos necessrios e quanto ao uso de equipamento de proteo individual do tipo
auricular.
3 MATERIAL E MTODOS
MATERIAL E MTODOS
43
3.1 TIPO DE ESTUDO
A partir de levantamento documental retrospectivo baseado em pronturios mdicos
dos funcionrios localizados no arquivo da empresa estudada foi realizado um estudo de
natureza exploratria e descritiva, com o intuito de evidenciar os aspectos de sade
audiolgica da populao alvo, constituindo, portanto, um estudo de reconhecimento
preliminar da situao sobre a qual se far a proposta de implantao do Programa de
Conservao Auditiva.
3.2 CARACTERIZAO DO AMBIENTE DE PRODUO
A empresa estudada uma entidade autrquica com personalidade jurdica e
patrimnios prprios, sede e foro na cidade de Ribeiro Preto/SP, com autonomia
administrativa e financeira. Est vinculada Secretaria do Governo, para fins administrativos
e associa-se Universidade de So Paulo (USP) para fins de ensino, pesquisa e assistncia, ou
seja, prestao de servios mdico-hospitalares comunidade.
Dentre tantos setores de produo e manuteno, a Diviso de Nutrio e Diettica
(DND) foi escolhida por sugesto da diretoria do SESMT da empresa e por ser uma rea que
possui trabalhadores expostos a nveis de presso sonora elevada (maior ou igual a 80dB(A) /
8 horas dirias).
A DND em questo uma rea tcnica, cientfica, administrativa e que tem como
atividade, a produo ininterrupta de refeies para os pacientes internados nos leitos dos
doze andares da entidade, docentes e mdicos residentes da Faculdade de Medicina,
profissionais de sade, funcionrios de reas especficas, alm das refeies para os filhos de
funcionrios que ficam na creche.
MATERIAL E MTODOS
44
Dados oficiais registram que, so confeccionadas diariamente cerca de 8.000 refeies,
1.000 mamadeiras e 400 dietas enterais, e dessas, 30% so diferenciadas, modificadas e
individualizadas para cada caso. A seo ainda distribui caf, ch e pes para os funcionrios
em todos os setores, nos perodos da manh e da tarde em 155 pontos diferentes. Aos
pacientes, as refeies so divididas em: caf da manh, almoo, complemento da tarde, jantar
e complemento da noite e aos demais em caf da manh, almoo, jantar e ceia noturna.
Os funcionrios exercem funes e atividades de acordo com sua locao nas diversas
sees e subsees que compem o setor, conforme representadas abaixo.
Servio de Nutrio Servio de Diettica
Cozinha e Diettica; Diettica em Clnica Mdica;
Diettica em Clnica Cirrgica; Diettica em Clnica Materno-infantil
Lactrio; Orientao e Avaliao Diettica;
Armazenagem; Expediente
Preparo e Coco; Porcionamento,
Distribuio e Coleta; Lavagem e Esterilizao;
Desjejum e Lanches; Restaurantes I e II
3.3 AVALIAO DO RUDO DO AMBIENTE DE TRABALHO
No perodo de abril a agosto de 2004, uma equipe especializada realizou avaliaes dos
riscos ambientais da empresa. Os resultados foram elaborados segundo a legislao vigente
atual recomendada e agrupados no Laudo Tcnico das Condies Ambientais de Trabalho
(LTCAT) organizado por Jesus (2004).
Foram avaliados os nveis de presso sonora dos ambientes de trabalho e determinados
os nveis equivalentes de rudo (Leq) aos quais os funcionrios ficam expostos no
desenvolvimento de suas atividades. Para tal, foram utilizados aparelhos devidamente aferidos
por calibradores dos mesmos fabricantes como o medidor de presso sonora da marca
Entelbra, modelo ETB-130 operando nos circuitos de resposta lenta e de compensao A e
MATERIAL E MTODOS
45
os dosimetros de rudo das marcas Simpson, modelo 897 e Instrutherm, modelo DOS/450
sendo as leituras efetuadas junto ao pavilho auricular dos trabalhadores.
