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Brasília - DF - AGO 2016
16 de novembro
DIA DA AMAZÔNIA AZUL
OBrasilpossuiumaextensaáreamarítimade4,5mi-
lhões de km², sob jurisdição nacional, com importância in-
questionável,porsuasreservasdepetróleoegás,porsera
principalviadetransportedocomércioexteriordoPaísepor
suadiversidadederecursosnaturaiscomoapesca,abiotec-
nologiamarinhaeosminérios,alémdesuainfluênciasobreo
climabrasileiro.
Emvirtudedepossuirumaáreaequivalentea52%do
nossoterritórioterrestre,comdimensãoebiodiversidadese-
melhantesaodaAmazôniaVerde,convencionou-sechamá-la
deAMAZÔNIA AZUL.
AConvençãodasNaçõesUnidassobreDireitodoMar
(CNUDM)definiuosconceitosdeMarTerritorial,ZonaEconô-
micaExclusiva(ZEE)eLimiteExteriordaPlataformaContinen-
tal,demarcandoosespaçosmarítimose,consequentemente,
permitiuadelimitaçãodenossaAmazôniaAzul.
Por isso,escolheu-se16denovembro,dataemquea
referidaConvençãoentrouemvigor,noanode1994,para
celebraroDiadaAmazôniaAzuledespertaraconsciênciado
povobrasileirosobreaimportânciadomarparaodesenvolvi-
mentodoPaíseparaasfuturasgerações.
PublicaçãoquadrimestraldaSECIRMdesde1986
Realização:ProgramadeMentalidadeMarítima-PROMAR
SecretariadaComissãoInterministerialparaosRecursosdoMar-SECIRM
Secretário da CIRM: Contra-Almirante Marcos Borges Sertã
AssessorparaoPROMAR:CamilodeLellisM.F.deSouza
Editoração:1ºTen(RM2-T)KêniaPicoli
EsplanadadosMinistérios-BlocoN-AnexoB-3oandar-Brasília-DF-CEP:70055-900
FONE/FAX(61)3429-1638 E-mail: promar@secirm.mar.mil.br
http://www.secirm.mar.mil.br
Asmatériasassinadasnãorepresentam,necessariamente,aopiniãodoINFOCIRM.
Tiragem:5.000exemplaresimpressose45.000enviadospore-mail.
RedescobrindoaIlhadaTrindade4
Trindade,oúltimovulcãobrasileiro12
S U M Á R I O
CadeiaVitória-Trindade:Monitoramentodosoceanosemudançasclimáticas88
CIRMvisitalaboratóriosnaUnB14
4
11
12
14
UFRPEampliapesquisasobre
tubarõesnasIlhasOceânicas11
16 de novembro
DIA DA AMAZÔNIA AZUL
SamambaiasgigantesdaIlhadaTrindade10
Midwinter Day 16
BrasilnaXXXIXATCM17
16
AimportânciadapresençabrasileiranadecisãosobreofuturodaAntártica18
8dejunho-DiadosOceanosCapaCapa
Apósseteanos,oNavioPolar(NPo) Almirante Maximianoretornou às águas tropicaisdaIlhadaTrindade,noperí-
odode18a29deabril,na47ªExpediçãodoProgramadePesquisasCientíficasnaIlhadaTrindade,noArquipélagodeMartinVazenaárea marítima adjacente (PROTRINDADE),paraapoiaràspesquisase realizaroabas-tecimentoeatrocadatripulaçãodoPostoOceanográficodaIlhadaTrindade(POIT).
Trindade
A IlhadaTrindadeeoArquipélagodeMartin Vaz são um patrimônio brasileiro,riquezas da natureza ainda desconhecidasdamaiorpartedapopulação.Oconjuntodeilhasrochosas,encravadonoOceanoAtlân-tico,distantemaisde1.200quilômetrosdacosta do Espírito Santo, correpondente a615milhasnáuticasoutrêsdiasdeviagemde navio, além de importante centro deobservaçãometeorológicaéumadasmaispromissorasregiõesparapesquisacientíficaemalto-marnacostabrasileira.
História
Trindadefoidescobertaem1501,pelonavegadorportuguêsJoãodaNova,efoiba-tizadaporEstevãodaGama,umanodepois,comonomequeconservaatéhoje,emho-
menagemàSantíssimaTrindade,emfunçãodastrêselevaçõesqueseavistamàdistân-cia.Amaisaltaaocentro,opicodoDeseja-do,éopontomaiselevadodoAtlânticoSul(600m).
Em1882,Trindadepassouafazerpartedoterritóriobrasileiro.Em1895,osinglesesaocuparam,coma justificativadeestabe-lecerumaestaçãodecabosubmarino.EsteatofoirechaçadopeloBrasil,porviadiplo-mática,econfirmado,comaidadeumna-viodaMarinha,quecolocouummarcodesoberania,comosdizeres:“Odireitovenceaforça”.
Em1916,na1ªGuerraMundial,Trinda-defoiocupadaporbrasileiros,comoobje-tivode impedirasuautilizaçãopornaviosadversários. Em 1941, por ocasião da 2ªGuerraMundial, foiguarnecidapara impe-dirqueossubmarinosinimigosautilizassemcomobasedeapoio.
Finalmente, em 1950, a primeira ex-pedição científica foi enviadae teve comodesdobramento a ocupação permanentedailha.Em1957,foicriadooPostoOceano-gráficodaIlhadaTrindade(POIT),destaca-mentomilitar,subordinadoaoComandodoPrimeiroDistritoNaval,e,desdeentão,aMa-rinhagarantesuaposseefetivaparaoBrasil.
Economia
Trindadeestápróximaàsregiõespetro-líferasmaisimportantesdoPaís.Asrecentesdescobertasdereservatóriosdehidrocarbo-netos,naregiãodopré-sal,ampliaramseusvaloresestratégicoeeconômico.OfatodeaIlhaestarpermantementeocupadaacarretaodireitoaumaáreade200milhasnáuticasaoseuredor,cercade450.000km²,equiva-lenteàdimensãodoEstadodaBahia.Nestaárea,denominadaZonaEconômicaExclusi-va(ZEE),oPaístemodireitodepesquisar,preservarouexplorar,demodosustentável,osrecursosdamassa líquida,dosoloedosubsolomarinhos.
Importância Científica
A Ilha tem potencial para estudos dequasetodososramosdaciência.TrindadeeoArquipélagodeMartinVazsãopontosúnicosnahistóriageológicadonossoPaís,formados por eventos vulcânicos recentesdentrodoâmbitodageologia.
A diversidade da faunamarinha incluipeixes comogaroupas, xaréusedourados,além de baleias jubarte, golfinhos e tu-barões de diversas espécies. Trindade é omaiorninhaldetartarugasverdesdoBrasil(5.500 ocorrências/ano). Esses dados sãoobtidospormeiodemonitoramentoefetu-
04
05
adopeloprojetoTAMARepeloInstitutoChicoMendesdePreservaçãodaBiodiversidade(ICMBio),comoapoiodaMarinha.
