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Trabalho sobre deficiência auditiva
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INTRODUÇÃO
Por muito tempo, os sujeitos com necessidades educativas especiais foram ignorados,
abandonados à sua própria sorte, deixados à margem da convivência social. Contudo, com o
passar dos anos, a inclusão, nos mais diversos espaços sociais - esportes, turismo, lazer, artes,
cultura, religião, educação - passou a ser encarada pela sociedade como uma necessidade
absoluta e inadiável.
Sassaki (1997) explica que a inclusão é um processo pelo qual a sociedade se adapta
para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, todas as pessoas ainda excluídas, buscando
equacionar problemas, apresentar soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para
todos.
O ouvido é o órgão que possibilita uma das funções superiores mais nobres do ser
humano que é a comunicação. É por intermédio da linguagem que o homem consegue
organizar o seu universo, entender o mundo que o rodeia, compreender o outro, transmitir
e abstrair pensamentos e sentimentos do outro, interagir no meio e adquirir
conhecimento.
A linguagem envolve um processo altamente complexo, uma vez que está
relacionada à elaboração e simbolização do pensamento humano, permitindo a
comunicação do homem com os seus semelhantes. A habilidade de compreender a
linguagem oral deve ser considerada como um dos mais importantes aspectos
mensuráveis da função auditiva humana.
Dados do IBGE revelam que 6,2% da população brasileira tem algum tipo de
deficiência. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) considerou quatro tipos de
deficiências: auditiva, visual, física e intelectual. O levantamento foi divulgado hoje (21)
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e feito em parceria com o
Ministério da Saúde.
As pessoas com deficiência auditiva representam 1,1% da população brasileira e
esse tipo de deficiência foi o único que apresentou resultados estatisticamente
diferenciados por cor ou raça, sendo mais comum em pessoas brancas (1,4%), do que em
negros (0,9%). Cerca de 0,9% dos brasileiros ficou surdo em decorrência de alguma
doença ou acidente e 0,2% nasceu surdo. Do total de deficientes auditivos, 21% tem grau
intenso ou muito intenso de limitações, que compromete atividades habituais.
1. HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DO SURDO
Na antiguidade, os Gregos viam os surdos como animais, pois para eles o pensamento
se dava mediante a fala. Sem a audição os surdos na época ficavam fora dos ensinamentos e
com isso, não adquiriam o conhecimento. Os Romanos privavam os surdos de direitos legais,
eles não se casavam, não herdavam os bens da família e diante da religião, a igreja católica
considerava os surdos sem salvação, ou seja, não iriam para o reino de Deus após a morte.
Pode-se dizer que a condição do sujeito surdo era a mais miserável de todas, pois a sociedade
os considerava como imbecis, anormais, incompetentes.
A mudança começou a partir de um religioso surdo chamado Ponce de León, um
monge beneditino, que vivia em uma cidade da Espanha. Seus alunos eram surdos filhos de
nobres que, preocupados com a exclusão de seus filhos diante da sociedade e da lei,
procuravam León para auxiliá-los. O monge dedicou-se a ensinar os surdos a ler, escrever,
falar e aprender as doutrinas da fé católica, como afirma Moura (2000 p.18). “A possibilidade
do Surdo falar implicava no seu reconhecimento como cidadão e consequentemente no seu
direito de receber a fortuna e o título da família”.
Partindo desse pressuposto de que os surdos teriam que falar para serem humanizado,
outros defensores do mesmo pensamento foram surgindo:
Juan Pablo Bonet – soldado do serviço secreto do rei resolveu educar surdos. De
acordo com a história, Bonet utilizava-se do alfabeto manual para ensinar a leitura e a língua
de sinais para ensinar a gramática apesar de ser um defensor da oralidade, não dispensou o
auxílio da língua de sinais em seu trabalho.
Jacob Rodrigues Pereire – educador fluente em língua de sinais, porém defensor da
oralidade. Em suas aulas o objetivo a ser alcançado era o de fazer surdo falar, no entanto,
usava a língua de sinais, como cita Moura (2000 p.19). “Os sinais eram utilizados para
instruções, explicações lexicais, conversações com os alunos, até eles terem a capacidade de
poder se comunicar oralmente ou pela escrita [...]”.