Os nveis equivalentes de rudo, para um perodo de 8 horas, foram calculados atravs
da frmula obtida a partir dos padres da norma da American National Standards Institute
(ANSI) 1.25. As avaliaes levaram em considerao os critrios de referncia para
incremento de dose (q)1 igual a 3 e 5, com nvel limiar de integrao igual a 80dB(A).
O rudo de impacto no foi avaliado, pois na empresa no so desenvolvidas
atividades ou operaes que exponham os trabalhadores a esse tipo de rudo.
Os dados da avaliao do rudo, assim como os nveis de rudo de cada seo e a dose
observada nos funcionrios podem ser observados no (ANEXO C).
3.4 CRITRIOS DE INCLUSO E EXCLUSO DE INDIVDUOS NO ESTUDO
A partir de uma planilha fornecida pelo SESMT e utilizada pelo departamento de
pessoal (recursos humanos) da empresa, contendo nome, data de nascimento, data de
admisso, funo/setor de todo o efetivo da rea a ser estudada, procedeu-se a estratificao
da amostra.
Primeiramente, foi considerada inclusa no estudo toda a populao da DND e a
amostra foi constituda de 218 funcionrios que trabalham expostos a rudo nocivo ou no em
qualquer jornada de trabalho, sem distino de gnero e idade.
Ao longo do estudo foram excludos os funcionrios que no quiseram participar, pois
no devolveram o questionrio avaliativo que lhes foi entregue; os que estavam com
problemas de sade (licena/afastados), os que se aposentaram durante o perodo de
1 O q uma grandeza acstica relacionando as somas em dB no tempo, portanto, no depende de variaes de clculos devido aos diferentes critrios das legislaes. representativo para uma determinada funo avaliada durante a jornada de trabalho. No Brasil, segundo a NR-15 esse valor igual a 5dB (ARAJO; REGAZZI, 2002).
MATERIAL E MTODOS
46
realizao do trabalho e os que foram transferidos ou demitidos da Diviso ao longo do
estudo, totalizando 174 trabalhadores estudados.
3.5 ASPECTO TICO
O projeto foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa do HCFMRP/USP em 06 de
dezembro de 2004 sob processo no. 12502/2004 (ANEXO A). Em questionrio que foi entregue
ao funcionrio, estava em anexo um esclarecimento sobre a realizao da pesquisa na DND
(ANEXO B) (BRASIL, 1996).
3.6 PROCEDIMENTOS REALIZADOS
Foram analisadas as avaliaes auditivas contidas nos pronturios mdicos de todos os
funcionrios da DND realizadas durante o perodo de dezembro de 2004 (ano base) a maro
de 2006. Essa anlise visou ao levantamento do perfil auditivo ocupacional obtido no ato da
admisso, no peridico anual e nos casos de demisso. Quando constatado que algum
funcionrio no possua algum exame auditivo, o mesmo foi encaminhado para a realizao
do exame, para que esse se tornasse o de referncia.
3.6.1 CARACTERSTICAS DA ROTINA DE EXECUO DOS EXAMES AUDITIVOS
A empresa tem ambulatrio mdico prprio para atendimento ao trabalhador, mas os
exames auditivos ocupacionais so contratados por uma fundao vinculada a empresa e
agendados no Setor de Fonoaudiologia da entidade e realizados pelos profissionais do servio.
Todos os trabalhadores que ficam expostos a nveis de presso sonora (NPS) acima do
nvel de ao proposto pela NR-9 da Portaria no. 25 do Ministrio do Trabalho (BRASIL,
1994b) que so 80dB(A) / 8horas ou dose equivalente devem ser submetidos a audiometria,
MATERIAL E MTODOS
47
pelo menos uma vez a cada ano. Na empresa foi institudo a cerca de dois anos um nvel de
ao mais seguro e abrangente, sendo esse 75dB(A) / 8horas de trabalho. Segundo a Norma
de Higiene Ocupacional n. 01 (NHO 01) (FUNDACENTRO, 2001) o nvel de ao um
valor acima do qual devem ser iniciadas aes preventivas de forma a minimizar a
probabilidade de que as exposies ao rudo causem prejuzos audio e evitar que o limite
de exposio seja ultrapassado.
