View
5
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
2578
DIÁRIO DE CAMPO E POSSÍVEIS COLABORAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO
PROFISSIONAL DAS PROFESSORAS INICIANTES
Márcia Roza Lorenzzon- PPGEdu/UFMT/CURSimone Albuquerque da Rocha -PPGEdu/UFMT/CUR
Eixo 02 Agência Financiadora – OBEDUC/CAPES/INEP/SECADI
marcia.lorenzzon@hotmail.com
Introdução
Entre os muitos projetos aprovados pelo Observatório da
Educação/CAPES/INEP/SECADI, esta pesquisa situa-se nos estudos de formação
continuada desenvolvida com os professores iniciantes da educação básica, em projeto
aprovado pelo PPGEDU/UFMT/OBEDUC. O objetivo da pesquisa é investigar de que
forma esta formação vem sendo sentida pelos professores e se evidenciam reflexões e
contribuições capazes de provocar o revisitar de sua prática a partir de seus registros,
possibilitando uma reflexão sobre os estudos e referenciais teóricos que pautaram os
estudos nos encontros de formação.
As questões que movimentaram as buscas foram: O que pensam os professores
sobre a adoção do caderno de campo na formação específica para o seu
desenvolvimento profissional? O que registram sem seus cadernos? Que formação mais
tocou os professores e de que forma influenciou suas práticas? O caderno de campo
mobiliza reflexões após sua escrita e promove o repensar, revisitar das práticas destes
professores?
Para melhor compreensão, apresenta-se um pouco da origem desta pesquisa,
que está ancorada ao projeto aprovado pela UFMT no Observatório da
Educação/CAPES/INEP/SECADI, que investiga sobre o professor iniciante e seu
desenvolvimento profissional, dificuldades e necessidades inserindo neste contexto, com
a participação de seis escolas da Educação Básica, com seus professores iniciantes
egressos da licenciatura, mais um professor experiente por escola, que tem a função de
acompanhar, assessorar e atender as necessidades dos professores iniciantes.
Este é o propósito primordial deste projeto, atender os professores em início de
carreira, já que os mesmos se sentem desafiados em suas necessidades de
aprendizagem e a desenvolver os respectivos planejamentos pedagógicos. Para o
professor iniciante, cada dia de formação é um momento de superação, pois ele ainda
2579
não conta com uma prática suficiente que possa dar suporte e colaborar nas iniciativas,
decisões e esses momentos de estudos ocorrem para fortalecer no seu dia a dia escolar,
principalmente quando se depara com temas polêmicos, como a sexualidade na infância.
Para melhor compreender sobre o uso do caderno de campo e suas contribuições
com pesquisas sobre formação de professores, desenvolveu-se um mapeamento no site
da Capes e da Anped, com um total de 19 produções analisadas e de interesse da
pesquisa somente na página da Capes. Neste contexto e apoiado em Zabalza (1994),
Yinger e Clark (1981), Esteves (1995), Marcelo Garcia (2007) e outros citados, buscou
compreender e caracterizar o desenvolvimento profissional destas professoras e os
acontecimentos pautados nos diários descritos.
Adotou-se também na pesquisa qualitativa, as análises dos diários de campo dos
sujeitos cujos pseudônimos por elas escolhidos, são Mari e Rose.
Professor iniciante e seus desafios em início de carreira
Esteves (1995), relata sobre estes profissionais quando chegam à escola, passam
por “choque de realidade”, que representa as dificuldades nesta fase profissional. Este
impacto se não for bem acompanhado, poderá provocar danos à construção do perfil do
docente.
O professor iniciante é considerado como o profissional que passa por momento
tão delicado que é a inserção na carreira docente e muitas vezes sem ter com quem
partilhar, reproduz os exemplos dos seus professores da graduação, isso reduz sua
capacidade de transformação, inovação.