Johann Conrad Amman – medico suíço, acreditava que os surdos eram destituídos das
bênçãos de Deus, pois não possuíam a fala. Para ele o uso dos sinais atrapalhava o
desenvolvimento do pensamento e consequentemente da fala.Apesar de posicionar-se contra
os sinais, Amman os utilizava como meio para que os surdos adquirissem a fala.
John Wallis – é considerado na Inglaterra, o fundador do oralismo. Seu trabalho
resumiu-se em um livro sobre educação de surdos e uma história de desistência de fazer os
surdos falarem. Possuiu pouca experiência prática com os surdos e como os outros, utilizava a
língua de sinais.
Thomas Braidwood – seu objetivo em educar os surdos estava em fazelos falar, pois
para ele falar significava ser um sujeito pensante.A história relata que em suas aulas, os
surdos aprendiam a escrever, ler,o significado das palavras bem como a leitura orofacial e
pronuncia das palavras.
Sabemos que os primeiros a trabalharem com educação de surdos/as, por volta do
século XVI, foram Girolano Cardano , Pedro Ponce de León , Juan Pablo Bonet, entre outros.
Assim, naquele século, apareceram ouvintes educadores de surdos/as em vários países da
Europa, mas só tinha acesso à educação as pessoas surdas de famílias nobres. Era uma
educação que ensinava a falar e a ler com objetivo de que esses surdos/as pudessem ser
reconhecidos legalmente e herdar os
2. A HISTÓRIA DOS SURDOS NO BRASIL
Fundamenta-se em Huet, professor que emigrou para o Brasil em 1855. Apoiado por
D. Pedro II, ele fundou, no dia 26 de setembro de 1857, o Imperial Instituto de Surdos-
Mudos, onde era utilizada a língua de sinais. Porém, seguindo a tendência determinada pelo
Congresso de Milão (1880), em 1911, o Instituto Nacional de Educação de Surdos estabeleceu
o oralismo como método de educação dos surdos. Começou alfabetizando sete crianças com o
mesmo método do abade L'Epée. Essa foi à primeira escola a aplicar a língua de sinais na
metodologia de ensino. Assim como a educação na França, a língua de sinais no Brasil deixou
de se desenvolver com o Congresso de Milão. Embora a influência do oralismo fosse forte, os
surdos brasileiros buscaram alternativas de se comunicarem através da Língua Brasileira de
Sinais (Libras). Organizaram-se em forma de associações para viverem aí sua cultura
Muitos eventos sucederam na evolução dos aspectos sociais e culturais aqui no Brasil,
aumentando a aceitação da pessoa surda como uma comunidade que tem seus costumes,
língua própria e leis próprias, fazendo com que a pessoa surda ocupasse seu espaço na
sociedade e não fosse vista como uma pessoa incapaz, e sim como uma pessoa com costumes
diferentes.
Embora existam preconceitos, os direitos dos surdos passaram a ser mais respeitados
pela sociedade, mas para que alcançasse esse patamar, muitos movimentos e filosofias
educacionais contribuíram para isso, lutas tiveram que ser travadas, reconhecimento pelos
direitos dentro da sociedade, não foram cedidos facilmente, tiveram que ser desbravados,
afinal, desde os primórdios, acreditava-se que os surdos não eram pessoas educáveis,
considerando-os até mesmo como pessoas intelectualmente desfavorecidas, ou como seres
desqualificados ou inferiores, sendo incapazes de sobreviverem sozinhas.
É fato que o desconhecido gera desconforto e sentimentos contraditórios, levando os
extremos de estudar o problema buscando compreendê-lo ou eliminá-lo, no caso de pessoas
com deficiências, a eliminação durante muitos séculos foi à opção mais fácil, acarretando em
uma história de discriminação e muitas barbaridades dentro desse tema que ainda não foi
finalizado.
Para que a educação dos surdos se configurasse nos padrões aplicados nos dias atuais,
foi necessário que passassem por determinados processos que foram verdadeiros marco, tanto
por suas revoluções quanto por contradições, dos quais são:
Oralismo: Filosofia que aponta a oralidade como único meio aceito de
comunicação, foi estabelecido no congresso de Milão, excluindo todas as
possibilidades de comunicação por meio de sinais e gestos, o oralismo percebe
a surdez como deficiência, que deve ser aniquilada através da estimulação
auditiva, todos os meios de comunicação deve ser aplicados somente no
aprendizado voltado para o oralismo.
