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Revista Cultural, música, fotografia, literatura, games, quadrinhos, contos
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Excesso de Magentacyan 15 | yellow 100 | black o
MúsicaKraftwerk
Ensaiovermelho red
HQAçougue
LiteraturaFernando Pessoa
3nº
ÍndiceMúsica | pg6
Ensaio | pg18
Games | pg44
Quem diria que das cinzas do Joy Division nasceria
uma das mais cultuadas bandas dos anos 1980. Com
seu mix de música eletrônica, rock e pop, o New Order
conquistou as paradas de sucesso e os corações da-
queles que curtem a mágica que só boas canções de
três minutos são capazes de produzir. O jornalista Guto
Lobato conta a história do quarteto de Manchester.
Não fi co calado, não fi co parado, não fi co quieto/Corro,
choro, converso/ E tudo mais jogo num verso/Intitulado/Mal
secreto. Inspirada nos versos de Jards Macalé, Luiza Ca-
valcante apresenta um ensaio no qual explicações formais
fi cariam deslocadas. Assim, o leitor é convidado a descobrir
por conta própria ligações entre imagens e canção.
Todos os anos, em Los Angeles, gamers, empresários
e jornalistas se reúnem para saber quais os novos rumos
dos games no planeta. A Electronic Entertainment Expo é
a maior e mais variada feira de jogos do mundo, e nosso
colaborador Arthur Napoleão mostra com detalhes quais
as principais novidades apresentadas na edição 2009 do
evento.
New Order
Mal SecretoIntitulado
E3
Expediente
Literatura | pg38
Intervalo | pg54
Afi nal de contas, teria o carneiro comido a fl or? Essa
é uma das perguntas irrespondíveis deixadas por aquele
garotinho loiro e encantador que, vejam só, nunca abria
mão dos próprios questionamentos uma vez que os tivesse
formulado. Desde que foi lançado, o Pequeno Príncipe sus-
cita amor e discussões ao redor do mundo. Mayara Luma
conta, em forma de depoimento, como foi seu encontro
com o principezinho.
“Tem algo morto aqui em casa. Talvez seja eu. Nunca
senti cheiro de cadáver, mas deve cheirar assim, ou me-
lhor: feder assim. Por mais que eu me pergunte do que
foi que eu morri não consigo me lembrar. Na verdade
eu não me lembro nem porquê, por quem ou pelo quê
eu vivi, nada me adianta saber agora que eu acho que
estou morto.” É assim que Leandro Bender inicia uma
viagem na qual é preciso ir até a última linha para saber
o desfecho.
Editor: André LoretoDiretor de arte: André Loreto Design: André LoretoColaboradores: Arthur Napoleão, Guto Lobato, Mayara Luma, Luiza Cavalcante, Elvis Rocha, Leandro BenderIlustração: Rodrigo CantalicioRevisão: Elvis RochaFale conosco: excessodemagenta@gmail.com
Excesso de Magenta é uma publicação bimestral. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refl etem, necessariamente, a opinião da revista.
O Pequeno Príncipe
CapaLuiza Cavalcante
Excesso de Magentacyan 15 | yellow 100 | black o
MúsicaKraftwerk
Ensaiovermelho red
HQAçougue
LiteraturaFernando Pessoa
3nº
mortoaqui em casa
Tem algo
Editorial
E cá chegamos ao terceiro número.
Nesta edição, como nas anteriores, tentamos apresentar um punhado de assuntos
interessantes o suficiente para que você, que pula de um sítio a outro em busca de infor-
mação e entretenimento de qualidade, tenha boas razões para guardar a Excesso com
carinho entre as boas fontes de leitura nesse mundaréu chamado internet.
Para começar, nada melhor do que apresentar a trajetória do New Order. O fã e cola-
borador Guto Lobato esmiuça como das cinzas do Joy Division nasceu uma das bandas
mais populares da história recente da música.
Por falar em popularidade, é difícil questionar o alcance de um dos livros mais adora-
dos (e criticados) de todos os tempos: o Pequeno Príncipe. De fábula edificante a “livro
de miss” , quase tudo já foi dito a respeito do garoto que chegou à Terra de carona em
um meteorito. Mayara Luma faz um relato pessoal de como foi o seu encontro com a
personagem mais famosa do escritor Saint-Exupéry.
Os que apreciam games poderão acompanhar as boas novidades apresentadas
durante a E3 2009; quem curte boas imagens vai se deleitar com um ensaio de Luiza
Cavalcante (Intitulado Mal Secreto) e os amantes de literatura terão no conto de Lean-
dro Bender um bom motivo para gastar alguns minutos tentando descobrir o significado
oculto nas entrelinhas do texto.
Tudo isso logo adiante, na edição número três da Excesso de Magenta.
Aproveite.
Colaboradores
De Loreto
Elvis Rocha
Guto Lobato
Arthur Napoleão
Luiza Cavalcante
Mayara Luma
Leandro Bender
Rodrigo Cantalicio
New OrderEles surgiram das cinzas de um fenômeno pós-punk, mas conseguiram sair do cenário independente e con-quistar lugar ao sol no concorrido mercado pop. Com um nome sugestivo e uma proposta inovadora, o grupo também entrou para a história ao unir dois gêneros apa-rentemente contraditórios: rock e música eletrônica.
Por Guto Lobato
O ano era 1980 e o começo não
poderia ser mais épico: o band-
leader havia se suicidado, uma
nova década começado e um
LP póstumo – e genial – circu-
lava pelas lojas europeias. Pa-
rece clichê, mas era o fim de uma era: sem a liderança
natural de Ian Curtis, cantor taciturno e dotado de uma
presença de palco notável, os “sobreviventes” do Joy
Division Bernard Sumner (guitarra), Peter Hook (baixo)
e Stephen Morris (bateria) precisavam se reinventar.