Marcelo Garcia (2007) enfatiza a idéia de que o período de inserção é um período
distinto no caminho de se tornar um professor. Não é um salto no vazio entre formação
inicial e formação contínua, mas tem um distintivo e crucial para um desenvolvimento
profissional coerente e carácter evolutivo. O período de inserção e as atividades que o
acompanham variam muito de país para país.
No final dos anos 90, Cornejo, 1999 apud Almeida; Calil, (2012, p. 4), identificou
três experiências. Uma localizada na Argentina com uma proposta para a residência de
professores; no México, onde o desenvolvimento de recursos didáticos foi promovido na
escola e no Chile, com a proposta de inclusão recém-formados profissional. O estudo
mais recente de Marcelo Garcia (2007) mencionado, mostra que a situação não mudou
muito nos últimos anos.
No Brasil, este trabalho de acompanhamento ao professor em início de carreira
não tem grande expressão. Sousa (2015, p.55) afirma que “[...] só temos no Brasil alguns
programas de secretarias estaduais e municipais como, por exemplo em: São Paulo,
2580
Ceará (Sobral), Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro”, recentemente em
2015 a Secretaria Municipal de Educação de Rondonópolis/MT – SEMED - iniciou uma
política de formação ao professor iniciante, ainda pontual.
Também tem o projeto aprovado pela UFMT no Observatório da Educação
OBEDUC/CAPES/INEP/SECADI, aprovado em projeto submetido ao edital 049/2012, o
qual intitula-se “Egressos da Licenciatura em Pedagogia e os Desafios da Prática em
Narrativas: a Universidade e a Escola em um processo interdisciplinar de inserção do
professor iniciante na carreira docente.” O projeto objetiva investigar as dificuldades,
entraves, desafios e necessidades manifestadas pelos professores egressos em início de
carreira, tendo como principal sujeitos os licenciados da UFMT e tem a duração de quatro
anos, Tal projeto, tem em uma das ações, a colaboração do sujeito desta pesquisa.
França (2015) em pesquisa, na cidade de Rondonópolis, MT em busca na
Secretaria Municipal de Educação constatou que somente em 2015, no mês de abril,
deu-se início ao projeto de Formação Continuada para atender os professores em início
de carreira, cujo tema é: Professores iniciantes: Dialogando acerca dos conceitos, dos
métodos e das práticas docentes. (SEMED, 2015).
Mesmo com estas iniciativas percebemos que são poucas se consideramos a
extensão do país. Chamando a atenção para este cenário de ausência de políticas de
atendimento ao professor iniciante, André (2012, p.3) afirma ser importante “[...] os
órgãos gestores da educação inserir os programas de inserção à docência num plano
mais amplo de desenvolvimento profissional para que as ações formativas tenham
continuidade após o período probatório.”
Diante deste cenário, deu-se o interesse de investigar as duas professoras
iniciantes que participam do OBEDUC e através do diário de campo poder analisar como
este tem colaborado para o aprimoramento profissional, porém ao tratar sobre esta
ferramenta que é a prática do diário de campo, constatou-se que não é tão comum em
pesquisa na educação, teve sua origem tanto na Europa quanto no Japão por volta do
século X.
Quando o uso da escrita e os meios técnicos se expandiram, os depoimentos
escritos regularmente com caráter pessoal também se ampliaram. Assim, por volta do
século XVII, inúmeros documentos desse tipo foram criados, não apenas por religiosos e
nobres, mas por cientistas, arquitetos e outros. Tornam-se presentes, também, no ensino
de algumas áreas (por exemplo, a enfermagem) e na literatura, com a publicação de
diários de viagens, testemunhos autobiográficos e outros (ALASZEWSKI, 2006). Em
educação, foca especialmente o desenvolvimento de professores (ZABALZA, 2004).
Para auxiliar neste entendimento, realizou-se o mapeamento através do estado
do conhecimento, com a possibilidade de desenvolver a pesquisa com mais dados sobre
2581
o tema, as buscas então, foram feitas nos sites da Capes e da Anped, com os
descritores: diário de campo, diário reflexivo e registro de campo, para subsidiar no
entendimento sobre o diário de campo, as narrativas nele apresentado e as
potencialidades da escrita nos mesmos.