Comunicação Total: Surgiu na década de 60, para facilitar o aprendizado dos
alunos, limitada pelo oralismo, essa filosofia abraça qualquer método que
pudesse chegar à luz da compreensão dos alunos, tudo era válido como: leitura
oro-facial, alfabeto manual e a escrita, língua de sinais etc.
Bilinguismo: Essa filosofia toma espaço entre a década de80 e 90, é uma
proposta que preconiza o ensino das duas línguas na escola, a primeira se
refere a língua pátria e a língua de sinais como natural, que deve ser dominada
plenamente pela pessoa surda, passando assim a valorizá-la como uma pessoa
que tem sua cultura como qualquer outra. O decreto 5.626/2005 assinala que a
educação de surdos no Brasil deve ser Bilíngue, garantindo assim ao acesso à
educação, por meio da língua de sinais como língua de instrução e o ensino da
língua portuguesa, do grupo ouvinte majoritário, como segunda língua.
Em 1994, na Espanha, delegados de 87 países referendaram uma série de princípios e
diretrizes, sob a designação de Declaração de Salamanca, cujo paradigma fundamental é a
educação como direito, em uma visão de escola inclusiva. Assim, as escolas devem receber e
acolher crianças com ou sem deficiência. Estudantes com necessidades educacionais especiais
devem ser incluídos nos programas educacionais previstos, mesmo quando apresentarem
desvantagem severa. A escola tem o dever de amoldar-se às necessidades do alunado,
respeitar o ritmo e os processos de aprendizagem, propondo uma pedagogia centrada nas
potencialidades humanas, em contraposição à sociedade que inabilita e reforça os
impedimentos:
As escolas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições
físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com
deficiências e bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de
populações distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e
crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas (...). O desafio que
enfrentam as escolas integradoras é o de desenvolver uma pedagogia centralizada na criança,
capaz de educar com sucesso todos os meninos e meninas, inclusive os que possuam
deficiências graves. O mérito dessas escolas não está só na capacidade de dispensar educação
de qualidade a todas as crianças; com sua criação, dá-se um passo muito importante para
tentar mudar atitudes de discriminação, criar comunidades que acolham a todos e sociedades
integradoras. (SALAMANCA, 1994, p. 18).
3. DEFICIÊNCIA AUDITIVA
3.1 Definição
A legislação nos aponta duas definições:
Decreto Federal nº 5296/2004, Art. 5º, §1º, b
Deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais,
aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz;
Decreto Federal nº 5626/2005, Art, 2º, Parágrafo único
Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda àquela que, por ter perda
auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando
sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras.
Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de
quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz,
1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz.
Para compreender melhor este conceito, e o porquê de sua diferenciação em relação ao
de deficiência auditiva geral, é necessário conceituar os tipos e graus de surdez, bem como
compreender os desdobramentos que a perda auditiva produz no contexto da comunicação e,
sobretudo, na constituição de sujeito.
Deficiência auditiva pode-se considerar como sendo a perda parcial ou total da
audição, ela tanto pode ser congênita quanto adquirida, por meio de doenças inflamatórias ou
mesmo por acidentes nas estruturas dos componentes do aparelho auditivo, muitas vezes o
diagnóstico médico consegue identificar a causa mais provável da perda auditiva, mas nem
sempre isso é possível.
A ausência da audição, um dos principais sentidos humanos, segundo Costa (2003)
impede que os indivíduos conheçam os sons, e consequentemente tenham problemas de
comunicação através da linguagem oral. O Documento Política Nacional de Educação
Especial - MEC /Secretaria de Educação Especial caracteriza a surdez como “perda total ou
parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala através do ouvido.”
(BRASIL, 1994).