Para os exames auditivos, os trabalhadores geralmente no esto sob repouso acstico
de catorze horas no mnimo, (mesmo tendo a obrigatoriedade nos admissionais e serem
desejveis nos peridicos e demissionais) devido incompatibilidade dos horrios de
funcionamento do servio de fonoaudiologia e os disponveis pelos funcionrios, mesmo
assim, nenhum trabalhador precisa faltar ao servio ou mudar sua rotina no local de trabalho
para submeter-se a avaliao. Esses exames so agendados, muitas vezes, pelo prprio
funcionrio para facilitar o dia e horrio do agendamento.
Normalmente, previamente ao momento do exame, no feita a inspeo de meato
auditivo externo para a verificao de excesso de cera ou presena de corpo estranho, apesar
de ser obrigatria. Caso haja alguma alterao no exame, o funcionrio orientado a procurar
o mdico do trabalho e/ou otorrinolaringologista.
3.6.1.1 EXAMES AUDIOMTRICOS: MATERIAIS UTILIZADOS E MTODOS APLICADOS
As audiometrias tonais limiares foram realizadas por via area, nas freqncias de
250Hz a 8000Hz em cabina acusticamente tratada segundo padro International Organization
for Standardization (ISO) 8253.1/1989 para evitar o rudo de fundo e com a utilizao dos
audimetros devidamente calibrados anualmente das marcas Midimate 622 da Madson, MA-
MATERIAL E MTODOS
48
41 da Maicon e AD-28 da Interacoustics, com fones TDH 39 e coxim MX 41. Nos casos em
que os limiares tonais areos eram maiores que 25dB(NA) nas freqncias de 500Hz a
4000Hz, a via ssea foi pesquisada. A imitanciometria; nesse estudo, no foi abordada.
No gerenciamento audiomtrico do programa computadorizado utilizado pelo SESMT
desde 2004 ainda no havia nenhum dado, no aspecto audiolgico e, para facilitar e
padronizar a anlise dos exames, os dados das audiometrias foram inseridos. Apesar de o
programa possuir vrias classificaes para os resultados dos exames auditivos, nesse estudo
foi utilizado apenas o critrio da Portaria no. 19 do anexo A da NR-7 (BRASIL, 1998b) por
ser a legislao brasileira utilizada no mbito ocupacional. Esse critrio baseia-se nos valores
das medies nas freqncias 500Hz, 1000Hz, 2000Hz, 3000Hz, 4000Hz e 6000Hz e o
resultado considerou as seguintes interpretaes:
- Limites Aceitveis: Os limiares auditivos devero ser menores que ou iguais a 25dB(NA),
em todas as freqncias examinadas;
- Sugestivo de Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevados: Os
limiares auditivos, nas freqncias de 3000Hz e/ou 4000Hz e/ou 6000Hz que apresentarem
valores acima de 25dB(NA) e mais elevados que nas outras freqncias testadas, estando
essas comprometidas ou no, tanto no teste da via area quanto da via ssea, em um ou em
ambos os lados.