Fez-se, ainda, uma breve descrição das estratégias metodológicas que, em razão
da natureza qualitativa e quantitativa da pesquisa, baseadas nos teóricos: Ghedin e
Franco (2006), pois segundo os autores a Educação e as Ciências Humanas têm
avançado quando reinventam metodologias que dão conta da complexidade que exigem
os objetos hoje. Para eles, pesquisar é navegar com direção.
A pesquisa quantitativa/qualitativa foi escolhida e é compreendida como
abordagem da realidade, visto que em educação, não podemos nos deter apenas em
aspectos quantitativos, baseando-nos somente em números e dados, sem uma análise
profunda da realidade qualitativa.
A seguir apresentaremos os passos da pesquisa e os dados encontrados
referentes ao tema em evidência que permitiram investigar essa temática. Por fim,
apresentaremos as análises e os resultados que nos possibilitaram compreender as
características do processo de elaboração do diário das professoras, Mari e Rose, assim
como as contribuições e as implicações para a formação docente.
Os caminhos da pesquisa sobre diário de campo
O passo inicial desta pesquisa, foi realizar um levantamento sobre as produções
existentes sobre diário de campo, um procedimento de estado do conhecimento e para
compreender sobre esta busca, encontramos em Ferreira (2002) um referencial, ao
observar que:
Estado do Conhecimento “é de caráter bibliográfico e tem o desafio demapear e discutir “uma certa produção acadêmica em diferentes camposdo conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêmsendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares.Segundo a autora, usualmente essas pesquisas incidem sobredissertações e teses, artigos publicados em periódicos especializados ecomunicações apresentadas em eventos, porque estes são os principaiscanais para divulgação do que se faz em pesquisa num determinadocampo (FERREIRA, 2002, p. 258).
A autora ressalta que este trabalho mostra as formas e condições em que têm
sido produzidas as dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em
periódicos e comunicações em anais de congressos e de seminários.
2582
Na análise das produções no site da Capes, de um total de que 235 produções, 8
% trazem os descritores de interesse da pesquisa, com o descritor diário de campo, foi
analisados oito (08) produções, com o descritor diário reflexivo, nove (09) e com o
descritor, registro de campo, duas (02) produções, total de 19, no período de 2005 a
2014, como pode-se visualizar no gráfico abaixo:
Gráfico 1: Resultado das buscas com os descritores de 2005/2014
Fonte: Dados organizados pela autora, com base no site da Capes.
Com o descritor diário de campo, observou-se que a metodologia de estratégias
de pesquisa apresentam caminhos diversos, porém todas utilizavam em comum o diário
de campo, como mostra a tabela abaixo:
Tabela 1- Estratégias de pesquisa com o descritor diário de campo
Número Estratégia de pesquisa1 Questionário e escritas de diários2 Diário de campo, constitutivo do ofício etnográfico3 Produção de escritas, entrevistas, diário de campo
4Pesquisa qualitativa de abordagem sócio-histórico em
escritas de diário5 Conversas informais, filmagens e diário de campo6 Entrevista semi-estruturada e diário e campo
7 Entrevista, observação, diário e campo
8 Memoriais, fragmentos de falas e diário e campoFonte: Dados elaborados pelo autor das buscas realizadas no site da Capes
2583
Das produções analisadas, com o descritor diário de campo, 33,3% utilizaram a
entrevista como estratégia de pesquisa, o que permite fazer a integração de todo o
material coletado, seja entrevista, conversas informais, narrativas escritas ou
observações.
Zabalza (1994), relata que os diários permitem focar as análises nos fatos
ocorridos a partir da integração das dimensões referencial e expressiva. Também destaca
quatro aspectos do diário que dão a esse tipo de documento uma potencialidade
expressiva: exige o registro escrito, implica reflexão, integra o expressivo e o referencial,
possui caráter histórico e longitudinal, pois permite observar a evolução dos
acontecimentos; a forma como eles ocorrem; os condicionantes que estão intrínsecos; as
mudanças que perpassam esses acontecimentos.