Deixar para trás a genética musical dos anos 1970,
aderir à era dos sintetizadores e, de quebra, conquis-
tar espaço no cenário musical da época. A tarefa deu
trabalho, mas em poucos meses já estava encaminha-
da sob um nome sugestivo: New Order. “Ordem” res-
ponsável não somente por mostrar que o underground
inglês tinha perspectivas no mercado, como também
por propor uma união estável – e até hoje frutífera –
entre música eletrônica e rock.
É bem verdade que nascer à sombra de um grupo
pós-punk não é herança das melhores para quem pre-
tendia aderir ao oitentismo. Tanto que, mesmo com a
quedinha pela coisa já bem perceptível na fase madu-
ra do Joy Division, Sumner, Morris, Hook e a tecladista
Gillian Gilbert – incluída na formação em 1980 – come-
çaram a incursão pelo novo gênero de forma bem tími-
da, com compactos e singles de pequena repercussão
e sonoridade confusa. Para quem está acostumado
ao som dançante e pegajoso do New Order recente –
aquele dos hits da MTV e das aparições em programas
de rádio comercial –, parece estranho vê-lo como um
filho do underground nu e cru do interior inglês... mas a
herança é latente. E transparece, principalmente, nos
»»
dois primeiros LPs de estúdio por ele lançados.
Tempos de transição
“Ceremony” e “In a Lonely Place”, canções do primei-
ro single lançado pelo New Order em 1980, bem ilus-
tram isso. Eram nada menos que composições velhas
– leia-se do Joy Division – adaptadas à nova referên-
cia dos músicos. Boas, porém sem identidade – e mal
gravadas. Os primeiros shows do grupo datam desta
mesma época e tinham uma característica bizarra: não
havia cantor definido no line-up. Dotado de uma voz
convencional – e, para muitos, fraca –, Summer soltou
o gogó por pura falta de opção, acompanhado vez ou
outra por um desafinadíssimo Peter Hook. Há alguma
documentação sobre esta fase pré-primeiro álbum nos
extras dos DVDs oficiais do grupo (veja na seleção de
materiais mais adiante).
Com a entrada de Gillian, que assumiu os teclados
e a guitarra base, a estrutura do grupo começou a se
consolidar. Munidos de uma base relativamente am-
pla de composições próprias, o quarteto lançou, em
novembro de 1981, seu primeiro LP, “Movement”. O
trânsito do pós-punk à new wave é bastante aparente:
as primeiras faixas, “Dreams never end” e “Truth”, po-
deriam facilmente figurar num terceiro disco do Joy Di-
vision. As vocalizações e letras, ainda raras, abordam
o tema do recomeço de forma velada – é o caso de
“ICB”, canção cujo título, para uns, significa algo como
“Ian Curtis buried” (!).
Dois anos de turnês e sessões de estúdio foram sufi-
cientes para que o grupo sofresse intensa transforma-
ção. Com uma produção mais arrojada e cuidadosa,
o LP “Power, corruption and lies” foi lançado no mer-
cado e alcançou boas posições nos charts ingleses,
sendo considerado revolucionário pela crítica musical
da época. O primeiro hit radiofônico, “Blue Monday”, é
»»
o grande carro-chefe da incursão do New Order nos
anos 1980: sete minutos de uma batida contagiante e
cíclica acompanhada por uma pegajosa levada de bai-
xo sintetizado. Acredita-se que o single desta canção
foi o mais vendido da história da música, mas a gra-
vadora que o lançou, a Factory, não pôde comprová-
lo por questões burocráticas. Na mesma linha, faixas
como “Age of consent” e “Your silent face” têm uma
atmosfera mais “para cima”, distante das melancólicas
bases do disco de estreia do quarteto.
Um detalhe de “Power...” que também contou a fa-
vor foi a estruturação do grupo. Com seu método inco-
mum de tocar baixo – tratando-o como uma guitarra,
para ser mais direto –, Peter Hooke passou a ser o
responsável pelos arranjos e temas centrais. O casal
Gillian-Stephen ficou responsável pela “cozinha” tecla-
do e bateria e Bernard Sumner assumiu de vez o posto
de vocalista-guitarrista-letrista, aprendendo inclusive a
alcançar bom desempenho como cantor sem imitar o
vozeirão de Ian Curtis. Dotado de uma cara própria e
com um novíssimo leque de influências – que ia de
Kraftwerk a Giorgio Moroder! –, o grupo estava pronto
para imergir no mainstream de vez, ao mesmo tempo
em que mantinha por perto os fãs mais antigos dos
tempos de Joy Division.
“Low life”, “Brotherhood” e um
bizarro triângulo amoroso
Em 1985, entra em cena o terceiro LP do New Or-
der – e provavelmente um de seus melhores até hoje
–, “Low life”, com uma série de canções de sucesso
como “The perfect kiss”, “Subculture” e “Love vigilan-
tes”. A boa exposição na mídia também começou a
render à banda recursos para produzir clipes – o pri-
meiro com ares de superprodução é o de “The perfect
kiss”, dirigido por Jonathan Demme. Mesmo assim, o
lançamento não causou o estardalhaço esperado e foi
logo esquecido com o disco “Brotherhood”, de 1986,
que ganhou status de queridinho-mor da crítica e do
público.