A Ilhaéum importantepontopara coletade infor-maçõesmeteoceanográficase,nãoporacaso,contacomuma EstaçãoMeteorológica (EMIT), operada pelaMari-nha,capazdecaptareenviaraocontinente,parâmetrosqueajudamarefinaraprevisãodotempoparaoAtlânticoSuleBrasil.Alémdisso,contacomummarégrafoquefazpartedarededemonitoramentodoníveldosoceanos.
Emtermosdebotânica,Trindadeéúnicaesedesta-caporpossuirespéciesendêmicas(identificadassomen-tenaquelaregião).ÉocasodaSamambaiagigante,quechegaamediratéseismetrosdealtura.Desdeadécada
Navio Polar Almirante Maximiano fundeado na Ilha da Trindade
RedescobrindoaIlhadaTrindade
de90,aIlhavempassandoporumimportanteprocessodereflorestamento.Essetrabalhofoinecessário,porque,noperíododas grandesnavegações, conforme costumedaépoca,cabrasforamdeixadasnolocal,paraserviremcomo alimento. Aconteceu que, sem predador natural,tornaram-seselvagens,proliferaramedevastaramavege-taçãonativa.OsbiólogosdoMuseuNacional,importanteLaboratóriodeBotânicadaUFRJ,orientaramaMarinhanaretiradadoscaprinos,e,menosdeumadécadaapós,jáseobservaarecuperaçãodavegetação,areduçãodaerosão,orenascimentodenascenteseoreaparecimentodeavesjulgadasextintas,comoéocasodeumaespéciedefraga-ta,tambémendêmica,quechegaamedirdoismetrosdeenvergadura.
Pesquisadores da 47ª Expedição do PROTRINDADE
Estação Científica da Ilha da Trindade (ECIT), que possui dois laboratórios e tem capacipade para alojar até oito pesquisadores.
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O Navio
ONPoAlteMaximiano,carinhosamentechamadode“TioMax”,foiincorporadoàMarinhaem2009,pararealizaropera-çõesnoContinenteAntártico.Mas,antesdepartirparaare-giãoaustral,realizou,nessemesmoano,asuaprimeiraviagemoperativa,participandodoPROTRINDADEcomotransportedasfundaçõesdoqueseriaa futuraEstaçãoCientíficada IlhadaTrindade(ECIT).Foiduranteessaviagem,queasuatripulaçãopôdeexercitarasprincipaismanobrasmarinheiras,essenciaisparaarealizaçãodasatividadesantárticas.
ONaviopodeacomodaraté115tripulantes,entremilita-resepesquisadores,econtacomcincolaboratórios,quepos-suemequipamentosmodernos,paraaquisiçãodedadosocea-nográficos,geológicosemeteorológicos.
Chegada
AchegadanaIlhasedeunamanhãdesábado,23deabril.Oimpactodavistamagníficaéinesquecível,pois,nadasecom-paraaoprivilégiodeobservaroraiardosol,aindanamadruga-da(5h),abordodoNaviofundeado,emfrenteaumparedãodepedras,nomeiodoOceanoAtlântico.TrindadeéolocalondeosolnasceprimeironoBrasil.SuaparteemersaéaextremidadeorientaldacadeiademontanhassubmarinasVitória-Trindade,queseelevaa5.500metrosdofundooceânico.
Desembarque
ApósavistaraIlha,échegadaahoradodesembarque.Aoperaçãoexigemuitaatençãoporcausadomaragitado.O“TioMax”fazcontatocomobotedoPostoOceanográficoelogoco-
Arquipélago de Martin Vaz, ponto extremo oriental da cadeia de montanhas submarinas Vitória-Trindade.
PROTRINDADE
OProgramafoi idealizadoparaampliaroacessoàspesquisascientíficasna IlhadaTrindade,ArquipélagodeMartinVazeáreamarítimaadjacente.DesdeacriaçãodaEstaçãoCientíficadaIlhadaTrindade(ECIT),em2010,oPROTRINDADEvemdesenvolvendopes-quisasemváriasáreasdoconhecimento,taiscomo:Meteorologia,Oceanografia,BiologiaMarinha,Botânica,Geologia,Medicina,Zoo-logia,ArquiteturaeUrbanismo.Atualmente,estãoemandamento23pesquisasvinculadasaosseguintesórgãoseUniversidades:INPE,TAMAR,PETROBRAS,ObservatórioNacional,MuseuNacional,UFRJ,USP,UFRPE,FURG,UFRN,UFSC,UFMG,UFRGS,UFC,UFPR,UEPR,UFVeUNESPAR.
OPROTRINDADEécoordenadopelaSECIRM,comoapoiodoCNPq (responsável por avaliar omérito científico e selecionar osprojetosaseremdesenvolvidos).Desdesuacriação,oProgramajáapoioumaisde500pesquisadores.
meçaumacomplexalogísticaparaodesembarquedepessoalematerial.
Pesquisas
DuranteaComissão,foramdesenvolvidaspesquisascientíficasvin-culadasaseisUniversidades,alémdaPetrobráseprojetoTAMAR.Duasdestaspesquisas foramexecutadasexclusivamenteabordo,duranteopercursoentreoRiodeJaneiroeTrindade.OperíododepermanênciadospesquisadoresnaECITcostumaserdedoismeses.
07> Projeto Macroalgas - UNESPAR
OprojetoMacroalgasrealizaomonitoramentoea identificaçãodenovasespéciesna IlhadaTrindade.
Asmacroalgasmarinhassãoorganismosfotos-sintetizantesbentônicos,sendobasedacadeiaalimentarparaherbívoros.Atéopresentemo-mento,foramidentificadas29espéciesdealgaspardas,comregistrodecinconovasocorrênciasnaIlha.
As macroalgas possuem grande utilização co-mercialnasindústriasdealimentos,decosmé-ticosefármacos,porpossuiremcaracterísticasgeleificante,espessante,aglutinizanteeemulsi-ficantes.
> Projeto TAMAR
AIlhadaTindadeéomaiorsítioreprodutivodas Tartarugas-verdes (Chelonia mydas) noBrasil,easegundamaiorcolônianoAtlânticoSul.Essaespéciechegaapesar200kgesóde-sovaemilhasoceânicas.
OTAMARestápresentenaIlhadesde1982,re-alizandoomonitoramentodessaespécie,quepodechegara30desovaspornoite.
Entre dezembro de 2014 e Junho de 2015,foram realizados2.456 registrosdeninhos, eumaestimativade1.327desovascom134.348filhotes.
> Projeto Paleoníveis Marinhos (Posi-ções antigas do nível do mar) - UFPR
Oobjetivodapesquisaéinvestigaraevoluçãohistórica da variação do nível do mar, e re-construiracurvadaevoluçãopaleogeográficadaIlhadaTrindadeeMartinVaz,pormeiodeindicadoresdepaleoníveismarinhosefeiçõesgeomorfológicas.