A partir dessas considerações, verifica-se que as potencialidades formativas da
escrita de diários só são possíveis se eles não se organizarem somente por descrições e
relatos de experiências vividas, mas que contemple o registro das reflexões sobre as
vivências e os caminhos a serem traçados para lidar com os dilemas docentes.
Yinger e Clark (1981) afirmam que a escrita é pessoal e ativa. Pessoal, pois é o
autor quem seleciona as informações apresentadas, os fatos narrados e também decide
a forma de apresentação do relato; e ativa porque se refere a um processo que envolve
estruturação, organização, releitura, reflexão e modificação do texto.
Neste contexto encontramos poucas produções que contemplaram o instrumento
de pesquisa, diário reflexivo, porém analisamos nove (09) trabalhos no campo da
educação, com seus descritores respectivos.
Observou-se nas análises sobre o descritor diário reflexivo, uma quantidade
maior, com o instrumento de pesquisa, diário de aula, com 33,3%, o que chamou a
atenção sobre caracterização deste instrumento, por ser um documento pessoal,
apresentado no artigo, tanto do professor quanto do aluno, mostrando o que é uma aula
para os dois.
Também apareceram a entrevista e o diário reflexivo, com 22,2%, instrumentos
relevantes para a pesquisa, com um caráter reflexivo e análise da escrita de um sujeito-
escrevente com análise das ressonâncias discursivas e com 11,1% o diário de classe e
diário de campo.
Pode-se observar que as produções trazem estratégias variadas, considerando
que o diário é um instrumento que vem colaborar para entender melhor as narrativas dos
pesquisados, que se inicia com entrevista, relatos, questionário ou mesmo observação e
o diário fornece o que é de mais pessoal e importante para a análise, muitas vezes o que
se encontra implícito do decorrer dos discursos.
2584
Para Zabalza (1994:83) os diários usados em contextos distintos teriam em
comum a capacidade de responder à dupla exigência metodológica de “centrar as
análises em situações concretas, integrando a dupla dimensão referencial e expressiva
dos fatos”. Em outras palavras, os diários trabalhariam a objetividade da situação através
da versão subjetiva que os sujeitos dão a ela e subjetividade da situação através dos
dados objetivos que o próprio documento pessoal proporciona.
Com o descritor registro de campo, foram analisadas duas (02) produções, a
primeira trouxe como estratégia de pesquisa, além do registro em diário de campo a partir
das observações do cotidiano do grupo, a realização de entrevistas coletivas com grupos
de crianças e a segunda produção também utilizou registro de campo e entrevistas.
Além do diário, a entrevista é um instrumento que auxilia na pesquisa. A grande
vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e
corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre
os mais variados tópicos. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986: 33-34).
Na sequência foi analisado produções na página da Anped, porém não foram
encontrados os descritores de interesse, visualizamos produções somente na área da
saúde, mas não é o foco da pesquisa.
Analisando as narrativas
Para entender melhor este instrumento, apresenta-se a seguir a análise das
narrativas do diário de campo de cinco (05) encontros de formação em que as
professoras iniciantes, participantes do Projeto de Investigação, OBEDUC, narram os
acontecimentos de cada dia analisado e seus saberes adquiridos em cada encontro.
Iniciemos com a narrativa da professora Mari:
Primeiro dia que estive nos estudos do OBEDUC como professorainiciante – sujeito de pesquisa – disponível ao grupo coordenado pelaprof. Dr Simone Albuquerque da Rocha. Foi um dia incrível, experiênciagratificante quando passo de bolsista a docente iniciante e continuartendo a oportunidade de estar com o grupo e participar dos estudos.(Diário de campo, encontro - 17/03/2015, Professora Mari)
É notável em sua narrativa a subjetividade, a sua satisfação em fazer parte deste
projeto como professora iniciante, esta é uma das características marcantes do diário de
campo, como relata Zabalza, (1994:91), [...] os diários são ‘o espaço narrativo de
2585
pensamento dos professores’, ou seja, seriam vistos como documentos da expressão e
elaboração do pensamento e dilemas desses professores.”