O motivo era simples: uma canção de quatro acor-
des e quase oito minutos de duração, dotada de um
belo arranjo de sintetizadores e uma vocalização mar-
cante. Mesmo com as qualidades do resto do disco,
“Bizarre love triangle” acabou marcando o ano de seu
lançamento como uma obra isolada. Além de sucesso
em boates e rádios, a música ainda rendeu vários co-
vers, fosse em roupagem new wave ou em formatos
acústicos e de linhagem mais pop. Outras faixas que
ganharam certa atenção foram “Paradise” – cuja re-
gravação em uma jam session para a rede britânica
BBC é mais famosa que a própria versão de estúdio
– um despretensioso rock com arranjos sintéticos, “All
day long” e a bela “Angel dust”.
Com o sucesso de “Brotherhood” em mãos, o New
Order saiu em uma grande turnê pela América do Norte,
acompanhado de ninguém menos que o Echo and the
Bunnymen. À mesma época, um dos mais completos
registros de estúdio do grupo foi lançado: a coletânea
“Substance”, que reúne canções do início de carreira,
gravações aprimoradas de singles anteriores – “Ce-
remony” e “Temptation” são as principais –, versões
instrumentais e dois hits até então inéditos. Um deles
é “True faith”, primeira música do grupo a conquistar
espaço na MTV americana com seu videoclipe surreal.
Além disso, a herança pós-punk figura em algumas b-
sides que estão no segundo disco, como “Procession”,
“Cries and whispers” e “Hurt”. Uma curiosidade: um
ano depois, uma coletânea de mesmo nome seria lan-
çada... em nome do Joy Division. O disco era parecido,
também servindo como um apanhado geral da carreira
do grupo, só que com ênfase maior em b-sides e ver-
sões ao vivo para as canções de “Unknown pleasures”
(1979) e “Closer” (1980).
“Technique”, “Republic” e a
pausa nos anos 1990
Do final dos anos 1980 em diante, o New Order viveu
uma fase de transição pouco conhecida pelo público,
em que o fim da parceria com a Factory, o surgimen-
to de projetos paralelos e a crise do projeto do grupo
geraram lançamentos pontuais e irregulares. “Techni-
que”, lançado em 1989, é um disco mediano que flerta
com subgêneros da música eletrônica como o acid e o
house. Algumas faixas, como “Fine time” e “Vanishing
point”, fizeram certo sucesso – mas nada que se com-
parasse à repercussão alcançada com os álbuns ante-
riores. A esta época, o grupo também gravou “World in
motion”, canção utilizada na campanha do time de fu-
tebol da Inglaterra na Copa do Mundo de 1990, e lan-
çou dois álbuns ao vivo. Um deles é o clássico “BBC
Radio 1 live in concert”, com versões modernosas para
os maiores hits do grupo.
Com a relativa crise da new wave e a ascensão de
outros gêneros de viés comercial, como o R & B mo-
derno, o hip-hop e o 90´s pop, houve um longo hiato
entre “Republic”, CD lançado em 1993, e “Get ready”,
que saiu oito anos depois, já em 2001. No primeiro,
uma curiosidade chamou a atenção da crítica musical:
as guitarras, deixadas um pouco de lado nos anos de
oitentismo, voltavam a aparecer, como se vê no carro-
chefe do disco, a bela “Regret”. Além disso, “Ruined in
a Day”, “Spooky” e “World” mostram uma performance
mais concisa do grupo, com letras menos confusas e
arranjos meticulosos.
A fase de divulgação do CD durou pouco tempo.
Logo em seguida, o grupo parou as atividades sem
motivo ou prazo determinado. Sumner e Hook enca-
minhavam projetos paralelos, enquanto os demais se
dedicavam à vida familiar e outras atividades liberais.
Somente em 1998, sob recomendação de um produtor
amigo, o grupo se reuniu e decidiu sair em turnê. De
quebra, os repertórios ao vivo voltaram a contar com
versões para músicas do Joy Division, o que voltou os
holofotes da imprensa à banda outra vez.
Revival... e suposto fim
Mas os fãs só puderam saciar a sede de novidades
já no ano de 2001. E a espera valeu a pena, pois “Get
ready” é um CD consistente como poucos do grupo.
Habituado a compilar canções de qualidade instável, o
New Order caprichou neste lançamento com uma sé-
rie de canções orientadas tanto para ouvintes de rock
quanto de música eletrônica, como se vê nas belas
“Crystal”, “60 miles an hour”, “Rock the shack” e “Slow
jam”. Além disso, há participações de gente como Billy
Corgan (Smashing Pumpkins) e Bobby Gillespie (Pri-
mal Scream) nas faixas mais cadenciadas. O resul-
tado foi positivo: o CD chegou ao segundo lugar na
Billboard americana, além de render dois singles bem
recebidos na América e ter algumas canções incluídas
em comerciais. »»
Ainda na turnê de “Get ready”, Gillian Gilbert deixa
a banda para cuidar dos filhos que teve com Stephen
Morris. No lugar dela, entrou o músico Phil Cunnin-
gham. Depois de quatro anos de preparação, outro
disco de orientação menos new wave foi lançado. Em
“Waiting for the sirens´call”, as guitarras e instrumen-
tos “madeira” ressurgem na forma de rockinhos sua-
ves e longos, como se vê em “Who´s Joe”, “Krafty”,
“Turn” e “Jetstream” – estas duas, hits imediatos. Ou-
tros gêneros, como o blues e o dance rock, aparecem
respectivamente nas faixas “Working overtime” e “Guilt
is a useless emotion” (esta foi indicada ao Grammy
de 2006 na categoria de melhor gravação de música
dance).