O estudo permitirá avaliar as consequênciasde variações futuras do nível domar, como:problemasdeerosãocosteiraoualteraçãodeecossistemas,auxiliandonaprevensãodeim-pactosfrenteaestasvariações.
08
Lançamentos a bordo do Navio Polar Almirante Maximiano
Cadeia Vitória - Trindade
Osoceanossãoosmaioresres-ponsáveis por absorvero ca-lor do planeta, influenciandodiretamente no nosso clima.
Otransportedecalorpelascorrentesoceâ-nicas,desdeoEquadoratéospolos,contri-buinamanutençãodosistemaclimáticodaTerra.
Aimportânciadeseestudarocompor-tamentodosníveisdetemperaturadosoce-anos,deumamaneiracontínua,poranosedécadas, sedeveao fatodequeocalorserelacionaàsdiferençasdetemperaturaentreooceanoeaatmosferaadjacenteeaolongodascostaslesteesudestesuldoBrasil.Essesestudos de longo prazo são fundamentaisparamelhoraracompreensãodainfluênciados oceanos no clima global e, particular-mente,noAtlânticoSul,ondeexistempoucosestudos.
OBrasil,desde2004,coordenaoprojetoMOVAR (MOnitoramento da VAriabilidadeRegionaldotransportedecalorevolumenacamada superficial do oceanoAtlântico SulentreoRiodeJaneiroeaIlhadaTrindade),noâmbitodoprogramaGOOS-Brasil daCIRM,comapoiodaFURG,UFBA,UFRJ,CHM/DHN,CNPq,SECIRMeNOAA/AOML.
OMOVARtemcomoprincipalobjetivoestimaraquantidadedecalorqueé trans-portadapelaCorrentedoBrasil(CB),naspro-ximidadesdacadeiasubmarinaVitória-Trin-dade,comosdadosdetemperaturamedidasde 0 a 700m obtidos com batitermógrafosdescartáveis(XBT,siglainglesaparaexpenda-ble bathythermograph)”.
Monitoramento do oceano e mudanças climáticasDesde 2010 até abril deste ano, foram
realizadas 55 expedições científicas para aIlha da Trindade. Em cada uma delas, doispesquisadores embarcaram nos navios daMarinhadoBrasilparamonitorarematem-peratura, pormeio do lançamento de sen-sores XBT, que contém um termistor cujaresistênciaelétricaésensívelàsmudançasdetemperaturaeconectadoaumsistematrans-missordainformaçãoinstaladonoconvésdaembarcação.OprojetopossuiparceriacomaNOAA(siglainglesaparaNational Oceanic Atmospheric Administration)eosdadossãotransmitidosviasatéliteduranteamedição.
Esse monitoramento do oceano supe-riorpermiteaoBrasilteroregistrohistórico
das temperaturas ao longodos anos, cujosresultadosauxiliamnacompreensãodosfe-nômenosclimáticosdiretamenteassociadosàsvariaçõesde temperaturadaságuasdosoceanos.
Osdadosobtidospermitemrealizares-tudosparaanteciparprovidênciasnapreven-çãodedesastresnaturais,monitoraroaque-cimentoglobalecontribuemnaprecisãodeprevisõesmeteorológicas.
Texto: Márcio Silva de Souza - Pesquisador
e pós-doutorando (CAPES) & Mauricio M. Mata
Professor e coordenador do projeto MOVAR -
Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Mapa das correntes marítimas
09
AsIlhasOceânicasdeTrindadeeMartinVazestãolocalizadasnoextremolestedoterritóriobra-sileiroesãoaextensãoemersa
deumacadeiademontessubmarina,nalati-tude20,5°S,denominadaCadeiaVitória-Trin-dade-umsistemacomcaracterísticassingu-laresemdiversosaspectosgeomorfológicos,biológicosedecirculaçãooceânicaemáguasbrasileiras.
Osmontes submarinosdaCadeia–al-gunscomprofundidadesdotopoinferioresa40metros–funcionamcomobasedecom-plexascadeiasalimentaresmarinhaseatuamnaconectividadebiológicaentreoambientecosteirodaplataformacontinentalbrasileiraeaáreaoceânicaqueseestendeatéasilhas.Estesmontesrepresentamaextensãonatu-raldaZonaEconômicaExclusiva(ZEE)brasi-leiranaregião.Parteimportantedasintera-ções biológicas regionais está intimamenteligada a processos físicos que ocorrem aolongodaCadeia,devidoaoobstáculofísicoimpostoàcirculaçãooceânicapelosmontessubmarinos.Aregiãoémarcadapelaramifi-caçãodeimportantescorrentesoceânicasepelageraçãodeondasinternascomfrequên-ciasequivalentesàsdamaréastronômica(aproximadamente1cicloacada12horasparaaregião),devidoaoencontrodaondademaré comosmontes submarinos. Estasondas internas – oscilações do campo demassano interiordooceanoe,consequen-temente,tambémdoscamposdevelocidade–,comfrequênciastípicasdemaré,sãotam-bémconhecidascomomarésbaroclínicasoumarésinternas.
Em regiões costeiras, o efeito sensívelmais comum da propagação da onda demarénooceanoéavariaçãoperiódicadoní-veldomarempraiaseestuários.Emregiõesmaisprofundasdooceano,ondeaestratifi-caçãovertical–variaçãoverticaldoperfildedensidade-torna-seimportante,ainteraçãodaondademarécomfeiçõestopográficasdofundooceânicodegrandedeclividadeexcitaondasinternasquesepropagamporgrandesdistânciasnooceano.Enquantonasuperfícieamaréapresentaoscilaçõesdaordemdeal-gunsmetros,amaréinternapodeapresentaroscilações verticais de centenas de metrosdessas camadasdedensidade. Estasoscila-ções,porsuavez,podemtrazeráguasricasemnutrientesparaaregiãodiretamenteilu-minadaporraiossolares,comprofundosim-pactosnabasedascadeiasalimentaresma-rinhas.RegiõescomoacordilheiradeilhasemontessubmarinosqueformamoHavaí,noOceanoPacífico,eacadeiademontessub-marinosdoEstreitodeLuzon,nomardaChi-na,sãoconhecidasáreasdegeraçãodemaréinterna, apresentando ondas internas comalturassuperioresa400metros.NoAtlânticoSul,aindanãohátrabalhospublicadossobreageraçãodemaréinternanaregiãodaCa-deiaVitória-Trindade.
Em2014,foiaprovadonoEditaldePes-quisaeDesenvolvimentoemIlhasOceânicasdoMCTI/CNPq/FNDCToprojeto“Estudodamaréinternaeseuimpactonamisturaver-ticalenabiomassafitoplanctônicanaregiãodaIlhadeTrindadeemontessubmarinosdaCadeia Vitória-Trindade”, coordenado peloProf.AfonsodeMoraesPaivadoLOF-Labo-
ratório deOceanografia Física COPPE/UFRJ.Oprojetopioneiro temcomobaseestudosnuméricoseobservacionais,objetivando,nosegundocaso,arealizaçãodasprimeirasme-dições diretas do fenômeno de geração demarésinternasnaCadeiaVitória-Trindade.