Neste contexto e para compreender a formação da professora, apresenta a seguir
a narrativa que traz sobre o tema Ciclo de Formação Humana, discutido no mesmo dia
analisado acima:
A fala foi relacionada ao contexto Educação Infantil, ainda prioridadepara o atendimento nas unidades de Educação Infantil, segundo aprofessora é a situação de vulnerabilidade (criança). [...] ainda sobrevivência, observei nas discussões que esta estava relacionada na vidado profissional da escola como aquela vivência que se teve com os filhospara experienciar as atividades com as crianças na escola,principalmente na Educação Infantil. (Diário de campo, encontro -17/03/2015 com o tema: Relações ciclos de formação humana, Mari).
A professora iniciante Mari relata sobre o tema de maneira sucinta, porém significa
um relato pessoal e subjetivo. Para Zabalza (1994), o caráter pessoal do diário é
multidimensional e refere-se ao registro dos saberes, dos sentimentos, das ações, das
tomadas de decisões do professor; remete também ao próprio sentido do diário: esse
documento tem sentido pleno para o seu autor, que também é destinatário do relato.
É nesta vertente que como pesquisador pode-se primar pela veracidade e
subjetividade dos relatos do diário de campo, valendo-se de experiência formativa tanto
para o pesquisador como para o sujeito em evidência, porém percebe-se que no diário da
professora iniciante Rose, suas narrativas na maior parte são descritas através de tópicos
e bem resumidas. O que mostra sua narrativa a seguir:
[...] importância dos objetos pedagógicos, metodologia (conteúdo).Prática, utilização e desenvolvimento. (Diário de campo, encontro -17/03/2015 com o tema: Relações ciclos de formação humana,Professora Rose)
Embora narradas no mesmo dia de formação, cada professora tem uma
característica específica de escrita, a professora Mari traz mais detalhes com uma certa
subjetividade, o que difere da escrita da professora Rose que descreve com objetividade,
mais sucinta.
Numa outra análise, evidencia-se que a escolha dos temas feito pelos próprios
participantes, vem ao encontro de suas necessidades formativas, que como professora
iniciante tem seus desafios e dificuldades em abordar tais assuntos em sala de aula,
como por exemplo o tema Sexualidade na Infância:
A sexualidade tem a ver com nossas práticas sociais, culturais, desejos,prazeres, etc. Para Foucault, a sexualidade passa a ser discutida comoalgo normal, porém com o intuito controlador. A ideia de discurso está
2586
centrada na representação por meio das culturas. (Encontro, 07/04/2015com o tema: Sexualidade na infância, Professora Mari)
[...] sexualidade tem a ver com a cultura. Sexualidade, criança – prazer.Sexualidade, adulto – prazer para reprodução. (Encontro, 07/04/2015com o tema: Sexualidade na infância, Professora Mari)
O que fez-se perceber que os relatos são individuais e únicos, há para cada
professora uma compreensão sobre o que realmente a formação traz para seu
crescimento pessoal e profissional, como a responsabilidade em narrar cada dia de
formação. Assim Zabalza (1994) fala de como o diário "vai estabelecendo a sequência
dos fatos a partir da proximidade dos próprios fatos" (p. 96).
A seguir traz-se o relato da continuidade da formação sobre sexualidade e
infância:
[...] assistimos o filme, Minha vida em cor-de-rosa. Por que fazemos ooutro sofrer para preservar nossas convicções? (reflexão). Comotrabalhar nossos educadores com situações relacionadas a sexualidade?(reflexão). Questões levantadas pelos docentes como por exemplo:como lidar com questionamentos dos alunos na escola sobresexualidade? (Encontro 28/04/2015, tema: Filme Minha vida em cor-de-rosa, Professora Mari).