Depois de “Waiting...”, mais um hiato desanimou
o público. A relação entre Sumner e Hook, delicada
desde os tempos de “Republic”, desandou de vez. Em
2006,o grupo passou pela América Latina – com da-
tas no Brasil e Argentina – em uma turnê iniciada no
Reino Unido, mas os rumores de uma possível pausa
voltaram a circular partindo da boca do próprio Hook,
conhecido por seu gênio peculiar. No ano seguinte,
em uma entrevista, o baixista chegou a declarar “não
estar mais trabalhando junto com Sumner”. A boataria
foi finalmente confirmada em 20 de julho de 2007 com
uma nota divulgada por Morris e Sumner, em que eles
explicavam a saída de Hook e garantiam a continuida-
de do grupo.
Foi mais um desfecho épico. Uma porrada mediada
pela imprensa musical inglesa incluiu farpas de am-
bos os lados durante aquele ano. Sumner declarou
em várias entrevistas estar com material pronto para
um novo disco do New Order. Já Hook disse que iria
“interpelá-los [Sumner e Morris] legalmente” caso qui-
sessem continuar seguindo com o mesmo nome. “Este
grupo se separou! Vocês não são mais New Order do
que eu! Vocês podem ter dois terços, mas não pensem
que têm o direito de fazer qualquer coisa ‘a la New
Order’, porque vocês não podem fazê-lo. Eu ainda te-
nho um terço! Mas estou aberto para a negociação”,
esbravejou o baixista em seu My Space.
Enquanto a pendenga não se resolve, muitos fãs já
abriram os olhos para os projetos paralelos dos músi-
cos. Hook é um mestre de versatilidade: fora o traba-
lho no New Order, ele colaborou com dois projetos,
o Revenge e o Monaco, assumindo os vocais e lide-
rança neste último, inclusive. Nada que supere o ori-
ginal, é verdade, mas vale uma olhada no disco auto-
intitulado do último, em que se percebe sua evolução
como compositor e até vocalista. Já Sumner acumula
experiências paralelas desde 1989, quando se uniu a
Karl Bastos (Kraftwerk), Johnny Marr (The Smiths) e
Neil Tennant (Pet Shop Boys) para o projeto Electro-
nic. Nos anos 1990, ele ainda trabalhou com produção
e mixagem para grupos de menor porte e projetos de
música eletrônica.
As perspectivas para um acordo sobre o New Order
são as piores possíveis. No entanto, Sumner já garan-
tiu à imprensa que um novo grupo, temporariamente
intitulado Bad Lieutenant, lançará um disco no outo-
no deste ano. A formação é atrativa: além dele e dos
ex-New Order Stephen Morris e Phil Cunningham, o
grupo ainda contará com o baixista do Blur Alex Ja-
mes e com os músicos Matt e Jake Evans, ambos do
grupo Rambo and Leroy. Resta esperar e ver o que
os remanescentes da “velha ordem” pretendem trazer
ao público. No que depender do resultado dos rachas
anteriores, coisa ruim não deve ser.
SubstancePor que ouvi-lo: É uma coletânea
completa, que contém tanto singles
essenciais quanto raridades emula-
das do Joy Division e remixes de hits
orientados à pista de dança. Ensina
qualquer um a gostar do grupo – ou,
ao menos, entendê-lo.
Melhores faixas: “True faith”, “Temp-
tation”, “Ceremony”
Power, corruption and liesPor que ouvi-lo: Principalmente, por
seu valor histórico – é considerado um
dos primeiros discos a trabalhar com fu-
sões de rock e música eletrônica. Além
disso, reúne algumas composições que
marcaram o oitentismo.
Melhores faixas: “Blue monday”, “Your
silent face”, “Age of consent”
Álbuns de estúdio
Coletânia
Movement [1981] Power, Corruption and Lies [1983] Low Life [1985] Brotherhood [1986]
New Order – 316Por que ouvi-lo: Em meio a tantos DVDs de clipes –
quase todos incompletos e de edição confusa –, este
traz tanto o famoso show de 1998 da banda no Re-
ading Festival quanto um raríssimo registro do New
Order em Nova Iorque, no ano de 1981. É uma boa
forma de conhecer os “dois lados” do grupo e escolher
qual funciona melhor no palco.
Melhores faixas: “Isolation” (Reading ´98), “Bizarre
love triangle” (Reading ´98), “ICB” (New York ´81)
Get ReadyPor que ouvi-lo: É o único CD do
New Order a apostar no rock com
naturalidade, sem torná-lo sujo
ou eletrônico demais. Além dis-
so, a qualidade das faixas pouco
varia, ao contrário dos repertórios
instáveis dos demais discos.
Melhores faixas: “Crystal”, “60
miles an hour”, “Slow jam”
DVD
Technique [1989] Republic [1993] Get Ready [2001] Waiting for the Siren’s Call [2005]
John Lennon: A VidaPhilip Norman
Companhia Das Letras R$ 69,00
Nova York: A Vida na Grande CidadeWill Eisner
Quadrinhos na CIA.R$ 55,00
RetalhosCraig Thompson
Quadrinhos na CIA.R$ 49,00
Legião Urbanae Paralamas Juntos
DVD + CDR$ 39,00
Blade RunnerRidley Scott
DVDR$ 39,90
SinglesNew Order
CDR$ 99,90
BioshockPlaystation 3
Blue-rayR$ 229,00
Por André Loreto
Literatura
»»
pg36
Para amolecer um coração seco, pontudo e salgado
Desde os meus doze anos, te-
nho uma preocupação que me
aflige: “terá ou não terá o car-
neiro comido a flor?”. Se você
também se pega, muitas ve-
zes, aflito com esta pergunta
perdida entre seus pensamentos cotidianos, é porque,
assim como eu, foi profundamente tocado por um prin-
cipezinho de cabelos de ouro e cachecol esvoaçante.
