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8/3/2019 CASA DE MEL
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CASA DE MEL:
O LUGAR CERTO QUE
FALTAVA
Aluno :wellington Rubem G. Silva
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Introduo
Agrande diversidade de floradas e de microclimas e as vastas extensesinexploradas fazem do semi-rido nordestino uma regio com grandepotencial para a apicultura. No litoral, a vegetao rica em coqueiros tambm favorvel apicultura, especialmente produo de plen.
A atividade, desenvolvida por meleiros, pequenos produtores rurais que
espremiam o mel nos favos, era feita de maneira artesanal, sem uso deequipamentos adequados, nem de tcnicatodo processo era executado deforma extrativa. Essa era uma realidade comum de cidades litorneas, comoPacatuba, ou do semi-rido, como Gararu e Poo Verde.
O mel, nem sempre livre de impurezas e acondicionado artesanalmente em
garrafas de plstico ou vidro, tinha pouco valor de mercado e era alvo defiscalizaes sanitrias. Em 2003, os apicultores dos povoados dessas cidades,defrontavam-se com problemas de comercializao.
Os apicultores precisavam de um espao higienicamente adaptado paraprocessar o mel, de modo que o produto chegasse ao consumidor dentro dos
padres de mercado aceitveis.
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Mas de onde veio essa idiade criar abelhas???
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GARARU
Situado na microrregio do serto do So Francisco, Gararu um tpicomunicpio sertanejo, em 2002, com economia baseada em plantaes demilho, feijo e mandioca e uma convivncia nada pacfica com as secas. Oque sobrou da vegetao nativa da regio, aps dcadas de desmatamento,estava concentrado em pequenas reas localizadas nos mais de 40 povoados.
No povoado de Bela Vista, essas reas ainda preservadas chamaram a atenodo presidente da Federao Apcola de Sergipe, Jos Arago. Nascido ecriado em Gararu, com anos de dedicao apicultura, Arago procurou osagricultores do povoado para incentiv-los a criar abelhas. Era o incio do ano2000 e a resistncia foi grande, mas os argumentos de que a apicultura poderiaser uma atividade fcil, que ocuparia pouco tempo de trabalho e renderia umbom dinheiro acabaram convencendo um grupo de 15 pessoas.
Naquele ano a associao de moradores do povoado conseguiu ajuda para ainiciao a apicultura, atravs de cursos e obteno de colmias eequipamentos. Em 2001 os apirios foram instalados, porm foi com o auxliodo sebrae em 2002 que problemas como: a manuteno das colmias,enxames fracos e baixa produtividade foram resolvidos.
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Foi realizado um diagnstico detalhado dos apirios e, a partir da, foi ministradoum curso de manejo prtico. Trs meses depois, em janeiro de 2003, o grupo jproduzia mel operculado em apirios organizados e com um maior nmero decolmias povoadas. Os apicultores estavam prontos para a colheita de mel daflorada de marmeleiro, planta tpica do semi-rido, foram colhidas duas toneladasde mel.
O grupo procurou ainda aprender novas tcnicas, ampliando seus conhecimentos
sobre a atividade, participando de eventos especializados, clnicas tecnolgicas ecursos como Produo de Plen em Canavieiras (BA).
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POO VERDEEnquanto isso, Poo Verde, municpio que sempre foi referncia emSergipe na produo de feijo, recebia influncia de apicultores dosmunicpios baianos vizinhos, tornando a apicultura outra atividade desubsistncia.
Joo Neto, um funcionrio pblico local, assistiu a uma reportagem sobreapicultura na televiso, no incio de 2003, e foi em busca de apoio doSebrae/SE, onde participou de um curso de iniciao apicultura. Eleencarregou-se de arregimentar outros meleiros para viabilizar a formaode uma turma. Em apenas um ano, os aprendizes conseguiram produzir trstoneladas de mel, com 150 colmias instaladas. O resultado atraiu gente dediversos povoados como Junco e Ladeiras.