3.2 Causas
Há diversas causas para a surdez, podendo ocorrer desde a vida uterina até a idade
adulta. Elas são agrupadas de acordo com a época em que ocorreu e assim são divididas em:
Pré-natal (durante a gestação): desordens genéticas, consanguinidade, doenças
infectocontagiosas (como a toxoplasmose, a sífilis e a rubéola), uso de drogas e álcool pela
mãe, desnutrição ou carência alimentar materna, hipertensão ou diabetes durante a gestação e
exposição à radiação.
Perinatal (durante o nascimento): anóxica (falta de oxigenação), prematuridade,
traumas do parto, estrangulamento de cordão umbilical, icterícia grave no recém-nascido e
infecção hospitalar.
Pós-natal (depois do nascimento): infecções (como meningite, sarampo, caxumba), o
uso de remédios ototóxicos em excesso e sem orientação médica, a exposição excessiva a
ruídos e a sons muito altos e o traumatismo.
Para que um indivíduo ouça, é preciso que os sons do meio ambiente alcancem o
córtex cerebral, para isso os sons devem passar pelo ouvido externo, médio, interno, nervo
auditivo para enfim chegar ao córtex cerebral, como representado na figura 1:
3.3 Classificações da Surdez
O ouvido pode apresentar alterações, e de acordo com tais alterações tem se diferentes
tipos de perda auditiva, as quais podem ser:
Perda Auditiva Condutiva – Qualquer interferência na transmissão do som desde o
conduto auditivo externo até a orelha interna (cóclea). A orelha interna tem capacidade de
funcionamento normal, mas não é estimulada pela vibração sonora. Esta estimulação poderá
ocorrer com o aumento da intensidade do estímulo sonoro. A grande maioria das deficiências
auditivas condutivas pode ser corrigida através de tratamento clínico ou cirúrgico.
Perda auditiva Neurossensorial – Ocorre quando há uma impossibilidade de recepção
do som por lesão das células ciliadas da cóclea ou do nervo auditivo. Os limiares por
condução óssea e por condução aérea, alterados, são aproximadamente iguais. A
diferenciação entre as lesões das células ciliadas da cóclea e do nervo auditivo só pode ser
feita através de métodos especiais de avaliação auditiva. Este tipo de deficiência auditiva é
irreversível.
Perda auditiva Mista – Ocorre quando há uma alteração na condução do som até o
órgão terminal sensorial associada à lesão do órgão sensorial ou do nervo auditivo. O
audiograma mostra geralmente limiares de condução óssea abaixo dos níveis normais, embora
com comprometimento menos intenso do que nos limiares de condução aérea.
Perda auditiva Central – Este tipo de deficiência auditiva não é, necessariamente,
acompanhado de diminuição da sensitividade auditiva, mas manifesta-se por diferentes graus
de dificuldade na compreensão das informações sonoras. Decorre de alterações nos
mecanismos de processamento da informação sonora no tronco cerebral (Sistema Nervoso
Central).
Dependendo do tipo de deficiência auditiva (condutiva ou neurossensorial) e do grau
de perda (leve, moderada, severa ou profunda), cada pessoa poderá ter diferentes
possibilidades de escutar os sons.
A pessoa apresenta uma perda de 20 até 40 dB apresenta surdez leve, ela não percebe
todos os fonemas das palavras, é considerado desatento e solicita com frequência a repetição
do que lhe falam. A deficiência não impede a aquisição normal da linguagem, mas poderá
causar algum problema de articulação ou dificuldade na leitura e escrita.
Na surdez moderada a pessoa apresenta uma perda auditiva de 41 a 55 dB, é
necessária uma voz de certa intensidade para que seja percebida, ao telefone não escuta com
clareza, trocando muitas vezes a palavra ouvida por outra foneticamente semelhante
(pato/rato). Nesse caso é frequente o atraso da linguagem.
Surdez acentuada a pessoa apresenta uma perda auditiva de 56 a 70 dB, já não escuta
sons importantes do dia-a-dia (o telefone tocar, a campainha, a televisão). Necessita do apoio
visual para entender o que foi dito, apresenta atraso de linguagem e alterações articulatórias,
podendo ocasionar também, em alguns casos, maiores problemas linguísticos.
Pessoa apresenta uma perda auditiva entre 71 e 90 dB estão classificados com surdez
severa. Ele percebe, mas não entende a voz humana, não distingue os sons (fonemas) da fala.