Mas, se seu caso for o contrário, se para você eu aca-
bo de falar grego, esqueça! Você não pode ser alguém
suficientemente sério para ser considerado um adulto
esperto.
Talvez quem nunca tenha se dedicado à gostosa
leitura de O Pequeno Príncipe se considere perfei-
tamente normal. Mas para mim não é. Quem nunca
leu O Pequeno Príncipe, ah, fala sério, não pode ser
normal da cabeça. Como pode alguém viver sem as
companhias imaginárias da raposa, do homem de ne-
gócios, do acendedor de lampiões, do rei, do vaidoso
e de tantas outras figuras fantásticas que nos mostram
o quão pequenino somos diante da grandeza desse
universo? Esse alguém, definitivamente, não deve se
levar, ele próprio, a sério.
Se você é a pessoa descrita acima e se sentiu com-
pletamente ofendido e humilhado, calma! Isto é um si-
nal de que você não quer e não pode mais continuar
indiferente aos ensinamentos do principezinho. Então,
vá em frente, encare esta quase crônica e depois corra
o mais rápido possível para as folhas de O Pequeno
Príncipe. Mas se você já teve o prazer de mergulhar
neste incrível conto, vai se sentir como parte indissoci-
ável deste despretensioso texto.
O livro e o autor (visto que seria impossível separar
suas histórias)
Quase sempre, O Pequeno Príncipe é classificado
como uma fábula. Mas, para mim, a obra ultrapassa
em muito esta classificação. Não pode, definitivamen-
Literaturapg38
te, ser uma fábula, pois é protagonizado por alguém
supostamente de carne e osso; não pode, igualmente,
ser um apólogo, pois as situações
mostradas no livro estão muito
longe das reais; muito menos
uma parábola, já que fazem
parte de seu elenco não só
homens, como cobras, rapo-
sas, carneiros e por aí vai. O
que seria então O Pequeno
Príncipe?
Uma narrativa adulta,
profundamente dramá-
tica, com algumas
características
dos princi-
pais gê-
neros da
literatura
in fant i l .
Assim é
o livro de
Anto ine
de Saint-
Exupéry,
u m
piloto francês cuja vida se esvaiu no momento em que
se viu obrigado a sair de seu país natal e viver exilado
em Nova York. Antoine foi uma das inúmeras vítimas
da II Grande Guerra e morreu sem que fosse necessá-
rio o disparo de um só revólver.
O Pequeno Príncipe foi o último e o mais deses-
perado grito de seu autor, profundamente insatisfeito
com sua nova e triste vida nas Américas. Nasceu da
enorme veia arcadista que fl oresceu tardiamente em
seu ser. O Pequeno Príncipe é o “fugere urbem” e a
incessante procura pelo “locus amoenus” em seus es-
tágios máximos.
Antoine não suportava viver em Nova York acom-
panhado dos comentários idiotas de literatos enfado-
nhos e do fardo que, para ele era, o reconhecimento
de seu trabalho. Antoine queria fugir da cidade, que-
ria se refugiar em um local aprazível, próximo de sua
mãe, de sua infância, que há tempos havia perdido em
algum lugar incerto de sua vida. O Pequeno Príncipe
é, então, fruto do sombrio labirinto de lembranças de
quando Antoine era um menininho, é o resultado de
uma profunda depressão que insistiu em assombrá-lo
durante seus anos nova-iorquinos.
A verdade é que, parafraseando Alain Vircondelet, o
Pequeno Príncipe da história traz em si mesmo e sobre
si os estigmas da infância de Antoine. Este pequenino
e frágil garoto é exatamente como seu autor se sentia
no momento em que o escreve, e talvez, muito
provavelmente, como se sentiu ao longo de
boa parte de sua infância. O Pequeno
Príncipe acaba revelando muito da de- »»
pressiva e inconstante personalidade de Antoine.
Sendo o último livro que escreveu em vida, O Pe-
queno Príncipe parecia anteceder o que viria a acon-
tecer com o eterno piloto, o amante incondicional das
aventuras no ar. O livro tinha um quê de presságio, de
uma estranha intuição funesta. Depois de sua morte,
a obra acabou quedando como o episódio fantástico
da existência real de Antoine, por mais paradoxal que
isto pareça.
As situações contadas pelo Pequenino Príncipe de
tão surreais chegam a parecer extremamente verda-
deiras. É isto pelo tom de realidade que Antoine con-
segue dar à história ao aproximá-la ao máximo de nos-
sas pequenas vidas cotidianas, mesmo que de uma
forma um tanto fantástica.
Em tudo que Antoine escreve nesta narrativa há
algo de desafiador. Ao apresentar um desenho que
aparentemente não passa de um simples chapéu, o
piloto propõe a você olhar além do que se vê simples-
mente, assim, a olho nu. É assim também quando fala
do astrônomo sério que ninguém conseguia ver por
debaixo das roupas turcas e do visual desleixado.
Desafia-nos a mudar por completo os conceitos já
tão enraizados em nossas mentes: o que será mesmo
mais importante, as contas intermináveis que preocu-
pam e tiram o sono do homem de negócios ou pensar
se um humilde carneirinho comeu ou não a florzinha
que lhe fazia companhia em um planeta distante?
E como não falar da tão famosa raposa? Aquela
que ensina o maior de todos os ensinamentos que se
pode aprender nesta vida, mas que, costumeiramente,
nos some da memória: somos eternamente respon-
sáveis por aqueles a quem cativamos. E aqueles por
nós cativados se tornam seres únicos e insubstituíveis
neste mundo.