ComoapoiodaMarinhadoBrasiledatripulaçãodoNavioPolarAlmiranteMaximia-no,foilançado,emabril,nomontesubmari-noMontague,umalinhadefundeioequipa-dacomsensoresoceanográficospararealizarmediçõesdecorrente,temperaturaesalini-dadeemdiferentesprofundidadesnacolunad’água. O planejamento do projeto prevêumapermanênciadestefundeionaáguadeaproximadamenteseismeses.Aofinaldesseperíodo,estáprevistooretornoao localdelançamento para recuperação dos equipa-mentos e realização de medições comple-mentares.Aanálisedestesdadospermitirádescrever,pelaprimeiravez,osprincipaispa-râmetrosdaondademaréinternanaregião,bemcomoinferirsobreasconsequênciasdoprocessofísiconabasedacadeiaalimentarmarinharegionalenasrelaçõesecológicasnaregiãodaCadeiaVitória-Trindade.
Texto: Afonso M. Paiva, Guilherme N. Mill,
Vladimir S. Costa, Felipe de L. L. de Amorim do
Laboratório de Oceanografia Física - Programa
de Engenharia Oceânica – COPPE/UFRJ.
10Samambaias gigantes da Ilha da Trindade
Avegetação original da Ilha daTrindade é desconhecida, ha-vendo escassos relatos oriun-dosdeviajantesquealiestive-
ramentreosséculosXVIIIeXIX.AintroduçãodeanimaisnaIlhafoirealizadaporvoltade1700 durante expedição do astrônomo Ed-mundHalley,responsávelporpartedadevas-taçãodafloradaIlha.
Graçasaoseuisolamento,afloradaIlhada Trindade tem uma considerável vegeta-çãoendêmica,comoéocasodasangiosper-mas:Cyperus atlanticus Hemsl e Bulbostylis nesiotis (Hemsl.) C.B. Clarke (Cyperaceae), Peperomia beckeri E.F.Guim. & R.J.V.Alves (Piperaceae), Achyrocline disjuncta Hemsl. (Asteraceae).Asangiospermasconquistaramoambienteterrestregraçasaoseugraudecomplexidade,diversidadeedistribuiçãoge-ográfica.Éomaisnumerosogrupodeplan-tas,variandodegramíneasaenormesárvo-res.NocasodeTrindade,amaiordelaséaSamambaiagigante.Alémdisso,aIlhaabrigatambémdiversasespéciesendêmicasdepei-xeseinvertebrados(Alves1998).
Atualmente,sãoencontradasgramíneaseciperáceas(abaixode100metrosdealtitu-de),quetotalizam,acompanhadodeoutrasplantasvasculares,umtotalde113espécies.Nasregiõesmaisaltas,noladooestedailha,existeumavastaflorestarepletadesamam-baiasgigantes(Cyathea)ebriófitas.
Asbriófitassãoosegundomaiorgrupodeplantasterrestresemnúmerodeespécies.Possuemimportantesfunções:sãobioindica-doresdaqualidadedoareágua;possuematividade anticancerígena, anti-inflamatóriae alelopática; possuem componentes anti-bióticoseantivirais.AbriofloradeTrindade
compreende32espéciescom20hepáticas,11musgoseumantócero.Asafinidadesbio-geográficassãomaissimilarescomoBrasil,maisespecificamentecomosfragmentosdeMataAtlânticadaRegiãoSudeste,emqueécompartilhado96%desuabrioflora.
Comoretornogradualdavegetaçãoaoqueseacreditaserumaformamaispróximadooriginal,maisespéciesdaMataAtlânticapoderiamviraseestabelecernailha.Levan-doemconsideraçãoqueaMataAtlânticaéumdosbiomasmaisameaçadosdomundo,avegetaçãodailhaassumeumpapelimpor-tantenaconservaçãodessasespécies.
AspteridófitasdaIlhadaTrindadecom-preendem 21 espécies de pteridófitas, in-cluindo táxons endêmicos comoAspleniumbeckeriBrade;A.praermorsumSw.var.trini-dadense Brade (Aspleniaceae), Doryopteriscampos-portoi Brade (Pteridaceae), Elapho-glossum beckeri Brade (Dryopteridaceae),Pecluma insularis Brade; Pleopeltis trinda-densis Brade (Salino) (Polypodiaceae), alémdeumestróbilodaespécieEquisetumcf.gi-ganteum L. (Equisetaceae), aparentementelevadopelamaré.
ACyatheaSm.éaespéciedePteridófi-tamaisabundantenaIlha.Essaespécie,deportearbóreo,énativadailhaedominantenapartealtadamesma(acima600m),ondeformaumafloresta,responsávelpor90%doextratoarbóreoremanescentedeTrindade.Éumtipodevegetaçãoque,noBrasil,pareceserexclusivoda IlhadaTrindade. Suaatualdominânciapodeserumadecorrênciadase-leçãopredatória.
Atualmente, estima-se que ocorramcercade3.400indivíduosdessaespécieem
Trindade,formandograndespopulaçõesnasaltasencostasnoladosuldaIlha,sendoseulimiteinferioraquotados400m.
Ilhas oceânicas como Trindade repre-sentam ambientes únicos para estudos detaxonomiaedediversidade,oquemotivouosurgimentodoProjetoCriptógamasdaIlhadaTrindade,do laboratóriodeCriptógamasdaUniversidadedeBrasília,sobocomandodoProfessorPauloCâmaraquerealiza,desde2009,estudosnaIlha.
Em2012,foipublicadooprimeiroartigocientíficoabrioflora local–BriófitasdaIlhadaTrindade,oriundodetrabalhodemestra-do,queapresentouoprimeirograndelevan-tamentoparaailha.Desdeentão,oProjetoCriptógamasdaIlhadaTrindadefoirespon-sávelpelaproduçãodeumadissertaçãodemestrado,umatesededoutorado,umartigopublicadoenvolvendoestudodeDNAde2espéciesdemusgos,alémdeoutrosartigosemfasedepublicação.
Esteestudopropiciouummelhorenten-dimentosobreoprocessodecolonizaçãove-getaldaIlha,esclarecendoasrelaçõesentreasuapopulaçãoeasdocontinente,analisandooverdadeirograudeendemismoemTrinda-deerevelandoaorigemdosdiásporosquechegamà ilha.Ambos fornecerão subsídiosimportantes para a conservação das áreas(fontes)nocontinentebemcomodavegeta-çãodailha,queseencontraemplenoproces-soderecolonização.
Texto: Júlia Viegas Mundim e Allan Laid A.
Faria - Laboratório de Criptogamas - Dep. de Bo-
tânica - Universidade de Brasília.