- No Sugestivo de Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevados: So
os audiogramas que no se enquadram nas descries contidas em Limites Aceitveis e
Sugestivo de Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevados;
MATERIAL E MTODOS
49
- Sugestivo de Desencadeamento de Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso
Sonora Elevados: Os limiares auditivos, em todas as freqncias testadas, devero ser
menores que ou iguais a 25dB(NA), e juntamente com um dos critrios:
1) Diferena entre as mdias aritmticas dos limiares no grupo de freqncia de 3000Hz,
4000Hz e 6000Hz se iguala ou ultrapassa a 10dB(NA);
2) A piora em pelo menos uma das freqncias de 3000Hz, 4000Hz ou 6000Hz iguala ou
ultrapassa 15dB(NA);
- Sugestivo de Agravamento da Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora
Elevados: Nas freqncias de 3000Hz e/ou 4000Hz e/ou 6000Hz que apresentarem valores
acima de 25dB(NA) e dentre essas freqncias selecionar o de maior valor, e esse dever ser
maior que os valores das freqncias de 500Hz, 1000Hz e 2000Hz, juntamente com um dos
critrios:
1) Diferena entre as mdias aritmticas dos limiares auditivos no grupo de freqncia de
500Hz, 1000Hz e 2000Hz ou no grupo de freqncias de 3000Hz, 4000Hz e 6000Hz iguala
ou ultrapassa a 10dB(NA);
2) A piora em pelo menos uma das freqncias de 3000Hz, 4000Hz e 6000Hz iguala ou
ultrapassa 15dB(NA).
As perdas auditivas no induzidas por nveis de presso sonora elevados podem ser
classificadas segundo Lopes-Filho (2005) como:
- Condutiva Trs condies so essenciais para classificar uma alterao auditiva como de
natureza condutiva: limiares tonais por via ssea preservados, gap entre limiares de via area
e de via ssea maior que 10dB e nunca maior que 60dB e discriminao auditiva para a fala
com resultados em torno de 100%.
MATERIAL E MTODOS
50
- Sensorioneural Nesse tipo de alterao auditiva encontrado via ssea igual da via
area, no havendo gap areo-sseo. A discriminao auditiva para a fala quase sempre
proporcional perda de audio, especialmente na zona da palavra falada.
- Mista Nesse tipo de alterao auditiva h um componente condutivo associado a um
sensorioneural. Assim, pode-se encontrar um gap entre via area e via ssea em todas as
freqncias ou somente em algumas delas. A discriminao auditiva para a fala boa, porm
prejudicada em relao ao indivduo com audio normal ou com alterao condutiva pela
presena do componente sensorioneural.
3.6.2 APLICAO DE QUESTIONRIO INVESTIGATIVO
Os funcionrios que aceitaram participar do estudo responderam (sem a presena da
pesquisadora) a um questionrio que foi baseado em Santos et al. (1989) e Rios (2003)
(ANEXO D).
Com 40 questes de mltipla escolha foram levantados dados pessoais e referentes
histria clnica e ocupacional dos trabalhadores como: estado de sade geral, doenas
anteriores, histrico familiar de deficincia auditiva, queixas relacionadas audio e ao
equilbrio, hbito de fumar, ingesto de lcool, funo e rotina no trabalho, tempo de
exposio atual e pregressa a rudo, produtos qumicos e/ou outros agentes nocivos, uso de
protetor auricular, atitudes frente ao rudo, exposio extra-laboral a rudo entre outros.
Cada chefe de seo da DND se responsabilizou pela distribuio dos roteiros de
investigao aos trabalhadores, pela devoluo dos mesmos pesquisadora e pelo controle de
participantes realizado por meio de uma lista de assinaturas.
MATERIAL E MTODOS
51
3.6.3 AES PREVENTIVAS E EDUCATIVAS
Segundo a NR-9, as aes preventivas devem ser iniciadas, quando as exposies
forem maiores ou iguais ao nvel de ao. Para os funcionrios da empresa expostos ao rudo
acima do limite de tolerncia, segundo a legislao previdenciria (85dB(A)) contnuo e/ou
intermitente, a empresa fornece e torna obrigatrio o uso de protetores auditivos, de acordo
com as seguintes especificaes:
1) Protetor auditivo do tipo concha, da marca Agena, modelo ATR, com certificado de
aprovao (CA) n. 269, com Nvel de Reduo de Rudo (subject fit) (NRRsf)2 de 13dB;
2) Protetor auditivo do tipo plugue de insero, fabricado em borracha, da marca
Carbografite, modelo GG 38, CA n. 6573, com NRRsf de 9dB;
3) Protetor auditivo do tipo plugue, fabricado em silicone, da marca Safetyland, modelo 1319,
CA n. 11509, com NRRsf de 15dB.