Nesse trecho, ao conversar com um jardim de ro-
sas, é como se Antoine desejasse mostrar o desprezo
que sentia pelas prostitutas que manteve ao longo da
vida conjugal, e a elas dissesse: “Vós não sois absolu-
tamente iguais à minha Consuelo, vós não sois nada.
Ninguém ainda vos cativou, nem cativaste a ninguém”,
de forma enfática e quase agressiva.
E ainda a raposa, quando conta seu maior segre-
do ao principezinho: on ne voit bien qu’avec le coeur.
L’essentiel est invisible pour les yeux. Ver com o co-
ração e não com os olhos - Antoine nos propõe este
desafio, quase como um apelo, uma súplica, à sen-
sibilidade humana, tão perdida naqueles tempos de
guerra.
O fim
Pouco depois de finalizar o livro, Antoine é chama-
do, como tanto queria, para servir na guerra. O Peque-
no Príncipe é lançado mundo afora enquanto seu autor
voa pelos céus defendendo sua amada pátria. E assim
também morre, em um triste dia de 1944, quando em-
barcou em uma missão da qual jamais voltaria.
De seu avião, que simplesmente sumiu dos radares,
apenas recentemente foram encontrados alguns des-
troços. Seu corpo jamais foi visto. Mais recentemente
ainda, um piloto alemão revelou que havia derruba-
do Saint-Exupéry. Mesmo assim, as circunstâncias
de sua morte continuam um mistério: teria ele lutado
no mar por sua vida? Teria tido ele tempo de fazer
um pouso de emergência? Teria seu corpo ido para
onde?
Quem sabe O Pequeno Príncipe não tenha sido
um presságio? Quem sabe Antoine realmente não
encontrou um principezinho em um pouso de emer-
gência depois de uma pane no motor, antes de sua
morte? Terá ou não terá realmente Antoine vivido
esta história fantástica?
A resposta? Só os mágicos ensinamentos do prin-
cipezinho guardados no âmago de cada um é que
podem dar.
P.S: Se você esperava muito, muito mais deste
texto, eu realmente lamento por não responder às
suas expectativas. Do momento em que escrevi a
primeira palavra até esta final, percebi o quão idiota
e prepotente foi a minha ideia de escrever sobre O
Pequeno Príncipe. Como pude eu achar que poderia
falar sobre aquilo que mudou por completo a minha
existência e até hoje toca profundamente o meu cora-
ção? Quão idiota eu fui, eu realmente lamento.
“Le Petit Prince”
Se você fala francês, aproveite para ler o livro em seu idio-
ma original, que está disponível para download em vários
sites.
“A verdadeira história do Pequeno Príncipe”.
Neste livro, lançado em 2008,o escritor Alain Vircondelet
nos faz perceber as entrelinhas de O Pequeno Príncipe ao
mostrar o momento dramático pelo qual Antoine de Saint-
Exupéry passava quando o escreveu.
O amor do Pequeno Príncipe:
Cartas a uma desconhecida.
O livro acaba de ser lançado no Brasil pela editora Nova
Fronteira. É uma coletânea de cartas apaixonadas de
Saint-Exupéry destinadas a uma mulher que não era a
sua Consuelo.
E3Gamespg44
2009
A Electronic Entertainment Expo
(ou simplesmente E3), a maior
feira de videogames do ociden-
te, tem deixado muito a desejar.
O evento, conhecido por lotar
o Centro de Convenções de Los
Angeles com stands multicoloridos, modelos em
roupas apertadas representando marcas e perso-
nagens, jornalistas, fãs e nerds ansiosos por novi-
dades, palcos decorados para apresentações dos
maiores nomes da indústria como o mestre Shigeru
Miyamoto e cabines e mais cabines com versões
demo dos games mais aguardados, de 2006 a 2008
se fechou em uma reles conferência fechada para
a imprensa.
Quando foi anunciado em fevereiro que a E3 vol-
taria às suas raízes, é como se a indústria ganhasse
um novo valor. Com jogos cada vez mais modernos,
acessórios mais imersivos, gráficos mais impressio-
nantes e vendas maiores, estava na hora de abrir as
portas para todo mundo de novo.
De 1º a 4 de junho passados, mais de 50.000
pessoas visitaram a feira e se surpreenderam com
o tratamento dado à apresentação dos jogos. A se-
guir, divididas em categorias, estão as principais e
mais discutidas novidades da E3 2009.
O Retorno
Por Arthur Napoleão
Ação / Aventura
Alan Wake (Xbox 360, PC), escritor de suspenses como
Stephen King, se muda para uma cidadezinha do interior
após a morte da sua noiva. A cinematográfica trama colo-
ca o personagem-título tendo que sobreviver ao que parece
ser um pesadelo de monstros e puzzles saído das páginas
dos seus romances.
Brütal Legend (Playstation 3, Xbox 360) é estrelado pelo
“roadie” Eddie Riggs, que é interpretado pelo ator Jack Bla-
ck, e deve atravessar um mundo fantástico que cresceu sob
a cultura do Rock ‘n’ Roll – e governado por deuses do Me-
tal – com o objetivo que criar a melhor banda de rock de
todos os tempos!
God of War III (Playstation 3), último capítulo da série,
promete revolucionar os gráficos e a jogabilidade das edi-
ções anteriores com melhorias técnicas em todos os sen-
tidos. Kratos está de volta para se vingar dos deuses que
o traíram em uma história épica, com violência realista e
algumas das criaturas mais incríveis da mitologia grega.
Silent Hill: Shattered Memories (Wii, PS2, PSP), é um
“reboot” do game original e coloca Harry Mason mais uma
vez na terrível cidade assombrada. O jogo tem como grande
diferencial traçar um perfil psicológico do jogador, através
de um questionário no ínicio do jogo e das próprias ações
ao longo dele.