Floresta de samambaias gigantes
11
AUniversidade Federal Ruralde Pernambuco (UFRPE),pormeiodoseuLaboratóriode Oceanografia Pesqueira,
do Departamento de Pesca e Aquicultura,vem conduzindo, desde 1998, pesquisasrelacionadasàecologia,censovisual, foto--identificação, comportamento, estruturapopulacional, uso do habitat, migração eecologia de peixes pelágicos e peixes de-mersais,noArquipélagodeSãoPedroeSãoPaulo(ASPSP).Essesestudospioneiros,de-senvolvidos por pesquisadores da UFRPE,vêmdesvendandoasprováveisrotasmigra-tórias,ciclodevidaeaecologiadeumgran-denúmerodepeixespelágicosedemersaismonitoradosapartirdoASPSP,permitindoavançarsignificativamentenoconhecimen-todaecologiadeváriasespéciesinsulares.Os principais elasmobrânquios contempla-dosporesteprojetosãootubarão-martelo(Sphyrna lewini), o tubarão lombo preto(Carcharhinusfalciformis),otubarãobaleia(Rhincodon typus) e a raia manta chilena(Mobula tarapacana). As espécies citadasrecebemdiferentesmarcaseletrônicas,de-pendendodoobjetivo específico atribuídoao estudo de cada animal. A perspectivaatualédeampliarapesquisaparaaIlhadaTrindade visando à identificação e censo
visual,alémdoestudodocomportamento,monitoramento,usodohabitateestruturapopulacional das espécies presentes, comoobjetivodemelhor compreender o seucomportamento neste importante ecossis-temainsular.
Texto: Danielle de Lima Viana. Laboratório
de Oceanografia Pesqueira da Universidade Fe-
deral Rural de Pernambuco - UFRPE.
Tubarão-Martelo capturado e sendo devolvido ao mar, após instalação de transmissor de monitoramento via satélite
Foto: Bruno Macena
UFRPE amplia pesquisa sobre tubarões
nas Ilhas Oceânicas
12
AIlhadaTrindadeeos roche-dosdoArquipélagodeMar-tinVaz,pontosúnicosnahis-tóriageológicadonossoPaís,
formados por eventos vulcânicos recentesdentrodoâmbitodageologia,aindaexibemtraçosclarosdesuaformação,aocontráriodos outros achados na parte continental,onde poucos rastros são visíveis, devido àaçãoimplacáveldaerosão,oujácompacta-doseinclusosemoutrasrochasdevidoàse-dimentação.AregiãopodeserconsideradaumHawaiibrasileiroaosentusiastasdavul-canologia, coma comodidadedaausênciadeerupçõeseeventosativos,atéondesesabe,mas com formações rochosas carac-terísticaserelativamentebempreservadas,possibilitandoumestudodesuaformação.
Os levantamentos anteriores apontamqueaIlhasurgiudeumaerupçãonofundooceânico que, conforme expelia material,paulatinamentecriavaummontesubmari-no,atéemergirnaságuas, iniciandoa Ilhaem si. Tal vulcanismo é denominado Surt-seiano, em homenagem a ilha de SurtseynacostadaIslândia,surgidaem1963.Esseeventoémarcadocomgrandesexplosões,dadaaliberaçãodegasesdomagmasupe-
raquecidoeaebuliçãodaáguadomaraoredor,juntocomosurgimentodeenormescolunasdecinzasvulcânicasqueconseguematingirasaltascamadasdaatmosfera.
EstapartedagêneseinicialdaIlhaain-daémalcompreendida,pois foisoterradaporeventosvulcânicosposterioresedestru-ídaparcialmentepelaerosão.AhistóriadeTrindadeébastanteheterogênea,tantoqueoprimeirotrabalhoelucidativosobreageo-logiadaIlha,feitopeloeminenteesaudosogeólogoFernandoAlmeida,adenominadeComplexoTrindade, reconhecívelnapaisa-gempelosmorrosdeFonólito,quecortamasplaníciescomonapraiadasTartarugas,omorrodaGrutadeNossaSenhoradeLour-deseomorrodoPãodeAçúcar,naporçãosudestedaIlha.
NoladoopostodaIlha,napontaNoro-este,podemos reconhecerosFonólitosnomorrodosCincoFarilhõesenoPicodoMo-numento (diquesquecortamosderrameseosparedõesderochaspiroclásticasequesurgemrepentinamentedepoisdaspraias,continuando em uma planície, facilmenteidentificáveis na Praia das Cabritas). Já naseção nordeste, próximo à Crista do Galo,
estudosposterioresconfirmamdataçãora-diométrica,feitaspelopesquisadorUmber-toCordani,sobreoseventosvulcânicosnoAtlânticoSul,queresultaramemidadesde3,6milhõesdeanos,nasrochasmaisanti-gasparaestecomplexo(naquelaocasião,oscontinentesjáhaviamseseparadoeaTerraerasimilaràsuaconfiguraçãoatual,inclusi-ve,existiamastodonteseancestraisdoho-memqueandavampelolestedaÁfrica).
Posteriores derramamentos de lavase explosões deram origem à formação doPico do Desejado, com idades em tornode2,5milhõesdeanos,sesobrepondoaoComplexo Trindade.OPico doDesejado easplaníciesaoseuredorseformaramdevi-doàscamadasderochasparalelasentresiesuabaixainclinação,combinadoaoutrasfeições. Almeida acredita que essa forma-ção foi constituída em ambiente aquático,equeasevidênciasindicamumvulcanismodotipoEstromboliano,emalusãoaovulcãoitaliano Stromboli, que mantém erupçõescontínuas consideradas medianamenteexplosivas,ondelavasfluindosãomaisco-muns e, eventualmente, ocorrem eventosexplosivos.
Trindade, o último vulcão brasileiro
Morro Vermelho
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Jáemrecentes170.000anosatrás,te-oriza-seseragênesedaFormaçãodoMor-ro Vermelho, uma manifestação eruptivapróxima aomorro demesmo nome e, aocontráriodosoutroseventosanteriormentedescritos, tem pouco Piroclastos, apresen-tando lavas mais fluidas e cujas camadastemumadistinta inclinaçãomáximade30grausparanorte.
As últimas erupções sãomuito recen-tes, no campo da geologia, para a técnicade datação que utiliza Potássio-Argônio,requisitandoumanovaatualizaçãodosda-doscomusodenovastécnicas.Aindaassim,teoriza-sequeforamformadosemperíodosdeníveisdomarabaixodoatual,ouseja,emumaeraglacialqueocorreuentre115.000a11.000anosatrás,baseadosemcritériosdesuamorfologia.Esteseventossãoosderra-mesdaFormaçãodoValado,quepodemserencontradosnaPontadoValadoetambémintercaladoscomossedimentosdosmorrosnaPraiadoPríncipe.
A formação vulcânica da Ilha da Trin-dade foi concluída após a quarta e últimaerupção, denominada Vulcão do Paredão(devidoàsingrimesecolossaisescarpasso-
breviventesdovulcãooriginal)queseloca-lizanoápicesudestedaIlha,vistodatrilha,nas imediações do Parcel das Tartarugas.Teoriza-sesuaidadeentreaúltimaeragla-cialeaúltimaascensãodosmares.