Todos os locais da empresa, onde o rudo est acima dos limites de tolerncia, so
sinalizados e, mesmo os trabalhadores que no se enquadram na descrio anterior, mas que
circulam ou mesmo trabalham eventualmente nesses locais, so obrigados a usar o protetor
auditivo durante sua permanncia nesses ambientes.
As orientaes quanto ao uso e manuteno dos protetores so realizadas pelos tcnicos
de segurana e pelas chefias de cada seo e esses fiscalizam o uso durante a jornada de
2 Trata-se da Norma ANSI S12.6/97 mtodo B que tem o objetivo de fornecer uma aproximao dos limites mximos de atenuao no mundo real que podem ser esperados para grupos de usurios expostos a rudo ocupacional. Isso porque o NRR (Noise Reduction Rating) obtido em laboratrio e que diferem dramaticamente da realidade de campo. Esse mtodo chamado de subjetivo ou de orelha real, pois utiliza nos ensaios indivduos que desconhecem o uso de protetores auriculares e apenas seguem as orientaes de uso das embalagens dos protetores. A sigla que define esse mtodo sf e os desvios padres encontrados nas atenuaes so muito maiores. um mtodo conservador e que oferece maior proteo ao trabalhador e aps a instruo normativa do INSS no. 78, em julho de 2002, o Ministrio do Trabalho instituiu que at dezembro de 2002 todos os protetores auditivos deveriam apresentar resultado NRRsf (ARAJO; REGAZZI, 2002; FANTAZZINI, 2003).
MATERIAL E MTODOS
52
trabalho. A reposio desse equipamento tambm controlada e documentada pelos
profissionais do SESMT da empresa.
Paralelamente aos procedimentos j citados, foram realizadas palestras e/ou mini-
cursos aos funcionrios da diviso sobre os cuidados com a audio, a necessidade e
importncia do uso do equipamento de proteo individual, principalmente do tipo auricular,
a importncia da realizao dos exames auditivos e o porqu de periodicidade, alm de
esclarecimentos relativos s portarias e normas de sade ocupacional.
O material didtico utilizado foi variado. Foram elaborados panfletos, cartazes
informativos e palestras (ANEXO E) com auxlio audiovisual, rico em figuras e sons para
motivar a participao e melhorar o aproveitamento.
Primeiramente foi realizada uma palestra piloto para os funcionrios da Diviso de
Lavanderia com o objetivo de reduzir possveis falhas; na ocasio foram tambm distribudos,
os panfletos informativos (ANEXO F). Uma vez realizadas as correes no material educativo,
de abril a maio de 2005 foram promovidas sete palestras na DND com durao mdia de uma
hora, respeitando a rotina de trabalho do local e o nmero de funcionrios.
Durante a palestra (ANEXO G) houve significativa participao de todos, com
perguntas e sugestes para o uso de equipamento de proteo individual. Aps a palestra, os
funcionrios assinaram uma lista de confirmao de presena e receberam o panfleto
informativo com os mesmos temas abordados na mesma (ANEXO H).
Apesar de ter havido um horrio flexvel para a participao nas palestras, muitos
funcionrios no conseguiram se ajustar aos horrios e perderam as explanaes ao vivo; para
esses providenciamos a distribuio de panfletos explicativos e a fixao de cartazes
informativos por toda a DND (ANEXOS I e J) e a leitura desse material foi a nica fonte de
informao para o grupo.
MATERIAL E MTODOS
53
4 ANLISE ESTATSTICA
Com o objetivo de manter a anlise fidedigna situao auditiva dos funcionrios, os
dados foram estudados e comparados de acordo com o nmero de indivduos e no de orelhas.
A anlise por orelhas foi realizada apenas em determinadas situaes em que a comparao de
respostas entre os lados foi importante.
Os dados foram sumarizados em freqncias absolutas e percentagem de ocorrncia
admitindo as linhas ou as colunas como subtotais.
4 RESULTADOS
RESULTADOS
54
Os resultados foram organizados em tabelas e grficos dos valores de todos os
p
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