Luta
The King of Fighters XII (PS3, Xbox 360) ganhou da
SNK gráficos totalmente novos. Sem mexer na já bem
estabelecida e excelente jogabilidade, os sprites reuti-
lizados há 14 anos foram substituídos por incríveis mo-
delos 2D desenhados à mão em alta resolução, para
os 22 personagens jogáveis.
Tatsunoko vs. Capcom: Ultimate All-Stars (Wii), que
era exclusivo do Japão, terá lançamento no ocidente
colocando lutadores como Ryu, Mega Man e Viewtiful
Joe contra os (talvez desconhecidos por muita gente)
personagens como Gatchaman, da produtora de ani-
mes Tatsunoko em lutas 2D exageradas.
Dissidia: Final Fantasy (PSP) reúne 20 anos de his-
tória da maior série de RPGs de todos os tempos para
uma guerra comandada pelos deuses Cosmos e Cha-
os. Com o maior número de personagens da franquia
juntos, Dissidia permite que você lute escolhendo en-
tre o lado do bem e o do mal.
Música / Ritmo
The Beatles: Rock Band (Wii, PS3, 360) conta a
história musical dos quatro rapazes de Liverpool com
mais de 40 músicas em gravações originais e contro-
les que são réplicas quase perfeitas dos instrumentos
que eles usavam na época.
DJ Hero (Wii, PS3, PS2, 360), com detalhes da jo-
gabilidade em si ainda não revelados, o jogo apresenta
o seu próprio controle em forma de pick-up para criar
mixagens originais de músicas populares dos melho-
res artistas e Djs.
Plataforma
LittleBigPlanet Portable (PSP), é um platformer
como poucos. Além personagens cativantes, belíssi-
mos cenários e puzzles inteligentes, o jogo permite
que você crie suas próprias fases, personagens e his-
tórias facilmente, por meio de um editor, e compartilhá-
las com todo o mundo via Playstation Network.
New Super Mario Bros. (Wii) não é exatamente uma
sequência, mas sim uma revisita ao ótimo estilo gráfico
em “2,5D” do jogo para DS, mantendo a jogabilidade
que é marca registrada na Nintendo. Agora, quatro
jogadores podem cooperar (ou competir) simultanea-
mente para chegar ao final de cada fase.
Super Mario Galaxy 2 (Wii), sequência – este sim –
do sucesso de 2007, traz uma história mais objetiva,
fases mais complexas, gráficos ainda mais bonitos e
também marca a volta de Yoshi, que mais uma vez
serve de transporte para o Mario e pode viajar com ele
entre as galáxias.
Corrida
Dirt 2 (Wii, PS3, 360, PC, PSP, DS) explora ainda
mais as diversas modalidades de corrida off-road, com
eventos modernos reais, em várias localidades ao re-
dor do planeta. O jogo lida fantasticamente bem com
poeira, simulando sujeira e danos aos veículos e apre-
sentando efeitos de partícula inéditos.
Forza Motorsport 3 (Xbox 360) é a grande aposta da
Microsoft para desbancar Gran Turismo como a me-
lhor série de simuladores de corrida do mercado. Para
esta edição, a ordem foi aumentar tudo: mais carros,
mais pistas (agora são mais de 100), mais customiza-
ção e mais detalhes gráficos.
Need for Speed Shift (PS3, 360, PC, PSP), repre-
senta uma grande mudança de mentalidade da Elec-
tronic Arts, passando de uma “vitrine de carros sonhos
de consumo” para um simulador fiel de corrida, que
inclui uma sensacional câmera de dentro do cockpit.
Need for Speed Nitro (Wii, DS), por outro lado, em-
presta o estilo de jogo mais arcade e linear de seu “pri-
mo” Burnout, que injeta velocidade absurda, mas man-
tém um visual estilizado pra não comprometer o frame
rate dos consoles menos poderosos da Nintendo.
RPG
Alpha Protocol (PS3, 360, PC) conta a
história do agente do governo americano
Michael Thorton, que foi demitido, mas é
o único que tem informação sobre como
impedir uma catástrofe internacional. O
jogo traz uma história não-linear e muita
liberdade para tomar decisões.
Mario & Luigi: Bowser’s Inside Story
(Nintendo DSi) coloca os irmãos bigo-
dudos minimizados e inalados por seu
maior inimigo. Contando duas histórias,
é possível controlar Bowser em busca
de mais poder e os encanadores dentro
dele. Ações de um lado afetam o outro.
Mass Effect 2 (Xbox 360, PC), se-
gunda parte da trilogia, é mais um épi-
co conto intergaláctico de exploração de
planetas e guerra civil. A Bioware prome-
te corrigir os erros que cometeu com o
primeiro jogo para entregar uma história
mais imersiva e acessível.
Tiro
Call of Duty: Modern Warfare 2 (PS3, 360, PC) con-
tinua a história do primeiro jogo e traz o melhor do
combate atual contra o terrorismo e o tráfico de drogas
às favelas do Rio de Janeiro e montanhas geladas na
Rússia, entre outros locais, em fantásticas reprodu-
ções.
Left 4 Dead 2 (Xbox 360, PC) leva a ação para o sul
dos Estados Unidos, onde um novo grupo de quatro
pessoas deve sobreviver à infestação zumbi em mas-
sa na sequência de um dos melhores games coopera-
tivos de todos os tempos.
MAG (Playstation 3), sigla de “Massive Action
Game”, é um game de tiro-em-primeira-pessoa online,
aos moldes de Team Fortress, mas para duzentos e
cinquenta e seis jogadores simultâneos (!) no qual uma
guerra é travada entre três facções. Precisa mais?