Naquela poca, era na terra que se buscava o alimento, nem sempre comsucesso. Do plantio de milho, feijo, mandioca em sistema de meia(metade da produo do dono da terra, metade do lavrador), s emtempos de boas chuvas se tirava o bastante para a manuteno da famlia.
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A atividade extrativa do mel era um complemento indispensvel renda.A essa altura 11 pessoas tinham sido capacitadas em apicultura peloPrograma Nacional de Gerao de Renda (Pronager). Aprenderaminclusive a fazer as colmias padronizadas. Ao final do curso, cada uma
recebeu trs colmias para iniciar a produo. Em seguida veio o cursode Iniciao Apicultura, para 36 pessoas, realizado pelo Sebrae/SEainda em 2003.
Vale destacar que o pioneiro da atividade era Gilberto Nascimento. Elecomeou a criar abelhas em 1998, depois que viu a produo de umamigo que morava no municpio de Pinho, em Sergipe. Em 1999, eleconseguiu um financiamento de R$ 5.000,00 junto ao Projeto de Apoios Famlias de Baixa Renda da Regio Semi-rida de Sergipe (Pr-Serto). Investiu todo dinheiro na apicultura: comprou colmias
padronizadas, centrfuga, decantador e mesa. Por isso, Gilberto se tornouuma espcie de professor e padrinho dos que vieram depois. Mas eletinha dificuldades para processar o mel com a qualidade que o mercadoexigia. Ainda assim, era o nico que tinha equipamentos para oprocessamento, os demais dependiam dele.
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PACATUBA
No outro extremo do Estado de Sergipe (litoral), a apicultura tambm estavasendo descoberta. A rea rural do municpio de Pacatuba era recortada porestradas de terra onde se instalaram colnias de pescadores e agricultores.Nos povoados Tigre e Juna, alm da pesca e da agricultura,os moradoresobtinham algum dinheiro com a venda de cocos. A apicultura era coisadesconhecida.
O curso de Iniciao Apicultura foi sugerido pelos tcnicos do Sebrae/SE aum grupo de pescadores e agricultores, como uma estratgia para aumentar arenda. Assim, em 2003, um grupo de 25 pessoas participou do curso deIniciao Apicultura.
uma atividade com que a gente se acostuma fcil, no um serviopesado, no ocupa muito o tempo. E, pelo tanto que a gente trabalha, oretorno financeiro compensa muito mais do que a pesca e o plantio.
Essa era a anlise do pescador Domingos Ferreira, compartilhada por outros.Eles decidiram aproveitar a vegetao tpica do litoral, rica em palmceas
(coqueiros), para produzir plen.
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E ento todos viveram felizes para sempre??Criando abelhas e tendo mais renda no final do
ms?? Fim da histria???Infelizmente no!! Ou pelo menos ainda no!!
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Problemas
Muitos problemas ainda afligiam os apicultores do Sergipehavia falta de equipamentos para o processamento dos produtoscomo: mel e plen e um local adequado para a instalao domesmo.
Era necessrio organizar os produtores, encontrar canais decomercializao, melhorar a qualidade dos produtos. Osconsultores e tcnicos do Sebrae perceberam a necessidade de secriar uma cooperativa para receber a produo das associaes e
providenciar a venda. Era necessria uma estrutura fsica quelegalizasse a comercializao dos produtos, de acordo com asnormas sanitrias. Alm disso, as comunidades que j tinhamproduo de mel e plen precisavam ter sua prpria estrutura deprocessamento para que a qualidade do produto fosse perseguida
desde a origem.
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A SOLUO FOI FRUTO DO ACASO
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No incio de 2003, um consultor do Sebrae/SE, acompanhado por tcnicosda instituio e da Federao Apcola de Sergipe (Fapise) conheceu as
instalaes da sede do pr-Serto, programa do governo que no estava maisem operao.