Pode-seaindaencontrarseusvestígiosnas ladeiras dos morros que convergemparaumpontocentral,ondeestálocalizadooTúnel (fotoacima),abertopelaaçãodaságuas do mar. Nestas paredes é interes-sante observar a rocha, que possui grãosásperos,unidos,comcoresavermelhadaseamareladas,alémdeapresentaremaspectode derretimento.Observando emdetalhe,épossível imaginaraspartículasde rocha,aindaincandescentes,sendoarremessadasa grandesdistâncias, descendoasparedesdoantigovulcão,eseagregandoesolidifi-candocomcinzas, formandoarochaatual(namesmaépoca,supõe-sequeoshomensprimitivos usaram as extensas coberturasdegelomigrandodaEuropaeÁsiaparaasAméricas).
Esteestudoéumexemplodecomooconhecimento gerado pelas GeociênciaspodecontribuirparaodesenvolvimentodoBrasil.Estamosfamiliarizadoscomprojetos
biológicosedemeioambiente,entretanto,ageologiaprovêoarcabouçoparaquetaisprocessos ocorram, a erosão que gradual-mente destrói as rochas libera elementosquímicos que serão redistribuídos para amanutençãodoecossistemalocalecostei-ros.Amesmaevidênciageológicaquehojenosdádireitoaestasterras,jáqueelassãoligadasaocontinenteporumacadeiaoce-ânica,podenosajudaraentenderasdinâ-micas das bacias petrolíferas brasileiras eelaborarplanosmaiseficientesdeexplora-ção.Inegáveissãoasnovasperspectivasquesurgemcomosavançosdaoceanografiaeexploraçãosubmarina,onde,emumfuturopróximo,ohomempoderáextrairrecursosminerais diretamente do fundo oceânico.Estesgeradosporexalaçõesvulcânicas,nummundoondeadetençãodeinformaçãoere-cursossãodeprimeiraimportância,aGeo-logiafazaligaçãoentreasdiversasáreasdoconhecimentodandoumamargemdecisivanoplanejamentoestratégico.
Texto: João Rafael Camargo Biancini - Gra-
duando em Geologia, Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP -
Campus de Rio Claro.
Túnel de Trindade
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CIRM visita laboratórios na UnB
Representantes da Secretariada Comissão Interministerialpara os Recursos doMar daMarinha do Brasil visitaram,
nodia27demaio,oDepartamentodeBo-tânica do Instituto de Ciências Biológicas(IB),naUniversidadedeBrasília.Duranteoencontro,oSecretáriodaCIRM,Contra-Al-miranteMarcosBorgesSertãeoSubsecre-tário para o Programa Antártico Brasileiro(PROANTAR),CapitãodeFragataPauloCésarGaldino,conheceramosprojetoscientíficosdodepartamentorealizadosnaAntárticaenaIlhadaTrindade.
Entre as instituições que integram oPROANTAR, a UnB é a única do Centro--Oeste que coordena atividades científicasnaregiãodaAntártica.CoordenadordoLa-boratóriodeCriptógamasdoDepartamentodeBotânica,oprofessorPauloCâmaraestá
Membros da CIRM conhecem os laboratórios onde são analisadas e armazenadas espécies coletadas nas pesquisas Foto: Júlio Minasi/Secom UnB
Estudos sobre vegetação do Instituto de Ciências Biológicas recebem apoio da CIRM para investigação da origem de musgos e liquens na região da Ilha da Trindade e Antártica
àfrentedosprojetosdaUniversidade,cujosprincipaisinteressessãoconhecermelhoravegetaçãodessasduasáreasemaneirasdepreservar as espécies locais. Ele acompa-nhoua visitae apresentouos laboratóriosondesãorealizadasasanálisesdasamostrascoletadas.
Para a realização das pesquisas, alémdo financiamento via CNPq, os cientistascontamcomoapoiooperacionalelogísticodaMarinhadoBrasil,naconduçãodasex-pedições.ParaoAlmiranteSertã,conheceracontinuidadedaspesquisascoordenadaspelaCIRMnoslaboratóriosdaUnBsignificacriarumvínculomaispróximoentreMari-nha e pesquisadores. “É importante quepossamos compreender os trabalhos queapoiamos.OPROANTARexisteparaospes-quisadoresenósestamosaquiparaapoiá--los”,declara.
PESQUISAS
Há cinco anos, equipes de pesquisa-dores da Universidade são enviadas paraa Ilha da Trindade, área isolada em meioao Oceano Atlântico pertencente ao Bra-sil,como intuitode investigardequema-neira espécies vegetais, como os musgos,passaram a povoar a região. “Usando oDNA,podemossaberexatamentedeondeessasplantassaemparachegaràIlha,queespécies são as primeiras colonizadoras ede quemaneira essa vegetação começa ase recuperar. As pesquisas ajudam-nos aentendermelhor que áreas preservar noscontinentespróximosparaconservar oflu-xo gênico da Ilha”, explica Paulo Câmara.
O grupo de cientistas, composto pordoisprofessoresdo IB, alunosda iniciaçãocientíficaedoProgramadePós-graduação
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Coleta na Antártica
em Botânica, tenta ainda desvendar a re-laçãoentrealgumasespéciesdemusgoseliquensdaregiãodaAntárticasemelhantesàsencontradasnoÁrtico.Apartirdecarac-terísticasemcomumverificadas,ofocodasdescobertas é confirmar se realmente háaocorrênciadasmesmasplantasnosdoispolos,investigaraorigemecomochegaramàAntártica.Parasolucionaraquestão,nosúltimostrêsanosmateriaistêmsidocoleta-dosnoPoloSuleencaminhadosparaanáli-semorfológicaedoDNAnoslaboratóriosdoDepartamentodeBotânica.Umadashipó-teseslevantadasédequeessasespécieste-nhamsidotransportadasdeumaregiãoparaoutrapormeiodecorrentesdearoupelamigraçãodeavesquecarregamomaterial.“AlgumasespéciespodemestarláantesdaderivacontinentalepodemtersobrevividoàúltimaGlaciaçãoAntártica”,supõeCâmara.
Dentreas11espéciesinvestigadasnoprojeto,amestrandadoProgramadePós-GraduaçãoemBotânica,AmandadosSan-tosLimaMarinho,estudaomusgodenomi-nado Polytrichum piliferum. Na pesquisa,confirmou que há ocorrência da espécienaAntártica e noÁrtico. A próxima etapaé compreender a distribuição nos ecossis-temas. Amanda reconhece a importânciadoprojetoparaomaior conhecimentodoplanetaeasformasdepreservaçãodesuabiodiversidade.“Conheceressasespéciesedescobrir como chegam lá, ajuda a contarahistóriadocontinenteantárticoeades-cobrir quais os impactos o aquecimentoglobalteránaregião”,afirma.Aprevisãoéqueoprojetoprossigaatéoanoquevem.