Metroid: Other M (Nintendo Wii), desenvolvido em
parceria com a equipe da série Ninja Gaiden, mistu-
ra a jogabilidade em primeira pessoa da trilogia Prime
com a clássica visão lateral de plataforma 2D. O game
apresenta uma história que vai mais fundo no universo
de Samus e marca o retorno de vilões como Ridley.
Esportes
Fight Night Round 4 (PS3, Xbox 360) junta no ringue
os maiores nomes do boxe mundial, como Mike Tyson,
George Foreman e Muhammad Ali, no melhor de suas
carreiras, no melhor simulador do esporte já visto. Mui-
to realismo nos movimentos e no visual dos pugilistas,
que sangram e suam quase de verdade.
Wii Sports Resort (Wii, é claro) apresenta uma nova
compilação para mostrar o poder de captura de movi-
mentos do acessório Motion Plus, que dá mais preci-
são e controle. As doze novas modalidades incluem
esgrima, tênis de mesa, arco e flecha, canoagem, bas-
quete, jet ski e até frisbee!
Surpresas
Imagens dele já haviam vazado alguns dias antes,
mas somente na E3 a Sony mostrou em detalhes o
PSP Go, nova versão do seu portátil. O aparelho está
menor – o que também diminuiu a sua tela –, não pos-
sui mais entrada para UMD, mas já vem com memória
interna.
A Microsoft mostrou o “Project Natal”, um poten-
cialmente revolucionário acessório com câmeras que
promete interação e imersão máximas, capturando o
movimento das articulações do jogador e transferindo
para os jogos, sem a necessidade de um controle nas
mãos.
A mesma Microsoft confirmou na sua conferência
que o próximo Metal Gear Solid, agora centrado no
personagem Raiden, também será lançado para o
Xbox 360.
Hideo Kojima, criador e produtor da série Metal
Gear, anunciou que está desenvolvendo, junto à Ko-
nami, um novo Castlevania. Detalhes ainda serão re-
velados.
O jogo mais surpreendente da feira, por outro lado,
foi Scribblenauts, game de aventura para o Nintendo
DS, que tem um visual 2D extremamente simples, que
funciona assim: Você tem um problema para resolver,
escreve na tela o nome de um objeto que possa ajudá-
lo, e ele aparece. Entre as mais de 10.000 palavras re-
conhecíveis, estão coisas como “lenhador”, “dragão”,
“máquina do tempo” e “Deus”.
Tem algo morto aqui em casa. Talvez seja eu. Nun-
ca senti cheiro de cadáver, mas deve cheirar assim,
ou melhor: feder assim. Por mais que eu me pergunte
do que foi que eu morri não consigo me lembrar. Na
verdade eu não me lembro nem porquê, por quem ou
pelo quê eu vivi, nada me adianta saber agora que eu
acho que estou morto. Nunca pensei (lembrei) que se-
ria assim, eu aqui e minhas coisas ali ao meu alcance,
minha família, minhas roupas, meus amores, minhas
decepções, minhas mortes (...) Agora lembro! Essa
não é a primeira vez que me encontro em tal estado,
mas não me recordo que fedia assim, nem que ficava
tão frio e tão verde, mas não aquele verde “vivo” que
se tem quando se está... enfim, vivo, mas sim um ver-
de pesado, falho, uma cor que na verdade tem vergo-
nha de ser quem é, mas que impõe respeito por onde
passa, uma cor... morta.
Mas, por que estou sendo tão pessimista? Talvez
não seja eu que esteja morto, como bem me lembro
aqui em casa tem ratos, quem sabe uma das minhas
ratoeiras pegou um desses malditos roedores? E ago-
ra amassado entre sua própria consciência, que por
sinal ele não possui, exala esse fedor e essa cor, re-
fletindo sobre o que fez de importante (nada) em sua
curta e suja vida de rato, ou até mesmo quem sabe
todos eles se mataram depois de perceberem que não
ajudavam em nada por aqui? Tsc tsc, até parece que
seres obscuros teriam esse tipo de pensamento altru-
ísta. Ao menos é mais confortável passar o peso da
morte para outros, por mais que sejam ratos.
Não quero nem ver se fui eu que morri, não vou ligar
pra ninguém avisando: olha, não vai dar pra eu ir na-
quele churrasco porque eu tô morto, viu? Mas não se
preocupa não, quando você morrer a gente faz outro
pra ficar lembrando dos nossos tempos de vivos. Não
vai ser legal? Hein? Calma, não chora, eu prometo que
vai ter picanha...
Credo, não gosto nem de pensar em dar essa notí-
cia pra todo mundo que eu conheço, nisso eu invejo os
ratos, não precisam dizer pra ninguém, apenas desa-
parecem e todo mundo pensa que eles acharam outro
lixo melhor que aquele em que eles “viviam”. A vonta-
de que eu tenho é de me virar pra continuar morto de
forma mais confortável, gostaria muito mais disso tudo
se estivesse confortável. Maldita hora que fui morrer
nessa posição!
Putz! Preciso ver se deixei o gás ligado, se tirei o
ferro da tomada, paguei as contas, estudei e se fechei
a porta! Já pensou, morrer desconfortável, queimado,
devedor, reprovado e roubado? Aí sim seria uma tra-
gédia, até nisso os ratos me ganham, não precisam se
preocupar com esse tipo de coisa. Estou começando
a ver a possibilidade de voltar rato se essa história de
reencarnação realmente existir. Mas antes preciso sa-
ber primeiro se morri. Tem algo morto aqui em casa.
Talvez seja eu.
mortoaqui em casa
Tem algoPor Leandro Bender
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