A compreensão verbal vai depender em grande parte da aptidão para utilizar a percepção
visual (leitura labial). É comum atingir os 4 ou 5 anos de idade sem ter aprendido a falar e
necessita de um atendimento especializado para adquirir a linguagem oral.
O individuo apresenta uma perda auditiva acima de 91 dB, não percebe nem identifica
a voz humana, impedindo que adquira a linguagem oral se enquadra no nível de surdez
profunda. Escuta apenas os sons graves que transmitem vibração (trovão, helicóptero). Esta
perda é considerada muito grave e necessita de atendimento especializado desde a mais tenra
idade para que possa adquirir a linguagem oral.
O ultimo é mais grave nível de surdez é a anacusia que é a falta total de audição, deve
ser trabalhado e estimulado o mais precocemente possível, tendo como conduta pedagógica o
mesmo da surdez profunda.
A surdez leve/moderada não impede que a pessoa se expresse oralmente e perceba a
voz humana, enquanto a surdez severo/profunda impede que o indivíduo entenda a voz
humana e adquirira linguagem oral.
Devido ao impacto da surdez na aquisição e desenvolvimento da linguagem oral,
diversos estudiosos defendem a importância da detecção precoce da surdez, afirmando que
quanto antes ela for diagnosticada, melhor a participação desses indivíduos nos serviços de
intervenção que atendam as suas necessidades.
3.4 Identificação e sinais indicadores
Os sinais que podem ser percebidos precocemente pelos pais das crianças que possuem
deficiência auditiva são:
Não se assustar com portas que batem ou outros ruídos fortes;
Não acordar com música alta ou barulho repentino;
Não atenderem quando são chamadas;
Serem distraídas, desatentas, desligadas, apáticas, não se concentrarem;
Não falar, após os dois anos de idade;
Parecer ter atraso no desenvolvimento neurológico ou motor.
4. DIAGNOSTICO
Há testes que podem ser usados a partir dos 3 meses, pois são testes objetivos:
Emissões Oto Acústicas (EOA) - são sons de pequeno nível de pressão produzidos
pelo ouvido interno como parte do processo normal de audição e que podem ser medidos com
um aparato adequado colocado no canal auditivo. Também conhecido como teste da
orelhinha.
Impedanciometria - exame utilizado para fornecer informações objetivas sobre a
integridade funcional do ouvido médio.
Audiometria de Tronco Cerebral (B.E.R.A.) - indicado quando houver ausência de
resposta nos procedimentos anteriores. Tem o objetivo de avaliar a audição periférica e a
condução nervosa até o colículo inferior. É uma técnica não invasiva e objetiva, que pode ser
aplicada em adultos e crianças de qualquer idade.
5. DESDOBRAMENTOS NA COMUNICAÇÃO
Definindo objetivamente a língua como sendo um sistema de signos compartilhado
por uma comunidade linguística comum, será neste sistema que as trocas sociais, culturais e
políticas acontecerão, onde o conhecimento será construído e, sobretudo, onde o sujeito se
constituirá enquanto tal.
A perda auditiva trará implicações variáveis neste contexto, implicações estas que
estarão associadas ao nível de audição comprometida. A pessoa poderá não escutar o
cochicho de um amigo, ter insucesso em uma avaliação escolar pela não clareza da voz do
professor, não entender o conselho dos pais por se confundir com as palavras de sons
parecidos, não compreender as orientações de um médico por perder palavras ou frases
durante a conversação, ou ainda não ter percepção alguma da fala oral do ambiente social a
que pertence.
Tais considerações remetem também à verificação dos entraves e dificuldades de
acesso e compreensão da língua portuguesa por parte das pessoas com deficiência auditiva,
haja visto que, em maior ou menor grau, não escutam a língua sendo falada e não fazem a
“...associação entre sons e sinais gráficos...” (QUADROS, 1997:98). Em casos onde a perda
auditiva impõe uma impossibilidade total de acesso à língua oral (geralmente perdas severas e
profundas e em realidades de perda pré-linguística, ou seja, antes do estabelecimento da
língua), ocorre naturalmente uma manifestação de comunicação predominantemente
visual/espacial que, organizada e partilhada entre os pares, configura-se como sendo a língua
de sinais, em nosso caso, a Libras – Língua Brasileira de Sinais, pilar da construção da
identidade do sujeito surdo e de sua cultura.