PROANTAR
Em 1982, o Brasil deu início às ativi-dades do Programa Antártico Brasileiro(PROANTAR), pormeio do qual o País co-meçou as explorações científicas no conti-nenteeteveaoportunidadedesedestacarno cenário científico internacional, compesquisas relevantes sobre o monitora-mento e investigação dos fenômenos cli-máticos e ambientais daAntártica, o quenos credencia a permanecer como Mem-bro Consultivo do tratado da Antártica.
A CIRM é a responsável pela execu-ção das pesquisas, por meio de expedi-ções científicas, a bordo dos navios daMarinha do Brasil, em acampamentoslançadosapartirdessesNaviosepelaper-manência dos pesquisadores brasileirosna Estação Antártica Comandante Ferraz.
E na Ilha da Trindade
Laboratório de Criptógamas do Departamento de Botânica da UnB
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- Palestra no ColégioMilitar deBrasília,comExposiçãoedistribuiçãodepublicações;
-ExposiçãonoPaláciodoPlanaltorelativaaoAniversáriodaBatalhaNa-valdoRiachuelo;
-ApresentaçãonaAudiênciaPú-blicanaComissãodeMeioAmbientedaCâmaradosDeputadossobre:“Aimportância do Programa AntárticoBrasileiroeaspesquisasemcurso;e
- Exposição no IV Simpósio daAssociaçãodePesquisadoresPolares(APECS) Brasil, na Universidade deBrasília(UnB).
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PROMAR divulga Mentalidade Marítima pelo País
AExposiçãodoPROMARpartici-pou, também,naáreadoComandodo 4ºDistritoNaval, noMuseuHis-tóricodoPará,noperíodode9a19dejunho,dascomemoraçãodos400anosdaCidadedeBelémedo151ºAniversáriodaBatalhaNavaldoRia-chuelo-DataMagnadaMarinha.Oevento denominado “A presença daMarinhadoBrasilnosRiosdoNorteenaAmazôniaAzul”contou,também,comréplicasdeembarcaçõesantigasda Coleção “Alves Câmara”, reunidaao longo dos anos pelo Vice-Almi-rante Antônio Alves Câmara (1852-1919),quefoiumhidrógrafodereno-menoPaís.AcoleçãoéinspiradanasembarcaçõestípicasdaRegiãoNorte.TambémforamexpostasCartasNáu-ticas da região, de diversas épocas,sendoamaisantigadoséculoXVII.
BELÉM - PA
ACIRMapresentouaExposiçãodo Programa deMentalidadeMarí-tima(PROMAR),nodia21demaio,duranteos“PortõesabertosdaBaseAéreaNavaldeSãoPedrodaAldeia”,como parte das comemorações doCentenáriodaAviaçãodaMarinha.
Opúblico,deaproximadamente30milpessoas,conheceuumpoucomaissobreasatividadesdesenvolvi-dasnaAmazôniaAzuleAntártica.Osvisitantestiveramaoportunidadedeconhecer maquetes, roupas antárti-cas, moto de neve e equipamentosinterativos, utilizados por pesquisa-doresemilitaresduranteasmissõesrealizadaspelaCIRM,nas IlhasOce-ânicas (Arquipélago de São Pedro eSãoPauloeIlhadaTrindade)enaEs-taçãoAntárticaComandanteFerraz.
SÃO PEDRO DA ALDEIA - RJ BRASÍLIA - DF
SALVADOR - BA
-PalestranoIIFórumInternacio-nalsobreGestãodeBaías,naáreadoComandodo2ºDistritoNaval,comopartedaSemanadoMeioAmbiente.
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Midwinter Day
O Solstício de inverno, queocorre por volta de 20de Junho no hemisfériosul, é altamente come-
moradoporaquelesquepassamoinver-no no gelo. A data comemora o dia como períodomais curto da incidência da luzsolarnoanoe,apartirdaí,o retornogra-dualdoaumentodoperíododaluznodia.Apesar do solstício (que significa do latim“osolestarparado”)durarapenasumins-tante, a data é chamada de “midwinter”.
Esta expressão também é utilizadapelos cientistas na Antártica porque, naprática, o inverno começa quando os na-vios científicosvãoparaonorte,emabril,e termina quando começam a regressar,em setembro/outubro. Assim, faz sentidochamar a data de “omeio do inverno”, jáque a maioria das atividades de pesquisaneste continente ocorre durante o verão,embora um pequeno grupo permanes-ça durante o inverno no continente paramanter as Estações em funcionamento emonitorarpesquisasquenecessitamdeen-viodedadosremotamentecomoéocasoda Estação Brasileira Comandante Ferraz.
Tradições e atividades do Midwinter variam entre as Estações dos países. Detrocasdepresentesashowsdevariedades,de torneios de hóquei e futebol, a dançae exibição de filmes, que são, na maioriadas vezes, sobre o temaAntártico. Sauda-
ções Midwinter e convites para festivida-dessãoenviadaspelasEstaçõespore-mail.
Como exemplo da importância destedia para as pessoas que habitam o conti-nente,opresidentedosEUAenvia,todososanos, uma saudaçãooficial aos habitantesqueinvernamnasestaçõesNorte-america-nasnaAntártica,tradiçãoiniciadapelopre-sidenteEisenhowerduranteoAnoGeofísicoInternacional (1959). Já oBritish Antarctic Survey entra em sintonia com o ServiçoMundialdaBBC(British Broadcasting Com-
pany) para a sua tradicional transmissãono MidwinterAntártico,queincluipedidosdemúsica e mensagens especiais para asequipesdeinvernodasEstaçõesBritânicas.
NaEstaçãoAntárticaComandanteFer-raznãopoderiaserdiferente,acomemora-çãodoMidwinter Dayéfeitacomumcardá-pioespecial,karaokêetrocademensagensentre as Estações amigas, como a vizinhaEstação Polonesa de Arctowski. A partirdessadata, começaacontagemregressivaparaoGrupo-Baseretornaraosseuslares,com o sentimento da missão cumprida.
Grupo-Base Endurance
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Representantes dos Países da ATCM
Brasil na XXXIX ATCM
AAntártica, um Continentede características ímpares,está intimamente relacio-nada com o equilíbrio da
Terra e constitui um verdadeiro laborató-rio natural, por conter no seu manto degelo o registro da história do planeta. Pormeio das pesquisas busca-se compreen-derosfenômenosdaatmosfera,dosocea-nosedavida,demodoaorientarasdeci-sõessobreofuturodoContinenteBranco.
AReuniãoConsultivadoTratadodaAn-tártica(ATCM),realizadaanualmente,consti-tuiu-seemumfórumparaoestabelecimen-todenormasparaasatividadesnaAntártica,emconsonânciacomosprincípioseobjeti-vosdoTratadoedoProtocolosobreProte-çãoaoMeioAmbiente(ProtocolodeMadri)etemcomoobjetivodiscutireestabelecermedidasdesegurançaegarantirquesejamcumpridasasdisposiçõesdoacordoglobalde proteção dos ecossistemas antárticos.
A XXXIX Reunião da ATCM foi reali-zada, em paralelo com a XIX Reunião doComitê para Proteção Ambiental (CEP),na cidade de Santiago, Chile, no perío-dode23demaioa2dejunhodesteano.