As crianças percebem o outro, são atraídas. A psicologia trouxe umaquestão que me intrigou. Como? Qual foi o desejo? ...fazemos o outrosofrer por causa de nossas concepções. [...] outro ponto, reconhecer ooutro. (Encontro 28/04/2015, tema: Filme Minha vida em cor-de-rosa,Professora Rose).
Nesta narrativa, fica evidenciado que os temas não se esgotam em um dia de
formação, mas apresentam uma sequência de fatos, de estudos e como destacou a
professora Mari em seu diário de campo, a relevância do estudo e da reflexão e já a
professora Rose descreve algumas angustias de encarar este assunto que é tão
polêmico nas escolas. Tem-se como exemplo o tema avaliação a seguir relatado e
também escolhido pelo grupo, com a perspectiva de entender com mais propriedade
sobre o que é avaliar:
[...] geralmente ocorre o exame e não a avaliação, pois avalia o momentosem levar em consideração o currículo de vida e aprendizado do aluno.[..] não visa valorização e sim uma maneira de exclusão. É preciso sermediadora para ser considerada avaliativa. (Formação 12/05/2015 com otema: Avaliação, Professora Mari).
[...] ato de avaliar é diagnosticar. Aprendizagem que está ocorrendo,propor atividade para se ter melhor resultado. Equívoco: Dificuldade daprofessora, examinar: pontuar, classificar. Avaliação: Diagnóstica,formativa, mediadora, dinâmica, inclusiva. Papel do educador, atoamoroso. (Formação 12/05/2015 com o tema: Avaliação, ProfessoraRose).
2587
As duas professoras narram sobre o que realmente são relevantes refletir e
pensar sobre a aprendizagem da docência na perspectiva de desenvolvimento
profissional, de saber lidar com este tema que é avaliação. Para tanto a formação
continuada deve ser permanente, contínua e de acordo com Mizukami et al. (2003, p. 16),
a ideia de processo – e, de continuum – obriga a considerar a necessidade de
“estabelecimento de um fio condutor que vá produzindo os sentidos e explicitando os
significados ao longo de toda a vida do professor, garantindo, ao mesmo tempo, os nexos
entre a formação inicial, a continuada e as experiências vividas”.
As escritas constituem-se pela elaboração do pensamento do docente, ouve,
interpreta e a seguir escreve como um investigador de si próprio e, consequentemente,
poderá melhorar em sua prática na sala de aula, este é o objetivo do projeto investigação.
Assim analisou-se as narrativas das professoras sobre o tema também de
importante significação para elas, os Descritores.
Ao trabalharmos um texto é necessário insistir na compreensão demaneira que nossos alunos possam saber detalhes referente ao: nomedo autor, contexto histórico, datas de publicação, etc. (Formação10/11/2015, com o tema Descritores da Provinha Brasil e ANA,Professora Mari).
Descritor 1, localizar informação em um texto lido. Descritor 2, trabalha arepetição. Descritor 3, inferir o sentido de uma palavra ou expressão.Descritor 9/12, identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros.(Formação 10/11/2015, com o tema Descritores da Provinha Brasil eANA, Professora Rose).
Percebe-se com muita clareza que este tema veio colaborar para o
enriquecimento teórico e pedagógico destas profissionais, subsidiando para sua prática,
pois são rodeadas de desafios e de constantes cobranças, sejam pela escola ou pela
secretaria de educação.
No entanto, os estudos que se pautaram em suas necessidades, foram narrados
de uma maneira pessoal e profissional, trouxeram marcas de individualidades de escritas
e expressões. O que chamou a atenção também é o comprometimento em anotar as
falas, os tópicos, contendo também, mesmo que timidamente algumas narrações
subjetivas.