O consultor vislumbrou a possibilidade de se utilizar no s essa estruturacomo um entreposto, que receberia todo o mel processado no Estado, mastambm a adaptao de contineres existentes no local, como unidades de
processamento para serem instaladas em comunidades produtoras. Tendoessas perspectivas em vista, o Sebrae/SE iniciou o processo de busca deparceiros.
Em setembro de 2003, foi lanado o chamado QQC do Mel, projeto que deulargada ao processo de desenvolvimento do Arranjo Produtivo da Apicultura
em Sergipe. Contava com as parcerias do governo do Estado, FederaoApcola de Sergipe e Sebrae/SE e visava ao fortalecimento da atividadeapcola por meio de investimentos em organizao dos produtores,capacitao tecnolgica, desenvolvimento de mercados e preservaoambiental. Ou seja: Qualidade, Quantidade e Continuidade (QQC).
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E o que toda essa agitaorendeu???
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Absolutamente nada!!!
O projeto no foi para frentedevido a falta de pessoal mais
qualificado para suaexecuo!
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Brincadeiraaaaa!!!!!
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O governo cedeu a antiga sede do Pr- serto, para serimplantado um centro de excelncia dotado de laboratrio eunidade de processamento de mel, plen, prpolis, gelia real e
cera. Cedeu tambm dez contineres para serem transformadosem 20 unidades de processamento de mel a serem instaladas emcomunidades de apicultores no interior..Tudo de acordo com asnormas tcnicas vigentes, o que garantiria o Selo de InspeoFederal (SIF) aos produtos. Esse selo atesta a procedncia e
qualidade dos produtos e garante acesso livre aos mercadosinterno e externo nasce ento a casa do mel.
Foi iniciado o processo de escolha de quais grupos receberiamas unidades. Tendo o povoado Bela Vista, em Gararu, e ospovoados Junco e Ladeiras, em Poo Verde, sido oscontemplados por terem no s um grupo de apicultoresorganizados e unidos, como tambm um grande potencial deproduo.
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No povoado Junco, com a possibilidade de receber a casa de mel, o grupo semobilizou. O terreno para instalao do continer foi doado por uma dasapicultoras do grupo.
Em janeiro de 2004, no povoado Bela Vista, em Gararu, os apicultorespassaram por um treinamento em boas prticas de fabricao, higiene pessoal,higiene de materiais e equipamentos utilizados no processamento. Com oacompanhamento que vinham tendo dos consultores, eles conseguiram, emmaro, uma colheita de 2,5 toneladas de mel destinadas exportao e comisso o lucro dos meleiros aumentou consideravelmente, Josevaldo dos Santos,por exemplo, ganhava entre R$ 60,00 e R$ 80,00 por ms no trabalho da roa.Agora, s com a venda desse mel, vou ganhar R$ 2.100,00. Fazendo ascontas d R$ 700,00 por ms.
Jos Viglio, ento presidente da associao, dizia: Ns aprendemos a fazertudo com cuidado e limpeza, tudo direitinho. Por isso, nosso comprador no
tem do que reclamar, porque o mel limpo. Mas com o continer a gente vai
poder trabalhar melhor e o mel vai ter maior qualidade.
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J no povoado Tigre, em Pacatuba, em abril de 2004, osapicultores trabalhavam na mudana de enxames para colmiaspadronizadas e reforma do apirio. Haviam definido uma meta deprodutividade de 100 gramas de plen por colmia/dia.Precisavam, portanto, de estrutura para processar o produto. Eentraram na fila para receber o continer adaptado.
Os trs grupos de apicultores, enquanto esperavam as reformasnos contineres, participaram de clnicas tecnolgicas realizadasno Congresso Brasileiro de Apicultura, em Natal, Rio Grande doNorte, e de outros eventos regionais da rea. Continuaram
recebendo consultoria regular sobre manejo.