Participaram da Reunião represen-tantes de 53 países, sendo 29 membrosconsultivos, 24 membros não consul-tivos, além de observadores e váriasoutras organizações internacionais.
Neste ano, comemora-se o 25º Ani-versáriodoProtocolodeMadri,querefor-çou o caráter de proteção e preservaçãoambiental das atividades na região. Jun-tos, o Tratado da Antártica e o Protocolode Madri, são inovadores no âmbito daONU, ao considerar a Antártica um conti-nente dedicado à ciência, para fins pacífi-cos, tendo comoprioridadeaproteçãoaomeio ambiente. Assim, ficam congeladas,até2048,assolicitaçõesparaaexploraçãoeconômica. Após essa data, as propostasterãoqueseraprovadas,porconsenso,pe-losPaísesMembrosConsultivosdoTratado.
A comitiva brasileira, composta pelosrepresentantesdaCIRM,apresentaramqua-trodocumentos:
-RemediaçãonaAntártica;
-Normaseprocedimentosparaembar-caçõesquesedestinamàAntártica;
-XXXIVOperaçãoAntártica;e
-ReconstruçãoeLançamentodaPedraFundamentaldaNovaEstaçãoBrasileiranaAntártica.
Dentreosdiversosassuntosdiscutidosdurante a Reunião, destacam-se aquelesconsiderados de maior relevância para oProgramaAntárticoBrasileiro(PROANTAR):
-ImplicaçõesdasMudançasClimáticasnoMeioAmbienteAntártico;
- Regulamentação e procedimentospara a utilização de Veículos Aéreos Não--Tripulados(VANT);
-OperaçõesdeBuscaeSalvamentonaAntártica;
-Comemoraçõesdo25ºAniversáriodoProtocolosobreaProteçãoAmbiental(Pro-tocolodeMadri);
- ImpactodasAtividadesdeTurismoeoutrasatividadesnão-governamentais;e
-AtividadesdeEducação,SensibilizaçãoeDivulgaçãodasatividadesdosProgramasAntárticos.
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Hámais de três décadas, aComissão Interministerialpara os Recursos do Mar(CIRM) recebeu a tarefa
de implementaroPROANTAR.Assim,em6de fevereirode1984, foi inaugurada aEstação Antártica Comandante Ferraz(EACF). Naquela ocasião, os pioneirosdo PROANTAR hastearam, pela primei-ra vez, a Bandeira Brasileira que nun-ca mais deixou de tremular na Latitude62º05´Sule Longitude58º23,5´Oeste.
Com igual entusiasmo, nesse mes-mo local, iniciou-se a reconstrução daEstação Brasileira na Antártica. A novaEACF possui design moderno e tecnolo-gia de ponta. O projeto atendeu aos re-quisitos estabelecidos pela comunidadecientíficaeprivilegiouaáreadepesquisa.
Construir uma Estação na Antárti-ca é um desafio que vai muito além desoluções tecnológicas de arquitetura eengenharia, balanceando custo e benefí-cio.As condicionantes sãoventosdeaté200km/h, baixas temperaturas e atmos-fera agressiva. Além disso, a logística deimplantação e operação; as questões desegurançaedaconstrução;afacilidadedemanutenção;aflexibilidadeedurabilida-de são, também, elementos importantesno conceito do projeto. Considerando arealidade atual, espera-se que a estaçãoseja eficiente e cause omínimo impactoambiental. Os novos tempos e o Proto-colo de Madri exigem que sejam obe-decidos parâmetros ambientais rígidos.
Embora o avanço tecnológico dosmeios de comunicação e dos transpor-tes tenham reduzido as distâncias e fa-cilitado a forma de vida, uma estaçãocientífica na Antártica deve adotar pla-
nejamento semelhante à concepção deuma cidade de pequeno porte, em quesedeveprover aoshabitantes condiçõesdeboaqualidadedevidaesegurança.Adependência da logística de transporte,seja para sobrevivência, seja para cons-trução, uso e operação, deve sempreser considerada, porque este aspecto éum dos mais restritivos naquela região.
Tendo em vista essas considerações,inicialmente, o minucioso Termo de Refe-rência da reconstrução da EACF estabele-ceu uma área de 3.300m², um pequenoaumento em relação à primeira Estação,quechegouamedir2.800m².Nodesenvol-vimento do projeto, as edificações foramampliadas para 4.500m², a fim de aten-der às exigências da comunidade cientí-fica por mais laboratórios especializadose dar ênfase, em particular, à segurança.
Assim,aEstaçãocontarácom19labo-ratórios, setor de saúde, biblioteca e saladeestar,comcapacidadepara64pessoas,no verão, e 35 no inverno. A dimensão écompatível com a importância que o Bra-sil conquistou no cenário Antártico, aten-dendoàsatuaiseàs futurasdemandasdepesquisas nacionais, assim como à coo-peração internacional na área científica.
Éfácilcompreenderqueomaiorimpac-tonoorçamentodeumaconstruçãonaAn-tárticanãoéaáreaconstruída,masalogís-tica,querespondeporquase50%docusto.
Cabeesclarecer,também,quearecons-truçãodaEACF,nomesmolocal,foimotiva-dapordiversosfatoresquedeterminaramadecisão:
- Facilidade de acesso pelo mar parao reabastecimento: enseada livre de obs-
táculos naturais, que favorece a aproxi-mação dos navios, durante o verão, como gradiente da praia adequado, requisi-tos imprescindíveis para o desembarque.
- Disponibilidade de água para con-sumo. No local da EACF existem dois la-gos de degelo que fornecem água na for-ma líquida capaz de atender a demandada Estação durante o verão e o inverno.
-Continuidadedaspesquisas:não inter-rupçãodeumasériehistóricademaisde20anosdepesquisas;e
- Fator ambiental: como a região já es-tavaimpactada,oprocessodeaprovaçãofoisimplificado, o que demandou menor pra-zo para a tramitação e aprovação da obra.
Assim, a nova EACF materializa a ex-pansão das nossas atividades científicas,compatível com a dimensão geopolítica dapresença brasileira na Antártica. Esses sãoos requisitos que nos credenciam a perma-necer como Membro Consultivo do Trata-do da Antártica e, desse modo, continu-ar participando das importantes decisõessobre os destinos do Continente Branco.
ResponsávelpelalogísticadoPRO-ANTAR,aMarinhadoBrasilvem,desde1982, apoiandoaspesquisasnaEACF,nosnaviosenosacampamentos, for-necendo treinamento, vestimentasespeciais, alimentação, segurança,equipamentosdecomunicaçãoetrans-porte(embarcaçõeseaeronaves).
Na próxima Operação Antártica(OPERANTARXXXV),queteráinícioemoutubro,alémdeconduziraspesquisascientíficas,oPROANTARteráodesafiodeinstalarasfundaçõesdanovaEACF.
PROANTAR
A importância da presença brasileira na decisão
sobre o futuro da Antártica
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