Considerações
O presente artigo buscou investigar, na perspectiva das professoras iniciantes da
rede municipal de Rondonópolis e participantes do OBEDUC, as contribuições da escrita
2588
de seus diários de campo para sua formação docente. No decorrer da escrita, buscou-se
entender sobre o professor iniciante, suas dificuldades em enfrentar seu início de carreira
e sobre o diário de campo, como um instrumento formativo que possibilita a análise das
experiências vividas na formação continuada.
Relacionamos este relato a Zabalza (1994), que colabora no entendimento sobre
o diário ser um recurso penoso: é difícil escrever após um dia de trabalho e em meio às
tarefas cotidianas. No entanto, relata que mesmo sendo um processo penoso, é
prazeroso, pois, ao escrever o diário, o professor encontra sentido e utilidade na escrita.
As participantes da pesquisa apresentaram no decorrer das narrativas, uma
escrita ponderável, clara e subsidiada pelo o entendimento individual de cada dia
relatado, porém não possibilitou atingir o objetivo de forma satisfatória e também algumas
questões ficaram sem responder, podendo sim ser retomado em produção futura e em
outras investigações, tendo em vista que os sujeitos continuarão suas narrativas no diário
de campo neste ano de 2016. Desse modo, aqueles que escrevem diários podem tornar-
se investigadores de si próprios e, consequentemente, da prática que desenvolvem na
escola.
Referências
ALASZEWSKI, A. Using diaries for social research. London: Sage, 2006.
ANDRÉ, M. Políticas e programas de apoio aos professores iniciantes no Brasil. Caderno de Pesquisa, São Paulo, vol.42, no.145, Jan./Apr.2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php> Acesso em: 10 nov. 2015.
ANPED. http://www.anped.org.br/grupos-de-trabalho-comite-cientifico/grupos-de-trabalho/grupos-de-trabalho. Disponível em: <http:// http://www.anped.org.br//>. Acesso em: 20 nov. de 2015.
CAPES. Banco de Teses e Dissertações. Disponível em: <http://bancodeteses.capes.gov.br/>. Acesso em: 20 Jul. de 2015.
ESTEVES, M. RODRIGUES, A. A formação de professores: especificidades e problemas.In: ___. Análise de necessidades na formação de professores. Lisboa: Porto, 1995, p.39-42.
FRANCO, F. C. O coordenador pedagógico e o professor iniciante. In: __ALMEIDA, L.R. BRUNO, E. B. C; CHRISTOV, L.H. da S. O coordenador pedagógico e a formação docente. São Paulo: Loyola, 2000, p.33-36.
FRANÇA, Márcia Socorro dos Santos. O desenvolvimento profissional dos professores iniciantes egressos da Pedagogia: um estudo de caso. Rondonópolis, MT: UFMT/CUR, 2015.
2589
FERREIRA, N. S. A. As pesquisas denominadas “Estado da Arte”. In: Educação & Sociedade, vol. 23, nº 79, Agosto/2002, pp. 257-272. CAPES. Banco de dissertação e teses. Disponível em: http://www.capes.gov.br . Acesso em: 13, ago, 2015.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986, 99 p.
MIZUKAMI, M. G. N et al., MELLO, R. R. Escola e aprendizagem da docência: processos de investigação e formação. São Carlos: EdUFSCar, 2003.
SEMED. Professores iniciantes: Dialogando acerca dos conceitos, dos métodos e das práticas docentes. Rondonópolis/MT. 2015.
SOUSA, R. M. Professores iniciantes e professores experientes: articulações possíveis para a formação e inserção na docência. 2015, 15 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal de Mato Grosso Campus Rondonópolis, Rondonópolis, MT, 2015.
YINGER, Robert J.; CLARK, Christopher M. Reflective Journal Writing: theory and practice. Paper. (occasional serie, n. 50), IRT, Michigan State Univ., East Lansing, Michigan. 1981.
ZABALZA, M. A. Diários de aula: contributo para o estudo dos dilemas práticos dos professores. Porto: Porto Editora, 1994. ______, M.A. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento profissional FRANCIELLY MENIN l. Porto Alegre: Artmed, 2004.
Recommended