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E O SONHO SE TORNOUREALIDADE
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Em maro de 2004, o grupo da comunidade Bela Vista, emGararu, recebeu o continer adaptado, podendo processar acolheita do ms de setembro, que foi de seis toneladas.
Em julho de 2005, foi instalada a casa de mel no povoadoJunco, em Poo Verde. O grupo de 30 produtores tinha 350colmias instaladas. A casa serviria tambm aos povoadosvizinhos como Ladeiras e Saco do Camisa, onde novos grupos
de apicultores estavam surgindo. A Associao de Apicultoresde Poo Verde, que passou a reunir todos esses produtores,filiou-se Fapise (federao apcola de sergipe), passando a tero Selo de Inspeo Estadual (SIE), o que a habilitou a buscarnovos mercados. Em 2005, a associao reunia 128 apicultoresque tinham cerca de duas mil colmias instaladas. Elesproduziram nesse ano 18 toneladas de mel.
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J no povoado Tigre, em Pacatuba, o continer adaptado para oprocessamento de plen foi instalado em dezembro de 2005. Aofinal do ano, cada apicultor conseguia obter em mdia R$ 600,00
por ms com a venda de plen. Eles tinham 40 colmias instaladas,cada uma produzindo cerca 150 gramas/dia.
Ainda em 2004, o projeto QQC do Mel recebeu novos parceiros.Nesse ano o Sebrae Nacional contemplou o Estado de Sergipe com o
Projeto Apicultura Integrada e Sustentvel (APIS), e o Sebrae/SEestabeleceu metas desafiadoras:processar 500 toneladas de mel e 32 toneladas de plen at o final de2007.
Somaram-se ao projeto novos parceiros como prefeiturasmunicipais, Companhia de Desenvolvimento dos Vales de SoFrancisco e Parnaba (Codevasf), Banco do Brasil, entre outros.
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CONTAINER DE PROCESSAMENTO DE PLEN NO POVOADO TIGRE,PACATUBA
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Casa do mel em junco poo verde
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PROJETANDO UM DOCE FUTURO
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Para os produtores de Poo Verde, as perspectivas para o ano de2006 eram as melhores possveis. O mel que era vendido apenas
para os mercados de Ribeira do Pombal (BA) e municpiossergipanos (com exceo da safra de maro de 2004 do povoadoBela Vista, que foi destinada exportao), recebeu sinal verdepara entrar na merenda das escolas municipais da regio.
No povoado Junco, a apicultura passou a garantir a subsistnciada maioria das famlias e at mudou a cultura da comunidade: aabelha se tornou objeto de estudo detalhado na escola local.
A importncia da apicultura como opo de renda aparece
tambm na fala de Atade da Cruz, do povoado Tigre. Antes agente vivia s da pesca e da roa, e vivia mal. A apareceu essacoisa maravilhosa, que tirou a gente do aperto. Hoje, quando euno estou perto das abelhas, no estou feliz.
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No contexto do Projeto APIS, um diagnstico mercadolgico realizadoem 2005 levantou os principais aspectos da estrutura operacional,comercial e tecnolgica das associaes e grupos que desenvolviam aatividade apcola em Sergipe. O diagnstico fez uma projeo anual defaturamento de mais de R$ 1 milho a partir da capacidade produtiva de500 toneladas nos 20 municpioso que comprovava a rentabilidade da
apicultura explorada de forma racional.
Os apicultores passaram a adotar tcnicas de manejo correto, o quetrouxe aumento de produtividade. H que se ressaltar tambm apadronizao de colmias, a troca de rainhas, a alimentao artificial dasabelhas e outras mudanas tecnolgicas implantadas a partir dos cursos econsultorias. Por fim, a ampliao do nmero de parceiros que apoiavama atividade dava a certeza de que a apicultura era um negcio sustentvel
e no apenas uma atividade de subsistncia.
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FIM
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