Esta última afirmação sobre a língua de sinais como elemento constitutivo do sujeito
surdo e de sua cultura, dirige o conceito de pessoa surda apresentado na legislação, conceito
que será aprofundado no item “Identidade” deste material. Vale ressaltar que em casos onde o
comprometimento da audição é mínimo, os aparelhos auditivos (AASI – Aparelho de
Amplificação Sonora Individual) poderão solucionar as necessidades da pessoa, permitindo o
acesso ao mundo sonoro, podendo assegurar uma identidade “ouvinte”.
Considerando os elementos apontados, e sabendo que a comunicação linguística é
fator essencial para a constituição do sujeito, alguns caminhos de comunicação (com
motivações e benefícios de diferentes níveis) se mostram presentes historicamente nas
relações da pessoa surda:
Oralização: Utilização do aparelho fonador para expressar palavras e frases da
língua oral. Utilizam-se exercícios para mobilidade e tonicidade dos órgãos
envolvidos na fala oral (lábios, mandíbula, língua etc), e estimulação auditiva
para reconhecimento e discriminação de ruídos, sons ambientais e sons da fala;
Leitura Labial: identificação da palavra falada através da decodificação dos
movimentos orais do emissor;
Leitura Orofacial: capacidade de entender a palavra falada por outra pessoa
por meio dos movimentos dos lábios (leitura labial) aliados à expressão facial;
Língua de Sinais: língua visual-espacial articulada através das mãos, das
expressões faciais e do corpo e utilizada pelas comunidades surdas. As línguas
de sinais apresentam as propriedades específicas das línguas naturais, sendo,
portanto, reconhecidas enquanto línguas pela Linguística.
Bimodalismo: uso simultâneo de códigos manuais com a língua oral,
representando de forma espaço-visual uma língua oral, podendo ser:
Português Sinalizado: língua artificial que utiliza o léxico da língua de sinais
com a estrutura sintática do português e alguns sinais inventados, para
representar estruturas gramaticais do português;
Pidgin: simplificação de duas línguas em contato, no caso, a língua de sinais e
o português.
Importante é salientar que a oralização e a leitura labial/orofacial, terão maior
probabilidade de promover algum benefício quanto maior for o acesso à terapia
fonoaudiologiaca e quanto menor for o grau de perda auditiva (condição que permitirá acesso
maior à emissão e produção de som - consciência fonológica), incluindo ainda as inferências
da época da perda auditiva e a participação da família no tratamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através de uma breve revisão histórica da educação dos surdos tentamos mostrar os
caminhos que esta percorreu os obstáculos que Ihes foram impostos na manutenção da sua
comunidade, da sua língua e da sua cultura. Desde o início desta história os princípios
filosóficos, políticos, sociais, ideológicos e os interesses pessoais regeram os rumos desta
educa¬ção e o destino dos surdos. Estamos atualmente em outro momento, com os mesmos
princípios atuando, ainda que de forma diferente.
Enquanto profissional ira trabalha com surdos, temos que estar conscientes da
presença destes determinantes e escolher uma forma de atuação que esteja de acordo com o
que acreditamos. As nossas crenças são determinadas por princípios sociais que estão acima
de nós, mas somos livres para escolher aqueles que nos fazem sentido e através deles
delimitarmos nossa conduta enquanto profissionais.
A deficiência auditiva, não é fator limitante para o desenvolvimento físico, psíquico,
cognitivo e motor da pessoa com deficiência, embora ocorram limites no aprendizado devido
ao fato do ser humano de forma geral ser mais oral que gestual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Professores para o Atendimento Educacional Especializado: Pessoa com surdez. Brasília:
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DECLARAÇAO DE SALAMANCA, Espanha, 1994, disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf acesso em: 23 de outubro de 2015.
FERNANDES,Florestan. Comunidade e Sociedade: Leitura sobre problemas conceituais,
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FELIPE, Tayna. Libras em Contexto: curso básico. Rio de Janeiro: Walprint, 2007.
MESERLIAN, Kátia Tavares. Análise sobre a trajetória histórica da educação dos surdos.
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